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Transtorno Do Espectro Do Autismo - Da Avaliação À Intervenção Neuropsicológica Histórico-Cultural
Transtorno Do Espectro Do Autismo - Da Avaliação À Intervenção Neuropsicológica Histórico-Cultural
Natal
Dezembro/2018
2
de Doutorado.
Natal
Dezembro/2018
3
Quando me afasto das pessoas, fico só num canto, dizem que não percebo ninguém
Quando saio de situações e corro sem parar, dizem que não me protejo e não tenho medo
Quando balanço meu corpo, grito e aceno minhas mãos, dizem que não falo
Quando insisto em seguir os mesmos caminhos, dizem que não sei aonde vou
Pareço diferente
Tenho interesse por coisas que, talvez, vocês nunca tenham pensado e acreditem:
Eu percebo, eu sinto, tenho medo, falo, brinco e insisto num caminho prá chegar até você
Agradecimentos
“Cada pessoa que passa em nossa vida passa sozinha, e não nos deixa só, porque deixa
um pouco de si e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade da
vida e a prova de que as pessoas não se encontram por acaso”
(Charles Chaplin)
Aos meus pais e ao meu esposo Rosenberg, pelo apoio incondicional nesta trajetória
acadêmica;
Ao meu filho Raul, que ainda no meu ventre, suportou madrugadas acordadas e fortaleceu
À minha orientadora Izabel Hazin pela competência e profissionalismo com que conduziu
oportunidade de fazer valer esta tese, sem perder de vista o carinho e a confiança
Às amigas que a vida me presenteou, em especial, Camila Simão, Dulce Teixeira, Flávia
Gobbi, Lilian Lisboa, Lívia Vilela e Yoshie Kanegane pelo apoio essencial na vida
profissional e pessoal;
realização do estudo;
Sumário
Objetivos ........................................................................................................................ 26
Método ........................................................................................................................... 27
Bibliografia .................................................................................................................... 50
Bibliografia: .................................................................................................................. 93
Lista de Tabelas
e comportamento ............................................................................................................ 68
controle ........................................................................................................................... 77
Tabela 11: Síntese dos principais programas de intervenção para pessoas com Transtorno
Tabela 13: Protocolo SEMEA para gradação de severidade nas áreas de Comunicação,
Lista de Figuras
........................................................................................................................................ 41
desempenho .................................................................................................................... 42
2½-7 [A] - SON-R EE: Escala de execução | SON-R ER: Escala de raciocínio............ 43
Figura 4: Descrição do funcionamento do grupo TEA nos subtestes SON-R 2½-7 [A] 44
separação ........................................................................................................................ 81
Figura 6: Gráfico apontando o grau de importância de cada variável para a partição dos
grupos ............................................................................................................................. 82
Comportamento .............................................................................................................. 83
9
Resumo
Introdução Geral
foi motivada por uma trajetória de pesquisa e profissional vinculada ao tema. Dos estágios
ingressei no Instituto Santos Dumont (ISD), Organização Social que atua na região
reabilitação física, intelectual e auditiva, sendo o Autismo uma das clínicas contempladas.
neuropsicologia apresenta-se como base teórica e prática que, acredita-se, pode construir
reabilitação do ISD, o Autismo constitui-se como uma das áreas de avaliação diagnóstica
11
cenário integra-se ao universo da pesquisa, aqui apresentado como uma das propostas de
parceria entre o ISD e a UFRN com o fim de oferecer às pessoas com Autismo uma
Sinais de alerta de TEA já são passíveis de identificação nos seis primeiros meses de
vida. Embora não haja, até o momento, evidência que respalde um diagnóstico clínico no
estudo sugere que os lactentes com indicadores clínicos de risco para o desenvolvimento
bebês com risco obtiveram pior desempenho na habilidade de compartilhar objetos com
12
andar) em direção aos alvos apropriados para a tarefa, ou seja, cuidadores ou objetos.
vocal repercutem na resposta-sorriso do bebê, que por sua vez, podem repercutir no
tristeza, medo, raiva, nojo). Falhas na percepção facial e vocal também parecem repercutir
Nessa direção, para Gillet (2014), os sinais de alerta para a identificação precoce de
TEA podem mudar consideravelmente com a idade, sendo mais sutis nos 6 primeiros
meses e mais aparentes a partir dos 18-22 meses. Klin et al. (2008) apresentam dados de
movimento ocular de bebês ao olhar rostos de humanos e verificou que eles direcionam
o olhar para elementos situados à margem do rosto. Quando incide sobre o rosto, em
contraponto ao grupo controle de bebês sem risco de autismo, o olhar dos bebês com risco
de autismo não é direcionado para o eixo central e os olhos. Pierce et al. (2011)
em movimento, bem como atípica exploração visual de rostos. Nogueira, Seabra e Seidl
de Moura (2000 como citado em Bosa 2002, p. 84) apresentam achados de bebês com
suspeita de autismo que possuem menor frequência de contato visual e nenhum episódio
de interação com sua mãe. Martinho e Zilbovicius (2009) indicam que indivíduos com
fusiforme (porção inferior do lobo temporal), descrito como área cerebral seletiva para a
face humana.
voz humana. Martinho e Zilbovicius (2009) destacam estudos que encontraram diferença
com autismo. Nesses estudos, escutar uma voz e outro tipo de som ativou as mesmas
regiões cerebrais.
Recém-nascidos, com apenas horas de vida, conseguem imitar o adulto quando este
abre a boca e estende a língua para fora. Quando mais velhas, as crianças com
pessoa e o objeto de interesse. Aos 12 meses de vida, as crianças, tipicamente, olham para
o parceiro, após apontar. Aos 14 meses, o ato de apontar acompanha o olhar para o
Estudos de vídeos familiares retrospectivos mostram que crianças com risco de TEA
arbitrários das mãos (como abri-las e fecha-las), o apontar direcionado para os objetos,
ou ainda, os gestos que imitam a utilização de um objeto (Bosa, 2002; Garcia & Lampreia,
bebês entre dois e seis meses de vida com risco de TEA e tal queda parece interferir na
comparou o desenvolvimento social de crianças típicas e com risco de TEA. Ele observou
a presença de falhas gestuais nos primeiros meses de vida a partir da observação do modo
pelo qual os bebês com risco olhavam para os objetos, pediam o que desejavam, ou como
reagiam quando apontavam para alguma direção. Tais bebês apresentaram sinais clínicos
qualquer pessoa. Comumente, a partir dos oito meses, a criança tende a estranhar quem
não é do seu convívio e até chora demonstrando aparente insatisfação. Uma criança com
risco de TEA sugere sentir-se confortável com qualquer pessoa. O choro quase
com o toque, com alguns sons e com certas texturas de alimentos (o que comumente
dificulta a transição do leite materno para as comidas sólidas). Quando as crianças estão
mais velhas, os pais geralmente observam ausência da fala, uma aparente surdez e os
braços (como antecipação a ser pego no colo), falta de imitação da fala ou dos gestos,
falha em apontar ou mostrar objetos para os outros e peculiar contato visual. Geralmente
quando há envolvimento excessivo no que estão fazendo (Grossman, Carter, & Vokmar,
1997).
15
Estudos de neuroimagem sugerem que crianças com TEA teriam disfunção nos
informações de ordem social. Porém, Hamilton (2013) sugere que não há uma disfunção
global dos neurônios-espelho no autismo. Para o autor, haveria falha na modulação top-
down1 de resposta social. Castelli, Frith, Happé and Frith (2002) e Frith (2004) também
sugerem falhas na ativação top-down em indivíduos com TEA, uma vez que parecem
existir fraquíssimas conexões entre regiões do córtex extra estriado e regiões fronto-
neurológicas de crianças com TEA iniciam antes mesmo da idade típica do diagnóstico
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que existam 70 milhões de pessoas
brasileiros e nos Estados Unidos a prevalência aumentou 119,4% entre 2000 e 2010. O
Prevention – CDC), órgão próximo do Ministério da Saúde brasileiro, estima que uma
uma em 189 meninas, logo, para cada quatro meninos, uma menina é afetada. Desses,
1
Estratégia de processamento da informação neurológica “de cima para baixo”, na qual é formulada uma
visão geral do sistema nervoso, partindo de uma instância final para a inicial, como uma engenharia reversa
cada nível neurológico vai sendo detalhado, do mais alto ao mais baixo, de forma a se chegar nas
especificações dos níveis mais básicos do elemento abordado.
16
podem ser atribuídos à genética (David, Babineau, & Wall, 2016; Schmidt, 2017).
mundial do TEA. David et al. (2016) reforçam a importância de estudos com colaboração
epidemiológicas sobre o TEA. Schmidt (2017) mostra estudos com justificativas atreladas
população em geral.
