Você está na página 1de 934

ISSN

Impresso: 0104-0588
On-line: 2237-2083

V.29 - Nº 2

Rev. Estudos da Linguagem Belo Horizonte v. 29 n. 2 p. 647-1638 abr./jun. 2021


Revista de estudos da linguagem
Universidade Federal de Minas Gerais
REITORA: Sandra Regina Goulart Almeida
VICE-REITOR: Alessandro Fernandes Moreira
Faculdade de Letras
DIRETORA: Graciela Inés Ravetti de Gómez
VICE-DIRETORA: Sueli Maria Coelho

Editor-chefe Editoras-associadas
Gustavo Ximenes Cunha (UFMG) Ana Larissa Adorno Maciotto Oliveira (UFMG)
Carla Viana Coscarelli (UFMG)
Editores convidados Helcira Maria Rodrigues de Lima (UFMG)
Stella Esther Ortweiler Tagnin (USP)
Maria José Bocorny Finatto (UFRGS)
Guilherme Fromm (UFU)

Revisão e Normalização Revisão de Língua Inglesa


Alda Lopes Durães Ribeiro Ana Larissa Adorno Marciotto Oliveira (UFMG)
Gustavo Ximenes Cunha Junia de Carvalho Fidelis Braga (UFMG)
Mara Passos Guimarães (UFMG)
Jairo Venício Carvalhais Oliveira
Marisa Mendonça Carneiro (UFMG)

Secretaria Editoração eletrônica


Gustavo Ximenes Cunha (UFMG) Alda Lopes Durães Ribeiro

REVISTA DE ESTUDOS DA LINGUAGEM, v.1 - 1992 - Belo Horizonte, MG,


Faculdade de Letras da UFMG
Histórico:
1992 ano 1, n.1 (jul/dez)
1993 ano 2, n.2 (jan/jun)
1994 Publicação interrompida
1995 ano 4, n.3 (jan/jun); ano 4, n.3, v.2 (jul/dez)
1996 ano 5, n.4, v.1 (jan/jun); ano 5, n.4, v.2; ano 5, n. esp.
1997 ano 6, n.5, v.1 (jan/jun)
Nova Numeração:
1997 v.6, n.2 (jul/dez)
1998 v.7, n.1 (jan/jun)
1998 v.7, n.2 (jul/dez)
1. Linguagem - Periódicos I. Faculdade de Letras da UFMG, Ed.
CDD: 401.05
ISSN: Impresso: 0104-0588
On-line: 2237-2083
Revista de estudos da linguagem
V. 29 - Nº 2 - abr.-jun. 2021

Indexadores
Diadorim [Brazil]
DOAJ (Directory of Open Access Journals) [Sweden]
DRJI (Directory of Research Journals Indexing) [India]
EBSCO [USA]
JournalSeek [USA]
Latindex [Mexico]
Linguistics & Language Behavior Abstracts [USA]
MIAR (Matriu d’Informació per a l’Anàlisi de Revistes) [Spain]
MLA Bibliography [USA]
OAJI (Open Academic Journals Index) [Russian Federation]
Portal CAPES [Brazil]
REDIB (Red Iberoamericana de Innovación y Conocimiento Científico) [Spain]
Sindex (Sientific Indexing Services) [USA]
Web of Science [USA]
WorldCat / OCLC (Online Computer Library Center) [USA]
ZDB (Elektronische Zeitschriftenbibliothek) [Germany]
Revista de estudos da linguagem

Editor-chefe
Gustavo Ximenes Cunha (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)

Editoras-associadas
Ana Larissa Adorno Maciotto Oliveira (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Carla Viana Coscarelli (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Helcira Maria Rodrigues de Lima (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)

Conselho Editorial
Alejandra Vitale (UBA, Ciudad Autónoma de Buenos Aires, Argentina)
Didier Demolin (Université de la Sorbonne Nouvelle Paris 3, Paris, França)
Ieda Maria Alves (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Jairo Nunes (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Scott Schwenter (OSU, Columbus, Ohio, Estados Unidos)
Shlomo Izre'el (TAU, Tel Aviv, Israel)
Stefan Gries (UCSB, Santa Barbara/CA, Estados Unidos)
Teresa Lino (NOVA, Lisboa, Portugal)
Tjerk Hagemeijer (ULisboa, Lisboa, Portugal)
Comissão Científica

Aderlande Pereira Ferraz (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)


Alessandro Panunzi (Unifi, Florença, Itália)
Alina M. S. M. Villalva (ULisboa, Lisboa, Portugal)
Aline Alves Ferreira (UCSB, Santa Barbara/CA, Estados Unidos)
Ana Lúcia de Paula Müller (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Ana Maria Carvalho (UA, Tucson/AZ, Estados Unidos)
Ana Paula Scher (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Anabela Rato (U of T, Toronto/ON, Canadá)
Aparecida de Araújo Oliveira (UFV, Viçosa/MG, Brasil)
Aquiles Tescari Neto (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Augusto Soares da Silva (UCP, Braga, Portugal)
Beth Brait (PUC-SP/USP, São Paulo/SP, Brasil)
Bruno Neves Rati de Melo Rocha (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Carmen Lucia Barreto Matzenauer (UCPEL, Pelotas/RS, Brasil)
Celso Ferrarezi (UNIFAL, Alfenas/MG, Brasil)
César Nardelli Cambraia (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Cristina Name (UFJF, Juiz de Fora/MG, Brasil)
Charlotte C. Galves (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Deise Prina Dutra (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Diana Luz Pessoa de Barros (USP/UPM, São Paulo/SP, Brasil)
Edwiges Morato (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Emília Mendes Lopes (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Esmeralda V. Negrão (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Flávia Azeredo Cerqueira (JHU, Baltimore/MD, Estados Unidos)
Gabriel de Avila Othero (UFRGS, Porto Alegre/RS, Brasil)
Gerardo Augusto Lorenzino (TU, Filadélfia/PA, Estados Unidos)
Glaucia Muniz Proença de Lara (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Hanna Batoréo (UAb, Lisboa, Portugal)
Heliana Ribeiro de Mello (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Heronides Moura (UFSC, Florianópolis/SC, Brasil)
Hilario Bohn (UCPEL, Pelotas/RS, Brasil)
Hugo Mari (PUC-Minas, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Ida Lucia Machado (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Ieda Maria Alves (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Ivã Carlos Lopes (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Jairo Nunes (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Jairo Venício Carvalhais Oliveira (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Jean Cristtus Portela (UNESP-Araraquara, Araraquara/SP, Brasil)
João Antônio de Moraes (UFRJ, Rio de Janeiro/ RJ, Brasil)
João Miguel Marques da Costa (Universidade Nova da Lisboa, Lisboa, Portugal)
João Queiroz (UFJF, Juiz de Fora/MG, Brasil)
José Magalhaes (UFU, Uberlândia/MG, Brasil)
João Saramago (Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal)
José Borges Neto (UFPR, Curitiba/PR, Brasil)
Kanavillil Rajagopalan (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Laura Alvarez Lopez (Universidade de Estocolmo, Stockholm, Suécia)
Leo Wetzels (Free Univ. of Amsterdam, Amsterdã, Holanda)
Laurent Filliettaz (Université de Genève, Genebra, Suiça)
Leonel Figueiredo de Alencar (UFC, Fortaleza/CE, Brasil)
Livia Oushiro (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Lodenir Becker Karnopp (UFRGS, Porto Alegre/RS, Brasil)
Lorenzo Teixeira Vitral (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Luiz Amaral (UMass Amherst, Amherst/MA, Estados Unidos)
Luiz Carlos Cagliari (UNESP, São Paulo/SP, Brasil)
Luiz Carlos Travaglia (UFU, Uberlândia/MG, Brasil)
Marcelo Barra Ferreira (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Marcia Cançado (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Márcio Leitão (UFPB, João Pessoa/PB, Brasil)
Marcus Maia (UFRJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil)
Maria Bernadete Marques Abaurre (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Maria Cecília Camargo Magalhães (PUC-SP, São Paulo/SP, Brasil)
Maria Cecília Magalhães Mollica (UFRJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil)
Maria Cândida Trindade Costa de Seabra (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Maria Cristina Figueiredo Silva (UFPR, Curitiba/PR, Brasil)
Maria Luíza Braga (PUC/RJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil)
Maria Marta P. Scherre (UNB, Brasília/DF, Brasil)
Micheline Mattedi Tomazi (UFES, Vitória/ES, Brasil)
Miguel Oliveira, Jr. (UFAL, Maceió, Alagoas, Brasil)
Monica Santos de Souza Melo (UFV, Viçosa/MG, Brasil)
Patricia Matos Amaral (UI, Bloomington/IN, Estados Unidos)
Paulo Roberto Gonçalves Segundo (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Philippe Martin (Université Paris 7, Paris, França)
Rafael Nonato (Museu Nacional-UFRJ, Rio de Janeiro/RJ, Brasil)
Raquel Meister Ko. Freitag (UFS, Aracaju/SE, Brasil)
Roberto de Almeida (Concordia University, Montreal/QC, Canadá)
Ronice Müller de Quadros (UFSC, Florianópolis/SC, Brasil)
Ronald Beline (USP, São Paulo/SP, Brasil)
Rove Chishman (UNISINOS, São Leopoldo/RS, Brasil)
Sanderléia Longhin-Thomazi (UNESP, São Paulo/SP, Brasil)
Sergio de Moura Menuzzi (UFRGS, Porto Alegre/RS, Brasil)
Seung- Hwa Lee (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Sírio Possenti (UNICAMP, Campinas/SP, Brasil)
Suzi Lima (U of T / UFRJ, Toronto/ON - Rio de Janeiro/RJ, Brasil)
Thais Cristofaro Alves da Silva (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Tommaso Raso (UFMG, Belo Horizonte/MG-Brasil)
Tony Berber Sardinha (PUC-SP, São Paulo/SP, Brasil)
Ubiratã Kickhöfel Alves (UFRGS, Porto Alegre/RS, Brasil)
Vander Viana (University of Stirling, Stirling/Sld, Reino Unido)
Vanise Gomes de Medeiros (UFF, Niterói/RJ, Brasil)
Vera Lucia Lopes Cristovao (UEL, Londrina/PR, Brasil)
Vera Menezes (UFMG, Belo Horizonte/MG, Brasil)
Vilson José Leffa (UCPel, Pelotas/RS, Brasil)
Sumário / Contents

Linguística de Corpus: conquistas e desafios


Corpus Linguistics: achievements and challenges
Stella Esther Ortweiller Tagnin
Maria José Bocorny Finatto
Guilherme Fromm .............................................................................. 661

O carpinteiro e a madeira: a constituição de corpora jurídicos


em perspectiva etnometodológica
The carpenter and the wood: the constitution of legal data from
an ethnomethodological perspective
Rubens Damasceno-Morais ............................................................... 673

Diseño de corpus específicos para el estudio histórico gramatical:


el caso de las construcciones con clítico femenino
The creation of specific corpora for the historical study of grammar:
the case of constructions with the feminine clitic
Nicolás Arellano ................................................................................. 711

Um corpus de Estudos de Gênero: por quê, como e para quê?


A Gender Studies corpus: why, how and for what?
Marina Leivas Waquil ........................................................................ 739

Construindo corpora bilíngues quimbundo-português-quimbundo


Building Kimbundu-Portuguese-Kimbundu bilingual corpora
Paulo Jeferson Pilar Araújo ................................................................ 771

Brazilian Sign Language corpus: Acre Libras Inventory


Corpus da Língua Brasileira de Sinais: inventário de Libras do Acre
Ronice Müller de Quadros
Alexandre Melo de Sousa .................................................................. 805
Using machine translator as a pedagogical resource in English
for specific purposes courses in the academic context
O uso do tradutor automático como recurso pedagógico na aula
de inglês para propósitos específicos no contexto acadêmico
Débora Borsatti
Adriana Blanco Riess ......................................................................... 829

An investigation of linguistic problems in automatic multi-document


summaries
Uma investigação de problemas linguísticos em sumários
automáticos multidocumento
Márcio de Souza Dias
Ariani Di Felippo
Amanda Pontes Rassi
Paula Christina Figueira Cardoso
Fernando Antônio Asevedo Nóbrega
Thiago Alexandre Salgueiro Pardo .................................................... 859

Procedimentos para construção do Corpus da Computação da


Língua Inglesa (CoCLI) e cálculo do esforço na construção manual
de corpora
Procedures for Corpus of Computing in English (CoCLI) construction
and effort calculation in manual construction of corpora
Fernando Paulino de Oliveira ............................................................ 909

Inteligibilidade e convencionalidade em textos de divulgação


da área médica em português brasileiro
Readability and conventionality in expository texts in Brazilian
Portuguese
Yuli Souza Carvalho
Rozane Rodrigues Rebechi ................................................................ 959
Propriedades linguísticas da redação do Enem: uma análise
computacional
Linguistic properties of Enem essays: a computational analysis
Roberlei Alves Bertucci ..................................................................... 999

Sujeito oculto às claras: uma abordagem descritivo-computacional


Omitted subjects revealed: a quantitative-descriptive approach
Cláudia Freitas
Elvis de Souza .................................................................................... 1033

O papel do corpus de estudo no aprimoramento descritivo da


complementaridade informacional multidocumento
The role of the study corpus in the descriptive improvement of
multi-document informational complementarity
Jackson Wilke da Cruz Souza ............................................................ 1059

Pragmática de Corpus: o que é e onde estamos


Corpus Pragmatics: what it is and where we are now
Giovani Santos
Mateus Miranda ................................................................................. 1089

Linguística de Corpus aplicada à Semântica de Frames: investigando


conceptualizações pró-escolha no debate da Sugestão Legislativa
no. 15/2014
Corpus Linguistics applied to Frame Semantics: investigating
pro-choice conceptualizations in SUG no. 15/2014’s debate
Aline Nardes dos Santos
Rove Chishman .................................................................................. 1137

De marcar la cancha a una canchereada na metaforização da


política pelo futebol: análise de unidades fraseológicas especializadas
em corpus jornalístico argentino
From “marcar la cancha” to “una canchereada” in the metaphorization
of politics by football: analysis of specialized phraseological units in
Argentinean journalistic corpus
Ariel Novodvorski
Cleci Regina Bevilacqua .................................................................... 1191
Analysing the behaviour of academic collocations in a corpus
of research-papers: a data-driven study
Analisando o comportamento de colocações acadêmicas em um
corpus de artigos científicos: um estudo dirigido por dados
Paula Tavares Pinto
Diva Cardoso de Camargo
Talita Serpa
Luciano Franco da Silva .................................................................... 1229

“Quero que vocês me acompanhem nessa jornada”: análise da


emergência de metáforas em narrativas sobre o câncer de mama
a partir de estratégias de Linguística de Corpus
“I want you to come with me in this journey”: analysis of the
emergence of metaphors in breast cancer narratives based on
Corpus Linguistics strategies
Ana Rachel Salgado
Aline Aver Vanin
Gabriele Honsha Gomes
Leticia Presotto .................................................................................. 1253

Frequência e distribuição de plurais irregulares no Corpus


Brasileiro
Frequency and distribution of irregular plurals in the Corpus
Brasileiro
Luiz Carlos Schwindt
Pedro Eugênio Gaggiola
Isabela Prisco Petry ............................................................................ 1289
Uma proposta de coextensividade entre termo técnico, grupo
nominal e item lexical no português brasileiro: um estudo com
base em ferramentas da linguística de corpus sob o arcabouço
de teoria sistêmico-funcional
A proposal of coextensiveness between technical term, nominal
group, and lexical item in Brazilian Portuguese: a study based
on corpus linguistics’ software within the framework of systemic-
functional theory
Júlia Santos Nunes Rodrigues
Kícila Ferreguetti
Adriana S. Pagano .............................................................................. 1325

The Pragmatics of Aeronautical English: an investigation through


Corpus Linguistics
A Pragmática do inglês aeronáutico: uma investigação pela
Linguística de Corpus
Malila Carvalho de Almeida Prado .................................................... 1381

Analyzing the use of personal pronouns in aeronautical


communications through CORPAC (Corpus of Pilot and Air
Traffic Controller Communications)
O uso de pronomes pessoais em comunicações aeronáuticas:
uma análise através do CORPAC (Corpus of Pilot and Air
Traffic Controller Communications)
Aline Pacheco .................................................................................... 1415

Weather events in air traffic control standards and communication:


discourse patterns and implications for language teaching and
assessment
Eventos meteorológicos em normas e comunicações de controle
de tráfego aéreo: padrões discursivos e implicações para o ensino
e a avaliação de línguas
Rafaela Araújo Jordão Rigaud Peixoto
Patrícia Tosqui-Lucks ........................................................................ 1443
Corpus linguistics and continuous professional development:
participants’ prior knowledge, motivations and appraisals
Linguística de corpus e formação profissional contínua:
conhecimento prévio, motivações e avaliações dos participantes
Vander Viana
Lu Lu .................................................................................................. 1485

O desenho de tarefas pedagógicas para o ensino de Inglês para


Fins Acadêmicos: conquistas e desafios da Linguística de Corpus
The design of pedagogical tasks for teaching English for Academic
Purposes: achievements and challenges of Corpus Linguistics
Ana Eliza Pereira Bocorny
Anamaria Welp .................................................................................. 1529
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021

Linguística de Corpus: conquistas e desafios

Corpus Linguistics: achievements and challenges

Stella Esther Ortweiller Tagnin


Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo / Brasil
seotagni@usp.br
https://orcid.org/0000-0002-5517-2710
Maria José Bocorny Finatto
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
mariafinatto@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-6022-8408
Guilherme Fromm
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais / Brasil
guifromm@ufu.br
https://orcid.org/0000-0001-5654-0135

Quando pensamos em quase todas as áreas de descrição linguística


e na Linguística Aplicada, no século XXI, a abordagem/metodologia da
Linguística de Corpus (doravante LC) é peça central no desenvolvimento
de vários estudos. Afinal, ela se propõe como uma abordagem empírica,
na qual os corpora estão disponíveis para validações dessas pesquisas e
futuros desdobramentos das mesmas. Os estudos baseados em corpora
(e toda a tecnologia envolvida neles) não param de se multiplicar e de
solidificar esta tendência de empirismo e verificação de dados reais
de língua. Entre esses estudos, temos os que lidam com corpora de
forma indireta (corpus based), como comprovação e exemplificação de
pressuposições levantadas pelo pesquisador. E há também os de forma
direta (corpus driven), nos quais o próprio corpus serve de ponto de
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.661-671
662 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021

partida para o pesquisador levantar hipóteses, muitas nunca cogitadas. Já


são quase sessenta anos (tomando como base a publicação do primeiro
grande corpus, Brown Corpus, em 1964) que trabalhos baseados em
corpora vêm se destacando na grande área da Linguística.
De parcos corpora e trabalhos neles baseados até os mega-
corpora (na base de bilhões de palavras) disponíveis na Internet e a
infinidade de pesquisas que deles podem ser geradas, esta edição da
RELIN propôs escrutinar passado, presente e futuro desta abordagem e
metodologia (ou teoria, para alguns) que trabalha com dados empíricos
advindos de exemplos reais do uso da linguagem. Como resultado,
nosso rol de textos engloba várias áreas do conhecimento linguístico: o
relacionamento de teorias linguísticas com a metodologia da LC, estudos
sobre fraseologismos, tradução, gramática, linguagens de especialidades
e ensino. Além dessas áreas, destacamos os textos que trabalham com
a própria metodologia em si (especialmente quanto à compilação de
corpora) e os textos que trabalham a interface da LC com a Linguística
Computacional e o Processamento de Língua/Linguagem Natural (PLN).
Comecemos, então, pelos textos que nos remetem à própria
compilação e exploração de variados corpora. Com o enorme número
de textos disponíveis na internet, seria de se acreditar que compilar um
corpus, de qualquer área, fosse tarefa fácil. Ledo engano. É justamente essa
profusão de material que demanda do pesquisador uma criteriosa seleção,
após a qual os textos ainda terão de passar por vários procedimentos
antes de poderem ser investigados por ferramentas computacionais de
análise linguística. Os artigos que se seguem comprovam e ilustram os
percalços inerentes à compilação de corpora especializados.
Damasceno-Morais, em “O carpinteiro e a madeira: a constituição
de corpora jurídicos em perspectiva etnometodológica”, discute a
construção de um corpus cuja finalidade é descrever e analisar como
desembargadores num tribunal brasileiro de Segunda Instância atuam
numa situação argumentativa. O corpus, denominado TRIBUNAL, é
constituído a partir de áudios com exemplos reais de uso da linguagem
empregada em deliberações de magistrados em processos de danos
morais. Embora o foco do artigo seja a descrição do processo de
compilação do corpus, e não a análise dos dados, que foram a essência
de sua tese de doutorado apresentada na França, o autor já adianta que
foi possível confirmar que o discurso jurídico está longe de ser frio e
asséptico.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021 663

Em “Diseño de corpus específicos para el estudio histórico


gramatical: el caso de las construcciones con clítico feminino”, Arellano
preconiza o uso de um corpus específico para o estudo histórico do clítico
la na variante argentina do espanhol. Após discutir as desvantagens
de utilizar corpora gerais para esse estudo e apontar resultados não
satisfatórios obtidos com o CORDE, contrasta-os com uma pesquisa
feita com um corpus composto por peças teatrais argentinas extraídas
de uma antologia que abarca a totalidade do século XIX e a primeira
metade do século XX. Essa escolha baseia-se no pressuposto de que o
teatro melhor retrata a linguagem oral. Após evidenciar suas vantagens,
conclui salientando outras áreas que podem se beneficiar desse tipo de
corpus, não só para estudos históricos como também sincrônicos.
O objetivo precípuo da pesquisa relatada por Waquil, “Um
corpus de Estudos de Gênero: por quê, como e para quê?”, ainda em
andamento, é construir um glossário com termos do campo de Estudos
de Gênero no Brasil, com o intuito de contribuir para uma comunicação
especializada mais precisa na área. Para isso, alia os pressupostos da
Teoria Comunicativa da Terminologia com a metodologia da Linguística
de Corpus. O artigo, conforme o título anuncia, detém-se na justificativa
da construção de um corpus especializado (por quê), composto por artigos
de duas publicações representativas da área (como) para construir um
glossário com termos e contextos definitórios (para quê).
Araújo, em “Construindo corpora bilíngues quimbundo-
português-quimbundo”, debruça-se sobre a problemática da construção de
corpora bilíngues que contemplem o quimbundo do Libolo, uma região
do Kwansa Sul, e o português angolano a fim de melhor documentar
fenômenos de seu reconhecido contato linguístico. Metodologicamente,
faz uma aproximação entre a Linguística de Corpus e a Linguística
Africana e propõe a construção de corpora escritos e orais, bilíngues e/
ou paralelos. Para os corpora escritos, sugere a plataforma do Corpus
Tycho Brahe e para os de fala o método de transcrição proposto pelo
projeto C-Oral-Angola. O autor apresenta vários exemplos de falas
e discute problemas de transcrição desses corpora, em especial em
relação à identificação dos fenômenos de codeswitching e empréstimos,
e argumenta que esses corpora poderão retratar a real situação de contato
dessas línguas, além de fornecer dados objetivos para embasar a hipótese
de um continuum afro-brasileiro do português.
664 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021

Já Quadros e Sousa apresentam, em “Brazilian Sign Language


corpus: Acre Libras Inventory”, a proposta teórico-metodológica de um
corpus de Língua Brasileira de Sinais (Libras) a ser desenvolvido no
âmbito do projeto Inventário de Língua Brasileira de Sinais na Região
do município de Rio Branco, no estado do Acre. O projeto faz parte
do Inventário Nacional da Diversidade Linguística, que cataloga as
línguas faladas no Brasil visando disponibilizar informações sobre seu
patrimônio linguístico e prover políticas para a proteção dessas línguas.
Os autores detalham a metodologia utilizada para a coleta, transcrição
e análise dos dados. Detêm-se, em especial, na coleta dos dados, que
implica em registrar uma língua baseada numa complexa produção de
gestos, olhares, movimentos corporais e outros não encontrados em textos
escritos. Os informantes são selecionados de acordo com rígidos critérios
para garantir a autenticidade dos dados. Participam de um diálogo em
Libras, conduzido por um pesquisador, gravado com quatro câmeras
para proporcionar diferentes perspectivas. O processo de anotação do
corpus e suas dificuldades, assim como a organização dos dados e a
disponibilização on-line também são discutidos. Os autores esperam que
a sistematização do processo de criação do corpus possa contribuir para
consolidar a teoria e a prática em relação à língua de sinais no Brasil.
Este número da revista traz um interessante bloco de artigos que
trata da correlação entre o Processamento da Linguagem Natural (PLN)
e a Linguística de Corpus (LC). São trabalhos que lidam com a tradução
automática, com temas como a sumarização automática de diferentes
documentos, com a descrição gramatical e de gêneros textuais. E, mesmo
em tempos em que a obtenção de um corpus – entendido apenas como
uma coleção de documentos em formato digital - tornou-se algo muito
facilitado por conta da Internet, temos um artigo que, justamente, destaca
aspectos envolvidos no esforço desse empreendimento.
Nesse quadro, o artigo “Using machine translator as a pedagogical
resource in English for specific purposes courses in the academic
context”, de Borsatti e Riess, traz uma proposta de uso pedagógico de
tradução automática, feita por ferramentas on-line, em cursos de inglês
para fins específicos. A intenção é avaliar a eficiência dessa tecnologia
como suporte para a leitura de textos científicos em inglês como L2/ LE.
Assim, a ferramenta Google Translate é posta à prova como um recurso
que pode ser bastante útil.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021 665

Por sua vez, o artigo “An investigation of linguistic problems


in automatic multi-document summaries”, de Dias, Di Felippo, Rassi,
Cardoso, Nóbrega e Pardo, trata de problemas de sumários – ou sínteses
- de textos gerados automaticamente, salientando-se que esses sumários
partem de diferentes documentos acerca de um tema comum. Os autores
ponderam que a anotação manual de extratos tende a gerar subsídios para
as tarefas automáticas de detecção e correção de problemas linguísticos
com vistas à produção desses sumários. Esse procedimento pode torná-
los não só mais informativos, isto é, com maior cobertura do conteúdo
do material de origem, como também dotá-los de melhor estruturação
linguística.
Na sequência, o trabalho “Procedimentos para construção
do Corpus da Computação da Língua Inglesa (CoCLI) e cálculo do
esforço na construção manual de corpora”, de Oliveira, descreve os
procedimentos metodológicos da pesquisa intitulada “ToGatherUp: um
protótipo de ferramenta para a construção de corpora”. A proposta do
trabalho é verificar em que medida recursos como esse podem reduzir
o tempo e o esforço despendidos pelo pesquisador em projetos de
elaboração manual de corpora. Esse é um artigo que toca em um ponto
fundamental e que contribui para todos os que lidam com a compilação
de corpus.
O artigo “Inteligibilidade e convencionalidade em textos de
divulgação da área médica em português brasileiro”, de Carvalho e
Rebechi, faz um cotejo de dados indicativos de inteligibilidade e de
convencionalidade em textos de divulgação da área médica em português.
O propósito é verificar a potencial adequação desses textos ao público
brasileiro. São examinados textos escritos originalmente em inglês e
suas traduções para o português, reunidos em um corpus comparável. As
autoras verificaram que tanto os textos escritos originalmente em português
quanto aqueles traduzidos não se mostram totalmente adequados para o
leitor-alvo brasileiro de textos de divulgação médica. As autoras ponderam
que a quebra da convencionalidade, identificada nos textos traduzidos,
pode dificultar ainda mais a compreensão do leitor médio.
O artigo “Propriedades linguísticas da redação do Enem: uma
análise computacional”, de Bertucci, descreve algumas propriedades
linguísticas recorrentes em textos nota 1000 do Enem. Foram examinadas
95 redações que alcançaram a nota máxima nos anos de 2014, 2018 e
2019, com auxílio do software Tropes, uma ferramenta computacional
666 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021

de análise lexical que verifica as recorrências de categorias e repertório


vocabular. O trabalho pretende contribuir com os estudos de corpora,
dedicados aos gêneros escolares e com o ensino, prestando a importante
contribuição de apresentar um novo software para a nossa comunidade
de estudos.
No artigo “Sujeito oculto às claras: uma abordagem descritivo-
computacional”, Freitas e Souza nos trazem estudos descritivos e
computacionais relacionados ao tema do sujeito oculto. A proposta do
trabalho é identificar esses sujeitos, retirá-los dos textos e reintroduzi-
los, verificando-se o impacto disso sobre a estruturação sintática e o
reconhecimento automático em analisadores automáticos de linguagem.
Esse trabalho mostra um caminho interessante e original para apoiar a
descrição desses elementos gramaticais.
Por fim, nesse bloco, o artigo “O papel do corpus de estudo
no aprimoramento descritivo da complementaridade informacional
multidocumento”, de Souza, pretende reconstruir um percurso
metodológico no que se refere ao estudo em corpus das relações CST
(Cross-document Structure Theory), que lida com textos jornalísticos do
Português. O autor nos apresenta o corpus CSTNews, um conjunto de
textos jornalísticos anotados segundo a teoria discursiva multidocumento
CST. A partir do seu ensaio, o autor nos mostra como avançar nesse tipo
de estudo, que lida com diferentes textos escritos sobre um mesmo tema/
tópico, buscando alternativas para representar o seu conteúdo a partir do
processamento automático.
Nosso número apresenta dois artigos que trabalham a relação
corpora/teoria. Embora a LC não seja uma metodologia que funcione
com absolutamente todas as teorias linguísticas (como o Gerativismo,
por exemplo), é importante destacar que a mesma pode funcionar bem
com teorias consideradas antigas, não só com as mais novas, que já
pressupõem a LC como base (que é o caso da Linguística Sistêmica-
Funcional). Além de ser aplicado como abordagem/metodologia, o uso
de corpora também gera novas perspectivas e novas teorias derivadas,
como vemos nos textos a seguir.
Em “Pragmática de Corpus: o que é e onde estamos”, Santos
e Miranda, conforme o título já evidencia, apresentam uma nova área
de estudos. Partindo de um histórico da Linguística de Corpus e da
Pragmática, discutem como a intersecção dessas duas áreas fez emergir
a Pragmática de Corpus e como uma se beneficia da outra. Uma revisão
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021 667

da literatura discute seus aspectos teórico-metodológicos e seus desafios.


Os autores introduzem as abordagens forma-função e função-forma e
investigam, a título de exemplificação, com base em dois corpora de
fala, as funções do marcador pragmático kind of, no discurso oral de
brasileiros universitários no Brasil e na Irlanda, utilizando a abordagem
forma-função.
Seguindo a ideia de artigos que trabalham com teorias
linguísticas, o texto “Linguística de Corpus aplicada à Semântica de
Frames: investigando conceptualizações pró-escolha no debate da
Sugestão Legislativa n.º 15/2014”, de Santos e Chishman, traça um
paralelo entre a Semântica de Frames, de Fillmore, e a metodologia
da Linguística de Corpus. Com um corpus composto por textos
retirados de transcrições de audiências públicas (numa discussão sobre
a validade do aborto), as autoras analisam o material coletado através
de um programa computacional (QSR NVivo, com direcionamento
top-down) e uma plataforma on-line para análise de corpora (Sketch
Engine, com direcionamento bottom-up), com o intuito de investigar
redes de significado na confluência entre uma teoria e uma metodologia.
Como resultado, são apresentados modelos de frames (retirados das
transcrições) dos defensores da proposta, que contêm: uma definição
do frame, seus elementos (com as respectivas definições), os termos
evocadores e exemplos retirados do corpus.
Toda uma área de análise linguística voltada para o trabalho com
unidades de sentido que ultrapassam uma única palavra tem um grande
destaque no século XXI: a Fraseologia. Do encontro frequente (ou seja,
regular) de palavras gramaticais e lexicais, essa área engloba estudos
desde unidades compostas por duas palavras (os chamados bigramas) até
textos inteiros (como uma fábula). Três textos deste número trabalham
com essa abordagem de análise.
O artigo de Novodvorski e Bevilacqua, “De marcar la cancha a
una canchereada na metaforização da política pelo futebol: análise de
unidades fraseológicas especializadas em corpus jornalístico argentino”,
apresenta uma análise de termos e unidades fraseológicas especializadas,
do âmbito do futebol, em processos de metaforização com o domínio alvo
da política. A partir de um corpus jornalístico monolíngue em espanhol
rio-platense, da coluna Humor Político do jornal argentino Clarín, os
autores identificaram construções que atestam a metaforização da política
(um campo abstrato) pelo futebol (um campo mais concreto).
668 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021

A dificuldade de usar colocações em artigos acadêmicos escritos


em língua inglesa é o tópico de “Analysing the behaviour of academic
collocations in a corpus of research-papers: a data-driven study”, de
Pinto, Camargo, Serpa e Silva. A investigação baseia-se no corpus
Brazilian Academic Corpus of English (BrACE) composto por artigos
científicos extraídos da plataforma SciELO, escritos por pesquisadores
brasileiros, totalizando 906.000 palavras em oito áreas. As colocações
usadas com maior frequência pelos pesquisadores brasileiros foram
comparadas com as de maior frequência em artigos escritos por autores
anglófonos. Para essa comparação, foram usadas três conhecidas listas de
colocações acadêmicas e um corpus de inglês acadêmico, o The Oxford
Corpus of Academic English (OCAE), com 71.372.972 palavras. Os
resultados apontaram principalmente um subuso dessas colocações pelos
pesquisadores brasileiros. As autoras concluem discutindo a validade
de fazer generalizações a partir de seus dados, em vista do reduzido
tamanho de seu corpus, mas contemplam novas pesquisas para validar
esses dados. Ao final, apresentam sugestões para aprimorar o ensino do
inglês acadêmico.
Em “‘Quero que vocês me acompanhem nessa jornada’: análise da
emergência de metáforas em narrativas sobre o câncer de mama a partir de
estratégias de Linguística de Corpus”, Salgado, Vanin, Gomes e Presotto
analisam um tema médico sensível sob a perspectiva de como o mesmo
é apresentado nos textos disponibilizados em blogs sobre o assunto. Para
tanto, usam da metodologia da LC para analisar terminologicamente as
estratégias de coping, a forma como a paciente enfrenta a crise pela qual
está passando, e uma de suas possíveis manifestações textuais, que é o
uso de metáforas (como demonstração de suas experiências subjetivas).
Partindo de um corpus bastante representativo, as autoras apresentam a
descrição da metodologia e resultados a partir de um recorte de estudo,
tomando como ponto de partida as palavras-chave, as consequentes
metáforas que delas derivam e subjazem à narrativa individual de um blog
específico (ou seja, um recorte do corpus total) e indicam a importância
da sensibilização, por parte das equipes médicas, na subjetividade de
como cada paciente enfrenta a doença.
Além dos estudos lexicais, os primeiros a serem abordados pela
LC, estudos gramaticais (no sentido mais hardcore, com as subáreas
mais tradicionais da Linguística) continuam sendo elaborados usando
corpora como base. O texto a seguir é um exemplo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021 669

O texto de Schwindt, Gaggiola e Petry, intitulado ‘Frequência


e distribuição de plurais irregulares no Corpus Brasileiro”, descreve a
questão dos plurais irregulares de substantivos e adjetivos no português
brasileiro, a partir da análise dos exemplos disponibilizados através dos
types do Corpus Brasileiro e tomando a Plataforma R como ferramenta
de análise do corpus. Os autores procuram entender possíveis regras de
formação de plural em três tipos de sílabas finais (predominantemente
nomes oxítonos terminados em vogal+u/l e ão no singular), para
demonstrar alguns padrões de regularidade na formação de plurais menos
comuns (que fogem, no caso, das terminações predominantes vogal+is
e ões) na língua portuguesa.
Trabalhos em Terminologia, uma das primeiras áreas a se
beneficiar da metodologia da LC, junto com os Estudos de Tradução,
continuam a ser elaborados. Podemos perceber, no entanto, que esses
trabalhos estão sendo aliados a novas subáreas (como a gramática
tradicional e o ensino) e teorias para o desenvolvimento de estudos mais
complexos, como vemos a seguir.
“Uma proposta de coextensividade entre termo técnico, grupo
nominal e item lexical no português brasileiro: um estudo com base
em ferramentas da linguística de corpus sob o arcabouço de teoria
sistêmico-funcional”, o texto proposto por Rodrigues, Ferreguetti
e Pagano, baseado nas propostas da Teoria Sistêmico-Funcional da
Halliday e focado no fenômeno da coextensividade. Para o estudo, foi
compilado um corpus (textos acadêmicos sobre Diabetes Mellitus tipo
II, com 133.232 tokens), em português brasileiro e, como corpus de
referência, foi usado o CALIBRA (também com textos acadêmicos),
compilado usando princípios da a tipologia do contexto de cultura.
Através do uso do software AntConc, foram analisadas três palavras-
chave (autocuidado, diabetes, saúde) e os respectivos clusters/ngrams
das mesmas, mostrando as possibilidades do uso das teorias de Pearson
no tratamento de terminologias.
Prado, em “The Pragmatics of Aeronautical English: an
investigation through Corpus Linguistics”, objetiva identificar, num
corpus oral, elementos que caracterizam a fluência e a interação no inglês
aeronáutico, duas das habilidades da Escala de Proficiência Linguística da
ICAO para avaliar a proficiência em inglês de pilotos e controladores de
tráfego aéreo de modo que possam atuar em operações internacionais. Sua
pesquisa investiga padrões de três palavras no corpus Radio Telephony
670 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021

Plain English Corpus – RTPEC – com 130 áudios transcritos totalizando


110.737 palavras. O foco do estudo é o desempenho desses profissionais
em situações anormais, quando a Fraseologia Padrão não é suficiente
e recorrem ao chamado Plain English para negociar a solução do
problema. Seus resultados indicam que se faz necessária uma discussão
dos conceitos pedagógicos relativos ao conteúdo do inglês aeronáutico
em sala de aula, privilegiando uma conscientização pragmática e uma
tolerância cultural.
Em “Analyzing the use of personal pronouns in aeronautical
communications through CORPAC (Corpus of Pilot and Air Traffic
Controller Communications)”, Pacheco mostra o processo de compilação
e análise de um corpus de especialidade, o CORPAC (com 36 mil tokens,
por enquanto), e uma análise menos comum do que se espera nesse tipo
de corpus: a frequência de uso de pronomes pessoais (que, teoricamente,
deveriam ser evitados na fraseologia área, para se evitar ambiguidade). No
momento, o corpus está sendo alimentado com a transcrição de vídeos de
treinamento para pilotos sobre situações de emergência e analisado com
o WordSmith Tools (lista de palavras, seleção de pronomes pessoais e
clusters deles derivados). O objetivo do trabalho com pronomes no corpus
de especialidade é contribuir para o treinamento, elaboração de currículo
e testes para a linguagem de aviação em língua inglesa (Aviation English).
Continuando no tema da aeronáutica e as questões de comunicação
entre controle de tráfego aéreo (ATC) e pilotos (comunicações por
radiotelefonia), Peixoto e Tosqui-Lucks, no seu texto intitulado “Weather
events in air traffic control standards and communication: discourse
patterns and implications for language teaching and assessment”, se
voltam para outra faceta que pode gerar problemas de comunicação:
a terminologia sobre eventos meteorológicos a ser usada nos diálogos
entre controladores e pilotos. Desta vez, o público-alvo escolhido são
os futuros controladores de voo em suas três grandes áreas de atuação:
torre, controle de aproximação e controle de área. Foram analisados 11
termos relacionados à meteorologia num corpus de aprendizes (dividido
em três subcorpora) com a ajuda do AntConc; os textos usados para o
corpus de referência foram os manuais (brasileiros e internacionais)
sobre fraseologismos na área. Resultados indicam que os padrões
terminológicos dependem muito do contexto e que os cursos oferecidos
no Brasil são eficazes para o ensino da terminologia da área.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 661-671, 2021 671

A LC vem se aproximando, no século XXI, das questões de


ensino, sejam elas relacionadas à aprendizagem da própria abordagem/
metodologia, sejam elas relacionadas ao uso de corpora como base
para desenvolvimento de material educacional. Os próximos dois textos
demonstram essas possibilidades.
“Corpus linguistics and continuous professional development:
participants’ prior knowledge, motivations and appraisals”, texto de
Viana e Lu, pretende nos mostrar, através de uma pesquisa com 28
respondentes de um curso livre no Reino Unido, como a Linguística
de Corpus está sendo aplicada na prática pedagógica e nas pesquisas
em diversas áreas. Dois grupos, tradicionalmente, são abordados como
os principais beneficiários da LC: professores de língua e tradutores;
os autores traçam um panorama (através de uma análise bibliográfica)
bastante abrangente das vantagens e desafios no uso de corpora que essas
duas áreas apresentam. Na pesquisa com os alunos do curso livre, foram
levantadas várias razões para o interesse dos mesmos no trabalho com
LC (especialmente no que concerne ao ensino de línguas e seu papel
como metodologia), suas expectativas para com o curso e as prováveis
barreiras que enfrentariam.
Para terminar este número temático da RELIN, o texto de Bocorny
e Welp, intitulado “O desenho de tarefas pedagógicas para o ensino de
Inglês para Fins Acadêmicos: conquistas e desafios da Linguística de
Corpus”, trabalha com a ideia de internacionalização e publicação de
artigos acadêmicos em língua inglesa. Para tanto, as autoras sugerem
princípios para a elaboração de tarefas pedagógicas (e o consequente uso
na área de Inglês para Fins Acadêmicos) a partir de um corpus (CODISAE,
aqui num recorte) composto por textos em inglês (língua franca da
academia) de áreas de especialidade (no caso, mais especificamente, da
Física), analisando suas introduções. Como sequência, essas tarefas serão
disponibilizadas num Ambiente Virtual de Aprendizagem.
Esperamos que a leitura desse número, através dos diversos
tipos de análise e reflexões apresentados, seja muito proveitosa, tanto
para os pesquisadores iniciantes quanto para os mais experientes na
abordagem e na metodologia da Linguística de Corpus. Por fim, mas
não menos importante, deixamos o registro do nosso agradecimento ao
editor e colega Gustavo Ximenes, à equipe de trabalho da RELIN, aos
pareceristas e a todos que, direta ou indiretamente, ajudaram a concretizar
mais esta edição.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

O carpinteiro e a madeira: a constituição


de corpora jurídicos em perspectiva etnometodológica

The carpenter and the wood: the constitution of legal


data from an ethnomethodological perspective

Rubens Damasceno-Morais
Universidade Federal de Goiás (UFG), Goiânia, Goiás / Brasil
r.damasceno.morais@uol.com.br
http://orcid.org/0000-0001-6245-6394

Resumo: Este artigo propõe-se a relatar uma experiência de pesquisa com corpora
complexos, a fim de compartilhar o processo e procedimentos de elaboração de um banco
de dados instituído precipuamente para pesquisa doutoral, empreendida na Université
Lumière Lyon II/França, no laboratório ICAR, cuja especialidade é, justamente, o
trabalho com a análise de corpora em diversos níveis de extensão e complexidade. A
partir de uma perspectiva etnometodológica (MONDADA, 2008; OCHS, SCHEGLOFF,
THOMPSON, 1996; SCHEGLOFF, 1999; TRAVERS, 2001; TRAVERSO, 2007), numa
imersão em território jurídico (CORNU, 2005; DUPRET, 2006; LATOUR, 2004), a
pesquisa ora relatada buscou descrever e analisar como os magistrados realizam a
gestão do desacordo, em situações, muitas vezes, acentuadamente erísticas. Sem nos
distanciarmos dos estudos teóricos acerca dos preceitos de metodologia de trabalhos
acadêmicos em geral (GIL, 2002; MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010; SALOMON,
2014), constituímos um banco de dados balizados pela noção de situação argumentativa,
uma noção da retórica antiga retomada por Plantin (1993, 1995, 1996, 2016), a qual põe
em destaque situações de conflito de opiniões, em contextos argumentativos vários. A
partir da exaustiva e intricada transcrição dupla dos dados (BAUDE, 2006; BLANCHE-
BENVENISTE, 2008; KERBRAT-ORECCHIONI, 2006), a pesquisa culminou na
confirmação de que o discurso jurídico está longe de ser frio e asséptico e que as
interações argumentativas naquele contexto se analisadas no calor das deliberações
têm muito a nos ensinar sobre o argumentar em contexto institucional. Isso pode ser
conferido em quatro capítulos analíticos cujo planejamento e execução ora trazemos a
lume, a partir do estudo do direito em ação, isto é, em situação de interação, por meio

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.673-709
674 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

de deliberações de magistrados em processos de danos morais, num tribunal brasileiro


de Segunda Instância.
Palavras-chave: etnometodologia; corpora; argumentação; tribunal; transcrição de
dados orais.

Abstract: This article proposes to report a research experience with complex corpora,
on the aim of sharing the backstage of elaborating a database instituted mainly for
doctoral research, undertaken at the Université Lumière Lyon II/France, in the ICAR
laboratory, whose specialty is precisely work with corpora analysis at different levels
of extension and complexity. From an ethnomethodological perspective (MONDADA,
2008; OCHS, SCHEGLOFF, THOMPSON, 1996; SCHEGLOFF, 1999; TRAVERS,
2001; TRAVERSO, 2007), in an immersion in legal territory (CORNU, 2005; DUPRET,
2006; LATOUR, 2004) , the research reported here sought to describe and analyze how
magistrates manage disagreement, in situations that are often eristic. Without distancing
ourselves from theoretical studies about the precepts of methodology of academic
works in general (GIL, 2002; MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010; SALOMON, 2014),
we formed a database based on the notion of argumentative situation, a rhetorical
notion retaken up by Plantin (1993, 1995, 1996, 2016), which highlights situations of
conflict of opinion, in various argumentative contexts. From the exhaustive and intricate
double transcription of the data (BAUDE, 2006; BLANCHE-BENVENISTE, 2008;
KERBRAT-ORECCHIONI, 2006). The research culminated in the confirmation that the
legal discourse is far from being cold and aseptic and that argumentative interactions
in that context, if analyzed in the heat of deliberations, have much to teach us about
arguing in an institutional context. This can be seen in four analytical chapters whose
planning and execution now we bring to light, from the study of law in action, that is,
in a concrete situation, from the deliberations of magistrates in moral damages cases,
in a Brazilian court of Second Instance.
Keywords: ethnomethodology; corpora; argumentation; court; transcription of oral
data.

Recebido em 24 de agosto de 2020


Aceito em 09 de outubro de 2020

Introdução
Há mais ou menos vinte anos, os estudos com base em corpora
orais movimentaram o cenário dos estudos em ciências da linguagem
(BAUDE, 2006, p. 25), sobretudo em território das interações verbais. Em
se tratando de território jurídico, as pesquisas de interações argumentativas
há muito clamam por um olhar atento, devido à dificuldade da coleta de
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 675

dados em situações reais de interação, como tentaremos esmiuçar neste


artigo, ao observarmos as peculiaridades da construção de discurso e
contradiscurso em episódios argumentativos orais (PLANTIN, 2016,
p. 77), como explicaremos a seguir.
No contexto do estudo das interações em geral, viu-se surgir,
ainda nos últimos anos, uma busca maior por fatos ligados a situações
de interação linguística do dia a dia ou situações institucionais, em
contexto de trabalho, em que se tentavam retratar atividades diversas
(o padeiro atendendo a um cliente numa padaria; o vendedor numa
transação comercial; conversas informais ao lado da máquina de café
etc.). Segundo Schegloff, “a interação apresenta-se como o foco principal
da vida em sociedade” (1999, p. 141), e os pesquisadores interessados
pelas interações passaram a consagrar suas análises ao exame dos
mecanismos contingentes da fala e outros recursos semióticos, como o
olhar, a prosódia, o movimento do corpo, os gestos e seus efeitos sobre
a constituição emergente e dinâmica do contexto.
No domínio da Análise da Conversação ou Análise da Conversa
Etnometodológica (ACE),1 por exemplo, tratou-se de descrever a
organização social de uma interação verbal e ainda o trabalho de
categorização ou de descrição que uma relação interacional implicava,
por meio de pesquisas que enxergavam a gramática como um modo de
interação social. E os autores prosseguem afirmando que a gramática
passou a ser vista como mantenedora de um laço estreito com as
interações. Assim, passou-se mesmo a sugerir que as interações eram
mais do que um recurso, elas faziam parte da própria gramática. Dito de
outra forma, “a gramática foi vista como intrinsecamente interacional”
(OCHS, SCHEGLOFF, THOMPSON, 1996, p. 38). Para Schegloff
(1999, p. 142), ainda, “a relação profunda e íntima entre a ‘linguagem’ e
o falar-em-interação foi tal que, para entender a linguagem, era necessário
observar os contextos de interação que certamente a circundavam”. Nesse
sentido, a preocupação do pesquisador em fazer uma boa utilização para
uma melhor compreensão (mais “profunda e íntima”) dos dados – muitas
vezes arduamente coletados – é

1
Análise da Conversa Etnometodológica (ACE) é a expressão convencionalmente
utilizada no Brasil.
676 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

análoga ao interesse do carpinteiro ou do escultor de madeiras pela


madeira com que trabalha. Por essa razão, se queremos de fato
compreender o nosso objeto de pesquisa, devemos conhecer suas
características intrínsecas, da mesma forma que um carpinteiro
deve conhecer a natureza da madeira com que trabalha. (OCHS
et al, 1996, p. 18, destaque nosso).

É precisamente dessa relação de “intimidade”, de cuidado do


pesquisador para com os seus dados que vamos aqui tratar. Por esta
razão, achamos pertinente propor a descrição desta experiência com
corpora complexos para este número especial sobre Linguística de
Corpus, sobretudo porque, como já ressaltamos, a criação do banco de
dados TRIBUNAL (forma como nomeamos o corpus selecionado para
a pesquisa) representou efetivamente enorme desafio, motivado por um
trabalho de descrição linguística de dados empíricos advindos de exemplos
reais de uso da linguagem empregada em deliberações entre magistrados
num tribunal brasileiro de Segunda Instância.2 Nesse sentido, esclarecemos
que os corpora mobilizados para a pesquisa ora apresentada são de
complexidade não negligenciável, por três razões precípuas. Vamos a elas:
Primeiramente, porque empreendemos uma investigação no
universo jurídico sem termos formação jurídica. Desse modo, tivemos
de decifrar partes daquele ritual para não corrermos o risco de analisar
os dados de forma ingênua ou simplesmente equivocada, por se tratar de
território extremamente técnico, tanto pela questão terminológica jurídica
quanto pelas idiossincrasias do ritual de deliberação, que escapam a
um olhar meramente espectador ou diletante. Segundo, porque tivemos
de traduzir todas as deliberações em linguagem técnica jurídica do
português para uma linguagem técnica jurídica francesa uma vez que
a tese seria defendida, inicialmente, para um júri que não compreende
nem fala a língua portuguesa, o que também não é tarefa simples, visto
a extensão dos corpora que mobilizamos para a investigação proposta.
E, por fim, porque tivemos de fazer a transcrição da língua falada tanto
para o português quanto para o francês. Desse modo foi necessária dupla
transcrição, cuidando-se para que os gaps naturais da língua falada
fossem compreendidos na versão escrita dos dados, nas duas línguas

2
Os dados proporcionaram-nos quatro capítulos de minuciosa descrição e análise
linguística (DAMASCENO-MORAIS, 2013) os quais relataremos de forma sumária
neste artigo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 677

(português e francês), numa linguagem marcadamente técnica, mas que,


no geral, também trazia características da conversação,3 o que não facilita
o trabalho do pesquisador.
Para não nos distanciarmos da metáfora do carpinteiro,
ressaltamos que gerar, selecionar e seccionar um corpus é trabalho que
não se distancia do ofício desse profissional da madeira, pois, assim
como ele, devemos conhecer a fundo a matéria com a qual trabalharemos
para sabermos exatamente onde/como lixar, limar, montar-desmontar-
remontar todo um arsenal de dados que, se mal geridos, podem
transformar uma pesquisa num grande fiasco acadêmico,4 se se parte
de um “background etnográfico” (OCHS et al, 1996) mal-ajambrado.5
Nesse sentido, organizar uma pesquisa que lide com corpora extensos
exige, se não muita dedicação, ao menos muito zelo com a matéria-prima
a se trabalhar, sob o risco de se fazerem análises meramente intuitivas e,
nesse sentido, desprovidas de relevância científica ou mesmo condenáveis
metodologicamente. Importante ainda esclarecer que, em sentido lato,
entendemos “pesquisa” como “um processo planejado de investigação
que consiste em três momentos: 1) levantamento de perguntas, hipóteses
ou problemas, 2) coleta dos dados, 3) análise e interpretação dos dados”
(MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010, p. 111).
O objetivo deste artigo é, por fim, apresentar, de forma sucinta, o
processo e procedimentos de elaboração de um banco de dados, isto é, a

3
No Brasil, a ACE convencionou usar o termo “conversa”. Neste trabalho utilizaremos
indiferentemente “conversação” ou “conversa”.
4
Apesar de não trazermos um exemplo da área de Linguística, importa aqui ilustrarmos
a situação com um “bom” exemplo de pesquisa malsucedida. Como este artigo trata,
justamente, de metodologias de pesquisa, achamos válido refletir, com um exemplo
recente, que, independentemente da área, se a metodologia não é bem estabelecida, o
trabalho corre sérios riscos de ser questionado. O “fiasco” ao qual nos referimos é o
recente estudo contestado pela comunidade científica a respeito de pesquisa sobre a
eficácia do uso da hidroxicloroquina. A pesquisa foi rejeitada via carta aberta porque a
metodologia adotada na pesquisa e a integridade dos dados apresentavam falhas. A esse
propósito, ver: Cientistas questionam em carta aberta estudo sobre a hidroxicloroquina
na The Lancet (https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/afp/2020/05/29/cientistas-
questionam-em-carta-aberta-estudo-sobre-a-hidroxicloroquina-na-the-lancet.
htm?cmpid=copiaecola) – Acesso: 19 ago. 2020.
5
O que Ochs et al (1996) chamam de “background etnográfico” refere-se a uma análise
mais aprofundada de contexto e, ainda, descrições mais detalhadas do objeto de pesquisa.
678 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

metodologia, elaborada especificamente para pesquisa de tese doutoral,


defendida em 2013 na Université Lumière Lyon II, no laboratório
Interactions, Corpus, Apprentissages, Représentations – ICAR,6 cuja
especialidade é, justamente, o trabalho com a análise de corpora diversos.
Em tradução livre, o título do trabalho ora descrito é: “O preço da dor
– gestão de desacordos entre magistrados, em um tribunal brasileiro de
Segunda Instância”,7 trabalho ainda não publicado integralmente em
português (DAMASCENO-MORAIS, 2013).

2 Inspiração etnometodológica em território jurídico


As pesquisas acerca do contexto jurídico e interações verbais
começaram a pulular por volta dos anos oitenta. No início, o foco era
mais a tentativa de perscrutar a forma como o trabalho era realizado pelos
operadores da lei, a partir do que se chamava de “tâches professionnelles”
(TRAVERS, 2001, p. 355) ou a descrição minuciosa da rotina de um
trabalho realizado por alguém. O primeiro estudo de peso acerca do
direito em contexto judiciário, no domínio da Análise da Conversação,
chama-se Order in Court : The Organisation of Verbal Interaction in
Courtroom Settings e foi realizado por Maxwell Atkinson et Paul Drew
(1979). Sua pesquisa tomou como corpus audiências realizadas em um
tribunal na Irlanda do Norte, no final dos anos sessenta.
Para Travers, os estudos de inspiração etnometodológica em
contexto judiciário “fundam-se na análise minuciosa de gravações,
feitas no intuito de se explicar/compreender de que modo as pessoas
emprega[va]m recursos culturais e comunicacionais em audiências
judiciárias” (TRAVERS, 2001, p. 359). No campo da Etnometodologia
ainda se leva muito em consideração os meandros de uma interação
ordinária, as justificativas ali apresentadas, os atores sociais que da
interação participam, as atividades que realizam (e como as realizam),
para “descrever as interações sociais” (GARFINKEL, 1967 apud
6
O trabalho foi realizado na École Doctorale Lettres, Langues, Linguistique & Arts
(ED 484), no laboratório ICAR (Interactions, Corpus, Apprentissages, Représentations
– UMR 5191), e defendido na Université Lyon II, França.
7
No original: Le prix de la douleur: Gestion des désaccords entre magistrats, dans
un tribunal brésilien de seconde instance. A tese foi orientada por Christian Plantin e
Véronique Traverso, e o ritual de defesa contou com os seguintes membros de banca:
Christian Plantin, Véronique Traverso, Barbara Villez, Marianne Doury, Wander Emediato.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 679

PLANTIN, 2016, p. 270) e a compreensão da inteligibilidade mútua das


ações, a partir de expectativas sociais ou até de normas morais colocadas
em prática ao longo de uma interação.
Nesse sentido, a pesquisa que ora documentamos buscou fôlego
na perspectiva etnometodológica para composição do corpus, transcrição
e análise de dados, pois, apesar de não focar em uma situação corriqueira
do dia a dia, empreendemos as análises por meio de gravações de áudio
realizadas por um tribunal para que, a partir das transcrições de tal material,
fosse elaborado todo o trabalho de dissecção, que passa certamente pelas
etapas de definição, coleta, seleção e análise. Nesse sentido, cientes de
que o nosso objetivo precípuo era gerir uma pesquisa acadêmica, o que
implica a “busca de resposta a problemas propostos” (GIL, 2002, p. 17),
num exercício “científico por excelência” (SALOMON, 2014, p. 217),
empreendemos a descrição minuciosa de interações verbais em território
jurídico, como forma de perscrutar a lacuna que separa as leis formais
(a letra de lei) e as maneiras pelas quais as decisões judiciárias são
tomadas, ao vivo e em cores, isto é, na prática, algo não muito recorrente,
sobretudo – e como já ressaltamos – devido às dificuldades de acesso a
dados de natureza tão restrita, por rituais minuciosamente organizados
em âmbito institucional.8
Desse modo, flagrar o momento em que uma decisão é tomada,
no calor de um debate, de uma interação com forte teor emocional e
argumentativo, é uma forma bastante instigante de compreender um
contexto, e não somente jurídico. De fato, sabe-se que os tribunais são
“o lugar privilegiado para se observar o direito em ação, por meio dos
diversos eventos que acontecem ao mesmo tempo, tais como processos
civis e penais, interrogatórios, escuta de testemunhas etc.” (DUPRET,
2006, p. 424). Trata-se, em fim de contas, de “um microuniverso [o
jurídico] em que os atores sociais estão engajados em um processo de
comunicação linguística, caracterizado em sua maioria pelo falar em
interação”, como mostraram as análises apresentadas na tese cujo breve
relato fazemos aqui.

8
Apesar dessa dificuldade de acesso, tivemos autorização por escrito do tribunal que nos
forneceu os dados, desde que garantíssemos o sigilo dos participantes. Em realidade,
na tese defendida não se pode identificar nem local nem datas de seleção do corpus.
680 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

3 O estudo do direito em ação


Tomando por base os dados de cunho etnográfico coletados
em um tribunal brasileiro, a pesquisa que ora relatamos brevemente
é o resultado da descrição de procedimentos de magistrados atuantes
na Segunda Instância (relatores, revisores e vogais),9 no momento de
deliberações conflituosas, em que se evidenciam divergências de opinião,
em julgamentos acerca de danos morais. Segundo Kerbrat-Orecchioni
(1995, p. 8), as trocas realizadas entre participantes de interações
trilogais (com três participantes), pouco importando o tipo de contexto,
pode proporcionar boas surpresas ou, no mínimo, apresentam estruturas
interacionais interessantes. E não por acaso escolhemos os dados que
apresentaremos, isto é, dados de situação de interação oral, muitas
vezes polêmicas, em que o teor emocional se faz notar por mecanismos
paraverbais como tom de voz, hesitações, palavras pronunciadas pela
metade, gaguejamento etc. bastante típicos da linguagem oral, sobretudo
sob um “enfoque interacionista” (KERBRAT-ORECCHIONI, 2006,
p. 11; MARCUSCHI, 2003).
Esse tipo de dado é bastante comum em trabalhos ditos
etnográficos, os quais “sem se envergonhar de sua ignorância” (LATOUR,
2004, p. 205), lançam-se a descrever situações desconhecidas “na forma
como elas realmente acontecem”, a partir de metodologias diversas.
Nesse sentido, quando afirmamos que nos enredamos em uma teia
complexa de dados, sentimo-nos como um espeleólogo ao explorar uma
caverna virgem (SERRANO, 2011, p.15), ou como alguém imerso em
um labirinto em busca de uma saída, como poetiza Serrano:
Assim como Teseu, o pesquisador se encontra perdido e
enclausurado em seu próprio labirinto. O método será o fio
de Ariadne que o ajudará a encontrar a saída, mostrando-lhe
o caminho. Sem sua ajuda [do método], a pesquisa será para
sempre um dédalo indecifrável, de portas trancadas e de muros
invencíveis, uma algaravia sem sentido se for produzida a partir
das arremetidas desconcertantes da intuição, um emaranhado de
objetivos laxos, de esboços difusos e de aspirações entrecruzadas
(SERRANO, 2011, p. 102).

9
No ritual jurídico, um magistrado “vogal” é quem tem a primazia de votar numa
deliberação.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 681

O objetivo da pesquisa ora relatada foi descrever e analisar como


os magistrados fazem a gestão do desacordo, em situações, muitas vezes,
acentuadamente erísticas. O corpus para utilização na pesquisa específica
da tese foi constituído a partir da noção de situação argumentativa, uma
noção da retórica antiga retomada por Plantin (1993, 1995, 1996, 2016),
a qual põe em destaque situações de conflito de opiniões, em diversos
contextos argumentativos. Desse modo, é importante destacar, para esta
pesquisa selecionamos apenas situações em que há conflito de opiniões
– ou estases – as quais foram por nós descritas e analisadas a partir de
pressupostos dos estudos etnometodológicos e que prestam atenção ao
“estudo do fazer e dizer em contexto” (DUPRET, 2006, p. 17).
Na pesquisa empreendida interessamo-nos pelo efeito que as
regras procedimentais do ritual em 2ª Instância geram na interação;
isto é, observamos de que forma a ação dialogal/trilogal se desenvolve
ao longo de uma deliberação, em contexto jurídico. Estivemos atentos
ainda à maneira pela qual os magistrados lidam com as formalidades e
restrições do contexto e o reflexo disso na interação argumentativa que
se desenvolve ao longo das deliberações. A partir disso, propusemos
algumas análises dos excertos coletados, nos dados que nomeamos de
Corpus TRIBUNAL, como forma de tentarmos sistematizar os meios
e métodos utilizados pelos interactantes (magistrados) no momento de
gerirem os conflitos de opinião surgidos, ao vivo e em cores, na dinâmica
de alguns julgamentos.
Para Dupret (2006), um estudo jurídico de inspiração
etnometodológica “nos permite prestar atenção à construção de fatos,
ao comportamento dos interactantes no contexto judiciário, à forma como
lidam (os interactantes) com as restrições impostas pela formalidade do
ambiente etc.” (DUPRET, 2006, p. 91). Esse foi, em resumo, o propósito
do trabalho, no qual nos predispusemos a investigar “o direito em ação”
(MARTÍNEZ, 2007, p. 5). E tal missão coaduna-se com um dos princípios
do interacionismo, o qual busca compreender “a linguagem em ação”
(TRAVERSO, 2007, p. 17). Tal método de pesquisa prioriza, enfim, a
análise de textos orais que resultem de situações de troca verbal, em
contextos de contato face a face, “produzidas por mais de uma pessoa
em interação” (SCHEGLOFF, 1996, p.10).
Em verdade, acreditamos que o tipo de pesquisa que realizamos
é vital para o desenvolvimento de uma sociologia da realidade
jurídica mesclada a uma análise linguística cujo estudo, apesar de
682 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

interessantíssimo, é muito pouco pesquisado por campos diferentes


do estritamente jurídico. Desse modo, uma análise do mundo das leis
– muitas vezes bastante controverso – e visto do campo dos estudos
interacionais, argumentativos e retóricos pode ser uma boa maneira de
adentrarmos cortes e tribunais, mesmo sem sermos juristas. E isso não
significa empreendermos uma pesquisa “perfunctória” (como se diz no
jargão jurídico), isto é, superficial, meramente intuitiva ou desprovida de
rigor metodológico. Aliás, este artigo serve exatamente para mostrar como
se pode, a partir de uma perspectiva etnometodológica, compreender um
domínio intricado e dali extrair resultados que façam sentido, com a
ajuda de metodologia responsável e o menos subjetiva/intuitiva possível.

4 A função retórica da metodologia e a dissecção dos dados


Os tipos de pesquisa mais comumente citados na literatura
especializada são: exploratória, descritiva e explicativa. Essas apresentam
delineamentos do tipo experimental, estudo de caso, bibliográfico, entre
outros. A população e amostra referem-se com o tipo e a extensão da
amostra ou com o universo da pesquisa. A coleta de dados refere-se
às técnicas a serem usadas, instrumentos e observação em momentos
específicos da pesquisa. Quanto à análise de dados, procede-se,
geralmente, quantitativa ou qualitativamente (GIL, 2002; MARTINS
JÚNIOR, 2012; SALOMON, 2014, entre muitos outros). Como vemos, os
aspectos metodológicos de uma pesquisa são vários. A seguir, vamo-nos
ater à função retórica da metodologia, isto é, “narrar os procedimentos
de coleta (fonte, tamanho da amostra, critérios para a coleta) e análise
de dados e descrever os materiais que levam à obtenção de resultados,
com maior ou menor detalhamento” (MOTTA-ROTH; HENDGES, 2010,
p. 115), para que se possa compreender a jornada aqui consubstanciada.
Quando se fala em metodologia, corre-se o risco de se cair na
cilada do classificacionismo anódino, isto é, rotular intuitivamente
uma pesquisa sem muita certeza de que tipo de metodologia se está a
empreender (fato corriqueiro, a bem da verdade). Nesse sentido, deve-
se considerar que essa questão “é mais complexa, pois existem diversas
maneiras de classificar métodos e pouco consenso entre os teóricos
sobre qual o número e o nome exato dos métodos” (MOTTA-ROTH;
HENDGES, 2010, p. 114, destaque nosso). Nesse sentido, ao se falar em
metodologia, é fundamental (e independentemente do rótulo utilizado)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 683

que se deixem claríssimos os recursos materiais e procedimentos


adotados, buscando bem informar o auditório dos passos executados
na pesquisa (participantes, tipos de amostras, instrumentos utilizados,
programas computacionais etc.), sobretudo porque a “integridade
intelectual” (GIL, 2002, p. 18), exige “rigor na pesquisa” (COSCARELI;
MITRE, 2007, p. 74), a qual deve ser deslindada em sua complexidade
pelo pesquisador, como numa espécie de prestação de contas, na hora de
divulgação dos resultados da pesquisa, exatamente como nos propomos
a fazer nesta chamada especial de publicação.
Nesse sentido, as informações que julgamos importantes para
este momento “retórico” dizem respeito às fontes de pesquisa, que,
no caso presente, foram fontes primárias (filmagens in loco realizadas
pelo próprio pesquisador) e dados secundários (coleta de áudios de
um banco de dados mantido pelo tribunal). No trabalho realizado
na elaboração de tese, apenas utilizamos os áudios do banco de
dados do próprio tribunal. As filmagens, acórdãos publicados e afins
serão utilizados em pesquisas futuras. Para o escrutínio dos dados
(pré-)selecionados, em um longo processo, foi necessário um profundo
mergulho no extenso material coletado, numa relação com os dados do
tipo ‘carpinteiro → madeira’, para que de fato pudéssemos examinar os
mecanismos de gestão do desacordo utilizados pelos magistrados em
momentos de estase argumentativa, seja durante a qualificação de um
fato como dano moral, seja no momento de definir o montante a ser pago,
em caso de ilicitude comprovada em uma ação.
Para consecução das análises, procuramos ainda seguir os
passos propostos por Traverso (2007, p. 23), para análise de interações
dialogadas. Nesse sentido, as etapas seguidas neste processo foram:

1º passo: Escolha da situação a ser analisada


2º passo: Observação
3º passo: Coleta dos dados
4º passo: Transcrição
5º passo: Análise.

Em se tratando de corpora complexos, acreditamos que o segundo


passo acima descrito é um dos mais importantes, pois é o momento em
que o pesquisador adentra a “caverna escura”. Assim como o espeleólogo,
684 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

ali se vai tentar descrever e entender o ambiente em exploração. Nesse


sentido, não é um momento de mera “observação” dos dados, mas um
momento de observação “exaustiva”, pois, tudo que ali se nota pode
auxiliar no momento de se elegerem categorias analíticas (momento dos
mais difíceis de uma pesquisa). Nesse sentido eu diria que tudo o que ali
se nota é notável. Uma ocorrência que se repete pode ser entendida como
um possível padrão e que poderá ser descrito de maneira minuciosa ao
longo da pesquisa. Esse momento de observação exaustiva merece um
bloco de notas do tipo “anotações brainstorming” em que o pesquisador
anotará tudo que, de uma forma ou de outra, chamou a sua atenção e
que poderá se tornar uma importante categoria de análise nas etapas
posteriores. Lembrando: tudo o que se nota é notável.
A partir dessas observações exaustivas o pesquisador estará apto
a acessar a próxima etapa, isto é, coletar e recortar o que lhe interpelara,
na exploração inicial da caverna escura. Nesse sentido, será simplesmente
impossível recortar de forma responsável os dados sem esse mergulho.
Então, aconselha-se que se faça uma boa exploração do terreno para
que, no momento de empreender as análises, o corpus não se torne um
corpo estranho. Caberá ao pesquisador falar com desenvoltura sobre os
seus dados porque, em final de contas, a autoridade ali será o próprio
pesquisador (e ninguém mais). Nesse sentido, não se pode falar com
perícia sobre algo que não se conhece ou que se conhece en passant. É
importante destacar que a diferença entre um bom e um mau carpinteiro
é justamente o modo como esse profissional manuseia sua matéria-prima,
a intimidade que demonstra ao discorrer sobre ela. E cada madeira tem
suas idiossincrasias (fibrosidade, resistência, densidade, coloração etc.).
Ora, então por que seria diferente com os dados da minha pesquisa?
Para consecução do trabalho ora relatado, primeiro selecionamos
uma situação (os julgamentos em Segunda Instância); em seguida, após
escuta e reescuta exaustiva de tudo que fora coletado, leituras de julgados
(registros de deliberações, leitura de acórdãos etc.), selecionamos o que
de fato faria parte do corpus das análises. As transcrições aconteceram
na etapa seguinte e as análises renderam quatro capítulos, um para cada
categoria notada e devidamente anotada na fase inicial de observação.
O Quadro 1 recapitula esse processo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 685

QUADRO 1 – Recorte dos dados

RECORTE DOS DADOS


– Corpus TRIBUNAL
Definição de situação a ser analisada
Etapa 1
(= deliberações em Segunda Instância)
Observação exaustiva
Etapa 2
(= escuta de julgamentos; leitura de acórdãos etc.)
Coleta dos dados
Etapa 3
(= seleção e recorte do que faria parte da tese)
Transcrição
Etapa 4
(= deliberações previamente gravadas entre juízes)
Análise
Etapa 5
(= a partir de categorias analíticas identificadas na Etapa 2)
Fonte: Elaboração do autor

Importante observar a imbricação de todas essas etapas. A Etapa


5 só foi possível graças a uma Etapa 2 exaustiva. Ali, visitei arquivos
mal iluminados do tribunal, literalmente escalei prateleiras empoeiradas
para buscar processos já julgados e arquivados, mergulhei em votos
publicados na internet, filmei e gravei julgamentos (tudo com devida
autorização), escutei e reescutei mais de cem áudios (julgamentos) para,
ao final disso tudo, selecionar o que tinha despertado meu interesse e
que mais se adequava à problemática da pesquisa, isto é, a gestão do
desacordo entre magistrados num tribunal de Segunda Instância.
Importante destacar que se trata de longo e árduo processo.
Somente na quinta etapa é que efetivamente pude ter uma visão
panorâmica do material coletado. Nos quatro capítulos analíticos que a
análise desses dados nos permitiu elaborar, esforçamo-nos para destacar
a importância da dimensão institucional e sua influência no sistema
de turnos de fala dos magistrados, a partir da descrição da forma de
organização e a conduta dos participantes ao longo das interações (os
magistrados experts), nos momentos de conflito de opinião. Nossa
preocupação ali foi, sobretudo, descrever a dinâmica de atuação dos
magistrados no momento de definição do pretium doloris, ou seja, no
686 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

momento de se definir um valor financeiro a um ilícito, considerado


um dano moral. Nesse sentido, interessamo-nos ainda pela organização
institucional do procedimento, pelas escolhas lexicais, pelas rotinas
empregadas pelos participantes, pelo efeito da falta de assimetria entre os
participantes dos debates etc. Em suma, buscamos respostas às questões
de pesquisa. Tivemos o cuidado de procurar apresentar e explicar, a
partir de uma base teórica oriunda dos estudos da argumentação e da
retórica, a dinâmica empregada, ao longo das deliberações, a fim de
compreendermos um tênue aspecto da prática judiciária e o modo de
gestão do desacordo naquele contexto, presente no corpus TRIBUNAL.
Apresentaremos neste artigo alguns números correspondentes à
etapa de constituição dos dados orais pertencentes ao corpus TRIBUNAL,
isto é, relativos a essas etapas de dissecção dos dados. Inicialmente
foram selecionados 263 julgamentos em 2ª Instância, advindos todos dos
arquivos eletrônicos do tribunal que nos autorizou a visitar seus processos
judiciais. O critério para a seleção dos processos foi, nesta primeira etapa,
o ano de cada julgamento (a partir do ano 2000) e o tema do caso julgado.
Lemos cada um dos 263 resumos, no intuito de fazermos a triagem dos
casos que de fato poderiam nos interessar, de acordo com o objeto da
pesquisa. Somente nos interessaram aqueles julgados sobre dano moral e
cujo teor parecia mais polêmico, pois, não nos podemos esquecer, o curso
da pesquisa eram os conflitos em deliberações entre desembargadores.
Claro que tudo isso já fora delimitado pela problemática (a gestão do
desacordo). Nesse sentido, é bom prestarmos atenção, uma problemática
não precisa ser um problema no sentido de “dor de cabeça”, mas um
“problema” no sentido de aporética, isto é: “pergunta científica, ou
seja, a formulação correta dos problemas ou dos objetos a investigar”
(SALOMON, 2014, p. 282), uma espécie de norte para a pesquisa e que
não pode jamais ser dissociado das etapas de seleção, recorte e análise
dos dados.
Todo esse trabalho de triagem foi feito antes de sairmos à cata
de cada julgamento (em forma de processo) e de cada registro em
áudio, etapa que nos permitiria conhecer em profundidade o teor de
cada julgamento, pois até ali apenas tínhamos lido os resumos, mas
não tínhamos nem ouvido o julgamento nem buscado os processos nos
arquivos. Na verdade, esse enxugamento foi necessário, uma vez que
os arquivos do tribunal eram imensos (tanto o arquivo de processos
físicos, isto é, em papel, quanto o arquivo de áudios); desse modo, seria
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 687

contraproducente sair à cata de quase 300 processos, o que poderia tomar


meses de trabalho. Por isso, tivemos de fazer essa seleção criteriosa, para
irmos em busca somente dos casos que de fato pudessem trazer algum
interesse para a pesquisa, segundo os critérios preestabelecidos. A seleção
já tinha começado e precisava ser racional, sob o risco de esmorecermos
frente a corpora muito extensos.
Assim, mais 100 resumos foram excluídos por motivos diversos:
tema repetido, dúvidas acerca do real interesse do documento para a
pesquisa, grau de polemicidade do assunto etc. Na verdade, estávamos
em busca de casos de dano moral que tivessem origem em processos
com teor aparentemente mais emocional (por exemplo, solicitação de
compensação financeira em casos de sofrimento psicológico alegados
pela parte ou a “dor do espírito”, em vez de casos de mero dano material
como o ressarcimento por uma batida de carro, por exemplo). Isso porque
o escopo do nosso projeto buscava, num primeiro momento, analisar
argumentação e emoções, o que, por si, justifica nossas escolhas nesse
momento de seleção dos julgamentos. Desse modo, os casos que não
se encaixaram em tais critérios foram sendo eliminados, mesmo se,
num primeiro momento, tenham despertado nosso interesse. E esse é
um momento de muita atenção, porque, num primeiro momento, tudo
parece interessante, mas como não existe especialista X-tudo, precisamos
delimitar, recortar, lixar, limar os dados e estarmos atentos para não nos
enredarmos numa teia que poderá se tornar um eterno labirinto.
Isso porque uma pesquisa não precisa ser um vetor de sofrimento,
muito pelo contrário, a pesquisa precisa ser prazerosa desde o começo.
Por isso, o manuseio dos dados (e voltamos mais uma vez à metáfora
do lenhador) é vital para o sucesso da empreitada. E mais, não nos
devemos esquecer de que uma pesquisa nunca exaurirá as possibilidades
de exploração dos dados. É por essa razão que devemos estar sempre
atentos à problemática, à resposta que queremos encontrar e que nos
possibilitará falar com autoridade e destreza sobre pelo menos um aspecto
notório da pesquisa empreendida. A baixa qualidade de muitas pesquisas
advém de análises sem o necessário aprofundamento, um tanto quanto
pasteurizadas, até mesmo lugares-comuns, frutos, muitas vezes, de
lampejos de nossa própria empolgação com nossos dados, sem, muitas
vezes, apresentarmos uma investigação de fato metódica e consistente.
Devemos ficar vigilantes e evitarmos o caminho fácil das generalizações
apressadas, as quais, inclusive, têm cunho falacioso.
688 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

Para melhor compreensão do contexto no qual a pesquisa que


ora relatamos se situa, é importante esclarecer que todos os casos
julgados em 2ª Instância são automaticamente gravados em áudio e
arquivados. Esse procedimento faz parte da rotina dos julgamentos no
tribunal que abrigou nossa pesquisa. Desse modo, após minuciosa busca
e desapego total de alguns dados que já tinham sido coletados, acabamos
por selecionar pouco mais de cem processos. Como dito, preferimos
os casos que pareciam mais polêmicos, isto é, aqueles casos em que a
intensidade da estase parecia ser maior. Em outros termos, somente os
casos de desacordo de opiniões mais denso entre os magistrados foram
selecionados, em julgamentos acerca do pretium doloris. Esse foi um
critério baseado na problemática da pesquisa.
O Quadro 2 resume os casos que subsistiram a todas as etapas
de triagem e, após minuciosa observação, passaram efetivamente a fazer
parte do corpus da pesquisa ora relatada.
QUADRO 2 – Corpus TRIBUNAL

Corpus TRIBUNAL
27 casos selecionados Dissecção dos dados
Caso_59 8 excertos
Caso_18, Caso_60 6 excertos
Caso_15 4 excertos
Caso_3, Caso_8, Caso_17, Caso_20 3 excertos
Caso_1, Caso_4, Caso_7, Caso_22, Caso_47, Caso_61,
2 excertos
Caso_62
Caso_9, Caso_11, Caso_16, Caso_25, Caso_26, Caso_32,
Caso_33, Caso_40, Caso_41, Caso_43, Caso_46, 1 excerto
Caso_48
Fonte: Elaboração do autor

O Quadro 2 sintetiza um processo de seleção a partir de mergulho


em vasto corpora (sentenças, áudios, filmagens, observações de
audiências etc.) e que durou pelo menos 1 ano e meio. Ali, das centenas
de julgamentos lidos, áudios atentamente escutados, filmagens realizadas,
tivemos de compreender de quais dados efetivamente necessitaríamos
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 689

para, finalmente, fazermos a seleção daqueles que fariam parte do corpus


TRIBUNAL: apenas 27 julgamentos em áudio, todos julgados apenas
em 2ª Instância, a partir do ano 2000. Nesse sentido, selecionamos todos
os casos que traziam alegação de danos morais pelas partes autoras dos
processos. Após inúmeras idas e vindas, julgamos que esse recorte seria
o ideal para nos ajudar a responder às questões de pesquisa. Despedimo-
nos ali do labirinto e traçamos a rota reta que nos levaria às respostas
que buscávamos.
Uma particularidade dos dados orais coletados deve-se ao fato
de que, como já aludimos acima, todos os julgamentos são gravados
automaticamente e em seguida arquivados pela própria instituição. Os
excertos que finalmente fizeram parte do recorte final (Quadro 2)
são dados secundários, isto é, não foram elaborados diretamente por
nós. Eles foram registrados independentemente desta pesquisa e sem
qualquer interferência de nossa parte, uma vez que todas as deliberações
são automaticamente registradas em áudio, naquela corte de justiça,
sendo imediatamente arquivadas, após cada sessão de deliberação. E
essa característica dos dados torna-os bastante instigantes; as interações
ali registradas são espontâneas, na medida em que os interactantes, ao
longo das deliberações, não ficaram sob a mira do gravador ou da câmera
de um pesquisador alheio àquele ritual.10
Nesta pesquisa, optou-se por se manter anônima toda e qualquer
referência que pudesse identificar as pessoas participantes das sessões. De
acordo com Baude, a anonimização dos dados “é importante para a vida
privada das pessoas envolvidas e para a legalidade dos dados coletados
pelos pesquisadores” (BAUDE, 2006, p. 67). Temos consciência, em
realidade, de que a anonimização dos dados é uma condição necessária
para a preservação da instituição na qual os dados foram gerados. Para
Latour, quando trabalhamos com dados de um tribunal, por exemplo,
confrontamo-nos com um problema de método e de deontologia, no
momento de publicarmos os resultados da pesquisa. Ainda de acordo com
o autor, que desenvolveu trabalhos no meio jurídico, é necessário “ocultar

10
Em outros momentos da pesquisa, munimo-nos de câmeras e filmamos várias sessões
de deliberação e também de julgamento. Ali ficou patente a forma não tão natural com
que as pessoas reagiam, talvez intimidadas pela câmera e pela minha presença. Não
obstante, os dados que nós mesmos registramos (vídeo e áudio) não foram selecionados
para a pesquisa aqui relatada; mas fazem parte do corpus TRIBUNAL.
690 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

nomes de pessoas, de lugares, de rituais cujas etapas são analisadas, sem,


contudo, permitir que tal atitude descaracterize o que se tenta mostrar na
pesquisa” (LATOUR, 2004, p. 7-9).
Desse modo, nas transcrições realizadas, apagamos toda e
qualquer possibilidade de identificação (nomes, sobrenomes, apelidos
etc.), dados pessoais (endereços, locais de nascimento, números
identificadores etc.), referências a lugares (topônimos, instituições,
serviços etc.). Em realidade, nem o tribunal – ou a cidade em que esse se
situa – foi informada. Nem mesmo de quantos tribunais os dados foram
retirados apresentamos informações seguras, de propósito. Referimo-nos
sempre a “um” tribunal; nada impede que tenhamos montado o corpus
TRIBUNAL a partir de casos julgados em diversas cidades. A única
informação precisa que fornecemos é que os dados foram coletados em
tribunal brasileiro, julgados a partir do ano 2000. Também não indicamos
ano exato de julgamento, para inviabilizar – ou dificultar – qualquer
possibilidade de identificação.
Tais medidas foram necessárias para que se pudesse manter o
anonimato acerca das identidades dos magistrados que participaram das
deliberações. Desse modo, em vez de divulgarmos os números reais dos
processos, os nomes de autores e de réus, optamos por identificar cada
caso com o nome “Caso”, seguido de um traço “_” e de um número
aleatório. Também optamos por nomear ficticiamente cada caso, para
facilitar sua identificação, ao longo das análises, as quais, muitas vezes,
serão comparativas. O Comitê de Ética/CEP foi acionado e autorizou
a divulgação dos resultados da pesquisa, a qual, devemos lembrar, foi
realizada integralmente fora do Brasil. Ainda, reiteramos que tivemos
autorização do próprio tribunal para coleta e análise de dados, desde que
anonimizados.
Propomos, a seguir, no Quadro 3, os 27 casos com os números
e codinomes que lhes demos e pelos quais foram identificados ao longo
de toda a tese.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 691

QUADRO 3 – Casos selecionados

Número aleatório Nome fictício atribuído a cada julgamento


Caso_1 Caso dos fetos
Caso_3 Caso do passe estudantil
Caso_4 Caso da empresa de telefonia
Caso_7 Caso da fila
Caso_8 Caso da manchete ofensiva
Caso_9 Caso do veículo amassado
Caso_11 Caso da cédula falsa
Caso_15 Caso da publicidade de tabaco
Caso_16 Caso do voo cancelado
Caso_17 Caso da síndrome da dor
Caso_18 Caso do contrato extinto
Caso_20 Caso do email difamatório
Caso_22 Caso da criança deficiente
Caso_25 Caso da malha fina
Caso_26 Caso da aluna que cola
Caso_32 Caso da biblioteca
Caso_33 Caso do posto de gasolina
Caso_40 Caso da perna quebrada
Caso_41 Caso do remédio para emagrecimento
Caso_43 Caso do envelope vazio
Caso_46 Caso do apagão aéreo
Caso_47 Caso da bagagem extraviada
Caso_48 Caso do coletivo
Caso_59 Caso do falso HIV
Caso_60 Caso do erro médico
Caso_61 Caso do estuprador estuprado
Caso_62 Caso do concerto de paletó
Fonte: Elaboração do autor

Importante destacar que numeramos os 27 casos de forma


aleatória, apenas para facilitar a referência a esses julgados nos quatro
capítulos analíticos. Do mesmo modo, demos um nome fictício para cada
692 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

julgamento, com base no teor do julgamento, também para facilitar para


o leitor a referência a esses 27 casos. Como se trata de corpus longo,
esse cuidado foi fundamental para que o leitor não se perdesse ao longo
das análises e pudesse acompanhar o raciocínio empreendido ao longo
dos capítulos analíticos.

5 Os desafios da dupla transcrição


Chamaremos de ‘transcrição’ o que Blanche-Benveniste (2008,
p. 278) define como “tradução ortográfica das palavras pronunciadas
nos áudios”. O trabalho de transcrição supõe, certamente, um trabalho
de interpretação e de escolhas do transcritor, pois ali se procede à
transposição de um código oral para um código escrito. É importante
destacar que esse exercício de “pré-análise” dos dados (TRAVERSO,
2002, p. 79), isto é, a transcrição, além de não ser o principal objetivo
da pesquisa, é visto meramente como uma etapa, indispensável, para que
possamos proceder às análises que serão apresentadas. De todo modo,
acreditamos que a transcrição não passa de um reflexo (bastante pálido)
das falas transcritas, sendo impossível transpor toda a complexidade de
uma fala, de todo um contexto para uma transcrição, quando trabalhamos
com interações complexas entre várias pessoas, como é bem o caso na
pesquisa empreendida.
Como já mencionado, as análises elaboradas dizem respeito a dados
orais, e não a dados escritos, apesar de também termos coletado dados
escritos, mas que não fizeram parte da pesquisa aqui relatada. Em realidade,
enxergamos as transcrições ali realizadas simplesmente como uma forma
de colocar sob os olhos do leitor o que exaustivamente escutamos, quando
de nossa imersão nos dados selecionados. Temos consciência ainda de que
“uma transcrição não passa de uma forma de representação” (GADET,
2008, p. 38); que ela é “essencialmente instável” (MONDADA, 2008, p.
81). Desse modo, em nenhum momento tivemos a preocupação de fazer
transcrições perfeitas, pois, como diz Blanche-Benveniste:
É impossível tratar a língua escrita como uma representação
transparente da língua oral; ou seja, não se pode fazer coincidir
as unidades das duas representações da língua, nem tampouco
alinhar os fenômenos prosódicos do oral com as idiossincrasias do
escrito, traduzida em alíneas, frases, sinais de pontuação (...) nesse
sentido, transcrever é empobrecer. (2008, p. 192, destaque nosso).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 693

Em realidade, considerando-se que não existe um sistema


unificado de transcrições (TRAVERSO, 2007, p. 24), procuramos dar
conta da tecnicidade dos dados e das incertezas da transcrição – o que
é normal quando se trata de dados orais – para criarmos uma versão
escrita o mais próxima possível do que escutamos (dados orais), sempre
tentando conciliar fidelidade à escuta com a transcrição feita. E neste
momento, sabemos, nossa responsabilidade é de fato enorme, pois o que
transcrevemos, de certa forma, trará a um público leigo um pouco do
que se passa em uma sessão de deliberação em 2ª Instância. No entanto,
precisamos já deixar claro, o que tentamos trazer a lume a partir das
transcrições não deve, em nenhum momento, servir como rótulo para o
que de fato acontece em todos os tribunais do Brasil. Que não se caia em
simplificações. Isso porque, o que conseguimos descrever11 representa
muito pouco do que ocorre em sessões de deliberação, isso em relação
às interações verbais e argumentativas, e não necessariamente à forma
como se aplicam as leis, pois, como já justificamos, o trabalho que
transcrevemos e descrevemos em nenhum momento pretendeu emitir
juízos de valor à forma como as leis são aplicadas. Nesse sentido, não se
pretendeu dizer se os magistrados fazem corretamente ou incorretamente
seu trabalho. Seria inclusive leviano de nossa parte pretendê-lo, visto não
sermos juristas. O nosso olhar buscou sobretudo, a partir das transcrições
e observações empreendidas, compreender como se faz a gestão do
desacordo em momentos de conflitos de opinião (mais precisamente,
em momentos de estase argumentativa, como já explicamos) e isso foi
dito claramente desde as primeiras páginas da pesquisa, sob o risco de
as análises tornarem-se telhado de vidro.
Desse modo, não se devem buscar análises jurídicas nas análises
que empreendemos, sob o risco ou de se fazerem interpretações indevidas,
ou de se gerar frustração no leitor eventual da pesquisa. Buscamos, desde
o começo, evitar rótulos ou interpretações deslocadas dos magistrados
ou do modus operandi jurídico, mesmo se, segundo Traverso: “as
escolhas feitas por um transcritor ou por um tradutor [em caso de

11
Importante destacar que, apesar de termos “enxugado” os dados, esse “pouco” foi
exaustivamente analisado e com base em critérios metodológicos claros. Nesse sentido,
sentimo-nos à vontade para afirmar que as conclusões a que chegamos não foram
intuitivas nem superficiais, visto o rigor que apresentamos no manuseio dos dados e,
que, inclusive, foi destacado no rapport de tese, quando da defesa do trabalho.
694 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

línguas e culturas diferentes] possa ajudar a construir uma imagem


dos locutores, conferindo-lhes certos atributos (...) podendo reforçar
estereótipos” (TRAVERSO, 2002, p. 96). Em resumo, a constituição do
corpus TRIBUNAL buscou simplesmente atender aos objetivos a que
nos propusemos (GADET, 2008, p. 45), os quais já foram apresentados
na introdução deste breve artigo.
O processo de transcrição realizou-se em mão dupla, isto é, em
uma primeira versão em português e, num segundo momento, em uma
tradução do português para o francês jurídico. Para cumprir essa intricada
etapa, optamos por adotar as convenções de transcrição do Laboratório
ICAR, no qual a pesquisa teve início e foi executada. Naquele laboratório,
estivemos insertos na Célula de Corpus Complexos (CCC) – que busca
o desenvolvimento de ferramentas e práticas que estejam diretamente
ligadas à produção de corpora pluridisciplinares e multimodais e em que
se consideram “complexos” os corpora que envolvam vídeos, sons, textos,
traços e imagens cuja exploração necessite de um estudo meticuloso.12 No
Quadro 4, apresentamos algumas das convenções do laboratório ICAR.
QUADRO 4 – Convenções de transcrição – Laboratório ICAR

/ entonação ascendente ( ) transcrição com dúvidas


\ entonação descendente & ausência de intervalo entre dois turnos
(.) pausa breve = continuação de turno de fala
(..) pausa mediana LAla ênfase
(...) pausa longa : alongamento
(0.6) pausa em segundos - interrupção
[ ] sobreposição de vozes °° voz baixa
xxx segmento incompreensível ## fala acelerada
((riso)) comentário
Fonte: elaboração do autor.

Para apresentarmos rapidamente esse desafio de transcrição dupla,


mostraremos a seguir um dos excertos transcritos (ao qual retornaremos
mais à frente, para falarmos do recorte longitudinal dos dados) primeiro

12
Para mais informações, conferir a página do laboratório ICAR, na versão original
em francês: http://icar.cnrs.fr/recherche/recherche-thematiques_et_axes_transversaux/
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 695

na versão em português (os dados estão, originalmente em português,


é importante lembrar) e, em seguida, sua tradução/transcrição para o
francês. Vamos ao excerto:
Quadro 6 – Transcrição e tradução de dados

Corpus TRIBUNAL/40:2010 - 2min22seg


Caso da perna quebrada
1 REL senhor presidente eh que:((limpa a garganta)) se investe contra
2 (.) eh: uma sentença que julgou improcedente o pedido por
3 indeniza-é de indenização por dano moral e estético promovida
4 por ((identificação)) o autor admitido nos quadros da extinta
5 ((identificação)) cargo de auxiliar de educação de vigilância
6 com a função de viGIa alega que estava de plantão na escola
7 ((identificação)) quando foi rendido por três homens portando
8 armas de fogo que o imobilizaram e quebraram a sua perna direita
9 causando lhe deformidade permanente tanto que foi aposentado por
10 invalidez\ ele culpa o estado pelo evento danoso e que deixou de
11 zelar pela segurança de alunos e servidores do estabelecimento
12 de ensino\ pretende indenização de duzentos mil reais (mudança
13 de tom)) #a-aqui senhor presidente pra resumir a senten:ça levou
14 em conta que sendo ele vigiLANTE ele estaria com a-eh eh sob
15 o ris:co constante desses eventos eu estou estabelecendo aqui
16 senhor presidente um:-uma diferença entre vigiLANTE e aquele
17 guarda que realmente estaria ali para a SEGURAN:ça do
18 estabelecimento e de pessoas e assim eu estou PROVENDO o recurso
19 entendendo que é do estado a responsabilidade pelo que aconteceu
20 eh: REformando a sentença e julgando procedente os pedi-o
21 pedido\ condenando o réu ((identificação)) a pagar ao autor
22 vinte mil reais pelos danos morais e dez mil reais pelos danos
23 estéticos corrigidos monetariamente e-etc etc\ condeno ainda ao
24 pagamento de custas e de honorários de MIL reais é assim que
25 estou portanto dando provimento ao recurso do autor senhor
26 presidente\
696 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

27 1V o meu voto é com o eminente relator


28 desembargador ((à 2V))/
29 2V com o eminente relator
30 1V °ta razoável esse valor não ta desembargador ((à REL))/°
31 REL °((mudança de tom)) ta\ né°&=
32 1V &°ta razoável/°
33 REL =°apenas a PERNA\ coita:do ele: teve um sofrimento violento né
34 quando se-per:- mas acho
35 que\
36 1V a [apelação
37 REL [vossa excelência tava aumentan:do\ ou diminuin:do\ como é que
38 ta-/ (.) eu to dis[POSto a discutir
39 1V [°nao não\
40 °heim/ não não eu ta:va:°&
41 REL &°ta-°\
42 1V eh: apelação provida unânime
Fonte: Elaboração do autor

Agora, vejamos o mesmo excerto transposto para o francês (a


partir da linha 19, pois foi esse o trecho efetivamente analisado):

19 RAP et de cette façon je REÇOIS la demande


20 car à mon avis c’est l’état qui doit être poursuivi pour cette
21 affaire euh: en RÉvisant la sentence et recevant la
demande \ je condamne le défendeur ((identification)) au
22 paiement de
23 vingt mille reais en tant que dommages et intérêts et dix mille
reais pour le préjudice esthétique et sa compensation monétaire
24 etc etc\ je condamne encore au
25 payement des dépens du procès de MILLE reais c’est comme ça
26 que je considère la demande de l’auteur recevable
monsieur le président\
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 697

27 C1 je vote favorablement au éminnent rapporteur


28 monsieur ((parle à C2))
29 C2 je ratifie le vote du éminnent rapporteur
30 C1 °c’est correct ce montant n’est ce pas votre honneur ((parle au
RAP))/°
31 RAP °((changement de ton de voix)) oui\ n’est ce pas°&=
32 C1 &°oui c’est correct/°
33 RAP =seulement la JAMBE\ le pau:vre lui il: a eu très mal n’est-ce
34 pas quand on l’a frappé mais je crois
35 que\
36 C1 le [recours ordinaire
37 RAP [vous pourriez augmenter\ ou bais:ser\ alors qui/
38 (.) je suis [PRÊt à en discuter
39 C1 [°non non°\
40 °comment/ non non j’étais juste:°&
41 RAP &°d’accord-°\
42 C1 euh: recours accueilli à l’unanimité

A partir da transcrição (Quadros 5 e 6), tivemos também de


nos preocupar com a identificação dos locutores, em função de seus
papéis ao longo das deliberações. Na transcrição em português utilizamos
os seguintes identificadores: REL (= RELator), 1V (= 1º Vogal), 2V
(2º Vogal), tudo isso de forma impessoal e anônima.13 Desse modo,
não nos interessa a identificação real dos relatores ou dos magistrados
que atuaram como vogais ao longo dos 27 julgamentos selecionados;
bastou-nos apenas identificar a função que tal interactante exerceu nas
várias sessões de julgamento aqui transcritas. Essa é mais uma forma
de preservamos a identidade de todos os envolvidos nas 27 deliberações
minuciosamente recortadas para a pesquisa aqui relatada.
Uma sessão de deliberação reúne três ou mais magistrados, de
acordo com a natureza do caso em julgamento. Desse modo, no início
de cada julgamento, o magistrado relator (REL) expõe seu voto, já

13
Aqui não há necessidade de detalharmos a tradução para o francês, visto não ser esse
o foco deste artigo.
698 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

redigido antes da deliberação (no entanto, nada o impede de mudar seu


voto durante a discussão do caso). Em seguida, é a vez do primeiro vogal
(1V) – ou do revisor (REV) – pronunciar seu voto; por fim, o segundo
vogal (2V), e que não conhece o caso tão a fundo como o relator (ou o
revisor, caso haja), se pronunciará para que a votação chegue ao final, isto
é, para que haja um veredito (por unanimidade ou por maioria). Após a
fala de 2V, o presidente da sessão oficializará o resultado, proclamando-o,
no melhor estilo austiniano.
Por fim, é importante esclarecer que, nas transcrições realizadas,
não se seguiu a pontuação convencional, pois o intuito foi ressaltar
algumas características rítmicas, temporais e prosódicas das falas
transcritas e que nos pareceram relevantes para descrevermos a gestão
do desacordo em deliberações em 2ª Instância, problemática da pesquisa
realizada. Tal escolha buscou, mesmo que de forma tênue, aproximar
o mais possível a versão transcrita dos votos da realidade falada, com
seus cortes abruptos, pausas, gaguejos, sensação de frase mal formulada,
incompletude.

6 O recorte transversal e o longitudinal dos dados


Às análises que compõem o trabalho de tese cuja metodologia
ora relatamos associamos o método transversal e o método longitudinal
ao longo da leitura que faremos dos dados. Nesse sentido, para Traverso:
a análise transversal consiste em estudar um fenômeno,
previamente identificado, em diferentes situações (em diferentes
interações) pertencentes a um mesmo corpus, ligado à busca
de respostas a uma mesma problemática geral (...) a análise
longitudinal busca dar conta de uma interação em uma só
sequência, num mesmo momento, considerando o seu início, meio
e fim. (TRAVERSO, 2007, p. 27, itálico nosso).

No primeiro caso (análise transversal), examinamos um mesmo


fenômeno identificado no corpus em diferentes excertos/momentos, em
diversas situações diferentes, isto é, a regularidade de um fenômeno
observado em julgamentos diferentes, com magistrados diferentes, em
datas diferentes. No trabalho que apresentamos, a análise transversal foi
bastante profícua, pois, por meio dela, identificamos alguns fenômenos
interessantes, sobre os quais discorreremos rapidamente ainda neste
artigo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 699

6.1 O recorte transversal


A esse respeito, publicamos dois artigos por meio dos quais
mostramos a ocorrência de um mesmo fenômeno, a que chamamos de
“recategorização argumentativa”.14 Para tal, tivemos de compreender
como os magistrados argumentavam e expunham seus pontos de vista
durante uma deliberação. Ao descrever o fenômeno, chegamos à Figura 1.
FIGURA 1 – Processo de recategorização argumentativa – análise transversal de dados

Fonte: Elaboração do autor

Foi graças a um recorte transversal de dados que pudemos chegar


à Figura 1, a qual só nos foi possível conceber após a escuta exaustiva
de 27 deliberações, dentre as quase 100 previamente selecionadas no
início da pesquisa. Tal figura busca explicar que, no corpus TRIBUNAL,
os processos em segunda instância via de regra suscitam, na primeira
etapa de cada julgamento (chamada an debeatur pelos juristas), uma
questão argumentativa (PLANTIN, 2005) do tipo: “Tal ação deve ser
considerada como lícita ou como ilícita?”. Desse modo, no momento de
apresentar seus argumentos, e em caso de conflito de opiniões (estase),
notamos que os magistrados lançam mão do processo do que chamamos
de recategorização argumentativa, para fundamentar seus julgamentos

14
Vide artigos em que apresentamos idiossincrasias do fenômeno que chamei de
“recategorização argumentativa”, por meio da apresentação de dois estudos de caso
(DAMASCENO-MORAIS, 2014a, 2014b).
700 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

destoantes ao longo de algumas das deliberações analisadas, como


buscamos evidenciar.
Como tentamos explicar, tal movimento estratégico (que
chamamos de recategorização) só é possível graças à prerrogativa que
têm os juristas de (re)interpretarem um mesmo fato de formas diferentes,
chegando, dessa forma, a conclusões muitas vezes antagônicas, sem, para
tanto, ferir o código, as leis. E o símbolo Ѻ, aqui chamado de inversor,
está ali justamente para mostrar o momento exato em que essa divergência
de interpretação aparece ao longo dos julgamentos que fazem parte do
corpus TRIBUNAL, o qual utilizamos como fonte de pesquisa para
a elaboração deste e de outros trabalhos, alguns ainda nem iniciados.
Desse modo, no momento da classificação, um mesmo fato pode ser
considerado “um X” ou um “verdadeiro X”, dependendo da forma como
cada magistrado interpretará os fatos, no momento da qualificação de uma
ação. E esse momento de qualificação pode, obviamente, trazer conteúdo
retórico não negligenciável, como demonstramos minuciosamente na
tese em questão.

6.2 O recorte longitudinal


Um exemplo de recorte longitudinal pode ser representado por
um julgamento visto em sua integralidade (e não recortes de um mesmo
fenômeno identificados em julgamentos diferentes). Essa abordagem
metodológica pode ser vista, por exemplo, quando explicamos o papel
das emoções em um julgamento, analisando apenas um julgamento, do
começo ao final. Ali pretendemos entender e explicar as maneiras pelas
quais as emoções podem estar entrelaçadas nos discursos jurídicos
argumentativos. A partir da transcrição integral de um breve julgamento
(ie, do início ao fim) em um Tribunal de Justiça do Brasil tivemos a
oportunidade de observar e descrever um pouco dos componentes
racionais e emocionais de um julgamento entre desembargadores. “O
caso da perna quebrada”, como cognominamos aquele julgamento,
permite examinar como os juízes definem o valor da indenização a ser
paga nos casos de dano moral. Esse julgado foi mostrado anteriormente,
no Quadro 5, neste artigo.
Ali indicamos que não apenas de argumentos técnicos se compõe
uma decisão; a subjetividade também é importante nesse contexto
jurídico. Nessa etapa da pesquisa, confirmamos o que juristas e filósofos
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 701

do campo da argumentação, como Cornu (2005), Feteris (1999), Garapon


(2001, 2008), Robrieux (2010), Perelman (1999), Stamakis (1995), entre
outros, já haviam notado: juízes não são frias máquinas que julgam
cegamente. A nossa análise pôde mostrar que uma sentença é uma mistura
de regras jurídicas e experiência pessoal dos magistrados, em certa
medida. E o recorte feito no julgamento não foi como no caso anterior, isto
é, transversal. Em outras palavras, a metodologia que empregamos para
fazer o recorte dos dados é diretamente proporcional ao que buscamos
responder ou compreender na pesquisa empreendida.
Ainda sobre o ritual, de acordo com o tipo de caso em julgamento,
a sessão de deliberação reúne em geral três magistrados. No início de cada
julgamento o desembargador relator expõe o caso, geralmente narrando os
acontecimentos (o que aconteceu, o resultado do julgamento em Primeira
Instância, o tipo de contestação etc.) e, ao final da exposição, apresenta
o seu voto (se favorável ou contrário à sentença proferida em Primeira
Instância), que já fora preparado, por escrito, antes da sessão. No entanto,
o fato de o voto estar escrito não garante que a decisão do relator será
acatada pelo grupo; tampouco impede que, em detrimento do tipo de
debate realizado, o próprio relator mude o seu voto, durante a deliberação,
que ocorre oralmente. Nesse sentido, o primeiro compromisso do relator
é, desse modo, ter estudado a fundo o caso, minuciosamente, pois será
a partir da narração dos fatos por ele feita e da justificação de seu voto
que os demais magistrados votarão.
O produto de cada julgamento chama-se acórdão; de forma
bastante elementar, pode-se dizer que um acórdão, em Segundo Grau
de instrução, equivale ao documento “sentença”, em Primeiro Grau
de jurisdição. Certamente, pode-se simplificar ainda mais a questão
afirmando-se que um acórdão é uma sentença. Não nos podemos
esquecer de que, em Segunda Instância, os magistrados julgam casos
já julgados por colegas de profissão; seu trabalho consiste, em resumo,
em verificar a validade das decisões proferidas por um juiz solitário
em Primeira Instância. Faz parte ainda das atribuições do relator de um
processo resumir todos os argumentos que foram utilizados por autor e
réu, e, ainda, relatar a justificativa que o magistrado utilizara à época do
primeiro julgamento (em Primeira Instância) para justificar a sentença
outrora proferida. A principal tarefa do desembargador relator será, então,
justificar sua decisão, a qual, como vimos, pode ir de encontro à (ou ao
encontro da) sentença inicialmente proferida em Primeira Instância.
702 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

Após o anúncio do voto do relator/REL, o desembargador que


naquele caso atua como primeiro vogal/1V será o segundo magistrado
a se pronunciar (sempre após o relator). Isso significa que 1V terá duas
possibilidades: ele será a favor ou contra o voto de REL. Em seguida será
a vez de 2V (o magistrado que naquele caso atua como segundo vogal).
Geralmente o segundo vogal não conhece o processo tão minuciosamente
como o relator e, muitas vezes, ele (2V) profere o seu voto com base
apenas na exposição dos fatos feita por REL. De qualquer modo, 2V será
o último a se pronunciar e, normalmente, após sua fala, uma decisão terá
sido tomada; e essa decisão será formalmente proferida pelo presidente da
turma na qual a deliberação está sendo realizada. Interessante destacar que
pode acontecer de um dos três magistrados (REL, 1V, 2V) acumularem,
no julgamento, a função de REL ou 1V ou 2V com a função de presidente
da turma, pois se trata de atribuições diferentes.
Em síntese, uma sessão de deliberação em Segunda Instância
traz, geralmente, três interactantes: o relator/REL, o primeiro vogal/1V
e o segundo vogal/2V (como vimos, o papel de presidente da sessão
geralmente é acumulado por um desses três ou pode ser exercido por um
quarto magistrado, dependendo da situação). Alguns processos têm um
revisor/REV (em vez de dois vogais); no entanto, quando isso acontece,
geralmente o trio é formado por REL + REV + V (apenas um vogal, em
vez de dois). Ao final de cada caso julgado, os magistrados, por maioria
ou por unanimidade, têm a obrigação, seja de concordar com a decisão
do juiz de Primeira Instância – o primeiro a julgar o caso em análise –,
seja de reformar a sentença daquele magistrado (= discordar), e, nesse
caso, terão mudado a sentença original.
Como dissemos, o julgado ao qual estamos a nos referir para
ilustrar o recorte longitudinal, foi apresentado anteriormente no Quadro
5. Por falta de espaço, não temos como nos estender na explicação da
análise, neste momento. Não obstante, a análise completa pode ser lida
em artigo publicado em inglês (o que, é forçoso admitir, dificultou ainda
mais o trabalho, porque o excerto teve de ser transposto para o inglês).15

15
Vide Damasceno-Morais (2016).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 703

7 Dominação, poder e lobos


No caso da análise transversal, em que identificamos a
“recategorização argumentativa” (Figura 1), buscamos apontar as
categorias a priori, isto é, as reações dos interactantes, descrevendo
minuciosamente o contexto antes da ocorrência do fenômeno observado;
durante sua ocorrência e, ainda, depois da ocorrência da chamada
recategorização observada e descrita, ao longo das deliberações entre
os desembargadores. Procuramos, ainda, adotar uma postura de ir-e-
vir incessante na escuta dos áudios coletados, na iminência de melhor
compreender o que ouvíamos. No segundo caso (análise longitudinal /
Quadro 5), ilustrado pela transcrição do julgamento da “perna quebrada”,
buscamos analisar uma interação em sua integralidade, isto é, sem
fatiamento de excertos, o que nos possibilitou melhor compreender o
contexto de ação que antecede e o que sucede o surgimento da estase
(o desacordo) entre os interactantes. Assim, a mescla dos recortes
transversal e do longitudinal nos permitiu ter uma visão mais versátil
do corpus com base em escolhas metodológicas claras e detalhadas.
A busca de regularidades linguísticas, por meio de marcas textuais,
nos momentos de estase argumentativa, nos ajudou a compreender os
procedimentos de construção metódica e de estruturação da interação em
nível global e local, entre os interactantes. As duas maneiras de recortar os
dados permitiram-nos identificar como se estabelecem as relações entre
os magistrados em deliberação;16 pudemos, ainda, perceber a dimensão
simbólica de falas, frases, frases entrecortadas, suspiros, pausas (etc.)
ocorridas entre os interactantes nos momentos de interação estásica.
Mesmo que o objetivo aqui não seja dizer se os magistrados
fazem corretamente o seu trabalho no plano jurídico ou pessoal (como
já explicamos), acreditamos que é possível, a partir das análises que
aqui relatamos, apresentar novas perspectivas de estudos nesta seara,
suscitando a reflexão não só do público diletante, mas também dos
próprios profissionais que atuam na área jurídica. E exatamente por
isso tentaremos nos abster de juízos de valor (no sentido de avaliar os

16
Certamente aqui não temos tempo de explicitar minuciosamente todas essas
ocorrências e regularidades, as quais ocuparam quatro capítulos de análise da tese
aqui citada. A ilustração que fazemos de forma breve neste artigo tem a única função
de mostrar como a metodologia nos permitiu encontrar resultados, a partir de análise
exaustiva de dados complexos, como já explicamos.
704 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

resultados dos julgamentos observados, emitindo algum tipo de (des)


contentamento acerta de algum voto proferido), uma vez que nos apoiamos
numa perspectiva metodológica basicamente descritiva, a partir de alguns
preceitos da Etnometodologia, como já explicado. Restringimo-nos,
assim, à escuta e reescuta dos dados, os quais nos permitiram detectar,
descrever e analisar fenômenos que nos pareceram significativos.
Os dados selecionados fazem parte de um contexto em que a
interação verbal se realiza entre magistrados que, em um eixo vertical,
estão no mesmo nível hierárquico. Propositalmente, evitamos a coleta
de dados que tivessem interações entre advogados e magistrados como
foco; evitamos ainda situações de testemunhas em interação com juízes;
réus com advogados etc., como forma de evitar a armadilha de análise
de situações assimétricas e que, muitas vezes, descambam num discurso
estereotipado sobre dominação, poder e lobos. Buscamos evitar análises
que, não poucas vezes, propõem apenas a confirmação das “certezas”
iniciais, isto é, as análises que enxergam a sociedade sempre como uma
cruel selva de pedra, injusta e infamemente capitalista, que, sobretudo em
situação institucional, geralmente é representada por um juiz autoritário
e superpoderoso diante do acusado, um patrão canastrão, um médico
anti-ético, um gerente inescrupuloso, uma multinacional impiedosa, que,
implacável e inexoravelmente, são algozes de um sistema brutal e letal.17
Foi para evitar esse tipo de armadilha de pesquisas com
conclusões pré-fabricadas que escolhemos uma situação de interação
simétrica, trilogal, em que os interactantes estão num mesmo patamar
institucional e social (todos são desembargadores), portadores igualmente
de notório conhecimento técnico e mesmo grau de respeitabilidade (o que
é um pré-requisito para o cargo, isto é, uma “reputação ilibada”, no jargão
jurídico). Obviamente, e para não soarmos naïfs, sabemos que, mesmo
nesse tipo de situação simétrica, como a que selecionamos para o corpus
TRIBUNAL, os liames e amarrilhos; os encadeamentos profissionais; o
trato; as (in)compatibilidades pessoais entre os magistrados, pessoas da
lei, constituem laços complexos, pois, não nos devemos esquecer, trata-
se de grupos de pessoas que trabalham juntas, deliberam em conjunto
e dividem um tipo de intimidade que mistura o respeito profissional e a
questão deontológica a certa cumplicidade, coleguismo, condescendência
e até mesmo certa transigência em relação aos votos elaborados por eles,

17
A esse respeito, ver Damasceno-Morais (2005).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 705

em sua rotina de trabalho. E isso, certamente, está longe de representar


o ser imaculado e imparcial alegorizado pela justiça com a venda nos
olhos, como problematizamos na tese que deu origem a este breve
relato. Não por acaso, a construção da justiça, coletiva – e por isso
intricada e complexa –, é um terreno fértil para que mais pesquisas ali
mirem a lupa e para que desmitifiquemos os seres de toga (CORNU,
2005; KREUZBAUER, 2007; LATOUR, 2004; MARTINEAU, 2010;
POSNER, 2008; STAMAKIS, 1995 entre outros). Mas isso já é assunto
para outro artigo. Por ora, justifico apenas a escolha de situações
simétricas para o corpus que construímos para o trabalho aqui relatado.

Últimas considerações
Vimos nesta contribuição para a edição especial sobre
“Linguística de Corpus: conquistas e desafios” – e que esperamos possa
de fato contribuir para alguma reflexão – uma oportunidade não de
teorizar sobre metodologias diversas,18 mas de relatar um caso prático de
composição, organização, recorte e análise de dados complexos, a partir
da investigação de uma problemática que, aqui, se traduz pela descrição
e análise da gestão do desacordo entre desembargadores numa Corte de
justiça em Segunda Instância. O aspecto metodológico da pesquisa ora
relatada testemunha as dificuldades inerentes e específicas à pesquisa
empreendida e pode ser vista como um exemplo prático das dificuldades
e desafios de se empreender uma pesquisa com corpora complexo.
Acreditamos que a importância maior desta experiência é registrar
a forma como “o gozo da descoberta” (SALOMON, 2014, p. 154),
apesar de ser um combustível necessário para levar um pesquisador a
explorar um mundo desconhecido (lembremo-nos do espeleólogo na
caverna), não é suficiente. Nesse sentido não basta o “amor aos dados”
(como o amor do carpinteiro pela madeira), mas a construção de uma
eficaz e clara metodologia de (de)composição e análise de dados,19 sem

18
Segundo Coscarelli e Mitre (2007, p. 74), a missão do pesquisador não é teorizar sobre
metodologias, “não é ter respostas e soluções, e sim levantar perguntas interessantes”.
19
O rapport da tese defendida (espécie de ata circunstanciada da defesa) trouxe
comentários avaliativos bastante encorajadores e entusiásticos acerca da metodologia
adotada para composição do banco de dados TRIBUNAL, razão pela qual tomamos a
liberdade de aqui relatar essa experiência acadêmica neste número especial.
706 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

o que corremos o risco de ficar eternamente presos num labirinto do qual


jamais retiraremos as informações de que necessitamos. Nesse sentido,
se ousamos relatar essa empreitada acadêmica é por acreditarmos que tal
experiência pode ser útil a outros pesquisadores que precisem mergulhar
num universo desconhecido para descrevê-lo de forma metódica,
condição sine qua non para a credibilidade da pesquisa, que pode ser
longa e complexa, porque uma pesquisa não pode apenas mostrar, ela
precisa demonstrar (SERRANO, 2011, p. 15).

Agradecimentos
Agradeço imensamente a Laura Silveira Botelho pela boa vontade na
leitura (empolgada e empolgante) deste relato-recorte de pesquisa.

Referências
ATKINSON, J. M.; DREW, P. Order in Court: The Organization of Verbal
Interaction in Judicial Settings. London: Macmillan, 1979. DOI: https://
doi.org/10.1007/978-1-349-04057-5
BAUDE, O. et al. Corpus oraux, guide des bonnes pratiques. Orléans:
CNRS Editions; Presses Universitaires Orléans, 2006.
BLANCHE-BENVENISTE, C. Les unités de language écrite et de langue
parlée. Cahiers de L’Université de Perpignan, Perpignan, n. 37, p. 192-
216, 2008.
CORNU, G. Linguistique juridique. Paris: Éditions Montchrestien, 2005.
COSCARELLI, C. V.; MITRE, D. Oficina de leitura e produção de textos
(Livro do Professor). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2007.
DAMASCENO-MORAIS, R. O eminente discurso da queda iminente:
o telejornalismo econômico em foco. 2005. 143f. Dissertação (Mestrado
em Linguística) – Faculdade de Letras, Departamento de Linguística,
Línguas Clássicas e Vernácula, Universidade de Brasília, 2005.
DAMASCENO-MORAIS, R. Le prix de la douleur: gestion des
désaccords entre magistrats, dans un tribunal brésilien de seconde
instance, 2013. 491f. Tese (Doutorado em Ciências da Linguagem) –
Faculdade de Ciências da Linguagem, Université Lumière Lyon 2, 2013.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 707

DAMASCENO-MORAIS, R. La recatégorization comme procédé


argumentatif dans le domaine juridique. Argumentation & Analyse du
Discours, Te-Aviv, v. 13, p. 2-16, 2014a. DOI: https://doi.org/10.4000/
aad.1808
DAMASCENO-MORAIS, R. Argumentar em campo jurídico e as
possibilidades de inversão de uma decisão: o caso da depilação a laser.
EID&A - Revista Eletrônica de Estudos Integrados em Discurso e
Argumentação, Ilhéus, BA, v. 6, p. 153-170, 2014b.
DAMASCENO-MORAIS, R. Emotional Legal Arguments and a Broken
Leg. Ontario Society for the Study of Argumentation/OSSA, Ontario,
v. 1, p. 1-12, 2016.
DUPRET, B. Le jugement en action: ethnométhodologie du droit, de la
morale et de la justice en Egypte. Paris: Droz, 2006.
FETERIS, E. T. Fundamentals of Legal Argumentation: A Survey
Theories on the Justification Judicial Decisions. Netherlands: Kluwer
Academic Publishers, 1999. DOI: https://doi.org/10.1007/978-94-015-
9219-2
GADET, F. L’oreille et l’oeil à l’écoute du social. Cahiers de L’Université
de Perpignan, Perpignan, n. 37, p. 35-48, 2008.GARAPON, A. Bien
juger. Essai sur le rituel judiciaire. Paris: Éditions Odile Jacob, 2001.
GARAPON, A.; ALLARD, J.; GROS, F. Les vertus du juge. Paris: Dalloz,
2008.
GARFINKEL, H. Studies in Ethnomethodology. Englewood Cliffs, NJ:
Prentice-Hall, 1967.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 2002.
KERBRAT-ORECCHIONI, C.; PLANTIN, C. Le trilogue. Lyon: Presses
Universitaires de Lyon, 1995.
KERBRAT-ORECCHIONI, C. Análise da conversação: princípios e
métodos. São Paulo: Parábola, 2006.
KREUZBAUER, G. Modelling Argumentation in Moral and Legal
Discourse. In: CONFERENCE OF THE INTERNATIONAL SOCIETY
FOR THE STUDY OF ARGUMENTATION, 6., 2007, Amsterdam.
Proceedings […]. Amsterdam: Sic Sat & International Center for the
Study of Argumentation, 2007. p. 827-834.
708 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021

LATOUR, B. La fabrique du droit: une ethnographie du Conseil d’État.


Paris: La Découverte, 2004.
MARCUSCHI, L. A. Análise da conversação. São Paulo: Ática, 2003.
MARTINEAU, F. Petit traité d’argumentation judiciaire. 4. ed. Paris:
Praxis Dalloz, 2010.
MARTÍNEZ, E. G. Flagrantes auditions: échanges langagiers lors
d’interactions judiciaires. Berne: Peter Lang, 2007.
MARTINS JÚNIOR, J. Como escrever trabalhos de conclusão de curso.
6. ed. São Paulo: Vozes, 2012.
MONDADA, L. Documenter l’articulation des ressources multimodales
dans le temps: la transcription d’enregistrements videos d’interactions.
Cahiers de L’Université de Perpignan, Perpignan, n. 37, p. 127-155,
2008.
MOTTA-ROTH, D.; HENDGES, G. R. Produção textual na universidade.
São Paulo: Parábola Editorial, 2010.
OCHS, E.; SCHEGLOFF, E. A., THOMPSON, S. A. Interaction
Grammar. Cambridge: Cambridge University Press, 1996. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9780511620874
PERELMAN, C. Logique juridique: Nouvelle rhétorique. Paris: Éditions
Dalloz, 1999.
PLANTIN, C. Lieux communs, topoi, stereotypes, cliches. Paris: Éditions
Kimé, 1993.
PLANTIN, C. L’argument du paralogisme. Hermès: Cognition,
Communication, Politique, [S.l.], n. 15, v. 1, p. 245-262, 1995. DOI:
https://doi.org/10.4267/2042/15170
PLANTIN, C. L’argumentation. Paris: Le Seuil, 1996. (Mémo)
PLANTIN, C. L’argumentation. Paris: PUF, 2005. (Que sais-je?)
PLANTIN, C. Dictionnaire de l’argumentation: une introduction aux
études d’argumentation. Lyon: ENS Éditions, 2016.POSNER, A. R. How
Judges Think. London: Harvard University Press, 2008.
ROBRIEUX, J. La rhétorique et argumentation. Paris: Armand Colin,
2010.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 673-709, 2021 709

SALOMON, D. V. Como fazer uma monografia. 13. ed. São Paulo:


Editora WMF Martins Fontes, 2014.
SCHEGLOFF, E. A. Issues of Relevance for Discourse Analysis:
Contingency in Action, Interaction and Co-Participating Context. In:
HOVY, E. H.; DONIA, R. S. (org.). Computational and conversational
discourse: Burning issues – An interdisciplinary account. Berlin: Springer
Editor, 1996. p. 3-35. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-662-03293-0_1
SCHEGLOFF, E. A. What next?: Language and Social Interaction Study
at the Century’s Turn. Research on Language and Social Interaction, [S.l.],
v. 32, n. 1, p. 141-148, 1999. DOI: 10.1207/S15327973RLSI321&2_17
SERRANO, F. P. Pesquisar: a tese, um desafio possível no labirinto. São
Paulo: Parábola, 2011.
STAMAKIS, C. Argumenter en droit: – une théorie critique de
l’argumentation juridique. Paris: Publisud, 1995.
TRAVERS, M. Ethnomethodologie, analyse de conversation et droit.
Droit et Société, [S.l.], n. 48, p. 349-369, 2001. DOI: https://doi.
org/10.3917/drs.048.0349TRAVERSO, V. Transcrire l’interaction
– Transcription et traduction des interactions en langue étrangère.
Cahiers de Praxématique, [S.l.], n. 39, p. 77-99, 2002. DOI: https://doi.
org/10.4000/praxematique.1836
TRAVERSO, V. L’analyse des conversations. Lyon: Armand Colin, 2007.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

Diseño de corpus específicos para el estudio histórico


gramatical: el caso de las construcciones con clítico femenino

The creation of specific corpora for the historical study of


grammar: the case of constructions with the feminine clitic

Nicolás Arellano
Universidad de Buenos Aires (UBA), Consejo Nacional de Investigaciones Científicas
y Técnicas (CONICET), Buenos Aires / Argentina
nicolas.a.arellano@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-5197-5428

Resumen: Este artículo busca analizar las ventajas de una aproximación a los datos
lingüísticos históricos a partir de la confección de corpus específicamente diseñados.
Para ello, en primer lugar, se presentan las principales limitaciones de los corpus
generales de referencia, particularmente del corde (rae) y Corpus del Español (byu),
no solamente en cuanto al acceso de sus motores de búsqueda, sino también a la
disponibilidad de los textos que los componen. En segundo lugar, se hace uso de un
caso en específico, el del origen y desarrollo de las construcciones con clítico femenino,
para ilustrar la propuesta. A continuación, se contrasta esta propuesta de abordaje de
datos con otras investigaciones que utilizan corpus generales. Se evidencia, así, que
este modo de acceso a las emisiones lingüísticas históricas favorece el estudio de
procesos gramaticales novedosos de interfaz que se circunscriben a ámbitos informales,
populares, orales y diatópicamente marginales.
Palabras clave: locuciones idiomáticas; clítico femenino; corpus generales; corpus
históricos; español rioplatense.

Abstract: The aim of this article is to analyze the advantages of an approach to


historical linguistic data based on the creation of specifically designed corpora. For
this, the main limitations of general reference corpora are presented in the first place;
particularly of CORDE (RAE) and Corpus del Español (BYU). The limitations are
not only presented with regard to the access on their search engines, but also to the
availability of texts that are part of said corpora. Secondly, a particular case is utilized,
which shows the origin and development of the constructions with the feminine clitic,
so as to exemplify the proposal. Next, the mentioned proposal on the approach of
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.711-737
712 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

data is contrasted to other research that use general corpora. Thus, it is demonstrated
that this way of accessing historical linguistic utterances benefits the study of novel
grammatical interface processes that deal exclusively with informal, popular, oral, and
dialectically peripheral fields.
Keywords: idioms; feminine clitic; general corpora; historical corpora; Río de la Plata
Spanish.

Recebido em 7 de setembro de 2020


Aceito em 26 de outubro de 2020

1 Introducción
Con la afluencia del giro computacional de las ciencias sociales
y humanas (DE MATTEIS, 2015), el acceso y desarrollo de bases de
datos en línea, corpus electrónicos generales y de referencia, así como
la multiplicidad de nuevos géneros y prácticas discursivas en Internet
–correos electrónicos, mensajería instantánea, entradas en redes sociales,
comentarios en periódicos, intervenciones en foros, por citar algunos–,
han cobrado un lugar preponderante dentro de la investigación del
lenguaje (VELA DELFA; CANTAMUTTO, 2015). Este escenario
no es nuevo y se enmarca al mismo tiempo en una realidad histórica:
las investigaciones filológicas y de las primeras décadas del siglo
XX fueron precursoras del análisis lingüístico a partir de la evidencia
empírica directa (BERBER SARDINHA, 2000). A partir de la década
de 1960, con la incorporación de ciertas herramientas computacionales
y la progresiva pérdida de la influencia de los métodos formales en
los estudios gramaticales, el trabajo con datos lingüísticos auténticos
comenzó a ganar cada vez más terreno (BIBER, 1990; ROJO, 2008).
Si bien actualmente existe consenso en los beneficios de acercarse a las
hipótesis lingüísticas de una manera que no excluya mutuamente a las
dos corrientes (FILLMORE, 1992; LÜDELING; KYTÖ, 2008), esto
es que tenga presente tanto fuentes directas como armado de oraciones
sin necesariamente una constatación empírica, la obligación del acceso
a los datos, a los “hechos del lenguaje” (WEISSER, 2016), se hace más
evidente ante algunos tipos de fenómenos gramaticales.
Los avances, si bien importantes, con relación a los grandes
corpus de referencia no se limitan en los alcances de las herramientas
computacionales y de la lingüística de datos reales. De manera sostenida,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 713

a partir de la década de 1990 (ROJO, 2008), la disponibilidad de la web


como corpus lingüístico potencialmente infinito y el diseño y puesta en
práctica de corpus específicos de discursos especializados han hecho
avanzar la disciplina y la variedad de las investigaciones de forma
notable. La lingüística de corpus resulta así una metodología en cierta
manera joven, que permite al lingüista desarrollar un entendimiento más
acabado de cómo es y cómo funciona el lenguaje a partir de la consulta
cualitativamente significativa de muestras de lengua reales, provenientes
de diversas fuentes, en grandes cantidades. Los corpus, que deben
ser colecciones electrónicas organizadas de texto, seguir criterios de
representatividad y ser guiados por parámetros puntuales, constituyen las
herramientas específicas desde las cuales se accede a la verificación de
una hipótesis en particular que motiva la investigación o desde las cuales
se indaga sobre una problemática de la que aún no se tienen muchos
datos o información (PARODI, 2008; SILVÉRIA OLIVEIRA, 2015).
La siguiente investigación se centra en el análisis de las
herramientas de la lingüística de corpus que pueden aplicarse a fenómenos
gramaticales novedosos e históricos que ilustran algún tipo de liminalidad
entre los niveles de la lengua, sobre todo entre el morfosintáctico y el
léxico. En particular, se analizan los inconvenientes que se desprenden
de la utilización de los métodos tradicionales en la investigación del
desarrollo histórico de las construcciones pronominales con clítico
femenino –arreglárselas, pegarla, susanearla– (ARELLANO, 2020;
MARE; CASARES, 2017; MASULLO; BÉRTORA, 2014), las cuales
cuentan con una expansión marcada en la variedad rioplatense; de
ellos también se ha propuesto su presencia en las variedades ibéricas
(CIFUENTES HONRUBIA, 2018). En la sección 2, en primer lugar,
resumimos la historia y abordamos las características de los corpus
generales de referencia. En segundo lugar, focalizamos sobre las
propiedades características de los corpus históricos en general y de los
dos corpus históricos del español más importantes –Corpus del Español
y corde– en particular. En la sección siguiente, presentamos el fenómeno
de las construcciones con clítico femenino y analizamos críticamente una
propuesta de investigación a partir de corpus generales. En la sección 4,
mostramos las bases de la creación de una base de datos adaptada para
la investigación de este fenómeno. En la sección 5, se contrastan los
resultados obtenidos a partir de la utilización de ambos tipos de corpus.
En la última sección, presentamos las conclusiones de la investigación.
714 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

2 Corpus generales: características y limitaciones


En cuanto a los corpus generales de referencia, es decir, las bases
de datos lingüísticas en línea constituidas por millones de palabras,
estos posibilitan el acceso a muestras de lengua de una manera sencilla
y sin la obligación de obtener elicitaciones o recuperar contenido desde
fuentes primarias o desconocidas. Al mismo tiempo, la sistematización
de las producciones de los hablantes permite que otras variables
metalingüísticas, a menudo ignoradas, puedan ser tenidas en cuenta a la
hora de buscar el dato lingüístico necesario para la investigación. Los
grandes corpus generales disponibles en línea no constituyen solamente
una colección de textos accesibles digitalmente,1 sino que representan
fundamentalmente muestras de lengua anotadas según una variedad de
categorías útiles para una multiplicidad de investigaciones y enfoques
lingüísticos (DAVIES, 2009). En la mayoría de ellos, puede encontrarse
información relacionada con la situación de comunicación, el género
discursivo, la variedad del español y el lugar y momento de emisión,2
por citar algunas características. Debido a la facilidad de acceso que
representan los grandes corpus, muchas investigaciones del lenguaje
han relegado la inclusión del “discurso real” a la búsqueda de material
lingüístico en estas bases de datos. De manera inductiva, deductiva y
cuantitativa, el lingüista reflexiona e hipotetiza a través de los datos
presentes en los corpus y asume la existencia, productividad y frecuencia
de los fenómenos a través de los resultados obtenidos.

1
Conviene diferenciar, así, los archivos y las bibliotecas electrónicas (los primeros,
depósitos de textos sin organización; los segundos, colecciones con algún tipo de
criterio, sobre todo de género textual o no estrictamente lingüístico) de los corpus o
los subcorpus, que constituyen una parte específica de un archivo o una biblioteca
organizadas con un diseño y unos objetivos explícitos (BERBER SARDINHA, 2000).
2
Nuevos proyectos lingüísticos orientados al análisis de discurso interaccional, las
humanidades digitales y la sociolingüística han comenzado a incluir otras variables en la
notación de sus bases de datos, al mismo tiempo que implementan medidas y decisiones
para obtener el consentimiento de sujetos y/o anonimizar la identidad de los enunciadores.
En este tipo de empresas se suele agregar la información tipológica (según el canal de
comunicación, escrito u oral), metodológica (disponible o elicitado), genérica, de la
situación de comunicación y de las características identitarias básicas de los interlocutores
(DE MATTEIS, 2015; HUNSTON, 2008; VELA DELFA; CANTAMUTTO, 2015). Los
datos que no se recuperan de corpus lingüísticos generales en la investigación fueron
sistematizados siguiendo estos lineamientos lingüísticos y éticos.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 715

Sin embargo, aunque la aparición de los grandes corpus


lingüísticos representa sin dudas mejores posibilidades para el desarrollo
de determinadas investigaciones, estos no dejan de traer aparejados
ciertos inconvenientes y limitaciones, sobre todo en relación con la
elección de los textos que los componen. Como dentro de sus objetivos
normalmente se asume la compilación de la mayoría de los aspectos de
una lengua o por lo menos una variedad de ella, generalmente se han
señalado las incompatibilidades del estudio de la variación, debido a
la neutralización que se deriva al intentar dar cuenta de muchos tipos
de discursos simultáneamente (RISSANEN, 2008). Más allá de esta
crítica, que se corresponde con las primeras instancias del desarrollo de
la disciplina, en las que la cantidad de palabras y textos estaban sujetos a
la posibilidad de alojar determinada cantidad de textos, se han presentado
también otros problemas.
Por una parte, se estima que los corpus están influenciados en
gran medida por contextos escritos (ROMAINE, 2008; WEISSER, 2016).
Como consecuencia, los discursos orales se encuentran, con suerte,
subrepresentados o directamente no son tenidos en cuenta (CLARIDGE,
2008). En el caso de aparecer, suelen estar relacionados con ámbitos
cultos y formales. Muchos corpus cuentan con ejemplos de discursos
públicos, disertaciones y clases orales, por citar algunos casos, que
generalmente pueden ser actos orales de un discurso previamente escrito
(HUNDT, 2008). Por otra parte, como consecuencia de la ausencia de
textos del lenguaje hablado, también escasean muchos tipos de textos que,
además de ser orales, suelen suceder en interacción y/o son de carácter
popular o informal. Este tipo de discursos, al estar raramente disponibles
por escrito, ser difíciles de transcribir e involucrar participantes que
generalmente no son tenidos en cuenta por los investigadores, suelen
ser abandonados. Esta falta afecta el trabajo en general de cualquier
investigador de la lengua, pero sobre todo de un conjunto de áreas, entre
ellas la gramática, la dialectología, la sociolingüística, la lexicografía y
los estudios de cambio lingüístico.
En relación con esto último, efectivamente el panorama
desfavorable se acrecienta cuando se lidia con corpus históricos, y no
emisiones lingüísticas actuales, en los que el acceso al material de forma
representativa se vuelve aún más complejo por razones evidentes. De
por sí, los corpus históricos suelen ser más pequeños que los sincrónicos
(CLARIDGE, 2008). Asimismo, la disponibilidad de registros orales
716 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

grabados incluso durante la primera mitad del siglo XX es realmente


exigua. En caso de existir ejemplos, es posible no contar con toda la
información lingüística y metalingüística necesaria para llevar a cabo
algunas investigaciones, debido a la calidad del material audiovisual
o a las dificultades en el rastreo de los participantes de las emisiones
registradas, entre otras cuestiones. Los ejemplos anteriores al siglo XX
se concentran especialmente en transcripciones de discursos orales, en
los que también suelen abundar los registros más formales o los usuarios
más cultos. Así, son las fuentes literarias como un conjunto las que ocupan
gran parte del total de textos que pertenecen a las bases de datos históricas.
En la actualidad, se cuenta con dos grandes corpus históricos
disponibles en español:3 el Corpus Diacrónico del Español (corde),4
administrado por la Real Academia Española; y el Corpus del Español
Genre/Historical, desarrollado por Mark Davies y la Universidad de
Brigham Young (byu).5 En ambos, los textos analizados van desde los
primeros registros escritos con los que cuenta el español (en el siglo
XI) hasta mediados del siglo XX. En términos de cantidad de palabras,
resultan ambos proyectos de importante capacidad, incluso con un total
de tokens superior al Helsinki Corpus, una de las bases de datos más
extensas para el análisis histórico del inglés (DAVIES, 2009).
Para el caso del Corpus del Español, hasta el año 1900, está
compuesto de 1670 textos, manuscritos o facsímiles, particularmente
tomados de textos literarios disponibles de la Biblioteca Virtual Miguel

3
Estos no constituyen los únicos dos corpus disponibles en línea, sino solo los
más importantes en cuanto a cantidad de palabras, influencia y extensión en las
investigaciones, debido a su gratuidad y las universidades e instituciones que los
desarrollan. Para trabajar con corpus que fundamentalmente se ocupan de variedades
ibéricas desde un punto de vista histórico, pero que se centren en variedades no formales,
se recomienda consultar, por ejemplo, PostScriptum (Centro de Lingüística de la
Universidad de Lisboa), que se destaca por ser un corpus histórico que incluye epístolas,
cartas y géneros escritos informales. El Corpus Diacrónico y Diatópico del Español de
América (cordiam), coordinado por la Academia Mexicana de Letras y dirigido por
Concepción Company Company, es quizá la única excepción a la tendencia peninsular.
Otros corpus históricos son relevados por Contreras Seitz (2009) y Enrique-Arias (2012).
4
Corpus diacrónico del español (CORDE). Recuperado de: http://corpus.rae.es/
cordenet.html. Acceso en: 6 set. 2020.
5
Corpus del Español Genre/Historical. Recuperado de: https://www.corpusdelespanol.
org/hist-gen/. Acceso en: 6 set. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 717

de Cervantes y otros proyectos recopilatorios literarios electrónicos.


Se destaca la presencia de 392 novelas para el período que abarca el
siglo XIX (DAVIES, 2002). La presencia de otros registros, ya sea otro
tipo de literatura, textos periodísticos u orales, comienza a realizarse a
partir del siglo XX, por lo que el equilibrio que se sostiene mantener se
corresponde únicamente con las décadas finales de la franja temporal
elegida, esto es los últimos años del siglo XX, sobre todo la década de
1990. No obstante, entre los puntos débiles, se encuentra la utilización
de fuentes orales, las cuales se basan principalmente en el ámbito del
dominio público de personalidades importantes de Iberoamérica, por
lo que se destacan entrevistas a representantes de partidos políticos,
intervenciones en sesiones legislativas y discursos y notas periodísticas
de diarios españoles de tirada nacional.
Al mismo tiempo, no se especifican de manera extensiva las
variedades del español que se toman en cuenta en los textos del siglo XIX
ni en otras épocas, por lo que no puede determinarse el porcentaje de textos
latinoamericanos y si estos tienen relación con el criterio poblacional
que sigue adelante el equipo de la Universidad de Brigham Young en la
selección de textos para sus corpus sincrónicos. En estas bases, al contrario
del corpus histórico, se constata una clara mayoría de textos y cantidad
total de palabras de variedades latinoamericanas, en concordancia con el
menor peso demográfico que aporta la península ibérica.
En relación con el Corpus Diacrónico del Español (corde),
este se compone de 5500 “grandes obras” de la lengua española, con
un 74% de datos provenientes de España, y un 25% correspondiente
a América Latina (1% corresponde al judeoespañol), priorizando la
delimitación de 6 grandes áreas diatópicas (ROJO, 2008; SÁNCHEZ
SÁNCHEZ; DOMÍNGUEZ CINTAS, 2007). Cuenta con un total de
180 millones de palabras (PARODI, 2008). En principio, el peso de las
obras literarias parece ser pequeño, si se tiene en cuenta que solamente
el 44% de los textos se corresponde con literatura. De hecho, cuando se
observa la segmentación según el tipo textual, género discursivo o área
del conocimiento que compone el corpus, se observa que las cartas, los
tratados de derecho, los versos cultos y el diario de viaje se corresponden
con las cuatro entradas más frecuentes en el corpus (FIGURA 1). Sin
embargo, cuando se analiza el peso por cantidad de palabras, la situación
cambia drásticamente: el género novela aporta la mayoría de ellas
(FIGURA 2).
718 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

FIGURA 1 – Gráfico de confección propia a partir del número de obras por género en
Corpus Diacrónico del Español (corde) sección Argentina.

Fuente: Datos disponibles en: http://corpus.rae.es/cordenet.html

FIGURA 2 – Gráfico de confección propia a partir del número de palabras


por género en Corpus Diacrónico del Español (corde) sección Argentina.

Fuente: Datos disponibles en: http://corpus.rae.es/cordenet.html


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 719

Al contrario del Corpus del Español, las posibilidades de búsqueda


en el corde para investigaciones gramaticales más allá del léxico, sobre
todo relacionadas con fenómenos morfosintácticos y semánticos, se ven
reducidas por la ausencia de lematización y de anotación específica de
clases de palabras más allá de las principales (BUENAFUENTES DE
LA MATA; SÁNCHEZ LANCIS, 2012; DAVIES, 2009). A pesar de
estas observaciones, aun así los corpus cuentan con más dificultades para
estudios de tipo morfológico o sobre unidades perifrásticas (DAVIES,
2002). En este escenario, los estudios sobre afijos poco regulares, no
monosémicos o con restricciones semánticas particulares (por ejemplo,
en los que la adición de determinado afijo quede determinada al aspecto
o la valencia del verbo) representan un problema adicional que la sintaxis
de expresiones regulares no siempre puede saldar.
Este tipo de fenómenos no son poco frecuentes en las lenguas
del mundo (BYBEE, 1985) ni en español, por lo que muchos procesos
morfosintácticos, incluso de alta frecuencia, no pueden ser buscados
con facilidad a través de algunos corpus. Hasta en las búsquedas más
avanzadas siempre se presume la existencia de una equiparación única
uno a uno entre una determinada palabra y su clase. Esta presuposición
supone un problema para palabras homomórficas o con distinto criterio
ortográfico, préstamos y, sobre todo, para palabras funcionales, que
pueden ser categorizadas como artículos, partículas, pronombres y
clíticos, todas nomenclaturas correctas dependiendo de los contextos
gramaticales en los que aparecen o el sistema de notación que se siga.
Esta particularidad resulta principalmente evidente para los clíticos,
cuya proclisis o enclisis en combinación con determinados verboides o
bien cuenta con más de una posibilidad de realización o bien no presenta
restricciones gramaticales tan claras en algunos contextos.
De este modo, se evidencia la necesidad de un método de
aproximación a los datos que pueda ser aprovechado desde el punto
de los investigadores y la implementación de soluciones creativas más
allá de los grandes corpus de referencia y de los textos electrónicos
más fácilmente disponibles (BUENAFUENTES DE LA MATA;
SÁNCHEZ LANCIS, 2012; ENRIQUE-ARIAS, 2012). A continuación,
se presenta un fenómeno particular de la variedad rioplatense, de amplio
desarrollo actual e histórico, que ilustra las problemáticas, limitaciones
y características desarrolladas hasta ahora.
720 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

3 Construcciones verbales con clítico femenino: aproximación desde


los corpus generales
Las locuciones verbales con clítico femenino la no anafórico,
inherente o marginal constituyen un proceso novedoso de formación de
palabras en el que el pronombre acusativo femenino la puede unirse a
bases patrimoniales y neológicas del español. De esta manera, se pueden
formar o bien construcciones más bien idiomáticas (1), en las que el
significado de las bases difiere en cierta medida de la locución formada, o
bien un tipo de unidad que sirve para intensificar (ALBELDA MARCO,
2004) el valor de las acciones descritas (2).

(1) Sepan que si la pego, les traigo a todos conmigo al éxito


(Facebook, 2015).
(2a) ¿Hace falta cancherearla? (Facebook, 2019).
(2b) Sé que el disco la flopeó mal, pero es un buen disco (Twitter, 2014).
(2c) Quiero contarte que empecé a mariekondearla y saqué la mitad
de la ropa (Twitter, 2017).

En el caso de (1), el pronombre la en la construcción pegarla


(‘tener éxito, generalmente con suerte’) contribuye a la formación de
una locución con un significado diferente al valor general asociado al
lexema pegar. En los ejemplos de (2), el clítico aporta un matiz elativo
que sirve para maximizar la forma de realización del evento descrito.
Todos los casos de este grupo pueden funcionar –y, de hecho, se registra
así– sin el pronombre la: cancherear (‘actuar como un canchero’, es decir,
fanfarronear), flopear (del inglés to flop ‘fracasar comercialmente’) y
mariekondear (‘actuar como Marie Kondo’, es decir, ordenar).
Este tipo de construcciones generalmente son proferidas por
hablantes jóvenes y pueden encontrarse fácilmente en el discurso de las
redes sociales o en las interacciones propias de la mensajería instantánea.
Asimismo, también están presentes en discursos plenamente orales
(ARELLANO, 2020).
Si bien los últimos estudios (ARELLANO, 2020; ARIAS, 2018;
SILVA GARCÉS, 2017, por citar algunos) se han centrado sobre el
valor sincrónico y el estado actual de las construcciones en la lengua,
otras investigaciones de carácter más o menos reciente han señalado
tangencialmente la pertenencia histórica del fenómeno. Para la variedad
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 721

argentina, Gobello (1991), Conde (2011, 2013) y Ghio y Albano (2013)


han recuperado algunas construcciones de la primera mitad del siglo XX
al establecer una relación entre este tipo de locuciones y el léxico lunfardo
rioplatense. Se pueden observar también algunos ejemplos que se forman
a partir de verbos patrimoniales en combinación con otros pronombres
femeninos y reflexivos, que no son exclusivamente el clítico la.

(3) Milonguera, bullanguera, que la va de alma de loca (FONT, 1927


apud GHIO; ALBANO, 2013, p. 111)
(4) enchufarla, saberla lunga (CONDE, 2013, p. 100)
(5) El tipo se las trae (GHIO; ALBANO, 2013, p. 114)
(6) El indio no le da ni de comer a la mujer, que se las tiene que
rebuscar sola (GOBELLO, 1991, §Rebuscar)

Pese a estas menciones, encontradas sobre todo en letras de


tango y refranes, el carácter histórico del fenómeno de creación de
construcciones verbales con clítico femenino no ha sido abordado desde
una perspectiva filológica y diacrónica. Generalmente se asume así la
presencia de este tipo de locuciones y no se toman en cuenta de manera
sistemática otras descripciones de unidades y las distintas entradas en
diccionarios generales que recuperan algunas unidades lexicalizadas
(DLE, DAMER, entre otros).
En una primera aproximación, y como ya fue mencionado,
surgen algunas complicaciones para la búsqueda y ampliación de los
datos lingüísticos de este fenómeno en corpus generales. Los clíticos
se homologan a los artículos definidos y los pronombres anafóricos de
objeto directo. En efecto, pueden aparecer unidos ortográficamente a
un verboide o separados cuando se relacionan con verbos conjugados o
en construcciones con infinitivo o gerundio. Asimismo, los ejemplos se
encuentran en gran medida en discursos del tipo fenoménico, en los que
la incidencia del factor coloquial y oral está más presente. Los registros,
géneros textuales y variedades dialectales en las que esperamos encontrar
este tipo de ejemplos también escasean en representación.
De todos modos, existen investigaciones que hacen uso de
los corpus lingüísticos clásicos para analizar la naturaleza de las
construcciones con clítico femenino. Cifuentes Honrubia (2018)
constituye uno de esos casos. En este trabajo, el investigador hace un
relevamiento histórico de un considerable conjunto de construcciones que
722 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

combinan los pronombres la(s) y se, o en los que simplemente aparece


alguna de las formas del clítico pronominal femenino, que abarca desde
los primeros registros del español hasta la actualidad. Esto se lleva a cabo
con el uso del corde6 de manera general y el uso esporádico del crea
(Corpus de la Real Academia Española, el corpus sincrónico de la rae),
limitándose al estudio del español europeo (CIFUENTES HONRUBIA,
2018, p. 13). Aparecen, de todas maneras, un buen número de ejemplos
de variedades latinoamericanas en su argumentación, especialmente a
medida que los ejemplos encontrados se acercan al presente.
Más allá de las conclusiones que establece la investigación
acerca del origen y desarrollo de la construcción, metodológicamente no
está libre de obstáculos. Cifuentes Honrubia (2018, p. 13) reconoce las
dificultades del estudio histórico “por la propia complicación del manejo
de corpora”. Así, el lingüista no limitó su trabajo al uso de los corpus
mencionados, sino que, en una primera instancia, dio cuenta de una “labor
de rastreo y acreditación de las distintas construcciones consideradas”
por medio de la confección de una lista de construcciones que obtuvo “a
través de trabajos lexicográficos y fraseológicos”. Más allá de estas líneas,
no se precisan otras reflexiones o indicaciones acerca de la obtención
de los ejemplos históricos y literarios que registra en su investigación.
Las características, tanto del fenómeno como del motor de búsqueda
del corde, contribuyen a la decisión de comenzar las investigaciones a
partir de otras fuentes. Enrique-Arias (2012) particularmente señala
dos limitaciones que se desprenden de la utilización directa de este
tipo de corpus generales. La primera es la noción de perspectiva, es
decir, relacionada con la forma de acceso a los datos y es de la que da
cuenta Cifuentes Honrubia. Efectivamente, para conocer las formas de
antemano que el investigador intenta buscar, se necesita contar con un
acceso anticipado a través de gramáticas, diccionarios, lexemarios o
algún tipo de documento o lista organizados con el criterio deseado. El
otro problema es el de la comparabilidad. Este se relaciona con la idea de
que los cambios lingüísticos se suceden en distintas etapas: “un estadío
original anterior al cambio, una fase en la que triunfa la nueva estructura

6
Por las similitudes en la conformación de ambos corpus, nos concentramos únicamente
en el análisis derivado del Corpus Diacrónico del Español (corde). Al igual que lo que
ocurre con este corpus, los resultados obtenidos a partir de la utilización de una base
propia presentan pocas coincidencias con las unidades que se pueden obtener a través
del motor de búsqueda del Corpus del Español (byu).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 723

y una etapa intermedia en la que coexisten el sistema innovador y el


original” (ENRIQUE-ARIAS, 2012, p. 89).
En investigaciones que intentan dar cuenta del desarrollo de
un fenómeno a lo largo de un considerable período de tiempo, resulta
fundamental seguir un horizonte de equivalencia entre los distintos textos
que conforman el total de la base de datos a desarrollar. De esta forma,
se puede dar cuenta de una manera más acabada acerca del proceso de
expansión y retracción de determinadas formas lingüísticas.
Con todo, la investigación con corpus debe cumplir en el mejor
de los casos una doble misión: una primera, heurística, dedicada a
conocer más acerca del fenómeno a través de las unidades formales que
la representan; y una segunda, que permita ir desde la comprensión del
fenómeno a la búsqueda de instancias que la verifiquen.

4 Base de datos propia: lineamientos generales


Puede pensarse –y con razón– que los corpus generales ofrecen
una gran cantidad de ventajas que pueden ser difíciles de compensar. En
principio, son herramientas que llevan años de desarrollo y exitosamente
han contribuido a un sinfín de investigaciones. Además, cuentan con una
selección criteriosa de géneros y contienen una gran cantidad de textos en
su conformación. Sobre todo en relación con la representatividad, se cree
que los corpus generales resuelven la cuestión del equilibrio de textos y
formas a partir de la concentración de un gran volumen de palabras. No
obstante, entendemos que no hay criterios objetivos para la determinación
de la representatividad (PARODI, 2008). Es posible hablar de ella en
términos relativos, alrededor de otros factores que no son la extensión.
Según Berber Sardinha (2000), por ejemplo, los corpus compilados en
escala pequeña por investigadores individuales terminan siendo más
representativos, debido a que los corpus generales “no son necesariamente
adecuados para la investigación de cualquier característica lingüística”
(BERBER SARDINHA, 2000, p. 348; mi traducción).
Así, resulta claro que cualquier investigación histórica, y en
especial aquellas que pretenden dar cuenta de la evolución de estructuras,
construcciones y determinados comportamientos morfológicos o
sintácticos, requiere de un tipo de aproximación heterogénea. Para ello, se
debe priorizar la confección de bases de datos propias, a partir de distintas
fuentes, incluso corpus generales de referencia, aunque estos deben ser
724 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

tenidos en cuenta de modo secundario. Las fuentes deben encontrarse y


anotarse específicamente según la pertinencia del estudio que se quiere
llevar a cabo. Si los estudios están destinados a una palabra o fenómeno en
particular, es habitual hacer selecciones de texto que contengan el ítem; esto
es particularmente cierto si el ítem es infrecuente (HUNSTON, 2008). Sin
embargo, para la emergencia de nuevos fenómenos en el habla coloquial,
las prioridades tienen que estar fijadas en la obtención de ejemplos de
español hablado, informal y deben ser diatópicamente pertinentes.
Si bien es evidente la contradicción inherente que subyace a la
idea de registros orales en investigaciones históricas anteriores al siglo
XX, entendemos que esta empresa puede llevarse a cabo a través de
registros y géneros textuales particulares que habiliten la presencia de
interlocutores o personajes populares y que introduzcan lenguaje hablado
(CLARIDGE, 2008). El género literario que mejor se adapta a estas
exigencias es el teatro (CONDE, 2010). En general, se trata de obras
de carácter realista en las que se procura reflejar la lengua coloquial
(FONTANELLA DE WEINBERG, 1970). Sobre todo para la etapa que
va desde finales del siglo XIX hasta mediados del siglo XX, el teatro
argentino experimenta un auge que no es ajeno a la vasta producción de
sainetes, el género teatral popular por excelencia. Esta expansión coincide
con la época del aluvión migratorio y la consecuente modificación
del entramado social y cultural, la transformación de las estructuras
económicas, la urbanización acelerada y el comienzo de un proceso de
industrialización en las metrópolis argentinas (BRAVO HERRERA,
2015; FLØGSTAD, 2014; FONTANELLA DE WEINBERG, 1970). En
cuanto a lo lingüístico, se señala que es una etapa en la que existe “una
tendencia general a una evolución de los tratamientos asimétricos hacia
tratamientos simétricos” (FONTANELLA DE WEINBERG, 1970, p. 17);
así, sostiene Fontanella de Weinberg, “se ha pasado a un trato igualmente
recíproco pero cercano” (1970, p. 22).
Además, este período representa el momento de creación y
expansión del lunfardo, argot porteño, cuyo ámbito predilecto de
difusión es el lenguaje literario y periodístico y los tangos. El lunfardo
no constituye una lengua en sí, sino un tipo de léxico, un sociolecto,
un modo de expresión del populus minutus porteño (CONDE, 2013, p.
80). Representa un tipo de habla marginal, opuesta a la estandarizada,
y por lo tanto con ella “se procura crear una situación comunicativa
desjerarquizada” (CONDE, 2013, p. 78).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 725

La base de datos histórica confeccionada y analizada en este


estudio se compone de 303 oraciones, extraídas de los 15 primeros
tomos de la Antología de obras de teatro argentino, compilada por la
investigadora especialista en teatro Beatriz Seibel, y publicada por el
Instituto de Teatro Argentino. La colección abarca un período de 140
años ininterrumpidamente, desde principios del siglo XIX hasta la
década de 1940, y presenta obras pertenecientes a distintos subgéneros
teatrales, retratando las tendencias estéticas de cada momento. En el 55%
de las obras se encontraron construcciones pronominales. La edición
se realiza manteniendo los manuscritos originales y está disponible de
manera totalmente digital y gratuita. Estos últimos elementos resultan
de fundamental importancia para un correcto análisis de texto a través
de herramientas computacionales (CLARIDGE, 2008). Eventualmente,
el análisis puede complementarse con otra porción de datos tomada de
diccionarios y proyectos lexicográficos del lunfardo y letras de tango
(CONDE, 2011; GOBELLO, 1991), que suman un total de otros 63
ejemplos. A continuación, se especifican los resultados por período según
la especificación de cada tomo (FIGURA 3) y la distribución de los tipos
de pronombres asociados a las construcciones (FIGURA 4).
FIGURA 3 – Distribución de ejemplos en base de datos histórica según período.

Fuente: Confección propia a partir de Seibel (2008).


726 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

FIGURA 4 – Distribución de ejemplos en base de datos histórica


según tipo de construcción.

Fuente: Confección propia a partir de Seibel (2008)

5 Contrastes entre corpus


En relación con el origen de las construcciones, Cifuentes
Honrubia (2018) rastrea las primeras oportunidades en que la
construcción aparece sin una clara referencia anafórica y, por lo tanto,
no puede ser confundida por la combinación de un verbo y un objeto
directo pronominalizado convencional. Además de los casos de hacerla
(‘faltar a lo que se debía’) y guardársela (‘aplazar la venganza o castigo
de una ofensa’), cuyos primeros ejemplos se ubican en los siglos XIII
y XV, a partir de siglo XVI comienzan a detectarse nuevos lexemas y
formaciones: 11 para este siglo, 6 para el XVII y otros 8 para el XVIII.
A partir del 1800, el número va en aumento y se detectan 32 para el
siglo XIX y 35 para el siglo XX (13 de ellos antes de 1950). Solamente
11 de las construcciones relevadas en todo el período analizado pierden
frecuencia y no se localizan en textos recientes (FIGURA 6).
En relación con los tipos y la cantidad de pronombres utilizados,
si bien el aumento del número de construcciones puede estar relacionado
con la disponibilidad propia de las fuentes, y no específicamente con un
aumento de la cantidad de construcciones habilitadas en la lengua en el
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 727

momento analizado, se evidencia una tendencia en el mantenimiento


de la disponibilidad de los cuatro tipos de formantes (se+la, se+las, las
o la), aunque con algunos cambios. En particular, se observa una leve
propensión hacia una pérdida del clítico acusativo femenino plural las
como formante, un aumento en proporción de la cantidad de lexemas
construidos con el clítico femenino la y la consolidación de la unión de
se+la como formante más frecuente (FIGURA 5), sobre todo a partir del
siglo XIX (los datos del siglo XX corresponden hasta 1940, para poder
comparar con la muestra del español argentino en un mismo período).
FIGURA 5 – Distribución de ejemplos según cantidad de construcciones
novedosas por siglo y los pronombres que se utilizan como formantes.

Fuente: Confección propia a partir de la base de datos de


Cifuentes Honrubia (2018).
728 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

FIGURA 6 – Pérdida de vitalidad de las construcciones según


los pronombres que se utilizan como formantes.

Fuente: Confección propia a partir de la base de datos


de Cifuentes Honrubia (2018)

La situación difiere cuando se analiza la variedad argentina, a


partir de las obras de teatro editadas por la antología de Beatriz Seibel.
Mientras que para el siglo XIX se observan pocos ejemplos, de igual
manera puede observarse la disponibilidad de múltiples formantes. La
prevalencia de las construcciones con clítico pronominal la, y en menor
medida con se+la, comienza a ser evidente desde principios de siglo
XX y se extiende, aunque con una menor cantidad de ejemplos, hacia
mediados del mismo siglo (FIGURA 7).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 729

FIGURA 7 – Distribución de ejemplos para la base de datos de confección propia


según cantidad de construcciones novedosas por período de tomo y los pronombres
que se utilizan como formantes.

Fuente: Confección propia a partir de Seibel (2008).

La comparación lexemática también arroja diferencias


interesantes. Solo algunas pocas construcciones aparecen en ambas
bases y a menudo lo hacen con cambios, particularmente en la elección
de pronombres o la necesidad de un predicativo secundario. Para el
caso argentino, haberlas (‘disputar’), tirarla y echarla(s) (ambos ‘tener
ínfulas de’) aparecen sin el pronombre se, al contrario de lo que sucede
en el corde. En el resto de los casos, como en dársela o dárselas (‘tener
ínfulas de’), armarla (‘generar un revuelo’) y cantarlas (‘decir lo que
se piensa’) se observan exactamente las mismas construcciones, aunque
en la base de datos teatral también aparecen algunos predicativos, como
dársela seca y dárselas todas (‘pegar violentamente’) y cantarlas
claro. Como consecuencia, existe una cantidad relativamente alta de
construcciones que no se encuentran en la base opuesta. Si bien en el caso
de la base de datos del español europeo no tenemos un acceso directo
al total de ejemplos por cada construcción, todas las construcciones
relevadas cuentan con una multiplicidad de instancias, que son mostradas
por Cifuentes Honrubia (2018) en su argumentación. En este sentido,
podemos asumir por lo menos una relativa frecuencia asociada a cada
una de estas construcciones. De la misma manera, si nos atenemos a los
730 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

casos de la base de datos construida a partir de los ejemplos de obras de


teatro argentinas, algunas construcciones con alta frecuencia no aparecen
en pocas o ninguna oportunidad en la base de datos ibérica. En particular,
se destacan tenerla con (‘guardar rencor’) y las diferentes variantes de
irla de —irlas de/con— (‘creerse algo que no se es’); todos estos lexemas
han aparecido por lo menos 5 veces en el conjunto de obras argentinas.
Particularmente puede observarse una importante vitalidad del
fenómeno si se tiene en cuenta el análisis de la base de datos de las
obras de teatro argentinas en dos aspectos fundamentales. El primero
se corresponde con el aumento de las construcciones relevadas en
general y en especial con el aumento en proporción de las variantes
con exclusivamente pronombre la en comparación con los ejemplos
del mismo período y con años anteriores. En una segunda instancia, se
destaca el tipo de bases verbales con las que el pronombre se combina.
Así, se encuentran combinaciones con verbos intransitivos, incluso
inacusativos o con un régimen pronominal distinto (irla, palpitarla,
protestarla, equivocarla, trabajarla), ocasionalismos restringidos a la
situación comunicativa en especial retratada en la obra o relacionados
con el personaje en particular que lo enuncia (epilogarla, chapariarla),
verbos con -ear (gorjearla) y otras bases verbales novedosas, formadas
a partir de sustantivos (balconearla) o préstamos léxicos de otras lenguas
o relacionadas al ámbito del lunfardo (escabiarla, morfarla). En todos
los casos, la adición del pronombre la no contribuye idiomáticamente a
la construcción, por lo que los nuevos significados se pueden derivar de
los lexemas originales.
(7) Yo nací para protestarla. Lo tengo adentro, en la entraña.
(Los disfrazados, apud SEIBEL, 2008, Tomo 8, p. 232)
(8) Pero conmigo... ¡la chapariolan! (El conventillo de la paloma,
apud SEIBEL, 2008, Tomo 12, p. 185)
(9) ¿Y cómo la gorjeás cuando estás en la batea? ¿O cuando querés
que cante el pajarito? (El debut de la piba, apud SEIBEL, 2008,
Tomo 9, p. 140)
(10) Eso es pa otra gente, que toca el piano y se levanta a las once sin
gana ‘e morfarla… (Los disfrazados, apud SEIBEL, 2008, Tomo
8, p. 233)
(11) Vamos a balconearla. (El rey del cabaret, apud SEIBEL, 2008,
Tomo 12, p. 107)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 731

Gran parte de estos ejemplos se ven asimismo confirmados por


otras bases de datos secundarias de la misma época, que contienen datos
provenientes de letras de tango, lexemarios dedicados al lunfardo y otras
obras literarias populares no teatrales. Así, los fenómenos en cada lado
del Atlántico tienen desarrollos distintos, tanto en sus particularidades
históricas como actuales. La explosión de principios del siglo XX en
Argentina llega, aunque con intermitencias, hasta principios del siglo
XXI con una nueva expansión del fenómeno hacia bases nominales
más complejas y préstamos léxicos, como en los ejemplos de (2), que
reponemos aquí con nuevas variantes.

(12) Si tengo pago, no la fantasmeo. (Gas Montana Remix, 2018)


(13) Pienso buquearla un rato con el día de la mujer, ahí voy. (Twitter,
2014)
(14) Te guardaste un añito, te teñiste y saliste a susanearla. (Twitter,
2014)

Con todo, en el caso de la variedad argentina, y a partir del


nuevo corpus, se puede dar cuenta de una serie de características que
están ausentes de otros análisis. En primer lugar, se detecta una mayor
frecuencia y productividad del fenómeno, especialmente a partir de las
primeras décadas del siglo XX. En segundo lugar, este aumento se ve
acompañado por una tendencia a la regularización y morfologización del
pronombre la, al mismo tiempo que se evidencia una pérdida progresiva
de la carga idiomática que aporta el clítico. Asimismo, puede postularse
una línea temporal de desarrollo del fenómeno, que brinda una posible
explicación a la relación del proceso actual con uno histórico. Los
ejemplos registrados en Argentina en diccionarios, obras del lunfardo
y algunas investigaciones lingüísticas particulares no constituyen casos
esporádicos, sino más bien instancias de realización de un fenómeno de
amplia difusión en la lengua.

6 Conclusiones
En la introducción identificamos la importancia de las
herramientas de la lingüística de corpus en las investigaciones actuales
y la relación de esta metodología con otras subdisciplinas dentro de los
estudios del lenguaje.
732 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

A partir de la indagación sobre la posibilidad de los corpus


de referencia, en la sección 2 establecimos sus características más
importantes. Nos concentramos en las limitaciones que han sido
señaladas por la bibliografía y otras analizadas aquí. Particularmente,
recuperamos las observaciones sobre las restricciones para el estudio
de la dialectología, la sociolingüística, los estudios gramaticales y la
historia de la lengua. En relación con esta última cuestión, se describieron
las críticas que se realizaron específicamente sobre los tipos de datos
lingüísticos que se recogen en los corpus históricos: falta de registros
orales, informales e interactivos y alta dependencia de discursos cultos y
literarios. Estas características se encuentran presentes en los dos corpus
de mayor alcance del español: corde y Corpus del Español.
En la sección 3, presentamos las propiedades y antecedentes
de estudio de las construcciones con clítico femenino, un proceso de
interfaz entre morfología, sintaxis y léxico de amplia expansión en la
actualidad en discursos orales e informales. En particular, se indicaron
las pocas referencias de estudio histórico que presenta el fenómeno, pese
a las referencias hechas a la presencia de estas locuciones en géneros
textuales de carácter más popular.
A partir de estos datos y las limitaciones de los corpus generales
introducidas en la sección 2, se presentan los lineamientos a favor
de la confección de corpus de discursos específicos en la sección
4. Específicamente para el estudio de las construcciones con clítico
femenino, se describe el armado de un corpus basado en obras teatrales
populares rioplatenses a través de una antología de obras que ocupa la
totalidad del siglo XIX y la primera mitad del siglo XX.
Finalmente, en la sección 5, se contrastan los resultados obtenidos
del estudio histórico de las construcciones con clítico femenino a partir de
la utilización del corde para el caso del español ibérico con el análisis de
los datos del español de Argentina a partir del corpus histórico teatral. Si
bien ambos análisis muestran resultados satisfactorios en tanto encuentran
instancias en sus respectivas bases de datos del fenómeno analizado, se
evidencian las ventajas de una investigación histórica específica de la
variedad rioplatense. El proceso de morfologización, regularización y
productividad del clítico femenino la en esta zona toma características
particulares que no se muestran en el análisis del fenómeno europeo.
En efecto, una gran porción de los lexemas, incluso de alta frecuencia,
encontrados en el corpus teatral no cuentan con un correlato en corde
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 733

incluyendo o no las variedades americanas. También el origen y la


escisión en el desarrollo del fenómeno en Argentina y en España pueden
identificarse con cierta certeza a partir del corpus específico presentado.
Asimismo, una de las mayores ventajas de este tipo de
aproximación más heterogénea es la de poder apreciar procesos de
surgimiento, afianzamiento, expansión y retracción de determinado
fenómeno lingüístico a través de la delimitación y diseño de un corpus
específico controlado. De esta manera, la confección de determinadas
bases de datos anotadas puede mejorar los estudios de cambio histórico
y describir las características propias de fenómenos de gramaticalización
y lexicalización del español. Este tipo de registros informales, además,
pueden resultar útiles para la investigación de otro tipo de procesos
gramaticales, que pueden estar circunscritos solamente al habla coloquial
o tener poca incidencia en ámbitos de prensa y literatura. Por último, la
confección de corpus específicos puede contribuir a la aportación de otras
perspectivas a fenómenos ya investigados a partir de corpus generales,
no solo a estudios históricos, sino también sincrónicos.

Referencias
ALBELDA MARCO, M. La intensificación en el español actual. 2004.
444f. Tesis (Doctorado en Filologia) – Departamento de Filología
Española, Facultat de Filologia, Universitat de Valencia, 2004.
ARELLANO, N. Entre la morfología y la sintaxis: una aproximación a
la creación de verbos con pronombre acusativo «la». Forma y Función,
Bogotá, v. 33, n. 2, p. 81-108, 2020. DOI: https://doi.org/10.15446/fyf.
v33n2.80194
ARIAS, J. J. Clítico inherente/marginal la en el español rioplatense: ¿de
qué la va esta construcción? Quintú Quimün, Rio Negro, Argentina, n.
2, p. 74-103, 2018.
BERBER SARDINHA, T. Lingüística de corpus: histórico e problemática.
Delta: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, São
Paulo, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-
44502000000200005
BIBER, D. Methodological Issues Regarding Corpus-Bases Analyses of
Linguistic Variation. Literary and Linguistic Computing, Oxford, v. 5, n.
4, p. 257-269, 1990. DOI: https://doi.org/10.1093/llc/5.4.257
734 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

BRAVO HERRERA, F. E. Huellas y recorridos de una utopía: la


emigración italiana en la Argentina. 1. ed. Buenos Aires: Teseo, 2015.
BUENAFUENTES DE LA MATA, C.; SÁNCHEZ LANCIS, C. E.
Procesos de gramaticalización y lexicalización a la luz de los corpus
académicos. In: JIMÉNEZ JULIÁ, T. E.; LÓPEZ MEIRAMA, B.;
VÁZQUEZ ROZAS, V.; VEIGA RODRÍGUEZ, A. (coord.). Cum corde
et in nova grammatica: estudios ofrecidos a Guillermo Rojo. Santiago
de Compostela: Servicio de Publicaciones e Intercambio Científico/
Universidad de Santiago de Compostela, 2012. p. 153-165.
BYBEE, J. Morphology. A Study of the Relation between Meaning and
Form. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins Publishing Company,
1985. DOI: https://doi.org/10.1075/tsl.9
CIFUENTES-HONRUBIA, J. L. Construcciones con clítico femenino
lexicalizado. Madrid: Verbum, 2018.
CLARIDGE, C. Historical corpora. In: LÜDELING, A.; KYTÖ, M.
(ed.). Corpus Linguistics. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 2008.
v. 1, p. 242-259.
CONDE, O. El lunfardo en la literatura argentina. Gramma, Buenos
Aires, v. 21, n. 47, p. 224-246, 2010.
CONDE, O. Diccionario etimológico del lunfardo. Buenos Aires: Taurus,
2011.
CONDE, O. Lunfardo rioplatense: delimitación, descripción y evolución.
In: VILA RUBIO, N. (ed.). De parces y troncos. Nuevos enfoques sobre
los argots hispánicos. Lleida: Edicions de la Universitat de Lleida, 2013.
p. 77-105.
CONTRERAS SEITZ, M. Hacia la constitución de un corpus diacrónico
del español de Chile. RLA. Revista de Lingüística Teórica y Aplicada,
Concepción, Chile, v. 47, n. 2, p. 11-134, 2009. DOI: https://doi.
org/10.4067/S0718-48832009000200007
DAVIES, M. Un corpus anotado de 100.000.000 palabras del español
histórico y moderno. Procesamiento del Lenguaje Natural, Jaén,
Espanha, n. 29, p. 21-27, 2002.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 735

DAVIES, M. Creating Useful Historical Corpora. A Comparison


of CORDE, the Corpus del Español, and the Corpus do Português.
In: ENRIQUE-ARIAS, A. (coord.). Diacronía de las lenguas
iberorrománicas: nuevas aportaciones desde la lingüística de corpus.
Madrid: Iberoamericana/Vervuert, 2009. p. 137-166. DOI: https://doi.
org/10.31819/9783865278685-009
DE MATTEIS, L. Ejes para un debate sobre el uso ético de datos
interaccionales escritos y obtenidos en línea. In: CANTAMUTTO, L.
(ed.). Actas de las I Jornadas de Humanidades Digitales. Buenos Aires:
Facultad de Filosofía y Letras/Universidad de Buenos Aires, 2015. p.
235-247.
ENRIQUE-ARIAS, A. Dos problemas en el uso de corpus diacrónicos
del español: perspectiva y comparabilidad. Scriptum Digital, Barcelona,
n. 1, p. 85-106, 2012.
FILLMORE, C. J. “Corpus Linguistics” or “Computer-Aided Armchair
Linguistics”. In: DIRECTIONS IN CORPUS LINGUISTICS. NOBEL
SYMPOSIUM, 1991, Stockholm. Proceedings […]. Berlin; New York:
Mouton de Gruyter, 1992. p. 35-60.
FLØGSTAD, G. Forking Paths: Category Change, Subfunction
Variation, and Preterits in Porteño Spanish and beyond. 2014. 247f. Tesis
(Doctorado en Filosofía) – University of Oslo, Oslo, 2014.
FONT, J. Alma de loca (letra de tango). Buenos Aires, 1927.
FONTANELLA DE WEINBERG, M. B. La evolución de los pronombres
de tratamiento en el español bonaerense. Thesaurus: Boletín del Instituto
Caro y Cuervo, Bogotá, v. 25, n. 1, p. 12-23, 1970.
GHIO, A.; ALBANO, H. ‘Locuciones verbales’ con pronombre personal
átono ‘la’/‘las’ en el español coloquial de Buenos Aires. Gramma, Buenos
Aires, v. 24, n. 51, p. 102-116, 2013.
GOBELLO, J. Nuevo diccionario de lunfardo. Buenos Aires: Corregidor,
1991.
HUNDT, M. Text corpora. In: LÜDELING, A.; KYTÖ, M. (ed.). Corpus
Linguistics. Berlin; New York: Walter de Gruyter, 2008. v. 1, p. 168-187.
736 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021

HUNSTON, S. Collection Strategies and Design Decisions. In:


LÜDELING, A.; KYTÖ, M. (ed.). Corpus Linguistics. Berlin, New
York: Walter de Gruyter, 2008. v. 1, p. 154-168.
LÜDELING, A.; KYTÖ, M. Introduction. In: LÜDELING, A.; KYTÖ,
M. (ed.). Corpus Linguistics. Berlin, New York: Walter de Gruyter, 2008.
v. 1, p. iv-xi. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110211429
MARE, M.; CASARES, M. F. ¡A lingüistiquearla! Neuquén: Educo,
2017.
MASULLO, P.; BÉRTORA, H. Objetos acusativos expletivos en el
español rioplatense. In: CONGRESO INTERNACIONAL DE LETRAS,
VI., 2014, Buenos Aires. Anales […]. Buenos Aires: Universidad de
Buenos Aires, 2014. p. 195-205.
PARODI, G. Lingüística de corpus: una introducción al ámbito.
RLA. Revista de Lingüística Teórica y Aplicada, Concepción, Chile,
v. 46, n. 1, p. 93-199, 2008. DOI: https://doi.org/10.4067/S0718-
48832008000100006
RISSANEN, M. Corpus linguistics and historical linguistics. In:
LÜDELING, A.; KYTÖ, M. (Ed.). Corpus Linguistics. Berlin, New York:
Walter de Gruyter, 2008. v. 1, p. 53-68.
ROJO, G. Lingüística de corpus y lingüística del español. In: CONGRESO
DE LA ALFAL, XV., 2008, Montevideo. Actas […]. Montevideo:
ALFAL, 2008. Ponencia plenaria. p. 1-31.
ROMAINE, S. Corpus Linguistics and Sociolinguistics. In: LÜDELING,
A.; KYTÖ, M. (ed.). Corpus Linguistics. Berlin, New York: Walter de
Gruyter, 2008. v. 1, p. 96-112.
SÁNCHEZ SÁNCHEZ, M. S.; DOMÍNGUEZ CINTAS, C. El banco
de datos de la RAE: CREA y CORDE. Per Abbat: Boletín Filológico de
Actualización Académica y Didáctica, La Rioja, Espanha, n. 2, p. 137-
148, 2007.
SEIBEL, B. (ed.). Antología de obras de teatro argentino. Desde sus
orígenes a la actualidad. Buenos Aires: Instituto Nacional del Teatro,
2008. Tomos 1-15.
SILVA-GARCÉS, J. Clíticos marginales en verbos denominales en -ear.
Quintú Quimün, Rio Negro, Argentina, n. 1, p. 34-60, 2017.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 711-737, 2021 737

SILVÉRIA OLIVEIRA, F. Comparação linguística e perfilação gramatical


sistêmica em um corpus combinado. Revista de Estudos da Linguagem,
Belo Horizonte, v. 23, n. 3, p. 727-768, 2015. DOI: http://dx.doi.
org/10.17851/2237-2083.23.3.727-768
VELA DELFA, C.; CANTAMUTTO, L. Problemas de recogida y
fijación de muestras del discurso digital. Chimera: Romance Corpora
and Linguistic Studies, Madrid, v. 2, p. 131-155, 2015.
WEISSER, M. Practical Corpus Linguistics: An Introduction to Corpus-
Based Language Analysis. 1. ed. Oxford: John Wiley & Sons, 2016. DOI:
https://doi.org/10.1002/9781119180180
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

Um corpus de Estudos de Gênero: por quê, como e para quê?

A Gender Studies corpus: why, how and for what?

Marina Leivas Waquil


Universidade de São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo / Brasil
marinawaquil@gmail.com
http://orcid.org/0000-0003-1773-5380

Resumo: Este trabalho apresenta um importante recorte de uma pesquisa que tem
como objetivo contribuir com os estudos terminológicos, tradutológicos e sobre corpus
ao analisar as unidades que representam e transmitem conhecimento especializado de
uma área em crescente evolução acadêmica no Brasil e que discute demandas sociais
urgentes, os Estudos de Gênero. Para isso, neste artigo, será exposta a etapa fundamental
de qualquer pesquisa com corpus: a definição da área a ser analisada e a compilação
de textos com base em critérios confiáveis e que deem conta de representar a área em
questão. Assim, o objetivo central deste artigo é mostrar por quê, como e para quê se
propôs relacionar a Linguística de Corpus com os Estudos de Gênero a partir de um
corpus, apresentando, para tal, um histórico da área selecionada que justifica a análise
proposta e sua caracterização como campo especializado. Além disso, destaca-se o
referencial teórico que sustenta o trabalho e o corpus de estudo, compilado com base
em critérios da Linguística de Corpus e composto pelos dois principais periódicos da
área de Estudos de Gênero no Brasil, a Revista Estudos Feministas e a Cadernos Pagu.
Conclui-se defendendo a importância de produzir pesquisas linguísticas e terminológicas
que dialoguem com demandas sociais contemporâneas e urgentes.
Palavras-chave: Estudos de Gênero; Linguística de Corpus; Terminologia; Revista
Estudos Feministas; Cadernos Pagu.

Abstract: This work presents an important part of a research that aims to contribute to
terminological and translational studies as well as corpus studies, upon analyzing the
units that represent and transmit specialized knowledge in a field of soaring academic
evolution in Brazil and that discusses urgent social demands, Gender Studies. To do
so, this article will expose a fundamental stage of any research regarding corpus: the

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.739-770
740 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

definition of the field to be analyzed and the clipping of texts based on reliable criteria
that are able to represent such targeted field of study. Accordingly, the main intent of
this article is to convey why, how and for what purpose it was proposed to relate Corpus
Linguistics with Gender Studies from the compilation of a corpus, introducing therefore
a history of the selected field that justifies the analysis proposed and its characterization
as a specialized field. In addition, the theoretical references supporting the work and the
analyzed corpus stands out, compiled based on the criteria of Corpus Linguistics and
composed by the two main journals in the field of Gender Studies in Brazil, the Revista
Estudos Feministas and Cadernos Pagu. In conclusion, it defends the importance of
producing linguistic and terminological researches that converse with contemporary
and urgent social demands.
Keywords: Gender Studies; Corpus Linguistics; Terminology; Revista Estudos
Feministas; Cadernos Pagu.

Recebido em 08 de setembro de 2020


Aceito em 28 de outubro de 2020

Introdução
A partir do interesse em demonstrar possibilidades de contribuição
dos estudos linguísticos e, mais especificamente, da Linguística de Corpus
para a discussão de demandas sociais contemporâneas, a autora do
presente artigo desenvolve uma pesquisa em andamento na Universidade
de São Paulo (USP) em que propõe analisar a terminologia empregada na
veiculação de conhecimento do campo de Estudos de Gênero no Brasil,
em português, contribuindo para a precisão da comunicação especializada
da área e oferecendo um glossário de termos e contextos definitórios
como produto-subsídio para tradutores e revisores de textos produzidos
com foco nesse campo. Para isso, apoia-se nos princípios teóricos da
Terminologia, particularmente da Teoria Comunicativa da Terminologia,
que entende os termos como unidades lexicais que adquirem valor
especializado em contextos reais de utilização, para identificação, análise
e tratamento das unidades terminológicas empregadas na comunicação
dos Estudos de Gênero. Conta, também, com a abordagem metodológica
oferecida pela Linguística de Corpus, a partir da qual foi compilado um
corpus de artigos acadêmicos da área escritos originalmente em português
e publicados nos dois principais periódicos de referência em Estudos de
Gênero no Brasil, a Revista Estudos Feministas (UFSC) e a Cadernos
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 741

Pagu (Unicamp). Trata-se, portanto, de uma pesquisa interdisciplinar,


na medida em que toma como base a linguagem, os princípios teóricos
e os critérios aplicados de diferentes campos do conhecimento e busca
devolver às disciplinas que os articulam uma contribuição também
teórica, a partir da análise e da descrição terminológica, e aplicada, com a
proposta de um glossário de termos para tradutores e demais interessados
a ser disponibilizado digital e gratuitamente, em sua conclusão, no site
do Projeto CoMET.1
O artigo aqui elaborado é um recorte atualizado da realização
dessa pesquisa e busca 1) justificar a importância da estruturação
terminológica de um campo especializado para a sua sistematização no
meio acadêmico e, também, na sociedade de modo geral; 2) apresentar
um corpus de estudo, compilado com o fim de análise e extração
terminológica a partir de parâmetros da Linguística de Corpus e com
base na importância dessas fontes para o campo de Estudos de Gênero no
Brasil; e 3) defender que a análise terminológica com uma consequente
elaboração de produto terminográfico pode contribuir para a ampliação
do acesso ao conhecimento de um campo com reivindicações ainda
extremamente atuais.

1 “Por quê?” Estudos de Gênero: breve contexto


Em 2019, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
publicou o estudo Estatísticas de Gênero,2 em que apresentou dados
sistematizados relativos a indicadores de gênero, realizado com base no
Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero (CMIG) (Minimum Set of
Gender Indicators – MSGI), organizado pela Comissão de Estatística
das Nações Unidas (United Nations Statistical Commission) em 2013.

1
Disponível em: http://comet.fflch.usp.br/. Acesso em: 6 set. 2020
2
Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/multidominio/genero/20163-
estatisticas-de-genero-indicadores-sociais-das-mulheres-no-brasil.html?=&t=o-que-e.
Acesso em: 6 set. 2020. O estudo é baseado em dados elaborados pelo próprio IBGE,
como a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua), a
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), as Projeções da População por
Sexo e Idade, as Estatísticas do Registro Civil, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e
a Pesquisa de Informações Básicas Estaduais (Estadic), além de informações de fontes
externas, como o Ministério da Saúde, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP),
742 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

Uma análise superficial de seus resultados é suficiente para constatar


que o Brasil está longe de ter desmontado a desigualdade de gênero nos
mais diversos âmbitos da vida em sociedade. No país, por exemplo, as
mulheres trabalham uma média de três horas por semana a mais do que
os homens e, mesmo contando com um nível educacional mais alto,
ganham, em média, 76,5% do rendimento deles.
O IBGE (2019), com a apresentação desse estudo e de seus
diversos dados, objetiva fornecer “[...] valiosos elementos para a reflexão
de estudiosos e formuladores de políticas públicas”. É no contexto dessa
reflexão sobre esse e muitos outros dados que se estrutura uma área já
consagrada no Brasil, mas em constante evolução: os Estudos de Gênero.
Embora o termo “gênero” tenha sido introduzido pelo psicanalista
estadunidense Robert Stoller, em 1963, no contexto de um debate
sobre a distinção entre natureza e cultura, sua elaboração, ao longo da
segunda metade do século XX, foi feita por pensadoras feministas com
o objetivo de questionar e destituir o “[...] procedimento de naturalização
mediante o qual as diferenças que se atribuem a homens e mulheres são
consideradas inatas, derivadas de distinções naturais, e as desigualdades
entre uns e outras são percebidas como resultado dessas diferenças”,
como afirma Piscitelli (2009, p. 119). Ainda que se tenha informações
sobre a organização do movimento feminista já no século XIX, os
dados de 2019 do IBGE aqui mencionados demonstram que o objetivo
dessas pensadoras feministas mencionadas por Piscitelli (2009) ainda
não foi alcançado: seguimos vivendo em uma sociedade que produz
desigualdades e violências (físicas, psíquicas e sexuais) em diversas
esferas e com base no gênero.
No mundo todo, esses estudos, ainda que se encontrem,
atualmente, já muito expandidos e acolham diversos sujeitos, opressões,
questionamentos e desigualdades como objeto de estudo, têm uma
inegável origem no movimento feminista, que irrompe, no que algumas
correntes denominam como uma “primeira onda”, no final do século XIX,
reivindicando, para as mulheres, o direito ao voto e o acesso à educação,
entre outras demandas. A “segunda onda” viria a partir das décadas de
1950 e 1960, quando as pautas do movimento se modificam e avançam,
tendo como impulsos a publicação, a tradução e o consequente alcance
de diversas obras feministas, que expõem e reivindicam um olhar atento
para as questões de gênero. Nesse contexto, surgem novas categorias na
reflexão para discussão, e diferentes ferramentas teóricas são produzidas
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 743

para explicar as causas originais da subordinação estabelecida, e mantida,


pelos homens em relação às mulheres. Assim, conceitos como opressão,
patriarcado e relações de poder se estruturam no movimento feminista, e
outras noções, como o que é político, são revisadas e redefinidas. Segundo
Piscitelli (2009, p. 35), como consequência, passou-se a reexaminar as
formas tradicionais pelas quais se explicavam as diversas disciplinas, de
modo a encontrar “[...] conceitos apropriados para dar conta da opressão
feminina e da realidade das mulheres”.
Em decorrência do desenvolvimento exponencial que vai se
realizando no contexto da reflexão e da pesquisa sobre questões de gênero,
produz-se uma virada fundamental no pensamento do campo: ao expandir
o olhar para a diversidade das experiências, foram se ampliando e, ao
mesmo tempo, paradoxalmente, especificando as categorias de análise, de
modo que muitos conceitos passaram a ser questionados. O conceito de
gênero3 firmar-se-ia a partir disso, servindo como uma “[...] ferramenta
alternativa aos conceitos e categorias considerados problemáticos”
(PISCITELLI, 2009, p. 136), e tornar-se-ia central no campo.
Na década de 1980, no entanto, inicia-se uma nova contestação
dentro do pensamento feminista em relação ao sujeito político “mulher”
criado no movimento: principalmente no contexto da reflexão de
feministas negras dos EUA, passa-se a formular críticas à ideia de
identidade entre as mulheres e ao apagamento das diferenças entre elas
e entre suas experiências, fortemente permeadas por questões raciais,
sociais, entre outras. O objetivo é evitar generalizações e situar as
opressões em contextos particulares, atravessados por mais questões que
apenas a de gênero. Além disso, “[...] as novas leituras sobre gênero se
esforçam radicalmente para eliminar qualquer naturalização da noção
de diferença sexual” (PISCITELLI, 2009, p. 137) e passam a rejeitar
classificações lineares e redutoras, entendendo a necessidade de incluir
novos sujeitos não contemplados, ou muito pouco considerados, nas
reflexões de até então, conformando uma terceira onda.
Nesse contexto de revisão, destaca-se o trabalho de teóricas como,
por exemplo, a filósofa Judith Butler (2004), que traz novas e inovadoras
categorias para explicar a importância de evoluir de distinções binomiais,

3
Atribui-se a Gayle Rubin, antropóloga estadunidense, a elaboração e difusão do termo
“gênero” a partir de sua proposição de um sistema sexo/gênero e de sua articulação
com uma dimensão política.
744 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

como mulher/homem, masculino/feminino. Embora mantendo muito


da base teórica iniciada no início do século XX, mudam os paradigmas
de análise e ampliam-se, consequentemente, os sujeitos considerados
objetos de discriminação.
Os Estudos de Gênero, em um constante processo de reelaboração,
com suas diversas pautas e objetos de reflexão, sistematizam-se em
instituições acadêmicas, geralmente no contexto do amplo guarda-chuva
das ciências sociais, e passam a produzir e difundir o conhecimento
elaborado com base no conceito de gênero, que passou, e segue passando,
por uma profunda revisão: inicialmente, é utilizado exclusivamente
em referência às desigualdades produzidas na relação entre homens
e mulheres em processos de dominação e subordinação e, então,
posteriormente, passa a incluir novas distinções e a articulá-las com
diferentes categorias.
Assim, nesse contexto, com o objetivo de produzir e difundir
o conhecimento elaborado nesse campo, criam-se programas de
pós-graduação, núcleos e grupos de pesquisa e são escritos artigos,
dissertações e teses tendo como foco temas suscitados pelas questões
de gênero. Essa reflexão ganha ênfase na sociedade por meio da
movimentação política ampla e contestatória, recebendo impulso na era
digital – com sua facilidade de comunicação e de troca –, o que fortalece e
atribui importância ao campo teórico que se dedica às questões de gênero.
Esta breve e resumida contextualização histórica não pretende dar
conta da forte e evidente complexidade conceitual da área, mas apenas
apontar seu caráter de produção e constante revisitação de conceitos,
categorias e ferramentas de análise para discutir fenômenos complexos e
permeados por muitas variantes, mostrando que as discordâncias dentro
da reflexão contribuem, e são produtivas, para a área especializada,
enriquecendo-a conceitualmente.

1.1 Os Estudos de Gênero no Brasil


No Brasil, assim como na maior parte do mundo, o início da
sistematização da área de Estudos de Gênero está fortemente vinculado ao
movimento feminista. No início dos anos 1970, em um contexto político
efervescente e complexo, começa a mobilização social de mulheres e
sua reivindicação por melhores condições e igualdade em relação aos
homens. Segundo Heilborn e Sorj (1999, p. 3), no entanto, no Brasil,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 745

esse movimento, desde sua origem, contou “[...] com expressivo grupo de
acadêmicas, a tal ponto que algumas versões de sua história consideram
que o feminismo apareceu primeiro na academia e, só mais tarde, teria
se disseminado entre mulheres com outras inserções sociais”. Grossi
(2004), nesse sentido, destaca a defesa da tese de livre docência de
Heleieth Saffioti, em 1967, na USP, como marco do início dos estudos
sobre as mulheres no país.
De acordo com Heilborn e Sorj (1999), alguns anos depois,
uma importante mudança terminológica e conceitual vislumbrou-se
na consagração do campo em contexto brasileiro: “A partir da década
de oitenta, observa-se uma gradativa substituição do termo mulher,
uma categoria empírica/descritiva, pelo termo gênero, uma categoria
analítica, como identificador de uma determinada área de estudos no
país” (HEILBORN; SORJ, 1999, p. 4).
Silva, ao destacar a produtiva parceria entre o meio acadêmico
e os movimentos sociais, como o feminismo, a partir de convênios,
oferecimento de cursos, seminários etc., sublinha que, assim, “[...] a
Universidade valida e valoriza as ações promovidas pelas redes, servindo
como suporte teórico e, muitas vezes, também, com sua infraestrutura,
promovendo uma maior integração entre a sociedade em geral, os
movimentos sociais e os cientistas” (SILVA, 2000).
No Brasil, segundo Heilborn e Sorj (1999, p. 3), a institucionalização
dos estudos deu-se muito em função do fato de que, desde o início, houve
um claro esforço das pensadoras e acadêmicas feministas em integrar-se
à “[...] dinâmica da comunidade científica nacional mediante a obtenção
do reconhecimento do valor científico de suas preocupações intelectuais
pelos profissionais das ciências sociais”.
Assim, a área vai se consagrando no espaço acadêmico,
formando grupos de trabalho sobre gênero que se fazem presentes em
encontros e congressos como os da ANPOCS (Associação Nacional de
Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais), desde a sua origem, e
introduzindo em programas de pós-graduação disciplinas focadas nas
questões de gênero. A produção da área também passa a contar com o
suporte e a divulgação de revistas acadêmicas, produzidas no contexto de
programas de pós-graduação de universidades destacadas no país. Além
disso, são cada vez mais frequentes os diálogos com pesquisadores e
pensadores de diversas partes do mundo, que chegam para contribuir com
a formação da reflexão da área no Brasil a partir de traduções, mediadas
746 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

para transmitir com precisão e adequação a terminologia e os conceitos


produzidos e constantemente revisados.
Costa (2010), nesse sentido, destaca a importância do “tráfico” de
teorias feministas através de fronteiras geopolíticas que, se nos separam,
são também fundamentais para a consagração do pensamento brasileiro
sobre gênero. Para isso, dá o exemplo das feministas latino-americanas
e latinas que vivem nos Estados Unidos e que “[...] desenvolvem uma
política de tradução que se utiliza de conhecimentos produzidos pelos
feminismos latinos, de cor, pós-coloniais no norte das Américas para
iluminar análises de teorias, práticas, culturas e políticas no sul e vice-
versa” (COSTA, 2010, p. 54). Assim, a tradução é, para este campo,
elemento essencial e indispensável:
[...] em termos políticos e teóricos, para a formação de alianças
feministas pós-coloniais/pós-ocidentais, já que a América Latina
– entendida mais como uma formação cultural trans-fronteira e
não como espaço territorialmente delimitado – deve ser vista como
translocal. A noção de translocalidade possibilita, por sua vez, a
articulação da colonialidade do poder/gênero em várias escalas
(locais, nacionais, regionais, globais) com diferentes posições de
sujeito (de gênero, sexual, etno-racial, de classe, etc.) constitutivas
da identidade (COSTA, 2010, p. 54).

1.2 Estudos de gênero: portanto, área especializada


Se, como afirma Cabré (2001, p. 20), “[s]em terminologia, não
se pode fazer ciência”, a consagração dos Estudos de Gênero como
disciplina reconhecidamente acadêmica no contexto brasileiro não pode
prescindir de seu aspecto terminológico e nem ignorá-lo, já que é com
base nele que estrutura seu discurso especializado.
É, inclusive, importante destacar a perspectiva terminológica
desse campo, já que “quanto mais estruturada é uma disciplina, maior
é o nível de precisão semântica, estabilidade formal e sistematicidade
de sua terminologia” (CABRÉ, 2001, p. 30), de modo que as pesquisas
sobre o léxico empregado nessa comunicação especializada podem
colaborar para a sua estruturação. Nesse sentido, discutindo e defendendo
a institucionalização e a sistematização dos Estudos de Gênero no Brasil,
Heilborn e Sorj (1999, p. 28) destacam que, “[...] para ganhar posição no
campo acadêmico, é necessário demonstrar o valor cognitivo da reflexão
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 747

empreendida”, com o que a Terminologia, por meio da análise de unidades


fortemente marcadas por seu aspecto (e valor) cognitivo, pode contribuir.
Segundo Morel e Rodríguez (2001), a comunicação especializada
difere da geral em função 1) do aspecto semântico global, já que deve
veicular um conhecimento próprio de um campo a partir da produção
de sentidos; 2) da importância atribuída ao léxico, que deve ser preciso
em sua representação e transmissão; 3) e do aspecto formal do discurso,
que se estrutura em uma interação entre especialistas de um campo e de
acordo com a perspectiva, ou nível de especialização, desses especialistas.
Nesse sentido, os Estudos de Gênero se caracterizam como
comunicação especializada que veicula um tema específico, a partir
de uma perspectiva cognitiva e que se realiza entre interlocutores –
especialistas – do campo e por meio de terminologia, isto é, unidades
que, no discurso, representam e transmitem um conhecimento particular
de uma área. Além da extensa produção acadêmica, em formato de
artigos, dissertações e teses, da organização de eventos acadêmicos para
a apresentação e discussão de trabalhos,4 há iniciativas incipientes de
análise da terminologia do campo.5
A afirmação de Minella (2004), em referência à Revista Estudos
Feministas, periódico que conforma o corpus desta pesquisa e que
será apresentado a seguir, destaca, justamente, a complexa questão
terminológica e conceitual da linguagem da área de Estudos de Gênero:
Do ponto de vista da conceituação, à primeira vista tem-se a
impressão de que existe um certo caos teórico, pois se atribui
aos conceitos básicos da área (gênero, por exemplo) múltiplos
significados. Simultaneamente observa-se que o termo feminismo
tampouco funciona como uma categoria monolítica, aparecendo
ora como política, ora como movimento social, ora como teoria,
filosofia, etc. Dependendo do ângulo de análise, o gênero é
interpretado ora como desdobramento do feminismo, ora como
categoria que inclui o feminismo. O feminismo por sua vez, ora
aparece como algo que inclui o gênero, ora como categoria que
ultrapassa o gênero. Compreende-se que talvez esta multiplicidade
de interpretações deva-se, primeiro, ao próprio contexto de
instabilidade da produção científica da pós-modernidade, dado o

4
Ver: http://www.fazendogenero.eventos.dype.com.br/. Acesso em: 6 set. 2020.
5
Ver, por exemplo: http://www.ufpb.br/escolasplurais/contents/noticias/didaticos/
genero-e-diversidade-sexual-um-glossario. Acesso em: 6 set. 2020.
748 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

rompimento deste contexto com a pretendida identificação entre o


real e o racional defendida pela modernidade. Dado ainda o fato de
que este contexto admite e até defende, uma certa (des)ordem dos
discursos científicos, ou seja, uma certa autonomia dos conceitos
e das metodologias em relação às teorias que os engendraram,
compreendendo que eles migrem de um lado para o outro, e que
entrem desta maneira, numa cadeia intensamente produtora de
novas hipóteses e de novas ideias (MINELLA, 2004, p. 231).

Assim, a pesquisa aqui apresentada foi organizada compreendendo


como especializado o discurso no campo de Estudos de Gênero produzido
por especialistas em português brasileiro e considerando a importância
da sistematização terminológica do conhecimento para a estruturação da
área e para a sua difusão na sociedade por meio de traduções. O objetivo
central estabelecido para tal foi, então, identificar e analisar a terminologia
empregada em um corpus de artigos acadêmicos da área de Estudos de
Gênero para compilá-la em formato de glossário on-line – composto pelas
unidades terminológicas e por contextos definitórios –, contribuindo, dessa
forma, para a sistematização da linguagem especializada e como subsídio
para o trabalho de tradutores desses textos especializados. A seguir,
apresenta-se “como” definimos alcançar o objetivo da presente pesquisa.

2 “Como”: um corpus de Estudos de Gênero


Considerando, como Evers e Finatto (2016, p. 272), com base em
autores como Halliday, Sinclair e Gries, que “[...] a única forma segura
para se descrever uma língua é através da observação dessa língua em
uso, analisando-se registros autênticos em larga escala”, para oferecer
uma contribuição à sistematização da linguagem do campo de Estudos
de Gênero, entende-se que é imprescindível contar com os princípios,
pressupostos e recursos instrumentais da Linguística de Corpus.
Essa abordagem metodológica estabelece e oferece princípios para a
compilação de corpora, assim como ferramentas, programas e recursos
que podem colaborar nas diversas etapas que constituem um trabalho
terminológico e terminográfico, como a compilação de textos para formar
um corpus, a identificação de unidades terminológicas e fraseológicas e
até mesmo a elaboração de enunciados definitórios para essas unidades.
O ponto de partida da Linguística de Corpus se estrutura em
levantamentos probabilísticos, estatísticos e quantificáveis de dados
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 749

linguísticos, feitos com base em concepções sobre a(s) língua(s)


envolvida (s) e seu funcionamento. O aspecto quantitativo é uma das
propriedades do léxico e da língua, ou seja, a frequência de utilização é
uma característica essencial das palavras que dá informações importantes
sobre a língua como um todo. Ao mesmo tempo, não se pode entender
o enfoque estatístico e seus resultados como um fim em si mesmo, mas,
sim, como uma referência, como um recurso para análises linguísticas/
terminológicas (EVERS; FINATTO, 2016). A partir de um corpus e
de sua análise, com a extração de dados quantitativos que permitam a
observação de padrões de uso linguístico, é possível produzir descrições
confiáveis sobre sistematicidades das línguas.
Com as línguas em contextos especializados de comunicação não
é diferente, e a abordagem da Linguística de Corpus é recorrentemente
utilizada nas pesquisas terminológicas, que, com o objetivo de identificar
especificidades relacionadas às mais diversas terminologias, vêm se
aproximando mais do processamento de grandes conjuntos textuais
(FINATTO, 2004).
A partir dos anos 1990, os estudos terminológicos se reestruturam
e passam por mudanças de paradigmas que têm profundos efeitos em sua
prática: entende-se que é fundamental analisar, descrever e compilar os
termos in vivo, isto é, em contextos reais de comunicação especializada.
Nesse sentido, passa a dialogar intimamente com as pesquisas em
Linguística de Corpus para observar, com os princípios dessa abordagem,
grandes conjuntos de textos e extrair informação linguística/terminológica.
A seguir, apresenta-se um breve referencial que guia nossa perspectiva
de trabalho na interface Linguística de Corpus e Terminologia.

2.1 Linguística de Corpus e Terminologia


Da necessidade de nomear e caracterizar as coisas, os processos
e as atividades, os quais derivam da produção e da aquisição de novo
conhecimento, o léxico das línguas se forma e se renova. É em função
justamente dessa necessidade que o léxico não é um inventário de
palavras fechado, fixo: o conhecimento humano nas mais diversas áreas
está em constante movimento, mutação, evolução, revisão e, portanto, a
necessidade de incorporar novos signos, ou de revisar os já existentes,
é um processo espontâneo, orgânico e, sobretudo, frequente. Porque
configura e permite representar a realidade extralinguística é que o léxico
é parte fundamental dos estudos linguísticos. O léxico que caracteriza os
750 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

Estudos de Gênero não foge a isso: o próprio termo central, “gênero”,


é um dos mais complexos da reflexão e, ao longo do tempo, esteve, e
segue estando, sujeito a constantes revisitações conceituais.
É nesse contexto, tomando o léxico como objeto de estudo
central, que se organiza e estrutura a Terminologia, que também se
concentra na comunicação humana por meio de signos linguísticos, mas
no contexto de áreas especializadas. Embora sua sistematização teórica
tenha se realizado, inicialmente, com objetivos prescritivos, normativos
e de univocidade comunicacional, centrada exclusivamente no conceito,
a partir dos anos 1990, com profundas mudanças de paradigmas, a
teoria terminológica expandiu seus campos de análise e consagrou seu
caráter interdisciplinar, incorporando conceitos e subsídios das ciências
cognitivas, comunicativas e linguísticas.
Desde os anos 1990, então, principalmente devido ao impulso
dado pela Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT), as pesquisas
terminológicas têm, em sua base, a reflexão lexical e buscam analisar,
compilar e descrever unidades que, quando utilizadas em contextos
especializados de comunicação, adquirem um valor especializado,
representando e transmitindo esse conhecimento. Cai, portanto, a barreira
que separava rigidamente as línguas de especialidade das línguas naturais
e, consequentemente, a que se interpunha entre termo e palavra. Assim,
elementos como uso e contexto passam a ter relevância fundamental na
análise terminológica.
A TCT surge para questionar a falta de preocupação da reflexão
terminológica com questões como estrutura morfossintática, contexto
comunicativo, tradução de textos especializados, entre outros. Com
uma perspectiva mais dinâmica e flexível, passa a entender e analisar a
terminologia como parte de um sistema comunicativo natural, em que o
termo, sua unidade central de análise, é uma unidade lexical cujo valor
é ativado no discurso e de acordo com o consenso.
Assim, os termos são entendidos como unidades léxicas,
multidimensionais, poliédricas, denominativas e conceituais que
desempenham uma dupla função: representação e transmissão do
conhecimento (CABRÉ, 1999), compreensão que forma a base desta
pesquisa. Trata-se de uma associação de forma e conteúdo, formada por
um conjunto de traços em um nó cognitivo de uma estrutura conceitual
dada sempre em um contexto especializado. Esse conteúdo nunca é
absoluto: varia de acordo com o âmbito e a situação de uso.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 751

Outra contribuição da TCT e da qual não podemos prescindir


mais atualmente é a de que os termos, como unidades das línguas, estão
sujeitos aos mecanismos léxicos de criação e formação de palavras
dessas línguas. Consequentemente, estão associados a características
gramaticais e pragmáticas, que devem ser consideradas em qualquer
análise terminológica.
Além disso, é importante destacar que os termos se conectam
entre si por diferentes tipos de relações e, por isso, devem ser observados
em fontes reais, como textos especializados. Assim, os textos têm papel
fundamental na análise, na reflexão e no trabalho terminológico que passa
a ser realizado a partir dos anos 1990, já que são considerados o hábitat
natural em que ocorrem os termos e outras unidades de significação
transmissoras de conhecimento, como as fraseologias, por exemplo. É por
isso, portanto, que a interface com a Linguística de Corpus começou não
apenas a ser frequente, mas se tornou a base da pesquisa terminológica,
fornecendo subsídios teóricos e metodológicos para a análise e para a
descrição dos objetos de estudo da Terminologia.
Atualmente, a proposta de um olhar sobre a terminologia
empregada em um campo do conhecimento raramente pode prescindir
da observação de corpus, já que é inegável que todo dado terminológico
deve advir de uma fonte real, autêntica.
A mencionada mudança no paradigma teórico da Terminologia,
a partir dos anos 1990, trouxe diversas consequências também para
a prática terminológica/terminográfica, já que os textos, sendo então
considerados o berço das unidades terminológicas, passaram a ser ainda
mais o objeto de identificação, análise e compilação dessas unidades.
Consequentemente, iniciou-se uma íntima aproximação dos estudos
terminológicos com a Linguística de Corpus e suas ferramentas de
extração de informação linguística.
Neste trabalho, entende-se corpus como “[...] bancos de textos de
linguagem autêntica, criteriosamente construídos, destinados a pesquisa
e legíveis por computador” (TAGNIN, 2015a, p. 20) e considera-se que
a metodologia com base em corpus, isto é, que obtém “[...] todos os seus
dados de um corpus especializado compilado para esse fim específico”,
é essencial para a produção de “[...] glossários que correspondam às
necessidades dos tradutores” (TAGNIN, 2015b, p. 375, tradução nossa).
Assim, Terminologia e Linguística de Corpus compartilham
seus objetos de estudo, texto e léxico, e, portanto, servem à pesquisa
752 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

terminológica em questão, cujos objetos também são os mesmos. Não


pretendendo dar conta de toda a linguagem que representa e veicula o
conhecimento produzido no campo de Estudos de Gênero, a pesquisa a
partir da qual se estrutura este trabalho busca mostrar uma perspectiva
dessa linguagem a partir das unidades terminológicas que essa área
apresenta em língua portuguesa brasileira, contribuindo, portanto, para
a adequação e para a precisão da comunicação da área, oferecendo
um esforço de sistematização terminológica que seja útil para seus
pesquisadores e que sirva de referência para a tradução de textos do campo
na fase de confirmação e validação de equivalentes terminológicos. O
objetivo, com isso, é mostrar especificidades lexicais do discurso da área,
com foco nas unidades terminológicas que representam e transmitem
seu conhecimento.
Para a compilação dessas unidades, toma-se como base os
pressupostos terminográficos que estão de acordo com a TCT e que têm
como foco o princípio da adequação (CABRÉ, 1999), a partir do qual
a metodologia é aplicada a partir da adoção de uma estratégia que varia
em cada trabalho de acordo com a temática, os objetivos, o contexto, os
recursos à disposição, os elementos envolvidos, entre outros. É, portanto,
uma metodologia que se adapta às circunstâncias de cada pesquisa, mas
sem contradizer os princípios da teoria (WAQUIL, 2017). Porém, há
princípios-chave que conformam a TCT e que devem ser considerados
na realização do trabalho terminográfico alinhado a essa teoria, como,
por exemplo (CABRÉ, 1999):

a. as unidades terminológicas devem ser consideradas a partir de seu


caráter poliédrico, que afeta tanto a denominação quanto o conceito;
b. discordâncias podem ser identificadas na forma como os
(diferentes) grupos especializados conceituam a realidade, que
pode ser percebida a partir de perspectivas diferentes;
c. a variação também afeta o conceito e a denominação, que, além
disso, está sujeita aos fenômenos da língua geral;
d. as unidades terminológicas podem apresentar polissemia: as
denominações podem ser total ou parcialmente coincidentes com
unidades de outras áreas especializadas;
e. um termo pertence sempre a uma língua e, por isso, responde a
todas as regras de formação e funcionamento da mesma;
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 753

f. o valor de um termo é determinado por sua presença em um campo


específico do conhecimento;
g. o método é necessariamente descritivo e se baseia na coleta de
unidades reais utilizadas pelos especialistas de uma área em
diferentes situações de comunicação.

2.2 Um corpus de Estudos de Gênero


Para Berber Sardinha (2000), existem quatro pré-requisitos
básicos para a compilação de um corpus:

a) Autenticidade I (do conteúdo): os textos que compõem um corpus


devem ser autênticos, tendo sido escritos em linguagem natural e
sem que tenham sido criados com o propósito de serem objetos
de estudo de pesquisa linguística.
b) Autenticidade II (autores nativos): com exceção de alguns casos,
como o exemplo dos corpora de aprendizes, os textos selecionados
para a compilação de um corpus devem ter sido escritos por
falantes nativos da língua na qual estão escritos.
c) Seleção criteriosa: os textos para a formação de um corpus devem
ser escolhidos de forma que este tenha alguma característica (por
exemplo, um gênero textual específico ou produtores específicos,
como aprendizes de língua), a partir de regras especificadas pelo(s)
pesquisador(es).
d) Representatividade: critério relativo em função da dificuldade em
identificar elementos objetivos para defini-lo, esse pré-requisito
deve servir para que o corpus seja representativo de uma língua,
variedade, campo especializado etc. A extensão do corpus também
deve ser significativa e, embora não se tenha definido números
exatos, costuma-se considerar que, quanto maior o número de
palavras e de textos, melhor para a pesquisa em corpus.

Além disso, em termos lexicográficos e terminográficos, não se


considera mais a possibilidade de compilar e elaborar produtos como
dicionários ou glossários sem o suporte da Linguística de Corpus,
já que os corpora tanto subsidiam as decisões de um projeto quanto
se constituem como a própria matéria a partir da qual são extraídas
informações, relações, propriedades e as próprias unidades que comporão
754 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

tal projeto. Dessa forma, para o objetivo de produzir um glossário de


termos de Estudos de Gênero, também se considera imprescindível o
apoio da Linguística de Corpus.
Se, como princípio, na Linguística de Corpus, entendemos que
“[...] é preciso ir dos fatos às teorizações” (EVERS; FINATTO, 2016,
p. 272), o primeiro passo, após estabelecida a área objeto de estudo desta
pesquisa, foi compilar “fatos”, isto é, registros reais da comunicação de
especialistas de Estudos de Gênero, para, então, em uma próxima fase,
teorizar a partir dos achados nesses “fatos”, que, aqui, entendemos como
contextos, na forma de artigos, em que o conhecimento é desenvolvido,
publicado e divulgado, estruturando-se, para isso, em unidades que
representam e veiculam esse conhecimento, os termos.
Assim, com base em pesquisa e em referencial teórico (COSTA,
2004; DINIZ; FOLTRAN, 2004; FACCHINI, 2017; MALUF, 2008;
PISCITELLI; BELELI; LOPES, 2003) que discute a produção do campo
no Brasil, para compilar um corpus segundo os critérios da Linguística de
Corpus, buscou-se o subsídio da produção científica da área de Estudos
de Gênero no Brasil, em que se destacam duas publicações fundamentais
na área e que contribuem para a divulgação do conhecimento produzido
no campo e no contexto acadêmico: a Revista Estudos Feministas (REF)
e a Cadernos Pagu.6
Considerando que, “[...] para corpora especializados, a coleta de
dados contextuais sobre o contexto a partir do qual os textos ou discursos
foram coletados pode ser essencial, já que muitas vezes não é possível dar
sentido a esse discurso especializado sem algum conhecimento prévio”
(KOESTER, 2010, p. 67, tradução nossa) e que “[...] tais informações
contextuais são extremamente valiosas: muitas vezes são essenciais para
a interpretação dos dados e podem ser utilizadas na análise qualitativa
dos resultados do corpus” (KOESTER, 2010, p. 72, tradução nossa),
a seguir, apresenta-se o histórico e a descrição desses dois periódicos
selecionados para a realização da pesquisa aqui em questão.

2.3 Corpus REF/PAGU


No Brasil, a produção no contexto acadêmico sobre gênero se
desenvolveu com intensidade, a partir do aumento do ritmo do surgimento de
6
Ambas as publicações contam com comitê e conselho editorial e tem Qualis A1 no
sistema de avaliação de periódicos da CAPES.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 755

cursos e de núcleos de pesquisa voltados para essa temática, o que, segundo


Costa (2004), indicava a possibilidade de um significativo potencial de
demanda por espaços de publicação. Nesse contexto, no começo dos anos
1990, surgem, com um ano de diferença, o que viriam a ser os dois mais
reconhecidos periódicos da área de Estudos de Gênero, a Revista Estudos
Feministas (doravante REF) (1992) e a Cadernos Pagu (1993).
A REF, reconhecidamente uma das mais importantes publicações
do campo de Estudos de Gênero no Brasil e na América Latina, foi criada
em 1992, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde foi
editada até 1998, quando foi transferida para a Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Segundo Diniz e Foltran (2004, p. 245), a REF
surge “[...] como parte de uma estratégia deliberada para fortalecer os
estudos feministas e de gênero no Brasil” e é idealizada em 1990, em
um “[...] seminário histórico que reuniu feministas e acadêmicas em
uma cidade do interior do estado de São Paulo”, em que se “[...] decidiu
pela oferta de cursos itinerantes para fortalecer os estudos de gênero nas
universidades”. A REF, nesse contexto, é proposta como um instrumento
de difusão das pesquisas produzidas na área e como veículo de formação
e educação política. Minella (2004, p. 224), nesse sentido, destaca que
“[...] o surgimento da Revista resulta de um longo processo de maturação
epistemológica e política, intensificado nos anos oitenta no Brasil em
torno da questão feminina, como reflexo do debate internacional e da
expansão das lutas e movimentos feministas”.
Um grande e importante impulso à publicação foi o apoio financeiro
da Fundação Ford, que permitiu, entre outros, a internacionalização da
REF: “[...] por um lado, traduziram-se artigos chave para o debate
feminista e de gênero internacional, e, por outro, artigos nacionais
foram também traduzidos para a língua inglesa, tendo havido inclusive
um número especial neste idioma como forma de promover e divulgar
a REF” (DINIZ; FOLTRAN, 2004). A seção de artigos avulsos da REF,
considerada “a mais criteriosa e de maior notoriedade da revista” (DINIZ;
FOLTRAN, 2004), inclui os textos traduzidos de idiomas como inglês e
francês, enquanto os em espanhol são mantidos nessa língua.
A descontinuidade do apoio financeiro da Fundação Ford, com
a consequente indisponibilidade da UFRJ, que dependia desses recursos
para seguir mantendo a revista, acabaria levando a REF para a UFSC,
mas sem interferência na qualidade da produção e da publicação, já que
sempre foi um preceito da revista ser uma publicação nacional, não se
756 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

restringindo a um núcleo de pesquisadoras ou pesquisadoras de uma


única universidade (GROSSI, 2004). Assim:
É graças a este lugar que a REF já tinha ao chegar em Florianópolis
que mantivemos os critérios de excelência como a periodicidade,
o rigor d@s pareceristas, a rapidez na avaliação dos artigos
submetidos, a busca de traduções de textos fundamentais para a
formação d@s estudantes de graduação, o empenho em entrevistar
expoentes da teoria feminista internacional (GROSSI, 2004, p. 215).

Segundo Grossi (2004), a REF, além disso, sempre se preocupou


com a questão formal, aliada ao conteúdo, com o objetivo de destacar-
se e tornar-se uma revista de ponta na área, o que é também evidente
na diagramação diferenciada da publicação. Além disso, baseia-se em
uma “política de democratização do acesso à produção científica e
acadêmica” (MALUF, 2008, p. 123), com o que, por exemplo, é editada
eletronicamente na “SciELO Social Science, um portal ligado à SciELO,
mas que, buscando implementar uma política de tradução e visibilidade
internacional da produção científica e acadêmica brasileira, disponibiliza
os artigos em inglês” (MALUF, 2008, p. 125).
A Cadernos Pagu, por sua vez, surge na Unicamp, segundo
Piscitelli, Beleli e Lopes (2003, p. 243), em um contexto em que os
Estudos de Gênero já tinham se estabelecido no Brasil e já contavam com
certa legitimidade acadêmica, mas sua intenção era “[...] ampliar o espaço
já existente, difundindo e estimulando a produção de conhecimento na
área”, incluindo, nisso, a diversificação das temáticas apresentadas.
Segundo as autoras, a criação da Cadernos Pagu se estabeleceu após “[...]
mais de dois anos de leituras, pesquisas e debates, nos quais integrantes
do Núcleo de Estudos de Gênero – Pagu mapeavam os avanços na
produção sobre gênero e seus impasses”. Com o tempo, o periódico
foi se estruturando e contando com a colaboração de pesquisadores
estrangeiros. No quinto número, a publicação também começou a
receber financiamento externo, o que contribuiu para o seu crescimento
tanto em termos de qualidade gráfica e quantidade de textos em cada
edição, mas também no que se refere a questões como conselho e normas
editoriais e ao registro em diversos indexadores nacionais e internacionais
(PISCITELLI; BELELI; LOPES, 2003).
Assim, foi-se organizando com a preocupação de incentivar, em
contexto brasileiro, a reflexão e a produção no campo de gênero, mas sempre
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 757

a partir da perspectiva de diversidade temática, em que se entende que é


possível o diálogo com essa questão nos mais variados recortes temáticos.
Nesse sentido, assim como a REF, a Cadernos Pagu sempre buscou diálogo
com a comunidade internacional por meio da publicação de traduções
de textos sobre gênero que são referência no mundo, com o objetivo de,
com isso, “[...] promover a leitura crítica da produção internacional”
(PISCITELLI; BELELI; LOPES, 2003, p. 243), sempre acompanhada de
produção nacional (que constitui 85% da publicação), e colaborar para o
desenvolvimento de mais e novos conhecimentos no campo.
Apesar do enfoque e do seu contexto acadêmico, segundo
as autoras, a publicação Cadernos Pagu também atinge e contribui
com outros leitores, situados em organizações governamentais, não
governamentais e em movimentos sociais variados.
Regina Facchini (2017) destaca que a Cadernos Pagu se renova
constantemente, acompanhando o desenvolvimento do campo no país
e no mundo e desempenhando fundamental papel. Segundo a autora,
a publicação é um importante legado e patrimônio da comunidade
científica engajada nos estudos feministas e de gênero no país, insistindo
na produção com diversidade regional e disciplinar, o que também
caracteriza o corpo de revisores, editores e tradutores que colaboram
com a publicação.
Com periodicidade quadrimestral desde 2016, a Cadernos Pagu
reforça, como mencionado, desde seu surgimento, a importância do
diálogo com a comunidade estrangeira com uma política de tradução
e publicação de textos-chave do campo, de modo a possibilitar “[...]
não só a difusão de conhecimento, mas uma leitura crítica da produção
internacional, contribuindo para a formação de jovens pesquisadores”
(FACCHINI, 2017).
Desde 2014, a Cadernos Pagu vem sendo publicada exclusiva-
mente em formato digital, on-line, seguindo uma tendência cada vez mais
comum e que faz “[...] com que os artigos se consolidem como unidades
na rápida circulação do conhecimento por meio da internet” (FACCHINI,
2017), alcançando novos e diferentes leitores.
Essas duas publicações, como vemos, não apenas foram
firmadas por um contexto propício para seu surgimento e sucesso, mas,
também, da mesma forma, ajudaram enormemente a firmar o campo
de Estudos de Gênero no Brasil. Referindo-se à REF, Minella (2004, p.
224), por exemplo, destaca que a publicação atuou mantendo “[...] uma
758 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

relação peculiar com o campo dos estudos feministas e das relações de


gênero, atuando no sentido de modificá-lo e sendo simultaneamente
metamorfoseada por ele”.
QUADRO 1 – Comparativo REF e Cadernos Pagu
REF Cadernos Pagu
Ano de criação 1992 1993
Inovador – impulso do apoio
Projeto gráfico Ascetismo formal
financeiro da Fundação Ford
Pretende ser um periódico não
diretamente institucional (institui- Revista de um núcleo universitário
Filiação
se na UFRJ e se transfere para a (Unicamp)
UFSC)
“A Revista Estudos Feministas “Cadernos Pagu, publicação
(REF) tem como foco as questões quadrimestral interdisciplinar, tem
de gênero e feminismos, que como objetivo contribuir para a
podem ser tanto relativos a ampliação e o fortalecimento do
uma determinada disciplina campo interdisciplinar de estudos de
quanto interdisciplinares em gênero, dando visibilidade à produção
sua metodologia, teorização e realizada no Brasil e promovendo
bibliografia. A cobertura temática o intercâmbio de conhecimento
internacional sobre a problemática.
contribui para o estudo das questões
Objetivo/ de gênero, sendo provenientes de Publica artigos inéditos com
descrição diversas disciplinas: sociologia, contribuições científicas originais,
antropologia, história, literatura,que colaborem para a inovação
teórica, metodológica e/ou agreguem
estudos culturais, ciência política,
medicina, psicologia, teoria conhecimento empírico inovador, e
feminista, semiótica, demografia, debates em torno de textos teóricos
comunicação, psicanálise, entre relevantes no campo dos estudos de
outras”. gênero, viabilizando, assim, a difusão
de conhecimentos na área e a leitura
(REVISTA ESTUDOS crítica da produção internacional”
FEMINISTAS, s.d.). (CADERNOS PAGU, s.d.).
Total de textos: 1050 Total de textos: 641
Textos escritos originalmente em Textos escritos originalmente em
Número de português: 829 português: 541
artigos Artigos em língua estrangeira ou Artigos em língua estrangeira ou
tradução: 231 tradução: 140
Resenhas: 286 Resenhas: 138
Ambas contam com comitê e conselho editorial e tem Qualis A1 no sistema de avaliação
de periódicos da CAPES.
Ambas estão disponíveis na Scientific Electronic Library Online (SciELO)
Fonte: Elaborado pela autora com base em Costa (2004).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 759

A compilação desse corpus (nomeado REF/PAGU) se deu com


base nos mencionados critérios apresentados por Berber Sardinha (2000)
e sua análise inicial foi realizada com os princípios discutidos em Tagnin
(2013), com o desenvolvimento dos seguintes passos:

1. Os textos7 foram extraídos de suas páginas web, salvos em pastas


correspondentes e nomeados para sua identificação posterior em
outras etapas da pesquisa (PAGU_1; REF_1; etc.).
2. Em formato .pdf, os textos foram convertidos por um leitor de OCR
(optical character recognition), a ferramenta on-line Convertio, para
o formato .txt. Nesta etapa, em função da impossibilidade de leitura
de OCR de material com formatação com baixa resolução (caso
dos artigos mais antigos), foi necessário excluir textos inicialmente
previstos como componentes do corpus. Chegou-se, assim, a um
total de 688 artigos extraídos, convertidos e limpos – 380 da REF
e 288 da Cadernos Pagu. Segundo a tipologia de Berber Sardinha
(2000), podemos caracterizar o cropus compilado da seguinte forma:
– modo: escrito. Todos os textos que compõem o corpus são
escritos;
– tempo: diacrônico. Os textos selecionados foram produzidos
nas últimas três décadas;
– seleção: de amostragem e estático. O corpus foi compilado
e planejado para ser entendido como uma amostra finita da
linguagem do campo de Estudos de Gênero. É, também na
tipologia de Berber Sardinha, estático, em oposição a dinâmico;
– conteúdo: especializado. Todos os textos se inserem no contexto de
publicações do campo de Estudos de Gênero, estando compostos
pela linguagem que o caracteriza. É também monolíngue, já que
foram todos escritos em língua portuguesa do Brasil;
– autoria: de língua nativa. Os textos foram escritos por falantes
nativos do português brasileiro;
– finalidade: de estudo. O corpus em si é o objeto de estudo,
análise e extração – terminológica.

