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Revista777 A Ponta de Lança Da Thelema Brasileira
Revista777 A Ponta de Lança Da Thelema Brasileira
Editorial
A revista 777 tem como norteador o verbo Comunicar. Seja por meio de
publicações originais de artigos de brasileiros da Astrum Argentum, em suas
diversas linhagens, tanto para os nossos pares quanto para interessados e
curiosos; comunicar com o mundo o que acontece no Brasil, pois percebemos
que uma revista torna o trabalho do Iluminismo Científico mais observável aos
olhos da História; comunicar o que tem de interessante sendo escrito no mundo,
artigos que julgamos pertinentes, ou uma tradução feita com carinho e por
pessoas que também entendem a necessidade do publishing.
Espero que assim a revista cumpra seu papel de ser uma expositora de
pensamentos dos integrantes da Santa Ordem, que mantenha um espaço seguro
para a fala e que estimule tanto o iniciante como o mais antigo a expor
considerações, colocações e ideias. Só assim uma Arte pautada pelo Iluminismo
Científico pode se manter viva, aberta e atual. Espero que vocês gostem dos
textos aqui expostos, e saibam que a equipe estará abertos para discussão e
recepção de novos autores.
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema brasileira
Olá amigas e amigos “vem chegando o verão” já diria a poetisa lá dos idos
anos oitenta, mas não há saudades maiores para serem ditas nem escritas. Ao se
aproximar do Solstício de Verão nossos corações Thelemitas se enchem de
alegria para mais uma edição da Revista 777, parece brincadeira mas, em tão
pouco tempo a mais nova e atual revista sobre Thelema contemporânea do Brasil
atingiu muitas mentes e corações em sua primeira edição. Além de nossos
tradicionais escritores, pensadores, e filósofos, somaram-se mais vozes e mais
penas, que vertem em tintas agora digitais, pedaços de suas percepções e
devaneios ora em LVX ora em NOX. Nossa Revista é uma iniciativa multilinhagens
da Santa Ordem A.A. o que demonstra a maturidade e o alinhamento necessário
aos ideais do Novo Aeon. Um admirador do nosso trabalho espontaneamente nos
elogiou: Revista 777 a ponta de lança da Thelema Brasileira" gostei e vamos
usar! No mais, aproveitem o verão que é excelente pro Resh ao ar livre! E por
falar nisso:
H418
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema brasileira
Índice
Kali ……………………………………………………………………………………………… 18
Devotion ……………………………………………………………………………………… 34
A árvore …………………………………………………………………………………...…. 45
Invocação a Pã ……………………………………………………………………………… 47
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema brasileira
Thelemagick: אראריתא
“Que retornou ao Um, e além do Um,
até a visão do Louco em sua loucura que cantou a palavra ARARITA,
e além da Palavra e do Louco; sim, além da Palavra e do Louco.”
Liber DCCCXIII vel ARARITA
“Tu, Garoto Safado, tu abriste o olho de Hórus ao Olho Cego que chora!”
Liber 333 - O Livro das Mentiras
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Revista 777 – A ponta de lança da Thelema brasileira
Uma das aplicações mais antigas relativas à palavra ARARITA remonta aos
judeus de Provença, em torno do ano 1200, época considerada de ouro para os
mesmos [4]. Há suposições de que antigos sigilos encontrados nos livros de
Cornelius Agrippa tenham surgido nos círculos cabalísticos dessa região. Essa
Cabala predominantemente oral se fundiu com tradições do sul da França, dos
pirineus, norte da Itália e mesmo com os mouros e ibéricos, gerando uma
infinidade de linhagens de Cabala e Magia posteriormente. ARARITA era
conhecida nos círculos cabalísticos de Provença como a palavra representativa
dos fundamentos do céu, enquanto AHVY representava os fundamentos da terra
(sendo AHVY criada a partir de YHVH e AHYH, segundo o Pardes Parmonim de
1548, capítulo 21, versículo 3. Moise Cordovero afirma ainda que AHVY - Ehoui, é
o nome “verdadeiro” de deus).
Ainda que a palavra ARARITA apareça muito mais nos textos mágicos
medievais e atuais do que na literatura rabínica, é importante citar que a palavra
não foi “criada” pelos magistas e ocultistas medievais, e tem até hoje uso em
simpatias e encantamentos judaicos. Um exemplo de sua aplicação é nas
conhecidas תפילות למציאת בת זוג, ou thephiloth lamatziath beth zog, “orações para
se encontrar parceiros”, onde ARARITA é o nome visualizado ou pensando em
determinadas partes da oração. ARARITA tem na maioria dessas orações
populares um efeito semelhante ao Amém.
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Figura 1 - A Torre, às vezes considerada a carta mais violenta doTarot - destruição súbita.
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ARARITA tem por valor numérico o 813, que também é o valor do versículo
de Gênesis I:3 – “Vayomer Elohim Yehi Aur, vihi Aur ” (“E deus disse faça-se a luz,
e a luz se fez”. Ou em latim: “ dixitque Deus fiat lux et facta est lux ”). Esse
versículo é, entre diversas magias medievais, das frases mais importantes e
mesmo usada magicamente na concretização dos rituais, através da ordem: “ Fiat
Lux”, a mesma falada por deus na criação da luz. Além da analogia com o Fiat
lux do gênesis, está relacionada à fórmula de LVX: trazer da escuridão ou do
desconhecido para o conhecido e com a fórmula de IAO. Ambas falam, de certa
forma, de transformação e morte.