Embora a taxa de prevalência tenha aumentado, Mello (2013) destaca que apenas
15,45% de crianças entre 0 e 5 anos com diagnóstico de TEA são assistidas no Brasil. Ele
sugere que essa realidade brasileira se depara com a árdua tarefa de identificação clínica
autismo. De acordo com Nunes (2012), as crianças com TEA possuem vaga em escolas
criança e seus familiares. Os estudos mais recentes sobre autismo apontam que
especial para as faixas de idade seguintes (David, Babineau & Wall, 2016; Garcia &
neuropsicológico do TEA, acredita-se que mais pesquisas na área podem confluir para a
intelectual é de 4,7 mil casos para cada 10 mil diagnósticos. Da totalidade de casos de
Limítrofe e 31% como Deficiência Intelectual. No entanto, cabe a reflexão crítica sobre
humano. Estudos filogenéticos revelam que o crescimento total do cérebro poderia estar
sobre outras pessoas. Marin, Moura e Mercadante (2009) destacam que, durante o
surgimento do homem moderno, por volta de 150 mil anos atrás, indivíduos que puderam
conectividade das minicolunas supranumerárias que, por sua vez, levam a alterações na
cerebral.
social. Acredita-se que o TEA é uma espécie de “pane” neurofisiológica que cria
obstáculos para o processamento cerebral típico. Ou seja, como a trama de fina renda,
2001). De acordo com Sasson, Nowlin e Pinkham (2013) a cognição social denota
quando exigidos dentro de um contexto dinâmico, pautado por relações sociais (Baron-
memória operacional. Por sua vez, a ToM é uma função cognitiva que permite entender
o próprio estado mental, assim como o dos outros (Baron-Cohen, Leslie, & Frith, 1985).
sulco temporal superior (STS) e no giro temporal superior, que estaria associado aos
processando os movimentos dos olhos, boca, mãos e corpo, permitindo a percepção social
utilizada para avaliar o pensamento dos outros (ToM). O STS parece estar envolvido
20
da comunicação interpessoal.
infantil. Trevarthen (1996 como citado em Bosa 2001, p. 286) apresenta estudo acerca do
efeito bilateral entre a falha nas funções cognitivas fundamentais para socialização e o
TEA.
Brasil, tendo o estado do Rio Grande do Norte o maior índice de deficiência (taxa de
pesquisas que auxiliem esta população (IBEG, 2010). Como apresentado anteriormente,
crianças diagnosticadas, apenas 15,45% entre 0 e 5 anos são assistidas no Brasil. Também
como possibilidade que busca integrar a dimensão cognitiva aos aspectos socioculturais,
especial, pelo legado teórico de Luria (1902-1977) e suas aplicações práticas decorrentes
específicos (Hazin et al., 2010). Ademais, parte-se de achados que vão ao encontro do
que Luria (1966, 1973a) afirmou acerca de uma das leis que regem as funções corticais,
a saber, a lei da estrutura hierárquica das zonas corticais, segundo a qual há uma interação
humano – atividade subcortical mais intensa nos três meses, atividade frontal crescente
ao redor dos nove ou dez meses e, finalmente, em torno dos quatro anos, pico da atividade
o seu diagnóstico?
em seu artigo 196, que a saúde é um direito de todos e um dever do Estado, garantido
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua
n° 8368, de 02 de dezembro de 2014, que tem por objetivo garantir à pessoa do espectro
se suas especificidades.
clínica, notadamente em fases precoces do desenvolvimento, processo esse que pode ser
23
Saúde (2015, p. 48): “A detecção precoce para o risco do TEA é um dever do Estado,
risco e vulnerabilidade, dentre as quais, crianças com risco de TEA. Nesse sentido, no
atual contexto da atenção integral à saúde das pessoas com TEA no Nordeste brasileiro,
padrão consistente e intervenção precoce refinada, sendo ambos necessários para atender
Educação (MEC). A OS atua na cidade de Macaíba (Rio Grande do Norte), nas áreas de
neuroengenharia. Sua missão é promover educação para a vida, formando cidadãos por
mais justa e humana da realidade social brasileira. O ISD apresenta duas unidades: O
Saúde (SUS).
de Natal com hipótese ou diagnóstico de TEA. Essas crianças e seus familiares ingressam
grupo de apoio aos pais e atividades de educação permanente com profissionais de saúde
e educação básica.
Nessa perspectiva, o presente estudo constitui-se como uma das pesquisas resultantes
âmbito da temática em questão, quais sejam: 1) O teste SON-R 2 ½ - 7 [a] como modelo
sistêmica para crianças com Transtorno do Espectro do Autismo: modelo teórico piloto
Objetivos
Objetivos específicos:
da severidade do diagnóstico;
desenvolvimento de TEA.
27
Método
envolvendo seres humanos. Sua execução foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
Participantes
exigindo muito apoio substancial (nível 3); 2- Crianças com TEA exigindo apoio
substancial (nível 2); 3- Crianças com TEA exigindo apoio (nível 1).
O processo avaliativo tem duração média de 2 meses (Tabela 2). A concordância entre
juízes foi avaliada pelo Kappa de Cohen (0.7167), cujo valor indicou concordância
substancial (Landis & Koch, 1977). Nos casos de discordância entre os juízes, foi
28
clínico em função da idade, sexo, tipo de escola, escolaridade da mãe e renda familiar.
Este grupo clínico foi pareado com o grupo controle espelhado, numa proporção de
1:2. Assim como as crianças do grupo clínico, os participantes do grupo controle tiveram
Instrumentos
Reconhecimento de Emoções
do software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS 21.0), adotando-se p<0,05
características de grupos que podem ser interpretáveis pelo pesquisador. Tal modalidade
(relevantes para a partição dos clusters) nos escores dos testes utilizados.
32
Introdução
primeiro ao último grupo nos escores de comportamento adaptativo obtidos nas escalas
Fetal, Síndrome de Williams-Beuren, dentre outras (Mecca, Orsati, & Macedo, 2014).
e aprender com a experiência. Sua avaliação é de suma importância, pois estas habilidades
profissional.
características de padronização específicas aos grupos citados (Laros, Reis, & Tellegen,
70% dos casos, porém, os testes tradicionalmente utilizados exigem habilidades verbais
acordo com Tellegen e Laros (2004), os testes de inteligência geral, como as escalas
linguagem podem ter seu desempenho prejudicado (Tellegen & Laros, 2005).
Em estudo publicado por Tellegen e Laros (1993), três grupos clínicos (deficiência
exclusivamente verbais. Estudos apontam que testes não-verbais são mais úteis e
Performance Scale – Revised) para avaliar essas populações clínicas na idade entre 2 e
20 anos. Estudos que objetivam avaliar os aspectos cognitivos do TEA têm mostrado que
quando este quadro está associado a algum grau de deficiência intelectual, testes não-
verbais como a Leiter-R têm se mostrado mais úteis para a avaliação de inteligência
Além disso, indivíduos com TEA tendem a apresentar maiores pontuações em testes não-
melhor os aspectos cognitivos daqueles com TEA que apresentam deficiência intelectual
moderada ou severa, bem como aqueles indivíduos que não conseguem responder aos
35
Embora o estudo publicado por Macedo et al. (2013) aponte que o funcionamento
intelectual não está diretamente relacionado ao fato da criança ter um Transtorno Autista,
um grupo clínico com TEA classificado com os novos critérios diagnósticos do DSM-5,
análise (no mínimo 6 critérios, dentre o total de 12) permitindo, aproximadamente, duas
decresce pela metade, porque a nova proposição exige preenchimento de todos os três
apontam que o mesmo genótipo pode produzir fenótipos de maior ou menor gravidade.
7 [a]), cuja edição é a versão reduzida e normatizada para a população brasileira do teste
não-verbal de inteligência SON-R 2½-7, versão holandesa. O teste foi construído por
36
testes SON das habilidades verbais o torna adequado às populações clínicas com
intelectual das crianças com TEA. Uma das principais vantagens desse instrumento está
da descrição de mais de uma habilidade cognitiva nas crianças a partir dos dois anos e
seis meses. O teste possui duas escalas: a Escala de Execução (SON-EE) e a Escala de
enquanto a SON-EE avalia habilidades espaciais e viso motoras, das quais proporcionam
sensibilidade para detalhes visuais, para a apresentação de ideias gráficas, assim como
crianças com TEA (conforme DSM-5) e crianças com desenvolvimento típico com perfil
entre os resultados obtidos nos instrumentos, uma vez que ambos pretendem avaliar a
Método
Participantes
Macaíba (RN). Foram avaliadas 30 crianças, entre 5 e 7 anos de idade, de ambos os sexos,
TEA exigindo muito apoio substancial (nível 3); 2- Crianças com TEA exigindo apoio
substancial (nível 2); 3- Crianças com TEA exigindo apoio (nível 1); e 4 - Crianças com
desenvolvimento típico.
N 10 7 7 6
Máximo 7 7 7 7
Mínimo 5 5 5 5
Instrumentos
Categorias
exemplo. A criança precisa escolher as figuras que possuem algo em comum com a
categoria apresentada (ex: bonecas). Nos primeiros sete itens, quatro ou seis cartões
precisam ser postos na categoria correta. Os itens seguintes são de múltipla escolha nos
quais a criança deve escolher, entre os cinco objetos, os dois adequados à categoria em
análise.
Situações
escolhe a opção que melhor complete uma figura ou situação, de modo a deixá-la
figuras. Depois de ter recebido os cartões com as metades faltantes, a criança precisa
subteste é de múltipla escolha. Cada item consiste no desenho de uma situação em que
uma ou duas peças estão faltando. As peças corretas precisam ser escolhidas entre várias
Mosaicos
Padrões
criança precisa copiar com um lápis uma forma geométrica. Os itens inicialmente são
falta uma parte. A tarefa da criança consiste em escolher, entre as alternativas colocadas
ordem de dificuldade crescente. A maioria dos itens está impresso com fundos coloridos,
Procedimentos
envolvendo seres humanos. Sua execução foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
TEA exigindo apoio (Leve), 2 - Crianças com TEA exigindo apoio substancial
(Moderado), 3 - Crianças com TEA exigindo muito apoio substancial (Grave). Os níveis
concordância entre juízes foi avaliada pelo Kappa de Cohen (0.7167), que indicou
concordância substancial (Landis & Koch, 1977). Nos casos de discordância entre os
O processo de avaliação teve média de três sessões com a criança, com duração de 50
Raven (MPCR).
