Você está na página 1de 150

Direito Processual Civil

2º Semestre

Professor Doutor Fernando Pereira


Autoria: Maria Carolina Carvalho

É importante mencionar que estes apontamentos consistem apenas num guia de


estudo, por isso, não é de modo nenhum dispensável a consulta de bibliografia
obrigatória.
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

1. PLURALIDADE DE PARTES (legitimidade plural)


Matéria que sai no exame
Na relação jurídica processual (a que chamamos de “instância”), por via de regra,
existem apenas duas partes materiais singulares: autor e réu, à qual se junta parte com
poderes decisórios que é o tribunal (relação jurídica triangular, havendo deveres de
cooperação entre estes sujeitos).
Contudo, esta relação pode ser mais complexa consoante o autor opte por exercer
o seu direito de ação e o réu opte por exercer o seu direito de contradição. Com efeito,
se autor é livre de intentar ou não a ação, de formular o pedido, de alegar os factos
constitutivos da causa de pedir, ou seja, de proceder à delimitação objetiva do
processo ele é também livre de proceder à sua conformação subjetiva (ou seja, é livre
de conformar a instância no que diz respeito às suas partes subjetivas – ora promove
ação contra uma pessoa ou contra várias pessoas).
Quais os elementos essenciais de uma causa?

• Subjetivos
o Partes
• Objetivos
o Pedido
o Causa de pedir

Esta liberdade de conformação subjetiva da instância é de tal forma reservada às


partes que não pode ser oficiosamente corrigida. Artigo 6º/2 CPC: o juiz não tem nesta
matéria um poder de regularização oficiosa da instância - o chamamento de alguém
para a instância tem de ser sempre precedido do impulso processual as partes nesse
sentido. Portanto, a demanda de apenas um ou vários sujeitos corresponde a opção
insindicável de exercício de direito de ação pessoal.
Exemplo: a posição de credor de obrigação solidária (artigo 519º/1 CC) – o credor
neste regime tem direito de exigir por inteiro, quando se trate de uma obrigação em
regime de solidariedade entre devedores, a totalidade da prestação a um dos
devedores (que depois terá direito de regresso); mas pode também demandar vários
ou todos os devedores solidários (é uma opção) – consoante isto, a instância será
singular ou plural no seu lado passivo.
Assim, conformação subjetiva da instância também pode resultar da iniciativa do
réu. Exemplo: artigo 317º/1 CPC (incidente) – réu pode chamar outros devedores
solidários tendo por fim reconhecimento e condenação do direito de regresso que lhe
possa vir a assistir. Portanto, assim como autor pode intentar ação contra um ou vários
réus, réu também pode ter iniciativa de chamar outros co-réus.
Este é princípio geral: liberdade de ação, liberdade de conformação.
2
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Mas esta liberdade está limitada de DUAS formas:


1. Em alguns casos impõe-se a presença de pluralidade de partes no processo (é
isto que acontece no litisconsórcio necessário ou na coligação necessária)
a. Hipóteses em que a própria lei, perante a relação material controvertida
em que se baseia o pedido, exige a presença de uma pluralidade de
partes
b. Ao princípio da liberdade de conformação subjetiva da instância
contrapõe-se aqui o princípio da utilidade (impõe-se presença na ação
de certas pessoas para se garantir que ação produz efeito útil)
i. Aqui o tribunal nem pode tomar iniciativa de chamar essas
pessoas (pode apenas tomar iniciativa de convidar partes a
chamarem essas pessoas)
2. Limites à pluralidade de partes, à complexificação subjetiva da instância
a. Limites quanto à admissibilidade de pluralidade de partes para não
perturbar de modo considerável o normal andamento do processo
b. Junta-se agora um princípio de praticabilidade

CLASSIFICAÇÕES
As situações de pluralidade de partes podem agrupar-se em diferentes
classificações:

• Quanto ao polo da relação processual a que pluralidade diz respeito: de acordo


com este critério de classificação, a pluralidade de partes pode ser…
o Ativa: quando diz respeito ao lado ativo da relação processual
▪ Exemplo: A e B, credores em regime de conjunção, demandam
C, seu devedor conjunto
o Passiva: quando diz respeito ao lado passivo da relação processual
▪ Exemplo: A, credor, demanda B e C, devedores em regime de
conjunção
o Mista: quando diz respeito aos lados ativo e passivo da relação
processual
▪ Exemplo: A e B, comproprietários, demandam C e D,
comproprietários de prédio vizinho, para constituição de
servidão de passagem

• Quanto ao seu fundamento: a situação de pluralidade de partes pode ter


fonte…
o Voluntária: quando se constitui por mero exercício da faculdade que
autor tem de demandar vários réus ou do réu pedir o ingresso da
instância de outros co-réus

3
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

▪ Na 1 hipótese em que litisconsórcio é da iniciativa do autor essa


opção é exercida na petição inicial, consoante pessoas que autor
designa como réus (artigo 552º/1/a CPC) ou em momento
superveniente por via do incidente da intervenção principal
provocada (artigo 316º/2 CPC), até ao termo da fase dos
articulados (artigo 318º/2/b CPC)
▪ Na 2ª hipótese, em que litisconsórcio é da iniciativa do réu, essa
opção é exercida na contestação (artigo 316º/3 CPC) ou em
requerimento apresentado no respetivo prazo (artigo 318º/1/c
CPC)
o Necessária: quando a litigância sobre aquela relação material
controvertida exige a presença de várias partes. Neste caso, a instância
não deve prosseguir enquanto não for regularizada mediante a
intervenção de todas as pessoas cuja presença é exigida por lei (porque
aqui estamos perante a falta de pressuposto processual – se lei impõe
presença de várias pessoas e elas não estão presentes, falta
pressuposto da legitimidade plural e por isso é preciso regularizar a
instância)
▪ Litisconsórcio necessário: casos em que é necessária a situação
de pluralidade de partes (não depende da vontade das partes,
mas sim da lei), seja ativo seja passivo. Mas não significa
litisconsórcio automático. Ou seja, mesmo que o juiz se
aperceba da existência de situação de litisconsórcio necessário
ele não pode tomar a iniciativa de chamar ao processo as
pessoas que deviam lá estar e não estão, porque esse
chamamento depende sempre do impulso das partes. Portanto,
quanto muito pode convidar as partes a regularizarem a
instância (a terem iniciativa de proporem incidente para chamar
quem lá devia estar e não está).

• Quanto ao momento em que a situação de pluralidade se constitui:


o Originária: quando se constitui desde o início da ação (quando várias
partes se apresentam como autores ou quando um autor ou vários
pedem logo na petição inicial que sejam citados vários réus para a ação)
o Superveniente: quando a situação de pluralidade de partes só se
constitui no curso da ação. Mediante o chamamento pela dedução do
incidente de intervenção principal provocada (artigo 316º CPC) ora
mediante intervenção espontânea do sujeito em causa (artigo 338º
CPC)

• Quanto à sua natureza:


o Litisconsórcio: relação material controvertida diz respeito a várias
pessoas. Portanto, esta figura traduz processualmente a existência de
4
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

uma relação material com pluralidade de partes (seja do lado ativo,


passivo ou ambos). UMA relação (material controvertida) com
pluralidade de partes.
o Coligação: traduz a agregação processual de relações materiais distintas
(VÁRIAS relações materiais coligadas)
→ O critério de distinção entre ambas diz respeito à unidade ou
pluralidade de relações jurídicas que hajam de ser apreciadas na ação.
Artigo 32º/1 CPC.
Há autores que usam outro critério: critério do pedido (prof Teixeira de Sousa).
Segundo este autor, estamos perante a figura do litisconsórcio quando apesar de haver
uma pluralidade subjetiva não há pluralidade objetiva (há vários autores, réus ou
ambos, mas há apenas um pedido) – não há pluralidade de objeto processual -, e
também há situação de litisconsórcio quando há vários pedidos que são formulados
por todos os autores ou contra todos os réus (um autor faz três pedidos contra os três
réus em conjunto, por exemplo).
O critério que seguimos é, contudo, o de número de relações jurídicas materiais.

A estas duas formas de pluralidade temos de acrescentar:

• Oposição (333º e seguintes CPC): situações em que 3º é chamado ou intervém


espontaneamente na instância, mas tem posição conflituante quer com autor
quer com réu
• Assistência (326º e seguintes CPC): alguém, o assistente, intervém como parte
acessória de uma parte principal
o De um dos lados há pluralidade de partes, mas em que elas não se
conservam no mesmo plano (porque uma assiste a outro)

1.1. LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO

O LITISCONSÓRCIO pode ser:


➔ Ativo, passivo ou misto (consoante polo)
➔ Inicial ou sucessivo
➔ Voluntário ou necessário
o Dentro do necessário, ele pode ser:
▪ De fonte legal
• Por disposição expressa da lei (artigo 33º/1 CPC)
• Preenchimento do critério geral (“efeito útil normal”)
(artigo 33º/2 e 3 CPC)

5
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

o É necessária presença dos vários interessados


para que decisão de mérito a obter produza
“efeito útil normal”
▪ De fonte negocial

Uma só relação jurídica, com pluralidade de partes


Como sabemos se é voluntário ou necessário? Porque se for voluntário, e relação
for plural do seu lado passivo (há conjunto de devedores) mas a ação for intentada
apenas contra um dos devedores, não estamos perante falta de pressuposto
processual e ação pode decorrer. Mas se for necessário, e relação for plural do seu
lado passivo, e se ela não for intentada contra todos os sujeitos estamos perante
preterição de pressuposto processual (por lei, a ação tinha de ser intentada contra os
vários réus, etc.). Neste último caso, a ação não deve prosseguir sem ser regularizada.
O que tribunal pode fazer é convidar as partes a chamarem as restantes partes em
falta, através do incidente de intervenção de terceiro.
NOTA: regra é que litisconsórcio é voluntário e que relações são divisíveis.
Se a relação jurídica é plural é necessário, em alguns casos, que na instância
estejam presentes essas pessoas para que elas fiquem vinculadas pelo caso julgado
material. Porque se elas não estiverem lá só uma pessoa fica vinculada à decisão, e aí
pode acontecer que decisão não produza o seu efeito útil normal.

As situações de litisconsórcio são as situações em que estamos perante uma


relação jurídica (material) com uma pluralidade de sujeitos (distinção segundo o
critério que adotamos).
O litisconsórcio é NECESSÁRIO quando a lei imponha a presença dos vários sujeitos
da relação jurídica material na instância OU se as partes tiverem previsto essa
necessidade por negócio jurídico, daí este litisconsórcio poder resultar da lei ou de
negócio jurídico. O litisconsórcio é VOLUNTÁRIO se ele não resultar nem da lei nem de
negócio jurídico (depende da vontade das partes).

NOÇÃO de litisconsórcio necessário: técnica processual destinada a que decisão


vincule em termos idênticos o conjunto de titulares de uma dada situação jurídica
plural, forçando-se, assim, a presença na ação de todos aqueles que se pretendem
vinculados pelo caso julgado material. Ou seja, visa-se que a ação gere uma decisão de
mérito uniforme para todos os titulares, por força das regras do efeito de caso julgado
(619º/1 e 581º/1 CPC).
Quem fica abrangido pelo caso julgado material são as partes nessa
ação (limites subjetivos do caso julgado).

6
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Portanto, numa relação jurídica com pluralidade de sujeitos quer-se todos eles na
ação para ficarem todos vinculados pela decisão que será produzida pelo caso julgado.

NOTA: não é esta a única forma de conseguir uniformização de caso julgado –


outra forma que lei contempla é a de admitindo a invocação do caso julgado por
terceiro que não uma das partes, sendo chamado caso julgado secundum eventum
litis. São situações em que esse caso julgado pode abranger terceiros, mas mediante
resultado da lide porque o que se pretende nestas hipóteses é estender a vantagem
dos casos julgados a terceiros que não foram partes da ação (extensão dos efeitos de
caso julgado favorável). Hipóteses em que em vez de se impor litisconsórcio
necessário, este é voluntário, mas depois estende efeitos do caso julgado a terceiros.
Exemplo: artigos 522º CC (solidariedade entre devedores), 538º/2 CC (pluralidade
de credores em caso de prestação indivisível), 635º CC (fiança), 1405º/2 CC (ação de
reivindicação proposta por algum ou alguns dos comproprietários – litisconsórcio
voluntário ativo, mas o caso julgado material favorável ao reivindicante aproveita aos
demais titulares do direito de fundo).

O litisconsórcio necessário pode ser de fonte legal ou negocial (artigo 33º CPC)

DE FONTE LEGAL
Quando seja a própria lei que reclama que para que se litigue sobre dada relação
jurídica é necessária a presença de todos os afetados.
Esta imposição pode ser feita de duas formas:
1. Resulta de disposição expressa da lei: existe uma regra específica que impõe
presença de pluralidade de partes (artigo 33º/1 CPC)
2. Preenchimento de critério geral (artigo 33º/2 e 3 CPC) – ‘efeito útil normal’
A aplicação do regime do litisconsórcio implica conhecimento do regime
substantivo.

Caso de disposição expressa da lei


Exemplos:

• Ações propostas por ou contra ambos os cônjuges deve observar-se a presença


de ambos nos termos do artigo 34º CPC

7
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

• Incidente de habilitação mortis causa (351º CPC), o qual se substitui a parte


falecida na pendência da ação (269º/a CPC) há litisconsórcio necessário entre
todos os sucessores da parte falecida
o Litisconsórcio sucessivo nasce na pendência da instância
• Consignando devedor em depósito o objeto da prestação por incerteza quanto
à pessoa do credor (841º/1/a CC) e pretendendo consignar judicialmente em
depósito a prestação (916º e seguintes CPC) há litisconsórcio necessário entre
os dois credores (921º/1 CPC)
• Pretendendo um dos comproprietários dividir a coisa comum, colocando termo
à compropriedade (1412º/1 CC) e fazendo-o nos termos da lei do processo
(1413º CC) devem ser chamados à ação os demais consortes (925º CPC)
• Pertencendo a vários titulares o direito de preferência só pode ser exercido em
conjunto (419º/1 CC) – litisconsórcio necessário ativo
o Regime diferente para compropriedade (1409º/1 CPC): cada um tem
direito pessoal de preferência
• Sendo a prestação indivisível com pluralidade de devedores, a prestação deve
ser exigida de todos os devedores (535º/1 CC), mas se for com pluralidade de
credores qualquer um a pode exigir (538º/1 CC)
• Um caso que configura hipótese atípica de litisconsórcio é a sub-rogação do
credor ao seu devedor no exercício dos seus direitos (606º e seguintes CC).
Aqui, o devedor deve ser chamado à demanda (608º CC)
o O mesmo vale no regime societário em que sócios da sociedade numa
ação de responsabilidade contra gerente da sociedade comercial, em
substituição da sociedade comercial, esta última deve ser citada para
instância (77º/4 código das Sociedades Comerciais)
• A ação de investigação da maternidade, tratando-se de filho nascido ou
concebido na constância de matrimónio, deve ser intentada contra marido ou
perfilhante se houver (1822º/1 CC)
• Na ação de impugnação da paternidade devem ser demandados mãe, filho e
presumido pai quando não figurem autores (1846º/1 CC)
• Nos direitos relativos à herança fora no caso da ação de reivindicação da
herança (2078º/1 CC) só podem ser exercidos em conjunto por todos ou contra
todos os herdeiros (2091º CC)
o Exemplo a ter em atenção

Critério geral subsidiário: artigo 33º/2 e 3 CPC


Quando seja necessária a presença dos vários cointeressados para se garantir
‘efeito útil normal’ da decisão. Neste contexto normativo, ‘efeito útil normal’ designa a
efetiva e definitiva composição do litígio entre aquelas concretas partes sem
necessidade de intervenção de qualquer outro sujeito. Mais precisamente, trata-se
aqui de uma hipótese para o efeito pretendido com atribuição de certa posição jurídica

8
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

a alguém só é alcançável na presença de uma pluralidade de partes na instância


(hipótese chamada de litisconsórcio natural).
A pedra de toque do litisconsórcio necessário é a impossibilidade de, tido em
conta o pedido formulado, compor definitivamente o litígio sem a presença de todos
os interessados.

NOTA: este pressuposto processual da legitimidade quer garantir o efeito útil das
decisões. A legitimidade singular quer que estejam na ação os sujeitos da relação
material controvertida, e se não estiverem a ação não tem efeito útil. A mesma lógica
aplica-se na legitimidade plural, no âmbito do litisconsórcio necessário.
Exemplo: A, de cujus, faz testamento com 5 deixas testamentárias a favor de 5
pessoas diferentes. B, herdeiro único (legitimário), pretende anular o testamento – ou
seja, B ia herdar tudo, mas A fez testamento com deixas a 5 pessoas e B quer anular o
testamento porque entende que há causa de invalidade do testamento. Contra quem
é que B tem de intentar ação? Há litisconsórcio necessário passivo? Tem de intentar
ação de anulação contra os 5 sujeitos ou basta contra 1 deles? Não há litisconsórcio
necessário passivo, PORQUE “produzir efeito útil normal” significa que há que compor
efetiva e definitiva composição entre aquelas partes. B intenta ação apenas contra H,
um dos legatórios: é possível compor definitiva e efetivamente o litígio entre B e H? Os
outros legatários não vão ser abrangidos pelo caso julgado – pode nascer contradição
de julgados, porque depois B pode intentar ação contra outro legatário, e isso pode
dar lugar a casos julgados contraditórios. Ora, aquilo que a lei prevê e pretende evitar
é uma incompatibilidade prática, e não teórica, de casos julgados: aqui podemos ter
incompatibilidade teórica, mas não prática (porque é possível resolver definitivamente
a questão entre aqueles sujeitos; legatário H recebe mas D não, e isto é possível).
Caso de litisconsórcio necessário passivo por aplicação do critério geral: ação de
demarcação pela qual se delimitam as extremas de um prédio (1353º CC). Afetando a
demarcação a posição jurídica de três prédios, todos hão de ser chamados à instância.
Há casos duvidosos: ação de preferência. A dúvida que aqui se coloca é de saber
se ação deve ser intentada apenas contra pessoa a quem foi vendida a coisa em
violação do direito de preferência ou se deve ser intentada também contra obrigado à
preferência. Uma parte da doutrina diz que ação pode ser intentada apenas contra
terceiro adquirente, a menos que titular da preferência queira receber indemnização
pelos danos que sofreu. Prof diz que há boas razões para entender que ação deve ser
intentada contra dois (obrigado à preferência e terceiro adquirente).
Outro caso duvidoso: caso de impugnação pauliana (610º e seguintes CC). O
devedor pratica conjunto de atos que põe em causa garantia patrimonial de crédito,
pelo que credor pode impugnar esses atos não no sentido de os tornar inválidos, mas
sim ineficazes face a credor e com isso ver património do terceiro a quem bens forem
vendidos ou doados abrirem-se à sua entrada. Dúvida aqui é se saber se ação pode ser
9
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

intentada apenas contra terceiro ou se deve ser intentada contra devedor também.
Prof diz que estamos perante litisconsórcio necessário passivo: que há aqui uma
necessidade de a ação ser intentada contra devedor alienante e terceiro adquirente,
de modo a proporcionar ao credor um título executivo que lhe permitia executar os
bens transmitidos (616º/1 CC e 826º CPC).
Outro caso duvidoso: ação contra comitente. Prof. Teixeira de Sousa diz que é um
caso de litisconsórcio legal.
Estes casos duvidosos em que doutrina não se põe de acordo demonstram que
esta matéria, na prática, levanta dúvidas.
O litisconsórcio necessário tem, por sua vez, FONTE NEGOCIAL quando por
negócio jurídico se preveja que em caso de litigância sobre uma certa relação jurídica
deve intervir na instância uma pluralidade de partes (não resulta da lei, mas de
negócio jurídico).
Exemplo: ação destinada a exigir restituição de coias depositada por duas ou mais
pessoas, tendo-se estipulado que coisa só podia ser levantada por todos os
depositantes em conjunto. Propondo-se ação contra depositário há litisconsórcio
necessário passivo.

REGIME
Há diferentes aspetos no regime do litisconsórcio necessário que refletem
circunstância de estarmos perante apenas uma relação jurídica e de se pretender a
efetiva presença de todas as partes no processo.
1. Quanto à citação, a falta de citação de um (se estivermos perante litisconsórcio
necessário, aqui passivo) obriga à anulação de todo o processado posterior à
citação dos outros (219º/1 e 190º/a CPC)
a. Isto para que todos os co-réus tenham possibilidade de influenciar a
instância
2. A confissão (meio de prova) só é atendível enquanto confissão (fazendo prova
plena do facto) se provier em simultâneo de todos os litisconsortes (353º/2/2ª
parte CC). Todavia, ainda que não goze de valor confessório pode ser
livremente apreciado pelo julgador (361º CC e 607º/5 CPC).
a. Se não provier de todos os litisconsórcios não faz prova plena
b. NOTA: se a necessidade de litisconsórcio for detetada demasiado tarde
e o novo interveniente (regularizou-se instância através de incidente de
intervenção principal provocada) ou nega o confessado ou impugna
facto não contraditado, tais factos devem ser considerados
controvertidos, integrando os termos de prova.

10
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

3. A confissão, a desistência ou transação não produzem efeitos sobre a relação


processual se provierem só de um litisconsorte, valendo apenas para efeitos de
custa (288º/2 e 528º/2 CPC)
4. Em matéria de recursos, o princípio geral quanto à definição do âmbito
subjetivo do recurso é o de que a posição da parte vencida que não manifestou
vontade de recorrer não interessa ao tema decidendum, submetido ao tribunal
superior (princípio da personalidade ou da seletividade e que é manifestação
do princípio da liberdade de ação)
a. Uma parte recorre e outra não, esta última não vai ser abrangida pelos
efeitos do recurso
b. No litisconsórcio necessário prevalece o princípio oposto: princípio da
realidade, o que quer dizer que recurso aproveita às partes que não
recorreram (634º/1 CPC). Portanto, o recurso vai aproveitar aos não
recorrentes.

Tratando-se de litisconsórcio necessário ativo devem marcar presença na ação


ambos ou mais autores. Recusando um dos autores a propositura da ação, o único
meio que o outro tem ao seu dispor é requerer a respetiva intervenção principal
provocada (261º e 316º/1 CPC). Tratando-se de litisconsórcio necessário passivo, o
meio próprio para a chamada a ação de todos aqueles que devem intervir é a sua
indicação como réu, para que sejam citados (552º/1/a CPC). Em caso de preterição do
litisconsórcio necessário devem ser chamados pelo incidente da intervenção principal
provocada (316º e seguintes CPC).

INOBSERVÂNCIA (REGIME E CONTROLO DO PRESSUPOSTO)


A preterição do litisconsórcio necessário, por decorrência lógica de tudo, é causa
de ilegitimidade (33º/1 CPC), dando lugar a uma exceção dilatória (577º/e CPC),
devendo, caso não seja suprida, o juiz abster-se de conhecer o mérito da ação e
absolver réu da instância (278º/1/d CPC).
A falta deste pressuposto é suprível: incidente de intervenção de terceiro, mais
concretamente de intervenção principal provocada, da qual pode resultar alteração do
elemento subjetivo da causa por introdução no processo de novas partes.
MAS se sanação não for feita, mediante abertura de incidente (que tem de ser
requerido pelas partes – juiz não o pode abrir oficiosamente, apenas podendo
convidar partes a abrir incidente), a consequência é a apontada acima.
NOTA: juiz absolve da instância → caso julgado formal (efeitos dentro
daquele processo apenas porque quanto à matéria juiz não decidiu nada).

11
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Nos termos gerais do CPC, tratando-se da não verificação de pressuposto


processual sanável, mas que não está o juiz em condições de por si regularizar, deve o
juiz convidar as partes à prática dos atos necessários à respetiva sanação (6º/2 CPC).
Deve o juiz começar por aferir da regularização da instância. Detetada a preterição
do litisconsórcio necessário em sede de despacho liminar (artigo 226º/4 CPC), nos
poucos casos em que este ainda tenha lugar, deve o juiz convidar o autor a regularizar
a instância (6º/2 CPC), ordenando a citação apenas quando a instância for
regularizada. Se não for feito no prazo previsto pelo juiz ele profere despacho de
indeferimento liminar.
Não havendo lugar a despacho liminar, o momento de controlo será o despacho
pré-saneador (590º CPC), competindo ao juiz convidar as partes a regularizar a
instância (590º/2/a CPC). Não sendo a instância regularizada tem lugar a absolvição do
réu da instância no despacho saneador (595º/1/a CPC).
O despacho pré-saneador serve para regularizar o deve ser regularizado.

Detetando-se apenas em momento mais tardio a preterição de litisconsórcio


necessário, terá lugar a absolvição da instância na sentença final (608º/1 CPC). Isto não
é desejável porque revela incompetência do juiz.

MODO DE REGULARIZAÇÃO DA INSTÂNCIA


Duas as formas de regularização:
1. Chamada do terceiro à ação pelo incidente da intervenção principal provocada,
em que é das partes a iniciativa do chamamento (ainda que porventura por
convite do juiz) – artigo 316º/1 CPC. Nos termos do artigo 318º/1/a CPC, o
chamamento para a ação deve ser deduzido até ao termo da fase dos
articulados sem prejuízo do disposto no artigo 261º CPC (nº 1 admite que até
ao trânsito em julgado da decisão que julgue ilegítima uma das partes por não
estar em juízo certa pessoa, ou seja, estar preterido litisconsórcio necessário,
que o autor a chame a intervir). Assim sendo, por maioria de razão, deverá
admitir-se o respetivo chamamento depois de esgotada a fase dos articulados
desde que a questão da falta de legitimidade ainda não tenha sido decidida.
a. Decisão formal transita em julgado quando já não é suscetível de
recurso ordinário
b. Esta (intervenção principal provocada) pode ser requerida quer pelo
autor quer pelo réu
2. Entrada do terceiro na ação por sua própria iniciativa, mediante a dedução por
seu próprio impulso de um incidente de intervenção principal espontânea –
artigo 311º CPC. Esta intervenção pode operar de uma de duas formas:

12
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

a. Ou mediante mera adesão à posição de uma das partes (pode ser


requerida nos termos da lei até que a causa esteja definitivamente
julgada – 313º CPC -, inclusivamente se processo estiver pendente e
havendo recurso pendente), ficando assim abrangido pelo caso julgado
material
b. Ou mediante articulado próprio (não adere à posição). Aqui só pode
intervir na ação até ao termo da fase dos articulados (314º CPC).
Entende-se dever terminar com prática do 1º ano da fase subsequente
(390º/1 CPC) – despacho pré-saneador. Portanto, a partir daqui não
pode intervir por articulado próprio.
É de admitir que juiz no despacho pré-saneador, além de convidar partes a
regularizar a instância, aluda à possibilidade da instância se ter por regularizada
mediante intervenção espontânea de terceiro.
APROVEITAMENTO DOS EFEITOS DA AÇÃO
Ainda que haja absolvição da instância podem aproveitar-se os efeitos daquela
concreta relação processual de duas formas:
1. Já depois da decisão (de decisão de absolvição do réu da instância por
preterição do litisconsórcio necessário não sanado), mas antes do trânsito em
julgado (628º CPC) pode ser requerida a intervenção da parte preterida (262º/1
CPC).
2. Mesmo depois da absolvição da instância e do trânsito pode o chamamento ter
lugar nos 30 dias subsequentes ao trânsito em julgado. Admitindo-se o
chamamento a instância já extinta considera-se renovada, recaindo sobre o
autor ou o reconvinte o encargo do pagamento das custas em que tiver sido
condenado (261º/2 CPC).

1.2. LITISCONSÓRCIO VOLUNTÁRIO


Artigo 32º CPC
Por um lado, há litisconsórcio quando uma só relação jurídica serve de base à
ação, e por outro lado, dado que a legitimidade processual traduz para o processo
categoriais materiais de relações jurídicas, concluímos que haverá litisconsórcio
voluntário quando a tal relação jurídica, embora única, admita uma certa divisibilidade
de posições de cada um dos seus contitulares ou então, quando muito embora se trate
de uma posição jurídica indivisível a lei admita que um só dos titulares esteja presente
nas ações (legitimidade extraordinária). Ou seja, perante uma relação jurídica plural, se
ela for indivisível, o litisconsórcio será necessário a menos que lei admita um só dos
titulares a agir em juízo. Se a relação jurídica for divisível, aí o litisconsórcio será
voluntário (e esta é a regra geral).

13
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Tal diretriz geral de divisibilidade das posições jurídicas vai-se traduzir, por um
lado, na liberdade de cada litisconsorte voluntário de, por si, conduzir a ação, e por
outro lado, conduzirá a imputação do objeto do processo à quota-parte do seu
interesse (não pode agir além do seu interesse).
Esta diferença entre litisconsórcio voluntário e necessário está no artigo 35º CPC.
Cada cointeressado pode agir autonomamente em juízo, mas apenas tendo por base a
quota parte do seu interesse, MAS podem agir todos em litisconsórcio voluntário (mas
aí não há uma ação com pluralidade de sujeitos, mas sim simples acumulação de
ações, conservando cada litigante uma posição independente face aos restantes, isto
porque a relação jurídica é divisível). Isto vai trazer consequências ao nível do regime.
O nosso direito parte de um princípio geral de divisibilidade da relação jurídica:
artigo 32º CPC (nota que interessados são os sujeitos da relação controvertida). Se
vale este princípio geral e se cada um pode agir autonomamente tendo por base a
quota parte do seu interesse, uma eventual situação de pluralidade de partes será de
fonte voluntária, dando origem a uma situação de litisconsórcio voluntário.
De todo o modo, em múltiplos casos é o próprio texto da lei que prevê
possibilidade de certa pessoa poder autonomamente litigar sobre uma dada posição
jurídica: artigo 32º/2 CPC.

• Sendo a obrigação solidária (modalidade de obrigação plural), responde cada


devedor pela prestação integral (512º/1 CC). Logo, pode o credor demandar
apenas um dos devedores. Se opta por demandar vários estamos perante caso
de litisconsórcio voluntário.
o Praticando duas pessoas um certo facto ilícito culposo, e respondendo
solidariamente ao abrigo dos artigos 490º e 497º/1 CC, estão em
litisconsórcio voluntário
• Havendo pluralidade de credores de uma prestação indivisível, qualquer um
pode exigi-la por inteiro (538º/1/1ª parte CC)
o Se vários em conjunto exigem é a título de litisconsórcio voluntário
• Qualquer um dos compossuidores pode servir-se dos meios de defesa da posse
(1286º CC), da mesma forma que qualquer um dos comproprietários pode
recorrer à ação de reivindicação (1405º/2 CC), da mesma forma que ainda
qualquer um dos co-herdeiros pode recorrer a ação (2078º CC).
A estas hipóteses devem acrescentar-se quaisquer outras em que se discuta
conjunto de posições jurídicas divisíveis, como:

• Obrigações conjuntas: modalidade de obrigações plurais que não se encontram


propriamente previstas na lei, embora artigo 649º/2 CC lhes faça referência,
mas que são doutrinalmente previstas. Aqui, ao contrário do que acontece nas
obrigações solidárias, cada um dos devedores conjuntos deve apenas uma
quota parte e só por ela responde. Da mesma forma, cada um dos credores
conjuntos apenas pode exigir uma parte da obrigação.
14
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

o Estamos aqui perante uma relação jurídica unitária, mas com


pluralidade de sujeitos, mas divisível. Ou seja, cada um deles pode agir
autonomamente. A sua atuação está é limitada à quota parte do seu
interesse.
o Em litisconsórcio voluntário, todavia, podem agir todos os titulares
ativos ou ser demandados todos os titulares passivos.
Dúvidas de qualificação a propósito da FIANÇA: o credor pode demandar
conjuntamente o devedor e o fiador, e este último pode chamar o devedor à demanda
(641º/1 CC). A fiança é uma modalidade de garantia pessoal de obrigação, uma
garantia que assenta num reforço quantitativo do crédito. Em caso de incumprimento
o credor pode demandar devedor e fiador, e se chamar só fiador ele pode chamar
devedor. Dúvida aqui é apenas se se trata de caso de litisconsórcio ou coligação. Caso
se entenda que estamos perante apenas uma relação jurídica material ainda que
complexa então será caso de litisconsórcio; se entendermos que estamos perante
várias relações jurídicas materiais, aí será caso de coligação.
Nos termos do regime da fiança, pese embora a eventual autonomia do ato de
constituição da fiança (628º/1 CC), o que apontaria para uma certa autonomia face a
obrigação principal, o regime mostra acessoriedade jurídica da obrigação do fiador
face à principal (artigos 627º/2, 631º, 632º CC). Mais que perante duas relações
obrigacionais autónomas parece que estamos perante uma modalidade especial de
obrigação complexa, caracterizada pela presença de uma obrigação ou de vínculo
acessório a vínculo principal.
Outro argumento: se virmos artigo 649º/1 e 2 CC, nas hipóteses de pluralidade de
fiador todos podem ser conjuntamente demandados. Por maioria de razão, deve
entender-se que há unidade fundamental com a relação jurídica do devedor principal.
Portanto, podemos concluir, partindo da ideia de que estamos perante uma só
relação jurídica ainda que complexa (com vínculo acessório ligado a principal),
estaremos perante caso de litisconsórcio voluntário. Este regime estende-se a outras
garantias acessórias, como a hipoteca, sendo também situação de litisconsórcio
voluntário (acórdão da relação de Lisboa 21/09/2009, processo 4687, 2006-2).

Note-se que pode dar-se o caso de um dos cotitulares, tratando-se de uma relação
jurídica divisível, muito embora apenas possa litigar sobre quota parte do seu
interesse, intentar ação com vista a litigar sobre a totalidade da posição jurídica. Por
exemplo, no caso de obrigação conjunta ser intentada ação contra um dos
codevedores conjuntos, mas exigir-se totalidade. Aqui, a lei prevê redução automática
do objeto à quota parte do interesse do cointeressado que está a agir em juízo. Artigo
32º/1 CPC.

15
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

CONSTITUIÇÃO
O litisconsórcio voluntário pode ser:

• Iniciativa do autor (316º/2 CPC) ou do réu (316º/3/a CPC)


• Requerida até ao fim da fase dos articulados, que se deve entender terminar
com despacho pré-saneador (1º ato da fase subsequente)
• No que concerne o litisconsórcio voluntário ativo, uma vez que cada um dos
autores/cointeressados goza de posição de autonomia, não pode ser autor a
desencadear litisconsórcio voluntário ativo para forçar cotitular da relação a vir
a ação.
o Solução de louvar porque respeita de forma adequada a autonomia da
posição jurídica dos vários sujeitos da relação jurídica
o Como se tratam de posições jurídicas autónomas deve caber a cada
cointeressado decidir se age ou não em juízo, pelo que não deve ser
autor a forçar a vinda de outros cointeressados em caso de
litisconsórcio voluntário ativo.
o Esta posição de liberdade só deve ser restringida em virtude do
interesse justificável e atendível do réu em resolver definitivamente a
questão naquela ação, e por isso deve chamar a totalidade dos
interessados. Assim, réu pode chamar os restantes cointeressados, o
autor é que não o pode fazer. Isto não obsta a que vários autores
interponham ação – mas é uma decisão livre de todos eles (artigo 32º/1
CPC), o que não pode é um deles forçar a vinda dos outros.
o O que foi dito não impede que os cointeressados que não sejam autores
não possam tomar iniciativa espontânea de intervir (311º CPC).

REGIME
Diferentes aspetos do litisconsórcio voluntário refletem a circunstância de se estar
a litigar sobre relações jurídicas apenas parcialmente autonomizáveis. Convém
confrontar o regime do litisconsórcio voluntário com o que referimos a propósito do
litisconsórcio necessário.
1. Quanto à CITAÇÃO, a falta de citação já não implica a anulação do processado
posterior (190º/b CPC)
2. A CONFISSÃO (meio de prova) DE UM FACTO afeta apenas o confitente, não
devendo o efeito confessório ser estendido às demais partes (353º/2/1ª parte
CC). Como são posições jurídicas autonomizáveis parcialmente não há uma
ação, mas sim acumulação de ações, pelo que é possível que cada um deles
confesse factos, mas essa confissão só tem efeitos apenas para esse confitente.
a. No litisconsórcio necessário ela só era possível se proviesse de todos os
litisconsortes

16
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

3. Em matéria de atos de auto disposição do objeto do processo (confissão,


desistência e transação), elas são livres na medida do interesse de cada um
(288º/1 CPC)
4. Em matéria de recursos, vale o princípio da personalidade: aproveitando o
recurso apenas àquele ou aqueles que o tenham interposto. Apenas se
estendem os efeitos do recurso quando as outras partes hajam aderido ao
recurso, nos termos dos artigos 634º/2/a e nº 3 CPC.
Qualquer uma destas características traduz ideia que estamos aqui perante uma
mera acumulação de ações, podendo cada uma delas gozar de tratamento
relativamente autónomo.

1.3. COLIGAÇÃO
Têm de estar presentes na ação uma pluralidade de relações jurídicas. Por esta
razão, existe no caso da coligação um risco de complexificação da marcha processual. E
é por isso que a lei coloca limites à admissibilidade da coligação por forma a não
estorvar o normal funcionamento do processo.
Note-se que as partes são livres de determinar a instância do POV subjetivo, seja o
autor que decide contra quem vai intentar ação, seja o réu chamando outros co-réus.
Mas há limites: casos em que lei exige a presença de vários cointeressados
(litisconsórcio necessário) e há casos em que lei limita possibilidade de estarem vários
cointeressados na ação.

Se forem inobservados os requisitos de admissibilidade da coligação isso gera


exceção dilatória (artigos 577º/f, 278º/e CPC).

PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE DA COLIGAÇÃO


Artigos 36º e 37º CPC
Exigem-se três fatores fundamentais para que ela seja admissível:
1. É necessário que exista uma conexão entre as diferentes relações jurídicas
integrantes do objeto do processo (artigo 36º CPC)
2. É necessário que se verifique a compatibilidade formal da tramitação prevista
para a consideração dos diferentes pedidos deduzidos em juízo (artigo 37º/1
CPC)
3. É necessário que o tribunal não rejeite a coligação (artigo 37º/4 CPC)
a. Apesar de estarem verificados os dois primeiros requisitos, o tribunal
pode entender que há razões que depõem no sentido de afastar a
possibilidade de coligação
17
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

1. conexão entre relações jurídicas


Esta conexão entre as diferentes relações jurídicas pode resultar de qualquer um
dos fatores previstos no artigo 36º CPC
1. Pode resultar (36º/1 CPC) do facto de ser única a causa de pedir (unicidade de
causa de pedir)
a. Exemplo: A coage B à celebração de contrato com C. B propõe ação de
anulação, nos termos do artigo 256º CC, do contrato celebrado com C e
ação indemnizatória contra C, autor da coação. A causa de pedir é
essencialmente a mesma: parcial, mas essencialmente a mesma – a
coação.
i. Fator de conexão jurídica resulta da unicidade da causa de pedir
b. Outro exemplo: dois legatários que propõem ação de cumprimento
contra herdeiro
i. Causa de pedir é fundamentalmente a mesma: disposição
testamentária
2. A relação de prejudicialidade ou de dependência entre os pedidos (36º/1 CPC)
a. Exemplo: numa sucessão de doações, a anulação da doação (ação
constitutiva intentada contra donatário) pedindo restituição do bem
contra aquele a quem o bem haja sido doado.
i. A doa a B, e B a C. A intenta ação de anulação de doação a B e
quer restituição do bem doado, entretanto, a C.
b. A diferença entre prejudicialidade e dependência: há relação de
prejudicialidade quando decisão de um dos pedidos pode influir na
apreciação do outro; há relação de dependência quando a apreciação
de um dos pedidos só pode ter lugar depois ou quando se verificar a
procedência do outro.
3. A procedência dos pedidos principais depende essencialmente da apreciação
dos mesmos factos (artigo 36º/2 CPC)
a. Exemplo: o cão X, que pertence a A e é vigiado por B, morde C
i. Responsabilidade subjetiva do vigilante e objetiva do dono do
cão
ii. Pode C propor ação de responsabilidade civil contra A (pelo
risco) e pelo B (subjetiva), em coligação passiva porque a
apreciação do pedido principal depende da apreciação dos
mesmos factos
4. A procedência dos pedidos principais depende essencialmente da aplicação das
mesmas regras de direito ou cláusulas de contratos perfeitamente análogas
(artigo 36º/2 CPC)

18
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

a. Exemplo: Cláusulas Contratuais Gerais – contratos de adesão podem dar


azo a situação destas
5. Quando pedidos se baseiam na invocação da relação cartular contra uns e
subjacente contra outros (artigo 36º/3 CPC)
a. Regime dos títulos cambiários e letras de câmbio
b. Outros casos não expressamente previstos na lei: Tavares de Sousa diz
que com aditamento do nº3 deste artigo tornou-se claro que a relação
de concurso entre as pretensões constitui uma conexão
suficientemente intensa no sentido de tornar admissível a coligação e
dispensar demais fatores de conexão previstos na lei. A partir daqui fica
aberto o caminho para aplicar este critério (subjacente a esta conexão)
a outras situações não expressamente previstas na lei, mas que
mereçam aplicação analógica, dada a sua identidade substancial. São
situações em que não há uma perfeita identidade entre relações
jurídicas que sustentam os diferentes pedidos.
i. Exemplo de aplicação analógica: caso da fiança (há uma só
relação, mas complexa, considerando que há litisconsórcio
voluntario passivo). Mas no caso de obrigação garantida (fiança)
ser inferior à obrigação principal (631º/1 CC) temos caso de
coligação. Aqui, o credor poderá demandar em coligação o
devedor principal e fiador na parte em que ambas as obrigações
coincidem e no mesmo processo pedir condenação do devedor
principal na parte não garantida pela fiança
ii. Nalguns casos, a possibilidade de coligação está
normativamente prevista: artigo 820º CC faz-se referência de
coligação de investigantes em ação de investigação da
maternidade e de paternidade

2. Compatibilidade entre tramitação prevista para apreciação dos diferentes


pedidos. Isto desdobra-se em dois requisitos:
1. É necessário que se siga a mesma forma de processo quanto a todos os pedidos
(artigo 37º/1 CPC) embora, mesmo que não seja esse o caso, o juiz possa
autorizar a coligação (artigo 37º/2 CPC)
a. Nos termos do artigo 37º/2 CPC admite-se que juiz autorize coligação
quando não sendo a forma de processo a mesma se trate de formas que
não sejam manifestamente incompatíveis e que haja interesse relevante
na apreciação conjunta das pretensões ou quando essa apreciação
conjunta seja imprescindível para a justa composição do litígio.
Autorizando o juiz a coligação deverá adaptar o processado à coligação
que tenha autorizado (37º/3 CPC) – manifestação de poder de gestão
processual (6º/1 CPC) e adequação formal (547º CPC)
2. Verificação de dados requisitos de competência
19
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

a. O tribunal tem de ser absolutamente competente para conhecer os


vários pedidos (37º/1/2ª parte CPC). Quando se fala nisto está-se a
pensar na competência internacional, em razão da matéria e em razão
da hierarquia
i. A preterição das regras de competência relativa (em razão do
território) não obstam à admissibilidade da coligação

3. Não rejeição da coligação


Nos termos do artigo 37º/4 CPC, pode o tribunal rejeitar a coligação com
fundamento na grave inconveniência da coligação para a instrução, discussão e
julgamento em conjunto dos processos cumulados.
Não se trata aqui de uma decisão discricionária do juiz no sentido dos artigos
152º/4 e 630º/4 CPC (em que não se admite recurso). O despacho do juiz, aqui, está
sujeito a este critério: da grave inconveniência. Portanto, dele caberá recurso quando,
apesar de não se verificar a dita inconveniência, o juiz recuse a coligação.
Pergunta-se em que momento cabe aferir da admissibilidade da coligação. Prof.
Freitas aponta como esse momento o despacho pré-saneador, para que no saneador a
decisão que juiz venha a tomar tenha por base já o pedido, ou relação jurídica em que
assenta esse pedido, que o processo vai ter por base. Isto porque se coligação for
inadmissível ao invés de absolver réus da instância o juiz convida autor a escolher qual
o pedido que se mantém, daí que se diga que é o pré-saneador para quando chegar ao
saneador já se sabe qual a relação jurídica que vai ter por base.
Prof Tavares Sousa: despacho pré-saneador é momento adequado. Todavia o juiz
pode ordenar a separação dos processos no despacho saneador ou em momento
ulterior. Em que casos? Casos em que tenha deixado de existir o requisito de
admissibilidade da coligação, ocorrência esta que deve conduzir a extinção da instância
limitada às partes a que respeita o pedido que está na origem do inconveniente grave.
A pronúncia tardia só não será possível se juiz já se tiver concretamente pronunciado
sobre essa matéria no despacho pré-saneador. Se já tiver feito isto não se pode
pronunciar mais tarde porque já se formou caso julgado formal sobre essa matéria
(que tem força apenas dentro daquele processo, nos termos do artigo 620º CPC).
Artigo 595º/3 CPC: quanto a questões concretamente apreciadas. É
sobre isso que se forma caso julgado.

