Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
2º Semestre
• Subjetivos
o Partes
• Objetivos
o Pedido
o Causa de pedir
CLASSIFICAÇÕES
As situações de pluralidade de partes podem agrupar-se em diferentes
classificações:
3
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
5
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
6
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Portanto, numa relação jurídica com pluralidade de sujeitos quer-se todos eles na
ação para ficarem todos vinculados pela decisão que será produzida pelo caso julgado.
O litisconsórcio necessário pode ser de fonte legal ou negocial (artigo 33º CPC)
DE FONTE LEGAL
Quando seja a própria lei que reclama que para que se litigue sobre dada relação
jurídica é necessária a presença de todos os afetados.
Esta imposição pode ser feita de duas formas:
1. Resulta de disposição expressa da lei: existe uma regra específica que impõe
presença de pluralidade de partes (artigo 33º/1 CPC)
2. Preenchimento de critério geral (artigo 33º/2 e 3 CPC) – ‘efeito útil normal’
A aplicação do regime do litisconsórcio implica conhecimento do regime
substantivo.
7
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
8
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA: este pressuposto processual da legitimidade quer garantir o efeito útil das
decisões. A legitimidade singular quer que estejam na ação os sujeitos da relação
material controvertida, e se não estiverem a ação não tem efeito útil. A mesma lógica
aplica-se na legitimidade plural, no âmbito do litisconsórcio necessário.
Exemplo: A, de cujus, faz testamento com 5 deixas testamentárias a favor de 5
pessoas diferentes. B, herdeiro único (legitimário), pretende anular o testamento – ou
seja, B ia herdar tudo, mas A fez testamento com deixas a 5 pessoas e B quer anular o
testamento porque entende que há causa de invalidade do testamento. Contra quem
é que B tem de intentar ação? Há litisconsórcio necessário passivo? Tem de intentar
ação de anulação contra os 5 sujeitos ou basta contra 1 deles? Não há litisconsórcio
necessário passivo, PORQUE “produzir efeito útil normal” significa que há que compor
efetiva e definitiva composição entre aquelas partes. B intenta ação apenas contra H,
um dos legatórios: é possível compor definitiva e efetivamente o litígio entre B e H? Os
outros legatários não vão ser abrangidos pelo caso julgado – pode nascer contradição
de julgados, porque depois B pode intentar ação contra outro legatário, e isso pode
dar lugar a casos julgados contraditórios. Ora, aquilo que a lei prevê e pretende evitar
é uma incompatibilidade prática, e não teórica, de casos julgados: aqui podemos ter
incompatibilidade teórica, mas não prática (porque é possível resolver definitivamente
a questão entre aqueles sujeitos; legatário H recebe mas D não, e isto é possível).
Caso de litisconsórcio necessário passivo por aplicação do critério geral: ação de
demarcação pela qual se delimitam as extremas de um prédio (1353º CC). Afetando a
demarcação a posição jurídica de três prédios, todos hão de ser chamados à instância.
Há casos duvidosos: ação de preferência. A dúvida que aqui se coloca é de saber
se ação deve ser intentada apenas contra pessoa a quem foi vendida a coisa em
violação do direito de preferência ou se deve ser intentada também contra obrigado à
preferência. Uma parte da doutrina diz que ação pode ser intentada apenas contra
terceiro adquirente, a menos que titular da preferência queira receber indemnização
pelos danos que sofreu. Prof diz que há boas razões para entender que ação deve ser
intentada contra dois (obrigado à preferência e terceiro adquirente).
Outro caso duvidoso: caso de impugnação pauliana (610º e seguintes CC). O
devedor pratica conjunto de atos que põe em causa garantia patrimonial de crédito,
pelo que credor pode impugnar esses atos não no sentido de os tornar inválidos, mas
sim ineficazes face a credor e com isso ver património do terceiro a quem bens forem
vendidos ou doados abrirem-se à sua entrada. Dúvida aqui é se saber se ação pode ser
9
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
intentada apenas contra terceiro ou se deve ser intentada contra devedor também.
Prof diz que estamos perante litisconsórcio necessário passivo: que há aqui uma
necessidade de a ação ser intentada contra devedor alienante e terceiro adquirente,
de modo a proporcionar ao credor um título executivo que lhe permitia executar os
bens transmitidos (616º/1 CC e 826º CPC).
Outro caso duvidoso: ação contra comitente. Prof. Teixeira de Sousa diz que é um
caso de litisconsórcio legal.
Estes casos duvidosos em que doutrina não se põe de acordo demonstram que
esta matéria, na prática, levanta dúvidas.
O litisconsórcio necessário tem, por sua vez, FONTE NEGOCIAL quando por
negócio jurídico se preveja que em caso de litigância sobre uma certa relação jurídica
deve intervir na instância uma pluralidade de partes (não resulta da lei, mas de
negócio jurídico).
Exemplo: ação destinada a exigir restituição de coias depositada por duas ou mais
pessoas, tendo-se estipulado que coisa só podia ser levantada por todos os
depositantes em conjunto. Propondo-se ação contra depositário há litisconsórcio
necessário passivo.
REGIME
Há diferentes aspetos no regime do litisconsórcio necessário que refletem
circunstância de estarmos perante apenas uma relação jurídica e de se pretender a
efetiva presença de todas as partes no processo.
1. Quanto à citação, a falta de citação de um (se estivermos perante litisconsórcio
necessário, aqui passivo) obriga à anulação de todo o processado posterior à
citação dos outros (219º/1 e 190º/a CPC)
a. Isto para que todos os co-réus tenham possibilidade de influenciar a
instância
2. A confissão (meio de prova) só é atendível enquanto confissão (fazendo prova
plena do facto) se provier em simultâneo de todos os litisconsortes (353º/2/2ª
parte CC). Todavia, ainda que não goze de valor confessório pode ser
livremente apreciado pelo julgador (361º CC e 607º/5 CPC).
a. Se não provier de todos os litisconsórcios não faz prova plena
b. NOTA: se a necessidade de litisconsórcio for detetada demasiado tarde
e o novo interveniente (regularizou-se instância através de incidente de
intervenção principal provocada) ou nega o confessado ou impugna
facto não contraditado, tais factos devem ser considerados
controvertidos, integrando os termos de prova.
