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UNIAMÉRICA

PROCESSO DO TRABALHO – RECLAMAÇÃO PRÉ-PROCESSUAL

Análise da nova modalidade de solução consensual de conflitos

Wendyl Alves de Lira, Bacharel


em direito, advogado, pós-
graduando em Direito do Trabalho.
Professor (a) Orientador (a): Juliana
Viana dezembro/2022.

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo sobre a nova modalidade de solução de


conflitos consensuais trabalhistas, a Reclamação Pré-Processual - RPP,
visando entender como funciona o procedimento, seus aspectos gerais, pontos
positivos e negativos, identificando dificuldades na realização do procedimento
e obtendo dicas para advogados sobre como realizar o procedimento de forma
correta, contribuindo também para a melhoria do judiciário e prática da
advocacia. Para elaboração do estudo, serão utilizados, artigos, livros e alguns
processos judiciais como referência bibliográfica, assim como, a experiência de
utilização do procedimento pelo autor do artigo, este, advogado, usuário do
sistema PJE, ferramenta utilizada para protocolar a RPP, de tal modo, o meio
de elaboração da RPP será realizado na perspectiva de utilização por um
advogado, pois, conforme será explicado no decorrer deste artigo, as partes
interessadas não possuem a faculdade de ingressar com a RPP sem serem
representados por um advogado.

Palavras-chaves: direito do trabalho, processo do trabalho, solução consensual


de conflitos, reclamação pré-processual, processo judicial eletrônico,
advogado.
1. INTRODUÇÃO

No dia 18 de março, por meio do ATO GP/VPA/CR Nº 1, o Tribunal


Regional do Trabalho da 2ª Região (TRT-2) instituiu o Procedimento da
Reclamação Pré-Processual (RPP), para as discussões trabalhistas individuais
em 1ª instância. Tal procedimento humaniza as soluções de conflitos, uma vez
que se dá de forma voluntária sem que haja, necessariamente, um processo
judicial em curso, e em tese não necessita de as partes estarem representadas
por advogados.

Existem várias formas de solução de conflitos, pois nem todos os


problemas precisam ser judicializados, existindo a conciliação, mediação,
autocomposição, arbitragem, litigio judicial, e agora a Reclamação Pré-
Processual. Focaremos nosso estudo na Reclamação Pré-Processual, termo
abreviado para RPP, solução de conflitos extrajudicial que por fim acaba se
tornando em modalidade judicial, conforme será exposto a seguir.

Este estudo possui como base o ATO GP/VPA/CR N.1 do Tribunal


Regional do Trabalho da 2ª Região, pesquisa realizada por este estudante no
TRT da 6ª Região, em especial a CEJUSC de Caruaru/PE, onde os servidores
estão utilizando tal modalidade de solução de conflitos e prestaram
informações sobre o procedimento, e por fim, com base no conhecimento
técnico deste estudante, que é advogado trabalhista e já utilizou diversos
procedimentos de solução de conflitos, inclusive, a RPP.

O objetivo deste estudo é analisar os aspectos gerais dessa nova


modalidade de solução de conflitos, suas vantagens e desvantagens, assim
como, os pré-requisitos para que se possa utilizar essa ferramenta, e as
dificuldades de utilização da RPP por advogados e partes autônomas.

2. PROCESSO DO TRABALHO E SOLUÇÃO DE CONFLITOS

2.1. Das modalidades de solução de conflitos no processo do trabalho


Conforme exposto anteriormente, existem várias formas de solução de
conflitos, existindo: a conciliação, mediação, autocomposição, arbitragem,
litígio judicial, e a Reclamação Pré-Processual. Focaremos nosso estudo na
Reclamação Pré-Processual, de tal modo, não explicaremos a RPP neste
tópico.

A conciliação é um procedimento consensual guiado por um conciliador,


este sempre deverá conduzir a negociação em posição imparcial, orientando as
partes de forma ativa para chegar a um acordo. Assim, as próprias partes
chegam à uma conclusão de algo que fique bom para ambas, e o juiz
participará pacificando o conflito, sempre com o objetivo de conseguir um
acordo justo para ambas as partes.

