Você está na página 1de 168

PRINCÍPIOS DE OCEANOGRAFIA

Renan Vandre da Silva Toscano Saes


Samuel Soares Valentim
Francisco Sekiguchi Buchmann
Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais
Marcielly Freitas Bezerra
Fernanda Reinhardt Piedras
Juliana de Carvalho Gaeta
Lucas Buruaem Moreira
Bianca Del Bianco Sahm
Évila Pinheiro Damasceno
Ministério da Educação - MEC
Universidade Aberta do Brasil - UAB
Universidade Federal do Piauí - UFPI
Centro de Educação Aberta e a Distância - CEAD

PRINCÍPIOS DE OCEANOGRAFIA

Renan Vandre da Silva Toscano Saes


Samuel Soares Valentim
Francisco Sekiguchi Buchmann
Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais
Marcielly Freitas Bezerra
Fernanda Reinhardt Piedras
Juliana de Carvalho Gaeta
Lucas Buruaem Moreira
Bianca Del Bianco Sahm
Évila Pinheiro Damasceno
Reitor Diretor do Centro de Educação Aberta e a
José Arimatéia Dantas Lopes Distância - CEAD
Gildásio Guedes Fernandes
Vice-Reitora
Nadir do Nascimento Nogueira Vice-Diretora do Centro de Educação
Aberta e a Distância - CEAD
Superintendente de Comunicação Lívia Fernanda Nery da Silva
Jacqueline Lima Dourado
Coordenador do Curso Especialização em
Editor Ecologia
Ricardo Alaggio Ribeiro Cledinaldo Borges Leal

EDUFPI - Conselho Editorial Coordenador de Tutoria do Curso de


Ricardo Alaggio Ribeiro (presidente) Bacharelado em Sistemas de Informação
Antonio Fonseca dos Santos Neto Santina Barbosa de Sousa
Francisca Maria Soares Mendes
José Machado Moita Neto
Solimar Oliveira Lima
Teresinha de Jesus Mesquita Queiroz
Viriato Campelo

EQUIPE TÉCNICA

Revisão de Originais
José Barbosa da Silva
Projeto Gráfico e Diagramação
Nalton Luiz Silva Parente de Pinho
Vilsselle Hallyne Bastos de Oliveira
Revisão Gráfica
Clarissa Sousa de Carvalho

Dados internacionais de Catalogação na Publicação


P957 Saes, Renan Vandré da Silva Toscano Saes
Princípios de oceanografia / Renan Vandré da Silva Toscano Saes ... [et al.]. –
Teresina : EDUFPI, 2018. 164 p.

ISBN: 978-85-509-0288-3

Vários autores.
Pós-graduação Lato sensu em Ecologia, 2018.
1. Oceanografia. 2. Oceanógrafo – Profissão. I. Saes, Renan Vandré da Silva
Toscano. II. Título.

CDD 551.46

De acordo com a Lei n. 9.9610, de 19 de fevereiro de 1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada,
gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informações ou transmitida sob
qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do detentor
dos direitos autorais.
Editora da Universidade Federal do Piauí - EDUFPI
Campus Universitário Ministro Petrônio Portella
CEP: 64049-550 - Bairro Ininga - Teresina - PI - Brasil
PREFÁCIO
PESQUISADORA CONVIDADA DANDO A
IMPRESSÃO DO LIVRO
O livro apresenta de forma resumida conteúdos introdutórios a
oceanografia, baseando-se em uma literatura amplamente utilizada em
cursos de graduação em Ciências da Terra por todo o mundo. O objetivo
central dessa publicação é apresentar a alunos do ensino médio assuntos
de interesse e as principais abordagens de profissionais em oceanografia, e
assim instigar a formação de novas oceanógrafas e oceanógrafos em nosso
país. Nessa primeira versão do livro, o leitor será exposto a uma ciência
pouco abordada durante o ensino médio, e terá assim recursos mais realistas
para decidir por um futuro nessa carreira.
O primeiro capítulo leva o leitor a uma viagem sobre dimensões,
distâncias e um pouco da história de como os humanos começaram a registrar
e descrever as características principais dos oceanos até os dias de hoje,
com alguns exemplos de expedições e instrumentos. O segundo capítulo
foca em como os movimentos dos oceanos são estudados, linha de pesquisa
conhecida como oceanografia física, apresentando o desenvolvimento dos
instrumentos utilizados e introduzindo uma de suas principais ferramentas -
a modelagem numérica. O capítulo 3 apresenta alguns aspectos abordados
pela oceanografia geológica, detalhando tanto os sedimentos como as
distintas linhas de praias presentes ao longo da costa brasileira. O capítulo
4 traz noções de oceanografia química, linha de pesquisa que se preocupa
com a composição da água do mar, tanto natural como após alterações
resultantes de atividades humanas. O capítulo 5, descreve diferentes ramos da
oceanografia biológica, abordando processos importantes como a produção
primária e apresentando os principais grupos de organismos encontrados
nos oceanos. Os capítulos 6 e 7 descrevem as correntes oceânicas e
costeiras, respectivamente, fornecendo a nomenclatura e princípios físicos
a elas associados. O livro inclui ainda textos sobre os impactos na zonas
costeiras (capítulo 8) com destaques às atividades antrópicas, e sobre
bioprospecção marinha (capítulo 9), uma linha de pesquisa relativamente
nova em comparação às clássicas apresentadas nos capítulos de 1 a 5, mas
igualmente multidisciplinar. O último capítulo do livro se dedica a profissão
em oceanografia, apresentando locais de formação no Brasil e algumas das
áreas de atuação.
O conteúdo desse livro terá muita valia para professores e alunos de
ensino médio, uma vez que traz um informações diferenciadas daquelas
encontradas em livros textos de ciências e apresenta a oceanografia de uma
forma realista.

Profa. Dra. Aurea Ciotti


Centro de Biologia Marinha - Cebimar
Universidade de São Paulo - USP
PALAVRAS DO EDITOR

Considerando que a maior parte do planeta seja coberto por grandes


porções de água, os oceanos, a oceanografia é considerada uma ciência
de alta relevância, vasta e emocionante. Compreender as interações dos
oceanos com os continentes e a atmosfera, assim como os movimentos
das ondas e das correntes, é fundamental para a própria compreensão da
vida na Terra. Recentemente, a profissão denominada oceanógrafo vem
ganhando espaço, cada vez mais valorizada e requisitada. O livro Princípios
de Oceanografia retrata de maneira sucinta os conceitos oceanográficos
e indica oportunidades aos jovens que demostram interesse em formar-se
nesta profissão. Boa leitura!

Renan Vandre da Silva Toscano Saes


Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Universidade Federal do Ceará-UFC
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
Histórico da oceanografia
Renan Vandre da Silva Toscano Saes.....................................................11

CAPÍTULO 2
Oceanografia física
Samuel Soares Valentim.........................................................................29

CAPÍTULO 3
Oceanografia geológica
Francisco Sekiguchi Buchmann..............................................................49

CAPÍTULO 4
Oceanografia química
Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais & Marcielly Freitas Bezerra.....63

CAPÍTULO 5
Oceanografia biológica
Fernanda Reinhardt Piedras...................................................................79

CAPÍTULO 6
Circulação oceânica
Juliana de Carvalho Gaeta.....................................................................93

CAPÍTULO 7
Circulação costeira
Renan Vandre da Silva Toscano Saes..................................................105

CAPÍTULO 8
Impactos na zona costeira
Lucas Buruaem Moreira........................................................................119
CAPÍTULO 9
Bioprospecção marinha: biotecnologia acoplada ao estudo da
oceanografia
Bianca Del Bianco Sahm......................................................................131

CAPÍTULO 10
Oceanógrafo como profissão
Évila Pinheiro Damasceno & Renan Vandre da Silva Toscano Saes.....149

APÊNDICE
Distribuição dos laboratórios de pesquisa em oceanografia física por
instituição....................................................................................................161

MINICURRÍCULO DOS AUTORES....................................................163


CAPÍTULO 1
HISTÓRICO DA
OCEANOGRAFIA
Renan Vandre da Silva Toscano Saes
Universidade Federal do Ceará

Esférica, gigantesca, azul brilhante com grandes brancos em áreas de


nuvens, gelo e espirais de tempestades. Essa é a Terra vista do espaço por
um astronauta. O azul corresponde ao oceano que modera a temperatura,
influencia significativamente no clima e garante a manutenção da vida como
conhecemos hoje. A população humana utiliza o oceano há anos, sendo
que a conquista dos mares está diretamente relacionada com a evolução
da sociedade humana, essa estabelece como mar o trânsito de pessoas;
matéria-prima; alimento; trocas de mercadoria/comércio; energia; e como
área de descarte de resíduos, infelizmente, contribuindo atualmente para
os efeitos das mudanças climáticas. Cerca de 4,6 bilhões de pessoas (78%
da população mundial) residem em um raio de 200 km do mar, compondo
as maiores metrópoles do planeta, quase todas conectadas diretamente ao
oceano.
Mares e oceanos são segmentos menores do único oceano que
envolve toda a terra emersa do planeta, divididos apenas para fins de
conveniência (social e política) e geolocalização. Durante a Idade Média,
grande parte do comércio marítimo era realizado entre o Mar Mediterrâneo
e outros pequenos mares daquela região, ficando famosos os ‘Sete Mares’,
compreendidos pelos mares Adriático, Arábico, Cáspio, Mediterrâneo, Negro
e Vermelho e o Golfo Pérsico. Atualmente, a civilização humana globalizada,
em constante troca de informações, responde com um olhar muito mais
amplo e analítico sobre o oceano. Os novos sete mares são compostos pelos
oceanos Pacífico Norte, Pacífico Sul, Atlântico Norte, Atlântico Sul, Índico,
Ártico e Antártico. De acordo com a Organização Hidrográfica Internacional,
existem 61 mares na Terra, como o Mar do Caribe (América Central); Mar
do Norte (Norte Europeu); Golfo do México (México e EUA); Mar de Bering
(entre a América e a Ásia); Golfo Pérsico (no Oriente Médio); Baía de Hudson
(Canadá e EUA).

OCEANOGRAFIA
11
Mares e oceanos, somados, cobrem 71% da superfície terrestre, o que
corresponde a uma área de 361.100.000 Km2 e um volume de 1.338.000.000
Km3 (Tabela 1.1). Seu ponto mais profundo é a fossa das Marianas, com
11.022 m de profundidade no Pacífico e o ponto mais alto fica na cordilheira
marinha do Havaí (EUA), uma montanha marinha de 10.203 m de altura desde
o assoalho oceânico (Figura 1.1). Em média, o oceano tem uma camada
de 3.796 m de espessura, com uma temperatura de 3,9°C e salinidade de
34,482 gramas de sal por litro de água, usualmente como salinidade 35. Em
comparação, a terra emersa tem apenas uma espessura de 840 m sendo
a cordilheira do Himalaia (Nepal) com 8.848 m. Já o ponto mais profundo
entre todos os continentes fica na Sibéria (norte da Rússia), o lago Baikal
com 1.680 m de profundidade, que represa 20% da água doce de degelo do
planeta (GLEICK, 1996) (Figura 1.2).

Tabela 1.1 - As proporções de massa da água do planeta se distribuem de maneira


distinta por todo o planeta, seja na forma sólida (gelo), líquida (oceano, rios, lagos, agua
subterrânea) ou gasosa (vapor atmosférico). A maior porção é conhecida como oceano,
sendo de água salgada.

Porções de água na Terra Volume (Km3) Porcentagem (%)

Fonte: TEIXEIRA et al., 2009 e GARRISON, 2010.


Água salgada (Oceanos e
1.338.000.000 97,0
Mares)
Água doce 35.000.000 3,0

Porções de água na Terra Volume (Km3) Porcentagem (%)

Geleiras 24.000.000 68,7

Água subterrânea 10.500.000 30,1

Permafrost 300.000 0,8


Água superficial e Atmosfera 135.000 0,4

Água superficial e atmosfera Volume (Km3) Porcentagem (%)


Lagos 91.000 67,4
Umidade do Solo 16.500 12,2

Atmosfera 13.000 9,5

Água dos pântanos 11.500 8,5

Rios 2.120 1,6


Água biológica 1.120 0,8

12 UNIDADE I
^

Figura 1.1 – Cerca de 71% da superfície do planeta está coberta pelo oceano, esse volume
corresponde a 97% de toda a água da crosta terrestre (fonte: Adaptado de GARRISON,
2010).

Embora o oceano possa parecer incrivelmente grande, em uma escala


planetária é insignificante. Numa imagem que retrata a superfície da Terra
revestindo um globo de papel de 12 cm de raio, os oceanos representariam
apenas a fina camada de tinta azul que colore o papel, considerando os 12
cm de raio do planeta. O oceano corresponde a cerca de 0,02% da massa
do planeta. Há um volume imensamente maior de água no interior do planeta
do que no oceano, na atmosfera e rios. O Hemisfério Norte apresenta 60,7%
de sua área superficial de mar e 39,3% de terra, a maior porção de terra
emersa. No Hemisfério Sul, sua maior área está destinada a mar com 80,9%,
e apenas 19,1% de terra (Figura 1.1 e 1.2).

OCEANOGRAFIA
13
Figura 1.2 – Cerca de 71% da superfície do planeta está coberta pelo oceano;
esse volume corresponde a 97% de toda a água da crosta terrestre (fonte:
Adaptado de GARRISON, 2010).

Evolução planetária

As maiores descobertas do século XX, com certeza, foram em torno


da origem e história do universo. Embora muitos aspectos ainda sejam vagos,
a física quântica e a biologia molecular embasaram a teoria do Big Bang (A
Grande Explosão), uma explosão que gerou o universo. De acordo com a
teoria do Big Bang, aparentemente este universo partiu de um ponto inicial e
continua em expansão. A teoria pressupõe que toda a massa e toda energia
do universo estavam concentradas em um único ponto geométrico no início
do espaço/tempo, que começou a expandir. Ainda não se tem certeza do
motivo da explosão. Estima-se que esta expansão continuará para sempre.
Esse momento teria ocorrido há cerca de 14 bilhões de anos. Cerca de 1
bilhão de anos após, a temperatura já teria esfriado o suficiente para iniciar os
agrupamentos de energia e matéria, organizados no que conhecemos como

14 UNIDADE I
átomos, dando origem às primeiras galáxias e estrelas (Figura 1.3). O Sol é
uma estrela de médio porte, com o núcleo na temperatura de 15.000.000°C, e
a camada visível (superfície) com uma temperatura de 6.000°C. O Sol e alguns
planetas, dentre eles a Terra, são chamados de Sistema Solar, do qual o Sol é
o astro central, uma estrela. O Sistema Solar está em um dos braços, o braço
espiral, da galáxia Via Láctea, uma das milhões de galáxias que compõem o
universo. Desde a formação do oceano, a Terra completou 20 circuitos em
torno da galáxia, considerando-se o período para completar uma volta de 230
milhões de anos (TEIXEIRA et al., 2009).
A galáxia formou-se a partir de uma pequena estrela que ‘morreu’,
explodiu e dissipou energia/matéria distribuída na forma de uma nuvem,
chamada nebulosa. O choque de matéria da nebulosa gerou o Sol, os planetas,
asteroides e meteoros da Via Láctea. Esta possui cerca de 5 bilhões de anos.
A Terra tem 4,6 bilhões de anos, sendo que os oceanos começaram a se
condensar há cerca de 1 bilhão de anos depois (Figura 1.3). Toda matéria
compreendida entre o campo gravitacional da galáxia executa uma órbita
elíptica em torno do Sol, inclusive a Terra e seu satélite natural, a Lua.

Figura 1.3 – O ser humano compõe a parte mais recente da história da Terra. Em
comparação de tempo com um ciclo de um dia (24h), o homem surgiu as 23:59h de
um dia que iniciou a 0:00h, sendo que o surgimento da Terra foi há 4,6br de anos
(fonte: Adaptado de GARRISON, 2010).

OCEANOGRAFIA
15
Logo no inicio da formação da Terra, a gravidade promoveu uma
diferenciação, atraindo a parte mais densa para o núcleo, formado em maioria
pelos elementos ferro e níquel. Metais mais leves como silício, magnésio, alumínio,
fósforo, carbono e oxigênio formaram a crosta. Os gases e o magma que afloram
do interior da Terra na superfície são chamados de emissões vulcânicas, que
liberam vários compostos voláteis, inclusive vapor de água. Após a formação da
crosta, esse vapor excessivo formou uma espessa camada de nuvens acima da
superfície do planeta, a proto-atmosfera, que impediu a penetração da luz solar. As
nuvens mais altas começaram a se resfriar e formar gotículas, precipitando uma
chuva quente, que tornava a se transformar em nuvem, pela elevada temperatura
das recentes rochas. Essa densa chuva deve ter durado cerca de 20 milhões de
anos. A água foi se acumulando em bacias e, há cerca de 3,6 bilhões de anos,
o oceano se formou, iniciando o processo de intemperismo nas rochas, evento
responsável pela elevada salinidade encontrada nas águas marinhas. A vida, sem
sombra de dúvidas, foi um importante evento e talvez o mais importante desde a
formação do planeta. Os raios ultravioleta que varriam a superfície da Terra não
penetravam nas camadas mais profundas do oceano, propiciando a formação
das primeiras formas de vida. Há cerca de 2 bilhões de anos os primeiros
microrganismos foto-autotróficos começaram a dispor de oxigênio livre por meio
da fotossíntese, criando uma atmosfera oxidada, iniciando o ciclo desse elemento
(PRESS et al., 2006; GARRISON, 2010).
Figura 1.4 –
Representação das
camadas terrestres,
os estratos que
compõem um raio de
6.600 km do planeta
Terra, do núcleo
até a crosta (fonte:
Infográfico Drüm
da universidade de
York. Adaptado de
FIORAVANTI, 2012).

16 UNIDADE I
O oxigênio estocado desde este período na atmosfera e nos oceanos
garantiu a vida como conhecemos atualmente (Capítulo 5).
A teoria da tectônica de placas prevê que as sólidas placas oceâ-
nicas e continentais derivam por cima da parte superior do manto, uma
região plástica com elevada temperatura e presença de magma. Cerca de
210 milhões de anos atrás iniciou-se o processo de separação do único
continente emerso, a Pangeia. Este era circundado pela única massa de
água, a Pantalassa, o primeiro e único oceano da época. Há 130 milhões
de anos, houve a primeira grande separação da terra emersa em dois
megacontinentes: a Laurásia (norte) e a Godwana (Sul), formando-se en-
tre eles um outro corpo de água, o Mar de Thethis. Depois disso, vários
outros oceanos e mares se formaram (processo de ‘rifteamento’), dei-
xando mais placas à deriva. Há 50 milhões de anos, aproximadamente,
os continentes e os oceanos estavam posicionados em sua configuração
atual (Capítulo 6). Ainda hoje as placas continuam se movendo. As placas
divergentes que formam a cordilheira Mesoatlântica se afastam de 2 a 7
cm por ano.
As placas oceânicas (crosta oceânica basáltica) são mais densas
que as placas continentais (crosta continental granítica) (Figura 1.5). As
placas continentais flutuam em equilíbrio isostático em cima das bacias
oceânicas. Existem três diferentes limites entre as placas tectônicas:
(1) Limite divergente: Em processos de formação de oceanos,
ocorre a abertura e assim a exposição da crosta oceânica, afastando
as placas oceânicas. A cordilheira marinha Mesoatlântica é um exemplo
deste movimento de abertura do oceano Atlântico (Figura 1.5).
(2) Limite convergente: Comum em áreas de subdução, que refletem
a colisão de uma placa oceânica contra uma placa continental, resultando
numa vala de subducção profunda na placa oceânica, enquanto que na
placa continental será observado um levantamento vertical. Um exemplo
clássico é a formação da cordilheira dos Andes e a fossa do Peru, entre o
limite da costa oeste da América do Sul e a costa leste do Pacífico (Figura
1.5). Também ocorrem limites convergentes entre placas continentais; a
maior cordilheira do mundo, Himalaia, é resultado deste processo.
(3) Limite transformante: as placas deslocam-se uma em relação
à outra horizontalmente; ocorrem tanto entre placas continentais quanto
oceânicas.

OCEANOGRAFIA
17
O assoalho oceânico pode ser dividido em duas porções, sendo
a região central a bacia oceânica e a borda exterior, próxima aos
continentes, a margem continental. Essa região afogada dos continentes
pode apresentar características passivas ou ativas, estando diretamente
relacionadas com a tectônica de placas.
As bacias oceânicas (assoalho oceânico profundo) apresentam
uma composição muito diferente das margens e dos continentes, com
rochas basálticas (placas oceânicas). Tais bacias constituem cerca de
metade da área superficial da Terra. São formadas principalmente por
áreas planas, que podem ter até 7 km de sedimentos por cima da base
basáltica, e áreas montanhosas (ilhas, colinas, atóis, zonas de expansão).
Uma margem continental passiva situa-se em regiões mais interiores
das placas tectônicas, afastadas dos limites, geralmente associados a
movimentos divergentes, apresentando maior estabilidade e comprimento.
Por serem muito frequentes ao longo dos continentes voltados para o
litoral Atlântico, também podem ser chamadas de margens atlânticas.
Já as margens ativas apresentam forte instabilidade com ocorrência de
terremotos e vulcões próximos aos limites das placas, muito comuns em
movimentos convergentes. Por serem características ao oceano Pacífico,
podem ser também denominadas de margens tipo Pacífico (Figura 1.6).
A largura da plataforma continental está relacionada com a distância que
esta se encontra do limite da placa a qual pertence. Nota-se, pela Figura
1.5, que a margem ativa (oeste do continente sul-americano) é estreita,
enquanto a margem passiva (leste da América do Sul) é muito espessa.
A plataforma continental é a porção da margem continental mais
próxima das características dos continentes (ainda se encontra acima
uma placa granítica). As plataformas de todo o planeta compõem 7,4%
de toda a área do oceano. No Brasil, a plataforma continental apresenta
um comprimento médio de 170 km com uma profundidade final de 140 m.
A região sul possui a maior plataforma (250 km) em relação ao nordeste
(costa do PE/PB com 32 km de plataforma). No ultimo período glacial,
18.000 anos atrás, o nível da água do mar recuou aproximadamente
125 m em relação ao atual, expondo as plataformas continentais. Estes
movimentos de transgressões e regressões marinhas, bem como a
deriva de placas tectônicas, formaram as atuais linhas de costa que hoje
conhecemos (Capítulo 3).

18 UNIDADE I
O talude continental marca o fim da plataforma e o início da área de
transição entre as placas graníticas (continental) e basálticas (oceânica).
A quebra de plataforma é a região mais acentuada do talude com uma
elevada inclinação. O talude possui em média 20 km de comprimento e
pode ter um desnível de até 3.500 m. O sopé continental recebe o aporte
final dos sedimentos provenientes do continente, marcando o fim da
margem continental e o início das bacias oceânicas (Figura 1.6).

Figura 1.5 – Os movimentos de elevação e subducção entre placas continentais (em


cinza) e oceânicas (em marrom), respectivamente, modelam o assoalho oceânico (limites
divergentes e convergentes) (fonte: TEIXEIRA et al., 2009. Adaptado de LAPA (2015) da
Universidade Federal de Roraima).

OCEANOGRAFIA
19
Figura 1.6 – Composição das diferentes regiões das margens continentais, como exemplo de
uma margem passiva. Escala vertical exagerada da real (Fonte: Adaptado de GARRISON,
2010).

Primeiras navegações

Historicamente, civilizações que utilizavam o transporte marítimo


(mobilidade ou alimento) possuíam maior desenvolvimento e maiores
fronteiras territoriais em relação às outras culturas. Os primeiros registros
escritos de comércio marítimo datam de 2000 a.C., no Mar Mediterrâneo.
Os cretenses foram o primeiro povo a estabelecer uma supremacia
marítima no Mediterrâneo. Apos a queda deste império, em 1200a.C., os
fenícios obtiveram o controle e expandiram a zona comercial para além
do Estreito de Gibraltar. A cultura grega iniciou seu domínio do oceano
Atlântico em 900 a.C. Foram os primeiros a observar uma corrente sentido
norte-sul além de Gibraltar, considerando toda essa porção de água como
um imenso rio, chamado de ‘Okeanos’. Porém, estas expedições eram
muito associadas à zona costeira; pouquíssimas se aventuravam em alto
mar. Do outro lado do mundo, outros povos também se lançaram ao mar,
como os chineses, que desenvolveram um complexo sistema aquaviário
que interligava os diversos rios ao oceano Pacífico. Estima-se que em
3000 a.C. os povos polinésios já se deslocavam com facilidade entre
as ilhas da atual Indonésia e do sul da Ásia, iniciando a colonização de

20 UNIDADE I
ilhas na porção central do Pacífico. Estes “marinheiros” se baseavam
simplesmente na observação do Sol e das estrelas durante o amanhecer
e o anoitecer (GARRISON, 2010).
O comércio e a conquista de novas terras promoveram viagens
cada vez mais ambiciosas, longas e distantes da costa. É inegável que
as ciências marinhas tiveram um começo ligado a simples observações
descritas pelos navegadores. Em 300 a.C. foi fundada a maior biblioteca
da história do mundo antigo, com o maior acervo de pergaminhos, a
Biblioteca de Alexandria (Egito), considerada a primeira universidade do
planeta. Devido a esta fonte de informações, as ciências marinhas tiveram
um grande salto em seus estudos aplicados. Um dos bibliotecários mais
famosos que dirigiu a biblioteca foi o grego Erastóstenes de Cirena, o
primeiro a calcular, de maneira notável, a circunferência da Terra. Embora
Pitágoras já tivesse chegado à conclusão de que o planeta era redondo
em 600 a.C., foi Erastóstenes quem estimou seu tamanho. O valor original
publicado pelo bibliotecário em 230 a.C. difere em apenas 8% do valor real
calculado atualmente (40.075 km).
As primeiras cartas náuticas datam de 800 a.C., com o objetivo de
comunicar mudanças necessárias nas rotas, ou características físicas
perigosas, como rochedos. Mas a ciência da cartografia foi implementada
pelos estudiosos de Alexandria. O sistema de linhas imaginárias que
dividem a superfície da Terra também foi criado por Erastóstenes.
Anos depois, outros dois bibliotecários famosos, Hiparco e Ptolomeu,
aperfeiçoaram o sistema de coordenadas, baseados na latitude e na
longitude, considerando que a Terra possuía 360°, e com especificações
de graus, minutos e segundos para georeferenciar os pontos. Hoje em dia
utilizamos este sistema para a navegação, embora associados a satélites
orbitais em torno do planeta para orientar os pontos (Capítulo 6).
Após a queda do Império Romano e a destruição da Biblioteca de
Alexandria no século IV d.C., o desenvolvimento intelectual do Ocidente
enfraqueceu, pois os símbolos e conceitos da ciência eram considerados
pagãos durante todo o período da Idade Média. Todo o conhecimento
começou a ser difundido pelos árabes durante esse período. O povo árabe
também importou muito conhecimento da Ásia, pois estes se utilizavam
da bússola, uma invenção chinesa, a fim de orientar suas embarcações
e suas caravanas pelos desertos. Graças aos conhecimentos árabes
sobre os ventos periódicos no oceano Índico (as monções), o navegador

OCEANOGRAFIA
21
Vasco da Gama viajou do leste da África até a Índia, em 1498. Outros
povos também tiveram destaque em suas navegações, enquanto a
Europa regredia durante os ‘mil anos de trevas’ da Idade Média. Os
vikings exploraram e invadiram terras a norte e ao oeste (os vikings foram
o primeiro povo europeu a chegar a América, cerca de 500 anos antes
da Espanha). Os polinésios realizaram as maiores viagens exploratórias
sobre os oceanos, apesar de utilizarem embarcações muito menores e
simples que os outros povos citados até o momento, e isto no oceano
Pacífico, o maior oceano do planeta. Entre 300 e 600 d.C., os polinésios
povoaram as ilhas mais longínquas da costa, como o Havaí e a Ilha de
Páscoa, sendo estes lugares os últimos da Terra a serem habitados.
Entre 1405 e 1433 d.C., o almirante chinês Zheng He comandou a maior
frota marinha que já existiu, com 317 navios e 37.000 marinheiros; estes
percorreram 64.000 km chegando até mesmo a adentrar o Atlântico (há
relatos indígenas de que grandes velas vermelhas foram avistadas na costa
brasileira). O objetivo desta viagem não estava voltado à colonização, mas
sim exibir as riquezas e grandiosidade da China e demonstrar amizade a
povos distantes (alianças). Além da bússola, os chineses inventaram o
leme central, as velas em mastros múltiplos e compartimentos à prova da
água (GARRISON, 2010).
Com o Renascimento no século XV d.C, o comércio na Europa
ressurgiu, reativando as antigas rotas comerciais e a circulação de
mercadorias entre a Europa e o Oriente, utilizando as rotas da Ásia
Central e Arábia. Em 1453 o Império Turco-Otomano estabeleceu controle
sobre toda esta área, impossibilitando a manutenção destas rotas. As
‘grandes navegações’ europeias vieram como forma alternativa para
suprir tais rotas, através do meio marítimo. O infante D. Henrique (família
real portuguesa) patrocinou a formação do centro de estudos de ciências
marinhas e de navegação, chamado centro de Sagres (Portugal). Porém
foi em 1492 que Cristóvão Colombo, um navegador genovês sob comando
do império espanhol, que ‘descobriu’ a América. Desde 11.000 anos atrás
nativos americanos já estavam estabelecidos pelo continente. Já em 1507
as cartas náuticas incluíam o novo continente com o nome América (Carta
Waldseemüller). Fernão de Magalhães foi o primeiro navegador europeu
a comandar uma expedição para circunavegar o mundo (1519-1522). Sob
a bandeira do governo espanhol, provou de maneira definitiva que a Terra
era redonda. Após a viagem de Fernão, encerraram as viagens de grandes

22 UNIDADE I
navegações, e iniciou-se uma era de exploração e dizimação dos povos e
recursos naturais das novas colônias. Outras potências, como Inglaterra
e França, também se aventuram ao mar e conquistaram colônias como os
EUA, a Índia, a Polinésia Francesa, a Austrália e diversos povos africanos.

Navegações científicas

A primeira expedição cientifica documentada ocorreu entre 1768 e


1771, sob bandeira inglesa do comandante James Cook, no navio HMS
Endeavour. Embora a expedição tivesse vários objetivos, a observação
científica foi um deles. Foi nesta expedição que ‘descobriram’ a Nova
Zelândia e mapearam a Grande Barreira de Corais Australiana. O sucesso
de sua primeira viagem resultou em outras duas expedições: uma (entre
1772 e 1775) ao extremo sul, sendo o primeiro navegador a circunavegar
o mundo em altas latitudes, o que ‘descobriu’ a ilha de Pascoa e chegou
até a latitude 71°S, embora não tenha encontrado a Antártica. Sua
última expedição foi entre 1776 e 1779, com o objetivo de explorar as
altas latitudes do Norte (Canada, Alasca e Sibéria). Nesta viagem Cook
‘descobriu’ o Havaí e cartografou a costa oeste da América do Norte. Ele e
os cientistas da Academia Real Britânica coletaram amostras de plantas,
animais, diversos organismos marinhos e amostras do assoalho oceânico.
O detalhamento na descrição das suas cartas náuticas do Pacífico é tão
preciso que ajudaram os aliados durante a Segunda Guerra Mundial
(GARRISON, 2010).
Os EUA também contribuíram para o avanço sobre os mares. A
expedição a bordo do navio Vincennes liderado pelo capitão Charles
Wilkes (1838-1842) foi responsável pela descoberta da Antártica,
confirmando esta terra afastada como um continente. Matthew Maury,
um oficial da marinha americana, iniciou estudos de densas e completas
compilações de temperatura do oceano, temperatura atmosférica e
direção dos ventos. Embora Benjamin Franklin tenha publicado em 1769
a primeira carta náutica com direções de correntes (Corrente do Golfo),
Maury foi o primeiro a perceber um padrão global de ventos e correntes
de superfície. Em 1836, o autor publicou o primeiro mapa de batimetria
oceânica impresso, com dados do navio USS Dolphin (Figura 1.7). Em
1855 publicou sua maior obra The physical geography of the seas (em
português, “A geografia física dos oceanos”), livro que o deixou conhecido
como o pai da oceanografia física (Figura 1.8).
OCEANOGRAFIA
23
Figura 1.7 – Primeiro mapa batimétrico impresso produzido pelo norte-americano
Matthew Maury (Fonte: NOAA, 2015).

Figura 1.8 – Capa original do livro


A geografia física dos oceanos, que
consagrou Matthew Maury como o
pai da oceanografia física (Fonte:
Internet Archive, 2015).

24 UNIDADE I
Todas as expedições acima promoveram grandes avanços nas ciências
marinhas, ainda que nenhuma delas tivesse como objetivo principal a pesquisa
acadêmica. A primeira expedição de circunavegação com o objetivo central
exclusivo voltado para as ciências marinhas foi a do navio britânico HMS
Challenger de 1872-1876. Outra famosa expedição anterior, a do navio HMS
Beagle, foi comandada pelo capitão Robert FitzRoy e o naturalista Charles
Darwin, entre 1831 a 1836. Esta resultou em descobertas marcantes para
a teoria da evolução da vida no planeta, porém foi principalmente voltada
para experimentos e amostragens continentais, O best-seller A origem
das espécies, de C. Darwin (publicado em 1859), foi um dos frutos desta
esplêndida expedição, que inspirou a futura Challenger.
A expedição Challenger teve o cunho científico marinho. Embora
tivesse um comandante da marinha britânica, a direção e o tempo de viagem
foram decididos por dois pesquisadores, Charles Wyville Thomson e John
Murray, que percorreram 127.600 km (Capítulo 2). Estes criaram o termo
oceanografia, que designa atualmente os estudos dos mares e oceanos.
Números impressionantes de amostragens e recordes de profundidades
para a época foram quebrados por esta expedição: 492 sondagens profundas
(até 8.185 m nas Filipinas); 133 dragagens; 151 arrastos; 77 amostragens
de água; 4.717 espécies novas. A expedição confirmou que existe vida em
áreas profundas nos oceanos; refinou os dados de correntes de superfícies
e correntes de fundo; introduziu a distribuição de sedimentos; estudou os
perfis dos recifes de corais. A descoberta da vida marinha nas profundezas
foi a base da biologia marinha. As denominadas ‘bolotas escuras de
sedimento’ ricas em minerais (petróleo do solo oceânico) foram umas das
maiores descobertas da expedição, levando ao interesse crescente até hoje
em estudar o assoalho oceânico. O resultado da expedição foi o ‘Relatório
Challenger’, uma série de volumes muito detalhados e com ilustrações
belíssimas, servindo, na verdade, para estabelecer a recém-criada ciência
da oceanografia. Até hoje a expedição Challenger foi a mais longa expedição
oceanográfica contínua da historia.
Em menor escala, os russos também contribuíram para a evolução da
oceanografia com um detalhado relatório sobre a temperatura e salinidade
do Pacífico Norte durante a expedição do navio Vitiaz, sob o comando do
capitão Marakov entre 1886-1888. Estes dados são utilizados atualmente
para discussões em relação às mudanças climáticas globais (GARRISON,
2010).