Entendendo haver inconveniente grave segue-se regime do artigo 37º/4 CPC:


1. Tribunal deve notificar o autor para que indique, em certo prazo, o pedido ou
pedidos que continuarão a ser apreciados

20
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

a. Resulta do princípio do pedido, corolário do princípio do dispositivo,


que é ao autor que cabe impulsionar o processo, pelo que é autor que
impulsiona pronúncia do tribunal sobre dada questão

A. Feita a indicação pelo autor, tem lugar a absolvição da instância em relação aos
sujeitos passivos das relações materiais respeitantes aos pedidos preteridos
(artigo 38º/3, ex vi 37º/4 CPC)
a. Em caso de pluralidade de autores, a indicação deve ser feita por acordo
e por todos os autores (38º/2, ex vi 37º/4 CPC)
OU
B. Nada se indicando, são todos os réus absolvidos da instância (37º/4 CPC)

2. Propostas novas ações no prazo de 30 dais contados do trânsito em julgado do


despacho que ordena a separação, os efeitos civis da propositura da ação e da
citação do réu retrotraem-se à data em que factos se verificaram no processo
(37º/5 CPC)
a. Artigos 331º/1 CC, 564º CPC, 323º/1 e 805º/3 CC

COLIGAÇÃO IRREGULAR
Existe quando não se encontram verificados os pressupostos que autorizam a
consideração conjunta daqueles diferentes pedidos, relativos a diferentes relações
jurídicas materiais a não verificação dá lugar a surgimento de exceção dilatória: 577º/f
e 278º/e CPC.

Consequências:

• Em lugar de total absolvição da instância, o legislador procura que haja


apreciação de mérito pelo menos em relação a uma das ações (38º/1 CPC).
Portanto, o autor é chamado para no prazo fixado pelo juiz indicar qual ou
quais os pedidos que pretende apreciados no processo.
o Indicando o autor qual ou quais os pedidos que pretende considerados,
o réu é absolvido da instância relativamente aos demais pedidos (38º/3
CPC)
o Se autor não indicar nada, os réus são absolvidos da instância em
relação a todos os pedidos
• Em todo o caso, nos termos do artigo 279º/2 e 3 CPC, podem ser aproveitados
os efeitos civis da primitiva ação.

21
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

COLIGAÇÃO NECESSÁRIA
Em certos casos (de verificação muito rara), a coligação ao invés de ser voluntária
é necessária (lei impõe coligação).
Nestes casos devem ser consideradas em conjunto as várias relações jurídicas sob
pena de ilegitimidade, por preterição de pressuposto processual.

Exemplo: nos termos do regime jurídico do contrato de seguro, respondendo o


segurado perante vários lesados e ultrapassando o montante global das indemnizações
o valor do capital de seguro, nestes casos dispõe o artigo 142º/1 da lei dos contratos
de seguro que os créditos sejam proporcionalmente reduzidos até ao tal capital. Se é
necessário reduzir os montantes, a consequência é que para regularizar o montante
das indemnizações é preciso que estejam na instância todos os interessados/lesados
(quer do lado ativo quer passivo).
→ são varias relações jurídicas mas lei impõe que todos os lesados
estejam no processo
Se o segurador (142º/2 da lei) preterir, de boa fé (não sabia que havia mais
lesados), a coligação fica isentado de responder além do capital seguro em face de
outros lesado que não tenham intervindo no processo (142º/2 da lei).
Tratando-se de coligação necessária, o legislador esteve desatento porque se
aplicam formas de sanação previstas para litisconsórcio necessário: incidente de
intervenção principal provocada (316º/1 CPC). Ora, lendo o artigo, e comparando com
CPC anterior, só é possível abrir incidente para formar litisconsórcio e não coligação.
Portanto, lei quis excluir coligação da aplicação deste artigo, MAS esqueceu-se da
coligação necessária, por isso aplica-se. Beneficiando ainda do regime do artigo 261º
CPC: artigo que permite a renovação da instância caso a parte preterida seja chamada
ao processo no prazo de 30 dias subsequentes ao trânsito em julgado da decisão de
absolvição da instância.
É um regime muito próximo do litisconsórcio necessário.

1.4. REGIME DO ARTIGO 34º CPC – diz respeito às ações que têm de ser
propostas por ambos, ou contra ambos, os cônjuges
Por intermédio deste regime, traz-se para o processo valorações de direito
material, que têm a ver com o direito matrimonial e patrimonial – conjunto de
disposições que regem as posições patrimoniais daqueles que contraem matrimónio,
com efeitos reconhecidos na ordem jurídica (1577º CC).

22
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A propósito destas disposições de direito matrimonial-patrimonial, no que


concerne a sua finalidade, algumas delas, aquelas que relativas a ilegitimidades
conjugais, pretendem introduzir limites à liberdade de disposição dos bens integrantes
do património familiar (em sentido amplo, ou seja, tendo por base os bens integrantes
do património dos cônjuges).
As regras especiais introduzidas no CPC procuram introduzir processualmente
estas regras (impõe a presença de ambos – se não isto frustraria a finalidade da tutela
de direito substantivo)
Neste 1ª grupo de casos, em que a lei procura proteger o património familiar, são
casos em que se exige consentimento do outro cônjuge para que disposição de bens
seja válida (1687º CC). Em todo o caso, e uma vez que estas regras são colocadas ao
serviço da proteção do interesse da família, prevê-se a faculdade de obter o
suprimento judicial, através de um processo de jurisdição voluntária. Injusta recusa da
prestação (1684º/3 CC). Isto significa que, embora estejamos perante à partida de um
caso de litisconsórcio necessário por prescrição da lei, admite-se a possibilidade de um
dos cônjuges poder atuar individualmente, pedindo ao tribunal tal suprimento.
Justamente porque está em causa o interesse da família, nos casos em que haja injusta
causa de consentimento, pode ser obtido suprimento judicial deste – assim, um dos
cônjuges tem legitimidade para litigar sozinho.
2º grupo de regras especiais constantes do livro da família tem já por vista a
proteção daqueles que interagem com os cônjuges, determinando quem e quais as
massas de bens respondem pelas dívidas de cada um dos cônjuges (1690º e seguintes
CC). Vale em princípio pelas dívidas de um dos cônjuges – dívida própria – respondem
os seus bens próprios e subsidiariamente os bens comuns (1696º/1 CC). Claro que é
preciso olhar para regime de bens em causa para saber quais os próprios e comuns
(regime de comunhão de bens adquiridos – regime subsidiário dos bens).
Pelas dívidas de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal e na sua
falta ou insuficiente, solidariamente, os bens próprios de cada um (1695º/1 CC).
Desta feita, as regras processuais que procuram traduzir as disposições de direito
material têm em primeira linha proteger terceiros que interagem com família,
podendo responder por certa dívida mesmo que essa dívida tenha sido constituída
apenas por um dos cônjuges também os bens do outro, nos termos do regime
enunciado. Tem o credor interesse em chamar ambos os cônjuges à instância. Isto para
quê? Para que ele fique também vinculado pelo caso julgado material e para que a
cada um deles ou ambos possa demandar em eventual ação executiva que pretenda
vir a instaurar.

Regime do artigo 34º CPC:

• Nº1: refere-se ao lado ativo da instância


23
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

• Nº3: trata das hipóteses em que ações têm de ser intentadas contra ambos os
cônjuges
Uma dívida de um cônjuge, para que cônjuge não devedor pode vir a responder
por essa dívida, havendo necessidade de o juntar ao caso julgado.

Hipóteses em que se exige a presença de ambos os cônjuges na instância:


1. Casa de morada de família: ação deve ser proposta por ambos os cônjuges
(34º/1 CPC) ou contra ambos (34º/1, ex vi 34º/3 CPC)
a. Trata-se em parte da tradução processual da regra constante do artigo
1682º-A/2 CC, regra pela qual se exige o consentimento de ambos os
cônjuges para qualquer ato de disposição sobre a casa de morada de
família, independentemente do regime de bens em causa.
b. Os atos de disposição sobre casa de morada de família, mesmo que
cônjuges sejam casados com regime de separação de bens, carecem
sempre de consentimento do outro cônjuge.
c. A casa de morada de família é bem familiar (1682º/3/a CC) que goza de
mais forte proteção do Direito. Esta entende-se ser a habitação em que
a comunidade familiar tem a sua habitação permanente.
d. Importa sublinhar que proteção que CPC confere vai mais além que a
conferida pelo CC pelas mesmas razões que justificam regime material:
no CC prevê-se a necessidade de consentimento do outro cônjuge
quando um deles pretenda alienar, onerar, arrendar ou constituir
direitos pessoais de uso sobre a casa de morada de família. O CPC vai
mais longe na medida em que estende proteção quando cônjuges sejam
titulares passivos da relação jurídica: quando a eventual iniciativa que
pode levar à perda deste bem não é do outro cônjuge, mas de terceiro –
litisconsórcio necessário para que ambos os cônjuges possam participar
na defesa.

2. Bens cuja disposição exige o consentimento do outro cônjuge: devem ainda ser
por ambos (34º/1 CPC) ou contra ambos os cônjuges (34º/1 ex vi 34º/3 CPC) as
ações de que possa resultar a perda ou oneração de bens que só por ambos
possam ser alienados, ou a perda de direitos que por ambos possam ser
exercidos.
a. O CPC vai mais longe aqui porque impõe presença de ambos se
estiverem a agir do lado passivo da relação jurídica.
b. Para se apurar quem deve intervir na ação deve considerar-se, por um
lado, o objeto da ação e as consequências possíveis da ação. Pode ter
por efeito a ação a perda oneração dos bens, ou perda dos direitos que
só por ambos possam ser alienados, pode afetar a titularidade do
direito? Por outro lado, é necessário olhar ao regime de bens do
24
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

casamento para apurar se a disposição sobre o bem em causa era livre


ou se direito material lhe coloca alguma restrição.

3. Ações de responsabilização da massa de bens do outro cônjuge (lado passivo):


este grupo de casos de diferente fundamento respeita, nos termos do artigo
34º/3 CPC, às ações de responsabilização 1) emergente de facto praticado por
ambos os cônjuges; 2) emergentes de facto praticado por um dos cônjuges,
mas em que se pretende obter decisão suscetível de ser executada sobre bens
próprios do outro ao abrigo de regra do direito material que permita tal
responsabilização.
1) No 1º caso estamos perante ações em que facto constitutivo da
dívida, cujo cumprimento é exigido, no âmbito da respetiva ação, foi praticado
por ambos os cônjuges (artigo 1691º/1/a CC). O litisconsórcio necessário
resulta de imposição da lei.
2) No 2º caso, tem-se em presença as hipóteses em que, pela dívida,
muito embora contraída apenas por um dos cônjuges (dívida própria de um
deles, nos termos do direito material) respondem os bens de ambos (exemplo:
artigo 1691º/1/b CC, em que pela dívida contraída por um respondem ambos
caso essas dívidas sejam necessárias para acorrer aos encargos normais da vida
familiar). Nesta hipótese o regime é diferente: se se trata de facto praticado
por ambos, ambos figuram do lado passivo; AQUI, o autor pode propor a ação
apenas contra cônjuge que haja praticado o ato. Contudo, caso pretenda
responsabilizar o outro cônjuge, porque nos termos do direito material é uma
dívida resultante de facto praticado por apenas um, mas face ao qual
respondem os bens de ambos ou bens comuns, e só nesse caso, deve propor
ação contra ambos. Só há litisconsórcio necessário por força do pedido
formulado contra outro cônjuge, pelo que não sendo este feito pode agir
apenas contra o que constitui dívida – hipótese em que litisconsórcio
necessário resulta de opção do autor.
POV do Prof: isto é caso de litisconsórcio voluntário porque pode
intentar ação apenas contra um, mas se quiser abranger o outro por caso
julgado então aí tem de obter decisão contra os dois.
A posterior ação executiva que haja de ser proposta tem por fins e limites o título
executivo (artigo 10º/5 CPC). Sendo este uma sentença condenatória (703º/1/a CPC) a
hipótese de afetar os bens de um, ou de ambos, depende da opção que autor haja
feito na ação declarativa que decorreu anteriormente.

NOTA: para se intentar ação executiva é preciso ter título executivo. Se credor não
tem título executivo, extrajudicial, tem de intentar ação declarativa. Se esta proceder
ele terá título executivo.
25
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

NOTA SOBRE AÇÃO DE DESPEJO: quanto a esta é preciso articular CC, CPC, Novo
Regime do Arrendamento Urbano (lei 2/2006, de 27/02). Esta lei estabelece
procedimento especial de despejo. Artigo 1084º/1 CC prevê que resolução do contrato
de arrendamento por senhorio, quando se funde em causa prevista no artigo 1083º/2
CC, é decretada nos termos da lei do processo da ação de despejo. Nestes casos, a
ação deve ser proposta contra ambos os cônjuges (litisconsórcio necessário passivo).
Hoje em dia para se por fim ao contrato de arrendamento a lei prevê outros
mecanismos, mas nesses casos é preciso ainda recorrer a esta ação de despejo.

CONSENTIMENTO DO OUTRO CÔNJUGE


Nas hipóteses em que ambos devam estar em juízo admite-se que um dos
cônjuges, pese embora a sua falta de legitimidade, por princípio, para conduzir
autonomamente a ação o possa fazer caso haja obtido o consentimento do outro
cônjuge. Em alternativa pode pedir ao tribunal o suprimento do referido
consentimento. Por fim, pode tal apreciação ser feita no âmbito da própria ação que se
propõe.
Na 1ª hipótese, o cônjuge cujo consentimento seja necessário deve prestá-lo nos
termos do artigo 1684º CC. Nos termos desta disposição o consentimento conjugal
deve ser especial para cada um dos atos (deve especificar a ação que se aceita que seja
proposta – 1684º/1 CC). O consentimento deve observar a prova exigida para
procuração (1684º/2 CC), ou seja, a forma prevista para negócio que se pretenda
celebrar (262º/2 CC). Consentindo o cônjuge na propositura da ação do outro
pergunta-se perante que fenómeno jurídico estaremos. Segundo uma parte da
doutrina (Tavares de Sousa, Teixeira de Sousa) dizem que estamos perante
substituição processual voluntária; segundo outra parte da doutrina (Antunes Varela)
estamos perante caso de autorização, ou seja, de concessão de poderes a outrem para
que, em nome próprio, possa agir de forma também vinculante para terceiro.
Pode haver lugar ao suprimento judicial da recusa de consentimento (1684º/3 CC),
caso em que juiz apurando da conveniência do ato para a família eventualmente
autoriza que a ação seja conduzida apenas por um dos cônjuges. Trata-se de processo
de jurisdição voluntária, sujeita as respetivas regras (1000º CPC). Para aferir da
eventual recusa injustificada deve juiz servir-se dos princípios que valem em matéria
de jurisdição voluntária (não está sujeito a critérios de legalidade estrita, podendo
investigar livremente os factos, coligir a prova, ordenar os inquéritos e reconhecer as
informações convenientes – 996º/2 CPC). Se obtiver suprimento do consentimento
pode agir sozinho em juízo.
Por fim, pode dar-se o caso de a ação ter sido proposta sem que houvesse
consentimento do outro cônjuge e sem que tivesse sido obtido o suprimento desse
consentimento em processo de jurisdição voluntária. Em tal hipótese dispõe o artigo
26
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

34º/2 CPC que se aplica o disposto no artigo 29º/1 CPC, com as necessárias
adaptações, decidindo o tribunal do suprimento do consentimento. Nos termos desta
disposição deve ser fixado prazo para intervenção do outro cônjuge, suspendendo-se,
entretanto, os termos da causa (269º e seguintes CPC).
Tendo o autor alegado a recusa do outro cônjuge, segue-se a tramitação prevista
para suprimento do consentimento em caso de recusa (1000º CPC) – princípio da
adequação formal (587º CPC). Não o fazendo (não invocando recusa de consentimento
pelo outro), é fixado prazo para a apresentação desse consentimento, sob pena de
absolvição da instância. Sendo recusado há absolvição da instância; não sendo,
retomam-se termos da causa.
NOTA: deve poder o réu pedir a suspensão da instância antes da contestação. Isto
porque ele tem interesse legítimo em não apresentar a totalidade das suas armas que
poderiam servir de defesa na ação antes de se sentir seguro de que se trata de
instância regular, sobretudo porque nestas hipóteses não consegue ele próprio
suscitar a respetiva regularização.

SUPRIMENTO DA ILEGITIMIDADE
Consideramos em que termos e que ações devem ser propostas contra ambos ou
por ambos os cônjuges. Não verificação destas regras → exceção dilatória por
preterição de regras processuais (577º/e CPC). Não sendo a instância regularizada
pode ter por limite a absolvição do réu da instância (278º/1/d CPC). Num e noutro
caso estamos perante pressuposto processual sanável. Assim, nos termos do 6º/2 CPC,
o juiz deve convidar partes à regularização da instância.

Tratando em separado os casos de ilegitimidade ativa e passiva:


Ilegitimidade ativa
Tratando-se desta, são configuráveis as seguintes formas de sanação da
irregularidade da instância

• Ao nível substantivo pode o cônjuge obter o consentimento do outro (1684º CC


e 34º/1 CPC)
• No plano processual, pode o cônjuge cuja presença haja sido preterida, intervir
espontaneamente na ação, deduzindo um incidente de intervenção principal
espontânea (311º CPC)
• Pode, por fim, ser pedida a intervenção principal do outro cônjuge por
incidente de intervenção principal provocada (316º CPC)
NOTE-SE que em qualquer um dos dois últimos casos, uma vez que nestas
hipóteses de ilegitimidade ativa o que se pretende é que um dos cônjuges (o que não

27
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

moveu ação) possa manifestar o seu entendimento contra ação pelo outro, é
necessário ainda para a regularização da instância que o cônjuge entretanto chamado
manifeste o seu consentimento com a propositura daquela concreta ação e ratifique a
atividade processual desenvolvida pelo outro cônjuge.
Recusando o outro cônjuge intervir no processo ou ratificar o processado, resta ao
autor uma última possibilidade: a de obter o suprimento judicial do consentimento,
suspendendo-se a instância e aplicando-se o processo de jurisdição voluntária
constante do artigo 1000º CPC. Nos termos do artigo 34º/2 CPC será incidente que se
promoverá junto do tribunal que decide da causa principal.
Em caso de definitiva recusa aí sim há lugar à absolvição da instância (29º/1 CPC).

Ilegitimidade passiva
Havendo a ação de ser proposta contra ambos os cônjuges e só o sendo contra um
deve ser fixado prazo para intervenção do outro cônjuge no despacho pré-sanador
(577º/e, 278º/1/d CPC).
Não sendo regularizada a instância, ora por intervenção espontânea do cônjuge
preterido, ora pela não dedução do incidente de intervenção principal provocada,
aplica-se o regime comum da ilegitimidade passiva por preterição de litisconsórcio
necessário, ou seja, absolvição do réu da instância (278º/1/d e 576º/2 CPC) e,
consequentemente, não conhecimento do mérito da ação. Mesmo depois do trânsito
em julgado pode ser deduzido incidente de intervenção provocado nos termos do
271º/2 CPC.

1.5. PLURALIDADE SUBJETIVA SUBSIDIÁRIA


Artigo 39º CPC
Dentro das situações comuns de pluralidade subjetiva cabe mencionar esta
hipótese (introduzida em 1995, na grande reforma do CPC – DL 180/96, de 25/09).
Trata-se da hipótese em que estamos perante uma ação em que duas ou mais
partes demandam ou são demandadas em relação de subsidiariedade. Caso o 1º
pedido com as partes colocadas em 1ª linha não proceda o tribunal passa a conhecer
da relação jurídica das partes subsidiárias. Esta disposição permite dar forma
processual às hipóteses, desde logo, em que há dúvidas quanto ao verdadeiro titular
subjetivo da posição jurídica que se pretende exercer no processo (autor tem dúvidas
quando intenta ação sobre quem é titular subjetivo da posição jurídica que ele quer
exercer no processo). Com copresença de todos os potenciais interessados, o autor
garante a definitiva resolução da lide.
28
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Na medida em que a parte subsidiária pode ser realizada até ao termo da fase dos
articulados (artigos 216º/2 e 318º/1/b CPC), permite-se ainda com esta possibilidade
prolongar o efeito útil da primitiva ação. Em que hipótese? Alegando o réu na
contestação ser outro o titular passivo da relação material controvertida. Pode o autor
deduzir então, com base nas normas referidas, pedido subsidiário contra tal sujeito (e
chamá-lo à instância – pode recorrer a incidente de intervenção principal provocada).
Quanto ao 1º caso, o de resolução de dúvida quanto a quem é titular da relação
material controvertida, pense-se no seguinte: ação de responsabilidade civil movida
contra dois sujeitos (situação de pluralidade de sujeitos) por respetivo autor ignorar
quem praticou o facto lesivo; assim pode intentar ação contra dois sujeitos e pôr
pedido subsidiário contra um deles.
Quanto ao 2º caso (dúvidas surgidas no decurso da ação), pense-se na seguinte
hipótese: A propõe ação de condenação contra B, pedindo que o mesmo seja
condenado no pagamento de certos onerários. Alega o autor que prestou
determinados serviços e onerários são-lhes devidos. B alega que o serviço foi
encomendado por C e não por ele, réu. De acordo com regra geral da matéria da
legitimidade (singular), B é parte legítima da ação porque se parte da relação material
controvertida tal como configurada pelo autor na petição inicial. MAS não sendo
materialmente o B, réu primitivo, devedor (se se vier a confirmar que os serviços
foram encomendados por C) a consequência no âmbito desta ação é a ação dever
terminar com a absolvição de B do pedido (porque ele tem legitimidade porque para
efeitos do pressuposto da legitimidade parte-se da configuração que autor deu). Não
sendo B parte material, então o destino da ação seria a absolvição do pedido.
Mediante a possibilidade conferida pelo artigo 39º CPC pode o autor chamar à
instância C como parte subsidiária e assim consegue resolver definitivamente a
questão no âmbito daquela ação.
Consoante estejamos na presença uma ou várias relações jurídicas estaremos
perante situação de litisconsórcio ou coligação.

1.6. APENSAÇÃO DE AÇÕES


Nos casos em que estudámos até aqui vimos a pluralidade de partes numa
concreta ação decorrente do modo como autor na petição inicial configurou a relação
material controvertida. Admite-se, porém, na lei o seguinte: que ações que
regularmente foram propostas em separado venham a ser apensadas. Ora, são ações
diferentes, regularmente propostas em separado, apensadas PARA QUE sejam
tramitadas conjuntamente. Nestes casos há diferenças face a hipóteses de pluralidade
de partes que temos vindo a considerar porque nas hipóteses que vimos há uma
pluralidade de partes na ação ainda que elas, partes, litiguem sobre ou exerçam
direitos relativamente autónomos (artigo 35º CPC). Na apensação, pelo contrário, há
uma simples agregação externa, para atividade de forma conjunta de ações
29
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

autónomas (finalidade: garantia de julgados e economia processual, que se obtém


através da instrução, discussão e julgamento conjunto das diferentes causas).

Podemos distinguir dois grupos de causas de apensação de ações:


1. Resultar de uma prescrição normativa expressa
a. Exemplo: artigo 60º/2 Código das Sociedades Comerciais – havendo
várias ações de anulação de uma mesma deliberação social, mesmo que
com diferente fundamento, todas devem ser apensadas
2. Resultar dos critérios gerais previstos no CPC
a. A apensação é ainda admissível quando se verifiquem os pressupostos
do litisconsórcio (artigo 32º CPC), de coligação (artigos 36º e 37º CPC),
de oposição (artigos 333º e seguintes CPC) ou da reconvenção (artigo
266º CPC) – isto nos termos o artigo 267º/1 CPC
A apensação pode ser requerida por qualquer parte com interesse (267º/3 CPC).
As partes deverão ser notificadas do requerimento de apensação (3º/3 CPC) para se
assim o pretenderem exercer oposição ao requerimento. Não se encontra fixado
momento em que deve ser requerida a apensação, mas à partida as razões de
conveniência que dominam este regime sugerem que haverá de ser requerida a
apensação antes da instrução e discussão da causa. Não obstante se mesmo nesta fase
a apensação se revelar conveniente nada obsta à respetiva ordenação.
A apensação há de ser rejeitada quando, nos termos do artigo 267º CPC, o estado
do processo ou outra razão especial torne inconveniente a apensação.

DÚVIDA: ordenada a apensação de vários processos pode ser ordenada em


momento posterior a respetiva separação?
Há aqui que distinguir porque são várias as causas que podem justificar a
apensação do processo.

• Caso de coligação: a relação e processos enlaça e por isso por razões de


conveniência o tribunal pode não autorizar tramitação conjunta da causa,
muito embora verificados os requisitos da coligação (37º/4 CPC)
• Litisconsórcio: o facto de se tratar de uma única relação com pluralidade de
partes leva a qualquer uma das partes possa forçar a consideração conjunta da
ação e juiz não se pode opor
Prof diz que alcance da pergunta se restringe: nos casos em que lei não repugna
separação do processo pode o juiz ordenar a desapensação depois de ações terem sido
apensadas? Principal obstáculo que se coloca é a produção do efeito de caso julgado
formal do despacho que ordena a apensação. Com despacho forma-se caso julgado

30
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

formal respetivo, e em princípio com caso julgado juiz não pode alterar decisão. Mas
podem formar-se dois contra-argumentos:
1. A sentença despacho constitui caso julgado nos precisos termos e limites em
que se julga (621º CPC). Se, porém, novas circunstâncias recomendam uma
nova solução já estamos fora do domínio de caso julgado
a. Relação de Évora de 18/04/2002
2. Distinção entre decisões de estrita legalidade ou decisões de mérito: neste
último caso é evidente a maior abertura à reconsideração de decisões
avançadas por novas circunstâncias (998º CPC). Portanto, face às novas
circunstâncias o juiz poderá, nos casos apontados, ordenar a desapensação das
ações apensadas.

Artigo 267º/2 e 4 CPC


Artigo 267º/5 CPC: penhora
Artigo 268º CPC: apensação de processos em fase de recurso

31
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

2. INCIDENTES DE INTERVENÇÃO DE TERCEIROS


O meio processual adequado para promover o ingresso de novas partes no
processo é o recuso aos incidentes de intervenção de terceiros.
Estes incidentes pretendem regularizar instância nos casos de litisconsórcio
necessário ou coligação necessária, ou quando se quer aumentar subjetivamente as
partes na instância (litisconsórcio voluntário).
MAIS: é a propósito destes incidentes que o CPC trata outras figuras – opoente e
parte acessória.

NOTA: estes incidentes são uma categoria de género mais amplo, que é a
categoria de incidente. Por incidente entende-se tramitação processual meramente
eventual, que não é específica da tramitação comum de uma certa ação, mas que
naquela concreta ação carece de ser introduzida para a consideração da questão
principal. Do POV etimológico incidente designa aquilo que incide sobre alguma coisa,
aquilo que tem caráter acessório ou secundário. Os incidentes não fazem parte da
tramitação comum da ação, sendo meramente eventuais.

Artigos 292º e seguintes CPC: dedicado a esta categoria de incidentes


Artigos 292º a 295º CPC: parte geral que se aplica a todos os incidentes
Temos os incidentes de intervenção de terceiros: trata-se de tramitações
processuais específicas destinadas a apurar se uma certa pessoa, estranha a certa ação
pendente, pode ser admitida a litigar nela tornando-se parte. Note-se que a instância
está proposta quando PI dá entrada na secretaria e perante o réu a ação considera-se
proposta a partir do momento em que ele é citado – estabiliza-se instância (fixação
dos elementos subjetivos e objetivos).
Os incidentes de intervenção de terceiro destinam-se a propiciar entrada de
terceiros depois de ação se ter tornado estável (262º/b CPC).
O respetivo regime regula não apenas o modo de entrada dos terceiros, mas
também a posição que vão ocupar.

NOTA: os incidentes de intervenção de terceiros distinguem-se da sucessão de


parte. Na intervenção de terceiros está em causa o ingresso de novas partes na ação
que acrescem às partes primitivas. Na sucessão de parte está em causa a entrada de
novas partes na instância, mas em sucessão e, portanto, em substituição das partes
anteriores, o que configura um outro caso de modificação subjetiva da instância

32
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

(262º/a CPC). O meio próprio para ingresso na instância não é incidente de


intervenção de terceiro, mas sim de HABILITAÇÃO (artigos 351º e seguintes CPC).
Os diferentes casos de intervenção podem agrupar-se segundo DOIS CRITÉRIOS:
1. Critério da iniciativa para ingresso da instância: a intervenção pode ser…
a. Provocada: iniciativa do chamamento é das partes da instância, pelo
que 3º vai intervir em consequência de um chamamento que lhe é
dirigido
i. Pode ser chamado a intervir como parte principal (316º e
seguintes CPC) ou acessória (321º e seguintes, 325º CPC)
b. Espontânea: quando é do terceiro, em face de ação pendente, a
iniciativa de intervir no processo
i. Intervir como parte principal de posição igual ao réu ou autor
(311º e seguintes), ou como opoente (posição conflituante com
ambas as partes → opoente também é parte principal, não
estando é ao lado de nenhuma das partes), ou parte acessória
(326º e seguintes CPC)
2. Critério da posição que sujeito vai ocupar nessa instância: é esta a classificação
que vamos seguir

Parte Principal/Intervenção principal


➔ Espontânea (311º e seguintes CPC)
➔ Provocada (316º e seguintes CPC)
Opoente/Oposição
➔ Espontânea (333º CPC)
➔ Provocada (338º CPC)
Parte acessória
➔ Intervenção acessória provocada (321º e seguintes CPC)
➔ Assistência (326º e seguintes CPC)
➔ Caso específico da intervenção acessória do MP (artigo 325º CPC)

2.1. INCIDENTE DE INTERVENÇÃO PRINCIPAL


Este incidente tem por finalidade permitir o ingresso na instância de uma parte
principal. Tem legitimidade para ser chamado como parte principal aquele que, nos
termos das alegações das partes, seja titular ativo ou passivo da relação material
controvertida alegada.
Distingue-se a intervenção principal espontânea e provocada, consoante a
iniciativa da mesma seja do terceiro interveniente ou das partes.
33
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Nos nossos tribunais tem-se discutido uma questão interessante que é a de saber
se requerida a intervenção principal de certo sujeito (espontânea ou provocada), mas
estando apenas verificados os pressupostos para ser parte acessória, tal pessoa pode
ser admitida na instância. Como parte principal não pode ser admitida porque falta os
respetivos pressupostos. A questão é saber se tribunal pode admitir o seu ingresso
como parte acessória.
Ora, o requerimento dirigido ao tribunal é um ato declarativo que, portanto, nos
termos gerais carece de ser interpretado (236º CC). Resultando dos termos desse
requerimento, mediante interpretação do mesmo, que o terceiro pretende intervir na
instância, mas em termos tais que não se reconduzem à posição de parte principal,
como erroneamente se qualificou, deve tribunal aceitar a respetiva intervenção. Ou
seja, se se interpretar que pediu intervenção como parte principal, mas erradamente,
consegue o tribunal concluir pela interpretação do seu requerimento que ele se
exprimiu mal então o tribunal deve admitir a sua intervenção (19/01/2012, acórdão da
relação de Lisboa, relator Pedro Martins).
Se, pelo contrário, resultar que requerente, embora não verificados os
pressupostos da intervenção principal pretende assumir essa posição (não pretende
intervir como parte acessória), o requerimento deve ser indeferido. Se o terceiro só
manifestou interesse em intervir como parte principal seria violência força-lo a ter de
suportar efeitos do caso julgado.

2.1.1. INTERVENÇÃO PRINCIPAL ESPONTÂNEA


Destina-se a facultar o ingresso no processo de terceiro como parte principal por
sua própria iniciativa (ex sponte sua). Nos termos do artigo 311º CPC esta possibilidade
é admitida quando o terceiro interveniente tenha um interesse igual ao do autor ou do
réu (nos termos dos artigos 32º a 34º CPC – regem matéria do litisconsórcio),
associando-se ao autor ou ao réu. De todo o modo, e em virtude desta remissão, será
ainda de admitir a entrada de um qualquer outro sujeito que não tendo interesse
rigorosamente igual a uma das partes primitivas pudesse ser litisconsorte (problema
das relações de dependência jurídica, como fiança; fiador se for demandado pode
chamar devedor principal). A tais casos devem acrescentar-se os casos de coligação
necessária. Seguro que não se admite esta nos casos de coligação voluntária (CPC de
2013 afastou esta possibilidade).
Em todo o caso, não fica inteiramente vedada a possibilidade, embora
amplamente dificultada, de se conseguir na coligação voluntária através da tramitação
conjunta das ações: deve ser proposta ação autónoma, requerendo-se depois a
apensação dos processos.

34
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Nalguns casos, o regime de direito material de dadas figuras prevê o dever de uma
das partes alertar outra para o facto de ter sido proposta uma determinada ação: litis
denuntiatio (denúncia de lide). Quer dizer o ato pelo qual certo sujeito dá
conhecimento a outro de que dada ação foi intentada.
Exemplos: em matéria de locação o locatário tem o dever de avisar locador para
circunstância de terceiro se arrogar de direito sobre bem alocado (1038º/h CC).
Regime vale também para comodato (1135º/g CC), para depósito (1137º/b), usufruto
(1475º CC), subsidiariamente para uso e habitação (1490º CC).
Note-se que nestes casos não está em causa o dever de o réu chamar à instância
este terceiro embora esta possa ser uma das formas de dar a conhecer ao 3º que ação
foi intentada. Trata-se de uma simples comunicação para que parte tome as ações de
defesa do seu direito (entre elas a possibilidade de terceiro intervir espontaneamente).
Requerida a intervenção o requerimento é apresentado em despacho liminar: ora
se recusa liminarmente o pedido por falta manifesta dos pressupostos de intervenção
(3º invoca relação jurídica autónoma da que está em litígio), ora se não houver causa
para indeferimento são notificadas partes primitivas para responder ao requerimento
do terceiro (315º/1 CPC). Depois disto, o juiz decide sobre possibilidade de
intervenção, terminando aqui o incidente, ora não admitindo ingresso do terceiro ora
admitindo (caso em que se modifica subjetivamente a instância).

A intervenção principal espontânea pode revestir duas modalidades (consoante


modo de intervenção do terceiro):

• Intervenção por apresentação de articulado próprio


• Intervenção por adesão aos articulados da parte a que se associa

Ora, a intervenção por adesão é realizada por simples requerimento em que


interveniente faz seus os articulados do réu ou autor (313º/2 CPC). Nesta hipótese o 3º
limita-se a aderir aos articulados da parte a quem se associa. Trata-se de uma
modalidade de intervenção admissível a todo o tempo, enquanto não estiver
definitivamente julgada a causa (313º/1 CPC), mesmo durante o recurso.
Ela só não é admissível (313º/4 CPC) quando a parte contrária alegar
fundadamente que o estado do processo já não lhe permite fazer valer defesa pessoal
que tenha contra interveniente.
Exemplo: declaração de compensação de crédito. A compensação é uma causa de
extinção das obrigações (a causa normal de extinção é o cumprimento). Se os sujeitos
são simultaneamente credores e devedores uns dos outros, mediante cumprimento
dos requisitos, podem operar compensação. Operada compensação, até limite do
crédito, mesmo que seja por excedente. Se contraparte vem alegar existência de
35
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

contra crédito, mas que já não pode alegar no processo em causa, porque devia ter
feito em reconvenção, isto pode ser causa para não admitir terceiro.
Aderente sujeita-se a aceitar a causa no estado em que ela se encontrar, sendo
considerado revele quanto aos atos e termos anteriores, gozando, porém, de estatuto
de parte principal a partir do momento em que intervém (313º/3 CPC).

A intervenção espontânea pode ser realizada por apresentação de articulado


próprio. Na medida em que é nova peça processual em que potencialmente se dá
conta de factos novos e de certa fundamentação própria, esta intervenção é admitida
apenas até ao termo da fase dos articulados, que é a fase do processo justamente
destinada à composição do objeto da lide, à conformação do objeto do processo
(artigo 314º CPC).
Deverá entender-se que a fase dos articulados termina com o 1º ato da fase
seguinte (despacho pré-saneador). Se 3º quer assumir posição própria deve introduzi-
la no processo na fase destinada a tal.
Sendo admitida seguem-se os demais articulados contando-se prazo para a sua
apresentação da notificação do despacho que a tenha aceite (315º/2 CPC).
A legitimidade para intervir como interveniente espontâneo afere-se pela alegada
titularidade pelo interveniente da posição jurídica alegada nos articulados do autor
e/ou do réu que permitiria o litisconsórcio ou coligação necessária.

Se as partes na ação, nos seus articulados, alegam que a relação jurídica que os
enlaça respeita também a 3º têm estes também legitimidade para intervir.

2.1.2. INTERVENÇÃO PRINCIPAL PROVOCADA


Artigos 316º e seguintes CPC
O ingresso do 3º na instância pode ser resultado de uma interpelação específica
que a esse 3º é dirigida pelo autor ou pelo réu.
Seguindo a estrutura do artigo 316º CPC, cabe considerar três casos para os quais
o atual regime resultante do código de 2013 prevê possibilidade desta intervenção:
1. Casos de litisconsórcio necessário: admite-se esta intervenção em 1º lugar
para corrigir a preterição do litisconsórcio necessário (seja ele ativo ou passivo).
O incidente pode ser deduzido quer pelo autor quer pelo réu – há de ser
chamado aquele cuja presença foi preterida. Este incidente é meio próprio para
sanação da ilegitimidade processual decorrente da preterição das regras da
legitimidade plural (577º/e e 278º/d CPC). Nos termos do artigo 318º/1/a CPC
36
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

o incidente deverá ser deduzido até ao termo da fase dos articulados, mas
ressalva-se disposto no artigo 261ºCPC (dedução do incidente já depois de
proferida decisão de absolvição do réu da instância por ilegitimidade). Por força
desta ressalva do artigo 261º CPC parece ser de admitir, afinal, a possibilidade
de deduzir incidente mesmo depois de terminada a fase dos articulados. Ora,
mal se compreenderia que as partes tivessem que aguardar a decisão de
absolvição de instância para terem de deduzir incidente de regularização da
instância, ao arrepio do princípio geral de sanação da irregularidade da
instância (artigos 6º/2 e 590º/2/a CPC). Por isso, entende-se que incidente é
deduzível a todo o tempo, quer depois da fase dos articulados, mas antes de
despacho saneador (acórdão da Relação Guimarães de 15/12/2016, relator
Helena Mel) quer mesmo em momento posterior a despacho saneador se só aí
se deteta falta de legitimidade (acórdão da Relação Guimarães de 5/4/2011).
Depois do despacho saneador, se tribunal não se tiver pronunciado
concretamente sobre essa matéria no saneador, porque se já o tiver feito já há
caso julgado material sobre essa matéria. Mas muitas vezes o que acontece é
que tribunal no despacho saneador profere ‘despacho tabelar’, não estando a
conhecer concretamente das matérias (isto não forma caso julgado material).

