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Princpiosde Oceanografia
Princpiosde Oceanografia
PRINCÍPIOS DE OCEANOGRAFIA
EQUIPE TÉCNICA
Revisão de Originais
José Barbosa da Silva
Projeto Gráfico e Diagramação
Nalton Luiz Silva Parente de Pinho
Vilsselle Hallyne Bastos de Oliveira
Revisão Gráfica
Clarissa Sousa de Carvalho
ISBN: 978-85-509-0288-3
Vários autores.
Pós-graduação Lato sensu em Ecologia, 2018.
1. Oceanografia. 2. Oceanógrafo – Profissão. I. Saes, Renan Vandré da Silva
Toscano. II. Título.
CDD 551.46
De acordo com a Lei n. 9.9610, de 19 de fevereiro de 1998, nenhuma parte deste livro pode ser fotocopiada,
gravada, reproduzida ou armazenada num sistema de recuperação de informações ou transmitida sob
qualquer forma ou por qualquer meio eletrônico ou mecânico sem o prévio consentimento do detentor
dos direitos autorais.
Editora da Universidade Federal do Piauí - EDUFPI
Campus Universitário Ministro Petrônio Portella
CEP: 64049-550 - Bairro Ininga - Teresina - PI - Brasil
PREFÁCIO
PESQUISADORA CONVIDADA DANDO A
IMPRESSÃO DO LIVRO
O livro apresenta de forma resumida conteúdos introdutórios a
oceanografia, baseando-se em uma literatura amplamente utilizada em
cursos de graduação em Ciências da Terra por todo o mundo. O objetivo
central dessa publicação é apresentar a alunos do ensino médio assuntos
de interesse e as principais abordagens de profissionais em oceanografia, e
assim instigar a formação de novas oceanógrafas e oceanógrafos em nosso
país. Nessa primeira versão do livro, o leitor será exposto a uma ciência
pouco abordada durante o ensino médio, e terá assim recursos mais realistas
para decidir por um futuro nessa carreira.
O primeiro capítulo leva o leitor a uma viagem sobre dimensões,
distâncias e um pouco da história de como os humanos começaram a registrar
e descrever as características principais dos oceanos até os dias de hoje,
com alguns exemplos de expedições e instrumentos. O segundo capítulo
foca em como os movimentos dos oceanos são estudados, linha de pesquisa
conhecida como oceanografia física, apresentando o desenvolvimento dos
instrumentos utilizados e introduzindo uma de suas principais ferramentas -
a modelagem numérica. O capítulo 3 apresenta alguns aspectos abordados
pela oceanografia geológica, detalhando tanto os sedimentos como as
distintas linhas de praias presentes ao longo da costa brasileira. O capítulo
4 traz noções de oceanografia química, linha de pesquisa que se preocupa
com a composição da água do mar, tanto natural como após alterações
resultantes de atividades humanas. O capítulo 5, descreve diferentes ramos da
oceanografia biológica, abordando processos importantes como a produção
primária e apresentando os principais grupos de organismos encontrados
nos oceanos. Os capítulos 6 e 7 descrevem as correntes oceânicas e
costeiras, respectivamente, fornecendo a nomenclatura e princípios físicos
a elas associados. O livro inclui ainda textos sobre os impactos na zonas
costeiras (capítulo 8) com destaques às atividades antrópicas, e sobre
bioprospecção marinha (capítulo 9), uma linha de pesquisa relativamente
nova em comparação às clássicas apresentadas nos capítulos de 1 a 5, mas
igualmente multidisciplinar. O último capítulo do livro se dedica a profissão
em oceanografia, apresentando locais de formação no Brasil e algumas das
áreas de atuação.
O conteúdo desse livro terá muita valia para professores e alunos de
ensino médio, uma vez que traz um informações diferenciadas daquelas
encontradas em livros textos de ciências e apresenta a oceanografia de uma
forma realista.
CAPÍTULO 2
Oceanografia física
Samuel Soares Valentim.........................................................................29
CAPÍTULO 3
Oceanografia geológica
Francisco Sekiguchi Buchmann..............................................................49
CAPÍTULO 4
Oceanografia química
Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais & Marcielly Freitas Bezerra.....63
CAPÍTULO 5
Oceanografia biológica
Fernanda Reinhardt Piedras...................................................................79
CAPÍTULO 6
Circulação oceânica
Juliana de Carvalho Gaeta.....................................................................93
CAPÍTULO 7
Circulação costeira
Renan Vandre da Silva Toscano Saes..................................................105
CAPÍTULO 8
Impactos na zona costeira
Lucas Buruaem Moreira........................................................................119
CAPÍTULO 9
Bioprospecção marinha: biotecnologia acoplada ao estudo da
oceanografia
Bianca Del Bianco Sahm......................................................................131
CAPÍTULO 10
Oceanógrafo como profissão
Évila Pinheiro Damasceno & Renan Vandre da Silva Toscano Saes.....149
APÊNDICE
Distribuição dos laboratórios de pesquisa em oceanografia física por
instituição....................................................................................................161
OCEANOGRAFIA
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Mares e oceanos, somados, cobrem 71% da superfície terrestre, o que
corresponde a uma área de 361.100.000 Km2 e um volume de 1.338.000.000
Km3 (Tabela 1.1). Seu ponto mais profundo é a fossa das Marianas, com
11.022 m de profundidade no Pacífico e o ponto mais alto fica na cordilheira
marinha do Havaí (EUA), uma montanha marinha de 10.203 m de altura desde
o assoalho oceânico (Figura 1.1). Em média, o oceano tem uma camada
de 3.796 m de espessura, com uma temperatura de 3,9°C e salinidade de
34,482 gramas de sal por litro de água, usualmente como salinidade 35. Em
comparação, a terra emersa tem apenas uma espessura de 840 m sendo
a cordilheira do Himalaia (Nepal) com 8.848 m. Já o ponto mais profundo
entre todos os continentes fica na Sibéria (norte da Rússia), o lago Baikal
com 1.680 m de profundidade, que represa 20% da água doce de degelo do
planeta (GLEICK, 1996) (Figura 1.2).
12 UNIDADE I
^
Figura 1.1 – Cerca de 71% da superfície do planeta está coberta pelo oceano, esse volume
corresponde a 97% de toda a água da crosta terrestre (fonte: Adaptado de GARRISON,
2010).
OCEANOGRAFIA
13
Figura 1.2 – Cerca de 71% da superfície do planeta está coberta pelo oceano;
esse volume corresponde a 97% de toda a água da crosta terrestre (fonte:
Adaptado de GARRISON, 2010).
Evolução planetária
14 UNIDADE I
átomos, dando origem às primeiras galáxias e estrelas (Figura 1.3). O Sol é
uma estrela de médio porte, com o núcleo na temperatura de 15.000.000°C, e
a camada visível (superfície) com uma temperatura de 6.000°C. O Sol e alguns
planetas, dentre eles a Terra, são chamados de Sistema Solar, do qual o Sol é
o astro central, uma estrela. O Sistema Solar está em um dos braços, o braço
espiral, da galáxia Via Láctea, uma das milhões de galáxias que compõem o
universo. Desde a formação do oceano, a Terra completou 20 circuitos em
torno da galáxia, considerando-se o período para completar uma volta de 230
milhões de anos (TEIXEIRA et al., 2009).
A galáxia formou-se a partir de uma pequena estrela que ‘morreu’,
explodiu e dissipou energia/matéria distribuída na forma de uma nuvem,
chamada nebulosa. O choque de matéria da nebulosa gerou o Sol, os planetas,
asteroides e meteoros da Via Láctea. Esta possui cerca de 5 bilhões de anos.
A Terra tem 4,6 bilhões de anos, sendo que os oceanos começaram a se
condensar há cerca de 1 bilhão de anos depois (Figura 1.3). Toda matéria
compreendida entre o campo gravitacional da galáxia executa uma órbita
elíptica em torno do Sol, inclusive a Terra e seu satélite natural, a Lua.
Figura 1.3 – O ser humano compõe a parte mais recente da história da Terra. Em
comparação de tempo com um ciclo de um dia (24h), o homem surgiu as 23:59h de
um dia que iniciou a 0:00h, sendo que o surgimento da Terra foi há 4,6br de anos
(fonte: Adaptado de GARRISON, 2010).
OCEANOGRAFIA
15
Logo no inicio da formação da Terra, a gravidade promoveu uma
diferenciação, atraindo a parte mais densa para o núcleo, formado em maioria
pelos elementos ferro e níquel. Metais mais leves como silício, magnésio, alumínio,
fósforo, carbono e oxigênio formaram a crosta. Os gases e o magma que afloram
do interior da Terra na superfície são chamados de emissões vulcânicas, que
liberam vários compostos voláteis, inclusive vapor de água. Após a formação da
crosta, esse vapor excessivo formou uma espessa camada de nuvens acima da
superfície do planeta, a proto-atmosfera, que impediu a penetração da luz solar. As
nuvens mais altas começaram a se resfriar e formar gotículas, precipitando uma
chuva quente, que tornava a se transformar em nuvem, pela elevada temperatura
das recentes rochas. Essa densa chuva deve ter durado cerca de 20 milhões de
anos. A água foi se acumulando em bacias e, há cerca de 3,6 bilhões de anos,
o oceano se formou, iniciando o processo de intemperismo nas rochas, evento
responsável pela elevada salinidade encontrada nas águas marinhas. A vida, sem
sombra de dúvidas, foi um importante evento e talvez o mais importante desde a
formação do planeta. Os raios ultravioleta que varriam a superfície da Terra não
penetravam nas camadas mais profundas do oceano, propiciando a formação
das primeiras formas de vida. Há cerca de 2 bilhões de anos os primeiros
microrganismos foto-autotróficos começaram a dispor de oxigênio livre por meio
da fotossíntese, criando uma atmosfera oxidada, iniciando o ciclo desse elemento
(PRESS et al., 2006; GARRISON, 2010).
Figura 1.4 –
Representação das
camadas terrestres,
os estratos que
compõem um raio de
6.600 km do planeta
Terra, do núcleo
até a crosta (fonte:
Infográfico Drüm
da universidade de
York. Adaptado de
FIORAVANTI, 2012).
16 UNIDADE I
O oxigênio estocado desde este período na atmosfera e nos oceanos
garantiu a vida como conhecemos atualmente (Capítulo 5).
A teoria da tectônica de placas prevê que as sólidas placas oceâ-
nicas e continentais derivam por cima da parte superior do manto, uma
região plástica com elevada temperatura e presença de magma. Cerca de
210 milhões de anos atrás iniciou-se o processo de separação do único
continente emerso, a Pangeia. Este era circundado pela única massa de
água, a Pantalassa, o primeiro e único oceano da época. Há 130 milhões
de anos, houve a primeira grande separação da terra emersa em dois
megacontinentes: a Laurásia (norte) e a Godwana (Sul), formando-se en-
tre eles um outro corpo de água, o Mar de Thethis. Depois disso, vários
outros oceanos e mares se formaram (processo de ‘rifteamento’), dei-
xando mais placas à deriva. Há 50 milhões de anos, aproximadamente,
os continentes e os oceanos estavam posicionados em sua configuração
atual (Capítulo 6). Ainda hoje as placas continuam se movendo. As placas
divergentes que formam a cordilheira Mesoatlântica se afastam de 2 a 7
cm por ano.
As placas oceânicas (crosta oceânica basáltica) são mais densas
que as placas continentais (crosta continental granítica) (Figura 1.5). As
placas continentais flutuam em equilíbrio isostático em cima das bacias
oceânicas. Existem três diferentes limites entre as placas tectônicas:
(1) Limite divergente: Em processos de formação de oceanos,
ocorre a abertura e assim a exposição da crosta oceânica, afastando
as placas oceânicas. A cordilheira marinha Mesoatlântica é um exemplo
deste movimento de abertura do oceano Atlântico (Figura 1.5).
(2) Limite convergente: Comum em áreas de subdução, que refletem
a colisão de uma placa oceânica contra uma placa continental, resultando
numa vala de subducção profunda na placa oceânica, enquanto que na
placa continental será observado um levantamento vertical. Um exemplo
clássico é a formação da cordilheira dos Andes e a fossa do Peru, entre o
limite da costa oeste da América do Sul e a costa leste do Pacífico (Figura
1.5). Também ocorrem limites convergentes entre placas continentais; a
maior cordilheira do mundo, Himalaia, é resultado deste processo.
(3) Limite transformante: as placas deslocam-se uma em relação
à outra horizontalmente; ocorrem tanto entre placas continentais quanto
oceânicas.
OCEANOGRAFIA
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O assoalho oceânico pode ser dividido em duas porções, sendo
a região central a bacia oceânica e a borda exterior, próxima aos
continentes, a margem continental. Essa região afogada dos continentes
pode apresentar características passivas ou ativas, estando diretamente
relacionadas com a tectônica de placas.
As bacias oceânicas (assoalho oceânico profundo) apresentam
uma composição muito diferente das margens e dos continentes, com
rochas basálticas (placas oceânicas). Tais bacias constituem cerca de
metade da área superficial da Terra. São formadas principalmente por
áreas planas, que podem ter até 7 km de sedimentos por cima da base
basáltica, e áreas montanhosas (ilhas, colinas, atóis, zonas de expansão).
Uma margem continental passiva situa-se em regiões mais interiores
das placas tectônicas, afastadas dos limites, geralmente associados a
movimentos divergentes, apresentando maior estabilidade e comprimento.
Por serem muito frequentes ao longo dos continentes voltados para o
litoral Atlântico, também podem ser chamadas de margens atlânticas.
Já as margens ativas apresentam forte instabilidade com ocorrência de
terremotos e vulcões próximos aos limites das placas, muito comuns em
movimentos convergentes. Por serem características ao oceano Pacífico,
podem ser também denominadas de margens tipo Pacífico (Figura 1.6).
A largura da plataforma continental está relacionada com a distância que
esta se encontra do limite da placa a qual pertence. Nota-se, pela Figura
1.5, que a margem ativa (oeste do continente sul-americano) é estreita,
enquanto a margem passiva (leste da América do Sul) é muito espessa.
A plataforma continental é a porção da margem continental mais
próxima das características dos continentes (ainda se encontra acima
uma placa granítica). As plataformas de todo o planeta compõem 7,4%
de toda a área do oceano. No Brasil, a plataforma continental apresenta
um comprimento médio de 170 km com uma profundidade final de 140 m.
A região sul possui a maior plataforma (250 km) em relação ao nordeste
(costa do PE/PB com 32 km de plataforma). No ultimo período glacial,
18.000 anos atrás, o nível da água do mar recuou aproximadamente
125 m em relação ao atual, expondo as plataformas continentais. Estes
movimentos de transgressões e regressões marinhas, bem como a
deriva de placas tectônicas, formaram as atuais linhas de costa que hoje
conhecemos (Capítulo 3).
18 UNIDADE I
O talude continental marca o fim da plataforma e o início da área de
transição entre as placas graníticas (continental) e basálticas (oceânica).
A quebra de plataforma é a região mais acentuada do talude com uma
elevada inclinação. O talude possui em média 20 km de comprimento e
pode ter um desnível de até 3.500 m. O sopé continental recebe o aporte
final dos sedimentos provenientes do continente, marcando o fim da
margem continental e o início das bacias oceânicas (Figura 1.6).
OCEANOGRAFIA
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Figura 1.6 – Composição das diferentes regiões das margens continentais, como exemplo de
uma margem passiva. Escala vertical exagerada da real (Fonte: Adaptado de GARRISON,
2010).
Primeiras navegações
20 UNIDADE I
ilhas na porção central do Pacífico. Estes “marinheiros” se baseavam
simplesmente na observação do Sol e das estrelas durante o amanhecer
e o anoitecer (GARRISON, 2010).
O comércio e a conquista de novas terras promoveram viagens
cada vez mais ambiciosas, longas e distantes da costa. É inegável que
as ciências marinhas tiveram um começo ligado a simples observações
descritas pelos navegadores. Em 300 a.C. foi fundada a maior biblioteca
da história do mundo antigo, com o maior acervo de pergaminhos, a
Biblioteca de Alexandria (Egito), considerada a primeira universidade do
planeta. Devido a esta fonte de informações, as ciências marinhas tiveram
um grande salto em seus estudos aplicados. Um dos bibliotecários mais
famosos que dirigiu a biblioteca foi o grego Erastóstenes de Cirena, o
primeiro a calcular, de maneira notável, a circunferência da Terra. Embora
Pitágoras já tivesse chegado à conclusão de que o planeta era redondo
em 600 a.C., foi Erastóstenes quem estimou seu tamanho. O valor original
publicado pelo bibliotecário em 230 a.C. difere em apenas 8% do valor real
calculado atualmente (40.075 km).
As primeiras cartas náuticas datam de 800 a.C., com o objetivo de
comunicar mudanças necessárias nas rotas, ou características físicas
perigosas, como rochedos. Mas a ciência da cartografia foi implementada
pelos estudiosos de Alexandria. O sistema de linhas imaginárias que
dividem a superfície da Terra também foi criado por Erastóstenes.
Anos depois, outros dois bibliotecários famosos, Hiparco e Ptolomeu,
aperfeiçoaram o sistema de coordenadas, baseados na latitude e na
longitude, considerando que a Terra possuía 360°, e com especificações
de graus, minutos e segundos para georeferenciar os pontos. Hoje em dia
utilizamos este sistema para a navegação, embora associados a satélites
orbitais em torno do planeta para orientar os pontos (Capítulo 6).