OCEANOGRAFIA
25
A partir do século XX, as explorações oceanográficas se tornaram
ainda mais ambiciosas e caras, com novos equipamentos eletrônicos e óticos
(sondas). Em 1925, o navio alemão Meteor inovou ao levar uma ecossonda
a bordo, e durante dois anos mapeou a bacia oceânica do Atlântico Sul, que
emite ondas sonoras da superfície até o assoalho oceânico e retornam em
períodos específicos, ‘desenhando’ o fundo do oceano. Estas informações
foram fundamentais para revelar o relevo altamente irregular do fundo
oceânico, e não um perfil plano, como se imaginava. Este estudo subsidiou
a descoberta da cordilheira marinha Mesoatlântica. A escuna Scripps, sob
o comando do norueguês Harald Sverdrup, explorou as características
geofísicas na costa sul da Califórnia, resultando na publicação do livro O
oceano, em 1942, a primeira referência moderna às ciências do mar. Com
uma capacidade de perfuração a 6.000 m abaixo da coluna de água, o navio
Glomar Challenger iniciou em 1968 uma importante missão para determinar
as origens do assoalho oceânico. Estas descobertas fundamentaram a
teoria da deriva das placas tectônicas, descritas em 1912 pelo alemão Alfred
Wegener. Em 2007, o navio oceanográfico japonês Chikyu iniciou operações
de perfurações em torno do globo, sendo atualmente um dos maiores
e mais modernos navios de pesquisa oceanográfica em operação. Ele
possui autonomia para perfurar até 11.000m de profundidade, sendo o mais
importante instrumento do Programa Internacional de Perfuração Oceânica
(em inglês, “Integrated Ocean Drilling Program – IODP”).
A fim de processar os dados obtidos pelas expedições oceanográficas
modernas, os centros de pesquisas oceanográficos acompanharam esta
evolução histórica da oceanografia a partir do solo. Um destaque é o primeiro
centro de oceanografia, o Institut Océanographique, fundado em 1906 pelo
príncipe Albert I, de Mônaco. Um dos famosos alunos deste instituto foi
Jacques Cousteau, inventor do equipamento de mergulho autônomo, em
1943. Atualmente o órgão americano de Administração Nacional Oceânica
e Atmosférica (National Oceanic and Atmospheric Administration - NOAA) é
um dos maiores centros de informações sobre os oceanos e mundialmente
influentes no investimento e desenvolvimento de tecnologias oceanográficas.
Outro órgão americano que ganhou destaque na oceanografia moderna foi
a Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (National Aeronautics
and Space Administration - NASA). A agência espacial americana usou o
satélite Seasat, pela primeira vez em 1978, para registrar a temperatura de
superfície dos oceanos. Desde então, uma ciência chamada sensoriamento

26 UNIDADE I
remoto vem se utilizando de satélites para obter diversas características
oceanográficas (Capítulo 6). Um destaque é o satélite Aqua, um dos
satélites de nova geração, lançado em 2002, e que registra as mais
diversas informações sobre a superfície dos oceanos, desde temperaturas
até a estimativa da altura de ondas. Os EUA também formaram a rede de
satélites que compõem o sistema de posicionamento global (em inglês,
global positioning system - GPS), amplamente utilizado até mesmo em
celulares e automóveis no estabelecimento de coordenadas em tempo real
de localização em terra. O GPS revolucionou o sistema de coordenadas na
coleta de dados oceanográficos (GARRISON, 2010).
Atualmente a oceanografia é conhecida por estudar os processos de
formação e manutenção dos oceanos, as formas de vida associadas a estes
e as áreas de terra que os limitam. Assim, uma gama de disciplinas forma a
ciência da oceanografia (GARRISON, 2010). Para fins didáticos, as ciências
marinhas são divididas em quatro vertentes, que serão estudas mais a fundo
nos capítulos seguintes.

(1) Oceanografia física (Capítulo 2).


(2) Oceanografia geológica (Capítulo 3).
(3) Oceanografia química (Capítulo 4).
(4) Oceanografia biológica (Capítulo 5).

Referências

FIORAVANTI, C. Revista Pesquisa Fapesp - Edição 198 - Agosto de


2012. Abrindo a terra. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.
br/2012/08/10/abrindo-a-terra/>. Acesso em 20 de junho de 2015.

GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia. São Paulo: Cengage


Learning, p. 426, 2010.

GLEICK, P. H, Recursos de água. In: SCHNEIDER, S. H. (Ed.) Enciclopé-


dia do clima e tempo. Vol. 2, New York: Oxford University Press, p. 817-
823, 1996.

OCEANOGRAFIA
27
INTERNET ARCHIVE. US Archive. Disponível em: <https://ia600803.us.ar-
chive.org/zipview.php?zip=/15/items/olcovers587/olcovers587-L.zip&file=-
5872927-L.jpg>. Acesso em 20 de junho de 2015.

LAPA - Laboratório de Paleontologia da Amazonia Campus do Paricarana.


Universidade Federal de Roraima. Tectônica de Placas. Disponível em:
<http://ufrr.br/lapa/index.php?option=com_content&view=article&id=%20
94>. Acesso em 20 de junho de 2015.

NOAA - National Oceanic and Atmospheric Administration. NOAA's page


about the memoirs of 1852: Vicissitudes of Ocean Exploration Rear
Admiral S. R. Franklin. Matthew Fontaine Maury - USS Dolphin (1836).
Disponível em: <http://oceanexplorer.noaa.gov/library/readings/vicissitudes/
media/gulf.html>. Acesso em 20 de junho de 2015.

PRESS, F.; GR OTZINGER, J.; SIERVER, R.; JORDAN, T. H. Para enten-


der a Terra. Ed. 4, Porto Alegre: Bookam, p. 656, 2006.

TEIXEIRA, W.; FAIRCHILD, T. R.; TOLEDO, M. C. M.; TAIOLI, F. Decifran-


do a Terra. Ed. 2, São Paulo: Companhia Editora Nacional, p. 624, 2009.

28 UNIDADE I
CAPÍTULO 2
OCEANOGRAFIA FÍSICA
Samuel Soares Valentim
Universidade Federal do Ceará

A oceanografia é uma ciência multi-interdisciplinar dividida basicamente


em quatro grandes subáreas: oceanografia biológica, oceanografia química,
oceanografia geológica e a oceanografia física. Esta divisão se torna necessária
diante da grandeza dessa ciência repleta de especificidades e a necessidade
de detalhamento de cada área de conhecimento. No entanto, um oceanógrafo
necessita possuir uma visão holística em suas pesquisas de modo que a
integração das subáreas proporcione um estudo mais robusto e eficaz. Este
capitulo está focado em detalhar alguns principios da oceanografia física.
Dentro desta subárea, a teoria e observação devem caminhar juntas para
minimizar os possíveis erros. A teoria é simplesmente uma explicação baseada
na observação, medição e fundamentos. Uma observação de qualidade com
método coerente possibilita incorporar informações para o desenvolvimento de
novas teorias, e tais teorias possibilitam o surgimento de melhores formas de
realizar observações.
Por que estudar a física dos oceanos? A oceanografia física é uma área
da oceanografia que estuda o movimento dos fluidos nos oceanos e ambientes
adjacentes, sendo o estudo das propriedades físicas e dinâmica do oceano
(STEWART, 2008). Os interesses primários são a interação do oceano com
a atmosfera, o fluxo de calor no oceano, a formação de massas da água, as
correntes e dinâmica costeira. A oceanografia física é considerada por muitos
uma subdisciplina de geofísica, com significativa importância na aplicação de
estudos climáticos globais, regionais e locais, e em estudos de sistemas costeiros.
Pode ainda ser um elemento chave nos estudos interdisciplinares de produção
primária, fontes hidrotermais, e dinâmica e estoque de dióxido de carbono (CO2).
Em uma visão prática, a oceanografia física estuda e observa as correntes, a
dinâmica das ondas e a interação oceano-atmosfera (GARRISON, 2010).
A pergunta do por que de estudar os oceanos, levantada pelo autor
Stewart (2008), se faz relevante para o maior entendimento do tema em questão.
A resposta a essa pergunta depende dos nossos interesses, ou seja, do nosso

OCEANOGRAFIA 29
uso dos oceanos. Três importantes temas serão descritos a seguir:
(1) Nós obtemos comida dos oceanos desde as grandes navegações;
a prática de descobrimento de novas terras e a pesca para sobrevivência
e posteriormente como comércio, é um marco para este tema. Somos
interessados em processos que influenciam o mar, assim como os agricultores
são interessados no tempo e clima. O oceano não apenas tem o tempo como as
mudanças de temperatura e correntes, mas as condições climáticas nos oceanos
têm capacidade de fertilização, desde a produtividade primária nos primeiros
centimetros da coluna d’água até o desenvolvimento de toda a cadeia trófica.
(2) Nós usamos o oceano; há um exorbitante número de habitações e
obras costeiras ao longo das zonas costeiras e também em regiões offshore. Os
oceanos e mares são usados para transporte, seja de pessoas, seja de cargas
ou ambos. Os oceanos nos fornecem recursos valiosos (exs.: óleos e gases). E
os oceanos são usados para recreação diversas (exs.: natação, pesca, surfe,
velejar e mergulho). Diante disso, é nitido nosso interesse em processos que
influenciam essas atividades, especialmente das ondas, ventos, correntes e
temperaturas.
(3) O oceano influencia o clima, seja na distribuição das chuvas, secas,
climas regionais, eventos extremos (exs.: inundações, marés meteorológicas),
seja no desenvolvimento de outros fenômenos (tornados, furacões e tufões).
Com isso, somos interessados em interações oceano-atmosfera, especialmente
nos fluxos de calor e água ao longo da superficie do oceano, no transporte do
calor pelas correntes oceânicas e na influência dos oceanos sob os padrões
climáticos.

Antecedentes e desenvolvimento histórico

É milenar o conhecimento sobre correntes oceânicas, ventos, ondas e


marés. Navegadores da Polinésia realizavam comércio a longas distâncias no
oceano Pacífico por volta de 4000 a.C. (SERVICE, 1996). Pytheas, geógrafo
e mercador grego, explorou o Atlântico da Itália à Noruega no ano 325 a.C.
Comerciantes árabes usaram o conhecimento de ventos inversos e correntes
no oceano Índico para estabelecer rotas de comércio para China na Idade
Média e depois para Zanzibar, na costa africana. E a conexão entre marés e o
sistema Sol-Lua foi descrito na Samaveda no período da védica indiana (1750-
500 a.C.), estendendo-se de 2000 a 1450 a.C. (PUGH, 1987). O conhecimento
europeu moderno do oceano iniciou-se com as viagens de descobrimento

30 UNIDADE II
por Bartolomeu Dias (1487-1488), Cristóvão Colombo (1492-1494), Vasco da
Gama (1497-1499), Fernando de Magalhães (1519-1522) e muitos outros. Estes
precursores lançaram as bases para as rotas marítimas/comerciais globais que
se estendem desde a Espanha até as Filipinas no início do século XVI. As rotas
foram baseadas em um bom conhecimento dos ventos alísios, ventos de oeste
e correntes de contorno oeste no Atlântico e no Pacífico (COUPER, 1983: 192-
193) (Figura 2.1). Os primeiros exploradores europeus foram logo seguidos por
viagens científicas de descobrimento lideradas por James Cook (1728-1779) no
Endeavour, Resolution, e Adventure; Charles Darwin (1809-1882) no Beagle;
Sir James Clark Ross and Sir John Ross, que pesquisaram as regiões Ártica e
Antártica, no Victory, Isabella e no Erebus; e Edward Forbes (1815-1854), que
estudou a distribuição vertical da vida no oceano. Outros coletaram observações
oceânicas e produziram úteis resultados, incluindo Edmond Halley, que traçou
a rota dos ventos alísios e das monções; e Benjamin Franklin, que traçou os
primeiros vetores da corrente do Golfo. Um histórico mais detalhado sobre a
evolução das expedições marítimas pode ser encontrado no capítulo inicial deste
livro.
Navios lentos e sem tanta modernidade dos séculos XVIII e XIX deram
lugar aos satélites, derivadores e instrumentos autônomos por volta do fim
do século XX. Os satélites têm observado o oceano, ar e a terra. Milhares
de derivadores coletam informações em 2 km do oceano. Os dados desses
sistemas, quando inseridos em modelos numéricos, permitem o estudo da Terra
como um sistema. Primeiramente, é possível estudar como a biologia, a química
e os sistemas físicos interagem para influenciar o meio ambiente.

Figura 2.1 – Exemplo da era da exploração dos oceanos. Curso percorrido pelo
H.M.S Challenger durante a expedição britânica Challenger (1872-1876)
(Fonte: Adaptado de STEWART, 2008).

OCEANOGRAFIA 31
Marcos para a compreensão dos oceanos

O marco inicial se deu na primeira investigação científica no final


do século XVII. A princípio, o progresso foi bem lento, com simples
observações que tinham sua importância para os cientistas da época, que
não se consideravam oceanógrafos, até porque nem existia o termo ainda.
Mais tarde, descrições detalhadas e experimentos oceanográficos foram
apresentados por cientistas que se especializavam em estudos do oceano. A
seguir serão apresentados alguns dos principais marcos para o entendimento
dos oceanos ao longo da história (STEWART, 2008).

1685 - Edmond Halley, investigando os sistemas de ventos e correntes


oceânicas, publicado em “Um relato histórico dos ventos alísios, e monções,
observado nos mares entre e perto dos Trópicos, com uma tentativa de
atribuir a causa física dos referidos ventos”.

1735 - George Hadley publicou a história dos ventos alísios baseado nas
observações do momentum angular em “No que diz respeito a causa da
geração dos ventos alísios” (Philosopical Transactions, 39:58-62).

1751 - Henri Ellis realizou a primeira sondagem profunda de temperatura dos


Trópicos, encontrando massa da água fria abaixo de uma camada superficial
quente, indicando que as águas vieram das regiões polares.

1769 - Benjamin Franklin, após ser titulado como mestre, fez o primeiro mapa
da corrente do Golfo usando informações de navios correios que navegavam
entre a Nova Inglaterra e a Inglaterra. As informações foram coletadas pelo
seu tio Timothy Folger.

1775 - Laplace publicou uma teoria sobre as marés.

1800 - Conde Rumford propôs uma circulação meridional do oceano com


água afundando (movimento descendente) próximo aos polos e subindo
perto do Equador (movimento ascendente ).

1847 - Matthew Fontaine Maury publicou sua primeira carta de ventos a


correntes baseadas em dados de navios. Maury estabeleceu a prática de

32 UNIDADE II
intercâmbio internacional de dados ambientais, iniciando pela prática de
troca de diários de bordo para confecção de mapas e cartas através dos
dados coletados.

1872-1876 – A Expedição Challenger marcou o início do estudo sistemático


de biologia, química e fisica do oceano ao longo do mundo.

1885 - Pillsbury realizou medições diretas da corrente da Flórida usando


medidores de correntes fundeados por um navio ancorado no fluxo da
corrente.

1903 - Fundação do Laboratório de Biologia Marinha da universidade da


Califórnia, anos depois renomeado para Instituto de Oceanografia.

1910-1313 - Vilhelm Berknes publicou “Meteorologia dinâmica e hidrologia”,


que lançou as bases da dinâmica dos fluidos geofísicos. A partir disso,
foi desenvolvida a ideia de frentes, fluxo geostrófico, interação oceano-
atmosfera e ciclones.

1930 - Fundação do Instituto Oceanográfico da Woods Hole.

1942 - Publicação do “O Oceano”, por Sverdrup, Johnson e Fleming, tratando


sobre a compreensão da pesquisa de conhecimento oceanográfico até esse
momento.

1945 (Após Segunda Guerra Mundial) - A necessidade de detectar submarinos


gerou nas Marinhas de todo o mundo o objetivo de expandir os estudos
sobre o mar. Esse fato levou a fundação de departamentos de oceanografia
em universidades estaduais, incluindo estado de Oregon, Universidade do
Texas, Universidade de Miami, Universidade de Rhode Island, e a fundação
de laboratórios nacionais sobre os oceanos como os vários institutos de
ciência oceanográfica.

1947-1950 - Sverdrup, Stommel e Munk publicaram suas teorias de circulação


do vento em direção ao oceano. Os três artigos lançaram as bases para a
compreensão da circulação oceânica.

OCEANOGRAFIA 33
1949 - Inicio da Cooperativa de Pescadores da Califórnia, que investigou a
corrente da Califórnia. O estudo mais completo realizado sobre uma corrente
costeira.

1952 - Cronweill and Motngomery redescobriram a corrente de fundo


equatorial dentro do Pacífico.

1955 - Bruce Hamon e Neil Brown desenvolveram o “Conductivity,


Temperature and Depth System” (CTD) para medições da condutividade e
temperatura ao longo da coluna da água dos oceanos.

1958 - Stommel publicou teorias para a circulação profunda (circulação


termohalina) do oceano.

1963 - Corporação Sippican (Tim Francis, Willian Van Allen Clark, Graham
Campbell e Sam Francis) inventaram o “Expendable Bathy Thermograph”
(XBT), um perfilador muito sensível, principalmente para temperatura. Um
dos instrumentos oceanográficos mais utilizados em navios de pesquisa.

1969 - Kirk Bryan e Michael Cox desenvolveram o primeiro modelo numérico


para circulação oceânica.

1978 - NASA lançou o primeiro satélite oceanográfico, o SEASAT. O projeto


desenvolveu técnicas usadas por gerações de satélites de sensoriamento
remoto.

1979-1981 - Terry Joyce, Rob Pinkel, Lloyd Regier, F. Rowe e J.W. Young
desenvolveram técnicas que levaram a criação do perfilador acústico de
correntes por efeito doppler “Acoustic Doppler Current Profile” (ADCP) para a
medição de correntes oceânicas superficiais a partir de navios em movimento.
Esse instrumento oceanográfico é amplamente utilizado na oceanografia.

1988 - Comitê da Ciência do Sistema da Terra da NASA, dirigido por Francis


Bretherton, descreve como todos os sistemas terrestres estão interligados,
quebrando assim as barreiras que separam as ciências tradicionais da
astrofísica, ecologia, geologia, meteorologia e oceanografia.

34 UNIDADE II
1991 - Wally Broecker propôs que mudanças na circulação profunda do
oceano modulam as eras glaciais, e que a circulação profunda do Atlântico
pode entrar em colapso, podendo o Hemisfério Norte entrar em uma nova
era glacial.

1992 - Russ Davis e Doug Webb inventaram os derivadores autônomos que


medem continuamente as correntes em profundidade de 2 km.

1992 - NASA e CNES desenvolveram e lançaram o satélite TOPEX/Poseidon,


que traça mapas das correntes oceânicas superficiais, ondas, marés a cada
10 dias, revolucionando o entendimento da dinâmica dos oceanos e das
marés.

1993 - Membros do time de cientistas TOPEX/Poseidon publicaram os


primeiros mapas globais com acurácia sobre as marés.

1997 - Criação do Sistema Global de Observação dos Oceanos (GOOS),


criado pela Comissão Intergovernamental (COI) em cooperação com
a Organização Meteorológica Mundial (OMM) e com o Programa das
Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), com base nos dispositivos
da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar (CNUDM) e
da Agenda 21. O objetivo do GOOS é desenvolver um sistema global de
observação para aprimorar o conhecimento e monitorar as mudanças
nos oceanos e suas influências. Diante da extensão da área maritima de
interesse nacional, foi criado o programa piloto GOOS/Brasil que tornou
completamente operacional a coleta, a análise e a transmissão de dados em
toda área oceânica que o Brasil exerce soberania. A coleta oceanográfica e
meteorológica foi estabelecida através da implementação de uma rede de
observação por boias fixas, de deriva, ondógrafos, marégrafos e XBT.

2002 - O ENVISAT foi lançado pela Agência Espacial Europeia (ESA). É


considerado o maior satélite de observação da Terra e é constituído por 10
instrumentos para medições oceanográficas e meteorológicas.

2010 - O satélite AQUARIUS é lançado pela NASA. É o primeiro satélite


desenvolvido para medir a salinidade da superfície dos oceanos.

OCEANOGRAFIA 35
Além dessa ordem cronológica dos principais fatos históricos
correlacionados com a oceanografia física ao longo de séculos, é importante
mostrar o cenário atual dessa ciência no Brasil. Existem 13 instituições
de ensino que oferecem o curso de oceanografia, e dentre eles, algumas
possuem departamentos e laboratórios mais desenvolvidos para os estudos
na oceanografia física, como por exemplo, o departamento de Oceanografia
Física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP),
que possui duas estações maregráficas instaladas no litoral norte (Ubatuba)
e sul (Cananéia) com o maior (ou mais longo) registro maregráfico (série
temporal) do país. O IOUSP foi fundado em 1946 como Instituto Paulista
de Oceanografia (IPO) e em 1951 foi incorporado à USP como unidade de
pesquisa e assumiu o nome atual, perfazendo 64 anos de atuação na ciência
nacional e na oceanografia.
A COPPE/UFRJ dentro do seu curso de graduação e pós-graduação
em engenharia naval e oceânica é referência na aplicação e desenvolvimento
da modelagem numérica nos estudos dos oceanos e corpos adjacentes para
criar cenários contra eventos extremos (inundações, tempestades, marés
meteorológicas, etc). Outros departamentos de universidades e grupos
de pesquisas especificos também desenvolvem essa ferramenta bastante
utilizada no cenário global. Dentre os vários modelos numéricos desenvolvidos
no Mundo e difundidos no Brasil, o modelo holandês Delft3D, desenvolvido
pelo instituto DELTARES é um utilizado para estudos de hidrodinâmica em
plataforma, baías e ambientes estuarinos, podendo gerar simulações sobre
a hidrologia do ambiente, morfologia, transporte de sedimentos e criação de
cenários para tomadas de decisão.

Métodos para melhor entendimento do oceano

O oceano é uma parte essencial do sistema terrestre. Há processos de


interação entre atmosfera e oceano por transferência de massa, momentum
e energia através da superfície oceânica. Os oceanos recebem aporte de
água e substâncias dissolvidas do continente, deposição de sedimentos
através dos processos costeiros. O entendimento dos processos oceânicos
é importante para compreender, por exemplo, como o sistema se comporta
ou é influenciado pelo aquecimento global e pelas mudanças climáticas. A
interação oceano-atmosfera realiza trocas significativas para intensificação
ou a atenuação de fenômenos meteo-oceanográficos, podendo amenizar

36 UNIDADE II
temperaturas superficiais, moldar o tempo e o clima da Terra, e criar a maior
parte da dinâmica de ondas e correntes. E, para conseguir compreender
esse sistema complexo, é necessário utilizar e integrar a teoria, realizar
observações e modelos numéricos para descrever as dinâmicas do oceano
(Figura 2.2)

Coleta de dados

Análise dos
Modelos Numéricos dados e Predição
aprendizado

Teoria

Figura 2.2 – Coleta de dados, modelos numéricos, e teoria são todos


necessários para o entendimento do oceano. Eventualmente, o entendimento
do sistema oceano-atmosfera-continente vai levar a predições (ou
prognósticos) do estado futuro do sistema (Fonte: Adaptado de STEWART,
2008).

A combinação da teoria, observações e da modelagem numérica é


relativamente nova e um avanço para os cientistas, principalmente para os
programadores e modeladores. As últimas décadas de desenvolvimento
da computação tem disponibilizado computadores capazes de simular
importantes processos físicos e dinâmicas oceânicas. Todos os envolvidos
nas ciências sabem que o computador se tornou uma significativa ferramenta
para o desenvolvimento da pesquisa mundial (LANGER, 1999). Atualmente,
os laboratórios possuem sistemas operacionais robustos que aplicam as
teorias matemáticas em modelos e/ou em softwares de programação com
resultados em curto período de tempo. A combinação desse sistema – teoria,
observação e modelos computacionais – implicam em um novo caminho de
fazer pesquisas oceanográficas.

Circulação atmosférica

O sol e a atmosfera controlam diretamente ou indiretamente quase


todos processos dinâmicos dentro do oceano. Os fatores externos dominantes
e os sumidouros de energia são luz solar, evaporação, emissão de radiação

OCEANOGRAFIA 37
infravermelha da superfície do oceano e o calor sensível do oceano por
ventos quentes e frios. Ventos controlam a circulação superficial do oceano
até cerca de 1 km de profundidade. Vento e marés conduzem as correntes
profundas do oceano.
O oceano, por sua vez, é dominado por uma força de calor que conduz
a circulação atmosférica de forma diferenciada do Equador aos polos (Figura
2.3). A distribuição desigual do balanço de calor (perda e ganho) pelo oceano
conduz os ventos pela atmosfera. O sol aquece o oceano tropical, que
evapora, transferindo calor em forma de vapor d’água para atmosfera. O
calor é liberado quando o vapor se condensa em forma de chuva. Ventos e
correntes oceânicas transportam calor em direção aos polos, onde é perdido
para atmosfera.

Alísios

Alísios

Figura 2.3 – Circulação global de ar conforme descrito no modelo de seis


células. Atenção para influência do efeito de Coriolis (Hemisfério Norte:
deflexão para direita; Hemisfério Sul: deflexão para esquerda) na direção
do vento. A circulação aqui é idealizada, ou seja, um fluxo médio de longo
prazo (Fonte: MARTINS et al., 2008).

A Figura 2.3 é uma representação idealizada da circulação


atmosférica. O ar se aquece, expande, e ascende no Equador; da mesma
forma que ele se resfria, contrai e realiza movimento descente nos polos.

38 UNIDADE II
Porém, ao invés de dar continuidade a partir do Equador até os polos
de maneira contínua em cada hemisfério, o ar que sobe no Equador é
gradualmente defletido para o leste ao se mover em direção aos polos, ou
seja, o ar vira para a direita no Hemisfério Norte (HN) e para a esquerda
no Hemisfério Sul (HS). Essa mudança de direção é causada pelo efeito
de Coriolis (efeito real que depende do referencial), que, apesar de não
causar o vento, influencia a direção (GARRISON, 2010).
A partir do momento em que o ar ascende no Equador, ocorre
uma diminuição da umidade pela precipitação (chuva) causada pelo
resfriamento e expansão. A seguir, esse ar mais seco torna-se mais denso
na atmosfera superior quando começa a irradiar calor para o espaço, e se
resfria. Após deslocar-se do Equador até cerca de 30°N e 30°S de latitude,
o ar torna-se denso o suficiente para descer até a superfície da Terra.
Grande parcela do ar que descende volta em direção ao Equador quando
atinge a superfície. No HN, o efeito de Coriolis influencia a direção do ar
superficial para direita (“Alísios de nordeste” na Figura 2.3). Apesar de ter
sido aquecido pela compressão durante seu movimento descendente, o
ar é normalmente mais frio do que a superfície pela qual flui. Com isso,
o ar se aquece ao se mover em direção ao Equador, entretanto evapora
água superficial e se torna úmido. Esse ar úmido, aquecido e menos
denso, começa a subir ao se aproximar do Equador, fechando o ciclo.
Esse significativo circuito de ar recebe o nome de célula de circulação
atmosférica. Existem duas células nos trópicos (0° até 30°): células de
Hadley. Duas células nas latitudes médias (entre 30° até 50-60°): células
de Ferrel. E duas células em altas latitudes (50-60° até 90° - polos): células
polares. Essas três grandes células de circulação atmosférica descritas,
são também representadas pelos ventos alísios (nordeste e sudeste),
ventos de oeste e ventos de leste, respectivamente (GARRISON, 2010).
Esse modelo de circulação atmosférica descrito proporciona um
entendimento muito interessante para oceanografia física. A partir da
compreensão dessa dinâmica atmosférica, é possível estender o estudo
para vários fenômenos ou processos que ocorrem no sistema terra-
oceano-atmosfera, como monções, brisas (marítimas e terrestres),
tempestades, ciclones (tropicais e extratropicais) e até fenômenos, como
El Niño e La Ninã (também correlacionados com circulação oceânica).
Para maior detalhamento e aprofundamento, recomenda-se a leitura do
livro Introduction to Physical Oceanography elaborado por Stewart (2008),

OCEANOGRAFIA 39
Regional Oceanography: An Introduction desenvolvido por Tomczak e
Godfrey (2001) e “Fundamentos de Oceanografia”, por Garrison (2010).

Circulação oceânica

Como foi visto na descrição de circulação atmosférica, há um


balanço de energia ou calor entre o Equador e os polos, através da
atmosfera e dos oceanos. Essa interface tem extrema importância. Esse
equilibrio energético (ou térmico) é essencial para a dinâmica dos ventos
e da circulação oceânica. O transporte de energia pelos oceanos através
das correntes oceânicas representa 10 a 20% da distribuição de calor ao
longo do planeta. Basicamente, a água do mar move-se em correntes,
superficiais ou profundas. As correntes superficiais afetam apenas a
décima parte mais rasa dos oceanos, e seu movimento é influenciado
pelo balanço de calor e os ventos. No geral, o movimento das correntes
superficiais é horizontal, podendo também fluir verticalmente de acordo
com o vento que sopra próximo as regiões costeiras ou ao longo da região
equatorial. As correntes superficiais que fluem do Equador (baixas latitudes)
transportam calor para os polos (altas latitudes), nutrientes, e influenciam o
clima e o tempo. Além disso, são essenciais para navegação. A circulação
oceânica profunda ou termohalina é impulsionada pelas diferenças de
densidade entre as massas da água. Lembrando que a densidade nos
oceanos é definida pela relação entre temperatura, salinidade e pressão
(devido às grandes profundidades). Essa circulação representa 90% da
água do mar abaixo da camada superficial (GARRISON, 2010) (Figura
2.4).
No geral, o efeito de Coriolis, a força da gravidade e o atrito
influenciam o movimento (direção, ascendente e descendente, e
intensidade/velocidade) das correntes oceânicas superficiais e profundas
(termohalina).
Os oceanos são interligados, mas não realizam significativas
trocas de água entre eles, e esse fato ocorre porque as massas da
águas possuem diferentes características oceanográficas (temperatura,
condutividade, salinidade, balanço de calor); dinâmicas de ondas; marés;
e correntes que se diferenciam ao longo do planeta (MIGUENS, 1996;
TRUJILLO & THURMAN, 2011). Diante disso, os oceanos são divididos
em cinco grandes porções: Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e Antártico.

40 UNIDADE II
Figura 2.4 – Descreve o fluxo padrão da circulação oceânica nos oceanos. Próximo à
superficie estão as correntes quentes (em vermelho); as correntes frias e profundas estão
representadas pela linha azul. Essa representação mostra como o sistema oceânico está
continuamente movendo água da superfície para o fundo, e mantendo o ciclo (Fonte: Artic
Climate Impact Assessment - ACIA, 2005).

Correntes e massas da água da costa brasileira

A circulação oceânica para a região oeste do Atlântico Sul, onde


está localizada a costa brasileira, tem sido estudada nas últimas décadas
principalmente através de dados observacionais adquiridos por cruzeiros
oceanográficos; e modelagem numérica da circulação oceânica tanto
no âmbito regional como global. Os principais estudos oceanográficos no
Atlântico Sul têm descrito os aspectos gerais da circulação, os padrões dos
parâmetros temperatura e salinidade e as características das massas das
águas nessa porção do oceano (CIRANO et al., 2006). A reunião de vários
trabalhos que relatam os principais sistemas de correntes, considerando a
coluna da água como um todo, e as diferentes massas da águas associadas,
considerado um oceano dividido em diversas camadas, geraram informações
sobre a circulação oceânica da costa do Brasil (PETERSON & STRAMMA,
1991; STRAMMA & ENGLAND, 1999; SILVEIRA et al., 2000) (Figura 2.5).
A principal corrente que flui ao longo da costa brasileira é a corrente
do Brasil (CB), que é a corrente de contorno oeste associada ao Giro
Subtropical do Atlântico Sul. A CB origina-se da bifurcação da corrente Sul
Equatorial (CSE), ao sul de 10° S, e flui para o sul, margeando o continente
sul-americano até a região da Convergência Subtropical, localizada a cerca
de 38°S (OLSON ET al., 1988), onde ocorre a confluência com a corrente

OCEANOGRAFIA 41
das Malvinas (CM) e se distancia da costa. A CSE também origina a corrente
norte do Brasil (CNB) ou corrente das Guianas (CG), que flui em direção ao
Equador (Figura 2.5).

Figura 2.5 – Representação esquemática das correntes e do giro subtropical no


Atlântico Sul (Fonte: CIRANO et al., 2006).

A conceituação de “massas d’água” foi extraída da meteorologia, que


classifica diferentes caracteristicas atmosféricas como “massas de ar”. No
início do século XX, oceanógrafos físicos também utilizaram outro conceito
da meteorologia para dividir ou caracterizar as águas oceânicas em camadas
de massas quentes ou frias. Um outro ponto de vista considera as massas
d’água como uma descrição das propriedades físicas das camadas de água
ao longo da coluna d’água (estrutura vertical) (EMERY, 2003).
Com relação às massas de águas que têm influência sobre a costa
brasileira, são descritas massas de água continentais e de fora da plataforma,
oriundas do oceano Atlântico. Também no Brasil temos influência de massas
da água provenientes da Antártica.
(1) Água Costeira: apresenta as características da massa d’água do
setor da costa que está localizada, podendo ser afetada por processos

42 UNIDADE II
costeiros, como a descarga fluvial, podendo ocorrer diminuição da salinidade
e alteração na densidade.
(2) Água da Plataforma Continental: depende do tipo de plataforma
(interna, intermediária e externa), porém geralmente é afetada por
características continentais.
(3) Água Tropical (AT): Emilson (1961) caracterizou por águas com
temperaturas superiores a 20°C, e salinidades superiores a 36 g/kg.
(4) Água Central do Atlântico Sul (ACAS): Miranda (1985) caracterizou
por temperaturas superiores a 6°C, e inferiores a 20°C, e salinidade variando
entre 34,6 a 36 g/kg.
(5) Água Intermediária da Antártica (AIA): Sverdrup et al., (1942)
caracterizou por temperaturas entre 3-6°C e salinidades variando de 34,2 a
34,6 g/kg.
(6) Água Profunda do Atlântico Norte (APAN): Silveira et al., (2000)
caracterizou por valores de temperatura entre 3-4°C e salinidades entre 34,
6 a 35 g/kg.
(7) Água Antártica de Fundo (AFF): formada no Mar de Weddell, possui
valores médios de temperatura de 1,9°C e salinidade de 34,6 g/kg.