2. Casos de litisconsórcio voluntário (passivo) por iniciativa do autor: a


intervenção principal pode ser desencadeada por autor para chamar novos
réus à instância em litisconsórcio ou primitivos réus, ou para dirigir pedido
subsidiário (316º/2 CPC). Portanto, para além da hipótese antes considerada,
são duas as causas que facultam chamamento de novos réus pelo autor: 1)
verificação dos pressupostos do litisconsórcio voluntário passivo; 2) verificação
dos pressupostos da pluralidade subjetiva subsidiária (39º CPC). Em qualquer
um destes casos, o pedido de intervenção pode servir para adaptar a instância
às alegações do réu na contestação (perante alegação do réu na contestação
de que há outros titulares na relação jurídica controvertida ou que é outro o
titular, o autor solicita o seu ingresso na instância).
a. Exemplo do 1º caso: na contestação o réu alega que certo facto danoso
foi também praticado por 3º (490º CC)
b. Exemplo do 2º caso: na contestação réu diz que contrato não foi
celebrado consigo (vem dizer que não é ele sujeito da relação
controvertida; não vem dizer que há mais terceiros).
i. Admite a lei que autor deduza pedido subsidiário contra este
terceiro (réu não é materialmente devedor, mas sim terceiro
que, entretanto, ingressou na instância e contra qual foi
deduzido pedido subsidiário, condena tribunal este 3º)
c. Nestes casos, o articulado do réu modela pressuposto da legitimidade.
Se réu na contestação alega que há outros sujeitos passivos da relação
material eles terão legitimidade para intervir na ação e serem chamados
à instância.

37
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

d. Aquilo que autor não pode fazer é chamar à instância outros autores a
título de litisconsórcio voluntário. Se é litisconsórcio necessário ativo, aí
pode chamar demais autores para sanar ilegitimidade. MAS lei não
prevê esta possibilidade para chamar autores a título de litisconsórcio
necessário ativo. Tratando-se de posições jurídicas relativamente
autonomizáveis, deixa-se aos respetivos titulares (relação jurídica
material com pluralidade de sujeitos do lado ativo, mas litisconsórcio é
voluntário) a liberdade de escolha sobre se exerce ou não o seu direito,
estando aqui em causa o princípio da autonomia individual (reconhece-
se domínio dos titulares sobre essas mesmas relações).
e. NOTA: dispõe o artigo 318º/1/b CPC que a intervenção principal
provocada pode nestes casos ser requerida até ao fim da fase dos
articulados. Importa determinar se esta fase termina com último ato a
que haja lugar ou 1º ato da fase processual seguinte, que é o despacho
pré-saneador (prof adota 2ª perspetiva porque o interesse desta
intervenção é adaptar a instância e partes subjetivas aos elementos que
réu trouxe na contestação. Portanto, como via de regra na estrutura do
CPC não há nenhum articulado que se siga à contestação, tal
possibilidade de adaptar elementos subjetivos aos elementos que réu
trouxe ficaria falha de qualquer efeito útil se entendesse que
possibilidade de deduzir incidente terminava com último articulado
porque já não haveria mais nenhum articulado. A seguir à contestação
há a réplica, mas nem sempre. Se terminasse hipótese de autor deduzir
incidente com contestação ele já não a poderia modelar tendo em
conta o que réu diz na contestação).
3. Casos de litisconsórcio voluntário por iniciativa do réu: réu tem interesse
prevalecente de resolver naquela instância o problema de fundo face a todos
os titulares daquela relação jurídica. Aqui resulta da vontade das partes a
formulação do litisconsórcio.
a. Se é por iniciativa do réu são duas hipóteses: chamamento de outros
litisconsortes voluntários passivos OU chamamento de outros
contitulares do direito invocado por autor (para formar litisconsórcio
voluntário ativo) OU AINDA (sendo este um caso especial) por iniciativa
do réu este chamar à instância condevedores no caso de obrigação
solidária para exercer sobre eles o seu direito de regresso
OU SEJA: o chamamento pode também ser por iniciativa do réu, uma
vez verificados os pressupostos do artigo 316º/3 CPC, sendo duas as causas
que justificam esta abertura: entrada na ação de outros litisconsortes passivos
E ingresso na instância de demais contitulares do autor. E depois há caso
especial.
1ª hipótese que justifica litisconsórcio voluntário por iniciativa do réu:
verificação dos pressupostos do litisconsórcio voluntário passivo (316º/3/a
38
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

CPC). O propósito dessa intervenção de iniciativa do réu é fazer com que 3os
sejam abrangidos por caso julgado (material) que se venha a formar na ação.
Portanto, aqui, por iniciativa do réu alargam-se o âmbito subjetivo dos efeitos
da procedência do pedido.
Exemplo: fiador pode pedir intervenção na instância do devedor (641º/1
CC).
Talvez deva, porém, fazer-se uma interpretação restritiva da referida
regra. A regra é do artigo 316º/3/a CPC. É que é princípio do CPC que só deve
ser admitido a litigar aquele que tenha alguma coisa a ganhar ou a perder com
certo pedido. Desta forma, parece ser de excluir a possibilidade de chamar
outro sujeito à instância quando a procedência do pedido em nada afete a
relação entre o réu e o chamado por falta de interesse em agir, mais
concretamente, por desnecessidade de tutela jurídica (referência ao interesse
no artigo 316º/3/a CPC e em geral a referência a interesse em agir no artigo
30º/2 CPC, mas este último artigo ao referir-se ao interesse não está a falar a
legitimidade, mas sim interesse em agir).
Exemplos: se é razoável que fiador chame à instância devedor principal,
já não é razoável por falta de interesse em agir que o devedor principal chame
à instância o fiador. Ora, o que acontece na fiança é termos garantia pessoal
das obrigações, pelo que se fiador cumprir fica sub-rogado na posição jurídica
do credor. O fiador cumprindo a obrigação fica sub-rogado (de fonte legal). O
crédito não se extingue: A é credor de B, e C é fiador de B, pelo que crédito que
A tem está garantido também por C. Se C cumprir, o crédito não se extingue.
Há sub-rogação e crédito mantém-se: há direito de regresso (C paga e depois
tem direito de regresso sobre B). ENTÃO, se fiador for demandado sozinho tem
interesse em chamar devedor principal para o vincular ao caso julgado porque
ele fica sub-rogado à posição do credor. Se é devedor a ser demandado, e não
fiador, pode o devedor chamar o fiador em litisconsórcio voluntário passivo?
Pelas regras da legitimidade nada o impede. Parece é que há falta de interesse
em agir: se fiador pagar passa ele a ser devedor do credor, mas se devedor
pagar não tem nenhum direito contra fiador.
Outro possível exemplo: caso do devedor conjunto que foi isoladamente
demandado chamar os restantes condevedores à instância. No regime da
solidariedade cada condevedor pode ser chamado a responder por inteiro, mas
no regime da conjunção cada condevedor responde apenas por uma fatia da
dívida (e é esta a regra no Direito Civil). Quando é demandado sozinho o
condevedor pode ter direito de regresso sobre os demais, mas se é obrigação
conjunta não há direito de regresso porque cada um só responde por uma
parte. Note-se que se autor demandar só um e exige tudo o objeto do processo
reduz-se: juiz só conhece da quota-parte do interesse daquele condevedor. Há
aqui interesse em chamar demais condevedores? Não.
39
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Outro exemplo: o comissário chamar o comitente para responder o


comitente. A responsabilidade do comitente é um tipo de responsabilidade
pelo risco (objetiva, sem culpa). Pressupostos desta responsabilidade do
comitente: relação de comissão, responsabilidade subjetiva do comissário e ato
praticado no exercício das funções. Há responsabilidade solidária. Mas e se
comissário for chamado sozinho, que responde com culpa? Terá interesse em
chamar o outro? Isto é caso de solidariedade imperfeita porque face a lesado
respondem dois, mas na relação interna só responde comissário que agiu com
culpa. Se comitente responder sozinho a indemnização tem direito de regresso
por inteiro do comissário. Logo, se foi demando o comissário, como nas
relações internas ele não pode responsabilizar o comitente, ele não terá
interesse em chamá-lo. SALVO quando entenda comissário que há culpa nas
ordens ou instruções que recebeu (culpa do comitente porque aí terá direito de
regresso contra comitente – artigo 500º/3 a contrário CC). Mas se não houver
culpa nas ordens ou instruções do comitente (quem teve culpa foi comissário)
aí nas relações internas só responde o comissário.

2ª hipótese: réu chama possíveis contitulares do direito ou posição


jurídica que autor exerce (316º/3/b CPC)
Exemplo: na ação de reivindicação (legitimidade extraordinária) pode
cada consorte reivindicar sozinho a coisa comum. Réu pode chamar os
restantes.
Ao chamar todos os contitulares o caso julgado produz-se por referência
a todos (619º e 581º CPC) obstando à repetição da lide (a que os outros
intentem nova ação contra ele).

3ª hipótese (regime especial previsto para obrigações solidárias – artigo


317º CPC): de acordo com os termos do direito material (512º/1 CC) há duas
características das obrigações solidárias que são o dever de prestação integral e
efeito extintivo recíproco. Isto quer dizer que cada um dos condevedores
responde pela totalidade da prestação em dívida e isso tem efeito extintivo
recíproco (paga um e ficam todos liberados). Nas relações internas, entre
condevedores, é preciso ver quotas-internas (se nada se disser, são iguais). Se
condevedor satisfizer para além da sua quota interna ele depois tem direito
sobre os demais (524º CC).
Exemplo: dívida de 60, cada um dos três deve 20, um é demandado,
paga tudo, tem direito de regresso face aos restantes 40.
Meio processual é intervenção principal provocada dos demais condevedores.
MAS nos termos do 317º/1 CPC pode o chamamento ter por fim o reconhecimento e
40
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

condenação na satisfação do direito de regresso que possa vir assistir se tiver de


realizar prestação. Particularidade é esta: verdadeiramente, à luz deste regime, há um
pedido que é formulado pelo réu contra litisconsortes para a eventualidade de vir a ser
condenado, de tal forma que em rigor temos dois pedidos nesta ação (pedido do autor
contra réu e do réu contra os outros réus, pelo que os condevedores que vão ser
chamados são réus face ao autor e face ao réu). Dois pedidos com partes diferentes na
mesma ação.
Se condevedores impugnarem solidariedade da dívida (e não a existência do
crédito), aí prevê a lei o seguinte: o primitivo réu pode ser despachado logo no
despacho saneador (317º/2 CPC), prosseguindo a ação na parte relativa ao direito do
regresso e os chamados. Não se discute existência de credito, réu primitivo é
condenado no saneador, condenado a satisfazer e depois prossegue ação entre réu e
chamados.

Uma dúvida que se coloca: este regime aplica-se apenas quando é demandado um
só dos condevedores ou pode ser aplicado quando são demandados dois ou três?
Lebre Freitas diz que não – a extensão não será de admitir dado que sendo vários os
demandados (ainda que não todos) é menor o risco de depois em sede executiva vir a
responder só um. Outra hipótese: sendo propósito da norma aproveitar efeitos da
concreta ação para dirimir problema adicional (direito do regresso) com economia de
meios, será de admitir mesmo sendo vários os demandados que possam chamar os
demais condevedores à instância.
Em qualquer um destes últimos casos (316º/3 e 317º CPC) deve pedido ser
deduzido na contestação ou não pretendendo contestar em requerimento que dispõe
para efeito (318º/1/c CPC).

Incidente de intervenção principal provocada (ESQUEMA DO ACIMA)


➔ Litisconsórcio necessário (ou coligação necessária, embora lei não o diga)
o Incidente pode ser aberto por autor ou réu
➔ Litisconsórcio voluntário passivo por iniciativa do autor
o Porque se for ativo autor não tem essa possibilidade
o Quando estejam verificados os pressupostos do litisconsórcio voluntário
quanto ao lado passivo e nos casos em que estão verificados
pressupostos da pluralidade subjetiva subsidiária
➔ Litisconsórcio voluntário por iniciativa do réu
o Quando chamamento de outros litisconsortes voluntários passivos OU
chamamento de outros contitulares do direito invocado por autor (para
formar litisconsórcio voluntário ativo) OU AINDA (sendo este um caso
especial) por iniciativa do réu este chamar à instância condevedores no

41
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

caso de obrigação solidária para exercer sobre eles o seu direito de


regresso

TRAMITAÇÃO E EFEITOS DO INCIDENTE


Requerida a intervenção, deve o juiz ouvir a parte contrária só decidindo em
seguida da admissibilidade do chamamento (318º/2 CPC). Admitindo o chamamento, o
interessado é chamado mediante citação para a ação (319º/1 CPC).
A lei prevê despacho liminar para este chamamento (226º/4/d CPC).
A intervenção principal provocada, tal como a espontânea, pode ocorrer de duas
formas diferentes: apresentação de articulado próprio OU adesão a articulado de
outra parte da instância. Admitida a intervenção, é dada ao interveniente a
possibilidade de apresentar um articulado no prazo fixado para contestação (318º/1/c
CPC), prazo esse de 30 dias (569º/1 CPC). Seguem-se os demais articulados.
O efeito específico da intervenção provocada é modificar subjetivamente a
instância de modo a que a decisão de mérito que venha a ser produzida constitua caso
julgado para o chamado. Uma vez constituído como parte ele arca com os efeitos da
ação (320º CPC). Mesmo que não intervenha efetivamente na ação o chamado está
sujeito aos efeitos da ação (vai ser abrangido pelo caso julgado material).

2.2. OPOENTE
Em lugar de haver dois polos processuais (AUTOR e RÉU) pode acontecer que
exista no processo uma verdadeira triangularidade processual.
Em que caso é que se isso pode acontecer?
Esta triangularidade pode existir quando contra o autor e contra o réu venha a ser
constituído um opoente. Trata-se de uma verdadeira parte principal (mas incidente
não é de intervenção principal) que é considerada no CPC no incidente de oposição
(artigo 333º/1 CPC), que faz valer no confronto com ambas as partes um direito
próprio.
O opoente é aquele que no confronto com a posição do autor OU do reconvinte
(réu que age ao ataque) é admitido a litigar em defesa de uma posição jurídica própria.
A oposição distingue-se da intervenção principal, embora o opoente também seja
parte principal, em respeito ao modo como a posição do interveniente se articula com
a da parte da instância. Isto porque na intervenção principal o interveniente ocupa
posição paralela, e nessa medida não conflituante, com a do autor. Pelo contrário, na
42
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

oposição ocupa posição conflituante com a do autor primitivo ou réu reconvinte (réu
que age como autor).
O direito do opoente pode ser total ou parcialmente incompatível com o do autor
(artigo 333º/1 CPC).
Um caso já discutido na jurisprudência, e que gerou controvérsia, é o direito de
arrendamento: temos direito incompatível com o do autor, legitimando oposição?
Tudo depende do modo como autor formula ação: se autor pretende reivindicar o seu
bem, deve considerar-se incompatível porque o autor quer que a coisa lhe seja
entregue e se tenho direito de arrendamento não quero ser desapossado do bem
(processo 9831/2005, relação de Lisboa).
Ora, direito incompatível não quer dizer que seja o mesmo direito (olhar exemplo
acima): deve aqui ler-se posição jurídica incompatível.

Admitido o incidente isso trará consequências na conformação da instância:


→ A pretensão do opoente pode ser reconhecida por uma das partes primitivas:
ação prossegue entre outra parte e opoente (337º/1 CPC). Caso não haja o tal
reconhecimento, aí correm duas ações conexas: entre partes primitivas e entre estas e
opoente (337º/2 CPC). Assim, este incidente pode dar azo ao surgimento de uma nova
ação.
Tratando-se de ingresso na ação de nova parte principal coloca-se problema
específico de legitimidade: quem tem legitimidade para intervir como opoente?
Aquele que nos termos dos articulados alega ter um direito total ou parcialmente
incompatível com a pretensão deduzida pelo autor ou reconvinte OU aquele que é
chamado para deduzir posição própria conflituante com a do autor ou reconvinte
(porque intervenção pode ser espontânea ou provocada).

MODALIDADES

• Espontânea: opoente toma iniciativa de requerer intervenção (333º/1 CPC)


• Provocada: quando 3º é chamado à ação para fazer valer a sua posição (338º
CPC).

2.2.1. OPOSIÇÃO ESPONTÂNEA


Artigos 333º a 337º CPC
Neste caso, o opoente tem legitimidade para ação na medida em que no seu
próprio articulado ao qual se aplicam as regras vigentes para a petição inicial (artigos

43
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

334º, 552º CPC) afirme posição incompatível com a do autor ou reconvinte (333º/1
CPC).
Exemplo típico: terceiro vem alegar que é dele direito alegado pelas partes.
A oposição é deduzida por via de petição (334º CPC), aplicando-se as regras do
552º CPC com as necessárias adaptações (isto porque opoente não tem que avançar os
elementos que já tenham sido apresentados pelas partes primitivas nos seus
articulados). Os elementos que já resultem do articulado primitivo ele não tem de os
apresentar.
Quanto ao tempo (artigo 333º/2 CPC): intervenção só é admitida enquanto ainda
não tiver sido designado dia para a audiência final em 1ª instância OU enquanto não
tiver sido proferido sentença (casos em que não vai haver audiência final)*.
*Caso de revelia operante (567 CPC), conhecimento do pedido no despacho
saneador (595º/1/b CPC), processos especiais sem audiência final. Nestas 3 hipóteses
a resposta para saber até quando é que se pode abrir esta oposição está no 333º/2
CPC: enquanto não tiver sido proferida sentença.
Esta intervenção está sujeita a despacho liminar (335º CPC).
Uma vez admitida o opoente adquire posição de parte principal e partes primitivas
podem contestar pedido (335º/1 CPC).
Artigo 335º/2 CPC: ambas as partes são chamadas para se oporem à pretensão
deduzida pela opoente. Consoante a sua atitude, podem ser diferentes as
consequências sobre a ação principal. As partes primitivas podem reconhecer ou
contestar a pretensão do opoente.

• Sendo reconhecida, o opoente adquire posição do autor ou do réu, consoante


aquele que reconheça a sua posição (337º/1 CPC), caso em que uma das partes
primitivas abandona instância
o Não se forma triangularidade
• Não sendo reconhecida a posição do opoente, a instância continua com três
partes, havendo a partir desse momento duas causas conexas: entre partes
primitivas e entre estas e opoente (337º/2 CPC)

Terminado articulados relativos à oposição (oposição e contestação à oposição)


segue-se saneamento quanto a matéria do incidente (336º CPC).

2.2.2. OPOSIÇÃO PROVOCADA


Artigos 338º a 341º CPC

44
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Trata-se de um incidente que só pode ser deduzido pelo réu ou pelo reconvindo
(autor reconvindo; aquele contra quem foi deduzido uma pretensão)
Este incidente serve para que? Trata-se de um meio de atuação preventiva para
aquele que (autor reconvindo ou réu) pretendendo cumprir a prestação que lhe é
judicialmente exigida (réu ou autor reconvindo está disposto a cumprir, mas tem é
dúvidas quanto ao titular ativo da prestação) tem dúvidas fundadas relativamente ao
titular ativo da prestação. Portanto, o que se visa é prevenir que ele realize prestação
aquele que ele duvida ser titular do direito.
Visa-se prevenir o perigo que o seu cumprimento face ao autor não seja
liberatório (porque se duvida que é ele titular ativo da prestação, tem medo de
cumprir face à pessoa errada). Por regra, o cumprimento só é liberatório se for
realizado face a credor da prestação (769º CC). Se não for liberatório, o devedor pode
realizar prestação uma segunda vez.
Tratando-se de prestação infungível pode nascer situação de
incumprimento definitivo se cumprir face à pessoa errada.
Exemplos:

• Num caso de cessão de crédito, o devedor tem dúvidas quanto à existência


dessa própria cessão, tendo esta sido notificado pelo cessionário
o A é credor de B, mas depois é comunicado pelo cessionário que crédito
cessou (ou seja, quem comunica a B é C que o crédito de A passou para
ele, C)
• Tratando-se de uma sucessão, os herdeiros apresentam-se a exigir o crédito
o A é credor de B, A falece. Herdeiros de A vêm exigir crédito ao devedor.
Suspeita o devedor que o crédito tenha sido atribuído a um legatário,
por exemplo.

Trata-se de uma modalidade de oposição, hipótese em que réu confessa pedido


(283º/1/parte final CPC) perante quem o tribunal declare ser verdadeiro titular do
crédito. Portanto, a oposição provocada só é admitida quando réu não contesta direito
que lhe é exigido, mas apenas a sua titularidade.
Deverá o pedido de oposição desencadeado pelo réu ser acompanhado pela
quantia ou coisa devida (338º/parte final CPC). Isto tem consequências consoante
opoente deduz ou não a sua oposição.
A lei fala de “prestação”: este termo deve ser considerado aqui em sentido amplo,
englobando qualquer exigência que seja efetuada ao réu. Portanto, prestação não tem
que ter significado obrigacional.

45
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Por exemplo: ao réu é exigida entrega de coisa na ação de reivindicação.


A sua obrigação de entregar a coisa não tem fonte obrigacional (é resultado de
direito real que autor faz valer na sua ação).

Admitida a oposição, é o 3º citado para deduzir pretensão em prazo idêntico ao do


réu. Tal citação é precedida de despacho prévio (226º/4/d CPC), com a culminação que
caso o citado não deduza a sua pretensão a obrigação é declarada extinta a favor do
autor (339º CPC) ou do réu reconvinte. Neste caso, se 3º não reagir, não deduzir a sua
pretensão, é recorrida sentença nos termos do artigo 340º/1 e 2 CPC. Nesse caso não
é necessária condenação do réu porque coisa devida já tinha sido por ele depositada.
Se, pelo contrário, o terceiro reagir (deduz pretensão), o processo vai continuar
entre o autor primitivo e este terceiro, porque o réu está disposto a cumprir, sendo o
devedor exonerado (922º/3, ex vi 341º CPC).

EMBARGO DE TERCEIRO
Artigos 342º e seguintes CPC
Outra modalidade de oposição. Mecanismo dispor de qualquer sujeito para reagir
face a atos executivos que ofendam o seu direito à posse sobre bem (1258º CC, 342º/1
CPC).
Incidente de cariz marcadamente executivo.

2.3. PARTE ACESSÓRIA


Ao contrário das hipóteses já consideradas as partes acessórias não assumem os
efeitos principais da ação: ocupam posição subordinada a uma das partes principais.
No regime da intervenção acessória cria-se situação de pluralidade de partes, mas
diferentemente do que acontece na intervenção principal o seu estatuto jurídico é
diferenciado.
São três as MODALIDADES
Consoante iniciativa…
1. Assistência ou intervenção acessória espontânea (326º e seguintes CPC)
2. Intervenção acessória provocada (destinada a exercício de ação de regresso
contra terceiro; 321º e seguintes CPC)
3. Intervenção acessória do MP (325º CPC)

46
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

2.3.1. Assistência
Aqui uma pessoa estranha ao processo pretende nele intervir. A assistência
pressupõe assim uma regra de legitimidade específica.
Nos termos do 326º/1 CPC tem legitimidade para tal intervenção quem tenha
interesse jurídico numa decisão favorável à parte que assiste. Portanto, na mesma
instância apresentam-se dois problemas de legitimidade processual, tendo cada um
deles um sentido e intencionalidade específica. Quais sejam: o da parte principal
(30º/3 CPC) e, por sua vez, o respeito à parte acessória onde o critério de aferição se
baseia no interesse jurídico em que o pleito seja decido a favor da parte assistida (a
que parte acessória assiste).
O 30º/3 CPC também se refere a interesses, mas num sentido de interesse-
titularidade (titularidade da relação jurídica litigiosa). Para efeitos de
legitimidade como parte acessória o critério de aferição baseia-se no interesse
jurídico, mas aqui no sentido em que pleito seja decidido a favor da parte
assistida.
Não é suficiente um puro interesse intelectual ou humanitário, ou uma simples
curiosidade. Alberto dos Reis: não merece tutela um interesse puramente intelectual
como seria o caso do jurista empenhado em fazer triunfar uma certa doutrina; nem o
interesse moral do filantropo que quer defender litigante de facto contra outro
poderoso.
Portanto, deverá haver alguma conexão entre a esfera jurídica do assistente e da
parte assistida.
Não obstante, apesar de não ser suficiente o interesse de cariz tão genérico,
também não é necessário que assistente tenha interesse paralelo e com mesma
intensidade ao da parte principal. Se interesse fosse o mesmo, o meio próprio para
terceiro intervir seria intervenção principal e não acessória. Note-se bem: é de admitir,
porém, que podendo intervir como parte principal o 3º peça a sua intervenção como
parte acessória. Isto na intervenção ESPONTÂNEA. Porque se se tratar da intervenção
provocada é requisito desta a falta de legitimidade do 3º para intervir como parte
principal.
Assim sendo, parecem ser duas as grandes razões justificativas da assistência:
1. Titularidade pelo assistente de uma posição jurídica que esteja em relação de
dependência da relação que é objeto da primitiva instância
2. A titularidade pelo assistente de uma posição jurídica que esteja na sua
consistência económica dependente da situação jurídica litigada na ação
principal
Exemplo:

• Contratos em cadeia com o mesmo objeto.


47
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

o Uma ação movida pelo locador contra o locatário. Pode intervir nesta
ação como assistente o sublocatário para obstar à extinção do 1º
contrato (porque se este se extinguir também se extingue o 2º) – se
cessar locação cessa também sublocação
• Uma ação de revogação com justa causa de um contrato de mandato (mandato
em interesse comum – é celebrado também no interesse do mandatário, artigo
1170º CC)
o Tratando-se de mandato em interesse comum, em ação de revogação
pode o submandatário intervir na ação (contrato de mandato,
mandatário depois celebra um contrato de submandato)
• Em ação movida a favor ou contra a sociedade comercial pode ter interesse em
agir sócios dessa mesma sociedade (porque são reflexamente afetados por
decisão)
o Reconhecimento de crédito da sociedade perante terceiro, ou vice-
versa, afeta diretamente acesso dos sócios a crédito dos dividendos
• Ação proposta por administrador de insolvência pode devedor intervir como
assistente
Em qualquer um destes casos o assistente tem posição cuja consistência jurídica é
afetada por sorte da ação principal.

A assistência é admitida a todo o tempo, tendo, porém, o assistente que aceitar


processo tal como o encontra (327º/1 CPC).
O requerimento para assistência (327º/2 CPC) está sujeito a despacho liminar.
Não sendo indeferido vai ser notificada a parte contrária àquela que assistente se
propõe auxiliar, para se pronunciar, decidindo-se do pedido de assistência (327º/3
CPC).

EFEITOS (da assistência)

• Efeito normal: colocação do assistente como auxiliar da parte principal,


ocupando, porém, uma função subordinada
• Efeito eventual: a sua chamada a substituir a parte principal

Via de regra, o assistente limita-se a auxiliar a parte principal (328º/1 CPC), daí que,
em caso de conflito entre os atos praticados pela parte principal e aqueles praticados
pelo assistente prevaleça posição da parte principal (328º/2 CPC). Trata-se de atividade
de cariz subordinado. A atividade do assistente completa, mas não supre nem contraria
a da parte principal (Lebres Freitas).

48
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A presença do assistente não prejudica liberdade das partes de confessarem,


desistirem do pedido ou celebrar transação (praticarem atos de disposição do objeto
processual) – artigo 331º CPC. Nesse caso cessa a assistência.
Em tudo o que não conflitue com posição da parte principal, o assistente é
qualificado como parte: goza dos mesmos direitos e está sujeito aos mesmos deveres
que parte assistida (328º/2 CPC). Depõe como parte (328º/3 CPC) e pode fazer uso de
qualquer meio de prova (em termos de testemunha só pode completar – 330º CPC).
Em matéria de recursos, em princípio assistente apenas pode acompanhar a parte
assistida (631º/1 CPC) com apresentação de alegações destinadas a completar ou
desenvolver fundamentos de impugnação pela parte principal. Se, porém, tiver sido
direta e efetivamente afetado por decisão recorrida pode interpor recurso (631º/2
CPC).

Quanto ao efeito eventual da assistência:


Na eventualidade da parte assistida ser revele, o assistente pode ser chamado a
substitui-la (329º CPC) atuando doravante como parte principal e assumindo os seus
poderes. É uma modalidade de substituição processual ou legitimidade extraordinária
em que alguém (o assistente) é chamado ou admitido a conduzir processo relativo a
posição jurídica alheia.
Uma vez que assistente não é titular do interesse exercido na ação, não pode
confessar (353º/3 CC) nem transigir (283º CPC).
Na medida em que o assistente não é parte principal na instância, o mesmo não é
sujeito passivo do pedido – o processo conserva o mesmo objeto. A admissão de
alguém como assistente não tem por consequência alargar âmbito subjetivo do
pedido.
Exemplo: A pede condenação do réu para dada prestação. C é assistente. Se ação
proceder o único a ser condenado é o reu. Assistente não é condenado em nada.

O relevo no âmbito de efeitos da assistência é outro: por seu intermédio fica o


assistente vinculado a aceitar matéria de facto e julgamento de direito que, no que
toca a âmbito de assistência, se tenha decidido naquela instância (neste sentido fica
sujeito a efeitos do caso julgado). Só assim não será caso se verifique alguma hipótese
do 332º CPC:

• Se alegar e provar na causa posterior que o estado do processo no momento da


sua intervenção ou a título de da parte principal o impediram de fazer uso de
alegações ou meio de prova que o poderiam influir na decisão – alínea a
• Desconhecia existência de alegações ou meios de prova (…) – alínea b

49
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

2.3.2. Intervenção acessória provocada


Artigos 321º a 324º CPC
A iniciativa aqui não é do 3º, mas sim de uma das partes principais (ao réu
apenas).

A intervenção acessória provocada só é admissível do LADO PASSIVO da instância


e só pode ser requerida pelo réu (321º/1 e 322º/1 CPC).
Do POV material trata-se de uma modalidade de intervenção que só é admitida
mediante verificação de dois requisitos:
1. Por um lado, deve faltar ao chamado legitimidade para intervir como parte
principal na instância (ao contrário do que ocorre na assistência)
2. Réu pode chamar qualquer terceiro contra quem tenha ação de regresso para
ser indemnizado de prejuízo que lhe cause a perda da demanda
a. Nota: para estes efeitos da intervenção acessória provocada não se
deve identificar ação de regresso com direito de regresso. Nas
obrigações solidárias sendo vários os condevedores solidários
respondem externamente pela totalidade, e internamente têm direito
de regresso uns para com os outros. Aqui é ação de regresso contra
terceiro: trata-se de toda e qualquer hipótese em que se constitua
direito contra terceiro destinado a remover prejuízo que autor tenha
pela procedência da ação principal
i. Exemplo: hipótese de réu chamar à instância o sujeito de quem
adquiriu o bem numa ação de reivindicação desse mesmo bem
por parte do autor. A intenta ação de reivindicação contra B a
reivindicar propriedade de bem. B adquiriu de C. Se ação
proceder (réu perde a coisa), réu tem direito de regresso contra
C. B pode chamar C a esta ação como parte acessória (não podia
intervir como parte principal porque numa ação de reivindicação
o terceiro não é detentor nem possuidor, que são os únicos que
podem ser partes principais). Réu chama terceiro para tornar
indiscutível perante esse terceiro a questão da ilegitimidade da
transmissão e verificação dos pressupostos do seu direito contra
alienante.
Outro exemplo: sucessão subordinada de contratos com o mesmo objeto.
Há uma empreitada e uma subempreitada. Para realização de dado
trabalho empreiteiro recorreu a subempreiteiro. Há um defeito e o dono
intenta ação contra empreiteiro. Este entende que responsabilidade é do
subempreiteiro, mas este último não responde face ao dono da obra. Nas
50
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

relações entre empreiteiro e dono o subempreiteiro é auxiliar. Portanto,


empreiteiro pode chamar subempreiteiro como parte acessória porque se réu
for condenado terá ação de regresso contra subempreiteiro.
NOTA: tendo dúvidas em relação àquele contra qual tenha direito de regresso é de
admitir o seu chamamento em relação de subsidiariedade.

Para que este incidente seja admitido o tribunal tem de se convencer que questão
que réu quer discutir em ação de regresso está dependente da questão discutida na
ação principal.
DOIS OUTROS REQUISITOS:

• Requisito positivo: viabilidade potencial da ação de regresso (322º/2 CPC) –


fumos bonis iuris. Trata-se da formulação de um juízo previsional de aparência
de bom direito.
o A presença do assistido cria complexificação, por isso é admissível se
juiz se convencer desta aparência de bom direito
• Requisito negativo: a intervenção acessória pode ser recusada nos termos do
artigo 322º/2 CPC quando perturbe indevidamente o normal andamento do
processo

NOTA: assim como o incidente pode ser desencadeado pelo réu também pode ser
desencadeado pelo chamado (323º/3 CPC).
Grande empreitada: empreiteiro réu chama o subempreiteiro, e este
por sua vez chama o sujeito que lhe forneceu determinados materiais.
Uma vez que isto pode criar risco de uma certa morosidade processual, há que
considerar regra do artigo 324º CPC.

O momento próprio para a dedução deste incidente é a CONTESTAÇÃO (322º/1


CPC) – vai ser aí que o réu dá conta das razões justificativas do chamamento
elementos que demonstram a aparência de bom direito (viabilidade da futura ação de
regresso).
A parte contrária é ouvida antes de ser decidia a intervenção (322º/2 CPC).
Decidindo o juiz admitir requerimento deve ordenar citação do 3º que é citado a
contestar (323º/1 CPC) – despacho liminar (226º/4/d CPC)
O despacho de recusa de incidente é irrecorrível neste caso.

51
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

O interveniente acessório goza de estatuto paralelo ao do assistente (328º e


seguintes CPC ex vi 323º/1 CPC) estando a sua intervenção limitada à discussão de
questões que tenham repercussão na ação de regresso (321º/2 CPC).
Também neste caso, o chamado não é sujeito passivo do pedido principal. Movida
a ação de condenação contra a parte principal a parte acessória não pode ser
condenada. A parte acessória é chamada, mas não condenada no pedido porque não é
parte principal.
A sentença proferida constitui caso julgado quanto ao chamado nos termos do
artigo 332º CPC. Isto é, relativamente às questões de que dependa o direito de
regresso do autor contra o chamado por este invocável em posterior ação de regresso
(323º/4 CPC). Propósito do chamamento é que na posterior ação de regresso possa o
réu (que depois na ação de regresso é autor) usar com autoridade de caso julgado os
elementos desta primeira decisão.

2.3.3. Intervenção acessória do MP


Diferente da prevista no artigo 21º CPC em que MP representa ausente ou incapaz
e diferente da prevista nas ações em que pode agir como parte principal (artigo 5º/1
do seu estatuto).
Os interesses que justificam a intervenção acessório do MP constam do artigo
5º/4 do estatuto do MP.
O MP intervém nos processos acessoriamente (artigo 5º/4 estatuto MP):

• Alínea a)
• Alínea b)
O MP goza dos poderes que são conferidos a parte acessória.
Pode agir como substituto processual em caso de revelia do assistido. Diferença:
MP tem legitimidade para recorrer quando é necessário para defender interesse
público ou da parte assistida (325º/3 CPC).
325º/4 CPC: pode alegar o que entenda conveniente para defesa dos interesses da
parte assistida
O MP é oficiosamente notificado nos casos em que lei prevê a sua intervenção
acessória (5º/4 do estatuto) logo que a instância se inicia (325º CPC). Quando é que
instância se inicia? Quando é recebida na secretaria a respetiva petição inicial.
Constituindo-se apenas em momento posterior os pressupostos que justificam a
intervenção apenas aí podem ser chamados.

52
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

CONSEQUÊNCIAS
Nos termos do artigo 194º/1 CPC a falta de vista ou exame é causa de nulidade
processual, sendo esta nulidade de conhecimento oficioso (197º CPC), nulidade esta
que se considera sanada nos termos do artigo 194º/1 CPC desde que entidade a que
devia ser prestada a assistência tenha feito valer os seus direitos no processo por
intermédio do seu representante.
Por sua vez, (194º/2 CPC) se a causa tiver corrido à revelia da parte que devia ter
sido assistida pelo MP aí o processo é anulado a partir do momento em que devia ser
dada vista ou facultado exame ao MP. Deverá correr novo prazo para apresentação de
defesa, agindo em substituição da parte principal embora seja apenas assistente.

53
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

3. A SUCESSÃO DE PARTE: INCIDENTE DE HABILITAÇÃO


Há casos em que a mudança subjetiva se verifica no processo (ligação é
precisamente esta entre matérias) mas são hipóteses em que esta mudança subjetiva
decorre não do ingresso de nova parte, mas rigorosamente da substituição de uma das
partes.
São hipóteses em que os sujeitos que são admitidos a intervir no processo fazem-
no não com finalidade de se associarem ou confrontarem com as partes primitivas,
mas de se substituírem a elas, ocupar o seu lugar.
Artigo 262º/a CPC

Esta possibilidade de chamamento de novos sujeitos está prevista para duas


hipóteses:
1. Morte de uma das partes, em que à instância são chamados os seus sucessores
(351º CPC)
a. Regime aplica-se com as necessárias adaptações à extinção de pessoa
coletiva (354º/3 do CPC)
2. Transmissão da coisa ou direito em litígio (356º CPC)

Este incidente quer dar resposta aos casos de sucessão mortis causa e inter vivos
na titularidade do direito.
A demanda B em ação de condenação. B morre. Sucede-lhe C. Havendo aceitação
da herança por C o sujeito passivo torna-se este.

Finalidade de adaptar a instância às modificações da relação material que é


litigada naquela concreta ação de forma a que caso julgado venha a vincular na medida
do possível as partes reais da relação material controvertida alegada.
Prof Alberto dos Reis: o incidente da habilitação apresenta-se como a porta ou
veículo de ingresso na instância tendo por finalidade certificar que determinada
pessoa sucedeu a outra na posição jurídica que ela ocupava.

3.1. INCIDENTE DA HABILITAÇÃO MORTIS CAUSA


A 1ª previsão é em razão da morte de uma das partes (351º CPC).
Direito sucessório de incidência processual – Oliveira Ascensão diz que Direito
Sucessório “destina-se a dar a continuidade possível ao descontínuo causado com a
morte”.
54
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Mediante este incidente cria-se meio processual para garantir continuidade de


uma concreta ação apesar da morte de uma das partes.
Por outro lado, o incidente da habilitação é também meio adequado para suprir
desaparecimento de um pressuposto processual na instância, que tem lugar com a
morte: personalidade judiciária (artigo 11º/2 CPC – mede-se pela personalidade
jurídica). A personalidade jurídica extingue-se com a morte (68º/1 CC), pelo que
consequentemente cessa personalidade judiciária.

MODALIDADES
Estamos a considerar a habilitação como incidente de qualquer ação contenciosa,
pela qual alguém é admito a ingressar na instância para ocupar posição de uma das
partes primitivas.
Outras modalidades: artigo 11º do regime jurídico do processo de inventário,
habilitação notarial, etc.

NOTA: há casos em que a morte ou extinção torna inútil a continuação da lide


como acontece quando ação respeita a posições jurídicas não transmissíveis (269º/3
CPC).
Exemplo: A intenta ação contra B para que este seja condenado a não praticar
dados atos violadores da personalidade de A. Se A morre a instância fica extinta.

A morte de uma das partes é, em 1º lugar, causa de suspensão da instância:


269º/a CPC. Sendo a personalidade judiciária um pressuposto processual, o seu
desaparecimento tem esta consequência (suspensão imediata dos termos da ação). Só
não será assim (270º/1 CPC – exceção) quando no momento do processo em que
ocorre morte de uma das partes já não seja possível qualquer atuação processual
pessoal do lado da parte que faleceu. Nos termos do artigo 270º/2 CPC, qualquer uma
das partes tem o dever de dar a conhecer no processo o facto da morte da sua
comparte ou parte contrária, devendo junta documento comprovativo disso. O
incumprimento deste dever é fonte potencial de responsabilidade civil para remoção
de danos gerados por esse mesmo incumprimento, devendo ainda ser condenado a
pagar as custas dos atos que hajam ficados sem qualquer efeito.
A suspensão com este fundamento só cessará quando notificada a decisão que
considere habilitado certo sucessor da parte falecida (276º/1/a CPC), na medida em
que só aí são reintegradas as partes subjetivas da instância.
NOTA: a morte da parte principal é causa de suspensão da instância, já não o
sendo a morte da parte acessória.
55
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Por outro lado, embora a instância só se suspenda a partir do momento em que se


junta ao processo prova do falecimento, são nulos todos os atos praticados a partir de
tal data (270º/3 CPC) – data de falecimento -, salvo quando os atos entretanto
praticados venham a ser ratificados pelo sucessor da parte falecida (270º/4 CPC).

Este incidente de habilitação é meio próprio para fazer cessar suspensão da


instância e lograr que processo retome curso normal.
Trata-se de um incidente que pode ser requerido quer por qualquer uma das
partes na instância quer por qualquer um dos sucessores. É requerido contra qualquer
uma das partes sobrevivas e contra sucessores do falecido que não sejam requerentes
(351º/1 CPC).
Portanto, estamos perante modalidade de litisconsórcio necessário por disposição
expressa da lei.

Para efeitos deste artigo (351º/1 CPC), devem considerar-se sucessores todos
aqueles que sucedam nas posições jurídicas litigadas na instância. E nessa medida
devem ser considerados sucessores não apenas os herdeiros, mas também legatários a
quem tenham sido atribuídas posições jurídicas litigadas na instância.
NOTA: não é necessário fazer prova negativa de que não há nenhum outro
herdeiro. É que artigo 351º/2 CPC diz que é requerido contra sucessores que não
sejam requerentes, mas não é preciso fazer esta prova negativa.