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Figura 2 - O hexagrama que, além de representar a unidade dos opostos, representa os sete
planetas sob poder das Sephiroth. Cada ponta e o centro são associados a um planeta, Sephirah e
letra da chave ARARITA.
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contém ideias opostas. Liber ARARITA tenta mostrar que nossas ideias são
apenas projeções mentais no Universo e que o real e irreal são dois lados de uma
mesma moeda. Fica claro que os versículos de 3 a 9 se relacionam,
respectivamente às Sephiroth. O Capítulo 1 apresenta as Sephiroth em seus
aspectos “positivos” e o Capítulo 2 apresenta os aspectos opostos. O método
prático de Liber ARARITA começa então pela comparação de ambos os capítulos
simultaneamente. O próprio nome ARARITA e praticamente todos os outros Libri
já falaram da natureza da Grande Obra: a união de deus (ou SAG) com o homem,
mistério simultaneamente de Saturno (Binah), da Terra e representado pela
subida na árvore da vida. E já no versículo 0, após apresentação da ideia do uno,
há a admoestação no Capítulo 2 de que ARARITA é 111, e não 1 - isso seria, uma
consideração de que se ARARITA representa a unidade de vários, e não
necessariamente isso tem a ver com monoteísmo.
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Aqui, podemos ver que o fato de o Safira Estrela apresentar Mãe, Pai, Filho,
Filha tem muito mais motivação astrológica do que apenas sexual de ser. É
relevante notar que áries e escorpião são regidos por Marte, enquanto touro e
libra por vênus. O traçado dos hexagramas é igual para todos os quadrantes -
com o traçado da linha horizontal, como usado no ritual menor do pentagrama -,
se alterando somente a frase principal que dita a união das constelações. De
certo modo, temos no Estrela Safira o Tetragrammaton, YHVH, e unimos: Y+H,
H+V, V+H, H+Y. Marquei em negrito a fase V+H pois é a união do Filius et Filia,
que acontece não por acaso no Oeste, a estação da completude, do final, do
outono, da colheita. Ao fechar o círculo, ele irá ao centro deste. ARARITA é aqui
vibrada três vezes, uma com o sinal da Rosa+Cruz (a marca da besta, que pode
ser conferido ainda nesta edição), uma vez com o sinal de Set Triunfante, que é
uma posição de total ação, e uma vez com o sinal de Mulier (ou Baphomet), a
posição de passividade.
Set aparece no ritual como a forma escondida de Hórus. Set além de ser o
deus egípcio, aparece também no Zohar como sendo um “nome de sucesso”, já
que é composto em hebraico pelas letras Shin e Thav, as duas letras finais do
alfabeto. O aparecimento de Set ou não é o resultado de sucesso ou não da
invocação. Nesse momento, a comunhão é feita: segundo o ritual o sacramento é
bebido e comunicado, partilhado entre o Mago e Deus. O texto do ritual termina
com uma declaração do sucesso da operação de ARARITA. Cabe notar que Hórus,
na mitologia egípcia [10][11], uma vez embriagado foi seduzido por Set para
seus aposentos, onde Set penetrou Hórus. Esse mito explicaria a relação Mago-
SAG como sendo uma relação de união homossexual, sob ARARITA. Será que,
assim como na mitologia, Set domina Hórus durante sua embriaguez? Aos que
gostam de ufologia, talvez faça sentido crer que o SAG pudesse ser de uma raça
alienígena buscando contato com a raça humana para depois - do adeptado -
dominá-la através da destruição e da aniquilação de Daath.
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Frater Amaranthus
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P.S.: Um salve ao meu Instrutor da A.˙.A.˙., exemplo vivo do que seja a prática do Wu
Wei, aquele que ensina sem palavras.
12 de dezembro de 2017
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O andarilho e a andorinha
Eu não te vi:
Mas ouvi tuas asas tocarem as asas do vento.
Rolinha do tempo sob tênue raio de sol:
Voa, voa, andorinha, que prenuncia a tempestade.
Voa bem alto!
Porque mesmo com pés no chão
Quero mais dessa loucura de te amar
Dessa demência que é beber taças e taças
Do vinho forte que corre de teus lábios.
Embriaguez azul que coroa o meu então.
Não me importo com cabelos soltos:
Canto no mau tempo!
Sem ânsia do que há de ser o amanhã.
E mesmo que escondas o sol ante meus olhos
É porque chove e está nublado:
Um dia o verei.
Voa, voa, andorinha:
Que esta Terra seja toda Tua
E essa altura tua, Minha.
Amaranthus
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Kali
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Thelema Contemporânea:
Já deu sua bicada hoje?
Está lá, todos viram, nem preciso contar, todo mundo torceu o nariz para o
capítulo III de Liber AL, na Europa no começo do século XX; na verdade muita
gente torce ainda o nariz para o capítulo do homem da Terra, aquele capítulo que
fala de Ra Hoor Khut, aquele capítulo mesmo que foi o último a ser escrito, no
entanto aponta para o começo do caminho! Sim, o começo, visto que ele trata do
estabelecimento do reino de RHK na Terra, é que lá no meio do capítulo há o
versículo 51 (uma boa ideia) que atesta:
Bom, óbvio que eu não escrevo esse texto só para thelemitas e sim para
qualquer um interessado, simpatizante ou até inimigo de Thelema. Esse verso
além de marcial, violento, pictórico, nevrálgico e enigmático guarda em si um
paradigma muito importante para poder vivenciar a filosofia de Thelema: o
apogeu da Liberdade e do Amor sob Vontade.
