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Intervalos

Tenho visto muitas pessoas fazendo perguntas a respeito de intervalos nos fóruns de
discussão e nas comunidades de Teoria Musical no Orkut. Proporcionalmente às
perguntas, vejo o número de pessoas ensinando da maneira mais complicada para se
aprender: decorando quantos tons tem cada intervalo. Não é raro vermos uma frase
como “A terça maior tem 2 tons de diferença, a quarta justa 2 tons e meio...” e assim por
diante. Como existem maneiras muito mais fáceis de aprender – e não somente decorar
– os intervalos, resolvi escrever esse texto buscando auxiliar os “masoquistas” da Teoria
Musical. Pretendo construí-lo em duas partes principais: a primeira, puramente teórica
com exemplos e exercícios resolvidos e uma segunda onde tratarei da Percepção dos
Intervalos Diatônicos e Cromáticos com exemplos e exercícios em MIDI. Bem, vamos
ao que interessa!

Afinal, o que é INTERVALO?

De uma forma bem básica e genérica: Intervalo é a distância entre duas notas.

Ah ta, ótimo... E por que eu tenho que saber isso? Onde vou usar?

Tem que saber porque é um dos “degraus” básicos no estudo da Teoria Musical. Sem
saber intervalos, você não saberá formação de acordes e tudo o que vem em seguida.
Isso sem contar que, quando você domina a percepção dos intervalos, fica muito mais
fácil você tirar um tema, um solo ou outra coisa qualquer de ouvido, e ainda adquire a
capacidade de cantar uma partitura a primeira vista, se você tiver uma boa leitura,
obviamente.

Ta, já me convenceu...começa a explicar!

Ótimo! A princípio, gosto de dividir os intervalos em dois grupos: os que fazem parte
da escala e os que não. Apenas para fins didáticos, vamos usar os termos “bom” para
quando estiver dentro da escala e “ruim” para quando estiver fora.

Comecemos a classificar os intervalos. Algumas diretrizes são dadas:

1* Conte, a partir da primeira nota, qual o intervalo.

2* Veja se está dentro da escala

Exemplo:

SI – FA#

1* Contando a partir do SI (em números romanos). É importante ressaltar aqui que não
se leva em consideração os acidentes:

I – SI

II – DO
III – RE

IV – MI

V – FÁ

Nesse caso, observamos que o FA é a quinta nota depois do SI, portanto, é uma
QUINTA.

2* O FA# está dentro da escala de SI?

Aqui basta ver quais são os acidentes de B : FA# - DO# - SOL# - RE# - LA#

Como o FA# pertence à escala de B, temos uma QUINTA “BOA”

Segundo exemplo:

DO – LAb

1* Contando a partir do DO, o LA será a sexta nota

2* LA na escala de C é natural, logo LAb é uma SEXTA “RUIM”

Hmm...certo... mas e agora, eu vou ficar chamando a nota de boa ou ruim sempre?

Não. Como tudo na música, as notas têm uma nomenclatura correta. Vamos vê-la.

Para uma nota “BOA”, adotamos o seguinte critério:

Quarta e Quinta são chamadas de JUSTAS

Os demais são chamados de MAIOR.

Utilizando nosso exemplo acima, SI – FA# seria uma QUINTA JUSTA.

Certo. E quando a nota for “ruim”?

Aí depende de qual intervalo é. Quando um intervalo está meio tom ACIMA da escala,
o chamamos de Aumentado. Quando está meio abaixo, muda um pouco: os MAIORES
viram MENORES e os JUSTOS viram DIMINUTOS. Tabelinha básica (ela sim
compensa decorar):

½ tom acima da escala AUMENTADO


2ª, 3ª, 6ª e 7ª Igual a escala MAIOR
½ tom abaixo da escala MENOR
½ tom acima da escala AUMENTADO
4ª e 5ª Igual a escala JUSTO
½ tom abaixo da escala DIMINUTO

No exemplo que tivemos: DO – LAb


LAb está meio tom abaixo da escala (o “correto” seria LA natural). Como é uma sexta e
está meio tom ABAIXO da escala, teremos uma SEXTA MENOR.

Tô perdido!

Calma, alguns exercícios resolvem!

Resolução: Temos aqui um intervalo de DO – SOL. Se contarmos, veremos


que SOL é a quinta de DO e está dentro da escala. Logo temos uma QUINTA JUSTA!

Resolução: Agora temos DO – Mib. MI é a terça de DO, porém MIb não


está na escala de C, está meio tom abaixo. Temos uma TERÇA MENOR!

Tente resolver esses outros exercícios:

Respostas:

7ª Menor

4ª Aumentada

5ª Justa

5ª Diminuta

6ª Aumentada

Hmm, legal...mas e quando a distância entre as notas for maior que 1 oitava?

Ah, bem lembrado. Aí temos o que chamamos de Intervalo Composto. Intervalos


Simples estão dentro de uma oitava, Compostos ultrapassam uma oitava.