Após a queda do Império Romano e a destruição da Biblioteca de
Alexandria no século IV d.C., o desenvolvimento intelectual do Ocidente
enfraqueceu, pois os símbolos e conceitos da ciência eram considerados
pagãos durante todo o período da Idade Média. Todo o conhecimento
começou a ser difundido pelos árabes durante esse período. O povo árabe
também importou muito conhecimento da Ásia, pois estes se utilizavam
da bússola, uma invenção chinesa, a fim de orientar suas embarcações
e suas caravanas pelos desertos. Graças aos conhecimentos árabes
sobre os ventos periódicos no oceano Índico (as monções), o navegador
OCEANOGRAFIA
21
Vasco da Gama viajou do leste da África até a Índia, em 1498. Outros
povos também tiveram destaque em suas navegações, enquanto a
Europa regredia durante os ‘mil anos de trevas’ da Idade Média. Os
vikings exploraram e invadiram terras a norte e ao oeste (os vikings foram
o primeiro povo europeu a chegar a América, cerca de 500 anos antes
da Espanha). Os polinésios realizaram as maiores viagens exploratórias
sobre os oceanos, apesar de utilizarem embarcações muito menores e
simples que os outros povos citados até o momento, e isto no oceano
Pacífico, o maior oceano do planeta. Entre 300 e 600 d.C., os polinésios
povoaram as ilhas mais longínquas da costa, como o Havaí e a Ilha de
Páscoa, sendo estes lugares os últimos da Terra a serem habitados.
Entre 1405 e 1433 d.C., o almirante chinês Zheng He comandou a maior
frota marinha que já existiu, com 317 navios e 37.000 marinheiros; estes
percorreram 64.000 km chegando até mesmo a adentrar o Atlântico (há
relatos indígenas de que grandes velas vermelhas foram avistadas na costa
brasileira). O objetivo desta viagem não estava voltado à colonização, mas
sim exibir as riquezas e grandiosidade da China e demonstrar amizade a
povos distantes (alianças). Além da bússola, os chineses inventaram o
leme central, as velas em mastros múltiplos e compartimentos à prova da
água (GARRISON, 2010).
Com o Renascimento no século XV d.C, o comércio na Europa
ressurgiu, reativando as antigas rotas comerciais e a circulação de
mercadorias entre a Europa e o Oriente, utilizando as rotas da Ásia
Central e Arábia. Em 1453 o Império Turco-Otomano estabeleceu controle
sobre toda esta área, impossibilitando a manutenção destas rotas. As
‘grandes navegações’ europeias vieram como forma alternativa para
suprir tais rotas, através do meio marítimo. O infante D. Henrique (família
real portuguesa) patrocinou a formação do centro de estudos de ciências
marinhas e de navegação, chamado centro de Sagres (Portugal). Porém
foi em 1492 que Cristóvão Colombo, um navegador genovês sob comando
do império espanhol, que ‘descobriu’ a América. Desde 11.000 anos atrás
nativos americanos já estavam estabelecidos pelo continente. Já em 1507
as cartas náuticas incluíam o novo continente com o nome América (Carta
Waldseemüller). Fernão de Magalhães foi o primeiro navegador europeu
a comandar uma expedição para circunavegar o mundo (1519-1522). Sob
a bandeira do governo espanhol, provou de maneira definitiva que a Terra
era redonda. Após a viagem de Fernão, encerraram as viagens de grandes
22 UNIDADE I
navegações, e iniciou-se uma era de exploração e dizimação dos povos e
recursos naturais das novas colônias. Outras potências, como Inglaterra
e França, também se aventuram ao mar e conquistaram colônias como os
EUA, a Índia, a Polinésia Francesa, a Austrália e diversos povos africanos.
Navegações científicas
24 UNIDADE I
Todas as expedições acima promoveram grandes avanços nas ciências
marinhas, ainda que nenhuma delas tivesse como objetivo principal a pesquisa
acadêmica. A primeira expedição de circunavegação com o objetivo central
exclusivo voltado para as ciências marinhas foi a do navio britânico HMS
Challenger de 1872-1876. Outra famosa expedição anterior, a do navio HMS
Beagle, foi comandada pelo capitão Robert FitzRoy e o naturalista Charles
Darwin, entre 1831 a 1836. Esta resultou em descobertas marcantes para
a teoria da evolução da vida no planeta, porém foi principalmente voltada
para experimentos e amostragens continentais, O best-seller A origem
das espécies, de C. Darwin (publicado em 1859), foi um dos frutos desta
esplêndida expedição, que inspirou a futura Challenger.
A expedição Challenger teve o cunho científico marinho. Embora
tivesse um comandante da marinha britânica, a direção e o tempo de viagem
foram decididos por dois pesquisadores, Charles Wyville Thomson e John
Murray, que percorreram 127.600 km (Capítulo 2). Estes criaram o termo
oceanografia, que designa atualmente os estudos dos mares e oceanos.
Números impressionantes de amostragens e recordes de profundidades
para a época foram quebrados por esta expedição: 492 sondagens profundas
(até 8.185 m nas Filipinas); 133 dragagens; 151 arrastos; 77 amostragens
de água; 4.717 espécies novas. A expedição confirmou que existe vida em
áreas profundas nos oceanos; refinou os dados de correntes de superfícies
e correntes de fundo; introduziu a distribuição de sedimentos; estudou os
perfis dos recifes de corais. A descoberta da vida marinha nas profundezas
foi a base da biologia marinha. As denominadas ‘bolotas escuras de
sedimento’ ricas em minerais (petróleo do solo oceânico) foram umas das
maiores descobertas da expedição, levando ao interesse crescente até hoje
em estudar o assoalho oceânico. O resultado da expedição foi o ‘Relatório
Challenger’, uma série de volumes muito detalhados e com ilustrações
belíssimas, servindo, na verdade, para estabelecer a recém-criada ciência
da oceanografia. Até hoje a expedição Challenger foi a mais longa expedição
oceanográfica contínua da historia.
Em menor escala, os russos também contribuíram para a evolução da
oceanografia com um detalhado relatório sobre a temperatura e salinidade
do Pacífico Norte durante a expedição do navio Vitiaz, sob o comando do
capitão Marakov entre 1886-1888. Estes dados são utilizados atualmente
para discussões em relação às mudanças climáticas globais (GARRISON,
2010).
OCEANOGRAFIA
25
A partir do século XX, as explorações oceanográficas se tornaram
ainda mais ambiciosas e caras, com novos equipamentos eletrônicos e óticos
(sondas). Em 1925, o navio alemão Meteor inovou ao levar uma ecossonda
a bordo, e durante dois anos mapeou a bacia oceânica do Atlântico Sul, que
emite ondas sonoras da superfície até o assoalho oceânico e retornam em
períodos específicos, ‘desenhando’ o fundo do oceano. Estas informações
foram fundamentais para revelar o relevo altamente irregular do fundo
oceânico, e não um perfil plano, como se imaginava. Este estudo subsidiou
a descoberta da cordilheira marinha Mesoatlântica. A escuna Scripps, sob
o comando do norueguês Harald Sverdrup, explorou as características
geofísicas na costa sul da Califórnia, resultando na publicação do livro O
oceano, em 1942, a primeira referência moderna às ciências do mar. Com
uma capacidade de perfuração a 6.000 m abaixo da coluna de água, o navio
Glomar Challenger iniciou em 1968 uma importante missão para determinar
as origens do assoalho oceânico. Estas descobertas fundamentaram a
teoria da deriva das placas tectônicas, descritas em 1912 pelo alemão Alfred
Wegener. Em 2007, o navio oceanográfico japonês Chikyu iniciou operações
de perfurações em torno do globo, sendo atualmente um dos maiores
e mais modernos navios de pesquisa oceanográfica em operação. Ele
possui autonomia para perfurar até 11.000m de profundidade, sendo o mais
importante instrumento do Programa Internacional de Perfuração Oceânica
(em inglês, “Integrated Ocean Drilling Program – IODP”).
A fim de processar os dados obtidos pelas expedições oceanográficas
modernas, os centros de pesquisas oceanográficos acompanharam esta
evolução histórica da oceanografia a partir do solo. Um destaque é o primeiro
centro de oceanografia, o Institut Océanographique, fundado em 1906 pelo
príncipe Albert I, de Mônaco. Um dos famosos alunos deste instituto foi
Jacques Cousteau, inventor do equipamento de mergulho autônomo, em
1943. Atualmente o órgão americano de Administração Nacional Oceânica
e Atmosférica (National Oceanic and Atmospheric Administration - NOAA) é
um dos maiores centros de informações sobre os oceanos e mundialmente
influentes no investimento e desenvolvimento de tecnologias oceanográficas.
Outro órgão americano que ganhou destaque na oceanografia moderna foi
a Administração Nacional do Espaço e da Aeronáutica (National Aeronautics
and Space Administration - NASA). A agência espacial americana usou o
satélite Seasat, pela primeira vez em 1978, para registrar a temperatura de
superfície dos oceanos. Desde então, uma ciência chamada sensoriamento
26 UNIDADE I
remoto vem se utilizando de satélites para obter diversas características
oceanográficas (Capítulo 6). Um destaque é o satélite Aqua, um dos
satélites de nova geração, lançado em 2002, e que registra as mais
diversas informações sobre a superfície dos oceanos, desde temperaturas
até a estimativa da altura de ondas. Os EUA também formaram a rede de
satélites que compõem o sistema de posicionamento global (em inglês,
global positioning system - GPS), amplamente utilizado até mesmo em
celulares e automóveis no estabelecimento de coordenadas em tempo real
de localização em terra. O GPS revolucionou o sistema de coordenadas na
coleta de dados oceanográficos (GARRISON, 2010).
Atualmente a oceanografia é conhecida por estudar os processos de
formação e manutenção dos oceanos, as formas de vida associadas a estes
e as áreas de terra que os limitam. Assim, uma gama de disciplinas forma a
ciência da oceanografia (GARRISON, 2010). Para fins didáticos, as ciências
marinhas são divididas em quatro vertentes, que serão estudas mais a fundo
nos capítulos seguintes.
Referências
OCEANOGRAFIA
27
INTERNET ARCHIVE. US Archive. Disponível em: <https://ia600803.us.ar-
chive.org/zipview.php?zip=/15/items/olcovers587/olcovers587-L.zip&file=-
5872927-L.jpg>. Acesso em 20 de junho de 2015.
28 UNIDADE I
CAPÍTULO 2
OCEANOGRAFIA FÍSICA
Samuel Soares Valentim
Universidade Federal do Ceará
OCEANOGRAFIA 29
uso dos oceanos. Três importantes temas serão descritos a seguir:
(1) Nós obtemos comida dos oceanos desde as grandes navegações;
a prática de descobrimento de novas terras e a pesca para sobrevivência
e posteriormente como comércio, é um marco para este tema. Somos
interessados em processos que influenciam o mar, assim como os agricultores
são interessados no tempo e clima. O oceano não apenas tem o tempo como as
mudanças de temperatura e correntes, mas as condições climáticas nos oceanos
têm capacidade de fertilização, desde a produtividade primária nos primeiros
centimetros da coluna d’água até o desenvolvimento de toda a cadeia trófica.
(2) Nós usamos o oceano; há um exorbitante número de habitações e
obras costeiras ao longo das zonas costeiras e também em regiões offshore. Os
oceanos e mares são usados para transporte, seja de pessoas, seja de cargas
ou ambos. Os oceanos nos fornecem recursos valiosos (exs.: óleos e gases). E
os oceanos são usados para recreação diversas (exs.: natação, pesca, surfe,
velejar e mergulho). Diante disso, é nitido nosso interesse em processos que
influenciam essas atividades, especialmente das ondas, ventos, correntes e
temperaturas.
(3) O oceano influencia o clima, seja na distribuição das chuvas, secas,
climas regionais, eventos extremos (exs.: inundações, marés meteorológicas),
seja no desenvolvimento de outros fenômenos (tornados, furacões e tufões).
Com isso, somos interessados em interações oceano-atmosfera, especialmente
nos fluxos de calor e água ao longo da superficie do oceano, no transporte do
calor pelas correntes oceânicas e na influência dos oceanos sob os padrões
climáticos.
30 UNIDADE II
por Bartolomeu Dias (1487-1488), Cristóvão Colombo (1492-1494), Vasco da
Gama (1497-1499), Fernando de Magalhães (1519-1522) e muitos outros. Estes
precursores lançaram as bases para as rotas marítimas/comerciais globais que
se estendem desde a Espanha até as Filipinas no início do século XVI. As rotas
foram baseadas em um bom conhecimento dos ventos alísios, ventos de oeste
e correntes de contorno oeste no Atlântico e no Pacífico (COUPER, 1983: 192-
193) (Figura 2.1). Os primeiros exploradores europeus foram logo seguidos por
viagens científicas de descobrimento lideradas por James Cook (1728-1779) no
Endeavour, Resolution, e Adventure; Charles Darwin (1809-1882) no Beagle;
Sir James Clark Ross and Sir John Ross, que pesquisaram as regiões Ártica e
Antártica, no Victory, Isabella e no Erebus; e Edward Forbes (1815-1854), que
estudou a distribuição vertical da vida no oceano. Outros coletaram observações
oceânicas e produziram úteis resultados, incluindo Edmond Halley, que traçou
a rota dos ventos alísios e das monções; e Benjamin Franklin, que traçou os
primeiros vetores da corrente do Golfo. Um histórico mais detalhado sobre a
evolução das expedições marítimas pode ser encontrado no capítulo inicial deste
livro.
Navios lentos e sem tanta modernidade dos séculos XVIII e XIX deram
lugar aos satélites, derivadores e instrumentos autônomos por volta do fim
do século XX. Os satélites têm observado o oceano, ar e a terra. Milhares
de derivadores coletam informações em 2 km do oceano. Os dados desses
sistemas, quando inseridos em modelos numéricos, permitem o estudo da Terra
como um sistema. Primeiramente, é possível estudar como a biologia, a química
e os sistemas físicos interagem para influenciar o meio ambiente.
Figura 2.1 – Exemplo da era da exploração dos oceanos. Curso percorrido pelo
H.M.S Challenger durante a expedição britânica Challenger (1872-1876)
(Fonte: Adaptado de STEWART, 2008).
OCEANOGRAFIA 31
Marcos para a compreensão dos oceanos
1735 - George Hadley publicou a história dos ventos alísios baseado nas
observações do momentum angular em “No que diz respeito a causa da
geração dos ventos alísios” (Philosopical Transactions, 39:58-62).
1769 - Benjamin Franklin, após ser titulado como mestre, fez o primeiro mapa
da corrente do Golfo usando informações de navios correios que navegavam
entre a Nova Inglaterra e a Inglaterra. As informações foram coletadas pelo
seu tio Timothy Folger.
32 UNIDADE II
intercâmbio internacional de dados ambientais, iniciando pela prática de
troca de diários de bordo para confecção de mapas e cartas através dos
dados coletados.
OCEANOGRAFIA 33
1949 - Inicio da Cooperativa de Pescadores da Califórnia, que investigou a
corrente da Califórnia. O estudo mais completo realizado sobre uma corrente
costeira.
1963 - Corporação Sippican (Tim Francis, Willian Van Allen Clark, Graham
Campbell e Sam Francis) inventaram o “Expendable Bathy Thermograph”
(XBT), um perfilador muito sensível, principalmente para temperatura. Um
dos instrumentos oceanográficos mais utilizados em navios de pesquisa.
1979-1981 - Terry Joyce, Rob Pinkel, Lloyd Regier, F. Rowe e J.W. Young
desenvolveram técnicas que levaram a criação do perfilador acústico de
correntes por efeito doppler “Acoustic Doppler Current Profile” (ADCP) para a
medição de correntes oceânicas superficiais a partir de navios em movimento.
Esse instrumento oceanográfico é amplamente utilizado na oceanografia.
34 UNIDADE II
1991 - Wally Broecker propôs que mudanças na circulação profunda do
oceano modulam as eras glaciais, e que a circulação profunda do Atlântico
pode entrar em colapso, podendo o Hemisfério Norte entrar em uma nova
era glacial.
OCEANOGRAFIA 35
Além dessa ordem cronológica dos principais fatos históricos
correlacionados com a oceanografia física ao longo de séculos, é importante
mostrar o cenário atual dessa ciência no Brasil. Existem 13 instituições
de ensino que oferecem o curso de oceanografia, e dentre eles, algumas
possuem departamentos e laboratórios mais desenvolvidos para os estudos
na oceanografia física, como por exemplo, o departamento de Oceanografia
Física do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (IOUSP),
que possui duas estações maregráficas instaladas no litoral norte (Ubatuba)
e sul (Cananéia) com o maior (ou mais longo) registro maregráfico (série
temporal) do país. O IOUSP foi fundado em 1946 como Instituto Paulista
de Oceanografia (IPO) e em 1951 foi incorporado à USP como unidade de
pesquisa e assumiu o nome atual, perfazendo 64 anos de atuação na ciência
nacional e na oceanografia.
