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1 Trovadorismo
A Língua Portuguesa é muito rica e é falada em Portugal, Brasil,
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Prín-
cipe e Timor Leste. Na Idade Média ela contabilizava apenas 15.000
palavras. No século XVI, período marcado pelas grandes navegações,
esse número dobrou e, no fim do século XIX, os dicionários já regis-
travam 90.000 vocábulos. Hoje, a Academia Brasileira de Letras cal-
cula em 400.000 o total de palavras da Língua Portuguesa. A origem
dos vocábulos incorporados ao português ao longo dos séculos variou
conforme o tipo de contato mantido com outros povos. Entre os sécu-
los VIII e XV, o idioma absorveu muitos termos de origem árabe por
causa da ocupação moura na Península Ibérica. Durante o Renasci-
mento, a arte e a arquitetura italiana universalizaram várias palavras
relacionadas a elas. No século XX, a França ditava a moda no Ociden-
te, e várias palavras de origem francesa foram incorporadas ao portu-
guês. Interessa-nos, neste Capítulo, a formação da Língua Portuguesa
durante a Idade Média.
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Uma antiga e longa tradição oral de cantigas ao som das quais se dança-
va existiu antes da compilação de poesias nos cancioneiros trovadores-
cos (compilação realizada no final do reinado de D. Afonso III, época do
manuscrito do Cancioneiro da Ajuda). António José Saraiva é da opinião
que, pelas suas características rítmicas e pelo ambiente social que evo-
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cam, algumas cantigas remontam certamente a um antiquíssimo pas-
sado, anterior à fundação do reino.
* Sentimentos:
- o sofrimento de amor;
- a morte de amor;
- cuidados e ansiedade;
- tristeza e saudade;
- alegria na volta do amigo;
- ódio aos mexericos.
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* Ambientes:
- a fonte e o rio;
- a praia e o campo;
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Observe que o poeta assume a voz feminina num lamento de des-
consolo e tristeza. Você pode constatar que se trata de um português
arcaico, também denominado de galego-português. A estrutura para-
lelística pode ser observada nas palavras em azul, retomadas ao longo
da cantiga; sempre no verso seguinte de cada estrofe, com pequena alte- Podemos encontrar
muitas influências da
ração no final: verde pino/verde ramo – meu amigo/meu amado. literatura medieval por-
tuguesa nas composi-
Os dois primeiros versos da primeira e da terceira estrofes são reto- ções de Elomar, músico
do sertão baiano, cujas
mados respectivamente na segunda e na quarta estrofes, com pequenas letras das músicas e
modificações. Há um verso que finaliza cada estrofe e que não é modi- vídeos estão disponí-
veis em:<http://letras.
ficado; sua estrutura mantém-se a mesma: ai Deus, e u é? Isso é o que terra.com.br/elomar/>.
chamamos de refrão e que você conhece muito bem nas músicas da atu- Vale a pena conferir,
também, as músicas de
alidade. Algumas delas tornam-se famosas pelo seu refrão interessante Chico Buarque (http://
e fácil de ser decorado. www.chicobuarque.
com.br/), cujas letras
Para as Cantigas de Amigo, temos várias classificações, de acordo apresentam aspectos
das cantigas medievais.
com o lugar onde elas se desenvolvem: Sugerimos, ainda, que
você ouça o CD Musi-
1) Barcarolas ou marinhas: ocorrem na presença do mar, que ad- kantiga e Cantigas de
amigo, de La Bataglia.
quire certa personalização ao se dirigir à amiga como seu con-
fidente;
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Cantiga da Ribeirinha
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Cantiga da Ribeirinha
Stélio Furlan
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E só teu odor, oh dor! me anima.
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As cantigas satíricas apresentam interesse, sobretudo, histórico. São
verdadeiros documentos da vida social, principalmente da corte. Fazem
ecoar as reações públicas a certos fatos políticos: revelam detalhes da
vida íntima da aristocracia, dos trovadores e dos jograis, trazendo até
nós os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa.
Cantiga de Escárnio
João Garcia de Ghilhade
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Transcriação
O Meu País
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Que permite um estupro em cada esquina
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se m’ant’algo (5) na mão non poser,
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migo (a amada) se renda. O fino amor é a maior guerra que um homem
pode travar, portanto requer paciência: só se conquista ao fim de um
longo percurso. Na realidade trata-se de um jogo perigoso e excitante,
o homem sempre deve ser o conquistador, o galanteador; e a mulher, o
objeto de desejo que deve, mesmo amando e desejando o amante, man-
ter distância e apresentar todas as negativas possíveis. Ela não pode se
render de imediato, sob pena de ser considerada vulgar.
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2) Suspirar/desejar – fenhador;
3) Suplicar – precador;
Por tudo que você já leu, deve ter percebido que o amor cortesão
é uma arte de amar inacessível aos pobres mortais, já que transfor-
ma algo simples e natural em algo extremamente disciplinado, uma
paixão que deve ser controlada; transforma o amor em uma religião
e a mulher em um ser angelical e inacessível. O enamorado deve obe-
decer a regras de etiquetas claras, uma delas (e a mais importante) é
que ele deve cultuar a mulher amada secretamente – jamais revelar
o nome da dama. Esse amor, logicamente, é proibido aos clérigos e
aos plebeus. O amor cortesão apresenta um paradoxo: mantém cer-
ta aproximação com a moral cristã, no sentido de que transforma a
mulher amada em um ser angelical, inacessível, e o amor é transfor-
mado em uma religião. Trata-se, no entanto, de um amor adúltero,
o que de certa forma anula a moral cristã nesse aspecto. A chamada
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erótica cortesã é vista como uma técnica sutil de não amar, uma
maneira de não realizar o amor, uma vez que o homem tem medo
da mulher diante da qual ele teme sua própria sexualidade. O amor
cortês revela uma mulher completamente superior e inacessível e
mostra as relações entre o feminino e o masculino, mas o homem é,
na verdade, o dono desse jogo. O ideal é uma coisa, o real é outra. O
público a quem se dirigiam poetas e romancistas era constituído de
machos celibatários dos quais a cavalaria estava cheia. Alimentando-
-lhes o ardor, a literatura cortesã torna-se instrumento pedagógico.
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Sinônimos
Que tem a fé
Leia mais!
BEDIER, Joseph. O romance de Tristão e Isolda. São Paulo: Martins
Fontes, 2009.
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DUBY, Georges. História da vida privada: da Europa feudal à Renas-
cença. São Paulo, Martins Fontes, 2009. V.2.
SPINA, Segismundo. 1ª Época Medieval. In: _____. Presença da Litera-
tura Portuguesa: Era Medieval. São Paulo: Difel, 1987.
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