Você está na página 1de 1

Não atropele a gramática ao falar - 20/08/2007 - Reinaldo Polito Página 1

Com base nessas observações, colecionei os deslizes gramaticais mais freqüentes na comunicação oral. Como são incorreções muito evidentes e
facilmente identificadas, não custa nada fazer uma avaliação para constatar se você, até por descuido, não está cometendo alguns desses deslizes.
1. "Fazem muitos anos" que este erro ocupa o primeiro lugar no pódio Não é conveniente, por exemplo, dizer "fazem três anos, fazem muitos
anos". A explicação para essa questão gramatical é simples. Quando o verbo "fazer" se refere a tempo ou indica fenômenos da natureza deve
permanecer na terceira pessoa do singular, porque é impessoal, não tem sujeito e, por isso, não pode ser flexionado. Portanto, mais apropriado
seria dizer: Faz três anos que ocupo o cargo de diretor na empresa. Faz oito meses que parei de fumar. A mesma regra pode ser aplicada para o
verbo haver quando usado no sentido de existir. Por exemplo: Havia manchas em todas as roupas, e não "haviam manchas em todas as roupas".
Houve comentários favoráveis à proposta, e não "houveram". 2. A segunda posição vai para haja visto De acordo com as minhas anotações, o
segundo deslize gramatical de maior incidência na comunicação oral é o uso de "haja visto" no lugar de "haja vista". A expressão haja vista não
varia, pois sua formação ocorre com a terceira pessoa do imperativo do verbo haver acrescida de vista, um substantivo feminino. Exemplo: Haja
vista as notícias de corrupção estampadas nos jornais. 3. Mim tem presença garantida no pódio Explique melhor "para mim entender". O terceiro
deslize gramatical mais freqüente na comunicação oral possui uma peculiaridade bastante curiosa: a maioria que desconsidera essa regra sabe
como deveria falar, mas o hábito é tão automatizado que quando as pessoas se dão conta já escapou. É mais fácil entender do que pôr em prática.
O "eu" deve ser usado antes do verbo porque nesse caso ele funciona como sujeito do infinitivo. Só se usa o "mim" quando não houver um verbo
depois do "para", como neste exemplo: Ele trouxe a roupa para mim. Também em casos em que se completa o sentido de adjetivos, como difícil
e impossível, o certo é para mim, porque já não haverá sujeito. Está difícil para mim aceitar esse acordo com os fornecedores. É quase
impossível para mim manter esse nível de produção. Como eu disse, essa é uma questão delicada. Se você for uma das vítimas dela, arregace as
mangas para uma longa contenda, pois dá trabalho se livrar de um erro que participa naturalmente da comunicação. 4. A pessoa fica "meia
chateada" quando comete esse erro E é para ficar mesmo, pois se há uma incorreção que tira uma pessoa do pedestal é usar meia no lugar de
meio quando se referir a um adjetivo. Nesse caso, quando equivale a mais ou menos, um pouco, meio é um advérbio e por isso não pode variar.
Portanto, esse erro de gramática deixa a imagem da pessoa meio prejudicada, e não meia prejudicada. Lembre-se de que meia só é usado quando
equivale a metade: meia garrafa, meia carga... 5. Quando ele vir ao seu encontro vai ser uma tristeza! Esse erro puxa o tapete das pessoas o
tempo todo. É impressionante como confundem o verbo vir com o verbo ver no futuro do subjuntivo (precedido de se ou quando). Para não errar,
lembre-se de que o verbo vir exige a forma vier. "Quando ele vier para o trabalho..." - e não: Quando ele vir... "Se os jogadores vierem para o
treino..." - e não: Se os jogadores virem... Por outro lado, o verbo ver exige a forma vir. Assim sendo, devemos usar: "Quando a professora vir o
aluno" - e não: "Quando a professora ver o aluno". "Se os consultores virem o diagnóstico" - e não: "Se os consultores verem..." 6. Há diferença
entre "ir de encontro a" e "ir ao encontro de" É bastante comum confundirem o significado de "ir ao encontro de" com o de "ir de encontro a".
"Ir ao encontro de" significa estar a favor, concordar, comungar da mesma opinião. Enquanto "ir de encontro a" significa estar contra, discordar,
não partilhar a mesma opinião. Por esse motivo, diga: As decisões foram ao encontro dos nossos interesses (a favor). As medidas governamentais
não podem ir de encontro às necessidades da população (contra). 7. Muitas incorreções gramaticais, menas essa Essa não dá nem para comentar.
Em todo caso, lá vai uma explicação rápida e resumida -menos é palavra invariável, portanto não existe a palavra menas, por mais feminino que
seja o substantivo. 8. Aqui no final, algumas rapidinhas que podem ser perigosas Há cinco anos atrás é redundância Ou você usa há cinco anos,
ou cinco anos atrás, mas não há cinco anos atrás. Um plus a mais também Plus é um advérbio de origem latina que significa mais. Portanto, pare
nele, sem o a mais. Não troque nenhum por qualquer Não use qualquer em orações negativas no lugar de nenhum. Assim, diga: Não temos
nenhuma chance de perdoá-lo, e não: Não temos qualquer chance de perdoá-lo. Apesar de ser título de livro famoso, ainda continuam dizendo
éramos em seis no lugar de éramos seis Não use a preposição "em" entre o verbo e o numeral. Diga: Éramos cinco, íamos quatro no trem. E não:
Éramos em cinco, íamos em quatro no trem. Ele está a par ou ao par? As informações são diferentes. A par significa informado, ciente, e é uma
expressão usada com o verbo estar. Por exemplo: Não estava a par do que ocorrera. Ao par, por sua vez, significa título ou moeda do mesmo
valor. Por exemplo: Com as últimas medidas tomadas pelos ministros, o câmbio ficará ao par. E, só para lembrar, devemos pronunciar: Canhota
(nhó), clitóris (tó), fluido (úi), gratuito (úi), ibero (bé), ínterim (ín), Nobel (bél), rubrica (brí), ruim (ím). Deixei aqui apenas algumas pílulas de
uma lista que cabe confortavelmente em um livro. O objetivo deste texto foi o de chamar a atenção para o cuidado que devemos ter com algumas
questões gramaticais que poderiam ser corrigidas com um pouco de observação e prática. Se você não comete nenhum desses erros, parabéns.
Agora, se percebeu que precisa de aprimoramento, comece já a estudar. É um aprendizado valioso para a vida toda.

opera:66 23/9/2010 08:45:33

Você também pode gostar