A qualidade de sucessor deve ser articulada com regime material que permite a
aquisição dessa mesma qualidade. Se alguém, tendo vocação sucessória, for chamado
a adquirir ou repudiar herança ele adquire qualidade de herdeiro, ficando sujeito a
regime de herdeiro, através da aceitação da herança. Articulando este regime material
com o regime do incidente têm os nossos tribunais entendido que ao requerente do
incidente não é necessário alegar a aceitação da herança pelos herdeiros.
B morre. Sucedeu-lhe C. Requerente não tem de alegar aceitação.
Mas assim vão ser os herdeiros que, se quiserem, podem vir alegar haverem ter
repudiado a herança: falta de aceitação é matéria de exceção (defesa por exceção).
NOTA: a herança jacente tem personalidade judiciária. Se está indivisa já não – as
ações são intentadas contra todos ou por todos os herdeiros.
Deduzido o incidente (352º/1 CPC) ele reveste duas modalidades fundamentais
consoante a habilitação haja ou não já sido reconhecida em documento ou noutro
processo:

56
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

1. Se a habilitação tiver já reconhecida noutro processo (questão principal ou a


título incidental) deve ser apresentada ao processo a certidão da sentença em
que se decidiu da habilitação ou a escritura notarial de habilitação ou a
certidão de inventário em que se provem factos constitutivos da habilitação
(353º/4 CPC). Isto para que restantes interessados as possam impugnar, salvo
quando estes (os restantes interessados) estejam sujeitos ao âmbito da
sentença ou tenham participado na sentença (353º/2 CPC).
a. Corrido o prazo para a contestação, seja ela ou não contestada, decide-
se da habilitação (353º/3 CPC)
2. Por sua vez, não estando reconhecida ainda a habitação deve o juiz (354º/1
CPC) decidir do incidente depois de produzida prova relativa à sua matéria
a. Para a produção de prova aplicam-se os artigos 293º e seguintes CPC
Caso a habilitação esteja a ser discutida em ação pendente devem ser habilitadas
as partes que se devam consideradas herdeiras, as restantes são intervenientes
espontâneas (354º/2 CPC).

DUAS NOTAS:
1. A decisão relativa ao incidente tem a particularidade de poder ser reaberta a
qualquer momento mediante apresentação de novas provas e factos (352º/3
CPC)
a. Exceção à regra dos efeitos do caso julgado
2. Não sendo requerida a habilitação por sucessor a suspensão mantém-se. Se
nenhum impulso processual houver durante o período de 6 meses a instância
considera-se deserta (261º/1 CPC) podendo o juiz considera-la extinta por
simples despacho por verificação de um dos pressupostos de verificação da
instância (261º e 277º/c CPC).

3.1.1. HABILITAÇÃO POR EXTINÇÃO DE PESSOA COLETIVA


O regime que acabamos de ver vale com as necessárias adaptações para a
habilitação daqueles que sucedem na titularidade dos bens de uma pessoa coletiva
extinta (que seja parte de uma ação).
Também, neste caso, a extinção de personalidade jurídica (coletiva) é causa de
suspensão da instância (269º/1 CPC) devendo ser habilitados os respetivos sucessores
(354º/3 CPC).
Extinguindo-se uma associação todos os associados devem ser
habilitados, por exemplo.
Ponto duvidoso: artigo 162º CSC prevê a substituição ope legis da sociedade pela
generalidade dos sócios representados pelo liquidatário, não sendo necessário
57
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

proceder à respetiva habilitação nos termos desse artigo. A sentença proferida vai
vincular sócios da sociedade comercial extinta sem ser necessário habilitação
(24/03/2011, relação do porto, processo 3016/10.5)

3.2. TRANSMISSÃO DA COISA OU DIREITO EM LITÍGIO


Enquanto tal, a transmissão da coisa ou direito em litígio não põe em causa a
legitimidade do transmitente para a ação. Isto porque enquanto aquele a quem alega
haver transmitido não intervier na instância o transmitente conserva-se como parte
legítima (263º/1 CPC). Seja ou não o adquirente admitido a litigar a ação produz
efeitos relativamente a si, mesmo que não intervenha no processo (263º/3 CPC). Só
assim não será nos termos do artigo 263º/3 CPC quando a ação esteja sujeita a registo,
e adquirente registe a sua aquisição antes de surtir efeito o registo da ação.
Tal como acontece na habilitação mortis causa, na transmissão da coisa ou direito
em litígio o juiz promulga juízo de mérito sobre isto (validade do contrato de
transmissão, por exemplo). Desta forma, caso transmissão esteja sujeita a prova
específica deve ser feita prova do ato transmissivo.
Tratando-se de caso de cessão de direito, ou requerimento de habilitação de
cessionário tem de ser junta prova da notificação da cessão ao devedor bem como
elementos necessários para estes a impugnarem se quiserem. MAIS: artigo 356º/1/a
CPC (lavrar-se termo de cessão).

263º/2 CPC: casos em que é admitida substituição do transmitente por


adquirente. Nos termos deste artigo, há que distinguir duas hipóteses:
1. Se contraparte estiver de acordo, a substituição é sempre admitida.
2. Se a contraparte não estiver de acordo a substituição só deve ser recusada
quando se entenda que foi realizada (transmissão ou cessão) para dificultar a
posição da contraparte (263º/2 CPC)
a. Não basta que dificulte a posição da contraparte: precisa de demonstrar
que foi feito com intenção de dificultar a posição da contraparte
b. Meio próprio para habilitar adquirente é incidente de habilitação
previsto no artigo 356º CPC, que pode ser requerido por transmitente,
adquirente ou parte contrária (356º/2 CPC)
c. Não sendo adquirente admitido à instância, ora porque não foi admitido
incidente ora porque não foi dirimido, é a parte (transmitente)
qualificada como substituta processual do adquirente ou cessionário.
Ela vai ser admitida a litigar no lugar no terceiro. Consequência: a
atividade processual do substituto é juridicamente vinculante na esfera
do substituído.
i. Note-se: substituído tem legitimidade para requerer habilitação
58
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Se a habilitação não for admitida (meio próprio de tutela do adquirente


é ser habilitado nesta ação) resta a possibilidade, nos termos do direito
material (prof Castro Mendes), de anular a declaração negocial por erro
quanto ao caráter litigioso do direito que adquiriu OU aplicação do
regime de venda de bens alheios aplicada por identidade de razão (com
adaptações)

59
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

4. PRESSUPOSTO PROCESSUAL: INTERESSE EM AGIR


O interesse em agir é a concreta necessidade, objetiva, de tutela da posição
jurídica que o autor pretende fazer valer na ação. Sendo certo que tendo o autor
interesse em agir, tem o réu interesse em contradizer (prof. Teixeira dos Santos), pelo
que este pressuposto só se afere por referência a autor.
Objetivamente, aquela situação é tida como carecida de tutela, além do interesse
manifestado pelo autor?
NOTA: os tribunais estão colocados ao serviço da proteção de interesses
individuais, cabendo indagar a razão de ser da introdução deste pressuposto
processual (porque ele não tem outra finalidade que não seja limitar a liberdade de
ação do autor).
→ Razões: garantia de eficiência dos tribunais e salvaguarda da sua
autoridade (não devem os tribunais, sob pena de perderem a sua autoridade e
prestígio, ser chamados a discutir e a decidir casos jurídicos que não são carecidos
de tutela). Por outro aldo, este pressuposto também tem como finalidade
proteger réu: não ser réu forçado a assumir posição de parte numa situação não
carecida de tutela jurídica.

Note-se que a falta de interesse em agir pode decorrer de dois elementos:


1. A situação de facto que é alegada pelo autor na petição inicial não configura,
nos termos da ordem jurídica, uma situação de facto objetivamente
merecedora de tutela. Portanto, a 1ª hipótese é desnecessidade de tutela
jurídica.
2. Embora se considere que estamos perante uma situação jurídica digna de
tutela judicial, considera-se excessivo o recurso a ação judicial para obtenção
dessa mesma tutela (excesso de tutela jurídica). Ou seja, a 2ª hipótese é a
excessividade daquele meio processual para obter a tutela necessária.
a. Portanto, a carência ou inadequação do meio processual também são
causas de falta de interesse
No atual Direito, ao contrário do que acontece noutras ordens jurídicas, e do que
já entre nós foi proposto, o interesse em agir não está autonomizado em geral como
pressuposto processual embora se encontre no 30º/2 CPC uma referência a uma
situação correspondente a esse conteúdo. MAS o artigo 577º CPC não é fechado (são
aquelas exceções dilatórias, entre outras). Há, todavia, referência no artigo 30º/2 CPC
e regras respeitantes a tipos particulares de ações que parecem ter este pressuposto.
Note-se que a autonomia deste pressuposto já foi proposta: Castro Mendes
contesta autonomia deste pressuposto, dizendo que temos apenas critério para
distribuir custas processuais. Teixeira de Sousa contesta posição de Castro Mendes.

60
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Mas a verdade é que os pressupostos deste pressuposto não estão bem definidos.
Assim, considera-se o regime deste pressuposto a propósito de cada um dos tipos
particulares de ação (condenação, constitutivas e simples apreciação).
Note-se que a categorização do interesse em agir surgiu para enquadrar um
conjunto de casos patológicos que não se reconduziam à ação paradigmática (ação de
condenação de prestação vencida). Portanto, pressuposto foi inicialmente introduzido
para enquadrar estas ações patológicas (simples apreciação, in futurum).

AÇÕES DE CONDENAÇÃO
São ações de condenação nos termos do artigo 10º/3/b CPC aquelas em que autor
exija a prestação de certa coisa ou facto, pressupondo ou prevendo a violação do
direito. Portanto, para efeitos de análise deste pressuposto temos de distinguir entre
ação onde se pressupõe e ouse se prevê a violação de direito.

Pressupondo violação de direito


Tratando-se de ação de condenação movida contra o réu para cumprimento de
obrigação ou para a condenação ao cumprimento das consequências de violação de
direito absoluto do autor, o requisito do interesse em agir não goza de qualquer
autonomia uma vez que ele não tem de ser positivamente exigido nem demonstrado,
regra geral.
Se interesse em agir é presumido em geral, ele será apenas demonstrado quanto à
falta de interesse em agir (autor quanto muito só tem de demonstrar falta de interesse
em agir). Esta falta de interesse em agir pode resultar da existência de qualquer meio
alternativo que legislador tenha introduzido para que autor pudesse satisfazer a sua
pretensão. Portanto, temos hipótese que consubstancia excesso de tutela jurídica.
Num caso como este, a propositura de ação judicial consubstancia excesso de tutela.
Note-se que só há falta de interesse em agir quando, por esta outra via colocada pelo
legislador ao serviço do autor, consiga o autor obter o mesmo efeito que obteria com a
ação judiciária. Se for diferente a eficácia deve reconhecer-se interesse de autor em
recorrer a ação judicial para se fazerem sentir os efeitos do caso julgado.
Exemplos: procedimento especial de despejo (artigo 15º Novo Regime
Arrendamento Urbano)

O interesse em agir é pressuposto em agir, configurando exceção dilatória, sendo


causa de absolvição instância (artigos 577º e 278º/1/e CPC, respetivamente).

61
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Prevendo a violação de direito


Em matéria de condenação ao cumprimento de obrigações ainda não vencidas,
admite o nosso direito a condenação in futurum em situações específicas. Portanto, há
que distinguir duas hipóteses particulares no regime comum:
1. É ela de admitir nas hipóteses do artigo 557º/1 CPC: tem que ver com a
situação em que se esteja a litigar sobre obrigação periódica. Nesse caso, é
possível que autor peça condenação do réu das prestações vencidas e
vincendas.
2. É de admitir a condenação in futurum nos termos do artigo 557º/1 CPC quando
credor demonstra ter interesse em ter título executivo, quando se queira lançar
mão de ação de condenação ao tempo de ação de despejo ou quando se
pretenda título executivo para data em que se vencer uma dada prestação
(557º/2 CPC). O autor apenas tem interesse na medida em que proposição
tardia da ação lhe causasse prejuízo grave.

Diferente disto é regime do artigo 610º/1 CPC: prevista para momento da


sentença. Se no momento em que juiz vai proferir sentença se apercebe que obrigação
ainda não está vencida, que obrigação não era exigível no momento em que ação foi
proposta, a solução é juiz condenar o réu in futurum (poderíamos pensar que seria ou
o réu é absolvido da instância ou do pedido porque obrigação ainda não era exigível,
mas não), por razões de economia processual. Artigo 610º/3: não havendo litígio
quanto à existência de obrigação, o autor é condenado nas custas e a satisfazer os
honorários do advogado do réu.
PORTANTO: foi intentada uma ação relativamente a obrigação que ainda
não era exigível e fora das hipóteses do artigo 577º CPC: quando juiz profere
sentença apercebe-se que ação não é exigível no momento da propositura da
ação, se não houver discussão relativamente à existência da obrigação (réu não
impugna a sua existência) o tribunal condena réu in futurum mas condena autor
nas custas e honorários do advogado do réu.

Obrigação não vencida fora dos casos do artigo 577º CPC, antes da fase da
sentença: quid iuris?
O juiz, neste caso, detetando a falta de interesse em agir logo no despacho liminar
aquilo que deve fazer é indeferir liminarmente a petição inicial. Se detetar o problema
só no despacho saneador deverá o réu ser absolvido da instância por falta de interesse
em agir do autor (595º/1/a CPC). Gozando o juiz de elementos que lhe permitam
ajuizar da existência da obrigação nesse momento, sem necessidade de mais prova
(tendo o juiz condições para antecipar o mérito da causa no despacho saneador), aí
aponta alguma doutrina o seguinte: réu deverá ser absolvido do pedido (embora seja
hipótese em que nada obsta a propositura de nova ação). Assim, em termos de
62
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

classificação doutrinal da defesa do réu trata-se aqui de uma exceção material dilatória
(o réu seria absolvido do pedido, mas apenas porque obrigação não se venceu). Prof
não concorda com solução da absolvição do réu do pedido no saneador: ou o
pressuposto atua e réu é absolvido da instância, OU se juiz já tem como apreciar do
mérito então deve-se aplicar o mesmo que o disposto no artigo 610º/1 CPC
(condenação do réu in futurum porque este é um despacho saneador-sentença).

Manifestando réu interesse na prossecução da ação, ou seja, não arguindo réu


falta de interesse em agir, deverá tribunal conhecer do mérito da ação por razões de
economia processual e pelo facto de a partir desse momento já haver conflito de
interesses relevante para direito.
A semelhantes resultados chega prof Teixeira de Sousa ao dizer que este não é um
pressuposto processual de conhecimento oficioso.

AÇÕES CONSTITUTIVAS
A sua não verificação pode resultar de uma de duas coisas: não necessidade de
tutela judicial ou excessividade do meio para obter tutela necessária (problema
suscitado nos direitos potestativos).
Ora, tratando-se direito a introduzir mudança na ordem jurídica pergunta-se se
alguém tem essa possibilidade subjetiva, se ação judicial é meio idóneo para exercício
desse mesmo direito, sob falta de interesse em agir. Ora, não há dúvida de que quando
seja exigida via judicial para exercício de direito potestativo (ação de anulação de
contrato, ação de preferência) aí há interesse em agir – casos de direito potestativo
cujo exercício tem de ser feito com recurso a ação judicial. A dúvida decorre do
exercício dos direitos potestativos que não exijam recurso a ação judicial (artigo 436º
CC – direito de resolução do contrato opera por simples declaração recetícia, à outra
parte).
Temos de distinguir o seguinte:
Não existe dúvida que se pode pedir condenação do réu a restituir tudo quanto
for apostado na diligência do contrato em consequência dos efeitos resolutórios da
resolução. Como questão anterior tem que se conhecer da existência ou presença de
causa de resolução e regularidade de exercício de tal direito – é sempre possível
conhecer dos efeitos da resolução. Pode-se pedir constituição do efeito constitutivo
(extinção do contrato) pelo processo? Sim, desde que autor demonstre interesse no
recurso a ação judicial (facto de réu negar causa em que autor pretende fundamentar
a resolução, por exemplo – aí pode haver interesse na propositura de ação judicial
para resolver contrato). Não havendo interesse em agir há absolvição do réu da
instância. É de admitir que ação persista quando réu demonstre interesse na discussão
da causa.
63
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

AÇÕES DE SIMPLES APRECIAÇÃO


Interesse em agir é representado pela incerteza objetivamente relevante quanto à
existência de certo facto ou direito.
A ação deve ser dirigida contra aquele que tenha alegadamente posição
conflituante com o autor.
Falta destes requisitos → Réu deve ser absolvido da instância.
Contudo, é de admitir que a ação prossiga quando réu demonstre interesse na
discussão da causa.

64
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

5. PRESSUPOSTO PROCESSUAL: PATROCÍNIO JUDICIÁRIO


O patrocínio judiciário designa a atuação processual de uma pessoa habilitada
para atividade forense em nome e por conta de uma das partes da ação.
Este patrocínio pode ser obrigatório ou voluntário.

• Obrigatório: quando seja a alei a impor, para que parte possa agir
processualmente na defesa de dada posição jurídica, que ela seja representada
por alguém dotada de qualificações para exercício da atividade forense
• Voluntário: quando não sendo o mesmo imposto pela lei, seja da iniciativa de
uma das partes a atribuição a alguém de poderes de atuação processual

Duas razões para fundamentar patrocínio judiciário:

• Psicológica: a ideia de garantir um certo distanciamento face ou perante objeto


do litígio. As partes da ação, sendo elas os próprios sujeitos da relação material
controvertida, estão emocionalmente envolvidas com o litígio. Portanto, é
normal que possam perder o discernimento, não tendo a frieza e objetividade
necessárias para proteção das respetivas posições jurídicas – daí a necessidade
de recorrer a um 3º que não esteja pessoalmente envolvido no conflito. Desta
forma potencia-se, também, a possibilidade de a ação terminar através de
composição amigável de litígio (594º CPC)
• De ordem técnica: tem a ver com os conhecimentos específicos que só alguém
habilitado à prática forense reúne, exigidos para a prática de determinados
atos processuais. Quer conhecimentos técnicos quer práticos quanto ao modo
de apresentar uma certa posição (distinguindo matéria de facto e direito,
apresentado a matéria de facto por artigos - aliás o artigo 147º/2 CPC apenas
torna obrigatória a apresentação da matéria de facto por artigos nos casos em
que haja mandatário constituído). Mais: conhecimentos materiais – relativos ao
direito material a aplicar.
Estas razões funcionam de forma diferente para patrocínio facultativo ou
obrigatório: sendo o 1º estas são as razões que fazem com que partes escolham um
dado patrono, no 2º estas são razões limitativas da vontade das partes (não são livres
de escolher o modo como vão conduzir as suas relações e posições jurídicas).
Duas razões que justificam restrição da liberdade de ação dos membros da
comunidade jurídica:

• O interesse público, do Estado, em que litígios sejam conduzidos por pessoas


tecnicamente qualificadas. Porque é que Estado tem este interesse? Porque
essa competência técnica é um fator de redução da complexidade do litígio. Se
o advogado souber expor bem o fundo da causa isso facilita o julgamento da
mesma.

65
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

• Proteção dos próprios membros da comunidade jurídica contra a sua própria


ignorância

Em auxílio dos membros da comunidade jurídica são sinalizados, mediante


concessão de título profissional específico, aqueles que estão habilitados ao exercício
da prática forense e do patrocínio judiciário: mediante atribuição do título profissional
de advogado aos inscritos na ordem (artigos 70º/1 e 5º da lei dos atos próprios dos
advogados e solicitadores). Via de regra, o patrocínio judiciário deve ser assumido por
advogado, assim se considerando quem a Ordem conceda tal título.
Ordem dos Advogados: administração autónoma do estado (artigo 4º/1 da lei
12/2013 de 10 de janeiro).
Atribui título e regula exercício da profissão. Só os com inscrição em vigor é
que podem praticar atos próprios da profissão (os advogados estagiários só
podem praticar alguns atos próprios – artigo 196º do estatuto da ordem dos
advogados).

Para além dos advogados, os solicitadores também podem exercer patrocínio


judiciário. A respetiva ordem tem competência para atribuir título habilitador de
solicitador e agente de execução (artigo 85º/1 do estatuto da ordem de advogados
diz que ser advogado é incompatível com ser solicitador ou agente de execução).
Podem ser tal quem é licenciado em direito ou solicitadoria.
Mandato forense e consulta jurídico nos termos da lei 49/20014 de 24 de
fevereiro: atos próprios de advogado e solicitador.

MANDATO FORENSE E OUTRAS FORMAS DE ATRIBUIÇÃO DE PODERES DE


ATUAÇÃO EM NOME DE OUTREM
O modo típico de atribuição de poderes para ser mandatário forense é mandato
judicial (43º CPC). O termo ‘mandato’ surge no CPC sem a distinção entre contrato de
mandato propriamente dito e procuração: o 1º é aquele mediante o qual as partes
acordam a atuação jurídica de alguém por conta de outrem (negócio jurídico bilateral,
contrato), o 2º é um negócio jurídico unilateral pelo qual alguém confere a outrem
poderes para agir em seu nome. Não são a mesma coisa, mas na tradição francesa
eram tratados como a mesma coisa: o contrato de mandato no nosso CC está regulado
na parte dos contratos, mas a procuração está na parte geral do CC, mas no CPC ainda
não tínhamos tido esta influência germânica e pelo que estão consagrados como
sendo a mesma coisa.
O mandato está regulado no CC, CPC e estatuto da ordem dos advogados.

66
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Procuração e mandato têm diferente modos de constituição: procuração constitui-


se por negócio unilateral e mandato por contrato. Mas os dois pontos articulam-se: a
atribuição de poderes representativos pode ser conferida por um lado através de ato
unilateral (43º CPC) ou ainda por documento particular (DL 267º/98 de 28/7).
Contudo, para patrocínio judiciário ser eficaz ele carece de aceitação por parte do
mandatário, seja no ato de concessão seja (44º/4 CPC) através de comportamento
concludente (através da pratica de atos processuais, por exemplo)

Extensão do mandato (âmbito dos poderes conferidos ao mandatário):


Artigos 45º e 46º CPC
Artigo 45º/1 CPC (remete para artigo 44º/1 CPC): conteúdo supletivo do mandato
– atribuição de poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e
termos do processo principal e seus incidentes, mesmo perante tribunais superiores.
Excetua-se atos para os quais a lei exija poderes especiais. Um dos domínios em que lei
exige autorização especial é a prática de atos de disposição do objeto do processo
(para a confissão da ação, desistência e transação exige-se a atribuição de poderes
especiais) – isto porque sendo atos de auto disposição do objeto implicam tomada de
posição sobre as próprias relações jurídicas, o que deve ser reservado ao titular das
respetivas relações (representado, e não representante).

Regime especial da confissão de facto: o valor probatório que se atribuiu à


confissão de um facto está ligado à verosimilhança de ter acontecido aquilo que
alguém alega que aconteceu, mesmo sendo-lhe desfavorável. Ou seja, alguém depõe
no sentido de veracidade de facto sendo-lhe esse facto desfavorável. Portanto, é
natural que efeito confessório não se estenda a hipóteses em que foi mandatário a
confessar veracidade: tem de ser parte representada a confessar. Daí que o artigo 46º
CPC limite a possibilidade de se dar valor confessório às declarações feitas pelo
mandatário nos articulados (à parte disso o advogado não pode confessar nada),
SALVO quando retificadas ou retiradas antes de aceitação especificada da contraparte.
Portanto, as declarações feitas nos articulados têm valor confessório desde que não
sejam retificadas ou retiradas antes de aceitação especificada da contraparte.
Por exemplo: réu contesta, mas na contestação confessa dados factos. Autor diz
que se aceita especificamente a confissão. Porque depois de haver isto essas
afirmações já não podem ser retificadas ou retiradas.
PORTANTO: se há confissão de facto feita nos articulados a contraparte aceita
especificadamente, porque depois parte que a fez já não a pode retificar ou retirar.

67
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Considera-se, também, abrangido no mandato o poder de subestabelecer (artigo


44º/2 CPC) – de mandatar outro advogado para patrocínio. Na dúvida, este poder
considera-se abrangido pelos poderes de representação que lhe foram concedidos.

O advogado pode fazer-se assistir durante produção de prova e discussão da causa


por uma pessoa dotada de aptidão técnica para se ocupar das diferentes questões
suscitadas (50º/1 CPC).
Exemplo: responsabilidade civil médica → morre pessoa. Advogado pode fazer-se
assistir de médico que o ajude durante a produção de prova.
Nos termos do artigo 50º/3 CPC esta assistência técnica pode ser recusada
quando tribunal a julgue desnecessária.

Para caracterizarmos a relação entre mandante e mandatário podemos falar de


uma relação agere pro alter. Certa pessoa (mandatário) assume obrigação de agir por
conta de outrem e de transmitir para esse outro todos os efeitos da atividade jurídica a
ser realizada. Inversamente, a parte está sujeita a arcar com os efeitos da atividade do
mandatário ou ter que assumir esses efeitos.
São casos em que o conteúdo da esfera jurídica de alguém é conformado por
atuação de outra pessoa. Por essa razão é que ao nível do direito material se procura
garantir que a atuação por parte do mandatário seja conforme ao interesse do
mandante (1161º/a CC – mandato deve ser exercido de acordo com instruções do
mandante, só devendo afastar-se das instruções dadas nos casos previstos no artigo
1162º CC, daí que mandato possa ser revogado a todo o tempo pelo mandante).
No âmbito do mandato judicial isto tem de ser lido com cuidado: o advogado deve
seguir instruções do mandante, MAS ao mesmo tempo é necessário conservar
autonomia técnica dos advogados (prerrogativa prevista no estatuto). Deve
considerar-se NULA qualquer instrução ou cláusula que ponha em causa a autonomia
técnica do advogado enquanto tal. Mas já não a definição dos fins da ação: a parte
goza do poder de definir o fim para o qual procura o advogado (é ela que arca com
efeitos da procedência ou não da ação).

A relação de representação cessa nos termos previstos no CC quer mediante


revogação (quando é da iniciativa do mandante) ou por renúncia (quando é da
iniciativa do mandatário) – artigo 1170º CC e 47º CPC.

NOTA: é necessário distinguir eficácia da cessação e eventual dever de não fazer


cessar tal relação. Ou seja, é que pode existir dever de não fazer cessar a relação, mas
68
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

os efeitos da cessação existem. Ato que intenta cessação pode ser válido e eficaz
conquanto houvesse dever de não fazer cessar relação jurídica. Por via de regra,
mandato é sempre revogável ainda que haja convenção em contrário (1170º CC), sem
prejuízo do direito de indemnização que cumpra à contraparte no caso de revogação
intempestiva (1172º CC).

Quanto ao efeito extintivo:

• Deve entender-se que revogação e renúncia podem ser efetuadas a todo o


momento
• Nos termos do artigo 47º/1 CPC, tais atos (revogação e renúncia) devem ter
lugar no processo e devem ser notificados ao mandatário ou mandante e à
parte contrária
• O valor destas comunicações é diferente: para relação de mandato ser
declarada extinta é preciso que integre o processo e que seja comunicada ao
mandatário ou notificada ao mandante (consoante a iniciativa de fazer cessar
mandato). Para a contraparte a notificação tem escopo meramente
informativo.

Quanto ao dever de não cessar relação de mandato:

• No que concerne a renúncia por parte do mandatário (advogado) tem o


mandatário o dever de não fazer cessar, sem justa causa, patrocínio das
questões que lhe foram confiadas (100º/1/e estatuto da ordem advogados).
Mesmo se existir justa causa o mandatário não o deve fazer de forma a
impossibilitar que o cliente obtenha a assistência por outro advogado (100º/2
estatuto da ordem advogados). Caso viole estas regras, a revogação considera-
se eficaz, mas nasce um dever de ressarcir parte pela cessação indevida ou
intempestiva do mandato, consoante não exista justa causa ou, existindo,
tenha sido feita de modo intempestivo, não permitindo ao cliente obter
patrocínio por outro.

A falta de poderes de representação, seja porque nunca foram conferidos seja


porque foram entretanto revogados, pode ser conhecido a todo o momento, quer
arguida pela parte contrária quer conhecida oficiosamente por juiz (48º/1 CPC). Este
regime vale quer para ausência total de poderes de representação quer falta deles
para praticar um ato específico, ou ainda atribuição de poderes de representação, mas
com vício formal.
Em tal caso, o juiz deve fixar prazo para regularização do processado mediante
reintegração da legitimidade do patrono para agir (através da concessão de poderes

69
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

adequados ao mandatário) e ratificação de todos os atos anteriores (48º/2 CPC). Caso


esta regularização não seja feita fica sem efeito tudo o que tiver sido praticado pelo
mandatário (268º CC + 48º/2 CPC).
Sendo o mandatário condenado na custa dos atos a que tenha dado azo, é
também obrigado a indemnizar prejuízos que tenha causado (existindo ainda a sua
possível responsabilização perante a Ordem dos Advogados).

OUTRAS FORMAS DE REPRESENTAÇÃO


NOMEAÇÃO OFICIOSA DE ADVOGADO
Hipóteses em que alguém não consegue obter quem a patrocine na causa. Nestes
casos, atribui-se aos membros da comunidade jurídica a possibilidade de, não
encontrando ninguém na respetiva circunscrição judicial, pedir à Ordem dos
Advogados que lhe designe oficiosamente um advogado.
Mesmo princípio que justifica que em sede de serviços públicos essenciais
se crie verdadeiro dever de contradição por razões de direito público.
A ordem dos advogados, enquanto associação pública que é, tem atribuição de
assegurar acesso ao direito. A competência cabe a cada conselho regional da ordem.
O patrocínio só deve ser recusado por justa causa, uma vez que estamos perante
um verdadeiro dever público de assumir patrocínio (51º/2 CPC).
Hipótese desta é o apoio judiciário: para se garantir acesso ao Direito permite-se
que em certos termos as partes solicitem o apoio judiciário nos termos da lei 34/2004
de 29/7 (lei do apoio judiciário) Entre as diferentes modalidades de apoio engloba-se a
“nomeação e pagamento do patrono” (16º/1/b desta lei) e, nos termos do artigo 30º
desta lei o patrono é designado pela ordem dos advogados.
Outras formas de apoio: pagar custas da ação, por exemplo.

PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
Ver ponto acima.

GESTÃO DE NEGÓCIO
Para efeitos processuais a diferença entre gestão de negócios e representação
sem poderes é que naquele caso (gestão) a falta de poderes do gestor é feita através
do advogado (49º/2 CPC). Também aqui deve ser fixado um prazo para que seja
ratificada a gestão (artigo 49º/3 CPC), sob pena de gestor ser condenado nas custas e
danos que tiver gerado (artigo 49º/2 CPC).
70
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A gestão só é admitida em caso de urgência.


PATROCÍNIO JUDICIÁRIO OBRIGATÓRIO
Neste caso constitui pressuposto processual.
Artigos 40º/2 CPC e 208º CRP
Na maioria das ações o patrocínio judiciário é obrigatório. Disto decorre que
mesmo a parte podendo agir por si em juízo (ou seja, mesmo a parte tendo capacidade
judiciária) exige-se que a sua atuação seja mediada por profissional do foro (à partida,
advogado).
NOTA: a representação por advogado não é uma representação para suprir
incapacidade judiciária. Tem capacidade judiciária a pessoa que pode agir por si em
juízo ou através de representante por si voluntariamente escolhido.

Nos termos do artigo 40º/2 CPC MESMO quando seja necessária a constituição de
advogado, os advogados estagiários, solicitadores e partes podem fazer requerimentos
onde não se suscitem questões de direito.
Quando não tenha sido constituído mandatário (partes agem por si próprias em
juízo) a inquirição das testemunhas é feita pelo juiz.

O patrocínio judiciário é exigível nas hipóteses do artigo 40º/1 CPC:

• Alínea a): interpretação corretiva → é necessário patrocínio judiciário nas


ações de valor superior a alçada dos tribunais de 1ª instância (fixado pelo artigo
44º/1 LOSJ – 5 000€)
o Alçada: valor fixado para efeitos de limitação de recurso ordinário
• Alínea b): nas causas em que seja sempre admissível recurso,
independentemente do valor da causa
o Exemplo: ação relativa à validade ou subsistência de contrato de
arrendamento (629º/3/a CC)
▪ Regime também vale para casos em que tema do arrendamento
tenha sido introduzido pelo réu: a obrigatoriedade do patrocínio
judiciário é questão que se coloca perante objeto do processo e
definição global deste pode também depender de questões
suscitadas na contestação
• Alínea c): recursos e ações que devam ser propostas diretamente nos tribunais
superiores (68º e 69º CPC e 55º e 73º LOSJ)
Havendo patrocínio judicial obrigatório a petição inicial ou contestação devem ser
acompanhadas de procuração.

71
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Não é igual o regime aplicável ás hipóteses de falta de constituição de patrocínio


judicial obrigatório do autor ou réu.
1. Pelo autor: no caso de ser indicado mandatário judicial (isso deve integrar
petição inicial – 552º/1/b CPC) pode a secretaria recusar o recebimento da
petição (558º/1/c CPC)
a. Recusa da petição inicial pela secretaria. Da recusa cabe reclamação
para juiz, que deve constituir prazo para constituição de mandatário sob
pena de réu ser absolvido da instância (41º CPC). Dado que é falta que
se nota no início da ação é exceção dilatória (278º/1/e e 577º/h CPC).
b. Caso se detete a falta de patrocínio em momento ulterior vale o mesmo
regime.
i. Oficiosamente ou a requerimento de parte, o juiz fixa prazo para
regularização da instância (41º CPC)
c. Caso o mandatário renuncie ao mandato o mandante goza do prazo de
20 dias para constituir novo mandatário. Por identidade de razão este
regime parece dever valer também para hipóteses de revogação do
mandato pelo mandante. Não o fazendo, instância suspende-se
(47º/3/a CPC).
d. Impedido de agir processualmente caso não o faça no período de 6
meses a instância pode extinguir-se por deserção (281º/1 CPC)
e. Deve admitir-se que réu requeira a prossecução dos termos da ação.

2. Parte do réu: essa não constituição tem por efeito a ineficácia da defesa (artigo
41º CPC). Aplica-se regime da revelia (567º/1 CPC).
a. Caso se trate de cessação superveniente da relação de mandato valerá,
com adaptações, o mesmo regime
b. Não constituindo mandatário no prazo de 20 dias o processo segue os
seus termos (47º/1/b CPC)
Na hipótese de autor ou réu serem requerentes de procedimento ou incidente a
cessação da relação de mandato tem por efeito a extinção do referido enxerto da
instância (47º/3/c CPC).

Regime especial merece a cessação do mandato por MORTE DO MANDATÁRIO


(morre advogado):
O facto que leva à extinção da relação é facto natural, pelo que falecimento do
advogado ou a sua impossibilidade absoluta de exercer mandato é configurada pelo
CPC como causa de suspensão da instância (artigo 269º/1/b CPC).
Suspende-se logo que seja feita prova do facto (271º CPC).

72
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A suspensão cessa logo que parte em causa tenha constituído outro advogado ou
cesse impossibilidade (276º/1/b CPC).
Demorando a parte respetiva na respetiva constituição pode a contraparte
requerer que seja fixado prazo para constituição de novo advogado sob pena de se
aplicar regime previsto para falta de constituição inicial de advogado (276º/3 e 41º
CPC).

NOTA: em ações civis, pessoa que seja advogado pode litigar em causa própria.

73
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

6. PRESSUPOSTO PROCESSUAL: COMPETÊNCIA


A relação jurídico-processual ou instância tem duas fases:
1. As próprias partes da ação, que colocam uma determinada questão a
apreciação do sistema público de justiça
2. O tribunal a quem é conferido o poder de dirimir a lide (poder de oferecer uma
solução para o litígio). Para tanto são necessárias duas coisas: que seja
reconhecido ao tribunal o poder jurisdicional e também a sua concreta
competência para se pronunciar sobre o fundo da causa (conceito de jurisdição
e de competência)
A competência é pressuposto processual atinente ao tribunal (artigos 59º e
seguintes CPC e LOSJ).

Jurisdição vs competência:

• Jurisdição: dicção do Direito; o poder de, com força vinculante, dizer o que vale
como Direito de cada um. Trata-se de um poder que nas modernas
comunidades o Estado chama a si. Mesmo quando o Estado reconhece o poder
de outras entidades para exercer de forma vinculante funções jurisdicionais
não prescinde do poder de determinar as entidades a quem reconhece esse
poder. Atributo fundamental de qualquer poder soberano, uma das principais
pretensões de qualquer comunidade jurídica. Portanto, por jurisdição entende-
se este poder que o Estado chama a si de determinar em última palavra quais
as posições jurídicas de cada um
o Num sentido mais restrito, e deixando de parte o Tribunal
Constitucional (a quem cumpre a função de jurisdição em matéria
jurídico-constitucional – artigos 221º e seguintes CRP + 30º LOSJ) e o
Tribunal de Contas (ao qual cabe garantir a regularidade das despesas
públicas realizadas por aqueles que estão sujeitos à sua tutela – artigos
214º CRP + 29º/1/c e 149º LOSJ), verifica-se a existência de duas ordens
jurisdicionais (artigo 209º CRP): ordem dos tribunais judicias (STJ e
demais tribunais judiciais de 1ª e 2ª instância – artigos 211º CRP + 31º e
seguintes LOSJ) e ordem dos tribunais administrativos e fiscais (STA e
demais TAF – artigos 212º CRP + 29º/1/b LOSJ)
▪ Estas duas ordens articulam-se segundo um critério de
especialidade: ordem dos tribunais judiciais cumpre tratar de
todas as matérias que não cumpre a nenhuma outra (artigos
211º CRP + 64º CPC)
o Em sentido amplo designa o poder que é atribuído ao conjunto de todos
os tribunais de um Estado (sentido de jurisdição que se lança mão
quando se diz que resolução de caráter internacional pertence à
jurisdição do país x). Em sentido mais restrito designa já o poder que é
74
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

atribuído a todos os tribunais integrantes de uma certa ordem


jurisdicional.

• Competência: uma vez fixada a jurisdição, a competência designa a fração de


poder que é atribuída a cada tribunal concretamente delimitado. Por razões
organizatórias, o Estado divide a sua rede judiciária em diferentes tribunais
repartindo o exercício concreto de poder jurisdicional pelos diferentes
tribunais. Portanto, a competência representa o quantum de jurisdição que é
atribuída a cada concreto tribunal ou a cada concreto juízo a que competência
de cada tribunal se desdobra.
A repartição de competência entre os diferentes tribunais está assim estritamente
ligada à organização judiciária. Por direito da organização judiciária entende-se o
direito institucional dos órgãos jurisdicionais. Em boa medida, as regras de delimitação
de competência pressupõem a existência de diversos tribunais, pressupõem um certo
modelo de organização judiciária.
Tratando-se de tribunais judiciais temos organizado o sistema de justiça de acordo
com ideia de especialização: criação de tribunais de competência especializada para
conhecimento de certas causas. Como contraprincípio a este temos a ideia de justiça
de proximidade: especialização não deve ser de tal ordem que membros da
comunidade jurídica se tenham de deslocar várias horas para chegar a tribunal
competente para julgar a causa. A estas duas razões há ainda uma 3ª: a partir de um
certo grau de especialização já não é conveniente continuar o processo de divisão de
matérias, sob pena de se perder a unidade do sistema jurídico.
Cabe aos órgãos políticos determinar, em cada momento, o modo como se
equilibram estes princípios. Isto é matéria de competência reservada da Assembleia da
República (artigo 165º/1/b CRP – reserva relativa).

Para efeito de repartição de competência serve-se o nosso direito de 4 critérios:


1. Matéria (64º e 65º CPC + 40º LOSJ)
2. Valor da causa (66º CPC + 41º LOSJ)
3. Hierarquia (67º a 69º CPC + 42º LOSJ)
4. Território (70º a 84 CPC + 43º LOSJ)
→ Artigos 37º/1 LOSJ e 60º/2 CPC
NOTA: a forma de processo continua a ser fator a considerar na fixação da
competência (ainda que a lei não o diga explicitamente). Isto porque a forma de
processo comum permanece como um dos fatores a considerar na fixação de
competência do juízo cível da instância central (artigo 117º/1/a LOSJ). O legislador em
2013, uma vez que terminou com a categoria dos tribunais de competência específica,

75
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

retirou a forma de processo como critério de aferição de competência porque este


tipo de tribunais tinha competência de acordo com forma de processo aplicada.
As regras de repartição da competência dos diferentes tribunais servem ainda o
propósito de garantir a independência dos tribunais. Se a competência está
determinada por lei então vai ser designado, sem qualquer preferência, o tribunal
competente para dirimir a causa. Se a montante se fixa a competência para ação, a
jusante proíbe-se o respetivo desaforamento (artigos 38º e 39º LOSJ, respetivamente).

Distinção a fazer:

• Competência interna: fração de competência que é atribuída a cada tribunal


• Competência internacional: competência que os tribunais no seu conjunto têm
(os limites da sua jurisdição)

PRINCÍPIOS GERAIS
Vale como regra fundamental da delimitação da competência dos tribunais o
princípio da kompetenz-kompetenz: a cada tribunal é conferido o poder de pelo menos
se pronunciar sobre a sua própria competência para conhecer do mérito da causa. É
um corolário do princípio que os tribunais são independentes e que lhes é reconhecida
a força de dizer o direito.
A competência é fixada no momento em que ação se propõe em função do modo
como autor delimita relação material controvertida (38º LOSJ).
A competência afigura-se como pressuposto processual, isto é, como uma
daquelas condições que têm de estar verificadas para tribunal conhecer do fundo ou
do mérito da causa. Falta de competência dá lugar a exceção dilatória (artigo 577º/a
CPC) que obsta a que tribunal conheça sobre fundo da causa (576º/2 CPC).
Consoante o tipo de incompetência em causa pode a sua falta dar lugar a
absolvição da instância (278º/1/a CPC – incompetência absoluta) ou remessa do
processo para tribunal competente (105º/3 CPC - incompetência relativa).
Caso se desrespeitem as regras de repartição de competência isso não é
fundamento de oposição à sentença nos termos do artigo 728º CPC, nem de recurso
de revisão (artigo 696º CPC) – pode ser interposto depois do trânsito em julgado da
decisão.
O facto de decisão ter sido pronunciada por tribunal incompetente
(sentença condenatória é título judicial) não é fundamento de oposição à
execução nem recurso de revisão.

76
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A incompetência de tribunal, mesmo na sua modalidade mais grave, participa do


regime geral dos pressupostos processuais: uma vez alcançado o trânsito em julgado
da sentença, a deficiência que afetou o processo perde a sua nocividade. Portanto, a
decisão final de mérito está apta a projetar para o exterior os efeitos do caso julgado
material.
6.1 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA
A hierarquização dos tribunais tem como finalidade permitir, dentro de
determinados requisitos, a reapreciação das decisões por tribunais situados num
escalão superior. Ou seja, visa-se assegurar o direito ao recurso (artigo 42º/1 LOSJ +
20º CRP) – esta é uma das dimensões do direito de acesso aos tribunais.