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Tem dica prática sim senhor! Thelema é uma via prática, sempre
filosofamos para propor práticas; não há meu pirão primeiro, nem meu pé me
dói, tão pouco é a exacerbação do ego, ou eu menor, isso está claro em Liber II –
é a apoteose da Liberdade, mas a mais estrita das injunções" ou seja meus
queridos: há trabalho a frente!
"O Sol não morre, como pensavam os antigos; Ele está sempre fulgindo,
sempre irradiando a Luz e Vida. Parai por um momento, e adquiri uma concepção
clara deste Sol: como Ele está fulgindo de manhã cedo, fulgindo ao meio-dia,
fulgindo à tarde, e fulgindo a meia-noite. Tendes esta idéia claramente formulada
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em vossa mente?
ENTÃO PASSASTES DO VELHO AO NOVO AEON.
Agora, consideremos o que ocorreu convosco. A fim de assumirdes esta
concepção mental do Sol sempre-fulgente, que fizeste? Vós vos identificastes
com o Sol. Vós saístes da consciência deste planeta, e por um instante vos
considerastes como Entes Solares. Então, para que voltar atrás?"
Uma nova lei e uma nova palavra foram trazidas como uma nova febre dos
céus, jorraram da foz da língua do profeta e da tinta de sua pena. O Aeon está
pronunciado sobre o silêncio! E a fórmula da palavra undécupla (Abrahadabra)
na lei de Thelema consagra a blasfêmia contra todos os deuses! O senhor do
Aeon, aquele que carrega o esplendor da blasfêmia em seu próprio nome não é
um juiz, cada um que se julgará. Ao meditarmos sobres as cores do Atu XX (O
Aeon) vamos ver que "o escarlate flamejante, o carmesim brilhante e o vermelho
ardente são enfatizados pelo verde passivo" Temos aí a visão também da criança
coroada e conquistadora, não há pecados, não há salvação , há somente Luz,
Amor, Liberdade e Vida! Até a morte agora é Vida por vir!
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Então:
- Já deu sua bicadinha hoje?
H418
abadiahetheru@gmail.com
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do seu próprio ser, elas devem preenchê-lo com sua bondade secreta. E estas
quatro são: Luz, Vida, Amor e Liberdade. Pela Luz vós considerareis a vós
mesmos, e percebereis Todas as Coisas que são em Verdade Uma só Coisa, cujo
nome foi chamado de Nenhuma Coisa.(...)Portanto, pela Vida, vós vos tornais
eternos e incorruptíveis, flamejando como sóis, autocriados e autossustentados,
cada um o único centro do Universo. Então pela Luz vós percebeis, pelo Amor vós
sentis. Há um êxtase de puro Conhecimento e outro de puro Amor. E este Amor é
a força que une as diversas coisas, para a contemplação na Luz de sua Unidade.
(...)Finalmente, pela Liberdade está o poder para guiar o seu curso de acordo
com a sua Vontade. Pois a extensão do Universo é ilimitada, e sois livres para
realizar o vosso prazer como quiserdes, observando que a diversidade do ser é
também infinita.”
Crowley pontifica a não seguir o que ele denomina como “Culto dos
Deuses-dos-Escravos”, apontando que tudo que estagna é deles e dali vem não
Estabilidade, mas Putrefação”, e deixa também bem claro como reconhecer os
Deuses-dos-Escravos “falsa Religião, falsa Ética e até falsa Ciência “. Os Deuses –
dos – Escravos sacrificam o indivíduo em prol de uma sociedade, nos trazendo a
concepção que o homem, como indivíduo, existe para ser utilizado, dirigido,
educado, controlado e ajustado.
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“Que cada qual pense como quiser sobre o Universo, mas que nenhum tente
impor aquele Pensamento sobre outrem por qualquer Ameaça de Punição neste
Mundo ou em qualquer outro Mundo.” Aleister Crowley, Liber Aleph.
Soror Elemiah
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Abro te a porta
A minha e a tua
Como se abrisse portas ao coração
O meu e o teu
Abro te o portal
A entrada da Gruta
Da interna verdade
Da minha e da tua
Gritam me místico
Dizem me cínico
Vejo me sísmico
Desmorona o templo
Implodido reflexo meu
Sussurro a ti inominado ateu
H418
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1 - O ego encarnado, em sua maioria é vítima das forças que o rodeiam. Ele tenta
se acostumar com isso, para variar distraindo-se. Assim, tal um condenado,
vivendo em uma cela, ele se adapta ao pouco espaço e sonha com dias
melhores.
2 - Como um barco no oceano, ele vive ao sabor das ondas: um dia está calmo,
outro dia está agitado e noutro dia tormentoso; logo tudo volta a calma. Mais
uma vez ele se adapta
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8 - Se Qliphot pode ser comparado a uma sala escura, Malkhut é uma sala
iluminada. Os obstáculos estão lá ainda, terão que ser ultrapassados, mas a
percepção deles faz com que possamos escolher a melhor maneira para isso em
vez de sermos obrigados a nos submeter a uma adaptação por falta de opção.