A COPPE/UFRJ dentro do seu curso de graduação e pós-graduação
em engenharia naval e oceânica é referência na aplicação e desenvolvimento
da modelagem numérica nos estudos dos oceanos e corpos adjacentes para
criar cenários contra eventos extremos (inundações, tempestades, marés
meteorológicas, etc). Outros departamentos de universidades e grupos
de pesquisas especificos também desenvolvem essa ferramenta bastante
utilizada no cenário global. Dentre os vários modelos numéricos desenvolvidos
no Mundo e difundidos no Brasil, o modelo holandês Delft3D, desenvolvido
pelo instituto DELTARES é um utilizado para estudos de hidrodinâmica em
plataforma, baías e ambientes estuarinos, podendo gerar simulações sobre
a hidrologia do ambiente, morfologia, transporte de sedimentos e criação de
cenários para tomadas de decisão.
36 UNIDADE II
temperaturas superficiais, moldar o tempo e o clima da Terra, e criar a maior
parte da dinâmica de ondas e correntes. E, para conseguir compreender
esse sistema complexo, é necessário utilizar e integrar a teoria, realizar
observações e modelos numéricos para descrever as dinâmicas do oceano
(Figura 2.2)
Coleta de dados
Análise dos
Modelos Numéricos dados e Predição
aprendizado
Teoria
Circulação atmosférica
OCEANOGRAFIA 37
infravermelha da superfície do oceano e o calor sensível do oceano por
ventos quentes e frios. Ventos controlam a circulação superficial do oceano
até cerca de 1 km de profundidade. Vento e marés conduzem as correntes
profundas do oceano.
O oceano, por sua vez, é dominado por uma força de calor que conduz
a circulação atmosférica de forma diferenciada do Equador aos polos (Figura
2.3). A distribuição desigual do balanço de calor (perda e ganho) pelo oceano
conduz os ventos pela atmosfera. O sol aquece o oceano tropical, que
evapora, transferindo calor em forma de vapor d’água para atmosfera. O
calor é liberado quando o vapor se condensa em forma de chuva. Ventos e
correntes oceânicas transportam calor em direção aos polos, onde é perdido
para atmosfera.
Alísios
Alísios
38 UNIDADE II
Porém, ao invés de dar continuidade a partir do Equador até os polos
de maneira contínua em cada hemisfério, o ar que sobe no Equador é
gradualmente defletido para o leste ao se mover em direção aos polos, ou
seja, o ar vira para a direita no Hemisfério Norte (HN) e para a esquerda
no Hemisfério Sul (HS). Essa mudança de direção é causada pelo efeito
de Coriolis (efeito real que depende do referencial), que, apesar de não
causar o vento, influencia a direção (GARRISON, 2010).
A partir do momento em que o ar ascende no Equador, ocorre
uma diminuição da umidade pela precipitação (chuva) causada pelo
resfriamento e expansão. A seguir, esse ar mais seco torna-se mais denso
na atmosfera superior quando começa a irradiar calor para o espaço, e se
resfria. Após deslocar-se do Equador até cerca de 30°N e 30°S de latitude,
o ar torna-se denso o suficiente para descer até a superfície da Terra.
Grande parcela do ar que descende volta em direção ao Equador quando
atinge a superfície. No HN, o efeito de Coriolis influencia a direção do ar
superficial para direita (“Alísios de nordeste” na Figura 2.3). Apesar de ter
sido aquecido pela compressão durante seu movimento descendente, o
ar é normalmente mais frio do que a superfície pela qual flui. Com isso,
o ar se aquece ao se mover em direção ao Equador, entretanto evapora
água superficial e se torna úmido. Esse ar úmido, aquecido e menos
denso, começa a subir ao se aproximar do Equador, fechando o ciclo.
Esse significativo circuito de ar recebe o nome de célula de circulação
atmosférica. Existem duas células nos trópicos (0° até 30°): células de
Hadley. Duas células nas latitudes médias (entre 30° até 50-60°): células
de Ferrel. E duas células em altas latitudes (50-60° até 90° - polos): células
polares. Essas três grandes células de circulação atmosférica descritas,
são também representadas pelos ventos alísios (nordeste e sudeste),
ventos de oeste e ventos de leste, respectivamente (GARRISON, 2010).
Esse modelo de circulação atmosférica descrito proporciona um
entendimento muito interessante para oceanografia física. A partir da
compreensão dessa dinâmica atmosférica, é possível estender o estudo
para vários fenômenos ou processos que ocorrem no sistema terra-
oceano-atmosfera, como monções, brisas (marítimas e terrestres),
tempestades, ciclones (tropicais e extratropicais) e até fenômenos, como
El Niño e La Ninã (também correlacionados com circulação oceânica).
Para maior detalhamento e aprofundamento, recomenda-se a leitura do
livro Introduction to Physical Oceanography elaborado por Stewart (2008),
OCEANOGRAFIA 39
Regional Oceanography: An Introduction desenvolvido por Tomczak e
Godfrey (2001) e “Fundamentos de Oceanografia”, por Garrison (2010).
Circulação oceânica
40 UNIDADE II
Figura 2.4 – Descreve o fluxo padrão da circulação oceânica nos oceanos. Próximo à
superficie estão as correntes quentes (em vermelho); as correntes frias e profundas estão
representadas pela linha azul. Essa representação mostra como o sistema oceânico está
continuamente movendo água da superfície para o fundo, e mantendo o ciclo (Fonte: Artic
Climate Impact Assessment - ACIA, 2005).
OCEANOGRAFIA 41
das Malvinas (CM) e se distancia da costa. A CSE também origina a corrente
norte do Brasil (CNB) ou corrente das Guianas (CG), que flui em direção ao
Equador (Figura 2.5).
42 UNIDADE II
costeiros, como a descarga fluvial, podendo ocorrer diminuição da salinidade
e alteração na densidade.
(2) Água da Plataforma Continental: depende do tipo de plataforma
(interna, intermediária e externa), porém geralmente é afetada por
características continentais.
(3) Água Tropical (AT): Emilson (1961) caracterizou por águas com
temperaturas superiores a 20°C, e salinidades superiores a 36 g/kg.
(4) Água Central do Atlântico Sul (ACAS): Miranda (1985) caracterizou
por temperaturas superiores a 6°C, e inferiores a 20°C, e salinidade variando
entre 34,6 a 36 g/kg.
(5) Água Intermediária da Antártica (AIA): Sverdrup et al., (1942)
caracterizou por temperaturas entre 3-6°C e salinidades variando de 34,2 a
34,6 g/kg.
(6) Água Profunda do Atlântico Norte (APAN): Silveira et al., (2000)
caracterizou por valores de temperatura entre 3-4°C e salinidades entre 34,
6 a 35 g/kg.
(7) Água Antártica de Fundo (AFF): formada no Mar de Weddell, possui
valores médios de temperatura de 1,9°C e salinidade de 34,6 g/kg.
Zona costeira
OCEANOGRAFIA 43
tem uma extensão de 8.500 km, na qual é possível identificar uma grande
diversidade de ambientes: dunas, ilhas, baías, recifes, costões rochosos,
estuários, praias (NEVES & MUEHE, 2008) (Figura 2.6). O litoral está
inserido nas zonas equatorial e subtropical, com latitudes desde 04°30’ N até
33°44’ S. O Brasil possui 17 estados costeiros, com 463 municipios inseridos
na zona costeira, perfazendo um total de 50,7 milhões de brasileiros vivendo
próximos ao litoral, o que representa cerca de 27% da população nacional
(IBGE, 2011).
44 UNIDADE II
(MMA, 1996). A Figura 2.7 apresenta uma carta geomorfológica do Delta do
Parnaíba, localizado no litoral do estado do Piauí. Essa região destaca-se
pela expansão da carcinicultura, principalmente no municipio de Cajueiro da
Praia. Essa região apresenta um perfil morfológico razoavelmente regular,
caracterizada por regime de macromarés, com presença de estuários e o
Delta do rio Parnaíba (Figura 2.7).
OCEANOGRAFIA 45
contato com os grupos de interesse, seja da graduação até oportunidades
de concurso na área. É necessário ressaltar que podem existir outros
grupos em outras universidades que não possuem curso de graduação em
oceanografia, mas programas de pós-graduação com linhas de pesquisa que
abordem a oceanografia física. Vale lembrar, porém, que esse levantamento
está apenas condicionado as universidades que possuem a graduação em
oceanografia (APÊNDICE I).
Referências
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ce, p 1556-1567, 2003.
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46 UNIDADE II
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OCEANOGRAFIA 47
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SVERDRUP, H. U.; JOHNSON, M. W.; FLEMING, R. H. The oceans: their
physics, chemistry and general biology. Englewood Cliffs: Prentice-Hall Inc,
p. 1087, 1942.
48 UNIDADE II
CAPÍTULO 3
OCEANOGRAFIA
GEOLÓGICA
Francisco Sekiguchi Buchmann
Universidade Estadual Paulista
OCEANOGRAFIA 49
Figura 3.1 – Sedimentos clásticos terrígenos na praia de Jurubatiba –
Macaé, Rio de Janeiro (Foto: BUCHMANN, 2015).
50 UNIDADE III
biogênica, fatores como latitude, temperatura, salinidade, profundidade da
água, intensidade da luz, turbidez, circulação oceânica, pressão de CO2
e suprimento sedimentar, atuam de forma conjunta, e criam condições
necessárias para a proliferação dos organismos formadores da “fábrica
carbonática” (BATHRUST, 1975; LOUCKS & SARG, 1993; SOARES et al.,
2009).
OCEANOGRAFIA 51
temporais de segundos (ondas), horárias (marés altas e marés baixas),
diárias (tempestades), sazonais (estações do ano), anuais (el niño), decadais,
seculares e milenares (SHORT, 1999).
A subida e descida diária do nível do mar e de outros corpos de água
ligados ao oceano (estuários, lagunas etc.) são causadas pela interferência
da Lua e do Sol sobre o campo gravitacional da Terra. A amplitude das
marés (a diferença de nível entre a maré alta e a maré baixa) é um elemento
modelador da linha de costa, em função das velocidades de correntes a
ela associadas. Estas correntes de marés são significativas no transporte
sedimentar costeiro. A maior parte do litoral brasileiro, do estado de Alagoas
ao Rio Grande do Sul, apresenta amplitudes de marés inferiores a 2 metros
(micromarés) (Figura 3.3). Entre o Maranhão e alguns trechos do litoral
da Bahia e Sergipe apresentam amplitudes entre 2 e 4 m (mesomarés).
Amplitudes superiores a 4 metros (macromarés) ocorrem apenas no estado
do Maranhão, em parte do Pará (Salinópolis) e no litoral sul do Cabo Norte
(Amapá). As correntes de marés possuem capacidade para modificar a
morfologia da linha de costa e da plataforma continental interna (TESSLER
& GOYA, 2005).
Figura 3.3 – Praia de Baraqueçaba (São Sebastião – São Paulo) controlada por micromaré
(Foto: BUCHMANN, 2015).
52 UNIDADE III
Os sistemas meteorológicos interagindo com a atmosfera e o oceano
propiciam a geração de ciclones que atingem alta intensidade, transferindo
energia da atmosfera para o mar, gerando grandes ondas. Muitas vezes,
estes eventos geram a sobrelevação do mar, também chamadas de marés
meteorológicas (“storm surges”), que são variações positivas de mesoescala
no nível do mar, originadas por gradientes bruscos de pressão e ventos
próximos à zona costeira, definidas pela diferença entre a maré prevista e a
maré observada (PUGH, 1987). Para a costa Atlântica do Brasil, o resultado
é a sobrelevação rápida do nível do mar, podendo chegar a 2 m, devido ao
empilhamento de água pelos fortes ventos (MARONE & CAMARGO, 1994).
Quando isto ocorre, associado à presença de ondas e a marés astronômicas
de sizígia, o poder erosivo de uma tempestade é otimizado, exercendo um
papel significativo nas remobilizações de volume de sedimento praial (FOX &
DAVIS JR., 1976; DOLAN & DAVIS, 1992; CALLIARI et al., 1996; PEREIRA-
DA-SILVA, 1998).
Os processos de interação oceano-atmosfera geram ondas e
correntes, que por sua vez determinam a variação morfológica da praia. As
ondas são responsáveis pelas variações temporais da dinâmica na zona de
arrebentação e sua interação com o sedimento, e determinam as variações
topográficas da praia. A interação dos efeitos dos ventos, ondas, correntes,
e marés, somando-se às características do material formador das praias,
determinam a variação morfológica do sistema praial (WRIGHT & SHORT,
1984; SHORT, 1999; HOEFEL, 1998; CALLIARI et al. 2003; BARLETTA,
2000)
O conceito de perfil de equilíbrio tem sido amplamente utilizado em
estudos de evolução da linha de costa e morfodinâmica costeira. Este conceito
relaciona a dinâmica da morfologia (declividade) e dos sedimentos (gradiente
granulométrico) com as condições hidrodinâmicas para representar uma
resposta de equilíbrio (DEAN, 1991; FACHIN, 1998; GRUBER et al., 2006).
Através de uma equação baseada na teoria linear das ondas, onde
forças construtivas ou destrutivas tendem a transportar sedimentos em
direção à costa ou ao mar, respectivamente, ondas esbeltas, muito altas e
com período curto, representam condições de alta energia e propiciam a
migração de sedimentos em direção ao mar. Quando ocorre o contrário, há o
acúmulo de sedimentos em direção à costa (DEAN, 1973).
Praias arenosas dominadas por ondas possuem as características
dissipativas e reflectivas (WRIGHT et al., 1979; SHORT, 1979). Wright et al.
OCEANOGRAFIA 53
(1979) usa o parâmetro adimensonal Ômega de Dean (1973), combinando
características de ondas e dos sedimentos, para propor uma classificação
praial. Wright & Short (1984) aplicaram nesta classificação os termos
morfológicos banco, cava, berma, cúspides, escarpa, entre outros, para
definir as feições representativas dos estados morfodinâmicos:
(1) Dissipativa (Dissipative), a zona de surfe é larga, apresenta baixo
gradiente topográfico e elevado estoque de areia na porção subaquosa da
praia.
(2) Banco e cava longitudinal (Longshore bar-trough), caracterizado por
uma progressiva redução da largura da calha longitudinal (longshore trough),
em decorrência da migração do banco submerso da zona de arrebentação
em direção à praia
(3) Banco e praia rítmica (Rhythmic bar and beach), feições rítmicas
ondulantes em forma de cúspides submarinas são frequentes; e correntes de
retorno (rip currents) podem ocorrer nas depressões dos bancos.
(4) Banco transversal com canal (Transverse bar and beach) bancos
dispostos transversalmente à praia e fortes correntes de retorno quando as
extremidades dos bancos, em forma de cúspide, se soldam à face da praia.
(5) Crista e Canal ou terraço de maré baixa (Ridge and runnel or Low
tide terrace), a face de praia relativamente íngreme na maré alta, a qual é
conectada, durante a maré baixa, a um terraço plano ou banco. O terraço
prolonga-se de alguns metros a dezenas de metros em direção ao mar ligado
à praia.
(6) Refletiva (Reflective), caracterizado por elevados gradientes da
praia, o que reduz sensivelmente a largura da zona de surfe. O estoque de
areia se encontra na porção submersa da praia.
A antepraia (shoreface) é uma superfície submersa côncava da
porção superior da plataforma continental interna, controlada por processos
oceânicos e costeiros, submetida a ação de ondas normais (antepraia superior)
e ondas de tempestades (antepraia inferior). Estudos sobre o substrato da
antepraia observam a presença de terraços e escarpas em profundidades
de 20, 30 e 60 m; estes terraços seriam registros de estabilizações do nível
do mar durante a transição Pleistoceno / Holoceno. Há 18 mil anos (ka),
durante o último máximo glacial, uma grande regressão marinha expôs a
plataforma continental brasileira, transformando-a em uma ampla planície
emersa. Após 18ka, iniciou-se uma transgressão que retrabalhou as áreas
emersas, afogando rios e estuários, e moldando a plataforma continental
54 UNIDADE III
em sua configuração atual (KOWSMANN & COSTA, 1974; CORREA, 1990;
FACHIN, 1998; CONTI, 2004).
Os arenitos-de-praia (beachrock) identificados ao longo da costa
brasileira refletem as flutuações do nível do mar durante o Quaternário, e
o estudo destas rochas sedimentares permite identificar antigas linhas de
praia. Os arenitos-de-praia são sedimentos praiais cimentados por carbonato
de cálcio (Figura 3.4). Estes sedimentos apresentam uma granulometria
diversa, desde areia fina até grandes blocos, formando conglomerados-de-
praia. Mineralogicamente eles variam de areia quartzosa de origem terrígena
a areias carbonáticas biogênicas, tais como o retrabalhamento de moluscos,
algas calcárias e corais. (FREY, 1973; BIGARELLA, 1975; HOPLEY, 1986;
PILKEY et al., 1993; CALLIARI et al., 1994; BUCHMANN et al., 2001;
BUCHMANN & TOMAZELLI, 2003).
OCEANOGRAFIA 55
determinar antigas linhas de costa em praias arenosas (RODRIGUES et al.
1984). A maior ocorrência de C. major ocorre em praias com sedimento de
areia muito fina e bem selecionada, baixa inclinação e zona de arrebentação
de ondas bem definida, características encontradas em praias dissipativas
(SOUZA & BORZONE, 1996) (Figura 3.5).
56 UNIDADE III
Muitos fatores afetam a posição da linha de costa. Alguns destes
são de origem natural e intrinsecamente relacionados à dinâmica costeira
(balanço de sedimentos, espaço de acomodação, variações do nível relativo
do mar, etc). Outros fatores são antrópicos, relacionados a intervenções
humanas na zona costeira (obras de engenharia, represamento de rios,
dragagens, ocupação e uso do solo etc.). Como resultado temos as linhas
de costa regressiva (ou progradante), retrogradante (ou transgressiva) e
agradacional (ou estável) (TOMAZELLI & VILWOCK, 2000; ANGULO et
al. 2006; CATUNEANU, 2006; DILLENBURG & HESP, 2009).
