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Marcel do Carmo Fontana

Recursos Trabalhistas

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Abertura
Dr. Siqueira é um advogado bastante experiente. Trabalhou durante muitos anos em uma grande
empresa, sediada na capital paulista, exercendo a função de advogado master. Ele coordenava
a área trabalhista e atuava em casos complexos, com total autonomia para gerir processos e
demandas. Além disso, ministrava aulas de Direito do Trabalho em uma universidade.

Na universidade, Dr. Siqueira teve dois ótimos alunos, Marcelo e Carla, que se tornaram seus
amigos. Dois anos após terem se formado, Siqueira os convidou para abrir com ele um escritório
de advocacia.

Como Marcelo e Carla estavam no início da carreira, os diversos casos que apareciam no
escritório eram recebidos por Dr. Siqueira, que depois, dependendo do grau de complexidade do
processo, encaminhava-os aos colegas.

Descrição do Case
Era uma segunda-feira chuvosa na capital. Dra. Carla havia ficado incumbida de abrir o escritório
naquele dia, pois Dr. Siqueira e Dr. Marcelo estariam viajando a Bauru, para uma audiência, e
só voltariam no dia seguinte. Ao chegar para abrir o escritório, encontrou parado em frente à
porta um rapaz que parecia nervoso e bastante preocupado. Dra. Carla o convidou para entrar
e solicitou que aguardasse, pois logo o atenderia. Ela então chamou o rapaz à sua sala e, após
preencher um cadastro, pediu a ele que falasse de seu problema.

Felipe contou que havia trabalhado em uma grande emissora de televisão. Prestara serviços
para a empresa no período de 10 de abril de 2009 a 19 de julho de 2014, como analista
programador, mediante salário de R$ 12.500,00.

Em seu relato, Felipe afirmou que a empresa, na tentativa de desvirtuar o vínculo de emprego,
exigiu que ele providenciasse uma empresa em seu nome. Caso isso não fosse possível, ele
deveria fornecer os dados da Castor Informática Ltda., uma empresa aberta em 2008. Não se
sabia quem era o proprietário dessa empresa, e apenas um funcionário fornecia as notas ficais
de serviços prestados.

Felipe comentou que havia aceitado a proposta, pois, além de receber um excelente salário,
estava com dificuldade para encontrar outro bom emprego.

Ele então contou a Dra. Carla que já havia procurado outro advogado, e que há dois anos
tentava receber seus direitos trabalhistas, mas sem sucesso.

A doutora ficou preocupada com essa informação, pois havia pouco tempo para ajuizar a ação
trabalhista, e o rapaz perderia o direito de reclamar caso perdesse o prazo.

Entre os casos nos quais Dra. Carla já havia atuado, esse era o mais complexo, pois tratava-se
de uma relação de trabalho em que aparentemente houvera atos ilícitos por parte da empresa.

Ela explicou a seu cliente que montaria uma petição com todos os fatos narrados e as ações
pretendidas. Disse ainda que, segundo o artigo 818 da CLT, cabe a quem entra com o processo
apresentar as provas das alegações que estão sendo feitas.

Assim, Felipe teria de apresentar provas testemunhais, e estas deveriam comprovar que a empresa
havia agido de maneira ilícita. Na seara trabalhista, porém, vigora o princípio da primazia da
realidade sobre a forma, de modo que é necessário averiguar se as provas orais apontam para
uma direção diversa das documentais.

Carla falou ao telefone sobre o caso com Dr. Siqueira, que a orientou a despachar a petição
inicial e acompanhar o andamento do processo.

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Recursos Trabalhistas

De volta ao escritório, Dr. Siqueira recebeu outro cliente, Roberto, que marcara uma reunião
havia alguns dias.

Roberto, um empresário do ramo de confecção, relatou seu caso: ele tinha uma empresa com
determinado sócio e, como ela não havia progredido, resolveram encerrar as atividades. Isso
tinha acontecido alguns anos antes.

Por descuido, Roberto não havia acompanhado todo o processo de encerramento. Os anos se
passaram e recentemente ele havia notado que uma de suas contas-correntes particulares estava
bloqueada.

Roberto contou ainda que, ao buscar informações com o gerente da instituição bancária, ele
observou que a conta havia sido bloqueada judicialmente por um processo trabalhista, e que,
além disso, o valor retido não era suficiente para cobrir o processo.

Dr. Siqueira explicou então que esse é um procedimento comum nesses casos, e que o BacenJud,
um sistema que interliga a Justiça ao Banco Central e às instituições bancárias, realiza a penhora
on-line quando o pagamento da execução não é feito no prazo. O advogado afirmou a Roberto
que faria um levantamento minucioso do que estaria ocorrendo de fato, e pediu ao cliente que
retornasse no dia seguinte.