A mediação é diferente da conciliação, pois o agente intermediador não


irá participar ativamente da mediação, ele apenas estabelece um diálogo entre
as partes para que elas, por si mesmas, cheguem a um acordo. Embora o
processo todo seja informal, o papel do mediador é buscar que ele discorra de
maneira organizada e efetiva para que as partes possam encontrar uma
solução para conflito.

A autocomposição é realizada quando um acordo é firmado pelas


próprias partes, sem existir um conciliador como base para negociação, isto
significa que o negociador poderá ou não intermediar a realização do acordo.
Esse método se diferencia dos demais pelo protagonismo exclusivo das partes
envolvidas e não é aceito no âmbito das relações de trabalho, pois os acordos
realizados de tal forma poderão ser considerados nulos por magistrados em
uma futura ação judicial.

A arbitragem é uma forma de solução de conflitos onde as partes, de


certa forma, “terceirizam” a solução do conflito. As partes desejam chegar a um
acordo, todavia, para isso, elegem uma pessoa ou instituição que atuará na
mediação. As decisões são especializadas e, inclusive, algumas são propostas
com base em experiências anteriores. Embora seja uma forma de solução sem
chegar à Justiça, existem contratos e normas que regem todo o processo. Tal
procedimento também não é aplicado no âmbito das relações de trabalho, pois,
o acordo realizado desta forma poderá ser anulado em uma futura ação
judicial.

O litígio judicial é o procedimento mais utilizado de solução de conflitos,


tratando-se basicamente do protocolo de uma ação judicial buscando uma
sentença proferido por um juiz de direito que definirá quais os direitos das
partes. Esta modalidade de solução de conflitos é bastante utilizada porque
não depende do consentimento de ambas as partes para chegar a um
resultado final, porém, de todas as formas de solução, esta é a mais demorada,
pois obter uma sentença judicial definitiva poderá demorar anos.

Diante das peculiaridades das relações de trabalho, em especial a


proteção ao trabalhador, este que é considerado a parte frágil da relação de
trabalho, uma boa parte das soluções de conflitos consensuais não podem ser
realizadas em tais contratos de trabalho, existindo a necessária intervenção
judicial, seja por um juiz de direito ou Centrais e Câmaras de Conciliação,
Mediação e Arbitragem.

Ademais, até para realizar uma conciliação, mediação ou arbitragem em


um dos tribunais do trabalho é preciso protocolar uma demanda judicial, o que
gera custas judiciais, e a necessidade de contratar advogados para representar
as partes, pensando nisto, foi criada a RPP, para tentar levar facilidade e
economia para as partes, objetivo alcançado com êxito em alguns aspectos e
existindo falha em outras, conforme será exposto a seguir.

2.2. Aspectos gerais da Reclamação Pré-Processual - RPP

Conforme exposto anteriormente, a RPP foi criada recentemente por


intermédio do ATO GP/VPA/CR N.1, de 18 de março de 2022, existindo pouca
regulamentação sobre o procedimento.

Apesar de ser recente, a RPP vem sendo utilizada em vários tribunais do


trabalho em todo o Brasil, por ser um procedimento que poderá gerar
vantagens para as partes em relação às outras formas de solução de conflitos.
O protocolo da RPP poderá ser realizado diretamente no sistema PJE e
será endereçado para uma das varas do trabalho do tribunal, conforme artigo
2º do Ato GP/VPA/CR N.1/2022, contudo, alguns tribunais disponibilizam a
possibilidade de se protocolar a RPP diretamente para o CEJUSC (Centro
Judiciário de Solução de Conflitos e Cidadania) do tribunal.