Zona costeira

O conhecimento atual sobre o oceano começou na zona costeira ou


simplesmente costa. Essa está constantemente, de forma direta ou indireta,
sujeita a modificações geradas pela ação das ondas e marés; processos
erosivos naturais e artificiais; regressão e transgressão do nível do mar;
processos quimicos e biológicos; e impactos antrópicos dos mais variados
níveis. A zona costeira costuma ser um ambiente de interface entre o
sistema oceano-continente-atmosfera-homem e devido a isso torna-se
uma área muito sensível a mudanças climáticas e de grande importância
socioeconômica para o nosso planeta.
As principais megacidades do mundo estão localizadas dentro da
zona costeira, e muitas dessas estão inseridas dentro de baías, deltas e
estuários, onde combinações de condições econômicas, geográficas e
históricas específicas têm atraído a população e conduzem a migração para
costa (SETO, 2011).
A zona costeira brasileira é extensa, variada e possui especificidades
ao longo das suas regiões (Norte, Nordeste, Sudeste e Sul). A linha de costa

OCEANOGRAFIA 43
tem uma extensão de 8.500 km, na qual é possível identificar uma grande
diversidade de ambientes: dunas, ilhas, baías, recifes, costões rochosos,
estuários, praias (NEVES & MUEHE, 2008) (Figura 2.6). O litoral está
inserido nas zonas equatorial e subtropical, com latitudes desde 04°30’ N até
33°44’ S. O Brasil possui 17 estados costeiros, com 463 municipios inseridos
na zona costeira, perfazendo um total de 50,7 milhões de brasileiros vivendo
próximos ao litoral, o que representa cerca de 27% da população nacional
(IBGE, 2011).

Figura 2.6 – Classificação da


costa brasileira proposta por
Silveira (1964) e modificada
por Cruz et al., (1985)
(Fonte: SOUZA et al., 2005).

Zona costeira do estado do Piauí

O Piauí está inserido na região nordeste do Brasil. Dentre os estados


que possuem contato com o mar é o que possui a menor zona costeira
com aproximadamente 70 km. Com apenas 5 municípios inseridos na zona
costeira, com uma população de aproximadamente 190 mil habitantes,
representando 6,7% da população residente na zona costeira nacional

44 UNIDADE II
(MMA, 1996). A Figura 2.7 apresenta uma carta geomorfológica do Delta do
Parnaíba, localizado no litoral do estado do Piauí. Essa região destaca-se
pela expansão da carcinicultura, principalmente no municipio de Cajueiro da
Praia. Essa região apresenta um perfil morfológico razoavelmente regular,
caracterizada por regime de macromarés, com presença de estuários e o
Delta do rio Parnaíba (Figura 2.7).

Figura 2.6 – Carta geomorfológico do Delta do Parnaíba extraído do macrodiagnóstico da


zona costeia e marinha (Fonte: MMA, 1996).

Laboratórios de oceanografia no Brasil

No geral, ainda é comum a indisponibilidade de informações sobre


os principais grupos de pesquisa e/ou laboratórios que trabalham com
oceanografia física no Brasil. Os websites das universidades não possuem
um padrão, tampouco o endereço eletrônico dos cursos de oceanografia no
país. Diante disso, foi realizado um levantamento sobre a distribuição dos
laboratórios com ênfase em oceanografia física ao longo das 13 universidades
que dispõem do curso de graduação em oceanografia (APÊNDICE I). É
importante saber onde se localizam esses centros de pesquisa/formação,
pois servem como ponto de partida para estudantes que queiram entrar em

OCEANOGRAFIA 45
contato com os grupos de interesse, seja da graduação até oportunidades
de concurso na área. É necessário ressaltar que podem existir outros
grupos em outras universidades que não possuem curso de graduação em
oceanografia, mas programas de pós-graduação com linhas de pesquisa que
abordem a oceanografia física. Vale lembrar, porém, que esse levantamento
está apenas condicionado as universidades que possuem a graduação em
oceanografia (APÊNDICE I).

Referências

ARTIC CLIMATE IMPACT ASSESSMENT (ACIA). Impacts of a warming


Arctic: Arctic climate impacts assessment. Cambridge: Cambridge University
Press, p. 1042, 2005.

CIRANO, M.; MATA, M. M.; CAMPOS, E. J. D.;  DEIRO, N. F. R. A circulação


oceânica de larga-escala na região oeste do Atlântico Sul com base no modelo
de circulação Global OCCAM. Rev. Bras. Geof., v. 24, p. 209-230, 2006.

EMERY, W. J. Water types and water masses: ocean circulation. Elsevier Scien-
ce, p 1556-1567, 2003.

EMILSON I. The shelf and coastal waters off Southern Brazil. Bolm. Inst. Ocea-
nogr., v. 17, p. 101–112, 1961.

GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia. São Paulo: Cengage Learning,


p. 426, 2010.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Atlas


Geográfico das Zonas Costeiras e Oceânicas do Brasil. 2011. Disponível
em: <http://loja.ibge.gov.br/atlas-geografico-das-zonas-costeiras-e-oceanicas-do-
-brasil.html>. Acesso: 01/03/2015.

LANGER, J. Computing in physics: Are we taking it too seriously? Or not serious-


ly enough? Physics Today, v. 52, p. 11-13, 1999.

MARTINS, F. R.; GUARNIERI, R. A.; PEREIRA, E. B. O aproveitamento da ener-


gia eólica. Rev. Bras. Ensino Fís., v .30, p. 1304.1-1304.13, 2008.

46 UNIDADE II
MIGUENS, A. P. Maré e correntes de maré; corrente oceânica. DIRETORIA
DE HDROGRAFIA E NAVEGAÇÃO (DHN). Navegação: a ciência e a arte da
navegação costeira, estimada e em águas restritas. Vol. 1, Rio de Janeiro:
DHN, p. 227-274, 1996.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). Macrodiagnóstico da Zona Cos-


teira na Escala da União. Brasília: Ministério do Meio Ambiente (MMA), p. 280,
1996.

MIRANDA, L. B. Forma de correlação T-S de massa de água das regiões cos-


teira e oceânica entre o Cabo de São Tomé (RJ) e a Ilha de São Sebastião (SP),
Brasil. Bolm Inst. Oceanogr., v. 33, p. 105–119, 1985.

NEVES, C. F.; MUEHE, D. Vulnerabilidade, impactos e adaptação a mudanças


do clima: a zona costeira. Parcerias estratégicas. Centro de Gestão e Estudos
Estratégicos, v. 13, p. 217–295, 2008).

OLSON, D. B.; PODESTA, G. P.; EVANS, R. H.; BROWN, O. B. Temporal varia-


tions in the separation of Brazil and Malvinas Currents. Deep Sea Res., v. 35, p.
1971–1990, 1988.

PETERSON, R.; STRAMMA, L. Upper-level circulation in the South Atlantic Oce-


an. Progr. Oceanogr., v. 26. p. 1-73, 1991.

PUGH D. T. Tides, surges, and mean sea-level. Chichester: John Wiley &
Sons, 1987.

SETO, K. C. Exploring the dynamics of migration to mega-delta cities in Asia


and Africa: contemporary drivers and future scenarios. Global Environmental
Change, p. 94-107, 2011.

SILVEIRA, I. C. A.; SCHMIDT, A. C. K.; CAMPOS, E. J. D.; GODOI, S. S.; IKE-


DA, Y. A corrente do Brasil ao largo da costa leste brasileira. Rev. Bras. Oceano-
gr., v. 48, p. 171-183, 2000.

STEWART, R. H. Introduction to physical oceanography. 2008. Disponível


em: <http://oceanworld.tamu.edu/ocean410/ocng410_text_book.html>. Acesso:
01/03/2015.

OCEANOGRAFIA 47
STRAMMA, L.; ENGLAND, M. On the water masses and mean circulation of the
South Atlantic Ocean. J. Geophys. Res., v. 104, p. 20863–20883, 1999.
SVERDRUP, H. U.; JOHNSON, M. W.; FLEMING, R. H. The oceans: their
physics, chemistry and general biology. Englewood Cliffs: Prentice-Hall Inc,
p. 1087, 1942.

TRUJILLO, A.; THURMAN, H. Essentials of oceanography. Ed. 10, 2011.

48 UNIDADE II
CAPÍTULO 3
OCEANOGRAFIA
GEOLÓGICA
Francisco Sekiguchi Buchmann
Universidade Estadual Paulista

A oceanografia geológica descreve os processos costeiros e


seus respectivos produtos sedimentares. Junto com a oceanografia
química, a oceanografia física e a oceanografia biológica não podem
ser vistas de forma individualizada.
A zona litorânea é popularmente chamada de praia, constituindo
uma área de intensa ocupação humana em seus mais diferentes usos.
A classificação mais abrangente da composição das praias brasileiras
se baseia em sedimentos alóctones ou autóctones, respectivamente,
agregados deposicionais originados fora ou dentro da bacia de
deposição. As praias arenosas são constituídas principalmente
de sedimentos clásticos terrígenos e por sedimentos clásticos
carbonáticos.
Os clásticos terrígenos são formados por detritos que se
desintegraram pela ação das intempéries, provenientes de rochas
magmáticas, metamórficas e outras rochas sedimentares. Os
detritos resultantes são transportados pela água, vento ou gelo e
novamente depositados em um local diferente. Esses sedimentos são
classificados segundo a classe de tamanho (granulometria): grãos
com menos de 0,06 mm de diâmetro são classificadas como lamas
(silte e argila); entre 0,06 e 2,0 mm são areias; e maior que 2,0 mm de
diâmetro denominam-se cascalhos. No ambiente costeiro, o tamanho
do grão representa a energia das ondas e correntes (Figura 3.1). Ou
seja, praias com ondas de alta energia são constituídas por areia
grossa, enquanto praias de baixa energia são constituídas por areia
fina (FOLK & WARD, 1957; GALLOWAY & HOBDAY, 1983).

OCEANOGRAFIA 49
Figura 3.1 – Sedimentos clásticos terrígenos na praia de Jurubatiba –
Macaé, Rio de Janeiro (Foto: BUCHMANN, 2015).

Os clásticos carbonáticos (ou biogênicos) são produzidos diretamente


através da intermediação de processos biológicos e bioquímicos, ou mesmo
pela precipitação direta a partir da água do mar; e o tamanho do grão não
representa a energia das ondas e correntes, pois os grãos são gerados
no local, dentro da própria bacia de sedimentação pela biota. As areias
carbonáticas biogênicas normalmente são constituídas de bioclastos de
algas calcárias (Halimeda sp.), moluscos, corais, foraminíferos, briozoários,
equinodermos e crustáceos (Figura 3.2). Como consequência da contribuição

50 UNIDADE III
biogênica, fatores como latitude, temperatura, salinidade, profundidade da
água, intensidade da luz, turbidez, circulação oceânica, pressão de CO2
e suprimento sedimentar, atuam de forma conjunta, e criam condições
necessárias para a proliferação dos organismos formadores da “fábrica
carbonática” (BATHRUST, 1975; LOUCKS & SARG, 1993; SOARES et al.,
2009).

Figura 3.2 – Sedimentos clásticos carbonáticos na praia dos


Concheiros – Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul
(Foto: BUCHMANN, 2015).

A linha de costa é uma das feições naturais mais dinâmicas do


planeta. Sua posição no espaço muda constantemente em escalas

OCEANOGRAFIA 51
temporais de segundos (ondas), horárias (marés altas e marés baixas),
diárias (tempestades), sazonais (estações do ano), anuais (el niño), decadais,
seculares e milenares (SHORT, 1999).
A subida e descida diária do nível do mar e de outros corpos de água
ligados ao oceano (estuários, lagunas etc.) são causadas pela interferência
da Lua e do Sol sobre o campo gravitacional da Terra. A amplitude das
marés (a diferença de nível entre a maré alta e a maré baixa) é um elemento
modelador da linha de costa, em função das velocidades de correntes a
ela associadas. Estas correntes de marés são significativas no transporte
sedimentar costeiro. A maior parte do litoral brasileiro, do estado de Alagoas
ao Rio Grande do Sul, apresenta amplitudes de marés inferiores a 2 metros
(micromarés) (Figura 3.3). Entre o Maranhão e alguns trechos do litoral
da Bahia e Sergipe apresentam amplitudes entre 2 e 4 m (mesomarés).
Amplitudes superiores a 4 metros (macromarés) ocorrem apenas no estado
do Maranhão, em parte do Pará (Salinópolis) e no litoral sul do Cabo Norte
(Amapá). As correntes de marés possuem capacidade para modificar a
morfologia da linha de costa e da plataforma continental interna (TESSLER
& GOYA, 2005).

Figura 3.3 – Praia de Baraqueçaba (São Sebastião – São Paulo) controlada por micromaré
(Foto: BUCHMANN, 2015).

52 UNIDADE III
Os sistemas meteorológicos interagindo com a atmosfera e o oceano
propiciam a geração de ciclones que atingem alta intensidade, transferindo
energia da atmosfera para o mar, gerando grandes ondas. Muitas vezes,
estes eventos geram a sobrelevação do mar, também chamadas de marés
meteorológicas (“storm surges”), que são variações positivas de mesoescala
no nível do mar, originadas por gradientes bruscos de pressão e ventos
próximos à zona costeira, definidas pela diferença entre a maré prevista e a
maré observada (PUGH, 1987). Para a costa Atlântica do Brasil, o resultado
é a sobrelevação rápida do nível do mar, podendo chegar a 2 m, devido ao
empilhamento de água pelos fortes ventos (MARONE & CAMARGO, 1994).
Quando isto ocorre, associado à presença de ondas e a marés astronômicas
de sizígia, o poder erosivo de uma tempestade é otimizado, exercendo um
papel significativo nas remobilizações de volume de sedimento praial (FOX &
DAVIS JR., 1976; DOLAN & DAVIS, 1992; CALLIARI et al., 1996; PEREIRA-
DA-SILVA, 1998).
Os processos de interação oceano-atmosfera geram ondas e
correntes, que por sua vez determinam a variação morfológica da praia. As
ondas são responsáveis pelas variações temporais da dinâmica na zona de
arrebentação e sua interação com o sedimento, e determinam as variações
topográficas da praia. A interação dos efeitos dos ventos, ondas, correntes,
e marés, somando-se às características do material formador das praias,
determinam a variação morfológica do sistema praial (WRIGHT & SHORT,
1984; SHORT, 1999; HOEFEL, 1998; CALLIARI et al. 2003; BARLETTA,
2000)
O conceito de perfil de equilíbrio tem sido amplamente utilizado em
estudos de evolução da linha de costa e morfodinâmica costeira. Este conceito
relaciona a dinâmica da morfologia (declividade) e dos sedimentos (gradiente
granulométrico) com as condições hidrodinâmicas para representar uma
resposta de equilíbrio (DEAN, 1991; FACHIN, 1998; GRUBER et al., 2006).
Através de uma equação baseada na teoria linear das ondas, onde
forças construtivas ou destrutivas tendem a transportar sedimentos em
direção à costa ou ao mar, respectivamente, ondas esbeltas, muito altas e
com período curto, representam condições de alta energia e propiciam a
migração de sedimentos em direção ao mar. Quando ocorre o contrário, há o
acúmulo de sedimentos em direção à costa (DEAN, 1973).
Praias arenosas dominadas por ondas possuem as características
dissipativas e reflectivas (WRIGHT et al., 1979; SHORT, 1979). Wright et al.

OCEANOGRAFIA 53
(1979) usa o parâmetro adimensonal Ômega de Dean (1973), combinando
características de ondas e dos sedimentos, para propor uma classificação
praial. Wright & Short (1984) aplicaram nesta classificação os termos
morfológicos banco, cava, berma, cúspides, escarpa, entre outros, para
definir as feições representativas dos estados morfodinâmicos:
(1) Dissipativa (Dissipative), a zona de surfe é larga, apresenta baixo
gradiente topográfico e elevado estoque de areia na porção subaquosa da
praia.
(2) Banco e cava longitudinal (Longshore bar-trough), caracterizado por
uma progressiva redução da largura da calha longitudinal (longshore trough),
em decorrência da migração do banco submerso da zona de arrebentação
em direção à praia
(3) Banco e praia rítmica (Rhythmic bar and beach), feições rítmicas
ondulantes em forma de cúspides submarinas são frequentes; e correntes de
retorno (rip currents) podem ocorrer nas depressões dos bancos.
(4) Banco transversal com canal (Transverse bar and beach) bancos
dispostos transversalmente à praia e fortes correntes de retorno quando as
extremidades dos bancos, em forma de cúspide, se soldam à face da praia.
(5) Crista e Canal ou terraço de maré baixa (Ridge and runnel or Low
tide terrace), a face de praia relativamente íngreme na maré alta, a qual é
conectada, durante a maré baixa, a um terraço plano ou banco. O terraço
prolonga-se de alguns metros a dezenas de metros em direção ao mar ligado
à praia.
(6) Refletiva (Reflective), caracterizado por elevados gradientes da
praia, o que reduz sensivelmente a largura da zona de surfe. O estoque de
areia se encontra na porção submersa da praia.
A antepraia (shoreface) é uma superfície submersa côncava da
porção superior da plataforma continental interna, controlada por processos
oceânicos e costeiros, submetida a ação de ondas normais (antepraia superior)
e ondas de tempestades (antepraia inferior). Estudos sobre o substrato da
antepraia observam a presença de terraços e escarpas em profundidades
de 20, 30 e 60 m; estes terraços seriam registros de estabilizações do nível
do mar durante a transição Pleistoceno / Holoceno. Há 18 mil anos (ka),
durante o último máximo glacial, uma grande regressão marinha expôs a
plataforma continental brasileira, transformando-a em uma ampla planície
emersa. Após 18ka, iniciou-se uma transgressão que retrabalhou as áreas
emersas, afogando rios e estuários, e moldando a plataforma continental

54 UNIDADE III
em sua configuração atual (KOWSMANN & COSTA, 1974; CORREA, 1990;
FACHIN, 1998; CONTI, 2004).
Os arenitos-de-praia (beachrock) identificados ao longo da costa
brasileira refletem as flutuações do nível do mar durante o Quaternário, e
o estudo destas rochas sedimentares permite identificar antigas linhas de
praia. Os arenitos-de-praia são sedimentos praiais cimentados por carbonato
de cálcio (Figura 3.4). Estes sedimentos apresentam uma granulometria
diversa, desde areia fina até grandes blocos, formando conglomerados-de-
praia. Mineralogicamente eles variam de areia quartzosa de origem terrígena
a areias carbonáticas biogênicas, tais como o retrabalhamento de moluscos,
algas calcárias e corais. (FREY, 1973; BIGARELLA, 1975; HOPLEY, 1986;
PILKEY et al., 1993; CALLIARI et al., 1994; BUCHMANN et al., 2001;
BUCHMANN & TOMAZELLI, 2003).

Figura 3.4 – Arenitos-de-praia - Natal, Rio Grande do Norte (Foto: BUCHMANN).

O crustáceo Callichirus (Decapoda Thalassinidea) possui ampla


distribuição mundial (MELO, 1999); no Brasil podemos encontrar
principalmente o Callichirus major e o Callichirus mirim. Este crustáceo vive em
galerias construídas na região entre-marés de praias arenosas dissipativas,
sendo um excelente bioindicador de nível relativo do mar, muito utilizado para

OCEANOGRAFIA 55
determinar antigas linhas de costa em praias arenosas (RODRIGUES et al.
1984). A maior ocorrência de C. major ocorre em praias com sedimento de
areia muito fina e bem selecionada, baixa inclinação e zona de arrebentação
de ondas bem definida, características encontradas em praias dissipativas
(SOUZA & BORZONE, 1996) (Figura 3.5).

Figura 3.5 – Galerias de Callichirus. a) Galeria fóssil (Pleistoceno) na barra


do Chuí, Santa Vitória do Palmar, Rio Grande do Sul Galeria atual na praia
do Cassino, Rio Grande do Sul; b) Galeria atual na praia do Cassino, Rio
Grande do Sul (Foto: BUCHMANN, 2015).

56 UNIDADE III
Muitos fatores afetam a posição da linha de costa. Alguns destes
são de origem natural e intrinsecamente relacionados à dinâmica costeira
(balanço de sedimentos, espaço de acomodação, variações do nível relativo
do mar, etc). Outros fatores são antrópicos, relacionados a intervenções
humanas na zona costeira (obras de engenharia, represamento de rios,
dragagens, ocupação e uso do solo etc.). Como resultado temos as linhas
de costa regressiva (ou progradante), retrogradante (ou transgressiva) e
agradacional (ou estável) (TOMAZELLI & VILWOCK, 2000; ANGULO et
al. 2006; CATUNEANU, 2006; DILLENBURG & HESP, 2009).
A linha de costa regressiva (progradante), onde o aporte de
sedimentos é maior que a geração de espaço de acomodação avança mar
adentro, com a deposição de cordões litorâneos (beachridges) e pouca
formação de dunas frontais (foredunes).
A linha de costa transgressiva (retrogradante), onde o aporte de
sedimentos é menor que a geração de espaço de acomodação sofre
erosão e recua em direção ao continente.
A linha de costa estável (agradacional), onde a taxa de aporte de
sedimentos é igual a geração de espaço de acomodação permanece em
equilíbrio, as dunas frontais (foredunes) aumentam de tamanho.
As dunas costeiras são depósitos eólicos que se desenvolvem
em praias sujeitas a ventos frequentes soprando do mar e com
disponibilidade abundante de sedimentos arenosos (Figura 3.6). Esses
depósitos apresentam as mais diversas dimensões, morfologias e graus
de estabilidade (CARTER et al., 1990). Os campos de dunas podem variar
em largura de poucas centenas de metros a alguns quilômetros continente
adentro (HESP, 1999). Suas características morfológicas e ecológicas
são influenciadas por processos que ocorrem em ambientes adjacentes,
tanto no ambiente marinho quanto no ambiente terrestre (SHORT & HESP,
1982; HESP, 1999).

OCEANOGRAFIA 57
Figura 3.6 – Dunas cavalgando a Formação Barreiras - Ponta Grossa, Ceará
(Foto: BUCHMANN).

Os perfis geomorfológicos ao longo da costa brasileira variam muito.


Devido às proporções continentais várias formações podem ser exemplificadas,
como visto acima. Os diferentes recortes das linhas de praia proporcionam
interações específicas com as massas de àgua oceânicas adjacentes; como
resultado encontramos que a costa do Brasil é uma das mais interessantes e
diversa do planeta.

Referências

ANGULO, R. J.; LESSA, G. C.; SOUZA, M. C. A critical review of the mid- to


late Holocene sea-level fluctuations on the eastern brazilian coastline. Quater-
nary Science Reviews, v. 25, p. 486-506, 2006.

BATHRUST, R. G. C. Carbonate sediments and their diagenesis. Amster-


dam: Elsevier, p. 658, 1975.

BARLETTA, R. C. Efeito da interação oceano-atmosfera sobre a morfo-


dinâmica das praias do litoral central do Rio Grande do Sul, Brasil. 134
p. 2000. Dissertação (Mestrado). Curso de Pós-Graduação em Oceanografia
Geológica, Universidade Federal do Rio Grande, 2000.

BIGARELLA J. J. Reefs sandstone from northeastern Brazil. Anais da Acade-


mia Brasileira de Ciências. v. 47, p. 395-409, 1975.

58 UNIDADE III
BUCHMANN, F. S. C.; SEELIGER, M.; ZANELLA, L. R.; MADUREIRA, L. S.
P.; TOMAZELLI, L. J.; CALLIARI, L. J. Análise batimétrica e sedimentológica
no estudo do Parcel do Carpinteiro, uma paleolinha de praia pleistocênica na
antepraia do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Pesquisas em Geociências,
v. 28, p. 109-115, 2001.

BUCHMANN, F. S. C.; TOMAZELLI, L. J. Relict nearshore shoals of Rio


Grande do Sul, Southern Brazil: origin and effects on nearby modern beaches.
Journal of Coastal Research, v. 35, p. 318-322, 2003.

CALLIARI, L. J.; ESTEVES, L. S.; OLIVEIRA, C. P. L.; TOZZI, H. A. M.; PE-


REIRA DA SILVA, R.; CARDOSO, J. N. Padrões sonográficos e sedimentoló-
gicos de um afloramento de “beachrock” na Plataforma Interna do Rio Grande
do Sul. Notas Técnicas, v. 7, p. 27-32, 1994.

CALLIARI, L. J.; TOZZI, H. A. M.; KLEIN, A. H. F. Erosão associada a marés


meteorológicas na costa sul-rio-grandense (COMEMIR/OSNLR). In: 390 Con-
gresso Brasileiro de Geologia. Anais... Salvador, SBG, p. 430-434, 1996.

CALLIARI, L. J.; MUEHE, D.; HOEFEL, F. G.; TOLDO JR, E. Morfodinâmica


praial: uma breve revisão. Revista Brasileira de Oceanografia, v. 51, p. 63-
78, 2003.

CARTER, R. G. W.; NORDSTROM, K. F.; PSUTY, N. P. The study of coas-


tal dunes. In: NORDSTROM, K. F.; PSUTY, N. P.; CARTER, R. G. W. (Eds.)
Coastal Dunes, Forms and Process. Chichester: John Wiley & Sons, p. 1-
13, 1990.

CATUNEANU, O. Principles of Sequence Stratigraphy. Amsterdam: Else-


vier, p. 375, 2006.

CONTI, L. A. Geomorfologia da plataforma continental do estado de São


Paulo. 189 p. 2004. Tese (Doutorado). Instituto Oceanográfico, Universidade
de São Paulo, 2004.

CORREA, I. C. S. Analyse morphostructurale et evolution paleogeogra-


phique de la plate-forme continentale Atlantique sud-brasilienne (Rio
Grande do Sul-Brésil). 314p. 1990. Tese (Doutorado). Université de Bourde-

OCEANOGRAFIA 59
aux I, France, 1990.

DEAN, R. G. Heuristic models of sad transport in the surf zone. Proceedings


of Conference on Engineering Dynamics in the Coastal Zone, v. 1, p. 208-
214, 1973.

DEAN, R. G. Equilibrium beach profiles: characteristics and applications. Jour-


nal of Coastal Research, v. 7, p. 53-84, 1991.

DOLAN, R.; DAVIS, R. E. An Intensity for Atlantic Coast Northeast Storms.


Journal of Coastal Research, v. 8, p. 840-853, 1992.

DILLENBURG, S. R.; HESP, P. A. Geology and geomorphology of holo-


cene coastal barriers of Brazil. Berlim: Springer, p. 107, 2009.

FACHIN, S. Caracterização do perfil de equilíbrio da antepraia na costa


do Rio Grande do Sul. 133p. 1998. Dissertação (Mestrado). Curso de Pós-
-graduação em Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
1998.

FOLK, R. L.; WARD, W. C. Brazos river bar: Study and significance of grain
size parameters. Journal Sedimentary Petrology, v. 27, p. 03-26, 1957.

FOX, W. T.; DAVIS JR., R. A. Weather Patterns and Coastal Processes. In:
DAVIS JR., R. A.; ELTHINGTON, R. L. (Eds). Beach and Nearshore Sedi-
mentation. Society of Economic Paleontologists and Mineralogists, p. 1-23,
1976.

FREY, R. W. Concepts in the study of biogenic sedimentary structures. Jour-


nal of Sedimentary Petrology, v. 43, p. 6-19, 1973.

GALLOWAY, W. E.; HOBDAY, D. K. Terrigenous clastic depositional sys-


tems. Berlim: Springer, p. 489, 1983.

GRUBER, N. L. S.; CORREA, I. C. S.; NICOLODI, J. L.; BARBOSA, E. G.


Morphodynamic limits of shoreface and inner shelf at the northern coast of Rio
Grande do Sul, Brazil. Journal of Coastal Research, v. 39, p. 664-668, 2006.

60 UNIDADE III
LOUCKS, G. R.; SARG, F. J. Carbonate sequence stratigraphy. American As-
sociation of Petroleum Geologists, v. 57, p. 3-41, 1993.

HESP, P. A. The beach backshore and beyond. In: SHORT, A. D. (Ed.) Hand-
book of beach and shoreface morphodynamics. Chichester: John Wiley &
Sons, p. 145-169, 1999.

HOEFEL, F. G. Morfodinâmica de praias arenosas oceânicas: uma revi-


são bibliográfica. Itajaí: Editora Univali, p. 91, 1998.

HOPLEY, D. Beach-rock as a sea-level indicator. In: PLASSCHE, O. V. (Ed.)


Sea-level research: a manual for the collection and evaluation of data.
Norwich: Geo Books, p. 618, 1986.

KOWSMANN, R. O.; COSTA, M. P. A. Paleolinhas de costa na plataforma


continental das regiões sul e norte brasileiras. Revista Brasileira de Geoci-
ências, v. 4, p. 215-222, 1974.

MARONE, E.; CAMARGO, R. Marés meteorológicas no litoral do estado do


Paraná: o evento de 18 de agosto de 1993. Revista Nerítica, v. 8, p. 73-85,
1994.

MELO, G. A. S. Manual de identificação dos crustacea decapoda do lito-


ral brasileiro: anomura, thalassinidea, palinuridea, astacidea. São Paulo:
Editora Plêiade/FAPESP, p. 551, 1999.

PEREIRA DA SILVA, R. Ocorrência, distribuição e características mor-


fodinâmicas dos sangradouros na zona costeira do Rio Grande do Sul:
Trecho Rio Grande – Chuí, RS. 110 p. 1998. Dissertação (Mestrado). Instituto
de Geociências, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1998.

PILKEY, O. H.; YOUNG, R. S.; RIGGS, S. R.; SMITH, A. W. S.; WU, H.;
PILKEY, W. D. The concept of shoreface profile of equilibrium: a critical review.
Journal of Coastal Research, v. 9, p. 255-278, 1993.

PUGH, D. T. Tides, surges and mean sea level. Chichester: John Wiley &
Sons, p. 472, 1987.

OCEANOGRAFIA 61
SOUZA, J. R. B.; BORZONE, C. A. Distribuição de callianassídeos (Crusta-
cea: Decapoda: Thalassinidea) em praias do litoral paranaense, com especial
referência a Callichirus major (Say). Arquivos de Biologia e Tecnologia, v.
39, p. 553-565, 1996.

TESSLER, M. G.; GOYA, S. C. 2005 Processos costeiros condicionantes do


Litoral Brasileiro. Revista do Departamento de Geografia, v. 17, p. 11-23,
2005.

RODRIGUES, S. A.; SUGUIO, K.; SHIMIZU, G. Y. Ecologia e paleoecologia


de Callichirus major Say (1818) (Crustacea, Decapoda, Thalassinidea). 4o
Seminário Regional de Ecologia. Anais... p. 499-519, 1984.

SHORT, A. D. Three dimensional beach stage model. Journal of Geology, v.


87, p. 553-571, 1979.

SHORT, A. D.; HESP, P. A. Wave, beach and dune interactions in South East-
ern Australia. Marine Geology, v. 48, p. 259-284, 1982.

SHORT, A. D. Handbook of beach and shoreface morphodynamics. Chi-


chester: Ed. John Wiley & Sons, 1999.

SOARES, M. O.; LEMOS, V. B.; KIKUCHI, R. K. P. Sedimentos carbonáticos


bioclásticos do Atol das Rocas, Atlântico Sul Equatorial. Revista Brasileira de
Geociências, v. 39, p. 624-634, 2009.

TOMAZELLI, L. J.; VILLWOCK, J. A. O cenozoico do Rio Grande do Sul:


geologia da planície costeira. In: HOLZ, M.; DE ROS, L. F (Eds.), Geologia do
Rio Grande do Sul. Porto Alegre: CIGO/UFRGS, p. 375-406, 2000.

WRIGHT, L. D.; CHAPPELL, J.; THOM, B. G.; BRADSHAW, M.P.; COWELL,


P. J. Morphodynamics of reflective and dissipative beach and inshore systems,
southeastern Australia. Marine Geology, v. 32, p. 105-140, 1979.

WRIGHT, L. D.; SHORT, A. D. Morphodynamic variability of beaches and


surfzones: A synthesis. Marine Geology, v. 56, p. 92-118, 1984.

62 UNIDADE III
CAPÍTULO 4
OCEANOGRAFIA QUÍMICA
Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais
Marcielly Freitas Bezerra
Universidade Federal do Ceará

O conhecimento químico na área de oceanografia é imprescindível,


uma vez que através de seus estudos será possível entender como o oceano
e a zona costeira são afetados pela ação do homem. Na oceanografia
química, abrangem-se conteúdos como propriedades e composição da água
e sedimentos de estuários das zonas costeiras e mares profundos, assim
como transporte e comportamento de contaminantes nos ecossistemas
aquáticos. A forma de como contaminantes estão interagindo e onde isso
acontece, também são questões ligadas à oceanografia química.
O oceano, de acordo com o ponto de vista de um oceanógrafo químico,
é um grande volume de água altamente complexo e diverso, apresentando
diversas interações e reações químicas.
Para o completo entendimento do oceano e seus ambientes menores
é necessário o conhecer as características das duas matrizes que o compõe:
água e sedimento.

Sedimentos

Os sedimentos são constituídos por partículas de material orgânico


e inorgânico, originadas pela ação do intemperismo sobre as rochas,
ocasionando a erosão das mesmas, além da ação de organismos e processos
químicos.
Considerando o compartimento ambiental sedimento não somente pela
origem (Capítulo 3), mas também pela composição química, estes podem ser
classificados como terrígenos, biogênicos, hidrogênicos e cosmogênicos,
e pelo tamanho das partículas, que variam entre cascalho, areia, silte e
argila. Areia e o cascalho são os sedimentos grossos, enquanto o silte e a
argila são os finos. Os sedimentos terrígenos se originam em continentes ou
ilhas continentais, e os sedimentos biogênicos são compostos de restos de

OCEANOGRAFIA 63
organismos mortos. Hidrogênicos são os que se formam diretamente na água
do mar, por interações da água com compostos minerais existentes no local.
E os cosmogênicos são provenientes do espaço extraterrestre, através dos
meteoros e poeira especial.
Devido à sua função de reservar substrato para os mais diversos
organismos, esse compartimento ambiental possui suma importância
ecológica, além de ser um excelente adsorvente de contaminantes tóxicos
(SWARTZ et al., 1985). Assim, a maior parte dos contaminantes lançados nos
sistemas costeiros acaba depositando-se nos sedimentos, produzindo efeitos
tóxicos sobre a fauna e afetando o equilíbrio ecológico (ABESSA et al., 2006).
Na teoria, os contaminantes se ligam aos sedimentos finos de origem
terrígena ao atingir a região costeira. Isso ocorre porque essa região tem
por característica a baixa energia hidrodinâmica possibilitando assim a
predominância de partículas finas e a deposição dos contaminantes.