A linha de costa regressiva (progradante), onde o aporte de
sedimentos é maior que a geração de espaço de acomodação avança mar
adentro, com a deposição de cordões litorâneos (beachridges) e pouca
formação de dunas frontais (foredunes).
A linha de costa transgressiva (retrogradante), onde o aporte de
sedimentos é menor que a geração de espaço de acomodação sofre
erosão e recua em direção ao continente.
A linha de costa estável (agradacional), onde a taxa de aporte de
sedimentos é igual a geração de espaço de acomodação permanece em
equilíbrio, as dunas frontais (foredunes) aumentam de tamanho.
As dunas costeiras são depósitos eólicos que se desenvolvem
em praias sujeitas a ventos frequentes soprando do mar e com
disponibilidade abundante de sedimentos arenosos (Figura 3.6). Esses
depósitos apresentam as mais diversas dimensões, morfologias e graus
de estabilidade (CARTER et al., 1990). Os campos de dunas podem variar
em largura de poucas centenas de metros a alguns quilômetros continente
adentro (HESP, 1999). Suas características morfológicas e ecológicas
são influenciadas por processos que ocorrem em ambientes adjacentes,
tanto no ambiente marinho quanto no ambiente terrestre (SHORT & HESP,
1982; HESP, 1999).
OCEANOGRAFIA 57
Figura 3.6 – Dunas cavalgando a Formação Barreiras - Ponta Grossa, Ceará
(Foto: BUCHMANN).
Referências
58 UNIDADE III
BUCHMANN, F. S. C.; SEELIGER, M.; ZANELLA, L. R.; MADUREIRA, L. S.
P.; TOMAZELLI, L. J.; CALLIARI, L. J. Análise batimétrica e sedimentológica
no estudo do Parcel do Carpinteiro, uma paleolinha de praia pleistocênica na
antepraia do Rio Grande do Sul, Brasil. Revista Pesquisas em Geociências,
v. 28, p. 109-115, 2001.
OCEANOGRAFIA 59
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FOX, W. T.; DAVIS JR., R. A. Weather Patterns and Coastal Processes. In:
DAVIS JR., R. A.; ELTHINGTON, R. L. (Eds). Beach and Nearshore Sedi-
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ern Australia. Marine Geology, v. 48, p. 259-284, 1982.
62 UNIDADE III
CAPÍTULO 4
OCEANOGRAFIA QUÍMICA
Pollyana Cristina Vasconcelos de Morais
Marcielly Freitas Bezerra
Universidade Federal do Ceará
Sedimentos
OCEANOGRAFIA 63
organismos mortos. Hidrogênicos são os que se formam diretamente na água
do mar, por interações da água com compostos minerais existentes no local.
E os cosmogênicos são provenientes do espaço extraterrestre, através dos
meteoros e poeira especial.
Devido à sua função de reservar substrato para os mais diversos
organismos, esse compartimento ambiental possui suma importância
ecológica, além de ser um excelente adsorvente de contaminantes tóxicos
(SWARTZ et al., 1985). Assim, a maior parte dos contaminantes lançados nos
sistemas costeiros acaba depositando-se nos sedimentos, produzindo efeitos
tóxicos sobre a fauna e afetando o equilíbrio ecológico (ABESSA et al., 2006).
Na teoria, os contaminantes se ligam aos sedimentos finos de origem
terrígena ao atingir a região costeira. Isso ocorre porque essa região tem
por característica a baixa energia hidrodinâmica possibilitando assim a
predominância de partículas finas e a deposição dos contaminantes.
Água
64 UNIDADE IV
da água do mar aumenta como o aumento da salinidade e da pressão e com
a diminuição da temperatura. Assim, a água quanto mais fria e salina mais
densa é; e quanto mais quente e menos salina, menos densa é.
(5) Som: a velocidade das ondas sonoras na água do mar é de
aproximadamente 1.500 metros por segundo, sendo muito maior que a
velocidade do som no ar, por isso muitos animais marinhos utilizam o som
para se orientarem nos oceanos.
(6) Luz: a camada de água pode ser dividida em duas denominações
referentes à iluminação: zona fótica e zona afótica. A zona fótica é a camada
iluminada e aquecida pelo Sol na superfície das águas, permitindo toda a
produção fotossintética. Já as águas situadas abaixo dessa zona não recebem
iluminação, por isso é chamada de zona afótica.
(7) Solvente eficaz: a assimetria elétrica descrita anteriormente da
molécula da água explica sua grande capacidade solvente, podendo atrair
partículas negativas ou positivas. A água é a substância capaz de dissolver
mais substâncias que qualquer outra.
(8) Salinidade: é a quantidade total de sólidos inorgânicos dissolvidos na
água. A salinidade média dos oceanos é de 3,5%, dependendo da evaporação,
precipitação e quantidade de água doce descarregada do continente. Cloreto
e sódio e sulfato são os íons dissolvidos mais abundantes da água do mar. A
determinação de salinidade é feita através da clorinidade da amostra de água.
Visto que a proporção de clorinidade e salinidade são constantes, mede-se a
massa total dos íons brometos, iodetos e cloretos.
(9) Composição da água do mar: a água do mar é uma água acrescida
de sólidos e gases dissolvidos, podendo ser classificados como: elementos
conservativos, elementos traços, nutrientes e gases dissolvidos. Os elementos
conservativos são os que aparecem em grandes concentrações. Os elementos
traços são aqueles que, embora encontrados em baixíssimas concentrações,
possuem um papel importante na química da água e para a biota. Os nutrientes
são muito importantes para a biota, principalmente para os organismos
da base da cadeia alimentar, afetando todos os níveis tróficos posteriores.
Geralmente apresentam baixos valores em águas superficiais devido ao
consumo rápido dos fotossintetizantes, e em águas mais profundas há um
acúmulo de nutrientes. Os gases presentes no ar se dissolvem facilmente na
água; assim, todos os gases encontram-se dissolvidos na superfície da água
do mar. Dentre os gases dissolvidos, os mais representativos são nitrogênio,
oxigênio e o dióxido de carbono.
OCEANOGRAFIA 65
(10) pH: Em um volume de água, quanto mais hidretos (H+) e menos
hidroxilas (OH-) mais ácida será; portanto o inverso torna-a mais alcalina.
A escala de pH varia de 1 a 14; o valor 7 indica o ponto neutro em que há
equilíbrio na quantidade de íons H+ e OH-; enquanto a predominância de íons
H+ indicam baixos valores de pH, o inverso indica altos valores. A água pura
é neutra, e em contrapartida a água do mar é levemente alcalina, variando
de 7,4 a 8,5. Isso ocorre devido à grande quantidade de CO2 dissolvida na
água do mar, a qual pode produzir íons H+, bicarbonato (HCO3-) e carbonato
(CO32-), que previnem a mudança de pH quando são adicionados ácidos ou
bases. Assim, a água do mar funciona como uma solução-tampão.
Os sistemas marinhos sofrem alterações na sua composição química
devido a alterações no ambiente, geralmente associadas à entrada de
contaminantes. Convém lembrar que a qualidade ambiental pode ser alterada
pela presença destes agentes tóxicos. Os principais aportes antropogênicos
encontrados referem-se ao despejo de material dragado, efluentes urbanos
e industriais, lixiviação de áreas rurais, aportes atmosféricos e dejetos da
carcinicultura (CLARK, 2001).
A zona costeira abriga grande parte da população mundial e a situação
da costa brasileira não é diferente. De acordo com o Ministério do Meio
Ambiente, o aumento das comunidades urbanas e centros industriais ao
longo da zona costeira favorecem processos de contaminação e poluição,
sobretudo quando se torna algo recorrente, devido à inexistência de redes
adequadas e/ou suficientes para a coleta e tratamento de esgoto (SASAKI,
2012). A contaminação, por sua vez, gera impactos diretos e indiretos à fauna
e flora, prejuízos ao turismo, à balneabilidade e às atividades pesqueiras
(BÍCEGO et al., 2006).
Contaminantes orgânicos
66 UNIDADE IV
deveria ter uma rápida degradação química ou biológica que o tornasse um
composto pouco persistente (baixa toxicidade). Esses contaminantes são
distribuídos em grupos de acordo com o tipo de praga que combatem:
(1) Antimicrobianos: combatem bactérias e vírus.
(2) Desinfetantes: matam ou inativam microrganismos que proliferam
doenças.
(3) Fungicidas: combatem fungos.
(4) Herbicidas: combatem ervas daninhas e plantas indesejáveis.
(5) Inseticidas: combatem insetos e artrópodos.
(6) Ferormônios: usados para desequilibrar a reprodução dos insetos.
(7) Repelentes: afastam insetos e até aves.
(8) Raticidas: combatem ratos.
Outro contaminante conhecido dos sistemas marinhos é o petróleo,
um produto natural formado a partir da decomposição da matéria orgânica
em processos químicos e geológicos. Este possui em sua composição 97%
de marcadores químicos conhecidos por hidrocarbonetos (anéis formados
por carbono e hidrogênio). E, dependendo da sua estrutura química, esses
hidrocarbonetos podem ser divididos em hidrocarbonetos alifáticos e
hidrocarbonetos aromáticos.
Os hidrocarbonetos alifáticos possuem cadeia carbônica acíclica
(aberta), sendo constituídos pelos alcanos, alcenos, alcinos, alcadienos.
Os alcanos (moléculas que possuem apenas hidrogênio e carbono unidos
por ligações simples) são classificados em vários grupos de acordo com a
estrutura: os alcanos de cadeia linear (n-alcanos), os alcanos ramificados
(isoprenoides) e os alcanos cíclicos ou cicloalcano; esses últimos são
conhecidos com biomarcadores de petróleo.
As propriedades dos n-alcanos variam com certa regularidade, em
geral, são apolares e pouco reativos, a solubilidade diminui com o aumento
do peso molecular (SEYFFERT, 2008). Os n-alcanos podem ser sintetizados
por organismos terrestres, como plantas superiores e bactérias, ou por
organismos marinhos como fito e zooplâncton (BÍCEGO, 1988).
Os alcanos ramificados (isoprenoides) são caracterizados por incluir
uma ou várias cadeias laterais ou ramificações. O pristano e o fitano (Figura
4.1) são os isoprenoides mais utilizados em estudos de caracterização quanto
à origem de hidrocarbonetos no meio marinho, além de serem, segundo
Bouloubassi e Saliot (1993), os constituintes principais dos alcanos ramificados
presentes no petróleo.
OCEANOGRAFIA 67
Figura 4.1 – Estrutura do Pristano e Fitano (Fonte: SEYFFERT, 2008)
68 UNIDADE IV
Figura 4.2 – Estrutura básica dos esteróis (Fonte: MARTINS, 2008).
Coprostanol C27H48O
Colestanol C27H48O
Colesterol C27H46O
OCEANOGRAFIA 69
Campesterol C28H48O
Estigmaterol C29H48O
Ergosterol C28H44O
β - sitosterol C29H50O
Tabela 4.2 – Descrição dos esteróis para identificação de suas possíveis fontes.
Biomarcador fecal;
Contaminação fecal
Coprostanol quantidade relativa indica
humana
contaminação fecal recente
Redução química do
Colestanol Atividade microbiana
colesterol
70 UNIDADE IV
Origem terrestre,
Campesterol tipicamente de plantas Fonte de matéria orgânica
superiores
OCEANOGRAFIA 71
como pesticidas, herbicidas, fungicidas e malacocidas.
(2) Substâncias sintéticas utilizadas nas indústrias e seus subprodutos,
dioxinas, policlorados (PCBs), compostos orgânicos de estanho, retardante
de chama bromados, parabenos, alquilfenois e seus subprodutos,
hidrocarbonetos aromáticos policíclicos (HPAs), metais pesados, ftalatos e
bisfenol-A.
(3) Substâncias naturais, como fitoestrogênios e os estrogênios naturais
17β-estradiol, estrona e estriol (Tabela 4.3).
(4) Compostos farmacêuticos, como o 17α-etinilestradiol e dietilestilbestrol
(Tabela 4.3) (Adequacão ao livro).
72 UNIDADE IV
17α Etilnilestradiol
C20H24O2
(EE2)
Dietilestilbestrol
C18H20O2
(DES)
OCEANOGRAFIA 73
Contaminantes inorgânicos
74 UNIDADE IV
Referências
OCEANOGRAFIA 75
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76 UNIDADE IV
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existing substances. 6th SCTEE plenary meeting, Brussels, SCTEE, 1998.
OCEANOGRAFIA 77
CAPÍTULO 5
OCEANOGRAFIA BIOLÓGICA
Fernanda Reinhardt Piedras
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
OCEANOGRAFIA 79
matéria orgânica por metro quadrado de superfície do oceano por ano (gC/
m2/ano). Neste contexto, chamamos de produtores primários os organismos
autótrofos capazes de sintetizar alimento. Já os animais heterótrofos, que
consomem estes organismos são chamados de consumidores secundários,
enquanto os animais que se alimentam destes são chamados consumidores
terciários, e assim por diante até os consumidores de topo. É importante
notar que, à medida que a energia flui, grande parte desta é perdida sob a
forma de calor. As interações energéticas entre produtores e consumidores
são geralmente complexas, e por isso são chamadas de teias alimentares
(Figura 5.1).
Transferência de Energia
Figura 5.1 – Esquema das interações tróficas entre os diferentes grupos de organismos
marinhos ao longo de toda coluna da água (Fonte: PEREIRA, 2015).
80 UNIDADE V
Organismos pelágicos
OCEANOGRAFIA 81
dos ciclos biogeoquímicos. Diversas outras ações ecológicas podem ser
realizadas pelo fitoplâncton:
(1) Produção primária nos oceanos: esta diretamente relacionada
com manutenção do equilíbrio de gases (CO2-O2). O fitoplâncton, pela
sua capacidade de utilização de CO2 e liberação de O2 atua como fator
importante para a manutenção do equilíbrio da concentração desses gases
na água, influenciando até mesmo nas caraterísticas físico-químicas, como
o pH (Capítulo 4).
(2) Sedimentação da matéria produzida (bomba biológica): através
da sedimentação da matéria orgânica para o fundo do mar (através da
morte dos microorganismos e pela liberação de fezes - principalmente do
zooplâncton), ocorre a sua retirada do ambiente pelágico por longo tempo.
A retirada de carbono é importante como regulador do clima. Além disto, a
sedimentação de certos organismos dá origem a formação de lama silicosa
ou diatomito (diatomáceas, radiolários) e vazas calcáreas (foraminíferos). A
sílica do diatomito é material quimicamente inerte e utilizado como substância
abrasiva em filtrações nas refinarias de açúcar, cervejarias, fabricação de
vinho; base para corantes; material isolante.
(3) Florações nocivas de fitoplâncton: ocorrem devido a um grande
aumento na concentração de células, com redução de O2 (à noite, ou na
senescência), ou pela produção de toxinas que são acumuladas ao longo da
cadeia trófica.
A biodiversidade marinha é alta no ambiente pelágico, pois o plâncton
apresenta elevada riqueza de espécies além de estarem em grande número,
geralmente maior de 30 co-habitantes no espaço e no tempo, diferente dos
ecossistemas terrestres. Esta capacidade de habitar o mesmo nicho ecológico
parece ser um paradoxo, mas que se explica pela grande heterogeneidade
no ambiente pelágico, propiciando a existência de micro-nichos para as
diferentes espécies.
O desconhecimento do ciclo de vida de muitos dos microorganismos
planctônicos dificulta o reconhecimento de suas reais espécies. Idealmente,
os organismos são identificados com base em critérios morfológicos (forma
e tamanho), ultraestruturas, constituição bioquímica (quimiotaxonomia),
e genética. Existe um consenso de que a constituição genética dos
organismos, detalhes de ultraestruturas e do ciclo de vida deveriam, em
conjunto, servir como referência para determinar a filogenia, e que a filogenia
deveria determinar a taxonomia. Assim, a nomenclatura deveria refletir a
82 UNIDADE V
informação do genoma. Esse ideal ainda está longe para os organismos
protistas e procariontes e, na prática, a morfoespécie ainda se mostra de
grande importância na determinação da diversidade do fitoplâncton e
protozooplâncton.
Quantas espécies existem? Além da grande maioria de espécies
microscópicas ainda ser desconhecida, o número exato é desconhecido,
pois novas espécies são descritas diariamente. Os principais avanços foram
determinados pela introdução da microscopia eletrônica por volta de 1970, e
atualmente pela biologia molecular. Existem pelo menos oito grandes grupos
de organismos fitoplanctônicos, sendo os mais importantes as diatomáceas e
os dinoflagelados. Outros grupos de grande destaque são os cocolitoforídeos
e as cianobactérias.
A produção primária (PP) nos oceanos pode ser dividida em primária
bruta (o total de matéria orgânica produzida, sem desconto da respiração
celular que ocorreu durante o período determinado) e primária líquida
(matéria orgânica produzida é contabilizada descontando-se a “perda” pela
respiração). Alguns fatores físicos podem interferir na produção primaria, como
a taxa de produção primária acompanha aproximadamente o comportamento
da luz com o aumento de profundidade do ambiente (curva exponencial
negativa). Na camada eufótica, a taxa de fotossíntese é alta, diminuindo
até o limite da camada eufótica, onde a taxa de fotossíntese corresponde
aproximadamente à taxa de respiração (produção primária líquida = zero).