10
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
11
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
12
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
13
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Tal diretriz geral de divisibilidade das posições jurídicas vai-se traduzir, por um
lado, na liberdade de cada litisconsorte voluntário de, por si, conduzir a ação, e por
outro lado, conduzirá a imputação do objeto do processo à quota-parte do seu
interesse (não pode agir além do seu interesse).
Esta diferença entre litisconsórcio voluntário e necessário está no artigo 35º CPC.
Cada cointeressado pode agir autonomamente em juízo, mas apenas tendo por base a
quota parte do seu interesse, MAS podem agir todos em litisconsórcio voluntário (mas
aí não há uma ação com pluralidade de sujeitos, mas sim simples acumulação de
ações, conservando cada litigante uma posição independente face aos restantes, isto
porque a relação jurídica é divisível). Isto vai trazer consequências ao nível do regime.
O nosso direito parte de um princípio geral de divisibilidade da relação jurídica:
artigo 32º CPC (nota que interessados são os sujeitos da relação controvertida). Se
vale este princípio geral e se cada um pode agir autonomamente tendo por base a
quota parte do seu interesse, uma eventual situação de pluralidade de partes será de
fonte voluntária, dando origem a uma situação de litisconsórcio voluntário.
De todo o modo, em múltiplos casos é o próprio texto da lei que prevê
possibilidade de certa pessoa poder autonomamente litigar sobre uma dada posição
jurídica: artigo 32º/2 CPC.
Note-se que pode dar-se o caso de um dos cotitulares, tratando-se de uma relação
jurídica divisível, muito embora apenas possa litigar sobre quota parte do seu
interesse, intentar ação com vista a litigar sobre a totalidade da posição jurídica. Por
exemplo, no caso de obrigação conjunta ser intentada ação contra um dos
codevedores conjuntos, mas exigir-se totalidade. Aqui, a lei prevê redução automática
do objeto à quota parte do interesse do cointeressado que está a agir em juízo. Artigo
32º/1 CPC.
15
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
CONSTITUIÇÃO
O litisconsórcio voluntário pode ser:
REGIME
Diferentes aspetos do litisconsórcio voluntário refletem a circunstância de se estar
a litigar sobre relações jurídicas apenas parcialmente autonomizáveis. Convém
confrontar o regime do litisconsórcio voluntário com o que referimos a propósito do
litisconsórcio necessário.
1. Quanto à CITAÇÃO, a falta de citação já não implica a anulação do processado
posterior (190º/b CPC)
2. A CONFISSÃO (meio de prova) DE UM FACTO afeta apenas o confitente, não
devendo o efeito confessório ser estendido às demais partes (353º/2/1ª parte
CC). Como são posições jurídicas autonomizáveis parcialmente não há uma
ação, mas sim acumulação de ações, pelo que é possível que cada um deles
confesse factos, mas essa confissão só tem efeitos apenas para esse confitente.
a. No litisconsórcio necessário ela só era possível se proviesse de todos os
litisconsortes
16
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
1.3. COLIGAÇÃO
Têm de estar presentes na ação uma pluralidade de relações jurídicas. Por esta
razão, existe no caso da coligação um risco de complexificação da marcha processual. E
é por isso que a lei coloca limites à admissibilidade da coligação por forma a não
estorvar o normal funcionamento do processo.
Note-se que as partes são livres de determinar a instância do POV subjetivo, seja o
autor que decide contra quem vai intentar ação, seja o réu chamando outros co-réus.
Mas há limites: casos em que lei exige a presença de vários cointeressados
(litisconsórcio necessário) e há casos em que lei limita possibilidade de estarem vários
cointeressados na ação.
18
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
20
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
A. Feita a indicação pelo autor, tem lugar a absolvição da instância em relação aos
sujeitos passivos das relações materiais respeitantes aos pedidos preteridos
(artigo 38º/3, ex vi 37º/4 CPC)
a. Em caso de pluralidade de autores, a indicação deve ser feita por acordo
e por todos os autores (38º/2, ex vi 37º/4 CPC)
OU
B. Nada se indicando, são todos os réus absolvidos da instância (37º/4 CPC)
COLIGAÇÃO IRREGULAR
Existe quando não se encontram verificados os pressupostos que autorizam a
consideração conjunta daqueles diferentes pedidos, relativos a diferentes relações
jurídicas materiais a não verificação dá lugar a surgimento de exceção dilatória: 577º/f
e 278º/e CPC.
Consequências:
21
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
COLIGAÇÃO NECESSÁRIA
Em certos casos (de verificação muito rara), a coligação ao invés de ser voluntária
é necessária (lei impõe coligação).
Nestes casos devem ser consideradas em conjunto as várias relações jurídicas sob
pena de ilegitimidade, por preterição de pressuposto processual.
1.4. REGIME DO ARTIGO 34º CPC – diz respeito às ações que têm de ser
propostas por ambos, ou contra ambos, os cônjuges
Por intermédio deste regime, traz-se para o processo valorações de direito
material, que têm a ver com o direito matrimonial e patrimonial – conjunto de
disposições que regem as posições patrimoniais daqueles que contraem matrimónio,
com efeitos reconhecidos na ordem jurídica (1577º CC).
22
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
• Nº3: trata das hipóteses em que ações têm de ser intentadas contra ambos os
cônjuges
Uma dívida de um cônjuge, para que cônjuge não devedor pode vir a responder
por essa dívida, havendo necessidade de o juntar ao caso julgado.