Categorias e Situações;
resultados dos participantes. Esta análise foi realizada através do teste Qui-Quadrado,
Resultados
completaram as tarefas do MPCR e SON-R 2½-7 [A]. Note-se que nenhuma das crianças
diagnosticadas com TEA Grave foi capaz de realizar o MPCR. No entanto, todos os
10
7
6
4
3
0
0
0
0
SEM TEA TEA LEVE TEA TEA GRAVE SEM TEA TEA LEVE TEA TEA GRAVE
MODERADO MODERADO
MPCR SON-R 2 ½ - 7 [A]
Considerando os resultados obtidos do SON-R 2½-7 [A], o número total de crianças com
TEA Grave obteve resultados abaixo da média, enquanto apenas uma criança com TEA
Leve obteve resultado similar. O grupo com TEA Leve concentra-se principalmente na
categoria média, enquanto o grupo com TEA Moderado concentra-se na categoria abaixo
da média. Por sua vez, o grupo sem TEA está concentrado na categoria acima da média.
Em relação ao teste MPCR, o grupo sem TEA está concentrado na categoria média,
enquanto os grupos com TEA Moderada e Leve apresentaram classificações iguais nas
Com relação às escalas SON-R 2½-7 [A], a Figura 3 apresenta o desempenho das
Execução (SON-R EE) e Raciocínio (SON-R ER). Os grupos com TEA Leve e Moderado
escala de raciocínio.
6
5
5
4
4
3
3
2
2
1
1
1
0
0
0
0
0
0
SEM TEA TEA LEVE TEA TEA GRAVE SEM TEA TEA LEVE TEA TEA GRAVE
MODERADO MODERADO
MPCR SON-R 2 ½ - 7 [A]
7
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6
5
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3
2
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1
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0
0
0
0
0
SEM TEA TEA LEVE TEA TEA GRAVE SEM TEA TEA LEVE TEA TEA GRAVE
MODERADO MODERADO
SON-R EE SON-R ER
Figura 3: Crianças que obtiveram classificações de desempenho nas escalas do SON-R 2½-7
[A] - SON-R EE: Escala de execução | SON-R ER: Escala de raciocínio
Na Tabela 5, nota-se que houve diferença significativa nos resultados obtidos nos
subtestes SON-R 2½-7 [A] de acordo com o nível de intensidade do TEA, com exceção
Tabela 5: Desempenho nos testes de inteligência de acordo com a variável Nível de Intensidade
do TEA
EE
Nota: Valores em negrito - Estatística significativamente diferente (p = 0,05) de acordo com o nível de
intensidade do TEA. MPCR = Matrizes Progressivas Coloridas de Raven; SON-R QIT = QI Total de SON-
R 2½-7 [A]; SON-R EE = Escala de Execução do SON-R 2½-7 [A]; SON-R ER = Escala de Raciocínio do
Na busca por melhor compreensão da amostra clínica nos subtestes SON-R 2½-7
[A], a Figura 4 apresenta os resultados de desempenho dos grupos com TEA Leve,
comparação dos grupos Leve e Grave do TEA, no entanto, o grupo do TEA Moderado
Figura 4: Descrição do funcionamento do grupo TEA nos subtestes SON-R 2½-7 [A]
Discussão
A análise descritiva dos resultados indica que todas as crianças com TEA Grave não
Embora tenham obtido resultados abaixo da média no teste de QI Total da SON-R 2½-7
[A], seu desempenho foi completado com sucesso. Apesar do reduzido número de sujeitos
revisada). Vinte (20) crianças não foram capazes de realizar o teste de Matrizes com
45
sucesso, e o estudo relata que esses foram os sujeitos com maiores níveis de
comprometimento.
Com base nos resultados apresentados na comparação dos sujeitos de acordo com os
resultados do MPCR e SON-R 2½-7 [A], verifica-se que as crianças sem TEA e as com
padronização do teste de Matrizes para grupos clínicos como o TEA (Mecca et al., 2014).
O teste de Matrizes apresenta alta validade de convergência com o SON-R 2½-7 [A],
Por sua vez, Laros et al. (2010) destacam a vantagem do SON-R 2½-7 [A] através da
A análise descritiva do SON-R 2½-7 [A] indica que todas as crianças da amostra com
TEA Grave obtiveram resultados abaixo do esperado no QIT, embora as crianças com
Com relação às escalas SON-R 2½-7 [A], ambas apresentaram estatística significante
entanto, uma análise descritiva mais detalhada sugere mais recursos na Escala de
Execução. A partir da análise de cada resultado dos subtestes SON-R 2½-7 [A], verificou-
Situações está mais próximo nos grupos com TEA Leve e Moderado, mas distâncias do
resultados obtidos no subteste Mosaicos, o que requer que o sujeito construa uma
com estudos anteriores que indicam habilidades visuoespaciais como as habilidades mais
preservadas no TEA (Happé & Frith, 1996; Mayes & Calhoun, 2008).
estudo publicado por Macedo et al. (2013), que analisou a sensibilidade e especificidade
do teste SON-R 2½-7 [A] para o TEA e sugere dificuldades de execução para o subteste
habilidades motoras não estejam dentro das principais características do TEA, muitos
Categorias e Situações é compatível com a literatura clínica, uma vez que o nível de
crianças que frequentemente apresentam baixos escores no SON-ER tendem a ter suas
O subteste Categorias é uma tarefa que exige raciocínio fluido para estabelecer
aos Mosaicos corroboram achados anteriores de estudos que sugerem que habilidades
fluidos no grupo clínico com TEA (Kuschner, Bennetto, & Yost, 2007).
Por sua vez, o subteste Situações, quando comparado a Categorias, demanda um tipo
dados obtidos no presente estudo sugerem que o subteste Situações se constitui como o
mais forte preditor do nível de intensidade do TEA, cuja diferenciação funcional está
48
Conclusão
[A] para avaliar o desenvolvimento intelectual de crianças com TEA. Apesar do reduzido
evidência os avanços dos estudos da neuropsicologia clínica sobre perfis clínicos que
Bibliografia
Frith, U. (2004). Emanuel Miller lecture: Confusions and controversies about Asperger
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Neuroscience, pp. 229-237.
52
Introdução
“Se me fosse possível estalar os dedos e deixar de ser autista,
eu não o faria. O autismo faz parte do que eu sou”
Temple Grandin em uma entrevista ao The New Yorker (1993)
TEA (ONU, 2010). No Brasil, os números indicam quase 2 milhões de brasileiros com
TEA. Diante das altas taxas de prevalência, a ciência, a mídia, a justiça, a saúde e a
políticas públicas.
que significa “de si mesmo”, com o sufixo ‘-ismos’, que indica uma ação ou estado,
foi utilizado pela primeira vez em 1910, quando o psiquiatra suíço Eugen Bleuler
normal com pessoas e situações, desde o princípio de suas vidas” (Kanner, 1943, p. 242).
Quarenta anos depois da publicação de Leo Kanner, o autismo foi incluído no Manual
(1980) até a mais recente (2013), esforços taxonômicos foram realizados para melhor
de características clínicas, constituindo-se como uma entidade plural, cada qual com uma
2005; Frith, 2004; Klin, 2006; Klin, Pauls, Schultz, & Volkmar, 2005; Planche &
interação hiporformal, como sendo padrões típicos de indivíduos do TEA. Tais achados
articulam-se com os estudos propostos por Frith (2004) e Klin (2006). Ambas as
construção da identidade.
de emoções. Por sua vez, Maranhão e Pires (2017) identificou dificuldades semelhantes
Todavia, como uma colcha de retalhos desenhada por uma diversidade de formas e
atuais são marcados por uma linha tênue entre desconcerto e fascinação em torno do
neuropsicológico do TEA.
sobre o autismo traz contornos entrelaçados e complexos que dificultam observar como
Diante do exposto, o presente estudo optou por estudar a associação entre a tríade de
importante estudo sobre autismo e “teoria da mente”. Eles propuseram que pessoas com
constatar que os outros possuem estados mentais diferentes dos deles. Em estudos mais
A Teoria da Mente (ToM) remete à capacidade de entender ações alheias, bem como
uma teoria porque os estados mentais não são diretamente observáveis e, por conseguinte,
torna-se necessário fazer inferências (teorizações) sobre o comportamento dos outros. Por
outro lado, Tonelli (2011) afirma que há uma habilidade mental automática para se
outros seres humanos. Estudos sobre a Teoria da Mente estão presentes no âmbito da
habilidades cognitivas pré-existentes. Isto é, a evolução pode ter exercido pressão para
que o cérebro ancestral recrutasse sistemas neurais originalmente envolvidos com outras
Teoria da Mente considera aspectos da origem desta habilidade nas crianças (em que
"crença sobre crença", onde as crianças são capazes de atribuir estados mentais a outras
pessoas (o outro também pensa ou tem "crença") e adquirem a habilidade de inferir sobre
o surgimento da terceira ordem de estados mentais, "crença sobre crença sobre crença",
na qual crianças conseguem estabelecer a crença do outro sobre minha crença. Neste
por conseguinte, torna a criança apta para a resolução de problemas matemáticos a nível
abstrato, ou seja, para além do concreto, para além do perceptível na realidade. De acordo
com Guttenplan (1996), tal constructo remete ao moderno conceito da Teoria da Mente,
entre o que seria “verdade” para minha mente e o que seria “verdade” na dimensão da
materialidade.