Abaixo da camada eufótica, a respiração excede a fotossíntese e, portanto,
as células autotróficas não crescem. No ambiente marinho, a estabilidade da
coluna de água é importante na ecologia do fitoplâncton. A presença de uma
termoclina ou haloclina determina uma estabilidade na camada superficial e
iluminada, permitindo que as células do fitoplâncton fiquem expostas à luz e
propiciando alta produção primária bruta e líquida. Em condições de mistura
vertical na coluna de água (isotermas e isohalinas), as células do fitoplâncton
são deslocadas, permanecendo parte do tempo na camada disfótica ou
mesmo afótica e, assim, diminuindo a produção primária. A relação entre luz,
produção primária e respiração na coluna de água é descrita pelo modelo de
Sverdrup. Neste modelo, destaca-se ainda o conceito da profundidade crítica
(primeiramente definida por SVERDRUP, 1953), ou seja, a profundidade na
qual a produção de toda coluna de água se iguala ao total de respiração.
Fatores químicos também influenciam a PP, uma vez que o fitoplâncton
incorpora nutrientes inorgânicos de forma ativa, por utilização de enzimas
OCEANOGRAFIA 83
associadas à membrana celular. Os principais nutrientes ou elementos
requeridos para a nutrição podem ser enquadrados de diferentes formas:
(1) Macroelementos: encontram-se em concentrações relativamente
grandes, sendo raramente limitantes no ambiente: CO2, Na+, K+, Mg2+, Ca2+,
SO42-.
(2) Micronutrientes: encontram-se em menores concentrações,
freqüentemente limitantes no meio: NO3, NO2, NH4, PO4, Si(OH)4.
(3) Elementos-traços: presentes em mínimas quantidades, podendo
ser limitantes em alguns casos: Fe, Mn, Zn, Cu, Co.
(4) Compostos orgânicos (requeridos por alguns organismos):
Vitaminas (B12, tiamina e biotina), quelantes orgânicos, ureia, aminoácidos.
Com base em diversos trabalhos e considerações sobre os constituintes
químicos da água, foi criada uma razão média das concentrações dos
elementos C, N e P na água do mar. Apesar da variabilidade, possuíam
em média (ou em termos gerais), proporções molares aproximadamente
constantes entre si, na água do mar e nos organismos. Propôs que esta
constituição, na água do mar, deve ter sido alcançada a partir da atividade
biológica, ao longo do tempo. Assim, a água do mar apresentaria em termos
médios a razão molar entre C:N:P, de 105:15:1, muito próximo da constituição
do plâncton, de 106:16:1. Esta passou a ser chamada Razão de Redfield. Em
trabalhos posteriores confirmaram que, considerando-se grandes áreas do
oceano, esta razão se aproxima da chamada Razão de Redfield (REDFIELD,
1958), quando as populações de fitoplâncton estão crescendo em taxas
próximas às taxas “máximas”, ou seja, quando o crescimento está próximo
do ótimo. No entanto, consideráveis variações podem ser encontradas,
dependendo de fatores como luz (duração, intensidade), temperatura,
deficiência em um ou mais nutrientes, estado fisiológico das células.
A taxa de absorção de um nutriente pelas células depende da
concentração do mesmo, quando este se torna limitante. Como o transporte
dos nutrientes através da membrana (plasmalema) é mediado por enzimas
transportadoras, a relação entre a concentração do nutriente (ou substrato)
e a velocidade de absorção do mesmo, pode ser descrita por uma função
hiperbólica, semelhante às reações entre enzima e substrato (função de
Michaelis-Menten - cinética da atividade enzimática). O parâmetro cinético
Ks indica a afinidade do sistema permease pelo nutriente em questão.
Quanto menor este valor, maior a afinidade pelo nutriente. Assim, quando o
Ks for pequeno significa que, em baixas concentrações do nutriente, a alga
84 UNIDADE V
(ou a assembleia) é capaz de absorvê-lo com eficiência. Deve ser enfatizado
que a medida da velocidade de absorção é feita através de duas maneiras:
ou através da taxa de remoção do nutriente do meio líquido, ou através do
acúmulo do nutriente no interior da célula, este último determinado através
de um traçador radioativo. Portanto, as taxas de absorção representam o
transporte do substrato através da membrana celular (RAYMONT, 1980).
A principal característica na distribuição vertical dos nutrientes que são
importantes para a produção primária, é a sua baixa concentração na zona
superficial (camada de mistura), devido à utilização biológica e aumento nas
camadas intermediárias e profundas, devido à sedimentação de partículas
biogênicas. No entanto, grandes variações em concentração podem ser
encontradas na zona eufótica, relacionadas ao balanço entre a utilização
e a reposição. Esta reposição pode ser por ressurgência e/ou circulação
superficial de águas profundas mais ricas. Em regiões de divergência na
circulação de águas superficiais, pode-se observar regiões mais eutróficas,
como resultado do transporte de águas mais ricas e profundas, para a zona
eufótica. As áreas de ressurgência associadas às correntes de contorno
leste e do sistema equatorial de correntes superficiais são exemplos típicos
deste enriquecimento.
A variação sazonal também afeta a produção primária. Estudos em
regiões temperadas (altas latitudes) mostram que as águas superficiais podem
ficar relativamente isoladas da massa água inferior, durante uma parte do
ano, pela formação de uma termoclina sazonal, que inibe a mistura vertical.
Assim, no inverno, quando a coluna da água está geralmente bem misturada,
as concentrações são relativamente uniformes e altas. Na primavera/verão,
devido à estabilidade da coluna (baixa troca com a camada inferior) e à alta
utilização pelo fitoplâncton, há um esgotamento dos nutrientes na camada
superficial. A época de formação desta termoclina sazonal pode variar,
dependendo das condições climáticas e hidrológicas, podendo retardar ou
adiantar este processo. Em águas tropicais, os processos podem ser muito
variados. Em algumas áreas, as concentrações dos nutrientes variam muito
pouco sazonalmente e em outras, grandes variações são encontradas em
função de mudanças climáticas como ventos, tempestades e/ou grandes
descargas continentais. Regiões com termoclinas rasas permanentes
apresentam altas concentrações de nutrientes logo abaixo da zona eufótica,
de tal modo que um aumento na turbulência pode gerar mudanças abruptas
nos níveis de nutrientes na camada de mistura (LALLI & PARSONS, 1993).
OCEANOGRAFIA 85
Outro grupo de grande importância ecológica no planctôn é o
chamado zooplâncton, no qual participam organismos heterotróficos que se
alimentam dos produtores primários e de outros organismos do zooplâncton.
Formado por animais e larvas de inúmeras espécies, em sua grande maioria
microscópica, possuem certa capacidade de locomoção nos oceanos e
mares. A capacidade de locomoção do zooplâncton pode ser verificada
com as migrações verticais presentes em alguns organismos. É possível
classificá-lo o em dois grupos:
(1) Holoplâncton: organismos que passam todo o ciclo de vida no
plâncton, como os copépodes (mais diversificada classe de crustáceos, e
maior grupo que compõem o zooplâncton), entre outros crustáceos (como o
Krill), urocordados filtradores (salpas), quetognatos e hidromedusas.
(2) Meroplâncton: organismos que passam apenas uma fase da vida
no plâncton, como os ovos, as larvas e animais em fase juvenil, como as
larvas de crustáceos, moluscos e equinodermas. As larvas e os ovos de
peixes fazem parte do meroplâncton, e são denominadas ictioplâncton.
A maior parte dos organismos que compõem o zooplâncton alimentam-
se de microalgas, embora sejam observados, além dos organismos herbívoros,
também carnívoros, onívoros e detritívoros. Por outro lado, são alimento de
muitas espécies de peixes e outros animais, como por exemplo, a baleia,
que se alimentam quase que exclusivamente do krill (artrópode pelágico),
considerado espécie-chave no ecossistema antártico. São considerados
organismos essenciais para a manutenção do ecossistema aquático, pois
participam da base da cadeia alimentar.
Organismos nectônicos
86 UNIDADE V
para outros predadores. Seu diferencial é a presença de um exoesqueleto
que se encaixa e se articula como uma armadura.
(2) Cefalópodes: são os animais mais evoluídos dentro os moluscos,
com um grande número de predadores marinhos formados por lulas, náutilos
e polvos. São fonte de grandes pescarias.
(3) Répteis marinhos: tartarugas, serpentes marinhas, lagartos marinhos
(iguanas) e crocodilo marinho. Os mais conhecidos e bem-sucedidos são as
oito espécies de tartarugas marinhas, possivelmente devido à presença do
seu casco, o qual confere uma eficiente defesa. Embora o único predador
seja o homem, há uma atenção às etapas de desova, na qual existe uma alta
taxa de mortalidade e dos jovens quando estão a caminho do mar.
(4) Aves marinhas: de quatro grupos de aves marinhas, a gaivota e
o pelicano são os mais conhecidos, pois existem muitas espécies e estas
vivem perto da costa. No entanto, os grupos mais bem adaptados ao mundo
pelágico são os albatrozes, petréis (ordem dos Tubinares, consideradas as
aves mais oceânicas do mundo) e os pinguins. Já os pinguins perderam
a habilidade de voar, entretanto utilizam as asas para nadar por longas
distâncias e com grande destreza de movimento. Nativos do hemisfério sul,
possuem adaptações para conservar calor, como o isolamento com tecido
adiposo e penas gordurosas. Outro ponto importante de se destacar é a
presença de grandes colônias em áreas de grande produtividade, como
a ressurgência do Peru. Infelizmente são diretamente afetadas, com altas
mortalidades, em eventos de poluição (e.g. pesticidas) e derramamentos de
óleo. Predam lulas, peixes e o zooplâncton.
(5) Peixes: são o grupo que domina o nécton, caracterizados por
grande habilidade na natação, através do qual podem se movimentar
independentes das correntes oceânicas. Existem mais espécies de peixes, e
mais indivíduos, do que espécies e indivíduos de todos os outros grupos de
vertebrados juntos. Algumas espécies possuem modificações que permitem
detectar presas ou evitar predadores. Estão divididos em dois grandes
grupos com base no material que compõe seus esqueletos: cartilaginosos
e ósseos. A classe Chondrichthyes inclui os tubarões, lampreias, raias e
quimeras, tem como característica o tecido cartilaginoso, mandíbulas com
dentes, pares de nadadeiras e um estilo de vida ativo. Através de vibrações
na água, detectadas por órgãos sensitivos alinhados abaixo da superfície da
pele, o tubarão-tigre e o tubarão-martelo, entre outros, atraem suas presas.
Além disso, possuem olfato muito desenvolvido, atuando na caça de presas,
OCEANOGRAFIA 87
que são compostas por peixes e mamíferos marinhos. Na classe Ostichtyes
estão aproximadamente 99% de todos os peixes da atualidade. Na ordem
Teleostei estão os organismos de maior interesse comercial: bacalhau, atum,
linguado, entre outros. Estes animais se alimentam de diferentes tipos de
presas dependendo do seu tamanho, localização e disponibilidade da presa,
podendo ser planktívoros, piscívoros ou ambos. Possuem habilidade para
realizar migrações atrás de presas. A grande maioria se encontra em águas
temperadas, mas a diversidade de espécies é maior nas regiões tropical e
subtropical.
(6) Mamíferos marinhos: a classe Mammalia é o grupo mais evoluído
dos vertebrados, incluindo focas, baleias, golfinhos e morsas, constituem um
grupo bastante diverso de 128 espécies que dependem dos oceanos para a
sua existência. Este grupo não corresponde a um grupo biológico distinto,
mas sim a um grupo funcional que tem em comum a dependência do meio
aquático para a alimentação. Esta dependência manifesta-se a vários níveis,
não sendo todos expressos pela totalidade das espécies. Por exemplo,
os golfinhos e as baleias (cetáceos) são completamente dependentes do
meio marinho em todos os estágios da sua vida, já as focas alimentam-
se no oceano, mas procriam em terra. Os mamíferos marinhos dividem-se
em quatro grupos: cetáceos, pinípedes (focas, leões-marinhos e morsas),
sirenídeos (manatins e dugongos) e fissípedes (carnívoros com os dedos
separados, como o urso polar (Ursus maritimus) e duas espécies de lontra.
Desempenham um papel fundamental na manutenção e regulação dos
ecossistemas marinhos, especialmente através da regulação das populações
das suas espécies-presa. Estes dois fatores – biomassa global relevante
e papel regulador – os tornam um componente fundamental do ambiente
marinho. Este fato torna-se particularmente importante se considerarmos
que, atualmente, cerca de 23% das espécies de mamíferos marinhos estão
ameaçadas (CRAMQ, 2015).
Todos os mamíferos compartilham quatro características comuns: corpo
hidrodinâmico, com apêndices adaptados para natação; sistema respiratório
modificado para reter grandes quantidades de oxigênio durante os longos
mergulhos e deslocamentos. Outro ponto importante é a capacidade de
gerar calor interno por meio de altas taxas metabólicas e conservar através
de camadas isolantes de gorduras, e em alguns casos até com a presença
de pelos. A quarta adaptação está relacionada à ausência de necessidade
de água doce, devido à habilidade de seus rins de excretar urina concentrada
88 UNIDADE V
em sais, permitindo que a água necessária para seu metabolismo derive da
oxidação dos alimentos (GARRISON, 2010).
A ordem Cetacea (cetáceos e sirênios) possui os únicos mamíferos
marinhos que passam toda a sua vida dentro d’água. Ao contrário dos
pinípedes que usam principalmente os pelos como isolante térmico, os
cetáceos possuem uma espessa camada de gordura, o “blubber”. Os membros
traseiros estão ausentes e a propulsão é dada através de nadadeiras caudais
horizontais. Os membros anteriores não possuem dedos individualizados
externamente, tendo a forma de remos, e são usados para a manutenção da
estabilidade durante o nado. Dividem-se em duas subordens: Odontoceti e
Mysticeti. As baleias verdadeiras atuais (misticetos) são caracterizadas por
seu aparato alimentar altamente diferenciado em virtude da perda dos dentes
e o surgimento de placas de tecido epitelial cornificado (barbatanas) que
ficam suspensas do céu da boca e servem para filtrar o alimento da água.
Desta sub-ordem Mysticeti fazem parte as baleias-francas, as baleias-cinzas
e as baleias-francas pigmeias, enquanto na subordem Odontoceti estão
presentes as baleias bicudas, cachalotes, toninhas, botos da Amazônia,
orcas, baleias-piloto, belugas, além dos golfinhos.
Atualmente dentro da ordem Sirenia, são reconhecidas três espécies
de peixes-boi e uma de dugongo. São caracterizados por possuírem um
corpo relativamente grande e robusto, focinhos virados para baixo, membros
anteriores em forma de nadadeiras arredondadas e uma cauda horizontal.
Os peixes-boi se diferenciam dos dugongos por seu tamanho menor, uma
cauda arredondada ao invés de meia-lua e uma menor deflexão do focinho.
Esta última característica permite aos peixes-boi se alimentarem em toda a
coluna d’água e não apenas no fundo.
Na ordem Carnivora, os membros da sub-ordem Pinnipedia são animais
adaptados para o meio aquático e se dividem em 3 famílias monofiléticas:
Otariidae (lobos e leões-marinhos), Odobenidae (morsas) e Phocidae (focas).
Atualmente se reconhecem 33 espécies de pinípedes, espalhados por todo
o mundo. Diferentemente dos cetáceos, os pinípedes gregários saem do
oceano, por períodos variáveis de tempo, para acasalar e criar seus filhos.
Organismos bentônicos
OCEANOGRAFIA 89
(epifauna). O habitat bentônico pode ser raso ou profundo, repleto de alimento
ou um pouco estéril; o fato é que a diversidade dos habitats bentônicos, e
de organismos que vivem associados a estes, é muito grande. Florestas de
macroalgas, zonas rochosas entre marés, praias arenosas, marismas e até
mesmo os recifes de corais fazem parte deste amplo habitat.
A epifauna compreende os animais que vivem sobre ou associados
a rochas, pedras, conchas, vegetação ou sobre fundos inconsolidados.
A infauna compreende todos os animais que vivem dentro da camada de
substrato inconsolidado, perfurando-o ou simplesmente vivendo dentro deste.
Existem ainda outras maneiras de classificar os organismos bentônicos:
(1) Macrofauna: compreende todos os animais que ficam retidos numa
peneira de malha 0.5 mm.
(2) Mesofauna: animais que passam por uma peneira de malha 0.5mm,
mas ficam retidos numa malha 0.05 mm.
(3) Microfauna: todos os demais organismos (geralmente protozoários).
Para sobreviver no habitat bentônico existem diversas adaptações
funcionais, como a tolerância a diversos aspectos físico-químicos dos
diferentes tipos de substrato, assim como adaptações estruturais como a
forma do corpo, são comuns corpos pequenos e alongados (vermiformes). O
metabolismo e atividade podem ser modificados pelo substrato via aspectos
nutricionais (ex: Os filtradores são mais frequentes em fundos arenosos, onde
seus aparelhos de filtração não correm o risco de serem entupidos). Desta
forma, o tipo de substrato onde vive o animal pode modificar a taxa e as formas
de reprodução. A distribuição horizontal em fundos arenosos é afetada pela:
natureza e o tamanho dos grãos; o tipo, a quantidade e a forma da matéria
orgânica associada ao substrato; a área total do substrato arenoso; e outros
fatores ambientais como movimentos d’água, luz, salinidade, suprimento de
oxigênio, pressão.