2. Bens cuja disposição exige o consentimento do outro cônjuge: devem ainda ser
por ambos (34º/1 CPC) ou contra ambos os cônjuges (34º/1 ex vi 34º/3 CPC) as
ações de que possa resultar a perda ou oneração de bens que só por ambos
possam ser alienados, ou a perda de direitos que por ambos possam ser
exercidos.
a. O CPC vai mais longe aqui porque impõe presença de ambos se
estiverem a agir do lado passivo da relação jurídica.
b. Para se apurar quem deve intervir na ação deve considerar-se, por um
lado, o objeto da ação e as consequências possíveis da ação. Pode ter
por efeito a ação a perda oneração dos bens, ou perda dos direitos que
só por ambos possam ser alienados, pode afetar a titularidade do
direito? Por outro lado, é necessário olhar ao regime de bens do
24
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA: para se intentar ação executiva é preciso ter título executivo. Se credor não
tem título executivo, extrajudicial, tem de intentar ação declarativa. Se esta proceder
ele terá título executivo.
25
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA SOBRE AÇÃO DE DESPEJO: quanto a esta é preciso articular CC, CPC, Novo
Regime do Arrendamento Urbano (lei 2/2006, de 27/02). Esta lei estabelece
procedimento especial de despejo. Artigo 1084º/1 CC prevê que resolução do contrato
de arrendamento por senhorio, quando se funde em causa prevista no artigo 1083º/2
CC, é decretada nos termos da lei do processo da ação de despejo. Nestes casos, a
ação deve ser proposta contra ambos os cônjuges (litisconsórcio necessário passivo).
Hoje em dia para se por fim ao contrato de arrendamento a lei prevê outros
mecanismos, mas nesses casos é preciso ainda recorrer a esta ação de despejo.
34º/2 CPC que se aplica o disposto no artigo 29º/1 CPC, com as necessárias
adaptações, decidindo o tribunal do suprimento do consentimento. Nos termos desta
disposição deve ser fixado prazo para intervenção do outro cônjuge, suspendendo-se,
entretanto, os termos da causa (269º e seguintes CPC).
Tendo o autor alegado a recusa do outro cônjuge, segue-se a tramitação prevista
para suprimento do consentimento em caso de recusa (1000º CPC) – princípio da
adequação formal (587º CPC). Não o fazendo (não invocando recusa de consentimento
pelo outro), é fixado prazo para a apresentação desse consentimento, sob pena de
absolvição da instância. Sendo recusado há absolvição da instância; não sendo,
retomam-se termos da causa.
NOTA: deve poder o réu pedir a suspensão da instância antes da contestação. Isto
porque ele tem interesse legítimo em não apresentar a totalidade das suas armas que
poderiam servir de defesa na ação antes de se sentir seguro de que se trata de
instância regular, sobretudo porque nestas hipóteses não consegue ele próprio
suscitar a respetiva regularização.
SUPRIMENTO DA ILEGITIMIDADE
Consideramos em que termos e que ações devem ser propostas contra ambos ou
por ambos os cônjuges. Não verificação destas regras → exceção dilatória por
preterição de regras processuais (577º/e CPC). Não sendo a instância regularizada
pode ter por limite a absolvição do réu da instância (278º/1/d CPC). Num e noutro
caso estamos perante pressuposto processual sanável. Assim, nos termos do 6º/2 CPC,
o juiz deve convidar partes à regularização da instância.
27
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
moveu ação) possa manifestar o seu entendimento contra ação pelo outro, é
necessário ainda para a regularização da instância que o cônjuge entretanto chamado
manifeste o seu consentimento com a propositura daquela concreta ação e ratifique a
atividade processual desenvolvida pelo outro cônjuge.
Recusando o outro cônjuge intervir no processo ou ratificar o processado, resta ao
autor uma última possibilidade: a de obter o suprimento judicial do consentimento,
suspendendo-se a instância e aplicando-se o processo de jurisdição voluntária
constante do artigo 1000º CPC. Nos termos do artigo 34º/2 CPC será incidente que se
promoverá junto do tribunal que decide da causa principal.
Em caso de definitiva recusa aí sim há lugar à absolvição da instância (29º/1 CPC).
Ilegitimidade passiva
Havendo a ação de ser proposta contra ambos os cônjuges e só o sendo contra um
deve ser fixado prazo para intervenção do outro cônjuge no despacho pré-sanador
(577º/e, 278º/1/d CPC).
Não sendo regularizada a instância, ora por intervenção espontânea do cônjuge
preterido, ora pela não dedução do incidente de intervenção principal provocada,
aplica-se o regime comum da ilegitimidade passiva por preterição de litisconsórcio
necessário, ou seja, absolvição do réu da instância (278º/1/d e 576º/2 CPC) e,
consequentemente, não conhecimento do mérito da ação. Mesmo depois do trânsito
em julgado pode ser deduzido incidente de intervenção provocado nos termos do
271º/2 CPC.
Na medida em que a parte subsidiária pode ser realizada até ao termo da fase dos
articulados (artigos 216º/2 e 318º/1/b CPC), permite-se ainda com esta possibilidade
prolongar o efeito útil da primitiva ação. Em que hipótese? Alegando o réu na
contestação ser outro o titular passivo da relação material controvertida. Pode o autor
deduzir então, com base nas normas referidas, pedido subsidiário contra tal sujeito (e
chamá-lo à instância – pode recorrer a incidente de intervenção principal provocada).
Quanto ao 1º caso, o de resolução de dúvida quanto a quem é titular da relação
material controvertida, pense-se no seguinte: ação de responsabilidade civil movida
contra dois sujeitos (situação de pluralidade de sujeitos) por respetivo autor ignorar
quem praticou o facto lesivo; assim pode intentar ação contra dois sujeitos e pôr
pedido subsidiário contra um deles.
Quanto ao 2º caso (dúvidas surgidas no decurso da ação), pense-se na seguinte
hipótese: A propõe ação de condenação contra B, pedindo que o mesmo seja
condenado no pagamento de certos onerários. Alega o autor que prestou
determinados serviços e onerários são-lhes devidos. B alega que o serviço foi
encomendado por C e não por ele, réu. De acordo com regra geral da matéria da
legitimidade (singular), B é parte legítima da ação porque se parte da relação material
controvertida tal como configurada pelo autor na petição inicial. MAS não sendo
materialmente o B, réu primitivo, devedor (se se vier a confirmar que os serviços
foram encomendados por C) a consequência no âmbito desta ação é a ação dever
terminar com a absolvição de B do pedido (porque ele tem legitimidade porque para
efeitos do pressuposto da legitimidade parte-se da configuração que autor deu). Não
sendo B parte material, então o destino da ação seria a absolvição do pedido.