Roberto retornou ao escritório ainda mais preocupado, pois recebera a notícia de que um oficial
de Justiça, para cumprir um mandado judicial de penhora, havia estado no apartamento que ele
vendera oito anos atrás. O atual proprietário possuía o contrato de compra e venda, mas não
havia feito a escritura definitiva, portanto o apartamento ainda estava no nome de Roberto.

Dr. Siqueira informou que a Justiça realmente age dessa maneira: quando o valor da conta-
corrente é insuficiente para o pagamento de um processo, outros bens que estão no nome da
empresa são bloqueados; caso não sejam encontrados bens, a Justiça parte para os bens dos
sócios, o que está previsto no artigo 50 do Código Civil Brasileiro.

Essa é uma medida que deve ser adotada após a decorrência da insuficiência patrimonial da
empresa, possibilitando o cumprimento da tutela jurisdicional. Nesse contexto, cabe aos seus
sócios o ônus de adimplir os valores devidos ao trabalhador.

Para Dr. Siqueira, caberia agora verificar os recursos a serem adotados para que a situação não
se agravasse ainda mais, pois o processo estava em fase avançada.

Quanto ao proprietário do imóvel vendido, Dr. Siqueira sugeriu entrar com embargos de terceiros,
alegando que a pessoa comprara o imóvel havia oito anos e que a ação tinha quase cinco anos.

Os embargos de terceiros acontecem na fase de execução, no intuito de defender os bens de


terceiros contra turbação. Essa medida é regida no processo do trabalho pelos mesmos artigos
que a regem no processo civil (674 a 681), pois a CLT é omissa em tratar dos embargos de
terceiros no processo do trabalho.

Dr. Siqueira disse que, como o processo teve seu andamento sem a defesa de Roberto, a melhor
interposição seria a do recurso ordinário. Esse é um recurso contra as decisões terminativas em
que se extingue o processo sem julgamento do mérito, no caso de arquivamento dos autos, em
virtude do não comparecimento do reclamante à audiência, que foi o caso de Roberto. O recurso
ordinário é julgado pelos Tribunais Regionais do Trabalho.

Dr. Siqueira chamou seu sócio, Dr. Marcelo, e solicitou a ele que preparasse o recurso ordinário,
a ser apresentado em petição escrita (art. 895 da CLT) e sujeito a preparo e depósito recursal.

Dr. Marcelo não quis questioná-lo na frente do cliente, mas não estava tão certo quanto ao
recurso a ser apresentado. Mais tarde, comentou com Dr. Siqueira sobre a possibilidade de usar,
no caso de Roberto, outro tipo de recurso, como o agravo de petição, previsto no artigo 897 da
CLT.

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Dr. Siqueira refletiu sobre a sugestão e concluiu que realmente seria esse o melhor recurso a
ser usado no momento, e ficou muito satisfeito com os conhecimentos de seu ex-aluno. Mais
tarde, entrou com o recurso proposto por Dr. Marcelo, guardando o recurso ordinário para outra
ocasião, caso fosse necessário.

Passados alguns meses, foi marcada a audiência de Felipe, que tentava provar sua relação de
trabalho com uma emissora de televisão. Dra. Carla acompanhou a audiência, em que foram
ouvidas as testemunhas tanto do reclamante quanto da reclamada.

Impactos do problema
Quando Dra. Carla chegou ao escritório, no retorno da audiência, mostrou-se muito satisfeita.
Ela contou ao Dr. Siqueira que, por meio das testemunhas, foi comprovado o vínculo entre as
partes e, com base no exposto na petição inicial, a empresa não conseguiu se desvencilhar do
ônus que lhe competia – apesar de tentar, e de modo fraudulento.

Devido a essa conduta, a emissora poderá ser enquadrada nos termos do art. 9º da CLT,
constatado o vínculo empregatício com o reclamante no período de 2009 a 2014, nos moldes
do art. 3º da CLT.

Felipe, por fim, teve o reconhecimento da sua relação de emprego com a emissora.

No segundo caso, após os recursos interpostos terem ocorrido com sucesso, evitando-se a
penhora do apartamento vendido, o advogado sugeriu a Roberto que tentassem um acordo com
o empregado que moveu o processo trabalhista, evitando assim estender o caso por um longo
período.

Dr. Siqueira estava muito satisfeito, pois, além de o escritório ter ganhado clientes, ele sabia que
agora poderia confiar casos mais complexos a seus sócios.

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Referências Bibliográficas
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