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Os Mandamentos Do Advogado - Eduardo Couture
Os Mandamentos Do Advogado - Eduardo Couture
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EDUARDO COUTURE
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Os' Mandamentos
Coururc, Eduardo]uan, 1904-1956.
Os mandamentos do advogado. Tradução de Ovídio
do Advogado
A. Baptista da Silva e Carlos Otávio Athayde. POrto
Alegre, Fabris, 1979. Tradução de
78p. 22 em. Oz'ídio A. Baptista da Silva e
Carlos Otázlio Athayde
.1. Advogados. 2. Advocacia. I. Silva, Ovídio A.
Baptlsta da, trad. 11. Athayde, Carlos Otávio, trad. 111.
T ítulo.
CDU 347.965
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Índice para catálogo sistemático
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I. Advogados 347.965
2. Advocacia 347.965
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Porto Alegre. 1979/ Reimpressão, 1999
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1.° - ESTUDA
o direitoestá em constante transformação. Se não o
acompanhas, serás cada dia menos advogado.
Qual o advogado que pode ter a cer- É tal o risco de situar um caso em sua
teza de conhecer todas as regras legais exata posição, no sistema do direito, e
existentes? Quem pode estar certo. de tantas são as possibilidades de erro, que
que, ao emitir uma opinião, considerou, um de nossos mais talentosos magistra-
em sua plenitude, esse conjunto impo- dos dizia que os advogados, como os he-
nente de normas? róis da independência, freqüentemente
Entretanto, como se isso não bastasse, perecem antes da vitória final.
ocorre, ainda, que essas normas nascem, Como todas as artes, a advocacia só se
se modificam e morrem constantemente. aprende com sacrifício, e, como em todas
Em dados momentos históricos, as opi'- as artes, também se vive em constante
niões jurídicas não só deveriam emitÍr-se aprendizagem. O artista, mínimo corpús-
datadas, mas também com a hora em que culo, encerrado no imenso cárcere de ar,
fossem proferidas. O advogado, como se vive esquadrinhando sem cessar suas
fora um caçador de leis, tem de viver próprias grades, e seu estudo só termina
com a arma em punho, sem poder aban- com sua própria vida.
donar um instante sequer o estado de
alerta. No caso mais difícil e delicado ,
naquele em que tenha esmagado seu ad-
versário sob o peso de sua enorme erudi-
ção, seu opositor pode limitar-se a indi-
car o artigo de uma lei esquecida ou igno-
rada. E então, mais uma vez , como na
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o direito se aprende estudando; porém, se pratica
pensando.
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o direito se aprende estudando; porém, se pratica
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tia em lógica, e a paixão dos interesses O grave no pensamento do advogado é
num simples silogismo. que, nessa obra de transformação do
drama humano em memoriais e gestos,
Quando o advogado desenvolve com tanto quanto a inteligência, operam a in-
eficiência seu trabalho, o juiz recebe o tuição e a experiência. Não é o racioCÍ-
caso, por assim dizer, peptonizado (vem nio, diz o filósofo, que determina ao es-
do subst. peptona = proteína solúvel em cultor aprofundar um pouco mais a curva
água e ácido). Normalmente, a função do dos quadris. Entre seus olhos, fixos no
juiz consiste em escolher uma das solu- modelo, e seus dedos que acariciam a es-
ções que lhe são propostas, ou encon- tátua, se estabelece uma comunicação di-
trar uma terceira ainda melhor. O advo- reta. O pensamento do advogado não é
gado transforma a vida em lógica, e o juiz racioCÍnio puro, já que o direito não é
transforma a lógica em justiça. Por isso, o pura lógica: seu pensamento é, ao mesmo
dia de glória para o advogado não é o dia tempo, inteligência, intuição, sensibili-
em que conhece a sentença definitiva que dade e ação. A lógica do direito não é
lhe deu ganho de causa. Afinal, nesse dia uma lógica formal, mas uma lógica viva,
não lhe aconteceu nada de importante. feita com todas as substâncias da expe-
Apenas cumpriu-se a sua previsão. Seu riência humana.
grande dia, o da grande responsabilidade,
foi aquele dia longínquo e muitas vezes Certo juiz, num arroubo de sinceri-
esquecido, em que, após escutar um re- dade, disse que a jurisprudência é feita
lato humano, decidiu aceitar a causa. pelos advogados. E realmente assim é,
Nesse dia, tinha a liberdade para dizer porque, na formação da jurisprudência,
sim ou não. Dizendo sim, desde então, o e, com ela, do direito, o pensamento do
futuro ficou determinado para ele. juiz é, normalmente, um posterius; o prius
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Dos outros cinqüenta, trinta são roti- mental que exigem do profissional. Cau-
neiros. Consistem em pesquisas e buscas sas aparentemente perdidas, por cujas fis-
em cartórios, pedidos de documentos, suras penetra um raio de luz e através do
questões de jurisdição voluntária, defesas qual o advogado abre seu caminho;
singelas ou processos sem oposição. questões complexas que devem ser sus-
Nessa atividade não contenciosa, o gabi- tentadas por meses ou por anos e que exi-
nete do advogado pode transformar-se gem um sistema nervoso equilibrado,
num escritório de tramitação de docu- sagacidade, altivez, energia, previsão, au-
mentos. Seu lema poderia ser, então, toridade moral e fé :lhsohl!';1 no triunfo.
como o das grandes companhias que A perícia no trato des~~s complexos
produzem artigos domésticos: more and assuntos outorga ao advogad:i n título de
better service for more people. princeps fori.