mente (Sasson, Nowlin, & Pinkham, 2013). Falhas na cognição social parecem impactar
diretamente sobre a qualidade das habilidades sociais de pessoas com TEA. Estas
está imbricada com representações mentais guiadas pelo rastreamento perceptual e motor.
linguagem.
memória operacional (Barros et al., 2016). O controle inibitório é uma habilidade que
ambiente ou do contexto (Lezak, Howieson, & Loring, 2004). A fluência verbal consiste
(Baddeley, 2012). Ela se divide em quatro componentes, a saber: alça fonológica, esboço
2011. Apesar da maioria dos estudos analisados ter encontrado evidências de disfunções
das investigações parece constituir fator limitante para o maior esclarecimento das
escolaridade dos pais como fatores que podem exercer influência sobre o
desenvolvimento das FE. Sarsour et al. (2011) encontraram associações entre o adequado
executivas.
prévios que apontam progressão desenvolvimental típica e atípica das FE nessa condição
clínica (Luna, Doll, Hegedus, Minshew, & Sweeney, 2007; Towgood et al., 2009).
os déficits executivos estariam já presentes em crianças com autismo antes dos três anos
deveriam ser referidos como fatores de risco cognitivo. Os autores concluem que o
prejuízo executivo parece não ser primário ou causal no autismo e que tais déficits
De forma geral, ainda são escassos os estudos que avaliam FE em crianças com TEA
No estudo realizado por Pellicano et al. (2017), por exemplo, foram avaliadas 34
típico. Os resultados indicaram diferenças significativas entre os dois grupos nas três
precoce dos componentes executivos neste grupo clínico, mas não encontraram
pré-escolares com TEA (18 crianças com média de 51 meses de vida) e sem TEA (17
crianças com média de 51 meses de vida), mas descobriram que as crianças com TEA
interação social.
desenvolvimento típico das FE, o modelo proposto por Anderson (2010) sugere uma
natural progressão desenvolvimental das FE com o avanço dos anos em crianças com
cognitiva são esperadas na faixa etária dos 12 anos, uma vez que esta habilidade requer e
TEA, idades e níveis cognitivos. Eles não encontraram nenhuma evidência consistente de
constructo investigado.
previsibilidade do(a) filho(a), sem perder de vista o quanto eles ficam aparentemente
motora e percepção social obtiveram pior desempenho nas tarefas de funções executivas.
Congruente com tais achados, Joseph, McGrath e Tager-Flusberg (2005) advogam que o
baixo desempenho das crianças com TEA nas tarefas de funções executivas pode estar
efetuar a modalidade de resposta exigida nos testes executivos mediados pela expressão
verbal.
geral, teóricos têm sugerido uma distinção entre os aspectos cognitivos “frios”, mais
mais associados às regiões ventral e mediais (Hongwanishkul, Happaney, Lee, & Zelazo,
“quentes” e “frias”, sugerindo que, de fato, são constructos distintos que precisam de
permitiria uma melhor compreensão sobre a relação entre teoria da mente, funções
executivas e emoções, uma vez que os estudos neuropsicológicos têm sugerido falhas no
do espectro.
central nas relações sociais das crianças e déficits na compreensão de emoções têm sido
ou seja, a expressão de emoções básicas (alegria, tristeza, medo, raiva) costuma ser
entre 6 a 14 anos, com e sem TEA. O estudo verificou que ambos, grupo clínico e
Garfinkel et al. (2016) sugerem que pessoas com TEA possuem dificuldades em
ratifica o estudo citado ao discutir sobre a falha da regulação emocional de pessoas com
Como estudo inovador, Overskeid (2016) sugere que pessoas com TEA tendem a ter
emoções mais fortes, mais facilmente eliciadas, do que a média de pessoas com
(2010) já corroborava com Overskeid (2016) ao sugerir que pessoas com TEA sentem as
emocional elicia mais rápido do que o normal e os indivíduos não conseguem ter a
Granader e Hill (2010) sugerem que a teoria da mente parece repercutir nos padrões de
comportamentais repetitivos e estereotipados (Bosa, 2001; Gillet, 2014). Por outro lado,
Matson, Belva, Horovitz, Kozlowski e Bamburg (2012) observaram que não há diferença
prejuízos executivos a partir de níveis de severidade nos domínios que compõem a tríade
notadamente embasado pela Neurociência Cognitiva; assim como estudos que buscam
(Grzybowski, 2010).
compatíveis com o TEA, sem perder de vista o modo pelo qual a comorbidade afeta o
confiável.
contribuir para a ciência e sociedade, este estudo configura a ousada tentativa de uma
pesquisa em neuropsicologia clínica que optou por estudar a associação entre a tríade de
Método
Participantes e Instituição
Participaram deste estudo crianças atendidas no Serviço Multidisciplinar de Atenção
40 do grupo controle. Este último pode ser considerado um espelho do grupo clínico, ou
seja, para cada criança do grupo clínico foram selecionadas duas para compor o grupo
Instrumentos
Para avaliação das funções executivas, teoria da mente e reconhecimento de emoções
Assessment).
Tais domínios são associados à presença de déficits específicos na criança com TEA,
independentes têm utilizado uma seleção de subtestes da NEPSY-II para avaliar funções
O subteste AA, planejado para avaliar a atenção auditiva na faixa etária de 5-16 anos,
propõe que o respondente ouça uma lista de palavras-alvo e vocábulos distratores, com
de cor correspondente.
Esse subteste planejado para avaliar controle inibitório cognitivo, possui três etapas.
(círculos, quadrados e setas apontando para cima e para baixo), nomeando-as na ordem
visualizar setas apontando para cima, deve nomeá-las como “baixo”, e ao visualizar
círculos deve nomeá-los como “quadrado”. Por fim, na terceira etapa (Mudança), deve
terceira etapa é prevista para avaliação da faixa etária de sete-16 anos. Nesse subteste são
registrados dois tipos de erro, erros totais (quando o respondente não obedece à regra) e
erros autocorrigidos. A análise dos resultados dessa tarefa também considera o tempo
adolescentes de cinco a 16 anos. Possui duas séries: estruturada (cinco pontos dispostos
séries, o avaliando deve conectar os pontos em linha reta utilizando lápis, de modo a criar
desenhos originais no tempo limite de 60 segundos. Cada série inicia após o treino de
quatro desenhos, sendo dois realizados pelo avaliador e dois pelo participante. Para
pontuação, cada desenho deve ser analisado a posteriori com um crivo de correção. Deve
ser pontuado os desenhos realizados com linhas predominantemente retas (são admitidas
distorções de até 4mm) e abertura entre os pontos da matriz inferior a 2mm. Não são
Reconhecendo Emoções.
O teste Reconhecendo Emoções tem como público alvo crianças de cinco a dezesseis
Por sua vez, o teste de teoria da mente contempla duas tarefas, quais sejam:
algumas situações sociais. A partir de então, são feitas perguntas sobre tais
apresentados;
internacionalmente utilizadas, para avaliação da teoria da mente. Os itens seis, sete e oito
constituem tarefas de falsa crença. No item seis, por exemplo, apresentam-se duas caixas
mostrada a criança que, na realidade, ela contém vários lápis, ao invés de cubos/blocos.
Então, pergunta-se à criança o que ela acha que um suposto amigo (para o qual nada foi
de cubos/blocos.
72
A situação reporta-se ao teste de Smarties (Hogrefe, Wimmer, & Perner, 1986), bem
como ilustra a falsa crença sustentada pelo suposto amigo, ou seja, a de que ambas as
caixas contêm o mesmo conteúdo, pois ele não viu previamente o que está vinculado às
respectivas caixas. Nesta tarefa, a criança precisa imaginar um amigo e atribuir uma
crença sobre a compreensão/atitude do mesmo. Caso acerte, pode-se sugerir que ela
consegue atribuir correta compreensão (crença) do motivo pelo qual o personagem Beto
decide voltar para casa. Beto é uma criança que tem muita dificuldade com a escrita. Na
mesma tarde em que não foi bem na prova escrita da escola ele foi à casa da sua amiga
Carol, onde foi convidado a brincar com um jogo de escrever palavras. Após convite,
Beto decidiu voltar para casa. Aqui, a criança precisa se colocar no lugar de Beto e atribuir
No item oito a criança precisa inferir sobre a crença das personagens Adriana e Raquel
em relação aos personagens Rodrigo e Paulo. A história consiste em quatro amigos que
avisar às meninas. Nesse sentido, Adriana e Raquel sustentam uma falsa crença acerca do
lugar onde os amigos encontram-se, isto é, elas pensam que Rodrigo e Paulo estão na
casa-mal-assombrada ou na roda-gigante?”.
73
No item nove, a criança olha para a foto de um menino designado por Henrique. Nela,
Henrique está vestido com roupa de adulto (paletó e gravata), usa óculos, segura papéis e
uma mala. Quando a foto é apresentada e pergunta-se à criança do quê Henrique está
perceptual.
descreve-se uma situação na qual um dos personagens aparece com uma reação de medo,
cuja compreensão por parte da criança ouvinte só se torna possível quando ela consegue
com maior nível de complexidade. Neste, descreve-se uma situação congênere à anterior,
estados mentais dos personagens descritos. Ambas as vinhetas remetem ao teste Hinting
(Corcoran, Mercer, & Frith, 1995) e ao teste Faux Pas (Stone, Baron-Cohen, & Knight,
mentais.
primeiro há a imagem de um bule que parece uma maçã, onde se pretende avaliar
“ponto final” na seguinte situação: “Os alunos da professora Regina estão fazendo
disse: meninos, precisamos colocar um ponto final nos trabalhos.” Por fim, os itens 13 e
Por sua vez, a segunda vertente de avaliação (teoria da mente, tarefa contextual)
possui estrutura semelhante ao teste Eyes (Baron-Cohen, Wheelwright, Hill, & Raste,
2001). Tal teste contempla tarefa composta (verbal e não verbal) baseada na avaliação da
feita através da melhor opção de descritor dentre quatro possibilidades apresentadas por
fotografia.