Água

A água é uma molécula formada por ligações químicas entre dois


átomos de hidrogênio e um de oxigênio. Por conta da disposição dos átomos
de hidrogênio e oxigênio, a água possui geometria angular, tornando-a polar.
Assim, sua parte positiva atrai partículas negativas enquanto a negativa atrai
partículas positivas. A água possui características intrigantes, o que a torna
um composto, apesar de abundante, tão especial e único:
(1) Alto calor específico: a água precisa de uma quantidade de
energia alta para elevar um grau Celsius (°C) à temperatura de um grama da
substância. Portanto, a água resiste a alterações de temperatura e funciona
como um moderador climático do planeta, transportando calor das regiões de
baixa latitude para as altas latitudes.
(2) Alto calor latente de fusão: é grande quantidade de energia adquirida
ou perdida para que a água na fase sólida passe para a fase líquida, ou vice-
versa, sem ter aumento de temperatura.
(3) Alto calor latente de vaporização: é grande quantidade de energia
adquirida ou perdida para que a água na fase líquida passe para a fase
gasosa, ou vice-versa, sem ter aumento de temperatura.
(4) Densidade: a densidade da água pura é 1000 g/cm3; já a água do
mar possui densidade entre 1,020 e 1,030 g/cm3. A densidade da água está
fortemente relacionada com a salinidade e temperatura. Portanto, a densidade

64 UNIDADE IV
da água do mar aumenta como o aumento da salinidade e da pressão e com
a diminuição da temperatura. Assim, a água quanto mais fria e salina mais
densa é; e quanto mais quente e menos salina, menos densa é.
(5) Som: a velocidade das ondas sonoras na água do mar é de
aproximadamente 1.500 metros por segundo, sendo muito maior que a
velocidade do som no ar, por isso muitos animais marinhos utilizam o som
para se orientarem nos oceanos.
(6) Luz: a camada de água pode ser dividida em duas denominações
referentes à iluminação: zona fótica e zona afótica. A zona fótica é a camada
iluminada e aquecida pelo Sol na superfície das águas, permitindo toda a
produção fotossintética. Já as águas situadas abaixo dessa zona não recebem
iluminação, por isso é chamada de zona afótica.
(7) Solvente eficaz: a assimetria elétrica descrita anteriormente da
molécula da água explica sua grande capacidade solvente, podendo atrair
partículas negativas ou positivas. A água é a substância capaz de dissolver
mais substâncias que qualquer outra.
(8) Salinidade: é a quantidade total de sólidos inorgânicos dissolvidos na
água. A salinidade média dos oceanos é de 3,5%, dependendo da evaporação,
precipitação e quantidade de água doce descarregada do continente. Cloreto
e sódio e sulfato são os íons dissolvidos mais abundantes da água do mar. A
determinação de salinidade é feita através da clorinidade da amostra de água.
Visto que a proporção de clorinidade e salinidade são constantes, mede-se a
massa total dos íons brometos, iodetos e cloretos.
(9) Composição da água do mar: a água do mar é uma água acrescida
de sólidos e gases dissolvidos, podendo ser classificados como: elementos
conservativos, elementos traços, nutrientes e gases dissolvidos. Os elementos
conservativos são os que aparecem em grandes concentrações. Os elementos
traços são aqueles que, embora encontrados em baixíssimas concentrações,
possuem um papel importante na química da água e para a biota. Os nutrientes
são muito importantes para a biota, principalmente para os organismos
da base da cadeia alimentar, afetando todos os níveis tróficos posteriores.
Geralmente apresentam baixos valores em águas superficiais devido ao
consumo rápido dos fotossintetizantes, e em águas mais profundas há um
acúmulo de nutrientes. Os gases presentes no ar se dissolvem facilmente na
água; assim, todos os gases encontram-se dissolvidos na superfície da água
do mar. Dentre os gases dissolvidos, os mais representativos são nitrogênio,
oxigênio e o dióxido de carbono.

OCEANOGRAFIA 65
(10) pH: Em um volume de água, quanto mais hidretos (H+) e menos
hidroxilas (OH-) mais ácida será; portanto o inverso torna-a mais alcalina.
A escala de pH varia de 1 a 14; o valor 7 indica o ponto neutro em que há
equilíbrio na quantidade de íons H+ e OH-; enquanto a predominância de íons
H+ indicam baixos valores de pH, o inverso indica altos valores. A água pura
é neutra, e em contrapartida a água do mar é levemente alcalina, variando
de 7,4 a 8,5. Isso ocorre devido à grande quantidade de CO2 dissolvida na
água do mar, a qual pode produzir íons H+, bicarbonato (HCO3-) e carbonato
(CO32-), que previnem a mudança de pH quando são adicionados ácidos ou
bases. Assim, a água do mar funciona como uma solução-tampão.
Os sistemas marinhos sofrem alterações na sua composição química
devido a alterações no ambiente, geralmente associadas à entrada de
contaminantes. Convém lembrar que a qualidade ambiental pode ser alterada
pela presença destes agentes tóxicos. Os principais aportes antropogênicos
encontrados referem-se ao despejo de material dragado, efluentes urbanos
e industriais, lixiviação de áreas rurais, aportes atmosféricos e dejetos da
carcinicultura (CLARK, 2001).
A zona costeira abriga grande parte da população mundial e a situação
da costa brasileira não é diferente. De acordo com o Ministério do Meio
Ambiente, o aumento das comunidades urbanas e centros industriais ao
longo da zona costeira favorecem processos de contaminação e poluição,
sobretudo quando se torna algo recorrente, devido à inexistência de redes
adequadas e/ou suficientes para a coleta e tratamento de esgoto (SASAKI,
2012). A contaminação, por sua vez, gera impactos diretos e indiretos à fauna
e flora, prejuízos ao turismo, à balneabilidade e às atividades pesqueiras
(BÍCEGO et al., 2006).

Contaminantes orgânicos

Umas das classes de contaminantes orgânicos são os praguicidas,


definidos como qualquer substância ou mistura de substâncias que tenham
a função de prevenir, destruir, repelir ou mitigar qualquer praga. Embora
seja muito comum o uso desses compostos em plantações com vistas ao
benefício econômico e ao aumento da produção, sua utilização apresenta
riscos ambientais e à saúde humana, pois afeta não somente os organismos
selecionados como pragas, mas também os organismos humanos e animais.
Um praguicida ideal teria ação específica sobre o organismo praga e

66 UNIDADE IV
deveria ter uma rápida degradação química ou biológica que o tornasse um
composto pouco persistente (baixa toxicidade). Esses contaminantes são
distribuídos em grupos de acordo com o tipo de praga que combatem:
(1) Antimicrobianos: combatem bactérias e vírus.
(2) Desinfetantes: matam ou inativam microrganismos que proliferam
doenças.
(3) Fungicidas: combatem fungos.
(4) Herbicidas: combatem ervas daninhas e plantas indesejáveis.
(5) Inseticidas: combatem insetos e artrópodos.
(6) Ferormônios: usados para desequilibrar a reprodução dos insetos.
(7) Repelentes: afastam insetos e até aves.
(8) Raticidas: combatem ratos.
Outro contaminante conhecido dos sistemas marinhos é o petróleo,
um produto natural formado a partir da decomposição da matéria orgânica
em processos químicos e geológicos. Este possui em sua composição 97%
de marcadores químicos conhecidos por hidrocarbonetos (anéis formados
por carbono e hidrogênio). E, dependendo da sua estrutura química, esses
hidrocarbonetos podem ser divididos em hidrocarbonetos alifáticos e
hidrocarbonetos aromáticos.
Os hidrocarbonetos alifáticos possuem cadeia carbônica acíclica
(aberta), sendo constituídos pelos alcanos, alcenos, alcinos, alcadienos.
Os alcanos (moléculas que possuem apenas hidrogênio e carbono unidos
por ligações simples) são classificados em vários grupos de acordo com a
estrutura: os alcanos de cadeia linear (n-alcanos), os alcanos ramificados
(isoprenoides) e os alcanos cíclicos ou cicloalcano; esses últimos são
conhecidos com biomarcadores de petróleo.
As propriedades dos n-alcanos variam com certa regularidade, em
geral, são apolares e pouco reativos, a solubilidade diminui com o aumento
do peso molecular (SEYFFERT, 2008). Os n-alcanos podem ser sintetizados
por organismos terrestres, como plantas superiores e bactérias, ou por
organismos marinhos como fito e zooplâncton (BÍCEGO, 1988).
Os alcanos ramificados (isoprenoides) são caracterizados por incluir
uma ou várias cadeias laterais ou ramificações. O pristano e o fitano (Figura
4.1) são os isoprenoides mais utilizados em estudos de caracterização quanto
à origem de hidrocarbonetos no meio marinho, além de serem, segundo
Bouloubassi e Saliot (1993), os constituintes principais dos alcanos ramificados
presentes no petróleo.

OCEANOGRAFIA 67
Figura 4.1 – Estrutura do Pristano e Fitano (Fonte: SEYFFERT, 2008)

O fitano é um componente comum do óleo cru e raramente tem


origem biogênica, enquanto o pristano tem origem biogênica, pois é um
produto de degradação do fitol (C20 H40 O), que é um álcool constituinte da
clorofila-a e derivado do isopreno (VOLKMAN et al., 1992).
Já os hidrocarbonetos aromáticos são diferenciados por possuírem
um ou mais anéis benzênicos. Esses são compostos denominados
poluentes orgânicos persistentes (POPs), caracterizados como
ambientalmente estáveis, resistentes à degradação, bioacumuláveis,
hidrofílicos e tóxicos (KENNISH, 1997). Dentro dessa classe de
compostos, os monoaromáticos possuem apenas um anel benzênico e são
conhecidos como BTEX – benzeno, tolueno, etilbenzeno e xileno. Estes
monoaromáticos são os mais voláteis, já os hidrocarbonetos policíclicos
aromáticos (HPAs), possuem 2 ou mais anéis aromáticos condensados
em sua estrutura.
A outra classe estudada são os marcadores químicos de esgoto,
também caracterizados como contaminantes orgânicos em ecossistemas
aquáticos, as classes mais comumente usadas como esse tipo de
marcadores são os esteróis, os diruptores endócrinos e os alquilbenzeno
lineares (LABs).
Os esteróis são compostos com uma grande variedade estrutural
e que apresentam um esqueleto carbônico básico constituído de 17 a 30
átomos de carbono, podendo apresentar grupos metílicos em especial
nos carbonos 10 e 13 (LOURENÇO, 2003). Apresentam um grupo
hidroxila ligado na posição 3, o que lhes garante propriedades químicas
semelhantes aos álcoois, sendo assim chamados de esteróis. Em alguns
casos, o grupo hidroxila na posição 3 pode estar protegido, sob a forma de
um grupo cetônico, caracterizando as esteronas e estanonas (SEYFFERT,
2008) (Figura 4.2).

68 UNIDADE IV
Figura 4.2 – Estrutura básica dos esteróis (Fonte: MARTINS, 2008).

A determinação de esteróis fecais é proposta como uma avaliação


alternativa da poluição ambiental de origem fecal (MARTINS et al., 2008).
Alguns esteróis encontrados nos sedimentos podem ter sua origem em
fontes naturais, tais como colesterol, campesterol, β-sitosterol, colestanol,
estigmasterol, entre outros (Tabelas 4.1 e 4.2). Além desses naturais,
são também encontrados o coprostanol e o epicoprostanol (Tabela 4.1),
considerados esteróis fecais (BRAUN, 2006).

Tabela 4.1 – Características de alguns esteróis fecais, utilizados como marcadores de


esgoto doméstico.

(Fonte: Adaptado de MORAIS, 2014)


Composto Estrutura Fórmula molecular

Coprostanol C27H48O

Colestanol C27H48O

Colesterol C27H46O

OCEANOGRAFIA 69
Campesterol C28H48O

Estigmaterol C29H48O

Ergosterol C28H44O

β - sitosterol C29H50O

Tabela 4.2 – Descrição dos esteróis para identificação de suas possíveis fontes.

Nome usual Descrição da fonte Informação ambiental


(Fonte: Adaptado de PRATT et al., 2008)

Biomarcador fecal;
Contaminação fecal
Coprostanol quantidade relativa indica
humana
contaminação fecal recente

Esterol mais onipresente;


Colesterol abundante no fito e no Fito e zooplâncton
zooplâncton

Redução química do
Colestanol Atividade microbiana
colesterol

70 UNIDADE IV
Origem terrestre,
Campesterol tipicamente de plantas Fonte de matéria orgânica
superiores

Usualmente usado como


Estigmasterol esterol terrestre; plantas Fonte de matéria orgânica
superiores

Decomposição realizada por


Ergosterol Biomassa de fungos
fungos

Usualmente usado como


β - sitosterol esterol terrestre; plantas Fonte de matéria orgânica
superiores

A importância de se conhecer a contaminação de um determinado


ambiente pela perspectiva química, está relacionada com a presença e a
concentração de compostos passiveis de causar danos, principalmente
efeitos deletérios sobre a vida aquática e o ser humano. Na Conferência
da Comunidade Científica Europeia ocorrida em Weybridge, 1996, foi
apresentada a definição mais precisa dos compostos conhecidos como
disruptores endócrinos, demostrando a “recente” preocupação em avaliar os
impactos destes compostos que há anos são lançados nos ecossistemas.
Os disruptores endócrinos são substâncias exógenas que causam efeitos
adversos para a saúde num organismo intacto devido a mudanças na função
endócrina, ou seus descendentes (GHISELLI & JARDIM, 2007).
O comportamento dos disruptores endócrinos nas estações de
tratamento de esgoto e em ambientes naturais, tais como solos e sedimentos
marinhos têm sido investigados, no sentido de obter conhecimento acerca
dos impactos e potenciais perigos ocorrentes. As substâncias classificadas
como disruptores endócrinos, incluindo as naturais e sintéticas, usadas
ou produzidas para diversas finalidades, podem ser agrupadas em quatro
classes (BILA & DEZOTTI, 2007):
(1) Substâncias sintéticas utilizadas na agricultura e seus subprodutos,

OCEANOGRAFIA 71
como pesticidas, herbicidas, fungicidas e malacocidas.
(2) Substâncias sintéticas utilizadas nas indústrias e seus subprodutos,
dioxinas, policlorados (PCBs), compostos orgânicos de estanho, retardante
de chama bromados, parabenos, alquilfenois e seus subprodutos,
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HPAs), metais pesados, ftalatos e
bisfenol-A.
(3) Substâncias naturais, como fitoestrogênios e os estrogênios naturais
17β-estradiol, estrona e estriol (Tabela 4.3).
(4) Compostos farmacêuticos, como o 17α-etinilestradiol e dietilestilbestrol
(Tabela 4.3) (Adequacão ao livro).

Tabela 4.3 – Características dos principais disruptores endócrinos encontrados nos


ecossistemas costeiros

(Fonte: Adaptado de MORAIS, 2014)


Composto Estrutura Fórmula molecular

Estrona (E1) C18H22O2

17α estradiol (E2) C18H24O2

17β estradiol (E2) C18H24O2

Estriol (E3) C18H24O3

72 UNIDADE IV
17α Etilnilestradiol
C20H24O2
(EE2)

Dietilestilbestrol
C18H20O2
(DES)

Os alquilbenzenos lineares (LABs) (Figura 4.3) são compostos


constituintes dos detergentes comerciais e industriais, que trazem alguns
malefícios ao ambiente que os recebem como descarte. Esses compostos
podem permanecer nos sedimentos marinhos por vários anos (EGANHOUSE
et al., 1983), pois possuem afinidade moderada com a água e alta afinidade
com solos, sedimentos e matéria orgânica (SCTEE, 1998).
Em 2009, a venda dos detergentes no Brasil atingiu o valor de 386
mil toneladas, conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Limpeza
e Afins (ABIPLA). Considerando-se que 3% da formulação dos detergentes
são formados por LABs, o descarte no ambiente foi de aproximadamente
19 mil toneladas/ano (52 toneladas/dia) (SASAKI, 2012). E desde então a
produção destes produtos de limpeza vem demostrando índices cada vez
maiores de produção e comercialização.

Figura 4.3 – Estrutura molecular base dos


alquilbenzenos lineares(Fonte: SASAKI, 2012).

OCEANOGRAFIA 73
Contaminantes inorgânicos

A principal característica dos contaminantes inorgânicos é a não


biodegrabilidade, assim têm poder acumulativo e capacidade de transporte
pela cadeia trófica. Os contaminantes inorgânicos mais comumente
estudados são os metais pesados: mercúrio, cádmio e chumbo. O chumbo
e cádmio tendem a se acumular no sedimento, e, de acordo com variações
fisico-químicas, formam complexos e podem ser transportados por diversos
elos da cadeia biológica (COLVARA, 2003).
A presença de metais no sedimento é uma garantia de persistência
da contaminação por longos períodos. Em ambientes oceânicos a soma
das concentrações dos metais traços, sendo esses os elementos de menor
quantidade que ocorrem na natureza, atingem concentrações abaixo de 3
mg/dm3. Esses metais estão no ambiente aquático naturalmente, através
dos processos geoquímicos e intemperismo físico e físico-químico, porém o
aumento das concentrações desses compostos pode resultar em desequilíbrio
ecológico e potencial perigo para a biota e a saúde pública.

Contaminantes em sedimentos e água

O comportamento ambiental e bioquímico dos contaminantes


está ligado diretamente às suas propriedades físico-químicas, tais como
solubilidade em água, pressão de vapor, constante de Henry, coeficiente
de partição octanol-água (Kow) e constante de partição com carbono (Koc).
Cada uma destas propriedades contribui particularmente no transporte,
distribuição, disponibilidade, bioacumulação e toxicidade dos contaminantes
nos compartimentos ambientais e na biota (SCHWARZENBACH et al., 1993;
NETTO et al., 2000).
A propriedade mais importante que controla a concentração de
poluente num ambiente aquático é a solubilidade, daí a relevância de se
conhecer o coeficiente de partição octanol-água (Kow) (chamado também
de índice de hidrofobicidade) e da solubilidade dos compostos (TAKADA &
EGANHOUSE, 1998).
Diante do exposto, ao estudar qualquer contaminante encontrado
no ambiente aquático, se faz imprescindível conhecer suas características
físico-químicas para ter o conhecimento de qual matriz ambiental deve-se
aprofundar a investigação cientifica aos danos negativos.

74 UNIDADE IV
Referências

ABESSA, D. M. S.; SOUSA, E. C. P. M.; TOMMASI, L. R. Utilização de testes


de toxicidade na avaliação da qualidade de sedimentos marinhos. Revista de
Geologia, v. 19, p. 253-261, 2006.

BÍCEGO, M. C. Contribuição ao estudo de hidrocarbonetos biogênicos e


do petróleo no ambiente marinho. 156 p. 1988.Tese (Doutorado). Instituto de
Química, Universidade de São Paulo, 1988.

BICEGO, M. C.; TANIGUCHI, S.; YOUGUI, G. T.; MONTONE, R. C.; SILVA, D.


A. M.; LOURENÇO, R. A.; MARTINS, C. C.; SASAKI, S. T.; PELLIZARI, V. H.;
WEBER, R. R. Assessment of contamination by polychlorinated biphenyls and
aliphatic and aromatic hydrocarbons in sediment of the Santos and São Vicente
Estuary System, São Paulo, Brazil. Marine Pollution Bulletin, v. 52, p. 1784-
1832, 2006.

BILA, D. M.; DEZOTTI, M. Desreguladores endócrinos no meio ambiente: efeitos


e consequências. Química Nova, v. 30, p.651-666, 2007.

BOULOUBASSI, I.; SALIOT, A. Dissolved, particulate and sedimentary naturally


derived polycyclic aromatic hydrocarbons in a coastal environment: geochemical
significance. Marine Chemistry, v. 42, 127-143, 1993.

BRAUN, J. A. F. Uso de esteroides na avaliação de aportes antrópicos e naturais


da matéria orgânica no Complexo Estuarino de Paranaguá. 2006. Dissertação
(Mestrado). Pós-Graduação em Oceanografia Física, Química e Geológica, Fun-
dação Universidade Federal do Rio Grande, 2006.
CLARK, R. B. Marine Pollution. New York: Oxford University Press, p. 248,
2001.

COLVARA, W. A. Estudo de bioacumulação de cádmio e chumbo em Jun-


diaí. 2003. Monografia (Graduação). Institudo de Química, Universidade Federal
de Pelotas, 2003.

EGANHOUSE, R. P.; BLUMFIELD, D. L.; KAPLAN, I. R. Long-chain alkylbenze-


nes as molecular tracers of domestic wastes in the marine environment. Environ-

OCEANOGRAFIA 75
mental Science and Technology, v. 17, p. 523-530, 1983.
GHISELLI, G.; JARDIM, W. F. Interferentes endócrinos no ambiente. Química
Nova, v. 30, p.695-706, 2007.

KENNISH, M. J. Pollution impacts on marine biotic communities. Boca Ra-


ton: CRC Press, p. 310, 1997.

LOURENÇO, R. A. Metodologia para determinação de biomarcadores geoquími-


cos orgânicos em sedimentos – hidrocarbonetos alifáticos e aromáticos, esteróis
e alquenonas. 2003. Dissertação (Mestrado). Instituto Oceanográfico, Universi-
dade de São Paulo, 2003.

MARTINS, C. C.; GOMES, F. B. A.; FERREIRA, J. A.; MONTONE, R. C. Organic


markers of sewage contamination in surface sediments from Santos bay, São
Paulo. Química Nova, v. 31, p. 1008-1014, 2008.

MORAIS, P. C. V. Diagnóstico ambiental da poluição por esgotos utilizando


interferentes endócrinos e esteróides fecais - Lagoa do Catú, Aquiraz -
Ceará. 2014. Dissertação (Mestrado). Instituto de Ciências do Mar, Universidade
Federal do Ceará, 2014.

NETTO, A. D. P.; MOREIRA, J. C.; DIAS, A. E. X. O.; ARBILLA, G.; FERREIRA,


L. F. V.; OLIVEIRA, A. S.; BAREK, J. Avaliação da contaminação humana por hi-
drocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs) e seus derivados nitrados (NHPAs):
uma revisão metodológica. Química Nova, v. 23, p. 765-773, 2000.

PRATT, C.; WARNKEN, J.; LEEMING, R.; ARTHUR, M. J.; GRICE, D. I. Degra-
dation and responses of coprostanol and selected sterol biomarkers in sediments
to a simulated major sewage pollution event: A microcosm experiment under sub-
-tropical estuarine conditions. Organic Geochemistry, v. 39, p. 353-369, 2008.

SASAKI, S. T. Marcadores orgânicos moleculares como ferramentas no


monitoramento ambiental: avaliação da distribuição de alquilbenzeno line-
ares (LABs) em organismos e sedimentos, como indicativo de exposição
ao esgoto em áreas costeiras. 2012. Tese (Doutorado). Instituto Oceanográfi-
co, Universidade de São Paulo, 2012.

76 UNIDADE IV
SCHWARZENBACH, R. P.; GSCHWEND, P. M., IMRODEM, D. M. Environ-
mental organic chemistry. New York: Wiley-Interscience, 1993.
SCIENTIFIC COMMITTEE FOR TOXICITY, ECOTOXICITY AND THE ENVI-
RONMENT (SCTEE). Benzene, C10-13 alkyl-derives carried out in the framework
of Council Regulation (EEC) 793/93 on the evaluation and control of the risks of
existing substances. 6th SCTEE plenary meeting, Brussels, SCTEE, 1998.

SEYFFERT, B. H. Distribuição e identificação das principais fontes naturais


e antrópicas de hidrocarbonetos Estuarino de Paranaguá (Paraná, BR).
2008. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Rio Grande, 2008.

SWARTZ, R. C.; DEBEN, W. A.; JONES, J. K. P.; LAMBERSON, J. O.; COLE,


F. A. Phoxocephalid amphipod bioassay for marine sediment toxicity. 7th
Symposium on Aquatic Toxicology and Hazard Assessment, Philadelphia, ASTM,
p. 284-307, 1985.

TAKADA, H.; EGANHOUSE, R. P. Molecular markers of anthropogenic waste.


In: RA, M. (Ed.) Encyclopedia of Environmental Analysis and Remediation.
New York: John Wiley & Sons, p. 2883-2940, 1998.

VOLKMAN, J. K.; HOLDSWORTH, D. G.; NEILL, G. P.; BAVOR JR., H. J. Identi-


fication of natural, anthropogenic and petroleum hydrocarbons in aquatic sedi-
ments. The Science of the Total Environment, v. 112, p. 203-219, 1992.

OCEANOGRAFIA 77
CAPÍTULO 5
OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
Fernanda Reinhardt Piedras
Universidade do Estado do Rio de Janeiro

A oceanografia biológica é o estudo das inter-relações dos organismos


vivos com os ambientes que habitam, ambientes estes oceânicos, costeiros
e transicionais, com ênfase nas relações ecológicas. Abrange a distribuição
e os ciclos de vida dos organismos, os ritmos e flutuações de populações e
comunidades, a estrutura das comunidades e os processos físicos e químicos
interatuantes, procura compreender a biodiversidade, produtividade, pesca,
aquacultura, avaliação de impacto ambiental na biota, buscando melhorar o
conhecimento com vistas à proteção e aproveitamento racional de recursos
vivos.
A energia que a maioria dos organismos marinhos necessita para
sobreviver vem diretamente ou indiretamente do Sol. Este produz quantidades
enormes de energia, que é capturada pela clorofila presente em organismos
denominados produtores primários. A energia solar é então transformada
em energia química. A partir destas reações, a energia é utilizada para
sintetizar carboidratos e outras moléculas orgânicas que serão utilizadas
pelos próprios produtores ou serão ingeridas por outros microorganismos
presentes no ambiente aquático, denominados consumidores (Figura 5.1).
A fotossíntese é o principal processo autotrófico realizado pelos
seres clorofilados, representados por plantas, alguns protistas, bactérias
fotossintetizantes e cianobactérias. A taxa de fotossíntese varia em função
da luz disponível (intensidade e qualidade), além de outros fatores como
quantidade de biomassa, nutrientes etc. Este processo é considerado
dominante na conversão de energia em carboidratos, mas pode ocorrer
também produção de energia através de moléculas inorgânicas disponíves
no meio, ao invés da luz do sol. A este processo chamamos quimiossíntese
e está presente em algumas formas marinhas, mas é pequena em relação à
fotossíntese.
A produtividade primária, síntese de matéria orgânica a partir de
substâncias inorgânicas, é expressa em gramas de carbono assimilado em

OCEANOGRAFIA 79
matéria orgânica por metro quadrado de superfície do oceano por ano (gC/
m2/ano). Neste contexto, chamamos de produtores primários os organismos
autótrofos capazes de sintetizar alimento. Já os animais heterótrofos, que
consomem estes organismos são chamados de consumidores secundários,
enquanto os animais que se alimentam destes são chamados consumidores
terciários, e assim por diante até os consumidores de topo. É importante
notar que, à medida que a energia flui, grande parte desta é perdida sob a
forma de calor. As interações energéticas entre produtores e consumidores
são geralmente complexas, e por isso são chamadas de teias alimentares
(Figura 5.1).

Transferência de Energia

Figura 5.1 – Esquema das interações tróficas entre os diferentes grupos de organismos
marinhos ao longo de toda coluna da água (Fonte: PEREIRA, 2015).

80 UNIDADE V
Organismos pelágicos

Os organismos pelágicos vivem suspensos na água do mar, à deriva,


e interagem neste local com membros de tamanho e caracteristicas muito
distintas. Compartilham neste habitat a necessidade de manutenção da
posição vertical, além da obtenção de alimento entre outras necessidades
básicas. De acordo com a forma de vida, podemos dividir os pelágicos em
plâncton e nécton.
O plâncton é constituído pelo conjunto de seres que vivem suspensos
na água, carregados pela correnteza, em ambientes aquáticos de água
doce, salobra e marinha. Muitos desses organismos têm movimentação
própria, porém insuficiente para vencer a força das correntes. Os organismos
do plâncton variam desde micrômetros invisíveis aos nossos olhos sem
a utilização de microscópio, até milímetros, com algumas exceções de
organismos que podem atingir desde vários centímetros até metros de
comprimento, como as caravelas (Physalia physalis). Podem ser agrupados
dependendo de algumas características:
(1) Estrutura celular básica: procariontes ou eucariontes
(2) Grau trófico: autotrófico ou heterotrófico.
(3) Nutrição: fotoautotrófica (captação de luz e absorção de carbono
inorgânico), osmotrofia (absorção de moléculas orgânicas), fagocitose ou
fagotrofia (ingestão de partículas).
(4) Distribuição horizontal: manchas ou agregados.
(5) Microorganismos planctônicos: bacterioplâncton (procariontes
heterotróficos e autotróficos), fitoplâncton (organismos eucariontes
unicelulares autotróficos), protozooplâncton (organismos eucariontes
unicelulares heterotróficos - protozoários), zooplâncton (organismos
eucariontes heterotróficos).
A comunidade fitoplanctônica garante o equilíbrio ecológico do meio
ambiente aquático, pois compõe a base da rede trófica e de toda a produção
biológica nos mares. É um grupo com algo grau de biodiversidade, e novas
espécies são isoladas e descritas a cada dia. A cadeia alimentar microbiana
dos ecossistemas marinhos se prolonga por toda zona fótica dos oceanos
(onde chega a presença de luz, até 200 m de profundidade em média),
também é conhecida como alça microbiana. As relações tróficas da alça
agrupam diferentes microrganismos os quais são os principais responsáveis
pelos processos de decomposição e remineralização dos compostos

OCEANOGRAFIA 81
dos ciclos biogeoquímicos. Diversas outras ações ecológicas podem ser
realizadas pelo fitoplâncton:
(1) Produção primária nos oceanos: esta diretamente relacionada
com manutenção do equilíbrio de gases (CO2-O2). O fitoplâncton, pela
sua capacidade de utilização de CO2 e liberação de O2 atua como fator
importante para a manutenção do equilíbrio da concentração desses gases
na água, influenciando até mesmo nas caraterísticas físico-químicas, como
o pH (Capítulo 4).
(2) Sedimentação da matéria produzida (bomba biológica): através
da sedimentação da matéria orgânica para o fundo do mar (através da
morte dos microorganismos e pela liberação de fezes - principalmente do
zooplâncton), ocorre a sua retirada do ambiente pelágico por longo tempo.
A retirada de carbono é importante como regulador do clima. Além disto, a
sedimentação de certos organismos dá origem a formação de lama silicosa
ou diatomito (diatomáceas, radiolários) e vazas calcáreas (foraminíferos). A
sílica do diatomito é material quimicamente inerte e utilizado como substância
abrasiva em filtrações nas refinarias de açúcar, cervejarias, fabricação de
vinho; base para corantes; material isolante.
(3) Florações nocivas de fitoplâncton: ocorrem devido a um grande
aumento na concentração de células, com redução de O2 (à noite, ou na
senescência), ou pela produção de toxinas que são acumuladas ao longo da
cadeia trófica.
A biodiversidade marinha é alta no ambiente pelágico, pois o plâncton
apresenta elevada riqueza de espécies além de estarem em grande número,
geralmente maior de 30 co-habitantes no espaço e no tempo, diferente dos
ecossistemas terrestres. Esta capacidade de habitar o mesmo nicho ecológico
parece ser um paradoxo, mas que se explica pela grande heterogeneidade
no ambiente pelágico, propiciando a existência de micro-nichos para as
diferentes espécies.
O desconhecimento do ciclo de vida de muitos dos microorganismos
planctônicos dificulta o reconhecimento de suas reais espécies. Idealmente,
os organismos são identificados com base em critérios morfológicos (forma
e tamanho), ultraestruturas, constituição bioquímica (quimiotaxonomia),
e genética. Existe um consenso de que a constituição genética dos
organismos, detalhes de ultraestruturas e do ciclo de vida deveriam, em
conjunto, servir como referência para determinar a filogenia, e que a filogenia
deveria determinar a taxonomia. Assim, a nomenclatura deveria refletir a

82 UNIDADE V
informação do genoma. Esse ideal ainda está longe para os organismos
protistas e procariontes e, na prática, a morfoespécie ainda se mostra de
grande importância na determinação da diversidade do fitoplâncton e
protozooplâncton.
Quantas espécies existem? Além da grande maioria de espécies
microscópicas ainda ser desconhecida, o número exato é desconhecido,
pois novas espécies são descritas diariamente. Os principais avanços foram
determinados pela introdução da microscopia eletrônica por volta de 1970, e
atualmente pela biologia molecular. Existem pelo menos oito grandes grupos
de organismos fitoplanctônicos, sendo os mais importantes as diatomáceas e
os dinoflagelados. Outros grupos de grande destaque são os cocolitoforídeos
e as cianobactérias.
A produção primária (PP) nos oceanos pode ser dividida em primária
bruta (o total de matéria orgânica produzida, sem desconto da respiração
celular que ocorreu durante o período determinado) e primária líquida
(matéria orgânica produzida é contabilizada descontando-se a “perda” pela
respiração). Alguns fatores físicos podem interferir na produção primaria, como
a taxa de produção primária acompanha aproximadamente o comportamento
da luz com o aumento de profundidade do ambiente (curva exponencial
negativa). Na camada eufótica, a taxa de fotossíntese é alta, diminuindo
até o limite da camada eufótica, onde a taxa de fotossíntese corresponde
aproximadamente à taxa de respiração (produção primária líquida = zero).
Abaixo da camada eufótica, a respiração excede a fotossíntese e, portanto,
as células autotróficas não crescem. No ambiente marinho, a estabilidade da
coluna de água é importante na ecologia do fitoplâncton. A presença de uma
termoclina ou haloclina determina uma estabilidade na camada superficial e
iluminada, permitindo que as células do fitoplâncton fiquem expostas à luz e
propiciando alta produção primária bruta e líquida. Em condições de mistura
vertical na coluna de água (isotermas e isohalinas), as células do fitoplâncton
são deslocadas, permanecendo parte do tempo na camada disfótica ou
mesmo afótica e, assim, diminuindo a produção primária. A relação entre luz,
produção primária e respiração na coluna de água é descrita pelo modelo de
Sverdrup. Neste modelo, destaca-se ainda o conceito da profundidade crítica
(primeiramente definida por SVERDRUP, 1953), ou seja, a profundidade na
qual a produção de toda coluna de água se iguala ao total de respiração.
Fatores químicos também influenciam a PP, uma vez que o fitoplâncton
incorpora nutrientes inorgânicos de forma ativa, por utilização de enzimas

OCEANOGRAFIA 83
associadas à membrana celular. Os principais nutrientes ou elementos
requeridos para a nutrição podem ser enquadrados de diferentes formas:
(1) Macroelementos: encontram-se em concentrações relativamente
grandes, sendo raramente limitantes no ambiente: CO2, Na+, K+, Mg2+, Ca2+,
SO42-.
(2) Micronutrientes: encontram-se em menores concentrações,
freqüentemente limitantes no meio: NO3, NO2, NH4, PO4, Si(OH)4.
(3) Elementos-traços: presentes em mínimas quantidades, podendo
ser limitantes em alguns casos: Fe, Mn, Zn, Cu, Co.
(4) Compostos orgânicos (requeridos por alguns organismos):
Vitaminas (B12, tiamina e biotina), quelantes orgânicos, ureia, aminoácidos.
Com base em diversos trabalhos e considerações sobre os constituintes
químicos da água, foi criada uma razão média das concentrações dos
elementos C, N e P na água do mar. Apesar da variabilidade, possuíam
em média (ou em termos gerais), proporções molares aproximadamente
constantes entre si, na água do mar e nos organismos. Propôs que esta
constituição, na água do mar, deve ter sido alcançada a partir da atividade
biológica, ao longo do tempo. Assim, a água do mar apresentaria em termos
médios a razão molar entre C:N:P, de 105:15:1, muito próximo da constituição
do plâncton, de 106:16:1. Esta passou a ser chamada Razão de Redfield. Em
trabalhos posteriores confirmaram que, considerando-se grandes áreas do
oceano, esta razão se aproxima da chamada Razão de Redfield (REDFIELD,
1958), quando as populações de fitoplâncton estão crescendo em taxas
próximas às taxas “máximas”, ou seja, quando o crescimento está próximo
do ótimo. No entanto, consideráveis variações podem ser encontradas,
dependendo de fatores como luz (duração, intensidade), temperatura,
deficiência em um ou mais nutrientes, estado fisiológico das células.
A taxa de absorção de um nutriente pelas células depende da
concentração do mesmo, quando este se torna limitante. Como o transporte
dos nutrientes através da membrana (plasmalema) é mediado por enzimas
transportadoras, a relação entre a concentração do nutriente (ou substrato)
e a velocidade de absorção do mesmo, pode ser descrita por uma função
hiperbólica, semelhante às reações entre enzima e substrato (função de
Michaelis-Menten - cinética da atividade enzimática). O parâmetro cinético
Ks indica a afinidade do sistema permease pelo nutriente em questão.
Quanto menor este valor, maior a afinidade pelo nutriente. Assim, quando o
Ks for pequeno significa que, em baixas concentrações do nutriente, a alga

84 UNIDADE V
(ou a assembleia) é capaz de absorvê-lo com eficiência. Deve ser enfatizado
que a medida da velocidade de absorção é feita através de duas maneiras:
ou através da taxa de remoção do nutriente do meio líquido, ou através do
acúmulo do nutriente no interior da célula, este último determinado através
de um traçador radioativo. Portanto, as taxas de absorção representam o
transporte do substrato através da membrana celular (RAYMONT, 1980).
A principal característica na distribuição vertical dos nutrientes que são
importantes para a produção primária, é a sua baixa concentração na zona
superficial (camada de mistura), devido à utilização biológica e aumento nas
camadas intermediárias e profundas, devido à sedimentação de partículas
biogênicas. No entanto, grandes variações em concentração podem ser
encontradas na zona eufótica, relacionadas ao balanço entre a utilização
e a reposição. Esta reposição pode ser por ressurgência e/ou circulação
superficial de águas profundas mais ricas. Em regiões de divergência na
circulação de águas superficiais, pode-se observar regiões mais eutróficas,
como resultado do transporte de águas mais ricas e profundas, para a zona
eufótica. As áreas de ressurgência associadas às correntes de contorno
leste e do sistema equatorial de correntes superficiais são exemplos típicos
deste enriquecimento.
A variação sazonal também afeta a produção primária. Estudos em
regiões temperadas (altas latitudes) mostram que as águas superficiais podem
ficar relativamente isoladas da massa água inferior, durante uma parte do
ano, pela formação de uma termoclina sazonal, que inibe a mistura vertical.
Assim, no inverno, quando a coluna da água está geralmente bem misturada,
as concentrações são relativamente uniformes e altas. Na primavera/verão,
devido à estabilidade da coluna (baixa troca com a camada inferior) e à alta
utilização pelo fitoplâncton, há um esgotamento dos nutrientes na camada
superficial. A época de formação desta termoclina sazonal pode variar,
dependendo das condições climáticas e hidrológicas, podendo retardar ou
adiantar este processo. Em águas tropicais, os processos podem ser muito
variados. Em algumas áreas, as concentrações dos nutrientes variam muito
pouco sazonalmente e em outras, grandes variações são encontradas em
função de mudanças climáticas como ventos, tempestades e/ou grandes
descargas continentais. Regiões com termoclinas rasas permanentes
apresentam altas concentrações de nutrientes logo abaixo da zona eufótica,
de tal modo que um aumento na turbulência pode gerar mudanças abruptas
nos níveis de nutrientes na camada de mistura (LALLI & PARSONS, 1993).