7
Foram compilados apenas os textos das seções de artigos científicos para que, na
próxima etapa da pesquisa, seja possível analisar a terminologia em empregada nesse
gênero textual especificamente.
760 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

3. Após a conversão para .txt, os textos passaram por um processo


de limpeza manual, em que foram apagados trechos que emitiriam
ruído na análise e que não eram de interesse para o alcance dos
objetivos propostos.
4. Com o corpus organizado, foi feita sua inserção na ferramenta de
análise e extração linguística AntConc.8

Embora a análise terminológica ainda esteja em fase de realização,


alguns importantes e significativos dados já foram observados. De acordo
com o Antconc, há 2.848.938 tokens e 105.233 types. Entendendo
que se trata de um número alto e suficiente para uma profunda análise
terminológica, considera-se que, “[...] mais importante que tamanho
do corpus em si é o quão bem ele foi planejado e se é representativo”
(KOESTER, 2010, p. 67), ou seja, o corpus deve ser projetado de forma
que seja adequado para a proposta da pesquisa. Nesse sentido, se a
compilação de um corpus depende do que se quer investigar, acredita-
se que o corpus PAGU/REF,9 pelo histórico e pela descrição aqui
apresentados é um corpus representativo da área de Estudos de Gênero,
que, no Brasil, como vimos, estruturou-se, em grande medida, justamente
em função dessas duas publicações.

8
Programa gratuito de ferramentas de análise de corpus para análise de texto criado
pelo Prof. Lawrence Anthony, da Universidade Waseda, no Japão.
9
Cabe ressaltar que, no Brasil, outras publicações especializadas na área de Estudos
de Gênero vêm se estruturando em distintos centros universitários, produzindo e
divulgando conhecimento, como a REF e a Cadernos Pagu. Nesse sentido, destacam-se
periódicos como “Caderno Espaço Feminino” (Qualis B2), publicação do Núcleo de
Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher do Centro de Documentação e Pesquisa
em História (CDHIS), da Universidade Federal de Uberlândia; “Gênero” (Qualis B3),
periódico de circulação nacional, iniciativa do Núcleo Transdisciplinar de Estudos de
Gênero e que, atualmente, está vinculado ao Programa de Estudos Pós-Graduados em
Política Social da Universidade Federal Fluminense; e a Revista Ártemis (Qualis B2),
periódico semestral, interdisciplinar, vinculada aos Programas de Pós Graduação em
Sociologia e Letras da Universidade Federal da Paraíba. Considerando como critérios
Qualis segundo o sistema da CAPES, tempo de publicação e reconhecimento na área de
Estudos de Gênero, para a presente pesquisa, optou-se pela extração apenas de textos
da REF e da Pagu, embora não se descarte, como perspectiva futura, a ampliação do
corpus considerando os periódicos aqui mencionados.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 761

Na extração terminológica inicial feita como teste do corpus,


dados bastante interessantes confirmam uma expectativa inicial da
pesquisadora a respeito dos termos cuja frequências se destacaria. Nas
primeiras posições, destacam-se types como mulheres, homens, gênero,
corpo, sexual, poder, feminino, termos expressivos da comunicação do
campo de Estudos de Gênero e cujo caráter especializado será confirmado
com análise contextual.
QUADRO 2 – Corpus REF/PAGU: 25 primeiras posições na Wordlist do Antconc
Posição Frequência Palavra
1 25749 mulheres
2 12973 mulher
3 8823 trabalho
4 8522 homens
5 7762 ela
6 7575 social
7 7387 forma
8 7075 gênero
9 6725 vida
10 6377 anos
11 6028 sociais
12 5776 corpo
13 5394 ele
14 5162 sexual
15 4840 parte
16 4824 outro
17 4728 brasil
18 4422 poder
19 4309 feminino
20 4294 tempo
21 4288 homem
22 4279 sexo
23 4156 pessoas
24 3965 elas
25 3868 sociedade
Fonte: Elaborado pela autora.

O termo “mulher”, que ocupa a primeira e a segunda posição


da lista de palavras mais frequentes do corpus REF/PAGU aponta uma
questão prevista e que deve ser observada com cuidado nas pesquisas
762 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

que observam a comunicação especializada da área de Estudos de


Gênero no Brasil: como indicam as pesquisas historiográficas sobre
o seu desenvolvimento no país, esse campo teórico teve sua origem
fortemente vinculada ao movimento feminista e, portanto, às questões
das “mulheres”: nos anos 1980, “[...] a temática da mulher foi incluída
em prestigiosos congressos e encontros de ciências sociais e aumentou
o número de pesquisas, dissertações e teses com orientação feminista”
(PISCITELLI, 2013, p. 381, grifo nosso). Costa (2004, p. 206, grifo
nosso), também revisando as origens dos estudos no Brasil, destaca que:
A vitalidade da produção acadêmica sobre mulher era invejável;
como atestavam inúmeros seminários, grupos de trabalho nas
principais associações de pós-graduação (ANPOCS, Associação
Brasileira de Antropologia, Associação Brasileira de Estudos
Populacionais, Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Letras e Linguística, Associação Nacional de História) e o
crescimento progressivo de núcleos de pesquisa nas universidades.

A categoria “mulher”, no entanto, foi constantemente discutida,


criticada, questionada e reelaborada e, por isso, Grossi (2004, p. 218)
já apontava, 16 anos atrás, a variedade temática no campo, que deixou
de centrar-se apenas nessa categoria, expandindo-se e produzindo, além
de “pesquisas sobre mulheres, pesquisas sobre homens, pesquisas que
analisam as relações de gênero, pesquisas preocupadas com questões
teóricas, pesquisas sobre o movimento feminista e de mulheres, etc.”.
Apesar disso, “mulher” e ”mulheres”, de acordo com essa primeira
extração-teste, são as duas formas mais frequentes em um corpus de
mais duas milhões de palavras, o que parece indicar uma ainda muito
forte ligação das pesquisas da área com as questões que atravessam essa
categoria em toda a sua, atualmente observada, diversidade.
Nesta análise preliminar, também se destaca o fato de que os itens
“homem” e “homens” apareçam entre os mais frequentes do corpus, o
que pode estar relacionado ao fato de que “mulher”/“mulheres” também
o estejam: os Estudos de Gênero, como vimos, especialmente no Brasil,
estão intimamente vinculados com o questionamento do movimento
feminista em referência à opressão sistematicamente perpetrada por
“homens”, em um sistema patriarcal, contra as “mulheres”.
Nesse sentido, também é importante apontar que “Brasil” é um
termo presente nessa lista, o que parece indicar um forte enfoque da
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 763

produção dos artigos nas questões de gênero em contexto nacional, em


seus sujeitos e em suas experiências. Nos últimos anos, por exemplo,
vem tomando força o desenvolvimento dos feminismos transnacionais,
cuja base reside em situar-se, marcando sempre de onde se fala, o que se
analisa, para que não sejam produzidas generalizações que pretensamente
deem conta da totalidade das experiências das mulheres. Há, nesse
sentido, a possibilidade de que a perspectiva transnacional esteja
produzindo efeitos nos discursos compilados no corpus e, portanto, na
escolha terminológica de seus autores.
Dessa forma, embora o foco do presente artigo não seja a
aprofundada extração/análise dos termos do corpus REF/PAGU, entende-
se que esses resultados preliminares destacados no Quadro 2, e que
ainda serão tratados também com o auxílio de outras ferramentas do
AntConc, como Keywords, Clusters e Collocates, indicam importantes
e interessantes perspectivas para a pesquisa.

3 Para quê?
O ano de 2020, provavelmente, ficará marcado na história da
humanidade por uma série de motivos diferentes. A pandemia do novo
coronavírus, por exemplo, vem produzindo efeitos catastróficos nas vidas
e em diversos setores das sociedades ao redor do mundo inteiro. Embora,
evidentemente, chame a atenção o número de vidas perdidas e a crise
econômica que vem se alastrando aos poucos, outro problema, também
de escala global e que é preciso destacar, refere-se ao aumento, nos mais
diversos países, de violências sendo produzidas em função de questões
de gênero e no contexto do isolamento como consequência da pandemia.
Exemplos disso são facilmente encontrados: de acordo com dados
do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMDH),
com apenas um mês de isolamento no Brasil, em abril de 2020, as
denúncias de violência contra a mulher feitas pelo canal 180 já tinham
subido 40% em relação ao ano anterior (ESTADÃO CONTEÚDO, 2020).
Não à toa, temos visto, como resposta a esse aumento, surgirem diversas
campanhas, produzidas tanto na esfera pública quanto na privada, para
orientar a população e divulgar canais de denúncia para essas violências
e de combate a esses abusos, físicos e emocionais.
Nesse sentido, a Organização das Nações Unidas (ONU) também
tem se mobilizado, estruturando parcerias para enfrentar as consequências
764 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

do que, segundo Phumzile Mlambo-Ngcuka, diretora executiva da ONU


Mulheres e vice-secretária geral das Nações Unidas, é uma “pandemia
invisível”: a violência contra mulheres e meninas, que, vem emergindo
como efeito/consequência do coronavírus e é “um espelho e um desafio
aos nossos valores, nossa resiliência e humanidade compartilhada”
(MLAMBO-NGCUKA, 2020).
Ao mesmo tempo, outros sujeitos têm se visto afetados ainda
mais no contexto pandêmico: segundo notícia da Agência Brasil (2020),
“[...] no primeiro semestre deste ano, 89 pessoas transgênero foram
assassinadas no Brasil, quantidade que supera em 39% a registrada no
mesmo período de 2019”; segundo a Associação Nacional de Travestis
e Transexuais (Antra), esses números apontam o quão vulneráveis estão
esses sujeitos, mas:
[...] não refletem exatamente a realidade da violência transfóbica
em nosso país, uma vez que [sua] metodologia de trabalho possui
limitações de capturar apenas aquilo que de alguma maneira
se torna visível. É provável que os números reais sejam bem
superiores. Mesmo com essas limitações, os dados já demonstram
que o Brasil vem passando por um processo de recrudescimento
em relação à forma com que trata travestis, mulheres transexuais,
homens trans, pessoas transmasculines e demais pessoas trans
(BOND, 2020, documento).

Os Estudos de Gênero, portanto, veem-se diante, continuamente,


de novas questões, novas demandas e diferentes sujeitos. A reflexão do
campo é, assim, cada vez mais fundamental e desafiada a constantemente
renovar-se e atualizar-se. Nesse sentido, são inevitáveis, também,
impactos nas formas linguísticas/terminológicas por meio das quais essas
reflexões se estruturam.
Mas de que forma os estudos linguísticos/terminológicos podem
contribuir efetivamente para o debate dessas demandas? Recentemente,
junto ao contexto da pandemia, vimos tomar força, nos Estados Unidos,
o movimento Black Lives Matter (em português, literalmente, “vidas
negras importam”), impulsionado por casos de violência despropositada
perpetrados contra sujeitos negros. Além de inúmeras manifestações,
protestos, discussões e ações políticas, o movimento produziu efeitos
em outras esferas, e a da língua é uma delas. Em reportagem publicada
em junho deste ano pelo jornal The New York Times, Hauser (2020)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 765

apresentou uma importante mudança em andamento em um dos mais


conhecidos e renomados dicionários da língua inglesa, o Merriam-
Webster, incentivada pela reivindicação da uma usuária, Kennedy
Mitchum, mulher de 22 anos recém-formada na Universidade Drake, no
estado do Missouri. Mitchum escreveu aos editores da obra lexicográfica
contestando as três acepções da entrada “racismo”, que, em sua opinião,
contemplam apenas a ideia de que se trata de preconceito contra uma
certa raça devido à cor da pele; sua demanda é por uma definição do
item lexical que inclua a concepção de que o racismo é uma prática que
combina esse preconceito com poder social e institucional, um sistema
de vantagens baseado em cor de pele; portanto, que reflita o racismo
sistêmico e estrutural que permeia a sociedade.
Os editores do dicionário admitiram que a entrada “racismo” não
era revisada há décadas e que as revisões são produzidas, justamente,
quando veem “[...] mudanças em larga escala ocorrendo na linguagem”
(HAUSER, 2020, s.p., tradução nossa). Na troca de correspondência
entre Mitchum e os editores do Merriam-Webster, a mulher questionou,
inclusive, as fontes utilizadas por eles em termos de representatividade
– elemento fundamental de qualquer corpus segundo os princípios da
Linguística de Corpus, independentemente do objetivo da pesquisa.
Embora não se discuta esse tema com a devida frequência, os
estudos linguísticos têm, efetivamente, impactos diretos no mundo, e
vice-versa. Mitchum, em um de seus argumentos pela reivindicação
da revisão da entrada, destaca ter observado muitas pessoas brancas
defenderem seu ponto de vista “copiando e colando” as definições
apresentadas nos dicionários, o que mostra a importância das reflexões e
produções lexicográficas na sociedade. Os próprios editores admitem que
palavras com conceitos mais abstratos, como racismo, são constantemente
consultadas pelas pessoas em dicionários.
Ainda que esse seja o caso de um impacto de uma demanda
social em um contexto não especializado, de língua geral, e de uma
obra lexicográfica – o Merriam-Webster –, entendendo que as unidades
terminológicas passam pelas mesmas regras de funcionamento que as
unidades lexicais que compõem obras lexicográficas, a correlação desse
caso com esta pesquisa é justificada e coerente: considera-se que áreas
que se baseiam em demandas sociais, como os Estudos de Gênero, sejam
objeto de estudo linguístico/terminológico, que podem contribuir para a
sistematização de unidades que, como “racismo”, têm impacto importante
766 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

nas reflexões sobre questões da área, seja em contextos especializados


ou não. Assim, seguindo os princípios da TCT, não é possível ignorar
que os termos, assim como as unidades lexicais, estão inerentemente
permeados por características gramaticais e pragmáticas, que devem ser
consideradas, observadas e descritas em qualquer análise terminológica.
Nesse sentido, entendem-se como essenciais as pesquisas que se
debrucem sobre a comunicação de teóricos, pensadores, pesquisadores e
especialistas da área para a observação da representação e da transmissão
de um conhecimento que constantemente se atualiza em função das
demandas sociais. Esta pesquisa, portanto, tem como objetivo colaborar
para este esforço: chamar a atenção de campos como o da Linguística de
Corpus – com sua abordagem funcionalista da linguagem, fornecendo
subsídios teóricos e aplicados para análise – e o da Terminologia – em uma
perspectiva comunicativa, que não entende os termos como unidades fixas
e preestabelecidas, mas como elementos das línguas que, de acordo com
o contexto em que são utilizadas, adquirem caráter especializado – para
a área de Estudos de Gênero, apresentando-a a partir da observação da
produção e transmissão do conhecimento que produz em forma de corpus.
Para isso, neste artigo, foi apresentado um recorte que constitui
uma etapa fundamental: a compilação, a descrição e a justificativa de um
corpus representativo da comunicação da área e que cumpre um papel
fundamental e simbiótico com a mesma no Brasil, as publicações REF
e Cadernos Pagu. Com isso, mostrou-se um corpus que tem origem em
fontes bem estruturadas e confiáveis para extração terminológica e que,
além de servir à presente pesquisa, pode configurar-se como objeto de
estudo para futuras investigações, essenciais para a estruturação, para a
revisão e para a atualização da língua portuguesa e de sua utilização no
campo especializado de Estudos de Gênero. Embora esta pesquisa ainda
esteja em vias de realização e espere-se que muitos outros resultados
importantes terminológicos sejam alcançados, entende-se que a fase
apresentada aqui, de compilação de corpus, é a base para quaisquer
futuros achados.
O “[...] ativismo não muda o dicionário, [...] o ativismo muda a
língua” (HAUSER, 2020, tradução nossa); portanto, é necessário, para
as mais diferentes sociedades, que os estudos que observam as línguas,
em contextos gerais ou especializados, estejam atentos aos efeitos que
movimentos sociais, como os vinculados às questões de gênero e suas
interfaces, vêm produzindo constantemente.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 767

Referências
BERBER SARDINHA, T. Lingüística de corpus: histórico e problemática.
DELTA, São Paulo, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000. DOI: https://doi.
org/10.1590/S0102-44502000000200005
BOND, L. Pesquisa mostra aumento da violência contra pessoas trans no
Brasil. Agência Brasil, 28 jun. 2020. Disponível em: https://agenciabrasil.
ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2020-06/pesquisa-mostra-aumento-
da-violencia-contra-pessoas-trans-no-brasil. Acesso em: 5 set. 2020.
BUTLER, J. Undoing Gender. New York: Routledge, 2004. DOI: https://
doi.org/10.4324/9780203499627
CABRÉ, M. T. La terminología. Representación y comunicación.
Una teoría de base comunicativa y otros artículos. Barcelona: Institut
Universitari de Lingüística Aplicada, Universitat Pompeu Fabra, 1999.
CABRÉ, M. T. Sumario de principios que configuran la nueva propuesta
teórica y consecuencias metodológicas. In: CABRÉ, M. T.; FELIU, J.
(org.). La terminología científicotécnica: reconocimiento, análisis y
extracción de información formal y semântica: Informe DGES PB-96-
0293. Barcelona: Universitat Pompeu Fabra; Institut Universitari de
Lingüística Aplicada, 2001. p. 17-25.
CADERNOS PAGU. São Paulo, [s.d.]. Disponível em: https://www.pagu.
unicamp.br/pt-br/cadernos-pagu. Acesso em: 5 set. 2020.
COSTA, A. de O. Revista Estudos Feministas: primeira fase, locação
Rio de Janeiro. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 12 n.
especial, p. 211-221, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-
026X2004000300022
COSTA, C. de L. Feminismo, tradução cultural e a descolonização do
saber. Fragmentos, Florianópolis, v. 21, n. 2, p. 45-59, 2010.
DINIZ, D.; FOLTRAN, P. Gênero e feminismo no Brasil: uma análise da
Revista Estudos Feministas. Revista Estudos Feministas, Florianópolis,
v. 12, n. especial, p. 245-253, 2004. DOI: https://doi.org/10.1590/S0104-
026X2004000300026
768 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

ESTADÃO CONTEÚDO. Violência contra a mulher aumenta em meio


à pandemia; denúncias ao 180 sobem 40%. IstoÉ/Dinheiro, 1 jun. 2020.
Disponível em: https://www.istoedinheiro.com.br/violencia-contra-a-
mulher-aumenta-em-meio-a-pandemia-denuncias-ao-180-sobem-40/.
Acesso em: 8 ago. 2020.
EVERS, A.; FINATTO, M. J. B. Linguística de Corpus, Léxico-Estatística
Textual e Processamento de Linguagem Natural: perspectiva para estudos
de vocabulário em produções textuais. Revista GTLex, Uberlândia, v. 1,
n. 2, p. 271-295, 2016. DOI: https://doi.org/10.14393/Lex2-v1n2a2016-3
FACCHINI, R. Cadernos Pagu: desafios, nossas respostas e novidades.
Blog SciELO em Perspectiva: Humanas, [S.l.], 30 jun. 2017. Disponível
em: https://humanas.blog.scielo.org/blog/2017/06/30/cadernos-pagu-
desafios-nossas-respostas-e-novidades/. Acesso em: 8 ago. 2020.
FINATTO, M. J. B. Terminologia e Lingüística de Corpus: da perspectiva
enunciativa aos novos enfoques do texto técnico-científico. Letras de
Hoje, Porto Alegre, v. 39, n. 4, dezembro, p. 97-106, 2004.
GROSSI, M. P. A Revista Estudos Feministas faz 10 anos – uma
breve história do feminismo no Brasil. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, v. 12, Número Especial, p. 211-221, 2004. DOI: https://
doi.org/10.1590/S0104-026X2004000300023
HAUSER, C. Merriam-Webster Revises ‘Racism’ Entry After Missouri
Woman Asks for Changes. The New York Times, New York, s. p., 10 jun.
2020. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/06/10/us/merriam-
webster-racism-definition.html. Acesso em: 5 set. 2020.
HEILBORN, M. L.; SORJ, B. Estudos de Gênero no Brasil. In: MICELI,
S. (org.). O que ler na Ciência Social brasileira (1970-1995). São Paulo:
Editora Sumaré; ANPOCS; Brasília: CAPES, 1999. p. 183-222.
IBGE. Estatísticas de Gênero - Indicadores sociais das mulheres no Brasil.
2019. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/multidominio/
genero/20163-estatisticas-de-genero-indicadores-sociais-das-mulheres-
no-brasil.html?=&t=o-que-e. Acesso em: 6 set. 2020.
KOESTER, A. Building Small Specialised Corpora. In: O’KEEFFE, A.;
MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics.
New York: Routledge, 2010. p. 66-79.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021 769

MALUF, S. W. As edições eletrônicas da REF (e a democratização do


acesso à produção acadêmica e científica). Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, v. 16, n. 1, p. 123-127, 2008. DOI: https://doi.org/10.1590/
S0104-026X2008000100012
MINELLA, L. S. A contribuição da Revista Estudos Feministas para
o debate sobre gênero e feminismo. Revista Estudos Feministas,
Florianópolis, v. 12, número especial, p. 223-234, 2004. DOI: https://doi.
org/10.1590/S0104-026X2004000300024
MLAMBO-NGCUKA P. Violência contra as mulheres e meninas é
pandemia invisível, afirma diretora executiva da ONU Mulheres. ONU
Mulheres, 7 abr. 2020. Disponível em: http://www.onumulheres.org.br/
noticias/violencia-contra-as-mulheres-e-meninas-e-pandemia-invisivel-
afirma-diretora-executiva-da-onu-mulheres/. Acesso em: 8 ago. 2020.
MOREL, J.; RODRÍGUEZ, C. Consecuencias metodológicas de la
propuesta teórica. In: CABRÉ, M. T.; FELIU, J. (org.). La terminología
científico-técnica: reconocimiento, análisis y extracción de información
formal y semántica. Barcelona: Informe DGES PB-96-0293. Barcelona:
Universitat Pompeu Fabra; Institut Universitari de Lingüística Aplicada,
2001. p. 37-53.
PISCITELLI, A. Gênero: a história de um conceito. In: BUARQUE DE
ALMEIDA, H.; SZWAKO, J. (org.). Diferenças, igualdade. São Paulo:
Berlendis & Vertecchia, 2009. p. 116-148.
PISCITELLI, A. Atravessando fronteiras: teorias pós-coloniais e leituras
antropológicas sobre feminismos, gênero e mercados do sexo no Brasil.
Contemporânea - Revista de Sociologia da UFSCar, São Carlos, v. 3, n.
2, p. 377-405, 2013.
PISCITELLI, A., BELELI, I., LOPES, M. M. Cadernos Pagu:
contribuindo para a consolidação de um campo de estudos. Revista
Estudos Feministas, Florianópolis, v. 11, n. 1, p. 242-246, 2003. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0104-026X2003000100015
REVISTA ESTUDOS FEMINISTAS. Políticas Editoriais. [s.d.].
Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/about/editorial
Policies#focusAndScope. Acesso em: 5 set. 2020.
770 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 739-770, 2021

SILVA, S. V. da. Os estudos de Gênero no Brasil: Algumas Considerações.


Biblio 3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales,
Barcelona, n. 262, p. 1-13, 2000.
TAGNIN, S. E. O. O jeito que a gente diz: combinações consagradas em
inglês e português. Barueri: Disal, 2013.
TAGNIN, S. E. O. A Linguística de Corpus na e para a Tradução. In:
VIANA, V.; TAGNIN, S. (org.). Corpora na Tradução. São Paulo: HUB,
2015a. p. 19-56.
TAGNIN, S. E. O. Corpus-Driven Glossaries in Translator Training
Courses. Oslo Studies in Language, Oslo, v. 7, n. 1, p. 359-377, 2015b.
DOI: https://doi.org/10.5617/osla.1447
WAQUIL, M. L. Traduzindo “Traducción y Traductología”: problemas
terminológicos de tradução. 2017. 288 f. Tese (Doutorado em Letras) –
Instituto de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2017.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

Construindo corpora bilíngues quimbundo-


português-quimbundo

Building Kimbundu-Portuguese-Kimbundu bilingual corpora

Paulo Jeferson Pilar Araújo


Universidade Federal de Roraima (UFRR), Boa Vista, Roraima / Brasil
paulo.pilar@ufrr.br
https://orcid.org/0000-0002-9965-3444

Resumo: Discute-se neste artigo as possibilidades para a construção de corpora


bilíngues quimbundo-português-quimbundo para o estudo de fenômenos de contato
linguístico entre essas duas línguas. Faz-se uma aproximação entre as áreas da
Linguística de Corpus e da Linguística Africana, enfatizando-se o caso dos contatos
linguísticos presentes nos corpora em vista. Defende-se que o quimbundo e o português
têm uma relação histórica que permite a elaboração de um corpus escrito a partir de
sua tradição descritiva iniciada no século XVII e de um corpus de fala decorrente de
projetos de pesquisa recentes que se ocupam de variedades vernaculares do português
e sua relação com a língua africana deste estudo. Para tanto, buscou-se fazer um estudo
do estado da arte da descrição do quimbundo e do português angolano com o objetivo
de demonstrar a necessidade e viabilidade da produção de corpora bilíngues escrito e de
fala quimbundo-português-quimbundo. Espera-se que a produção de corpora bilíngues
quimbundo-português-quimbundo possa contribuir para o conhecimento da situação de
contato visualizado entre as duas línguas, pautando-se em material empírico necessário
para o entendimento da real situação de contato entre essas línguas de Angola além
de embasar com dados empíricos hipóteses como a de um continuum afro-brasileiro
de português.
Palavras-chave: corpora bilíngues; quimbundo; português; contato linguístico; Angola.

Abstract: This article discusses the possibilities for building Kimbundu-Portuguese-


Kimbundu bilingual corpora in order to studying language contact phenomena between
these two languages. An approximation is made between the areas of Corpus Linguistics
and African Linguistics, emphasizing the case of linguistic contact in the corpora in

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.771-803
772 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

sight. It is argued that Kimbundu and Portuguese have a historical relation that allows
the elaboration of written corpus based on the documents of its descriptive tradition that
started in the 17th century and a spoken corpus resulting from recent research projects
that deal with vernacular varieties of Portuguese and its relation to the African language
of this study. To this end, we sought to study the state of the art of the description of
Kimbundu and Portuguese in Angola in order to demonstrate the need and feasibility of
building bilingual written and spoken Kimbundu-Portuguese-Kimbundu corpora. It is
hoped that the production of these bilingual corpora may contribute to the knowledge
of the situation of contact between both Angolan languages under study, based on
empirical material necessary to understand the real situation of contact between these
languages of Angola besides to support hypothesis about an Afro-Brazilian continuum
of Portuguese.
Keywords: bilingual corpora; Kimbundu; Portuguese; Language contact; Angola.

Recebido em 11 de outubro de 2020


Aceito em 25 de novembro de 2020

1 Introdução
Nos meses de julho e agosto de 2013 foi realizado trabalho de
campo exploratório no município do Libolo, província do Kwanza Sul,
Angola. Foram realizadas várias entrevistas e gravações diversas com
os moradores da região e coletados basicamente dados do quimbundo e
do português local. Com o início das transcrições dessas entrevistas, em
2014, verificou-se que uma parte considerável dos dados era bilíngue
quimbundo-português, apresentando ocorrências de empréstimos e
codeswitching, trazendo para a produção do corpus específico das línguas
do Libolo a problemática de como trabalhar na produção de corpora
bilíngues quimbundo-português e português-quimbundo (a partir daqui
quimbundo-português-quimbundo) com fins de analisar adequadamente
a situação de contato linguístico entre as duas línguas explicitada nos
casos de codeswitching e de empréstimos encontrados na variedade da
língua africana ali denominada ngoya, do grupo quimbundo (H20).1

1
A tradição bantuista, desde a classificação das línguas bantas por Guthrie (PETTER,
2015, p. 60) utiliza letras e números para identificação das línguas. Uma letra indica
uma zona, por exemplo H, uma letra e número um grupo: H20 é o grupo quimbundo, já
H21 é o grupo dialetal mbundo, quimbundo. Assim, ao se fazer referência ao quimbundo
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 773

Pensando nisso, buscaram-se exemplos de casos de corpora


bilíngues de outras línguas bantas ocupados com a questão dos
empréstimos e codeswitching que pudessem servir como diretriz para esta
investigação. No entanto, mesmo nas duas edições da obra de referência
da linguística bantuista (NURSE; PHILIPPSON, 2003; VELDE et al.,
2019), apesar de um capítulo dedicado para o contato de línguas, quase
nada é dito sobre a construção de corpora para línguas africanas. Este
artigo discute essa problemática, a da inter-relação entre a Linguística
de Corpus (SARDINHA, 2004) com a Linguística Africana (PETTER,
2015) via as questões do contato linguístico de línguas pouco ou não
descritas (ADAMOU, 2016), tomando como exemplo o caso da produção
de corpora bilíngues quimbundo-português-quimbundo.
As seções que compõem este artigo são: seção teórica e de
problematização em 2 onde se busca relacionar a Linguística de Corpus
com a Linguística Africana com uma breve apresentação dos corpora
de línguas africanas existentes e a particularidade dos corpora bilíngues
para essas línguas. A seção 3 apresenta a língua quimbundo (H20) e o
português de Angola e os projetos atuais ocupados em descrevê-los.
A seção 4 detalha a metodologia na constituição do corpus do Libolo.
Em 5 são discutidos mais diretamente a produção de corpora bilíngues
quimbundo-português-quimbundo e os desafios de tal empreitada,
tomando os fenômenos de contato linguístico como especificidade
de corpora bilíngues como os pretendidos neste trabalho. Ao final da
seção 5, são exemplificados os casos de empréstimos do português no
quimbundo e a forma como a inter-relação entre corpus escrito e de fala
pode contribuir para um melhor conhecimento dos contatos históricos
entre o quimbundo e o português (angolano e brasileiro) em teorias e
hipóteses que tentam explicar a formação do português brasileiro (PB)
e um continuum afro-brasileiro de português (LÓPEZ; GONÇALVES;
AVELAR, 2018; PETTER, 2008).2

sem a especificação dialetal será utilizada a indicação do grupo, H20, mesmo sabendo
da classificação para o dialeto ngoya como H23 (HAMMARSTRÖM, 2019, p. 39),
levando em conta que uma investigação sobre o continuum dialetal do quimbundo
ainda aguarda uma descrição mais aprofundada.
2
Na impossibilidade de dedicar uma subseção para conceituar a hipótese de um
continuum afro-brasileiro de português citado neste último parágrafo, por fugir do
escopo do trabalho, remeto o leitor aos trabalhos supracitados, reservando as próximas
seções à temática central do artigo. Da mesma forma, considerando que a literatura sobre
774 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

2 A Linguística de Corpus e a Linguística Africana


Diferentemente da Linguística de Corpus e outras disciplinas
como a Linguística do Contato para as quais se costumam indicar datas
de nascimento (o Corpus Brown 1964 e a obra de Weinreich, 1953,
respectivamente), a Linguística Africana tem sua história ligada ao
passado colonial, remontando ao século XVI com as primeiras obras
de catequese ocupadas com o aprendizado de línguas africanas. Será
apenas em meados do século XX que o estudo das línguas africanas toma
um caráter disciplinar, conforme periodização apresentada por Petter e
Araújo (2015, p. 29-41). No entanto, algumas obras são apontadas como
referência na constituição da Linguística Africana como a de Greenberg
(1963) The Languages of Africa. Mesmo com um histórico extenso na
sua constituição, a Linguística Africana ainda se ocupa basicamente na
descrição das mais de 2 mil línguas do continente africano, o que de certo
modo interfere em uma maior proximidade entre ela e a Linguística de
Corpus como esta é conhecida para línguas majoritárias.
Conforme pode ser verificado em obras de referência da Linguística
Africana (GÜLDEMANN, 2018; VOSSEN; DIMMENDAAL, 2020;
WOLFF, 2019), ao menos um capítulo é dedicado ao contato linguístico,
mesmo que transversalmente sobre áreas linguísticas, enquanto para a
Linguística de Corpus ocorrem apenas menções a corpus específicos em
determinados capítulos. Os estudos baseados em corpus para o caso das
línguas africanas são ainda escassos, dentre alguns motivos citam-se:
(i) o estatuto de línguas pouco ou não descritas da maioria das línguas
africanas; (ii) as políticas linguísticas; e (iii) a representatividade das
línguas africanas na glotopolítica internacional. Em breves palavras, o
primeiro item desvela a situação das línguas da África e a necessidade
de descrição, documentação e publicização dos corpora utilizados no
processo de gramatização dessas línguas. O segundo item está relacionado
às políticas linguísticas de cada país em relação à língua oficial,
geralmente de origem colonial, e as línguas nacionais ou nativas. Cada
país tem diferentes políticas, a exemplo da África do Sul que possui 9
línguas africanas com estatuto de língua oficial enquanto Angola possui
apenas o português como língua oficial e oferece atenção para 6 línguas

empréstimos e codeswitching é bastante ampla e relativamente acessível em artigos,


teses e dissertações de acesso aberto, sugiro a consulta a obras mais específicas sobre
esses fenômenos do contato linguístico.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 775

nacionais, das mais de 40 línguas do país. Eleger línguas africanas como


línguas oficiais é uma medida favorável para a produção de corpora para
essas línguas, a exemplo das línguas da África do Sul (ALLWOOD;
HENDRIKSE, 2003). O terceiro item tem a ver com a visibilidade e
importância política dada às línguas e a preocupação com seu estudo e
promoção. O melhor exemplo é o suaíli, considerada língua franca em
grande parte do leste africano e que goza de estatuto internacional dentro
do continente africano.
Outras questões podem ser elencadas transversalmente àquelas
acima, como a da escassa existência de documentos históricos escritos
de grande parte das línguas africanas, dentre outras. Apesar da relação
parcialmente distante entre a Linguística Africana com a Linguística de
Corpus, podem-se citar alguns exemplos de corpora de línguas africanas
e um promissor desenvolvimento futuro das duas áreas.

2.1 Corpora de línguas africanas


Roux e Ndinga-Koumba-Binza (2019, p. 632-633) elencam
alguns recursos on-line com indicação de corpora de línguas africanas
disponíveis. Dentre eles, o Open Language Archives (OLAC), que
apresenta informações sobre diferentes línguas africanas.3 Os autores
mencionam ainda um blog com informações úteis sobre corpora
existentes de línguas africanas.4 Citam rapidamente os websites da
Columbia University Libraries,5 os arquivos da African Language
Technology (AFlaT),6 além, claro, do Ethnologue.7 E por fim, uma
iniciativa da Oxford University Press com o Projeto Oxford Global
Languages (OGL).8 As referências virtuais oferecidas pelos autores
não são exaustivas, mas dão uma ideia das empreitadas na construção
de corpora de línguas africanas. Podem ser citadas outras iniciativas

3
Disponível em: http://www.language-archives.org/area/africa Acesso em: 10 out. 2020.
4
Disponível em: https://corplinguistics.wordpress.com/2012/02/08/african-language-
corpora/ Acesso em: 10 out. 2020.
5
Disponível em: https://library.columbia.edu/ Acesso em: 10 out. 2020.
6
Disponível em: https://www.aflat.org/ Acesso em: 10 out. 2020.
7
Disponível em: https://www.ethnologue.com/ Acesso em: 10 out. 2020.
8
Disponível em: https://languages.oup.com/research/community/ Acesso em: 10 out.
2020.
776 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

não mencionadas pelos autores, como o Langage, Langues et Cultures


d’Afrique (LLACAN),9 as propostas da African Academy of Languages
(ACALAN),10 o CorpAfroAs,11 dentre outros, principalmente página de
centros de Estudos Africanos de diversas universidades. No entanto, esses
corpora são de tamanhos modestos comparados com outros, até por se
tratar de línguas sub-representadas e de minorias étnicas.
O quimbundo é um exemplo de língua sub-representada que,
apesar de ser objeto de estudos e ter uma tradição de publicações no
passado, é dificilmente encontrado nesses repositórios de corpora. Alguns
fatos históricos explicam em parte a pouca atenção voltada para essa
língua banta, considerando sua importância nos estudos sobre a influência
africana no português brasileiro, por exemplo. A Guerra Civil Angolana
que durou de 1975, ano da independência de Angola, até 2002, contribuiu
sobremaneira para o atraso de estudo mais atuais sobre a língua.

2.2 Corpora bilíngues


Em se tratando de corpora monolíngues é possível encontrar
alguns recursos on-lines como aqueles apresentados na subseção
anterior, no entanto, o cenário se torna menos animador para corpora
bilíngues de línguas africanas. Com algumas exceções, por exemplo,
em países anglófonos, encontram-se corpora bilíngues para diferentes
línguas africanas em relação com o inglês africano (ESIMAJE; GUT;
ANTIA, 2019). Talvez o exemplo mais conhecido seja o Helsinki Corpus
of Swahili (HCS 2.0) em suas versões anotadas e não anotadas.12 Para
a construção de corpora similares ao HCS é necessário um estágio de
descrição da língua razoável, o que não é o caso da maioria das línguas
bantas (VELDE et al., 2019). As etapas na construção de corpora
bilíngues requerem, além do aparato tecnológico bem detalhado na
literatura (DEUCHAR, et al, 2014; BARRIÈRE, 2016), os recursos

9
Disponível em: http://llacan.vjf.cnrs.fr/ressources_en.php Acesso em: 10 out. 2020.
10
Disponível em: https://acalan-au.org/aboutus.php Acesso em: 10 out. 2020.
11
Disponível em: http://corpafroas.tge-adonis.fr/ Acesso em: 10 out. 2020.
12 Disponível em: https://metashare.csc.fi/repository/browse/helsinki-corpus-of-
swahili-20-hcs-20-annotated-version/232c1910b9eb11e5915e005056be118e59fb2e9
20f1f4c0cafc94915fc6f5cac/ Acesso em: 10 out. 2020. Outro website de interesse está
disponível em: https://www.goswahili.org/ Acesso em: 10 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 777

imprescindíveis da gramatização das línguas, ou seja, a produção de


gramáticas de referência e dicionários, sendo que o caminho inverso é
também válido, o da produção de gramáticas e dicionários baseados em
corpora. Mas este último caso para línguas majoritárias com uma tradição
de descrição consistente.
Verifica-se ainda que boa parte dos corpora bilíngues como
aqueles coligidos em Esimaje, Gut e Antia (2019) voltam-se para aspectos
descritivos ou corpus de aprendizagem de língua, aspectos quantitativos
são mais modestamente explorados.

3 O quimbundo e o português em Angola


O quimbundo e o português têm um histórico de contato de
séculos. É interessante ressaltar essa característica como forma de
fundamentar a necessidade da construção de corpora bilíngues para essas
duas línguas. Em primeiro lugar pela inegável participação histórica do
quimbundo na formação do português brasileiro (BONVINI, 2009),
segundo por essas duas línguas ainda estarem em contato contínuo em
Angola, ensejando hipóteses de contato linguístico que enfatizem as
semelhanças dos processos de mudança nas variedades do português no
Brasil e em países africanos lusófonos da área banta, o já mencionado
continuum afro-brasileiro de português (PETTER, 2008).
Faz-se, então, nas próximas subseções, uma breve apresentação
das línguas angolanas e uma contextualização dos seus estudos.

3.1 O quimbundo e sua tradição descritiva


O quimbundo tem uma tradição descritiva considerável desde o
seu passado colonial e missionário, como se pode observar no Quadro
1, no qual são elencados gramáticas, dicionários e coletâneas sobre a
língua banta:
778 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

QUADRO 1 – Obras sobre o quimbundo (Século XVII ao XX)13


Tipo Ano Autor Obra
1697 Dias Arte da língua de Angola
Collecção de observações grammaticaes sobre a lingua
1805 Cannecattim
bunda, ou angolense
1888/1889 Chatelain Gramática elementar do Kimbundu ou língua de Angola
1891 Batalha A Lingua de Angola
1934 Quintão Gramática de Kimbundu
Gramáticas Quimbundo sem mestre: gramática popular da língua
Kimbundu conforme é falada nos distritos de Luanda e
1946 Baião Malange
O Kimbundu prático ou guia de conversação em
Português-Kimbundu (2 v.)
Guia prático para a aprendizagem das línguas
1951
Maia Portuguesa e Omumbuim;
1957
Lições de gramática de quimbundo
s./d. Assis Jr. Dicionário Kimbundu-Português
Diccionario da lingua bunda, ou angolense explicada na
1804 Cannecattim
Dicionários portugueza, e latina
1893 Matta Ensaio de diccionario Kimbúndu-Portuguez
1961 Maia Dicionário complementar português-kimbundo-kikongo
1894/1964 Chatelain Folk tales of Angola/Contos populares de Angola
Gentio de Angola sufficientemente instruido nos mysterios
1642 Pacconio
Diversos de nossa sancta Fé
Catecismo da Doutrina Cristã em Portuguez com uma
1922 Wendling
versão em Kimbundo, Dialeto do Libolo13

Fonte: Elaboração do autor

Praticamente todas as obras anteriores ao século XX estão


disponíveis em bibliotecas digitais do Brasil, Portugal, Alemanha e
13
Além dos primeiros catecismos produzidos no século XVII como o de Pacconio para
o quimbundo, vale mencionar este catecismo produzido em 1922 no Libolo, de autoria
do Padre Victor Wendling e que se encontra em Lisboa, no Centro de Documentação da
Província Portuguesa da Congregação do Espírito Santo. Tal documento foi localizado
pelo professor Carlos Figueiredo, da Universidade de Macau e está sendo analisado
pelo seu descobridor e colegas de pesquisa. Além desse catecismo, o professor Carlos
Figueiredo (c. p.) informa que já localizou mais três dicionários, uma gramática e
traduções bíblicas para a língua africana, documentos esses ainda em organização
para análise.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 779

Estados Unidos. É possível localizá-las em rápidas buscas na Internet.


No entanto, versões digitalizadas das gramáticas do quimbundo de
Quintão, Baião e Maia são de difícil acesso. A apreciação dessas obras
tem sido realizada por diversos autores conforme indicado no trabalho de
Fernandes (2015). Vale mencionar aqui a carência de estudos primorosos
sobre esses documentos como o estudo de Rosa (2013) para a Arte da
língua de Angola de Dias.
A disponibilidade de algumas dessas obras em meio digital
possibilita o cotejo com descrições mais recentes ou em progresso.
É importante frisar que apesar da distância temporal, a gramática do
Chatelain por exemplo é considerada ainda como referência nos estudos
do quimbundo, sendo utilizada em cursos (principalmente voltado para
o público de adeptos de religiões afro-brasileiras como o candomblé
angola) e em publicações que carecem de acesso a dados primários da
língua.
Uma análise documental dessas obras teria, além do valor
histórico, uma importante iniciativa para estudos diacrônicos do
quimbundo em cotejo com dados atuais da língua.

3.2 Pesquisas recentes sobre o grupo quimbundo H20 e sua relação com
o português
Nos últimos quase 40 anos o quimbundo tem sido objeto de
estudo de trabalhos acadêmicos, notadamente teses, como os de Huth
(1984), Pedro (1993) e Xavier (2010). Fora esses trabalhos, outros
estudos interdisciplinares mais atuais sobre a língua, em seus aspectos
históricos (VANSINA, 2001; VIEIRA-MARTINEZ, 2006) figuram
entre as publicações que tomam a língua como foco. Vem ressurgindo
também o interesse por trabalhos que discutem a situação e classificação
do grupo H20 e seus dialetos (ANGENOT, MFUWA, RIBEIRO,
2011; ANGENOT; ANGENOT; HUTA-MUKANA, 2013; SOUSA;
KUKANDA; SANTIAGO, 2011) além de análises de documentos
históricos sobre o quimbundo (ANGENOT; KEMPF; KUKANDA, 2011;
BONVINI, 2009; ROSA, 2013) e sua influência no português tanto no
Brasil como na África lusófona (LÓPEZ; GONÇALVES; AVELAR,
2018; OLIVEIRA; ARAÚJO, 2018).
Logo após essa retomada de interesse pelo quimbundo, em 2012
e 2013, tiveram início dois projetos que deram impulso ao estudo dessa
780 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

língua angolana e sua relação com o português: o Projeto Temático


“A Língua Portuguesa no Tempo e no Espaço”14 e o Projeto Libolo,15
respectivamente. Esses dois projetos tiveram subprojetos de doutorado
e pós-doutorado relacionados tendo como foco principal a descrição
de variedades do português angolano e o quimbundo como língua de
substrato. Enquanto o Projeto Temático visava a produzir análises
históricas do português a partir do Corpus Tycho Brahe (CTB),16 o
Projeto Libolo, além de outros enfoques, buscava enriquecer o CTB com
documentos do eixo África-Brasil. A obra de Oliveira e Araújo (2018) foi
produzida no bojo de trabalhos relacionados aos dois projetos, tendo dois
capítulos voltados para o quimbundo e o português do Libolo (ARAÚJO;
PETTER; JOSÉ, 2018; FIGUEIREDO, 2018).
Verifica-se que, dos primeiros catecismos do quimbundo no
século XVII (Cf. QUADRO 1) à sua gramática pedagógica (ARSÉNIO;
SEBASTIÃO; ADÃO, 2012), essa língua conta com uma bibliografia
considerável em relação às demais línguas bantas de Angola. Falta, no
entanto, uma linha de investigação descritiva que contemple todo esse
corpo de trabalhos existentes sobre a língua, de modo que a relação
histórica entre a língua banta e o português (e por que não outras
línguas bantas vizinhas?) seja devidamente analisada. Um dos últimos
trabalhos que se ocuparam de fenômenos de contato entre o português e

14
Disponível em: https://bv.fapesp.br/pt/auxilios/55149/a-lingua-portuguesa-no-tempo-
e-no-espaco-contato-linguistico-gramaticas-em-competicao-e-mudanca-pa/ Acesso
em: 10 out. 2020.
15
O projeto Município do Libolo, Kwanza Sul, Angola: aspectos linguístico-
educacionais, histórico culturais, antropológicos e sócio-identitários, também
conhecido como Projeto Libolo, é parcialmente financiado pela Universidade de Macau
e por entidades privadas filantrópicas de Angola. Trata-se de um projeto internacional
e multidisciplinar cujos pesquisadores intervêm, de forma articulada, em pesquisas nas
áreas de Linguística, História, Antropologia, Etnografia, Filologia e Ações Pedagógicas.
O Projeto Libolo é também membro da Cátedra UNESCO em Políticas Públicas
para o Multillinguismo e está devidamente patenteado pelo Centro de Investigação e
Desenvolvimento (R&DAO) da Universidade de Macau, sob o número de referência
SRG011-FSH13-CGF, encontrando-se, desta forma, ao abrigo da vigente proteção de
direitos autorais de propriedade intelectual designada por Copyright © 2016, R&DAO
University of Macau. O Projeto Libolo está com site em construção a ser disponível
em: https://www.projetolibolo.com/ Acesso em: 10 out. 2020.
16
Disponível em: https://www.tycho.iel.unicamp.br/home Acesso em: 10 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 781

o quimbundo é o de Miguel (2019), com foco na variedade de Luanda.


Anteriormente, Mingas (2000) se ocupou da mesma temática sob um
viés substratista.17

4 Metodologia
As propostas e os dados que serão apresentados nas próximas
seções são decorrentes da minha participação em estágio de pós-doutorado
nos diferentes projetos de pesquisa elencados em 3.2, o Projeto Libolo
e o Projeto Temático “A Língua Portuguesa no Tempo e no Espaço” já
apresentados. De início a preocupação sobre os estudos do quimbundo
e do português da região do Libolo visava a entender os fenômenos de
contato linguístico entre essas duas variedades linguísticas considerando
que já havia uma equipe ocupada com a descrição da variedade do
quimbundo ngoya da região e outra equipe ocupada com a variedade
do português do Libolo. Sendo assim, seria necessário um trabalho de
interseção entre as duas equipes de modo que se contemplasse a questão
dos contatos entre a língua banta e a língua oficial angolana.
Em um workshop promovido pela FAPESP e pelo British Council,
o Researcher Links,18 propus inicialmente a ideia de construção de um
corpus anotado do português e do quimbundo como línguas em contato.
Desde essa primeira proposta, iniciei a compilação e digitalização das
diversas obras sobre o quimbundo (Cf. QUADRO 1). Paralelamente
a isso, eram realizadas reuniões de grupos de pesquisa coordenadas
pela professora Margarida Petter com o estudo da gramática escrita por
Chatelain (1888/1889). Os trabalhos de transcrição de entrevistas e contos

17
Vale mencionar a ausência ainda de uma gramática de referência do quimbundo.
Mark van de Velde (c.p.) informou que foi submetida uma proposta de capítulo sobre
o quimbundo para a segunda edição do The Bantu Languages (VELDE et al., 2019),
mas o proponente não enviou o texto a tempo. Olga Kharytonava conduz nos últimos
anos um projeto de pesquisa sobre o quimbundo. Disponível em: http://kimbundu.ca/
Acesso em: 23 nov. 2020.
18
O workshop The New Historical Linguiticss and the World of Annotated Corpora
financiado pela FAPESP (Processo 14/50501-9) em convênio com o British Council
agregou por cinco dias pesquisadores brasileiros e britânicos para discussões sobre a
construção de corpora anotados e humanidades digitais. Informações sobre o evento
estão disponíveis em: https://www.york.ac.uk/language/research/centres/clhd/nhlwac/
Acesso em: 23 nov. 2020.
782 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

em quimbundo foram realizados com o auxílio de um colaborador de


pesquisa nativo da variedade ngoya do quimbundo (H23) durante um
mês em 2014. Com isso, foi possível realizar as análises iniciais sobre o
contato do português e do quimbundo do Libolo com dados preliminares
apresentados neste trabalho.
As pesquisas que têm sido desenvolvidas no âmbito do Projeto
Libolo enfocam notadamente a descrição da variedade de português
falado naquela região do Kwanza Sul, conforme os diversos trabalhos
produzidos por seus investigadores (FIGUEIREDO; OLIVEIRA, 2016,
2013; FIGUEIREDO, 2018, 2016). Em uma nova fase do Projeto Libolo,
iniciada em 2018, em parceria com o Laboratório de Estudo Empíricos
e Experimentais da Linguagem (LEEL) da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os dados do português
do Libolo têm sido coletados e transcritos seguindo a metodologia do
Projeto C-Oral-Angola, como mostram duas publicações (OLIVEIRA;
ZANOLI; ANDRADE, 2018; ROCHA; MELLO; RASO, 2018). Antes
da escolha metodológica pela família C-ORAL19 para o tratamento dos
dados do português do Libolo, o processo de transcrição dos dados do
português do Libolo foi iniciado com uma proximidade com a chave de
transcrição do Projeto Vertentes, utilizada nos trabalhos em Lucchesi,
Baxter e Ribeiro (2009).20
Os materiais orais coletados em 2013 no Libolo eram então
transcritos de forma contínua, contando com o trabalho de alunos
de Iniciação Científica vinculados ao Projeto Libolo, passando por
uma revisão feita pelos seus coordenadores. Para as transcrições das
entrevistas em quimbundo ou com trechos em quimbundo e português,
os pesquisadores recorriam a o auxílio de um falante da língua africana
que soubesse ler e escrever em quimbundo. Para que se tenha uma ideia
da constância da presença do quimbundo e do português nos dados, as
Tabelas 1 e 2 apresentam as informações das entrevistas utilizadas nas
primeiras análises. A Tabela 1 apresenta cerca de 4 horas de entrevistas
da equipe do português, cada uma atentando para a caracterização da L1
e L2 dos entrevistados. Basicamente, metade dos entrevistados tinham

19
Para uma visão sobre o referido projeto, conferir o site do C-ORAL Brasil, disponível
em: http://www.c-oral-brasil.org/ Acesso em: 23 out. 2020.
20
Disponível em: http://www.vertentes.ufba.br/ Acesso em: 10 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 783

uma língua africana como L1, sendo que um deles tinha o umbundo
como L1:21
TABELA 1 – Transcrições da Equipe do Português do Libolo22
Local/
Identificação Sexo Idade Duração L1 L2
Comuna
Mbanza da Cabuta/
[TEMALM3] feminino 38 00:25:18 Quimbundo Português
Cabuta
Mbanza do Kitondo/
[HALDOM2] feminino 20 00:10:26 Português Quimbundo
Cabuta
[JOMAJH2] masculino 15 Calulo 00:19:38 Português Quimbundo
Mbanza do Kitondo/
[HALDOM2] masculino 68 00:09:36 Português Quimbundo
Cabuta
Mbanza do Kitondo/
[DOKITHX] masculino ? 00:06:51 Quimbundo Português
Cabuta
Mbanza do Kitondo/
[MIJOMH2] masculino 20 00:08:09 Quimbundo Português
Cabuta
[LUSAMH1] masculino 8 Calulo 00:08:59 Português ?
[ALBAGH4] masculino 43 Calulo 01:00:20 Quimbundo Português
[ANPAVM4] feminino 53 Calulo 00:48:35 Português Quimbundo
Fazenda da Quitila/
[VACHIH5] masculino 67 00:51:15 Umbundo Português
Calulo
Total do tempo de gravações: 04:12:00

Fonte: Elaboração do autor

Quanto à equipe do quimbundo, a base de dados inicial constituía-


se de cerca de 29h de áudio compreendendo entrevistas, relatos, contos,
provérbios e sessões de reunião sobre o ensino do quimbundo nas escolas.
A temática das entrevistas era, na sua maioria, sobre o quimbundo ou
do cotidiano dos entrevistados. Nas entrevistas, os documentadores
fazem perguntas sobre os entrevistados e sobre o uso do quimbundo
na comunidade e na família. Em quase todas as entrevistas houve a
participação de um intérprete; em outras vezes o próprio entrevistado

21
O município do Libolo é composto por quatro comunas (distritos): Calulo, sede do
município, Munenga, Cabuta e Quissongo.
22
A Tabela em questão foi organizada a partir das transcrições disponibilizadas por um
dos pesquisadores da equipe do português responsável pela organização e sistematização
do corpus do Libolo, que será acessível em uma futura webpage do Projeto.
784 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

falava em quimbundo, dando uma tradução de sua fala em seguida.


Somam-se aos áudios da língua africana o acervo de vídeos produzidos
nas quatro comunas do município do Libolo.23
As primeiras entrevistas que passaram por transcrição, com
cerca de 2 horas e meia no total, não tiveram a categorização por L1
ou L2 do falante como na Tabela 1, já que as entrevistas ocorreram
predominantemente em quimbundo, com exceção das duas entrevistas
mais longas. Praticamente todos os entrevistados pela equipe do
quimbundo são bilíngues em português e quimbundo e em resposta ao
formulário sociolinguístico não souberam informar qual das línguas
consideraram primeira ou segunda. As entrevistas foram classificadas
então como tendo o quimbundo ou o português como predominante:
TABELA 2 – Transcrições da Equipe do Quimbundo
Língua Língua
Local/
Tipo de entrevista Identificação Duração predominante secundária
Comuna
na entrevista na entrevista
Entrevista mediada
[LUAMAR] Jongo/Quissongo 00:18:46 Quimbundo Português
por um intérprete
Interlocutores em Mercado Kamama/
[VARINT1] 00:03:55 Quimbundo Português
espaço público Calulo
Entrevista em Mercado Kamama/
[VARINT2] 00:04:27 Quimbundo Português
espaço público Calulo
Contos em uma
[GILHH1] Jongo/Quissongo 00:42:36 Português Quimbundo
reunião familiar
Reunião Missão Católica/
[VARPROF] 01:06:38 Português Quimbundo
Pedagógica Calulo
Total do tempo de gravações: 02:25:03

Fonte: Elaboração do autor

Para a transcrição dos dados do quimbundo, antes da nova fase


em 2018, os pesquisadores da equipe do quimbundo utilizavam o ELAN

23
Santos (2015, p. 66), em nota de rodapé, informa que o espólio do Projeto Libolo
contava com cerca de 150 horas de material para análise, entre áudios e vídeos, depois
da pesquisa exploratória ao Libolo em 2013, até aquela data. Só de áudio, cada equipe
contribuiu com as seguintes quantidades de horas: 40 horas de gravações realizadas
pelas equipes de Linguística; 50h de entrevistas realizadas pela equipe de História e
cerca de 21 horas de entrevistas realizadas pela equipe de Antropologia.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 785

por esse software permitir a criação de trilhas que indicassem os casos


de empréstimos e codeswitching recorrentes nas entrevistas.
Neste ponto, vale oferecer algumas informações quanto às
questões éticas na coleta dos dados em Angola. Os membros do Projeto
Libolo têm seguido as normas vigentes de Angola considerando a
realidade política do país, conforme procedimentos descritos por Rocha,
Melo e Tommaso (2018, p. 143) e por Figueiredo et al. (2016, p. 21-22).
Os autores relatam que foram realizadas reuniões com os administradores
do Município do Libolo, além de solicitada a permissão dos sobas, as
autoridades comunitárias. As visitas às comunas e as entrevistas eram
sempre acompanhadas por um representante do governo angolano e
com a participação do soba da localidade, corroborando as palavras de
Rocha, Melo e Tommaso (2018, p. 143) que afirmam: “O Soba, assistido
pelos sobetos, é de fato a maior autoridade civil da comunidade, desde
os tempos pré-coloniais.”

5 Para a produção de corpora bilíngues quimbundo-português-


quimbundo
Diante do material considerável sobre o quimbundo e a retomada
de interesse por essa língua em diversos projetos de investigação, é
proposta nas próximas subseções a construção de diferentes corpora, de
modo a se pensar também na produção de corpora específicos quimbundo-
português-quimbundo, em formato de corpora paralelos e/ou bilíngues.

5.1 Corpus escrito


O Corpus Tycho Brahe (CTB) já mencionado constitui-se
de diversos corpora preocupados com a história do português, tanto
em Portugal como no eixo África-Brasil (GALVES, 2018, 2019).
Conforme Galves (2018, p. 49): atualmente o corpus contém 76 textos
(= 3.302.696 palavras) e pretende ser alargado para 1.500.000 palavras
de textos portugueses, 600.000 palavras de textos brasileiros e 150.000
de documentos africanos (GALVES, 2018, p. 50).
Além do corpus do Português Histórico e o Corpus Sintático,
o Tycho Brahe abarca ainda o corpus Cafundó e Kadiwéu.24 É nessa
nova plataforma multilíngue do CTB que as gramáticas e documentos
24
Disponível em: https://www.tycho.iel.unicamp.br/browser. Acesso em: 10 ago. 2020.
786 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

históricos do quimbundo podem figurar, sendo processados pelas


ferramentas como eDictor25 (PAIXÃO DE SOUZA; KEPLER; FARIA,
2012), utilizado na produção do corpus Kadiwéu (GALVES et al.,
2017). Em princípio, pelo valor histórico e pelo empenho de estudos
historiográficos (ROSA, 2013), as gramáticas do século XVII e XIX, por
já estarem digitalizadas e disponibilizadas em diferentes plataformas (Cf.
QUADRO 1) podem ser as primeiras a serem inseridas em um corpus
quimbundo-português-quimbundo escrito no CTB. De qualquer modo,
tanto esses documentos digitalizados quanto as gramáticas do século XX
enriquecerão sobremaneira os estudos não apenas historiográficos como
também de descrição linguística.
Deve-se considerar que esses documentos são bilíngues, em
português e quimbundo, e que a inserção em plataformas como o
CTB deve levar em conta as particularidades de corpora bilíngues
(BARRIÈRE, 2016; DEUCHAR et al., 2014;). Por exemplo, a gramática
de Dias (1697) representa também o português seiscentista (ROSA, 2013)
e o quimbundo daquele período pode ser considerado um quimbundo
clássico. Os mecanismos de etiquetagem e de busca para a produção de
um corpus anotado poderá auxiliar pesquisadores do contato a procurar
por empréstimos e construções que indiquem também a influência do
português sobre o quimbundo (Cf. 5.4). A inserção de documentos
históricos do quimbundo no CTB foi pensada em 2015, mas esbarrava
naquele momento no manejo de textos bilíngues como é o caso das
gramáticas e documentos diversos do quimbundo. Tais questionamentos
deverão ser úteis para as demais plataformas com caráter bilíngue no
referido Corpus.

5.2 Corpus de fala


Ciente de que boa parte dos trabalhos do Projeto Libolo
se concentra sobre a variedade de português desse município, os
pesquisadores do referido projeto logo perceberam o contato entre o
português e a língua banta local, como mostra o exemplo (1) abaixo em
que desde as transcrições preliminares da pesquisa de campo exploratória
ao Libolo em 2013 a língua africana já se fazia presente:

25
Disponível em: https://humanidadesdigitais.org/edictor/ Acesso em: 23 nov. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 787

(1) Português do Libolo [TEMALM3]


DOC1: E assim vocês falavam com o avô, não é? Você lembra esse tempo ainda?
INF: É// quan... quando falava com o avô?
DOC1: Hum.
INF: Lembro. Ele te manda. Fala assim [fala em quimbundo] em quimbundo já
quando falava [fala em quimbundo]. O avô já é assim porque ele num sabe falar
português. É. Português fala vai buscar panela, vai buscar cesto.
DOC1: Ham.
INF: Agora ele que num sabe te fala embora [fala em quimbundo].

Exemplos como em (1) confirmam que situações de bilinguismo


são pervasivas nas entrevistas coletadas no Libolo, conforme constatado
nas Tabelas 1 e 2 da seção 4. O recurso utilizado no início das transcrições
era de indicar a alternância de língua do português para o quimbundo,
ou vice-versa, entre colchetes: [fala em quimbundo]. Com o trabalho da
equipe do quimbundo e o auxílio de colaboradores bilíngues quimbundo-
português, os casos de entrevistas contendo ocorrências de codeswitching
ou empréstimos puderam ser melhor detectados, transcritos e analisados.
No entanto, considerando duas das publicações mais recentes seguindo a
metodologia do C-ORAL-Angola (OLIVEIRA; ZANOLI; ANDRADE,
2018; ROCHA; MELLO; RASO, 2018), verifica-se ainda a proeminência
dos estudos da variedade de português do Libolo em relação com a língua
africana. Ressalta-se, portanto, que o ideal é a consolidação de corpora
do quimbundo em paralelo com corpora do português em Angola por
motivos que serão melhor detalhados nas subseções que seguem.
Por ora vale enfatizar que uma das línguas bantas de Angola tem
agora a possibilidade de entrar no rol de línguas africanas que podem
contar com corpora bilíngues, a exemplo dos corpora suaíli-inglês
(Cf. 2.1 e 2.2). Para isso, é preciso que o quimbundo receba a atenção
devida por parte dos pesquisadores do Projeto Libolo e que as questões
de contato linguístico sejam consideradas e debatidas na produção dos
corpora dos projetos que se ocupam de uma ou outra língua ou mesmo
de ambas as línguas do Libolo. A depender da metodologia usada na
constituição de corpora de fala do quimbundo, seja no bojo da família
C-ORAL ou de outros corpora de línguas bantas como o HCS 2.0
(Cf. 2.2), o suporte empírico de corpora de fala contribuirão
inestimavelmente nos trabalhos de descrição da língua quimbundo
788 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

propriamente dita e nos fenômenos decorrentes do contato com o


português. Outra possibilidade é a construção de corpora paralelos
quimbundo-português para o caso de dados como os de [GILHH1] da
Tabela 2 em que um mesmo conto de animais foi contado por um idoso
em quimbundo e em seguida recontado em português por um jovem da
comuna do Quissongo.
Outro detalhe a ser considerado é a necessidade de descrição
linguística do quimbundo (H20) e seu contínuo dialetal, no caso o ngoya
(H23) frente a outros grupos dialetais. Desse modo, a constituição de
corpora do quimbundo deve andar junto com o melhor entendimento da
gramática da língua banta ensejando a produção de gramáticas descritivas
que devem auxiliar os pesquisadores bantuistas e do português com um
conhecimento mais seguro da língua e seus contatos com as variedades
de português angolano (ARAÚJO; PETTER; JOSÉ, 2018).

5.3 Questões de contato linguístico entre o quimbundo e o português


Nesta subseção são exemplificados os possíveis casos que a
produção dos corpora deverá encarar no manejo dos dados das variedades
linguísticas do Libolo. Foram selecionados alguns exemplos que ilustram
a realidade bilíngue do Libolo. Com isso, a alternância de língua nas
entrevistas é bem documentada, ocorrendo exemplos como abaixo:

(2) Codeswitching português-quimbundo [VARINT1]


Samo daqui mesmo, kumbala iami ku Kibuma, tava lá na Kibuma. É agora que
vieu (viemos?) aqui na Kapemba.
‘Somos daqui mesmo, o meu bairro é o Kibuma, (mas) estávamos lá na Kibuma.
É agora que viemos para Kapemba.

Na entrevista em (2), a língua predominante era o português,


mas a falante alterna com o quimbundo além de produzir formas que
indicam ser o português sua L2, o caso de “vieu”, a tentativa de utilizar
o passado do verbo “vir” sem a concordância com a primeira pessoa
do plural iniciada na sentença. Esse exemplo é retirado de transcrições
prévias realizadas ainda em Angola. Observa-se que o trabalho de
segmentação e de glosa ainda não havia sido realizado com auxílio do
colaborador bilíngue.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 789

Como as entrevistas da equipe do quimbundo se concentravam


sobre a língua banta, ocorrem principalmente exemplos de codeswitching
quimbundo-português, como no exemplo (3):

(3) Codeswitching quimbundo-português26 [VARINT1]


Aí na Bula. Iji wo ku mu-igile esse nu lhe conhece.
Aí, na Bula Disse lhe NEG MO-conhecer esse não lhe conhece.
Mu-kage a só Fikeletu we-kexi ku Longa.
CL-Mulher dele, senhor Figueiredo 2sg-COP LOC Longa.
‘Aí no (bairro) Bula. Disse se você lhe conhece, esse não lhe conheço. A mulher
dele, do senhor Figueiredo que estava no Longa.’

Observa-se que tanto nas entrevistas em português ou em


quimbundo há a alternância entre as línguas, caracterizando alguns casos
de codeswitching e em outros a utilização de empréstimos, talvez o caso
de só Fikeletu para “senhor Figueiredo”. Por se tratar de dados de fala
espontânea, alguns exemplos são de produção de sentença em uma língua
seguidos da repetição em outra língua, como em (4):

(4) Codeswitching quimbundo-português [GILHH1]


êh Ni-lombol-a não tem medo eme ke ni kala
MD MS-pedir-VF não tenho medo 1ps NEG COM COP
uoma uaia
medo PRON
‘Oh... peço com pena... não tenho medo... eu não tenho medo deles...’

26
Para os exemplos em línguas africanas, utiliza-se uma transcrição ortográfica, sem
marcação tonal, apresentando primeiramente os segmentos e as glosas, em seguida uma
tradução livre entre aspas simples. Para fins de simplificação, não é indicada a numeração
das classes nominais, comum na literatura bantuista. As abreviaturas das glosas são:
1, 2, 3 sg = primeira, segunda, terceira pessoa singular; 1, 2, 3 pl = primeira, segunda,
terceira pessoa plural; CL = classe nominal; CONJ = conjunção; COM = comitativo;
COP = cópula; IDEO = ideofone; INF = infinitivo; LOC = locativo; MD = Marcador
discursivo; MS = marca do sujeito; MO = marca do objeto; NEG = negativa; RFL
= reflexivo; PPF = pré-prefixo; PRON = pronome; TAM = marca de tempo, modo e
aspecto; VF = vogal final. Para uma rápida apresentação da estrutura das línguas bantas,
sugiro o capítulo 2 de Araújo (2013).
790 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

Esse tipo de dados em (4) é bastante comum nas entrevistas


quando os interlocutores sabiam do interesse dos pesquisadores no
quimbundo. Os entrevistados falavam em quimbundo seguindo de uma
tradução. Esses dados demonstram a necessidade de uma categorização
dos exemplos, a depender dos objetivos de pesquisa.
Além desses casos, verificam-se outros de adaptação
morfofonológica de palavras e expressões do português no quimbundo,
o que pode ser denominado como uma quimbundização (equivalente ao
aportuguesamento) do português do Libolo. No exemplo abaixo vê-se a
repetição que seria em português do quimbundo, mas com a realização
dos itens em conformidade com o sistema fonológico da língua banta:

(5) Codeswitching quimbundo-português27 [GILHH1]


êh sô mu-ki-fut-a ohi? Paka kiê, paka kwantu?
MD senhor CL-?-pagar?-VF quanto? Paga quê paga quanto
‘É... então senhores pagam quanto? Paga o quê? Paga quanto?’

Ao invés de uma alternância simples para o português que levaria


a forma “paga quê, paga quanto”, o falante utiliza formas adaptadas à
fonologia do quimbundo: paka e kiê, e mesmo sô para “senhor”.
Os exemplos de (2) a (5) confirmam que os fenômenos de contato
entre o quimbundo e o português são bastante arraigados na comunidade
de fala do Libolo. Conhecer melhor a situação de contato contribui
para uma caracterização do estatuto de cada língua e as consequências
sociolinguísticas desses contatos. Por exemplo, qual a melhor forma de
descrever a situação atual de contato entre o quimbundo e o português
no Libolo? Convergência de línguas, atrito ou substituição de língua
(language shift)? Araújo e Petter (Manuscrito) levantam alguns desses
questionamentos que apenas uma análise dos contatos quimbundo-
português podem esclarecer melhor. Por outro lado, entender os contatos
linguísticos entre as línguas do Libolo pode colaborar no trabalho de
etiquetagem na produção de corpora anotados quimbundo-português-

27
É indicado com o sinal de interrogação “?” no lugar da glosa sempre que houver
alguma dúvida quanto à categoria de um morfema ou a melhor glosa para uma categoria.
O exemplo (5) foi transcrito com auxílio de colaborador falante nativo do quimbundo
e a sugestão da grafia paka e kiê indicam a acomodação do português no quimbundo
L1 dos falantes.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 791

quimbundo. Em outras palavras, frente a exemplos como os enumerados


acima, como definir adequadamente se são situações de empréstimo
ou codeswitching? A próxima subseção busca exemplificar este último
questionamento.

5.4 Os corpora bilíngues escrito e de fala e análises do quimbundo e do


português como línguas em contato
Com a produção do corpus bilíngue específico do português e do
quimbundo será possível verificar a real produtividade e integração de
alguns empréstimos do português no quimbundo e vice-versa. Enquanto
alguns empréstimos parecem já figurar em gramáticas da língua de fins
do século XIX e meados do século XX, outras ocorrências caem na
dubiedade entre codeswitchiing e empréstimo, a exemplo de xitalata
(estrada) a seguir:

(6) Quimbundo [VARINT1]


Jina die Losita. W-aiula o xitalata xa Longa
Nome dele Rochita 2ps-arranjar PPF estradas do Longa
ne xa Kabuta ne ia Kisongo.
CONJ da Cabuta CONJ do Quissongo.
‘O nome dele é Rochita, que arranjou as estradas do Longa, da Cabuta e do
Quissongo.’

A aparente dúvida se manifesta por não se ter informação certa


se xitalata é realmente usado em todos os contextos referentes a estrada
ou apenas em contextos específicos, já que existe palavra para estrada
em quimbundo. Outro ponto é o uso do pré-prefixo o do quimbundo
comumente confundido com o artigo masculino singular do português.
Estudos sobre a integração de empréstimos do português em línguas
angolanas é praticamente inexistente, por outro lado, o da situação inversa
é mais conhecido. É o caso do trabalho de Miguel (2019) que partindo
de 36 entrevistas realizadas em Luanda em 2012 e 2013 selecionou 255
empréstimos lexicais, em sua maioria do quimbundo. No entanto, como
as entrevistas foram conduzidas em português e o foco do trabalho era
a integração de empréstimos bantos no português de Luanda, o caso
inverso não é mencionado, ou seja, o da integração de empréstimos do
português no quimbundo. A produção de um corpus escrito e anotado do
792 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

quimbundo poderá contribuir na identificação dos possíveis empréstimos


já registrados em gramáticas do quimbundo e que indiquem seu real
estatuto de empréstimos integrados.
Nos próximos exemplos, de (7) a (14), são apresentados casos de
empréstimos de preposições “para” e “até” e conjunções, “mas” e “se”
do português no quimbundo registrados tanto nas entrevistas orais quanto
nas gramáticas do século XIX e XX. Esses exemplos são interessantes
porque logo no início das transcrições esses casos eram encarados como
codeswitching ou nonce borrowing (empréstimos de uma única vez,
em tradução livre) até que foram encontrados exemplos similares nas
gramáticas do quimbundo ainda no século XIX, o que indica que podem
ser na verdade empréstimos já integrados na língua banta.
Para fins de padronização foram acrescidas glosas nos exemplos
retirados das gramáticas do quimbundo, seguindo as mesmas abreviaturas
já propostas.
– Preposição “para” do português como pala no quimbundo:

(7) Corpus do quimbundo do Libolo [LUAMAR]


tutulukutu pala ku-zol-a
IDEO (bater os pés) para INF-rir-VF
‘Batam os pés para rir’

(8) (MAIA, 1964, p. 94)


Eme ng-el-e ko Sikola pala ku-li-longes-a
1sg MS.1sg-vir-VF LOC escola para INF-RFL-ensinar-VF
‘Eu vim à escola para aprender’

– Preposição “até” do português como katé no quimbundo:

(9) Corpus do quimbundo do Libolo [GILHH1]


Otxó we-riendé katé obó, mumamé iji: eie
quando MS-andar até lá mulher dizer 2sg
wa-landuka eie
MS-malandrar 2sg
‘Quando ele andou até lá, a mulher dele disse: você malandreia’
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 793

(10) (CHATELAIN, 1888/89, p. 116)


Tunde mu Luanda katé mu Ndongo ji-lekua.
Desde LOC Luanda até LOC Ndongo CL-léguas
‘De Luanda até o Ndongo são léguas’

– Conjunção “mas” do português como maji no quimbundo:

(11) Corpus do quimbundo do Libolo [GILHH1]


bit-el-a kuno tu-ban-e maji ku-be kibalo
chegar-?-VF aqui 3pl-dar-VF mas NEG-dar contribuição
Chega aqui, damos, mas não dás contributo.

(12) (MAIA, 1951, p. 114)


É, iene muê, o-kuendje; maji ke mbalão mokonda
é isso mesmo PPF-rapaz mas NEG balão porque
íí lo motor pala u-ana lo mapapa pala
COP COM motor para MS-puxar COM asas para
ukatuka ku elu.
ficar LOC céu
‘É isso mesmo, rapaz; mas não é balão porque tem motor para o puxar e asas
para se conservar no ar’

– Conjunção “se” do português como se no quimbundo:

(13) Corpus do quimbundo do Libolo [LUAMAR]


eie u-a-il-e ni o mu-ana mu xicola se
2ps MS-TAM-ir-VF COM PPF cl-criança LOC escola se
ue-kala o mu-an-a mu xicola
2ps-COP PPF cl-criança LOC escola
‘Você foi com o filho à escola, se estava o filho na escola.’
794 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

(14) (CHATELAIN, 1988/89, p. 49)


Se ua-le-valel-e, uo-jofuta
se MS-TAM-dever-VF MS-pagar
‘Se ele devesse, havia de pagar’

Além dos empréstimos de preposições e conjunções, já se


verificam empréstimos de nomes como ji-lékua (léguas) em (10), mbalão
(balão) e motor em (12) e xicola (escola) em (13).
Todos esses exemplos que caracterizam o quimbundo e o
português do Libolo como línguas em contato devem ser considerados
na construção dos corpora bilíngues das línguas. Deve ter ficado patente
nos exemplos discutidos que a perspectiva enfatizada neste trabalho recai
mais sobre a língua africana, considerando-se que em grande parte dos
debates teóricos sobre a relação entre o quimbundo e o português enfatiza-
se as influências da(s) língua(s) banta(s) no português (MINGAS,
2000; MIGUEL, 2019) subjacente até mesmo na própria hipótese de
um continuum afro-brasileiro de português (LÓPEZ; GONÇALVES;
AVELAR, 2018; PETTER, 2008).
Com a organização dos corpora bilíngues pretendidos e propostos
neste trabalho, espera-se que se tenha um entendimento maior sobre a
influência do português sobre o quimbundo ao se analisar a produtividade
dos empréstimos pala, katé, maji e se, dentre outros. Casos como esses
indicam que o histórico de contato entre o quimbundo e o português
favorecem uma situação de convergência, nos termos de Myers-Scotton
(2002). No entanto, tais elucubrações só serão de fato constatadas com o
exame em corpora escritos e de fala quimbundo-português-quimbundo,
como demonstrado rapidamente nos exemplos (7) a (14).
Retomo, assim, algumas considerações das subseções 5.1 e 5.2 no
que diz respeito à complementaridade entre esses diferentes corpora. O
quimbundo, como já apresentado em 3.1, goza de uma relativa tradição
descritiva que pode contribuir com a constituição de trabalhos históricos,
filológicos ou diacrônicos (BONVINI, 2009; ROSA, 2013) sobre a
língua e sua relação com o português, no Brasil e em Angola. Reafirmo,
portanto, a importância de se levar a cabo a inserção mais que oportuna
dos documentos escritos do quimbundo no CTB, como também a
necessidade de que os pesquisadores do Projeto Libolo levem a descrição
do quimbundo mais seriamente, não apenas para fins comparativos ou
contrastivos com variedades do português, mas para uma descrição da
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 795

realidade sociolinguística do Libolo condizente com um contexto de


multilinguismo, conforme observada na área de transição etnolinguística
encontrada na região do Libolo.
Um outro detalhe que deve ser mencionado na construção dos
corpora bilíngues é justamente a realidade sociolinguística do Libolo,
que poderá trazer mais surpresas. Por ser área de transição etnolinguística
entre as zonas H e R (ANGENOT; MFUWA; RIBEIRO, 2011), pode
decorrer disso a possibilidade de fenômenos de contato não apenas entre
o português e o quimbundo, mas do grupo quimbundo (H20) com o grupo
umbundo (R10), o que poderá acarretar dados bilíngues quimbundo-
umbundo ou mesmo trilíngues quimbundo-umbundo-português. Tal
constatação é exemplificada no caso de codeswitching quimbundo-
umbundo em (15):

(15) Codeswitching quimbundo-umbundo [LUAMAR]


D - A senhora fala quimbundo? o kimbundu zuela?
quimbundo...
fala...?
A - wa eye eye eye o limi lia o kimbu.ndu mwene?
MS 2ps 2ps 2ps PPF língua de PPF quimbundo mesmo
‘Você, você, você, (fala) a língua do quimbundo mesmo?’

No trecho da entrevista acima, o documentador D pergunta em


português, logo depois tenta repetir a pergunta em quimbundo. Já o
intérprete A pergunta para a informante, inicia a pergunta em quimbundo
e produz um codeswitching com o umbundo. No processo de transcrições
das entrevistas, principalmente das comunas mais distantes do centro do
município, Calulo, como as do Quissongo, esse tipo de codeswitching
entre quimbundo e umbundo é esperado por ser aquela região uma zona
de transição etnolinguística. Veja-se ainda que um dos entrevistados na
Tabela 01 tinha como língua materna o umbundo.

6 Conclusão
Trazendo para a discussão a relação mais do que necessária
entre a Linguística Africana (PETTER, 2015) e a Linguística de Corpus
(SARDINHA, 2004) como áreas disciplinares independentes e que
podem ser mais relacionadas, este artigo tomou como foco o caso da
796 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

produção de corpora bilíngues quimbundo-português-quimbundo em


suas modalidades escrita e de fala para apresentar e exemplificar as
possibilidades de explorar a situação de contato existente no caso da
língua banta em sua história com o português.
Com uma breve apresentação dos corpora existentes de línguas
africanas e a carência de mais corpora bilíngues dessas línguas (subseções
em 2), o quimbundo e o português de Angola foram discutidos em 3,
desde os documentos históricos sobre a língua africana deste estudo (em
3.1) aos estudos atuais dedicados às duas línguas (em 3.2). As pesquisas
sobre as relações de contato entre o quimbundo e o português tiveram
um impulso nas últimas 3 a 4 décadas com pesquisas acadêmicas sobre
a língua banta, mas principalmente pela atenção de projetos de cunho
internacional, como o Projeto Temático “O Português no Tempo e no
Espaço” e o Projeto Libolo”. A metodologia foi apresentada da forma
como era seguida inicialmente pelos pesquisadores do Projeto Libolo
no tratamento dos dados das variedades linguísticas do quimbundo e do
português presentes no Libolo, interior de Angola (Kwanza Sul). Através
desses dois projetos, foram apresentadas propostas de construção de
corpus escrito (em 5.1) para o quimbundo e o português, sugerindo-se a
plataforma multilíngue do Corpus Tycho Brahe (CTB) com o uso de suas
ferramentas de tratamento de documentos históricos. Já para a produção
de um corpus de fala (em 5.2) foram discutidos algumas problemáticos
sobre o tratamento de dados bilíngues em corpora. Por fim, em 5.3
foram discutidas questões relativas ao tratamento de ocorrências de
codeswitching e empréstimos nesses a partir de exemplos retirados do
corpus do Projeto Libolo. Em 5.4 foram apresentados dados de como a
correlação entre os corpora escrito e de fala podem corroborar a integração
de empréstimos do português no quimbundo, já que as pesquisas sobre
a integração de empréstimos do quimbundo no português recebem uma
maior atenção dos pesquisadores (MIGUEL, 2019).
Espera-se que este artigo descortine iniciativas antevistas
nas seções anteriores, assim como o estímulo de pesquisas sobre o
contato linguístico entre o português e o quimbundo para tornar mais
empiricamente informados os estudos sobre as chamadas influências das
línguas bantas nas variedades de português do Brasil e de Angola, assim
como a hipótese de um continuum afro-brasileiro de português (LÓPEZ;
GONÇALVES; AVELAR, 2018; PETTER, 2008).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 797

Agradecimentos
Agradeço a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo
(FAPESP) pela bolsa de pós-doutorado (Processo 13/20567-5), que
financiou parte dos resultados de pesquisa deste artigo decorrentes do
projeto “O português e o quimbundo (H20) do Libolo, Kwanza Sul,
Angola – avaliando modelos teórico de línguas em contato” vinculado ao
Projeto Temático “A Língua Portuguesa no Tempo e no Espaço: contato
linguístico, gramáticas em competição e mudança paramétrica” (Processo
12/06078-9). Agradeço ainda a um parecerista anônimo por suas
sugestões e observações que muito contribuíram para uma apresentação
da temática deste artigo mais acessível. Os problemas remanescentes são
de minha total responsabilidade.

Referências
ADAMOU, E. A Corpus-Driven Approach to Language Contact:
Endangered Languages in a Comparative Perspective. Berlim: de Gruyter,
2016. DOI: https://doi.org/10.1515/9781614516576
ALLWOOD, J.; HENDRIKSE, A. Spoken Language Corpora for the
Nine Official African Languages of South Africa. Southern African
Linguistics and Applied Language Studies, [S.l.], v. 21, n. 4, p. 189-201,
2003. DOI: https://doi.org/10.2989/16073610309486343
ANGENOT, J.-P.; ANGENOT, G. de L.; HUTA-MUKANA, D. M.
Comparision between the Ipala-Ngoya, Kimbundu and Umbundu Tone-
Cases Systems. Revista Língua Viva, Porto Velho, RO, v. 3, n. 1, p. 1-28,
2013.
ANGENOT, J.-P.; KEMPF, C. B.; KUKANDA, V. Arte da Lingua de
Angola de Pedro Dias (1697) sob o prisma da dialetologia Kimbundu.
Papia, São Paulo, v. 21, n. 2, p. 231-252, 2011.
ANGENOT, J.-P.; MFUWA, N.; RIBEIRO, M. A. As classes nominais do
kibala-ngoya, um falar bantu de Angola não documentado, na intersecção
dos grupos kimbundu [H20] e umbundo [R10]. Papia, São Paulo, v. 21,
n. 2, p. 253-266, 2011.
ARAÚJO, P. J. P.; PETTER, M. O português e o quimbundo do Libolo
(Angola): línguas em contato (Manuscrito).
798 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

ARAÚJO, P. J. P.; PETTER, M.; JOSÉ, J. A. Variedades de português


angolano e línguas bantas em contato. In: OLIVEIRA, M. S. D. de;
ARAÚJO, G. A. de (org.). O português na África Atlântica: Angola,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. São Paulo: Humanitas,
2018. p. 17-46.
ARSÉRNIO, M. J.; SEBASTIÃO, J. J. C.; ADÃO, A. Manual de
Alfabetização em Kimbundu. Luanda: África Internacional, 2012.
ASSIS JR., A. Dicionário Kimbundu-Português. Luanda: Argente, Santos
e Comp., [s./d.].
BAIÃO, D. V. Quimbundo sem mestre: gramática popular da língua
Kimbundu conforme é falada nos distritos de Luanda e Malange/O
Kimbundu prático ou guia de conversação em Português-Kimbundu.
Porto: Imprensa Moderna, 1946.
BARRIÈRE, C. Natural Language Understanding in a Semantic Web
Context. Cham, Switzerland: Springer, 2016. DOI: 10.1007/978-3-
319-41337-2
BATALHA, L. A Lingua de Angola. Lisboa: Companhia Nacional
Editora, 1891.
BONVINI, E. Revisiter, trois siècles après, Arte da língua de Angola de
Pedro Dias S. I. (1697), première grammaire du kimbundu. In: PETTER,
M.; BELINE, R. (org.). Proceedings of the Special World Congress of
African Linguistics, São Paulo, 2008: Exploring the African Language
Conection in the Americas. São Paulo: Humanitas, 2009. p. 15-45.
CANNECATTIM, B. M. de. Diccionario da língua bunda, ou angolense
explicada na portuguesa, e latina. Lisboa: Impressão Régia, 1804.
CANNECATTIM, B. M. de. Collecção de observações grammaticaes
sobre a língua bunda, ou angolense. Lisboa: Impressão Régia, 1805.
CHATELAIN, H.. Folk tales of Angola/Contos populares de Angola.
Nova York/Lisboa: The American Folk-Lore Society/Agênia Geral do
Ultramar, 1894/1964.
CHATELAIN, H. Grammatica elementar do kimbundu ou língua de
Angola/Kimbundu grammar. Genève: Type de Charles Schuchardt,
1888/1889.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 799

DEUCHAR, M.; DAVIES, P.; HERRING, J. R.; PARAFITA COUTO,


C.; CARTER, D. Building Bilingual Corpora. In: THOMAS, E.
M.; MENNEN, I. (org.). Advances in the Study of Bilingualism.
Bristol: Multilingual Matters, 2014. p. 93-110. DOI: https://doi.
org/10.21832/9781783091713-008
DIAS, P. Arte da língua de Angola, oferecida a Virgem Senhora N. do
Rosario, Mãy, e Senhora dos mesmos Pretos, pelo P. Dias da Companhia
de Jesu. Lisboa: Officina de Miguel Deslandes, 1697. Edição fac-similar
da Fundação Biblioteca Nacional. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca
Nacional, 2006.
ESIJAME, A.; GUT, U.; ANTIA, B. (org.). Corpus Linguistics and
African Englishes. Amsterdam: John Benjamins, 2019. DOI: https://doi.
org/10.1075/scl.88
FERNANDES, G. Primeiras descrições das línguas africanas em língua
portuguesa. Confluência: Revista do Instituto de Língua Portuguesa,
Rio de Janeiro, n. 49, p. 43-67, 2015. DOI: https://doi.org/10.18364/
rc.v1i49.88
FIGUEIREDO, C. F. G. Aspectos histórico-culturais e sociolinguísticos do
Libolo: aproximações com o Brasil. In: OLIVEIRA, M. S. D. de ARAÚJO,
G. A. de. (org.). O português na África Atlântica: Angola, Cabo Verde,
Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. São Paulo: Humanitas, 2018. p. 47-97.
FIGUEIREDO, C. F. G. Retratos do Libolo. Lisboa: Chiado Editora,
2016. v. 2.
FIGUEIREDO, C. F. G.; NEGRÃO, E. V.; OLIVEIRA, M. S. D.;
PETTER, M. Autorização de recolha e de apresentação de dados e
imagens. In: FIGUEIREDO, C. F. G.; OLIVEIRA, M. S. D. de. (org.).
Linguística, História, Antropologia e Ensino no Kwanza Sul, Angola.
Lisboa: Chiado Editora, 2016. p. 21-22.
FIGUEIREDO, C. F. G.; OLIVEIRA, M. S. D. de. (org.). Linguística,
História, Antropologia e Ensino no Kwanza Sul, Angola. Lisboa: Chiado
Editora, 2016. v. 1.
FIGUEIREDO, C.; OLIVEIRA, M. S. D. de. Português do Libolo,
Angola, e português afro-indígena de Jurussaca, Brasil: cotejando os
sistemas de pronominalização. Papia, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 105-185,
2013.
800 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

GALVES, C. O corpus Tycho Brahe: um corpus sintaticamente anotado


do português histórico. Revista Binacional Brasil Argentina: Diálogo
entre as Ciências, Vitória da Conquista, BA, v. 8, p. 181-204, 2019. DOI:
https://doi.org/10.22481/rbba.v8i1.5585
GALVES, C. The Tycho Brahe Corpus of Historical Portuguese:
Methodology and Results. Linguistic Variation, Amsterdam; Philadelphia,
v. 18, n. 1, p. 49-73, 2018. DOI: https://doi.org/10.1075/lv.00004.gal
GALVES, C.; SANDALO, F.; SENA, T.; VERONESI, L. Annotating
a Polysynthetic Language: From Portuguese do Kadiwéu. Cadernos
de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 59, n. 3, p. 361-648, 2017. DOI:
https://doi.org/10.20396/cel.v59i3.8651003
GREENBERG, J. The Languages of Africa. Bloomington: Mouton de
Gruyter, 1963.
GÜLDEMANN, T. (org.). The Languages and Linguistics of Africa.
Berlim: de Gruyter, 2018. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110421668
HAMMARSTRÖM, H. An Inventory of Bantu Languages. In: VELDE,
M. van de; BOSTOEN, K.; NURSE, D.; PHILIPSON, G. (org.). The
Bantu Languages. Londres: Routledge, 2019. p. 17-78. DOI: https://doi.
org/10.4324/9781315755946-2
HUTH, K. Untersuchungen zum nominalklassensystem des kimbundu
(vr Angola) unter Berücksishtigung der entwicklungstendenzen siener
urbanen varianten. 1984. 169 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Karl-
Marx-Universität, Leipzig, 1984.
LÓPEZ, L. Á.; GONÇALVES, P.; AVELAR, J. O. de. (org.). The
Portuguese Continuum in Africa and Brazil. Amsterdam: John Benjamins,
2018.
LUCCHESI, D.; BAXTER, A.; RIBEIRO, I. (org.). O português
afro-brasileiro. Salvador: Edufba, 2009. DOI: https://doi.
org/10.7476/9788523208752
MAIA, A. da S. Dicionário Complementar Português-Kimbundu-
Kikongo (Linguas Nativas do Centro e Norte de Angola). Luanda:
Cooperação Portuguesa, 1961.
MAIA, A. da S. Lições de gramática de quimbundo: português e banto
(Dialecto Omumbuim). Cucujães: Escola Tipográfica das Missões, 1957.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 801

MAIA, A. da S. Guia prático para a aprendizagem das línguas Portuguesa


e Omumbuim (Língua indígena de Gabela-Amboim-Quanza-Sul-Angola)
- Dialecto do Kimbundo. Cucujães: Escola Tipográfica das Missões,
1951.
MATTA, J. D. C. da. Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez.
Lisboa: Casa Editora António Maria Pereira, 1893.
MIGUEL, A. J. Integração morfológica e fonológica de empréstimos
lexicais bantos no Português Oral de Luanda. 2019. 401f. Tese
(Doutorado em Linguística) - Universidade de Lisboa, 2019.
MINGAS, A. A. Interferência do Kimbundu no português falado em
Luanda. Lisboa: Campo das Letras, 2000.
MYERS-SCOTTON, C. Language Contact: Bilingual Encounters and
Grammatical Outcomes. Oxford: Oxford University Press, 2002.
NURSE, D.; PHILIPSON, G. (org). The Bantu Languages. Londres:
Routledge, 2003.
OLIVEIRA, M. S. D. de; ARAÚJO, G. A. de (org.). O português na África
Atlântica: Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe. São
Paulo: Humanitas, 2018.
OLIVEIRA, M. S. D. de; ZANOLI, M. de L.; ANDRADE, G. M.
Marcadores discursivos no português falado em Angola, subvariedade
Libolo: um estudo inicial de base prosódico-pragmática. Filologia e
Linguística Portuguesa, São Paulo, v. 20, n. Especial, p. 159-186, 2018.
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-9419.v20iEspecialp159-186
PACCONIO, F. Gentio de Angola sufficientemente instruido nos
mysterios de nossa sancta Fé. Lisboa: Lopes Rosa, 1642.
PAIXÃO DE SOUZA, M. C.; KEPLER, F. N.; FARIA, P. P. F. de.
E-Dictor: novas perspectivas na codificação e edição de corpora de textos
históricos. In: PINTO, M. V.; SHEPERD, T.; SARDINHA, T. B. (org.).
Caminhos da Linguística de Corpus. Campinas: Mercado de Letras,
2012. p. 191-224.
PEDRO, J. D. Étude grammaticale du kimbundu (Angola). 1993. 380 f.
Tese (Doutorado em Linguística) – Universidade René Descartes, Paris,
1993.
802 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021

PETTER, M. A classificação das línguas africanas. In: PETTER, M.


(org.). Introdução à Linguística Africana. São Paulo: Contexto, 2015.
p. 49-86.
PETTER, M. Variedades lingüísticas em contato: português angolano,
português brasileiro e português moçambicano. 2008. 212 f. Tese (Livre-
Docência) - Universidade de São Paulo, 2008.
PETTER, M.; ARAÚJO, P. J. Linguística Africana: passado e presente.
In: PETTER, M. (org.). Introdução à Linguística Africana. São Paulo:
Contexto, 2015. p. 27-48.
QUINTÃO, J. L. Gramática de Kimbundu. Luanda: Edições
Descobrimentos, 1934.
ROCHA, B.; MELLO, H.; RASO, T. Para a compilação do C-ORAL-
ANGOLA: um corpus de fala espontânea informal do português
angolano. Filologia e Linguística Portuguesa, São Paulo, v. 20, n.
Especial, p. 139-157, 2018. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2176-
9419.v20iEspecialp139-157
ROSA, M. C. Uma Língua Africana no Brasil Colônia de Seiscentos:
o quimbundo ou língua de Angola na Arte de Pedro Dias. S. J. Rio de
Janeiro: Faperj; 7 Letras, 2013.
ROUX, J. C.; NDINGA-KOUMBA-BINZA, S. African Languages and
Human Language Technologies. In: WOLFF, E. (org.). The Cambridge
Handbook of African Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press,
2019. p. 623-649. DOI: https://doi.org/10.1017/9781108283991.022
SANTOS, E. F. dos. Sentenças marcadas para o foco no português
do Libolo: uma proposta de análise derivacional. 2015. 157f. Tese
(Doutorado em Filologia e Língua Portuguesa) - Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2015.
SARDINHA, T. B. Lingüística de Corpus. Barueri: Manole, 2004.
SOUSA, M. de F. L. de; KUKANDA, V.; SANTIAGO, J. L. A posição
lexical do Songo dentro do grupo H20 (Kimbundu strictu sensu, Sama,
Bolo, Songo). Papia, São Paulo, v. 21, n. 2, p. 303-314, 2011.
VANSINA, J. Portuguese vs Kimbundu: Language Use in the Colony of
Angola (1575-c. 1845). Bulletin des Seances de l’ Academie des Sciences
d’Outre-Mer, Bruxela, Bélgica, v. 47, n. 3, p. 267-281, 2001.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 771-803, 2021 803

VELDE, M. van de; BOSTOEN, K.; NURSE, D.; PHILIPSON, G. (org).


The Bantu Languages. Londres: Routledge, 2019.
VIEIRA-MARTINEZ, C. E. Building Kimbundu: language community
reconsidered in West Africa, c. 1500-1750. 2006. 264 f. Dissertação
(Mestrado em História) - University of California, Los Angeles, 2006.
VOSSEN, R.; DIMMENDAAL, G. (org.). The Oxford Handbook of
African Languages. Oxford: Oxford University Press, 2020. DOI: https://
doi.org/10.1093/oxfordhb/9780199609895.001.0001
WEINREICH, U. Languages in Contact. Findings and Problems. Nova
York: Linguistic Circle of New York; De Gruyter, 1953.
WENDLING, V. Catecismo da Doutrina Cristã em Portuguez com uma
versão em Kimbundo, Dialeto do Libolo. Lisboa: Província Portuguesa
da Congregação do Espírito Santo, 1922. (Manuscrito.)
WOLFF, E. (org.). The Cambridge Handbook of African Linguistics.
Cambridge: Cambridge University Press, 2019. DOI: https://doi.
org/10.1017/9781108283991
XAVIER, F. da S. Fonologia Segmental e Supra-Segmental do Quimbundo
- Variedades de Luanda, Bengo, Quanza Norte e Malange. 2010. 158f.
Tese (Doutorado em Linguística) - Universidade de São Paulo, São Paulo,
2010.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

Brazilian Sign Language corpus: Acre Libras Inventory


Corpus da Língua Brasileira de Sinais: inventário de Libras do Acre

Ronice Müller de Quadros


Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis, Santa Catarina / Brasil
ronice.quadros@ufsc.br
http://orcid.org/0000-0002-5152-8716

Alexandre Melo de Sousa


Universidade Federal do Acre (UFAC), Rio Branco, Acre / Brasil
alexlinguista@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-2510-1786

Abstract: This paper draws on the theoretical methodological proposal of a Brazilian


Sign Language (Libras) corpus to be developed under the scope of the Brazilian
Sign Language (Libras) Inventory in the region of Rio Branco municipality, in the
State of Acre project. First, we address some issues regarding corpus definitions and
characteristics, some aspects of Libras, and documentation of sign languages. Second,
we address the methodology used in gathering, transcription and analysis of data from
Brazilian Sign Language Inventory focusing on the Region of Rio Branco – Acre,
shedding light on the contributions of the gathered data to identification, recognition,
valuing, and documentation of the Brazilian Sign Language in use in the State of Acre.
Keywords: Inventory; Brazilian Sign Language (Libras); Rio Branco; Acre.

Resumo: Este artigo se baseia na proposta teórico-metodológica de um corpus de Língua


Brasileira de Sinais (Libras) a ser desenvolvido no âmbito do projeto Inventário de Língua
Brasileira de Sinais na Região do município de Rio Branco, no estado do Acre. Em
primeiro lugar, abordamos algumas questões relativas às definições e às características
do corpus, alguns aspectos da Libras e documentação das línguas de sinais. Em segundo
lugar, abordamos a metodologia utilizada na coleta, transcrição e análise de dados do
Inventário Brasileiro de Língua de Sinais com foco na Região de Rio Branco – Acre,
destacando as contribuições dos dados coletados para identificação, reconhecimento,
valorização e documentação da Língua Brasileira de Sinais em uso no Estado do Acre.
Palavras-chave: Inventário; Língua Brasileira de Sinais (Libras); Rio Branco; Acre.

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.805-828
806 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

Submitted on September 8th, 2020


Accepted on December 21th, 2020

1 Introduction
The proposal of building an inventory of Brazilian Sign Language
in the region of Rio Branco in the State of Acre is integrated to the
National Brazilian Sign Language Inventory (INDLibras), established by
Universidade Federal de Santa Catarina, as part of the National Inventory
of Linguistic Diversity (INDL), implemented by the decree 7387/10,
as a tool for identification, recognition, valuing and promotion of the
languages spoken in Brazil. In this sense, INDL stands as an instrument
of the National Program of Immaterial Patrimony (IPHAN), which
aims at embracing the semiotic, sociocultural, political specificities of
the languages spoken in Brazil, in contrast to the cultural references
encompassed by IPHAN, namely the Registration and the National
Inventory of Cultural References (INRC) (IPHAN, 2016, p. 1). The
present paper follows the proposal of methodological description in
the compilation of the Brazilian Sign Language (Libras) Inventory as
observed in the works of Quadros (2016a) with regard to the inventory of
Florianópolis region (headquarters of the original project), and Ludwig
et al (2019), regarding the inventory of Palmas region – in the State of
Tocantins.
INDL, as a whole, might be defined as follows: a) a set of
information about the languages spoken in Brazil; b) a way to support
language knowledge and heritage; c) a policy catalyzing resources as
well as governmental and non-governmental actions in order to protect
those languages (IPHAN, 2016).
Once Libras is a national language, legally recognized by
means of Law 10.436/2002 and regulated by Decree 5.626/2005, the
development of a Libras Inventory leaves room for compilation of a
corpus with information about the language and mapping of its linguistic
aspects. Furthermore, once a consistent and broad inventory is created,
one is likely to provide a Libras dataset for linguistic investigation,
cultural valuing, educational feeding, and recognition of deaf identity.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 807

2 The concept of corpus


Corpus compilation has been a reliable resource in linguistic
research. One may define corpus from two main perspectives as follows:
a Linguistic perspective and a Corpus Linguistics perspective. In this
section, we will address such perspectives alongside the gathering of a
sign language corpus in particular.

2.1 Corpus in Linguistics


Galisson and Coste (1983), for example, define corpus as a finite
set of utterances comprising a type of language and taken as object of
description, analysis, and, sometimes, creation of an explanatory model of
such language. It might be comprised of oral documents (either recorded
or transcribed), written documents or in both formats (depending on the
nature of the research carried out) whose dimension is determined by the
objectives and/or the phenomena under investigation.. If all the utterances
are used, the corpus may be classified as exhaustive; however, if they
are partially used, the corpus might be regarded as selective.
In their turn, Dubois et al. (1993) define corpus as a set of
utterances that are the foundation for a descriptive grammar of a given
language, despite being a sample of it and, therefore, being a representative
of the structural characteristics of the language. The scholars claim that:
One might think that difficulties may arise if a corpus is exhaustive
[…]. Indeed, once the number of possible utterances might not
be defined, there seems to be no true exhaustivity and, besides
this, a significant amount of useless data may only make the
research complicated, making it heavy. Thus, the linguist should
aim at obtaining a truly significant corpus. The linguist must take
everything that may turn their corpus into a non-representative
one (i.e., research method chosen, anomaly constituting linguist
intrusion, prejudice against language) with a pinch of salt
(DUBOIS et al., 1993, p. 158-159).1

1
“Poder-se-ia pensar que as dificuldades serão levantadas se um corpus for exaustivo [...].
Na realidade, sendo indefinido o número de enunciados possíveis, não há exaustividade
verdadeira e, além disso, grandes quantidades de dados inúteis só podem complicar a
pesquisa, tornando-a pesada. O linguista deve, pois, procurar obter um corpus realmente
significativo. Enfim, o linguista deve desconfiar de tudo o que pode tornar o seu corpus
não-representativo (método de pesquisa escolhido, anomalia que constitui a intrusão de
linguista, preconceito sobre a língua)” (DUBOIS et al., 1993, p. 158-159).
808 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

Fromm (2003) concludes that a corpus, from a Linguistic


perspective, constitutes a set of texts, either from similar or different
areas, which has a specific investigative objective. Nevertheless, this
group of texts differs from “a collection (of excerpts from literature
works) or from an anthology (a collection of texts of renowned authors),
which puts together works or scattered parts of works with didactic or
purely commercial purposes” (FROMM, 2013, p. 1).

2.2 Corpus in corpus linguistics


Corpus Linguistics is the area in Linguistics focused on corpora
studies and compilation. In Berber Sardinha’s (2004) words, this field of
research is responsible for gathering and exploring corpora (or sets of
textual linguistic data accurately collected) for research in language
variation That is to say, “it focuses on exploration of language by means
of empirical evidence extracted by computer” (BERBER SARDINHA,
2004, p. 3).
In a previous work, Baker (1995, p. 229) addresses some criteria
related to the inner workings of a corpus, as follows:
Corpora are generally designed on the basis of a number of
selection criteria, the most important of which are: (i) general
language vs. restricted domain (ii) written vs. spoken language
(iii) synchronic vs. diachronic (iv) typicality in terms of range of
sources (writers/speakers) and genres (e.g., newspaper editorials,
radio interviews, fiction, journal articles, court hearings) (v)
geographical limits, e.g., British vs. American English (vi)
monolingual vs. bilingual or multilingual.

From a Corpus Linguistics perspective, Sinclair (2005) defines


corpus as follows:
[corpus] is a collection of pieces of language text in electronic
form, selected according to external criteria to represent, as far as
possible, a language or language variation as a source of data for
linguistic research (SINCLAIR, 2005, p. 16).

Therefore, a corpus is a set of authentic computer-readable


linguistic data that are representative of a given language (or language
variation), accurately gathered (BERBER SARDINHA, 2004; TAGNIN;
TEIXEIRA, 2004).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 809

McEnery and Wilson (1996) explain that the notion of corpus is


comprised of four main pillars as shown in Chart 1:
CHART 1 – Characteristics of a corpus

Characteristic Description
A corpus must be comprised of sufficient sampling of a language
Sampling and
or language variation to be analyzed in order to obtain maximum
representativeness
representativity of such language or language variation .
A corpus must have a finite length, e.g., 500,000 words, 1 million
Finite size
words, 10 million words – except for corpus-monitor 1.
A corpus must be comprised of digital texts, which offer the
Machine-readable following benefits: i) the corpora could be researched and
form manipulated quickly; ii) the corpora could be easily fueled with
additional information.
A corpus constitutes a standard reference for the variation of
Standard reference language that it represents and it must be available for other
researchers’(re)use.

Source: The authors – based on McEnery and Wilson (1996).

With regard to the first characteristic pointed out by McEnery


and Wilson (1996) – sampling and representativeness – Sinclair (2005)
highlights the importance of making choices that lead to the corpus
mirroring the linguistic behavior of the community whose language is
analyzed.
When it comes to the second characteristic – finite size – Kennedy
(1998) considers that the corpus length might take into account not only
tokens amount, but also the quantity and diversity of categories to be
analyzed, according to the type of research carried out.
Regarding machine-readable form (MCENERY; WILSON;
1996), the analysis of digital corpus leaves room for accurate remarks,
providing reliable and objective information about linguistic facts.
With regard to the last characteristic, it is worth noting that the
fact that the corpus compiled should be available for future studies (and
the fact that the corpus may be a standard reference in the language or
in its variation ) is one of the main characteristics of a corpus from the
Corpus Linguistic perspective – which relies on storage and exploration
of data through computer tools.
810 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

2.3 A corpus of Sign Language


According to Berber Sardinha (2004, p. 20), when it comes to
typologies, oral (transcribed) and written corpora, one may ask whether
it is possible to compile a corpus when there is a visual-spatial language
(such as Libras, American Sign Language (ASL), Portuguese Sign
Language (LGP) and so forth) at stake.
In a study on the procedures underlying the compilation of
a linguistic Libras corpus, Veras (2014) points out that the corpus
investigation network in a given language is still comprised of written
language data – which might pose a constraint to an analysis of a visual-
spatial language the way it really is: a complex production of gestures,
prosody, intonation, eye gaze, expressions, reference, body movements,
among other elements that might not arise in written texts. The sign
language material available is mostly shown in video. It is this format
that leaves room for a more accurate analysis of linguistic phenomena
in Libras, for instance.
Quadros (2019) points out the importance of compilation and
availability of sign language corpora, taking into account a number of
factors such as documentation, linguistic valuing, mapping of different
language varieties, preservation of records, as well as availability of data
for investigation of various linguistic phenomena. The author also sheds
light on sign language corpora from a number of countries:

a) Libras Corpus (www.corpuslibras.ufsc.br);


b) Australian Sign Language (AUSLAN) Corpus (http://www.auslan.
org.au/about/corpus);
c) British Sign Language (BSL) Corpus (http://www.bslcorpusproject.
org/);
d) German Sign Language (DGS) Corpus (http://www.sign-lang.uni.
hamgurg.de/dgs-korpus/index.php/welcome.html);
e) Dutch Sign Language (DSL) Corpus (http://www.ru.nl/
corpusngtuk/);
f) Polish Sign Language (PSL) Corpus (http://www.plm.uw.edu.pl/
en/node/241);
g) Japanese Sign Language (JSL) Corpus (http://research.nii.ac.jp/
jsl-corpus/public/en/index.html).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 811

By means of a corpus, be it in oral or sign languages, one may


investigate phonetic-phonological, morphological, syntactic, semantic,
textual-discursive aspects that could be relevant to linguistic research.
When it comes to the constitution of a sign language corpus in particular,
video platforms have turned out to be a reliable environment for the
creation of a linguistic corpus. In particular, such platforms provide
linguistic variation within the geographic scope of the data.
The proposal of a Libras National Inventory, as a way of compiling
linguistic data from deaf individuals’ (male and female) productions, from
different age gaps, under a strict methodological process, leaves room
for reference language sampling as proposed by the corpora compilation
guidelines (LEITE; QUADROS, 2014; QUADROS, 2016a; QUADROS
et al., 2018, 2020, in press). It is worth noting that systematization of
sign language documentation procedures, i.e., gathering, registration,
storage, and recovery of data and metadata of sign languages worldwide
has gained much attention in the literature over the last years, as discussed
by Crasborn, van der Kooij and Mesch (2004); Efthimiou and Fotinea
(2007); Hanke (2000); Leeson, Saeed and Byrne-Dunne (2006); Schembri
(2008); and Chen Pichler et al. (2010), among others.

3 Libras and the Libras National Inventory


In the academic area, one may note that research on sign
language has been developed only recently in comparison to studies
on oral languages. The study of sign languages as natural languages
itself had been questioned up to the 1960s so that constraints were
posed to the development of Linguistics as a science and the Brazilian
deaf community would meet up with challenges in terms of social and
educational development.
In light of William Stokoe’s (2005) seminal work, the 1960s stand
as a reference for sign languages studies. In such work, the American
linguist sheds light on the possibility of describing and analyzing sign
languages, such as the ASL, based on the same theoretical methodological
procedures adopted in the description and analysis of oral languages.
In such a unique way, Stokoe showed that sign languages, similarly to
oral languages, would also have the particularity of articulation, once
the signs are formed by a limited number of minimal components that
rearticulate to produce a limited number of signals, configuring a highly
productive and saving set of contrasts.
812 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

From Stokoe’s theory to current date, sign language studies has


developed significantly, encompassing research that has heavily contributed
to linguistic science in two ways: on the one hand, by demonstrating that
specificities underlying natural languages are similarly present in sign
languages – which have been progressively analyzed at their different
levels of study (phonetic and prosodic, phonological, morphological
and lexical, syntactic, semantic and pragmatic); on the other hand, by
emphasizing similarities and differences in the way sign languages and oral
languages are structured at various levels of analysis in order to contribute
to a deeper debate over the linguistic theory and its applicability in society.
Unarguably, the academic and social demands for expertise in
Brazilian Sign Language is high, notwithstanding the timid steps taken
in such field of research. In a broad context, one may note, in Brazil, the
same difficulty pervades the area of sign language studies in a global
scale: there seems to be ample variation and uncertainty in the criteria
regarding registration, documentation, analysis and display of linguistic
data of sign languages for the academy (MILLER, 2001). In light of such
circumstances, little room seems to be left for a rich empirical debate over
the various linguistic aspects of sign languages as well as over the use
of such knowledge in a number of applied domains, namely education
of deaf community, Libras teaching as L1 and L2, Libras interpreter
training, translation of literary works into Libras and so forth (see some
developments in Portal de Libras).
However, regulamentation of gathering systems, documentation
and recovery of data and metadata of sign languages have achieved higher
importance worldwide over the last decade (cf. CHEN PICHLER et al.,
2010; CRASBORN; VAN DER KOOIJ; MESCH, 2004 EFTHIMIOU;
FOTINEA, 2007; HANKE, 2000; LEESON; SAEED; BYRNE-DUNNE,
2006;; SCHEMBRI, 2008). In that sense, Libras could not be in a different
position. Thus, the development of Libras corpora and systematization
of its creation process may contribute, in various forms, to consolidation
of theory and practice with regard to sign language in the country.
Research on Libras started in late 1980s, with the seminal works
of Ferreira-Brito (1984, 1990, 1995), Quadros (1995, 1999), and Karnopp
(1994, 1999) among others (QUADROS, 2013, 2018). Other studies
have been developed based on the possibility of observing Libras from
different perspectives, ranging from its phonetic-phonological basis to the
multiple perspectives related to discourse and, therefore, its relationship
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 813

with culture. With respect to the relationship between language and


culture, Chacon et al. (2014, p. 2) claim that:
[...] both languages and cultures are means and raw material for
symbolic and identity frameworks of a given social group and
its relationships with other groups; both are transmitted through
learning and they are recognized as structured systems of symbols
and norms. Language is the vehicle for culture dissemination, and
it is also one of constituting elements of several aspects of culture;
and vice-versa.2

Such intrinsic connections between language and culture, that


subside actions to enhance and value linguistic policies, might leave room
for recognition of linguistic diversity, linguistic variation (observed in
all levels of the system as well as outside it), and recognition of every
Brazilian language (including minority groups) as cultural reference, and,
therefore, as immaterial patrimony – as stated in the National inventory
of Linguistic Diversity (INDL) (QUADROS et al., 2018, p. 11).
According to Chacon et al. (2014), Decree 7.387/2010
implemented INDL, which aimed at “establishing an instrument for
identification, documentation, recognition and valuing of languages
standing as referent for identity, action and memory of the different groups
comprising the Brazilian society.” Thus, INDL provides mapping and
linguistic diversity patrimony policy, protecting the languages of specific
linguistic communities in Brazil. In such case, the languages of Brazilian
deaf communities are included, based on the viewpoint presented by
Chacon et al. (2014, p. 4):
[...] language serves to mark positions and social identities
of collectivities and individuals, creating a symbolic and
communicative fabric of a community; on the one hand, social
practices create the various contexts of language use, marking both
its symbolic and structural evolution and social norms and values.3

2
“[...] tanto as línguas como as culturas são meios e a matéria para os referenciais
simbólicos e identitários de um grupo social e suas relações com outros grupos;
ambas são transmitidas através da aprendizagem, e são reconhecidas como sistemas
estruturados de símbolos e normas. Língua é veículo para a transmissão da cultura e é
também um dos elementos constituintes de vários aspectos da cultura; e vice-versa.”
3
“[...] a língua serve para demarcar posições e identidades sociais de coletividades e
indivíduos, criando o tecido simbólico e comunicativo de uma comunidade; por um
814 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

This way, although linguistic studies focusing on Libras have


expanded over recent years, they still lack greater empirical foundation,
mainly when it comes to recording and manipulation of data (QUADROS
et al., 2018, p. 12). The initiative to compile a Libras corpus – comprised
of the National Inventory of Brazilian Sign Language at Universidade
Federal de Santa Catarina – has contributed significantly to fostering
research on sign language and deafness in Brazil as well as to providing
theoretical and empirical framework to Libras didactic material
production and recording of life experiences from the Brazilian deaf
community (LEITE; QUADROS, 2014, QUADROS, 2016a, QUADROS
et al., 2018, 2020, in press).
Such National Inventory has been applied to other states, entitled
Inventário de Libras de Alagoas, Inventário de Libras do Ceará e
Inventário de Libras do Tocantins (Ludwig et al, 2019) as the main
reference for collection, recording and analyses (QUADROS et al., in
press).

4 Brazilian Sign Language Inventory in Rio Branco - Acre


The Brazilian Sign Language Inventory in the Region of Rio
Branco, Acre aims at constituting a Libras corpus that is representative of
the State of Acre as well as at enhancing social, intellectual and cultural
reflection by deaf audience in the State of Acre by means of individuals’
engagement alongside valuing of deaf language and culture. In addition
to such main goal, the Inventory also aims at providing both a large
empirical corpus of Libras – relying on theoretical and methodological
bases as well as at representing a Libras Corpus from the region of
Rio Branco, in the State of Acre – and open access to researchers and
professionals who are involved with deaf community and would use it
for theoretical and applied linguistics.
Furthermore, the inventory aims at providing guidelines for
the constitution of a corpus of Libras for future research, mainly
when it comes to recording, documentation and recovery of data for
linguistic analysis purposes. It is important that the current technological

lado, as práticas sociais criam os contextos diversos de usos de uma língua, marcando
a sua evolução tanto estrutural e simbólica, quanto com relação a normas e valores da
sociedade.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 815

possibilities be spread in the academic area in order to provide a consistent


empirical basis for studies on Libras as well as develop linguistic,
historical and cultural records of the lifestyle of the deaf community,
leading to their inclusion in Brazilian society. Also, by following a
consistent methodological approach over the whole country, the National
Libras Inventory brings comparable data to allow identification of Libras
variation. The methodological proposal described in the Inventory of the
Region of Rio Branco – in the State of Acre is in accordance with the
original Project (QUADROS, 2016a), which has also been adopted in the
inventory of the region of Palmas – in the State of Tocantins (LUDWIG
et al, 2019).

4.1 The informants


One of the main criteria for composing sign language corpora
is the deaf participation in different stages of the process. A decisive
methodological issue for such participation is inviting deaf individuals
actively engaged in local deaf communities in their respective cities,
once it is known that signers might not use their vernacular Language
in the presence of unfamiliar interlocutors.
Nowadays, mainly due to deliberations from Decree 5,626, which
determines Libras instruction for teaching, special education, and speech
therapy4 undergraduate students, there is a considerable number of deaf
professors working as researchers at various state and federal universities
in Brazil. In light of such fact, those deaf researchers stand as ideal
contributors for the project, given the national dimension it might reach
in the future alongside the possibility of using university infrastructure
for data gathering. Indeed, one of the most significant contributions
of corpora of natural languages is their applicability in procedures in
language teaching and learning. In such matter, the professors at those
universities may either enhance their research skills or use the corpus in
their Libras classes for teaching purposes. In cities where there are no
deaf professors in their academic institutions, associations, federations, or
other institutions engaged in deaf community might stand as alternatives
with the help of local deaf representatives.

4
According to Decree 5,626, the course in Brazilian Sign Language – Libras is not
mandatory for other undergraduate courses.
816 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

This Libras Inventory, based in the city of Rio Branco, in the


Letras Libras undergraduate program (a Libras program) at the Federal
University of Acre (UFAC), employs the same methodological procedures
adopted in the National Inventory of Libras, taking into account the fact
that the original project may encompass the 27 capital cities of Brazil
(QUADROS et al., 2018, 2020, in press).
The reason for choosing Rio Branco for gathering, recording and
transcribing data is due to the fact that the UFAC Letras Libras course is
based in the capital of the state, Rio Branco, and it is an education center
with the highest number of deaf individuals fluent in sign languages.
The group of informants is comprised of 36 deaf individuals
from the city of Rio Branco, who participate, in pairs, in 18 interviews,
totaling around 40 hours of video (multiplied by 4 video perspectives
taken by 4 different cameras). Not only the selection of participants, but
also data collection itself are to be carried out by a local deaf researcher
– who is supposed to meet the following requirements: i) be from Rio
Branco or have had contact with the local deaf community for at least
10 years; ii) be an extrovert, preferably with academic experience in
undergraduate or graduate courses; iii) have experience in technologies
that are fundamental for the project objectives as well as have daily
access to a computer and the Internet.
The informants must meet the following requirements: i) be from
Acre or have lived in Acre for at least 10 years; ii) have learned Brazilian
Sign Language up to seven years old or with evident proficiency in the
community; iii) both individuals in the pair interviewed must be close
to each other (i.e., being friends or relatives) and, preferably, having the
same gender and being at the same age. It is worth noting that the local
researcher should choose pairs from all walks of life. In order to do so,
the following criteria may be taken into account: iv) the deaf individuals
selected might be from three different age groups, including individuals
aged up to 29 years, middle-aged individuals from 30 to 49 years, and
individuals over 50 years; v) the deaf individuals selected must be either
male or female; v) the deaf individuals selected may also have different
education backgrounds. Only those informants consenting with all the
use purposes of their image, without any restrictions, are to be selected
as stated in the Consent Form for Research Participation.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 817

Informants are to be selected for data collection from June 2021


on, in accordance with Ethics Committee’s approval (approved by CAAE
35002620.9.0000.5010).

4.2 Ethical issues


The establishment of a Libras Corpus, also in the State of Acre,
is a project that might only be carried out through active participation of
the deaf community. The study starts from conversation with associations
and other institutions from deaf community, aiming at clarifying the
objectives and relevance of the present work to deaf education in Brazil.
Furthermore, the coordination of the project shows clear interest in
understanding the preference of deaf community for certain text types
or issues to be documented as well as for the forms of methods for data
collection and for their expectations when it comes to the contribution
offered to the Brazilian deaf community.
As mentioned above, the participation of informants in this
project relies on their full consent alongside filling out the Consent Form
for Research Participation. The research goals are clearly stated in the
form and special focus is placed on the social and academic relevance
of research on Brazilian Sign Language and, consequently, enhancing
social inclusion of the deaf as well as making the informant understand
the implications of allowing the use of their images for research purposes,
teaching material and its availability on the Internet.
The general information will be collected through a sheet with
questions on their language, family and educational background. This
form is bilingual, presented in Portuguese and Libras, so that deaf
informants are fully informed about the importance and the implications
of their participation in the project in accordance with Resolution
510/2016 of the National Health Council.

4.3 Data collection


This item is based on Quadros (2016a, p. 162-167). The video
recordings occur in a studio prepared at the University of Acre, in the
Letras Libras department. The team in charge of data collection is
comprised of a volunteer researcher from the coordination team and a
technician. The volunteer researcher is responsible for conducting the
entire interview. In turn, the technician is in charge of assembling the
818 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

itinerant studio and of offering technical guidance over the recording


process and storage there.
The studio has four cameras in order to ensure that informants are
captured in different perspectives – which is important for an accurate
diagnosis of manual and non-manual articulators in conversational
circumstances (LEITE, 2008). Each informant has access to a laptop
providing the visual stimuli that are the basis for their production and
the researcher has a third laptop to manipulate the stimuli as well as to
record useful information in recording sessions.
Furthermore, there are lampposts and walls painted in different
shades of blue serving as background for the recordings in order to
provide optimal conditions for perspective visualization.
The four cameras are placed according to space settings that are
previously adjusted and tested. It is worth noting that such settings may
vary, as their disposal depends on the activity that is being recorded.
For instance, individual eliciting and free conversation require different
camera placements. In order to do so, a close-up on the informants’ faces
is necessary, as well as a take on the signaling of both informants, and
a take above them, which is done by means of a camera placed on the
ceiling of the studio, as shown in Figure 1.
FIGURE 1 – Camera takes

Sources: Quadros (2016a, p. 167); Quadros et al. (2018, p. 27).


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 819

Each interview with a pair of informants lasts, on average, two


hours and it is carried out by means of the following tasks:

i) ice-breaking task and interview about the informants’ personal


information to be carried out in 30 minutes: in a semi-structured
and partially-open interview, the researcher aims at eliciting,
from informants, personal information on a wide array of topics,
as follows: the story of their signal, their experience in Brazilian
Sign Language acquisition and participation in the local deaf
community; their contact with Portuguese and Libras with
regard to use and attitudes; remarkable experiences; personal and
professional goals;5
ii) the task involving eliciting of storytelling, to be performed in
20 to 30 minutes: the informant is supposed to tell three stories
(Pear Story, a Frog: where are you? and Canary Row, by Tweetye
Sylvester) previously used in the literature; for such reason, they
might be used in studies comparing oral languages and sign
languages.
iii) 20-minute rest intervals;
iv) eliciting tasks of both grammatical and lexical nature to be
performed within 30 minutes: informants receive stimuli adapted
from the German Sign Language corpus project (NISHIO et al.,
2010) that are intended to elicit grammar constructions alongside
lexical items in Brazilian Sign Language;
v) conversation within 20-30 minutes: each pair of informants is left
on their own in the studio and is encouraged do talk about any
random topic or about a current issue suggested by the researcher.

Finally, the interviews are carried out in a way that fosters the
recording of verbal expressions underlying informants’ culture based on
demonstration of words, of linguistic borrowing, as well as of utterances
illustrating elements concerning grammar, vernacular dialectal varieties
pervading the cultural background of each region and in a universal way.

5
This is the only free-access interview session made available on the corpus website.
The other interviews have limited access and are made available in case of previous
request and registration of external researchers.
820 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

In the case of the region of Rio Branco, in accordance with the


Ethics Committee’s approval (CAAE nº 35002620.9.0000.5010), the
data are to be collected from the second semester of 2021 on. It is worth
noting that the data collection procedures are similarly adopted by the
Palmas – TO Inventory compilation project (LUDWIG et al, 2019) as
well as the Maceió – AL Inventory compilation Project.

4.4 Data annotation


This item is based on Quadros (2016a, p. 168-169). The annotation
process is time-consuming and requires commitment – in sign language
studies in particular, as there is not a standard writing system fully
adapted to a computer. In light of such issue, as sign language research
projects have pointed out, it is estimated that one hour of annotation might
correspond to 1 minute of a recording.6 Indeed, the project, for its three first
years, expects 40-45 hours (2,400-2,700 minutes) of recordings, so that
2,400-2,700 working hours might be necessary to basic data annotation,
not to mention another 2,400-2,700 hours for review of annotation and
gloss translation into Portuguese. All of the above things considered
alongside time constraints posed to the project, the annotation phase may
encompass, over these three initial years, considerable display of part
of the data collected for 10-12 hours. In order to achieve such aim, two
scholarship holders, under supervision, will be in charge of transcription
of data and design of a data transcription manual over 36 months.
In this first phase, a special focus will be placed on the
development of conventions and criteria for transcription based on the
data samples that may define elements of the sign language inventory.
Thus, transcription of the entire data of the corpus may walk hand in hand
with necessary financial support for having undergraduate scholarship
holders assuming these specific attributions. Although the details of
annotation procedures might provide guidance to the study, they are not
supposed to be addressed in detail in the first phase of the project.
Given the complexity underlying the process of annotating Libras
(LEITE, 2008), the annotation work may be carried out in two basic ways:
a) thorough glossing of manual signs, with a Sign Identification for right
hand and for left hand; b) translation of utterances into Portuguese. The
6
Available at: http://www.sign-lang.uni-hamburg.de/intersign/workshop4/baker/baker.
html. Access on: Jun. 30, 2012.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 821

program used for the Libras corpus data transcription is ELAN – software
developed for audio and video purposes. It available for free download
at http://www.lat-mpi.eu/tools/.
FIGURE 2 – Interview takes in ELAN

Source: Quadros (2016a, p. 168).

The annotation may follow a transcription template file for


ELAN designed by the project coordination team (see more details in
QUADROS, 2016b). The template will be shown to volunteer researchers
during training. Even though the annotation template may account for
all manual and non-manual articulators that are key to the description of
Brazilian Sign Language (LEITE, 2008; CHEN PICHLER et al., 2010),
the volunteer researchers are supposed to work solely on tracks regarding
the two main issues mentioned in the previous paragraph. Therefore, the
annotation of other articulators may be addressed in future studies. As
ELAN only enables visualization of tracks of immediate interest, saving
the other tracks, opting for transcribing the other articulators in the future
seems to be a viable choice.
The validation process is vital to all transcriptions, which is
assigned to the project members skilled at transcription, occurs based on
statistically viable display of the data collected in other states and aims at
drawing a comparison with original transcriptions. Such process occurs
822 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

frequently with the aims of evaluating and adjusting the transcription


process when necessary. Hence, a researcher heads up the review of
the original transcription in order identify potential inconsistencies in
annotation conventions used in the project (QUADROS et al., in press).

4.5 Data organization and availability online


The corpus data collected is to be stored in three ways: (i) on a
specific server for the Libras corpus, based in the Data Processing Center
of the Federal University of Santa Catarina (UFSC); (ii) on an external
HD stored by the project coordinator; (iii) on a backup hard disk in the
Multimedia Lab based in the Languages-Libras department of UFAC.
The data will be organized in accordance with a hierarchical
structure, namely the capital where collection occurred, and denomination
of pair participating in the interview. In such last type of folder, two
subfolders could be created as follows: “raw data” – in which data
gathered directly from collection are stored; and “edited data” – in
which files edited and configured to be used in ELAN are stored. Both
subfolders would be subdivided into folders entitled “informant_1” and
“informant_2”, which would encompass the following folders: “data
type” – specifying whether the file encompasses interview, storytelling,
eliciting, or conversation; “specific text” (whenever necessary), i.e.,
Pear Story, when it is storytelling, or classifiers, when there is an
eliciting session. Storage of the transcribed data may occur in the same
folders where edited videos are stored – which may serve as basis for
transcription (in accordance with NALS database in QUADROS et. al.,
2014). Thus, this might stand as a template framework for implementation
of the project to be developed by the Libras National Inventory.
In order to provide the storage of both data and metadata of the
project in a reliable database for free online access to the corpus, the
database to be developed must be developed in accordance with the
online version of the corpus. In order to avoid any possible constraints or
adversities, conversation between website programmers and the executive
board of the project stands as a key factor.
At this first stage, the infrastructure provided in the metropolitan
region of Florianópolis, in the State of Santa Catarina, stands as a
benchmark for the Libras corpus inventory in other capital cities in
Brazil. Therefore, in the same vein, the “Brazilian Sign Language
Inventory in the Region of Rio Branco – Acre” uses similar studio
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 823

configuration, collection procedures, as well as way of recovering, storing


and transcribing data.

5 Final remarks
The creation of an Inventory of Brazilian Sign Language in
the Region of Rio Branco – Acre holds significant importance as it
encompasses not only linguistic components, but also sociocultural as
well as political aspects of Libras in the deaf community from Acre,
aligned to the National Libras Inventory. Then, Acre state becomes
part of Libras Corpus together with Santa Catarina (Florianópolis
area), described by Quadros (2016a); Alagoas (Maceió area); Ceará
(Fortaleza area); and Tocantins (Palmas area) – regarding the latter, check
description in Ludwig et al. (2019).
The corpus represents Libras in the metropolitan region of
Rio Branco as it is comprised of video recordings of both elicited and
spontaneous language use situations for research and other applied
purposes, not to mention the fact that the corpus involves the creation
of a set of guidelines for registration and storage of data and metadata
regarding Libras use to be also used in other states in Brazil. The corpus
also encompasses the creation of a form with gaps and standardized items
for systematization of the final results of the study carried out with the
Libras Corpus of the State of Acre.
All in all, the development of a Libras corpus in the scope of the
Inventory of the Libras in Rio Branco – Acre alongside the systematization
of its creation process might play a significant role in the consolidation
of both theory and practice of sign language research in Brazil, once the
linguistic data set, accurately gathered, are representative of the language
and may be available to other researchers for future studies. The data are
to be gathered from 2021 on.

Acknowledgements
This work was made possible partially by the resources of the National
Council for Scientific and Technological Development - CNPQ (# 440337
/ 2017-8), as well as partially by resources from the National Historical
and Artistic Heritage Institute (IPHAN), of the Ministry of Culture, in
partnership with the Institute of Linguistic Policies (IPOL). We are very
grateful to translator Raquel Rossini Martins Cardoso.
824 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

Contribution of each author to the manuscript


The paper “Brazilian Sign Language corpus: Acre Libras Inventory”
stems from the original project (Brazilian Sign Language (Libras)
National Inventory) developed by Ronice Müller de Quadros and adapted
by Alexandre Melo de Sousa for the region of Rio Branco – Acre State.
The first part of the theoretical framework regarding the concept of corpus
was written by the second author. The first author was responsible for
the methodological outline of the study alongside the core description
of the research. The text was both written and revised by both authors.

References
BAKER, M. Corpora in Translation Studies: An Overview and Some
Suggestions for Future Research. Target, Amsterdam, v. 7, n. 2, p. 223-
243, 1995. DOI: https://doi.org/10.1075/target.7.2.03bak
BERBER SARDINHA, T. Linguística de corpus. São Paulo: Manole,
2004.
CHACON, T. C. et al. Guia de pesquisa e documentação para o INDL:
patrimônio cultural e diversidade linguística/pesquisa. Brasília: IPHAN,
2014.
CHEN PICHLER, D. et al. Conventions for sign and speech transcription
of child bimodal bilingual corpora in ELAN. Language, Interaction and
Acquisition, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 11-40, 2010. DOI: https://doi.org.10.1075/
lia.1.1.03che
CRASBORN, O.; VAN DER KOOIJ, E.; MESCH, J. European Cultural
Heritage Online (ECHO): Publishing Sign Language Data on the
Internet. In: CONFERENCE ON THEORETICAL ISSUES IN SIGN
LANGUAGE RESEARCH, 8th., 2004, Barcelona. Proceedings […]
Barcelona: ECHO, 2004. p. 33-37.
DUBOIS, J. et al. Dicionário de Linguística. São Paulo: Cultrix, 1993.
EFTHIMIOU, E.; FOTINEA, S. E. Creation and Annotation of a
Greek Sign Language corpus for HCI. Universal Access in Human
Computer Interaction: Coping with Diversity. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON UNIVERSAL ACCESS IN HUMAN-COMPUTER
INTERACTIONS, 4th., 2007, Beijing. Proceedings […]. Beijing: ILSP,
2007. p. 657-666.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 825

FERREIRA-BRITO, L. Epistemic, Alethic, and Deontic Modalities in a


Brazilian Sign Language. In: FISHER, S. D.; SIPLE, P. (ed.). Theoretical
Issues in Sign Language Research. Chicago: University of Chicago Press.
1990. p. 224-260.
FERREIRA-BRITO, L. Por uma gramática de línguas de sinais. Rio de
Janeiro: Tempo Brasileiro/UFRJ, 1995.
FERREIRA-BRITO, L. Similarities and Differences in Two Sign
Languages. Sign Language Studies, Silver Spring, v. 42, p. 45-46, 1984.
FROMM, G. O uso de corpora na análise linguística. Revista Factus, São
Paulo, v. 1, n. 1, p. 69-76, 2003.
GALISSON, R.; COSTE, D. Dicionário de didáctica das línguas.
Coimbra: Livraria Almedina, 1983.
HANKE, T. (ed.). ViSiCAST Deliverable D5-1: interface Definitions.
Hamburg: University of Hamburg 2000. Available from: https://www.
researchgate.net/publication/302152848_ViSiCAST_Deliverable_D5-1_
Interface_Definitions . Access on: May. 14, 2016.
IPHAN. Guia de pesquisa e documentação para o INDL: patrimônio
cultural e diversidade linguística. Brasília, DF: Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, 2016.
KARNOPP, L. B. Aquisição do parâmetro configuração de mão dos
sinais da LIBRAS: estudo sobre quatro crianças surdas filhas de pais
surdos. 1994. 180f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto de Letras
e Artes, PUCRS, Porto Alegre, 1994.
KARNOPP, L. B. Aquisição fonológica na Língua Brasileira de Sinais:
estudo longitudinal de uma criança surda. 1999. 273f. Tese (Doutorado
em Letras) – Instituto de Letras e Artes, PUCRS, Porto Alegre, 1999.
KENNEDY, G. An Introduction to Corpus Linguistics. London; New
York: Longman, 1998.
LEESON, L.; SAEED, J.; BYRNE-DUNNE, D. Moving Heads and
Moving Hands: Developing a Digital Corpus of Irish Sign Language.
The ‘Signs of Ireland’ Corpus Development Project. In: INFORMATION
TECHNOLOGY AND TELECOMMUNICATIONS CONFERENCE, 6th,
2006, Chengdu, China. Proceedings […]. Chengdu, China: IEEE, 2006.
Available from: https://www.researchgate.net/publication/277186734_
826 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

Moving_Heads_and_Moving_Hands_Developing_a_Digital_Corpus_
of_Irish_Sign_Language. Access on: Mary. 13, 2019.
LEITE, T. A. A segmentação da língua de sinais brasileira (Libras): um
estudo linguístico descritivo a partir da conversação espontânea entre
surdos. 2008. 280f. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
LEITE, T. de A.; QUADROS, R. M. de. Línguas de sinais do Brasil:
reflexões sobre o seu estatuto de risco e a importância da documentação.
In: QUADROS, R. M.; STUMPF, M. R.; LEITE, T. A. (org.). Estudos da
Língua de Sinais II. Florianópolis: Editora Insular, 2014. p. 15-27.
LUDWIG, C. R. et al. Inventário da Língua Brasileira de Sinais da Região
de Palmas – Tocantins: Metodologia de Coleta e Transcrição de Dados.
Porto das Letras, Porto Nacional, TO, v. 5, n. 1, p. 59-74, 2019. Available
from: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/portodasletras/
article/view/6489/14835. Access on: Dec. 14, 2020.
McENERY, T.; WILSON, A. Corpus Linguistics. Edinburgh: Edinburgh
University Press, 1996.
MILLER, C. Some Reflections on the Need for a Common Sign Notation.
Sign Language and Linguistics, Amsterdam, 4, n. 1/2, p. 11-28, 2001.
DOI: https://doi.org/10.1075/sll.4.12.04mil
NISHIO, R. et al. Elicitation Methods in the DGS (German Sign
Language) Corpus Project. In: DREUW, P.; EFTHIMIOU, E.; HANKE,
T.; JOHNSTON, T.; MARTÍNEZ RUIZ, G.; SCHEMBRI, A. (ed.)
Corpora and Sign Language Technologies. 4th Workshop on the
Representation and Processing of Sign Languages. Paris: ELRA, 2010.
p. 178-185
QUADROS, R. M. As categorias vazias pronominais: uma análise
alternativa com base na língua de sinais brasileira e reflexos no processo
de aquisição. 1995. 141f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Instituto
de Letras e Artes, PUCRS, Porto Alegre, 1995.
QUADROS, R. M. Phrase Structure of Brazilian Sign Language. 1999.
279f. Tese (Doutorado em Linguística) – Instituto de Letras e Artes,
PUCRS, Porto Alegre, 1999.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021 827

QUADROS, R. M. Contextualização dos estudos linguísticos sobre a


Libras no Brasil. In: QUADROS, R. M.; STUMPF, M. R.; LEITE, T. A.
(org.). Estudos da Língua Brasileira de Sinais I. Florianópolis: Editora
Insular, 2013. p. 15-36.
QUADROS, R. M.; LILLO-MARTIN, D.; CHEN PICHLER, D.
Methodological Considerations for the Development and Use of Sign
Language Acquisition Corpora. In: RASO, T.; MELLO, H. (ed.). Spoken
Corpora and Linguistic Studies. Amsterdam: John Benjamins, 2014.
p. 84-102.
QUADROS, R. M. Documentação da Libras. In: SEMINÁRIO IBERO-
AMERICANO DE DIVERSIDADE LINGUÍSTICA, 2014, Foz do
Iguaçu. Anais [...] Brasília: IPHAN – Ministério da Cultura, 2016a. p.
157-174.
QUADROS, R. M. A transcrição de textos do corpus de Libras. Revista
Leitura, Maceió, n. 57, v. 1, p. 8-34, 2016b.
QUADROS, R. M. et al. Língua Brasileira de Sinais: Patrimônio
Linguístico Brasileiro. Florianópolis: Editora Garapuvu, 2018.
QUADROS, R. M. Tecnologia para o estabelecimento de documentação
de língua de sinais. In: CORRÊA, Y.; CRUZ, C. R. (org.). Língua
Brasileira de Sinais e tecnologias digitais. Porto Alegre: Penso, 2019.
p. 1-25.
QUADROS, R. M. et al. Brazilian Sign Language Documentation. In:
QUADROS, Ronice Müller de. Brazilian Sign Language Studies. De
Gruyter Mouton: Ishara Press, 2020. p. 9-32.
QUADROS, R. M. et al. Inventário Nacional de Libras. Revista Fórum
Linguístico, Florianópolis, in press.
SCHEMBRI, A. C. The British Sign Language Corpus Project: open access
archives and the observer’s paradox. In: THE CONSTRUCTION AND
EXPLOITATION OF SIGN LANGUAGE CORPORA WORKSHOP,
3th., 2008, Marrackech. Proceedings […]. Marrackech: Research Gate,
2008. p. 165-169.
828 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 805-828, 2021

SINCLAIR, J. Corpus and Text: Basic Principles. In: WYNNE, M.


(ed.). Developing Linguistic Corpora: A Guide to Good Practice.
Oxford: Oxbow Books, 2005. p. 1-16. Available from: http://icar.cnrs.
fr/ecole_thematique/contaci/documents/Baude/wynne.pdf . Access on:
Out. 30, 2016.
STOKOE, W. Sign Language Structure: an Outline of the Visual
Communication Systems of the American Deaf. Journal of Deaf Studies
and Deaf Education, Oxford, v. 10, n. 1, p. 3-37, 2005. DOI: https://doi.
org/10.1093/deafed/eni001
TAGNIN, S. E. O.; TEIXEIRA, E. D. Lingüística de Corpus e Tradução
Técnica - Relato da montagem de um corpus multivarietal de culinária.
Tradterm, [S.l.], v. 10, p. 313-358, 2004. DOI: 10.11606/issn.2317-9511.
tradterm.2004.47184. Disponível em: https://www.revistas.usp.br/
tradterm/article/view/47184. Acesso em: 12 May. 2019..
VERAS, E. C. Procedimentos metodológicos para a compilação de um
corpus de língua de sinais a partir da rede: reflexões com base em um
corpus piloto de gêneros na plataforma YouTube. 2014. 183f. Dissertação
(Mestrado em Linguística) – Centro de Comunicação e Expressão,
Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2014.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

Using machine translator as a pedagogical resource in English


for specific purposes courses in the academic context

O uso do tradutor automático como recurso pedagógico na aula


de inglês para propósitos específicos no contexto acadêmico

Débora Borsatti
Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul
/ Brasil
deborsatti@gmail.com
http://orcid.org/0000-0003-1486-0047

Adriana Blanco Riess


Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC), Santa Cruz do Sul, Rio Grande do Sul
/ Brasil
adrianariess@unisc.br
http://orcid.org/0000-0002-0228-6028

Abstract: This paper presents a proposal for pedagogical use of MT in English for
Specific Purpose (ESP) courses, aiming at investigating the efficiency of this technology
as a support for reading scientific texts in English as a FL. The theoretical approach is
on ESP, reading and comprehension and a proposal to use MT in ESP courses, aiming to
understand the processing of MT and how this knowledge can raise benefits on reading
comprehension for academic purposes. In addition, we discussed corpus linguistics and
its relation to language teaching as well as its role in MT. The analysis shows that, due
to the hybrid system that utilizes the rule-based system and the corpus-based system,
Google Translate produces relatively understandable and readable texts. Despite its
evident limitations, the tool can provide linguistic awareness when pedagogically
explored by ESP teachers in academic context.
Keywords: Machine Translation; pedagogical tool; reading; English for Specific
Purposes.

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.829-858
830 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

Resumo: Este artigo apresenta uma proposta de uso pedagógico de tradução pela
Máquina (MT) em cursos de inglês para fins específicos (ESP), com o objetivo de
investigar a eficiência dessa tecnologia como suporte para a leitura de textos científicos
em inglês como L2/ LE. A abordagem teórica é sobre ESP, leitura e compreensão e uma
proposta de uso de MT em cursos de ESP, com o objetivo de entender o processamento
da MT e como esse conhecimento pode trazer benefícios na compreensão da leitura
para fins acadêmicos. Também, discute-se a linguística de corpus e sua relação tanto
com o ensino de línguas quanto seu papel na MT. Por fim, a partir da análise que se
faz, devido ao sistema híbrido que utiliza o sistema baseado em regras com o sistema
baseado em corpus, o Google Translate produz textos relativamente compreensíveis e
legíveis. Apesar de suas limitações evidentes, essa tecnologia pode fornecer consciência
linguística quando explorada pedagogicamente pelos professores de ESP no contexto
acadêmico
Palavras-chave: Tradutor Automático; ferramenta pedagógica; leitura; Inglês para
Propósitos Específicos.

Submitted on August 04th, 2020


Accepted on October 07th, 2020

Introduction
In Brazil, English for Specific Purpose (ESP) courses are
commonly offered in Universities, and they are basically focused
on reading skill practice. Recently, a number of Higher Education
Institutions (henceforth HEI) in the country has been developing actions
for internationalization, which aim to allow Brazilian universities to take
part in the international academic community, and part of this process
involves foreign language learning, specially English, which is considered
a Lingua Franca (lato sensu) in the scientific context. One of the
actions worth mentioning is the International Mobility Program Science
Without Borders which aimed at developing science in Brazil by funding
undergraduate and graduate members of the academic community to
study in universities abroad. In fact, a discussion on internationalization
and language policies in Brazil has already been published by Sarmento;
Baumvol, Martinez (2019) on a special issue of the journal Organon by
the Federal University of Rio Grande do Sul-URFGS.
Among the methods for teaching ESP in the academic
environment in Brazil, developing reading strategies is the most frequent
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 831

one because it is considered a need for undergraduate students (CELANI


et al., 1988, 2005; RAMOS, 2009) and ESP focuses on the student’s needs
(BLOOR, 1997; HUTCHINSON; WATERS, 1987; ROBINSON, 1980,
1991). Reading comprehension is a complex task that involves various
cognitive abilities and strategies and reading in a foreign language (FL)
is even more complex and requires a certain level of proficiency to be
accomplished. A beginner learner faces different linguistics barriers, such
as language structure and most of all, lack of vocabulary knowledge.
Depending on the reading goal, skimming reading or knowing
the general subject is enough, but if the purpose is studying and learning,
for instance, is it necessary to go beyond the main ideas. Although the
learner uses strategies such as focusing on cognate words and trying to
infer the general meaning through previous knowledge, in order to have
a deeper comprehension, at some point the reader will have to search
for the meaning of words, which can be done by looking a word up at
a dictionary, or even checking whole sentences by using an automatic
online translator.
The Internet era has provided us with a wide range of easily
accessible information on various subjects. Although the effectiveness of
some online resources may be doubted from the educational perspective,
the Internet is still one of the main sources for research and language
learning. Using machine translation (MT), more specifically, Google
translate, and having the information instantly translated instead of
thinking and analyzing is a subject that might concern most language
teachers. However, it is undeniable that most students resort to these
tools when they are struggling with a meaning in a foreign language.
In addition, what must be considered is that the contemporary world
presupposes the use of technology and the internet has a major role in it.
There is a number of studies suggesting the use of MT in EF classes
through different perspectives, such as the ones related to translation
programs (LEWIS, 1997; MCCARTHY, 2004), comprehension and
acceptation of translated texts (LEFFA, 1994; PETRARCA, 2002), the
relationship between MT and English as a global language (CRIBB,
2000), techniques for detecting plagiarism and work produced by
MT (LUTON, 2003), writing and post-editing via MT (NIÑO, 2004;
KLIFFER, 2005), in addition to using MT as a reading strategy (RIESS,
2015; SCARAMUCCI, 1997).
832 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

This paper addresses the use of free online MT in ESP courses at


universities in Brazil. For this purpose, previous investigations on the use
of MT for FL teaching and learning are explored before discussing their
implications for the language class along with some practical examples
of using MT for language teaching for academic reading purposes. It
is important to bear in mind that Machine translation is a resource for
teaching grounded on a perspective defined by Larsen Freeman (2003) as
grammarian, students do not learn by a set of rules, more than that they
learn by doing grammar. In addition, using MT is only seen as feasible
the moment technologies of information and communication have proved
to offer advantages for teaching and learning. This is specially seen in the
studies of Corpus linguistics (SARMENTO; TESSLER; BAUMVOL,
2019)1 as well as Ergodic learning (LEFFA; BEVILÁQUA, 2019) where
students count on resources that go beyond the didactic material because
they stimulate both autonomy and learning styles.
In order to intertwine the objectives of teaching ESP and the
advantages of using MT as a pedagogical support this paper is divided
in three parts. The first one explores the area of English for Specific
Purposes; it presents a brief overview on how the field was developed
in Brazil up to the present times. The second part discusses Machine
Translation and the conceptual foundations that support our belief it can
be used to enhance learning. Finally, the third part describes the proposal
itself on how MT is suitable for designing ESP lessons.

1 English for Specific Purposes


According to Hutchinson and Waters (1987) and Bloor (1997),
the main issues related to ESP in teaching began in the 1960s, when
the United States economy became dominant in the western world and
English became an internationally accepted language in trade, business
in general and in the academic context. Consequently, language learning
needs began to have an important role to the design of language courses.
Hutchinson and Waters (1987) defined ESP as a course in which “all the
decisions as to content and method are based on the learner’s reason for
learning.

1
English as a Medium of Instruction into Practice. Oral Presentation. 27th Annual
Conference of the Brazilian Association for International Education, Cuiabá, 2015.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 833

The concept of ESP was explained by Robinson (1991) as “an


enterprise involving education, training and practice and drawing upon
three major realms of knowledge: language, pedagogy and the students’/
participants’ area of interest” (ROBINSON, 1991, p.1). The author cites
some criteria for a course be considered as ESP, such as “goal directed”,
meaning that the student needs the language for work or for studies;
the relevance of precision in needs analysis; establishing course length;
and student profile - normally adults or young adults who usually have
some background knowledge of the language. Another relevant aspect
about ESP courses is that they must be designed based on the students’
area of studies.
Methodological aspects of ESP were described by Dudley Evans
and St. John (1998), who point that these courses normally take place
in the working context or at university and the methodological choices
may differ from General English courses, since the courses may be
designed having a specific discipline in mind. Aiming at discussing the
specificities of ESP in the Brazilian context the next sections present
an overview of the area both in the first years of development and the
current studies in progress.

1.1 A brief overview of ESP in Brazil


The origin of ESP courses in Brazil began with a project developed
by a group of researchers from PUC-SP in the 1970’s (CELANI et al.,
1988; RAMOS, 2009). The project was initially under the coordination of
the researchers from PUC-SP and involved most of the federal universities
in Brazil. The focus of the studies was around the reading skill due to
the results of the needs analysis which indicated that most university
students at that time needed to read texts and books in English on their
specific area of studies. This is the reason why ESP courses in Brazil are
associated with the teaching and practicing of reading.
In Brazil, ESP is often related to instrumental reading, which
comprises reading practice for comprehension and interpretation of
texts. From the conception of reading as an active process, Farrell (2003)
explains that, after establishing the focus of the class and selecting the
texts (based on student needs), the next step is the teaching of reading
fundamentally anchored in reading strategies. According to the author,
the success of reading activity is directly related to the use of appropriate
and effective strategies.
834 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

The process of internationalization of HEI has highlighted the


importance of English as a global language. Hamp-Lyons (2011) points
out that the role of EL has become increasingly stronger, which forces
researchers to publish their studies in English. In addition, as stated by
Hyland (2006) researchers find more reference to their studies when they
are published in EL. One of the reasons ESP has been an area of interest
in the Brazilian context is the importance of the country in an international
scenario. It seems to be obvious that linguistic skills play a key role in this
panorama where sociocultural, economical and political powers are at stake.
Along the late decades new approaches for ESP have been
discussed by various researchers, such as Ramos (2004) who introduced
the pedagogical importance of implementing genre in the EFL
classroom. More recently, Sarmento, Tessler, and Baumvol (2015) have
discussed the idea of English as Medium of Instruction (EMI) related to
internationalization in the Brazilian HEI and the need to introduce other
skills into the ESP courses, such as speaking, listening and writing. This
approach, which aims to assure that the student will be able to participate
in international academic events, as well as being able to publish their
paper in international journals, is called English for Academic Purposes
(EAP) and it is currently offered in universities all over the world.
However, there is a long way to go in the EAP field in Brazil, since it is
a process that has just began to be discussed and analyzed in the country.
English for Academic Purposes (EAP) courses are similar to
any other ESP courses, which are based on the student’s needs. In this
case, the need is related to academic interests, therefore, EAP is a course
designed for teaching English to assist learners in target language studies
or research (FLOWERDEW; PEACKOCK, 2001; JORDAN, 2012).
Consequently, the content “currently focuses on seeking language
specificities used in academia [...] incorporating and going beyond the
communicative context” (HYLAND, 2006, p. 2).
In this paper, the term ESP was chosen due to the focus on reading
skill, which is a reality in courses offered at different universities in Brazil,
but it may be extended to other skills practice in the future. However,
developing new methods of teaching English in the academic context is
important given its relevance for science within the contemporary global
scenery, and using machine translation (MT) is part of the globalized
world. Therefore, including this tool in the ESP courses might give
another perspective for EFL students in terms of reading comprehension.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 835

1.2 The state of the art of ESP in Brazil


As explored in the previous section teachers and professors
in Brazilian universities have already adopted ESP lessons. The first
experiences have proved to be fruitful so as to enrich teaching with new
methodologies and resources. The present section describes current
studies that represent the state of the art of ESP in Brazil and point to the
future of the area. In general terms, technology plays a key role in this
development, either because of electronic corpora or because of MT itself.
It was already mentioned that there are many examples of
universities in Brazil which have introduced English in the academic
context. However, it is worth talking about some recent studies which can
be considered “hands on” in terms of teaching. For instance, Maciel and
Vergara (2019) discuss the role of English teaching in a Medical school;
Sarmento and Baumvol (2016) also investigate multilingual students
learning through Integrated Language and Content Instruction (ILCI).
Moreover, Kirsch (2019) analyzes how teachers of English were trained
to perform in light of internationalization/globalization.
Basically, in all the work by the authors mentioned above the
idea is centered in earlier fundamentals of teaching, specially the view
of ESP teachers as also researchers. Dudley-Evans and St. John (1998)
explain it is necessary to raise adequate textual information to design
instruction and that needs assessment for creating and adapting didactic
materials. In addition, there must be a further thought about developing
reading strategies during ESP lessons. There are several types of strategies
that can turn reading into an active process in a foreign language class;
these strategies have long been investigated, such as the useful list seen
in Anderson (1991) and Koda (2005), as well as the discussion about
translation in Grabe (2009). The teacher who uses language learning
strategies, according to Oxford (1990) is no longer at the center of
teaching and becomes a facilitator, helping students to identify and use
the appropriate strategies. It is undoubted for these authors that students
become more autonomous in learning (or acquiring) a language when
reading strategies are at stake.
In terms of teaching strategies, Coxhead (2000) suggest that in
ESP students should be exposed to high frequency academic words, most
of times gathered in ready-made lists such as the academic word list
online. Regarding grammar, Larsen Freeman (2003) talks about a concept
called grammarian from the perspective that grammar and vocabulary are
836 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

addressed as integrated with the 4 skills, rather than stand-alone issues.


Consequently, grammar cannot be seen as a set of rules to be memorized,
but as a phenomenon of doing grammar. As a whole, an updated ESP
course has to consider the use of an academic English language corpora
available online. In addition, it has to develop general academic skills
and have teachers explaining all the existing learning styles, strategies,
as well as make students be part of their learning process by discussing
their preferences.
Examples of ESP courses are the ones described by Berber
Sardinha (2006) that envisaged instructional material production using
corpora. Moreover, Barbosa (2004) prepared units on a Foreign trade
course at a distance founded on an experimental approach (KOHONEN,
2001). Leffa (2019) explains that language pedagogies must evolve
from three perspectives: instructionism to constructivism and then
to connectionism (HEICK, 2017; MATTAR, 2018). It all starts from
linguistic exposition (linguistic corpora) and it moves to active learning,
which demands the student to use accessible resources to learn. This
sequence moves up to ergodic learning; this concept is grounded on the
idea that the student not only builds his/her own learning according to the
resources he/she uses, as well as he/she modifies the learning dimension.
While we can talk about the state of the art of ESP in Brazil today,
it is not less important to discuss MT, once this is the center of this paper.
It is not obvious, neither it is accepted at all ESP courses should allow
students to use online translators, such as Google translate. The next
section presents the area of Machine translation because it is believed
that the limitations as well as the strengths of this tool enable instructional
designers or teachers to take advantage of them for more accurate use.

2 Machine translation
If we are to investigate the introduction of MT in ESP classes we
have to keep in mind that Foreign Language tutors do not necessarily need
to know much about the working MT software, but they should know
these tools are available, how to use them, and their general strengths and
weaknesses. Therefore, it is important for this paper to present some of
the basis of the systems for MT, because the teacher as a researcher may
be limited by the performance of the tool. As it was stated previously in
this study, MT may provide linguistic awareness as a source of knowledge
much more efficiently once it is explored pedagogically.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 837

The introduction of MT into language learning contexts has been


compared to the advent of the calculator by some researchers (LUTON,
2003, p. 770; GROVES; MUNDT, 2015, p. 120). Nevertheless, “while
there seems to be general agreement that children should learn to do
basic arithmetic without a calculator before moving on to more advanced
operations in which the calculator can be used as a shortcut, it is possible
that the parallel to MT and language learning does not extend as far”.
Therefore, many teachers seem to be resistant to using MT in class, which
could compromise the way students think and develop language learning.
What has to be reinforced is that linguistic skills and mathematics are
different kinds of knowledge, for this reason it is not clear that a mere
comparison between the two of them is a benefit.
One of the proposals of this study is to present teaching English in
the university context and the role of the teacher as developing linguistic
awareness, not only language itself. Tomitch (2009) explains that teaching
reading in a foreign language is much more than teaching language itself.
For this reason, it is believed that through the analysis of translation
errors related to specific lexical items and syntactic structures, students
will be able to understand how translation works as well as develop
language awareness. We consider the lexicon brings information related
to cultural differences, for example, that go beyond the language itself.
Error analyses and language transfer are not new in the area of Second
language Acquisition (henceforth SLA); however, they have a broader
view here. In order to give a hint of what is meant in this proposal, the
example that follows can clarify. Although students are not quite familiar
with terms such as polysemy, lexical ambiguity, and structural ambiguity,
examples in English using MT may illustrate that polysemy can create
lexical ambiguity, and word order can determine the level of structural
ambiguity in a sentence. An example could be seen in We need to see that
house and I will house the club in a new building, in the first sentence
the word house is a noun and in the second it is a verb; syntax in this
sense differentiates the meaning. Students, then, are displayed with an
obvious differentiation in meaning that translation can easily determine.

2.1 What MT is and how it works


According to the definition by Hutchins and Somers (1992), MT
are “computer systems responsible for the production of translations from
one natural language into another, with or without human assistance”
838 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

(HUTCHINS; SOMERS, 1992, p. 3). Hutchins (2003) explains that in


fully automatic translation, the system translates the entire text without
the intervention of the human translator, producing a raw translation,
commonly known as ‘informative translation’.
MT systems can be programmed for two languages (bilingual
systems) or for more languages (multilingual systems). In terms of
processing, MT systems can be grouped into two categories: rule-
based system and corpus/statistical-based systems. Rule-based systems
work based on rules for/of morphology, syntax, lexical selection and
rules transference. They operate by filtering source text input such
as morphological analyzers, part-of-speech taggers and bilingual
dictionaries and then they transfer rules and reorder them, whereas
statistical MT systems are based on “machine-learning technologies” and
rely on “large volumes of parallel human-translated texts from which
the MT engine can learn” (STEDING, 2009, p. 184).
Rule-based systems contain three main approaches. The first is the
direct approach which, according to Hutchins (2003) definition, operates
as a large bilingual dictionary, in which the source text is translated
word by word, not considering the analysis of its syntactic structures or
relations between words in the sentence.
The second is the transfer approach, which is more widely used
and comprises three phases: analysis, transfer and generation. Hutchins
(2003) explains that transfer systems may have separate programs
for lexical transfer (selection of equivalent words in vocabulary) and
structural transfer (transformation of source language structures into
appropriate target language structures), differently from the direct
approach, the transfer approach takes structure/syntax into consideration.
Developed in the 1980s, interlingua is the third approach, which
is based on the assumption that it is possible to convert target language
(TL) texts into common syntactic-semantic representations in different
languages. Interlingua is based on the principles of universal linguistics.
Thus, translation occurs into two phases: from source language to
interlingua and from interlingua to target language.
Corpus-based approach is more recent and can be divided into
two categories: statistical-based MT and example-based MT. Somers
(2003) explains that this model is based essentially on the alignment of
words, expressions and word sequences in a parallel bilingual corpus
as well as on probabilities calculus of words/expressions in a given
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 839

sentence to correspond to one or more words in the equivalent sentence


in the target language.
The word “língua” in Portuguese can be used as an example of
what was mentioned in the previous paragraph because it represents
ambiguity meaning both language and tongue, which are different
words in English. Using Google translate, when inserting the sentence:
“Eu mordi minha língua”, the result is “I bit my tongue”, but when the
sentence is “Eu não falo sua língua”, the translation is “I don’t speak
your language”. This means that the relation between the verb and noun
is calculated through probability. The verb “morder (bite)” combined to
“língua (tongue)” and the verb “falar (speak)” is combined to “língua
(language)”. Somers (2003) ensures that it involves a great complex
probability calculation.
Unlike the statistical-based system, example-based MT operates
by comparing the input with a corpus of representative examples already
translated, drawing the closest correspondences as a translation model
for the target text. As Somers (1998) points out, this approach resembles
the way human translators work, since it solves new problems based
on solutions used for similar previous problems and this is why the
translation outcome is more fluent and less literal.
Many MTs are actually hybrids, their basic design and main mode
of operation put them in one of the two categories. Google Translate
exemplifies the latter approach, as its website explains in the following
terms: “By detecting patterns in documents that have already been
translated by human translators, Google Translate can make intelligent
guesses as to what an appropriate translation should be” (Google).
Bowken (2002) makes a connection between this approach and
output quality, noticing that because statistical MT reflects a “better
understanding of the strengths of machines” than earlier methods, errors
are “less common and considerably less outrageous” than in the past
(BOWKEN, 2002, p. 3).

2.2 Corpus linguistics and MT


One of the investigations that is also part of the theme “Machine
translation” as a whole is Corpus linguistic, more specifically, Electronic
Corpora. This is a branch of Computational linguistics that deals with the
processing, storage and analyses of great amounts of linguistic data that
840 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

are machine readable. The Latin term corpus refers to a body because it
is formed by a variety of relevant linguistic information which display
both oral and written language behavior.
In this study that discusses the use of online Google translate
it is implicit we are talking about electronic corpora, since information
is changed into digits that are machine readable, as we stated before.
A traditional corpus can be a collection of physical texts, for instance,
the indigenous talk of some Amazon region annotated by ethnographic
research. As for Google translate it utilizes all the written texts that
were translated by humans and published on the web. For this reason, its
database is giant, as such, it can extract linguistic items which are able
to generate new translation in the target language.
It is also worth saying in the case of MT that Google corpora
can be either Comparative or Parallel. They both approximate; however,
comparative corpora contrast the linguistic items of each language, they
deal with at least two languages (2 monolingual texts) that are contrasted.
An example of this corpus is Compara seen at http://portugues.mct.pt/
COMPARA/, it is made up of literary work in its original language by
the side of its translation that was once published by a human translator.
A slight difference to Parallel corpora is that there is a linguistic corpus
in the first language and in parallel the engine displays encountered
translations (MCENERY; XIAU; TONO, 2006). Basically, Google
deals with parallel corpora, but as it will be studied next it actually uses
a hybrid system.
In terms of language teaching, which is the focus of this article,
parallel corpora have been much used to a diversity of pedagogical
objectives. They can be used to teach technical vocabulary in ESP
classes; Berber Sardinha (1998)2 for example, presents the Business
English corpus that is fruitful if the teacher needs a good source for
instructional material. In addition, Riess e Gabriel (2019) analysed lexical
disambiguation during reading in English as FL/L2 using the Webcorp,
a linguistic corpus of general English. The authors investigated how a
reader disambiguated the word mind in its different contexts of meaning.
In 2015 a special issue of the Brazilian journal Domínios da
linguagem was published in which the editors focused on linguistic

2
Size of a representative corpus. Summary of discussion on CORPORA email discussion
list, 26 August 1998.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 841

corpora, methods, and interfaces. In the presentation section they mention


the development of this area in Brazil and present other journals which
were also dedicated to related subjects, such as Veredas in the year of
2009 and Revista Brasileira de Linguística Aplicada (2011). Almost 10
years ago these journals already pointed Corpus Linguistic as a promising
field to be explored by researchers of language.
What is also important to mention here refers to corpus linguistics
and statistical language learning. In fact, an electronic translator such as
Google needs to be fed with a great deal of data; however, it works on
the basis of statistics. That means the more frequent the translation of a
word or segment appears, the more it will be used next time. Charniak
(1996) explains that the objective of statistics is to count how often the
translation appears, so that the preferable translated word or segment
becomes a prototype. Consequently, programming can calculate the
probabilities of an occurence.

2.3 MT as a teaching resource in ESP class


Incorporating technology in foreign language classroom without
compromising students’ practice is a challenge for teachers all over the
world. The relevance of this subject is highlighted by Hall (2001) when
he states that “How well we prepare learners of additional languages to
meet the social, political, and economic challenges of the next several
decades will depend partly on our success in integrating technology into
the foreign language curriculum”. Teaching students to evaluate these
tools may provide them with a model for criticizing as well as reflecting
on other technologies that work as pedagogical resources.
In fact, technology can offer excellent tools for language teachers
and MT has been discussed as one of them. Different perspectives of
studies have been conducted by researchers in various parts of the world.
These works promote the use of MT in language teaching for distinct
purposes, such as for developing critical thinking, promoting electronic
Literacy and language awareness (CORREA, 2014; WILLIAMS, 2006)
for correcting/editing grammar, training future professional translators
(KLIFFER, 2005) and even for preventing plagiarism (STEDING, 2009).
Post-editing is the most common practice, and it involves the correction of
raw MT output into an acceptable text for a particular purpose (BELAM,
2002; LA TORRE, 1999; NIÑO, 2004).
842 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

A study conducted with FL students at Duke University in 2011


and 2012 evidenced the student’s preference for Google Translate through
the significant percentage of 81% that reported using it to support their
language learning (CLIFFORD et al., 2013, p. 111). This tool is described
as a “free translation service that provides instant translations between
dozens of different languages” (Google).
Ana Niño’s (2009) survey about students’ and professors’
perceptions of MT has served as the basis for investigation at Duke,
which addresses her observation that a survey of a broad spectrum of
language students (not just advanced learners) would provide a more
accurate picture of the state of MT use in the language classroom.
One of the first authors to research on the role of MT in language
classes was Ball (1989). The author suggested the correction of errors
presented in computer-produced translations as teaching application of
MT for language students. Later, Somers (2003, p.327) stated that this
practice could “bring out subtle aspects of language differences” as well
as “reinforce learners’ appreciation of both L1 and L2 grammar and style”.
Other authors who recommend teaching practices using MT in
FL contexts include McCarthy (2004), who wrote 12 “solutions” for
dealing with the inevitability of MT use based on the discussions with the
students; Williams (2006), who suggested using MT websites to improve
students’ electronic literacy; Steding (2009), whose work was concerned
about preventing MT-based cheating and Niño (2009) proposing “good
practices” and “bad practices” for MT use in LF class (p. 247-248).
Although at least one study (GASPARI; SOMERS, 2007)
discusses the need for discouraging students from using MT for single
word-lookup, the majority of studies that problematize the use of MT by
students are concerned with the translation of longer texts and the belief
that this is a form of cheating in FL class (CASE, 2015). Rather than
looking only at the possible misuses of this relatively new electronic tool,
however, we may wish to examine it further for its potentially positive
applications in the study of foreign languages (WILLIAMS, 2006,
p. 566-567).
Most studies in this field work with MT through two types of
activities: post-editing and contrastive analysis. Post-editing exercises
involve translating a text into the target language using MT and using
one’s skills in the target language to “correct” the “errors” made by the
computer (BELAM, 2002; GROVES; MUNDT, 2015; KLIFFER , 2005;
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 843

NIÑO, 2008; SOMERS, 2003; ZANETTIN, 2009). Contrastive analysis


involves translating from the target language to the students’ native
language, so that students can see the kinds of errors are produced in order
to highlight differences in language structure, idioms, and collocations
(ANDERSON, 1995; SOMERS, 2001, 2003). Most studies have focused
on advanced learners or translators in training, (BELAM, 2002; NIÑO,
2008; O’BRIEN, 2002); however, there are some researchers who argue or
investigate their use with beginners (CORNESS, 1985; GARCÍA (2010).
Garcia and Pena (2011) claim that MT helped their beginner-
level students identifying MT as a type of scaffolding that together with
the other digital tools and online activities could “support students in
generating authentic language while interacting and collaborating in an
enjoyable learning environment, with technology as the facilitator and
stimulator of communication” (PENA, 2011, p. 66).
Another author that supports using MT as an advantage for
students is Williams (2006), who suggests that they “force students
to think about language as a communication tool, not as a set of
decontextualized vocabulary words or phrases” (p. 574). In this sense,
MT is not in itself “bad,” of course, and there is an educational place
for it in the classroom according to Case (2015), but many language
instructors probably will encounter it as an uninvited guest.

3 Reading comprehension and a proposal for using MT in ESP classes


When it comes to the concept of reading comprehension, we
need to discuss reading models. The interactive model described by
the seminal work of Rumelhart, (1985) proposes an integration of the
bottom-up processing (GOUGH, 1972), which understands reading from
a linear sequence from decoding letters to sounds, words, sentences,
and finally to meaning, and top-down processing (GOODMAN, 1967,
1970), in which the reader uses his prior knowledge to interpret the text
and create hypothesis in order to understand it. From the interactive
perspective, comprehension is not a final product, but a process that is
developed along the reading according to the strategies and resources that
the reader uses to attribute meaning to the text. The integration of both
models (bottom-up and top-down) is defended by a number of authors
based on the idea that comprehension depend on both, the information
that is in the mind of the reader and what is printed in the text. Therefore,
844 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

reading is a dynamic process of meaning construction. Proficient reading


is defined by Perfetti, Landi and Oakhill (2008), according to two
components: word recognition and textual comprehension. It is assumed
that comprehension cannot be achieved without the efficiency of the
most basic processes involved in word recognition. Thus, understanding
how reading comprehension occurs requires the study of the variables
involved in word identification.
According to Perfetti (1985, 1999); Perfetti and Hart (2001),
the limited capacity of working memory (WM) makes reading difficult
when several processes that require attention need to be activated
simultaneously. Based on this assumption, less proficient readers first
struggle with the lowest elements in the hierarchy, which are language
spelling rules and lexical knowledge, and then they move to the higher
elements, which are syntactic and semantic knowledge. Although it is
a useful strategy in the early stages of reading development, contextual
exploration is just a stage and should not be the only support for
compensating for vocabulary lacking.
During reading, the activation of prior knowledge in memory is
essential for the construction of meanings, which may occur implicitly
or explicitly through inferencing (DELL’ISOLA, 2001). In other words,
meaning is produced as a result from the recovery of knowledge and
values that are activated through various cognitive strategies, among
which the production of inferences is fundamental.
The definition of inference is explained by Koch (1997) as “what
is used to establish a non-explicit relationship in the text, between two
elements of the text. The inferences arise from need and from the reader’s
world knowledge” (KOCH, 1997, p.70 translated by the author). The
concept of inference varies according to different authors. However, it
is a consensus among authors that inferences fill in the gaps in the text,
since the text itself does not comprise all the necessary information
for the reader. Therefore, comprehension issues may result from this
incompleteness or lack of knowledge, since miscomprehension may
occur depending on the information that has been activated.
Nuttall (1996, p. 75) stated that “to infer the reader must have
sufficient clues. Lexical inference will not help readers if all or most of
the words are unknown. If, moreover, the context does not offer sufficient
clues, inference becomes impossible.” As a consequence, less proficient
readers in FL may be blocked in terms of bottom-up processing, which
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 845

will make it difficult to access prior knowledge in order to fill in the text
gaps. Thus, the use of MT can be beneficial for beginner learners of FL,
providing a general idea of the text so that the reader will be able to raise
hypotheses about the text.
Another important aspect pointed by Grabe (1991) is that L1
readers usually have a wide vocabulary before they begin to read,
while FL readers generally have a restricted vocabulary added to less
experiences in the target language. The author argues that, although
the reader has a good master of syntax in the FL, he is unlikely to be
familiar with pragmatic and cultural knowledge, which are related to
social interaction that is common for native speakers and it can hinder
the perception of these aspects in the texts.
Due to the complexity involved in reading comprehension, there
are many strategies that can be used for reading successfully. Strategies
are behaviors that are consciously selected to facilitate understanding
(NORDIN; RASHID; ZUBIR; SADJIRIN, 2013). For example, readers
may decide how much time to spend looking at a word, whether to reread
a section or to skip a section. They must decide when to summarize,
question the text, or make predictions and in order to do so, readers
depend on their executive control abilities (ARRINGTON; KULESZ;
FRANCIS; FLETCHER; BARNES, 2014; CARTWRIGHT, 2012).
However, reading strategies are not only conscious and they can
be divided into cognitive or metacognitive (KATO, 2007). They work as
support to construct the textual coherence through the relations established
between the elements of the text, such as syntactic segmentation
strategies, and anaphoric retrieval. Proficient readers tend to use strategies
more automatically, but when some new aspect arises interrupting the
comprehension process, it makes the reader act consciously, slowing
down his reading process in a reflected or metacognitive way.
These strategies function as fault detection mechanisms and
result from increased processing capacity effort. Perception of reading
failure is a part of comprehension monitoring, as the reader needs to
know what to do when the failures occur, and this is where strategic
decisions must be made. Furthermore, it has been postulated that good
readers are more metacognitively aware of their own strategies than less
proficient readers, as they tend to monitor comprehension better, being
more aware of the characteristics of the text and the strategies they use
while reading (NUTTALL, 1996).
846 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

There are several different types of reading strategies that are not
going to be explored in this paper because it is not the main point. In
summary, reading strategies play a special role in both NL and FL reading,
as they are cognitive mechanisms for comprehension and therefore can
be taught or develop language awareness, especially in reading.
One of the goals of ESP in Brazil, in the HEI context, is to
assure that students will be able to read and comprehend academic texts
in English as a foreign language. This paper proposes the use of MT in
ESP courses for reading academic texts in EFL. Based on the studies
cited in this paper it is possible to bring these practices into the reality
of ESP in Brazil and adapt the activities suggested as well as design new
possibilities.
Another relevant aspect of ESP courses is that dictionary use is an
example of a conscious reading strategy for solving a lexical difficulty.
From the same perspective, MT can be a support reading strategy. Riess
(2015), in her PhD dissertation on reading strategies and the use of
Google translator, discusses the use of MT as a reading strategy. The
author claims that:
The idea is not to exclude the tool from the class, on the contrary, it
is to include it and point out to failures and strengths of translation.
We suggest the use of Google translate as a strategy that benefits
reading comprehension, because the reader can search for
translation to what is unknown, at the various levels- from the
lexicon to the sentence till the whole text. (RIESS, 2015, p.104)

The idea is to include MT in class by pointing out the linguistic


items the translation has either failed or succeeded. In this sense, it is
suggested that using Google Translate is a strategy that benefits reading
comprehension, since translation can be used at the lexical, sentence or
text level, depending on the reader’s proficiency. Riess mentions authors
such as Perfetti and Hart (2001) and Scaramucci (1997), based on the idea
that by increasing vocabulary, reading can flow better, because words
are better understood, which makes comprehension occur. Also, in her
study, Riess (2015) found that students prefer translating words more
than the whole text. However, the number of participants may not be
statistically enough to conclude such a behavior. In this sense, the use of
Google translate would not be that different from the dictionary. However,
participants from Eastern languages (mostly Arabians) demonstrated to
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 847

translate sentences more than words. In the verbal protocols they say
word order is one of the most difficult for them.
In this paper, we propose working with MT in ESP courses
that focus on academic reading because, in Brazil, using dictionary is a
common support strategy in these courses, since the majority of students
show low level proficiency and need this resource for comprehension.
Thus, MT can be an important tool as a reading strategy. Therefore,
meanings can be searched through online dictionaries, but also through
Google Translate, which is proved to be widely explored among students.
Therefore, ESP teachers can use it for pre-editing and postediting
activities using MT in different levels of search, such as word meaning,
sentences or even entire texts. Abstracts can be used as an example of
text, being short texts, which summarize scientific papers, these texts are
suitable for academic reading classes. It is important to emphasize that
scientific language can be quite predictable, being more direct by using
objective language and avoiding language aspects which normally appear
in literary texts and usually result in mistakes for MT such as metaphors
and other figures of speech.
In this article we suggest teachers three tasks to be used in ESP
lessons. They are theoretically founded in the subjects already described
previously, they are 1) Translating and discussing, 2) Reading and
translating, 3) Checking mistakes. In the first case an abstract translated
from English to the student’s native language could be read and discussed
in class focusing on the linguistic issues. The teacher, then, counts on
the student´s linguistic awareness, because discussions will probably be
raised by the student´s view. The second activity is reading an abstract
in the FL using strategies and then have the Google translation to check
the ideas. In such a circumstance monitoring reading is at stake because
students have to compare their comprehension either by using strategies
or by the language translated by the machine. The third suggestion we
give has to do with the efficiency of machine translation. This is because
discussing the possible mistakes made by MT is a different way of
teaching grammar rules and structures. In addition to these linguistic
items, teachers can also explore vocabulary. The role of the teacher is
more active in this case, because it is him/her who points out where
idiosyncrasies are. It is different from using parallel bilingual corpora,
for example, because in this situation the student counts more on his/ her
intuition to infer meaning, whereas with MT the teacher is, to a certain
848 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

extent, the mediator of knowledge. In fact, this has to do with explicit


teaching rather than implicit, because teachers will locate where errors
are and display them in order to call student’s attention.
While using Google translate the student’s attention is focused on
the translated text, thus, by using MT for formal instructions, teachers can
provide the students with a chance to pay attention to the original text,
which is the purpose of ESP courses. Additionally, abstracts are usually
short, and the general language corpus are very similar, which creates
an opportunity to work with scientific language, and prepare students for
future academic writings. This view agrees with the idea of integrated
language and content language instruction already discussed by those
involved in the Science without borders program described previously
(SARMENTO TESSLER; BAUMVOL, 2015).

Final remarks
Technology has been used in education all over the world in
different types of subjects and there are several online tools available
for pedagogical practices in language learning. Among various resources
for foreign language studies through technology, this study demonstrates
that MT systems have been improved over the last decades and that new
methodologies are being employed on a linguistic and interdisciplinary
basis. Research show that Google translate is the most accessed free
online MT tool by students. Google translate is processed by a hybrid
system that combines rule-based and corpus-based systems, in quite
coherent texts.
Reading comprehension requires lexical knowledge, consequently,
low proficient readers in a foreign language usually struggle to
comprehend FL texts due to lack of vocabulary and language structure.
ESP courses in universities in Brazil are generally focused on reading
skill development. Assuming that English is a global language in science,
undergraduate and graduate students should be able to read in English
in order to access international research.
Based on a number of studies conducted by researchers from
different parts of the world, MT can be used in FL classes for pedagogical
purposes. There are different approaches and activities that can be carried
out with learners, such as post-editing and analytical tasks that have been
proved to help students to raise language awareness and knowledge.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 849

The methodology applied in ESP courses involve not only the


integration of content (the specific field) as well as teaching reading
strategies, which includes dictionary use. Therefore, this paper proposes
using MT as a reading strategy and as a pedagogical tool for teaching
grammar, vocabulary and develop language awareness.
Finally, it is important to emphasize that further studies need to be
conducted, especially in relation to ESP in academic settings, since most
of the studies are regarded to general EF language courses. Furthermore,
research should be designed in order to develop methodologies that can
quantify the comprehension degrees of an automatically translated text and
the cognitive aspects involved in this process, as well as investigations on
the effectiveness of using Google Translator as a pedagogical instrument.
We believe a combined quantitative and qualitative study can show more
concrete outcomes to both experience and intuition on the use of MT for
fruitful pedagogical practices.

Acknoledgements
We gratefully acknowledge the support of CAPES for the split doctorate
both authors were funded at the University of Pittsburgh at the Learning
Research and Development Center-LRDC.

Authors’ Contributions
Débora Ache Borsatti is a PhD student at the University of Santa Cruz do
Sul (UNISC). The author has been researching about the use of machine
translation in ESP courses, focusing on reading in English for Academic
Purposes. This paper was written as an assignment for the course “Second
Language Acquisition”, lectured by author 2.
Adriana Blanco Riess is a co-author in the paper. As an assistant professor
at UNISC, Adriana Adriana read, reviewed, and added important
contributions for the proposed discussion.

References
ANDERSON, N. J. Individual Differences in Strategy Use in Second
Language Reading and Testing. Modern Language Journal, [S.l.], v. 75,
n. 4, p. 460-472, Winter 1991. DOI: https://doi.org/10.2307/329495
850 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

ANDERSON, D. D. Machine Translation as a Tool in Second Language


Learning. CALICO Journal, [S.l.], v. 13, n. 1, p. 68-97, 1995. DOI:
10.1558/cj.v13i1.68-97
ARRINGTON, C. N.; KULESZ, P. A.; FRANCIS, D. J.; FLETCHER,
J. M.; BARNES, M. A. The Contribution of Attentional Control and
Working Memory to Reading Comprehension and Decoding. Scientific
Studies of Reading, [S.l.], v. 18, n. 5, p. 325-346, 2014. DOI: https://doi.
org/10.1080/10888438.2014.902461
BALL, R. V. Computer-assisted translation and the modern languages
curriculum. The CTISS File, [S.l.], v. 8, p. 52-55, 1989.
BARBOSA, M. E. D. C. Material didático para o ensino de inglês
instrumental online: uma abordagem experiencial baseada em corpus,
gênero e tarefa. 2004. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada
e Estudos da Linguagem) - LAEL, Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, PUCSP, 2004.
BELAM, J. Teaching Machine Translation Evaluation by Assessed
Project Work. In: EAMT WORKSHOP TEACHING MACHINE
TRANSLATION, 6th, Manchester, UK. Proceedings […]. Manchester:
European Association for Machine Translation, 2002. p. 131-136.
BERBER SARDINHA, Tony. Preparação de material didático para
aprendizagem baseada em tarefas com WordSmith Tools e corpora.
Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 4, n. 3, p.148-155, set./dez. 2006.
DOI: https://doi.org/10.4013/6001
BLOOR, M. The English Language and ESP Teaching in the 21st Century.
In: MEYER, F.; BOLIVAR, A.; FEBRES, J.; SERRA, M. B. (ed.). ESP
in Latin America. Bogotá: Universidad de los Andes; CODEPRE, 1997.
BOWKEN, L. Computer-Aided Translation Technology: A Practical
Introduction. Ottawa: University of Ottawa Press, 2002.
CARTWRIGHT, K. B. Insights from Cognitive Neuroscience: The
Importance of Executive Function for Early Reading Development and
Education. Early Education and Development, [S.l.], v. 23, p. 24-36,
2012. DOI: https://doi.org/10.1080/10409289.2011.615025
CASE, M. Machine Translation and the Disruption of Foreign Language
Learning Activities. eLearning Papers, [S.l.], n. 45, p. 4-16, 2015.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 851

CELANI, M. A. A. et al. ESP in Brazil: 25 Years of Evolution and


Reflection. Campinas: Mercado de Letras; São Paulo: EDUC, 2005.
CELANI, M. A. A. et al. The Brazilian ESP Project: An Evaluation. São
Paulo: EDUC, 1988.
CHARNIAK, C. Statistical Language Learning. Cambridge: MIT Press,
1996.
CLIFFORD, J.; MERSCHEL, L.; MUNNÉ, J. Surveying the Landscape:
What is the Role of Machine Translation in Language Learning? The
Acquisition of Second Languages and Innovative Pedagogies, Durham,
NC, n. 10, p. 108-121, 2013.
CORNESS, P. The ALPS Computer-Assisted Translation System in an
Academic Environment. Translating and the Computer, [S.l.], v. 7, p.
118-127, 1985.
CORREA, M. Leaving the “Peer” Out of Peer-Editing: Online Translators
as a Pedagogical Tool in the Spanish as a Second Language Classroom.
Latin American Journal of Content and Language Integrated Learning,
Cundinamarca, Colombia, v. 7, n. 1, p. 1-20, 2014. DOI: doi:10.5294/
laclil.2014.7.1.1
CORREA, M. Academic Dishonesty in the Second Language Classroom:
Instructors’ Perspectives. Modern Journal of Language Teaching
Methods, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 65-79, 2011.
COXHEAD, A. A New Academic Word List. TESOL Quarterly, [S.l.], v.
34, p. 213-238, 2000. DOI: https://doi.org/10.2307/3587951
CRIBB, V. M. Machine Translation: The Alternative for the 21st Century?
TESOL Quarterly, [S.l.], v. 34, n. 3, p. 560-569, 2000. DOI: https://doi.
org/10.2307/3587744
DELL’ISOLA, R. L. P. Leitura: inferências e o contexto sociocultural.
Belo Horizonte: Formato Editorial, 2001.
DUDLEY-EVANS, T.; ST. JOHN, M. J. Developments in English for
Specific Purposes. Cambridge: Cambridge University Press, 1998.
FARREL, T. S. C. Planejamento de atividades de leitura para aulas de
idiomas. Tradução de Itana Summers Medrado. São Paulo: SBS, 2003.
852 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

FLOWERDEW, J.; PEACOCK, M. Issues in EAP: A preliminary


perspective. In: ______. (org.). Research Perspectives on English for
Academic Purposes. Cambridge: Cambridge University Press, 2001. p.
177-194. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781139524766.004
GARCÍA, I. Can Machine Translation Help the Language Learner? In:
ICT FOR LANGUAGE LEARNING, 3rd., 2010, Florence. Proceedings
[…]. Florence: Libreria Universitaria, 2010. p. 1-4. Available on:
https://conference.pixel-online.net/conferences/ICT4LL2010/common/
download/Proceedings_pdf/TRAD02-Garcia.pdf. Retrieved at: Nov. 17,
2019.
GARCIA, I.; PENA, M. I. Machine Translation-Assisted Language
Learning: Writing for Beginners. Computer Assisted Language Learning,
[S.l.], v. 24, n. 5, p. 471-487, 2011. DOI: https://doi.org/10.1080/09588221.
2011.582687
GASPARI, F.; SOMERS, H. Making a Sow’s Ear out of a Silk Purse: (Mis)
Using Online MT Services as Bilingual Dictionaries. In: TRANSLATING
AND THE COMPUTER, 29, 2007, London Proceedings […], London:
Aslib/IMI, 2007. p. 29-30.
GOODMAN, K. S. Dialect Rejection and Reading: A Response. Reading
Research Quarterly, [S.l.], v. 5, p. 600-603, 1970. DOI: https://doi.
org/10.2307/747199
GOODMAN, K. S. Reading: A Psycholinguistic Guessing Game. Journal
of the Reading Specialist, [S.l.], v. 6, n. 4, p. 126-135, 1967. DOI: https://
doi.org/10.1080/19388076709556976
GOOGLE. Inside Google Translate. Available on: http://translate.google.
com/about. Retrieved at: Aug. 28, 2019.
GOUGH, P. B. One Second of Reading. In: KAVANAGH, J. F.;
MATTINGLY, I. G. (ed.). Language by Ear and By Eye: The Relationship
Between Speech and Reading. Cambridge: MIT Press, 1972. p. 291-320.
GRABE, W. Current Developments in Second Language Reading
Research. TESOL Quarterly, [S.l.], v. 25, n. 3, p. 375-406, 1991.
DOI: https://doi.org/10.2307/3586977
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 853

GRABE, W. Reading in a Second Language: Moving from Theory to


Practice. New York: Cambridge University Press, 2009. DOI: https://doi.
org/10.1017/CBO9781139150484
GROVES, M.; MUNDT, K. Friend or Foe? Google Translate in Language
for Academic Purposes. English for Specific Purposes, [S.l.], v. 37,
p. 112-121, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/j.esp.2014.09.001
HALL, J. K. Methods of Teaching Foreign Languages: Creating a
Community of Learners in the Classroom. Upper Saddle River: Prentice
Hall, 2001.
HAMP-LYONS, L. English for Academic Purposes: 2011 and Beyond.
Journal of English for Academic Purposes, [S.l.], v. 10, n. 1, p. 2-4, 2011.
DOI: http://dx.doi.org/10.1016/j.jeap.2011.01.001
HEICK, T. The Difference Between Instructivism, Constructivism,
and Connectivism. Teachthought, 2017. Available from: https://www.
teachthought.com/learning/thedifference-between-instructivism-
constructivism-and-connectivism/. Retrieved at: Sept. 5, 2020.
HUTCHINS, J. Commercial Systems: The State of the Art. In: SOMERS,
H. L. (ed.). Computers and Translation: A Translator’s Guide. Amsterdam:
John Benjamins Publishing Company, 2003. p. 161-174
HUTCHINS, W.; SOMERS, H. An Introduction to Machine Translation.
London: Academic Press, 1992.
HUTCHINSON, T.; WATERS, A. English for Specific Purposes: A
Learning - Centered Approach. Cambridge: Cambridge University Press,
1987. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511733031
HYLAND, K. English for Academic Purposes: An Advanced
Resource Book. New York: Routledge, 2006. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203006603
JORDAN, R. R. English for Academic Purposes: A Guide and Resource
Book for Teachers. 13. ed. Cambridge: Cambridge University Press,
2012.
KATO, M. A. O aprendizado da leitura. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
854 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

KIRSCH, W. Processos de internacionalização e seus legados


involuntários: o caso da formação de professores de inglês como língua
adicional dos centros de língua inglesa do programa idiomas sem
fronteiras. Organon, Porto Alegre, v. 34, n. 66, p. 1-16, 2019. DOI: https://
doi.org/10.22456/2238-8915.91293
KLIFFER, M. D. An Experiment in MT Post-Editing by a Class
of Intermediate/Advanced French Majors. In: EAMT - ANNUAL
CONFERENCE, 10th., 2005, Budapest. Proceedings […]. Budapest:
EAMT, 2005. p. 160-165.
KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto,
1997.
KODA, K. Insights into Second Language Reading: A Cross Linguistic
Approach. Cambridge: Cambridge University Press, 2005. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9781139524841
KOHONEN, V. Towards Experiential Foreign Language Education.
I n : K O H O N E N , V. ; J A AT I N E N , R . ; K A I K K O N E N P. ; J .
LEHTOVAARA, J. (ed.). Experiential Learning in Foreign Language
Education. London: Pearson Education, 2001. p. 8-60. DOI: https://doi.
org/10.4324/9781315840505-2
LARSEN-FREEMAN, D. Teaching Language: From Grammar to
Grammaring. 1st ed. Michigan: Heinle Elt, 2003.
LA TORRE, M. D. A Web-Based Resource to Improve Translation Skills.
ReCall Hull, Cambridge, v. 11, n. 3, p. 41-49, 1999.
LEFFA, V. J. Machine-Translated Text: Is It Comprehensible to Proficient
Readers? System, [S.l.], v. 22, n. 3, p. 391-399, 1994. DOI: https://doi.
org/10.1016/0346-251X(94)90024-8
LEFFA, V. J.; BEVILÁQUA, A. F. Aprendizagem ergódica: a busca do
hipertexto responsivo no ensino de línguas. Revista Língua & Literatura,
Frederico Westphalen, RS, v. 21, n. 38, p. 99-117, 2019.
LEWIS, D. Machine Translation in a Modern Languages Curriculum.
Computer Assisted Language Learning, [S.l.], v. 10, p. 255-271, 1997.
DOI: https://doi.org/10.1080/0958822970100305
LUTON, L. If the Computer Did My Homework, How Come I didn’t get
an “A”? French Review, Marion, IL , v. 76, p. 766-770, 2003.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 855

MACIEL, R. F.; VERGARA, V. S. Internacionalização como prática


local: um olhar situado sobre o papel da língua no english club e no curso
de medicina. Organon, Porto Alegre, v. 34, n. 66, p. 1-17, 2019. DOI:
https://doi.org/10.22456/2238-8915.91066
MATTAR, J. Constructivism and Connectivism in Education Technology:
Active, Situated, Authentic, Experiential, and Anchored Learning. RIED.
Revista Iberoamericana de Educación a Distancia, Madrid, v. 21, n.
2, p. 201-217, 2018. DOI: https://doi.org/http://dx.doi.org/10.5944/
ried.21.2.20055
MCCARTHY, B. Does Online Machine Translation Spell the End of
Take-Home Translation Assignments? CALL-EJ Online, [S.l.], v. 6, n. 1,
p. 26-39, 2004. Available on: http://callej.org/journal/6-1/mccarthy.html.
Retrieved at: Dec.10, 2019.
MCENERY, T., XIAO, R.; TONO, Y. Corpus-based Language Studies:
An Advanced Resource Book. London: Routledge; 2006.
NIÑO, A. Machine Translation in Foreign Language Learning: Language
Learners’ and Tutors’ Perceptions of Its Advantages and Disadvantages.
ReCALL, Cambridge, v. 2, n. 2, p. 241-258, 2009. DOI: https://doi.
org/10.1017/S0958344009000172
NIÑO, A. Evaluating the Use of Machine Translation Post-Editing in the
Foreign Language Class. Computer Assisted Language Learning, [S.l.], v.
21, n. 1, p. 29-49, 2008. DOI: https://doi.org/10.1080/09588220701865482
NIÑO, A. Recycling MT: A Course on FL Writing Via MT Post-Editing.
In: CLUK (COMPUTATIONAL LINGUISTICS UNITED KINGDOM)
ANNUAL RESEARCH COLLOQUIUM, 7th., 2004, Birmingham.
Proceedings […]. Birmingham: University of Birmingham, 2004. p.
179-187.
NORDIN, N. M.; RASHID, S.; ZUBIR, S. I. S.; SADJIRIN, R.
Differences in Reading Strategies: How ESL Learners Really Read.
Procedia-Social and Behavioral Sciences, [S.l.], v. 90, p. 468-477, 2013.
DOI: https://doi.org/10.1016/j.sbspro.2013.07.116
NUTTALL, C. Teaching Reading Skills in a Foreign Language. Oxford:
Heinemann English Language Teaching, 1996.
856 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

O’BRIEN, S. Teaching Post-Editing: A Proposal for Course Content. In:


EAMT WORKSHOP TEACHING MACHINE TRANSLATION, 6th.,
2002, Manchester, UK. Proceedings […]. Manchester: UMIST, 2002.
p. 99-106.
OXFORD, R. L. Language Learning Strategies: What Every Teacher
Should Know? New York: Newbury House Publishers, 1990.
PENA, M. I. C. The Potential of Digital Tools in the Language Classroom.
International Journal of the Humanities, v. 8, n. 11, p. 57-68, 2011. DOI:
https://doi.org/10.18848/1447-9508/CGP/v08i11/43047
PERFETTI, C. Reading Ability. New York: Oxford University Press,
1985.
PERFETTI C. Comprehending Written Language. A Blue Print of the
Re. In: HAGOORT, P.; BROWN, C. (ed.) Neurocognition of Language
Processing. Oxford: Oxford University Press, 1999. p. 167-208. DOI:
https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780198507932.003.0006
PERFETTI, C.; HART, L. The Lexical Bases of Comprehension Skill.
In: GORFIEN, D. (ed.). On the Consequences of Meaning Selection.
Washington: Psychology American Association, 2001. p. 67-86. DOI:
https://doi.org/10.1037/10459-004
PERFETTI, C. A.; LANDI, N.; OAKHILL, J. The Acquisition of Reading
Comprehension Skill. In: SNOWLING, M. J.; HULME, C. (org.). The
Science of Reading: A Handbook. Oxford: Blackwell Publishing, 2008.
p. 227-247. DOI: https://doi.org/10.1002/9780470757642.ch13
PETRARCA, M.P. Machine Translation: A Tool for Understanding
Linguistic Challenges Facing the Second Language Student. 2002. 240f.
Thesis (Ph.D) – Indiana University of Pennsylvania, Ann Arbor, 2002.
Available on: https://www.learntechlib.org/p/120926/. Retrieved at: Sept.
18, 2019.
RAMOS, R. ESP in Brazil: History, New Trends and Challenges. In:
KRZANOWSKI, M. (org.). English for Academic and Specific Purposes
in Developing, Emerging and Least Developed Countries. Reading:
Garnet Publishing, 2009. p.68-84.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021 857

RAMOS, R. C. G., Gêneros textuais: uma proposta de aplicação em


cursos de inglês para fins específicos. The ESPecialist, São Paulo, v. 25,
n. 2, p 108-128, 2004.
RIESS, A. B. As Estratégias de Leitura sem e com o uso do Google
tradutor. 2015. 220f. Tese (Doutorado em Letras) – Faculdade de Letras,
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2015.
RIESS. A. B.; GABRIEL, R. A desambiguação lexical durante a
compreensão leitora em inglês como língua estrangeira. Letras de Hoje,
Porto Alegre, v. 54, n. 2, p. 181-190, abr.-jun. 2019. DOI: http://dx.doi.
org/10.15448/1984-7726.2019.2.32529
ROBINSON, P. ESP - English for Specific Purposes. Oxford: Pergamon
Press, 1980.
ROBINSON, P. ESP Today: A Practitioner’s Guide. Hertfordshire:
Prentice Hall International, 1991.
RUMELHART, D. Toward an Interactive Model of Reading. In: SINGER,
H.; RUDDELL, R. (ed.). Theoretical Models and Processes of Reading.
Newark DE: International Reading Association, 1985.
SARMENTO, S.; BAUMVOL. L. A Internacionalização em casa e o
uso de Inglês como Meio de Instrução. Echoes, Florianópolis, s. n., p.
66-82, 2016.
SARMENTO, S.; BAUMVOL, L. K.; MARTINEZ, R. O papel das
línguas na internacionalização da educação. Organon. Porto Alegre, v.
34, n. 66, p. 1-3, 2019.
SCARAMUCCI, M. A competência lexical de alunos universitários
aprendendo a ler em inglês como língua estrangeira. DELTA, São Paulo,
v. 13, n. 2, p. 215-246, 1997. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-
44501997000200003
SOMERS, H. Machine Translation: Latest Developments. In: MITKOV,
R. (org.). The Oxford Handbook of Computational Linguistics. Oxford:
Oxford University Press, 2003. p. 513-528.
SOMERS, H. Further Experiments in Bilingual Text Alignment.
International Journal of Corpus Linguistics, Amsterdam, v, 3, p. 1-36,
1998. DOI: https://doi.org/10.1075/ijcl.3.1.06som
858 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 829-858, 2021

STEDING, S. Machine Translation in the German Classroom: Detection,


Reaction, Prevention. DieUnterrichtspraxis/Teaching German, [S.l.],
v. 42, n. 2, p. 178-189, 2009. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1756-
1221.2009.00052.x
TOMITCH, L. M. B. Aquisição de leitura em língua inglesa. In: LIMA,
D.C. (org.). Ensino e aprendizagem de língua inglesa: conversas com
especialistas. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. p. 191-201.
WILLIAMS, L. Web-Based Machine Translation as a Tool for
Promoting Electronic Literacy and Language Awareness. Foreign
Language Annals, [S.l.], v. 39, n. 4, p. 565-578, 2006. DOI: https://doi.
org/10.1111/j.1944-9720.2006.tb02276.x
ZANETTIN, F. Corpus-Based Translation Activities for Language
Learners. The Interpreter and Translator Trainer, [S.l.], v. 3, n. 2, p. 209-
224, 2009. DOI: https://doi.org/10.1080/1750399X.2009.10798789
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

An investigation of linguistic problems in automatic


multi-document summaries
Uma investigação de problemas linguísticos em sumários
automáticos multidocumento

Márcio de Souza Dias


Universidade Federal de Goiás (UFG), Catalão, Goiás / Brasil
marciosouzadias@ufg.br
http://orcid.org/0000-0003-1116-6965

Ariani Di Felippo
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), São Carlos, São Paulo / Brasil
arianidf@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-4566-9352

Amanda Pontes Rassi


Redação Nota 1000 Ltda., São Paulo, São Paulo / Brasil
amandarassi85@gmail.com
http://orcid.org/0000-0001-5314-1868

Paula Christina Figueira Cardoso


Universidade Federal de Lavras (UFLA), Lavras, Minas Gerais / Brasil
paula.cardoso@ufla.br
http://orcid.org/0000-0003-3621-8960

Fernando Antônio Asevedo Nóbrega


Samsung, São Paulo, São Paulo / Brasil
fernandoasevedo@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-1129-0133

Thiago Alexandre Salgueiro Pardo


Universidade de São Paulo (USP), São Carlos, São Paulo / Brasil
taspardo@icmc.usp.br
http://orcid.org/0000-0003-2111-1319
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.859-907
860 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Abstract: Automatic summaries commonly present diverse linguistic problems that


affect textual quality and thus their understanding by users. Few studies have tried to
characterize such problems and their relation with the performance of the summarization
systems. In this paper, we investigated the problems in multi-document extracts (i.e.,
summaries produced by concatenating several sentences taken exactly as they appear
in the source texts) generated by systems for Brazilian Portuguese that have different
approaches (i.e., superficial and deep) and performances (i.e., baseline and state-of-the
art methods). For that, we first reviewed the main characterization studies, resulting in a
typology of linguistic problems more suitable for multi-document summarization. Then,
we manually annotated a corpus of automatic multi-document extracts in Portuguese
based on the typology, which showed that some of linguistic problems are significantly
more recurrent than others. Thus, this corpus annotation may support research on
linguistic problems detection and correction for summary improvement, allowing the
production of automatic summaries that are not only informative (i.e., they convey the
content of the source material), but also linguistically well structured.
Keywords: automatic summarization; multi-document summary; linguistic problem;
corpus annotation.

Resumo: Sumários automáticos geralmente apresentam vários problemas linguísticos


que afetam a sua qualidade textual e, consequentemente, sua compreensão pelos
usuários. Alguns trabalhos caracterizam tais problemas e os relacionam ao desempenho
dos sistemas de sumarização. Neste artigo, investigaram-se os problemas em extratos
(isto é, sumários produzidos pela concatenação de sentenças extraídas na íntegra
dos textos-fonte) multidocumento em Português do Brasil gerados por sistemas que
apresentam diferentes abordagens (isto é, superficial e profunda) e desempenho (isto
é, métodos baseline e do estado-da-arte). Para tanto, as principais caracterizações dos
problemas linguísticos em sumários automáticos foram investigadas, resultando em
uma tipologia mais adequada à sumarização multidocumento. Em seguida, anotou-se
manualmente um corpus de extratos com base na tipologia, evidenciando que alguns
tipos de problemas são significativamente mais recorrentes que outros. Assim, essa
anotação gera subsídios para as tarefas automáticas de detecção e correção de problemas
linguísticos com vistas à produção de sumários automáticos não só mais informativos
(isto é, que cobrem o conteúdo do material de origem), como também linguisticamente
bem-estruturados.
Palavras-chave: sumarização automática; sumário multidocumento; problema
linguístico; anotação de corpus.

Submitted on April 29th, 2020


Accepted on July 1st, 2020
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 861

1 Introduction
Multi-document Summarization (MDS) is an important area of
Natural Language Processing (NLP). It aims at automatically producing
a unique summary for a set of source texts on the same topic (MANI,
2001; NENKOVA; MCKEOWN, 2011). It currently has attracted a lot of
attention in the scientific community because of the increasing incredible
amount of available textual information nowadays, mainly on the web.
It is a consensus that a good summary should contain the most
relevant information in the texts, and the area has achieved significant
progress in producing summaries that are more informative. The progress
is the result of both linguistically poor and rich summarization methods,
such as the empirical/statistical approaches (see, e.g., ANDO et al., 2000;
CARBONELL et al., 1997; HAGHIGHI; VANDERWENDE, 2009;
MIHALCEA; TARAU, 2005; RIBALDO et al., 2016) and the deep
ones (CARDOSO; PARDO, 2016; CASTRO JORGE; PARDO, 2010;
MCKEOWN; RADEV, 1995; RADEV, 2000; ZHANG et al., 2002).
Automatic summaries must also present the information to
the reader in a cohesive and coherent way. According to Koch (1998),
cohesion is related to the surface organization of a text. It may be
expressed by successive links among elements in the superficial structure
of the text. For example, anaphoric pronouns, which refer back to
textual antecedents, are elements of cohesion. Coherence is related to
the meaning of a text; related to the possible interpretation of the text
(KOCH; TRAVAGLIA, 2002). Beaugrande and Dressler (1981) claim
that the continuity of meaning is what keeps the text coherent. Thus,
coherence is the combination of concepts and relations of textual elements
and, sometimes, it is necessary to make use of world knowledge and
knowledge about the interlocutors and the situation itself for the text to
make sense. For example, coherence can be created between sentences
through repetition of words, which helps to reiterate the same ideas.
Although current summarization methods are still limited
on such aspects, since most of the systems only produce extractive1
instead of abstractive summaries2 (which are still hard to achieve and
not fully understood, systematized and formalized). Trying to evaluate
1
Summaries produced by concatenating sentences taken exactly as they appear in the
source texts.
2
Summaries that allow rewriting operations over the original material.
862 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

the linguistic quality (LQ) of summaries through numeric scores using


lexical, syntactic and/or semantic features (see, e.g., CONROY et al.,
2011; GIANNAKOPOULOS; KARKALETSIS, 2011; LIN et al.,
2012; OLIVEIRA, 2011; PITLER et al., 2010) or to identify certain
problematic linguistic aspects (see, e.g., CRISTINI; DI-FELIPPO, 2019;
FONSECA et al., 2019; FRIEDRICH et al., 2014; PITLER et al., 2010),
the summarization literature has revealed that automatic extracts present
several problems that affect their LQ.
In order to propose specific solutions for improving the LQ of
automatic summaries or more sophisticated MDS methods that tackle
such issues it is necessary to identify and to characterize the problems
in a corpus of automatic summaries.
In this paper, we investigate the types of LQ problems that
affect multi-document summary quality. Initially, we reviewed the
main approaches in the literature of linguistic problems in automatic
summaries, resulting in a typology more suitable for the multi-document
scenario. Next, we used the typology to annotate a corpus of extractive
multi-document summaries in Brazilian Portuguese3 produced by systems
with different performances, from both superficial (that use little linguistic
knowledge) and deep approaches (which are based on sophisticated
linguistic knowledge, as semantics and discourse), including baseline
and state-of-the art methods. Finally, with the annotated corpus, we
systematized and characterized the problems that the systems produce
and show that some problems are significantly more recurrent than others.
In Section 2, we present an overview of basic concepts in multi-
document summarization, focusing on the methods used to produce the
summaries that we evaluated. Section 3 presents the linguistic problems
that are available in the literature, resulting in a typology of problems. In
Section 4, we present our corpus of summaries used in the annotation.
In Section 5, we detailed the annotation of linguistic problems in the
multi-document summaries in Portuguese. Section 6 shows the results
and the analysis of the error annotation. In Section 7, the final remarks
will be presented.

3
The LQ problems are generic and may be applied to any language.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 863

2 Automatic Summarization
In this section, we present an overview of basic concepts in
Automatic Summarization and methods developed specifically for
generating summaries in Brazilian Portuguese.

2.1 Basic concepts


According to Mani (2001), a summary is a shorter version of one
or more texts. Depending on the number of documents to summarize, the
automatic process is defined as single or multi-document summarization.
While the first dates back to the 50s, the latter, which is the focus of this
paper, consists in a more recent initiative that officially started in the 90s,
bringing new challenges to the Automatic Summarization area.
There are several possible classifications for summaries (see, e.g.,
MANI; MAYBURY, 1999). Summaries may be informative, indicative
or critical. Informative summaries include the main facts of the source
documents organized in a cohesive and coherent way. These summaries
can be read in place of the original texts. Indicative summaries, differently
from the informative ones, do not substitute the original texts, but only
indicate what the texts are about. For example, indexes may be classified
as indicative summaries. Critical summaries bring the authors’ opinions
or points of view about the source texts. Examples of critical summaries
are book reviews.
Summaries are also classified according to the intended audience.
Generic summarization does not take into account any specific interest
of the reader, producing general-purpose summaries. On the other hand,
summarization focused on the interest of the reader uses information
based on his/her prior knowledge and interests. For example, a layman
may need a summary with more contextual information about the subject,
while a reader with a good knowledge about the subject may expect that
the summary presents additional or new information.
Summaries may be classified as extractive or abstractive.
Extractive summaries are formed by pieces of non-modified text, with
copy and paste operations (from the source texts to the summaries),
basically. Abstractive summaries make use of rewriting operations, i.e.,
there is some or full modification in the structure and/or in the writing
of the source text passages for building the corresponding summaries.
Currently, most of the available automatic summarizers are extractive
since abstraction is still considered a very difficult task.
864 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

The construction of summaries may follow two linguistic


approaches: superficial/shallow and deep approaches (MANI, 2001).
Shallow approaches use little or no linguistic knowledge at all to
produce summaries. The main advantage of the shallow approach is its
robustness4 and scalability,5 but it may produce worse summaries than
the ones resulting from deep approaches. Deep approaches use linguistic
knowledge, theories and formal language models in the creation of
summaries, as lexicons, wordnets, grammars, and syntactic-semantic and
discourse analysis. This approach is considered the most complex one,
because of the number of linguistic variables. Its application is usually
limited since systems of this approach are mostly developed for specific
domains. Shallow and deep approaches may also be merged, resulting
in the hybrid approach.
Finally, another important concept in summarization is the
amount of information that will be included in the summaries, which
is determined by the compression rate, i.e., the ratio between the size
of the summary and the size of the source texts (MANI, 2001), usually
measured in number of words.
In this paper, we conduct our investigation with extractive,
informative and generic summaries (which consist in the most usual
configuration in the area), produced by both shallow and deep approaches
for Portuguese. We briefly introduce the main characteristics of the
summarization methods that we used in what follows.

2.2 Summarization methods for Portuguese


There are several multi-document summarization systems for
Portuguese, following different content selection strategies, using both
classical and state of the art methods in the area. For this investigation,
we have selected four of them, trying to get a sample of summaries of
different performances, which represent the main available approaches.
One of them was GistSumm (GIST SUMMarizer) (PARDO et
al., 2003; PARDO, 2005). This summarizer follows a simple shallow
approach, and, to the best of our knowledge, it was the first one made
available for Portuguese. Its approach is based on the gist of the source

4
In this case, a robust method is applicable to very different testing data, e.g., different
genre or domain.
5
The scalability represents the ability of the method to deal with large amount of data.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 865

texts, i.e., the main idea intended to be conveyed or understood by


the reader. The gist is the most important segment of the source texts,
commonly expressed by only one sentence. The most widely applied
technique for detecting it has been simple word frequency measures.
Once identified, the gist serves as guide for identifying and selecting
other sentences to compose the final extract. Figure 1 shows a summary
generated by GistSumm.
FIGURE 1 – Summary generated by GistSumm

[S1] The crimes happened in the city of Muttur, in which during the last two
weeks, there were severe conflicts between the troops of the Sri Lanka army and
the guerrillas of the Liberation Tigers of Tamil Eelam (LTTE).
[S2] The director of ACF in Sri Lanka, Benoit Miribel, confirmed the death of its
employees and said that the NGO “did not suffer a similar loss in over 25 years of
existence.”
[S3] The violent conflict started on July 26, when government air troops bombed
positions of the guerrillas after the rebels blocked a dam located in its territory for
more than a week, hindering the supply of water in places under the government
control.
[S4] The special envoy for the peace in Sri Lanka from Norway, Jon Hanssen-
Bauer, arrived in the island last week and met the two parties, attempting to reduce
the tension and to avoid a new start of the civil war.
[S5] The crimes happened in the city of Muttur, in which, during the last two
weeks, there were severe conflicts between the troops of the Sri Lanka army and
the guerrillas of the Liberation Tigers of Tamil Eelam (LTTE).
[S6] The director of ACF in Sri Lanka, Benoit Miribel, confirmed the death of its
employees and said that the NGO “did not suffer a similar loss in over 25 years of
existence.”
[S7] The special envoy for the peace in Sri Lanka from Norway, Jon Hanssen-
Bauer, arrived in the island last week and met the two parties, attempting to reduce
the tension and to avoid a new start of the civil war.
[S8] Fifteen local employees of a French charity institution in Sri Lanka were
found dead in the city of Muttur in the north of the country.

One may see that the summary has several problems, such as
redundant information (S1 with S5, S2 with S6, and S4 with S7), noun
phrases without explanation (e.g., “the crimes” in S1 is not specified or
explained), and acronyms without explanation (“ACF” and “NGO” in
S2). Such problems occur due to the simplicity of GistSumm, whose
866 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

method is considered a baseline method for Portuguese. It was included


in this investigation for historical reasons and to evidence improvements
and remaining problems that the best current methods show.
The RSumm summarizer (RIBALDO et al., 2012, 2016) is
based on classical graph-based methods, which use the relationship map
approaches of Salton et al. (1997) adapted for MDS. According to the
authors, graphs/maps are built from a set of documents on the same topic,
where each vertex represents a sentence and the edges indicate the lexical
similarity between the sentences. The best method groups topic-related
sentences and select the most relevant one from each subtopic to compose
the summary. Figure 2 shows an example of a summary generated by
RSumm for the same source texts of the summary in Figure 1. One may
see that problems still happen in the summary, mainly related to the proper
introduction of noun phrases. However, it is clear that this summary is
much better than the one produced by GistSumm.
FIGURE 2 – Summary generated by RSumm

[S1] The special envoy for the peace in Sri Lanka from Norway, Jon Hanssen-
Bauer, arrived in the island last week and met the two parties, attempting to reduce
the tension and to avoid a new start of the civil war.
[S2] Fifteen local employees of a French charity institution in Sri Lanka were
found dead in the city of Muttur in the north of the country.
[S3] The crimes happened in the city of Muttur, in which, during the last two
weeks, there were severe conflicts between the troops of the Sri Lanka army and
the guerrillas of the Liberation Tigers of Tamil Eelam (LTTE).

Cardoso and Pardo (2015, 2016) presented a deep method for


MDS. They assume that the relevance of a sentence is influenced by
its salience in its source text, which is given by Rhetorical Structure
Theory (RST) (MANN; THOMPSON, 1987), using the method proposed
by Marcu (1999), and its salience in the set of texts, given by Cross-
document Structure Theory (CST) (RADEV, 2000). The method is
referred by RC-4 (which stands for the “4th combination of RST and CST
information”). Figure 3 shows a summary generated by RC-4.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 867

FIGURE 3 – Summary generated by RC-4

[S1] Fifteen volunteers from the French NGO “Action Contre la Faim” (ACF)
were killed in northeastern Sri Lanka today, said a spokeswoman
[S2] According to a representative of the group Action Contre la Faim, the bodies
were found in the organization office.
[S3] The director of ACF in Sri Lanka, Benoit Miribel, confirmed the death of its
employees and said that the NGO did not suffer a similar loss in over 25 years of
existence.
[S4] Up to now, the Sri Lankan authorities did not confirm the deaths or clarified
what happened in the city of Muttur.
[S5] The rebels said that they will consider a new bombing of the army.

This summary is much better than the others, but it still presents
some problems, such as lack of connection between the S5 content and
the rest of the summary, and occurrence of the noun phrases “The rebels”
and “a new bombing of the army” that do not have their respective
referents in the summary.
The last summarizer is based on a statistical method (CASTRO
JORGE, 2015). It captures summarization patterns by estimating the
occurrence probability of some features in human summaries, including,
e.g., discourse (following the RST and CST models) and sentence position
information. The features represent strategic characteristics that indicate
the salience of a sentence among a set of sentences. The probabilistic
model is based on a generative learning approach (the noisy-channel
framework), where the task is formulated with probabilistic components,
including probabilities for content selection during the transformation
process and for coherence of the produced summary, and a decodification
step (i.e., the production of the final summary). This summarization
method is referenced by MTRST-MCAD (Method of Transformation with
RST and Model for Coherence evaluation After Decodification). Figure 4
shows an example of a summary created by the MTRST-MCAD method.
868 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

FIGURE 4 – Summary generated by MTRST-MCAD

[S1] It is unclear who committed the murders of the employees of the French
organization.
[S2] The rebels said that they will consider a new bombing of the army.
[S3] Up to now, the Sri Lankan authorities did not confirm the deaths or clarified
what happened in the city of Muttur.
[S4] “We tried to send a team to Muttur to check what is going on, but the soldiers
did not allow us to enter the city, which is totally blocked”, he said.
[S5] The director of ACF in Sri Lanka, Benoit Miribel, confirmed the death of its
employees and said that the NGO did not suffer a similar loss over 25 years of
existence.

One may see that the summary also has some problems that
affect its quality, such as the lack of connection between S2 content and
the rest of the summary, and the occurrence of the definite noun phrases
“the murders of the employees” and “the French organization” in S1
that do not have their respective referents. The same occurs with the
definite noun phrase “The rebels” and “the army” in S2. Besides these
problems, the explanations for the “ACF” and “NGO” acronyms in S5
are not present in the summary.
The RC-4 system (in the deep approach) is currently the best
method for Portuguese, followed very closely by RSumm (in the shallow
approach). With some distance, we have MTRST-MCAD and, finally,
GistSumm. The evaluations of these methods have so far been guided by
summary informativeness criteria, mainly using ROUGE (LIN, 2004), a
standard n-gram-based measure that is automatically computed, allowing
for fast and easily reproducible evaluation. Despite the importance of
informativeness, the examples in this section show that this criterion is
not enough for assuring that good summaries are produced and provide
evidence that the systems need to treat problems that affect the LQ of
their summaries, as they severely harm the summary quality. For this, we
believe that the definition and the identification of problems related to
LQ will guide the summarizers in possible solutions for these problems.
In what follows, we present and discuss important issues and
previous initiatives related to defining and characterizing linguistic
problems in summaries, proposing, in the end, a synthesized and
comparative view of them. This forms the basis of the study that we
conduct in our corpus.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 869

3 Definition and characterization of linguistic problems


Some works have tried to find and deal with linguistic problems
in summaries for improving their quality. Although some identified
problems are similar, some approaches are much more refined than others
and there is great variation in the error catalogues. To the best of our
knowledge, we briefly list and discuss the main initiatives in what follows.

3.1 The revision of linguistic quality issues in automatic summaries


Otterbacher et al. (2002) studied the problems related to the
cohesion of extractive multi-document summaries and suggested revisions
(solutions) to improve cohesion. The authors presented a corpus-based
analysis of automatically generated extractive multi-document summaries,
produced by the MEAD summarizer (RADEV et al., 2003), which is
one of the most popular summarization systems for English. The authors
discussed the feasibility of automatically improving the summaries and
they created a taxonomy of problems related to cohesion.
According to them, the taxonomy is divided into five pragmatic
categories related to textual cohesion in multi-document summaries:
Discourse, Identification of Entities, Temporal Expressions, Grammar,
and Location Settings. In what follows, we detail these problems and
some of their main related problems, showing examples.
The discourse category focuses on the relationships among the
sentences of the summary (inter-sentence level) and on the relationships
among textual elements inside sentences (intra-sentence level). The
authors considered some aspects in this category that may cause cohesion
problems in multi-document summaries: Topic Shift, Lack of Purpose,
Contradiction, Redundancy, and Conditional Sentences.
The Topic Shift, which is the fast change of one subject by
another, has the highest occurrence (45%). In order to solve the problem,
an addition of a transitional sentence or phrase may be necessary, as
illustrated in Figure 5. The underlined segment is a possible example of
transitional phrase in a Topic Shift.
FIGURE 5 – Example of solution for topic shift problem

[S1] In a related story, the government of Hong Kong announced a proposal to


require all drug rehabilitation centers...
Source: Otterbacher et al. (2002)
870 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Another common problem in summaries is sentences with lack


of purpose, which may be solved by the addition of sentences or phrases
that motivate a purpose in the problematic segment. Figure 6 shows this
situation.
FIGURE 6 – Example of solution for lacked purpose

[S1] In order to assist the ongoing investigation as the cause of the crash, the U.S.
team from the National Transportation Safety Board will join experts...
Source: Otterbacher et al. (2002)

Contradiction is related to some information in a given sentence


that contrasts with one or more previous sentences. In such cases, a
discourse marker such as “however” or “in contrast” may help. Figure
7 shows an example of contradiction.
FIGURE 7 – Example of contradiction that was solved

[S1] However, according to reports on CNN, the control tower was concerned
with the speed and altitude of the plane and had discussed these concerns with the
pilot.
Source: Otterbacher et al. (2002)

Redundancy occurs when a sentence contains previously reported


information. For Otterbacher et al. (2002), a possible action to solve this
problem is to delete the redundant constituent (non-head element of NPs,
PPs, or the entire relative clause or phrase). Figure 8 shows an example
of this scenario, where the underlined passage must be removed.
FIGURE 8 – Example of redundancy that may be solved

[S1] The crash of flight 072 that killed 143 people…


[S2] The plane, which was carrying the 143 victims, was headed for Bahrain from
Egypt.
Source: Otterbacher et al. (2002)

According to the authors, sometimes events in a given sentence


are conditioned by events in another sentence. Thus, a good action is to
modify the sentences, using the structure “IF (sentence 1), (sentence 2)”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 871

Besides this, the verb tenses may be changed to represent the condition.
Figure 9 is an example of this use.
FIGURE 9 – Example of conditional sentence with improved cohesion

[S1] If the proposed measures were implemented, they would ensure broadly the
same registration standard to be applied to all drug treatment centers.
Source: Otterbacher et al. (2002)

The identification of entities category requires the resolution of


referential expressions, since the reader needs to identify each entity
mentioned in a summary. According to Otterbacher et al. (2002), 9
problems were found in summaries related to this category, which
were: Underspecified Entity, Misused Quantifier, Overspecified Entity,
Repeated Entity, Bare Anaphora, Misused Definite Article, Misused
Indefinite Article, Missing Article, and Missing Entity. The underspecified
entity problem was the most frequent in this category, in 38% of the cases.
The authors also use some revisions to solve problems related to
the identification of entities. For example, one possible solution to solve
an underspecified entity (a newly mentioned entity that has no description,
or the presence of an acronym without explanation) is the addition of
a full name, a description or a title for the new entity, or expanding the
acronym if this is the case. Figure 10 shows an example of this revision.
FIGURE 10 – Example of underspecified entity revision

[S1] Mrs. Clarie Lo, the Commissioner of Narcotics, said the proposal would be
introduced to non-medical drug treatment centers.
Source: Otterbacher et al. (2002)

The misused definite article problem may also be solved by


adding a definite article if the entity has already been mentioned, or
an indefinite article if the entity is new. Figure 11 shows part of a text
with the addition of the indefinite article “a”, since the entity “second
eruption” is new in the text.
FIGURE 11 – Example of misused definite article revision

[S1] On Thursday, a second eruption appeared to be smaller than anticipated.