O procedimento terá início por manifestação de um dos interessados,


conforme artigo 3º do Ato GP/VPA/CR N.1/2022, de tal modo, não é necessária
a manifestação de ambas as partes para que procedimento seja iniciado,
apenas uma das partes poderá iniciar a RPP, contudo, deverá indicar a
exposição dos fatos, dos pedidos, e principalmente a qualificação das partes,
para que se possa realizar a intimação da outra parte para que participe de
audiência de conciliação.

Para iniciar uma RPP as partes não precisam estar representadas por
advogado, pois não existe a necessidade de apresentação de defesa,
conforme artigo 7º do Ato Ato GP/VPA/CR N.1/2022. Ao receber a RPP, o
procedimento gerará um número e será encaminhado para CEJUSC, onde
serão analisados os fatos e pedidos, e existindo possibilidade de realização de
acordo a CEJUSC designará audiência que poderá ser presencial ou por
videoconferência, na prática normalmente é designada audiência mista,
facultando as partes comparecer da melhor forma que for possível.

Conforme artigo 5º, I e II, do Ato Ato GP/VPA/CR N.1/2022, caso a


CEJUSC identifique que o pedido é inviável, poderá arquivar o procedimento
ou despachar concedendo prazo para que a parte se adeque ao necessário
para que o procedimento possa ser realizado.

Em caso de ausência de qualquer das partes à audiência marcada,


poderá o magistrado arquivar o procedimento, podendo ainda, aplicar multa
para a parte que iniciou o procedimento.

Ao realizar a audiência de conciliação, inexistindo acordo o magistrado


poderá remarcar a audiência ou arquivar o procedimento, conforme artigo Ato
GP/VPA/CR N.1/2022, o que não gerará custas judiciais.
Em caso de existência de acordo durante a conciliação, o procedimento
será convertido em um processo de Homologação de Transação Extrajudicial
(HTE), sendo encaminhado para uma vara do trabalho para que homologação
seja realizado, salientando que, o termo de acordo deverá constar os títulos
objeto do acordo, valores, cláusula penal, valor da causa, relação jurídica entre
partes, entre outras informações elencadas no § 1º, do artigo 11, do Ato
GP/VPA/CR N.1/2022.

Por fim, cumpre salientar, que as partes não podem ter uma ação
trabalhista sobre o mesmo tema já em andamento, pois, se existir, a mediação
deverá ocorrer nos próprios autos.

Esses são os aspectos gerais da Reclamação Pré-Processual, existindo


claramente algumas vantagens e desvantagens que serão elencadas a seguir.

3. RECLAMAÇÃO PRÉ-PROCESSUAL ANÁLISE DE PONTOS


ESPECÍFICOS

Inicialmente, é importante salientar, que o nosso objetivo neste artigo


não é esgotar todas as discussões sobre a RPP, mas sim, elencar alguns
pontos controversos do procedimento, principalmente, no tocante a análise
formal do Ato GP/VPA/CR N.1/2022.

Antes de adentrarmos no tema dos pontos positivos e negativos da RPP,


é importante embelecer a diferença entre a RPP e a HTE-Homologação de
Transação Extrajudicial. Na HTE as partes já estão com o acordo previamente
constituído, e solicitam apenas que o magistrado homologue o acordo. Já a
Reclamação Pré-Processual se aplica apenas nos casos em que há o desejo
de tentar uma conciliação, ou seja, as partes ainda não chegaram a um acordo.

Um dos pontos positivos da RPP, é que apesar do seu protocolo ser


realizado no sistema PJE, algumas CEJUSC aceitam que o interessado vá até
o tribunal do trabalho diretamente, informe os dados necessários e o próprio
CEJUSC inicia o procedimento. Tal facilidade torna o acesso ao procedimento
de fato universal, pois, se o protocolo da RPP só pudesse ser realizado pelo
sistema PJE, só o advogado poderia iniciar o procedimento, o que tornaria a
contratação do advogado indispensável, maculando um dos objetivos da RPP,
que é garantir as partes economia, evitando a contratação de advogados.