10 - De fato, o que estamos falando aqui é: o ego sob qliphoth tenta se adaptar
ao seu próprio descontrole. O ego em Malkhut, tenta adquirir o controle e optar,
por isso ele se torna um Senhor de Asana, pois não é o controle do externo que é
a via, mas do interno. Lembram: o demônio é o ego e ele se manifesta pelo
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corpo. Não se engane o Neófito. Ele será testado em sua ousadia: Essa é a
famosa Ordália de Nephesh.
Q.V.I.F. 196
abadiahetheru@gmail.com
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Uma leitura de tarot não deixa de ser um ritual, então tenha em mãos as
armas mágicas, não precisa ser algo muito elaborado, você pode utilizar-se de
um lápis como uma varinha que representará o fogo, um vaso ou um copo para
água, um abridor de cartas para representar o ar e um círculo achatado de
madeira ou moedas para representar a terra.
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Para que a leitura seja mais completa e minuciosa, note para qual direção
as cartas estão olhando: esse detalhe pode representar uma pessoa ou evento
que estará chegando e/ou uma situação afirmativa, e no sentido oposto, a
partida do evento ou da pessoa em questão.
Esse tipo de leitura demanda muito tempo e concentração por ter muitas
cartas, então escolha um período que tenha disponibilidade para realizá-la.
Soror Adler
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Devotion
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poderia ser e fazer o que quiser. Enquanto livro santo, o Liber AL parece
acompanhar uma tradição de entregar aos seus adeptos uma escatologia onde o
fim de sua revelação entrega um tempo melhor que o passado. Uma evolução
histórica para um novo momento em que finalmente a felicidade perfeita pode
ser alcançada por aqueles que entenderem seu credo.
[1]- São referidas aqui as passagens em que a palavra Lei é escrita com letra maiúscula.
[2] - q.v. Liber 837 - Lei da Liberdade
[3] - q.v. Liber AL I.36; I.54; II.54; III.47
[4] - q.v. Liber 150 – De Lege Libellum
Bibliografia:
CROWLEY, A. Liber 150: de lege libellum. In: CROWLEY, A.; REGARDIE, I. (Org.).
Gems from the equinox. Phoenix: Falcon Press, 1986. p. 111-136.
___________ Liber ALEPH vel CXI: the book of wisdom or folly. Disponível em:
<http://www.sacred-texts.com/oto/aleph_index.htm>. Acesso em: 12/11/2017
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Esse breve ensaio visa apresentar, como dito, uma visão pessoal sobre o
ritual Reguli, visto que salvo distorções deliberadas das correspondências
simbólicas, não há uma única forma correta de executar um ritual da Santa
Ordem e sim interpretações diferentes, já que via de regra, não há um
comentário de mestre Therion escrito sobre os mesmos. Não somente com o
Reguli, mas essa ausência de comentário se repete no Rubi Estrela, Safira
Estrela, e a Missa da Fênix, obviamente de forma propositada. Há aqui, portanto,
minha visão sobre os propósitos e sobre como executar esse ritual, tendo me
baseado em minha experiência, em comentários de autores célebres sobre esse
e outros rituais, e tendo visto a execução do mesmo por diferentes pessoas,
jamais tendo encontrado uma que fosse cem por cento igual à outra, diga-se de
passagem.
“Mas ela disse: os ordálios eu não escrevo: os rituais serão metade conhecidos e metade
escondidos: a Lei é para todos.” (AL I:34)
* A Ordem Alquímica Hermética QBL surgiu nos 60 sem estrutura de graus ou hierárquica, focada
em qabalah, magia cerimonial, psicologia esotérica, e tantra, dentro do paradigma thelemita. A
cifra em questão foi descoberta/recebida por volta dos anos 70 na Inglaterra por Jim Lees, Jake
Stratton-Kent, e Carol Smith. O grupo, ou parte dele, ainda se encontra em atividade.
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Há que se fazer uma certa análise no símbolo formado durante essa parte
do ritual que é a bem semelhante a Cruz de Salém, assinatura do Grão-Mestre
dos Cavaleiros Templários, a mesma usada por Baphomet XI (Aleister Crowley), e
Parzival XI (Marcelo Ramos Motta), em suas respectivas encarnações da Ordo
Templi Orientis. Semelhante, porém não a mesma, utilizada na mão esquerda
pelo hierofante no tarô de Rider-Waite.
“1. Que ele desenhe um círculo em volta da sua cabeça exclamando NUIT!
2. Que ele trace o Dedão verticalmente para baixo, toque no muladhara chakra
exclamando HADIT!
3. Que ele, retraçando a linha, toque no centro do peito exclamando RA-HOOR-KHUIT! ”
“1. Que ele toque o Centro da sua Testa, sua boca e laringe exclamando AIWAZ!
2. Que ele trace o seu Polegar da direita pra esquerda pelo rosto na altura das
narinas.”
“3. Que ele toque o Centro do Peito e o Plexo Solar exclamando THERION!
4. Que ele trace o Polegar da esquerda pra direita através do peito na altura do
esterno.”
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Por fim, aqui fica explícita tal analogia, onde se toca o Svadhistana e o
Muladhara, mas agora a linha traçada na altura dos quadris, e dos órgãos sexuais
aproximadamente, pegando as regiões equivalentes a Hod,Yesod e Netzach.