Source: Otterbacher et al. (2002)
872 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

The temporal category is related to the right temporal relationships


among events. The authors identified five types of possible problems
that fall into this category: Temporal Ordering, Time of Event, Event
Repetition, Synchrony and Anachronism. The temporal ordering problem
represented 89% of all errors found in this category.
Temporal ordering is related to the establishment of correct
temporal relations among events. If there is a problem, the authors
recommend, e.g., to add time expressions, to add ordinal numbers, to
delete inappropriate time expressions, or to modify an existing time
expression. Figure 12 shows an example of a temporal ordering problem
that was revised.
FIGURE 12 – Example of revision for temporal ordering error

[S1] Two days later, a second eruption appeared to be smaller than scientists had
anticipated.
Source: Otterbacher et al. (2002)

The event repetition problem may be solved by simply adding an


adverb such as “again”. Figure 13 shows an example of such revision.
FIGURE 13 – Example of event repetition problem revision

[S1] Mount Pinatubo is likely to explode again in the next few days or weeks.
Source: Otterbacher et al. (2002)

Some problems in grammar category have also been identified


in the corpus used by Otterbacher et al. (2002) Among these problems
are: Run-on Sentence, Mismatched Verb, Missing Punctuation, Awkward
Syntax, Parenthetical, Subheadings/Titles, and Misused Adverb. The
run-on sentence problem was the most frequent one, representing 35%
of these errors.
For the authors, a run-on sentence is a very long sentence.
Thus, the authors recommend splitting long sentences into two separate
sentences and deleting the conjunction. Figure 14 shows a long sentence
that was revised.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 873

FIGURE 14 – Example of run-on sentence problem revision

[S1] Lt. Col. Ron Rand announced at 5 a.m. Monday that all personnel should
begin evacuating the base.
[S1] Meanwhile, dawn skies over central Luzon were filled…
Source: Otterbacher et al. (2002)

Parenthetical is a problem related to the inappropriate use of


parenthesis. Thus, the authors simply suggest deleting the parenthesis
symbols. Figure 15 shows an example of inappropriate use of parenthesis.
FIGURE 15 – Example of a parenthetical problem revised

[S1] (Volcanoes such as Pinatubo arise where one of the earth’s crust plates is
slowly diving beneath another.)
Source: Otterbacher et al. (2002)

The location settings category includes a type of revision related


to the correct location of events, in order for the text to be improved. These
settings may be: Location of Event, Collocation, Change of Location,
and Place/Source Stamp.
Location of event specifies where an event takes place. Thus, the
authors suggest adding a prepositional phrase that indicates place (city,
state, or country). Figure 16 shows a type of location of event setting
that was revised.
FIGURE 16 – Example of a location of event setting revision

[S1] Three bodies were lain before the faithful in the Grand Mosque in Manama,
Bahrain during a special prayer…
Source: Otterbacher et al. (2002)

Collocation is related to two or more events that occur in the


same place. Thus, the authors suggest adding a prepositional phrase or an
adverb that indicates the collocation. An example is shown in Figure 17.
FIGURE 17 – Example of revision for collocation

[S1] Meanwhile, in the same area, search teams sifted through the wreckage.
Source: Otterbacher et al. (2002)
874 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Generally, according to the authors, the discourse category


corresponded to 34% of all the problems found in the corpus, followed by
the categories identification of entities (with 26%), temporal expressions
(22%), grammar (12%), and location settings (6%).
Friedrich et al. (2014) presented a corpus of multi-document
summaries (called LQVSumm) which was manually annotated with
several types of LQ errors. These summaries were automatically created
in the TAC (Text Analysis Conference) 2011 shared task on Guided
Summarization (OWCZARZAK; DANG, 2011). The authors identified
two classes of problems: one considering entity mentions and another
happening at the level of clauses. The first is related to reference or
coreference problems. The last involves grammar or redundancy errors.
For the authors, in the level of entity, the problem types are: First
mention without explanation, Subsequent mention with explanation,
Definite noun phrase without reference to previous mention, Indefinite
noun phrase with reference to previous mention, Pronoun with missing
antecedent, Pronoun with misleading antecedent, and Acronyms without
explanations.
The first mention without explanation problem is assigned to
the first mention of an entity for which there is not a clear reference to
the reader. For example, in the sentence “Paul bought toys to the poor
children”, there is no sufficient introduction for the entity “Paul”.
The subsequent mention with explanation problem is related to
entity mentions that have already been referenced in the text and present
an inappropriate extra explanation. For example, consider sentences S1
and S2 in Figure 18. In sentence S2, there is an additional explanation
related to the entity Taylor, but the entity has already been referenced
in sentence S1.
FIGURE 18 – Example of subsequent mention with explanation error

[S1] Taylor’s attorney could not be reached for comment Friday night.
[S2] Tony Taylor, 34, of Hampton, Va., has a plea-agreement hearing scheduled
for 9 a.m.

Source: Friedrich et al. (2014)

The definite noun phrase without reference to previous mention


problem occurs when a definite noun phrase is used to refer to the first
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 875

mention of an entity in the text. For example, “the Petrobras Company”


should be used in a summary in which “a company” has been mentioned
before.
The indefinite noun phrase with reference to previous mention
error occurs when an indefinite noun phrase is used for an entity already
mentioned in the discourse. For example, the noun phrase “a company”
is not appropriate if the same company has already been mentioned in
the summary.
The pronoun with missing antecedent problem occurs when there
is no possible antecedent that matches with the pronoun. Figure 19, for
example, shows a beginning of an automatic multi-document summary
where the pronoun “he” does not have a possible antecedent.
FIGURE 19 – Example of pronoun with missing antecedent

[S1] The renouncement may not stop the investigation because the process was
already started.
[S2] He will establish the process against the deputies involved with the
Sanguessugas Mafia.
Source: Cardoso et al. (2011)

The pronoun with misleading antecedent error occurs when


an anaphoric expression refers to a misleading antecedent and its
right antecedent is not in the summary. For example, Figure 20 shows
part of a summary about soccer. In this case, the pronoun “he” (in the
second sentence) apparently refers to the soccer player Kaká (in the first
sentence), but, in the source text, the pronoun refers to Robinho, who is
not introduced in the summary.
FIGURE 20 – Example of pronoun with misleading antecedent

[S1] At the 27 minutes, Kaká kicked the ball and Ronaldinho diverted the kick.
[S1] 20 cm from the end line, he gave two humiliating dribbles in the Ecuadorian
defender and crossed the ball to Elano, who scored the fourth goal, at 37 minutes.

Source: Cardoso et al. (2011)

The acronyms without explanations problem occurs when


acronyms are not previously known and are not explained in the first
time they are introduced.
876 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Friedrich et al. also proposed the annotation at the clause level.


This was made on arbitrary spans, from single tokens to complete
sentences. According to the authors, the clause level errors are: Incomplete
sentence, Inclusion of datelines, Other ungrammatical form, No semantic
relatedness, Redundant information, and No discourse relation.
An incomplete sentence problem usually results from segmentation
errors in sentence compression (or truncation), which aims at reducing the
length of candidate sentences to generate summaries with the desirable
size pre-defined by the compression rate. For example, the following
sentence is incomplete, since the name of the person was lost in the end
of the sentence: “One was killed in a bedroom and others were murdered
in a classroom, according to the head of the campus police, W.”
For the authors, the inclusion of datelines in summaries is
not desired and should be avoided. For example, a summary with the
information “GEORGETOWN, Pennsylvania 2006-10-05 16:53:53
UTC” must be annotated with this problem.
The other ungrammatical form error considers all other
ungrammaticality cases, such as missing spaces and wrong punctuation.
The no semantic relatedness problem occurs when sentences do
not show plausible semantic relations. In Figure 21, for example, S1 and
S2 are apparently not related.
FIGURE 21 – Example of no semantic relatedness problem

[S1] It is popularly known as the ‘pink city’ because of the ochre-pink hue of its
old buildings and crenellated city walls.
[S2] He said there was no justification for such killings.
Source: Friedrich et al. (2014)

The redundant information problem occurs when two or more


sentences express the same information. For example, in Figure 22,
sentences S1 and S2 are partially redundant.
FIGURE 22 – Example of summary with redundant information

[S1] The suspect apparently called his wife from a cell phone shortly before the
shooting began, saying he was “acting out in revenge for something that happened
20 years ago”, Miller said.
[S2] The gunman, a local truck driver Charles Roberts, was apparently acting in
“revenge for an incident that happened to him 20 years ago.
Source: Friedrich et al. (2014)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 877

The no discourse relation problem, in particular, may happen


when an explicit discourse connective (e.g., “and”, “but”, “even
though” and “because”) is no longer appropriate in the new context in
the summary, does not being suitable for signaling the corresponding
discourse relation. For example, this is the case for the connective “and”
in the second sentence in Figure 23.
FIGURE 23 – Example of no discourse relation error in a summary

[S1] Taylor’s attorney could not be reached for comment Friday night.
[S2] And the person who cooperates first gets the biggest reward.
Source: Friedrich et al. (2014)

It their conclusions, the authors show that there are relationships


between the types of problems they defined and the summary readability
evaluation performed at TAC, which we introduce in what follows.
In the mono-document summarization, Kaspersson et al. (2012)
investigated linguistic problems that occur in summaries extracted from
single texts. The focus was on discourse problems, such as referring
expressions with missing antecedents and fragments, and how text units
in the summaries are connected. In addition, the authors have investigated
how the different size of summaries and different genres influence the
occurrence of types of problems. The authors considered texts of three
different genres in their study: Swedish newspapers, popular Swedish
science texts, and authority texts from the Swedish Social Insurance
Administration.
The problems found by the authors were grouped into three
categories: Erroneous anaphoric reference, Absent cohesion or context,
and Broken anaphoric reference. Erroneous anaphoric reference is
related to an anaphoric expression in the summarized text that refers
to an erroneous antecedent, given that the correct antecedent was not
extracted from the source text of the summary. This category occurs
for the following cases: Noun phrases, Proper names, and Pronouns.
Absent cohesion or context is a self-explanatory error, related to the
lack of cohesion or necessary context in summaries. Broken anaphoric
reference happens when an anaphoric expression presented in a summary
does not have its antecedent because this antecedent was not extracted
878 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

from the source text. This category also occurs for the following cases:
Noun phrases, Proper names, and Pronouns.
The authors report that the most significant problems are:
Erroneous anaphoric reference related to pronoun, Absent cohesion or
context, Broken anaphoric references related to noun phrases and Broken
anaphoric references related to pronouns.
For evaluating summaries in summarization contests, TAC
(DANG, 2005) developed classical guidelines to evaluate LQ in
summaries related to 5 features: Grammaticality, No Redundancy,
Referential Clarity, Textual Focus, and Textual Structure and Coherence.
Grammaticality verifies whether there are format and grammar
problems in the summaries, including capitalization (e.g., whether proper
names start with a capital letter). In relation to no redundancy, a good
summary should present the maximum amount of unique information
that is possible in respect to the compression rate. Thus, a summary is
weighted by the unnecessary repetition of information. This analysis must
happen in different levels, such as the redundant data/fact of an event,
sentences, and names (entities should be, whenever possible, referenced
by pronouns). A summary presents referential clarity when text references
are not ambiguous. A summary has focus when all sentences are related
to the addressed issue. The last feature of TAC suggests that a summary
is also evaluated by its good structuring and coherence. For example,
a summary should not present divergent information on the same fact
or event.
These 5 criteria that were proposed in TAC (actually, when it was
named Document Understanding Conference (DUC)) are widespread
in the area and used by most of the works that attempt to check LQ in
summaries.

3.2 A synthesized view of linguistic quality issues


In section 4.1, we reviewed the more important sets of LQ
problems in automatic summaries defined by previous research. Such
sets present similarities and differences in several aspects, such as (i)
coverage, since some problem sets are more complete than others; (ii)
types of problems, (iii) generality of the problems (since some problem
sets are more fine-grained than others), and (iv) purpose (some errors
are tailored for single summarization, others are for MDS, and others are
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 879

more agnostic). This shows the relevance and the complexity of these
studies, which support summarization and other tasks.
In Table 1, we synthesized the LQ problem sets, showing the
similarities and differences based on 5 classes: (i) errors related to
inappropriate formatting and metadata inclusion; (ii) problems with
grammatical origin; (iii) inadequacies that come from style/grammar
choices; (iv) problems related to inadequacies in the use of entities and,
therefore, also related to cohesion; and (v) errors related to discourse and
coherence. We indicate with an “X” when a study treats the respective
LQ issue.
It is clear that some problem types cause problems in other levels
(e.g., a grammar error of missing subject/agent in a sentence also results
in lower cohesion), but we focused on the origin of the problems when
categorizing them. It is also interesting to notice that such categorization
may not be completely fair to the listed works, as they report different
problem specificity levels: while Otterbacher et al. (2002) and Friedrich et
al. (2014) present much more refined error catalogues, Kaspersson et al.
(2012) and Dang (2005) are more worried with general level problems.
TABLE 1– Synthesis of LQ problems in summaries

Otterbacher Kaspersson Friedrich et Dang


LQ problems
et al. (2002) et al. (2012) al. (2014) (2005)
Formatting, metadata
inclusion of subheading/titles x
inclusion of place/source stamp x
inclusion of datelines x x
inclusion of system-internal
x
formatting
Grammar
missing subject/agent x x x
mismatched verb x x x
missing punctuation x x x
wrong parenthetical x x x
incomplete sentence x x
wrong capitalization x
880 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Grammar, style
run-on sentence x
awkward syntax x
missing/omitted article x
Entities, cohesion
first mention without explanation x x x x
acronyms without explanations x x x x
subsequent mention with explanation x x x
repeated entity x x
definite noun phrase without
x x x x
reference to previous mention
indefinite noun phrase with
x x x x
reference to previous mention
misused quantifier x x x
pronoun with missing antecedent x x x x
noun phrase with missing antecedent x x
proper noun with missing antecedent x x
pronoun with misleading antecedent x x x
noun phrase with misleading
x x
antecedent
proper noun with misleading
x x
antecedent
not clear identification of who
or what the pronouns and noun x
phrases are referring to
Discourse, coherence
occurrence of redundancy x x x
occurrence of contradiction x x
not explicit conditional sentences x x x
lack of purpose for a sentence x x x
lack of place specification for
an event (including collocation, x x x
change of location)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 881

lack of time specification for an


event (including anachronism,
x x x
temporal ordering, synchrony,
repetition of event)
abrupt topic shift x x x
no semantic relatedness x x x x
misused word/discourse marker x x x x

For multi-document processing tasks (as MDS), the last two


problem types (“Entities, cohesion” and “Discourse, coherence”) look
more worthy of identification and treatment, as they are more frequent
errors and cause more serious problems. Thus, as described in section
5 (specifically in section 5.1), we have based our corpus annotation on
these LQ problems, looking for a more appropriate and informative error
set for MDS.
In next section, we introduce the summarization corpus that we
used to conduct our investigation of linguistic problems, over which we
ran the above summarization methods and performed the corpus analysis.

4 The Corpus
The corpus used in this work was the CSTNews corpus
(CARDOSO et al., 2011). This corpus has been specially created for
multi-document summarization. It is composed of 140 texts (with an
average of 334 words and 14.9 sentences per text) distributed in 50
sets/clusters of news texts written in Brazilian Portuguese6 from various
domains. Each cluster has 2 or 3 texts from different sources that address
the same topic. These sources are important Brazilian online newspapers,
as Folha de São Paulo, Estadão, O Globo, Jornal do Brasil, and Gazeta
do Povo.
According to the authors, the choice of these news agencies was
due to their popularity, to publish the main current news, to the use of a
clear and everyday language, and because they make available different

6
The adoption of a corpus in Portuguese was due to the facts that (i) it was possible
to have access to the several different summaries that we needed for this investigation
and (ii) the annotators were native speakers of this language, which allowed for a more
refined and reliable annotation.
882 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

versions of the same facts, which is important for a multi-document


corpus.
Besides the original texts, the corpus contains several linguistic
annotation layers, manually produced by experts, with satisfactory
annotation agreement results. The manual annotations include single and
multi-document summaries, text-summary alignments, the identification
of temporal expressions, RST and CST annotation, noun and verb senses,
segmentation of the source texts in subtopics, and semantic annotation
of informative aspects in summaries, among other annotations. There
are also some automatic annotations, which include morphosyntactic
and syntactic analyses, with the best parser for Portuguese, and multi-
document summaries.
For the annotation task, 200 multi-document summaries have
been used since each of the four automatic summarizers generated one
extract for each cluster of the CSTNews. Table 2 shows the average of
words and sentences per summary generated by each summarizer.
TABLE 2 – Basic counts for the corpus of automatic summaries

System Average of words Average of sentences


GistSumm 362 11
RSumm 134 4
RC-4 132 4
MTRST-MCAD 139.78 7.92

According to the table, the average of words and sentences in the


summaries from GistSumm is higher than the summaries produced by
the other summarizers. This happens because GistSumm compression
rate is computed in a different way in relation to the other summarizers.
It is computed over all the source texts, which are concatenated. For the
other summarizers, the compression rate is 30% of the largest text of each
cluster of the CSTNews corpus. We kept GistSumm in the comparison
because we considered it interesting to see how the summary size variance
affects the occurrence of LQ problems.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 883

5 Annotation of linguistic problems in multi-document summaries


In this section, we describe the methodology that we used for the
annotation of LQ problems in our corpus of automatic multi-document
summaries in Portuguese. Such annotation allowed us to understand and
categorize the linguistic problems, to check the quality of the automatic
summaries and to guide the future development of automatic methods
that judge the LQ of multi-document summaries and, consequently, of
automatic summarizers.
Given the 50 clusters of the CSTNews corpus, the automatic
summarizers GistSumm (PARDO et al., 2003; PARDO, 2005), RSumm
(RIBALDO et al., 2012, 2016), RC-4 (CARDOSO; PARDO, 2015,
2016) and MTRST-MCAD (CASTRO JORGE, 2015) were used to
generate individual extractive summaries for each cluster. Therefore,
200 automatic multi-document summaries were produced and manually
annotated.
Based on the related literature and the analysis in section 4.2, we
synthetically list the linguistic problems of interest in three categories:
(i) Entity Level, (ii) Clause Level, and (iii) Others (see TABLE 3). In
general, the problems we adopted are strongly based on those of Friedrich
et al. (2014), extended with some more information and problem types
that were necessary for our corpus annotation.
All errors were identified in the corpus with XML markers. The
markers have the format <e TYPE=(error name)>(Text Passage)</e>.
For some markers, there is additional information placed after the error
name, and this will be explained along with their respective errors.
The “error name” field is filled with the name of the error identified in
the “text passage” field, which may contain full sentences or sentence
fragments that show the error.
In what follows, the errors are explained once more, now adapted
to this work and accompanied by the markup strategy and actual examples
of our corpus.

5.1 The LQ problems typology


For the investigation of the problems in automatic multi-
document extracts in Portuguese, we organized the linguistic problems
of interest in 3 categories: (i) Entity Level, (ii) Clause Level, and (iii)
884 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Others (errors that are different from the two first categories) (TABLE
3). The Entity and Clause categories have several types.
TABLE 3 – The typology of LQ problems

Level Problem type Tag


First mention without explanation 1M-EXP
Subsequent mentions with explanation SM+EXP
Definite noun phrase without reference to the previous mentions DNP-REF
Entity Indefinite noun phrase with reference to the previous mentions INP+REF
Pronouns without antecedent PRO-ANT
Pronouns with misleading antecedents PRO_MIS
Acronyms without explanation ACR-EXP
Redundant information RED
Contradiction CONTR
Clause Incomplete sentences INC_SENT
No semantic relationship No_SEM
Connective/discursive marker without appropriate context DM
Other Errors that are different from the two first categories OTHER

5.1.1 Problems in the entity level


Based on Table 3, one sees that the errors in the entity level present
7 subcategories: 1M-EXP, SM+EXP, DNP-REF, INP+REF, PRO-ANT,
PRO_MIS, and ACR-EXP.
First mention without explanation (1M-EXP) is identified in a
summary when the first mention of an entity is not properly introduced.
In Figure 24, there is a problem of 1M-EXP in the third sentence (S3)
of the summary. In this case, the first mention of entity “Tepco” was
annotated because the reader does not know what this entity is, i.e., there
is not a clear introduction to this entity in its first mention.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 885

FIGURE 24 – Annotation of a1M-EXP problem

[S3]<e TYPE=1M-EXP>Tepco</e> has declared the earthquake did not cause


leaks, but, afterwards, it revealed that 1,200 liters of water with radioactive
material from the factory have leaked to the sea.

Subsequent mentions with explanation (SM+EXP) are identified


in summaries when entities have already been mentioned in the text, but
they still appear with an inappropriate (usually, extra) explanation. For
illustration, consider sentences S1 and S2 in Figure 25.
FIGURE 25 – Annotation of a SM+EXP problem

[S1] The president of the Ethics Council of the Senate, Leomar Quintanilha
(PMDB-TO), said to be contrary to the unification of the processes against the
Senator Renan Calheiros (PMDB-AL).
[S2] <e TYPE=SM+EXP SENT=S1 TEXT= “The president of the Ethics Council
of Senate, Leomar Quintanilha (PMDB-TO)”> The president of the Ethics
Council of Senate, Leomar Quintanilha (PMDB-TO)</e>, said that he is against
the union of representations, however that he will propose to a vote.

The entity “Leomar Quintanilha (PMDB-TO)” is explained


in sentence S1 as “The president of the Ethics Council of Senate”,
and sentence S2 contains the same entity with a repeated explanation,
characterizing a type SM+EXP problem. This problem is annotated in
the second occurrence of the entity with explanation, as shown in Figure
25. The SENT field contains the identification of the sentence in which
the first mention of the entity that was specified in the field TEXT occurs.
Definite noun phrase without reference to previous mentions
(DNP-REF) is identified in summaries when a definite noun phrase does
not refer to any entity mentioned earlier. For example, consider sentences
S1, S2 and S3 in Figure 26.
FIGURE 26 – Example of a DNP-REF problem

[S1] At least 17 people died after the crash of a passenger plane in the Democratic
Republic of Congo.
[S2] According to an ONU spokeswoman, the plane, Russian-made, was trying to
land in the Bukavu airport in the midst of a storm.
[S3] <e TYPE=DNP-REF>The spokesman</e> informed that the plane, a Soviet
Antonov-28 of Ukrainian-made and owned by a Congolese company, Trasept
Congo, also carried a cargo of minerals.
886 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

The error <e TYPE=DNP-REF> in sentence 3 is due to the


definite noun phrase “The spokesman”, for which there is no reference
to any entity mentioned earlier.
The indefinite noun phrase with reference to previous mentions
(INP+REF) problem is identified in summaries when an indefinite article
is used together with an entity already mentioned in the discourse (that,
therefore, should be introduced in another way). For example, S2, in
Figure 27, includes the indefinite noun phrase “an Airbus A320”, which
was already introduced in S1 (“The Airbus-A320”), causing inconsistency
in the summary.
FIGURE 27 – Example of the INP+REF problem

[S1] In São Paulo, on Tuesday (17), the Airbus-A320 of TAM presented a defect
in the reverse of the right turbine for the last 13 days.
[S2] The problem would have been detected by the electronic system of the plane,
but the plane, <e TYPE=INP+REF SENT=S1 TEXT= “the Airbus-A320”> an
Airbus A320</e>, continued flying with the right reverse off.

Pronoun without antecedent (PRO-ANT) is identified when


a pronoun does not have a possible antecedent in the summary. For
example, the first sentence of the summary in Figure 28 contains the
pronoun “he” without a possible antecedent for it.
FIGURE 28 – Example of the PRO-ANT problem

[S1] Hospitalized in a hospital in Buenos Aires, <e TYPE = PRO-ANT>he</


e> relapsed and started to feel pain again due to acute hepatitis, according to his
personal doctor, Alfredo Cahe.
[S2] “Maradona had a relapse in acute hepatitis. Now, he is stable. Although he
improved on Sunday, it is expected that he continues in hospital,” Cahe declared
to “La Nación”.

Pronoun with misleading antecedent (PRO_MIS) is identified


when an anaphoric expression refers to a misleading antecedent and
its correct antecedent is not present in the summary. In this annotation
task, the annotators could check the source text to identify the correct
antecedent. In the example in Figure 29, the pronoun “he” (in S2) seems
to connect to the entity “Kaká” (in S1). However, in the source text, the
pronoun refers to the soccer player “Robinho”, who is not cited in the
summary.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 887

FIGURE 29 – Example of the PRO_MIS problem

[S1] At 27 minutes, Kaká kicked from far away and Ronaldinho diverted the kick.
[S2] 20 cm from the end line <e TYPE=PRO_MIS ANT=”Kaká,
Ronaldinho”>he</e> dribbled the Ecuadorian defender and crossed the ball to
Elano, who scored the fourth goal at 37 minutes.

Besides identifying the type of error in the TYPE tag, the


misleading antecedents must also be listed in the ANT tag. This allows
the recovery of the problems in future studies.
Acronyms without explanation (ACR-EXP) are identified in a
summary by their “non expanded form” or when they are not explained.
For example, in the sentences in Figure 30, the “Deic” and “PF” acronyms
have no proper introduction.
FIGURE 30 – Example of the ACR-EXP problem

[S1] The other suspect is graffiti man and, according to <e TYPE=ACR-
EXP>Deic</e>, he has been arrested for theft, but has already been released.
[S2] The <e TYPE = ACR-EXP CS = “Federal Police”> PF </ e> did not know
how to inform if this kind of reward is paid to law enforcement agencies.

Some acronyms are considered to be common sense, such as


abbreviations of states and national (Brazilian) political parties. Such
cases was annotated with the CS tag, which contains the common sense
meaning of the acronym, as shown in the annotation of the error in
Figure 30. In this work, common sense was used when the majority of
the annotators had the same knowledge about the acronym. Differently
from us, Friedrich et al. (2014) considered as common sense entities that
are in a pre-compiled list of well-known acronyms.

5.1.2 Problems in the clause level


Based on Table 3, the clause category has 5 types of problems,
which are: RED, CONTR, INC_SENT, No_SEM, and DM.
Redundant information (RED) (in total or partial levels)
negatively affects the informativity of summaries. As an example, it is
possible to see that sentence S2 in Figure 31 contains information from
sentence S1, i.e., it is a repetition. Due to this, we marked this problem as
a RED error in the TYPE tag, and we indicated the first sentence where
the original information was present.
888 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

FIGURE 31 – Example of the RED problem

[S1] A homemade bomb was thrown against the building of the Public Ministry, in
the center of the capital, but nobody was injured.
[S2] <e TYPE=RED SENT=S1> A homemade bomb exploded outside the
building of the State Public Ministry and nearby shops were hit by shrapnels. </e>

Contradiction (CONTR) is identified when there is a conflict


of information between two sentences. In Figure 32, sentences S1 and
S2 have contradictory information in relation to the number of injured
and dead people. Thus, we marked the sentence that presented the
contradiction as CONTR, and we identified the sentence that presented
the contradiction in the SENT tag.
FIGURE 32 – Example of the CONTR problem

[S1] The Egyptian Minister of Health Hatem, El-Gabaly, said on Monday that 57
people died and 128 were injured in the collision between two passenger trains in
the Nile Delta, north of Cairo.
[S2] <e TYPE=CONTR SENT=S1> At least 80 people died and over 165 were
injured on Monday after the collision of two passenger trains in the Nile Delta,
north of Cairo, according to the police and the medical sources. </e>

Incomplete sentence (INC_SENT) is identified when there are


no punctuation marks, space or complement of a sentence. For example,
in the summary in Figure 33, sentence S2 finished with a comma, i.e.,
this sentence is considered incomplete.
FIGURE 33 – Example of the SENT_INC problem

[S1] As expected, the athlete Fabiana Murer won the gold medal in the pole vault
at the Pan American Games in Rio, on Monday, at the João Havelange Stadium.
[S2] <e TYPE=INC_SENT>Murer won the highest place of the podium with the
4m60 mark against 4M40 of the American April Steiner.</e>

No semantic relationship (No_SEM) is identified when adjacent


sentences do not present proper semantic relationship. As an example,
Figure 34 contains a summary, in which there is not a clear relation
between S2 and S1.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 889

FIGURE 34 – Example of the No_SEM problem

[S1] Abadia was arrested in a residence located in a luxury condominium of


Aldeia da Serra, in São Paulo.
[S2] <e TYPE=No_SEM>Four safes were also sealed</e> [...]

Connective/discursive marker without appropriate context (DM)


is identified when the use of explicit discourse markers (e.g., “but”,
“because”, “however”) are considered inappropriate in the context
of the summary. In the summary in Figure 35, the discourse marker
“But” does not relate to the previous sentence. This happens due to the
extractive nature of the summaries, which may include sentences without
their contexts of occurrence. In the annotation of this error, we used the
CONEC tag to identify the marker that is inappropriately used.
FIGURE 35 – Example of the DM problem

[…] [S4] Until the end of the game, Bruno and Anderson did not enter the court
anymore.
[S5] <e TYPE=DM CONEC=”But”>But, after that, everybody in the gymnasium
screamed the lifter name.</e> [...]

5.1.3 Other problems


In case of problems that were not listed in the previous categories,
we labeled them as Other and the “EXPLANATION” tag contains the
explanation of the error. For example, Figure 36 presents a summary that
is problematic because it uses terms in different languages referring to the
same entity/event (the “championship”), i.e., “Brasil Open” in sentence
S1 and “Aberto do Brasil 2013” in sentence S2.
FIGURE 36 – Example of the Other problem: inappropriate references

[S1] In addition to Rafael Nadal, the tournament will have three more athletes
among the 20 best of ATP ranking: the Spanish Nicolás Almago (11th place and
3 times champion of Brasil Open), the Argentinian Juan Mônaco (12th) and the
Swiss Stanilas Wawrinka (17th).
[S2] The organization of <e TYPE=Other EXPLANATION=“reference in
Portuguese for the term introduced in English”>Aberto do Brasil 2013</e>
announced this Tuesday morning that the Spanish Rafael Nadal will be returning
to the tournament to be disputed in February.
890 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

Problems as “Metadata inclusion” and “Distinct spelling for the


same entity” are also considered as belonging to Other. Figures 37 and
38 show the respective examples for these problems.
FIGURE 37 – Example of the Other problem: metadata inclusion

<e TYPE=Other EXPLANATION=”Metadata inclusion”>FIRST -</e>Murer


jumps to break the Pan American record; first gold medal in Athletics.

FIGURE 38 – Example of the Other problem: distinct spelling for the same entity

[S1] Israeli military forces in south of Lebanon also reported that, on Sunday,
30 militants of Hesbollah were killed, while an officer and two soldiers were
wounded in Oiled.
[S2] The Israeli air force attacked 150 targets early this morning in Lebanon as
the Jewish state soldiers killed 10 <e TYPE=Other EXPLANATION=”Distinct
spelling for the same entity”>Hezbollah</e> militiamen in the Bint Djebeil and
Kafr Hula Lebanese villages, according to military sources.

5.2. The task of linguistic problem annotation


The goal of the annotation was to identify the linguistic errors
of the typology described in section 5.1 (see Table 3) in summaries that
were automatically generated by the 4 cited automatic summarizers.
The task was carried out by a group of experts in a face-to-face
process, i.e., it happened every day at a specific time and place for 1
hour. We believe that: 1 hour a day made the task less exhausting for
the annotators and this may have positively influenced the annotation
quality; everyday annotation, in turn, creates commitment to the task.
The task was also better managed with all annotators in the same place.
We used some days to train the 6 annotators (2 linguists and 4
computational scientists) and to refine the guidelines with them. These
annotators have been chosen because of their experience in NLP and
with annotation tasks.
Due to the subjectivity of the task, the linguistic problems were
only marked after a consensus among the annotators or when the majority
of them agreed. This strategy is interesting because it produces a more
consistent and correct annotation, allowing a more robust annotation with
high linguistic error coverage. On the other hand, the annotation time is
longer in comparison to the traditional strategies, in which each annotator
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 891

works with different summaries per day. In this work, the duration of the
annotation task was approximately 150 days.
Some problems are interesting to comment. The No semantic
relationship error was the error that required more attention and
refinement in its interpretation, due to the high degree of subjectivity
involved in this problem identification. Thus, this interpretation involved
discussions among annotators until the reconciliation process, i.e., the
final decision for marking the problem, as suggested by Hovy and Lavid
(2010). The Acronym without explanation problem required that every
annotator had the same background knowledge in order to fill the CS
(common sense) field. This background knowledge may be different
among the annotators and this may cause the inadequate identification
of the problem. Therefore, the annotation approach used in this work
may have avoided this type of problem.
Even with all the annotators working together, we periodically
verified the agreement among them. In such case, each annotator
separately worked with the same summaries, and, after this, we calculated
the agreement by the Kappa measure (CARLETTA, 1996). Kappa is
a classic agreement measure in NLP, which indicates the correlation
between annotators while it discounts the agreement by chance. In
the literature, there are some suggestions that guide the decision on
the minimum agreement value that is expected: a value less than 0.4
may indicate an unreliable annotation; if it is between 0.4 and 0.75,
the annotation is satisfactory; and if it is higher than 0.75, it is very
good. This value, however, changes according to the subjectivity of the
phenomenon and the difficulty of the annotation task. We consider our
annotation task as a very difficult and subjective one. Thus, we expect
lower kappa values.
We present the results of the annotation in the following section.

6 Results and discussion

6.1 Performance of the summarizers


For the 4 multi-document summarizers considered in this task
(GistSumm, RSumm, RC-4, and MTRST-MCAD), 1,359 linguistic
problems were identified. Table 4 shows the quantity of errors by
summarizer.
892 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

TABLE 4 – Total of problems annotated for each summarizer

Annotated problems
Systems
Quantity %
GistSumm 521 38.33
MTRST-MCAD 421 30.97
RC-4 220 16.20
RSumm 197 14.50

As expected, Table 4 shows that there are more problems in the


summaries produced by GistSumm than in the summaries of the others,
which looks natural, given that GistSumm is a very simple summarizer
and produces longer summaries than the other systems, running more
risk to commit problems.
The statistics computed from our annotation show that redundant
information (RED) is the most recurrent error, with a total of 261
occurrences in the summaries of the four summarizers (see TABLE 5).
This result confirms that detection and properly treatment of redundancy
are problematic issues in MDS. Together with acronyms without
explanation (ACR-EXP) and definite noun phrase without reference to
the previous mentions (DNP-REF), RED accounted for more than 50%
of the problems.
TABLE 5 – Problems by subcategory

Problem subcategory Qty. %


Redundant information (RED) 261 19.20
Acronyms without explanation (ACR-EXP) 255 18.76
Definite noun phrase without reference to the previous mentions
182 13.39
(DNP-REF)
Subsequent mentions with explanation (SM+EXP) 152 11.18
No semantic relationship (No_SEM) 136 10.00
Other 123 9.05
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 893

First mention without explanation (1M-EXP) 103 7.57


Contradiction (CONTR) 41 3.01
Connective/discursive marker without appropriate context (DM) 37 2.72
Pronouns without antecedent (PRO-ANT) 30 2.20
Indefinite noun phrase with reference to the previous mentions
25 1.83
(INP+REF)
Incomplete sentence (INC_SENT) 11 0.80
Pronouns with misleading antecedents (PRO_MIS) 3 0.29

Table 6 illustrates the quantity of redundant information (RED)


error for each summarizer, as it is the most recurrent problem.
TABLE 6 – Total of redundant information (RED) problems

Problems
Systems
Quantity %
GistSumm 160 61.30
RC-4 55 21.08
MTRST-MCAD 23 8.81
RSumm 23 8.81

Redundancy errors may also directly increase the problems of the


entity category as redundancy may cause repetitions and introduction of
entities in an inappropriate way. For example, Figure 39 shows part of
a summary with redundant information (RED) and problems related to
the entity category embedded in the redundant sentences.
The sentences with repeated information (as in S5, S7 and S17)
present errors of the entity category. In this case, for each redundant
information error, there is one INP+REF error. This also certainly
contributes to the high amount of annotated errors in the summaries
produced by GistSumm.
894 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

FIGURE 39 – A GistSumm summary with redundancy caused by an entity


category error

[S1] A new series of criminal attacks was recorded early on Monday, the 7th, in
São Paulo and municipalities in the countryside of the State of São Paulo.
[S2] A homemade bomb was thrown against the building of the Public Ministry, in
the state capital.
[S3] The criminal actions may have been ordered by the leaders of the Primeiro
Comando da Capital (PCC), which had promised to return the attacks in São Paulo
on Father’s Day on Sunday.
[S4] At ABC Paulista, at least ten buses were set on fire - seven in Mauá and three
in Santo André.
[S5] <e TYPE=RED SENT=S2><e TYPE=INP+REF SENT=S2 TEXT=”A
homemade bomb”> A homemade bomb </e> was thrown against <e TYPE=
SM+EXP SENT=S2 TEXT = “the Public Ministry”> the Public Ministry (MP)</
e> headquarters. </e>
[S6] The building of the Treasury secretary, in the center, was hit by three
homemade bombs.
[S7] <e TYPE=RED SENT=S3> The leaders of the criminal gang PCC had
promised <e TYPE=INP+REF SENT=S1 TEXT=”A new series of criminal
attacks”> A new wave of attacks </e> will happen if the Public Ministry of São
Paulo deny the temporary exit of prisoners because of Father’s Day. </e> [...]
[S17] <e TYPE=RED SENT=S1,S3> Members of PCC had promised <e
TYPE=INP+REF SENT=S1 TEXT=”A new series of criminal attacks”> a new
wave of attacks </e> will happen if the Public Ministry of São Paulo deny the
temporary exit of prisoners because of Father’s Day.</e> [...]

In relation to the quantity of problems by category, Table 7


synthesizes the achieved results. The entity category included the most
frequent problems, which occurred 750 times. The fact that this category
had the highest amount of problems was expected, since there are more
entities than sentences in a summary. As an example, the summary in
Figure 40 was generated by RSumm, and it does not present errors of the
clause category. However, five annotated errors are related to the entity
category, and 1 to the other category.
According to Table 7, the RC-4 and RSumm summarizers,
which make use of more linguistic knowledge, present a lower quantity
of errors than the others. In particular, the RSumm summarizer had the
lowest quantity of annotated errors in two of the three categories; in the
remaining category, it was outperformed by the RC-4 system only.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 895

TABLE 7 – Quantity of problems by category

Systems Entity Level Clause Level Other


GistSumm 239 221 61
MTRST-MCAD 252 129 40
RC-4 123 83 14
RSumm 136 53 8
Total 750 486 123

FIGURE 40 – Example of Rsumm summary with more problems of the entity


category

[S1] <e TYPE=DNP-REF>In the second round</e>, the vote intentions for
President Lula fell from 53% in June to 50% in July, while candidate Alckmin
increased from 29% to 36%.
[S2] <e TYPE = ACR-EXP>CNI</e> explains that the research does not provide
a comparison with the previous survey for the first round, because it is the first
time that <e TYPE=ACR-EXP> Ibope </e> uses the official list of candidates for
president.
[S3] Although it does not allow comparisons, it is worth remembering that, in
June, Lula had 48% of the votes; Alckmin 18% and <e TYPE=1M-EXP>Heloisa
Helena </e> 5%.
[S4] The margin of error is two percentage points upwards or downwards.
[S5] <e TYPE=Other EXPLANATION=“Phrase with ambiguous referent”>The
research</e> was held between 29 and 31 July and was registered in <e
TYPE=ACR-EXP>TSE</e> under number 12197/2006.

Some important data is also presented in Table 8, such as the


percentage of the problems that were found in the summaries generated
by each of the four summarizers. We show in bold some of the main
errors for each system.
According to the table, redundant information is the main
problem in 2 of the 4 summarizers of different approaches, i.e., the
GistSumm (of the shallow approach) and the RC-4 summarizer (of the
deep approach). The acronyms without explanation problem had the
greatest occurrence in the RSumm summarizer. In the MTRST-MCAD
summarizer, 25.42% of the identified problems were related to definite
896 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

noun phrase without reference to the previous mentions, being the most
frequent error for this summarizer.
Except for the pronouns with misleading antecedents problem,
which was not identified in the summaries generated by MTRST-MCAD
and RSumm systems, all the other errors happened at least in 1 summary
of each summarizer. This shows that the summarizers did not treat or
inadequately treated the problems that affect LQ.
TABLE 8 – Occurrence of each problem in the corpus per summarizer

Systems
Problems
MTRST-MCAD GistSumm Rsumm RC-4
RED 5.46% 30.71% 11.68% 25.00%
ACR-EXP 12.83% 18.62% 27.92% 22.27%
DNP-REF 25.42% 3.45% 18.78% 9.09%
SM+EXP 5.23% 16.51% 6.60% 14.09%
No_SEM 19.95% 4.22% 8.63% 5.91%
Other 9.50% 11.71% 4.06% 6.36%
1M-EXP 10.69% 4.03% 12.18% 5.91%
CONTR 0.95% 4.80% 1.02% 4.55%
DM 3.56% 1.73% 4.57% 1.82%
PRO-ANT 4.75% 0.77% 1.52% 1.36%
INP+REF 0.95% 2.30% 2.03% 2.27%
INC_SENT 0.71% 0.96% 1.02% 0.45%
PRO_MIS 0.00% 0.19% 0.00% 0.91%

Generally, the results of the annotation showed that the


summarizers with the best summary informativeness evaluation in the
area (RSumm and RC-4) also had a lower quantity of problems, but
these summarizers still need to be improved, as there are LQ problems
to be tackled.
It is interesting to notice that some of the error types in this work
may be directly related to the classical ones of TAC. For example, the
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 897

clause category has problems such asredundant information, connective/


discursive marker without appropriate context, and incomplete sentences,
which are directly related to grammaticality and to no redundancy in
TAC.
Besides, the no semantic relationship problem of this category
affects the textual focus of TAC, because a summary without semantic
relationship among its sentences does not have a defined focus. The
referential clarity of TAC is directly related to the entity category by
means of the problems definite noun phrase without reference to the
previous mentions, indefinite noun phrase with reference to the previous
mentions, and pronouns without antecedent, for example. The textual
structure and coherence errors are the merge of all errors that were
considered.
The main problem observed in multi-document summaries in
Friedrich et al. (2014) was incomplete sentence. On the other hand, the
redundant information problem was the main problem in this work.
However, these two problems are in the clause level, which may indicate
that this is an important issue for future research.
In the experiments from Otterbacher et al. (2002), the temporal
ordering problem was the most frequent one. This problem is related to
the identification of correct temporal relationships between the events
described in a summary. This problem is also at the clause level, which,
in this work, happens in the no semantic relationship (No_SEM) error,
when the temporal order of an event is not respected in the selection of
sentences from the source texts to compose a summary.

6.2 Annotation agreement


As commented before in this paper, the annotation was made by
a group, but we decided to measure the agreement among the annotators
to check the understanding of the errors and the problem annotation
process itself. For this, we calculated the Kappa measure and the percent
agreement of the majority for 4 clusters of the CSTNews corpus (in
particular, cluster C12, C22, C32 and C42). Notice that each cluster has
1 summary generated by each summarizer (GistSumm, RSumm, RC-4
and MTRST-MCAD), i.e., 4 summaries in each cluster.
Table 9 shows the Kappa scores for the agreement among
annotators in each cluster for the simple indication of errors (in a binary
decision).
898 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

TABLE 9 – Kappa measure for simply indicating a problem

Cluster Kappa
C12 0.409
C22 0.641
C32 0.578
C42 0.324
Average 0.488

Cluster 22 had the best agreement result. However, due to the


difficulty of the task, this result is not so high. The subjectivity causes
different understandings and this is demonstrated when the annotators do
the annotation in isolation. This behavior is repeated in Table 10, when
we measure Kappa for the indication of the problem category. The Table
10 shows that the Kappa for the Other category had the best values. The
agreement was the most significant in cluster 12 for the Other problem
category.
TABLE 10 – Kappa measure for problem category

Kappa for Entity Kappa for Clause Kappa for


Cluster
Level Level Other
C12 0.356 0.560 1.000
C22 0.670 0.537 0.902
C32 0.552 0.616 0.627
C42 0.606 0.418 0.751
Average 0.546 0.533 0.760

Considering the relatively low results of Kappa measure, the


percent agreement by majority was also relevant in order to better judge
the task. In this case, the percentage of sentences in all clusters that
the majority of the annotators agreed was calculated. For example, in
the summaries of cluster 12, at least 4 of the 6 annotators marked the
occurrence of an error in all sentences (100% of the sentences, therefore)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 899

of these summaries. Table 11 shows the results of the agreement by


majority, considering the occurrence of a problem in a certain sentence.
Table 11 shows that the majority of the annotators agreed in
marking an error in all the sentences in the summaries of clusters C12
and C22. Clusters C32 and C42 also presented a good percentage of
agreement.
TABLE 11 – Percent agreement (by majority) for the indication of a problem in a
sentence

Clusters % of sentences
C12 100
C22 100
C32 91.89
C42 81.25
Average 93.28

We also used the agreement by majority for categories of


problems. We calculated the percentage of sentences for which the
majority of the annotators marked an error of a specific category. Table
12 shows the results obtained by this measure of agreement.
The majority of annotators agreed 100% for the sentences in the
summaries of clusters C12 and C22, regarding the occurrence of all the
problem categories. In cluster C42, the clause category was the only
one in which the majority of the annotators agreed below 90%. These
results showed that the majority of the annotators understood well all the
linguistic problem categories identified in the summaries.
900 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

TABLE 12 – Percent agreement (by majority) for the indication of a problem


category in a sentence

% of sentences with problems


Clusters
Entity Level Clause Level Other problems
C12 100 100 100
C22 100 100 100
C32 94.59 91.89 100
C42 90.62 71.87 93.75
Average 96.30 90.94 98.43

To confirm this, Table 13 shows the percentage of sentences for


which all annotators agreed in the identification of the linguistic problems.
TABLE 13 – Agreement for 100% of annotators for each problem

% of sentences
Problems
C12 C22 C32 C42
1M-EXP 54.54 90.00 91.89 81.25
SM+EXP 81.81 76.66 84.48 90.62
DNP-REF 63.63 93.33 83.78 53.12
INP+REF - - 89.18 -
PRO-ANT - - - 96.87
ACR-EXP 100 96.66 94.59 93.75
No_SEM 81.81 76.66 75.67 75.00
DM - - 91.89 96.87
RED - 83.33 89.18 81.25
CONTR - 86.66 94.59 -
Other - 96.66 81.08 90.62
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 901

According to Table 13, over half of the sentences in the summaries


had 100% of agreement among the annotators. All the sentences with
the acronyms without explanation (ACR-EXP) problem were marked
by all annotators for the first cluster. The hyphen (-) in Table 13 means
that the error was not identified by any of the annotators. The pronouns
with misleading antecedents (PRO_MIS) and incomplete sentence
(INC_SENT) problems were not identified in the clusters used in the
agreement and, for this reason, are not listed in the Table 13.
With the reported agreement results, we may conclude that the
annotation task was well understood and the annotation is reliable. We
believe that our well-defined typology of LQ problems was an important
reason for the reported agreement scores.

7 Final remarks
This paper reported the study, an annotation task and the
characterization of linguistic problems in multi-document summaries
automatically produced by systems of varied paradigms, from shallow
to deep approaches, including classic and state of the art methods. The
corpus consisted of summaries composed by four automatic summarizers,
and it was possible to verify that (i) some problems deserve more attention
from the automatic summarizers, as problems related to redundancy and
introduction of definite noun phrases and acronyms, which accounted for
more than 50% of the errors, and (ii) that the summarizers with the best
summary informativeness results (according to standard informativeness
measures) also produce a lower quantity of problems. Our results may
be used as a guide to treat errors in future summarizers.
The literature review and organization and the methodology used
for the problem annotation process are also contributions to the area. In
particular, the annotation strategy was interesting because the problem
annotation involves difficult and fuzzy aspects as subjectivity and world
knowledge, which may affect the consistency of the annotation. The
agreement values confirmed that such annotation strategy is worthy
following.
As future work, we consider to study error correlation in the
summaries, as well as automatic methods for detecting and properly
dealing with them, improving the summary quality.
902 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

For the interested reader, the corpus that was produced, the
summarization systems that we used and other related information about
this work may be found at the SUCINTO project webpage.7

Acknowledgements
The authors are grateful to FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo), USP Research Office (PRP 668) and Federal
University of Goiás for supporting this work.

Contributions of the authors


Márcio de Souza Dias (1rst author): responsible for organizing the corpus
annotation task, writing the introductory sections of the paper and pulling
together the sections written by the co-authors.
Ariani Di-Felippo (2nd author): responsible for describing and analyzing
the linguistic problems annotated in the corpus of automatic summaries.
Amanda Pontes Rassi (3rd author): responsible for writing the description
of the linguistic problems of the literature.
Paula Christina Figueira Cardoso (4th author): responsible for describing
the summarization methods and the reference corpus in Portuguese for
Automatic Summarization.
Fernando Antônio Asevedo Nóbrega (5th author): responsible for
computing and describing all the annotation statistics.
Thiago Alexandre Salgueiro Pardo (6th author): responsible for describing
the basic concepts of the Automatic Summarization domain.

References
ANDO, R.; BOGURAEV, B.; BYRD, R.; NEFF, M. Multi-document
Summarization by Visualizing Topical Content. In: ANLP/NAACL
WORKSHOP ON AUTOMATIC SUMMARIZATION, 2000,
New Brunswick. Proceedings […]. New Brunswick: Association
for Computational Linguistics, 2000. p. 79-88. DOI: https://doi.
org/10.3115/1117575.1117584

7
Available on: http://conteudo.icmc.usp.br/pessoas/taspardo/sucinto/resources.html.
Retrieved at: Feb. 10, 2019.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 903

BEAUGRANDE, R.; DRESSLER, W. U. Introduction to Text Linguistics.


1. ed. London: Longman, 1981.
CARBONELL, J.; GENG, Y.; GOLDSTEIN, J. Automated Query-
Relevant Summarization and Diversity-Based Reranking. In: IJCAI
Workshop on AI in Digital Libraries, 1997, Nagoya. Proceedings […].
Nagoya: [s.n.], 1997. p. 12-19.
CARDOSO, P. C. F; MAZIERO, E.; JORGE, M.; SENO, E.; DI-
FELIPPO, A.; RINO, L.; NUNES, M.; PARDO, T. A. S. CSTNews:
A Discourse-Annotated Corpus for Single and Multi-Document
Summarization of News Texts in Brazilian Portuguese. In: RST
BRAZILIAN MEETING, 3., 2011, Cuiabá. Proceedings […]. Cuiabá:
Sociedade Brasileira de Computação, 2011. p. 88-105.
CARDOSO, P. C. F.; PARDO, T. A. S. Joint Semantic Discourse Models
for Automatic Multi-Document Summarization. In: BRAZILIAN
SYMPOSIUM IN INFORMATION AND HUMAN LANGUAGE
TECHNOLOGY, 10., 2015, Natal. Proceedings […]. Natal: Sociedade
Brasileira de Computação, 2015. p. 81-90.
CARDOSO, P. C. F.; PARDO, T. A. S. Multi-Document Summarization
Using Semantic Discourse Models. Procesamiento de Lenguaje Natural,
Jaén, Espanha, v. 56, n. 1, p. 57-64, 2016.
CARLETTA, J. Assessing Agreement on Classification Tasks: The Kappa
Statistic. Computational Linguistics, Cambridge, v. 22, n. 2, p. 249-254,
1996.
CASTRO JORGE, M. L. R. Modelagem gerativa para sumarização
automática multidocumento. 2015. 151f. Tese (Doutorado em Ciência
de Computação e Matemática Computacional) – Instituto de Ciências
Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo, 2015.
CASTRO JORGE, M. L. R.; PARDO, T. A. S. Experiments with CST-
based Multidocument Summarization. In: ACL WORKSHOP: GRAPH-
BASED METHODS FOR NATURAL LANGUAGE PROCESSING,
5., 2010, Uppsala, Sweden. Proceedings of TextGraphs-5 […]. Uppsala:
Association for Computational Linguistics, 2010. p. 74-82.
CONROY, J. M.; SCHLESINGER, J. D.; KUBINA, J.; RANKEL, P.
A.; O’LEARY, D. P. CLASSY 2011 at TAC: Guided and Multilingual
Summaries and Evaluation Metrics. In: TEXT ANALYSIS
904 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

CONFERENCE, 4., 2011, Maryland. Proceedings […]. Maryland:


NIST, 2011. p. 1-8.
CRISTINI, L. F.; DI-FELIPPO, A. Violações linguísticas em referências a
entidades do tipo “pessoa” em extratos automáticos multidocumento. In:
WORKSHOP ON PORTUGUESE DESCRIPTION, 6., 2019, Salvador.
Proceedings […]. Salvador: [s.n], 2019. p. 244-252.
D A N G , H . T. O v e r v i e w o f D U C 2 0 0 5 . I n : D O C U M E N T
UNDERSTANDING CONFERENCE, 2005, Vancouver. Proceedings
[…]. Vancouver: NIST, 2005 p. 1-12. Available on: https://duc.nist.gov/
pubs.html#2005. Retrieved at: January. 2015.
FONSECA, H. P. A.; DIAS, M. S.; SILVA, N. F. F. Identificação
automática de erros em sumários multidocumento. In: SYMPOSIUM IN
INFORMATION AND HUMAN LANGUAGE TECHNOLOGY, 12.,
2019, Salvador. Anais… Salvador: Brazilian Computer Society, 2019.
p. 395-399.
FRIEDRICH, A.; VALEEVA, M.; PALMER, A. LQVSumm: A Corpus
of Linguistic Quality Violations in Multi-Document Summarization. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON LANGUAGE RESOURCES
AND EVALUATION, 9., 2014, Reykjavik. Proceedings […]. Reykjavik:
European Language Resources Association, 2014. p. 1591-1599.
GIANNAKOPOULOS, G.; KARKALETSIS, V. AutoSummENG and
MeMoG in Evaluating Guided Summaries. In: TEXT ANALYSIS
CONFERENCE, 4., 2011, Maryland. Proceedings […]. Maryland: NIST,
2011. p. 1-10.
HAGHIGHI, A.; VANDERWENDE, L. Exploring Content Models
for Multi-Document Summarization. In: HUMAN LANGUAGE
TECHNOLOGIES: THE ANNUAL CONFERENCE OF THE
NORTH AMERICAN CHAPTER OF THE ACL, 2009, Boulder.
Proceedings […]. Boulder: NACL, 2009. p. 362-370. DOI: https://doi.
org/10.3115/1620754.1620807
HOVY, E. H.; LAVID, J. M. Towards a Science of Corpus Annotation:
A New Methodological Challenge for Corpus Linguistics. International
Journal of Translation Studies, [S.l.], v. 22, n. 1, p. 13-36, 2010.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 905

KASPERSSON, T.; SMITH, C.; DANIELSSON, H.; JÖNSSON, A. This


Also Affects the Context – Errors in Extraction Based Summaries. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON LANGUAGE RESOURCES
AND EVALUATION, 8., 2012, Istanbul. Proceedings […]. Istanbul:
European Language Resources Association, 2012. p. 173-178.
KOCH, I. G. V. A coesão textual. 10. ed. São Paulo: Contexto, 1998.
KOCH, I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo:
Contexto, 2002.
LIN, C-Y. ROUGE: A Package for Automatic Evaluation of Summaries.
In: ACL WORKSHOP ON TEXT SUMMARIZATION BRANCHES
OUT, 2004, Barcelona. Proceedings […]. Barcelona: ACL, 2004. p.
74-81.
LIN, Z.; LIU, C.; NG, H. T.; KAN, M. Combining coherence models
and machine translation evaluation metrics for summarization
evaluation. In: ANNUAL MEETING OF THE ASSOCIATION FOR
COMPUTATIONAL LINGUISTICS, 50., 2012, Jeju Island. Proceedings
[…]. Jeju Island: ACL, 2012. p. 1006-1014.
MANI, I. Automatic Summarization. Amsterdam: John Benjamins
Publishing, 2001.
MANI, I.; MAYBURY, M. T. Advances in Automatic Text Summarization.
Cambridge: The MIT Press. 1999. DOI: https://doi.org/10.1075/nlp.3
MANN, W. C.; THOMPSON, S. A. Rhetorical Structure Theory: A Theory
of Text Organization. Technical Report ISI/RS-87-190, 1987. Available
on: https://www.sfu.ca/rst/05bibliographies/bibs/ISI_RS_87_190.pdf.
Retrieved at: March. 2015.
MARCU, D. Discourse Trees Are Good Indicators of Importance in
Text. In: MANI, I.; MAYBURY, M. T. (ed.). Advances in Automatic Text
Summarization. Cambridge: The MIT Press, 1999. 123-136.
MCKEOWN, K.; RADEV, D. R. Generating Summaries of Multiple
News Articles. In: ANNUAL INTERNATIONAL ACM-SIGIR
CONFERENCE ON RESEARCH AND DEVELOPMENT IN
INFORMATION RETRIEVAL, 18., 1995, Seattle. Proceedings […].
Seatle: Association for Computing Machinery, 1995. p. 74-82. DOI:
https://doi.org/10.1145/215206.215334
906 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021

MIHALCEA, R.; TARAU, P. An Algorithm for Language Independent


Single and Multiple Document Summarization. In: INTERNATIONAL
JOINT CONFERENCE ON NATURAL LANGUAGE PROCESSING,
2., 2005, Jeju Island. Proceedings […]. Jeju Island: ACL, 2005. p. 19-24.
DOI: https://doi.org/10.1007/11562214
NENKOVA, A.; MCKEOWN, K. R. Automatic Summarization.
Foundations and Trends in Information Retrieval. Hanover, MA: Now
Publishers, 2011. DOI: https://doi.org/10.1561/1500000015
OLIVEIRA, P. C. F. de. CatolicaSC at TAC 2011. In: TEXT ANALYSIS
CONFERENCE (TAC), 4., 2011, Gaithersburg. Proceedings […].
Gaithersburg: NIST, 2011. p. 1-3.
OTTERBACHER, J. C.; RADEV, D. R.; LUO, A. Revisions that Improve
Cohesion in Multi-Document Summaries: A Preliminary Study. In:
ACL-02 WORKSHOP ON AUTOMATIC SUMMARIZATION, 2002,
Philadelphia. Proceedings […]. Philadelphia: ACL, 2002. p. 27-36. DOI:
https://doi.org/10.3115/1118162.1118166
OWCZARZAK, K.; DANG T. H. Overview of the TAC 2011
Summarization Track: Guided task and AESOP task. In: TEXT
ANALYSIS CONFERENCE, 3., 2011, Gaithersburg. Proceedings
[…]. Gaithersburg: NIST, 2010. Available on: https://tac.nist.gov/2011/
Summarization/Guided-Summ.2011.guidelines.html. Retrieved at:
January. 2015.
PARDO, T. A. S.; RINO, L. H. M.; NUNES, M. G. V. GistSumm: A
Summarization Tool Based on a New Extractive Method. In: WORKSHOP
ON COMPUTATIONAL PROCESSING OF THE PORTUGUESE
LANGUAGE, 6., 2003, Faro, Portugal. Proceedings […]. Faro: Springer,
2003. p. 210-218. DOI: https://doi.org/10.1007/3-540-45011-4_34
PARDO, T. A. S. GistSumm - GIST SUMMarizer: extensões e novas
funcionalidades. Technical Report NILC-TR-05-05, 2005. Available on:
https://sites.icmc.usp.br/taspardo/NILCTR0505-Pardo.pdf. Retrieved
at: January. 2015.
PITLER, E.; LOUIS, A.; NENKOVA, A. Automatic Evaluation of
Linguistic Quality in Multi-document Summarization. In: ANNUAL
MEETING OF THE ASSOCIATION FOR COMPUTATIONAL
LINGUISTICS, 48., 2010, Uppsala, Sweden. Proceedings […]. Uppsala:
ACL, 2010. p. 544-554.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 859-907, 2021 907

RADEV, D. R. A Common Theory of Information Fusion from Multiple


Text Sources, Step One: Cross-document Structure. In: ACL SIGDIAL
WORKSHOP ON DISCOURSE AND DIALOGUE, 1., 2000, Hong
Kong. Proceedings […]. Hong Kong: ACL, 2000. p. 74-83. DOI: https://
doi.org/10.3115/1117736.1117745
RADEV, D. R.; TEUFEL, S.; SAGGION, H.; LAM, W.; BLITZER, J.;
CELEBI, A.; QI, H.; LIU, D.; DRABEK, E. Evaluation Challenges in
Large-Scale Multi-Document Summarization. In: ANNUAL MEETING
OF THE ASSOCIATION FOR COMPUTATIONAL LINGUISTICS,
41., 2003, Sapporo, Japan. Proceedings […]. Sapporo: ACL, 2003. p.
375-382. DOI: https://doi.org/10.3115/1075096.1075144
RIBALDO, R.; AKABANE, A. T.; RINO, L. H. M.; PARDO, T. A. S.
Graph-based Methods for Multi-Document Summarization: Exploring
Relationship Maps. Complex Networks and Discourse Information.
In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTATIONAL
PROCESSING OF PORTUGUESE, 10., 2012, Coimbra. Proceedings
(Lecture Notes in Computer Science 7243) […]. Coimbra: Springer,
2012. p. 260-271. DOI: https://doi.org/10.1007/978-3-642-28885-2_30
RIBALDO, R.; CARDOSO, P. C. F.; PARDO, T. A. S. Exploring
the Subtopic-Based Relationship Map Strategy for Multi-Document
Summarization. Journal of Theoretical and Applied Computing (RITA),
Porto Alegre, RS, v. 23, n. 1, p. 183-211, 2016. DOI: https://doi.
org/10.22456/2175-2745.59104
SALTON, G.; SINGHAL, A.; MITRA, M.; BUCKLEY, C. Automatic
Text Structuring and Summarization. Information Processing &
Management, [S.l.], v. 33, n. 2, p. 193-207, 1997. DOI: https://doi.
org/10.1016/S0306-4573(96)00062-3
ZHANG, Z.; GOLDENSHON, S. B.; RADEV, D. R. Towards CST-
Enhanced Summarization. In: NATIONAL CONFERENCE ON
ARTIFICIAL INTELLIGENCE, 18., 2002, Menlo Park, CA. Proceedings
[…]. Menlo Park: AAAI, 2002. p. 439-445.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

Procedimentos para construção do Corpus da Computação da


Língua Inglesa (CoCLI) e cálculo do esforço na construção
manual de corpora

Procedures for Corpus of Computing in English (CoCLI)


construction and effort calculation in manual construction
of corpora

Fernando Paulino de Oliveira


Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais / Brasil
fernandooliveira@ufu.br
http://orcid.org/0000-0002-7002-9664

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo descrever os procedimentos


metodológicos da pesquisa intitulada “ToGatherUp: um protótipo de ferramenta
para a construção de corpora” que verificou o efeito da incorporação da ferramenta
ToGatherUp no tempo e no esforço necessários para a construção manual de um
corpus que elaboramos: o Corpus da Computação da Língua Inglesa (CoCLI). Para
tanto, discorremos sobre como os autores da pesquisa desenvolveram um conjunto de
métricas de medição de esforço – Esforço da Atividade (EA), Esforço Total de Coleta
do Texto (ETCT) e Esforço Total do Projeto (ETP) – que serviram de base para a
realização de um experimento estatístico comparativo entre os projetos de elaboração
manual de duas versões idênticas do CoCLI que se diferenciam por em um deles utilizar
o ToGatherUp e o outro não. O resultado do experimento demonstrou uma redução
média de 7,47% no ETP do projeto em que o ToGatherUp foi incorporado em relação
ao ETP do projeto em que a ferramenta não foi utilizada, o que corroborou a hipótese
de que ela reduz o tempo e o esforço despendidos pelo pesquisador em projetos de
elaboração manual de corpora.
Palavras-chave: Linguística de Corpus; construção manual de corpus; métricas de
medição de esforço; ToGatherUp.

Abstract: The present work aims to describe the methodological procedures of the
research entitled “ToGatherUp: a prototype of a tool for corpora construction” that
verified the effect of incorporating ToGatherUp in necessary time and effort invested

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.909-958
910 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

in manual construction of Corpus of Computing in English (CoCLI). To this end, we


discuss how the research authors developed a set of metrics for measuring effort –
Activity Effort (EA), Total Effort for Text Collection (ETCT) and Total Project Effort
(ETP) – which served as the basis for conducting a comparative statistical experiment
between the manual elaboration of two identical versions of the CoCLI: which differ
from each other by one of them using the ToGatherUp and the other one not using it. The
experiment shows an average reduction of 7.47% in the ETP when using ToGatherUp
compared to the ETP when not using the tool. This result corroborates the hypothesis
that the tool reduces the time and effort spent by the researcher on manual elaboration
projects of corpora.
Keywords: Corpus Linguistics; manual construction of corpus; effort measurement
metrics; ToGatherUp.

Submetido em 25 de agosto de 2020


Aceito em 09 de novembro de 2020

1 Introdução
O desenvolvimento de pesquisas com base na observação
empírica de dados da língua favoreceu o surgimento e o crescimento
da Linguística de Corpus, doravante LC, que é “uma nova metodologia
(que utiliza textos naturais e ferramentas informáticas para descrever
a língua) e uma nova disciplina (no sentido de uma nova abordagem
à descrição linguística)” (FRANKENBERG-GARCIA, 2012, p. 12).
Conforme esclarece Berber Sardinha (2004), para que seja possível o
uso prático da LC, o interessado precisa de “um ingrediente essencial:
o corpus” (BERBER SARDINHA, 2004, p. 45).
A construção de corpora de pequenas extensões1 pode não
representar um desafio complicado, mas a de corpora compostos por
grande volume de dados tem sido reportada como uma das partes
mais difíceis do desenvolvimento de uma pesquisa (cf. KÜBLER;
ASTON, 2010; ATKINS; CLEAR; OSTLER, 1992; BAKER, 2010;
BIANCHI, 2012; EDWARD, 2015; MACMULLEN, 2003; MCENERY;
HARDIE, 2011; MCENERY; XIAO; TONO, 2006; MINSHALL, 2013;

1
A extensão ou o tamanho de um corpus representa o volume de dados linguísticos
disponíveis para análise. Na seção Fundamentação teórica, discutimos sobre a extensão
de corpora.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 911

RENOUF, 2007; SEMINO; SHORT, 2004; VOORMANN; GUT, 2008;


ZANETTIN, 2014). A principal reclamação dos linguistas refere-se
à quantidade enorme de tempo e esforço necessária para a realização
das atividades relativas à construção de um corpus. Além do tempo e
esforço, Edward (2015) e Garretson (2008) afirmam que, ao começar a
construção de um corpus, uma das primeiras barreiras enfrentadas pelos
pesquisadores é encontrar ferramentas computacionais capazes de dar
suporte2 especializado às atividades do projeto.
Diante desses desafios, a proposta deste trabalho é contribuir
com a prática de linguistas e pesquisadores de áreas afins por meio da
apresentação dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa
intitulada “ToGatherUp: um protótipo de ferramenta para a construção
de corpora”3 (OLIVEIRA, 2019). O objetivo dessa pesquisa - determinar
os efeitos da incorporação do ToGatherUp no esforço necessário para
a construção manual de corpora – levou seus autores a percorrerem
um interessante e produtivo caminho que gerou uma proposta de
sistematização do trabalho de construção manual de corpora, a criação
de métricas de aferição de esforço e culminou na realização de um
experimento que revelou a eficácia do ToGatherUp na redução do tempo e
esforço investido na criação de corpora. Para alcançarmos nosso objetivo,
nas próximas seções deste artigo, apresentaremos a fundamentação
teórica, a metodologia, os resultados alcançados na pesquisa e nossas
considerações finais sobre ela.

2 Fundamentação teórica
A Linguística é a área em que se desenvolve o estudo científico
da linguagem humana com base em fatos linguísticos (MARTINET,
1978). De acordo com Widdowson (1996), de modo geral, os fatos
linguísticos podem ser inferidos por meio da introspecção, da elicitação
e da observação de dados provenientes do uso real da língua pelos
seus usuários. Widdowson (1996) esclarece que os fatos linguísticos
apreendidos por meio da introspecção e da elicitação não revelam o uso

2
Do ponto de vista dos autores da pesquisa retratada por nós, as ferramentas que
oferecem suporte à construção manual de corpora são aquelas que oferecem recursos que
facilitam as atividades e o gerenciamento do projeto de construção manual de corpora.
3
Disponível em: www.ileel.ufu.br/togatherup. Acesso em: 1 mar. 2019.
912 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

efetivo da língua, pois partem das intuições que os seus usuários têm
sobre ela. Já a observação de dados linguísticos decorrentes do uso real
da língua e que refletem o comportamento linguístico de seus usuários
constitui-se como uma forma mais segura para a realização de inferências
sobre a língua. Nesse sentido, as análises linguísticas com base na LC
podem ser consideradas altamente confiáveis, uma vez que partem da
observação de corpora compostos por dados linguísticos reais.
Sinclair (2005) afirma que a construção de um corpus deve ser
realizada de acordo com critérios bem definidos e eficientes o bastante
para que o seu delineamento final possa garantir que o conjunto de
textos seja representativo. O conceito de representatividade na LC está
associado à capacidade que um corpus tem de representar uma língua
ou uma variedade dela e ao modo como foi construído. Podemos dizer
que um corpus é representativo quando, a partir da análise do conjunto
de textos provenientes das várias situações comunicativas reais de uma
comunidade linguística, é possível obter conclusões, a respeito de suas
propriedades, que permitam generalizações sobre a língua ou sobre a
variedade de língua em estudo.
A fase de construção de um corpus em que são definidos os seus
critérios tem sido referenciada pelos autores da LC como o “desenho
do corpus”.4 Firmar o desenho de um corpus não é uma tarefa simples,
pois, conforme Berber Sardinha (2004), não existem critérios objetivos
para isso. Segundo Blecha (2012), a delimitação do desenho de um
corpus deve ser orientada em consonância com os objetivos da pesquisa.
Tagnin (2010) coaduna com Blecha (2012) e afirma que cabe ao criador
do corpus a responsabilidade de definir os critérios que possam garantir
sua representatividade. Dentre os critérios para a construção de corpora,
na pesquisa aqui relatada, os fundamentos e implicações referentes à
extensão do corpus ganham importância.
A extensão do corpus representa o volume de dados linguísticos
que ele dispõe para análise. Na literatura da LC, não encontramos
a definição exata do tamanho necessário para que um corpus seja
representativo. No entanto, para estudos que consideram a chavicidade5

4
Na literatura da LC, em língua inglesa, encontramos o termo corpus design.
5
De acordo com Fromm (2007), a chavicidade (keyness) informa o quanto uma
palavra se destaca na relação entre a sua frequência no corpus de estudo e no corpus
de referência.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 913

de palavras, encontramos recomendações e estimativas, como a de


Berber Sardinha (2004), que afirma que a relação de tamanho entre os
corpora de estudo e os corpora de referência influencia a quantidade de
palavras-chave obtidas. O autor recomenda que um corpus deve ser o
mais extenso possível.
Mesmo com a recomendação de Berber Sardinha (2004), cabe
pontuar que a extensão de um corpus está sujeita à disponibilidade de
dados que atendam às especificidades do desenho dele. A obtenção de
dados suficientes para cada campo semântico de uma Árvore de Domínio,
no caso das pesquisas terminológicas, ou para cada gênero textual que
compõe um corpus de estudo do léxico, de modo que seja garantido
o balanceamento6 do corpus, é um exemplo dessa situação. Ademais,
Fromm (2003) chama a atenção para o fato de que o desenvolvimento
de um corpus extenso requer a participação de vários pesquisadores e
auxiliares; caso contrário, a construção dele pode demorar anos para ser
concluída. Nessa situação, há a questão do tempo que o pesquisador (ou
a equipe de pesquisadores) tem para dedicar à obtenção de dados.
Berber Sardinha (2005) observa que, na prática, “o pesquisador
coleta uma certa quantidade de dados de acordo com suas possibilidades,
efetua a análise, mas não sabe se sua coleta foi além ou aquém do que
seria teoricamente mais adequado” (BERBER SARDINHA, 2005, p.
188). Por essa razão, Nelson (2010) afirma que a criação de um corpus é
“uma aceitação entre o que é o esperado e o que é possível” (NELSON,
2010, p. 30)7 e Meyer (2004) explica que as mudanças no desenho inicial
do corpus são naturais e inevitáveis (desde que não comprometam a
integridade do corpus) diante dos obstáculos e complicações que podem
surgir durante a sua compilação.

2.1 A organização do trabalho em projetos de construção manual de um


corpus
A LC não oferece padrões pré-estabelecidos ou modelos
sistematizados para a construção manual de um corpus. O que
encontramos na sua literatura são abordagens que, embora obedeçam às

6
Aluísio e Almeida (2006) definem o balanceamento como o equilíbrio entre as
categorias atribuídas aos textos que compõem um corpus.
7
Original: “any attempt at corpus creation is therefore a compromise between the
hoped for and the achievable”.
914 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

diretrizes criadas por Sinclair (2005), diferenciam-se entre si em aspectos


de organização, uso de ferramentas e técnicas. Cabe destacar que, ao
mesmo tempo em que a inexistência de um padrão promove a flexibilidade
das práticas de elaboração de corpora, ela também gera problemas como
a variação significativa dos nomes que são atribuídos às ações que
envolvem a construção de um corpus. Nesse sentido, há autores que se
referem ao trabalho de criação de corpus como um processo dividido
em estágios (cf. ATKINS; CLEAR; OSTLER, 1992; ESCARTÍN, 2012;
KENNEDY, 1998), em ciclos (cf. BIBER, 1993) ou em passos (cf.
SANTOS, 2011). Além dessas denominações, é comum encontrarmos
palavras, tais como: “tarefas”, “atividades” e “procedimentos”, sendo
utilizadas com o mesmo sentido, isto é, remetendo-se às mesmas ações.
Por essa razão, os autores da pesquisa aqui retratada decidiram
adotar os termos “fases”, “processos”, “atividades” e “tarefas” utilizados
na área de Gerenciamento de Projetos para designar as partes do “ciclo
de vida” de um projeto. A adoção dessa nomenclatura pelos autores foi
feita por considerarem que a construção manual de um corpus equivale
à realização de um projeto em conformidade com o conceito de projeto
e, em partes, nos princípios da área de Gerenciamento de Projetos,
expostos no guia Project Management Body of Knowledge (PMBOK),
publicado em 2013 e considerado como a principal referência da área
de Gerenciamento de Projetos. De acordo com o PMBOK, um projeto
é “um esforço temporário empreendido para criar um produto, serviço
ou resultado exclusivo” dentro de um “ciclo de vida” (PMBOK, 2013,
p. 3). O ciclo de vida de um projeto corresponde à sequência de fases
pelas quais ele passa ao longo do seu desenvolvimento.
Durante o ciclo de vida do projeto, cada fase pode comportar
um ou mais processos. Estes, por sua vez, podem admitir uma ou
mais atividades. Uma atividade pode relacionar-se com outra(s), de
maneira lógica, de modo que seu início ou sua continuidade somente
seja possível após a geração de um ou mais resultados (entregas) de
outra(s) atividade(s). No nível mais baixo do ciclo de vida de um projeto,
encontram-se as tarefas, que são as menores unidades de trabalho
possíveis pertencentes ao escopo de uma atividade. A Figura 1 ilustra
as relações dos componentes do trabalho de um projeto apresentadas
neste parágrafo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 915

FIGURA 1 – Organização do trabalho de um projeto

Fonte: Oliveira (2019, p. 42.)

Além de resolver o problema da nomenclatura utilizada na


construção de corpora, os autores da pesquisa perceberam que era
possível transpor o modelo de organização do trabalho dos projetos da
área de Gerenciamento de Projetos para os projetos de construção manual
de corpora. A partir dessa percepção, eles procuraram sistematizar o
trabalho relativo à construção manual de corpora de com base nesse
modelo. Deste modo, propuseram que o projeto de construção manual
de um corpus, de modo geral, pode ser dividido em três fases distintas:
a) a inicial, em que há o planejamento do corpus; b) a intermediária,
caracterizada pela obtenção, preparação e armazenamento dos dados do
corpus e c) a de encerramento, na qual ocorre a distribuição dos dados
do corpus. Nos próximos parágrafos, explicitamos a sistematização
concebida pelos autores da pesquisa, situando-a com contribuições
teóricas dos autores da LC.
A fase inicial do projeto de construção manual de um corpus é
caracterizada pela execução das atividades de planejamento do corpus, de
definição dos recursos necessários para elaborá-lo e de esquematização
do cronograma de execução do projeto. De acordo com Nelson (2010,
p. 53), há uma série de variáveis que precisam ser consideradas antes
do início da compilação dos dados, a saber: o tamanho do corpus,
o balanceamento dele, a estrutura conceitual em que os textos serão
916 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

organizados, o formato de armazenamento dos textos, a maneira como


será feita a coleta dos textos, o padrão que será usado para a nomeação
dos arquivos e o controle em relação à coleta e ao gerenciamento dos
textos. Algumas dessas questões são analisadas durante o desenho do
corpus, que é a primeira atividade do processo de planejamento do corpus.
Para o estabelecimento do desenho do corpus, o seu criador precisa
executar as tarefas de seleção e definição dos critérios que nortearão a
constituição do corpus.
Ademais, Atkins, Clear e Ostler (1992, p. 3) mencionam o fato de
que o planejamento do corpus deve prever o uso de recursos financeiros,
tecnológicos e humanos necessários para garantir a conclusão do projeto.
Santos (2011) complementa as exigências do planejamento do corpus
ao afirmar que é necessário estabelecer o cronograma para a execução
do projeto, pois várias decisões que precisam ser tomadas durante a
elaboração do corpus estão vinculadas às restrições de tempo para a sua
realização. A Figura 2 ilustra o processo de planejamento e as atividades
da fase inicial do projeto de construção de um corpus.
FIGURA 2 – Processo de planejamento da construção de um corpus

Fonte: Oliveira (2019, p. 44.)

Após planejar a construção do corpus, o pesquisador tem em


mãos os parâmetros que guiarão a obtenção de dados linguísticos que
irão compor o corpus e pode iniciar a fase de execução do projeto que
consiste na realização das atividades relativas aos processos de obtenção,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 917

preparação e armazenamento de dados do corpus. A Figura 3 exibe o


processo de obtenção de dados para composição de um corpus.
FIGURA 3 – O processo de obtenção de dados para composição de um corpus

Fonte: Oliveira (2019, p. 45.)

A primeira atividade desse processo consiste na pesquisa,


localização e acesso aos materiais que comportam os dados desejados.
Para Sinclair (1991), os dados podem ser encontrados, em suas versões
originais, na forma eletrônica, impressa ou escrita à mão. Esse autor
salienta que a obtenção de textos no formato eletrônico é a mais fácil e
desejável comparada às demais, visto que exige um menor esforço do
pesquisador no momento de adaptá-los para posterior processamento
feito pelas ferramentas computacionais. Após a obtenção dos textos,
o pesquisador precisa certificar-se de que eles são “úteis” para a
inclusão em um corpus. A utilidade de um texto, para as pesquisas da
LC, está associada, obrigatoriamente, à condição favorável dele para o
processamento através de ferramentas computacionais e, opcionalmente,
à integridade e ao enriquecimento dele. Esses aspectos configuram o
processo de preparação dos dados do corpus e estão contemplados na
Figura 4.
918 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

FIGURA 4 – O processo de preparação dos dados do corpus

Fonte: Oliveira (2019, p. 48.)

O processamento de um texto por meio de uma ferramenta


computacional exige que ele esteja em um formato “compreensível pelos
computadores” (machine-readable). Porém, os recursos que tornam
um texto propício à interpretação humana podem ser prejudiciais ao
processamento feito pelos computadores, já que estes ainda não possuem
as mesmas capacidades de decodificação que os homens. Em virtude
disso, na metodologia da LC, é indispensável a conversão das versões
originais de textos para versões apropriadas ao trabalho que a máquina
executa.
Após a realização da conversão, segundo Santos (2011), os
arquivos podem apresentar resíduos como, por exemplo, números de
páginas, informações de cabeçalhos e rodapés de páginas, anotações
sobre a divisão das seções do texto, conteúdos de tabelas (que perdem o
sentido ao serem desprovidos da estrutura da tabela) e erros de codificação
de caracteres (resultantes da transposição de um padrão de codificação
para outro). No contexto dos dados linguísticos, os resíduos presentes
nos textos podem ser considerados como ruído linguístico e podem gerar
problemas no que diz respeito à análise da frequência dos elementos
linguísticos um corpus.
Conforme Gries (2009), a frequência de um elemento linguístico
é base para a formação de listas de palavras que são utilizadas para a
construção de listas de palavras-chave. As listas de palavras-chave, de
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 919

acordo com Tagnin (2015) e Edward (2015), apresentam os elementos


linguísticos cujas frequências são estatisticamente relevantes a partir
do resultado da comparação entre listas de palavras de um corpus de
estudo e um corpus de referência. Pensando nessas relações, para que
uma ferramenta computacional possa gerar listas com a frequência das
palavras e, a partir disso, possa executar os cálculos que determinam
a relevância dos elementos linguísticos, é necessário, em um primeiro
momento, que ela identifique cada um dos elementos linguísticos
presentes num texto. Essa identificação é realizada através do processo
computacional conhecido na área de Processamento de Linguagem
Natural como tokenização que consiste na segmentação das sentenças
de um texto em elementos significativos, chamados tokens.
A tokenização de um texto que apresenta ruído linguístico pode
gerar tokens sem nenhuma relação com qualquer elemento significativo
da língua (por exemplo: tokens formados por partes de palavras que
foram separadas incorretamente) e, consequentemente, gerar cálculos
imprecisos sobre a frequência de um elemento, comprometendo a
qualidade das listas provenientes da análise realizada por ferramentas
computacionais. Por isso, uma das formas de reduzir ou de eliminar erros
de tokenização, é a realização da limpeza e da normalização dos textos
de um corpus. A limpeza de um texto, de acordo com Aluísio e Almeida
(2006), consiste na remoção dos ruídos linguísticos. Já a normalização
consiste na uniformização de palavras (em termos ortográficos), de
siglas e de abreviaturas que possuem variações de escrita, a remoção de
espaçamentos e de quebras de linhas desnecessários e a homogeneização
de caracteres de pontuação do texto, como hifens, traços, aspas e
apóstrofos.
Após a obtenção e preparação do corpus, os arquivos de texto
que o constituem precisam ser nomeados e armazenados de modo que
possam ser recuperados facilmente (NELSON, 2010). As atividades
relacionadas à nomeação, ao armazenamento e à disponibilização dos
dados de um corpus são realizadas no processo de armazenamento de
dados, ilustrado na Figura 5.
920 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

FIGURA 5 – O processo de armazenamento dos dados do corpus

Fonte: Oliveira (2019, p. 59.)

A nomeação dos arquivos de texto para o armazenamento consiste


na atribuição de um nome ao arquivo (filename) a fim de que ele possa ser
identificado no sistema de arquivos do sistema operacional. Para facilitar
a associação do nome de um arquivo ao seu conteúdo o pesquisador pode
fazer uso de uma convenção de nomeação de arquivos, no inglês, File
Naming Conventions (FNC). A convenção de nomeação de arquivos pode
ser definida como um conjunto de regras que determina a estrutura da
nomeação – constituída por diferentes segmentos que abrigam elementos
informativos, ou seja, aqueles que fazem referência ao conteúdo, à
descrição, ao contexto ou ao propósito dos arquivos. A ideia central de
convencionar a nomeação é combinar informações suficientes para que
a identificação do conteúdo do arquivo seja feita a partir de seu nome.
Uma vez nomeado o arquivo de texto, comumente, é armazenado em
um diretório organizado de acordo com a estrutura hierárquica adotada
no projeto de construção do corpus, de modo que seja possível realizar
uma associação significativa entre seu conteúdo e a categoria do diretório.
Depois das fases de planejamento e execução, a construção
de um corpus segue para a fase de encerramento, que compreende o
processo de distribuição dos dados do corpus, ilustrado na Figura 6, que
trata da disponibilização dos dados do corpus com o propósito de serem
processados pelas ferramentas computacionais, nas quais os métodos de
análises e recuperação de informações são aplicados.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 921

FIGURA 6 – O processo de distribuição dos dados do corpus

Fonte: Oliveira (2019, p. 64.)

A partir da sistematização apresentada, os autores da pesquisa


debruçaram-se sobre a questão do tempo e do esforço na construção de
corpora, procurando descortinar as principais dificuldades percebidas
pela comunidade linguística quanto à execução das atividades de
construção de corpora. No próximo tópico, encontramos as reflexões
teóricas feita por eles sobre essas questões.

2.2 O tempo e o esforço na construção de um corpus


A introdução dos computadores no fazer linguístico e a Internet
facilitaram a obtenção de dados linguísticos e o trabalho de construção
de corpora. Porém, conforme mencionamos na introdução deste artigo,
não é raro encontrarmos reclamações relacionadas à quantidade de tempo
e esforço para se construir um corpus. De fato, a construção manual
de corpora pode exigir bastante esforço e tempo do pesquisador, uma
vez a sua intervenção, praticamente, é necessária em todas as fases do
projeto (BAKER, 2010, p. 109), como podemos observar na descrição
das atividades enumeradas a seguir:
1) Definir o desenho do corpus, os recursos utilizados para lidar
com ele e o cronograma referente ao projeto de construção
do corpus: exige que o pesquisador, basicamente, tome decisões
teóricas e gerenciais;
922 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

2) Localizar dados linguísticos: a coleta manual de textos, em


oposição à automática exige que o pesquisador busque fontes e
verifique o acesso ao material (eletrônico, impresso ou em outro
estado) que será utilizado em sua seleção. Os dados em formato
eletrônico, por exemplo, são frequentemente localizados por meio
de pesquisas feitas em sistemas de busca como o Google. Mesmo
com a facilidade oferecida por esse tipo de sistema, a filtragem dos
materiais encontrados (feita com base nos critérios do desenho do
corpus) pode ser árdua devido ao grande volume e à qualidade das
informações retornadas por sites como Google;
3) Obter permissão de uso dos dados linguísticos: para Santos
(2011), essa atividade implica que o pesquisador precisará
identificar a pessoa ou a entidade detentora dos direitos autorais
de um texto, solicitar-lhe consentimento para usá-lo e, em seguida,
aguardar retorno. O autor alerta que o consumo de tempo é ampliado
nos casos em que o pesquisador precisa realizar várias tentativas de
contato com o detentor para ter sucesso ou nas situações em que
a solicitação de autorização tenha de partir de níveis hierárquicos
superiores de uma instituição para que se obtenha uma resposta;
4) Capturar os dados: demanda a intervenção humana em uma
escala que varia de acordo com o formato em que os dados estão
quando são encontrados. Se estiverem no eletrônico, o pesquisador
necessitará de intervir menos. Se os dados estiverem em materiais
impressos ou escritos à mão, o pesquisador terá de convertê-los para
o formato eletrônico, de preferência, por meio da digitalização com
o auxílio de scanners e softwares de OCR8 – uma das atividades que
mais demandam esforço e tempo. Para Simske (2006), a precisão
oferecida atualmente pelos OCRs na conversão de textos ainda é
limitada e pode gerar erros referentes à troca, à inserção e à exclusão
de caracteres, principalmente, quando a qualidade dos documentos
originais é ruim. Isso faz com que autores como Nelson (2010),
Kübler e Aston (2010), Santos (2011) e Bianchi (2012) preconizem
a revisão manual cuidadosa dos dados resultantes da digitalização
de textos por intermédio de scanners e OCRs para que se tenha
certeza de que eles correspondem às suas versões originais;

8
OCR é um software de reconhecimento ótico de caracteres. A sigla OCR vem do
inglês Optical Character Recognition.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 923

5) Converter os dados: exige pouco do pesquisador, apenas que ele


manipule ferramentas computacionais que convertam os arquivos
para o formato TXT e para o padrão Unicode UFT-8. Transformar
um texto escrito em PDF para TXT, por exemplo, pode ser feito
de forma gratuita por meio de serviços on-line de conversão,
como o Lightpdf (lightpdf.com), entre outros. E a mudança para o
padrão Unicode UTF-8 pode ser efetuada por ferramentas como o
EncodeAnt (ANTHONY, 2016);
6) Limpar e normalizar os dados: requer que o pesquisador proceda
como auditor no que diz respeito aos dados do corpus para
identificação e posterior eliminação ou correção das anomalias
(ruído linguístico). A limpeza e a normalização estão diretamente
relacionadas a algumas variáveis: volume e qualidade dos dados
(resultante dos métodos de captura, conversão e codificação dos
textos), finalidade (necessidades) da pesquisa e, por fim, métodos
escolhidos para a execução da limpeza e da normalização. Vale
lembrar que as tarefas em questão podem ganhar proporções
gigantescas e, portanto, serem difíceis no caso de corpora
compostos por grandes volumes de informação;
7) Enriquecer os dados: pressupõe que o pesquisador realize uma
conferência no que alude à etiquetagem automática de corpora.
Conforme Neumann e Hansen-Schirra (2012), o enriquecimento
de corpora grandes depende da etiquetagem automática,
pois o processamento manual de grandes volumes de dados é
praticamente inviável. Semino e Short (2004) reforçam essa ideia
ao afirmarem que até mesmo a etiquetagem manual de corpora
pequenos é extremamente demorada. Contudo, a utilização de
ferramentas computacionais para a etiquetagem não dispensa a
intervenção manual do pesquisador (MEYER, 2004), uma vez
que taggers e parsers não conseguem alcançar uma precisão total
no processamento dos dados. Para Meyer (2004), a precisão dos
etiquetadores, geralmente, é comprometida pela inconsistência
dos dados (dados não limpos ou normalizados) e pela dificuldade
que apresentam para lidar com as características idiossincráticas
(GARSIDE; SMITH, 1997 apud MEYER, 2004) da linguagem
humana. Em decorrência dos possíveis erros, o resultado da
etiquetagem automática precisa ser conferido pelo pesquisador
(post-editing) com o objetivo de corrigir e resolver possíveis
924 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

ambiguidades nas etiquetas (LEECH, 2005). Segundo Bianchi


(2012), essa atividade é desenvolvida manualmente e exige muito
tempo e esforço.
8) Nomear arquivos: prevê que o pesquisador atribua nomes
aos arquivos do corpus, de preferência, após estabelecer uma
convenção. Nessa atividade, o pesquisador poderá ter de checar
como foi definida a estrutura da convenção quando for nomear
cada arquivo do corpus caso não consiga memorizá-la. Ademais,
ele precisará selecionar a informação mais adequada para compor
cada segmento da estrutura do nome do arquivo;
9) Salvar arquivos: requer pouco do pesquisador quando é feito
por meio da alocação dos arquivos em diretórios de um sistema
de arquivos, de acordo com a hierarquia estabelecida em um
projeto. Entretanto, segundo Sedlar (2005), em situações em
que o pesquisador decida salvar os arquivos em uma base de
dados, a execução da tarefa dependerá do uso de uma ferramenta
computacional que ofereça a interface necessária para a inclusão
dos arquivos no banco de dados. O pesquisador poderá optar
pelo uso de uma ferramenta já existente ou pela criação de uma
ferramenta customizada para o seu projeto. No primeiro caso,
ele precisará de um esforço adicional para a escolha de uma
ferramenta e para a aprendizagem do seu uso. No segundo, além
do esforço para aprender a usar a ferramenta, ele investirá recursos
financeiros, tempo e esforço por ter de contratar um profissional para
desenvolver a aplicação ou por desenvolvê-la por conta própria;
10) Disponibilizar arquivos: demanda pouco esforço e tempo do
pesquisador quando ele opta por apenas copiar os arquivos em
dispositivos de armazenamento de dados. Já a publicação on-line
do corpus pode requerer recursos financeiros (por exemplo, para a
contratação de serviços de hospedagem ou de armazenamento de
dados na nuvem) e, ainda, mais esforço e tempo do pesquisador, pois
ele deverá se preocupar com questões: como a escolha de um local
para a publicação, a compactação dos arquivos, a disponibilização
de documentação sobre o corpus com informações suficientes
para que a sua utilização seja feita por outros pesquisadores e a
explicitação de uma licença de uso dos dados do corpus.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 925

A fim de contornar as dificuldades relacionadas à coleta de


dados, os pesquisadores podem adotar os web corpora ou corpora ad-
hoc, que são corpora compostos por dados coletados da Internet de
forma automática. Nesse caso, eles precisam lançar mão de ferramentas
computacionais, como o WebBootCat (BARONI et al., 2006), o WebCorp
Linguist’s Search Engine (KEHOE; GEE, 2007) e o Bootcat (BARONI;
BERNARDINI, 2004), que, segundo Aluísio e Almeida (2006, p. 168),
utilizam motores de busca (Google, por exemplo) e um “pequeno
conjunto de itens léxicos, denominados sementes (seeds)” para efetuarem
a compilação.
Schäfer e Bildhauer (2013) consideram que a realização de
inferências estatísticas a partir de corpora construídos com base em
resultados de pesquisas de motores de busca não é uma boa prática
de pesquisa, pois os buscadores privilegiam a precisão (precision) em
detrimento da revocação (recall),9 podem ser influenciados por fatores
econômicos,10 usam variáveis como a língua e a localização de quem fez a
pesquisa e realizam alterações automáticas nas expressões fornecidas para
a pesquisa (otimizam as expressões por meio de reduções ou expansões).
Além disso, as buscas não podem ser reproduzidas devido à constante
entrada e saída de conteúdos (indexação) na Internet.
Mais do que as questões relacionadas aos critérios de recuperação
de informações dos motores de busca, Schäfer e Bildhauer (2013)
acreditam que a opção pelo uso de corpora provenientes de métodos
automáticos de coleta requer precaução extra do pesquisador no que diz
respeito a aspectos, tais como: remoção do boilerplate (quais partes do
documento foram removidas) e do ruído linguístico dos documentos
(quais os tipos de ruídos existentes e qual a precisão da remoção deles);
introdução de ruído linguístico (quais ruídos foram introduzidos após
o processamento dos documentos); remoção de arquivos duplicados
(deduplication) (quais documentos foram removidos e quais foram os

9
Consoante Rubi (2009), a revocação “pode ser mensurada por meio da relação entre
o número de documentos relevantes sobre determinado tema, recuperados pelo sistema
de busca, e o número total de documentos sobre o tema, existentes nos registros do
mesmo sistema” (RUBI, 2009, p. 85). A precisão “pode ser mensurada por meio da
relação entre os documentos relevantes recuperados e número total de documentos
recuperados” (RUBI, 2009, p. 85-86).
10
Por exemplo, os conteúdos patrocinados.
926 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

critérios de remoção) e a forma pela qual a amostragem dos dados foi


criada. Além das precauções de Schäfer e Bildhauer (2013), na literatura
da LC, identificamos outros problemas que podem surgir numa situação
em que se opta por automatizar a coleta de um corpus:
1) Problema da replicabilidade: está relacionado à mutabilidade
dos dados na Internet. Para Mcenery e Hardie (2011), os estudos
com corpora coletados de forma automática na Internet são difíceis
de serem replicados com o passar do tempo em virtude de haver
constante mudança de dados na rede;
2) Problema dos falso-positivos: os falso-positivos são tokens e types
que não possuem relação com qualquer elemento significativo de
uma língua alvo de pesquisa, provenientes de erros de tokenização
provocados pelo ruído linguístico de um corpus. Conforme Schäfer
e Bildhauer (2013), os web corpora tendem a conter um alto nível
de ruído linguístico;
3) Problema da amostragem: refere-se à incontrolabilidade e
arbitrariedade da escolha dos dados dos web corpora no universo
heterogêneo (RENOUF, 2007) dos dados disponíveis na Internet.
De acordo com Schäfer e Bildhauer (2013), a coleta automática
de documentos, geralmente, não segue um esquema amostral
preestabelecido. Para esses autores, na melhor das hipóteses, web
corpora são uma amostra randômica de dados da Internet, cuja
composição exata é desconhecida e precisará ser estabelecida após
a sua compilação. Para Mcenery e Hardie (2011), um dos aspectos
do desconhecimento do conteúdo de web corpora é a dificuldade
em determinar o gênero textual dos documentos coletados sem
tê-los lido;
4) Problema legal: consiste no download e uso de textos de sites
da Internet e na sua distribuição como parte de um corpus sem
o consentimento dos autores (MCENERY; HARDIE, 2011, p.
58). Segundo Mcenery e Hardie (2011), as leis de direito autoral
aplicam-se aos textos coletados automaticamente da Internet do
mesmo modo que se aplicam aos materiais impressos e, por isso,
podem gerar as mesmas implicações legais que outras formas de
construção de corpora;
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 927

5) Problema da violação da integridade dos textos: Schäfer e


Bildhauer (2013) argumentam que o processamento automático
de coleta dos textos introduz erros nos dados originais deles que
podem reduzir a qualidade dos dados. Para exemplificar, os autores
mencionam a remoção automática de dados duplicados que, se for
feita no interior dos textos, no nível dos parágrafos, pode implicar
a inclusão de materiais incompletos em um corpus;
6) Problema das consultas em massa (batch or bulk requests): a
obtenção dos dados dos web corpora depende do envio das sementes
(ALUÍSIO; ALMEIDA, 2006, p. 168) que serão utilizadas como
parâmetro de consulta pelos motores de busca. Schäfer e Bildhauer
(2013) explicam que, no intuito de evitar abusos, os motores de
busca apresentam restrições para o processamento gratuito de
grandes volumes de consultas automáticas. Portanto, a construção de
web corpora de grandes proporções por meio da coleta automática
de dados demandará do pesquisador o pagamento pelo serviço de
busca que ultrapassa os limites de consultas dos motores até que o
volume de dados necessário para os corpora seja atingido.

A compilação automática de corpora pode ser “adequada para


uma grande variedade de propósitos” (MCENERY; HARDIE, 2011,
p. 8)11 e os web corpora são extremamente valiosos para as pesquisas
que demandam a análise de grandes volumes de informação (BERGH;
ZANCHETTA, 2008, p. 320) e em que “o valor do volume dos dados
se sobrepõe à qualidade proporcionada pela sua limpeza” (SCHÄFER;
BILDHAUER, 2013, p. 126),12 ainda que apresentem problemas e
possam ter sua utilidade considerada limitada por grupos de linguistas
(RUNDELL; KILGARRIFF, 2011, p. 262). Para Rundell e Kilgarriff
(2011), os web corpora adequam-se, por exemplo, às pesquisas
lexicográficas para a criação de dicionários gerais em que “os benefícios
da abundância de dados superam os problemas dos web corpora”
(RUNDELL; KILGARRIFF, 2011, p. 262).13

11
Original: “suitable for a wide variety of purposes”.
12
Original: “values the amount of available data more highly than the cleanliness of
a corpus”.
13
Original: “the benefits of abundant data outweigh most of the perceived disadvantages
of web corpora”.
928 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

3 Metodologia
Como explicado na introdução deste artigo, o objetivo principal
da pesquisa nele descrita é determinar os efeitos da incorporação
do ToGatherUp no esforço necessário para a construção manual de
corpora. A forma encontrada pelos autores para atingirem esse propósito
foi a realização de um experimento de comparação entre os esforços
necessários para a construção de duas versões idênticas do CoCLI, sendo
que o projeto de elaboração de uma delas contou com a incorporação
do ToGatherUp e o outro não. Para que a confrontação fosse possível,
em um primeiro momento, eles estabeleceram um critério objetivo e um
método para a medição do esforço das atividades de cada um dos projetos
de construção de corpora. Na sequência, à medida que executaram
a construção dos corpora, tabularam os esforços necessários para a
realização de cada uma das atividades dos projetos. Por fim, realizaram
o experimento por meio de um teste estatístico para a comparação dos
dados tabulados. Nos tópicos desta seção, explanamos cada um desses
passos.

3.1 Como mensurar o esforço?


Apesar de o esforço ser um tema recorrente entre os autores da
LC, na revisão da literatura da área, os autores não identificaram trabalhos
que tenham se debruçado sobre a sua investigação. Por essa razão, tendo
em vista o resultado dessa averiguação e o objetivo da pesquisa, eles
precisaram formular métricas e um método de mensuração do esforço
dos projetos de construção de corpora. A criação da métrica feita por
eles baseou-se no conceito de medição proposto por Fenton e Bieman
(2014), no livro “Software Metrics: A Rigorous and Practical Approach”.
Conforme esses dois autores, a “medição é o processo pelo qual números
ou símbolos são associados aos atributos14 de uma entidade15 do mundo
real, de modo que seja possível descrevê-los de acordo com um conjunto

14
Os atributos são as características ou propriedades das entidades.
15
As entidades são representações de objetos e eventos do mundo real. Por exemplo: uma
pessoa, um lugar, um objeto, uma ideia, um produto, um processo ou uma atividade. Do
mesmo modo que uma pessoa (entidade) pode ser descrita a partir de suas características
(por exemplo: altura, sexo e idade), as atividades podem ser descritas a partir de seus
atributos (por exemplo: duração, inputs e outputs).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 929

de regras16 bem definidas”17 (FENTON; BIEMAN, 2014, p. 5) e compará-


los com atributos semelhantes de outras entidades.
A partir do conceito de métrica citado, os pesquisadores
assumiram as atividades dos projetos de construção de corpora como
entidades e estabeleceram que o input,18 o output19 e o tempo de duração
seriam os seus atributos. Deste modo, eles passaram a dispor de elementos
para mensurar o esforço das atividades e foram capazes de compor uma
métrica,20 o Esforço da Atividade (EA), que quantifica, em segundos, o
esforço despendido para a completude de uma atividade de um projeto
de construção de corpus. O Esforço da Atividade (EA) estabelece que o
esforço de uma atividade é igual ao quociente entre o intervalo de tempo
decorrido entre o início e o fim da atividade (a duração da atividade)
e o resultado da atividade, ou seja, a sua completude. Nessa relação,
o tempo do pesquisador é o input21 que equivale ao tempo de duração
da atividade e o resultado da atividade é o output que corresponde ao
número 1 (um)22 – forma que os autores estabeleceram para quantificar
e denotar a completude da atividade.23 A Figura 7 ilustra os 3 atributos
de uma atividade no escopo do EA.

16
As regras ditam como a medição deve ser realizada.
17
Original: “Measurement is the process by which numbers or symbols are assigned to
attributes of entities in the real world in such a way so as to describe them according
to clearly defined rules”.
18
Os inputs são as entradas necessárias para a realização de uma atividade. No caso,
realizamos um recorte nas entradas que considerou apenas o tempo despendido pelo
criador do corpus na execução da atividade.
19
Os outputs são os produtos ou entregas (resultados) de uma atividade.
20
Métricas são unidades de medidas criadas a partir de medições.
21
Apesar de utilizarem somente o tempo do pesquisador como input da atividade,
os autores estão cientes da existência de outros inputs necessários para a realização
de uma tarefa, como o conhecimento do pesquisador. A decisão pelo uso do tempo
do pesquisador justifica-se pelo fato de o tempo ser, geralmente, reportado como o
recurso primário para a execução de uma atividade. Ademais, o tempo do pesquisador
apresenta-se como um input quantificável e de fácil mensuração em relação aos inputs
mais abstratos, como o conhecimento.
22
De acordo com o raciocínio aplicado, a não completude da atividade corresponderia
ao número 0 (zero).
23
A completude de uma atividade pode ser compreendida como a finalização de 100%
de suas tarefas.
930 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

FIGURA 7 – Atributos do modelo de regras do EA

Fonte: Oliveira (2019, p. 77.)

Ao criarem o EA, os autores passaram a dispor da variável


básica para o cálculo do esforço investido em um projeto de construção
de corpora. A forma de calcular esse esforço foi a criação de uma outra
métrica, o Esforço Total do Projeto (ETP). O ETP é uma métrica que
quantifica, em segundos, o esforço despendido para a completude24 de
um projeto de construção de um corpus e corresponde à soma de todos
os EAs das atividades do projeto. Assim, o ETP pode ser expresso da
seguinte maneira: ETP = EA 1 + EA 2 + EA 3 + EA 4 + EA n. Em suma,
a comparação entre os esforços empregados na construção de cada versão
do CoCLI deu-se pela comparação entre os ETP de cada um dos projetos.
Para encontrar o ETP de cada projeto, em um primeiro momento, foi
calculado o EA de cada atividade dos projetos. O método para o cálculo
do ETP referente à construção da versão do CoCLI que não passou pela
intervenção do ToGatherUp consistiu nos passos a seguir:
1. Identificação das atividades realizadas para a construção do projeto
de acordo com a sistemática de organização de projetos proposta
pelos autores da pesquisa. As atividades identificadas foram: a)
localização dos dados; b) permissão de uso dos dados; c) captura
dos dados; d) conversão dos dados; e) limpeza e normalização dos

24
A completude de um projeto pode ser compreendida como a finalização de 100%
das suas atividades.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 931

dados; f) salvamento de arquivos; g) enriquecimento dos dados; h)


nomeação dos arquivos;
2. Cálculo do EA das atividades identificadas. Para melhor
compreensão, os autores atribuíram uma sigla para cada EA
calculado. Desse modo, obtiveram a seguinte lista: a) Esforço
da Atividade da localização dos dados (EALD); b) Esforço da
Atividade da obtenção de permissão de uso dos dados (EAOPD);
c) Esforço da Atividade de captura dos dados (EACD); d) Esforço
da Atividade de conversão dos dados (EACVD); e) Esforço da
Atividade de limpeza e normalização dos dados (EALND); f)
Esforço da Atividade de salvamento de arquivos (EASA); g)
Esforço da Atividade de enriquecimento dos dados (EAED); h)
Esforço da Atividade de nomeação dos arquivos (EANA).
3. Aplicação do modelo de cálculo do ETP, expresso por: ETP125 =
EALD + EAOPD + EACD + EACVD + EALND + EASA + EAED
+ EANA.
No que tange ao método para o cálculo do ETP concernente
à elaboração da versão do CoCLI que contou com a incorporação do
ToGatherUp, os passos foram:
1. Identificação das atividades realizadas para a construção do projeto
de acordo com a sistemática de organização de projetos proposta
pelos autores da pesquisa. As atividades identificadas26 foram:
a) localização dos dados; b) permissão de uso dos dados; c) captura
dos dados; d) conversão dos dados; e) limpeza e normalização dos
dados; f) cadastramento de textos;27
2. Cálculo do EA das atividades identificadas. De forma análoga ao
passo dois do método citado anteriormente, os autores atribuíram
siglas para cada EA calculado. Logo, obtiveram a seguinte lista:

25
O ETP1 diz respeito ao projeto não intervencionado pelo ToGatherUp.
26
As atividades a, b, c e d são comuns aos dois projetos. As atividades de salvamento,
nomeação de arquivos e enriquecimento dos dados foram automatizadas pelos recursos
do ToGatherUp e, por isso, não geraram seus respectivos EAs. Portanto, não as incluímos
no cálculo do projeto intervencionado pelo ToGatherUp.
27
O cadastramento de texto é uma atividade específica da construção de corpora no
ToGatherUp.
932 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

a) EALD; b) EAOPD; c) EACD; d) EACVD; e) EALND; f) Esforço


da Atividade de cadastramento de textos (EACT).
3. Aplicação do modelo de cálculo do ETP, expresso por: ETP228 =
EALD + EAOPD + EACD + EACVD + EALND + EACT.
Em ambos os projetos, os pesquisadores fizeram a medição da
duração das atividades, necessária para a obtenção do EA de cada uma
das atividades, com o uso de um cronômetro disponível na interface
do ToGatherUp. Para a obtenção da quantidade de segundos relativa
à duração de uma atividade, o cronômetro foi acionado assim que
a atividade foi iniciada e paralisado logo após a conclusão dela. A
informação29 fornecida pelo cronômetro (Instrumento 1) foi tabulada
em uma planilha do Google (Instrumento 2), que serviu para a extração
do conjunto de dados (dataset) analisado no experimento da pesquisa.
Além do EA e do ETP, os pesquisadores criaram a métrica Esforço
Total de Coleta do Texto (ETCT) para determinar o esforço despendido
para a inclusão de uma única unidade de texto em um corpus. O ETCT
pode ser expresso, de forma semelhante ao ETP, pela fórmula ETCT =
EA 1 + EA 2 + EA 3 + EA 4 + EA n. Porém, o contexto de aplicação da
expressão é limitado somente aos EAs de uma única unidade textual.

3.2 O ToGatherUp
O ToGatherUp30 é uma ferramenta on-line (http://www.ileel.ufu.
br/togatherup) desenvolvida pelos autores da pesquisa aqui retratada
que oferece suporte a projetos de construção manual de corpora. As
principais funcionalidades da ferramenta são a inserção automática
de cabeçalho de metadados nos arquivos do corpus, a nomeação do

28
O ETP2 alude ao projeto intervencionado pelo ToGatherUp.
29
O tempo decorrido entre o início e o fim da atividade. Ou seja, a duração da atividade.
30
O nome ToGatherUp surgiu da associação entre o ato de construir um corpus e o verbo
frasal gather up, da língua inglesa, que, de acordo com o Macmillan Dictionary significa
“pegar coisas de lugares diferentes e colocá-las juntas”, no original “to pick up things
from several different places and put them together” (MACMILLAN DICTIONARY,
2018). Para reforçar a associação, no design da logomarca da ferramenta, os autores
incluíram o símbolo 輯, um ideograma da língua japonesa que, conforme Jisho (http://
jisho.org), um dicionário japonês on-line, pode ser traduzido para as seguintes palavras
da língua inglesa: a) gather; b) collect; c) compile.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 933

arquivo de acordo com uma convenção preestabelecida pelo criador do


corpus e o armazenamento do arquivo no diretório correspondente ao
seu posicionamento na estrutura hierárquica do projeto. Além dessas
funcionalidades, o ToGatherUp exibe ao pesquisador uma interface
em que é possível visualizar estatísticas sobre a quantidade de textos
e palavras coletadas, conferindo a ele maior controle em relação ao
andamento de um projeto. O ToGatherUp possui os seguintes recursos:
1) Painel de Controle (Data Overview): permite a visualização da
quantidade total de palavras e de textos de um corpus, do ETP, das
quantidades de palavras e textos para cada um dos gêneros, tipos
textuais, meios de distribuição, áreas e subáreas de um corpus e
facilita o acompanhamento visual da evolução da coleta de textos
de um corpus;
2) Cadastro de Textos (Data Entry): apresenta um formulário com os
campos para a entrada dos dados do texto. Os campos são: Subárea,
Título, Língua, Fonte, Gênero textual, Tipos textuais, Meio de
Distribuição e ETCT;
3) Gerenciador de Textos (Data Manager): interface que exibe uma
lista com os textos de um corpus, em forma de tabela, e possibilita
a localização (pesquisa) de um texto (ou textos) a partir dos
metadados dele;
4) Árvore de Domínio (Domain Tree): interface para a visualização
da organização hierárquica adotada no projeto de um corpus;
5) Exportação de Corpus (Data Exporter): funcionalidade que exporta
os arquivos de um corpus em diretórios organizados de acordo com
a hierarquia do projeto.
Na sequência, abordamos cada um dos referidos recursos do
ToGatherUp, ilustrando-os com exemplos extraídos do projeto de
construção do CoCLI em que ocorreu a incorporação do ToGatherUp.

3.2.1 Painel de Controle


O Painel de Controle é a interface principal do ToGatherUp e
exibe as informações gerais do projeto de construção de um corpus. O
objetivo dele é oferecer ao pesquisador uma visão geral da evolução da
coleta de textos do corpus. A Figura 8 ilustra parcialmente o Painel de
Controle do ToGatherUp com informações do projeto do CoCLI.
934 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

FIGURA 8 – Painel de Controle com informações do CoCLI

Fonte: ToGatherUp.

O Painel de Controle contém outros cinco painéis: a) Dados


gerais, que apresenta o número total de palavras, a quantidade total de
textos e o ETP de um corpus; b) Textos por Gêneros, que apresenta
as quantidades totais de textos para cada gênero textual que compõe
um corpus; c) Textos por Tipos Textuais, que apresenta o número total
de textos para cada tipo textual de um corpus; d) Textos por Meios
de Distribuição, que apresenta, de maneira discriminada, os meios de
comunicação em que os textos de um corpus foram obtidos durante sua
coleta, quantificando-os; e) Textos por Áreas e Subáreas, que fornece a
visão da quantidade de textos e de palavras para cada item da hierarquia
adotada num projeto de construção de corpus.

3.2.2 Cadastro de Textos


No ToGatherUp, a inclusão de um texto em um corpus é realizada
através do recurso denominado Cadastro de Textos, presente na Figura 9.
O Cadastro de Textos é uma interface web que apresenta um formulário,
a ser preenchido pelo pesquisador de forma manual, composto pelos
seguintes campos:31 (a) Subárea; (b) Título; (c) Língua; (d) Fonte; (e)
Gênero Textual; (f) Tipos Textuais; (g) Meio de Distribuição; (h) ETCT.

31
Os campos citados foram estabelecidos para o projeto do CoCLI. Os campos do
Cadastro de Textos podem ser definidos pelo pesquisador no momento da configuração
do projeto no ToGatherUp. A data de publicação do texto e a sua autoria são exemplos
de informações que podem ser incluídas durante a configuração do projeto.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 935

Além desses campos, o formulário apresenta, ainda, a opção para que o


pesquisador possa anexar o arquivo do texto.
FIGURA 9 – Formulário de Cadastro de Textos do ToGatherUp

Fonte: ToGatherUp.

Ao incluirmos um texto no corpus por meio do Cadastro de


Textos, o ToGatherUp desencadeia, de forma automática, as atividades:
a) Atividade 1: Registro dos metadados do texto no banco de dados; b)
Atividade 2: Nomeação32 do arquivo do texto; c) Atividade 3: Inserção
de cabeçalho no arquivo do texto; d) Atividade 4: Armazenamento do
arquivo do texto. Na sequência, descrevemos cada uma dessas atividades
e como elas foram configuradas no projeto de construção do CoCLI.

a) Atividade 1: Registro dos metadados do texto no banco de dados


Ao armazenar os textos de um corpus, o pesquisador precisa
estabelecer padrões descritivos que otimizem o acesso a eles, a
recuperação e o reuso deles. Para atender essa necessidade, o ToGatherUp
faz uso de metadados para a catalogação dos textos dos corpora. A
utilização de metadados surgiu no âmbito das Ciências da Informação

32
Na realidade, o que ocorre é uma renomeação, porque, para que seja possível a
sua submissão no ToGatherUp, o arquivo precisa ter sido previamente salvo pelo
pesquisador. O ToGatherUp desconsidera qualquer que seja o nome dado a um arquivo
submetido a ele e procede com a sua renomeação em conformidade com os metadados
do texto e com a convenção de nomeação de arquivos do projeto.
936 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

como uma solução para a organização de dados. Para Alves (2010), os


metadados podem ser definidos como:
[...] atributos que representam uma entidade (objeto do mundo
real) em um sistema de informação. Em outras palavras, são
elementos descritivos ou atributos referenciais codificados que
representam características próprias ou atribuídas às entidades;
são ainda dados que descrevem outros dados em um sistema
de informação, com o intuito de identificar de forma única uma
entidade (recurso informacional) para posterior recuperação
(ALVES, 2010, p. 47).

Para o projeto do CoCLI, cada campo do formulário de Cadastro


de Textos correspondeu à um metadado estabelecido de acordo com os
critérios de desenho. Desse modo, os metadados do CoCLI apresentam-
se conforme o Quadro 1.
QUADRO 1 – Metadados do CoCLI33

Metadados Descrição
(a) Subárea Informa a subárea do texto.
(b) Título Informa o nome dado para o texto.
(c) Língua Informa o idioma em que o texto foi escrito.
(d) Fonte Informa a origem do texto.
(e) Gênero textual Informa o gênero textual do texto.
(f) Tipos textuais Informa o tipo textual do texto.
(g) Meio de distribuição Informa o meio em que o texto foi divulgado.
Informa o esforço total referente à soma de todos os EAs
(h) ETCT
realizados para a inclusão de uma unidade textual no corpus.33

Fonte: Oliveira (2019, p. 92.)

33
A obtenção do ETCT depende do registro do EA de cada uma das atividades
necessárias para a coleta do texto. É importante lembrar que o ToGatherUp não
apresenta uma forma de registro para cada um dos EAs. O software tem somente um
cronômetro que pode ser utilizado para a captura da duração de cada atividade, que
pode ser registrada em um tipo de controle escolhido pelo pesquisador.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 937

Além dos metadados do Quadro 1, o ToGatherUp registra,


de forma automática, o um conjunto de metadados sem que ocorra a
intervenção do pesquisador. O Quadro 2 apresenta esses metadados.
QUADRO 2 – Metadados gerados de forma automática pelo ToGatherUp34353637

Metadados Descrição
Informa o domínio do texto (área do conhecimento/
(a) Domínio
especialidade a qual pertence).34
(b) Número de palavras Informa o número de palavras do texto.35
Informa a data e a hora em que o texto foi incluído no
(c) Data da inclusão
corpus.36
Informa o número de identificação do texto no banco
(l) Identificador do arquivo (ID)
de dados do ToGatherUp.37

Fonte: Oliveira (2019, p. 92.)

b) Atividade 2: Nomeação dos arquivos dos textos


O ToGatherUp faz a nomeação automática dos textos de um
corpus durante a submissão deles pelo Cadastro de Textos de acordo
com os metadados do texto e com uma convenção de nomeação de
arquivos definida durante a configuração do projeto no sistema. Com
base na convenção estabelecida para a nomeação dos textos do CoCLI,
um dos textos desse corpus foi nomeado, por exemplo, desta forma: IN-
CO-IF-AT-IN-25Sep2017-797.txt. O nome do arquivo é constituído por
sete partes distintas, separadas por hífen, e finalizado com a extensão
correspondente ao formato dele (.txt). Cada uma das partes é formada
por uma abreviação que se associa a um metadado do texto:
a) a primeira (IN) informa a língua do texto. Para a língua inglesa,
foi utilizada a abreviação IN;

34
O domínio do texto é estabelecido durante as configurações do projeto no ToGatherUp.
Por essa razão, o ToGatherUp é capaz de incluí-lo, automaticamente, como um metadado.
35
O ToGatherUp possui um algoritmo que contabiliza a quantidade de palavras do texto.
36
O ToGatherUp considera a data e a hora do servidor em que o sistema está instalado.
Por isso, o pesquisador não precisa informar esses dados.
37
O ID é gerado de forma incremental e automática pelo ToGatherUp.
938 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

b) a segunda (CO) diz respeito ao domínio (área do conhecimento/


especialidade a que pertence o texto). Como o CoCLI é do domínio
da Computação, foi utilizada CO para abreviá-lo;
c) a terceira (IF) refere-se ao gênero do texto. A abreviação CI foi
utilizada para o gênero científico, a IF para o gênero informativo
e a IS para o gênero instrucional;
d) a quarta (AT) alude ao tipo do texto. As abreviações referentes
aos tipos textuais dos textos do CoCLI foram estabelecidas da
seguinte maneira:
● Apostila (AP);
● Artigo (AT);
● Artigo científico (AC);
● Capítulo/Seção de livro (CL);
● Decreto (DE);
● Dissertação (DS);
● Documentos (DC);
● Fórum de perguntas e respostas (Q&A);
● Guia (GU);
● Livro (LV);
● Manual (MA);
● Monografia (MN);
● Norma técnica (NR);
● Nota técnica (NT);
● Notícia (NO);
● Portaria (PA);
● Relatório (RL);
● Reportagem (RP);
● Tese (TS);
● Transcrição (TR);
● Tutorial (TT).
e) a quinta parte (IN) é relativa ao meio de divulgação do texto.
Como todos os textos do CoCLI são provenientes da Internet,
foi utilizada a abreviação IN para representá-la;
f) a sexta parte (25Sep2017) informa a data de coleta do texto;
g) a sétima parte (797) indica o identificador (ID) do texto no
banco de dados do ToGatherUp. Cada texto recebe um ID único
ao ser registrado no banco de dados do sistema, o que evita a
possibilidade de que textos com metadados idênticos recebam
um mesmo nome.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 939

c) Atividade 3: Inserção de cabeçalho nos arquivos de texto


Os metadados dos textos do CoCLI foram usados pelo
ToGatherUp para a criação e inserção automática de cabeçalho nos
arquivos dos textos. Para que isso fosse possível, nas configurações da
ferramenta, foi necessário estabelecer a estrutura do cabeçalho a ser
utilizada que, na pesquisa, conteve apenas a origem do texto e a sua data
de inclusão no corpus. Com base nisso, o ToGatherUp procedeu com
a inserção do cabeçalho nos textos, alimentando-os com os metadados
fornecidos no Cadastro de Textos da ferramenta.

d) Atividade 4: Armazenamento do arquivo do texto


O armazenamento de arquivos através de métodos tradicionais
comuns no cotidiano das organizações e no gerenciamento de informações
pessoais é natural. No entanto, Dourish (2003, p. 4) aponta que estudos
realizados por Barreau e Nardi (1995) e por Kaptelinin (1996) revelam
que essa prática é problemática, pois dificulta a reorganização das
informações quando elas assumem funções diferentes das originais ou
quando elas não se adequam a somente um dos loci de armazenamento.
Considerando essa problemática, o ToGatherUp foi desenvolvido
de modo que ele fosse capaz tanto de armazenar os textos do
CoCLI de acordo com a Árvore de Domínio da Computação (uma
estrutura hierárquica fixa) como de reorganizá-los seguindo outras
configurações hierárquicas. A capacidade do ToGatherUp de
reorganizar o armazenamento dos textos deve-se à incorporação, em seu
desenvolvimento, de um modelo conceitual de gerenciamento de arquivos
chamado Placeless Documents. O Placeless Documents foi criado por
Paul Dourish (2003), pesquisador do Xerox Palo Alto Research Center,
localizado em Palo Alto, na Califórnia, nos Estados Unidos, e propõe a
organização de documentos a partir das suas propriedades, conforme as
diferentes necessidades de seus usuários.
Nesse modelo, a associação das propriedades dos documentos
(informações sobre os próprios documentos), chamadas de active
properties, aos documentos permite que eles sejam organizados
de acordo com essas propriedades ao invés de obedecerem a uma
estrutura hierárquica predeterminada. Ao oferecer essa nova forma de
organização baseada em propriedades, o Placeless Documents possibilita
o agrupamento, de diferentes maneiras, de um conjunto de documentos,
940 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

o que soluciona o problema da reorganização de arquivos de acordo com


suas funções. A flexibilidade proporcionada pelo Placeless Documents
foi a principal razão para a sua incorporação ao ToGatherUp. No entanto,
o modelo implementado no ToGatherUp baseou-se na associação dos
metadados dos textos do CoCLI ao invés das propriedades dos seus
arquivos.
Ao submetermos um texto por meio do formulário do Cadastro
de Textos do ToGatherUp, seus metadados são registrados no banco de
dados do sistema e seu arquivo é armazenado em um diretório comum
do servidor web em que o sistema está instalado. Por seguir o modelo
Placeless Documents, o local de armazenamento dos arquivos dentro
da infraestrutura do ToGatherUp é irrelevante, uma vez que será a
necessidade do pesquisador que irá determinar seu posicionamento na
estrutura de diretórios, que é gerada no momento da sua exportação para
o processamento em outras ferramentas computacionais.

3.2.3 O Gerenciador de Textos


Além das informações quantitativas disponíveis no Painel
de Controle, o ToGatherUp apresenta uma interface, nomeada como
Gerenciador de Textos, que permite ao pesquisador a visualização dos
textos de um corpus, em forma de tabela, e a pesquisa por um ou mais
textos do corpus com base em suas informações. A Figura 10 mostra a
interface do Gerenciador de Textos.
FIGURA 10 – Gerenciador de Textos do ToGatherUp

Fonte: ToGatherUp.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 941

A tabela do Gerenciador de Textos possui as colunas: a) ID; b)


Nome do arquivo; c) Área; d) Subárea; e) Título; f) Palavras (número de
palavras); g) ETCT. O clique sobre o título de cada coluna faz com que
suas informações sejam visualizadas em ordem crescente ou decrescente,
no caso dos dados numéricos, ou em ordem alfabética, no caso dos dados
alfabéticos ou alfanuméricos.

3.2.4 A Exportação de Corpus


Ao término do projeto de construção de um corpus, os seus dados
precisam ser disponibilizados para o processamento em ferramentas
computacionais. Pensando nisso, o ToGatherUp possui o recurso Exportação
de Corpus, que operacionaliza a exportação dos arquivos do corpus de modo
que eles possam ser manipulados em outras ferramentas computacionais.
Para realizar a exportação, o pesquisador deve utilizar a opção Exportação
de Corpus, disponível na barra superior e no menu principal do sistema,
a qualquer momento que julgar necessário. Ao acioná-la, o ToGatherUp
cria, de forma automática, um arquivo compactado contendo os textos do
corpus organizados em diretórios e subdiretórios, conforme a estrutura
estabelecida para o projeto, nomeados de forma padronizada e com os seus
cabeçalhos já inseridos no início do conteúdo de cada arquivo.
No caso da exportação dos dados do CoCLI, o ToGatherUp
criou, automaticamente, um arquivo compactado com a extensão .zip,
contendo os textos do corpus alocados em diretórios correspondentes
aos seus campos semânticos na Árvore de Domínios da Computação.
No entanto, é importante salientarmos que a flexibilidade oferecida
pelo modelo Placeless documents e pelo uso dos metadados permite
que a exportação seja feita de acordo com outros esquemas. Para
exemplificarmos, poderíamos gerar, a partir do conjunto de textos do
CoCLI, um subcorpus composto somente por textos do gênero científico,
caso as configurações de exportação do ToGatherUp fossem definidas
para esse novo esquema.

3.2.5 A Árvore de Domínio


A Árvore de Domínio é a interface do ToGatherUp que exibe a
organização hierárquica adotada no projeto de construção de um corpus.
A Figura 11 exibe a Árvore de Domínio da Computação, com suas áreas
e subáreas, adotada no projeto de construção do CoCLI.
942 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

FIGURA 11 – Árvore de Domínio do CoCLI

Fonte: ToGatherUp.

3.3 A construção do CoCLI


Conforme explicamos anteriormente, a pesquisa aqui retratada
comparou os esforços investidos na construção de duas versões idênticas
do Corpus da Computação da Língua Inglesa (CoCLI), sendo que o
projeto de uma delas contou com a incorporação do ToGatherUp e o outro
não. Ou seja, os projetos foram executados por meio de métodos distintos.
Com o intuito de facilitar a compreensão do texto, utilizamos a expressão
“Método 1” para referenciar o método que não envolveu a incorporação
do ToGatherUp e “Método 2” para o que adotou a ferramenta. Apesar
da distinção, os dois métodos apresentam um conjunto de atividades em
comum e um conjunto de atividades próprias de cada um deles. A seguir,
descrevemos a parte comum entre os métodos e, na sequência, tratamos
da parte em que eles se distinguem um do outro.

3.3.1 Atividades comuns dos métodos 1 e 2


A parte comum entre os métodos 1 e 2 compreende atividades
das fases inicial e de execução dos projetos de construção de corpora. A
primeira atividade realizada foi a definição do desenho do corpus. Após
a seleção e definição dos critérios, o desenho do CoCLI apresentou a
configuração do Quadro 3.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 943

QUADRO 3 – Desenho do CoCLI383940

Critério Definição
Recuperar informações, extrair termos, definir termos e identificar
Objetivo
exemplos de uso de termos.
Domínio:38 Textos restritos às áreas e subáreas da Computação.
Especializado (composto por textos das áreas e subáreas da
Tipo
Computação).
Tempo Sincrônico (contempla textos publicados no período de 2000 a 2018).
Língua Monolíngue (apenas textos escritos na língua inglesa).
Textos científicos (artigos científicos, capítulos/seções de livro, teses,
dissertações, monografias e livros), informativos (artigos, notícias,
Gênero e tipo
relatórios e reportagens) e instrucionais ou normativos (apostilas,
textual
perguntas e respostas de fóruns, guias, manuais, decretos, normas
técnicas, notas técnicas, portarias, tutoriais e documentos).
Cada campo nocional da CSS deverá contar com, no mínimo, 100 mil
Tamanho
palavras.39
Modalidade Escrita.
Público-alvo Pesquisadores, aprendizes e profissionais da Computação.
Estado natural Formato eletrônico e sem a necessidade de reconhecimento de seus
dos textos caracteres.40

Fonte: Oliveira (2019, p. 111)

Após o estabelecimento do design do CoCLI, foram definidos


os recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos que seriam
despendidos para a execução dos projetos e o cronograma das suas
realizações. Como todo o trabalho da pesquisa foi realizado pelos seus
autores e a hospedagem do ToGatherUp foi feita, de forma gratuita, no

38
Assunto do corpus.
39
Os autores da pesquisa não identificaram, na literatura da LC, um número padrão
estabelecido para um corpus ou para as ramificações de uma Árvore de Domínio. Por
essa razão, estabeleceram o número de 100 mil palavras como padrão para a pesquisa,
partindo do pressuposto de que esse valor é suficiente para a recuperação de informações
em uma pesquisa terminológica
40
Essa condição dos textos facilita a captura deles.
944 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

servidor web do ILEEL41 da UFU,42 como parte dos projetos do GPELC,43


sob o domínio www.togatherup.ileel.ufu.br, não foi necessário investir
recursos financeiros para a sua realização. Com essas definições, foi
encerrada a fase inicial dos projetos de construção do CoCLI e passou-
se à fase de execução deles, na qual iniciou-se o processo de obtenção
dos dados dos corpora.
A primeira atividade desse processo foi a localização de textos
que pudessem ser incluídos nos corpora. A escolha dos textos foi feita
com base nas referências dos currículos dos cursos da área da Computação
de centros acadêmicos de referência. Os textos foram obtidos na Internet
e a permissão para o seu uso não foi solicitada devido à dificuldade de
obtenção de autorização para a grande quantidade de materiais necessária
para os corpora. Além desse motivo, a obtenção da permissão de uso
foi desconsiderada pela falta de intenção de publicização do CoCLI ao
término de sua construção.
Logo após, iniciou-se o processo de preparação dos textos para
incluí-los nos corpora. Os textos dos corpora foram obtidos em suas fontes
originais nos formatos PDF, DOC e HTML, convertidos para o formato
TXT, limpos por meio da remoção dos elementos citados no Quadro 4 e
normalizados por meio dos procedimentos descritos no Quadro 5.
QUADRO 4 – Procedimentos de limpeza de corpus44

Procedimentos
(a) Remoção de cabeçalhos e rodapés de páginas.
(b) Remoção de elementos gráficos (figuras, imagens e gráficos).
(c) Remoção de imagens.
(d) Remoção de notas de rodapé e fim.44
(e) Remoção de números de página.
(f) Remoção de referências bibliográficas.

41
Instituto de Letras e Linguística.
42
Universidade Federal de Uberlândia.
43
Grupo de Pesquisa e Estudos em Linguística de Corpus.
44
Optamos por excluir esses elementos dos textos por julgarmos o restante das
informações das produções escritas suficiente para os objetivos da pesquisa
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 945

(g) Remoção de listas (sumários, tabelas, figuras, abreviações e gráficos).


(h) Remoção de tabelas e quadros.
(h) Remoção de títulos e subtítulos.
(i) Remoção de legendas de tabelas, figuras e quadros.

Fonte: Oliveira (2019, p. 114.)

QUADRO 5 – Procedimentos de normalização textual

Procedimentos
(a) Remoção de hifens no final de linha.
(b) Remoção de quebras de linhas/parágrafos/páginas/seções.
(c) Remoção de espaços em branco duplicados.
(d) Remoção de marcas de parágrafos/recuos.
(e) Remoção de linhas em branco.
(f) Padronização de hifens, apóstrofos, traços e aspas.

Fonte: Oliveira (2019, p. 114.)

Após a conclusão da conversão, limpeza e normalização


dos textos, iniciou-se a execução da última atividade do processo de
preparação dos corpora – o enriquecimento dos dados.

3.3.2 Atividades distintas dos métodos 1 e 2


As atividades de enriquecimento e relativas ao armazenamento
dos dados compõem o conjunto de atividades que tiveram a forma de
execução completamente alterada com a incorporação do ToGatherUp. O
enriquecimento dos dados dos corpora da pesquisa consistiu na inserção
de cabeçalhos construídos a partir de metadados dos textos. A Figura 12
ilustra um exemplo de cabeçalho inserido pelo ToGatherUp em um dos
textos do CoCLI.
946 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

FIGURA 12 – Cabeçalho do texto Basics about Cloud Computing

Fonte: ToGatherUp.

No Método 1, o cabeçalho da Figura 12 foi construído e o


inserido no arquivo do texto de forma manual. Já no Método 2, o
ToGatherUp foi programado para construir e inserir, automaticamente,
o cabeçalho no texto, de acordo com a estrutura XML definida em
sua programação e os metadados do texto. A inclusão dos cabeçalhos
encerrou o processo de preparação dos textos, que foi sucedido pelas
atividades de armazenamento dos dados dos corpora. Para a nomeação
dos arquivos dos textos, foi utilizada a convenção de nomeação de
arquivos apresentada no subtópico Cadastro de Textos. No Método 1,
os textos dos corpora foram nomeados manualmente e, no Método 2,
todo o trabalho foi executado de maneira automática pelo ToGatherUp
durante o registro do texto no Cadastro de Textos da ferramenta. Para
que isso fosse possível, o ToGatherUp foi programado para nomear os
arquivos de acordo com as regras da convenção de nomeação de arquivos
adotada no projeto e com os metadados dos textos.
A última atividade dos projetos de construção do CoCLI foi o
salvamento (arquivamento) dos textos. No Método 1, os arquivos dos
corpora foram salvos manualmente nos diretórios, criados com o Windows
Explorer do Windows, correspondentes às áreas e subáreas presentes
na Árvore de Domínio da Computação. No Método 2, o ToGatherUp
armazenou automaticamente os arquivos em consonância com os princípios
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 947

e a funcionalidade de armazenamento da ferramenta apresentados no item


d) Atividade 4: Armazenamento do arquivo do texto do subtópico 3.2.2
Cadastro de Textos. No contexto do ToGatherUp, o local dos arquivos é
indiferente, uma vez que a ferramenta é capaz de organizar os arquivos de
acordo com a consulta estabelecida pelo usuário do sistema. No caso do
CoCLI, o ToGatherUp foi programado para exportar os arquivos conforme
a estrutura da Árvore de Domínio da Computação.

3.4 O experimento
O experimento realizado na pesquisa consistiu na realização de
um teste estatístico que comparou os ETP de cada um dos projetos de
construção do CoCLI. O objetivo do experimento foi testar a hipótese de
que a incorporação do ToGatherUp em projetos de construção manual de
corpora poupa o tempo e minimiza o esforço do pesquisador dispensados
à execução das atividades de elaboração de corpora, de modo semelhante
ao que ocorre com as atividades de análise de corpora mediadas pelo
uso de computadores (criação automática de listas de palavras e linhas
de concordância, evidenciação de padrões linguísticos e etiquetagem
de corpora). Para a realização do experimento foi necessário realizar a
tabulação manual dos EAs, fornecidos pelo cronômetro do ToGatherUp
(Instrumento 1), em uma planilha do Google (Instrumento 2), para cada
uma das atividades de cada um dos projetos de construção do CoCLI.
Desses conjuntos de dados (dataset) foram extraídas amostras aleatórias
referentes aos mesmos 50 textos de cada corpus. Os dados das amostras
foram submetidos a um teste estatístico que permitiu determinar o efeito
da incorporação do ToGatherUp na construção manual das duas versões
do CoCLI.
De acordo com Rumsey (2010), testar uma hipótese é uma
tentativa de se “confirmar ou negar uma declaração sobre uma população45
a partir dos dados de sua amostra”46 (RUMSEY, 2010, p. 87).47 Para

45
Para Correia (2003), população é “uma coleção completa de todos os elementos a
serem estudados” (CORREIA, 2003, p. 9).
46
Consoante Correia (2003), uma subcoleção de elementos extraídos de uma população”
(CORREIA, 2003, p. 9).amostra é “uma subcoleção de elementos extraídos de uma
população” (CORREIA, 2003, p. 9).
47
Original: “trying to confirm or deny a claim about a population using data from a
sample”.
948 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

a autora, quando um teste de hipóteses48 envolve a comparação entre


parâmetros numéricos, o objeto de interesse é a diferença entre as médias49
(means) desses parâmetros. Como a análise envolveu a comparação entre
o ETP dos diferentes projetos de construção do CoCLI (dois parâmetros
numéricos), foi utilizado um teste de hipóteses conhecido como T-Test
que, segundo Dodge (2008), é apropriado para testar hipóteses a partir
da comparação entre as médias de duas populações em que os elementos
de uma delas possuem uma relação com os elementos da outra.
Para a realização do T-Test, os dados tabulados foram importados
no software Statistics Statistical Package for the Social Sciences
(SSPS),50 uma ferramenta de análise estatísticas, desenvolvida pela IBM,
amplamente usada em pesquisas acadêmicas que envolvem a realização
de testes estatísticos. Na sequência, foi utilizada uma função do SSPS
para criar uma amostra aleatória51 de cinquenta textos do CoCLI. Por
fim, o SSPS comparou o ETCT resultante da aplicação do Método 1
(que abreviamos como ETCT – Método 1) e o ETCT resultante da
aplicação do Método 2 (que passamos a chamar de ETCT – Método 2)
dos 50 textos selecionados. Os dados referentes ao ETCT – Método 1
constituíram o Grupo de Controle52 (control group) do experimento e os
dados relativos ao ETCT – Método 2 formaram o Grupo Experimental
(treatment group). O tratamento que diferenciou o Grupo de Controle
do Grupo Experimental foi a manipulação dos EAs automatizados pelo
ToGatherUp no Método 2.

48
Segundo Correia (2003), um teste de hipóteses é “técnica para se fazer inferência
estatística. Ou seja, a partir de um teste de hipóteses realizado com os dados amostrais,
pode-se fazer inferências sobre a população” (CORREIA, 2003, p. 100).
49
Segundo Correia (2003), um teste de hipóteses é “técnica para se fazer inferência
estatística. Ou seja, a partir de um teste de hipóteses realizado com os dados amostrais,
pode-se fazer inferências sobre a população” (CORREIA, 2003, p. 100).
50
O SSPS foi escolhido por realizar os cálculos estatísticos de forma automática.
Disponível em: https://www.ibm.com/br-pt/products/spss-statistics. Acesso em: 23
fev. 2019.
51
Os registros que compuseram o conjunto de dados analisados foram criados de forma
automática e aleatória pelo SSPS.
52
De acordo com Rumsey (2010), as amostras que são expostas a condições normais
(não recebem tratamento ou recebem um tratamento falso, também chamado de placebo)
denominam-se Grupo de Controle. Já as amostras sujeitas a tratamento que afeta seus
atributos são chamadas de Grupo Experimental.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 949

A análise dos resultados fornecidos pelo SSPS considerou os


conceitos estatísticos de hipótese nula53 (null hypothesis) e hipótese
alternativa (alternate hypothesis). Segundo Charles Brase e Corrine
Brase (2011, p. 411), a hipótese nula ou “hipótese estatística”54 é a
declaração que está sob teste e, geralmente, associa-se a resultados como
“não houve efeito”, “não houve diferença” ou “nada foi alterado” entre
a média calculada para o Grupo de Controle e a média calculada para
o Grupo Experimental. A hipótese alternativa55 é definida pelos autores
como qualquer declaração diferente da hipótese nula. De acordo com os
conceitos de hipótese nula e alternativa, a nossa hipótese da pesquisa pode
ser feita da seguinte maneira: a hipótese deve ser rejeitada caso o resultado
do T-Test revele que o ETCT do método que utiliza o ToGatherUp é igual
ou maior do que o ETCT do método que não utiliza a ferramenta. Se a
hipótese nula for rejeitada, ou seja, se o T-Test mostrar que o ETCT do
método que utiliza o ToGatherUp é menor do que o ETCT do método
que não utiliza a ferramenta, a hipótese alternativa deve ser aceita e a
hipótese confirmada.
O resultado de um teste de hipótese é estatisticamente significativo
quando a probabilidade de que ele tenha ocorrido por acaso seja muito
improvável. Por essa razão, os autores da pesquisa preocuparam-se em
determinar o nível de significância que foi considerado no teste. Para
Rumsey (2010), o nível de significância de um teste de hipótese, também
conhecido como alpha level (α), é dado pelo p-value (probability value)
que, geralmente, é definido em 0.0556 ou 0.01. Caso o p-value é maior ou
igual a α, a hipótese nula deve ser aceita e, caso o p-value é menor que α,
a hipótese nula deve ser rejeitada. Em outras palavras, o resultado de um
teste de hipótese é estatisticamente significativo quando, a partir do seu

53
Na estatística, a hipótese nula é representada por H0 e a hipótese alternativa, por H1.
54
Para Correia (2003), a hipótese estatística “trata-se de [i.e. trata de] uma suposição
quanto ao valor de um parâmetro populacional, ou quanto à natureza da distribuição
de probabilidade de uma variável populacional” (CORREIA, 2003, p. 100).
55
Autores como Rumsey (2010) também usam a expressão “hipótese de pesquisa” para
referenciar a hipótese alternativa.
56
De acordo com Rumsey (2010), um p-value de 0.05 e um p-value de 0.01 indicam,
respectivamente, que em 95% e 99% das vezes os resultados da amostra poderão se
repetir caso o experimento seja realizado novamente com outras amostras aleatórias
da mesma população sob as mesmas condições. Para Rumsey (2010), outros valores
podem ser assumidos para o p-value e essa determinação depende de cada pesquisador.
950 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

p-value, é possível rejeitar a hipótese nula devido à improbabilidade de


que ela ocorra. A rejeição da hipótese nula, consequentemente, leva-nos
a acreditar que a hipótese alternativa pode ser verdadeira. Sendo assim,
os autores definiram o p-value a ser considerado no teste em 0.05 por
julgarem esse nível de significância bastante aceitável para o propósito
da pesquisa.

4 Resultados
A execução do T-Test no SSPS gerou o resultado apresentado
na Tabela 1.
TABELA 1 – Resultado do T-Test5758

Paired Differences

95% Confidence
Sig.
Mean Interval of the t df
Std. Std. Error (2-tailed)
Difference
Deviation Mean
Lower Upper

ETCT 157
Pair 1 & 131,140 4,333 613 129,909 132,371 214,003 49 0,000
ETCT 258

Fonte: Oliveira (2019, p. 141.)

O ETCT da amostra construída com Método 1, indicado na coluna


Mean da Tabela 1, foi, em média, 131 segundos maior do que o ETCT
da amostra elaborada com o Método 2. Esse valor pode ser considerado
estatisticamente significativo, uma vez que o p-value do teste foi igual a
0,000, conforme indica a coluna Sig. (2-tailed) da Tabela 4, um valor bem
inferior ao p-value (0.05) estabelecido para a garantia da significância
estatística do T-Test. Portanto, com base no resultado do T-Test, a hipótese
nula da pesquisa (Hipótese nula (H0): ETCT – Método 2 = ou > ETCT –
Método 1) pode ser rejeitada pelos pesquisadores e eles puderam afirmar,
por inferência, que os resultados encontrados sugerem que a incorporação
do ToGatherUp reduz o ETP de construção manual de corpora.

57
Referente ao Método 1.
58
Referente ao Método 2.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 951

6 Considerações finais
A pesquisa retratada neste artigo é o resultado de um trabalho
sistemático para a determinação do efeito da incorporação do ToGatherUp
em projetos de construção manual de corpora e, até onde pudemos
verificar por meio da revisão bibliográfica da LC, consiste em um dos
primeiros trabalhos a propor uma forma de mensurar o esforço necessário
para a realização de projetos de elaboração manual de corpora e a
propor uma sistematização do trabalho de criação manual de corpora,
respeitando princípios e métodos da LC e da área de Gerenciamento de
Projetos.
O uso do ToGatherUp que, no momento da redação deste artigo,
está passando por ajustes para que possa ser disponibilizado em 2021 e
utilizado, gratuitamente, em outras pesquisas é outro ponto de destaque da
pesquisa. Acreditamos que a disponibilização da ferramenta irá contribuir
para o preenchimento da lacuna59 existente na LC referente à carência de
ferramentas voltadas para o suporte das atividades de construção manual
de corpora compostos por grande volume de dados.
Além dessas contribuições, a pesquisa traz uma importante
discussão sobre possíveis complicações do uso de web corpora nas
pesquisas em que existe a preocupação quanto à precisão de análises,
visto que as ferramentas de coleta automática de textos, no estágio atual
da tecnologia, não conseguem lidar com os problemas apontados na
fundamentação teórica deste artigo. Essa discussão ganha mais relevância
ao considerarmos o fato identificado na pesquisa de que o percentual do
EALND, em ambos os métodos de construção do CoCLI, foi maior do que
todos os demais esforços somados juntos, atingindo 83,29% no Método 1
e 90,02% no Método 2, corroborando a ideia de Dasu e Johnson (2003)
de que a limpeza e a normalização podem ocupar cerca de 80% do tempo
compreendido entre a obtenção de um texto e sua análise. Se o maior
esforço de um projeto de construção de corpora está nas atividades de
limpeza e normalização e as ferramentas de coleta automática de textos
negligenciam essas atividades, as análises feitas a partir de corpora
coletados automaticamente correm o risco de serem postas em xeque.

59
A referida lacuna foi identificada por meio de um levantamento realizado durante a
pesquisa em que foram analisadas dez ferramentas da LC apontadas para a criação de
corpora pelo projeto Corpus Analysis (KLEIBER; BERBERICH, 2018), desenvolvido
por Ingo Kleiber e Kristin Berberich, da Universidade de Heidelberg, na Alemanha.
952 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

Referências
ALUÍSIO, S. M.; ALMEIDA, G. M. B. O que é e como se constrói um
corpus? Lições aprendidas na compilação de vários corpora para pesquisa
linguística. Calidoscópio, São Leopoldo, v. 4, n. 3, p. 156-178, 2006.
Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/
view/6002. Acesso em: 2 abr. 2019.
ALVES, R. C. V. Metadados como elementos do processo de catalogação.
2010. 132f. Tese (Doutorado em Ciência da Informação) – Faculdade de
Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2010. Disponível
em: https://repositorio.unesp.br/handle/11449/103361. Acesso em: 2
abr. 2019.
ANTHONY, L. EncodeAnt. Version 1.2.0. [Computer Software]. Tokyo:
Waseda University, 2016. Disponível em: http://www.laurenceanthony.
net. Acesso em: 2 abr. 2019.
ATKINS, S.; CLEAR, J.; OSTLER, N. Corpus design criteria. Literary
and Linguistic Computing, Oxford, v. 7, n. 1, p. 1-16, 1992. DOI: https://
doi.org/10.1093/llc/7.1.1. Disponível em: https://academic.oup.com/dsh/
article-abstract/7/1/1/1028498?redirectedFrom=fulltext. Acesso em: 17
abr. 2019.
BAKER, P. Corpus Methods in Linguistics. In: LITOSSELITI, L. (ed.).
Research Methods in Linguistics. New York: Continnum International
Publishing Group, 2010. p. 93-113.
BARONI, M.; BERNARDINI, S. BootCaT. Version 1.08. [Computer
Software]. Trento/Forlì: Universities of Bologna, 2004. Disponível em:
http://bootcat.dipintra.it. Acesso em: 2 abr. 2019.
BARONI, M. et al. WebBootCaT: A Web Tool for Instant Corpora.
In: EURALEX INTERNATIONAL CONGRESS, 12th., 2006, Torino.
Proceedings […]. Torino: Edizioni dell’Orso s.r.l., 2006. p. 123-131.
Disponível em: https://euralex.org/publications/webbootcat-a-web-tool-
for-instant-corpora/. Acesso em: 2 abr. 2019.
BARREAU, D.; NARDI, B. Finding and Reminding: File Organization
from the Desktop. ACM SIGCHI Bulletin, New York, v. 27, n. 3, p. 39-
43, 1995. DOI: https://doi.org/10.1145/221296.221307. Disponível em:
https://dl.acm.org/citation.cfm?id=221307. Acesso em: 17 abr. 2019.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 953

BERBER SARDINHA, T. A influência do tamanho do corpus de referência


da obtenção de palavras-chave usando o Programa Computacional
Wordsmith Tools. The ESPecialist, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 188, 2005.
Disponível em: https://revistas.pucsp.br/esp/article/view/9290. Acesso
em: 27 nov. 2020.
BERBER SARDINHA, T. Linguística de Corpus. São Paulo: Manole,
2004.
BERGH, G.; ZANCHETTA, E. Web linguistics. In: LÜDELING, A.;
KYTÖ, M. (ed.). Corpus Linguistics: An International Handbook. Berlin:
Mouton de Gruyter, 2008. p. 309-327.
BIANCHI, F. Culture, Corpora and Semantics: Methodological Issues
in Using Elicited and Corpus Data for Cultural Comparison. Lecce: ESE
Salento University Publishing, 2012. Disponível em: http://siba-ese.
unisalento.it/index.php/culturecorpora/article/viewFile/12427/11066.
Acesso em: 10 jan. 2019.
BIBER, D. Representativeness in Corpus Design. Literary and Linguistic
Computing, Oxford, v. 8, n. 4, p. 223-257, 1993. DOI: https://doi.
org/10.1093/llc/8.4.243. Disponível em: http://otipl.philol.msu.ru/media/
biber930.pdf. Acesso em: 2 abr. 2019.
BLECHA, J. Building Specialized Corpora. 2012. 159f. Thesis (Master
in English Language and Literature) – Faculty of Arts, Department of
English and American Studies, Masaryk University, Brno, República
Tcheca, 2012. Disponível em: https://is.muni.cz/th/aki90/179991_
Building_Specialized_Corpora.pdf. Acesso em: 2 abr. 2019.
BRASE, C. H.; BRASE, C. P. Understandable Statistics: Concepts and
Methods, 10. ed. Boston: Cengage Learning, 2011.
CORREIA, M. S. B. B. Probabilidade e estatística. 2. ed. Belo Horizonte:
PUC Minas Virtual, 2003. Disponível em: http://estpoli.pbworks.com/f/
livro_probabilidade_estatistica_2a_ed.pdf. Acesso em: 25 fev. 2019.
DASU, T.; JOHNSON, T. Exploratory Data Mining and Data
Cleaning. Hoboken: John Wiley & Sons, 2003. DOI: https://doi.
org/10.1002/0471448354.
DODGE, Y. The Concise Encyclopedia of Statistics. New York: Springer-
Verlag, 2008.
954 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

DOURISH, P. The Appropriation of Interactive Technologies: Some


Lessons from Placeless Documents. Computer Supported Cooperative
Work (CSCW), Dordrecht, v. 12, n. 4, p. 465-490, 2003. DOI: https://doi.
org/10.1023/A:1026149119426. Disponível em: https://link.springer.
com/article/10.1023/A:1026149119426. Acesso em: 17 abr. 2019.
EDWARD, R. P. Computational Tools and Methods for Corpus
Compilation and Analysis. In: BIBER, D; REPPEN, R. (ed.). The
Cambridge Handbook of English Corpus Linguistics. Cambridge:
Cambridge University Press, 2015. p. 32-49.
ESCARTÍN, C. P. Design and compilation of a specialized Spanish-
German parallel corpus. In: LANGUAGE RESOURCES AND
EVALUATION CONFERENCE (LREC), 2012, Istanbul. Proceedings
[…]. Istanbul: European Language Resources Association (ELRA), 2012.
p. 2199-2206. Disponível em: http://www.lrec-conf.org/proceedings/
lrec2012/pdf/577_Paper.pdf. Acesso em: 2 abr. 2019.
FENTON, N.; BIEMAN, J. Software Metrics: A Rigorous and Practical
Approach. 3. ed. Boca Raton: CRC Press, 2014. DOI: https://doi.
org/10.1201/b17461.
FRANKENBERG-GARCIA, A. Prefácio. In: SHEPHERD, T. M. G.;
BERBER SARDINHA, T.; PINTO, M. V. (org.). Caminhos da linguística
de corpus. São Paulo: Mercado de Letras, 2012. p. 11-14.
FROMM, G. O uso de corpora na análise linguística. Revista Factus, São
Paulo, v. 1, n. 1, p. 69-76, 2003. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/
guifromm/upload/ousodecorporanaproducaolinguistica.pdf. Acesso em:
17 abr. 2019.
FROMM, G. VoTec: a construção de vocabulários eletrônicos para
aprendizes de tradução. 2007. 214 f. Tese (Doutorado em Letras) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade
de São Paulo, 2007. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/
disponiveis/8/8147/tde-08072008-150855/pt-br.php. Acesso em: 2 abr.
2019.
GARRETSON, G. Desiderata for Linguistic Software Design.
Internatinal Journal of English Studies (IJES), Murcia, v. 8, n. 1, 67-
94, 2008. Disponível em: http://revistas.um.es/ijes/article/view/49101.
Acesso em: 2 abr. 2019.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 955

GARSIDE, R.; SMITH, N. A Hybrid Grammatical Tagger: CLAWS


4. In: GARSIDE, R.; LEECH, G.; MCENERY, T. (eds.). Corpus
annotation: Linguistic Information from Computer Text Corpora.
London: Routledge; Taylor & Francis, 1997. p. 102-121. DOI: https://
doi.org/10.4324/9781315841366
GOOGLE. Refinar pesquisas na Web, 2019. Disponível em: https://
support.google.com/websearch/answer/2466433?hl=pt-BR. Acesso em:
1 abr. 2019.
GRIES, S. T. What is Corpus Linguistics? Language and Linguistics
Compass, Hoboken, v. 3, n. 5, p. 1225-1241, 2009. DOI: https://doi.
org/10.1111/j.1749-818X.2009.00149.x. Disponível em: https://
onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1111/j.1749-818X.2009.00149.x.
Acesso em: 2 abr. 2019.
KAPTELININ, V. Creating Computer-Based Work Environments:
An Empirical Study of Macintosh Users. In: ACM SIGCPR/SIGMIS
CONFERENCE ON COMPUTER PERSONNEL RESEARC, 1996,
Denver. Proceedings […]. Denver: ACM, 1996. p. 360-366. DOI: https://
doi.org/10.1145/238857.238921. Disponível em: https://dl.acm.org/
citation.cfm?id=238921. Acesso em: 17 abr. 2019.
KEHOE, A.; GEE, M. New Corpora from the Web: Making Web Text
More ‘Text-Like’. Studies in Variation, Contacts and Change in English,
Helsinki, v. 2, [s.p.], 2007. Disponível em: http://www.helsinki.fi/varieng/
series/volumes/02/kehoe_gee/. Acesso em: 18 jan. 2019.
KENNEDY, G. An Introduction to Corpus Linguistics. New York:
Longman, 1998.
KLEIBER, I.; BERBERICH, K. Corpus Analysis. Heidelberg: Heidelberg
University, 2018. Disponível em: https://corpus-analysis.com/. Acesso
em: 25 jan. 2019.
KÜBLER, N.; ASTON, G. Using Corpora in Translation. In: O’KEEFFE,
A.; MCCARTHY, M. J. (org.). The Routledge Handbook of Corpus
Linguistics. London: Routledge, 2010. p. 501-515. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203856949-36
LEECH, G. Adding Linguistic Annotation. In: WYNNE, M. (ed.).
Developing Linguistic Corpora: A Guide to Good Practice. Oxford:
956 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

Oxbow Books, 2005. p. 17-29. Disponível em: http://ota.ox.ac.uk/


documents/creating/dlc/. Acesso em: 2 abr. 2019.
MACMILLAN DICTIONARY. Gather Up. 2018. Disponível em: https://
www.macmillandictionary.com/dictionary/british/gather-up. Acesso em:
21 jun. 2018.
MACMULLEN, W. J. Requirements Definition and Design Criteria for
Test Corpora in Information Science. SILS Technical Report 2003-03.
School of Information and Library Science: University of North Carolina
at Chapel Hill. p. 3-21, 2003. Disponível em: https://sils.unc.edu/sites/
default/files/general/research/TR-2003-03.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019.
MARTINET, A. Elementos de linguística geral. 8. ed. Lisboa: Martins
Fontes, 1978.
MCENERY, T.; HARDIE, A. Corpus Linguistics: Method, Theory and
Practice. Cambridge: Cambridge University Press, 2011. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9780511981395.
MCENERY, T.; XIAO, R.; TONO, Y. Corpus-Based Language Studies:
An Advanced Resource Book. London; New York: Routledge, 2006.
Disponível em: https://www.lancaster.ac.uk/fass/projects/corpus/ZJU/
xCBLS/chapters/A10.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019.
MEYER, C. F. English Corpus Linguistics: An Introduction. Cambridge:
Cambridge University Press, 2004.
MINSHALL, D. E. A Computer Science Word List. 2013. 98f. Dissertation
(Master of Arts - MA TEFL) – University of Swansea, Swansea, UK, 2013.
Disponível em: https://www.baleap.org/wp-content/uploads/2016/03/
Daniel-Minshall.pdf. Acesso em: 10 jan. 2019.
NELSON, M. Building a Written Corpus: What Are the Basics? In:
O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. J. (org.). The Routledge Handbook of
Corpus Linguistics. London: Routledge, 2010. p. 53-65. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203856949-5
NEUMANN, S.; HANSEN-SCHIRRA, S. Corpus Methodology and
Design. In: HANSEN-SCHIRRA, S.; NEUMANN, S.; STEINER, E.
(org.). Cross-Linguistic Corpora for the Study of Translations: Insights
from the Language Pair English-German. Berlin: De Gruyter Mouton,
2012. p. 21-34. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110260328.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021 957

OLIVEIRA, F. P. ToGatherUp: um protótipo de ferramenta para


a construção de corpora a produção de vocabulários bilíngues
direcionada por corpus. 2019. 219f. Dissertação (Mestrado em Estudos
Linguísticos) – Instituto de Letras e Linguística, Universidade Federal
de Uberlândia, 2019. Disponível em: https://repositorio.ufu.br/
bitstream/123456789/25433/1/ToGatherUpProtótipoFerramenta. Acesso
em: 2 abr. 2019.
PROJECT MANAGEMENT INSTITUTE. Um Guia do Conhecimento
em Gerenciamento de Projetos (Guia PMBOK). 5. ed. Newtown Square:
Project Management Institute, 2013.
RENOUF, A. Corpus Development 25 Years on: From Super-Corpus
to Cybercorpus. Language and Computers: Studies in Practical
Linguistics, [S.l.], v. 62, n. 1, p. 27-49, 2007. DOI: https://doi.
org/10.1163/9789401204347_004.
RUBI, M. P. Os princípios da política de indexação na análise de assunto
para catalogação: especificidade, exaustividade, revocação e precisão
na perspectiva dos catalogadores e usuários. In: FUJITA, M. S. L. et al.
(org.). A indexação de livros: a percepção de catalogadores e usuários
de bibliotecas universitárias: um estudo de observação do contexto
sociocognitivo com protocolos verbais. São Paulo: Cultura Acadêmica,
2009. p. 81-93.
RUMSEY, D. Statistics Essentials for Dummies. Hoboken: John Wiley
& Sons, 2010.
RUNDELL, M.; KILGARRIFF, A. Automating the Creation of
Dictionaries: Where Will It All End? In: MEUNIER, F. et al. (ed.). A
Taste for Corpora: A Tribute to Professor Sylviane Granger. Amsterdam:
Benjamins, 2011. p. 257-281. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.45.15run.
SANTOS, A. Contributions for Building a Corpora-Flow System. 2011.
100f. Dissertação (Master in Informatics Engineering) – Escola de
Engenharia, Universidade do Minho, Guimarães, PT, 2011. Disponível
em: https://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/28122/1/
eeum_di_dissertacao_pg15973.pdf. Acesso em: 17 abr. 2019.
SCHÄFER, R.; BILDHAUER, F. Web Corpus Construction.
Toronto: University of Toronto, 2013. DOI: https://doi.org/10.2200/
S00508ED1V01Y201305HLT022.
958 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 909-958, 2021

SEDLAR, E. Database-Managed File System. US Pat.


US20050091287A1. Redwood Shores, CA: Oracle International
Corporation, 2005.
SEMINO, E.; SHORT, M. Corpus Stylistics: Speech, Writing and Thought
Presentation in a Corpus of English Writing. London: Routledge, 2004.
DOI: https://doi.org/10.4324/9780203494073.
SIMSKE, S. J. Systems and Methods for Processing Text-Based
Electronic Documents. U.S. Patent n. 7,106, 905. [S.l.]: Hewlett-Packard
Development Company, 2006.
SINCLAIR, J. McH. Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford
University Press, 1991.
SINCLAIR, J. McH. Corpus and Text – Basic Principles. In: WYNNE,
M. (ed.). Developing Linguistic Corpora: A Guide to Good Practice.
Oxford: Oxbow Books, 2005. [s.p.]. Disponível em: https://ota.ox.ac.uk/
documents/creating/dlc/chapter1.htm. Acesso em: 2 abr. 2019.
TAGNIN, S. E. O. Glossário de linguística de corpus. In: VIANA, V.;
TAGNIN, S. E. O. (org.). Corpora no ensino de línguas estrangeiras. São
Paulo: HUB Editorial, 2010. p. 349-353.
TAGNIN, S. E. O. Corpora na tradução. São Paulo: Hub Editorial, 2015.
VOORMANN, H.; GUT, U. Agile Corpus Creation. Corpus Linguistics
and Linguistic Theory, Berlin, v. 4, n. 2, p. 235-251, 2008. DOI: https://
doi.org/10.1515/CLLT.2008.010.
WIDDOWSON, H.G. Linguistics. Oxford: Oxford University Press,
1996.
ZANETTIN, F. Translation-driven corpora: Corpus resources for
descriptive and applied translation studies. London: Routledge, 2014.
DOI: https://doi.org/10.4324/9781315759661.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

Inteligibilidade e convencionalidade em textos


de divulgação da área médica em português brasileiro

Readability and conventionality in expository texts


in Brazilian Portuguese

Yuli Souza Carvalho


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do
Sul / Brasil
yuli_@live.ca
https://orcid.org/0000-0002-7914-8459

Rozane Rodrigues Rebechi


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do
Sul / Brasil
rozane.rebechi@ufrgs.br
https://orcid.org/0000-0002-1878-7548

Resumo: O objetivo desta pesquisa é cotejar dados indicativos de inteligibilidade e


convencionalidade em textos de divulgação da área médica em português para verificar
sua adequação ao público brasileiro. Para tanto, apoiamo-nos nos pressupostos da
Linguística de Corpus para a compilação e o processamento de um corpus paralelo,
formado por textos escritos originalmente em inglês e suas traduções para o português,
e um corpus comparável, composto pelos textos traduzidos em português e por textos
originalmente escritos nesse idioma. A metodologia do estudo combina análises
quantitativas – para levantamento de inteligibilidade, chavicidade e colocação – e
qualitativas – para análise das palavras em contexto. Em relação à inteligibilidade,
as ferramentas apontaram que os textos escritos em português são ‘difíceis’ para o
leitor médio brasileiro, com grau de instrução inferior ao Ensino Médio. Já os textos
traduzidos foram considerados ‘razoavelmente difíceis’, de acordo com esse mesmo
critério de avaliação, que classificou os originais em inglês como ‘razoavelmente fáceis’,
considerando-se seu público alvo, ou seja, o leitor médio estadunidense. A análise
qualitativa apontou que os textos traduzidos apresentam quebras de convencionalidade,
demonstrando preferência por equivalentes prima facie, nem sempre condizentes com os

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.959-998
960 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

padrões observados nos textos de mesmo gênero escritos originalmente em português.


Apesar de a ferramenta de acessibilidade textual indicar que tanto os textos escritos
originalmente em português quanto aqueles traduzidos não se mostram totalmente
adequados para o leitor-alvo brasileiro de textos de divulgação médica, acreditamos
que a quebra da convencionalidade, identificada nos textos traduzidos, pode dificultar
ainda mais a compreensão do leitor médio de resultados de pesquisas científicas da
área da saúde.
Palavras-chave: textos de divulgação; tradução; convencionalidade; inteligibilidade.

Abstract: The aim of this research is to collate data from intelligibility and
conventionality in health-related expository texts in Portuguese to investigate their
appropriateness to Brazilians. To this end, we rely on Corpus Linguistics for the
compilation and processing of a parallel corpus, comprising texts originally written
in English and their translations into Portuguese, and a comparable corpus, composed
of texts translated into Portuguese and texts originally written in that language. Our
methodology combines quantitative analysis – to assess readability, keyness, and
collocation – and qualitative analysis – to investigate words in context. Regarding
readability, the tools pointed out that texts written in Portuguese are ‘difficult’ for
the average Brazilian reader, with a level of education lower than High School. The
translated texts were considered ‘fairly difficult’, according to this same evaluation
criterion, which classified the originals in English as ‘fairly easy’, considering its target
audience, that is, the average American reader. The qualitative analysis pointed out that
the translated texts may compromise conventionality, revealing a preference for prima
facie equivalents, not always consistent with the patterns observed in original Brazilian
Portuguese counterparts. Although the accessibility evaluation tool indicates that both
the texts originally written in Portuguese and those translated into Portuguese do not
prove to be entirely suitable for the Brazilian target reader of medical expository texts,
we believe that, by breaking conventionality, the translated texts may hinder even more
the average reader’s comprehension of results of scientific research.
Keywords: expository texts; translation; conventionality; readability.

Recebido em 09 de outubro de 2020


Aceito em 23 de novembro de 2020

1 Introdução
Os textos de divulgação são de suma importância, já que visam
ao compartilhamento, com o público geral, de resultados de pesquisas
desenvolvidas por especialistas em diversas áreas do conhecimento.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 961

Na área médica, eles desempenham papel ainda mais importante,


pois instruem a população em relação a questões de saúde. O papel
preponderante dos textos de divulgação fica ainda mais evidente
em momentos como o que estamos vivendo, quando o mundo todo
enfrenta uma questão de saúde pública sem precedentes: a pandemia da
COVID-19. Empenhados em pesquisar sobre o controle, a transmissão e o
tratamento da doença, ao mesmo tempo em que buscam desenvolver uma
vacina que consiga combater o vírus transmissor, médicos e cientistas
têm publicado uma infinidade de artigos acadêmicos que relatam suas
descobertas.
Em geral, as publicações acadêmicas são escritas para a
comunidade discursiva que possui conhecimento prévio do domínio
especializado no âmbito em que a pesquisa se insere, mas não se mostram
adequadas para o público leigo, que espera receber informações menos
técnicas para aplicá-las no dia a dia. Sendo assim, é necessário que os
dados apresentados nos textos de divulgação sejam fornecidos de forma
clara e acessível. Afinal, assim como elevadores e rampas visam tornar as
construções acessíveis ao público geral, os textos de divulgação devem
ter características que possibilitem sua acessibilidade para leitores de
diferentes faixas etárias, classes sociais e níveis de escolaridade. Textos
muito complexos para grande parcela do público podem acabar não
atingindo o objetivo final, qual seja, o de instruir a população geral acerca
de temas especializados.
Atualmente, grande parte das publicações científicas é
compartilhada em língua inglesa, a lingua franca da academia (JENKINS,
2009), e traduzida para os inúmeros vernáculos falados no mundo. De
acordo com Rosselli (2016), cerca de 96% de todos os artigos indexados
em 2015 na base de dados especializada em artigos biomédicos PubMed
foram publicados em inglês. Assim, a tradução tem papel central no
compartilhamento de informações. Ao considerarmos que os textos de
divulgação devem atingir uma grande parcela da população, é necessário
também investigar se o processo de tradução desses materiais resulta
em informações acessíveis ao leitor, especialmente no que diz respeito
a aspectos como inteligibilidade e convencionalidade.
Muito já se discutiu sobre ‘fidelidade’ da tradução, conceito
superado – especialmente no que tange aos textos especializados – e
que deu lugar à ‘lealdade’ (NORD, 2006), conceito que coloca em foco
a função do texto traduzido para o público-alvo a que se destina. Com
962 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

isso em mente, podemos afirmar que um texto de divulgação, escrito em


inglês para determinado público-alvo, só vai ‘funcionar’ bem para o leitor
da tradução se estiver adequado às características leitoras desse público.
Assim, o objetivo da pesquisa1 é investigar, a partir de dados
levantados por ferramentas de análise textual, como se dá a relação
entre inteligibilidade e convencionalidade em textos de divulgação da
área médica, a fim de verificar sua adequação para o público brasileiro,
quer tenham esses textos sido escritos originalmente em português,
quer sejam traduções. Para tanto, foram compilados dois corpora de
estudo, um corpus paralelo e um corpus comparável. O corpus paralelo
é composto por textos de divulgação escritos originalmente em língua
inglesa e suas respectivas traduções para o português, extraídos do portal
MedlinePlus (U.S. NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2020); e o
comparável, com essas traduções para o português e textos originalmente
escritos em português brasileiro do mesmo gênero, publicados pelo
Ministério da Saúde (BRASIL, 2018). Primeiramente, esses corpora
foram analisados pelas ferramentas Coh-Metrix (GRAESSER et al.,
2017) e Coh-Metrix-Port (NILC, 2020), para verificação do Índice Flesch
– que estima a inteligibilidade de um texto. Palavras-chave e colocações
foram identificadas por meio do AntConc (ANTHONY, 2019), enquanto
o AntPConc (ANTHONY, 2017) foi usado para alinhar trechos originais
e respectivas traduções, a fim de que se investigassem as palavras em
contexto.
Em resumo, nossa investigação visa responder a duas perguntas:
(i) de acordo com as ferramentas de inteligibilidade, os textos escritos em
português e os traduzidos para esse idioma se mostram acessíveis para
o público-alvo? e (ii) tomando como premissa que a convencionalidade
característica dos gêneros textuais facilita a compreensão, os textos
traduzidos revelam padrões observados em textos de divulgação escritos
originalmente em português brasileiro?
Este artigo está dividido em cinco seções. Após esta introdução,
será apresentada a fundamentação teórica, onde serão abordados conceitos
de Linguística de Corpus, tradução, acessibilidade textual e gênero,
pertinentes a este estudo. A terceira seção delineará a metodologia da
pesquisa, apresentando os corpora de estudo e as ferramentas utilizadas

1
Este artigo apresenta resultados de pesquisa de Mestrado desenvolvida no âmbito do
Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 963

para o levantamento dos dados. A quarta seção apresentará e discutirá


os resultados obtidos. Por fim, apresentaremos as considerações finais
do estudo.

2 Abordagem teórica
Para o desenvolvimento desta pesquisa, apoiamo-nos nos
pressupostos da inteligibilidade textual, da tradução e da Linguística
de Corpus para analisarmos textos de divulgação da área médica em
português. Abaixo relatamos os conceitos de cada área julgados relevantes
para o estudo.

2.1 Acessibilidade textual


Assim como as rampas de acesso para cadeirantes ou os
elevadores, que podem ser observados em prédios públicos, e o piso tátil
para pessoas cegas, que é visto pelas ruas, a acessibilidade atua, no âmbito
textual, como um facilitador para o entendimento da mensagem pelo
leitor (FINATTO, 2020). Dessa forma, a acessibilidade textual pode ser
entendida como uma condição desejada de qualidade de texto, evitando
que ele imponha barreiras linguísticas ao público leitor, para que este
tenha condições de compreender as informações compartilhadas. Para os
fins deste trabalho, apresentamos a inteligibilidade e a convencionalidade
como aspectos cruciais para analisar a acessibilidade dos textos.
A fim de estimar o quão acessíveis são os textos, foram
desenvolvidas fórmulas de inteligibilidade, que demonstram,
matematicamente, a adequação de um texto para determinado público.
O Índice Flesch é o mais aplicado para pesquisas que se baseiam
em estimativas de inteligibilidade, que, é importante ressaltar, não deve
ser confundida com legibilidade. A primeira está relacionada ao que é
inteligível, ou seja, aquilo que é de fácil compreensão, enquanto a segunda
se refere ao que é legível, ou seja, que está claro e nítido (DUBAY, 2004).
A legibilidade tem relação com design e layout – como a diagramação,
o tipo e o tamanho de fonte etc. –, relacionando-se à acessibilidade
visual. Ambas estão ligadas a formas de compreensão, respectivamente,
à compreensão de forma mental e à compreensão de forma visual. Neste
artigo, trataremos apenas de inteligibilidade, já que nos ocupamos apenas
dos aspectos linguísticos do texto.
964 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

Desenvolvido originalmente para o inglês, o Índice Flesch leva


em consideração duas variáveis: o comprimento médio das frases, ou seja,
o número de palavras do texto dividido pelo número total de sentenças;
e a média de sílabas por palavras, resultado do número total de sílabas
dividido pelo número de palavras do texto. Esse índice foi adaptado para a
língua portuguesa por pesquisadores do Instituto de Ciências Matemáticas
e de Computação da Universidade de São Paulo (MARTINS et al., 1996),
que tinham como objetivo adequá-lo à realidade das palavras e sílabas
do português brasileiro, já que o comprimento das palavras e das frases
em língua portuguesa difere bastante daquele em língua inglesa.
A fim de exemplificarmos a importância da inteligibilidade
textual, mencionamos um estudo realizado no ano de 2003, nos Estados
Unidos, e relatado por DuBay (2004), que apontou que acidentes de
trânsito vinham causando cerca de 46% das mortes acidentais de crianças,
apesar de se esperar que o uso correto do bebê conforto, da cadeirinha ou
do assento para as crianças reduzisse os riscos de fatalidades em 71%. Na
verdade, a maioria desses assentos vinha sendo instalada incorretamente.
A partir dessa conclusão, foi conduzido um estudo para analisar a
inteligibilidade dos manuais de instalação desses assentos. Descobriu-se,
então, que os 107 manuais analisados foram escritos em uma linguagem
considerada difícil para 80% dos adultos no país, privados, portanto, da
total compreensão das instruções descritas no material (DUBAY, 2004).
Diante do exposto, podemos concluir que, apesar de terem domínio da
língua em que os textos estavam escritos – inglês –, os leitores não tinham
total acesso à mensagem que esses textos pretendiam transmitir. Daí a
importância de se produzirem textos inteligíveis, especialmente aqueles
que tenham como objetivo instruir o leitor correta e adequadamente.
Para tirar o maior proveito da comunicação, o leitor espera
reconhecer nos textos padrões já observados em outros de mesmo gênero,
ou seja, os textos devem revelar convenções características. Segundo
Tagnin (2013), a convencionalidade ocorre em três níveis linguísticos, a
saber, (i) sintático – relacionado à forma como os elementos se combinam
gramaticalmente; (ii) semântico – com relação ao significado dos
elementos que constituem as frases, sentenças, expressões idiomáticas
etc.; e (iii) pragmático – quanto à interação entre os participantes do ato
comunicativo. É importante ressaltar que as convenções linguísticas são
consagradas pelo uso, nem sempre ‘respeitando’ uma lógica conceitual –
por exemplo, em português convencionou-se dizer ‘achados e perdidos’,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 965

apesar de esses acontecimentos ocorrerem em ordem inversa, ordem,


esta, respeitada na expressão em língua inglesa – ‘lost and found’.
Portanto, a convencionalidade está relacionada ao domínio da fluência
de determinada língua (TAGNIN, 2013), já que os falantes dispõem de
unidades linguísticas previamente armazenadas na memória.
Assim, ao produzir um enunciado, repetem-se sintagmas já
utilizados, causando a cristalização de padrões linguísticos. Ao lermos
textos de divulgação, esperamos identificar os padrões típicos desse
gênero, a fim de absorvermos conteúdos novos de forma clara e precisa.
Portanto, com base no que foi exposto, acreditamos que, caso se constate
quebra da convencionalidade nos textos traduzidos, quando comparados
àqueles originalmente escritos em determinado idioma, poderia haver
prejuízos à acessibilidade textual, aspecto imprescindível para a
divulgação de informações, especialmente aquelas de utilidade pública.

2.2 Os estudos de tradução e a Linguística de Corpus


A abordagem funcionalista da tradução, proposta por Nord
(2006) com base em textos especializados, coloca em foco o propósito
do texto traduzido, sempre com vistas a atingir seu público-alvo. Em
outras palavras, o texto traduzido deve ‘funcionar’ apropriadamente
para aqueles que o recebem, assim como se espera que o texto de partida
tenha funcionado para seu público leitor. Dessa forma, além de fazer
escolhas terminológicas adequadas às diferentes áreas de especialidade,
o tradutor deve avaliar as capacidades de compreensão e cooperação de
sua audiência, antecipando os possíveis efeitos que determinadas escolhas
textuais poderão ter sobre o leitor. Nesse sentido, corpora textuais não
só auxiliam os tradutores a evidenciar características próprias dos textos
de partida, como também os ajudam a encontrar soluções na língua de
chegada, já que evidenciam os padrões indicativos de convencionalidade
(STEWART, 2000).
Ao se aliarem à Linguística de Corpus, os estudos de tradução
possibilitaram apontamentos importantes sobre textos traduzidos em
comparação com textos originais. No que diz respeito às tendências
tradutórias, Baker (1993) cita o exemplo da explicitação, que
fornece ao leitor da tradução informações que no original estavam
subentendidas. Nessa direção, a tradução apresenta também movimentos
de desambiguação e facilitação, como, por exemplo, o uso de formas
966 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

pronominais mais precisas, possibilitando que o leitor identifique o


referente sem muito esforço.
Frankenberg-Garcia (2006) apresenta resultados similares para a
língua portuguesa. A partir das análises feitas por meio do COMPARA,2
a pesquisadora atesta que “as traduções tendem a ser mais longas do
que os textos-fonte, tanto na direção inglês-português como na direção
português-inglês” (FRANKENBERG-GARCIA, 2006, p. 147), 3
corroborando o que foi apresentado em Baker (1993).
Além das tendências tradutórias, Baker (1993) menciona
estudos sobre a chamada “terceira língua”4 na tradução, que consiste
no resultado do confronto entre língua-fonte e língua-alvo, imprimindo
ao texto traduzido características que o distanciam tanto do texto-fonte
quanto de textos originalmente produzidos na língua-alvo. Portanto,
a forma como o texto-fonte influencia o texto-alvo pode resultar em
perda de padrões característicos dos gêneros textuais, comprometendo
a acessibilidade. Aqui, entendemos essa “terceira língua” como a quebra
da convencionalidade, ou seja, dos padrões observados nos textos
escritos originalmente nas respectivas línguas e culturas, a depender das
características dos gêneros em questão.

2.3 Texto de divulgação


Bhatia (1993, p. 49) define gênero como “um evento comunicativo
reconhecível, caracterizado por um conjunto de propósito(s)
comunicativo(s) identificado(s) e mutuamente compreendidos pelos
membros da comunidade profissional ou acadêmica em que geralmente
ocorre.”5 Textos de divulgação, assim como outros gêneros textuais,
possuem características específicas, sendo a mais marcante delas o fato
de estarem situados entre o falar científico e o falar comum, apresentando
vocabulário desses dois registros. Nesse sentido,

2
Corpus paralelo bidirecional de português e inglês. Disponível em: https://www.
linguateca.pt/COMPARA/Bem-vindos.html. Acesso em: 25 ago. 2020.
3
No original: “translations tended to be longer than source texts in both the English-
Portuguese and the Portuguese-English directions.”
4
No original: “third code”.
5
No original: “a recognizable communicative event characterized by a set of
communicative purpose(s) identified and mutually understood by the members of the
professional or academic community in which it regularly occurs.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 967

seria redutor pensar a divulgação científica apenas como uma


redução ou adaptação de textos científicos, elaborados para a
leitura de pares dotados de uma mesma competência profissional.
Ao contrário, a divulgação científica em seu amplo universo, ainda
carente de descrições, afigura-se como uma categoria textual
autêntica, com regras próprias de produção de significação e de
recursos que visam a uma comunicação eficiente. (KRIEGER,
2009, p. 9-10).

Massarani e Moreira (2005) distinguem três categorias na


comunicação científica: i) os discursos científicos primários, escritos
por pesquisadores para pesquisadores; ii) os discursos didáticos, como
os manuais científicos para ensino; e iii) os discursos de divulgação
científica. Enquanto o destinatário do texto científico é um par com
conhecimento especializado sobre o tema, o texto de divulgação é
voltado para pessoas leigas, sem, necessariamente, conhecimento prévio
construído sobre o que será abordado no texto (SANTIAGO, 2007).
Andreetto (2013, p. 8) corrobora essa visão:
Apesar de os artigos acadêmicos também terem o objetivo
de informar, a organização dessa informação segue padrões
diferentes daqueles na área da divulgação, que embora também
tenham como objetivo transmitir conhecimento, o fazem
respeitando a convencionalidade esperada por seu público alvo,
que normalmente é leigo em uma dada área de especialidade.

A partir de uma pesquisa empírica com profissionais brasileiros da


área médica que necessitavam se preparar para um exame de proficiência
linguística em inglês contendo textos de divulgação desse domínio
especializado, Andreetto (2013) concluiu que esses especialistas tinham
mais dificuldade para compreender textos de divulgação do que textos
acadêmicos, já que estavam mais habituados aos padrões destes. Portanto,
observamos que a adequada compreensão da informação não depende
exclusivamente do nível de escolaridade do público leitor, mas prevê a
familiaridade com os discursos a que esse público é exposto, ou seja,
aos padrões reconhecidos por determinada comunidade discursiva (cf.
BHATIA, 1993).
Dessa forma, ao escrever um texto de divulgação, o especialista
deve transmitir a mensagem de maneira diferente do que faria se estivesse
compartilhando informações com outros especialistas no assunto. Além
da terminologia adotada, as estruturas linguísticas características desse
968 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

gênero textual também devem ser reconhecidas pelo leitor. Ou, segundo
Zamboni (2001 apud ANDREETTO, 2013), para essa tarefa, deve-se
transformar o discurso científico em discurso do “cotidiano”.

3 Metodologia
Conforme mencionado na Introdução deste artigo, para este
estudo foram realizadas análises quantitativas, por meio dos índices
de inteligibilidade e chavicidade, e também análises qualitativas,
auxiliadas por ferramentas de Linguística de Corpus, pois, para esgotar
o objetivo da investigação proposta, a pesquisa não poderia se manter
apenas no âmbito estatístico, mas sim tomá-lo como base para uma
investigação mais aprofundada. Afinal, de acordo com Biderman (1967),
os “primeiros senões facilmente apreensíveis são constituídos pelos dois
aspectos irredutíveis da realidade linguística: o elemento qualitativo e
o quantitativo”, reiterando a importância de se analisarem os textos por
esses dois vieses. Nesta seção, explicaremos a construção dos corpora de
estudo, bem como as ferramentas utilizadas nas análises desses corpora.

3.1 Os corpora de estudo


A fim de compararmos as características de textos de divulgação da
área médica escritos originalmente em português com aqueles traduzidos, e
verificarmos se há diferenças significativas no que tange à convencionalidade
do gênero, compilamos um corpus paralelo – originais em inglês e traduções
para o português – e um corpus comparável, composto pelos mesmos textos
traduzidos, e textos escritos originalmente em português.
O corpus paralelo foi compilado a partir de textos de divulgação
do site MedlinePlus, portal da U.S. National Library of Medicine (2020),
que publica informações sobre saúde para pacientes, seus familiares
e amigos em diversas línguas, abrangendo sintomas e tratamentos,
compondo um material que, de acordo com o site, é “de fácil leitura”.6
Esse corpus é composto pelos 66 textos em inglês e suas traduções para
o português disponíveis.
O subcorpus em português apresenta estruturas bastante similares
ao da sua contraparte de traduções, pois foi compilado com base em
critérios compartilhados específicos desse gênero. Por exemplo, a grande
6
No original: “Easy-to-Read Materials”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 969

maioria dos textos tem subtítulos dividindo os diferentes tópicos; há,


também, listas de itens introduzidas por elementos gráficos, que tornam
as informações visualmente mais claras (DUBAY, 2004). Esse subcorpus
contempla os 191 textos da Biblioteca Virtual em Saúde, mantida pelo
Ministério da Saúde.
Ressaltamos que nosso objetivo não era balancear os corpora
em número de textos ou tokens, mas, sim, coletar a totalidade de textos
disponíveis em ambos os portais. A Tabela 1 resume os números relativos
aos corpora de estudo.
TABELA 1 – Números de types e tokens dos subcorpora da pesquisa

Corpus MedlinePlus (EN) MedlinePlus (PT) Ministério da


Saúde (PT)
Textos 66 66 191
Tokens 34.765 39.476 84.085
Types 3.088 4.554 9.666
TTR* 8,88% 11,53% 11,49%
*Type-Token Ratio
Fonte: Elaborada pelas autoras.

É interessante notar que, comparando-se a extensão média dos


textos que compõem os corpora, os textos originalmente escritos em
inglês são mais longos (526 tokens, em média) do que aqueles escritos em
português (440 tokens), corroborando as conclusões de Rebechi (2017)
e Fuchs (2018) sobre as diferenças nos tamanhos dos textos de mesmo
gênero escritos em português brasileiro e em inglês estadunidense. Já as
traduções para o português ficaram mais longas (598 tokens) do que os
textos de partida, contrariando os estudos citados, mas confirmando os
achados de Baker (1993) e Frankenberg-Garcia (2006) sobre a tendência
de explicitação do texto traduzido.
O cálculo de type-token ratio indica a porcentagem da riqueza
lexical do corpus, sendo demonstrado pelo cálculo types÷tokens×100.
De acordo com Berber Sardinha (2004, p. 94), “Quanto maior o seu
valor, mais palavras diferentes o texto conterá. Em contraposição, um
valor baixo indicará um número alto de repetições, o que pode indicar
um texto menos rico ou variado, do ponto de vista de seu vocabulário”.
Por estarmos lidando com línguas diferentes, o índice calculado para
o inglês não pode ser comparado com o do português. O que podemos
970 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

constatar, a partir desse levantamento, é que os índices de riqueza lexical


dos textos de divulgação em português são muito próximos, com uma
diferença de apenas 0,04% a mais para as traduções.

3.2 As ferramentas de análise


Para a análise de inteligibilidade, as ferramentas utilizadas foram
o Coh-Metrix (GRAESSER et al., 2017) e o Coh-Metrix-Port (NILC,
2020), para os textos em inglês e em português, respectivamente. O índice
utilizado para a análise foi o Índice Flesch, que considera duas métricas
para estimar o nível de dificuldade do texto: o comprimento médio das
frases e a média de sílabas por palavras. Como resultado do cálculo,
obtém-se um índice que pode ir de 0 a 100, sendo que quanto mais próximo
de 0, mais difícil seria o texto; e quanto mais perto de 100, mais fácil.
Vale ressaltar que, de acordo com Graesser et al. (2004), as
fórmulas matemáticas de inteligibilidade, como o Índice Flesch, ignoram
componentes linguísticos e discursivos que influenciam a compreensão
textual. Dessa forma, apesar de os parâmetros de tamanho de sentenças e
de palavras serem indicativos de legibilidade, eles não conseguem revelar
com precisão e por si só a complexidade de um texto. Por exemplo,
aspectos como número de palavras diferentes, frequência de uso das
palavras e sua regularidade ou irregularidade seriam interessantes de
serem estudados em um cálculo de inteligibilidade. Por esse motivo, se
viu a necessidade de aliar análises de inteligibilidade a análises manuais,
partindo-se, também, de dados quantitativos revelados por ferramentas
computacionais.
A análise de padrões linguísticos foi feita por meio do AntConc
(ANTHONY, 2019), um software gratuito, que pode ser facilmente
baixado e utilizado off-line. Com base em cálculos estatísticos, ele
possibilita que sejam feitos levantamentos de palavras características
do corpus de estudo – palavras-chave –, de padrões linguísticos,
como colocações e clusters, entre outras aplicações. A partir desses
levantamentos, o software permite que sejam feitas análises quantitativas
aliadas ao olhar atento do pesquisador.
O software AntPConc (ANTHONY, 2017) foi utilizado na
investigação do corpus paralelo, depois que os dois subcorpora –
originais em inglês e traduções em português – foram devidamente
alinhados, por meio do LF Aligner (FARKAS, 2018).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 971

4 Análises e discussão
Nesta seção, explicitaremos as análises quantitativas e qualitativas
realizadas a partir dos corpora de estudo, e apresentaremos e discutiremos
os resultados dos levantamentos, que nos guiaram na reflexão sobre a
adequação dos textos de divulgação da área médica para o público-alvo,
ou seja, a população de não especialistas.

4.1 Levantamento de inteligibilidade


Iniciamos a análise quantitativa dos corpora de estudo a partir do
levantamento de inteligibilidade, possibilitado pelo cálculo automático
do Índice Flesch. Para esse levantamento, primeiramente foi aplicado o
Índice Flesch à íntegra dos textos que compõem o corpus paralelo, ou
seja, dos 66 textos em língua inglesa do MedlinePlus e suas respectivas
traduções em língua portuguesa. Já para o levantamento do Índice Flesch
dos textos escritos originalmente em língua portuguesa, foi utilizada uma
amostra de 66 dos 191 textos, a fim de equiparar ao número de textos
do corpus paralelo.
Ressaltamos que a ferramenta adaptada para a língua portuguesa
(SCARTON et al., 2009) possui algumas limitações em comparação
com a da língua inglesa. Por exemplo, o Coh-Metrix-Port processa
textos com até mil palavras, ao passo que o Coh-Metrix limita a análise
a 15 mil caracteres. Apesar da diferença entre os parâmetros utilizados,
observamos que o Coh-Metrix aceita textos mais longos do que o Coh-
Metrix-Port. Por isso, todos os textos em inglês foram processados pelo
Coh-Metrix, enquanto o Coh-Metrix-Port processou somente 59 textos
do MedlinePlus (PT), já que os outros sete ultrapassavam o limite de
palavras processáveis pela ferramenta. Quanto aos textos do Ministério
da Saúde, todos foram processados, já que não extrapolaram o limite.
Como mencionado anteriormente, os resultados do cálculo do
Índice Flesch vão de 0 a 100, variando entre ‘muito difícil’ e ‘muito
fácil’. Na Tabela 2, a seguir, é possível observar a escala de valores,
além de uma estimativa do nível de escolaridade que compreende cada
um desses graus de inteligibilidade.
972 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

TABELA 2 – Interpretação do Índice Flesch

Valor do Índice Descrição de Escolaridade Escolaridade


Inteligibilidade Estimada (EUA) Estimada (BR)
0 a 29 Muito difícil College graduate Universitários*
30 a 49 Difícil 13th to 16th grade EM ou universitários
50 a 59 Razoavelmente 10th to 12th grade EM
difícil
60 a 69 Padrão 8 th to 9 th grade Até 8ª série do EF
70 a 79 Razoavelmente fácil 7 th grade Até 8ª série do EF
80 a 89 Fácil 6 grade
th
Até 8ª série do EF
90 a 100 Muito fácil 5 grade
th
Até 4ª série do EF
* Apenas para áreas acadêmicas específicas.
EM Ensino Médio
EF Ensino Fundamental
Fonte: Elaborada com base em Flesch (1949 apud DUBAY, 2004) e Martins et al. (1996).

Vale ressaltar que a tabela apresenta uma comparação somente


em relação ao nível de escolaridade entre a população brasileira e a
estadunidense, sem considerar fatores como nível de proficiência em
leitura ou classe social dos indivíduos.
Com base nos valores de Índice Flesch levantados para cada texto
que compõe os corpora, foram feitos os cálculos estatísticos de média,
mediana, variância e desvio padrão de cada subcorpus, utilizando-se
a ferramenta de equações do programa Excel. A média e a mediana
são medidas de tendência central: a média consiste na soma de todos
os elementos em análise (os índices) divididos pelo número total de
elementos (número de textos processados); e a mediana é o valor central
da série. Já a variância e o desvio padrão são medidas de dispersão,
servindo para apontar a variabilidade dos dados em torno da média.
A variância mostra o quão distantes os valores estão da média, sendo
calculada a partir da soma dos quadrados da diferença entre cada valor
e a média, dividida pelo número total de elementos. O desvio padrão é a
medida do grau de dispersão em relação à média. Para calculá-lo, basta
extrair a raiz quadrada da variância (MORATO, 2011).
As medidas de dispersão dos textos em inglês do MedlinePlus
(EN) foram calculadas aplicando-se a equação de população, pois todos
os textos foram avaliados pelo Coh-Metrix. Já dos subcorpora em
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 973

português, foram calculadas as medidas de dispersão de uma amostra,


pois não foram avaliados todos os textos que os compõem, conforme
explicamos anteriormente. Os dados estatísticos podem ser observados
na Tabela 3, a seguir.
TABELA 3 – Resultado de cálculos estatísticos descritivos

MedlinePlus (EN) MedlinePlus (PT) Ministério da Saúde


Média 74,845 57,659 39,115
Mediana 76,516 55,99 38,699
Variância 102,501 72,0444 170,942
Desvio padrão 10,124 8,488 13,074

Fonte: Elaborada pelas autoras.

A partir desses dados estatísticos levantados, foram construídos


gráficos, a fim de facilitar a visualização e comparação entre os
levantamentos dos diferentes corpora. O Gráfico 1, do tipo boxplot,
apresenta visualmente os dados de mediana, que corresponde à linha
horizontal no centro dos blocos, e de desvio padrão, que corresponde aos
blocos coloridos. As linhas horizontais fora dos blocos representam o
valor máximo e o valor mínimo observados nos textos de cada subcorpus.
Por fim, os pequenos losangos representam valores discrepantes entre
os textos pertencentes a cada amostra (subcorpus).
GRÁFICO 1 – Boxplot dos dados do Índice Flesch

Fonte: Elaborado pelas autoras.


974 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

A partir dos dados apresentados, é possível observar que as


médias calculadas para o Índice Flesch apontam os textos do MedlinePlus
(EN) com índices de inteligibilidade mais altos (média de 74,845), os
do subcorpus traduzidos para o português, intermediários (57,659), e o
subcorpus dos textos do Ministério da Saúde, originalmente escritos em
português, com índices de inteligibilidade mais baixos (39,115). Além
disso, os valores de desvio padrão mostram que os índices do subcorpus
do Ministério da Saúde são os que contam com maior dispersão – de
13,074 –, seguidos pelos do MedlinePlus (EN) – de 10,124. Por último,
vêm os do MedlinePlus (PT), com menor dispersão – de 8,488. O
valor mínimo dos índices do MedlinePlus (EN) é de 52,05, o central
(mediana) é de 76,516, e o máximo é de 99,821. No MedlinePlus (PT),
o valor mínimo é de 38,654, o central é de 55,99, e o máximo, 72,367,
com 77,367 e 87,276 como valores discrepantes. Para o subcorpus do
Ministério da Saúde, observamos valor mínimo de 11,234, valor central
de 38,699, e máximo de 63,272.
O acesso à informação é um direito assegurado na lei (BRASIL,
2015). Contudo, para que a população possa usufruir desse direito, devem-
se garantir condições não só de acesso, mas também de compreensão
desses materiais. Além disso, sendo a tradução imprescindível para
a disseminação do conhecimento científico, que, muitas vezes, é
transmitido em língua inglesa, ao traduzir textos com a finalidade de
atingir o público geral, o tradutor deve levar em conta informações sobre
o leitor a quem as traduções se destinam (NORD, 2006). Portanto, para
analisar esses dados, é necessário utilizar como base informações sobre
os leitores médios estadunidenses e brasileiros.
Segundo dados de 2017, 90% da população estadunidense possui,
no mínimo, High School completo (U.S. CENSUS BUREAU, 2017).
Já no Brasil, de acordo com o último censo, a parcela da população que
tem grau equivalente de instrução, ou seja, Ensino Médio, não chega
aos 50%. A discrepância fica ainda mais evidente se considerarmos que,
enquanto 46,2% da população brasileira possui Ensino Médio ou graus
mais altos de instrução, há uma considerável parcela de 33,7% que não
completou ao menos o Ensino Fundamental (IBGE, 2019). Assim, ao
produzir conteúdo escrito para o público geral, os órgãos competentes
devem considerar esses dados, pois dentre os 53,8% da população
brasileira que possui graus de instrução inferiores ao Ensino Médio, a
maioria se concentra no Ensino Fundamental incompleto. Portanto, para
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 975

se mostrarem adequados ao leitor médio, os textos brasileiros deveriam


se encaixar no nível ‘fácil’, ou seja, terem índices de inteligibilidade
entre 70 e 100. Já os textos estadunidenses, para serem acessíveis à maior
parcela da população, poderiam apresentar inteligibilidade ‘difícil’, com
índices entre 30 e 60, mas nossos levantamentos mostraram que são
‘razoavelmente fáceis’, podendo atingir, inclusive, a pequena parcela
da população com níveis inferiores de escolaridade. Assim, com base
nos levantamentos apresentados e nos dados de escolaridade, podemos
concluir que a população que mais necessitaria que as informações
fossem fornecidas de maneira acessível seria, justamente, a população
que a receberia com maior complexidade, ou seja, a brasileira.
A partir desses dados estatísticos de inteligibilidade textual,
procederemos à análise de padrões linguísticos, utilizando os softwares
AntConc e AntPConc, a fim de identificarmos o que recorre em textos da
área e verificarmos se tais padrões são mantidos nos textos traduzidos.
Em outras palavras, pretendemos avaliar se os textos traduzidos mantêm
a convencionalidade característica do gênero textual em estudo, que será
analisada com base nos textos escritos originalmente em português. Nesse
sentido, enfatizamos a necessidade de não apenas olhar para métricas
superficiais de inteligibilidade, mas também para os padrões que são
imprescindíveis para a caracterização dos gêneros e, portanto, para a sua
compreensão pela comunidade discursiva a que se destina.

4.2 Levantamento de padrões linguísticos


A análise qualitativa manual dos textos de divulgação em
língua portuguesa partiu das palavras-chave, ou seja, das palavras
estatisticamente mais frequentes no corpus de estudo do que no corpus de
referência. A decisão de olhar somente para palavras-chave das traduções
se deve ao nosso interesse em buscar por padrões observados nos textos
originalmente escritos em português e verificar se eles se mantêm nos
textos traduzidos ou se estes indicariam quebras de convencionalidade,
dificultando o entendimento do texto pelo público não especialista. Para
esse contraste, compilamos textos também da área médica, contudo de
um gênero distinto – artigos científicos –, a fim de que fossem destacadas
as palavras estatisticamente relevantes relacionadas ao gênero dos textos,
não necessariamente à área de especialidade.
976 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

Para a montagem do corpus de referência em português, foram


selecionados 117 textos, compilados a partir da palavra de busca
‘medicina’ no Portal de Periódicos Capes, totalizando 450 mil tokens.
O número de palavras do corpus de referência baseou-se nos tamanhos
críticos apontados por Berber Sardinha (2004), sendo cinco vezes o
tamanho do maior subcorpus de estudo em português.
Segundo Gabrielatos (2018), a chavicidade de um item deve
ser estabelecida utilizando-se uma combinação de duas métricas que se
complementam: tamanho de efeito e significância. A primeira é usada
para determinar a diferença entre as frequências de determinada palavra
nos dois corpora – quanto maior a diferença entre o corpus investigado
e o corpus de referência, maior será a razão logarítmica –, enquanto a
segunda aponta o tamanho dessa diferença. Nesta pesquisa, utilizamos,
respectivamente, o odds ratio e o log likelihood, disponíveis no AntConc.
O odds ratio será levado em consideração para determinar o ponto
de corte para as palavras serem ou não consideradas chave, estabelecido
em 10. O log-likelihood (Keyness, no AntConc) foi estabelecido em
p < 0,0001, indicando uma margem de erro de até 0,01% para as palavras-
chave terem sido levantadas erroneamente. De acordo com Brezina
(2018), para pesquisas na área de Ciências Humanas, é aceitável utilizar
até p < 0,05. O log-likelihood foi o índice adotado para a organização das
palavras-chave, apresentadas em ordem decrescente de chavicidade. De
acordo com Pojanapunya e Todd (2018), o teste log-likelihood enfatiza
palavras relativamente comuns, que servem ao propósito de pesquisas
orientadas pelo gênero – interesse deste estudo –, ao passo que o odds
ratio dá ênfase a palavras mais especializadas, que são mais adequadas
para pesquisas terminológicas, por exemplo.
Por não se tratar de um corpus etiquetado morfossintaticamente
e devido ao número de flexões possíveis na língua portuguesa (em
substantivos, adjetivos, artigos e verbos), optamos por fazer a lematização
manual das palavras-chave do corpus comparável. As palavras foram
agrupadas sob aquela com o valor de log-likelihood mais alto. Por exemplo,
os itens do subcorpus do MedlinePlus (PT) ‘precisa’ (com log-likelihood
de 95,08) e ‘precisará’ (45,34) foram agrupadas sob ‘precisar’ (97,83).
Palavras homógrafas foram diferenciadas manualmente. Por
exemplo, ‘sente’, que pode ser conjugação dos verbos ‘sentir’ e ‘sentar’,
teve suas frequências mantidas separadamente. Após a distinção do
número de ocorrências referentes a cada um dos verbos, foi recalculado
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 977

o odds ratio de cada uma das formas, utilizando-se uma calculadora de


chavicidade e efeito,7 a fim de determinar se esses itens seguiriam ou não
sendo palavras-chave, de acordo com os critérios estipulados.
Após a lematização manual, a lista de palavras-chave exclusivas
do MedlinePlus (PT) mostrou 167 itens; a lista exclusiva do Ministério
da Saúde, 115. Uma amostra da lista de palavras-chave do corpus
comparável, organizada por chavicidade, pode ser observada na Tabela 4.
TABELA 4 – Amostra de palavras-chave exclusivas do corpus comparável
MedlinePlus (PT) Ministério da Saúde
Posição Frequência Palavras-chave Frequência Palavras-chave
alimentos;
1 393 seu 153 [+25]
alimento
2 251 médico 135 evitar
3 154 dor 48 camisinha
4 134 cirurgia 38 lixo
5 86 [+35] tomar; tome 45 dentes
6 64 ligue 58 mulher
7 93 poderá 49 pé
8 100 fazer 35 [+16] picada; picadas
9 116 pessoas 38 roupas
10 92 depois 43 [+21] acidentes; acidente
11 52 [+20] incisão; incisões 39 coluna
12 44 catapora 38 objetos
13 83 sinais 40 provocar
14 56 reação 25 manchas
15 35 vaginal 37 passo
16 55 use 24 hpv
17 35 alérgica 27 nariz
18 62 semanas 25 chão
48 [+13; +12; ajuda; ajudá[-lo/-la]; ajudam;
19 36 veias
+36; +11; +12] ajudar; ajudará; ajude
20 36 converse 22 [+18] joelhos; joelho
Fonte: elaborada com base em AntConc (ANTHONY, 2019).

7
Disponível em: http://ucrel.lancs.ac.uk/llwizard.html. Acesso em: 15 maio 2020.
978 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

A partir da lista de palavras-chave, levantamos os itens que


ocorreram estatisticamente com mais frequência nos textos traduzidos,
sendo excluídos, contudo, aqueles que denominam doenças, como
‘catapora’ e ‘glaucoma’, sintomas de doenças, como ‘tontura’ e ‘erupção’,
e partes do corpo, já que se referem a questões específicas, que podem
não ter sido abordadas na mesma proporção nos dois subcorpora.
Privilegiamos, portanto, as palavras-chave que, em tese, poderiam ocorrer
em qualquer texto de divulgação da área médica, mas que não aparecem
na lista de palavras-chave do subcorpus de textos originais em português.
Devido à limitação de espaço, neste artigo focaremos (i) o
pronome adjetivo possessivo ‘seu’, palavra com maior chavicidade nos
textos traduzidos; (ii) o substantivo plural ‘sinais’, na décima terceira
posição, que é o primeiro substantivo exclusivo do subcorpus traduzido
que se enquadra nos pré-requisitos da análise (o item ‘pessoas’ aparece
na forma singular nas palavras-chave do subcorpus de originais em
português); e (iii) o verbo no imperativo ‘use’, na décima sexta, já que,
além de ser palavra-chave apenas dos textos traduzidos, é um entre os
28 verbos no modo imperativo dessa lista, enquanto a de palavras-chave
dos textos originais compreende apenas dois – ‘utilize’ e ‘retire’.

4.2.1 Análise de ‘seu’


Como é possível observar na amostra de palavras-chave (TABELA
4), ‘seu’ é a primeira palavra estatisticamente relevante característica
do subcorpus do MedlinePlus (PT), com 393 ocorrências (99,55 a cada
10.000). Para entender o seu papel nesse corpus, partimos para a análise
dos colocados da palavra. Primeiro, buscamos os colocados em uma janela
de 4 palavras à direita. A partir da lista de colocados, foi possível observar
que as palavras que mais recorrem à direita de ‘seu’ são ‘médico’ (176
ocorrências), seguida de ‘bebê’ (48) e ‘filho’ (30). Já nos textos originais
em português, há 193 ocorrências de ‘seu’, e, na mesma janela de até
4 palavras à direita, o substantivo ‘médico’ é colocado desse pronome
adjetivo possessivo apenas 25 vezes. Nesse subcorpus (MS), o colocado
mais frequente à esquerda de médico é ‘o’ (34 ocorrências). Esses índices
parecem ainda mais discrepantes se considerarmos que o subcorpus do
MS tem mais do que o dobro de palavras do MedlinePlus (PT).
A fim de confirmarmos se a alta recorrência da colocação ‘seu
médico’ no MedlinePlus (PT) decorre da influência dos textos de partida,
buscamos os colocados imediatamente à esquerda de ‘doctor’ – ou seja,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 979

janela de 1 item. Os resultados corroboraram a hipótese levantada,


mostrando que nos textos o colocado ‘your’ aparece com alta frequência
com ‘doctor’ – 204 ocorrências. A Tabela 5 sintetiza esses dados.
TABELA 5 – Colocados imediatamente à esquerda de ‘médico’ e ‘doctor’
nos corpora da pesquisa
MedlinePlus (EN) MedlinePlus (PT) Ministério da Saúde
Item de Item de Item de
Freq. Colocado Freq. Colocado Freq. Colocado
busca busca busca
204 your 168 seu 27 o
doctor

médico
21 the 53 o 25 um
8 baby’s 8 ao 23 seu

médico
6 um 17 pelo
7 ao
6 atendimento
6 do

Fonte: elaborada com base em AntConc (ANTHONY, 2019).

A partir desse levantamento, foi possível observar que, apesar


de ‘médico’ ser colocado de ‘seu’ no subcorpus do Ministério da Saúde,
na verdade, ‘o médico’ e ‘um médico’ são mais utilizadas do que ‘seu
médico’. Já no subcorpus de textos traduzidos, a sequência mais utilizada
é ‘seu médico’, enquanto ‘o médico’ ocorre apenas 53 vezes, quase 13 das
ocorrências daquela. Essas duas sequências mais utilizadas vão ao
encontro do que ocorre no subcorpus dos textos originais, sendo ‘your
doctor’ a sequência mais utilizada, com 204 ocorrências, e ‘the doctor’, a
segunda mais utilizada, com 21 ocorrências. Também é possível observar
que, no MedlinePlus (PT), ‘o médico’ ocorre mais que o dobro de vezes
de ‘the doctor’ no Medline (EN), sendo a escolha de tradução para ‘your
doctor’ em 43 ocorrências.

4.2.2 Análise de ‘use’


A forma verbal ‘use’ tem 55 ocorrências (13,93 a cada 10.000
palavras) no subcorpus do MedlinePlus (PT), fazendo dela uma palavra-
chave. A partir das linhas de concordância, foi possível observar
construções de ‘use’ com diversos substantivos. Por exemplo, observamos
980 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

a utilização de sequências como ‘use absorventes’ (4 ocorrências), ‘use


tampões’ (4 ocorrências) e ‘use preservativo(s)’ (2 ocorrências). Algumas
linhas de concordância que exemplificam o tipo de orientações são
apresentadas na Figura 1.
FIGURA 1 – Linhas de concordância de ‘use’ no subcorpus do MedlinePlus (PT)

Fonte: AntConc (ANTHONY, 2019).

Como ‘use’ não aparece entre as palavras-chave do Ministério


da Saúde, observamos a lista de palavras-chave a fim de identificar
que outra possibilidade poderia ter sido a escolhida pelos autores.
Identificamos, então, a palavra-chave ‘utilize’, que ocorre 17 vezes nesse
subcorpus (MS) (2,02 a cada 10.000), enquanto ‘use’ ocorre 41 vezes
(4,88 a cada 10.000) – mas pode ter ficado de fora das palavras-chave
por ser também recorrente no corpus de referência. De fato, diversos
dicionários, como, por exemplo, o Dicionário Online de Português8 e o
Caldas Aulete Digital,9 apresentam ‘utilizar’ como sinônimo de ‘usar’.
Supomos, assim, que a maior recorrência de ‘use’ nos textos traduzidos
pudesse ser decorrente da forma cognata ‘use’ dos textos em inglês. A fim

8
Disponível em: https://www.dicio.com.br/usar/. Acesso em: 26 set. 2020.
9
Disponível em: http://www.aulete.com.br/usar. Acesso em: 26 set. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 981

de confirmar ou refutar tal hipótese, procedemos com o alinhamento do


corpus paralelo, por meio da ferramenta LF Aligner (FARKAS, 2018),
e o investigamos usando o software AntPConc (ANTHONY, 2017). A
Figura 2 apresenta uma amostra do alinhamento de ‘use’, partindo dos
textos em inglês.
FIGURA 2 – Linhas de concordância de ‘use’ no corpus paralelo
do MedlinePlus (PT-EN)

Fonte: AntPConc (ANTHONY, 2017).

Antes de procedermos para a análise das linhas em paralelo,


é importante ressaltar que a forma ‘use’, em inglês, pode remeter ao
substantivo e ao verbo em forma de infinitivo, além das conjugações
em primeira e segunda pessoas do singular e das três pessoas do plural.
A análise das 90 ocorrências de use, em inglês, revelou que a palavra
foi traduzida como (i) diferentes formas do verbo ‘usar’, ‘utilizar’ e
‘consumir’ (62, 3 e 1 ocorrências, respectivamente), (ii) os substantivos
‘uso’ e ‘consumo’ (7 e 2 ocorrências, respectivamente), (iii) por paráfrases
– por exemplo, a frase “Each time you use the toilet” foi traduzida por
982 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

“Todas as vezes que for ao banheiro” – (7 ocorrências). Para as restantes


oito ocorrências de ‘use’, não foram identificados equivalentes.
A busca em direção contrária revelou que as 55 ocorrências de
‘use’ nas traduções são provenientes de ‘use’ (41 ocorrências), ‘wear’
(6 ocorrências), ‘take’ (1 ocorrência), ‘spend’ (1 ocorrência), ‘douche’
– traduzido por ‘use ducha vaginal’ – (1 ocorrência), e cinco das suas
ocorrências não foram traduzidas. Já a forma ‘utilize’ foi a escolha
tradutória para apenas uma frase – “Never use a generator inside your
home…” [“Nunca utilize este gerador dentro de casa…”]. Portanto,
podemos concluir que ‘use’ é a tradução mais recorrente do cognato ‘use’,
enquanto ‘utilize’ e outras possibilidades são preteridas nas traduções.
Diferentemente do que foi observado no subcorpus traduzido,
há recorrência tanto de ‘use’ quanto de ‘utilize’ nos textos originalmente
escritos em português. A palavra ‘use’ ocorre 41 vezes (4,88 a cada 10.000)
e ‘utilize’, 17 (2,02 a cada 10.000). A fim de verificar se existe diferença de
uso entre esses dois verbos no subcorpus de textos originais em português,
observamos seus colocados na janela de 4 itens, mais especificamente
os substantivos à direita dos verbos. Esse levantamento mostrou que as
ocorrências de ‘use’ no subcorpus do Ministério da Saúde estão bastante
ligadas a objetos que são portados (‘chapéu’, ‘cintos’, ‘roupas’, ‘sapatos’
e ‘óculos escuros’), medicamentos e, como observado anteriormente, a
forma verbal ‘use’ aparece próxima à palavra ‘camisinha’.
Já a palavra ‘utilize’, no subcorpus do Ministério da Saúde, ocorre
em contextos semelhantes aos de ‘use’ no subcorpus do MedlinePlus
(PT). Aparecem formulações como ‘não utilize’, ‘nunca utilize’ e ‘utilize
sempre’, seguidos de alguns substantivos, porém sem recorrências,
conforme as linhas de concordância a seguir (FIGURA 3).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 983

FIGURA 3 – Linhas de concordância de ‘utilize’ no subcorpus do MedlinePlus (PT)

Fonte: AntConc (ANTHONY, 2019).

Com exceção das linhas 3 e 6, nas quais ‘utilize’ está associado


a itens de vestuário, as outras ocorrências se combinam a objetos que
servirão para ajudar a cumprir determinada ação. Por exemplo, na linha
1, recomenda-se utilizar uma cadeira de plástico como auxílio para tomar
banho. Contudo, devido ao tamanho reduzido dos corpora compilados
para este estudo, julgamos inapropriado traçarmos generalizações sobre
os contextos de ocorrência de ‘use’ e ‘utilize’. Por isso, recorremos a um
corpus de grandes proporções, mas de língua geral, o Corpus do Português
(DAVIES, 2015). Esse corpus, que está disponível gratuitamente on-line,
permite que seja feita a comparação entre os colocados de duas palavras
por meio da ferramenta Compare.
Apesar de se tratar de um corpus geral de língua portuguesa, que
abrange textos de diferentes países falantes da língua, o subcorpus Web/
Dialects permite que a busca seja feita apenas em textos em português
brasileiro, com cerca de 655 milhões de palavras. Para traçar um paralelo
com os levantamentos do AntConc, optamos por levantar somente os
substantivos que aparecem à direita dos verbos. A janela escolhida foi,
também, de até 4 palavras.
984 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

A Tabela 6 apresenta os 25 primeiros substantivos que ocorrem


à direita dos verbos ‘use’ e ‘utilize’, organizados pelo valor do índice
(score) de relação entre o colocado e a palavra de busca.
TABELA 6 – Colocados de ‘use’ e ‘utilize’ no subcorpus Web/Dialects

Colocado de ‘use’ Freq. Score Colocado de ‘utilize’ Freq. Score


curador 357 216,5 selo 101 333,1
bálsamo 211 128 créditos 136 224,3
camisinha 206 124,9 fins 575 99,8
comentários 88 53,4 login 106 87,4
autoridade 67 40,6 polegares 26 85,8
box 119 36,1 palhas 11 72,6
mente 44 26,7 pagamento 20 66
blusas 40 24,3 responsabilidade 114 62,7
maquiagem 66 20 fórum 26 42,9
vestido 33 20 x 141 42,3
mouse 237 18 email 123 14
perfume 29 17,6 sistemas 12 13,2
criatividade 342 17,3 formulário 139 10,2
kit 114 17,3 formas 33 8,4
instrumentos 104 15,8 rolagem 24 7,9
chicote 25 15,2 senha 118 7,6
calça 48 14,6 aparelhos 29 7,4
jeans 24 14,6 botão 321 6,9
saias 24 14,6 dispositivo 10 6,6
branco 23 13,9 seção 13 6,1
talento 22 13,3 forma 149 6,1
vestidos 22 13,3 letras 54 5,9
chapéu 21 12,7 código 117 5,8
salto 21 12,7 tag 12 5,7
seleção 21 12,7 aço 13 5,4

Fonte: Corpus do Português (DAVIES, 2015).

Corroborando os resultados observados no subcorpus de textos


originais em português, no subcorpus de língua geral ‘use’ se associa
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 985

majoritariamente a objetos que são portados, especialmente peças de


vestuário – ‘blusas’, ‘maquiagem’, ‘vestido’, ‘instrumentos’, ‘calça’,
‘jeans’, ‘saias’, ‘vestidos’, ‘chapéu’ e ‘salto’. Já a forma verbal ‘utilize’
é empregada com referência a palavras como ‘créditos’, ‘pagamento’,
‘responsabilidade’, ‘sistemas’, ‘aparelhos’, ‘dispositivo’, ‘forma’, ‘letras’,
dentre outras. Esses resultados indicam que nem sempre o equivalente
‘use’ é a opção mais convencional para recuperar ‘use’ nos textos
traduzidos, mas que outras possibilidades – ‘utilize’, além de paráfrases
– deveriam ser consideradas a fim de se manter a convencionalidade
observada em textos desse gênero escritos originalmente em português.

4.2.3 Análise de ‘sinais’


Diante da alta chavicidade de ‘sinais’ nos textos traduzidos,
diferentemente do que ocorre nos textos originalmente escritos em
português, selecionamos mais essa palavra para fazermos uma análise
quantitativa, a fim de identificar o porquê da discrepância.
A partir do alinhamento dos textos em inglês e suas traduções,
buscamos identificar a(s) palavra(s) que tivesse(m) originado a tradução
‘sinais’. Observamos, então, que das 83 ocorrências de ‘sinais’ no
subcorpus de traduções, apenas 11 não partiram de ‘signs’, mas foram
resultado de explicitações, escolhas tradutórias de ‘changes’ e ‘cues’, ou
simplesmente não tiveram o excerto de partida identificado.
Por meio desse levantamento, verificamos que, das 121
ocorrências (34,81 a cada 10.000) de ‘sign(s)’ como substantivo –
observamos, também, duas ocorrências do verbo ‘sign’ [assinar] –, 83
foram traduzidas por ‘sinal’/‘sinais’, 31 por ‘sintomas’, e as restantes
foram traduzidas por ‘efeitos’ (1 ocorrência), ou simplesmente não foram
traduzidas (7 ocorrências).
Verificamos, posteriormente, que a palavra ‘sintomas’ ocorre nos
textos traduzidos 52 vezes no total (13,17 a cada 10.000) – sendo 3 vezes
na forma singular ‘sintoma’. Por observar que havia ainda 21 ocorrências
da palavra com origens desconhecidas, alinhamos originais e traduções a
partir da palavra de busca ‘sintoma(s)’. Das 21 ocorrências, 4 são traduções
do cognato ‘symptoms’. Outras ocorrências têm origem em frases nas quais
não se utiliza a palavra ‘signs’ nem ‘symptoms’, ou seja, Ø (10 ocorrências)
– podendo ser observada na Figura 4. Por fim, há 7 ocorrências para as
quais não foram localizadas correspondentes em inglês.
986 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

FIGURA 4 – Linhas de concordância de ‘sintomas’ no corpus paralelo


do MedlinePlus (PT-EN)

Fonte: AntPConc (ANTHONY, 2017).

Vale ressaltar que foram encontradas apenas 4 ocorrências


(1,15 a cada 10.000) de ‘symptoms(s)’ nos textos originais em inglês,
ao passo que seu cognato em português, ‘sintoma(s)’, ocorre 288 vezes
(72,96 a cada 10.000) no Ministério da Saúde, o que parece indicar
que os equivalentes prima facie sign(s) → sinal/sinais e symptom(s) →
sintomas não são necessariamente utilizados em contextos semelhantes.
A fim de tentar mapear se ocorre alguma distinção entre os contextos
de ‘sinais’ e de ‘sintomas’ entre traduções e originais em português, foi
feita a pesquisa por colocados. O levantamento de colocados de ‘sinais’
foi feito respeitando-se a janela de até 4 itens à direita e à esquerda,
estabelecendo a frequência mínima de 6 ocorrências.
A partir das linhas de concordância mostradas pelo AntPConc
e AntConc, é possível observar que os usos de ‘sinais’ e de ‘sintomas’
parecem estar indiscriminados no subcorpus traduzido. Ou seja, não é
possível distinguir os contextos em que os substantivos aparecem. Assim
como aparece próximo a nomes de doenças (como ‘catarata’, ‘asma’ e
‘ataque cardíaco’), ela também aparece perto de indícios de problemas
de saúde (‘estresse’, ‘fome’ e ‘ruptura ou descolamento de retina’).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 987

No subcorpus do Ministério da Saúde, enquanto ‘sintoma(s)’


ocorre 288 vezes (34,25 a cada 10.000), ‘sinal/sinais’ ocorre 54 vezes
(6,42 a cada 10.000). Vale enfatizar que a palavra ‘sintomas’ aparece
com frequência como um subtítulo dos textos, fazendo com que sua
frequência aumente significativamente.
Em razão do número elevado de ocorrências, investigamos
o motivo pelo qual a palavra não consta na lista de palavras-chave
desse corpus. A partir de sua frequência, os índices da palavra foram
determinados a partir da calculadora de chavicidade e efeito. O log-
likelihood da palavra é de 354,16 e o odds ratio é de 5,8163, que não
alcança o ponto de corte para figurar na lista de palavras-chave. No
corpus de referência de artigos científicos, a palavra ‘sintomas’ tem 280
ocorrências (6,19 a cada 10.000). Portanto, o odds ratio da palavra acabou
sendo neutralizado, fazendo com que ela não fosse considerada chave.
Há ocorrências da palavra ‘sinais’ que se dão na sequência
‘sinais e sintomas’ (16 vezes). Essa sequência é, muitas vezes, utilizada
como um subtítulo para organizar as partes do texto, como mencionado
anteriormente sobre a palavra ‘sintomas’.
As linhas de concordância de ‘sinais’ no subcorpus do Ministério
da Saúde parecem indicar aspectos em comum em seus contextos de uso
(FIGURA 5).
FIGURA 5 – Linhas de concordância de ‘sinais’ no subcorpus do Ministério da Saúde

Fonte: AntConc (ANTHONY, 2019).

Podemos observar que, por exemplo, em ‘sinais de desidratação’,


a primeira característica é ‘olhos fundos’. Em outro momento, é possível
988 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

ver a frase ‘Os primeiros sinais são: fraqueza, transpiração, palidez


[...]’. Aqui, podemos observar que se usa ‘sinais’ para aspectos visíveis
(‘fraqueza’, ‘transpiração’ e ‘palidez’).
Outro aspecto é que, em geral, a palavra ‘sinais’ não aparece
associada diretamente às doenças, como no subcorpus do MedlinePlus
(‘sinais de asma’; ‘sinais de doença arterial coronariana’; ‘sinais de
derrame’; ‘sinais de glaucoma’; dentre outros). Pode-se observar que a
palavra ‘sinais’ é mais associada a manifestações de problemas de saúde,
por exemplo, ‘sinais de desidratação’, ‘sinais de desnutrição’, ‘sinais de
erupção’, dentre outros.
Em um primeiro momento, apenas pelas linhas de concordância,
é possível observar que, de fato, há uma distinção entre ‘sinais’ e
‘sintomas’. A fim de comprovar a existência dessa distinção, optamos
por fazer este mesmo levantamento em um corpus de língua geral.
Utilizamos, novamente, os textos brasileiros do Corpus do
Português, cujo papel, nesse caso, é de extrema relevância para comprovar
os contextos convencionais de uso dessas palavras que são familiares
ao público geral.
Assim como o levantamento de colocados feito nos subcorpora
de estudo, mantivemos como padrão a janela de até 4 palavras. Esse
levantamento foi feito apenas para colocados à direita das palavras ‘sinais’
e ‘sintomas’. Os primeiros 25 colocados de ‘sinais’ e de ‘sintomas’ que
ocorrem nessa janela estão listados na Tabela 7. Pode-se observar suas
frequências de co-ocorrência e o resultado estatístico da associação entre
as palavras.
TABELA 7 – Colocados de ‘sinais’ e ‘sintomas’ no subcorpus Web/Dialects

Colocado de ‘sinais’ Freq. Score Colocado de ‘sintomas’ Freq. Score


prodígios 491 983,9 TPM 159 317,4
tempos 354 709,4 psicóticos 157 313,4
maravilhas 277 555,1 hemolítico 112 223,6
vitais 243 486,9 urêmico 110 219,6
trânsito 233 466,9 sujeitos 93 185,6
elétricos 181 362,7 poliúria 84 167,7
libras 152 304,6 relatadas 76 151,7
rádio 149 298,6 artrite 150 149,7
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 989

distintivos 133 266,5 TDAH 75 149,7


pontuação 133 266,5 mosquito 62 123,8
emitidos 109 218,4 tratamentos 57 113,8
aparições 98 196,4 fibromialgia 51 101,8
gráficos 86 172,3 neuróticos 51 101,8
céu 81 162,3 queixas 87 86,8
seguirão 81 162,3 taquicardia 43 85,8
digitais 80 160,3 menopausa 167 83,3
sol 77 154,3 gastrite 39 77,8
vinda 74 148,3 cabeça 72 71,9
luminosos 147 147,3 ascensão 34 67,9
enviados 70 140,3 histéricos 34 67,9
sonoros 70 140,3 sinto 66 65,9
arrombamento 68 136,3 psiquiátricos 33 65,9
milagres 131 131,3 duram 32 63,9
espécie 112 112,2 alérgicos 31 61,9
terra 56 112,2 pré-menstrual 30 59,9
Fonte: Corpus do Português (DAVIES, 2015).