Outro ponto positivo, é a inexistência de cobrança de custas judicias em


caso de não existir acordo, o que deveria ser estendido para a homologação,
conforme será explanado a seguir. Atualmente a principal vantagem de se
protocolar uma RPP, é o não pagamento inicial de custas processuais, pois
muitas partes ficam com receio de protocolar uma Reclamação Trabalhista e
solicitar uma audiência de conciliação para tentar realizar acordo, pois tal
procedimento já irá gerar custas judiciais iniciais e o acordo poderá não existir,
ademais, a ação continuará e será julgado por um magistrado.

Por fim, outro ponto positivo da RPP, é que o artigo 14 do Ato


GP/VPA/CR N.1/2022 estabelece que as decisões proferidas no âmbito da
RPP serão irrecorríveis, o que torna o procedimento mais célere, e não gera
prejuízos para as partes, pois, se o um procedimento for encaminhado para
homologação é porque existiu a manifestação de vontade de ambas as partes
anuindo os termos do acordo, e se magistrado arquivar o procedimento sem
dar chance das partes se adequarem a alguma falha do procedimento, as
partes poderão realizar os ajustes e realizar novo protocolo, uma vez que, o
arquivamento não gera custas judiciais.

No geral, a RPP trouxe mais vantagens do que desvantagens, pois as


partes poderão ser acompanhadas pelos CEJUSCs, que possuem profissionais
que conhecem o direito trabalhista e realizarão a conciliação de forma
imparcial, e só precisarão contratar advogados em caso de existência de
acordo.

No tocante as desvantagens da RPP, não se trata diretamente de


desvantagens, mas sim, de pontos negativos da regulamentação do
procedimento que poderiam ser mudados para aperfeiçoar o sistema, alguns
deles são controversos do ponto de vista das partes, empregados e
empregadores, advogados, e o Estado, pois podem beneficiar uns e prejudicar
outros.
Deixaremos os principais pontos controversos para os tópicos a seguir,
pois a cobrança de custas judiciais na homologação e necessidade de
advogados no processo de homologação merece especial atenção.

Os outros pontos negativos da RPP, são aspectos gerais, pois poderiam


ser retirados ou alterados no Ato GP/VPA/CR N.1/2022 sem prejudicar
diretamente qualquer parte, advogados ou o Estado. A exemplo dos requisitos
fixados no artigo 3º do Ato supracitado, vejamos:

Art. 3º O procedimento terá início por provocação do(a)


interessado(a), cabendo-lhe formular o pedido
devidamente instruído com os documentos necessários e
com a indicação da providência judicial, devendo conter
no pedido a designação do juízo, a qualificação das
partes, a breve exposição dos fatos de que resulte o
conflito, o pedido, que deverá ser certo, determinado e
com
indicação de seu valor, a data e a assinatura do(a)
reclamante ou de seu(sua) representante.
(Ato GP/VPA/CR N.1/2022)

Tal disposição torna um procedimento que possui por objetivo ser


simples, em um procedimento complicado, pois elencar a qualificação das
partes é essencial para que se possa citar a outra parte, a breve exposição dos
fatos que resultou o conflito também é necessário, porém, o pedido certo e
determinado com exposição de seu valor é algo que contraria a simplicidade,
ademais, as partes estão protocolando uma RPP para justamente tentar chegar
a um acordo, e muitos nem possuem propostas de acordo formuladas no
momento do protocolo.

Infelizmente a disposição do artigo 3º do Ato GP/VPA/CR N.1/2022,


deixou margem para que alguns tribunais utilizem o tal artigo como fundamento
para requerer das partes verdadeira petição inicial, contendo fatos, pedidos e
valores da causa com detalhes que só um advogado saberia responder, o que
viola diretamente o objetivo da RPP, que é alcançar a simplicidade, ademais, o
artigo 11º, § 1º do Ato GP/VPA/CR N.1/2022 já estabelece que em caso de
realização de acordo, as partes deverão constar essas informações detalhas,
entre outras, de tal modo, não existe motivos para realizar tal requerimento no
início da RPP.