Mediante a possibilidade conferida pelo artigo 39º CPC pode o autor chamar à
instância C como parte subsidiária e assim consegue resolver definitivamente a
questão no âmbito daquela ação.
Consoante estejamos na presença uma ou várias relações jurídicas estaremos
perante situação de litisconsórcio ou coligação.
30
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
formal respetivo, e em princípio com caso julgado juiz não pode alterar decisão. Mas
podem formar-se dois contra-argumentos:
1. A sentença despacho constitui caso julgado nos precisos termos e limites em
que se julga (621º CPC). Se, porém, novas circunstâncias recomendam uma
nova solução já estamos fora do domínio de caso julgado
a. Relação de Évora de 18/04/2002
2. Distinção entre decisões de estrita legalidade ou decisões de mérito: neste
último caso é evidente a maior abertura à reconsideração de decisões
avançadas por novas circunstâncias (998º CPC). Portanto, face às novas
circunstâncias o juiz poderá, nos casos apontados, ordenar a desapensação das
ações apensadas.
31
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA: estes incidentes são uma categoria de género mais amplo, que é a
categoria de incidente. Por incidente entende-se tramitação processual meramente
eventual, que não é específica da tramitação comum de uma certa ação, mas que
naquela concreta ação carece de ser introduzida para a consideração da questão
principal. Do POV etimológico incidente designa aquilo que incide sobre alguma coisa,
aquilo que tem caráter acessório ou secundário. Os incidentes não fazem parte da
tramitação comum da ação, sendo meramente eventuais.
32
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Nos nossos tribunais tem-se discutido uma questão interessante que é a de saber
se requerida a intervenção principal de certo sujeito (espontânea ou provocada), mas
estando apenas verificados os pressupostos para ser parte acessória, tal pessoa pode
ser admitida na instância. Como parte principal não pode ser admitida porque falta os
respetivos pressupostos. A questão é saber se tribunal pode admitir o seu ingresso
como parte acessória.
Ora, o requerimento dirigido ao tribunal é um ato declarativo que, portanto, nos
termos gerais carece de ser interpretado (236º CC). Resultando dos termos desse
requerimento, mediante interpretação do mesmo, que o terceiro pretende intervir na
instância, mas em termos tais que não se reconduzem à posição de parte principal,
como erroneamente se qualificou, deve tribunal aceitar a respetiva intervenção. Ou
seja, se se interpretar que pediu intervenção como parte principal, mas erradamente,
consegue o tribunal concluir pela interpretação do seu requerimento que ele se
exprimiu mal então o tribunal deve admitir a sua intervenção (19/01/2012, acórdão da
relação de Lisboa, relator Pedro Martins).
Se, pelo contrário, resultar que requerente, embora não verificados os
pressupostos da intervenção principal pretende assumir essa posição (não pretende
intervir como parte acessória), o requerimento deve ser indeferido. Se o terceiro só
manifestou interesse em intervir como parte principal seria violência força-lo a ter de
suportar efeitos do caso julgado.
34
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Nalguns casos, o regime de direito material de dadas figuras prevê o dever de uma
das partes alertar outra para o facto de ter sido proposta uma determinada ação: litis
denuntiatio (denúncia de lide). Quer dizer o ato pelo qual certo sujeito dá
conhecimento a outro de que dada ação foi intentada.
Exemplos: em matéria de locação o locatário tem o dever de avisar locador para
circunstância de terceiro se arrogar de direito sobre bem alocado (1038º/h CC).
Regime vale também para comodato (1135º/g CC), para depósito (1137º/b), usufruto
(1475º CC), subsidiariamente para uso e habitação (1490º CC).
Note-se que nestes casos não está em causa o dever de o réu chamar à instância
este terceiro embora esta possa ser uma das formas de dar a conhecer ao 3º que ação
foi intentada. Trata-se de uma simples comunicação para que parte tome as ações de
defesa do seu direito (entre elas a possibilidade de terceiro intervir espontaneamente).
Requerida a intervenção o requerimento é apresentado em despacho liminar: ora
se recusa liminarmente o pedido por falta manifesta dos pressupostos de intervenção
(3º invoca relação jurídica autónoma da que está em litígio), ora se não houver causa
para indeferimento são notificadas partes primitivas para responder ao requerimento
do terceiro (315º/1 CPC). Depois disto, o juiz decide sobre possibilidade de
intervenção, terminando aqui o incidente, ora não admitindo ingresso do terceiro ora
admitindo (caso em que se modifica subjetivamente a instância).
contra crédito, mas que já não pode alegar no processo em causa, porque devia ter
feito em reconvenção, isto pode ser causa para não admitir terceiro.
Aderente sujeita-se a aceitar a causa no estado em que ela se encontrar, sendo
considerado revele quanto aos atos e termos anteriores, gozando, porém, de estatuto
de parte principal a partir do momento em que intervém (313º/3 CPC).
Se as partes na ação, nos seus articulados, alegam que a relação jurídica que os
enlaça respeita também a 3º têm estes também legitimidade para intervir.
o incidente deverá ser deduzido até ao termo da fase dos articulados, mas
ressalva-se disposto no artigo 261ºCPC (dedução do incidente já depois de
proferida decisão de absolvição do réu da instância por ilegitimidade). Por força
desta ressalva do artigo 261º CPC parece ser de admitir, afinal, a possibilidade
de deduzir incidente mesmo depois de terminada a fase dos articulados. Ora,
mal se compreenderia que as partes tivessem que aguardar a decisão de
absolvição de instância para terem de deduzir incidente de regularização da
instância, ao arrepio do princípio geral de sanação da irregularidade da
instância (artigos 6º/2 e 590º/2/a CPC). Por isso, entende-se que incidente é
deduzível a todo o tempo, quer depois da fase dos articulados, mas antes de
despacho saneador (acórdão da Relação Guimarães de 15/12/2016, relator
Helena Mel) quer mesmo em momento posterior a despacho saneador se só aí
se deteta falta de legitimidade (acórdão da Relação Guimarães de 5/4/2011).