Por meio do levantamento, foi possível confirmar que há distinção


entre as manifestações de ‘sinais’ e de ‘sintomas’ no corpus de língua geral.
A palavra ‘sinais’ aparece associada a ‘trânsito’, ‘aparições’, ‘gráficos’ e
‘arrombamento’. Isso dá indícios de que a maneira como os ‘sinais’ se
manifestam é de forma visual. Ou seja, são traços que você pode observar
e enxergar. Por exemplo, ‘sinais de arrombamento’ em uma casa podem
ser portas quebradas, com vestígios de terem sido forçadas por alguém,
bagunça nos cômodos, demonstrando que alguém esteve por ali procurando
algo. Assim, de acordo com os colocados observados, ‘sinais’ são traços
que podem ser identificados por uma terceira pessoa observadora.
Além disso, podem ser observados colocados de ‘sinais’ mais
relacionados à noção física de um conjunto que carrega informações
ou dados. Aparecem colocados como ‘elétricos’, ‘rádio’, ‘emitidos’,
‘digitais’, ‘luminosos’, ‘enviados’ e ‘sonoros’, que indicam haver uma
influência de contextos mais especializados.
Já associadas à palavra ‘sintomas’ podemos observar ocorrências
como ‘psicótico’, ‘poliúria’, ‘neuróticos’, ‘taquicardia’, ‘histéricos’,
990 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

‘psiquiátricos’, ‘alérgicos’ e ‘pré-menstrual’. Ou seja, essas são


manifestações que as pessoas sentem mais do que visualizam. Assim, em
oposição às manifestações de sinais, que podem ser observadas por uma
terceira pessoa, as manifestações de sintomas parecem ser mais facilmente
identificadas pela própria pessoa. Até porque, no geral, antes de procurar
atendimento que confirme a doença, é necessário que o paciente reconheça
os sintomas, para então partir para a análise de uma terceira pessoa (médico),
para quem serão relatadas as manifestações. Além dessas manifestações,
há algumas doenças e distúrbios que estão na lista de colocados, como
‘[síndrome] hemolítico urêmica’, ‘artrite’, ‘TDAH’ (Transtorno do Déficit
de Atenção com Hiperatividade), ‘fibromialgia’ e ‘gastrite’.
No subcorpus traduzido do MedlinePlus, a palavra ‘sinais’
parece ser utilizada de forma indiscriminada, aparecendo diversas vezes
como um falso sinônimo de ‘sintomas’ e como equivalente de ‘signs’.
Já a palavra ‘sintomas’, por se tratar de uma palavra motivada pelo uso
de ‘symptoms’ ou por Ø, está sendo empregada seguindo um padrão
semelhante aos aspectos aqui apresentados.

4.3 Discussão
Retomando as médias de Índice Flesch, para o corpus comparável,
obtiveram-se índices de 57,659 para o subcorpus do MedlinePlus (PT)
e 39,115 para o do Ministério da Saúde; para a língua inglesa, a média
observada foi de 74,845 para o subcorpus do MedlinePlus (EN) –
lembrando que índices mais próximos de 100 apontam para maior grau
de facilidade, enquanto mais próximos de 0 demonstram maior grau
de dificuldade. Com base nos níveis de escolaridade das populações
estadunidense e brasileira, o índice de inteligibilidade dos textos em
português não estão adequados para o seu público geral, ao passo que
até mesmo o norte-americano com pouca escolaridade seria capaz de
compreender os textos em inglês. O intervalo mais adequado dos índices
para os textos em português seria de classificação ‘fácil’, entre 70 e
100. Já os textos em inglês, para serem acessíveis à maior parcela da
população estadunidense, poderiam apresentar inteligibilidade ‘difícil’,
com índices entre 30 e 60.
Enfatizamos que o levantamento quantitativo de inteligibilidade
parte de noções superficiais do texto, quais sejam, o comprimento
médio de palavras e de sentenças. Por esse motivo, o Índice Flesch
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 991

por si só não pode determinar com precisão o nível de dificuldade de


um texto. Pode-se depreender, a partir dos resultados referentes a esse
índice, que os textos originalmente escritos em português contam com
estruturas, de forma geral – levando em consideração especificamente
as palavras e as frases –, mais longas do que os originais em inglês e
suas traduções. Entretanto, a investigação sobre a convencionalidade
das traduções, por ser uma análise de padrões linguísticos desenvolvida
em comparação com textos escritos originalmente na língua portuguesa,
teve o papel imprescindível de indicar com mais precisão aspectos que
podem dificultar a compreensão de um texto por leitores médios. Por
isso, buscamos associar o levantamento puramente estatístico à análise
qualitativa, já que consideramos indispensável que haja um olhar mais
aprofundado sobre as questões linguísticas do texto para determinar se
este conta ou não com barreiras que influenciam sua acessibilidade. Até o
momento, não há ferramentas que permitam que a investigação sobre os
padrões linguísticos seja desenvolvida com precisão a partir de análises
exclusivamente quantitativas.
Nesse sentido, as ocorrências de ‘use’, no MedlinePlus (PT), e
de ‘utilize’, no Ministério da Saúde, ocorrem em contextos similares,
em que é dada alguma orientação para o leitor do que fazer quando
se deparar com determinadas situações. Descobrimos que há, de fato,
distinção entre aplicações de ‘use’ e de ‘utilize’, sendo que o primeiro
se refere, principalmente, a objetos (com frequência, itens de vestuário),
e o segundo é empregado com noções mais abstratas (como ‘créditos’,
‘pagamento’, ‘sistemas’ etc.). Essa descoberta foi feita a partir das
linhas de concordância do subcorpus de textos originalmente escritos
em português e, posteriormente, foi validada por meio do Corpus do
Português (DAVIES, 2015).
A partir dos colocados de ‘seu’, foi possível observar nos textos
traduzidos grande incidência da palavra ‘médico’. Isso chamou a atenção
porque, nos textos do Ministério da Saúde, os principais colocados
imediatamente à esquerda de ‘médico’ são os artigos ‘o’ e ‘um’. Vale
ressaltar que das 251 ocorrências (63,58 a cada 10.000) de ‘médico’ no
MedlinePlus (PT), 168 estão precedidas de ‘seu’; enquanto no Ministério
da Saúde, das 130 ocorrências (15,46 a cada 10.000) da palavra, apenas
23 ocorrem ao lado de ‘seu’. Isso demonstra que ocorre uma interferência
do texto em inglês sobre o texto traduzido, visto que no inglês, das 247
992 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

ocorrências (71,05 a cada 10.000) de ‘doctor’, 204 estão antecedidas


por ‘your’.
Outra clara interferência dos textos-fonte é o uso de ‘sinais’ e
‘sintomas’ nos textos traduzidos. Enquanto há distinção entre os usos de
‘sinais’ e ‘sintomas’ no subcorpus dos textos escritos originalmente em
português, nas traduções há indícios de que a motivação se dê puramente
pelo uso de palavras cognatas no texto-fonte. Prova disso é que a grande
maioria das ocorrências de ‘signs’ foram traduzidas como ‘sinais’ (83 de
117 ocorrências), enquanto todas as ocorrências de ‘symptoms’ foram
traduzidas para ‘sintomas’. Adicionalmente, quando houve uso de Ø
nos originais em inglês foram traduzidas como ‘sintomas’ (ou seja, não
havia emprego nem da palavra ‘symptoms’ nem de ‘signs’), aparece o
emprego de ‘sintomas’ nas traduções, fazendo com que a palavra seja
empregada em contextos mais similares entre si. Isso pode ser explicado
pela influência do texto original sobre as decisões do tradutor, sendo que,
quando há Ø, o tradutor consegue se desprender do padrão de uso da
língua inglesa. Por exemplo, pode-se observar que ‘sintomas’ aparece
associado a ‘raiva’, ‘nervosismo’, ‘irritabilidade’ e ‘febre’, manifestações
essas que podem ser sentidas pela pessoa doente.
Pôde ser estabelecida a diferença entre os contextos de uso
de ‘sinais’ e ‘sintomas’ a partir do subcorpus do Ministério da Saúde.
Posteriormente, buscamos colocados também no Corpus do Português
(DAVIES, 2015), para fazer a comprovação dos resultados em um corpo
de textos que abrange diversas facetas da língua. Depreendemos que as
ocorrências de ‘sinais’ estão mais ligadas a demonstrações que podem
ser vistas, enquanto ‘sintomas’ se refere a sensações.

5 Considerações finais
No que diz respeito aos resultados quantitativos, foi possível
traçar algumas conclusões em relação aos levantamentos de palavras-
chave e n-gramas. A partir dos levantamentos de colocados das
palavras-chave, concluímos que os textos traduzidos apresentavam, em
diversos momentos, quebras de convencionalidade (TAGNIN, 2013),
distanciando-se dos padrões utilizados nos textos escritos originalmente
em português. Essas quebras de convencionalidade ocorrem devido ao
uso de palavras cognatas do inglês e de traduções prima facie, fugindo
dos padrões esperados para o português.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 993

Vale ressaltar que quebras de convencionalidade, causadas pela


influência do texto-fonte sobre o texto-alvo, podem gerar dificuldades
no entendimento do texto pelo leitor médio. Como exemplo, cita-se o
uso indiscriminado de ‘sinais’ e ‘sintomas’ no subcorpus do MedlinePlus
(PT). Ao deparar com um texto destinado ao público geral tratando
de doenças, é comum que parte dele foque em abordar os sintomas.
Entretanto, no âmbito dos textos de divulgação da área médica, o uso de
‘sinais’ pode causar uma quebra de expectativa no leitor, podendo fazer
com que ele não entenda a que tipo de manifestações o texto se refere,
por exemplo.
Além disso, por estar com a mente e o olhar no texto original,
o tradutor pode acabar não associando a ocorrência de uma palavra a
opções de tradução que vão além do seu cognato, como se observa na
tradução de ‘use’ pelo cognato ‘use’. Esse fenômeno configura o que
Baker (1993) denomina “terceira língua” na tradução, que é quando o
texto traduzido fica com características do texto-fonte, distanciando-se,
assim, de padrões de convencionalidade da língua-alvo.
Por essas razões, consideramos que a convencionalidade, sendo
analisada a partir de dados quantitativos levantados a partir de critérios
delimitados, pode auxiliar na avaliação da acessibilidade de um texto
com maior precisão do que somente a aplicação de métricas que partem
de noções superficiais do texto – como é o caso do Índice Flesch, que
se baseia somente em medidas de comprimento de frases e de palavras.
Nesse sentido, salienta-se a importância do uso de uma metodologia
que associe a análise quantitativa à análise qualitativa. A associação
dessas investigações, possibilitada por ferramentas que fazem cálculos
estatísticos somadas ao olhar do pesquisador, permite o enriquecimento
dos resultados da pesquisa.
Em relação a limitações do estudo, a maior delas foi o tamanho
dos corpora. Ao utilizar corpora paralelos em análises, é comum
que seu tamanho não seja tão expressivo quanto o de textos escritos
originalmente na língua. Isso ocorre porque o número de textos que se
enquadram nos critérios de seleção acaba se reduzindo, pois necessita-se
que estejam disponíveis tanto o texto-fonte quanto o texto-alvo. Devido
a essa barreira, foi necessário recorrer diretamente à análise das linhas
de concordância em momentos que o levantamento de colocados era
inconclusivo. Também foi necessário recorrer a um corpus maior, de
994 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

língua geral, a fim de confirmar os padrões de colocação de determinadas


palavras-chave.
Além disso, há outras limitações impostas ao estudo pelos
softwares utilizados para analisar os corpora. O Coh-Metrix-Port
estabelece um número máximo de palavras por texto para a análise, o
que fez com que parte dos textos do subcorpus do MedlinePlus (PT)
não fossem analisados pela ferramenta. Ademais, vale ressaltar que o
software AntConc não realiza etiquetagem ou lematização de corpus;
portanto, a fim de reduzir o número de palavras-chave dos corpora, foi
necessário partir para a lematização manual.
Por fim, julgamos que a quebra de convencionalidade em
traduções, conforme resultados apresentados na seção 4.2, compromete
mais a compreensão do texto do que o uso de palavras ou frases
consideradas longas. Portanto, acreditamos que a inteligibilidade está
diretamente relacionada à convencionalidade, ou seja, à manutenção de
padrões reconhecíveis pelo público leitor dos diferentes gêneros textuais.

Declaração das contribuições de cada autora


As autoras Yuli Souza Carvalho e Rozane Rodrigues Rebechi produziram
colaborativamente este artigo. A pesquisa de Mestrado relatada no
texto foi desenvolvida por Yuli Souza Carvalho, sob a orientação de
Rozane Rodrigues Rebechi, no Programa de Pós-Graduação em Letras
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Yuli Souza Carvalho
escreveu uma primeira versão do texto, participando da escrita de todas as
seções, principalmente das seções 2, 3 e 4, revisando as versões seguintes
do manuscrito, assim como formatando a versão final. Rozane Rodrigues
Rebechi participou da escrita de todas as seções, principalmente do
Resumo e do Abstract, da Introdução e das Considerações Finais, bem
como da revisão de todas as seções do manuscrito.

Referências
ANDREETTO, M. D. Por que os textos de divulgação são mais difíceis
para aprendizes de leitura com necessidades específicas do que textos
científicos? Um estudo direcionado pelo corpus. 2013. 172f. Dissertação
(Mestrado em Estudos Linguísticos e Literários em Inglês) – Faculdade
de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2013.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 995

ANTHONY, L. AntConc. Versão 3.5.8. Tokyo: Waseda University, 2019.


ANTHONY, L. AntPConc. Versão 1.2.1. Tokyo: Waseda University,
2017.
BAKER, M. Corpus Linguistics and Translation Studies: Implications
and Applications. In: BAKER, M.; FRANCIS, G.; TOGNINI-BONELLI,
E. (eds.). Text and Technology: In Honour of John Sinclair. Philadelphia:
John Benjamins, 1993. p. 233-250. DOI: https://doi.org/10.1075/
z.64.15bak
BERBER SARDINHA, T. Lingüística de Corpus. São Paulo: Manole,
2004.
BHATIA, V. K. Analysing Genre: Language Use in Professional Settings.
London; New York: Routledge, 1993.
BIDERMAN, M. T. C. Estatística linguística. Alfa, São Paulo, v. 11, p.
117-128, 1967.
BRASIL. Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de
Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência).
Brasília: Secretaria-Geral da Presidência da República, 2015.
BRASIL. Ministério da Saúde. Biblioteca Virtual em Saúde. Brasília:
Ministério da Saúde, 2018.BREZINA, V. Statistics in Corpus Linguistics:
A Practical Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. DOI:
https://doi.org/10.1017/9781316410899
DAVIES, M. Corpus do Português. Provo: Brigham Young University,
2015. Disponível em: https://www.corpusdoportugues.org/. Acesso em:
12 jun. 2020.
DUBAY, W. H. The Principles of Readability. California: Impact
Information, 2004.
FARKAS, A. LF Aligner. Versão 4.2. [s. l.]: Source Forge, 2018.
FINATTO, M. J. B. Acessibilidade textual e terminológica: promovendo
a tradução intralinguística. Revista Estudos Linguísticos, São José do
Rio Preto, v. 49, n. 1, p. 72-96, 2020. DOI: https://doi.org/10.21165/
el.v49i1.2775
FLESCH, R. The Art of Readable Writing. Nova York: Harper, 1949.
996 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

FRANKENBERG-GARCIA, A. Using a Parallel Corpus in Translation


Practice and Research. In: CONFERÊNCIA DE TRADUÇÃO
PORTUGUESA, 1., 2006, Caparica, Portugal. Actas da Contrapor.
Lisboa: [S.n.], 2006. p. 142-148.
FUCHS, S. N. Orientações culturais e suas implicações para a tradução
funcionalista: um estudo na área do turismo à luz da Linguística de
Corpus. 2018. 366f. Tese (Doutorado em Estudos da Tradução) –
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, SãoPaulo, 2018.
GABRIELATOS, C. Keyness Analysis: Nature, Metrics and Techniques.
In: MARCHI, A.; TAYLOR, C. (ed.). Corpus Approaches to Discourse:
A Critical Review. London: Routledge, 2018. p. 225-258. DOI: https://
doi.org/10.4324/9781315179346-11
GRAESSER, A. C. et al. Coh-Metrix. Version 3.0. Tennessee: University
of Memphis, 2017.
GRAESSER, A. C. et al. Coh-Metrix: Analysis of Text on Cohesion and
Language. Behavioral Research Methods, [S.l.], v. 36, n. 2, p. 193-202,
2004. DOI: https://doi.org/10.3758/BF03195564
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. IBGE.
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Educação 2018.
Rio de Janeiro: IBGE, 2019.
JENKINS, J. English as a lingua franca: Interpretations and Attitudes.
World Englishes, [S.l.], n. 28, v. 2, p. 200-207, 2009. DOI: https://doi.
org/10.1111/j.1467-971X.2009.01582.x
KRIEGER, M. G. Divulgação científica e terminologia. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL DE ESTUDOS DE GÊNEROS TEXTUAIS, 5.,
2009, Caxias do Sul. Anais [...]. Caxias do Sul: UCS, 2009. p. 1-11
MARTINS, T. B. F. et al. Readability Formulas Applied to Textbooks in
Brazilian Portuguese. Notas do ICMSC, São Paulo, n. 28, p. 1-11, 1996.
MASSARANI, L.; MOREIRA, I. C. A retórica e a ciência: dos artigos
originais à divulgação científica. MultiCiência, Campinas, n. 4, p. 1-12,
2005.
MORATO, R. G. Conceitos básicos de Estatística Descritiva. São Paulo:
Universidade de São Paulo, 2011.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021 997

NORD, C. Loyalty and Fidelity in Specialized Translation. Confluências,


[S.l.], n. 4, p. 29-42, 2006.
NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE LINGUÍSTICA COMPUTACIONAL
(NILC). Coh-Metrix-Port. Versão 3.0. São Paulo: Universidade de São
Paulo, NILC, 2020.
POJANAPUNYA, P.; TODD, R. W. Log-Likelihood and Odds Ratio:
Keyness Statistics for Different Purposes of Keyword Analysis. Corpus
Linguistics and Linguistic Theory, [S.l.], v. 14, n. 1, p. 133-167, 2018.
DOI: https://doi.org/10.1515/cllt-2015-0030
REBECHI, R. R. Fraseologias bilíngues português-inglês da culinária
brasileira: estudo direcionado pelo corpus. In: RIBEIRO, E. S.; TABOSA,
L. M. A.; SILVA, N. R. B. (org.). Tradução em três vertentes: teoria e
prática, intersemiose e Linguística de Corpus. Mossoró: Queima-Bucha,
2017. p. 201-220.
ROSSELLI, D. The Language of Biomedical Sciences. The Lancet,
Londres, v. 387, n. 10029, p. 1720-1721, 2016. DOI: https://doi.
org/10.1016/S0140-6736(16)30259-8
SANTIAGO, M. S. Redes de palavras-chave para artigos de divulgação
científica da Medicina: uma proposta à luz da Terminologia. 2007. 151f.
Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada) – Programa de Pós-
Graduação em Linguística Aplicada, Universidade do Vale do Rio dos
Sinos, São Leopoldo, 2007.
SCARTON, C. E.; ALMEIDA, D. M.; ALUÍSIO, S. M. Análise da
inteligibilidade de textos via ferramentas de Processamento de Língua
Natural: adaptando as métricas do Coh-Metrix para o Português. In:
BRAZILIAN SYMPOSIUM IN INFORMATION AND HUMAN
LANGUAGE TECHNOLOGY, 7., 2009, São Carlos. Proceedings […].
São Carlos: WikiCFP, v. 1, 2009. p. 1-10.
STEWART, D. Conventionality, Creativity and Translated Text: The
Implications of Electronic Corpora in Translation. In: OLOHAN, M. (org.).
Intercultural Faultlines. Manchester, Northampton: St. Jerome Publishing,
2000. p. 73-91. DOI: https://doi.org/10.4324/9781315759951-6
TAGNIN, S. E. O. O jeito que a gente diz: combinações consagradas em
inglês e português. Barueri: Disal, 2013.
998 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 959-998, 2021

U.S. CENSUS BUREAU. Current Population Survey. Annual Social and


Economic Supplement. Suitland: Census Bureau, 2017.
U.S. NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. MedlinePlus. Bethesda,
U.S.: Department of Health and Human Services, 2020.
ZAMBONI, L. M. S. Cientistas, jornalistas e a divulgação científica:
subjetividade e heterogeneidade no discurso de divulgação científica.
Campinas: Autores Associados, 2001.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

Propriedades linguísticas da redação do Enem:


uma análise computacional

Linguistic properties of Enem essays: a computational analysis

Roberlei Alves Bertucci


Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba, Paraná / Brasil
bertucci@utfpr.edu.br
https://orcid.org/0000-0003-4014-5610

Resumo: Este texto descreve algumas propriedades linguísticas recorrentes em textos


nota 1000 do Enem. Parte-se do princípio de que o gênero redação do Enem tem
características próprias, como a exposição aliada à argumentação, e que elementos
como repertório e amplo uso de conectivos e modalizadores podem contribuir para
a caracterização do texto. Nesta pesquisa, levando em conta o rigoroso processo de
avaliação pelo qual passam, consideram-se as redações nota 1000 como exemplares
prototípicos do gênero, ou seja, cumprem todos os requisitos exigidos pela banca. O
corpus é constituído de 95 redações que alcançaram a nota máxima nos anos de 2014,
2018 e 2019, analisadas por meio do software Tropes, uma ferramenta computacional
de análise lexical que verifica as recorrências de categorias e repertório. Os resultados
mostraram que tais redações apresentam uma estrutura muito próxima àquela que se
verifica na literatura sobre o tema, em especial o predomínio da estrutura impessoal
(terceira pessoa), a amplitude do repertório (universo de referência), a variedade e alta
frequência de conectivos e modalizadores, além da recorrência de verbos estativos, como
ser. Com isso, conclui-se tanto que a ferramenta contribui para a descrição do gênero
em questão quanto que os resultados fomentam um debate em torno da padronização
da estrutura do texto do Enem.
Palavras-chave: gênero textual; ferramenta computacional; redação do Enem;
propriedades linguísticas.

Abstract: This paper aims to describe some linguistic properties found in Enem
essays graded to 1000 points, the maximal score. It considers that this genre has its
own characteristics, such as the relation between exposition and argumentative types,
a wide repertoire, as well as a large use of connectives and modal elements, all of them

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.999-1032
1000 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

contribute to characterize this genre. In this research, by considering the strict evaluation
process, it has been considered that these essays graded to 1000 points prototypically
represent the genre, once that they meet the criteria required by the evaluation panel.
The corpus consists of 95 essays that got 1000 points in 2014, 2018 and 2019 exams. It
has been analyzed by means of Tropes, a computational tool that verifies the frequency
of lexical items group them in categories and repertoire. The results show that such
essays follow what the literature proposed by the genre, especially, the impersonality
(third person only), the vast repertoire extension (universe of reference), the range
of connectives and modal elements, besides the recurrence of stative verbs, such as
ser (‘to be’). Consequently, one concludes that both the tool contributes to the genre
description, and the results put forward the debate around the standardization of the
Enem essay structure.
Keywords: textual genre; computational tool; Enem essay; linguistic properties.

Recebido em 01 de outubro de 2020


Aceito em 25 de novembro de 2020

1 Introdução
Trabalhar com textos argumentativos requer do pesquisador
a capacidade de refletir sobre estratégias linguísticas que amarram as
ideias num todo capaz de defender uma tese. Em outras palavras, exige
que ele seja capaz de descrever os elementos textuais que apontam para
uma determinada conclusão argumentativa. Assim, a argumentação tem
sido colocada em foco nos estudos em linguagem, esta encarada como
meio de produção de interações sociais. Levando em conta esse caráter
da linguagem, Koch (2011, p. 15) defende o trabalho com o tema por
considerar que a argumentação caracteriza a ação linguística “dotada
de intencionalidade”. Além disso, para a autora, é pelo trabalho com
a argumentação que se pode desenvolver “a capacidade de refletir, de
maneira crítica, sobre o mundo”, por meio da linguagem (KOCH, 2011,
p. 15). De maneira mais completa, Koch (2011, p. 17, grifos da autora)
assinala que
a interação social por intermédio da língua caracteriza-se,
fundamentalmente, pela argumentatividade. Como ser dotado
de razão e vontade, o homem, constantemente, avalia, julga,
critica, isto é, forma juízos de valor. Por outro lado, por meio do
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1001

discurso – ação verbal dotada de intencionalidade – tenta influir


sobre o comportamento do outro ou fazer com que compartilhe
determinadas de suas [sic] opiniões. É por esta razão que se pode
afirmar que o ato de argumentar, isto é, de orientar o discurso
no sentido de determinadas conclusões, constitui o ato linguístico
fundamental, pois a todo e qualquer discurso subjaz uma
ideologia, na acepção mais ampla do termo.

Como se vê, Koch (2011) deixa claro seu posicionamento sobre


o papel central da argumentação nas ações linguísticas cotidianas, já que
os juízos que formamos, em geral, são compartilhados nessas interações,
concretizadas nos discursos produzidos.
Nesse sentido, as redações do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) são uma fonte interessante de estudo de argumentação.
Realizada por mais de 4 milhões de candidatos anualmente, a redação
do Enem é um texto que merece uma atenção por parte de professores
e pesquisadores, uma vez que o sucesso na prova pode contribuir para
a continuidade dos estudos de muitos estudantes a partir da política
educacional estabelecida (OLIVEIRA; CABRAL, 2017). Nessa prova,
além da exposição, discussão e análise de um tema, há uma necessidade
de articular informações de áreas diversas com coesão e coerência. Além
disso, conforme se lê nos enunciados das propostas – e na Cartilha
do Participante (BRASIL, 2019) –, o candidato precisa apontar uma
proposta de intervenção na situação-problema indicada no tema. Por essa
razão, selecionamos para este trabalho alguns exemplares de textos nota
1000 com a intenção de descrever as características linguísticas mais
recorrentes nesse gênero.
Nesta pesquisa, consideramos os textos nota 1000 como
prototípicos do gênero redação do Enem, porque, para a atribuição de
tal nota, é necessária uma avaliação criteriosa da banca a partir do que
exige o Exame. Sabe-se que a avaliação ocorre às cegas por no mínimo
dois profissionais capacitados para a atividade (BRASIL, 2019), mas,
no caso das redações que alcançaram a nota máxima, a atribuição é
realizada por outros profissionais que precisam ratificar a avaliação.
Essa prototipicidade tem levado alguns estudiosos a debaterem sobre
um excesso de padronização em detrimento de questões autorais (LIMA,
2019; PAIVA, 2020). Ainda que indiretamente, acreditamos que o
presente trabalho pode contribuir para o debate.
1002 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

Apesar dessa discussão em torno da padronização, dados revelam


que o número de textos que recebem a nota máxima vem caindo ao longo
dos processos, como se vê no Quadro 1.
QUADRO 1 – Número de redações nota 1000 (últimos 7 anos do Enem)

Ano do Enem Textos com nota 1000


2013 481
2014 250
2015 104
2016 77
2017 53
2018 55
2019 53

Fonte – Adaptado de Campos (2020).

Isso parece indicar que, apesar de a proposta de produção ser


basicamente a mesma ao longo dos anos, os textos parecem estar se
distanciando do padrão exigido.1 A pergunta que primeiramente motivou
o olhar para essas redações prototípicas foi: quais seriam as características
linguísticas recorrentes da redação do Enem, a partir do que é exigido
pelo Exame? Entendemos que a melhor resposta passaria por uma análise
dos textos que obtiveram nota máxima no certame.
Várias pesquisas têm sido feitas sobre a redação do Enem,
numa tentativa de se compreender melhor o gênero. Do ponto de vista
argumentativo, muitos trabalhos relacionam, por exemplo, os aspectos
da Nova Retórica com os textos do Enem, como se vê em Magalhães
(2013), Barros e Albuquerque (2015), Azevedo (2015), Oliveira, F.
(2016), Oliveira e Cabral (2017), Pinheiro e Cortez (2017), Bertucci (no
prelo), entre outros.

1
Apesar de não ser foco desta pesquisa, é igualmente válido considerar a subjetividade
da banca de avaliação, conforme sugerem Cançado et al. (2020), ou o fato de a mesma
banca ter se tornado mais rígida quanto à atribuição da nota máxima. Mesmo assim,
esperava-se que mais candidatos tirassem a nota máxima ao longo do tempo, em razão
de a preparação para o texto ser beneficiada pela recorrência do gênero no Exame.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1003

Do ponto de vista da estrutura, Bertucci et al. (2020) descrevem


a presença de recursos anafóricos nesses textos, mostrando como os
encapsulamentos contribuem para a coesão e a direção argumentativa do
texto. Um pouco mais próximo àquilo que realizamos aqui, Paiva (2020)
abordou um conjunto de 32 redações nota 1000 entre os anos de 2014 e
2017. A autora atentou-se para marcas estruturais no texto, as quais são
entendidas desta forma: “[...] o modo como o texto é composto e dividido,
ou seja, toda a sua teia de escolhas, desencadeamentos e composição
(...)”. Mais especificamente, olhou
para a presença ou não de título; quantidade de parágrafos;
quantidade de períodos por parágrafos; sequência das ideias,
evidenciando de que modo a tese, os argumentos e a proposta de
intervenção foram organizados; presença ou não de discurso direto
ou indireto; e a forma como os recursos linguísticos expressam
esses discursos. (PAIVA, 2020, p. 54.)

Ainda que a autora tenha comentado sobre elementos linguísticos


recorrentes, como o uso de verbos modais, o texto não enfoca aspectos
quantitativos, como pretendemos. Assim, podemos dizer que as pesquisas
mais próximas àquela que aqui desenvolvemos são de Pereira (2018) e
Silva (2018). Com um corpus bem menor (apenas 16 redações), Pereira
(2018) analisou elementos estruturais presentes em redações nota 1000
referentes ao ano de 2016, por meio do aplicativo Tropes. Paralelamente,
Silva (2018) descreveu diferenças importantes em relação aos textos nota
1000 (verificados por Pereira, 2018) e aqueles considerados medianos,
como o menor número de modalizadores ou conectivos. Sua análise,
por meio do mesmo software, foi feita a partir de um corpus de textos
de um curso preparatório.2
Nesse contexto, este trabalho tem como objetivo central descrever
as características linguísticas recorrentes da redação do Enem. Para isso,
selecionamos 95 textos de anos distintos, conforme sua disponibilidade:
20 (das 250) redações nota 1000 do processo de 2014, todas elas

2
Seguindo a correta orientação de um parecerista anônimo, não faremos uma
comparação em relação ao texto de Silva (2018), uma vez que o objetivo não é comparar
nossa descrição com a análise da autora, cujo corpus é diverso daquele analisado na
presente pesquisa (ela analisa textos considerados mediados, com notas abaixo de 700).
Por isso, deixamos ao leitor interessado no tema a referência para leitura adicional.
1004 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

divulgadas pela imprensa; 31 (dos 55) do Exame de 2018 e 44 (das 53)


de 2019, divulgadas por Felpi (2019, 2020, respectivamente). Após
essa coleta, utilizamos o Tropes, uma ferramenta computacional que
faz uma caracterização linguística de textos, baseada especialmente nas
ocorrências lexicais, já utilizada em outros trabalhos para análise de textos
de gêneros distintos (ARAÚJO, 2017; BERTUCCI, 2020)
Entendemos que a utilização de ferramentas digitais que favoreçam
a coleta e a análise de dados é essencial para a pesquisa empírica. É válido
dizer que a Linguística de Corpus vem aproveitando bem o surgimento
de novas tecnologias com o intuito de gravar, armazenar e analisar dados
(RASO; MELO, 2012; SARDINHA, 2000). Nesse âmbito, pode-se dizer
que houve avanços na descrição de gêneros textuais por meio de recursos
computacionais, algo que tem contribuído muito para o entendimento
das línguas, tal como se vê em Finatto (2017) – e nos artigos que fazem
parte daquele número temático. Apesar disso, muito há ainda por ser feito,
sendo importante destacar que o uso de ferramentas como o Tropes em
ambientes de ensino e/ou pesquisa pode ajudar.
Por isso, o presente trabalho pode contribuir para pelo menos duas
frentes distintas e complementares: a primeira, os estudos de corpora,
na tentativa de preencher as lacunas desse tipo de trabalho em especial
com gêneros escolares e com o uso de ferramentas digitais no Brasil;
a segunda, o ensino, uma vez que, bem delineadas as propriedades do
gênero em questão, os profissionais da área podem se beneficiar de
métodos diversos de análise desse tipo de texto – ou ao menos, como
indicamos antes, para um debate acerca da padronização do gênero.

2 Análise de gêneros e tecnologia

2.1 Linguagem e tecnologia


A discussão sobre a importância da tecnologia em nossas vidas
vem sendo posta em diferentes perspectivas de análise. Isso certamente
ocorre porque, como nos aponta Cupani (2016, p. 9) “a tecnologia nos
afeta e desafia qualquer que seja a nossa atividade”. E afeta porque
a ela estão relacionadas diferentes práticas cotidianas, inclusive as
linguísticas. Na mesma direção, o mesmo autor aponta que as técnicas
são “procedimentos sujeito a regras” e, por isso, passíveis de serem
aprendidas; são, ao mesmo tempo, “manifestações da capacidade humana
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1005

de fazer coisas” (CUPANI, 2016, p. 15). Consequentemente, os produtos


(artefatos) decorrem do saber-fazer do homem, que modifica o seu meio
também artisticamente, porque está carregado de criatividade para
concepção do processo e para chegar ao resultado planejado. Dessa forma,
tal procedimento está imbuído de regras relacionadas ao saber-fazer.
Nesse ponto, em que se concebe a tecnologia em relação direta
com o planejamento, destaca-se o papel da linguagem. Vieira Pinto
(2005) considera a linguagem um requisito essencial para planejamento
por seu caráter simbólico: foi por isso que ela permitiu avançar no
momento presente e estabelecer possibilidades de mudanças da realidade
para além das necessidades imediatas. Para o autor, não fosse isso, o
desenvolvimento de tecnologias associadas ao conhecimento, seria
mínimo ou até mesmo impossível. Assim, a linguagem também preenche
o requisito essencial para o desenvolvimento da própria tecnologia. Para
Cassirer (1994, p. 47-48, grifos do autor) o caráter simbólico é a chave
para se entender o próprio ser humano:
Entre o sistema receptor e o sistema de reação, que se encontram
em todas as espécies animais, encontramos no homem um terceiro
elo, que podemos descrever como o sistema simbólico; esta nova
aquisição transforma toda a vida humana. Em confronto com os
outros animais, o homem não vive apenas numa realidade mais
vasta; vive, por assim dizer, numa nova dimensão da realidade.

Como se lê acima, o sistema simbólico, ofereceu ao homem


condições claras de diferenciação dos outros animais, mas, sobretudo, de
superar dimensões mais próximas e desejar, planejar e até mesmo realizar
outras, trazendo-as à dimensão real. A linguagem, portanto, exerceu um
papel decisivo, por ser modeladora dessa capacidade.
Pode-se dizer que é graças a isso que as inovações modificam o
ambiente humano. Barton e Lee (2015) consideram que toda mudança
tecnológica causa alguma mudança na vida social; ou seja, à medida que
novas técnicas, processos e produtos aparecem, a vida das pessoas se
modifica. Como a linguagem é parte essencial no processo, não podemos
desconsiderar a relação plena entre texto/linguagem e tecnologias:
linguagem modificando práticas sociais (e tecnológicas) e tecnologias
modificando/influenciando práticas linguísticas.
Com isso, é possível se falar sempre em uma valoração da
tecnologia, seus processos e produtos. É por isso que Cupani (2016,
1006 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

p. 12) argumenta que “aquilo que denominamos tecnologia se apresenta,


pois, como uma realidade polifacetada: não apenas em forma de objetos e
conjuntos de objetos, mas também como sistemas, como processos, como
modo de proceder, como uma certa localidade”. Em outras palavras, se
o mundo está cada vez mais permeado de tecnologia e a linguagem é a
grande mediadora da sociedade com essa realidade, lança-se o desafio
aos estudiosos da área de identificarem objetos, processos e modos de
proceder na coleta e análise de dados.
Nesse contexto, a escola é um espaço propício para a discussão
da ciência e da tecnologia, pois tenta apresentar aos alunos de que forma
o homem chegou aos conhecimentos que transformaram criativamente
seu meio ao longo do tempo. Isso também se aplica aos gêneros textuais:
espera-se que as aulas de línguas levem o aluno a compreender e a aplicar
um “saber-fazer” específico para cada situação de interação linguística
por meio de gêneros. Quanto ao objeto desta pesquisa, há inclusive uma
série de aulas, vídeos e livros que apresentam supostas técnicas aos alunos
para conquistar a (quase impossível!) nota 1000 (ALVES; BESSA, 2018).
Por isso, é inconcebível se pensar em uma discussão de linguagem
e tecnologia sem se associar também a capacidade do homem de pensar
sobre o próprio fazer da linguagem, ou seja, sem desenvolver elementos
metalinguísticos específicos para ampliação das suas esferas de saber
(AUROUX, 2014). Dessa forma, os gêneros podem ser compreendidos
como parte fundamental dos processos de ensino-aprendizagem de língua,
os instrumentos pelos quais as trocas linguísticas se realizam.
Acrescenta-se a essa reflexão que a possibilidade de analisar
os gêneros por meio de ferramentas tecnológicas é uma das maneiras
de contribuir para o entendimento das línguas naturais e dos processos
relacionados à escrita. Isso nos leva a concluir que pesquisas de corpus
são essenciais para se atingir esse objetivo.
Quando tratamos das pesquisas em corpora, podemos observar
que o uso de tecnologias é um fato; afinal, ferramentas que contribuem
para coleta, armazenamento e análise de corpus de grande extensão
têm beneficiado as pesquisas, em especial com relação a textos escritos
no Brasil (RASO; MELO, 2012). Ao mesmo tempo, o uso da internet
tem facilitado também o acesso a gêneros que poderiam ficar restritos a
seu ambiente de produção, como é o caso da redação do Enem. Assim,
ações como de Felpi (2019, 2020), que compilou um bom número das
redações nota 1000 do Enem de 2018 e 2019, contribuem para que
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1007

pesquisadores e estudantes analisem padrões de textos caracterizados de


forma homogênea em uma situação, como é o caso da redação nota 1000.
O presente trabalho segue a tendência de análise com corpora de
textos escritos e para estudos relacionados ao gênero, com a possibilidade
de estudos relativos a corpora com propósitos específicos. Com isso,
acreditamos que a utilização de textos produzidos em ambientes formais
e monitorados (como o exame do Enem) pode fornecer elementos
importantes para o estudo da língua, seja para a análise do discurso, o
estudo de texto/gêneros, seja para a variação linguística, entre outros.
Nesse contexto, Finatto (2017) destaca a importância do apoio
computacional quer para a formação de corpora de diferentes modos
e fontes, quer para sua análise textual, em especial para a descrição
de gêneros textuais/discursivos. Concordamos com a autora, pois tal
apoio, especialmente para os linguistas, mostra que a tecnologia é um
meio que ajuda a explicar diferentes fenômenos da língua natural. Por
isso, este artigo quer colaborar para enfatizar o apoio dado de recursos
de tecnologia na área da linguagem, em especial dos gêneros textuais: a
partir da coleta de dados, vamos analisar o corpus por meio do Tropes.
Nesse sentido, destaca-se que a contribuição dos estudos com corpora é
oferecer aos pesquisadores a possibilidade de fazer análise de dados reais
e, para tal, a aplicação de recursos de coleta, armazenamento e análise
de dados é importante (SARDINHA, 2000).
Sobre a extensão de nosso corpus, nos baseamos na ideia de
representatividade exposta em Sardinha (2000). Para o autor, o tamanho
do corpus é menos importante que os dados, em si, que devem ser
agrupados conforme critérios do pesquisador. Nesse aspecto, o que é de
fato necessário é sua representatividade linguística em algum contexto.
Logo, não se deve definir um tamanho mínimo para um corpus, ainda
que seja fundamental o fato de ser entendido como suficientemente
representativo. Além disso, embora não tenha extensão pré-definida, a
representatividade é, logicamente, melhor caracterizada quanto maior
for o corpus. Quando específicos (e não abertos), os corpora são de
acesso exclusivo do pesquisador, que os produzem para uma finalidade
pré-determinada, não sendo disponíveis para outros pesquisadores e,
consequentemente, acabam não sendo “verificáveis, o que compromete
a pesquisa em termos de sua replicabilidade e generabilidade”
(SARDINHA 2000, p. 348). Acreditamos que os 95 textos do nosso
corpus sejam suficientemente representativos para uma compreensão
1008 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

geral do gênero em questão, inclusive porque, só do ano de 2019, há 44


textos no corpus, dos 53 possíveis.
De qualquer modo, se as ferramentas tecnológicas são meio
para análise dos gêneros, poderíamos pensar, igualmente, que os
próprios gêneros (em especial os escritos) são também uma tecnologia.
Se tomarmos a perspectiva da língua humana como “instrumento” de
interação e ação do homem no mundo, podemos atribuir-lhe um caráter
tecnológico: como instrumento, a língua é um meio para se alcançar um
determinado objetivo, exigindo dos falantes um amplo conhecimento de
suas capacidades para cumprir com suas funções.
Nesse contexto, assumimos que os gêneros escritos são um tipo de
tecnologia, não só por exigirem a escrita (também uma tecnologia, como
sustenta Auroux (2014)), como pelo caráter de planificação (próprio da
tecnologia, como defende Vieira Pinto (2005)), uma vez que pesquisas
têm demonstrado que o planejamento é essencial para construção de
textos escritos (CABRAL, 2013; OLIVEIRA, 2018).
A respeito disso, Campos e Ribeiro (2013, p. 25) afirmam que a
natureza do gênero é ser
[...] um instrumento semiótico que é apropriado por sujeitos,
os quais, uma vez instrumentalizados, podem adquirir novos
conhecimentos e saberes. Em outras palavras, instrumentalizado
em alguns gêneros, o sujeito é capaz de alçar voo de forma
independente porque desenvolve habilidades que lhe permitem
usar a língua nas mais variadas práticas sociais, que são mediadas
pelos gêneros.

Para tal instrumentalização, a escola tem um papel essencial, já


que deveria possibilitar aos estudantes refletirem sobre o fazer linguístico
em situações diversas, especialmente aquelas de maior complexidade,
que exigem graus de letramento mais aprofundados (como a escrita). Por
isso, Wachowicz (2010) defende que cabe à escola promover práticas
em que os gêneros sejam os instrumentos por meio dos quais os alunos
se relacionem com a cultura letrada. Por exemplo, o gênero artigo de
opinião de um jornal é o instrumento socialmente elaborado que o jornal
utiliza para estabelecer sua relação com o leitor; caberia, assim, à escola
instrumentalizar o aluno para a ação sobre esse gênero, seja na leitura,
seja na produção, seja na interação com o jornal que produziu esse
artigo. Da mesma maneira que compreendemos a técnica da fabricação
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1009

de artefatos como mediação das ações humanas no mundo do trabalho,


e tecnologia como um pensar sobre essas ações, tornando-as mais
eficientes, compreendemos os gêneros como mediadores da produção de
conteúdo linguístico, que permitem aos homens agir no mundo letrado.
Acreditamos, portanto, que a relação entre linguagem e tecnologia se dá
na medida em que ambas se utilizam do aprimoramento de instrumentos
para se concretizarem como práticas sociais.

2.2 O gênero redação do Enem


A redação do Enem é chamada de texto dissertativo-argumentativo,
uma mescla de tipos textuais. Cantarin et al. (2017, p. 83) consideram
que dissertar é “[...] fazer uma reflexão teórica sobre um assunto”, o
que pressupõe que o autor lance mão de seu repertório sociocultural e
utilize recursos de diferentes naturezas na exposição. Já a argumentação,
numa perspectiva retórica, por exemplo (FIORIN, 2017; PERELMAN;
OLBRECHTS-TYTECA, 2014), está ligada à capacidade de convencer
um determinado auditório, a partir de relações possíveis, prováveis e
plausíveis (e não por demonstrações lógicas, por exemplo). O candidato
usa o seu conhecimento para expor uma questão; mas, ao articular as
informações escolhidas, acaba por construir um argumento em torno de
um ponto de vista.
Em textos argumentativos, como o que analisamos nesta pesquisa,
o planejamento pode contribuir para o projeto do autor na defesa de
um ponto de vista, já que um produtor “instrumentalizado” no gênero
seria capaz de traçar um caminho argumentativo claro em seu texto.
Coroa (2017, p. 52) sugere que a escrita desse tipo de texto segue um
mapeamento por parte do autor: “a cada marca ou pista, ele avança, recua
ou reorienta seu caminho.” No caso dos textos nota 1000, considerando
a avaliação criteriosa, o planejamento se revela na completa coerência
do texto com relação ao ponto de vista defendido, aos argumentos que o
sustentam e às propostas de intervenção sugeridas pelo candidato. Assim
é essa materialização que se realiza no gênero e que propomos pode ser
de alguma forma descrita pelo Tropes.
Ao tratar dos tipos textuais, Garcez (2017a, p. 45) ressalta que
eles “se definem pela natureza linguística intrínseca de sua composição.
As escolhas lexicais, os aspectos sintáticos, o emprego de tempos verbais,
as relações lógicas estabelecidas definem o tipo textual.” Por isso,
1010 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

levantamos a hipótese de que haja recorrência de elementos linguísticos


nos textos prototípicos do Enem (nota 1000).
De início, um ponto importante a ser reforçado é o fato de o texto
do Enem ser considerado um gênero misto (dissertativo-argumentativo),
o que significa dizer que a argumentação, ali, exige uma exposição
do tema – como se disse, é aqui que o repertório vai contribuir para
a dissertação. Coroa (2017) e Cantarin et al. (2017) mostram que a
dissertação, entendida como exposição ou aprofundamento do tema, é
essencial no texto do Enem. Nesse sentido, a redação também requer uma
descrição de diferentes aspectos e relativamente aprofundada do tema, de
tal forma que os argumentos se sustentem nesse contexto. De modo bem
específico sobre a exposição, Cantarin et al. (2017, p. 85) afirmam que
linguisticamente, há elementos básicos para a exposição, como
a utilização de verbos no presente do indicativo (“exercem”,
“surge”, “é”), especialmente os de ligação (“ser” e “estar”, por
exemplo), e marcadores de qualidade e classe, como adjetivos
(“diferentes”, “grande”, “infantil”) e substantivos (“processo”,
“poder”, “hábitos”), entre outros elementos.

O uso de verbos estativos (“ser” e “estar”, por exemplo) ou de


adjetivos, por exemplo, são importantes nesse gênero e devem indicar que
o texto está dissertando sobre o tema, e ao mesmo tempo, argumentando,
pela escolha de tais itens, conforme sugerem os mesmos autores.
Passando para a argumentação, é preciso dizer que o tipo
argumentativo é bastante complexo. Coroa (2017), ao comparar a
possibilidade de caracterização dos tipos, sustenta que as características de
organização textual são de difícil identificação para o tipo argumentativo,
embora recorra,
com muita frequência às relações lógicas para demonstrar a
verdade daquilo que diz, como as de causa e consequência e as de
condição. Comumente tais relações são expressas por conectivos
de finalidade, de causa, de justificativa, como em “por causa das
múltiplas realidades” ou em “a fim de que, não importa quais
sejam os resultados de nossos estudos, nosso compromisso”.
Mas também a seleção lexical, como “complexa”, “múltiplas
realidades”, “elementos significativos”, deve estar a serviço do
objetivo. (COROA, 2017, p. 61.)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1011

Como se vê, a autora indica aspectos importantes para a


caracterização do tipo argumentativo no texto do Enem, em especial o
cuidado com as relações lógicas e a seleção lexical, que pode indicar o
repertório do candidato. Para Peixoto (2017, p. 163), são exatamente os
conectivos os elementos responsáveis pela introdução da argumentação
no texto: “argumentos com diferentes forças e orientações discursivas
são colocados na cena textual pelos chamados operadores e conectivos
argumentativos.”
Outro fator importante é a análise com relação aos modalizadores.
Autores como Koch (2011) defendem que esses elementos são formas
importantes de mostrar um posicionamento do autor em relação ao
conteúdo que expressa. Por isso, além de verbos modais, como “dever”
e “poder”, por exemplo, é importante que se verifique a ocorrência de
outros marcadores de modalidade no texto, em especial advérbios. Neste
trabalho, procuramos descrever a frequência de modalizadores presentes
no corpus, imaginando que muitos deles serão aqueles adequados para
caracterizar a argumentação no texto (uma vez que é prototípico do
gênero).
Um último ponto de destaque vem da (im)pessoalidade no gênero
sob análise. Garcez (2017b, p. 276, grifos nossos) afirma que “o Enem,
tradicionalmente, exige um texto dissertativo-argumentativo, ou seja, aquele
que apresenta ideias e informações e é impessoal (preferencialmente
deve-se evitar a primeira pessoa) (...). Um bom modelo desse gênero
é o editorial jornalístico”. Essa “preferência” pela impessoalidade não
significa, no entanto, que o candidato que usar primeira pessoa possa ser
prejudicado pela escolha de registro, como afirmam Sandoval et al. (2017).
Ainda assim, o uso de pronomes de alguma pessoa que não a terceira é
um fator a ser investigado também neste trabalho.
Tudo isso vai ao encontro do que se lê em uma cartilha do
participante do Enem (BRASIL, 2019), a qual detalha que o candidato
precisa defender um ponto de vista com argumentos consistentes e elencar
uma proposta de intervenção para o problema discutido. Concluímos
que o conjunto de textos aqui analisados cumpriu de modo exemplar
essas indicações, já que foram avaliados com a nota máxima pela banca
de correção.
O mesmo material detalha aos candidatos as cinco competências
avaliadas no processo, indicando inclusive uma matriz de referência de
notas, em que se apontam os motivos pelos quais os avaliadores atribuem
1012 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

notas de 0 a 200 para cada competência. O Quadro 2 a seguir resume os


objetivos de cada competência e a descrição do modo como se avalia
um texto com nota máxima em cada uma delas.
QUADRO 2 – Competências avaliadas na redação do Enem

Competência Objetivo Para nota máxima (200 pontos)


Demonstra excelente domínio da
modalidade escrita formal da língua
Demonstrar domínio da portuguesa e de escolha de registro.
1 modalidade escrita formal da Desvios gramaticais ou de convenções
língua portuguesa. da escrita serão aceitos somente
como excepcionalidade e quando não
caracterizarem reincidência.
Compreender a proposta de
redação e aplicar conceitos das Desenvolve o tema por meio de
várias áreas de conhecimento argumentação consistente, a partir de
2 para desenvolver o tema, dentro um repertório sociocultural produtivo,
dos limites estruturais do texto e apresenta excelente domínio do texto
dissertativo-argumentativo em dissertativo-argumentativo.
prosa.
Apresenta informações, fatos e opiniões
Selecionar, relacionar, organizar
relacionados ao tema proposto, de
e interpretar informações, fatos,
3 forma consistente e organizada,
opiniões e argumentos em
configurando autoria, em defesa de um
defesa de um ponto de vista.
ponto de vista.
Demonstrar conhecimento
Articula bem as partes do texto e
dos mecanismos linguísticos
4 apresenta repertório diversificado de
necessários para a construção da
recursos coesivos
argumentação.

Elaborar proposta de Elabora muito bem proposta de


intervenção para o problema intervenção, detalhada, relacionada
5
abordado, respeitando os ao tema e articulada à discussão
direitos humanos. desenvolvida no texto.
Fonte: Adaptado de Brasil (2019)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1013

Novamente, podemos sustentar que o conjunto em análise na


presente pesquisa é composto de textos que cumpriram com excelência
todos os requisitos indicados pelas competências. Sendo exemplares
prototípicos, levantamos a hipótese de que devem ser formados por itens
recorrentes, os quais podem estar intimamente ligados às características
do gênero textual em questão. É o que pretendemos verificar a partir
da próxima seção, em que apresentamos a metodologia e análise dos
dados. Vamos descrever a ferramenta Tropes, os textos selecionados e
os resultados obtidos.

3 Metodologia e análise dos dados

3.1 Dados, ferramenta e hipóteses


Para esta pesquisa, selecionamos um conjunto de 95 textos nota
1000 do Enem, sendo divididos desta forma: 20 textos do exame de
2014, disponíveis na imprensa;3 31 redações de 2018, disponibilizados
por Felpi (2019); e 44 redações de 2019, disponibilizadas por Felpi
(2020). O objetivo era verificar os elementos recorrentes no conjunto
que pudessem descrever o gênero redação do Enem.
A análise foi realizada por meio do Tropes, uma ferramenta de
análise textual em versão gratuita. Criado nos anos 90, pela Semantic-
Knowledge (Acetic), com sede em Paris, o Tropes é uma das ferramentas
que a empresa desenvolveu para análise textual. Por meio da incorporação
de conhecimentos advindos da área de Processamento de Linguagem
Natural, o objetivo do software era servir para estudos de áreas diversas,
como de Sistemas de Informação, Sociologia e Linguística, por exemplo.
Araújo (2017, p. 300) observa que
[este] software destaca-se pelo processamento semântico de
textos em línguas naturais. Para descrever as características
dos enunciados em análise, o Tropes 7.2.3 vale-se de critérios
linguísticos pré-programados e os associa às estruturas linguísticas
encontradas nos textos processados.

3
Entre os exemplos está o portal G1: Redações nota 1000: Disponível em: <http://
g1.globo.com/educacao/enem/2015/noticia/2015/05/leia-redacoes-do-enem-que-
tiraram-nota-maxima-no-exame-de-2014.html > Acesso em: 17 jul. 2018.
1014 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

Por suas características de análise lexical, o programa faz um


processamento do qual decorrem informações como o “estilo textual”,
o contexto básico relativo ao texto, denominado de “Universo de
referências” (sendo uma espécie de mapeamento do repertório mobilizado
no texto), e dados quantitativos referentes a classes lexicais. A Figura 1
apresenta a tela de abertura da ferramenta.
FIGURA 1 – Tela inicial do Tropes

Fonte: Tropes.

Neste trabalho, vamos enfatizar dois pontos: o universo de


referência, pela relação com o repertório e o tema; e a frequência de
classes lexicais, que tem relação com os elementos linguísticos que
constituem o gênero. No primeiro caso, o software relaciona palavras
de mesmo campo semântico, criando conjuntos de referência. Para a
referência de “sociedade”, por exemplo, ele agrupa expressões como
família, qualidade de vida e população entre muitas outras. Nesse caso,
acreditamos que o aplicativo poderá indicar o universo mais próximo do
tema proposto bem como o repertório utilizado nas redações.4

4
O aplicativo oferece subdivisões do Universo de referência; aqui, apresentaremos a
mais geral, intitulada “Universo de referência 1”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1015

No segundo caso, verificaremos a ocorrência das classes. Entre


os conectivos, o Tropes divide a classe em condição, causa, finalidade
(escopo), adição, disjunção, oposição, comparação, tempo e lugar; os
modalizadores são divididos em tempo, lugar, modo, afirmação, negação,
dúvida e intensidade; os verbos em factivos, estativos, declarativos e
performativos; os adjetivos entre subjetivos, objetivos e numéricos; os
pronomes entre primeira, segunda, terceira pessoa e o clítico se.
Considerando as funcionalidades do software5 e as características
da redação do Enem, apresentadas anteriormente, levantamos as seguintes
hipóteses a serem testadas no conjunto de dados por meio do Tropes:

1. Espera-se um volume grande de repertório (universo de referência)


mobilizado pelos autores, o que favorece a exposição e, articulado,
leva à argumentação – Cantarin et al. (2017).
2. Haverá uma variedade nos tipos de conectivos, já que as relações
presentes no texto argumentativo os exigem – Coroa (2017) e
Peixoto (2017).
3. Haverá variedade de modalizadores, com enfoque para aquelas
classes que contribuem mais para processos argumentativos, como
os de modo e intensidade – Koch (2011).
4. Espera-se uma alta frequência de estativos pelo caráter de
exposição (ser e estar, por exemplo) e modalização (poder e
dever, por exemplo) – Cantarin et al. (2017).
5. Haverá alta frequência de adjetivos pela exigência da dissertação/
descrição – Cantarin et al. (2017).
6. Espera-se um predomínio da terceira pessoa – Garcez (2017b).

A seguir, apresentamos os resultados e verificamos se as hipóteses


foram corroboradas ou não pelos dados analisados no corpus com as 95
redações nota 1000.

5
Para mais informações sobre o aplicativo, sugerimos Araújo (2017) e Bertucci (2020).
1016 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

3.2 Resultados e análise


3.2.1 Universo de referência/repertório
Os primeiros dados que colhemos do conjunto de redações diz
respeito ao repertório utilizado nos textos. A especificação “Universo de
referência” no aplicativo apresentou os seguintes resultados, conforme
os Quadros 3 a 5.
QUADRO 3 – Principais classes no universo de referência (2014)

Referência/Classe Ocorrências Exemplos

vida_humana 475 idade, crianças, propaganda

conceitos_gerais 377 padrões, necessidade, produto

negócios 147 consumo, publicidade, mercado

sociedade 78 pais, filhos, família

Fonte: Elaboração própria com dados do Tropes.

QUADRO 4 – Principais classes no universo de referência (2018)

Referência/Classe Ocorrências Exemplos

vida_humana 761 liberdade, indivíduo, manipulação

conceitos_gerais 691 comportamento, conteúdo, perfil

comunicação_e_mídia 170 linguagem, internet, comunicação

educação_e_ensino 79 educação, ensino, escola

Fonte: Elaboração própria com dados do Tropes.

QUADRO 5 – Principais classes no universo de referência (2019)

Referência/Classe Ocorrências Exemplos

conceitos_gerais 1278 inclusão, desenvolvimento, acesso

vida_humana 757 poder, conhecimento, construção

arte_e_cultura 557 cinema, cultura, arte

sociedade 217 classes sociais, sociedade, população

Fonte: Elaboração própria com dados do Tropes.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1017

Como se percebe nos dados, os itens ‘vida_humana” e “conceitos_


gerais” são os mais frequentes nos três conjuntos de redações nota 1000
analisados. Isso parece indicar que os textos tratam de um conjunto de
elementos relativos à sociedade (o que pode ser reforçado pela presença
do item “sociedade” em dois conjuntos), cuja abordagem é de caráter
teórico/conceitual. É uma sugestão de leitura dos dados e que, na prática,
pode ser confirmada por uma análise qualitativa adicional. Outro ponto
de destaque é que o universo de referência pode ser considerado amplo
nos três casos: verificamos que, em média, 35 conjuntos de relações no
universo de referência foram mobilizados nas redações. Sem dúvida, o
ideal seria uma análise individual de cada redação para uma média por
redação, tal como fez Pereira (2018). Analisando redações nota 1000,
ela observou um total de 33 classes no universo de referência em seu
corpus – o que se aproxima do nosso número. Além disso, verificou
que, em média, cada candidato mobilizou cerca de 16,5 universos
distintos. No nosso caso, quando se observam os dados de forma mais
específica, verificam-se distintas categorias tais como filosofia, história,
economia, ciência, entre muitas outras, o que revela um amplo repertório
mobilizado. Esse é um ponto que parece ser decisivo para a categorização
das redações nota 1000.
Com isso, acreditamos que a Hipótese 1, relativa ao repertório,
foi parcialmente corroborada pelos dados – mas apenas uma análise
individual das redações poderia dar uma noção mais precisa. A variedade
observada favorece, portanto, a exposição, um dos elementos essenciais
para a construção do gênero. Vale acrescentar ainda que a frequência
observada nos Quadros 3 a 5 sugere uma relação próxima dos textos com
a temática proposta, ou seja, os candidatos se mantiveram no escopo do
tema solicitado: em 2014, o tema foi “A publicidade infantil em questão
no Brasil”, por isso negócios e sociedade aparecem também entre os itens
mais frequentes do universo de referência; em 2018, o tema solicitado
foi “A manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados
da internet”, por isso comunicação_e_mídia foi bastante recorrente;
finalmente, o tema de 2019 foi “Democratização do acesso ao cinema
no Brasil”, o que explica a recorrência do item arte_e_cultura.
Finalmente, cabe a observação de que a mobilização de um amplo
repertório parece estar ligada, primeiramente, às articulações expositivas
no texto. Para Coroa (2017), o tipo dissertativo privilegia a exposição
de uma ideia, enquanto, enquanto o argumentativo, o modo como se
1018 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

defende um ponto de vista. Logo, no tipo dissertativo-argumentativo,


essa exposição é mobilizada em favor de uma argumentação. Nesse
sentido, o repertório estaria ligado à noção de legitimação e produtividade
que aparecem nos materiais referentes à avaliação da redação do Enem
(INEP, 2020). Assim, como os dados apontam para uma recorrência do
fato, é possível que os candidatos treinem essa mobilização de diversos
universos de referência com o objetivo de dar credibilidade à sua redação
dissertativo-argumentativa.

3.2.2 Conectivos
A Tabela 1 resume o resultado obtido com a análise das 95
redações nota 1000.
TABELA 1 – Ocorrência de conectivos

2014 2018 2019 Geral


Conectivo Total % Total % Total % Total %

Adição 190 59 294 58,3 361 51,5 845 55,4

Causa 8 2,5 33 6,6 49 6,9 90 6

Comparação 22 6,9 49 9,7 97 13,9 168 11

Condição 30 9,4 42 8,4 78 11,1 150 9,9

Disjunção 15 4,6 16 3,2 23 3,3 54 3,5

Escopo (fim) 15 4,6 31 6,2 21 3 67 4,4

Lugar 2 0,6 0 0 8 1,2 10 0,6

Oposição 27 8,4 30 6 52 7,4 109 7,1

Tempo 12 3,7 8 1,6 12 1,8 32 2,1

TOTAL 321 100 503 100 701 100 1525 100


Fonte: Elaboração própria com dados do Tropes.

Os dados revelam que a categoria de adição é a mais frequente,


com mais de 55% das ocorrências entre os conectivos. Isso é fruto,
certamente, da alta frequência da conjunção em português, em especial
pela possibilidade de ser usada em posição interior ao sintagma e não
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1019

apenas para ligação de orações, períodos ou parágrafos.6 Outras conjunções


que merecem destaque são as de comparação (11%), de condição (9,9%),
oposição (7,1%) e causa (6%), exemplificadas respectivamente por
como, mesmo que, no entanto e uma vez que. Todas elas são essenciais
para a construção do teor argumentativo, para o direcionamento que o
autor pretende dar no texto. Além disso, cabe ressaltar ainda dois pontos:
primeiro, que todas as categorias foram contempladas na análise corpus,
sendo as de lugar e tempo as menos frequentes – o que é de se esperar
em textos de teor argumentativo. De fato, conforme observa Coroa
(2017), espera-se mais elementos de referência temporal na narração e
de referência espacial na descrição. Em segundo lugar, que, dado o total
de 1.525 conectivos, tem-se uma média de 16 categorias distintas para
cada uma das 95 redações analisadas. Pereira (2018) havia observado
um total de 308 conectivos nas 16 redações analisadas, o que dá uma
média próxima de 19 por texto. Nesse caso, também se observou uma
alta frequência do conectivo de adição (acima de 54%) e porcentagens
similares àquelas encontradas aqui para as outras categorias.
Isso parece indicar que a quantidade de conectivos no texto é tão
relevante quanto sua variedade. E, de fato, isso está de acordo os materiais
sobre a Competência 4 para avaliadores (GARCEZ; CORRÊA, 2017;
INEP, 2020), que orientam sobre a diversidade e sobre a frequência dos
elementos de coesão (como os conectivos) na redação do Enem. Em geral,
tais materiais sugerem que uma redação do Enem deve apresentar pelo
menos dois conectivos interparágrafos e pelo menos um intraparágrafos, o
que já poderia contabilizaria um número de 6 conectivos (no mínimo) em
uma redação de 4 parágrafos. Mas, quando se olha para a especificação
das competências (INEP, 2020), percebe-se uma orientação para
atribuição de nota máxima apenas aos casos de presença expressiva,
com adequação e sem repetições, de elementos coesivos, o que deve
explicar a recorrência nos textos nota 1000. Neste caso, reforçamos,
como se trata de textos avaliados com a nota máxima, pode-se dizer
que a quantidade e a qualidade do emprego foram importantes para a
argumentação, sobretudo pela necessidade do uso dos conectivos para a

6
Uma rápida pesquisa no site “Corpus do Português”, com a entrada “e”, devolveu mais
de 34 milhões de ocorrências no termo (num corpus de mais de 1 bilhão de palavras).
A título de comparação, a conjunção “mas” apareceu em mais de 3 milhões de casos,
o que corresponde a apenas 10% de “e”.
1020 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

construção da argumentação. Portanto, podemos concluir que os dados


corroboram a Hipótese 2, sobre a variedade com relação aos tipos de
conectivos exigidos no gênero.

3.2.3 Modalizadores
A Tabela 2 resume o resultado sobre os modalizadores.
TABELA 2 – Ocorrência de modalizadores

2014 2018 2019 Geral


Modalizador Total % Total % Total % Total %

Afirmação 08 3 12 3,2 19 3 39 3

Dúvida 02 0,7 2 0,5 0 0 04 0,3

Intensidade 91 33,7 98 26,2 238 35 427 32,3

Lugar 07 2,6 6 1,5 17 2,6 30 2,3

Modo 65 24.1 142 38,1 204 30 411 31.1

Negação 52 19,3 44 12,4 107 15,5 203 15,4

Tempo 45 16,6 66 18,1 96 14 207 15,6

TOTAL 270 100 370 100 681 100 1321 100


Fonte: Elaboração própria com dados do Tropes.

Os dados mostram um fenômeno interessante: modalizadores


de modo (como advérbios terminados em -mente) e intensidade (como
sobretudo) predominam no tipo de texto em análise, revelando um
posicionamento do autor em relação ao fato apresentado. Ainda que
não esperada, a alta frequência da categoria de negação é explicada pelo
amplo uso de não nos textos, outra palavra frequente na língua (quase
10 milhões indicadas no site “Corpus do Português”). Igualmente, a
frequência da categoria de tempo parece estar relacionada com o uso
de advérbios como atualmente e hoje. No entanto, uma pesquisa mais
específica, com cada uma das redações, seria necessária para uma
explicação mais minuciosa.
Com relação aos dados totais, temos uma média de 13,9
modalizadores para cada uma das 95 redações analisadas, um número
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1021

próximo dos 15,7 encontrados por Pereira (2018). Novamente, percebe-


se que a maior frequência aliada a uma variedade de modalizadores
parece constituir o gênero do ponto de vista da sua prototipicidade.
Assim, tais dados revelam que os modalizadores, além de indicarem a
capacidade do candidato em articular elementos linguísticos importantes
para a construção da sua argumentação, se constituem como indícios de
autoria importantes no texto dissertativo-argumentativo: é por meio do
uso de elementos como esses que o autor modaliza as vozes/discursos
que apresenta no texto (COSTA; GUEDES, 2017). Portanto, os dados
apresentados corroboram para a Hipótese 3 a respeito da variedade de
modalizadores, com enfoque para modo e intensidade.
De modo adicional, podemos dizer que o emprego dos
modalizadores estaria ligado mais ao caráter argumentativo que
dissertativo, na diferenciação dos tipos proposta por Coroa (2017). São
esses elementos que vão contribuir para que o texto tenha um caráter de
defesa de ponto de vista sobre o tema, a partir das informações e fatos
mobilizados pelos candidatos. Ou seja, são eles que contribuem para a
formação das estratégias argumentativas que sustentarão o texto.

3.2.4 Verbos
Na Tabela 3 são apresentados os dados relativos à frequência
dos tipos de verbos.
TABELA 3 – Frequência de verbos

2014 2018 2019 Geral


Verbo Total % Total % Total % Total %

Factivo 727 69,2 1225 73 1642 68,9 3594 70,3

Estativo 302 28,7 418 24,9 689 28,9 1409 27,5

Outros 23 2,1 36 2,2 52 2,2 111 2,2

TOTAL 1.052 100 1679 100 2383 100 5114 100


Fonte: Elaboração Própria com dados do Tropes.

Os números relativos ao corpus em análise demonstram que os


verbos classificados como factivos (verbos de ação) são predominantes.
Ainda que o índice de 27,5% de estativos seja significativo, o resultado
1022 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

geral parece ir na contramão da Hipótese 4, que afirmava sobre a alta


frequência dos estativos. Pereira (2018), que também encontrou uma
alta frequência de factivos em seu corpus, recorre a Araújo e Cunha
(2009, p. 33-34) para explicar a relação dessa classe de verbos com a
argumentação: os autores consideram que essa categoria “é aquela em
que um sujeito intencional e animado realiza uma ação e essa ação afeta
(ou efetua) um objeto paciente”. Para Pereira (2018), essa ação com
intencionalidade que afeta um paciente é percebida no encadeamento
lógico (de ações/reflexões que se sucedem), exigido na redação do Enem,
e que culmina com a proposta de intervenção. Vê-se como adequada,
portanto, a presença de verbos factivos. Apesar disso, decidimos verificar
no corpus quais verbos eram os mais frequentes desse total de 5114. O
resultado se vê na Tabela 4.
TABELA 4 – Verbos mais frequentes

Geral
Verbo Total % (do total de 5114)

ser 792 15,5

dever 142 2,8

poder 141 2,8

ter 111 2,2

tornar 92 1,8

TOTAL 1278 25

Fonte: Elaboração Própria com dados do Tropes.

À primeira vista, os dados parecem contradizer a alta frequência


de verbos factivos observada nos dados anteriores, uma vez que os cinco
verbos mais frequentes no corpus são todos estativos: ser, dever, poder,
ter e tornar, sendo que apenas o primeiro agrega mais de 15% do total
de 5114 verbos etiquetados pelo Tropes. No entanto, a verdade é que
tais números atestam a hipótese levantada a respeito da alta frequência
de estativos esperada no corpus, sobretudo pelo papel que esses verbos
têm na língua. Por isso, três outros pontos podem ser relacionados aos
dados. O primeiro sobre o uso de modalizadores, como poder e dever.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1023

Assim como se viu antes, a modalização é um processo esperado em


textos argumentativos e, além dos advérbios, o uso de verbos modais é
uma marca para essa ação linguística. Tal fato explica que esses verbos
tenham uma frequência alta nos textos. O segundo ponto é com relação
ao uso de ser. Bertucci (no prelo) mostra que o uso do argumento de
definição é muito recorrente em textos do Enem e, para a construção
desse tipo de argumento, um dos verbos mais recorrentes é exatamente
o verbo ser. Finalmente, Pereira (2018) também observou índices gerais
muito parecidos com o que apresentamos aqui, seja das classes verbais,
seja dos exemplos em si. Assim, os números que apresentamos vão ao
encontro da proposta de que as redações do Enem se caracterizam pela
alta frequência de estativos específicos e de uma predominância de
factivos.
Nesse sentido, podemos sugerir que, apesar de percentualmente
inferiores, os verbos estativos são essenciais tanto para o caráter
expositivo do texto quanto para o teor argumentativo pretendido pelo
autor, em especial no uso de verbos modais e na formação de estruturas
opinativas, como aquelas formadas com adjetivos (PADILHA, em
preparação). Logo, no contexto de ensino, por exemplo, não se deve
concluir que um tipo de verbo deve predominar: o que se espera é um
emprego adequado (e não quantificado), ainda que os dados revelem
pontos interessantes sobre a redação do Enem como gênero textual.

3.2.5 Adjetivos
O resultado da análise sobre adjetivos pode ser visto na Tabela 5.
TABELA 5 – Frequência de adjetivos

2014 2018 2019 Geral


Adjetivo Total % Total % Total % Total %

Objetivo 301 48,6 418 46,3 670 45,7 1389 46,5

Subjetivo 300 48,5 400 44,7 644 43,8 1344 45

Numérico 18 2,9 81 9 155 10,6 254 8,5

TOTAL 619 100 899 100 1469 100 2987 100


Fonte: Elaboração própria com dados do Tropes.
1024 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

No que diz respeito à subcategorização de adjetivos, os dados


revelam um relativo equilíbrio entre adjetivos classificados como
objetivos (infantil, social, cultural entre outros) e aqueles marcados como
subjetivos (necessário, grande, importante entre outros). Observa-se que
o número de adjetivos utilizados (2987) é bastante alto, comparado ao de
verbos (5114), ainda mais se se considerar que o verbo é um elemento
essencial numa oração, mas o adjetivo não. O que se percebe é que os
adjetivos têm um papel relevante em textos como do Enem, uma vez
que são um meio também de revelar o posicionamento do autor. Isso
fica claro, sobretudo, com os subjetivos, que são articulados em torno de
um ponto de vista em relação a um fato apresentado, tal como observa
Padilha (em preparação). Para a autora, a forte presença dos subjetivos,
em especial aqueles de caráter modal e gradual, contribui para a noção
argumentativa no texto, muito mais do que para uma simples exposição
do tema. Voltando à Hipótese 5, podemos constatar que a média de
adjetivos para cada uma das 95 redações é de 31,4, o que daria cerca de
um adjetivo por linha, na redação do Enem. Isso mostra a importância
da categoria nesse gênero e corrobora a referida hipótese.

3.2.6 Pronomes
Finalmente, a última categoria sob análise é dos pronomes. O
Tropes destacou uma única referência à primeira pessoa do singular e
observamos nos textos que se referia ao trecho seguinte, presente na
redação 3 da cartilha referente ao Exame de 2018.
Em segundo lugar, o ser humano perde a sua capacidade de
escolha. Conforme o conceito de “Mortificação do Eu”, do
sociólogo Erving Goffman, é possível entender o que ocorre na
internet que induz o indivíduo a ter um comportamento alienado.
(FELPI, 2019, p. 11, grifos nossos)

Nesse caso, o uso do pronome é feito como citação/menção


e não como uso por parte do candidato. Vale destacar ainda que o
aplicativo destacou 276 ocorrências do clítico -se, que tem a função
de impessoalizar a ação verbal (ou seja, é também um item de terceira
pessoa). Pereira (2018), com o já referido corpus de 16 redações nota
1000, fez observações semelhantes às nossas. Tudo isso, então, corrobora
a Hipótese 6, sobre a predominância da terceira pessoa em textos do
Enem.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1025

Nesse ponto, é importante destacar que os materiais relativos à


avaliação da redação do Enem não excluem a possibilidade de escrita
do texto em primeira pessoa (BRASIL, 2019; GARCÊZ; CORREA,
2017; INEP, 2020; SANDOVAL et al., 2017). No entanto, o que se vê
nos dados é que os textos avaliados com a nota máxima não apresentam
pronomes dessa categoria, o que é um indício de que a avaliação se dá
num nível bastante restrito de impessoalização do texto, valorizando a
escrita em terceira pessoa. Não nos parece justo dizer que a argumentação
exija, em si, uma impessoalização; pelo contrário: pessoalizar pode ser
uma forma de persuasão bastante válida, como mostram Freitas e Marra
(2016) a respeito de anúncios publicitários. Este ponto, aliás como todos
os já comentados aqui, merece mais espaço de estudo em português
brasileiro, em especial no que tange à caracterização dos gêneros e, por
consequência, suas possibilidades de reflexão e ensino.

4 Considerações finais
Os resultados da presente pesquisa nos permitem defender que
ferramentas computacionais contribuem na descrição de gêneros textuais/
discursivos, porque são capazes de analisar volumes de dados maiores do
que aqueles que se faz manualmente (impensáveis para um pesquisador
ou professor). Nesse sentido, pensamos ter justificado a importância da
relação entre linguagem, tecnologia e um estudo de corpus com gêneros
escolares, uma vez que pode ter impacto no modo como se analisam e
se produzem os textos em ambientes de letramento.
Isso não significa, obviamente, que o ensino de produção textual
deva ser comparado a uma receita pronta, uma vez que a ação linguística
é extremamente complexa. No entanto, compreender as recorrências
de um gênero pode contribuir para ampliar a capacidade de reflexão de
professores e estudantes a respeito do fazer linguístico, especialmente de
textos que se mostram bastante formatados, como a redação do Enem. Por
isso, tentamos discutir os dados à luz dos materiais oficiais referentes à
prova, além de outras pesquisas, como uma forma de vincular os dados
ao modo como se interpreta (ou avalia) o texto escrito no Exame.
A partir da proposta de utilizarmos o Tropes para análise dos
dados, podemos concluir que ele apresentou um panorama geral relativo
às propriedades linguísticas das redações nota 1000 que são coerentes
1026 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

com aquilo que se vê na literatura sobre esse tipo de texto. Com isso,
concordando com Araújo (2017) e Bertucci (2020), pensamos que o
Tropes contribui para a identificação de elementos linguísticos que
caracterizam um gênero. Deixamos em aberto, no entanto, pesquisas
que possam analisar suas limitações e possíveis inconsistências de
análise. Entre as que identificamos, há a marcação dos artigos o e a como
pronomes oblíquos de terceira pessoa, o que, no entanto, não prejudica
as conclusões gerais apresentadas, em especial porque o número de
pronomes de primeira e segunda pessoa foi nulo no corpus.
No presente trabalho, também não tratamos de questões a respeito
do debate sobre a padronização do gênero, nem de como essa descrição
realizada pode contribuir para o ensino de produção textual, ou seja, para
a discussão do “saber-fazer” que a tecnologia metalinguística abarca
na escola, uma vez que não era nossa intenção fornecer um manual
de ensino do gênero, mas analisar um conjunto significativo de textos
prototípicos do Enem e mostrar que a ferramenta Tropes pode contribuir
para a descrição de textos. Ao leitor interessado nesse tópico, no entanto,
a divulgação do material de apoio para avaliadores, divulgado em 2017
pelo Inep (GARCEZ; CORRÊA, 2017), e dos materiais para formação
de avaliadores (INEP, 2020), recentemente disponibilizados, podem
auxiliar a entender as minúcias desse gênero textual/discursivo exigido
no Enem, com ênfase na produção e avaliação dos textos.
Por fim, entendemos que será uma grande contribuição, tanto
para a área acadêmica, quanto para a pedagógica, que profissionais se
debrucem sobre questões como as apresentadas aqui e desenvolvam
estratégias que contribuam para um ensino da língua que, realmente,
ajudem os alunos a fazer escolhas linguísticas relevantes na construção
de seus textos. Reiteramos que isso não significa haver uma receita, mas
pode ser um olhar diferente para a constituição do gênero. Igualmente
relevantes são pesquisas com aplicativos como o aqui usado e com
corpora similares, a fim de se contribuir para o entendimento de gêneros
e para sua instrumentalização.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1027

Referências
ALVES, W. M.; BESSA, J. C. R. Orientações para escrita da redação do
Enem em vídeos do Youtube. Hipertextus, Recife, v. 19, n. 1, p. 1-23,
2018. Disponível em: https://periodicos.ufpe.br/revistas/hipertextus/
article/view/247974/36463. Acesso em: 1 out. 2020.
ARAÚJO, L. S. de. O gênero entrevista radiofônica em comunidades
hispânicas: um aporte da Análise Textual Automática. Domínios de
Linguagem, Uberlândia, v. 11, n. 2, p. 289-312, 2017. Disponível em:
https://doi.org/10.14393/DL29-v11n2a2017-2. Acesso em: 1 out. 2020.
ARAÚJO, F. de C.; CUNHA, M. A. F. da. A estrutura argumental dos
verbos de ação. PublICa, Natal, v. 3, n. 1, p. 28-35, 2009. Disponível
em: https://periodicos.ufrn.br/publica/article/view/106. Acesso em: 1
out 2020.
AUROUX, S. A revolução tecnológica da gramatização. 3. ed. Campinas:
Editora da UNICAMP, 2014.
AZEVEDO, I. C. M. Organização de textos dissertativo-argumentativos
em prosa: o que se percebe em dez anos de realização do Enem? In:
SILVA, L. R. da; FREITAG, R. M. K. (org.). Linguagem, interação e
sociedade: diálogos sobre o Enem. João Pessoa: Editora do CCTA, 2015.
p. 33-50.
BARROS, M.; ALBUQUERQUE, M. G. As técnicas argumentativas e
a construção de sentidos em redações do Enem. In: SEMINÁRIO DE
ESTUDOS SOBRE DISCURSO E ARGUMENTAÇÃO, 2., 2015, Belo
Horizonte. Anais... Belo Horizonte: Editora Fale, 2015. p. 545-559.
BARTON, D.; LEE, C. Linguagem online: textos e práticas digitais. Trad.
Milton Camargo Mota. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2015.
BERTUCCI, R. A. Aplicação de ferramentas para coleta e análise de
dados em Linguística. Diacrítica, Braga, Portugal, v. 32, n. 3, p. 129-155,
2020. DOI: https://doi.org/10.21814/diacritica.576
BERTUCCI, R. A. Análise do argumento por definição em redações do
Enem. Acta Scientiarum, Maringá, PR. (no prelo).
1028 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

BERTUCCI, R. A.; MALHEIROS, A. J.; LOPES, W. de S. Ocorrências


de anáforas encapsuladoras em redações do Enem. Filologia e Linguística
Portuguesa, São Paulo, v. 22, n. 1, p. 81-102, 2020. DOI: 10.11606/
issn.2176-9419.v22i1p81-102. Disponível em: https://www.revistas.usp.
br/flp/article/view/164142. Acesso em: 23 nov. 2020.
BRASIL. Redação no Enem 2019: cartilha do participante. Brasília:
Daeb/Inep/MEC, 2019. Disponível em: http://download.inep.gov.br/
educacao_basica/enem/downloads/2019/redacao_enem2019_cartilha_
participante.pdf. Acesso em: 1. out. 2019.
CABRAL, A. L. T. O conceito de plano de texto. Linha d’Água, São
Paulo, n. 26, v. 2, p. 241-259, 2013. Disponível em: https://www.revistas.
usp.br/linhadagua/article/download/64266/71562/. Acesso em: 1 ago.
2019.
CAMPOS, L. V. Mais de 143 mil participantes tiraram zero na redação do
Enem 2019. Brasil Escola, Site Uol, 17 jan. 2020. Disponível em: https://
vestibular.brasilescola.uol.com.br/enem/mais-143-mil-participantes-
tiraram-zero-na-redacao-enem-2019/347183.html. Acesso em: 28 set.
2020.
CAMPOS, C. M.; RIBEIRO, J. Gêneros. In: COSTA, I. B.; FOLTRAN,
M. J. (org.). A tessitura da escrita. São Paulo: Contexto, 2013. p. 23-44.
CANÇADO, M.; AMARAL, L.; AMORIN, E.; VELOSO, A.; MELLO,
H. Subjetividade em correções de redações: detecção automática através
de léxico de operadores de viés linguístico. Linguamática, Braga, v. 12,
n. 1, p. 63-79. 2020. DOI: https://doi.org/10.21814/lm.12.1.313.
CANTARIN, M.; BERTUCCI, R. A.; ALMEIDA, R. C. de. A análise do
texto dissertativo-argumentativo. In: GARCEZ, L. H.; CORRÊA, V. R.
(org.). Textos dissertativo-argumentativos: subsídios para a qualificação
de avaliadores, Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira, 2017. p. 81-91.
CASSIRER, E. Ensaio sobre o homem: introdução a uma filosofia da
cultura humana. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
COROA, M. L. O texto dissertativo-argumentativo. In: GARCEZ, L.
H. do C.; CORRÊA, V. R. (org.). Textos dissertativo-argumentativos:
subsídios para a qualificação de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017. p. 59-71.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1029

CORPUS do Português. Disponível em: https://www.corpusdoportugues.


org/. Acesso em: 30 set. 2020.
COSTA, J. de R. O.; GUEDES, M. A. A avaliação dos indícios de autoria.
In: GARCEZ, L. H. do C.; CORRÊA, V. R. (org.). Textos dissertativo-
argumentativos: subsídios para qualificação de avaliadores Brasília:
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,
2017. p. 101-108.
CUPANI, A. Filosofia da tecnologia: um convite. Florianópolis: Editora
da UFSC, 2016.
FELPI, L. (org.). Cartilha redação a mil. 2019. Disponível em: https://
www.lucasfelpi.com.br/redamil. Acesso em: 1 out. 2020.
FELPI, L. (org.). Cartilha redação a mil 2.0. 2020. Disponível em: https://
www.lucasfelpi.com.br/redamil. Acesso em: 1 out. 2020.
FINATTO, M. J. B. Apresentação: descrição dos gêneros textuais/
discursivos com apoio computacional. Domínios de Lingu@gem,
Uberlândia, v. 11, n. 2, p. 282-288. 2017. DOI: https://doi.org/10.14393/
DL29-v11n2a2017-1.
FIORIN, J. L. Argumentação. São Paulo: Contexto, 2017.
FREITAS, H. C.; MARRA, M. N. A. Tipos de argumentos utilizados
nos anúncios publicitários das Havaianas. Domínios de Lingu@gem,
Uberlândia, v. 10, n. 1, p. 304-329, 2016. DOI: https://doi.org/10.14393/
DL21-v10n1a2016-16.
GARCEZ, L. H. do C. Gênero e tipo de texto. In: GARCEZ, L. H. do C.;
CORRÊA, V. R. (org.). Textos dissertativos-argumentativos: subsídios
para qualificação de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017a. p. 51-58.
GARCEZ, L. H. do C. O ensino de redação. In: GARCEZ, L. H. do C.;
CORRÊA, V. R. (org.). Textos dissertativos-argumentativos: subsídios
para qualificação de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017b. p. 275-279.
GARCEZ, L. H. C.; CORRÊA, V. R. (org.). Textos dissertativo-
argumentativos: subsídios para a qualificação de avaliadores.
Brasília: Inep, 2017. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/
documents/186968/484421/TEXTOS+DISSERTATIVO+ARGUME
1030 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

NTATIVOS/7809ef0d-5a4a-4c24-9a03-9db15e0bdacf?version=1.0.
Acesso em: 28 set. 2020.
INEP disponibiliza material inédito sobre correção da redação do Enem.
Portal do MEC, Brasília, 2020. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/
pronatec/oferta-voluntaria/418-noticias/enem-946573306/90611-inep-
disponibiliza-material-inedito-sobre-correcao-da-redacao-do-enem.
Acesso em: 28 set. 2020.
KOCH, I. G. V. Argumentação e linguagem. 13. ed. São Paulo: Cortez,
2011.
LIMA, L. I. Mapeamento semântico da construção de autoria no Ensino
Médio. 2019. 163f. Tese (Doutorado em Letras) - Setor de Ciências
Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal do Paraná, 2019.
Disponível em: http://www.prppg.ufpr.br/siga/visitante/trabalhoConcl
usaoWS?idpessoal=29931&idprograma=40001016016P7&anobase=2
019&idtc=1533. Acesso em: 01 out. 2020.
MAGALHÃES, M. M. A argumentação em redações escolares. In:
SILEL – SIMPÓSIO NACIONAL E INTERNACIONAL DE LETRAS
E LINGUÍSTICA, 2013, Uberlândia. Anais... Uberlândia: EDUFU, 2013,
p. 1-13. Disponível em: http://www.ileel.ufu.br/anaisdosilel/wp-content/
uploads/2014/04/silel2013_645.pdf. Acesso em: 8. Jun. 2020.
OLIVEIRA, F. C. C. de. Um estudo sobre a caracterização do gênero
redação do ENEM. 2016. 166f. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro
de Humanidades, Universidade Federal do Ceará, 2016.
OLIVEIRA, W. R. de. Planejamento de escrita em meio digital e
analógico. 2018. 175f. Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagens)
- Departamento Acadêmico de Linguagem e Comunicação, Universidade
Tecnológica Federal do Paraná, 2018. Disponível em: http://repositorio.
utfpr.edu.br/jspui/handle/1/3319. Acesso em: 1 out. 2020.
OLIVEIRA, M. I. S.; CABRAL, A. L. T. Política de Língua Portuguesa
para o ensino de Redação no nível médio da educação brasileira: o texto
argumentativo dos PCN’s à redação do Enem. Verbum, São Paulo, v. 6, n.
2, p. 6-30. 2017. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/verbum/article/
view/30274. Acesso em: 1 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021 1031

PADILHA, M. P. O papel modalizador dos adjetivos em redações do


Enem. Dissertação (Mestrado em Estudos de Linguagens) – Departamento
Acadêmico de Linguagem e Comunicação, Universidade Tecnológica
Federal do Paraná. Em preparação.
PAIVA, R. I. de S. Redações nota mil no ENEM: um estudo analítico
da massificação se sua estrutura e conteúdo. 2020. 132f. Dissertação
(Mestrado em Estudos de Linguagem) – Centro de Ciências Humanas,
Letras e Artes, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020.
Disponível em: https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/29929.
Acesso em: 1 out. 2020.
PEIXOTO, J. dos S. A avaliação do emprego de operadores e conectivos
argumentativos. In: GARCEZ, L. H. do C.; CORRÊA, V. R. (org.). Textos
dissertativos-argumentativos: subsídios para qualificação de avaliadores.
Brasília: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira, 2017. p. 163-171.
PEREIRA, K. A. P. L. A contribuição de um analisador automático para
a caracterização de gêneros textuais. 2018. 83f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Letras) - Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, 2018. Disponível em: http://repositorio.roca.utfpr.edu.br/jspui/
handle/1/11580. Acesso em: 1 out. 2020.
PERELMAN, C.; OLBRECHTS-TYTECA, L. Tratado da argumentação:
a nova retórica. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2014.
PINHEIRO, C.; CORTEZ, J. Teorias da argumentação na prova de
redação do ENEM. Linguagem & Ensino, Pelotas, v. 20, n. 1, p. 61-80.
2017. Disponível em: https://doi.org/10.15210/rle.v20i1.15215. Acesso
em: 1 out. 2020.
RASO, T.; MELLO, H. (org.). C-ORAL-BRASIL I: corpus de referência
do português brasileiro falado informal. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2012.
SANDOVAL, A. N.; ALCÂNTARA, S. S.; ZANDOMÊNICO, S. C. M.
de R. Notas sobre a avaliação de desvios de registro. In: GARCEZ, L.
H. do C.; CORRÊA, V. R. (org.). Textos dissertativos-argumentativos:
subsídios para qualificação de avaliadores. Brasília: Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2017. p. 29-35.
1032 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 999-1032, 2021

SARDINHA, T. B. Corpus Linguistics: History and problematization.


DELTA, São Paulo, v. 2, n. 16, p. 323–367, 2000. Disponível em: http://
dx.doi.org/10.1590/S0102-44502000000200005. Acesso em: 26 abr.
2018.
SILVA, N. S. Análise textual mediada por ferramenta computacional:
um estudo sobre redações estilo Enem. 2018. 73f. Trabalho de Conclusão
de Curso (Graduação em Letras) - Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, 2018.
TROPES. Semantic-Knowledge: text analysis, qualitative analysis & text
mining. [s.d.]. Disponível em: https://www.semantic-knowledge.com/
tropes.htm. Acesso em: 30 jun. 2018.
VIEIRA PINTO, Á. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2005.
WACHOWICZ, T. C. Análise linguística nos gêneros textuais. Curitiba:
Intersaberes, 2010.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

Sujeito oculto às claras: uma abordagem


descritivo-computacional

Omitted subjects revealed: a quantitative-descriptive approach

Cláudia Freitas
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro / Brasil
claudiafreitas@puc-rio.br
https://orcid.org/0000-0001-6807-8558

Elvis de Souza
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro / Brasil
elvis.desouza99@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9373-7412

Resumo: Neste trabalho, apresentamos estudos descritivos e computacionais


relacionados ao sujeito oculto. Em um primeiro momento, realizamos uma descrição
de cunho quantitativo, tomando por base três corpora dos gêneros jornalístico,
literário e enciclopédico. Especificamente, quantificamos o sujeito oculto em cada
um dos corpora, e encontramos sujeitos omitidos em 24%, 41% e 46% das orações,
respectivamente. Em um segundo momento, por meio de uma estratégia baseada em
regras, reconstituímos esses sujeitos e os devolvemos aos corpora, com o objetivo de
avaliar o quanto a omissão do sujeito é capaz de impactar o aprendizado automático
de dependências sintáticas. Os resultados indicam que a reconstituição formal do
sujeito pode melhorar a aprendizagem das dependências sintáticas em até 2% quando
consideramos a métrica CLAS, evidenciando o papel relevante da modelagem linguística
no aprendizado automático.
Palavras-chave: descrição linguística; sujeito oculto; omissão de sujeito; dependências
sintáticas; linguística computacional; aprendizado de máquina; linguística de corpus.

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1033-1058
1034 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

Abstract: In this paper, we present descriptive and computational studies related to


omitted subjects. Firstly, we develop a quantitative descriptive study based on three
corpora, which consist of journalistic, literary and encyclopedic genres. Specifically,
we quantify the omitted subjects in sentences for each of these corpora; omitted
subjects were found in 24%, 41% and 46% of their sentences, respectively. Secondly,
applying rule-based strategies, we reconstitute those subjects and place them back to
the corpora, with the goal of evaluating how much the omission of subjects can impact
the automatic learning of syntactic dependencies. The results indicate that the formal
subject reconstitution can enhance the learning of syntactic dependencies in up to 2%
according to the CLAS metric, highlighting the relevant role of linguistic modeling in
the automatic learning process.
Keywords: linguistic description; omitted subject; syntactic dependencies;
computational linguistics; machine learning; corpus linguistics.

Submetido em 07 de outubro de 2020


Aceito em 14 de dezembro de 2020

1 Introdução
A articulação entre o Processamento (automático) de Linguagem
Natural (PLN) e os estudos linguísticos vem ganhando força nos últimos
anos, alterando um pouco o quadro descrito em 2007 por Karen Sparck-
Jones quando constata o distanciamento entre a linguística e a linguística
computacional. Muito dessa reaproximação se deve ao trabalho de
anotação de corpora que, como já apontado em Sampson (2001), é,
também, um trabalho de descrição linguística.
Neste artigo, contribuímos com mais um elemento na aproximação
entre os dois campos, e o fazemos não pelo viés da anotação, mas partindo
de corpora já anotados para a descrição de um fenômeno linguístico
de grande relevância para uma série de tarefas de PLN em português:
o sujeito oculto. Após uma caracterização linguística do fenômeno,
voltamo-nos para o PLN, a fim de medir o quanto a ausência de sujeitos
em uma oração pode dificultar o processamento sintático automático.
Uma das áreas de atuação do PLN é a extração de informação
(EI). Ainda que, tradicionalmente, a extração de informação consista na
detecção automática de informações relativa a certos atores pré-definidos,
como pessoas, lugares e organizações para indicar, simplificadamente,
quem faz o quê, tomada em um sentido amplo, várias tarefas do PLN podem
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1035

ser agrupadas como variações de um jogo que consiste em vasculhar uma


imensa quantidade de textos com o objetivo de encontrar algum tipo de
conteúdo (ou informação), e incluímos aqui tanto opiniões quanto dados
factuais sobre alvos pré-determinados. A partir daí, com a concatenação
dos conteúdos extraídos, podem-se construir novos fatos, ou hipóteses,
que serão explorados posteriormente. Em termos metodológicos, a busca
pelo conteúdo se dá por meio da identificação de padrões que podem ser
codificados como relações (proposições) com um número variável de
argumentos e/ou modificadores, como indicado abaixo:
MariaARG1 estava tristePred
MariaARG1 sorriuPred
MariaARG1 comprouPred uma bicicletaARG2
MariaARG1 emprestouPred dinheiroARG2 para o irmãoARG3 mês passadoMOD1

Ainda que consideremos os diferentes focos de interesse


envolvidos na identificação e extração de conteúdos em textos, em boa
parte deles a identificação do agente responsável pelas ações/atividades
detectadas é crucial. Este quem, em geral, se manifesta como o sujeito da
oração, e por isso a identificação do sujeito é de extrema relevância para
uma boa parcela de tarefas, como identificação de papéis semânticos,
identificação e análise de opiniões e sentimentos, extração de citações,
além da extração de informação propriamente.
No entanto, na língua portuguesa, diferentemente do inglês
(língua que concentra boa parte das pesquisas em PLN), a possibilidade
de omissão do sujeito em contextos em que este é facilmente recuperável,
o chamado “sujeito oculto”, é um dado a mais a ser considerado. Trata-se
de um fenômeno cuja resolução, por pessoas, costuma ser trivial, mas
que, para as máquinas, impede a construção de relações (ou proposições)
adequadas, porque deixa de levar em conta um dos argumentos da
proposição. Marcus et al. (1993), no contexto do Penn Treebank, afirmam
que a maneira mais simples de incluir informação sobre a estrutura de
predicado-argumento é permitindo que a árvore sintática contenha, de
maneira explícita, os elementos nulos.
Além disso, como apontam Hartmann et al. (2014) no contexto
da língua portuguesa, a inserção de elementos nulos contribuiria para
reduzir o problema da escassez de dados, sendo, portanto, um aspecto
altamente relevante em abordagens de aprendizagem de máquina.
1036 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

Ou seja, a presença de sujeitos ocultos traria um desafio adicional ao


processamento sintático automático.
Por fim, no que se refere ao processamento humano e ao
letramento, é possível que a omissão do sujeito – como, aliás, a omissão
de qualquer termo na estrutura frasal, conforme sugerido em Finatto et al.
(2011) – seja mais um elemento a trazer complexidade aos textos. Deste
modo, estratégias capazes de identificá-lo com precisão contribuem para
a verificação do grau de dificuldade de um texto. E, do mesmo modo,
estratégias capazes de reconstituí-los promoveriam uma simplificação
textual.
Do ponto de vista do PLN de língua portuguesa, o quanto de
informação perdemos quando não explicitamos o sujeito? Precisamos
de algum tratamento especial para resolver a questão, ou se trata de um
fenômeno periférico? Tais perguntas poderiam ser facilmente respondidas
pelos estudos descritivos, mas não sabemos de nenhum que se dedique
ao tema de um ponto de vista quantitativo. É neste espaço que nos
colocamos, trazendo, em uma primeira etapa, dados de grandes corpora
com características textuais distintas: um corpus de textos jornalísticos,
um corpus de textos literários e um corpus de textos enciclopédicos,
que juntos somam mais de 17 milhões de unidades/1 685 mil frases.
Os resultados mostram que a ocorrência de sujeitos omitidos não é
desprezível, indo de 24% a 46%, conforme o tipo de texto.
Em uma segunda etapa, informados de que a quantidade de
orações que não apresentam um sujeito sintático explícito é relevante,
realizamos um experimento de PLN no qual reintroduzimos os sujeitos
omitidos e treinamos um modelo de aprendizagem de máquina, com
o objetivo de verificar o quanto a omissão de sujeito prejudica o
processamento automático. Os resultados mostram uma melhora de até
2% no aprendizado quando reconstituímos os sujeitos, sugerindo que um
dataset cuja construção leva em conta características linguisticamente
motivadas é capaz de contribuir no processamento automático no nível
sintático.
Ao longo do artigo, apresentamos estudos sobre o sujeito
oculto na língua portuguesa a partir de duas perspectivas distintas,

1
Ao longo do texto, usamos a palavra unidade como uma tradução do inglês token, isto
é, uma unidade mínima de anotação, já tendo sido separadas as contrações de verbos
e pronomes, preposições e artigos, etc.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1037

mas complementares: de um ponto de vista linguístico-descritivo,


quantificamos o fenômeno do sujeito oculto; de um ponto de vista
linguístico-computacional, medimos o quanto este fenômeno dificulta
o processamento automático. Em ambos os casos, utilizamos corpora e
ferramentas públicos.
O presente estudo é conduzido sob o framework do projeto
Universal Dependencies (NIVRE et al., 2016), uma abordagem
multilíngue para o processamento computacional das línguas. Ao
apresentar aqui os dados e procedimentos para o português, esperamos
também contribuir para um quadro mais geral de descrição de diferentes
línguas no que se refere à omissão do sujeito.
O restante do artigo se organiza da seguinte maneira: na seção 2,
apresentamos o fenômeno do sujeito oculto em português, especificando
o objeto que nos interessa tratar; na seção 3, indicamos alguns trabalhos
sobre o tema na perspectiva dos estudos com corpus e do PLN, e na
seção 4 detalhamos a metodologia do estudo descritivo, cujos resultados
são analisados na seção 5. Por fim, na seção 6 relatamos um pequeno
experimento cujo objetivo é medir o impacto da omissão do sujeito na
aprendizagem sintática; e na seção 7 tecemos algumas considerações
finais.

2 A omissão do sujeito em português


A língua portuguesa licencia a omissão de sujeito nas frases
de diferentes maneiras: (i) o sujeito oculto propriamente, ou sujeito
elíptico; (ii) o chamado sujeito indeterminado e, ainda, (iii) as orações
sem sujeito (veja-se por exemplo LUFT, 2002). Especificamente, nos
interessam os casos do primeiro tipo (frases 1, 5, 6 e 7, abaixo), e frases
do segundo tipo (frase 2). Deste modo, igualamos o que gramáticas
tradicionais distinguem, já que, em ambos os casos, existe um sujeito a
ser explicitado, ainda que não haja sujeito formal. Pelo mesmo motivo,
não levamos em conta as chamadas orações sem sujeito, como frases com
verbos impessoais (frase 3) e com verbos indicativos de fenômenos da
natureza (frase 4), já que, nesses casos, não há sujeito a ser explicitado.2

2
Todos os exemplos foram retirados do corpus Bosque, a parte revista do projeto
Floresta Sintá(c)tica (AFONSO et al., 2002; FREITAS et al., 2008).
1038 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

1. “Eu tentei, o senhor Vance tentou, se for respeitado, urrah!”,


comentou.
2. Sempre que surge um problema, chamam-na.
3. Há, no ar, uma certa ideia de invasão.
4. Desde há já alguns anos que chove «a eito» na centenária Igreja
de Ceide.
5. A empresa norte-americana informou à PF que não tem filiais ou
representantes no Brasil.
6. Só depois é que levanto a cabeça para fazer um lançamento»,
reclama Neto.
7. Herbert Berger, diretor-superintendente da empresa, diz que o
Charade «se aproxima do Honda Civic em tamanho e custa bem
menos».

Os casos 1 a 4 são aqueles tradicionalmente mencionados quando


se aborda o fenômeno da omissão de sujeito em português. Em (5) e (6),
temos omissão de sujeito em orações subordinadas; e, em (7), a omissão
em uma oração coordenada. Diferentemente das frases (1) e (2), nesses
casos o sujeito se encontra nos limites da frase. No entanto, se, do ponto
de vista discursivo, (1) e (2) são problemas mais interessantes, pois a
explicitação do sujeito envolve a busca por referentes além da frase, do
ponto de vista do processamento automático, que privilegia os limites da
oração, as frases (5), (6) e (7) podem ser igualmente complexas. Em nosso
estudo, fazemos duas contagens: uma para medir os sujeitos de orações
principais, e outra para os sujeitos ocultos de orações subordinadas.
Por fim, sabemos também que, em português, é possível que o se
materialize uma indeterminação do sujeito, como nas frases (8) e (9). No
entanto, e diferentemente dos demais casos de indeterminação, com o se
não é possível identificar quem é o sujeito; não é possível determiná-lo.
Como nosso interesse está em apenas distinguir o sujeito oculto, também
excluímos esses casos de nossa contagem.

8. Tem que se demonstrar através de contas e de raciocínios que o


expurgo significará perda
9. Diga-se, de uma vez e claramente, o que se quer ou o que se quer
mais.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1039

3 Trabalhos relacionados
O trabalho de Hartmann et al. (2014) é o único que conhecemos
que se debruça sobre o sujeito oculto em português no contexto do PLN.
Tendo como foco principal a anotação humana de papéis semânticos,
os autores exploram a inserção de elementos artificiais para representar
sujeitos omitidos. O objetivo da inserção é preencher algumas lacunas
na estrutura sintática das frases, a fim de facilitar a atribuição de papéis
semânticos e, assim, melhorar o material de treinamento da tarefa. O
corpus utilizado foi o PropBank-BR (DURAN; ALUÍSIO, 2012), que
foi então analisado pelo anotador PALAVRAS (BICK, 2000). A partir
da observação do texto anotado pelo PALAVRAS, os autores criaram
regras para inserção automática dos elementos nulos.
Assim como no presente trabalho, o processo de criação de regras
foi exploratório e incremental. Os elementos nulos foram preenchidos
com pronomes pessoais retos levando em conta a forma flexional
do verbo (“eu”, “nós”, e um genérico SUBJ (sujeito) para os demais
casos). No entanto, ao que parece, o trabalho considerou uma sintaxe
linear, sem informação da dependência, o que dificultou sensivelmente
a identificação dos sujeitos (ou de sua ausência), haja vista a quantidade
de itens intervenientes que podemos encontrar entre o sujeito e o verbo e
também a posição do sujeito em português, que pode estar anteposto ao
verbo (posição preferencial) ou posposto. A partir da análise de erros de
uma amostra de 200 frases, os autores relatam que a estratégia funcionou
em cerca de 80% dos casos e que, quando considerada a inserção por
tipo do sujeito, os resultados são heterogêneos: a inserção do sujeito
oculto é bem-sucedida em 88% quando o verbo corresponde às primeiras
pessoas, mas corresponde a apenas 55.8% dos demais casos, o que se
deve, sobretudo, a erros anteriores decorrentes da análise automática.
Do ponto de vista descritivo, a situação não é diferente, e isto
certamente se deve à ausência de material com as características técnicas
necessárias para o estudo: um corpus sintaticamente anotado e uma
interface de busca em árvores que permita procurar pela ausência, já que
não temos a tradição de anotar elementos nulos em corpora – o Penn
Treebank o faz, e trataremos dele a seguir.
Apesar de já dispormos de bons corpora em língua portuguesa,
nem sempre estão anotados sintaticamente. O vasto material do projeto
AC/DC (SANTOS; BICK, 2000) é uma saudável exceção, mas a interface
1040 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

de busca não permite buscar por dependências sintáticas ou por elementos


nulos, que não estão anotados. Já a última versão dos corpora do projeto
Floresta Sintá(c)tica (FREITAS et al., 2008) – que, assim como projeto
AC/DC, é criado e mantido pela Linguateca (SANTOS, 2011) e tem seus
corpora sintaticamente anotados, também, pelo parser PALAVRAS –
contém, como um elemento “procurável”, duas etiquetas atreladas ao
verbo que indicam a ausência de sujeito: <nofsubj>, que indica a ausência
de um sujeito formal (usada para os casos de oração sem sujeito e verbos
indicativos de fenômeno da natureza) e <nosubj>, para os casos de sujeito
oculto. O corpus Bosque é a parte revista de todo o material que compõe
a Floresta e descobrimos, buscando pelos respectivos procuráveis em
uma ferramenta de pesquisa em treebanks específica do projeto Floresta,
o Milhafre,3 que há 3622 orações sem sujeito explícito e 266 orações
sem sujeito formal. Neste trabalho, queremos verificar a distribuição de
sujeitos em diferentes gêneros textuais, e sobretudo naqueles em que a
presença de um sujeito agente é crucial para tarefas posteriores: obras
literárias, na qual a distribuição de falas entre personagens é um objeto
de pesquisa (ELSON; MCKEOWN, 2010; RUANO SAN SEGUNDO,
2016) e textos enciclopédicos – especificamente, uma enciclopédia
biográfica sobre a história do Brasil, na qual se pode extrair informações
sobre personagens da história política brasileira (HIGUCHI et al., 2019).
No que se refere à anotação de corpus, ainda que o fenômeno do
sujeito oculto não aconteça na língua inglesa, o tagset do corpus Penn
Treebank utiliza a etiqueta PRO para os casos onde existe um sujeito
não especificado ou não realizado. Tais casos referem-se especificamente
a elementos nulos no imperativo (10); e construções de alçamento e
controle, como em (11-13).

10. Go away!
11. Johni seems to PROi like Mary
12. Johni promised Mary PROi to write the book
13. John persuaded Maryi PROi to write the book

O tagset sintático do projeto Universal Dependencies possui uma


etiqueta – xcomp – para os casos em que

3
Milhafre. Disponível em: https://www.linguateca.pt/Floresta/milhafre. Acesso em:
8 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1041

um verbo ou adjetivo é um predicativo ou complemento oracional


sem seu próprio sujeito – [isso] não significa que uma oração seja
um xcomp apenas porque seu sujeito não está omitido. O sujeito
deve necessariamente ser herdado de uma posição fixa na oração
superior.4

Ou seja, a etiqueta xcomp inclui (dentre outros fenômenos) casos


como 11 e 12 – e apenas eles receberão esta etiqueta.

4 Metodologia
O principal desafio deste trabalho está na metodologia – como
encontrar algo sem materialidade, dado que não temos anotação de elementos
nulos nos corpora. Neste trabalho, usamos a abordagem gramatical do
projeto Universal Dependencies (UD). O projeto, cujo objetivo é facilitar
o desenvolvimento de parsers multilíngues e a pesquisa linguística, propõe
esquemas de anotação compartilháveis entre línguas para a anotação de
classes de palavras, de informação morfológica e sintática. Atualmente,
UD conta com mais de 150 florestas (treebanks) em 90 línguas diferentes.
Como mencionamos na seção 3, o tagset de UD conta com uma etiqueta
específica para certos casos de omissão de sujeito, e apenas eles. Nos demais
casos já mencionados aqui – que correspondem aos exemplos (1-2) e (5-
9) – não há uma etiqueta especial. Uma vez que nosso interesse está em
medir os casos de omissão de sujeito, não abordaremos, neste momento,
as diferenças entre os casos 10-13. Com o auxílio de uma ferramenta
desenvolvida especialmente para lidar com corpora anotados seguindo o
formalismo UD, fomos iterativamente desenvolvendo estratégias e filtros
até identificar as frases que nos interessam.

4.1 Os corpora
A pesquisa foi realizada em três corpora com características
distintas. O primeiro deles é o já referido corpus Bosque, mas dessa vez
em sua versão UD, o Bosque-UD (versão 2.6). Trata-se de um corpus
4
“(…) a verb or an adjective is a predicative or clausal complement without its own
subject – [this] does not mean that a clause is an xcomp just because its subject is not overt.
The subject must be necessarily inherited from a fixed position in the higher clause.”
Universal Dependencies guidelines. Disponível em: https://universaldependencies.
org/u/dep/xcomp.html. Acesso em: 8 out. 2020.
1042 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

composto por textos jornalísticos, com 9.366 frases divididas igualmente


entre as variantes do Brasil e de Portugal. Dos três corpora utilizados,
apenas o Bosque-UD teve sua anotação gramatical revista por linguistas.5
O fato de a versão original do Bosque conter informações relativas à
omissão do sujeito funcionou também como um gabarito para nosso
método de procura.
O segundo corpus é o DHBB (acrônimo de Dicionário Histórico
Biográfico Brasileiro) (HIGUCHI et al., 2019). O DHBB é uma
enciclopédia sobre a história política brasileira a partir de 1930, criada
pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea
do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (CPDOC/FGV). É um material
que interessa especialmente pelo seu conteúdo, configurando-se como
uma importante fonte de pesquisa. Desde 2018, o DHBB foi convertido
em um corpus anotado, integrando o acervo do AC/DC. A versão 6.1
do corpus contém 7.700 entradas (ou verbetes), 314 mil frases, cerca de
14 milhões de palavras/16 milhões de unidades e está disponível para
consulta e download na página da Linguateca.6
Por fim, o corpus OBras (SANTOS et al., 2018). Criado para ser
a contraparte brasileira do corpus Vercial, o OBras contém obras literárias
brasileiras que já estão em domínio público. É um corpus dinâmico e
lança novas edições a cada dois meses. Para este trabalho, utilizamos a
versão 9.0, que contém 263 obras literárias, 6.8 milhões de palavras/9.7
milhões de unidades. O OBras, assim como o DHBB e o Bosque, integra
o AC/DC, o que significa que está ricamente anotado com informação
sintática e semântica e disponível para buscas pela internet.
Embora todo o material aqui utilizado já exista em uma versão
linguisticamente anotada e disponível para consultas linguísticas e para
download,7 a anotação não contém nenhuma etiqueta relativa à ausência
do sujeito, e o AC/DC, embora permita buscas sintáticas, não permite
buscas sobre árvores sintáticas. Por isso, reanotamos o material com a
ferramenta UDPipe (STRAKA et al., 2016).

5
A criação do Bosque-UD está detalhadamente descrita em Rademaker et al. (2017).
6
Disponível em: https://www.linguateca.pt/acesso/desc_dhbb.html. Acesso em: 8 out.
2020.
7
O OBRAS se encontra disponível em: https://www.linguateca.pt/OBRAS/OBRAS.
html, e o DHBB, em https://www.linguateca.pt/acesso/desc_dhbb.html. Acesso em:
8 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1043

4.2 A anotação dos corpora


A ferramenta de anotação utilizada foi o UDPipe (STRAKA et al.,
2016), uma ferramenta de código aberto que realiza sequencialmente as
etapas de tokenização (segmentação do texto em unidades básicas, como
palavras e sinais de pontuação), anotação gramatical, lematização e análise
de dependências em qualquer corpus que esteja no formato CoNLL-U.8
O UDPipe fornece modelos para quase todos os treebanks do projeto
UD.9 O modelo fornecido para o português (versão 2.5) tem índices de
acerto (F1) de 96.4%, 95%, 87.2% e 83.1% para os níveis de classes
gramaticais (POS), características morfológicas (feats), dependência
sintática (unlabeled attachment score (UAS) e relação de dependência
sintática (labeled atachment score (LAS)), respectivamente.10 O corpus
usado para a geração do modelo de língua portuguesa é o corpus Bosque-
UD, já mencionado na seção anterior. Por ser um corpus linguisticamente
revisto, o Bosque-UD (assim como o Bosque original) se presta também
ao treino e à avaliação de modelos sintáticos, e é esta característica que
possibilita a realização do experimento em que medimos a dificuldade de
realizar análises sintáticas no que se refere à ausência de sujeitos (seção
5). Para tanto, usamos um modelo criado a partir da versão do Bosque-
UD disponibilizada no lançamento 2.611 e treinado por nós, utilizando
os parâmetros padrão do UDPipe.
O Quadro 1 apresenta os três corpora conforme a sentenciação
(separação do texto em frases) e tokenização feitas pelo UDPipe (e

8
O formato CoNLL-U é uma adaptação do formato CoNLL-X. As anotações são
codificadas em arquivos de texto simples, com um token por linha, e colunas (no
máximo 10) que codificam diferentes informações linguísticas, como lema, pos etc. Uma
explicação detalhada do formato pode ser encontrada em https://universaldependencies.
org/format.html. Acesso em: 8 out. 2020.
9
Disponível em: http://ufal.mff.cuni.cz/udpipe/models#universal_dependencies_25_
models_publications. Acesso em: 8 out. 2020.
10
Especificamente, as medidas UAS e LAS (unlabeled attachment score e labeled
attachment score, respectivamente) se referem aos acertos de encaixe das dependências
sintáticas, sendo que, na segunda métrica, além do encaixe (isto é, além de saber qual
o núcleo sintático de um determinado elemento), a relação de dependência sintática
também deve estar correta.
11
Disponível em: https://github.com/UniversalDependencies/UD_Portuguese-Bosque.
Acesso em: 8 out. 2020.
1044 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

que podem não corresponder exatamente àquelas feitas no contexto do


projeto AC/DC):
QUADRO 1 – Apresentação quantitativa dos corpora, conforme processado
pela ferramenta UDPipe

DHBB OBRAS BOSQUE


Tamanho (Mb) 960 480 14
Tokens 16037286 7863261 227825
Or. Principal 480218 353662 9364
Or. Subordinada 341133 316297 6842
Total De Orações 821351 669959 16206

4.3 A busca pelo sujeito oculto


Para identificar o sujeito oculto, utilizamos o Interrogatório,
uma ferramenta para busca e revisão de corpora anotados (de SOUZA;
FREITAS, 2019). Nela, é possível realizar buscas sobre árvores sintáticas,
desde que estejam em arquivos no formato CoNLL-U. Elencamos, a
seguir, o procedimento para identificação dos casos de sujeito oculto:
QUADRO 2 – Passos para a identificação de sujeitos ocultos12

1. Encontrar sentenças em que não exista um sujeito (simples, oracional ou


sujeito de oração passiva) dependente sintaticamente do núcleo da oração
principal (root)
2. Das frases encontradas, eliminar as seguintes:
a. Construções em que root é o verbo haver impessoal (3ª pessoa do singular)
b. Construções em que root não é verbo12
c. Construções em que root é verbo que indica fenômeno da natureza
d. Construções em que o se é um índice de indeterminação do sujeito

Nas etapas acima, o principal desafio está no item (2.d): distinguir,


nos casos de ausência de sujeito, aqueles em que o se corresponde a um
índice de indeterminação (Diga-se que…; Trata-se de…), dos casos em

12
Comum em manchetes jornalísticas ou interjeições.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1045

que o se é complemento (Cortou-se) ou parte de um verbo pronominal


(Formou-se). Nos primeiros não há o que ser explicitado, nos últimos,
há sujeito a ser explicitado. Dois outros fatores também tornam este o
filtro mais difícil: a anotação UD não diferencia os casos (14-15) de (16),
ambos recebem a etiqueta expl.; e a distinção entre esses casos e o caso
(17), no qual o se recebe a etiqueta de obj, ainda é pouco confiável de
um ponto de vista automático.

14 Recorde-se aliás que, em Dezembro de 1992, quando a China


realizou a maior explosão não nuclear de sempre.
15 Diga-se, de uma vez e claramente, o que se quer ou o que se quer
mais.
16 Formou-se em engenharia em 1931.
17 Penteava-se segundo a moda do tempo, mas sem afetação.

A partir da análise manual, fizemos 3 filtros (d1; d2; d3) para


identificar as ocorrências que nos interessam, e assim separamos os
casos do tipo (14-15), que não contam como omissão do sujeito, dos
demais casos:

d1. Casos em que o se recebe a anotação morfológica de gênero não


especificado
Veja-se que «absoluta prioridade» não é simplesmente uma
expressão, mas um princípio constitucional (...)
d2. Casos em que o se se associa a um verbo no infinitivo
Tem que se demonstrar através de contas e de raciocínios que o
expurgo significará perda.
d3. Casos em que o se se associa a um verbo transitivo indireto ou
intransitivo13
Pense-se em Kingsley Amis, Malcolm Bradbury e Albert Finney.

13
Notamos que a forma de buscar as construções no corpus (isto é, o filtro) não
corresponde, necessariamente, a uma análise correta. Neste exemplo, o se é exatamente
do mesmo tipo do filtro d1, mas, como mencionamos, nem sempre podemos contar
com uma análise sintática perfeita no caso do se. A forma de buscar indica apenas que,
nesse caso, as ocorrências que gostaríamos de encontrar estão anotadas, na grande
maioria das vezes, dessa maneira.
1046 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

De forma complementar, fizemos também uma busca por sujeitos


ocultos em orações subordinadas, utilizando as mesmas estratégias
listadas no Quadro 2.14

5 Resultados e análise
Anterior à apresentação dos resultados, precisamos garantir que
aquilo que recuperamos com as buscas e os filtros é o que desejamos.
Esta validação é crucial no contexto do processamento automático,
sobretudo porque em dois dos corpora analisados estamos lidando com o
resultado de uma análise sintática que não foi revista. Procedemos a uma
verificação manual de uma amostra, a fim de medir o grau de confiança
que podemos ter nos resultados, já que apenas o Bosque-UD foi revisto.
Foram analisadas até 20 frases por filtro (alguns filtros devolveram menos
de 20 ocorrências), considerando cada corpus, totalizando 572 frases. A
Tabela 1 traz os resultados da análise e a Tabela 2, complementar, indica
a quantidade total de casos recuperados por filtro, bem como o quanto
esses casos representam considerando o total de orações principais e
subordinadas em cada corpus. Chamamos de busca ingênua a busca
por qualquer frase que não tenha um sujeito. A coluna Aval (avaliados)
da Tabela 1 indica o total de ocorrências de cada filtro; a coluna Corr
indica a quantidade de ocorrências corretas, isto é, que atendem às
especificações da busca/filtro.
A partir da Tabela 1, vemos que os resultados dos filtros variam
por corpus, e o primeiro dado que chama a atenção é a importância de
um material revisto, já que os números do Bosque superam os dos demais
corpora em todos os cenários, e no que se refere às orações principais,
isto é ainda mais evidente. Nos demais corpora, os resultados indicam
que o que capturamos, quando tentamos encontrar o sujeito omitido, está
correto em pouco mais da metade das vezes. Vemos, também, que é mais
difícil acertar a procura nas orações subordinadas que nas principais,
e isso se deve igualmente a limitações do processamento automático.
Quando nos detemos nos resultados de cada um dos filtros, temos uma
imagem mais nítida do que recuperamos.

14
O único filtro não replicado nas orações subordinadas foi o 2b, relacionado às frases
sem verbo, uma vez que há uma série de construções que atendem a essa especificação,
como adjuntos adverbiais, que nada têm a ver com a omissão do sujeito.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1047

TABELA 1 – Resultados da análise manual, por filtro

DHBB OBras Bosque-UD

Principal Subordinada Principal Subordinada Principal Subordinada

Aval. Corr Aval. Corr Aval Corr Aval Corr Aval Corr Aval Corr

Busca ingênua 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20 20

V. haver 20 20 20 20 20 17 20 20 20 20 20 20

Nominais 20 15 -- -- 20 14 -- -- 20 20 -- --

V. Natureza 0 0 4 4 20 20 20 20 1 1 2 2

D 1 (SE) 20 7 20 1 20 9 20 2 20 18 5 4

D 2 (SE) 20 5 20 1 20 4 20 1 2 2 20 3

D 3 (SE) 20 1 20 3 20 11 20 6 20 15 20 11

TOTAL 120 68 104 49 140 95 120 69 103 96 87 60

Total de acertos 56% 47% 67% 57% 93% 69%

TABELA 2 – Distribuição das ocorrências por filtro, por corpus.

DHBB OBras Bosque-UD

Principal Subordinada Principal Subordinada Principal Subordinada

Busca ingênua 226122 47% 190381 56% 172124 48% 156040 49% 2777 29% 2617 38%

V. Haver 1083 0,2% 861 0,2% 5181 1,5% 4395 1,4% 124 1% 148 2%

Nominais 31599 6,5% 735 0,2% 43326 12% 2766 0,8% 1145 12% 50 0,7%

V. Natureza 0 0% 5 0% 113 0% 147 0% 1 0% 2 0%

D 1 (SE) 59 0% 757 0,2% 215 0% 154 0% 31 0% 5 0%

D 2 (SE) 79 0% 2692 0,8% 229 0% 1609 0% 2 0% 24 0%

D 3 (SE) 26425 5,5% 13189 3,8% 4915 1,4% 6447 2% 57 0,6% 75 1%

Os filtros relativos à busca ingênua, aos verbos que indicam


fenômenos da natureza e ao verbo haver impessoal trazem os resultados
esperados, obtendo 100% de acertos, exceto pelo OBras, que contém 3
erros que se devem a construções do tipo há de v-inf, como há de comer
e há de saber. Já o filtro relativo às frases sem verbo é mais dependente
de uma boa análise sintática, e por isso mesmo o filtro é preciso quando
aplicado ao Bosque. O grande responsável pelos erros é o filtro do se:
1048 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

tanto no DHBB quanto no OBras, as frases recuperadas estão, na imensa


maioria, erradas – e, portanto, onde esperaríamos orações sem sujeito,
temos um sujeito omitido. Além disso, no caso do DHBB, que tem uma
estrutura de texto previsível, vimos que muitos erros são, na verdade,
fruto de uma mesma estrutura que se repete em vários verbetes. Uma
construção como transferindo-se, por exemplo,15 respondeu por 10 dos
19 erros e por 8 dos 13 erros encontrados em orações subordinadas e
principais, respectivamente. No Bosque-UD, se temos bons resultados
para o se quando este se encontra em orações principais, a qualidade da
análise cai sensivelmente quando estamos diante de orações subordinadas,
e o filtro d2 é responsável pela maior parte dos erros. Como indicamos na
seção 4.3, devido à inconsistência (e dificuldade) de análise, mesmo no
material revisto, fizemos uma busca não exatamente pelo que queríamos,
mas por como nos parecia que o se estava anotado. Como podemos
observar, essa estratégia foi pouco eficaz: ainda que seja precisa quando
aplicada às orações principais, dá conta de poucos casos; no caso das
orações subordinadas, recupera muitas construções, mas quase todas são
casos de sujeitos omitidos. Por outro lado, quando levamos em conta os
dados da Tabela 2, vemos que os casos de se respondem por uma porção
muito pequena do total de casos filtrados no corpus.
Por outro lado ainda, como na omissão dos sujeitos só há duas
possibilidades de resposta (estar diante de um sujeito omitido ou não),
se simplesmente descartamos os filtros do se nos corpora não revistos
todos os erros passam a acertos (e vice-versa), e desse ponto de vista os
resultados melhoram sensivelmente. Ou seja, considerando os números
do DHBB, e apenas com relação aos filtros do se tomados como um
todo, passamos de 21% e 8% de acertos para orações principais e
subordinadas, respectivamente, para 78% e 91%. No OBras, também
apenas no que se refere ao se, quando eliminamos os filtros passamos de
40% e 15% de acertos para 60% e 85%. Diante dos resultados, optamos
por prosseguir da seguinte maneira: eliminação de todos os filtros do se
no DHBB e no OBras, e eliminação, no Bosque-UD, dos filtros d2 e d3
apenas nos casos das orações subordinadas. Com a alteração, a análise
dos filtros traz resultados bastante positivos quanto aos resultados das
buscas pelo sujeito oculto (TABELA 3): 89% de acertos no DHBB, 88%

15
Como em Transferindo-se para o Partido Social Cristão (PSC), em novembro de
1986 concorreu a deputado federal constituinte.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1049

no Bosque e 83% no OBras. Lembramos ainda que o se, responsável


absoluto pelos erros, interfere pouco no resultado final, visto sua baixa
frequência quando consideramos cada corpus na íntegra. Adicionalmente,
a análise da amostra revelou que, no DHBB, os casos de se que não
permitem omissão de sujeito (e que, portanto, são considerados erros na
nova contagem) referem-se em sua imensa maioria a construções com
tratar-se de, de modo que uma eliminação simples dessas construções
torna os resultados ainda mais precisos. Especificamente, encontramos
347 casos de tratar-se no DHBB e 258 no OBras. Com isso, na prática,
os resultados das buscas pelos sujeitos ocultos são ainda mais precisos
do que indica a Tabela 3.
Diante dos resultados positivos, prosseguimos com a contagem.
A Tabela 4 apresenta, finalmente, o resultado da quantificação do sujeito
oculto nos três corpora. Começamos a contagem com a busca ingênua
e, das ocorrências obtidas, fomos excluindo, com os filtros, os casos em
que embora não haja sujeito, não há uma omissão.
TABELA 3 – Resultado final da análise dos filtros

DHBB OBras Bosque-UD


Total de acertos 89% 83% 88%

TABELA 4 – Distribuição das ocorrências de sujeito oculto por corpus


DHBB OBras Bosque-UD

Principal Subord. Principal Subord. Principal Subord.

Busca ingênua 226122 190381 172124 156040 2777 2617

v. haver impessoal 1083 861 5181 4395 124 148

Or. Sem verbo 31599 0 43326 0 1145 0

Fenômenos da
0 4 100 127 1 2
natureza

Filtros se Não se aplica Não se aplica Não se aplica Não se aplica 90 5

Filtro “tratar-se
181 163 150 123 Não se aplica Não se aplica
de”

Total 193259(40%) 189353(55%) 123367(34%) 151395(47%) 1417(15%) 2462(36%)

Total de frases com


382612 (46.5%) 274762 (41%) 3879 (24%)
sujeito oculto
1050 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

Como suspeitávamos, o corpus DHBB é o que apresenta a maior


quantidade de omissões de sujeito, o que não espanta dada a natureza
de seu conteúdo: verbetes biográficos ou temáticos, nos quais o tema/
foco da frase dificilmente se altera, e, por isso, a omissão é o recurso
estilístico utilizado para deixar o texto não repetitivo. Do ponto de vista
da identificação e da extração automática de informação, os resultados
alertam para o fato de que em quase metade das orações (46.5%) a
extração de relações entre argumentos de verbo fica prejudicada devido
à ausência de um sujeito sintático. O corpus de obras literárias também
tem um número expressivo de orações em que o sujeito foi omitido
(41%), o que se explica, igualmente, em temos de estilística – lembremos
das omissões de sujeito nos discursos relatados que introduzem falas de
personagens, por exemplo. No Bosque-UD, composto por notícias de
jornal, ainda que a frequência de sujeitos ocultos seja bem menor (24%)
que nos demais materiais, não é insignificante, e traz impactos em tarefas
do PLN como a extração de citação. Também vemos, na Tabela 4, que a
presença de sujeito oculto é maior em subordinadas, mas que a diferença
entre omissões quanto ao tipo de oração varia entre 15% e 20%. Levando
em conta que frequentemente a omissão do sujeito na oração principal
não se desfaz nas subordinadas, e que, nesses casos, o sujeito está fora
do âmbito da sentença, esta característica é um desafio a mais para o
processamento automático do texto e da informação.
Em resumo, não são poucos os casos de omissão do sujeito em
português, independente de gênero, ainda que os números variem em
função do tipo de texto. Do lado do PLN, o alto índice indica o desafio
na construção de proposições informativas – e mesmo que em alguns
casos, sobretudo o de orações subordinadas, a recuperação do elemento
sujeito possa ser feita no âmbito da frase, isso envolve algum trabalho
de pós-processamento. Outro desdobramento da alta frequência dos
sujeitos omitidos é um aumento da dificuldade para o processamento
automático no nível sintático, já que a ausência de um elemento para
preencher a posição do sujeito pode desencadear outros erros. Na seção
a seguir, realizamos um experimento simples para avaliar o problema.

6 Experimento: omissão do sujeito e aprendizagem automática


Dos três corpora utilizados em nosso estudo, apenas o Bosque
é um corpus revisto. Por isso, este foi o material utilizado para verificar
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1051

em que medida a explicitação dos sujeitos poderia facilitar o aprendizado


automático. Para tanto, reconstituímos os sujeitos e os devolvemos às frases,
seguindo o procedimento do Quadro 3, no qual os elementos novos são
as etapas 3 e 4, esta última inspirada na solução de Hartman et al. (2014).
QUADRO 3 – Etapas do experimento de busca e reconstituição de sujeitos ocultos16

1. Encontrar sentenças em que não exista um sujeito (simples, oracional ou sujeito


de oração passiva) dependente do núcleo da oração principal (root)
2. Das frases encontradas em (1) eliminar as seguintes:
a. Construções em que root é o verbo haver impessoal (3ª pessoa do singular)
b. Construções em que root é verbo que indica fenômeno da natureza
c. Construções em que root não é verbo16
d. Construções em que o se é um índice de indeterminação do sujeito
3. Das frases encontradas em (1), identificar aquelas em que root é verbo de oração
adverbial, contém pessoa e número compatíveis com o sujeito de root e antecede
root.
a. Devolver este sujeito para à esquerda do verbo ao qual se relaciona.
4. Das frases que não foram eliminadas, incluir um elemento sujeito imediatamente
anterior ao verbo a que se associa. O sujeito é um pronome pessoal reto e
corresponde aos elementos flexionais indicados pelo verbo, ou seja, um verbo na
1ª pessoa do singular recebe o pronome eu. Nos casos de formas participiais, a
informação de gênero também é levada em conta. No caso de infinitivo, inserimos
um elemento genérico SUBJ.

Na etapa 1, identificamos todos os casos em que uma oração não


tem um sujeito associado, e na etapa 2 eliminamos, desses casos, aqueles
em que não há sujeito a ser encontrado. As etapas 3 e 4 têm o objetivo
de reconstituir os sujeitos nas ocorrências restantes, sendo que a etapa
3 devolve o sintagma sujeito completo. A seguir apresentamos alguns
exemplos de frases com seus sujeitos reconstituídos (sublinhados):

Original: Quando o povo suíço recusou, em 92, a adesão ao Espaço


Económico Europeu, como já fizera com a ONU, cometeu um
grave engano.
Reconstituído: quando o povo suíço recusou, em 92, a adesão ao
Espaço Económico Europeu, como já fizera com a ONU, o povo
suíço cometeu um grave engano.

16
Comum em manchetes jornalísticas, como em “PT no poder”.
1052 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

Original: Os dirigentes da Fenprof avisam no entanto desde já


que se Couto dos Santos insistir nalgumas das directrizes dos seus
antecessores arranjará lenha para se queimar.
Reconstituído: Os dirigentes de a Fenprof avisam em o entanto
desde já que se Couto de os Santos insistir em algumas de as
directrizes de os seus antecessores Couto Santos arranjará lenha
para se queimar.
Original: Quando a gente se diz engajado, corre o risco de evocar
modelos anteriores e o engajamento hoje deve encontrar formas
novas.
Reconstituído: Quando a gente se diz engajado, a gente corre o
risco de evocar modelos anteriores e o engajamento hoje deve
encontrar formas novas.

A etapa 4 devolve sujeitos “genéricos”, isto é, formas pronominais


informadas por traços morfossintáticos do verbo ou de predicadores, e um
genérico SUBJ para o caso em que tais informações não estão disponíveis
(verbos no infinitivo, por exemplo). Ainda que o desenvolvimento de
estratégias para a reconstituição correta seja um exercício desafiador e
relevante, nosso foco aqui está apenas em verificar se a presença de um
sujeito é um elemento capaz de facilitar a aprendizagem automática. E,
para isso, interessa devolver os sujeitos às orações que de fato precisam
de um (em oposição a todos os casos excluídos pelo filtro 2). O índice
de acerto acima de 80% de cada estratégia (cf. TABELA 2) sugere que
os resultados da reconstituição, de um ponto de vista da estrutura da
oração, são confiáveis.
Separamos o Bosque-UD reconstituído nas partições treino
(incluímos a partição dev no treino), e teste, segundo a distribuição
do Bosque-UD.17 Utilizando a ferramenta UDPipe, criamos um novo
modelo (com os sujeitos reconstituídos) e o avaliamos. Criamos, ainda,
um cenário alternativo de avaliação, que corresponde ao Bosque-UD
clássico. Isto é, no treino, utilizamos sujeitos reconstituídos, mas no

17
A divisão de um corpus (ou de um dataset) em partições de treino (train),
desenvolvimento (dev) e teste (test) são próprias para o aprendizado de máquina, e
indicam respectivamente o conjunto de dados que será usado para treinar (ou aprender),
para realizar ajustes e para avaliar o modelo criado.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1053

teste consideramos o texto original, com sujeitos ocultos. Quisemos,


com isso, reproduzir um cenário real, no qual os textos não terão seus
sujeitos reconstituídos, porque para reconstituí-los é necessária uma
análise sintática prévia, e é justamente isso que estamos medindo.
A Tabela 4 apresenta os resultados da aprendizagem com e sem
a reconstituição do sujeito em termos de métricas específicas para a
avaliação de dependências sintáticas: UAS, LAS e CLAS (content-word
labeled attachment score). Como podemos observar, os resultados são
melhores no corpus com o sujeito reconstituído, sugerindo facilidade na
aprendizagem. A maior alteração está na métrica CLAS, com aumento de
2%, e este é um dado relevante, uma vez que CLAS representa melhor
os resultados da análise sintática por tratar de relações entre palavras de
conteúdo/classes abertas. Especificamente, a métrica CLAS não leva
em conta as relações entre um sinal de pontuação e qualquer elemento
(visto que serão sempre uma relação do tipo punct) e as relações entre
determinantes, preposições, auxiliares e conjunções e qualquer outra
palavra, visto que serão sempre relações de um mesmo tipo: det, case;
aux e mark, respectivamente (NIVRE; FANG, 2017). Por isso, CLAS
é uma medida mais sensível ao aprendizado das relações sintáticas. Por
outro lado, quando observamos os resultados relativos à reconstituição
apenas no treino, a melhora, ainda que permaneça, é menor. Se este último
dado traz algum desapontamento no que se refere à aprendizagem de
aspectos sintáticos, sinaliza também que, para tarefas cujo foco não é a
análise sintática, mas que necessitem de análise sintática prévia, como
a anotação de papéis semânticos, a reconstituição de sujeitos é uma
estratégia que merece ser considerada.
TABELA 5 – Comparação da aprendizagem sintática em diferentes
cenários relativos à omissão dos sujeitos

Bosque-UD v.2.6 com


Bosque-UD Bosque-UD v.2.6 com
reconstituição no treino
v.2.6 clássico reconstituição só no treino
e na validação
UAS (F1) 84.81 85.66 85.34
LAS (F1) 80.63 81.85 81.01
CLAS (F1) 72.67 74.81 72.83
1054 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

7 Considerações finais e desafios futuros


Dentre as várias utilidades que um corpus oferece, fazemos
uso de duas: corpus para medir um fenômeno, e corpus para treinar
um sistema e gerar um modelo de língua. Nossa conclusão é a de que o
tratamento do sujeito oculto em português é relevante no PLN por dois
motivos: (i) porque é um fenômeno altamente frequente, e não levá-lo
em consideração tem como consequência limitar as possibilidades da
extração automática de conteúdos; e (ii) porque a reconstituição do
sujeito, quando possível, é capaz de facilitar a aprendizagem automática
de dependências sintáticas, o que é positivo para todas as tarefas que,
em algum momento, se utilizam deste tipo de análise linguística. Com
relação a esse segundo aspecto, chamamos a atenção para a relevância
da modelagem linguística na aprendizagem automática. Sem qualquer
interferência na forma de aprendizagem, apenas lidando com informação
linguística, conseguimos um impacto positivo que pode ser de até 2%
no aprendizado automático. Um terceiro cenário que pretendemos testar
consiste em aplicar as regras de reconstituição de sujeito nos resultados
da anotação automática e, então, reanotar sintaticamente o material com
os sujeitos reconstruídos. Isso nos dará outra medida relacionada aos
benefícios da reconstituição do sujeito na análise sintática.
Diante dos resultados obtidos, outra tarefa se impõe: a
reconstituição precisa do sujeito em termos discursivos (e não
apenas sintáticos ou formais), o que esbarra também na resolução de
correferência.
Como um resultado adicional, mas não inesperado, ratificamos
a necessidade e relevância de corpora com anotação linguística de
qualidade. Quando se trata de treebanks revistos (e públicos), a língua
portuguesa dispõe apenas do Bosque, em suas variadas versões, desde
2002. E, ainda assim, temos fenômenos linguísticos que carecem de um
tratamento sistemático, como é o caso da classificação do pronome se.
Apesar de não ser o foco deste trabalho, a identificação de
sujeitos ocultos, por um lado, e sua reconstituição, por outro, são de
grande valia também para a área de simplificação textual e de leitura.
De um ponto de vista didático, um corpus com sujeitos artificialmente
(bem) reconstituídos pode funcionar como “gabarito” para exercícios de
leitura, por exemplo. Porém, para que os resultados sejam confiáveis,
é crucial garantir a qualidade da anotação sintática subjacente. Embora
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1055

um índice de acertos que se aproxima dos 90% seja suficientemente


bom para uma série de tarefas de PLN, reconhecemos que ainda há
espaço para melhorias (veja-se, por exemplo a página NLP Progress,18
um repositório para o monitoramento da evolução de tarefas de PLN
que elenca o estado da arte para as tarefas mais comuns. Infelizmente,
grande parte das tarefas têm como alvo a língua inglesa).
Por fim, lembramos que o ganho que tivemos pode ser ampliado
por meio de técnicas mais elaboradas de aprendizado de máquina.
Para isso, disponibilizamos o corpus Bosque-UD reconstituído, além
das regras que permitem a identificação do sujeito, bem como sua
reconstituição.19 Nesse contexto, chamamos a atenção para a relevância
da modelagem linguística no aprendizado automático, tendo em vista a
resolução de tarefas de PLN.

Agradecimentos
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) pela bolsa de Iniciação Científica concedida a Elvis
de Souza no âmbito do projeto “Construção de datasets para o PLN de
Língua Portuguesa”. Número do processo da bolsa: 128693/2019-3.

Contribuição dos autores


Cláudia Freitas foi responsável pela concepção do trabalho, e Elvis de
Souza, pela preparação dos dados. A análise dos dados e a redação foram
realizadas por ambos.

Referências
AFONSO, S.; BICK, E.; HABER, R.; SANTOS, D. Floresta sintá(c)tica:
A Treebank for Portuguese. In: INTERNATIONAL CONFERENCE
ON LANGUAGE RESOURCES AND EVALUATION (LREC 2002),
3rd, 2002, Las Palmas de Gran Canaria. Proceedings […]. Las Palmas de
Gran Canaria: ELRA, 2002. p. 1698-1703.

Disponível em: http://nlpprogress.com/. Acesso em: 8 out. 2020.


18

19
Disponível em: https://github.com/alvelvis/desocultando-sujeitos. Acesso em: 30
nov. 2020.
1056 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

BICK, E. The parsing system palavras: Automatic Grammatical Analysis


of Portuguese in a Constraint Grammar Famework. Aahus, Dinamarca:
Aarhus Universitetsforlag, 2000.
DURAN, M. S.; ALUÍSIO, S. M. Propbank-Br: a Brazilian Treebank
Annotated with Semantic Role Labels. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON LANGUAGE RESOURCES AND EVALUATION
(LREC 12), 8th., 2012, Istambul, Proceedings […]. Istambul: ELRA,
2012. p. 1862-1867.
ELSON, D.; MCKEOWN K. Automatic Attribution of Quoted
Speech in Literary Narrative. In: CONFERENCE ON ARTIFICIAL
INTELLIGENCE (AAAI 10), 24th., 2010, Atlanta, Proceedings […].
Atlanta: The AAAI Press, 2010. p. 1013-1019.
FINATTO, M. J.; SCARTON, C.; ROCHA, A.; ALUÍSIO, S.
Características do jornalismo popular: avaliação da inteligibilidade e
auxílio à descrição do gênero. In: 8TH BRAZILIAN SYMPOSIUM IN
INFORMATION AND HUMAN LANGUAGE TECHNOLOGY (STIL
2011), 8th., 2011, Cuiabá, Proceedings […]. Cuiabá: SBC, 2011. p. 49-58.
FREITAS. C.; ROCHA, P.; BICK, E. Um mundo novo na Floresta
Sintá(c)tica – o treebank do Português. Calidoscópio, São Leopoldo, RS,
v. 6, n. 3, p. 142-148, 2008. DOI: https://doi.org/10.4013/cld.20083.03
HARTMANN, N. S.; DURAN, M. S.; ALUÍSIO, S. M. Filling the
Gap: Inserting an Artificial Constituent Where a Subject Is Omitted in
Portuguese. In: WORKSHOP ON TOOLS AND RESOURCES FOR
AUTOMATICALLY PROCESSING PORTUGUESE AND SPANISH
(TORPOR), I., São Carlos, Proceedings […]. São Carlos: SBC, 2014.
Disponível em: http://www.nilc.icmc.usp.br/semanticnlp/includes/
projects/brazilis/artigos/ToRPorEsp,%202014.pdf. Acesso em: 8 out.
2020.
HIGUCHI, S.; SANTOS, D.; FREITAS, C.; RADEMAKER, A. Distant
Reading Brazilian Politics. In: CONFERENCE OF THE ASSOCIATION
DIGITAL HUMANITIES IN THE NORDIC COUNTRIES (DHN 2019),
4th., 2019, Copenhagen. Proceedings […]. Copenhagen: University of
Copenhagen, 2019. p. 190-200.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021 1057

JONES, K. S. Computational Linguistics: What about the Linguistics?


Computational Linguistics, Cambridge, MA, v. 33, n. 3, p. 437-441, 2007.
DOI: https://doi.org/10.1162/coli.2007.33.3.437
LUFT, C. P. Moderna gramática brasileira. Rio de Janeiro: Globo Livros,
2002.
MARCUS, M.; SANTORINI, B.; MARCINKIEWICZ, M. A. Building a
Large Annotated Corpus of English: The Penn Treebank. Computational
Linguistics, Cambridge, MA, v. 19, n. 2, p. 313-330, 1993. DOI: https://
doi.org/10.21236/ADA273556
NIVRE, J.; de MARNEFFE, M.C.; GINTER, F.; GOLDBERG, Y.; HAJIČ,
J.; MANNING, C.D.; McDONALD, R.; PETROV, S.; PYYSALO, S.;
SILVEIRA, N.; TSARFATY, R.; ZEMAN, D. Universal Dependencies
v1: A Multilingual Treebank Collection. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON LANGUAGE RESOURCES AND EVALUATION
(LREC’16), 10th., Portorož, Proceedings [...]. Portorož: ELRA, 2016. p.
1659-1666.
NIVRE, J.; FANG, C. Universal Dependency Evaluation. In:
UNIVERSAL DEPENDENCIES WORKSHOP (UDW 2017),
2017, Gothenburg, Proceedings [...]. Gothenburg: Association for
Computational Linguistics, 2017. p. 86-95.
RADEMAKER, A. CHALUB, F.; REAL, L.; FREITAS, C.; BICK, C.; de
PAIVA, V. Universal Dependencies for Portuguese. In: INTERNATIONAL
CONFERENCE ON DEPENDENCY LINGUISTICS (DEPLING 2017),
4th., Pisa, Proceedings [...]. Pisa: Linköping University Electronic Press,
2017. p. 197-206.
RUANO SAN SEGUNDO, P. A Corpus-Stylistic Approach to
Dickens’ Use of Speech Verbs: Beyond Mere Reporting. Language
and Literature, [S.l.], v. 25, n. 2, p. 113-129, 2016. DOI: https://doi.
org/10.1177/0963947016631859
SAMPSON, G. Empirical Linguistics. London: Continuum, 2001.
SANTOS, D.; BICK, E. Providing Internet Access to Portuguese
Corpora: the AC/DC project. In: INTERNATIONAL CONFERENCE
ON LANGUAGE RESOURCES AND EVALUATION (LREC 2000),
2nd., Atenas, Proceedings [...]. Atenas: ELRA, 2000. p. 205-210.
1058 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1033-1058, 2021

SANTOS, D. Linguateca’s Infrastructure for Portuguese and How It


Allows the Detailed Study of Language Varieties. OSLa: Oslo Studies in
Language, Oslo, v. 3, n. 2, p. 113-128, 2011. DOI: https://doi.org/10.5617/
osla.100
SANTOS, D.; FREITAS, C.; BICK, E. OBras: A Fully Annotated and
Partially Human-Revised Corpus of Brazilian Literary Works in the
Public Domain. 2018. Disponível em: https://opencor.gitlab.io/corpora/
santos18obras. Acesso em: 8 de out. 2020.
de SOUZA, E.; FREITAS, C. ET: uma Estação de Trabalho para revisão,
edição e avaliação de corpora anotados morfossintaticamente. In:
WORKSHOP DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM TECNOLOGIA DA
INFORMAÇÃO E DA LINGUAGEM HUMANA (TILic 2019), VI.,
2019. Salvador. Proceedings [...]. Salvador: SBC, 2019. p. 15-18.
STRAKA, M.; HAJIC, J.; STRAKOVÁ, J. UDPipe: Trainable Pipeline
for Processing CoNLL-U Files Performing Tokenization, Morphological
Analysis, POS Tagging and Parsing. In: TENTH INTERNATIONAL
CONFERENCE ON LANGUAGE RESOURCES AND EVALUATION
(LREC’16), 10th., Portorož, Proceedings [...]. Portorož: ELRA, 2016. p.
4290-4297.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

O papel do corpus de estudo no aprimoramento descritivo


da complementaridade informacional multidocumento

The role of the study corpus in the descriptive improvement


of multi-document informational complementarity

Jackson Wilke da Cruz Souza


Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL-MG), Varginha, Minas Gerais / Brasil
jackcruzsouza@gmail.com
http://orcid.org/0000-0003-1881-6780

Resumo: Em subáreas do Processamento Automático de Línguas Naturais (PLN),


como a Sumarização Automática Multidocumento (SAM), é necessário compreender o
comportamento linguístico de determinados fenômenos, especialmente os de natureza
semântica. A Cross-document Structure Theory (CST) é bastante utilizada em estudos do
PLN por proporcionar um conjunto de relações semânticas que organizam a informação
entre unidades de análise (comumente, pares de sentenças), agrupadas entre conteúdo (a
saber, redundância, complementaridade e contradição) e apresentação (a saber, fonte/
autoria e estilo). Até então, a caracterização das relações CST baseava-se em atributos
genéricos (como a quantidade de palavras em comum entre as sentenças de um par) e
específicos (como a presença de advérbios temporais) para as relações de Redundância
e Complementaridade. Entretanto, percebe-se que a delimitação de tais atributos ainda
é incipiente, pois não inclui atributos semânticos e pragmáticos, níveis linguísticos que
são possíveis de recuperar manualmente entre as unidades de análise da CST. Nesse
sentido, objetiva-se, neste artigo, reconstruir o percurso metodológico de Souza (2019)
ao que se refere ao estudo em corpus das relações CST em textos jornalísticos do
Português, já que o conjunto de atributos disponíveis, até o momento, ainda produzia
equívocos na identificação dos subtipos de complementaridade multidocumento, a saber
temporal e atemporal. Partindo do corpus CSTNews, organizou-se um subconjunto de
estudo com os 10 primeiros clusters, o que contabilizou 204 pares de sentenças. Como
resultado, foram obtidas a descrição detalhada da complementaridade CST e a criação
de uma tipologia de sinalizadores das relações que traduzem esse fenômeno, além da
proposição de uma metodologia específica para o estudo de relações CST.
Palavras-chave: Complementaridade informacional multidocumento; Processamento
Automático de Línguas Naturais; Corpus de estudo.
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1059-1087
1060 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

Abstract: In sub-areas of Natural Language Processing (NLP), such as Automatic


Multidocument Summarization (AMS), it is necessary to understand the linguistic
behavior of certain phenomena, especially those of a semantic nature. Cross-document
Structure Theory (CST) is widely used in NLP studies because it provides a set of
semantic relations that organize information between units of analysis (commonly,
pairs of sentences) organized between content (namely, redundancy, complementarity
and contradiction) and presentation (namely, source/authorship and style). Until then,
the characterization of CST relationships was based on generic attributes (such as
the number of words in common between sentences of a pair) and specific attributes
(such as the presence of temporal adverbs) for the relationships of Redundancy and
Complementarity. However, the delimitation of such attributes is still incipient, as they
do not include semantic and pragmatic attributes, linguistic levels that are possible
to recover between the CST units of analysis. In this sense, the aim of this paper is
to reconstruct the methodological path of Souza (2019) with regard to the study in
corpus of CST relations in Portuguese journalistic texts, since the set of available
attributes, until then, still produced mistakes in the identification of multi-document
complementarity subtypes, namely temporal and timeless. Based on the CSTNews
corpus, a subset of studies was organized with the first 10 clusters, that are represented
by 204 pairs of sentences. As a result, a detailed description of CST complementarity
was obtained, as well as the creation of a typology of signaling relationships that
translate this phenomenon, in addition to proposing a specific methodology for the
study of CST relations.
Keywords: Multi-document informational Complementarity; Processing of Natural
Languages; Study corpus.

Recebido em 10 de outubro de 2020


Aceito em 04 de janeiro de 2021

1 Introdução
As pesquisas na área de Linguística de Corpus (doravante, LC)
têm se dedicado a estudar fenômenos linguísticos a partir de textos
produzidos, em sua maioria, por humanos. Assim, derivam-se os estudos
em Terminologia (TAGNIN; BEVILACQUA, 2015), em Linguística
Aplicada (VIANA; TAGNIN, 2011), em Linguística Descritiva
(RODRIGUES, 2019) ou em Processamento de Automático de Línguas
Naturais (PLN) (CASELI, 2015).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1061

Os corpora, de maneira geral, permitem identificar características


que destacam a evidência de certos fenômenos em um ambiente
linguisticamente natural. Ao tentar delimitar um candidato a termo de
uma área médica, por exemplo, a análise do texto que está ao seu redor
dará pistas ao pesquisador se aquele candidato é um hiperônimo ou
hipônimo de outro termo. É nesse processo de observação dos fenômenos
linguísticos nos corpora que é possível corroborar teorias, desenvolvê-
las ou mesmo refutá-las.
De acordo com Sardinha (2000), um corpus pode ter finalidades
de estudo, referência e treinamento (ou teste). O corpus de estudo subsidia
análises preliminares do objeto e/ou do fenômeno em observação. O
corpus de referência oferece suporte a uma análise contrastiva entre este
e o corpus de estudo. Já o corpus de treinamento é submetido a testes
que se pautarão no conhecimento levantado a partir das observações
realizadas nos subcorpora de estudo e de referência.
Dentre as diversas contribuições que a Linguística de corpus
pode promover à Computação, destacam-se, aqui, o estudo, a descrição
e a caracterização de fenômenos linguísticos em corpus. Ao analisarem
o comportamento linguístico da complementaridade entre textos
jornalísticos do português, Souza (2015) e Souza e Di-Felippo (2018)
basearam-se em características de maior acurácia recomendadas pela
literatura, como a presença de expressões temporais. A partir da proposição
de um conjunto de atributos, os autores submeteram os pares de sentenças
ao Waikato Environment for Knowledge Analysis (Weka) (HALL et al.,
2009), resultando em algoritmos de Aprendizado de Máquina (AM) que
discriminam as relações semânticas de complementaridade (a saber,
Historical Background, Follow-up e Elaboration) da Cross-document
Structure Theory (CST) (RADEV, 2000). Como resultado, os algoritmos
de AM propostos obtiveram cerca de 75% de precisão em identificar as
relações dos pares de sentença.
Entretanto, observou-se que entre as relações Follow-up e
Elaboration, classificadas por Maziero (2012) e Maziero, Jorge e Pardo
(2010), ainda havia equívocos devido à similaridade entre elas. De acordo
com os autores, Follow-up ocorre quando, em um par de sentenças (S1 e
S2), S2 apresenta acontecimentos que ocorrem após os acontecimentos
em S1; os acontecimentos em S1 e em S2 devem ser relacionados e ter
um espaço de tempo relativamente curto entre si. Já a relação Elaboration
ocorre quando, dado o par de sentenças, S2 detalha/refina/elabora algum
1062 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

elemento presente em S1, sendo que S2 não deve repetir informações


presentes em S1. Para tanto, exemplificam-se esses apontamentos em (1).

(1)
S1: Confrontos entre o Exército e o grupo rebelde Tigres Tâmeis
eclodiram na região de Muttur há duas semanas, após a guerrilha
ter cortado o suprimento de água para alguns vilarejos.
S2: Os rebeldes afirmaram que consideram o novo bombardeio do
Exército equivalente a “uma declaração de guerra”.

De acordo com a definição proposta por Maziero (2012) e


Maziero, Jorge e Pardo (2010), o par de sentenças em (1) pode ser
identificado tanto como Follow-up (pois o evento narrado em S2 ocorre
após S1), como Elaboration (pois S2 apresenta detalhes acerca da
afirmação dos rebeldes indicados em S1). São em casos semelhantes a
esse que os algoritmos desenvolvidos por Souza (2015) e Souza e Di-
Felippo (2018) cometiam equívocos de classificação.
Além da similaridade entre as relações CST de complementaridade,
até então, os estudos se baseavam em descrever as relações com base
em atributos presentes (ou ausentes) na superfície textual. Assim, em
um par de sentenças que ocorresse advérbio ou locução adverbial de
tempo, potencialmente poderia ser classificado como complementaridade
temporal. Isso muito se deve ao fato de a descrição estar bastante
empenhada em promover algoritmos automáticos que pudessem
identificar e classificar as relações CST. Nesse sentido, de certa maneira,
foram deixados de lado atributos que não pudessem ser processados
computacionalmente, sob a justificativa que tais atributos não deixam
evidências de relações semânticas no texto.
Nesse contexto, Das e Taboada (2018) e Taboada e Das (2013)
advogam que qualquer fenômeno semântico se expressa por meio do
texto e sempre deixa marcas ou mesmo indícios para apontar informações
adicionais para fora dele. Os autores reanotaram o RST Signalling Corpus
(DAS; TABOADA; MCFETRIDGE, 2015), o qual contém textos em que
as proposições estão estruturadas de acordo com o modelo Rhetorical
Structure Theory (RST) (MANN; THOMPSON, 1987). O objetivo dos
estudos foi identificar como os marcadores discursivos (como conjunções
ou locuções conjuntivas de adversidade, por exemplo) contribuem para o
sentido do discurso ao sinalizar relações no texto. Após esses estudos, os
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1063

autores organizaram tipologicamente os sinais em genéricos e específicos,


que podem ocorrer sozinhos ou combinados.
Para estudar o comportamento linguístico-estrutural do modelo
CST e identificar os sinalizadores de suas relações, é necessário conceber
esse modelo como teoria semântica, ainda que suas relações não sejam
intencionais. Assim, baseando-se no aprofundamento da análise da
complementaridade proposta por Souza (2019), objetiva-se apresentar
detidamente os procedimentos metodológicos acerca do estudo da
complementaridade em corpus. Além do próprio estudo do fenômeno,
objetiva-se salientar o lugar do corpus de estudo na LC como ferramenta
de desenvolvimento de teorias linguísticas ou mesmo de suas possíveis
revisões e/ou aprimoramentos.
Para tanto, este artigo está organizado em cinco seções. Na
Seção 2, apresentam-se algumas reflexões sobre a LC, a fim de destacar
os critérios de construção e anotação de corpora linguísticos. Na
Seção 3, tem-se o panorama acerca dos sinalizadores linguísticos sob
a perspectiva de duas teorias discursivas distintas, a RST e a CST. Na
Seção 4, demonstra-se o estudo baseado em corpus, que resultou no
levantamento de sinalizadores da complementaridade via modelo CST.
Por fim, na Seção 5, tecem-se considerações finais, além de se delinearem
trabalhos futuros.

2 Da construção à anotação de corpus


É notável como a LC passou por diversos aprimoramentos
teóricos e metodológicos nos últimos anos, especialmente com a
contribuição de abordagens computacionais. Tagnin (2018) aponta que,
desde a publicação do Brown University Standard Corpus of Present-Day
American, em 1964, o cenário na LC tem mudado. Essas mudanças são
promovidas pela utilização de ferramentas e abordagens computacionais
na área, o que resultou em transformações de perspectivas teóricas e
técnicas sobre o conceito de corpus e como ele pode ser utilizado em
pesquisas linguísticas.
Com relação ao conceito de corpus, Sardinha (2004) propõe que
esse recurso linguístico pode ser definido como
Um conjunto de dados linguísticos (pertencentes ao uso oral
ou escrito da língua, ou a ambos), sistematizados segundo
determinados critérios, suficientemente extensos em amplitude e
1064 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

profundidade, de maneira que sejam representativos da totalidade


do uso linguístico ou de algum de seus âmbitos, dispostos de
tal modo que possam ser processados por computador, com a
finalidade de propiciar resultados vários e úteis para a descrição e
análise. (SARDINHA, 2004, p.18.)

A partir dessa definição, é possível resgatar alguns critérios


relevantes e necessários para que dado conjunto de textos não seja tido
apenas como um arquivo, coletânea ou biblioteca de textos.
O primeiro critério que Sardinha (2004) chama à atenção é o
tamanho, a fim de garantir que o fenômeno a ser observado possa ocorrer
no conjunto de textos. Assim, o autor classifica o conjunto em pequeno
(menos de 80 mil palavras), pequeno-médio (80 a 250 mil palavras),
médio (250 mil a 1 milhão), médio-grande (1 milhão a 10 milhões) e
grande (acima de 10 milhões de palavras). O Brown Corpus, por exemplo,
tinha 2.000 palavras (frente a cerca de 1 milhão atualmente), enquanto
o Corpus do Núcleo Interinstitucional de Linguística Computacional
(NILC) possui mais de 40 milhões de palavras (KUHN; ABARCA;
NUNES, 2000) e o iWeb, mais de 14 bilhões (DAVIES; KIM, 2019). O
aumento no tamanho dos corpora deve-se, certamente, às facilidades que
os sistemas e ferramentas computacionais proporcionaram às pesquisas
em LC nos últimos anos.
Atrelado ao tamanho, Sardinha (2004) também propõe que a
profundidade é um critério relevante na construção de um corpus. Se o
conjunto de textos não apresentar profundidade, pouco relevante será sua
grande extensão. Nesse sentido, a escolha dos textos que farão parte do
conjunto deve seguir critérios rigorosos, quanto ao balanceamento dos
textos (de gênero textual, por exemplo). Para tanto, o autor apresenta
uma tipologia que tenta estabelecer certa profundidade aos corpora
linguísticos, a saber: modo (falado ou escrito), tempo (sincrônico,
diacrônico, contemporâneo ou histórico), seleção (de amostragem,
monitor, dinâmico, estático ou equilibrado), conteúdo (especializado,
regional/dialetal ou multilíngue), autoria (de aprendiz ou de língua
nativa), disposição interna (paralelo ou alinhado) e finalidade (de estudo,
de referência ou de treinamento/teste).
Outro critério importante é a representatividade. Biber (2012)
aponta que o conjunto de textos deve demonstrar o fenômeno estudado
em seu ambiente natural de ocorrência, dadas suas especificidades. O
autor ressalta que esse critério deve ser anterior ao planejamento do
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1065

corpus, reconhecendo “os parâmetros situacionais que variam entre os


textos de uma comunidade discursiva e também os tipos de características
linguísticas que serão examinadas no corpus” (BIBER, 2012, p.11).
Conceber a representatividade dessa maneira influencia diretamente a
construção do corpus, que é organizada, segundo o autor, em duas etapas:
“o planejamento original baseado em análises teóricas e de estudo-
piloto de uma coleta de textos, por investigações empíricas detalhadas
da variação linguística, e por uma revisão do planejamento” (BIBER,
2012, p.11).
Além dos critérios advindos da própria natureza e do conceito
de corpus, também se derivam critérios específicos à pesquisa a que
ele subsidia. Di-Felippo e Souza (2012) indicam que há decisões de
projeto que devem fazer parte dos critérios de construção, pautando-
se na utilização de recursos linguístico-computacionais em tarefas
de estruturação do conjunto de textos e métodos semiautomáticos de
extração de conhecimento. Ademais, os autores salientam que os critérios
de (i) definição do objeto corpus, (ii) seleção do tipo de recurso linguístico
a ser construído e (iii) decisões de projeto contribuem para um design
do corpus adequado à pesquisa.
Um dos produtos que resulta da construção de um corpus é a
anotação linguística. Essa tarefa pode ser definida como o processo de
enriquecimento do corpus, adicionando (manual ou automaticamente)
informações linguísticas, com objetivos teóricos (acolher uma teoria
linguística, por exemplo) ou práticos (treinar um etiquetador morfológico,
por exemplo). Embora o corpus, por si só, já seja um recurso bastante
importante, quando anotado, torna-se caro à pesquisa que o desenvolveu,
bem como a outras que posteriormente dele podem se beneficiar. Isso
ocorre porque as anotações acrescentam valor ao corpus, permitindo
que sejam realizados buscas e processamentos mais refinados (PEDRO;
VALE, 2018).
Hovy e Lavid (2010) defendem que a anotação evidencia a
perspectiva sobre a língua e a teoria linguística adotadas no estudo, como
quais são as unidades de análise que são anotadas na RST (proposições)
e na CST (sentenças, palavras ou porções textuais), por exemplo. Os
autores equacionam metodologicamente a anotação em oito tarefas, a
saber: (i) selecionar textos que sejam representativos para um corpus
de treinamento, (ii) selecionar a teoria ou o conceito linguístico que
subsidie um conjunto de etiquetas que será aplicado na tarefa, (iii)
1066 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

anotar um pequeno fragmento do corpus de treinamento, (iv) medir


comparativamente a concordância entre os anotadores, (v) decidir
qual o nível de concordância será adotado no trabalho e, caso, não seja
satisfatória, voltar a partir da etapa (ii) e fazer as adaptações necessárias,
(vi) anotar uma maior parte do corpus, (vii) utilizar aprendizado de
máquina a fim de, posteriormente, automatizar o processo de anotação
e (viii) caso o desempenho dos algoritmos seja satisfatório, anotar
automaticamente uma porção de textos ainda não anotados.
Mesmo após refinar o modelo teórico, é durante a anotação
que se verificam certas incongruências no corpus, como a falta de
representatividade do fenômeno estudado devido ao seu tamanho, por
exemplo. Nesse contexto, Taboada e Das (2013) realizaram uma nova
anotação sobre outra já feita: ao verificar que os marcadores discursivos
usualmente utilizados para caracterizar e identificar as relações do
modelo RST eram insuficientes, propuseram-se a estudar outras pistas
linguístico-estruturais que pudessem ser consideradas como tal. A partir
de então, os autores passaram a denominar tais pistas como sinalizadores
das relações semânticas do modelo.
Construindo um paralelo aos pressupostos metodológicos de
anotação de Hovy e Lavid (2010) em perspectiva à proposta de Taboada
e Das (2013), adotou-se, neste trabalho, a estratégia de investigar quais os
possíveis sinalizadores das relações de complementaridade informacional
do modelo CST a partir da construção de um corpus de estudo. A seguir,
têm-se as reflexões acerca dos sinalizadores que permitem remontar as
relações de sentido entre unidades de análise dos modelos RST e CST.

3 Panorama dos sinalizadores de relações semânticas


O estudo de relações semânticas, em sua maioria, baseia-se no
levantamento de conjuntos de pistas que possam caracterizar linguistica
ou estruturalmente tais relações e, a posteriori, subsidiar a identificação
(automática) de cada uma. Ao que se refere aos estudos que abordam
direta ou indiretamente a complementaridade informacional, destacam-
se Das e Taboada (2018), Taboada e Das (2013), para o modelo RST,
e Maziero (2012), Souza (2015) e Souza e Di-Felippo (2018), para o
modelo CST.
Comumente, a identificação (manual e automática) de relações
RST é feita com base em marcadores discursivos. Em dado texto, ao
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1067

utilizar se como conjunção entre duas proposições, por exemplo, o autor


planeja evidenciar uma relação condicional entre unidades discursivas.
Dessa maneira, a conjunção marca a relação em questão.
Entretanto, Das e Taboada (2018) e Taboada e Das (2013)
advogam que a ideia mais difundida na literatura sobre marcador
discursivo, na verdade, limita a identificação das relações RST, pois se
baseia apenas naquilo que está expresso no texto. Dado que as sentenças
“Por conta de consumirem muita lactose, João e Pedro não podem ingerir
leite” e “Os jovens continuam consumindo leite em sua versão ‘sem
lactose’” tenham sido extraídas do mesmo texto, percebe-se que o autor
deseja evidenciar contraste entre as informações das duas proposições,
porém, sem utilizar um marcador discursivo para tanto. Ademais, para
que essa análise hipotética seja verdadeira, é preciso assumir que “os
jovens” retomam anaforicamente “João e Pedro”.
Assim, os autores propõem a hipótese de que, se a relação
preterida pelo autor do texto é compreensível pelo leitor, a relação, então,
é recuperável, ainda que o marcador não ocorra na superfície textual.
Nesse sentido, a relação semântica deve apresentar algum sinalizador
para que o leitor interprete o mais próximo possível a intenção do autor.
No exemplo dado, um possível sinalizador seria a anáfora lexical entre
as duas sentenças, além das proposições negativa (“não podem consumir
leite”) e afirmativa (“continuam consumindo leite”) na primeira e na
segunda sentenças, respectivamente
Taboada e Das (2013), revisando um corpus anotado com o
modelo RST, propuseram um conjunto de sinalizadores que não foram
previamente identificados como sinalizadores das relações previstas no
modelo teórico, como é o caso das anáforas lexicais. Como resultado,
apresentaram uma taxonomia de sinalizadores, incluindo os marcadores
discursivos recorrentemente utilizados em estudos dessa natureza. Essa
taxonomia organiza-se em nove categorias que superordenam outras
subcategorias, a saber:

a) Marcador discursivo: sinalizadores que se caracterizam por serem


marcas específicas de cada uma das relações RST; em geral, são
tidos como expressões léxicas ou conjunções;
b) Entidade: sinalizadores que se caracterizam por estabelecerem
similaridade ou dissimilaridade entre entidades nomeadas de
unidades discursivas;
1068 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

c) Semântico: sinalizadores que manifestam relações lexicais


(hiperonímia, por exemplo) entre duas entidades de unidades
discursivas distintas;
d) Léxico: sinalizadores que são traduzidos em palavras que indicam
algum tipo de relação, como acrescentar uma informação;
e) Morfológico: sinalizadores que auxiliam a identificar fatores
temporais por meio de desinências verbais;
f) Sintático: sinalizadores que indicam relações RST por meio de
construções sintáticas específicas, como o discurso indireto;
g) Gráfico: sinalizadores que podem indicar relacionamento
semântico por meio de pontuações, como as vírgulas em elipses;
h) Numérico: sinalizadores que evidenciam especificações entre
unidades discursivas, detalhando ou ressaltando alguma
informação apresentada genericamente (p.ex. “João, Pedro e
Paulo foram acompanhar Maria no aeroporto” e “A garota estava
acompanhada de seus três amigos no aeroporto”);
i) Gênero (textual): sinalizadores que evidenciam marcas textuais
específicas de cada gênero, como o informativo, em que as
primeiras sentenças de um texto desse gênero terão informações
genéricas, as quais serão elaboradas/detalhadas nas sentenças
subsequentes.

Os autores concluíram que (i) há sinalizadores que ocorrem mais


recorrentemente em determinadas relações (como é o caso de gênero
textual, que ocorre mais em Elaboration); (ii) há aqueles que caracterizam
certas relações somente sob combinações com outros (como é o caso de
construção frasal que ocorre juntamente com sintático para caracterizar
a relação Background); e (iii) há sinalizadores que, até então, não tinham
sido explorados (como é o caso de pontuação).
Em um estudo mais recente, Das e Taboada (2018) refinaram a
análise prévia, e organizam os sinalizadores em singulares e combinados.
Os singulares são os mesmos apresentados no trabalho anterior, e os
combinados são referenciais (ou anafóricos), semânticos e gráficos em
conjunto com algum do tipo sintático, cada um deles.
Já acerca da identificação das relações do modelo CST, há os
trabalhos de Maziero (2012), Souza (2015) e Souza e Di-Felippo (2018).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1069

Visando à identificação automática das relações CST no contexto


da Sumarização Automática Multidocumento, Maziero (2012) propõe
uma série de métodos que se baseiam em sinalizadores explícitos na
sentença. O autor parte do princípio de que as relações desse modelo
semântico sempre compartilham informações entre duas unidades de
análise, manifestando, portanto, redundância em maior ou menor grau
(RADEV, 2000). Especificamente, ao analisar duas sentenças (S1 e S2)
advindas de textos distintos, mas que versam sobre o mesmo assunto, o
autor identifica as relações CST com base em (i) Diferença de tamanho
em palavras (S1-S2), (ii) Porcentagem de palavras em comum em S1,
(iii) Porcentagem de palavras em comum em S2, (iv) Posição de S1 no
texto (início, meio ou fim), (v) Número de palavras na maior substring
entre S1 e S2, (vi) Diferença no número de substantivos entre S1 e S2,
(vii) Diferença no número de advérbios entre S1 e S2, (viii) Diferença no
número de adjetivos entre S1 e S2, (ix) Diferença no número de verbos
entre S1 e S2, (x) Diferença no número de nomes próprios entre S1 e S2,
(xi) Diferença no número de numerais entre S1 e S2 e (xii) Sobreposição
de sinônimos entre S1 e S2.
Além desses métodos, Maziero (2012) utilizou alguns específicos
para a identificação das relações Identity, Contradiction, Attribution,
Indirect Speech e Translation. O método formulado para a identificação
da relação Contradiction, por exemplo, prevê apenas os casos de
contradição do tipo explícita, isto é, resultantes de diferenças numéricas
entre as sentenças de um par.
Para avaliar os métodos propostos, o autor utilizou o corpus
CSTNews (CARDOSO et al., 2011; DIAS et al., 2014). Esse corpus se
caracteriza por ser um conjunto multidocumento de textos jornalísticos
em português, e está anotado com as relações do modelo CST. Trata-se
de 50 clusters de notícias (em média, 3 textos) que possuem um mesmo
assunto, sendo provenientes de fontes jornalísticas online distintas. No
total, o CSTNews possui 140 textos, somando 2.088 sentenças e 47.240
palavras.
Com base nos métodos descritos, o Maziero (2012) desenvolveu
algoritmos de AM, cuja precisão geral foi de 68,13%. Essa precisão é
a média ponderada da precisão dos métodos para a identificação das
relações Overlap, Subsumption, Elaboration, Equivalence, Historical
Background e Follow-up, Identity, Contradiction, Attribution, Indirect
Speech e Translation. Segundo o autor, essa precisão é considerada boa,
1070 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

devido à subjetividade inerente à tarefa de identificação das relações


multidocumento.
Especificamente sobre a identificação da complementaridade
informacional via CST, há os trabalhos de Souza (2015) e Souza e
Di-Felippo (2018). De acordo com os autores, tal fenômeno pode
ser identificado com base em informações linguístico-estruturais,
capturadas por pistas que evidenciam a complementação temporal
entre as sentenças de um par. A análise foi traduzida em métodos de
identificação (automática) dos tipos de complementaridade (temporal
e atemporal) e das relações CST que a codificam, a saber: (i) distância
entre as sentenças, (ii) sobreposição de nome/substantivo, (iii) ocorrência
de advérbios temporais em S1, (iv) ocorrência de advérbios temporais
em S2, (v) ocorrência de expressões temporais em S1, (vi) ocorrência
de expressões temporais em S2, (vii) sobreposição de subtópicos, (viii)
ocorrência de marcador discursivo em S1 e (ix) ocorrência de marcador
discursivo em S2. Entretanto, esses estudos ainda se baseiam nos
sinalizadores presentes na superfície textual das sentenças, além de, na
maioria, se restringirem à presença e à ausência de informação temporal,
como demonstrado em (2).

(2)
S1: A seleção brasileira de vôlei voltou a fazer bonito, desta vez na
final da Liga Mundial, disputada contra a Rússia neste domingo
no ginásio de Spodekna, em Katowice, na Polônia.
S2: Sua última derrota em finais da Liga Mundial, aliás, ocorreu em
2002, coincidentemente para a Rússia.

Em (2), narra-se sobre a participação da seleção brasileira


na Liga Mundial de Vôlei. Na primeira sentença do par, aborda-se o
desempenho do time da edição do evento daquele ano, disputado contra
a Rússia, na Polônia; já a segunda informa a derrota do Brasil sobre a
seleção russa, mas disputando a edição de 2002 do mesmo campeonato.
Assim, S2 em relação a S1 apresenta uma informação complementar do
tipo histórica sobre a participação do Brasil em uma edição anterior do
evento esportivo.
Tendo em vista que os estudos realizados por Souza (2015) e
Souza e Di-Felippo (2018) baseiam-se apenas em sinalizadores que
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1071

auxiliam a recuperação da informação complementar somente em traços


presentes na superfície textual, propõe-se o refinamento da análise do
fenômeno linguístico. Para tanto, baseando-se em Taboada e Das (2013)
e Das e Taboada (2018) a fim de identificar sinalizadores que possam
recuperar a complementaridade informacional, analisou-se o fenômeno
em um corpus de estudo, construído a partir do CSTNews, considerando
os princípios da LC. Ademais, como produto dessa análise, realizou-se a
revisão manual da anotação da complementaridade nos pares de sentenças
disponíveis no corpus, bem como a anotação manual dos sinalizadores
de cada uma das relações que traduzem o fenômeno.

4 Análise da complementaridade no corpus cstnews


Para a realização deste estudo, selecionou-se o CSTNews
(CARDOSO et al., 2011; DIAS et al., 2014). Como dito, o corpus está
organizado em clusters, os quais representam as seções dos jornais
online de onde os textos foram coletados, a saber “mundo”, “política”,
“cotidiano”, “ciência” e “esporte”. Além dos textos-fonte (dois ou três),
o corpus também contém sumários monodocumento e multidocumento
de referência (manuais) e automáticos, alinhamento manual das sentenças
dos sumários multidocumento às respectivas sentenças dos textos-fonte
e uma série de camadas de anotações linguísticas. Dentre elas, estão: (i)
anotação de relações semânticas multidocumento via CST; (ii) anotação
de expressões temporais dos textos-fonte; (iii) etiquetação morfossintática
(ou tagging); (iv) anotação dos sentidos dos substantivos e verbos; (v)
anotação de aspectos informacionais nos sumários multidocumento (o
quê, onde, quando, por exemplo), (vi) anotação automática dos textos-
fonte via RST e (vii) anotação manual de subtópicos informativos em
cada texto-fonte do corpus.
A anotação CST, em especial, foi realizada semiautomaticamente.
Aleixo e Pardo (2008) revisaram o conjunto de rótulos das relações CST
proposto para o inglês (ZHANG; GOLDENSHON; RADEV, 2002) e, a
partir dessa revisão, decidiram aglutinar em um mesmo rótulo relações
que apresentaram redundância entre si, e excluíram aquelas que não
ocorreram nos textos do corpus.
Neste estudo, foram selecionados somente os pares de sentenças
anotados com as relações que traduzem a complementaridade, a saber,
Historical Background, Follow-up e Elaboration, representado por 73,
1072 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

260 e 319 pares, respectivamente. Tendo em vista que no CSTNews há


713 pares de sentenças anotadas com as relações de complementaridade,
construiu-se um subcorpus de estudo, que abrangeu os 10 primeiros
clusters do corpus, resultando em 204 pares de sentença, sendo: (i)
12 pares anotados com a relação Historical Background, (ii) 94 com a
relação Follow-up e (iii) 98 com Elaboration.
A respeito da complementaridade, Maziero (2012) e Maziero,
Jorge e Pardo (2010) definem que o fenômeno ocorre pela relação que
é estabelecida entre duas sentenças, S1 e S2, sendo cada uma delas
provenientes de textos distintos; S2 deve apresentar a informação
complementar em relação a algum elemento presente em S1. Admite-
se ainda que as sentenças do par podem compartilhar conteúdo
informacional, mas uma delas deve ter alguma informação aditiva que
não esteja presente na outra.
Os autores compreendem a complementaridade em dois tipos. A
do tipo temporal envolve sobreposição de conteúdo entre as sentenças
de um par, sendo que S2 apresenta informação adicional baseada na
informação temporal, a qual trata de um acontecimento anterior ou
posterior ao evento principal descrito em S1. As relações Historical-
Background e Follow-up traduzem esse tipo de complementaridade
Ainda segundo os autores, a complementaridade atemporal
também se caracteriza pela sobreposição de conteúdo entre as
sentenças de um par, sendo que uma das sentenças fornece informação
adicional sobre o tópico principal. No entanto, o que a diferencia da
complementaridade temporal é o fato de a informação adicional não ser
de natureza temporal (MAZIERO, 2012; MAZIERO; JORGE; PARDO,
2010), e nem sempre ser marcada linguisticamente na superfície textual
(SOUZA, 2015; SOUZA; DI-FELIPPO, 2018). A relação Elaboration
compreende esse tipo de complementaridade.

4.1 Procedimentos metodológicos para levantamento de sinalizadores da


complementaridade
Para levantar os sinais que evidenciam a complementaridade entre
as sentenças de um par, optou-se por dois procedimentos metodológicos.
Inicialmente, partiu-se do conjunto de sinais levantados por Souza (2015)
e Souza e Di-Felippo (2018) e Taboada e Das (2013), assumindo que
ambos os trabalhos, embora se ancorem em teorias linguísticas diferentes
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1073

(CST e RST), compartilham o pressuposto de que as relações, ora entre


sentenças, ora entre proposições, são de natureza semântica.
O outro procedimento baseou-se na análise manual das sentenças
já anotadas para identificar possíveis sinalizadores não previstos pelos
trabalhos prévios, ou que não eram usualmente utilizados na descrição
dos fenômenos multidocumento. Tal estudo consistiu em, dado um par
de sentenças, (i) delimitar o trecho da sentença em que se manifestava
a complementaridade e (ii) registrar os sinalizadores que auxiliam na
recuperação da relação CST de complementaridade. Em (3) exemplifica-
se tal procedimento.

(3)
S1: O ministro da Saúde egípcio, Hatem El-Gabaly, informou nesta
segunda-feira que 57 pessoas morreram e 128 ficaram feridas no
choque entre dois trens de passageiros no delta do Nilo, ao norte
do Cairo.
S2: <HB>A maior tragédia ferroviária da história do Egito ocorreu
em fevereiro de 2002, após o incêndio de um trem que cobria o
trajeto entre Cairo e Luxor, lotado de passageiros, e que deixou
376 mortos</HB>, segundo números oficiais.

Em (3) tem-se um par de sentenças que narra um acidente


ferroviário que causou a morte de 57 pessoas, no Egito. A segunda
sentença apresenta a informação histórica em relação à primeira, no trecho
delimitado por “<HB>” e “</HB>”1. Após a identificação da informação
complementar, observaram-se os possíveis traços que marcavam essa
relação, tal como (a) construção superlativa (no caso, “a maior tragédia
ferroviária da história do Egito”), (b) informação temporal marcada por
uma expressão temporal (no caso, “em fevereiro de 2002”), (c) discurso
reportado como estratégia sintática que compreende a informação
complementar (d) similaridade entre os eventos narrados nas sentenças

1
Durante a anotação foram utilizados delimitadores para identificar a informação
complementar nos pares de sentenças e, posteriormente, em análises computacionais,
dinamizar a recuperação automática dos trechos, já que as marcações foram feitas com
base em XML. Assim, foram utilizadas as siglas HB, para Historical Background, FU,
para Follow-up e ELAB, para Elaboration.
1074 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

e (e) o aspecto pontual em S2, já que não se trata de um evento que se


repete.
Dos traços levantados a partir da análise do exemplo em (3), (b)
já havia sido identificado por Souza (2015) e Souza e Di-Felippo (2018)
e (d), por Taboada e Das (2013), como marcas de fenômenos semânticos
em suas respectivas teorias.
Ao se deparar com um novo sinalizador, verificava-se se ele
já tinha ocorrido nos pares de sentenças anteriormente analisados, em
quaisquer das relações de complementaridade no corpus de estudo.
Especialmente para a relação Historical Background, esse procedimento
estendeu-se a todos os pares anotados com esse rótulo devido à baixa
ocorrência de pares de sentenças no CSTNews. Esse estudo durou cerca
de oito meses.
Um aspecto relevante nesse procedimento metodológico é a
identificação dos trechos das sentenças que continham a informação
complementar. Até então, o CSTNews não apresentava essa delimitação.
Tendo em vista que a identificação dos sinais das relações semânticas deve
ser realizada a partir do processamento cognitivo, ou seja, mapeando as
intenções do autor (DAS; TABOADA, 2018), ter os trechos delimitados
auxilia esse tipo de análise, pois busca-se perceber o que motivou os
anotadores a atribuírem dada relação às sentenças. Por conta disso, todos
os trechos de complementaridade foram identificados previamente ao
estudo.

4.2 Sinalizadores da complementaridade informacional multidocumento


Os sinalizadores apresentados nesta seção estão organizados
em dois subgrupos: aqueles que discriminam as relações CST de
complementaridade entre si, e aqueles que são capazes de auxiliar na
recuperação da complementaridade, porém ocorrem em pelo menos duas
das três relações.

4.2.1 Sinalizadores de Historical Background

a) Expressões superlativas de comparação – Esse tipo de construção


frástica ocorre sempre em que há eventos relacionados por
sucessivas repetições que “se superam”. Em (4), a primeira
sentença narra sobre uma indenização financeira que a Igreja
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1075

Católica americana pagou a vítimas de abuso sexual, enquanto


a segunda narra sobre “o maior pagamento já feito pela Igreja
Católica”.

(4)
S1: A Igreja Católica chegou a um acordo financeiro estimado em
US$ 660 milhões (aproximadamente R$ 1,2 bilhão) com mais
de 500 pessoas que alegam ter sido vítimas de abuso sexual por
padres em Los Angeles, nos Estados Unidos.
S2: <HB>Este seria o maior pagamento já feito pela Igreja desde que
surgiu o escândalo de abuso sexual envolvendo religiosos em 2002
e elevaria o total de indenizações pago pela Igreja desde 1950,
nos Estados Unidos, a US$ 2 bilhões (R$ 3,7 bilhões).</HB>

b) Relação entre aspectos semânticos – As sentenças de um par


podem apresentar eventos de diferentes aspectos semânticos
(pontuais ou habituais), como a queda de um avião em certa
localidade e o fato desse evento estar relacionado à ocorrência
habitual desse tipo de acidente naquele mesmo local. Em (5), em
S1 há um aspecto pontual, já que o evento narrado ocorreu apenas
uma vez, enquanto a informação veiculada em S2 é de aspecto
habitual, recuperado pela expressão “são frequentes”.

(5)
S1: Um acidente aéreo na localidade de Bukavu, no leste da República
Democrática do Congo (RDC), matou 17 pessoas na quinta-feira à
tarde, informou nesta sexta-feira um portavoz das Nações Unidas.
S2: <HB>Acidentes aéreos são frequentes no Congo,</HB> onde 51
companhias privadas operam com aviões antigos principalmente
fabricados na antiga União Soviética.

c) Relação entre eventos similares não idênticos – As sentenças


de um par podem apresentar eventos semelhantes, mas jamais
idênticos, tendo um intervalo temporal grande entre eles. Em (5),
por exemplo, em que se narra sobre o acidente aéreo em Bukavu,
em S1, e sobre a frequência de acidentes aéreos similares na região,
1076 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

em S2, a distância temporal entre os eventos é considerável, tendo


em vista que a informação veiculada em S2 ocorre após S1.

4.2.2 Sinalizadores de Follow-up

a) Posterioridade entre eventos – Há eventos que ocorrem em


sucessão e são separados por um pequeno intervalo temporal.
Em (6), S1 narra sobre uma jogada futebolística que ocorre “aos
27 minutos” do jogo, enquanto S2 apresenta outra jogada que
acontece em seguida, “aos 31” minutos.

(6)
S1: Aos 27min, Kaká arrancou e chutou de fora da área.
S2: <FU>Kaká acertou um belíssimo chute de longe no ângulo aos
31 e fez 3 a 0.</FU>

b) Previsão de eventos – Nos pares de sentenças em que se notou


este sinalizador, apresentaram-se eventos que ocorreram
sequencialmente por meio da relação que se estabelece entre os
tempos verbais das sentenças, de maneira que em S1 têm-se verbos
no presente (“Lula tem...”) e em S2, verbos flexionados no futuro
do pretérito (“O presidente teria...”), como demonstrado em (7).
Percebeu-se que esse tipo de sinalizador ocorre em clusters cujos
assuntos principais são política, desastres naturais e esporte, já que
é relevante informar sobre a possibilidade de um evento futuro.

(7)
S1: De acordo com a pesquisa, Lula (PT) tem 44% das intenções de
voto, contra 25% de Geraldo Alckmin (PSDB) e 11% de Heloísa
Helena (PSOL).
S2: <FU>O presidente teria 53% das intenções de voto contra 30%
de Heloísa.</FU>

c) Efetivação de evento projetado – Há casos em que se identificou


a relação entre as sentenças do par por meio de previsões/
possibilidades que se realizam/concretizam, como a possível
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1077

indicação de Solange Vieira a um cargo comissionado, em S1, e a


efetivação dessa indicação, em S2, como demonstra-se em (8). Tal
como a Relação hipotética entre eventos, este tipo de sinalizador
é comum em clusters que abordam textos sobre política e esporte.

(8)
S1: O ministro da Defesa, Nelson Jobim, deve encaminhar o nome
da economista Solange Vieira para assumir uma das diretorias da
Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
S2: <FU>O ministro da Defesa, Nelson Jobim, informou no fim da
noite desta terça-feira que a economista Solange Vieira, de 38
anos, será a nova presidente da Agência Nacional de Aviação
Civil (Anac).</FU>

d) Prolongamento do mesmo evento – Há casos em que o evento


descrito na segunda sentença é apenas a extensão do mesmo
narrado na primeira. Em (9), narra-se sobre o acidente aéreo
ocorrido no aeroporto de Congonhas; na primeira sentença,
apresentam-se o plano de voo e alguns detalhes sobre o acidente,
enquanto na segunda, a informação complementar à primeira
centra-se em continuar narrando sobre o plano de voo e a possível
causa do acidente.

(9)
S1: Um dia antes do acidente, na segunda-feira, 16, o avião também
teria apresentado problemas ao aterrissar em Congonhas,
durante o voo 3215, procedente de Belo Horizonte (Confins), só
conseguindo parar muito próximo do final da pista.
S2: O problema teria sido detectado pelo sistema eletrônico de
checagem do próprio avião, <FU>e ainda assim a aeronave da
TAM, um Airbus A320, continuou voando, com o reverso direito
desligado.</FU>
1078 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

4.2.3 Sinalizadores de Elaboration

a) Foco argumentativo distinto – Há casos no corpus em que as


sentenças do par apresentam focos argumentativos diferentes. O
par de sentenças em (10) narra sobre uma reforma ocorrida em
uma das pistas no aeroporto de Congonhas; a primeira sentença
aborda o fato de não haver atraso nos voos internacionais,
enquanto a segunda aponta que ocorreram atrasos entre partidas
e chegadas de voos. Nesses casos, as informações não foram
tidas como contraditórias, já que a relação não se constrói
sob o questionamento das informações propositivas, mas sob
apontamentos narrados por algum agente na primeira sentença.

(10)
S1: Nenhuma partida ou chegada internacional, segundo os painéis
da Infraero, estavam fora do horário, o que não ocorria com os
voos domésticos.
S2: <ELAB>As informações da Infraero não batem com as do painel
das companhias aéreas, são 20 partidas atrasadas e 24 pousos
atrasados.</ELAB>

b) Informação adicional – Há casos em que a complementaridade


ocorre sob a narração de uma informação adicional na segunda
sentença não prevista na primeira. O par de sentenças em (11)
narra sobre a indicação nominal para ocupar o cargo de diretor
da Agência Nacional de Aviação Civil; na primeira sentença,
apresenta-se o fato de indicar uma economista (no caso, Solange
Vieira – informação recuperável apenas a partir da leitura dos
textos-fonte do cluster), enquanto a complementaridade na
segunda se dá pela adição da informação da duração do mandato
do cargo.

(11)

S1: Mas, diante da dificuldade para encontrar pessoas que aceitassem


assumir uma das diretorias da agência reguladora, após a renúncia
de três diretores, Jobim decidiu indicar a economista para o cargo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1079

S2: <ELAB>Como os diretores de agências têm mandato de cinco


anos</ELAB>, só podem sair por renúncia, decisão judicial ou
acusação de improbidade administrativa.

4.2.4 Sinalizadores não discriminativos de relações CST de


complementaridade
Como dito, há sinalizadores que auxiliam na recuperação da
informação complementar entre as sentenças de um par, mas que pela
ocorrência em mais de uma relação CST não foi possível classificá-los
como discriminativos. Por conta do espaço dispensado neste texto,
escolheu-se explanar a categoria dos sinalizadores presentes na Tabela
1. No entanto, ressalta-se que os sinalizadores genéricos e específicos
estão detalhados em Souza (2019).

a) Sinalizador do tipo Estrutural – Este tipo de sinalizador permite


que se possa recuperar a informação complementar somente a
partir da leitura prévia dos textos que compõem o cluster, pois
somente após esse procedimento, identificando as sentenças do
par em seus respectivos textos-fonte que é possível constatar a
complementaridade.
b) Sinalizadores do tipo Referenciação – Este tipo de sinalizador
auxilia a identificação da informação complementar por meio da
recuperação de algum referente na primeira sentença, em relação
à segunda do par. Identificou-se que essa referenciação se deu por
meio de Anáforas nominal e lexical.
c) Sinalizadores do tipo Morfológico – Estes sinalizadores recuperam
a informação complementar por meio de marcas de tempo nos
verbos (como “estavam na rua”, em S1, e “está fazendo a vistoria”,
em S2), expressões nominais (como “novo bombardeio”), verbos
de elocução (como “disseram” e “comunicaram”) e diferenças
numéricas que estabelecem adição de informação.
d) Sinalizadores do tipo Sintático – Estes sinalizadores identificam
a complementaridade com base em adjuntos adverbiais (“como
também”, por exemplo), discurso reportado em que se marca
a fonte da informação (como “os rebeldes afirmaram que...”),
deslocamento de tema-rema entre as sentenças do par e orações
aditivas, explicativas, objetivas direta e orações reduzidas.
1080 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

e) Sinalizadores do tipo Semântico – Este tipo de sinalizador


recupera a informação complementar por meio de palavras do
mesmo campo semântico (como a relação que há entre “ataques”,
em S1, e “ameaça”, “bombardeio” e “guerra”, em S2), relações
semânticas de causa-efeito, hiponímia e parte-todo, expressões
temporais (como “Olimpíadas de Pequim”) e itens lexicais que
denotam acréscimo (como “acrescentou”).
f) Sinalizadores do tipo Pragmático – Por fim, estes sinalizadores
auxiliam na recuperação da complementaridade por meio de
detalhamento ou conhecimento de mundo (como a relação que
há entre “Companhia de Engenharia de Tráfego” e “São Paulo”).

4.3 Organização tipológica dos sinalizadores de complementaridade


Com base no estudo realizado, foi possível organizar
tipologicamente os sinalizadores descritos. A categorização foi feita
posteriormente à análise, após a contabilização da ocorrência de cada um.
Observou-se que havia regularidade entre os sinalizadores, permitindo
propor categorias, que os organizassem em genéricos e específicos,
resultando na organização demonstrada na Tabela 1.
Como já demonstrado, há sinalizadores específicos de cada
relação CST de complementaridade, os quais desempenham papel
essencial na caracterização das relações. Ademais, há sinalizadores que
auxiliam na recuperação da complementaridade informacional, mas não
são capazes de discriminar as relações entre si.
Com relação aos sinalizadores não específicos, observou-se que
eles ocorreram ora entre dois tipos de relação CST (temporal e atemporal),
ora entre duas relações do mesmo tipo. No primeiro caso, é possível
cogitar que as fronteiras entre as relações não estavam bem claras para os
anotadores do corpus, o que pode ser resultado da junção de rótulos que
aconteceu para a adaptação do modelo CST para o português. O segundo
caso indica que o sinalizador diferencia o tipo, mas não a relação, dando
indícios que a descrição deve ser aprimorada, observando a correlação
entre os sinalizadores para caracterização do tipo e da relação CST.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1081

TABELA 1 – Tipologia de sinalizadores de complementaridade


no corpus de estudo no CSTNews
Relação CST de complementaridade
Tipologia
Historical Total
Elaboration Follow-up
Categoria Sinal genérico Sinal Específico Background

Anáfora Associativa 50 31 0 81
Referenciação Anáfora
Anáfora Nominal 132 89 20 241
-------- Estrutural Leitura do Cluster 48 60 14 122
Numeral 11 35 2 48
Expressão Nominal 2 15 0 17
Classe de palavras
Expressão
7 0 17 24
Morfológico Preposicional
Temporal Tempo verbal 12 134 3 149
Verbos de
Verbos de elocução 26 51 0 77
elocução

Adjunto adverbial 31 40 2 73
Período simples
Expressão superlativa 0 0 26 26
Discurso reportado 67 52 0 119
Oração aditiva 26 2 0 28
Sintático
Período composto Oração explicativa 37 5 7 49
Oração objetiva direta 22 7 0 29
Oração reduzida 12 3 0 15
Deslocamento Tema-Rema 108 1 2 111
Campo semântico Campo semântico 29 34 0 63
Causa-Efeito 12 23 0 35
Relações
Hiponímia 16 4 0 20
semânticas
Semântico Parte-Todo 42 15 0 57
Temporal Expressão temporal 4 109 57 170
Sentido de
Semântica Lexical 27 42 8 77
acréscimo

Detalhe 103 59 0 162


Posterior 0 92 0 92
Previsão 0 17 0 17
Sobre o evento
Prolongamento 0 57 0 57
Projeção 0 18 0 18
Similaridade 0 0 39 39
Pragmático
Argumentação Foco argumentativo 17 0 0 17
Suplementação Informação adicional 52 0 0 52
Fato pontual 0 0 38 38
Aspectualidade
Frequência 0 0 38 38
Conhecimento Conhecimento de
5 28 14 47
adicional Mundo

Fonte: Elaboração própria.


1082 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

Com relação à ocorrência dos sinalizadores genéricos percebe-


se que os sinalizadores do tipo pragmático são mais frequentes no
corpus (577 ocorrências), seguido dos tipos sintático (450), semântico
(422), anafórico (322), morfológico (315) e estrutural (122). Até então,
os sinalizadores identificados por Souza (2015) estavam restritos à
distinção do tipo de complementaridade, a saber, temporal e atemporal,
compreendidos apenas nos tipos morfológico (tempo verbal) e semântico
(expressão temporal).
Entretanto, após a análise do corpus de estudo, concluiu-se, como
previsto, que a complementaridade informacional via modelo CST é mais
bem compreendida por meio de sinalizadores do tipo pragmático. Alguns
desses sinalizadores, como demonstrado, são capazes de caracterizar
cada uma das relações CST de complementaridade, bem como auxiliar
na recuperação da informação adicional entre as duas sentenças de um
par. A não consideração desse tipo de sinalizador, é uma possível causa
para que houvesse equívocos quanto à distinção das relações Follow-up
e Elaboration em Souza (2015).
Outra conclusão possível de se apontar é uma possível
reconsideração sobre a classificação da complementaridade proposta
por Maziero (2012) e Maziero, Jorge e Pardo (2010). Os autores
distinguem os tipos de complementaridade entre temporal e atemporal,
considerando a presença ou a ausência de informação adicional baseada
em aspectos temporais. No entanto, como observado na Tabela 1, a
informação temporal é capturada somente por dois de sinalizadores
específicos. Nesse sentido; todos os outros sinalizadores deveriam
recuperar a complementaridade atemporal (logo, a relação Elaboration).
No entanto, isso é inverdade, como é possível concluir, pois os do tipo
pragmático, por exemplo, ocorrem mais frequentemente nas relações do
tipo temporal. Assim, é possível que, futuramente, um novo estudo sobre
a complementaridade informacional resulte em uma nova classificação
do fenômeno via modelo CST, a qual não seja baseada no aspecto
temporal presente ou ausente nas sentenças de um par, mas na informação
pragmática veiculada pelas sentenças.

5 Considerações finais
Neste trabalho, aprofundou-se a descrição do fenômeno da
complementaridade que ocorre em conjuntos de textos jornalísticos
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1083

que abordam um mesmo assunto. Especificamente, com base em estudo


de corpus, estendeu-se a descrição já realizada por Souza (2015) que,
ao se basear apenas em atributos restritos a informações temporais nas
sentenças de um par, já havia obtido resultados bastantes satisfatórios.
Diferentemente das relações RST que são propositais, no
modelo CST a informação complementar não intencional por parte dos
autores dos textos, mas ocasionada a partir da anotação semântica das
relações previstas no modelo. Nesse sentido, mais que determinar quais
sinalizadores auxiliam na recuperação da complementaridade, enquanto
fenômeno linguístico, eles delimitam o ponto de vista dos anotadores
do corpus CSTNews. Embora essa consideração seja irrefutável, cabe
destacar que a concordância medida entre os anotadores proporciona
margem de confiança nos dados, já que seguiram uma metodologia
de anotação semelhante à proposta por Hovy e Lavid (2010). Essa
questão pode ser confirmada quanto à regularidade da ocorrência dos
sinalizadores nas relações CST de complementaridade, o que determina
que são características ora do fenômeno, ora das relações que o traduzem.
Com relação à frequência, percebem-se sinalizadores que
tiveram baixa ocorrência nos pares de sentença. Em termos de
descrição linguística, eles podem ser essenciais para a compreensão
da manifestação da complementaridade em determinados contextos,
como é o caso de expressões nominais, em Follow-up. Em termos de
aplicação computacional, é possível que sinalizadores como esse sejam
descartados das análises, por não serem considerados bastante robustos
em relação aos outros.
Ao que se refere ao gênero textual, não é possível ser assertivo
quanto à caracterização da complementaridade em relação a esse fator.
Como descrito, o corpus de estudo é composto apenas por textos
jornalísticos e, preliminarmente, tende-se a apontar que os sinalizadores
são típicos desse gênero. Entretanto, será necessário, em trabalhos futuros,
construir-se um corpus multidocumento de treinamento com variação de
gênero textual, a fim de verificar a ocorrência dos sinalizadores propostos
neste trabalho anotando novos textos. Isso permitirá determinar se os
sinalizadores são restritos ao gênero textual, como também corroborar
se são característicos do fenômeno da complementaridade.
Como proposto por Hovy e Lavid (2010), um dos próximos passos
que deve ser seguido na anotação de corpus é a proposição de métodos
automáticos para essa tarefa. Entretanto, é necessário destacar que o
1084 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

estado da arte ainda não permite que os mesmos resultados apresentados


aqui sejam alcançados, por serem derivados da análise manual do corpus
de estudo. Além disso, os parsers disponíveis atualmente em PLN podem
ser capazes de identificar os sinalizadores dos tipos sintático, morfológico,
referenciação; entretanto, ainda não processam com alto desempenho os
sinalizadores específicos dos tipos pragmático e semântico, os quais são
mais proeminentes na complementaridade, além de serem discriminativos
das relações CST entre si.
Por fim, como parte dos trabalhos futuros, pretende-se observar
a ocorrência combinada dos sinalizadores de complementaridade com
abordagens de AM. Além disso, pretende-se verificar se os sinalizadores
aqui delimitados também têm potencial para subsidiar o aprimoramento
da descrição de outras relações CST, como aquelas que traduzem a
redundância e a contradição.

Agradecimentos
Em tempos em que a ciência é atacada, seus investimentos são cada vez
mais limitados e professores são desvalorizados, é importante destacar
o auxílio financeiro empenhado nesta pesquisa pela Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e a orientação
atenciosa da Profa. Dra. Ariani Di Felippo ao projeto de doutoramento,
do qual se deriva este artigo: certamente o destino deste estudo poderia
ter sido outro sem o financiamento e a dedicação de minha orientadora.
Muito obrigado!

Referências
ALEIXO, P.; PARDO, T. A. S. CSTNews: um corpus de textos
jornalísticos anotados segundo a teoria discursiva multidocumento
CST (Cross-document Structure Theory). São Carlos: USP; UFSCar;
UNESP, 2008. (Série Relatórios Técnicos do Núcleo Interinstitucional
de Linguística Computacional - NILC)
BIBER, D. Representatividade em planejamento de corpus. Tradução
de Paula Marcolin. Cadernos de Tradução, Porto Alegre, v. 1, n. 30, p.
11-45, 2012.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1085

CARDOSO, P. C. F.; MAZIERO, E. G.; JORGE, M. L. C.; SENO, E. M.


R.; DI-FELIPPO, A.; RINO, L. H. M.; NUNES, M. G. V.; PARDO, T.
A. S. CSTNews – A Discourse-Annotated Corpus for Single and Multi-
Document Summarization of News Texts in Brazilian Portuguese. In:
RST BRAZILIAN MEETING, 3rd., 2011, Cuiabá. Proceedings […].
Cuiabá: SBC, 2011. p. 88-105.
CASELI, H. M. O uso de corpora paralelos para a criação de um tradutor
automático estatístico. In: VIANA, V.; TAGNIN, S. E. O. Corpora na
Tradução. São Paulo: HUB Editorial, 2015. p. 243-267.
DAS, D.; TABOADA, M. RST Signalling Corpus: A corpus of signals of
coherence relations. Language Resources and Evaluation, [S.l.], v. 52, n.
1, p. 149-184, 2018. DOI: https://doi.org/10.1007/s10579-017-9383-x
DAS, D.; TABOADA, M.; MCFETRIDGE, P. RST Signalling Corpus.
Philadelphia: Linguistic Data Consortium, 2015.
DAVIES, M.; KIM, J. The Advantages and Challenges of ‘Big
Data’: Insights from the 14 Billion Word iWeb Corpus. Linguistic
Research, [S.l.], v. 36, p. 1-34, 2019. DOI: https://doi.org/10.17250/
khisli.36.1.201903.001
DIAS, M. S.; GARAY, A. Y. B.; CHUMAN, C.; BARROS, C. D.;
MAZIERO, E. G.; NOBREGA, F. A. A.; SOUZA, J. W. C.; CABEZUDO,
M. A. S.; DELEGE, M.; JORGE, M. L. R. C.; SILVA, N. L.; CARDOSO,
P. C. F.; BALAGE FILHO, P. P.; CONDORI, R. E. L.; MARCASSO, V.;
DI-FELIPPO, A.; NUNES, M. D. G. V.; PARDO, T. A. S. Enriquecendo
o corpus CSTNews: a criação de novos sumários multidocumento.
In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON COMPUTATIONAL
PROCESSING OF THE PORTUGUESE LANGUAGE – PROPOR,
2014, São Carlos. Proceedings… São Carlos: SBC, 2014. p. 239-243.
DI-FELIPPO, A.; SOUZA, J. W. C. O projeto do corpus para a construção
de uma wordnet terminológica. In: PINTO, M. V.; SHEPHERD, T. M.
G.; SARDINHA, T. B. (org.). Caminhos da Linguística de Corpus.
Campinas: Mercado de Letras, 2012. p. 225-245.
HALL, M. et al. The WEKA Data Mining Software: An Update. ACM
SIGKDD Explorations Newsletter, [S.l.], v. 11, n. 1, p. 10-18, 2009. doi:
https://doi.org/10.1145/1656274.1656278
1086 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021

HOVY, E.; LAVID, J. Towards a ‘Science’of Corpus Annotation: A New


Methodological Challenge for Corpus Linguistics. International Journal
of Translation, [S.l.], v. 22, n. 1, p. 13-36, 2010.
KUHN, D.; ABARCA, E.; NUNES, M. G. Corpus Nilc de português
escrito no Brasil. São Carlos: São Carlos: USP; UFSCar; UNESP, 2000.
(Série Relatórios Técnicos do Núcleo Interinstitucional de Linguística
Computacional - NILC)
MANN, W. C.; THOMPSON, S. A. Rhetorical Structure Theory: A
theory of Text Organization. Marina del Rey, CA: University of Southern
California, Information Sciences Institute, 1987.
MAZIERO, E. G. Identificação automática de relações multidocumento.
2012. 118f. Tese (Doutorado em Ciências da Computação) – Instituto
de Ciências Matemáticas e de Computação, Universidade de São Paulo,
São Paulo, 2012.
MAZIERO, E. G.; JORGE, M. L. C.; PARDO, T. A. S. Identifying
Multi-Document Relations. In: INTERNATIONAL WORKSHOP
ON NATURAL LANGUAGE PROCESSING AND COGNITIVE
SCIENCE, 2010, Funchal. Proceedings […]. Funchal: Polytechnic ,

Institute of Setúbal, 2010. p. 60-69.


PEDRO, W. G.; VALE, O. A. ComentCorpus: o uso de mecanismos
linguísticos na detecção de ironia e sarcasmo para o português do
Brasil em um corpus opinativo. In: FINATTO, M. J. B.; REBECHI,
T.; SARMENTO, S; BOCORNY, A.E.P. (org.). Linguística de corpus:
perspectivas. Porto Alegre: Instituto de Letras da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, 2018. p. 19-40.
RADEV, D. R. A Common Theory of Information Fusion from
Multiple Text Sources Step One: Cross-Document Structure. In:
SIGDIAL WORKSHOP ON DISCOURSE AND DIALOGUE,
1 ST., 2000, Hong Kong. Proceedings… Hong Kong: Association
for Computational Linguistics, 2000. p. 74-83. DOI: https://doi.
org/10.3115/1117736.1117745
RODRIGUES, R. Contribuições para um léxico-gramática das
construções locativas do espanhol. 2019. 174f. Tese (Doutorado em
Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade
Federal de São Carlos, São Carlos, 2019.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1059-1087, 2021 1087

SARDINHA, T. B. Linguística de corpus. Barueri: Editora Manole, 2004.


SARDINHA, T. B. Linguística de corpus: histórico e problemática.
Delta: Documentação de Estudos em Linguística Teórica e Aplicada,
São Paulo, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000. DOI: https://doi.org/10.1590/
S0102-44502000000200005
SOUZA, J. W. C. Aprofundamento da caracterização linguístico-
computacional da complementaridade em um corpus jornalístico
multidocumento. 2019. 117f. Tese (Doutorado em Linguística) –
Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal de
São Carlos, São Carlos, 2019.
SOUZA, J. W. C. Descrição linguística da complementaridade para
a sumarização automática multidocumento. 2015. 105f. Dissertação
(Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística,
Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2015.
SOUZA, J. W. C.; DI FELIPPO, A. Caracterização linguística
da complementaridade: subsídios para Sumarização Automática
Multidocumento. ALFA: Revista de Linguística, São Paulo, v. 62, n.1, p.
125-150, 2018. DOI: https://doi.org/10.1590/1981-5794-1804-6
TABOADA, M.; DAS, D. Annotation upon Annotation: Adding
Signalling Information to a Corpus of Discourse Relations. Dialogue
Discourse, [S.l.], v. 4, n. 2, p. 249-281, 2013. DOI: https://doi.org/10.5087/
dad.2013.211
TAGNIN, S. E a Linguística de Corpus vai desbravando novos horizontes.
In: FINATTO, M. J. B.; REBECHI, T.; SARMENTO, S; BOCORNY, A.
E. P. (org.). Linguística de corpus: perspectivas. Porto Alegre: Instituto
de Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2018. p. 11-15.
TAGNIN, S. E. O.; BEVILACQUA, C. Corpora na Terminologia. São
Paulo: HUB Editorial, 2015.
VIANA, V.; TAGNIN, S. E. O. Corpora no ensino de línguas estrangeiras.
São Paulo: Hub Editorial, 2011.
ZHANG, Z.; GOLDENSHON, S. B.; RADEV, D. R. Towards CST-
Enhanced Sumarization. In: NATIONAL CONFERENCE ON
ARTIFICIAL INTELLIGENCE (AAAI-2002), 18th., 2002, Edmonton.
Proceedings […]. Edmonton: AAAI, 2002. p. 439-445.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

Pragmática de Corpus: o que é e onde estamos

Corpus Pragmatics: what it is and where we are now

Giovani Santos
Mary Immaculate College, University of Limerick, Limerick / Irlanda
giovani.santos@mic.ul.ie
http://orcid.org/0000-0003-4116-5613

Mateus Miranda
Mary Immaculate College, University of Limerick, Limerick / Irlanda
mateus.desouza@mic.ul.ie
http://orcid.org/0000-0003-2575-8769

Resumo: Este trabalho objetiva apresentar um novo campo que emergiu a partir da
intersecção entre a Linguística de Corpus e a Pragmática: a Pragmática de Corpus.
Para tanto, através de uma revisão da literatura como ponto de partida, traçamos um
panorama que abarca a origem, os aspectos teórico-metodológicos, e os desafios da
nova área. Ademais, introduzimos as abordagens forma-função e função-forma, dois
modelos investigativos que integram a disciplina. Finalmente, por meio de um estudo de
caso, a fim de ilustrar um dos possíveis percursos de análise, investigamos o marcador
pragmático kind of por meio da filtragem, método que compõe a abordagem forma-
função, no discurso oral de brasileiros universitários. Os subcorpora que subsidiam
a pesquisa são o Spoken Corpus of Brazilian Portuguese and L2-English (SCoPE²)
e o Brazilian Spoken English Learner Corpus (BraSEL). Os resultados apontam que
quando usado pragmaticamente, mesmo em contextos linguísticos distintos, kind of
ocorre em seus três domínios funcionais (atitudinal, interpessoal, textual) e como parte
constituinte de marcadores de linguagem vaga.
Palavras-chave: pragmática de corpus; forma-função; função-forma; kind of.

Abstract: This work aims to present a new field which has emerged from the intersection
between Corpus Linguistics and Pragmatics: Corpus Pragmatics. To do so, through a
literature review as a starting point, we offer an overview that encompasses the origin,

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1089-1135
1090 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

the theoretical and methodological aspects, and the challenges of the new field. In
addition, we introduce the form-to-function and function-to-form approaches, two
investigative models which integrate the discipline. Finally, by means of a case study
in order to illustrate one of the possible analytical routes, we investigate the pragmatic
marker kind of by employing sifting, a method which comprises the form-to-function
approach, in the oral discourse of Brazilian university students. The subcorpora which
support the research are the Spoken Corpus of Brazilian Portuguese and L2-English
(SCoPE²) and the Brazilian Spoken English Learner Corpus (BraSEL). The results
show that when used pragmatically, even in different linguistic contexts, kind of occurs
in its three functional domains (attitudinal, interpersonal, textual) and as a constituent
part of vague language markers.
Keywords: corpus pragmatics; form-to-function; function to form; kind of.

Submetido em 08 de outubro de 2020


Aceito em 14 de dezembro de 2020

1 Introdução
A linguagem para Firth (1957), segundo Sinclair (2004, p. 103),
está atrelada ao contexto que integra fatores como a ação verbal e sofre
influência das pessoas, coisas e eventos. Com base em postulados como
os de Firth, a Linguística de Corpus (doravante LC), a qual conhecemos
hoje, foi desenvolvida por neo-firthianos como Sinclair, que contribuíram
para sua expansão, desenvolvendo estudos por meio da observação da
linguagem em seu contexto real (McENERY; HARDIE, 2012). Tomando
a definição de Sinclair (2005, p. 16), um corpus “é uma coleção de textos
em formato eletrônico, selecionados de acordo com critérios externos para
representar, o melhor possível, uma língua ou sua variação como fonte de
dados para a pesquisa linguística”.1 Nos anos 1960, o Brown Corpus, em
formato eletrônico e com um milhão de palavras, foi um marco na área,
inspirando, posteriormente, a compilação de outros. Hoje, corpora com
milhões de palavras não são incomuns, como o Corpus of Contemporary
American English (COCA), o Corpus do Português NOW, o British

1
Nossa tradução para: “[A corpus] is a collection of pieces of language text in electronic
form, selected according to external criteria to represent, as far as possible, a language
or language variety as a source of data for linguistic research.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1091

National Corpus (BNC), entre outros.2 A LC veio a se consolidar nos anos


1980, mas, se em uma perspectiva mundial podemos considerá-la uma
disciplina jovem em relação a outras áreas da linguística, as primeiras
publicações no Brasil só aconteceriam no final dos anos 1990 e início
dos anos 2000 (BERBER SARDINHA, 1999, 2000).
Da mesma forma, Gomes de Matos observava em 1982 que
os estudos da Pragmática ainda não estavam inclusos nas ementas dos
cursos de pós-graduação no Brasil, e que as pesquisas nesse campo
ainda eram incipientes (RAJAGOPALAN, 1999), apesar de o termo
pragmática, em seu uso moderno, ser atribuído ao filósofo Charles Morris
na década de 1930 (LEVINSON, 1983). Para Rajagopalan (1999, p.
323), a própria indefinição do termo pragmática era um fator dificultador
para a impopularidade da área no país e também afetava pesquisadores
pelo mundo. Em uma publicação mais recente, Rajagopalan (2016, p.
203) argumenta que os pragmaticistas ainda divergem no que tange às
temáticas e prioridades de investigações da área e afirma que há uma
enorme carência de obras sobre a Pragmática em língua portuguesa.
Destacamos ainda a interdisciplinaridade da LC que possibilita,
por meio de corpora, investigações que contemplam o léxico, a sintaxe,
o discurso, o ensino e a produção de materiais para a sala de aula
de línguas, os estudos de registros e gêneros, os estudos literários e
tradução, a sociolinguística, dentre outros (cf. O’KEEFFE; McCARTHY,
2010). Em oposição à crítica de que o marasmo se instalou no campo
dos estudos linguísticos, Rajagopalan (2006, p. 160) faz menção à
LC e sua interdisciplinaridade, com foco na lexicografia e na sintaxe,
como uma área revolucionária que “questiona um dos postulados da
linguística tradicional (teórica), com base em uma perspectiva de ordem
eminentemente prática”. Nesse sentido, o autor destaca que a lexicografia,
vista como um exercício da semântica intencional, e norteada pelo
racionalismo, não abre espaço para variações dialetais e geográficas
de sentidos, ou para novas acepções da língua, o que contrasta com o
interesse da LC em registrar os diferentes usos de cada item lexical em
contextos variados.
Como vimos, tanto a LC quanto a Pragmática podem ser
consideradas disciplinas relativamente novas e, de fato, foram por muito

2
Cf. Tagnin (2010) para uma lista de corpora nas línguas alemã, espanhola, francesa,
inglesa, italiana e portuguesa.
1092 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

tempo exclusivas devido às suas diferenças metodológicas (ROMERO-


TRILLO, 2008b). No entanto, recentemente, a partir de seu caráter
interdisciplinar, a LC se fundiu com a Pragmática em uma nova subárea
que vem a ser denominada Pragmática de Corpus e que pode caracterizar-
se como um avanço para os estudos da linguagem.
Considerando o panorama da LC e da Pragmática no Brasil, e
no espírito desta chamada para discorrer sobre as conquistas e desafios
da LC, este trabalho se propõe a apresentar a Pragmática de Corpus
(uma conquista mútua da LC e da Pragmática) e seu estado da arte. Para
tanto, a estrutura deste artigo está disposta da seguinte forma: após esta
introdução, perpassamos as Seções 2 e 3 que abordam, respectivamente,
a LC e a Pragmática. O resultado da fusão entre as duas disciplinas, a
Pragmática de Corpus, é descrito na Seção 4 a partir de seu percurso
teórico e metodológico. Tal seção é ainda subdividida em três partes em
que discorremos sobre as limitações e desenvolvimentos da nova área,
além de focarmos em suas duas abordagens de análise: forma-função e
função-forma. Na seção 5, complementamos, a fim de exemplificação, o
trajeto das seções anteriores com um estudo de caso através de corpora
orais. Por fim, tecemos na última seção as considerações finais.

2 Linguística de Corpus
Estudos no campo da LC têm aumentado de maneira consistente
e substancial nos últimos 30 anos, e os resultados confirmam que a LC é
um meio eficiente para se fazer análises da linguagem em uma vasta gama
de contextos linguísticos (cf. BERBER SARDINHA, 2000; McCARTHY;
O’KEEFFE, 2010 para uma perspectiva histórica).
Segundo McCarthy e O’Keeffe (2014, p. 271), “[a] evidência
estatística e contextual que pode ser obtida através do uso de um software
[de LC] nos permite fazer interpretações confiáveis das intenções
comunicativas dos falantes e escritores.”3 Esta combinação estatística e
contextual permite que pesquisadores analisem seus dados em termos
qualitativos e quantitativos, através, por exemplo, do estudo empírico
de listas de frequência e de concordância, reduzindo significativamente
o risco de se introduzir quaisquer inclinações pré-concebidas.
3
Nossa tradução para: “[the] statistical and contextual evidence the [CL] software
can provide us with enables us to make more reliable interpretations of speakers’ and
writers’ communicative purposes.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1093

Validade e confiabilidade são, de fato, características


representativas dos resultados obtidos pela LC, uma vez que as
ferramentas principais aplicadas numa pesquisa baseada em corpus são
computacionais, o que se opõe a possíveis limitações humanas. Em outras
palavras, enquanto a análise manual é suscetível ao erro com relação às
mais simples ocorrências de palavras e padrões linguísticos, abordagens
baseadas em corpus oferecem ao analista a oportunidade de processar,
de maneira meticulosa, grandes quantidades de dados. Tais processos
não apenas têm o potencial de recuperar cada ocorrência de um item em
questão, como também destacam estruturas complexas de padronização
linguística e associações de palavras.
Desta forma, imparcialidade, precisão, processabilidade, e o
acesso à linguagem natural (autêntica) em grande escala são benefícios
essenciais que a LC oferece aos pesquisadores. Por conseguinte, muito
mais informação e conhecimento sobre a forma como a linguagem
opera pode ser revelado e descoberto atualmente, principalmente
quando comparado com uma época anterior à LC. Biber et al. (1998,
p. 5) observam que, uma vez propriamente utilizado, um corpus bem
arquitetado e compilado pode fornecer maior variedade de informações
sobre a língua em seu uso real. De fato, questões linguísticas que
preliminarmente pareciam quase impossíveis de serem abordadas, ou
que ainda não haviam sido sequer consideradas, foram evidenciadas e
continuam a ser investigadas com a ajuda das ferramentas da LC e da
disponibilidade de muitos corpora gratuitamente acessíveis.
Em um relato sobre o processo analítico e técnico de um grande
e influente projeto baseado em corpus, realizado no início dos anos 1980,
Sinclair (1991, p. 2) refere-se ao fato de que como língua mais descrita
no mundo, eram mínimas as chances de que a língua inglesa apresentasse
quaisquer tipos de novas evidências reveladoras que, por séculos, ainda
não haviam sido observadas. O projeto foi, inicialmente, desenvolvido
para ajudar na construção de um dicionário inovador, nomeado COBUILD
Dictionary (SINCLAIR et al., 1987). Tal projeto necessitou do desenho
e desenvolvimento de um grandioso corpus da língua inglesa, como
também de novas técnicas para auxiliar na observação e análise da
linguagem em uso. Conhecido pelo mesmo nome do dicionário, o projeto
não só lançou uma nova abordagem para a construção de dicionários,
como também foi fundamental para a introdução de uma nova perspectiva
para a descrição da linguagem.
1094 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

Uma das mais importantes contribuições que resultaram do


projeto COBUILD segue na forma do trabalho de Sinclair, mais
notavelmente em Sinclair (1991), no qual o princípio idiomático é
proposto e delineado. Tal princípio estabelece que os usuários de uma
língua nem sempre selecionam suas palavras de maneira em que espaços
sintáticos são preenchidos com escolhas abertas. Ao invés disso, falantes
e escritores são mais propensos a formar o seu discurso e textos usando
porções de linguagem semiconstruídas que estão disponíveis no sistema
linguístico e que variam em diferentes níveis de flexibilidade. Além da
questão de a linguagem autêntica mostrar-se através de construções pré-
fabricadas, ou padrões linguísticos, outra valiosa inferência resultante
do princípio idiomático, e importante para a observação e descrição da
língua, é o conceito de unidades de significado. Nas palavras de Sinclair
(2003, p. 3), “[s]e estudarmos casos de uso real, descobrimos que palavras
e frases adjacentes ajudam muito na determinação do significado.”4 Ou
seja, o significado de muitas palavras, se não da maioria, é determinado
pela sua interação e correlação com outras palavras (cotexto), sugerindo
que as palavras se selecionam e que tal performance possui uma relação
clara com o significado.
O projeto COBUILD documenta um exemplo prático e
significativo do quão favorável a LC pode ser ao estudo da linguagem
natural empregada em contextos reais. Desde então, os métodos e
as técnicas da LC têm sido aprimorados, desenvolvidos, e de grande
influência, além de aplicados a muitas outras subáreas da linguística,
incluindo os campos da linguagem falada e da Pragmática.
É evidente que os estudos do discurso oral têm se beneficiado
grandemente com os avanços da LC nos últimos anos (CAINES et
al., 2016; LOVE, 2020). Nesse sentido, podemos afirmar que outra
contribuição considerável da LC foi o seu auxílio na investigação e
exposição de características importantes da língua oral que, do contrário,
não teriam sido facilmente acessadas e descobertas – especialmente com o
uso de dados fabricados. Embora ainda seja uma tarefa desafiadora, devido
a questões de disponibilidade de participantes e do trabalho transcritório,
a construção de corpora orais tem sido facilitada consideravelmente
pelos avanços tecnológicos. Consequentemente, pesquisadores hoje têm

4
Nossa tradução para: “[i]f we study instances of usage, we find that the surrounding
words and phrases help a lot in determining the meaning.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1095

maior facilidade de acesso a dados linguísticos autênticos do discurso


oral e, portanto, conseguem sistematicamente extrair dados confiáveis
para a investigação da singularidade das interações desta modalidade.
Como Sinclair (1991, p. 4) adequadamente aponta, “a capacidade de se
examinar grandes corpora de maneira sistemática nos permite acesso
a evidência de uma qualidade antes não disponível”.5 Tal afirmação é
particularmente verdadeira com respeito aos corpora de fala, uma vez que
eles oferecem ao pesquisador características distintivas em linguagem
natural que representam interações reais entre interlocutores.
Nos últimos anos, tem havido uma crescente conscientização
em relação à importância do corpus de fala para os estudos linguísticos,
uma vez que este tem o potencial de revelar e destacar características
linguísticas que são peculiares deste contexto comunicativo. Ademais,
apesar de tanto a modalidade escrita quanto a oral proporcionarem
ricos contextos linguísticos para análises de fenômenos pragmáticos,
é na interação oral que se encontra um terreno ainda mais fértil para o
surgimento destes fenômenos, visto que esta requer que os interlocutores
negociem a construção de conteúdo e sentido em tempo real. Nesse
contexto, é plausível argumentar que a LC é um complemento vantajoso
tanto para o estudo da língua oral quanto da pragmática. Certamente a
LC tem sido acolhida como um complemento valioso para muitas áreas
dos estudos linguísticos, e uma área que parece ter encontrado um aliado
perfeito na LC é exatamente a do campo da Pragmática, que, juntas,
provocaram o surgimento de um campo de estudo relativamente recente:
a Pragmática de Corpus (doravante PC). Antes de introduzirmos tal
fusão, contudo, faz-se necessária a apresentação de um breve panorama
sobre a Pragmática.