Outro problema da RPP está no dispositivo do I, do artigo 9º do Ato


GP/VPA/CR N.1/2022, pois estabelece que não havendo acordo o magistrado
poderá remarcar a audiência quantas vezes entender necessário, vejamos:

Art. 9º Comparecendo as partes à audiência de


conciliação e não havendo acordo, a critério do(a)
magistrado(a) supervisor(a):
I - a audiência poderá ser redesignada quantas vezes
entender necessário;

[...]
(Ato GP/VPA/CR N.1/2022)

Tal disposição é uma violação direta a liberdade das partes, pois, se as


partes entenderam por não realizar acordo, suas vontades devem ser
respeitadas, facultar ao magistrado remarcar infinitamente a audiência, é lhe
conceder o poder de forçar a tentativa de acordo por tempo de indeterminado,
desvirtuando o real objetivo da RPP e de qualquer forma de solução de
conflitos consensual, que é obter um acordo de vontade ambas as partes.

A seguir veremos as duas maiores controvérsias sobre a RPP, e os


principais erros ao protocolar uma RPP.

3.1 Da controvérsia sobre a necessidade de representação das partes por


advogados

Conforme exposto anteriormente, as partes não precisam estar


representadas por advogados para protocolar uma RPP, o que gera
controvérsia referente a alguns aspectos.
Inicialmente, cumpre ressaltar que, o art. 133 da Constituição Federal do
Brasil, estabelece que o advogado é essencial nos procedimentos judiciais,
sendo parte indispensável a administração da justiça, contudo, o artigo 791 da
CLT, estabelece que os empregados e os empregadores poderão ajuizar
demandas trabalhistas pessoalmente, ou seja, sem serem representados por
advogados, vejamos:

Art. 791 - Os empregados e os empregadores poderão


reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e
acompanhar as suas reclamações até o final.
(Consolidação das Leis do Trabalho, Decreto-Lei nº
5.452, de 1º de maio de 1943)

De tal modo, resta esclarecido que as partes, empregados e


empregadores, poderão ingressar com demandas judiciais trabalhistas
independente de estarem representados por advogados, pois tal faculdade está
estabelecida na CLT, existindo ressalvas que não merecem atenção no
presente artigo.

Uma vez esclarecido que as partes podem ingressar com ações


trabalhistas sem advogados, existe uma grande controvérsia sobre a
possibilidade de conclusão da RPP sem advogados, pois, conforme exposto
anteriormente, a RPP não necessita de representação por advogados, contudo,
após a existência de acordo a RPP é convertida em uma HTE-Homologação de
Transação Extrajudicial, e a HTE possui como requisito que as partes estejam
representadas por advogados.

De tal modo, embora não seja obrigatório, é recomendado que as partes


estejam representadas por advogados, assim como, nas reclamações
trabalhistas, o que ocorre na prática é que as partes procuram advogados para
ingressar com tais demandadas, pois não possuem conhecimento técnico para
iniciar o procedimento e se sentem inseguros.
A obrigação de representação por advogado para formalização e
conclusão do HTE está estabelecida no artigo 855-B, da CLT, de tal modo,
existe uma obrigatoriedade legal estabelecida, vejamos:

Art. 855-B. O processo de homologação de acordo


extrajudicial terá início por petição conjunta, sendo
obrigatória a representação das partes por advogado.
(Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).

§ 1º As partes não poderão ser representadas por


advogado comum. (Incluído pela Lei nº 13.467, de 2017).

§ 2º Faculta-se ao trabalhador ser assistido pelo


advogado do sindicato de sua categoria. (Incluído pela Lei
nº 13.467, de 2017)

(Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943)

Conforme podemos observar, existe norma específica na CLT que


estabelece que na HTE ambas as partes devem estar representadas porá
advogado, de tal modo, mesmo que as partes desejem economizar e contratar
apenas um advogado, isto não será possível.