2. Palavras de poder
“O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs. Adorai então o Khabs, e contemplai minha luz
derramada sobre vós!” (AL I:8-9)
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enquanto averso pode às vezes significar “aquilo que tem função oposta” ou
“aquilo que foi afastado”. É interessante notar que a Vontade é frequentemente
representada como besta, solar, masculina/positiva/ativa, leão (cuja constelação
tem Reguli como estrela alfa), enquanto a alma é feminina/negativa/passiva,
lunar, representada pela mulher escarlate em thelema. Sendo assim, no contexto
desse ritual o pentagrama averso é a verdadeira representação do homem como
deus encarnado, o espírito imerso na dualidade dos planos da forma, a ponta de
cabeça para baixo, aquilo que foi afastado. O ritual visa assim materializar as
forças aeônicas em seu casamento, Hadit e Nuit, Therion e Babalon, e torná-las
manifestas na vida quotidiana, com o aterramento dessas forças. Assim o
pentagrama averso fala sobre NOX, e usa esses sinais, e não os de LVX.
DuQuette ainda cita em seu livro que Israel Regardie sugeriu para ele que
Crowley queria apenas chocar os membros da Golden Dawn com essa escolha, e
que seria bom executar o ritual com a estrela “da forma correta”. Pessoalmente
eu acho cômico o quanto Regardie tem certa obsessão em “consertar” os rituais
do Therion, deliberadamente invertendo ou pervertendo as novas perspectivas
sugeridas por Mestre Therion para fórmulas mais tradicionais, bem semelhantes
às osirianas habituais, ou “limpas” dos arquétipos comumente associados a
cosmovisão thelemita. Sendo assim, eu prefiro me afastar das visões desses
autores, indo numa direção diferente.
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“Se isto não estiver corretamente; se vós confundirdes as demarcações, dizendo: Elas são
uma; ou dizendo, Elas são muitas; se o ritual não for sempre a me: então aguardai os
terríveis julgamentos de Ra Hoor Khuit!” (AL I:52)
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ortodoxos com meu questionamento, mas para mim isso não faz o menor sentido
na perspectiva do novo aeon, ou numa filosofia tão centrada no indivíduo.
Texto: I.156
Ilustração: Natasha Anita Nox
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A árvore
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Eia então:
Cá uma árvore,
O lugar donde Eu Me concebi.
Karel McCoy
(Tradução: AlHudhud)
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Invocação a Pã
Invocação a Pã
Da luz inefável e brilhante uma forma vem:
Um bode esbelto de branca lã.
Seus cascos prateados criando faíscas sobre as ondas, o relâmpago reluzindo em
seus chifres, diante do céu libertador. As ondas quebram na beira da praia:
“Tu és um poderoso rei”
De longe, sabendo todas as suas dádivas, traz ainda o Nascimento do Sol a Tudo
que vive. Tudo.
Então aqui estou com uma chama diante de Me, um sino nas mãos, e convoco o
Grande Deus Pã, Io Pã (bata o sino 5 vezes) !
Trago vinho e mel, e a promessa do meu sempre crescente amor.
E ele vai perfurando e empurrando e semeando.
Eu invoco a Ti, Io Pã, Eu te invoco de volta ao mundo, Io Pã Pã Pã
(toque o sino 5 vezes)
Io Pã Pã
Io Pã!
Karel McCoy
(Tradução: AlHudhud)
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NOTA: Como mestre do Oasis Blazing Star da OTO, eu recebo um fluxo regular
de e-mails de partes interessadas. Às vezes, recebemos mensagens de cristãos
que tentam converter-nos em sua religião escrava, como nossa Lei da Liberdade
é claramente ameaçadora para eles. Aqui está uma resposta a um desses e-
mails - o e-mail original é encontrado nas citações em negrito.
Obrigado pela sua mensagem. Agradeço a sua preocupação e estou feliz que
você leve a Palavra a sério o suficiente para se preocupar com a percepção dos
outros. Assumindo que suas afirmações e perguntas são sérias, eu as responderei
seriamente:
Esta religião ensina que você pode ser seu próprio Deus, e você pode
usar a magia para atingir poderes especiais, mas de onde você acha que
esses poderes estão vindo? Certamente não é Deus, porque você não
está lhe pedindo. Toda a teoria de "Faze o que Tu queres" se opõe à Lei
Divina dada a nós por Cristo, que é "Faze a vontade do Pai”.
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ele, respondendo, disse: Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com
toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento; E teu
próximo como a ti mesmo. “(Lucas 10:27).
Satan sempre tentou o homem a pensar que eles seriam mais felizes
fazendo o que eles gostam, mas a verdade é que a verdadeira felicidade
só vem para aqueles que estão vivendo através da vontade de Deus,
porque Deus quer o melhor para nós e Satanás quer-nos mortos.
Satanás quer possuir as almas de todos os que estão nessa religião, e é
por isso que ele os levou ao Ocultismo. Você pode ver os testemunhos
de inúmeras pessoas que tiveram que ter exorcismos como resultado de
estar em religiões satânicas, como Thelema.
O que faria você querer seguir uma religião que é satânica para
começar? Aleister Crowley é conhecido por ser maligno. “Não
deveríamos antes cultivar a humanidade para a qualidade, matando
qualquer animal corrompido, como fazemos com outros animais, e
exterminando os vermes que a infectam?” (A Lei é para Todos, p. 15)
Certamente isso soa totalmente errado para você!
Talvez ele fosse um pouco pitoresco às vezes, até mesmo tolo e brutal, embora
sempre um piadista... A diferença é que não pretendemos imitar Aleister Crowley.