Referências
90 UNIDADE V
LALLI, C.; PARSONS, T. Biological oceanography: an introduction.
Oxford: Butterworth & Heinemann, p. 301, 1993.
OCEANOGRAFIA 91
CAPÍTULO 6
CIRCULAÇÃO OCEÂNICA
Juliana de Carvalho Gaeta
Universidade Federal do Ceará
Placas tectônicas
Figura 6.1 –
Representação
dos limites das
placas tectônicas
no qual se observa
a idade do fundo
oceânico. Linhas
pretas indicando os
limites das placas
tectônicas (Fonte:
TALLEY et al., 2011).
OCEANOGRAFIA 93
Conforme as placas se mexem, são criados novos fundos marinhos que
demarcam os limites entre as placas tectônicas. As taxas de movimentação
das placas variam de oceano para oceano, sendo de 2 cm/ano no Atlântico
e 16 cm/ano no Pacífico, causando a extrusão de magma na superfície dos
centros dos sulcos. Em algumas bordas das placas tectônicas, uma placa
se move sob outra (subducção) e esta é acompanhada em seu lado da terra
por vulcões e terremotos (TALLEY et al., 2011). Essa subducção pode criar
fossas profundas, que são estreitas em relação ao seu comprimento e têm
profundidades de até 11.022 m, como a fossa das Marianas. Fossas podem
orientar ou impactar correntes de contorno que estão em águas profundas
(correntes de contorno oeste profunda) ou correntes de limite superior
do oceano que possuem energia suficiente para estender para o fundo do
oceano, como correntes de contorno oeste da circulação impulsionada pelo
vento. A profundidade dos oceanos varia de 2 a 3 km para os mais novos e
de 5 km para os mais antigos. Fundos do oceano mais jovens são mais rasos
do que os mais antigos (TALLEY et al., 2011). A taxa de expansão dos fundos
oceânicos é tão lenta que não tem impacto sobre a variabilidade do clima que
experimentamos ao longo de décadas e milênios, nem afeta as mudanças
climáticas antropogênicas. No entanto, ao longo de muitos milhões de anos, a
disposição geográfica da Terra mudou (TALLEY et al., 2011).
Giros oceânicos
94 UNIDADE VI
circulação superficial dirigido. Já a evaporação e refrigeração do ar atmosférico
afetam a densidade causando reajustes no campo gravitacional da Terra pelo
movimento de massas de água, que por sua vez dirige a circulação oceânica de
profundidade (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH,
1974). Essas correntes possuem grandes padrões circulares (giros) de sentido
horário no hemisfério norte e anti-horário no hemisfério sul devido ao efeito de
Coriolis. O efeito de Coriolis é o persistente movimento de objetos em direção
ao lado direito do caminho observado no Hemisfério Norte e lado esquerdo no
Hemisfério Sul. O efeito está relacionado com a propriedade física momento
angular, que é resultante da massa do objeto, sua velocidade e a latitude em
que o objeto está passando. Este efeito não apenas é visto nas águas dos
oceanos, mas também no padrão de circulação dos ventos. Os padrões de
circulação oceânica respondem às principais direções de ventos. Em cada lado
do Equador, os ventos movimentam-se de leste para oeste e são denominados
de ventos alísios. A cerca de 40º de latitude, os ventos movem-se de oeste
para leste e são chamados ventos-oeste predominantes. O vento em contato
com a camada mais superficial de água resulta em um movimento que não é
na direção do vento, mas a um ângulo substancialmente diferente e que vai se
alterando nas camadas inferiores (para a direita no Hemisfério Norte e esquerda
no Hemisfério Sul) e essa movimentação ocorre nas diferentes camadas de
água e conforme aumenta a profundidade, o ângulo vai se inclinando mais
para a direita no Hemisfério Norte e a velocidade diminui,criando assim uma,
espiral logarítmica, que conhecemos como Espiral de Ekman (TUREKIAN,
1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974) (Figura 6.2).
Figura 6.2 –
Esquema do modelo
de circulação das
massas de água
chamado de Espiral
de Ekman (Fonte:
THURMAN, 1994).
OCEANOGRAFIA 95
A circulação termoalina é afetada pela densidade da água e isto
pode ocorrer por aquecimento/resfriamento da água ou por evaporação/
precipitação de água. As camadas de água são formadas por águas
estratificadas conforme características como temperatura e salinidade
que, de acordo com sua densidade, irão entrar em seu nível e para isso
irão deslocar a água circunjacente. Isso ocorre frequentemente, já que o
oceano passa diariamente por processo de evaporação e aquecimento da
água mais superficial. Dessa forma é possível identificar diferentes tipos de
massas de águas devido à limitada variação de salinidade e temperatura
(TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974).
Logo, as águas mais profundas são as mais densas (frias e salgadas) e as
mais superficiais menos densas (quentes e menos salinas). Cria-se uma
circulação convectiva, na qual sempre a água mais fria tende a ir para o
fundo e a água mais quente para a superfície. Esse tipo de circulação é
responsável por movimentar aproximadamente 80% da água dos oceanos
devido a gradientes de densidade e gravidade.
Abaixo seguem duas imagens de circulação oceânica e de circulação
dos ventos para que comparemos e observemos como são compatíveis
ambos os mapas (Figuras 6.3 e 6.4).
Figura 6.3 – Mapa com destaque para a circulação oceânica global em superfície (Fonte:
STUDY OF PLACE, 2015).
96 UNIDADE VI
Figura 6.4 – Mapa com destaque para a circulação de ventos no globo (Fonte: STUDY OF
PLACE, 2015).
Vórtices oceânicos
Nos giros oceânicos podem ocorrer quebras e dessa forma eles tendem
a formar redemoinhos (eddies) e vórtices de centenas de quilômetros de
extensão, os quais tendem a mover-se para oeste assim como as ondas de
Rossby. Os vórtices são onipresentes nos oceanos da Terra. Nas imediações
da corrente do Golfo (a corrente de água quente que se origina no Mar do
Caribe e do Golfo do México e flui para o nordeste no Atlântico Norte), eles
OCEANOGRAFIA 97
são conhecidos como “anéis”. A Figura 6.5 mostra dois anéis de núcleo
quente ao norte da corrente do Golfo. Neste caso, a água no interior do anel
é relativamente mais quente que a água de fora do anel. Anéis de centro frio
também podem formar-se ao sul da corrente do Golfo (Figura 6.5).
Figura 6.5 – Vórtices formados próximos à região do Golfo do México (Fonte: ORSG,
2015).
Frentes oceânicas
98 UNIDADE VI
maré; frentes do meio da plataforma; plataforma/talude e frentes da quebra da
plataforma; frentes costeiras, topográficas e de ressurgência equatoriais; frentes
da fronteira ocidental e oriental; frentes de convergência subtropicais; frentes
zona de gelo marginais, e as frentes de massas de água. Logo, as frentes
oceânicas podem estar associadas a fenômenos de ressurgência (BELKIN et
al., 2009).
Ressurgência
Ondas
OCEANOGRAFIA 99
facilmente observadas como meandros de grande escala de latitudes médias.
Elas são mais difíceis de detectar no oceano, pois têm uma assinatura na altura
da superfície do mar da ordem de 10 cm, sua velocidade de propagação é de
10 cm/s e seu comprimento varia de centenas a milhares de quilômetros. As
ondas de Rossby no oceano são responsáveis pela intensificação oeste dos
giros subtropicais, sendo a Corrente do Golfo um exemplo típico. Elas também
constituem o mecanismo dinâmico para o ajuste transiente do oceano a
variações nas forçantes atmosféricas de larga escala, ou seja, as informações
são transmitidas dos oceanos tropicais para as médias e altas latitudes via onda
de Rossby. São geradas pelo vento e forças de empuxo nos contornos leste
e no interior dos oceanos; podem também ser geradas por perturbações ao
longo dos limites leste causadas por ondas costeiras aprisionadas em latitudes
médias. Uma vez geradas, elas se propagam como ondas livres, para longe de
suas regiões de formação. Possuem grande influência na circulação de grande
escala do oceano e, portanto, na atmosfera e no clima. O efeito mais importante
é a intensificação das correntes de contorno oeste (e seu deslocamento das
posições usuais); levando-se em conta que essas correntes transportam
enormes quantidades de calor, deslocamentos mínimos em sua posição afetam
dramaticamente a meteorologia de grandes áreas do globo (TUREKIAN, 1968;
THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974; TALLEY et al., 2009).
Outro tipo de onda ainda existente na região do Equador e nas costas
é um tipo especial de onda híbrida chamada de “onda de Kelvin”, que inclui
tanto a onda de gravidade quanto os efeitos de Coriolis. Ondas de Kelvin estão
"presas" às costas e na linha do Equador, o que significa que a sua amplitude
é maior no litoral ou Equador e decai exponencialmente com a distância da
costa ou em direção aos polos. Ondas de Kelvin são de particular importância
nos limites orientais, uma vez que se transfere informação do Equador em
direção aos polos. Elas também são fundamentais para a forma como o
oceano equatorial se ajusta às mudanças na força dos ventos (TUREKIAN,
1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974). Existem ainda outros
tipos de ondas das quais não trataremos neste capítulo devido ao seu enfoque
principal nos oceanos e não na zona costeira (Capítulo 7).
Marés
100 UNIDADE VI
do sol, e o segundo é a força centrípeta que é necessária para manter a água
do oceano se movendo junto com o resto da Terra em um percurso circular
através do espaço (TUREKIAN, 1968). A rotação da Terra produz uma força
centrífuga em todos os pontos da Terra menor do que a força que a Terra
exerce girando em seu eixo. O sistema Terra-Lua equilibra-se como um todo,
pelas forças de atração e centrífuga, mas a água dos oceanos reage à força
resultante que sempre será ativa naquele ponto. Essa força varia à medida
que a Lua gira em torno da Terra e tende a mover a superfície da Terra. E
a resposta da Terra são as marés. A atração gravitacional da Lua sobre a
Terra diminui com a distância da Lua. Partículas do lado mais próximo da
Lua experimentam uma maior atração gravitacional do que partículas do lado
afastado da Lua (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH,
1974). A atração gravitacional média em partículas na Terra é encontrada no
centro da Terra e deve ser igual à força centrípeta necessária, mas as forças
estão desequilibradas para todos os outros. Os continentes bloqueiam a
propagação livre da maré de equilíbrio para o oeste à medida que a Terra
gira. O resultado é um padrão complexo de marés que se movem em torno
de cada uma das bacias oceânicas (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994;
WEISBERG & PARISH, 1974). Dependendo de como cada bacia responde
a cada frequência particular com a força de maré, essa se comporta de
maneira dependente a geometria da bacia ou ao litoral. A frequência de cada
componente é determinada astronomicamente. As amplitudes relativas dos
componentes dependem da localização. As frequências de maré primárias
são semidiurnas (duas vezes por dia, devido, principalmente, à maré lunar) e
diurna (uma vez por dia). Em alguns locais, não há quase nenhum componente
semidiurno, enquanto que em outros locais não ocorrem padrões diurnos.
Portanto, a maré é normalmente expressa em termos de constituintes (vetores)
de maré (TUREKIAN, 1968; THURMAN, 1994; WEISBERG & PARISH, 1974).
Sensoriamento remoto
OCEANOGRAFIA 101
dados durante o dia. Em contraste, sensores ativos usam estímulos internos
para coletar dados sobre a Terra. Por exemplo, um feixe de raio laser projeta
sistema remoto de detecção de um laser sobre a superfície da Terra e mede
o tempo que leva para que o laser reflita de volta para o sensor (Figura 6.5).
O sensoriamento remoto tem ampla gama de aplicações em diversas áreas,
dentre as quais podemos citar:
Referências
102 UNIDADE VI
NATIONAL OCEANIC AND ATMOSPHERIC ADIMINISTRATION (NOAA).
National Ocean Service. Disponível em: <http://oceanservice.noaa.gov/
facts/remotesensing.html>. Acesso em: 09 de abril de 2015.
OCEANOGRAFIA 103
CAPÍTULO 7
CIRCULAÇÃO COSTEIRA
Renan Vandre da Silva Toscano Saes
Universidade Federal do Ceará
Correntes superficiais
OCEANOGRAFIA 105
diferentes densidades. Este movimento é mais lento e profundo, chamado
de circulação termoalina, pelo fato da densidade de massas de água estar
associada à temperatura e salinidade. Esta circulação é responsável pelas
correntes de fundo (Capítulo 6).
Correntes de marés
Figura 7.1 – Distribuição dos pontos anfidrômicos das principais bacias oceânicas, cerca
de 12 desses pontos nos quais não há variação de maré. Os tons mais escuros indicam
onde as marés são menos intensas, já os tons mais claros indicam as áreas de maior
variação de maré. As linhas brancas indicam as cristas das ondas de a maré se irradia ao
redor dos pontos (Fonte: GARRISON, 2010).
OCEANOGRAFIA 107
Figura 7.2 – O ponto anfidrômico ou nodo (node) atuam em baías e estuários, pois são
áreas que concentram energia devido a sistema fechado. A crista de maré deriva nas
bordas da baía conforme o efeito de Coriolis (Fonte: Adaptado de GARRISON, 2010 e
TALLEY et al., 2011).
Frentes costeiras
OCEANOGRAFIA 109
Figura 7.3 – Seções
transversais verticais dos
diferentes tipos de frentes
estuarinas promovidas
pelo fluxo contínuo dos
rios e correntes de marés,
resultando na mistura da
água doce continental e
da salgada marinha. As
frentes de cunha salina,
bem e parcialmente
misturadas ocorrem ao
longo de estatuários de
toda a costa brasileira.
Não existem fiordes no
Brasil (Fonte: Adaptado
de MIRANDA et al., 2002
e THURMAN & TRUJILO,
2010).
OCEANOGRAFIA 111
Ondas rasas
OCEANOGRAFIA 113
As ondas geradas pelo vento são formadas pela ação da gravidade
durante a transferência de energia do vento para a superfície da água.
Estas ondas crescem num primeiro momento a partir de ondas capilares,
aquelas que interrompem a superfície lisa dos oceanos, impulsionando
a crista da onda capilar para frente, a transferência contínua de
energia promove o aumento da altura das ondas, a ondulação (soma e
empilhamento de ondas capilares). Estas pequenas ondas têm diferentes
períodos, comprimentos e alturas, apresentando aparência caótica.
Para desenvolver uma ondulação com ondas maduras e comprimento
uniforme é necessário: um tempo longo e contínuo de vento soprando
(duração do vento); sendo o vento mais rápido que a velocidade das
cristas, portanto uma certa velocidade é fundamental (força do vento);
por fim é necessário que esse vento cubra uma grande área, sobre qual
o vento sopre sem nenhuma modificação na sua direção (pista de vento).
Tempestades oceânicas que sopram por mais de 3 dias podem formar um
mar plenamente desenvolvido, com ondulações do tipo marulho ou swell,
estas possuem em média 3m de altura e comprimento variando entre 60-
160 m (Figura 7.7). Grande parte das ondas geradas pelo vento chega
até a costa e quebram dissipando sua ordem de energia, proporcional à
energia transferida dos ventos em sua formação.
Estuários
OCEANOGRAFIA 115
da forma que os conhecemos hoje há cerca de 7.000 anos. Existem
diversas maneiras de divisão para os estuários, sendo que a maneira
clássica leva em conta a origem geológica, considerando que os processos
geológicos foram responsáveis pelo atual nível da linha de costa, resultante
da última glaciação (Figura 7.8):
(1) Desembocadura de rios afogados - São comuns ao redor de todo
o globo, resultantes da última transgressão marinha que inundou o vale
em ‘V’ dos rios, sendo estuários relativamente rasos (média de 20-30 m
de profundidade, com variações de 50 m) e muito largos (com dezenas de
quilômetros). Muito comuns na costa leste da América, o rio São Francisco e
o Potengi/RN são exemplos destes estuários.
(2) Estuários com ilhas barreiras - São inundações de vales mais
primitivos. Nesta formação estuarina, o aporte constante de sedimento do
rio é aprisionado pelas ondas, formando barreiras de areia e posteriormente
ilhas arenosas paralelas à linha de costa. Este tipo de estuário tem um
padrão determinado pela ação das ondas, diferente da maioria dos outros
estuários que são determinados pelo fluxo fluvial e as correntes de marés.
Como estes estuários são muito rasos (médias de 5-20 m de profundidade)
e têm poucas ou restritas conexões entre o mar e o rio, o vento tem a função
principal de mistura as frentes estuarinas. Um exemplo clássico é a região
estuarino-lagunar de Cananeia-Iguape/SP e o rio Pacoti/CE. Atrás das ilhas
barreiras, extensos canais e lagunas são guardados, é comum a formação
de uma barreira que isole as lagunas do mar ao longo dos milhares de anos,
um exemplo é a região da lagoa dos Patos e lagoa Mangueira, no RS.
(3) Fiordes - Os vales em U formandos no Pleistoceno pelo movimento
das geleiras, escavando o fundo tem em média 300-400 m de profundidade,
com uma borda na qual aglomera os depósitos minerais/glaciais arrastados
pelas geleiras, estas bordas são chamadas de soleiras. Estes vales afogados
durante a última transgressão formaram os fiordes, por serem fundos e
estreitos resultam em um ambiente altamente estratificado. Os fiordes da
Noruega, Alasca e Patagônia são os mais famosos do mundo.