Depois do despacho saneador, se tribunal não se tiver pronunciado
concretamente sobre essa matéria no saneador, porque se já o tiver feito já há
caso julgado material sobre essa matéria. Mas muitas vezes o que acontece é
que tribunal no despacho saneador profere ‘despacho tabelar’, não estando a
conhecer concretamente das matérias (isto não forma caso julgado material).
37
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
d. Aquilo que autor não pode fazer é chamar à instância outros autores a
título de litisconsórcio voluntário. Se é litisconsórcio necessário ativo, aí
pode chamar demais autores para sanar ilegitimidade. MAS lei não
prevê esta possibilidade para chamar autores a título de litisconsórcio
necessário ativo. Tratando-se de posições jurídicas relativamente
autonomizáveis, deixa-se aos respetivos titulares (relação jurídica
material com pluralidade de sujeitos do lado ativo, mas litisconsórcio é
voluntário) a liberdade de escolha sobre se exerce ou não o seu direito,
estando aqui em causa o princípio da autonomia individual (reconhece-
se domínio dos titulares sobre essas mesmas relações).
e. NOTA: dispõe o artigo 318º/1/b CPC que a intervenção principal
provocada pode nestes casos ser requerida até ao fim da fase dos
articulados. Importa determinar se esta fase termina com último ato a
que haja lugar ou 1º ato da fase processual seguinte, que é o despacho
pré-saneador (prof adota 2ª perspetiva porque o interesse desta
intervenção é adaptar a instância e partes subjetivas aos elementos que
réu trouxe na contestação. Portanto, como via de regra na estrutura do
CPC não há nenhum articulado que se siga à contestação, tal
possibilidade de adaptar elementos subjetivos aos elementos que réu
trouxe ficaria falha de qualquer efeito útil se entendesse que
possibilidade de deduzir incidente terminava com último articulado
porque já não haveria mais nenhum articulado. A seguir à contestação
há a réplica, mas nem sempre. Se terminasse hipótese de autor deduzir
incidente com contestação ele já não a poderia modelar tendo em
conta o que réu diz na contestação).
3. Casos de litisconsórcio voluntário por iniciativa do réu: réu tem interesse
prevalecente de resolver naquela instância o problema de fundo face a todos
os titulares daquela relação jurídica. Aqui resulta da vontade das partes a
formulação do litisconsórcio.
a. Se é por iniciativa do réu são duas hipóteses: chamamento de outros
litisconsortes voluntários passivos OU chamamento de outros
contitulares do direito invocado por autor (para formar litisconsórcio
voluntário ativo) OU AINDA (sendo este um caso especial) por iniciativa
do réu este chamar à instância condevedores no caso de obrigação
solidária para exercer sobre eles o seu direito de regresso
OU SEJA: o chamamento pode também ser por iniciativa do réu, uma
vez verificados os pressupostos do artigo 316º/3 CPC, sendo duas as causas
que justificam esta abertura: entrada na ação de outros litisconsortes passivos
E ingresso na instância de demais contitulares do autor. E depois há caso
especial.
1ª hipótese que justifica litisconsórcio voluntário por iniciativa do réu:
verificação dos pressupostos do litisconsórcio voluntário passivo (316º/3/a
38
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
CPC). O propósito dessa intervenção de iniciativa do réu é fazer com que 3os
sejam abrangidos por caso julgado (material) que se venha a formar na ação.
Portanto, aqui, por iniciativa do réu alargam-se o âmbito subjetivo dos efeitos
da procedência do pedido.
Exemplo: fiador pode pedir intervenção na instância do devedor (641º/1
CC).
Talvez deva, porém, fazer-se uma interpretação restritiva da referida
regra. A regra é do artigo 316º/3/a CPC. É que é princípio do CPC que só deve
ser admitido a litigar aquele que tenha alguma coisa a ganhar ou a perder com
certo pedido. Desta forma, parece ser de excluir a possibilidade de chamar
outro sujeito à instância quando a procedência do pedido em nada afete a
relação entre o réu e o chamado por falta de interesse em agir, mais
concretamente, por desnecessidade de tutela jurídica (referência ao interesse
no artigo 316º/3/a CPC e em geral a referência a interesse em agir no artigo
30º/2 CPC, mas este último artigo ao referir-se ao interesse não está a falar a
legitimidade, mas sim interesse em agir).
Exemplos: se é razoável que fiador chame à instância devedor principal,
já não é razoável por falta de interesse em agir que o devedor principal chame
à instância o fiador. Ora, o que acontece na fiança é termos garantia pessoal
das obrigações, pelo que se fiador cumprir fica sub-rogado na posição jurídica
do credor. O fiador cumprindo a obrigação fica sub-rogado (de fonte legal). O
crédito não se extingue: A é credor de B, e C é fiador de B, pelo que crédito que
A tem está garantido também por C. Se C cumprir, o crédito não se extingue.
Há sub-rogação e crédito mantém-se: há direito de regresso (C paga e depois
tem direito de regresso sobre B). ENTÃO, se fiador for demandado sozinho tem
interesse em chamar devedor principal para o vincular ao caso julgado porque
ele fica sub-rogado à posição do credor. Se é devedor a ser demandado, e não
fiador, pode o devedor chamar o fiador em litisconsórcio voluntário passivo?
Pelas regras da legitimidade nada o impede. Parece é que há falta de interesse
em agir: se fiador pagar passa ele a ser devedor do credor, mas se devedor
pagar não tem nenhum direito contra fiador.