Procedimentos
envolvendo seres humanos. Sua execução foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa
dos itens do protocolo ocorreu a partir da identificação dos sintomas que são relatados
pelos pais durante entrevistas clínicas de auxílio diagnóstico. Em cada domínio, cada item
A concordância entre os três juízes foi avaliada pelo Kappa de Cohen, que indicou
concordância substancial de 0.7167 pontos (Landis & Koch, 1977). Nos casos de
O processo de avaliação do grupo clínico teve média de dois meses, sendo um mês
O grupo clínico foi pareado com o grupo controle, numa proporção de 1:2, de acordo
com as variáveis: idade, escolaridade e nível socioeconômico dos pais. Assim como as
76
Package for the Social Sciences (SPSS 21.0), adotando-se p<0,05 como nível de
a obter características de grupos que podem ser interpretáveis pelo pesquisador. Tal
forma tal que os componentes de um mesmo agrupamento tenham alta similaridade entre
Por fim, foi realizado o teste Qui-Quadrado, dado o baixo efetivo de participantes e a
variável independente nominal utilizada foi a ausência ou presença de TEA nos diferentes
Resultados
testes que avaliaram as funções executivas e de percepção social. A opção por esse tipo
77
parceria com a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Para os testes Atenção
Tabela 7: Resultados da análise descritiva do tipo Z-scores dos desempenhos do grupo controle
Média DP
Funções Executivas
Percepção Social
Comunicação Social
78
Leve
Atenção Auditiva 3 3 0 6
Inibindo Respostas 2 3 1 6
Fluência em Desenhos 4 2 0 6
Reconhecimento de
6 0 0 6
Emoções
Teoria da Mente 3 3 0 6
Moderado
Atenção Auditiva 4 2 2 8
Inibindo Respostas 0 7 1 8
Fluência em Desenhos 4 4 0 8
Reconhecimento de
4 4 0 8
Emoções
Teoria da Mente 6 2 0 8
Grave
Atenção Auditiva 0 0 6 6
Inibindo Respostas 0 0 6 6
Fluência em Desenhos 0 0 6 6
Reconhecimento de
0 0 6 6
Emoções
Teoria da Mente 0 0 6 6
Interação Social
Leve
Atenção Auditiva 1 1 1 3
79
Inibindo Respostas 0 2 1 3
Fluência em Desenhos 1 2 0 3
Reconhecimento de
3 0 0 3
Emoções
Teoria da Mente 2 1 0 3
Moderado
Atenção Auditiva 5 4 3 12
Inibindo Respostas 2 7 3 12
Fluência em Desenhos 6 4 2 12
Reconhecimento de
6 4 2 12
Emoções
Teoria da Mente 7 3 2 12
Grave
Atenção Auditiva 1 0 4 5
Inibindo Respostas 0 1 4 5
Fluência em Desenhos 1 0 4 5
Reconhecimento de
1 0 4 5
Emoções
Teoria da Mente 0 1 4 5
Comportamento
Moderado
Atenção Auditiva 3 4 0 7
Inibindo Respostas 1 5 1 7
Fluência em Desenhos 3 4 0 7
Reconhecimento de
6 1 0 7
Emoções
80
Teoria da Mente 4 3 0 7
Grave
Atenção Auditiva 4 1 8 13
Inibindo Respostas 1 5 7 13
Fluência em Desenhos 5 2 6 13
Reconhecimento de
4 3 6 13
Emoções
Teoria da Mente 5 2 6 13
obtiveram distribuição mais heterogênea. Não foram encontradas crianças com nível de
Cluster 1 Cluster 2
Moderado
Nível de Comunicação Grave (100%)
(57,1%)
Moderado
Nível de Interação Grave (66,7%)
(71,4%)
Emoções aparece como forte habilidade preditora, tanto no nível de interação, quanto no
nível de comportamento.
Por fim, foi realizado o Teste Qui-Quadrado de Pearson que se destina a encontrar um
valor da dispersão para duas variáveis nominais, avaliando a associação existente entre
nos testes de funções executivas e percepção social (p = 0,001) em todos os testes, exceto
significativos nas áreas de comunicação (p = 0,001) e interação social (p = 0,05), mas não
Emoções desponta como aquela mais impactada pelo TEA (Comunicação p = 0,001;
desempenhos nas tarefas de funções executivas e de teoria da mente, com pos níveis de
gravidade do TEA. Mesmo com a retirada dos casos classificados como Grave, não foram
Tabela 10: Desempenho dos subgrupos Comunicação, Interação e Comportamento com e sem
casos graves
Comunicação
Interação Social
Comportamento
Discussão
A análise dos resultados apresentados sugere diferenças no perfil executivo, na
nível de comunicação apresentou uma maior associação com prejuízos significativos nas
Tais resultados corroboram grande parte dos estudos neuropsicológicos que ressaltam
TEA, fato que promove alterações na comunicação social, mesmo em crianças sem atraso
padrões de entonação, baixa modulação do volume da fala, e/ou ainda estilo de fala
e, por conseguinte, decidir se a sentença significa o que é dito ou se vai além, como no
literal, por exemplo, solicitam um exercício de teoria da mente à medida que se infere
da linguagem. Nesse estudo, foi identificada relação significativa positiva entre teoria da
executivas no desempenho de testes que avaliam teoria da mente. Eles sugeriram que o
Quanto aos domínios de interação e comportamento, cabe destacar que não foram
reforçando pesquisa publicada por Maranhão e Pires (2017), cujo estudo encontrou a
clínico com TEA, especialmente no grupo TEA Grave, cujo comprometimento parece
mais evidente em termos funcionais. Conforme elucidado, Geurts et al. (2009) não
população clínica com TEA, mas admitem existir descrições clínicas de comportamentos
interferir significativamente nos desempenhos dos testes selecionados para avaliação das
estudo publicado por Matson et al. (2012), cuja análise dos critérios diagnósticos do
DSM-5, eles sugerem que a área de interação social não apresenta impacto potencial no
longitudinais.
88
primária no transtorno (Overskeid, 2016; Markram & Markram, 2010), muitos outros,
com TEA.
que pode ser definido como a compreensão das “expressões, rótulos e funções das
identificar suas causas; conhecer as normas culturais para sua expressão; reconhecer
Portanto, tendo em vista a faixa etária do grupo clínico investigado (cinco a sete anos),
no TEA, assim como diferenças na ativação top-down (áreas frontais são ativadas
89
primeiro) e bottom-up (áreas posteriores são ativadas primeiro). Castelli et al. (2002) e
Frith (2004) advogam que pessoas com TEA podem apresentar fraquíssimas conexões
entre regiões do córtex extra estriado e regiões fronto-temporais, o que, por conseguinte,
Em última análise, os dados aqui obtidos sugerem que o baixo desempenho nas tarefas
que avaliaram funções executivas e teoria da mente não se apresentou como preditor do
nível de gravidade do TEA. Mesmo com a retirada dos casos classificados como Grave,
não foram encontrados resultados significativos para a relação entre nível de severidade
quanto à correlação positiva entre funções executivas e teoria da mente como preditores
da severidade de sintomas do TEA, mas, por outro lado, reforça o dado da correlação
preditoras do desempenho posterior nas provas de teoria da mente. Frith e Happé (1994)
importante para a aquisição da teoria da mente. Nessa perspectiva, é factível perceber que
portanto, ressalta-se a reflexão quanto à sensibilidade dos testes para avaliação desse
constructo no TEA.
(2007) e Towgood et al. (2009), corroboram estudos prévios que apontam progressão
confluem com aqueles avançados pelo estudo de Yerys et al. (2007) quanto à sugestão de
que o prejuízo executivo não é primário ou causal ao TEA e que tais déficits parecem
Dada a faixa etária do presente estudo (cinco a sete anos), corrobora-se os estudos de
nas crianças com TEA parece existir uma natural progressão desenvolvimental das FE
significativos nas áreas de comunicação (p = 0,001) e interação social (p = 0,05), mas não
habilidades motoras não estejam dentro das principais características do TEA, muitos
2012).
Conclusão
intervenção multiprofissional.
clínica.
Apesar do reduzido número de crianças em cada um dos grupos, que pode não
funcional do TEA.
92
com TEA.
enquanto ciência, cuja dicotomia existente entre significante e significado traz a plausível
paradoxal: ao mesmo tempo em que dificultou o trilhar em caminhos similares aos das
crianças típicas na obtenção dos fins pretendidos nos resultados dos testes; estimulou a
linguagem apresentou-se como plausível de ser usado como parâmetro de pesquisa para
diferente e único, sem perder de vista suas variações e seus níveis em sua diversidade.
complexas no TEA.
Por fim, ressalta-se que se buscou contribuir para a discussão sobre o que é ter
também, estudar e discutir como é ser uma pessoa com diagnóstico de autismo, com suas
particularidades e diferenças.