OCEANOGRAFIA 85
Outro grupo de grande importância ecológica no planctôn é o
chamado zooplâncton, no qual participam organismos heterotróficos que se
alimentam dos produtores primários e de outros organismos do zooplâncton.
Formado por animais e larvas de inúmeras espécies, em sua grande maioria
microscópica, possuem certa capacidade de locomoção nos oceanos e
mares. A capacidade de locomoção do zooplâncton pode ser verificada
com as migrações verticais presentes em alguns organismos. É possível
classificá-lo o em dois grupos:
(1) Holoplâncton: organismos que passam todo o ciclo de vida no
plâncton, como os copépodes (mais diversificada classe de crustáceos, e
maior grupo que compõem o zooplâncton), entre outros crustáceos (como o
Krill), urocordados filtradores (salpas), quetognatos e hidromedusas.
(2) Meroplâncton: organismos que passam apenas uma fase da vida
no plâncton, como os ovos, as larvas e animais em fase juvenil, como as
larvas de crustáceos, moluscos e equinodermas. As larvas e os ovos de
peixes fazem parte do meroplâncton, e são denominadas ictioplâncton.
A maior parte dos organismos que compõem o zooplâncton alimentam-
se de microalgas, embora sejam observados, além dos organismos herbívoros,
também carnívoros, onívoros e detritívoros. Por outro lado, são alimento de
muitas espécies de peixes e outros animais, como por exemplo, a baleia,
que se alimentam quase que exclusivamente do krill (artrópode pelágico),
considerado espécie-chave no ecossistema antártico. São considerados
organismos essenciais para a manutenção do ecossistema aquático, pois
participam da base da cadeia alimentar.

Organismos nectônicos

Os animais pelágicos, que nadam ativamente na coluna da água,


são conhecidos como seres nectônicos. Em sua maioria são vertebrados
(principalmente os peixes), mas alguns invertebrados estão presentes nesta
classificação, como por exemplo as lulas e alguns crustáceos. Tartarugas e
mamíferos podem ser importantes espécies em certas áreas, assim como
as aves marinhas, especialmente como predadores. Os principais grupos de
predadores nectônicos são:
(1) Crustáceos nectônicos: este grupo inclui os copépodos, as lagostas,
camarões, caranguejos e cracas. No habitat marinho atuam consumindo
grandes quantidades de alimento, assim como sendo grande fonte de energia

86 UNIDADE V
para outros predadores. Seu diferencial é a presença de um exoesqueleto
que se encaixa e se articula como uma armadura.
(2) Cefalópodes: são os animais mais evoluídos dentro os moluscos,
com um grande número de predadores marinhos formados por lulas, náutilos
e polvos. São fonte de grandes pescarias.
(3) Répteis marinhos: tartarugas, serpentes marinhas, lagartos marinhos
(iguanas) e crocodilo marinho. Os mais conhecidos e bem-sucedidos são as
oito espécies de tartarugas marinhas, possivelmente devido à presença do
seu casco, o qual confere uma eficiente defesa. Embora o único predador
seja o homem, há uma atenção às etapas de desova, na qual existe uma alta
taxa de mortalidade e dos jovens quando estão a caminho do mar.
(4) Aves marinhas: de quatro grupos de aves marinhas, a gaivota e
o pelicano são os mais conhecidos, pois existem muitas espécies e estas
vivem perto da costa. No entanto, os grupos mais bem adaptados ao mundo
pelágico são os albatrozes, petréis (ordem dos Tubinares, consideradas as
aves mais oceânicas do mundo) e os pinguins. Já os pinguins perderam
a habilidade de voar, entretanto utilizam as asas para nadar por longas
distâncias e com grande destreza de movimento. Nativos do hemisfério sul,
possuem adaptações para conservar calor, como o isolamento com tecido
adiposo e penas gordurosas. Outro ponto importante de se destacar é a
presença de grandes colônias em áreas de grande produtividade, como
a ressurgência do Peru. Infelizmente são diretamente afetadas, com altas
mortalidades, em eventos de poluição (e.g. pesticidas) e derramamentos de
óleo. Predam lulas, peixes e o zooplâncton.
(5) Peixes: são o grupo que domina o nécton, caracterizados por
grande habilidade na natação, através do qual podem se movimentar
independentes das correntes oceânicas. Existem mais espécies de peixes, e
mais indivíduos, do que espécies e indivíduos de todos os outros grupos de
vertebrados juntos. Algumas espécies possuem modificações que permitem
detectar presas ou evitar predadores. Estão divididos em dois grandes
grupos com base no material que compõe seus esqueletos: cartilaginosos
e ósseos. A classe Chondrichthyes inclui os tubarões, lampreias, raias e
quimeras, tem como característica o tecido cartilaginoso, mandíbulas com
dentes, pares de nadadeiras e um estilo de vida ativo. Através de vibrações
na água, detectadas por órgãos sensitivos alinhados abaixo da superfície da
pele, o tubarão-tigre e o tubarão-martelo, entre outros, atraem suas presas.
Além disso, possuem olfato muito desenvolvido, atuando na caça de presas,

OCEANOGRAFIA 87
que são compostas por peixes e mamíferos marinhos. Na classe Ostichtyes
estão aproximadamente 99% de todos os peixes da atualidade. Na ordem
Teleostei estão os organismos de maior interesse comercial: bacalhau, atum,
linguado, entre outros. Estes animais se alimentam de diferentes tipos de
presas dependendo do seu tamanho, localização e disponibilidade da presa,
podendo ser planktívoros, piscívoros ou ambos. Possuem habilidade para
realizar migrações atrás de presas. A grande maioria se encontra em águas
temperadas, mas a diversidade de espécies é maior nas regiões tropical e
subtropical.
(6) Mamíferos marinhos: a classe Mammalia é o grupo mais evoluído
dos vertebrados, incluindo focas, baleias, golfinhos e morsas, constituem um
grupo bastante diverso de 128 espécies que dependem dos oceanos para a
sua existência. Este grupo não corresponde a um grupo biológico distinto,
mas sim a um grupo funcional que tem em comum a dependência do meio
aquático para a alimentação. Esta dependência manifesta-se a vários níveis,
não sendo todos expressos pela totalidade das espécies. Por exemplo,
os golfinhos e as baleias (cetáceos) são completamente dependentes do
meio marinho em todos os estágios da sua vida, já as focas alimentam-
se no oceano, mas procriam em terra. Os mamíferos marinhos dividem-se
em quatro grupos: cetáceos, pinípedes (focas, leões-marinhos e morsas),
sirenídeos (manatins e dugongos) e fissípedes (carnívoros com os dedos
separados, como o urso polar (Ursus maritimus) e duas espécies de lontra.
Desempenham um papel fundamental na manutenção e regulação dos
ecossistemas marinhos, especialmente através da regulação das populações
das suas espécies-presa. Estes dois fatores – biomassa global relevante
e papel regulador – os tornam um componente fundamental do ambiente
marinho. Este fato torna-se particularmente importante se considerarmos
que, atualmente, cerca de 23% das espécies de mamíferos marinhos estão
ameaçadas (CRAMQ, 2015).
Todos os mamíferos compartilham quatro características comuns: corpo
hidrodinâmico, com apêndices adaptados para natação; sistema respiratório
modificado para reter grandes quantidades de oxigênio durante os longos
mergulhos e deslocamentos. Outro ponto importante é a capacidade de
gerar calor interno por meio de altas taxas metabólicas e conservar através
de camadas isolantes de gorduras, e em alguns casos até com a presença
de pelos. A quarta adaptação está relacionada à ausência de necessidade
de água doce, devido à habilidade de seus rins de excretar urina concentrada

88 UNIDADE V
em sais, permitindo que a água necessária para seu metabolismo derive da
oxidação dos alimentos (GARRISON, 2010).
A ordem Cetacea (cetáceos e sirênios) possui os únicos mamíferos
marinhos que passam toda a sua vida dentro d’água. Ao contrário dos
pinípedes que usam principalmente os pelos como isolante térmico, os
cetáceos possuem uma espessa camada de gordura, o “blubber”. Os membros
traseiros estão ausentes e a propulsão é dada através de nadadeiras caudais
horizontais. Os membros anteriores não possuem dedos individualizados
externamente, tendo a forma de remos, e são usados para a manutenção da
estabilidade durante o nado. Dividem-se em duas subordens: Odontoceti e
Mysticeti. As baleias verdadeiras atuais (misticetos) são caracterizadas por
seu aparato alimentar altamente diferenciado em virtude da perda dos dentes
e o surgimento de placas de tecido epitelial cornificado (barbatanas) que
ficam suspensas do céu da boca e servem para filtrar o alimento da água.
Desta sub-ordem Mysticeti fazem parte as baleias-francas, as baleias-cinzas
e as baleias-francas pigmeias, enquanto na subordem Odontoceti estão
presentes as baleias bicudas, cachalotes, toninhas, botos da Amazônia,
orcas, baleias-piloto, belugas, além dos golfinhos.
Atualmente dentro da ordem Sirenia, são reconhecidas três espécies
de peixes-boi e uma de dugongo. São caracterizados por possuírem um
corpo relativamente grande e robusto, focinhos virados para baixo, membros
anteriores em forma de nadadeiras arredondadas e uma cauda horizontal.
Os peixes-boi se diferenciam dos dugongos por seu tamanho menor, uma
cauda arredondada ao invés de meia-lua e uma menor deflexão do focinho.
Esta última característica permite aos peixes-boi se alimentarem em toda a
coluna d’água e não apenas no fundo.
Na ordem Carnivora, os membros da sub-ordem Pinnipedia são animais
adaptados para o meio aquático e se dividem em 3 famílias monofiléticas:
Otariidae (lobos e leões-marinhos), Odobenidae (morsas) e Phocidae (focas).
Atualmente se reconhecem 33 espécies de pinípedes, espalhados por todo
o mundo. Diferentemente dos cetáceos, os pinípedes gregários saem do
oceano, por períodos variáveis de tempo, para acasalar e criar seus filhos.

Organismos bentônicos

São aqueles animais e plantas que vivem associados com o sedimento.


Alguns podem se enterrar (infauna), e outros vivem na superfície do sedimento

OCEANOGRAFIA 89
(epifauna). O habitat bentônico pode ser raso ou profundo, repleto de alimento
ou um pouco estéril; o fato é que a diversidade dos habitats bentônicos, e
de organismos que vivem associados a estes, é muito grande. Florestas de
macroalgas, zonas rochosas entre marés, praias arenosas, marismas e até
mesmo os recifes de corais fazem parte deste amplo habitat.
A epifauna compreende os animais que vivem sobre ou associados
a rochas, pedras, conchas, vegetação ou sobre fundos inconsolidados.
A infauna compreende todos os animais que vivem dentro da camada de
substrato inconsolidado, perfurando-o ou simplesmente vivendo dentro deste.
Existem ainda outras maneiras de classificar os organismos bentônicos:
(1) Macrofauna: compreende todos os animais que ficam retidos numa
peneira de malha 0.5 mm.
(2) Mesofauna: animais que passam por uma peneira de malha 0.5mm,
mas ficam retidos numa malha 0.05 mm.
(3) Microfauna: todos os demais organismos (geralmente protozoários).
Para sobreviver no habitat bentônico existem diversas adaptações
funcionais, como a tolerância a diversos aspectos físico-químicos dos
diferentes tipos de substrato, assim como adaptações estruturais como a
forma do corpo, são comuns corpos pequenos e alongados (vermiformes). O
metabolismo e atividade podem ser modificados pelo substrato via aspectos
nutricionais (ex: Os filtradores são mais frequentes em fundos arenosos, onde
seus aparelhos de filtração não correm o risco de serem entupidos). Desta
forma, o tipo de substrato onde vive o animal pode modificar a taxa e as formas
de reprodução. A distribuição horizontal em fundos arenosos é afetada pela:
natureza e o tamanho dos grãos; o tipo, a quantidade e a forma da matéria
orgânica associada ao substrato; a área total do substrato arenoso; e outros
fatores ambientais como movimentos d’água, luz, salinidade, suprimento de
oxigênio, pressão.

Referências

CENTRO REABILITAÇÃO ANIMAIS MARINHOS QUIAIOS (CRAMQ). Prin-


cipal. Educação. Animais marinhos. Os mamíferos marinhos. Disponível
em: <http://cramq.socpvs.org/educacao/informacao-de-animais-marinhos/
informacao-mamiferos-marinhos/>. Acesso em 20 de junho de 2015.

GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia, Cengage Learning, 2010.

90 UNIDADE V
LALLI, C.; PARSONS, T. Biological oceanography: an introduction.
Oxford: Butterworth & Heinemann, p. 301, 1993.

PEREIRA, A. Naturlink. Terra Rara. Disponível em: <http://naturlink.sapo.pt/


Natureza-e-Ambiente/Interessante/content/Terra-Rara?viewall=true&print=-
true>. Acesso em 20 de junho de 2015.
RAYMONT, J. E. G. Plankton and productivity in the oceans, vol 1: phy-
toplankton. Pergamon Press, 1980.

REDFIELD, A. C. The biological control of chemical factors in the environ-


ment. American Scientist, v. 46, p. 205-221, 1958.

OCEANOGRAFIA 91
CAPÍTULO 6
CIRCULAÇÃO OCEÂNICA
Juliana de Carvalho Gaeta
Universidade Federal do Ceará

Neste capítulo iremos abordar os principais movimentos de meso


e macro escala nos oceanos e os fatores que podem influenciar direta ou
indiretamente estes movimentos. Os movimentos que serão descritos são os
padrões de circulação oceânica e fatores que podem afetá-la, quais sejam
ondas, marés, ressurgência e sensoriamento remoto.

Placas tectônicas

A geografia dos oceanos interfere diretamente na circulação de água


neles. A forma, profundidade e localização geográfica do oceano afetam as
características gerais da sua circulação. Características de menor escala,
tais como locais de fossas profundas, zonas de fratura, montes submarinos, e
rugosidade do fundo, muitas vezes afetam importantes detalhes da circulação
e dos processos que são essenciais para forçantes e propriedades da água.
O processo geofísico mais importante que afeta o formato e topografia das
bacias oceânicas é o movimento das placas tectônicas da Terra (TALLEY et
al., 2011) (Figura 6.1).

Figura 6.1 –
Representação
dos limites das
placas tectônicas
no qual se observa
a idade do fundo
oceânico. Linhas
pretas indicando os
limites das placas
tectônicas (Fonte:
TALLEY et al., 2011).

OCEANOGRAFIA 93
Conforme as placas se mexem, são criados novos fundos marinhos que
demarcam os limites entre as placas tectônicas. As taxas de movimentação
das placas variam de oceano para oceano, sendo de 2 cm/ano no Atlântico
e 16 cm/ano no Pacífico, causando a extrusão de magma na superfície dos
centros dos sulcos. Em algumas bordas das placas tectônicas, uma placa
se move sob outra (subducção) e esta é acompanhada em seu lado da terra
por vulcões e terremotos (TALLEY et al., 2011). Essa subducção pode criar
fossas profundas, que são estreitas em relação ao seu comprimento e têm
profundidades de até 11.022 m, como a fossa das Marianas. Fossas podem
orientar ou impactar correntes de contorno que estão em águas profundas
(correntes de contorno oeste profunda) ou correntes de limite superior
do oceano que possuem energia suficiente para estender para o fundo do
oceano, como correntes de contorno oeste da circulação impulsionada pelo
vento. A profundidade dos oceanos varia de 2 a 3 km para os mais novos e
de 5 km para os mais antigos. Fundos do oceano mais jovens são mais rasos
do que os mais antigos (TALLEY et al., 2011). A taxa de expansão dos fundos
oceânicos é tão lenta que não tem impacto sobre a variabilidade do clima que
experimentamos ao longo de décadas e milênios, nem afeta as mudanças
climáticas antropogênicas. No entanto, ao longo de muitos milhões de anos, a
disposição geográfica da Terra mudou (TALLEY et al., 2011).

Giros oceânicos

O principal fator que afeta e faz com que as águas oceânicas se


movimentem é a luz solar. Ela basicamente é responsável por causar alterações
em processos oceânicos, pois sua energia é capaz de afetar a atmosfera e o
oceano causando então circulação das massas de ar e água (TUREKIAN,
1968). O aquecimento do ar faz com que haja mudanças de massas de ar para
cima e para baixo dando origem aos ventos. Estes por sua vez, em contato
com a superfície da água do oceano, ocasionam um direcionamento superficial
dessas águas superficiais (até 1.000 m), o que conhecemos como circulação
oceânica por ventos. Outro fator que promove a circulação da água oceânica
é a mudança de densidade dessa água, seja pela mudança de temperatura
(aquecimento/resfriamento), seja pela salinidade (evaporação/precipitação), o
que conhecemos por circulação termoalina (TUREKIAN, 1968).
Os ventos gerados na atmosfera devido às diferenças de temperaturas
do ar em contato com a superfície dos oceanos causam um sistema de

94 UNIDADE VI
circulação superficial dirigido. Já a evaporação e refrigeração do ar atmosférico
afetam a densidade causando reajustes no campo gravitacional da Terra pelo
movimento de massas de água, que por sua vez dirige a circulação oceânica de
profundidade (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH,
1974). Essas correntes possuem grandes padrões circulares (giros) de sentido
horário no hemisfério norte e anti-horário no hemisfério sul devido ao efeito de
Coriolis. O efeito de Coriolis é o persistente movimento de objetos em direção
ao lado direito do caminho observado no Hemisfério Norte e lado esquerdo no
Hemisfério Sul. O efeito está relacionado com a propriedade física momento
angular, que é resultante da massa do objeto, sua velocidade e a latitude em
que o objeto está passando. Este efeito não apenas é visto nas águas dos
oceanos, mas também no padrão de circulação dos ventos. Os padrões de
circulação oceânica respondem às principais direções de ventos. Em cada lado
do Equador, os ventos movimentam-se de leste para oeste e são denominados
de ventos alísios. A cerca de 40º de latitude, os ventos movem-se de oeste
para leste e são chamados ventos-oeste predominantes. O vento em contato
com a camada mais superficial de água resulta em um movimento que não é
na direção do vento, mas a um ângulo substancialmente diferente e que vai se
alterando nas camadas inferiores (para a direita no Hemisfério Norte e esquerda
no Hemisfério Sul) e essa movimentação ocorre nas diferentes camadas de
água e conforme aumenta a profundidade, o ângulo vai se inclinando mais
para a direita no Hemisfério Norte e a velocidade diminui,criando assim uma,
espiral logarítmica, que conhecemos como Espiral de Ekman (TUREKIAN,
1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974) (Figura 6.2).

Figura 6.2 –
Esquema do modelo
de circulação das
massas de água
chamado de Espiral
de Ekman (Fonte:
THURMAN, 1994).

OCEANOGRAFIA 95
A circulação termoalina é afetada pela densidade da água e isto
pode ocorrer por aquecimento/resfriamento da água ou por evaporação/
precipitação de água. As camadas de água são formadas por águas
estratificadas conforme características como temperatura e salinidade
que, de acordo com sua densidade, irão entrar em seu nível e para isso
irão deslocar a água circunjacente. Isso ocorre frequentemente, já que o
oceano passa diariamente por processo de evaporação e aquecimento da
água mais superficial. Dessa forma é possível identificar diferentes tipos de
massas de águas devido à limitada variação de salinidade e temperatura
(TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974).
Logo, as águas mais profundas são as mais densas (frias e salgadas) e as
mais superficiais menos densas (quentes e menos salinas). Cria-se uma
circulação convectiva, na qual sempre a água mais fria tende a ir para o
fundo e a água mais quente para a superfície. Esse tipo de circulação é
responsável por movimentar aproximadamente 80% da água dos oceanos
devido a gradientes de densidade e gravidade.
Abaixo seguem duas imagens de circulação oceânica e de circulação
dos ventos para que comparemos e observemos como são compatíveis
ambos os mapas (Figuras 6.3 e 6.4).

Figura 6.3 – Mapa com destaque para a circulação oceânica global em superfície (Fonte:
STUDY OF PLACE, 2015).

96 UNIDADE VI
Figura 6.4 – Mapa com destaque para a circulação de ventos no globo (Fonte: STUDY OF
PLACE, 2015).

Os ventos ainda são responsáveis por formar o que conhecemos como


circulação de Langmuir, que é visualmente evidente como inúmeras longas
filas paralelas ou faixas de destroços que são na sua maioria alinhados com
o vento. As estrias são formadas pela convergência causada por vórtices
helicoidais com uma profundidade e espaçamento horizontal típico de 4 a 6
m e 10 a 50 m, mas pode variar até várias centenas de metros de separação
horizontal e até duas a três vezes a profundidade da camada mista. Células
alternativas giram em sentidos opostos, fazendo com que haja convergência e
divergência entre os pares alternados de células. As células podem ter muitos
quilômetros de extensão (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG &
PARISH, 1974).

Vórtices oceânicos

Nos giros oceânicos podem ocorrer quebras e dessa forma eles tendem
a formar redemoinhos (eddies) e vórtices de centenas de quilômetros de
extensão, os quais tendem a mover-se para oeste assim como as ondas de
Rossby. Os vórtices são onipresentes nos oceanos da Terra. Nas imediações
da corrente do Golfo (a corrente de água quente que se origina no Mar do
Caribe e do Golfo do México e flui para o nordeste no Atlântico Norte), eles

OCEANOGRAFIA 97
são conhecidos como “anéis”. A Figura 6.5 mostra dois anéis de núcleo
quente ao norte da corrente do Golfo. Neste caso, a água no interior do anel
é relativamente mais quente que a água de fora do anel. Anéis de centro frio
também podem formar-se ao sul da corrente do Golfo (Figura 6.5).

Figura 6.5 – Vórtices formados próximos à região do Golfo do México (Fonte: ORSG,
2015).

Frentes oceânicas

As frentes oceânicas são zonas relativamente estreitas que acentuam


os gradientes horizontais das propriedades da água (temperatura, salinidade,
nutrientes etc.) e separam grandes regiões com diferentes massas d’água ou
diferentes estruturas verticais (estratificação) (BELKIN et al., 2005). Frentes são
geralmente descontínuas devido à suas naturezas abruptas, ocorrem em diversas
escalas, desde poucos metros até milhares de quilômetros e podem durar
dias, embora a maioria das frentes sejam quase estacionárias e sazonalmente
persistentes. Vários processos físicos podem formar diversas frentes, incluindo
frentes estuarinas, de pluma e costeiras de flutuabilidade; frentes de mistura de

98 UNIDADE VI
maré; frentes do meio da plataforma; plataforma/talude e frentes da quebra da
plataforma; frentes costeiras, topográficas e de ressurgência equatoriais; frentes
da fronteira ocidental e oriental; frentes de convergência subtropicais; frentes
zona de gelo marginais, e as frentes de massas de água. Logo, as frentes
oceânicas podem estar associadas a fenômenos de ressurgência (BELKIN et
al., 2009).

Ressurgência

Em algumas regiões do oceano, a água pode mover-se verticalmente


para a superfície ou para o fundo como resultado da circulação superficial,
dirigida pelos ventos, que carregam a água para longe ou em direção a
essas regiões. O fenômeno da ressurgência ou upwelling é caracterizado
pelo afloramento de águas profundas, geralmente frias e ricas em nutrientes,
em determinadas regiões dos oceanos. Essas regiões têm, em geral, alta
produtividade primária e importância comercial para a pesca. A ressurgência
equatorial é resultado de quando os ventos alísios, presentes nos dois lados
do Equador, divergem e o transporte de Ekman é direcionado para o sul no
Hemisfério Sul e ao norte no Hemisfério Norte, forçando a água a ressurgir de
cerca de 150-200 m (MENDES & SOARES-GOMES, 2007).

Ondas

Ondas podem ser geradas por contato do vento com a superfície do


oceano, formando cristas cuja altura e periodicidade refletem a intensidade dos
ventos. Ou podem ser geradas por transmissão de energia ao oceano através
de terremotos, explosão vulcânica ou escorregamento de terra nas margens
ou fundo do oceano, e essas ondas são denominadas tsunamis e se propagam
a uma velocidade de 500 milhas por hora. As ondas quando próximas do
continente, tendem a sofrer influência do fundo. As ondas, acabam adotando
um padrão que reproduz a feição submersa da costa. Conforme as ondas se
aproximam da costa, as moléculas de água descrevem um movimento circular
e encontram resistência do fundo suficiente para quebrar a parte superficial do
círculo, o que conhecemos como rebentação (TUREKIAN, 1968; THURMAN,
1994; WEISBERG & PARISH, 1974).
Ondas de Rossby no oceano ou na atmosfera são ondas planetárias cuja
força restauradora é o efeito de Coriolis. Na atmosfera, as ondas de Rossby são

OCEANOGRAFIA 99
facilmente observadas como meandros de grande escala de latitudes médias.
Elas são mais difíceis de detectar no oceano, pois têm uma assinatura na altura
da superfície do mar da ordem de 10 cm, sua velocidade de propagação é de
10 cm/s e seu comprimento varia de centenas a milhares de quilômetros. As
ondas de Rossby no oceano são responsáveis pela intensificação oeste dos
giros subtropicais, sendo a Corrente do Golfo um exemplo típico. Elas também
constituem o mecanismo dinâmico para o ajuste transiente do oceano a
variações nas forçantes atmosféricas de larga escala, ou seja, as informações
são transmitidas dos oceanos tropicais para as médias e altas latitudes via onda
de Rossby. São geradas pelo vento e forças de empuxo nos contornos leste
e no interior dos oceanos; podem também ser geradas por perturbações ao
longo dos limites leste causadas por ondas costeiras aprisionadas em latitudes
médias. Uma vez geradas, elas se propagam como ondas livres, para longe de
suas regiões de formação. Possuem grande influência na circulação de grande
escala do oceano e, portanto, na atmosfera e no clima. O efeito mais importante
é a intensificação das correntes de contorno oeste (e seu deslocamento das
posições usuais); levando-se em conta que essas correntes transportam
enormes quantidades de calor, deslocamentos mínimos em sua posição afetam
dramaticamente a meteorologia de grandes áreas do globo (TUREKIAN, 1968;
THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974; TALLEY et al., 2009).
Outro tipo de onda ainda existente na região do Equador e nas costas
é um tipo especial de onda híbrida chamada de “onda de Kelvin”, que inclui
tanto a onda de gravidade quanto os efeitos de Coriolis. Ondas de Kelvin estão
"presas" às costas e na linha do Equador, o que significa que a sua amplitude
é maior no litoral ou Equador e decai exponencialmente com a distância da
costa ou em direção aos polos. Ondas de Kelvin são de particular importância
nos limites orientais, uma vez que se transfere informação do Equador em
direção aos polos. Elas também são fundamentais para a forma como o
oceano equatorial se ajusta às mudanças na força dos ventos (TUREKIAN,
1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974). Existem ainda outros
tipos de ondas das quais não trataremos neste capítulo devido ao seu enfoque
principal nos oceanos e não na zona costeira (Capítulo 7).

Marés

As marés são ondas longas nos oceanos que resultam de um pequeno


desequilíbrio entre duas forças: a primeira é a atração gravitacional da lua e

100 UNIDADE VI
do sol, e o segundo é a força centrípeta que é necessária para manter a água
do oceano se movendo junto com o resto da Terra em um percurso circular
através do espaço (TUREKIAN, 1968). A rotação da Terra produz uma força
centrífuga em todos os pontos da Terra menor do que a força que a Terra
exerce girando em seu eixo. O sistema Terra-Lua equilibra-se como um todo,
pelas forças de atração e centrífuga, mas a água dos oceanos reage à força
resultante que sempre será ativa naquele ponto. Essa força varia à medida
que a Lua gira em torno da Terra e tende a mover a superfície da Terra. E
a resposta da Terra são as marés. A atração gravitacional da Lua sobre a
Terra diminui com a distância da Lua. Partículas do lado mais próximo da
Lua experimentam uma maior atração gravitacional do que partículas do lado
afastado da Lua (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH,
1974). A atração gravitacional média em partículas na Terra é encontrada no
centro da Terra e deve ser igual à força centrípeta necessária, mas as forças
estão desequilibradas para todos os outros. Os continentes bloqueiam a
propagação livre da maré de equilíbrio para o oeste à medida que a Terra
gira. O resultado é um padrão complexo de marés que se movem em torno
de cada uma das bacias oceânicas (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994;
WEISBERG & PARISH, 1974). Dependendo de como cada bacia responde
a cada frequência particular com a força de maré, essa se comporta de
maneira dependente a geometria da bacia ou ao litoral. A frequência de cada
componente é determinada astronomicamente. As amplitudes relativas dos
componentes dependem da localização. As frequências de maré primárias
são semidiurnas (duas vezes por dia, devido, principalmente, à maré lunar) e
diurna (uma vez por dia). Em alguns locais, não há quase nenhum componente
semidiurno, enquanto que em outros locais não ocorrem padrões diurnos.
Portanto, a maré é normalmente expressa em termos de constituintes (vetores)
de maré (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974).

Sensoriamento remoto

O sensoriamento remoto é a ciência da obtenção de informações


sobre objetos ou áreas de uma distância, tipicamente de aviões e satélites.
Os sensores remotos recolhem dados através da detecção da energia que
é refletida a partir da Terra. Os sensores passivos respondem a estímulos
externos e registram a radiação refletida da superfície da Terra, geralmente
a partir do Sol. Portanto, esse tipo de sensor só pode ser usado para coletar

OCEANOGRAFIA 101
dados durante o dia. Em contraste, sensores ativos usam estímulos internos
para coletar dados sobre a Terra. Por exemplo, um feixe de raio laser projeta
sistema remoto de detecção de um laser sobre a superfície da Terra e mede
o tempo que leva para que o laser reflita de volta para o sensor (Figura 6.5).
O sensoriamento remoto tem ampla gama de aplicações em diversas áreas,
dentre as quais podemos citar:

(1) Aplicações costeiras - monitorar alterações na linha costeira e no transporte


de sedimentos e mapear recursos costeiros. Os dados podem ser utilizados
para mapeamento costeiro e prevenção da erosão.
(2) Aplicações do oceano - monitorar a circulação oceânica e sistemas atuais,
medir a temperatura do oceano e alturas de ondas e acompanhar o gelo
do mar, podendo compreender melhor os oceanos e como melhor gerir os
recursos do oceano.
(3) Avaliação do perigo - pista de furacões, terremotos, erosões e inundações,
a fim de avaliar os impactos de um desastre natural e criar estratégias de
preparação para ser usado antes e depois de um evento perigoso.
(4) Gestão de recursos naturais - monitorar o uso da terra, mapa das zonas
úmidas e habitats da vida selvagem, para minimizar o dano que o crescimento
urbano tem sobre o meio ambiente e ajudar a decidir a melhor forma de
proteger os recursos naturais (NOAA, 2015).

Referências

BELKIN, I. M. Oceanic fronts in Large Marine Ecosystems. Final Report to


the United Nations Environment Programme, p. 49, 2005.

BELKIN, I. M.; CORNILLON, P. C.; SHERMAN, K. Fronts in large marine


ecosystems. Progress in Oceanography, v. 81, p. 223-236, 2009.

CIPOLLINI, P. Satellite observations of Propagating Systems. NOCS.


2008. Disponível em: <http://www.noc.soton.ac.uk/JRD/SAT/Rossby/index.
html>. Acessado em: 07 de abril de 2015.

MENDES, C. L. T.; SOARES-GOMES, A. 2007. Circulação nos oceanos


correntes oceânicas e massas d’água. Rio de Janeiro: Editora Universida-
de Federal Fluminense, p. 26, 2007.

102 UNIDADE VI
NATIONAL OCEANIC AND ATMOSPHERIC ADIMINISTRATION (NOAA).
National Ocean Service. Disponível em: <http://oceanservice.noaa.gov/
facts/remotesensing.html>. Acesso em: 09 de abril de 2015.

OCEAN REMOTE SENSING GROUP (ORSG). Johns Hopkins University.


Applied Physics Laboratory. Disponível em: <http://pages.jh.edu/~dwaugh1/
gallery_ocean.html>. Acesso em: 09 de abril de 2015.

