Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sumário
A. Diferenciação
B. Relevância prática
A. Previsão constitucional
Conclusão
A. Coordenadas histórico-políticas
IV - Conteúdo do direito
Nota Introdutória
Num plano muito lato, poderemos dizer que a sua essência reside no conjunto
de regras e princípios normativos, bem como de decisões, com relevância para
o ambiente.
O interesse da preservação de um ambiente com determinadas características,
porque convergente com um leque de interesses a ele estranhos, terá uma
protecção que se traduzirá num precipitado de actos jurídicos com
características díspares.
Assim, parece legítimo admitir um verdadeiro direito ao ambiente que terá por
objecto o conjunto de valores ambientais reconhecidamente consagrados.
Se, pelo contrário, se negar esse conteúdo positivo, a actividade daquele não
passará da constatação da existência ou não, in casu, de norma que proteja
esse interesse.
É esta última a perspectiva, infelizmente dominante, que entende ser lícita uma
actividade, logo que devidamente licenciada, mesmo que se demonstre ofender
gravemente o ambiente.
Se, pelo contrário, se entender que o direito ao ambiente tem um conteúdo
próprio positivo, será sempre legítimo ao juiz apreciar e valorar a se o interesse
ambiental que lhe corresponde, cotejando-o com outros direitos que com ele
conflituem.
O artigo 2.o da Lei de Bases do Ambiente - -é uma cópia quase integral daquele
preceito.
Tal nota é deveras importante, já que, o regime destes últimos aplica-se aos
direitos fundamentais de natureza análoga, sendo uma das suas características
o serem directamente aplicáveis e vincularem entidades públicas e privadas .
B. Impõe-se uma articulação desta tutela constitucional do direito ao ambiente
com o direito de acção popular conferido pelo artigo.
É este seu carácter instrumental que permite classificá-lo como garantia, por
contraposição aos direitos fundamentais stricto sensu, como o direito ao
ambiente, com o alcance já definido.
Doutro modo, custoso será reconhecer que muitos dos preceitos das duas
referidas leis são pura letra morta.
Essa tutela assume, como visto, duas vertentes estruturais: uma positiva,
porque plasmada numa exigência de que o Estado proteja tais interesses direito
subjectivo público; outra negativa, consistente na possibilidade de impor a
outrem, particular ou Estado, que se abstenha de os ofender.
Por um lado, o poder judicial, nas poucas vezes em que é instado para julgar
questões que passem pela consideração de bens ambientais, remete por sistema
para os órgãos políticos a sua definição e avaliação.
Por fim, quando o interesse ambiental é afirmado numa vertente positiva, é-o
por referência a problemas conexos com o direito de propriedade ou com os
direitos de personalidade, como frontispício que vai reforçar o valor desses
direitos. Ou como factor delimitativo da extensão de outros direitos, cujas
virtualidades de exercício restringe v.g., direito de propriedade ou direito ao
trabalho.
Essa análise a nível de estrutura não poderá, todavia, ser desligada de uma
indagação sobre a existência ou não, em concreto, de ofensa a um bem
ambiental e sobre os limites a partir dos quais este adquire um valor
juridicamente relevante.
B. O que nos relança para a vexata quaestio de saber onde pára a competência do
juiz e começa a do político.
Não deve porém tal facto impelir o juiz a abster-se de julgar, pois a ele incumbe
assegurar o respeito pelos princípios éticos fundamentais da sociedade.
Mais correcto teria sido encarar o bem ambiental a preservar, verificar se ele
correspondia a um interesse com relevo suficiente (atendendo, essencialmente,
à sua natureza e ao grau de sacrifício que para ele resulta da ofensa concreta)
para merecer a tutela jurídica que se pretende com a consagração do direito ao
ambiente, e, em caso afirmativo, cotejá-lo com o direito em cujo exercício se iria
praticar o acto lesivo.
Só se se entendesse não ser ele digno dessa tutela do direito, atitude que no caso
concreto se poderia compreender, seria legítimo remeter a decisão para
instâncias políticas (a decisão política de criação de uma reserva ecológica,
actividade muito mais discricionária do que a decisão jurisdicional de
afirmação de um interesse carecente da protecção daquele direito).
É curioso anotar que, precisamente por não se vir dando ao direito ao ambiente
um conteúdo autónomo, casos houve em que o interesse ambiental funcionou
como factor limitativo do exercício de outro direito, que desse modo ajudou a
conformar restritivamente(35).