Outro possível exemplo: caso do devedor conjunto que foi isoladamente
demandado chamar os restantes condevedores à instância. No regime da
solidariedade cada condevedor pode ser chamado a responder por inteiro, mas
no regime da conjunção cada condevedor responde apenas por uma fatia da
dívida (e é esta a regra no Direito Civil). Quando é demandado sozinho o
condevedor pode ter direito de regresso sobre os demais, mas se é obrigação
conjunta não há direito de regresso porque cada um só responde por uma
parte. Note-se que se autor demandar só um e exige tudo o objeto do processo
reduz-se: juiz só conhece da quota-parte do interesse daquele condevedor. Há
aqui interesse em chamar demais condevedores? Não.
39
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Uma dúvida que se coloca: este regime aplica-se apenas quando é demandado um
só dos condevedores ou pode ser aplicado quando são demandados dois ou três?
Lebre Freitas diz que não – a extensão não será de admitir dado que sendo vários os
demandados (ainda que não todos) é menor o risco de depois em sede executiva vir a
responder só um. Outra hipótese: sendo propósito da norma aproveitar efeitos da
concreta ação para dirimir problema adicional (direito do regresso) com economia de
meios, será de admitir mesmo sendo vários os demandados que possam chamar os
demais condevedores à instância.
Em qualquer um destes últimos casos (316º/3 e 317º CPC) deve pedido ser
deduzido na contestação ou não pretendendo contestar em requerimento que dispõe
para efeito (318º/1/c CPC).
41
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
2.2. OPOENTE
Em lugar de haver dois polos processuais (AUTOR e RÉU) pode acontecer que
exista no processo uma verdadeira triangularidade processual.
Em que caso é que se isso pode acontecer?
Esta triangularidade pode existir quando contra o autor e contra o réu venha a ser
constituído um opoente. Trata-se de uma verdadeira parte principal (mas incidente
não é de intervenção principal) que é considerada no CPC no incidente de oposição
(artigo 333º/1 CPC), que faz valer no confronto com ambas as partes um direito
próprio.
O opoente é aquele que no confronto com a posição do autor OU do reconvinte
(réu que age ao ataque) é admitido a litigar em defesa de uma posição jurídica própria.
A oposição distingue-se da intervenção principal, embora o opoente também seja
parte principal, em respeito ao modo como a posição do interveniente se articula com
a da parte da instância. Isto porque na intervenção principal o interveniente ocupa
posição paralela, e nessa medida não conflituante, com a do autor. Pelo contrário, na
42
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
oposição ocupa posição conflituante com a do autor primitivo ou réu reconvinte (réu
que age como autor).
O direito do opoente pode ser total ou parcialmente incompatível com o do autor
(artigo 333º/1 CPC).
Um caso já discutido na jurisprudência, e que gerou controvérsia, é o direito de
arrendamento: temos direito incompatível com o do autor, legitimando oposição?
Tudo depende do modo como autor formula ação: se autor pretende reivindicar o seu
bem, deve considerar-se incompatível porque o autor quer que a coisa lhe seja
entregue e se tenho direito de arrendamento não quero ser desapossado do bem
(processo 9831/2005, relação de Lisboa).
Ora, direito incompatível não quer dizer que seja o mesmo direito (olhar exemplo
acima): deve aqui ler-se posição jurídica incompatível.
MODALIDADES
43
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
334º, 552º CPC) afirme posição incompatível com a do autor ou reconvinte (333º/1
CPC).
Exemplo típico: terceiro vem alegar que é dele direito alegado pelas partes.
A oposição é deduzida por via de petição (334º CPC), aplicando-se as regras do
552º CPC com as necessárias adaptações (isto porque opoente não tem que avançar os
elementos que já tenham sido apresentados pelas partes primitivas nos seus
articulados). Os elementos que já resultem do articulado primitivo ele não tem de os
apresentar.
Quanto ao tempo (artigo 333º/2 CPC): intervenção só é admitida enquanto ainda
não tiver sido designado dia para a audiência final em 1ª instância OU enquanto não
tiver sido proferido sentença (casos em que não vai haver audiência final)*.
*Caso de revelia operante (567 CPC), conhecimento do pedido no despacho
saneador (595º/1/b CPC), processos especiais sem audiência final. Nestas 3 hipóteses
a resposta para saber até quando é que se pode abrir esta oposição está no 333º/2
CPC: enquanto não tiver sido proferida sentença.
Esta intervenção está sujeita a despacho liminar (335º CPC).
Uma vez admitida o opoente adquire posição de parte principal e partes primitivas
podem contestar pedido (335º/1 CPC).
Artigo 335º/2 CPC: ambas as partes são chamadas para se oporem à pretensão
deduzida pela opoente. Consoante a sua atitude, podem ser diferentes as
consequências sobre a ação principal. As partes primitivas podem reconhecer ou
contestar a pretensão do opoente.
44
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Trata-se de um incidente que só pode ser deduzido pelo réu ou pelo reconvindo
(autor reconvindo; aquele contra quem foi deduzido uma pretensão)
Este incidente serve para que? Trata-se de um meio de atuação preventiva para
aquele que (autor reconvindo ou réu) pretendendo cumprir a prestação que lhe é
judicialmente exigida (réu ou autor reconvindo está disposto a cumprir, mas tem é
dúvidas quanto ao titular ativo da prestação) tem dúvidas fundadas relativamente ao
titular ativo da prestação. Portanto, o que se visa é prevenir que ele realize prestação
aquele que ele duvida ser titular do direito.
Visa-se prevenir o perigo que o seu cumprimento face ao autor não seja
liberatório (porque se duvida que é ele titular ativo da prestação, tem medo de
cumprir face à pessoa errada). Por regra, o cumprimento só é liberatório se for
realizado face a credor da prestação (769º CC). Se não for liberatório, o devedor pode
realizar prestação uma segunda vez.
Tratando-se de prestação infungível pode nascer situação de
incumprimento definitivo se cumprir face à pessoa errada.
Exemplos:
45
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
EMBARGO DE TERCEIRO
Artigos 342º e seguintes CPC
Outra modalidade de oposição. Mecanismo dispor de qualquer sujeito para reagir
face a atos executivos que ofendam o seu direito à posse sobre bem (1258º CC, 342º/1
CPC).