Não seguimos a vontade de Aleister Crowley. Seguimos a nossa Vontade Divina. A
Vontade Divina como é encontrada dentro de seu próprio Coração. Não foi dito:
“O reino de Deus não vem com observação; nem dirão: Eis aqui! Ou, lo lá! Pois,
eis que o reino de Deus está dentro de vós.” (Lucas 17:21)
A única diferença é que tomamos a palavra de Cristo a sério quando ele diz:
“Jesus lhes respondeu: Não está escrito na tua lei, eu disse: Vós sois deuses?”
(João 10:34). Além disso: “A luz do corpo é o olho; se, pois, o teu olho é único,
todo o teu corpo será cheio de luz” (Mateus 6:22). E: “Naquele dia sabereis que
eu estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós” (João 14:20). Ou seja,
buscamos conhecer Cristo tão bem, amá-lo tão singularmente, que não há
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diferença entre Ele e Nós, e que Sua Vontade trabalha pela Nossa, através do
Amor sob Vontade.
Fraternalmente,
Frater IAO131
Sacerdote de Ecclesia Gnostica Catholica
Mestre dos Oásis Blazing Star O.T.O.
www.iao131.com
Tradução: H418
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O coração da Thelema
0.
Thelema é uma chave universal, e tem uma aplicação muito mais ampla do
que seus confinamentos ao círculo oculto pode sugeri. Esse ensaio foca quase
estritamente da ideia de Verdadeira Vontade, a essência dessa está contida mais
Ir do que em Ser. Seu símbolo é o ankh, a cruz ansata, o símbolo egípcio do “ir”.
Através da experiência, nós participamos no Sacramento de Ser no seu aspecto
dinâmico como Ir. Isso é maya, lila, a ilusão da manifestação. É uma Peça Divina
que Ser apresenta, para poder apreciar a si mesmo. Em última análise, a
manifestação tem um fim em si mesma, e em essência pura alegria, total
abandono, vontade absoluta. Existência é no fundo ausente de propósito. Aqui
reside a inocência de Harpócrates, o Bebê no Ovo Azul, Hoor-paar-kraat.
Manifestação é Criança gerada pela eterna, incessante, interação ou
acoplamento de Nuit e Hadit, e a mais alta consecução é recuperar a consciência
dessa identidade.
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Esse ensaio busca traçar o fio dourado do êxtase através de vários níveis –
do Ser ao Não-Ser, do Dois ao Zero. Essas nuances mais sutis de Thelema podem
ser iluminadas pelas referências a várias ideias do misticismo oriental. Em última
análise, no entanto, a riqueza de Thelema transcende mesmo estas tradições, e
pode ser vista como a sua recessão ocidental. Por fim, por meio de um apêndice,
uma passagem de Crowley é citada. Isso foi tirado do “Ritual da Marca da Besta”,
e é anexada para demonstrar que a interpretação de Thelema aqui apresentada
está em pleno acordo com seus principais proponentes nos tempos modernos.
I.
“A palavra da Lei é Thelema.
Quem nos chamar Thelemitas não estará errada, pois se olhar próximo a palavra
(…)
Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.” (AL I:39-40)
Como é bem sabido, Thelema é uma palavra grega que significa Vontade, e
é um resumo bem apropriado do culto e seu significado e aplicação
fundamentais. Também é as vezes referido como a Corrente 93, pois pela
Qabalah grega a palavra Thelema corresponde a 93. Novamente, Crowley não
chegou a essa palavra como sumário da doutrina. Invés disso, ela é um termo
central no Livro da Lei, ou Liber AL, um complexo e profundo texto em três curtos
capítulos comunicado a Crowley em Abril de 1904 por uma inteligência praeter-
humana chama Aiwass. A palavra Thelema é um excelente sumário de duas
frases chaves desse texto: “Faze o que tu queres há de ser tudo da lei”, e “Amor
é a lei, Amor sob Vontade”. Críticos tem demonstrado sua própria
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Vontade é vista como uma profunda, fundamental força diretora que meros
caprichos e fantasias, que são simples e transitórias ondas ou perturbações na
superfície da piscina. Em termos de Thelema, a Verdadeira Vontade é
implicitamente dinâmica e vem do centro do indivíduo. Liber AL expressa isso de
forma muito bela ao dizer que somos cada um uma estrela no espaço, com nossa
própria órbita e um verdadeiro caminho. Essa órbita é nossa trajetória, nossa
Verdadeira Vontade, o impulso ou dinamismo que nos define como indivíduos.
Deve ser o negócio de cada um de nós descobrir nossa verdadeira orbita, e
buscar segui-la de todo o nosso ser. Colocando de outra forma, nossa Verdadeira
Vontade pode ser entendida como nosso lugar natural no universo, nosso curso
alocado, nosso inerente e peculiar movimento pelo firmamento estrelado de Nuit.
Verdadeira Vontade pode então ser entendida como destino, função natural
Como Crowley coloca, é permitir as estrelas brilharem, vinhas produzir uvas, e
água buscar o seu nível.
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Expresso dessa forma, pode parecer que tudo que temos que fazer é deixar
de lado nosso condicionamento social e desfrutar de nossa radiante Verdadeira
Vontade. No entanto, isso é subestimar seriamente a profundidade que o
condicionamento permeia. É de fato raro alguém acordar repentinamente para
sua Verdadeira Vontade, e então prosseguir regozijante em seu caminho natural.
