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FACULDADE DE DIREITO
17 DEZ. 2010
VISÃO DE ARISTÓTELES
"Todos os homens entendem por justiça esta espécie de disposição que os torna
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aptos a realizar ações justas e que os faz agir justamente e desejar o que é justo; do
mesmo modo, a injustiça é esta disposição que os faz agir injustamente e desejar o
que é injusto." (4)
"Considera-se como injusto aquele que viola a lei, aquele que toma mais do que lhe
é devido, como também aquele que viola a igualdade (tomando, no que respeita às
coisas más, menos do que sua parte), de sorte que evidentemente o homem justo (a
contrário) é, portanto, o que observa a lei e respeita a igualdade. O justo é, portanto,
o que é conforme à lei e respeita a igualdade, e o injusto o que é contrário à lei e
falta à igualdade. " (5)
"Mas o homem injusto não escolhe sempre mais, ele escolhe também menos no que
respeita às coisas más em sentido absoluto; entretanto, considerando-se que o mal
menor parece ser em certo sentido um bem, e que a avidez tem por objeto o bem, o
homem injusto parece ser aquele que toma mais do que lhe é devido. Também ele
fere a igualdade porque a desigualdade é uma noção que envolve as duas coisas ao
mesmo tempo, e lhes é comum."
Quando o homem injusto toma mais do que lhe é devido, "ele será injusto no que
respeita aos bens, não a todos os bens, mas somente àqueles que significam
prosperidade ou adversidade," isto é, os bens exteriores, riquezas, honras, etc. (6)
Esse argumento sobre essa forma de justiça "é, portanto, uma justiça completa,
porém não em absoluto mas em relação ao nosso próximo," e diz que "por isso a
justiça é muitas vezes considerada a maior das virtudes, e ´nem Vésper, nem a
estrela-d´alva´ são tão admiráveis."
maldade tanto para consigo mesmo como para com os seus amigos, e o melhor não
é o que exerce a sua virtude para consigo mesmo, mas para com um outro; pois que
difícil tarefa é essa."
"Portanto, a justiça neste sentido não é uma parte da virtude, mas a virtude inteira;
nem é seu contrário, a injustiça, uma parte do vício, mas o vício inteiro. O que
dissemos põe a descoberto a diferença entre a virtude e a justiça neste sentido: são
elas a mesma coisa, mas não o é a sua essência. Aquilo que, em relação ao nosso
próximo, é justiça, como uma determinada disposição de caráter e em si mesmo, é
virtude."
"(A) uma espécie é a que se manifesta nas distribuições de honras, (8) de dinheiro
ou das outras coisas que não são divididas entre aqueles que têm parte na
constituição (pois aí é possível receber um quinhão igual ou desigual ao de um
outro); e (B) outra espécie é aquela que desempenha um papel corretivo nas
transações entre indivíduos. Desta última há duas divisões: dentre as transações,
(1) algumas são voluntárias, e (2) outras são involuntárias."
supõe duas coisas (que são iguais), e que, enquanto justo, supõe certas pessoas
(para as quais é justo). O justo implica, portanto, obrigatoriamente ao menos quatro
termos: as pessoas para as quais é de fato justo, e que são duas, e as coisas em
que se manifesta, que são igualmente em número de duas. E a igualdade será a
mesma, tanto para as pessoas quanto para as coisas, porque a relação (a razão no
sentido matemático) que existe entre estas últimas – as coisas a partilhar – é a
mesma que existe entre as pessoas. (9) Com efeito, se as pessoas não são iguais
não receberão partes iguais, as disputas e as contendas originam-se quando, sendo
iguais, as pessoas possuem ou se lhes atribuem partes desiguais, ou quando, sendo
desiguais as pessoas, seus quinhões são iguais."(10)
"Pode-se demonstrar com isto (que o justo consiste em um meio proporcional) tendo
por fundamento o mérito das pessoas. Efetivamente, todos os homens reconhecem
que a justiça na distribuição deve basear-se em algum mérito, apesar de não haver
acordo unânime quanto a este, os democratas fazendo-o consistir na liberdade, os
oligarcas na riqueza ou na nobreza advinda do nascimento, e os aristocratas na
virtude." (11)
Com efeito
"A justiça que distribui posses comuns está sempre de acordo com a proporção
mencionada retro (e mesmo quando se trata de distribuir os fundos comuns de uma
sociedade, ela se fará segundo a mesma razão que guardam entre si os fundos
empregados no negócio pelos diferentes sócios); e a injustiça contrária a esta
espécie de justiça é a que viola a proporção. Mas a justiça nas transações entre um
homem e outro é efetivamente uma espécie de igualdade, e a injustiça uma espécie
de desigualdade; não de acordo com essa espécie de proporção, todavia, mas de
acordo com uma proporção aritmética."