Este estudo reconhece sua limitação quanto à falha da interseção entre ter autismo
e ser autista, mas torna evidente o impulso de reconhecer o diferente entre nós e apoiar
sua participação plena no mundo. Aqui, acredita-se que o estudo sobre as diferenças, não
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101
brasileiros utilizados na avaliação da inteligência no TEA; por sua vez, o estudo 2 auxiliou
conteúdo e suas relações culturais (Noronha & Alchieri, 2004). Além disso, um
e breve; utilidade, cujos dados poderão ser relevantes na análise para conferência de um
mental do sujeito em avaliação para a identificação de seus pontos fortes a fim de permitir
que sintomas aparentemente idênticos podem ter diferentes causas patológicas (Eilam,
2003). Logo, as tarefas propostas no processo avaliativo não podem estar limitadas à
investigação de uma única função, uma vez que o transtorno pode consistir de sintomas
que, à primeira vista, podem parecer heterogêneos, mas, de fato, podem estar vinculados
de apoio que o sujeito avaliado precisa se beneficiar durante a execução dos testes.
sejam, nível mínimo (o avaliador pergunta para o sujeito por que ele fez sua escolha);
nível intermediário (o avaliador usa dicas que contribuem para melhorar o desempenho
permitem investigar a ZDP atual, assim como o potencial de aprendizado que o sujeito
possui no momento.
104
uma análise e interpretação dos resultados clínicos de modo a elevar o papel atribuído à
processo.
exemplo, não foram contemplados. Para além destas falhas, destaca-se a ausência de
informações acerca das potencialidades que os grupos clínicos possuem (Luria, 1981;
Muszkat, 2006; Novelli & Canon 2012). Ressalta-se que a ampla maioria das crianças
acesso ao lazer, cultura, saúde e educação que a criança e seus respectivos familiares têm,
para execução das tarefas propostas. Embora o SON-R 2 ½ - 7 [a] não tenha sido
sistêmica.
testes utilizados. A análise do baixo desempenho obtido pelos grupos clínicos no subteste
Padrões do SON-R 2 ½ - 7 [a], por exemplo, pode ser atrelado a um sintoma primário de
Mesmo com o apoio de um lápis mais grosso, observou-se que a maioria das
tinha muita dificuldade em segurar o lápis de modo adequado, tanto por falta de força,
quanto por falta de coordenação motora, fato que comumente desencadeava a desistência
da atividade, ou aos consecutivos erros de cópia. Neste sentido, cabe uma reflexão
minuciosa acerca das funções envolvidas na execução do subteste Padrões. Embora ele
apresente-se como subteste que avalia visoconstrução, solicita-se uma análise qualitativa
mente, por exemplo, são pautados em tarefas de falsa crença apresentadas de modo oral.
oral e o consequente requisito de interpretação e inferência textual oral lançam luzes sobre
auditiva, ou ainda, ao nível de alerta apto a manter a atenção seletiva e sustentada aos
informações sobre o nível de motivação da criança, ou ainda sobre o nível de alerta para
em manter contato visual com a avaliador, sendo pouco frequente a presença do sorriso
constituição do eu parecia frágil - a maioria apresentava baixo tônus, baixo nível de alerta
e interação com o contexto. O movimento do corpo não parecia integrado, como se elas
nível de motivação dessas crianças em uma das tarefas implicadas com o maior desafio
deste grupo clínico – manter relações sociais recíprocas pautadas em contato visual. Aqui,
estudos anteriores com o objetivo de construir uma metodologia avaliativa que contemple
desenvolvimento proximal de cada criança parecem ser mais eficientes, tanto para
uma intervenção robusta. Assim, torna-se necessário pensar em uma modelo de avaliação
e o controle inibitório podem mediar ou, pelo menos, fornecer as necessárias condições
para o sucesso da ToM. Tal perspectiva ganha força à medida que se verifica acertos nas
tarefas de falsas crenças quando o indivíduo consegue manter uma falsa representação de
109
vez, o controle inibitório inibe outras representações a fim de manter um curso de ação
âmbito são divergentes. Baron-Cohen (1995), assim como Bishop e Taylor (1994), por
Bosa (2001) revisou estudos que discutem a relação de causação ToM-FE (ou ao
(1991 como citado em Bosa 2001, p. 284), por exemplo, verificaram que pessoas com
autismo falham nas tarefas de função executiva mesmo tendo passado naquelas utilizadas
atenção para os problemas metodológicos que podem ter influenciado os resultados, tais
como a falta de variabilidade nas respostas à tarefa de ToM (efeito de teto) e a confusão
argumentando que a falha nas tarefas de ToM seria decorrente de uma incapacidade para
110
lidar com as demandas da tarefa que requer função executiva. Autores contra argumentam
ao dizer que medidas de função executiva não se correlacionam com as de ToM. Nesse
conversação. Channon, Charman, Heap, Crawford e Rios (2001) verificaram que crianças
social e/ou conversações, levando o indivíduo com TEA à tendência de focar detalhes em
a "coerência central" do âmbito posto (Beaumont & Newcombe, 2006; Jarrold, Butler,
Cottington & Jimenez, 2000). Designada de Teoria da Coerência Central (TCC), a falha
estudos apontam que no TEA também haveria uma escassa capacidade de integrar
Falhas na coerência central clarificam o motivo pelo qual crianças com TEA
coerência central pode estar subjacente às falhas na tentativa de dar sentido ao mundo e,
que contemple faixas etárias anteriores, de modo geral, por dois motivos complementares:
como segundo período de crise psíquica marcado pela aquisição de experiências pessoais
de vida que podem ser decisivas ao desenvolvimento salutar de crianças com risco de
0 e 5 anos com diagnóstico ou risco de TEA são assistidas no Brasil (Mello, 2013), mas,
identificação de sintomas já na primeira infância. Rogers et al. (2014) sugerem que bebês
a partir de 15 meses com número elevado de sintomas clínicos de risco para o autismo
tempo oportuno. O trabalho publicado por Rogers et al. (2014), por exemplo, indica que
entre 24 e 36 meses.
Facci, 2016).
113
não-verbais e de uso de objetos para manter o foco de atenção no próprio self (esconde-
(comportamento de pedido para buscar assistência, como, por exemplo, pedido de acionar
relação às propriedades dos objetos/eventos a seu redor (Camargo & Bosa, 2012; Gillet,
autoconsciência (self-awareness). Conforme Napoli e Bosa (2005), uma criança que tem
primeiro ano de vida, permite o controle da atividade que o bebê realiza com os objetos
elas têm de si mesmas materializa-se nas ações que realizam sobre o meio envolvente, tal
como gostar de brincar com um objeto particular e explora-lo próximo aos olhos. Falhas
Por sua vez, Bosa (2002) destaca estudos que sugerem que falhas na atenção
(atenção compartilhada).
precursores das Funções Executivas (FE) e Teoria da Mente (ToM). McEvoy, Rogers e
Pennington (1993 como citado em Bosa, 2001, p. 283) foram os pioneiros a estudar a
relação entre lobo frontal e atenção compartilhada. Eles realizaram estudo experimental
quanto com desenvolvimento típico. O estudo sugeriu que ambos os grupos (controle e
tarefa de reversão espacial, utilizada para avaliar as FE. A performance nessa tarefa
compartilhada, sugerindo que essa habilidade pode estar relacionada à maturação dos
lobos frontais.
que ela pode atribuir mais de uma representação a uma entidade e, cada vez mais, passa
a trocar com o parceiro social tais descobertas. Desse modo, nascem representações
como flexibilidade cognitiva, ao gerar novos atos em detrimento de produzir atos isolados
(como colocar a xícara no pires) ou de substituição (como usar um bloco de madeira como
neuroimagem sugerem que crianças com TEA teriam disfunção nos neurônios-espelho
alcançadas viabilizam a aquisição de outras habilidades que, por sua vez, irão se
configurar em novas etapas do desenvolvimento, não como etapas sobrepostas, mas como
TEA. A presente proposição interventiva objetiva formar uma estrutura básica para as
funções cognitivas ditas como frágeis no TEA, sem perder de vista os efeitos nos aspectos
teórico piloto
Considerações Iniciais
exclusão às tentativas atuais de inclusão. Até o início do século XX, as práticas sociais
para pessoas com deficiência eram excludentes; entre as décadas de 1920 e 1940 ocorreu
de 1990 à atual, há o percurso da defesa pela inclusão. Leis foram aprovadas como
garantia de direitos da participação das pessoas com deficiência na sociedade. Porém, tais
leis ainda não foram traduzidas em ações efetivas que garantam o exercício pleno da
Identifica-se uma postura autoritária das autoridades e parcela dos cientistas, acham que
sabem o quê e como fazer, esquecem por vezes de perguntar aos próprios sujeitos quais
as suas principais demandas. Nessa direção, o lema: 'Nada Sobre Nós, Sem Nós', adotado
vida livre, sem tutelas e com a expressão plena dos direitos civis elementares. As pessoas
afetarão suas vidas e, portanto, pensar em uma proposta de intervenção para o Transtorno
118
A atual atenção à saúde de brasileiros com TEA é marcada por dois grupos
paralelo: de um lado, o grupo composto, em sua maior parte, por trabalhadores e gestores
com autismo, que começaram a construir suas próprias estratégias assistenciais para os
com autismo e seus familiares fez com que alguns pais se engajassem no empreendimento
mútua, aos moldes de experiências similares encontradas na Europa e nos Estados Unidos
1994).
proposta e iniciada a partir da III Conferência Nacional de Saúde Mental, em 2001 (Brasil,
Associação dos Amigos dos Autistas de São Paulo, a AMA-SP, foram conquistando
maior protagonismo nos campos político, assistencial e técnico, em uma época que ainda
Brasileira de Autismo (ABRA), Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas
com Autismo (ABRAÇA), Fundação Mundo Azul, entre outras. A mobilização dos
familiares levou ao ineditismo da aprovação de uma lei federal específica para o autismo.