A opinião pública julga o trabalho do
Dos vinte restantes, quinze oferecem advogado, e sua dedicação a ele, com o
alguma difiLu1dade e exigem up; trabalho mesmo critério com que confere o título
mais intenso. Contudo, ainda se trata de aos campeões olímpicos: pela reserva de
uma espécie de dificuldade que a vida energias para decidir a contenda no mo-
nos oferece a cada passo e que a dedica- mento final.
ção e o esforço de um homem laborioso
e inteligente estão acostumados a vencer.
Nos cinco restantes, encontra-se a es-
sência mesma da advocacia. São os gran-
des casos da profissão. Grandes, não cer-
tamente por sua expressão econômica,
senão pela magnitude do esforço físico e
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4.° - LUTA
Teu dever é lutar pelo direito; porém, quando
encontrares o direito em conflito com a justiça, luta
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4.° - LUTA
Teu det!er é lutar pelo direito,' porém, quando
encontrares o direito em conflito com a justiça, luta
pela justiça.
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o direitonão é um ftm, mas um meio. guma oportunidade; entretanto, muito
N a escala dos valores, não aparece o di- raramente serão justos. Em algum caso,
reito. Aparece, no entanto, a justiça, que poderão significar uma vitória ocasional;
é um fim em si, e a respeito da qual o mas na luta o que importa é ganhar a
direito é tão-somente um meio para guerra e não simples batalhas. E se, em
atingi-la. A luta deve ser, pois, a luta pela determinado caso, algum advogado haja
justiça. vencido a guerra mediante ardil, que não
As questões não se dividem em pe- esqueça que, na vida de um advogado, a
quenas ou grandes, mas em justas ou in- guerra é sua própria vida, e não efêmeras
justas. Nenhum advogado é demasiada- batalhas.
mente rico para recusar causas justas A confusão dos fins e dos meios po-
porque sejam pequenas, nem tão pobre derá passar inadvertida em algum caso
para aceitá-las, quando injustas, por se- profissional. Porém, ao longo de toda a
rem grandes. vida de um advogado não pode passar
Muitos advogados, por confundirem os despercebida.
meios com o fim, mesmo de boa-fé, A verdadeira prova para o advogado
crêem aplicável ao litígio fadado ao insu- surge quando lhe é proposto um caso in-
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cesso a máxima médica que aconselha Justo, economicamente vantaJoso, e que,
prolongar a todo o custo a vida do en- além disso, sua simples propositura,
fermo, à espera de que se produza um alarmaria de tal modo o demandado que
milagre. lhe proporcionaria uma imediata e lucra-
Os incidentes protelatórios, assim tiva transação. Nenhum advogado será
como os recursos infundados, constituem plenamente tal, senão quando saiba recu-
uma subversão de valores. Poderão todos sar esse caso, sem encenação e sem
esses ardis forenses ser eficazes em al- alarde.
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5.° - SÊ LEAL
Leal para com teu cliente, a quem não deves
abandonar a não ser que percebas que é indigno de teu
patrocínio. Leal para com o adversário, ainda quando
ele seja desleal contigo. Leal para com o juiz, que
ignora os jatos e det'e confiar no que tu lhe diZes; e
que, mesmo quanto ao direito, às vezes tem de confiar
no que tu lhe im'ocas.
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6.° -TOLERA
Tolera a t'erdade alheia, como gostarias que a tua
fosse tolerada.
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7.° - TEM PACIENCIA
o tempo vinga-se das coisas que se jazem sem sua
colaboração.
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8.° - TEM FÉ
Tem fé no direito como o melhor instrumento para a
conl'il'éncia humana; na justiça, como destino normal
do direito; na paz, como substitutit'o benevolente da
justiça; e, sobretudo, tem fé na liberdade, sem a qual não
há direito, nem justiça, nem paz.
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9.° - ESQUECE
A (,dl'OCaciaé uma 11Ita de paixões. Se a cada batalha
fores carregando tuà alma de rancor, chegará o dia em
que a l/ida será impoSJÍl'el para ti. Terminado o
combate, esquece logo tanto a l,itória quanto a
derrota.
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MONTEVIDÉU, 1949.
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Indústria Gráfica LIda.
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