A petição conjuntamente assinada para a apresentação do requerimento


de homologação ao juiz serve à demonstração da anuência mútua dos
interessados em pôr fim ao contratado, e, os advogados distintos, à garantia de
que as pretensões estarão sendo individualmente respeitadas. De tal modo, a
atuação do Judiciário trabalhista na tarefa de jurisdição voluntária é binária:
homologar ou não o acordo, e nestes casos de conversão da RPP em HTE, os
juízes intimam as partes para que constituam advogado, caso contrário, o
acordo não será homologado.

Ademais, no tocante a homologação do acordo, não cabe ao magistrado


figurar no procedimento como fiscal e agente protetor das partes, mas sim,
como aplicador da legislação, o magistrado está no procedimento para
homologar ou não o acordo, não poderá alterar ou remover cláusulas do
acordo, tal tarefa cabe ao advogado.

Outro ponto importante inerente a representação, é que os acordos


trabalhistas normalmente possuem o objetivo de quitar as verbas objeto do
acordo, não existindo quitação integral do contrato de trabalho sem elencar as
verbas que compõe o acordo, o que torna a participação do advogado
essencial, para que se possa verificar o rol das verbas que estão sendo objeto
de transação, dificilmente os empregados e empregadores possuem
conhecimento jurídico para saber o que estão acordando, qual o valor real das
verbas trabalhistas, as possibilidades de êxito em uma possível reclamação
trabalhista, entre outros aspectos jurídicos que só o advogado trabalhista
conhece.

Contudo, a jurisprudência do TST é pacífica no sentido de validar


acordos trabalhistas em que as partes estão representadas por advogados,
mesmo quando tal acordo se mostre mais vantajoso para uma das partes ou
possua cláusula de quitação geral do contrato de trabalho, desde que todos os
requisitos legais estejam preenchidos, vejamos:

RECURSO DE REVISTA - ACORDO EXTRAJUDICIAL


HOMOLOGADO EM JUÍZO - PROCEDIMENTO DE
JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA - ARTS. 855-B A 855-E DA
CLT - QUITAÇÃO GERAL - TRANSCENDÊNCIA
JURÍDICA - PROVIMENTO. 1.

[...]

10. Ora, estando presentes os requisitos gerais do


negócio jurídico e os específicos preconizados pela lei
trabalhista ( CLT, art. 855-B), não há de se questionar a
vontade das Partes envolvidas e do mérito do acordado,
notadamente quando a lei requer a presença de
advogado para o empregado, rechaçando, nesta situação,
o uso do jus postulandi do art. 791 da CLT, como se
depreende do art. 855-B, § 1º, da CLT. 11. Assim sendo,
é válido o termo de transação extrajudicial apresentado
pelos Interessados, com quitação geral e irrestrita do
contrato havido, nessas condições, que deve ser
homologado. Recurso de revista provido.

(TST - RR: 10014714020185020078, Relator: Ives


Gandra Da Silva Martins Filho, Data de Julgamento:
30/03/2022, 4ª Turma, Data de Publicação: 01/04/2022).

Diante do exposto, podemos concluir que a representação por advogado


na HTE é essencial e justa, diante da necessidade das partes de possuírem
uma garantia de que os termos do acordo não estará lhes prejudicando, pois
todo acordo parte da premissa de que uma ou as duas partes deverão ceder
para que o acordo seja realizado, mas o objetivo do advogado é evitar que seu
cliente seja extremamente prejudicado, realizando um acordo absurdamente
desfavorável.

3.2 Análise sobre a cobrança de custas processuais na homologação do


acordo

Conforme exposto anteriormente, o arquivamento da RPP motivada pela


inexistindo de acordo ou ausência das partes não gera custas judiciais, em
síntese, todo o procedimento da RPP não gera custas judiciais, porém, quando
a RPP é convertida em uma HTE, as custas são geradas.