3 Pragmática
Como mencionado na Seção 1, definir pragmática não é tarefa
fácil. Em seu nível mais fundamental, podemos definir a pragmática como
o estudo da língua em uso real, e que considera as relações entre contexto
de uso e sentido intencionado. O termo pragmática, como conhecemos
hoje, é atribuído a Morris (1938), a partir da obra Fundamentos de uma

5
Nossa tradução para: “the ability to examine large text corpora in a systematic manner
allows access to a quality of evidence that has not been available before.”
1096 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

teoria dos signos que dividiu a linguagem em três planos: o sintático, o


semântico e o pragmático. Por um lado, Morris define a área da linguística
que lida com o contexto e aponta seu vínculo com outras áreas (e.g.
sintaxe e semântica), mas, por outro, apresenta uma definição limitada
de contexto, ignorando fatores importantes como as relações sociais
e situacionais (CULPEPER; HAUGH, 2014). Para Culpeper e Haugh
(2014, p. 6), apesar de indicarem que uma divisão anglo-americana e
continental da pragmática não deve ser enfatizada, Morris propõe uma
visão micro do contexto, pois parte de uma visão anglo-americana, que
também é o fundamento para outros trabalhos, como as implicaturas
conversacionais de Grice (1975) e a Teoria da Relevância de Sperber e
Wilson (1995).
A outra visão da pragmática, denominada continental, relaciona-
se para além da linguística, com outras áreas cognitivas, sociais e
culturais, através da linguagem em uso e do comportamento humano em
contextos sociais (CULPEPER; HAUGH, 2014). Dessa forma, tendo em
vista o exposto acima e o escopo deste trabalho, não se pretende aqui
explorar a definição de pragmática de forma exaustiva. No entanto, a
definição de Yule (1996) nos parece ir de encontro ao propósito da PC.6
Segundo o autor:
A pragmática é o estudo da relação entre as formas linguísticas e
os usuários dessas formas. [...] A vantagem de estudar a linguagem
por meio da pragmática é que se pode falar sobre as intenções das
pessoas, suas suposições, seus propósitos ou objetivos, e os tipos
de ações (por exemplo, pedidos) que realizam quando falam7.
(YULE, 1996, p. 4).

Ademais, Yule (1996, p. 4) nota que uma das vantagens de


considerar a pragmática como objeto de estudo é a possibilidade de
investigar o que ele denomina conceitos humanos, que incluem os

6
Destacamos que o silêncio, a prosódia e a linguagem corporal também são fenômenos
pragmáticos que auxiliam na interpretação do significado e, especialmente em corpora
multimodais, são também relevantes para os propósitos da PC.
7
Nossa tradução para: “Pragmatics is the study of the relationship between linguistic
forms and the users of those forms. [...] The advantage of studying language via
pragmatics is that one can talk about people’s intended meanings, their assumptions,
their purposes or goals, and the kinds of actions (for example, request) that they are
performing when they speak”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1097

significados, as suposições, os propósitos, os objetivos e as ações dos


indivíduos, mesmo apontando que as análises de tais conceitos são
extremamente difíceis de serem conduzidas. Todavia, ao discorrer sobre
a relação entre a LC e a Pragmática, Raso (2016) reforça que por meio da
contribuição empírica da LC, todos os temas da Pragmática são passíveis
de investigação. Dessa forma, Rühlemann e Clancy (2018) confirmam
que se a pragmática geralmente lida com pequenas quantidades de textos
em determinados contextos, através da LC pode-se aplicar tais análises a
um volume maior de dados. Nesse sentido, a seção que segue tem como
objetivo apresentar a origem da PC através dos princípios que a norteiam,
destacando suas limitações, desenvolvimentos e as duas abordagens que
a compõem: forma-função e função-forma.

4 Pragmática de Corpus
A PC pode ser definida como o campo linguístico de investigação
da linguagem autêntica e em uso real com o auxílio de corpora, com
vista à interpretação contextual da linguagem escrita ou falada. Tal
campo linguístico dá-se pela intersecção entre os campos da LC e
da Pragmática (RÜHLEMANN; AIJMER, 2015) e, embora o termo
em si seja de cunhagem recente, esta é uma junção que tem evoluído
consideravelmente na última década (cf. ROMERO-TRILLO, 2008b
para uma introdução à trajetória científica que uniu as duas áreas de
conhecimento).
Estudos de fenômenos pragmáticos baseados em corpora têm
sido realizados desde os anos 90 (JUCKER; TAAVITSAINEN, 2014),
com o interesse em tal abordagem aumentando gradativamente através
dos anos e afirmado, posteriormente, com a publicação de um volume
dedicado à LC no ‘Journal of Pragmatics’ em 2004, com a edição da
Conferência da IPrA (International Pragmatics Association) em 2007,
também com foco na LC, e com a edição da Conferência ICAME
(International Computer Archive of Modern and Medieval English) com
foco em pragmática e discurso em 2008. Contudo, foi com a influente
publicação de Romero-Trillo (2008a) que a atenção se voltou para o
fato de que há um relacionamento de interesses mútuos entre a LC e a
Pragmática, o que poderia ser proveitosamente explorado quando estas
duas disciplinas eram fundidas. Pragmatics and Corpus Linguistics:
a mutualistic entente (ROMERO-TRILLO, 2008a) é o primeiro livro
1098 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

que agrega pesquisadores que combinam as metodologias de ambas


as disciplinas para a investigação de diversas questões linguísticas.
Desde então, a produção acadêmica na área da PC tem aumentado
exponencialmente, e firmado a disciplina como uma abordagem
eficiente para a investigação e compreensão do uso de diversos recursos
linguísticos em contextos reais. Tal afirmação é evidenciada pela
abundante literatura disponível, na qual inclui uma série anual de livros
lançada em 2013 (Yearbook of Corpus Linguistics and Pragmatics),
livros de contribuições organizadas (AIJMER; RÜHLEMANN, 2015;
JUCKER et al., 2009; TAAVITSAINEN et al., 2014), um guia de estudo
e pesquisa (RÜHLEMANN, 2019), e um periódico recentemente lançado
e exclusivamente dedicado à PC (Corpus Pragmatics).
No que concerne aos tipos de estudos que são abordados pela
PC, Aijmer e Rühlemann (2015) demonstram que essa disciplina não
se limita à investigação de apenas alguns fenômenos pragmáticos
como, por exemplo, os marcadores pragmáticos – provavelmente o
fenômeno mais estudado na PC – mas também abrange temas centrais
da Pragmática, como relevância, dêixis, processabilidade e atos da
fala. O livro foi organizado para ser uma referência, assim como uma
contribuição para o crescimento da disciplina, e é dividido em seis
áreas nucleares da Pragmática: atos da fala; princípios pragmáticos;
marcadores pragmáticos; avaliação; referência; e tomada de turno. Por
sua vez, Clancy e O’Keeffe (2015) oferecem uma discussão crítica sobre
os temas que são mais investigados dentro da PC, sendo eles: atos da fala;
marcadores pragmáticos; linguagem, poder e ideologia; a organização
de discurso; dêixis. Além de apresentarem uma revisão da literatura e
exemplificação de estudos, os autores destacam que a PC é uma área que
está “madura e carregada de oportunidades de pesquisa”8 (CLANCY;
O’KEEFFE, 2015, p. 236)
Embora a LC e a Pragmática sejam hoje reconhecidas como
mutuamente favoráveis (CLANCY; O’KEEFFE, 2015; ROMERO-
TRILLO, 2008b), Romero-Trillo (2008b) observa que estes campos
representaram, por muitos anos, duas linhas de pensamento paralelas,
porém mutuamente exclusivas e excludentes. Isto porque a LC, de um
lado, trabalha com grandes quantidades de textos e adota uma abordagem
mecânica, matemática e mais estrita; enquanto, por outro lado, o campo da

8
Nossa tradução para: “[…] the area is ripe with research opportunities.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1099

Pragmática trabalha com estudos em menor escala (um pequeno número


de textos), abordando a língua de uma perspectiva contextual que permite
uma visão mais flexível, inferencial e interpretativa da linguagem em
uso através de diferentes métodos (cf. JUCKER et al., 2018). Em outras
palavras, enquanto a LC é essencialmente quantitativa (embora permita
também espaço para uma análise qualitativa) e inicialmente preocupada
com número de frequência e medidas estatísticas, a Pragmática é
fundamentalmente qualitativa e preocupada com a interpretação do
significado no contexto de uso (RÜHLEMANN; AIJMER, 2015;
RÜHLEMANN; CLANCY, 2018).
Contudo, pode-se dizer que, apesar de metodologicamente
distintas e opostas, e, portanto, aparentemente impossíveis de se relacionar,
a LC e a Pragmática compartilham ao menos duas características que
permitiram a exploração de um terreno em comum, assim corroborando a
fusão de tais disciplinas. A primeira característica diz respeito ao fato de
que, historicamente, ambos os campos acolheram outras metodologias e
quadros teóricos para substanciar e fortalecer suas próprias abordagens.
O’Keeffe et al. (2011, p. 20) constatam que a Pragmática, como um
quadro teórico de investigação da produção linguística e interação, não
é em si uma metodologia, sendo então combinada muitas vezes com uma
gama de métodos em pesquisas focadas em fenômenos pragmáticos. Em
contraste, Rühlemann e Clancy (2018, p. 242) observam que apesar de
os corpora (particularmente os megacorpora) terem sido originalmente
compilados com propósitos lexicográficos em mente, seu crescimento e
desenvolvimento os levaram à combinação de muitos quadros teóricos
linguísticos com uma metodologia de LC. Em concordância com esta
visão, para Biber et al. (1998, p. 9), uma investigação baseada em corpus
não deveria ser considerada como uma abordagem exclusiva e distinta,
mas como uma abordagem que complementa outras mais tradicionais.
Por sua vez, a segunda característica compartilhada é a de que ambas as
disciplinas têm como pressuposto básico o entendimento de que forma
e função não estão intrinsecamente correlacionadas. Em outras palavras,
o significado e a função de uma forma linguística são recuperados e
interpretados através de sua relação com o cotexto (LC) e com o contexto
(Pragmática).
O relacionamento complementar entre a LC e a Pragmática é
essencialmente simbiótico. Isto porque a Pragmática oferece meios
para a interpretação contextual da riqueza de descobertas resultantes
1100 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

dos métodos da LC. Por outro lado, enquanto interessada em dados


reais e no significado criado na interação comunicativa, a Pragmática
também se beneficia da LC através da disponibilidade de uma grande
quantidade de produção linguística de ocorrência natural. Além do mais,
a metodologia da LC tem o potencial de recuperar com sucesso itens
pragmáticos específicos e/ou destacar padrões pragmáticos que seriam,
de outra forma, difíceis de iluminar sem o auxílio dos instrumentos da
LC (O’KEEFFE et al., 2011).
Portanto, por essas razões, podemos argumentar que a LC e a
Pragmática têm uma tendência natural a se gravitarem. Como assinalado
por Romero-Trillo (2008b, p. 5, itálico dos autores), “a linguística de
corpus e a pragmática são duas versões do mesmo fenômeno: a mecânica
– material – (estudos baseados em corpus), e a sua interpretação e
explicação (pragmática).”9
Como um quadro teórico-metodológico, a PC une os princípios
fundamentais e as metodologias das áreas do conhecimento que a deram
origem. Segundo Rühlemann e Aijmer (2015, p. 12), a PC tem uma
metodologia de leitura integrada (Figura 1), no sentido de que integra a
metodologia de análise tipicamente qualitativa e horizontal da pragmática
com a metodologia predominantemente quantitativa e vertical da LC.
Em relação à metodologia vertical, os autores referem-se ao
nódulo (ou item de busca), que toma a posição central e vertical nas
listas de concordância, e sua relação colocacional com as palavras à sua
direita e esquerda. A leitura vertical do corpus oferece ao analista uma
hipótese inicial com base na posição do item investigado e seu ambiente
linguístico, como também na preferência lexical (ou padrões de colocação
e coligação) do mesmo. Ademais, é durante esse processo de leitura que
aquele de posse de um corpus simples (um corpus que não foi etiquetado)
filtra os dados para que usos pragmáticos de um item específico sejam
separados daqueles não pragmáticos.
Em contrapartida, a metodologia de leitura horizontal permite
uma investigação mais aprofundada e minuciosa pela qual o analista leva
em consideração contextos maiores do que apenas as palavras e frases
imediatamente ao redor do nódulo. Assim, não apenas o cotexto imediato

9
Nossa tradução para: “corpus linguistics and pragmatics are two versions of the same
phenomenon: the mechanics – the subject-matter – (corpus studies), and its interpretation
and explanation (pragmatics).”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1101

é levado em consideração, como também a leitura do contexto expandido,


para além da linha visualizada no concordanciador de uma dada busca.
FIGURA 1 – Metodologia integrada de leitura da Pragmática de Corpus

Fonte: Adaptada de Rühlemann e Clancy (2018, p. 245)

A integração das leituras vertical e horizontal na PC cria um


processo analítico de dupla direcionalidade que tem um grande potencial
para a investigação de material linguístico autêntico. Em síntese, esta
sinergia mutualista entre a LC e a Pragmática faz da PC um quadro
teórico-metodológico significativo para a análise fidedigna e empírica
da linguagem usada e desenvolvida (e.g. desenvolvimento de L2) em
contextos reais. Dentro deste quadro teórico-metodológico, o analista
pode conduzir análises estatísticas enquanto, concomitantemente, realiza
uma interpretação detalhada dos dados com referência a informações
contextuais importantes que podem referir-se não apenas ao cotexto,
como também à situação na qual a comunicação ocorre e ao conhecimento
prévio entre interlocutores.

4.1. Limitações, oportunidades e desenvolvimento da Pragmática de Corpus


Não é sem limitações e desafios que a PC, como uma disciplina
emergente, posiciona-se como uma subárea da Linguística. Romero-
Trillo (2008b), já no princípio, notara que uma das desvantagens em
conduzir estudos pragmáticos com uma metodologia de LC é que, muitas
1102 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

vezes, os corpora eram desprovidos de informações de contextualização,


como o status socioeconômico e cultural dos participantes e o tipo de
relacionamento e contexto situacional das interações comunicativas. Tal
incapacidade, contudo, já está solucionada com a adição de metadados
durante o processo de compilação e construção dos corpora. O acesso ao
contexto dá-se ainda com maior precisão em casos de corpora menores,10
em que o analista e o compilador são um e o mesmo, o que permite uma
perspectiva interna de análise, sustentando as condições de interpretação
de dados. Este relacionamento próximo entre o analista e os dados,
como também entre linguagem e contexto, faz dos pequenos corpora
a opção perfeita para os estudos pragmáticos. De fato, pesquisadores
que têm se debruçado sobre os estudos e discussões que permeiam
o desenvolvimento de um modelo científico para a PC defendem e
promovem o uso de pequenos corpora para a investigação de fenômenos
pragmáticos (CLANCY; O’KEEFFE, 2015; RÜHLEMANN; CLANCY,
2018; VAUGHAN; CLANCY, 2013).
Isso não significa, contudo, que estudos baseados em PC podem
apenas ser realizados quando pequenos corpora são utilizados. Grandes
e megacorpora podem ser, e já foram, utilizados em pesquisas de PC (cf.
VAUGHAN; CLANCY, 2013; O’KEEFFE et al., 2020 para a descrição
de alguns exemplos e soluções). Entretanto, quando se trata de análise
qualitativa, é comum que os pesquisadores tenham de reduzir a amostra
a fim de avaliar e analisar as ocorrências linguísticas com a perspectiva
pragmática.
O’Keeffe (2018) aponta para um outro desafio que, por sua vez,
afeta diretamente um dos temas mais espinhosos no desenvolvimento de
um modelo de PC: a questão da forma e função. Vejamos que tal desafio
se dá pela oposição metodológica entre a LC e a Pragmática. De um
lado, temos a LC que possui uma metodologia de análise ascendente,
ou seja, de baixo para cima (bottom-up) a partir da forma. Para isso,

10
O conceito de pequeno corpus é abstrato, uma vez que ainda não há uma concordância
entre os linguistas de corpus a esse respeito. Pode-se dizer que um pequeno corpus é
um que contenha menos que um milhão de palavras. Contudo, no âmbito da Pragmática
de Corpus, um pequeno corpus que permita etiquetamento manual, processamento e
análise de dados, varia entre 50 e 500 mil palavras. Há ainda estudos pragmáticos de
corpus que utilizam corpora menores que 50 mil palavras, como Vaughan e Clancy
(2013) e McAllister (2015).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1103

a investigação ocorre a partir da observação do corpus por meio de


percursos metodológicos específicos, como a extração de listas de
palavras classificadas por ordem de frequência, listas de palavras-chave
com base em um corpus de referência, agrupamentos lexicais e linhas
de concordância. Nesse sentido, “os estudos pragmáticos baseados
em corpora são geralmente baseados na forma e começam mapeando
palavras ou construções em uma série de funções’11 (AIJMER, 2018,
p. 555). No entanto, existem aspectos negativos desta abordagem para
a análise pragmática, atrelados à diversidade funcional e ambiguidade
(O’KEEFFE, 2018). Isto porque em uma abordagem que toma a forma
como o ponto de partida para, então, conduzir uma análise das funções
de dado item linguístico (abordagem forma-função), nos deparamos
com o desafio de filtrar as funções pragmáticas e não pragmáticas que
este performa no discurso. Durante o processo de filtragem, há ainda
a possibilidade de os resultados apresentarem ocorrências ambíguas,
como também aquelas que demonstram uma diversa seleção de funções
pragmáticas para o mesmo item.
Por outro lado, temos a Pragmática com uma metodologia
tradicionalmente descendente, ou seja, de cima para baixo (top-
down) a partir da função. Para tanto, a investigação inicia-se por uma
determinada função (e.g. atos de fala) e caminha em direção às formas
que a desempenham. Este modelo de abordagem efetua-se através de
instrumentos mais diretos, partindo da coleta de produção elicitada,
em contexto controlado, e por meio de técnicas como entrevistas,
testes de complementação discursiva (TCDs), role-plays, diários,
entre outros. Como ponderam O’Keeffe et al. (2020), é inegável que o
campo da Pragmática possui abordagens tradicionais de investigação
já estabelecidas e, consequentemente, a transposição da metodologia
da LC para a pragmática apresenta desafios. Isto porque uma função
pragmática pode apresentar inúmeras formas linguísticas. Ou seja, em
uma abordagem que toma a função como ponto de partida para, então,
recuperar as formas linguísticas que a desempenham (abordagem função-
forma), o pesquisador enfrentará a dificuldade de não extrair todas as
formas de uma função, à exceção de casos em que o corpus é manual e
pragmaticamente anotado.

11
Nossa tradução para: “Corpus-based pragmatic studies are generally form-based and
they start by mapping words or constructions onto a range of functions.”
1104 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

Podemos, assim, considerar que as observações descritas acima


são limitações metodológicas em ambas as áreas. Nesse panorama, como
já antecipado, dentro de um modelo para a PC, precisamos encontrar um
equilíbrio entre as duas abordagens, de maneira que o melhor que cada
uma tem a oferecer para os estudos pragmáticos baseados em corpora
possa ser utilizado na investigação de quaisquer perguntas norteadoras
a serem abordadas dentro de um quadro teórico-metodológico de PC
(O’KEEFFE et al., 2020).
Adiante, apresentamos ambas as abordagens para os estudos
da PC, forma-função e função-forma, bem como seus modelos
metodológicos que, junto ao modelo de leitura integrada de Aijmer
e Rühlemann (2015) previamente apresentado, constroem o quadro
metodológico da nova disciplina.

4.1.1 Abordagem forma-função


A abordagem forma-função na PC é herança da LC, e tem servido
bem aos estudos pragmáticos com base em corpora, cujos interesses são
o mapeamento das funções pragmáticas desempenhadas por específicas
formas linguísticas. Dentro de um modelo metodológico de PC, a
abordagem forma-função é ideal para a investigação de fenômenos
pragmáticos cujas formas são bem definidas e menos variáveis do que,
por exemplo, os atos da fala. Fenômenos pragmáticos que se adaptam bem
a esta abordagem incluem dêixis, marcadores pragmáticos (abrangendo
todas as subcategorias deste grupo, como marcadores discursivos,
marcadores de hesitação, tokens de resposta, mitigadores, etc.) e itens
lexicogramaticais de vagueza.
O início da PC deu-se, majoritariamente, com a utilização da
abordagem forma-função e, ainda hoje, estudos pragmáticos com base
em corpora são geralmente abordados tendo a forma como o ponto de
partida (AIJMER, 2018; JUCKER 2013). Isto se justifica pelo fato de a
LC oferecer uma metodologia de busca e análise linguística rigorosa e
já bem definida, portanto, mais proeminente e dominante, como também
pelo fato de a LC encontrar certas dificuldades quando a abordagem
inicia-se de maneira inversa, i.e. função-forma (Seção 4.1.2 abaixo).
Aijmer (2018, p. 555) argumenta, contudo, que uma grande vantagem
em conduzir uma análise forma-função dentro de um modelo de PC é a
de que uma dada forma sob investigação pode ser estudada em detalhe
e precisão, levando-se em consideração aspectos como frequência,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1105

posição sintática, prosódia semântica, colocação e coligação. Ademais,


o fato de que múltiplas funções pragmáticas de uma determinada forma
linguística podem ser evidenciadas, avaliadas e categorizadas, faz da
PC uma ferramenta que oferece uma nova e significativa perspectiva de
investigação aos estudos de fenômenos pragmáticos.
Neste contexto, O’Keeffe et al. (2020) apresentam quatro
modelos de estratégias investigativas que compõem a abordagem
forma-função dentro do quadro metodológico da PC. Os modelos foram
adaptados daqueles propostos por Ädel e Reppen (2008) para os estudos
baseados em corpus de maneira geral. São eles: (a) busca direta (one-
to-one searching), (b) amostragem (sampling), (c) filtragem (sifting), e
(d) listagem baseada em frequência (frequency-based listing). Como é
apontado pelos autores na proposta original, e reiterado pelos autores da
recente adaptação para a PC, estes modelos mesclam-se com frequência,
ou seja, uma pesquisa pode implementar apenas um modelo como
também uma combinação de dois ou mais modelos.
A busca direta é aquela na qual o pesquisador insere uma forma
para busca e recupera cem por cento de ocorrências relevantes. Contudo,
tal abordagem só é possível uma vez que o corpus tenha sido previamente
etiquetado. Por exemplo, consideremos um pesquisador que se interesse
pelo vocativo querido(a) (e.g. querido, não faça isso). Para a recuperação
total de ocorrências relevantes, o corpus necessita de anotação pragmática
para que ocorrências do adjetivo ou substantivo querido(a) (e.g. amigo
querido; aproveitaram para cantar parabéns para o querido) sejam
automaticamente excluídas da busca e, assim, o pesquisador tenha em
mãos apenas uma lista de ocorrências do fenômeno de seu interesse.
Com todas as ocorrências pragmáticas da forma querido(a) recuperadas e
isoladas automaticamente, o pesquisador segue para a análise qualitativa
e contextual das suas funções.
Por sua vez, o modelo de amostragem diz respeito àquela
abordagem em que o pesquisador criteriosamente seleciona um ou mais
itens de busca que representam um certo fenômeno pragmático. Ädel e
Reppen (2008, p. 3) alertam para o fato de que há uma desvantagem na
utilização deste modelo investigativo: apenas um subconjunto de casos
de determinado fenômeno é investigado, e não o fenômeno em sua
totalidade. Ainda assim, a partir de uma cuidadosa avaliação e desenho de
um quadro de amostragem, o emprego de itens de busca representativos
tem grande potencial para a recuperação de ocorrências relevantes. Os
1106 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

itens de busca representativos de um fenômeno pragmático podem ou não


ser linguísticos. No caso de atos de fala, por exemplo, itens de busca que
podem representar o agradecimento incluem dispositivos indicadores de
força ilocutória (DIFIs) como (muito) obrigado(a), eu agradeço, estou
(muito) agradecido(a) e Deus lhe pague. Por outro lado, itens de busca
não linguísticos variam de informações extralinguísticas anotadas no
corpus ao uso de códigos de transcrição (cf. VAUGHAN, 2008, para um
estudo em que laughs e laughter são usados como itens de busca para o
resgate de ocorrências de humor; Clancy; McCarthy, 2015, para
um estudo em que etiquetas de falantes, e.g. <$1>, são utilizadas como
itens de busca para resgatar casos em que if e when são empregados como
iniciadores de turno). Estudos que lançam mão deste modelo investigativo
certamente fazem também o uso da estratégia de filtragem, uma vez que
o relacionamento de uma forma linguística com uma função pragmática
específica não é garantido.
Filtragem é o modelo de estratégia investigativa no qual o
pesquisador necessita de uma leitura manual das ocorrências obtidas
em uma busca para que, desta maneira, a separação entre ocorrências
relevantes e não relevantes seja manualmente efetuada. Uma vez que
uma primeira leitura superficial de exclusão é concluída, o pesquisador
pode seguir para uma segunda leitura, mais detalhada e minuciosa, das
ocorrências relevantes para a análise, determinação e descrição das
funções de dada forma. A filtragem é especialmente útil para estudos
que utilizam corpora não etiquetados, iniciando a análise a partir da
forma. É também empregada em estudos que se baseiam em amostras,
principalmente aqueles que empregam itens de busca não linguísticos.
Contudo, estudos que não se baseiam em amostra, mas cujo foco está
em determinada e específica forma linguística a fim de mapear suas
funções pragmáticas, também se enquadram bem dentro deste modelo.
Por exemplo, consideremos um estudo em que a análise foca nas
funções que são performadas pelo marcador pragmático tipo na língua
portuguesa oral do Brasil. A fim de analisar contextualmente o marcador
pragmático e descrever as suas funções no discurso, o pesquisador
precisa, primeiramente, ‘separar o joio do trigo’; ou seja, eliminar
ocorrências nas quais tipo não atua em uma função pragmática (e.g. eu
prefiro outro tipo de comida).
Por fim, temos a listagem baseada em frequência. Neste
modelo investigativo, que mais se assemelha a uma metodologia típica
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1107

de LC, o pesquisador inicia a pesquisa a partir de listas de frequência.


Ou seja, listas de frequência, sejam elas de um corpus singular ou de
comparações entre corpora, são analisadas com o objetivo de identificar
formas salientes (palavras ou colocações) que possam indicar fenômenos
pragmáticos. Neste sentido, a pesquisa e seus itens de busca são
delimitados pelo corpus e seu contexto discursivo em particular e, de
acordo com Ädel e Reppen (2008, p. 3), esta é uma estratégia efetiva para
destacar padrões linguísticos de um banco de dados específico. O’Keeffe
et al. (2020, p.53) afirmam que variações em frequência, distribuição e
padrões linguísticos, são comumente justificadas através de conclusões
pragmáticas em estudos com base em listas de frequência. De fato, itens
linguísticos de natureza pragmática são omnipresentes no discurso oral,
e mesmo abordagens guiadas por corpus (diferentes das baseadas em
corpus) têm uma alta probabilidade de apresentar resultados que apontam
para o sistema pragmático da linguagem em uso (cf. O’KEEFFE et al.,
2007, capítulos 2 e 8).
Um exemplo de estudo guiado por corpus é o de Santos (2019).
Neste estudo, o pesquisador usa uma amostra do Spoken Corpus of
Brazilian Portuguese and L2-English (SCoPE²) (SANTOS, 2020) e
compara uma lista das 15 palavras mais frequentes com uma mesma lista
feita a partir do Limerick Corpus of Irish English (LCIE) (FARR et al.,
2004), a fim de determinar diferenças e similaridades entre nativos do
inglês irlandês e brasileiros universitários na Irlanda. Nesta etapa, like
foi identificada como uma palavra merecedora de maior atenção, estando
colocada na décima quarta posição da lista SCoPE², enquanto na terceira
posição na lista LCIE. Uma segunda etapa de listagem incluiu uma
lista de palavras-chave provenientes do SCoPE² quando este corpus foi
contrastado e comparado ao LCIE como o corpus referência para o estudo.
Neste momento, like ocupou a posição de terceiro lugar, confirmando
sua saliência no SCoPE². Após uma filtragem manual de ocorrências
pragmáticas e não pragmáticas, Santos (2019) pôde confirmar um total de
85% de ocorrências de like funcionando como um marcador pragmático.
Em sua etapa qualitativa, o estudo demonstra que like apresenta as
mesmas sete funções em ambos os corpora (mitigador, dispositivo de
aproximação, exemplificador, marcador de hesitação, marcador de foco
e dispositivo de discurso relatado), com diferenças concernentes apenas
à quantidade de ocorrências em cada função, como também à posição
sintática do marcador pragmático. Este estudo exemplifica e demonstra
1108 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

a adequabilidade da estratégia de listagem baseada em frequência como


um ponto de partida inicial para a investigação de formas linguísticas
que se destacam em corpora de contextos linguísticos específicos devido
às suas funções pragmáticas.
É inegável que a abordagem forma-função, com seus quatro
modelos investigativos apresentados aqui, oferece ferramentas eficazes
para o estudo de uma grande variedade de fenômenos pragmáticos
baseados em corpora. Contudo, há também fenômenos que são mais
efetivamente abordados dentro de um quadro metodológico reverso
(função-forma), devido à dificuldade de se recuperar e identificar
toda a abrangência de formas que os caracterizam. Esta abordagem
reversa, embora mais complexa e justificavelmente mais trabalhosa,
tem ganhado a atenção dos pesquisadores de PC nos últimos anos, e
estes (especialmente os da escola europeia) têm se debruçado sobre o
assunto a fim de desenvolverem um modelo metodológico inclusivo para
a PC; ou seja, que inclua ambas as abordagens. Abaixo, apresentamos
uma proposta de modelos investigativos que constituem a abordagem
função-forma.

4.1.2 Abordagem função-forma


A abordagem função-forma espelha-se na metodologia
tradicional pragmática na qual o ponto de partida acontece através de
uma determinada função e investiga as formas que emergem a partir de
contextos controlados por mecanismos de elicitação. Se, por um lado, a
LC mostra-se uma perfeita aliada à Pragmática pela abordagem forma-
função, como observamos na seção anterior, por outro, um dos desafios
metodológicos da PC é identificar, em corpora de estudo, fenômenos pela
abordagem função-forma que são variáveis e difíceis de ser identificados.
Isso se dá porque as buscas pelas funções não são realizadas de forma
automática e precisam ser bem delimitadas.
A metodologia pragmática partindo da função ainda é incipiente
no campo da PC. Isso se justifica pela dificuldade em extrair as
ocorrências de dada função, uma vez que para a maioria dos fenômenos
pragmáticos, a correlação forma e função é inexistente (RÜHLEMANN;
AIJMER, 2015). Ao mesmo tempo em que temos a técnica tradicional
de elicitação de dados com controle do contexto situacional dos estudos
pragmáticos a partir da função, acessamos uma menor quantidade de
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1109

dados. Em contrapartida, temos uma grande variedade de formas nos


corpora disponíveis e pouca riqueza contextual, a menos que o corpus
seja compilado pelo próprio pesquisador (O’KEEFFE, 2018).
É nesse desafio para equilibrar função, contexto, forma e dados
linguísticos em grandes quantidades, que apresentamos e discutimos a
seguir os modelos de estratégias investigativas, a partir de O’Keeffe et
al. (2020), que compõem a abordagem função-forma dentro do quadro
metodológico da PC. São eles: (a) busca direta (one-to-one searching),
(b) amostragem, busca e filtragem (sampling, searching and sifting), (c)
sementes (seeds), e (d) mapeamento pragmático indireto (originalmente
nomeado pelos autores como solutions for larger corpora, mas aqui
apresentado com a terminologia adaptada).
A busca direta apresenta maiores dificuldades na abordagem
função forma. Tomando como base os atos de fala em um corpus,
McAllister (2015, p. 29) adverte-nos que neste tipo de busca o pesquisador
limita-se às formas linguísticas que considera atuar de forma pragmática,
não sendo suficiente para destacar as formas de tal fenômeno em sua
totalidade, o que descarta, principalmente, as formas não presumidas
como tendo valor pragmático. Desta forma, a recuperação de todas as
ocorrências relevantes da busca direta nessa perspectiva, que parte da
função, só é possível por meio de corpora pragmaticamente anotados,
considerados os ‘cálices sagrados’ para a área da PC (O’KEEFFE et al.,
2020).
A construção de corpora orais não é tarefa fácil, e isso se reflete
no grande número de corpora escritos que, presumivelmente, ainda
dominam a área da LC. Isso sucede porque a compilação envolve uma
série de procedimentos, como o desenho do corpus, a disponibilidade
dos informantes, o processo de gravação, a elaboração dos critérios de
transcrição, o processo transcritório em si, entre outros. Nesse sentido, o
número de corpora orais anotados pragmaticamente é ainda menor, mas
se torna necessário dependendo do tópico a ser investigado. Apesar de
a anotação de corpora ser um processo manual maçante, esta realidade
está gradativamente mudando nos últimos anos com o advento de novas
ferramentas e sistemas de anotação que, posteriormente, nos permitem
a extração automática de um determinado fenômeno pragmático, como
o Dialogue Annotation and Research Tool (DART) (WEISSER, 2015).
Segundo Weisser (2019, p. 131), a ferramenta possibilita pesquisas com
grandes corpora não apenas para investigações de aspectos sintáticos,
1110 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

mas também pragmáticos, como DIFIs, atos de fala, entre outras


características da interação.
No Brasil, destacamos o C-ORAL-BRASIL (RASO; MELLO, 2012),
corpus de fala espontânea informal do português brasileiro que surgiu
a partir do C-ORAL-ROM (CRESTI; MONEGLIA, 2005), por sua vez
composto por línguas românicas europeias (espanhol, francês, italiano e
português europeu). A estrutura do C-ORAL-BRASIL permite o estudo
da fala sob uma perspectiva pragmática devido ao seu design e ampla
variedade situacional (RASO, 2012). Para isso, o corpus é segmentado em
enunciados (atos de fala) e em unidades tonais, respectivamente com barra
dupla (//) e barra simples (/), e símbolos para indicação de enunciados
interrompidos (+) e retratações ([/n]). Ademais, as transcrições e o
material acústico são alinhados. Todo o processo de segmentação do
C-ORAL-BRASIL foi validado para a redução de desacordos entre os
membros do projeto. Como exposto, devido à anotação de um corpus
grande ser desafiadora, uma saída para o estudo de caráter pragmático
que os pesquisadores têm encontrado é a anotação de corpora menores
que possibilitam uma anotação mais precisa. Ainda assim, como aponta
O’Keeffe (2018), o trabalho requer critérios de validação.
Exemplos de corpora internacionais anotados incluem o
subcorpus do Michigan Corpus of Academic Spoken English (MICASE),
manualmente anotado para atos de fala (MAYNARD; LEICHER, 2007)
e o Systems of Pragmatic annotation in ICE-Ireland (SPICE-Ireland)
Corpus, um projeto desenvolvido a partir do subcorpus do International
Corpus of English-Ireland (ICE-Ireland) (KALLEN; KIRK, 2012),
e são considerados avanços para a área. O SPICE-Ireland é anotado
pragmática e prosodicamente e possui aproximadamente 600,000
palavras. Dessa forma, por exemplo, o status do ato de fala de cada
enunciado foi identificado com etiquetas, tendo Searle (1976) como base:
representativas <rep> ... </rep>; diretivas <dir> ... </dir>; comissivas
<com> ... </com>; expressivas <exp> ... </exp> e declarativas <decl>
... </decl>. Além disso, outras marcações foram usadas, como (*) para
marcadores discursivos, (+) para indicar discursos relatados, (%) em
final de unidade entonacionais, entre outras combinações. Portanto, num
modelo de busca direta, dentro da abordagem função-forma, o uso de
um corpus pragmaticamente anotado como o SPICE-Ireland possibilita
a extração total de formas que representam um determinado fenômeno
pragmático. Ou seja, um pesquisador interessado em atos da fala com
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1111

foco, por exemplo, em expressivas do inglês irlandês, tem a possibilidade


de estudar todas as formas desta função naquela variedade linguística com
o auxílio das etiquetas que foram previamente anotadas no corpus. Em
outras palavras, todas as formas de uma determinada função pragmática
são recuperadas através do uso de itens de busca com base em etiquetas
e códigos anotados.
Corpora pequenos, apesar de não serem ideias para certos
estudos como os lexicais e fraseológicos, podem ser adequados a outros
(KOESTER, 2010). Nesse sentido, especialmente a partir de perguntas
de pesquisa e contextos bem delimitados, conseguimos anotar e extrair
fenômenos pragmáticos específicos para análise. Já considerando a
abordagem função-forma para investigar corpora maiores, precisaremos
combinar modelos investigativos a fim de delimitar os dados.
A amostragem, busca e filtragem é a combinação de modelos
investigativos, aplicada a corpora maiores, que nos possibilita uma
análise pragmática partindo da função. A transformação de um corpus
grande em uma amostra menor é ideal para a PC. Com o objetivo de
tornar determinado corpus mais facilmente manejável e a investigação
completa de determinada função pragmática, este modelo inicia-se
através da escolha de uma amostragem aleatória de determinado corpus.
A partir desta amostra, estabelecemos os parâmetros para identificar os
itens e conduzimos uma filtragem manual, ao mesmo tempo em que
conduzimos o processo de anotação de todas as ocorrências relevantes
nos dados. Dessa forma, podemos, através da anotação por uma leitura
qualitativa, categorizar todos os fenômenos restantes. Um dos principais
benefícios deste modelo investigativo, é que, se o pesquisador ainda tiver
acesso aos metadados, este terá em mãos um número maior de ocorrências
significativas do que um estudo tradicional pragmático possibilitaria,
além das informações contextuais detalhadas das situações.
Por sua vez, a busca a partir de sementes, isto é, resultados de
pesquisas anteriores, é outro método que pode ser aplicado a corpora
maiores. Os resultados provenientes de pesquisas pragmáticas, através
dos variados instrumentos de coleta ao longo dos anos, constituem um rico
banco de dados neste modelo de investigação. Dessa forma, o pesquisador
não desconsidera o que foi produzido e tem as sementes como ponto de
partida para análise das funções pragmáticas em corpora. Considerando
as pesquisas pragmáticas com TCDs, por exemplo, podemos considerar
resultados de estudos como os de Beebe et al. (1990), que investigaram
1112 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

a transferência pragmática em recusas de inglês como segunda língua em


um grupo de japoneses nativos de japonês, japoneses falantes de inglês
como segunda língua e americanos nativos de inglês. Os atos de fala
de recusa foram analisados em pedidos, convites, ofertas e sugestões,
considerando ainda variáveis sociais. Segundo os autores (p. 57), se um
participante, na recusa de um convite para um jantar realizado por amigos,
proferir um ato de recusa como ‘I’m sorry, I have theater tickets that night.
Maybe I could come by later for a drink’, teremos uma fórmula como
[expression of regret] [excuse] [offer of alternative]. Assim, neste modelo
de análise da função-forma, podemos considerar formas específicas e
fórmulas oferecidas pelo estudo de Beebe et al. (1990) como sementes
para a busca em outros corpora, considerando ainda contextos situacionais
similares, obtendo um conjunto de dados comparáveis. Tem-se, nesse
caso, modelos de formas existentes para extrair fenômenos específicos
em corpora e gerar um subcorpus comparável pelas mesmas condições
(O’KEEFFE, 2018).

4.1.2.1 Mapeamento pragmático indireto na função-forma


Como vimos até aqui, as formas de refinamento na abordagem
função-forma exigem que o pesquisador busque mecanismos diferentes
para extrair dados relevantes. Outros métodos que podem ser usados
como forma de investigação, como apontado por O’Keeffe et al. (2020),
consistem no uso de (a) DIFIs, (b) busca por léxico ou características
gramaticais associadas a um ato de fala, e (c) busca por expressões
metacomunicativas. Destacamos que estes métodos são apresentados
pelos autores como constituintes de um conjunto de ações a serem
aplicadas como soluções metodológicas para o uso de corpora de maior
escala. Contudo, consideramos tais modelos investigativos como parte
de um mapeamento pragmático indireto que consiste em mecanismos de
buscas mediadas por itens que objetivam abranger determinadas funções
pragmáticas ao máximo. Como apresentado anteriormente, soluções
metodológicas para grandes corpora que não são pragmaticamente
anotados relacionam-se, frequentemente, com estratégias como
amostragem e filtragem, que, por sua vez, são invariavelmente aplicadas
aos modelos apresentados dentro do escopo de mapeamento pragmático
indireto, assim justificando uma adaptação de terminologia para o último
modelo que constitui a abordagem função-forma.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1113

Nesse sentido, a partir do refinamento de dados por meio do


uso dos DIFIs, considerando o ato de fala expressivo na língua inglesa,
tomamos como exemplo o ato de desculpar-se e sua realização pelo DIFI
sorry. Dessa forma, teremos várias ocorrências para esta busca, mas
observamos que o uso de DIFIs na PC está relacionado à precisão e busca
limitados. Isso se dá porque quando buscamos por sorry, deparamo-nos
com ocorrências não relacionadas ao ato de desculpar-se, com o item de
busca aparecendo, por exemplo, como atributivo (JUCKER, 2013). Da
mesma forma, a busca é limitada, pois nem todos os pedidos de desculpas
incluem sorry, e tal DIFI pode não ser representativo deste ato. Assim,
para um mapeamento mais abrangente, precisaremos incluir outros
DIFIs como my mistake, pardon ou excuse me. No entanto, o processo
de filtragem neste processo é indispensável.
Como extensão da busca por DIFIs, consideramos o uso do
léxico ou expressões gramaticais associadas a determinados atos de fala
(JUCKER, 2013). Em um estudo sobre elogios através de diferentes
culturas, Wolfson (1981, p. 122) mostra que estes são altamente
convencionalizados no inglês americano em estruturas sintáticas como
NP [is/looks] (really) ADJ ou I (really) [like/love] NP. Destacamos aqui
a importância de termos um corpus etiquetado morfossintaticamente
que ajudará nesse tipo de busca. A não extração de todas as formas,
principalmente as mais incomuns, é uma limitação, além de não ser
uma metodologia direta, já que precisamos transformar expressões em
fórmulas específicas (JUCKER, 2013).
Por fim, expressões metacomunicativas são ‘palavras e frases que
podem ser usadas para falar sobre aspectos da comunicação, no sentido
de que nomeiam um determinado ato de fala, como elogio, saudação,
insulto ou agradecimento, ou um tipo específico de comportamento, como
a polidez e a impolidez12 (JUCKER et al., 2012). Portanto, podemos
examinar como as pessoas concebem e avaliam o uso da linguagem
(HAUGH, 2018). No entanto, a análise da metalinguagem ou expressões
metacomunicativas necessita do suporte de megacorpora para a obtenção
de ocorrências significativas, e, ainda que o acesso a evidências de

12
Nossa tradução para: “[metacommunicative expressions are] words and phrases
that can be used to talk about aspects of communication, in the sense that they name
a particular speech act, such as compliment, greet, insult or thank, or a particular type
of behaviour, such as polite or impolite”
1114 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

determinados elementos a partir de como as pessoas os avaliam seja


indireto, temos em mãos dados importantes de natureza etnográfica
(JUCKER, 2013). Nesse sentido, o estudo de Culpeper (2009) demonstra
isso ao investigar a metalinguagem da impolidez por acadêmicos e não
acadêmicos no Oxford English Corpus com aproximadamente 2 bilhões
de palavras. O autor teve como ponto de partida uma lista de rótulos
usados na literatura sobre polidez e impolidez, como impolite(ness),
rude(ness), aggravation, aggravated/aggravating, language/facework
(aggravated impoliteness), aggressive facework, face attack e verbal
aggression. Culpeper revela que rude é frequente na linguagem de não
acadêmicos e, na maioria das vezes, ocorre em contextos públicos,
além de que entre os sujeitos tidos como rude, estão porteiros, garçons/
garçonetes, equipe. Curiosamente, as pessoas também fazem menção à
‘Yorker’ e ‘French’, reforçando estereótipos de lugares.
Discorremos, nas duas últimas seções, os oito modelos
investigativos de análise que integram as abordagens forma-função e
função-forma, essenciais para as investigações de fenômenos pragmáticos
em corpora. Na próxima seção do artigo, escolhemos um modelo
investigativo, a filtragem, pela abordagem forma-função, para ilustrar
em um estudo de caso como a análise do marcador pragmático kind of
pode ser conduzida.

5 Estudo de caso: kind of no inglês de brasileiros universitários


Segundo Jucker et al. (2018, p. ix), PC é uma das três abordagens
metodológicas empíricas para a análise de fenômenos pragmáticos (sendo
as outras duas a pragmática experimental e a pragmática observacional).
Ademais, dentre os fenômenos pragmáticos, os marcadores pragmáticos
(MPs) são considerados como umas das áreas-chave da pesquisa
pragmática de corpus (CLANCY; O’KEEFFE, 2015). MPs são uma
extensa e eclética classe de itens linguísticos que se manifestam em
formas de palavras (e.g. like no inglês, e tipo no português) ou fórmulas
linguísticas padronizadas (e.g. you know e you know what I mean no
inglês, e olha só e e por aí vai no português), muitas vezes também
manifestando-se em formas que possam não ser consideradas como
palavras (e.g. interjeições: ah, oh; tokens responsivos: mmhm/hum
hum). Estes itens linguísticos marcam as atitudes e posicionamentos dos
falantes, e atuam de maneira interpessoal no ato da conversação, além
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1115

de funcionarem como um auxílio na organização estrutural do discurso


(cf. BRINTON, 1996; CARTER; McCARTHY, 2006).
Assim, em consideração à natureza pervasiva dos MPs na
linguagem, como também atentos à sua importância pragmática no
processo de interpretação de sentidos na comunicação, apresentamos
agora um estudo de caso comparativo, no qual analisamos o MP kind of
no inglês falado por brasileiros universitários no Brasil e na Irlanda. O
estudo de caso apresentado tem objetivo duplo: (a) exemplificar o modelo
da PC em um estudo que considera um fenômeno pragmático com base
em corpora, e (b) contribuir com o campo de estudos que visa a melhor
compreensão do uso de MPs em língua adicional/estrangeira (L2). Apesar
de a produção acadêmica com foco em MPs na língua materna (L1)
não ser escassa, muito ainda precisa ser estudado e compreendido com
respeito ao uso de MPs na L2. Em sua maioria, os estudos de MPs na L2
tendem a comparar a produção linguística do não-nativo com aquela do
nativo. Embora tal comparação seja positiva, por destacar características
particulares da L2, alertamos para o fato de que tal comparação não
deve atrelar-se à perspectiva de linguagem deficiente com a qual muitos
destes estudos são relacionados quando descrevem a linguagem do não-
nativo que não atinge uma norma nativa (cf. PRODROMOU, 2008).
Neste sentido, o presente estudo não só aborda L2 de uma perspectiva
de competência, como também compara L2 com L2, a fim de investigar
possíveis diferenças no uso do MP kind of entre dois grupos distintos de
brasileiros universitários falantes do inglês.
O sentido nuclear de kind of/sort of é o de aproximação e
imprecisão. Ao fazerem uso deste MP, os falantes indicam aos seus
interlocutores que o material linguístico que o sucede deve ser interpretado
de maneira vaga e imprecisa. Ou seja, kind of (como também sua versão
mais usada no inglês britânico, sort of) sinaliza uma informação de
imprecisão, e convida o interlocutor a aproximar e ajustar o material
linguístico para que a interpretação intencionada seja feita. Estudos que
investigaram kind of/sort of em L1 destacam que estes MPs operam nos
três principais domínios funcionais da classe: atitudinal, interpessoal e
textual (cf. AIJMER, 2002; KIRK, 2015). No domínio atitudinal (ou
de posicionamento), o falante marca que há uma discrepância entre o
que este tem em mente e o material linguístico falado. Neste domínio,
kind of/sort of apresenta um status especial quando comparado com a
maioria dos MPs, uma vez que sua presença afeta diretamente o sentido
do conteúdo proposicional (AIJMER, 2002). No domínio interpessoal
1116 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

(ou interativo), kind of/sort of sinaliza que o material linguístico marcado


deve ser interpretado de maneira não assertiva e final. Em outras palavras,
neste domínio, o falante leva em consideração a maneira que sua escolha
de palavras será interpretada pelo seu interlocutor e, portanto, kind of/
sort of é usado para mitigar a força ilocutória do material linguístico
que o sucede. Finalmente, no domínio textual, o MP é utilizado para
sinalizar uma necessidade de ajustamento por parte do próprio falante
com relação à estrutura do seu discurso. Neste domínio, kind of/sort of
auxilia o falante com a reestruturação semântica e sintática do conteúdo
comunicado, indicando também, a nível interpessoal, que o falante deseja
manter o turno e continuar seu discurso.
No que diz respeito aos estudos investigativos do MP kind of/sort
of em L2, destacamos três que lançaram mão do Louvain International
Database of Spoken English Interlanguage (LINDSEI) a fim de apontar
diferenças no uso deste MP entre nativos e não-nativos. O primeiro, Gilquin
(2008), investiga marcadores de hesitação no discurso de aprendizes
em nível avançado de inglês com língua materna francesa. Para tanto, a
autora compara o LINDSEI-FR com o Louvain Corpus of Native English
Conversation (LOCNEC). Dentre os marcadores de hesitação analisados, a
autora inclui uma subcategoria de MPs, da qual kind of/sort of é pertencente.
Os resultados de sua pesquisa demonstram que este coorte de aprendizes
faz grande uso de pausas, sejam elas preenchidas ou silenciosas, mas não
conseguem explorar a variedade de MPs que desempenham a mesma
função. A autora também sugere, com base em seus resultados, que essa
má representação de MPs pode ser devido a uma superdependência do MP
well, que apresentou grande frequência no LINDSEI-FR. Com referência
ao MP kind of/sort of, a autora destaca que sort of é usado, funcionalmente,
de maneira diferente quando comparado com nativos, uma vez que estes
aprendizes fazem um maior uso da sua função textual devido a limitações
de vocabulário. Apesar de a maioria dos exemplos apresentados pela autora
serem discutivelmente casos de hesitação, no sentido de reformulação e
ganho de tempo para recuperação cognitiva de vocabulário, o uso de kind of/
sort of nesta função por não-nativos é previsto. Tal função já foi evidenciada
no discurso nativo do inglês irlandês (KIRK, 2015), e do inglês britânico
(AIJMER, 2002), sendo uma estratégia conversacional crucial. Sendo
assim, é de se esperar que não-nativos, especialmente aprendizes, façam
uso da função textual do MP kind of/sort of em sua busca por formulação
linguística adequada em uma L2.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1117

Buysse (2010), por sua vez, analisa o inglês falado por aprendizes
avançados e nativos da língua holandesa. O autor investiga o uso de uma
seleção de alguns dos MPs mais comuns da língua inglesa: so, well, you
know, like, kind of/sort of, e I mean. Este é um estudo quantitativo e
apresenta resultados de frequências de ocorrências de cada um dos MPs
investigados de maneira comparativa entre os corpora LINDSEI-DU e
LOCNEC. Os resultados apresentados mostram que os aprendizes do
LINDSEI-DU raramente fazem uso de MPs com funções interpessoais
(you know, like, kind of/sort of, I mean), enquanto aqueles com funções
textuais são usados em demasia. Apesar da importância funcional dos
MPs de funções interpessoais, o autor argumenta que um motivo para
sua baixa frequência no LINDSEI-DU, quando comparado ao LOCNEC,
é o fato de tais MPs serem relacionados à linguagem informal e, muitas
vezes, serem estigmatizados.
Finalmente, Miranda (2020) investiga o uso de marcadores de
linguagem vaga por brasileiros aprendizes de inglês em nível avançado e
americanos nativos da língua inglesa. Comparando os corpora LINDSEI-
BR e SBCSAE (Santa Barbara Corpus of Spoken American English),
o autor faz uma análise quantitativa de vários marcadores de linguagem
vaga, destacando o MP kind of/sort of por ser o mais frequente em
ambos os corpora. Contudo, e interessantemente, apesar de os aprendizes
brasileiros não fazerem uso da forma sort of, enquanto os falantes
americanos o fazem com ambas as formas, LINDSEI-BR apresenta uma
frequência maior do que no SBCSAE quando somados kind of e sort of
juntos. Na etapa qualitativa de seu estudo, Miranda (2020) identifica as
funções pragmáticas exercidas pelo MP kind of em ambos os corpora, e
nota que a função mais usada pelos aprendizes brasileiros é atitudinal,
marcando inexatidão do material linguístico que o sucede, seguida da
função interpessoal de mitigação. No SBCSAE, contudo, a mitigação
marcada pelo kind of é mais frequente que no LINDSEI-BR, e casos
de kind of marcando vocabulário técnico ou complexo, como também
linguagem vulgar, são encontrados apenas no SBCSAE.
O que estes estudos sobre o uso de MPs na linguagem do aprendiz
revelam é que, apesar de algumas limitações, MPs são também presentes
no discurso oral do aprendiz e têm um papel importante na L2. Por
equiparem falantes de L2 em um nível interpessoal quando usados com
sucesso, e por limitarem a contribuição destes falantes em conversação
quando ausentes, MPs são indispensáveis para uma comunicação bem
1118 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

sucedida. Considerando este panorama apresentado, o presente estudo


contribui para o corpo de estudos em MPs na L2 ao analisar kind of no
discurso oral de brasileiros falantes de inglês em dois contextos diversos.

5.1 Corpora e metodologia


Os dados sob investigação no presente estudo são provenientes
de dois corpora: o SCoPE² e o Brazilian Spoken English Learner Corpus
(BraSEL), e apenas um subcorpus de cada é utilizado. O SCoPE² e
o BraSEL foram desenvolvidos para projetos de doutorado com o
objetivo de analisar a pragmática do inglês falado por brasileiros, porém
em contextos linguísticos distintos. O primeiro é um corpus bilíngue
composto pelo inglês falado por universitários na Irlanda e pelo português
nativo destes mesmos participantes (cf. SANTOS, 2020 para uma
descrição detalhada do processo de desenho, compilação e transcrição
do corpus). O material linguístico do SCoPE² representa a linguagem
informal em uso real, e foi coletado através de encontros informais de
bate-papo entre o pesquisador e os participantes. É importante ressaltar
que este não é um corpus de aprendizes, mas sim de inglês como língua
adicional, uma vez que todos os participantes terminaram os seus cursos
de língua inglesa, obtiveram com sucesso um certificado internacional
de proficiência em nível avançado ou proficiente, e se comunicam
eficientemente dentro de um ambiente internacional com ambos nativos
e não-nativos da língua inglesa a nível pessoal, profissional e cultural.
Nesse sentido, os participantes do SCoPE² são considerados successful
users of English (SUEs; PRODROMOU, 2008).
Em contrapartida, o BraSEL é um corpus que está em fase de
compilação, e é composto por material linguístico coletado de brasileiros
universitários no Brasil que, seguindo a tabela de níveis de proficiência
do Quadro Europeu Comum de Referência para as Línguas (CEFR, no
acrônimo em inglês), classificam-se entre os níveis A1-C2. Este é um
corpus de aprendizes de inglês como língua estrangeira e os dados são
coletados através de um encontro entre um entrevistador e o participante
para uma conversa informal que envolve três atividades comunicativas
distintas. Na primeira parte, os aprendizes têm a oportunidade de
brevemente apresentarem-se, enquanto a segunda parte decorre através
de uma conversa informal sobre a vida em geral dos aprendizes (e.g.
interesses e hobbies). Por fim, a terceira e última etapa é baseada em uma
série de imagens provocantes, das quais o aprendiz deve selecionar uma e
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1119

descrevê-la, também respondendo perguntas sobre as imagens. Tabela 1,


abaixo, resume as características de cada subcorpus utilizado neste estudo.
TABELA 1 – Características dos subcorpora provenientes
do SCoPE² e do BraSEL Corpus

SCoPE² BraSEL
Número de participantes 7 7
Gênero 5 mulheres, 2 homens 5 mulheres, 2 homens
Nacionalidade Brasileiros Brasileiros
Contexto de L2 Universitários na Irlanda Universitários no Brasil
C1-C2 CEFR; SUEs
Nível de proficiência B2 CEFR
(Prodromou, 2008)
Gravações de áudio de
Gravações de áudio de bate-
Tipo de dados tarefas comunicativas
papos informais
informais
Um a um (pesquisador e Um a um (entrevistador e
Tipo de interação
participantes) participantes)
Número de tokens 43,596 20,890

A metodologia de análise aplicada no presente estudo refere-se


a um dos modelos de estratégias investigativas da abordagem de PC
forma-função: a filtragem (cf. Seção 4.1.1). O método de análise também
se beneficia do modelo de leitura integrada proposto por Rühlemann
e Aijmer (2015) e descrito na Seção 4. Assim sendo, primeiramente
o número total de ocorrências do MP kind of em cada subcorpus foi
contabilizado e normalizado a fim de comparação quantitativa. Apenas
as ocorrências referentes aos participantes foram consideradas, uma vez
que as participações do pesquisador e do entrevistador foram excluídas.
As ocorrências foram, então, manualmente verificadas e filtradas para
que casos não pragmáticos de kind of fossem também excluídos. Na
etapa qualitativa, cotexto e contexto foram analisados a fim de informar
e auxiliar na determinação de funções pragmáticas desempenhadas pelo
MP no discurso oral de L2 dos brasileiros universitários participantes
de ambos os corpora. Finalmente, cada caso pragmático de kind of
foi alocado em um dos três domínios funcionais do MP (atitudinal,
interpessoal e textual) a motivo de comparação de preferência funcional
demonstrada por cada grupo de brasileiros ao fazerem uso desta forma
linguística.
1120 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

5.2 Resultados
Apesar de kind of e sort of performarem as mesmas funções
pragmáticas como MPs, apenas o primeiro é utilizado pelos brasileiros
nas amostras analisadas. Considerando que kind of é mais comumente
relacionado com o inglês americano, e sort of com o inglês britânico,
a ausência do segundo pode ser justificada pelo fato de brasileiros
terem mais contato com o inglês americano, seja através de instrução
formal em sistemas de ensino de língua inglesa, ou através de mídias de
entretenimento. Quando o número de ocorrências é quantitativamente
comparado entre SCoPE² e BraSEL, kind of ocorre 16 vezes no BraSEL
(frequência normalizada de 11.6 por cada 10,000 palavras) e 35 vezes
no SCoPE² (13 por cada 10,000 palavras). Contudo, como apresentado
na Figura 2 abaixo, a dispersão do MP em ambos os subcorpora não é
nivelada. No SCoPE², dois participantes não usam o MP de maneira
alguma, enquanto um participante sozinho faz uso do MP 19 vezes (cada
participante é identificado por um círculo na figura, ou boxplot, abaixo).
No BraSEL, por sua vez, três participantes não fazem uso do MP, enquanto
outros dois fazem uso do MP 5 vezes, e outro o utiliza 4 vezes, não
apresentando nenhum caso fora da curva (ou outlier; BREZINA, 2018).
FIGURA 2 – Dispersão de kind of nos subsorpora SCoPE² e BraSEL

Fonte: Boxplot gerado pela plataforma Lancaster Stats


Tools online (BREZINA, 2018)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1121

Estes resultados demonstram que, embora a frequência do uso de


kind of entre os dois subcorpora analisados seja similar em sua superfície,
uma investigação mais aprofundada de dispersão do item linguístico
em ambos os subcorpora revela que nem todos os participantes fazem
uso deste MP, e que um outlier em particular no SCoPE² apresenta uma
possível maior dependência de kind of em seu discurso oral de inglês
L2. Na próxima subseção, apresentamos resultados qualitativos a fim
de descrever e exemplificar as funções performadas por kind of nos
subcorpora analisados, bem como sugerir uma possível explicação para
o caso fora da curva apresentado no SCoPE².

5.2.1 Resultados qualitativos


Como observado acima, o MP kind of atua nos três domínios
funcionais da classe: o atitudinal (de posicionamento), o interpessoal
(interativo) e o textual (organização do discurso). Contudo, kind of
foi também identificado como atuando pragmaticamente em fórmulas
padronizadas que constituem MPs de linguagem vaga (e.g. marcadores
de categorias vagas como and this kind of things, or this kind of stuff,
etc.), e também em casos onde o falante usa kind of coocorrendo com
things para marcar vagueza no discurso. Estes dois casos, que não se
classificam como MPs kind of independentes, são aqui classificados como
Outros. Exemplos de todas as funções citadas são apresentados a seguir.
Contudo, Tabelas 2 e 3, abaixo, primeiramente expõem a distribuição
funcional de kind of no SCoPE² e no BraSEL, respectivamente.
TABELA 2 – Distribuição funcional de kind of no SCoPE²

Atitudinal Interpessoal Textual Outros TOTAL


SUE_1 1 2 1 1 5
SUE_2 0 0 0 0 0
SUE_3 8 0 1 10 19
SUE_4 1 0 0 0 1
SUE_5 5 0 0 0 5
SUE_6 0 0 0 0 0
SUE_7 2 3 0 0 5
TOTAL 17 5 2 11 35
1122 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

TABELA 3 – Distribuição funcional de kind of no BraSEL

Atitudinal Interpessoal Textual Outros TOTAL


Aprendiz_1 1 0 1 0 2
Aprendiz_2 0 0 0 0 0
Aprendiz_3 0 0 0 0 0
Aprendiz_4 1 3 1 0 5
Aprendiz_5 2 3 0 0 5
Aprendiz_6 4 0 0 0 4
Aprendiz_7 0 0 0 0 0
TOTAL 8 6 2 0 16

Como visto nas Tabelas 2 e 3 acima, todas as funções pragmáticas


de kind of são encontradas em ambos os subcorpora, apesar de não
utilizadas na mesma frequência por todos os brasileiros participantes
ou, às vezes, sequer usadas por alguns, com exceção apenas de kind of
marcando linguagem vaga na estrutura interna da oração ou constituindo
MPs de categorias vagas no BraSEL.
No domínio funcional atitudinal, o falante marca o material
linguístico que sucede kind of como impreciso e inexato, e sinaliza que
tal material deve ser ajustado de maneira a aproximar-se o máximo
possível do sentido intencionado. Desta forma, o MP pode ser usado
para (a) ajustar uma diferença entre um pensamento e uma representação
linguística; (b) marcar palavras técnicas, jargões, uso metafórico da
linguagem e coloquialismos do falante; (c) como um aproximador de
numerais; e (d) para compensar a ausência de vocabulário no repertório
linguístico de um falante (AIJMER, 2002). Nos subcorpora analisados,
a função mais usada do kind of atitudinal é (a), seguida por (d); a
função (b) não está presente nos subcorpora, enquanto a função (c) é
usada apenas uma vez. É importante ressaltar que ambas as funções (a)
e (d) caminham lado a lado e, muitas vezes, há uma linha tênue entre
kind of marcando a necessidade de ajuste entre um pensamento e sua
representação linguística e o mesmo marcando explicitamente a ausência
de vocabulário no repertório linguístico de um falante, especialmente em
contextos de L2. Considere os exemplos abaixo extraídos do SCoPE²
e do BraSEL, que representam as funções (a) e (d). Note que, como
destacado nas Tabelas 2 e 3 acima, participantes SUE fazem parte do
SCoPE², enquanto participantes aprendizes fazem parte do BraSEL:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1123

(1) SUE_3: I went to Whistler. It´s kind of Campos do Jordão in


Brazil.
(2) Aprendiz_6: Actually, I have started one book at vacation <nv>
laugh </nv> but when when, em, our classes returned I kind of
abandoned it.
(3) SUE_3: … students who live like Sligo <$E> pause </$E> they
receive two amounts <$E> pause </$E> one for food <$E>
pause </$E> three hundred+
Pesquisador: Mmhm.
SUE_3: +in a card that is kind of uhm vale-alimentação+
Pesquisador: Okay.
SUE_3: +and another one is the money to use with things, four
hundred.

(4) Aprendiz_5: … I thought it was kind of a a lash, I think that’s the


name.
Entrevistador: A leash.
Aprendiz_5: A leash yes now yes uh-huh.

Exemplos (1) e (2), acima, são casos de marcação de necessidade


de ajuste lexical pelo MP kind of. No trecho (1), SUE_3 faz uma referência
a uma cidade brasileira conhecida por ambos os participantes da conversa,
e convida o seu interlocutor a inferir características reconhecidas
de Campos do Jordão para a conceptualização mental da cidade de
Whistler, no Canadá. Em outras palavras, kind of não só marca Campos
do Jordão como uma representação linguística aproximada do que
SUE_3 tem em mente, como também ajuda na interpretação de sentido
da informação oferecida. Em (2), similarmente, Aprendiz_6 sinaliza
que o verbo abandon pode não ser exatamente a melhor opção para o
sentido intencionado, convidando, assim, o interlocutor a participar de
um processo de inferência para a interpretação do sentido proposto.
Em contrapartida, exemplos (3) e (4) demonstram kind of
marcando uma carência de vocabulário. Em (3), SUE_3 mais uma
vez marca a troca de idiomas com kind of, mas, desta vez, claramente
demonstrando que o termo em inglês para vale-alimentação não faz
parte de seu repertório linguístico. Similarmente, Aprendiz_5 demonstra
1124 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

dificuldade com a palavra leash e marca a necessidade de aproximação


interpretativa por parte de seu interlocutor com o MP kind of.
No que diz respeito ao domínio funcional interpessoal, kind of
também é utilizado para sinalizar uma discrepância entre um pensamento
e uma representação linguística. Contudo, neste domínio funcional, o
MP atua como um mitigador, suavizando a força ilocutória do material
linguístico que o sucede. Na maioria dos casos analisados neste estudo,
kind of interpessoal é usado para minimizar o impacto da escolha de
palavras que são usadas, tendo em consideração a maneira como o
interlocutor pode interpretá-las. Exemplo (5), abaixo, demonstra tal
função interpessoal de kind of, onde Aprendiz_4 fala sobre a forma com
a qual moradores de BH encaram um determinado bairro como um lugar
perigoso. Aprendiz_4 usa a expressão common sense, mas a suaviza por
não saber se a opinião é compartilhada pelo entrevistador.

(5) Aprendiz_4: … how people talk about wh= what what stuff
happens in BH. Everybody just mention oh the north area it’s
dangerous, don’t don’t go there. It’s kind of common sense.

Por sua vez, no domínio funcional textual, kind of auxilia o


falante com a construção do discurso, no sentido de autocorreção por
parte do falante que sinaliza que há uma discrepância entre a estrutura
ou vocábulo usado e o que este tem em mente. Nesta função, kind of
também é interativo, uma vez que sinaliza que o falante deseja manter
o turno e completar sua fala. Apenas quatro ocorrências desta função
foram encontradas nos subcorpora analisados, e o trecho (6), abaixo,
exemplifica esta função:

(6) Aprendiz_4: Because it, like, when you live in BH you, the society
kinda mm not the society but how people talk about wh= what
what stuff happens in BH.

No trecho (6), que precede o trecho (5), Aprendiz_4 reestrutura


a sua fala, e o faz com o auxílio de diversos marcadores de hesitação
e autocorreção, como like, mm, e palavras cortadas e repetidas (wh= e
what), incluindo a versão mais informal de kind of, kinda.
Finalmente, onze casos de kind of categorizados como Outros
foram identificados, todos no SCoPE², e dos quais dez são utilizados por
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1125

um SUE apenas. Trechos (7) e (8) exemplificam duas subcategorias que


compõem Outros:

(7) SUE_3: ... actually, not now but before during the the year
<$E> pause </$E> uhm every Tuesday a woman came to see if
everything was clean this kind of things.
(8) SUE_3: And because we know we have this kind of things in
Brazil and I travel a lot with my parents.

No exemplo (7), kind of é componente de uma fórmula fixa que


compõe uma subclasse de MPs, denominada marcadores de categorias
vagas. A fórmula ocorre sempre como uma etiqueta de acréscimo ao final
de uma contribuição linguística e marca aproximação e necessidade de
ajuste por parte do interlocutor de uma categoria inteira. Em (7), SUE_3
fala sobre ter uma funcionária que, semanalmente, vai à hospedagem
estudantil para fazer a limpeza. Desta maneira, this kind of things é
retroativo e convida o interlocutor a inferir os tipos de coisas que se
classificariam em uma categoria vaga de ações que envolvem limpeza.
Em outras palavras, SUE_3 não precisa listar uma extensiva lista de
atividades, uma vez que tal lista pode ser inferida pelo interlocutor
através de uma interpretação de this kind of things no contexto em que
este é usado. Diferentemente, exemplo (8) demonstra a mesma forma
linguística, mas usada de maneira distinta. Em (8), this kind of things
não é um acréscimo extra, mas parte interna da oração. Juntos, kind of e
things atuam para implicar um sentido de linguagem vaga, e convidam o
interlocutor a interpretar tal forma com referência ao contexto previamente
explicitado. No caso, SUE_3 fala sobre o fato de haver no Brasil muitos
destinos de viagem com paisagens, justificando seu interesse por viajar
para lugares urbanos que destacam a arquitetura na Europa. Ao usar
this kind of things dentro do contexto apresentado, o interlocutor é
capaz de inferir o sentido intencionado pelo uso de tal linguagem vaga.
Interessantemente, SUE_3 é a participante do subcorpus SCoPE² que
apresentou menor performance linguística, apesar de seu certificado de
proficiência C1. E é exatamente esta participante que se mostra como um
outlier (fora da curva da média) na contagem de frequência de kind of.
Das 19 ocorrências verificadas no discurso da SUE_3, 18 foram casos
de uso do MP para indicar discrepância de vocabulário (atitudinal) ou
para evitar a provisão explícita de vocabulário específico (Outros), o que
1126 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

indica que SUE_3 pode manter uma dependência, ou preferência, por tais
funções de kind of para compensar possíveis insuficiências linguísticas.
Este estudo confirma o valor pragmático do MP kind of em
conversação e aponta para o fato de que, mesmo em contextos linguísticos
distintos, os dois grupos de brasileiros fazem uso das funções de kind of
em seus três domínios funcionais. Contudo, nem todos os participantes de
ambos os subcorpora utilizam kind of pragmaticamente. Seria, contudo,
equivocado concluir que os participantes que não fazem uso do MP kind of
sofram de uma deficiência pragmática em seus processos comunicativos,
uma vez que estes participantes podem lançar mão de outras formas que
performam as mesmas funções pragmáticas apresentadas neste estudo.
De fato, em outro estudo de caso preliminar, Santos (2019) nota que os
participantes sob investigação, também de uma amostra do SCoPE²,
apoiam-se significativamente no MP like e em suas funções textuais de
reestruturação do discurso.

6 Considerações finais
As considerações finais aqui apresentadas se remetem ao título
deste trabalho. Propusemos, como objetivo principal, expor o estado
da arte da Pragmática de Corpus, ponto de contato que se originou a
partir de duas áreas que, apesar de lidarem com investigações sobre a
linguagem em uso, possuem metodologias distintas – a Linguística de
Corpus e a Pragmática. Ao fazer isso, inicialmente, contextualizamos
a Linguística de Corpus e a Pragmática. Em seguida, apresentamos o
percurso da Pragmática de Corpus a partir de seu contexto histórico,
discursando sobre sua metodologia de dupla direcionalidade, além de
suas limitações e desenvolvimentos. Nesta mesma senda, introduzimos
duas abordagens profícuas da nova área, forma-função e função-forma.
Finalizamos, então, com um estudo de caso ilustrativo sobre o marcador
pragmático kind of em dois corpora orais, aplicando o método de filtragem
pela abordagem forma-função.
É evidente que diferentes áreas da linguística buscam incorporar,
com o passar dos anos, exemplos autênticos da linguagem às suas análises.
Vimos que a Linguística de Corpus, por meio de seu desenvolvimento
nas últimas décadas e rigor metodológico, dispõe de grande potencial
para se comunicar com outros campos do conhecimento, considerando
o que estes tradicionalmente já estabeleceram, introduzindo formas
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1127

inovadoras e eficazes para a manipulação de dados linguísticos reais


em grandes ou pequenas quantidades. É assim que reiteramos o poder
analítico da Pragmática de Corpus para a investigação e avanço dos
estudos da linguagem, na qual duas disciplinas são beneficiadas em
dependência mútua. Ressaltamos que, devido ao seu caráter jovem, a
disciplina ainda está em desenvolvimento, principalmente no que diz
respeito ao seu modelo metodológico. Sendo assim, novos estudos
continuam a ser conduzidos, juntamente com o aperfeiçoamento de
técnicas de análise e de anotação pragmática, e, por conseguinte, cada
vez mais facilmente tomando a função como ponto de partida. Dessa
forma, o que apresentamos aqui é base para o desenvolvimento futuro
desta área emergente e promissora.

Agradecimentos
Agradecemos à Prof. Dra. Anne O’Keeffe, do Departamento de Língua
Inglesa e Literatura da Mary Immaculate College, Irlanda, pelo contínuo
apoio e pela disponibilidade e confiança em nos providenciar a literatura
necessária para a escrita deste artigo.
Também agradecemos aos pareceristas por suas avaliações, sugestões e
comentários que muito contribuíram para a versão final deste trabalho.

Contribuição dos autores


O artigo foi desenvolvido conjuntamente pelos autores, uma vez
que ambos estão inseridos no contexto atual do desenvolvimento da
Pragmática de Corpus por parte da escola europeia. Giovani Santos
formulou o desenho geral do artigo, e Mateus Miranda auxiliou no
afunilamento da proposta. As seções foram divididas entre os autores
para serem redigidas, mas se beneficiaram da contribuição de ambos
os autores. A análise dos dados também foi feita pelos dois autores de
forma conjunta.

Referências
ÄDEL, A.; REPPEN, R. The Challenges of Different Settings: An
Overview. In: ÄDEL, A.; REPPEN, R. (org.). Corpora and Discourse:
The Challenges of Different Settings. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins, 2008. p. 1-6. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.31
1128 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

AIJMER, K. English Discourse Particles: Evidence from a Corpus.


Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2002. DOI: https://doi.
org/10.1075/scl.10
AIJMER, K. Corpus Pragmatics: from Form to Function. In: JUCKER,
A. H.; SCHNEIDER, K. P.; BUBLITZ, W. (org.). Methods in Pragmatics.
Berlin; Boston: De Gruyter Mouton, 2018. p. 555-586. DOI: https://doi.
org/10.1515/9783110424928-022
AIJMER, K.; RÜHLEMANN, C. (org.). Corpus Pragmatics: A
Handbook. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9781139057493
BEEBE, L.; TAKAHASHI, T.; ULISS-WELTZ, R. Pragmatic Transfer in
ESL Refusals. In: SCARCELLA, R. C.; ANDERSON, E.; KRASHEN, S.
D. (org.). Developing Communicative Competence in a Second Language.
New York: Newbury, 1990. p. 55-73.
BERBER SARDINHA, T. Beginning Portuguese Corpus Linguistics:
Exploring a Corpus to Teach Portuguese as a Foreign Language. DELTA,
São Paulo, v. 15, n. 2, p. 289-299, 1999. DOI: https://doi.org/10.1590/
S0102-44501999000200003
BERBER SARDINHA, T. Linguística de corpus: histórico e problemática.
DELTA, São Paulo, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000. DOI: https://doi.
org/10.1590/S0102-44502000000200005
BIBER, D.; CONRAD, S.; REPPEN, R. Corpus Linguistics: Investigating
Language Structure in Use. Cambridge: Cambridge University Press,
1998. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511804489
BREZINA, V. Statistics in Corpus Linguistics: A Practical Guide.
Cambridge: Cambridge University Press, 2018. DOI: https://doi.
org/10.1017/9781316410899
BRINTON, L. Pragmatic Markers in English: Grammaticalization and
Discourse Functions. Berlin: Mouton de Gruyter, 1996. DOI: https://doi.
org/10.1515/9783110907582
BUYSSE, L. Discourse Markers in the English of Flemish University
Students. In: WITCZAK-PLISIECKA, I. (org.). Pragmatic Perspectives
on Language and Linguistics: Speech Actions in Theory and Applied
Studies. Newcastle-upon-Tyne: Cambridge Scholars, 2010. p. 461-484.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1129

CAINES, A.; McCARTHY, M.; O’KEEFFE, A. Spoken Language


Corpora and Pedagogical Applications. In: FARR, F.; MURRAY, L.
(org.). The Routledge Handbook of Language Learning and Technology.
Abingdon: Routledge, 2016. p. 348-361.
CARTER, R.; McCARTHY, M. Cambridge Grammar of English: A
Comprehensive Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
CLANCY, B.; McCARTHY, M. Co-Constructed Turn-Taking. In:
AIJMER, K.; RÜHLEMANN, C. (org.). Corpus Pragmatics: A
Handbook. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. p. 430-453.
DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781139057493.023
CLANCY, B.; O’KEEFFE, A. Pragmatics. In: BIBER, D.; REPPEN,
R. (org.). The Cambridge Handbook of English Corpus Linguistics.
Cambridge: Cambridge University Press, 2015. p. 235-251. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9781139764377.014
CRESTI, E.; MONEGLIA, M. (org.). C-ORAL-ROM: Integrated
Reference Corpora for Spoken Romance Languages. Amsterdam;
Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2005. DOI: https://
doi.org/10.1075/scl.15
CULPEPER, J. The Metalanguage of Impoliteness: Explorations in the
Oxford English Corpus. In: BAKER, P. (org.). Contemporary Corpus
Linguistics. London: Continuum, 2009. p. 64-86.
CULPEPER, J.; HAUGH, M. Pragmatics and the English
Language. Palgrave Macmillan: Basingstoke, 2014. DOI: https://doi.
org/10.1007/978-1-137-39391-3
FARR, F.; BRÓNA, M; O’KEEFFE, A. The Limerick Corpus of Irish
English: Design, Description and Application. Teanga, Dublin, v. 21, p.
5-29, 2004. DOI: https://doi.org/10.35903/teanga.v21i0.172
FIRTH, J. R. Papers in Linguistics 1934-1951. London: Oxford
University Press, 1957.
GILQUIN, G. Hesitation Markers among EFL Learners: Pragmatic
Deficiency or Difference? In: ROMERO-TRILLO, J. (org.). Corpus
Linguistics and Pragmatics: A Mutualistic Entente. Berlin: De Gruyter
Mouton, 2008. p. 119-149.
1130 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

GOMES DE MATOS, F. Pós-graduação em lingüística no Brasil:


orientações curriculares e output (dissertações). Boletim da ABRALIN,
Recife, v. 3, p. 81-87, 1982.
GRICE, H. P. Logic and Conversation. In: COLE, P.; MORGAN, J. J. P.
(org.). Syntax and Semantics 3: Speech Acts. New York: Academic Press.
1975. p. 41-58. DOI: https://doi.org/10.1163/9789004368811_003
HAUGH, M. Corpus-based metapragmatics, In: JUCKER, A. H.;
SCHNEIDER, K. P.; BUBLITZ, W. (org.). Methods in Pragmatics.
Berlin; Boston: De Gruyter Mouton, 2018. p. 619-644. DOI: https://doi.
org/10.1515/9783110424928-023
J U CK E R, A . H. C orpus P ragmatics. I n: ÖSTMA N, J. O.;
VERSCHUEREN, J. (org.). Handbook of Pragmatics. Amsterdam:
John Benjamins, 2013. p. 1-18. DOI: https://doi.org/10.1075/hop.17.cor3
JUCKER, A.; TAAVITSAINEN, I.; SCHNEIDER, G. Semantic Corpus
Trawling: Expressions of Courtesy and Politeness in the Helsinki
Corpus. In: SUHR, C.; TAAVITSAINEN, I. (org.). Developing Corpus
Methodology for Historical Pragmatics. Studies in Variation, Contacts
and Change in English. Helsinki: Helsingin Yliopisto, 2012. v. 11. [s.p.].
Disponível em: http://www.helsinki.fi/varieng/series/volumes/11/
jucker_taavitsainen_schneider/. Acesso em: 20 set. 2020.
JUCKER, A. H.; SCHNEIDER, K. P.; BUBLITZ, W. (org.). Methods in
Pragmatics. Berlin; Boston: De Gruyter Mouton, 2018. DOI: https://doi.
org/10.1515/9783110424928
JUCKER, A. H.; SCHREIER, D.; HUNDT, M. (org.). Corpora:
Pragmatics and Discourse. Amsterdam; New York: Rodopi, 2009. DOI:
https://doi.org/10.1163/9789042029101
JUCKER, A. H.; TAAVITSAINEN, I. Diachronic Corpus Pragmatics:
Intersections and Interactions. In: TAAVITSAINEN, I.; JUCKER,
A. H.; TUOMINEN, J. (org.). Diachronic Corpus Pragmatics.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2014. p. 3-26. DOI: https://
doi.org/10.1075/pbns.243.03juc
KALLEN, J.; KIRK, J. SPICE-Ireland: A User’s Guide. Belfast: Cló
Ollscoil na Banríona, 2012.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1131

KIRK, J. M. Kind of and Sort of: Pragmatic Discourse Markers in the


SPICE-Ireland Corpus. In: AMADOR-MORENO, C. P.; McCAFFERTY,
K.; VAUGHAN, E. (org.). Pragmatic Markers in Irish English.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2015. p. 88-113. DOI: https://
doi.org/10.1075/pbns.258.04kir
KOESTER, A. Building Small Specialised Corpora. In: O’KEEFFE,
A.; McCARTHY (org.). The Routledge Handbook of Corpus
Linguistics. London: Routledge, 2010. p. 66-79. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203856949-6
LEVINSON, S. Pragmatics. Cambridge: Cambridge University Press,
1983.
LOVE, R. Overcoming Challenges in Corpus Construction: The Spoken
British National Corpus 2014. New York: Routledge, 2020. DOI: https://
doi.org/10.4324/9780429429811
MAYNARD, C.; LEICHER, S. Pragmatic Annotation of an Academic
Spoken Corpus for Pedagogical Purposes. In: FITZPATRICK, E. (org.).
Corpus Linguistics beyond the Word: Corpus Research from Phrase to
Discourse. Amsterdam: Rodopi, 2007. p. 107-116. DOI: https://doi.
org/10.1163/9789401203845_008
McALLISTER, P. G. Speech Acts: A Synchronic Perspective. In:
AIJMER, K.; RÜHLEMANN, C. (org.). Corpus Pragmatics: A
Handbook. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. p. 29-51.
DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781139057493.003
McCARTHY, M.; O’KEEFFE, A. Historical Perspective: What Are
Corpora and How Have They Evolved? In: O’KEEFFE, A; McCARTHY,
M. (org.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics. Abingdon:
Routledge, 2010. p. 3-13. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203856949-1
McCARTHY, M.; O’KEEFFE, A. Spoken Grammar. In: CELCE-
MURCIA, M.; BRINTON, D. M.; SNOW, M. A. (org.). Teaching English
as a Second or Foreign Language. 4. ed. Boston: National Geographic
Learning, 2014. p. 271-287.
McENERY, T.; HARDIE, A. Corpus Linguistics: Method, Theory and
Practice. Cambridge: Cambridge University Press, 2012. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9780511981395
1132 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

MIRANDA, M. ‘Dreams Seem Kind of Utopic’: Vague Category Markers


in a Learner Corpus. Revista Intercâmbio, São Paulo, v. 44, p. 84-107,
2020.
MORRIS, C. W. Foundations of the Theory of Signs. Chicago: University
of Chicago Press, 1938.
O’KEEFFE, A. Corpus-Based Function-to-Form Approaches. In:
JUCKER, A. H.; SCHNEIDER, K. P.; BUBLITZ, W. (org.). Methods in
Pragmatics. Berlin; Boston: De Gruyter Mouton, 2018. p. 587-618. DOI:
https://doi.org/10.1515/9783110424928-023
O’KEEFFE, A.; CLANCY, B.; ADOLPHS, S. Introducing Pragmatics
in Use. London: Routledge, 2011.
O’KEEFFE, A.; CLANCY, B.; ADOLPHS, S. Introducing Pragmatics
in Use. 2. ed. rev. e aum. Abingdon; New York: Routledge, 2020. DOI:
https://doi.org/10.4324/9780429342950
O’KEEFFE, A.; McCARTHY, M.; CARTER, R. From Corpus to
Classroom: Language Use and Language Teaching. Cambridge:
Cambridge University Press, 2007. DOI: https://doi.org/10.1017/
CBO9780511497650
O’KEEFFE, A; McCARTHY, M. (org.). The Routledge Handbook of
Corpus Linguistics. Abingdon: Routledge, 2010.
PRODROMOU, L. English as a Lingua Franca: A Corpus-Based
Analysis. London: Continuum, 2008. DOI: https://doi.org/10.1093/elt/
ccn064
RAJAGOPALAN, K. Os caminhos da pragmática no Brasil. DELTA,
São Paulo, v. 15, número especial, p. 323-338, 1999. DOI: https://doi.
org/10.1590/S0102-44501999000300013
RAJAGOPALAN, K. Repensar o papel da linguística aplicada. In:
LOPES, L. P. M. (org.). Por uma linguística aplicada indisciplinar. São
Paulo: Parábola, 2006. p. 149-168.
RAJAGOPALAN, K. Pragmática. In: MOLLICA, M. C.; FERRAREZI,
C. J. (org.). Sociolinguística e sociolinguísticas. São Paulo: Contexto,
2016. p. 197-204.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1133

RASO, T. O corpus C-ORAL-BRASIL. In: RASO, T.; MELLO, H.


(orgs.). C-ORAL-BRASIL I: Corpus de referência do português brasileiro
falado informal. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2012. p. 55-89.
RASO, T. Aspectos sociais e pragmáticos da linguística de corpora.
In: MOLLICA, M. C.; FERRAREZI, C. J. (org.). Sociolinguística e
sociolinguísticas. São Paulo: Contexto, 2016. p. 205-216.
RASO, T.; MELLO, H. (org.). C-ORAL-BRASIL I: corpus de referência
do português brasileiro falado informal. Belo Horizonte: Editora UFMG,
2012.
ROMERO-TRILLO, J. (org.). Corpus Linguistics and Pragmatics: A
Mutualistic Entente. Berlin: Walter de Gruyter, 2008a. DOI: https://doi.
org/10.1515/9783110199024
ROMERO-TRILLO, J. Introduction. In: ______. (org.). Corpus
Linguistics and Pragmatics: A Mutualistic Entente. Berlin: De Gruyter
Mouton, 2008b. p. 1-10. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110199024
RÜHLEMANN, C. Corpus Linguistics for Pragmatics: A Guide for
Research. Abingdon; New York: Routledge, 2019. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780429451072
RÜHLEMANN, C.; AIJMER, K. Corpus Pragmatics: laying the
foundations. In: AIJMER, K.; RÜHLEMANN, C. (org.). Corpus
Pragmatics: a handbook. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.
p. 1-26. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9781139057493.001
RÜHLEMANN, C.; CLANCY, B. Corpus Linguistics and Pragmatics.
In: ILIE, C.; NORRICK, N. R. (org.). Pragmatics and Its Interfaces.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2018. p. 241-266. DOI:
https://doi.org/10.4324/9780429451072
SANTOS, G. Second Language Pragmatics: A Corpus-Based Study of
the Pragmatic Marker Like. Letrônica, Porto Alegre, v. 12, n. 4, p. 1-16,
2019. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-4301.2019.4.34002
SANTOS, G. Designing and Building SCoPE²: A Spoken Corpus of
Brazilian Portuguese and L2-English. Research in Corpus Linguistics,
Murcia, v. 8, n. 1, p. 49-64, 2020. DOI: https://doi.org/10.32714/
ricl.08.01.04
1134 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021

SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford


University Press, 1991.
SINCLAIR, J. Reading Concordances. London: Pearson; Longman,
2003.
SINCLAIR, J. Trust the Text: Language, Corpus and Discourse.
Abingdon: Routledge, 2004.
SINCLAIR, J. Corpus and Text: Basic Principles. In: WYNNE, M. (org.)
Developing Linguistic Corpora: A Guide to Good Practice. Oxford:
Oxbow Books, 2005. p. 1-16.
SINCLAIR, J.; FOX, G.; BULLEN, S.; MANNING, E. Collins-
COBUILD English Language Dictionary. London: Collins, 1987.
SPERBER, D.; WILSON, D. Relevance: Communication and Cognition.
Oxford: Blackwell, 1995.
TAAVITSAINEN, I.; JUCKER, A. H.; TUOMINEN, J. (org.). Diachronic
Corpus Pragmatics. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins, 2014.
DOI: https://doi.org/10.1075/pbns.243
TAGNIN, S. Corpora on-line. In: VIANA, V.; TAGNIN, S. E. O. (org.).
Corpora no ensino de línguas estrangeiras. São Paulo: Hub Editorial,
2010. p. 354-361.
VAUGHAN, E. “Got a Date or Something?”: An Analysis of the Role of
Humour and Laughter in the Workplace Meetings of English Language
Teachers. In: ÄDEL, A.; REPPEN, R. (org.). Corpora and Discourse:
The Challenges of Different Settings. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins, 2008. p. 95-115. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.31.07vau
VAUGHAN, E.; CLANCY, B. Small Corpora and Pragmatics. In:
ROMERO-TRILLO, J. (org.). Yearbook of Corpus Linguistics and
Pragmatics 2013: New Domains and Methodologies. Dordrecht:
Springer, 2013. p. 53-73. DOI: https://doi.org/10.1007/978-94-007-
6250-3_4
WEISSER, M. Speech Act Annotation. In: AIJMER, K.; RÜHLEMANN,
C (org.). Corpus Pragmatics: A Handbook. Cambridge: Cambridge
University Press, 2015. p. 84-113. DOI: https://doi.org/10.1017/
CBO9781139057493.005
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1089-1135, 2021 1135

WEISSER, M. The DART Annotation Scheme: Form, Applicability &


Application. Studia Neophilologica, [S.l.], v. 91, p. 131-153, 2019. DOI:
https://doi.org/10.1080/00393274.2019.1616218
WOLFSON, N. Compliments in Cross-Cultural Perspective.
TESOL Quarterly, [S.l.], v. 15, p. 117-124, 1981. DOI: https://doi.
org/10.2307/3586403
YULE, G. Pragmatics. Oxford: Oxford University Press, 1996.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

Linguística de Corpus aplicada à Semântica de Frames:


investigando conceptualizações pró-escolha no debate
da Sugestão Legislativa no. 15/2014

Corpus Linguistics applied to Frame Semantics: investigating


pro-choice conceptualizations in SUG no. 15/2014’s debate

Aline Nardes dos Santos


Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), São Leopoldo, Rio Grande do Sul
/ Brasil
aline.nardes@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-9302-484X

Rove Chishman
Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), São Leopoldo, Rio Grande do Sul
/ Brasil
rove@unisinos.br
https://orcid.org/0000-0003-2287-5548

Resumo: Este artigo vincula-se a uma tese doutoral cujo objetivo foi compreender,
por meio da identificação de diferentes instanciações de frames semânticos, as redes
de significado que (re)enquadram os direitos humanos e reprodutivos das mulheres
no contexto das audiências públicas que debateram a Sugestão Legislativa (SUG)
nº 15/2014 – tal proposta visou a regular o aborto nas primeiras doze semanas de
gestação (SANTOS, 2020). Especificamente, o texto trata de alguns desdobramentos
analíticos possibilitados pela integração da ferramenta de análise qualitativa NVivo
ao recurso Sketch Engine, tendo em vista a necessidade de segmentação do corpus em
unidades temáticas para posterior processamento dos dados no concordanciador. De
modo a abordar tal percurso, o artigo discute a identificação de frames no discurso dos
defensores da proposta da SUG nº 15, cujas escolhas lexicais refletem a conceptualização
do abortamento como questão de saúde pública e de justiça social. Como resultados,
o artigo destaca que o uso integrado de diferentes ferramentas de análise empírica
permite uma descrição baseada em corpus que evidencia a dimensão multifacetada do

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1137-1189
1136 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

frame semântico – uma estrutura sociocognitiva que se constrói nos entrelaçamentos


entre léxico, discurso e cognição.
Palavras-chave: Linguística de Corpus; Semântica de Frames; Sugestão Legislativa
n.º 15/2014; direitos reprodutivos.

Abstract: This article relates to a Ph.D. thesis which aimed at comprehending,


throughout the identification of different semantic frame instantiations, the meaning
networks that (re)frame women’s human and reproductive rights in the context of the
public hearings that discussed the SUG no. 15/2014 – such a proposal intended to
regulate abortion in the first twelve weeks of pregnancy, in Brazil (SANTOS, 2020).
Specifically, the text presents some analytical developments made available by the
integration of the qualitative analysis tool NVivo to the Sketch Engine tool, considering
the need of a corpus segmentation into thematic units for a later processing of these data
in a concordancer. In order to discuss this process, the article describes the identification
of frames within the discourse of the ones that advocate for the SUG proposal, whose
lexical choices reflect the conceptualization of abortion as a public heath matter, as well
as a social justice one. Concerning the results, the article emphasizes that the integrated
usage of different tools devoted to empirical analysis allows a corpus-based description
that reveals the multifaceted dimension of a semantic frame – a socio-cognitive structure
that is built in the interconnections between lexicon, discourse and cognition.
Keywords: Corpus Linguistics; Frame Semantics; SUG no. 15/2014; reproductive
rights.

Recebido em 10 de outubro de 2020


Aceito em 18 de novembro de 2020

1 Introdução
Os caminhos da Linguística de Corpus (LC) e da Semântica de
Frames (FILLMORE, 1982, 1985) têm seus pressupostos epistemológicos
entrecruzados desde os primórdios da teoria fillmoriana. Afinal, a
Semântica de Frames, muito antes de integrar oficialmente o escopo
da Linguística Cognitiva, constituiu-se como proposta que visava a
compreender estruturas sintáticas por meio de “requisitos contextuais”1
(FILLMORE, 1975, p. 130) que evidenciam o continuum entre léxico,
sintaxe e semântica. Em tal percurso, a teoria do autor rompeu com
postulados gerativistas que relegavam o léxico ao “asilo dos fora da

1
“contextual requirements”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1137

lei” da Linguística (SALOMÃO, 2006, p. 7), delineando uma primeira


versão do conceito de frame como um “sistema de escolhas linguísticas”2
(FILLMORE, 1975, p. 124, grifo nosso), aspecto que situa a teoria,
desde suas primeiras versões, no campo dos Modelos Baseados no Uso,
que partem do princípio de que “eventos de uso são a fonte de todas as
unidades linguísticas” (LANGACKER, 2008, p. 220). Além disso, a
criação da FrameNet – um recurso lexicográfico-computacional baseado
em frames – a partir de evidências provenientes da LC como metodologia
consolidou a Semântica de Frames como modelo empírico de análise
sistemática de dados linguísticos.
Em suas trajetórias convergentes, tanto a Linguística de Corpus
quanto a teoria da Semântica de Frames têm sido incorporadas à proposta
de novas interfaces que buscam dar conta da complexidade de fenômenos
linguísticos na contemporaneidade, os quais têm como gênese os usos
feitos pelo “sujeito interativo” (MIRANDA, 2001, p. 59) ao construir
significados “no curso de sua interação comunicativa” (SALOMÃO,
1997, p. 26). Nessa direção, estudos como os de Vereza (2016a, 2016b)
reivindicam o estabelecimento de um continuum entre cognição e
discurso, no contexto de uma “virada cognitivo-discursiva” (VEREZA,
2016a, p. 22) de análises realizadas nesse contexto.
É seguindo tal perspectiva que buscamos investigar as redes de
significado construídas em audiências públicas da Sugestão Legislativa
(SUG) n.º 15, compreendendo frames semânticos como construtos
cognitivo-discursivos que podem ser perspectivados de maneiras diferentes,
consoante os propósitos comunicativos dos falantes (MIRANDA, 2001;
SALOMÃO, 2009; TOMASELLO, 1999, 2008). Tal empreendimento
também implicou levar em conta as dimensões macro e microcontextuais
(HANKS, 2008) do corpus, o que nos levou a integrar uma ferramenta de
análise qualitativa de dados – o NVivo – ao Sketch Engine (SE), tendo
em vista a necessidade de segmentação dos dados em unidades temáticas
para posterior processamento dos dados no concordanciador.
Considerando tais aspectos, este artigo visa a discutir os
desdobramentos analíticos de tal proposta investigativa, com vistas a
evidenciar a necessidade de novos entrelaçamentos metodológicos entre
Linguística de Corpus e Semântica de Frames, visando a dar conta de
descrições que integrem diferentes perspectivas sobre os mesmos dados

2
“system of linguistic choices”.
1138 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

empíricos. Para isso, o texto se estrutura da seguinte forma: na seção 2,


delineamos a noção cognitivo-discursiva de frame semântico, salientando
o caráter multifacetado desse construto no âmbito dos estudos linguísticos.
Na seção 3, contextualizamos o corpus de estudo da SUG nº 15, composto
de transcrições de audiências públicas que debateram a Sugestão. Na seção
4, com o objetivo de elucidar as possibilidades analíticas propiciadas
por tal proposta, discutimos a identificação de frames no discurso dos
defensores da proposta da SUG nº 15, cujas escolhas lexicais refletem a
conceptualização do abortamento como questão de saúde pública e de
justiça social. Por fim, na seção 5, trazemos as considerações finais.

2 Referencial teórico: frames fillmorianos e(m) discurso


Nos primeiros textos de Charles Fillmore acerca da noção de frame
semântico, menciona-se a pertinência dessa estrutura em sua dimensão
mais interacional, embora ele mesmo categorize algumas de suas
contribuições como meras notas sugestivas (FILLMORE, 1975). Trata-se
de reflexões esparsas, publicadas entre as décadas de 1970 e 1980, fase
na qual seus artigos ainda especulavam o possível alcance da Semântica
de Frames quanto a suas contribuições para estudos linguísticos.
Por exemplo, no artigo “Frame Semantics and the Nature
of Language”, Fillmore (1976) aborda a relevância do processo de
framing para a compreensão do funcionamento da linguagem humana,
considerando que frames são sempre ativados “[...] na percepção, no
pensamento e na comunicação” (FILLMORE, 1976, p. 20, grifo nosso).3
Nesse texto, o autor situa a Semântica de Frames como abordagem
contextualista do significado, considerando que as teorias então vigentes
necessitavam incluir
[...] uma atenção à importância das funções sociais da linguagem,
uma preocupação com a natureza da produção da fala e com
processos de compreensão, bem como um interesse nas relações
entre o que um falante diz e o contexto no qual ele diz isso.
(FILLMORE, 1976, p. 23, grifo nosso).4

3
“[…] in perceiving, thinking, and communicating”.
4
“[…] an awareness of the importance of the social functions of language, a concern
with the nature of the speech production and comprehension processes, and an interest
in the relationships between what a speaker says and the context in which he says it.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1139

No que se refere ao termo contexto, em seu sentido amplo,


valemo-nos dos apontamentos de Morato (2010) acerca da noção de frame
como mais um construto teórico que visa a dar conta de como os falantes
disseminam e partilham de significados a partir de sua experiência de
mundo, para além de aspectos relativos ao contexto verbal de produção,
ou cotexto. Nesse sentido, tendo em vista que o frame não é apenas uma
estrutura de conhecimento dissociada da interação, mas que também diz
respeito às práticas sociais envolvidas, é pertinente categorizá-lo como
estrutura de expectativa, considerando que, com base em sua interação
com a realidade, “o sujeito organiza o conhecimento sobre o mundo e
usa esse conhecimento para prever interpretações e relações referentes
a novas informações, eventos e experiências” (TANNEN, 1979, p.
138-139).5 Tal dimensão da estrutura do frame a torna “[...] dinâmica,
uma vez que é continuamente confrontada com a experiência e revista”
(MIRANDA, 1999, p. 82), bem como “[...] construída e modelada em
situações de interação social” (DUQUE, 2015, p. 40).
É importante pontuar que os frames, em sua dimensão
sociocultural, são sempre, em alguma medida, resultado de experiências
que se moldam e se reconstroem na interação. Como observam Koch,
Morato e Bentes (2011, p. 82), é necessário considerar a natureza
sociocultural de tais construtos:
A noção de contexto, como a de situação social, enquadre ou
frame, tem a ver com estruturas de expectativa, isto é, não se trata
de algo concebido a priori e nem de forma independente quanto a
nossas experiências socioculturais; pelo contrário, dependem dos
atos de significação e, portanto, das práticas mediadas largamente
por linguagem.

Nessa perspectiva, a teoria da cognição social humana desenvolvida


por Tomasello (1999, 2003, 2008) tem verificado empiricamente os
fundamentos epistemológicos que sustentam o conceito contemporâneo
de cognição defendido pela Linguística Cognitiva, o qual enfatiza a faceta
mais sociointeracional de estruturas como os frames semânticos: uma
cognição social, pautada na capacidade humana para o engajamento e para
o reconhecimento das intencionalidades do outro no curso da comunicação
5
“[…] based on one’s experience of the world in a given culture (or combination of
cultures), one organizes knowledge about the world and uses this knowledge to predict
interpretations and relationships regarding new information, events, and experiences.”
1140 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

(BOOTH, 2016; MIRANDA, 2001; SALOMÃO, 2006). Dessa maneira,


estudos como os do autor revelam que nossa cognição é primordialmente
social, calcada no reconhecimento de intencionalidades e no engajamento
em situações de atenção conjunta, de modo que a ontogênese humana tem
como primeiro grande desdobramento o reconhecimento do outro como
agente intencional – aspecto que leva o sujeito a, desde muito antes de
falar, “[...] tentar manipular os estados intencionais e mentais do outro para
vários fins cooperativos e competitivos”6 (TOMASELLO, 2003, p. 12).
Nesse sentido, os frames e os símbolos linguísticos que os evocam não
são somente aprendidos socialmente, como também são perspectivados
pelo sujeito, “[...] dependendo de seus propósitos comunicativos [...]”7
(TOMASELLO, 2003, p. 12). É esse aspecto sociocultural do contexto e do
uso da língua que Geeraerts, Kristiansen e Peirsman (2010, p. 3) consideram
como crucial a análises semântico-cognitivas na contemporaneidade, dado
que estruturas conceptuais, dentre elas os frames, são manipuladas por
meio de processos socioculturalmente situados de cognição.
No cenário brasileiro, destacamos a inserção da Hipótese
Sociocognitiva da Linguagem (MIRANDA, 2001; SALOMÃO, 1997)
nesse contexto de preconização de uma Linguística Cognitiva mais
social. Tal posicionamento valoriza o papel da interação no processo
de construção de significados, como explica Salomão (1997, p. 26): “A
hipótese que [...] adotamos advoga ser a significação uma construção
mental produzida pelos sujeitos cognitivos no curso de sua interação
comunicativa.” Complementando esse aspecto, Silva (2015, p. 67) elenca
três grandes dimensões a serem abrangidas em estudos sociocognitivos:
[...] (i) as interações socioculturais e o modo como elas afetam
o discurso; (ii) os processos cognitivos de interação discursiva;
e (iii) a relação entre as dimensões conceptuais, as dimensões
interacionais e as dimensões socioculturais da linguagem em uso
(grifo nosso).

É com tal perspectiva que descrevemos, na seção a seguir, o


corpus da SUG n.º 15, as ferramentas utilizadas para explorá-lo e as
etapas analíticas empregadas para investigar conceptualizações pró-
escolha nesse contexto.

6
“[…] to attempt to manipulate one another’s intentional and mental states for various
cooperative and competitive purposes.”
7
“[…] depending on her communicative goal”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1141

3 Percurso metodológico
Conforme abordamos na seção anterior, a noção de frame
semântico é central ao nosso escopo analítico, bem como a sua integração
aos chamados modelos baseados no uso (BYBEE, 2012; LANGACKER,
2008; TOMASELLO, 2003), que defendem “[...] a natureza dialética
da relação entre o uso da língua e seu sistema. [...] De acordo com essa
visão, é possível adquirir conhecimentos sobre o sistema linguístico por
meio da análise de eventos de uso que o instanciam”8 (GEERAERTS;
KRISTIANSEN; PEIRSMAN, 2010, p. 4). É a partir de tal postulado
que frames semânticos são descritos com base na Linguística de Corpus
como metodologia que propicia a identificação de “formas linguísticas”
que ativam “estruturas cognitivas – os frames” (FILLMORE; BAKER,
2010, p. 314).
Com base nesses pressupostos, a próxima subseção descreve
nosso corpus de estudo e apresenta as ferramentas computacionais
que utilizamos para explorá-lo – nomeadamente, o NVivo e o Sketch
Engine. Na segunda subseção, delineamos as etapas de análise que são
empregadas para atingirmos o objetivo proposto.

3.1 Contextualizando o corpus: as transcrições das audiências públicas


da SUG nº 15/2014
Em setembro de 2014, no portal e-Cidadania, foi criada a ideia
legislativa nº 29.984, que deu origem à SUG nº 15. A proposta central
foi assim redigida: “Regular a interrupção voluntária de gravidez, nas
primeiras doze semanas de gestação, pelo Sistema Único de Saúde”
(BRASIL, 2014). A motivação inicial dessa proposta teve como foco
principal o abortamento clandestino como questão de saúde pública, tendo
em vista a mortalidade de mulheres pobres em procedimentos de aborto
inseguro. Essa ideia legislativa de iniciativa popular, ao receber o apoio
de 20 mil manifestações individuais, passou a ser debatida no âmbito
do Senado, por meio de audiências públicas que foram registradas em
vídeo e cujas transcrições estão disponíveis online. Assim, este estudo
se restringiu a essas transcrições, disponibilizadas no formato de atas

8
“[…] the dialectic nature of the relation between language use and the language
system. […] According to this view, one can gain insight into the language system by
analyzing the usage events that instantiate it.”
1142 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

de reunião, que debateram a Sugestão Legislativa nº 15 entre maio de


2015 e abril de 2016.
Os cinco arquivos – um para cada audiência – foram
disponibilizados no formato RTF (Rich Text Format), compatível com
todas as versões do Microsoft Word e com editores mais simples, como
o WordPad. A imagem a seguir exibe os arquivos baixados, mantendo
sua nomenclatura original:
FIGURA 1 – Formato original das transcrições da SUG 15

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Ao todo, o corpus na íntegra tem 169,253 tokens e 140,428


types, totalizando cerca de 230 páginas.9 Considerando a extensão média
do material, que pode ser considerado um corpus pequeno (BERBER
SARDINHA, 2000), foi possível fazer uma leitura integral dos dados
antes de começar a manipulá-los – tarefa que não é possível quando a
extensão considerável do corpus permite apenas sua manipulação por
meio de ferramentas digitais. Ao encontro disso, Koester (2010, p. 67)
elenca as seguintes vantagens de se trabalhar com corpora pequenos em
âmbitos como esse: “[...] eles permitem um elo mais forte entre o corpus
e os contextos nos quais os textos do corpus foram produzidos.”10
Como se tratou de um estudo de caso – pois sua análise está restrita
a um objeto específico, “[...] de maneira a permitir o seu conhecimento
amplo e detalhado” (GIL, 2008, p. 58) –, consideramos necessária uma
etapa de maior familiarização com o conteúdo do corpus, ainda que
de forma preliminar ao exercício analítico propriamente dito. Nesse
processo, separamos do material as falas dos senadores que presidiram
as seções, os quais abriam as audiências lendo um texto que retomava
9
Considerando uma lauda com fonte Arial 12, com espaçamento simples.
10
“[…] they allow a much closer link between the corpus and the contexts in which
the texts in the corpus were produced.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1143

a pauta da SUG e apresentando os convidados. Visto que suas falas se


reduziam, em sua maioria, a estabelecer o protocolo a ser seguido nas
sessões, não as selecionamos para compor o corpus de estudo.
Essa etapa do processo de preparação do corpus a partir de uma
leitura preliminar ainda incluiu o mapeamento dos participantes de acordo
com sua categoria de participação: se eram painelistas convidados, que
expuseram seu posicionamento ao longo de 15 minutos; ou se eram
participantes que pediram direito de fala ao final das exposições finais,
cujo tempo-limite para arguição era de três minutos – em alguns casos,
houve a participação dos próprios painelistas na sessão final, geralmente
para reiterar os principais pontos de sua apresentação. Inicialmente,
separamos os convidados painelistas e os demais participantes das
sessões nas grandes categorias “pró-SUG” e “anti-SUG” – ou seja,
consideramos aqueles que defendem a regulação do aborto nas 12
primeiras semanas de gestação como pró-SUG; e aqueles que se opõem
à proposta, como anti-SUG. Salientamos que, neste artigo, tratamos
somente das conceptualizações dos defensores da SUG, considerando
que esses resultados são pertinentes para discutirmos nosso percurso
cognitivo-discursivo de identificação de frames com base em corpus.
A Figura 2 exibe a segunda segmentação realizada, a partir da
qual realizamos uma terceira classificação, por participantes, com vistas
a rastrear algumas características dos dados ao longo do processamento
do corpus.
FIGURA 2 – Segmentação do corpus por participantes pró-SUG e anti-SUG

Fonte: Elaborada pelas autoras.


1144 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

Como mostra a Figura 3, criamos um padrão de nomeação


conforme os exemplos a seguir:

A1_PS_1_MV_Med – A3_AS_2_EG_Pol
Nesses dois casos, temos a seguinte notação: A1 e A3 = audiência
pública 1 e audiência pública 3 (a numeração vai até 5); PS e AS = pró-
SUG e anti-SUG; MV e EG = iniciais das respectivas participantes; e Med
e Pol = iniciais do grupo socioprofissional que representam – médico(a)
e político(a) – ao se manifestarem na respectiva audiência, conforme as
credenciais incluídas nas atas e reproduzidas pelos próprios painelistas.
Assim, trata-se dos papéis institucionais (LANGLOTZ, 2015) que os
participantes desempenham nesse âmbito.
FIGURA 3 – Segmentação do corpus por audiência pública, participante,
posicionamento e papel institucional

Fonte: Elaborada pelas autoras.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1145

Ao todo, chegamos a um total de 78 participantes. Após esse


mapeamento, considerando a primeira leitura do material, organizamos
quadros com uso do Microsoft Excel, no qual sistematizamos os dados
em cinco colunas, quais sejam: nome do participante; papel institucional;
posicionamento em relação à SUG (contra ou a favor da proposta);
resumo da sua exposição em uma frase; e palavras-chave coletadas ao
longo da leitura, com o objetivo de mapear preliminarmente os temas
abordados por cada sujeito.
Após a preparação e a compilação das transcrições, pudemos
avançar na manipulação dos dados por meio das ferramentas
computacionais NVivo e Sketch Engine.

3.2 Ferramentas de análise empregadas: QSR NVivo e Sketch Engine


O QSR NVivo é uma ferramenta qualitativa de análise de
dados que tem sido bastante utilizada nas áreas de Ciências Sociais e
Humanas – principalmente na Educação – e de Ciências da Saúde (LAGE,
2011). Trata-se de um software que se fundamenta “[...] no princípio
da codificação e armazenamento de textos em categorias específicas
[...]” (GUIZZO; KRZIMINSKI; OLIVEIRA, 2003, p. 54), permitindo
o cruzamento de diversos parâmetros que classificam os dados. A figura
a seguir exibe a interface do programa, que precisa ser instalado no
computador e exige a compra de uma licença.11 A versão que utilizamos
se chama NVivo 12 Pro. O software também dispõe de uma versão de
testes, que pode ser utilizada gratuitamente por quinze dias – foi a partir
de tal versão que analisamos a pertinência de sua utilização para a análise
dos dados da SUG.

11
Uma licença para estudantes foi adquirida pelo Grupo SemanTec, a qual tem validade
de dois anos.
1146 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

FIGURA 4 – Tela inicial do QSR NVivo

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Ao se abrir um dos arquivos de transcrição, é possível marcar


excertos do texto e classificá-los nos chamados nós, que “[...] representam
uma categoria ou ideia abstrata [...]” criada pelo pesquisador (GUIZZO;
KRZIMINSKI; OLIVEIRA, 2003, p. 57). No caso de nossa análise,
tal recurso foi bastante útil para identificarmos os grandes temas
abordados em cada participação. A figura a seguir mostra um caso em
que assinalamos um excerto com o nó “Pílula do dia seguinte”, dado
que o participante manifesta seu posicionamento contrário ao uso da
contracepção de emergência. Observamos que um mesmo trecho pode
ser ligado a mais de um nó, conforme tais categorias vão sendo criadas
ao longo da exploração dos dados.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1147

FIGURA 5 – Exemplo de atribuição de um excerto do corpus a um nó

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Salientamos que os próprios nós deram origem a pequenos


subcorpora separados por temas, dentre os quais os maiores (com mais
de vinte excertos) foram também processados na ferramenta de corpus,
com vistas a explorarmos o léxico de forma mais ampla e confirmarmos
possíveis evocadores de frames.
Os nós do NVivo podem ser cruzados com informações sobre o
perfil de cada participante, as quais podem ser previamente cadastradas
na ferramenta. Assim, para poder inter-relacionar diferentes informações
sobre as audiências, registramos individualmente cada participante,
associando cada perfil ao posicionamento (pró-SUG ou anti-SUG) e
ao seu papel institucional, conforme o recurso Classificações de Caso,
exibido na Figura 6 – o tipo de caso foi denominado Perfil, e suas
categorias são Posicionamento e Papel Institucional. Esse procedimento
visou a dar conta da noção de frame como construto interacional que é
manipulado pelos falantes dependendo de seu ponto de vista, conforme
discutimos na seção 2. Assim, foi crucial rastrear nos dados quem eram
os sujeitos conceptualizadores e qual era o seu posicionamento acerca
da proposta da SUG n.º 15.
1148 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

FIGURA 6 – Recurso Classificações de Caso do NVivo

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Os resultados da exploração com o uso do NVivo foram atrelados


à ferramenta de corpus Sketch Engine, um software eficiente na
manutenção de corpus que tem sido utilizado nas pesquisas linguísticas
do grupo SemanTec, de que fazemos parte, mostrando-se um profícuo
recurso para exploração do léxico em estudos que visam a identificar
frames semânticos (CHISHMAN et al., 2014, 2015, 2018; SANTOS;
CHISHMAN, 2018. Assim como o NVivo, o SE exige a compra de uma
licença. Em relação à forma de acesso, a diferença principal entre os
recursos está no fato de que o Sketch Engine não necessita ser instalado;
sua interface, exibida na Figura 7, está disponível online, por meio de
inserção de login e senha no seu site.12
12
Endereço para login: https://auth.sketchengine.eu/.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1149

FIGURA 7 – Tela inicial do Sketch Engine

Fonte: Sketch Engine.

Para processamento dos dados, o corpus foi carregado para a


ferramenta no formato docx. O recurso fez a compilação automática do
material, utilizando o etiquetador Freeling, que atribui etiquetas sintáticas
aos termos para facilitar buscas por combinatórias. À parte as falas
protocolares, que foram excluídas dos dados processáveis, o tamanho do
corpus é de 114.429 tokens. Especificamente, os recursos do programa
que utilizamos são elencados na sequência:

a) Keywords: permite uma comparação entre as palavras mais


frequentes do corpus de estudo em relação a um corpus maior,
ou corpus de referência. Como resultado, obtém-se uma lista
das palavras-chave do corpus de estudo, ou seja, aquelas que
são estatisticamente mais proeminentes. Tal recurso foi usado
especificamente para processar os subcorpora maiores de nós
codificados por meio do NVivo.
1150 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

FIGURA 8 – Lista parcial de palavras-chave do subcorpus do nó Origem da Vida

Fonte: Elaborada pelas autoras.

b) Concordance: permite a visualização da palavra pesquisada,


ou palavra-nó, juntamente com o texto adjacente, ou cotexto.
A palavra buscada aparece em destaque na chamada linha de
concordância. Além disso, ao se clicar na palavra-nó, o Sketch
Engine possibilita visualizar porções maiores de texto antes
e após a concordância consultada. Tal recurso foi utilizado
principalmente ao longo do processo de anotação semântica das
sentenças que evocavam os frames analisados.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1151

FIGURA 9 – Recorte da ferramenta Concordance para a palavra mulher

FONTE: Elaborada pelas autoras.

c) Sketch Difference: permite a comparação entre as combinatórias


de uma palavra no corpus como um todo, ou entre o uso do
mesmo item lexical em diferentes subcorpora. Na figura a seguir,
exibimos parcialmente a Sketch Difference para a palavra mulher,
conforme os dois subcorpora correspondentes ao posicionamento
(pró-SUG e anti-SUG) dos participantes. Nos extremos e em
cores diferentes, constam as combinatórias que só ocorrem em
um corpus; ao meio e em cor neutra, aparecem as combinatórias
comuns a ambos os subcorpora.
1152 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

FIGURA 10 – Sketch Difference para a palavra mulher

Fonte: Elaborada pelas autoras.

A próxima seção aborda as etapas metodológicas que adotamos


em nosso percurso analítico.

3.3 Etapas de análise


Para investigar conceptualizações pró-escolha no contexto da
SUG, tendo em vista uma análise macro e microcontextual do corpus,
organizamos nosso percurso analítico nas etapas a seguir:

a) Identificação das temáticas, ou nós, presentes nas falas dos


participantes pró-SUG: considerando o funcionamento da
ferramenta NVivo, a qual exige a classificação do corpus em nós
para processar inter-relações com as demais categorias, valemo-nos
desse recurso para mapear as grandes temáticas que constituíam o
debate nas audiências, por meio dos seguintes passos:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1153

- releitura de cada arquivo do primeiro subcorpus, segmentado


por participantes (vide Figura 3), após inseri-lo na interface
do NVivo;
- eleção dos excertos que correspondiam a um grande tema e
criação do nó correspondente na ferramenta;
- processamento integrado de todos os nós e verificação de sua
predominância nas audiências como um todo.

b) Identificação dos frames que emergem do discurso pró-SUG:


como discutimos em nossa revisão teórica, frames semânticos são
identificados por meio do levantamento de “formas linguísticas”
que ativam “estruturas cognitivas – os frames” (FILLMORE;
BAKER, 2010, p. 314). A partir de tais usos linguísticos, elencam-
se os Elementos de Frame instanciados no cotexto, de modo
que a descrição vai-se consolidando conforme a manipulação
dos dados avança. Nesse contexto, inspirando-nos em trabalhos
como o de Siman (2015, p. 5), recorremos à Plataforma FrameNet
Berkeley “[...] como referência (mas não como limite) [...]” para
descrever os frames. Isso ocorre porque, como demonstram
os trabalhos de Chishman et al. (2018, 2019), o estudo de um
domínio específico demanda a criação de frames de acordo com
o microcontexto analisado, considerando que a FrameNet é um
recurso de língua inglesa que está em permanente construção – e
que, por conseguinte, não fornece todos os frames que emergem
de um corpus especializado. Também destacamos que a descrição
de frames, neste estudo, consiste na identificação da camada
semântica dos Elementos de Frame – opção também explicitada
nos trabalhos de Siqueira (2013), Lima e Miranda (2013), Miranda
e Bernardo (2013), dentre outros –, não havendo o propósito de
sistematizar os padrões sintáticos encontrados no corpus, nem de
identificar EFs core e não core. Isso significa que não seguimos
o modelo de anotação da FrameNet, que se pauta nas valências
dos evocadores de frames. Assim, em uma anotação que se
atém apenas à camada semântica, são anotados os constituintes
que instanciam Elementos de Frame independentemente de
sua posição na frase em relação ao evocador. Tal procedimento
permite a anotação de instanciadores de EFs de forma mais
ampla, com a finalidade primeira de “[...] ‘remontar’ as cenas
1154 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

conceptuais que emergem do discurso [...]” (FONTES, 2012, p.


37). Especificamente, esse estágio de análise envolveu o uso da
ferramenta Sketch Engine e compreendeu as seguintes etapas:
- identificação das unidades lexicais que potencialmente
evocavam frames, considerando os nós elencados na etapa
anterior – para os nós com mais de vinte excertos, consulta
às palavras-chave do respectivo subcorpus no SE;
- busca dessas unidades lexicais na FrameNet e/ou de frames
relacionados e, se necessário, descrição de novo frame;
- descrição dos Elementos de Frame expressos linguisticamente,
ou por meio de Instanciação Nula (casos em que não é
instanciado em uma concordância do corpus, geralmente
porque foi mencionado em uma parte anterior dos dados);
- sistematização das unidades linguísticas que instanciam
evocadores e Elementos de Frame, por meio do uso dos
recursos da ferramenta Sketch Engine;
- se necessário, refinamento da descrição do frame a partir dos
dados encontrados por meio da ferramenta de corpus.

A figura a seguir ilustra a sequência dos procedimentos analíticos


e explicita o papel do NVivo e do SE nesse percurso:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1155

FIGURA 11 – Ilustração do percurso analítico por meio das ferramentas


NVivo e Sketch Engine

Fonte: Elaborado pelas autoras.

A próxima seção traz a análise e a discussão dos dados conforme


as etapas elencadas.

4 Conceptualizações pró-escolha no debate da Sugestão Legislativa


n.º 15/2014: análise dos dados
Seguindo as etapas metodológicas elencadas na seção anterior,
o percurso de análise aqui discutido foi dividido em dois estágios. Na
primeira etapa (seção 4.1), analisamos as temáticas ou nós do discurso
dos participantes pró-SUG, obtidos por meio da exploração do corpus
no NVivo. Por sua vez, a seção 4.2 concerne à análise dos frames a partir
dos nós elencados, que possibilitou explorarmos o léxico que os evoca
por meio do Sketch Engine.
1156 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

4.1 Os temas que permeiam o discurso pró-SUG: explorando os nós do


NVivo
Conforme já referido, a exploração inicial do corpus, após a leitura
preliminar, foi realizada com auxílio da ferramenta QSR NVivo, que
permite a classificação dos dados em nós; trata-se dos temas abordados
que eventualmente originaram categorias de análise – no caso deste estudo,
serviram como o ponto de partida para a descrição de frames. Além disso,
um mesmo excerto do texto pôde ser marcado com um ou mais nós, os
quais foram cadastrados na ferramenta ao longo da exploração dos textos.
Analogamente, assim como a descrição de frames baseada nos trabalhos
de Fillmore (1982, 1985) envolve a anotação semântica de Elementos
de Frame, o trabalho com o NVivo parte de uma “anotação temática” do
corpus como forma de se realizar um mapeamento geral dos dados, o qual
foi se refinando a partir desse primeiro exercício analítico.
Nesse sentido, tal processo envolveu o cadastro de diferentes
nós no recurso, dentre os quais elencamos, no quadro a seguir, aqueles
que emergiram do corpus pró-SUG. Salientamos que, conforme a leitura
foi avançando, eventualmente eliminamos, refinamos, renomeamos e/
ou reorganizamos os nós, considerando o andamento do trabalho. Nessa
etapa, já havíamos realizado um mapeamento do corpus por palavras-
chave, que também serviu como ponto de partida para a codificação
realizada no NVivo. Além disso, também levamos em conta a frequência
com que cada temática ocorria no corpus ao selecionarmos os excertos
– ligados a nós – a partir dos quais identificamos frames semânticos.
QUADRO 1 – Lista dos nós encontrados e breve contextualização de cada um
Nome do nó Breve contextualização Exemplo
Descreve o aborto como “O abortamento mata uma criança
Assassinato
assassinato do feto. inocente que não pode se defender.”
“A sociedade patriarcal tem nos negado
Aborda o conceito de
a autonomia sobre os nossos corpos e a
Autonomia autonomia sob a ótica da
nossa sexualidade e nos tratado como
autonomia da mulher.
meras reprodutoras do sistema.”
“É o que fazem as mulheres que
Aborda predominantemente
decidem abortar: pensam, refletem,
as possibilidades (ou as
Escolha [subnó discutem e decidem por aquilo que
restrições) da escolha da
de Autonomia] lhes dita a consciência, como melhor
mulher pelo abortamento ou
caminho naquele momento, como
pela maternidade.
recorda um teólogo latino-americano.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1157

Trata de situações em que a “Nesse sentido, a coação para as


mulher é coagida a abortar mulheres não pode vir do seu namorado,
Coação
ou a levar adiante uma não pode vir da sua família e não pode
gestação indesejada. vir do Estado.”
“Existem tantos meios de contracepção.
Trata de métodos
Claro que nenhum deles é 99%, mas as
Contracepção contraceptivos sob diferentes
pessoas precisam aprender a assumir as
perspectivas.
suas responsabilidades.”
“Discute-se a questão da pílula do dia
Pílula do Dia Defende ou critica o uso da
seguinte. É abortiva? Não é abortiva?
Seguinte [subnó pílula do dia seguinte como
Pode ser utilizada? Não pode ser
de Contracepção] método contraceptivo.
utilizada?”
“A primeira é a garantia e a qualidade
Trata do aborto ou do debate da deliberação democrática. O tema do
Democracia sobre a SUG como questão aborto, como outros temas, não é um
democrática. tema trivial e, portanto, requer respeito,
escuta, abertura ao diálogo [...]”
“O aborto fala de nós, de vocês,
Aborda a relação entre a mulheres comuns. Marcadores sociais
Desigualdade pauta da SUG e questões de de desigualdade, como juventude, classe
desigualdade. e cor, agudizam a precariedade da vida
dessas mulheres.”
“Nós sabemos que uma mulher que foi
Desigualdade Tem como foco as violentada sexualmente é duplamente
de Gênero [subnó desigualdades entre homens penalizada pela sociedade machista, que
Desigualdade] e mulheres. torna a mulher um objeto nessa relação
desigual, usa dessa violência.”
Desigualdade Tem como foco as “Do contexto social dessas mulheres.
Financeira [subnó desigualdades financeiras Quem pode paga; quem não paga vai na
Desigualdade] entre mulheres. sorte.”
Tem como foco as
Desigualdade “Por serem inseguros, os abortos
desigualdades entre
Racial [subnó arriscam a vida e a saúde das mulheres,
mulheres brancas e mulheres
de Desigualdade] notadamente as negras [...]”
negras
“a aplicação da lei penal é seletiva,
Aborda questões jurídicas
afetando de maneira mais drástica as
Direito ligadas à questão do
mulheres pobres, negras e socialmente
abortamento.
excluídas.”
“Como componente da pauta mais
Aborda especificamente ampla de direitos sexuais reprodutivos,
Direitos Humanos o aborto como questão de que também inclui o acesso à saúde
[subnó de Direito] direitos humanos (da mulher reprodutiva, o aborto está inscrito no
ou do feto). arcabouço geral dos direitos humanos
[...]”
1158 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

“E eu gostaria de iniciar falando da


maternidade. Pode parecer estranho
Foca no conceito de que, discutindo uma proposta que torna
Maternidade
maternidade. o aborto legal dentro de certos limites,
eu proponha aqui trazer o tema da
maternidade.”
Maternidade
“A maternidade deve ser uma decisão
não hegemônica Trata da maternidade como
livre e desejada, não uma obrigação das
[subnó de escolha.
mulheres.”
Maternidade]
“A mulher comum, a puta ou a
adolescente abortam de maneira
Descreve formas de
Modos de Abortar semelhante: usam comprimidos isolados
abortamento.
ou combinados com chás, ervas ou
garrafadas.”
Trata especificamente da “Trezentas mortes maternas por ano
Morte de Mulheres
morte de mulheres como em função de abortamento inseguro.
[subnó Riscos do
consequência do aborto Aproximadamente uma mulher por dia
Aborto Inseguro]
inseguro. morre em função de aborto inseguro.”
Trata do aborto sob a “Se nós colocarmos filósofos, teólogos,
Origem da Vida perspectiva da origem da cientistas de vários outros campos, não
vida. há consenso sobre o que é a vida.”
Elenca características da “Elas têm filhos; elas são jovens;
Perfil da Mulher
mulher que recorre ao elas têm entre 22 e 29 anos; elas têm
que Aborta
abortamento no Brasil. religião, [...]”
Trata da responsabilidade de
diferentes atores envolvidos “Então, é de responsabilidade também
Responsabilidade na questão do aborto do sexo masculino o controle da
(mulher, marido, Estado natalidade. Não só do sexo feminino.”
etc.).
“Por serem inseguros, os abortos
Riscos do Aborto
Aborda especificamente os arriscam a vida e a saúde das mulheres,
Inseguro [subnó de
riscos do aborto inseguro. notadamente as negras e as mais
Riscos do aborto]
pobres.”
Trata especificamente da “Trezentas mortes maternas por ano
Morte de Mulheres
morte de mulheres como em função de abortamento inseguro.
[subnó Riscos do
consequência do aborto Aproximadamente uma mulher por dia
Aborto Inseguro]
inseguro. morre em função de aborto inseguro.”
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Nessa etapa, também foi relevante observar as temáticas mais


predominantes no corpus pró-SUG. Reiteramos que o NVivo permitiu-
nos fazer esse tipo de cruzamento ao categorizarmos cada participante
por meio do recurso Classificações de Caso (reproduzido anteriormente
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1159

na Figura 6). No Gráfico 1, a seguir, o tamanho de cada nó corresponde à


sua frequência nos dados. Assim, os nós mais à direita, e depois os mais
superiores, são aqueles mais frequentes em número de itens codificados.
GRÁFICO 1 – Os nós mais frequentes no corpus pró-SUG e seus nós subordinados

Fonte: Elaborado pelas autoras.

De modo geral, esse levantamento de nós, previamente à descrição


dos frames semânticos, permitiu-nos verificar que as temáticas abordadas
ao longo das audiências públicas da SUG por vezes abrangeram ou
extrapolaram a pauta inicial da Sugestão. Conforme o Gráfico 1, os
nós mais predominantes no discurso pró-SUG foram Desigualdade,
Autonomia, Direito, Riscos do Aborto (com frequência maior dos subnós
Riscos do Aborto Inseguro e Morte de Mulheres), além de Democracia,
Maternidade e Origem da Vida. Diante disso, destacamos que o tema da
Autonomia ganhou significativo destaque nesse primeiro levantamento,
embora não seja predominante nas discussões sobre abortamento em
nosso contexto; como explica Elias (2018, p. 21), no Brasil, “[...] a
1160 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

mobilização política e a reivindicação ao aborto como um direito de


cidadania às mulheres têm menos destaque [...]” em comparação à
abordagem do tema como questão de saúde pública.
Na próxima seção, considerando os nós sistematizados nesta
etapa, identificamos os frames que emergiram do discurso pró-SUG nas
audiências públicas investigadas.

4.2 Entre a questão de saúde pública e os direitos das mulheres: os frames


pró-SUG
Conforme abordamos na seção 3.1, a motivação inicial da proposta
da SUG nº 15 teve como foco principal o abortamento clandestino como
questão de saúde pública. A partir desse dado e considerando a descrição de
frames realizada por meio da organização do corpus em nós, identificamos
os enquadramentos que refletem ou que ampliam esse foco. Embora alguns
dos frames aqui discutidos sejam evocados também por participantes
anti-SUG – e eventualmente reenquadrados, como buscamos mostrar nas
seções posteriores –, os cenários de que tratamos neste artigo, concernem
ao modo como participantes pró-SUG defenderam a proposta. A figura
a seguir exibe a rede conceptual de frames que analisamos nesta seção:
FIGURA 12 – Rede conceptual de frames Pró-SUG

Fonte: Elaborado pelas autoras.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1161

Os primeiros frames que destacamos estão relacionados


principalmente à realidade sociocultural do abortamento como um todo
e, mais especificamente, como uma problemática brasileira, inserida
nos meandros de desigualdade – racial, econômica, de gênero – que
atravessam o País e atravancam o avanço dos direitos das mulheres.
Nesse âmbito, o frame Aborto_Clandestino, originado a partir do
processamento do nó Modos de Abortar, trata das formas que as mulheres
utilizam para interromper a gestação na clandestinidade, elencando os
meios e instrumentos utilizados, bem como os locais onde ocorre o
aborto. O quadro a seguir exibe parcialmente a descrição do referido
frame, trazendo sentenças anotadas13 – procedimento que seguimos ao
reproduzir todos os demais frames. Nas concordâncias, entre colchetes,
indicamos o participante que evocou o frame, seguindo a nomenclatura
do corpus mencionada na seção 3.1.
QUADRO 2 – Frame Aborto_Clandestino14
Frame Aborto_Clandestino
Definição: Um agente usa
14
EFs e definições:
um meio de interromper Agente Mulher que aborta
a própria gestação, ou a Instrumento Instrumento realizado para abortar
gestação de outrem. Local Local onde ocorre o aborto clandestino
Resultado Resultado do ato de abortar
Evocadores: abortar, aborto, expulsar, operação, procedimento, provocar aborto
[A3_PS_1_DD_Acad] A mulher comum , a puta ou a adolescente abortam de maneira
semelhante: usam comprimidos isolados ou combinados com chás, ervas ou garrafadas.
[A3_PS_1_DD_Acad] Quanto mais jovem for a mulher , o Cytotec é o método mais comum [...].
[A3_PS_2_JW_Pol] Ela entrou nessa clínica clandestina ; a operação, o procedimento
deu errado; ela morreu; e eles deram fim no corpo dela carbonizando-o.
[A5_PS_1_MA_Med] porque as mulheres favorecidas, de boa condição socioeconômica, têm
acesso a medicamentos e recorrem a clínicas clandestinas
[A5_PS_1_MA_Med] as mulheres pobres, as mulheres negras, as mulheres pardas , sem acesso
à educação, [...] elas recorrem a soluções perigosas para provocar o aborto
Fonte: Elaborado pelas autoras.

13
Por questões de espaço, no caso de frames mais frequentes, elegemos os exemplos
anotados mais ilustrativos para compor os quadros no corpo do texto.
14
Neste estudo, não adotamos o termo “definição” de uma perspectiva lexicográfica;
trata-se de uma breve contextualização de cada frame que complementa a respectiva
lista de Elementos de Frame.
1162 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

Chama a atenção o fato de que dos 78 participantes apenas três


evocaram o frame Aborto_Clandestino, que é crucial ao entendimento
da questão levantada pela SUG; especificamente, trata-se de uma
acadêmica, cujas pesquisas sustentam os dados trazidos sobre os métodos
de abortamento; de um parlamentar; e de uma médica – todos pró-SUG.
Além disso, a acadêmica é a que mais evoca o respectivo frame.
O EF Agente do frame Aborto_Clandestino tem como instanciadores
diferentes grupos de mulheres que abortam – aspecto que evidencia o
entrelace com o frame Perfil_da_Mulher_que_Aborta, identificado a partir do
nó homônimo, concernente às evidências, já sistematizadas por renomados
estudos (DINIZ; MEDEIROS, 2010; DINIZ; MEDEIROS; MADEIRO,
2017), que situam o abortamento como ato comum a todas as classes sociais
das mulheres, independentemente de idade, credo, nível de instrução, histórico
reprodutivo, número de filhos, dentre outros aspectos. Interessante observar
que a maioria dos participantes que evocam tal frame pertence aos domínios
médico e acadêmico, valendo-se de dados estatísticos e outras categorias
provenientes de pesquisas científicas para sustentar sua exposição.
QUADRO 3 – Frame Perfil_da_Mulher_que_Aborta
Frame Perfil_da_Mulher_que_Aborta:
Definição: Este EFs e definições:
frame contém Idade Idade da mulher que aborta
características da Nível de instrução Nível de instrução da mulher que aborta
mulher que aborta. Religião Religião da mulher que aborta
Relações entre Etnia Etnia da mulher que aborta
frames: subframe Classe social Classe social da mulher que aborta
de Pessoa História reprodutiva Histórico reprodutivo da mulher que aborta
(FrameNet) Estado civil Estado civil da mulher que aborta
Evocadores: ela, elas, mulheres, mulheres que abortam
[A1_PS_1_HS_Med] Das que informaram ter realizado ao menos um procedimento ao longo
da vida, 15% se declararam católicas; 13% evangélicas, e 16% de outras religiões.
[A2_PS_1_SV_Med] Quem são essas mulheres? Elas tinham 27 anos, 50% pardas, quase
34% pretas, 57% completaram o ensino médio e 86% tinham renda familiar inferior a
R$1.500,00. Situação típica das capitais nordestinas.
[A2_PS_1_TG_Med] São especialmente as mulheres em condições menos favorecidas
aquelas que se submetem aos riscos da prática do aborto realizado em condições precárias.
[A3_PS_1_DD_Acad] Elas têm filhos; elas são jovens; elas têm entre 22 e 29 anos; elas
têm religião, como aquelas que hoje aqui estão representadas para falar contra o aborto; elas
têm um companheiro.
Fonte: Elaborado pelas autoras.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1163

Além disso, os instanciadores dos EFs Nível de Instrução, Etnia


e Classe Social mencionam um perfil menos favorecido de mulheres
que abortam – trata-se das mulheres negras, pobres, com baixo nível de
instrução formal e de baixa renda, que são as maiores vítimas do aborto
clandestino. É por meio de tais Elementos de Frame que identificamos
o entrelaçamento entre os instanciadores dos EFs do frame Perfil_da_
Mulher_que_Aborta e o frame Desigualdade, que partiu do nó homônimo
e de seus respectivos subnós, cuja anotação é exibida parcialmente
no quadro a seguir. É possível perceber que tal frame é evocado mais
uniformemente por todas as categorias socioprofissionais de participantes
pró-SUG. Assim, médicos, políticos, ativistas, religiosos, acadêmicos
e advogados desse grupo abordam as desigualdades entre mulheres
negras/pobres e mulheres brancas/ricas que se concretizam em diferentes
situações (EF Situação): na questão do abortamento em geral, no acesso
a um aborto seguro (mesmo ilegal, clandestino), nos casos de morte
materna e de penalização por crime de aborto, entre outros.
QUADRO 4 – Frame Desigualdade

Frame Desigualdade:
Definição: Este EFs e definições:
frame designa uma Agente em desvantagem Agente em posição de desvantagem
comparação desigual Agente em vantagem Entidade em posição de vantagem
entre dois agentes, de Situação Contexto no qual se estabelece a
modo que um está em desigualdade
desvantagem em relação Meio Meio pelo qual se estabelece a
ao outro no que se refere desigualdade
a algum atributo
Evocadores: desigualdade, apartheid, desiguais, dominação, dominar
Excertos do corpus:
[A1_PS_1_AC_Med] não é uma escolha da civilização que mantém esse apartheid
de direitos entre mulheres e homens, entre mulheres ricas e não ricas quando se trata da
questão do aborto.
[A1_PS_1_RT_Rel] Os dados têm mostrado que são as mulheres negras e pobres as que têm
sofrido as consequências da criminalização do aborto, porque as mulheres que têm dinheiro vão
para fora do País fazer a interrupção em um país onde é legalizado ou mesmo em clínicas onde
elas podem pagar o preço estipulado
funcionam dentro de padrões de higiene adequados, e elas abortam seguramente, enquanto
[A2_PS_1_LM_Acad] Todos deveriam pensar nas mulheres pobres, negras, em Salvador,
no Norte e no Nordeste, que têm que enfrentar condições de vida desiguais, menos acesso às
políticas públicas, às condições de trabalho, à oportunidade educacional
1164 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

[A5_PS_1_MA_Med] Existe uma grande desigualdade regional e uma grande desigualdade


econômica, porque praticamente não vemos mortes por aborto nos hospitais privados nem
nas regiões mais ricas do mundo, e essas mortes por aborto nos países pobres também têm
uma desigualdade dentro dos próprios países.
[A5_PS_2_GC_Ativ] porque esta Casa, infelizmente, ainda é uma casa marcada pela ordem
patriarcal... tem praticamente só homens. Ficamos caladas aqui e ainda levamos lição de
moral todo tempo.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Como mostram os exemplos, os participantes pró-SUG não se


atêm a abordar as desigualdades de raça e classe entre mulheres que
abortam, mas também instanciam esse frame para tratar das relações
assimétricas existentes entre homens e mulheres quando se trata da
responsabilidade por evitar uma gravidez; bem como entre países
desenvolvidos e subdesenvolvidos – estes últimos, em virtude de
desigualdades sociais, apresentam maior número de mortes decorrentes
de abortamentos clandestinos (GUTTMACHER INSTITUTE, 2017).
Além disso, com indica o último exemplo do Quadro 4, essa desigualdade
de gênero também é abordada no que se refere a contextos específicos
como o Senado – afinal, estava-se discutindo uma pauta que evidencia
a necessidade de luta pelos direitos das mulheres em um ambiente
elitista, historicamente dominado por homens brancos heterossexuais,
sendo alguns deles autores de pautas retrógradas quanto aos direitos das
mulheres (SANTOS, 2020). Tal aspecto aponta que as constrições desse
contexto institucional podem limitar consideravelmente o alcance da voz
dos defensores das mulheres e de seus direitos.
Algumas expressões que instanciam os EF Entidade em
Desvantagem (frame Desigualdade) e evocam o frame Perfil_da_Mulher_
que_Aborta também instanciam o EF Paciente do frame Danos, cuja
descrição teve como ponto de partida o nó Riscos do Aborto, conforme
exibimos no quadro a seguir. Nesse enquadramento, o aborto inseguro
instancia o EF Causa – trata-se do causador dos danos à mulher que
aborta na clandestinidade.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1165

QUADRO 5 – Frame Danos

Frame Danos:
Definição: Um agente ou uma causa EFs e definições:
afetam um paciente de tal maneira que Causa Causa do dano ao paciente. 
o paciente fica em um estado anômalo, Paciente Parte afetada pelo agente,
geralmente não desejado. sofrendo danos.
Evocadores:
morrer, mutilação, hemorragia, infecções, perfuração uterina, hemorragia, infecção, choque
séptico, perfuração de vísceras, traumatismos genitais, dor pélvica, infertilidade
Excertos do corpus:
[A2_PS_1_SV_Med] As taxas de complicação por aborto, ou seja, os motivos da
complicação nessas mulheres são hemorragia e infecções. IN [aborto inseguro]
[A3_PS_2_JW_Pol] E o aborto é quarta causa de mortalidade materna hoje no Brasil e
a primeira entre mulheres pobres e negras. Ou seja, esse é um problema de saúde pública
colocado aqui. IN [aborto inseguro]
[A5_PS_1_MA_Med] São complicações de abortos mal feitos, de abortos inseguros,
de abortos clandestinos, com métodos obsoletos, que não se utilizam mais; métodos
perigosíssimos que deveriam ser proibidos [...]. Incluem, além de perfuração uterina,
hemorragia, infecção, choque séptico, perfuração de vísceras, traumatismos genitais, e
as mulheres podem sobreviver com sequelas [...].
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Os excertos que exibimos no Quadro 5 têm como instanciador do


EF Causa, especificamente, o aborto inseguro ou clandestino. Conforme
mencionamos na seção 3.3, por vezes um instanciador pode aparecer
na posição de Instanciação Nula – ou seja, não é explicitado no texto,
geralmente porque foi mencionado em uma parte anterior. Nesses casos,
quando relevante, assinalamos com uma expressão entre colchetes o
termo instanciado, conforme conseguimos recuperá-lo ao expandirmos
as concordâncias do Sketch Engine.
É por meio do frame Danos que o abortamento como questão
de saúde pública é evidenciado, considerando-se as sequelas do
aborto clandestino e o índice de mortalidade materna ocasionado pela
recorrência de procedimentos realizados nessas condições no País.
Observamos que a maior parte dos excertos anotados é de autoria de
participantes médicos(as), de modo que o léxico especializado, atinente
à área da Saúde, também é preponderante nesse segmento dos dados.
Os pró-SUG são os únicos que abordam a morte de mulheres
em virtude do abortamento clandestino, como é possível verificar no
Sketch Difference de “mulher”, a seguir. Mais especificamente, esses
1166 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

participantes se utilizam onze vezes da combinação “morte de mulheres”15


(vide terceiro item da coluna à esquerda). São também os únicos que
tratam das “mortes evitáveis”16 de mulheres que recorrem ao abortamento
clandestino (vide primeiro item da coluna à direita).
FIGURA 13 – Sketch Difference para a palavra morte

Fonte: Elaborada pelas autoras.

O frame Danos, principalmente por ter como evocadores


expressões como “mortes maternas”, entrelaça-se ao frame Assassinato
(originado do nó homônimo) em alguns casos, os quais exploramos a
seguir. Trata-se de excertos em que a ilegalidade do abortamento, em
virtude dos danos causados, torna-se um instrumento de execução de
mulheres. Os instanciadores do EF Assassino, responsável pelos casos
de mortalidade materna, são lexicalizados duas vezes: na primeira, temos
“vocês do pró-morte”, em que a participante se refere a todo o movimento
antiescolha como responsável pelas mazelas do aborto clandestino.
Na segunda ocorrência, “o Estado” é o grande executor da “pena de

15
Exemplo de concordância: “[...] o Estado brasileiro é responsável pelas mortes das
mulheres em situação de risco, em abortamento inseguro”.
16
Exemplo de concordância: “[...] dentro da mortalidade materna, temos de pensar nas
mortes evitáveis.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1167

morte” (evocador do frame) contra “mulheres pobres” – a partir desse


instanciador, temos outro entrelaçamento com o frame Desigualdade.
QUADRO 6 – Frame Assassinato

Frame Assassinato:
Definição: EFs e definições:
Um assassino ou Assassino Agente responsável pela morte da vítima
causa ocasiona a Instrumento Usado para matar a vítima
morte da vítima. Vítima Morre como resultado do assassinato
Meio Método ou ação que resulta na morte da vítima
Evocadores: eliminar, matar, interromper a vida, assassinado, roubar a vida, sacrificar
Excertos do corpus:
[A1_PS_1_IT_Adv] os corpos que escolhemos deixar morrer, as mulheres que escolhemos
deixar morrer em decorrência de procedimentos malsucedidos de abortamento.
[A4_PS_1_MN_Rel] a ilegalidade do aborto como instrumento de morte. É essa morte das
mulheres brasileiras que eu não quero que continue a acontecer na escala em que acontece,
entre outras razões, mas muito fortemente, pela ilegalidade do aborto em nosso País.
[A5_PS_2_PV_Ativ] Nós queremos que vocês dos pró-morte, com seus dogmas religiosos
e violadores do Estado laico, que promovem a tortura diária das mulheres, que promovem
a morte das mulheres, que promovem mais e mais abortos clandestinos e inseguros, sejam
responsabilizados por isso.
[A3_PS_1_MT_Acad] Fácil criminalizá-las, fácil matá-las, fácil para o Estado não se
responsabilizar por essa pena de morte contra mulheres pobres.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

No corpus, também identificamos o frame Responsabilidade,


cuja descrição partiu do nó homônimo, no qual o EF Parte Responsável
tem a incumbência de cumprir determinado dever, ou é responsável
por determinado acontecimento. A partir dessas conceptualizações,
os participantes pró-SUG salientam a responsabilidade não só do
Estado por “mais e mais abortos clandestinos e inseguros” e dos
movimentos antiescolha pela morte de mulheres, mas também tratam
da responsabilidade dos homens pela contracepção, pelo “controle
da natalidade”, de modo que tal compromisso não deve ser atribuído
somente às mulheres.
1168 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

QUADRO 7 – Frame Responsabilidade

Frame Responsabilidade
Definição: uma parte EFs e definições:
responsável é requerida a Parte responsável Pessoa que deve cumprir um dever
cumprir um dever. Responsabilidade Dever a ser cumprido, ou evento/entidade
Origem: frame Being_ pela qual a parte é responsável
Obligated (FrameNet)
Evocadores: assumir a responsabilidade, responsáveis, assumir as consequências, obrigação,
responsabilização
[A5_PS_1_LL_Adv] Esse é um dado importante quando nos damos conta da pouca
responsabilização dos homens na vida reprodutiva. Cai somente nos ombros das
mulheres, nos úteros das mulheres essa responsabilidade
[A5_PS_2_PV_Ativ] Nós queremos que vocês dos pró-morte, com seus dogmas
religiosos e violadores do Estado laico, que promovem a tortura diária das mulheres,
que promovem a morte das mulheres, que promovem mais e mais abortos clandestinos e
inseguros, sejam responsabilizados por isso.
[A3_PS_1_MT_Acad] Fácil criminalizá-las, fácil matá-las, fácil para o Estado não se
responsabilizar por essa pena de morte contra mulheres pobres.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Buscando pelo termo “responsabilidade” no Sketch Difference,


verificamos que somente os pró-SUG combinam esse termo com os
itens “parlamentares”,17 “pai”, “senado”,18 “Ministério”19 e “Estado”,
conforme exibimos na figura a seguir (coluna à esquerda). São também
os únicos que falam em responsabilidade social e pública (vide coluna
à direita). Já os anti-SUG tratam apenas de responsabilidade penal (em
uma ocorrência, conforme coluna à direita).

17
Concordância: “Então, queria chamar a atenção e a responsabilidade dos nossos
Parlamentares, das Casas Legislativas e das Lideranças políticas [...]”.
18
Concordância: “[...] coloca também a responsabilidade do Senado Federal em fazer
este debate [...]”.
19
Concordância: “[...] atenção humanizada ao abortamento. É da responsabilidade do
Ministério da Saúde fazer isso.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1169

FIGURA 14 – Sketch Difference para a palavra responsabilidade

Fonte: Elaborada pelas autoras.

É a partir de tais enquadramentos – Aborto_Clandestino,


Perfil_da_Mulher_que_Aborta, Desigualdade, Danos, Assassinato,
Responsabilidade – que os participantes pró-SUG conceptualizam
a criminalização do aborto como mecanismo ineficaz para reduzir o
número de abortamentos clandestinos, conforme disposto no Quadro
8 – o frame Criminalização teve como origem parte do nó Direito. A
maioria dos excertos é de autoria de advogados pró-SUG e enfatiza,
por meio do Elemento de Frame Avaliação, o “descompasso” entre a
Lei Penal brasileira e a “nossa realidade social”; o “anacronismo” do
Código Penal, que “não resolve” o problema do número de abortos
clandestinos e perigosos; a inconstitucionalidade e a crueldade da lei
ao criminalizar mulheres, impedindo “o acesso ao aborto seguro”; e a
seletividade da Lei Penal, que criminaliza mulheres “pobres, negras e
socialmente excluídas”.
1170 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

Salientamos ainda que somente os pró-SUG lexicalizam a


criminalização, (o problema da) ilegalidade20 e a necessidade de
descriminalização21 do abortamento, conforme mostra a Figura 15
(exibida logo após o Quadro 8).
QUADRO 8 – Frame Criminalização_do_Aborto

Frame Criminalização_do_Aborto
Definição: Ato de EFs e
criminalizar um definições:
agente ou uma ação. Protagonista Parte criminalizada
Ação Ato criminalizado
Avaliação Avaliação do processo de criminalização referido
Base Base jurídica para a criminalização
Evocadores: criminalização, criminalizar, tratamento criminal, aplicação da lei penal
Excertos do corpus:
[A1_PS_1_IT_Adv] tratamento criminal que se dá à questão do aborto no Brasil, reflete
certo anacronismo da nossa legislação, um descompasso existente entre a legislação penal que
criminaliza a mulher que pratica o aborto e a nossa realidade social
[A1_PS_1_IT_Adv] tratamento criminal que se dá à questão do aborto no Brasil, reflete
certo anacronismo da nossa legislação, um descompasso existente entre a legislação penal que
criminaliza a mulher que pratica o aborto e a nossa realidade social
[A5_PS_1_MA_Med] A segunda razão é que o principal fator para impedir o acesso ao
aborto seguro é a criminalização.
[A1_PS_1_IT_Adv] nós estamos afirmando que a perspectiva é de o Brasil querer
criminalizar essas mulheres
[A5_PS_1_EA_Adv] Portanto, e aí o argumento tem uma reviravolta, criminalizar
é inconstitucional.
[A3_PS_1_SC_Ativ] a aplicação da lei penal é seletiva, afetando de maneira mais drástica
as mulheres pobres, negras e socialmente excluídas.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

20
Exemplo de concordância: “É essa morte das mulheres brasileiras que eu não quero
que continue a acontecer na escala em que acontece, entre outras razões, mas muito
fortemente, pela ilegalidade do aborto em nosso País.”
21
Exemplo de concordância: “[...] reúne todas as evidências que levaram a Federação
Internacional dos Ginecologistas e Obstetras a defender a descriminalização do aborto
como uma medida de saúde pública [...].”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1171

FIGURA 15 – Sketch Difference para a combinatória “de(o) aborto”

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Complementando esse aspecto, o frame Direito (segundo


mais evocado do corpus), que partiu do nó homônimo, é agenciado
pelos grupos pró-SUG para defender as reinvindicações das mulheres,
tais como direitos “sociais e reprodutivos”, incluindo os direitos
fundamentais citados na Constituição de 1988 (BRASIL, 1988): direito
à vida, à saúde, à autonomia, entre outros. Em suma, a mulher instancia,
predominantemente em falas de advogados pró-SUG, o Elemento de
Frame Protagonista, a quem devem ser garantidos direitos humanos.
1172 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

QUADRO 9 – Frame Direito

Frame Direito:
Definição: Um EFs e definições:
protagonista é Protagonista Agente revestido do direito
revestido do direito Direito Direito de ter ou fazer algo de acordo com a Lei
de exercer algum Base Base jurídica para o direito concedido
poder concedido pela Dimensão Extensão ou limite do direito concedido
Lei.
Evocadores: direito, proteção jurídica, garantir direito, exercício, exercer
Excertos do corpus:
[A5_PS_1_EA_Adv] E o Tribunal faz uma afirmação enfática, que é muito relevante para esta
Comissão: a inviolabilidade do direito à vida, que está escrito no art. 5º da nossa Constituição
Federal, se refere exclusivamente a um ser já personalizado.
[A5_PS_1_EA_Adv] E se estou falando que o aborto é um direito, um direito com base na
dignidade humana, com base na autonomia, com base na liberdade, significa que alguém tem
a obrigação de garantir esse direito.
[A5_PS_1_LL_Adv] mesmo que haja um conflito de direitos entre os direitos da mulher e os
direitos do embrião, esse conflito tem que ser decidido levando em consideração que a mulher
já é uma vida plena, que a mulher já é o sujeito de direito e que o embrião no máximo tem
uma expectativa de direitos.
[A3_PS_1_SC_Ativ] A perspectiva feminista, que é a minha, que reivindica o direito
de decisão reprodutiva às mulheres, repudia, de maneira forte, as leis e políticas de aborto
compulsório
Fonte: Elaborado pelas autoras.

A Sketch Difference da palavra direito mostra-nos que direito


de escolha, de opção; bem como os direitos iguais, sociais e sexuais
são unicamente lexicalizados por grupos pró-SUG, que situam, assim, o
debate da Sugestão para além da questão de saúde pública – corroborando
o que já havíamos verificado ao elencarmos os nós do corpus na etapa
correspondente à seção 4.2.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1173

FIGURA 16 – Sketch Difference para a palavra direito

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Nesse sentido, o instanciador “autonomia”, do EF Direito,


é também evocador do frame homônimo – decorrente do nó
também denominado Autonomia –, que exibimos a seguir, evocado
predominantemente por médicos e advogados pró-SUG.
QUADRO 10 – Frame Autonomia

Frame Autonomia
Definição: estado ou condição EFs e definições:
de um ser autônomo para se Protagonista Pessoa que tem direito a autonomia
autogovernar. Avaliação Avaliação da autonomia
Extensão Extensão da autonomia
Evocadores: autonomia, autônomo, autodeterminação
[A1_PS_1_HS_Med] deixamos muito bem claro e frisamos que não se decidiu serem os
Conselhos de Medicina favoráveis ao aborto, mas, sim, discutimos a autonomia da mulher e
do médico, o que é nossa obrigação.
[A2_PS_1_JB_Ativ] o interesse das mulheres que tomam decisões autônomas, concentradas
no seu cotidiano, na sua vida e na sua livre consciência.
[A5_PS_1_EA_Adv] que permitam que essa escolha seja feita com segurança e com
preservação da autonomia da mulher
[A5_PS_1_LL_Adv] nossa proposta é uma política de respeitar a autonomia reprodutiva
das mulheres, a autodeterminação das mulheres
Fonte: Elaborado pelas autoras.
1174 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

Destacamos que os pró-SUG são os que mais se utilizam da


colocação “autonomia da mulher” (16 vezes); e os únicos a mencionar
o conceito de autonomia reprodutiva, conforme é possível verificar na
Figura 17.
FIGURA 17 – Sketch Difference para a palavra autonomia

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Mais especificamente, identificamos também o frame Escolha,


originado do subnó homônimo e subordinado ao frame Autonomia, que
tem como foco as alternativas disponíveis ao sujeito que escolhe, bem
como a escolha realizada e suas circunstâncias. Tal enquadramento é
exibido no quadro 11.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1175

QUADRO 11 – Frame Escolha

Frame Escolha
Definição: um EFs e definições:
cognoscente faz Agente Pessoa que faz a escolha
uma escolha dentre Escolha Escolha realizada
uma série de Alternativa Alternativas disponíveis para escolha
possibilidades. Circunstância Circunstância em que a escolha é realizada
Evocadores: escolha, escolher, decidir, optar, desistir, pseudoescolha, não querer
[A5_PS_2_GC_Ativ] legitimamente, exercemos a nossa autonomia de decisão sobre quando
e se queremos parir.
[A5_PS_2_GC_Ativ] Nós somos solidárias com as mulheres na hora em que elas decidem
pela maternidade e não têm o apoio do Estado.
[A1_PS_1_RT_Rel] Então, se a mulher decidir por uma interrupção da gravidez, é ela e sua
consciência.
[A4_PS_2_PV_Ativ] Nós queremos que as mulheres possam escolher. Apoiamos a Regiane
ou quem for que queira escolher manter sua maternidade, seguir com sua maternidade,
com qualidade de vida.
[A5_PS_1_EA_Adv] “A gravidez não deve ser forçada, deve ser escolha”
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Observamos que somente os pró-SUG se valem das colocações


“liberdade de escolha”,22 “exercício de escolha”,23 “questão de escolha”24
e “direito de escolha”,25 conforme exibe a Sketch Difference na figura 18.

22
Concordância: “[...] o exercício da sua liberdade de escolha.”
23
Concordância: “[...] que você tenha essa possibilidade do exercício da escolha de ter
ou não ter filhos.”
24
Concordância: “Então, a questão da escolha difícil, pois ninguém é a favor do aborto.”
25
“[...] a necessidade de se garantir autonomia, direito de escolha às mulheres [...].”
1176 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

FIGURA 18 – Sketch Difference para a palavra escolha

Fonte: Elaborada pelas autoras.

A maternidade como escolha, que instancia o EF Alternativa


no Quadro 11, é uma característica do modelo de maternidade não
hegemônica, que pressupõe igualdade entre homens e mulheres nas
relações de trabalho, bem como partilha da responsabilidade parental
(BELTRAME, 2016). O termo também consiste em um nó e em um dos
frames identificados no corpus, conforme descrevemos no Quadro 12.
Ao encontro disso, observamos que as combinatórias entre os verbos
decidir/optar e maternidade só ocorrem nesse subcorpus em específico,
como mostra a Figura 19.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1177

QUADRO 12 – Frame Maternidade_não_Hegemônica

Frame Maternidade_não_Hegemônica
Definição: condição vista EFs e definições:
como uma opção à mulher, Mulher Mulher que tem a opção de ser mãe
que pressupõe igualdade entre Características Características da maternidade não
homens e mulheres nas relações hegemônica
de trabalho, bem como partilha
da responsabilidade parental.

Evocadores: maternidade, gravidez


[A2_PS_2_CB_Ativ] A maternidade deve ser uma decisão livre e desejada, não uma
obrigação das mulheres.
[A4_PS_1_MN_Rel] No entanto, para que a maternidade seja considerada em sua grandeza,
é absolutamente necessário que compreendamos como resultado de uma decisão, de uma
escolha, como uma opção entre tantas outras de realização das mulheres.
[A4_PS_1_MN_Rel] Só compreendendo, portanto, a maternidade como resultado de opção
e de escolha é possível entender o alcance ético de uma proposta que permite às mulheres
acederem a um aborto quando assim considerarem necessário.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

FIGURA 19 – Sketch Difference parcial para a palavra maternidade

Fonte: Elaborada pelas autoras.


1178 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

Tanto os frames Autonomia e Escolha quanto o frame


Maternidade_não_Hegemônica opõem-se ao frame Coação, originado
principalmente do nó Manipulação, que é evocado pelos pró-SUG
justamente para condenar quaisquer ações que coajam a mulher –
levando-a a seguir com uma gestação forçada; ou mesmo obrigando-a
a abortar. Nesse caso, os principais instanciadores do EF Coagente
(responsável pela coação) são leis e medidas estatais, bem como
familiares.
QUADRO 13 – Frame Coação

Frame Coação:
Definição: Ato de coagir um EFs e definições:
agente, impondo que ela aja Coagente Responsável pela coação
contra sua vontade Coagido Ser coagido
Resultado Resultado da coação
Evocadores: coagir, coação, forçado, obrigar, pressionar
[A3_PS_1_SC_Ativ] A perspectiva feminista, que é a minha, que reivindica o direito de
decisão reprodutiva às mulheres, repudia, de maneira forte, as leis e políticas de aborto
compulsório, assim como também medidas estatais que coagem as mulheres à procriação
compulsória
[A5_PS_1_LL_Adv] Nenhuma mulher deve ser obrigada a fazer um aborto, nenhuma
mulher pode ser coagida a fazer um aborto, como nenhuma mulher deve ser obrigada e
coagida a não interromper a gestação
[A2_PS_1_LM_Acad] Nesse sentido, a coação para as mulheres não pode vir do seu
namorado, não pode vir da sua família e não pode vir do Estado.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Como abordam os participantes defensores da SUG, para que


a mulher exerça plenamente seus direitos de cidadã, é preciso que haja
políticas de Planejamento_Reprodutivo (Quadro 14), que incluem
acesso à Contracepção_de_Emergência (Quadro 15), enquadramento
originado do nó Pílula do Dia Seguinte. Esse método contraceptivo é
considerado fundamental para reduzir a gravidez indesejada e evitar o
abortamento inseguro – incluindo casos de estupro, nos quais as mulheres
brasileiras têm direito à atenção humanizada, que abrange a prescrição
de contracepção de emergência (BRASIL, 2011).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1179

QUADRO 14 – Frame Planejamento_Reprodutivo

Frame Planejamento_Reprodutivo
Definição: política EFs e definições:
pública de saúde que Cidadão Pessoa que deve ter acesso ao
desenvolve ações que planejamento reprodutivo
possam propiciar o Ação Ações realizadas por políticas de
planejamento reprodutivo planejamento reprodutivo
da população Circunstância Circunstâncias em que ocorrem as ações
de planejamento reprodutivo
Evocadores: planejamento reprodutivo, planejamento familiar
[A1_PS_1_AC_Med] todos os métodos contraceptivos devem estar disponíveis para todas
as mulheres, em todas as idades
[A1_PS_1_RT_Rel] Então, o planejamento reprodutivo deve estar à disposição da
população. Todos os métodos que a ciência conseguiu até hoje elaborar devem estar
disponíveis à população.[A5_PS_1_LL_Adv] nós temos direitos ao planejamento familiar
sem coação e com o dever do Estado de fornecer os métodos e os meios necessários para o
exercício desse direito.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

QUADRO 15 – Frame Contracepção_de_Emergência

Frame Contracepção_de_Emergência:
Definição: trata da pílula EFs e definições:
do dia seguinte e de Contraceptivo Pílula do dia seguinte
perspectivas sobre seus Usuária Usuária da pílula do dia seguinte
efeitos Características Atributos da pílula do dia seguinte
Evocadores: pílula do dia seguinte, anticoncepção de emergência
Excertos do corpus:
[A1_PS_1_MS_Acad] e, muitas vezes, nem a pílula do dia seguinte, que poderia evitar um
conjunto de danos e decisões conflituosas às mulheres, como a situação de aborto, mesmo
essa medida mínima a gente nem sempre consegue.
[A1_PS_1_MV_Med] Nós temos que ampliar a atenção integral às mulheres em situação
de violência sexual, [...] através da pílula de emergência, que é um grande dispositivo para
reduzir a gravidez indesejada e o aborto inseguro.
Fonte: Elaborado pelas autoras.

Esta seção objetivou analisar os frames instanciados no corpus


da SUG que vão ao encontro da intenção legislativa da Sugestão, cuja
proposta parte principalmente da conceptualização do abortamento como
questão de saúde pública. De modo geral, os resultados evidenciam
1180 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

que, embora a iniciativa da Sugestão tenha partido da conceptualização


do abortamento como questão de saúde pública, os participantes que a
defendem não se atêm a esse aspecto ao agenciarem frames segundo seus
propósitos comunicativos (TOMASELLO, 2003). Além disso, há frames
que são evocados exclusivamente pelos pró-SUG, quais sejam: Aborto_
Clandestino, Perfil_da_Mulher_que_Aborta, Criminalização_do_Aborto,
Planejamento_Reprodutivo e Maternidade_não_Hegemônica. Vale ainda
pontuar que, ao evocarem o frame Desigualdade, os participantes pró-
SUG salientam não apenas as disparidades de raça, cor e escolaridade
que determinam o tipo de serviço de aborto acessado pela mulher, mas
também enfatizam questões como a desigualdade de gênero, a qual se
reflete inclusive na configuração de espaços supostamente democráticos
como o Senado.
Nesse sentido, ao tratarem dos diferentes tipos de Desigualdade
que permeiam a questão do Aborto_Clandestino; das inúmeras
características que incluem, no Perfil_da_Mulher_que_Aborta, a mulher
casada, religiosa e com filhos (DINIZ; MEDEIROS; MADEIRO,
2017); dos Danos causados por esse procedimento inseguro; do
Assassinato de mulheres que abortam (geralmente negras e pobres); da
Responsabilidade do Estado para com as mulheres e dos homens para
com a corresponsabilidade diante de uma gravidez indesejada; dos efeitos
perversos da Criminalização_do_Aborto, que ocasionam o Assassinato
de mulheres abortando na clandestinidade; da gama de Direitos nem
sempre garantidos às mulheres, dada essa criminalização – incluindo
o direito ao Planejamento_Reprodutivo, à Autonomia e o consequente
direito de Escolha por abortar ou levar a cabo uma gestação –; e da luta
por uma noção de Maternidade_não_Hegemônica, que respeite a mulher
como sujeito pleno de direitos e que iniba qualquer tipo de Coação, os
participantes pró-SUG fazem mais que um clamor à visibilização da
cruel realidade do abortamento clandestino: realizam uma exposição
fundamentada e uma reivindicação concreta para que mulheres não sejam
mais punidas pela criminalização seletiva do abortamento.
A seção a seguir traz algumas considerações acerca do percurso
de análise aqui realizado.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1181

5 Considerações finais
Este artigo teve como objetivo principal discutir alguns
desdobramentos analíticos de um estudo que investigou frames
semânticos em audiências públicas da Sugestão Legislativa n.º 15/2014.
Por meio de um recorte voltado à identificação de frames no discurso dos
defensores da proposta da SUG nº 15, buscamos elucidar as possibilidades
analíticas viabilizadas pela integração de uma ferramenta de análise
qualitativa de dados – o NVivo – ao recurso Sketch Engine. A opção por
tal articulação foi realizada tendo em vista a necessidade de segmentação
do corpus em unidades temáticas para posterior processamento dos dados
no concordanciador e no Sketch Difference.
Ponderamos que esta proposta possa ser considerada uma
abordagem middle-out de exploração dos dados (CHISHMAN et al.,
2018), ou seja, busca-se o “caminho do meio” entre análises bottom-up
(que têm como único ponto de partida léxico) e as top-down (que se valem
de aspectos macrocontextuais como base inicial para a análise). Assim,
a partir de uma segmentação em subcorpora de temas possibilitada pelo
recurso NVivo (direcionamento metodológico top-down), realizamos
uma descrição preliminar dos frames semânticos, a qual foi revista e
consolidada por meio do processamento de listas de palavras-chave na
ferramenta Sketch Engine (direcionamento bottom-up), da análise de
concordâncias e da anotação semântica de excertos que evocavam os
respectivos frames. Nesse percurso, utilizamo-nos também do recurso
Sketch Difference, que permite a comparação entre usos linguísticos nos
subcorpora selecionados, para observar a ocorrência de combinatórias
lexicais peculiares ao corpus pró-SUG.
Na seção dedicada à análise dos dados, descrevemos frames
instanciados no corpus que vão ao encontro da intenção legislativa da
Sugestão, verificando que os participantes pró-SUG não se ativeram
ao tema do abortamento como questão de saúde pública – via frames
como Aborto_Clandestino, Desigualdade, Perfil_da_Mulher_que_
Aborta, Assassinato e Criminalização_do_Aborto. O abortamento
também foi conceptualizado como questão de autonomia da mulher,
por meio da evocação do frame homônimo, do subframe Escolha e do
enquadramento Maternidade_não_Hegemônica. Tais evidências refletem
a conceptualização do abortamento não apenas como questão de saúde
pública – aspecto que motivou a pauta da SUG –, mas também de justiça
1182 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

social, especificamente de justiça reprodutiva (SILLIMAN et al., 2016).


Nesse sentido, ao se abordarem questões permeadas por desigualdade
social e racial, como é o caso da pauta da SUG n.º 14, vislumbra-se
a defesa de uma noção de escolha centrada em diferenças concretas
entre mulheres, considerando-as como sujeitos-cidadãos atrelados a
coletividades e historicidades distintas.
Conforme discutimos ao longo do artigo, essa abordagem
permitiu um tratamento dos dados previamente ao upload do corpus no
Sketch Engine, o que resultou, por sua vez, em subcorpora temáticos
processáveis por essa ferramenta. Diante disso, pontuamos o ineditismo
da proposta, que não apenas utilizou o NVivo como recurso de
identificação de unidades temáticas – o uso mais prototípico da ferramenta
em estudos que partem de fontes textuais –, mas o integrou ao processo
de compilação de corpus, com vistas a uma análise cognitivo-discursiva
dos dados.26 Dessa forma, a proposta de uso do NVivo constituiu, ao
mesmo tempo, uma primeira etapa de análise de frames e um processo
de (re)compilação do corpus para fins de exploração dos evocadores no
Sketch Engine. Além disso, observamos que, embora a relevância do SE
em pesquisas semântico-cognitivas tenha sido extensamente corroborada
(CHISHMAN et al., 2014, 2015, 2018), é a primeira vez que utilizamos
um recurso novo da ferramenta, o Sketch Difference, para comparar o
uso de algumas combinatórias lexicais entre os subcorpora, atrelando
tais evidências à descrição de frames. Diante disso, salientamos que
a pertinência dos procedimentos aqui discutidos para outras análises
cognitivo-discursivas, ou para outros tipos de corpora, ainda necessita
ser verificada.

Agradecimentos
Agradecemos à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES), que concedeu à primeira autora uma bolsa
de doutorado CAPES/PROSUC (Código de Financiamento 001); e
à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul
(FAPERGS), que financiou a aquisição de uma licença de uso do software
NVivo.

26
Para conferir as aproximações e os distanciamentos entre nossa proposta metodológica
e estudos anteriores, sugerimos a leitura de Santos (2020).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1183

Declaração de contribuição de cada autora


Este artigo é um desdobramento da tese de doutorado desenvolvida pela
primeira autora e orientada pela segunda autora. O referencial teórico
foi escrito por Aline Nardes dos Santos e modificado após sugestões
de Rove Chishman. No desenho metodológico, o ponto de partida foi
a proposta middle-out que Chishman tem adotado em suas pesquisas.
Conjuntamente, as autoras aplicaram esse aporte à metodologia do
estudo. No percurso analítico, o ponto de partida foram os dados da tese
de Santos, os quais foram revisitados na proposta deste artigo. Por fim,
as demais seções foram planejadas e revisadas colaborativamente, assim
como a redação final do texto.

Referências
BELTRAME, P. B. Aborto: a controvérsia das feminilidades. 2016. 106f.
Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação
em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Natal, 2016.
BERBER SARDINHA, T. Linguística de Corpus: Histórico e
Problemática. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000. DOI:
https://doi.org/10.1590/S0102-44502000000200005. Disponível em:
http://www.scielo.br/pdf/delta/v16n2/a05v16n2.pdf. Acesso em: 25 set.
2020.
BOOTH, K. J. The Meaning of the Social Body: Bringing George Herbert
Mead to Mark Johnson’s Theory of Embodied Mind. William James
Studies, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 1-18, 2016. Disponível em: https://www.jstor.
org/stable/26203794?seq=1#metadata_info_tab_contents. Acesso em:
17 fev. 2020.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do
Brasil, 1988, Brasília, DF: Presidência da República, 1988. Disponível
em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm.
Acesso em: 11 set. 2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Atenção Humanizada ao Abortamento:
Norma Técnica. Brasília: Ministério da Saúde, 2011.
BRASIL. Senado Federal. Sugestão n° 15, de 2014. Atividade Legislativa.
Brasília, 2014. Disponível em: https://www25.senado.leg.br/web/
atividade/materias/-/materia/119431. Acesso em: 1 mar. 2020.
1184 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

BYBEE, J. Usage-Based Models in Linguistics: an Interview with


Joan Bybee. Entrevista concedida a Tiago Timponi Torrent. Revista
Linguíʃtica, Rio de Janeiro, v. 8, n. 1, p. 1-6, 2012.
CHISHMAN, R. et al. Field – Dicionário de Expressões do Futebol:
um recurso lexicográfico baseado no aporte teórico-metodológico da
Semântica de Frames e da Linguística de Corpus. Signo, Santa Cruz do
Sul, v. 39, n. 67, p. 25-35, 2014. DOI: https://doi.org/10.17058/signo.
v39i67.5128. Disponível em: https://online.unisc.br/seer/index.php/
signo/article/view/5128. Acesso em: 22 out. 2020.
CHISHMAN, R. et al. The Relevance of the Sketch Engine Software to
Build Field – Football Expressions Dictionary. Revista de Estudos da
Linguagem, Belo Horizonte, v. 23, n. 3, p. 769-796, 2015. DOI: https://
doi.org/10.17851/2237-2083.23.3.769-796. Disponível em: http://www.
periodicos.letras.ufmg.br/index.php/relin/article/view/8918. Acesso em:
21 out. 2020.
CHISHMAN, R. et al. Dicionário Olímpico: a Semântica de Frames
encontra a lexicografia eletrônica. In: FINATTO, M. J. B.; REBECHI, R.
R.; SARMENTO, S.; BOCORNY, A. E. P. (org.). Linguística de Corpus:
perspectivas. Porto Alegre: Instituto de Letras - UFRGS, 2018. p. 265-
298.
CHISHMAN, R. et al. Challenges and Difficulties in the Development
of Dicionário Olímpico (2016). In: ELEX CONFERENCE, 2019, Sintra.
Proceedings […]. Sintra: Lexical Computing CZ s.r.o., Brno, Czech
Republic, 2019. p. 622-641.
DINIZ, D.; MEDEIROS, M.; MADEIRO, A. Pesquisa Nacional de
Aborto 2016. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 653-
660, 2017. DOI: https://doi.org/10.1590/1413-81232017222.23812016.
Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S14138123201700
0200653&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 8 fev. 2020.
DINIZ, D.; MEDEIROS, M. Aborto no Brasil: uma pesquisa domiciliar
com técnica de urna. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v.
15, supl. 1, p. 959-966, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S1413-
81232010000700002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csc/
v15s1/002.pdf. Acesso em: 03 jul. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1185

DUQUE, P. H. Discurso e Cognição: uma abordagem baseada em


frames. Revista da ANPOLL, Florianópolis, v. 1, n. 39, p. 25-48, 2015.
DOI: https://doi.org/10.18309/anp.v1i39.902 Disponível em: https://
revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/902/829. Acesso
em: 10 set. 2020.
ELIAS, M. L. G. G. R. Conservadorismo, feminismo e o judiciário como
arena em disputa: debate sobre aborto. In: ENCONTRO DA ABCP, 11.,
2018, Curitiba. Anais [...]. Curitiba: ABCP, 2018. p. 1-26.
FILLMORE, C. J. An Alternative to Checklist Theories of Meaning. In:
ANNUAL MEETING OF THE BERKELEY LINGUISTICS SOCIETY,
1., Berkeley. Proceedings […]. Berkeley: Berkeley Linguistics Society,
1975. p. 123-131. DOI: https://doi.org/10.3765/bls.v1i0.2315
FILLMORE, C. J. Frame Semantics and the Nature of Language.
In: CONFERENCE ON THE ORIGIN AND DEVELOPMENT OF
LANGUAGE AND SPEECH, 1976, New York. Proceedings […] New
York: New York Academy of Sciences, 1976. p. 20-32. DOI: https://doi.
org/10.1111/j.1749-6632.1976.tb25467.x
FILLMORE, C. J. Frame Semantics. In: THE LINGUISTICS SOCIETY
OF KOREA (org.). Linguistics in the Morning Calm. Seoul: Hansinh
Publishing, 1982. p. 111-137.
FILLMORE, C. J. Frames and the Semantics of Understanding. Quaderni
di Semantica, [S.l.], v. 6, n. 2, p. 222-254, 1985.
FILLMORE, C. J.; BAKER, C. A Frames Approach to Semantic Analysis.
In: HEINE, B.; NARROG, H. (ed.). The Oxford Handbook of Linguistic
Analysis. New York: Oxford University Press, 2010. p. 313-339.
FONTES, M. R. Frames e valores: um estudo sobre a normatividade
no espaço escolar. 2012. 157f. Dissertação (Mestrado em Linguística)
– Programa de Pós-Graduação em Linguística, Universidade Federal
de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2012. Disponível em: http://www.ufjf.
br/ppglinguistica/files/2009/12/FONTES-Mariana-Rocha-2012-
Disserta%C3%A7%C3%A3o.pdf. Acesso em: 20 nov. 2020.
GEERAERTS, D.; KRISTIANSEN, G.; PEIRSMAN, Y. Introduction.
Advances in Cognitive Sociolinguistics. In: ______. (ed.). Advances in
Cognitive Sociolinguistics. Berlin; New York: De Gruyter Mouton, 2010.
p. 1-22. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110226461
1186 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas,


2008.
GUIZZO, B. S.; KRZIMINSKI, C. O.; OLIVEIRA, D. L. L. C. O
Software QSR NVIVO 2.0 na análise qualitativa de dados: ferramenta
para a pesquisa em ciências humanas e da saúde. Revista Gaúcha de
Enfermagem, Porto Alegre, v. 24, n. 1, p. 53-60, 2003. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/4437.
Acesso em: 10 jun. 2018.
GUTTMACHER INSTITUTE. Abortion in Latin America and the
Caribbean. New York: Guttmacher Institute, 2017. Disponível em:
https://www.guttmacher.org/sites/default/files/factsheet/ib_aww-latin-
america.pdf. Acesso em: 15 mar. 2020.
HANKS, W. F. O que é contexto. In: BENTES, A. C.; REZENDE, R. C.;
MACHADO, M. R. (org.). Língua como prática social: das relações entre
língua, cultura e sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin. São Paulo:
Cortez, 2008. p. 169-203.
KOCH, I. V.; MORATO, E.; BENTES, A. C. Ainda o contexto:
algumas considerações sobre as relações entre contexto, cognição e
práticas sociais na obra de Teun van Dijk. Revista Latinoamericana
de Estudios del Discurso, Brasília, v. 11, p. 79-92, 2011. DOI: https://
doi.org/10.35956/v.11.n1.2011.p.79-91. Disponível em: http://raled.
comunidadaled.org/index.php/raled/article/view/93. Acesso em: 20 set.
2020.
KOESTER, A. Building Small Specialised Corpora. In: MCCARTHY,
M.; O’KEEFE, A. (ed.). The Routledge Handbook of Corpus Linguistics.
London; New York: Routledge, 2010. p. 66-79. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203856949-6
LAGE, M. C. Utilização do software NVivo em pesquisa qualitativa:
uma experiência em EaD. ETD - Educação Temática Digital, Campinas,
v. 12, p. 198-226, 2011. DOI: https://doi.org/10.20396/etd.v12i0.1210.
Disponível em: https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/etd/
article/view/1210/pdf_57. Acesso em: 14 mai. 2020.
LANGACKER, R. W. Cognitive Grammar: A Basic Introduction. New
York: Oxford University Press, 2008. DOI: https://doi.org/10.1093/
acprof:oso/9780195331967.001.0001
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1187

LANGLOTZ, A. Creating Social Orientation Through Language.


Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2015.
DOI: https://doi.org/10.1075/celcr.17.
LIMA, F. R. O.; MIRANDA, N. S. O frame semântico como uma
ferramenta analítica de compreensão de experiências sociais educacionais.
Revista Gatilho, Juiz de Fora, v. 8, p. 1-14, 2013. Disponível em: http://
www.ufjf.br/revistagatilho/files/2013/05/O-frame-sem%C3%A2ntico-
como-ferramenta-anal%C3%ADtica.pdf. Acesso em: 25 mar. 2020.
MIRANDA, N. S. Domínios conceptuais e projeções entre domínios:
uma introdução ao Modelo dos Espaços Mentais. Veredas: Revista de
Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, v. 3, n. 1, p. 81-95, 1999. Disponível
em: https://veredas.ufjf.emnuvens.com.br/veredas/article/view/500.
Acesso em: 03 mar. 2020.
MIRANDA, N. S. O caráter partilhado da construção da significação.
Veredas: Revista de Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, v. 5, n. 1, p. 57-81,
2001. Disponível em: http://www.ufjf.br/revistaveredas/files/2009/12/
artigo49.pdf. Acesso em: 08 jul. 2020.
MIRANDA, N. S.; BERNARDO, F. C. Frames, discurso e valores.
Cadernos de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 55, n. 1, p. 81-97, 2013.
DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v55i1.8636596. Disponível em: https://
periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cel/article/view/8636596.
Acesso em: 16 mar. 2020.
MORATO, E. M. A noção de frame no contexto neurolinguístico: o que
ela é capaz de explicar? Cadernos de Letras da UFF, Niterói, n. 41, p.
93-113, 2010. Disponível em: http://www.uff.br/cadernosdeletrasuff/41/
artigo4.pdf. Acesso em: 10 jan. 2020.
SALOMÃO, M. M. Gramática e interação: o enquadre programático da
hipótese sociocognitiva sobre a linguagem. Veredas: Revista de Estudos
Linguísticos, Juiz de Fora, v. 1, n.1, p. 23-39, 1997. Disponível em: https://
bit.ly/2tZRwlH. Acesso em: 25 mar. 2020.
SALOMÃO, M. M. Teorias da linguagem: a perspectiva sociocognitiva.
In: FÓRUM DE LINGUAGEM, 2., Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de
Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2006. p. 1-13.
1188 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021

SALOMÃO, M. M. Teorias da linguagem: a perspectiva sociocognitiva.


In: MIRANDA, N. S.; SALOMÃO, M. M. (org.). Construções do
Português do Brasil: da gramática ao discurso. Belo Horizonte: UFMG,
2009. p. 20-32.
SANTOS, A. N. A Sugestão Legislativa nº 15/2014: entrelaçamentos
e reenquadramentos de frames semânticos no debate sobre os direitos
reprodutivos das mulheres no Brasil. 2020. 291f. Tese (Doutorado em
Linguística Aplicada) – Programa de Pós-Graduação em Linguística
Aplicada, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, São Leopoldo, RS,
2020. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/
UNISINOS/9111. Acesso em: 20 nov. 2020.
SANTOS, A. N.; CHISHMAN, R. L. O. Frames de compreensão e
corpora: estudo de caso com uso do Sketch Engine. In: FINATTO, M.
J. B.; REBECHI, R. R.; SARMENTO, S; BOCORNY, A. E. P. (org.).
Linguística de Corpus: perspectivas. Porto Alegre: Instituto de Letras da
UFRGS, 2018. p. 183-206.
SILLIMAN, J. et al. Undivided Rights: Women of Color Organizing for
Reproductive Justice. Chicago: Haymarket Books, 2016.
SILVA, A. S. Discurso na mente e na comunidade. Para a sinergia
entre a Linguística Cognitiva e a Análise (Crítica) do Discurso. Revista
Portuguesa de Humanidades, Braga, v. 9, n. 1, p. 53-78, 2015.
SIMAN, J. H. Frames de doença de Alzheimer. 2015. 155f. Dissertação
(Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação em Linguística,
Universidade Estadual de Campinas, 2015. Disponível em: http://taurus.
unicamp.br/bitstream/REPOSIP/270612/1/Siman_JosieHelen_M.pdf.
Acesso em: 16 mar. 2020.
SIQUEIRA, A. C. T. A Semântica de Frames na análise do discurso
discente: traçando o perfil do professor de português. 2013. 152f.
Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de Pós-Graduação
em Linguística, Universidade Federal de Juiz de Fora, 2013.
Disponível em: https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/900/1/
amandacristinatestasiqueira.pdf. Acesso em: 20 ago. 2020.
TANNEN, D. What’s in a Frame? Surface Evidence for Underlying
Expectations. In: FREEDLE, R. (ed.). New Directions in Discourse
Processing. Norwood: Ablex, 1979. p. 137-181.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1137-1189, 2021 1189

TOMASELLO, M. The Cultural Origins of Human Cognition.


Cambridge: Harvard University Press, 1999.
TOMASELLO, M. Constructing a Language: A Usage-Based Theory of
Language Acquisition. Cambridge; London: Harvard University Press,
2003.
TOMASELLO, M. Origins of Human Communication. Cambridge;
London: The MIT Press, 2008. DOI: https://doi.org/10.7551/
mitpress/7551.001.0001
VEREZA, S. Mal comparando…: os efeitos argumentativos da metáfora
e da analogia numa perspectiva cognitivo-discursiva. SCRIPTA, Belo
Horizonte, v. 20, n. 40, p. 18-35, 2016a. DOI: https://doi.org/10.5752/
P.2358-3428.2016v20n40p18. Disponível em: http://periodicos.
pucminas.br/index.php/scripta/article/view/13964. Acesso em: 9 mar.
2020.
VEREZA, S. Cognição e sociedade: um olhar sob a óptica da Linguística
Cognitiva. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 16, n. 3, p. 561-573,
2016b. DOI: https://doi.org/10.1590/1982-4017-160303-0416d15.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ld/v16n3/1518-7632-
ld-16-03-00561.pdf. Acesso em: 07 mar. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

De marcar la cancha a una canchereada na metaforização


da política pelo futebol: análise de unidades fraseológicas
especializadas em corpus jornalístico argentino

From “marcar la cancha” to “una canchereada” in the


metaphorization of politics by football: analysis of specialized
phraseological units in Argentinean journalistic corpus

Ariel Novodvorski
Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, Minas Gerais / Brasil
arivorski@ufu.br
http://orcid.org/0000-0003-1370-8334

Cleci Regina Bevilacqua


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do
Sul / Brasil
cleci.bevilacqua@ufrgs.br
http://orcid.org/0000-0002-1002-9080

Resumo: Este artigo apresenta uma análise de termos e unidades fraseológicas


especializadas, do âmbito do futebol, em processos de metaforização com o domínio
alvo da política. A pesquisa utiliza um corpus jornalístico monolíngue em espanhol
rio-platense, da coluna Humor Político do jornal argentino Clarín. A utilização de
programas computacionais para análises lexicais característicos da pesquisa com a
Linguística de Corpus viabilizou a identificação e extração de termos e fraseologias
especializadas presentes no corpus. A análise das unidades em contexto apontou para
a construção metafórica do campo mais abstrato da política por meio de figuras mais
concretas do meio futebolístico. A consulta a corpora disponíveis on-line corroborou
as premissas e os achados no corpus de estudo.
Palavras-chave: terminologia; unidades fraseológicas especializadas; metáfora;
linguística de corpus; corpus jornalístico.

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1191-1228
1192 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

Abstract: The following paper provides an analysis of soccer terms and specialized
phraseological units in metaphorization processes with the target area of politics.
The research uses a monolingual journalistic corpus in Spanish rio-platense, from
the politics section Humor Político of the Argentinean newspaper Clarín. The use of
computer programs for lexical analysis typical of Corpus Linguistics research has made
it possible to identify and extract terms and specialized phrases found in the corpus.
The analysis of units in context pointed to the metaphorical construction of the most
abstract field of politics by means of more concrete figures of the soccer environment.
The corpora consultation available online corroborated the premises and findings in
the corpus of study.
Keywords: terminology; specialized phraseological units; metaphor; corpus linguistics;
journalistic corpus.

Submetido em 31 de agosto de 2020


Aceito em 19 de outubro de 2020

1 Introdução
Este artigo é um recorte da pesquisa de Pós-doutorado do primeiro
autor deste texto, junto ao PPG-Letras da UFRGS, com conclusão
prevista para dezembro de 2020. Essa pesquisa nasce da exploração
de diferentes corpora, monolíngues, comparáveis e paralelos, no par
linguístico espanhol/português, compilados a partir da seção de opinião
de jornais argentinos e brasileiros, com a trama política desses países
como tema principal e a observação das características lexicais, como
objeto de estudo. A motivação para a escolha da temática e consequente
compilação dos corpora partiu de nosso interesse, por um lado, pelo
acompanhamento da situação e trama política na região, enquanto leitores
de diferentes jornais de ampla circulação e de livre acesso on-line e,
por outro lado, pela análise das combinatórias lexicais identificadas a
partir de unidades terminológicas, em uma perspectiva contrastiva e
comparável.1 Apresentamos parte desse material e dos resultados em
1
Do ponto de vista da Metáfora Conceptual, das características do corpus e da utilização
de ferramentas da Linguística de Corpus, os trabalhos de Berber Sardinha (2007a,
2008, 2010) e de Sperandio (2009, 2010) são pontos de contraste relevantes com esta
pesquisa, como será observado na seção teórica, por abordarem o estudo empírico
de metáforas no plano da política brasileira, entre outros, do ex-presidente Lula e do
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1193

diferentes eventos, nos últimos quatro anos. Para o presente trabalho,


utilizaremos exclusivamente o corpus integrado por textos coletados
da seção de opinião do jornal Clarín, em específico a coluna dominical
Humor político, do jornalista argentino Alejandro Borensztein,2 que
passamos a denominar Corpus AleBores. Essa coluna, como observa o
próprio autor, é publicada todo domingo há 12 anos.
A partir do contato inicial com o corpus, ainda enquanto leitores,
pudemos perceber a riqueza lexical e a dificuldade que poderia representar
a compreensão do sentido de determinadas unidades fraseológicas, de uso
especializado no contexto da trama política. Por um lado, isso ocorreria
pelo fato das diferentes áreas de especialidade convergentes e implicadas
nos textos; por outro lado, pelo conhecimento sócio-histórico e cultural
exigido, pela alusão a fatos que deveriam fazer parte da memória dos
leitores, fundamentais para o estabelecimento das relações na construção
dos sentidos. Cabe considerar, ainda, questões relacionadas à função
comunicativa de determinadas ocorrências nos textos, isto é, à função
pragmática implicada. Some-se a isso, no ato da leitura, a necessidade
de reconhecimento e compreensão dessas unidades fraseológicas
constituídas nos textos, isto é, o conhecimento mais estritamente
linguístico, para reconhecimento e/ou identificação dos constituintes que
formam as fraseologias, função necessária para compreensão da relação
existente, muitas das vezes metafórica, entre os domínios vinculados por
essas unidades fraseológicas.
Para exemplificar, em “También le pasó a Scioli en 2015. Se la
dejaron abajo del arco y la tiró por arriba del travesaño” (BORENSZTEIN,
2018, nosso destaque). No âmbito da política argentina, Daniel Scioli
foi o candidato à presidência argentina pelo Kirchnerismo, no final do
segundo mandato de Cristina Kirchner. As fraseologias em destaque
ilustram uma jogada de futebol em que alguém deixou a bola para
outro jogador, na porta do gol (“se la dejaron abajo del arco”), ou seja,
bastaria que o jogador chutasse para fazer o gol; contudo, chutou para
fora, acima do travessão (“la tiró por arriba del travesaño”). Caberia a
pergunta, aqui, qual a necessidade ou razão para utilizar a imagem de
uma jogada de futebol para ilustrar uma situação do mundo da política?
Tais unidades fraseológicas do domínio do futebol (“dejársela [la pelota/a

2
Disponível em: https://www.clarin.com/autor/alejandro-borensztein.html. Acesso
em: 10 ago. 2020.
1194 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

bola] abajo del arco” e “tirarla [la pelota/a bola] por arriba del travesaño”)
metaforizam, por meio de uma imagem mais concreta, uma situação
mais abstrata do meio político, em que um candidato perdeu as eleições
presidenciais, em circunstâncias que estariam bastante facilitadas,
pois teriam deixado todo o caminho pronto para que fosse eleito. Em
linguagem futebolística, deixaram na cara do gol, deram o gol servido,
só faltava chutar para o gol.
Realizamos a exploração do Corpus AleBores em diversas
direções, antes mesmo de encontrar o rumo que passou a conduzir a
pesquisa, por meio da utilização das ferramentas WordList, KeyWords
e Concord, do programa para análises lexicais WordSmith Tools
(WST), versão 7,0 (SCOTT, 2016), em suas diferentes funcionalidades.
Também recorremos ao suporte de recursos disponíveis on-line para
consulta, a saber, o Corpus del Español (DAVIES, 2016, 2018), em sua
versão dialetal, e o Sketch Engine (KILGARRIFF, 2019), utilizados
fundamentalmente como corpora de consulta e contraste, para corroborar
ou reformular hipóteses, a partir dos achados em nosso corpus. Como
objeto de estudo tomamos, num primeiro momento, o gênero textual
artigo de opinião, pelo prisma da Linguística de Corpus (LC). Num
segundo momento, as Unidades Fraseológicas Especializadas (UFEs),
caracterizadas pela presença de unidades léxicas que adquirem um
valor especializado na área do futebol, enquanto candidatos a termos,
mas utilizados metaforicamente em referência ao domínio da política.
Ambos os trabalhos foram feitos na perspectiva das análises descritivas e
empírico-dedutivas, com suporte tecnológico dos recursos anteriormente
mencionados.
Por meio da extração e análise da lista de palavras-chave com a
ferramenta KeyWords do WST, a pesquisa sobre o gênero possibilitou
a identificação de características que apontam para a estabilidade e
organização interna dos diferentes textos que compuseram o corpus.
Algumas das características apontadas por Berber Sardinha (2009, p. 25-
26) foram observadas, como o fato de os gêneros serem social, cultural
e historicamente definidos, sequenciados internamente e compostos
por uma lexicogramática distinta. No entanto, o maior destaque foi
a identificação de áreas temáticas que se mostraram salientes nos
resultados, em especial, o domínio do futebol, pela recorrência de termos
do meio futebolístico.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1195

A análise das palavras-chave extraídas dos corpora jornalísticos


que compilamos especificamente para dois trabalhos, um apresentado
no V Congresso Internacional de Fraseologia e Paremiologia, realizado
na USP (NOVODVORSKI, 2018), 3 e outro apresentado no XIV
Encontro de Linguística de Corpus, realizados na UFRGS/Unisinos
(NOVODVORSKI, 2017), 4 a partir da filtragem dos resultados,
possibilitou primeiro a identificação de diversos vocábulos da área do
futebol, atestada pela frequência registrada por esses termos. Tudo se
configurou como forte indício para pressupor que a representação do
domínio futebolístico, nos textos que compõem o corpus, tenha uma
relação direta na definição do domínio da política. Por meio das linhas
de concordância, a Figura 1 ilustra uma aproximação para a análise
contextualizada de um dos candidatos a termo (palo/palos).
FIGURA 1 – Linhas de concordância com palo/palos na ferramenta Concord

Fonte: A pesquisa (WST, versão 7.0)

3
A política pela ótica do futebol: uma análise término-fraseológica em corpus jor-
nalístico de humor político. Trabalho apresentado no V Congresso Internacional de
Fraseologia e Paremiologia, em São Paulo, 2018.
4
Humor político: o gênero pelo prisma da Linguística de Corpus.Trabalho apresentado
no XIV ELC./IX EBRALC, em Porto Alegre, 2017.
1196 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

Como se observa na figura anterior, as linhas de concordância


geradas a partir da busca pelo vocábulo palo revelam mais de um sentido:
no âmbito do futebol, pegar en el palo equivale a bater na trave (linhas
01, 07-10); no campo da economia, palo(s) equivalem a milhão(ões), e
palo(s) verde(s) a milhão(ões) de dólares; já em moler a palos temos a
manifestação de um ato violento, correspondente a dar uma paulada.
Além dessas, outras ocorrências como ni a palos, que equivale a de jeito
nenhum, podem ser observadas na figura.
Das ocorrências registradas nessas linhas de concordância,
tomamos a primeira linha, para ilustrar o aspecto de nossa proposta de
análise: a metaforização da política pelo futebol. Pressupomos que há uma
relação metafórica entre dois domínios ou áreas de conhecimento, em que
as características de uma passam a ser assimiladas para a compreensão
da outra. A frase “...si no es Stiuso le pega en el palo” (...se não for
Stiuso, bate na trave) apresenta, por um lado, uma UFE formada por um
termo da área do futebol, palo/trave, que, como já apontado, equivale
a bater na trave. Para uma compreensão mais completa do fragmento,
é necessário saber que Stiuso foi um agente secreto, dos serviços de
inteligência, durante vários governos na Argentina. A suspeita, na época
da publicação do texto jornalístico, era de que poderia haver alguma
relação com o assassinato do procurador federal Alberto Nisman, que
apareceu morto logo após denunciar Cristina Kirchner, presidenta na
época, na véspera de sua declaração no Congresso Nacional. A relação
metafórica existente entre os domínios fonte (futebol) e alvo (política)
apontam que essa suspeita de envolvimento do agente Stiuso seria uma
quase certeza, assim como uma bola que vai em direção ao gol e que, se
não entrar, bateria na trave, o que seria quase um gol.
Como se observa, pela extração dos termos da área de futebol e
pela identificação das UFEs, com auxílio das ferramentas do WST e dos
recursos utilizados como corpora de consulta (DAVIES, 2016, 2018;
KILGARRIFF, 2019), o passo seguinte correspondeu à identificação
dos ambientes de ocorrência para completude da significação. Isto é,
o sentido metafórico das UFEs é compreendido, quando acionada a
perspectiva pragmática relacionada à referência ao meio político em
questão, que demanda, também, um conhecimento contextual (social,
histórico e cultural), além da percepção dos aspectos funcionais do texto
em si, das funções comunicativas implicadas (CABRÉ, 1993). Desse
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1197

modo, as três perspectivas se encontram interligadas, a da linguagem,


do conhecimento e da comunicação.
A problematização que deriva de toda a contextualização
anterior e que delineia, de algum modo, os rumos de nossa pesquisa
e do texto aqui apresentado é: De que maneira acionamos, enquanto
leitores e membros de uma comunidade sociocultural, as informações
que são veiculadas nos textos, a tal ponto de conseguirmos compreender
os sentidos construídos para o tratamento de questões políticas, por
meio da linguagem futebolística? Em outras palavras, como ocorre a
metaforização entre duas áreas de conhecimento, a política e o futebol,
num corpus de textos de opinião?
Com base nas questões e tomando como ponto de partida Cabré
(2002), formulamos nossa hipótese deste modo: existem aspectos
cognitivos, linguísticos e pragmáticos entrelaçados e englobados
por uma dimensão cultural mais ampla, acionada a partir de traços e
vestígios identificados na leitura do texto. Isso equivale a dizer que
o reconhecimento de determinadas marcas linguísticas nos textos,
especificamente as UFEs, aciona nas lembranças do leitor o domínio
do futebol, transferindo características dessa área, assimiladas
na compreensão do domínio metaforizado, o campo da política.
Considerando a perspectiva da comunicação, o autor dos textos promove
a representação de um domínio por meio das características do outro,
acarretando uma percepção mais acessível das questões políticas. Como
o próprio autor aponta em diversas oportunidades “el fútbol lo explica
mejor” (com o futebol dá para explicar melhor).
Dado o alcance da cultura do futebol, talvez pela plasticidade
imagética que evocam determinadas jogadas e regras do jogo desse
domínio e por estarem de algum modo no repertório popular, em
especial em países como Argentina e Brasil, por considerar o âmbito
concernente a este trabalho, expressões típicas desse domínio funcionam
para metaforizar tanto situações mais corriqueiras do cotidiano quanto
diversos âmbitos mais abstratos, não apenas o político. Assim, quando
dizemos que alguém pisou na bola, ou que precisamos vestir a camisa
da empresa ou instituição, ou que alguém precisa baixar a bola ou que
levou cartão vermelho, sabemos que não estamos falando de futebol, mas
por analogia nos referimos a um domínio mais abstrato, metaforizado.
Com isso, muitas fraseologias características do futebol circulam na vida
das pessoas, que recorrem à linguagem do futebol para falar de outras
1198 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

coisas. Para ilustrar, algumas frases típicas em espanhol foram tratadas


e podem ser encontradas na matéria do jornal uruguaio El País, “Voces:
El lenguaje de la cancha está presente en el de todos los días”.5
Desse modo, para além da descrição do corpus e dos
procedimentos metodológicos envolvidos na pesquisa, nossos objetivos
neste trabalho são (a) identificar e descrever termos e fraseologias
especializadas, em cujos usos subjazem metáforas conceptuais, nos textos
que perfazem o corpus de estudo, pelo cotejo dos sentidos promovidos nas
áreas de especialidade relacionadas, e (b) analisar os aspectos referentes
à metaforização entre os domínios da política e do futebol. Para tanto,
apresentaremos no artigo um recorte dos resultados alcançados, em torno
de duas Unidades Terminológicas (UT) referentes ao espaço destinado
para a prática do futebol, a UFE “marcar la cancha” (marcar o campo de
jogo) e a UT “canchereada”, que pode ser traduzida como malandragem
ou catimba, no meio futebolístico.
Por meio do quadro teórico-metodológico que será descrito a
seguir e com o suporte das ferramentas, recursos e abordagem próprios
da LC, buscaremos alcançar esses objetivos.

2 Fundamentação teórica
A presente pesquisa engloba as seguintes fontes bibliográficas,
conforme cada uma das respectivas áreas teóricas: (1) Terminologia
(CABRÉ, 1993, 2002, 2005; KRIEGER; SANTIAGO; CABRÉ, 2013);
(2) Fraseologia Especializada (BEVILACQUA, 1998, 1999, 2004;
CABRÉ; ESTOPÀ; LORENTE, 1996; ORENHA, 2009; ORENHA;
CAMARGO, 2009); (3) Fraseologia (CORPAS PASTOR, 2010); (4)
Metáfora (BERBER SARDINHA, 2007a, 2008, 2010; SPERANDIO,
2009, 2010, DEIGNAN, 2005, 2012; LAKOFF; JOHNSON, 1980); (5)
Gramáticas Descritivas e Dicionários de Usos da língua espanhola e
portuguesa (ANANÍA, 2005; BORBA, 2002; BOSQUE; DEMONTE,
1999; FONTANARROSA; SANZ, 1994; GOVERNATORI; LAROCCA,
2014; HOUAISS, 2009; MOLINER, 2008) e (6) Linguística de Corpus
(BERBER SARDINHA, 2004, 2009; PARODI, 2008, 2010).

5
Disponível em: https://www.ovaciondigital.com.uy/futbol/voces-lenguaje-cancha-
presente-todos-dias.html. Acesso em: 14 out. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1199

Para além dessas áreas, duas referências complementam este


quadro, por cobrirem aspectos culturais, históricos e sociais da Argentina,
em especial em torno da política, do futebol e da linguagem, escritos
a partir da visão de dois jornalistas brasileiros com ampla experiência
no país vizinho: Ariel Palacios e Guga Chacra. Ambos os livros foram
publicados pela editora Contexto: Os hermanos e nós (PALACIOS;
CHACRA, 2014) e Os argentinos (PALACIOS, 2015). É importante
destacar, também, o lugar relevante que ocupam os diferentes programas
computacionais, utilizados nas pesquisas desenvolvidas no âmbito da LC.
Nesse sentido, também se incluem o software WST,6 versão 7,0 (SCOTT,
2016), as plataformas on-line Corpus del Español, nas versões dialetal7
e NOW 8 – News on the Web (DAVIES, 2016, 2018), e Sketch Engine9
(KILGARRIFF, 2019).
Para situar a presente pesquisa no plano da Terminologia e, em
particular, relacioná-la à especificidade do corpus de estudo, destacamos
a delimitação feita por Cabré (1993) no tangente às peculiaridades das
linguagens de especialidade, em contraponto à linguagem geral. A autora
afirma que as linguagens especializadas se caracterizam em função da
temática, dos falantes e das situações comunicativas, e que áreas como
o comércio e o esporte também fazem parte da especialização, embora
pudesse parecer que apenas temas científicos ou técnicos tivessem caráter
de especialidade. Segundo a autora, dentre os aspectos linguísticos,
funcionais e pragmáticos, são estes últimos os que possibilitam uma
distinção mais clara entre as linguagens de especialidade e a língua
comum, uma vez que permitem diferenciar termos de palavras. Assim,
termos e palavras se diferenciam, considerando aspectos exclusivamente
pragmáticos, a saber: pelos usuários, pelas situações de uso, pela temática
e pelo tipo de discurso em que costumam aparecer.
Segundo Cabré (2005), o tema de uma comunicação é o ponto
que determina o caráter de texto especializado. Para além das matérias
científicas ou técnicas, âmbitos especializados de atividade como o
esporte, dentre outros, produzem tipos de textos que se diferenciam dos
textos considerados gerais, próprios de situações não profissionais. Em

6
Disponível em: https://lexically.net/LexicalAnalysisSoftware/. Acesso em: 3 ago. 2020.
7
Disponível em: https://www.corpusdelespanol.org/web-dial/. Acesso em: 10 ago. 2020.
8
Disponível em: https://www.corpusdelespanol.org/now/. Acesso em: 10 ago. 2020.
9
Disponível em: https://www.sketchengine.eu/. Acesso em: 30 jul. 2020.
1200 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

termos lexicais, continua a autora, os textos especializados são específicos


pela terminologia e pela fraseologia utilizadas e, também, em função da
semântica das unidades terminológicas que integram os textos. Assim,
“cada unidade terminológica corresponde a um nó cognitivo dentro de um
campo de especialidade, e o conjunto de nós cognitivos, conectados por
relações específicas, constitui a representação conceptual de determinada
especialidade” (CABRÉ, 2005, p. 25).
A esse respeito, Bevilacqua (2004, p. 43) complementa que
o Núcleo Terminológico (NT), no reconhecimento das Unidades
Fraseológicas Especializadas (UFEs), “deveria ser uma unidade nominal
que corresponda a um nó cognitivo do âmbito tratado” no alcance do
corpus textual da pesquisa. Esta consideração é relevante, por possibilitar
o tratamento das UFEs como unidades de representação e transmissão de
conhecimento especializado. Desse modo, continua Bevilacqua (2004,
p. 11), “é possível investigar como transmitimos e adquirimos
conhecimento especializado, por meio de outras unidades linguísticas,
que não são exclusivamente os termos”. Estas últimas observações
respaldam plenamente os objetivos que nos propomos alcançar na
presente pesquisa, tal como observado na Introdução. Como já apontado,
pressupomos que o reconhecimento de determinados agrupamentos
lexicais nos textos, especificamente as UFEs, ativam no leitor o domínio
do futebol. Deste domínio são transferidas características, que passam a
ser assimiladas para a compreensão do outro domínio, que é metaforizado,
o campo da política.
Cabré (2002) reforça que o caráter específico das unidades
terminológicas reside em aspectos pragmáticos e que as significações são
resultado de uma negociação entre especialistas, produzida no âmbito
de um discurso especializado, por meio da realização de predicações
que definem os significados das unidades. Com isso, a autora propõe
uma teoria que possibilita um tratamento multidimensional dos termos,
que contempla de modo integrado aspectos cognitivos, linguísticos,
semióticos e comunicativos. Desse modo, o termo, enquanto unidade, é
formado por uma dimensão semiótica e linguística, por outra cognitiva
e por uma terceira vertente comunicativa.
Por outro lado, é importante a característica recursiva e dinâmica
dos termos, que podem se deslocar de uma área de especialidade para
outra, assim como as unidades do léxico comum passam para o léxico
especializado, respectivamente banalização e teminologização (CABRÉ,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1201

2005). Em entrevista (KRIEGER; SANTIAGO; CABRÉ, 2013), a


pesquisadora observa que tem tratado a “terminologicidade” como um
valor associado às unidades do léxico, a partir de uma concepção de
termo enquanto unidade do léxico que ativa um sentido preciso, num
contexto sociocomunicativo específico. Destacamos, portanto, que
“os termos não são unidades diferentes das unidades do léxico, e sim
unidades do léxico que adquirem características específicas em seu uso
discursivo” (KRIEGER; SANTIAGO; CABRÉ, 2013, p. 331). A autora
ainda observa que o objetivo da terminologia aplicada consiste tanto na
compilação das unidades de valor terminológico, sobre uma temática e
situação determinadas, quanto no estabelecimento das características,
conforme essa situação.
Em se tratando da compilação e extração (semi)automática de
unidades de valor terminológico, é importante recuperar e destacar
as dificuldades encontradas e alguns dos critérios apontados, no
trabalho empírico e seminal de Cabré, Estopà; Lorente (1996), no
que diz respeito às UFEs. Em particular, chamamos a atenção para
especificidade temática, quanto à determinação de uma unidade ser ou
não um termo, e à delimitação do segmento formal que compõe uma
unidade terminológica, no caso de unidades sintagmáticas. Por meio
de uma ampla experimentação e centradas no estudo das unidades
terminológicas polilexemáticas (UTP), em contraposição às UFEs e,
no intuito de poder distinguir entre termos sintagmáticos e construções
fraseológicas especializadas, as autoras assumem ser resultante essa
distinção da aplicação de critérios como a categoria gramatical, a estrutura
interna, a frequência, o grau de fixação e a variação dos componentes.
Nesse ponto, destacam a regularidade observada na condição de termo
dos núcleos dos sintagmas nominais, no caso das UTP, e da condição
de termo dos complementos, nos sintagmas verbais, no caso das UFEs.
Ainda reforçam não acreditarem na existência de termos nem fraseologia
especializada de modo abstrato, uma vez que sempre adquirirão o valor de
UT, UTP ou UFE, no âmbito de uma área de especialidade. Estes últimos
apontamentos guardam relação direta com a proposta de nossa pesquisa.
Ressaltando o caráter cognitivo e comunicativo da proposta
teórica de Cabré, a Teoria Comunicativa da Terminologia (TCT),
Bevilacqua (2004, p. 10) destaca a importância do tratamento da
fraseologia especializada no campo da Terminologia e afirma que, assim
como as Unidades Terminológicas (UTs), também as UFEs “podem
1202 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

ser consideradas um objeto de estudo poliédrico, multifuncional e


multidimensional”. Dessa maneira, a autora aponta a possibilidade de
análise das UFEs, a saber: (1) pela perspectiva cognitiva, enquanto
“unidades transmissoras de conhecimento especializado”, que no contexto
dessa abordagem teórica são denominadas Unidades de Conhecimento
Especializado (UCE); (2) enquanto unidades que ocorrem em situações
especializadas, denominadas Unidades de Comunicação Especializada
(UNICOME); e (3) pela perspectiva da linguagem (abordagem também
adotada nesta pesquisa), em que o tratamento das UFEs implica a
percepção, descrição e análise, conforme a gramática da língua em
questão e a partir da materialidade linguística, isto é, a utilização de
critérios morfológicos, sintáticos, semânticos e pragmáticos, na análise de
um corpus de textos produzidos por especialistas, em torno de temáticas
específicas e em contextos de uso real da língua. Considerando o uso
especializado, são denominadas Unidades de Significação Especializada
(USE).
Bevilacqua (1998, 1999, 2004) define as UFEs como unidades
sintagmáticas, integradas por um termo, com determinado grau de fixação
e de frequência num corpus ou domínio especializado. A pesquisadora
(2004) propôs, especificamente em sua tese, as unidades fraseológicas
formadas por um núcleo eventivo, que denominou unidades fraseológicas
especializadas eventivas (UFE eventivas). Essas unidades sintagmáticas
são formadas, conforme suas propriedades, por um ou mais termos,
que constituem o Núcleo Terminológico (NT), e um Núcleo Eventivo
(NE), que é realizado textualmente por um verbo, um nome deverbal
ou um particípio. Orenha (2009) e Orenha e Camargo (2009) analisam
termos, colocações e colocações especializadas, por meio da extração
de UFEs com subsídios da LC, em corpora paralelos bidirecionais e
comparáveis, no par linguístico inglês/português, envolvendo traduções
juramentadas e não juramentadas, de documentos de contratos e estatutos
sociais. Considerando aspectos referentes aos profissionais da Tradução,
as autoras apontam o valor de inclusão em obras terminográficas dos
padrões de UFEs encontradas.
Corpas Pastor (2010) também destaca que os fatores de
frequência de ocorrência e de coocorrência são elementos que compõem
e possibilitam a identificação das UFs, além da institucionalização, a
estabilidade, a idiomaticidade e a variação que tais unidades apresentam
em diferente grau. Essa autora define a UF como uma combinação estável
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1203

de, pelo menos, duas palavras, cujo limite superior será o sintagma ou
a oração composta e apresentará como traços inerentes a fixação ou a
idiomaticidade por si mesmas, ou uma combinação de ambos os critérios
(CORPAS PASTOR, 2010, p. 126).
Acerca da consideração do fator frequência e, em particular, pelo
fato de definir as UFEs como “unidades que adquirem valor especializado
pelo e no texto em que são utilizadas” (BEVILACQUA, 2004, p. 44),
a autora destaca que, na seleção das unidades no corpus, há outros
fatores que já seriam suficientes para “mostrar o valor especializado das
unidades extraídas” (idem). Ou seja, o critério frequência não deveria
ser conclusivo para a seleção das UFEs. Essa observação é de vital
importância para nossa pesquisa, uma vez que, a depender da extensão
do corpus de estudo, itens de baixa frequência ou que reportam uma
única ocorrência (hapax legomena) poderiam ser desconsiderados,
mesmo apresentando caráter especializado. Desse modo, assumimos
que a frequência será observada, mas não como fator determinante para
a constatação de que uma unidade seja considerada UFE, como será
descrito na seção de Corpus e Metodologia.
A taxonomia proposta (CORPAS PASTOR, 2010, p. 127-136)
para classificação das UFs define um primeiro nível de estruturação
em três esferas: (1) as colocações, fixadas pelo uso, com algum grau
de restrição combinatória; (2) as locuções, fixadas no sistema; e (3)
os enunciados fraseológicos (parêmias e fórmulas), fixados na fala,
formam parte do acervo sociocultural da comunidade do falante. Estes
últimos se diferenciam das colocações e locuções pelo fato de chegarem
a formar enunciados completos em si mesmos e a realizarem atos de
fala, independente da combinação com outros elementos no discurso.
Já encerrando esta breve introdução e complementando o
enquadramento teórico da pesquisa proposta, enfocamos o estudo da
Metáfora pela visão cognitiva, como um recurso natural e intrínseco ao
ser humano, por meio do qual se busca entender o mundo, processando
mentalmente conceitos abstratos, partindo de conceitos concretos. Nesse
sentido, mais do que se caracterizar como um traço da linguagem, a
metáfora estabelece relações entre dois conceitos diferentes, que se unem
por associação para compreendermos um deles a partir das características
do outro. Portanto, “a essência da metáfora é entender e experimentar
um tipo de coisa em termos de outra” (LAKOFF; JOHNSON, 1980, p.
41). Esses autores chegaram à conclusão de que nossa vida cotidiana está
1204 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

impregnada de metáforas, e que nosso sistema conceptual ordinário, em


torno do qual pensamos e atuamos, é de natureza metafórica. Pelo fato
de lidarem com conceitos e de estabelecerem uma conexão entre duas
áreas ou domínios semânticos, um concreto e outro abstrato, recebeu o
nome de Metáfora Conceptual.
Deignan (2005, p. 14-29) destaca pontos que são essenciais
para nossa pesquisa, quanto à estruturação do pensamento por meio das
metáforas e com relação ao estudo de padrões pelo viés empírico que
proporciona a LC. A autora observa que, geralmente, pesquisadores
buscam metáforas conceptuais através da linguagem, na tentativa de
encontrar padrões em frases e palavras, como evidência de metáforas
conceptuais subjacentes. Desse modo, estabelece uma distinção
fundamental entre metáforas linguísticas e metáforas conceptuais,
afirmando que as metáforas linguísticas realizam as metáforas
conceptuais, mas que isso não deve conduzir à interpretação de que a
Teoria da Metáfora Conceptual tenha sido desenvolvida para explicar
padrões linguísticos, pois o percurso é exatamente o inverso (DEIGNAN,
2012). O sentido de uma metáfora linguística é descrito em termos de
veículo, que é o significado literal de uma palavra ou frase no domínio
fonte (concreto), e tópico, que é o significado de uma palavra ou frase
no domínio alvo (abstrato). Retomando o exemplo da Introdução deste
artigo, “Si no es Stiusso le pega en el palo”, temos como veículo a UFE
“le pega en el palo” (bater na trave), do domínio fonte e mais concreto
do futebol, e como tópico “Si no es Stiusso” (Se não for Stiusso, um
agente de inteligência argentino), do domínio alvo e mais abstrato da
política. Essa metáfora linguística realiza a metáfora conceptual mais
genérica, em que POLÍTICA É FUTEBOL, grafada em caixa alta como
convenção geral.
Aqui cabe uma breve observação quanto ao uso dos vocábulos
realizar ou realização, que adquirem um sentido técnico, especializado,
a partir dos estudos sistêmico-funcionais hallidayanos. Conforme a
Linguística Sistêmico-Funcional, a linguagem verbal é um sistema
sociossemiótico estratificado, que resulta da formulação e troca de
significados. Os contextos mais amplos de cultura e de situação se
realizam nos estratos da linguagem, passando pelos níveis da semântica
do discurso, na construção de significados, e pela organização no estrato
lexicogramatical, alcançando o nível da expressão, por meio de um texto
escrito ou oral, realizado no plano gráfico ou fonético. Nesse sentido,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1205

contexto sociocultural e linguagem são indissociáveis, uma vez que estão


imbricados numa relação de mútua realização.
Assim como afirma Deignan (2005) e vários outros autores,
as metáforas linguísticas são o principal tipo de evidência dada para
a existência de metáforas conceptuais, atestada pela frequência de
ocorrência. Talvez o principal tipo de evidência resida no potencial de as
metáforas conceptuais revelarem a sistematicidade do léxico, no sentido
de motivarem uma significativa quantidade de metáforas linguísticas,
mapeáveis por meio de relações no interior ou entre campos lexicais. Além
desse tipo de evidência, também a possibilidade tanto de criação como de
compreensão de novas metáforas, por analogia a metáforas convencionais
já existentes, entre determinados domínios (DEIGNAN, 2012). Por
outro lado, o fato de a LC se ocupar da exploração de corpora de textos
autênticos, em detrimento de frases inventadas ou descontextualizadas,
corrobora a probabilidade de ocorrência das metáforas linguísticas em
usos linguísticos reais. Num corpus de estudo, a autora menciona ter
analisado palavras-chave referentes à temática de corrida de cavalos
e jogos de apostas, em que os dados do corpus mostraram, por meio
das colocações e linhas de concordância, frequentes usos metafóricos
a respeito de campanhas políticas em inglês (DEIGNAN, 2005). É
também relevante para nosso trabalho a observação feita por Deignan
(2005), quando aponta ser provável que as pessoas, às vezes, explorem
deliberadamente mapeamentos metafóricos com o propósito de criar
efeitos de humor ou estilísticos.
Berber Sardinha (2007a, 2007b, 2008, 2009, 2010) aponta que o
estudo da metáfora conceptual, tal como descrita em termos cognitivos,
oferece grandes desafios e oportunidades para a LC, se considerado que,
pelo fato de ser um fenômeno corriqueiro, da vida cotidiana, deverá
estar presente nos corpora que compilamos. Nesse ponto, o autor se
questiona acerca dos procedimentos necessários para exploração de
corpus e extração dessas metáforas, por meio das ferramentas da LC,
uma vez que depreendemos o sentido das palavras a partir do uso e que,
nesse aspecto, a LC tem oferecido evidências abundantes e consistentes
quanto a isso. Por outro lado, Berber Sardinha (2009, p. 43) destaca que,
sendo a metáfora conceptual um fenômeno cognitivo, sua exploração
por meio da LC seria um modo de “conseguir inferir o processamento
mental a partir das instâncias de uso” e que essa já poderia se configurar
1206 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

como uma resposta, ainda que parcial, à crítica de que a LC teria pouca
capacidade de teorizar a respeito da linguagem.
No âmbito da pesquisa nacional, em português brasileiro, são
diversos os trabalhos que guardam relação direta com nossa pesquisa e
que servem de motivação como pontos de contraste e de comparação,
tanto pelo viés empírico da exploração de metáforas conceptuais à luz
da LC, quanto pelo uso de corpora jornalísticos. A abordagem das
questões culturais implicadas também é relevante, por se tratar de países
vizinhos, Brasil e Argentina, com histórias e relações sócio-políticas
muito próximas. Como exemplo, Berber Sardinha (2007b) indica
que as metáforas são culturais, portanto, relacionadas a determinada
cultura, civilização ou ideologia, não havendo, nesse sentido, verdades
absolutas para a Teoria da Metáfora Conceptual. Nesse texto (BERBER
SARDINHA, 2007b, p. 168) e em referência às metáforas do presidente
Lula à época, o autor destaca que ao dizer que “vamos vestir a camisa de
um setor da sociedade, estamos conceituando e entendendo a sociedade
como um esporte, as pessoas como jogadoras, outros grupos como
adversários, a convivência como uma partida e a conduta desejada como
as regras do jogo, observadas por um árbitro”. Como bem observa o autor,
todos esses mapeamentos ficam subentendidos pelo campo conceitual do
jogo em si, pelo fato de haver um conhecimento compartilhado do que
seja uma partida, talvez de futebol, e das partes implicadas. Tudo isso
possibilita o entendimento da expressão como metáfora.
Também destacamos Berber Sardinha (2007a), que descreve
diferentes métodos e analisa as metáforas da imprensa de modo geral, em
corpus do jornal Folha de São Paulo, e as metáforas de um jornalista em
particular, Joelmir Beting. As metáforas do ex-presidente Lula também
se fazem presentes em outras publicações de Berber Sardinha (2008,
2010), em relação à conquista e ao desenvolvimento, respectivamente.
Para tornar mais ilustrativas as inferências resultantes dos mapeamentos,
denominadas desdobramentos na teoria, o pesquisador apresenta, no caso
do jogo em equipe “Se a partida é o comércio exterior, a vitória seria o
superávit nas contas dos países do bloco econômico. Uma derrota, por
outro lado, seria um déficit nas contas” (BERBER SARDINHA, 2008,
p. 99). Ainda mencionamos, aqui, as pesquisas de Sperandio (2009,
2010), em que a autora analisa, no primeiro trabalho, usos metafóricos
em discursos do ex-presidente Lula, relacionados ao Programa Fome
Zero e, no segundo, metáforas com relação ao Movimento dos Sem-Terra
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1207

(MST), em duas reportagens da revista brasileira Veja e da estadunidense


Newsweek, ainda que sem lançar mão dos recursos e ferramentas
características da LC.
Entendemos que, para além de todas as motivações e justificativas
já elencadas, a possibilidade de buscar respostas quanto ao eventual
caráter teórico da LC, como auxílio à compreensão do modo como
metaforizamos e compreendemos as metáforas conceptuais que subjazem
às metáforas linguísticas, mapeáveis a partir da identificação e descrição
das UFEs com auxílio das ferramentas do WST, é um forte indício tanto
do mérito dos trabalhos que recorrem à LC para a realização de pesquisas
empírico-descritivas quanto do lugar já consagrado da LC. Em nossa
opinião, é tão descabido atribuir um valor exclusivamente metodológico
à LC quanto ainda continuar duvidando acerca do lugar de prestígio que
já ocupa na área da Linguística, tanto teórico-descritiva quanto aplicada.
Formulamos nossas hipóteses, a partir da ótica da LC, que corroboramos,
refutamos ou reformulamos, com base na indagação de corpora; hipóteses
que podem derivar, ainda, na formulação ou constatação de teorias.
Na próxima seção, descrevemos tanto o corpus quanto os
procedimentos implicados neste trabalho.