STUDY OF PLACE. Exploring and discovering comparing ocean cur-


rents with wind circulation record sheet. Exploration question. Dispo-
nível em: <http://studyofplace.terc.edu/ActivityContent/M2_A3_S02b.html>.
Acesso em: 09 de abril de 2015.

TALLEY, L. D.; PICKARD, G. L.; EMERY, W. J.; SWIFT, J. H. Descriptive


physical oceanography: an introduction. 6 Ed. Oxford: Elsevier, p. 973,
2011.

TUREKIAN, K. K. Oceans. New Jersey: Prentice-Hall, p. 151, 1968.

THURMAN, H. V. Introductory oceanography. New York: Macmillan Pu-


blishing Co., 1994.

WEISBERG, J.; PARISH, H. Introductory oceanography. Whashington:


MacGraw-Hill, p. 320, 1974.

OCEANOGRAFIA 103
CAPÍTULO 7
CIRCULAÇÃO COSTEIRA
Renan Vandre da Silva Toscano Saes
Universidade Federal do Ceará

Neste capítulo iremos abordar os principais movimentos de meso


e micro escala nos oceanos, assim como os interferentes diretos ou
indiretos destes movimentos. Como a circulação costeira sente a presença
direta do relevo continental, o atrito e o fundo raso são determinantes
para compreender os complexos sistemas da costa, diferente dos giros
oceânicos que pouco sentem o fundo. Os movimentos que serão descritos
são: correntes superficiais, correntes de marés, frentes costeiras,
ressurgência costeira e ondas rasas. Os ambientes que serão descritos
são costa, litoral e estuários.

Correntes superficiais

As massas de água que se movimentam horizontalmente da


superfície até uma profundidade média de 400 m, acima da picnoclina
(região de quebra de densidade entres as massas de águas de superfície
e fundo), forçadas principalmente pela força dos ventos são chamadas
de correntes de superfície. Estas correntes afetam continuamente a
zona costeira; apenas em eventos de ressurgência costeira águas de
fundo chegam até a plataforma continental e assim afloram no litoral. O
atrito pelo arrasto do vento sobre a lâmina de água inicia um fluxo de
água da superfície, o efeito somatizado gera uma corrente superficial. O
empilhamento de água gera uma deflexão da corrente superficial a 45° do
sentido do vento, logo na camada abaixo o transporte de Ekman deflete
essa corrente sub-superficial a 90°. Associado ao efeito de Coriolis, as
correntes superficial e sub-superficial defletem a direita ou a esquerda do
sentido do vento, dependendo se está no Hemisfério Norte ou Hemisfério
Sul, respectivamente. Também há correntes e movimentação de água na
picnoclina e abaixo desta, porém a força que controla essa movimentação
é a ação da gravidade em massas de água adjacentes que possuem

OCEANOGRAFIA 105
diferentes densidades. Este movimento é mais lento e profundo, chamado
de circulação termoalina, pelo fato da densidade de massas de água estar
associada à temperatura e salinidade. Esta circulação é responsável pelas
correntes de fundo (Capítulo 6).

Correntes de marés

As ondas gravitacionais de maré são mais bem discutidas no


Capítulo 6, no qual discutiremos apenas os efeitos da maré nas porções
costeiras. O movimento constante de subida e descida da maré promove
uma variação no nível do mar bem visível na costa, esse movimento é
chamado de corrente de maré. A crista da gigantesca onda de maré
promove o aumento do nível da água, principalmente em locais fechados
como estuários e pequenas baías costeiras. Esse avanço é a chamada
corrente de enchente. A vazão da água é promovida pela aproximação da
cava da onda de maré diminuindo o nível da água, a corrente de vazante.
Na transição entre a maré cheia e a baixa, a corrente atinge sua velocidade
máxima; já no estofo de maré é quando cessa a corrente pela inversão
desta. Um exemplo interessante da força das correntes de maré são as
ondas pororocas, que se formam em alguns rios de estuário. Devido à
extensa área plana em grandes rios, o efeito de funil da desembocadura
dos rios e uma grande variação de maré, a pororoca pode ser considerada
uma verdadeira onda de maré, íngreme e rápida. A onda forçada não
quebra, deslizando quilômetros rio acima. Cerca de 60 rios em todo o
planeta comportam este fenômeno. As pororocas do rio Amazonas, por
exemplo, podem variar de 3 a 5 m de altura, com velocidades de 20 a 40
km/h.
Considerando uma bacia oceânica, uma gigantesca bacia confinada
pelos continentes as margens leste e a oeste, a variação de maré segue
sua configuração. Portanto, esta variação não é igual em todas as bacias
oceânicas, variando a amplitude da costa para o centro de acordo com
seu ponto anfidrômico (Figura 7.1). Este ponto se caracteriza por ser um
ponto sem variação de maré no oceano, ao redor do qual a crista de
maré gira por meio de um ciclo de maré. As cristas passam ao redor de
pontos anfidrômicos como raios de uma roda de bicicleta (GARRISON,
2010). Por serem influenciadas pelo efeito de Coriolis, as ondas de
maré se movem em sentido anti-horário ao redor do ponto anfidrômico

106 UNIDADE VII


do Hemisfério Norte, e horário no Hemisfério Sul (Capítulo 6). A altura
da maré fica maior conforme se distancia do ponto, portanto as maiores
variações do nível do mar ocorrem diariamente nas bordas das grandes
bacias oceânicas, mais intensificadas em áreas que concentram energia
das correntes de maré, como baías e enseadas devido a sua circulação
fechada. Uma bacia larga e simétrica, como a baía de Santos, no litoral
do estado de São Paulo, tenderá a desenvolver um sistema anfidrômico
miniatura das bacias oceânicas (Figura 7.2).

Figura 7.1 – Distribuição dos pontos anfidrômicos das principais bacias oceânicas, cerca
de 12 desses pontos nos quais não há variação de maré. Os tons mais escuros indicam
onde as marés são menos intensas, já os tons mais claros indicam as áreas de maior
variação de maré. As linhas brancas indicam as cristas das ondas de a maré se irradia ao
redor dos pontos (Fonte: GARRISON, 2010).

OCEANOGRAFIA 107
Figura 7.2 – O ponto anfidrômico ou nodo (node) atuam em baías e estuários, pois são
áreas que concentram energia devido a sistema fechado. A crista de maré deriva nas
bordas da baía conforme o efeito de Coriolis (Fonte: Adaptado de GARRISON, 2010 e
TALLEY et al., 2011).

Frentes costeiras

As frentes oceânicas se formam pelas diferenças intrínsecas no


limite de diferentes massas de água, sendo a temperatura, salinidade e
densidade da água as características determinantes (Capítulo 6). Na região
costeira ocorre o aporte da água doce continental, portanto mais leve e
rica em sedimentos e nutrientes, sobre as massas de água salgada do
oceano, geralmente pobres e mais densas devido à elevada concentração

108 UNIDADE VII


halina. Essas diferenças de densidade e composição dificultam a
interação das duas porções de água, a mistura destas, criando uma frente
de contato nos limites destas massas de água. Esse encontro do rio com
o mar é característico de áreas estuarinas (mais detalhadas no final deste
capítulo), sendo que o hidrodinamismo depende muito da morfologia de
cada estuário. Assim como a morfologia, a força e alcance das correntes
de maré mediados pela intensidade e volume do fluxo fluvial determinam
como essa frente costeira irá se comportar. Os quatro principais tipos de
frentes estuarinas são classificados pela forma e velocidade do gradiente
de mistura da água doce superficial com a água salgada do fundo (Figura
7.3):
(1) Frentes em cunha salina são as mais comuns nos estuários ao
redor do mundo. Rios que possuem um grande e rápido fluxo penetram em
regiões da costa onde o alcance de maré é baixo ou moderado, portanto
a água doce que escoa controla o avanço da cunha salina submersa. Um
exemplo clássico é o estuário do rio São Francisco.
(2) Frentes bem misturadas ocorrem em padrões em que o rio corre
mais lentamente e o alcance da maré é de moderado a alto, assim a maré
vai misturando, enquanto que a corrente fluvial empurra essa mistura para
o mar. Exemplos são os estuários do rio Caravelas/BA e rio Jaboatão/PE
(NORIEGA et al., 2005).
(3) Frentes parcialmente misturadas ocorrem em estuários mais
profundos que exibem grande aporte pluvial e fortes correntes de maré.
Compartilham propriedades das frentes de cunha salina e de estuários
bem misturados. O rio Amazonas possui a maior foz do planeta, sua
pluma estuarina chega a 200 km da costa. Ao longo do ano ocorrem
variações de fluxo fluvial, mas mesmo assim água salgada é notada no
canal do estuário. Dependendo da época do ano, as frentes podem adotar
características parcialmente misturadas ou de cunha salina (VINZON et
al., 2007). Outro exemplo de estuário parcialmente misturado é o da Lagoa
dos Patos/RS (ÁVILA, 2013).
(4) Frentes estratificadas são típicas das altas latitudes. Estuários do
tipo fiordes, vales glaciais alagados, com o avanço e desgelo das geleiras
adquirem forma de U, profundos e estreitos. Possuem altas descargas
fluviais e uma fraca corrente de maré, resultando na descarga de água
doce pela superfície do mar com pouco contato com a água marinha
abaixo (GARRISON, 2010). Não existem fiordes no Brasil.

OCEANOGRAFIA 109
Figura 7.3 – Seções
transversais verticais dos
diferentes tipos de frentes
estuarinas promovidas
pelo fluxo contínuo dos
rios e correntes de marés,
resultando na mistura da
água doce continental e
da salgada marinha. As
frentes de cunha salina,
bem e parcialmente
misturadas ocorrem ao
longo de estatuários de
toda a costa brasileira.
Não existem fiordes no
Brasil (Fonte: Adaptado
de MIRANDA et al., 2002
e THURMAN & TRUJILO,
2010).

110 UNIDADE VII


Ressurgência costeira

Quando o movimento horizontal de água promove, por um gradiente


de pressão, o movimento vertical de massas de águas profundas, frias e
ricas em nutrientes para superfície, ocorre o fenômeno da ressurgência.
O movimento de água para baixo é denominado subsidência (Capítulo 6).
Ventos paralelos à costa podem promover a ressurgência costeira (Figura
7.4). Esse movimento traz para a superfície a água de fundo da plataforma
continental. Em situações mais intensas como na Região dos Lagos no
norte do estado do Rio de Janeiro, a água de fundo pode ser oriunda de
fora da plataforma. Como águas de fundo são conhecidas por serem em
ricas em nutrientes, o evento da ressurgência promove um incremento na
produtividade primária próxima a costa. Este fenômeno também influencia
no clima da região costeira, o ar sobre o oceano se torna mais frio, com a
possível formação de nevoeiros e verões frios. A subsidência, quando a
água superficial e quente é empilhada na costa, auxilia na devolução de
gases e substâncias terrígenas do aporte costeiro ao oceano profundo, e
pouco afeta o clima ou a produtividade adjacente (Figura 7.4).

Figura 7.4 – No exemplo


ocorre uma deflexão do
transporte de Ekman para
a esquerda do sentido do
vento, pois a linha de costa
(verde) está representada
no Hemisfério Sul. A res-
surgência costeira ocorre
quando a camada super-
ficial, acima da picnoclina,
‘desliza’ para fora da costa,
e assim ‘puxa’ água de fun-
do. O movimento de subsi-
dência é justamente o con-
trário, empilhando água
superficial na costa (Fonte:
Adaptado de ESSAY WEB,
2015).

OCEANOGRAFIA 111
Ondas rasas

Ondas oceânicas, assim como todas as ondas, possuem uma crista


representada pela parte superior ao nível do mar, e a cava da onda, na
parte inferior ao nível do mar, sendo que o vale é entre as cristas. A altura
da onda é representada pela distância vertical entre a crista e a cava
adjacente; e o comprimento, pela distância horizontal entre duas cristas
(ou cavas) sucessivas (Figura 7.5). O período é o tempo necessário para
a onda se movimentar por um comprimento; já a frequência é o número
de ondas que passam por um mesmo ponto em 1s (GARRISON, 2010).

Figura 7.5 – A frequência da onda corresponde ao número de cristas de ondas passando


no ponto A ou B da figura a cada 1 (um) segundo. Enquanto que o período é o tempo
necessário para que a crista da onda em A atinja o ponto B (Fonte: Adaptado de
GARRISON, 2010).

Ondas podem ser divididas em rasas e profundas, sendo as


profundas aquelas que não sentem a presença do fundo, desenvolvem
completamente a trajetória orbital até a perda de energia nas camadas
inferiores (Figura 7.5), vagando grandes distâncias pelo oceano,
transportando apenas energia e não matéria (Capítulo 6). Ondas rasas,
geralmente formadas pelo vento próximo da costa, ficam com suas
trajetórias orbitais achatadas com a presença do fundo abaixo, portanto a
porção de água acima do fundo não pode se mover em trajetória circular,
apenas para frente e para trás. Como o período da onda não se altera
com a profundidade, à medida que a onda chega próxima da costa sua

112 UNIDADE VII


velocidade é reduzida e as cristas se acumulam, até que o comprimento
da onda diminua e ela quebre no litoral. Esse local onde as ondas rasas
colapsam é chamado de zona de arrebentação (zona de surfe), geralmente
situada na faixa entre-marés. A arrebentação das ondas é caracterizada
em três tipos (Figura 7.6):
(1) Mergulhante ou tubular, sendo característica por uma quebra
abrupta e violenta na forma de um tubo próximo a linha de maré. Típica
de praias com fundo de inclinação moderado, é muito apreciada por
praticantes de esportes aquáticos de aventura, como surfe.
(2) Deslizante, cuja onda começa a quebrar lentamente, de modo
suave se espraiando pela superfície da água deixando um longo rastro de
espuma. Típicas de praias pouco inclinadas.
(3) Ascendente, estas ondas ocorrem em praias com elevada
declividade, as quais nem chegam a quebrar propriamente, ascendem
pela faixa de areia se espraiando e interagindo com o refluxo de ondas
anteriores.
Além da morfologia de fundo da praia, o vento influencia diretamente
sobre a forma de arrebentação da onda. Ventos no sentido da costa,
chamados de ventos marais, favorecem a quebra de ondas deslizantes.
Ventos no sentido do mar, provenientes do continente, são chamados de
terrais e propiciam a arrebentação de ondas do tipo mergulhante.

Figura 7.6 – Tipo de


onda quanto à forma
de arrebentação na
costa, estas são mo-
duladas pela morfo-
logia de fundo e pelo
sentido do vento
(vento maral ou ter-
ral) (Fonte: Adapta-
do de LIMA, 2008).

OCEANOGRAFIA 113
As ondas geradas pelo vento são formadas pela ação da gravidade
durante a transferência de energia do vento para a superfície da água.
Estas ondas crescem num primeiro momento a partir de ondas capilares,
aquelas que interrompem a superfície lisa dos oceanos, impulsionando
a crista da onda capilar para frente, a transferência contínua de
energia promove o aumento da altura das ondas, a ondulação (soma e
empilhamento de ondas capilares). Estas pequenas ondas têm diferentes
períodos, comprimentos e alturas, apresentando aparência caótica.
Para desenvolver uma ondulação com ondas maduras e comprimento
uniforme é necessário: um tempo longo e contínuo de vento soprando
(duração do vento); sendo o vento mais rápido que a velocidade das
cristas, portanto uma certa velocidade é fundamental (força do vento);
por fim é necessário que esse vento cubra uma grande área, sobre qual
o vento sopre sem nenhuma modificação na sua direção (pista de vento).
Tempestades oceânicas que sopram por mais de 3 dias podem formar um
mar plenamente desenvolvido, com ondulações do tipo marulho ou swell,
estas possuem em média 3m de altura e comprimento variando entre 60-
160 m (Figura 7.7). Grande parte das ondas geradas pelo vento chega
até a costa e quebram dissipando sua ordem de energia, proporcional à
energia transferida dos ventos em sua formação.

Figura 7.7 – Uma pis-


ta de vento com força
e direção constantes
durante um período
superior a 3 dias pode
resultar em um mar
totalmente desenvolvi-
do, estabelecendo um
swell (Fonte: Adaptado
de GARRISON, 2010).

114 UNIDADE VII


Costa e litoral

A zona costeira corresponde à área de conexão entre a terra e o


mar, costa é toda a área afetada pelos processos que estejam ligados
diretamente ao mar. Em alguns sistemas a zona costeira se estende para
centenas de quilômetros para o interior do continente. A pequena faixa
de ação direta de ondas, a borda do oceano é chamada de litoral. Uma
praia é uma área litorânea, sendo que as áreas adjacentes que sofrem
influência do mar (pântanos, dunas, falésias, bancos de areia, calhas
arenosas e a própria praia) formam a zona costeira. O litoral de todos
os continentes somados compreendem 440.000 Km de extensão. Esta
área de interface sofre influência tanto dos processos continentais como
do aporte de sedimentos como dos sistemas marinhos, como marés e
transgressões/regressões marinhas. A elevação do nível do mar depois
da última glaciação chegou até o nível atual, cerca de 125 m acima
da linha de costa há 18.000 anos. Durante a última glaciação, a terra
emersa possuía 18% mais de área que o atual. Portanto, a localização
da linha de costa depende principalmente da atividade tectônica global
(separação dos continentes) e do volume de água nos oceanos (processos
de aquecimento e resfriamento global). A forma da costa é produto de
diversos processos, que foram melhor caracterizados no Capítulo 3 deste
livro.

Estuários

Por ser influenciado pela interface oceano/continente sempre


vinculado a desembocadura de um rio, o ambiente estuarino aporta
sedimentos e nutrientes terrígenos no ambiente marinho raso da plataforma
continental (entra luz), sendo uma das maiores áreas de produtividade
primária dos oceanos, junto com os recifes de corais (Capítulo 5). Suporta
um ecossistema, manguezal, totalmente adaptado às bruscas variações
no nível da água, salinidade, temperatura, concentração de nutrientes,
correntes de maré, ondas, intensa movimentação de fundo e altas cargas
de matéria orgânica. Este ecossistema constitui uma das mais complexas
teias biológicas do ambiente marinho, as florestas de mangue. Estima-se
que no mundo existam cerca de 160.000 km2 de manguezais, dos quais
25.000 km2 estão no Brasil. Os estuários se conformaram (estabilizaram)

OCEANOGRAFIA 115
da forma que os conhecemos hoje há cerca de 7.000 anos. Existem
diversas maneiras de divisão para os estuários, sendo que a maneira
clássica leva em conta a origem geológica, considerando que os processos
geológicos foram responsáveis pelo atual nível da linha de costa, resultante
da última glaciação (Figura 7.8):
(1) Desembocadura de rios afogados - São comuns ao redor de todo
o globo, resultantes da última transgressão marinha que inundou o vale
em ‘V’ dos rios, sendo estuários relativamente rasos (média de 20-30 m
de profundidade, com variações de 50 m) e muito largos (com dezenas de
quilômetros). Muito comuns na costa leste da América, o rio São Francisco e
o Potengi/RN são exemplos destes estuários.
(2) Estuários com ilhas barreiras - São inundações de vales mais
primitivos. Nesta formação estuarina, o aporte constante de sedimento do
rio é aprisionado pelas ondas, formando barreiras de areia e posteriormente
ilhas arenosas paralelas à linha de costa. Este tipo de estuário tem um
padrão determinado pela ação das ondas, diferente da maioria dos outros
estuários que são determinados pelo fluxo fluvial e as correntes de marés.
Como estes estuários são muito rasos (médias de 5-20 m de profundidade)
e têm poucas ou restritas conexões entre o mar e o rio, o vento tem a função
principal de mistura as frentes estuarinas. Um exemplo clássico é a região
estuarino-lagunar de Cananeia-Iguape/SP e o rio Pacoti/CE. Atrás das ilhas
barreiras, extensos canais e lagunas são guardados, é comum a formação
de uma barreira que isole as lagunas do mar ao longo dos milhares de anos,
um exemplo é a região da lagoa dos Patos e lagoa Mangueira, no RS.
(3) Fiordes - Os vales em U formandos no Pleistoceno pelo movimento
das geleiras, escavando o fundo tem em média 300-400 m de profundidade,
com uma borda na qual aglomera os depósitos minerais/glaciais arrastados
pelas geleiras, estas bordas são chamadas de soleiras. Estes vales afogados
durante a última transgressão formaram os fiordes, por serem fundos e
estreitos resultam em um ambiente altamente estratificado. Os fiordes da
Noruega, Alasca e Patagônia são os mais famosos do mundo.
(4) Estuários de formações tectônicas e/ou geomorfológicas - Estes
estuários não compreendem os modelos expostos até agora. Passaram
por perturbações geológicas (elevação, subducção e subsidência) durante
sua formação que lhes conferiram padrões híbridos ou até mesmo únicos.
Esses estuários restantes podem ser divididos em três tipos: compostos, rias
e deltas, sendo este dividido em delta de enchente ou vazante (Figura 7.8).
Os deltas são formados por intensos depósitos de sedimento ao longo da

116 UNIDADE VII


foz do rio. São ambientes que apresentam um equilíbrio entre o aporte de
sedimento dos rios e retirada destes pelo mar. Os fluxos fluviais, correntes
de marés e ação de ondas determinam a formação e manutenção destes
estuários. Os deltas de enchente são principalmente controlados pelas
ações de ondas e de correntes de marés em rios com grande descarga de
sedimentos terrígenos, às vezes, apresentam de um a três canais maiores
(principais) entre as várias ilhas interiores a costa. O maior rio do mundo,
o Amazonas, possui um estuário em delta de enchente. Já em regiões de
micromarés com pouca ação de ondas se configuram os deltas vazantes
em mares marginais protegidos, dominados assim pelo fluxo dos rios
caudalosos, com diversos canais chamados de distributários (ramificados
como pé de pássaro). Desta forma, a sedimentação ocorre na plataforma
continental interna a frente da foz, desde que seja tectonicamente estável.
Os estuários tipo ria se formaram durante a elevação da parte continental
onde estava localizado o vale interior do rio, aliviado pelo peso das geleiras
com o fim do período glacial (acomodamento de placas). Sendo um estuário
típico de regiões montanhosas em altas latitudes, geralmente com formação
irregular com grande número de tributários. A elevada profundidade (50-80
m) próxima ao mar pode amplificar o efeito de correntes de marés. Estuários
compostos podem apresentar diferentes feições ao longo de sua foz.

Figura 7.8 – As imagens correspondem aos diferentes tipos de estuários quanto sua formação
após a última transgressão marinha, há cerca de 18.000 anos pelo desgelo das geleiras formadas
durante o último período glacial (Fonte: Adaptado de MIRANDA et al., 2002 e GARRISON, 2010).

OCEANOGRAFIA 117
Referências

ÁVILA, R. A. Distribuição do material particulado em suspensão e


suas inter-relações com diferentes propriedades no estuário da La-
goa dos Patos. 83 p. 2013. Dissertação (Mestrado). Instituto de Ocea-
nografia, Universidade Federal do Rio Grande, 2013.

ESSAY WEB. Ocean currents. Disponível em: <http://essayweb.net/


geology/quicknotes/ocean_currents.shtml>. Acessado em 20 de junho de
2015.

GARRISON, T. Fundamentos de oceanografia. São Paulo: Cengage


Learning, p. 426, 2010.

LIMA, M. G. P. Controle da erosão em praias arenosas pelo método


de recifes submersos: praia Brava de Matinhos - PR. 81 p. 2008. Dis-
sertação (Mestrado). Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal
do Paraná, 2008.

NORIEGA, C. D.; MUNIZ, K.; ARAÚJO, M. C.; TRAVASSOS, R. K.; NEU-


MANN-LEITÃO, S. Fluxos de nutrientes inorgânicos dissolvidos em um
estuário tropical – Barra das Jangadas – PE, Brasil. Tropical Oceano-
graphy, v. 33, p. 133-145, 2005.

TALLEY, L.D.; PICKARD, G.L.; EMERY, W.J.; SWIFT, J.H. 2011. Des-
criptive physical oceanography: an introduction. Sixth edition. Else-
vier Ltd, Oxford, UK, 973 pp.

THURMAN, H. V.; TRUJILO, A. P. Essentials of Oceanography, Ed.


7, 2010. Pearson - Prentice Hall Companion Website. Disponível em:
<http://wps.prenhall.com/wps/media/objects/374/383468/Fg11_05.gif>.
Acesso em 20 de junho de 2015.

VINZON, S; GALLO, M; SILVA, M. S.; FERNANDES, R. D.; SILVA, I.


Uma caracterização do estuário do rio Amazonas, de Óbidos à platafor-
ma continental. Quaternary and Environmental Geosciences. p. 1-3,
2007.

118 UNIDADE VII


CAPÍTULO 8
IMPACTOS NA ZONA COSTEIRA
Lucas Buruaem Moreira
Universidade Estadual Paulista

Já é bem aceita a ideia de que muitas mudanças ambientais estão de


alguma maneira associadas aos seres humanos ou de atividades antrópicas,
principalmente a partir do final do século XVIII, com o início da industrialização
na Era Moderna. O fato de que a presença e o contínuo aumento populacional
dos humanos vem modificando e influenciando o clima, o funcionamento dos
ecossistemas, e porque não dizer da Terra, fez surgir o termo antropoceno
(CRUTZEN, 2006; LACERDA, 2007). Problemas ambientais em escala
global, como aqueles associados a emissões de gases de efeito estufa,
que afetam a saúde dos seres vivos e do clima, ou em escala local como a
eutrofização da Baía de Guanabara como resultado da introdução grandes
quantidades de matéria orgânica – são características do antropoceno.
As áreas costeiras e oceânicas cobrem cerca de 70% da superfície
terrestre e possuem uma enorme importância, pois oferecem bens e serviços
aos humanos como fonte de recursos alimentares, de matéria prima e de
compostos medicinais, além de propiciarem áreas para habitação, recreação
e transporte. Em relação à zona costeira especificamente, ela abriga grande
parte da população mundial e juntamente com a migração para as grandes
cidades, a tendência é de que essas regiões abriguem um número cada
vez maior de pessoas (SALE et al., 2008). Estimativas das Nações Unidas
projetam uma população mundial de aproximadamente 6,7 bilhões de
pessoas, com mais de 50% dessa população vivendo em áreas costeiras
(UNITED NATIONS, 2004).
A concentração populacional, aliada ao modelo de desenvolvimento
econômico baseado no uso desenfreado e crescente de recursos naturais
além do desenvolvimento de novas tecnologias, tornam essas regiões
suscetíveis a diversos impactos ambientais, e, além disso, a produção de
bens e geração de resíduos, nas áreas urbanizadas e não urbanizadas,
resultam no aporte de grandes quantidades de poluentes aos ecossistemas
aquáticos, em especial aos oceanos.

OCEANOGRAFIA 119
A pressão constante sobre esses ambientes, de forma contraditória,
compromete o seu funcionamento e os próprios interesses econômicos,
podendo causar desequilíbrio ecológico e riscos à saúde humana (DIAZ
& ROSENBERG, 2008; SALE et al., 2008).

Impactos e ameaças aos ambientes marinhos

Os impactos ambientais antrópicos podem ser definidos


basicamente como possíveis efeitos adversos provocados pelo
desenvolvimento industrial, urbano, rural, de infraestrutura ou lançamento
de substâncias nocivas como os contaminantes no ambiente, de origem
natural ou não. Conforme já citado, o cenário da influência antrópica
sobre os ecossistemas é significativo, incluindo os ambientes costeiros
e oceânicos, e com isso, é importante categorizar os impactos e os
fatores que influenciam e de certa forma controlam esses impactos.
As ameaças contra a estrutura e funcionamento dos ecossistemas
podem ser categorizadas em três grupos principais, nos quais cada um
deles contém um determinado número de fatores individuais conforme a
visão integrada (JENNERJAHN & MITCHELL, 2013) (Figuras 8.1 e 8.2).
Os eventos extremos têm como principal característica a
imprevisibilidade, independentemente da natureza ser geológica, como
no caso dos terremotos e maremotos; os eventos climáticos como as
inundações provocadas por tempestades e secas e até eventos extremos
associados a atividade antrópica como os acidentes envolvendo
derramamentos de óleo, explosões e incêndios acidentais, acidentes
industriais e nucleares. Mesmo os eventos climáticos, que se manifestam
em escalas temporais distintas dos eventos extremos, a princípio mais
fáceis de serem detectados, apresentam alterações aleatórias dos seus
padrões típicos. Dessa forma, os impactos ambientais associados a
essas duas categorias são difíceis de serem minimizados e mitigados,
além de serem controlados por fatores naturais. Por outro lado, as
atividades antrópicas são mais significativas em termos de magnitude e,
por conta disso, por serem características marcantes do antropoceno, a
contaminação e poluição dos ambientes costeiros e oceânicos ganham
relevância e serão abordados neste capítulo.

120 UNIDADE VIII


Figura 8.1 – Visão integrada dos impactos
ambientais.

Figura 8.2 – Categorias de impactos ambientais.

Rota de entrada de contaminantes no ambiente marinho

Muitas substâncias químicas diferentes ocorrem no ambiente e muitas


delas são referidas como contaminantes, desde simples íons inorgânicos até
mesmo moléculas orgânicas complexas. Neste caso, os contaminantes são
substâncias que apresentam níveis acima daqueles considerados naturais

OCEANOGRAFIA 121
(no caso de substâncias de origem natural, como o carbono, por exemplo)
ou presença de substâncias diferentes da composição natural (para
compostos sintéticos). Essas definições podem ser aplicadas aos diferentes
compartimentos ambientais: atmosfera, litosfera/sedimentos, hidrosfera e
biota.
Já com relação às fontes, os contaminantes basicamente apresentam
dois tipos de fontes: as pontuais e as difusas. As fontes pontuais são
aquelas que têm a localização definida como os emissários submarinos para
lançamento de esgoto e efluentes ou chaminés e exaustores industriais, e de
acordo com suas características as suas emissões podem ser quantificadas.
No ambiente aquático, as fontes pontuais frequentemente apresentam
gradientes de distribuição que determinam a extensão da influência da fonte.
As fontes difusas, por outro lado, não possuem localização definida. Emissões
automotivas e de embarcações são exemplos didáticos, e especificamente
nas zonas costeiras, o escoamento superficial durante as precipitações
constituem outra fonte difusa significativa, pois grande parte dos materiais
depositados na superfície do solo, incluindo contaminantes, são carreados
tendo como destino final os ambientes aquáticos.
Um exemplo de como as atividades antrópicas influenciam a
distribuição de contaminantes é apresentado na Tabela 8.1, através da
contribuição antrópica e fatores de enriquecimento para as emissões anuais
de alguns metais na década de 1980 (Tabela 8.1).

Tabela 8.1 – Fatores de enriquecimento antrópico (FEA) para as emissões de


cádmio, chumbo, zinco, manganês e mercúrio na década de 1980. Valores expressos em
10 6 kg ano -1 (Fonte: Adaptado de WALKER et al., 2012).

Origem Origem
Metal Total FEA = (A/T) (%)
antrópica natural
Cd 8 1 9 89

Pb 300 10 310 97

Zn 130 50 180 72

Mn 40 300 340 12

Hg 100 50 150 66

122 UNIDADE VIII


Com base nas categorias de impactos mostradas anteriormente, as
mudanças às principais rotas de entrada dos contaminantes no ambiente são
citadas a seguir.
(1) Laçamentos não intencionais por atividades antrópicas e/ou
eventos extremos como acidente em operações industriais, de minerações e
portuárias, além de incêndios;
(2) Lançamentos deliberados no ambiente, como no caso de biocidas
para o controle de pragas e vetores.
(3) Lançamento de efluentes industriais ou domésticos
Em relação ao ambiente marinho, a interface continente-oceano
representa uma importante fronteira de transferência de contaminantes,
talvez a principal entre os compartimentos ambientais, e nela a principal via
de transporte são os corpos hídricos, por onde são introduzidas grandes
quantidades de materiais nos oceanos. Partindo desse pressuposto,
é considerado que os contaminantes chegam diretamente às águas
superficiais através do lançamento de efluentes, que globalmente tem a
maior contribuição na introdução de substâncias químicas aos ecossistemas
aquáticos. Efluentes domésticos são lançados por meio de emissários
submarinos a partir da rede coletora de esgotos, enquanto que efluentes
industriais são lançados diretamente nos corpos hídricos adjacentes a partir
dos sistemas de lançamentos individuais.
Outras fontes principais são a exploração de recursos minerais
da plataforma continental como o óleo e gás offshore (fora da costa) e as
atividades portuárias. No caso da primeira, há o risco de impactos provocados
por acidentes durante a operação de prospecção e perfuração de poços,
fonte de hidrocarbonetos e derivados de petróleo, além de partículas em
suspensão e metais pesados, que são componentes de fluidos de perfuração
e do petróleo (LACERDA & MARINS, 2005).
Já as atividades portuárias, além da instalação de cais, berços de
atracação e retro-portos em áreas de alta relevância ecológica e a construção
de quebra-mares, que alteram os processos de balanço sedimentar e
dinâmica costeira, ocorre também a liberação de lixo, esgotos e outros
efluentes, petróleo e seus derivados e substâncias presentes em tintas anti-
incrustantes na água, por acidentes ou por perdas durante operações de
carga e descarga (NRC, 1997). Além disso, existem também os impactos
diretos e indiretos relacionados às atividades de dragagens, que afetam
diretamente as áreas dragadas, impactadas pela remoção de sedimentos, e

OCEANOGRAFIA 123
os sítios de disposição, que são impactados ao receber o material dragado,
em especial quando este se encontra contaminado.
Diferentes categorias de contaminantes e as suas respectivas rotas
de entrada no ambiente são sintetizadas na Tabela 8.2. Os contaminantes,
quando lançados no mar, são distribuídos por todos os compartimentos
ambientais. Por exemplo, uma vez na coluna da água eles podem adsorver
o material em suspensão, ou interagir com sais, carbono orgânico e argilas,
frequentemente depositando-se nos sedimentos (Figura 8.3). Assim, esse
compartimento tende a apresentar maiores concentrações de contaminantes
em relação à coluna da água (BURTON, 1992; BURTON & JOHNSTON,
2010). Uma vez depositadas no fundo, as substâncias químicas podem sofrer
transformações, por processos biogeoquímicos como a mobilidade e partição
geoquímica, adsorção e formação de complexos, entre outros que variam
de acordo com as condições do meio e alteram a sua biodisponibilidade ou
originando formas mais ou menos tóxicas (Figura 8.3). Esses processos
resultam diretamente em efeitos letais ou sub-letais aos organismos
bentônicos, e indiretamente sobre as cadeias tróficas superiores, através da
bioacumulação e biomagnificação desses compostos, gerando potenciais
riscos à saúde humana (Tabela 8.2).

Figura 8.3 – Entrada


de contaminantes
no ambiente sobre
os compartimentos
ambientais (ar, água,
sedimentos e biota).
Os vetores em amarelo
indicam diferentes
processos que atuam
sobre a distribuição
e biodisponibilidade
(Fonte a partir figuras
disponíveis em: http://
ian.umces.edu/).

124 UNIDADE VIII


Tabela 8.2– Principais rotas de entrada de contaminantes no ambiente aquático.