REGRA GERAL: na ordem dos tribunais judiciais as ações dão entrada, por via de
regra, nos tribunais que se situam na base da hierarquia que são os tribunais de 1º de
instância, independentemente do seu valor.
Para efeitos deste critério de repartição de competência, o valor da ação não
colhe, não é relevante.

Artigos 629º e 644º e seguintes do CPC + 68º/2 CPC + 73º/a LOSJ → Em regra, a
impugnação faz-se por recurso dos tribunais de 1ª instância para relação.
A intervenção dos tribunais de 2ª instância não corresponde a novo julgamento:
cada recurso tem o seu objeto próprio definido a partir das conclusões do recurso,
conclusões essas através das quais o recorrente sinaliza quais os pontos da decisão
que pretende ver alterados (artigos 635º/2 a 4, 639º e 640º CPC). Fora do campo de
intervenção os tribunais ad quem só podem conhecer o que seja de matéria oficiosa.
Recorre-se da 1ª instância para 2ª não para se reanalisar tudo.

As decisões proferidas pela Relação por via de recurso podem ser reapreciadas
pelo STJ (artigo 69º CPC) mas dentro de quadro legal mais restrito: valor da ação é
diferente (admissibilidade do recurso – regra da dupla conforme) e poderes de
correção da decisão proferida (porque STJ não funciona como tribunal de 3ª instância,
desempenhado função específica que diz respeito a reapreciação do tema que não
envolvam formulação de juízos sobre a prova – artigos 634º CPC e 46º LOSJ).
Portanto, se a parte vencida ou parcialmente vencida não estiver satisfeita com
decisão de 1ª instância sobre matéria de facto (tribunal deu como provados dados
factos e parte entende que tribunal devia ter compreendido algo diferente), pode
recorrer disto para a Relação, mas não para STJ. Se tiver sido violada norma, então
quanto a isso STJ já pode conhecer (STJ conhece de direito, e não de facto).
77
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

O recurso de revista (671º e seguintes CPC) está vocacionado para realização de


objetivos ligados ao aperfeiçoamento da aplicação do Direito.

Há hipóteses excecionais em que os tribunais superiores podem intervir como


tribunais de 1ª instância (artigos 68º/1 e 69º/1 CPC):
1) Em matéria civil, compete às secções cíveis dos tribunais da Relação julgar as
ações propostas contra juízos de direito e militares de primeira instância, Procuradores
da República e Procuradores Adjuntos por causa das suas funções, assim como julgar
os processos de revisão e conformação de sentença estrangeira sem prejuízo da
competência legalmente atribuída a outros tribunais (dentro do espaço da UE não é
preciso haver esta revisão) - artigo 73º/b e e LOSJ
2) Por sua vez, às secções cíveis do STJ compete julgar as ações propostas contra
juízes do STJ e dos tribunais da relação, magistrados do MP que exerçam funções junto
destes tribunais ou equiparados por causa das suas funções (artigo 55º/c LOSJ).

NOTA: há hipóteses excecionais em que subida dos recursos ao STJ é feita sem
necessidade de recorrer ao tribunal intermédio (recurso per saltum): quando haja
acordo das partes nesse sentido e quando estejam preenchidos requisitos (regra da
alçada e sucumbência) – artigo 678º/1 e 2 CPC. Este recurso depende de despacho
favorável do relator. O caráter híbrido deste recurso manifesta-se no respetivo regime
jurídico na medida em que segue tramitação correspondente ao recurso de revista
mas os seus efeitos regem-se para o que está disposto para recurso de apelação
(672º/3 CPC).

6.2 COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA


Por competência em razão da matéria entende-se a delimitação da competência
em razão da matéria objeto do processo (do tipo de problema cuja resolução é
colocada à apreciação de um tribunal). Para isso é fundamental apreciar a petição
inicial em todos os seus elementos, qualificar o problema jurídico que se suscita.
As regras de delimitação da competência em razão da matéria interessam em dois
níveis diferentes:
1. É por intermédio delas que se vai determinar qual a ordem jurisdicional
competente para dirimir litígios
a. Havendo diferentes ordens jurisdicionais, como há, é preciso
determinar qual a competente. Sendo ordens que se relacionam em
termos de residualidade/especialidade então o que temos de nos
78
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

interrogar é se a competência para dirimir essa causa compete a outra


ordem jurisdicional que não a judicial. Caso não seja assim, como a
ordem dos tribunais judiciais tem competência residual, caso não seja
da competência de outra rodem será deles (artigos 211º/1 CRP + 40º/1
LOSJ + 64º CPC)
b. Competência da ordem jurisdicional administrativa e fiscal: artigos 1º,
4º/1 ETAF
i. Se couber dentro do âmbito de aplicação deste artigo, então
competência é dos Tribunais Administrativos e Fiscais
1. Por regra, determina-se com clareza o que pertence a
cada ordem
ii. MAS ações de responsabilidade civil propostas contra entidade
pública são um ponto mais melindroso (sobre competência). Nos
termos do artigo 4º/1/h ETAF compete aos Tribunais
Administrativos o conhecimento dos litígios que tenham por
objeto a responsabilidade civil extracontratual dos demais
sujeitos (além de titulares de órgãos, funcionários, agentes,
trabalhadores e demais servidores públicos) a que seja aplicável
o regime específico da responsabilidade do Estado e demais
pessoas coletivas públicas
1. Atos praticados no exercício de prerrogativas de direito
público (critério para aferir da competência dos TA):
consoante se conclua pelo exercício ou não de tais
prerrogativas, aquando da prática do ato lesivo, então se
concluiria pela competência ou não dos TA
2. É para estas regras que se olha para delimitar qual o concreto tribunal
competente para conhecer da ação

DENTRO DA ORDEM DOS TRIBUNAIS JUDICIAIS…


1. Tribunais de competência territorial alargada (têm competência sobre mais que
uma comarca)
a. Tribunal de propriedade intelectual (83º/3/a e 111º LOSJ)
b. Tribunal de concorrência, regulação e supervisão (83º/3/b e 112º LOSJ)
c. Tribunal marítimo (83º/3/c e 113º LOSJ)
2. Tribunais de comarca
a. Juízos de competência puramente especializada
i. Juízos de família e menores (81º/3/g + 122º a 125º LOSJ)
ii. Juízos de trabalho (81º/3/h + 126º e 127º LOSJ)
iii. Juízos de comércio (81º/3/i + 128º LOSJ)
iv. Juízos de execução (81º/3/j + 129º LOSJ)
b. Juízos centrais e locais cíveis (competência residual): forma e valor
(olhamos para matéria em relação aos outros todos)
79
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

i. Juízos centrais cíveis (81º/3/a e 117º LOSJ)


ii. Juízos locais cíveis (81º/3/b e 130º LOSJ)
iii. Juízos de competência genérica (81º/1 LOSJ)
NOTA: território nacional está dividido em comarcas (23). Em cada uma há um
respetivo tribunal.
NOTA 2: se não houver juízo de competência puramente especializada na comarca
e ação for competente, então ele vai para central cível ou local cível consoante valor
(superior a 50 000 ou inferior, respetivamente).

1) Tribunais de competência territorial alargada


O território PT está repartido em 23 comarcas (33º/2 LOSJ + anexo II).
As regras de competência em razão de matéria servem, em 1º lugar, para
determinar se conhecimento do litígio é da competência de um dos tribunais de
comarca ou de um dos tribunais de competência territorial alargada. Sendo
competente um tribunal de comarca, aplicam-se as regras de competência em razão
da matéria para determinar qual o juízo competente para conhecer da causa.
Cabe determinar se causa é de competência de um dos tribunais de competência
territorial alargada. Estes tribunais são a exceção à regra que tribunais de 1ª instância
são os de comarca (29º/3 LOSJ).
Em comum a estes tribunais está a extensão da competência ao conhecimento
dos incidentes e apensos à ação principal assim como a execução das decisões (artigos
111º/2, 112º/3 e 113º/2 LOSJ).

1.2) Tribunal de propriedade intelectual


É um tribunal de competência territorial alargada com competência para conhecer
das causas constantes do artigo 111º LOSJ. Tem competência sobre todo o território
nacional e tem sede em Lisboa (anexo III LOSJ).

1.2) Tribunal de concorrência, regulação e supervisão


É um tribunal de competência territorial alargada com competência para conhecer
das causas constantes do artigo 112º LOSJ. Tem competência sobre todo o território
nacional e tem sede em Santarém (anexo III LOSJ).
Consultando as competências próprias conclui-se que tem competência para
ações de natureza administrativa respeitando a impugnação de atos praticados por
entidades administradoras independentes.

80
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

1.3.) Tribunal marítimo


É um tribunal de competência territorial alargada com competência para conhecer
das causas constantes do artigo 113º LOSJ. Tem competência sobre departamento
marítimo do norte, centro e sul e tem sede em Lisboa (anexo III LOSJ).
Artigo 113º/3 LOSJ: nas ações não abrangidas pela área de competência do
tribunal marítimo as respetivas competências são atribuídas ao tribunal de comarca.

2) tribunais de comarca
Sendo causa não integrante de nenhum dos tribunais referidos a competência
será do tribunal de comarca que corresponde à unidade básica da organização
judiciária.
Dentro de cada comarca a competência em razão da matéria é desdobrada em
diferentes juízos (81º LOSJ) num feixe de relações de especialidade e residualidade.
Aos diferentes juízos de competência especializada previstos no artigo 81º/3 LOSJ,
quais sejam em matéria jurídico-privada o juízo central cível, o juízo local cível, o juízo
de família e menores, de trabalho, de comércio e de execução, acrescem a estes os
juízos de competência genérica que conhecem habitualmente de qualquer causa não
atribuída a outro tribunal.
A comarca está dívida em instância central e instâncias locais. A marca dominante
da instância central é a especialização: integram a instância central o juízo central cível,
de família e menores, trabalho, comércio e execução. Estes últimos são os tribunais de
competência puramente especializada. Mas resulta do artigo 130º/2 LOSJ que os
juízos de competência genérica da instância local podem também desdobrar-se em
secções, juízos cíveis e criminais. A única diferença entre juízo local cível e juízo de
competência genérica, também na instância local, é que o 2º conhece de matéria civil
e penal e o 1º só de matéria civil.
Portanto, dentro da própria instância local pode haver este desdobramento.
Na medida em que alguns juízos de competência especializada têm competência
para conhecer residualmente das causas que competiriam a outros juízos, caso não
existam, cabe distinguir entre juízos puramente especializada e juízos de competência
especializada para umas causas e residual para outras.

NOTA: dentro de cada tribunal de comarca a competência de cada juízo pode


estar repartida em função do território. Na comarca de Lisboa Oeste, que engloba o
território dos municípios da Amadora, Cascais, Mafra, Oeiras e Sintra, há 5 juízos locais
cíveis, um por cada um dos municípios mas só há dois juízos centrais cíveis (Sintra –
Sintra, Amadora e Mafra; Cascais – Cascais e Oeiras). Se concluíssemos que era da
competência de juízo comércio, que está junto de instância central, temos que ter em
81
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

atenção que só há duas, pelo que se tem que aplicar regras da competência em razão
do território para ver territorialmente em qual dos municípios se situa o litígio (se se
situar em Mafra – porque réu tem domicílio aqui - o litígio vai para juízo central de
Sintra).

2.1.) juízos de competência puramente especializada


São juízos de competência puramente especializada aqueles que não gozam de
competência residual para conhecer de nenhuma outra ação. Ou seja, a especialização
destes tribunais significa que julgam apenas aquelas matérias que lhes foram
discriminadamente atribuídas pelo legislador. Para além destas, ele não tem
competência residual para conhecer quaisquer outros litígios.

a) juízo de famílias e menores


Artigos 81º/3/g + 122º a 125º LOSJ
São competentes para qualquer uma das causas constantes dos artigos 122º a
125º LOSJ. Elemento comum às causas previstas é a sua relação com o estado familiar.
Muitas das causas da competência destes juízos seguem forma processual específica
(processos de jurisdição voluntária na maioria das vezes).
Organização tutelar de menor: ter atenção a essas regras

b) juízo de trabalho
São competentes para qualquer uma das causas constantes do artigo 126º LOSJ.
Elemento comum às diferentes causas: respeitam a relações individuais ou coletivas de
trabalho.
Muitas causas que são da competência deste juízo seguem uma forma processual
específica dada a aplicação do Código de Processo de Trabalho.

c) juízo de comércio
Artigos 81/1/i + 128º LOSJ
São competentes para qualquer uma das causas constantes do artigo 128º LOSJ. O
elemento comum às diferentes causas previstas é respeitarem a relações que
envolvam a insolvência ou orgânica de sociedades comerciais (não basta que uma ação
envolva sociedade comercial para que competência seja deste juízo).

82
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Processos de insolvência seguem procedimento próprio – processo de insolvência


que está previsto no respetivo código.

d) juízo de execução
São competentes para qualquer uma das causas constantes do artigo 129º/1 LOSJ
(ação executiva que não seja da competência de qualquer outro juízo; há que conjugar
com nº2)
2.2) Juízos centrais e locais cíveis
Não sendo a causa do conhecimento de nenhum tribunal de competência
puramente especializada então essa competência será dos juízos centrais ou locais
cíveis, cuja competência se fixa não em razão da matéria, mas do valor e forma de
processo (41º LOSJ). Ou seja, a lei chama ‘juízo competência especializada cível’, mas
isto não é verdadeiramente um tribunal de competência especializada. Portanto, o que
legislador quis foi eliminar a categoria dos tribunais de competência específica.
Como são tribunais de competência residual é fator positivo de atribuição de
competência o facto de não haver outro juízo a que essas competências sejam
atribuídas.
a) juízos centrais cíveis
Artigo 81º/3/a e 117º LOSJ
NOTA: se não for da competência deste vai para locais cíveis ou de competência
genérica.
Nos termos do artigo 117º/1 LOSJ os juízos centrais cíveis têm competência para o
seguinte (alíneas):

• Alíneas a, b e c: Ações declarativas cíveis que sigam forma de processo comum


(de outro modo já vai para juízos locais) de valor superior a 50 000€
o Para além disso são também competentes para ações executivas que
não sejam de competência de outro tribunal ou juízo de valor superior a
50 000€ e para procedimentos cautelares relativos a qualquer uma das
ações da sua competência (ligados a uma ação principal para cujo
conhecimento eles sejam competentes)
• Acrescem ainda as ações de competência de juízo de comércio de valor
superior a 50 000€ quando não existam na comarca em causa juízos de
comércio (117º/2 LOSJ)

b) juízos locais cíveis

83
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

competência para todas as demais causas cíveis (artigo 130º/2 LOSJ). Ou seja, são
tribunais de competência residual em matéria cível. A única diferença entre juízos
locais cíveis e de competência genérica é que estes últimos gozam também de
competência em matéria criminal.
c) juízos de competência genérica

NOTA: juízos de proximidade (artigo 130º/5 e 6 LOSJ)


Operam por meras repartições administrativas dos tribunais, mas não são centros
decisórios.
Outro critério: valor e forma de processo. O valor, não isoladamente considerado,
mas em ligação com forma de processo funciona como critério de competência. Só
quando processo for de forma comum é que entra valor como critério positivo de
competência de juízo central cível
Note-se que se valor for superior a 50 000€ já é da competência do juízo
central cível.

6.3. COMPETÊNCIA EM FUNÇÃO DO TERRITÓRIO


As regras de competência em razão do território têm 2 finalidades: em 1º lugar,
servem para repartir o conhecimento das diferentes ações pelas comarcas que se
estendem perante todo o território nacional; e em 2º lugar, servem para repartir a
competência dentro de certo tribunal de comarca por vários juízos que existem dentro
dessa comarca.
Para o efeito, serve-se a lei de diversos critérios de conexão (fatores que permitem
localizar a relação jurídica litigada, associando-a a uma comarca específica). Por essa
razão, deve em princípio interpretar-se a petição inicial, qualificando-a para assim se
fixar a competência do tribunal (38º LOSJ).
São 2 as preocupações fundamentais do legislador: (i) por um lado, garantir que
conheça da causa o tribunal territorialmente mais próximo do lugar em que se
encontrem certos bens que integrem a causa de pedir; (ii) e, por outro lado, a
preocupação de proteger o réu, facilitando a respetiva defesa. É isto que justifica que, à
falta de regra especial, seja no domicílio do réu que este seja demandado.

As regras de competência podem ser alvo de algumas classificações:


O elemento de conexão pode ser… LEGAL ou CONVENCIONAL:

84
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

• Legal: quando a própria lei determina o tribunal competente para conhecer da


causa.
• Convencional: quando as partes, por acordo, e dentro dos limites consentidos pela
lei, o determinam.

A competência também pode ser… ESPECIAL ou RESIDUAL:


• Especial: quando se fixe que aquele é o tribunal competente para o conhecimento
de certa causa
o Por exemplo, o foro de situação da coisa (forum rei sitae, no sentido de foro
da situação dos bens – artigo 70º CPC) – encontra-se fixado em lei especial
para aquelas situações
• Residual: quando se fixe a competência de certo tribunal à falta de regra especial
atributiva de competência
o Por exemplo, o forum rei (no sentido de lugar do domicílio do devedor) – é
critério supletivo de atribuição de competência (só se aplica se não houver
critério especial).

As regras de competência em razão do território também pode ser… EXCLUSIVAS


ou CONCORRENTES:
• Exclusiva: quando se fixe um só tribunal para o conhecimento de certa causa.
• Concorrente: quando permita ao autor a escolha do tribunal em que propõe a ação.

As regras atributivas de competência em função do território podem ainda ser…


OBJETIVAS ou SUBJETIVAS:
• Objetiva: quando seja fixada em função de uma certa característica da relação
jurídica litigada (por exemplo, lugar da situação do imóvel).
• Subjetiva: quando seja fixada em função de uma característica ligada ao autor ou ao
réu (por exemplo, o respetivo domicílio).

6.4. COMPETÊNCIA LEGAL


REGRAS ESPECIAIS DE COMPETÊNCIA:
1)* AÇÕES REAIS: forum rei sitae (70º CPC) → este artigo prevê como regra o
designado fórum rei (ou foro da situação do bem - o tribunal competente é aquele em
que se situem os bens). Mas em que casos se aplica este critério especial? Nos termos
do nº1 do artigo 70º, aplica-se esta regra do foro da situação do bem para ações
respeitantes a ações sobre direitos reais de gozo sobre bens imóveis, a ação de divisão
85
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

de coisa comum, de despejo, de preferência e de execução específica sobre imóveis, e


ainda as de reforço, substituição, redução ou expurgação de hipotecas.
➢ Exemplos: compropriedade (1403º CC), usufruto (1439º CC), uso e habitação (1484º
CC), superfície (1534º e seguintes CC) e servidão predial (1543º e seguintes CC).
➢ Outro exemplo: ação de reivindicação (1311º CC) de qualquer um destes direitos
(1315º CC).
➢ No mesmo preceito, prevê-se também a aplicação a ações de despejo, ações de
preferência (1410º CC e 421º/2 CC) e as ações de execução específica sobre móveis
(1430º/1 CC).
➢ Deve aplicar-se esta mesma regra às ações possessórias, uma vez que as pretensões
possessórias têm natureza real.
➢ Outros casos de aplicação dizem respeito a ações pessoais de gozo sobre imóveis –
como a locação (1122º e seguintes CC) ou o comodato (1129º e seguintes CC).
➢ Outra hipótese: respeitando a ação a universalidade de facto, ou bens móveis e
imóveis, ou imóveis situados em circunscrições diferentes, é proposta no tribunal
correspondente à situação dos imóveis de maior valor (artigo 70º/3 CPC).
➢ Tratando-se de hipoteca, as ações respeitantes ao respetivo reforço, substituição,
redução ou expurgação devem ser propostas no foro da situação dos bens (70º/1
CPC).
➢ Tendo a hipoteca por objeto navio ou aeronave, deve a ação ser instaurada na
circunscrição da respetiva matrícula (70º/2 CPC). Tratando-se de ação relativa a
execução de hipoteca sobre veículo, deve o processo de apreensão ser proposto no
local da residência habitual ou sede do proprietário (15º/1 DL 7475 de 12 de
dezembro).
➢ Já não se enquadrará no âmbito desta disposição, do artigo 70º CPC, a ação
destinada a declarar a nulidade de um contrato real ou a respetiva anulação.
➢ NOTA: esta regra de competência territorial é de conhecimento oficioso.

2)* OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS (artigo 71º/1 CPC): tendo a ação por objeto o
cumprimento de certa obrigação, a indemnização por não cumprimento ou o
cumprimento defeituoso ou a resolução do contrato por falta de cumprimento - valem
aqui 2 regras:
➢ Hipótese 1): a ação deve ser proposta no domicílio do réu (forum rei);
➢ Hipótese 2): se, contudo…
• O réu for pessoa coletiva OU autor e réu tenham domicílio na mesma área
metropolitana do Porto ou Lisboa (veja-se o anexo II Lei 75/2013 de 12/09), a
ação pode também ser proposta no lugar em que a obrigação deveria ser
cumprida.

86
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Isto pode ser convencionado, e o CC fixa qual a regra supletiva: via de regra,
corresponde ao domicílio do devedor (artigo 772º CC). MAS: em especial, os
artigos 773º, 774º, 875º, 1039º, 1195º, 1531º e 2270º → aqui, a obrigação deve
ser cumprida no domicílio do autor que litiga a ação incumprida. Trata-se aqui
de um foro concorrente facultativo (veja-se, por exemplo, a importância do
artigo 774º CC).
• Sendo a ação proposta contra pessoa singular E pessoa coletiva, cabe, em razão
da proteção reservada à pessoa singular, a aplicação da regra que deve a ação
ser intentada no foro do domicílio do réu (não se aplica a possibilidade de se
poder optar pelo foro de situação dos bens, não obstante haver um réu que é
pessoa coletiva).

3)* AÇÕES DE RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL (artigo 71º/2 CPC):


tratando-se de ação de responsabilidade civil extracontratual, deve a ação ser proposta
no lugar da prática do facto danoso. Esta regra vale para a responsabilidade
extracontratual a título de culpa, mas também a título de risco. Teixeira de Sousa e Lebre
Freitas consideram que se deve apontar tal disposição também à responsabilidade pré-
negocial. MAIS: também será de apontar para ações complexas (várias circunscrições) -
parece que a ação deverá ser proposta onde se pratiquem os factos mais relevantes OU,
não sendo possível formular tal juízo, em qualquer das circunscrições (70º/3 CPC).

4)* AÇÃO DE DIVÓRCIO E DE SEPARAÇÃO (artigo 72º CPC): tratando-se de ação de


divórcio ou separação, é competente o tribunal do domicílio ou residência do autor.
NOTA: esta norma parece hoje desajustada ao regime material do divórcio –
porque, historicamente, havia casamento civil e casamento católico, só sendo admitido
o divórcio com causa justificativa (direito conjugal violado, por isso pretendia-se
proteger o autor); MAS, nos termos do artigo 1781º/1/d CC, admite-se hoje o divórcio
pela rutura do casamento. Por isso, deixa de ter sentido a norma do POV de proteção
do autor.

5)* AÇÃO DE HONORÁRIO (artigo 73º/1 CPC): para a ação de honorários, de


mandatários judiciais ou técnicos (*técnicos na aceção do artigo 50º) e para a cobrança
das quantias adiantadas ao cliente, é competente o tribunal da causa na qual foi
prestado o serviço, devendo aquela correr por apenso. Já no caso de honorários que não
sejam relativos a uma certa ação (por exemplo, resultante de uma simples consulta
jurídica), aí aplica-se o artigo 71º/1 CPC (que diz respeito ao cumprimento de
obrigações).

87
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A propósito do artigo 73º/1 CPC, há uma questão que tem ocupado os nossos
tribunais: sendo ação proposta num juízo de competência especializada, o qual não tem
competência para as ações de especialidade, será esse o tribunal competente para
conhecer da causa? A nossa jurisprudência tem entendido que estes tribunais de
competência especializada não são materialmente competentes para resolver o litígio
em causa, uma vez que essa forma de repartição da competência é autónoma (critério
em razão do território é autónomo do critério em função da matéria).

→Encontram-se ainda previstas outras regras especiais de distribuição da


competência em razão do território…:
6)* AÇÕES RELATIVAS A NAVIOS (artigos 74º a 78º CPC);

7)* PROPOSITURA DE PROCEDIMENTOS CAUTELARES E DILIGÊNCIAS


ANTECIPADAS (78º CPC e regime no 364º/3 CPC)

8)* NOTIFICAÇÕES JUDICIAIS AVULSAS (79º CPC e regime nos artigos 256º a 258º
CPC)

9)* SUCESSÕES (forum hereditatis) – para o processo de inventário são


competentes os cartórios notariais sediados no domicílio do lugar da abertura da
sucessão (3º/1 regime jurídico do processo de inventário e 2031º CC).

Isto quanto aos critérios especiais…

CRITÉRIO RESIDUAL: forum rei (artigos 80º e 81º CPC)


Caso não se tenham verificado nenhuma das regras especiais (suprarreferidas),
aplica-se a regra supletiva: é competente o tribunal do domicílio do réu (80º/1 CPC).
Nos termos do artigo 82º/1 CC, o domicílio do réu é o lugar da sua residência – com esta
norma pretende-se proteger a posição do réu.
Caso não tenha residência habitual ou sendo incerto ou ausente, é demandado no
tribunal do domicílio do autor (80º/2 CPC), salvo quando se pretenda requerer a
curadoria dos seus bens (89º e seguintes CC), onde a competência do tribunal do último
domicílio.
Hipótese regida em particular é aquela em que o agente tem domicílio ou residência
no estrangeiro – e vigoram aqui 3 regras do artigo 80º/3 CPC: (i) é demandado no
tribunal do lugar em que se encontrar; (ii) não se encontrando em território português,
88
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

é demandado no do domicílio do autor; (iii) e quando este domicílio for em país


estrangeiro, é competente para a causa o tribunal de Lisboa.

Tratando-se o réu de pessoa coletiva é preciso distinguir: se réu for Estado é


competente tribunal do domicílio do autor (81º/1 CPC), se for uma outra pessoa
coletiva ou sociedade deve ser demandado no lugar da sede da administração
principal ou na sede da sucursal, agência, filial, representação caso ação seja movida
contra estas (81º/2 CPC).
Artigo 13º CPC: casos em que é atribuída personalidade judiciária às filiais,
agências, sucursais, etc.
Dentro esta competência residual cabem todas as hipóteses para as quais não haja
sido previsto regra especial de competência (em razão do território),
Exemplos:

• Ação de declaração de nulidade ou anulação de NJ


• Ação de declaração de nulidade ou anulação de deliberação social

PLURALIDADE DE RÉUS E CUMULAÇÃO DE PEDIDOS


Havendo vários réus a ação deve ser proposta no tribunal de domicílio com maior
número. Caso número de domicílios seja igual, autor escolhe (82º/1 CPC).
Se autor cumular pedidos para cuja apreciação sejam territorialmente
competentes diversos tribunais, pode escolher qualquer um deles para a propositura
da ação, salvo se a competência para apreciar algum dos pedidos depender de algum
dos elementos de conexão que permitam o conhecimento oficioso da incompetência
relativa (82º/2 CPC, remetendo para 104º CPC). Se pedidos estiverem em relação de
prejudicialidade deve ser proposta ação para tribunal competente do pedido principal
(82º/3 CPC).

PACTOS DE COMPETÊNCIA OU DE AFORAMENTO


As regras de competência são à partida regras de interesse público, resultantes da
oportunidade ou conveniência de que certas causas sejam reservadas a certos
tribunais.
Todavia, os diferentes sistemas jurídicos admitem, em certos termos que a
competência seja modificada por convenção das partes. Esses acordos das partes
designam-se pactos de jurisdição quando dizem respeito a competência internacional
e chamam-se pactos de competência ou de aforamento quando digam respeito à
competência interna.
89
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

No nosso direito não se admite que as regras de competência em razão da


matéria, hierarquia ou valor da causa possam ser afastadas por vontade das partes.
Portanto, apenas é possível o afastamento das regras da competência em razão do
território. MAS NÃO TODAS: apenas as que não são de conhecimento oficioso (95º/1
CPC).

O pacto de competência está sujeito a determinados requisitos (95º/1 e 2 CPC):


1. Só pode ter por objeto o afastamento de regras de competência em razão de
território que não sejam e conhecimento oficioso nos termos do artigo 104º
CPC
2. Deve a declaração negocial ser expressa (95º/1 CPC, 217º/1 CC)
3. Está sujeito ora à forma do contrato para a resolução de cujo litígio dele
emergente se fixa competência (95º/2 CPC), ora à forma escrita nos termos do
artigo 94º/4 CPC
4. Deve designar as questões a que se refere o acordo (requisito da
determinabilidade), podendo faze-lo pela específicação do facto jurídico
suscetível de as originar (originar as questões abrangidas pelo acordo), nos
termos do artigo 95º/4 CPC
5. Deve fixar o critério para determinação do tribunal competente (artigo 95º/2
CPC)
Falhando algum destes requisitos a convenção é NULA (280º CC). verificados todos
os requisitos considera-se competente o tribunal escolhido pelas partes (efeito
processual). A declaração negocial das partes é valorizada como apta para modificar
competência para conhecimento da causa.
Além destas hipóteses, pode o pacto de aforamento ser considerado nulo se
inserto de cláusulas contratuais gerais (19º/g CCG – cláusula relativamente proibida).

EXTENSÃO DA COMPETÊNCIA
O resultado da aplicação das regras que estabelecem com caráter geral a
competência dos tribunais é de ser afastado, sobretudo no que concerne competência
territorial em virtude da interferência de normas que deslocam ações para foros
diferentes daqueles que eram designados através dos critérios de que legislador partiu
(a escolha inicial do legislador, com base em critérios que têm por base a celeridade e
qualidade, tem de ser afastado tendo em conta interesses de eficácia de defesa do
réu).
Um dos aspetos fundamentos do processo é a possibilidade de réu submeter à
apreciação do tribunal todos os meios de defesa de que entenda prevalecer-se,
devendo afastar-se as conexões que são usadas para determinar a competência
territorial sempre que a sua aplicação estrita acabe por arrastar para outros tribunais a
90
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

apreciação de outros argumentos aduzidos pelo réu. Ou seja, estende-se competência


do tribunal para matérias que réu haja trazido na sua defesa mesmo que pela
aplicação das regras de competência esse tribunal não fosse competente (artigo 91º/1
CPC). O tribunal competente para ação é também competente para conhecer dos
incidentes que nela se levantem e questões que réu suscite como meio de defesa.
Exemplo: uma sociedade comercial com sede no Porto propõe no tribunal de
comarca de Coimbra uma ação contra pessoa singular domiciliada aí por
incumprimento de dado contrato, tendo sido intentada na Comarca de Coimbra com
base na regra do artigo 71º/1 CPC. O réu invoca na sua contestação uma causa de
anulabilidade do referido negócio jurídico. A competência para conhecimento desta
matéria pertence ao tribunal com base no artigo 91º/1 CPC. O réu aqui está-se a
defender por exceção perentória: se estes factos constitutivos fossem deduzidos com
fundamento de ação de anulação daquele contrato, apresentada numa ação
autónoma dirigida a esse fim, o tribunal territorialmente competente seria o que
decorre da aplicação da regra do artigo 81º/2 CPC (tribunal da sede da administração
principal – portanto, tribunal competente seria o da Comarca do Porto). Todavia, a
competência vai ser do tribunal onde deu entrada a ação (extensão da competência
resultante do artigo 91º/1 CPC).

Incidentes
Não estamos no domínio estrito da defesa.
Artigo 91º/1 CPC alarga competência do tribunal onde deu entrada a ação para
conhecimento dos incidentes. Está aqui em causa a relação funcional que se
estabelece com ação principal, determinando a perda da autonomia processual da
questão.
NOTA: o legislador admite isto, mas coloca eficácia da decisão tomada a propósito
dos incidentes, uma vez transitada em julgado, no plano do caso julgado formal. A
incompetência do tribunal para se pronunciar sobre aquela questão deixa de relevar
enquanto pressuposto processual, mas os termos em que decisão projeta os seus
efeitos sofrem marca de limitação ao processo no qual réu suscitou questão. Porém,
qualquer uma das partes pode requerer, nos termos do 91º/2 CPC, que a questão
nascida como incidente receba tratamento processual reservado aos pedidos
autónomos. Se for esse o caso, a decisão de mérito que venha a ser proferida
produzirá efeitos do caso julgado material. Isso é possível nos termos do 91º/2 CPC se
tribunal onde ação for proposta tiver competência internacional em razão da
hierarquia e matéria.

91
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Diferente regime é o que vale para as questões prejudiciais. Estes são os casos em
que réu transporta para processo temas que entram na zona de jurisdição dos
tribunais criminais ou administrativos.
Artigo 92º/1 CPC não admite nesta hipótese que decisão a proferir venha a ter
efeito de caso julgado material. Não admite porque aqui já está em causa a
competência em razão da matéria (ou seja, a competência absoluta do tribunal).
O tribunal, caso entenda que essa é solução mais equilibrada face às
circunstâncias concretas, pode sobrestar na decisão até que tribunal competente se
pronuncie, MAS a suspensão enquanto se aguarda decisão do tribunal competente
está submetida a determinados limites que querem evitar mora excessiva (92º/2 CPC).
A suspensão cessa se ação penal ou administrativa não for exercida dentro de um mês
ou se respetivo processo estiver parado por negligência das partes durante o mesmo
prazo. Ainda nos termos deste artigo, se instância não tiver sido suspensa ou
suspensão ficar sem efeito dá-se competência a juiz da causa para decidir da questão
prejudicial, mas caso julgado terá apenas eficácia formal na questão do conhecimento
destes incidentes.
No que diz respeito aos pedidos reconvencionais, o réu pode utilizar a contestação
para deduzir pedidos contra o autor, mediante condicionalismo previsto na lei (266º
CPC). Ao usar esta faculdade o réu alarga âmbito de questões submetidas à apreciação
do tribunal. Artigo 93º/1 CPC: alarga competência do tribunal da ação para questões
reconvencionais desde que tenha competência para elas em razão da nacionalidade,
matéria e hierarquia.
INCOMPETÊNCIA
Inobservadas as regras de repartição de competências entre tribunais judiciais o
concreto tribunal ou juízo em que ação foi proposta deve considerar-se incompetente
para conhecer da causa (exceção dilatória nos termos do 577º/a CPC). São dilatórias as
exceções seguintes:

• Incompetência absoluta e relativa (577º/a CPC). Estas distinguem-se em função


de três fatores fundamentais: regime de conhecimento, efeitos de
conhecimento e tempo para conhecimento
o Incompetência absoluta, na economia legislativa, correspondem às
hipóteses de incompetência mais grave
▪ Juiz pode conhecer oficiosamente desta matéria, da falta deste
pressuposto, podendo faze-lo a todo o tempo, mas não sempre
▪ Efeito: absolvição do réu da instância
o Incompetência relativa: menos grave
o Comum aos dois regimes está o facto de o momento próprio para
conhecimento da competência ser fase de condensação e saneamento.
A decisão de incompetência, idealmente, deverá ser proferida antes do
despacho saneador (já o que se julga competente deve ter lugar no
92
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

despacho saneador), isto para que despacho saneador já venha a ser


proferido pelo tribunal competente (isto no caso da incompetência
relativa em que consequência é remessa para tribunal competente) OU
para que não venha a ser proferido despacho saneador inutilmente
(porque na incompetência absoluta a consequência é absolvição do réu
da instância).
Problema que surge: normalmente quer os advogados quer os juízes servem-se de
formulários processuais que contêm um conjunto de fórmulas de estilo para diferentes
atos processuais que depois se limitam a adaptar ao objeto do litígio, ao caso concreto.
Portanto, no despacho saneador o tribunal é chamado a conhecer da regularidade da
instância. É frequente, contudo, a inserção destas formas. O tribunal está a
pronunciar-se sobre regularidade da instância, mas não está a conhecer
concretamente destas questões. Para evitar que se forme caso julgado formal (decisão
sobre regularidade da instância, verificação dos pressupostos processuais) sobre tais
questões que não são efetivamente conhecidas (limitou-se usar aquela forma),
dispõem os artigos 595º/1/a e 595º/3 CPC que no que toca a conhecimento de
exceções dilatórias ou debilidades processuais o despacho saneador só faz caso
julgado formal quanto às questões concretamente apreciadas.
Se réu se defendeu por exceção dilatória na contestação, aí tribunal
quando profere despacho saneador tem de conhecer sobre essa matéria. Note-
se que se for pressuposto sanável deve usar despacho pré-saneador para
convidar ou regularizar ele próprio a instância.
Importante porque quando há caso julgado formal depois isto não pode
ser apreciado por outro tribunal nem pelo mesmo tribunal, mais tarde no
processo.

INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA
Causas:
Determinam a incompetência absoluta do tribunal a infração de regras de
competência em razão de matéria, hierarquia e competência internacional (artigo
96º/a CPC), assim como a violação de um pacto privativo de jurisdição ou preterição
de tribunal arbitral (artigo 96º/b CPC). Até 2013 estas duas últimas causas davam lugar
apenas a incompetência relativa. Agora dão origem a incompetência absoluta, mas há
desvio a regime geral: incompetência absoluta nestes casos não é de conhecimento
oficioso.

• Regime de admissão: vale como regra a incompetência pode ser arguida pelas
partes, mas também conhecida oficiosamente pelo tribunal (97º/1 e 578º CPC).

93
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

No que concerne a violação de pacto privativo de jurisdição ou preterição de


tribunal arbitral voluntário tem de ser arguido pelas partes (97º/1 e 578º/2ª
parte CPC)
• Tempo de arguição: vale como regra que tribunal pode conhecer desta matéria
a todo o tempo, provocada ou oficiosamente, até ao trânsito em julgado. O que
significa que é possível que questão da competência venha a ser apenas
suscitada inclusivamente junto do tribunal de recurso. Portanto, sendo tribunal
de 1ª instância hierarquicamente competente e tendo conhecido da matéria
em despacho saneador forma-se caso julgado formal e tribunal de recurso não
pode reapreciar. MAS tratando-se de violação de regras de competência em
razão da matéria entre tribunais judicias a questão só pode ser arguida ou
oficiosamente conhecida até ser proferido despacho saneador ou, se não
houver, até ao início da audiência final (97º/2 CPC). O momento próprio para
conhecimento da incompetência absoluta deve ser antes do despacho
saneador ou no saneador (artigo 98º CPC), ainda que possa conhecer dessa
matéria depois (isso se estivermos na regra do conhecimento a todo o tempo).
• Efeitos: a verificação de uma situação de incompetência absoluta tem por
efeito, caso haja despacho liminar, o indeferimento liminar do pedido de
citação do réu, isto salvo quando não seja de conhecimento oficioso (se for de
conhecimento provocado então não pode haver indeferimento liminar –
preterição de pacto privativo de jurisdição e de acordo de tribunal arbitral). A
consequência, caso seja conhecido depois, é absolvição do réu da instância
(99º/1 CPC). A decisão produz, à partida, caso julgado formal (100º CPC) –
destina-se a proteger princípio da kompetenz-kompetenz -, salvo quando em
recurso interposto para STJ este determine qual o tribunal competente (101º/1
CPC). Caso a Relação considere que competência é de um tribunal
administrativo ou fiscal o recurso é interposto para Tribunal de Conflitos
(101º/2 CPC). Este tribunal intervém preventivamente (porque não há ainda
conflito, apenas se tendo sido levantado questão), para evitar que exista
conflito de jurisdição entre tribunal administrativo e judicial. Artigo 110º CPC.
o DL 23/185, de 30 outubro de 1933 (competência do tribunal de
conflitos): artigo 17º - dirime conflitos de jurisdição entre tribunais
judiciais e administrativos
Admite-se, porém, que se aproveitem os efeitos da primitiva ação caso o autor
requeira no prazo de 10 dias contados do trânsito em julgado da decisão a
respetiva remessa para tribunal em que ação deveria ter sido proposta (99º/2
CPC), aproveitando-se, porém, apenas os articulados (ou seja, elementos não
afetados por incompetência do tribunal). O réu pode opor-se alegando não ter
exercido os seus meios de defesa.

É sempre admissível recurso com fundamento em incompetência absoluta


(629º/2/a CPC).
94
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

INCOMPETÊNCIA RELATIVA
O regime da incompetência relativa vale sobretudo para os casos de violação das
regras de competência fundadas no valor da causa, divisão judicial do território ou em
pacto de competência ou de aforamento (102º CPC)

Regime de arguição:
Vale como regra que a incompetência relativa pode ser arguida pelo réu, devendo
ser deduzida na contestação, oposição ou resposta ou, não havendo lugar a estas no
1º meio de defesa de que réu disponha (103º/1 CPC). O réu deve indicar logo as
provas pertinentes (103º/3 CPC). Autor pode responder logo no articulado
subsequente a que haja lugar OU em articulado próprio no prazo de dez dias (103º/2
CPC), e apresentar logo provas pertinentes (103º/3 CPC).
Quando réu invoca isto temos incidente que corre termos dentro da própria ação.
Este incidente visa resolver definitivamente a questão da competência. Havendo
vários réus e sendo exceção deduzida só por um podem os outros contestar (106º
CPC). Vale como exceção, em dados casos, a incompetência relativa ser de
conhecimento oficioso.
Nas causas elencadas no artigo 104º/1/a CPC no âmbito dos quais se contam as
ações relativas ao foro da situação dos bens (70º CPC), lugar de cumprimento da
obrigação quanto à respetiva propositura da ação no domicílio do reu (71º/1/1ª parte
CPC), e ações de responsabilidade civil (71º/2 CPC).
Nos termos do artigo 104º/1/b CPC: processos cuja decisão não seja precedida de
citação do requerido.
Nos termos do artigo 104º/1/c CPC: causas que devam decorrer na pendência de
outro processo.
Nos termos do artigo 104º/2 CPC: incompetência em razão do valor causa é
sempre de conhecimento oficioso.

Casos em legislação extravagante: artigos 146º e 147º da OTM

Tempo de arguição:
Só pode ser conhecida até despacho saneador ou se este não tiver lugar até ao
primeiro despacho subsequente à fase dos articulados (104º/3 e 595º/1/a CPC).