3 Corpus e Metodologia
O corpus de estudo de nossa pesquisa, que denominamos Corpus
AleBores, está formado por grande parte dos textos publicados na seção
de opinião Humor Político, do jornal argentino Clarín, escritos em
espanhol rio-platense pelo colunista e arquiteto Alejandro Borensztein,
especificamente, por todos os textos aos quais foi possível ter acesso, no
período entre 2009 e 2019. Tal como é mencionado em encontro on-line
com o autor (29/05/2020), no âmbito do Ciclo de Diálogos com Clarín,10
a coluna começou a ser escrita em 2007, completando em 2020 treze
anos de publicações dominicais. Como aponta o autor, sua verdadeira
formação universitária e profissional é em Arquitetura, por ter feito a
carreira acadêmica, de graduação e pós-graduação, nessa área. A respeito
do ofício de escrita semanal de um texto a ser publicado num dos jornais
de maior circulação no país, Borensztein observa que surgiu de modo

Informações disponíveis em: https://www.clarin.com/dialogos/entrevista_Alejandro_


10

Borensztein. Acesso em: 20 jun. 2020.


1208 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

casual e que se conecta com uma experiência profissional prévia, na


televisão, de aproximadamente 30 anos atrás. Com seu irmão Sebastián,
reconhecido cineasta argentino, autor de filmes como La suerte está
echada e Un cuento chino, entre outros, Alejandro escrevia para um
programa televisivo, por indicação de seu pai, Tato Bores, humorista
político renomado.
O colunista destaca, então, que o processo de escrita foi uma
grande lição, porque nunca foi algo planificado em sua vida, assim como
todas as demais atividades profissionais, na Arquitetura e na Televisão,
para as quais sempre foi mais esquemático e ordenado. Lembra, também,
que a demanda de escrita de uma matéria para ser publicada, todos os
domingos, ocupando página inteira do Clarín, surgiu há treze anos em
função de uma nota encaminhada a esse jornal, que seria uma carta de
leitor e acabou sendo publicada e acarretando esse compromisso desde
então, devido ao sucesso que teve.
Na reportagem, Alejandro Borensztein responde questões feitas
pelos assinantes do jornal e fala a respeito dos principais personagens da
coluna Humor Político, presidente atual ou ex-presidentes ou candidatos
à presidência na Argentina, que os leitores aprenderam a acompanhar e
reconhecer semanalmente, a partir destes nomes: Tío Alberto (Alberto
Fernández, atual presidente); Mauri ou el Gato (Mauricio Macri), Ex-
Ella, la Jefa, la Arquitecta Egipcia, Reina Hotelera, além de outros
nomes (Cristina Kirchner), Compañero Lancha (Scioli, ex-candidato à
presidência) e Compañero Centro Cultural, Compañero Torneo Clausura
(Néstor Kirchner). Além desses nomes, sobre muitos outros é explicada
a origem e evolução, como Campeonato del Pelotudo del año, el Club de
los Malos, que fazem referência a manifestações ou atitudes de políticos
em particular, ou de posicionamentos de partidos políticos, que muitas
vezes resultam curiosas ou polêmicas e que motivam a escrita humorística
da coluna dominical.
Também é feita uma alusão às metáforas presentes na escrita do
colunista, ponto essencial no âmbito deste trabalho. A Figura 2 ilustra
ocorrências no corpus que corroboram o papel das metáforas na relação
entre política e futebol:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1209

FIGURA 2 – Linhas de concordância no corpus de estudo com metáfora

Fonte: WordSmith Tools (SCOTT, 2016)

Dentre os principais aspectos da tipologia do corpus de estudo,


destacamos: (a) modo escrito, em formato eletrônico; (b) contemporâneo
e diacrônico, de 2009 a 2019; (c) de seleção definida pelo gênero (seção
de opinião: humor político) e extensão mensurada em textos (mais de
400) e em itens (mais de 450 mil palavras); (d) de conteúdo especializado,
marcado pelo campo socioprofissional (política); (e) monolíngue, na
língua espanhola, em sua variedade rio-platense; (f) de autoria única,
em língua nativa; e (g) para finalidade de pesquisa. A integralidade
dos textos que compõem o corpus foi mantida. O máximo de textos
publicados anualmente foi de 47. O número menor de textos coletados
em alguns anos deriva de sua indisponibilidade na página do jornal. É
oportuno destacar que o corpus foi compilado exclusivamente para fins
de pesquisa, sem nenhum propósito comercial nem de disponibilização
ou reprodução parcial ou integral. Os fragmentos presentes nas análises
dos resultados correspondem a pequenos trechos em que são identificadas
as ocorrências pertinentes para a pesquisa, que podem chegar até o nível
de um parágrafo, no máximo. Para ter acesso sem registro ao jornal
Clarín, existe uma permissão limitada a um quantitativo de textos por
mês, que depende do conteúdo consumido pelo usuário, conforme consta
nos termos e condições publicados no site do jornal. É necessário estar
registrado, para ter acesso a um conteúdo maior de textos, e ser assinante,
para ter recursos disponíveis no jornal como ouvir a leitura de notícias,
copiar conteúdo, fazer comentários ou imprimir, entre outros. Embora a
autoria única do corpus possa, certamente, trazer questões estilísticas ou a
visão de um único indivíduo (objetos que não fazem parte deste trabalho),
1210 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

o contraste dos resultados por meio de consulta aos corpora disponíveis


on-line (DAVIES; 2016, 2018; KILGARRIFF, 2019) possibilita atestar,
pela frequência, a recorrência do uso de determinadas UFEs encontradas
e/ou de metáforas linguísticas que realizam metáforas conceptuais, sendo
mais características de determinados países, como poderá ser observado
na próxima seção.
A Tabela 1 apresenta a extensão do corpus de estudo e sua
distribuição nos diferentes anos de publicação.
TABELA 1 – Extensão do Corpus AleBores

Ano Nº textos Tokens Types T/T ratio


2009-2010 08 9.698 2.824 29,12
2011 41 37.774 7.508 19,88
2012 37 35.954 7.262 20,20
2013 47 52.658 9.227 17,52
2014 47 52.022 9.215 17,71
2015 47 52.363 8.445 16,13
2016 42 46.529 8.426 18,11
2017 44 57.300 9.522 16,62
2018 47 62.471 9.785 15,66
2019 46 60.032 9.370 15,61
TOTAIS 406 466.800 31.759 6,80
Fonte: A pesquisa

A seguinte enumeração de itens procura descrever, primeiro,


a sequência de etapas mais gerais desenvolvidas no âmbito desta
pesquisa. Em segundo lugar, adentramos de modo mais específico nos
procedimentos envolvidos na compilação, preparação e armazenamento
do corpus de estudo, para seu tratamento com as ferramentas utilizadas
no auxílio à extração de dados, à descrição e às correspondentes análises.
1) Planejamento das características do corpus compilado, considerando fatores
como extensão e representatividade;
2) Definição de critérios e códigos para compilação e armazenamento do
corpus de estudo;
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1211

3) Compilação, preparação e armazenamento do corpus;


4) Anotação de metadados e elementos histórico-contextuais referentes aos
textos compilados para constituição do corpus;
5) Levantamento dos dados estatísticos do corpus;
6) Extração das palavras-chave do corpus de estudo, relacionadas aos
diferentes campos lexicais e semânticos do futebol e da política;
7) Identificação e extração dos candidatos a termo, no domínio do futebol;
8) Identificação, extração e descrição das unidades fraseológicas especializadas
do âmbito do futebol, na metaforização do domínio da política, a partir da
análise das linhas de concordância e dos subsídios (colocados, clusters)
que oferecem as ferramentas e utilitários dos programas computacionais;
9) Análise e descrição das relações metafóricas, à luz das UFEs extraídas,
entre os domínios do futebol e da política;
10) Classificação e sistematização dos resultados, a partir da consulta tanto a
dicionários gerais e especializados das línguas espanhola e portuguesa em
uso, quanto a recursos on-line de consulta, como o Corpus del Español e do
Português (DAVIES, 2016, 2018) e Sketch Engine (KILGARRIFF, 2019).

Os procedimentos envolvidos na compilação, preparação e


armazenamento do Corpus AleBores partiram do acesso à página
do colunista.11 Abrimos individualmente cada uma das publicações
disponíveis de Humor Político, selecionamos o texto, para copiar e colar
seu conteúdo integral em arquivos individuais em formato TXT. Esse
foi o procedimento que se mostrou mais eficaz, para evitar que fossem
transportados ao corpus informações relacionadas a imagens ou links,
que demandariam uma posterior limpeza dos arquivos.
Para a nomeação de cada texto do corpus, utilizamos uma
sequência de 8 números, seguindo a sequência conforme data de
publicação: ano, mês, dia (exemplo, 20141012). Os títulos dos textos
foram etiquetados por meio das tags <T> e </T>, no intuito de separar
título de conteúdo textual e para a recuperação de informações, durante
as buscas com os programas do WST. Os textos foram armazenados em
pastas no Explorador de arquivos do Windows, organizados por anos de

11
Disponível em: https://www.clarin.com/autor/alejandro-borensztein.html. Acesso
em: 17 jun. 2020.
1212 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

publicação e compartilhados no OneDrive entre os autores da pesquisa,


para acompanhamento e trabalho conjunto.
Com o corpus compilado, preparado e armazenado, o passo
seguinte foi a extração dos dados quantitativos mais gerais, primeiro,
por meio da ferramenta WordList, como apresentado na Tabela 1.
Geramos listas de palavras para cada um dos subcorpora, a partir dos
anos de publicações coletadas e, também, uma lista de palavras com
corpus geral. Para extração das palavras-chave, por meio da ferramenta
KeyWords, contrastamos a lista de palavras do Corpus AleBores, nosso
corpus de estudo, com a lista de palavras de um corpus de referência
compilado no âmbito de uma pesquisa de Iniciação Científica que
orientamos (ALVES, 2013). Esse corpus é formado pelas publicações de
6 seis Congresos Internacionales de la Lengua Española (1992 – 2010),
portanto, correspondente ao gênero de escrita acadêmica. O corpus de
referência possui uma extensão de 2.834.385 tokens e 95.649 types, em
813 textos, representando em torno de 6 vezes mais do que o tamanho
do corpus de estudo, em extensão pelo número de palavras. Conforme
a literatura da LC (BERBER SARDINHA, 2004, 2009), o corpus de
referência deve ser em extensão, no mínimo, cinco vezes maior do que o
corpus de estudo. A diferença quanto ao gênero do corpus de referência
busca, fundamentalmente, trazer à tona o que é proeminente no corpus
de estudo, no intuito de poder apontar para temáticas e campos lexicais
em destaque. Um corpus de referência com características similares às
do corpus de estudo, em termos de extensão, autoria ou gênero, tenderia
a neutralizar os resultados. Considerando a representatividade do corpus
de estudo, situado no âmbito da trama política argentina e registrada
em tom humorístico numa coluna jornalística, o corpus de referência
de escrita acadêmica utilizado, por sua extensão e diferença temática,
é um ponto de comparação que se ajustou às necessidades da pesquisa.
Realizamos diferentes tipos de testes, aplicados à extração
de palavras-chave, por meio de diversos ajustes na configuração
da ferramenta KeyWords, especificamente no p=value, de p=0,05 a
p=0,0000001, e no max. wanted (8.500) e min. freq. (3), no intuito de
conferir as respectivas diferenças e de corroborar a maior ou menor
presença dos itens que formariam uma lista de candidatos a termo, no
domínio do futebol. Desse modo, obtivemos diferentes resultados, que
variaram entre 226 e 8.161 vocábulos. Após leitura, análise e limpeza
dessas primeiras listas (exclusão de todos os vocábulos não pertencentes
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1213

ao domínio do futebol) e, paralelamente, pela comparação com os


resultados da lista de palavras do corpus de estudo geral, pouco mais
de 31 mil tokens, foi possível constatar que as listas de palavras-chave
extraídas por meio da ferramenta KeyWords, independentemente dos
diversos tipos de ajustes realizados na configuração, não reportava a
totalidade dos vocábulos candidatos a termo. Isto é, itens com baixa
frequência de ocorrência no corpus de estudo ou cujos resultados teriam
sido neutralizados pelo corpus de referência, simplesmente não foram
identificados pela ferramenta, apesar de não deixarem de estar presentes
no corpus e de fazerem parte do objeto de estudo desta pesquisa. Nesse
sentido, decidimos realizar a análise, limpeza e extração dos candidatos a
termo diretamente da lista de palavras gerada com a ferramenta WordList.
Com a ferramenta KeyWords, obtivemos no resultado mais produtivo
226 palavras-chave, que resultaram em 134 candidatos a termo, após
lematização. Já a análise com a ferramenta WordList possibilitou a
extração de 337 candidatos a termo, após realização dos processos de
limpeza e lematização, como se observa na Figura 3, que ilustra a alta
frequência de vocábulos do domínio do futebol no corpus.
FIGURA 3 – Lista de candidatos a termo lematizada

Fonte: WordSmith Tools (SCOTT, 2016)

Foi oportuno apreciar, durante os diversos testes, que muitos


itens de ocorrência 1, hapax legomena, fazem parte da temática em
estudo e apresentam não apenas combinatórias léxicas, como também
1214 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

UFEs e processos de metaforização, relevantes para esta investigação.


Assim, salvamos uma lista com os hapax do Corpus AleBores que,
após o procedimento de lematização, ficaram reduzidos a 19, entre os
candidatos a termo. É relevante destacar, ainda, que os nomes próprios e
apelidos de clubes, jogadores, técnicos, estádios, torneios e associações
de futebol, entre outros, foram salvos em lista separada, uma vez que
não serão analisados como base, na formação de combinatórias léxicas
ou de UFEs. A lista com nomes próprios do âmbito do futebol registrou
70 vocábulos, alguns com frequência elevada, a saber: Boca (213), River
(86), Bombonera (46), Libertadores (33) e Messi (23).
A proposta de organização dos candidatos a termos do domínio
do futebol em campos lexicais e semânticos, a partir dos resultados das
palavras-chave e, na sequência, tomando por base a lista de palavras
resultante após limpeza e lematização, foi um procedimento prévio
e auxiliar à identificação das UFEs. Pensamos inicialmente em 10
campos, para organização e classificação dos resultados, após análise
dos vocábulos e identificação dos candidatos a termos. Nessa etapa, a
ferramenta Concord é de vital importância, como pode ser observado
na Figura 4. A partir da busca por um item lexical específico, neste caso
cancha (f 79 / UT 70), uma vez identificado como candidato a termo,
geramos as linhas de concordância que trazem tantas linhas quantas
ocorrências do termo houver no corpus.
FIGURA 4 – Linhas de concordância com cancha

Fonte: WordSmith Tools (SCOTT, 2016)

É pela análise das ocorrências dos candidatos a termo em contexto,


por meio das linhas de concordância, que se pode chegar à constatação de
que um item lexical funciona como um termo, em determinado ambiente
textual. Assim, a partir de cada um dos itens lexicais da lista, foram
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1215

geradas as linhas de concordância correspondentes, os resultados foram


analisados e os arquivos foram salvos em pasta específica, identificados
pelo nome do item de busca. Na ferramenta Concord, utilizamos a
coluna Set como um recurso auxiliar na classificação e organização dos
resultados (ver figura anterior). Por meio da inserção de um caractere
(letra ou número), agrupamos os padrões identificados e separamos as
ocorrências que não correspondessem a nosso objeto de estudo, quando
os domínios implicados não fossem o do futebol e da política.
Procedimento análogo adotamos para a extração das combinatórias
léxicas e das UFEs em que participam os termos. Nesse passo, definimos
que os segmentos textuais extraídos deveriam contemplar as referências
denotativas ao âmbito futebolístico, mas em relação metafórica com o
domínio da política, para posterior análise dos eventuais processos de
metaforização. A Figura 5 ilustra o recurso de ampliação dos contextos de
ocorrência, na análise das linhas de concordância, para seleção das UFEs.
FIGURA 5 – Processo de identificação de UFEs em relação metafórica

Fonte: WordSmith Tools (SCOTT, 2016)

Na figura anterior, é possível apreciar a relação entre política e


futebol, nos fragmentos em destaque. Assim, nas linhas de concordância
7 e 11, apenas para ilustrar o procedimento de identificação das UFEs
1216 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

em relação metafórica,12 percebemos que o assunto é a democracia ou o


governo e que há alusões diretas à prática do futebol, a saber: aplaudir
una buena jugada, marcar la cancha, gritar penal, hacer un foul dentro
del área, faltarle potrero, ir a la cancha, inexperiencia futbolera, ingresar
a los estadios, poner todo en la cancha.
Os campos lexicais e consequentes campos semânticos de
determinados vocábulos identificados no corpus, com pertinência ao
domínio da prática do futebol e em relação metafórica com a política,
estão resumidos, a seguir: Participantes (jogadores, posições no campo
de jogo, técnicos, árbitros, dirigentes, torcida etc.); Locais para a prática
do futebol (campo de jogo e suas partes específicas, de treino, estádios
etc.); Jogadas (ataque, defesa, estratégias de jogo...); Partidas (amistosas,
oficiais, duração, campeonatos, transmissão...); Partes do corpo humano
(que intervêm no jogo, pê, cabeça, peito, mãos...); Materiais esportivos
utilizados na prática de futebol (camisa, chuteira, caneleira...). Estes
campos lexicais buscam agrupar, num primeiro nível, as ocorrências
dos candidatos a termos extraídos. Por meio da análise das linhas de
concordância que geramos a partir de cada termo, pudemos apreciar
em contexto a abrangência semântica de cada ocorrência, conforme
o reconhecimento das diferentes UFEs. O mesmo procedimento foi
aplicado para a limpeza dos resultados, isto é, para exclusão tanto
dos candidatos que não se confirmassem enquanto termos, como das
ocorrências de UT que não correspondessem ao domínio do futebol,
mas de outros esportes. Assim, como será observado na próxima seção,
embora a UT cancha tenha reportado determinada frequência, nem todas
foram correspondentes ao âmbito futebolístico.
Para o tratamento e sistematização dos dados em planilha Excel,
incluímos um número para a entrada de cada item lexical candidato a
termo, conforme ordem alfabética, a frequência de ocorrência no corpus,
a frequência atestada enquanto UT, o quantitativo de tipos de UFEs
identificadas para cada UT, a descrição das combinatórias léxicas e dos
fraseologismos identificados e os contextos metafóricos de ocorrência.
A próxima seção apresenta as análises das UFEs formadas com
as UTs cancha e canchereada, identificadas no corpus de estudo na
realização de processos de metaforização.

12
As análises dos fragmentos que compõem o recorte da pesquisa apresentado neste
artigo serão desenvolvidas na próxima seção.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1217

4 Análise
Dos dados obtidos e classificados sob o campo semântico Locais
para a prática do futebol, selecionamos cancha e um de seus derivados
para esta análise. Pela análise das linhas de concordância, o item lexical
cancha reportou 79 ocorrências no Corpus AleBores, das quais 70
foram corroboradas como UTs, no escopo de nossa pesquisa, pelo fato
de fazerem referência específica ao futebol. As demais dizem respeito
a campos de Tênis, Rugby, Polo ou Golfe, esportes também populares
na Argentina.

CANCHA. f. Terreno utilizado para a prática de alguns esportes como


o futebol. Por extensão, estádio. (f 70)

Pela análise das combinatórias léxicas com cancha, identificamos


diversas UFEs com sentido metafórico, como entrar a la cancha, ir a
la cancha, dejar / poner (todo) en la cancha, sacar a la cancha, sacar
de la cancha, salir a la cancha, além de outras, em que os participantes
envolvidos são personagens da política ou do governo, mas que serão
objeto de estudo em outras publicações. Neste artigo, passamos a
analisar as ocorrências identificadas com MARCAR como colocado
de CANCHA. Observamos 6 ocorrências da colocação MARCAR
+ CANCHA, que representam 8,6% da frequência da UT (70) no
corpus. Não encontramos, em nenhum dos dicionários consultados, a
combinatória léxica dicionarizada. Num primeiro momento, definiremos
a colocação em sentido denotativo, no âmbito do futebol, para depois
analisá-la à luz dos segmentos de ocorrência no corpus.

MARCAR(LE) LA CANCHA [uma pessoa a outra] / ESTAR LA


CANCHA MARCADA. 1. Em campos com gramado natural, marcar
com cal as linhas laterais, finais, do meio do campo, além das áreas
(grande, pequena e semicírculo) dos gols, ângulos de escanteios e pontos
para cobrança de pênalti em cada área e desde onde são iniciados os
jogos, no meio do campo. 2. Definir uma estratégia de jogo e/ou um
posicionamento de jogadores em campo, que dificultam as ações do
adversário. (f 6)
1218 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

(01) No permita que ninguna Diana Conti le amargue la vida cuando sugiere
que hay que tirar la Constitución a la basura. Defendamos la democracia,
aplaudamos una buena jugada, pero marquemos la cancha y gritemos
¡penal! cuando el Gobierno (o algún opositor) hace un foul dentro del área.
(02) La Compañera Jefa acaba de declarar “a este gobierno nadie le marca
la cancha”. Lamento avisar que está equivocadísima.
(03) Todos le marcamos la cancha.
(04) Hasta mi hija de un año y medio, mi Minina!!!, en cuanto se despierta y
antes de tomar su mema lo primero que hace es marcarle la cancha al
gobierno.
(05) Porque ella, como todos nosotros, nació en suelo argentino, bajo la
tutela de un librito que se llama Constitución Nacional donde está toda
la cancha marcadita. Les guste o no les guste.
(06) En el momento más duro de su gobierno, después de aprobar a la fuerza
el acuerdo con Irán, les salió una bolilla impensada: Francisco. Nadie se
avivó que en la esquina de la Casa Rosada vivía un potencial Papa (de
hecho, había salido segundo en la votación anterior), y de un día para
el otro apareció un argentino con mucho más poder que Ud. marcando
la cancha y frenando por peso propio ciertos aires de descontrol.

A compreensão das UFEs, formadas a partir de marcar la cancha


que identificamos no corpus, demandou um conhecimento prévio quanto
ao sentido das marcações já existentes no campo de futebol e suas
implicações. As marcas, feitas normalmente de cal, delimitam as linhas
laterais e finais do campo de jogo. A linha central do meio de campo separa
os setores de ataque e de defesa de cada um dos times. Dentre as demais
marcações, essas já bastariam para entender que cada time tem, no jogo,
diversas possibilidades de distribuir seus jogadores, tanto no ataque quanto
na defesa, a partir de estratégias e esquemas ofensivos e defensivos. A
UFE marcar(le) la cancha equivale a mostrar para o rival o modo como
poderá ou não jogar, que não vai poder jogar da maneira que quiser, pois
as marcações no campo estabelecem limites, assim como as estratégias
de seu adversário. No fórum de discussão do dicionário WordReference,
há uma consulta sobre o significado da frase. Entre as respostas, consta
em inglês “Marcar la cancha means to put the limits to (a situation)”.13

Informação encontrada em: https://forum.wordreference.com/threads/est%C3%A1-


13

marcando-la-cancha.2324051/. Acesso em: 16 jun. 2020.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1219

Metaforicamente, transportado ao domínio alvo da política, esse


fraseologismo futebolístico aponta para o estabelecimento de limites aos
governantes, na época Cristina Kirchner. Assim, ao afirmar em (2) “a
este gobierno nadie le marca la cancha”, a presidente manifestava que
ninguém iria definir limites a seu governo, que ninguém iria marcar para
eles como deveriam ser as coisas. Como tópico da metáfora linguística
temos “a este gobierno” e como veículo “nadie le marca la cancha”. Com
isso, inferimos que o governo é representado como um time de futebol
pelo uso que a mandatária faz dessa colocação, e que escolhe o modo
como quer jogar e não aceita que ninguém lhe imponha regras. Cancha,
neste caso, é o terreno de ação governamental. Borensztein, colunista
de Humor Político, reage a essa afirmação, destacando em (5) que
todo aquele que habita sob solo argentino está regido pela Constituição
Nacional, “donde está toda la cancha marcadita”. Essa réplica dá a
entender que a expressão destaca o modo como as coisas devem ser.
Assim, as leis que estabelecem as normas de convivência no território
argentino, definidas na Constituição (tópico), são um campo de futebol
(veículo), com regras bem definidas que devem ser respeitadas.
Em outra referência à Constituição Nacional, o articulista
aconselha o leitor a não se deixar amargurar a vida, quando uma ex-
deputada kirchnerista teria sugerido jogar no lixo a Constituição, e
complementa em (1) dizendo “Defendamos la democracia, aplaudamos
una buena jugada, pero marquemos la cancha y gritemos ¡penal! cuando
el Gobierno (o algún opositor) hace un foul dentro del área”. Ou seja,
gritar pênalti, se o governo ou a oposição, enquanto tópico, fizerem falta
dentro da área, isto é, em caso de cometerem uma falta grave passível de
punição, significa fazer valer as regras, isso é marcar la cancha, como
veículo da metáfora linguística. Novamente, cometer uma infração no
jogo acarreta uma punição; o uso de marcar la cancha corresponde a
estabelecer limites com consequências previsíveis para quem infrinja
as normas. Assim, o campo de ação do governo é um campo de futebol,
una cancha, com regras marcadas.
No fragmento (6), a UFE no corpus está relacionada ao
aparecimento da figura do Papa Francisco, que surgiu “marcando la
cancha” e com muito mais poder do que a presidente Cristina Kirchner. O
colunista destaca que, embora o governo não cogitasse essa possibilidade,
teria que passar a lidar com um Papa argentino, que passaria a ter
ingerência quanto ao respeito às regras do jogo, no alcance das ações do
1220 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

governo. Desse modo, podemos apreciar que o uso de marcar la cancha


se aplica, por um lado, no sentido de quem não quer que ninguém marque
limites a seu governo e, por outro lado, de que toda a sociedade, o Papa e
a própria Constituição estabelecem marcas, definem limites, que precisam
ser respeitados dentro do jogo.
Nas ocorrências (1) e (3), o articulista faz um apelo ao leitor,
marcado pelo uso da primeira pessoa do plural no Imperativo afirmativo
e no Presente do modo Indicativo: “aplaudamos una buena jugada pero
marquemos la cancha y gritemos ¡penal!” e em “Todos le marcamos la
cancha”. Esses usos podem ser entendidos como referência à torcida de
um time imaginário, representando o povo argentino, que tanto alentaria
as boas ações dos governantes quanto questionaria a falta de limites ou
suas atitudes agressivas, violentes. Desse modo, o autor da coluna poderia
ser compreendido como membro ou líder de uma torcida, da qual fazem
parte o próprio colunista e os leitores. Palacios e Chacra (2014, p. 83)
afirmam que “O torcedor argentino usa com frequência a primeira pessoa
do plural para explicar como anda seu time: estamos indo bem ou hoje
à tarde jogaremos contra X”. Isto é, o torcedor se enxerga como parte
integrante e ativa do time, não apenas como espectador.
No intuito de verificarmos a incidência de marcar la cancha fora
de nosso Corpus AleBores, por meio da busca no Corpus del Español,
nas versões Dialetal e NOW (DAVIES, 2016, 2018), utilizando cancha
como base do fraseologismo e marcar como colocado, com a função de
lematização ativada num horizonte de 4 palavras à esquerda e 4 à direita,
obtivemos 283 resultados na versão dialetal desses corpora. Cabe destacar
que esses corpora possuem uma extensão de 2 e 5,5 bilhões de palavras,
respectivamente. Como corpus de consulta e ponto de contraste, entre
esses e o Sketch Engine (KILGARRIFF, 2019), o Corpus del Español
na versão dialetal (DAVIES, 2016) foi o que se mostrou mais pertinente
dos três para esta pesquisa. O país que registrou maior frequência de
ocorrência foi Argentina (122), seguido pelo Uruguai (48). Os demais
resultados ficaram distribuídos entre os outros países hispano-falantes,
com baixa frequência, como Espanha (5) e México (4), por exemplo.
Pela frequência atestada, a análise dos resultados separados por países
permitiu constatar que a UFE estudada corresponde a um uso próprio
rio-platense. Analisando os resultados, de modo geral, a UFE ocorreu
em frases que tratam sobre política e justiça, envolvendo membros de
partidos políticos, governantes, juízes, ministros da Corte Suprema,
legisladores, entre outros, como pode ser apreciado na próxima figura.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1221

FIGURA 6 – Busca por MARCAR + CANCHA

Fonte: Corpus del Español (DAVIES, 2016)

Dentre os derivados de cancha identificados no corpus, extraímos


diversos vocábulos, alguns dos quais se configuraram UTs, como
canchero e cancherear, que denotam uma ostentação de determinada
habilidade (tener cancha), confiança, no desempenho de uma atividade,
por exemplo no controle da bola, no jogo do futebol. Além dessas,
também registramos o substantivo canchereada, que passamos a definir e
para o qual tampouco encontramos registro nos dicionários consultados.

CANCHEREADA. f. Jogada feita com malandragem, com a esperteza


de quem demonstra possuir habilidade, domínio, técnica ou experiência,
para conseguir que uma manobra ilegal ou contra as regras (no jogo, um
gol de mão, por exemplo) passe como totalmente válida. (f 4)
(7) Obviamente, Macri lo vetó. ¿Está loco? No, al igual que CFK en
su momento, ahora es él quien no tiene la guita para financiar esta
canchereada.
(8) Otro ejemplo, es el bono a 100 años, una canchereada del gobierno para
decir “mirá que confianza que nos tienen”.
(9) Con el dólar a 15, la canchereada de la arquitecta egipcia nos costó
60.000 millones de pesos más.
(10) El tipo le mandó a la diputada Cerruti un papelito de morondanga
pidiéndole simpáticamente que no meta a sus hijas menores de edad en
el tema de las famosas offshores. Una canchereada de pescador. O sea,
sacó la caña y empezó suavecito con el lengue lengue.
1222 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

Nos quatro fragmentos anteriores, observa-se que se trata de


manobras realizadas por governantes, jogadas políticas, levadas à prática
com a habilidade e malandragem ou catimba de um jogador de futebol
em campo, que utilizaria artimanhas para conseguir enganar o adversário,
seja para fazer um gol, para fazer um drible ou tomar a bola, muitas das
vezes de maneira desleal. Assim, em (7) observamos uma situação em que
os ex-presidentes argentinos, CFK e Macri, por falta de capital (guita),
precisaram recorrer a manobras que poderiam ser questionáveis, devido à
ginga utilizada para esquivar um mau momento. Em (8) e (9), percebe-se
que as malandragens são atribuídas ao governo diretamente ou por meio
de um dos apelidos utilizados pelo colunista em referência a Cristina
Kirchner, arquitecta egipcia. Em ambos os fragmentos há novamente uma
relação com questões econômicas que, lançando mão de outras metáforas
futebolísticas para explicá-las, tentam ser dribladas pelos governantes,
por meio de jogadas que poderiam ser consideradas desleais. Também
em (10), quando a referência à participação de familiares de políticos
em empresas “offshores” é feita como “una canchereada de pescador”,
isto é, assim como uma história de pescador, em que também haveria
uma jogada, por meio da qual se buscaria alcançar algum benefício por
caminhos duvidosos. Nos quatro fragmentos em análise, os personagens
do domínio político são o tópico da metáfora linguística, enquanto
canchereada funciona como veículo, que transfere traços concretos do
plano do futebol para o domínio mais abstrato da política.
Na versão dialetal do Corpus del Español (DAVIES, 2016), a
busca lematizada de canchereada reportou 33 ocorrências do termo,
sendo 20 no singular e 13 no plural, e 30 dessas ocorrências da Argentina,
o que confirma tratar-se de um argentinismo. Num dos fragmentos
encontrados nesse corpus, identificamos a explicação do que seria uma
canchereada, dada por um jogador: “Bajarla [la pelota] con una mano se
podía confundir con una canchereada también. Sí, se puede confundir, yo
hacía cosas que parecían canchereadas pero eran recursos de una técnica
futbolística que yo noté que ya la iba teniendo de chico”.14 Desse modo, é
possível ver que estratégias ou manobras políticas são jogadas de futebol,
feitas também com malandragem, como verdadeiras canchereadas. A

14
Disponível em: http://www.elgrafico.com.ar/2012/04/25/C-4186-amadeo-carrizo-aun-
no-concibo-a-river-en-la-b-llore-mucho-con-el-descenso.php. Acesso em: 17 mai. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1223

próxima figura ilustra um recorte dos resultados encontrados no Corpus


del Español, na versão dialetal.
FIGURA 7 – Busca por CANCHEREADA

Fonte: Corpus del Español (DAVIES, 2016)

5 Considerações
Encerrando este trabalho, depois da fundamentação teórica,
descrição metodológica e das análises feitas a partir de um recorte de
nossa pesquisa, fundamentalmente a partir do termo cancha, enquanto
local para a prática de futebol, podemos traçar algumas considerações.
A pertinência a esta pesquisa dos pressupostos teóricos sobre
os quais discorremos, na abordagem da Terminologia, em especial das
UFEs, da Teoria da Metáfora Conceptual e da LC, ficou demonstrada
pelo estabelecimento de diversos pontos de convergência. A recorrência
de termos do domínio fonte mais concreto do futebol, em referência
ao domínio alvo mais abstrato da política, a presença de um núcleo
enquanto UT nas UFEs, a formação das metáforas linguísticas com
tópicos do âmbito político e veículos do meio do futebol, tudo mediado
pela exploração empírica de um corpus com os recursos, ferramentas
e princípios de pesquisa da LC, dão conta desse ponto de confluência
dessas diversas vertentes teóricas. Por outro lado, a presença da cultura
do futebol na vida diária da sociedade, observada nos trabalhos brasileiros
revistos assim como nesta pesquisa, provavelmente fazendo parte em
alguma medida do vocabulário popular, acaba sendo invocada por meio
de expressões típicas desse domínio, tanto pela imprensa quanto no meio
político, com diversos propósitos, mas funcionando para metaforizar
situações abstratas em diversos âmbitos.
1224 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

Após a compilação do Corpus AleBores, preparação,


armazenamento e tratamento com as diferentes ferramentas do programa
WST, por meio do levantamento dos dados, analisamos diferentes listas
de palavras e de palavras-chave, tomando por base diferentes critérios
e valores adotados, no intuito de fazer a extração terminológica do
domínio do futebol. Para isso, foi necessário realizar diferentes testes
com o corpus de estudo, em contraste com um corpus de referência. O
procedimento que se mostrou mais eficaz, isto é, que reportou o maior
número de candidatos a termo, foi o escrutínio cuidadoso da lista de
palavras extraída pela WordList.
Como descrito nas seções anteriores, a partir dos candidatos a
termo geramos as linhas de concordância e, pela análise das ocorrências
em contexto, identificamos as formações fraseológicas com participação
dos termos. Desse modo, foi possível extrair UFEs, os fragmentos de
ocorrência e descrever a formação das diferentes combinatórias léxicas,
assim como a relação estabelecida nos processos de metaforização
identificados e analisados. Todos os procedimentos foram detalhados
do modo pormenorizado, uma vez que a replicação metodológica é
um fator presente e de relevância nas pesquisas que envolvem a LC
e a Terminologia. Cabe também destacar que a LC viabilizou neste
trabalho mais do que uma sequência de procedimentos metodológicos
ou de um modo de olhar para os dados, uma vez que aliada ao auxílio na
identificação dos fatos linguísticos, observados na estrutura aparente do
corpus, nossa introspecção foi conduzida à percepção das ocorrências
metafóricas. O mapeamento da subjacência das metáforas conceptuais,
enquanto fenômeno cognitivo materializado em metáforas linguísticas, a
partir da exploração e indagação de corpora, são indícios significativos
sobre o poder de teorização da LC a respeito da linguagem. Desta
maneira, os trabalhos empíricos da LC contribuem para o avanço
das pesquisas em metáfora conceptual e, num plano mais amplo, na
Linguística Cognitiva.
Tal como discutido na seção de Análise, identificamos relações
metafóricas entre os domínios do futebol e da política, que corroboram
nossa hipótese inicial: existem aspectos cognitivos, linguísticos e
pragmáticos entrelaçados e englobados por uma dimensão cultural mais
ampla, que perpassa os domínios do futebol e da política e que somente
é acionada a partir de traços e vestígios identificados no processo de
leitura do texto. O reconhecimento de determinadas marcas linguísticas
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1225

nos textos, especificamente as UFEs que acionam nas lembranças do


leitor o domínio do futebol, transferem características dessa área, que
passam a ser assimiladas para a compreensão do outro domínio que
é metaforizado, o campo da política. Nesse sentido, por meio destas
análises, conseguimos identificar as seguintes metáforas conceptuais no
corpus, que se mostraram abundantes e recorrentes: o terreno das ações
políticas é um campo de futebol; marcar o campo de jogo é estabelecer
limites no âmbito da política; política é futebol; políticos são jogadores;
manobras ou estratégias políticas são jogadas de futebol, inclusive
malandragens (canchereadas).

Declaração de contribuição de cada autor


Enquanto autores, declaramos que desenvolvemos todos os trabalhos
pertinentes a este artigo conjuntamente, desde a concepção e recorte, a
partir de uma pesquisa maior em desenvolvimento, passando por todas
as etapas de redação da fundamentação teórica, descrição metodológica,
análises do corpus, até as considerações e revisões que se fizeram
necessárias. Para facilitar os trabalhos, os autores compartilhamos uma
pasta no OneDrive, contendo o texto do artigo, parte da bibliografia
utilizada e arquivos com resultados do WST.

Referências
ALVES, M. A representação do Brasil no ensino de espanhol: um estudo
diacrônico baseado em corpus de textos acadêmicos. 2013. Relatório
(Iniciação Científica) – Instituto de Letras e Linguística da Universidade
Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2013.
ANANÍA, P. Diccionario inmoral de los argentinos. Buenos Aires:
Vergara, 2005.
BERBER SARDINHA, T. As metáforas do presidente Lula na perspectiva
da Linguística de Corpus: O caso do Desenvolvimento. D.E.L.T.A., São
Paulo, v. 26, n. 1, p. 163-190, 2010. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-
44502010000100007
BERBER SARDINHA, T. Pesquisa em Lingüística de Corpus com
WordSmith Tools. Campinas: Mercado das Letras, 2009.
1226 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

BERBER SARDINHA, T. Lula e a metáfora da conquista. Linguagem


em (dis)curso, Tubarão, n. 8, v. 1, p. 93-120, 2008. DOI: https://doi.
org/10.1590/S1518-76322008000100005
BERBER SARDINHA, T. Metáfora. São Paulo: Parábola Editorial,
2007a.
BERBER SARDINHA, T. Análise de metáfora em corpora. Ilha do
Desterro, Florianópolis, n. 52, p. 167-199, 2007b.
BERBER SARDINHA, T. Lingüística de corpus. Barueri: Manole, 2004.
BEVILACQUA, C. R. Unidades Fraseológicas Especializadas
Eventivas: descripción y reglas de formación en el ámbito de la energía
solar. 2004. 243f. Tese (Doctorado en Lingüística Aplicada) - Institut
Universitari de Lingüística Aplicada, Universidad Pompeu Fabra, 2004.
BEVILACQUA, C. R. Unidades Fraseológicas Especializadas: estado
de la cuestión. Trabajo de investigación. Barcelona: Institut Universitari
de Lingüística Aplicada, 1999.
BEVILACQUA, C. R. Unidades Fraseológicas Especializadas: novas
perspectivas para sua identificação e tratamento. Organon, Porto Alegre,
n. 26, p. 1-8, 1998. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-8915.29562
BORBA, F. S. Dicionário de usos do português do Brasil. São Paulo:
Ed. Ática, 2002.
BORENSZTEIN, A. Barcarce, We Have a Problem. Clarín, Buenos
Aires, 22 abr. 2018.
BOSQUE, I.; DEMONTE, V. Gramática Descriptiva de la Lengua
Española. 2. ed. Madrid: Espasa Calpe, 1999. Tomos 1, 2 e 3.
CABRÉ, M. T. La Terminología: Representación y Comunicación.
Barcelona: IULA / Universitat Pompeu Fabra, 2005.
CABRÉ, M. T. Terminología y Lingüística: la teoría de las puertas
abiertas. Estudios de Lingüística del Español (ELiEs), Barcelona, v. 16,
[s.p.], 2002.
CABRÉ, M. T. La terminología: teoría, metodología, aplicaciones.
Traducción castellana: Carles Tebé. Barcelona: Editorial Empúries, 1993.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021 1227

CABRÉ, M. T.; ESTOPÀ, R.; LORENTE, M. Terminología y Fraseología.


In: SIMPOSIO DE TERMINOLOGÍA IBEROAMERICANA, V., 1996,
Ciudad de México. Anais […]. Ciudad de México: Red Iberoamericana
de Terminología, 1996. p. 1-23.
CORPAS PASTOR, G. Diez años de investigación en fraseología:
análisis sintáctico-semánticos, contrastivos y traductológicos. Madrid:
Iberoamericana, 2010.
DAVIES, M. Corpus del Español: Web/Dialectos, 2016. Disponível em:
https://www.corpusdelespanol.org/web-dial/. Acesso em: 25 set. 2019.
DAVIES, M. Corpus del Español: NOW, 2018. Disponível em: https://
www.corpusdelespanol.org/now/. Acesso em: 15 ago. 2019.
DEIGNAN, A. A gramática das metáforas linguísticas. In: SHEPHERD,
T. M. G.; BERBER SARDINHA, T; VEIRANO PINTO, M. (org.).
Caminhos da Linguística de Corpus. Campinas: Mercado de Letras,
2012. p. 65-86.
DEIGNAN, A. Metaphor and Corpus Linguistics. Amsterdam-/
Philadelphia: John Benjamins Publishing, 2005. DOI: https://doi.
org/10.1075/celcr.6
FONTANARROSA, R; SANZ, T. El fútbol argentino: pequeño
diccionario ilustrado. Buenos Aires: Clarín/Aguilar, 1994.
GOVERNATORI, G.; LAROCCA, R. ¡Qué lo parió, che!: Diccionario
coloquial de los argentinos. Buenos Aires: Continente, 2014.
HOUAISS, A. Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa.
Versão 3.0, 2009.
KILGARRIFF, A. Sketch Engine. Disponível em: http://sketchengine.
co.uk/. Acesso em: 3 nov. 2019.
KRIEGER, M. G.; SANTIAGO, M. S.; CABRÉ, M. T. Terminologia em
foco: uma entrevista comentada com Maria Teresa Cabré. Calidoscópio,
São Leopoldo, RS, v. 11, n. 3, p. 328-332, 2013. DOI: https://doi.
org/10.4013/cld.2013.113.11
LAKOFF, G; JOHNSON, M. Metaphors we live by. Chicago: The
University of Chicago Press, 1980.
1228 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1191-1228, 2021

MOLINER, M. Diccionario de uso del español. Edición electrónica,


versión, 3.0. Madrid: Editorial Gredos, S.A.U., 2008.
ORENHA, A. Unidades Fraseológicas Especializadas: colocações e
colocações estendidas em contratos sociais e estatutos sociais traduzidos
no modo juramentado e não juramentado. 2009. 290f. Tese (Doutorado
em Linguística Aplicada) – Instituto de Biociências, Letras e Ciências
Exatas, Universidade Estadual Paulista, 2009.
ORENHA, A.; CAMARGO, D. C. de. A extração de Unidades
Fraseológicas Especializadas a partir de corpora paralelos e comparáveis.
The ESPecialist, São Paulo, v. 30, n. 1, p. 57-81, 2009.
PALACIOS, A. Os argentinos. São Paulo: Contexto, 2015.
PALACIOS, A.; CHACRA, G. Os hermanos e nós. São Paulo: Contexto,
2014.
PARODI, G. (org.). Géneros académicos y géneros profesionales: accesos
discursivos para saber y hacer. Valparaíso: Ediciones universitarias de
Valparaíso, 2008.
PARODI, G. Lingüística de Corpus: de la teoría a la empiria. Madrid
/ Frankfurt: Iberoamericana / Vervuert, 2010. DOI: https://doi.
org/10.31819/9783865278715
SCOTT, M. WordSmith Tools (7.0) [Programa computacional]. Liverpool:
Lexical Analysis Software, 2016.
SPERANDIO, N. E. As metáforas de Lula: uma forma de legitimação. In:
SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE LETRAS E LINGUÍSTICA, 2009,
Uberlândia. Anais [...]. Uberlândia: EDUFU, 2009. p. 1-11.
SPERANDIO, N. O Modelo Cognitivo Idealizado no processamento
metafórico. 2010. 99f. Dissertação (Mestrado em Letras) – Universidade
Federal de São João del Rei, São João del Rei, 2010.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

Analysing the behaviour of academic collocations


in a corpus of research-papers: a data-driven study

Analisando o comportamento de colocações acadêmicas em um


corpus de artigos científicos: um estudo dirigido por dados

Paula Tavares Pinto


Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), São José
do Rio Preto, São Paulo / Brasil
paula.pinto@unesp.br
http://orcid.org/0000-0001-9783-2724
Diva Cardoso de Camargo
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), São José
do Rio Preto, São Paulo / Brasil
divaccamargo@gmail.com
http://orcid.org/0000-0001-6924-4757
Talita Serpa
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), São José
do Rio Preto, São Paulo / Brasil
talita.serpa@unesp.br
https://orcid.org/0000-0003-3324-9593
Luciano Franco da Silva
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (UNESP), São José do Rio
Preto, São Paulo / Brasil
luciano.francco@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-7485-8657

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1229-1252
1230 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

Abstract: Authors from different countries have published their papers in English,
aiming to promote their research results widely and to become internationally known
by their peers. It is also true that, although they are aware of the English terminology
used in their respective field, some authors still struggle with some features of
academic writing such as collocations. Thus, this paper presents a discussion on the
underuse and overuse traces of academic collocations by Brazilian authors who had
their articles published in English on an open electronic library of scientific journals.
In order to analyse the collocations used by these researchers, we compiled a 906,035-
word corpus from eight different academic areas. The collocations observed were
statistically compared to those from an academic corpus of English writings which
contains texts produced by English-speaking authors. Results showed that there are
more collocations underused than overused by the authors. The analysis proved that the
collocation repertoire of researchers could be broadened by being pointed out during
academic writing workshops.
Keywords: academic collocations; research paper writing; corpus linguistics.

Resumo: Autores de vários países têm publicado seus artigos científicos em inglês com
o intuito de promover amplamente os resultados de suas pesquisas dentre a comunidade
científica internacional. É verdade que, embora estejam cientes da terminologia utilizada
no respectivo campo de pesquisa, alguns autores ainda apresentam dificuldade em lidar
com certas características da escrita acadêmica, como o uso das colocações. Este artigo
apresenta uma discussão sobre traços de sobreuso e subuso de colocações acadêmicas
utilizadas por autores brasileiros que têm seus artigos publicados em inglês numa
plataforma eletrônica aberta de artigos científicos. Para analisar as colocações utilizadas
por estes pesquisadores, compilamos um corpus de 906.000 palavras a partir de oito
áreas científicas. As colocações analisadas foram comparadas estatisticamente com as
colocações de um corpus acadêmico de inglês que contém textos escritos por autores
anglófonos. Os resultados mostraram que há mais traços de subuso que sobreuso de
colocações acadêmicas utilizadas pelos pesquisadores e este repertório poderia ser
ampliado se fossem destacadas durante cursos de escrita acadêmica em língua inglesa.
Palavras-chave: colocações acadêmicas; escrita de artigos científicos; linguística de
corpus.

Submitted on October 9th, 2020


Accepted on December 16th, 2020

1 Introduction
Authors worldwide recognise the importance of publishing
academic articles in English. Although there may be some debate over
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1231

the relevance of publishing in one’s native language, researchers must


publish in English if they want their study results to be read by members
of international scientific communities. In that sense, Brazilian authors,
who wish to have their studies internationally acknowledged, need to
have their articles publicised on online databases, such as The Scientific
Electronic Library Online (SciELO). This platform is an electronic
library for Brazilian scientific journals written in Portuguese, Spanish
and English.
Taking that into account, several studies (HYLAND, 2008;
NESSELHAUF, 2003; PAQUOT, 2010) have already highlighted the fact
that non-native speakers may lack the necessary linguistic knowledge to
use adequate academic collocations when writing in English. Haswell
(1991) has claimed that the underuse of collocations in scientific papers
will reveal one’s “apprentice writing” which can compromise the
acceptance of papers by scientific journals. On the other hand, the proper
use of academic collocations would demonstrate how linguistically
competent the authors are.
The definition of collocation by the Oxford Collocations
Dictionary for students of English (LEA; CROWTHER; DIGNEN,
2002, p. vii) is the following: “collocation is the way words combine in a
language to produce natural-sounding speech and writing”. As examples,
the authors state that, in English, it is common to say strong wind and
heavy rain, but not *heavy wind or *strong rain.
According to Frankenberg-Garcia et al. (2019a), some writers
are not aware of collocations or do not use them, which may lead
to readers’ estrangement caused by combinations such as *depend
of something, instead of *depend on something. For this reason, the
researchers developed the Collocaid Project. The main objective of this
tool is to create “a lexicographic resource that is accessed from within
digital writing environments to help learners write more idiomatically”
(FRANKENBERG-GARCIA et al., 2019a, p. 24).
Another topic to be addressed is whether academic collocations
stand out to non-native authors as terms and idioms do. According
to Nesselhauf (2003), English collocations can be fuzzy for students,
academic authors and even native speakers who are not familiar with
some commonly patterned combinations. The Oxford Collocations
Dictionary for students of English states that “collocation runs through
the whole of the English language. No piece of natural spoken or written
1232 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

English is free of collocation” (LEA; CROWTHER; DIGNEN, 2002,


p. vii). If collocations in general English are already challenging to
be noticed by non-native speakers, we wonder how it would be with
academic collocations such as ‘rates fell’, ‘the percentage dropped’,
‘gather information’, ‘funding research’, among others. Consequently,
we question if international researchers, who are non-native speakers of
English, can proficiently combine words to produce natural collocations
and, more specifically, we want to know how it happens among Brazilian
researchers.
Despite the relevance of academic vocabulary and collocations
in scientific texts, there are still few studies (DAYRELL 2007; PAIVA,
2009; SILVA et al., 2017; SILVA et al., 2018) that report their use in the
writing of Brazilian authors. Dayrell compared collocational patterns in
translated and non-translated texts. The author shows that translations
from Portuguese into English draw on a small number of collocates
(DAYRELL, 2007, p. 377). Paiva (2009) found evidence of overuse of
specific verbs in research papers translated by Brazilian professional
translators which are not frequent in articles published in high-impact
journals. Babini and Silva (2012) showed that Brazilian researchers
produce texts with overuse or underuse of specific lexical items which
are generally expected in research papers in English. Silva et al. (2018)
investigated the use of academic vocabulary by Brazilian (under)graduate
students. They concluded that although students use a similar number of
academic words compared to the Academic Word List (AWL) and the
General Service List (GSL), the word forms chosen by students differ
as they underuse affixation processes.
Although the four previous studies refer to the academic
vocabulary produced by Brazilians, there are still several issues to be
dealt with, such as the use of academic collocations by senior Brazilian
researchers who have longer published papers in English. Do they tend
to overuse or underuse collocations in their research papers? Are those
collocations repeated over the article? These are some of the issues to
be discussed in this article.
Therefore, this study seeks to shed some light on the way senior
Brazilian researchers use academic collocations in their publications by
presenting an investigation of data extracted from a corpus of papers
in the eight major areas of research at The Scientific Electronic Library
Online (SciELO).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1233

The guiding research questions of this study are the following:


1. To what extent do the collocations used by Brazilian authors differ
from the ones in international journals?
2. Do Brazilian authors use collocations influenced by their native
language (Portuguese)?
3. Are there traces of overuse or underuse of specific collocations?
To answer those questions, we present a brief review of studies
that discuss the importance of academic vocabulary and collocations.

2 Academic collocations
Previous studies have revealed that clusters, lexical bundles and
collocations have been investigated in different genres of academic writing
such as Master’s thesis, Doctorate dissertations and research articles
(ACKERMANN, CHEN, 2013; CORTES, 2004; FRANKENBERG-
GARCIA et al., 2019a, 2019b; HYLAND, 2008; SILVA et al., 2017).
Hyland (2008, p. 42) states that clusters are “words which follow each
other more frequently than expected by chance, helping to shape text
meanings and contribute to our sense of distinctiveness in a register” such
as a result of or it should be noted that in academic writing. According
to the author, mastering the use of these group of words, or “clusters”
(SCOTT, 1996) will help non-native writers to overcome linguistic
barriers which prevent their papers from reaching other members of the
international community. At the same time, Cortes (2004, p. 400) states
that “lexical bundles are extended collocations, sequences of three or
more words that statistically co-occur in a register. Some examples of
these word combinations in academic prose are: on the other hand, in
the case of, the context of the, and it is likely to.”
Firth (1951), in turn, was responsible for making collocations well-
known and for the famous quote “you shall judge a word by the company
it keeps” (apud PARTINGTON, 1998, p. 15). Besides, according to Nation
(2001), “the term ‘collocation’ is used to refer to a group of words that
belong together, either because they commonly occur together like take
a chance, or because the meaning of the group is not apparent from the
meaning of the parts, as with by the way or to take someone in. A significant
problem in the study of collocation is determining, in a consistent way,
what should be classified as a collocation” (NATION, 2001, p. 317).
1234 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

Ackermann and Chen (2013) state that another difficulty in


dealing with collocations is that they “often contain inflective or positional
variations (e.g., results obtained, broader contexts, achieving objectives)
which poses the great challenge of how to collate these relevant forms
and present them in a uniform and consistent way” (ACKERMANN;
CHEN, 2013, p. 236). The authors believe that this challenge can only
be overcome by human intervention since there is still no automation
method to simplify this process. The researchers mentioned above define
collocation as “word combinations which co-occur more frequently
than by chance across academic disciplines (hence corpus-driven) and
are pedagogically relevant in an EAP1 context (hence expert-judged)”
(ACKERMANN; CHEN, 2013, p. 246). They highlight the importance of
compiling a list of academic collocations based on the idea proposed by
Nation (2001, p. 189-191). The author stated that academic collocations
might “neither be sufficiently frequent in the language as a whole to be
learnt implicitly nor part of the technical lexicon which is likely to be
explicitly taught as part of subject courses”.
Contrary to Nesselhauf’s hypothesis (2003), which defines
collocation only in its phraseological sense, in this paper we chose to adopt
a frequency-based approach, which takes into account co-occurrences of
words within a specific span, as Sinclair (1991) did in his work.
As far as teaching collocations is concerned, Nesselhauf (2003)
suggests it is a task for teachers to make learners aware of these word
combinations. The author adds that teachers should explicitly teach
collocations since they do not always stand out to the learners’ eyes. The
criteria to be followed would be teaching the most frequent and acceptable
collocations in the register on focus, in this case, academic collocations
(conduct/do/carry out a study or make an analysis). Comparison to native
languages (L1) is also desirable, even by highlighting functional elements
such as articles and prepositions. The scholar also suggests that they
should give the focus to the verb, which seems to be the cause of most
mistakes. Finally, in the Brazilian context, Tagnin (2013) discusses the
convention of language and dedicates part of her study to the adjective,
noun, verb and adverbial collocations in Portuguese compared to English,
Italian, French and Spanish. She also shows their importance in teaching
and translation practice.

1
English for Academic Purpose (EAP).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1235

3 Methodology
The methodology followed in this study was composed of two
steps: 1) compilation of the Brazilian Academic Corpus of English
(BrACE); 2) selection of the most frequent academic collocations used
by Brazilian researchers in comparison to frequent academic collocations
in native English speakers’ writings.
We present these steps in the following sections:

3.1 The Brazilian Academic Corpus of English (BrACE)


In order to identify the most frequent academic collocations
used by Brazilian researchers in their writings, we selected papers from
SciELO (an open cooperative database of journals originated in Brazil
that currently features papers from several countries such as Argentina,
Bolivia, Brazil, Chile, among others). This selection aimed to gather
information from journals which could represent Brazilian authors’ writing
in all areas of research designated in Brazil. According to SciELO website:
The Scientific Electronic Library Online - SciELO is an electronic
library covering a selected collection of Brazilian scientific
journals. The library is an integral part of a project being developed
by FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São
Paulo, in partnership with BIREME – the Latin American and
Caribbean Center on Health Sciences Information. Since 2002,
the project is also funded by CNPq – Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Tecnológico.2

The choice of SciELO as the source for our corpus is supported


by the works of Neves et al. (2016), and Kuhn (2017). These authors also
based their studies on the reliability of this procedure, since the selection
of papers for SciELO lies on strict criteria and policy, based on “peer-
review process, journal usage and impact factor” (KUHN, 2017, p. 194).
The website displays the main areas of domain with respective
sub-areas: 1. Agricultural Sciences (Ciências Agrárias), with six sub-
areas; 2. Biological Sciences (Ciências Biológicas), with 14 sub-areas;
3. Health Sciences (Ciências da Saúde), with nine sub-areas; 4. Physical

2
SciELO.org – Scientific Electronic Library Online. Available from: www.scielo.org.
Retrieved: May 23, 2018.
1236 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

and Earth Sciences (Ciências Exatas e da Terra), with seven sub-areas;


5. Humanities (Ciências Humanas), with ten sub-areas; 6. Applied Social
Sciences (Ciências Sociais Aplicadas), with 12 sub-areas; 7. Engineering
(Engenharias), with 12 sub-areas; 8. Languages, Linguistics and Arts
(Linguística, Letras e Artes), with three sub-areas.
Since some journals belonged to two or more different areas
of SciELO, some of the articles were stored under the concept of
interdisciplinary studies. There were some overlapping between some
areas, for example, Agricultural Sciences overlapped with Chemical
Engineering because some of the articles discussed soil use as well
as chemical components used in agriculture. The same happened to
Physical and Earth Sciences when some articles discussed topics related
to Agriculture and Archaeology, which were also present in other
interrelated areas. Our criterion was to follow the distinction made by
the SciELO platform since they certainly had a reason for separating the
publications under specific areas, as well as choose the ones with higher
impact within each particular area.
The impact is based on the Qualis of journals, which is a Brazilian
ranking used by the Coordination for the Improvement of Higher
Education Personnel (CAPES- Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior) to evaluate the quality of scientific journals
in Brazil. In order not to have a random sample, we selected papers from,
at least, two different journals from the same scientific area, starting
in 2018 so as to have the most recent issues. We also observed some
articles from previous years, which had been ranked as B2, B1, A2 or A1,
corresponding to the highest journal impact for Qualis. This procedure
would guarantee the excellent quality of these papers in each scientific
community. One example was Acta Botanica Brasilica which had been
ranked as B2 for Biodiversity and as B5 for Biology. Then, in this case,
we selected five articles whose theme had to do with Biodiversity (B2)
and looked for other journals that would discuss other areas of Biology
related to animals, whose score for Qualis would be, at least, B2.
Following the areas of SciELO, we selected twenty (20) articles
from each journal whose writings had been published in English by
Brazilian authors or teams. The journals published most of the chosen
papers between 2017 and 2018. However, in some areas, such as Physics
and Humanities, the most recent papers were published in 2010. We
decided to keep these papers to maintain the broadest range of subareas
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1237

within each domain. We accessed the electronic versions of the journals,


and the texts were downloaded and saved according to criteria based on
their specific areas. In a different document, we held the references for
all articles used with the same tag they would have in the corpus.
Since the primary goal of compiling this corpus was to have texts
that would display academic collocations and clusters, we selected the
complete articles with tables, abstracts and references. The tables and
figures were not a problem since the program used for analysis, Sketch
Engine® (KILGARRIFF et al., 2014), does not read them.
After following the criteria previously described, we compiled
a 906,035-word corpus using Sketch Engine. At the end of this process,
the BrACE corpus data was organised as follows:
TABLE 1 – Brazilian Academic Corpus of English (BrACE)
Areas Journals and Years Papers Words
1. Acta Scientiarum. Agronomy, 2018;
1. Agricultural
2. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, 2018 20 88,740
Sciences
e 2017.
2. Biological 1. Acta Botanica Brasilica, 2018, 2017;
20 92,220
Sciences 2. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, 2018.
1. Jornal Brasileiro de Pneumologia, 2018;
3. Health 2.Arquivos de Neuro-Psiquiatria, 2018;
20 74,254
Sciences 3. Brazilian Dental Journal, 2018;
4. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, 2018, 2017.
1. Brazilian Journal of Physics, 2010;
4. Physical and 2.Revista Brasileira de Meteorologia, 2017;
20 82,440
Earth Sciences 3. Brazilian Journal of Oceanography, 2017;
4. Boletim de Ciências Geodésicas, 2017
1. Ambiente & Sociedade, 2017;
5. Humanities 2. Brazilian Journal of Political Economy, 2017; 20 151,952
3.Cadernos Pagu, 2010
6. Applied
1. Ambiente & Sociedade, 2017. 20 142,930
Social Sciences
1. Journal of Aerospace Technology and Management, 2018;
2. Journal of Microwaves, Optoelectronics and Electromagnetic
7. Engineering Applications, 2017; 20 109,236
3. Latin American Journal of Solids and Structures, 2017;
4. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais, 2017.
8. Languages, 1. Alfa: Revista de Linguística, 2017;
Linguistics and 2. Revista Brasileira de Estudos da Presença, 2018; 20 164,263
Arts 3. Ilha do Desterro, 2018, 2017.
TOTAL 906,035

Source: BrACE corpus


1238 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

In the following section, we explain how we analysed the


collocations in BrACE.

3.2 Selection of the most frequent academic collocations used by Brazilian


researchers in comparison to frequent academic collocations in
English
In this study, we used semi-automatic retrieval of collocations,
that is to say, statistical information and human judgement. We used a
whitelist to generate a list of words that coincided with a combination
of three well-known EAP vocabulary lists:

(i) the Academic Vocabulary List (AVL-BAWE), based on the Corpus


of Contemporary American English (COCA) by Gardner and
Davies (2014);
(ii) the Academic Keyword List (AKL), based on the list of keywords
extracted by Paquot (2010), and
(iii) the Academic Collocations List (ACL) by Ackermann and Chen
(2013).

We did this process during the time we had access to the database
of the Collocaid project (FRANKENBERG-GARCIA et al., 2019a) in
which these lists had been used. The ColloCaid project is dedicated to
developing a text-editing tool to help writers with collocations during
the writing process. The research involves “investigating user needs, the
visualisation of lexicographic data and human-computer interaction, and
compiling an extensive database of collocation suggestions using state-
of-the-art e-lexicography tools and resources”.3
We started the selection of lexical words with nouns as base
forms to observe how they would collocate most frequently in the BrACE
corpus. The most frequent nouns in the list were studied. To illustrate the
steps taken, we made a query with study as search word using a tool called
WordSketch, which is a “one-page summary of a word’s grammatical
and collocational behaviour” (KILGARRIFF et al., 2014, p. 9):

3
Available from: https://www.collocaid.uk/.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1239

FIGURE 1 – Screenshot of the query for “study” as a noun in the BrACE corpus

Source: Sketch Engine®

In Figure 1, we see two different lists of words that are commonly


combined with the search word “study”. On the left, we have verbs that
co-occur with the study as an object, such as “conduct + study”, “approve
+ study”, “aim + study”. On the right we see modifiers of “study” as in
“present + study”, case +study” and “previous + study”.
We selected single words that tended to co-occur in the span
of three words from the reference word, coinciding at least five times
in the corpus and having a LogDice score of, at least, 7. This kind of
statistical data will “indicate how strong the collocation is. The higher
the score, the stronger the combination of words is. A low score means
that the words in the collocation also frequently combine with many
other words”. This decision was taken considering previous papers that
reported the statistics used in the extraction of collocations from small
and large corpora (CORTES, 2004, DAYRELL, 2007; ACKERMANN,
CHEN, 2013; FRANKENBERG-GARCIA et al., 2019a).
The next step was analysing the list of (i) “modifiers” that
collocated with the search word; (ii) verbs with the search word as
“object” and (iii) verbs with the search word as “subject”.
The search words and their collocates were saved in a list showing
the frequency of each word combination to compare them to the reference
list of common collocations in English.
We excluded terms (translation/epidemiological/environmental
study; discourse/ scientometric analysis) and combinations with copular
or auxiliaries (be – studies were…, have – have shown). The aim was
1240 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

to analyse general academic collocations instead of terms from specific


areas. This way, we could retrieve collocations mostly used by Brazilian
authors such as the present study, case study, previous study (modifier
+ study); conduct a study, achieve/approve/aim a study (verbs + study
as object); studies demonstrated, this study showed, this study suggests
(verbs + study as subject).
After selecting frequent collocations from BrACE, we looked
for the ones that were not so frequently used by English authors in The
Oxford Corpus of Academic English (OCAE), which is a 71,372,972-
word corpus, to check if they were not used at all or if they were rarely
used. The access to this corpus was possible during a period of a sabbatical
break in which we worked with a research team who had this permission.

4 Results and Analysis


In this section, we present the results of our study concerning the
academic collocations used by Brazilians in their papers published on
SciELO, as well as characteristics of overuse and underuse.

4.1 Academic collocations overused by Brazilian researchers in


comparison to frequent academic collocations in English
As presented in the methodology, we compared the wordlist
of BrACE to the three academic vocabulary lists and selected the first
twenty most frequent words, which were ranked from the most to the least
frequent ones. We analysed them as candidates for academic collocations.
The first word class we observed from this list were nouns. We
analysed collocations which had been frequently used by Brazilian authors
with these nouns but were not as frequent in the three academic vocabulary
lists commonly used by researchers who publish in English. We took
this step to observe too frequent (overused) or uncommon (underused)
collocations that had been chosen by Brazilian researchers and were not
as frequent in papers originally written in English in the OCAE. As we
will see, there were less overused collocations than the underused ones.
The overused collocations in BrACE that were not as frequent
in the three lists of comparison were: corroborate + study (obj.) / study
(subj.) + corroborate / study (subj.) + reinforce / analysis (adj.) + finite /
analysis (adj) + correlation / make + analysis (obj.) / consider + analysis
(subj.) / intensive (adj.) + use and present (adj.) + work
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1241

After comparing the collocations from BrACE to the ones in the


three academic lists, we analysed the specific examples in the OCAE.
Although they were all part of the OCAE, we wanted to confirm whether
their co-occurrence and LogDice scores were similar. The collocations
are presented in the following table that shows the base word and its
relation to the collocate, an example from BrACE, its co-occurrence,
and LogDice in BrACE and OCAE respectively:
TABLE 2 – collocations overused in BrACE in comparison to OCAE

Base (relation) + collocate Co-oc. Co-oc.


LogDice LogDice
Example from the BrACE BrACE OCAE
1. Study (obj. of) corroborate
6 4
These results corroborate previous biomechanical studies (4.89 per 9.06 (0.05 per 3.78
that found a lower stress concentration for wide diameter million) million)
implants, especially in short implants. (|Health)
2. Study (subj. of) corroborate
Several other studies have corroborated these findings, 5 5
which indicate a change in cardiac autonomic modulation, (4.07 per 7.92 (0.06 per 4.29
demonstrating impairment of this activity in individuals million) million)
with COPD. (Health)
3. Study (subj. of) reinforce
This study reinforces the lines already traced out in 5 6
recent research on the need to consider multidimensional (4.07 per 7.91 (0.07 per 4.44
approaches when analysing human-nature relationships. million) million)
(Social Sciences)
4. Analysis (adj.) finite 22 50
Finite element analysis on the influence of implant surface (17.91 per 9.26 (0.60 per 5.51
treatments, connection and bone types. (Health) million) million)
5. Analysis (adj) correlation
The RDC results (Figure3) were similar to the results 10 108
obtained for the correlation analysis for the two (8.14 per 8.22 (1.28 per 6.6
study years and all of the soil layers measured, with a million) million)
correlation of -0.88 between the RDC and Pearson’s
correlation. (Agriculture)
6. Analysis (obj. of) make
In the context described above, we analysed the
potential impacts from the installation and operation 9 161
steps of this project, considering the understanding of (7.33 per 8.68 (1.91 per 6.06
the oceanographic processes and possible effects on the million) million)
human well-being caused by the undermining of provided
ecosystem services. (Biological Sciences)
1242 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

7. Analysis (subj. of) consider 6 18


This analysis considers the average of 100 independent (4.89 per 9.12 (0.21 per 6.55
runs. (Engineering) million) million)
8. Use (adj.) intensive
In American agriculture, the conversion of conventional 5 48
tillage systems to no-till systems and the intensive use (4.07 per 8.97 (0.57 per 6.15
of glyphosate in transgenic cropping has significantly million) million)
influenced the composition and populations of weeds.
(Agriculture)
9. Work (adj. of) present
In the present work, it was evident that cellular debris from both the uterine
epithelium and the trophoblastic cells are phagocytosed and digested by active 103
trophoblastic cells. (Biological Sciences) (1.22 per 6.57
27 million)
(21.99 per million)
10.73

Source: Authors

As shown in Table 2, some collocations did not have a LogDice


higher than 7.0 in the OCAE despite the fact they had higher LogDice in
the BrACE, which could be an indication of overuse. These collocations
were: corroborate study; study confirms; study reinforces; finite element
analysis; correlation analysis, make analysis, the analysis considers and
intensive use.
Although we found these collocations in the OCAE, they are not
so frequently used in papers written by native English authors. Besides,
the same collocations were not frequent in the combination of academic
lists as well.
We looked up for collocational options with the same nouns in the
OCAE that could replace the ones used by Brazilians. To do so, we used
the same nouns as search words in Word Sketch to look for collocations
with similar meanings. However, we looked for combinations with higher
frequency in the OCAE, which might sound more natural to international
researchers. For the collocations with study + corroborate, the optional
choices in the OCAE would be: study + support / confirm. So, the sentence
below, taken from BrACE, could be written in the following way:
These results [support] [confirm] previous biomechanical studies
that found a lower stress concentration for wide diameter implants,
especially in short implants.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1243

Several other studies have [supported] [confirmed] these findings,


which indicate a change in cardiac autonomic modulation,
demonstrating impairment of this activity in individuals with
COPD.

As for the collocation study + reinforce, a similar meaning with


more substantial LogDice score would be study + highlight. In this case,
the sentence used by the Brazilian author would be:
The findings of the present study [highlight] the importance of
banning tobacco displays at the point of sale.

Although the collocation finite element + analysis did not show


a high LogDice score (5.51) in the OCAE, we found it in the sub-corpus
of Engineering, which could mean it is a discipline-specific collocation,
as in the example below:
The finite element analysis of any problem involves four steps:
(a) discretising the solution region into a limited number of sub-
regions or elements, (b) deriving governing equations for a typical
feature, (c) assembling all the parts in the solution region, and (d)
solving the system of equations obtained.

A similar case is the collocation correlation + analysis, which


has a low LogDice score in the OCAE (6.6) but is used in the areas of
Medicine, Education and Computer Sciences, as the examples below:
To examine the role of parents and friends as sources of influence
on girls’ college aspirations and motivation to achieve their goals,
we conducted a series of correlation analyses separately for girls
who were sexually active and those who were not.

Although the collocation make + analysis was high, other options


found in the BrACE would be more aligned with the OCAE such as
perform/conduct/apply + analysis. Therefore, the sentence below would
sound more natural in the following way:
In the context described above, we [performed] [conducted]
[applied] an analysis of the potential impacts from the installation
and operation steps of this project (…)
1244 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

The collocation analysis + consider was not present among the


most common collocations of OCAE. We believe the best option, in this
case, would be the expression “the analysis takes into consideration” as in:
This analysis takes into consideration the average of 100
independent runs.

The collocation intensive use could be substituted by widespread/


increased/unrestricted/extensive + use as it is found in the OCAE.
In American agriculture, the conversion of conventional tillage
systems to no-till systems and the [widespread] [increased] [unrestricted]
[extensive] use of glyphosate in transgenic cropping has significantly
influenced the composition and populations of weeds.
The next section of this article presents collocations that were
underused by Brazilian authors.

4.2 Academic collocations underused by Brazilian researchers in


comparison to frequent academic collocations in English
This time, we checked collocations that had not been so frequently
used by Brazilian authors with the list of nouns we had, but were present
in the EAP lists we had used in the first step. The underused collocations
from BrACE that were not as frequent in the three lists of comparison
were: qualitative (adj.) + study / detail (adj.) + analysis / restrict +
analysis (obj.) / extensive (adj.) + use / widespread (adj.) + use / increase
(adj.) + use / support + use (obj.) / encourage + use (obj.) / design +
system (obj.)/ system (subj.) + work / describe + process (obj.) / begin +
process (obj.) / collect + data (obj.) / data (subj.) + suggest / data (subj.)
+ indicate / development (subj.) + occur / facilitate + development (obj.)
/ further (adj.) + development.
Once again, we compared the co-occurrence of these collocations
in BrACE to the OCAE, and we present the eighteen first ones below
within their context in the OCAE:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1245

TABLE 3 – Collocations underused in BrACE in comparison to OCAE


Base (relation) + collocate Co-oc. Co-oc.
LogDice LogDice
Example from the OCAE BrACE OCAE
1. Study (adj.) qualitative
378
This qualitative study found that while knowledge about (4.48
the TRiM system was not widespread, the majority of those 0 0 7.82
per
personnel who were aware of TRiM viewed it positively and million)
supported it being peer-delivered. (Medicine)
2. Analysis (adj.) detail 2 550
(1.63 (6.51
Poor exposures and a lack of reliable criteria prevent detailed 5.91 8.73
per per
analysis of the lower slope. (Earth Sciences) million) million)
3. Analysis (obj. of) restrict 103
Therefore, we restrict our analysis, somewhat arbitrarily, to (1.22
0 0 8.22
deflections of the form: w (x, y) = e wEu (x) + s wS (x) cos per
(kS y) + a wA (x) cos (kA y + A) (8.74). (Engineering) million)
4. Use (adj.) extensive 188
This propaganda campaign made extensive use of petitions (2.23
0 0 7.91
as a device for expressing extra-parliamentary pressure on a per
public issue. (History) million)
5. Use (adj.) widespread
1 306
Although the genetics of many lower eukaryotic organisms (0.81 (3.62
had been studied in some detail, Beadle and Tatum’s 6.68 8.74
per per
work initiated a much more widespread use of microbes. million) million)
(Biochemistry)
6. Use (adj.) increase 383
We are seeing the increasing use of computational modeling (4.54
0 0 8.14
within historical linguistics and interdisciplinary research is per
not the exotic enterprise it used to be. (Linguistics) million)

7. Use (obj.of) support 160


(1.90
The current analyses further support the use of extreme 0 0 7.89
per
groups with an underpinning rationale. (Education) million)
8. Use (obj.of) encourage 110
The ease of storing, transmitting, and processing electrical (1.30
0 0 7.74
data is encouraging the use of unmanned stations. (Earth per
Science) million)
9. System (obj. of) design
2 460
A small group of engineers (3 full-time and 4 part-time (1.63 (5.45
workers) used axiomatic design to design a system that can 7.29 8.75
per per
satisfy the requirements for crew survivability in a short time million) million)
(5 months). (Engineering)
1246 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

10. System (subj. of) work 133


As I do not ever recollect an urgent request having been (1.58
0 0 8.71
refused, this system worked very satisfactorily from our point per
of view. (Engineering) million)
11. Process (obj. of) describe
3 430
The process described there, by which lay people decide (2.44 (5.09
which action to take about symptoms of illness, is probably 7.53 8.84
per per
not greatly different from the general way that doctors million) million)
diagnose illness. (Medicine)
12. Process (obj. of) begin
164
Shot 7 initiates a new line of dramatic action that poses the (1.94
question of what Lucy will do now, and also begins a process 0 0 8.57
per
not exactly of rereading, but a search for a new reading of the million)
meaning of the setups. (Media Cultural Studies)
13. Data (obj. of) collect
Lyons et al. (1998a) noted that geochemistry data from 1 1,786
Lake Fryxell in the McMurdo Dry Valleys indicated an (0.81 (21.16
overall change in the ionic composition of the lakes when 7.83 11.36
per per
data collected in the mid-1990s are compared to older, million) million)
but reliable, data obtained in the early 1960s. (Biological
Sciences)
14. Data (subj. of) suggest
256
We presented the 10th-grade classroom because our data (3.03
suggest that Ms. Young fits Irvine’s description of an 0 0 9.47
per
“experienced and masterful pedagogue” who is “seeing with million)
the cultural eye” (Irvine, 2001). (Education)
15. Data (subj. of) indicate 1 132
(0.81 (1.56
Together these data indicated a decline in grasslands and an 7.21 9.12
per per
increase in shrublands in the early Holocene. (Earth Science) million) million)
16. Development (subj. of) occur 56
(0.66
The next development occurred in the plateau country of 0 0 7.24
per
Arizona, Utah, and Colorado. (Earth Science) million)
17. Development (obj. of) facilitate
It is surely in the interest of countries near and far away 126
to facilitate the development of knowledge, skill, and (1.49
freedom in these countries so they can become contributing, 0 0 8.24
per
responsible members of the international community rather million)
than breeding grounds for social pathology, infectious
diseases, and terrorist violence. (Education)
18. Further (adj. of) development 382
The establishment and further development of this cascade (4.52
0 0 8.16
provides us with a fertile research agenda. (Physical and per
Earth Sciences) million)

Source: Authors
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1247

The collocations presented above have not been frequently used


by the Brazilian researchers in their texts represented in our corpus. The
examples were all taken from The Oxford Corpus of Academic English,
which means that to have a more natural text, it would be necessary for
Brazilian researchers to be aware of this use and try to incorporate these
collocations into their writings.
In the next section, we discuss the general results of this
study based on the observation of overuse and underuse of academic
collocations used by Brazilian researchers in their articles.

5 Discussion
The discussions presented in this section seek to answer the three
research questions stated at the beginning of this paper. The first one
was “To what extent do the collocations used by Brazilian authors differ
from the ones in international journals?”. Although Brazilian researchers
have had their papers published in high-impact academic journals, we
could see that there are significant differences regarding underused
collocations, which outnumber the overused ones. This result shows that
these writers were not aware of some of the collocations mostly used
by scholars in international journals. These extracts are not so different
to Brazilian Portuguese such as a detailed (adj.) + analysis, restrict +
analysis (obj.), extensive (adj.) + use, widespread (adj.) + use, describe
+ process (obj.) and begin + process (obj). We did not expect some of
the results such as the underuse of collocations as collect + data and
data + suggest which are not so different from the Brazilian Portuguese.
Because of that, further studies will be carried out as soon as we have
more articles added to the BrACE corpus so that we can confirm or not
the lack of some collocations in those articles.
The previous result leads us to the second and third questions,
which are: “Do Brazilian authors use collocations influenced by their
native language (Brazilian Portuguese)?” and “Are there traces of overuse
or underuse of specific collocations?”.
We could find evidence that indicates the influence of Brazilian
Portuguese in the choice of collocations which called our attention.
This is the case of study (obj. of) + corroborate and study (subj. of) +
corroborate which were overused by the Brazilian researchers and have
the equivalent in Portuguese “estudo (obj of) + corroborar” and “estudo
1248 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

(subj. of) + corroborate” which are very common in articles written in


this language. This result pointed out to the trace of collocation overuse.
Although this combination has been found in the OCAE, it is not as
frequent in research papers initially written in English, which clearly
shows the influence of Portuguese in those texts.
Another comparison we can make is that Brazilians suggest the
use of whereas authors who commonly write in English support the use
or encourage it. At the same time, instead of data points, Brazilians most
commonly write data indicates that.
Upon analysing different areas of research, the collocation
qualitative study is present in areas such as Business, Medicine and
Sociology in the OCAE. In contrast, in BrACE, we find qualitative
analysis, but not a qualitative study. The same happens to regression
analysis, which is the first most frequent collocation with research in the
OCAE but is not present in the BrACE. In cases like this, it is necessary
to consider that the BrACE is still a small corpus of 906,035 words and
some collocations not found here may start to appear as the corpus grows.
These limitations do not allow us to generalise the behaviour of academic
collocations as a whole but show Brazilian researchers’ preferences.
It would be desirable to compare the results shown here to
international authors who frequently publish in renowned journals of
different domains.
Regarding the methodology, as stressed by Dayrell (2011), it
would be interesting to analyse a lemmatised corpus to see the behaviour
of the same lemma in different contexts as well as different span values
and strength of association between nodes and collocates. Another
interesting perspective would be the investigation of an additional
criterion of window-sizes of collocations that could range more four
words to the right and the left. It would allow us to observe longer
phraseologies in research papers written by Brazilian or international
researchers.

6 Final Remarks
The primary aim of this study was to identify the most frequent
collocations used by Brazilian authors who had their research papers
published in the eight major areas of SciELO. After identifying these
collocations, we compared them to the most frequent academic ones used
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1249

by native English writers and international research groups so we could


locate academic collocations that had been overused and underused by
Brazilian researchers.
These results have led us to suggest further studies and actions
to encourage Brazilian researchers to write more naturally in English
academic style. By doing so, they will become aware of these differences
in academic language that may not have been noticed in their writings.
As suggested by Nesselhauf (2003), teachers could point out
the most relevant collocations through writing exercises in academic
workshops or courses of academic English. The author argues that we
should explicitly teach collocations since they do not always stand out to
the learners’ eyes. The main suggestion is to start by introducing the most
frequent and acceptable collocations and, then, comparing them to native
researchers’ textual productions. Having these results, consequently, we
could stress functional elements such as the difference between possible
combinations in English and those that are more common in the students’
native language. In this way, we believe that researchers would be more
familiar with the language patterns used in research papers published in
high-impact academic journals.
It would also be desirable to encourage students to write abstracts
and papers when they are still in college so they become more and more
familiar with the academic English. Also, teachers should encourage
students to read as many quality papers written in English as possible so that
students became aware of their specific research communities writing style.
This practice would certainly enhance the use of academic collocations.
Another way of stimulating the students to use more collocations would be
explicitly showing them samples of sentences containing these structures.
As for senior researchers, it would be ideal to show them the
collocations commonly used in their areas through writing crash courses
and by teaching them to compile their corpora to be used as examples
of writing in each area. By doing so, they would be acquainted not only
with the language style and structure but also with genre constraints in
each area.
Actions like these have already been taken as, for example, the
writing masterclasses supported by the British Council in which Brazilian
researchers and EAP tutors (FRANKENBERG-GARCIA et al., 2019b)
worked together to develop their writing autonomy through the use of
specialised corpora and linguistic tools.
1250 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

Acknowledgements
We would like to thank Dr. Ana Frankenberg-Garcia and Dr. Geraint Rees
for all valuable suggestions during the development of this research work
at the University of Surrey. The authors would also like to acknowledge
funding from the São Paulo Research Foundation (FAPESP/16/25198-6).

Authorship statement
This study reports on data from Dr. Paula Tavares Pinto’s Post-Doctoral
research at the University of Surrey. The first author was in charge of
gathering data, transferring the data to spreadsheets for data analysis,
and writing the first draft of the article. The four authors collaborated on
interpreting results and revising the essay and the data analysis, including
the statistics.

References
ACKERMANN, K.; CHEN, Y. H. Developing the Academic Collocation
List (ACL). A Corpus-Driven and Expert-Judged Approach. Journal of
English for Academic Purposes, [S.l.], v. 12, n. 4, p. 235-247, 2013. DOI:
https://doi.org.10.1016/j.jeap.2013.08.002
BABINI, M.; SILVA, E. B. A terminologia acadêmica nos textos científicos
em língua inglesa uma abordagem baseada em corpus. In: ISQUERDO,
A. N.; SEABRA, M.C.T.C. (org.). As ciências do léxico: lexicologia,
lexicografia, terminologia. Campo Grande: UFMS, 2012. p. 415-427.
CORTES, V. Lexical Bundles in Published and Student Disciplinary
Writing: Examples from History and Biology. English for specific
purposes, [S.l.], v. 23, n. 4, p. 397-423, 2004. DOI: https://doi.
org.10.1016/j.esp.2003.12.001
DAYRELL, C. A Quantitative Approach to Compare Collocational
Patterns in Translated and Non-Translated Texts. International Journal
of Corpus Linguistics, [S.l.], v. 12, n. 3, p. 375-414, 2007. DOI: https://
doi.org.10.1075/ijcl.12.3.04day
DAYRELL, C. Corpora no ensino de inglês acadêmico: padrões léxico-
gramaticais em abstracts de pós-graduandos brasileiros. In: VIANA, V.;
TAGNIN, S. (org.). Corpora no Ensino De Línguas Estrangeiras. São
Paulo: HUB Editorial, 2011. p. 131-172.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021 1251

FIRTH, J. R. Modes of Meaning. v. 4: Essays and Studies (English


Association). Indianapolis: Bobbs-Merril, 1951. p. 118-149.
FRANKENBERG-GARCIA, A. et al. Developing a Writing Assistant
to Help EAP Writers with Collocations in Real Time. ReCALL,
Cambridge, v. 31, n. 1, p. 23-39, 2019a. DOI: https://doi.org.10.1017/
S0958344018000150
FRANKENBERG-GARCIA, A. et al. Supporting the Internationalisation
of Brazilian Research: Curso oferecido via financiamento Capes: Print
para a Universidade Federal do Rio Grande do Sul e a Universidade
Estadual Paulista, 4-06 de jun.de 2019. 30f. Notas de aula.
GARDNER, D.; DAVIES, M. A New Academic Vocabulary List. Applied
Linguistics, Oxford, v. 35, n. 3, p. 305-327, 2014. DOI: https://doi.
org.10.1093/applin/amt015
HASWELL, R. Gaining Ground in College Writing: Tales of Development
and Interpretation. Dallas: Southern Methodist University Press, 1991.
HYLAND, K. Academic Clusters: Text Patterning in Published and
Postgraduate Writing. International Journal of Applied Linguistics,
[S.l.], v. 18, n. 1, p. 41-62, 2008. DOI: https://doi.org.10.1111/j.1473-
4192.2008.00178.x
KILGARRIFF, A. et al. The Sketch Engine: Ten Years On. Lexicography,
Sheffield, UK, v. 1, n. 1, p. 7-36, 2014. DOI: https://doi.org/10.1007/
s40607-014-0009-9
KUHN, T. A Design Proposal of an Online Corpus-Driven Dictionary
of Portuguese for University Students. 2017. 421f. Tese (Doutorado em
Linguística Aplicada) – Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa,
Lisboa, 2017.
LEA, D.; CROWTHER, J.; DIGNEN, S. Oxford Collocations Dictionary
for Students of English. Oxford: Oxford University Press, 2002.
NATION, I. Learning Vocabulary in Another Language. Cambridge:
Cambridge University Press, 2001. (Cambridge Applied Linguistics).
NESSELHAUF, N. The Use of Collocations by Advanced Learners
of English and Some Implications for Teaching. Applied Linguistics,
Oxford, v. 24, n. 2, p. 223-242, 2003. DOI: https://doi.org/10.1093/
applin/24.2.223
1252 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1229-1252, 2021

NEVES, M. L.; JIMENO-YEPES, A.; NÉVÉOL, A. The SciELO


Corpus: a Parallel Corpus of Scientific Publications for Biomedicine. In:
INTERNATIONAL CONFERENCE ON LANGUAGE RESOURCES
AND EVALUTATION – LREC, 10 th., 2016, Portorož, Slovenia.
Proceedings […]. Portorož: LREC, 2016.
PAQUOT, M. Academic Vocabulary in Learner Writing: From Extraction
to Analysis. London: Continuum, 2010.
PARTINGTON, A. Patterns and Meanings: Using Corpora for English
Language Research and Teaching. Amsterdam: John Benjamins
Publishing, 1998. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.2
PAIVA, P. T. Uma investigação de traduções de textos da área médica
sob a luz dos estudos da tradução baseados em corpus. 2009. 288f. Tese
(Doutorado em Linguística Aplicada) – Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista, São José do Rio Preto,
2009.
SCIENTIFIC ELECTRONIC LIBRARY ONLINE. Available from:
https://scielo.org/. Access on: Jun. 13, 2020.
SCOTT, M. WordSmith Tools 4. Oxford: Oxford University Press, 1996.
SILVA, E. B.; BABINI, M.; OTTAIANO, A. O. Identification of the most
common phraseological units in the English language in academic texts:
contributions coming from corpora. Acta Scientiarum, Maringá, v. 39, p.
345-353, 2017. DOI: https://doi.org/10.4025/actascilangcult.v39i4.31811
SILVA, L. G.; MATTE, M. L.; SARMENTO, S. Brazilian Students’s Use
of English Academic Vocabulary: An Exploratory Study. In: FINATTO,
M. J. et al. (org.). Linguística de corpus: perspectivas. Porto Alegre:
Instituto de Letras, UFRGS, 2018. p. 509-526.
SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford
University Press, 1991.
TAGNIN, S. E. O. O jeito que a gente diz - combinações consagradas em
inglês e português. Barueri: Disal Editora, 2013.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

“Quero que vocês me acompanhem nessa jornada”: análise


da emergência de metáforas em narrativas sobre o câncer de
mama a partir de estratégias de Linguística de Corpus

“I want you to come with me in this journey”: analysis of the


emergence of metaphors in breast cancer narratives based on
Corpus Linguistics strategies

Ana Rachel Salgado


Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
anasalgado@ufcspa.edu.br
http://orcid.org/0000-0001-5612-8191

Aline Aver Vanin


Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
alinevanin@ufcspa.edu.br
http://orcid.org/0000-0002-9984-6043

Gabriele Honsha Gomes


gabrielehgomes@gmail.com
Hospital de Clínicas de Porto Alegre – Residência Multiprofissional, Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
http://orcid.org/0000-0002-0076-3951

Leticia Presotto
Escola Superior de Propaganda e Marketing – Câmpus ESPM Sul, Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
letipresotto@gmail.com
http://orcid.org/0000-0001-8130-8450

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1253-1288
1254 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

Resumo: O objetivo deste trabalho é investigar como a emergência de metáforas


conceptuais revela as experiências subjetivas nas narrativas de pacientes que
desenvolveram e tratam o câncer de mama e suas estratégias de coping. Para tanto,
é proposta uma adaptação de método, baseado em Linguística de Corpus, para a
identificação dessas metáforas encontradas no discurso dessas mulheres com base na
identificação e na extração de termos candidatos a possíveis domínios conceptuais.
Foram coletados textos de 31 blogs de livre acesso sobre a temática em estudo,
constituindo um corpus de 2036 textos. Elegeu-se um dos blogs, constituído por 23
postagens, como referência para avaliar se a ferramenta escolhida e a metodologia
adaptada seriam adequadas ao estudo. A partir disso, foi criada uma keyword list para
extrair termos candidatos a domínios conceptuais, constituindo-se uma lista de referência
para a análise dos demais textos. Dentre os domínios conceptuais mais frequentes,
emergiram os seguintes: entidade, força da natureza, jogo, container, viagem, valor
monetário e guerra. Também, em menor medida, elementos ligados à religião e à
espiritualidade acabaram surgindo. A partir da análise empreendida, destaca-se que a
realização de metáforas nas narrativas atua como estratégias de coping, haja vista que
elas são indícios da elaboração conceitual dessas experiências.
Palavras-chave: metáfora conceptual; linguística de corpus; coping; câncer de mama.

Abstract: The aim of this paper is to investigate how the emergence of conceptual
metaphors reveals subjective experiences in the narratives of patients who developed
and treat breast cancer and their coping strategies. Therefore, an adaptation of a method,
based on Corpus Linguistics, is proposed to identify these metaphors found in these
women’s discourse based on the identification and in the extraction of candidate terms
for possible conceptual domains. Texts were collected from 31 freely accessible blogs
on the subject under study, constituting a corpus of 2036 texts. One of the blogs,
consisting of 23 posts, was chosen as a reference to assess whether the chosen tool and
the adapted methodology combined with the study. Based on this, a list of keywords
was created to extract candidate terms for conceptual domains, constituting a reference
list for the analysis of the other texts. Among the most frequent conceptual domains,
the following emerged: entity, strength of nature, game, container, travel, monetary
value and war. Also, to a lesser extent, elements linked to religion and spirituality
eventually emerged. From the analysis undertaken, it is highlighted that the realization
of metaphors in the narratives act as coping strategies, given that they are evidence of
the conceptual elaboration of these experiences.
Keywords: conceptual metaphor; corpus linguistics; coping; breast cancer.

Recebido em 09 de outubro de 2020


Aceito em 09 de dezembro de 2020
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1255

1 Introdução
A escrita em blogs se apresenta como espaço de compartilhamento
não só de ideias, mas de expressão de sentimentos. Essa ferramenta, hoje em
grande parte substituída pelas redes sociais, permite a expressão de ideias
e percepções para diversas pessoas, que são, por vezes, desconhecidas.
Desde seu surgimento, os blogs tornaram-se sistemas de publicação na
internet em que qualquer pessoa pode escrever baseada nos princípios de
microconteúdo: textos curtos, com informações que considera relevantes,
seguindo determinado padrão, e atualizados frequentemente (PRIMO;
RECUERO, 2008). Em muitos casos, elaborar textos nesse gênero revela-
se uma estratégia também para lidar com dificuldades, como é o caso
das vivências com o luto (KARKAR; BURKE, 2020) ou da descoberta
e do tratamento do câncer (SEMINO et al., 2018). Neste trabalho, nós
exploramos como mulheres que desenvolveram câncer de mama relatam
suas experiências com a doença e com o tratamento por meio da análise
de seus textos postados em blogs abertos ao público. Tratam-se de escritas
de si, direcionadas a um público imaginado, possivelmente com o intuito
de encontrar estratégias para elaborar suas trajetórias e de enfrentar a
doença e o tratamento – que, aqui, chamaremos de estratégias de coping
(ANDRADE et al., 2020; GUSTAFSSON et al., 2019; SEMINO et al.,
2015; STUMM, et al., 2009).
Pacientes que recebem o diagnóstico do câncer têm a tendência
de sentirem-se inseguras em relação à sua condição pela crença de
que o diagnóstico está relacionado à dor, a tratamentos invasivos e à
morte (ANDRADE et al., 2020, p. 5882). Essa doença é percebida
com medo e preocupação pelas pacientes por estar ligada a sentimentos
de incapacidade, incurabilidade e fatalidade, sendo também temida e
estigmatizada tanto pela paciente como por sua família (RIBEIRO et
al., 2019). Nesse sentido, as pacientes tendem a desenvolver estratégias
cognitivas para lidar com emoções e sentimentos que desenvolvem
a partir da descoberta e no tratamento da doença. Coping refere-se à
resposta emocional, cognitiva ou comportamental ao estresse ou a uma
crise (GUSTAFFSON et al., 2019, p. 2), isto é, o conjunto de esforços que
a pessoa utiliza para confrontar determinada situação geradora de estresse
(STUMM et al., 2009). As estratégias para lidar com situações difíceis
podem variar entre dor, sofrimento, negação, medo, sublimação, aceitação
(STUMM et al., 2009). Essas estratégias são também conhecidas como
1256 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

mecanismos de defesa (ANDRADE et al., 2020), em que a paciente


pode racionalizar as experiências, lutando para dar sentido a elas, por
vezes sentindo medo do desconhecido, mas ao mesmo tempo tendendo
a deslocar-se da realidade. Da mesma forma, podem buscar na religião
(ANDRADE et al., 2020; RIBEIRO et al., 2019) um suporte, e até fazer
um esforço para enfrentar a doença, o que provocaria uma sobrecarga
nos seus recursos internos (ANDRADE et al., 2020). Além disso, a
ambivalência quanto à experiência surge como forma de mobilizar
mecanismos internos para elaborar a experiência (ANDRADE et al.,
2020; RIBEIRO et al., 2019).
Ao relatar a descoberta e o tratamento com o câncer de mama,
pacientes podem elaborar essa experiência e concretizá-la por meio da
linguagem. A emergência de metáforas conceptuais pode indicar algumas
dessas estratégias de coping, e é para essa direção que nosso olhar se
volta. O foco do nosso trabalho está nas narrativas da experiência com
o câncer de mama, permeado pela compreensão de como metáforas
conceptuais – nos termos de Lakoff e Johnson (1980, 1999) e Kövecses
(2010, 2011) – emergem no discurso dessas mulheres. Entendemos que a
forma como nos expressamos e trazemos à tona determinados domínios
metafóricos refletem estruturas do nosso sistema conceptual (LAKOFF;
JOHNSON, 1999). Ao examinar a linguagem usada na experiência com
doenças consideradas tabus, como AIDS e câncer, Sontag (1979) traça
considerações sobre o quanto se deveria expurgar as metáforas, já que, em
suas palavras, “é quase impossível fixar residência no reino dos doentes
sem ter sido previamente influenciada pelas metáforas lúgubres com
que esse reino foi pintado” (s.p.). A autora busca elucidar as metáforas e
libertar-se do seu jugo, talvez sem estar consciente de que metáforas são
ubíquas em nossa estrutura conceptual e não podem ser erradicadas por
vontade própria (DEMJEN; SEMINO, 2016). As metáforas são parte de
nossas trajetórias individuais no mundo, e, ao emergirem pela nossa fala
por meio dos signos linguísticos, dão indícios de como elaboramos nossa
experiência. Nesse sentido, a ocorrência de uma metáfora pode ser uma
janela para o plano conceptual: uma mulher com câncer, ao referir a si
própria como uma guerreira, concretiza indícios de sua percepção sobre
seu momento de vida: a de que precisa ser forte, a de que entende a sua
vivência como uma luta – e isso pode ter nuances positivas ou negativas.
A fim de investigar como a emergência de metáforas conceptuais
revela as experiências subjetivas nas narrativas de pacientes (que as
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1257

caracterizamos como “autoras”) que desenvolveram e tratam o câncer


de mama, buscamos adaptar um método, baseado em Linguística de
Corpus (doravante, LC) e utilizado nas pesquisas em Terminologia para a
identificação e extração de candidatos a termo, para a identificação dessas
metáforas realizadas nos discursos das mulheres. Para Berber Sardinha
(2000, 2004), a área busca coletar e explorar dados linguísticos textuais,
coletados criteriosamente, com o propósito de servirem para pesquisa
de uma língua ou variedade linguística. É por meio das ferramentas
desenvolvidas para análise textual que se abrem possibilidades de explorar
o corpus em estudo, constituído por postagens em blogs do que revelam
as mulheres sobre sua experiência com o câncer quando escrevem sobre
ele. Ao buscar apreender metáforas em corpora, partimos do princípio de
que, assim como acontece com outras estruturas linguísticas, é possível
identificar padrões de ocorrência também nas metáforas, tais como o
uso recorrente de palavras de um determinado campo semântico para
referir domínios conceptuais (por exemplo, ‘luta’, ‘guerra’, ‘batalha’,
‘guerreira’, ‘heroína’ [guerra]; ou, ainda, ‘viagem’, ‘caminho’, ‘estrada’,
‘percurso’ [viagem]). A pesquisa em corpora permite, também, identificar
os padrões de combinações (colocados) recorrentes nas metáforas
(BERBER SARDINHA, 2006, 2007, 2012).
As técnicas de LC podem produzir fatos sobre a linguagem
que poderiam, em situações cotidianas, permanecerem escondidas
(DEIGNAN, 2008), isto é, poderiam passar despercebidas diante da
leitura por olhos humanos apenas. Interessa-nos, nesta pesquisa, utilizar
algumas técnicas estabelecidas e ajustá-las de modo específico, de tal
forma que essas nos permitam “ver” estratégias de coping emergindo do
discurso escrito das mulheres com câncer.
Subdividimos este texto em cinco partes. Na Seção 2, trazemos
para a cena a teoria da metáfora conceptual, nosso aporte teórico e
tratamos da relevância da Linguística de Corpus como ferramental
que nos auxilia a direcionar nosso olhar sobre o corpus. Na Seção 3,
delineamos a metodologia. Neste ponto, ressaltamos o valor da pergunta
de pesquisa para que as ferramentas nos auxiliem a ver fenômenos
realizados pela língua. Na Seção 4, discutimos os achados do corpus,
que captura especificidades subjetivas que são apontadas pela presença
de metáforas ao longo dos textos. Por fim, a Seção 5, das considerações
finais, desenha reflexões sobre este processo de investigação e aponta
para trabalhos futuros.
1258 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

2 Metáforas conceptuais à luz da Linguística de Corpus


A metáfora conceptual é um fenômeno ubíquo na vida cotidiana,
não apenas na linguagem, mas no pensamento e na ação (LAKOFF;
JOHNSON, 1980). Nosso sistema conceptual é fundamentalmente
metafórico e tem papel central em definir realidades. Ao mapear um
domínio conceptual em termos de outro domínio (KÖVECSES, 2002,
2010; LAKOFF; JOHNSON, 1980), realizamos coerentemente a nossa
própria experiência cotidiana, na maioria das vezes sem ter consciência
da natureza metafórica do próprio pensamento.
Nesse sentido, ao pensar sobre o processo de adoecimento e
tratamento de uma doença como o câncer de mama, uma paciente pode
referir ao fim de uma etapa da seguinte forma: “[...] agora o que quero
fazer é andar para frente!”,1 em que o elemento textual “andar para
frente” sugere um mapeamento do domínio-fonte trajetória/viagem,2
com sentido mais concreto da experiência, para o domínio-alvo viver,
de sentido mais abstrato. Aqui, neste caso, o sentido da metáfora viver é
seguir uma trajetória,3 ou viver é uma viagem pode ser explicitado como
se a narradora perspectivasse, na sua trajetória de vida, um futuro em que
ela poderia superar as questões daquele momento. Isto é: a partir desse
mapeamento primeiro, pode-se assumir que, especificamente, andar para
frente é superar poderia ser uma interpretação possível das experiências
ou fenômenos particulares (LAKOFF; TURNER, 1989). Na perspectiva
da Teoria da Metáfora Conceptual (LAKOFF; JOHNSON, 1980), câncer
é guerra, por exemplo, é um mapeamento do qual emergem expressões
metafóricas como “(...) acompanhei sua luta contra um câncer, sua
batalha pela vida”. Nesse exemplo, chegamos à metáfora conceptual
por causa de elementos como ‘luta’ e ‘batalha’.
Metáforas conceptuais são elementos que emergem na e pela
linguagem, e sua ubiquidade demonstra que é por meio delas que
construímos e moldamos nossa realidade e elaboramos significados para
eventos da vida cotidiana. Esse recurso cognitivo-conceptual comunica

1
Os exemplos foram extraídos do corpus deste estudo. Foram apagados dados que
pudessem identificar as autoras das postagens.
2
Costumeiramente, utiliza-se o rótulo viagem para um domínio conceptual que reflita
movimentos de trajetória ou caminhar, por exemplo. Manteremos esta notação.
3
A notação dos domínios e do mapeamento metafórico conceptual é realizada no
formato versalete.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1259

sobre experiências novas, complexas, abstratas e sensíveis em termos


de experiências mais familiares, mais simples e intersubjetivamente
acessíveis (SEMINO et al., 2018).
Hendricks et al. (2018) pesquisaram o papel das metáforas
em moldar o modo como pacientes lidam com o câncer. Nos cinco
experimentos conduzidos, encontraram que elaborar o frame da situação
de uma pessoa com o câncer como uma “batalha” encorajaria as pessoas
a acreditar que aquela pessoa tem maior tendência a sentir-se culpada se
não se recuperar, do que quando a pessoa doente elabora um frame da
mesma situação como “viagem”. De outro modo, o frame para “viagem”
tem maior tendência a encorajar a inferência que a pessoa pode fazer as
pazes com sua situação do que com o frame de “batalha”.
A pesquisa conduzida por Elena Semino no projeto “Metaphor,
Cancer and the end-of-life” (SEMINO et al., 2018), que analisa um corpus
de 1,5 milhão de palavras, tem trazido importantes insights a respeito da
metáfora como uma ferramenta linguística e cognitiva frequentemente
usada para falar e para pensar sobre experiências sensíveis e subjetivas,
tais como doença, emoções e morte. Para a pesquisadora e sua equipe,
tais manifestações podem ajudar ou atrapalhar a comunicação em
saúde e o bem estar da paciente, dependendo de como forem utilizadas.
Note-se que metáforas diferentes podem ter vantagens e desvantagens
diferentes; para Hendricks et al. (2018), não há metáfora perfeita para
se falar sobre o câncer: certas metáforas têm probabilidade de ajudar
alguns pacientes mais do que outros, dependendo de uma ampla variedade
de características e suas experiências, assim como suas experiências
pessoais. Os dados do corpus da pesquisa de Semino et al. (2015,
2018), sobre a escrita online de pacientes e de profissionais de saúde,
demonstraram que “batalha” não era inerentemente ruim, nem “viagem”
era inerentemente bom para todos. Pessoas diferentes usavam cada uma
das metáforas de modo empoderador e desencorajador. Não se encontrou
evidência, nesses dados, de que metáforas ligadas a viagem podem
ter efeitos potencialmente danosos que estão, às vezes, associados a
metáforas de guerra. Compreender os impactos de diferentes metáforas,
percebendo a valência (se mais positiva, se mais negativa, por exemplo)
que assumem nos seus diferentes contextos pode ser uma ferramenta para
que profissionais de saúde possam auxiliar os pacientes em situações
específicas, com formas de pensar também particulares.
1260 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

Gustaffson et al. (2019) analisaram um corpus de blogs escritos


por pacientes suecos com câncer avançado, interpretando os achados
a partir da análise de metáforas linguísticas. O estudo demonstra a
intersecção entre a análise de metáforas e de estratégias de coping.
Para os autores, três domínios conceptuais mais frequentes no corpus
apresentaram diferenças de percepção: jornada / viagem e prisão
aparentam ser compreendidos como mais flexíveis do que o domínio
guerra em termos de coping.
A percepção de que há, para além do nível linguístico, metáforas
conceptuais que permeiam a subjetividade de quem profere tais
enunciados não é possível sem um olhar para o seu contexto de ocorrência.
Assim, ao se proceder à leitura do texto como um todo, compreender
como determinadas percepções estão daquele modo expostas, captar
expressões que podem evocar expressões metafóricas pode ser chave
para a interpretação de como a experiência é elaborada – no caso deste
estudo, como o desenvolvimento e o tratamento da doença estão sendo
elaborados e quais são as estratégias usadas para enfrentá-la. No entanto,
realizar a leitura de um grande volume de posts de blogs diversos pode
tomar um tempo significativo da pesquisa. A fim de otimizar a análise
textual, ferramentas ligadas à área da LC são desenhadas para capturar
a especificidade desse tipo de dado.
A LC, nesse sentido, pode ser uma metodologia eficaz na
pesquisa de metáfora em corpora, visto que o seu objetivo é buscar
o uso típico e habitual de formas linguísticas. Esse processo de busca
através das possíveis expressões metafóricas pode nos conduzir às
metáforas conceptuais (BERBER SARDINHA, 2007). Um aspecto
fundamental nessa busca é o contexto de ocorrência da expressão. As
palavras ‘luta’ e ‘batalha’, por exemplo, podem ter significados literais,
além dos metafóricos, e apenas o contato com o contexto definirá se essas
palavras são ou não metáforas. Para Deignan (2008), achados da pesquisa
na área de LC indicam que metáforas linguísticas são determinadas
pelo contexto, bem como pelo significado intencional do falante ou
de quem escreve. Isso indica que a metáfora é um fenômeno textual,
social, e cognitivo, e por isso deve ser observado levando em conta as
suas dimensões contextuais. A pesquisa com corpus auxilia a visualizar
padrões de metáforas linguísticas, haja vista que procede da acumulação
de observações detalhadas da linguagem em uso para questões teóricas
(DEIGNAN, 2008).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1261

A LC é uma área da linguística aplicada que estuda a linguagem


por meio da análise informatizada de corpora textuais. Um corpus é um
conjunto de textos autênticos – ou seja, textos que não foram produzidos
especialmente para fins de estudo (BERBER SARDINHA, 2000). Através
da busca utilizando ferramentas informatizadas, também conhecidas
como concordanciadores, é possível mapear expressões recorrentes
no corpus, que podem servir como indício de expressões metafóricas.
Note-se, aqui, que, sozinha, a ferramenta não revelará aspectos dos
fenômenos a serem analisados sem que tenhamos um objetivo nesse
processamento: a busca utilizando apenas uma das funções (lista de
palavras, lista de palavras-chave, concordanciador ou colocados) não
trará resultados satisfatórios, dado que uma metáfora conceptual pode
se realizar de diferentes formas no uso. Ademais, uma mesma expressão
pode ser utilizada de forma literal ou metafórica, dependendo do
contexto – o que torna necessária a análise e interpretação dos dados por
parte das pesquisadoras. Desse modo, uma abordagem livre, sem uma
pergunta objetiva, revelaria uma multiplicidade de aspectos que tornaria
a análise impraticável, justamente pelo fato de haver possibilidades de
interpretação as mais diversas. Portanto, a questão de pesquisa formulada
a partir da temática do corpus – a saber: como a emergência de metáforas
conceptuais revela as experiências subjetivas nas narrativas de pacientes
que desenvolveram e tratam o câncer de mama? – serve como balizadora
para direcionar nosso olhar.
Segundo Berber Sardinha (2007), a busca por expressões
metafóricas normalmente envolve o uso da intuição e da memória,
bem como o conhecimento prévio e teórico sobre o fenômeno pelo
pesquisador. Há diversas maneiras de analisar metáforas em corpora
eletrônicos, como a leitura do corpus de forma integral, a busca a partir
da intuição e do conhecimento prévio, e a investigação através de lista
de palavras e da ferramenta concordance, dois recursos que compõem
softwares concordanciadores, como o AntConc (ANTHONY, 2019), por
exemplo. De acordo com o autor, essas formas podem ser combinadas.
“Nenhuma delas em si é suficiente para dar conta desse fenômeno”
(p. 197). Já Stefanowitsch (2007) propõe uma abordagem baseada em
corpus para a investigação de domínios-alvo metafóricos baseados na
recuperação de itens lexicais representativos a partir do domínio-alvo
e para a identificação das expressões metafóricas associadas a eles.
Para o autor, essa abordagem de análise de metáforas é superior às que
levam em conta a análise de dados a partir da coleta de citações de forma
1262 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

eclética ou levando em conta a introspecção. Além disso, tal abordagem


permite a quantificação da frequência de metáforas individuais. Nesta
pesquisa, nós também partimos da observação de domínios-alvos e da
lista de frequência para explorar o corpus, porém seguimos um percurso
diferente, conforme explicitamos a seguir.
Neste trabalho, adaptamos um método de processamento e
de análise do corpus textual a partir do uso da ferramenta AntConc
(ANTHONY, 2019), que nos possibilita olhar para o corpus constituído
pelas postagens em blogs em busca de indícios de construções que
pudessem nos remeter a possíveis metáforas. Essas são localizadas em
seus contextos de forma a nos auxiliar a compreender como elaboram
as mulheres a sua vivência com o câncer. Exploraremos essa proposta
na próxima seção.

3 Percurso metodológico
Nossa pesquisa está baseada na análise qualitativa de um corpus
constituído por 2.036 textos coletados na íntegra em 31 blogs de livre
acesso, contendo relatos de mulheres a respeito do desenvolvimento e do
tratamento do câncer de mama. Pelo fato de utilizarmos dados abertos da
internet, houve a preocupação de seguir alguns princípios éticos básicos
no tratamento dos dados textuais. Nesse sentido, informações sensíveis,
que pudessem identificar as autoras dos posts, foram apagadas, tais como
nomes próprios e a identificação do blog.
A análise preliminar, de caráter quantitativo, demonstrou que
esses textos totalizam 303.088 palavras (tokens) e 31.343 types. Nesse
cálculo, não foram consideradas as palavras gramaticais constantes da
stoplist.4 Dado o objetivo proposto, consideramos que tal amostragem
cumpre com os requisitos de representatividade, uma vez que o corpus é
composto por textos de autoria diversa (multiautoral), em que cada blog
corresponde a uma autora, e os textos coletados compreendem períodos
distintos de tempo, de acordo com aqueles em que cada autora esteve em
tratamento – o que pode nos mostrar se houve, ou não, variação temporal
no tipo de metáfora produzida pelas autoras (ALUÍSIO; ALMEIDA,
2006; BERBER SARDINHA, 2000; BIBER, 1993).

4
A stoplist foi baixada no endereço http://miningtext.blogspot.com/2008/11/listas-de-
stopwords-stoplist-portugues.html e editada pelas pesquisadoras.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1263

O concordanciador utilizado em todas as análises por máquina


foi o AntConc (ANTHONY, 2019), e as ferramentas mais utilizadas em
nossa pesquisa foram a Wordlist (gerador de lista de palavras do corpus),
a Concordance (gerador de concordâncias), a File View, que permite ver
o contexto de ocorrência ampliado no texto, e a Keyword List (gerador
de palavras-chave).
Após a compilação e análise preliminar do corpus, optamos por
realizar um estudo de caso com base em um recorte constituído por um
dos blogs, denominado pelas pesquisadoras de “Caraca”,5 no qual foram
publicadas 23 postagens individuais sobre as vivências relativas ao câncer
de mama. Tal estudo de caso foi realizado com o objetivo de verificar
se a ferramenta escolhida e a metodologia elaborada seriam adequadas
à pesquisa em questão. Desse modo, a análise procurou encontrar, por
meio das buscas nas listas de palavras e de concordâncias, domínios
conceptuais realizados discursivamente, e serviu como guia para a análise
manual, na qual cada uma das pesquisadoras leu os 23 textos, a fim de
identificar possíveis metáforas. A essa rodada de análises individuais,
seguiu-se a comparação e discussão dos resultados, a fim de mapear os
domínios mais frequentes.
Porém, não seria viável aplicar essa metodologia à análise do
corpus completo, uma vez que a leitura detalhada de 2.036 textos pelas
quatro pesquisadoras individualmente demandaria muito tempo. Da
mesma forma, a busca manual por possíveis metáforas em uma lista
de mais de 31.000 palavras mostrou-se inviável. Assim, optamos por
alimentar o AntConc com a lista de palavras do corpus piloto (23 textos,
8.675 tokens, 3.143 types), e, utilizando a ferramenta Keyword List,
gerar uma lista de palavras-chave.
A Keyword List é uma ferramenta utilizada com frequência na
pesquisa em Terminologia (FINATTO et al., 2015; JESUS et al., 2017;
PAIVA et al., 2008), utilizada para extrair em um corpus os candidatos a
termo. Essa ferramenta compara o corpus principal com um de referência
e, a partir daí, utilizando critérios estatísticos, gera uma lista de palavras
que são particularmente frequentes no corpus principal, e que podem nos
dar pistas sobre os elementos discursivos utilizados.

5
Os títulos para cada conjunto de textos coletados fazem referência a uma palavra-
chave eleita para nomear cada blog. Neste caso, o blog principal recebeu este título.
1264 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

Para gerar a Keyword List no AntConc, utilizamos a seguinte


configuração:

1. Geramos e exportamos, em formato .txt, uma lista de palavras do


subcorpus “Caraca” (WordList_Caraca.txt), que seria utilizada
como corpus de referência.
2. No Menu “Settings”, selecionar “Tool Preferences”.
3. Em “WordList”, carregar a stoplist (Use a stoplist below -> Add
words from file -> Open).
4. Em Keyword List, carregar o corpus de referência (Use raw
files -> Add file -> Load -> Apply)
5. Carregar o corpus principal, clicando em “File” e, depois em “Open
Dir”.
6. Na aba Wordlist, gerar a lista de palavras do corpus principal.
7. Na aba Keyword List, gerar a lista de palavras-chave.

Como resultado, o AntConc apresentou uma lista de 94 types mais


frequentes (com 62.752 tokens), cujos contextos de ocorrência analisamos
manualmente, com o objetivo de identificar itens lexicais que poderiam
indicar potenciais metáforas e seus domínios fonte e alvo. Esse conjunto
de palavras foi dividido entre as quatro pesquisadoras para leitura, de
acordo com os critérios de frequência. Assim, a pesquisadora que deveria
analisar os types mais frequentes da lista acabou ficando com um menor
número; e a pesquisadora que ficou com os types menos frequentes, teria
um maior número de types para analisar, de forma que, ao final, cada
pesquisadora deveria percorrer em torno de 15.000 ocorrências ou tokens.
Dentre os 94 types, a divisão de análise ficou desta forma:

Pesquisadora 1: types 1 a 9;
Pesquisadora 2: types 10 a 27;
Pesquisadora 3: types 28 a 53;
Pesquisadora 4: types 54 a 94.

Ao longo dessa tarefa, foram elaborados quadros para registro


dos domínios mais frequentes, sendo anotadas: palavra-veículo (ex.:
‘tempestade’), isto é, o elemento-chave que é metaforizado (nos termos
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1265

de Cameron, 2003); o exemplo-ocorrência (ex. “Na verdade como sabe


e acompanhou minha ‘Tempestade’ não é fácil”; “Dois anos e meio
praticamente do primeiro ‘turbilhão’, quando começava a ensaiar meus
primeiros passos novamente, veio a segunda tempestade, lá estava ele:
o câncer de mama atrevido!”); e a metáfora subjacente (adoecimento
é tempestade; diagnóstico/recidiva é tempestade), anotada conforme o
contexto de ocorrência.
Na próxima seção, relataremos e discutiremos os resultados
desse percurso analítico, numa tentativa de compreender as estratégias
de enfrentamento à doença anunciadas e concretizadas pela língua.

4 Resultados e discussão
Nesta seção, descrevemos, a partir da análise dos veículos, isto
é, das palavras que fazem emergir a metáfora subjacente, os domínios
conceptuais mais frequentes, os principais exemplos ligados a esses
domínios e as metáforas conceptuais subjacentes. Esses aspectos estão
distribuídos em seis quadros,6 os quais são comentados em termos de
percepções e estratégias de coping pelas autoras dos blogs, bem como
se essas refletem valores semânticos que tendem a ser mais positivos
ou negativos (que chamaremos aqui de valências), e a função cognitiva
da metáfora que se explicita nessa escrita: se a metáfora subjacente é
ontológica ou estrutural, isto é, se as experiências são compreendidas
em termos de entidades ou substâncias ou se um conceito é estruturado
em termos de outro, respectivamente (LAKOFF; JOHNSON, 1980).
Adiantamos que não foram salientados exemplos de metáforas
orientacionais, as quais organizam um sistema todo em relação a um
outro sistema (por exemplo, de orientação espacial).

4.1 entidade: “A doença chegou sem avisar”


Em relação ao domínio entidade , encontramos 88 usos
metafóricos a partir de 30 veículos, sendo que ‘doença’ e ‘câncer’ foram
as de maior frequência e as metáforas subjacentes identificadas para
mapeamento entre doença/câncer e entidade/personificação poderiam ser

6
Os quadros referem-se aos seguintes domínios: entidade, força da natureza, jogo,
container, viagem e guerra.
1266 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

representadas por doença é pessoa e câncer é pessoa. Exemplos disso


estão em sentenças como “Não se pode ficar esperando… e a doença
avançando sem dó nem piedade”, ou “Eu gosto de repetir a palavra
câncer muitas vezes ao dia, até ele encher o saco e ir embora”. Ambos os
mapeamentos indicam a percepção das autoras de que a doença e o câncer,
por mais que fisicamente estejam instalados em seu corpo, sugerem ser
algo externo a si, como uma entidade que surge e tem características
e vontades próprias, que comandam esse corpo. Trata-se de metáforas
ontológicas, cuja função cognitiva é prover um status existencial,
ontológico ao domínio-alvo (KÖVECSES, 2006) – neste caso, doença
e câncer). Como resultado, fenômenos intangíveis se tornam elementos
metafóricos: a doença se personifica, adquirindo um status existencial.
Alguns dos exemplos mais representativos estão expressos no Quadro 1.
QUADRO 1 – Câncer é uma entidade com vontade própria

DOMÍNIO: entidade
Keyword
Exemplo Metáfora subjacente
(veículo)
“Porque o doencinha maledita. Rouba além de nossa saúde,
doença é pessoa que rouba
nosso sossego, nossa vida, nosso sono”
doença é pessoa que avança
“Não se pode ficar esperando… e a doença avançando sem
doença é pessoa que não
dó nem piedade”
tem dó

A doença chegou sem avisar doença é pessoa que chega

Agradeço a Deus pela doença e por tudo que ganhei com ela doença é pessoa que dá

“e quando os cabelos caem, mais ou menos 21 dias


após a primeira quimio, é como se a doença estivesse te doença é pessoa que
afrontando, te dizendo: Oi eu to aqui, ela diz isso pra você a afronta
Doença para sociedade”
“A doença me ensinou a valorizar os verdadeiros amigos,
poucos que já existiam e muitos que tive o privilégio de doença é pessoa que ensina
passarem a fazer parte da minha nova vida”
só que novamente a doença me surpreendeu em outras
partes do meu corpo, como seu eu já tivesse perdido doença é pessoa que domina
controle sobre ele, ela tentava me dominar.
“isso possibilitou a retirada total do tumor e o processo ao
doença é pessoa que pode
qual estou sendo submetida é para prevenir que a doença
voltar
volte”
“Essa doença é tão prepotente rs.... ela ataca justamente
doença é pessoa prepotente
nossas células”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1267

“por alguma razão tememos muito ter que sair de nossa zona câncer é pessoa que
de conforto e o câncer sabe melhor do que qualquer outra arranca da zona de
coisa arrancar a gente de lá!” conforto

“Acho que durante muito tempo o câncer vai andar de mãos


dadas com as minhas decisões mas uma coisa eu devo câncer é pessoa que anda
Câncer agradecer, ele me tirou da zona de conforto e quer saber? Ta junto
bom assim!”
“Tive que esperar ele crescer, mandar metástase e ficar cada câncer é pessoa que cresce
vez mais fortinho” e se fortalece

“Eu gosto de repetir a palavra câncer muitas vezes ao dia, câncer é pessoa que vai
até ele encher o saco e ir embora” embora

Fonte: Elaboração própria.

O domínio entidade indica que, como forma de enfrentamento,


o câncer é concretizado como algo externo à pessoa, com o qual é
preciso conviver e contra o qual se deve lutar. Estar acometida por um
tumor significa ter um corpo estranho dentro de si, sobre o qual a pessoa
doente não tem controle, tanto em relação a ações quanto a formas de
comportamento. Percebe-se uma dificuldade de olhar para o câncer
como algo que faz parte de si, já que é caracterizado como agressivo
e causador de grandes males. Tornar, portanto, o câncer uma entidade
externa, personificando-o metaforicamente, faz com que a pessoa em
tratamento consiga se relacionar com essa parte de si e dar conta da
demanda emocional suscitada por essas vivências. Esses processos
sugerem uma forma de enfrentamento centrada no problema, tendo
como objetivo alterar a situação que é fonte original do estresse, em
que o câncer é uma entidade com a qual se deve lutar e sobre a qual se
pode agir ativamente (COSTA; LEITE, 2009). Dentro desse domínio, é
possível notar que as valências referentes à entidade doença, que pode
ser vista como algo agressivo, prepotente, que traz o mal, que afronta
e que é traiçoeira, por vezes é percebida como um ser que ensina, que
muda os rumos de uma vida para melhor e que proporciona reflexões
importantes. Nesse sentido, é o contexto que modula o sentido do conceito
subjacente ao domínio-alvo.
Um veículo metafórico que chamou atenção foi ‘fantasma’,
sugerindo ligação da doença com os desígnios de uma entidade ligada
ao plano do sobrenatural, ou do desconhecido. Os exemplos encontrados
sugerem uma valência negativa, posto que o desconhecido pode suscitar
medo: “mas TODAS...sem exceção, vivem com o fantasma da doença,
com os medos as angústias,”, “confesso que até hoje não me acostumei
1268 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

com tantas mudanças e com o fantasma da recidiva.”, “O maior desafio


é conviver com o fantasma de uma possível volta da doença maldita.”,
“pois além do medo do fantasma do câncer, ainda temos todos os medos
que todos os seres humanos”. Aqui, temos a construção ‘fantasma d*’ e
o complemento ‘doença’, ‘recidiva’, ‘câncer’, sugerindo uma atribuição
de sentido adicional a esses domínios-alvo.

4.2 força da natureza: “A sensação é de se estar numa jangada no meio


de uma tormenta”
O domínio força da natureza é representativo no que tange
às formas pelas quais o processo de adoecimento é percebido pelas
mulheres e como essas metáforas representam uma forma de concretizar
a experiência subjetiva e abstrata. Nesse domínio, foram identificadas
24 usos metafóricos identificados, a partir de 11 veículos. As metáforas
conceptuais mais frequentes foram adoecimento / tratamento é
tempestade; tratamento é tsunami; diagnóstico/tratamento é furacão; e
câncer/tratamento é tormenta. A exemplo dos mapeamentos envolvendo
o domínio entidade, anteriormente explorados, aqui temos também
metáforas ontológicas, que representam a perspectiva das autoras sobre
o processo pelos quais passam, isto é, uma forma de conceber um evento
da vida, ou as emoções relacionadas a ele, como uma entidade. O Quadro
2 sintetiza alguns dos exemplos representativos desse mapeamento.
QUADRO 2 – Câncer é uma força da natureza

DOMÍNIO: força da natureza


Keyword
Exemplo Metáfora subjacente
(veículo)
“Na verdade como sabe e acompanhou minha ‘Tempestade’
adoecimento é tempestade
não é fácil”
“Dois anos e meio praticamente do primeiro ‘turbilhão’, câncer é tempestade
quando começava a ensaiar meus primeiros passos
Tempestade diagnóstico/ recidiva é
novamente, veio a segunda tempestade, lá estava ele: o
câncer de mama atrevido!” tempestade

“Abre o guarda-chuva e volta pra tempestade, porque ela


tratamento é tempestade
vai passar.”
“Agora entro numa nova fase, a fase de voltar a retomar o
Tsunami tratamento é tsunami
que ficou deixado de lado enquanto o tsunami batia”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1269

“E se posso dar uma dica para quem está no meio do


diagnóstico/ tratamento é
furacão do diagnóstico/tratamento de um câncer, vai essa:
furacão
escreva”
Furacão “Desejo a todos que estão ainda no meio do furacão,
fazendo quimio, radio ou que descobriram agora que estão
tratamento é furacão
com câncer muita força, coragem e fé, que Deus esteja com
todos vocês”
“Olhando daqui, me surpreendo de ter saído de novo da
tratamento é tormenta
tormenta, não sem me molhar, mas saí!”
Tormenta
“A sensação é de se estar numa jangada no meio de uma
ter câncer é tormenta
tormenta”

Fonte: Elaboração própria.

Esse domínio indica a intensidade do impacto do diagnóstico


e do tratamento na vida dessas mulheres. Tempestades, furacões,
tsunamis e tormentas são fenômenos da natureza que causam destruição,
desestruturação e medo por onde passam. Sugerem a sensação de
desestruturação e sobrecarga psíquica sentida pelas mulheres nesse
período, no qual existe um rompimento com a sensação de controle
sobre a vida e a imposição de uma necessidade de reorganizar o viver.
A necessidade de fazer uso de mecanismos psíquicos de enfrentamento
se dá quando a pessoa doente está sobrecarregada pelas demandas
emocionais frente a uma realidade que desequilibra a homeostase do
psiquismo, causando estresse e desacomodação (ANDRADE et al., 2020;
COSTA; LEITE, 2009). Essa categoria indica o uso de enfrentamento
centrado na emoção, com uma mobilização interna do indivíduo para
tentar regular o estado emocional associado ao estressor (COSTA; LEITE,
2009). Além disso, percebe-se, nos exemplos elencados, uma valência
predominantemente negativa, cuja intensidade relacionada às forças da
natureza sugeridas pelos domínios-fonte é expressa como a forma como
o processo de adoecimento é percebido.

4.3 jogo: “O tratamento é feito de etapas, cada uma, uma vitória e um


novo recomeçar”
Outro domínio recorrente no corpus foi o do jogo, com 26 usos
metafóricos identificados no corpus a partir de 11 veículos. Neste, os
veículos mais produtivos foram os seguintes: ‘brincar’, ‘etapa’, ‘fase’,
‘regra’, ‘torcer’, ‘torcida’ e ‘vitória’. As metáforas identificadas foram a
vida é um jogo; a doença é um jogo; e o tratamento é um jogo, como é
possível ver nos exemplos do Quadro 3. Aqui, a ocorrência desta metáfora
1270 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

estrutural funciona para compreender conceitos abstratos, vida, por meio


de outro conceito mais concreto, jogo.
QUADRO 3 – A vida/O câncer/O tratamento contra o câncer é um jogo

DOMÍNIO: jogo
Keyword
Exemplo Metáfora subjacente
(veículo)
“Num quero brincar mais disso não”
Brinc* “Não tem jeito, é uma dança com a morte, um bailar a doença é um jogo

silencioso....a gente brinca com a morte o tempo todo.”


“O tratamento é feito de etapas, cada uma, uma vitória e um
novo recomeçar.
Isso significa que estou mais perto da minha cirurgia de
reconstrução definitiva da mama, em que vou passar para a
segunda etapa.”
Etapa* “2012 foi um ano de recuperação, recuperei o fôlego para o tratamento é um jogo
começar a próxima etapa, a da reconstrução e trabalhei”
“Mais uma etapa vencida e vamos que vamos confiantes,
amém!!!”
“Agora se inicia uma nova etapa, o início do fim para um novo
início”
“permiti que o medo e o meu psicológico abalado ditassem as
Regr* regras do jogo.” a vida é um jogo
“siga algumas regrinhas de ouro da sua nova vida”
“Daqueles que torcem pela sua vida.”
“Torcem aí galeraaaa!!!! Para minhas taxas aumentarem estou
Torce* alimentando super bem, tendo cuidados com friagem (clima)...” o tratamento é um jogo

“R. é uma pessoa admirável e sei que torceu muito pela minha
recuperação, obrigada”
“Obrigada, mil vezes obrigada pela torcida e já peço para todas
Torcida o tratamento é um jogo
rezarem por mim!”
“O simples fato de tentar de novo já será sua primeira vitória.” a vida é um jogo
Vitória “milagres na minha recuperação teve , tumor sumiu isso é o tratamento é um jogo
VITÓRIA.”
“Mas antes de tudo dar certo tenho que passar nesta primeira
fase de descobrir a doença novamente e acreditar que o plano
aprovará a quimioterapia”

Fase “E acho que essa fase cirúrgica acabou.” o tratamento é um jogo

“o quanto seria importante nessa fase da minha vida”

“senso de humor para levar esta fase da vida numa boa”

Fonte: Elaboração própria.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1271

Ao referir à vida e ao tratamento como um jogo, com etapas, fases,


regras, torcida, a paciente parece traçar um paralelo desse momento da
vida com o câncer, com um processo com mais elementos positivos do
que negativos. É como se, nestes relatos, as autoras administrassem as
demandas surgidas com a doença de forma a compreender e aceitar cada
etapa (cf. ANDRADE et al., 2020).

4.4 container: “[...] mas no meu coração não tinha espaço pra medo”
Para o domínio container, identificamos 34 usos metafóricos
a partir de 21 veículos, dos quais os mais produtivos foram: ‘vida’,
‘transbordar’, ‘encher’ (‘cheio’), ‘esvaziar’ (‘vazio’), ‘jorrar’, ‘despejar’,
‘corpo’, ‘dentro’ e ‘fora’. As metáforas identificadas foram corpo é
container, pessoa é container, coração é container e mente é container,
como é possível ver nos exemplos a seguir (QUADRO 4). Essa metáfora,
de caráter ontológico, é compreendida como realização de que um
elemento de domínios do corpo e da pessoa, visualmente perceptíveis,
e dos domínios da mente e do coração, relacionados a fenômenos
intangíveis, se tornem objetos metafóricos.
QUADRO 4 – A vida/O corpo/A mente é um container

DOMÍNIO: container

Keyword Metáfora
Exemplo
(veículo) subjacente
“gota a gota, nos preenche a vida” vida é
Vida
“Quero uma vida mais plena, com mais significado” container

“nossas almas irão transbordar de amor!”


pessoa é
Transbordar “Não fiquei impaciente, pelo contrário, fiquei urgente. Urgente em não container
transbordar com bobagens.”
“todas as verdades que cultivamos e que às vezes estão esvaziadas de amor verdade é
Esvaziadas
e concluo precisamos respeitar a amar todos sem distinção nenhuma.” container

“sempre com o coração cheio de amor e gratidão”


coração é
“coração está cheio de alegrias, esperanças e amor!”
container
“com o coração cheio de amor”
“feliz natal e um ano novo cheio de alegrias” ano novo é
Cheio/cheia
“quem sabe sem sustos, ano novo cheio de fé, esperanças” container

“Logo estarei ansiosa, com medo e cheia de expectativas.”


pessoa é
“Essa semana eu fiquei cheia de autopiedade, sofrendo com motivos (e container
muitos!), mas cheia de pena de mim mesma!”
1272 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

“mas esse blog serve também para que eu coloque para fora o que me aflige mente é
Para fora
a alma.” container

“faz nascer e jorrar de mim toda energia necessária para tocar a vida nos corpo é
Jorrar
momentos mais difíceis do tratamento.” container

“E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que mente é
Dentro
não ouvia.” container

coração é
Espaço “mas no meu coração não tinha espaço pra medo.”
container

“e demora uns três meses para sair do corpo as drogas/químicas.”


“mostrar a cara da doença para fora do seu corpo”
Corpo “Lembrem-se que não guardar mágoas livra o corpo de muitas substâncias corpo é

que fazem mal ao sistema imunológico e ao coração.” container

“quais as drogas que vão habitar o seu corpo durante um bom tempo e que
infelizmente não dão onda nenhuma”
“AMIGAS DO BLOG AGRADEÇO IMENSAMENTE A VOCÊS,
blog é
Despejar PORQUE QUANTAS VEZES VIM AQUI DESPEJEI LITERALMENTE
container
MINHAS ANGUSTIAS”
corpo é
Tirar “faça o que for necessario para tirar a doença de mim”
container

Fonte: Elaboração própria.

Nestes exemplos, encontramos um domínio bastante comum,


baseado na experiência corpórea, que leva à construção de mapeamentos
metafóricos primários (GRADY, 1997a, 1997b). Se o corpo é um
container, emoções podem enchê-lo, esse corpo pode carregar a doença,
medicamentos podem sair e entrar, a doença pode habitá-lo. Ao mesmo
tempo, percebe-se que a estratégia de enfrentamento adotada em grande
parte dos textos que contêm esse domínio é do enfrentamento focalizado
na percepção das próprias emoções.

4.5 viagem: “Morrer faz parte do percurso”


No domínio viagem, foram encontrados 98 usos metafóricos a
partir de 27 veículos, tais como ‘vida’, ‘processo’, ‘etapa’, ‘caminho’,
‘frente’, ‘jornada’, ‘estrada’, ‘começo’, ‘recomeçar’, ‘passo’, e de formas
verbais como ‘caminhar’, ‘andar’, ‘passar’, ‘chegar’ e suas derivações.
A partir disso identificamos, nos blogs, metáforas conceptuais estruturais
relacionadas a esse domínio, como a vida é uma viagem/caminhada/
caminho; tratamento é uma viagem/jornada/caminho; e câncer é uma
viagem/odisseia. Nos termos de Kövecses (2006), esses são exemplos de
mapeamentos metafóricos estruturais, em que observamos que o frame
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1273

do domínio-fonte impõe certa estrutura ao frame do domínio-alvo em


virtude dos mapeamentos que caracterizam a metáfora. O Quadro 5, a
seguir, apresenta os veículos e os exemplos de ocorrências emergidas a
partir desses mapeamentos:
QUADRO 5 – A vida/O Câncer/ O tratamento é uma viagem

DOMÍNIO: VIAGEM
Keyword
Exemplo Metáfora subjacente
(veículo)
“estava nas andanças da vida” a vida é uma viagem /
Vida
caminhada/ caminho
“Ainda nos encontraremos na estrada da vida”
“Desculpem as reclamações..rs já deu para perceber que to
meio caída né? Faz parte da caminhada humana.”
Caminh* “Isso tudo faz parte do caminho da cura” tratamento é
caminhada/ caminho
“esta semana faço a quinta quimioterapia. Ufa... está passando
do meio do caminho”

“Mas aconteceu e agora o que quero fazer é andar para frente!”


Anda*
“Andar lado a lado com essa solidão requer um pouco de a vida é uma viagem/
paciência e muito, mas muito amor.” caminhada

“Mas como estou vivendo um dia de cada vez, não quero


Frente
pensar agora no que ainda virá pela frente.”
“Quero que vocês que me acompanham nessa jornada”
o tratamento é uma
Jornada “Mas no meio dessa jornada toda eu sempre acreditei que iria jornada
superar aquela loucura de sentimentos e emoções.”
“Mas já tracei de novo e rumei para a estrada que me interessa:
Estrada
a vida!”
“E que a ansiedade é nossa inimiga número um, pois é ela
que te agonia, que te faz acelerar as coisas, que faz com que
Acelerar
você queira passar por tudo isso logo, acabar finalmente os
tratamentos”
Percurso “Morrer faz parte do percurso” a vida é uma viagem/

“HOJE FAZ UM ANO QUE MINHA VIDA TOMOU UM caminho


Rumo
RUMO QUE NUNCA IMAGINEI PRA MIM!”
“E assim retomaremos a nossa saúde para corrermos atrás da
Corremos
felicidade”
Lado “fico meio perdida, sem saber para que lado ir.”
Decorrer “das que você já passou no decorrer da vida”
1274 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

“medo de voltar, de ter que passar por isso de novo, acho que
todo mundo que passa deve sentir, ou não?”
o câncer é uma viagem
“Só quem passa por essa doença sabe da importância de todo
Passar esse apoio”
“Estou focada é na cura, passar bem pelo tratamento e crescer
com tudo isso!” tratamento é uma
“Antes de passar pela quimioterapia, achei que tudo poderia ser viagem
levado tranquilamente.”
a vida é uma
caminhada.
“graças a Deus é possível recomeçar de novo, fazendo diferente
Recomeçar
desta vez.” recomeçar algo na
vida é recomeçar a
caminhada.

“Não tenha medo de viver, pois cada passo vacilante neste


novo início, te dará a força necessária para as novas conquistas
que o seu coração desejar”
Passo a vida é uma caminhada
“o importante é dar o primeiro passo, e acredito que para
muitos esses encontros, a troca de experiência sejam o primeiro
passo para aceitação e superação da doença”.
“essa era minha aparência antes do ca de mama, mas ainda
Chegar/ chego lá de novo.”
o câncer é uma viagem
chegada “Sei que a chegada dessa notícia variou muito entre todas
nós…”
Fim do “Acho que é uma luz no fim do túnel, para quem depende de
tratamento é viagem
túnel tratamentos pelo SUS.”
Viagem “Obrigada por me acompanhar nessa louca viagem.” a vida é uma viagem

“A odisséia havia começado alguns anos antes quando de um


o câncer é uma
Odisseia acidente banal de carro, o cinto de segurança resolveu me
odisseia7
apontar o foco de quais seriam meus problemas futuros.”
“Talvez seja uma das piores lembranças e dos piores momentos
Trajetória câncer é uma viagem
no decorrer de toda a trajetória da doença.”
“Sei que isso é passageiro e tal. Na maior parte do tempo eu
Passageiro a vida é uma viagem
penso assim....???”
“Que eu consiga entender que a vida é feita através da magia
Processo do “processo” e que saiba, então, respeitar o seu começo, o seu vida é trajetória
meio e o seu fim.”

Fonte: Elaboração própria.7

Diariamente falamos sobre a nossa vida em termos de viagem,


em que há diferentes caminhos para serem tomados, diferentes destinos,
paradas, obstáculos, passageiros etc. (LAKOFF; TURNER, 1989). Em

7
Mapeamento caracterizado como uma extensão do mapeamento básico câncer é uma
viagem.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1275

uma viagem, acontecimentos positivos e negativos podem acontecer,


pode haver caminhos mais sinuosos e complicados ou trajetos mais
simples, por exemplo. Todos esses aspectos da viagem são, normalmente,
associados à nossa vida e com o que nela ocorre. Os exemplos do Quadro
5 indicam esse olhar das autoras para com sua vida e seus acontecimentos.
Frases como “estava nas andanças da vida” e “Ainda nos encontraremos
na estrada da vida” são atualizações que emergem da metáfora a vida é
uma viagem/ caminho.
Além da vida, o câncer e o seu tratamento também podem ser
experienciados através desse mesmo grande domínio, conforme podemos
ver no Quadro 5. “[...] medo de voltar, de ter que passar por isso de
novo, acho que todo mundo que passa deve sentir, ou não?”, “Talvez
seja uma das piores lembranças e dos piores momentos no decorrer de
toda a trajetória da doença.”, “Isso tudo faz parte do caminho da cura”,
“Mas no meio dessa jornada toda eu sempre acreditei que iria superar
aquela loucura de sentimentos e emoções.” e “Acho que é uma luz no fim
do túnel, para quem depende de tratamentos pelo SUS.” são exemplos
que emergem dos mapeamentos câncer/tratamento é viagem/caminho/
trajetória. A partir deles, é possível notar que as autoras descrevem essa
jornada pela doença e seu tratamento, às vezes, como uma experiência
positiva, mas também como algo negativo. Os dois primeiros exemplos
aqui apresentados carregam uma carga negativa da experiência de ter
câncer e fazer o tratamento da doença. Já os seguintes demonstram uma
valência positiva sobre como elas encaram ou enfrentaram o processo
de tratamento.
Considerando essas relações e mapeamentos, é possível
entender que, no percurso dessa doença e do seu tratamento, há diversos
passageiros que viajam junto das pacientes, como as médicas e médicos,
as enfermeiras e enfermeiros, os familiares, o grupo de amigos, por
exemplo; há diferentes estações, que são as fases do tratamento e da
doença; há muitos obstáculos no caminho, como os efeitos colaterais e
os sentimentos negativos que as acompanham. Utilizar esse mapeamento
em seu discurso, portanto, pode ser uma forma de externalizar esse
processo e tudo que o envolve, e, consequentemente, enfrentá-lo, já
que conseguem enxergar um ponto de partida e um destino a qual todas
esperam chegar: a cura.
1276 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

4.6 valor monetário: “[...] como se fizéssemos uma poupança pela vida”
A partir dos 10 veículos ‘vida’, ‘ganhar’, ‘dar’, ‘valor’,
‘investimento’, ‘saldo’, ‘doar’, ‘perder’, ‘dinheiro’ e ‘guardar’,
identificamos 28 usos metafóricos que fazem parte do domínio valor
monetário. Com base nisso, detectamos as metáforas conceptuais tempo
é dinheiro; amor é dinheiro/valor monetário; vida é dinheiro/valor
monetário; saúde é valor monetário; e momentos da vida são valores.
O Quadro 6 explicita esses mapeamentos.
QUADRO 6 – Tempo/Vida/Amor é dinheiro

VALOR MONETÁRIO

Keyword
Exemplo Metáfora subjacente
(veículo)
“como se fizéssemos uma poupança pela vida” vida é valor
Vida
monetário
“as coisas de outro modo dando valor a vida”

Ganhar “orgulho por não ter usado a doença para ganhar amor” amor é valor
monetário
Preço “muitas manifestações de carinho e amor que não tem preço”
“Até emprestar um útero, doar um órgão, dar a própria vida se
vida é dinheiro
Dar preciso for.”
“Receber e dar amor.” amor é dinheiro

“Só assim para dar valor a coisas que não damos importância”
momentos da vida são
“depois do câncer a gente aprende a dar valor as pequenas coisas, valores
Valor
é dar valor a tudo mesmo”
“aprendemos a dar valor em nossa própria saúde”
“Femana lança Outubro Rosa 2010 com foco em investimento na saúde é valor

Investi* saúde” monetário

“necessidade de se investir na saúde das mulheres brasileiras”


“Não vamos nos despedir com lágrimas, mas com sorrisos de
vida é valor
saldo alegria de vitória e de missão cumprida, colocando na balança,
monetário
sei que o saldo foi positivo.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1277

“atendimento com nutricionistas, psicólogos, especialistas que


doassem seu tempo a atender os pacientes, (...)”
Doar “Doe um tempo a outras pessoas.”
“inclusive doações de tempo mesmo, sendo voluntário.”
“Mas, que bom que estou viva para poder perder esse tempo.”
tempo é dinheiro
Perder “o radioterapeuta não queria perder mais tempo.”
“não perca tempo, cada segundo é valioso demais.”
“Mas que o dinheiro e o tempo empregado tenham retorno para
Dinheiro
pessoas com câncer.”
“Cuide-se, revitalize, guarde um tempo pra você, por que existem
Guardar
coisas que só você pode fazer por você mesma…”

Fonte: Elaboração própria.

Neste quadro, encontramos um mapeamento metafórico bastante


comum em nossa cultura, associado ao domínio do valor monetário ou
dinheiro. Normalmente falamos de elementos abstratos, difíceis de serem
quantificados, em termos de dinheiro. Um deles é o tempo. Uma vez que,
na cultura ocidental, o trabalho está tipicamente vinculado ao tempo que
leva para ser realizado, e este é quantificado com precisão, associamo-lo
ao dinheiro, que é mais facilmente mensurado. Nesse sentido, o tempo
não é apenas um recurso limitado, mas também algo valioso, assim
como o dinheiro. Consequentemente, é comum que usemos a experiência
cotidiana com dinheiro para estruturar e compreender o conceito abstrato
de tempo (LAKOFF; JOHNSON, 1980). Nesse sentido, mapeamentos
metafóricos como esses têm caráter estrutural, em que o domínio-fonte,
de sentido concreto, impõe sua estrutura para designar o domínio-alvo,
que é mais abstrato. No Quadro 6, vemos que do mapeamento tempo é
dinheiro emergem atualizações do tipo: “[..] o radioterapeuta não queria
perder mais tempo.”, “Cuide-se, revitalize, guarde um tempo pra você,
por que existem coisas que só você pode fazer por você mesma…” e “Mas
que o dinheiro e o tempo empregado tenham retorno para pessoas com
câncer.”. A partir desses exemplos, é possível ver como o tempo é algo
muito valioso para as pessoas que estão em tratamento de uma doença,
no sentido de que tudo o que é possível deva ser feito nesse período em
busca da cura ou do melhor tratamento.
Outro emprego do domínio valor monetário ou dinheiro é em
relação aos sentimentos. Assim como o tempo, o amor é algo abstrato.
Falamos em termos monetários sobre o amor. O Quadro 6 apresenta
atualizações desse mapeamento, como “orgulho por não ter usado a
1278 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

doença para ganhar amor” e “muitas manifestações de carinho e amor


que não têm preço”. Outras manifestações abstratas que se concretizam
por meio desse domínio são momentos da vida, a vida em si e a saúde.
Conforme o Quadro 6, atualizações comuns desses conceitos são “Só
assim para dar valor a coisas que não damos importância”, “[...] como
se fizéssemos uma poupança pela vida” e “[...] necessidade de se investir
na saúde das mulheres brasileiras”.

4.7 guerra: “Nossa vida gira em torno da luta contra o câncer”


O domínio guerra foi um dos que apresentou maior número
de ocorrências: foram 109 usos metafóricos identificados a partir
de 37 veículos. Veículos como ‘luta’, ‘batalha’, ‘risco’, ‘encarar’,
‘combater’, ‘atacar’, ‘vencer’, ‘trégua’, ‘aliada’ e ‘mutilada’ nos levaram
à identificação das metáforas câncer é guerra/batalha, doença é guerra/
batalha, tratamento é guerra/batalha. O câncer também é referido como
o ‘inimigo’, o ‘invasor’, e os tratamentos, como as ‘armas’ utilizadas
no combate à doença. Nesse cenário, a paciente é uma combatente
(‘guerreira’) e a equipe de profissionais de saúde, um ‘exército’.
QUADRO 7 – Câncer/tratamento é guerra

DOMÍNIO: guerra

Keyword Metáfora
Exemplo
(veículo) subjacente
“Ao longo de um ano e dois meses acompanhei sua luta contra
um câncer, sua batalha pela vida.”
“Eu lutando pela vida e ela atentando contra a dela.”
Vida “Amigos tem muitos casos de câncer de mama consultório cheio, ter câncer é lutar

todas ali lutando pela vida .” em uma batalha

“Fiquei fazendo companhia para elas, pois elas estavam


preocupadas e tristes dei muitos abraços e muita força e vou
continuar rezando por todas que estão lutando pra sobreviver.”
“é um risco muito grande que corremos pois a quimioterapia
acaba com a gente e nos deixa vulnerável”
“Também digo que há um risco grande de morte, uma vez que ele
mata algumas coisas dentro de nós”
fazer o tratamento
Risco “Procurando na net, encontrei sobre o assunto, quem se interessar é arriscar-se
pode e deve ler, pra ficar bem ciente do risco que corremos.”
“caso valesse aí sim justificaria correr tantos riscos de forma
consciente...a quimio cura, mas ela mata também. Destrói as
células doentes e as saudáveis também.”
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1279

“na semana seguinte já estavam no centro cirúrgico e logo depois


encara”ndo uma quimioterapia”
“pois encarar a quimioterapia é um desafio” quimioterapia é

Encarar “Diante dessas perdas se faz necessário encarar a vida de outra batalha
forma,”
vida é batalha
“Tenho o desafio de encarar uma vida mais simples.”
“todos encaramos cirurgias, quimio, efeitos colaterais e afins”
“Onde já se viu usar argila como forma de combate ao câncer, em
vez da quimioterapia?”
“Os remédios usados na quimioterapia para combater as células
doentes”
“porque to sem idéias pra post e como fiz quimio na sexta, estou tratamento é
Combater meio que fora de combate” combate
“se caso os nodulos forem a doença, já estará sendo combatido
pela quimio”
“A nossa mente sempre está ocupado, o nosso corpo sempre
sendo utilizado pra combater essa doença e o nosso coração
sempre apreensivo com tudo!!”
“é um dos efeitos colaterais da quimioterapia, pois ela ataca as
células que estão crescendo ativamente”
Atacar tratamento é ataque
“É evidente que quanto mais cedo essa doença for atacada, maior
a chance de cura”
“lutando contra as mazelas da quimioterapia,”
“Um beijo para todas mulheres guerreiras que estão lutando tratamento é luta /
Lutando contra esta doença” doença é luta
“peço força para continuar lutando contra esta maldita doença e
por tudo que ela me trouxe de ruim.”
Vencer “acabar a quimioterapia é vencer a pior parte dessa batalha”
“acabar a quimioterapia é vencer a pior parte dessa batalha”
“Foi uma batalha e tanto, são sintomas dificílimos de explicar mas
tratamento é
só quem já os sentiu pode entender o que se passa dentro de nós.”
Batalha batalha
“Fiz porque venci a guerra, e celebro a vitória da batalha, fiz
porque outras guerras virão, sejam do tipo que for,”
“Só mulheres fortes conseguem vencer essa árdua batalha!!”
“Eu sei que o post ta confuso, confuso como eu, que não sei e
nem quero ir contra mim e minha natureza de guerreira”
“Guerreiras de verdade não andam sozinhas!”
“Guerreiras não desistem facilmente.” pacientes são
Guerreira
“Bem foi uma manhã, muito interessante, e repleta de mulheres guerreiras
corajosas e guerreiras.”
“Não tem como não emocionar em ver a luta de tantas mulheres
fortes, guerreiras, batalhadoras que venceram esse temido câncer
de mama.”
1280 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

“não temos tido trégua faz tempo, estamos vindo de muitas lutas
faz algum tempo e quando parece que as coisas vão melhorar lá
Trégua vem outra” vida é uma batalha
“tem aquelas horas que a alma silencia e a dor está lá, latente,
sem dar trégua.”
“E com certeza, desta guerra ambos sairão mais fortes e prontos Tratamento é
Guerra
para enfrentar o resto das suas existências.” guerra

“Foi um novo golpe, porém, graças a Deus, descoberto a tempo Diagnóstico é um


Golpe
para um nova cura!” golpe

“era um câncer invasivo e vários nódulos”


“É muito difícil de uma hora para outra saber que uma
doença como essa está invadindo o corpo, sorrateiramente, câncer é invasor/
Invasivo
traiçoeiramente.” inimigo

“Não vamos nos cansar de agradecer a todos que rezaram para


que essa doença que invadiu nossa casa fosse vencida.”
“Então, não precisa ter medo desse grande aliado na luta contra exames são aliados
Aliado
o câncer!” de luta

“As mulheres do mundo atual não guerreiam com armas e,


quando mutilam os seios, é por causa da luta contra o câncer,
defendendo a própria vida.”
“mulheres que sofreram mutilação total ou parcial da mama
decorrente de tratamento do câncer.” câncer é batalha
Mutilada que causa
“Nesse tempo, eu fiquei careca, sofri a mutilação, o abandono
mutilações
dos amigos, o descaso do Sistema, dores físicas e psicológicas.”
“Receber o resultado de um exame escrito “câncer” (em geral
vem o termo médico, né?) e ter que encarar uma mutilação e
um tratamento que mais parece um veneno na veia não é o que
chamo de lindo”

Fonte: Elaboração própria.

Neste último quadro, encontramos um mapeamento metafórico


bastante comum no cenário saúde/doença. Doença é guerra; câncer é
guerra; tratamento é batalha são metáforas que constituem o mesmo
frame semântico, o bélico. Há um entendimento de que a doença convida
à luta, à reação, ao combate, ao movimento e que a ele é preciso ser, e
estar, forte. O recurso de elaborar o próprio processo nesses termos é
amplamente utilizado por pacientes que estão diante de uma doença que
ainda carrega desconhecimento e tabus. Em consonância com os achados
de Semino et al. (2015), metáforas que relacionam violência8 a câncer
foram encontradas com maior frequência no corpus MELC (Metaphors-in-
8
Em Potts e Semino (2017), metáforas de violência são relatadas como metáforas
ligadas ao domínio guerra.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1281

the-end-of-life-care, [LANCASTER UNIVERSITY, [s.d.]), especialmente


ao se “empoderar” ou ao “desencorajar” pacientes. Como já mencionado,
ocorrências de metáforas neste campo semântico surgiram também em
maior número no corpus deste estudo. Chama a atenção que uma estratégia
de coping utilizada, na maior parte dos casos em que elementos bélicos
emergem, é (re)afirmar positivamente a sua relação com o adoecer e com
o tratamento, como em “Fiz porque venci a guerra, e celebro a vitória
da batalha, fiz porque outras guerras virão, sejam do tipo que for,”. Isso
sugere que a paciente reage em busca de uma recuperação, mas ao mesmo
tempo não se pode, com isso, interpretar que o processo foi elaborado de
forma positiva, mas que ela busca demonstrá-lo dessa forma para quem a
lê. Esse mesmo frame ganha conotações negativas em alguns casos, como
em “Fiquei fazendo companhia para elas, pois elas estavam preocupadas
e tristes dei muitos abraços e muita força e vou continuar rezando por
todas que estão lutando pra sobreviver.”, mas o que se percebe é, também,
que as autoras que assim se expressam também reagem diante do adoecer
e do tratamento, por pior que seja o momento.
Além desses domínios mais encontrados, chama a atenção a
prevalência de menções a aspectos espirituais e/ou religiosos. O apego
à espiritualidade e a práticas religiosas é uma estratégia de coping usual,
de acordo com Andrade et al. (2020), Ribeiro et al. (2019) e Caetano
et al. (2009). Tais modos de lidar com a doença e com o tratamento
podem refletir esperança e a busca por suporte, que estão apoiados em
crenças derivadas de comportamentos culturalmente estabelecidos.
A religiosidade, de acordo com Ribeiro et al. (2019), favorece novo
significado ao experienciar uma doença, mudando a forma como pessoas
a percebem e promovendo alívio da dor e do estresse. As mesmas autoras
também afirmam que bem-estar espiritual é considerado um fator de
proteção, em que atitudes positivas em relação à doença são tomadas.
Curiosamente, palavras relacionadas à religiosidade ou à
espiritualidade não se destacaram no processamento da lista de palavras
no AntConc. Foi necessária discussão no grupo de pesquisadoras e breve
revisão da literatura sobre estratégias de coping para que se tornasse à
busca por novos elementos. Nesse sentido, exemplos adicionais foram
localizados a partir de palavras como ‘deus’, cujos exemplos denotam
a crença de uma entidade protetora e cuidadora: “A não ser esperar um
milagre, e ela esperou e acreditou até domingo, dia 15 quando ele voltou
para Deus.”; “Houve um tempo em minha vida que briguei com Deus,
chamei o para briga, tempo de raiva, (...)”, “(...) ter um emprego que
1282 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

eu fizesse meus horários e Deus colocou na minha vida uma vizinha


maravilhosa” e “Terminamos nosso encontro com lágrimas nos olhos,
sorriso nos lábios e a certeza de que Deus cuida de cada uma de nós, (...)”.
Ligados ao campo da espiritualidade, também encontramos
exemplos com a palavra ‘anjo’/ ‘anjo da guarda’, que em geral é atribuída
a alguma pessoa que dá suporte, ou esperança, à autora da postagem:
“Ontem a noite meu anjo da guarda Dr Marcelo Bumlai foi me visitar no
hospital e me dar alta.”; “o oncologista não marcou biópsia dos nódulos
e porque um anjo de Deus colocou um cirurgião plástico com ele na
sala,”; “Ai eu já tava tão distraída com rotina do centro cirúrgico que fui
na boa, um anjo de olhos azuis veio me buscar, Dr. Julio, me acalmou os
ânimos, já que a veia puncionada”; “O anestesista também foi um anjo
e me deu muita ajuda”; “Doutora Sara é um anjo, ela tem o dom de me
deixar mais tranquila, e me recomendou voltar”; “Um enfermeira anja
conhecida da minha manicure me salvou.”
Essas evidências linguísticas da crença religiosa e/ou espiritual de
cada autora mostram como elas buscam auxílio ou esperança em algo que
vai além do nosso plano concreto. Através dos exemplos, percebe-se, de
modo geral, que recorrer a algo divino, a uma força maior que a humana,
parece trazer conforto e esperança nessa trajetória de descobertas sobre
a doença e sobre o tratamento.

5 Considerações finais
O desenvolvimento de um percurso metodológico baseado em
LC para identificar metáforas que pudessem evidenciar estratégias de
enfrentamento ao câncer de mama permitiu um olhar apurado para os
contextos de ocorrência dessas metáforas, tornando possível observar os
elementos co-ocorrentes, bem como o tipo de vocabulário relacionado
a cada domínio conceptual.
As análises a partir de domínios conceptuais mais frequentes
demonstraram que as autoras tendem a se valer de metáforas para falar
sobre suas experiências, sentimentos e momentos, expondo, assim, da
forma mais concreta possível, o enfrentamento da doença e tudo o que
está relacionado a isso. O uso efusivo de metáforas por essas mulheres
pode ser considerado como uma forma de externalizar o que se passa
nesse momento de suas vidas, tanto situações positivas quanto negativas,
conseguindo, desse modo, compartilhar essa experiência com outras que
estão vivendo o mesmo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1283

Ao nos depararmos com os domínios-fonte mais frequentes


(viagem, guerra, entidade, jogo, valor monetário, container) e suas
variações, percebemos a construção metafórica de metáforas de caráter
estrutural e ontológico, o que demonstra a tendência a pensar que, se no
primeiro caso um domínio conceptual pode se estruturar em termos de
outro, no segundo caso vemos um grande número de experiências sendo
compreendidas como pelas nossas experiências com substâncias ou
objetos físicos. Além disso, os dados corroboram a afirmação de Semino
et al. (2015, 2018), para as quais metáforas podem atuar de maneiras
diversas para diferentes pessoas. Assim, avaliar o contexto de ocorrência
desses domínios-fonte encontrados foi ponto crucial para compreender
nuances de significação implícitas nessas narrativas.
Cabe notar que a alta frequência desses mesmos domínios
conceptuais em narrativas de diferentes mulheres pode denotar que, apesar
de falarem de si e de seu enfrentamento à doença de modos particulares,
elas também assumem narrativas que podem ser reconhecidas discursiva
e culturalmente como de quem lida com tais momentos de vida.
Frente ao contexto de adoecimento e de desorganização psíquica,
as pacientes desenvolvem estratégias de enfrentamento, compreendidas
como recursos psíquicos internos que são acionados para dar conta de
situação que avalia como estressante e geradora de uma sobrecarga de
demandas emocionais (COSTA; LEITE, 2009). A partir da investigação
metodológica proposta e da análise apresentada, pode-se perceber a
diversidade de significados e formas de representar o adoecer utilizados
pelas pacientes. Antoniazzi et al. (1998) trazem que o coping é construído
em um processo relacional entre pessoa-ambiente, influenciado por
características individuais de personalidade bem como características
situacionais, contextuais e sociais. Com isso, podemos refletir sobre
como a narrativa envolvendo o câncer é construída e enunciada dentro
de um contexto social. A narrativa construída frente o adoecer por câncer
é múltipla e complexa, contudo, as narrativas analisadas neste trabalho
conversam entre si e com a teorização de Susan Sontag (1979), que
associa o câncer a morte, dor e sofrimento. A multiplicidade das metáforas
encontradas e analisadas permite expandir essa construção associada
ao câncer e compreender que é a partir dessa narrativa coletiva que as
pacientes irão singularizar suas experiências e concordar, ou não, com
o que é posto pela coletividade.
A identificação das estratégias de enfrentamento e implicação
destas na forma como a pessoa se relaciona com a evolução clínica do
1284 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

quadro é visto como recurso importante para profissionais da saúde


(COSTA; LEITE, 2009). É a partir da construção social em torno
do adoecer por câncer que cada paciente irá construir uma narrativa
individual e subjetiva que lhe permita compreender e elaborar essas
vivências. Não ter um olhar preconcebido para a forma como cada
paciente irá atravessar seu processo de adoecimento e tratamento
oportuniza que equipes de saúde promovam um cuidado humanizado,
centrado no paciente e que busca atentar para a subjetividade emergente
nas falas. A formação da equipe para uma escuta ativa e cuidadosa, que
consiga ser sensível para metáforas – e para os possíveis significados
ligados a elas – utilizadas pela paciente é capaz de promover um cuidado
singular e que faça sentido para aquela que recebe essa assistência, que
encontra a paciente na sua narrativa particular. Essa atenção ao discurso
e, consequentemente, para a subjetividade dessa paciente, pode contribuir
para o tratamento: o percurso, muitas vezes perpassado por dificuldades e
vulnerabilidades, pode ser traçado em conjunto com uma equipe sensível
a essas narrativas repletas de metáforas.

Contribuições das autoras


Todas as autoras participaram ativamente da concepção, redação e
revisão deste estudo. A. R. Salgado elaborou a metodologia do estudo
e participou da coleta dos dados e da interpretação dos resultados; A.A.
Vanin participou da organização e da discussão dos resultados; G.H.
Gomes fez a coleta e organização do corpus, participou das discussões,
elaborou os resultados; L. Presotto participou da discussão dos resultados.

Nota
Este trabalho foi realizado apesar das dificuldades econômicas e do pouco
investimento em ciência no Brasil. Ainda assim, resistiremos.

Referências
ALUÍSIO, S. M.; ALMEIDA, G. M. B. O que é e como se constrói um
corpus? Lições aprendidas na compilação de vários corpora para pesquisa
linguística. Calidoscópio, São Leopoldo, RS, v. 4, n. 3, p. 156-178, 2006.
Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/calidoscopio/article/
view/6002. Acesso em: 5 set. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1285

ANDRADE, C. J.; GALHARDI, S. R. R. B.; AVOGLIA, H. R. C.


Reações defensivas de pacientes em tratamento oncológico: análise das
principais formas de enfrentamento. Brazilian Journal of Health Review,
São José dos Pinhais, PR, v. 3, n. 3, p. 5881-5899, 2020. Disponível em:
https://doi.org/10.34119/bjhrv3n3-149. Acesso em: 3 set. 2020.
ANTONIAZZI, A. S.; DELL’AGLIO, D. D.; BANDEIRA, D. R. O
conceito de coping: uma revisão teórica. Estudos de Psicologia, Natal,
v. 3, n. 2, p. 273-294, 1998.
ANTHONY, L. AntConc (Version 3.5.8) [Computer Software]. Tokyo:
Waseda University, 2019. Disponível em: https://www.laurenceanthony.
net/software. Acesso em: 5 set. 2020.
BERBER SARDINHA, T. Lingüística de Corpus: histórico e
problemática. DELTA, São Paulo, v. 16, n. 2, p. 323-367, 2000. DOI:
https://dx.doi.org/10.1590/S0102-44502000000200005. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44502000000200005&lng=es&nrm=iso. Acesso em: 5 set. 2020.
BERBER SARDINHA, T. Lingüística de Corpus. Barueri: Editora
Manole, 2004.
BERBER SARDINHA, T. Collocation Lists as Instruments for Metaphor
Detection in corpora. DELTA, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 249-274, 2006.
DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-44502006000200002. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44502006000200002&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 5 set. 2020.
BERBER SARDINHA, T. Análise de metáfora em corpora. Ilha do
Desterro, Florianópolis, n. 52, p. 167-199, 2007. DOI: https://doi.
org/10.5007/%x. Disponível em: https://periodicos.ufsc.br/index.php/
desterro/article/view/11715/11005. Acesso em: 4 set. 2020.
BERBER SARDINHA, T. A ocorrência de metáforas é previsível?
Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 20, n. 2, p. 211–240,
2012. DOI: https://doi.org/10.17851/2237-2083.20.2.211-240.
BIBER, D. Representativeness in corpus design. Literary and Linguistic
Computing, Oxford, v. 8, p. 243-257, 1993.
CAETANO, E. A.; GRADIM, C. V. C. SANTOS, L. E. S. Câncer de
mama: reações e enfrentamento ao receber o diagnóstico. Revista
Enfermagem UERJ, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 257-261, 2009.
1286 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

CAMERON, L. Metaphor in Educational Discourse. London:


Continuum, 2003.
COSTA, P.; LEITE, R. C. B. Estratégias de enfrentamento utilizadas
pelos pacientes oncológicos submetidos a cirurgias mutiladoras. Revista
Brasileira de Cancerologia, Rio de Janeiro, v. 55, n. 4, p. 355-364, 2009.
DEIGNAN, A. Corpus Linguistics and Metaphor. In: GIBBS Jr., R.
W. The Cambridge Handbook of Metaphor and Thought. New York:
Cambridge University Press, 2008. p. 280-294. DOI: https://doi.
org/10.1017/CBO9780511816802.018
DEMJÉN, Z.; SEMINO, E. Using Metaphor in Healthcare: Physical
Health. In: ______. (ed.) The Routledge Handbook of Metaphor and
Language. London: Routledge, 2016. p. 285-399.
FINATTO, M. J. B.; LOPES, L.; CIULLA, A. Extração automática
de candidatos a termo do “Curso de Linguística Geral” com apoio de
recursos da Linguística de Corpus e do Processamento de Linguagem
Natural. Domínios de Linguagem, Uberlândia, v. 9, n. 2, p. 40-55, 2015.
DOI: https://doi.org/10.14393/DL18-v9n2a2015-4. Disponível em http://
www.seer.ufu.br/index.php/dominiosdelinguagem/article/view/31077.
Acesso em: 30 set. 2020.
GRADY, B. A. Foundations of Meaning: Primary Metaphors and
Primary Scenes. 1997. 306f. Tese (Doctorof Philosophy) – University of
California, Berkeley, 1997a.
GRADY, B. A. Theories Are Buildings Revisited. Cognitive Linguistics,
[S.l.], v. 8, n. 4, p.267-290, 1997b.
GUSTAFSSON, A. W.; HOMMERBERG, C.; SANDGREN, A. Coping
by Metaphors: The Versatile Function of Metaphors in Blogs about Living
with Advanced Cancer. Medical Humanities, Cleveland, OH, v. 46, n. 3,
p. 267-277, 2019. DOI: https://doi.org/10.1136/medhum-2019-011656.
HENDRICKS, R. K.; DEMJÉN, Z.; SEMINO, E.; BORODITSKY,
L. Emotional Implications of Metaphor: Consequences of Metaphor
Framing for Mindset about Cancer. Metaphor & Symbol, [S.l.], v. 33, n.
4, p. 267-279, 2018.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021 1287

JESUS, S. M.; FERREIRA, M.; ESQUEDA, M. Pesquisa e prática


terminológica bilíngue na formação do tradutor. Cultura e Tradução, João
Pessoa, v. 5, n. 1, p. 53-62, 2017. Disponível em: https://periodicos.ufpb.
br/ojs2/index.php/ct/article/view/38493. Acesso: 30 set. 2020.
KARKAR, A. J.; BURKE, L. M. “It’s Your Loss”: Making Loss One’s
Own Through Blog Narrative Practices. Death Studies, [S.l], v. 44, n. 4,
p. 210-222, 2020.
KÖVECSES, Z. Metaphor: A Practical Introduction. New York: Oxford
University Press, 2006.
KÖVECSES, Z. Language, Mind and Culture: A Practical Introduction.
New York: Oxford University Press, 2002.
KÖVECSES, Z. Metaphor. A Practical Introduction. Second edition.
Oxford: Oxford University Press, 2010.
KÖVECSES, Z. Recent Developments in Metaphor Theory: Are the New
Views Rival Ones? Review of Cognitive Linguistics, [S.l.], v. 9, n. 1, p.
11-25, 2011.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Metaphors We Live By. Chicago: The
University of Chicago Press, 1980.
LAKOFF, G.; JOHNSON, M. Philosophy in the Flesh: The Embodied
Mind and Its Challenge to Western Thought. New York: Basic Books, 1999.
LAKOFF, G.; M. TURNER. More than Cool Reason: A Field Guide to
Poetic Metaphor. Chicago: Chicago University Press, 1989.
LANCASTER UNIVERSITY. Metaphor, Cancer and the End of Life
– Research Portal. Lancaster: Lancaster University [s. d.]. Disponível
em: http://www.research.lancs.ac.uk/portal/en/publications/metaphor-
cancer-and-the-end-of-life(e0824059-b68f-442c-8ee7-49fb1b0526b0)/
export.html. Acesso em: 3 set. 2020.
PAIVA, P. T. P.; CAMARGO, D. C.; XATARA, C. M. Uma reflexão
sobre a elaboração de um léxico bilíngüe preliminar na subárea de
cardiologia a partir de termos encontrados em um corpus paralelo e em
dois corpora comparáveis. DELTA, São Paulo, v. 24, n. 1, p. 1-22, 2008.
DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-44502008000100001. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
44502008000100001&lng=pt&nrm=iso. Acesso em: 30 set. 2020.
1288 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1253-1288, 2021

POTTS, A.; SEMINO, E. Healthcare Professionals’ Online Use of


Violence Metaphors for Care at the End of Life in the US: A Corpus-Based
Comparison with the UK. Corpora, Edinburg, v. 12, n. 1, p. 55-84, 2017.
DOI: 10.3366/cor.2017.0109
PRIMO, A. F. T.; RECUERO, R. C. Hipertexto cooperativo: uma
análise da escrita coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia. Revista
FAMECOS, Porto Alegre, v. 10, n. 22, p. 54-65, 2008. DOI: https://doi.
org/10.15448/1980-3729.2003.22.3235.
RIBEIRO, G. S.; CAMPOS, C. S.; ANJOS, C. C. Y. Espiritualidade e
religião como recursos para o enfrentamento do câncer de mama. Revista
de Pesquisa: Cuidado é Fundamental, Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, p. 849-
856, 2019.
SEMINO, E.; DEMJÉN, Z.; DEMMEN, J.; KOLLER, V.; PAYNE,
S.; HARDIE, A.; RAYSON, P. The Online Use of Violence and
Journey Metaphors by Patients with Cancer, as Compared with Health
Professionals: A Mixed Methods Study. BMJ Supportive &amp;
Palliative Care, London, v. 7, n. 1, p. 60-66, 2015.
SEMINO, E.; DEMJÉN, S.; HARDIE, A; PAYNE, S; RAYSON, P.
Metaphor, Cancer and the End of Life: A Corpus-Based Study. Routledge
Advances in Corpus Linguistics. New York: Taylor & Francis, 2018.
SONTAG, S. Doença como metáfora / AIDS e suas metáforas. São Paulo:
Companhia de Bolso, 1979.
STEFANOWITSCH, A. Words and Their Metaphors: A Corpus-Based
Approach. In: STEFANOWITSCH, A.; GRIES, S. T. (ed.). Corpus-Based
Approaches to Metaphor and Metonymy. Berlin: Mouton de Gruyter,
2007. p. 63-105.
STUMM, E. M. F.; MAÇALAI, C.; LEITE, M. T.; LORO, M. M.
Mecanismos de coping utilizados por mulheres mastectomizadas para
lidar com o estresse. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 19, n. 3, p. 108-
114, 2009.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

Frequência e distribuição de plurais irregulares


no Corpus Brasileiro

Frequency and distribution of irregular plurals


in the Corpus Brasileiro

Luiz Carlos Schwindt


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, CNPq), Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
schwindt@ufrgs.br
https://orcid.org/0000-0003-0533-589X

Pedro Eugênio Gaggiola


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, PROBIC-FAPERGS),
Porto Alegre, Rio Grande do Sul / Brasil
pedroe.gaggiola@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-0123-6205

Isabela Prisco Petry


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS, PIBIC-CNPq), Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
isabelappetry@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-1082-6589

Resumo: Neste texto aborda-se a frequência e a distribuição de formas de plural


irregular do português brasileiro, no âmbito da palavra, numa perspectiva descritiva.
Os dados provêm do Corpus Brasileiro e estão divididos em duas amostras: Amostra L,
nomes pluralizados terminados ortograficamente em vogal+is (ex. papéis), vogal+us (ex.
chapéus) e is (ex. funis), e Amostra N, os terminados por ões (ex. vilões), ãos (ex. irmãos)
e ães (ex. pães). O exame das variáveis fonético-fonológicas e léxico-morfológicas –

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1289-1324
1290 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

número de sílabas, acento, contexto fonológico, afiliação morfológica e frequência


lexical – permitiu contextualizar o comportamento das alternantes minoritárias de
cada amostra, em oposição às alternantes prevalentes, vogal+is e ões, respectivamente.
Palavras-chave: plural; alomorfia; morfologia; morfofonologia; Corpus Brasileiro.

Abstract: This paper addresses the frequency and distribution of Brazilian Portuguese
irregular plurals, within the scope of the word, in a descriptive approach. The data
come from the Corpus Brasileiro and are divided into two samples: (i) pluralized
nouns ending, in spelling, with vowel+is (eg papéis ‘papers’), vowel+us (eg chapéus
‘hats’), and is (eg funis ‘funnels’), and (ii) those ending with ões (eg vilões ‘villains’),
ãos (eg irmãos ‘brothers’), and ães (eg cães ‘dogs’). The phonological and lexical-
morphological variables analyzed – number of syllables, stress, phonological context,
morphological affiliation and lexical frequency – allowed to define the main contexts
for the minority alternants of each sample, in opposition to the prevalent ones, vowel+is
and ões, respectively.
Keywords: plural; allomorphy; morphology; morphophonology; Corpus Brasileiro.

Submetido em 09 de outubro de 2020


Aceito em 09 de novembro de 2020

1 Introdução
Neste artigo, tratamos da frequência e da distribuição das
realizações de plural de nomes do português brasileiro (PB) terminados,
em sua forma singular, nas sequências ortográficas vogal+u/l e ão, a partir
de dados do Corpus Brasileiro.1
Por conveniência metodológica, as alternantes de plural são
abordadas neste estudo a partir de uma tipologia que considera as rimas
das sílabas que comportam a informação morfológica de plural (isto é,
a porção fonológica que inclui o núcleo silábico e todos os segmentos
que o sucedem). São Vis, Vus e is, para vogal+u/l, e ões, ãos e ães, para
ão, como se exemplifica em (1) e (2), respectivamente.

1
http://corpusbrasileiro.pucsp.br/cb/Inicial.html
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1291

(1) alternante plural singular


a. Vis pedais [pe’dajs] pedal [peˈdaw] ~ [peˈdaɫ]
b. Vus chapéus [ʃaˈpɛws] chapéu [ʃaˈpɛw]
c. is funis [fu’nis] funil [fuˈniw] ~ [fu’niɫ]

(2) alternante plural singular


a. ões balões [baˈlõjs̃ ] balão [baˈlãw̃] 2
b. ãos irmãos [iɾˈmãw̃s] irmão [iɾˈmãw̃]
c. ães capitães [kapiˈtãjs̃ ] capitão [kapiˈtãw̃]
2

Trata-se de uma abordagem essencialmente descritiva com


potencial para contribuir, a partir da observação do léxico em uso, para
o debate sobre o papel da produtividade na definição das restrições
fonológicas e morfológicas que concorrem para seleção dessas formas
não canônicas de plural na língua, as quais tratamos aqui como irregulares.
O comportamento de plurais irregulares em PB foi objeto de
muitos estudos, em diferentes perspectivas, em especial no que diz
respeito à origem do glide, nos dois casos mencionados, e à representação
da nasalidade, no caso dos ditongos em ão (CAMARA JR., 1969, 1970;
ABAURRE GNERRE, 1983; BISOL, 1998, 2016, 2020; WETZELS,

2
Optamos neste texto, como estratégia de simplificação, por nos referirmos aos ditongos
em análise por sua representação ortográfica. Nos exemplos de (2), no que diz respeito
especificamente aos casos de ão e seus plurais, adotamos uma representação fonética que
considera uma sequência de vogal e glide nasalizados. Sabemos, contudo, que a questão
não é tácita entre fonólogos e foneticistas. Alguns estudiosos defendem a realização
da consoante nasal em coda, plena ou secundária, seguindo esse glide. O português
parece situar-se, em relação à pronúncia dessa nasal, numa posição intermediária, se
considerarmos, num extremo, línguas como o inglês ou o espanhol, que no mais das
vezes realizam a nasal plenamente em coda silábica (ex. bu[m] ‘bum’; co[n], ‘com’),
e, noutro, línguas como o francês, que parece exibir uma assimilação completa da
nasalidade (ex. av[ã] ‘avant’). Esse fato contribuiria para a defesa da hipótese de
articulação secundária na língua (ex. irmãw̃ŋ). A consoante nasal é, como discutimos
neste texto, subjacente para muitos autores e funcionaria como gatilho para a nasalização
do ditongo, em princípio oral na origem. Não sendo apagada, isto é, preservando-se
plena ou secundariamente em coda, após o espraiamento, torna-se alvo da assimilação
do ponto de articulação do segmento que a sucede ou mesmo do glide que a precede,
a depender do contexto.
1292 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

1997, 2000; GUIMARÃES; NEVINS, 2013; entre outros), mas também


na perspectiva à qual se soma esta análise, a da produtividade (HUBACK,
2010a, 2010b; CRISTÓFARO-SILVA, 2012; BECKER et al., 2018;
GOMES; PRADO; AMARAL, 2021, no prelo; RIZZATO, 2018; entre
outros).
A hipótese geral assumida aqui é a de que restrições implicadas
na seleção de expoentes fonológicos concorrentes para entidades
morfológicas podem ser alcançadas pela medição da produtividade de
seus contextos fonológicos e morfológicos, sobretudo em distribuições
imperfeitas, aquelas que não se enquadram plenamente no conceito
tradicional de alomorfia. O exercício empírico que descrevemos neste
artigo se dá na esfera de hipóteses subordinadas a essa, tratando de cada
contexto potencialmente revelador dessas restrições, considerando-se
um corpus de grande abrangência.
O texto está organizado como segue. Na seção 2, problematizamos
a noção de alomorfia no que diz respeito à realização das marcas de plural
exploradas neste trabalho e a relacionamos ao conceito de produtividade
que adotamos. Na seção 3, resumimos brevemente alguns estudos que
se ligam mais diretamente aos objetivos de nossa pesquisa. Na seção
4, detalhamos os procedimentos metodológicos. Por fim, na seção 5,
apresentamos e discutimos os resultados da investigação. Seguem-se
nossas considerações finais acompanhadas da agenda da pesquisa.

2 Alomorfia, produtividade e plurais irregulares do PB


Alomorfe, ou variante de morfema, define-se, na tradição, como
uma das realizações de um morfema. Nem toda realização de morfema,
contudo, enquadra-se nesse conceito. Segundo Bonet, Lloret e Mascaró
(2015, p. 1), alomorfia existe sob duas condições: que haja mais de um
morfe para cada morfema e que a divergência entre os morfes não possa
ser predita pela fonologia regular da língua. Assim, cada alomorfe, por ser
impredizível fonologicamente, constitui uma forma subjacente distinta.
Por outro lado, alomorfes não ocorrem irrestritamente: além de, para
muitos, deverem se assemelhar fonologicamente, devem também ter
especificados seus contextos de ocorrência, e a expectativa é que tais
contextos estejam numa relação de excludência mútua, ou distribuição
complementar (BAUER, 2004, p. 15).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1293

Nesses termos, podemos nos perguntar se as formas de plural


aqui abordadas, exemplificadas em (1) e (2), podem ser consideradas
alomorfes.
Para responder a essa pergunta, em primeiro lugar, precisamos
examinar se é possível relacionar as formas em análise a um morfema
comum, de maior abrangência na língua, no caso -s, além de nos assegurar
de que o que as diferencia foneticamente não se caracteriza como regra
fonológica ordinária na língua. Começando pelo segundo critério,
um simples teste posicional pode responder à questão. Sabemos que
as sequências Vl ou Vu podem aparecer no meio da palavra (ex. alto,
incauto). Não há, contudo, evidência de processo que converta Vl em
Vis no interior do vocábulo, e a sequência ls é estranha ao português
(a palavra solstício seria uma exceção). Vus, por sua vez, parece fazer
parte da representação lexical de palavras também em posição interna
(ex. claustro, Fausto). A sequência ão, por outro lado, não ocorre, em
princípio, em sílaba medial em português, mas apenas em final de palavra.
Esse teste indica que os processos que analisamos são licenciados apenas
na formação do plural, o que sugere que não estamos diante de fenômenos
fonológicos regulares da língua. A complexidade do problema, porém,
reside na tarefa de se explicar, por via fonológica, alternantes que
modificam a forma básica de plural -s ou que lhe acrescentam substância
fônica. Nessa perspectiva, várias hipóteses são exploradas na literatura,
a maioria defendendo que está em jogo, mais do que alomorfia de
plural, alomorfia de raiz (ex. papele+s/ limon+s) e emergência de um
glide ativado pela associação de [s] à sílaba da forma singular (BISOL,
1998; WETZELS, 1997; entre outros). Em contraste está a alternativa
de se lexicalizar o morfema, mais do que sua base, assumindo-se, se
não alomorfia propriamente dita, a hipótese de subléxicos, ativados por
restrições fonológicas ou de outra natureza, inclusive extralinguística.
É, por exemplo, a análise assumida por Becker et al. (2018) e Rizzatto
(2018), para o tratamento de plurais de palavras fechadas foneticamente
por Vw, ou por Abaurre Gnerre (1983), para o tratamento de plurais de
palavras fechadas por ditongo nasal.
Em segundo lugar, precisamos considerar que os contextos de
ocorrência dessas formas não são cem por cento excludentes, ou seja, em
princípio, as três variantes ocorrem em ambientes fonéticos e gramaticais
semelhantes. Há, porém, predominâncias em relação a esses contextos
que podem sinalizar para quase-regularidades.
1294 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

No recorte da análise desenvolvido neste texto, vamos nos fixar


nessas sub-regularidades, sem compromisso com o status mais ou menos
alomórfico das alternantes que analisamos, uma vez que as propriedades
fonológicas das marcas de plural, ou mesmo sua afiliação morfológica
– à base ou ao sufixo –, são por ora secundárias.
Assumimos o entendimento de que produtividade de morfemas
é propriedade gramatical das línguas naturais. Isso quer dizer que
tanto pode ser depreendida do léxico em uso quanto pode ser predita
a partir de restrições que concorrem para formação de novos itens, o
léxico potencial. O léxico potencial, portanto, deve dar conta da porção
transparente do léxico disponível, mas também pode incluir formações
menos regulares, fruto de subconjuntos de restrições ou de restrições
mais baixas na hierarquia de uma língua. Este estudo dedica-se a dados
do léxico em uso.

3 Estudos sobre a produtividade de plurais irregulares em PB


A alternância dos expoentes fonológicos do plural de ditongos
orais e nasais foi avaliada na perspectiva de sua produtividade em
contextos fonológicos e morfológicos específicos por Huback (2010a,
2010b), Cristófaro-Silva (2012), Becker et al. (2018), Rizzato (2018),
Gomes, Prado e Amaral (2021, no prelo), entre outros autores. Nesta
seção apresentamos algumas das principais ideias desses textos em
versão resumida. Por conveniência expositiva, tratamos primeiramente
dos plurais em u/l, para, em seguida, tratarmos dos plurais em ão.

Plurais em u/l
Em relação a palavras terminadas em u/l, Huback (2010a)
realiza um estudo envolvendo a aplicação de um teste de reação a 36
falantes nativos do PB, contando com 53 palavras-alvo distribuídas em 3
categorias relativas a frequência lexical. Com base na amostra do Corpus
NILC/São Carlos, as palavras-alvo são classificadas nas frequências de
ocorrência baixa, média e alta. Com foco teórico no Modelo de Redes
(BYBEE, 2001), está em jogo a hesitação ou não hesitação do falante
ao produzir o plural. Os resultados mostraram que 12,8% dos itens
terminados em l foram pluralizados como se pertencessem aos itens
terminados em u, ou seja, contando somente com a adição da expressão
fonológica de plural -s. A autora observou favorecimento em particular
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1295

da hesitação para os itens mel, sol e sal. Apesar de haver diferenças


de frequência entre esses vocábulos, o que os aproxima é o fato de
serem todos monossílabos, sugerindo papel desta variável em favor da
hesitação. De modo geral, a autora conclui que não há correlação entre
frequência de ocorrência e hesitação, já que palavras de frequência de
ocorrência baixa, média e alta inibiram hesitações. Os itens terminados
em u mostraram-se mais suscetíveis a hesitações, o que pode ser explicado
pelo fato de esse ser o grupo com menor frequência de tipo. Desses itens,
15,6% migraram para a pluralização em is. Itens de baixa frequência,
como jirau, mausoléu, véu, apresentaram índices mais altos de hesitação,
confirmando as expectativas do modelo adotado. O item judeu, contudo,
de frequência alta no corpus adotado, contrariou a expectativa. As
palavras menos suscetíveis a hesitação nesse grupo foram justamente
as de frequência mais alta, como meu e seu, apontando para correlação
entre as variáveis frequência de ocorrência e hesitação no grupo dos
itens fechados por u. O estudo conclui, ainda, que a frequência de tipo,
menor para os itens terminados em u, também interfere nas migrações,
mais recorrentes nesse grupo.
Ainda a respeito de palavras terminadas em u/l, Cristófaro-
Silva (2012), propondo uma análise à luz do que refere como modelos
multirrepresentacionais, categoriza as marcas fonológicas de plural desses
itens em (i) nomes em que a marca de plural ocorre a partir da adição de
-s (ex. degraus) e em (ii) nomes em que o plural se realiza pela adição
de um suposto morfema is (ex. sais), com alteração do radical (além de
formas em que a marca de plural pode deixar de ocorrer, como em os sal).
A autora destaca, com base nos dados de Huback (2007), que é possível
se atestarem plurais pertencentes ao padrão (i) realizando-se conforme
o padrão (ii) (ex. degrais).
Becker et al. (2018) apresentam um estudo sobre essas formas
na perspectiva da aquisição de seus plurais. Os autores realizam um
experimento psicolinguístico envolvendo pseudopalavras com 115
crianças de 7 a 12 anos e um grupo de controle formado por adultos.
Participantes de 7 a 9 anos evitaram a alternância [w ~ j] em monossílabos,
sugerindo influência de uma restrição da língua que atua na proteção da
primeira sílaba, o que, na interpretação dos autores, equivale a proteção
de monossílabos. O estudo mostra que essa proteção é ainda maior entre
crianças de 10 a 12 anos. O grupo de controle e as crianças de 10 a 12
anos, além disso, tendem a evitar novos ditongos com baixa dispersão
1296 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

de altura entre vogal e glide (ex. [ej, ew, oj, ow]), apesar de sua forte
presença no léxico. Esse fato também é interpretado na perspectiva de
uma restrição violável, que milita pela maior dispersão de altura em
ditongos.
Gomes, Prado e Amaral (2021, no prelo) também realizam um
experimento psicolinguístico valendo-se de pseudopalavras, além de
um teste de produção com palavras de baixa frequência. Participaram
54 voluntários, sendo 25 com ensino superior, cursando a graduação
da Faculdade de Letras na UFRJ, e 28 de um curso de Educação para
Jovens e Adultos de Niterói, a fim de controlar o papel da escolaridade.
Os resultados apontam para prevalência da forma de plural s em
monossílabos para ambos os níveis de escolarização. Em relação a essa
variável, entretanto, constataram divergência quanto à vogal [e] no núcleo
da última sílaba tônica, que se mostrou significativa apenas para o grupo
de participantes de nível superior, desfavorecendo o plural js.

Plurais em ão
No âmbito do ditongo nasal, Huback (2010a) verifica também
a disponibilidade de ões, ãos e ães no léxico dos informantes quando
perguntados a respeito do plural de vocábulos como escrivão, por
exemplo. Os resultados obtidos a partir do experimento, descrito
anteriormente, apontam para uma migração direcionada no uso das
alternantes de plural do ditongo nasal: 32,5% dos vocábulos cujo étimo
prevê ãos e 20,9% dos vocábulos cujo étimo prevê ães foram pluralizados
pela alternante ões no experimento. Há, portanto, influência da frequência
de tipo da alternante ões em sua produtividade, visto que ões participa
da pluralização de um maior grupo de palavras terminadas pelo ditongo
nasal em PB de acordo com dados do dicionário Houaiss observados por
Huback (2010a, p. 19). A migração no sentido contrário não foi atestada
de maneira expressiva: 4,1% de itens etimologicamente pluralizados
pela alternante ões optaram por ãos para expressar plural, por exemplo.
Houve, entretanto, hesitação nas respostas obtidas no experimento.
Na análise de regressão binária, vocábulos para os quais se supõe ãos
no étimo e vocábulos de baixa frequência de ocorrência se mostraram
favorecedores de hesitação na obtenção de seus plurais, apontando para
influência significativa de efeitos de frequência de tipo e de ocorrência no
fenômeno em questão. Huback (2010b) apresenta resultados semelhantes
a partir de outro experimento, incluindo agora a leitura de frases e figuras
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1297

como estímulos, considerando fatores linguísticos e extralinguísticos. Em


relação ao número de sílabas, por exemplo, constatou que monossílabos
desfavorecem categoricamente a aplicação do expoente fonológico mais
produtivo, ões.
Cristófaro-Silva (2012) também discute a organização do plural
de nomes do PB terminados em ditongo nasal na perspectiva de modelos
multirrepresentacionais. A autora classifica nomes encerrados pelo
ditongo nasal ãos na categoria geral de nomes que expressam plural pelo
simples acréscimo de -s (ex. irmãos). Vocábulos que tomam ões ou ães
como expoente fonológico de plural (ex. leões, pães), por outro lado, se
relacionam pelo fato de apresentarem, segundo a autora, alteração no
radical nominal e por compartilharem o morfema de plural -is. O padrão
do grupo de itens lexicais que toma ões como marca de plural é aplicado
em generalizações, de acordo com a análise, como consequência de sua
alta frequência de tipo, em consonância com a análise de Huback (2010a).
Essa preferência pelo expoente ões é percebida também por
Rizzato (2018), que promove uma análise experimental, aplicada a 79
falantes do PB, envolvendo a seleção de plural de ditongos nasais em 24
frases. O contexto analisado é o do aumentativo -zão – expressão de grau
passível de anexação em vocábulos que já contenham traço de número
(ex. coraçõezões), em sua interpretação. A opção pela marcação dupla de
plural se revela variável em seus dados, ainda que a preferência por ões no
âmbito do sufixo seja significativa. Embora sob variação, monossílabos
exibem um comportamento distinto também nesta análise, sendo pãezões
e cãezões as formas preferidas, enquanto trissílabos compartilhadores
do mesmo plural etimológico optam pela expressão de plural menos
redundante (ex. capitãozões).

4 Procedimentos metodológicos
Nesta seção apresentamos a constituição e a organização de
duas subamostras extraídas a partir de uma amostra-base de 3.744.513
types e 691.758.151 tokens disponível para download no site do
Corpus Brasileiro – doravante CBras. O CBras é um banco de dados
alimentado por diferentes fontes, incluindo fala e escrita. A análise
que empreendemos neste estudo tem como base principalmente os
types oferecidos pela amostra-base; recorremos, contudo, aos tokens na
discussão sobre frequência lexical.
1298 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

As subamostras analisadas estão assim constituídas:

(i) Amostra L, contendo 9.245 vocábulos pluralizados correspondentes


a bases fechadas ortograficamente por vogal+u/l;
(ii) Amostra N, contendo 5.899 vocábulos pluralizados correspondentes
a bases fechadas ortograficamente por ão.

Os dados foram extraídos da amostra-base e organizados com o


uso da Plataforma R. A investigação restringiu-se ao que tratamos como
nomes, numa interpretação ampla desse termo, que abriga substantivos
e adjetivos – vocábulos sujeitos à flexão de plural. A organização
inicial dos dados consistiu, entre outros aspectos, em juntar formas com
pequenas diferenças de grafia, incluindo maiúsculas e minúsculas ou
espaçamentos indevidos, eliminar resíduos de palavras estrangeiras ou
com sequências incompreensíveis e checar no corpus, através de busca
pelo site Linguateca,3 a classe gramatical de itens homófonos para excluir
com segurança não nomes (ex. vão, não). Os dados, contudo, neste
caso, não são analisados em sua forma plenamente lematizada, porque
optamos pela manutenção da distinção entre lexemas, isto é, palavras
simples, derivadas ou compostas foram preservadas separadamente na
amostra. No exercício analítico apresentado neste texto, porém, por
diversas vezes apresentamos comparações com subconjuntos de dados
que fazem referência a lemas, controlados como uma entre as variáveis
independentes.
Após a etapa de preparação automática dos dados, cada
subamostra foi codificada manualmente levando-se em conta propriedades
fonológicas e léxico-morfológicas que pudessem contribuir em alguma
medida para contextualizar a ocorrência das diferentes formas de plural
em foco.
Ainda que as análises das duas subamostras estudadas sejam
inteiramente independentes uma da outra, por serem conduzidas a
partir de variáveis análogas, são apresentadas nesta seção e na seção de
resultados sempre que possível conjuntamente.
Não é demais registrar, ainda, que, apesar de usarmos neste texto
o termo variável, comum em estatística, não abordamos o fenômeno em
questão como variável no sentido da sociolinguística variacionista, isto é,

3
https://www.linguateca.pt/acesso/corpus.php?corpus=CBRAS
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1299

entendemos que estamos tratando de uma alternância, já que os contextos


de seleção de cada variante são na maioria das vezes excludentes.
Variação, enquanto duas ou mais formas de se dizer a mesma coisa,
ocorre em margem muito reduzida na amostra (ex. g[ojs] ~ g[ows] ~
g[oɫs]; capit[õjs̃ ] ~ capit[ãw̃s] ~ capit[ãjs̃ ]) e não é nosso foco aqui.

4.1 Variável dependente


As variáveis de interesse em nossa análise são as alternantes de
plural atestadas em cada amostra, como exemplificamos inicialmente em
(1) e (2). A subdivisão que propomos é tão somente uma alternativa de
análise, naturalmente passível de reinterpretação a depender de como se
defina o padrão de marcação morfológica de plural nesses casos. Como
dissemos, optamos nas duas amostras por representar essas variáveis
considerando as rimas das sílabas finais das formas pluralizadas.

Alternantes de plural da Amostra L


A divisão adotada inicialmente para a Amostra L contempla três
alternantes de plural: Vis, Vus e is. A primeira e a última alternantes,
embora se assemelhem no sentido de terminarem em is, diferenciam-
se quanto à realização obrigatória de um ditongo no primeiro caso (ex.
past[ɛjs]) e à não realização ou realização apenas opcional de um ditongo
homorgânico, ou ainda de um alongamento da vogal, no segundo (ex.
vin[is] ~ vin[ijs] ~ vin[i:s]). A segunda alternante, Vus, também forma
ditongo, mas com um glide labiovelar (ex. r[ɛws]).

Alternantes de plural da Amostra N


Para a Amostra N, as alternantes em análise são também três,
as tipicamente registradas no léxico do português: ões, ãos e ães (ex.
bot[õjs̃ ], m[ãw̃ s], c[ãjs̃ ], respectivamente).

4.2 Variáveis independentes


As variáveis independentes deste estudo, examinadas sempre
na perspectiva das alternantes mencionadas, são baseadas em hipóteses
da literatura resenhada na seção 3 e em aspectos que consideramos
não plenamente contemplados nesses estudos. Os grupos de fatores
investigados são a seguir descritos e exemplificados.
1300 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

Número de sílabas
Nas duas amostras, os vocábulos foram classificados quanto ao
número de sílabas da palavra. A primeira classificação incluiu palavras
de 1 a 9 sílabas. Uma reorganização, entretanto, foi proposta, seja
porque dados de 5 a 9 sílabas se mostraram escassos, seja porque não se
observou, numa rodada preliminar, relevância na distinção entre palavras
com 4 sílabas e palavras maiores. A classificação analisada, assim, foi
1 sílaba (ex. réus, cães), 2 sílabas (ex. quartéis, irmãos), 3 sílabas (ex.
mausoléu, capitães), 4 ou mais sílabas/polissílabas (ex. governamentais,
nacionalizações).

Acento
Palavras terminadas em vogal+u/l e ão apresentam acento final
na maioria dos casos e, em proporção consideravelmente reduzida, são
acentuadas na penúltima sílaba, justificando a seguinte classificação:
acento final (ex. quintais, sabões) e acento pré-final (ex. móveis,
órgãos).

Contexto fonológico
Neste grupo foram classificados os segmentos que precedem a
porção fonológica comum às três alternantes estudadas em cada amostra.
Assim, na Amostra L, abordamos a vogal do núcleo da sílaba envolvida
no plural, a que antecede o glide no ditongo (ex. p[a]us, c[ɛ]us, anz[ɔ]
is, vin[i]s, az[u]is). No caso de [i], estão contempladas as possibilidades
de não ditongação, de ditongação homorgânica ou de alongamento (ex.
vin[i]s ~ vin[ij]s ~ vin[i:]s). Na Amostra N, abordamos a consoante do
onset da sílaba que contém o ditongo nasal. Uma classificação inicial
considerando todos os segmentos individualmente foi reinterpretada na
perspectiva de modo de articulação: oclusiva (ex. capi[t]ães), fricativa
(ex. se[s]ões), líquida (ex. sa[l]ões) e nasal (ir[m]ãos). Também foram
considerados casos de hiato (ex. pe.ões).

Afiliação morfológica
Neste grupo de fatores, analisamos a localização morfológica da
terminação da base que dá origem aos plurais investigados. Interessa-nos
dizer se as porções fonológicas u ou l, na Amostra L, e ão, na Amostra N,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1301

coincidem integralmente com um sufixo (ex. pastor+il, mulher+ão), são


apenas parte de um sufixo (ex. amá+vel, implementa+ção) ou integram o
radical (ex. mel, cão). Para isso, propomos uma divisão mais acurada de
contextos para cada amostra, que se sujeitou a amalgamações resultando,
na Amostra L, em radical mais 3 tipos de sufixos, e, na Amostra N, em
radical mais 4 tipos de sufixos, como se detalha na seção 5.4.

Frequência lexical
A frequência lexical dos itens pluralizados em análise é a
informada na amostra disponibilizada pelo CBras e foi analisada como
uma variável contínua.
Outras variáveis, como padrão de terminação da base, classe
gramatical, lema e frequência do lema, também foram codificadas e
aparecem nesta análise como subsidiárias à descrição das 5 que tomamos
como nucleares.

5 Resultados e discussão
Nesta seção fazemos uma apresentação dos resultados da análise
das duas subamostras investigadas. Como antecipamos, essa exposição
se dá, sempre que possível, de forma combinada, ainda que as análises
tenham sido computadas independentemente.
Os resultados aqui apresentados são produto de estatística
descritiva fazendo-se uso da Plataforma R. Cada resultado é acompanhado
de discussão, considerando-se os achados de trabalhos anteriores e o
potencial de cada grupo de fatores para uma futura análise de natureza
preditiva.
Começamos por apresentar a frequência geral das alternantes de
plural para cada uma das amostras analisadas. Na sequência, tratamos
das 5 variáveis que consideramos nucleares na ordem em que foram
apresentadas na metodologia. As variáveis subsidiárias são chamadas
quando necessárias à discussão dos resultados obtidos para as categorias
nucleares.

5.1 Frequência geral


Confirmando o amplamente divulgado na literatura, observamos,
na Amostra L, prevalência da alternante Vis, seguida por Vus e is
1302 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

com índices semelhantes, e, na Amostra N, prevalência da alternante


ões, seguida de ãos e ães — esta última, contudo, com ocorrência
consideravelmente inferior à alternante ãos.
TABELA 1 – Distribuição geral de plurais irregulares – Amostras L e N

Amostra L Amostra N
% Ocor. % Ocor.
Vis 98,0 9.061 papéis ões 92,8 5.472 balões
is 1,0 88 funis ãos 5,2 307 irmãos
Vus 1,0 96 chapéus ães 2 120 capitães
Total 9.245 Total 5.899

Por conta da distribuição geral apresentada na Tabela 1, em que


se opõem, em cada amostra, uma alternante de emprego superior a 90% a
outras duas alternantes com emprego bastante reduzido, nossos resultados
serão na maioria das vezes apresentados, a partir daqui, considerando-
se um universo de 100% para cada alternante. Isso permitirá focalizar
o papel das variáveis examinadas no espectro de cada alternante, dando
visibilidade às variantes não prevalentes, e também possibilitará comparar
esse efeito entre as alternantes em termos relativos.

5.2 Número de sílabas


O exame da variável número de sílabas revelou, para as duas
amostras investigadas, que, quanto maior a extensão silábica do vocábulo,
menor a ocorrência das alternantes não prevalentes.
Na Amostra L, Vis é a alternante prevalente em vocábulos de
2 ou mais sílabas. Entre os monossílabos, contudo, divide a liderança
com Vus, que apresenta 50% de ocorrência. Há apenas um caso, 1,8%,
relativo à alternante is entre os monossílabos.
Na Amostra N, a alternante ões também é prevalente em
vocábulos de 2 ou mais sílabas. Entre os monossílabos, contudo, observa-
se uma inversão de preferência, com ãos como a variante mais frequente,
76,9%, seguida de ães, 17,9%, contra reduzidos 5,1% de ões. Não devem
ser desprezados nesta amostra também os índices encontrados para ãos
entre dissílabos e trissílabos.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1303

GRÁFICO 1 – % de plurais irregulares e nº de sílabas – Amostras L e N

O comportamento diferenciado de monossílabos relatado por


Huback (2010a, 2010b), em especial para plurais de ão, foi atestado
em nossas duas amostras. Pode estar em jogo aqui a fidelidade de
monossílabos às suas formas de base, conforme defendem Becker,
Nevins e Levine (2012) e Becker et al. (2018), numa abordagem que
pareia monossílabos com sílabas iniciais. Essa tese, contudo, fica na
dependência do debate sobre que formas estão disponíveis na base, ou na
subjacência, dessas alternantes: se contam com segmentos mais abstratos,
como /l/, por exemplo, no caso da Amostra L, e /N/, no caso da Amostra
N. Embora tópico de nossa investigação, representações subjacentes
não são, contudo, foco deste artigo, razão por que por ora adiamos esse
debate. Além disso, considerando que nosso fenômeno se restringe ao
contexto de final de palavra, afirmações sobre comportamento análogo
de monossílabos a sílabas iniciais seriam, neste recorte, temerárias.
Um exercício necessário, entretanto, é a verificação dos
itens lexicais – em nosso caso, lemas – que integram esses padrões
excepcionais, a fim de subsidiar a discussão sobre um possível efeito
de lexicalização de palavras mais do que de morfemas ou alomorfes
neste caso. A hipótese é de que quanto menor a proporção de lemas para
ocorrências, maior a restrição lexical, isto é, maior a possibilidade de um
item se repetir na amostra. Essa, evidentemente, é uma medida geral, que
deve ser relativizada tanto nos casos em que há muito poucas ocorrências
1304 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

quanto nos casos em que itens particulares apresentam frequências muito


desequilibradas em relação aos demais dados.
Na Tabela 2, registramos a distribuição de lemas e monossílabos
atestados para as alternantes investigadas em cada amostra devidamente
listados/exemplificados (em sua forma pluralizada, por conveniência
expositiva). Itens considerados excepcionais estão em destaque. Os
números mostram limitação categórica de lemas para a variante is, na
Amostra L, e para a variante ões, na Amostra N. No que diz respeito
às demais variantes, as proporções da distribuição lemas/ocorrências,
todas entre 20 e 30%, sugerem importante limitação lexical. Esse fato,
considerada a frequência individual dos itens, pode ser um indicador de
controle do léxico mais do que de seleção alomórfica propriamente dita.
Essa discussão será, na perspectiva da frequência lexical geral, retomada
na seção 5.6.
TABELA 2 – Plurais de monossílabos – Amostras L e N

Amostra L Amostra N
Lemas/ Lemas/
% %
Ocor. Ocor.
sais, réis, géis,
Vis 29,6 8/27 méis, sóis, grais, ões 100 2/2 chões, vões
gois, móis
graus, maus, réus, mãos, grãos,
Vus 32,1 9/28 céus, paus, naus, ãos 23,3 7/30 vãos, sãos, chãos,
véus, vaus, tchaus nãos, pãos
is 100 1/1 vis ães 28,6 2/7 cães, pães

Entre os dissílabos, trissílabos e polissílabos, apesar da


prevalência das variantes Vis, na Amostra L, e ões, na Amostra N, as
alternantes minoritárias também merecem alguma atenção.
Na Amostra L, observa-se, como no caso dos monossílabos,
restrição lexical no caso da alternante Vus, predominando, entre os
dissílabos, os itens degraus, chapéus, troféus e mingaus, e, entre os
trissílabos, vocábulos como mausoléus, berimbaus e bacalhaus, além de
alguns nomes próprios pluralizados, como nicolaus ou venceslaus. Não há
polissílabos no padrão Vus. No caso da variante is, contudo, o fenômeno
parece mais automático, já que não há concentração de lemas, mas uma
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1305

relação direta entre a terminação Consoante+il e o plural is, tanto em


dissílabos, quanto em trissílabos e polissílabos (ex. civis, perfis, infantis,
mercantis, estudantis, primaveris). Exploramos novamente essa relação
na seção 5.5, quando abordamos a afiliação morfológica das alternantes
em questão, incluindo-se os sufixos.
Na Amostra N, em relação ao padrão ãos, também há alguma
predominância de certos lemas entre dissílabos, com destaque para
os itens órgãos, irmãos, cristãos, órfãos, bênçãos e pagãos, e entre
trissílabos, concentrando maior frequência em itens como cidadãos,
artesãos, anciãos, acórdãos, afegãos, cortesãos e corrimãos. Os
polissílabos em ãos da amostra podem ser considerados formas
inesperadas (no sentido de serem muito mais recorrentes com a
alternante ões): concentraçãos, informaçãos, anfitriãos, apresentaçãos,
comunicaçãos, entre outras de mesmo tipo, todas com baixa frequência.
No padrão ães, também se atestam vocábulos de todas as extensões.
Entre os dissílabos e polissílabos analisados, todos parecem ser exceções
a formas mais comumente realizadas com ões e, em alguns casos, com
ãos, como refrães, peães, irmães, anães, entre outros. No que se refere
aos trissílabos, diferentemente, entre os itens mais frequentes estão alguns
que são predominantemente realizados com ães na fala culta, como
alemães, capitães, catalães, casos muitas vezes de sufixos gentílicos, o
que se descreve, como prenunciamos, na seção 5.5, adiante. Os dados
de polissílabos, como os de dissílabos, à exceção do vocábulo tabeliães,
são corriqueiramente produzidos com ões, como cirurgiães, informaçães,
opiniães, alteraçães etc.4

5.3 Acento
Formas terminadas em vogal+u/l e ão ortográficos são
predominantemente oxítonas em português. Na Amostra L, 70% dos itens
apresentam acento final, contra 30% de paroxítonas. Na Amostra N, quase
a totalidade dos itens é de oxítonas, com apenas 0,4% de paroxítonas. Em

4
Por se tratar de uma grande base de dados, alimentada por diferentes fontes, não se
descarta a possibilidade de esses e outros itens excepcionais atestados nesta análise
constituírem meros erros de registro. Não nos cabe, contudo, decidir por descartá-los,
tanto porque não apresentam marcas incontroversas de lapsos de grafia quanto porque,
apesar de atípicos, apresentam-se como possibilidades na língua. A frequência lexical,
por outro lado, figura, em nosso entendimento, como regulador – necessário, se não
suficiente – na interpretação dessa ambiguidade.
1306 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

nenhuma das amostras há proparoxítonas. O Gráfico 2 é particularmente


informativo em relação aos dados atípicos.
GRÁFICO 2 – % de plurais irregulares e acento – Amostras L e N

Na Amostra L, 100% das paroxítonas fazem plural em Vis.


Entre os itens de acento final, contudo, ainda que predomine o padrão
Vis, 1,5% e 1,3% correspondem, respectivamente, aos padrões Vus e
is. A quantificação das ocorrências e a proporção de lemas envolvidos
nesses dois padrões excepcionais estão listados na Tabela 3. Os lemas
representam, tanto para a alternante Vus quanto para is, mais de 50%
das ocorrências nessas categorias, índices que não permitem conclusões
contundentes acerca de restrição lexical.
TABELA 3 – Plurais de oxítonos – Amostra L

% Lemas/Ocor.
Vus 76 73/96 graus, maus, réus, céus, degraus, chapéus
is 53,5 46/86 civis, perfis, infantis, juvenis, barris, estudantis

Na Amostra N, localizamos 23 casos de paroxítonas. Como


mostra a Tabela 4, são os mesmos 8 lemas caracteristicamente realizados
no plural com a alternante ãos que apresentam alguma variação em ões
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1307

e ães – estes últimos com baixa frequência de acordo com os índices do


CBras. Se de fato nomes paroxítonos condicionam em alguma medida
a seleção da alternante ãos, não há que se falar em restrição lexical. O
fato, porém, de lidarmos com muito poucas ocorrências neste caso deixa
tal conclusão em suspenso, na dependência de análises que considerem
o léxico potencial mais do que o institucionalizado.
TABELA 4 – Plurais de paroxítonos – Amostra N
% Lemas/Ocor.
ões 100 2/2 órgões, acórdões
ãos 40 8/20 órgãos, órfãos, bênçãos, acórdãos, sótãos, cóvaos,
cristóvãos, orégãos
ães 100 1/1 órgães

5.4 Contexto fonológico


Nesta subseção tratamos dos segmentos que precedem a porção
fonológica comum às três alternantes estudadas em cada amostra. Assim,
na Amostra L, abordamos a vogal do núcleo da sílaba envolvida no plural,
a que antecede o glide no ditongo ou a que precede s, em casos de suposta
não ditongação, como em funis. Na Amostra N, abordamos a consoante
do onset da sílaba que contém o ditongo nasal, ou sua ausência, em caso
de hiato, como em peões.

Vogal do núcleo na Amostra L


Na Amostra L, classificamos inicialmente cada uma das vogais
que nuclearizam a sílaba envolvida na alternância em questão. A
preferência categórica de Vis para qualquer vogal é frustrada pela vogal
[i], que, por razões estruturais, concentra 100% de suas ocorrências no
padrão is, e pelas vogais [a] e [ɛ], que apresentam, respectivamente, 0,9%
e 25,6% de suas ocorrências no padrão Vus.
1308 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

GRÁFICO 3 – % de plurais irregulares e vogal do núcleo – Amostra L

Os resultados não indicam evidência imediata para agrupar as


vogais por algum parâmetro fonético-fonológico (articulatório, por
exemplo), razão por que as mantivemos separadas nesta análise. Cabe,
contudo, averiguar os itens que justificam esse comportamento não
categorial, a fim de checar se não se pode atribuí-lo ao design do léxico
mais do que propriamente à fonologia. Os dados de [i], categóricos
para is, serão examinados com mais detalhe quando tratarmos da
variável afiliação morfológica, mais especificamente da terminação il.
Exploramos, porém, a distribuição dos casos atípicos envolvendo as
vogais [a] e [ɛ], como se vê na tabela 5. As proporções relativamente
altas de lemas/ocorrências não permitem se concluir que estejamos diante
de um efeito de restrição lexical neste caso.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1309

TABELA 5 – Plurais atípicos com núcleos a, ɛ – Amostra L5

% Lemas/Ocor.
a 74,5 38/51 maus, degraus, paus, naus, saraus, mingaus
Vus
ɛ 77,8 35/45 réus, céus, chapéus, troféus, véus, mausoléus5

Desconsiderando-se, contudo, a explicação de restrição lexical,


a interpretação para o resultado da alternante Vus deve levar em
conta, ainda, a hipótese de distinção subjacente entre bases terminadas
em /Vw/, ditongos legítimos, e bases terminadas /Vl/, sujeitas à
ditongação por derivação fonológica (BISOL, 1989; CAMARA
JR., 1970, entre outros). Essa distinção está presente na ortografia
inclusive, contrastando pares como mau (adjetivo) vs. mal (advérbio),
cujos plurais ainda se preservam maus/males em grande medida na
língua culta. Não há garantia de que o dado de escrita, neste caso,
reflita a fala, mas também não é possível negar com segurança que
alguma representação próxima da escrita possa subjazer, na mente, o
dado de fala. O fato é que convenções de escrita podem ser causa e
consequência de padrões fonológicos, já que, alimentadas pela fala, são
também alimentadoras das representações sonoras mentais de falantes
escolarizados (SCHWINDT et al., 2007).
A título de exercício, para explorar especificamente os padrões
de terminação da base singular, codificamos adicionalmente a Amostra
L da seguinte forma: Vl equivale a formas fechadas na escrita por l (ex.
canal, pincel) e Vw, por ditongo com u (ex. pau, céu). O cruzamento
dessas categorias com as vogais que ocupam o núcleo silábico está
representado no Gráfico 4.

5
Desses itens frequentes de base éu que listamos, apenas troféu apresenta dado de plural
com a alternante Vis, troféis, com frequência 4, contra troféus, com frequência 913.
1310 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

GRÁFICO 4 – % de terminações da base singular e vogal do núcleo – Amostra L

No padrão de base singular Vl, que responde por 98,9% dos


dados, podemos encontrar todas as 7 vogais como núcleos na Amostra
L, concentrando-se 94.5% dos dados nas vogais [a] e [e] (ex. avental,
móvel). No caso de Vw, só se registram dados com núcleos [a] e [ɛ] (ex.
degrau, troféu), com as ocorrências que já relatamos quando tratamos
do padrão de plural Vus.
Ainda que não possamos, com base no tipo de dado de que nos
utilizamos neste trabalho, concluir sobre a distinção da representação
subjacente das alternantes envolvidas, nossos resultados confirmam,
por ora, no que tange às vogais nucleares, a correlação entre os padrões
VlSing/VisPl, VwSing/VusPl.

Consoante precedente na Amostra N


Em relação ao contexto fonológico precedente ao ditongo nasal,
a partir do exame estatístico de diferentes classificações considerando os
mais variados segmentos e encontros consonantais atestados, chegamos
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1311

ao resultado apresentado no gráfico 5. Para todas os contextos, prevalece


a alternante ões. De diferente da categorização tradicional em grandes
classes de sons, nossa classificação inclui a consoante [s], por representar
91,8% das fricativas e 69,6% de todos os contextos.
GRÁFICO 5 – % de plurais irregulares e onset – Amostra N

O comportamento diferenciado de [s], que concentra 97,4% de


seus dados na alternante ões, coincide com a grande incidência do sufixo
-ção nos dados. Esse fato é explorado do ponto de vista do sufixo na
subseção seguinte. Em relação aos demais contextos não se observam
predominâncias que justifiquem em princípio a defesa de uma hipótese
assimilatória. Na tabela a seguir, exploramos o comportamento lexical
das alternantes não prevalentes em relação à consoante precedente. Os
únicos contextos que permitem alguma exploração sobre restrição lexical
são, no caso da alternante ãos, o das oclusivas e nasais, e, no caso de ães,
o das nasais. Nesses contextos, a proporção lemas/ocorrências é baixa o
suficiente para sugerir alguma medida de restrição lexical.
1312 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

TABELA 6 – Plurais atípicos e contexto precedente – Amostra N

Lemas/
%
Ocor.
hiato 100 14/14 anciãos, aldeãos, anfitriãos, aviãos
s 98,4 61/62 infecçãos, condiçãos, informaçãos, alteraçãos

ãos fricativo 64,5 20/31 órfãos, artesãos, vãos, cortesãos, chãos


líquido 62,1 18/29 grãos, refrãos, vilãos, catalãos
oclusivo 25,6 30/117 órgão, cidadão, cristão, pagão, acórdão
nasal 14,8 8/54 mãos, irmãos, corrimãos, nãos, alemãos
hiato 92,3 12/13 guardiães, tabeliães, anciães, cirurgiães
s 97,8 44/45 infecçães, condiçães, informaçães, alteraçães
líquido 88,9 8/9 capelães, catalães, refrães, castelães, tecelães
ães
fricativo 80 4/5 escrivães, alazães, decisães, lesães
oclusivo 63,3 19/30 cães, pães, capitães, charlatães, cristães
nasal 22,2 4/18 alemães, irmães, anães, caimães

5.5 Afiliação morfológica


Como mencionamos, os vocábulos aqui analisados são
substantivos e adjetivos, que rotulamos como nomes. Considerando-se os
propósitos desta etapa de nossa pesquisa, trabalhamos com uma lista de
palavras, não de frases, disponibilizada pelo CBras. Ainda que tenhamos
quantificado os vocábulos por classe, muitos itens restaram dúbios, já
que adjetivos podem facilmente ser empregados como substantivos
em português, assim como substantivos podem eventualmente ser
empregados como adjetivos.6 Decidimos, por outro lado, no âmbito das

6
Embora a busca do item dentro da frase seja acessível aos usuários do CBras por meio
do site Linguateca, não recorremos a esse expediente para checar se nomes de classe
dúbia haviam sido empregados como substantivos ou como adjetivos, por consideramos
essa informação, operacionalmente custosa, pouco relevante para os fins de nossa
pesquisa. Essa checagem restringiu-se à desambiguação, como mencionamos na
metodologia, de nomes com outras classes apenas (como verbos ou advérbios, por ex.).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1313

variáveis morfológicas, centrar nossa discussão na afiliação morfológica


das alternantes, já que as formas de base para os plurais aqui investigados
podem se localizar no radical, coincidir integralmente com sufixos ou,
ainda, apenas ser parte de sufixos. Como afixos derivacionais estão
relacionados à categorização dos vocábulos, porém, um debate sobre
classes pode eventualmente ser desenvolvido a partir do exame desta
categoria.
Nesta seção, como na anterior, por conta das peculiaridades
de cada amostra no que diz respeito à morfologia, apresentamos seus
respectivos resultados separadamente.

Afiliação morfológica na Amostra L


Foram inicialmente examinados 18 contextos, sendo 17 de sufixos
potenciais (já que nem todos podem ser seguramente considerados sufixos
na sincronia da língua) e formas em que as terminações de base u/l
faziam parte do radical (ou raiz acrescida ou não de elementos na borda
esquerda). Esses contextos foram reestruturados em apenas 4 categorias,
considerando-se que 91,3% dos dados correspondem aos sufixos -al e
-vel, distribuindo-se os demais dados entre o radical e outros sufixos
comparativamente pouco frequentes.
GRÁFICO 6 – % plurais irregulares e afiliação morfológica da base – Amostra L
1314 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

Todos os casos de bases fechadas pelos sufixos -al e -vel fazem


plural em Vis. Entre outros sufixos e radical, registram-se ocorrências
das alternantes Vus e is. Entre os sufixos que classificamos como outros
– 4,7% da amostra – estão casos sobretudo de -eu (ex. europeus), ɛu
(ex. fogaréus), -ɛl, (ex. carretéis ), -ɔl (ex. espanhóis) e -il (ex. febris).
A incidência destacada da alternante is na categoria outros deve-se, em
primeiro lugar, às ocorrências do sufixo il, bastante produtivo na formação
de adjetivos em português (ex. estudantil, febril, juvenil), mas que nem
sempre consegue ser claramente isolado de suas bases (ex. civil, sutil,
hostil), e, em segundo lugar, a itens em que il é parte da raiz (ex. perfil,
fuzil, refil). A variável radical acomoda vocábulos em que não se detecta
qualquer processo sufixal (ex. paus, sóis) ou aqueles para os quais a
opacidade da fronteira sufixal parece consolidada (ex. ramais, quartéis).
Por essa razão, os dados da alternante Vus se concentram nessa categoria.
Por fim, enfatizamos que o índice para a variável radical pode se ampliar
se consideramos que parte não desprezível das palavras classificadas em
outros sufixos, por suspeição da transparência sufixal, poderia estar aptas
a migrar para essa categoria.

Afiliação morfológica na Amostra N


A partir de uma divisão inicial em 10 contextos, que procurava dar
conta de 8 sufixos e 2 tipos de bases, considerando-se a distribuição dos
dados, chegamos a uma classificação que contempla 5 contextos apenas,
o radical mais 4 tipos de sufixos. Antes de apreciarmos o gráfico a seguir,
que tem por base, como vimos adotando, 100% das ocorrências para cada
contexto distribuídas entre as alternantes investigadas, é importante se
registrar que 61,4% dos dados da Amostra N dizem respeito ao sufixo
-ção (ex. construções), 20,2% ao radical (ex. pães) e 10,9 ao aumentativo
(ex. lixões). Os 7,5% de dados restantes distribuem-se entre agentivos/
gentílicos (ex. artesãos, catalães) e outros sufixos (ex. colisões).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1315

GRÁFICO 7 – % plurais irregulares e afiliação morfológica da base – Amostra N

Os casos de -ção, de aumentativo e de outros sufixos selecionam


a alternante ões predominantemente, podendo ser enquadradas suas
exceções na pequena margem de variação ou mesmo de erro de registro
de escrita a que está sujeito o tipo de dado de que nos utilizamos neste
trabalho (ex. duraçãos, informaçães, tristãos, beatães, decisãos, opiniães).
No caso dos radicais e dos sufixos agentivos/gentílicos,
exploramos hipótese diversa: um pouco mais numerosos, os casos atípicos
poderiam se referir a restrições lexicais. É o que se explora na tabela 7, que
permite identificar indício de restrição lexical no subconjunto dos sufixos
agentivos/gentílicos especialmente no que se refere à alternante ãos.
TABELA 7 – Plurais atípicos e afiliação morfológica – Amostra N

Lemas/
%
Ocor.