O despertar embora possa parecer súbito, como um raio; mas é a culminação,
um clímax, e glorifica em solo bem preparado. Nós temos que aprender a viver
mais naturalmente outra vez, a aprender a confiar mais em nossos instintos, a
dar mais ouvidos a nossa voz interior. Mais apropriadamente seria o caso de
desaprender, de descartar as falsas camadas de comportamento condicionado
então permitindo a estrela interior brilhar, em sua natural intensidade.
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Thelema é uma chama radiante, uma potente convocação, e pode ser vista
como o próximo passo para a humanidade. Crowley supôs que com a
transmissão de Liber AL nós teríamos entrado numa nova era – o Aeon de Hórus,
a Criança. Isso, ele explicou, foi precedido pelo Aeon de Osíris, o Pai – sendo ele
precedido pelo Aeon de Isis, a Mãe. Hórus é em algum sentido o produto dos dois,
e partilha de suas essências, mas se torna mais cônscio de sua natureza como
ente independente dos dois. Crowley fez algumas conexões entre a sucessão dos
aeons e a precessão dos equinócios, então associando a cada período
aproximadamente 2000 anos. No entanto, esses aeons se relacionam
primariamente com as fases da evolução da consciência humana, assim como o
desenvolvimento da consciência num nível individual desde o nascimento. Há um
indicativo nisso – que a sucessão dos aeons não está ligado a precessão dos
equinócios no “Comento antigo” de Crowley sobre o Liber AL III, verso 34. Onde
ele afirma, acerca do Aeon de Hórus: “Seguindo esse nascerá o Equinócio de Ma,
a deusa da Justiça, pode ser daqui a centenas ou dez milhares de anos; pois o
Computo do Tempo não está aqui como Lá”. O crescimento do a Criança é
sempre uma matéria dolorosa, e Crowley supôs que o Novo Aeon seria
inaugurado com caos e com um banho de sangue como seu batismo. Isso não é
difícil de ver. As correntes que prendem os escravos são forjadas por falsos
deuses – consumismo, materialismo, respeito a “autoridade” política e coisas do
tipo. Esses deuses não se contentarão em derreter como a neve, e o começo do
Aeon do Filho parecerá escuro e disruptivo aos remanescentes do patriarcal Aeon
de Osíris. Séculos de repressão, do represamento de forças e instintos naturais,
resultaram provavelmente numa explosão externa, e o colapso da sociedade nos
padrões conhecidos.
No entanto, tudo isso é para que os padrões do Novo Aeon emerjam como
devem. Thelema é direcionada para o indivíduo, e busca despertar ele ou nela a
realeza, criatividade e gênio. Estabelecimento da Lei de Thelema não é no
sentido do estabelecimento de um reinado político de Ra-Hoor-Khuit, ou
lançamento de um corpo de estado contra os presentes centros de poder da
sociedade. Ao invés disso, é o caso de trazer a Lei de Thelema para um
conhecimento de todos; e esse propósito é melhor servido aplicando-o a nós
mesmos, através da descoberta e realização da Verdadeira Vontade. Há uma
analogia com a Lei da Gravidade, onde estabelecimento é o senso de
reconhecimento, de sua aceitação e uso como um princípio universal.
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II.
“Eu sou a chama que arde em cada coração de homem, e o núcleo de cada
estrela. Eu sou Vida, e o doador de Vida, ainda assim o conhecimento de mim é o
conhecimento da morte.” AL II:6
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que apenas pode perceber ou se tornar consciente de si mesmo pela união com
as possibilidades de experiência. O núcleo da estrela é essencialmente
desconhecido e incognoscível, porque para possuir qualquer tipo de
manifestação ou consciência ele precisa já ser parte do Corpo de Nuit. Nós não
podemos nunca retornar a fonte, mas devemos sempre seguir, sempre, sempre
em jornada adiante.
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Tudo o que temos, e tudo o que somos, floresce desse núcleo. Como
indivíduos, como entidades manifestas nesse universo “concreto”, somos
projeções, densamente cobertas, brilhando desse diamante interior, essa
semente secreta. “Seja tu Hadit, meu centro secreto, meu coração & minha
língua”. Isso é um entendimento mais profundo de Thelema; e é importante
entender isso, pois muitas pessoas parecem interpretar thelema num senso
meramente comparativo e superficial: descobrir o correto código de conduta no
que pode ser erroneamente descrito como Exterior, e segui-lo inexoravelmente,
sem desvios. Isso é verdade num nível particular, mas não entra profundamente
na questão visceral – que é, obviamente, de onde os laços e espirais cintilantes e
glamorosos de maya florescem. Pois em verdade somos uma expressão de nosso
núcleo, nossa Verdadeira Vontade; nós somos o seu veículo, e assim não
podemos fazer qualquer outra coisa que não nossa Verdadeira Vontade. Nós
estamos 93 milhões de quilômetros de Sir Peter Pendragon, que no “Diário de um
fanático por drogas” de Crowley se dá conta de que sua Verdadeira Vontade era
ser um engenheiro aeronáutico. E ainda talvez não tão longe, porque por mais
exaltado que nosso conceito de Verdadeira Vontade possa ter se tornado, ainda
deve encontrar uma realização adequada e merecedora no Exterior, ou a
frustração será nosso prêmio.
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III.
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Figurativamente, essa força pode ser direcionada para uma união mística,
união arrebatadora com Nuit; ou para baixo, para um arrebatamento mágico com
e da terra. Aqui há um eco de um versículo do Liber AL, no início do primeiro
capítulo, onde são mencionados três graus – Eremita, Amante e Homem da Terra.