Rota Principais contaminantes Aspectos importantes

Em geral descargas
Escoamento Diferentes grupos lançados
dificilmente controladas e
superficial sobre o solo: metais,
fontes difíceis de serem
(runnof) hidrocarbonetos e pesticidas
identificadas e medidas.

(a) Podem ser


(a) Precipitação de transportadas por grandes
misturas complexas com distâncias, paras locais
chuvas e neve diferentes do lançamento
Fontes
atmosféricas (b) Biocidas aplicados (b) Usados para o
diretamente controle de pragas, parasitas,
vetores e controle de algas
(c) Sprays e poeiras
(c) Problema potencial

Grande variedade desde Altamente variável e


orgânicos (metais e dependente do aporte
nutrientes) até inorgânicos do lançamento e tipo de
Emissários de
(óleos, graxas, gorduras, tratamento de esgoto
esgotos
detergentes, fármacos, empregado
produtos de higiene pessoal,
drogas etc)

Dependente da atividade
comercial, da atuação
da indústria química (ex.:
Lançamentos fábricas de celulose) ou do
Metais, hidrocarbonetos e metal da mineração.
de instalações
outras substâncias sintéticas
industriais As concentrações precisam
permanecer abaixo dos
limites permitidos por
legislações

Lixo, efluentes brutos,


Preocupação sobre o tempo
substâncias radioativas
Lançamentos de degradação de muitos
e outros resíduos tóxicos
diretos no mar desses lançamentos, em
lançados diretamente no mar
especial o lixo
(material dragado)

OCEANOGRAFIA 125
Emissários
Sujeitos a regulamentação e
de plantas de Radionuclídeos
controle em muitos países
energia

Lançamento de Associados a eventos


Hidrocarbonetos
óleo extremos como os acidentes

Lançamentos por fontes


pontuais no Caso de
Atividades Metais, hidrocarbonetos e indústrias localizadas nas
Portuárias biocidas Antiincrustantes proximidades e fontes difusas
pelo intenso tráfegos de
embarcações

Poluição nos ambientes marinhos

Por definição, a contaminação é a presença de compostos onde eles


não deveriam ocorrer ou a ocorrência em níveis acima do background (níveis
naturais). Já a poluição é caracterizada quando a contaminação causa efeitos
biológicos adversos. Nesse sentido, identificar quando a contaminação resulta
em poluição requer o uso integrado de abordagens químicas e biológicas, as
quais constituem a base das avaliações de diferentes linhas de evidências
de contaminação. Nesse sentido, o emprego de abordagens geoquímicas
e ecotoxicológicas para avaliação de risco ecológico e qualidade ambiental
torna-se relevante dentro da oceanografia.
Os métodos químicos são importantes para identificar os contaminantes
presentes no ambiente, porém conforme já mencionado, diferentes grupos
de substâncias ocorrem no ambiente como os metais, os hidrocarbonetos, os
biocidas, óleos e graxas, radionuclídeos e os compostos sintéticos (Capítulos
4 e 9). Como muitas dessas substâncias ocorrem em misturas complexas,
existe a impossibilidade técnica de se avaliar os milhares de substâncias
químicas, e nesse caso, a avaliação ambiental requer o uso de métodos
capazes de diagnosticar os efeitos resultante dessas descargas e de suas
interações com os fatores ambientais e biológicos.
Nesse contexto, as abordagens ecotoxicológicas têm como princípio a
utilização de métodos para estimar os efeitos de substâncias biologicamente
ativas (contaminantes) a partir da sua presença em compartimentos
ambientais, sob organismos não alvos (Walker et al., 2012). Essas abordagens

126 UNIDADE VIII


são importantes para a proteção e conservação dos ecossistemas,
necessários para traduzir o significado ecológico dos níveis de contaminação
e fornecem indícios do grau de biodisponibilidade dos poluentes.
Como o conceito apresentado de poluição trata da indução de efeito
pelos contaminantes, os mesmos podem ser expressos em diferentes
níveis de organização biológica, desde celular, até sobre comunidades e
ecossistemas, em diferentes escalas temporais. A relação entre o tempo de
manifestação dos efeitos e o nível de relevância ecológica é apresentada na
Figura 8.4. Assim como a oceanografia, o estudo de impactos ambientais
antrópicos ou não e também da poluição é multidisciplinar. Conhecimentos
de cada um dos aspectos relevantes em cada um dos temas apresentados
aqui, desde a identificação do tipo de impacto, caracterização de eventos
de contaminação, ou até mesmo a avaliação dos efeitos biológicos, são
essenciais e merecem atenção especial dentro das ciências do mar (Figura
8.4).

Figura 8.4 – Nível de relevância ecológica dos efeitos biológicos em diferentes


níveis de organização biológica em função do tempo de exposição aos
contaminantes (Fonte: Adaptado de ADAMS et al., 1989).

Referências

ADAMS, S. M.; SHEPARD, K. L.; GREELEY JR, M. S.; JIMENEZ, B. D.;


RYON, M. G.; SHUGART, L. R.; MCCARTHY, J. F. The Use of bioindicators
for assessing the effects of pollutant stress on fish. Marine Environmental

OCEANOGRAFIA 127
Research, v. 28, p. 459-464, 1989.
BURTON JR., G. A. Sediment toxicity assessment. Chelsea: Lewis Pub-
lishers, p. 457, 1992.

BURTON, G. A.; JOHNSTON, E. L. Assessing contaminated sediments in


the context of multiple stressors. Environmental Toxicology and Chemis-
try, v. 29, p. 2625-2643, 2010.

CRUTZEN, P. J. The “Anthropocene”. In: EHLERS, E.; KRAFFT, T. Earth


System Science in the Anthropocene. Berlin: Springer Berlin Heidel-
berg, p. 13-18, 2006.

CHAPMAN, P.M. Determining when contamination is pollution: weight of


evidence determinations for sediments and effluents. Environment Interna-
tional, v. 33, p. 492–501, 2007.

DIAZ, R. J.; ROSENBERG, R. Spreading Dead Zones and Consequences


for Marine Ecosystems. Science, v. 321, p. 926, 2008.

JENNERJAHN, T. C.; MITCHELL, S. B. Pressures, stresses, shocks and


trends in estuarine ecosystems - An Introduction and synthesis. Estuarine,
Coastal and Shelf Science, v. 130, p. 1-8, 2013.

LACERDA, L. D.; MARINS, R. V. Geoquímica de sedimentos e o monito-


ramento de metais na plataforma continental nordeste oriental do brasil.
Geochimica Brasiliensis, v. 20, p. 123-135, 2005.

LACERDA, L. D. Biogeoquímica de contaminantes no antropoceno. Oeco-


logia Brasiliensis, v. 11, p. 297-301, 2007.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL (NRC). Contaminated sediments in


ports and waterways: cleanup strategies and technologies. Committee
on Contaminated Marine Sediments. Marine Board, Commission on Engi-
neering and Technical Systems, National Research Council. p. 320, 1997.

SALE, P. F.; BUTLER, M. J.; HOOTEN, A. J.; KRITZER, J. P.; LINDEMAN,


K. C.; MITCHESON, Y. J. S.; STENECK, R. S.; VAN LAVIEREN, H. Stem-

128 UNIDADE VIII


ming decline of the coastal ocean: rethinking environmental manage-
ment. Hamilton: UNU-INWEH, 2008.

UNITED NATIONS. World population to 2300. United Nations, Department


of Economic and Social Affairs. New York: United Nations, Department of
Economic and Social Affairs, 2004.

WALKER, C. H.; SIBLY, R. M.; HPKIN, S. P.; PEAKALL, D. B. Principles of


Ecotoxicology. 4 Ed. Boca Raton: CRC Press, p. 360, 2012.

OCEANOGRAFIA 129
CAPÍTULO 9
BIOPROSPECÇÃO MARINHA:
BIOTECNOLOGIA ACOPLADA AO
ESTUDO DA OCEANOGRAFIA

Bianca Del Bianco Sahm


Universidade Federal do Ceará

Os oceanos representam uma fonte de riquezas ainda pouco


exploradas. Eventualmente, o uso dos recursos do mar relaciona-se às
atividades pesqueiras e de exploração de óleo e gás, à maricultura, ao
turismo e ao lazer. Outros usos ainda estão em desenvolvimento, como a
exploração mineral em águas profundas e a utilização racional do potencial
biotecnológico da biodiversidade marinha, a bioprospecção.
A biotecnologia é definida como aplicações tecnológicas quaisquer
que utilize de sistemas biológicos, organismos vivos ou seus derivados, para
fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização especifica. Esta
definição foi adotada durante a Convenção sobre Diversidade Biológica da
Organização das Nações Unidas (CDB), realizada em 1992. As definições
variam muito na literatura, mas de uma maneira geral, aceita-se por todos,
como sendo o uso de organismos ou partes deles pelo homem. É um conjunto
de técnicas de natureza variada que envolvem uma base científica comum,
de origem biológica, e que requer crescentemente o aporte de conhecimento
científico e tecnológico, oriundos de outros campos de conhecimento.
Assim dito, bioprospecção marinha pode ser entendida como
prospectar (sondar, procurar, explorar), no ambiente marinho, organismos
vivos com potencial para novas descobertas e/ou aplicações que, juntamente
com os estudos da oceanografia, vem estimulando o desenvolvimento da
biotecnologia moderna. Embora a bioprospecção marinha contribua com
apenas uma pequena fatia do mercado mundial de biotecnologia (7% das
companhias de biotecnologia dos Estados Unidos são de biotecnologia
marinha), ela tem produzido grandes contribuições com aplicações na
medicina, agricultura, química de produtos naturais, biorremediação ambiental

OCEANOGRAFIA 131
entre outros (SOUZA, 2006). Neste capitulo será apresentado algumas
dessas aplicações, expondo seus objetivos, limitações e necessidades.

Legislação e o protocolo de Nagoya

Ao fim dos anos 1950, as informações sobre a riqueza que os oceanos


possuíam eram cada vez mais evidentes, o que, consequentemente,
aumentou o interesse pela potencial exploração destes recursos, fazendo
com que os Estados começassem a se conscientizar de que precisavam
de um novo ordenamento jurídico internacional para mares e oceanos. Foi
então, que em 1982, em Montego Bay, Jamaica, se realizou a Convenção
das Nações Unidas sobre Direito do Mar (CNUDM), onde foram definidas
normas que assegurassem as comunicações internacionais pacificas quanto
à utilização e exploração de recursos vivos e não vivos, ao estudo, à proteção
e à preservação do meio marinho. A CNUDM foi ratificada no Brasil em 1988
(MARINHA DO BRASIL, 2015).
Basicamente, esse tratado determina três áreas distintas e importantes
para a exploração dos oceanos: Mar Territorial (MT), Zona Econômica
Exclusiva (ZEE) e Plataforma Continental (PC). O MT é uma faixa de mar
adjacente que se estende a partir das linhas de base do litoral do Estado
costeiro, o qual exerce controle pleno sobre a massa líquida, solo, subsolo
e espaço aéreo deste mar. Possui dimensão de 12 milhas náuticas (m.n). A
ZEE é uma zona situada além do mar territorial, com dimensão de 200m.n a
partir das linhas de base da costa (12m.n de MT + 188m.n de ZEE). É uma
região de extrema importância para a bioprospecção marinha, pois é nesta
área que o país responsável exerce a soberania para fins de exploração,
aproveitamento, conservação e gestão de recursos naturais, vivos e não
vivos, e no que se refere a outras atividades com intenção de exploração e
aproveitamento econômico, como a produção de energia a partir da água,
correntes e ventos. A primeira região submersa a partir da linha da costa é
a chamada PC. Ela se estende da costa à bacia oceânica, sendo definida
por possuir declividade média de 1:1000 (a cada 1.000 metros horizontais, a
profundidade aumenta em 1 metro) (SCHMIEGELOW, 2004). Sua extensão
termina quando este declive passa a ser maior que 1:40. O Estado costeiro
responsável também possui total direito de soberania para exploração e
aproveitamento de seus recursos, que compreendem recursos minerais e
outros não vivos do leito do mar e subsolo, bem como organismos vivos

132 UNIDADE IX
sedentários (SOUZA, 1999).
Abaixo apresenta-se uma visão geral sobre a distribuição do território
oceânico brasileiro (Figura 9.1). O Brasil possui 8.500 km de costa, onde
estão localizados 17 estados e 16 capitais. Sua ZEE tem extensão de 3,6
milhões de km2, que somados a 900 mil km2 de PC, reivindicados junto a
ONU, totaliza em aproximadamente 4,5 milhões de km2 (MARINHA DO
BRASIL, 2015).
Outro ponto legislativo
importante a ser citado diz respeito
ao manejo da diversidade biológica
em geral, ferramenta chave para
a Bioprospecção e Biotecnologia
Marinha. Mares e oceanos ocupam
aproximadamente 2/3 da superfície
do planeta Terra, e abrigam
representantes de 34 dos 36 filos de
organismos vivos, sendo, inclusive,
alguns destes estritamente
marinhos (COSTA-LOTUFO et
al., 2009). Em 1992, durante a
Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente (ECO-92), foi
estabelecida a Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB), um
dos mais importantes instrumentos
Figura 9.1 – Território oceânico brasileiro, internacionais de ação para a
determinado de acordo com a CNUDM,
mostrando as delimitações do Mar Territorial, bioprospecção e ao meio ambiente.
Zona Econômica Exclusiva e Plataforma Está estruturada em três bases
Continental (Fonte: MARINHA DO BRASIL,
2015). principais:

(1) Conservação da diversidade biológica.


(2) Utilização sustentável de seus componentes.
(3) Repartição justa e equitativa dos benefícios derivados da utilização
dos recursos genéticos
O Brasil foi um dos primeiros países a assiná-la, mas a sua ratificação
só foi efetuada em 1998. MMA (2000), apresenta uma revisão completa
e detalhada sobre a CDB. Em 2010, foi adotado o protocolo de Nagoya,

OCEANOGRAFIA 133
complementando o terceiro objetivo da CDB, sobre acesso a recursos
genéticos e repartição justa e equitativa dos benefícios de sua utilização.
Este protocolo é o primeiro tratado ambiental multilateral a estabelecer um
sistema comercial global para investimento, pesquisa e desenvolvimento na
composição genética e bioquímica dos organismos vivos (CDB, 2012). O
Protocolo de Nagoya obriga os potenciais usuários de recursos genéticos a
obter o consentimento prévio fundamentado pelo país em que o mesmo está
inserido, antes de terem acesso a tal recurso, e negociar e concordar com
os termos e condições de acesso mediante o estabelecimento de termos
mutualmente acordados (GROSS, 2013), garantindo assim a repartição
justa e equitativa dos produtos advindos da pesquisa investida, e evitando a
biopirataria (contrabando de espécies).

Produtos naturais marinhos bioativos

Um dos campos com histórico de sucesso dentro da Biotecnologia


Marinha é a bioprospecção de produtos naturais marinhos bioativos.
Esta subárea se destaca como uma das mais desenvolvidas, com várias
substâncias sendo usadas comercialmente e outras tantas em fases de testes
pré-clínicos e experimentais. Até a década de 1950, o ambiente marinho
passou despercebido pelos cientistas de produtos naturais, principalmente
devido ao seu difícil acesso. Mas foi a partir da década de 1970, com o
avanço das técnicas e equipamentos de mergulho, que organismos marinhos
passaram a fazer parte de laboratórios de química e farmacologia, dando
início a sua história (FENICAL, 2006; COSTA-LOTUFO et al, 2009).
Os primeiros esforços na exploração de produtos naturais marinhos
foram voltados para organismos facilmente disponíveis e coletáveis, como
algas pardas, esponjas e corais moles, que rapidamente mostraram produzir
uma grande variedade de moléculas inéditas. Com a contínua exploração,
em parceria com o progresso da tecnologia oceanográfica, outros grupos de
organismos, mais críticos em termos de disponibilidade, foram estudados,
e o arsenal de moléculas únicas advindas do ambiente marinho cresceu.
No começo dos anos 2000, os produtos naturais marinhos estavam
estabelecidos dentro da química de produtos naturais no mundo (GERWICK
E MOORE, 2012).
Alguns grupos de organismos foram amplamente caracterizados
quanto aos seus principais metabólitos produzidos, e frequentemente

134 UNIDADE IX
compostos já conhecidos, ou muito parecidos, passaram a ser reencontrados
(FAULKENER, 2002). Assim, a atenção se voltou para criaturas que passavam
despercebidas por coletas e observações, como cianobactérias, fungos e
outros diversos grupos de bactérias marinhas. Este novo direcionamento da
bioprospecção, além de render outras novas substâncias interessantíssimas,
revelou que muitos compostos antes isolados de macrorganismos eram na
verdade produtos metabólicos oriundos de microrganismos associados a
eles (PIEL, 2009). Empolgados com os resultados, grupos de pesquisa ao
redor de todo o mundo investiram esforços em cultivar bactérias marinhas
de várias fontes, incluindo sedimento de águas rasas e profundas, a própria
coluna d’água, e tecidos de outros organismos marinhos (WILLIAMS, 2008).
De um modo geral, a exploração de produtos naturais marinhos
resultou e continua resultando na descoberta de muitas substâncias, a
maioria designada para a indústria farmacêutica, mas também ocuparam
espaço em áreas de cosméticos, agricultura (pesticidas) e indústria naval
(anti-incrustantes). O diagrama abaixo (Figura 9.2) apresenta o processo e
o desenvolvimento de técnicas para uso e comercialização industrial destes
bioprodutos.

Figura 9.2 – Processo de descoberta de novas substâncias bioativas a partir


de produtos naturais (Fonte: Adaptado de KOEHN, 2005 e TEIXEIRA, 2010).

OCEANOGRAFIA 135
Fármacos e cosméticos

Entre os fármacos de origem marinha, atualmente podem ser listados


7 agentes terapêuticos (4 com indicação anticâncer, 1 antiviral, 1 analgésico
para dor crônica, e 1 para o tratamento da hipertrigliceridemia), que foram
aprovados para uso clínico. Entre eles, 2 são formulados com o composto
natural de ocorrência, e os outros 5 são agentes sintéticos inspirados na
ideia química do produto natural de origem. A substância trabectedina
(Yondelis®), utilizada para tratamento de sarcomas de tecidos moles e
câncer de ovário, foi isolada a partir da ascídia Ecteinascidia turbinata. A
elucidação de sua estrutura molecular demorou longos trinta anos, e o seu
desenvolvimento foi severamente prejudicado pela falta de suplemento do
composto, que até então era obtido a partir do próprio organismo coletado
no ambiente. O problema foi solucionado através da semi-síntese do produto
através da fermentação da bactéria Pseudomonas fluorescens (CUERVAS
E FRANCESCH, 2009). A ω-conotoxina, ou ziconotidio (Prialt ®), talvez seja
o fármaco de origem marinha de maior sucesso até o momento. É produzido
pelo molusco Conus magnus, e utilizado para o tratamento da dor crônica,
principalmente por pacientes em condições de doença terminal. Sendo
mil vezes mais potente do que a morfina, o ziconotídeo não apresenta
tolerância ao tratamento (COSTA-LOTUFO et al, 2009).
Além destes, outras 14 substâncias estão em fase de testes clínicos,
como o caso da salinosporamida A, substância isolada da bactéria marinha
Salinispora tropica, que ingressou aos testes clínicos contra diversos
modelos de neoplasias (câncer) em apenas dois anos após a sua descoberta.
Por ser produzido pela fermentação da própria bactéria, o rendimento de
salinosporamida A pode ser de até 450 mg por litro, suprindo o fornecimento
necessário para todos os experimentos (FENICAL et al 2008; JENSEN et
al, 2005). Outro caso é o da briostatina-1, inicialmente isolada do briozoário
Bugula neritina, teve todas as tentativas de síntese química e produção por
maricultura inviáveis. Análises genéticas revelaram que o real produtor de
briostatinas era, na verdade, uma bactéria simbionte ao invertebrado, o que
abriu novas possibilidades biotecnológicas para a síntese do composto. A
briostatina está em fase I e II de testes clínicos contra o câncer e o mal de
Alzheimer (IMHOFF et al, 2011).
Evidentemente, a produção de compostos por fermentação
bacteriana figura como uma alternativa altamente conveniente para suprir

136 UNIDADE IX
todas as etapas de desenvolvimento de um fármaco, sendo esta, uma
importante ferramenta biotecnológica. Técnicas de engenharia genética
(sequenciamentos; expressões genicas), juntamente com o desenvolvimento
de tecnologias para o melhoramento do cultivo de bactérias estritamente
marinhas (bactérias que necessitem de sal e alguns nutrientes específicos
para crescer), também são áreas de destaque para a bioprospecção de
produtos naturais marinhos.
Por vezes, uma substância prospectada para o campo da
farmacologia pode ter outras aplicações, como na área de cosméticos.
As ceramidas, isoladas da esponja Negombata corticata, restritamente
existente no Mar Vermelho, são comumente sintetizadas em laboratórios
químicos e utilizadas como cosmético em preparações de xampu,
exercendo função relacionada a proteção das fibras capilares. No entanto,
pesquisadores egípcios aplicaram a molécula natural em ratos com
sintoma de epilepsia, que apresentaram melhoras da doença (AHMED et
al, 2008). A pseudopterosina é um agente com atividades anti-inflamatórias
e analgésicas, produzidas pelo cnidário Pseudopterogorgia elizabethae,
encontrada na região do Caribe, e vem sendo usada em preparações de
cremes para a pele, com função de tonificante, tratamento contra acne, e
prevenção de irritações cutâneas (ONUMAH, 2013; LOOK et al, 1986).

Substâncias anti-incrustantes

Um dos maiores desafios enfrentados pela indústria naval é


desenvolver estratégias eficientes contra a bioincrustação em cascos
de embarcações, molhes e plataformas, sem agredir o meio ambiente.
A incrustação biológica a que essas estruturas estão sujeitas resulta na
diminuição significativa da eficiência operacional de cada. Ainda, no caso
de embarcações, culmina no aumento do consumo de combustível com
consequente aumento dos custos. Em 1961, tintas à base de compostos
organoestânicos foram desenvolvidas e aplicadas aos cascos de navios,
que efetuavam o controle de organismos incrustantes. Entretanto, no início
dos anos 1980, os primeiros indícios da contaminação do ambiente marinhos
por estes compostos começaram a ser observados. A partir de então, as
preocupações quanto ao uso de produtos contendo estes biocidas levaram
alguns países a restringir a sua comercialização, resultando no banimento
completo, em escala global, no ano de 2008 (MARTINS E VARGAS, 2013).

OCEANOGRAFIA 137
A alternativa encontrada pela indústria naval foi o uso de formulações
contendo cobre e outras substâncias com ação biocida, que também
são altamente prejudiciais ao ambiente, quanto disponíveis em grande
quantidade (JHONSON et al, 2007). Assim dito, a busca por tintas anti-
incrustantes alternativas tem levado diversos pesquisadores a concentrar
esforços no desenvolvimento de substâncias menos danosas à biota
marinha.
Produtos naturais de origem marinha podem ser utilizados para
substituir os componentes químicos usualmente empregados nas tintas
anti-incrustantes. Evolutivamente, muitos animais sésseis desenvolveram-
se livres da incrustação por outros organismos, isso se deve graças à
produção de metabólitos secundários com propriedades anti-incrustantes
(BURGESS et al, 2003). Particularmente em organismos fotossintetizantes,
esse sistema de defesa é, provavelmente, uma resposta as desvantagens
ecológicas impostas pela epibiose (sombreamento) (DA GAMA., et al,
2008). Diversos estudos com metabólitos extraídos de macroalgas foram
efetuados, com resultados positivos (MARTINS E VARGAS, 2013). Ainda,
pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo, entusiasticamente, uma
formulação com base em glicerofosfolipídios, prospectados a partir de
esponjas coletadas na costa do Brasil. Os resultados são muito otimistas, e
experimentos continuam sendo desenvolvidos para que a substância seja
comercializada (KUGLER, 2014).
Em ambos os estudos, não foi observada uma mortalidade
significativa entre os organismos testados, reforçando a ideia de que os
produtos naturais marinhos podem, futuramente, ser utilizados como uma
alternativa ecológica em substituição aos compostos anti-incrustantes
utilizados atualmente. Além disso, vale ressaltar aqui que substâncias com
potencial biocida podem também ser amplamente utilizadas na agricultura,
como pesticidas. Assim como a indústria naval, a indústria agropecuária
busca, cada vez mais, por substâncias eficientes e que não agridam o meio
ambiente.

Biopolímeros

Produtos confeccionados a partir de materiais poliméricos não


biodegradáveis (como o plástico), que são oriundos de fontes fósseis,
têm se tornado um problema devido ao crescente número de descartes

138 UNIDADE IX
inapropriados, e ao tempo de degradação desses materiais, que levam
longos anos no meio ambiente. Pesquisadores vêm buscando alternativas,
junto a indústria, para minimizar os impactos ambientes causados pelo
descarte inadequado de produtos plásticos. Dentre as alternativas, além do
reaproveitamento e reciclagem, a produção e utilização de biopolímeros,
polímeros biodegradáveis e polímeros verdes vem crescendo devido
a sua viabilidade técnica e econômica, apresentando grande potencial
de expansão. Eles podem ser provenientes de fontes renováveis, como
celulose, batata, ou serem sintetizados por bactérias a partir de pequenas
moléculas, ou até mesmo serem derivados de fonte animal, como a quitina
ou proteínas (BRITO et al, 2011).
Crustáceos, como camarões e caranguejos, produzem quitina, o
segundo polissacarídeo mais abundante na natureza, depois da celulose. A
quitina é uma substância muito versátil para a aplicação industrial, além de
exercer utilidade em outras áreas. É usada na composição de fungicidas de
função agrícola. Na medicina, é utilizada para a fabricação de membranas
de hemodiálise, em fios cirúrgicos biodegradáveis, como substitutos de pele
artificial, cicatrizante de queimaduras e capsulas de remédios e liberadores
de insulina. Na parte de cosméticos, a quitina é utilizada na fabricação
de cremes de barbear e cremes hidratantes. Devido a sua capacidade de
absorver gorduras, a quitina está presente na composição de diversos
alimentos dietéticos. Também é usada na fabricação de papel e na indústria
têxtil. As ações floculante e coagulante da quitina são aplicadas na filtração
de águas em piscinas, no saneamento de água e na remoção de metais
pesados e óleos (TEIXEIRA, 2010).
As algas representam uma das fontes mais abundantes de
biopolímeros relevantes e amplamente utilizados. O ágar, utilizado
em pesquisas como matéria prima de géis e matrizes biológicas; as
carragenanas, usadas como estabilizantes e texturizantes pela indústria
alimentícia e em formulações de cosméticos e produtos de higiene; os
alginatos, usados como biomaterial nas ciências médicas para enxertos de
pele, curativos e cicatrizantes para casos graves como queimaduras, ainda,
como veículo para administração de fármacos ou de terapia gênica e como
base na preparação de pratos na gastronomia. Alguns mexilhões e cracas
vêm sendo explorados quanto as suas propriedades adesivas para fixação
em substratos consolidados. Este tipo de “cola”, produzida principalmente
pelas cracas, vem sendo utilizada em procedimentos cirúrgicos, substituindo

OCEANOGRAFIA 139
a sutura. Laurienzo (2010) traz uma revisão completa sobre biopolímeros
prospectados de organismos marinhos.

Enzimas de extremófilos

Assim como na descoberta de novos compostos com atividade


biológica, a bioprospecção de novas enzimas com atividades únicas
vem abrindo um novo campo para a pesquisa em biotecnologia marinha.
Enzimas são grupos de substâncias orgânicas de natureza geralmente
proteica, com funções catalizadoras, acelerando reações químicas que,
sem a sua presença, dificilmente aconteceriam. A demanda mundial por
processos otimizados na transformação de biomassa em diversos produtos
e de maior valor agregado, tem resultado através do uso de enzimas em
processos industriais. Os catalisadores têm grande utilização em diversas
áreas, como indústrias de alimentos, farmacêuticas, têxteis e cosméticas,
ração de animais, de detergentes e na produção de biocombustível, o
etanol (POLIZELI, 2014).
O ambiente marinho já foi descrito acima como uma importante
fonte na descoberta de novas substâncias, e isso também diz respeito
à descoberta de novas enzimas. O ponto mais interessante dessa área
talvez seja a exploração de enzimas de organismos que habitem ambientes
marinhos extremos. Alguns organismos têm como principal característica,
a capacidade de se proliferarem em ambientes com condições que seriam
consideradas extremas ou até letais para a maioria de outros seres vivos.
Locais como zonas termais, regiões polares, fontes ácidas ou alcalinas
(ambientes eurialinos), e zonas anóxicas, são considerados ambientes
marinhos extremos, e qualquer forma de vida existente nessas áreas são
denominados de extremófilos. Mais além, os organismos marinhos são
naturalmente tolerantes a altos níveis de salinidade.
As condições em que vivem os extremófilos fazem com que
investigadores, em todo o mundo, estudem a biologia e a bioquímica
destes organismos, adicionalmente, contribuindo para o desenvolvimento
de tecnologias que acessem tais ambientes. A concentração de estudos
para aplicações biotecnológicas é direcionada para os microrganismos.
Como exemplo, foi descoberta a partir da bactéria extremófila Thermus
aquaticus, prospectada de fontes hidrotermais (terrestres), a enzima Taq
DNA Polimerase, necessária para a otimização de uma das técnicas

140 UNIDADE IX
mais utilizadas em biotecnologia, a amplificação da fita de DNA através
da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR – do inglês Polimeraze Chain
Reaction) (GUYER e KOSHLAWD, 1989). A maioria das enzimas degrada-
se aos 40-50°C, mas a enzima deste extremófilo, que vive em condições as
vezes acima dos 100°C, apresenta estabilidade para processos catalíticos
que necessitam de altas temperaturas.
Dalmaso e colaboradores (2015) apresentam uma revisão completa
sobre os recentes avanços em pesquisas e do potencial promissor para
aplicações biotecnológicas de enzimas destes organismos. Como exemplo,
vale citar a existência de uma amilase produzida por uma bactéria marinha
que vem sendo investigada quanto a sua atuação na degradação da parede
celular de microalgas cultivadas para a produção de biodiesel, que, no
processo atual, a fermentação precisa ser dessalinizada para que amilases
convencionais executem essa função. A atuação da amilase resistente a
salinidade deletaria esta etapa do processo culminando na otimização da
produção deste biodiesel (DALMASO et al., 2015).

Biocombustíveis

Os combustíveis fósseis são os responsáveis pela emissão de gases


que intensificam o efeito estufa (aquecimento da atmosfera terrestre). A
gravidade desse fato poderia ser minimizada através do aproveitamento
indireto da energia solar para obter combustíveis derivados de organismos
fotossintetizantes, que podem ser cultivados praticamente pelo mundo
inteiro, de forma renovável e não poluidora. Pesquisas recentes indicam que
a produção de biodiesel a partir de microalgas poderá mudar radicalmente
o mercado de combustíveis. Com potencial de produção de óleo por área
muito superior ao de culturas tradicionais produzidas em terra, as microalgas
despertaram um interesse mundial em prospecção de biocombustíveis.
As vantagens decorrentes do biodiesel a partir de algas incluem as
suas taxas de crescimento rápido, o seu alto rendimento por hectare, o fato
de não conter enxofre, não serem tóxicos e serem altamente biodegradáveis.
A produtividade é maior nos ambientes controlados (fotobiorreatores),
mas outras formas de produção também são superiores para sistemas
abertos. Ainda é necessário um investimento significativo em pesquisa
antes que altos níveis de produtividade possam ser garantidos em escala
comercial. Além de produzir os óleos, as algas são também ricas fontes de

OCEANOGRAFIA 141
vitaminas, proteínas e carboidratos. Várias empresas e universidade estão
envolvidas em biocombustíveis de algas, e em 2010 foi anunciado nos EUA
o desenvolvimento para uma abordagem sistêmica de comercialização
sustentável desse biodiesel e seus bioprodutos (TEIXEIRA, 2010).
Além do biodiesel, o bioetanol também abre caminho dentro dos
biocombustíveis marinhos, sendo produzido a partir de celulose extraída
de macroalgas ou ainda a partir da tunicina, componente presente na túnica
de ascídias. As ascídias também contribuem para a produção de metano, a
partir de sua biomassa.
Tratando-se de uma matéria-prima sustentável, com a versatilidade
de cultivá-las em água salgada, um recurso abundante e praticamente
ilimitado, que disponha de calor e luz abundantes, é evidente que o Brasil
possui condições ideais para a produção de algas e microalgas, em especial
na região nordeste. A empresa “Algae Biotecnologia” foi fundada em 2010 e
desenvolve soluções baseadas no cultivo de microalgas. Um forte programa
de pesquisa e desenvolvimento, em parceria com importantes universidades
brasileiras, possibilitou a aplicação de tecnologias desenvolvidas nos
setores sucroenergéticos, alimentos e bebidas, geração de energia
termelétrica, cimentos e outros carbono intensivo. Mais informações são
encontradas em – www.algae.com.br.

Biorremediação

Sistemas ecológicos possuem um nível de capacidade inata


de decompor contaminantes ou poluentes que aderem a eles. Os
agentes biológicos responsáveis por essas limpezas automáticas são
frequentemente microrganismos da própria natureza. A eliminação
ou desarranjo de contaminantes ambientes por organismos vivos é
denominada de biorremediação. Tal remoção mediada por micróbios com
o passar do tempo pode acontecer completamente sem a intervenção
humana, entretanto o processo também pode ser iniciado por administração
antrópica. Os maiores esforços de biorremediação no ambiente marinho
são concentrados no derramamento de óleo ou outra contaminação de
produto oriundo do petróleo, onde a Biotecnologia Marinha pode ter um
papel significante no final das fases de limpeza total.
Para este caso, existem três estratégias de biorremediação utilizadas:
(1) Biorremediação intrínseca é a remoção do óleo feita naturalmente

142 UNIDADE IX
por meios bióticos do próprio ambiente com o passar do tempo e sem a
intervenção humana.
(2) Bioestimulação, que necessita das populações microbianas
nativas para degradar a contaminação. É realizada pela intervenção humana
através da adição de nutriente fertilizante ou outro meio que aumente a taxa
de biodegradação natural.
(3) Bioaumento, que é a estratégia menos comum e consiste em
adicionar uma microbiota óleo-degradante complementar à capacidade
de degradação das populações nativas. Pode ser uma linhagem rara ou
ausente da comunidade local, ou ainda criada geneticamente para exercer
a função a degradação. Não é muito praticada devido às preocupações
ambientas de tal intervenção.
Uma das maiores preocupações são os hidrocarbonetos
poliaromáticos tóxicos (PAHs) que originam o piche, encontrados no
óleo. Através de técnicas de impressão de DNA digital, pesquisadores
têm isolado bactérias marinhas que degradam os PAHs. Atualmente está
se procurando entender como as comunidades de bactérias naturais
podem desintoxicar áreas contaminadas pelos hidrocarbonetos, e ainda,
desvendar o metabolismo microbiano e o seu crescimento em ambientes
contaminados.