95
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Efeitos:
A decisão que diz respeito à incompetência relativa resolve definitivamente a
questão da competência (105º/2 CPC). Da decisão há recurso suspensivo de
reclamação até à relação (105º/4 CPC). Transitada em julgado a decisão produz caso
julgado formal com força obrigatória dentro do processo (620º/1 CPC). Processo é
remetido para tribunal competente que não poderá reapreciar questão (105º/3 CPC).

6.5. COMPETÊNCIA INTERNACIONAL


Perante uma situação plurilocalizada quais os tribunais de cada país que são
competentes para dirimir o litígio (sendo certo que a atribuição de competência
internacional implica também a importação da lex internacional desse estado, ou seja,
o seu DPC ou Direito privado)
Deve ter-se em conta dois regimes: sistema autónomo (o nosso sistema, assente
no CPC) e regulamento Bruxelas I reformulado (regulamento UE nº 1215/2012).

Ao abrigo do regulamento reformulado as decisões com força de título executivo


de outros E-M valem no espaço da UE sem ser preciso qualquer processo de revisão
das respetivas sentenças (decisões podem circular entre os E-M).
Artigo 66º/1 do regulamento só são abrangidas pelo regime as ações judiciais
intentadas assim como os instrumentos autênticos formalmente redigidos (…).
Ora, o regulamento prevalece sobre o sistema autónomo. Para aplicação do
regulamento temos de estar dentro do seu âmbito de aplicação material (litígios civis e
comerciais, embora não todos) ou que se verifique qualquer fator de inclusão
(qualquer fator que arraste para território da UE o referido litígio).

SISTEMA AUTÓNOMO
Artigo 59º CPC: a competência internacional dos tribunais portugueses pode
resultar de algum dos fatores elencados nos artigos 62º e 63º CPC (fatores de
conexão), a que acrescem os pactos de jurisdição (artigo 94º CPC) - acordos das partes
sobre matéria de competência internacional.
No artigo 63º CPC estão previstas as chamadas competências exclusivas.
Se os tribunais portugueses forem chamados a conhecer da sua própria
competência, competência internacional, em que situação é de litígio plurilocalizado
(diferente nacionalidade das partes não é suficiente para atribuir caráter

96
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

plurilocalizado ao litígio), se não for de aplicar este regulamento ou a convenção,


então deve aplicar-se estas regras do CPC para aferir da sua própria competência.
A falta de competência internacional, nos termos do CPC, gera incompetência
absoluta do tribunal. Esta exceção dilatória é de conhecimento oficioso. Aliás,
diferentemente do regime do regulamento de Bruxelas.
NOTA: a regra ao nível da legislação comunitária é que ela respeita a lex fori mas
há alguns aspetos regulados por regulamento: quanto a conhecimento do tribunal
sobre regras de competência, valem as seguintes regras…

• Tribunais dos E-M devem conhecer oficiosamente da sua competência


internacional em 2 situações:
o Quando objeto principal da ação envolva alguma das matérias para que
artigo 24º do regulamento estabelece competências exclusivas o
tribunal deve declarar-se incompetente ex oficio in iuris (artigo 25º
regulamento)
o Quando o réu não intervenha no processo tratando-se de pessoa ou
entidade com domicílio ou sede na UE (28º/1 regulamento)
▪ O modo de funcionamento deste sistema pode conduzir à
atribuição de competência em situações de aceitação tácita pelo
réu da jurisdição em tribunal incompetente (26º/1 regulamento)
– isto sempre com exclusão dos casos de competência exclusiva.
Ou seja, incompetência desaparece se réu, exceto se tiver em
causa violação de competência exclusiva, intervier no processo
sem a arguir (incompetência releva nos termos do regulamento
através da arguição do réu, desde que este compareça em juízo).
Se réu não intervier na ação aí é um caso em que tribunal deve
oficiosamente conhecer da sua competência.
Regressando ao sistema autónomo…
Artigos 978º e seguintes CPC regulam o processo especial de revisão de sentença
estrangeira. Portanto, o sistema autónomo desempenha função específica relativo a
reconhecimento de sentenças de tribunais exteriores à UE (porque em relação à UE
aplica-se regulamento). Este processo especial impõe ao tribunal PT que exerça algum
controlo sobre competência do tribunal de origem: problema de competência
internacional indireta (ou seja, o tribunal está a aferir da competência de um outro
tribunal que proferiu decisão, e não da dele).

Artigo 63º CPC: competências exclusivas. Por exemplo, os tribunais PT são


exclusivamente competentes em matéria de direitos reais sobre imóveis (alínea a).
Trata-se de situações com ligação forte com Estado, que retira aos demais Estados em
situação plurilocalizada o poder de julgar qual a melhor jurisdição para dirimir litígio.
Assim, estas normas são consideradas excecionais porque em matéria de
97
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

determinação da competência internacional o ponto de partida é que juízes mantém


poder de verificar se há ou não outras jurisdições para se pronunciarem sobre a
questão controvertida. Por outro lado, retira-se às partes o poder de celebrar
validamente acordos no sentido de afastarem jurisdição de foro exclusivo (artigo
94º/3/d CPC).
No caso de uma ação ser intentada num tribunal português em violação de um
pacto privativo de jurisdição que por sua vez contraria uma norma do artigo 63º CPC.
Numa situação plurilocalizada foi celebrado pacto de jurisdição para afastar
competência dos tribunais portugueses, mas contrariando norma do artigo 63º CPC.
Mas apesar disso ação foi intentada em tribunal português, sendo isto possível porque
apesar de autor estar vinculado a esse pacto decidiu intentar ação num tribunal
português.
Note-se que tribunal PT não pode conhecer da violação do pacto. Mas o
réu vem na sua contestação defender-se por exceção dilatória invocando a
violação do pacto privativo de jurisdição.
OU SEJA: no caso de uma ação ser intentada num tribunal português em violação
de um pacto privativo de jurisdição que por sua vez contraria uma norma do artigo 63º
CPC e réu invocar incompetência absoluta do tribunal (exceção dilatória não é de
conhecimento oficioso), o que é que tribunal deve fazer? Deve considerar inválido o
pacto (porque viola norma de competência exclusiva), e julgar-se internacionalmente
competente para julgar o litígio.

Fatores de conexão do artigo 62º CPC:


Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes quando…

• Alínea a): princípio da coincidência. Este critério da alínea a) acaba por atribuir
às normas de competência territorial do CPC o alcance de, ao mesmo tempo
que intervenham na repartição da competência entre os tribunais portugueses,
permitindo fixar a competência dentro de uma das 23 comarcas ou fixar o juízo
competente dentro dessa comarca, fixar a competência da globalidade dos
tribunais nacionais perante os tribunais estrangeiros. Isto com LIMITAÇÕES
(porque estas normas são pensadas em 1ª linha para resolver problemas de
repartição de jurisdição a nível interno): 80º/2 e 3 CPC este princípio não se
aplica; a verificação de um fator de competência territorial não desencadeia
ipso facto a competência internacional dos tribunais portugueses, que mantém
o poder de verificar se há outra ordem jurídica melhor colocada para resolver o
litígio e que não decline a sua jurisdição. Portanto, são meros indícios
reveladores da competência internacional.
• Alínea b): princípio da causalidade. A definição de causa de pedir para efeitos
da atribuição da competência internacional não corresponde à mesma

98
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

definição que legislador usa para delimitação do objeto do processo. A


definição de causa de pedir são factos da vida real que preenchem previsão de
norma jurídica que prevê efeito jurídico que autor quer acautelar. Em matéria
de competência internacional deve atender-se num caso como este a toda a
operação negocial desempenhada pelas partes, o que pode implicar
desempenhar atos jurídicos num local diferente daquele onde foi realizado
contrato (contrato celebrado no estrangeiro, mas serão realizados atos
jurídicos em Portugal pelo agente, devendo por isso atender-se a toda a
operação negocial desenhada pelas partes). Não são quaisquer factos
produtores de efeitos jurídicos que relevam como fatores de conexão, só
aqueles que produzem consequências ligadas à nossa ordem jurídica.
• Alínea c): princípio da necessidade.

Duas notas quanto aos pactos atributivos e privativos de jurisdição


Artigo 94º CPC

• Nº1: estes acordos podem traduzir-se quer na atribuição de competência para


julgamento de dado causa a tribunal escolhido pelas partes (pactos atributivos)
quer no afastamento da competência resultante de normas de conflito de
jurisdições de algum dos Estados de contacto com litígio (pactos privativos de
jurisdição). Só é possível a sua celebração quando a relação litigiosa tiver
contacto com mais que uma ordem jurídica, afastando o CPC a possibilidade de
as partes celebrarem pactos destinados a atribuir competência a tribunais
estrangeiros quando litígios tenham caráter meramente interno. O contacto
com ordens jurídicas deve estabelecer-se por carateres objetivos, sendo
irrelevante a nacionalidade das partes. Não se exige, no entanto, que o tribunal
escolhido se situe dentro da organização judiciária dos Estados cujas ordens
jurídicas tenham conexão com a relação controvertida (tribunais de 3os países
podem ser designados, mesmo sem conexão).
• Nº 3: prevê os requisitos de validade

REGULAMENTO DE BRUXELAS I REFORMULADO


As normas da convenção desempenham uma função dupla: resolvem problema da
atribuição da competência internacional direta (preveem as situações em que os
tribunais dos Estados envolvidos disponham de jurisdição para conhecer de questões
plurilocalizadas) e, por outro lado, eliminam a necessidade das respetivas ordens de,
nas fases de reconhecimento e execução, se controlarem os critérios utilizados pelos
tribunais de origem na determinação da respetiva competência internacional (porque
normas que aplicam são as mesmas). Ora, criar-se conjunto de normas de regras de

99
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

competência internacional direta comum elimina-se à partida o espaço onde poderiam


surgir as questões de competência internacional indireta.
O regulamento manteve o sistema de repartição de competências entre os E-M
que já vinha da convenção de Bruxelas de 1978 e construída a partir do foro, domicílio
ou sede do demandado. Mas há inovações:
✓ Atribuição de eficácia executiva imediata em qualquer dos E-M às decisões
judiciais e aos atos equiparados que tenham força executória do Estado de
origem. Ou seja, desaparece, com a entrada em vigor deste regulamento, o
processo especial previsto nos artigos 38º e seguintes do regulamento nº
44/2001, para a declaração de executoriedade (artigo 39º regulamento).

Âmbito de aplicação do regulamento


➔ Âmbito de aplicação material (artigo 1º/1): matéria civil e comercial. As regras
de competência estabelecidas no regulamento não abrangem totalidade de
questões que tecnicamente se podem clarificam como civis ou comerciais:
estão excluídas toda a problemática relativa à aferição da competência
elencada no artigo 1º/2.
o Se está fora deste âmbito, aplica-se sistema autónomo.
o Ou seja… Âmbito de aplicação material: litígios civis e comerciais, sem
prejuízo do disposto no artigo 1º/2
NOTA: às normas de competência internacional provenientes da UE cabe
determinar qual o E-M cujo sistema judicial se irá ocupar do julgamento da questão
que tem ponto de contacto com mais de um ordenamento jurídico. Uma vez
determinada a competência dos tribunais de qualquer E-M pertence depois às normas
internas do E-M determinar qual o tribunal competente. As normas de competência
internacional apenas determinam os tribunais de que estado é que são competentes.
Há, contudo, casos, em que o legislador da UE chamou a si a definição do critério
relevante para o estabelecimento da competência territorial dentro do E-M. Trata-se
de políticas da UE voltadas à proteção de interesses específicos, como interesse dos
consumidores, em que se aproveitam regras de conflito de jurisdições como forma de
resolver problema de competência interna. Exemplo: artigo 18º/1 do regulamento (o
consumidor pode optar pela circunscrição territorial do lugar do seu domicílio para
propor a ação que execute o regulamento, atribuindo competência internacional ao
mesmo tempo à ordem jurídica dentro da qual se situa o tribunal do seu domicílio).
➔ Fator de integração no espaço territorial da UE (é preciso que este se
verifique): é necessário que se verifique, para estarmos dentro do âmbito de
aplicação do regulamento, algum fator de integração do litígio no sistema de
integração de competência internacional direto da UE. Ora, a integração do
litígio no território dotado do sistema comum de regras de competência

100
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

internacional direta faz-se por intermédio de algum dos seguintes fatores de


conexão:
o Objeto do litígio: na hipótese de ocorrer em relação ao território dos E-
M alguma das competências exclusivas estabelecidos no artigo 24º
regulamento
o Domicílio ou sede do réu, independentemente da sua nacionalidade, no
território de qualquer dos Estados abrangidos pelo regulamento
(artigos 4º/1, 5º/1, 62º e 63º regulamento)
▪ Se o réu não se encontra domiciliado no espaço da UE em
princípio cada Estado aplica as suas regras próprias de
determinação da competência internacional (o seu sistema
autónomo), nos termos do artigo 4º/1 regulamento
▪ Se olharmos para a secção II do regulamento ela tem por
epígrafe “competências especiais”. Chave está no artigo 7º/1. As
pessoas domiciliadas num E-M podem ser demandas noutro E-M
em matéria contratual, em matéria extracontratual, etc.
Portanto, nestas situações, partindo destes fatores de conexão,
a integração do litígio no âmbito territorial da união faz-se
exclusivamente através do elemento de conexão representado
pelo domicílio ou sede do réu. E fator de integração para
aplicação do regulamento é domicílio ou sede do réu na UE. Aos
demais fatores de integração do artigo 7º não foi reconhecida a
autonomia de que precisavam para atuar ao nível idêntico ao do
artigo 4º. Ora, estas conexões do artigo 7º funcionam apenas
como competências opcionais que permitem por vontade do
autor afastar a competência dos tribunais dos E-M onde se
encontra domicílio ou sede do réu. Apesar de se dizer
competências especiais não o são no sentido de que se
verificando afastam o artigo 4º/1, dão é sim ao autor uma
escolha: domicílio ou sede do réu OU tribunal relativo ao fator
de conexão aplicável. Aplicar artigo 7º só pode ser feito para
excluir artigo 4º/1. A competência do artigo 4º/1 é pressuposto
geral de relevância dos fatores do artigo 7º. Ou seja, os fatores
de conexão do artigo 7º não relevam por si só, estando na base
o artigo 4º/1 (a sede ou domicílio do réu num E-M).
• Exemplo 1: o regulamento não é aplicado no caso do
domicílio ou a sede do réu se localizar fora dos países da
UE, mas, no entanto, o lugar do cumprimento da
prestação que está na base do litígio se situar num
desses países. O lugar do cumprimento (artigo 7º/1) foi
considerado pelo legislador comunitário conexão
bastante no sentido de afastar competência que resulta
domicílio ou sede do réu que resulta de outro E-M, mas
101
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

não tem eficácia para atuar como fator autónomo de


atribuição de competência.
• Exemplo 2: uma sociedade com sede nos EUA dispõe de
sucursal em território português (artigo 7º/5
regulamento). Esta sucursal interveio na celebração de
contrato. Num caso como este não é o regulamento que
dá resposta ao problema da competência internacional
dos tribunais portugueses. A sede do réu é fora da UE.
Aplica-se sistema autónomo: artigo 62º/a ou b E artigo
82º/1/1ª parte CPC. MAS se a administração principal
tiver sede no espaço da UE aplicava-se no artigo 4º/1,
aplicávamos regulamento, e depois sendo sucursal
localizada noutro E-M aí o autor podia optar entre E-M
da sede ou da sucursal.
o A vontade das partes* visto a atribuição convencional de jurisdição de
qualquer destes Estados dar origem, ainda que nenhuma das partes
tenha domicílio ou sede localizada na UE, à sua competência exclusiva
para julgamento das questões a que acordo se refere, a menos que haja
estipulação em contrário (25º/1 regulamento)
o Domicílio ou sede do autor num E-M da UE quando demande réu
domiciliado ou com sede em estado 3º (que não pertence ao sistema
comum de competência direta da UE): artigo 6º/2 regulamento
Vimos atrás que as regras do regulamento visam solucionar problemas de
competência internacional e não se imiscuir quanto ao tribunal concretamente
competente (aí valem regras de cada E-M). O autor não pode optar entre tribunal do
domicílio ou sede do réu e algum dos tribunais apontados por fatores de conexão do
artigo 7º quando ambos pertençam à organização judiciária do mesmo estado. A
faculdade atribuída ao autor de intentar ação perante tribunais de estado diferente
daquele onde réu está domiciliado só tem justificação se litígio estiver ligado à ordem
jurídica de outro E-M através de algum dos fatores de conexão previstos no artigo 7º.
Ou seja, as competências resultantes do artigo 7º apenas relevam quando os fatores
de conexão nela utilizados desloquem litígio para país diferente daquele onde se situa
domicílio ou sede do réu. Portanto, deve articular-se a competência geral do artigo 4º
com sistema de competências opcionais do artigo 7º para evitar que conexões
autonomizadas por artigo 7º invadam espaço reservado a normas de competência
interna dos respetivos E-M.
Exemplo: na hipótese de uma sociedade comercial com sede em Espanha
demandar sociedade comercial com administração principal situada em Lisboa e
sucursal no Porto, alegando o não cumprimento de contrato celebrado por intermédio
desta última, qual seria o tribunal competente? Artigo 7º/5 regulamento (ações
relativas a contratos celebrados por sucursal geram possibilidade de autor optar por
tribunais do Estado onde se situa sucursal). Mas aqui sucursal situa-se no Porto e ré
102
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

tem administração principal em Lisboa, e autor tem sede em Espanha. Qual a comarca
competente? Onde é que ação é intentada?
Quem tem competência internacional para dirimir litígio? Não há
competência exclusiva (artigo 24º do regulamento), aplicando por isso fator de
conexão do artigo 4º/1 (sede da ré é Lisboa, Portugal). Portanto, aplica-se
regulamento porque estamos dentro do seu âmbito de aplicação material e temos
fator de inclusão. MAS é o tribunal de Lisboa ou Porto? Quanto a isto o
regulamento já não se imiscui porque os tribunais do domicílio da ré, o Estado de
domicílio é o mesmo onde se situa sucursal, pelo que fatores de conexão do artigo
7º não deslocam litígio para outro E-M. Portanto, temos de aplicar as nossas
regras de competência interna.
Portanto, nesta hipótese constitui erro fundamentar a competência do
foro do Porto através do artigo 7º/5 do regulamento. A competência internacional
dos tribunais portugueses decorre do princípio geral do artigo 4º/1 regulamento,
ao passo que competência da comarca do Porto se baseia, aplicando regras de
competência interna (nomeadamente territorial) do CPC, no artigo 81º/2 CPC (se
réu for outra pessoa coletiva, ou sociedade comercial, é competente o tribunal da
sede ou da sucursal, consoante contra quem ação seja proposta).

EM SUMA: fator de integração é o artigo 4º/1 e não normas do artigo 7º/1, e estas
últimas só relevam quando deslocam o litígio para outro Estado.

Pactos atributivos de jurisdição


Hipóteses em que partes afastam competência resultante dos fatores de conexão
do regulamento.
Artigo 25º regulamento: requisitos de que depende a admissibilidade dos acordos
destinados a atribuição de competência internacional.
A estipulação das partes sobre a competência internacional, à semelhança do que
acontece com convenção de arbitragem é tratada como acordo independentemente
do conteúdo do contrato em que esteja inserida. A autonomia de que goza cláusula
atributiva de competência internacional basta que a sua não seja afetada por validade
de cláusula de contrato (25º/5 regulamento). Para que vontade das partes produza
este efeito processual precisamos que se verifiquem dadas condições de fundo: litígio
tem que ter caráter internacional, a designação de tribunal em concreto (25º/1
regulamento) embora e a preferência das partes possa ser tribunal de Estado
relativamente ao qual litígio não tem ligação, a identificação da relação jurídica que
origina o litígio e o respeito das competências de proteção das competências
exclusivas (artigo 24º regulamento), e existem normas para proteger partes mais
fracas (contrato individual de trabalho, proteção de consumidor, etc.)
103
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Os pactos que não respeitem artigos 15º, 19º e 23º ou que infrinjam competência
do artigo 24º não produzem efeitos (25º/4 regulamento).

Não é requisito que qualquer uma das partes tenha domicílio no território de um
E-M (irrelevância do domicílio em E-M). Presentemente não se exige que pelo menos
uma das partes esteja domiciliada ou sediada em algum dos E-M (artigo 25º/1
regulamento). Remissão para esquema anterior sobre fatores de conexão.
Requisitos formais: artigo 25º/1/a a c regulamento
Artigo 26º/1 regulamento vale para casos em que incompetência resulta de facto
de autor infringir pacto atributivo de jurisdição.

104
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

7. MARCHA PROCESSUAL
MARCHA PROCESSUAL:
Vale o princípio de que o processo é público (163º/1 CPC), podendo ser requerido
o exame e a consulta dos autos e a obtenção de cópias e certidões (163º/2 CPC).
Artigos 163º a 171º CPC
Cabe em 1º lugar distinguir entre formas comuns e formas especiais (546º/1
CPC). A determinação da forma de processo é feita em função do pedido que o autor
deduz na petição inicial e é determinada pela lei vigente à data em que ação é
proposta (136º/2 CPC).
O processo comum tem um campo de aplicação residual: aplica-se à falta de
forma processual especialmente prevista para conhecimento de uma dada causa. Se
não for de aplicar uma forma especial então aplicar-se-á uma forma comum. No atual
processo civil o processo comum de declaração tem uma forma única (548º CPC) – não
era assim até 2013. As disposições do processo declarativo comum têm valor
subsidiário para os processos especiais: os processos especiais são regulados pelas
normas respetivas e subsidiariamente pelo processo comum quanto ao que aí não
estiver regulado (549º/1 CPC).
Sem prejuízo da tendencial unidade do processo comum continua a haver
diferenças consoante o valor do processo. Nas ações de valor não superior a metade
da alçada da relação (valor a ter em consideração é 15 000€) parece ser expectável
que sejam introduzidas alterações à marcha processual. Há, neste caso, limitações à
perícia colegial (468º/5 CPC). Por seu turno, nas ações de valor não superior à alçada
da primeira instância (valor a ter em conta são 5 000€) só se podem oferecer 5
testemunhas em lugar das regulares 10 (511º/1 in fine CPC), sendo, por outro lado, os
termos de alegações orais e de réplica aqui, respetivamente, de 30 e 15 minutos,
metade do tempo regularmente concedido (604º/5 in fine CPC).
Os processos especiais, pelo contrário, aplicam-se apenas àqueles casos para os
quais se encontrem especialmente previstos. Alguns têm natureza declarativa, outros
executiva e outros natureza mista. No CPC eles estão previstos nos artigos 878º e
seguintes CPC.
Além dos processos especiais especialmente previstos no CPC há também
formas especiais de processo previstas em legislação avulsa (por exemplo:
processo especial para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de
contrato – DL 279/98 de 1 de setembro, aplica-se a obrigações de valor não
superior a 15 000€ e o procedimento a aplicar é o de injunção; processo de
insolvência e recuperação de empresas; processo de inventário; processos de
jurisdição voluntária).

105
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

NOTA: procedimento de injunção não é uma ação judicial, mas sim


procedimento administrativo destinado a obter um título executivo.
O erro na forma de processo (193º CPC) deve ser oficiosamente conhecido por juiz
(196º CPC), sendo o momento próprio para conhecimento o despacho saneador
(200º/2 CPC). Note-se que são anulados os atos que não puderem ser aproveitados
(193º/1 CPC).
Artigo 193º/3 CPC: uma coisa é erro na forma de processo e outra coisa é o que
este artigo consagra – erro na qualificação do meio processual (corrigido
oficiosamente por juiz determinado que se sigam termos processuais adequados). Este
nº3 já não trata da forma do processo, mas sim do meio processual usado pela parte
no âmbito do processo e determina o aproveitamento do meio que a parte qualificou
erradamente, mas cujo conteúdo se adeque ao meio que devia ter sido utilizado.
Nesse caso, o juiz oficiosamente e observado o princípio do contraditório corrige o
erro e manda proceder à tramitação própria do meio em causa. Embora só se refira
erro de parte o preceito abrange erro do 3º interveniente.
Exemplo: notificados da contestação sem reconvenção o autor apresenta réplica
em que alega facto superveniente (531º CPC).
Outro exemplo: o terceiro cessionário do direito litigioso requer a sua intervenção
principal na causa em vez de requerer a sua habilitação.

7.1. TRAMITAÇÃO PROCESSUAL COMUM


Distinguimos 5 fases: articulados, condensação e saneamento, instrução,
discussão e julgamento, e sentença.
FASE pode compreender-se em vários sentidos: em termos cronológicos designa o
conjunto de atos que decorrem em período temporal delimitado do processo; em
termos teleológicos designa conjunto de atos que satisfazem um certo fim processual.

Finalidade das fases:

• Articulados: colocação dos termos do litígio à apreciação do tribunal


• Condensação e saneamento: ver da regularidade da instância, identificar
questões fundamentais de direito material a resolver
• Instrução: produção de prova
• Discussão e julgamento: debate sobre decisão do tribunal em que quer autor
quer réu procuram influenciar a respetiva decisão
• Sentença: julgamento da causa
o Não sendo interposto recurso ordinário da decisão a decisão considera-
se transitada em julgado e produz caso julgado material.

106
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Poder-dever de adequação formal: artigo 6º/1 CPC consagra princípio da gestão


processual. Este fenómeno de ativismo judiciário culminou com a figura do juiz gestor
do processo. Entre outros poderes-deveres que incumbem ao juiz está o poder de
adequação formal do processo: artigo 547º CPC. A aplicação desta regra pode ter
como consequência a modificação da sequência processual predeterminada na lei.
Ora, esta regra deve ser considerada à luz do conjunto geral do sistema. A finalidade
da introdução deste poder-dever não deverá ser a substituição do legislador pelo juiz.
O juiz está vinculado às diretrizes fundamentais da lei material e processual. A sua
legitimação para decidir a causa é justamente a submissão aos ditames fundamentais
do direito. Portanto, a questão é esta: a própria lei processual procura realizar um
conjunto de valores materiais (a paridade das partes, a autonomia, a responsabilidade,
a segurança, a praticabilidade), ou seja, a simples promulgação da lei processual já
espelha o esforço de realização concreta destes valores. Estando o legislador
vinculado, adstrito, a esta visão de fundo já se vê qual é que é o sentido real deste
poder-dever de adequação formal: não é que o juiz faz o que quer, mas sim que juiz
possa proceder à adequação prática do processo para conseguir responder a certo
problema para o qual não há o devido enquadramento. Não se trata de um poder de
substituição do processo comum, mas sim de completar e desenvolver a tramitação
comum, ou seja, a adequação formal não é uma alternativa à tramitação processual
comum. Isto sob pena de se pôr em causa a garantia que resulta da existência de
formas processuais. O ponto de partida há de ser sempre o reconhecimento das
formas prescritas pelo legislador.

ATOS PROCESSUAIS (artigos 130º e seguintes CPC)


Processo significa avançar, sendo um modo específico de resolução de litígios que
se pretende progressivo. Portanto, o processo estrutura-se a partir de uma sequência
progressiva de atos humanos que se reportam a atos interiores e que visam levar o
processo a novo plano.
Se pensarmos na citação ela pressupõe ato da petição inicial e tem em
vista um novo ato, que é a contestação.
Entende-se por ato processual uma atuação humana que vise produzir efeitos
processuais. Em particular podem praticar atos processuais as partes, através dos seus
mandatários (144º e seguintes CPC) e o tribunal (seja através do juiz – 150º e
seguintes CPC -, seja através da secretaria – 157º CPC).
São dois princípios fundamentais que valem nesta matéria: não se deve praticar
qualquer ato que a lei não admita e não se deve omitir qualquer ato ou formalidade
que a lei prescreva (artigo 195º/1 CPC).

107
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Podemos distinguir atos legítimos (podem ser praticados) dos prescritos (devem
ser praticados).

No que respeita oportunidade dos atos vale princípio geral da proscrição de atos
inúteis (130º CPC).
Quanto ao tempo para a prática de atos: 137º CPC. Quanto ao lugar dos atos: se
forem presenciais, 143º CPC (devem ser praticados por regra no tribunal); se forem
não presenciais, 144º CPC.
Forma dos atos: vale o princípio de que devem observar a forma que mais bem se
preste à prossecução dos fins que visam (131º/1 CPC). A forma dos atos é determinada
pela lei vigente ao tempo da prática (136º/1 CPC)
Os atos devem ser praticados em língua portuguesa (133º/1 CPC) e os não falantes
de língua portuguesa podem exprimir-se em língua estrangeira devendo nomear
interprete quando necessário (133º/2 e 3 CPC). Quanto à tradução de documentos,
134º CPC.
A forma dos atos pode corresponder a modelos pré-dados sendo, no entanto
apenas obrigatórios, salvo disposição especial, quando relativos a atos da secretaria
(131º/2 CPC).
Podem distinguir-se entre atos escritos, orais e materiais: escritos seguem forma
escrita, orais seguem forma verbal e materiais têm natureza física (caso de uma
diligência judicial, por exemplo). Quer os atos orais quer materiais podem ser
reduzidos a escrito. Quaisquer atos escritos, quer por si quer por redução a escrito,
devem observar as cautelas dos artigos 131º/3 e 4 CPC. Os atos escritos podem ser
tratados ou executados por via eletrónica (131º/5 CPC) e via de regra são tratados
eletronicamente (132º CPC). Os atos apresentados em juízo que devam ser praticados
por escrito também devem ser apresentados eletrónica (144º a 147º CPC).
Quanto aos atos orais, a audiência final é sempre gravada (155º/1 CPC). Tratando-
se de outros atos processuais presididos por juiz (na presença de juiz e com ele a
orientar trabalho) o conteúdo e realização são documentados em ata, na
responsabilidade de funcionário judicial (155º/7 e 8 CPC).

Prazos: os atos podem estar sujeitos a prazos.


Modalidades de prazos:

• Artigo 139º/1 CPC: os prazos podem ser dilatórios ou perentórios.


o O 1º difere para certo momento a possibilidade de realização de ato ou
início da contagem de um outro prazo (nº2)
▪ Exemplo: há dilação do prazo para contestar (245º CPC)
108
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

o O 2º extingue o direito a praticar ato (nº 3)


• Artigo 142º CPC: quando prazo perentório se seguir a dilatório os dois contam-
se como um só
o Prazo de 30 dias a que acresce dilação de 5 dias: contam-se como um só
(passa a ser de 35)
Contagem dos prazos:
Artigo 138º CPC: regra da continuidade – o prazo processual estabelecido por lei,
partes ou juiz é contínuo, suspendendo-se durante as férias judiciais salvo se a duração
for igual ou superior a 6 meses ou se for relativo a processo urgente (aí não há esta
suspensão) – artigos 28º LOSJ e 279º/b CC.

Conjugar artigo 138º/2 CPC com artigo 279º/b CC.


Artigo 139º/4 CPC: ato pode ser praticado fora do prazo em caso de justo
impedimento (artigo 140º CPC).
Artigo 139º/5 e nºs seguintes CPC: independentemente de justo impedimento
pode o ato ser praticado dentro dos três primeiros dias úteis subsequentes ao termo
do prazo, ficando a sua validade dependente do pagamento imediato de uma multa,
fixado nas alíneas aí elencadas.
Artigo 141º CPC: prorrogação do prazo (prorrogável nos casos previstos na lei – nº
1). Havendo acordo das partes ele é prorrogado uma vez e por igual período (nº2).
Artigo 149º CPC: regra geral sobre o prazo no caso das partes. Na falta de prazo
especial é este prazo de 10 dias que se aplica.
Artigo 156º/1 CPC: regra geral sobre o prazo no caso do juiz.
Arrigo 156º/2 CPC

NULIDADE PROCESSUAL
A invalidade de ato processual tende a repercutir-se em atos subsequentes
porque processo é uma sequência. A invalidade pode decorrer de disposição expressa
da lei ou de aplicação de cláusula geral. Caso não decorra de prescrição da lei (artigos
186º a 194º CPC) a nulidade afere-se por dois requisitos (195º/1 CPC): 1) prática
indevida ou omissão indevida de certo ato processual; 2) a sua posição influencia sobre
exame ou decisão da causa.
Salvo nos casos previstos no artigo 197º CPC (prevê as situações em que as
nulidades são de conhecimento oficioso enquanto não sanadas) a nulidade só pode ser
invocada pelo interessado na observância da formalidade (nº1), não podendo ser
arguida pelo que lhe deu causa (nº2).
109
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Tempo da arguição da nulidade: dispõe o artigo 198º/2 CPC que a falta de citação
nos termos do artigo 187º CPC e a falta de vista ou exame ao MP como parte acessória
nos termos do artigo 194º CPC podem ser conhecidas em qualquer estado do processo
enquanto não devam considerar-se sanadas. Neste caso, a que se junta para este
efeito o da citação edital (artigo 191º/2/2ª parte CPC), o juiz conhece da nulidade logo
que dela se aperceba (200º/1 CPC). Por sua vez dispõe o artigo 198º/1 CPC o seguinte:
a nulidade pela ineptidão da petição inicial (186º CPC) e o erro na forma do processo
(193º/1 CPC) só podem ser invocados até à contestação ou na contestação sendo à
partida apreciadas no despacho saneador.
Nos outros casos a nulidade deve ser invocada na 1ª oportunidade. Isto é, ou até
que termine o ato que está a decorrer ou no prazo de 10 dias contados do momento
em que tome ou possa tomar conhecimento do ato (199º/1 e 149º/1 CPC).
Devem ser apreciadas logo que sejam reclamadas (200º/3 CPC). Se estão
presentes na realização de um ato que consideremos que existe nulidade processual
invocamos nulidade e juiz tem de se pronunciar automaticamente.
Caso ato seja anulado, anulam-se também todos os termos que dele dependem
(195º/2 CPC). O ato nulo não pode ser repetido caso haja esgotado prazo para a sua
prática (202º CPC).
Artigo 549º CPC: depoimento de parte contrária é preciso prestar juramento. A
omissão deste juramento gera nulidade que implicará, uma vez verificada a eficácia da
influência na regularidade da instrução e decisão da causa, a anulação do depoimento
e a anulação da decisão final se ela já tiver sido proferida. Mas não afetará esta
nulidade os atos, ainda que posteriores, relativamente a outros procedimentos
probatórios (audição de outras testemunhas, etc.).

CUSTAS PROCESSUAIS
Regulamento das custas: lei 42/2012, de 22/12.
A decisão sobre intentar ação também está dependente disto.
Artigo 145º CPC: comprovativo do pagamento da taxa de justiça tem que vir
anexado à petição.

A) FASE DOS ARTICULADOS


Propósito desta fase no conjunto do processo: a formação da relação jurídica
processual ou instância dá-se aqui. É nesta fase que se definem todos os elementos
essenciais da instância. É nos articulados que se indicam as partes (o autor constitui-se
como parte pelo simples facto de interpor ação - 259º/1 CPC), o objeto do litígio tal
como resultante dos articulados e o tribunal (que se torna competente pelo menos
110
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

para aferir da sua própria competência pelo simples facto de lhe ter sido dirigido o
pedido). É nesta fase que se designa juiz competente para julgar a causa, dentro do
tribunal, ficando ele investido no poder jurisdicional (que se esgota aquando da
prolação da sentença).
Artigo 147º CPC: os articulados são as peças em que as partes expõem
fundamentos da ação e da defesa e formulam argumentos correspondentes.
A designação “articulados” tem razão de ser: apenas no patrocínio judiciário
obrigatório ou quando a parte é representada por advogado a exposição tem de ser
feita por artigos, daí o nome articulado.

Articulados dividem-se em:

• Normais: petição inicial (formular pedido) e contestação (impugnar ou


excecionar pedido OU formular pedido reconvencional)
o Note-se que se contestação não existir aplica-se regime de revelia ao
réu
• Eventuais: réplica (pode existir ou não)
o Réplica serve para contestar a reconvenção.
• Supervenientes: posteriores à fase dos articulados (588º e 589º CPC).
o Superveniência pode ser objetiva ou subjetiva (no sentido em que não
eram conhecidos da parte nos articulados)
Os articulados são via de regra apresentados em matéria de facto por artigos, em
língua portuguesa (133º/1 CPC) e, havendo mandatário constituído, devem ser
transmitidos por via eletrónica.
Consideram-se os atos praticados na data de expedição (144º/1/parte final CPC).
Nota especial para o artigo 144º/7 CPC.

NOTA: se na fase dos articulados os grandes protagonistas são as partes há


também lugar à prática de atos pelo tribunal. Desde logo, a distribuição (ato pelo qual
se atribui processo a um certo julgador – 203º CPC), eventualmente pode existir
também despacho liminar (226º/4 CPC) e citação (ato através do qual se dá
conhecimento ao réu que foi proposta contra si uma determinada ação – 219º CPC).

A.1. PETIÇÃO INICIAL


Noção geral: a petição inicial é o ato através do qual se dá início à ação. É através
dela que o autor toma a iniciativa de colocar à apreciação do tribunal a resolução de
determinados conflitos de interesses.

111
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

O princípio aqui envolvido é o do pedido (que emana do princípio do dispositivo).


O tribunal não pode resolver conflito de interesses sem que isso lhe seja pedido (3º/1
CPC).

Artigo 552º CPC


NOTA: se a petição inicial é o primeiro ato da relação processual isso significa que
com ela se considera constituída a instância pelo que já está pendente uma certa ação
(259º/1 CPC). Este artigo deve ser articulado com o artigo 144º/1 e 7/b e c CPC. Nos
termos destas disposições, uma vez chegado à secretaria, considera-se que o ato foi
praticado na data da expedição, quando tiver sido praticado por via eletrónica, como é
obrigatório quando a causa esteja sujeita a patrocínio obrigatório ou haja mandatário
constituído, ou por correio ou telecópia. Há vantagem em recorrer aos meios
eletrónicos porque há redução da taxa de justiça (artigo 6º do regulamento das custas
judiciais).
Portaria 280/2013 de 26/12.

NOTA 2: a partir deste momento considera-se impedida a caducidade de certo


direito (331º/1 CC). Não confundir isto com efeitos da citação do réu, que é uma mera
decorrência da propositura da ação.

Da petição inicial deverão constar todos os elementos indicados no artigo 552º/1


CPC. Deve o autor proceder a identificação das partes (alínea a), à exposição dos factos
essenciais que constituem a causa do pedido e razões de direito que constituem
fundamento (alínea d) e formulação do pedido (alínea e). Isto porque lhe cabe
delimitar o objeto do processo, aquilo que é colocado à apreciação do tribunal. Assim,
o juiz é chamado a resolver todas as questões que as partes tenham submetido à sua
apreciação e apenas tais (608º/2 CPC), não podendo condenar em quantidade
superior ou objetivo diverso do pedido (609º/1 CPC), sob pena de nulidade (615º/1/d
e e CPC).

Delimitação do objeto da ação:

• Partes: relação jurídica processual trava-se entre partes e tribunal, pelo que
Autor deve indicar o tribunal e as partes mediante indicação dos seus nomes,
domicílios ou sede e sempre que possível os respetivos números de
identificação civil e fiscal, profissões e locais de trabalho (552º/1/a CPC). Não
sabendo do paradeiro do réu deve indica-lo ausente em parte incerta (236º
CPC). Deve indicar o domicílio profissional do mandatário judicial (552º/1/b

112
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

CPC), pelo que neste caso deve apresentar procuração forense. Através da
indicação do tribunal e das partes pode-se desde logo proceder ao controlo de
uma série de pressupostos processuais (personalidade judiciária, capacidade
judiciária, etc.).
• Pedido: na petição inicial o autor formula pedido. Este é a específica tutela que
autor solicita ao tribunal. Nos casos das ações declarativas esta tutela pode
traduzir-se na simples declaração da existência ou inexistência de certo direito
ou facto (10º/3/a CPC), condenação à prestação de certa coisa ou facto
(10º/3/b CPC) ou na produção de mudança na ordem jurídica (10º/3/c CPC).
Podem distinguir-se diferentes modalidades de pedido:
o Uno ou múltiplo: uno quando seja apenas solicitada uma providência
contra réu, sendo múltiplo quando hajam vários pedidos (quer
tratando-se de cumulação - 555º CPC - quer situações de
subsidiariedade)
▪ Exemplos dos pedidos em relação de subsidiariedade: impugnar
paulianamente negócio jurídico a título principal e pedir
declaração da sua nulidade a título subsidiário, ou vice-versa
(autor não sabe se vai proceder o pedido)
▪ Outro exemplo: pedir a título principal a declaração de nulidade
de contrato e restituição do prestado ao abrigo desse contrato
OU subsidiariamente a condenação do réu no cumprimento
desse mesmo contrato.
• Se autor pede declaração da nulidade do contrato e ao
mesmo tempo que réu seja condenado a realizar
prestação principal há incongruência. Mas como são
pedidos em relação de subsidiariedade não há problema
porque se tribunal declarar nulidade então réu não tem
de realizar prestação principal.
Pedido de condenação genérico:
1º lugar: obrigações genéricas
2º lugar: formulação de pedido genérico ou ilíquida (556º/1 CPC – objeto mediato
é universalidade de facto ou de direito, estabelecimento comercial)
Quando não seja possível determinar consequências do facto ilícito ou autor
pretende reclamar certa quantia depois de determinada quantia.
Em qualquer destes casos temos de ter conversão do objeto no pedido de
liquidação (caso seja possível abrir incidente no decurso da ação).
Se ainda não pudermos abrir incidente tribunal condena no que vier a ser
liquidado (609º/2 CPC).

113
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

NOTA: pelas regras do ónus da prova o autor prova o seu direito, pelo que ação
deveria improceder. Mas aqui é diferente: estão provados os factos que constituem
direito, mas não o quantum que demonstra que obrigação existe, pelo que juiz ordena
pelo que vier a ser liquidado.

Pode ser formulado pedido genérico, por fim, quando quantitativo dependa de
prestação de contas ou de outro ato a praticar pelo réu.

Pedido de prestações vincendas (557º CPC)

Quais as consequências de apresentação de pedido não individualizado?