Dahora...continua!
Ah, vamos falar um pouco sobre inversão de intervalos... Peguemos como exemplo o
intervalo DO-FA. É uma Quarta Justa. Se invertermos, teremos FA – DO, uma Quinta
Justa. Porém, existem maneiras mais fáceis de se pensar em inversão de intervalos que
ficar classificando novamente. É básico e pura Matemática. Aliás, até proponho a
formula aqui:

Inv = 9 - Into

Onde Inv = Inversão a que se quer chegar

Into = Intervalo Original

Calma, para quem odeia matemática, vamos aos exemplos:

Tenho uma terça. Qual será sua inversão?

R: Simples. 9 – 3 = 6. Teremos uma SEXTA.

Viu, eu disse que não era complicado! A partir daí, temos uma regrinha para inverter:

MAIOR <=> MENOR

AUMENTADO <=> DIMINUTO

JUSTO PERMANECE O MESMO

Exemplo: Qual é a inversão de uma Sexta menor?

1* 9 – 6 = 3. Sabemos que é uma terça

2* Menor vira Maior...Portanto teremos uma TERÇA MAIOR!

Simples, não?

Acabou?

Bem, teoricamente sim, mas eu sempre gosto de chamar a atenção para um intervalo em
particular: o TRÍTONO!

Como o próprio nome sugere, é um intervalo de três tons, o mesmo que uma QUARTA
AUMENTADA ou uma QUINTA DIMINUTA.

E por que ele é tão importante assim? u.u’

Simplesmente porque sem ele uma música não tem tensão repouso. Ele é um intervalo
de grande instabilidade. Essa instabilidade faz com que a música fique “esperando” por
uma conclusão. Ouça o exemplo da partitura aqui:
O FA “pede” para que venha um MI logo em
seguida, assim como o SI faz com o DO. Dessa forma sentimos um “ponto final” na
música.

O Trítono está presente em toda música Tonal, servindo sempre como criador de tensão,
para então ser resolvida. Ele é o responsável por dizer que aquela frase musical acabou.

Bem, na parte teórica, acredito que já é o suficiente (poderíamos falar sobre a razão
matemática de cada intervalo, mas para o instrumentista ávido por estudar teoria e sair
tocando, isso seria inútil e tedioso). Nesse caso, vamos à percepção!

Em primeiro lugar, que fique claro uma coisa: Percepção não é uma das coisas mais
fáceis para se ensinar pela Internet e escrever esse texto sobre percepção será um
verdadeiro desafio para mim. Espero que cumpra bem o meu papel...

Afinal, de que se trata a percepção de intervalos?

Simples. Ao invés de identificar intervalos quando toca, conseguir pensar teoricamente


nos intervalos, etc., através da percepção nós conseguimos ouvir os intervalos. Isso
ajudará bastante quando for tirar alguma música de ouvido. Outra coisa, é muito bom
que você aprenda a cantar, mesmo que desafinado no começo, os intervalos. Mãos, ou
melhor, ouvidos à obra!

Em primeiro lugar, é essencial associarmos os intervalos a alguma música que


conhecemos. Fica realmente complicado decorar todos os intervalos apenas pelo som,
então é recomendável que se utilize essa “técnica” de relacionar uma melodia conhecida
com o intervalo. Durante os exercícios, eu proponho algumas melodias, no entanto, caso
se lembre de outra mais fácil, não se reprima! Esqueça minha proposta e use a sua! Ah,
caso tenha alguma música legal para lembrar dos intervalos, não se esqueça de me falar!
^^

Começaremos com Uníssono, Segunda Maior e Terça Maior.

Clique abaixo para ouvir os intervalos (se não abrir o MIDI, clique com a direita e
depois em Salvar como...):

Exemplo de UNÍSSONO. Clique sobre a partitura para ouvir.


Dica: os sons são iguais.

Exemplo de SEGUNDA MAIOR. Clique sobre a partitura para


ouvir. Dica: pense no som do berimbal.
Exemplo de TERÇA MAIOR. Clique sobre a partitura para
ouvir. Dica: Eu sei que vou te amar – Tom Jobim

Abaixo proponho alguns exercícios. São seqüências de 10 intervalos cada, que serão
tocados sem repetição. Ouça-os e tente escrever em um papel as respostas. Os dois
primeiros estão sempre no tom de C, os últimos estão em tons variados. Só passe para a
próxima parte após terem feito 80% de acertos. Divirtam-se!

Exercício I – Dó Maior

Exercício II – Dó Maior

Exercício III – Várias tonalidades

Exercício IV – Várias tonalidades

Respostas:

Exercício I – Dó Maior

Terça maior / Uníssono / Terça maior / Segunda maior / Segunda maior / Uníssono /
Terça maior / Terça maior / Uníssono / Segunda maior

Exercício II – Dó Maior

Uníssono / Terça maior / Terça maior / Segunda maior / Uníssono / Segunda maior /
Segunda maior / Terça maior / Uníssono / Terça maior

Exercício III – Várias tonalidades

Segunda maior / Terça maior / Uníssono / Terça maior / Segunda maior / Terça maior /
Segunda maior / Terça maior / Segunda maior / Uníssono

Exercício IV – Várias tonalidades

Terça maior / Segunda maior / Uníssono / Segunda maior / Terça maior / Segunda
maior / Terça maior / Uníssono / Segunda maior / Terça maior

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