Incidente de cariz marcadamente executivo.
46
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
2.3.1. Assistência
Aqui uma pessoa estranha ao processo pretende nele intervir. A assistência
pressupõe assim uma regra de legitimidade específica.
Nos termos do 326º/1 CPC tem legitimidade para tal intervenção quem tenha
interesse jurídico numa decisão favorável à parte que assiste. Portanto, na mesma
instância apresentam-se dois problemas de legitimidade processual, tendo cada um
deles um sentido e intencionalidade específica. Quais sejam: o da parte principal
(30º/3 CPC) e, por sua vez, o respeito à parte acessória onde o critério de aferição se
baseia no interesse jurídico em que o pleito seja decido a favor da parte assistida (a
que parte acessória assiste).
O 30º/3 CPC também se refere a interesses, mas num sentido de interesse-
titularidade (titularidade da relação jurídica litigiosa). Para efeitos de
legitimidade como parte acessória o critério de aferição baseia-se no interesse
jurídico, mas aqui no sentido em que pleito seja decidido a favor da parte
assistida.
Não é suficiente um puro interesse intelectual ou humanitário, ou uma simples
curiosidade. Alberto dos Reis: não merece tutela um interesse puramente intelectual
como seria o caso do jurista empenhado em fazer triunfar uma certa doutrina; nem o
interesse moral do filantropo que quer defender litigante de facto contra outro
poderoso.
Portanto, deverá haver alguma conexão entre a esfera jurídica do assistente e da
parte assistida.
Não obstante, apesar de não ser suficiente o interesse de cariz tão genérico,
também não é necessário que assistente tenha interesse paralelo e com mesma
intensidade ao da parte principal. Se interesse fosse o mesmo, o meio próprio para
terceiro intervir seria intervenção principal e não acessória. Note-se bem: é de admitir,
porém, que podendo intervir como parte principal o 3º peça a sua intervenção como
parte acessória. Isto na intervenção ESPONTÂNEA. Porque se se tratar da intervenção
provocada é requisito desta a falta de legitimidade do 3º para intervir como parte
principal.
Assim sendo, parecem ser duas as grandes razões justificativas da assistência:
1. Titularidade pelo assistente de uma posição jurídica que esteja em relação de
dependência da relação que é objeto da primitiva instância
2. A titularidade pelo assistente de uma posição jurídica que esteja na sua
consistência económica dependente da situação jurídica litigada na ação
principal
Exemplo:
o Uma ação movida pelo locador contra o locatário. Pode intervir nesta
ação como assistente o sublocatário para obstar à extinção do 1º
contrato (porque se este se extinguir também se extingue o 2º) – se
cessar locação cessa também sublocação
• Uma ação de revogação com justa causa de um contrato de mandato (mandato
em interesse comum – é celebrado também no interesse do mandatário, artigo
1170º CC)
o Tratando-se de mandato em interesse comum, em ação de revogação
pode o submandatário intervir na ação (contrato de mandato,
mandatário depois celebra um contrato de submandato)
• Em ação movida a favor ou contra a sociedade comercial pode ter interesse em
agir sócios dessa mesma sociedade (porque são reflexamente afetados por
decisão)
o Reconhecimento de crédito da sociedade perante terceiro, ou vice-
versa, afeta diretamente acesso dos sócios a crédito dos dividendos
• Ação proposta por administrador de insolvência pode devedor intervir como
assistente
Em qualquer um destes casos o assistente tem posição cuja consistência jurídica é
afetada por sorte da ação principal.
Via de regra, o assistente limita-se a auxiliar a parte principal (328º/1 CPC), daí que,
em caso de conflito entre os atos praticados pela parte principal e aqueles praticados
pelo assistente prevaleça posição da parte principal (328º/2 CPC). Trata-se de atividade
de cariz subordinado. A atividade do assistente completa, mas não supre nem contraria
a da parte principal (Lebres Freitas).
48
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
49
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Para que este incidente seja admitido o tribunal tem de se convencer que questão
que réu quer discutir em ação de regresso está dependente da questão discutida na
ação principal.
DOIS OUTROS REQUISITOS:
NOTA: assim como o incidente pode ser desencadeado pelo réu também pode ser
desencadeado pelo chamado (323º/3 CPC).
Grande empreitada: empreiteiro réu chama o subempreiteiro, e este
por sua vez chama o sujeito que lhe forneceu determinados materiais.
Uma vez que isto pode criar risco de uma certa morosidade processual, há que
considerar regra do artigo 324º CPC.
51
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
• Alínea a)
• Alínea b)
O MP goza dos poderes que são conferidos a parte acessória.
Pode agir como substituto processual em caso de revelia do assistido. Diferença:
MP tem legitimidade para recorrer quando é necessário para defender interesse
público ou da parte assistida (325º/3 CPC).
325º/4 CPC: pode alegar o que entenda conveniente para defesa dos interesses da
parte assistida
O MP é oficiosamente notificado nos casos em que lei prevê a sua intervenção
acessória (5º/4 do estatuto) logo que a instância se inicia (325º CPC). Quando é que
instância se inicia? Quando é recebida na secretaria a respetiva petição inicial.
Constituindo-se apenas em momento posterior os pressupostos que justificam a
intervenção apenas aí podem ser chamados.
52
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
CONSEQUÊNCIAS
Nos termos do artigo 194º/1 CPC a falta de vista ou exame é causa de nulidade
processual, sendo esta nulidade de conhecimento oficioso (197º CPC), nulidade esta
que se considera sanada nos termos do artigo 194º/1 CPC desde que entidade a que
devia ser prestada a assistência tenha feito valer os seus direitos no processo por
intermédio do seu representante.
Por sua vez, (194º/2 CPC) se a causa tiver corrido à revelia da parte que devia ter
sido assistida pelo MP aí o processo é anulado a partir do momento em que devia ser
dada vista ou facultado exame ao MP. Deverá correr novo prazo para apresentação de
defesa, agindo em substituição da parte principal embora seja apenas assistente.