O Eremita é talvez aquele que dirige a corrente para cima, para uma união com
Nuit. O Homem da Terra faz com que a corrente "abaixe" sua cabeça e "lance o
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IV.
Nós vimos na seção precedente deste artigo que Verdadeira Vontade reside
no núcleo da estrela, e floresce do ponto Hadit, sua semente secreta. Na
verdade, Verdadeira Vontade é uma expressão desse bindu, um desdobramento
do seu dinamismo. Paradoxalmente como pode ser primeiramente visto, tudo o
que temos, somos e fazemos é uma expressão da Verdadeira Vontade, como a
aranha que tece sua teia. Nesse caso, a teia é obviamente a dança de maya, o
sonho da existência.
Há um outro paradoxo, que é a aparente diversidade de estrelas que
dividem um núcleo comum. A humanidade divide uma cama, e num nível
progressivamente profundo de consciência, o indivíduo se funde numa
consciência de raça ou inconsciente coletivo. Tal como o indivíduo é no fundo
uma expressão e florescimento da Verdadeira Vontade, assim a Verdadeira
Vontade é uma faceta ou expressão parcial de uma, mais profunda, vasta,
Vontade Coletiva ou Cósmica, tal como Sirius é o sol por trás do sol. Isso é
delineado na frase do Liber AL anteriormente citada, onde o Hadit declara que:
“Eu sou a chama que queima em todo coração do homem, e no âmago de toda
estrela”. Há uma indicação mais profunda na sentença: “Na esfera eu em toda
parte sou o centro, uma vez que ela, a circunferência, é em lugar algum
encontrada.”
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Então, nós podemos dizer que a Verdadeira Vontade individual é uma faceta da
Vontade Cósmica, e assim desse ponto de vista a individualidade é mais aparente
do que real. Isso faz, em si, levantar uma objeção a expressão exotérica de
Thelema: aquela da possibilidade de choque de Verdadeiras Vontades. Essa
objeção foi mencionada para Crowley – indubitavelmente não pela primeira vez –
por C.R. Cammel, então amigo de Crowley e admirador de suas proezas literárias,
mas hostil as suas ideias mágicas e místicas. Crowley respondeu ao efeito de que
a soma das Verdadeiras Vontades individuais são a Vontade Cósmica, o Grande
Plano, Deus; assim, conflito não ocorreria, todas as Vontades Verdadeiras se
misturando, todas sendo facetas do Padrão Divino. Cammel nos conta,
condescendentemente, que achou essa resposta engenhosa mas não
convincente. Sem alguma apreciação dos apontamentos metafísicos de Thelema,
sem algum presságio intuitivo das sutilezas mágicas e místicas, talvez haja
pouco encantamento. No entanto, uma vez que comecemos a entender que
individualidade é mais aparente do que real, as coisas começam a se acomodar
em seu devido lugar. Isso é ecoado pelas palavras de Nuit no Liber AL: “Pois eu
estou dividida pela graça do amor, pela chance de união.”
É nesse contexto que podemos nos remeter mais uma vez a imagem da
cebola, com suas muitas camadas, níveis e cascas. É uma boa imagem para
Thelema e para a viagem ao núcleo da corrente 93, porque quanto mais camadas
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Física num nível subatômico tende a adicionar peso a uma figura tal como
a que pintamos nas nossas considerações sobre Thelema até então. Não pinta
exatamente o mesmo retrato, e nem isso deveria ser esperado. No entanto,
proporciona uma base para intuição para aproximarmos do santuário por um
ângulo diferente e ainda assim chegar, regozijante, ao santuário interno. Esse
território foi bem explorado por Fritjof Capra em seu livro ‘O Tao da Física’, e não
nos é apropriado entrar em sua apresentação aqui em profundidade. Em síntese,
matéria é composta de átomos, e os átomos por sua vez compostos de partículas
subatômicas de diversos tipos. Os físicos tentam, sempre tentaram e, sem
dúvida, sempre esperarão descobrir uma unidade indivisível de matéria,
independente da escala. Infelizmente para esta ambição, eles ainda têm que
descobrir algo que não, sobre exame mais profundo, quebre em suas partículas
constituintes menores. Baseado nas tendências passadas e presente, não há
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nenhuma perspectiva de algo que não seja assim constituído. O derradeiro bloco
primário de matéria prova-se notavelmente esquivo, e provavelmente não existe,
por mais paradoxal que isso pareça. Nós pegamos a matéria, e nada
encontramos ali ! Em vez disso, há uma infinita regressão de arranjos, uma
eterna sucessão de caixas dentro de caixas. Física quântica sugere uma drástica
alteração na visão de mundo Ocidental, evocando ecos de uma frase
reverberante do Liber AL: “… pois Eu esmaguei um Universo; & nada resta.”.
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V.
“O Perfeito e o Perfeito são um Perfeito e não dois; não, são nenhum! Nada é
uma chave secreta dessa lei. Sessenta e um os Judeus a chamam; eu a chamo
oito, oitenta, quatrocentos & dezoito. Mas eles têm a metade: una por tua arte
para que tudo desapareça.” (AL I:45-47)
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não faz sentido ao intelecto. Pode, no entanto, ser intuído – e apreendido por um
instante, fugazmente, por alguma parte de nosso ser que é “além de tudo meu”.
Michael Staley
Tradução, com autorização, por: I156 e VVV
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