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UNIFAN

JOÃO VICTOR SANTOS DE JESUS


PEDRO HENRIQUE ALMEIDA VASCONCELOS
RENNAN PINTO DE OLIVEIRA

ENSAIO TEÓRICO

DOCENTE: JOELMA SILVA

Feira de Santana
2021
CORPOREIDADE NEGRA: diálogos possíveis com a Psicologia
social1.

Introdução

A construção desse ensaio nasce a partir de discussões e debates


travados na disciplina de Psicologia social na Unifan ministrada pela professora
Joelma Silva. O objetivo geral deste é a construção de um diálogo possível da
corporeidade negra com a psicologia social e como essa pode contribuir para
uma ampliação da compreensão dessa corporeidade negra, além de caminhos
possíveis para a desconstruções de falsas crenças e impactos da relações
sociais e culturais sobre esses corpos múltiplos de sentidos.
Esse tema se mostra inteiramente atual diante das grandes divergências
e debates presente no atual cenário político nacional e internacional.
Especialmente por estar na pauta do dia, no atual governo, ações contrárias a
serem desenvolvidas para fragilizar e minimizar conquistas sociais a tanto
conquistada por grandes lutas. Nos deixa espantado como legislações,
medidas provisórias e ministros constrói discursos para fortalecer a
precarizações de políticas públicas a fortalecerem a minorias, assim como as
classes mais pobres.
O Brasil historicamente se compôs por estruturas sociais de caráter
desigual. A própria colonização e estruturas políticas regentes no Brasil teve
como predominância grupos sociais mais privilegiados a controlando. É nesse
ambiente de desigualdade que se evidencia práticas de preconceito racial e
revalidação de discursos de supremacia racial seja no Brasil ou no mundo. Um
exemplo marcante foi o recente caso de George Floyd um americano negro
morto sob custódia por um policial Branco, gerando grande revolta nos Estados
contra o governo do presidente Donald Trump.
Não precisamos ir tão longe ao vermos o João Alberto Silveira Freitas
homem negro, espancado até a morte em supermercado do grupo Carrefour
em Porto Alegre, por dois homens brancos sendo um deles policial militar.
Outra situação a nos surpreender é caso Marielle Franco, vereadora negra

1
Ensaio científico apresentado no Centro Universitário de Ensino Superior UNIFAN, no Curso de
Psicologia. Na disciplina de Psicologia Social. Como pré-requisito avaliativo do primeiro trimestre.
representante da luta de minorias brutalmente assassinada e a viver chacotas
de políticos e do setor judiciário. Todas essas situações nos permite
compreender como o tema de preconceito racial assim como os corpos negros
ainda incomoda a nossa sociedade de caráter clientelista, paternalistas e
cordial como revela grandes historiadores.
Esse homem cordial, conceito desenvolvido pelo historiador brasileiro
Sérgio Buarque de Holanda em seu livro Raízes do Brasil, nos revela o
nascimento do jeitinho brasileiro e como relações paternalista favoreceram os
grupos sociais mais privilegiados da sociedade brasileira. O Historiador
Raimundo Faro no revela como nasce no Brasil e se faz bem atual o
nascimento do paternalismo, clientelismo e patrimonialismo em sua grande
obra Os donos do Poder. No qual as elites e políticos tem a grande dificuldade
em separa o que é público do privado.
E muitas vezes usa o público como se fosse privado. Talvez isso nos
permita entender o grande desafios de governantes ter dificuldades em pensar
em um coletivo e classes sociais menores, por considerarem que essas não
tem direitos o não são merecedoras ao acesso a uma boa educação e políticas
públicas. Talvez isso também possa explica o fato da justiça e sua dificuldade
de punir muitas vezes seus pares em nome de uma minoria. Talvez pelo fato
dessa justiça ser ocupada por classes mais privilegiadas, e a mesma também
ocuparem os espaços de poderes no setor político, econômico e jurídico.
Essa teia se mostra muito complexa e entranhada por uma estruturação
de poderes bem fortalecidos e sustentáveis do domínio dos dominantes sobre
os dominados. Em meio a isso está presente os corpos de homens e mulheres
negras a sofrerem impactos de uma sociedade moderna, encrustada por
práticas e discursos arcaicos de preconceito e desigualdade. Como nos diz
Souza (2014) nossos discursos atuais tem resquícios e conceituações
advindas dos tempos coloniais, no qual era preciso se justificar a escravidão e
a submissão de um povo sobre o outro.
Como afirma Lima (2013) “é consenso na atualidade que existe
preconceito racial no Brasil e que importante entendê-lo para combate-lo”
p.590. O mesmo autor nos revela também como é recente na psicologia
nacional o estudos sobre o preconceito, pois é somente a partir da década de
noventa que a psicologia no Brasil se detém concretamente sobre essa
temática. Pensando sobre isso e nesse contexto poder discutir a corporeidade
como um objeto de estudo da psicologia social é completamente atual e
importante, para desvelar e compreender a sociedade brasileira, como também
comportamentos e estruturas sociais de grupos sociais, seguindo esse
caminho, esse ensaio vai aprofundar essa relação e nos permitir compreender
como a corporeidade pode ser tratada como um objeto de estudo.