Consta expressamente no artigo 12 do Ato GP/VPA/CR N.1/2022 que as


custas serão devidas no momento da conversão da RPP em HTE, vejamos:

Art. 12. Não haverá o pagamento de custas judiciais nos


casos de procedimento de Reclamação Pré-Processual
Trabalhista em dissídios individuais de trabalho, passando
estas a serem exigíveis a partir da conversão em
Homologação de Transação Extrajudicial. (Ato
GP/VPA/CR N.1/2022)
Contudo, a CLT em seu artigo 769 estabelece que nos casos omissos o
direito comum será fonte subsidiaria do direito processual do trabalho, de tal
modo, em algumas situações são aplicadas regras do Código de Processo Civil
Brasileiro.

É certo que o Ato GP/VPA/CR N.1/2022 fixa de forma clara a cobrança


das custas judiciais no HTE, contudo, visando incentivar a realização de
acordos extrajudiciais e solução consensual de conflitos, as custas judicias de
em HTE que derivam de RPP deveriam ser dispensadas com fundamento no
artigo 90, § 3º do Código de Processo Civil, dispositivo que estabelece que
quando as partes realizarem acordo antes da sentença, as custas
remanescentes serão dispensadas, vejamos:

Art. 90. Proferida sentença com fundamento em


desistência, em renúncia ou em reconhecimento do
pedido, as despesas e os honorários serão pagos pela
parte que desistiu, renunciou ou reconheceu.

[...]

§ 3º Se a transação ocorrer antes da sentença, as partes


ficam dispensadas do pagamento das custas processuais
remanescentes, se houver.

(Código de Processo Civil Brasileiro, Lei nº 13.105, de 16


de março de 2015.)

Se a RPP possui como objetivo garantir a celeridade e economia das


partes na busca de solução de conflitos, é certo que a isenção do pagamento
de custas judiciais deveria ser um benefício garantido às partes em todas as
fazes do procedimento, até mesmo, quando o procedimento se transforma em
uma homologação, o que incentivaria as partes a buscarem cada vez mais a
realização de Reclamações Pré-Processuais.

Assim, resta claro que legalmente a cobrança de custas judiciais no


momento em que a RPP é convertida em HTE é medida legal, pois está
estabelecida no Ato GP/VPA/CR N.1/2022, contudo, tal disposição se mostra
desproporcional, o que desvirtua o proposito da RPP, que é garantir às partes
celeridade e economia.

3.3 Erros comuns ao protocolar uma reclamação pré-processual


trabalhista

Iremos elencar aqui, alguns dos principais erros ao protocolar uma RPP,
salientando que, o rol exemplificado aqui não é taxativo.

O primeiro erro é quando as partes estão sendo representadas por


advogados distintos e formalizam um acordo extrajudicial, momento em que
protocolam no PJE uma RPP, quando na verdade o procedimento correto seria
protocolar um HTE, pois já existe acordo pré-constituído.

Se tal ocorrer, normalmente o magistrado arquiva o processo informando


que o correto seria protocolar uma Homologação de Termo Extrajudicial, o que
na minha humilde opinião é errado, pois o magistrado poderia despachar
concedendo prazo para que as partes corrijam a petição e moldem o pedido
para se enquadrar em um HTE, garantindo celeridade e vitando o protocolo de
um outro processo.

Outro erro comum é protocolar o RPP sem prestar as devidas


informações necessárias, fatos, relação jurídica entre as partes, qualificação
das partes, verbas objeto do acordo, pedidos e valores, porém, tal erro
normalmente é sanado, pois na maioria das vezes o magistrado despacha
concedendo prazo para correção dos erros.

Outro grande erro, é quando as partes desejam realizar acordo sobre


direitos indisponíveis, o que na prática não é possível. Por exemplo, a renúncia
ao direito de recebimento do aviso-prévio indenizado não é possível, porém,
isto não quer dizer que o empregado não possa receber algum valor parcial,
mas sim, que ele não pode renunciar o direito como um todo.