Considerações Finais

O uso crescente de produtos marinhos nos alimentos, cosméticos,


indústrias e agricultura tem criado uma demanda de profissionais qualificados
ao setor, gerando a necessidade de formação de recursos humanos na área
de Biotecnologia Marinha que atendam ao desenvolvimento de indústrias.
Centros referenciais em Biotecnologia Marinha ao redor do mundo investem
na multidisciplinaridade, sendo esta a chave para preencher a lacuna no
desenvolvimento da área no Brasil. É preciso estimular a inserção do tema
em cursos de graduação e pós-graduação já existentes na área de ciências
do mar (biologia marinha, oceanografia etc).
Estamos atravessando a era genômica, uma importante ferramenta
para a bioprospecção. Praticamente todas as aplicações biotecnológicas
são favorecidas pelas técnicas de engenharia genética. A Biotecnologia
genética é, provavelmente, a área da ciência da vida que mais rapidamente
avança, gerando novos conhecimentos de maneira muito rápida. O seu

OCEANOGRAFIA 143
emprego vem permitindo aprofundar e aprimorar as investigações de
genética básica, genética quantitativa, de conservação genética e de
melhoramento.
Ainda, quando se pensa em bioprospecção é de extrema relevância
juntar ao termo a sustentabilidade. A utilização sustentável de componentes
da diversidade biológica de modo e em ritmo tais que não levem, a longo
prazo, à diminuição da mesma, mantém o seu potencial para atender as
necessidades e aspirações das gerações presentes e futuras.
Apesar de pouco estimulado, o Brasil já possui avanços na área e
alguns grupos de pesquisa estão bem estabelecidos. O Ministério da Saúde,
juntamente com o Ministério de Ciência e Tecnologia, publicou em 2010 um
livro sobre o estado da arte em Biotecnologia Marinha no Brasil (TEIXEIRA,
2010), onde pode ser encontrado um guia completo sobre o que vem sendo
desenvolvido pelos diferentes grupos de pesquisa no Brasil e no mundo.
Ele ressalta que, a região Nordeste é, ao lado da Região Sudeste, a de
maior participação na área, com grande número de grupos de pesquisa.

Referências

AHMED, S. A.; et al. Antiepiletic ceramides from the red sea sponge Ne-
gombata corticata. Jor. of Natural Prod., v. 17, 2008.

ALGAE BIOTECNOLOGIA. Disponível em: <www.algae.com.br>. Acessado


em: 12 de maio de 2015.

BRITO, G. F.; et al. Biopolímeros, polímeros biodegradáveis e polímeros


verdes. Revista Eletrônica de Materiais e Processos, v .6, p. 127-139,
2011.

BURGESS, J. G.; et al. The development of a marine natural product-based


antifouling paint. Biofouling, v. 19, p. 197-205, 2003.

CONVENÇÃO SOBRE DIVERSIDADE BIOLÓGICA - CDB. O Protocolo de


Nagoia sobre Acesso e Repartição de benefícios. 2012. Disponível em:
<www.cdb.int/abs/infokit/revised/print/factsheet-nagoya-pt.pdf>. Acessado
em: 16 de abril de 2015.

144 UNIDADE IX
COSTA-LOTUFO, L. V.; et al. Organismos marinhos como fonte de novos
fármacos: histórico e perspectivas. Quim. Nova, v. 15, p. 1-14, 2009.

CUERVAS, C.; FRANCESCH, A. Development of Yondelis® (trabectedin,


ET-743): a semisynthetic process solves the suppl problem. Nat. Prod. Re-
ports., v. 26, p. 322-337, 2009.
DALMASO, G. Z. L.; et al. Marine extremophiles: a source of hydrolises for
biotechnological application. Marine Drugs, v. 13, p. 1925-1965, 2015.

DA GAMA, B. A. O.; et al. Antifouling activity of natural products from Brazil-


ian seaweeds. Bot. Mar., v. 51, p. 191-201, 2008.

DEFANTI, L. S.; et al. Produção de biocombustíveis a partir de algas fotos-


sintetizantes. Revista de divulgação do Projeto Universidade Petrobras
e IF Fluminense, v. 1, p. 11-21, 2010.

FAULKNER, D. J. Marine natural products. Nat. Prod. Reports., v .19, p.


1-48, 2002.

FENICAL, W. Marine pharmaceuticals: past, present and future. Oceanog-


raphy, v. 19, p. 111-118, 2006.

FENICAL, W.; et al. Discovery and development of the anticâncer agente


salinosporamide A (NPI-0052). Bioorg. Med. Chem., 2008.

GERWICK, W. H.; MOORE, B. S. Lessons from the past and charting the
future of marine natural producst druf discovery and chemical biology.
Chem. Biol., v. 19, p. 85-98, 2012.

GLASER, K. B. E.; MAYER, A. M. S. A renaissance in marine pharmacolo-


gy: from preclinical curiosity to clinical reality. Biochemical pharmacology,
v. 8, p. 1-8, 2009.

GROSS, A. R. Diálogos sobre o protocolo de Nagoia entre Brasil e


União Européia. Brasília: MMA, p. 29, 2013.

GUYER, R. L.; KOSHLAWD, D. E. The molecule of the year. Science, v.

OCEANOGRAFIA 145
246, p. 1541-1546, 1989.
IMHOFF, J. F.; et al. Bio-mining the microbial treasures of the ocean: new
natural products. Biotech. Adv., 2011.

JOHNSON, A.; et al. The effects of coper on the morphological and func-
tional development of zebrafish embryos. Aquat. Tocicol., v. 84, p. 431-
438, 2007.

KUGLER, H. Rotas menos poluentes. Ciência hoje on-line. 2014. Disponível


em: <www.cienciahoje.uol.com.br/especiais/oceanos-envenenados/rotas-
-menos-poluentes>. Acessado em: 29 de abril de 2015.

LAURIENZO, P. Marine polysaccharides in pharmaceutical aplicattion: an


overview. Marine Drugs., v. 8, p. 3425-2465, 2010.

LOOK, S. A.; et al. The pseudopterosins: anti-inflamatory and analgesic


natural products form the whip Pseudopterogorgia elisabethae. Proc. Nat.
Acad. Sci. USA., v. 83, p. 6238-6240, 1986.

MARINE BIOTECHNOLOGY. 2015. Disponível em: <www.marinebiotech.


org>. Acessado em: 23 de abril de 2015.

MARTINS, T. L.; VARGAS, V. M. F. Riscos à biota aquática pelo uso de


tintas anti-incrustantes nos cascos de embarcações. Ecotoxicol. Envirom.
Contam., v.8, 2013.

MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE (MMA). A convenção sobre diversi-


dade biológica. Brasília: Serie Biodiversidade MMA, p. 30, 2000.

MARINHA DO BRASIL. 2015. Disponível em: <www.mar.mil.br/hotsites/


sala_imprensa/amazonia_azul.html>. Acessado em: 20 de abril de 2015.

ONUMAH, N. A novel anti-inflamatory in treatment of acne vulgaris: the


pseudopterosins. J. Drugs. Dermatol., v. 12, p. 1177-1179, 2013.

PALMA, C. M.; PALMA, P. S. Bioprospecção do Brasil: análise crítica de


alguns conceitos. Cienc. Cult., v. 64, 2012.

146 UNIDADE IX
PESSATTI, M. L. Marine bioprospection: what means? Estud. Biol., v. 28,
2006.
PIEL, J. Metabolites from symbiotic bacteria. Nat. Prod. Reports., v. 26, p.
338-362, 2009.
PILLING, S.; MARTINS, C. F. M. Aula 11- Extremófilos. Disponível em:
<wwwq.univap.br/spilling/AB/Aula_11_Extremofilos.pdf>. Acessado em: 13
de maio de 2015.

SCHMIEGELOW, J. M. M. O planeta azul: uma introdução as ciências


marinhas. Rio de Janeiro: Editora Interciência, p. 201, 2004.

SOUZA, J. M. Mar territorial, zona econômica exclusiva ou plataforma conti-


nental? Rev. Bras. Geofísica, v. 17, 1999.

TEIXEIRA, V. L. Caracterização do estado da arte em biotecnologia


marinha no Brasil. Brasilia: Ministério da Saúde, p. 134, 2010.

WILLIAMS, P. G. Panning for chemical gold: marine bacteria as a source of


new therapeutic. Trends Biotechnol., v. 27, p. 45-52, 2008.

OCEANOGRAFIA 147
CAPÍTULO 10
OCEANÓGRAFO COMO PROFISSÃO
Évila Pinheiro Damasceno
Renan Vandre da Silva Toscano Saes
Universidade Federal do Ceará

O oceanógrafo é um profissional de formação técnico-científica


direcionado ao conhecimento, à interpretação e à previsão dos processos
que ocorrem nos oceanos e nos ambientes transicionais a fim de permitir
a exploração dos recursos marinhos e costeiros de forma racional (KRUG,
2012). De maneira geral, o oceanógrafo é o responsável por entender,
manejar e proteger os recursos dos oceanos e das zonas costeiras.
Embora a oceanografia ainda seja desconhecida por muitas pessoas no
Brasil, é uma profissão quem vem ganhando muito destaque em vários
setores do mercado de trabalho atual (DAHER, 2007).
A oceanografia estuda os ambientes oceânicos e os costeiros
através de todos os seus aspectos bióticos e abióticos. Dentre as áreas que
envolvem a oceanografia há as disciplinas da física, geologia, química e
biologia. Os oceanógrafos comumente têm especialidade em apenas uma
área, porém é necessário o conhecimento de campos relacionados para
a realização de estudos interligados (GARRISON, 2010). O oceanógrafo
consegue agir de maneira criativa e responsável em seu ambiente de
trabalho, além de determinada para enfrentar imprevistos, uma vez que
o trabalho está associado a embarques oceanográficos ou até mesmo
mergulhos científicos (Figura 10.1). O domínio da língua inglesa é essencial
nesta profissão, pois vários relatórios e as mais relevantes pesquisas
científicas somente são disponíveis em inglês (DAHER, 2007).

OCEANOGRAFIA 149
Figura 10.1 – Oceanógrafo em seu ambiente de trabalho: o mar (Fonte: NATIONAL
OCEANIC AND ATMOSPHERIC ADMINISTRATION, 2015).

Áreas de atuação

Os oceanógrafos físicos analisam condições e processos físicos


nos oceanos, como ondas, correntes, vórtices, marés e giros oceânicos.
Esses profissionais tentam entender como a água do mar se movimenta
em extensas escalas de espaço e tempo. Eles examinam a interação
entre o oceano e seus limites, como o fundo do mar, a água dos rios
e a atmosfera e suas implicações. A influência da interação oceano-
atmosfera, por exemplo, responde a muitas perguntas sobre mudanças
no clima, como os fenômenos El Niño e La Niña.
Alguns estudos são teóricos, modelos computacionais que
representam a previsão de condições dinâmicas do mar após mudanças
de variáveis, como salinidade e pressão atmosférica. Entretanto, entender
o movimento dos oceanos requer a compilação entre equações teóricas,
observação e experimentos (Figura 10.2).
Os satélites, importantes ferramentas para essa área, permitiram a
realização de estudos em maior escala. Imagens da superfície oceânica
fornecem informações sobre circulação de água, temperatura, dentre
outras propriedades, que servem de base para a elaboração de estudos
voltados a importantes problemáticas ambientais, como aquecimento
global, queda da produção pesqueira e floração de microalgas (NATIONAL
OCEANIC AND ATMOSPHERIC ADMINISTRATION, 2015).

150 UNIDADE X
Os oceanógrafos que
estudam a geologia dedicam-se
em compreender os processos da
tectônica de placas, vulcanismo e
circulação do manto no interior da
Terra para entender a formação das
bacias oceânicas e as interações
entre os oceanos e o assoalho
marinho (Figura 10.3). Além do
fundo do mar, os oceanógrafos
também exploram a porção costeira
Figura 10.2 – Pesquisadores acompanhando dos oceanos. Com o vasto aumento
coleta de dados de salinidade, temperatura
e pressão da água do mar durante um de habitantes em cidades litorâneas
embarque. A maior parte do tempo do em todo o mundo, a ocupação
oceanógrafo físico é dedicado ao tratamento
desordenada do litoral afeta a
e a interpretação de dados em softwares
especializados (Fonte: UNIVERSITY OF dinâmica sedimentar acarretando
CALIFORNIA, 2015). problemas como a erosão costeira.
O oceanógrafo atua fornecendo
suporte técnico para obras de contenção, que são executadas pelo ramo da
engenharia costeira.
Um ramo da Oceanografia Geológica que está em alta no Brasil é o de
exploração de recursos minerais marinhos. Através de técnicas geofísicas
os oceanógrafos detectam áreas de potencial fonte de riqueza mineral, e
assim podem explorar recursos tanto na superfície da superfície do assoalho
oceânico (como granulados e nódulos polimetálicos) quanto também em
camadas mais profundas, como o petróleo.

Figura 10.3 – Análise de mapa


batimétrico. O fundo do mar é o objeto
de estudo de muitos oceanógrafos
geológicos, já que é onde se encontram
riquezas minerais como o petróleo
(Fonte: OCEAN OPPORTUNITIES,
2015).

OCEANOGRAFIA 151
Os profissionais da área de oceanografia biológica estudam os seres
vivos marinhos, desde microrganismos até animais de grande porte, como
baleias. Muitos estudos têm interesse no número e distribuição de espécies,
que fornecem informações para atividades exploratórias, como a pesca, ou
para planos de conservação da vida marinha (Figura 10.4).
Outro importante campo de atuação do oceanógrafo biológico é a
aquicultura/maricultura. Com o aumento da população mundial nos últimos
anos, os meios de produção de alimentos não acompanharam a demanda
e, por isso, o cultivo em ambientes aquáticos foi expandido e aperfeiçoado.
No Brasil, os estados do Ceará e Santa Catarina (que cultivam camarão e
ostra, respectivamente) se destacam neste setor.

Figura 10.4 – Es-


tudante de Ocea-
nografia mede o
comprimento de
mexilhões (Fonte:
FLORIDA INSTI-
TUTE OF TECH-
NOLOGY, 2015).

O oceanógrafo químico pode enquadrar-se nas áreas de química


marinha, geoquímica marinha e também biogeoquímica. Essa especialidade
analisa a formação e composição da água do mar e do sedimento marinho,
as relações entre compostos químicos orgânicos e inorgânicos, e a forma
de entrada de substâncias para o mar, incluindo contaminantes (Figura
10.5).
Um relevante aspecto dessa área é o estudo dos poluentes marinhos.
Os oceanógrafos químicos avaliam o comportamento de contaminantes
para terem ideia de como estes interagem com a vida marinha, e assim,
avaliar o impacto destes sobre a biota. Para isso, os profissionais dessa
área precisam examinar condições como salinidade, intensidade do vento,
chuva, temperatura e condições de transporte.

152 UNIDADE X
Figura 10.5 – Estudante prepara amos-
tra para centrifugação. O oceanógrafo
químico utiliza técnicas de análise de
desde substâncias de grande importân-
cia para os seres vivos, como o CO2,
até compostos presentes em concen-
trações muito pequenas, como alguns
contaminantes (Fonte: UNIVERSIDA-
DE DO VALE DO ITAJAÍ, 2015).

Regulamentação da profissão de oceanógrafo

A profissão de oceanógrafo foi regulamentada em 31 de junho de


2008, por meio da Lei n° 11.760. Segundo o art. 3o desta lei, os oceanógrafos
podem realizar as seguintes atividades:
I – formular, elaborar, executar, fiscalizar e dirigir estudos, planejamento,
projetos e/ou pesquisas científicas básicas e aplicadas, interdisciplinares ou
não, que visem ao conhecimento e à utilização racional do meio marinho, em
todos os seus domínios, realizando, direta ou indireta.
a) levantamento, processamento e interpretação das condições físicas,
químicas, biológicas e geológicas do meio marinho, suas interações, bem
como a previsão do comportamento desses parâmetros e dos fenômenos a
eles relacionados;
b) desenvolvimento e aplicação de métodos, processos e técnicas de
exploração, explotação, beneficiamento e controle dos recursos marinhos;
c) desenvolvimento e aplicação de métodos, processos e técnicas de
preservação, monitoramento e gerenciamento do meio marinho;
d) desenvolvimento e aplicação de métodos, processos e técnicas
oceanográficas relacionadas às obras, instalações, estruturas e quaisquer
empreendimentos na área marinha;

OCEANOGRAFIA 153
II – orientar, dirigir, assessorar e prestar consultoria a empresas,
fundações, sociedades e associações de classe, entidades autárquicas,
privadas ou do poder público;
III – realizar perícias, emitir e assinar pareceres e laudos técnicos;
IV – dirigir órgãos, serviços, seções, grupos ou setores de oceanografia
em entidades autárquicas, privadas ou do poder público.
Parágrafo único.  Compete igualmente aos Oceanógrafos, ainda que
não privativo ou exclusivo, o exercício de atividades ligadas à limnologia,
aquicultura, processamento e inspeção dos recursos naturais de águas
interiores.
Embora a profissão tenha sido regulamentada somente em 2008,
o ramo já era bem difundido em diversas áreas do conhecimento. Porém,
o reconhecimento da classe ampliou e solidificou as relações de trabalho
desenvolvidas por um oceanógrafo.

Mercado de trabalho

No passado, a oceanografia tinha foco apenas na área da pesquisa


científica, porém, no momento atual, os profissionais se direcionam para
diversas outras áreas, com grandes oportunidades no setor privado e público.
A profissão de oceanógrafo oferece oportunidades no setor de produção de
alimentos de origem marinha, na exploração de recursos pesqueiros, nos
estudos de impacto ambiental, especialmente nas áreas ligadas ao petróleo
e gás (prospecção na camada do pré-sal). Um setor tão importante quanto os
citados acima é o ambiental, com enfoque para a preservação e conservação
dos ecossistemas marinhos, assim como da biodiversidade (DAHER, 2007).
Quanto ao mercado de trabalho, o setor público, principalmente as
universidades, constitui uma considerável parcela de colocação profissional
para os oceanógrafos. O setor privado emprega estes profissionais
principalmente nas áreas de aquicultura e pesca, geofísica marinha e
engenharia oceânica. Porém, a atuação do oceanógrafo é bastante ampla,
podendo enquadrar-se nos mais diferentes campos de atuação (AOCEANO1,
2015):
(1) Elaboração, execução e coordenação de programas de
monitoramento e análise de qualidade de água: A experiência de planejamento
de expedições de campo e amostragem de material abiótico e biótico, além
da interpretação dos resultados, tornam o oceanógrafo apto a essa função.

154 UNIDADE X
Instituições que contratam: empresas de saneamento, indústrias do setor de
controle de efluentes, universidades, empresas de consultoria.
(2) Planejamento e coordenação de projetos de controle de processos
erosivos nas praias e implantação de obras costeiras: o estudo sobre
dinâmica costeira em ondas, marés e sedimentologia fornece ao e obras de
contenção capacitam o oceanógrafo. Instituições que contratam: empresas
de engenharia e de consultoria ambiental, universidades, órgãos públicos.
(3) Elaboração de estudos de impacto ambiental (EIA) e relatório de
impacto ambiental (RIMA) para atividades desenvolvidas na zona costeira:
as noções básicas de todas as áreas de oceanografia, junto do estudo de
poluição marinha e análise de impactos ambientais servem de base para
esse tipo de trabalho. Instituições que contratam: universidades, empresas
de consultoria ambiental, órgãos públicos.
(4) Gestão de ambientes costeiros: as disciplinas das áreas de manejo
de ecossistemas marinhos, ecologia e poluição marinha qualificam os
profissionais para esta função. Instituições que contratam: universidades,
órgãos públicos.
(5) Aquicultura, desenvolvimento e transferência de tecnologia de
cultivo, administração de parques de cultivo: os conhecimentos nas áreas
de biologia pesqueira, ecologia e aquicultura são requeridos para estes tipos
de trabalho. Instituições que contratam: empresas privadas, secretarias de
agricultura, aquicultura e pesca.
(6) Setor pesqueiro: o profissional habilitado em biologia pesqueira
e oceanografia biológica atua nesse setor. Instituições que contratam:
empresas privadas, secretarias de agricultura, aquicultura e pesca.
(7) Gestão de parques marinhos e áreas de proteção ambiental: O
profissional utiliza os conhecimentos de Legislação Ambiental e Ecologia
para atuar nessa área. Instituições que contratam: órgãos públicos como
ICMBio (Instituto Chico Mendes – Ministério do Meio Ambiente) e secretarias
de meio ambiente.
Diferente das profissões de engenharia de pesca, engenharia de
aquicultura, biologia e geologia, a oceanografia não tem conselho de classe
no Brasil. A Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) emite a
Declaração de Habilidade Técnica (DHTs) que habilita o exercício regular da
profissão. Porém, a ausência de um conselho de classe acarreta dificuldades
para o profissional, como, por exemplo, a inexistência de piso salarial
definido para a profissão. A AOCEANO, que vem lutando pela criação de um

OCEANOGRAFIA 155
conselho em oceanografia, determinou os salários-base para oceanógrafo,
porém apenas como forma de sugestão (AOCEANO2, 2015).

Cursos de Graduação

Há cursos de graduação em oceanografia em todas as regiões


costeiras do Brasil. O curso de oceanografia pioneiro no país foi o da
Fundação Universidade Federal do Rio Grande – FURG. Posteriormente
foram criados cursos na Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ em
1977 e da Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI em 1992. Estes primeiros
cursos foram concebidos num período em que os recursos marinhos, como
os pesqueiros, eram vistos como inesgotáveis. Sendo assim, a profissão foi
implementada no Brasil com objetivo de aumentar a eficiência da exploração
desses meios.
Dentre as atribuições que os graduandos em oceanografia têm de estar
aptos, gostar de trabalhos de campo é importante, pois os cursos preveem
aulas práticas de embarque, como na Universidade do Estado do Rio de
Janeiro – UERJ, o qual os alunos cursam 180 h de atividades práticas no
mar, em embarcações de instituições que têm convênio com a universidade.
É fundamental que o universitário se dedique nas disciplinas biológicas e
exatas, como física e química, que são essenciais para sua formação.
Disciplinas complementares como hidrografia, astronomia e meteorologia,
também fazem parte da grade curricular (DAHER, 2007).
A expansão do curso para o Nordeste se deu na última década. O
primeiro curso da região foi o da Universidade Federal da Bahia – UFBA, criado
em 2002. Com o REUNI (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação
e Expansão das Universidades Federais), foram abertos cursos em duas
Universidades nordestinas: na Universidade Federal do Ceará – UFC em
2008 e na Universidade Federal de Pernambuco – UFPE, em 2009. O curso
de oceanografia também foi implementado pela Universidade Federal do
Maranhão – UFMA, porém não associado ao REUNI (Figura 10.6).
Ainda no contexto do REUNI, há expectativa de criação de novos cursos
de Oceanografia pela Universidade Federal de Sergipe – UFS, Universidade
Federal de São Paulo – UNIFESP e também pela Universidade Federal de
Alagoas – UFAL. Atualmente há 13 cursos em oceanografia em 11 estados:
(1) Curso de oceanologia da Fundação Universidade do Rio Grande
(FURG) – Rio Grande, Rio Grande do Sul.

156 UNIDADE X
(2) Curso de oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
(3) Curso de oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
– Itajaí, Santa Catarina.
(4) Curso de oceanografia do Centro Universitário Monte Serrat
(UNIMONTE) – Santos, São Paulo.
(5) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES) – Vitória, Espírito Santo.
(6) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) –
Belém, Pará.
(7) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
– Pontal do Paraná, Paraná.
(8) Curso de oceanografia da Universidade de São Paulo (USP) – São
Paulo, São Paulo.
(9) Curso de oceanografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
– Salvador, Bahia.
(10) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA) – São Luís, Maranhão.
(11) Curso de oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) – Florianópolis, Santa Catarina.
(12) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Ceará (UFC)
– Fortaleza, Ceará.
(13) Curso de oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) – Recife, Pernambuco.

Cursos de Pós-Graduação

Há 28 programas de pós-graduação pertencentes à área de Ciências


do Mar, sendo 28 de mestrado e 21 de doutorado. Destes, 14 são enquadrados
na grande área de Ciências Biológicas, seis na de Ciências Exatas e da
Terra, seis na de Ciências Agrárias e apenas uma nas áreas de Engenharia
e Multidisciplinar. Dentre os estados costeiros, não há cursos nos estados
de Alagoas, Sergipe, Piauí, Maranhão e Amapá (KRUG, 2012) (Figura 10.6).
Há seis programas de pós-graduação de Oceanografia, todos com perfil
acadêmico. A tradicional FURG oferece os cursos de mestrado e doutorado em
dois programas: Oceanografia Física, Química e Geológica e Oceanografia
Biológica. A USP oferece mestrado e doutorado nos quatro programas:

OCEANOGRAFIA 157
Oceanografia Biológica, Oceanografia Física, Oceanografia Química e
Oceanografia Geológica. A UERJ tem cursos de mestrado e doutorado em
Oceanografia. Há o curso apenas de mestrado em Oceanografia na UFSC. A
UFES oferece mestrado e doutorado em Oceanografia Ambiental. E o único
programa de pós-graduação em Oceanografia do Nordeste é o da UFPE,
que oferece curso de mestrado e doutorado.

Figura 10.6 – Mapa de localização dos cursos de graduação e pós-


graduação em Oceanografia no Brasil (Fonte: Adaptado de CARDOSO,
2015).

Importância do oceanógrafo no cenário atual

Quando os cursos de oceanografia foram criados no Brasil, os


oceanos eram vistos apenas do ponto de vista exploratório e como sumidouros
inesgotáveis de resíduos. Porém, com as evidências de que os oceanos
vêm sofrendo impactos causados pelo homem, como mudanças climáticas,
declínio dos estoques pesqueiros e erosão costeira, os oceanógrafos têm
o grande desafio de tentar reverter esse quadro. Por isso, o oceanógrafo,
conhecedor de aspectos gerais sobre os oceanos, tem um importante
papel na garantia da qualidade de vida da população e da proteção dos
ecossistemas.

158 UNIDADE X
Referências

AOCEANO1. A profissão. Disponível em: <http://www.aoceano.org.br/site/


index.php?option=com_content&view=article&id=6&Itemid=161>. Acesso
em: 19 maio de 2015.

AOCEANO2. Declaração de Habilitação Técnica. Disponível em: <www.


aoceano.org.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=19&Ite
mid=208>. Acesso em: 19 maio de 2015.

BRASIL. Lei N° 11.760, de 31 de julho de 2008. Dispõe sobre o exercício


da profissão Oceanógrafo. Brasília, DF, 31 de jul. 2008. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11760.htm>.
Acesso em: 24 maio de 2015.

CARDOSO, M. Mapa Altimétrico do Brasil. 2012. Disponível em: <http://


murilocardoso.com/tag/mapa/>. Acesso em: 19 maio de 2015.

DAHER, V. Guia Megazine de Profissões. Rio de Janeiro: Ediouro & O


Globo, p. 116-117, 2007.

FLORIDA INSTITUTE OF TECHNOLOGY. Biodiversity!. Disponível em:


<http://blogs.fit.edu/blog/campus/marine-environmental/biological-oceano-
graphy/oregon-field-course/tiny-wonderland/>. Acesso em 23 maio de 2015.

GARRISON, T. Fundamentos de Oceanografia. 4 Ed. São Paulo: Cen-


gage Learning, p. 426, 2010.

KRUG, L. Formação de Recursos Humanos em Ciências do Mar. Pelo-


tas: Editora Textos, p. 170, 2012.

NATIONAL OCEANIC AND ATMOSPHERIC ADMINISTRATION. What


does an oceanographer do? Disponível em: <http://oceanservice.noaa.
gov/facts/oceanographer.html>. Acesso em: 18 maio de 2015.

OCEAN OPPORTUNITIES. Working to increase diversity in ocean hi-


gher education.

OCEANOGRAFIA 159
Ocean Sciences: Dive in! Disponível em: <http://www.oceanopportunities.
org/page.do?pid=112660>. Acesso em: 19 maio de 2015.

UNIVERSITY OF CALIFORNIA. Descriptive Physical Oceanography: An


Introduction. Disponível em: <http://joa.ucsd.edu/dpo/dpo_joa_examples/
chapter_3/3a.html>. Acesso em: 18 maio de 2015.

UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ. Laboratório de Oceanografia


Química e Poluição Marinha. Disponível em: <http://www.univali.br/ensino/
graduacao/cttmar/laboratorios/laboratorio-de-oceanografia-quimica-e-polui-
cao-marinha/Paginas/default.aspx>. Acesso em: 24 maio de 2015.

160 UNIDADE X
APÊNDICE
Tabela APÊNDICE I: Distribuição dos laboratórios de pesquisa em oceanografia física
por instituição.

Grupos de Pesquisa/
Instituições Coordenador Contato
Laboratórios

Dr. Osmar Moller


FURG Núcleo de Oceanografia Física dfsomj@furg.br
Jr.

Laboratório de Estudos dos


FURG Dr. Mauricio Mata mauricio.mata@furg.br
Oceanos e Clima

LOCOSTE - Laboratório de
FURG Oceanografia Costeira e Dr. Osmar Moller Jr dfsomj@furg.br
Estuarina

LOC - Laboratório de Dr. Jarbas Bonetti loc.cfh@contato.ufsc.


UFSC
Oceanografia Costeira Filho br

Dra Kátia Naomi


Laboratório de Oceanografia Kuroshima oceanografia.cttmar@
UNIVALI
Física (coord. curso de univali.br
Oceanografia)

Dra Kátia Naomi


Laboratório de Modelagem Kuroshima oceanografia.cttmar@
UNIVALI
Ambiental (coord. curso de univali.br
Oceanografia)

Laboratório de Processos Dr. Eduardo


UFPR edmarone@ufpr.br
Costeiros e estuarinos Marone

Laboratório de Oceanografia Dr. Maurício


UFPR noernberg@ufpr.br
Costeira e Geoprocessamento Noernberg

Laboratório de Interface Dr. Marcelo


UFPR dourado@ufpr.br
Oceano-Atmosfera Dourado

Maria Hans
Laboratório de Oceanografia (coordenadora maria.hans@unimonte.
UNIMONTE
Física do curso de br
Oceanografia)

MAPTOLAB - Laboratório de
Dr. Afrânio
IOUSP Marés e Processos Temporais ardmesqu@usp.br
Mesquita
Oceânicos

LABMON - Laboratório de
Dr. Edmo José Dias
IOUSP Modelagem e Observação edmo@usp.br
Campos
Oceânica

OCEANOGRAFIA 161
LabDados - Laboratório de
IOUSP Dr. Marcelo Dottori labdados_io@usp.br
Dados Oceanográficos

LDC - Laboratório de Dinâmica


IOUSP Dr. Eduardo Siegle esiegle@usp.br
Costeira

LaDO - Laboratório de
IOUSP Dr. Ilson Silveira ilson.silveira@usp.br
Dinâmica Oceânica

LHICO - Laboratório de Dr. Belmiro Mendes


IOUSP bmcastro@usp.br
Hidrodinâmica Costeira de Castro Filho

OC² - Laboratório de
IOUSP Oceanografia Física, Clima e Dra. Ilana Wainer wainer@usp.br
Criosfera

LABSIP - Laboratório de
IOUSP Simulação e Previsão Dr. Joseph Harari joharari@usp.br
Numérica Hidrodinâmica

Dr. Alessandro
UERJ GRUMAR - Grupo de Maré dof.faoc@gmail.com
Filippo

Profa. Dra. Josefa


LABOFIS - Laboratório de Varela Guerra
UERJ labofisdof@gmail.com
Oceanografia Física (coord. curso
Oceanografia)

LabPosseidon - Laboratório de
Dr. Renato David gringoghisolfi@gmail.
UFES Pesquisa e Simulação sobre a
Ghisolfi com
Dinâmica do Oceano

Laboratório de Estudos Dr. Guilherme


UFBA gclessa@gmail.com
Costeiros / GOAT Lessa

LaHiCo - Laboratório de Dr. Carlos Augusto guito.schettini@gmail.


UFPE
Hidrodinâmica Costeira França Schettini com

LOFEC - Laboratório de
Dr. Carmen
UFPE Oceanografia Física Estuarina carmen@ufpe.br
Medeiros
e Costeira

LOF - Laboratório de Dra. Maria Ozilea


UFC ozilea@gmail.com
Oceanografia Física Bezerra Menezes

LHiCEAI - Laboratório de
Hidrodinâmica Costeira, Dr. Francisco José francisco.dias@ufma.
UFMA
Estuarina e de Águas Dias br
Interiores

Laboratório de Oceanografia Dr. Alexandre


UFPA acasseb@ufpa.br
Física Casseb

Geofmar - Laboratório de
UFPA Dr. Marcelo Rollnic rollnic@ufpa.br
Geofísica Marinha

162 UNIDADE X
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
MSc. Bianca Del Bianco Sahm

Bióloga Marinha
Universidade Federal do Ceará
Departamento de Farmacologia
Laboratório de Bioprospecção e Biotecnologia Marinha
Rua Coronel Nunes de Melo, 1000 - Rodolfo Teófilo
Fortaleza - CE
CEP 60430-270
http://lattes.cnpq.br/0964973241076501

MSc. Évila Pinheiro Damasceno

Oceanógrafa
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Ecotoxicologia Marinha
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/4630733547657675

Dra. Fernanda Reinhardt Piedras

Oceanógrafa
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Faculdade de Oceanografia - FAOC
Laboratório de Cultivo e Ecologia do Fitoplâncton Marinho
Av. Francisco Xavier, 524, 4o Andar, sala 4023E - Maracanã
Rio de Janeiro - RJ
CEP 20550-013
http://lattes.cnpq.br/9362491158928160

OCEANOGRAFIA 163
Dr. Francisco Sekiguchi de Carvalho e Buchmann

Oceanógrafo
Universidade Estadual Paulista
Campus de São Vicente
Laboratório de Estratigrafia e Paleontologia
Praça Infante Don Henrique, s/n - Bairro Bitarú
São Vicente - SP
CEP 11330-900
http://lattes.cnpq.br/5016820327607647

Dra. Juliana de Carvalho Gaeta

Bióloga
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Zoologia de Crustaceos
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/4263676415808125

Dr. Lucas Buruaem Moreira

Biólogo Marinho
Universidade Estadual Paulista
Campus de São Vicente
Núcleo de Estudos em Poluição e Ecotoxicologia Aquática
Praça Infante Don Henrique, s/n - Bairro Bitarú
São Vicente - SP
CEP 11330-900
http://lattes.cnpq.br/8251258719894689

164 UNIDADE X
MSc. Marcielly Freitas Bezerra

Oceanógrafa
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Avaliação de Contaminantes Orgânicos
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/3523256310455758

Dra. Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais

Tecnóloga em Saneamento Ambiental


Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Avaliação de Contaminantes Orgânicos
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/1562620054283000

Dr. Renan Vandre da Silva Toscano Saes

Biólogo Marinho
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Ecotoxicologia Marinha
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/4554497708023747

OCEANOGRAFIA 165
Dr. Samuel Soares Valentim

Oceanógrafo
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Oceanografia Física
Av. da Abolição, 3207 - Meireles - CEP 60165-081
Fortaleza - CE
http://lattes.cnpq.br/9452686753864315

166 UNIDADE X
Ministério
da Educação

Você também pode gostar