DIÁLOGOS ENTRE A PSICOLOGIA SOCIAL E A CORPOREIDADE NEGRA

Pensando a corporeidade negra como um objeto de estudo da psicologia


social se faz necessário pensar pontos de convergências a aproximar esses
dois universos de amplitude teórica carregados de particularidades comum a
cada um. Mergulhando na compreensão e construção da Psicologia social
como ciência e não apenas como uma simples vertente da psicologia é
completamente possível, considera que está teria categorias teóricas e
metodológicas suficiente para explanar o complexo tema de corporeidade
negra.
Como tem mostrados os teóricos da Psicologia social, essa nasce como
ciência no fim do século XX e início do século XXI. Como afirma Calegare
(2010) a Psicologia social permite a intersecção de diálogos entre a psicologia
e a ciências sociais. Ela não é uma ou outra ciência, ela se constitui por uma
pluralidade e tem origens múltiplas a tornando com grande riqueza enquanto
uma ciência “que estuda as influências de nossas situações, com especial
atenção a como vemos e afetamos uns aos outros. Mais precisamente, ela é o
estudo científico de como as pessoas pensam, influenciam e se relacionam
umas com as outras.” (MYERS, 2014, p.28).
Composta pela multiplicidade o desenvolvimento das vertentes em
Psicologia Social teve como crivo discussões sobre objetividade/subjetividade,
pesquisa quantitativa/qualitativa, experimentalismo/pesquisa a aplicada como
nos diz Calegare (2010). Isso foi possível pelo fato desta transitar também
entre as ciências sociais e naturais e se apropriar de métodos e metodologias
delas para a construção de seu aparato cientifico. Essa foi composta por
muitas tradições de caráter sociológico advindo da escola americana do
interacionismo simbólico, do experimentalismo psicológico e da preocupação
em estudos de grupos sociais, além da tradição sociológica europeia das
representações sociais iniciada por Serge Moscovici.
Em síntese podemos dizer seguindo os estudos de Calegare (2010) que
essas tradições estão preocupadas na relação individuo-sociedade, além de
buscarem estudar o indivíduo psicológico e a sociedade num único objeto,
deixando tanto a supremacia do psicologismo como do sociologismo.
Pensando também como nos coloca Myers (2014) na qual realidades são
moldadas e construídas a partir de pontos de vistas, crenças e supostas
verdades instituídas e que a Psicologia social pode se debruçar em investigar e
compreender essa realidade, podemos deduzir ser a Corporeidade Negra um
elemento moldado construído e instituído em um momento histórico, para
justificar e submeter os negros ao poder do colonizador branco durantes
séculos no processo de colonização brasileira. Essas ações moldaram
comportamentos e se reproduzirem ainda na atualidade com discursos ações
de preconceito encrustados no comportamentos e nas relações sociais vividas
na sociedade brasileira.
Isso nos permite dizer que a Corporeidade Negra carrega em si, muitos
sentidos e significados vivos, passíveis de ser investigado de forma inócua na
relações sócias brasileira, tornando-se assim um objeto de estudo para a
Psicologia Social. A corporeidade é um conceito discutido em muitas ciências,
ele traz consigo múltiplos significados. O corpo historicamente sempre foi
preenchido de significados e atendeu sempre a demanda de um tempo e
momento social, seja em sua configuração ou estética. Sua forma de ser e
existir também se molda a partir de culturas e formas de idealizações destes.
Segundo Scorsolini-Comin e Amorim (2008, p.194):

Na concepção merleau-pontyana (Merleau-Ponty, 1994), o corpo é


visto como ativo, deixando de ser encarado como receptáculo passivo
das forças externas e de determinações do meio, exercendo apelo
sensível, comunicando-se com o mundo e fazendo com que ele se
torne presente como o local familiar da vida do homem. Merleau-
Ponty vai à raiz da subjetividade com sua concepção do corpo-sujeito,
corpo este que estabelece com o mundo uma reação pré-objetiva,
pré-consciente, de caráter dialético. Para o autor, o sujeito é seu
corpo, seu mundo e sua situação. O corpo é a expressão e realização
da existência. Porém, segundo ele, não se deve reduzir um ao outro,
já que um pressupõe o outro. O corpo é um conjunto de significações
vividas e a produção de novas significações se dá no corpo enquanto
situado em um mundo.