Exemplificando de uma forma clara, imaginemos que um funcionário


possua R$ 5.000,00 a receber a título de aviso-prévio, o empregador poderá
constar na RPP que seu objeto de acordo é R$ 2.500,00 a título de aviso
prévio, porém, não poderá constar na RPP sua intenção de que o empregado
renuncie o seu direito ao aviso-prévio indenizado, da mesma forma, o
empregador poderá elencar várias verbas irrenunciáveis pelo empregado, e
fixar uma indenização final para todas as verbas, sem detalhar o valor de cada
uma, de tal forma o empregado não estará renunciando qualquer verba, e a
proposta de acordo poderá ser objeto transação em uma audiência de
conciliação.

Por fim, um dos erros comuns, é quando o advogado protocola a RPP


no PJE sem classificar o processo como RPP ou sem direcionar diretamente a
ação para o CEJUSC, pois o procedimento será encaminhado para uma das
varas do trabalho da comarca, e o juiz terá que despachar ordenando que o
processo seja remetido para a CEJUSC, o que poderá levar dias ou meses.

Conforme podemos observar, a maioria dos erros ao protocolar as RPPs


são erros que são realizados no primeiro protocolo do procedimento, pois,
dificilmente um advogado ou parte incidirá no mesmo erro mais de uma vez.

4. CONCLUSÃO

No tocante as vantagens e desvantagens do procedimento, é certo que


existem mais vantagens do que desvantagens, pois a cobrança de custas
judiciais no momento da homologação é ato lícito, porém, desrazoável, isto
porque as partes que buscam realizar acordos normalmente são partes que
estão encontrando dificuldades para receber ou pagar as verbas objeto da
ação, e o procedimento é mais célere e menos complexo do que o uma
reclamação trabalhista normal, de tal modo, as custas não deveriam ser pagas
ou o seu valor deveria ser reduzido. E por fim, a representação das partes por
advogados no momento da homologação do acordo, é ato lícito e razoável,
diante da existência da necessidade de garantir para as partes segurança no
momento da homologação do acordo, pois o juiz e conciliadores só estão no
procedimento para garantir que a legislação seja garantida, possuindo o dever
poder de fiscalizar o ato, mas não podem alterar cláusulas contratuais, se
restringindo o juiz a homologar ou indeferir o acordo, sendo papel essencial do
advogado acompanhar o acordo e evitar prejuízos para o seu cliente.

Diante de todo exposto, é possível constatar que a Reclamação Pré-


Processual é um ótimo procedimento que possui mais vantagens do que
desvantagens. A RPP veio para facilitar a tentativa de solução de conflitos
trabalhistas evitando a necessidade de protocolar uma ação judicial, sem ter
que pagar custas iniciais no procedimento e contratar advogados. Infelizmente
é certo que o procedimento ainda não possui farta divulgação social, pois
poucos empregados e empregadores possuem conhecimento da existência de
tal procedimento, e ainda menos possuem conhecimento sobre suas regras e
requisitos para protocolo inicial, o que enseja na necessidade de buscar um
advogado trabalhista para iniciar o procedimento, mas em seu aspecto geral o
procedimento é efetivo e deve ser utilizado sempre que possível.

5. REFERÊNCIAS

BRASIL, Decreto-Lei nº 5.452, aprova a Consolidação das Leis do Trabalho.


Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del5452.htm
Acesso em: 04.12.2022. de 1º de maio de 1943.

BRASIL, Lei nº 13.105, Código de Processo Civil. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm
Acesso em: 04.12.2022. de 16 de março de 2015.

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 2ª REGIÃO. ATO GP/VPA/CR


N.1, de 18 de março de 2022, Institui e disciplina o procedimento da
Reclamação Pré-processual (RPP) em sede de dissídios individuais no âmbito
do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região.

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO - RR: 10014714020185020078,


Relator: Ives Gandra Da Silva Martins Filho, Data de Julgamento: 30/03/2022,
4ª Turma, Data de Publicação: 01/04/2022.

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