ãos radical 50,7 73/144 órgãos, mãos, grãos, irmãos, órfãos


agentivo/gentílico 19,4 20/103 cidadãos, cristãos, artesãos, pagãos
radical 80,4 41/51 cãos, pãos, capitãos, tabeliãos, refrãos
ães
agentivo/gentílico 46,9 15/32 alemão, guardião, escrivão, capelão
1316 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

Sobre a relação entre afiliação morfológica e contexto fonológico


precedente na Amostra N, cabe apenas um registro sobre a relação
-ção/[s]. Trata-se de uma correspondência assimétrica. Obviamente as
ocorrências do sufixo -ção (ex. manifestações) coincidem integralmente
com as ocorrências de [s]. O contexto precedente [s], porém, corresponde
também à maior parte, 37,8%, dos casos de radical (ex. nações), a
4,84% dos casos de sufixo aumentativo (ex. servições) e a 1,66% dos de
agentivo/gentílico (todos os casos do lema saxões), compreendendo, de
modo geral, 8,25% dos dados da Amostra N. Em todos os casos, como
vimos, a forma de plural atestada preferencialmente é ões. Esses fatos
dificultam se afirmar com segurança que o sufixo, e não a consoante [s]
(ou sua associação à classe das fricativas), define a seleção da alternante.

5.6 Frequência lexical


Embora tenhamos discutido em alguma medida o papel de itens
lexicais específicos ao longo da apresentação dos resultados das variáveis
que investigamos, dedicamos essa seção para uma análise mais geral do
efeito da frequência lexical sobre a realização das formas de plural em
estudo.
Começamos por listar, com as nuvens de palavras presentes no
gráfico 8, os 50 itens mais frequentes de cada amostra.
GRÁFICO 8 – 50 itens de plural irregular mais frequentes – Amostras L e N
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1317

No gráfico 9, tratamos da frequência dos itens lexicais com maior


detalhamento para cada uma das amostras, fazendo uso de uma escala
logarítmica. A motivação para a adoção dessa escala é a discrepância
de dados absolutos da variante Vis sobre Vus e is, na Amostra L, e da
variante ões sobre ãos e ães, na Amostra N.
GRÁFICO 9 – Plurais irregulares e frequência lexical – Amostras L e N

Analisamos primeiramente os resultados para a Amostra L. Em


relação à posição, embora a média de frequência para as três alternantes
seja relativamente equilibrada, a despeito da grande diferença de dados,
observamos que a mediana se iguala para as alternantes Vis e Vus,
situando-se na frequência 4, mas se eleva a 26,5 para alternante is. Apesar
disso, é Vus que apresenta assimetria positiva, concentrando dados no
terceiro quartil. Quanto à dispersão, as variantes apresentam importante
diferença de amplitude, que reflete a distribuição da amostra, mas também
a grande incidência de outliers (dados que se afastam do padrão geral de
distribuição) na porção superior dos dados. O intervalo interquartílico
entre as variantes Vis e Vus, apesar da grande distinção no número total
de dados, se assemelha, mas a alternante is destoa importantemente
das demais. Por fim, merecem destaque as caudas do limite inferior:
o segundo quartil se inicia no limite mínimo de frequência lexical, 1,
para a alternante Vis, mas em 2 para as variantes Vus e is. As caudas
superiores se assemelham para as três alternantes, e o limite superior é
equilibrado para Vis e Vus, situando-se entre as frequências 50 e 60, mas
1318 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

é consideravelmente maior para is, alcançando 884. A tabela 8 contribui


para a melhor leitura desses dados.
TABELA 8 – Plurais irregulares e frequência lexical em quantis – Amostra L

Limite Limite
Alternante 25% 50% 75% 100% Média
inferior superior
Vis 1 1 4 24 58,5 710.897 722,2
Vus 1 2 4 21,3 50,3 41.745 692,3
is 1 2 26,5 354,8 884 25.373 900.64

Interpretando esses resultados na perspectiva da frequência


lexical, podemos dizer que os números obtidos para a Amostra L conferem
pouco destaque às alternantes Vis e Vus no que concerne à frequência
lexical, mas também que não diferenciam essas alternantes entre si de
modo importante. Isso, associado ao comportamento diferenciado de is,
que conta com mais itens frequentes do que suas concorrentes na porção
central da amostra, sugere algum controle à generalização de Vis como
marca de plural de palavras terminadas em u/l, apesar de sua indiscutível
prevalência na língua.
Analisamos agora os resultados para a Amostra N. No que
concerne à posição, se, por um lado, as médias das duas primeiras
alternantes, ões e ãos, não se mostram tão distanciadas no comparativo
com a terceira alternante, ães, por outro, a mediana afasta a primeira,
com frequência lexical 5, das duas últimas, com frequência lexical 2.
As três alternantes apresentam algum grau de assimetria positiva, com
mais itens no terceiro quartil, com destaque para ões, alternante em que
o índice se eleva mais nesta porção. Em relação à dispersão, como na
Amostra L, há aqui importante diferença de amplitude, com outliers na
porção superior para as três alternantes, acompanhando os índices de
prevalência dessas variantes no uso. O intervalo interquartílico também é
consideravelmente maior para a variante ões. O limite inferior é idêntico
para as três variantes, coincidindo o início do segundo quartil com a
frequência lexical mínima da amostra, 1. As caudas superiores também
não se distinguem importantemente, sendo inclusive proporcionalmente
idênticas para a primeira e a terceira variantes, respectivamente a mais e a
menos prevalentes da Amostra. O limite superior, contudo, é sensivelmente
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1319

distinto para as três variantes, acompanhando o caráter decrescente de


emprego dessas alternantes. A tabela 9 detalha esses valores.
TABELA 9 – Plurais irregulares e frequência lexical em quantis – Amostra N

Limite Limite
Alternante 25% 50% 75% 100% Média
inferior superior
ões 1 1 5 57 141 284.580 1.183,9
ãos 1 1 2 6 13,5 80.948 906,7
ães 1 1 2 4 8,5 18.386 342,8

Os resultados obtidos para a Amostra N não sugerem predomi-


nância de itens mais frequentes para as variantes marginais, ãos e
ães. Isso somado ao fato de que a variante prevalente no uso, ões,
concentra também itens lexicais mais frequentes contribui para a ideia de
generalização dessa variante como marca de plural de palavras terminadas
em ão na língua.

6 Considerações finais
Neste texto apresentamos resultados de um estudo descritivo
sobre a expressão fonológica de formas de plural irregular em português,
no âmbito da palavra, com base em dados do Corpus Brasileiro. Duas
amostras foram consideradas: Amostra L, relativa ao plural de nomes
terminados, no singular, em vogal+u/l ortográficos, a que correspondem
as alternantes Vis, Vus e is, e Amostra N, relativa ao plural de nomes
terminados em ão ortográfico, a que correspondem as alternantes ões, ãos
e ães. Variáveis fonológicas e léxico-morfológicas foram quantificadas
em relação a cada uma dessas alternantes.
O estudo confirmou a prevalência, amplamente relatada na
literatura, das variantes Vis e ões, respectivamente, para as Amostras
L e N. Dedicamos, por isso, nossa maior atenção às variantes menos
frequentes. Em relação a essas variantes, merecem destaque os aspectos
a seguir resumidos.
(i) Em relação ao número de sílabas, monossílabos mostram
comportamento diferenciado nas duas amostras, como relatado por
Huback (2010a, 2010b); Becker et al. (2018), Rizzato (2018), entre
1320 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

outros. Na Amostra L, o destaque é para Vus, que se aproxima muito


em emprego da variante predominante, Vis. Na Amostra N, destaca-se
ãos, com grande vantagem em relação às demais alternantes, seguido
de ães. O contraste entre ocorrências e lemas sugere que os padrões
excepcionais encontrados entre os monossílabos são, em grande medida,
restritos lexicalmente.
(ii) Quanto ao acento, a grande maioria dos dados é de oxítonas,
o que apenas confirma uma hipótese geral sobre a preferência do padrão
acentual do português, já que estamos diante de sílabas supostamente
pesadas (admitindo-se uma consoante ou mesmo um glide em coda).
Não há proparoxítonas. As reduzidas paroxítonas atestadas, no caso
da Amostra L, seguem o padrão predominante, selecionando Vis,
e se referem, majoritariamente a formas sufixadas (sincrônica ou
diacronicamente). No caso da Amostra N, as paroxítonas selecionam
predominantemente ãos, em ocorrências bastante restritas lexicalmente.
(iii) Em relação ao contexto fonológico, examinamos, no caso da
Amostra L, a vogal que nucleariza a sílaba envolvida em cada alternante.
Para todas as vogais há predomínio da alternante Vis, com exceção de
[i], que realiza is, por restrição estrutural, já que todas as formas dizem
respeito à terminação il. As vogais [a] e [ɛ] estão presentes em dados com
a alternante Vus, sem indícios de restrição lexical, dada a alta proporção
lema/ocorrência nessas categorias. Esse comportamento das vogais
se confirma quando se contrastam padrões de terminação das formas
pluralizadas a padrões de terminação das bases. No caso da Amostra N,
porque a vogal nuclear, [ã], é comum à forma singular das três alternantes,
examinamos a consoante que precede esta vogal. O destaque é para
[s], que corresponde a quase 70% dos dados, distribuído entre as três
variantes, com privilégio para ões. As demais consoantes distribuem-se
de modo relativamente equilibrado. Identifica-se controle lexical apenas
no caso de oclusivas e nasais precedendo ãos e de nasais precedendo ães.
(iv) No que concerne à afiliação morfológica das alternantes, na
Amostra L, 91,3% dos dados são de palavras terminadas nos sufixos -al
ou -vel, todos realizando a variante Vis. Os demais dados distribuem-se
entre radical e outros sufixos. Desses, destacam-se os dados do sufixo -il,
todos realizando is, e dos ditongos localizados na raiz, que realizam Vus.
Na Amostra N, 61,4% dizem respeito ao sufixo -ção e 20,2%, ao radical.
Os demais itens são fechados por sufixos aumentativos, por agentivos/
gentílicos e outros sufixos minoritários. Em todos os casos predomina
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1321

a alternante ões, à exceção dos agentivos/gentílicos, grupo em que se


destacam as alternantes ãos e ães, com alguma restrição lexical. As
alternantes ãos e ães, embora em número mais reduzido e sem aparente
controle lexical, também se destacam no contexto dos radicais.
(v) Por fim, quanto à frequência lexical geral das amostras
estudadas, podemos dizer, em relação à Amostra L, que o comportamento
similar das alternantes Vis e Vus, apesar de sua considerável diferença
em termos de ocorrências, combinado ao comportamento próprio de
is podem indicar alguma resistência para a generalização de Vis como
marca de plural de palavras terminadas em u/l. No caso da Amostra N, a
variante mais recorrente, ões, é também a que concentra maior frequência
lexical, sem destaque para o comportamento de ãos e ães. Esses fatos
contribuem para a ideia de generalização dessa variante como marca de
plural de palavras terminadas em ão na língua.
Este estudo integra um projeto maior, que trata da representação
de plurais irregulares em português brasileiro. Sua contribuição descritiva
se dá pelo mapeamento de itens do léxico a partir de um banco com grande
volume de dados de uso falado e escrito da língua. Esse mapeamento é
ponto de partida da análise experimental em curso, em que discutimos,
em perspectiva inferencial, o uso dessas alternantes e, sobretudo, suas
representações de base.

Agradecimento
Agradecemos ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq), processos PQ 310921/2018-0 e PIBIC
154093/2020-3, e à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio
Grande do Sul (FAPERGS), processo PROBIC 20/2551-0000315-9, pelo
fomento em forma de bolsas. Agradecemos aos colegas Pedro Surreaux,
Rodrigo Mahfuz e Júlia Ricardo.

Contribuição dos Autores


Este artigo corresponde a um recorte de pesquisa sobre representação de
plurais no português brasileiro, concebida e coordenada pelo primeiro
autor. Os três autores participaram das etapas de levantamento e análise
dos dados, de discussão dos resultados e de redação deste texto.
1322 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

Referências
ABAURRE GNERRE, M. B. M. Alguns casos de formação de plural em
português: uma abordagem natural. Cadernos De Estudos Linguísticos,
Campinas, v. 5, p. 127-156, 1983.
BAUER, L. A Glossary of Morphology. Edinburgh: Edinburgh University
Press, 2004.
BECKER, M. et al. The Acquisition Path of [w]-final Plurals in Brazilian
Portuguese. Journal of Portuguese Linguistics, Lisboa, v. 17, n. 4, p. 1-17,
2018. DOI: https://doi.org/10.5334/jpl.189. Disponível em: https://jpl.
letras.ulisboa.pt/articles/10.5334/jpl.189/. Acesso em: 11 set. 2020.
BECKER, M.; NEVINS, A.; LEVINE, J. Asymmetries in Generalizing
to and from Initial Syllables. Language, Washington, DC, v. 88, n. 2, p.
231-268, 2012. DOI: https://doi.org/10.1353/lan.2012.0049. Disponível
em: https://becker.phonologist.org/projects/english/becker_nevins_
levine_english_2012.pdf. Acesso em: 11 set. 2020.
BISOL, L. O ditongo na perspectiva da fonologia atual. DELTA, São
Paulo, v. 5, n. 2, p. 185-224, 1989.
BISOL, L. A nasalidade, um velho tema. DELTA, São Paulo, v.14,
nº especial, p. 27-46, 1998. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-
44501998000300004. Disponível em: https://revistas.pucsp.br/delta/
article/view/43390/28850. Acesso em: 11 set. 2020.
BISOL, L. A nasalidade fonológica no português e suas restrições.
Diadorim, Rio de Janeiro, v. 18, p. 116-126, 2016. DOI: https://doi.
org/10.35520/diadorim.2016.v18n0a4050. Disponível em: https://
revistas.ufrj.br/index.php/diadorim/article/view/4050. Acesso em: 11
set. 2020.
BISOL, L. Sufixos de duas faces. Revista da Abralin, Aracaju, v. 19, n.
1, p. 1-12, 2020. DOI: HTTPS://doi.org/10.25189/rabralin.v19i1.1380.
Disponível em: https://revista.abralin.org/index.php/abralin/article/
view/1380. Acesso em: 11 set. 2020.
BONET, E.; LLORET, M. R.; MASCARÓ, J. The Prenominal Allomorphy
Syndrome. In: ______. (org.). Understanding Allomorphy. Perspectives
from Optimality Theory. Bristol: Equinox Publishing, 2015. v. 5, p. 1-44.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021 1323

BYBEE, J. Phonology and Language Use. Cambridge: Cambridge


University Press, 2001. DOI: https://doi.org/10.1017/CBO9780511612886
CAMARA JR., J. M. Problemas de Lingüística Descritiva. Petrópolis:
Editora Vozes, 1969.
CAMARA JR., J. M. Estrutura da Língua Portuguesa. 35. ed. Rio de
Janeiro: Editora Vozes, 1970.
CRISTÓFARO-SILVA, T. Organização fonológica de marcas de
plural no português brasileiro: uma abordagem multirrepresentacional.
Revista da Abralin, Curitiba, v. 11, p. 273-305, 2012. DOI: 10.5380/
rabl.v11i1.32468. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/abralin/article/
view/32468. Acesso em: 11 set. 2020.
GOMES, C. A., PRADO, L. O. do; AMARAL, T. L. A. Aspectos
cognitivos e sociais da variação linguística na alternância de formas
de plural de nomes do PB. In: ORSINI, M.; CAVALCANTE, S. R.;
MARINS, J. (org.). Contribuições à descrição e ao ensino do português
brasileiro: da fonética ao discurso, com parada obrigatória na sintaxe
(título provisório). Rio de Janeiro: EDUFRJ, 2021. No prelo.
GUIMARÃES, M.; NEVINS, A. Probing the Representation of Nasal
Vowel in Brazilian Portuguese with Language Games. ORGANON, Porto
Alegre, v. 28, n. 54. p. 155-178, 2013. DOI: https://doi.org/10.22456/2238-
8915.38298. Disponível em: https://seer.ufrgs.br/organon/article/
view/38298. Acesso em: 11 set. 2020.
HUBACK, A. P. Efeitos de frequência nas representações mentais. 2007.
318 p. Tese. Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais,
2007.
HUBACK, A. P. Plurais irregulares do português brasileiro: efeitos de
frequência. Revista da Abralin, Curitiba, v. 9, n. 1, p. 11-40, 2010a. DOI:
https://doi.org/10.5380/rabl.v9i1.52337. Disponível em: https://revistas.
ufpr.br/abralin/article/view/52337/32236. Acesso em: 11 set. 2020.
HUBACK, A. P. Plurais em -ão do português brasileiro: efeitos de
frequência. Revista Linguística, Rio de Janeiro, v. 6, n. 1, p. 9-26, 2010b.
DOI:  https://doi.org/10.31513/linguistica.2010.v6n1a4436
1324 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1289-1324, 2021

RIZZATO, É. Interação do plural de -ão e do aumentativo -zão na


formação de compostos no português brasileiro. 2018. 94 f. Dissertação
(Mestrado em Linguística) – Instituto de Estudos da Linguagem,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2018.
SCHWINDT, L. C. S. et al. A influência da variável escolaridade em
fenômenos fonológicos variáveis: efeitos retroalimentadores da escrita.
Revista Virtual de Estudos da Linguagem – ReVEL, [S.l.], v. 5, n. 9,
p. 1-12, 2007. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/
handle/10183/184784/000640837.pdf?sequence=1. Acesso em: 11 set.
2020.
WETZELS, L. The Lexical Representation of Nasality in Brazilian
Portuguese. Probus, [S.l.], v. 9, p. 203-232, 1997.
WETZELS, L. Comentários sobre a estrutura fonológica dos ditongos
nasais no Português do Brasil. Revista de Letras, Fortaleza, v. 1, n. 22, p.
25-30, 2000. DOI: https://doi.org/10.1515/prbs.1997.9.2.203. Disponível
em: http://www.revistadeletras.ufc.br/rl22Art03.pdf. Acesso em: 11 set.
2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

Uma proposta de coextensividade entre termo técnico,


grupo nominal e item lexical no português brasileiro:
um estudo com base em ferramentas da linguística de corpus
sob o arcabouço de teoria sistêmico-funcional
A proposal of coextensiveness between technical term,
nominal group, and lexical item in Brazilian Portuguese:
a study based on corpus linguistics’ software within the
framework of systemic-functional theory

Júlia Santos Nunes Rodrigues


Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
juliasnrodrigues@ufmg.br
http://orcid.org/0000-0002-7673-1833

Kícila Ferreguetti
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
Kfo2008@ufmg.br
http://orcid.org/0000-0002-1919-0073

Adriana S. Pagano
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Minas Gerais / Brasil
apagano@ufmg.br
http://orcid.org/0000-0002-3150-3503

Resumo: Objetivo: Sob a perspectiva do trabalho de Pearson (1998) e utilizando as


ferramentas da linguística de corpus disponíveis para o português brasileiro, a pesquisa
apresentada neste artigo busca verificar em que medida a coextensividade entre termo
técnico, grupo nominal e item lexical pode ser considerada válida para o português
brasileiro. Método: Para a verificação desta coextensividade, um corpus de artigos
acadêmicos sobre o domínio experiencial do autocuidado em Diabetes Mellitus foi
compilado eletronicamente. Esse corpus foi inserido no software concordanciador
AntConc (ANTHONY, 2019) e três palavras-chave foram extraídas com base no
eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1325-1379
1326 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

corpus de referência CALIBRA (FIGUEREDO; PAGANO; FERREGUETTI, 2014). O


contexto de cada uma dessas palavras foi analisado por meio da ferramenta clusters/n-
grams do AntConc, considerando os clusters/n-grams com o número mínimo de dez
ocorrências. Resultados: A investigação desses clusters/n-grams formados à direita e à
esquerda de cada uma das palavras-chave selecionadas mostrou que a coextensividade
entre termo técnico, grupo nominal e item lexical nem sempre pode ser identificada,
embora a utilização da ferramenta de cluster/n-grams pode ser considerada eficaz para
buscar por itens lexicais que estão em coextensividade à ordem do grupo nominal,
em razão da existência de pelo menos um grupo nominal em cada cluster/n-gram
analisado. Conclusão: Ainda que os programas utilizados em Pearson (1998) não estejam
totalmente difundidos para o português brasileiro, a abordagem sistêmico-funcional
para o grupo nominal e para o item lexical em conjunto com as ferramentas do software
concordanciador utilizado se mostraram eficientes para a análise proposta neste artigo.
Palavras-chave: item lexical; grupo nominal; termo técnico; linguística de corpus;
sistêmico-funcional; co-extensividade.

Abstract: Objective: Drawing on Pearson (1998) and using corpus linguistics tools
available for Brazilian Portuguese, we report on a study aimed at exploring to what
extent the concepts of technical term, nominal group and lexical item are coextensive in
Brazilian Portuguese. Method: A corpus of academic articles on the experiential domain
of Diabetes Mellitus self-care was compiled and queried in AntConc, a concordancing
software (ANTHONY, 2019). Using as a reference corpus CALIBRA (FIGUEREDO;
PAGANO; FERREGUETTI, 2014), three keywords were extracted analysed with
AntConc tool clusters/n-grams, considering clusters/n-grams with a minimum number
of ten occurrences. Results: Analysis of clusters/n-grams to the right and left of each
of the selected keywords showed that technical term, nominal group and lexical item
cannot always coextensive. The use of cluster/n-grams tool can be considered effective
to search for lexical items that are coextensive to the order of the nominal group,
due to the existence of at least one nominal group in each cluster/n-gram analyzed.
Conclusion: Although the programs used by Pearson (1998) are not fully available to
Brazilian Portuguese, a systemic-functional approach to nominal group and lexical
item together with the tools of the concordancing software used in this paper proved
to be efficient for the analysis herein proposed.
Keywords: lexical item; nominal group; technical term; corpus linguistics; systemic
functional theory; coextensiveness.

Recebido em 10 de outubro de 2020


Aceito em 07 de janeiro de 2021
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1327

1 Introdução
O registro de uso de corpus é antigo. Na Grécia Antiga, foi criado
o Corpus Helenístico de Alexandre, o Grande. Na Antiguidade e Idade
Média, os corpora com citações da Bíblia foram desenvolvidos. No
século XX, muitos pesquisadores utilizavam os corpora para trabalhos
de descrição da linguagem. No entanto, apesar desses registros, o uso de
corpora nessas fases era restrito ao aprendizado de línguas, sendo que
todo o processo de elaboração dos corpora era feito de forma manual em
razão da inexistência de recursos tecnológicos (SARDINHA, 2004, p. 3).
Os corpora como conhecemos hoje, com milhões de palavras, com
textos compilados, majoritariamente, de forma automática, construídos
para suprir diversas demandas linguísticas e sendo viabilizados por
softwares de diferentes origens tem início com o lançamento do corpus
Brown (Brown Corpus of Standard American English) no início da década
de 1960 (SARDINHA, 2004). Desde essa época até os dias atuais, a
Linguística de Corpus tem evoluído muito, principalmente a partir do
uso de computadores pessoais nos anos de 1980.
Hoje em dia já existem corpora compilados para uma grande
variedade de línguas, corpora utilizados para diferentes finalidades,
como, tradução, criação de dicionários e gramáticas, processamento de
linguagem natural, terminologia, etc. Há também softwares livres, como
o AntConc (ANTHONY, 2019), por exemplo, que auxiliam pesquisadores
no desenvolvimento de estudos que utilizam corpora. Contudo, a
evolução tecnológica no âmbito da Linguística de Corpus não pode ser
vista de forma homogênea para todas as línguas. No âmbito da língua
inglesa, por exemplo, sobretudo no contexto britânico, a Linguística
de Corpus tem uma disponibilidade maior de recursos tecnológicos em
razão de investimentos financeiros em pesquisas dessa área, bem como
pelo fato dos estudos de corpora, como conhecemos hoje, terem iniciado
no contexto dessa língua. Esse investimento em tecnologia pode ser
observado com clareza no trabalho de Pearson (1998), que serviu de
base para o estudo do presente artigo, haja vista o desenvolvimento de
um anotador morfossintatico (CLG tagger) e de um programa de padrão
de correspondência para aquele trabalho.
Apesar dessas limitações, este artigo tem como principal objetivo
apresentar soluções que podem ser utilizadas como forma de diminuir
o abismo existente entre os recursos tecnológicos disponíveis para o
1328 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

contexto da língua inglesa e ainda incipientes para o português brasileiro.


Essas soluções baseiam-se ora em ferramentas da própria Linguística de
Corpus ora no suporte de outras teorias linguísticas, no caso, a teoria
sistêmico-funcional (FERREGUETTI, 2018; FIGUEREDO, 2007;
HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).
Nesse sentido, a pesquisa detalhada no presente artigo faz uso
de um corpus de artigos acadêmicos sobre autocuidado em Diabetes
Mellitus, escritos em português brasileiro, para extração de termos
técnicos dessa área do conhecimento, por meio das ferramentas de lista
de palavras-chave (Keyword List), clusters e n-grams (Clusters/N-grams)
e lista de concordância (Concordance) do software concordanciador
AntConc (ANTHONY, 2019). As análises do trabalho em questão são
pautadas na teoria sistêmico-funcional principalmente na propriedade
estabelecida por Halliday (2002, p. 59-60) denominada co-extensividade
(coextensiness), a qual pode ocorrer entre o item lexical e a escala de
ordens da gramática – morfema, palavra, grupo/frase preposicional e
oração – sobretudo no que se refere às ordens da palavra e do grupo/frase
preposicional (FERREGUETTI, 2018; FIGUEREDO, 2007).
Partindo dessa propriedade, espera-se verificar em que medida
a correspondência entre termo técnico, grupo nominal e item lexical
pode ser considerada válida para o português brasileiro. Em paralelo à
verificação dessa hipótese, soluções de como os recursos tecnológicos
desenvolvidos para/pela a linguística de corpus alinhados ao arcabouço
linguístico da teoria sistêmico-funcional são testadas a fim de suprimir
recursos da linguística de corpus difundidos para a língua inglesa (cf.
PEARSON, 1998) e pouco (ou nada) disseminados para o português
brasileiro.

2 Fundamentação teórica

2.1 A Linguística de Corpus e o estudo de termos técnicos


Dentre as diferentes vertentes linguísticas, a Linguística de
Corpus e a Terminologia são conhecidas como subáreas da linguística
cujos objetivos estão relacionados ao estudo de termos técnicos sob
diferentes abordagens. Na obra “Linguística de Corpus”, Sardinha (2004)
afirma que:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1329

A Linguística de Corpus ocupa-se da coleta e da exploração de


corpora, ou conjunto de dados linguísticos textuais coletados
criteriosamente, com o próposito de servirem para a pesquisa
de uma língua ou variedade linguística. Como tal, dedica-se à
exploração da linguagem por meio de evidências empíricas,
extraídas por computador (SARDINHA, 2004, p. 3).

Sob essa perspectiva, a Linguística de Corpus lida com


termos técnicos em seu contexto e cotexto de uso, ocupando-se com o
desenvolvimento de ferramentas que consigam examinar uma grande
quantidade de textos de maneira automática (ALMEIDA; CORREIA,
2008).
Por outro lado, a Terminologia, a partir do século XVII, pode ser
entendida sob dois vieses diferentes: i. “Como conjunto de termos de uma
área técnica ou científica” ou ii. “Como disciplina de natureza linguística
que estuda esse conjunto de termos” (ALMEIDA, 2004, p. 31). Cada vez
mais as teorias de Terminologia entendem o texto especializado de uma
determinada área do conhecimento como seu principal ponto de estudo,
sendo o termo técnico compreendido como:
uma condição especial da palavra, um signo linguístico dotado de
significado e significante, e atrelado a uma determinada unidade
e corpo de conhecimentos historicamente estabelecidos. Desse
modo, terminologias deixam de ser unidades “estranhas” ou
“artificiais”, índices de uma língua à parte da língua-sistema,
e passam a ser vistas como palavras que têm ou adquirem
um estatuto peculiar em uma dada situação de comunicação
(FINATTO, 2007, p. 224).

Apesar da Linguística de Corpus e da Terminologia serem


subáreas da linguística, cada uma apresenta uma série de particularidades
que inviabiliza a sobreposição de uma subárea sobre a outra. Uma
das implicações diz respeito ao termo técnico que para a Linguística
de Corpus precisa apresentar uma determinada frequência para ser
considerado um possível termo técnico, bem como necessita ter seu
contexto analisado para certificar-se que se trata de um termo técnico,
ao passo que para a Terminologia a frequência de um dado termo não
compreende um critério de seleção para que esse termo seja entendido
como técnico (FINATTO, 2007). Outra implicação compreende a
elaboração dos corpora compilados para os estudos terminológicos, visto
1330 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

que a extração de termos considerados candidatos a técnicos é diretamente


influenciada pela forma como os textos dos corpora são manipulados
pelos pesquisadores.
Do ponto de vista da complementariedade, no entanto, os
recentes avanços tecnológicos relacionados à Linguística de Corpus se
mostram relevantes também para o progresso da Terminologia enquanto
disciplina. O desenvolvimento e o aprimoramento de ferramentas
computacionais podem viabilizar a gestão e manipulação de grandes
bases textuais, beneficiando as pesquisas terminológicas baseadas em
corpora (ALMEIDA; CORREIA, 2008).
Ainda no tange a complementariedade entre essas duas subáreas,
está a distinção conceitual entre palavra e termo, uma vez que os
manuais de Terminologia designam termo como aquilo que geralmente
é caracterizado como palavra. Contudo, por meio da análise de corpora,
o pesquisador consegue ter acesso ao contexto e cotexto em que
determinado termo aparece, o que pode favorecer a seleção desse termo
como candidato a termo técnico (ALMEIDA; CORREIA, 2008).
A subseção seguinte apresenta o trabalho que norteou a pesquisa
abordada no presente artigo. Esse estudo deixa claro como os avanços
tecnológicos da Linguística de Corpus podem beneficiar diretamente as
pesquisas na área de Terminologia.

2.2 O trabalho de Pearson (1998)


A pesquisa desenvolvida por Jennifer Pearson publicada no
livro Terms in Context de 1998 teve como um dos principais objetivos
estabelecer parâmetros metodológicos que fossem capazes de auxiliarem
terminologistas, lexicográfos e linguistas de corpus a lidar com termos
técnicos de uma forma mais automatizada. Para além disso, a autora
explica conceitos técnicos inerentes à Linguística de Corpus, estabelece
as diferenças entre palavra e termo técnico e apresenta um panorama de
metodologias utilizadas por outras pesquisas que também enfocaram na
definição e extração de termos.
Três corpora com domínios distintos foram utilizados nesse
trabalho. O primeiro chamado de “Nature corpus”, com 230.000 palavras,
lida com o uso especializado da linguagem, visto que envolve artigos
acadêmicos publicados no periódico Nature ao longo do ano de 1989. O
segundo denominado “International Telecommunications Union (ITU)
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1331

corpus”, com 4.7 milhões de palavras, engloba os textos do manual


da União Internacional de Telecomunicações da Europa (International
Telecommunications Union CCITT Handbook) conhecido como “The
Blue Book”, escrito por membros do ITU para aprendizes da área. O
terceiro nomeado como “GCSE corpus”, com um milhão de palavras,
compreende uma série de livros didáticos sobre história, geografia,
biologia, química, sociologia e política, cujo intuito é promover o ensino
de disciplinas do currículo escolar.
Encerrado o processo de compilação desses corpora, um anotador
morfossintático, CLG tagger, desenvolvido pelo grupo de Linguística de
Corpus da Universidade de Birmingham, foi utilizado para gerar uma
anotação automática das classes de palavra de cada um dos três corpora.
Em seguida, uma busca manual por sinais linguísticos, como,
“i.e.” ou “e.g.” foi realizada em cada um dos corpora. Isso se deu pela
hipótese levantada sobre a possibilidade de coocorrência de termos
técnicos com alguns sinais linguísticos específicos.
Essa busca manual por padrões de coocorrência de termos
técnicos e sinais linguísticos resultou em conjuntos de padrões que
indicavam como os termos técnicos eram formados para cada um dos
três corpora. Esses padrões eram formados por meio de uma sequência
de etiquetas, como, por exemplo, adj + noun + noun. Esses conjuntos de
padrões foram inseridos em um programa de padrão de correspondência
que fora treinado para selecionar nos textos de cada corpus palavras que
estavam em concordância com aqueles padrões obtidos manualmente,
ou seja, o programa de padrão de correspondência rastreava os
textos de cada corpus e extraía todos os conjuntos de palavras que se
encaixavam nos inputs dados pelos pesquisadores a partir dos padrões
obtidos manualmente. Então, esses padrões gerados automaticamente
pelo programa de padrão de correspondência eram concebidos pelos
pesquisadores como possíveis termos técnicos.
O próximo passo dessa pesquisa foi a investigação desses
possíveis termos técnicos com o propósito de refinar quais deles poderiam
ser considerados termos técnicos de fato. Para isso, os pesquisadores
responsáveis lançaram mão das seguintes estratégias:
Referência genérica: a presença ou ausência de referência
endofórica no cotexto em que determinado termo aparece pode levar esse
termo a ser considerado genérico ou individual, neste último caso, o termo
poderia ser realizado pelo próprio nome, não por um termo qualquer.
1332 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

Termo sinalizado: o possível termo técnico não pode ser


precedido por uma série de determinantes.
Termo não-sinalizado: o possível termo técnico pode não ser
precedido por um determinante nem ser precedido apenas por artigos
indefinidos. No entanto, somente essa estratégia não é suficiente para
definir se um dado termo é técnico de fato. Tal estratégia só é considerada
suficiente se o termo em questão está em coocorrência com algum dos
sinais linguísticos a seguir:

i. “por exemplo”, “ou seja”;


ii. “chamado de”, “conhecido como”, “denominado por”, “também
chamado de”, “geralmente conhecido como” e
iii. Obedecer à construção: “possível termo técnico” seguido
de “o termo” ou “esse processo” ou “esse método” ou “esse
instrumento”, etc.

Por fim, Pearson detalha os resultados encontrados para cada um


dos três corpora, bem como aponta dificuldades e limitações relacionadas
à pesquisa de extração de termos técnicos em corpora especializados.

2.3 O termo técnico realizado por grupo nominal sob a perspectiva da TSF
No âmbito da teoria sistêmico-funcional (TSF), a gramática é
organizada em uma escala de ordens hierárquicas em que cada ordem
é formada pelas ordens que estão imediatamente abaixo. O português
brasileiro conta com quatro ordens: oração, grupo, palavra e morfema.
Nesse sentido, a oração é constituída por grupos, que por sua vez,
são constituídos por palavras, que são constituídas por morfemas (cf.
FERREGUETTI, 2018; FIGUEREDO, 2007).
Ainda com relação ao sistema linguístico do português, em
um primeiro nível de delicadeza (delicacy), há grupos de cinco tipos:
nominal, verbal, adverbial, conjuntiva e preposicional (FIGUEREDO,
2007). Isso significa dizer que para cada grupo as palavras que os
constituem são, geralmente, da classe correspondente, ou seja, as palavras
que constituem o grupo nominal, por exemplo, são, na sua maioria, da
classe de palavras nominal. A Figura 1 apresenta a distribuição de classes
de palavra de acordo com as concepções da TSF.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1333

FIGURA 1 – Distribuição das classes de palavra segundo a TSF

Fonte: Traduzido e Adaptado de Halliday e Matthiessen (2014, p. 75).

A Figura 1 identifica que as três principais classes de palavra


são nominal, verbal e adverbial. As palavras nominais compreendem os
substantivos (comum, próprio e/ou pronome), adjetivos, numerais e/ou
artigos. As palavras verbais englobam os verbos (lexical, auxiliar e/ou
finito) e as preposições. E as palavras adverbiais envolvem os advérbios
e as conjunções.
No que tange o grupo nominal, objeto de discussão desta seção,
Halliday e Matthiessen (1999) afirmam que o grupo nominal apresenta
duas funções primárias denominadas como Qualidade e Ente. Essas
funções são responsáveis pela ideia de permanência que é intrínseca
ao grupo nominal. Em outras palavras, os elementos permanentes são
capazes de se repetirem ao longo do texto, por isso são mais duradouros
e podem participar de eventos distintos. Em contrapartida, os elementos
transitórios frequentemente realizados pelo grupo verbal representam os
eventos do texto (FIGUEREDO, 2007).
1334 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

No que diz respeito à estrutura do grupo nominal em português


brasileiro, as funções de Ente e de Qualidade são as duas principais. O Ente
representa, linguisticamente, os seres do mundo, é o núcleo semântico do
grupo nominal e pode ser realizado pelos substantivos (comum, próprio ou
pronome); e a Qualidade é responsável por definir qual o subconjunto de
seres o escritor ou falante daquele texto se refere. Para além dessas duas
funções, o grupo nominal pode contar ainda com as funções do Dêitico,
Numerativo, Epíteto, Classificador e Qualificador. O Dêitico determina um
subconjunto do Ente, sendo que essa determinação pode ser em relação à
definição, especificidade e/ou localização. O Numerativo aponta alguma
característica numérica ao subconjunto do Ente. O Epíteto indica alguma
qualidade do Ente, a qual pode englobar traços objetivos do subconjunto
do Ente, bem como alguma avaliação do falante. O Classificador envolve
a relação de hiponímia e é responsável por delimitar o Ente em relação
a uma subclasse. O Qualificador tem a função de caracterizar o Ente do
grupo nominal por meio de frase preposicional,1 oração encaixada ou
oração não-finita (FIGUEREDO, 2007; HALLIDAY; MATTHIESSEN,
2014). O Quadro 1 mostra as classes de palavra mais prováveis para cada
uma das funções do grupo nominal.
QUADRO 1 – Funções do grupo nominal em PB e as respectivas
classes de palavra mais frequentes

Classes de palavra mais Outras possibilidades de


Função
provável ocorrência
pronome
Ente substantivo verbo (fenômeno)
pessoal
Dêitico artigo pronome
Numerativo numeral pronome
Epíteto adjetivo verbo
Classificador adjetivo substantivo pronome numeral

Fonte: Figueredo (2007, p. 226).

1
De acordo com a Teoria Sistêmico-funcional, a frase preposicional corresponde à
ordem localizada entre a palavra e oração na escala de ordem da gramática. Ela é
constituída por uma preposição + um grupo nominal (cf. FERREGUETTI, 2018;
HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1335

Os dados do Quadro 1 revelam que para todas as funções do grupo


nominal as palavras relacionadas à classe nominal são mais prováveis
de aparecer nos grupos nominais em português brasileiro. É importante
ressaltar que os verbos são as palavras localizadas fora da classe nominal
que apresentam ocorrências no grupo nominal. Isso pode ser explicado
pelas metáforas gramaticais, frequentes em determinados tipos de texto
(cf. grammatical metaphor – HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).
Tendo detalhado os principais pontos teóricos relacionados ao
grupo nominal em português brasileiro, a correspondência entre grupo
nominal e termo técnico pode ser entendida por meio da perspectiva
trinocular (de baixo, de cima e ao redor) inerente à teoria sistêmico-
funcional. A análise do termo técnico pela perspectiva de baixo revela
que termos técnicos são constituídos por palavras da classe nominal e são
frequentemente realizados por grupos nominais, que operam na ordem
da oração como Participantes. A análise pela perspectiva de cima indica
que os termos técnicos funcionam semanticamente como participantes.
E a análise pela perspectiva ao redor aponta que os termos técnicos
podem ser co-extensivos (coextensiveness) ao grupo nominal, ou seja,
os termos técnicos podem compartilhar de funções inerentes ao grupo
nominal, como, Ente e Qualidade, por exemplo (cf. HALLIDAY, 1961).

3 Metodologia
A metodologia deste artigo é dividida em duas partes. A primeira
parte aborda a compilação do corpus utilizado, bem como descreve o
corpus que serviu como corpus de referência para a presente pesquisa. A
segunda explica como se deu a adaptação do trabalho de Pearson (1998)
para o português brasileiro, uma vez que o presente estudo foi baseado
na obra Terms in Context de Jennifer Pearson.

3.1 O corpus
Os textos selecionados para constituírem o corpus utilizado
nesta pesquisa compreendem artigos acadêmicos que retratam pesquisas
desenvolvidas no âmbito do Diabetes Mellitus tipo II. O domínio
experiencial (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 1999; HAO, 2015) desses
1336 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

textos é, portanto, essa condição crônica, especificamente, o autocuidado


em Diabetes Mellitus.2
Esses artigos acadêmicos foram extraídos de publicações da
área das Ciências da Saúde a partir da palavra-chave “autocuidado em
diabetes mellitus” digitada na aba de busca do Google Acadêmico.3 Foram
coletados 40 artigos originalmente escritos em português brasileiro,
publicados entre 2010 e 2019, gerando, ao todo, 133.232 tokens, sendo
que a seleção por artigos desse período de tempo é justificada pela
necessidade de textos atuais, capazes de retratar padrões produzidos na
última década.
Cada artigo foi salvo separadamente em um arquivo no bloco de
notas e nominado com o Título da Revista_ano de publicação, sendo que,
para dois ou mais artigos de um determinado periódico publicados no
mesmo ano, a nomeação se deu da seguinte forma Título da Revista_ano
de publicaçãob.
É importante destacar que os abstracts, quadros, gráficos, anexos,
figuras, tabelas e referências bibliográficas de todos os artigos selecionados
para o corpus foram excluídos quando cada artigo foi transferido para o
respectivo arquivo do bloco de notas, dado que a utilização desse material
poderia gerar um corpus poluído, sem contribuições significativas para
os resultados do presente estudo.

3.2 O corpus de referência


Para que a lista de palavras-chave pudesse ser gerada, recorreu-se
à parte escrita monológica do corpus CALIBRA (Catálogo da Língua
Brasileira) como corpus de referência. A seleção por essa parte do
CALIBRA é justificada pelo fato do corpus utilizado para a análise da

2
É importante mencionar que este artigo faz parte de uma pesquisa de doutorado
em desenvolvimento pela primeira autora deste artigo, a partir do apoio financeiro
da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG. Tal
pesquisa está localizada na área de Estudos Linguísticos no escopo do Programa de
Pós-graduação em Estudos Linguísticos da Faculdade de Letras da UFMG e também no
âmbito do Projeto Empoder@ – Protótipo conceitual e metodológico para avaliação de
intervenções orientadas ao autocuidado em diabetes, uma parceria entre o Laboratório
Experimental de Tradução (LETRA) da FALE/UFMG, a Escola de Enfermagem da
UFMG e o Departamento de Estatística do ICEx/UFMG.
3
Disponível em: https://scholar.google.com.br/?hl=pt.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1337

presente pesquisa ser formado por artigos acadêmicos, um tipo de texto


escrito e monológico, tal como os textos do corpus de referência. Essa
similaridade entre os textos do corpus de análise e os textos do corpus de
referência, mesmo que mínima, pode garantir a coerência dos resultados
obtidos para o presente artigo.
O CALIBRA compreende um corpus com cerca de um milhão
de palavras (tokens), compilado de acordo com a tipologia do contexto
de cultura (HALLIDAY, 1978). Essa tipologia é determinada por meio
de cinco variáveis: i. Especialização (especializado/não especializado);
ii. Papel da língua na situação (constitutivo/auxiliar); iii. Modo de
produção (escrito/falado); iv. Modo de interação (monólogo/falado); v.
Processo sociossemiótico (explorar/compartilhar/explicar/relatar/recriar/
fazer/recomendar/habilitar). O Quadro 2 resume todos os tipos de texto
presentes no CALIBRA e destaca aqueles que foram utilizados como
corpus de referência nesta pesquisa.
QUADRO 2 – CALIBRA – Distribuição dos tipos de texto
segundo o contexto de cultura

Fonte: Adaptado de Figueredo, Pagano e Ferreguetti (2014).


1338 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

O Quadro 2 mostra que a parte do corpus de referência utilizada


para a geração da lista de palavras-chave conta com textos dos tipos:
livro texto, reportagem, conto, blog (diário), receita, anúncios, panfletos
e artigo acadêmico. Todos originalmente escritos em português e
monológicos.
Em relação ao número de textos e de tokens da parte do CALIBRA
utilizada como corpus de referência para este artigo, a Tabela 1 informa
todas as quantidades.
TABELA 1 – O corpus de pesquisa: número de textos e de tokens

Processo sociossemiótico Número de textos Número de tokens


Compartilhar 19 9.608
Explicar 24 28.841
Explorar 18 18.552
Fazer 56 32.646
Habilitar 53 58.875
Recomendar 25 36.912
Recriar 39 33.708
Relatar 30 33.142
TOTAL 264 252.284

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

3.3 A adaptação do trabalho de Pearson (1998) para o português brasileiro


Como detalhado anteriormente (cf. Referencial Teórico), o
estudo publicado em Pearson (1998) contou com alguns recursos que
ainda são pouco difundidos para o português brasileiro, como, por
exemplo, o anotador morfossintático automático e o programa de padrão
de correspondência. Em função disso, os parâmetros metodológicos
estabelecidos para a presente pesquisa se baseiam em alguns dos
passos metodológicos definidos em Pearson (1998), excluindo as fases
dependentes dos recursos tecnológicos desenvolvidos para aquele
trabalho. Portanto, não se pode afirmar que a metodologia da presente
pesquisa replica, ipsis litteris, aquela descrita no estudo de Pearson
(1998), uma vez que várias modificações metodológicas tiveram que
ser implementadas.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1339

Após a compilação do corpus de pesquisa, detalhado na primeira


subseção desta metodologia, todos os textos desse corpus foram inseridos
no software concordanciador AntConc. Em seguida houve a exclusão de
todos os itens gramaticais, bem como os metadados que serviam para
documentação do corpus. Isso se deu pelo ajuste das configurações de
“Tool Preferences > WordList” do AntConc, a partir da inserção de uma
lista de itens gramaticais importada para o concordanciador, permitindo
que uma lista de palavras-chave fosse gerada sem o ruído causado pela
presença desses itens gramaticais.
Com a lista de palavras-chave gerada, as três palavras dessa
lista que tiveram maior número de ocorrências foram selecionadas para
terem seus cotextos investigados. Como o uso do programa de padrão de
correspondência em português brasileiro pode ser considerado restrito a
algumas áreas do conhecimento, a ferramenta de geração de clusters/N-
grams do AntConc foi determinante para que se pudesse verificar a
existência de grupos nominais formados à esquerda e à direita da palavra-
chave em questão. A busca pelos clusters/N-grams se deu sempre primeiro
à esquerda e, depois, à direita da palavra-chave, sendo a extensão de
cinco palavras para cada direção, contando com a palavra-chave em
questão. Todos os clusters/N-grams formados à esquerda e à direita
da palavra-chave que tivessem o mínimo de dez ocorrências deveriam
ter seus respectivos cotextos examinados, por meio da ferramenta de
concordância do AntConc, que permite verificar quais palavras estão em
coocorrência com determinado cluster/N-gram e/ou palavra de busca.
Quando a busca pela extensão de cinco palavras à esquerda e/ou à direita
da palavra-chave não resultasse em clusters/N-grams com o mínimo de
dez ocorrências, a extensão deveria ser reduzida de uma em uma palavra,
isto é, quatro palavras, três palavras, até que clusters/N-grams com o
número mínimo de dez ocorrências fossem obtidos.
Após a extração de cada cluster/N-gram à esquerda e à direita
da palavra-chave que tivesse o número mínimo de dez ocorrências, deu-
se início ao processo de análise desses clusters/N-grams. Essa análise
compreende a busca por possíveis grupos nominais presentes nesses
clusters/N-grams, bem como a anotação das funções exercidas por cada
palavra que compõe o grupo nominal em análise.
É importante mencionar que esse processo de busca e análise
de grupos nominais presentes em clusters/N-grams pode ser visto como
uma forma semiautomática de pesquisa por termos técnicos, visto que em
português brasileiro termos técnicos são comumente coextensivos ao grupo
1340 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

nominal (cf. FIGUEREDO, 2007). Além disso, os artigos acadêmicos, que


constituem o corpus de pesquisa utilizado no presente estudo, compreendem
um tipo de texto em que as chances de aparecer termos técnicos são altas
dado o grau de especialidade da linguagem utilizada nesse tipo de texto
(HALLIDAY, 1978). Esse uso especializado da linguagem pode favorecer
também o aparecimento de termos técnicos realizados por mais de uma
palavra, isto é, grupos nominais que contam com mais de uma função, por
exemplo, Ente e Qualificador (cf. FIGUEREDO, 2007).
O último passo metodológico do presente estudo foi verificar
dentre os grupos nominais investigados anteriormente quais poderiam
ser caracterizados como termos técnicos. Essa verificação foi feita pela
análise da coocorrência desses grupos nominais com algum (alguns)
dos sinais linguísticos apontados no trabalho de Pearson (1998) (cf.
Referencial Teórico), bem como pela análise de alguma particularidade
do corpus de pesquisa utilizado e/ou algum sinal linguístico que não foi
mencionado no estudo de Pearson (1998), mas que se mostrou relevante
para a presente pesquisa.

4 Resultados
Como detalhado nas seções de metodologia e de referencial
teórico, o presente trabalho se baseia na pesquisa apresentada em Pearson
(1998), a qual propõe uma metodologia para auxiliar terminologistas,
lexicógrafos e aqueles que se dedicam à linguística de corpus a identificar
termos técnicos por meio de ferramentas da linguística de corpus
utilizando três corpora diferentes (cf. seção 3 Metodologia).
Na obra, a autora relata que a pesquisa se inicia quando os textos
dos corpora são importados para um anotador morfossintático (P.O.S.
tagger), desenvolvido especialmente para aquele trabalho, a fim de isolar
os itens da classe de palavras nominal4 e, posteriormente, verificar se
eles formavam padrões, isto é, se aqueles itens nominais extraídos do
anotador morfossintático eram frequentemente encontrados juntos nos
corpora. A hipótese apresentada nesse estudo sugere que esses padrões
4
Para a teoria Sistêmico-funcional (HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014, p. 75), há
três classes de palavras – nominal (nominal), verbal (verbal) e adverbial (adverbial) – a
classe nominal, sobre a qual o presente artigo enfoca, engloba os adjetivos (adjective);
numerais (numeral), determinantes (determiner) e os substantivos (noun) que, por sua
vez, podem ser comum (common), próprio (proper) ou pronomes (pronoun).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1341

de coocorrência entre itens da classe de palavras nominal poderiam


identificar termos técnicos comuns para as áreas de conhecimento dos
corpora utilizados naquela pesquisa.
Entretanto, como ainda não há um software livre que faça esse tipo
de processo de anotação morfossintática para o português brasileiro, sem
que haja o desenvolvimento de um script em linguagem de programação
e a utilização de um corpus de treinamento que auxilie na exatidão dos
resultados, o presente estudo optou por fazer uma busca semiautomática
dos itens da classe de palavras nominal no corpus utilizado neste trabalho
(cf. Metodologia). Para isso, o corpus de artigos acadêmicos sobre Diabetes
Mellitus foi importado para o software concordanciador AntConc. Após a
extração dos itens gramaticais do corpus (cf. Metodologia), uma lista de
palavras-chave foi gerada a partir do upload da parte escrita monológica do
CALIBRA, a qual foi utilizada nesta pesquisa como corpus de referência.
A seguir, a parte inicial da lista de palavras-chave é apresentada.
FIGURA 2 – Captura de tela com o início da lista de palavras-chave
proveniente do corpus de artigos acadêmicos

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.


1342 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

A Figura 2 mostra uma lista com as palavras-chave mais


frequentes a partir da comparação que o software concordanciador
faz com o corpus de referência utilizado. Os índices da coluna de
frequência (Freq) detalham em ordem decrescente o número de vezes
que determinada palavra-chave apareceu no corpus, comprovando que
as palavras autocuidado (1023 ocorrências), diabetes (996 ocorrências)
e saúde (952 ocorrências) são as três palavras-chave mais frequentes e
por isso foram selecionadas para serem investigadas neste artigo.
Seguindo os passos metodológicos descritos em Pearson (1998),
o próximo passo compreende a análise das coocorrências, ou seja, quais
são as palavras da classe nominal que frequentemente coocorrem com
outras palavras dessa mesma classe, sugerindo a possibilidade de termos
técnicos daquela área de conhecimento. Como no presente artigo não
foi utilizado um anotador morfossintático para selecionar somente as
palavras da classe nominal, a ferramenta de clusters/N-grams do software
concordanciador AntConc serviu para examinar qual(is) palavra(s) da
classe nominal coocorre(iam) com cada uma das três palavras-chave
selecionadas anteriormente.
Antes de apresentar os clusters/N-grams mais frequentes para
cada uma das palavras-chave, é importante relembrar que a busca
por clusters/N-grams objetiva encontrar termos técnicos da área
de conhecimento dos textos do corpus de maneira semiautomática,
adaptando a metodologia proposta por Pearson (1998) para o contexto
do português brasileiro. Nesse sentido, grupos nominais devem estar
instanciados nos clusters/N-grams gerados para as palavras-chave –
autocuidado, diabetes e saúde (cf. Referencial Teórico).
Finalizado os esclarecimentos acerca da correspondência entre
termo técnico, grupo nominal e clusters/N-grams, inicia-se o detalhamento
dos clusters/N-grams formados à esquerda da palavra-chave com maior
número de ocorrências – “autocuidado”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1343

FIGURA 3 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à esquerda


da palavra-chave “autocuidado”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Na Figura 3, tem-se os clusters/N-grams formados com a


palavra-chave autocuidado, sendo que esses clusters/N-grams abrangem
cinco palavras à esquerda do item de busca, uma vez que o tamanho do
cluster, marcado na parte inferior à direita da Figura 3 em Cluster Size,
é cinco, tanto para o tamanho mínimo quanto para o tamanho máximo.
Seguindo a metodologia do presente trabalho, os clusters/N-grams com
o mínimo de dez ocorrências são selecionados para serem analisados de
maneira mais profunda (cf. Metodologia). Portanto o cotexto em que os
clusters/N-grams “adesão às práticas de autocuidado”, “questionário de
1344 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

atividades de autocuidado” e “para as práticas de autocuidado” aparecem


são explorados a seguir.
FIGURA 4 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado à esquerda
da palavra-chave “autocuidado”: “adesão às práticas de autocuidado”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

O primeiro cluster/N-gram formado com cinco palavras à


esquerda de “autocuidado” é “adesão às práticas de autocuidado”, como
mostra a Figura 4. Nesse cluster/N-gram, há dois grupos nominais, a
saber:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1345

QUADRO 3 – Os dois grupos nominais presentes em “adesão às práticas de


autocuidado” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

1º grupo adesão às práticas de autocuidado


nominal
Ente Qualificador

2º grupo às práticas de autocuidado


nominal
Dêitico Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Contudo, o primeiro grupo nominal surge de uma metaforização5


em que “aderir” sofreu um processo de metaforização gramatical para
“adesão”, havendo a nominalização de “aderir” para “adesão”, comum
em textos em que o uso da linguagem especializada é predominante. Por
essa perspectiva prevista pela teoria sistêmico-funcional, esse primeiro
grupo nominal não existiria, já que esse cluster/N-gram seria uma oração:
“aderir às práticas de autocuidado”. Em razão disso, “as práticas de
autocuidado” passa a ser entendido como o único grupo nominal desse
cluster/N-gram.
O segundo cluster/N-gram formado a partir da palavra-chave
“autocuidado” é “questionário de atividades de autocuidado”. A Figura
5 traz as linhas de concordância para esse cluster/N-gram.

5
Segundo os pressupostos da teoria sistêmico-funcional, a metáfora gramatical é
frequentemente encontrada em textos científicos, como os artigos acadêmicos, uma
vez que é nesse tipo de texto em que a linguagem especializada pode ser identificada.
Uma das formas possíveis de se analisar e compreender a metáfora gramatical é por
meio das mudanças de ordem, isto é, uma oração é metaforizada e torna-se um grupo
nominal (cf. HALLIDAY; MATTHIESSEN, 2014).
1346 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

FIGURA 5 – Captura de tela do segundo cluster/N-gram formado à esquerda da


palavra-chave “autocuidado”: “questionário de atividades de autocuidado”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Assim como o primeiro cluster/N-gram formado à esquerda da


palavra-chave “autocuidado”, este segundo cluster/N-gram também
apresenta dois grupos nominais.
QUADRO 4 – Os grupos nominais presentes em “questionário de atividades de
autocuidado” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

1º grupo Questionário de atividades de autocuidado


nominal
Ente Qualificador

2º grupo Atividades de autocuidado


nominal
Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Embora haja dois grupos nominais no cluster/N-gram


“questionário de atividades de autocuidado”, pela análise do cotexto das
linhas de concordância da Figura 5, é possível afirmar que o primeiro
grupo nominal, que engloba todo cluster/N-gram, é o único que pode
ser considerado, uma vez que ele corresponde ao nome do questionário
utilizado nas pesquisas reportadas nos artigos selecionados para o
corpus. Em outras palavras, o segundo grupo nominal “atividades de
autocuidado” apresenta um significado diferente daquele sinalizado pela
análise das linhas de concordância do cluster/N-gram em questão, cujo
objetivo deve ser revelar o nome do instrumento usado.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1347

O terceiro e último cluster/N-gram formado à esquerda da


palavra-chave “autocuidado” é “para as práticas de autocuidado”. A
Figura 6, a seguir, mostra as linhas de concordância desse cluster/N-gram.
FIGURA 6 – Captura de tela do terceiro cluster/N-gram formado à esquerda
da palavra-chave “autocuidado”: “para as práticas de autocuidado”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Esse cluster/N-gram é formado pela preposição “para”, a qual


não exerce função no grupo nominal presente no cluster/N-gram, por isso
tal palavra não aparece no Quadro 5, que aborda as funções presentes no
grupo nominal em questão.
QUADRO 5 – O grupo nominal presente em “para as práticas de autocuidado” e as
respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo nominal as práticas de autocuidado


Dêitico Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Encerrado o detalhamento dos cluster/N-grams formados


à esquerda da palavra-chave “autocuidado” que tiveram o número
mínimo de dez ocorrências no corpus, torna-se necessário apresentar os
clusters/N-grams formados à direita dessa palavra-chave. Nesta segunda
configuração, os clusters/N-grams também seguem o padrão de busca de
cinco palavras à direita de “autocuidado” como mostra a Figura 7 a seguir.
1348 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

FIGURA 7 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à direita


da palavra-chave “autocuidado”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A lista de clusters/N-grams formados à direita da palavra-chave


“autocuidado”, apresentada na Figura 7, revela que somente um cluster/
N-gram teve o mínimo de dez ocorrências – “autocuidado de pacientes
com diabetes”. Adiante, as linhas de concordância, que mostram os
cotextos em que esse cluster/N-gram aparece, estão retratadas na Figura 8.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1349

FIGURA 8 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado à direita da


palavra-chave “autocuidado”: “autocuidado de pacientes com diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Esse cluster/N-gram possui dois grupos nominais, como mostra


as classificações destacadas no Quadro 6 a seguir.
QUADRO 6 – Os grupos nominais presentes em “autocuidado de pacientes com
diabetes” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

1º grupo autocuidado de pacientes com diabetes


nominal
Ente Qualificador

2º grupo pacientes com diabetes


nominal
Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Os dois grupos nominais encontrados no cluster “autocuidado de


pacientes com diabetes” apresentam significados diferentes. No primeiro
grupo nominal o que está qualificado é o Ente “autocuidado” pela frase
preposicional “de pacientes com diabetes”. No segundo grupo nominal
o que está qualificado é o Ente “pacientes” pela frase preposicional
“com diabetes”. Como a palavra-chave que norteou a busca pelos
clusters/N-grams foi “autocuidado” não seria coerente considerar o
segundo grupo nominal de forma desmembrada do primeiro, em razão
das diferentes instanciações para a função do Ente. Nesse caso, portanto,
há a correspondência exata entre o cluster/N-gram e o grupo nominal.
A segunda palavra-chave mais frequente no corpus é “diabetes”,
como mostra a Figura 1. Assim, os resultados apresentados a seguir
dizem respeito aos dados encontrados para tal palavra. A Figura 9 traz
1350 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

os clusters/N-grams formados à esquerda de “diabetes”, considerando


o intervalo de cinco palavras.
FIGURA 9 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados
à esquerda da palavra-chave “diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Seguindo a metodologia previamente desenvolvida para este


artigo, os clusters/N-grams que têm no mínimo dez ocorrências são
examinados, são eles: “para o autocuidado em diabetes”, “de autocuidado
com o diabetes”, “práticas de autocuidado em diabetes”, “para o controle
do diabetes”, “autocuidado de pacientes com diabetes” e “com a condição
do diabetes”.
As linhas de concordância do primeiro cluster/N-gram formado
à esquerda de “diabetes” estão na Figura 10 adiante.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1351

FIGURA 10 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado à esquerda


da palavra-chave “diabetes”: “para o autocuidado em diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A primeira palavra do cluster/N-gram em questão é a preposição


“para”, a qual não apresenta função no grupo nominal “o autocuidado em
diabetes” que está no cluster/N-gram, destacado na Figura 10. O Quadro
7 destaca as funções deste grupo nominal.
QUADRO 7 – O grupo nominal presente em “para o autocuidado em diabetes”
e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo nominal o autocuidado em diabetes


Dêitico Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

O segundo cluster/N-gram formado à esquerda da palavra-chave


“diabetes” compreende a expressão “de autocuidado com o diabetes”.
Para viabilizar o entendimento de tal cluster/N-gram, as linhas de
concordância em que ele aparece no corpus estão destacadas na Figura 11.
1352 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

FIGURA 11 – Captura de tela do segundo cluster/N-gram formado à esquerda da


palavra-chave “diabetes”: “de autocuidado com o diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

O cotexto onde o cluster/N-gram em questão aparece evidencia


que o grupo nominal localizado nesse cluster/N-gram faz parte de um
grupo nominal maior, “Questionário de atividades de autocuidado com
o diabetes”, que, por sua vez, teve a outra porção analisada no segundo
cluster/N-gram mais frequente para a palavra-chave “autocuidado”.
Por esse motivo, a preposição “de” presente no cluster “de autocuidado
com o diabetes” funciona como preposição na frase preposicional “de
autocuidado”, que qualifica “atividades”. O Quadro 8 mostra, portanto,
as funções presentes no grupo nominal “autocuidado com o diabetes”.
QUADRO 8 – O grupo nominal presente em “de autocuidado com o diabetes”
e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo nominal autocuidado com o diabetes


Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

As funções, destacadas no Quadro 8, que constituem o grupo


nominal presente no cluster/N-gram em questão, demonstram que a
frase preposicional “com o diabetes” exerce a função de qualificar o ente
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1353

“autocuidado”, ressaltando o tipo de autocuidado, no caso, aquele que


se refere à condição crônica diabetes.
O terceiro cluster/N-gram mais frequente formado à esquerda
da palavra-chave “diabetes” diz respeito à “práticas de autocuidado em
diabetes”. As linhas de concordância em que esse cluster/N-gram aparece
estão detalhadas na Figura 12.
FIGURA 12 – Captura de tela do terceiro cluster/N-gram formado à esquerda
da palavra-chave “diabetes”: “práticas de autocuidado em diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Esse terceiro cluster/N-gram conta com dois grupos nominais


cujas funções estão no Quadro 9 a seguir.
QUADRO 9 – Os grupos nominais presentes em “práticas de autocuidado em
diabetes” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo

1º grupo práticas de autocuidado em diabetes


nominal
Ente Qualificador

2º grupo autocuidado em diabetes


nominal
Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

O primeiro grupo nominal presente no Quadro 9 engloba o


cluster/N-gram em questão por completo. Neste grupo nominal, a frase
preposicional “de autocuidado em diabetes” qualifica o Ente “práticas”,
1354 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

delimitando quais os tipos de prática são frequentemente abordados no


corpus utilizado. O segundo grupo nominal “autocuidado em diabetes”
tem como Ente “autocuidado” e como qualificador “em diabetes”, este
responsável por indicar qual o tipo de autocuidado os textos do corpus
tratam. Fica evidente na análise das funções dos dois grupos nominais
que seus significados são diferentes, enquanto no primeiro grupo
nominal o que está qualificado são as “práticas”, no segundo o que
está qualificado é o “autocuidado”. Entretanto, como um dos principais
objetivos deste artigo é investigar a correspondência entre cluster/N-
grams, grupo nominal e termo técnico, o primeiro grupo – práticas de
autocuidado em diabetes – tende a se aproximar com maior exatidão
dessa correspondência, por isso, a partir deste momento, apenas esse
grupo é considerado como grupo nominal presente no terceiro cluster/N-
gram formado à esquerda da palavra-chave “diabetes”. Para além disso,
o pressuposto de que os clusters/N-grams devem ter no mínimo dez
ocorrências reforça também a escolha pelo primeiro grupo nominal, já
que não se sabe qual a frequência do segundo grupo nominal no corpus.
O quarto cluster/N-gram formado à esquerda da palavra-chave
“diabetes” trata-se da expressão “para o controle do diabetes”. A Figura
13 mostra as linhas de concordância onde este cluster/N-gram pode ser
encontrado no corpus.
FIGURA 13 – Captura de tela do quarto cluster/N-gram formado à esquerda da
palavra-chave “diabetes”: “para o controle do diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A análise dos cotextos em que este cluster/N-gram aparece


possibilita afirmar que o “para” funciona como uma conjunção na ordem
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1355

da oração. Segundo o trabalho de Figueredo (2007), essa função não está


diretamente relacionada ao grupo nominal em português brasileiro, ou
seja, palavras da classe adverbial exercem prototipicamente funções no
grupo adverbial, ao passo que palavras da classe nominal tem funções
prototípicas no grupo nominal. Por essa razão, o grupo nominal presente
neste cluster/N-gram envolve apenas a porção: “o controle do diabetes”.
O Quadro 10 salienta as funções desse grupo nominal.
QUADRO 10 – O grupo nominal presente em “para o controle do diabetes” e as
respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo nominal o controle do diabetes


Dêitico Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Em conjunto com a preposição “de” a palavra-chave “diabetes”


opera como um grupo nominal formado por uma frase preposicional, cuja
função é qualificar o Ente “controle”, caracterizando o tipo de controle,
no caso, aquele relacionado ao Diabetes Mellitus.
O quinto cluster/N-gram formado à esquerda de “diabetes” é
“autocuidado de pacientes com diabetes”. A seguir, a Figura 14 revela
as linhas de concordância com os cotextos em que este cluster/N-gram
aparece.
FIGURA 14 – Captura de tela do quinto cluster/N-gram formado à esquerda da
palavra-chave “diabetes”: “autocuidado de pacientes com diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.


1356 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

Tal como os exemplos anteriores, o cluster/N-gram em questão


“autocuidado de pacientes com diabetes” conta com dois grupos
nominais, como mostra o Quadro 11.
QUADRO 11 – Os grupos nominais presentes em “autocuidado de pacientes com
diabetes” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

1º grupo autocuidado de pacientes com diabetes


nominal
Ente Qualificador

2º grupo pacientes com diabetes


nominal
Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

O primeiro grupo nominal “autocuidado de pacientes com


diabetes” envolve todo o cluster/N-gram que está sendo examinado,
enquanto que o segundo grupo nominal está em relação de dependência
(hipotaxe) com o primeiro nominal. Isso salienta que os dois grupos
nominais apresentam significados diferentes. No primeiro grupo nominal,
o Ente é “autocuidado”, e a qualificação se dá por “de pacientes com
diabetes”, que classifica o tipo de autocuidado abordado nos artigos
acadêmicos do corpus. No segundo grupo nominal, o Ente é “pacientes”,
e a qualificação é “com diabetes”, identificando que os tipos de pacientes
mencionados no corpus são aqueles que tem diabetes. Tendo em mente
o fato de que o primeiro grupo nominal “autocuidado de pacientes com
diabetes” envolve todo o cluster/N-gram em questão, e, portanto, tem
o mínimo de dez ocorrências requisitadas na metodologia deste artigo,
bem como apresenta significado mais abrangente e coerente ao cotexto
em que aparece nos textos do corpus, este grupo nominal passa a ser
considerado o único válido para este cluster/N-gram.
O sexto e último cluster/N-gram formado à esquerda da palavra-
chave diabetes, considerando a extensão de cinco palavras e com o
mínimo de dez ocorrências, é “com a condição do diabetes”. A Figura
15 traz as linhas de concordância que mostram os cotextos em que este
cluster/N-gram aparece no corpus.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1357

FIGURA 15 – Captura de tela do sexto cluster/N-gram formado à esquerda


da palavra-chave “diabetes”: “com a condição do diabetes”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Investigando as linhas de concordância da Figura 15, observa-se


que o cluster/N-gram em questão começa com a preposição “com”, a qual
em conjunto com o restante do cluster/N-gram instanciado pelo grupo
nominal “a condição do diabetes”, tem a função de qualificar os Entes que
estão fora do escopo do cluster/N-gram, como, por exemplo, “24 pessoas”,
“os usuários” e “as pessoas”. Nesse sentido, se a preposição “com” fosse
considerada como parte do grupo nominal presente no cluster/N-gram, a
extensão deste cluster/N-gram precisaria ser modificada, o que causaria
incoerência com a metodologia estabelecida para o presente estudo, bem
como poderia causar alterações nos resultados encontrados até então.
Por esses motivos, o grupo nominal presente no cluster/N-gram “com a
condição do diabetes” diz respeito à “a condição do diabetes”. As funções
deste grupo nominal estão destacadas no Quadro 12 a seguir.
QUADRO 12 – O grupo nominal presente em “com a condição do diabetes”
e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo nominal a condição do diabetes


Dêitico Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Neste grupo nominal, o qualificador “do diabetes” tem a função de


identificar o tipo de “condição” que foi mencionada com maior frequência
nos textos do corpus utilizado na presente pesquisa. “Condição”, por sua
vez, funciona como o Ente do grupo nominal. Ainda neste grupo nominal,
aparece o determinante “a” que opera como dêitico.
1358 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

Encerrada a análise dos clusters/N-grams formados à esquerda


da palavra-chave “diabetes” que obtiveram o número mínimo de dez
ocorrências, a Figura 16 apresenta os clusters/N-grams formados à direita
desta palavra-chave.
FIGURA 16 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à direita
da palavra-chave “diabetes” com extensão de cinco palavras

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Observando a coluna de frequências (Freq) da Figura 16, é


possível afirmar que não há nenhum cluster/N-gram com o mínimo
de dez ocorrências, condição estabelecida na metodologia do presente
artigo. Por isso, o tamanho mínimo e máximo do cluster foi reduzido
para quatro, como mostra a Figura 17 a seguir.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1359

FIGURA 17 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à direita


da palavra-chave “diabetes” com extensão de quatro palavras

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Reduzindo a extensão do cluster/N-gram para quatro palavras à


direita da palavra-chave “diabetes”, dois clusters/N-grams aparecem com
o mínimo de dez ocorrências. O primeiro diz respeito à “diabetes mellitus
tipo 2 (dm”. Adiante, as linhas de concordância, que demonstram onde
este cluster/N-gram ocorre nos textos do corpus, estão representadas na
Figura 18.
1360 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

FIGURA 18 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado


à direita da palavra-chave “diabetes”: “diabetes mellitus tipo 2 (DM”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

O cotexto deste cluster/N-gram envolve o nome da condição


crônica que todos os textos do corpus utilizado abordam, seguido da sigla
que identifica a condição aos pares, uma vez que o público-alvo principal
dos artigos acadêmico são pesquisadores, assim como os autores desse
tipo de texto que, na maior parte das vezes, também ocupam esse papel
de pesquisador. O Quadro 13 expõe as funções deste grupo nominal.
QUADRO 13 – O grupo nominal presente em “diabetes mellitus tipo 2 (DM” e as
respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo nominal Diabetes Mellitus Tipo 2


Ente Classificador Classificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Seguindo a iniciativa salientada no trabalho de Bowker e Pearson


(2002) sobre o fato de se considerar variações de um item como um
único termo, em que Diabetes Mellitus tipo 2, Diabetes Mellitus e DM2
corresponderiam a um mesmo termo, ou seja, o significado de todas essas
variações é o mesmo, todas dizem respeito à condição crônica Diabetes
Mellitus, embora cada ocorrência possa ser contabilizada. Considerando
esta perspectiva, o presente artigo computa as ocorrências de DM e
Diabetes Mellitus tipo 2, presentes no cluster/N-gram em questão, de
forma separada, mas considera que ambos os termos tem significados
análogos. Nesse sentido, “Diabetes” funciona como Ente do grupo nominal.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1361

“Mellitus” e “Tipo 2” como Classificadores de “Diabetes”, inserindo essa


condição na classe dos mellitus e do tipo 2, não do tipo 1, por exemplo.
O segundo cluster/N-gram formado à direita da palavra-chave
“Diabetes” é “diabetes mellitus tipo 2 em”. A Figura 19 exibe as linhas
de concordância em que esse cluster/N-gram aparece.
FIGURA 19 – Captura de tela do segundo cluster/N-gram formado à direita da
palavra-chave “diabetes”: “diabetes mellitus tipo 2 em”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A análise das linhas de concordância aponta que o grupo nominal


“diabetes mellitus tipo 2” presente no cluster/N-gram em questão faz parte
de grupos nominais maiores, como: “50 usuários com diabetes mellitus
tipo 2 em uso de insulina” e “avaliação do autocuidado de pacientes
com diabetes mellitus tipo 2 em uma unidade”. Em função disso, a
preposição “em” que aparece ao final deste segundo cluster/N-gram
opera como a preposição presente nas frases preposicionais (preposição
+ grupo nominal) que sucedem este cluster/N-gram. A depender da linha
de concordância examinada, essas frases preposicionais podem indicar
o lugar onde os pacientes/usuários com Diabetes Mellitus abordados
nos artigos acadêmicos do corpus realizam seus tratamentos ou podem
informar sobre a maneira pela qual esses pacientes/usuários recebem
tratamento, no caso, pelo uso de insulina.
Ainda com relação ao grupo nominal “diabetes mellitus tipo
2” presente no cluster/N-gram em questão, a análise das linhas de
concordância da Figura 19 indica que esse grupo nominal opera junto
com as preposições “com/de”, constituindo uma frase preposicional, a
qual qualifica o Ente que a antecede. Esse Ente é realizado por “usuários”,
“pessoas”, “portadores”, “pacientes”, “grupo” ou “taxas”, dependendo
de qual linha de concordância está em pauta.
1362 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

Tendo em mente essas particularidades do cluster/N-gram


“diabetes mellitus tipo 2 em” sobre o fato do grupo nominal que aparece
nesse cluster/N-gram apresentar função tanto com as palavras que o
antecede quanto com aquelas que o sucede inviabiliza a análise desse
grupo nominal de forma isolada. Em outras palavras, para compreender
o grupo nominal “diabetes mellitus tipo 2” nos casos destacados pelas
linhas de concordância da Figura 19, é primordial entender as funções
desse grupo em relação ao que vem antes e depois dele. No entanto,
como a metodologia do presente artigo estabelece que a extensão do
cluster/N-gram não pode ultrapassar as cinco palavras, os dados obtidos
para este grupo nominal, e, consequentemente, para o cluster/N-gram em
que ele está presente não estão incluídos nos resultados deste trabalho.
A terceira e última palavra-chave selecionada para o presente
estudo diz respeito ao item “saúde”. A Figura 20 destaca os clusters/N-
grams formados à esquerda desta palavra.
FIGURA 20 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à esquerda
da palavra-chave “saúde”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1363

Levando em consideração os passos metodológicos definidos


para a presente pesquisa, os cluster/N-grams que contam com o mínimo
de dez ocorrências tem seus resultados discutidos. Para a palavra-chave
“saúde”, os clusters/N-grams que estão em concordância com esse padrão
de ocorrências são: “profissionais da área da saúde”, “profissional da área
da saúde” e “uma unidade básica de saúde”.
Considerando a possibilidade reportada no trabalho de Bowker e
Pearson (2002) sobre as variações de um mesmo termo serem associadas
a um significado em comum, o primeiro e segundo clusters/N-grams –
“profissionais da área da saúde” e “profissional da área da saúde” – podem
ser contabilizados de maneira separada, mas compreendidos sob um
mesmo significado. A variação entre estes clusters/N-grams corresponde
apenas à flexão de número entre “profissionais”, que aparece no plural
no primeiro cluster, e “profissional”, que aparece no singular no segundo
cluster. As Figuras 21 e 22 abordam as linhas de concordâncias, onde
estão localizados estes clusters/N-grams.
FIGURA 21 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado à esquerda
da palavra-chave “saúde”: “profissionais da área da Saúde”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.


1364 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

FIGURA 22 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado à esquerda


da palavra-chave “saúde”: “profissional da área da Saúde”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A análise das linhas de concordância das Figuras 21 e 22,


respectivamente, indica que o pressuposto revelado por Bowker e Pearson
(2002) sobre a variação e o significado de palavras análogas encontradas
no mesmo corpus pode ser considerado válido para os clusters um e dois
formados à esquerda da palavra-chave “saúde”, uma vez que a variação de
número em profissionais e profissional não gerou alterações expressivas
de significado entre os dois clusters/N-grams. Por esse motivo, o Quadro
14 destaca o grupo nominal que aparece nestes clusters/N-grams, bem
como as funções presentes neste grupo.
QUADRO 14 – Os grupos nominais presentes em “profissionais/profissional da área
da saúde” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal
1º grupo nominal profissionais/profissional da área da saúde
Ente Qualificador

2º grupo nominal área da saúde


Ente Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Antes de discutir as funções presentes neste grupo nominal,


faz-se importante ressaltar que há um segundo grupo nominal dentro
de “profissionais/profissional da área da saúde”. Este grupo nominal
corresponde a “área da saúde”, em que “área” funciona como Ente e “da
saúde” como Qualificador, este último responsável por caracterizar a área
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1365

mencionada nos textos do corpus. Entretanto, como esse grupo nominal


“área da saúde” está em relação de hipotaxe (dependência) com o grupo
nominal “profissionais/profissional da área da saúde” e não há como
prever se a frequência mínima desse grupo nominal dependente é dez,
como acontece com o grupo nominal “profissionais/profissional da área
da saúde”, esse segundo grupo nominal não será explorado neste artigo.
Considerando apenas o grupo nominal “profissionais/profissional
da área da saúde”, o Quadro 14 mostra que a frase preposicional “da
área da saúde” funciona como Qualificador dos Entes profissionais e
profissional, caracterizando-os dentro da área da saúde, não da educação
ou advocacia, por exemplo.
O terceiro cluster/N-gram formado à esquerda da palavra-chave
“saúde” refere-se a “uma unidade básica de saúde”. Por meio das linhas
de concordância, a Figura 23 demonstra o cotexto em que este cluster/N-
gram aparece no corpus.
FIGURA 23 – Captura de tela do terceiro cluster/N-gram formado à esquerda
da palavra-chave “saúde”: “uma unidade básica de saúde”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A análise das linhas de concordância da Figura 23 revela que


todo o cluster/N-gram “uma unidade básica de saúde” engloba um grupo
nominal, cujas funções estão sinalizadas no Quadro 15.
QUADRO 15 – O grupo nominal presente em “uma unidade básica de saúde”
e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

Grupo uma unidade básica de saúde


nominal
Dêitico Ente Qualificador Qualificador
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.
1366 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

O Quadro 15 identifica que o item “unidade” funciona como


Ente do grupo nominal em questão. “Básica” e “de saúde” funcionam
como Qualificadores e são responsáveis por inserir o Ente “unidade”
em uma classe de unidades específica, no caso, aquelas que são básicas
e destinadas a lidar com a saúde. Por fim, o determinante não-seletivo e
não-específico “um” opera como Dêitico, demonstrando que nos artigos
acadêmicos selecionados para o corpus da presente pesquisa as unidades
básicas de saúde foram mencionadas de forma ampla, sem o enfoque no
nome ou nos detalhes que poderiam identificar quais unidades básicas
de saúde os estudos se referiam.
No que diz respeito às buscas pelos clusters/N-grams formados
à direita da palavra-chave “saúde”, as Figuras 24 e 25 deixam evidente
que as buscas com a extensão de cinco palavras e com a extensão
de quatro palavras, respectivamente, não apresentaram os resultados
esperados, uma vez que não houve clusters/N-grams com o mínimo de
dez ocorrências, quantidade determinada na metodologia deste artigo.
FIGURA 24 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à direita da palavra-
chave “saúde” com extensão de cinco palavras

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1367

FIGURA 25 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados à direita


da palavra-chave “saúde” com extensão de quatro palavras

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

Para evitar incoerência com os pressupostos metodológicos


estabelecidos para o presente estudo, a busca por clusters/N-grams
formados à direita da palavra-chave “saúde” se deu com a extensão de
três palavras que resultou em dois clusters/N-grams, com o mínimo de
dez ocorrências cada, como mostra a Figura 26 a seguir.
1368 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

FIGURA 26 – Captura de tela dos clusters/N-grams formados


à direita da palavra-chave “saúde”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

O primeiro cluster/N-gram formado à direita da palavra-chave


“saúde”, que apresentou o mínimo de dez ocorrências, corresponde a
“saúde da família”. Adiante, a Figura 27 traz as linhas de concordância
em que tal cluster/N-gram aparece.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1369

FIGURA 27 – Captura de tela do primeiro cluster/N-gram formado


à direita da palavra-chave “saúde”: “saúde da família”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

A análise das linhas de concordância detalhadas na Figura 27


aponta que o cluster/N-gram “saúde da família” compreende um grupo
nominal que está em relação de dependência com outro(s) grupo(s)
nominal(is) que varia(m) conforme a linha de concordância examinada,
a saber: “os profissionais das equipes de estratégia da saúde da família”,
“unidades de estratégia de saúde da família”, “centro de saúde da família”,
etc. Entretanto, o cluster/N-gram em questão não abarca essa dependência
entre os grupos nominais, porque a busca se deu pela extensão de três
1370 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

palavras à direita da palavra-chave “saúde”, e a dependência é encontrada


à esquerda dessa palavra-chave.
Observando as linhas de concordância da Figura 27 de maneira
aprofundada, é possível afirmar que das 42 ocorrências mais da metade
(23) aborda a “saúde da família” como uma estratégia de assistência aos
usuários do sistema único de saúde do Brasil, que ora pode ser viabilizada
por uma equipe/profissionais, ora por uma unidade/centro. Em razão
disso, o Quadro 16 detalha as funções que podem ser encontradas nos
grupos nominais que consideram a “saúde da família” como equipe ou
como unidade, respectivamente.
QUADRO 16 – Os grupos nominais possíveis segundo a análise do cluster/N-gram
“saúde da família” e as respectivas funções exercidas na ordem do grupo nominal

1º grupo equipes de saúde da família


nominal
Ente Qualificador Qualificador

2º grupo
unidades de saúde da família
nominal
Ente Qualificador Qualificador

Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

Os dados do Quadro 16 indicam que a principal diferença entre


os grupos nominais “equipes de saúde da família” e “unidades de saúde
da família” diz respeito à realização do Ente, que no primeiro refere-se
às “equipes”; e no segundo às “unidades”. Em comum, os dois grupos
nominais têm as duas qualificações realizadas por frases preposicionais
“de saúde” e “da família”, respectivamente, ambas responsáveis por
identificar o tipo das equipes ou das unidades mencionadas nos textos
do corpus utilizado nesta pesquisa.
O segundo e último cluster/N-gram formado à direita da
palavra-chave “saúde” com o mínimo de dez ocorrências é “saúde e a”.
A princípio, tal cluster/N-gram não apresenta sentido completo, pois
termina com “a”, uma palavra da classe nominal > determinante que
precisa coocorrer com outra(s) para fazer sentido numa oração e/ou
grupo nominal, por exemplo. A seguir, a Figura 28 destaca as linhas de
concordância em que este cluster/N-gram aparece.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1371

FIGURA 28 – Captura de tela do segundo cluster/N-gram formado


à direita da palavra-chave “saúde”: “saúde e a”

Fonte: Elaborada para fins deste artigo.

O exame das linhas de concordância da Figura 28 indica que


não há um padrão de palavras da classe nominal que se repete após
o determinante “a”. Além disso, o grupo nominal “saúde”, presente
no cluster/N-gram em questão, parece funcionar em conjunto com as
preposições de/em, formando uma frase preposicional, responsável
por qualificar diferentes Entes, a depender da linha de concordância
analisada. Como não há, portanto, um padrão de coocorrências em relação
ao cluster/N-gram “saúde e a” para que algum grupo nominal possa ser
extraído e investigado, os resultados encontrados para tal cluster/N-gram
não foram contemplados no presente artigo.
A seguir, o Quadro 17 resume todos os grupos nominais
investigados neste artigo, derivados das buscas por clusters/N-grams à
esquerda e à direita das palavras-chave selecionadas.
QUADRO 17 – Resumo dos clusters/N-grams e grupos nominais analisados

Palavra-chave Clusters/N-grams Grupo nominal


adesão às práticas de autocuidado as práticas de autocuidado
Questionário de atividades de Questionário de atividades de
autocuidado autocuidado
autocuidado
para as práticas de autocuidado as práticas de autocuidado
autocuidado de pacientes com autocuidado de pacientes com
diabetes diabetes
1372 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

para o autocuidado em diabetes o autocuidado em diabetes


de autocuidado com o diabetes autocuidado com o diabetes
práticas de autocuidado em diabetes práticas de autocuidado em diabetes
para o controle do diabetes o controle do diabetes
diabetes autocuidado de pacientes com autocuidado de pacientes com
diabetes diabetes
com a condição do diabetes a condição do diabetes
diabetes mellitus tipo 2 (DM diabetes mellitus tipo 2
diabetes mellitus tipo 2 em diabetes mellitus tipo 2
profissionais da área da saúde profissionais da área da saúde
profissional da área da saúde profissional da área da saúde
uma unidade básica de saúde uma unidade básica de saúde
saúde
equipes de unidades de
saúde da família
saúde da família saúde da família
saúde e a -
Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

De acordo com os passos metodológicos adaptados do trabalho de


Pearson (1998) para a presente pesquisa, a análise dos dados do Quadro
17 aponta que nem todos os grupos nominais examinados podem ser
entendidos como termos técnicos, visto que: i. Alguns compreendem
nomes de instrumentos que foram utilizados nas pesquisas reportadas nos
artigos acadêmicos, como, “Questionário de atividades de autocuidado”
e “de autocuidado com o diabetes”, por exemplo, os quais correspondem
ao título de um questionário (Questionário de atividades de autocuidado
com o diabetes); ii. Outros indicam o estabelecimento onde ocorreu
parte da pesquisa, como, por exemplo, “uma unidade básica de saúde”;
iii. Outros ainda dizem respeito ao tipo de profissional e/ou equipe que
contribuiu para a realização da pesquisa, como, “profissionais da área da
saúde”, “profissional da área da saúde” e “equipes de saúde da família”
ou caracterizam o tipo de sujeito que participou da pesquisa, como, por
exemplo, usuários/pessoas “com a condição do diabetes”.
Por outro lado, há grupos nominais que podem ser compreendidos
como termos técnicos sem que haja a necessidade de uma consulta
aprofundada ao cotexto onde tal grupo nominal aparece, como, por
exemplo, “diabetes mellitus tipo 2”. Isso pode ser explicado pelo fato
deste grupo nominal se referir ao nome de uma condição crônica, sendo,
consequentemente, um termo técnico da área das Ciências da Saúde.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1373

Por último, tem-se os grupos nominais que precisam de uma


investigação mais criteriosa para serem validados como termos técnicos.
Essa investigação compreende uma sequência de passos estabelecidos a
partir da adaptação para o português brasileiro da metodologia proposta
no estudo de Pearson (1998). Dentre os grupos nominais detalhados
no Quadro 17, os que podem ser caracterizados como termos técnicos,
após a análise dos cotextos onde aparecem, são: “adesão às práticas de
autocuidado/em diabetes”, “o autocuidado em diabetes” e “autocuidado
de pacientes com diabetes”. A análise mostrou que esses grupos nominais
podem ser caracterizados como termos técnicos, porque referem-se a um
conjunto de estratégias e/ou competências utilizadas pelos profissionais
da Saúde para verificar o empoderamento e os índices de autocuidado
dos usuários com a condição crônica do Diabetes Mellitus. O Quadro
18 mostra alguns exemplos que apontam para essa espécie de relação de
hiponímia prevista em Pearson (1998) como forma de identificar termos
técnicos em corpus (cf. item iii da Subseção 2.2 O trabalho de Pearson
(1998) na seção 2 Fundamentação Teórica).
QUADRO 18 – Termo técnico coextensivo a grupo nominal: extração e
exemplificação das relações de Pearson (1998)
Termo técnico Exemplos extraídos do corpus
coextensivo a um grupo
nominal Exemplos de relação extraídas pelo contexto

instrumento (ESM) para medir – adesão às práticas de autocuidado

adesão às práticas de
autocuidado/práticas
de autocuidado em
diabetes

adesão às práticas de autocuidado – essa variável

adesão às práticas de autocuidado em diabetes – escore mediano


1374 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

autocuidado de pacientes com diabetes – como único objetivo


da pesquisa

autocuidado de
pacientes com
diabetes

autocuidado de pacientes com diabetes – como outras variáveis

Fonte: Elaborado para fins deste artigo.

O primeiro termo técnico coextensivo ao grupo nominal destacado


no Quadro 18 compreende “adesão às práticas de autocuidado/em
diabetes”. A segunda coluna desse quadro indica as relações estabelecidas
entre esse grupo nominal e o contexto em que ele aparece no corpus, as
quais tornam-se relevantes para a caracterização desse grupo nominal
como um termo técnico de fato. A primeira relação refere-se ao fato de
que a “adesão às práticas de autocuidado/em diabetes” compreende algo
passível de ser contabilizado de acordo com as atitudes tomadas pelos
usuários com essa condição crônica. Isso pode ser feito por meio de um
instrumento, bem como pela análise do escore mediano da pesquisa.
Além disso, a “adesão às práticas de autocuidado” é referenciada como
“essa variável”, aspecto apontado por Pearson (1998) como indicativo de
termo técnico (cf. item iii da Subseção 2.2 O trabalho de Pearson (1998)
na seção 2 Fundamentação Teórica).
Ainda com relação aos dados apresentados no Quadro 18, o
segundo termo técnico coextensivo ao grupo nominal diz respeito ao
“autocuidado de pacientes com diabetes”. Com base nas premissas
adotadas no estudo de Pearson (1998) e adaptadas para o presente artigo,
esse grupo nominal pode ser caracterizado como termo técnico por duas
razões principais: i. Por compreender o único objeto de análise de uma
das pesquisas reportadas nos artigos acadêmicos que compõem o corpus
da presente pesquisa e ii. Por estabelecer uma relação de hiponímia com
“outras variáveis”, demonstrando que o “autocuidado de pacientes com
diabetes” pode ser definido como uma variável.
Por fim, a análise do contexto do grupo nominal “o autocuidado
em diabetes”, presente no Quadro 17 como candidato a termo técnico,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1375

não apontou resultados significativos que indicassem que se tratava de


um termo técnico de fato. Contudo, é importante salientar que tal análise,
assim como as demais, foi feita com base nos resultados descritos no
estudo de Pearson (1998) e adaptados para o português brasileiro neste
artigo, o que pode influenciar nos resultados obtidos no presente trabalho.

5 Conclusão
Este artigo buscou mostrar como a linguística de corpus, no que
concerne o uso das ferramentas disponíveis no software concordanciador
AntConc, pode funcionar como um recurso acessível para extração de
candidatos a termos técnicos em textos especializados, mesmo quando
não se tem para o português brasileiro todos os artifícios mencionados
no estudo de Pearson (1998), como, por exemplo, o programa de
padrão de correspondência e o anotador morfossintático (CLG tagger)
desenvolvidos para aquela pesquisa. Contudo, é relevante destacar que
o conhecimento e a aplicação dos pressupostos teóricos da linguística
sistêmico-funcional acerca do grupo nominal em português brasileiro
foram imprescindíveis para suprimir a ausência desses artifícios
detalhados em Pearson (1998).
Considerando a ferramenta de geração de clusters/N-grams do
AntConc por meio da seleção de palavras-chave de uma lista gerada
pela ferramenta de Keywords do mesmo software concordanciador,
os resultados obtidos indicam que a coextensividade existente entre
cluster/N-gram, termo técnico, grupo nominal e item lexical nem sempre
funciona de maneira exata, apesar da presença de pelo menos um grupo
nominal dentro de todos os clusters/N-gram gerados. Mas, por se tratar de
uma forma semiautomática de extração de termos técnicos coextensivos
ao grupo nominal, a utilização dessa ferramenta pode ser avaliada como
um recurso útil para a busca por termos técnicos em textos especializados,
como artigos acadêmicos, por exemplo.
A análise dos grupos nominais que apareceram nos clusters/N-
grams revelou que o tipo de texto, artigo acadêmico, bem como o domínio
dos textos, diabetes mellitus, selecionados para constituírem o corpus
utilizado no presente estudo podem ter influenciado nos tipos de grupos
nominais encontrados. Muitos dos grupos nominais examinados faziam
parte de outro grupo nominal maior, como, por exemplo, o grupo nominal
“Questionário de atividades de autocuidado com o diabetes” formado
1376 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

pelos clusters/N-gram “Questionário de atividades de autocuidado”


gerado para a palavra-chave “autocuidado” e “de autocuidado com o
diabetes” gerado para a palavra-chave “diabetes”. A maior parte dos
grupos nominais analisados apresentou também pelo menos uma frase
preposicional com função de Qualificador, como “autocuidado de
pacientes com diabetes”. Houve também grupos nominais que foram
resultado de uma metáfora gramatical (nominalização), por exemplo,
“adesão às práticas de autocuidado em diabetes”. Essas características
– grupos nominais com muitas funções, constituídos por mais de uma
palavra e/ou metafóricos – são frequentemente encontradas nos textos em
que a linguagem empregada é especializada, cujo autor e leitor são pares
e ambos possuem conhecimento experto na área de domínio do texto.
Para além das adaptações do trabalho Pearson (1998) que se
fizeram necessárias no escopo da linguística de corpus, resultados
diferentes foram observados no que compreende as distinções entre
os sistemas linguísticos do inglês, abordados na pesquisa de Pearson
(1998), e do português brasileiro, abordado no presente artigo. A
principal diferença refere-se aos determinantes com função de dêitico.
Em Pearson (1998), a autora menciona que os candidatos a termos
técnicos que estavam sinalizados, ou seja, apresentavam algum artigo
definido exercendo a função de dêitico não poderiam ser classificados
como candidatos a termo técnico. No presente artigo, entretanto, esse
aspecto não pode ser considerado relevante, visto que a presença de
dêiticos realizados por artigos definidos não se mostrou um impasse para
que determinados grupos nominais pudessem estar em coextensividade
aos termos técnicos.
Por outro lado, uma espécie de relação de hiponímia mencionada
no estudo de Pearson (1998) como uma das maneiras de caracterizar
determinado candidato a termo técnico como técnico de fato (cf.
Metodologia – item iii) também foi observada neste artigo, sobretudo,
nos contextos dos grupos nominais “adesão às práticas de autocuidado/
em diabetes” e “autocuidado de pacientes com diabetes” que
apresentaram essa relação com “essa variável” e com “outras variáveis”,
respectivamente, e puderam, posteriormente, serem caracterizados como
termos técnicos. É válido mencionar que essa espécie de relação de
hiponímia sugerida por Pearson (1998) como uma maneira de caracterizar
e encontrar um termo técnico em um texto especializado também já foi
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1377

reportada no trabalho de Figueredo et al. (2019) como uma das maneiras


possíveis de caracterizar um item lexical em português brasileiro.
Ainda no campo dos fatores concordantes entre o estudo de
Pearson (1998) e a pesquisa detalhada neste artigo encontram-se dois
aspectos que podem ser considerados limitantes, mas passíveis de serem
investigados em pesquisas futuras. O primeiro deles está relacionado
à ideia de consultas a especialistas na área dos textos que constituem
o corpus de pesquisa, no caso um profissional da área da Saúde. Esses
especialistas funcionariam como uma fonte extralinguística capaz de
corroborar se determinado termo poderia ser considerado um termo
técnico de fato. O segundo aspecto corresponde ao tamanho do corpus
de pesquisa utilizado que pode interferir nos resultados encontrados,
ou seja, com um corpus de maiores proporções, a quantidade de termos
candidatos a termos técnicos também poderia ser maior, embora a análise
manual proposta no presente trabalho poderia tornar-se inviável pela
demanda extra de tempo a ser despendido.

Declaração de autoria
Júlia Santos Nunes Rodrigues: compilação do corpus utilizado na
pesquisa, anotação da pesquisa, escrita das seções metodologia e
resultados, escrita resumo e abstract e revisão do artigo. 
Kícila Ferreguetti: auxílio na compilação do corpus de referência, escrita
da seção de fundamentação teórica, formatação do artigo nos moldes da
revista, incluindo a formatação das referências e revisão do artigo. 
Adriana S. Pagano: supervisão da pesquisa, escrita das seções introdução
e conclusão e revisão do artigo.

Referências
ALMEIDA, G. M. D. B.; CORREIA, M. Terminologia e corpus: relações,
métodos e recursos. In: TAGNIN, S. E. O.; VALE, O. A. (org.). Avanços da
Linguística de Corpus no Brasil. São Paulo: Humanitas, 2008. p. 67-90.
ALMEIDA, L. B. Identidade científica da Terminologia. In: ______.
Curso básico de Terminologia. São Paulo: Edusp, 2004. p. 25-96.
ANTHONY, L. AntConc Homepage, Laurence Anthony Website, Tokyo,
Version 3.5.8, 2019. Disponivel em: https://www.laurenceanthony.net/
software/antconc/. Acesso em: 22, Fevereiro, 2019.
1378 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021

BOWKER, L.; PEARSON, J. Working with Specialized Language. A


Pratical Guide do Using Corpora. 1. ed. London; New York: Routledge,
2002. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203469255
FERREGUETTI, K. A Frase preposicional com função de qualificador
no grupo nominal: um estudo de equivalentes textuais no par linguístico
inglês e português brasileiro. 2018. 154f. Tese (Doutorado em Estudos
Linguísticos) – Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas
Gerais, 2018.
FIGUEREDO, G. Uma descrição sistêmico-funcional do grupo nominal
em português brasileiro. 2007. 292f. Dissertação (Mestrado em Estudos
Linguísticos) - Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas
Gerais, 2007.
FIGUEREDO, G. P. et al. O léxico como um recurso linguístico para a
produção de significado no texto: um estudo de caso com protocolos de
investigação. Estudos da Língua(gem), Vitória da Conquista, v. 17, n. 3,
p. 37-59, 2019. DOI: https://doi.org/10.22481/el.v17i3.5928
FIGUEREDO, G. P.; PAGANO, A. S.; FERREGUETTI, K. Os sistemas
textuais de focalização na organização funcional da gramática do
Português Brasileiro. D.E.L.T.A., São Paulo, v. 30, n. 2, p. 309-352, 2014.
DOI: https://doi.org/10.1590/0102-445080334301692532
FINATTO, M. J. B. Exploração terminológica com apoio informatizado:
diálogos entre terminologia e linguística de corpus. In: LORENTE, M. et
al. (org.). Estudis de linguística i de linguística aplicada en honor de M.
Teresa Cabré Castellví. Barcelona: Institut Universitari de Linguística
Aplicada de la Universitat Pompeu Fabra, 2007. p. 221-230.
HALLIDAY, M. A. K. Categories of the Theory of Grammar. In: ______.
Collected Works of M.A.K. Halliday. London; New York: Continuum,
1961. p. 37-88.
HALLIDAY, M. A. K. Language as Social Semiotic. The Social
Interpretation of Language and Meaning. 1. ed. London: Edward Arnold,
1978.
HALLIDAY, M. A. K. On Grammar. 1. ed. London; New York:
Continuum, 2002.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1325-1379, 2021 1379

HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. Construing Experience as


Meaning: A Language Based Approach to Cognition. London: Cassell,
1999.
HALLIDAY, M. A. K.; MATTHIESSEN, C. M. I. M. An Introduction to
Functional Grammar. 3. ed. London: Routledge, 2014. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203431269
HAO, J. Construing biology: An Ideational Perspective. 2015. These
(PhD of Linguistics) – Department of Linguistics University of Sydney,
Sydney, Sydney, 2015.
PEARSON, J. Terms in Context. Amsterdam; Philadelphia: John
Benjamins Publishing Company, 1998.
SARDINHA, B. Visão geral da Linguística de Corpus. In: SARDINHA,
T. B. Linguística de Corpus. São Paulo: Editora Manole, 2004. p. 1-42.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

The Pragmatics of Aeronautical English:


an investigation through Corpus Linguistics

A Pragmática do inglês aeronáutico:


uma investigação pela Linguística de Corpus

Malila Carvalho de Almeida Prado


Fujian University of Technology (FJUT), Fuzhou, Fujian / China
malilaprado@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0001-6281-6759

Abstract: The ICAO Language Proficiency Rating Scale offers parameters for
aeronautical English teaching and assessment focused on oral skills. It assists
governments worldwide in assessing pilots and air traffic controllers’ English proficiency,
licensing them for international operations. This paper addresses two of the six linguistic
areas listed in the Rating Scale, namely fluency and interaction, to understand what
conversational elements are present in pilot-controller communications with a view to
informing pedagogical material. The analysis is based on a corpus of pilot-controller
radio communications in abnormal situations, revealing a more spontaneous code as
opposed to the documented Standard Phraseology mandated for routine situations.
Corpus Linguistics is the methodology chosen for this investigation, concentrated on
the top frequent three-word clusters extracted from the corpus. Investigation of these
clusters reveals that fluency and interaction are interconnected and should be considered
in a broader perspective that takes into account language in use. To illustrate, ‘we’d like’
and ‘if you can’ are commonly employed as requests in this specific register. The paper
concludes by suggesting that learners’ awareness of pragmatic aspects of language is
pivotal in the aviation English classroom.
Keywords: Plain Aviation English; fluency; interaction; Corpus Linguistics; Pragmatics.

Resumo: A Escala de Proficiência Linguística da ICAO oferece parâmetros para o


ensino e a avaliação do inglês aeronáutico focado nas habilidades orais. Serve para os
governos em todo o mundo avaliarem a proficiência em inglês de pilotos e controladores
de tráfego aéreo, licenciando-os para operações internacionais. Este estudo aborda

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1381-1414
1382 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

duas das seis áreas linguísticas elencadas na Escala, quais sejam, fluência e interação,
para compreender quais elementos conversacionais estão presentes nas comunicações
entre pilotos e controladores com o objetivo de subsidiar materiais pedagógicos. A
análise se baseia em um corpus de comunicações via rádio entre pilotos e controladores
em situações anormais, revelando um código mais espontâneo, diferentemente da
Fraseologia Padrão oficial mandatória nas situações rotineiras. A Linguística de Corpus
é a metodologia utilizada nesta investigação, concentrada nos mais frequentes blocos
de linguagem de três palavras evidenciados no corpus de estudo. A investigação desses
blocos de linguagem revela que fluência e interação são interconectadas e deveriam ser
consideradas a partir da perspectiva da língua em uso. Para ilustrar, ‘we’d like’ e ‘if
you can’ são normalmente empregados como solicitações. Conclui-se sugerindo que
a conscientização dos aprendizes sobre aspectos pragmáticos da língua é fundamental
na sala de aula do inglês aeronáutico.
Palavras-chave: Plain Aviation English; fluência; interação; Linguística de Corpus;
Pragmática.

Submitted on October 10th, 2020


Accepted on November 23th, 2020

1 Introduction
Even following the spread of the communicative approach and
the stimulus in promoting authentic language in the language classroom,
research shows a different scenario (RÜHLEMANN, 2008). This may
be a result of a lack of understanding of the characteristics of language
use, in particular of the importance usually given to language form
rather than language use (MCCARTHY; CLANCY, 2018). On one hand,
authenticity in the classroom is sometimes criticized over certain features
found pedagogically difficult to deal with, such as hesitation, false starts,
and speed of delivery (cf. WIDDOWSON, 1998). On the other hand,
promoting strategies that help the learner tackle authentic language use
may contribute to the learning process from the start (FIELD, 2009).
In language testing, particularly in the field of English for
Specific Purposes (ESP), Douglas (1999) argues that real-life tasks
should be implemented in language proficiency tests as a means of truly
and fairly analyzing the candidates’ production. This has shown to be
highly relevant in aviation English studies such as Kim (2018), which
compares the language production of both novice and experienced air
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1383

traffic controllers and pilots: the more experienced the professional, the
better the performance when assessed in real-life tasks.
Increasing attention has been drawn to aviation English since
pilots and air traffic controllers were required to show sufficient English
language proficiency to operate internationally. This proficiency
requirement is described in the Manual of Implementation of the
Language Proficiency Requirements (ICAO, 2004, 2010), which also
specifies the Language Proficiency Rating Scale (Scale henceforth) that
guides raters responsible for granting licenses to the above-mentioned
professionals. The Scale is divided into six language areas: pronunciation,
structure, vocabulary, fluency, comprehension, and interaction distributed
across six different levels of proficiency.
Some studies have criticized the Scale by questioning its
authenticity, particularly when considering radio communications held
between pilots and controllers in abnormal situations, an avowed interest
of the International Civil Aviation Organization (ICAO), as noted in
the second edition of the Manual (ICAO, 2010). ICAO documents
recommend that Standard Phraseology, a specialized and rehearsed
register, be used in all routine situations of a flight. However, when
abnormalities occur, such as engine failures or bird strikes, pilots and
controllers need to resort to what is referred as “Plain Aviation English”,
a more spontaneous language placed between the documented Standard
Phraseology and everyday conversations (BIESWANGER, 2016, p. 83).
Both Standard Phraseology and Plain Aviation English belong to the
realm of aeronautical English and are equivalent to the language used
by pilots and controllers on the radio; all other portions of language
(produced by crew members, mechanics, flight attendants) go under the
umbrella of Aviation English (TOSQUI-LUCKS; SILVA, 2020). For the
purposes of this paper, I aim to study the Plain Aviation English, that is,
a sub-register of aeronautical English.
In aviation, any minor problem can become a disaster (cf.
FRIGINAL, MATHEWS; ROBERTS, 2020; WEIR, 1999), and all areas
of communication therefore deserve attention. Many studies, including
those listed in Doc 9835 (ICAO, 2010), draw on accidents to which
miscommunications were a contributory cause (FRIGINAL, MATHEWS;
ROBERTS, 2020). Nevertheless, Mathews (2012, 2020) claims that there
may be more incidents and accidents to which language is a contributing
factor than we are aware of, given that accident investigations often fail
1384 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

to consider linguistic expertise, stressing that the knowledge and tools


applied in the investigation of operational and mechanical complications
are far more meticulous than those used in human factor issues,
particularly in communication.
Most research has tended to focus on aeronautical English as
this is the main interest of ICAO Language Proficiency Requirements
(LPRs). Some studies have pointed out the lack of attention or even
vagueness in the description of language areas (cf. ESTIVAL; FARRIS;
MOLESWORTH, 2016; GARCIA, 2015). Others address the need for
more research into communicative elements excluded from the Scale,
such as interactional competence (MONTEIRO, 2019), cross-cultural
competence (BOROWSKA, 2017), and ELF communicative strategies
(ISHIHARA; PRADO, in press). Beyond merely pointing out problems
with the Scale, these studies suggest linguistic manifestations that may
equip Scale users, such as the lack of correspondence between the Scale
and real-life scenarios may cause misunderstandings among Scale users
and, more dangerously, misconceptions (cf. PFEIFFER, 2009).
Mathews (2020) points out that despite the criticism to which
the LPRs have been subjected, this was a useful starting point because
it brought about not only testing and teaching programs worldwide but
also academic research. As one of the designers of ICAO documents,
Mathews emphasizes that academic and industrial collaborations are key
to advances in this area.
Bearing in mind that, in aeronautical English, Plain Aviation
English should resemble the Standard Phraseology in aspects such as
clarity and objectivity, and seeking to examine how the description of
fluency and interaction present in the Scale compares to the specific
verbal-only communication in moments considered non-routine, I
compiled a corpus described in Section 4 of this paper of pilot-controller
radio communications in abnormal situations to allow for an investigation
of such elements. This corpus allows for an examination of the data so
as to consider two questions, which are (1) what linguistic elements
correspond to interaction and fluency in radio communications in
abnormal situations?; and (2) what elements can compose an aeronautical
English teaching curriculum?
This paper is structured as follows: I first address research
on conversational elements of aeronautical English. Next, I discuss
characteristics of oral language as well as findings from studies of spoken
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1385

corpora. The methodology and the corpus used for this investigation
are then presented, followed by the analysis of the data highlighted.
I conclude by raising the importance to intercultural pragmatics and
communicative strategies in the pedagogy of Aviation English and
offer suggestions for how to approach these in the aeronautical English
classroom.

2 Oral elements in Aeronautical English


The two linguistic areas, fluency and interaction, this paper
intends to address are now described, starting from fluency:
Produces stretches of language at an appropriate tempo. There
may be occasional loss of fluency on transition from rehearsed
or formulaic speech to spontaneous interaction, but this does
not prevent effective communication. Can make limited use of
discourse markers or connectors. Fillers are not distracting.

This is the rationale for a level 4 candidate, that is, a candidate


who is granted the language proficiency license for international
operations. In fluency, keywords such “tempo”, ”discourse markers”,
”fillers” can be spotlighted and paralleled to the viewpoint common at
the time of the publication of Doc 9835 (ICAO, 2004), which refers to
hesitation as an “occasional loss of fluency”. However, the last years
have seen a change in this perspective, as studies on spoken corpora
have shown that hesitation, especially the filled pause (e.g. uh, um, er),
is an important item used as a strategy to request assistance from the
interlocutor or to signal a change of ideas, for example, and, as such,
should be considered a word or a linguistic event rather than an indication
of a loss for words (GÖTZ, 2013). This updated definition of fluency
brings it closer to Monteiro’s study (2019) of interactional competence
in aviation English testing.
In interaction, the Scale states the following for level 4:
Responses are usually immediate, appropriate and informative.
Initiates and maintains exchanges even when dealing with an
unexpected turn of events. Deals adequately with apparent
misunderstandings by checking, confirming or clarifying.
1386 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

The concern over prompt responses as well as their quality calls


attention to another feature that has been questioned elsewhere: that
of placing the burden of the communication on a person only, rather
than considering it as a two-way endeavor (MCNAMARA, 2011). The
transition from Standard Phraseology to Plain Aviation English is also
taken into account – as it is stated in fluency as well. Communicative
strategies are listed as “checking”, “confirming” and “clarifying”, which
are related to communication repairs. However, such strategies can
be used in routine situations and it is worth investigating what other
strategies can be employed in abnormal situations (e.g. MONTEIRO,
2019).
Mell (2004) analyzed a corpus built in France from transactions
between French controllers and international traffic. He verified that
more than 75% of the language used in radio communications in
routine situations regards the management of the communication itself
through functions such as the “expression of satisfaction or complaint,
reprimand, concern or reassurance, apologies, […] opening or closing,
self-correction, readback, acknowledgement, checking, repetition,
confirmation, clarification, or relaying” (MELL, 2004, p. 13). A more
thorough list compiled by Mell in his thesis defended in 1991 can be
found in one of the annexes to the ICAO Manual (ICAO, 2004, 2010).
Lopez (2013) followed in Mell’s footsteps and investigated an updated
version of the corpus. She too concluded that social conventions play an
important role in radio communications and language and that even in a
restricted environment such as aviation, language cannot be controlled.
Nevertheless, Garcia and Fox (2020) argue that listening – or
comprehension, as expressed in the Scale – should have an exclusive scale
given that it is a much more complex activity. Regarding pronunciation,
specifically speech rate, ICAO’s Standard Phraseology recommends that
a maximum of 100 words per minute be used (ICAO, 2007). However, a
study of this speech rate revealed that it is too slow for radio environments
and in fact compromises understanding (BIESWANGER, 2013). In a
comparison between a radio communication corpus and a professional
radio broadcaster’s corpus, Trippe and Baese-Berk (2019) concluded that
pilots and controllers tend to have a faster speech rate.
Kim (2018) conducted a study with six professionals, analyzing
their perceptions of a real communication between a Russian pilot and
a Korean controller. The professionals recognized that despite clear
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1387

linguistic limitations, the pilot acted professionally and handled the


communication effectively, whereas the controller, even though he
demonstrated a higher linguistic level, did not show the same experience
in dealing with the problem, thus overloading the pilot. Along with work
by Moder and Halleck (2009), Knock (2014), and Emery (2014), this
line of research heeds technical knowledge combined with language
proficiency. In addition, McNamara (2011) argues that air-ground
communications are held between two participants at least as opposed to
being an individual responsibility. Thus, training pilots and controllers to
communicate effectively on the radio “should emphasize collaborative
principles rather than focusing on terminology or isolated practices”
(MORROW; RODVOLD; LEE, 1994, p. 255).

3 Studies of spoken language


The notion that spoken and written forms of language share
the same characteristics has long been outdated, but it still orients
many English as a Foreign Language (EFL) and English as a Second
Language (ESL) coursebooks available in the market (cf. CARTER;
MCCARTHY, 2017; RÜHLEMANN, 2008). Studies that emerged from
the 1970s (SACKS; SCHEGLOFF; JEFFERSON, 1974; SINCLAIR;
COULTHARD, 1975) turned to oral language from a more empirical
perspective, with attention given to transcription modes, eventually
including their storage in computers. Researchers then realized the
need for a better – and as faithful as possible – representation of spoken
language. This viewpoint allowed new fields such as Discourse Analysis,
Conversation Analysis, and studies of spoken corpora to develop.
Nevertheless, the challenges involved in gaining access to or recording
natural spontaneous speech and transcribing it hindered advances in
compiling large amounts of data, a situation that only began to change
through projects such as the Santa Barbara Corpus of American English
(DUBOIS, 1991) and the London-Lund Corpus of Spoken English
(SVARTVIK, 1990).
The faithfulness of transcriptions is often questioned as
transcriptions represent only part of the actual event (ZANETTIN, 2009).
However, analysis carried out from empirical evidence yields findings
that once were solely based on intuitions (cf. RÜHLEMANN, 2008).
Comparisons between spoken and written forms generated materials
1388 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

aiming at new descriptions of language in a more grammar-usage


based style (e.g., CARTER; McCARTHY, 2006), lexically centered
(LEWIS, 1993), or even drawing attention to lexico-grammatical
patterns (SINCLAIR, 1991). Coursebook writers and material designers
then began to employ these findings but still within frameworks built
mostly upon generative or universal concepts of linguistics (DAVIES,
2004). Eventually, social theories began voicing the importance of other
competences to be included in the EFL/ESL curriculum, including
pragmatic, interactional, and strategic competence (CORBETT, 2003;
DAVIES, 2004; YOUNG, 2000). Research followed suit, eventually
shifting from years of work about grammar, lexicon and pronunciation
to a more process-oriented perspective, particularly in studies that used
corpora in pragmatics (cf. O’KEEFE; CLANCY; ADOLPHS, 2011),
English as a Lingua Franca (ELF) (MAURANEN, 2018), and learner
language (GRANGER, 2008). However, this product-oriented focus on
lexico-grammatical patterns (and, to a lesser extent, on pronunciation;
see JENKINS, 2000) highlighted in the usage-based data was widely
perceived as “wrong” data as it did not correspond to the norms prescribed
by grammarians and native speaker standards (MAURANEN, 2018).
In Mauranen’s words, “linguistic structures reflect the demands of
communication, not the other way round, with communication shaped
by available linguistic structures” (MAURANEN, 2018, p. 13).
The process-oriented approach concerns empirical observations
of certain phenomena co-constructed within the interaction. It considers
communication as a social, conventional enterprise that evidences
transparent elements such as lexical choice, level of politeness, register,
and less transparent items such as power relations and cultural factors
(including indirect speech acts), among others. Some of these elements
are described in literature on communicative strategies (KAUR, 2019),
turn initiators (TAO, 2003), fluency enhancement strategies (GÖTZ,
2013), speech acts (ADOLPHS, 2008), mitigation (CAFFI, 1999) and
communication breakdowns (GARDINER; DETERDING, 2018), to
name a few. Such investigations also review concepts in the teaching of
English, especially grammar, which, according to Rühlemann (2008),
should focus on the structures of spoken grammar, found in strings of
language that contain a “functional profile” (ADOLPHS, 2008), or
pragmatic speech act. This can range from a speech act to a false start
and is constrained by the context of language production.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1389

4 Method
This study’s chosen methodology derives largely from Corpus
Linguistics (CL). CL’s starting point is the compilation of a corpus, a
computer-stored bank of texts collected mostly with research purposes
in mind (TAGNIN, 2013) – although more and more uses of corpora are
now seen in areas such as glossary making or teaching (CHENG, 2015).
To be included in a corpus, texts must meet certain conditions such as
emerging from naturally occurring environments, whether in written or
spoken form or belonging to any specific genres, among others.
Two key principles underlie CL research: the open-choice
principle, and the idiom principle (SINCLAIR, 1991). The first
corresponds to the creative use of language, whereas the latter regards
the storage of semi-structured language available to the user. The idiom
principle is the interest of the present research as it conceptualizes
language as socially produced, through entrenchments cognitively stored
and conventionalized through common use by a given community; these
strings of language, or clusters, spare the speaker the burden of producing
new language on every occasion (O’KEEFE et al., 2011). Because the
interest of CL is conventionalized patterns, analysis usually starts from
generating lists based on the frequency of occurrence in the corpus,
which in turn highlight the most frequent words. Researchers then look
at them more deeply, using tools such as keyword lists (by comparing
two corpora, the researcher can extract those words that are exclusive
to or more commonly used in the corpus), but also cluster lists (frequent
two-, three-, four- or more strings of words), and concordance lines (the
lines of text excerpts in which a node word appears centrally so that it
may be observed in its surroundings), among others. The choice of tools
depends on the research question.
I now turn to the methodology used in this study. In the
investigation of spoken phraseology, that is, patterns commonly used in
oral speech, Altenberg (1998) generated two-, three-, four-, five- and six-
word clusters and compared their frequency with single word lists in the
London-Lund Corpus of Spoken English (http://www.helsinki.fi/varieng/
CoRD/corpora/LLC). Through this comparison, the researcher identified
clusters corresponding to up to 80% of the corpus. Apart from functional
or grammar words such as in, the, or of, the most frequent single words
were not as frequent as many of the two-, three- and four-word clusters.
The researcher then grouped these clusters under grammatical categories
1390 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

such as dependent clauses, independent clauses, and incomplete clauses


(ALTENBERG, 1998). Following a similar methodology, McCarthy and
Carter (2002) extracted two-, three-, four-, five- and six-word clusters
from the Cambridge and Nottingham Corpus of Discourse in English
(CANCODE: cf. https://www.nottingham.ac.uk/research/groups/cral/
projects/cancode.aspx), but rather than using grammar as an overarching
element, they observed pragmatic integrity in the clusters. That is, when
analyzed in the concordance lines and in the source texts, each cluster
demonstrated common pragmatic categories such as discourse marking,
facework, politeness, and purposive vagueness. These categories broadly
correlated with the pragmatic routines in Bardovi-Harlig (2012, p. 208)
in that in order to be identified as a pragmatic routine, an expression
must: (1) contain at least two morphemes; (2) be articulated without any
interruption; (3) be repeated in the same way; (4) be dependent on the
context; and (5) be community-wide.
To identify the spoken phraseology of Aeronautical English in
abnormal situations, I investigated the RadioTelephony Plain English
Corpus (RTPEC – PRADO; TOSQUI-LUCKS, 2019). RTPEC consists
of 130 audio files transcribed into 110,737 words. All audio files feature
communications between pilots and controllers in which abnormal
situations occur and presumably contain Plain Aviation English
(BIESWANGER, 2016). Guiding the abnormal situations represented
in the corpus is another document published by the ICAO, namely
Taxonomy of Occurrences, a list that standardizes accident and incident
reports (ICAO, 2006). The occurrences presented in this taxonomy refer
to operational problems that might occur during a flight such as engine
failure, loss of flight controls, bird strikes, weather-related phenomena
such as windshear or icing, even human-related scenarios such as
problems with passengers or violations such as runway incursions (i.e.,
inadvertent entry onto the runway). For each of the 33 categories listed
in the Taxonomy of Occurrences, there are four to six audio files, of
which at least one must have been held in international traffic, that is,
an aircraft foreign to that airspace or airport, as a way of ensuring ELF
interactions in the corpus (cf. PRADO, 2019).
The transcriptions partially followed the model of Language Into
Act Theory (CRESTI, 2000). However, the linguistic or metalinguistic
information suggested was not included because the corpus is also
intended for pedagogical material design. Still, the principle that oral
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1391

language is prosodically centered (see example below) rather than


sentence or verb centered conducted the transcriptions. The fact that
meaning is constructed through islands defined within prosodic frontiers
allows us to observe each island as containing units of meaning, which
in turn correspond to a speech act (CRESTI, 2014). Each prosodic unit is
represented as an utterance between single slashes, and a full utterance,
identified by the fall in intonation, is closed by two slashes. The following
extract illustrates this point:
Uh you know what / I’d like to turn back and maybe go to republic if that’s
okay / uh seven nine November //

The islands are the portions of language between the slashes.


Because of the slashes, it is possible to identify “uh you know what”
as a string and “I’d like to turn back and maybe go to republic if that’s
okay” as another string. If the slash had not been used, the researcher
might consider “you know” as a string and “what I’d like to” as another.
The prosodic fall, identified by the slash, may separate the strings, or
the islands. These strings match the idiom principle (SINCLAIR, 1991
– see Section 2) in the sense that conventionalized entrenched language,
including collocates, colligates, and clusters, is easily spotted in the
concordance lines that exhibit the slashes. Table 1 illustrates this point:
TABLE 1 – Sample of concordance lines with “you know what”
N Concordande
1 orty-five // Alright / you know what / in that case just pu
2 said Juliet // Okay / you know what / for now just hold sh
3 trying to imply // Uh you know what / I’d like to turn bac
4 ted fifteen? // Well / you know what / they’re gone / but q
5 the runway // Okay // you know what / Tower / Can you have
6 ed somebody else // Uh you know what / most of us sir are l
7 d have known by now // you know what / they told us it was

In Table 1, the seven occurrences of the expression “you know


what” mostly follow fillers (alright, okay, uh, well) and occur at the
beginning of utterances. These occurrences were previously selected
out of 17 because of their common feature, namely that they function
as discourse organizers, a fact we can only observe when investigating
1392 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

the cluster in question in the source text. It is therefore more practical to


identify a cluster as being within an utterance. If an investigated cluster
is separated by double slashes, it is disregarded as it does not form a
unit of meaning. This transcription model benefits the search for units of
meaning that are not semantically transparent, that is, clusters that contain
only functional or grammar words. However, the high frequency of such
elements in spoken corpora may signal certain uses in the community
that could have gone unnoticed if other transcription models had been
adopted. Although concordance lines assist the researcher in looking at
clusters within utterances, they still do not reveal the context or even the
exchange in which the cluster was used (WEISSER, 2018). Therefore,
a careful examination of each cluster within the context of production
is indispensable.
To run the analysis of the corpus, in line with McCarthy and
Carter (2002), I generated two-, three- and four-word cluster lists through
Wordsmith Tools (SCOTT, 2016), intending to extract the conventional
elements – or the spoken phraseology (ALTENBERG, 1998) – present
in the corpus and compare them to the two linguistic areas, fluency and
interaction, targeted at in this paper. The most frequent clusters were
selected for individual analysis in concordance lines to identify whether
or not they belonged to the same cluster, specifically in the same island
(CRESTI, 2014), and then in the source text, so as to investigate their
pragmatic function by observing the features listed in Bardovi-Harlig
(2012). The next section presents the analysis.

5 Analysis and Discussion


To observe whether clusters in the corpus are more frequent
than single words, as in McCarthy and Carter (2002), I ran a broader
investigation of two lists: a wordlist (TABLE 2) and a two- to four-word
cluster list (TABLE 3) by means of Wordsmith Tools (SCOTT, 2016).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1393

TABLE 2 – RTPEC Wordlist with 60 most frequent words


N Word Freq. N Word Freq. N Word Freq.
1 THE 2,800 21 IT 615 41 SO 260
2 YOU 2,795 22 S 589 42 GOOD 258
3 TO 2,536 23 HAVE 577 43 WITH 257
4 UH 2,124 24 TURN 526 44 BY 254
5 WE 1,830 25 JUST 521 45 WILL 245
6 AND 1,648 26 IN 508 46 OFF 244
7 ON 1,211 27 ARE 476 47 DOWN 242
8 RIGHT 1,056 28 CAN 474 48 THIS 238
9 FOR 998 29 NOW 449 49 GET 232
10 I 967 30 YOUR 417 50 LIKE 229
11 A 964 31 LL 413 51 BACK 224
12 RUNWAY 931 32 BE 406 52 UP 224
13 THAT 853 33 THANK 392 53 WHAT 223
14 LEFT 837 34 DO 384 54 FROM 218
15 IS 822 35 THERE 366 55 OUT 213
16 RE 756 36 GO 348 56 AIRCRAFT 207
17 AT 683 37 IF 347 57 HERE 201
18 OF 683 38 NEED 295 58 AN 199
19 OKAY 673 39 SIR 285 59 ME 199
20 HEAVY 625 40 GONNA 277 60 WHEN 199

TABLE 3 – RTPEC 2-, 3- and 4-word cluster lists


2-word clusters 3-word clusters 4-word clusters
N Word Freq. Word Freq Word Freq.
1 WE RE 436 WE RE GONNA 111 CLEARED FOR TAKE OFF 72
2 THANK YOU 392 HOLD SHORT OF 74 THANK YOU VERY MUCH 45
3 ON THE 330 ON THE RUNWAY 62 LINE UP AND WAIT 41
4 YOU RE 273 D LIKE TO 51 WE D LIKE TO 33
5 TO THE 271 I DON T 50 CLEARED TO LAND 32
RUNWAY
6 WE LL 233 WE D LIKE 49 ESTABLISHED ON THE 24
LOCALIZER
7 AND UH 212 LET ME KNOW 46 HOLD SHORT OF RUNWAY 20
8 UH WE 211 THANK YOU VERY 45 ARE YOU ABLE TO 19
9 YOU CAN 202 YOU VERY MUCH 45 DID YOU COPY THAT 19
1394 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

10 IF YOU 200 UH WE RE 44 I DON T KNOW 19


11 IT S 186 DO YOU HAVE 42 WOULD YOU LIKE TO 16
12 THAT S 185 YOU RE CLEARED 41 DO YOU WANT TO 15
13 IM 177 AND UH WE 40 JUST LET ME KNOW 15
14 DO YOU 175 SOULS ON BOARD 40 LET ME KNOW WHEN 15
15 WE HAVE 172 WE NEED TO 38 WE RE GONNA HAVE 15
16 WE ARE 164 YOU NEED TO 38 ME KNOW WHEN YOU 14
17 RE GONNA 149 DO YOU WANT 37 RE GONNA HAVE TO 14
18 ARE YOU 137 AT THIS TIME 36 SOULS ON BOARD AND 14
19 YOU HAVE 126 OKAY THANK YOU 36 THE AIRPORT IN SIGHT 14
20 RIGHT NOW 124 I M GONNA 35 WE RE GOING TO 14
21 NEED TO 119 I M SORRY 35 WHEN YOU RE READY 14
22 AND WE 118 TO THE GATE 35 YOU WANT US TO 14
23 DON T 112 AND WE LL 33 AND UH WE RE 13
24 I LL 111 IF YOU CAN 32 I NEED YOU TO 13
25 YOU NEED 106 DO YOU NEED 31 I LL GIVE YOU 12
26 LIKE TO 99 YOU RE GONNA 30 IN FRONT OF YOU 12
27 WHEN YOU 92 WE LL BE 29 PAN PAN PAN PAN 12
28 WILL BE 91 DECLARING AN 28 WE RE GONNA NEED 12
EMERGENCY
29 CAN YOU 85 TO THE RAMP 28 ARE YOU READY TO 11
30 YOU WANT 85 UH WE ARE 27 BACK TO THE GATE 11

A comparison of Tables 2 and 3 shows that only 29 single words


(TABLE 2) are more frequent than the most recurrent cluster, which is
“we’re” (TABLE 3). Other than revealing the importance of clusters as
inherent in radio communications, the high presence of clusters in this
register also supports the view that radio communication in problem-
solving situations resembles oral speech, as predicted in Lopez (2013).
As the objective of this study research is not to investigate
Standard Phraseology but the Plain English used in radio communications,
a stoplist was needed to remove Standard Phraseology words such as
numbers, items from the ICAO phonetic alphabet (Alpha, Bravo,
Charlie), and proper nouns (airports, airlines), among others. The search
for five- and six-word clusters only brought up strings such as “thank
you very much sir.” Therefore, these were excluded from the list of items
to be investigated.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1395

This initial investigation also highlighted how most two-word


clusters were in fact segments of three-word clusters such as “do you”
(“do you have” or “do you need”). Below is a list of the 100 top three-
word clusters; the highlighted expressions are aviation-related and
confirm the nature of the communications (TABLE 4).
TABLE 4 – RTPEC 100 most frequent 3-word clusters
N Word Freq. N Word Freq.
1 WE RE GONNA 111 51 THANK YOU SIR 22
2 HOLD SHORT OF 74 52 TO THE RIGHT 22
3 ON THE RUNWAY 62 53 WHEN YOU GET 22
4 D LIKE TO 51 54 WHEN YOU RE 22
5 I DON T 50 55 DON T HAVE 21
6 WE D LIKE 49 56 GONNA HAVE TO 21
7 LET ME KNOW 46 57 RE GOING TO 21
8 THANK YOU VERY 45 58 RE GONNA HAVE 21
9 YOU VERY MUCH 45 59 ROGER THANK YOU 21
10 UH WE RE 44 60 UH WE HAVE 21
11 DO YOU HAVE 42 61 YOU RE READY 21
12 YOU RE CLEARED 41 62 AIRPORT IN SIGHT 20
13 AND UH WE 40 63 IN FRONT OF 20
14 SOULS ON BOARD 40 64 IT S A 20
15 WE NEED TO 38 65 LL GIVE YOU 20
16 YOU NEED TO 38 66 OF THE AIRCRAFT 20
17 DO YOU WANT 37 67 TAXI TO THE 20
18 AT THIS TIME 36 68 UH DO YOU 20
19 OKAY THANK YOU 36 69 WE HAVE A 20
20 I M GONNA 35 70 YOU HAVE A 20
21 I M SORRY 35 71 AND WE RE 19
22 TO THE GATE 35 72 AS SOON AS 19
23 AND WE LL 33 73 FOR YOUR HELP 19
24 IF YOU CAN 32 74 IN THE COCKPIT 19
25 DO YOU NEED 31 75 PAN PAN PAN 19
26 YOU RE GONNA 30 76 WE HAVE UH 19
27 WE LL BE 29 77 WE LL GET 19
28 DECLARING AN EMERGENCY 28 78 YOU ABLE TO 19
1396 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

29 TO THE RAMP 28 79 YOU COPY THAT 19


30 UH WE ARE 27 80 AT THE MOMENT 18
31 WOULD LIKE TO 27 81 CALL YOU BACK 18
32 WOULD YOU LIKE 27 82 GIVE YOU A 18
33 YOU WANT TO 27 83 IF YOU WANT 18
34 DON T KNOW 26 84 THAT S WHAT 18
35 IF YOU NEED 26 85 TO THE LEFT 18
36 A LITTLE BIT 25 86 WE LL CALL 18
37 BE ABLE TO 25 87 AND I LL 17
38 LET YOU KNOW 25 88 NEED YOU TO 17
39 THAT S FINE 25 89 OKAY WE LL 17
40 UH WE LL 25 90 SO WE RE 17
41 BACK TO THE 24 91 THANK YOU AND 17
42 OFF THE RUNWAY 24 92 WANT US TO 17
43 OKAY WE RE 24 93 YOU KNOW WHAT 17
44 WE VE GOT 24 94 APPEARS TO BE 16
45 WE DON T 23 95 I NEED TO 16
46 WE RE GOING 23 96 KNOW IF YOU 16
47 YOU HAVE THE 23 97 ON THE GROUND 16
48 ARE YOU ABLE 22 98 RE GONNA BE 16
49 HOLD YOUR POSITION 22 99 RE READY TO 16
50 OF THE RUNWAY 22 100 SIR WE RE 16

Some interesting findings emerge from this list, the first to call
attention being the high presence of modal verbs and personal pronouns,
two of the language items that according to ICAO (2007) must not be
employed in radio communications, but are also common in general
English spoken corpora (MCCARTHY; CARTER, 2002). An analysis
of each of these clusters first in concordance lines and then in the text
they are taken from show that the modal verbs function as mitigators
(CAFFI, 1999, p. 882), that is, features related to the management of the
interaction that weaken risks such as “self-contradiction, refusal, losing
face, conflict, and so forth”. Given the problem-solving purpose that
oriented this corpus compilation, pilots and controllers seem to attenuate
their speech acts, which also change in this scenario as, for example,
controllers start to offer alternatives rather than stating commands. The
following extract illustrates the mitigation identified in the expression
“would/’d like to”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1397

Extract 1:
ATCO Aircraft seven thirty-six / roger the pan pan / are you ready for the turn here for me? //
Pilot Uh we’d uh we’d like to solve up the problem and we’d like uh to return into Sydney / it’s
better //
ATCO Aircraft seven thirty-six / would you like to return now? //
Pilot Uh affirm //
ATCO Aircraft seven thirty-six / turn left heading two one zero / maintain five thousand feet //
Pilot Left turn heading two one zero / maintaining five thousand / Aircraft seven seven thirty-six //
ATCO Would you like to hold somewhere or are you ready to land now? //
Pilot We’ll keep you advised and tell you later / okay? //
ATCO Aircraft seven thirty-six / roger / if you’d like to hold / what place would you like to hold at?
//
Pilot Uuh / we’ll advise to you later / we are trying to solve up the problem and we are now
<break> engine number one is on idle power / and we are uh <pause> and uuh determing [sic]
whether to dump some fuel or uh just check the performance / okay? //

This extract is from a communication about an aircraft that


suffered an engine failure after take-off, with the pilots deciding to return
to the airport of origin. The extract starts from the pilots saying that they
need to work on the problem by means of checklists and return to the
airport at the same time. The controller rechecks this last information by
using “would you like (to return now).” Following the confirmation, the
controller gives instructions to enable the pilots to return to the airport,
followed by the pilot’s readback. However, the controller is still unsure
as to whether the pilots need to fly over an area (hold) to prepare the
aircraft for landing or if they are ready to land, and thus uses the cluster
“would you like to” once again. The pilots use two pieces of information
that show they are still not clear as to what their next step should be and
when they should take it (“We’ll keep you advised and tell you later
/ okay?”). The controller then asks a question in order to prepare for
the next possible action: “if you’d like to hold / what place would you
like to hold at?” The pilots finally state their current condition: they are
checking their weight and limitations to decide whether or not they will
need to dump fuel to reduce weight for landing.
The recurrent use of the expression “would like to” exemplified
in this last extract suggests that when pilots and controllers are dealing
with an emergency such as engine failure, they tend to mitigate their
1398 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

language as a means of sharing responsibility over the problem. This


can also be seen in the following extract.
Extract 2:
Pilot Mayday <unreadable> zero five <unreadable> fire on board / request immediate turn back
to Budapest //
ATCO Roger / two stations / say again your call sign //
Pilot Aircraft one six nine five / mayday / request turn back and descend to Budapest //
ATCO Aircraft one six nine five uh roger uh / right is approved / descend to flight level two zero
zero //
Pilot Descend flight level two zero zero / Aircraft one six nine five // Aircraft one six nine five /
can we turn back to Budapest? //
ATCO Aircraft one six nine five / affirm / cleared to turn back to Budapest / right turn and uh
descend to flight level two zero zero //
Pilot Right turn flight level two zero zero / Aircraft one six nine five //

The pilot declares an emergency (“mayday”) due to fire on board,


one of the most critical problems a flight crew can experience. Adhering
to Standard Phraseology, the pilot uses the word “request.” The controller
replies with “roger,” a word that means “acknowledged” (but not an
affirmative response), states that two radios were in use at the same time
(“two stations”), thus blocking the radio frequency, and requests repetition
of the call sign (flight number). However, the controller does not refer to
which aircraft his request was addressed to. The pilot of the aircraft in the
emergency repeats the call sign, the emergency status (“mayday”), and
the request (“request turn back and descend to Budapest”). The controller
replies once again with “roger,” this time also acknowledging the call
sign, and gives instructions. However, as the controller does not give any
indication that he is complying with the pilot’s request, the pilot switches
to the use of the mitigation device “can we turn back to Budapest?” The
controller finally uses the proper Standard Phraseology to signal to the pilot
that they are working together (“affirm / cleared to turn back to Budapest”).
The use of “can we” to emphasize the request in an emergency
situation reinforces the idea exposed earlier that when involved with a
problem, the participants in the interaction under study here migrate to
more spontaneous – and mitigated – language. It is worth noting that
although “can we” is not a three-word cluster, it was investigated along
with the cluster “if you can” (with 24 occurrences), also commonly used
for requests.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1399

The second element to be addressed is the high frequency of


personal pronouns and referential words such as here and there, or
deixis. Deixis are “aspects of language whose interpretation is relative
to the occasion of utterance” (FILLMORE, 1966, p. 220), that is, items
that anchor the elements expressed by the participants to the context of
production. These can be demonstrative pronouns, personal pronouns,
adverbs of place and time, verb tenses, or even verbs such as come and go
(LEVINSON, 2004, p. 74). Such elements, which are highly dependent
on the context of production and particularly on the location of the
participants in the interaction, should not be used according to Standard
Phraseology as precision is a key element in radio communications.
However, a further analysis of deictics within their clusters corroborate an
investigation by Garcia (2016) of the communication held in the accident
of the Airbus 320 that landed on the Hudson River in New York. Through
Conversational Analysis, Garcia showed that the portion of language used
to describe this unusual event was signaled by linguistic items such as
hesitation markers, deixis, and okay as a turn opener. Let us observe the
transcript of another communication in the following extract.
Extract 3:
ATCO <interrupted> one two thousand / maintain two five zero knots //
Pilot Descend to one two thousand and maintain two five zero knots / Aircraft one ninety-two
heavy // and Chicago / just confirm Aircraft one ninety-two heavy / we are cleared
down to one two thousand feet / two five zero knots? //
ATCO Aircraft one ninety-two heavy / are you declaring an emergency or just need to return back
as a precaution? //
Pilot Uh just a precautionary return at the moment / we’re gonna have the aircraft inspected as
it was uh a fairly large flock of birds that made a mess on the front windshield and we’re
worried about the radome //
ATCO Okay / roger //
Pilot We are down to one two thousand / was that last clearance for one ninety-two heavy? //
ATCO Aircraft one ninety-two heavy / uh affirmative / descend and maintain one two thousand
and uh maintain two five zero knots //
Pilot Down to one two thousand / two five zero knots / Aircraft one ninety-two heavy //

The parts in bold correspond to the elements listed by Garcia


(2016). They signal the transition from the rehearsed language of Standard
Phraseology (starting from the second turn) to the Plain Aviation English
used when the interactions are built around the problem (turns 2-5).
These elements, which signal a transition, are usually repetitive, which
1400 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

can be seen through the investigation of clusters of elements such as “uh


we’re,” “and uh we,” “uh we’re,” and “okay we’re” but also functional
words such as personal pronouns, hesitation markers, conjunctions (but,
so, and) and prepositions, confirming Garcia’s finding.
Another feature of this discourse is that these elements are related
to the organization of the discourse, as can be seen in Table 5.
TABLE 5 – Sample of concordance lines with “and uh we”

N Concordande
1 tihad four five one // understood // and uh we’ ll give you five minutes’ notice
2 of course all over the windscreen / and uh we’ caught one of them on one of the
3 tors / fly heading zero niner zero / and uh we’ ll expect runway two eight center
4 ‘re at the process of slowing down / and uh we’ ll call the base circuit at one e
5 op on the runway for an inspection / and uh we’ re gonna evaluate the situation t
6 tially was fire / there is no fire / and uh we’ are waiting for your notification
7 s // They’ve got the longer runway / and uh we’ re gonna get you uh the most uh a
8 / we’re having landing gear issues / and uh we’ need to sort it out / we’re gonna
9 the fuel remaining in pounds? // Uh and uh we’ have it in kilos // Alright / wha
10 re just starting the checklist now / and uh we’ try just to uh if that’s the whol

Table 5 shows a sample (10 out of 40 occurrences) of the


concordance lines with “and uh we” in the center, starting prosodic islands
(lines 2-8) or utterances (lines 1 and 9). This implies that the cluster “and
uh we” may function as a turn opener or as a strategy for holding the turn
as silence may indicate that the other participant can press the radio button
to speak. Again, let us turn to the text of production of one of the lines.
Extract 4:
ATCO Aircraft four nineteen heavy / when you have a chance just uh call me back on this
frequency please / it’s from the Tower //
Pilot Yup / okay uh so we have a chance to call you back so / what do you need? //
ATCO I just need uh you you’re coming out of Dulles so what’s your destination / Aircraft four
nineteen heavy? / and your registration number please //
Pilot Okay / the registration is delta alpha bravo yankee tango / and the uh destination was
Frankfurt echo delta delta foxtrot //
ATCO Aircraft four nineteen heavy / thank you very much / have a good night //
Pilot Thank you and uh we uh how do we get onto the position? / we have no signals / nothing is
there / so how do we get in? // is there a follow me? //
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1401

In this extract, the hesitation marker is also bolded in other


clusters. The cluster “and uh we” seen in the last turn is followed by
another hesitation marker and then a correction, showing that it was used
as a false starter. The other clusters – “uh so we” and “and the uh” –
also confirm their function as discourse organizers (starting and holding
the turn, respectively). As in Tao (2003), which used CL to support
Conversation Analysis studies of repeated language functioning as turn
openers, in radio communications, certain clusters seem to function as
discourse organizers, supporting Mell’s finding (2004) (see Section 2).
Other clusters employed here as discourse organizers are: uh we’re (44
occurrences), and uh we (40 occurrences), I’m gonna (35 occurrences),
and we’ll (33 occurrences), you’re gonna (30 occurrences), uh we are (27
occurrences), uh we’ll (25 occurrences), and okay we’re (24 occurrences),
among others.
Specific speech acts also compose this specific genre (cf. BHATIA,
1993). Doc 9838 (ICAO, 2010) offers a list of communicative functions
drawn from Mell’s 1991 (see Section 2). As Mell’s study was based on
radio communications in routine situations, his roll of functions is more
extensive than those examined in this study (see Table 7). Moreover,
many of the functions described by Mell are manifested in RTPEC. To
illustrate this point, controllers are in charge of giving information about
weather, traffic, and airport status but mostly of giving directions, which
are transmitted with verbs in the imperative form (such as climb, descend,
etc). Sometimes, as predicted by Standard Phraseology, controllers
request pilots to provide some information, such as “report when ready
to copy” or “report when reaching flight level 230”. However, RTPEC
shows that, in abnormal situations, clusters such as “let me know” and
“do you have” are more commonly used. This could be related to the
mitigation described previously, as can be observed in the concordance
lines with “let me know” in the center (TABLE 6).
1402 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

TABLE 6 – Sample of concordance lines with “let me know”

N Concordande
1 wo two left approach and let me know if you need anything di
2 ou // Romeo Oscar Mike / let me know if you want lower than
3 lot one five one heavy / let me know if you get the age of t
4 orth of alpha? // Okay / let me know if that changes i’ll ke
5 two two left localizer / let me know if you need me to put y
6 y // it’s no big deal // let me know if you need any more as
7 a minute // Okay / just let me know if you can maneuver all
8 ck to you here // Okay / let me know if you need anything //
9 n as we are // could you let me know if there’s any change t
10 can sixteen forty / just let me know if you need any lower t

These concordance lines exhibit some common collocates such


as “okay,” “if,” and “you.” When analyzing the concordance lines in the
transcript, we find the following extract.
Extract 5:
ATCO Aircraft one eighty / Kennedy Ground / continue via fox bravo / hold short of runway two
two right / remain this frequency //
Pilot Okay / can we hold on just a second / we need to run a few checklists for one eighty //
ATCO Aircraft one eighty / roger / let me know when you’re ready to taxi //

The cluster “let me know” is used when pilot and controller


migrate to a more spontaneous discourse implying an undeclared problem
(Turn 2). Even though the pilot does not say what the problem is, by stating
that he needs to run checklists, he suggests that he has a technical situation
to handle. This switch to a more spontaneous code appears to confirm the
need for mitigation in radio communications when the abnormal happens.
The linguistic areas of fluency and interaction specified in the
ICAO Language Proficiency Rating Scale seem to lack elements such
as mitigation or even the signals that call for the collaboration of the
participants. It is then possible to confirm that the perspective adopted
needs to be updated with more current research from applied linguistics,
in this case with recent studies in Pragmatics. Being concerned with
language in use, Pragmatics – or pragmatic awareness – should be a useful
path for guiding teachers preparing activities or designing materials.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1403

Aeronautical English teachers should also consider the spoken grammar


that organizes the conversation between pilots and controllers.
To inform curriculum or pedagogical activities, all 100 three-word
clusters in the corpus were analyzed within their context of production
and grouped according to their functional profile (ADOLPHS, 2008). This
can relate to pragmatic awareness, assisting teachers or material designers
with the development of activities. The result is as follows (TABLE 7).
TABLE 7 – Clusters distributed according to their functions
Functions / Functions /
Clusters Clusters
Speech acts Speech acts

we’d like (something or you know what


someone) a little bit (usually before mentioning
can you the problem)
Request Mitigators
we need to we / I need you to (more assertive – for
you need to instructions)
if you can I don’t know if (for offers or requests)

(just) let sb know…


…when you get a chance
…when you get to / on (place)
State (modal verb) be able to
Request …when you’re ready
abilities or
and provide …if / when you have a If you can
ask about
information moment / second / chance are you able to
abilities
as soon as * can / possible /
practicable
we’ll call you back

would you like (to)


do you need (any)
and uh we
do you want
uh we have
if you need
uh do you
if you want
and we’ll / and I’ll
if you’d like Open or sir we’re
Offer if you can hold the
turn okay we’re
we / I’ll give you
so we’re
do you need
uh we’ll
we’ll get
uh we are / we’re
give you a
that’s what I / we
do you want us to
can you
1404 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

we’re gonna
we’d like to Report
I’m gonna other’s
State instructions
gonna have to that’s what
decisions / decisions
re going to made
we’ll be previously
would like to

right now / now


okay thank you
Highlight at this time
Agree / allow roger thank you
the current at the moment
/ thank okay we’re moment momentarily (in the meaning of “soon”)
that’s fine
immediately

don’t have
we have a
you have a Request do you have
Inform of the we’ve got information uh do you
problem we don’t about a you have the
we have uh problem can you tell me / give me
it’s a
appear to be

Table 7 presents possible language that may assist teachers


in developing syllabi, pedagogical materials, or activities and is not
intended for memorization. Instead, the material designer or the teacher
may consult this list when preparing activities targeted at Plain Aviation
English, not at Standard Phraseology. This list can also inform ICAO
Language Proficiency Rating Scale users when assessing a candidate’s
Plain Aviation English, for example, or when designing proficiency
assessment tasks.
Understanding how users organize their discourse can assist
learners as well as professional users such as aviators and controllers
in signaling problems or abnormal situations or even in comprehending
when to remain silent so that other crew with problems can manage their
problem with the controller without interference. It also helps pilots
recognize when it is time to press the button to take the turn on congested
radio frequencies. Students, who are pilots in service, often report that it
takes them long minutes before they finally take the turn at airports such
as JFK. Another benefit regards the frontiers in the transition between
Standard Phraseology and Plain Aviation English. Such an example can
also be found in the corpus, as presented in the following extract.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1405

Extract 6:
Pilot Kennedy Tower / Aircraft eight zero eight zero / reporting balloon / final four right //
ATCO Say again? //
Pilot Eight zero eight two heavy / reporting balloon / four right //
ATCO Aircraft eight zero eight two heavy / I’m having trouble understanding you / you are cleared
to land four right / can you say again / please speak up //
Pilot Okay / no problem // cleared to land four right / Aircraft eight zero eight two / reporting
hot balloon uh final runway four right about five hundred feet //
ATCO Reporting a bird? / Is that what you’re saying? // tell me when you get on the ground //
Pilot Okay //
ATCO The wind is three two zero at one zero // eight zero eight two heavy / turn left on foxtrot
bravo //
Did you have windshear / is that what you are saying? //
Pilot No / leaving on fox bravo / Aircraft eight zero eight two / reporting hot air balloon on
final four right about five hundred feet //
ATCO Balloon / you said? //
Pilot Balloon //

Here, the Brazilian pilot reports a balloon (an uncommon hazard)


in the surroundings of the airport. However, the pilot does not signal
the transition from Standard Phraseology to Plain Aviation English to
describe the uncommon hazard. By using the word “reporting,” the
pilot not only uses a word normally considered inappropriate to his
participation in this interaction, but he also makes up a collocation that is
unfamiliar to the interlocutor. The controller repeatedly tries to understand
the pilot, but senses that this situation is not urgent and instructs the pilot
to proceed with the landing.
When searching for the word “balloon” in the concordance lines,
we find the following instances (Table 8).
TABLE 8 – Concordance lines with “balloon”

N Concordande
1 void a balloon / we have a balloon right now on our right ha
2 ow turning left to avoid a balloon / we have a balloon right
3 e seven / disconnecting / balloon now on the right / uh sir
4 e seven / there is another balloon at uh UTBUR at uh flight
5 way just to go around the balloon // Roger / report back on
6 blished // We uh we got a balloon right in the way / we’d l
1406 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

7 sir // we have flown by a balloon right at this time // Am


8 tion uh there is a hot air balloon final on final approach /
9 we are we have a hot air balloon on flight level one hundr
10 e need information about balloon // Aircraft zero five sev
11 on uh hot to avoid hot air balloon on approach / uh many bal
12 above us / there´s a free balloon flying with a photo // Sw
13 scending to avoid a a free balloon uh flying around here / d

The concordance lines reveal a common surrounding of the word


balloon consisting of “there is”, “I can see,” and “we are deviating from”.
These strings reiterate that Plain Aviation English resembles simpler
colloquial structures. However, a closer look at the context of production
shows that despite the fact that all these lines come from the same radio
communication, they are all enunciated by different international aircraft,
one of them from a country (the United States) where English is the
official language. By exposing students to this fact, teachers may address
attitudes toward transfer (in Brazil, reports such as the one described here
are made through the Portuguese word reportar (report) and the use of
Plain Aviation English.

6 Conclusion
The objective of this paper was to identify what linguistic
elements constitute fluency and interaction in the Plain Aviation English
of air-ground radio communications in abnormal situations. These
two linguistic areas were taken from the ICAO Language Proficiency
Rating Scale and compared against a corpus built with a two-fold
purpose: researching Plain Aviation English and informing pedagogical
materials. Corpus Linguistics was shown to be useful in identifying
patterns in the Plain Aviation English used in radio communications.
Generating cluster lists enabled the analysis of the pragmatic functions
of the clusters, identified as pragmatic routines and as items that assist
in organizing the conversation. However, these conclusions were not
drawn from mere frequencies. Instead, each cluster was examined one
by one in concordance lines and in the transcripts, where information
about the source was also displayed. These clusters were then grouped
into a total of 12 functions, verifying that fluency and interaction can be
interconnected into the broader perspective of Pragmatics.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1407

The paper showed that the transition between Standard


Phraseology and Plain Aviation English can be signaled by certain
linguistic elements such as deixis and hesitation, which are also present
in the organization of the conversation between pilots and controllers
when sharing responsibility for a problem. This corresponds to the spoken
grammar suggested by Rühlemann (2008) and can be pedagogically
presented through activities that ask students to reflect on the co-
construction of the conversation while also considering key components
that act on the pilot-controller relationship.
The problem-solving objective that was inherent in the corpus
design allowed for the observation of how the participants in the
interaction share responsibility for making decisions and solving
problems. Participants mitigate their language toward the same goal by
engaging in a verbal-only communication, even in a hermetic context
such as aviation, thus supporting Lopez’ (2013) claim that social
conventions in radio communications cannot be controlled.
Based on the analysis presented in this paper, what should be
taken into account is a discussion of pedagogical concepts regarding the
content dealt with in the Aeronautical English classroom. In response,
a more appropriate syllabus should emphasize the development of the
students’ capacity of interacting while considering pragmatic awareness
and cultural tolerance (DAVIES, 2004). Such a syllabus should consider
fluency and interaction as a co-construction by at least two participants in
the interaction. It should also contemplate activities that allow the student
to enhance pragmatic strategies and pragmatic routines (ISHIHARA;
COHEN, 2010). The analysis presented here points to teaching oriented
by language use, the co-construction of the interaction among the
participants, the context that regulates the community, and pragmatic
awareness enhanced in such a way that it allows students to choose how
to position themselves in their own community so that they can better
perform their functions.
1408 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

References
ADOLPHS, S. Corpus and Context: Investigating Pragmatic Functions
in Spoken Discourse. Amsterdam: John Benjamins, 2008. DOI: https://
doi.org/10.1075/scl.30.
ALTENBERG, B. On the Phraseology of Spoken English: The Evidence
of Recurrent Word Combinations. In: COWIE, A. (org.) Phraseology:
Theory, Analysis, and Applications. Oxford: Oxford University Press,
1998. p. 101-122.
BARDOVI-HARLIG, K. Formulas, Routines, and Conventional
Expressions in Pragmatics Research. Annual Review of Applied
Linguistics, Cambridge, v. 32, p. 206-227, 2012. DOI: https://doi.
org/10.1017/S0267190512000086.
BHATIA, V. K. Analyzing Genre: Language Use in Professional Settings.
London: Longman, 1993.
BIESWANGER, M. Applied Linguistics and Air Traffic Control: Focus
on Language Awareness and Intercultural Communication. In: HANSEN-
SCHIRRA, S.; MAKSYMSKI, K. (org.). Aviation Communication:
Between Theory and Practice. Frankfurt-am-Main: Peter Lang, 2013.
p. 15-31.
BIESWANGER, M. Aviation English: Two Distinct Specialized
Registers? In: SCHUBERT, C.; SÁNCHEZ-STOCKHAMMER, C.
(org.). Variational Text Linguistics: Revisiting Register in English. Berlin:
de Gruyter, 2016. p. 67-85.
BOROWSKA, A. Avialinguistics: The Study of Language for Aviation
Purposes. Frankfurt-am-Main: Peter Lang, 2017. DOI: https://doi.
org/10.3726/b11037.
CAFFI, C. On Mitigation. Journal of Pragmatics, [S.l.], v. 31, n. 7, p.
881-909, 1999. DOI: https://doi.org/10.1016/S0378-2166(98)00098-8.
CARTER, R; MCCARTHY, M. Cambridge Grammar of English: A
Comprehensive Guide. Cambridge: Cambridge University Press, 2006.
CARTER, R.; MCCARTHY, M. Spoken Grammar: Where Are We and
Where Are We Going? Applied Linguistics, Oxford, v. 38, n. 1, p. 1-20,
2017. DOI: https://doi.org/10.1093/applin/amu080.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1409

CHENG, W. What Can a Corpus Tell Us about Language Teaching? In:


O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. (org.). The Routledge Handbook of
Corpus Linguistics. London; New York: Taylor & Francis Group, 2015.
p. 319-332. DOI: https://doi.org/10.4324/9780203856949-23.
CORBETT, J. An Intercultural Approach to English Language
Teaching. Clevedon: Multilingual Matters, 2003. DOI: https://doi.
org/10.21832/9781853596858.
CRESTI, E. Corpus di italiano parlato. Florence: Accademia della
Crusca, 2000.
CRESTI, E. Syntactic Properties of Spontaneous Speech in the Language
into Act Theory. In: RASO, T.; MELLO, H. (org.). Spoken Corpora and
Linguistic Studies. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing
Company, 2014. p. 365-410. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.61.13cre.
DAVIES, C. E. Developing Awareness of Crosscultural Pragmatics: The
Case of American/German Sociable Interaction. Multilingua, [S.l.], v.
23, n. 3, p. 207-231, 2004. DOI: https://doi.org/10.1515/mult.2004.010.
DOUGLAS, D. Assessing Language for Specific Purposes. Cambridge:
Cambridge University Press, 1999. DOI: https://doi.org/10.1017/
CBO9780511732911
DUBOIS, J. W. Transcription Design Principles for Spoken Discourse
Research. Pragmatics, [S.l.], v. 1, n. 1, p. 71-106, 1991. DOI: https://doi.
org/10.1075/prag.1.1.04boi.
EMERY, H. Developments in LSP Testing 30 Years on: The Case of
Aviation English. Language Assessment Quarterly, [S.l.], v. 11, n. 2, p.
198-215, 2014. DOI: https://doi.org/10.1080/15434303.2014.894516.
ESTIVAL, D.; FARRIS, C; MOLESWORTH, B. Aviation English: A
lingua franca for pilots and air traffic controllers. London: Routledge,
2016. DOI: https://doi.org/10.4324/9781315661179.
FIELD, J. Listening in the Language Classroom. Cambridge:
Cambridge University Press, 2009. DOI: https://doi.org/10.1017/
CBO9780511575945.
FILLMORE, C. Deictic Categories in the Semantics of “Come.”
Foundations of Language, [S.l.], v. 2, n. 3, p. 219-227, 1966.
1410 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

FRIGINAL, E.; MATHEWS, E.; ROBERTS, J. English in Global


Aviation: Context, Research, and Pedagogy. London: Bloomsbury, 2020.
GARCIA, A. Air Traffic Communications in Routine and Emergency
Contexts: A Case Study of Flight 1549 “Miracle on the Hudson.”
Journal of Pragmatics, [S.l.], v. 106, p. 57-71, 2016. DOI: https://doi.
org/10.1016/j.pragma.2016.10.005.
GARCIA, A. C. What do ICAO Language Proficiency Test Developers and
Raters Have to Say about the ICAO Language Proficiency Requirements
12 Years after their Publication? 2015. 115f. Thesis (Masters in Language
Testing) – Department of Linguistics and English Language, Lancaster
University, Lancaster, 2015
GARCIA, A. C.; FOX, J. Contexts and Constructs: Implications for
the Testing of Listening in Pilots’ Communications with Air Traffic
Controllers. The Especialist, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 1-33, 2020. DOI:
2318-7115.2020v41i4a4. Available from: https://revistas.pucsp.br/index.
php/esp/article/view/49775. Access on: Nov. 15, 2020.
GARDNER, I. A.; DETERDING, D. Pronunciation and Miscommunication
in ELF Interactions: An Analysis of Initial Clusters. In: JENKINS, J.;
BAKER, W.; DEWEY, M. (org.). The Routledge Handbook of English
as a Lingua Franca. London: Routledge, 2018. p. 224-232. DOI: https://
doi.org/10.4324/9781315717173-19.
GÖTZ, S. Fluency in Native and Nonnative English Speech. Amsterdam:
John Benjamins, 2013.
GRANGER, S. Learner Corpora in Foreign Language Education. In: VAN
DEUSENSCHOLL, N.; HORNBERGER, N. H. (org.). Encyclopedia of
Language and Education. Philadelphia: Springer, 2008. v. 4, p. 337-351.
DOI:  10.1007/978-3-319-02328-1_33-1.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO).
Manual of implementation of the language proficiency requirements.
Montreal: ICAO, 2004.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Aviation
Occurrence Categories: Definitions and Usage Notes. Montreal: ICAO,
2006.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1411

INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO).


Manual of radiotelephony. Montreal: ICAO, 2007.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO).
Manual of implementation of the language proficiency requirements (2nd.
ed.). Montreal: ICAO, 2010.
ISHIHARA, N.; COHEN, A. D. Teaching and Learning Pragmatics:
Where Language and Culture Meet. Edinburgh: Pearson Education
Limited, 2010.
ISHIHARA, N.; PRADO, M. The Negotiation of Meaning in Aviation
English as a Lingua Franca: A Corpus-Informed Discursive Approach.
Modern Language Journal, [S.l.]. in press.
JENKINS, J. The Phonology of English as an International Language.
Oxford: Oxford University Press, 2000.
KAUR, J. Communication Strategies in English as a Lingua Franca
Interaction. In: PETERS, M. A.; HERAUD, R. (org.). Encyclopedia of
Educational Innovations. Singapore: Springer, 2019. p. 1-5. DOI: https://
doi.org/10.1007/978-981-13-2262-4_86-1.
KIM, H. What Constitutes Professional Communication in Aviation:
Is Language Proficiency Enough for Testing Purposes? Language
Testing, [S.l.], v. 35, n. 3, p. 403-426, 2018. DOI: https://doi.
org/10.1177/0265532218758127.
KNOCH, U. Using Subject Specialists to Validate an ESP Rating Scale:
The Case of the International Civil Aviation Organization (ICAO) Rating
Scale. English for Specific Purposes, [S.l.], v. 33, p. 77-86, 2014. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.esp.2013.08.002.
LEVINSON, S. Deixis. In: HORN, L. R.; WARD, G. (org.). The
Blackwell Handbook of Pragmatics. Malden: Blackwell, 2004. p. 97-121.
DOI: https://doi.org/10.1002/9780470756959.ch5.
LEWIS, M. The Lexical Approach: The State of ELT and a Way Forward.
London: Language Teaching Publications, 1993.
LÓPEZ, S. Norme(s) et usage(s) langagiers: Le cas des communications
pilote-contrôleur en anglaise. 2013. 420f. Tese (Doutorado em Linguística)
– Université de Toulouse Le Mirail, Toulouse, 2013.
1412 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

MATHEWS, E. Language Gap. Alexandria: Flight Safety Foundation,


2012. Available from: https://flightsafety.org/asw-article/language-gap.
Access on: Sep. 30, 2020.
MATHEWS, E. How Incomplete Language Standards Threaten Aviation.
Aviation Week, [S.l.], [s.p.], 2020. Available from: https://aviationweek.
com/air-transport/opinion-how-incomplete-language-standards-threaten-
aviation?fbclid=IwAR262pq8-6McH6YkH7_1PvpsXOAHI0cogGfAN
rsd7TbU0N4pufWxqeDPSZI. Access on Sep. 30, 2020.
MAURANEN, A. Conceptualising ELF. In: JENKINS, J.; BAKER,
W.; DEWEY, M. (org.). The Routledge handbook of English as a
lingua franca. London: Routledge, 2018. P. 7-24. DOI: https://doi.
org/10.4324/9781315717173-2.
MCCARTHY, M.; CARTER, R. This, That, and the Other: Multi-Word
Clusters in Spoken English as Visible Patterns of Interaction. Teanga:
Irish Yearbook of Applied Linguistics, Dublin, v. 21, p. 30-52, 2002..
DOI: https://doi.org/10.35903/teanga.v21i0.173.
MCCARTHY, M.; CLANCY, B. From Language as System to Language
as Discourse. In: WALSH, S.; MANN, S. (org.). The Routledge Handbook
of English Language Teacher Education. London: Routledge, 2018. p.
199-215. DOI: https://doi.org/10.4324/9781315659824-15.
MCNAMARA, T. Managing Learning: Authority and Language
Assessment. Language Teaching, Cambridge, v. 44, n. 4, p. 500-515,
2011. DOI: https://doi.org/10.1017/S0261444811000073.
MELL, J. Language Training and Testing in Aviation Needs to Focus on
Job-Specific Competencies. ICAO Journal, [S.l.], v. 59, n. 1, p. 12-14,
2004.
MODER, C.; HALLECK, G. Planes, Politics and Oral Proficiency:
Testing International Air Traffic Controllers. Australian Review of
Applied Linguistics, v. 32, n. 3, p. 25.1-25.16, 2009. DOI: https://doi.
org/10.1075/aral.32.3.05mod.
MONTEIRO, A. L. Reconsidering the Measurement of Proficiency in
Pilot and Air Traffic Controller Radiotelephony Communication: From
Construct Definition to Task Design. 2019. 475f. Tese (Doutorado em
Linguística Aplicada) – Faculty of Graduate and Postdoctoral Affairs,
Carleton University, Ottawa, Ontario, 2019. Available from: https://
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021 1413

curve.carleton.ca/0b65cc09-37d2-449f-804d-a6f804917927. Accessed
on Sep. 5, 2020.
MORROW, D.; RODVOLD, M.; LEE, A. Nonroutine Transactions in
Controller-Pilot Communication. Discourse Processes, [S.l.], v. 17, p.
235-258, 1994. DOI: https://doi.org/10.1080/01638539409544868.
O’KEEFE, A.; CLANCY, B.; ADOLPHS, S. Introducing Pragmatics in
Use. London: Routledge, 2011.
PFEIFFER, A. Inter-Rater Reliability in an Aviation Speaking Test. 2009.
64f. Dissertation (Masters in Linguistics) – Faculty of Linguistics and
English Language, Lancaster University, Lancaster, 2009.
PRADO, M. A relevância da Pragmática no ensino do inglês aeronáutico:
um estudo baseado em corpora. 2019. 336p. Tese (Doutorado em Letras)
– Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de
São Paulo, 2019.
PRADO, M.; TOSQUI-LUCKS, P. Designing the Radiotelephony Plain
English Corpus (RTPEC): A Specialized Spoken English Language
Corpus Towards a Description of Aeronautical Communications in Non-
Routine Situations. Research in Corpus Linguistics, [S.l], v. 7, p. 113-128,
2019. DOI: https://doi.org/10.32714/ricl.07.06.
RÜHLEMANN, C. A Register Approach to Teaching Conversation:
Farewell to Standard English? Applied Linguistics, Oxford, v. 29, n. 4, p.
672-693, 2008. DOI: https://doi.org/10.1093/applin/amn023.
SACKS, H.; SCHEGLOFF, E.; JEFFERSON, G. A simplest systematics
for the organization of turn-taking for conversation. Language,
Washington, DC, v. 50, n. 4, p. 696-735, 1974. DOI: https://doi.
org/10.1353/lan.1974.0010.
SCOTT, M. Wordsmith Tools (Version 7). Stroud: Lexical Analysis
Software, 2016.
SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Collocation: Describing English
Language. Oxford: Oxford University Press, 1991.
SINCLAIR, J.; M. COULTHARD. Towards an Analysis of Discourse.
Oxford: Oxford University Press, 1975.
1414 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1381-1414, 2021

SVARTVIK, J. (org.). The London-Lund Corpus of Spoken English:


Description and Research. Lund: Lund University Press, 1990.
TAGNIN, S. O jeito que a gente diz: expressões convencionais e
idiomáticas. São Paulo: Disal, 2013.
TAO, H. Turn Initiators in Spoken English: A Corpus-Based Approach to
Interaction and Grammar. In: LEISTYNA, P.; MEYER, C. (org.). Corpus
Analysis: Language Structure and Language Use. Amsterdam: Rodopi,
2003. p. 187-207. DOI: https://doi.org/10.1163/9789004334410_011.
TOSQUI-LUCKS, P.; SILVA, A. L. Aeronautical English: Investigating
the Nature of this Specific Language in Search of New Heights. The
Especialist, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 1-27, 2020. DOI: https://doi.
org/10.23925/2318-7115.2020v41i3a2. Available from: https://revistas.
pucsp.br/index.php/esp/article/view/47826. Access on: Nov. 15, 2020.
TRIPPE, J.; BAESE-BERK, M. A prosodic profile of American aviation
English. English for Specific Purposes, [S.l.], v. 53, p. 30-46, 2019. DOI:
https://doi.org/10.1016/j.esp.2018.08.006.
WEIR, A. The Tombstone Imperative. London: Simon; Schuster, 1999.
WEISSER, M. How to Do Corpus Pragmatics on Pragmatically
Annotated Data. Amsterdam: John Benjamins, 2018. DOI: https://doi.
org/10.1075/scl.84.
WIDDOWSON, H. G. Context, Community, and Authentic Language.
TESOL Quarterly, [S.l.], v. 32, n. 4, p. 705-716, 1998. DOI: https://doi.
org/10.2307/3588001.
YOUNG, R. Interactional Competence: Challenges for Validity.
In: ANNUAL MEETING OF THE AMERICAN ASSOCIATION
FOR APPLIED LINGUISTICS, 2000. Vancouver. Proceedings [...].
Vancouver: ERIC Clearinghouse, 2000. p. 1-15.
ZANETTIN, F. Corpora multimediali e analisi dell’interazione:
Osservazioni su strumenti e metodologie. In: GAVIOLI, L. (org.). La
mediazione linguistico culturale: Una prospettiva interazionista. Perugia:
Guerra Edizioni, 2009. p. 325-255.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

Analyzing the use of personal pronouns in aeronautical


communications through CORPAC (Corpus of Pilot and Air
Traffic Controller Communications)

O uso de pronomes pessoais em comunicações aeronáuticas:


uma análise através do CORPAC (Corpus of Pilot and Air Traffic
Controller Communications)

Aline Pacheco
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre,
Rio Grande do Sul / Brasil
aline.pacheco@pucrs.br
http://orcid.org/0000-0003-1638-0215

Abstract: This article aims to analyze the use of personal pronouns in aeronautical
communications based on CORPAC, a specialized corpus. Pronouns can play an
important role in multitasking communicative scenarios such as the one featured in
aviation and therefore it is of paramount importance that identities be clearly set in
operations. In light of Neville’s (2004) study about cockpit’s identities, this investigation
addresses the frequency and patterns of usage of personal pronouns – especially I,
we and you, using corpus linguistic tools. The corpus exploration provides evidence
that such pronouns are indeed very frequently used, despite official orientations
that do not recommend their use in order to avoid problems such as ambiguity. The
examination reveals consistent and interpretable patterns associated to Neville’s (2004)
assumptions and has significant implications for training and testing purposes in the
field of Aeronautical English.
Keywords: aeronautical communications; personal pronouns; corpus linguistics.

Resumo: Este artigo tem como objetivo analisar o uso de pronomes pessoais na
comunicação aeronáutica a partir do CORPAC, um corpus especializado. Pronomes
podem desempenhar um papel de destaque em cenários comunicativos multitarefa,
tais como observados na aviação. Nesse sentido, faz-se importante que as identidades

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1415-1442
1416 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

sejam claramente definidas nas operações. À luz do estudo de Neville (2004) sobre
identidades no cockpit, esta investigação aborda a frequência e os padrões de uso de
pronomes pessoais – especialmente “I”, “we” e “you”, por meio do uso de ferramentas
linguísticas de corpus. A exploração do corpus fornece evidências de que tais pronomes
são de fato usados com muita frequência, apesar de orientações oficiais que não
recomendam seu uso, a fim de evitar problemas como a ambiguidade. A análise revela
padrões consistentes e interpretáveis associados às suposições de Neville (2004) e tem
implicações significativas para fins de treinamento e teste na área de Inglês Aeronáutico.
Palavras-chave: comunicação aeronáutica; pronomes pessoais; linguística de corpus.

Submitted on September 9th, 2020


Accepted on November 9th, 2020

1 Introduction
Communication is a critical human factor in aviation operations
and the effects of poor communications are acknowledged to have highly
impacted aviation safety (CUSHING, 1997; DIETRICH; MELTZER,
2002; MATHEWS, 2019; NEVILLE, 2004). Sexton and Helmreich
(2000, p. 63) say that “The role of language has been neglected and
researchers have recognized the need for a deeper understanding of
its roles, characteristics and how it impacts in aviation.” More recent
research has shown that language specialists have been trying to widen
the scope of studies in the field and have successfully managed to shed
light on topics which need to be tackled. (SILVA; TOSQUI-LUCKS,
2020; PACHECO, 2019).
Corpus-based research on Aviation English (AE) has become of
increasing interest as it enables the researcher to analyze real language
occurrences from a variety of tools (BOCORNY, 2011; PRADO, 2019;
SARMENTO, 2008; TOSQUI-LUCKS, 2018). It is known that the
dialogues between pilots and air traffic controllers (ATCOs) are recorded
and available from the Cockpit Voice Recorder (CVR) whenever there
is the need for that and especially when there is an event with negative
outcomes. Nevertheless, this material is not easily made available for
research by airline companies or governmental institutions, and informal
or non-authorized recordings can be a problem or can compromise data
reliability.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1417

Albeit the challenges posed by this methodology are particularly


hard when it comes to corpus compilation in such a high-stakes domain as
aviation, the results are very positive and the prospects quite promising.
As an example, the International Civil Aviation English Association
(ICAEA) has included Corpus Linguistics (CL) as one of the areas of
study by its research group,1 an initiative that will certainly contribute to
spread the interest for studies that join together the language of aviation
and the wide array of research possibilities offered by CL. We have known
about the compilation of some corpora for aviation purposes, such as
Corpus da Aviação (CAVI) (BOCORNY, 2008; SARMENTO, 2008),
Radiotelephony Plain English Corpus (RTPEC) (PRADO, 2019), OSU
Aviation Corpus (MODER, 2013) as well as other corpora mentioned
in Lopez (2013), Swinehart (2013), Hinrich (2008).
In order to be able to analyze the language of aviation through
a corpus, CORPAC (Corpus of Pilot and ATCO Communications) has
been created. It is still in its preliminary stages of compilation and is
totally based on open-access information from VASAVIATION,2 which
features emergency situations extracted from Live ATC.3 The purpose
is to explore the tools of analysis offered by CL and to be able to do
research from real, spontaneous language use in aviation, covering a
range of linguistic features.
It is known that pilots have to work cooperatively in highly
coordinated activities throughout the stages of operations, both in the air
and on the ground. To perform these tasks successfully, it is of paramount
importance that identities be perceived as clearly as possible. In “Beyond
the Black Box”, Maurice Neville (2004) analyzes how pilots accomplish
identities using pronominal forms. According to him, “Pronominal
choices are an important aspect of pilots’ habitual communicative practice
contributing to their awareness of who is doing what and what is going
on.” (NEVILLE, 2004, p. 33). To coordinate their work, each pilot must
be familiar with the duties and responsibilities associated with his/her own
identities as well as with the tasks assigned to the other pilot. This will be
linguistically performed, mostly, through the use of personal pronouns.
1
https://www.icaea.aero/about/icaea-research-group/.
2
https://www.youtube.com/channel/UCuedf_fJVrOppky5gl3U6QQ, a You Tube
channel with available information.
3
https://www.liveatc.net/, a paid service which offers access to aeronautical
communications in aviation, live or recorded.
1418 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

Based on Conversation Analysis and data collected in real


flights, he explores the use of personal pronouns (subject and object)
and possessive adjectives (for him, analyzed as a same category), mainly
first person singular (I/me/my), second person (you/your) and first
person plural (we/us/our). In his study, he describes “prescribed” and
“non-prescribed” pronouns –the former referring to pronouns that are
part of wordings spelled out for pilots in official operations manuals and
the latter to those not part of the official wording expected to be used.
The outcomes of this study show that pronominal choices are related to
the creation and presentation of identities and relevant selves in order to
comply with the tasks demands through coordinated teamwork.
In this line, this article proposes the investigation of personal
pronouns by using CORPAC – a specialized corpus. It aims to analyze the
use of some personal pronouns explored by Neville (2004) in aeronautical
communications – namely, I, you and we, through tools used in CL
research to check aspects regarding their frequency and their clusters. It
starts by a brief review on the topics that most closely associate to the
ideas approached in our study, such as language as a human factor in
aviation, and some previous studies with the use of pronouns in aviation.
Next, a section about the method precedes the description of the results
obtained by our corpus research. The results are expected to add to the
information presented by Neville (2004) and to offer relevant contribution
to aeronautical English training, curriculum and test design regarding
language in aviation.

2 Language as a factor in aviation communications


The International Civil Aviation Association (ICAO), the United
Nations specialized agency for aviation, mandates, as of 2011, that
all pilots flying in international airspace have a minimum operational
English language proficiency. This is done by tests enforced by the
Aviation Authority of each of its member states. Naturally, from this
demand, there was an increase in interest about the language of aviation,
being referred to as Aviation English, English for Aviation, Aeronautical
English, Airpeak, AeroEnglish, Aeroese, Plane English, among others
(BIESWANGER, 2016; BOROWSKA, 2017; ESTIVAL et al., 2016;
MODER, 2013; SILVA; TOSQUI-LUCKS, 2020).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1419

Moder (2013, p. 227) seems to prefer the use of a more general


concept: “Aviation English describes the language used by pilots, air
traffic controllers, and other personnel associated with the aviation
industry”, using “radiotelephony” to comprehend the more specialized
communication which occurs between pilots and ATCOs. According to
her, AE is made of Phraseology – the prescribed vocabulary and syntax
which are part of these highly specialized exchanges, and Plain English,
the non-prescribed uses of more common English vocabulary and syntax.
Borowska (2017) understands that AE is an overarching term and
that Aeronautical English is more suitable to designate communications
solely between pilots and ATCOs (not with mechanic, flight attendants,
dispatchers or aviation personnel in general), a distinctive concept which
has also been adopted by Silva and Tosqui-Lucks (2020).
The effects of poor communication in aviation can be tragic.
The accident of Tenerife, in 1977 is accounted for a miscommunication
problem. The phrase “at take-off” ultimately triggered the crash. The
KLM pilot uttered it meaning “taking off”, using the structure from
Dutch, his mother language, to designate continuous activity. The
controller understood it as he was supposed to according to standard
phraseology – referring to a specific place, waiting for an authorization.
It is the deadliest crash in aviation history, killing 583 people. Cushing
(1997), in Fatal Words – Communication Clashes and Aircraft Crashes,
examines several aeronautical events that had communication issues as a
factor, establishing categories of analysis such as problems of reference,
inference, compliance; problems with numbers and radios. This manual
is taken as a reference for studies of how language is involved and can
impact aviation.
In line with this urge for more information about how language
can impact safety in aviation, there is the LHUFT (Language as a Human
Factor in Aviation) Center, at Embry-Riddle Aeronautical University. The
center fosters research that aims to pinpoint linguistic factors involved
in aviation communications, in order to have a better perspective of
language in communication along with other human factors, so that it
can be addressed more properly by the industry and other parts involved.
“When accident investigators miss the more subtle effects of language
use or language proficiency, the industry underestimates the possible
impact and contributory effects of language problems in the accidents
being investigated” (MATHEWS, 2019, p. 53). The LHUFT perspective
1420 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

seeks to “a broad and more accurate understanding role of language in


aviation safety, how language, language use, language proficiency, and
culture affect aviation safety”.4
Mathews, Pacheco and Albrighton (2019) discuss the factors that
can account for miscommunication in aviation, based on a Taxonomy
originally proposed by Mathews in 2013. The taxonomy considers
technical, procedural, cultural and language factors in communication
and has been very a valuable tool not only for proposing the analysis of
specific language problems (as regards phonetics, syntax, semantics or
pragmatics), but also for establishing an interface with other aspects that
cannot be dissociated from language analyses. Additionally, Pacheco and
Souza (2018) conduct a study in an attempt to illustrate the use of this
taxonomy as a successful method to investigate aeronautical events that
have language as a causal or contributing factor.
Sexton and Helmreich (2000, p. 66) also advocate for a
more thorough examination of language use in aviation, stating that
“Understanding variations in the language use is important to the extent
that language use is related to flight safety”. Their study approaches the
need for more specific language research in aeronautical communications
over the analysis of the occurrences of categories such as pronouns, which
we will discuss further in the next section.

3 Pronouns in Aeronautical Communications


Communication in aviation is guided by a series of documents,
such as the Manual of Language Proficiency Requirements (ICAO
DOC 9835, 2010), the Manual of Radiotelephony (ICAO Doc 9432,
2007), ICAO DOC 4444 Air traffic Management (2016) and Annex
10 to the Convention on International Civil Aviation: Aeronautical
Telecommunications (ICAO, 2001).
ICAO Doc 9835 (2010) makes the following reference to
pronouns:
3.3.10 The principal linguistic characteristics of standardized
phraseology (Philps, 1991) are a reduced vocabulary (around 400
words) in which each word has a precise meaning, often exclusive
to the aviation domain, and short sentences resulting from the

4
https://commons.erau.edu/db-lhuft/
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1421

deletion of “function words” such as determiners (the, your, etc.),


auxiliary and link verbs (is/are), subject pronouns (I, you, we) and
many prepositions. (ICAO, 2010, p. 3-4)

From this perspective, it is understood that the elimination of


certain words that are not considered relevant in terms of meaning
is supposed to reduce the occurrence of miscommunication through
ambiguity (ESTIVAL et al., 2016; MODER, 2013; PHILPS, 1991).
The use of call signs (information of the flight, with letters and number
pronounced according to what is prescribed) would establish the
identification for operations.
ICAO Doc Annex 10 about Aeronautical Telecommunications
(2001) does not make specific mention to the use of pronouns, neither
does DOC 9432, the Manual of Radiotelephony or ICAO Doc 4444 about
Phraseology, even though featuring several instances of “we” and “you”
in the example sentences.
Estival et al. (2016) present full lexical and functional
grammatical categories in a linguistic description of AE. They say that
only first and second personal pronouns “I, we, you” are used, and that
there is rarely, if ever, a third person pronoun (because a noun phrase is
reported in full, assumedly to avoid ambiguity).
According to Borowska (2017), personal, reflexive and possessive
pronouns are not generally used in standard phraseology, being “I” an
exception in “I say again”, “you” in “How do you read?; Are you ready
for pushback?; Do you want vectors?; Say your position”.
Despite the orientations that discourage the use of pronouns and
the conclusions from Estival et al. (2016) and Borowska (2017) regarding
the non-outstanding use of pronouns in AE and phraseology, other studies
show that the use of personal pronouns such as “we”, “you”, or “it” reveal
interesting information for analysis.
Moder and Halleck (2012) claim that AE is a specialized language
register through a corpus-based study. In the aviation corpus from Ohio
State University, the 20 most frequent words were, in order, “the, to, one,
two zero, you, three, five, and, of, four, seven, is, on, six, we, at, it, eight,
and right” (p. 144), which differs from the ones in a corpus of general
English (Corpus of Contemporary American English was the one she
used). In COCA,5 the most frequent 20 words are” the, is, and, of, a, in,

5
https://www.english-corpora.org/coca/
1422 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

to, have, it, I, that, for, you, he, with, on, do, say, this, and they”. Among
the differences, they highlight the appearance of numbers in the aviation
corpus (a peculiar trait of aeronautical communications, to inform flight
level, heading, runways and taxiways, call signs, procedures etc.), only
three prepositions – “of”, “on”, and “at”, the appearance of only three
pronouns – “you”, “it” and “we”, not “he”, “they”, and “I”, as in the
general Corpus.
Prado (2010) also presents a list of the ten most frequent words
in a corpus based on aeronautical communications, which are “you”,
“the”, “to”, “I”, “and”, “we”, “a”, “on”, “it”, “that”. Her list displays
three personal pronouns at the top, two articles and a preposition.
Sexton and Helmreich (2000) discuss the relationship of language
use and flight outcome measures through the application of a “new”
computer-based linguistic method for text analysis, a program called
LIWC (Linguistic Inquiry and Word Count). Eighty-five language
dimensions were analyzed, including personal pronouns, we, our, us, I,
among others. One of their research questions was “how does language
use vary across position and or level of workload?”. The data were from
a NASA study involving a three-person crew: a captain (C), a first officer
(FO) and a flight engineer (FE), flying a simulated aircraft for a period
of three days.
The conclusions point to the fact that individuals tend to
communicate more along periods of high workload, much probably due
to the multi-tasking involved in flight deck management. Specifically
on the use of pronouns, some of their conclusions were that captains
tend to use “we” (the first person plural) more often than FO’s and FE’s,
especially in stressful situations, which could be due to the status and role
of the captain. “This role requires more than active team building, and
the status affords the right to use the first-person plural (‘we need to…,
our problem…, let’s get out …’) when briefing, planning or addressing
the crew in conversation” (SEXTON; HELMREICH, 2000, p. 66).
Additionally, there was an increase in the use of this pronoun by the three
crew members as the familiarity increased along the three days. The use
of the first-person plural was highly correlated with performance and
could be a marker of familiarity or a more collective orientation towards
the crew. Language use of pilots varies as a function of who is talking
(C, FO or FE) and as a function of workload (SEXTON; HELMREICH,
2000, p. 66).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1423

In a study dating back to 1994, an NTSB investigation covered


flight-crew involved major incidents in U.S. carriers and acknowledged
that “we” could be an important marker in that crew familiarity has been
implicated as a moderating variable of aviation accidents (NTSB, 1994).
Cushing (1997), in a chapter entitled “Problems of Reference”,
offers an example of a specific case of confusion that the use of pronoun
“we” led to. Two fighters were flying on instrument route and one
developed mechanical problem and stated, “We need clearance back to
base” (CUSHING, 1997, p. 18). The controller issued an IFR clearance
and the aircraft replied, “We are in a left turn and we are climbing to
17,000ft” (CUSHING, 1997, p. 18). From this, the controller interpreted
“we” as meaning that both aircraft were returning to home station.
However, only the leading aircraft – the one that made the contact,
was. The other continued on the original route. The pilot used “we”
meaning the crew in that aircraft and the controller understood “we” as
the two fighter aircraft flying together and this could have had negative
consequences.

4 Pronominal choice in accomplishing cockpit identities


In “Beyond the Black Box”, Maurice Neville (2004) analyzes
how pilots accomplish identities using prescribed and non-prescribed
pronominal forms. There are two formal identities which are assumed
for pilots. The first one is automatically given according to their status
as professionals, either as a Captain or as a First Officer. The other is
related to the functions that they perform in operations, as the Pilot Flying
(PF) – the pilot who is actually in charge of the maneuvers to make the
aircraft fly, or as the Pilot Not-Flying (PNF or Pilot Monitoring (PM),
– the who is in charge of tasks to assist the pilot flying.6 Pilots have to
be clearly aware of who is in charge of what and, in order to share this
identity, they make use of pronouns.

6
“Pilot Monitoring” has been used more recently because it seems to be more appropriate
in describing the actual function of the pilot when not performing the actual tasks to
fly the plane – as described by the Federal Aviation Administration (FAA), the US
Aviation Agency. (https://www.faa.gov/other_visit/aviation_industry/airline_operators/
airline_safety/safo/all_safos/media/2015/SAFO15011.pdf) In this article, PNF (pilot
not-flying) will be used in accordance with what is used by Neville (2004).
1424 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

Pronominal choices allow participants to establish how they are


related to each other within the interaction and are important for pilots’
communicative practice contributing to their awareness of who is doing
what and what is going on. So that duties and responsibilities are clearly
assigned to identities, pilots have to coordinate their work together.
Through their pronominal choices pilots develop and demonstrate
to one another their evolving understandings of these cockpit
identities, from the engine start up and takeoff through to the
landing and engine shut down. Pronominal choices indicate which
identity pilots are occupying, at any given moment, in a setting
where more than one identity may be available and legitimate.
Pronominal choices help to allow pilots to make visible and be
accountable for their moment-to-moment understanding of the
identities they each occupy (NEVILLE, 2004, p. 34).

Crystal (1995, p. 201), in a traditional perspective, defines


pronouns as “words that stand for a noun, a whole noun phrase or
several noun phrases and a personal pronoun as the main means of
identifying speakers, addressees and others”. Neville (2004) adopts a
different perspective, in accordance with Sacks (1992), who, in Chapters
011 and 11 of his Lectures, respectively, addresses Pronouns and tying
Techniques: “The need to tie one’s talk to another’s preceding talk is
a motivation to listen: tying properly shows that one has understood”
(SACKS, 1992, p. 716).
In relation to the pronoun “we”, Sacks says that it can be used to
represent organizational status or capacity – when the speaker talks as
an agent, and that a speaker may use “we” for category bound activities,
as an indicator of the speaker’s category membership”. (SACKS, 1992,
p. 333).
Neville (2004, p. 36) refers to a research by Malone (1997 apud
NEVILLE, 2004) who puts that “the first person plural provides ‘a
powerful resource for calling up involvement obligations that require
hearers to interpret who ‘we’ are at any moment and hence how and
where the interaction is proceeding’.”
Field (2020) states that the interactive listener retains certain
aspects of form in his short-term memory in order to use them in the
upcoming responses and is not just concerned with the speakers’ meaning.
From that, one could assume that personal pronouns seem to be relevant
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1425

in assigning references in exchanges and should be given attention in the


communication dynamics in order to avoid problems such as ambiguity.
Additionally, the choices of pronouns can be affected by the
characteristics of the setting or occasion of an interaction, which can be
associated to specific patterns that may be developed over time related
to organizational identities.
In order to check pronominal choices that enable pilots to
establish who they are talking and listening to one another, Neville (2004)
looks at numerous examples of personal pronouns which occur as part
of the officially prescribed wording for pilots (in manuals of operating
procedures and company policies) and at those which are not in a non-
prescribed context.
The example below focuses on “your go” and “my go”, part of
prescribed words pilots are required to produce.

1 (0.9)
2 C/PNF: I have three three five(.) course bar three five five heading bug,
3 (0.7) A:SEL ADF, (0.2) it’s your go.
4 (0.8)
5 FO/PF: my go.
6 (0.5)
7 FO/PF: go-around(.) flight level one eight zero (0.4) with ASEL (0.5)
8 right (of the) the pilot in command info: briefing as discussed.
9 (0.3) (NEVILLE, 2004, p. 40).7

This dialogue is said to have happened in the briefing moment


before the flight, as the pilots prepare for takeoff. Through their
pronominal choices, the pilots explicitly assign their identities as PF and
PNF. Other similar examples given by the author are “your departure”,
“your power levers” and “my yoke”, to determine who is in charge of a
specific operational task.
The next example features a non-prescribed form:

7
The reader can refer to the original source for further understanding of the symbols
used to transcribe the conversations.
1426 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

1 (13.4)
2 FO/PF:okay we need to plan hh- so the plan shall be:::, (3.4) go downhill
3 at (0.2) f::orty: (0.3) eight (0.4) mi::les:: er::: (0.4) south of
4 Destination (0.3) on DME on the GPS, (1.6) we’ll expect to be
5 visual within twentyfive miles make a visual approach:, (1.7) to
6 join left downwind for left circuit landing runway one ei::ght::.
7 (0.3) the airfield elevation is eighteen (.) circuit height a thousand
8 feet is bugged on the altimeter. (0.9) visual procedures left circuit:.
9 (1.9) we’ll be landing flap twentyfi::ve with a:: ah
10 (2.2) Vref of ninety:ni:ne and (0.2) seventeen point seven (ton),
11 (1.2) carry ten for a hundred and ni::ne (0.9) and Vfr Vel’s a
12 hundred and nine and fourtee:n. (1.3) <and they’re all se:t:.>
13 (0.8)
14 C/PNF:0 Set” ecrosschecked).
15 (0.8)
16 FO/PF:the fuel on board’ll be: six forty, (1.2) it’s about an hour and a
17 quarter’s holding, (1.3) not really enough to go anywhere but er
18 we shouldn’t have a problem getting on the ground in an hour.
19 (3.4)
20 FO/PF:and ah radio aids we got both the NAYs on Destination no::w we
21 might as well stick both the AD er ADFs up to Destination too.
22 (0.7)
23 ((repeating alert tone))
24 FO/PF:number one ADF identified on Destination now as well.0
25 (4.3)
26 C/PNF:that’s all understood (NEVILLE, 2004, p. 53).

Although the FO is the one performing the operations – the PF,


he makes use of “we” instead of “I” in sentences such as ‘we need to
plan’ (line 2), ‘we’ll expect to be visual’ (line 4), ‘we’ll be landing flap
twentyfi::ve’ (line 9), ‘we shouldn’t have a problem’ (line 18), ‘we got
both the NAVs’ (line 20), and ‘we might as well’ (line 20) in order to
make it evident that the activities – the planning, expecting, landing, etc.,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1427

involve both pilots, in a shared identity as crew. Considering the fact


that “we” can be interpreted as inclusive or exclusive, the meaning of
the pronoun can be often vague and highly context dependent. (BIBER
et al., 1999; VAUGHAN; CLANCY, 2013).
Further examples featuring the use of “we” are provided: “we’re
clear to start”, “we’re estimating”, “we’re still traffic to you”, “we’ve
got traffic in sight”, “we have that”, “we don’t require it”, “we need
to plan”, “what we’ll do”, “let’s get out of here”, among others. They
seem to set clear that the activities being performed are being taken as
a jointly controlled task. That is, the use of the pronoun ‘we” seems to
be inclusive of the operational crew members.
The choices for “I”, “my”, “me”, “you” and “your” were analyzed
and interpreted as markers to invoke or make salient an individual identity
for the other pilot, as shown in the below example:
1 (3.5)
2 FO/PF: take vertical speed and I’ll just slow it down a bit more.
3 C/PNF: okay.
4 (4.0) (NEVILLE, 2004, p. 60).

By saying “I’ll slow it down”, the pilot wants to inform action


taken and control of the plane. Other examples – “I’m going to let it
run”, “I’ll take the autopilot’s in”, “I’ll take runway two two”, “I’ve had
enough”, “I’ll have the heading” show that, by choosing one possible
pronominal form, pilots are able to adopt for themselves, or assign to
another, one of the possible cockpit identities.
The author also mentions that in naturally occurring cockpit talk-
in-interaction pronominal choices can be a flexible interactional resource
which allow pilots to move in and out of relevant cockpit identities, as
shown in the next example:
1 (0.2)
2 C/PF: okay and I’ll ah wait until we get the lineup(.) before I take the
3 locks off.
4 FO/PNF:yeah (.)transponders on(.) check’s to flight controls.
5 C/PF: and you can tell him we’re ready (yeah).
6 (0.2)
1428 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

7 FO/PNF: yep.
8 (1.4)
9 FO/PNF:>bravojul<iet:: ()tango ready.
10 (1.6)
11 FO/PNF:[((coughs))
12 Tower: [bravo juliet tango.
13 (1.2) (NEVILLE, 2004, p. 73).

Here, the choices for “I”, “we” and “you” seem to portray each
one’s identities and tasks in the procedure.
Neville (2004) also analyzes what he calls impromptu pronouns,
a category that refers to forms that are also non-prescribed, but which
occur as “embellishments of prescribed wordings. That is, pilots’ talk
may include personal pronouns where there are none in the officially
prescribed wordings. The personal pronouns are not in the script but are
impromptu” (NEVILLE, 2004, p. 76).
For instance, when pilots are running checklists, the prescribed
wording would be only “set”, or “selected” or received”. Instead, in his
data, pilots responded like “we’ve got that”, or “you’ve got flaps ten”.
To the author, these pronouns do important interactional work as they
emerge as part of pilots’ accomplishment of their work and “help pilots
to make explicit distribution of duties and responsibilities, and the control
of various cockpit technologies” (NEVILLE, 2004, p. 77).
As we can see, the investigation proposed by Neville (2004)
is significantly contributing insofar it explores a more social aspect
comprehended by the use of certain personal pronouns in aeronautical
communications. Nevertheless, it does not bring information about the
frequency of those structures or a more in-depth exploration of other
elements such as lexical items that accompany specific pronoun choices.
Our study, then, intends to bridge this gap.

5 Method
CL is an empirical research approach to language use from
the exploration of a corpus (a collection of texts as database) through
computer-based tools. Our study aims to investigate the use of pronominal
forms in a specialized corpus, CORPAC, presented below.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1429

5.1 CORPAC
CORPAC (Corpus of Pilot and Air Traffic Controller Communication)
is a corpus that I started to compile in 2017 with the help of two monitor
students (not simultaneously) in the Aeronautical Science Program of
the Pontifical Catholic University of Rio Grande do Sul. The project
originally intended to be a joint work with monitor students in the Letters
Program, so that we could have the collaboration of different perspectives
in the compilation and analysis of the material – a more technical view
on behalf of student pilots and a specialized linguistic contribution from
the Letters Program students.8 A minimum of 100000 words is the target.
This paper is based on a preliminary version of the corpus, from
its first stages of compilation – with around 35000 words.
The corpus has been entirely built from emergency situations in
aviation extracted from the videos freely made available by VASAviation,
which is a Youtube channel that features selected situations from live
ATC Emergency Situations/LiveATC). The videos are animations and
contain the transcription of the audio. The criteria for the selection are
basically about the emergency degree of the event and the availability
of the transcription. That is, the video is watched by a student pilot, who
then verifies if it actually portrays an emergency situation in aviation and
if the transcription corresponds to what is being said.
Student-monitors were briefed about corpus research – its
assumptions, entailments and impact and were instructed to:
1. Choose an episode featured on the channel, watch it and check if it actually
presented an emergency situation.
2. Fill out a short form in the file “CORPAC INFO” with information about
the episode, such as URL, title/ nature of the problem, date, flight/company/
aircraft, where (from/ to), English as a firs/ foreign language, phase of
flight, duration of transcripts, and summary of the event.
3. This information can be essential to account for a number of variables in
the analysis, such as the nature of the problem, the phase of the flight or
if English is being used as a first or foreign language.9

8
Currently, the project is on hold due to a number of reasons, but I expect to restart it
as soon as possible.
9
As information about the professionals is not disclosed in the source, it is not possible
to accurately claim if the subject is a native speaker of English or not. Student-monitors
1430 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

4. Write the transcription of the exchange in the same file, between “ATC-
Pilot Transcripts and “End of transcript –”, as shown above.
5. Transfer ONLY the transcripts to another Word File, “CORPAC”, adding
just the corresponding number of the event in the INFO file so that we
can have access to background information about the event.

Accordingly, CORPAC has (so far) forty-three transcripts of


emergency situations (123 pages in a Word file), based on videos which
range from three to fifteen minutes and have been produced since 2008.
The transcription procedures usually last long, and they also require two
computers in order to facilitate the process– one to watch the animation
and see the transcript and the other two write the transcription. As for
the time spent in the process, student-pilots usually estimate one hour
of writing for each minute of recording, altogether.
Despite the limitations of the database so far, the corpus already
offers material for us to conduct preliminary linguistic analysis, such as
the one presented in this study.

5.2 Software data analysis


With the view to obtain specific data from CORPAC, a popular
and freely available software for corpus analysis was used: WordSmith
tools.10 The tools used were Concord, WordList and KeyWords.
The corpus was uploaded and required to generate:
1. A wordlist with the most frequent words
2. Concordance associations, with the most frequent collocate elements of
a given pronoun.
3. Keywords showing their keyness value.

The proposed analysis ranges from a general picture of the use of


personal pronouns in CORPAC to a more detailed look at the pronouns
“we”, “you” and “I”, given their role in aeronautical communications
as shown in Neville (2004).

were asked to fill out the form based on the company and other factors such as language
proficiency and accent. As I evolve with the project and counting on the help of Student-
monitors from the Letters program, I intend to conduct a more detailed categorization
of this feature considering other factors and sources.
10
https://lexically.net/wordsmith/
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1431

6 Results and Discussion


CORPAC totaled 36846 tokens and 1794 types. Table 1 below
shows the twenty most frequent words:
TABLE 1 – The twenty most frequent words in CORPAC

Rank Word Frequency


1 THE 873
2 YOU 784
3 TO 764
4 AND 638
5 WE 611
6 TWR 537
7 ONE 496
8 TWO 456
9 UH 435
10 RUNWAY 419
11 ON 408
12 FOR 368
13 A 347
14 APP 306
15 AT 283
16 I 273
17 THREE 272
18 RIGHT 271
19 OF 255
20 IS 245
Source: Produced by the author.

Results show two pronouns topping the list: “You”, in second,


with 784 occurrences and “we”, coming in fifth, with 611. “I” occupied
the 16th position in the rank, occurring 273 times. This is similar to what
was found in Moder and Halleck (2012): “you ” and “we” in the top
positions, as well as other word categories: numbers are indeed frequent,
1432 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

the article “the” tops the rank in both corpora and preposition “to” is
also commonly frequent. Our results also resemble Prado’s (2010) – her
top ten list features the same pronouns in CORPAC, and article “the”.
Most are closed class words – determiners, prepositions,
pronouns, conjunctions. Open class words are represented by items such
as “runway”, “twr” (tower), “right”, and “app”.11
The following graph presents an overall picture of pronominal
occurrences in our corpus, taking into account first, second and third
person pronouns.
GRAPH 1 – Pronominal Occurrence in CORPAC

Source: Produced by the author.

We present the same graph featuring all the pronouns differently


organized – ranked by their frequency as follows.

11
Additional analyses combining the most frequent open and closed class words would
be interesting insofar it could determine more precisely the association between the
most frequent pronouns and nouns in the corpus. Although this proposal goes beyond
the scope of this article, it should be considered as forthcoming research following
this investigation.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1433

GRAPH 2 – Personal Pronouns organized by Frequency

Source: Produced by the author.

“You”, “we” and “I” top the rank of frequency. They correspond,
respectively, to 2,13%, 1,66% and 0,74% of the words in CORPAC.
“You” had a +365.69 keyness12 value and “we”, a +282.17, coming in
second and third position, only behind the article “the”, with a value
of +399,13, which is significant compared to all the other words in the
corpus.
Having in mind the orientations not to use pronouns in
aeronautical communications (as seen previously), we could say these
numbers can be considered representative. Especially acknowledging
Neville’s (2004) assumptions that analyze the importance of these
personal pronouns in assigning identities. In other words, the use of
personal pronouns is not encouraged in aeronautical communications to
avoid ambiguity and still “we”, which is more likely to cause ambiguity
than “I”, is used almost three times more. Pilots seem to need to resort
to it to optimize communication.
A further analysis of the two-word clusters in CORPAC show
pronouns and prepositions topping the occurrences.

12
The “keyness” value of a word can be obtained through the tool Keyword, uploading
the target corpus and another reference corpus for comparison. In this study, the reference
corpus used was BNC Spoken corpus, retrieved from http://www.natcorp.ox.ac.uk/
using/index.xml?ID=freq
1434 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

GRAPH 3 – 10 most frequent two-word Clusters in CORPAC

Source: Produced by the author.

“We’re” is in third, “we’ll” in sixth and “you can” in eighth.


This appears to reveal significant information about aeronautical
communications: despite having their use discouraged, pronouns seem
to have a degree of importance in aviation exchanges given their high
frequency, analyzed as a one-word or as a cluster.
A more detailed examination of the three-word clusters with the
personal pronouns “I”, “you” and “we” demonstrate that these elements
seem to play a relevant role in Pilot-ATCO or Pilot – Pilot communication.
The most frequent clusters that feature “I’ are “I don’t” (10);
And“ I’ll” (9); “ I mean I” (7); “I’ll get” (6) and “I’m just” (6). The
most frequent three-word groups of words with “you” are “If you can”
(15); “Do you have” (14); “Do you want” (13); “You have the” (13)
and “Thank you very…” (11). The clusters that display “we” the most
are “We’re gonna” (15); “We’ll” (14); “We’re” (13); “We’re going”
(12) and “We’ll be” (12).
The data show that three pronouns are associated with auxiliaries
or modal verbs. Revising the instances in numbers, we verify that clusters
with “we” happen more frequently than those with “I”. The top five
occurrences of “We” in clusters show the use of “will” or “be going to”,
which can be interpreted as a manifestation of plans, intentions or future
actions. As pointed out by Neville (2004), “we” is a linguistic element that
pilots resort to in order to establish shared identity. Sexton and Helmreich
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1435

(2000) have also mentioned that the use of “we” seems to reinforce the
idea of “team-building” and that this use may be increased along the
time shared in the cockpit by a sense of familiarity of the crew members.
As for the pronoun “you”, data form CORPAC show that they
are significantly frequent and used to assign clear identity in terms of
pilots performance in operations, as in “If you can”, “Do you want”
and “you have the” – the last one associated with examples provided by
Neville (2004) mentioned previously. The form “you” can be a singular
or a plural pronoun and this flexibility probably accounts for its high
occurrence and for possible ambiguities as well. An ATCO can use “you”
addressing a pilot of a specific flight or and, depending on the content of
the utterance, such as weather warning, other pilots can interpret it as a
general remark. This is why other indications, such as the call sign (the
identification of the flight) have to be used in order to mitigate possible
ambiguities.
The following examples are extracted from CORPAC and
illustrate the use of “we” in real emergency situations. Example (1)
below features communicative strategies used in order to clarify the
identity of “we”:

(1) “We are not clear of the runway, we are on the runway. Cathay
Zero-Seven-One is on the runway, crossing.”

The pilot uses “we” twice, and the call sign right after it to make
sure that the ATCO understands “we” as the crew in that specific flight, not
another aircraft. A similar strategy can be observed in the next example.

(2) “(JFK APP) \x96 Delta 1888, it seems like the rate of turn is a little
bit slower. Am I right to assume it\x92s gonna take you longer to
turn?
(DAL 1888) \x96 We\x92re working on it, Delta 1888, we can
tighten it up.
(JFK APP) \x96 Endeavour 3323, turn right heading 130, vectors
for an emergency aircraft inbound.”

The repetition of the callsign, that is, the code that identifies the
flight – in this case, “Delta 1888”, appears to confirm information about
who “we” is referring to.
1436 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

Example (3), on the other hand, brings an instance of “we” being


used in a context where it could cause ambiguity.
(3) “GYI TWR – Seneca three-seven-Tango, right closed traffic;
report midfield downwind runway one-seven left.
N5337T – Left closed traffic and report midfield right downwind.
Three-seven-Tango.
PR-ITB – (...) Runway one-seven left. India-Tango-Bravo.
GYI TWR – Three-seven-Tango, I need you right traffic and report
midfield right downwind.
N5337T – Right traffic and report right downwind. Three-seven-
Tango.
GYI TWR – Papa-Romeo-India-Tango-Bravo, that was stepped
on. Say your position from the airport.
PR-ITB – Radial one-three-zero. Now four miles.
GYI TWR – Papa-Romeo-India-Tango-Bravo, thank you. And
make left traffic runway one-seven left. Report midfield left
downwind.
PR-ITB – OK\x85 I understand we are cleared to land runway
one-seven left.
N478BK – North Tex Tower- North Texas Tower, Cessna eight-
Bravo-Kilo; three miles final.”

When the pilot of the flight PR-ITB utters the sentence “I


understand we are cleared to land runway one-seven left”, he is not
following communication rules stated by aeronautical phraseology which
require the repetition of the call sign when reading back an instruction
in order to avoid miscommunication. He seems to be unaware of the
possibility of ambiguity, reinforced by the fact that, previously in the
conversation, it is clear that the controller had to call his attention by
saying “Papa-Romeo-India-Tango-Bravo, that was stepped on” when he
readback an instruction meant to be directed to flight Seneca three-seven-
Tango. The controller successfully detected that the pilot read back an
instruction which was not assigned for him and was probably monitoring
the phraseology deviations from this pilot in a way that, when he used
“we” without clearly saying who “we” was referring to, he managed to
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1437

understand. Still, it is a potential example of how pronouns can cause


ambiguity if identities are not clearly assigned.
Therefore, considering that the use of pronouns is not encouraged
in aeronautical communications balanced against the fact that the results
found in CORPAC suggest that they are more used than what would be
expected, one would think about more risks for ambiguity. Even bearing
in mind that pronominal choices seem to be justified by a reason such
as identity assignment (NEVILLE, 2004; SEXTON; HELMREICH,
2000), in an ideal training context, learners should be made aware of the
orientations from the official documents that regulate communications
in a prescribed way, and should also be informed of the actual language
occurrences in order to be better prepared to interact.
In other words, learners can benefit a lot from this non-prescriptive
research perspective offered by CL. Real examples can be used, discussed
and explored in class. Ambiguity is a problem in aviation exchanges
which should definitely be mitigated, and corpus-based investigation
seems to be a helpful tool.

7 Final Considerations
The aim of the study presented in this article was to analyze the use
of personal pronouns in aeronautical communication based on CORPAC,
a specialized corpus which is under compilation. To accomplish this
goal, some concepts involved in the discussion were reviewed as were
some studies that address the use of pronouns in exchanges in aviation,
which appear to be significant despite orientations to avoid their use due
to possible ambiguity.
Results from CORPAC about information regarding frequency
and clusters associated with “I”, “you”, and “we” demonstrate that
personal pronouns are frequent and seem to appear in constructions that
are relevant for identities to be clearly assigned in such a high-stakes
domain as aviation operations. After our preliminary analysis, the actual
use of pronouns appears to mirror this communicative necessity.
It should be noted that, in accordance with the non-prescriptive
approach of CL, this study is not meant to investigate the use of pronouns
to assign rules in which they have to be employed in aviation. It is
intended to describe the occurrence of some pronouns in real, spontaneous
source of aviation language use. On that matter, CL showed to be a
1438 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

fundamental tool to raise quantitative and qualitative data from such


specific language domain. Likewise, the research also contributed to
CL in that it reinforced the importance of empirical investigation to be
confronted against formal orientations.
I understand that such information should be taken into account in
aviation language training, not only in the level of the teaching practice
of pronominal structures, but also in the metalinguistic level – pilots
and ATCOs would profit from learning about how much their behavior
in operations can be associated with the use of a pronoun. If there is
orientation to avoid their use and if the findings from CORPAC show
that they are frequently employed, learners should be made aware of the
entailments and implications of their pronominal choices. Furthermore,
testing practices could also benefit from this information, inasmuch task
management can be reflected by the proper and clear use of pronouns.
This study is a preliminary examination on the use of pronouns in
aeronautical communications. The limitations do not allow for a further
analysis on a more detailed look at the actual occurrences of “I”, “you”
and “we” in longer sentences and in their context of utterances so to check
possible deviations from Standard Phraseology. It would be interesting
to go beyond frequency and cluster analysis and extend the information
provided so far to compare it with the prescribed standard language to
be used in aviation and to envision possible problems of ambiguity.
Additionally, further analyses of the occurrences of “I”, “you”
and “we” regarding a more thorough examination of the linguistic
context, as well as a more particular investigation of the other pronouns,
are necessary if we want to understand better and better the issues of
aeronautical communications in order to promote aviation safety.

References
BIBER, D.; JOHANSSON, S.; LEECH, G.; CONRAD, S.; FINEGAN,
E.; HIRST, G. The Longman Grammar of Spoken and Written English.
Harlow: Pearson Education, 1999.
BIESWANGER, M. Aviation English: Two Distinct Specialized
Registers? In: SCHUBERT, C.; SANCHEZ-STOCKHAMMER, C.
(ed.). Variational Text Linguistics: Revisiting Register in English. Berlin:
Mouton de Gruyter, 2016. p. 67-85.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1439

BOCORNY, A. E. P. Descrição das unidades especializadas poliléxicas


nominais no âmbito da aviação: subsídios para o ensino de inglês para fins
específicos (ESP). 2008. 230f. Tese (Doutorado em Estudos Linguísticos
– Teorias do Texto e do Discurso, Lexicografia e Terminologia: Relações
Textuais) – Faculdade de Letras, Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, Porto Alegre, 2008.
BOCORNY, A. E. Panorama dos estudos sobre a linguagem da aviação.
Revista Brasileira de Linguística Aplicada, Belo Horizonte, v. 11, n. 4,
p. 963-986, 2011.
BOROWSKA, A. Avialinguistics: The Study of Language for Aviation
Purposes. Bern: Peter Lang, 2017.
CRYSTAL, D. The Cambridge Encyclopedia of the English Language.
Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
CUSHING, S. Fatal Words: Communication Clashes and Aircraft
Crashes. Chicago: The University of Chicago Press, 1997.
DIETRICH, R.; MELTZER, T. Communication in High Risk Environment.
Hamburg: Linguistiche Berichte, 2002.
ESTIVAL, D.; FARRIS, C.; MOLESWORTH, B. Aviation English: A
Lingua Franca for Pilots and Air Traffic Controllers. London: Routledge,
2016.
FIELD, J. Idle Chatter: What Really Goes on in Tests of Interactive
Communication? In: CRELLA Symposium, [S.l.], 2020. Available at:
https://www.youtube.com/watch?v=ONM7xcJTPD0&feature=youtu.
be. Access on: July 11th, 2020.
HINRICH, S. W. The Use of Questions in International Pilot and Air
Traffic Controller Communication. 2008. 294 p. Thesis (Doctorate in
Philosophy) – Oklahoma State University, Stillwater, OK, 2008.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO).
Annex 10 to the Convention on International Civil Aviation: aeronautical
telecommunications. Montreal: International Civil Aviation Organization,
2001.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZARION (ICAO).
Manual of Radiotelephony DOC 9432-AN/925. Montreal: International
Civil Aviation Organization, 2007.
1440 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO).


Manual of Implementation of the Language Proficiency Requirements
(DOC9835-AN/453). 2. ed. Montreal: International Civil Aviation
Organization, 2010.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION (ICAO). Air
traffic management: DOC 4444. Montreal: International Civil Aviation
Organization, 2016.
LOPEZ, S. Norme(s) et usage(s) langagiers: le cas des communications
pilote-contrôleur en anglais. 2013. 435f. Thèse (Doctorat en Linguistique
Anglaise) - Université Toulouse le Mirail, Toulouse, 2013.
MALONE, M. Words of talk: the presentation of self in everyday
conversation. Cambridge: Polity Press, 1997.
MATHEWS, E. English in Global Aviation: Historical Perspectives. In:
FRIGINAL, E.; MATHEWS, E; ROBERTS, J. (ed.). English in Global
Aviation: Context, Research and Perspectives. New York: Bloomsbury
Publishing, 2019. p. 3-25.
MATHEWS, E.; PACHECO, A.; ALBRITTON, A. Language as a Human
Factor in Aviation. In: FRIGINAL, E.; MATHEWS, E; ROBERTS, J.
(ed.). English in Global Aviation: Context, Research and Perspectives.
New York: Bloomsbury Publishing, 2019. p. 55-78
MODER, C. L. Aviation English. In: PALTRIDGE, B.; STARFIELDE,
S. (ed.). The Handbook of English for Specific Purposes. West Sussex:
Wiley-Blackwell, 2013. p. 227-242.
MODER, C.; HALLECK, G. Designing Language Tests for Specific
Social Uses. In: FULCHER, G.; DAVIDSON, F. (ed.). The Handbook of
Language Testing. New York: Routledge, 2012. p. 137-149.
NEVILLE, M. Beyond the Black Box: Talk-in-Interaction in the Airline
Cockpit. London: Ashgate Publishing, 2004.
NTSB, 1994. Available at http://libraryonline.erau.edu/online-full-text/
ntsb/safety-studies/SS94-01.pdf. Access on: Aug. 27, 2020.
PACHECO, A. English for Aviation: Guidelines for Teaching and
Introductory Research. Porto Alegre: EdiPUCRS, 2019.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021 1441

PACHECO, A.; SOUZA, G. Classificação e análise de acidentes


aeronáuticos baseada em taxonomia considerando a língua como fator
humano na aviação. In: SCARAMUCCI, M.; TOSQUI-LUCKS, P.;
DAMIÃO, S. (org.). Pesquisas sobre inglês aeronáutico no Brasil.
Campinas: Pontes, 2018. p. 23-47.
PHILPS, D. Linguistic Security in the Syntactic Structures of Air Traffic
Control English. English World-Wide, [S.l.], v. 12, n. 1, p. 103-124, 1991.
DOI: https://doi.org/10.1075/eww.12.1.07phi
PRADO, M. C. A. Corpus de inglês oral na aviação em situações
anormais. Aviation in Focus, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p. 48-57, 2010.
PRADO, M. C. A. A relevância da pragmática no ensino do inglês
aeronáutico: Um estudo baseado em corpora [The relevance of
pragmatics in the teaching of aviation English: A corpus-based study].
Doctoral dissertation, Universidade de São Paulo, 2019. Available at:
www.teses.usp.br. Access: 1 Jun. 2020.
SACKS, H. Lectures on Conversation. Oxford: Basil Blackwell, 1992.
2 v.
SARMENTO, S. O uso dos verbos modais em manuais de aviação em
inglês: um estudo baseado em corpus. 2008. 262f. Tese (Doutorado em
Estudos Linguísticos – Teorias do Texto e do Discurso, Lexicografia e
Terminologia: Relações Textuais) – Faculdade de Letras, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2008.
SEXTON, B.; HELMREICH, R. Analyzing Cockpit Communications:
The Link between Language, Performance, Error and Workload. Journal
of Human Performance in Extreme Environments, Cambridge, v. 5, n. 1,
p. 63-68, 2000. DOI: https://doi.org.10.7771/2327-2937.1007.
SILVA, A. L. B.; TOSQUI-LUCKS, P. Around the World in Aeronautical
and Aviation English Courses. Revista CBtecLE, São Paulo, v. 2, n. 1, p.
418-440, 2020.
SWINEHART, N. Aviation English Corpus Linguistics: Using the Right
Phraseology? Aviation English Corpus Linguistics, Ohio University,
Athens, Ohia. , p. 2-5, 2013.
1442 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1415-1442, 2021

TOSQUI-LUCKS, P. Aplicações de corpora no ensino e na avaliação


de inglês aeronáutico: estado da arte, reflexões, direcionamentos.
[Applications of corpora in the teaching and testing of aeronautical
English: state-of-the-art, reflections, guidelines.] In: SCARAMUCCI,
M.; TOSQUI-LUCKS, P.; DAMIÃO, S. M. (ed.). Pesquisas sobre inglês
aeronáutico no Brasil. Campinas: Pontes, 2018. p. 89-114.
VAUGHAN, E.; CLANCY, B. Small Corpora and Pragmatics. In:
ROMERO-TRILLO, J. (ed.). Yearbook of Corpus Linguistics and
Pragmatics 2013: New Domains and Methodologies. Dordrecht:
Springer, 2013. p. 53-73. DOI: 10.1007/978-94-007-6250-3_4.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

Weather events in air traffic control standards and


communication: discourse patterns and implications for
language teaching and assessment

Eventos meteorológicos em normas e comunicações de controle


de tráfego aéreo: padrões discursivos e implicações para o ensino
e a avaliação de línguas

Rafaela Araújo Jordão Rigaud Peixoto


Department of Airspace Control (DECEA), Rio de Janeiro, Rio de Janeiro / Brazil
rafaela.peixoto@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-3504-8405

Patrícia Tosqui-Lucks
University of São Paulo (USP), São Paulo, São Paulo / Brazil
Airspace Control Institute (ICEA), São José dos Campos, São Paulo / Brazil
patricialucks@gmail.com
https://orcid.org/0000-0001-9104-2123

Abstract: Weather events affect air traffic control (ATC) in many ways, for there
are many situations that need to be reported in pilot-controller communication. This
paper attempts to analyze the language used to express the impact of meteorological
phenomena to air traffic operations, particularly in regard to aeronautical English, that
is, the communication used during radiotelephony by air traffic controllers in training
situations. For that, two types of analyses will be carried out: one regarding the formulaic
structure of lexical units using 11 Aeronautical Meteorology terms within the ATC
context (phase 1); and another one concerning the use of these terms by students in three
ATC courses (for TWR, ACC and APP facilities) and how it affects their performance
during communication activities in a learning environment (phase 2). These analyses
will be based on rationales of lexical semantics for terminology; corpus linguistics (CL),
comprising English for Specific Purposes (ESP) and learner corpora; and considerations
about vocabulary assessment on aeronautical English exams. Results suggest that
terminological patterns discussed in this paper show how meaning is dependent on

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1443-1484
1444 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

context, and how lexical semantic analysis of terms may contribute to reveal nuances
of language used in a specialized context. In this way, it indicates courses have been
efficient in teaching and practicing the use of the main meteorological terms related to
aeronautical English and that, despite some mistakes students make, evidence points
out that they are able to report weather conditions to pilots and to understand pilots’
requests in a proficient level concerning vocabulary.
Keywords: meteorology; aeronautical English; terminology; learner corpus; language
assessment.

Resumo: Eventos meteorológicos afetam o controle de tráfego aéreo (ATC) de diversas


formas, dado que muitas situações precisam ser reportadas na comunicação entre piloto
e controlador. Este artigo pretende analisar a linguagem utilizada para expressar o
impacto de fenômenos meteorológicos para operações ATC, particularmente quanto
ao uso de inglês aeronáutico, ou seja, a comunicação utilizada durante a radiotelefonia,
por controladores em situações de aprendizagem. Para isso, duas análises foram
realizadas: em relação à estrutura formulaica de unidades lexicais contendo 11 termos
de Meteorologia Aeronáutica no contexto ATC (fase 1); e quanto ao uso desses termos
por alunos de três cursos ATC (para os órgãos operacionais TWR, ACC e APP) e como
isso afeta seu desempenho durante as atividades de comunicação em um ambiente de
aprendizagem (fase 2). Essas análises serão fundamentadas nas teorias de semântica
lexical para terminologia; linguística de corpus (LC), compreendendo Inglês para
Fins Específicos (ESP) e corpora de aprendizes; e considerações sobre avaliação de
vocabulário em exames de proficiência de inglês aeronáutico. Os resultados sugerem
que os padrões terminológicos discutidos mostram como os significados dependem
do contexto, e como a análise léxico-semântica de termos pode contribuir para revelar
nuances da linguagem utilizada em contexto especializado. Desta forma, demonstrou-
se que os cursos foram eficientes no ensino e na prática do uso dos principais termos
meteorológicos e que, apesar de alguns erros cometidos, as evidências apontam que
os estudantes foram capazes de reportar condições meteorológicas e compreender as
solicitações dos pilotos com nível de proficiência adequado em relação a vocabulário.
Palavras-chave: meteorologia; inglês aeronáutico; terminologia; corpus de aprendizes;
avaliação de línguas.

Submitted on October 12th, 2020


Accepted on December 7th, 2020

1 Introduction
The extent of weather events affecting air traffic control (ATC)
is generally taken for granted, but it varies greatly, from the amount of
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1445

water film on the runway on a rainy day to volcanic ashes coming from
another country as situations that need to be reported in pilot-controller
communication. In this way, this paper attempts to analyze the language
used to express the impact of meteorological phenomena to air traffic,
particularly when it occurs in international traffic, and these professionals
need to use English to communicate.
After a few fatal accidents which had communication problems
as contributing factors, the International Civil Aviation Organization
(ICAO) issued, in 2004 (with a reviewed second edition in 2010), the
Manual of Language Proficiency Requirements, known as Doc 9835,
in order to establish some parameters for English language proficiency,
involving listening and speaking skills, for international pilots and air
traffic controllers (hereafter, we will use the term ‘controllers’) who
work in multilingual environments. According to this document, these
professionals should be able to communicate through a highly specific
code for aviation purposes, i.e. aeronautical standard phraseology,1 and
plain language whenever phraseology does not suffice to communicate
in non-routine situations. The concepts of standard phraseology and plain
language, which constitute the essence of the aeronautical English, are
explained in Table 1, as follows:
TABLE 1 – Definitions of phraseology and plain English.

Term Definition/Conceptualization
It is a code used by pilots and air traffic controllers, in a limited number
Phraseology
of restrict and predictable communicative events characterized by short
(standard
phrases and reduced vocabulary which allows a concise, precise and
phraseology)
efficient transmission of information related to a flight.
It is the use of the English language in radiotelephony communication
that exceeds the use of standard phraseology, when it is not sufficient,
Plain English,
but that should mirror phraseology, keeping its characteristics and
plain language
specificities, as well as the same critical safety requirements such as
intelligibility, non-ambiguity and concision.

Source: Adapted and translated from Scaramucci; Tosqui-Lucks; Damião (2018, p. 300).