(TEA) como “pessoa com deficiência, para todos os efeitos legais” (Lei nº 12.764, § 2o),
deficiência garantiu o acesso aos direitos da pessoa com deficiência; por outro lado, tal
reconhecimento gerou um novo debate em torno das formas como esta população deve
ser contemplada no rol de ações e serviços disponíveis no SUS. No trilho desses debates,
em 2013, foram lançados pelo Ministério da Saúde dois documentos que tinham por
objetivo fornecer orientações para o tratamento das pessoas com TEA no SUS. Um deles
120
Transtorno do Espectro Autista (TEA)" (Brasil, 2014), cuja abordagem remete o autismo
2015), concebe o TEA como um transtorno mental, atrelando as ações de cuidado à rede
diferentes para a consecução da terapêutica. Por um lado, pela estimulação das funções,
a partir da Rede de Cuidados à Pessoa com Deficiência, e por outro, pela via da construção
dos laços sociais e culturais possíveis, de acordo com os preceitos da saúde mental.
Observa-se que a Diretriz aparenta conduzir e conceber seus preceitos assistenciais pelo
clínicas, que se torna evidente ao destacar a não existência de “uma única abordagem a
exclusividade do cenário brasileiro. De acordo com Ortega (2009), o contexto das nações
anglo fônicas apresenta um debate entre grupos pró-cura (capitaneados por pais de
pessoas com autismo que consideram o TEA uma patologia passível de tratamento) e
grupos anticura, que buscam ser representados como “neurodiversos”, a partir da defesa
exemplo, o debate tem sido acirrado depois que o reconhecimento legal do autismo como
Escolas Higashi (Sandberg & Spritz, 2012), escolas orientadas pelo método
montessoriano (Flowers, 1993), o LEAP (learning experiences) (Strain & Bovey, 2011)
2011).
122
Tabela 11: Síntese dos principais programas de intervenção para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo
Programa Lovaas 1. Aprendizagem por repetição Teoria da aprendizagem de Busca melhorar habilidades Resultados se baseiam
2. Intervenção estruturada Skinner, Psicologia como atenção, imitação, fundamentalmente na melhora
3. Intervenção intensiva Comportamental discriminação do quociente de inteligência
(QI); o meio de aprendizagem
é muito estruturado e não
representativo das interações
contextuais
ABA 1. Ensino de habilidades Teoria da aprendizagem de Aprendizagem estruturada na Ensino de habilidades com
baseado em unidades Skinner, Psicologia aquisição de novas visão linear de
(Applied Behavior mínimas de aprendizagem Comportamental habilidades e manutenção de desenvolvimento. Prioriza o
Analysis) 2. Uso de reforçamento condutas aprendidas. condicionamento e a
positivo Generaliza e transfere diminuição de
3. Compreensão funcional dos condutas a outras situações, comportamentos repetitivos
comportamentos restringe ou diminui as
4. Maximizar habilidades e condições em que ocorrem
minimizar problemas de condutas indesejáveis a fim de
comportamentos reduzir comportamentos
inadequados
124
Floor Time 1. Apoia as interações Abordagem relacional; Ensino da comunicação Necessidade de cooperação
considerando as diferenças Desenvolvimentista; expressiva. Os pais participam intensa entre os envolvidos
individuais e os estágios do Funcional ativamente do processo de
desenvolvimento emocional intervenção
2. A interação busca a
expressão afetiva
3. Busca abrir e fechar ciclos
de comunicação, utilizando
estratégias com o jogo
4. Busca ampliar experiências
motoras e sensoriais
5. Adapta as intervenções às
diferenças individuais de
processamento auditivo e
visuoespacial
6. Tenta mobilizar,
simultaneamente
Son-Rise 1. Abordagem centrada na Relacional Proposta de interação centrada Poucas pesquisas empíricas de
motivação social motivadora na pessoa, suas manifestações embasamento
2. Uma atitude positiva facilita e necessidades
a conexão social
3. Imitar comportamentos
repetitivos e isolamento
promove a interação social
futura
125
Programas de intervenções baseados em terapias: centradas no trabalho de dificuldades específicas, geralmente dificuldades de comunicação/linguagem;
sensório-motor; ou de habilidades sociais
Terapia de Integração 1. Espera-se adaptar o Neurociências e Educação Promover o desenvolvimento Falta de evidências sobre sua
Sensorial comportamento com as de maior tolerância a eficácia. Aconselha-se que
estratégias novas e úteis, estímulos sensoriais seu uso seja experimental,
como resposta aos sem substituir pelo demais
desafios apresentados meios de tratamento
2. Busca a motivação
3. Terapia direcionada pelas
preferências da pessoa
Terapias assistidas com Terapias mediadas por animais Relacional, Neurociências, Promove vínculo afetivo entre As pessoas são os melhores
animais de pequeno ou grande porte, a Psicomotricidade a pessoa e o animal. Tal agentes terapêuticos
mais difundida é a terapia com vínculo é o disparador das
cavalos (Equoterapia) estimulações objetivadas pelo
terapeuta
126
Analysis (ABA), tem sido a mais frequentemente descrita na literatura para intervenção
desenvolvimento da criança, tal como o Floor Time (Greenspan & Wieder, 2000), o
eventos antecedentes, das próprias ações dos indivíduos e dos eventos consequentes. No
Por sua vez, o modelo terapêutico Floor Time busca promover a construção do
experiências interativas. Nesse sentido, o terapeuta Floor Time estimula a interação com
vez que se acredita que ela tem uma maneira própria de processar as informações que
duas vias: inicialmente com contato visual e expressões faciais, até o desenvolvimento do
Assim, enquanto o ABA concebe o comportamento social de pessoas com autismo a partir
128
Observa-se que o debate sobre o autismo envolve um campo de disputas, tanto no cenário
nacional quanto no mundial, determinado por fatores específicos em cada contexto, mas
narrada por uma diversidade de formas e tons, própria do arco-íris utilizado para
caracterizar o espectro, mas com uma linha tênue entre desconcerto e fascinação em torno
de uma reivindicação, por parte dos grupos envolvidos, sobre qual deles seria o detentor
sistêmica subjaz uma perspectiva de sujeito implicada com o desafio vigente de atrelar a
interseção entre ter autismo e ser autista, sem perder de vista o reconhecimento do
lado (Ciasca, Guimarães & Guimarães, 2004). No campo científico e clínico, duas
Neuropsicologia Histórico-Cultural.
informação, isto é, as diferentes operações mentais que são necessárias para a execução
de determinadas tarefas (Gazzaniga, Ivry & Mangun, 2002). Cinco pressupostos regem a
desempenho cognitivo pode ser utilizado como um instrumento heurístico para investigar
desempenhadas pela área destruid́ a; logo, 4) É possível estruturar estudos de caso, 5) por
2013).
neuropsicologia, fazendo com que a prática possa prescindir, até certo ponto, da
existência de normas validadas de desempenho para a populaçaõ típica, mas, por outro
achados empiŕ icos acumulados têm sugerido um fracionamento crescente das funções
et al., 2008).
processos naturais, tais como maturação física e mecanismos sensoriais, interagem com
funções nervosas superiores (Akhutina & Pylaeva, 2011; Freitas, 2002; Hazin et al., 2010;
Luria, 1992).
embora com suporte biológico irrefutável, não podem ser compreendidas como produto
biológico direto. Acredita-se que elas estão fundamentadas nas relações sociais
da origem social das funções mentais define o homem como ser construído e constitutivo
problematizar o que foi feito no passado e o que está sendo feito no presente. Nesta
O estudo das funções mentais pode partir de níveis de análise distintos, porém
(Oliveira, 2000; Vygotsky, 1991; Vygotsky & Luria, 1996). O nível histórico refere-se às
das espécies e as especificidades de cada uma destas. Neste nível, pensar sobre o universo
simbólico como constituinte do ser humano, necessariamente implica pensar sobre o salto
qualitativo que o homem deu, enquanto espécie animal (Cornejo, 2005; Hazin et al.,
2010).