Caso, por força dessa não individualização, não seja sequer possível determinar
aquilo que o autor pretende deverá considerar-se a petição inicial inepta por
ininteligibilidade (186º/1/a CPC). Exemplo: o autor propõe ação de reivindicação de
carro sem especificar qual é o carro e quem o adquiriu.
Ora, a indeterminabilidade é causa de ininteligibilidade.
Caso a fala de individualização não tenha esta gravidade (é possível determinar
ainda fim prosseguido pelo autor), é possível ou é de admitir que o tribunal convide o
autor a concretizar ou individualizar o pedido (590º/4 CPC), oferecendo igual prazo ao
réu para resposta.
O juiz deve absolver réu da instância com fundamento em falta de pressuposto
processual inominado que é a idoneidade do objeto da ação.

• Causa de pedir: autor deve elencar factos que entende fundar qualquer regra
do direito que permita garantir a procedência do pedido. O pedido e a causa de
pedir devem ser considerados em correlação. O pedido é substanciado pela
causa de pedir, é delimitado por ela (exemplo do carro: pede-se indemnização
por aquele carro e não qualquer um). MAIS: selecionam-se aqueles factos para
pedir aqueles concretos efeitos. Caso a causa de pedido não seja
suficientemente determinada vale o regime referido anteriormente para não
determinação do pedido. O autor deve ainda indicar as razões de direito que
entende que lhe assistem, embora juiz não esteja sujeito às alegações de
direito das partes. O juiz tem de se pronunciar e se não o fizer a consequência é
nulidade (608º/2 e 615º/1/d CPC)

114
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A petição inicial deve ainda indicar (552º/1 CPC): forma do processo, valor da
causa. O autor deve ainda apresentar um rol de testemunhas, apresentar os
documentos destinados à prova do facto que alegue (423º/1 CPC) e prova a realizar na
fase de instrução. Deve também apresentar o documento comprovativo do
pagamento da taxa de justiça.
Momento em que autor também pode requerer intervenção principal de outro
autor (só em caso em litisconsórcio necessário ou coligação necessária).
Destes elementos que acabámos de referir merece especial nota o valor da causa
que se fixa no momento em que ação for proposta. Fixada em função da utilidade
económica do pedido (296º/1 CPC)
Cabe conhecer os seguintes casos:
a) Exigindo-se quantia em dinheiro o valor da ação é o da quantia exigida (297º/1
CPC). Em caso de cumulação de pedido atende-se à soma dos valores (297º/2
CPC). Em caso de pedidos alternativos atende-se ao pedido de maior valor
(297º/3 CPC). Em caso de pedidos subsidiários atende-se ao pedido que for
formulado em 1º lugar (297º/3 CPC).
b) Se estiver em causa a existência, a validade, o cumprimento, a modificação ou a
resolução de um ato jurídico atende-se ao valor do seu objeto, tal como
determinado pelas partes (301º/1 CPC)
c) Se estiver em jogo o direito de propriedade ou a divisão de coisa comum
atende-se ao valor da coisa (302º/1 e 2 CPC)
d) Se estiver em jogo pessoas ou interesses materiais ou difusos o valor da ação é
o da alçada da relação mais um cêntimo (303º/1 CPC). O valor pode ser
impugnado pelo réu (305º/1 CPC) e definitivamente fixado em despacho
saneador (306º/1 CPC).

Vícios da Petição Inicial


O vicio próprio de que a petição inicial pode padecer é a ineptidão. Tem por
consequência a nulidade de todo o processo (186º/1 CPC). A petição inicial é inepta
quando se verifique alguma causa do 186º/2 CPC.
Quando falte ou seja ininteligível a indicação do pedido ou causa de pedir (alínea
a), pedido está em contradição com causa de pedir ou quando se cumulem causas de
pedir ou pedidos substancialmente incompatíveis.
Estes vícios têm uma tal gravidade que não permitem ao tribunal conhecer sequer
da questão que é colocada e por isso é que petição inicial por via de regra é um vício
insanável. Só assim não será quando resulte que réu compreendeu fim prosseguido
pelo autor (186º/3 CPC).

115
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Pode perguntar-se se, nos termos da lei, o tribunal pode convidar as partes a
precisar a petição inicial quando tenham sido deduzidos pedidos incompatíveis entre
si. Só será de admitir isso quando apesar da verificação da falha seja claramente
determinado o fim prosseguido pelo autor.
Prof. Lebre de Freitas: autor pede declaração de nulidade + impugnação
pauliana → Neste caso é claro o fim que autor pretende, que é atacar a venda,
e aí podia ser convidado a aperfeiçoar petição inicial.
Trata-se de nulidade de conhecimento oficioso (artigo 197º CPC).
Caso exista despacho liminar deverá haver indeferimento liminar. Caso ele não
exista o tribunal deve conhecer da ineptidão no despacho saneador (200º/2), devendo
anular todo o processo (187º CPC) e absolver o réu da instância (278º/1/b CPC)
Recusa da Petição Inicial
Na fase dos articulados não há, via de regra, qualquer contacto do juiz com o
processo, mas sim com secretaria. A secretaria pode e deve fazer controlo de natureza
externa à petição inicial, recusando-a quando faltem alguns elementos constantes do
artigo 558º CPC: regime da recusa da petição pela secretaria. Desta recusa pode haver
reclamação para juiz (559º/1 CPC). Se ainda não houver ainda distribuição deve ser
chamado o juiz de turno (89º LOSJ). Nesta matéria cabe recurso até à relação (559º/2
CPC).
Em todo o caso, o autor pode corrigir vício e propor ação no prazo de 10 dias.

Distribuição
Entregue a petição inicial segue-se distribuição (203º e seguintes CPC), ato pelo
qual se designa juiz que vai ser competente para dirimir a ação. Com recurso a meios
eletrónicos fixa-se o juízo e procura-se que distribuição seja feita aleatoriamente (204º
CPC).
Uma vez designado juízo e juiz competente constitui-se poder de julgar na esfera
de um concreto julgador.
Portaria nº 280/2013 de 26 de agosto regula esta matéria também.

Despacho liminar
Determinado o juiz competente o processo é, depois de distribuído, levado a juiz
competente nos casos em que haja lugar a despacho liminar. É um despacho
meramente eventual apenas para as hipóteses constantes do artigo 226º/4 CPC sendo
ele um despacho que precede a citação.
Este despacho à partida pode ter um de dois sentidos:
116
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

1) ordenar a citação do réu


2) despacho de indeferimento liminar quando o pedido seja manifestamente
improcedente ou há exceção dilatória não suprível

Nos termos do artigo 590º/1 CPC pode ser proposta nova ação no prazo de 10
dias beneficiando dos efeitos da propositura da primeira ação. É sempre admitido
recurso até á relação (629º/3/c CPC).
A consequência do despacho de indeferimento é a extinção da instância.

Além das hipóteses especificadamente constantes do artigo 226º/4 CPC é de


admitir que a secretaria apresente petição a despacho (não confundir com recusa de
recebimento) do juiz quando do confronto com petição inicial se lhe afigure manifesta
a falta de pressuposto processual. Esta possibilidade estava antes expressamente
reconhecida na lei, mas nos termos do atual CPC só pode esta possibilidade ser
reconhecida à luz do dever dos funcionários da secretaria (557º/2 CPC) de “realizar
oficiosamente as diligencias necessárias para que o fim dos atos por si praticados
possa ser prontamente alcançado”. Se há falta manifesta de pressuposto processual há
interesse que juiz possa controlar logo liminarmente para que processo não avance.
Mas isto não é líquido porque norma que o previa desapareceu.
Havendo exceções dilatórias supríveis pode perguntar-se se pode haver
regularização da instância ou se juiz pode convidar autor a regularizar. O 1º sim, o 2º
parece ser de admitir à partida.
Em todo o caso, só o juiz deve ordenar a citação do réu depois de suprida a falta
de pressuposto processual. Isto porque a presença da exceção sanável é obstáculo ao
conhecimento do mérito da ação pelo que deve ser também obstáculo a que o réu
tenha de suportar os efeitos da ação.

A.2. CITAÇÃO
Artigo 219º/1 CPC: a citação é ao to através do qual e dá a conhecer ao réu de que
foi proposta contra si uma determinada ação. A citação é também utilizada para
chamar alguém a ser parte da ação.
Este ato visa assim, por um lado, dar conhecimento da propositura da ação contra
réu e por outro lado proporcionar o exercício do seu direito de defesa. Se este ato tiver
finalidade meramente notificativa chama-se notificação (219º/2 CPC) pelo que, no
fundo, a citação é modalidade particular de notificação.
A citação é forma de chamar alguém pela 1ª vez ao processo, como parte. Na
citação devem dar-se a conhecer os elementos essenciais à defesa do réu (227º CPC).
117
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Deve conter duplicado da petição inicial, documentos necessários, informação


quanto ao tribunal, juízo e secção competentes para julgamento do processo.
O prazo para oferecer a sua defesa, a necessidade de patrocínio de defesa, as
cominações em caso de revelia: tudo isto é importante e deve ser articulado com
regime da nulidade da citação.
A citação tem efeitos PROCESSUAIS e MATERIAIS:

• O efeito processual próprio é a perfeição da instância que se torna oponível ao


réu (259º/2 CPC) e estável quanto aos seus elementos essenciais (partes,
pedido, causa de pedir – 260 e 564º/b CPC). Surge, então, a exceção da
litispendência: não se pode conhecer do mérito de outra ação com o mesmo
objeto (564º/c, 577º/i, 580º CPC). Para efeitos da litispendência considera-se
proposta em 2º lugar a ação em que réu foi citado posteriormente (582º/1
CPC) porque só aqui é que instância se estabiliza.
o Portanto, a ação que vai cair é que é proposta em 2º lugar (aquela para
qual réu foi citado posteriormente)
• O 2º efeito processual é o início da contagem do prazo para a contestação
(conta-se a partir do momento da citação) – 569º/1 CPC (prazo de 30 dias)
o Note-se que o dia em que pessoa se considera citada não conta
(começamos a contar no dia imediatamente a seguir)
• Outro efeito processual está consagrado no artigo 567º CPC: criação do ónus
de contestar
• Efeitos materiais: faz cessar a boa fé do possuidor (564º/a CPC), interrompe a
prescrição (323º/1 e 2 CC), interrompe a usucapião (1292º CC). Neste caso,
mesmo que haja absolvição da instância podem aproveitar-se os efeitos civis da
citação se autor propuser nova ação e réu for para ela citado no prazo de 30
dias a contar do transito em julgado da sentença de absolvição da instância
(279º/e CPC e 327º/3 CC).
• Outros efeitos materiais: provoca vencimento da obrigação pura (são aquelas
que se vencem mediante interpelação para cumprir – 610º/2/b, 605º/1 CC) e
vale como notificação de cessão de crédito ao devedor
o Tem estes efeitos porque é meio idóneo para dar a conhecer ao réu a
vontade do autor que se produzam determinados efeitos jurídicos
Vale regra da oficialidade da citação, sendo à partida da responsabilidade da
secretaria (226º/1 e 562º CPC). Em todo o caso, se não for efetuada no prazo de 30
dias deve o autor ser informado das razões que levaram a que ato não fosse praticado
(226º/2 CPC). Corridos novos 30 dias é apresentado a juiz (226º/3 CPC).
Só excecionalmente é que citação é precedida de despacho liminar.

118
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

MODALIDADES DE CITAÇÃO
Grosso modo distinguem-se duas modalidades:
1. Pessoal ou quase pessoal: o que se procura é que haja algum tipo de contacto
pessoal com réu. Distingue-se citação pessoal em sentido próprio e citação
quase pessoal. A 1ª é aquela em que é o próprio réu a ser contactado pelo
profissional judiciário (contacto direto). Na 2ª a citação é feita a um terceiro
(réu não está em casa, por exemplo, mas está em casa a sua mulher, fazendo-
se a citação da sua mulher que tem de entregar citação ao réu sob pena de
responsabilidade civil). Verificando-se qualquer uma das causas constantes do
245º/1/a CPC acresce uma dilação de 5 dias ao prazo de defesa (esta regra vale
para citação por via postal e para citação por hora certa de pessoa singular, e já
não de pessoa coletiva) – prazo dilatório de acordo com definição do artigo
139º/2 CPC. Havendo prazo dilatório ou perentório os dois contam-se como
um só.

2. Edital: uma vez que são desconhecidos os elementos fundamentais que


permitem aquele contacto, a propositura da ação é notificada a um conjunto
amplo de pessoas.

São SUB-MODALIDADES DE CITAÇÃO PESSOAL as seguintes…

• Citação por via postal: tratando-se de pessoa singular a citação por via postal é
feita mediante carta registada com aviso de receção segundo modelo oficial
(portaria 953/2003 de 9/9, alterada pela portaria 275/2013 de 21/8). Carta esta
que é dirigida ao citando e endereçada à sua residência ou ao seu local de
trabalho (228º/1 CPC). Citação também pode ser feita na pessoa constituída do
mandatário do citando com poderes especiais para a receber desde que
conferidos por procuração passada há menos de 4 anos (225º/5 CPC).
Tratando-se de incapazes, pessoas coletivas, sociedades, patrimónios
autónomos e condomínios a citação é feita na pessoa dos seus legais
representantes e em caso de pluralidade basta que um seja citado (223º/1 e 2
CPC). Se for pessoa coletiva ou sociedade considera-se ainda notificado a
pessoa de qualquer empregado que se encontre na sede ou lugar onde
funcione administração (223º/3 CPC). A citação por via postal pode ser feita
pelo réu ou por qualquer outra pessoa em condições de a entregar ao citando
(228º/3 CPC). O distribuidor do serviço postal deve identificar citando ou 3º
que assina (228º/3 CPC). Se entregar a 3º deve também advertir que ele deve
entregar imediatamente ao réu (228º/4 CPC), sob pena de este 3º responder
em termos equiparados ao da litigância de má fé (228º/1 CPC). Neste caso, da
citação quase pessoal, é ainda enviada uma 2ª carta, mas esta sem aviso de
receção no prazo de 2 dias úteis ao citando (233º CPC). Não sendo possível
citar-se é deixado aviso ao citando e a carta permanece por 8 dias em
119
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

estabelecimento postal indicado (228º/5 CPC). Havendo recusa de assinatura o


distribuir toma nota do incidente (228º/7 CPC). Se pelo contrário se descobre
novo endereço deve aí realizar-se um novo procedimento de citação (228º/8
CPC). Se o réu estiver ausente em parte incerta: 228º/9 e 236º/1 CPC.
Sendo assinado o aviso de receção, a citação considera-se feita nesse momento
ao citado mesmo que o aviso de receção tenha sido assinado por terceiro
(230º/1 CPC). Pode ilidir-se a presunção de conhecimento. Neste caso
considera-se haver falta de citação (188º/1/e CPC) – esta é uma nulidade
processual.

Valem particularidades para duas hipóteses:

1) Nos termos do artigo 229º CPC, quando se trate de uma ação para
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato reduzido a
escrito em que haja domicílio convencionado, domicílio este que para o que
aqui releva apenas pode ser verificado nos termos do 229º/2 CPC, e em que
valor da ação não exceda valor da alçada da relação, SALVO se atinente (esse
contrato) ao fornecimento continuado de bens e serviços (portaria 953/2003,
de 9/1). Nesta hipótese a citação deve ser feita no domicílio convencionado.
2) hipótese em que seja citada pessoa coletiva sujeita a inscrição
obrigatória no registo nacional de pessoas coletivas (246º/3 a 5 CPC), caso em
que a carta deve ser endereçada para a sede inscrita no registo (246º/2 CPC).

Quer num caso quer no outro, se o réu ou, no caso de pessoa coletiva um
funcionário seu, se recusar a assinar carta ou aviso de receção a citação tem-se
por realizada mediante certificação de tal ocorrência por distribuidor postal.
Confrontar 229º/3 com 246º/3 CPC. Caso falhe por outra razão que não esta
(recusa de assinatura) vale o disposto no 229º/4 e 5 CPC, este último também
aplicado às pessoas coletivas ex vi 246º/4 CPC.

• Citação por agente de execução ou funcionário judiciário: o paradigma de


regulação aqui é o de citação por agente de execução, que se aplica mutatis
mutandis ao da citação por funcionário judiciário (e em certa medida à citação
por mandatário). Há duas modalidades fundamentais de citação por agente de
execução: citação por contacto pessoal e a citação por hora certa. Esta
modalidade de citação aplica-se em dois casos: nos casos em que se frustrou a
citação pessoal, tem de ser dado ao autor a escolher a modalidade de citação
que entenda mais conveniente (por exemplo, porque foi recusado recebimento
da carta ou assinatura do aviso de receção); casos em que autor declare na
petição inicial que pretende que citação seja feita assim (231º/8 e 9 CPC).
Tratando-se de citação por agente de execução, pode o agente de execução ser
designado por autor na petição inicial (552º/1/g CPC), caso em que fica sem
120
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

efeito quando agente de execução recuse (552º/2 CPC), OU oficiosamente pela


secretaria (226º/6 e 720º/2 CPC).

NOTA: só pode ser designado agente de execução inscrito ou registado na


comarca onde ação foi proposta ou comarca limítrofe (552º/7 CPC). Na sua
falta, deve ser designado agente de execução inscrito em qualquer uma das
comarcas pertencente à área de competência do mesmo tribunal da Relação.
Não havendo deve ser designado funcionário judiciário. Tratando-se de citação
por funcionário judicial tem a particularidade de, caso o réu resida fora da área
da sua residência, a citação ter de ser solicitada ao tribunal da área de
residência do réu através de carta precatória (172º/1 e 173º/1 e 2 CPC).

Ao citando devem ser dados todos os elementos da citação (231º/3 CPC). O


agente de execução deve deixar nota com elementos de comunicação
obrigatória ao citando (227º CPC). Se, ainda assim, o citando se recusar a
assinar a certidão do ato de citação dá o agente de execução conhecimento de
que o duplicado do processo fica ao dispor do réu na secretaria judicial (231º/4
CPC), sendo ainda enviado oficiosamente carta respetiva pela secretaria. Em
princípio a citação considera-se feita no momento do contacto pessoal. O não
envio da carta pela secretaria gera apenas mera irregularidade, sem
consequência para validade do processo.

Citação com hora certa: apurando o agente de execução que o citando reside
ou trabalha efetivamente no lugar indicado opera esta citação (232º CPC),
afixando dia e hora designado para comparência do citando. Para o efeito, nos
termos da lei, deve deixar nota junto da pessoa que melhor condições para dar
notícia do dia e hora ao citando (232º/1 CPC) ou afixar aviso na porta. No dia e
hora designados (232º/2 CPC) pode acontecer uma de três coisas: 1) citação da
pessoa do citando; 2) citação de pessoa capaz que esteja em melhor condições
para o citar; 3) não sendo possível obter a colaboração de ninguém deve o
agente de execução afixar a nota de citação na presença de duas testemunhas
(232º/4 CPC). Em qualquer um destes casos é enviada carta no prazo de 2 dias
úteis com os elementos fundamentais para defesa (233º CPC). Esta citação
considera-se pessoal (232º/6 CPC).

• Citação por mandatário judicial: trata-se de modalidade de citação em que


responsabilidade é de mandatário judicial. Segue-se regime do artigo 231º CPC
com as necessárias adaptações.

121
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

CITAÇÃO EDITAL
Visa a chamada ao processo de réu que esteja ausente em parte incerta. Procura
determinar-se o último paradeiro ou residência conhecia (236º/1 CPC), e não sendo
possível fazer-se citação aí faz-se citação edital feita mediante fixação de edital em
página de acesso público (240º/1 CPC, 1º e 24º da portaria 280/2013 de 26/8) e à
porta da última residência ou sede conhecida (240º/2 CPC).
A citação considera-se feita no dia da publicação do anúncio (242º/1 CPC),
contando-se a partir daí (242º/2 CPC) um prazo dilatório de 30 dias para apresentação
de contestação (245º/3 CPC).
A citação edital aplica-se também às hipóteses em que próprio réu seja
desconhecido. Pense-se no caso de herdeiro ou representante de pessoa
desconhecida.
Atendendo ao seu figurino, esta citação não oferece garantias sólidas de que o réu
tenha conhecimento efetivo da ação que contra si foi movida. Portanto, o legislador
cria uma série de expedientes que visam proteger a sua posição.
Tratando-se de ação movida contra ausente ou incapaz o MP é chamado à
respetiva defesa (21º/1 CPC). Por outro lado, a revelia do réu na apresentação de
qualquer defesa é neste caso considerada inoperante.

FALTA E NULIDADE DA CITAÇÃO


A citação pode padecer de dois vícios próprios: a falta de citação (nulidade
qualificada do ato de citação) OU a nulidade da citação.
Quando é que há completa falta de citação? Quando se verifique qualquer
circunstância do artigo 188º/1 CPC (quando o ato tenha sido completamente omitido,
quando tenha havido erro na identificação do citando, quando se tenha empregado
erradamente esta citação, quando se demostre que destinatário da citação pessoal
não chegou ao conhecimento do ato por facto que não lhe seja imputável).
Consequência: nulidade da citação e de todos os atos que se lhe sigam
(187º/a CPC). Este artigo deve ser interpretado restritivamente: pode haver
atos posteriores à petição inicial que devem ser salvos (despacho liminar ou ato
de distribuição).
A falta de citação é de conhecimento oficioso (196º CPC), podendo ser arguida em
qualquer estado do processo (198º/2 CPC). Note-se que se réu intervier no processo
sem arguir falta de citação esta nulidade considera-se sanada (189º CPC).

E quanto à nulidade de citação? Artigo 191º CPC. Isto verifica-se quando não seja
observada uma determinada formalidade prescrita na lei (191º/1 CPC, por exemplo
122
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

não se entregou ao réu duplicado da petição inicial), e desde que tal facto tenha
prejudicado defesa do citado (191º/4 CPC). A nulidade da citação não é, via de regra,
oficiosamente cognoscível (196º/2ª parte CPC), devendo ser arguida pelo réu (197º/1
CPC) no prazo da contestação (191º/2 CPC).
191º/2/2ª parte CPC: se, porém, a citação tiver sido citação edital ou não tendo
sido indicado prazo para a defesa há regime específico. Nesta hipótese a nulidade
pode ser arguida aquando da 1ª intervenção do citado no processo. Aplica-se 196º/1ª
parte CPC a esta hipóteses (aqui é de conhecimento oficioso).

Num e noutro caso, concluindo-se ora pela falta ora pela nulidade da citação, esta
deve ser repetida. No caso de o réu já ter ao seu dispor todos os elementos constantes
do artigo 227º CPC basta a notificação do despacho do juiz que atenda à falta ou
nulidade de citação. Basta isto para contar prazo para a defesa (192º CPC) - neste caso,
o réu já conhecia elementos integrantes da citação.
Em comum a estes dois regimes temos vários aspetos:

• Em caso de revelia absoluta do réu, deve o juiz verificar qualquer irregularidade


geradora da falta ou da nulidade de citação (567º CPC). É admitido recurso de
revisão com fundamento na falta ou nulidade de citação (566º/e CPC). Um dos
fundamentos para este recurso é este
• É admitida oposição à ação executiva com o mesmo fundamento (729º/d CPC)
o Já estando o autor munido de título executivo intenta ação executiva,
mas depois já aí, na oposição à execução (através de oposição de
embargos de executado), pode-se defender com este fundamento

A.3. CONTESTAÇÃO
Uma vez citado para a ação os efeitos dessa mesma ação passam a ser oponíveis
ao réu. A partir daí ele fica sujeito aos efeitos de um possível caso julgado.
Da mesma forma que o tribunal não pode conhecer de causa sem que isso lhe seja
pedido, também não pode conhecer de causa sem que à contraparte seja dada
possibilidade de contradição (3º/1 CPC). Para garantir esta oportunidade de pronúncia
pelo réu, uma vez citado, é-lhe dado prazo para contestar ação.
Prazo de contestação é de 30 dias a contar da citação, começando a correr desde
o termo de qualquer dilação (artigo 245º CPC), a que possa ter havido lugar (569º/1
CPC).
No caso de haver vários réus todos beneficiam do prazo que termina em último
lugar (569º/2 CPC).

123
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Excecionalmente o prazo pode ser prorrogado por mais de 30 dias quando haja
motivo que impeça contestação (569º/5 CPC).

Desistindo o autor da instância relativamente a algum dos réus, os réus que não
contestaram são notificados da desistência e prazo conta-se a partir dai (569º/3 CPC).
Note-se artigo 287º CPC.
O artigo 569º/4 CPC estabelece possibilidade de prorrogação do prazo a favor do
MP.

Se é certo que este prazo para contestar dá oportunidade ao réu para se defender,
com citação gera-se efeito também de réu ter um ónus. Impende sobre réu ónus
porque caso ele não conteste consideram-se factos articulados por autor provados por
admissão (567º/1 CPC). Esta situação de ausência de contestação chama-se revelia.
Decorre disto que fase da contestação pode terminar de duas formas:
apresentação da contestação ou inércia do réu, não apresentando contestação.
Quando o réu não contesta entra em situação de REVELIA.
Modalidades de revelia e efeitos
➔ Quanto à atividade do réu, distingue-se entre revelia absoluta e revelia relativa
o Revelia é absoluta quando o réu não desencadeia qualquer atividade
processual (não dá sinal de vida no processo, nem sequer constituindo
mandatário)
o Revelia é relativa quando réu se limita a não contestar (há sinal de vida,
mas ele não contesta)
o Diferença entre estes dois regimes: no 1º caso, sendo revelia absoluta, e
apenas nesse, o tribunal vai verificar a regularidade da citação,
ordenando a sua repetição quando encontre irregularidade (566º CPC) –
isto porque a ausência de atividade processual por parte do réu gera a
suspeita de que a razão de ser dessa sua ausência se deva à falta ou
nulidade da citação

➔ Quanto aos seus efeitos, distingue-se entre revelia operante e revelia


inoperante
o A consequência própria da revelia é esta: a prova dos factos alegados do
autor por admissão (567º/1 CPC). A consequência da revelia NÃO É a
condenação do réu no pedido (ação não é julgada procedente). Dão-se
apenas por admitidos os factos alegados pelo autor.
▪ Porque é que isto não é o mesmo que ação ser julgada
procedente? Porque depois temos de aplicar o Direito aos factos
dados como provados por admissão. O juiz deve aplicar direito à
124
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

causa, podendo a ação improceder se juiz concluir que daqueles


factos não se pode extrair efeito jurídico pretendido pelo autor.
o Nos casos de admissão dos factos temos revelia operante. Se a revelia
for operante segue o processo a tramitação simplificada do artigo
567º/2 e 3 CPC. O processo é facultado ao advogado do autor e ao
advogado do réu (se o réu tiver constituído mandatário), e em seguida
julga de Direito. Pode acontecer que a parte decida não contestar. Este
efeito da revelia não se produz, no entanto, nas hipóteses do artigo
568º CPC (revelia inoperante) – segue-se tramitação normal.
▪ Se houver vários réus a contestação de um aproveita aos outros
quanto aos factos que contestante impugne (568º/a CPC).
▪ 568º/b/1ª parte CPC: quando réu ou algum dos réus for incapaz,
o litígio se situe no âmbito da incapacidade
▪ 568º/b/2ª parte CPC: quando houver sido citado editalmente e
permaneça em situação de revelia absoluta
▪ 568º/c CPC: quando o facto diga respeito a posições jurídicas
não modificáveis por vontade das partes. Se por vontade
expressa não se pode produzir um certo efeito jurídico esse
efeito não pode ser imputável à simples omissão.
▪ 568º/d CPC: quando se trate de factos a provar por documento
escrito
o Não podem ser dados como provados os factos física ou legalmente
impossíveis assim como os factos notoriamente inexistentes (354º/b
CC). Nestes casos fala-se em revelia inoperante dado que não se produz
o seu efeito típico e próprio que é admissão de factos por acordo. O
processo seguirá aqui os seus tramites normais.
▪ A revelia inoperante pode ser total ou parcial
• Falta de citação: totalmente inoperante
• Factos a provar por documento escrito: parcialmente
inoperante

Em alternativa, pode o réu apresentar contestação.


A contestação deve, por princípio, conter os elementos do artigo 572º CPC uma
vez que ela é a resposta à petição inicial, ela deve individualizar a ação (572º/a CPC),
expor razões de facto e de direito porque se opõe à prestação do autor (572º/b CPC),
expor os factos essenciais em que se baseiam as exceções deduzidas (572º/c CPC),
apresentar um rol de testemunhas e requerer outros meios de prova (572º/d CPC).
Deve admitir-se como contestação, materialmente, a mera apresentação de
documentos cujo âmbito probatório coloque em causa o direito do autor.

125
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Exemplo: recibo de cumprimento apresentado por réu numa ação de condenação


ao cumprimento de obrigação pecuniária.

Recusa da contestação pela secretaria: a lei não se refere a ela. Prof Lebres Freitas
diz que recusa deve acontecer quando seja inevitável, ou seja, quando não é
identificado o processo, quando é entregue contestação em tribunal diverso do do
processo, quando não esteja assinada, quando não esteja redigida em língua
portuguesa, etc.

MODALIDADES

• Contestação de defesa: contestação em que réu se limita a defender-se do


pedido formulado pelo autor, seja impugnando os factos ou as consequências
jurídicas que o autor deles pretende extrair, seja mediante a invocação de uma
exceção, isto é, de uma razão que não colocando em si em causa o direito
subjetivo do autor obsta à prossecução da instância ou procedência do pedido
(exceção dilatória e perentória, respetivamente).
• Contestação de reconvenção: aquela em que o réu formula contra pedido
contra o autor (pedido autónomo). Note-se que o réu termina sempre a sua
contestação (mesmo que seja contestação de defesa) com pedido: se se
defendeu por exceção dilatória é que seja absolvido da instância, se se
defendeu por exceção perentória é que seja absolvido do pedido (MAS este
pedido não é autónomo, é uma mera decorrência da defesa). Nesta
contestação, por sua vez, o réu formula contra pedido contra autor pelo que,
portanto, rigorosamente, o que temos aqui é uma segunda ação por iniciativa
do réu, contra o autor (falamos em réu reconvinte e autor reconvinte).

PRINCÍPIOS MATERIAIS QUE REGEM CONTESTAÇÃO


1. Princípio da concentração da defesa na contestação: toda a defesa deve ser
produzida na contestação (573º/1 CPC), sob pena de não poder ser deduzida
mais tarde porque direito fica precludido. Note-se que o caso julgado que se
vier a produzir, todos os meios de defesa que podiam ter sido invocados contra
aquela causa de pedir vão ser abrangidos pelo caso julgado (o réu depois não
pode arguir novos meios de defesa quando houver sentença sobre o caso). Esta
regra compreende-se bem à luz da finalidade da fase dos articulados
(pretende-se que nesta fase se carreie para a ação tudo o que possa importar
para o desfecho da causa) – quer-se que réu apresente logo tudo o que tem
para apresentar.
A partir deste momento só podem ser deduzidos novas exceções, pedidos
ou meios de defesa quando (573º/2 CPC):
126
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

a. Quando sejam supervenientes (superveniência pode ser objetiva ou


subjetiva)
b. Quando a lei expressamente o admita
i. O que acontece com incompetência absoluta (97º/1 CPC) ou
falta de citação (198º/2 CPC).
c. Quando sejam de conhecimento oficioso
i. Impugnação de direito vence-se aqui (5º/3 CPC), em matéria de
exceção dilatória (578º CPC) e exceções perentórias (579º CPC)
ii. Isto sem prejuízo de os factos em que se baseiam as exceções só
poderem ser introduzidos no processo pelas partes, isto salvo os
casos em que lei admita o conhecimento oficioso desses factos
(412º CPC) e note-se que só podem ser apresentados pelas
partes na fase dos articulados ou quando lei admite que possam
ser apresentados em articulado independente
1. OU SEJA: a exceção é de conhecimento oficioso, mas os
factos em que se baseia têm de estar no processo (ou
aparecem logo na fase dos articulados ou são
apresentados em articulado superveniente
independente).
iii. Excetuados estes casos não mais o réu poderá recorrer a meio
de defesa que não interpôs na contestação. Portanto, o
momento para apresentar o núcleo fundamental de provas é a
fase dos articulados. Doravante, o que se vai procurar é julgar e
apreciar aquilo que inicialmente começou por ser apresentado.

Distinguem-se duas variantes fundamentais de defesa (estamos na contestação de


defesa): a defesa por impugnação e a defesa por exceção (571º/1 CPC).
Primeiramente, vamos olhar à qualificação legal:

• Defesa por impugnação


o De facto
▪ Direta
▪ Indireta
o De direito
• Defesa por exceção
o Dilatória
o Perentória
▪ Facto impeditivo Do direito
▪ Facto modificativo invocado pelo
▪ Facto extintivo Autor

127
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Se o réu se defende por exceção dilatória, o tribunal não julga mérito da causa,
pelo que aqui em primeiro lugar apresenta contestação de defesa por exceção
dilatória. Isto porque se esta parte proceder o juiz já nem entra no mérito.
A defesa por impugnação vem a seguir, e depois defesa por exceção perentória.

Classificação doutrinal:

• Exceções processuais
o Dilatórias
o Perentórias
• Exceções materiais
o Dilatórias
o Perentórias
Outra classificação:

• Exceções em sentido próprio


• Exceções em sentido impróprio

1. CLASSIFICAÇÃO LEGAL
1.1. DEFESA POR IMPUGNAÇÃO
O autor na petição inicial deve indicar os factos que integram a causa de pedir e
também as razões porque, em seu entender, de tais factos se pode aplicar uma
qualquer norma que permita a procedência do pedido.

Factos instrumentais: função probatória (servem para


prova de outros factos)
Factos essenciais: integram causa de pedir ou exceções
dilatórias invocadas por réu

A defesa por impugnação traduz-se na contradição direta que réu deduz contra
esses elementos.
Pode distinguir-se entre impugnação DE FACTO e DE DIREITO. A primeira quando o
réu contradiz os factos articulados pelo autor (pode contradizer direta ou
indiretamente). A segunda quando o réu contradiz o efeito jurídico que o autor
pretende extrair dos factos (exemplo: o autor diz que o réu conduzia carro e por isso

128
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

responde for factos ilícitos; réu diz que sim conduzia carro – não impugna factos – mas
alega que nos termos da lei responde apenas pelo risco).

Destas duas modalidades importa estudar de perto a impugnação de factos…


Há impugnação de factos quando réu coloca em causa existência dos factos que
autor apresenta na petição inicial. A importância desta impugnação decorre de haver
um verdadeiro ónus de impugnação, não se impugnando certo facto o mesmo
considera-se admitido por acordo (574º/2 CPC). Só assim não é (facto não é admitido
por acordo) em alguns casos especiais:

• Factos que hajam de ser provados por documento escrito (574º/2 CPC)
o Paralelo ao artigo 568º/d CPC
• Factos que não admitam confissão (574º/2 CPC, remetendo-se para 454ºº CC)
• Quando réu seja incapaz, ausente ou incerto representado por MP ou
advogado oficioso (574º/4 CPC)
• Quando, embora facto não tenha sido impugnado, esse facto esteja em
contradição com defesa considerada no seu conjunto
A impugnação pode ser direta ou indireta. A impugnação é direta quando o réu
nega factos apresentados pelo autor como existentes (quanto autor ou réu reconvinte
e réu ou autor reconvinte a nega diretamente) e é indireta quando o réu embora
confessando ou admitindo uma parte dos factos alegados pelo Autor como causa de
pedir (factos que constituem a fattispecie da norma da qual o autor quer retirar efeito
jurídico da qual decorre procedência da ação) mas, por sua vez, afirma outros factos
cuja existência é incompatível com a realidade de outros factos também alegados pelo
autor no âmbito da mesma causa de pedir, que desta forma se desvirtua.
Exemplo (de impugnação indireta): autor vem dizer que mutuou dada quantia
ao réu e que ele está agora obrigado a restituir essa quantia. O que é que réu vem
dizer? Que sim, autor entregou dada quantia, MAS fê-lo com a intenção de a doar OU
como forma de pagamento do preço de uma compra que lhe tinha feito. Fica provado
por admissão a entrega, mas o autor terá que provar que fez essa entrega para depois
a quantia ser restituída, com ou sem juros. Os factos da fattispecie constitutiva do
direito, parcialmente e por via indireta, são negados por réu. Autor é que tem ónus de
provar isto (que entregou, MAS no sentido de contrato de mútuo) – réu não está a
invocar contra norma que impede, modifica ou constitui o efeito jurídico pretendido
por autor (como acontece na defesa por exceção perentória), estamos ainda no
âmbito dos factos constitutivos do direito do autor.
Também existe impugnação indireta quando réu alega factos instrumentais
probatórios incompatíveis com factos alegados como causa de pedir do autor.
Artigo 574º/2 CPC: há ainda impugnação indireta quando com os factos alegados
como causa de pedir do autor haja oposição face aos factos alegados pelo réu ou
129
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

negação pelo réu de um dos factos alegados pelo autor dos quais os outros dependem
(impugna diretamente apenas o facto condicionante e depois todos os outros estão
impugnados).
Exemplo (parte inicial): tendo o autor alegado que na data x o réu
entrou num determinado prédio rústico localizado em Amarante e destruiu
frutos que aí se encontravam por colher. O réu limita-se a dizer que nessa data
esteve sempre no Porto.
Outro exemplo (parte final): autor diz que réu conduzia veículo que
provocou acidente e a partir daí alega uma série de factos. O réu nega que
conduzia o veículo.

HIPÓTESE ESPECIAL é a do réu, em lugar de colocar em causa a existência dos


factos alegados pelo autor, ele declara não saber se esses factos se verificaram ou não.
Ele não impugna os factos direta ou indiretamente, dizendo apenas que desconhece se
as alegações de facto feitas pelo autor são verdadeiras ou não.
Estamos no âmbito do artigo 574º/3 CPC. Temos duas hipóteses:

• Caso se trate de ato pessoal o facto considera-se admitido por acordo


o Ato pessoal: ato praticado por réu/autor reconvinte OU por terceiro na
sua presença
o Não se trata da imposição de qualquer padrão ético de conhecimento.
Com expressão “dever ter conhecimento” apenas se quer dizer: atos
que deram concretamente ao réu a possibilidade de os conhecer
• Caso se trate de ato não pessoal, considera-se que declaração de não saber se
aconteceu ou não se equipara à impugnação
o Ato não pessoal: ato de que não fosse suposto réu ter conhecimento

1.2. DEFESA POR EXCEÇÃO


Em lugar de colocar em causa os factos alegados pelo autor pode o réu pugnar
pela inadmissibilidade da ação ou improcedência da ação à luz de outros fundamentos.
NOTA: na origem da noção de exceção está o direito romano. No processo
formulário ao abrigo do qual se desenvolveu grande parte do direito civil romano, o
autor começava por se dirigir ao pretor para obter uma fórmula e pretor concedia-a ou
não. Se fórmula fosse concedida iniciava-se ação judicial propriamente dita. Onde
houvesse fórmula havia direito de ação. Ao mesmo tempo desenvolveu-se, porém,
outra figura: exceções (factos que se acrescentavam aos que estavam na fórmula, mas
agora a pedido do réu).

130
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

As exceções são contra-direito exercido pelo réu/autor reconvinte contra


autor/réu reconvinte. A exceção é a posição jurídica que permite obstar à produção do
efeito jurídico pretendido pelo titular de certo direito através da invocação de factos
que sem colocarem em causa o direito exigido obstam à produção do respetivo efeito.
Como é que pretende obstar à produção desse efeito jurídico? O que acontece aqui é
que réu invoca factos novos que constam, excecionam à produção desses efeitos
jurídicos.
O critério para qualificar qualquer posição jurídica como exceção é a circunstância
de a mesma visar obstar à produção dos efeitos de uma outra posição jurídica. Há
certas posições jurídicas constituídas para operar sempre por exceção, como é o caso
da prescrição (permite a lícita recusa de cumprimento de certa prestação ou sujeitar-
se ao exercício de certo direito – 304º/1 CC). Noutros casos, certo direito pode ser
exercido ora como ação ora como exceção (ação quando se pretende obter
diretamente o efeito jurídico garantido pela posição jurídica; exceção porque o direito
é invocado apenas como meio de defesa) – exemplo, anulação do negócio jurídico
pode ser invocada por ação ou exceção, com prazos diferentes (287º/2 CC).

Nos termos da classificação legal do CPC distingue-se entre exceções DILATÓRIAS


e exceções PERENTÓRIAS. As exceções dilatórias são as que obstam ao conhecimento
do mérito da causa, e as exceções perentórias são aquelas que determinam a
improcedência total ou parcial do pedido.
Exemplo de exceção perentória: cumprimento de obrigação. Se o réu invoca o
cumprimento da obrigação está a invocar um facto extintivo (admite que existia dívida,
mas exceciona com respetivo cumprimento).
Portanto, na defesa por exceção o que temos é réu a invocar um facto novo que
integra fattispecie de outra norma, mas que é impeditivo, modificativo ou extintivo do
facto alegado pelo autor.

Quanto ao modo de invocação temos a exceção em sentido próprio (dependem de


invocação por parte do réu), como por exemplo a prescrição, alguns casos de
incompetência relativa (casos do artigo 104º/1 CPC) ou preterição do tribunal arbitral,
e em sentido impróprio/objeções (exceções de conhecimento oficioso).

Quanto à defesa por exceção dilatória:


São, entre outas, exceções dilatórias as que constam do 577º CPC. O efeito da sua
verificação é que obstam a que juiz conheça do mérito da causa (278º/1 CPC),
devendo regularizar ou convidar partes a fazê-lo (6º/1 CPC, isto tratando-se de
exceções sanáveis).
131
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Não sendo a instância regularizada, quer porque pressuposto processual não foi
suprido ou a sua falta é insuprível, deve o juiz consoante os casos absolver réu da
instância ou remeter processo para tribunal competente (576º/2 e 278º/1 CPC).
Excecionalmente, admite-se que o juiz possa proferir sentença de mérito mesmo
sendo o processo inadmissível quando o pressuposto processual em causa vise
proteger posição de uma das partes e nenhum motivo obste no momento em que se
aprecia a exceção a que profira decisão integralmente favorável a essa parte (278º/3
CPC).