"A justiça é uma espécie de meio-termo, porém não no mesmo sentido que as
outras virtudes, e sim porque se relaciona com uma quantia ou quantidade
intermediária, enquanto injustiça se relaciona com os extremos."
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"Justiça é aquilo em virtude do qual se diz que o homem justo pratica, por escolha
própria, o que é justo, e que distribui, seja entre si mesmo e um outro, seja entre
dois outros, não de maneira a dar mais do que convém a si mesmo e menos do que
convém a si mesmo e menos ao seu próximo (e inversamente no relativo ao que
não convém), mas de maneira a dar o que é igual de acordo com a proporção; e da
mesma forma quando se trata de distribuir entre duas outras pessoas."
"A justiça existe apenas entre homens cujas relações mútuas são governadas pela
lei; e a lei existe para os homens entre os quais há injustiça, pois a justiça legal é a
discriminação do justo e do injusto." (12)
"Ora, na proporção que se deve estabelecer para realizar a justiça, o termo médio
não é, como no silogismo, algo de comum a cada membro da igualdade, o que
afasta, no caso, a possibilidade de uma proporção contínua. O termo médio, ao
contrário, difere de um membro relativamente a outro."
"O justo pressupõe ao menos quatro termos, a razão que se estabelece entre o
primeiro par de termos é a mesma que se estabelece entre o segundo, pois a
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Daí vem que, tendo-se assim formado o conjunto, estabelece-se "o justo na
distribuição, e este justo é um meio entre dois extremos, que se encontram fora da
proporção, porque esta é um meio e o justo uma proporção."
Assim, "a justiça distributiva é uma mediação proporcional entre duas desigualdades
e esta mediação é o igual."
A.........................E..........................A
B......................................................B
D.................C.........................F...........................C
segmento CD, de modo que a última, ou seja a linha DCD exceda na linha EA pelo
segmento CD e pelo CF, por conseguinte ela excede a linha BB pelo segmento CD.
As pessoas quando estão em litígio recorrem ao juiz e recorrer ao juiz é recorrer à
justiça. O juiz restabelece a igualdade. É como se houvesse uma linha dividida em
partes desiguais e ele retirasse a diferença pelo qual o segmento maior excede a
metade para acrescentá-la ao menor. Conclui-se portanto, que o justo é o
intermediário entre uma espécie de ganho e uma espécie de perda. E a justiça
corretiva é a intermediária entre a perda e o ganho.
Quanto a reciprocidade, para Aristóteles, em muitos casos ela não se coaduna com
a justiça corretiva. Senão vejamos: nas transações de troca a reciprocidade deve
ocorrer de acordo com uma proporção e não na base de retribuição exatamente
igual. Exemplificando: Seja A um arquiteto, B um sapateiro, C uma casa e D um par
de sapatos. Associam-se para a troca, pessoas diferentes e desiguais. Indaga-se:
Quantos pares de sapatos são iguais a uma casa ou mesmo a uma determinada
quantidade de alimento? Para Aristóteles, o número de sapatos trocados por uma
casa (ou por uma determinada quantidade de alimentos), deve, portanto,
corresponder à razão entre o arquiteto e o sapateiro.
Os bens devem ser medidos por uma só e mesma coisa. A unidade que mantém
unidas todas as coisas é a procura (os homens necessitam dos bens uns dos
outros) e o dinheiro tornou-se por convenção, uma espécie de representante da
procura, daí a necessidade de que todos os bens tenham um preço marcado, pois
assim haverá sempre troca e, por conseguinte, associação de homem com homem.
Na realidade é impossível que objetos diferentes (exemplo do arquiteto e do
sapateiro), se tornem comensuráveis. Só é possível em relação à procura.
Distingue, ainda, a justiça política da justiça doméstica ao dizer sobre esta que:
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"A justiça de um amo e a de um pai não são a mesma que a justiça dos cidadãos,
embora se assemelhem a ela, pois não pode haver justiça no sentido incondicional
em relação a coisas que nos pertencem, mas o servo de um homem e o seu filho,
até atingir certa idade e tornar-se independente, são, por assim dizer, uma parte
dele (...). Portanto, não é nessas relações dessa espécie que se manifesta a justiça
ou injustiça dos cidadãos; pois, como vimos, ela se relaciona com a lei e se verifica
entre pessoas naturalmente sujeitas à lei."