2010; Vygotsky, 1991). Portanto, as funções mentais complexas não são superpostas
sobre os processos básicos, como se fossem um segundo andar, mas representam um novo
(González Rey, 2005; Hazin et al., 2010; Luria, 1981; Mello, 2008).
qual pertence. Sua preocupação central é encontrar métodos que possibilitem estudar o
no autismo. Trata-se de uma tentativa de aproximar o anseio dos pais pela reabilitação de
sujeitos de direito, inseridos em uma sociedade que pode, e deve, ser concebida pela lente
da neurodiversidade.
eficazes à estimulação de pessoas com autismo, até onde consideramos, nenhuma delas
adota como objetivo central entender a singularidade do indivíduo autista, forjada a partir
neurológica, estão imbricados com os fatores sociais, dos quais, intimamente inter-
mentais da criança. Assim, as funções mentais possuem uma gênese social diretamente
cruciais para formação das funções mentais complexas. Para o autor, a formação das
comando, você escuta”); extrapsicológica (“eu falo para mim mesmo”) e intrapsicológica
1981).
temporários que garantem a oportunidade de ‘dar um passo para trás para pular melhor’
(Bardnyshevskaya, 2003).
de desenvolvimento que, por sua vez, repercutirá na criança e na situação social de modo
136
mudanças na situação social, de modo que esta consiga lidar com a ‘nova criança’ que
alternância entre períodos estáveis e de crise, quais sejam, crise pós-natal (primeiro ano
– 2 meses a 1 ano de vida); crise de 1 ano (infância precoce – 1 a 3 anos); crise dos 3 anos
(idade pré-escolar – 3 a 7 anos); crise dos 7 anos (idade escolar – 8 a 12 anos); crise dos
13 anos (puberdade – 14 a 18 anos); e crise dos 17 anos (Martins, Abrantes & Facci,
2016).
da idade cronológica da criança. Eles dependem de variações das situações sociais, logo,
a crise. Portanto, em prol do desenvolvimento das funções mentais, superar uma fase de
crise significa impulsionar a situação social a coexistir com o papel virtuoso e antagônico
ao refletir acerca do papel das estruturas cerebrais para o funcionamento mental. Para
tanto, propõe a revisão dos conceitos de função, localização e sintoma (Luria, 1981).
função do fígado, por exemplo), as funções cognitivas devem ser concebidas como
(invariável) que almeja um resultado também constante (invariável) (Luria, 1981). Tal
proposição evidencia que o ser humano pode utilizar diversos caminhos para atingir o
sistemas funcionais ao longo da ontogênese (Hazin et al., 2010; Luria, 1981; Mello,
base de ativação geral para todas as funções mentais, bem como de manutenção do tono
geral do sistema nervoso central e do equilíbrio entre ativação e inibição necessário para
funcionamento cerebral típico. Como as funções mentais complexas são realizadas por
só, informações acerca da sua localização. Neste sentido, o sistema funcional como um
essencial a qualificação detalhada do sintoma observado (Hazin et al., 2010; Luria, 1981).
“Uma criança, cujo crescimento foi atravessado por uma deficiência, representa
neurológicas, ela o faz de outra maneira, por outro percurso, por outros meios [...].”
dificultaria o trilhar em caminhos similares aos das crianças típicas na obtenção dos fins
da pessoa deficiente, acaba sendo secundária, indireta, pois o indivíduo não está reduzido
desenvolvimento, bem como suas variações e seus níveis em sua diversidade. Defendeu
140
autismo, na medida em que permite refletir o modo pelo qual se concebe o quadro clínico
nos diferentes tipos qualitativos de desenvolvimento. Esta tarefa é iniciada por uma
metodológica ao longo das diferentes fases do trabalho clínico (Solovieva & Quintanar,
2017). Nesse sentido, identifica-se como necessária a caracterização, ainda que breve, de
no prelo):
que se unem funcionalmente para realizar uma tarefa comum. Nesse sentido, diante
desenvolvimento.
atividade não pode ser igualado ao de função, pois nenhuma atividade pode ser
realizada por apenas uma função. A implicação desta noção para a avaliação
todo, nunca de uma função isolada, como por exemplo a memória. As conclusões
último se refere ao impacto dos déficits sobre todas as dimensões que compõem a
sistêmico da criança;
143
os erros produzidos, bem como a antecipação de condições que minimizam, por meio
superação das fragilidades, (3) consideração do tipo de apoio que a criança necessita
psicológica da criança.
familiares. Também precisa aplicar escalas de rastreio para verificar sintomas de autismo,
como a escala ABC (Autistic Behavior Checklist) (Marteleto & Pedromônico, 2005) ou
o Protea-R (Bosa & Salles, 2018); bem como aplicar testes e tarefas que avaliem funções
como teoria da mente e funções executivas, por exemplo, sem perde de vista a análise do
processo avaliativo por meio das estratégias e erros cometidos, o tipo de mediação
dupla entre a maturação cerebral e a formação das funções mentais: por um lado, para a
emergência de uma função é necessário certo grau de maturidade do sistema nervoso; por
jogos, a criança se torna o sujeito que se apropria de uma nova brincadeira com conteúdo
inerente às técnicas didáticas clássicas de estimulação e faz surgir seu potencial com a
como sujeito das próprias ações e tem um impacto polimodal: quase todos os jogos têm
cognitivas. Ademais, o brincar envolve não somente o verbal, mas também meios não
verbais de comunicação, dos quais também precisam ser estimulados neste grupo clínico
preponderantes.
de objetivo interventivo.
componentes frágeis no funcionamento mental de criança com risco de TEA, bem como
social. Nesta perspectiva, pensar na estimulação das funções executivas, teoria da mente,
sessões interventivas graduais que integrem as três unidades funcionais das funções
Sugere-se que tais sessões contemplem atividades lúdicas mediadas pela imitação,
que vive de maneira a sofrer menos com a hiperestimulação. A imitação serve para o
ordem social.
Por sua vez, acredita-se que a técnica da introdução gradativa de estímulos que
da fala.
147
potencialidades dos seus filhos diante do TEA, a fim de favorecer a participação ativa
conforme premissas do Sistema Único de Saúde (SUS) para pessoas com deficiência
intelectual/TEA.
148
Motor amplo Conhecimento do próprio corpo Identificação de partes do próprio corpo; ou ainda resolução de problemas
com o corpo. Vale ressaltar que tais atividades podem seguir uma sequência
de exercícios motores gradativos e sequencias que iniciam na posição deitada,
depois passa para sentada, até a posição em pé. A duração de cada etapa
dependerá das necessidades da criança
Identificação de Conhecimento de si Atividades voltadas para a imagem de si mesmo como sorrir ao ver-se ao
emoções espelho, tocas as partes do seu rosto que o adulto nomeia; tocar o seu nariz
marcado; nomear-se na frente do espelho; e identificar emoções básicas
(alegria, tristeza, raiva, medo), quando o outro mediador as expressa na frente
do espelho
Percepção social Orientação social com foco na Atividades que proporcionem exercícios motores aptos a promover o
atenção visual ao rosto humano desenvolvimento da atenção visual ao rosto humano, como a brincadeira de
esconde-esconde, assim como à orientação da ação. Imitação de movimentos
faciais e/ou vocalizações
Percepção social Orientação social com foco na Atividades que proporcionem a orientação auditiva no ambiente como
atenção auditiva à voz humana exercícios motores com música e ritmo; ou ainda atividades que envolvam
149
Teoria da mente Atenção compartilhada Atividades que envolvam alternar o olhar; seguir o olhar do outro para
determinar o objeto de sua atenção e intenção; trocar a atenção visual entre o
eu e o outro; procurar por objetos escondidos. Também se sugere atividades
de sequenciamento de gestos e ações com sentido mediadas pela simples ação
física de indicar desejos (olhar, alcançar)
Teoria da mente Conhecimento do outro e atenção Atividades que envolvam mudar a atenção auditiva entre o eu e o outro; jogos
compartilhada que envolvam a vez da criança e do outro mediador; mediador com frases que
enfatizam o uso de pronomes pessoais e de posse (eu, você, meu, seu, dele,
por exemplo); brincadeiras ou rotinas que envolvam a identificação das
pessoas pelo nome próprio
Teoria da mente Imitação e comunicação Atividades que envolvam: espelhamento de gestos com intenção
intencional comunicativa; espelhamento de vocalizações com intenção comunicativa; uso
intencional de gestos não verbais; uso de palavras significativas para mostrar
intenções, ações e desejos
Linguagem e Funções Brincadeira de faz-de-conta Atividades que envolvam agitar ou levar o objeto à boca; imitar o ruído do
executivas motor fazendo rolar o carrinho; mudar os objetos da sua primeira função para
brincar (telefone-lápis, por exemplo)
150
(flexibilidade
cognitiva)
Identificação e Autorregulação do comportamento Atividades que envolvam a regulação voluntária a fim da criança controlar o
regulação das e das emoções próprio corpo, seu pensamento e suas emoções, dentre as propostas, a
emoções | Funções brincadeira de estátua, e/ou brincadeira de estátua com uma expressão
executivas (controle emocional
inibitório)
Conclusão
mas, ao mesmo tempo, integrada à uma perspectiva de sujeito implicada com o desafio vigente
de atrelar a interseção entre ter autismo e ser autista, sem perder de vista o reconhecimento do
do Centro de Saúde Anita Garibaldi, Instituto Santos Dumont, Organização Social parceira de
Desde sua criação, o SEMEA vem se constituindo como serviço de referência local ao
permanente com a atenção básica e educação fortalece a rede de cuidado com os familiares e
pessoas com diagnóstico (ou hipótese) de TEA, advindo o presente modelo como proposição
os obstáculos e desafios a serem vencidos para que o modelo funcione em toda a sua capacidade
modelo para a população-alvo a fim de, em longo prazo, mensurar o impacto da intervenção na
comunidade clínica.
Para finalizar, compreende-se que o modelo aqui apresentado pode servir de base para
além disso, oferece aos usuários do SUS, pesquisadores e integrantes do Instituto Santos
com hipótese ou diagnóstico de TEA inseridas na região do Nordeste do Brasil, o que, em última
pessoa com TEA em uma região que apresenta particularidades sociais e culturais ímpares e
enriquecedoras.
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Anexo
Tabela 13: Protocolo SEMEA para gradação de severidade nas áreas de Comunicação, Interação e
Comportamento
significado
Possui fala com Brinca com jogos que Tem distúrbios alimentares
decisão
alguém
com criatividade
simples estereotipados
lo
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157
não o nome
simbolismo
simbólica
sensorial
157