(4) Estuários de formações tectônicas e/ou geomorfológicas - Estes
estuários não compreendem os modelos expostos até agora. Passaram
por perturbações geológicas (elevação, subducção e subsidência) durante
sua formação que lhes conferiram padrões híbridos ou até mesmo únicos.
Esses estuários restantes podem ser divididos em três tipos: compostos, rias
e deltas, sendo este dividido em delta de enchente ou vazante (Figura 7.8).
Os deltas são formados por intensos depósitos de sedimento ao longo da
Figura 7.8 – As imagens correspondem aos diferentes tipos de estuários quanto sua formação
após a última transgressão marinha, há cerca de 18.000 anos pelo desgelo das geleiras formadas
durante o último período glacial (Fonte: Adaptado de MIRANDA et al., 2002 e GARRISON, 2010).
OCEANOGRAFIA 117
Referências
TALLEY, L.D.; PICKARD, G.L.; EMERY, W.J.; SWIFT, J.H. 2011. Des-
criptive physical oceanography: an introduction. Sixth edition. Else-
vier Ltd, Oxford, UK, 973 pp.
OCEANOGRAFIA 119
A pressão constante sobre esses ambientes, de forma contraditória,
compromete o seu funcionamento e os próprios interesses econômicos,
podendo causar desequilíbrio ecológico e riscos à saúde humana (DIAZ
& ROSENBERG, 2008; SALE et al., 2008).
OCEANOGRAFIA 121
(no caso de substâncias de origem natural, como o carbono, por exemplo)
ou presença de substâncias diferentes da composição natural (para
compostos sintéticos). Essas definições podem ser aplicadas aos diferentes
compartimentos ambientais: atmosfera, litosfera/sedimentos, hidrosfera e
biota.
Já com relação às fontes, os contaminantes basicamente apresentam
dois tipos de fontes: as pontuais e as difusas. As fontes pontuais são
aquelas que têm a localização definida como os emissários submarinos para
lançamento de esgoto e efluentes ou chaminés e exaustores industriais, e de
acordo com suas características as suas emissões podem ser quantificadas.
No ambiente aquático, as fontes pontuais frequentemente apresentam
gradientes de distribuição que determinam a extensão da influência da fonte.
As fontes difusas, por outro lado, não possuem localização definida. Emissões
automotivas e de embarcações são exemplos didáticos, e especificamente
nas zonas costeiras, o escoamento superficial durante as precipitações
constituem outra fonte difusa significativa, pois grande parte dos materiais
depositados na superfície do solo, incluindo contaminantes, são carreados
tendo como destino final os ambientes aquáticos.
Um exemplo de como as atividades antrópicas influenciam a
distribuição de contaminantes é apresentado na Tabela 8.1, através da
contribuição antrópica e fatores de enriquecimento para as emissões anuais
de alguns metais na década de 1980 (Tabela 8.1).
Origem Origem
Metal Total FEA = (A/T) (%)
antrópica natural
Cd 8 1 9 89
Pb 300 10 310 97
Zn 130 50 180 72
Mn 40 300 340 12
Hg 100 50 150 66
OCEANOGRAFIA 123
os sítios de disposição, que são impactados ao receber o material dragado,
em especial quando este se encontra contaminado.
Diferentes categorias de contaminantes e as suas respectivas rotas
de entrada no ambiente são sintetizadas na Tabela 8.2. Os contaminantes,
quando lançados no mar, são distribuídos por todos os compartimentos
ambientais. Por exemplo, uma vez na coluna da água eles podem adsorver
o material em suspensão, ou interagir com sais, carbono orgânico e argilas,
frequentemente depositando-se nos sedimentos (Figura 8.3). Assim, esse
compartimento tende a apresentar maiores concentrações de contaminantes
em relação à coluna da água (BURTON, 1992; BURTON & JOHNSTON,
2010). Uma vez depositadas no fundo, as substâncias químicas podem sofrer
transformações, por processos biogeoquímicos como a mobilidade e partição
geoquímica, adsorção e formação de complexos, entre outros que variam
de acordo com as condições do meio e alteram a sua biodisponibilidade ou
originando formas mais ou menos tóxicas (Figura 8.3). Esses processos
resultam diretamente em efeitos letais ou sub-letais aos organismos
bentônicos, e indiretamente sobre as cadeias tróficas superiores, através da
bioacumulação e biomagnificação desses compostos, gerando potenciais
riscos à saúde humana (Tabela 8.2).
Em geral descargas
Escoamento Diferentes grupos lançados
dificilmente controladas e
superficial sobre o solo: metais,
fontes difíceis de serem
(runnof) hidrocarbonetos e pesticidas
identificadas e medidas.
Dependente da atividade
comercial, da atuação
da indústria química (ex.:
Lançamentos fábricas de celulose) ou do
Metais, hidrocarbonetos e metal da mineração.
de instalações
outras substâncias sintéticas
industriais As concentrações precisam
permanecer abaixo dos
limites permitidos por
legislações
OCEANOGRAFIA 125
Emissários
Sujeitos a regulamentação e
de plantas de Radionuclídeos
controle em muitos países
energia
Referências
OCEANOGRAFIA 127
Research, v. 28, p. 459-464, 1989.
BURTON JR., G. A. Sediment toxicity assessment. Chelsea: Lewis Pub-
lishers, p. 457, 1992.
OCEANOGRAFIA 129
CAPÍTULO 9
BIOPROSPECÇÃO MARINHA:
BIOTECNOLOGIA ACOPLADA AO
ESTUDO DA OCEANOGRAFIA
OCEANOGRAFIA 131
entre outros (SOUZA, 2006). Neste capitulo será apresentado algumas
dessas aplicações, expondo seus objetivos, limitações e necessidades.
132 UNIDADE IX
sedentários (SOUZA, 1999).
Abaixo apresenta-se uma visão geral sobre a distribuição do território
oceânico brasileiro (Figura 9.1). O Brasil possui 8.500 km de costa, onde
estão localizados 17 estados e 16 capitais. Sua ZEE tem extensão de 3,6
milhões de km2, que somados a 900 mil km2 de PC, reivindicados junto a
ONU, totaliza em aproximadamente 4,5 milhões de km2 (MARINHA DO
BRASIL, 2015).
Outro ponto legislativo
importante a ser citado diz respeito
ao manejo da diversidade biológica
em geral, ferramenta chave para
a Bioprospecção e Biotecnologia
Marinha. Mares e oceanos ocupam
aproximadamente 2/3 da superfície
do planeta Terra, e abrigam
representantes de 34 dos 36 filos de
organismos vivos, sendo, inclusive,
alguns destes estritamente
marinhos (COSTA-LOTUFO et
al., 2009). Em 1992, durante a
Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente (ECO-92), foi
estabelecida a Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB), um
dos mais importantes instrumentos
Figura 9.1 – Território oceânico brasileiro, internacionais de ação para a
determinado de acordo com a CNUDM,
mostrando as delimitações do Mar Territorial, bioprospecção e ao meio ambiente.
Zona Econômica Exclusiva e Plataforma Está estruturada em três bases
Continental (Fonte: MARINHA DO BRASIL,
2015). principais:
OCEANOGRAFIA 133
complementando o terceiro objetivo da CDB, sobre acesso a recursos
genéticos e repartição justa e equitativa dos benefícios de sua utilização.
Este protocolo é o primeiro tratado ambiental multilateral a estabelecer um
sistema comercial global para investimento, pesquisa e desenvolvimento na
composição genética e bioquímica dos organismos vivos (CDB, 2012). O
Protocolo de Nagoya obriga os potenciais usuários de recursos genéticos a
obter o consentimento prévio fundamentado pelo país em que o mesmo está
inserido, antes de terem acesso a tal recurso, e negociar e concordar com
os termos e condições de acesso mediante o estabelecimento de termos
mutualmente acordados (GROSS, 2013), garantindo assim a repartição
justa e equitativa dos produtos advindos da pesquisa investida, e evitando a
biopirataria (contrabando de espécies).
134 UNIDADE IX
compostos já conhecidos, ou muito parecidos, passaram a ser reencontrados
(FAULKENER, 2002). Assim, a atenção se voltou para criaturas que passavam
despercebidas por coletas e observações, como cianobactérias, fungos e
outros diversos grupos de bactérias marinhas. Este novo direcionamento da
bioprospecção, além de render outras novas substâncias interessantíssimas,
revelou que muitos compostos antes isolados de macrorganismos eram na
verdade produtos metabólicos oriundos de microrganismos associados a
eles (PIEL, 2009). Empolgados com os resultados, grupos de pesquisa ao
redor de todo o mundo investiram esforços em cultivar bactérias marinhas
de várias fontes, incluindo sedimento de águas rasas e profundas, a própria
coluna d’água, e tecidos de outros organismos marinhos (WILLIAMS, 2008).
De um modo geral, a exploração de produtos naturais marinhos
resultou e continua resultando na descoberta de muitas substâncias, a
maioria designada para a indústria farmacêutica, mas também ocuparam
espaço em áreas de cosméticos, agricultura (pesticidas) e indústria naval
(anti-incrustantes). O diagrama abaixo (Figura 9.2) apresenta o processo e
o desenvolvimento de técnicas para uso e comercialização industrial destes
bioprodutos.
OCEANOGRAFIA 135
Fármacos e cosméticos
136 UNIDADE IX
todas as etapas de desenvolvimento de um fármaco, sendo esta, uma
importante ferramenta biotecnológica. Técnicas de engenharia genética
(sequenciamentos; expressões genicas), juntamente com o desenvolvimento
de tecnologias para o melhoramento do cultivo de bactérias estritamente
marinhas (bactérias que necessitem de sal e alguns nutrientes específicos
para crescer), também são áreas de destaque para a bioprospecção de
produtos naturais marinhos.
Por vezes, uma substância prospectada para o campo da
farmacologia pode ter outras aplicações, como na área de cosméticos.
As ceramidas, isoladas da esponja Negombata corticata, restritamente
existente no Mar Vermelho, são comumente sintetizadas em laboratórios
químicos e utilizadas como cosmético em preparações de xampu,
exercendo função relacionada a proteção das fibras capilares. No entanto,
pesquisadores egípcios aplicaram a molécula natural em ratos com
sintoma de epilepsia, que apresentaram melhoras da doença (AHMED et
al, 2008). A pseudopterosina é um agente com atividades anti-inflamatórias
e analgésicas, produzidas pelo cnidário Pseudopterogorgia elizabethae,
encontrada na região do Caribe, e vem sendo usada em preparações de
cremes para a pele, com função de tonificante, tratamento contra acne, e
prevenção de irritações cutâneas (ONUMAH, 2013; LOOK et al, 1986).
Substâncias anti-incrustantes
OCEANOGRAFIA 137
A alternativa encontrada pela indústria naval foi o uso de formulações
contendo cobre e outras substâncias com ação biocida, que também
são altamente prejudiciais ao ambiente, quanto disponíveis em grande
quantidade (JHONSON et al, 2007). Assim dito, a busca por tintas anti-
incrustantes alternativas tem levado diversos pesquisadores a concentrar
esforços no desenvolvimento de substâncias menos danosas à biota
marinha.
Produtos naturais de origem marinha podem ser utilizados para
substituir os componentes químicos usualmente empregados nas tintas
anti-incrustantes. Evolutivamente, muitos animais sésseis desenvolveram-
se livres da incrustação por outros organismos, isso se deve graças à
produção de metabólitos secundários com propriedades anti-incrustantes
(BURGESS et al, 2003). Particularmente em organismos fotossintetizantes,
esse sistema de defesa é, provavelmente, uma resposta as desvantagens
ecológicas impostas pela epibiose (sombreamento) (DA GAMA., et al,
2008). Diversos estudos com metabólitos extraídos de macroalgas foram
efetuados, com resultados positivos (MARTINS E VARGAS, 2013). Ainda,
pesquisadores brasileiros estão desenvolvendo, entusiasticamente, uma
formulação com base em glicerofosfolipídios, prospectados a partir de
esponjas coletadas na costa do Brasil. Os resultados são muito otimistas, e
experimentos continuam sendo desenvolvidos para que a substância seja
comercializada (KUGLER, 2014).
Em ambos os estudos, não foi observada uma mortalidade
significativa entre os organismos testados, reforçando a ideia de que os
produtos naturais marinhos podem, futuramente, ser utilizados como uma
alternativa ecológica em substituição aos compostos anti-incrustantes
utilizados atualmente. Além disso, vale ressaltar aqui que substâncias com
potencial biocida podem também ser amplamente utilizadas na agricultura,
como pesticidas. Assim como a indústria naval, a indústria agropecuária
busca, cada vez mais, por substâncias eficientes e que não agridam o meio
ambiente.
Biopolímeros
138 UNIDADE IX
inapropriados, e ao tempo de degradação desses materiais, que levam
longos anos no meio ambiente. Pesquisadores vêm buscando alternativas,
junto a indústria, para minimizar os impactos ambientes causados pelo
descarte inadequado de produtos plásticos. Dentre as alternativas, além do
reaproveitamento e reciclagem, a produção e utilização de biopolímeros,
polímeros biodegradáveis e polímeros verdes vem crescendo devido
a sua viabilidade técnica e econômica, apresentando grande potencial
de expansão. Eles podem ser provenientes de fontes renováveis, como
celulose, batata, ou serem sintetizados por bactérias a partir de pequenas
moléculas, ou até mesmo serem derivados de fonte animal, como a quitina
ou proteínas (BRITO et al, 2011).
Crustáceos, como camarões e caranguejos, produzem quitina, o
segundo polissacarídeo mais abundante na natureza, depois da celulose. A
quitina é uma substância muito versátil para a aplicação industrial, além de
exercer utilidade em outras áreas. É usada na composição de fungicidas de
função agrícola. Na medicina, é utilizada para a fabricação de membranas
de hemodiálise, em fios cirúrgicos biodegradáveis, como substitutos de pele
artificial, cicatrizante de queimaduras e capsulas de remédios e liberadores
de insulina. Na parte de cosméticos, a quitina é utilizada na fabricação
de cremes de barbear e cremes hidratantes. Devido a sua capacidade de
absorver gorduras, a quitina está presente na composição de diversos
alimentos dietéticos. Também é usada na fabricação de papel e na indústria
têxtil. As ações floculante e coagulante da quitina são aplicadas na filtração
de águas em piscinas, no saneamento de água e na remoção de metais
pesados e óleos (TEIXEIRA, 2010).
As algas representam uma das fontes mais abundantes de
biopolímeros relevantes e amplamente utilizados. O ágar, utilizado
em pesquisas como matéria prima de géis e matrizes biológicas; as
carragenanas, usadas como estabilizantes e texturizantes pela indústria
alimentícia e em formulações de cosméticos e produtos de higiene; os
alginatos, usados como biomaterial nas ciências médicas para enxertos de
pele, curativos e cicatrizantes para casos graves como queimaduras, ainda,
como veículo para administração de fármacos ou de terapia gênica e como
base na preparação de pratos na gastronomia. Alguns mexilhões e cracas
vêm sendo explorados quanto as suas propriedades adesivas para fixação
em substratos consolidados. Este tipo de “cola”, produzida principalmente
pelas cracas, vem sendo utilizada em procedimentos cirúrgicos, substituindo
OCEANOGRAFIA 139
a sutura. Laurienzo (2010) traz uma revisão completa sobre biopolímeros
prospectados de organismos marinhos.
Enzimas de extremófilos
140 UNIDADE IX
mais utilizadas em biotecnologia, a amplificação da fita de DNA através
da Reação em Cadeia de Polimerase (PCR – do inglês Polimeraze Chain
Reaction) (GUYER e KOSHLAWD, 1989). A maioria das enzimas degrada-
se aos 40-50°C, mas a enzima deste extremófilo, que vive em condições as
vezes acima dos 100°C, apresenta estabilidade para processos catalíticos
que necessitam de altas temperaturas.
Dalmaso e colaboradores (2015) apresentam uma revisão completa
sobre os recentes avanços em pesquisas e do potencial promissor para
aplicações biotecnológicas de enzimas destes organismos. Como exemplo,
vale citar a existência de uma amilase produzida por uma bactéria marinha
que vem sendo investigada quanto a sua atuação na degradação da parede
celular de microalgas cultivadas para a produção de biodiesel, que, no
processo atual, a fermentação precisa ser dessalinizada para que amilases
convencionais executem essa função. A atuação da amilase resistente a
salinidade deletaria esta etapa do processo culminando na otimização da
produção deste biodiesel (DALMASO et al., 2015).
Biocombustíveis
OCEANOGRAFIA 141
vitaminas, proteínas e carboidratos. Várias empresas e universidade estão
envolvidas em biocombustíveis de algas, e em 2010 foi anunciado nos EUA
o desenvolvimento para uma abordagem sistêmica de comercialização
sustentável desse biodiesel e seus bioprodutos (TEIXEIRA, 2010).
Além do biodiesel, o bioetanol também abre caminho dentro dos
biocombustíveis marinhos, sendo produzido a partir de celulose extraída
de macroalgas ou ainda a partir da tunicina, componente presente na túnica
de ascídias. As ascídias também contribuem para a produção de metano, a
partir de sua biomassa.