1
ICAO recommendations for the use of standard phraseology can be found in Doc
9432, Manual of Radiotelephony (ICAO, 2007) and Doc 4444, Air traffic management
(ICAO, 2016).
1446 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

By considering those definitions on phraseology and plain


language, Tosqui-Lucks and Silva (2020a, 2020b) discuss the aeronautical
English concept, explaining that controllers and pilots have to make
crucial decisions, which require high levels of attention, focus and
memory. Proficiency in a foreign language may pose major stress in
those situations, due to interlinguistic aspects, different intercultural
backgrounds, possible code-switching and other pragmatic issues (Cf.
TOSQUI-LUCKS; SILVA, 2020a).
Concerning plain English as one of the elements of radiotelephony
communications, it must be used according to the same parameters of
conciseness, precision, objectivity, intelligibility and unambiguity that
govern the use of phraseology (ICAO, 2010, p. 3-5), i.e., in no way
having the connotation of English for use in common everyday situations
(SCARAMUCCI, 2011), nor for use in other aviation contexts, which
escape communication by radiotelephony.
In this sense, it is paramount to be aware of phraseological
patterns in aeronautical language as well as making proper use of
specialized terminology in air traffic control communication. Therefore,
in an attempt to follow these recommendations, the Department of
Airspace Control (DECEA), a military organization of the Brazilian Air
Force, attributed to the Airspace Control Institute (ICEA), responsible
for ongoing training of professional controllers, the mission to develop
both aeronautical English courses and an aeronautical English test to
make sure all controllers involved with international traffic have at
least the minimum required proficiency level (PL) to ensure safety in
Brazilian skies.
Thus, ICEA has been developing on-site courses and, since
2015, on-line courses too, aimed at professionals who work at the three
different ATC facilities: tower (TWR), mainly responsible for landing
and take-off; approach control (APP), in charge of operations when the
aircraft are flying after take-off or preparing to land; and area control
center (ACC), responsible for aircraft on cruising level. Professionals
working at these three different facilities have specific characteristics,
responsibilities and tasks to perform, addressed accordingly in the three
online courses developed for each of them, as will be more detailed in
the next sections of this paper.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1447

Concerning development and application of the Aeronautical


English exam for Brazilian Air Traffic Controllers (EPLIS),2 ICEA
follows ICAO guidelines, which prescribes 6 PL, from which PL 4
is the minimum required to operate internationally; and assesses six
independent descriptors, i.e. structure, vocabulary, pronunciation,
listening comprehension, fluency and interaction. In this paper, we will
focus on the descriptor vocabulary, based on 11 selected terms related to
meteorology as follows: (1) rain, (2) wind, (3) wind shear, (4) turbulence,
(5) wake turbulence, (6) conditions, (7) lightning, (8) formation, (9)
cloud, (10) fog, and (11) thunderstorm. In this way, discourse patterns
in the context of weather events in air traffic control standards and
communication, and their implications for language teaching will be
analyzed.
To study discourse patterns in air traffic control standards, and
language teaching implications in air traffic communication during
learning activities, this paper is organized in the following way:
presentation of the theoretical panorama comprising rationales of lexical
semantics, corpus linguistics (CL), including ESP and learner corpora,
and considerations about vocabulary assessment on aeronautical English
exams; detailed methodology explaining the compilation process of
the reference corpus and the learner corpus, and the methodology
design; discussion of discourse patterns regarding weather events in air
traffic control phraseology standards (phase 1), specifically addressing
formulaic structure of lexical units using 11 Aeronautical Meteorology
terms within the ATC context; discussion of weather events in air
traffic control communication in the learner corpus, based on the use of
these terms by students in three ATC courses (for TWR, ACC and APP
facilities) and how it affects their performance during communication
activities in a learning environment (phase 2). In the last section, we will
consider some implications for Aeronautical English teaching and make
suggestions for addressing the weather terms on courses.

2
In Portuguese, EPLIS stands for Exame de Proficiência em Inglês Aeronáutico do
Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro.
1448 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

2 Theoretical Foundation
2.1 Phraseological patterns: a lexical semantic approach to terminology
For the study of terminology, it is paramount to verify the patterns
of language, as how they relate to other terms in a language. According to
Hunston (2010, p. 158), “observing pattern involves identifying similarity
and forming notional categories.” In this sense, a word or term with the
same meaning may be considered to have a different pattern, as it related
differently to other collocates or its cotext.
To exemplify this perspective, Hunston (2010) analyzes verbs
in a corpus used in her research to identify objective-subjective nature
based on collocates, arguments and cotext, and for the verb react, she
lists eight patterns:
(1) REACT followed by a subordinate clause indicating stimulus;
[…]
(2) REACT followed by the preposition to; […]
(3) REACT followed by an adverb and then by the preposition
to; […]
(4) REACT followed by a to-infinitive clause indicating
consequence; […]
(5) REACT followed by the preposition with answering the
question ‘how?’; […]
(6) REACT followed by the preposition with answering the
question ‘what?’; […]
(7) REACT followed by a full stop; […]
(8) Other lines:
4 two-thirds of the radical pairs reacting (in a field of typically
only [...]
13 efforts you may find the magician reacting too early or late.
Also bear in. (HUNSTON 2010, p.160.)

Along with this perspective, Sinclair (2008) advocates that


phraseological study must stem from the analysis of collocates
(coselection), and not lexical and grammatical structures alone. If they
are treated independently, without considering a differentiated meaning
when combined in a specific way (phrases), studying phraseologies
would not be fruitful.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1449

Sinclair expands this perspective by classifying analysis of


meaning in three levels: (1) contextual settings, as studied by Firth,
using cotext analysis; (2) phraseological, by analyzing collocational
frameworks (Cf. RENOUF; SINCLAIR, 1991); and (3) lexical and
grammatical, where the grammatical stance presupposes a pool of
possible choices, in which abstract patterns underlie meaning, and the
lexical stance detail lexical items according to the meaning they create.
The interdependence of elements, as cotext, is one of the main
contributions of CL, since it enables analysis of how terms actually
behave in a language, not considering them as “closed” structures. In
fact, defining a term is always a very complex task, as there is no set
standard that works for all situations. In the case of specialized fields, this
issue is even more sensitive (Cf. FINATTO, 2001; PEIXOTO, 2020), as
there is a traditional perspective based on an Aristotelian point of view
that word senses could be devoid of subjectivity by attributing general
content (genus) + specification (differentia). The problem is that such
a clear-cut perspective does not work so smoothly in most contexts, as
meanings are more related to the word environment, i.e., how words/
terms relate to other lexical items around this main given term.
In this way, the main contribution of lexical semantics is that it
relates the semantic content of words to other words and associations,
named combinatorics. In the air traffic environment, for example, the term
‘conditions’, analyzed in this paper, may bear the same general content
of “the possibility of a situation to happen”, but the way it relates to other
collocates actually specializes this meaning. For example, ‘air traffic
conditions’ is different from ‘meteorological conditions’: while the first
one may refer to the general context from departure to take-off, including
weather conditions and aircraft conditions, the second one is more related
to weather phenomena such as clouds, snow or thunderstorm.
Since it relies on contextual variables, lexical semantics take into
consideration concepts and relations ideally extracted from running text.
In this way, relations between concepts may range greatly, and polysemy
becomes an issue as it is more sensitive to precisely define the whole
scope of a specific word definition.
When it comes to teaching specialized language, the need of
standardization tends to be stressed, but it must consider language in
context. In this sense, semantic labels intend to delineate the conceptual
1450 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

structure from a relational perspective, not only a definitional one, so


as to enable understanding variation as part of language concepts, not
as deviation.
In the case of multiword expressions, they may also be considered
terms, and, as a matter of fact, most entries in specialized dictionaries are
multiword terms. In the analysis carried out in this paper, ‘wind shear
escape’, for example, clearly has a more specific definition than ‘wind
shear’ itself.
Considering polysemy as typical in language, as it entails
variation, leads to the elimination of the useless concern of trying to
have many clear-cut definitions to situations where only nuances apply.
In addition to that, it addresses cases where interferences with general
language may occur, i.e. “a lexical item can denote a concept in a
specialized field and convey a different meaning in everyday situations”
(L’HOMME, 2020, p. 81). This is the case with the term ‘fog’, which
has specificities regarding the range of visibility, something that is not
taken into account in everyday situations but is very relevant for the
specialized context, as explained by Peixoto (in press) in the following
excerpt:
Regarding ‘fog’ (FG), ‘haze’ (HZ) and ‘mist’ (BR), the
classification depends on humidity and visibility issues. ‘Fog’
is reported when the air is at about 100 per cent humidity and
the visibility is less than 1000 m [Cf. ICAO 2005], while ‘mist’
presents visibility ranging from 1000 m and 5000 m, and relative
humidity above 90 per cent. [Cf. ICAO 2005]. On the other side,
‘haze’ are “extremely small particles invisible to the naked eye and
sufficiently numerous to give the air an opalescent appearance [...],
usually only a few thousand feet thick, but may extend upwards to
15,000 feet (4,600 meters) [...]” and visibility may vary “greatly,
depending on whether the pilot is facing into or away from the
sun” (FAA, 2016: 16-5). Concerning those categories, although
“mist may be considered an intermediate between fog and haze”
(ibidem), identifying those phenomena may be critical, as “there
is no distinct line between any of these categories” (ibidem). In
Portuguese, fog (FG), haze (HZ) and mist (BR) are translated as
‘nevoeiro’, ‘névoa seca’ e ‘névoa úmida’. (PEIXOTO, in press).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1451

A relational perspective also allows for an enduring definition,


as concepts may change in time, mainly due to our understanding of
knowledge, and structural definitions may need updates. Within this
context, the focus of the lexical semantic approach is comprehending
where the terms are located in a language system, considering
interrelations.
Errors are commonly the focus of linguistic analyses within a
learning environment but finding regularities in the use of language
contributes greatly as errors are not necessarily related to a very low
level of proficiency. Ebeling and Hasselgård (2015) have shown
learners from higher levels of proficiency make an equivalent number
of mistakes mostly because they use more complex structures. In that
sense, grammatical mistakes are more related to verbal structures which
are not commonly used in language, and more varied lexical structures
tend to work as a thermometer to measure the actual level of proficiency.
Based on findings by Nesselhauf (2005), Thewissen (2008)
and Chen (2013), Ebeling and Hasselgård (2015) clarify that it is more
important to analyze the type of error a learner makes, not only the
quantity of errors. More sophisticated structures such as phrasal verbs are
more error-prone than simple structures, yet phrasal verbs are mostly used
by more advanced learners. As a result, Nesselhauf (2005) has noticed in
her investigation that free combinations account for 25% of errors while
collocations account for 40% of errors. Of course, this must take into
account student background as well as personal effort of individuals in
the learning process. As Meunier explains,
Individual differences typically include aptitude, motivation,
identity issues, personality traits, type of working memory, socio-
educational background, language proficiency in the mother
tongue (L1) and other languages learnt, but also numerous aspects
related to cognitive restructuring. (MEUNIER, 2015, p. 385.)

Meunier (2015) expands this perspective by resorting to Bartning


and Forsberg’s (2006) study, indicating that the use of prefabricated
language is a more skilled capacity in comparison to the use of simple
verbal morphology. In this sense, the students’ abilities to actually develop
more sophisticated proficiency depends greatly on the communicative
style of learners, which we believe could also be nurtured by following
certain strategies. In Meunier’s words, “whilst verbal morphology
1452 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

displays what they call a strict development (p.19), prefabricated


language does not seem to follow such strict development and is more
sensitive to input and to the communicative style of individual learners”
(MEUNIER, 2015, p. 392)
To enable a more representative assessment of students’
proficiency based on language used by them, the analysis of collocational
patterns may be more relevant, since it allows for a more contextual
perspective, considering how words relate to each other to constitute
meaning. Ebeling and Hasselgård (2015) enlighten us on the relevance
of idiomatic phrasal constructs and explain that:
‘Collocation’ is defined as involving some degree of fixedness/
restriction on the combinations of verb with noun. This definition
separates collocations from free combinations, in which the verb
and the noun combine without arbitrary restriction, and idioms,
in which both verb and noun have lost their original meaning,
or which can only be used with the idiomatic sense in restricted
environments. (EBELING; HASSELGÅRD, 2015, p. 220).

When considering discourse patterns in a given specialized


language, adjectives are specifically harder to be captured in a conceptual
structure (Cf. L’HOMME, 2020) since their meanings may have subtleties
which would only be understood when analyzed in context. In language
learning, adjectives are also considered the most complex structure
precisely due to their combinatorial nature, also comprising specific
order in multiword expressions.
By considering this complex panorama of weather events affecting
air traffic operations, discourse patterns were analyzed according to a
lexical semantic approach for terminology, to assess semantic relations
of Aeronautical Meteorology terms, based on a classification of semantic
labels as described in Table 2.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1453

TABLE 2 – Description of semantic labels

# Label Description
It refers to the trait, quality or property of the
01 CHARACTERISTIC meteorological condition.
E.g. ‘cold ~’
CHARACTERISTIC / It is a label which combines the labels characteristic and
02
INTENSITY intensity.
It refers to the size or dimension of the meteorological
03 DIMENSION condition
E.g. ‘small ~’
It refers to the time elapsed since the beginning of the
04 DURATION meteorological condition or continuously.
E.g. ‘~ during the night’
It refers to an occurrence as an episode or instances of the
05 EPISODE meteorological condition.
E.g. ‘~ registration’
EPISODE /
06 It is a label which combines the labels episode and intensity.
INTENSITY
It refers to a forecast, observation or notification of a
07 FORECAST meteorological condition.
E.g. ‘observed ~’
It refers to the objective form of the meteorological
08 FORM condition, generally of concrete nature.
E.g. ‘~ pellets’
It refers to an information or data factor with the purpose of
INFORMATION quantifying the meteorological condition in some way.
09
FACTOR
E.g. ‘~ data’
It refers to instruments or devices used to measure or
10 INSTRUMENT forecast a meteorological condition.
E.g. ‘~ sensors’
It refers to the level of intensity of a meteorological
11 INTENSITY condition, generally associated with another feature (label).
E.g. ‘strong ~’
It refers to the layout or arrangement of the meteorological
12 LAYOUT condition in the overall scenario.
E.g. ‘~ vertical profile’
It refers to the location where the meteorological condition
takes place, which can range from a cardinal direction or a
13 LOCATION geographical position, to a city or an airport.
E.g. ‘~ no aeroporto’ [‘~ at the airport’]
1454 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

It refers to procedures derived from decisions taken to


14 MANAGEMENT manage problems
E.g. ‘~ mitigation techniques’
It refers to movement or continuous occurrence of a
15 MOVEMENT meteorological condition.
E.g.‘blowing ~’
It refers to a standard used as comparison within a
16 PARAMETER framework of meteorological conditions.
E.g. ‘minimum ~’
It refers to an occurrence which precisely characterizes the
17 PHENOMENON meteorological condition.
E.g. ‘precipitação de ~’ [‘~ precipitation’]
It refers to a standard used as spatial indication of a
18 REFERENCE meteorological condition.
E.g. ‘minimum height of ~’
It refers to another term which is semantically related to the
19 RELATED TERM term analyzed.
E.g. ‘~ and precipitation’
It refers to a meteorological condition of a particular kind,
20 TYPE class or group.
E.g.‘surface ~’
21 TYPE / DIMENSION It is a label which combines the labels type and dimension.
22 TYPE / INTENSITY It is a label which combines the labels type and intensity.
It refers to a unit of measurement used to indicate a
UNIT OF physical quantity regarding the meteorological condition.
23
MEASUREMENT
E.g. ‘~ em (200) hP’ [‘~ in (200) hP’]
It refers to a variable state of a meteorological condition.
24 VARIATION
E.g. ‘~ gradient’

Source: Adapted from Peixoto; Pimentel (2020).

There are more labels in the original paper by Peixoto and


Pimentel (2020), and some others may be created to address the semantic
nature of additional terms, as it was the case of the label ‘management’,
which represents the relational context of the term ‘~ mitigation
techniques’, for example.
Such lexical semantic terminological research is best equipped
with corpora resources because it enables words to be analyzed in
context, identifying different forms of concept or meaning expression.
In a specialized approach, corpus containing institutional documents is
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1455

a relevant contribution because it contains language and perspectives of


experts in the field. The next section will address this theoretical issue
more thoroughly.

2.2 Corpus Linguistics: English for Specific Purposes and learner corpora
Many authors attest the benefits of CL to research and
teach vocabulary (BERBER-SARDINHA, 2011; SCHMITT, 2000;
STEFANOWITSCH, 2020; TAGNIN, 2006; TOSQUI-LUCKS; PRADO,
in press). According to Schmitt (2000), corpus evidence has shown two
important things: (i) that a very limited number of high-frequency words
do the bulk of the work in language, and it is crucial that students master
them; and (ii) that words tend to collocate, that is, multiword strings seem
to act as a single lexeme. In fact, the author says that a major direction in
vocabulary studies today is “researching these multiword units through
corpus evidence to establish their frequency and behavior” (SCHMITT,
2000, p. 89).
This is part of a move from lexis as individual words to be
considered in isolation toward viewing them as integral parts of a larger
discourse, and it is valid to general English and English for Specific
Purposes (ESP) discourse too. In this matter, Stefanowitsch (2020, p.
215) complements that all corpora consist of orthographically represented
language, and this makes it easy to retrieve word forms. To him, the focus
on words is also due to the fact that the results of research using CL
have proved that words (individually and in groups) are more interesting
and show a more complex behavior than traditional, grammar-focused
theories of language. As an example, we can consider the word ‘wind’,
which has different uses and meanings depending on the impact it has for
aircraft landing, and can be expressed in multiwords such as ‘crosswind’,
‘tailwind’, ‘downwind leg’, etc.
Still considering CL for teaching vocabulary, Berber-Sardinha
(2011) states that most pedagogical tasks focus on concordances, and
presents some text-centered and multi-genre alternatives. The author
also highlights some areas that may deserve attention in the larger
context of Brazilian educational CL. Some of them are represented in
this study: more research about it on academic level, more integration
with diverse areas, more application on educational contexts, more
pedagogical materials and teaching resources based on corpora and more
1456 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

integration with distance education. For the latter, Berber-Sardinha, in


the above-mentioned work, says that both distance learning and CL are
technological areas that can profit a lot if instructional designers learn
more about CL tools.
Gavioli (2005) states that corpus work in ESP appears to match
teachers’ and learners’ requirements particularly well, for corpus analysis
highlights recurrent features of language. The possibility of having
instruments to describe the routine aspects of ESP language is a key
teaching issue in ESP courses, where the teacher is often split between
the need to be both an expert in the foreign language and an expert in
the specialized discipline. Corpora of specialized texts seem to be a very
useful instrument in isolating and providing indications about key lexical,
grammatical or textual issues to deal with in ESP classes. Creating corpora
from specialized texts is relatively easy and inexpensive for most teachers
who are familiar with computers, and analyzing such pools of texts with
concordancing software may suggest relevant lexico-grammatical items
and the way they are used to deal with in the ESP class and the way
they are used (GAVIOLI, 2005, p. 5). The author also highlights the
advantages of “home-made” corpora created ad hoc for some particular
teaching or learning purpose, which is our case. Even though there is
some criticism about using corpus for pedagogical reasons because of a
possible “confusion between what is scientifically interesting and what
is pedagogically useful” (GAVIOLI, 2005, p. 27), she supports data-
based corpus analysis for English as a Foreign Language (EFL) teaching
because it can help researchers and material designers in producing
more authentic descriptions of language usage which, in their turn, may
improve teaching and reference materials.
Tosqui-Lucks and Prado (in press) state that, for many years,
vocabulary selection for course content was made intuitively by material
designers. With the advent of CL, computational tools started to be used
as a source of information for textbooks. In ESP areas, this is even less
common, and only recently CL findings started to be used in aviation.
The authors present a list of corpora of aviation and aeronautical English
compiled internationally and results from studies with four different
corpora compiled with international and Brazilian pilots and controllers,
considering ESP and learner corpora.
Gilquin (2015) states that, like any corpus, the learner corpus is a
collection of machine-readable authentic texts (which can be written or
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1457

be transcripts of spoken data) sampled to be representative of a particular


language or language variety. What makes the learner corpus special is
that it represents language as produced by foreign language learners; and
what makes it different from the data used in earlier second language
acquisition studies is that it seeks to be representative of this language
variety. To tackle the issue of degree of naturalness when defining learner
corpora, the author cites Granger’s (2008, p.338) definition of learner
corpora as “electronic collections of (near-) natural foreign or second
language learner texts assembled according to explicit design criteria”
suggesting that they may be comprised of texts that are not, strictly
speaking, naturally occurring texts. This is because, especially for foreign
language learners, the target language only fulfils a limited number of
functions, most of which are restricted to the classroom context. To this
matter, Römer (2004) adds that the problem of authenticity in English
language teaching has been discussed for many years. To her, “what
authenticity really means in a language teaching context, which different
types of authenticity play a role and whether or not we want to teach
authentic English to our pupils are highly controversial questions among
linguists and didacticians” (RÖMER, 2004, p. 153).
Tagnin (2006) states that a learner corpus can provide useful
data to detect specific difficulties of language learners and consequently
inform the production of pedagogic material to address these problem
areas. To the author, a learner corpus can provide useful data to detect
such specific difficulties and consequently inform the production of
pedagogic material to address these problematic areas, but one of the
problems with textbooks used in Brazil for teaching a foreign language
is that most are written by foreign authors unacquainted with Brazilian
students’ difficulties. Then, in an attempt to overcome possible limitations
and fulfill specific needs of the Brazilian context, we have compiled
a learner corpus, with productions from controllers during in-service
distance learning training. The discussion of language patterns in this
learner corpus will be based on guidelines for the vocabulary descriptor
of language assessment, published by the International Civil Aviation
Organization (ICAO), as discussed in the next section.
1458 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

2.3 Considerations about vocabulary assessment on aeronautical English


exams
The documents that guide aeronautical English teaching and
assessment, according to ICAO regulations, are Doc 9835 (ICAO, 2010)
and Circular 323 (ICAO, 2009).3 The first one defines aeronautical
radiotelephony communications (Chapter 3) and provides guidance on
language proficiency teaching and assessment for pilots and controllers
(Chapter 7; Chapter 6), while the other complements it by presenting
specific recommendations for course designs, both classroom-based and
through distance learning. The mentioned Circular details the design and
development of language courses emphasizes that language teachers
should be trained to teach this very particular type of ESP and enumerates
a few characteristics of aeronautical communication: it is essentially oral,
with no visual cues, and employs a very specific vocabulary, as clear
and unambiguous as possible, “because it involves risk management not
only for pilots and ATCOs but for society at large” (TOSQUI-LUCKS;
SILVA, 2020a, p. 3).
These documents reinforce that both teaching and assessment
should be guided by ICAO Language Proficiency Rating Scale, Annex
1, Doc 9835 (ICAO, 2010), for speaking and listening proficiency only,
according to six differentiating PL (being 1 the lowest, 6 the highest and
4 the minimum to be considered operational). There are recommendations
for assessing the candidates holistically and analytically. Doc 9835
presents the following holistic descriptors:
Proficient speakers shall:
a. communicate effectively in voice-only (telephone/
radiotelephone) and in face-to-face situations;
b. communicate on common, concrete and work-related topics
with accuracy and clarity;
c. use appropriate communicative strategies to exchange messages
and to recognize and resolve misunderstandings (e.g. to check,
confirm, or clarify information) in a general or work-related
context;

3
In this paper, we are referring to the second edition of Doc 9835 (2010), which was
revised and included a great part of Cir 318 (2009) about Aviation English assessment –
but the first edition of Doc 9835 was published in 2004, thus, earlier than Cir 323 (2009).
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1459

d. handle successfully and with relative ease the linguistic


challenges presented by a complication or unexpected turn of
events that occurs within the context of a routine work situation or
communicative task with which they are otherwise familiar; and
e. use a dialect or accent which is intelligible to the aeronautical
community. (ICAO, 2010, Appendix I.)

As for the analytical assessment, there are band descriptors


for pronunciation, structure, vocabulary, fluency, comprehension and
interaction. Specifically about the category vocabulary, the analytical
scale for PL4 states that:
TABLE 3 – ICAO rating scale vocabulary PL4

Vocabulary range and accuracy are usually sufficient to communicate effectively on common,
concrete, and work related topics. Can often paraphrase successfully when lacking vocabulary
in unusual or unexpected circumstances.

Source: ICAO (2010) Attachment A (our emphasis)

The same rating scale presents the following description for


vocabulary PL3 (that is, not suitable for international traffic):
TABLE 4 – ICAO rating scale vocabulary PL3

Vocabulary range and accuracy are often sufficient to communicate on common, concrete,
or work related topics but range is limited and the word choice often inappropriate. Is often
unable to paraphrase successfully when lacking vocabulary..

Source: ICAO (2010) Attachment A (our emphasis)

If we look at the description for PL2, i.e. “limited vocabulary


range consisting only of isolated words and memorized phrases”, it is
clear that this level of proficiency is far behind NP3.
So, comparing PL3 and PL4, it is possible to conclude that,
concerning the vocabulary descriptors of the rating scale, what
differentiates a controller PL3 and a PL4 is the ability to use the
vocabulary to communicate effectively on common, concrete, and work-
related topics in a usually sufficient way, with appropriate lexical range
and accuracy. Another important aspect is the ability to often paraphrase
1460 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

successfully when lacking vocabulary in unusual or unexpected


circumstances. This distinction is not always so clear, for ‘usually’ and
‘often’ are sometimes difficult to measure during an interview, but it is
crucial, considering that PL4 is allowed to operate with international
traffic and PL3 is not – a high-stake decision with many important
consequences – people’s lives, ultimately.
Römer (2017) questions the traditional separation between lexis
and grammar on rating scales. The author claims that reasons for this
separation come from a structuralist view of language testing researchers’
understanding of language proficiency. According to her:
More recent models of language ability, including the influential
model of Bachman and Palmer (1996, 2010), continue this
separation of lexis and syntax as distinct aspects of “grammatical
knowledge”, separating these aspects of language ability from
knowledge of language functions, which is subsumed under
“pragmatic knowledge”. Based on this view of language, many
influential rating scales in language testing have traditionally
treated lexis and grammar separately. (RÖMER, 2017, p. 478).

On the other hand, Römer (2017) argues that recent integrative


and functionally oriented approaches to language learning have a more
holistic approach to language proficiency, considering lexico-grammatical
knowledge as a single category. According to her, CL offers an important
contribution to this view that the phrase, rather than the individual word, is
the fundamental unit of language, and that a great deal of communication
consists of fixed expressions that defy simple categorization into either
vocabulary or grammar. This approach is beginning to be considered in
the area of language assessment too. While a major problem with many
rating scales is that their descriptors are not based on analyses of empirical
linguistic evidence but come from intuitive judgments, “corpus studies
of lexico-grammar provide such empirical evidence that may be useful
in informing the development, validation, and use of rating scales for
speaking assessment” (RÖMER, 2017, p. 478).
We share this view and believe that words have to be analyzed
in context, so that different forms of concept or meaning expression
can be identified, as we have discussed in this section, and seems to be
unanimous in contemporary studies of lexical semantics, terminology,
CL, teaching and assessment. We hope that this work can offer a small
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1461

contribution to spread this view to high-stakes speaking tests, as is the


case of aeronautical English assessment.
Starting from weather situations considered extremely relevant to
ATC or that could be problematic or cause confusion, presented in Doc
9835 (ICAO, 2010) and in the Reference Corpus, based on our experience
in the teaching of aeronautical English for over 10 years, and also on data
presented in research carried out by Tosqui-Lucks and Prado (in press),
our procedure was to investigate the use of the 11 selected terms and their
variations in the three subcorpora to analyze how these terms are used
by students, considering the vocabulary descriptor of ICAO rating scale.
Thus, our approach to CL is predominantly corpus-based and
data-informed, since we look for particular linguistic characteristics
already pre-established in the corpora and analyze the data found to verify
the occurrences, frequencies, concordances and relevant information to
understand the phenomena (RAYSON, 2008). At other times, we also
follow the data-driven approach, when, for example, we observe the
most frequent words generated in the Wordlist tool, or even the words
with wrong spelling, which can be an indication of a pronunciation
problem (as in ‘mantein’, ‘turbulance’), vocabulary (as in ‘dicende’,
‘buid-up’) or even when the choice of words is wrong, as in the case of
‘approximation’ by ‘approach’ or ‘alternative’ by ‘alternate’, as we will
explain later. In order to detect problems in the students’ production, we
did not correct anything in the corpus, we kept the spellings exactly as in
the original. This decision forced us to carefully analyze the occurrences
to see whether or not the same word was written in different ways, as
in the case of ‘condictions’, ‘wheather’, ‘confirme’, ‘intencions’. The
details of the methodology are presented in the following section.

3 Methodology
As mentioned before, this paper has two phases: the first one,
based on lexical semantics applied to terminology, to analyze formulaic
structure of lexical units using Aeronautical Meteorology terms within
the ATC context; and the second one, to analyze the use of these terms
by students in three ATC courses (for TWR, ACC and APP facilities)
and how it affects their performance during communication activities
in a learning environment. For that, we selected some key aeronautical
meteorology (AER MET) terms particularly used in ATC phraseology,
1462 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

and studied their lexical semantic relations in a reference corpus of


ATC international and Brazilian standards; and in a learner corpus of
air traffic control communication in learning situations. The key terms
were selected based on their relevance in the corpora, as related to ATC
communication, and the following ones were extracted: (1) rain, (2) wind,
(3) wind shear, (4) turbulence, (5) wake turbulence, (6) conditions, (7)
lightning, (8) formation, (9) cloud, (10) fog, and (11) thunderstorm. It is
important to highlight that the occurrence4 of those words are related to
the relevance of some meteorological phenomena in air traffic situations
applied to the Brazilian context, in terms of occurrence and frequency
of some weather events.
The software used for corpora analysis is AntConc (ANTHONY,
2019), a freeware corpus analysis toolkit for concordancing and text
analysis, chosen because its interface is simple, very user-friendly and
provide adequate tools for the purposes of this paper. In addition to that,
Anthony (2019) provides many downloadable guides and video tutorials
on the software website that may guide unexperienced teachers into
the basics of CL analysis. The software also enables the use of regular
expression (REGEX) commands, as a way to extract terms which have
spelling variation or are misspelled in the learner corpus, as in the case
of variations ‘wind shear’ and ‘windshear’, and misspelled occurrences
of ‘wind sheer’. In this way, we believe – and hope – that aeronautical
English researchers and teachers can be inspired by our ideas and try to
use a similar methodology to compile a learner corpus with the production
of their own students.
The architecture of our corpora (reference corpus and learner
corpus) is described in the table 5.

4
As our aim in this paper is analyzing discourse patterns concerning aeronautical
meteorology terms used within the air traffic control context, ‘occurrence’ of terms refer
to different instances of use of a term, i.e. the exact same instance of use was not counted
as another occurrence. For example, in spite of the fact ‘heavy rain’ appears many times
in the learner corpus, this was only considered one occurrence; but ‘moderate rain’,
even though similar in structure, was considered another occurrence of the term ‘rain’.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1463

TABLE 5 – Corpora architecture (word types and word tokens)

CORPUS SUBCORPUS WORD TYPES WORD TOKENS


Reference International 11119 581414
Corpus
(ATC Phraseology Brazilian/SISCEAB 3331 32202
in English)

ACC 1052 13258


Learner
Corpus APP 1763 27559
(in English)
TWR 1520 21249

Source: Authors’ own elaboration.

The proportion of each subcorpus in the corpora composition is


best represented in the figure 1.
FIGURE 1 – Corpora Architecture (proportional comparison)

Source: Authors’ own elaboration.

As indicated in Table 5 and in Figure 1, the Reference Corpus is


composed of ATC phraseology publications in English, set as standards
by the international organizations ICAO, WMO and FAA, and by the
Brazilian authority DECEA (SISCEAB system); and the Learner Corpus
is composed of learning situations carried out during courses applied to
the context of Area Control Center (ACC), Approach Control Center
(ACC), and Tower (TWR).
The ATC phraseology publications compiled for the reference
corpus are Doc 4444 (ICAO, 2016), Annex 3 (ICAO 2018), Doc 732
(WMO 2003), ORDER JO 7110.65W (UNITED STATES, 2015), MCA
1464 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

100-16 (BRAZIL, 2018) and ICA 105-12 (BRAZIL, 2014). They were
selected because they are guidelines which specifically address the use of
phraseology within the ATC context, as published by official institutions
dealing with aviation regulations also comprising meteorological
instructions: the International Civil Aviation Organization (ICAO),
the World Meteorological Organization (WMO), the Federal Aviation
Administration (FAA, United States) and the Department of Airspace
Control (DECEA, Brazil).
In this sense, Doc 4444 (ICAO, 2016) prescribes rules for Air
Traffic Management; Annex 3 (ICAO, 2018) focuses on guidelines for
the provision of Meteorological Service for International Air Navigation;
Doc 732 (WMO, 2003) is a Guide to Practices for Meteorological Offices
serving Aviation; Order JO 7110.65W (UNITED STATES, 2015) is an
Air Traffic Organization Policy on phraseology and procedures; MCA
100-16 (BRAZIL, 2018) is the institutional documentation for ATC
Phraseology within the Brazilian Airspace Control System (SISCEAB);5
and ICA 105-12 (BRAZIL, 2014) prescribes VOLMET Phraseology to
be used in the SISCEAB system as well. As it can be visualized in Figure
1, the Brazilian/SISCEAB subcorpus is much shorter because it mostly
comprises ATC phraseology used within Brazilian specific situations, by
following standardized phraseology in English, originally prescribed by
ICAO and WMO.
Regarding the learner corpus, it was compiled from evaluated
activities that are part of a series of distance learning courses offered to
Brazilian Controllers, called “Go4it”. There are three different courses:
for area control center (ACC); approach control (APP) and tower (TWR).
In each activity, the student must record an audio about the topics studied
on that module, followed by the respective script. Since the activities
were produced by students, it is only natural that they make mistakes.
We opted for using the scripts with errors, not the versions corrected by
the teachers, because the corrections could affect the results. So, we kept
the problems with spelling, grammar or vocabulary. Considering that the
courses have emphasis on speaking and not writing, some students do
not worry too much about reviewing spelling mistakes on the scripts,
because they will be graded mostly for their oral performance.

5
In Portuguese, SISCEAB stands for “Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro”.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1465

The three subcorpora used in the paper correspond to the scripts


of the “Weather events” module of the three courses. The learners are
in-service controllers, male or female, military or civil employees of
Brazilian Air Force, enrolled in the courses offered from 2015 to 2018.
Most of them have PL3 according to ICAO rating scale, but some have
PL4 and need to revalidate their level, what occurs every 3 years.6
Each course lasts 8 weeks and comprises 8 modules, being the
first one introductory (Getting Started) and seven of specific content:
Air Communication, ATC Jobs, Medical Emergencies, Parts of the
Aircraft, Phases of Flight, Operational Events, and Weather en route.
Among the specific content modules, only five reproduce pilot-controller
communications, and were compiled in the learner corpus: Operational
Events, Air communication, Phases of Flight, Medical Emergencies
and Weather Events. The other modules offer different kinds of oral
activities, such as reporting a real situation or telling a story based on
pictures. Having explained the compilation process of the three learner
subcorpora, we will hereafter refer to it simply as “learner corpus” for
the sake of this article, as contrasted to the “reference corpus”.
The compiled reference corpus was used in phase 1, and the
learner corpus was used in phase 2; and the analysis focused on studying
collocates (in the lexical semantics theory, it is called ‘combinatorics’)
of each main term as listed according to a 3L-3R parameter, from which
the first 50 ranked were analyzed. Then, we focused on left and right
combinatorics of terms, and also associative patterns (relations), to
proceed to a lexical semantic analysis (L’HOMME, 2020) by attributing
semantic labels (PEIXOTO; PIMENTEL, 2020), and discourse patterns
were discussed based on occurrences in the corpora. In addition to that,
phase 2 approached language difficulties of learners, according to ICAO
descriptors discussed in item 2.3 of this paper.
The methodology design for the work carried out in this paper
is summarized in Table 6 as follows.

6
The learner corpus was compiled within an ATC military organization and its use is
allowed only for previously authorized research, because of national safety reasons.
In order to follow the recommended practices of the Committee on Publication Ethics,
students signed a term of consent agreeing on the use of the data collected from their
production within the course for research purposes, regarding that their identities are
preserved.
1466 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

TABLE 6 – Methodology Design

# Activity Description

Corpora compilation Compilation of publications on ATC phraseology comprising


aeronautical meteorology situations, from official institutions
01 (reference corpus
(reference corpus) and from activities in a learning environment
and learner corpus) (learner corpus).
Extraction of key Generation of wordlists and extraction of 11 terms related to
02
terms weather situations which are critical for air traffic operations.
Analysis of discourse Analysis of the formulaic structure of lexical units using 11
patterns in air traffic Aeronautical Meteorology terms within the ATC context, by
03
control phraseology studying left and right combinatorics of AER MET terms as
standards (Phase 1) appearing in the reference corpus.
Analysis of air
Analysis of language structure as produced by students in
traffic control
classes of air traffic communication for Area Control Centers
04 communication in
(ACC), Approach Control Centers (APP) and Towers (TWR),
Aeronautical English
based on ICAO descriptor vocabulary of language assessment.
courses (Phase 2)

Source: Authors’ own elaboration.

4 Weather events in air traffic control phraseology standards:


discussion of discourse patterns
Meteorological conditions affect a varied range of air traffic
control situations, related not only to en route events but also to air
traffic operations particularly during landing/approach and take-off
procedures. Runway conditions partly depend on meteorological
conditions, especially when it comes to water effects leading to runway
contamination, in addition to specific traits of the runway, which makes
it more prone to water accumulation or not.7

7
The International Civil Aviation Organization (ICAO) has recently issued some
guidelines to address the types of runway contamination: the New Global Reporting
Format (GRF) for Runway Surface Conditions (2019), based on the Takeoff and
Landing Performance Assessment (TALPA) model issued by the Federal Aviation
Administration (FAA) in 2016. ICAO Member States were demanded to implement the
GRF grid assessment by November 2020; however, due to the COVID-19 pandemics,
the deadline was postponed to November 2021. More information on GRF guidelines
can be found at <https://www.icao.int/safety/Pages/GRF.aspx>.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1467

By considering this holistic panorama, the WMO (2003)


classifies possible aviation hazards as: (a) in-flight hazards such
as icing, turbulence, lightning and volcanic ashes; (b) hazards in
the phases of approach and take-off, including wind shear effects,
turbulence, convective activity and freezing precipitation on aircraft; (c)
weather hazards affecting the acceptance capability of hub airports,
considering capacity for de-icing, and runway and apron snow clearance;
(d) weather hazards affecting the capacity of air routes, such as
mesoscale convective systems, volcanic ash and severe turbulence; and
(e) weather hazards affecting ground operations, passenger ground
transportation and safety, resulting from lightning, strong winds or hail,
for example. In this sense, the Annex 3 (ICAO, 2018, p. 4-5) mentions
that minimum present weather phenomena to be identified at airports,
to enable safety of operations, are “rain, drizzle, snow and freezing
precipitation (including intensity thereof), haze, mist, fog, freezing fog
and thunderstorms (including thunderstorms in the vicinity).”
By considering this complex panorama of weather events
affecting air traffic operations, discourse patterns were analyzed by
following the lexical semantic approach discussed in item 2.1.
To illustrate how labels were attributed to collocates of a term,
Figure 2 presents the semantic profile of the term ‘cloud’, by showing lexical
semantic occurrences with this term and their respective semantic labels.
FIGURE 2 – Semantic profile of the term ‘cloud’

Source: Authors’ own elaboration.


1468 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

In the reference corpus, the definition for ‘cloud’ was found in


Order JO 7110.65W (UNITED STATES, 2015), in the glossary listed at
the end, as well as definitions of two other selected terms, described in
the following way:
WAKE TURBULENCE − Phenomena resulting from the passage
of an aircraft through the atmosphere. The term includes vortices,
thrust stream turbulence, jet blast, jet wash, propeller wash, and
rotor wash both on the ground and in the air.
WIND SHEAR − A change in wind speed and/or wind direction
in a short distance resulting in a tearing or shearing effect. It can
exist in a horizontal or vertical direction and occasionally in both
CLOUD − A cloud is a visible accumulation of minute water
droplets and/or ice particles in the atmosphere above the Earth’s
surface. Cloud differs from ground fog, fog, or ice fog only in that
the latter are, by definition, in contact with the Earth’s surface.
(UNITED STATES, 2015).

Concerning ‘wind shear’, there was another related term (‘wind


shear escape’), with a more specific meaning:
WIND SHEAR ESCAPE − an unplanned abortive maneuver
initiated by the pilot in command (PIC) as a result of onboard
cockpit systems. Wind shear escapes are characterized by
maximum thrust climbs in the low altitude terminal environment
until wind shear conditions are no longer detected. (UNITED
STATES, 2015).

However, occurrences for ‘wind shear escape’ were not so prolific,


as the only collocates found were ‘~ complete’, ‘~ maneuver’, and ‘~
procedures’, so ‘wind shear escape’ was not classified independently.
Regarding the profile of semantic labels for each term, Table 7
shows the total of lexical semantic occurrences and the total of labels, and
also compares the semantic density of the selected terms, by calculating
the total of labels per total of occurrences.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1469

TABLE 7 – Profile of semantic labels for each term in the reference corpus

Term Total of occurrences Total of labels Semantic density


rain 11 4 36%
wind 22 9 41%
wind shear 15 5 33%
turbulence 22 7 32%
wake turbulence 18 8 44%
conditions 24 8 33%
lightning 6 3 50%
formation 4 3 75%
cloud 55 10 18%
fog 17 5 29%
thunderstorm 11 5 45%

Source: Authors’ own elaboration.

The occurrences of the selected terms often come as ‘adjective +


term’ or ‘noun + of + term’ / ‘term + of + noun’ (perception of ~; possible
effects of ~; ~ of great vertical extent; ~ of operational significance) or
adverbial structures such as ‘~ around the periphery of an airport’. In
addition to that, it is interesting to note there were some few hyphenated
constructions such as ‘~-breaking procedure’ and ‘~-prone areas’; and
there were also passive structures such as ‘partially covered by ~’ and
‘algorithmically derived ~ warnings’, ‘~ networks to ATS’.
When it comes to the productivity of semantic labels, related
terms are the most common, with 82 occurrences, then type and layout,
with 23 and 22 occurrences. The labels duration, intensity and movement
only had one occurrence each. The most diverse terms were ‘formation’
and ‘lightning’, accounting for 75% and 50% of semantic density,
respectively. And ‘cloud’ and ‘fog’ are the most uniform terms, i.e., with
less semantic variation, of only 18% and 29% respectively.
However, in the case of ‘cloud’, there were many occurrences
of the semantic label type (9), reference (7) and layout (7), of more
objective nature. ‘Fog’ also had a more objective standard, with prevalent
occurrences of characteristic (3) and layout (3) too. Regarding
‘lightning’ and ‘formation’, with more density, ‘formation’ has a more
objective profile (type semantic label is prevalent) while ‘lightning’
1470 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

showed a more procedural perspective to terms being used, with two


occurrences of the label instrument.
‘Cloud’ also showed major label variation (10 out of 18 classified
in this paper were applied), as well as ‘wind’ (9 labels), indicating higher
relevance of those terms to the field of aeronautical meteorology. As a
matter of fact, the World Meteorological Organization (WMO, 2003)
states that “the primary forecast elements are the surface wind, visibility,
weather and cloud.” (p. 13). In this line, the International Civil Aviation
Organization (ICAO, 2018) states important weather information related
to aviation as “information on visibility, runway visual range, present
weather and cloud amount, cloud type and height of cloud base” (p. 4-6).
This is convergent to the previously discussed perspective of weather
influence to runway conditions, as a direct product of weather phenomena
(Cf. ICAO, 2018; WMO, 2003).
In addition to these findings, some interesting cases have to be
highlighted and discussed, as shown in the reference corpus. Regarding
‘conditions’, it is interesting to note that this term was used a significant
number of times in the text with the meaning of possibility or objective
condition of air traffic elements (surface conditions; and conditions, such
as workload, traffic volume, the quality/limitations of the radar system)
not related to weather phenomena. In this paper, however, occurrences
were selected only when ‘conditions’ referred to general standards of
atmospheric phenomena, not conditions as status of equipment, for
example. The polysemy shown here, however, stresses the possible
nuance of terms, only clarified when considering the contextual reference
to collocates. As discussed at the beginning of this paper, defining the
whole scope of pattern of a term is always a very sensitive task. Although
runway conditions may be indeed related to meteorological phenomena it
does not constitute a weather situation in itself since it is not an ongoing
process, but the product or result of a previous meteorological condition.
Regarding ‘lightning’, there were some occurrences of ‘blue
lightning event’, particularly in Order JO 7110.65W (UNITED STATES,
2015), but with a different meaning when compared to primary concept
of ‘lightning’ within the aeronautical context. As a matter of fact, ‘blue
lightning events’ refers to “reports of possible human trafficking”. As
publicized in the website of the U.S. Department of Transportation, the
Department to which FAA belongs, this expression is explained as:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1471

The Blue Lightning Initiative (BLI), led by the Department of


Transportation, the Department of Homeland Security, and U.S.
Customs and Border Protection, is an element of the DHS Blue
Campaign. The BLI trains aviation industry personnel to identify
potential traffickers and human trafficking victims, and to report
their suspicions to federal law enforcement. To date, more than
100,000 personnel in the aviation industry have been trained
through the BLI, and actionable tips continue to be reported to
law enforcement. (UNITED STATES, 2020).

As lightnings may pose major threats to air traffic operations,


airports use human observation as well as specific detection equipment to
support weather phenomena analysis. Annex 3 (ICAO, 2018) informs that
At aerodromes with human observers, lightning detection
equipment may supplement human observations. For aerodromes
with automatic observing systems, guidance on the use of
lightning detection equipment intended for thunderstorm reporting
is given in the Manual on Automatic Meteorological Observing
Systems at Aerodromes (Doc 9837). (ICAO, 2018, p. APP 3-13)

The use of ‘formation’ is quite often related to aircraft arrangement


(join-up and breakaway) during performed flights, generally conducted
in VFR weather unless otherwise approved, as indicated in Order JO
7110.65W (UNITED STATES, 2015). The few cases where formation is
used in the context of weather phenomena is when referring to ‘formation/
cell operations’ and ‘formation/cell envelope’.
A related term is ‘build-up’, which is shown in broader aviation
literature of WMO and ICAO as generally referring to some accumulation
of substances as water, snow or ice (‘build-up of ice’, and ‘ice build-
up’, ‘water build-up’); or accumulation of some sort of reaction, such as
‘build-up of static electricity’. In other situations not related to weather
phenomena, ‘build-up’ is also used in the sense of evolution of services
or operations as in ‘build-up of services’ and ‘volcano build-up to an
eruption’. This latter sense is more related to a general sense of “an
increase, especially one that is gradual” or “an increase in the amount of
something over a period of time”, as indicated in the Cambridge Dictionary.
The term ‘cloud’ is the one showing most interesting lexical
semantic associations. ‘Cloud’ is the general term comprising specific
types of cloud, such as CB (Cumulonimbus) or TCU (Towering Cumulus)
1472 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

clouds, which is often used independently as well (as CB or TCU only,


without the word ‘cloud’). Occurrences of CB in the corpora mostly refer
to meteorological codes to be used in forms and systems; and there are
occurrences of ‘cumulonimbus CB’, and its variation ‘cumulunimbus
CB’, only found in ICA 105-12 (BRAZIL, 2014).
It is important to highlight that the analysis carried out in
this paper did not intend to find overall patterns for these terms but
phraseological patterns in the ATC language prescribed in the compiled
reference corpus, which addresses ATC and weather situations.
This terminological perspective contributes to deepen
understanding on how terms work and confirm the perspective that
they are very inter-related to adjectival patterns, which require more
emphasis on adjective order for example, as well as specific adjectives
to be collocated with related nouns, as more broadly discussed in the
next section.

5 Weather events in air traffic control communication in learner


corpus: discussion and implications for Aeronautical English
courses
When it comes to the learner corpus, it is important to emphasize
that language patterns may vary a little due to the fact it is a controlled
learning environment. For example, related terms are much higher in this
learner corpus regarding more common weather phenomena such as rain
(17), wind (6) and lightning (10), and how they are associated to other
phenomena or situations such as ‘runway’, ‘fog’, ‘gust’, ‘hailstones’,
‘lightning’, ‘CB’, ‘tailwind’, ‘thunderstorm’, ‘turbulence’, ‘visibility’,
‘wind’, ‘wind shear’, ‘thunderstorm’ and ‘instrument conditions’, in
the case of ‘rain’; ‘rough chop’, ‘position’, ‘rain’, ‘temperature’ and
‘visibility’, in the case of ‘wind’; and ‘rain’, ‘thunderstorm’, ‘turbulence’,
‘hailstones’, ‘electrical failure’, ‘CB’, ‘flashflood’, ‘engine’, ‘visibility’
and ‘runway lights’, in the case of ‘lightning’.
Overall, adjectives played an important role in the usage of
expressions containing these terms in the learner corpus. For example,
‘heavy’ was the most common collocate with terms analyzed, especially
with ‘rain’. Among those, some adjective occurrences reflect linguistic
calque, as in the case of ‘strong’ used instead of ‘heavy’: ‘strong rain’ in
place of ‘heavy rain’. However, occurrences such as ‘weak rain’ are not
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1473

contained in the learner corpus. In that sense, most of those adjective uses
are intensifiers, with other occurrences with ‘dense’, ‘intense’, ‘light’,
‘moderate’ and ‘severe’.
As the learner corpus is also representative of the aeronautical
language in use, it also contains more verbs, due to the intent to comprise
more situated communication, with higher reference to location as well.
In our study, there is a varied range of verbs which were used with
‘turbulence’ and ‘lightning’, a pattern which was not specifically explored
in the semantic labels in this paper but is relevant to be mentioned. In
the case of ‘turbulence’, verbs such as ‘passing through’, ‘flew through’,
‘went through’, ‘passed through’, ‘suffering’, ‘facing’ and ‘experiencing’
were used in many instances and also indicate some level of interference
from Portuguese. For ‘lightning’, verbal constructions were mostly
based on verbs ‘strike’ and ‘hit’, in both active and passive voices, with
constructions such as [verb in passive voice + direct object]; [verb in
passive voice + indirect object]; [verb in active voice + direct object];
and [verb in active voice + indirect object]. Some examples are
‘striked8 by a ~’; ‘a strong ~ struck the engine’; ‘a strong ~ struck us’’;
a ~ has struck us’; ‘a ~ has struck my left engine’; ‘~ stroke our landing
equipment’; ‘hit by a ~’; ‘a ~ hit our left wing’; ‘a ~ hit us’; ‘we were
hit/struck by a ~’; and ‘I had my right wing hitted for a ~ strike’. The
consequences are sometimes reported and usually related to some kind
of technical failure as in “We was hit for a lightning strike and had an
electric system failure”.
Concerning the term ‘conditions’, likewise in the reference
corpus, there are occurrences which are directly related to meteorological
phenomena and some others which comprise a broader scope regarding
runway conditions. There is one special example which is in the
“crossroads” of this differentiation: instrument meteorological conditions
(IMC) and instrument flight rules (IFR) conditions, both found in the
learner corpus. While IMC literally mentions the meteorological factor,
IFR focuses on the use of instrument rules, applied in cases when the
airport has such poor weather conditions that it is necessary to rely more

8
As mentioned in the methodology, we did not correct students’ grammar errors. In
these examples, the incorrect forms ‘striked’ and ‘stroke’ were used by students instead
of the correct form ‘struck’. We will not refer to the grammatical correct form of other
examples.
1474 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

heavily on flight instruments to be able to land the aircraft. This example


is particularly interesting to emphasize how meteorological phenomena
affect many air traffic situations as a whole, as described in WMO (2003)
when mentioning weather hazards.
Regarding the semantic label ‘location’, it was also found in a
high number in the learner corpus, as a clear indication of fine-grained
weather report during all phases of flight, as it happens in ‘rain on final
(approach)’, ‘rain on over the field’, ‘rain over the field’, ‘rain over
Congonhas’, ‘over the Guamá river’, ‘rain under the field’, ‘rain in the
threshold on the runway’, ‘rain is approaching the aerodrome’, ‘over the
airdrome, and ‘over the runway’. Some of these occurrences for each
term are illustrated in the following figure.
FIGURE 3 – Occurrences of the semantic label LOCATION

Source: Authors’ own elaboration.

A summary of lexical semantic occurrences and labels for each


key term analyzed in this paper, and the corresponding semantic density,
is shown in the table 8.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1475

TABLE 8 – Profile of semantic labels for each term in the learner corpus9

Term Total of occurrences9 Total of labels Semantic density


rain 29 5 17%
wind 22 10 45%
wind shear 14 5 36%
turbulence 25 8 32%
wake turbulence 1 1 100%
conditions 13 7 54%
lightning 17 5 29%
formation 11 8 73%
cloud 9 6 67%
fog 18 6 33%
thunderstorm 11 6 55%

Source: Authors’ own elaboration.

As indicated in the table, terms ‘rain’, ‘lightning’, ‘turbulence’ and


‘fog’ have the lowest semantic density, with 17%, 29%, 32% and 33%,
respectively; and ‘formation’ and ‘cloud’ have the highest diversification
of semantic labels, accounting for 73% and 67% respectively.10
When it comes to didactic applications of aeronautical
meteorological terms, there are some interesting aspects to note. Some
uncountable nouns as ‘rain’ are used as countable nouns, with the inclusion
of indefinite article, as in “We are undergoing a formation and facing a
heavy rain”. In the same way, an indefinite article is also used in “We
received in the short end a tailwind with 15 knots” and “We have a electrical
failure due to a lightning, strike the airplane”. Sometimes the article may
be used or omitted, as in “We are facing a thunderstorm on FL180.” and
“There is Thunderstorm over Porto Velho Airdrome, pay attention.”.
In aeronautical communication, it is paramount to provide
sensitive information on weather (ICAO, 2010). The importance of

9
Wake turbulence’ was not taken into account because there was only one occurrence,
then semantic density was 100%.
10
‘Wake turbulence’ was not taken into account because there was only one occurrence,
then semantic density was 100%.
1476 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

warning pilots regarding these meteorological conditions is present in


some excerpts in the corpus, as in the listed occurrences:
Attention, the runway 13 is slippery.
(2) Fortaleza is below minimum VFR due to bad weather, heavy
rain. Caution, for your information the aircraft has just landed
before said he went through a chop on final and other one reported
a windshear on short final.
(3) Fortaleza is operating IFR conditions below minima due to
heavy rain, the last aircraft that landed, reported thunderstorm
with lightning strike, when he was 3nm out.
(4) Rain and low visibility on final, alternate to Manaus airport.

In some examples, other consequences or damages are also


informed as in:
we are facing severe turbulence and we are loosing oxigen.
(2) we are in severe turbulence and we have lost the weather radar.
(3) Right winglet was broken due to severe turbulence/ has some
damage, probably caused by the turbulence /turbulence and one
part of my cargo broke.
(4) We got severe turbulence, shaking too much.

Another very important aspect to describe the weather conditions


is gradation (from very bad to good), as in “Waiting more than 15 minutes
for a better weather condition”, “weather conditions become better to
runway 24, few clouds / standby” and “keep hold at this position waiting
for weather conditions to improve”. The communication regarding the
criticality level of weather leads to requests by the controllers, such as
“descend”, “divert”, “immediate descent” and “descend immediately”
or required actions such as “avoid turbulence”. Sometimes modal verbs
(must / need / will) are also used for that, as in “turbulence. I need descend
now”, “turbulence I need divert to my alternative airport” “turbulence.
We must land on the nearest AD” and “turbulence. We will need a
firefighter, because we…”
When taking into consideration language patterns of the
learner corpus, it is important to list all relevant occurrences in order
to foresee possible mistakes and try to find regularities to assess those
mistakes properly (RAYSON, 2008). Particularly in the learner corpus
there are some other occurrences/mistakes which are relevant for a
learning environment but which is not a general language pattern in
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1477

standard communication (RÖMER, 2004; PEIXOTO, 2020). Verbs and


prepositions seem to add to this, especially in terms of crosslinguistic
interference/variation (linguistic calque).
If we compare the semantic labels occurring in the reference
corpus and in the learner corpus, it is possible to notice there are some
peculiarities regarding language patterns (Table 9).
TABLE 9 – Semantic labels in the reference corpus and in the learner corpus

# Semantic Label Reference corpus Learner corpus


01 characteristic 12 1
02 characteristic / intensity 10 16
03 dimension 6 2
04 duration 1 2
05 episode 3 4
06 episode / intensity - 3
07 forecast 12 10
08 form 1 -
09 information factor 2 2
10 instrument 7 2
11 intensity 1 2
12 layout 23 10
13 location - 20
14 management 4 -
15 movement 1 -
16 parameter 8 2
17 phenomenon - 4
18 reference 9 11
19 related term 82 59
20 type 21 15
21 type / dimension - 1
22 type / intensity - 1
23 unit of measurement - 3
24 variation 2 -

Source: Authors’ own elaboration.


1478 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

In the learner corpus, there was more variation of semantic labels,


including EPISODE / INTENSITY, LOCATION, PHENOMENON,
TYPE / DIMENSION, TYPE / INTENSITY and UNITS OF
MEASUREMENT. This can be explained by the nature of reported
communication, giving specific details on where and how weather
phenomena are taking place. This finding is mostly suggested, on the
one hand, by the higher occurrence of LOCATION labels, in a total of 20
occurrences regarding all terms in the learner corpus; and, on the other
hand, by the fact the semantic label MANAGEMENT does not appear
in the learner corpus, along with the absence of semantic labels FORM
and VARIATION.

6 Final Remarks
Terminological patterns discussed in this paper show how
meaning is dependent on context, and how lexical semantic analysis
of terms may contribute to reveal nuances of language used in a
specialized language. Likewise, this approach also contributes to deepen
understanding of language used by students, especially regarding the
descriptor vocabulary, prescribed in ICAO rating scale.
However, it is important to stress that analyses carried out in the
reference corpus as compared to the learner corpus are illustrative, since
occurrences in the learner corpus are controlled and depend on other
variables beyond proportional occurrences in natural language expression.
Findings suggest learner corpus language focuses on occurrences which
are found to be related to more common daily situations, especially within
the Brazilian context; and, based on that, semantic density in both corpora
is not expected to be the same.
Therefore, results show that the courses have been efficient in
teaching and practicing the use of the main meteorological terms related
to aeronautical English and that, despite some mistakes students make,
evidence indicates that they are able to report weather conditions to
pilots and to understand pilots’ requests in a proficient level concerning
vocabulary. As we’ve mentioned before, we believe in a more integrated
analysis of language production by students, considering the context and
the blocks of unit instead of looking at isolated words. In this sense, CL
is an efficient tool for analyzing the production of groups of students.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1479

Concerning implications for teaching, there are many analyses


that can be conducted by a teacher using the resources of CL. The software
used in this paper is free and easy to use with little training – tutorials
are widely available. For existing courses, which is the case here, by
looking at the concordance lines is possible to compare students’ use of
the terms, their collocates, the context of use and adjust instruction if
necessary. It is possible to monitor a student’s development and address
him/her individually. It is also possible to apply a data-driven approach
and, by showing concordance lines to students, raise their awareness
in relation to misuses of a term or the most frequent collocations of it,
contrast its use in the learner corpus and the reference corpus, among
others. The results presented here can also help researchers and material
designers collect authentic descriptions of language usage in a learning
environment which, in their turn, may improve teaching and reference
materials. This is especially important in the case of aeronautical English,
since there are not many courses or material available in the market that
deal with specific needs of Brazilian air traffic controllers.
As for implications regarding language testing, we hope this
kind of analysis helps teachers benchmark their students’ performance in
relation to what is expected to NP4 according to the ICAO rating scale.
Results also advocate in favor of a more integrated scale and could be
used as an argument for ICAO revision of its 16-year-old rating scale. A
follow-up suggestion for future research would be to analyze the results of
the same students who took the three courses from where the subcorpora
were compiled at EPLIS, to check their performance in weather-related
tasks and if they achieved PL 4 or above in the descriptor vocabulary,
but this is beyond the scope of this paper.

Declaration of contribution
Rafaela Rigaud Peixoto wrote the theoretical foundation section on
phraseological patterns and lexical semantic terminological approach, and
contributed to the introduction section on aeronautical English. Regarding
the methodological planning of the paper, she developed the methodology
design, compiled the reference corpus, and articulated the methodological
procedures of phase 1 and phase 2. Rafaela performed lexical semantic
analysis of weather events in air traffic control phraseology standards, and
of weather events in air traffic control communication in learner corpus,
1480 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

regarding phraseological structures and semantic labels of combinatorics


of the 11 selected terms, by using AntConc concordancing software. She
wrote the abstract in Portuguese and in English. Patrícia Tosqui-Lucks
wrote the introductory concepts of aviation and aeronautical English;
phraseology and plain English; and ICEA responsibilities concerning
teaching and assessment of Brazilian ATCOs. As for the theoretical
foundations, she wrote the discussion about learner corpora and ICAO
proficiency requirements, including the rating scale descriptors for
vocabulary assessment. As for the methodology, Patrícia inserted the
data of the learner corpus she compiled into the Antconc software and
contributed to the analysis of language structure of the 11 selected lexical
items as produced by students in classes of air traffic communication
for Area Control Centers (ACC), Approach Control Centers (APP) and
Towers (TWR).

Acknowledgment
This study was financed in part by the Coordenação de Aperfeiçoamento
de Pessoal de Nível Superior – Brasil (CAPES) – Finance Code 001.

References
ANTHONY, L. AntConc (Version 3.5.8) [Computer Software]. Tokyo:
Waseda University, 2019. Available from: https://www.laurenceanthony.
net/software. Access on: August, 2020.
BARTNING, I.; FORSBERG, F. Les séquences préfabriquées à travers
les stades de développement en français L2. In: CONGRÈS DES
ROMANISTES SCANDINAVES, 16 e., 2006, Roskilde. Actes […].
Roskilde: Department of Language and Culture, Roskilde University,
2006. p. 1-22.
BERBER-SARDINHA, T. Como usar a linguística de corpus no ensino
de língua estrangeira – por uma linguística de corpus educacional
brasileira. In: VIANA, V.; TAGNIN, S. E. O. (org.). Corpora no ensino
de línguas estrangeiras. São Paulo: HUB Editorial, 2011. p. 301-356.
BRAZIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle do Espaço
Aéreo. ICA 105-12: Fraseologia Volmet. Rio de Janeiro, 2014. Available
from: https://publicacoes.decea.gov.br/?i=publicacao&id=4072. Access
on: Sep. 20, 2019.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1481

BRAZIL. Comando da Aeronáutica. Departamento de Controle


do Espaço Aéreo. MCA 100-16: Fraseologia de Tráfego Aéreo. Rio
de Janeiro, 2018. Available from: https://publicacoes.decea.gov.
br/?i=publicacao&id=4072. Access: Sep. 20, 2019.
CHEN, M. Phrasal Verbs in a Longitudinal Learner Corpus: Quantitative
Findings. In: GRANGER, S.; GILQUIN, G.; MEUNIER, F. (ed.). Twenty
Years of Learner Corpus Research: Looking Back, Moving Ahead.
Corpora and Language in Use - Proceedings 1. Louvain-la-Neuve: Presses
universitaires de Louvain, 2013. p. 89-101.
EBELING, S. O.; HASSELGÅRD, H. Learner Corpora and Phraseology.
In: GRANGER, S.; GILQUIN, G.; MEUNIER, F. (ed.). The Cambridge
Handbook of Learner Corpus Research. Cambridge: Cambridge
University Press, 2015. p. 207-230.
FINATTO, M. da G. K. Definição terminológica: fundamentos teórico-
metodológicos para sua descrição e explicação. 2001. 395f. Tese
(Doutorado em Estudos da Linguagem) – Instituto de Letras, Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2001.
GAVIOLI, L. Exploring Corpora for ESP Learning. Amsterdam: John
Benjamins, 2005.
GILQUIN, G. From Design to Collection of Learner Corpora. In:
GRANGER, S.; GILQUIN, G.; MEUNIER, F. (ed.). The Cambridge
Handbook of Learner Corpus Research. Cambridge: Cambridge University
Press, 2015. Digital version. DOI: 10.1017/CBO9781139649414.002
GRANGER, S. Learner Corpora in Foreign Language Education. In: Van
DEUSEN-SCHOLL, N.; HORNBERGER, N. H. (ed.). Encyclopedia
of Language and Education. 2. ed. New York: Springer, 2008. v. 4, p.
337-351.
HUNSTON, S. How Can a Corpus Be Used to Explore Patterns? In:
O’KEEFFE, A.; McCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of
Corpus Linguistics. London; New York: Routledge; Taylor & Francis
Group, 2010. p. 152-166.
INTERNACIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Manual of
Radiotelephony: Doc 9432. Montreal: ICAO, 2007.
1482 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

INTERNACIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Guidelines


for Aviation English Training Programs: Circular 323 NA/185.
Montreal: ICAO, 2009. Available from: https://www.icao.int/safety/lpr/
Documents/323_en.pdf. Access on: Mar. 23, 2020.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Manual on
the Implementation of ICAO Language Proficiency Requirements: Doc.
9835 AN/453. 2. ed. Montreal: ICAO, 2010. Available from: https://
skybrary.aero/bookshelf/books/2497.pdf. Access on: Mar. 23, 2020.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Air Traffic
Management. Doc 4444. Montreal: ICAO, 2016. Available from: https://
ops.group/blog/wp-content/uploads/2017/03/ICAO-Doc4444-Pans-Atm-
16thEdition-2016-OPSGROUP.pdf. Access on: Mar. 23, 2020.
INTERNATIONAL CIVIL AVIATION ORGANIZATION. Annex 3 to
the Convention on International Civil Aviation. Meteorological Service
for International Air Navigation: parts I and II. 20. ed. Montreal: ICAO,
2018.
L’HOMME, M.-C. Lexical Semantics for Terminology: An Introduction.
Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins Publishing Company, 2020.
MEUNIER, F. Developmental patterns in learner corpora. In: GRANGER,
S.; GILQUIN, G.; MEUNIER, F. (ed.). The Cambridge Handbook of
Learner Corpus Research. Cambridge: Cambridge University Press,
2015. p. 379-400.
NESSELHAUF, N. Collocations in a Learner Corpus. Amsterdam:
Benjamins, 2005.PEIXOTO, R. A. J. R. P. Nas asas da tradução:
elaboração de glossário de Meteorologia Aeronáutica. Revista CBTecLE,
Santa Ifigênia, v. 2, n. 1, [s.p.], 2020.
PEIXOTO, R. A. J. R. P. Aeronautical Meteorology Glossary: A
Discussion on Term Definition in the ANACpedia Termbase. The
ESPecialist, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 1-26, 2020.
PEIXOTO, R. A. J. R. P. Terminology of Aeronautical Meteorology
Codes: A Systematization by Using Corpus. TradTerm, São Paulo, v. 37,
n. 1, in press.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021 1483

PEIXOTO, R. A. J. R. P.; PIMENTEL, J. M. M. Aeronautical


Meteorology in Aeronautical Language and in Aviation Language: a
hybrid field? The ESPecialist, São Paulo, v. 41, n. 4, p. 1-24, 2020. DOI:
10.23925/2318-7115.2020v41i4a2
RAYSON, P. From Key Words to Key Semantic Domains. International
Journal of Corpus Linguistics, Birmingham, v. 13, n. 4, p. 519-549, 2008.
RENOUF, A.; SINCLAIR, J. Collocational Frameworks in English. In:
AIJMER, K; ALTENBERG, B. (ed.). English Corpus Linguistics: Studies
in Honour of Jan Svartvik. London: Longman, 1991. p. 128-143.
RÖMER, U. Comparing Real and Ideal Language Learner Input. In:
ASTON, G.; BERNARDINI, S.; STEWART, D. (ed.). Corpora and
Language Learners. Amsterdam: John Benjamins Publishing Company,
2004. p. 151-168.
RÖMER, U. Language Assessment and the Inseparability of Lexis and
Grammar: Focus on the Construct of Speaking. Language Testing, [S.l.],
v. 34, n. 4, p. 477-492, 2017.
SCARAMUCCI, M. V. R. O Exame de proficiência em língua inglesa
para controladores de voo do SISICEAB: uma entrevista com Matilde
Scaramucci. Aviation in Focus, Porto Alegre, v. 2, n. 1, p. 3-12, 2011.
Available from: https://geia.icea.gov.br/geia/publicacoes.php. Access
on: Jan. 23, 2020.
SCARAMUCCI, M. V. R.; TOSQUI-LUCKS, P.; DAMIÃO, S. M. (ed.).
Pesquisas sobre inglês aeronáutico no Brasil. Campinas: Pontes Editores,
2018.
SCHMITT, N. Vocabulary in Language Learning. Cambridge: Cambridge
Language Education, 2000.
SINCLAIR, J. Envoi. The Phrase, the Whole Phrase, and Nothing but
the Phrase. In: GRANGER, S.; MEUNIER, F. (ed.). Phraseology: An
Interdisciplinary Perspective. Amsterdam; Philadelphia: John Benjamins
Publishing Company, 2008. p. 407-410.
STEFANOWITSCH, A. CL: A Guide to the Methodology. Berlin:
Language Science Press, 2020. (Textbooks in Language Sciences 7).
Available from: http://langsci-press.org/catalog/book/148. Access on:
Sep. 7, 2020.
1484 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1443-1484, 2021

TAGNIN, S. E. O. A Multilingual Learner Corpus in Brazil. In: WILSON,


A.; ARCHER, D.; RAYSON, P. (ed.). Corpus Linguistics around the
World. Amsterdam; New York: Rodopi, 2006. p. 195-202.
THEWISSEN, J. The Phraseological Errors of French-, German- and
Spanish-Speaking EFL Learners: Evidence from an Error-Tagged
Learner Corpus. In: TEACHING AND LANGUAGE CORPORA
CONFERENCE (TALC 8), 8th., 2008, Lisboa. Proceedings […]. Lisboa:
Associação de Estudos e de Investigação Científica do ISLA-Lisboa,
2008. p. 300-306.
TOSQUI-LUCKS, P.; PRADO, M. C. de A. Corpora de inglês
aeronáutico: desafios para o estudo da área e proposta de trabalho
conjunto. Tradterm, São Paulo, v. 37, n. 1, in press.
TOSQUI-LUCKS, P.; SILVA, A. L. B. C. Aeronautical English:
Investigating the Nature of this Specific Language in Search of
New Heights. The Especialist, São Paulo, v. 41, n. 3, p. 1-27, 2020a.
DOI: https://doi.org/10.23925/2318-7115.2020v41i3a2
TOSQUI-LUCKS, P.; SILVA, A. L. B. C. Da elaboração de um glossário
colaborativo à discussão sobre os termos “inglês para aviação” e “inglês
aeronáutico”. Estudos Linguísticos, São Paulo, v. 49, n. 1, p. 97-116,
2020b. Available from: https://revistas.gel.org.br/estudos-linguisticos/
article/view/2561. Access on: May 2, 2020.
UNITED STATES. Federal Aviation Administration. U.S. Department of
Transportation. Air Traffic Organization Policy. ORDER JO 7110.65W:
Air Traffic Control. Washington, D.C, 2015.
UNITED STATES. U.S. Department of Transportation. Blue Lightning
Initiative. 2020. Available from: https://www.transportation.gov/
administrations/office-policy/blue-lightning-initiative. Access on: Sep.
25, 2020.
WORLD METEOROLOGICAL ORGANIZATION. Guide to Practices
for Meteorological Offices serving Aviation. (WMO, n.732). Geneva:
WMO, 2003.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

Corpus linguistics and continuous professional development:


participants’ prior knowledge, motivations and appraisals

Linguística de corpus e formação profissional contínua:


conhecimento prévio, motivações e avaliações dos participantes

Vander Viana
University of East Anglia, Norwich / United Kingdom
vander.viana@uea.ac.uk
http://orcid.org/0000-0003-3079-4393

Lu Lu
Hong Kong Polytechnic University, Hong Kong / Hong Kong
lu-cbs.lu@polyu.edu.hk
http://orcid.org/0000-0002-6049-6154

Abstract: Previous studies on the application of corpus linguistics (CL) to education


have primarily examined language-related contexts where students are pursuing a
formal degree (e.g. undergraduate and Master’s programs). Little do we know about
the informal learning of CL especially by (but not limited to) academics/professionals
who are not educated and/or do not work in language-oriented fields. The present
study addresses these research gaps by examining the perspective of participants in
a non-credit-bearing continuous professional development (CPD) project aimed at
academics/professionals in a range of disciplines, who did not need to have any prior
knowledge of CL. More specifically, we administered a questionnaire to 28 participants
of a UK-based CPD project on CL with a view to researching four main aspects: (i)
these participants’ CL background; (ii) their motivations to participate in this type of
project; (iii) the advantages and barriers of employing CL in their teaching practice;
and (iv) their appraisal of corpus analysis integration in their research practice. The
results point out to the role of CPD projects in democratizing access to CL education
both to language-oriented and non-language oriented academics/professionals and in
potentially raising their interest in CL learning. Lack of knowledge is perceived to

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1485-1527
1486 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

be the main barrier in embedding corpus approaches to teaching and research, thus
reinforcing the relevance of developing formal and informal CL learning opportunities
for academics/professionals in different fields.
Keywords: corpus linguistics; continuous professional development; educational
corpus integration; evaluation of corpus use in professional practices; corpus
application to teaching and research; language teacher education; translator education;
interdisciplinarity.

Resumo: Estudos sobre a aplicação da linguística de corpus (LC) à educação


examinaram uma série de contextos diferentes – principalmente aqueles em que os
alunos recebem um diploma de colação de grau (por exemplo, cursos de graduação
e mestrado). No entanto, pouco se sabe a respeito da aprendizagem informal da LC,
especialmente por (mas não se limitando a) acadêmicos/profissionais que não tem
uma formação educacional e/ou não trabalham em áreas relacionadas aos estudos da
linguagem. A presente pesquisa preenche essas lacunas, examinando a perspectiva dos
participantes de um projeto de formação profissional contínua destinado a acadêmicos/
profissionais de várias disciplinas, que não precisavam ter conhecimento prévio de
LC. Mais especificamente, administramos um questionário a 28 participantes de um
projeto de formação profissional contínua na área de LC realizado no Reino Unido
com o objetivo de pesquisar quatro aspectos principais: (i) a formação educacional
em LC dos participantes; (ii) suas motivações para participar desse tipo de projeto;
(iii) as vantagens e barreiras de empregar a LC em suas práticas pedagógicas; e (iv)
suas avaliações sobre a integração da análise de corpus em suas práticas de pesquisa.
Os resultados apontam para o papel dos projetos de formação profissional contínua
na democratização do acesso à educação em LC para profissionais tanto da área de
estudos da linguagem quanto de outras áreas e no potencial aumento do interesse
desses profissionais na aprendizagem de LC. A falta de conhecimento é percebida
como a principal barreira para a incorporação de abordagens de corpus para o ensino
e a pesquisa, reforçando assim a relevância do desenvolvimento de oportunidades de
aprendizagem formal e informal para acadêmicos/profissionais em diferentes áreas.
Palavras-chave: línguística de corpus; formação profissional contínua; integração
educacional de corpora; avaliação do uso de corpora em práticas profissionais; aplicação
de corpora no ensino e na pesquisa; formação de professores de línguas; formação de
tradutores; interdisciplinaridade.

Submitted on September 10th, 2020


Accepted on October 21th, 2020
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1487

1 Introduction
This special issue of Revista de Estudos da Linguagem aims
to take stock of the achievements and challenges of corpus linguistics
(henceforth CL) over the years. While it would be challenging to precise
exactly when CL started (see VIANA; ZYNGIER; BARNBROOK,
2011), Johansson (2008) clarifies that Jan Aarts first proposed the term
corpus linguistics in the 1980s. In this decade, we also start to observe
the academic uptake of corpus studies mainly due to the popularization of
personal computers. In all these past years, CL has considerably evolved
and has afforded new perspectives to our understandings of language use.
Corpus approaches have been used to examine different
languages and their specific uses; however, the educational impact of CL
has not been explored to the same extent. Naturally, it would be factually
inaccurate to claim that there is little research on this topic: previous
studies have investigated the integration of corpus analysis in numerous
classroom settings. These settings include different languages being
taught/learned (e.g. O’SULLIVAN; CHAMBERS, 2006 on French),
educational levels (e.g. FRANKENBERG-GARCIA, 2015 on Master’s
students), countries (e.g. TODD, 2001 on Thailand), and disciplines (e.g.
HAFNER; CANDLIN, 2007 on law students).
A review of the literature, however, reveals that much of the work
conducted to date focuses on language-oriented educational contexts
(e.g. FARR 2008; GAN; LOW; YAAKUB, 1996; HEATHER; HELT
2012; ZAREVA 2016) and degree-awarding settings where CL is taught
in a compulsory or an optional module (e.g. BUENDÍA-CASTRO;
LÓPEZ-RODRÍGUEZ, 2013; FRANKENBERG-GARCIA, 2015;
GALLEGO-HERNÁNDEZ, 2015b). In other words, disciplines other
than language-related ones and educational programs which are not credit-
bearing remain underexplored in the research literature on educational
applications of CL. To address these two research gaps, the present study
innovates by investigating the perspective of participants from a range of
disciplines in a non-credit-bearing continuous professional development
(CPD) project. More specifically, it focuses on four main aspects here: (i)
the CL background of participants who are drawn to CPD opportunities
like this one; (ii) their motivations to participate in it; (iii) the advantages
and challenges of employing CL in their teaching practice; and (iv) their
evaluation of the integration of corpus analysis in their research practice.
1488 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

To this end, a questionnaire was administered to the participants of a CL


CPD project in the UK. The empirical data were analyzed in a bottom-up
way which combined quantitative and qualitative analytical methods.
The present paper is divided into seven sections. Following
this introduction, Section 2 reviews the literature on the integration of
CL in two professional fields – language teaching and translation. In
Section 3, we describe the CPD project that was offered to the research
participants. Section 4 presents the methodological procedures adopted
in this study. In Section 5, we describe our research participants, clearly
indicating how they differ from the population samples in most of the
studies conducted to date. The results of our analysis are presented and
discussed in Section 6 before some final remarks are made in Section 7.

2 Literature review
CL has revealed its potential to contribute to several occupations
– from language-oriented ones such as lexicographers and materials
developers (FLOWERDEW, 2012; O’KEEFFE; MCCARTHY, 2010)
to those which do not necessarily have a direct language component
such as healthcare practitioners (CRAWFORD; BROWN, 2010) and
lawyers (HAFNER; CANDLIN, 2007). In the present paper, we focus
our attention on the embedding CL into teacher education (especially
language teacher education) and translators, the two occupations that
have received most attention in the research literature. The following
subsections review the available research literature on corpus embedding
in the education of these two professional groups.

2.1 CL in language teacher education


Many publications have highlighted the contribution that CL
can bring to the field of language teaching (for useful summaries and
overviews, see BIBER; REPPEN, 2015; O’KEEFFE; MCCARTHY,
2010). However, language teachers’ use of corpus approaches in
their language classrooms is far from being the mainstream practice
(BOULTON 2010; RÖMER, 2010). The proponent of data-driven
learning, Johns (1991) writes about two challenges in the integration
of CL into language teaching. One challenge relates to teachers’ roles,
which need to change to ‘a director and coordinator of student-initiated
research’ (p. 3). The other challenge relates to the use of traditional
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1489

teaching materials, which may have their accuracy questioned when


concordancing tools take central stage in the classroom, and actual
language use is analyzed. These two challenges (see also ASTON,
2011; CONRAD, 2011; VIANA, 2011) may help to explain why teacher
education programs have not extensively incorporated modules on
corpus analysis (CALLIES, 2019; FARR, 2010; GRANATH, 2009;
MCCARTHY, 2008). The next two subsections will be dedicated to the
integration of CL in the professional development of, respectively, pre-
service and in-service teachers.

2.1.1 Pre-service language teacher education


Empirical studies on the effectiveness of using corpora in
professional development have underlined the potential integration of
CL in teacher education programs. As argued in Breyer (2009), the dual
role – as a student and a future teacher – of pre-service teachers enables
them to build a strong knowledge base in corpus queries and analyses as
a learner before they expand what they have learnt to their workplace.
Several studies have focused on the use of CL in the teaching
of vocabulary and grammar in pre-service English language teacher
education (e.g. HEATHER; HELT, 2012; FARR, 2008; ZAREVA,
2016). Gan, Low, and Yaakub (1996) contrasted corpus approaches with
traditional teacher-centered pedagogy at a Malaysian university regarding
the teaching of vocabulary skills. Students in a pre-service teacher
education program in Teaching English as a Second Language (TESL)
were divided into an experimental group, which had five two-hour
sessions on computer-based concordancing exercises, and the control
group, which followed the teacher-centered approach with consultation
from dictionaries. Pre- and post-tests revealed the experimental group
excelled in the use of words in context. The benefits of CL in grammar
teaching are well observed in Farr’s (2008) sample of postgraduates in
English Language Teaching (ELT), Zareva’s (2016) survey on trainee
teachers in the field of Teaching English to Speakers of Other Languages
(TESOL), and Heather and Helt’s (2012) grammar course for teachers of
English as a Second Language (ESL). Difficulties and problems that may
constrain the implementation of corpus approaches were also identified.
One of the constraining factors is student teachers’ language proficiency
levels. In Heather and Helt’s (2012) semester-long English grammar
1490 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

course for pre-service teachers, the researchers collected students’


questionnaire responses, their critique of prescriptive grammar rules and
their design of supplementary teaching materials with corpus approaches.
The findings revealed that pre-service teachers’ grammatical knowledge
affects the interpretation of corpus results to students. For instance, one
student teacher with weak class performance wrongly categorized the
auxiliary use of be as the main verb.
Apart from the above studies focusing on general English, the
educational application of CL has been explored in ESP settings as well
(e.g. VIANA; BOCORNY; SARMENTO, 2018). Hüttner, Smit and
Mehlmauer-Larcher (2009) implemented corpus tools to ESP teaching:
a small and specialized English corpus was built and contrasted with
general reference corpora such as the BNC. This comparison offered
a handy and reliable approach for students to identify obligatory and
optional moves as well as formulaic expressions. As regards the tools
for ESP teaching, two of the 32 pre-service teachers in Ebranhimi
and Faghih’s (2017) research believed that the free corpus software
AntConc was useful in ESP education. This is because AntConc enables
both learners and teachers to build a specialized corpus and generate a
keyword list. However, student teachers also face challenges in CL-
informed ESP classes. In Leńko-Szymańska’s (2017) semester-long
CL course, she collected students’ end-of-semester assignments (e.g.
self-compiled ESP corpora and corpus-based lesson plans) and argued
that pre-service teachers only mastered basic CL technical skills at the
lexical and phraseological levels, leaving other language features (e.g.
register differences) barely untouched. Her study demonstrates that a
semester-long course is not sufficient for pre-service teachers, who may
lack the confidence and expertise to design CL-based activities for their
own students in the future.

2.1.2 In-service language teacher education


Previous research on the interface between CL and in-service
language teacher education has examined current professionals’ use
of corpora through questionnaires. Mukherjee (2004) investigated the
actual use of CL in German secondary-school language teaching practice.
His research results revealed that English language teaching had been
hardly influenced by language features attested in corpora. Also drawing
on the German context, Römer’s (2009) survey of 78 secondary-school
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1491

English language teachers uncovered some of their desires and problems


that could be well addressed by CL such as better teaching materials
and reference resources other than non-corpus-based descriptions.
More recently, Chen et al. (2019) analyzed the questionnaire responses
provided by 54 in-service teacher participants of a data-driven learning
workshop in Hong Kong. Among other findings, the results revealed
correlations between teachers’ prior knowledge of CL and their evaluation
of the difficulty of corpus tools and between teachers’ motivation for
professional development and their adoption of data-driven learning.
The types of investigation reviewed so far in this section are similar to
the one that we have conducted in that we also adopted a questionnaire as
our research instrument (cf. Section 4); however, our population sample
is distinct as will be discussed in Section 5.
Another area that has been explored in the interface between CL
and in-service teacher education is current professionals’ use of corpora
and corpus resources. One example of these resources is the Teachers of
English Education Nexus (TeleNex), a website that is aimed at supporting
the work of primary and secondary English language teachers in Hong
Kong. Based on the analysis of 1,294 teacher-generated questions over
eight years, Tsui (2005) advocates that schoolteachers’ use of corpora
is an effective way to help them understand the meaning and usage of a
linguistic item. Corpus data were preferred over dictionary definitions,
especially regarding queries on synonyms (such as finally vs. lastly) and
stylistic patterns that seem to go against traditional prescriptive rules (e.g.
whether sentences can start with conjunctions like because, but and and).
CL research has similarly investigated teachers’ language use
(e.g. CHAMBERS; O’RIORDAN, 2007; FARR, 2006). For instance,
Vaughan (2007) examined how teachers use jargons and humor to maintain
their membership identity in teacher-teacher talks at staff meetings. Farr
(2006) researched trainer-trainee interactions in language teaching to
uncover some of the linguistic and communicative features of this type
of professional discourse such as self-disclosure strategies (e.g. ‘all of
us would…’) and the high-frequency use of compliments (e.g. ‘good’)
(see also FARR, 2005, 2010). Drawing on a US context, Reppen and
Vásquez’s (2007) and Vásquez and Reppen’s (2007) action research
over two semesters explored the spoken interaction between four pairs of
teachers and their respective supervisors in post-observation meetings.
Results from the first semester highlighted supervisors’ higher talking time
1492 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

in the collected data and prompted a change in supervisory practice. More


specifically, supervisors created questions to give teachers the opportunities
to ponder and generate more talk. The comparison of data in Semesters
1 and 2 revealed a change in the post-observation meetings: there was
an increase in the total number of words produced by teachers whereas
supervisors’ amount of talk decreased or remained approximately the same.
Reppen and Vásquez’s (2007) and Vásquez and Reppen’s (2007) studies
illustrate the key role that corpus research can play in the reconsideration of
professional practices. In their case, corpus findings triggered a change in
supervisors’ and teachers’ roles in post-observation meetings, encouraging
the teachers to take center stage in these meetings.

2.2 CL in translator education


Translation is another area that CL has influenced over the
years potentially due to the facilitating role that corpora can have in
translation tasks. For example, parallel corpora can facilitate the search
for translation correspondences; and corpora of trainee translators and
monolingual target-language corpora can be examined to identify and
evaluate trainee professionals’ translation solutions. The following
sections will review empirical studies on the integration of CL in,
respectively, pre- and in-service translator education.

2.2.1 Pre-service translator education


Previous studies on pre-service translator education have
examined a few different contexts. From a geographical perspective,
these studies have taken place, for example, in Denmark (e.g.
LAURSEN; PELLÓN, 2012), Germany (e.g. KRÜGER, 2012), Spain
(e.g. GALLEGO-HERNÁNDEZ, 2015b; MONZÓ-NEBOT, 2008;
RODRÍGUEZ-INÉS, 2009), and the UK (e.g. FRANKENBERG-
GARCIA, 2015). From an educational perspective, these studies have
primarily examined degree-awarding courses – either at the undergraduate
(e.g. BUENDÍA-CASTRO; LÓPEZ-RODRÍGUEZ, 2013; GALLEGO-
HERNÁNDEZ, 2015b; ZANETTIN, 2001) or postgraduate level (e.g.
FRANKENBERG-GARCIA, 2015).
The benefits of corpus introduction in pre-service translator
education have been well argued and advocated. Working with a
specialized monolingual first-language corpus, Bowker (1998), for
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1493

example, conducted a pilot study in a French-to-English translation


classroom and showed that corpus analysis helped trainee translators
understand the translation subject, terminology and idiomatic expressions.
Zanettin (2001) drew on undergraduates’ Italian-to-English translation
of a newspaper text on the Olympic Games to illustrate how corpus
exploitation can enable student translators to contrast source and target
languages and to facilitate the selection of translation correspondences.
Similar benefits have been reported in Rodríguez-Inés’s (2009) Spanish-
English translation class for 26 final-year Spanish students and Monzó-
Nebot’s (2008) legal translation courses for third- and fourth-year
undergraduates in Spain.
The use of the web as a corpus (e.g. GATTO, 2014) in pre-service
translator education has also been examined, and its advantages have been
identified. The MA Specialized Translation students in Krüger’s (2012)
research believe that web concordances such as WebCorp can provide
immediate solutions to language-related doubts that do-it-yourself
(DIY) corpora (i.e. ad-hoc self-compiled corpora) may fail to solve.
In another web-as-corpus study, Buendía-Castro and López-Rodríguez
(2013) conducted an experiment with third-year undergraduate students
in Translation and Interpreting at a university in Spain. These students
were tasked with the translation to English of a research article excerpt
on swine flu originally written in Spanish. It showed that the use of
automatically built specialized corpora compensate for pre-service
translators’ lack of discipline-specific knowledge.
In addition to advantages, the literature on corpus integration in
pre-service translator education has identified challenges. For example,
Rodríguez-Inés (2010) highlighted the amount of time required in
learning about corpora and their use. She pointed out that this may result
in a time loss for pre-service translators to develop their translation skills
and competence in a strict sense. In Gallego-Hernández’s (2015b) study,
the pre-service translator participants were split in their evaluation of
the difficulty (N=14) or easiness (N=11) of corpus methods, and they
indicated that time was a factor in their engagement with CL. Mixed
feelings towards corpus work are also observed in Frankenberg-Garcia’s
(2015) study on 13 MA students in Translation at a UK university. While
students appreciated exploiting corpora to assist them with the handling
of unfamiliar terminologies and idiolects, they had some trouble in
choosing appropriate corpora or corpus tools.
1494 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

2.2.2 In-service translator education


The central conundrum in the integration of CL in in-service
translator education is akin to the one observed in language teacher
education (cf. Section 2.1). Although translators have begun to become
aware that corpus approaches may support their day-to-day professional
practice (e.g. VARELA-VILA, 2009), the uptake of these approaches is
still relatively reduced (see, for instance, BOWKER, 2004; FRÉROT
2016; GALLEGO-HERNÁNDEZ, 2015a; JÄÄSKELÄINEN;
MAURANEN, 2006; MELLANGE, 2006). Similar to pre-service
translator education (cf. Section 2.2.1), time appears as one of the major
barriers in translators’ corpus uptake (ASTON, 2009; WILKINSON,
2006). This barrier is often noticed if translators have to compile their
corpora (GALLEGO-HERNÁNDEZ, 2015a). It seems that translators
would be more open to corpus approaches if the translation task involves
a very large or interdisciplinary text, or if the translators themselves
work full time.
A vicious circle can be identified in the integration of CL
and professional translation. Perhaps because corpus uptake is not
widespread, corpus skills are not mentioned in person specifications
for translation posts as observed in Bowker’s (2004) investigation
of Canadian job adverts. At the same time, the lack of recognition of
corpus skills as a sought-after ability in job ads does not encourage
professional translators to acquire these skills (see also FRÉROT 2016).
For example, Jääskeläinen and Mauranen’s (2006) survey into Finnish
timber industry found that corpora and concordance tools were not widely
used, especially among freelance translators.
There are, however, some positive prospects in the integration of
CL in in-service translator education. The survey of 1,015 translators and
interpreters around the world in the Multilingual eLearning in LANGuage
Engineering Project (MELLANGE, 2006) revealed some promising
aspects: 20.2% of the respondents had used concordancers, and 82.0%
would be interested to learn more about corpus-based translation skills.
Gallego-Hernández’s (2015a) survey equally indicates promising results:
nearly half of the 526 participants indicated that they engaged in corpus
exploration in their translation practice at a frequency that varied from
‘sometimes’ to ‘very often’.
The present literature review indicates that the potential CL has to
offer to professional education has not been fulfilled yet. In other words,
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1495

corpus approaches do not seem to have entered mainstream education


or professional education courses. In the present study, we examine the
perspectives of academics/professionals from different backgrounds on
the integration of CL in their practices. The following section describes
the CPD project that was offered to these participants.

3 CPD project on CL
This research investigated the perspectives of participants in a
blended CPD project on CL funded by the British Academy. Merging
research, teaching and learning perspectives, the project aimed at
showing participants how to develop their CL skills and their students’/
supervisees’. The face-to-face element consisted of three day-long
events spread over one year (i.e. June, September and December) with
sessions delivered by experts in the field (e.g. Marina Bondi, Paul
Thompson, Ute Römer). While Chen et al.’s (2019) research is also on
a non-credit-bearing CL workshop, their target participants were limited
in professional terms (i.e. it was aimed at English language teachers)
and the length of their sessions was shorter (i.e. two three-hour long
workshops, totaling six contact hours). The online space in our CPD
project provided a further means for interaction among participants and
for their learning to be consolidated over time with asynchronous input
from the same team of experts.
This CPD project did not assume any prior knowledge of CL.
The face-to-face and online activities were planned in such a way that
participants would be introduced to the main concepts in CL before
putting these concepts into practice in hands-on sessions and exploring
the application of CL to their teaching and research.
The three face-to-face events had different but complementary
foci. Participants were first introduced to the basics of language education
and CL before they had two full days examining how this could be
applied to language in general and to language for academic purposes.
A decision was made to focus on English since this was the only shared
language among all attendees, but the transferable nature of corpus skills
was stressed.
1496 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

4 Methods
We decided to use a questionnaire to collect data for the present
study. Despite its inherent limitations (e.g. the potentially thin data to
be collected), a questionnaire was the most appropriate option for our
data collection plans. It required a reduced time commitment from
participants, thus potentially increasing the final volunteer sample. This
can be seen in our response rate, which will be discussed in Section 5.
In addition to the cover sheet, the questionnaire consisted of
25 questions divided into three parts. The first one contained questions
about personal matters (e.g. sex, age, home country), participants’ work
experience, their educational background, and language knowledge and
proficiency. Part 2 contained questions on participants’ prior knowledge
of CL as well as of related matters such as discourse analysis and statistics.
Part 3 was dedicated to participants’ reasons for registering for the CPD
project, their expectations of it, and their appraisals of CL application
to teaching and research.
At the beginning of the first event, participants were invited to
complete the questionnaire anonymously. From an ethical perspective,
our decision to ask participants to answer the questionnaire in the first
face-to-face event could be challenged. While this is not unusual (e.g.
FRANKENBERG-GARCIA, 2015; GAN; LOW; YAAKUB, 1996), we
thoroughly considered whether the questionnaire should be answered
online before the event or in person at the first event. We opted for the
latter option because of two main reasons. Firstly, our target participants
were primarily academics and/or professionals, who would probably
struggle to find the time to answer the questionnaire before the event.
Secondly, we felt it was essential for us to get to know the participants
and to introduce the project to them in person before making any requests.
We were, however, aware that our request to answer the
questionnaire in the first face-to-face session could be seen as a potential
imposition by our participants, which would limit their perceived scope
for declining to do so. This potential imposition is lower than in previous
studies involving students where the researcher is also the teacher in
charge of assessing the student participants (e.g. FRANKENBERG-
GARCIA, 2015). Our relationship with the participants did not take place
in any formal educational context where they would be evaluated for a
credit-bearing module, for example. This was an optional CPD project
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1497

for which the participants had decided to register and to which they had
already been accepted.
We followed four main steps in order to reassure participants
of their freedom to decide whether or not to answer the questionnaire.

1. We explained to them the voluntary nature of their participation,


and they had an opportunity to ask any questions before the
questionnaire was distributed. They could naturally ask further
questions at any point in time as well.
2. Participants completed the questionnaires anonymously. While
we asked for some background information, it does not allow us
to identify them – nor is it important to our research either.
3. Both researchers kept a physical distance from the participants
during questionnaire completion so that they did not feel coerced
to complete it. We would only approach specific participants if
they called us to clarify any questions that they had.
4. The questionnaires were returned anonymously: we asked the
participants to put their questionnaires in a manila envelope,
which was placed at the back of the room. The envelope was only
opened at the end of the first day after the participants had already
left the venue. As no other writing sample was collected from
participants throughout the CPD project, they were reassured that
their identities were never disclosed to us. This procedure means
that, once the participants returned their questionnaire, they could
not withdraw from the research anymore. However, we felt that
this was a fair compromise to ensure their anonymity, which we
believed to be of higher importance in this research.

Following the completion of the paper questionnaires, participants’


responses were digitized verbatim so that we could investigate the data
electronically independently. The data collected through closed questions
were analyzed quantitatively while the participants’ answers to open-
ended questions were analyzed qualitatively and quantitatively. Our
approach to open-ended answers meant that they were initially studied
in a bottom-up manner to identify themes, which were then quantified
based on the number of occurrences.
Both of us were involved in the analysis. The first author analyzed
all the data independently initially. He then shared the results with the
1498 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

second author, who compared the results with her original analyses. She
checked the quantitative results for accuracy and the qualitative results
for thoroughness. There were only minor discrepancies in the qualitative
analyses, which were resolved by discussing each of the relevant cases.
Before the results are presented in Section 6, the following section will
detail the participant sample in the present study.

5 Participants
A total of 36 registered participants were expected to attend
the face-to-face events. Out of this total, three had expressed their
impossibility in attending the first event, three were speakers who had to
either arrive late or leave early, and two were the CPD project organizers,
who are also the authors of this paper. This resulted in a pool of 28
potential participants, all of whom agreed to contribute to the study and
answer the questionnaire. While the sample may be considered small,
we worked within a non-interventionist research paradigm with the
participants of a specific, real-life educational CPD project. As reviewed
in Section 2, other pedagogical studies have researched a similar or even
smaller number of participants. For example, Farr (2008) examined a
sample of 25 MA student teachers in her questionnaire-based evaluation
on participants’ perception of corpus-assisted courses; Frankenberg-
Garcia’s (2015) study drew on the data provided by 13 Master’s students
in Translation at a UK university; Zareva (2016) analyzed 21 trainee
teachers’ responses to a questionnaire aimed at evaluating a corpus-based
course design.
Our study had a 100% return rate, which is high for non-course/
degree-based questionnaire studies. In Römer’s (2009) research with
in-service teachers, for instance, 78 out of 120 questionnaires were
completed and returned. However, the difference in the overall population
sample must be acknowledged. Our decision to request participants to
complete the questionnaire in the first face-to-face event after we had
initially established rapport with the participants (cf. Section 4) may have
contributed to this high return rate.

5.1 Personal characteristics


Our participant sample is varied. We had a total of 16 female
participants and 12 male ones, which is a somewhat even split. This differs
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1499

from many previous studies in which females considerably outnumber


males (cf. 16 female vs. 5 male student teachers in ZAREVA, 2016) or the
distribution of sex is not disclosed (cf. CHEN et al., 2019; HEATHER;
HELT, 2012; LEŃKO-SZYMAŃSKA, 2014).
Participants’ ages vary from 23 to 55 with the mean being 41 years
old. The age in our sample is older than in previous studies: participants’
mean age in Zareva (2016) is 35.4 years old, and the participants’ ages
in Vásquez and Reppen (2007) range from the mid-20s to mid-30s. This
difference is not surprising given the CPD project (cf. Section 3) and the
primary occupation of the target participants (see Section 5.3).

5.2 Countries of residence/origin and language knowledge


Participants were asked about their countries of residence and
origin. The answer to the former question indicates that most of them
(N=26) lived in the UK (i.e. two participants decided not to answer
this question) at the time of data collection. This is understandable and
unsurprising given that the project entailed three face-to-face events in
this country in one calendar year (i.e. June, September and December).
This set-up would make it difficult for overseas participants to join the
on-site events. In relation to participants’ home countries, while we
observe that most respondents are from the UK (N=20), there is more
diversity with two participants from China and one participant from each
of the following countries: Canada, France, Germany, India, Malaysia
and Russia.
The range of nationalities described above helps to explain
participants’ language knowledge. English is the first language of most
participants (N=15). Participants also reported having German (N=2),
Latin (N=1), and Mandarin (N=2) as their first language. Altogether,
nine participants decided not to answer this question.1 English language
command was not an issue: most participants (N=22) self-assessed
themselves as proficient in the Common European Framework of
Reference for Languages (CEFR), that is, either at C1 or C2 level. Only
four participants declared to be at independent user levels (B1 and B2),
and two decided not to answer this question. In terms of other languages,
participants indicated that they knew 16 other languages to varying
1
The total of 29 first languages is due to one participant’s reporting to speak both
German and Latin as first languages.
1500 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

degrees of proficiency. The most recurrent additional languages were


French (N=11), German (N=7), Japanese (N=3) and Russian (N=3). There
were also mentions to Danish, Dutch, Hindi, Italian, Malay, Mandarin,
Spanish, Telugu, Thai and Turkish to cite some examples.

5.3 Educational and professional background


Our project targeted a specific group of academics/professionals.
All of the participants held at least a first degree and either had or were
working towards higher degrees. One participant had a Diploma, 17 were
educated to Master’s level or were reading for one, and 10 were doctoral
degree holders or were taking such a course. Most of these participants
were affiliated with a higher education institution (N=27), encompassing
both universities (in most cases) and colleges. Considerably smaller
numbers worked at other educational institutions – e.g. schools and local
authorities (N=4), and publishers (N=2).2
With regard to their occupation, most participants were based
in an educational environment: language teachers (N=13), university
lecturers (N=10), students (N=9). There were two other professions
represented in the sample (i.e. a publisher and a corpus developer), and
one participant decided not to answer this question.
The educational and professional profile outlined above coheres
with our participants’ ages. As their average age is 41 years old and
as most participants are in their 40s and 50s (N=17), they have higher
educational degrees (i.e. at postgraduate level) and have considerable
work experience in their respective fields. The profile is also aligned
with the target participant group for the CPD project, namely, academics
and/or professionals.

5.4 Distinctive features of our population sample


Our participant sample stands out from the samples in previous
studies due to our focus on a CPD project. Our participants held or were
pursuing higher degrees – generally Master’s or a doctorate. While there
are studies with participants at postgraduate levels, they are generally with

2
The total in this case is higher than the overall number of participants (N=28) because
some of them declared more than one affiliation. The same is the case for the participants’
reported occupations.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1501

student cohorts (e.g. FARR, 2008; FRANKENBERG-GARCIA, 2015;


KRÜGER, 2012), who learn about CL as part of their degrees – either
on a compulsory or on a voluntary basis. Our CPD project differed from
these courses in that it did not lead nor contribute to any educational
degree. Participants’ decision to register for this project was probably
not because they may have felt it was compulsory to do so nor because
they would be awarded a certificate at the end of it (see also CHEN
et al., 2019). Instead, as this was a voluntary CPD project, they were
potentially intrinsically motivated to do so. After all, they had to make
several commitments in relation to, for example, time (e.g. travelling to
the venue and attending the three full-day events) and money (e.g. paying
for their travel expenses).
In relation to their occupation, most participants worked in
educational environments – be they language teachers or university
lecturers. While nearly one-third of our participants were students (N=9),
only five of them were exclusively students. The other four were either
students who worked as teachers (N=3) or a student who was a lecturer
(N=1). There have been studies conducted with language teachers,
especially schoolteachers (cf. MUKHERJEE, 2004; RÖMER, 2009;
TSUI, 2005). However, there seems to be a research gap concerning
university lecturers – a notable exception is Chen et al.’s (2019) study.
Another stark difference between our study and the available
literature has to do with our participants’ most recent teaching experience.
Understandably, most of them either teach English language (N=15) or
work with English language teacher education (N=5). While participants
similar to both groups have already been investigated in other educational
and national contexts (e.g. CHEN et al., 2019; FARR, 2008; LEŃKO-
SZYMAŃSKA, 2014; RÖMER, 2009; TSUI, 2005), we have a more
comprehensive range of disciplines being represented in our sample,
which includes Applied Linguistics, Dementia, Education, History,
Japanese, Russian and Sociology. One participant represented each
of these disciplines except for Sociology, which was taught by two
participants. The thinly spread disciplinary representation in this study
does not allow us to make any specific points about them individually.
However, the participant sample as a whole helps us to advance our current
knowledge and understanding of the appeal of CL beyond the exclusively
language-related disciplines, and it opens up an exciting new area of
exploration in order to help us deepen the impact of CL across disciplines.
1502 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

6 Results
The results of our study are presented and discussed in the
following subsections. These subsections focus on four topics: (i)
participants’ background knowledge of CL before the start of the CPD
project, (ii) their motivation to join this CPD project, (iii) their pre-project
appraisal of the actual or potential application of CL to their teaching,
and (iv) the same appraisal in relation to their research practice.

6.1 Previous education on CL


The publicity materials for the CPD project clearly stated that
no prior knowledge of CL would be assumed or required from the
participants. Instead, everyone with a keen interest in learning about
corpus applications to education was welcomed and encouraged to apply.
We were interested in finding out whether the call had a circular effect
by appealing just to those who already had some knowledge of CL or
whether it had been successful in drawing the attention of colleagues
who had no or little knowledge of this field.
The findings reveal almost a split in participants’ educational
background on CL: 15 had studied it while 13 had never done so.
Nearly half of the respondents who had previously studied CL (N=7)
indicated that they had undertaken a CL module as part of their Master’s
in TESOL (N=5), Applied Linguistics (N=1) and Linguistics (N=1).
Two participants developed their CL knowledge during their PhD since
they employed corpus methods in their thesis research. Apart from one
participant who learned about CL in his/her Diploma course, all the
remaining eight indicated that they learned about CL through routes
which did not lead to the award of a formal degree. These routes include a
massive open online course, a workshop, and the informal and voluntary
auditing of CL modules.
The 13 participants who indicated having had no prior study of
CL before the CPD project were asked to explain why this was the case.
Five participants referred to their lack of opportunities to do so.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1503

1. “I have not had the opportunity up until now”3 [F; 23; S; PhD
(Social Policy)]4
2. “I’ve got limited chance to learn.” [F; 27; S; Master’s (TESOL)]

As these two examples show, this lack of CL learning


opportunities is not confined to non-language-related areas such as
Social Policy (cf. Example 1) and History, but it is also observable in the
previous experience of participants who specialize in areas like TESOL
(cf. Example 2) and Translation (see ASTON, 2009 on the major barriers
of CL among translators). Another explanation for the lack of formal
CL education was participants’ lack of interest in it. This explanation
was given only by participants with a language-oriented educational
background (i.e. Linguistics and TESOL): they acknowledged that they
could have learned about CL during their formal studies, but they decided
not to pursue this option. The other reasons mentioned by individual
respondents referred to CL being claimed to be underdeveloped in a
participant’s field of research (i.e. English for Academic Purposes), a
Social Work Lecturer’s lack of CL awareness and long-standing focus
on qualitative methods, and a participant’s existing working knowledge
on the use of corpora.
All of these responses provide useful pointers to help us pave
the way for the future educational CL expansion. It seems vital for us
to provide students with the opportunity to learn about CL as part of
their degrees and/or in CPD projects like the one reported here. The
introduction of CL in formal and informal educational programs is
not a new recommendation: Renouf, back in 1997, argued in favor of
introducing CL to postgraduate students of applied linguistics in the UK;
Römer (2009) further recommended universities to reach out to teachers
on problems and needs directly related to teaching through lectures and
workshops. However, these recommendations do seem to have been
3
Participants’ responses have not been edited, and they are here reproduced verbatim.
4
The code adopted in this study consists of four parts: the first letter indicates sex
(F=female, M=male); the following numbers reveal participants’ ages; the subsequent
letter(s) stand for participants’ occupations (D=Developer, L=Lecturer, P=Publisher,
S=Student, T=Teacher, ?=no answer); and the final part indicates participants’ highest
degree (either completed or in progress) and its corresponding field. Therefore, “F; 23;
S; PhD (Social Policy)” refers to a 23-year-old female student participant who either
holds or is studying towards a PhD in Social Policy.
1504 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

fully implemented. If, for the sake of illustration, we focus on TESOL


Master’s in the UK (cf. PAPAGEORGIOU et al., 2017), only 35 out of
141 programs offer CL as a standalone module. These 35 programs are
found in 17 universities (15 in England and 2 in Scotland), and the CL
modules are nearly all optional with only two exceptions (VIANA, 2017).
The provision of CL modules in the UK has indeed increased over the
years, and this can be seen in the findings from the present study where
most participants who already knew about CL had taken a specific module
in their Master’s. However, there is still scope for further improvement.
Not only should students be provided with opportunities to learn
CL, their awareness and interest in it should also be raised. If we return
our attention to TESOL Master’s in the UK (cf. COPLAND et al., 2017),
we will see that the finding reported here is not a one-off occurrence.
TESOL Master’s students were asked to appraise 15 modules on a 6-point
Likert scale, ranging from ‘not at all important’ to ‘extremely important’.
The results show that CL had a mean of 4.58 with a standard deviation of
1.11 (VIANA, 2017). While this seems a somewhat encouraging result
since it is above the 3.5 threshold, the mean for CL is the second last
when all the 15 modules are considered (VIANA, 2017).5
The provision of more CL opportunities and the increase in
their uptake are two related action points. The former is perhaps easier
to achieve since it depends primarily on teaching staff to change the
curriculum. The latter, however, will take more time because it will
possibly require an attitudinal change among future generations.

6.2 Motivational drivers for CPD project participation


In order to help foster engagement with future CPD projects on
CL, we must understand the participants’ motivational drivers. Table 1
indicates participants’ reasons for registering for the focal CPD project.

5
The module perceived as least important by the participants in Copland et al.’s (2017)
study is Translation with a mean of 3.83 and a standard deviation of 1.57.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1505

TABLE 1 – Participants’ reasons for registering for the CPD project on CL

Category Frequency Example


3. “With a background in corpus use for a very special
Application of purpose (machine translation & lexicography), I
16
CL wanted to learn how corpora can be used for language
teaching.” [F; 26; D; Master’s (Artificial intelligence)]
4. “Learn new research methods in stylometrics using
Research
11 burrows delta and nearest neighbour drivers” [M; 54;
development
L; PhD (History)]
5. “To get a better understanding of the software use in
Knowledge of
9 analysing corpora | To get a handle on statistics” [F; 49;
CL
S&T; EdD (Education)]
6. “I already had an interest but hadn’t studied/read
much so this project seemed to be something that
Personal interest 6
could develop my interest and help me use corpora
practically.” [F; 55; T&L; Master’s (Chinese)]
Financial 7. “To Save money!” [F; 54; L; PhD (Educational
1
reasons Linguistics)]

Participants were primarily drawn to this CPD project as a way


of developing their knowledge and understanding of CL applications.
Most of the answers refer to educational applications of CL, which is
understandable given that this was the main project focus. Although this
motivation was observed in previous research (e.g. HEATHER; HELT,
2012; ZAREVA, 2016), participants’ educational application needs
were varied in this study. In Example 3, the participant’s focus lies on
the application of her previous knowledge as a corpus developer to the
creation of outputs of relevance to language teachers. The applications
were not exclusively related to education: there was also a reference to
the application of the knowledge acquired in the UK to one participant’s
home country, for example.
Participants’ wish to develop as researchers was the second
most frequent reason. This finding should be interpreted alongside the
unique population sample for this study (cf. Section 5): several of the
participants were experienced professionals who had been working for
a considerable number of years and/or who held academic positions.
While research-related motivations can be found in the literature (e.g.
ZAREVA, 2016), the studies are generally confined to language-related
disciplines. Here, we notice that, in addition to the language-related
1506 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

connections, our interdisciplinary participant sample establishes links


to other fields. These areas include the investigation of authorship of
historical materials (cf. Example 4) and reports in Accounting. There
is an ample area for future exploration of CL: not only do we need to
sediment the relationship between CL and language-related areas such as
language teaching and translation, but we also need to capitalize on the
impact that corpus studies may have outside our field of research. While
we cannot claim how widespread the interest in CL across disciplines is
or predict if this interest will eventually translate into real applications,
our findings suggest that some colleagues from other areas are already
(at least initially) willing to learn about CL. This means that they would
not need to be convinced to do so and that they are open to this learning,
which is an inspiring starting point.
Learning about CL was identified as a motivational driver by
nearly one-third of the participants. In Example 5, the participant specifies
CL-related matters such as statistical knowledge. This is not always the
case, however. Sometimes participants provide a rather general indication
of what they would like to learn by just referring to CL as a whole.
As expected, participants’ intrinsic motivation played an essential
role in their decision to register for the event (see also HEATHER;
HELT, 2012; LEŃKO-SZYMAŃSKA, 2014). Example 6 indicates the
mutual, two-way relationship between the participant’s interest and her
project participation. At the same time that the project was a way for
this participant to undertake an activity that she was already willing to
engage in, her participation also helped to foster her interest in the field.
A final reason mentioned by a single participant had to do
with finances. There is not much contextual information to help the
interpretation of this reason, but it could be assumed that this was
possibly an allusion to the free-of-charge nature of the CPD project to
the participants since the British Academy had fully sponsored it.
To further our understanding of the motivational drivers,
participants were asked to indicate their three main expectations for
the CPD project. This allowed us to check the extent to which their
expectations matched their reasons for joining the project and whether
any other relevant aspect had not been captured in the previously reported
open-ended question. Their expectations were thematically analyzed,
and the final categories are presented in Table 2.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1507

TABLE 2 – Participants’ expectations for the CPD project on CL

Category Frequency Example


Knowledge 8. “understanding technical aspects of building corpora”
31
enhancement [F; 55; L; PhD (Linguistics)]
9. “to develop a better understanding of how learners can use
Application
21 corpora to improve their own linguistic competencies”
of CL
[M; 35; T; Master’s (International Relations)]
10. “develop ideas in how can incorporate corpus linguistics
Research
16 into an application for a research project” [F; 43; L; PhD
development
(Social Work)]
11. “opportunity to meet new contacts” [F; 46; P; Master’s
Networking 6
(Languages)]
Practical skills 12. “Learn hands-on skills” [F; 54; L; PhD (Educational
6
improvement Linguistics)]
Motivation 13. “enthuse me into world of corpora which I find quite dry
2
increment just now” [F; 42; T; Master’s (Applied Linguistics)]
CV 1 14. “CV building” [M; 25; ?; Master’s (History)]

Participants’ top three expectations were coherent with their


reasons for having registered for the project – the only difference is the
order in which they appear. ‘Knowledge enhancement’ features as the
most frequent expectation while ‘knowledge of CL’ appeared as the third
most frequent reason in Table 1. The former is wider encompassing than
the latter; however, most of the expectations included in this category
(N=24) referred to CL in general or specific CL matters like corpus
compilation (cf. Example 8). The few remaining expectations included
in this category (N=7) dealt with learning about quantitative methods
and/or language use.
‘Application of CL’ and ‘research development’ were both main
reasons to participate in the project and top expectations for it (cf. TableS
1 and 2). Most participants’ answers grouped in ‘application of CL’ refer
to Education (cf. Example 9), which was the focus of the CPD project.
Although research development has not been identified as a motivational
driver in previous studies (see Section 2), it is one of the major driving
forces to attend this project. Another interesting point is that, in our study,
research development is not restricted to the usual language-oriented
knowledge areas: it also concerns the other knowledge areas represented
in the study as indicated in Example 10 from a Lecturer in Social Work.
1508 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

The category of ‘motivation increment’ in Table 2 could be linked


to ‘personal interest’ in Table 1. Despite the difference in their foci,
‘motivation increment’ encompassed examples where the participants
indicated that the project could help to increase their interest in CL.
Participants’ reduced motivation level is more explicitly conveyed in
the ‘motivation increment’ category as is evident in Example 13: the
teacher participant expresses her lack of excitement with corpus work.
The list in Table 2 contains three new expectations that had not
been mentioned in the previous analysis. The need to be in contact with
like-minded CL researchers and practitioners was a top expectation
to six participants. It is important to note that this expectation came
from participants primarily in language-related fields (i.e. Educational
Linguistics, Languages, Linguistics, TESOL) where there are notably
more corpus experts and where it is easier to establish such networks. A
few initiatives on this front can be seen in different parts in the UK such
as ‘Corpus Linguistics in the South’ and ‘Corpus Linguistics in Scotland’.
The category of ‘practical skills improvement’ is linked to the
hands-on nature of CL. This can be interpreted in relation to Fligelstone’s
(1993, p. 98) well-known taxonomy of corpus-related activities: “teaching
about”, “teaching to exploit” and “exploiting to teach”. Participants have
shown their willingness to develop their knowledge and understanding
of these three categories. They want primarily to be taught about CL
(cf. ‘knowledge enhancement’) and to acquire or sharpen their skills in
relation to exploiting to teach (cf. ‘application of CL’). Some of them
expect the workshop to teach them to exploit corpora (cf. ‘practical skills
improvement’).
Finding the right balance among these three categories must
be considered in the planning of pedagogical projects on CL. The data
do not show any difference between those who had previously studied
CL and those who had not had that experience. This means that the two
groups want to learn about CL in the first place and they are also similarly
interested in its applications. Learning how to do corpus analysis seems
less of a priority for both groups. This may be because they need to
understand whether acquiring these skills is a worthwhile investment
of their time in the first place. An alternative explanation might be the
participants’ belief that they can develop their practical skills at a later
stage perhaps in a more independent way. The results indicate that, for
the type of target participants that we had envisaged (see Section 5),
general aspects of CL should be prioritized over corpus practicalities.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1509

The last new category observed in the project expectations


relates to a concern with CV building, which was mentioned by a
single participant. While pragmatic reasons such as this one are found
in research projects examining student perspectives on their education
(e.g. COPLAND et al., 2017), this was not relevant in this study. We
believe that this is probably because of the population sample consisting
primarily of academics/professionals working in the UK and of the non-
credit-bearing aspect of the CPD project.
The findings indicate a roadmap for future pedagogical
CPD projects to upskill academics’/professionals’ knowledge and
understanding of CL. A focus on both the core theoretical and research
content as well as on CL applications seems to be necessary to meet
participants’ interest and to fulfill their expectations. This way, the CPD
projects will act in a two-way relationship: appealing to participants’
interest and raising their motivation. Although they do not seem to be
essential, providing ways to develop participants’ practical skills and
networks should be given some consideration as well.

6.3 Appraisal of corpus applications to teaching


Participants were asked to identify the advantages and barriers
of applying CL to their teaching practice. In both cases, approximately
one-third of the participants (N=8 for the question on advantages and N=9
for the one on barriers) decided not to answer these questions, and they
have not been included in the results reported in this section. The blank
responses could be interpreted in several ways: the questions were open-
ended for which response rates are usually lower than closed questions;
participants were provided with the most generous space for their answers
in this part of the questionnaire, thus suggesting that these answers would
potentially be the longest ones; and/or the participants might be less
motivated to complete this question since it was the penultimate one in
the research instrument. In addition to these blank responses, there were
a couple where the participants declared not to be applicable to them.
For instance, one of the participants was a corpus developer and did not
have any teaching experience. These answers were not included in the
final analysis either.
Table 3 summarizes the categories created after a bottom-up
analysis of the empirical data.
1510 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

TABLE 3 – Advantages of applying CL to teaching practice

Category Frequency Example


Language use 7 15. “get students to be exposed to the real language”
[M; 29; S; Master’s (TESOL)]
Pedagogical 7 16. “I have done some level of autonomy over ‘how’ I
improvement structure my teaching, and CL is going to make me a
better practitioner” [M; 45; T; Master’s (TESOL)]
Student autonomy 4 17. “students can use their own language as the basis for
corpus searches” [M; 35; T; Master’s (International
Relations)]
Big data 1 18. “A way of analysing large amount of data” [F; 54; L;
PhD (Educational Linguistics)]

The advantages can be related to either corpus or educational


matters. Answers included in ‘language use’ or ‘big data’ reiterate points
that are usually associated with corpus work. This is especially the case
in relation to the first category, which is one of the main advantages of
corpus investigations (e.g. SINCLAIR, 1991; TOGNINI-BONELLI,
2001). The association of CL with the investigation of large textual
datasets is not uncommon (e.g. BOWKER; PEARSON, 2002; CONRAD,
2002), but corpus work is not restricted to them. The exploration of small,
specialized corpora is also relevant in CL (e.g. FLOWERDEW, 2004;
GHADESSY; HENRY; ROSEBERRY, 2001).
The two remaining categories establish a link between CL and
Education. Participants believe that the exploration of corpora in their
pedagogical practice will contribute to their professional development (cf.
Example 16), their materials design skills, their skills in increasing student
motivation, and their enhanced language explanations, to cite just some
examples. Those advantages are observed in CL-informed classrooms
such as the ones investigated by Heather and Helt (2012), Leńko-
Szymańska (2014) and Zareva (2016). Participants also foresee a link
between corpus work and student autonomy, a point that is recurrent in
the literature (e.g. ASTON, 2011; CHARLES, 2014; GAVIOLI, 2009). As
Example 17 indicates, the reference to student autonomy development is
not restricted to those from a language-oriented educational background;
it also made by participants with degrees in other fields.
Our analysis of the barriers of applying CL to teaching practice
reveals that the most frequent issue faced by the participants is their lack
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1511

of relevant knowledge. This may relate to research (cf. Example 19),


CL, IT skills and/or hands-on practice (see HEATHER; HELT, 2012;
ZAREVA, 2016 for similar difficulties). This barrier is coherent with
participants’ reasons for enrolling in the project and their expectations
of it: knowledge, research and practical skills development featured as
important factors (cf. Section 6.2).
TABLE 4 – Barriers of applying CL to teaching practice

Category Frequency Example


19. “Knowledge of the research process. I’m
Lack of knowledge 6 also a luddite so not very [unclear word] with
computers.” [M; 39; S&T; Master’s (TESOL)]
20. “too much resources to select and summarise” [F;
Resources 4
27; S; Master’s (TESOL)]
21. “needing to spend a lot of time explaining what
corpus linguistics is to my students before being
Time 4
able to use it in my teaching” [F; 55; L; PhD
(Linguistics)]
22. “Can students understand this or will they
Student-related issues 3 be interested?” [F; 42; T; Master’s (Applied
Linguistics)]
23. “I am the only person in my workplace who
Lack of support from engages with CL, and the general attitude is one
2
colleagues of skepticism toward it” [M; 45; T; Master’s
(TESOL)]
Teaching-related 24. “the staging of the lesson plan should be carefully
2
challenges prepared” [M; 29; S; Master’s (TESOL)]

Two other barriers – ‘student-related issues’ and ‘teaching-related


challenges’ – could be linked to participants’ motivational drivers for
participating in the project. As discussed in Section 6.2, learning about the
corpus application (especially to education) was among the top factors.
Interestingly, one participant questions students’ ability to understand
CL or to be interested in it (cf. Example 22). While it might be more
challenging to address the question about students’ interest, there is plenty
of evidence in the literature that students are able to profit from data-
driven learning (e.g. BOULTON, 2012; CHARLES, 2014; TODD, 2001).
Participants’ reported lack of support from colleagues could
perhaps explain their expectation to capitalize on their project participation
1512 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

for networking purposes (see Section 6.2). In this sense, professionals


differ from students, who reportedly receive sufficient support from their
instructors (see ZAREVA, 2016). Professionals need to make the best
use of the opportunity presented at such CL CPD projects to reach out
to speakers and other participants for mutual support and development
if they cannot find the support they need at their respective workplaces.
Two of the barriers are of a more practical nature: ‘resources’ and
‘time’. The former category includes comments about computer access
and burdensome programs. It also encompasses a comment on the large
availability of resources (cf. Example 20), which is seen negatively
because it requires one to select the most appropriate resource. A similar
problem is evident in Frankenberg-Garcia (2015): student translators
express difficulties in choosing the right corpora or the most effective
query tools. Our research participants also mention the lack of time as a
deterrent of corpus use in their teaching practice. This issue is approached
from a range of angles: remarks are made in relation to the time required
to prepare a corpus-based lesson and to explain some of the CL basics
to students. In Example 21, the participant refers to the learning time
required before reaping any positive outcomes (see also ASTON, 2009;
WILKINSON, 2006).
When Tables 3 and 4 are compared, we notice that there is a
similar overall number of advantages and barriers: 19 vs. 21, respectively.
These come from the same number of participants. All the participants
who identified at least one advantage also listed one barrier. The only
exceptions lie with Participant F; 55; T&L; Master’s (Chinese), who only
focused on the positive side; and with Participant M; 39; S&T; Master’s
(TESOL), who did the opposite and commented on the challenges of
integrating CL to his teaching practice.

6.4 Appraisal of corpus applications to research


Given the project’s two foci on corpus applications to teaching and
research, participants were additionally asked to identify the advantages
and barriers of applying CL to their research practice. Zareva’s (2016)
study reveals an optimistic level of research enthusiasm (M=3.7 on a
five-point Likert scale) among graduate students of TESOL in learning
how to do corpus research. However, there seems to be a dearth of studies
investigating how academics and/or professionals evaluate the use of CL
in their research. The results reported in this section address this gap.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1513

Similar to the procedure described in Section 6.3, the instances


where the participants decided not to answer these questions and/or they
felt they were unable to answer them were discarded. There were slightly
fewer instances of non-completion in this case (N=7 for advantages and
N=7 for barriers) when compared to the question on participants’ teaching
practice (N=8 for advantages and N=9 for barriers). Some participants
indicated that this would not apply to their circumstances, and these
answers were not included in the results either.
Table 5 summarizes the advantages that participants see in their
adoption of a corpus approach to their research practice. Two of the
categories are the same from Table 3: ‘language use’ and ‘big data’.
These reasons have been mentioned by different participants with a single
exception. Participant M; 29; S; Master’s (TESOL) referred to ‘language
use’ twice in his answers. However, his answers are clearly distinct.
Pedagogically, he commented on the introduction to students to real-life
language use; research-wise, he singled out the role of corpora in discourse-
related research and investigations of language use in different contexts.
TABLE 5 – Advantages of applying CL to research practice

Category Frequency Example


Methodological 25. “Learning to apply new research methods” [M; 54;
12
approach L; PhD (History)]
26. “Corpus analysis can help with research of
Language use 3 terminologies, collocations.” [F; 45; S; Master’s
(Translation)]
27. “I think it could be a useful method to offer new/
Interdisciplinarity 2 future insights into accounting research” [M; 25; S;
Master’s (Research)]
28. “Analysis of a lot of data with relative ease” [M; 27;
Big data 1
S&T; PhD (Linguistics)]
29. “I am working with a corpus expert on a research.”
Collaborative work 1
[F; 42; L; PhD (Linguistics)]
30. “None as yet” [M; 35; T; Master’s (International
None 1
Relations)]

The most frequently mentioned advantage relates to the


methodological affordances provided by corpus work. There is a
long-standing debate in the field whether CL is a science or a method
1514 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

(see VIANA; ZYNGIER; BARNBROOK, 2011). It seems that the


methodological advantages of CL correspond to its biggest advantage
for the participants. For example, they commented on corpus techniques,
the complementary/supplementary role that CL may play to qualitative
research, and the new perspectives that corpus analysis may open up
(see Example 25). We could potentially interpret this result in light of
our participants’ educational background. Because only five of them
have their highest degree in Linguistics (here conceived in a strict
way to include ‘Linguistics’, ‘Languages’ and ‘Chinese’), most of the
participants may be primarily more interested in the practical application
of CL, thus seeing it as a way of assisting them in their research practice.
Other advantages included ‘interdisciplinarity’ and ‘collaborative
work’. The former highlights once more the nature of our participant
sample: the project was successful in gathering colleagues from other
non-language-related fields, who were interested in learning and applying
CL to their research practice (see, for instance, Example 27 about
Accounting). The category of ‘collaborative work’ reinforces points that
had been made earlier in this paper: participants value opportunities to
network (cf. Section 6.2) and they resent lack of support from teaching
colleagues (cf. Section 6.3).
Finally, one participant claimed that CL had no advantages
to his research practice. His concise reply does not allow for further
discussion of his answer. However, because he gave the same answer
as to the barriers (see Table 6) and because he provided full answers
to the section on teaching practice, he may have meant that he was not
able to answer this question due to, for instance, lack of CL research
knowledge and/or lack of research experience. Alternatively, he may
have meant that this question did not apply to his circumstances since
he was working as a teacher at the time.
In relation to the participants’ identified barriers as to the use of
CL in their research, Table 6 reveals that there is some similarity to the
pedagogical barriers (cf. Table 4). Three of the categories are the same:
‘lack of knowledge’, ‘time’ and ‘resources’ are equally impeditive to
their undertaking of corpus research. Because of the physical proximity
of these questions in the questionnaire, we checked whether participants
had potentially given the same answers. This occurred in a limited number
of cases: only five answers from four participants were equal, suggesting
that they did not see any difference in the barriers they faced with the
integration of CL in teaching or research.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1515

The category entitled ‘none’ had also appeared in relation to


the advantages (see Table 5). One case relates to Participant M; 35;
T; Master’s (International Relations) and has been discussed earlier in
this section. The other instance is from Participant M; 48; T; Master’s
(TESOL), who has identified advantages and barriers in all the other
three cases. This seems to suggest that he holds a positive perspective
as to the use of corpus in his research practice.
TABLE 6 – Barriers of applying CL to research practice

Category Frequency Example


31. “Unfamiliarity with verification procedures
Lack of knowledge 10 of research results” [M; 54; L; PhD
(History)]
32. “time consuming” [F; 42; T; Master’s
Time 4
(Applied Linguistics)]
33. “I think copyright can be an issue, with
Copyright 2 some document that I can use for corpus
analysis” [F; 45; S; Master’s (Translation)]
34. “I’m also quite impatient- a bit problem
Lack of patience 2 perhaps for CL” [M; 39; S&T; Master’s
(TESOL)]
35.
“None as yet” [M; 35; T; Master’s
None 2
(International Relations)]
Resources 2 36. “Computers!” [F; 45; S&L; PhD (Education)]
37. “avoid researcher bias” [M; 29; S; Master’s
Avoidance of bias 1
(TESOL)]

Table 6 contains three new categories. Two participants mention


‘Copyright’ as a hurdle that they may have to overcome in order to gain
access to the texts for corpus analysis. This issue has been discussed in
the literature, especially in relation to corpus compilation (e.g. BOWKER;
PEARSON, 2002; MCENERY; XIAO; TONO, 2006; WYNNE,
2004). Example 33 comes from a student participant in Translation
where copyright makes it extremely difficult or virtually impossible to
investigate different translated versions of the same recent literary work
of art, for example.
1516 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

Interestingly enough, two participants identified their lack of


patience to conduct corpus research as a barrier. Their answers to this
specific question (see Example 34) do not provide much information
for us to understand why their impatience would be an issue. A close
investigation of their answers to the questionnaire indicate that they have
a similar profile: both are from the UK, hold a Master’s in TESOL and
worked as language teachers at the time. They were not CL beginners:
these two participants had studied CL in their Master’s before their CPD
project participation. In their responses to the barriers about teaching,
both alluded to computer skill issues (see Example 19), a result that is
supported by the self-evaluation of their familiarity with computer use
(i.e. ‘slightly familiar’ for one participant and ‘moderately familiar’
for the other). It could be hypothesized that their unfamiliarity with
technology might be a key factor leading to their impatience when using
computer tools to undertake corpus research.
The other new category in Table 6 is ‘avoidance of bias’, which
was mentioned by a single participant (cf. Example 37). The lack of any
additional information in the questionnaire makes it difficult to make
sense out of the participant’s answer. It might have been the case that he
wanted to include it in the box on the advantages and misplaced it in the
barriers box. This misunderstanding would be coherent with the literature
in that a corpus approach may reduce researcher bias (e.g. BAKER, 2006).
A comparative analysis of Tables 5 and 6 reveals that, while
slightly more barriers than advantages have been identified, the difference
is small to support any conclusions. Similar to what was observed in
relation to teaching, the same number of participants identified advantages
and barriers, meaning that the positive and negative aspects were equally
dispersed.

7 Conclusion
This original study examined the perspectives of participants
from different disciplinary backgrounds on a CL CPD project. It therefore
addressed two research gaps in the educational application of CL: it
researched the experience of participants from several disciplines (rather
than only those from language studies) and investigated an underexplored
educational context – a non-degree-awarding CPD one.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1517

Methodologically, the study drew on a project funded by the


British Academy that aimed to introduce academics and/or professionals
to corpus research and applications. We administered a questionnaire to
the 28 CPD project participants at the first face-to-face event, all of whom
voluntarily decided to participate in this study. The rigorous analysis was
conducted by integrating qualitative and quantitative approaches with
both researchers carefully and thoroughly checking the analysis that had
been undertaken by each other.
The findings revealed that the successful nature of the focal CPD
project in drawing the attention of two types of participants: those who
had never studied CL before, the main target participant group, and those
who had already studied it previously. In this sense, the CPD project
was successful in that it did not only appeal to those somehow versed
in CL. Instead, complete novices in CL were reached, including those
from non-language-related educational backgrounds.
Among the participants who had previously studied CL, half of
them learned about it formally (primarily through Master’s modules), and
the other half developed their learning through routes that did not lead to
the award of a degree. The former reinforces the relevance of including
CL in the curriculum while the latter highlights the importance of informal
learning initiatives such as CPD projects in making CL knowledge
accessible to a larger number of (current/future) academics/professionals.
As the participants indicated that lack of opportunities was one of the top
barriers for their prior study of CL, more formal and informal CL learning
opportunities should be provided in the years to come.
Increasing CL learning provision does not seem to suffice,
though. As some participants pointed out, they had had the chance to
learn about CL before this CPD project, but they lacked the interest to
engage in it. We should therefore foster academics’/professionals’ interest
in these learning opportunities. The need to work on this personal aspect
is reinforced by participants’ indication that one of the drivers for their
registration in this CPD project was to increase their motivations to
undertake corpus analysis.
Participants’ expectations of this CL CPD project foregrounded
three main aspects. These academics and/or professionals wanted to (i)
enhance their knowledge, primarily in relation to CL matters; (ii) learn
about corpus applications, especially to the field of Education, which
was the focus of the project; and (iii) further their research development
1518 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

– mainly with regard to corpus analysis. To a certain extent, these


expectations match their perceived barriers on the use of CL in their
teaching and research practices: lack of knowledge was the main factor,
thus potentially explaining why they had decided to register for this
CPD project.
Our findings reveal participants’ appraisals of the embedding
of CL in their professional practices. When it comes to teaching, they
indicate that corpus approaches allow them and their students to analyze
language in use and that these approaches improve their pedagogical
practice. Research-wise, the participants believe that the main advantage
is the methodological approach afforded by CL such as in the case of
interdisciplinary research. Naturally, the application of CL to teaching
and research is not only seen from a positive angle. In both cases, the
participants identify their lack of knowledge as the main barrier to the
embedding of corpus approaches in their professional practices.
While the present study is based on a small participant sample,
it is similar in size or even more extensive than some of the previous
studies on the application of CL in educational contexts (e.g. FARR, 2008;
FRANKENBERG-GARCIA, 2015; ZAREVA, 2016). Most importantly,
we worked with all the participants who joined a specific CPD project
on CL. It would not be sensible to increase the participant sample for
research purposes since it would not reflect the real-life educational
initiative being investigated here.
The significance of this study is two-fold. Research-wise,
it advances our knowledge of academics’/professionals’ perceived
advantages and barriers of embedding CL in their respective workplaces,
a context that is underexplored and differs from the one reported in
previous studies (e.g. ZAREVA, 2016; RODRÍGUEZ-INÉS, 2013).
The research findings lead to the study’s practice-related significance:
the need to increase the number of CL modules on offer and to develop
more CPD projects like the one funded by the British Academy.
As educational initiatives would generally aim to have a long-
lasting impact, a follow-up longitudinal study should be conducted
in order to capture any potential changes in participants’ perspectives
on the use of CL in their teaching and/or research activities. It would
also be worthwhile going beyond an investigation of their perspectives
and examining their actual practices. However, we acknowledge that,
although not impossible, this would be more challenging to accomplish
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1519

on many fronts such as having access to the participants’ workplaces


and ensuring the comparability of observed practices given participants’
diverse professional backgrounds and activities.
The present study on the educational pedagogical application of
CL has explored the significantly under-researched topic of CPD projects.
The investigation of CPD participants’ perspectives is much needed for
furthering the impact of CL: it helps us understand what can be done to
engage participants in CL work. Researching CPD participants’ prior
knowledge, motivations and appraisals are vital in tailoring future CPD
projects accordingly, thus fulfilling their aim of democratizing access to
CL education in informal settings.

Acknowledgements
The authors are grateful to the British Academy, which supported this
project through a Skills Innovator Award (grant number SK150041),
and to the participants, who kindly agreed to contribute to this research.

Authors’ contributions
Viana had the idea for the study and was the lead researcher for most
tasks. Both authors worked collaboratively in the design of the research
instrument, which was administered by Lu. The data were digitized by
Lu and analyzed by Viana and Lu. Viana was in charge of the overall
structure of the paper, wrote most of the sections and thoroughly revised
the entire paper. Lu was responsible for the literature review, drafted an
initial version of the section on methods and the conclusion, contributed
to the discussion of the findings, and read the entire paper critically.

References
ASTON, G. Foreword. In: BEEBY, A.; RODRÍGUEZ-INÉS, P.;
SÁNCHEZ-GIJÓN, P. (ed.). Corpus use and Translating. Amsterdam/
Philadelphia: John Benjamins, 2009. p. ix-x.
ASTON, G. Applied Corpus Linguistics and the Learning Experience.
In: VIANA, V.; ZYNGIER, S.; BARNBROOK, G. (ed.). Perspectives
on Corpus Linguistics. Amsterdam: John Benjamins, 2011. p. 1-16. DOI:
https://doi.org/10.1075/scl.48.01ast
1520 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

BAKER, P. Using Corpora in Discourse Analysis. London: Continuum,


2006.
BIBER, D.; REPPEN, R. The Cambridge Handbook of English Corpus
Linguistics. Cambridge: Cambridge University Press, 2015. DOI: https://
doi.org/10.1017/CBO9781139764377
BOULTON, A. Data-Driven Learning: On Paper, in Practice. In:
HARRIS, T.; MORENO JAÉN, M. (ed.). Corpus Linguistics in Language
Teaching. Bern: Peter Lang, 2010. p. 17-52.
BOULTON, A. Corpus Consultation for ESP: A Review of Empirical
Research. In: BOULTON, A; CARTER-THOMAS, S.; ROWLEY-
JOLIVET, E. (ed.). Corpus-Informed Research and Learning in ESP:
Issues and Applications. Amsterdam: John Benjamins, 2012. p. 261-292.
DOI: https://doi.org/10.1075/scl.52.11bou
BOWKER, L. Using Specialized Monolingual Native-Language Corpora
as a Translation Resource: A Pilot Study. Meta, [S.l.], v. 43, n. 4, p. 631-
651, 1998. DOI: https://doi.org/10.7202/002134ar
BOWKER, L. Corpus Resources for Translators: Academic Luxury or
Professional Necessity? TradTerm, São Paulo, n. 10, p. 213-247, 2004.
DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2317-9511.tradterm.2004.47178
BOWKER, L.; PEARSON, J. Working with Specialized Language: A
Practical Guide to Using Corpora. London: Routledge, 2002. DOI: https://
doi.org/10.4324/9780203469255
BREYER, Y. Learning and Teaching with Corpora: Reflections by
Student Teachers. Computer Assisted Language Learning, [S.l.], v. 22, n.
2, p. 153-172, 2009. DOI: https://doi.org/10.1080/09588220902778328
BUENDÍA-CASTRO, M.; LÓPEZ-RODRÍGUEZ, C. I. The Web for
Corpus and the Web as Corpus in Translator Training. New Voices in
Translation Studies, [S.l.], n.10, p. 54–71, 2013.
CALLIES, M. Integrating Corpus Literacy into Language Teacher
Education. In: GÖTZ, S.; MUKHERJEE, J. (ed.). Learner Corpora and
Language Teaching. Amsterdam: John Benjamins, 2019. p. 245-263.
DOI: https://doi.org/10.1075/slcs.201.12cal
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1521

CHAMBERS, A.; O’RIORDAN, S. Learning to Teach through French


from a Corpus of Classroom Discourse: Giving Corrective Feedback.
In: CONACHER, J. E.; KELLY-HOLMES, H. (ed.). New Learning
Environments for Language Learning. Frankfurt: Peter Lang, 2007. p.
87-101.
CHARLES, M. Getting the Corpus Habit: EAP Students’ Long-Term Use
of Personal Corpora. English for Specific Purposes, [S.l.], n. 35, p. 30-40,
2014. DOI: https://doi.org/10.1016/j.esp.2013.11.004
CHEN, M.; FLOWERDEW, J.; ANTHONY, L. Introducing In-Service
English Language Teachers to Data-Driven Learning for Academic
Writing. System, [S.l.], n. 87, p. 102-148, 2019. DOI: https://doi.
org/10.1016/j.system.2019.102148
CONRAD, S. Corpus Linguistic Approaches for Discourse Analysis.
Annual Review of Applied Linguistics, Cambridge, n. 22, p. 75-95, 2002.
DOI: https://doi.org/10.1017/S0267190502000041
CONRAD, S. Variation in Corpora and Its Pedagogical Implications. In:
VIANA, V.; ZYNGIER, S.; BARNBROOK, G. (ed.). Perspectives on
Corpus Linguistics. Amsterdam: John Benjamins, 2011. p. 47-62. DOI:
https://doi.org/10.1075/scl.48.04con
C O P L A N D , F. ; V I A N A , V. ; B O W K E R , D . ; M O R A N , E . ;
PAPAGEORGIOU, I.; SHAPIRA, M. ELT Master’s Courses in the UK:
Students’ Expectations and Experiences. London: British Council, 2017.
CRAWFORD, P.; BROWN, B. Health Communication: Corpus
Linguistics, Data Driven Learning and Education for Health Professionals.
Taiwan International ESP Journal, Taiwan, v. 2, n. 1, p. 3-28, 2010.
EBRAHIMI, A.; FAGHIH, E. Integrating Corpus Linguistics into Online
Language Teacher Education Programs. ReCALL, Cambridge, v. 29, n.1,
p. 120-135, 2017. DOI: https://doi.org/10.1017/S0958344016000070
FARR, F. Relational Strategies in the Discourse of Professional
Performance Review in an Irish Academic Environment: The Case of
Language Teacher Education. In: SCHNEIDER, K. P.; BARRON, A.
(ed.). Variational Pragmatics: The Case of English in Ireland. Berlin:
Mouton de Gruyter, 2005. p. 203-234.
1522 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

FARR, F. Reflecting on Reflections: The Spoken Word as a Professional


Development Tool in Language Teacher Education. In: HUGHES, R.
(ed.). Spoken English, Applied Linguistics and TESOL: Challenges for
Theory and Practice. Hampshire: Palgrave Macmillan, 2006. p. 182-215.
DOI: https://doi.org/10.1057/9780230584587_9
FARR, F. Evaluating the Use of Corpus-Based Instruction in a Language
Teacher Education Context: Perspectives from the Users. Language
Awareness, [S.l.], v. 17, n. 1, p. 25-43, 2008. DOI: https://doi.org/10.2167/
la414.0
FARR, F. How Can Corpora Be Used in Teacher Education? In:
O’KEEFEE, A.; MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook of
Corpus Linguistics. London/New York: Routledge, 2010. p. 620-632.
FLIGELSTONE, S. Some Reflections on the Question of Teaching,
from a Corpus Linguistics Perspective. ICAME Journal, [S.l.], n. 17, p.
97-109, 1993.
FLOWERDEW, L. The Argument for Using English Specialized Corpora
to Understand Academic and Professional Settings. In: CONNOR, U.;
UPTON, T. (ed.). Discourse in the Professions: Perspectives from Corpus
Linguistics. Amsterdam: John Benjamins, 2004. p. 11-33. DOI: https://
doi.org/10.1075/scl.16.02flo
FLOWERDEW, L. Corpora and Language Education. Basingstoke:
Palgrave Macmillan, 2012. DOI: https://doi.org/10.1057/9780230355569
FRANKENBERG-GARCIA, A. Training Translators to Use Corpora
Hands-On: Challenges and Reactions by a Group of Thirteen Students at
a UK University. Corpora, Edinburg, v. 10, n. 3, p. 351-380, 2015. DOI:
https://doi.org/10.3366/cor.2015.0081
FRÉROT, C. Corpora and Corpus Technology for Translation Purposes
in Professional and Academic Environments: Major Achievements and
New Perspectives. Cadernos de Tradução, Florianópolis, n. 36, p. 36-61,
2016. DOI: https://doi.org/10.5007/2175-7968.2016v36nesp1p36
GALLEGO-HERNÁNDEZ, D. The Use of Corpora as Translation
Resources: A Study Based on a Survey of Spanish Professional
Translators. Perspectives, [S.l.], v. 23, n. 3, p. 375-391, 2015a. DOI:
https://doi.org/10.1080/0907676X.2014.964269
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1523

GALLEGO-HERNÁNDEZ, D. Business Translation Training and ad


Hoc Corpora. In: SÁNCHEZ-GIJÓN, P.; TORRES-HOSTENCH, O;
MESA-LAO, B. (ed.). Conducting Research in Translation Technologies.
Oxford/New York: Peter Lang, 2015b. p. 119-140.
GAN, S. L.; LOW, F.; YAAKUB, N. F. Modeling Teaching with a
Computer-Based Concordance in a TESL Preservice Teacher Education
Program. Journal of Computing in Teacher Education, [S.l.], v. 12, n. 4,
p. 27-32, 1996.
GATTO, M. The Web as a Corpus: Theory and Practice. London:
Bloomsbury, 2014.
GAVIOLI, L. Corpus Analysis and the Achievement of Learner Autonomy
in Interaction. In: LOMBARDO, L. (ed.). Using Corpora to Learn about
Language and Discourse. Bern: Peter Lang, 2009. p. 39-72.
GHADESSY, M.; HENRY, A.; ROSEBERRY, R. L. (ed.). Small Corpus
Studies and ELT: Theory and Practice. Amsterdam: John Benjamins,
2001. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.5
GRANATH, S. Who Benefits from Learning How to Use Corpora?
In: AIJMER, K. (ed.). Corpora and Language Teaching. Amsterdam/
Philadelphia: John Benjamins, 2009. p. 47-65. DOI: https://doi.
org/10.1075/scl.33.07gra
HAFNER, C. A.; CANDLIN, C. N. Corpus Tools as an Affordance
to Learning in Professional Legal Education. Journal of English for
Academic Purposes, [S.l.], v. 6, n. 4, p. 303-318, 2007. DOI: https://doi.
org/10.1016/j.jeap.2007.09.005
HEATHER, J.; HELT, M. Evaluating Corpus Literacy Training for Pre-
Service Language Teachers: Six Case Studies. Journal of Technology and
Teacher Education, [S.l.], v. 20, n. 4, p. 415-440, 2012.
HÜTTNER, J.; SMIT, U.; MEHLMAUER-LARCHER, B. ESP Teacher
Education at the Interface of Theory and Practice: Introducing a Model of
Mediated Corpus-Based Genre Analysis. System, [S.l.], n. 37, p. 99-109,
2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.system.2008.06.003
JÄÄSKELÄINEN, R.; MAURANEN, A. Translators at Work: A
Case Study of Electronic Tools Used by Translators in Industry. In:
BARNBROOK, G.; PERNILLA, D.; MAHLBERG, M. (ed.). Meaningful
1524 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

Texts: The Extraction of Semantic Information from Monolingual and


Multilingual Corpora. London: Continuum, 2006. p. 48-53.
JOHANSSON, S. Some Aspects of the Development of Corpus
Linguistics in the 1970s and 1980s. In: LÜDELING, A.; KYTÖ, M.
(ed.). Corpus Linguistics: An International Handbook. Berlin: Mouton
de Gruyter, 2008. p. 33-54.
JOHNS, T. Should You Be Persuaded: Two Examples of Data-Driven
Learning. In: JOHNS, T.; KING, P. (ed.). ELR Journal 4: Classroom
Concordancing. Birmingham: CELS, The University of Birmingham,
1991. p. 1-16.
KRÜGER, R. Working with Corpora in the Translation Classroom.
Studies in Second Language Learning and Teaching, Kalisz, Poland, n.
4, p. 505-525, 2012. DOI: https://doi.org/10.14746/ssllt.2012.2.4.4
LAURSEN, L. A.; PELLÓN, A. I. Text Corpora in Translation Training:
A Case Study of the Use of Comparable Corpora in Classroom Teaching.
The Interpreter and Translator Trainer, [S.l.], n. 61, p. 45-70, 2012. DOI:
https://doi.org/10.1080/13556509.2012.10798829
LEŃKO-SZYMAŃSKA, A. Is This Enough? A Qualitative Evaluation of
the Effectiveness of a Teacher-Training Course on the Use of Corpora in
Language Education. ReCALL, Cambridge, v. 26, n. 2, p. 260-278, 2014.
DOI: https://doi.org/10.1017/S095834401400010X
LEŃKO-SZYMAŃSKA, A. Training Teachers in Data Driven Learning:
Tackling the Challenge. Language Learning & Technology, Austin, TX,
v. 21, n. 3, p. 217-241, 2017.
MCCARTHY, M. J. Accessing and Interpreting Corpus Information in
the Teacher Education Context. Language Teaching, Cambridge, v. 41, n.
4, p. 563-574, 2008. DOI: https://doi.org/10.1017/S0261444808005247
MCENERY, T.; XIAO, R.; TONO, Y. Corpus-Based Language Studies:
An Advanced Resource Book. London: Routledge, 2006.
MELLANGE. Corpora and E-Learning Questionnaire. Results
Summary. 2006. Available on: http://mellange.eila.univ-paris-diderot.
fr/Mellange-Results-1.pdf. Retrieved at: July 18, 2018.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1525

MONZÓ-NEBOT, E. Corpus-Based Activities in Legal Translator


Training. The Interpreter and Translator Trainer, [S.l.], n. 22, p. 221-252,
2008. DOI: https://doi.org/10.1080/1750399X.2008.10798775
MUKHERJEE, J. Bridging the Gap Between Applied Corpus Linguistics
and the Reality of English Language Teaching in Germany. In: CONNOR,
U.; UPTON, T. A. (ed.). Applied Corpus Linguistics: A Multi-Dimensional
Perspective. Amsterdam: Rodopi, 2004. p. 239-250. DOI: https://doi.
org/10.1163/9789004333772_014
O’KEEFFE, A.; MCCARTHY, M. (ed.). The Routledge Handbook
of Corpus Linguistics. London: Routledge, 2010. DOI: https://doi.
org/10.4324/9780203856949
O’SULLIVAN, Í.; CHAMBERS, A. Learners’ Writing Skills in French:
Corpus Consultation and Learner Evaluation. Journal of Second
Language Writing, [S.l.], n. 15, p. 49-68, 2006. DOI: https://doi.
org/10.1016/j.jslw.2006.01.002
PAPAGEORGIOU, I.; VIANA, V.; COPLAND F.; BOWKER, D.;
MORAN, E. Master’s ELT Audit Document. 2017. Available on: https://
www.teachingenglish.org.uk/sites/teacheng/files/Audit%20Final%2010.
pdf. Retrieved on: July 1, 2020.
RENOUF, A. Teaching Corpus Linguistics to Teachers of English. In:
WICHMANN, A.; FLIGELSTONE, A.; MCENERY, T.; KNOWLES,
G. (ed.). Teaching and Language Corpora. London: Longman, 1997. p.
255-266. DOI: https://doi.org/10.4324/9781315842677-22
REPPEN, R.; VÁSQUEZ, C. Using Corpus Linguistics to Investigate
the Language of Teacher Training. In: WALIŃKI, J.; KREDENS, K.;
GOŹDŹ-ROSZKOWSKI, S. (ed.). Corpora and ICT in Language
Studies, PALC 2005. Frankfurt am Main: Peter Lang, 2007. p. 13-29.
RODRÍGUEZ-INÉS, P. Evaluating the Process and Not Just the
Product When Using Corpora in Translator Education. In: BEEBY, A.;
RODRÍGUEZ-INÉS, P.; SÁNCHEZ-GIJÓN, P. (ed.). Corpus Use and
Translating. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2009. p. 129-150.
DOI: https://doi.org/10.1075/btl.82.09rod
RODRÍGUEZ-INÉS, P. Electronic Corpora and Other Information
and Communication Technologies Tools: An Integrated Approach to
Translation Teaching. The Interpreter and Translator Trainer, [S.l.], v.
1526 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021

4, n. 2, p. 251-282, 2010. DOI: https://doi.org/10.1080/13556509.2010


.10798806
RODRÍGUEZ-INÉS, P. Electronic Target-Language Specialized Corpora
in Translator Education. Babel, [S.l.], v. 59, n. 1, p. 57-75, 2013. DOI:
https://doi.org/10.1075/babel.59.1.04rod
RÖMER, U. Corpus Research and Practice: What Help Do Teachers Need
and What Can We Offer? In: AIJMER, K. (ed.). Corpora and Language
Teaching. Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2009. p. 83-98.
DOI: https://doi.org/10.1075/scl.33.09rom
RÖMER, U. Using General and Specialized Corpora in English Language
Teaching: Past, Present and Future. In: CAMPOY-CUBILLO, M.
C.; BELLÉS-FORTUÑO, B.; GEA-VALOR, L. (ed.). Corpus-based
Approaches to English Language Teaching. London: Continuum, 2010.
p. 18-35.
SINCLAIR, J. Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford
University Press, 1991.
TODD, W. R. Induction from Self-Selected Concordances and Self-
Correction. System, [S.l.], n. 29, p. 91-102, 2001. DOI: https://doi.
org/10.1016/S0346-251X(00)00047-6
TOGNINI-BONELLI, E. Corpus Linguistics at Work. Amsterdam: John
Benjamins, 2001. DOI: https://doi.org/10.1075/scl.6
TSUI, A. B. M. ESL Teachers’ Questions and Corpus Evidence.
International Journal of Corpus Linguistics, [S.l.], v. 10, n. 3, p. 335-356,
2005. DOI: https://doi.org/10.1075/ijcl.10.3.03tsu
VARELA-VILA, T. Córpora ad hoc en la práctica traductora especializada:
aplicación al ámbito de las enfermedades neuromusculares. In: CANTOS-
GÓMEZ, P.; SÁNCHEZ-PÉREZ, A. (ed.). A Survey on Corpus-Based
Research. Panorama de investigaciones basadas en corpus. Murcia:
Asociación Española de Lingüística del Corpus, 2009. p. 814-831.
VÁSQUEZ, C.; REPPEN, R. Transforming Practice: Changing Patterns
of Interaction in Post-Observation Meetings. Language Awareness, [S.l.],
v. 16, n. 3, p. 153-172, 2007. DOI: https://doi.org/10.2167/la454.0
VAUGHAN, E. “I Think We Should Just Accept Our Horrible Lowly
Status”: Analysing Teacher-Teacher Talk in the Context of Community of
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1485-1527, 2021 1527

Practice. Language Awareness, [S.l.], v. 16, n. 3, p. 173-189, 2007. DOI:


https://doi.org/10.2167/la456.0
VIANA, V. The Politics of Corpus Linguistics. In: VIANA, V.; ZYNGIER,
S.; BARNBROOK, G. (ed.). Perspectives on Corpus Linguistics.
Amsterdam: John Benjamins, 2011. p. 229-245. DOI: https://doi.
org/10.1075/scl.48
VIANA, V. Data-Driven Language Learning and Teaching: A Corpus
Perspective. In: LINGUISTICS AND KNOWLEDGE ABOUT
LANGUAGE IN EDUCATION (LKALE) BRITISH ASSOCIATION
FOR APPLIED LINGUISTICS (BAAL) SPECIAL INTEREST GROUP
(SIG) MEETING, 2017, Sheffield. Sheffield, 2017. [Oral presentation].
VIANA V.; BOCORNY, A.; SARMENTO, S. Teaching English for
Specific Purposes. Alexandria: TESOL Press, 2018.
VIANA, V.; ZYNGIER, S.; BARNBROOK, G. (ed.). Perspectives on
Corpus Linguistics. Amsterdam: John Benjamins, 2011. DOI: https://
doi.org/10.1075/scl.48
WILKINSON, M. Compiling Corpora for Use as Translation Resources.
Translation Journal, [S.l.], n. 101, [s.p.], 2006. Available on: http://www.
translationdirectory.com/article910.htm. Retrieved at: Aug. 21, 2020.
WYNNE, M. Archiving, Distribution and Preservation. In: WYNNE, M.
(ed.). Developing Linguistic Corpora: A Guide to Good Practice. Oxford:
Oxbow Books, 2004. p. 71-78.
ZANETTIN, F. Swimming in Words: Corpora, Translation, and Language
Learning. In: ASTON, G. (ed.). Learning with Corpora. Bologna:
CLUEB, 2001. p. 177-197.
ZAREVA, A. Incorporating Corpus Literacy Skills into TESOL Teacher
Training. ELT Journal, Oxford, v. 71, n. 1, p. 69-79, 2016. DOI: https://
doi.org/10.1093/elt/ccw045
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, v. 29, n. 2, p. 1529-1638, 2021

O desenho de tarefas pedagógicas para o ensino


de Inglês para Fins Acadêmicos: conquistas e desafios
da Linguística de Corpus

The design of pedagogical tasks for teaching English


for Academic Purposes: achievements and challenges
of Corpus Linguistics

Ana Eliza Pereira Bocorny


Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do
Sul / Brasil
ana.bocorny@ufrgs.br
https://orcid.org/0000-0002-0515-9630

Anamaria Welp
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, Rio Grande do
Sul / Brasil
anamaria.welp@ufrgs.br
https://orcid.org/0000-0002-9015-4761

Resumo: Nas últimas décadas, um grande número de instituições de ensino superior


(IES) buscou a internacionalização de suas atividades. Sendo o inglês a língua franca
da academia (AMMON, 2011; JENKINS, 2009; TARDY, 2004), publicar nesse idioma
facilita a disseminação do conhecimento científico produzido no país e aumenta as
chances de citação e de colaboração (BOCORNY et al., no prelo; MENEGHINI;
PACKER, 2007 apud BAUMVOL, 2018). Tendo em vista o contexto descrito, este
estudo objetiva propor princípios para a elaboração de tarefas pedagógicas (TPs) com
a utilização de dados linguísticos extraídos de um corpus especializado e relativos à
linguagem convencionalmente usada em artigos de pesquisa. Desse objetivo geral,
derivam dois objetivos específicos. O primeiro, de ordem analítica, busca extrair,
categorizar e classificar expressões multipalavra a partir de um corpus especializado de
textos da seção introdução de artigos de pesquisa recentes (2003-2019) publicados em
inglês em periódicos internacionais da área da Física. O segundo, de ordem pedagógica,

eISSN: 2237-2083
DOI: 10.17851/2237-2083.29.2.1529-1638
1590 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

visa usar os dados linguísticos coletados para informar a construção de TPs para o
ensino e a aprendizagem de Inglês para Fins Acadêmicos (IFA). As TPs resultantes
deste estudo estão disponibilizadas on-line e de forma gratuita no Ambiente Virtual de
Aprendizagem LÚMINA Idiomas (BOCORNY, 2017).
Palavras-chave: tarefas de acesso aberto; Linguística de Corpus; gêneros acadêmicos;
expressões multipalavra; Inglês para Fins Acadêmicos.

Abstract: In the last decades, a large number of higher education institutions (HEIs)
sought to internationalize their activities. Since English is the lingua franca of the
academy (AMMON, 2011; JENKINS, 2009; TARDY, 2004), publishing in that language
facilitates the dissemination of scientific knowledge produced in the country and increases
the chances of citation and collaboration (BOCORNY et al., in press; MENEGHINI;
PACKER, 2007 apud BAUMVOL, 2018). In view of the described context, this study
aims to propose principles for the elaboration of pedagogical tasks (PTs) with the use of
linguistic data extracted from a specialized corpus related to the language conventionally
used in research articles. From this general objective, two specific objectives are derived.
The first, of an analytical nature, seeks to extract, categorize and classify multi-word
expressions from a specialized corpus of texts in the introduction section of recent
research articles (2003-2019) published in English in international physics journals. The
second, of a pedagogical nature, aims to use the collected linguistic data to inform the
construction of PTs for teaching and learning English for Academic Purposes (EAP).
The PTs resulting from this study are available online and free of charge in the Virtual
Learning Environment LÚMINA Idiomas (BOCORNY, 2017).
Keywords: open access tasks; Corpus Linguistics; academic genres; multi-word
expressions; English for Academic Purposes.

Recebido em 10 de outubro de 2020


Aceito em 16 de dezembro de 2020

1 Introdução
O ensino superior (ES) mudou substancialmente nas últimas
décadas. Uma dessas mudanças está relacionada ao fato de instituições
de ensino superior (IES) em todo o mundo buscarem internacionalizar
suas atividades (BOCORNY et al., no prelo). De acordo com o “Scimago
Journal & Country Rank”,1 nos últimos 23 anos (1996-2019), a produção
científica brasileira apresentou um crescimento significativo, saindo do
1
Disponível em: https://www.scimagojr.com/countryrank.php. Acesso em: 21 set. 2020.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1591

21º para o 15º lugar no ranking da produção científica internacional,


com 973.456 artigos publicados. Apesar de estar à frente de países como
Suécia e Finlândia, a nossa produção científica pode beneficiar-se de uma
maior qualificação linguística de nossos pesquisadores para a produção
e a publicação de artigos em periódicos internacionais de alto fator de
impacto. O aumento do volume de publicações de nossa comunidade
científica em periódicos internacionais tem o potencial de dar maior
visibilidade ao conhecimento construído por nossos pesquisadores.
Sendo o inglês a língua franca da academia (AMMON, 2011; JENKINS,
2009; TARDY, 2004), publicar nesse idioma facilita a disseminação
do conhecimento científico produzido no país e aumenta as chances de
citação e de colaboração (BOCORNY et al., no prelo; MENEGHINI;
PACKER, 2007 apud BAUMVOL, 2018).
A identificação de padrões lexicais que apresentam certa
estabilidade e frequência (HYLAND, 2012), típicos dos gêneros
acadêmicos e das áreas de especialidade, tem grande importância
pedagógica no âmbito do ensino das linguagens especializadas. Para
ensinar escritores menos proficientes a produzir textos conforme os
padrões considerados convencionais pelos especialistas das áreas nas
quais se inserem, é preciso identificar os padrões linguísticos recorrentes.
Os textos especializados comunicam por meio de elementos linguísticos
(termos, unidades terminológicas, unidades fraseológicas, pacotes
lexicais) e não linguísticos (gráficos, tabelas, imagens). A comunicação
via meios linguísticos, segundo o princípio da idiomaticidade de Sinclair
(1991), acontece através de porções de língua (chunks of language) que
o usuário tem a seu dispor e não por meio de palavras individuais. Os
padrões que essas unidades estabelecem entre si e com outros elementos
do texto se constituem como fios que se entrelaçam em uma trama de
sentido. Este trabalho trata da observação e da descrição de um dos
elementos linguísticos fraseológicos recorrentes dessa trama e da sua
utilização para informar a construção de tarefas pedagógicas (TPs)
voltadas para o ensino de Inglês para Fins Acadêmicos (IFA).
Tendo em vista o contexto apresentado, a pesquisa desenvolvida
tem como objetivo propor princípios para a elaboração de tarefas
pedagógicas (TPs) com a utilização de dados linguísticos extraídos de
um corpus especializado e relativos à linguagem convencionalmente
usada em artigos de pesquisa da área da Física. Desse objetivo geral,
derivam dois objetivos específicos. O primeiro, de ordem analítica, busca
1592 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

extrair, categorizar e classificar expressões multipalavra a partir de um


corpus especializado de textos da seção introdução de artigos de pesquisa
recentes (2003-2019) publicados em inglês em periódicos internacionais
da área da Física. O segundo, de ordem pedagógica, visa usar os dados
linguísticos coletados com o propósito de informar a construção de
tarefas pedagógicas no âmbito do ensino e da aprendizagem de Inglês
para Fins Acadêmicos (IFA).
Espera-se que tais aplicações pedagógicas auxiliem pesquisadores
brasileiros menos proficientes a produzirem artigos de pesquisa em inglês
utilizando a linguagem convencionalmente encontrada nos periódicos
internacionais de maior prestígio. Pesquisas futuras buscarão ampliar,
para outras áreas do conhecimento e para outros gêneros acadêmicos, a
descrição linguística e a metodologia de desenvolvimento de TPs voltadas
ao ensino de língua para esse segmento.
Com vistas a cumprir os objetivos propostos, o presente
artigo organiza-se em cinco seções: introdução, revisão da literatura,
metodologia, resultados e, por fim, as considerações finais.

2 Revisão de literatura
O resultado prático que se pretende atingir com este estudo deriva
do encontro e do entrelaçamento de pressupostos teóricos oriundos de
três áreas do conhecimento: (i) os estudos sobre gêneros do discurso,
(ii) os princípios da Linguística de Corpus e (iii) as teorias relativas ao
ensino e à aprendizagem com base em tarefas.

2.1 Gêneros do discurso


Ao investigar-se a noção de “gêneros”, encontra-se na literatura
uma diversidade denominativa e conceitual. Alguns autores, como
Bakhtin (2010), utilizam o termo “gêneros do discurso”; já outros, como
Marcuschi (2002), o termo “gêneros textuais”. Nesta pesquisa, não se
fará distinção entre ambos. Quanto à heterogeneidade de definições de
gênero, destacam-se brevemente apenas as concepções que são mais
relevantes para este estudo, segundo Bakhtin (2010), Swales (1990) e
Bhatia (2001).
Bakhtin (2010, p. 262) define os gêneros do discurso como “tipos
relativamente estáveis de enunciados”. Para ele, os gêneros textuais são
relativos aos diversos textos que conseguimos identificar pelo fato de
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1593

eles se repetirem de um modo razoavelmente regular em determinados


contextos (BAKHTIN, 2010). Dessa forma, os gêneros apresentam
certas características estáveis relativas à sua macroestrutura, às escolhas
linguísticas e ao público ao qual eles se destinam. Foi Bakhtin que passou
a entender os gêneros como entidades sociodiscursivas que são criadas
em distintas esferas da atividade humana e que refletem as condições
específicas de cada uma.
Um dos traços principais da definição de gênero, de acordo com
Swales (1990), é a sua caracterização por um propósito comunicativo
compartilhado por membros de determinada comunidade discursiva,
ou seja, a comunidade da área do conhecimento onde o texto-alvo é
produzido. Swales (1990, 2004), ao apresentar seu modelo analítico
para descrever a estrutura retórica da introdução de artigos de pesquisa
através da análise dos padrões organizacionais e retóricos, chamados
por ele de movimentos (moves) e passos (steps), mostra que tanto os
movimentos quanto os passos são unidades retóricas que expressam
funções comunicativas no discurso oral ou escrito (SWALES, 2004). O
Quadro 1 mostra uma adaptação do modelo Create a Research Space
(CARS) resultante da combinação dos modelos de Swales (1990, 2004).
QUADRO 1 – Adaptação do modelo CARS para introduções de artigos de pesquisa
resultante da combinação das duas versões do modelo de Swales (1990, 2004)

MOVIMENTO 1: Estabelecendo um território


Passo 1: Defendendo a centralidade do tópico
Passo 2: Fazendo generalizações
Passo 3: Revisando pesquisas prévias
MOVIMENTO 2: Estabelecendo um nicho
Passo 1A: Indicando lacunas
ou
Passo 1B: Adicionando ao que já é sabido
Passo 2: Apresentando justificativas
MOVIMENTO 3: Introduzindo o presente estudo
Passo 1: Anunciando a presente pesquisa de forma descritiva e/ou seus propósitos
Passo 2: Apresentando problemas de pesquisa ou hipóteses
Passo 3: Esclarecendo a terminologia
Passo 4: Descrevendo procedimentos
1594 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Passo 5: Apresentando resultados


Passo 6: Estabelecendo o valor da presente pesquisa
Passo 7: Descrevendo a estrutura do trabalho

Fonte: Swales (1990, 2004).2

A partir do conceito de gêneros de Swales, Bhatia (2001) propõe


a sua própria definição: para ele, um gênero é um conjunto de propósitos
comunicativos compartilhados por uma determinada comunidade
discursiva. Por consequência, se os propósitos comunicativos mudam,
pode haver uma mudança no gênero. Uma das contribuições mais
importantes de Bhatia para a proposta desta pesquisa é a sua definição
de análise de gênero como sendo o estudo do comportamento linguístico
em contextos acadêmicos ou profissionais (BHATIA, 2001).
A concepção de gênero usada nesta pesquisa está alinhada com
as três perspectivas apresentadas. Ressalta-se a concepção de gênero do
discurso como tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN,
2010). Destaca-se, também, a ideia de que os gêneros são veículos de
comunicação através dos quais se busca atingir um objetivo (SWALES,
1990). Por fim, sublinha-se o entendimento de que a análise de gênero
é o estudo do comportamento linguístico em contextos acadêmicos ou
profissionais (BHATIA, 2001).

2.2 Linguística de Corpus


A Linguística de Corpus parte de uma perspectiva de descrição
da língua, seja tal língua geral ou especializada. Inicialmente, os corpora
eram coletados e analisados manualmente, armazenados muitas vezes em
fichas de papel. Na atualidade, a Linguística de Corpus está relacionada
à tecnologia, que possibilita o armazenamento e o estudo de textos via
ferramentas computacionais desenvolvidas para a análise de corpora
textuais.
Os estudos a partir de grande volume de dados (big data) com
a utilização de ferramentas potentes de análise de corpora, conduzidos
pelos princípios e pelas metodologias propostos pela Linguística de
Corpus, possibilitam a extração de dados linguísticos que podem

2
Todas as traduções neste artigo são de nossa autoria.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1595

contribuir com o desenvolvimento de aplicações pedagógicas usadas no


ensino de diferentes gêneros textuais.
Elementos linguísticos fraseológicos recorrentes são bastante
estudados no âmbito da Linguística de Corpus (cf. BIBER; CONRAD,
1999; BIBER et al., 2004; BIBER; BARBIERI, 2007; BIBER, 2009;
GRAY; BIBER, 2013; STAPLES et al., 2013). Tais expressões recebem
nomes diferentes conforme suas características. As expressões multipalavra
recorrentes e contínuas de três ou mais palavras (por exemplo, the aim of
this paper is) mais frequentes em determinado registro são denominadas
lexical bundles (BIBER et al., 1999; BIBER et al., 2004). As expressões
multipalavra recorrentes e descontínuas, isto é, estruturas que apresentam
palavras gramaticais fixas e slots variáveis preenchidos por palavras de
conteúdo (por exemplo, don’t * to, it is * to), recebem o nome de formulaic
frames (BIBER, 2009) ou lexical frames (GRAY; BIBER, 2013).
Cortes (2013) realiza um estudo no qual relaciona a linguagem
formulaica, mais especificamente os lexical bundles, presente em
artigos de pesquisa de diferentes disciplinas aos movimentos retóricos
desse gênero. Como Cortes (2013), ao propormos este estudo, temos
em vista fornecer os elementos fraseológicos típicos de uma disciplina,
relacionando tais elementos linguísticos aos movimentos retóricos e aos
passos do gênero estudado. Em especial, temos em vista a extração, a
categorização e a classificação de key lexical bundles (KLBs) típicos de
uma área de especialidade, bem como a posterior construção manual
de key lexical frames (KLF), conforme proposto por Borcorny et al.
(no prelo). Tais dados linguísticos, extraídos de um corpus da seção
introdução de artigos da área da Física, serão utilizados para a elaboração
de uma SD voltada ao ensino e à aprendizagem de IFA.

2.3 O trabalho com gêneros do discurso através de tarefas


Segundo Green (2020), por sua natureza plural, é mais adequado
se considerar o letramento acadêmico como letramentos. Isso porque
letramentos acadêmicos se configuram como um conjunto de práticas
comunicativas características do discurso acadêmico, as quais são
moldadas e desempenhadas pelos propósitos comunicativos particulares
desse contexto. Para o autor, o domínio das práticas de letramento
no contexto da academia está relacionado à construção de uma nova
identidade, que implica se apropriar e se sentir confortável com uma
1596 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

nova forma de pensar, agir e se comunicar, ou seja, sentir-se pertencendo


a uma determinada comunidade.
Como mencionamos anteriormente, com a finalidade de investir
na produção acadêmica brasileira, dando visibilidade ao conhecimento
científico produzido no país, julga-se oportuno incentivar a publicação
de artigos em língua inglesa, em virtude do seu status de língua franca
da academia (AMMON, 2011; JENKINS, 2009; TARDY, 2004).
Nesse sentido, o ensino e a aprendizagem de língua inglesa para fins
acadêmicos devem se pautar na ampliação do repertório de práticas de
letramento de pesquisadores através da familiarização com os gêneros
que circulam nesse contexto. Em outras palavras, é preciso oferecer-lhes
oportunidades para que participem de práticas de letramento realizadas
em língua inglesa.
As práticas de letramento no ensino de línguas, sobretudo no
ensino de línguas para fins acadêmicos, podem ser abordadas à luz da
teoria sociocultural de Vygotsky (1998) e à noção de “andaimento”
associada a ela. Gibbons (2013) explica que o termo “andaimento” é
uma metáfora criada por Wood, Brunner e Ross (1976) para relacionar
a estrutura utilizada por trabalhadores na construção civil com o suporte
fornecido, no decorrer da interação, por um parceiro mais experiente
a um aprendiz que desempenha uma tarefa ou resolve um problema
que está acima de sua capacidade. O auxílio promovido durante essa
interação, entretanto, é temporário, pois, no curso natural do aprendizado,
o andaimento deve ser removido, permitindo que o aprendiz seja capaz
de levar a cabo as ações aprendidas de forma independente.
Nesse contexto, com o propósito de possibilitar ao aprendiz
a construção de conhecimento disciplinar de forma independente e
a mobilização desse conhecimento de maneira adequada, visando
à participação legítima em sua comunidade acadêmica, qualquer
abordagem de ensino e aprendizagem de língua deve se preocupar em
promover a construção de andaimes. Assim, os materiais didáticos
para esse fim devem se guiar pela noção de “andaimento” e procurar
oportunizar a familiarização do aprendiz com gêneros acadêmicos e suas
ferramentas através do uso e da reflexão, permitindo a sua atuação nas
práticas de letramento que orbitam tais gêneros.
Por sua natureza dialógica e por refletir a multiforme atividade
humana, os gêneros discursivos constituem-se como elementos de
socialização e de organização das práticas sociais. Nesse sentido, o
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1597

trabalho com gêneros no ensino e na aprendizagem de línguas permite que


os indivíduos participem de diferentes práticas mediadas pela linguagem.
Segundo Bakhtin (2010, p. 265), “[...] a língua passa a integrar a vida
através de enunciados concretos (que a realizam); é igualmente através
de enunciados concretos que a vida entra na língua”.
Na perspectiva do filósofo russo, os gêneros são sócio-
historicamente situados e refletem as condições específicas e as
finalidades de cada campo de atividade humana, “não só por seu conteúdo
(temático) e pelo estilo da linguagem, ou seja, pela seleção dos recursos
lexicais, fraseológicos e gramaticais da língua mas, acima de tudo, por
sua construção composicional” (BAKHTIN, 2010, p. 261). Dessa forma,
podem ser considerados instrumentos de mediação para o ensino da
textualidade (DENARDI, 2017).
Schneuwly e Dolz (2004) afirmam que o trabalho com gêneros
é a base para a organização da atividade pedagógica. Assim, se o ensino
e a aprendizagem de línguas devem se orientar a partir do trabalho
com gêneros, o planejamento das atividades deve priorizar o uso da
linguagem para ampliar as práticas de letramento de membros de uma
dada comunidade. Os autores sugerem que o ensino de línguas com base
em gêneros seja organizado a partir de sequências didáticas (SDs), as
quais definem como:
[...] uma seqüência de módulos de ensino, organizados
conjuntamente para melhorar uma determinada prática de
linguagem. As sequências didáticas instauram uma primeira
relação entre um projeto de apropriação de uma prática de
linguagem e os instrumentos que facilitam essa apropriação. Desse
ponto de vista, elas buscam confrontar os alunos com práticas de
linguagem historicamente construídas, os gêneros textuais, para
lhes dar a possibilidade de reconstruí-las e delas se apropriarem.
(SCHNEUWLY; DOLZ, 2004, p. 51).

Portanto, o ensino por tarefas, organizadas em SDs, parece ser


a alternativa mais apropriada para abordar as práticas de letramento
acadêmico, pois, conforme Welp, Didio e Finkler (2019, p. 25), além
de oferecer oportunidades de experimentação do uso da língua, com
toda a sua complexidade, em situações reais, o ensino e a aprendizagem
através de tarefas pedagógicas (TPs) favorecem a interação através da
1598 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

colaboração e promovem “o trabalho exploratório e a reflexão sobre as


formas linguísticas a serem usadas para criar mensagens significativas”.
Em consonância com Van Den Branden (2006), neste artigo,
definimos tarefa como uma ação desempenhada por um indivíduo, por
meio do uso da língua, para alcançar um objetivo. De acordo com o
autor, ao trabalhar a partir de TPs, o aluno aprende a língua através do
seu uso e, ao mesmo tempo, tenta encontrar soluções para problemas
de comunicação reais, com o propósito de alcançar um objetivo não
linguístico (VAN DEN BRANDEN, 2016).
Tendo em vista que o ensino e a aprendizagem de línguas para
fins acadêmicos têm por finalidade a familiarização, o aprimoramento
e a ampliação das práticas sociais realizadas na academia e que, para
Vygotsky (1998), a linguagem é um artefato simbólico que medeia a
construção do conhecimento, a elaboração de tarefas e a criação de SDs
têm o potencial de oferecer andaimento ao aprendiz, guiando o processo
de transformação de conhecimento espontâneo em conhecimento
científico por meio da linguagem.

3 Metodologia
Os procedimentos metodológicos descritos a seguir foram
adotados para atingirem-se os objetivos propostos neste estudo, ou seja,
extrair, categorizar e classificar expressões multipalavra de um subcorpus
da seção introdução de artigos de pesquisa da área da Física, bem como
para usarem-se os dados linguísticos coletados a fim de informar-se a
construção de uma SD.

3.1 Descrição do subcorpus especializado usado no estudo


A análise da linguagem da introdução de artigos de pesquisa
a partir da Linguística de Corpus (LC) inicia com a compilação do
corpus, realizada por meio da ferramenta AntCorGen (ANTHONY,
2019). O corpus especializado resultante desse processo de compilação
foi chamado de Corpus of Discipline and Section-Specific Academic
English (CODISAE). Conforme Bocorny et al. (no prelo), o CODISAE
é um corpus composto de 12 milhões de palavras que reúne textos das
quatro seções (Introdução, Materiais e Métodos, Resultados e Conclusão)
de artigos de pesquisa recentes (2003-2019) das áreas das Ciências da
Saúde, da Física e das Ciências da Computação, escritos em inglês e
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1599

publicados em periódicos internacionais, revisados por pares e de acesso


aberto na plataforma PLoS ONE. O CODISAE apresenta 12 subcorpora
de um milhão de palavras. Cada subcorpus é composto de textos de
uma seção de uma das áreas do conhecimento estudadas. Neste estudo,
será utilizado o subcorpus da seção introdução de artigos de pesquisa
da área da Física do CODISAE. O Quadro 2 mostra a composição dos
subcorpora da área da Física.
QUADRO 2 – Subcorpora do CODISAE com artigos da área da Física
Seção Número de palavras
Introdução 1 milhão
Materiais e Métodos 1 milhão
Resultados 1 milhão
Conclusão 1 milhão
Fonte: Elaboração própria.

3.2 Procedimentos para a extração, a categorização e a classificação das


expressões multipalavra no subcorpus especializado
A extração dos key lexical bundles (KLBs) do subcorpus
especializado foi feita por meio da ferramenta Sketch Engine
(KILGARRIFF et al., 2004) conforme os seguintes critérios: deveriam
ser compostos de seis unidades lexicais, ter uma frequência mínima de
seis ocorrências por milhão de palavras, estar presentes em pelo menos
cinco textos diferentes do subcorpus e ter um índice de chavicidade – ou
seja, um índice que indica o quanto aquela unidade é mais frequente no
corpus de estudo em relação ao corpus de referência – maior que um.
Extraídos os KLBs, inicia-se o processo de categorização, que
acontece a partir da identificação de palavras-chave comuns a um
grupo de KLBs ou da identificação de unidades com mesma função
comunicativa. A partir da observação das categorias de KLBs, é possível
identificar, nessas unidades, a existência de palavras gramaticais fixas e de
palavras de conteúdo variáveis (slots), como pode ser visto no exemplo
apresentado no Quadro 3.
1600 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

QUADRO 3 – Palavras gramaticais fixas (negrito) e palavras de conteúdo


variáveis (slots) em KLBs com a mesma função comunicativa da seção
introdução de artigos da área da Física

purpose of this paper is to


purpose of this study is to
t purpose of this study is
aim of the present study
aim of the present study was
aim of the present study was
aim of this paper is to
of the present study is to
aim of this paper is
of the present study was to

Fonte: Elaboração própria.

A observação dos KLBs categorizados e organizados em quadros


facilita a identificação da sua função comunicativa. No caso dos KLBs
dispostos no Quadro 3, é fácil dizer que sua função comunicativa
é apresentar o(s) objetivo(s) do estudo. É importante lembrar que
a Linguística de Corpus, ao assumir uma perspectiva descritiva da
linguagem, não estabelece categorias a priori. As categorias emergem
da observação dos dados. Entretanto, quando a função comunicativa dos
KLBs não é facilmente identificada, pode-se usar um framework como
o apresentado por Swales (1990, 2004) para auxiliar nessa tarefa. Um
framework como o de Swales (1990, 2004), que lista os movimentos
retóricos e os passos de um determinado gênero juntamente com suas
funções comunicativas, pode servir como referência para a identificação
da função comunicativa de alguns KLBs que não sejam tão transparentes.
Por fim, parte-se para a construção manual dos key lexical frames
(KLFs). Nessa etapa, as palavras gramaticais fixas dos KLBs de uma
mesma categoria e com a mesma função comunicativa permanecem
na primeira linha da estrutura, enquanto as palavras lexicais variáveis
são marcadas por asteriscos. Na estrutura construída neste trabalho, as
palavras lexicais variáveis, que podem preencher os slots, são listadas
abaixo dos asteriscos. Tal estrutura é mostrada no Quadro 4.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1601

QUADRO 4 – KLF construído manualmente a partir dos KLBs


com a função comunicativa apresentar o(s) objetivo(s) do estudo,
da seção introdução de artigos da área da Física

the * of * * is/was to
purpose this paper
aim the present study

Fonte: Elaboração própria.

A seção seguinte descreve a metodologia utilizada para o


desenvolvimento de TPs a partir dos KLFs construídos manualmente
(cf. Quadro 5) com os KLBs obtidos do subcorpus especializado usado
neste estudo.

3.3 Princípios e procedimentos para a construção de TPs


Como já mencionado, do objetivo geral deste estudo, derivam
dois objetivos específicos. O primeiro, de ordem analítica, orientou a
seção 3.2. O segundo, de ordem pedagógica, consiste em usar os dados
linguísticos coletados para informar a construção de TPs. Assim, esta
seção apresenta os princípios e descreve os procedimentos envolvidos no
processo de elaboração de uma SD para um curso de IFA, tarefa que tem
como objetivo a produção da introdução de artigos acadêmicos da área
da Física. Nesse sentido, a SD proposta abordará a linguagem utilizada
em publicações dessa área do conhecimento.
A partir do arcabouço teórico que fundamentou o trabalho aqui
descrito, com base em Welp, Didio e Finkler (2019), foram estabelecidos
os seguintes princípios que devem guiar o desenho e a elaboração de TPs
voltadas para o ensino e a aprendizagem de línguas para fins acadêmicos
(LFA):
1. os objetivos de aprendizagem devem ser estabelecidos a partir da
área do conhecimento e das necessidades acadêmicas do grupo
de aprendizes para o qual as tarefas serão produzidas;
2. os gêneros discursivos estruturantes escolhidos devem ser
academicamente relevantes e coerentes com os objetivos de
aprendizagem estabelecidos;
3. os textos selecionados devem ser autênticos e representativos das
práticas sociais e dos gêneros que circulam no contexto acadêmico;
1602 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

4. as tarefas devem oferecer oportunidades de uso da língua próprias


aos textos produzidos na área do conhecimento dos aprendizes e
devem promover reflexões sobre tal uso de forma contextualizada;
5. as tarefas que tratam dos recursos linguísticos devem levar em
consideração a frequência dos itens lexicais e discursivos presentes
em textos acadêmicos da área de conhecimento do aprendiz;
6. a ordem e os enunciados das tarefas devem ser organizados de forma
que ofereçam andaimento, oportunizando, assim, o aprendizado;
7. as tarefas devem provocar interações relevantes entre alunos e
textos, alunos e alunos e alunos e professor;
8. a realização das tarefas deve oferecer oportunidades de aprendizado
significativo e deve alcançar resultados para além da sala de aula.

Assim como em Welp, Didio e Finkler (2019), após estabelecidos


os princípios, passou-se à estruturação da metodologia, descrita a seguir:
1. definição dos objetivos de aprendizagem, considerando-se a área
do conhecimento do grupo de alunos para os quais as tarefas serão
produzidas;
2. definição do gênero discursivo da produção que resultará da
sequência de tarefas;
3. compilação de um corpus de textos do gênero estruturante;
4. extração dos dados linguísticos do corpus relevantes para o
gênero;
5. elaboração das tarefas.

4 Resultados
Os resultados descritos a seguir dizem respeito (i) à extração,
à categorização e à classificação das expressões multipalavra da seção
introdução de artigos de pesquisa da área da Física; e (ii) ao uso, na
construção de TPs, dos dados linguísticos coletados em (i).

4.1 Extração, categorização e classificação das expressões multipalavra


A extração dos KLBs, conforme os critérios apresentados em 3.2,
resultou em um total de 17 unidades (cf. Apêndice 1). Como descrito
em Bocorny et al. (no prelo), a classificação dos KLBs foi um processo
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1603

manual que iniciou com a organização de todas as unidades extraídas


do corpus de estudo em uma tabela (cf. Apêndice 1). Com as unidades
organizadas, foi iniciado o processo de categorização. Nessa etapa, as
unidades com estrutura semelhante (the * of this study was to *), alguma
palavra lexical comum (aim, study) ou palavras lexicais que expressassem
a mesma função comunicativa foram marcadas com a mesma cor (cf.
Apêndice 2). O Quadro 5 mostra as cinco categorias identificadas a partir
dos 17 KLBs extraídos.
QUADRO 5 – KLFs construídos a partir dos KLBs extraídos da seção introdução
de artigos da área da Física que expressam as funções comunicativas descritas no
modelo proposto por Swales (1990, 2004)

KLBs KLFs
MOVIMENTO 1: Estabelecendo um território
Passo 1: Defendendo a plays an important role in the (play/plays) an
centralidade do tópico play an important role in the important role in the
it is well known that the it (is well known/has
Passo 2: Fazendo generalizações
it has been shown that the been shown) that the
Passo 3: Revisando pesquisas
prévias
MOVIMENTO 2: Estabelecendo um nicho
Passo 1A: Indicando lacunas
ou
to the best of our knowledge
Passo 1B: Adicionando ao que
já é sabido
Passo 2: Apresentando
justificativas
MOVIMENTO 3: Introduzindo o presente estudo
of the present study is to
purpose of this paper is to
purpose of this study is to the
Passo 1: Anunciando a presente the (purpose/aim) of
purpose of this study is the aim
pesquisa de forma descritiva e/ (this /the present)
of the present study aim of the
ou seus propósitos (study/paper) (is/was) to
present study was aim of this
paper is to the aim of this paper
is of the present study was to
Passo 2: Apresentando
problemas de pesquisa ou
hipóteses
1604 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Passo 3: Esclarecendo a
terminologia
Passo 4: Descrevendo
procedimentos
Passo 5: Apresentando
resultados
Passo 6: Estabelecendo o valor
da presente pesquisa
this paper is organized as
(the rest of the/this)
Passo 7: Descrevendo a follows the rest of the paper
paper is organized as
estrutura do trabalho is the paper is organized as
follows
follows

Fonte: Elaboração própria.

A identificação das funções comunicativas exercidas por cada


uma das cinco categorias de KLBs se deu pela observação das unidades,
tendo-se como parâmetro o modelo apresentado por Swales (1990, 2004).
Como pode ser observado no Quadro 5, a maior incidência de KLBs
acontece no movimento retórico 3 (introduzindo o presente estudo),
passo 1 (anunciando a presente pesquisa de forma descritiva e/ou seus
propósitos), no qual se encontram 09 dos 17 KLBs extraídos (53%).
Ainda no movimento 3, passo 7 (descrevendo a estrutura do trabalho),
há 03 das 17 unidades (17%). Encontram-se no movimento 3, portanto,
70% dos KLBs extraídos do corpus de estudo. A incidência de KLBs no
movimento 1 (estabelecendo um território) diminui bastante. No passo
1 (defendendo a centralidade do tópico), encontram-se 02 dos 17 KLBs
(12%), enquanto no passo 2 (fazendo generalizações) há 02 unidades
(12%). No passo 3 (revisando pesquisas prévias) do movimento 1, não há
incidência de KLBs. Temos no movimento 1, desse modo, 30% dos KLBs
extraídos do corpus de estudo. Por fim, no movimento 2 (estabelecendo
um nicho), passo 1A (indicando lacunas) há a incidência de 01 dos 17
KLBs (6%) que trata da identificação de lacunas em estudos prévios.
Finalmente, na coluna KLFs do Quadro 5, encontramos as estruturas
lexicais construídas manualmente a partir do agrupamento dos KLBs de
um mesmo passo com a mesma função comunicativa, conforme sugerido
por Bocorny et al. (no prelo). Tal agrupamento resulta em quatro KLFs
(cf. QUADRO 5) que serão utilizados como dados linguísticos para a
construção da SD proposta.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1605

4.2 Uso dos dados linguísticos coletados na construção de TPs


Nesta seção, apresentamos o contexto para o qual a SD aqui
apresentada foi produzida e descrevemos as referidas TPs.

4.2.1 Contextualização
A SD apresentada a seguir foi desenhada para a disciplina de
Inglês Instrumental I da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, cujo
programa é organizado a partir de gêneros acadêmicos estruturantes. A
disciplina, que tem quatro créditos e é ministrada por uma das autoras,
é presencial, tem como um de seus gêneros estruturantes o artigo de
pesquisa, exige um conhecimento pré-intermediário de língua inglesa e
é de caráter optativo para alunos de todos os cursos da universidade. Na
próxima subseção, descrevemos o processo de elaboração da SD produzida
para alunos da área da Física da disciplina de Inglês Instrumental I.

4.2.2 A SD proposta
Considerando os princípios e os procedimentos elencados (cf.
seção 3.3), iniciamos a descrição da SD proposta tratando do gênero
discursivo alvo, dos objetivos de aprendizagem, do corpus de textos
do gênero-alvo, da extração dos dados linguísticos e da elaboração das
tarefas propriamente ditas.
O passo inicial no desenho dos materiais didáticos a serem
usados na disciplina é o conhecimento do perfil e das necessidades dos
alunos. O nível de proficiência dos alunos, conforme o Quadro Comum
Europeu (QCE), é B1-B2, o que permite que a SD seja escrita em inglês.
Ressalta-se que, embora a SD tenha sido produzida especificamente
para ser trabalhada com os alunos que cursam a disciplina, ela ainda
não havia sido utilizada no momento de produção deste artigo. Como
já mencionado, a disciplina tem como gênero estruturante o artigo de
pesquisa. O objetivo de aprendizagem, definido tendo-se em vista a
área do conhecimento do grupo de alunos (a Física), foi a produção da
introdução de um artigo de pesquisa da área em questão. Definidos o
gênero estruturante e o objetivo de aprendizagem, um corpus de estudo
previamente compilado (cf. seção 3.1) foi usado para a extração dos
dados linguísticos conforme já descrito (cf. seção 4.1). De posse dos
dados linguísticos (KLFs) extraídos do corpus de estudo, iniciou-se a
elaboração das tarefas. A SD, que contém as TPs propostas neste estudo,
1606 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

foi estruturada em cinco partes: (i) sondagem, (ii) contextualização, (iii)


estrutura retórica, (iv) elementos linguísticos, (v) produção. A referida
SD está disponível em sua totalidade no Apêndice 3.
A sondagem tem por objetivo verificar o conhecimento prévio
do aluno a respeito do gênero estruturante.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1607

A contextualização promove um primeiro contato do aluno com


o gênero-alvo, já buscando construir o conhecimento a respeito de seu
conceito e de suas características.
1608 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

As atividades relativas à estrutura retórica procuram deixar


claro para o aluno quais as partes que constituem o gênero-alvo e qual
sua função comunicativa. A extensão e a ordem das partes também são
aspectos tratados nesta etapa da SD. Além disso, as tarefas desta SD
buscam provocar a reflexão dos alunos em relação à qualidade do texto
através do que se espera da seção introdução de um artigo científico,
estimulando, assim, o pensamento crítico quanto às informações
relevantes que devem estar contidas nessa seção. As tarefas se propõem
não somente à compreensão da seção, mas também à formação de
leitores de textos acadêmicos que utilizam estratégias e desenvolvem
posicionamentos em relação ao que leem.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1609
1610 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1611

Conhecendo a estrutura retórica do gênero-alvo na sua área de


especialidade, inicia-se o trabalho com os elementos linguísticos usados
para expressar as funções comunicativas de cada um dos movimentos
retóricos (e passos) da seção do gênero em questão. A partir dos recursos
linguísticos extraídos do corpus, a tarefa conduz o aluno a inferir a função
de cada forma linguística no texto e a refletir sobre seu uso para mais
adiante se colocar na posição de autor de textos no gênero abordado.

Introduction A
1612 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Introduction B
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1613
1614 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Por fim, o aluno é convidado a produzir um primeiro rascunho


do gênero-alvo. Esse rascunho poderá receber feedback dos pares e do
professor tendo em vista uma rubrica de avaliação previamente preparada
e discutida (WELP; DIDIO; FINKLER, 2019). Depois de receber o
feedback dos pares e do professor, o aluno poderá fazer a reescrita de
seu texto.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1615
1616 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Por fim, observa-se que a SD propicia a mobilização dos


conhecimentos necessários para a produção textual, incluindo as
características do gênero alvo e os recursos lexicais e fraseológicos
próprios dele. Ainda, a produção escrita dos alunos somente é considerada
finalizada após o aprimoramento do texto através de mais de uma
oportunidade de reescrita, as quais oferecem momentos de aprendizagem
por meio de reflexão sobre os recursos linguísticos utilizados.

5 Considerações finais
Este estudo teve dois objetivos específicos. O primeiro, de
ordem analítica, consistiu em extrair, categorizar e classificar expressões
multipalavra nos corpora especializados de textos da seção introdução
dos artigos de pesquisa compilados. O segundo, de ordem pedagógica,
foi usar os dados linguísticos coletados para informar a construção de
TPs voltadas para o ensino de IFA.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1617

As TPs resultantes deste estudo, disponibilizadas on-line e


de forma gratuita no Ambiente Virtual de Aprendizagem LÚMINA
Idiomas (BOCORNY, 2017), podem ser utilizadas pela comunidade
acadêmica de forma autônoma ou em aulas presenciais, em disciplinas
de Inglês Instrumental, nos cursos de IFA do Centro de Línguas para
Fins Acadêmicos da UFRGS (CLA-UFRGS), ou, ainda, por professores
de disciplinas de diferentes áreas do conhecimento e de diferentes
instituições que utilizem o inglês como meio de instrução ou que desejem
incentivar seus alunos a produzirem artigos em inglês durante seus cursos.
Espera-se que a utilização das TPs construídas com dados
linguísticos obtidos neste estudo, aliada a outras iniciativas, levem ao
aprimoramento de pesquisadores brasileiros e a um consequente aumento
no impacto dos artigos produzidos no Brasil. Por fim, pesquisas futuras
buscarão ampliar, para outras áreas do conhecimento e para outros
gêneros acadêmicos, a descrição linguística e a construção de TPs
propostas no presente estudo.

Agradecimentos
Este trabalho foi conduzido durante o período de concessão da bolsa de
Professor Visitante no Exterior na Universidade do Norte do Arizona
(EUA) e financiado pelo Programa Institucional de Internacionalização
da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior –
CAPES/PRINT/UFRGS – Edital nº 003/2019, no âmbito do Ministério
da Educação do Brasil.

Declaração das contribuições de cada autora


As autoras Ana Eliza Pereira Bocorny e Anamaria Welp produziram
colaborativamente este artigo.

Referências
AMMON, U. (ed.). The Dominance of English as a Language of Science:
Effects on Other Languages and Language Communities. Berlin: Walter
de Gruyter, 2011.
ANTHONY, L. AntCorGen (Version 1.1.2) [Computer Software]. Tokyo:
Waseda University, 2019. Disponível em: https://www.laurenceanthony.
net/software. Acesso em: 10 out. 2020.
1618 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 5. ed. São Paulo: Martins


Fontes, 2010.
BAUMVOL, L. K. Language Practices for Knowledge Production and
Dissemination: The Case of Brazil. 2018. 270f. Tese (Doutorado em
Estudos da Linguagem) – Instituto de Letras, Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, 2018. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/bitstream/
handle/10183/189174/001088580.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 10 out. 2020.
BHATIA, V. Analysing Genre: Language Use in Professional Settings.
London: Longman, 2001.
BIBER, D. A Corpus-Driven Approach to Formulaic Language in
English. International Journal of Corpus Linguistics, [S.l.], v. 14, n. 3, p.
275-311, 2009. DOI: https://doi.org/10.1075/ijcl.14.3.08bib
BIBER, D; CONRAD, S. Lexical Bundles in Conversation and Academic
Prose. Language and Computers, [S.l.], v. 26, p. 181-190, 1999.
BIBER, D.; JOHANSSON, S.; LEECH, G.; CONRAD, S; FINEGAN,
E. Longman Grammar of Spoken and Written English. Harlow: Pearson,
1999.
BIBER, D.; CONRAD, S.; REPPEN, R.; BYRD, P.; HELT, M. Speaking
and Writing in the University: A Multidimensional Comparison.
Tesol Quarterly, [S.l.], v. 36, n. 1, p. 9-48, 2002. DOI: https://doi.
org/10.2307/3588359
BIBER, D.; CONRAD, S.; CORTES, V. If You Look at…: Lexical
Bundles in University Teaching and Textbooks. Applied Linguistics,
[S.l.], v. 25, n. 3, p. 371-405, 2004. DOI: https://doi.org/10.1093/
applin/25.3.371
BIBER, D.; BARBIERI, F. Lexical Bundles in University Spoken and
Written Registers. English for Specific Purposes, [S.l.], v. 26, n. 3, p. 263-
286, 2007. DOI: https://doi.org/10.1016/j.esp.2006.08.003
BOCORNY, A. LUMINA Idiomas, 2017. Página inicial. Disponível em:
https://www.ufrgs.br/luminaidiomas/. Acesso em: 12 jan. 2021.
BOCORNY, A. E. P.; REBECHI, R.; REPPEN, R.; DELFINO, M. C. N.;
LAMEIRA, V. A produção de artigos da área médica e das ciências da
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1619

saúde com o auxílio de key lexical bundles: um estudo direcionado por


corpus. DELTA, São Paulo. No prelo.
BOCORNY, A. E. P.; KILLIAN, C. K. Contexto e pressupostos teóricos
para a elaboração de uma plataforma online amigável, de livre acesso
e com recurso multimídia em uma universidade brasileira. Trama,
Marechal Cândido Rondon, PR, v. 13, n. 28, p. 4-28, 2017. DOI: https://
doi.org/10.48075/rt.v13i28.15585
CORTES, V. The Purpose of this Study Is to: Connecting Lexical Bundles
and Moves in Research Article Introductions. Journal of English for
Academic Purposes, [S.l.], v. 12, n. 1, p. 33-43, 2013. DOI: https://doi.
org/10.1016/j.jeap.2012.11.002
DENARDI, D. A. C. Didactic Sequence: A Dialetic Mechanism for
Language Teaching and Learning. Revista Brasileira de Linguística
Aplicada, Belo Horizonte, v. 17, n. 1, p. 163-184, 2017. DOI: https://doi.
org/10.1590/1984-6398201610012
DOMINGUES, M. L.; FAVERO, E. L.; MEDEIROS, I. P. Etiquetagem
de palavras para o português do Brasil. In: TIL –WORKSHOP EM
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO E DA LINGUAGEM HUMANA,
V., 2007, Rio de Janeiro. Anais [...]. Rio de Janeiro: SBC, 2007. p. 1721-
1724.
FRANKENBERG-GARCIA; A., BOCORNY, A. E. P.; TAVARES-
PINTO, P.; SARMENTO, S. Supporting the Internationalisation of
Brazilian Research: Curso oferecido via financiamento Capes:Print para
as Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Universidade Estadual
Paulista, 04-06 de jun.de 2019. 30f. Notas de aula.
GIBBONS, P. Scaffolding. In: ROBINSON, P. (ed.). The Routledge
Encyclopedia of Second Language Acquisition. London: Routledge,
2013. p. 563-564.
GRAY, B.; BIBER, D. Lexical Frames in Academic Prose and
Conversation. International Journal of Corpus Linguistics, [S.l.], v. 18,
n. 1, p. 109-136, 2013. DOI: https://doi.org/10.1075/ijcl.18.1.08gra
GREEN, S. Scaffolding Academic Literacy with Low-Proficiency Users
of English. Londres: Palgrave Macmillan, 2020. DOI: https://doi.
org/10.1007/978-3-030-39095-2_3
1620 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

HYLAND, K. Disciplinary Identities: Individuality and Community in


Academic Discourse. Munique: Ernst Klett Sprachen, 2012.
JENKINS, J. English as a lingua franca: Interpretations and Attitudes.
World Englishes, [S.l.], v. 28, n. 2, p. 200-207, 2009. DOI: 10.1111/j.1467-
971X.2009.01582.x
KILGARRIFF, A.; RYCHLY, P.; SMRZ, P.; TUGWELL, D. The Sketch
Engine. In: EURALEX INTERNACIONAL CONGREE, 11th., 2004,
Bretagne-Sud. Proceedings […]. Bretagne-Sud: Université de Bretagne-
Sud, 2004. p. 105-116.
KOSTLA, I.; BUNNING, L. Curriculum Design in English Language
Teaching. ELT Development Series. Alexandria, VA: TESOL Press, 2017.
MARCUSCHI, L. A. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In:
DIONÍSIO, A. P.; MACHADO, A. R.; BEZERRA, M. A. (org.). Gêneros
textuais & ensino. Rio de Janeiro: Editora Lucerna, 2002. p. 19-36.
MENEGHINI, R.; PACKER, A. L. Is There Science Beyond English?
EMBO Reports, [S.l.], v. 8, n. 2, p. 112-116, 2007. DOI: https://doi.
org/10.1038/sj.embor.7400906
MORLEY, J. Academic Phrasebank. Manchester: University of
Manchester, 2014. Disponível em: http://www.phrasebank.manchester.
ac.uk/. Acesso em: 10 out. 2020.
MORLEY, J. The Academic Phrasebank: An Academic Writing Resource
for Students and Researchers. Manchester: The University of Manchester,
2017.
SANTIN, D. M.; VANZ, S. A. S.; STUMPF, I. R. C. Internacionalização
da produção científica brasileira: políticas, estratégias e medidas de
avaliação. Revista Brasileira de Pós-Graduação, Brasília, DF, v. 13, n.
30, p. 81-100, 2016. DOI: https://doi.org/10.21713/2358-2332.0.923
SARDINHA, T. B. Análise multidimensional. DELTA, São Paulo,
v. 16, n. 1, p. 99-127, 2004. DOI: https://dx.doi.org/10.1590/S0102-
44502000000100005.
SCHNEUWLY, B.; DOLZ, J. (org.). Gêneros orais e escritos na escola.
Campinas: Mercado de Letras, 2004, 278p.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1621

SINCLAIR, J. M. H. Corpus, Concordance, Collocation. Oxford: Oxford


Univ. Press, 1991.
STAPLES, S.; EGBERT, J.; BIBER, D. Formulaic Sequences and EAP
Writing Development: Lexical Bundles in the TOEFL iBT Writing
Section. Journal of English for Academic Purposes, [S.l.], v. 12, n. 3, p.
214-225, 2013. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jeap.2013.05.002
SWALES, J. Research Genres: Explorations and Applications.
Cambridge: Cambridge University Press, 2004. DOI: https://doi.
org/10.1017/CBO9781139524827
SWALES, J. Genre Analysis: English in Academic and Research Settings.
Cambridge: Cambridge University Press, 1990.
TARDY, C. The Role of English in Scientific Communication: Lingua
Franca or Tyrannosaurus Rex? Journal of English for Academic Purposes,
[S.l.], v. 3, n. 3, p. 247-269, 2004. DOI: https://doi.org.10.1016/j.
jeap.2003.10.001
VAN DEN BRANDEN, K. (ed.). Task-Based Language Education: From
Theory to Practice. Cambridge: Cambridge University Press, 2006. DOI:
https://doi.org/10.1017/CBO9780511667282
VAN DEN BRANDEN, K. Task-Based Language Teaching. In: HALL,
G. (ed.). The Routledge Handbook of English Language Teaching. New
York: Routledge, 2016. p. 238-251.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins
Fontes, 1998.
WELP, A. K. S.; DIDIO, Á. R.; FINKLER, B. Questões contemporâneas
no cinema e na literatura: o desenho de uma sequência didática para o
ensino de inglês como língua adicional. Brazilian English Language
Teaching Journal, Porto Alegre, v. 10, n. 2, p. 1-25, 2019. DOI: https://
doi.org/10.15448/2178-3640.2019.2.35861
WOOD, D.; BRUNER, J. S.; ROSS, G. The Role of Tutoring in Problem
Solving. Journal of Child Psychology and Psychiatry, London, v. 17,
n. 2, p. 89-100, 1976. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1469-7610.1976.
tb00381.x
1622 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

APÊNDICES
APÊNDICE 1 – Resultado da extração de KLBs com 6 palavras da
seção introdução de artigos de pesquisa da área da Física, realizada
com base nos critérios apresentados em 3.2
Corpus de estudo Corpus de referência
KLB
Frequência Frequência Frequência Frequência IC
(6 palavras)
Absoluta Normalizada Absoluta Normalizada

it is well known that the 8 6.4 6.0 1.0 3.8

it has been shown that the 11 8.9 12.0 1.9 3.4

of the present study is to 14 11.3 26.0 4.1 2.4

purpose of this paper is to 8 6.4 21.0 3.3 1.7

purpose of this study is to 9 7.2 25.0 4.0 1.7

this paper is organized as follows 21 16.9 62.0 9.9 1.6

the purpose of this study is 8 6.4 23.0 3.7 1.6

the aim of the present study 12 9.7 36.0 5.7 1.6

to the best of our knowledge 41 33.0 129.0 20.5 1.6

plays an important role in the 12 9.7 38.0 6.0 1.5

the rest of the paper is 9 7.2 32.0 5.1 1.4

play an important role in the 16 12.9 62.0 9.9 1.3

aim of the present study was 9 7.2 36.0 5.7 1.2

the paper is organized as follows 13 10.5 56.0 8.9 1.2

aim of this paper is to 10 8.0 45.0 7.2 1.1

the aim of this paper is 9 7.2 42.0 6.7 1.1

of the present study was to 15 12.1 72.0 11.4 1.1


Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1623

APÊNDICE 2 – Resultado da categorização de KLBs com 6 palavras da


seção introdução de artigos de pesquisa da área da Física, realizada com
base nos critérios apresentados em 3.2

Corpus de estudo Corpus de referência


KLB
Frequência Frequência Frequência Frequência IC
(6 palavras)
Absoluta Normalizada Absoluta Normalizada

it is well known that the 8 6.4 6.0 1.0 3.8

it has been shown that the 11 8.9 12.0 1.9 3.4

of the present study is to 14 11.3 26.0 4.1 2.4

purpose of this paper is to 8 6.4 21.0 3.3 1.7

purpose of this study is to 9 7.2 25.0 4.0 1.7

this paper is organized as


21 16.9 62.0 9.9 1.6
follows

the purpose of this study is 8 6.4 23.0 3.7 1.6

the aim of the present study 12 9.7 36.0 5.7 1.6

to the best of our knowledge 41 33.0 129.0 20.5 1.6

plays an important role in the 12 9.7 38.0 6.0 1.5

the rest of the paper is 9 7.2 32.0 5.1 1.4

play an important role in the 16 12.9 62.0 9.9 1.3

aim of the present study was 9 7.2 36.0 5.7 1.2

the paper is organized as


13 10.5 56.0 8.9 1.2
follows

aim of this paper is to 10 8.0 45.0 7.2 1.1

the aim of this paper is 9 7.2 42.0 6.7 1.1

of the present study was to 15 12.1 72.0 11.4 1.1


1624 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

APÊNDICE 3 – Tarefa proposta

Inglês para Fins Acadêmicos (IFA)

Introdução de artigo de pesquisa

Nível QCE Tempo Habilidades


B1 - B2 20 - 30 Minutos Leitura e Escrita
Objetivo
Aprender a escrever a introdução de um artigo de pesquisa da área da Física
Área
Física

WHAT DO YOU KNOW ABOUT IT?

1. Look at the texts below:

a. What type of texts can you see? What do you know about them?
b. What are the parts of this type of text?
c. What is usually the first part? What information should it contain?
d. Do you think this information can vary from area to area?
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1625
1626 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1627

WARM UP QUESTIONS
1. Are you familiar with the genre Research Article? Do you ever read
Research Articles from your area?
2. What is the purpose of this genre? What elements do you expect to
find in these texts?
3. What do you think is the difference between a Research Article, a
Review Article and an Opinion Article ?
1628 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

AN INTRODUCTION TO A RESEARCH ARTICLE


1. Get in groups of three. Each member of the group will read the introduction
of a different Research Article from a well-known academic journal about a
topic of interest in your area. Decide within the group who is going to read
which Research Article introduction and, during your first reading, skim the
text and fill out the chart below.

What is the name of the journal?


When was the article published?
What is the title of the Research Article? What do you think the article is about?
What are the names of the authors?
How many sections does the article have?
What is the first section?
What information do you expect to find in the first section of the Research
Articles?
How many words does the first section have?

2. Read the introduction of the Research Article assigned to you thoroughly


and answer the questions below.
a. By reading the introduction, do you know what the article is about?
Is it consistent with the title of the article?
b. Did you find all the elements you expected to find in the introduction
of the Research Article? Did you find any others? If so, which ones?
c. List the relevant information presented in the introduction.
d. Does the introduction make you interested in reading the rest of the
article? If so, identify the passages of the text that were important
to create expectation about the rest.

FINDING REGULARITIES
1. Read the text again, this time focusing on the structure of the introduction
of the Research Article. Search for specific information to fill the chart below.
Be prepared to report it to your classmates. This activity will help you prepare
to later write and assess the introduction of your own article. An example is
presented below:
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1629

ARE THESE
RESEARCH ARTICLE COMMUNICATIVE EXAMPLE OF HOW THE
INTRODUCTION FUNCTIONS COMMUNICATIVE FUNCTION CAN
COMMUNICATIVE PRESENT IN THE BE EXPRESSED LINGUISTICALLY
FUNCTIONS INTRODUCTION IN THE INTRODUCTION
YOU READ?
Establishing a territory
plays an important role in the
play an important role in the

Ex: “Here we provide an experimental


Step 1: Claiming centrality ( )yes ( )no proof that the light intensity plays an
important role in the vertical distribution
of seven Synechococcus spp. strains
isolated from the littoral zone of Lake
Constance in Germany.”
it is well known that the
it has been shown that the

Ex: “These parameters vary substantially


Step 2: Making topic between different studies although it has
( )yes ( )no
generalization/s been shown that the method used to test
the materials influences the measured P
binding capacity and thus the predicted
performance of the filters as well as their
predicted lifetime.”
Step 3: Reviewing items of
( )yes ( )no
previous literature
Establishing a niche
to the best of our knowledge
Step 1A: Indicating a gap
Ex: “Biomechanical evolution of the
simulated MTS Real cells have passive
or
( )yes ( )no viscoelastic mechanical features, but they
also move actively under the pushes of
Step 1B: Adding to what is
their own cytoskeleton, and to the best of
known
our knowledge there is no comprehensive
model of cellular biomechanics.”
1630 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Introducing the Present Work

of the present study is to


purpose of this paper is to
purpose of this study is to
the purpose of this study is
the aim of the present study
aim of the present study was
aim of this paper is to
Step 1: Announcing present
the aim of this paper is
research descriptively and/or ( )yes ( )no
of the present study was to
purposively
Ex: “The purpose of this study is to
investigate the effects of the operating
parameters on natural gas supersonic
separation process, including the back
pressure, inlet mass flow rates, inlet
pressures and inlet temperatures.”
Step 2: Presenting research
( )yes ( )no
questions or hypotheses
Step 3: Definitional
( )yes ( )no
clarifications
Step 4: Summarizing
( )yes ( )no
methods
Step 5: Announcing principal
( )yes ( )no
outcomes
Step 6: Stating the value of
( )yes ( )no
the present research
this paper is organized as follows
the rest of the paper is
the paper is organized as follows

Ex: “This paper is organized as follows


: First, we provide detailed explanation
Step 7: Outlining the
( )yes ( )no of the methodology of our LV shape
structure of the paper
restoration algorithm. Next we describe
the experiments done on the 30 simulated
samples and the 20 in vivo patient-specific
models to test the performance of the
algorithm, followed by a discussion on the
implications of the experimental results.”
Source: Based on Swales (1990, 2004) framework.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1631

2. Now let’s take a general look at the structure of the sub-genre “introduction
of a Research Article”. According to Bakhtin (2010, p. 262), “every particular
utterance is individual, but every field of language use elaborates their relatively
stable kinds of utterances, which we call discourse genres.” Considering this
statement, get together with the other members of your group and compare the
table each one of you filled out in 3. Analyze the similarities and differences
among the three introductions read. Fill a new table that summarizes the general
structure.

RESEARCH ARTICLE IS THIS COMMUNICATIVE DOES THE GROUP FIND


INTRODUCTION FUNCTION PRESENT IN THIS COMMUNICATIVE
COMMUNICATIVE INTRODUCTION... FUNCTION RELEVANT
FUNCTIONS TO COMPOSE AN
...1? ...2? ...3? INTRODUCTION? WHY?
Establishing a territory

1: Claiming centrality
2: Making topic generalization/s
3: Reviewing items of previous
literature
Establishing a niche
1A: Indicating a gap
or
1B: Adding to what is known
Introducing the Present Work

1: Announcing present research


descriptively and/or purposively
(presenting the aim of the study)

2: Presenting research questions


or hypotheses
3: Definitional clarifications

4: Summarizing methods

5: Announcing principal
outcomes
6: Stating the value of the present
research
7: Outlining the structure of the
paper

Source: Based on Swales (1990, 2004) framework.


1632 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

3. So far, we have become acquainted with Research Article introductions


published in academic journals. Now you are going to select a research project
you are involved with so that you can write the introduction of a Research
Article about it.

LANGUAGE ELEMENTS
1. You are now going to read two introductions of Research Articles from the
area of Physics published in the PLOS ONE platform. Before you do so, discuss:

a. Do you know the PLOS ONE platform? Have you ever visited it?
Tell your classmates what you know about it.
b. Open the platform website and check if it offers any guidelines to
authors.
2. Read the introductions below and, using different colors, highlight the parts
of the text that represent the communicative functions listed in item 3. In pairs,
discuss the differences and similarities you identify. Check your answers with
your other classmates afterwards.

Introduction A
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1633

Introduction B

Increasing interference due to multiple users and other signal sources


is one of the fundamental problems in wireless communication and has
been extensively studied for many years. Smart antenna systems decrease
interference by adaptive beamforming techniques like minimum variance
distortionless response (MVDR). It is one of the commonly utilized
adaptive array beamforming techniques [1], but it is often not able to form
nulls towards any nearby interference sources satisfactorily. Consequently,
MVDR may lead to significant performance degradation in the case of
unexpected interfering signals [2]. It is difficult and time consuming
to solve these problems through conventional empirical approach, and
sometimes, in the applied cases, is impractical. Recently, the employment
of meta-heuristics algorithms has been growing instead of exhaustive
and exact procedures in similar applications [3–7]. Consequently, meta-
heuristics and exploratory methods need to provide mathematically
reliable solutions for this complicated class of optimization problems.
However, the performance of these algorithms is often unsatisfactory
for cases with three or more interference sources due to issues such
as premature convergence and lack of sufficient exploration. Several
methods are suggested for increasing the search diversity of SGSA, such
as increasing the initial number of leaders (initial kbest). However, this
significantly increases computational complexity of the force equation
in GSA without properly addressing the key issue of dominant agents,
with large masses, causing premature convergence. Primary reason for
the search pattern domination is because agents are allowed to exert a
force proportional to their performance and most SGSA variants allow
1634 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

the best agents to consistently influence all agents. Therefore, this paper
suggests a stochastic leader gravitational search algorithm (SL-GSA)
to enhance MVDR beamforming performance by preventing premature
convergence and improving overall exploration. Standard gravitational
search algorithm (SGSA) [8] was proposed as a global optimization
method for computationally complex real world problems. In SGSA,
the particles, called agents, move based on Newton’s law of universal
gravitation. The search space is represented as an ‘n’ dimensional space
and the position of each agent is represented by a coordinate vector of
length n. The mass of these agents are determined based on their fitness.
The performance of each agent is calculated using the fitness function
and their positions are updated accordingly. All the SGSA search agents
(individuals) globally move toward the agents with heavier masses due
to their gravitational force. Hence, superior solutions of the problems
are represented by the heavier masses. The global search ability and
high performance of SGSA in solving several nonlinear functions have
been confirmed previously [8]. The balance between exploration and
exploitation is critical for heuristic algorithms to achieve robust and
reliable performance. In SGSA, this balance is achieved using the
time variant linearly decreasing kbest parameter, which determines the
number of agents that are allowed to exert force on the others in a given
iteration. Thus, the parameter kbest is initially large and linearly reduced
to provide some protection from premature convergence. This technique
still allows the optimization process to be heavily influenced by agents
with superior fitness resulting in poor exploration properties. As kbest
agents are chosen based on their current fitness, it allows agents with
superior fitness to attract the others towards optimal solutions. Thus, the
algorithm is highly dependent on the best performing agents. However,
if the kbest agents stagnate at a local optimum, the other agents become
practically helpless to prevent premature convergence. The SGSA agents
gravitate towards ‘kbest’ optimum agents. This allows convergence
towards superior solutions but also allows the search to stagnate at
local optima. In this paper, SL-GSA randomly selects agents from a
gradually reducing set that removes agents with inferior performance
based on the adaptive parameter, γ. This directly prevents the domination
of the search pattern by any individual agent. Thus, SL-GSA is far less
likely to stagnate in a local optimum because it randomly ignores the
best particles sometimes. This allows more efficient exploration before
1635 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

final convergence. The proposed new parameter, γ, prevents selection


of the agents with the worse fitness in the later part of the optimization.
This, in conjunction with the linear decrease of the parameter k, allows
SL-GSA to converge faster than SGSA. This is verified by applying the
proposed algorithm to six benchmark functions and two case studies
of MVDR beamforming technique. High performance of convergence
and quality of final solution compared to original algorithm is achieved
as discussed in simulation results. The rest of this paper is organized as
follows: Section 2 introduces the brief review of SGSA. The proposed
SL-GSA is presented in section 3. The basics of adaptive beamforming
and the conventional MVDR technique are explained in section 4 and
5, respectively. The testing of the proposed SL-GSA via benchmark
functions and the simulation results obtained via SGSA and its variants
are reported in section 6. Section 7 shows the incorporation of MVDR
in SL-GSA. The efficiency of SL-GSA for different interferences in two
case studies is also reported in this section. Finally, Section 8 concludes
this investigation.

3. The key lexical bundles (KLBs) below were extracted from a corpus of
Physics Research Article Introductions compiled from PLOS ONE platform.
They were some of the most frequent in the corpus. With a classmate, complete
the chart below according to the examples given. You can choose from the
communicative functions listed below:

a) Establishing a territory: claiming centrality


b) Establishing a territory: making topic generalization/s
c) Establishing a niche: indicating a gap or adding to what is known
d) Introducing the present work: stating the purpose of the study
e) Introducing the Present Work: outlining the structure of the paper
1636 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

Likely communicative Likely location in


Key Lexical Bundles
function in the text the text
...it is well known that the...
...purpose of this paper is to...
...this paper is organized as follows...
...plays an important role in the...
...of the present study was to…
...the rest of the paper is...
it has been shown that the...
...the aim of this paper is…

Source: Based on Swales (1990, 2004) framework.

4. All the sentences below were taken from research articles from the area of
Physics. See which KLB best completes each sentence.
3

Examples KLBs
“Here we provide an experimental proof that the light
intensity is ___________________ vertical distribution
1 ( ) to the best of our knowledge
of seven Synechococcus spp. strains isolated from the
littoral zone of Lake Constance in Germany.”3
“These parameters vary substantially between different
studies although _______________________method
2 used to test the materials influences the measured P plays an important role in the
( )
binding capacity and thus the predicted performance of
the filters as well as their predicted lifetime.”
“Biomechanical evolution of the simulated MTS Real
cells have passive viscoelastic mechanical features, but
3 they also move actively under the pushes of their own ( ) The purpose of this study is
cytoskeleton, and ___________________ there is no
comprehensive model of cellular biomechanics.”
“_______________________________ to investigate
the effects of the operating parameters on natural gas
This paper is organized as
4 supersonic separation process, including the back ( )
follows
pressure, inlet mass flow rates, inlet pressures and inlet
temperatures.”
“ _________________________________ First, we
provide detailed explanation of the methodology of
our LV shape restoration algorithm. Next we describe
5 the experiments done on the 30 simulated samples ( ) it has been shown that the
and the 20 in vivo patient-specific models to test the
performance of the algorithm, followed by a discussion
on the implications of the experimental results.”

3
Todos os exemplos foram retirados do corpus de estudo.
Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021 1637

YOUR TURN
1. You are going to write an introduction for a Research Article that has to do
with your research project in the area of Physics. Before that, get in groups and
make a list of the indispensable elements to write a good introduction. You may
consult the table under the Finding Regularities section to help build your list.
a. _______________________________________________________
b. _______________________________________________________
c. _______________________________________________________
d. _______________________________________________________
e. _______________________________________________________
f. _______________________________________________________
g. _______________________________________________________
h. _______________________________________________________
i. _______________________________________________________
j. _______________________________________________________

2. Next, decide with the whole class which elements are going to be part of the
assessment criteria of your introductions.
a. _______________________________________________________
b. _______________________________________________________
c. _______________________________________________________
d. _______________________________________________________
e. _______________________________________________________
f. _______________________________________________________
g. _______________________________________________________
h. _______________________________________________________
i. _______________________________________________________
j. _______________________________________________________

3. Write the first version of your introduction and bear in mind the following:
a. What you are writing about
b. Who you are writing to
c. How you are organizing your text
d. What language you are using
e. Where you are publishing it
1638 Rev. Estud. Ling., Belo Horizonte, aop17484.2021

4. Look at the table below. When writing the first version of your introduction,
answer the questions below about your project using the Key Lexical Frames
(KLFs) suggested having the examples provided as a reference.
4

Your
Questions KLF Example
sentence
Ex: “Here we provide an experimental
What is the proof that the light intensity plays an
____(play/plays) an
importance important role in the vertical distribution
important role in the
of the present of seven Synechococcus spp. strains
____
study? isolated from the littoral zone of Lake
Constance in Germany.”4
Ex: “These parameters vary substantially
between different studies although it has
What other _____ it (is well been shown that the method used to test
studies have known/has been the materials influences the measured P
shown? shown) that the ____ binding capacity and thus the predicted
performance of the filters as well as their
predicted lifetime.”
Ex: “Biomechanical evolution of the
simulated MTS Real cells have passive
Is there any gap viscoelastic mechanical features, but they
_____ to the best of our
in the present also move actively under the pushes of
knowledge _____
studies? their own cytoskeleton, and to the best of
our knowledge there is no comprehensive
model of cellular biomechanics.”
Ex: “The purpose of this study is to
investigate the effects of the operating
What is the The (purpose/aim) of
parameters on natural gas supersonic
purpose of the (this /the present) (study/
separation process, including the back
study? paper) (is/was) to _____
pressure, inlet mass flow rates, inlet
pressures and inlet temperatures.”
Ex: “This paper is organized as follows
: First, we provide detailed explanation
of the methodology of our LV shape
What is the (The rest of the/This) restoration algorithm. Next we describe
structure of the paper is organized as the experiments done on the 30 simulated
paper? follows ______ samples and the 20 in vivo patient-specific
models to test the performance of the
algorithm, followed by a discussion on the
implications of the experimental results.”

5. After you write the first version of your introduction, exchange it with
a classmate and use the rubric built by the group to give suggestions and
recommendations to help them improve their text.

4
Todos os exemplos foram retirados do corpus de estudo.

Você também pode gostar