Defesa por exceção perentória:


Traduz-se a exceção perentória na invocação de novos factos pelo réu cuja
verificação permite a aplicação de uma norma que impede, modifica ou extingue o
direito invocado pelo autor. Por isso, a consequência de verificação de exceção
perentória é a improcedência do pedido.
Quando o réu invoca exceção perentória o réu está a alargar, para estritos efeitos
de defesa, o âmbito do processo. O juiz continua a ter de conhecer do pedido e da
causa de pedir, mas uma vez invocada uma exceção tem também de conhecer os
factos que a integram antes de proferir decisão de mérito.
Para interpretar uma exceção perentória há que considerar de que forma a
atendibilidade dos novos factos invocados pelo réu interfere sobre o direito exercido
pelo réu (576º/3/2ª parte CPC).
Exemplos de exceções perentórias impeditivas: anulação de negócio jurídico.
Sendo a anulação invocada por exceção trata-se de um facto impeditivo isto porque a
anulação radica num facto contemporâneo ou mesmo anterior à celebração de
negócio jurídico, considerando-se que, embora apenas na sequência da manifestação
de vontade do titular do direito, esse facto de que deriva anulação impede direito
exercido pelo autor.
Exemplos de exceções perentórias extintivas: a resolução do contrato, as causas de
cumprimento das obrigações, a caducidade do direito, o decurso de prazo de certo
direito real menor.
NOTA: só em função do modo como a exceção interage com o direito
exercido é que a podemos qualificar. Por exemplo, a novação (857º CC) é
simultaneamente extintiva de uma obrigação e constitutiva de outra. Se, por
exemplo, o autor demanda réu para cumprimento da obrigação extinta (por
novação) e réu invoca novação, então ele está a invocar facto extintivo (está a
pretender salientar o aspeto extintivo da novação)

132
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Exemplos de exceções perentórias modificativa: modificação do contrato por


acordo (por exemplo, uma moratória), extinção da obrigação por perecimento do seu
objeto e constituição de obrigação de indeminização no seu lugar.

2. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINAL
A par desta classificação legal encontra-se a classificação doutrinal.
Distinguem-se agora exceções PROCESSUAIS e exceções MATERIAIS. As primeiras
respeitam a uma concreta relação processual enquanto que as segundas operam no
plano da relação material controvertida (têm por finalidade obstar à produção do
efeito jurídico próprio do direito exercido).
Estas exceções processuais correspondem às exceções dilatórias da classificação
legal, e as materiais às exceções perentórias da classificação legal.

Esta classificação doutrinal diz respeito apenas à matéria de exceção!

Quer as exceções processuais quer as materiais subdividem-se em perentórias e


dilatórias.

2.1. EXCEÇÃO PROCESSUAL PERENTÓRIA


Estas exceções têm como consequência a absolvição da instância.

2.2. EXCEÇÃO PROCESSUAL DILATÓRIA


Estas exceções têm como consequência a remessa para tribunal competente. É
dilatória porque atrasa (remessa para tribunal), mas não destrói a relação processual.

2.3. EXCEÇÃO MATERIAL PERENTÓRIA


Estas exceções têm como consequência a absolvição do pedido, total ou parcial.

2.4. EXCEÇÃO MATERIAL DILATÓRIA


Estas exceções têm como consequência apenas que o direito não possa ser
exercido no momento em que autor pretenda, mas possa ser exercido em momento
posterior.

133
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Exemplos: prazo de cumprimento, o direito de retenção, condição suspensiva. Não


é que direito não exista, não pode é ser exercido naquele momento.
Nesta matéria devemos ter em consideração o disposto no artigo 621º CPC:
sentença constitui caso julgado nos precisos e termos em que se julga. Temos que
olhar ao artigo 610º CPC: julgamento em caso de inexigibilidade da obrigação
(obrigação existe, mas ainda não é exigível, pelo que se réu contestar tribunal condena
logo, mas sem prejuízo de se ter de verificar o respetivo prazo).

Um caso difícil é o caso de exceção por não cumprimento: artigo 428º/1 CC. O
nome indica ser defesa por exceção. A exceção por não cumprimento marca presença
nas relações sinalagmáticas (em que uma parte está adstrita a realização de prestação
em contrapartida por diferente prestação – correspetividade de prestações). Quando
assim é, este artigo diz que qualquer contraente tem faculdade de recusar a sua
prestação enquanto outro não efetuar o que lhe cabe.
Se numa ação para cumprimento de prestação o réu se defende com exceção por
não cumprimento do contrato o réu está a defender-se de que forma? Duas hipóteses
(classificação legal): defesa por exceção perentória impeditiva (pode recusar-se a
cumprir enquanto outra parte não exercer) OU defesa por impugnação.
De onde é que nasce a divergência doutrinal? De saber se prévio cumprimento da
prestação pelo próprio autor (parte que está a exigir prestação da outra parte) é ou
não um facto constitutivo do seu direito. Se entendermos que prévia realização da
prestação pela parte que vem exigir à outra o cumprimento é um facto constitutivo do
próprio direito, então temos defesa por impugnação; MAS se entendermos que não é
facto constitutivo então estamos a chamar facto que integra contra-norma e aí já
temos exceção perentória.
Portanto, tudo vai depender do modo como se configurem os direitos de cada
uma das partes nas relações sinalagmáticas.
Há quem entenda que no nosso Direito não é, ao contrário do que acontece
noutros países, pressuposto do direito de uma das partes haver realizado prestação a
que está adstrito. Argumento: tanto assim que é que se exigir direito e ele for satisfeito
a prestação ou comportamento realizados têm-se por causalmente justificados. Pode
usar-se também argumento literal: não é requisito do próprio direito, mas sim causa
de exceção (“pode recusar-se enquanto outra não cumprir”).
Contra-argumento: quem tem ónus da prova? Se se trata de facto constitutivo
quem tem ónus da prova é a parte a quem esse facto constitutivo aproveita, mas se é
facto modificativo/extintivo/impeditivo então ónus é do réu. Mas o ónus da prova não
tem de ser do autor? Não tem que ser autor a provar que já cumpriu?
Prof. Tavares Sousa entendia que era defesa por impugnação.

134
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Claro está que, se se entender que se trata de defesa por exceção, lançando mão
da classificação doutrinal, esta seria uma modalidade de defesa por exceção material
dilatória. Mediante manifestação do interesse do réu em pretender recusar
cumprimento da sua obrigação enquanto autor não fizer a sua contraprestação o que
falta apenas é o oferecimento da prestação (autor tem de a oferecer, e pode faze-lo a
qualquer momento). Aplica-se ou não o artigo 610º/1 CPC (diz respeito aos casos de
inexigibilidade)? O que temos aqui é recusa lícita de cumprimento enquanto não
houver oferecimento da contraprestação. Mas o critério relevante para este artigo é o
seguinte: o tribunal não deixa de conhecer da obrigação e de proferir decisão quando
nenhuma dúvida se coloque quanto à sua existência, havendo apenas obstáculo à sua
imediata condenação (ou seja, pode condenar para quando se remova o facto
dilatório). O facto dilatório aqui é o oferecimento da contraprestação. Portanto, para
quem entenda que isto é defesa por exceção a consequência da invocação desta
exceção é a condenação a satisfazer a prestação no momento próprio, ou seja,
obrigação do réu satisfazer obrigação logo que autor ofereça contraprestação a que
está adstrito. Assim, a consequência não é sempre absolvição total ou parcial do
pedido, mas pode ser condenação a satisfazer a prestação no momento próprio (nos
casos das exceções materiais dilatórias).

Quanto à ordem de defesa:


Apresenta-se primeiro defesa por exceção dilatória (nos termos da classificação
legal) porque o réu está a invocar falta de pressuposto processual, pelo que se
proceder há absolvição da instância pelo que juiz não entra no mérito da causa. Assim,
isto faz sentido por uma questão de procedência lógica.
NOTA: juntamente com exceção dilatória vem prescrição, usucapião
e caducidade (estes meios de defesa dispensam indagação de quaisquer
meios posteriores).
Depois vem defesa por impugnação dos factos constitutivos.
E por último, defesa por exceção perentória.

A.4. RECONVENÇÃO
No seu articulado pode o réu, em vez de se limitar a defender-se do autor, dirigir
contra este (autor) um contrapedido. A este pedido chama-se reconvenção. O mesmo
é dirigido pelo réu (réu reconvinte) contra o autor (autor reconvindo) – 266º/1 CPC.

A reconvenção traduz um verdadeiro exercício do direito de ação por parte do réu,


o qual, no que diz respeito ao pedido reconvencional é verdadeiramente um autor. Por

135
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

essa razão a reconvenção deve ser deduzida separadamente (na contestação) – 583º
CPC – estando sujeita aos mesmos requisitos que se colocam à petição inicial.
A reconvenção só é admitida nos casos do 266º/2 CPC:

• O pedido do réu emerge do mesmo facto jurídico que serve de fundamento à


ação ou que serve de fundamento à defesa
o Exemplo: uma ação de responsabilidade por cumprimento defeituoso
de empreitada pugna a condenação ao pagamento do preço
• Exercício de direito a benfeitorias por despesas relativas à coisa que é devida
ao réu
• Hipótese em que o réu pretenda reconhecimento do crédito ora para obter a
compensação ora para obter o pagamento de valor em que crédito excede esse
valor
o NOTA PARA COMPENSAÇÃO: a compensação é o direito potestativo de
extinguir uma dívida mediante o exercício de contra crédito e ela opera
mediante simples declaração (artigos 847º e seguintes CC). Há
requisitos para que compensação possa ser operada, mas, grosso modo,
exige-se que os dois sujeitos sejam simultaneamente credores e
devedores um do outro. Problema que se levanta ao nível do processo
civil: maioritariamente, até 2013, entendia-se que era preciso fazer
distinção – se réu quisesse apenas operar extinção da obrigação ao
invocar contra crédito, isso era uma coisa, MAS se contra crédito
excedesse crédito do autor isso já era outra coisa. Até ao valor do
crédito do autor entendia-se que se tratava de matéria de exceção: se
réu quisesse fazer valer este seu direito extintivo podia fazê-lo via
exceção (exceção perentória por invocação de um facto extintivo).
▪ Note-se que, EM SENTIDO PRÓPRIO, a compensação opera por
declaração, pelo que o réu ao invocar a compensação na
contestação faz com que esta ocorra assim que isso é
comunicado ao autor (quando autor toma conhecimento disso).
A partir desse momento temos é uma objeção (exceção em
sentido próprio), de conhecimento oficioso.
Portanto, doutrina entendia que no que respeitava ao
remanescente já não tínhamos exceção, mas sim pedido
reconvencional: se réu quiser que autor seja condenado no excedente,
naquilo que excede o crédito do autor.
O legislador, em 2013, todavia, veio seguir a posição daqueles
autores que entendiam que isto deve ser sempre feito por reconvenção:
266º/2/c CPC. Portanto, mesmo que se trate só de invocar a
compensação quando operar a extinção do direito do autor isso é
sempre matéria de reconvenção.

136
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Dogmaticamente isto não deixa de ser uma defesa por exceção


perentória (estamos perante facto extintivo), MAS é uma defesa
complexa porque importa, mesmo que seja só até ao limite do crédito
peticionado pelo autor, o aceitamento de relação jurídica diferente. Ou
seja, está sempre envolvido, independentemente dos valores do crédito
em confronto, o reconhecimento da existência do montante do crédito
usado como facto extintivo.
NOTA:
Artigo 729º/h CPC. Este artigo tem que ver com fundamentos de oposição à
execução. O legislador sentiu necessidade, neste artigo, de vir estabelecer como
fundamento de oposição à execução qualquer contracrédito contra exequente com
vista a obter a compensação de crédito. Então doutrina diz que não é sempre por
reconvenção: aqui pode ser feita por oposição à execução.
Discussão que nasce: existe, ou não, na ação declarativa o ónus de reconvir? O
Prof. Teixeira de Sousa entende que não (pode ser invocada na oposição à execução).
Mesmo que a situação de compensabilidade subsista até à última fase do processo e
possa ser invocada, ela já existe, sendo facto superveniente podia ser invocada em
articulado superveniente em sentido amplo. Já o Prof. Lebre Freitas diz que sim, existe
(se não for invocada na ação declarativa então depois não poderá ser invocada na ação
de execução).

NOTA 2:
É preciso distinguir compensação que opera judicialmente ou extrajudicialmente:
se invocada extrajudicialmente (aí se réu se quiser fazer valer dessa matéria na ação
isso é feito por objeção – defesa por exceção em sentido impróprio, de conhecimento
oficioso, mas que tem de ser levada ao conhecimento do tribunal) depois o réu tem de
levar isso para os autos, mas fá-lo-á por defesa por exceção; se invocada judicialmente
tem de ser feita por reconvenção.

NOTA 3:
Ação especial para cumprimento de ações pecuniárias emergentes de contrato e
injunção (DL 269/98 de 1 de setembro): esta ação prevê apenas a existência de dois
articulados. É possível operar a compensação ou não? CPC diz que compensação opera
sempre por reconvenção. Há três posições:
1) Há quem entenda que não é possível compensar
2) Há quem entenda que é possível compensar, mas que nos articulados deve ser
feita por via de exceção

137
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

3) Prof. Teixeira de Sousa entende que se deve aplicar regime geral do CPC (deve
admitir-se, aqui, a reconvenção)

• O réu pretende obter, em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que o autor
pretende obter
Nota para o artigo 266º/3 CPC.

Na economia dos articulados segue-se a réplica…


A.5. RÉPLICA
Artigo 584º/1 CPC
A sua principal função é a dedução de defesa no que toca ao pedido
reconvencional. A réplica está para a reconvenção como a contestação está para a
petição inicial. Quando o réu deduz pedido reconvencional ele age como se fosse autor
e autor vai agir como se fosse réu.
Sobre o autor impende ónus de replicar e impugnar a matéria de facto avançada
na reconvenção (587º CPC). Prazo para réplica é de 30 dias (585º CPC).
Até ao atual CPC a réplica tinha outras funções: servia para responder às exceções
do réu. Admitia-se 4º articulado (tréplica) para que réu pudesse responder às exceções
arguidas pelo autor na réplica no que diz respeito ao pedido reconvencional.

Uma vez que a fase dos articulados tem como finalidade carrear para o processo
os elementos essenciais à modelação do objeto da causa isso implica que as partes
tenham, pelo menos, oportunidade de se pronunciar uma vez sobre todos os
elementos que relevem. O autor invoca factos constitutivos do seu direito, réu tem
direito de se pronunciar sobre eles na contestação; mas se depois réu se defende por
exceção (alargando objeto do processo) o autor não tem possibilidade nos articulados
normais de se defender disto (porque réplica só serve para agir contra reconvenção).
Assim, quando o réu se defende por exceção, o autor não tem possibilidade de replicar
sobre essa matéria (mas é matéria nova sobre o qual não se pronunciou ainda). Note-
se que acontece o mesmo se na réplica o autor deduzir exceções uma vez que, dado
que já não há tréplica, o réu também não se pode defender destes novos factos.
Portanto, ao pedido segue impugnação; à exceção segue-se possibilidade de
impugnar, também. Para solucionar isto atente-se ao disposto no artigo 3º/4 CPC: às
exceções deduzidas no último articulado a parte contrária pode responder na
audiência prévia ou no início da audiência final. Na prática o que acontece é que partes
forçam estes articulados, quando vão para audiência apresentam isto por escrito (juiz
enquanto gestor do processo hoje em dia tem poderes para admitir isto).

138
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Em todo o caso, o que a doutrina entende é que não há, hoje, o ónus de
impugnação da matéria alegada na contestação no que toca a ação principal OU de
impugnar a defesa por exceção invocada pelo autor na réplica. Há apenas a
possibilidade de a parte forçar momento de resposta.

Existem especificidades nas ações de simples apreciação negativa:


Nestas ações (aquelas destinadas à declaração de inexistência de direito ou facto)
a função dos articulados é diferente. O que acontece é que, neste caso, a petição
inicial destina-se a que o autor afirme os factos a partir dos quais o réu se arroga
titular de certo direito e que alegadamente geram incerteza quanto a existência dos
direitos do autor.
A contestação destina-se neste caso para que réu, que se arroga de direito
relativamente ao qual autor quer que tribunal se pronuncie no sentido da inexistência,
alegue factos constitutivos do seu direito, daí que haja regra diferente em matéria de
ónus da prova (343º/1 CC).
Para que é que serve réplica? Para que autor possa impugnar factos constitutivos
alegados por réu, podendo ainda alegar factos impeditivos ou extintivos desse direito
invocado pelo réu (584º/2 CPC).
Estas ações constituem uma provocatio ad agendum (provocação para agir).

A.6. ARTICULADOS SUPERVENIENTES


Podemos distinguir entre articulados supervenientes em sentido amplo e
articulados supervenientes em sentido restrito/técnico. Em qualquer um dos casos
estamos perante articulados que pertencem logicamente à fase dos articulados, mas
que cronologicamente não estão aqui integrados.
Articulados supervenientes em sentido amplo são todos aqueles que têm lugar
depois de terminada a fase do articulado resultante do artigo 3º/4 CPC, do convite do
juiz ao aperfeiçoamento à matéria de facto (quando haja insuficiência ou imprecisão –
artigos 590º/2/b e nº 4, 591º/1/c CPC).
Articulados supervenientes em sentido técnico são apenas os que servem para
alegação de facto superveniente (588º/5 CPC). Estes servem para trazer ao processo
factos supervenientes ao momento em que se apresentou o último articulado
admissível. Servem quer para alegação de factos constitutivos pelo autor (ou réu
reconvinte) quer pela alegação de factos impeditivos, modificativos ou extintivos pelo
réu (ou autor reconvinte) (artigo 588º/1 CPC).
Relativamente ao réu não joga preclusão do artigo 573º/1 CPC relativamente a
estas exceções supervenientes (artigo 573º/2 CPC). Isto por causa do princípio da
139
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

concentração: o réu tem de apresentar toda a sua defesa na contestação – mas


existem desvios a este princípio, sendo um deles quando se tratar de matéria
superveniente.
Quanto ao autor tem sido controvertido se alteração ou ampliação da causa de
pedir é admissível fora do circunstancialismo dos artigos 264º e 265º CPC. Prof. Lebres
Freitas entende que sim, ou seja, que é de admitir a solução que a apresentação de um
articulado superveniente pelo autor não está limitado pelo disposto naqueles artigos.

A superveniência pode ser objetiva ou subjetiva (588º/2 CPC). Ela é objetiva


quando os respetivos factos só tenham ocorrido depois de terminada a fase dos
articulados (um novo dano que ainda não se tinha verificado, cumprimento da
obrigação, etc.). Ela é subjetiva quando os factos já estivessem verificados à data dos
articulados, mas a parte só deles teve conhecimento em momento posterior. Por
exemplo: só agora autor conhece do vício oculto da coisa.
Mediante os articulados supervenientes podem apresentar-se tais factos até ao
encerramento da discussão (588º/1 CPC). Ora, é em função dele, finda a discussão em
audiência de julgamento, que se fixam limites do caso julgado (a sentença deve
corresponder à situação existente no momento do encerramento da discussão –
611º/1 in fine).
A lógica é esta: o que acontecer até ao fim da discussão ainda pode ser
trazido, sendo matéria superveniente; o que acontecer depois já não pode ser
trazido, mas também já não é abrangido pelos limites do caso julgado.
Há é momento de preclusão específicos consoante o momento em que se conheça
dos factos supervenientes (588º/3 CPC):
a) Audiência prévia quando factos hajam ocorrido ou sejam conhecidos até ao
respetivo encerramento
b) Nos 10 dias posteriores à notificação da data designada para realização da
audiência final quando não se tenha realizado audiência prévia
c) Na própria audiência final se os factos ocorreram ou se a parte deles teve
conhecimento em data posterior às referidas nas alíneas anteriores
→ são estes os 3 momentos de preclusão

REGIME
Apresentado o articulado ou oferecimento da prova relativamente ao facto
alegado o juiz profere ora despacho de admissão (caso em que ordena a notificação da
parte contrária para responder no prazo de 10 dias) ora a rejeição (pode ter por base
um de dois fundamentos: 1) apresentação fora do tempo por culpa da parte; 2) a sua
manifesta inviabilidade – 588º/4 CPC).

140
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Notificada a parte contrária esta está sujeita a ónus de impugnação relativamente


a estes factos superveniente. Portanto, se não responder ou impugnar factos alegados
eles são dados como provados por admissão (588º/4 in fine CPC).
Com a resposta deve oferecer prova.
Os factos impugnados e aqueles que não são admitidos por acordo nos termos do
596º eles vão ser objeto de prova (588º/6 CPC).

A.7. OUTRAS PEÇAS SUPERVENIENTES


Além dos articulados supervenientes há outras peças que, fora da fase dos
articulados, desempenham algumas das funções dos articulados. É justamente por isso
que alguma doutrina os denomina ainda como articulados supervenientes.
É o caso do requerimento de modificação unilateral do pedido por redução ou
ampliação (265º/2 e 4 CPC); da dedução de uma exceção que não sendo
superveniente a lei admite na fase dos articulados (por exemplo, incompetência
absoluta do tribunal – até ao saneador ou até haver decisão com trânsito em julgado)
ou que seja de conhecimento oficioso (573º/2 CPC); alteração do pedido ou causa de
pedir por acordo (264º CPC).
NOTA PARA OS ARTIGOS 264º E 265º CPC

Estas peças podem ser tratadas como articulados supervenientes (ainda que não o
sejam em sentido técnico).

B) FASE DA CONDENSAÇÃO E SANEAMENTO


Uma vez tendo sido apresentado o objeto da lide na fase dos articulados, nesta
fase vem-se resolver o litígio. O objetivo aqui é apurar da regularidade da instância
(uma vez identificado objeto do litígio) e destina-se a preparar as fases subsequentes.
Esta fase pode ser integrada por despacho pré-saneador, audiência prévia (que
pode ser dispensada), despacho saneador (artigo 595º CPC).

B.1. DESPACHO PRÉ-SANEADOR


Ora, a fase dos articulados termina com necessidade de juiz proferir despacho.
Este despacho serve para alguma das finalidades previstas no 590º/2 CPC.
1. Para providenciar pelo suprimento de exceções dilatórias nos termos do artigo
6º/2 CPC (para depois conhecer da matéria relativa à exceção no saneador)
141
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

2. Para providenciar pela correção ou aperfeiçoamento dos articulados


a. Números 3 e 4 (do artigo 590º CPC)
3. Para determinar a junção de documento que permita apreciar exceção dilatória
ou o imediato conhecimento do pedido (conhecer do mérito da causa)
Estamos perante despacho meramente eventual: apenas para caso de juiz querer
obter alguma destas finalidades.

Destas várias possibilidades vamos considerar o despacho de aperfeiçoamento:


serve para convidar as partes a aperfeiçoar ou concretizar a causa de pedir ou uma
exceção, isto para a eventualidade de não haverem sido alegados todos os factos
relevantes de aplicação de uma dada norma jurídica (o autor e o réu têm o ónus de
alegar os factos essenciais da causa – os que integram causa de pedir e exceções
perentórias). Se houver deficiência na alegação desses factos pode haver este convite.
Este convite pode ser deduzido quer ao autor quer ao réu.
Não se pode é usar este pedido do juiz para invocar causa de pedir ou exceção
diferente (não se estaria a respeitar momento próprio para isto, que é fase dos
articulados), isto sem prejuízo da possibilidade de alterar causa de pedir (tal como
indicado supra relativamente às “outras peças processuais”).
Articulado de aperfeiçoamento tem prazo para ser apresentado e está sujeito ao
contraditório (artigos 590º/4 e 5, 3º/1 CPC).

B.2. AUDIÊNCIA PRÉVIA


Concluídas as atividades antes referidas o juiz convoca uma audiência prévia nos
termos do artigo 591º CPC.
Este audiência prévia presta-se às seguintes finalidades:
1. Tentativa de conciliação entre as partes (591º/1/a CPC)
a. Parte tem de se fazer representar por advogado com poderes especiais
para efeito (45º/2 e 290º/3 CPC)
2. Para a discussão sobre as exceções dilatórias (591º/1/b CPC)
a. Particularmente relevante para as exceções dilatórias de conhecimento
oficioso sobre as quais as partes não se tenham pronunciado nos
articulados
b. Só pode dispensar-se audiência com esta finalidade em caso de
manifesta desnecessidade (3º/3 CPC)
3. Para a discussão do mérito da causa (591º/1/b/2ª parte CPC)
a. Se juiz tem de conhecer mérito da causa no saneador deve promover a
discussão com as partes

142
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

i. Não pode dispensar esta discussão em nenhum caso (caso


queira conhecer logo do mérito da causa no despacho saneador)
4. Discutir posição das partes para delimitar termos do litígio (591º/1/c CPC)
a. Note-se que este aspeto tem relevo porque as partes consideram
matéria de facto em função do entendimento jurídico que lhe dão.
Portanto, o enquadramento jurídico do caso é de grande importância
para que a prova a produzir ou elementos a valorar sejam os mais
ajustados para a decisão final, a audiência prévia destina-se ainda ao
completamente dos articulados deficientes que ainda subsistam ou que
assim se revelem no termo do debate
5. A programar a audiência final (591º/1/g CPC)
a. Datas, número de sessões, a sua provável duração, etc.
6. Outras finalidades: manual do prof. Lebres Freitas
Feito este debate a audiência prévia é ainda momento adequado para que juiz
profira o despacho saneador para a ata (artigos 591º/1/d e 595º CPC), o despacho de
identificação do objeto do litígio e pronunciação dos termos de prova (caso o processo
prossiga para a fase subsequente – 591º/1/f e 596º CPC) e o despacho de adequação
formal (despacho de simplificação ou agilização processual – 591º/1/e CPC). Qualquer
um destes despachos pode ser proferido por escrito, em vez de ditado para ata na
audiência prévia (595º/2 CPC).

B.3. DESPACHO SANEADOR


Artigo 595º/1 CPC
O despacho saneador pode ter duas finalidades:
1. Conhecer de exceções dilatórias e nulidades processuais
a. Ou seja, aferir da regularidade da instância
2. Conhecer imediatamente do mérito da causa quando o estado do processo o
permita, sem apreciação de mais prova, a apreciação total ou parcial da causa
a. Despacho saneador-sentença
b. Prova documental é aquele a que nos estamos a referir (meio de prova
constituído, e não constituendo)

Quanto ao conhecimento de exceções dilatórias e nulidades processuais o


despacho saneador é o momento adequado para formular juízo sobre regularidade da
instância. Tratando-se da falta suprível de pressuposto processual a oportunidade para
regularização de instância já terá sido previamente dada por ocasião do despacho pré-
saneador.
NOTA: pode perguntar-se pelo regime aplicável quando o juiz só vê a falta de
pressuposto processual em sede de despacho saneador. Por força do artigo 6º/2 CPC é
143
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

de entender que juiz deve também convidar as partes a regularizar a instância ou ele
próprio ordenar a prática dos atos que a regularizem, consoante os casos.
Neste primeiro caso a decisão tem valor de caso julgado formal (uma vez que
transite em julgado) mas apenas em relação às questões concretamente apreciadas
(595º/3/1ª parte CPC). Porém, o juiz pode conhecer do mérito da causa no saneador
quando não haja necessidade de quaisquer elementos adicionais, sendo que aqui tem
valor de sentença (595º/3/2ª parte CPC) pondo termo ao litígio e produzindo caso
julgado material.
Por sua vez, nos termos do artigos 596º/1 e 597º CPC, uma vez proferido
despacho saneador, quando ação houver prosseguido o juiz profere então despacho
destinado a identificar objeto do litígio e a enunciar os temas do próprio.

C) DISCUSSÃO DA CAUSA E SENTENÇA – AUDIÊNCIA FINAL


O que aqui se segue é a audiência final.
Finalidades:
1. Produção de prova
2. Debate entre as partes quanto à matéria de facto e de direito
Artigos 410º e seguintes CPC regem a instrução.
A instrução destina-se à produção da prova constituenda (testemunhal, por
depoimento, inspeção, etc.)

A audiência final é caracterizada pelos seguintes princípios:


1. Plenitude da assistência do juiz (605º/1 CPC): todos os atos são praticados na
presença do juiz
2. Princípio da publicidade: a audiência é pública salvo quando se revele
necessária a sua privacidade de modo a proteger dignidade das pessoas
(606º/1 CPC)
3. Princípio da continuidade: a audiência é contínua. Se não poder ser terminada
num só dia deve ser marcada continuidade para a data mais próxima (606º/3
CPC).
A audiência final é presidida pelo juiz, o qual, à semelhança do advogado, pode-se
fazer assistir por técnicos (601º/1 CPC). A audiência é sempre gravada (155º/1 CPC).

A sequência cronológica da audiência de julgamento consta do artigo 604º/2 CPC:

144
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

1. Tentativa de conciliação promovida por juiz caso litígio se enquadre no âmbito


de direito disponível
2. Realização da atividade instrutória (destinada a fazer prova das alegações
importantes para a discussão da causa e que estão identificadas sob o ‘chapéu’
da enunciação dos temas de prova – 596º CPC)
a. O mais importante
i. É na audiência final que se faz prova constituenda (sobretudo a
prova testemunhal)
b. Artigos 410º e seguintes CPC
c. Realizam-se as atividades constantes do artigo 604º/3/a, b, c, d CPC
3. Alegações orais (de facto e de direito) através das quais os advogados expõem
as suas conclusões que extraem da prova produzida. É através destas alegações
que eles procuram convencer o juiz, interferir com o seu julgamento.
a. Na alegação respeitante à matéria de facto analisam os advogados a
prova produzida, concluindo sobre os factos que entende deverem ser
dados como provados ou não provados. Na alegação respeitante à
matéria de direito dão conta das razões que em seu entender a sua
posição deve proceder.
Uma vez realizados estes atos, a audiência é encerrada e o processo é concluso ao
juiz.
O juiz pode determinar a reabertura da audiência se não tiver sido
suficientemente esclarecido (607º/1 CPC).

ESTRUTURA DA SENTENÇA
Neste momento do iter processual o julgador já tem todos os elementos
necessários para julgar a causa e, por isso, vai proferir sentença. Por sentença designa-
se o ato pelo qual se decide causa principal (152º/2 CPC).
Na sentença decide-se do direito aplicado à causa.
É constituída por três partes:
1. Relatório (juiz identifica partes e objeto do litígio – artigo 607º/2 CPC →
caracterização fundamental do caso)
2. Fundamentação (factos que considera provados e interpreta normas jurídicas
que devem ser aplicadas – 607º/3/1ª parte CPC)
a. Através da fundamentação, nos termos do artigo 607º/4 CPC, deverá
ser possível apurar das razões que levaram o juiz a concluir pela
verificação ou não verificação de dados elementos da matéria de facto e
solução de direito que ofereceu à lide
b. Há dever de fundamentação (154º/1 CPC)

145
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

3. Decisão final, pela qual condena ou absolve réu total ou parcialmente


(607º/3/2ª parte CPC)
Condenação da parte que tenha dado causa a ação nas custas (607º/6 CPC)
Sentença é depois notificada às partes.

MATÉRIA DE FACTO
A decisão relativa a matéria de facto destina-se a dar como provadas ou não
provadas as alegações das partes relativamente a certos factos. Para isso o juiz deve
tomar em consideração o direito probatório. Distingue-se o direito probatório material
do direito probatório formal: o 1º é o que fixa o valor dos diferentes meios de prova
(341º e seguintes CC) e o 2º designa as regras processuais de definição e valoração da
prova (410º e seguintes CC).
Vale princípio do inquisitório (411º CPC) quanto aos factos que juiz possa
conhecer.
Para a valoração da prova, se não existir nenhuma norma de prova legal (à falta de
norma que fixe valor probatório) vale o princípio geral da livre apreciação da prova
(607º/5 CPC).

O que é que acontece nas hipóteses em que juiz, uma vez realizada toda a
atividade instrutória (a requerida pelas partes e a que resulta da iniciativa do juiz), fica
em dúvida insanável relativamente à verdade dos enunciados de facto enunciados
pelas partes? O juiz depois de realizada instrução fica em dúvida insanável (objetiva e
racional) quanto á verdade dos enunciados de facto. O que é faz?
Artigo 8º/1 CC: prevê que tribunal não se pode abster de julgar um litígio nem por
falta ou obscuridade da lei nem alegando dúvida insanável quanto aos factos em
litígio.
O juiz está em dúvida quanto à verdade dos factos. Não sabe se são verdadeiros
ou falsos.
Ora, esta dúvida resolve-se através da aplicação das regras de distribuição do ónus
da prova (regras de distribuição do risco da prova, mais concretamente da sua falta).
Da aplicação destas regras decorre que juiz vai decidir causa contra a parte sobre
quem impedia ónus da prova.
Exemplo: autor tinha ónus de provar facto x. Juiz fica em duvida insanável.
Portanto, vai decidir contra autor (como se facto não fosse verdadeiro).
Estas são regras de decisão quanto à dúvida de determinado facto.

146
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

Princípios gerais relativos ao ónus da prova estão nos artigos 342º a 346º CC. São
regras que fazem parte do chamado direito probatório material.

Ora, na repartição do ónus da prova valem as seguintes regras fundamentais: o


ónus da prova dos factos constitutivos de certo direito recai sobre quem o invoca
(342º/1 CC), o ónus da prova de factos impeditivos, modificativos ou extintivos de
certo direito recai sobre aquele contra quem direito é invocado (342º/2 CC). Na dúvida
entende-se que facto é constitutivo (342º/3 CC).
Portanto, é sobre o réu que recai ónus da prova dos factos que fundem certa
exceção.
Cada parte tem o ónus da prova dos factos que lhe aproveitam.

Qual o sentido de uma presunção? Ela inverte o ónus da prova, que passa assim a
recair sobre aquele a quem o facto prejudica (344º/1 CC).
Por exemplo: existindo presunção de culpa no caso de incumprimento obrigacional
(799º CC) muito embora a culpa seja pressuposto da obrigação de indemnização não
tem de ser dada a culpa como provada para que proceda o pedido do autor, porque há
presunção de culpa.
Isto tem que ver com teoria das normas de Rosenberg: norma-contranorma;
factos que integram norma que produzem efeito que autor quer – factos que integram
contranorma que impede, modifica ou extingue esse direito; ónus da prova do autor –
ónus da prova do réu; absolvição do réu do pedido – condenação do réu no pedido.

Portanto, temos de ver se é facto constitutivo OU


modificativo/extintivo/impeditivo. Se a dúvida recair sobre um facto constitutivo do
direito, o juiz absolve réu do pedido (porque ónus da prova é de quem invoca direito –
autor -, sendo que se juiz está em dúvida vai decidir contra quem impende ónus). Se
dúvida recair sobre facto modificativo/extintivo/impeditivo (partido do pressuposto
que factos constitutivos do direito estão provados) o juiz condena réu no pedido,
existindo procedência da ação (uma vez que ónus da prova aqui impende sobre aquele
contra quem a invocação do direito é feito – direito este que estes factos querem
impedir, modificar ou extinguir -, sendo que essa pessoa é o réu; dado que em caso de
dúvida juiz decide contra aquele sob quem impende ónus, aqui decide contra réu).

Uma vez fixados os factos relevantes para a resolução da lide, cabe agora aplicar o
direito relevante a esses factos. Importa recordar que o juiz não está adstrito às
alegações que as partes hajam feito em matéria de direito (artigo 5º/3 CPC).
147
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

O juiz conhece em primeiro lugar quaisquer questões processuais que possam


determinar a absolvição da instância (608º/1 CPC). Não absolvendo o reu da instância
ele passa á resolução de todas as questões jurídicas cuja apreciação lhe tenha sido
suscitada, em particular cabe-lhe conhecer do pedido, relação entre pedido e causa de
pedir e relevância das exceções perentórias que hajam sido invocadas (pelo réu ou
autor reconvinte). O juiz deverá fundamentar a sua decisão considerando, ainda que
sumariamente, os argumentos contrários que com seriedade as partes tenham
deduzido.
Neste momento o juiz pode absolver ou condenador o reu (609º/1 CPC). Por via
de regra não o pode fazer em quantidade superior ou objeto diverso do pedido
(609º/1 CPC). Excecionalmente é admitida a condenação genérica (tribunal condena
no que vier a ser liquidado – 609º/2 CPC) – foi feita prova do an debeatur, mas não do
quantum.
É possível também, nos casos do 610º/1 CPC, haver condenação in futurum.

VÍCIOS DA SENTENÇA
A sentença como ato processual que é pode ela própria padecer de vícios
específicos.
Causas de nulidade da sentença: artigo 615º CPC.
Nº1:
1. Quando falta assinatura do juiz (alínea a)
a. Esta nulidade é suprível mediante posterior aposição desta assinatura
(nº2 e 3 deste artigo)
2. É também nula a sentença quando a mesma não especifique os fundamentos
de facto e de direito em que se sustenta a decisão (alínea b)
3. A oposição entre os fundamentos de facto e os fundamentos de direito OU a
ininteligibilidade da decisão (pedido é incongruente com causa de pedir, por
exemplo)
4. A omissão ou excesso de pronúncia (alínea d) ou pronúncia ultra per totum –
para além do que tiver sido pedido (alínea e)
As nulidades são arguidas perante tribunal que as proferiu sob a forma de
reclamação caso não se admita recurso ordinário (artigo 149º/1 CPC – prazo supletivo
de 10 dias), ou perante o tribunal de recurso no prazo do respetivo recurso (615º/4
CPC).

Questão diferente é o erro material manifesto (erro de escrita, erro de cálculo,


etc.) – artigo 614º/1 CPC. O erro é corrigido por despacho ou tribunal superior e a
retificação pode ter lugar a todo o tempo (artigo 614º CPC).
148
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

A distinguir destas hipóteses estão as hipóteses de discordância da parte quanto


ao julgamento propriamente dito. OU SEJA, a sentença é válida (não há causa de
nulidade da sentença), está assinada, apresenta fundamentos de facto e direito, não
há contradição, não há omissão de pronúncia nem excesso de pronuncia, a sentença
não é ininteligível, MAS a parte não concorda com a decisão (seja matéria de facto seja
matéria de direito – entende que matéria de facto que devia ter sido dada como
provada devia ter sido outra, etc.): casos de erro de julgamento. O meio próprio para
reagir aqui será recurso de apelação da sentença (artigo 644º/1/a CPC).
Quando não haja lugar a recurso ordinário pode excecionalmente ser requerida a
reforma da sentença quando por lapso manifesto do juiz haja um erro na
determinação da norma aplicada ou na qualificação jurídica dos factos ou então
quando constem do processo documentos ou outros meios de prova plena que só por
si impliquem necessariamente decisão diversa da proferida (meio de reação face a
erro grosseiro) – artigo 616º/2 CPC (note-se que o artigo 666º/1 CPC remete para
estes artigos).

NOTA: reforma da sentença não é recurso, mas é forma de reação (quando não
haja lugar a recurso ordinário e haja erro grosseiro, quer na aplicação de direito quer
na matéria de facto)

EFEITOS DA SENTENÇA
Com a prolação da sentença esgota-se o poder jurisdicional do juiz que se havia
constituído com a petição inicial (613º/1 CPC), só podendo completar ou alterar a
sentença nos casos em que a lei o expressamente admitir.
Note-se que o juiz pode voltar a contactar com o processo caso a Relação ou o
Supremo, no âmbito do recurso, imponham que processo retome à 1ª instância para a
prática de certos atos probatório (662º/2 CPC).

Mesmo antes de transitada em julgado, a sentença pode já, via de regra, ser
utilizada como título executivo quando o recurso seja atribuído efeitos meramente
devolutivo (devolve a decisão a tribunal superior) – artigos 703º/1/a e 704º/1 CPC.
NOTA: ver artigo 647º/1 CPC em relação a apelação, e artigo 676º CPC para a
revista. Combinando isto com 704º/1 CPC vemos que sentença pode ser usada como
título executivo.

A prolação da sentença permite, desde logo, a produção dos seguintes efeitos:


149
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018

• A constituição de hipoteca judicial quando objeto da sentença condenatória


seja prestação pecuniária ou outra coisa fungível (710º/1 CC)
• O início do prazo da prescrição (311º CC, 648º/a CC, 829º-A/4 CC)

CASO JULGADO MATERIAL


Não tendo sido interposto recurso ordinário ou reclamação, a decisão transita em
julgado e adquire força de caso julgado (628º CPC). Pronunciando-se o juiz sobre o
mérito da causa a questão tem-se por definitivamente resolvida para o Direito,
formando-se caso julgado material (619º/1 CPC). A partir deste momento, para o
Direito tem-se por determinados os termos de resolução daquele concreto litígio (a
partir daqui já não importa o que é justo ou injusto). Tem-se por direito como
adequado e unicamente válido aquilo que foi resolvido pelo tribunal. Só em casos de
extrema gravidade é que se admitirá o recurso de revisão.
Fundamentos do recurso de revisão: artigo 697º CPC (interposto já depois do
transito em julgado da decisão).
Os limites do caso julgado são traçados pela identidade de sujeito, pedido e causa
de pedir (580º e 581º CPC ex vi 619º/1 CPC). daqui resulta também que o âmbito do
caso julgado não engloba outras matérias que sejam somente instrumentais ou
laterais da resposta àquele concreto pedido. Assim, os meios de defesa invocados pelo
réu só valem na medida em que obstam ao pedido do autor e não em relação a
quaisquer outros efeitos. Por exemplo: autor exige cumprimento de obrigação e réu
exceciona com novação, o caso julgado promove apenas efeito extintivo e não
obrigação de constituir nova obrigação.
Relevante é também notar que o âmbito do caso de julgado não engloba os
fundamentos da decisão, mas apenas a decisão enquanto tal. Os fundamentos devem
ser considerados apenas para fixar o sentido e alcance da decisão.

Limites subjetivos: o caso julgado só produz efeitos entre as partes da ação,


atendendo à qualidade em que nela intervieram e não perante terceiros (res inter alios
iudicata tertio neque nocet neque prodest). Se terceiro não interveio na ação não se
lhe deve opor os efeitos respetivos.
Nalguns casos, contudo, admite-se que caso julgado consiga afetar terceiro. Por
exemplo: nas obrigações solidarias, cada condevedor pode invocar caso julgado que
aproveite a um outro condevedor (522º CC); nas ações entre Estado e pessoas produz-
se efeito do caso julgado quando, mesmo em relação a terceiro, tendo a ação sido
proposta contra todos os interessados de direito tenha havido oposição, sem prejuízo
do disposto na lei civil contra certas ações (622º CPC); casos de substituição processual
em que decisão a tomar produz efeitos em relação ao substituído processual.

150

Você também pode gostar