Tratando-se de uma matéria-prima sustentável, com a versatilidade
de cultivá-las em água salgada, um recurso abundante e praticamente
ilimitado, que disponha de calor e luz abundantes, é evidente que o Brasil
possui condições ideais para a produção de algas e microalgas, em especial
na região nordeste. A empresa “Algae Biotecnologia” foi fundada em 2010 e
desenvolve soluções baseadas no cultivo de microalgas. Um forte programa
de pesquisa e desenvolvimento, em parceria com importantes universidades
brasileiras, possibilitou a aplicação de tecnologias desenvolvidas nos
setores sucroenergéticos, alimentos e bebidas, geração de energia
termelétrica, cimentos e outros carbono intensivo. Mais informações são
encontradas em – www.algae.com.br.
Biorremediação
142 UNIDADE IX
por meios bióticos do próprio ambiente com o passar do tempo e sem a
intervenção humana.
(2) Bioestimulação, que necessita das populações microbianas
nativas para degradar a contaminação. É realizada pela intervenção humana
através da adição de nutriente fertilizante ou outro meio que aumente a taxa
de biodegradação natural.
(3) Bioaumento, que é a estratégia menos comum e consiste em
adicionar uma microbiota óleo-degradante complementar à capacidade
de degradação das populações nativas. Pode ser uma linhagem rara ou
ausente da comunidade local, ou ainda criada geneticamente para exercer
a função a degradação. Não é muito praticada devido às preocupações
ambientas de tal intervenção.
Uma das maiores preocupações são os hidrocarbonetos
poliaromáticos tóxicos (PAHs) que originam o piche, encontrados no
óleo. Através de técnicas de impressão de DNA digital, pesquisadores
têm isolado bactérias marinhas que degradam os PAHs. Atualmente está
se procurando entender como as comunidades de bactérias naturais
podem desintoxicar áreas contaminadas pelos hidrocarbonetos, e ainda,
desvendar o metabolismo microbiano e o seu crescimento em ambientes
contaminados.
Considerações Finais
OCEANOGRAFIA 143
emprego vem permitindo aprofundar e aprimorar as investigações de
genética básica, genética quantitativa, de conservação genética e de
melhoramento.
Ainda, quando se pensa em bioprospecção é de extrema relevância
juntar ao termo a sustentabilidade. A utilização sustentável de componentes
da diversidade biológica de modo e em ritmo tais que não levem, a longo
prazo, à diminuição da mesma, mantém o seu potencial para atender as
necessidades e aspirações das gerações presentes e futuras.
Apesar de pouco estimulado, o Brasil já possui avanços na área e
alguns grupos de pesquisa estão bem estabelecidos. O Ministério da Saúde,
juntamente com o Ministério de Ciência e Tecnologia, publicou em 2010 um
livro sobre o estado da arte em Biotecnologia Marinha no Brasil (TEIXEIRA,
2010), onde pode ser encontrado um guia completo sobre o que vem sendo
desenvolvido pelos diferentes grupos de pesquisa no Brasil e no mundo.
Ele ressalta que, a região Nordeste é, ao lado da Região Sudeste, a de
maior participação na área, com grande número de grupos de pesquisa.
Referências
AHMED, S. A.; et al. Antiepiletic ceramides from the red sea sponge Ne-
gombata corticata. Jor. of Natural Prod., v. 17, 2008.
144 UNIDADE IX
COSTA-LOTUFO, L. V.; et al. Organismos marinhos como fonte de novos
fármacos: histórico e perspectivas. Quim. Nova, v. 15, p. 1-14, 2009.
GERWICK, W. H.; MOORE, B. S. Lessons from the past and charting the
future of marine natural producst druf discovery and chemical biology.
Chem. Biol., v. 19, p. 85-98, 2012.
OCEANOGRAFIA 145
246, p. 1541-1546, 1989.
IMHOFF, J. F.; et al. Bio-mining the microbial treasures of the ocean: new
natural products. Biotech. Adv., 2011.
JOHNSON, A.; et al. The effects of coper on the morphological and func-
tional development of zebrafish embryos. Aquat. Tocicol., v. 84, p. 431-
438, 2007.
146 UNIDADE IX
PESSATTI, M. L. Marine bioprospection: what means? Estud. Biol., v. 28,
2006.
PIEL, J. Metabolites from symbiotic bacteria. Nat. Prod. Reports., v. 26, p.
338-362, 2009.
PILLING, S.; MARTINS, C. F. M. Aula 11- Extremófilos. Disponível em:
<wwwq.univap.br/spilling/AB/Aula_11_Extremofilos.pdf>. Acessado em: 13
de maio de 2015.
OCEANOGRAFIA 147
CAPÍTULO 10
OCEANÓGRAFO COMO PROFISSÃO
Évila Pinheiro Damasceno
Renan Vandre da Silva Toscano Saes
Universidade Federal do Ceará
OCEANOGRAFIA 149
Figura 10.1 – Oceanógrafo em seu ambiente de trabalho: o mar (Fonte: NATIONAL
OCEANIC AND ATMOSPHERIC ADMINISTRATION, 2015).
Áreas de atuação
150 UNIDADE X
Os oceanógrafos que
estudam a geologia dedicam-se
em compreender os processos da
tectônica de placas, vulcanismo e
circulação do manto no interior da
Terra para entender a formação das
bacias oceânicas e as interações
entre os oceanos e o assoalho
marinho (Figura 10.3). Além do
fundo do mar, os oceanógrafos
também exploram a porção costeira
Figura 10.2 – Pesquisadores acompanhando dos oceanos. Com o vasto aumento
coleta de dados de salinidade, temperatura
e pressão da água do mar durante um de habitantes em cidades litorâneas
embarque. A maior parte do tempo do em todo o mundo, a ocupação
oceanógrafo físico é dedicado ao tratamento
desordenada do litoral afeta a
e a interpretação de dados em softwares
especializados (Fonte: UNIVERSITY OF dinâmica sedimentar acarretando
CALIFORNIA, 2015). problemas como a erosão costeira.
O oceanógrafo atua fornecendo
suporte técnico para obras de contenção, que são executadas pelo ramo da
engenharia costeira.
Um ramo da Oceanografia Geológica que está em alta no Brasil é o de
exploração de recursos minerais marinhos. Através de técnicas geofísicas
os oceanógrafos detectam áreas de potencial fonte de riqueza mineral, e
assim podem explorar recursos tanto na superfície da superfície do assoalho
oceânico (como granulados e nódulos polimetálicos) quanto também em
camadas mais profundas, como o petróleo.
OCEANOGRAFIA 151
Os profissionais da área de oceanografia biológica estudam os seres
vivos marinhos, desde microrganismos até animais de grande porte, como
baleias. Muitos estudos têm interesse no número e distribuição de espécies,
que fornecem informações para atividades exploratórias, como a pesca, ou
para planos de conservação da vida marinha (Figura 10.4).
Outro importante campo de atuação do oceanógrafo biológico é a
aquicultura/maricultura. Com o aumento da população mundial nos últimos
anos, os meios de produção de alimentos não acompanharam a demanda
e, por isso, o cultivo em ambientes aquáticos foi expandido e aperfeiçoado.
No Brasil, os estados do Ceará e Santa Catarina (que cultivam camarão e
ostra, respectivamente) se destacam neste setor.
152 UNIDADE X
Figura 10.5 – Estudante prepara amos-
tra para centrifugação. O oceanógrafo
químico utiliza técnicas de análise de
desde substâncias de grande importân-
cia para os seres vivos, como o CO2,
até compostos presentes em concen-
trações muito pequenas, como alguns
contaminantes (Fonte: UNIVERSIDA-
DE DO VALE DO ITAJAÍ, 2015).
OCEANOGRAFIA 153
II – orientar, dirigir, assessorar e prestar consultoria a empresas,
fundações, sociedades e associações de classe, entidades autárquicas,
privadas ou do poder público;
III – realizar perícias, emitir e assinar pareceres e laudos técnicos;
IV – dirigir órgãos, serviços, seções, grupos ou setores de oceanografia
em entidades autárquicas, privadas ou do poder público.
Parágrafo único. Compete igualmente aos Oceanógrafos, ainda que
não privativo ou exclusivo, o exercício de atividades ligadas à limnologia,
aquicultura, processamento e inspeção dos recursos naturais de águas
interiores.
Embora a profissão tenha sido regulamentada somente em 2008,
o ramo já era bem difundido em diversas áreas do conhecimento. Porém,
o reconhecimento da classe ampliou e solidificou as relações de trabalho
desenvolvidas por um oceanógrafo.
Mercado de trabalho
154 UNIDADE X
Instituições que contratam: empresas de saneamento, indústrias do setor de
controle de efluentes, universidades, empresas de consultoria.
(2) Planejamento e coordenação de projetos de controle de processos
erosivos nas praias e implantação de obras costeiras: o estudo sobre
dinâmica costeira em ondas, marés e sedimentologia fornece ao e obras de
contenção capacitam o oceanógrafo. Instituições que contratam: empresas
de engenharia e de consultoria ambiental, universidades, órgãos públicos.
(3) Elaboração de estudos de impacto ambiental (EIA) e relatório de
impacto ambiental (RIMA) para atividades desenvolvidas na zona costeira:
as noções básicas de todas as áreas de oceanografia, junto do estudo de
poluição marinha e análise de impactos ambientais servem de base para
esse tipo de trabalho. Instituições que contratam: universidades, empresas
de consultoria ambiental, órgãos públicos.
(4) Gestão de ambientes costeiros: as disciplinas das áreas de manejo
de ecossistemas marinhos, ecologia e poluição marinha qualificam os
profissionais para esta função. Instituições que contratam: universidades,
órgãos públicos.
(5) Aquicultura, desenvolvimento e transferência de tecnologia de
cultivo, administração de parques de cultivo: os conhecimentos nas áreas
de biologia pesqueira, ecologia e aquicultura são requeridos para estes tipos
de trabalho. Instituições que contratam: empresas privadas, secretarias de
agricultura, aquicultura e pesca.
(6) Setor pesqueiro: o profissional habilitado em biologia pesqueira
e oceanografia biológica atua nesse setor. Instituições que contratam:
empresas privadas, secretarias de agricultura, aquicultura e pesca.
(7) Gestão de parques marinhos e áreas de proteção ambiental: O
profissional utiliza os conhecimentos de Legislação Ambiental e Ecologia
para atuar nessa área. Instituições que contratam: órgãos públicos como
ICMBio (Instituto Chico Mendes – Ministério do Meio Ambiente) e secretarias
de meio ambiente.
Diferente das profissões de engenharia de pesca, engenharia de
aquicultura, biologia e geologia, a oceanografia não tem conselho de classe
no Brasil. A Associação Brasileira de Oceanografia (AOCEANO) emite a
Declaração de Habilidade Técnica (DHTs) que habilita o exercício regular da
profissão. Porém, a ausência de um conselho de classe acarreta dificuldades
para o profissional, como, por exemplo, a inexistência de piso salarial
definido para a profissão. A AOCEANO, que vem lutando pela criação de um
OCEANOGRAFIA 155
conselho em oceanografia, determinou os salários-base para oceanógrafo,
porém apenas como forma de sugestão (AOCEANO2, 2015).
Cursos de Graduação
156 UNIDADE X
(2) Curso de oceanografia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(UERJ) – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
(3) Curso de oceanografia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI)
– Itajaí, Santa Catarina.
(4) Curso de oceanografia do Centro Universitário Monte Serrat
(UNIMONTE) – Santos, São Paulo.
(5) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Espírito Santo
(UFES) – Vitória, Espírito Santo.
(6) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Pará (UFPA) –
Belém, Pará.
(7) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Paraná (UFPR)
– Pontal do Paraná, Paraná.
(8) Curso de oceanografia da Universidade de São Paulo (USP) – São
Paulo, São Paulo.
(9) Curso de oceanografia da Universidade Federal da Bahia (UFBA)
– Salvador, Bahia.
(10) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Maranhão
(UFMA) – São Luís, Maranhão.
(11) Curso de oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina
(UFSC) – Florianópolis, Santa Catarina.
(12) Curso de oceanografia da Universidade Federal do Ceará (UFC)
– Fortaleza, Ceará.
(13) Curso de oceanografia da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) – Recife, Pernambuco.
Cursos de Pós-Graduação
OCEANOGRAFIA 157
Oceanografia Biológica, Oceanografia Física, Oceanografia Química e
Oceanografia Geológica. A UERJ tem cursos de mestrado e doutorado em
Oceanografia. Há o curso apenas de mestrado em Oceanografia na UFSC. A
UFES oferece mestrado e doutorado em Oceanografia Ambiental. E o único
programa de pós-graduação em Oceanografia do Nordeste é o da UFPE,
que oferece curso de mestrado e doutorado.
158 UNIDADE X
Referências
OCEANOGRAFIA 159
Ocean Sciences: Dive in! Disponível em: <http://www.oceanopportunities.
org/page.do?pid=112660>. Acesso em: 19 maio de 2015.
160 UNIDADE X
APÊNDICE
Tabela APÊNDICE I: Distribuição dos laboratórios de pesquisa em oceanografia física
por instituição.
Grupos de Pesquisa/
Instituições Coordenador Contato
Laboratórios
LOCOSTE - Laboratório de
FURG Oceanografia Costeira e Dr. Osmar Moller Jr dfsomj@furg.br
Estuarina
Maria Hans
Laboratório de Oceanografia (coordenadora maria.hans@unimonte.
UNIMONTE
Física do curso de br
Oceanografia)
MAPTOLAB - Laboratório de
Dr. Afrânio
IOUSP Marés e Processos Temporais ardmesqu@usp.br
Mesquita
Oceânicos
LABMON - Laboratório de
Dr. Edmo José Dias
IOUSP Modelagem e Observação edmo@usp.br
Campos
Oceânica
OCEANOGRAFIA 161
LabDados - Laboratório de
IOUSP Dr. Marcelo Dottori labdados_io@usp.br
Dados Oceanográficos
LaDO - Laboratório de
IOUSP Dr. Ilson Silveira ilson.silveira@usp.br
Dinâmica Oceânica
OC² - Laboratório de
IOUSP Oceanografia Física, Clima e Dra. Ilana Wainer wainer@usp.br
Criosfera
LABSIP - Laboratório de
IOUSP Simulação e Previsão Dr. Joseph Harari joharari@usp.br
Numérica Hidrodinâmica
Dr. Alessandro
UERJ GRUMAR - Grupo de Maré dof.faoc@gmail.com
Filippo
LabPosseidon - Laboratório de
Dr. Renato David gringoghisolfi@gmail.
UFES Pesquisa e Simulação sobre a
Ghisolfi com
Dinâmica do Oceano
LOFEC - Laboratório de
Dr. Carmen
UFPE Oceanografia Física Estuarina carmen@ufpe.br
Medeiros
e Costeira
LHiCEAI - Laboratório de
Hidrodinâmica Costeira, Dr. Francisco José francisco.dias@ufma.
UFMA
Estuarina e de Águas Dias br
Interiores
Geofmar - Laboratório de
UFPA Dr. Marcelo Rollnic rollnic@ufpa.br
Geofísica Marinha
162 UNIDADE X
MINICURRÍCULO DOS AUTORES
MSc. Bianca Del Bianco Sahm
Bióloga Marinha
Universidade Federal do Ceará
Departamento de Farmacologia
Laboratório de Bioprospecção e Biotecnologia Marinha
Rua Coronel Nunes de Melo, 1000 - Rodolfo Teófilo
Fortaleza - CE
CEP 60430-270
http://lattes.cnpq.br/0964973241076501
Oceanógrafa
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Ecotoxicologia Marinha
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/4630733547657675
Oceanógrafa
Universidade do Estado do Rio de Janeiro
Faculdade de Oceanografia - FAOC
Laboratório de Cultivo e Ecologia do Fitoplâncton Marinho
Av. Francisco Xavier, 524, 4o Andar, sala 4023E - Maracanã
Rio de Janeiro - RJ
CEP 20550-013
http://lattes.cnpq.br/9362491158928160
OCEANOGRAFIA 163
Dr. Francisco Sekiguchi de Carvalho e Buchmann
Oceanógrafo
Universidade Estadual Paulista
Campus de São Vicente
Laboratório de Estratigrafia e Paleontologia
Praça Infante Don Henrique, s/n - Bairro Bitarú
São Vicente - SP
CEP 11330-900
http://lattes.cnpq.br/5016820327607647
Bióloga
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Zoologia de Crustaceos
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/4263676415808125
Biólogo Marinho
Universidade Estadual Paulista
Campus de São Vicente
Núcleo de Estudos em Poluição e Ecotoxicologia Aquática
Praça Infante Don Henrique, s/n - Bairro Bitarú
São Vicente - SP
CEP 11330-900
http://lattes.cnpq.br/8251258719894689
164 UNIDADE X
MSc. Marcielly Freitas Bezerra
Oceanógrafa
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Avaliação de Contaminantes Orgânicos
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/3523256310455758
Biólogo Marinho
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Ecotoxicologia Marinha
Av. da Abolição, 3207 - Meireles
Fortaleza - CE
CEP 60165-081
http://lattes.cnpq.br/4554497708023747
OCEANOGRAFIA 165
Dr. Samuel Soares Valentim
Oceanógrafo
Universidade Federal do Ceará
Instituto de Ciências do Mar - LABOMAR
Laboratório de Oceanografia Física
Av. da Abolição, 3207 - Meireles - CEP 60165-081
Fortaleza - CE
http://lattes.cnpq.br/9452686753864315
166 UNIDADE X
Ministério
da Educação