"Uma parte é natural e outra parte legal: natural, aquela que tem a mesma força
onde quer que seja e não existe em razão de pensarem os homens deste ou
daquele modo; legal, a que de início é indiferente, mas deixa de sê-lo depois que foi
estabelecida (...). Ora, alguns pensam que toda justiça é dessa espécie, porque as
coisas que são por natureza, são imutáveis e em toda parte têm a mesma força
(como o fogo, que arde tanto aqui como na Pérsia), ao passo que eles observam
alterações nas coisas reconhecidas como justas." (14)
"Essas coisas não parecem ser absolutamente idênticas entre si (...); se, o justo e o
eqüitativo são diferentes, um deles não é bom; e, se são ambos bons, têm de ser a
mesma coisa (...). Em certo sentido, todas elas são corretas e não se opõem umas
às outras; porque o eqüitativo, embora superior a uma espécie de justiça, é justo, e
não é como coisa de classe diferente que é melhor do que o justo. A mesma coisa,
pois, é justa e eqüitativa e, embora ambos sejam bons, o eqüitativo é superior." (15)
"O que faz surgir o problema é que o eqüitativo é justo, porém não o legalmente
justo, e sim uma correção da justiça legal. A razão disto é que toda lei é universal,
mas a respeito de certas coisas não é possível fazer uma afirmação universal que
seja correta. Nos casos, pois, em que é necessário falar de modo universal, mas
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não é possível fazê-lo corretamente, a lei considera o caso usual, se bem que não
ignore a possibilidade de erro. E nem por isso tal modo de proceder deixa de ser
correto, pois o erro não está na lei, nem no legislador, mas natureza da própria
coisa, já que os assuntos práticos são dessa espécie por natureza." (16)
"Torna-se assim bem claro o que seja o eqüitativo, que ele é justo e é melhor do que
uma espécie de justiça. Evidencia-se também, pelo que dissemos, quem seja o
homem eqüitativo: o homem que escolhe e pratica tais atos, que não se aferra aos
seus direitos em mau sentido, mas tende a tomar menos do que seu quinhão
embora tenha a lei por si, é eqüitativo; e essa disposição de caráter é a eqüidade,
que é uma espécie de justiça e não uma diferente disposição de caráter." (17)
O homem eqüitativo é aquele que escolhe e pratica tais atos, que não se aferra aos
seus direitos em mau sentido, mas tende a tomar menos do que seu quinhão
embora tenha a lei por si, é eqüitativo; e essa disposição de caráter é a eqüidade,
que é uma espécie de justiça e não uma diferente disposição de caráter. O princípio
da eqüidade determina ser necessário tratar-se desigualmente os desiguais no
momento da aplicação da lei.
igualdade.(19)
A justiça particular ou a justiça enquanto uma virtude ao lado das demais, classifica-
se, segundo Aristóteles, em justiça distributiva e justiça comutativa. Nesta esfera
(justiça particular) é que o conceito de igualdade será explorado por Aristóteles,
como elemento preponderante da justiça. (20)
"La justicia ofrece de si diversas partes, y cabe en ella distinguir: a) la justicia legal,
que regula nuestros deberes respecto de la comunidad; b) la distributiva, que ordena
el reparto de honores y bienes a los ciudadanos, según su mérito y dignidad, y que
estriba en una igualdad geométrica o proporcionalidad; c) la sinalagmática y
corretiva, que responde a una igualdad aritmética. Distinguese en ella, a su vez, la
commutativa, que mira más directamente a la cosa que a las personas, y regula las
relaciones contractuales en general, y la judicial y corretiva, que señala la equación
entre los delitos y las penas, determinando las sanciones correspondientes." (21)
"Si la justicia distributiva ordenaba las relaciones entre la sociedad y sus miembros,
la justicia correctiva o sinalagmática ordena las de los miembros entre si. Ahora
bien, cuando interviene en ella como elemento principal la voluntad de los
interesados, se llama justicia commutativa; y se llama justicia judicial cuando se
impone incluso contra la voluntad de un de ellos, por decisión del juez, cual ocurre
en el castigo de un delito." (22)
Así, pues, las leyes son formales, abstractas, esquemáticas: su justa aplicación
exige una cierta adaptación – según Aristóteles – puede llegar hasta modificar las
mismas leyes." (23)
Refere-se o justo político, a que pertence o justo natural, tão só aos cidadãos
gregos, dele excluindo-se, expressamente, as mulheres, as crianças, os "bárbaros" e
os escravos. (25) Circunscreve-se, também, o justo político aos limites da polis.
Essa noção era, pois, limitativa, sob o dúplice aspecto de abrangência pessoal e
espacial. Sendo manifesto o comprometimento ideológico da doutrina aristotélica da
justiça com as instituições fundamentais do mundo helênico, seu valor, nesta
medida, mostra-se contingente. (26)
CONCLUSÃO
A justiça distributiva, como um principio, não nos diz que devemos tratar
as pessoas como iguais ou como desiguais, deixa simplesmente pressupor que a
igualdade ou a desigualdade entre elas se acham já fixadas em harmonia com um
certo ponto de vista que aliás não pode ser dado pelo princípio.
A igualdade não é um fato que nos seja dado. Nem os homens nem as
coisas são iguais entre si. Pelo contrário, são sempre tão desiguais na proporção
que se apresentam".
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