Pensando nessa discussão trazido pelo filosofo francês o corpo se faz


na interação homem-sociedade, ele pode ser pensado como o intermediário e
canal da construção desta relação de um universo interno e externo, podendo
moldar e transformar comportamentos como também estruturas mentais e
emocionais dos sujeitos. Ainda tomando o campo histórico-filosófico com base
nos estudos foucaultiano podemos pensar o corpo e a alma como sustentáculo
de forças de poder e de saber como define Scorsolini-Comin e Amorim (2008).
As preocupações de Foucalt foi como praticas discursivas e não-discursivas
construíram e moldaram os corpos humanos. Ele pensa esse corpo como uma
realidade bio-político-histórica que sofre constantemente alterações e
reconstruções a partir de mudanças sócio histórica e políticas.
Tomando esses estudos como base e os estudos das teorias culturais
Stuart Hall, podemos pensar como os corpos negros foram pensados
desenhado e construídos e como esses se relaciona em estruturas sócio
históricas fundadas em base de diferenciação e revalidação das diferenças
entre raças e os papéis destas na sociedade brasileira. O viver desses corpos
chocam em grande medida com crenças, ideologias e bases fundantes da
sociedade brasileira, é possível que isso ainda explique a insistência e
necessidade da luta contra o preconceito e construções de políticas públicas
para abertura de espaços desses corpos negros, a serem discutido no próximo
ponto.

A CORPOREIDADE NEGRA

Podemos pensar o corpo como uma dimensão biológica e sociocultural


que nos materializa. Como já discutido anteriormente o corpo também é uma
construção social como define Souza (2014). No qual está embutido também
representações culturais e simbólicas de uma sociedade. Nosso corpo nos
permite nos diferenciar do outro, como afirma a mesma autora, ele nos permite
ser vistos, é a partir dele que podemos ser observados e ele se apropria e se
molda também das estruturas sociais externas que podem diferencia-los de
outros corpos.
Pensando como as representações e apropriações são tomados por
esses corpos negros, podemos pensar no conceito de representação do
historiador Roger Chartier, esse intelectual francês define que essas
representações nasce no seio de relações sociais e podem ser tomados ou
apropriado para definir o reconhecer modelos, formas e caminhos. Porém a
apropriações destas representações podem formar repertórios a serem
acessados e usados por quem dele se aproprio como caminhos de estratégias
de sobrevivência e usados para burlar os poderes instituídos o reforçar o
mesmo.
A construção dessas representações e dos caráter simbólico delas são
introjetado e variante a partir dos esteio ideológicos, sociais e culturais
formadores de algumas sociedades. Pensando no Brasil e em sua formação
podemos perceber ser, esse fundado em diferenças sociais, mesmo havendo
tentativas para a construção de uma identidade nacional de igualdade. Essa
intenção nascida nos anos 30 durante o período getulista, no qual se aproprio
de elementos de negritude para fundar um identidade caráter nacional e
representativo brasileiro, assim como se aproprio do conceito de do sociólogo e
historiador Gilberto Freyre para falar da democracia racial como nos apresenta
o texto Lima (2013).
Considerando essa estrutura social da diferenças em que Souza (2014)
nos coloca que:

O processo de conscientização da diferença ocorre ainda na infância,


quando a criança descobre o seu corpo, construindo seu esquema
corporal e com a ajuda dos pais e do meio ambiente, estrutura-se sua
imagem corporal. Desta maneira, a criança institui o que é
semelhante e o que é diferente de seu corpo. A estruturação da
imagem corporal só se completa mais tarde quando o contato desta
criança com a sociedade aumenta e a cultura se instaura no
cotidiano. (p.265)
Pensemos que a estruturação dessa imagem corporal, além de nasce e
ser refortalecida na interação como o meio e no cotidiano, também é
responsável por formar e moldar estruturas internas de crenças, emocionais e
psíquicas dessas crianças que serão futuros adultos e reprodutores dessas
representações fixadas e com tempo se mistura, dificultando a compreensão
do que é seu e do que é socialmente construído e foi apropriado e não passa
de um mera reprodução, fazendo você acredita em uma falsa lealdade ao
grupo ou estruturais sociais nas quais você acredita se identificar. Seja essa do
subjugado o do opressor.
Pensando nisso há uma construção de corpos socialmente acertáveis e
um estrutura social advinda de um forte processo de colonização, no caso o
Brasil. Pensando entre corpos brancos e negros. O primeiro sempre foi
ocupante dos espaços políticos, institucionais e de poder. O outro sempre teve
imagem e representações de construções negativas ou negativadas por quem
precisava criar justificavas de poder e subjugação. A sociedade colonial aliou-
se ao poder religioso para justificar a inferioridades desses corpos que não
eram brancos, porém isso não se dissolveu e nem se dissolve tão rapidamente.
A clareza tomamos, quando vemos a rejeição a elementos
identificadores desses corpos negros, que muitas vezes são embranquecido
para serem aceitos socialmente. A negação dessa matriz afro-brasileira e sua
importância para estruturação social que sempre é colocado como inferior ou
muitas vezes folclorizadas sejam em suas expressões religiosas ou espirituais.
Como define Souza (2014) o resultado dessa arquitetura para o corpo Negro é
a estigmatização de suas atitudes e ações, além do reforçamento de
estereótipos negativos com relação ao trabalho, estudos e outros. Muitas
vezes esses corpos são hiper-sexualizados e forma construídas imagens e
representações desses corpos foram atrelados ao malandro, a boemia, ao
jeitinho brasileiro, ao roubo , a preguiça e a falta de instrução.
O desenho disfuncional e distorcido geram nesta sociedade choques de
convivência e trocas sociais, havendo um forte rejeição e resistência ao corpos
negros e a tudo que ele representa ou venha representar. Esses estereótipos
transforma e cria a imagem que esses corpos são desajustado neste modelo
de sociedade. Isso vem reforçar objetos de diferenciação a gerar a
marginalização dos corpos dos excluídos especialmente o viventes das
periferias.

O corpo negro, a partir de então com toda a sua corporeidade,


englobando expressões corporais, estética e comportamento, tem a
sua visibilidade assegurada a partir das lutas das populações negras
em legitimar sua cultura, lutando pela anulação dos estereótipos
(SOUZA, 2014, p.273)

Os caminhos para ultrapassar a fronteiras da diferenciação e


reforçamento do preconceito é a luta. Concluímos que a Psicologia social
enquanto ciência e tomado os estudos da Corporeidade Negra como objeto
pode descortinar e auxiliar fortemente na desconstrução desses estereótipos e
reforçadores de diferenciação a criarem distorções da Corporeidade Negra na
sociedade brasileira.

Considerações finais

Diante do exposto colocado no ensaio foi levantados algumas hipótese


sobre os geradores das diferenciações sociais, como também foi possível
compreender como a mesma diferenciações surge no Brasil de origem colonial.
Este ensaio também permitiu perceber como é possível um diálogo entre a
Psicologia Social e os estudos da Corporeidade Negra.
Como foi discutido levantamos hipótese e caminhos de como a
Corporeidade Negra se faz um excelente objeto de estudo para Psicologia
social, uma vez que esta, está preocupada em estudar e compreender como as
relações sociais impactar e molda comportamentos social, além de nos permitir
compreender que a Psicologia Social é uma ciência, mesmo que os cursos de
Psicologia no Brasil ainda encistam a colocar como uma vertente da psicologia.
Ela não é apenas uma disciplina ela é uma ciência com arcabouços
teóricos e metodológicos, além de ter uma variante de instrumentos de
pesquisa e estudos investigativos na intersecção entre a sociologia e a
psicologia.

Referências
FAORO, Raymundo. 2008b. Os donos do poder: formação do patronato político
brasileiro. 4. ed. São Paulo: Globo.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das
Letras, 1999.
MYERS, David G. Psicologia Social. Porto Alegre: Porto Alegre: AMGH, 2014.
Cap 1

REVISTA CARTA CAPITAL ONLINE.Novas imagens mostram a morte de


George Floyd a partir de câmera policial. Disponível em
<https://www.cartacapital.com.br/mundo/novas-imagens-mostram-a-morte-de-
george-floyd-a-partir-de-camera-policial/>. Acessado em 1 de abril de 2021.

_______________. Justiça condena desembargadora a indenizar família de


Marielle. Disponível em < https://www.cartacapital.com.br/politica/justica-
condena-desembargadora-a-indenizar-familia-de-marielle/>. Acessado em 1 de
abril de 2021.
CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Trad. de
Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difusão Editora, 1988.
SCORSOLINI-COMIN, Fabio; AMORIM, Katia de Souza. Corporeidade: uma
revisão crítica da literatura científica. Psicol. rev. (Belo Horizonte),  Belo
Horizonte ,  v. 14, n. 1, p. 189-214, jun.  2008 .   Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
11682008000100011&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  18  mar.  2021.
SILVA, Joyce Gonçalves da. (2014). CORPOREIDADE E IDENTIDADE, O
CORPO NEGRO COMO ESPAÇO DE SIGNIFICAÇÃO. Disponível em
file:///C:/Users/Rennan/Downloads/ANAISCONINTERjOYCE.pdf Acessado em
01 de abril de 2021.

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