53
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Este incidente quer dar resposta aos casos de sucessão mortis causa e inter vivos
na titularidade do direito.
A demanda B em ação de condenação. B morre. Sucede-lhe C. Havendo aceitação
da herança por C o sujeito passivo torna-se este.
MODALIDADES
Estamos a considerar a habilitação como incidente de qualquer ação contenciosa,
pela qual alguém é admito a ingressar na instância para ocupar posição de uma das
partes primitivas.
Outras modalidades: artigo 11º do regime jurídico do processo de inventário,
habilitação notarial, etc.
Para efeitos deste artigo (351º/1 CPC), devem considerar-se sucessores todos
aqueles que sucedam nas posições jurídicas litigadas na instância. E nessa medida
devem ser considerados sucessores não apenas os herdeiros, mas também legatários a
quem tenham sido atribuídas posições jurídicas litigadas na instância.
NOTA: não é necessário fazer prova negativa de que não há nenhum outro
herdeiro. É que artigo 351º/2 CPC diz que é requerido contra sucessores que não
sejam requerentes, mas não é preciso fazer esta prova negativa.
A qualidade de sucessor deve ser articulada com regime material que permite a
aquisição dessa mesma qualidade. Se alguém, tendo vocação sucessória, for chamado
a adquirir ou repudiar herança ele adquire qualidade de herdeiro, ficando sujeito a
regime de herdeiro, através da aceitação da herança. Articulando este regime material
com o regime do incidente têm os nossos tribunais entendido que ao requerente do
incidente não é necessário alegar a aceitação da herança pelos herdeiros.
B morre. Sucedeu-lhe C. Requerente não tem de alegar aceitação.
Mas assim vão ser os herdeiros que, se quiserem, podem vir alegar haverem ter
repudiado a herança: falta de aceitação é matéria de exceção (defesa por exceção).
NOTA: a herança jacente tem personalidade judiciária. Se está indivisa já não – as
ações são intentadas contra todos ou por todos os herdeiros.
Deduzido o incidente (352º/1 CPC) ele reveste duas modalidades fundamentais
consoante a habilitação haja ou não já sido reconhecida em documento ou noutro
processo:
56
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
DUAS NOTAS:
1. A decisão relativa ao incidente tem a particularidade de poder ser reaberta a
qualquer momento mediante apresentação de novas provas e factos (352º/3
CPC)
a. Exceção à regra dos efeitos do caso julgado
2. Não sendo requerida a habilitação por sucessor a suspensão mantém-se. Se
nenhum impulso processual houver durante o período de 6 meses a instância
considera-se deserta (261º/1 CPC) podendo o juiz considera-la extinta por
simples despacho por verificação de um dos pressupostos de verificação da
instância (261º e 277º/c CPC).
proceder à respetiva habilitação nos termos desse artigo. A sentença proferida vai
vincular sócios da sociedade comercial extinta sem ser necessário habilitação
(24/03/2011, relação do porto, processo 3016/10.5)
59
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
60
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Mas a verdade é que os pressupostos deste pressuposto não estão bem definidos.
Assim, considera-se o regime deste pressuposto a propósito de cada um dos tipos
particulares de ação (condenação, constitutivas e simples apreciação).
Note-se que a categorização do interesse em agir surgiu para enquadrar um
conjunto de casos patológicos que não se reconduziam à ação paradigmática (ação de
condenação de prestação vencida). Portanto, pressuposto foi inicialmente introduzido
para enquadrar estas ações patológicas (simples apreciação, in futurum).
AÇÕES DE CONDENAÇÃO
São ações de condenação nos termos do artigo 10º/3/b CPC aquelas em que autor
exija a prestação de certa coisa ou facto, pressupondo ou prevendo a violação do
direito. Portanto, para efeitos de análise deste pressuposto temos de distinguir entre
ação onde se pressupõe e ouse se prevê a violação de direito.
61
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Obrigação não vencida fora dos casos do artigo 577º CPC, antes da fase da
sentença: quid iuris?
O juiz, neste caso, detetando a falta de interesse em agir logo no despacho liminar
aquilo que deve fazer é indeferir liminarmente a petição inicial. Se detetar o problema
só no despacho saneador deverá o réu ser absolvido da instância por falta de interesse
em agir do autor (595º/1/a CPC). Gozando o juiz de elementos que lhe permitam
ajuizar da existência da obrigação nesse momento, sem necessidade de mais prova
(tendo o juiz condições para antecipar o mérito da causa no despacho saneador), aí
aponta alguma doutrina o seguinte: réu deverá ser absolvido do pedido (embora seja
hipótese em que nada obsta a propositura de nova ação). Assim, em termos de
62
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
classificação doutrinal da defesa do réu trata-se aqui de uma exceção material dilatória
(o réu seria absolvido do pedido, mas apenas porque obrigação não se venceu). Prof
não concorda com solução da absolvição do réu do pedido no saneador: ou o
pressuposto atua e réu é absolvido da instância, OU se juiz já tem como apreciar do
mérito então deve-se aplicar o mesmo que o disposto no artigo 610º/1 CPC
(condenação do réu in futurum porque este é um despacho saneador-sentença).
AÇÕES CONSTITUTIVAS
A sua não verificação pode resultar de uma de duas coisas: não necessidade de
tutela judicial ou excessividade do meio para obter tutela necessária (problema
suscitado nos direitos potestativos).
Ora, tratando-se direito a introduzir mudança na ordem jurídica pergunta-se se
alguém tem essa possibilidade subjetiva, se ação judicial é meio idóneo para exercício
desse mesmo direito, sob falta de interesse em agir. Ora, não há dúvida de que quando
seja exigida via judicial para exercício de direito potestativo (ação de anulação de
contrato, ação de preferência) aí há interesse em agir – casos de direito potestativo
cujo exercício tem de ser feito com recurso a ação judicial. A dúvida decorre do
exercício dos direitos potestativos que não exijam recurso a ação judicial (artigo 436º
CC – direito de resolução do contrato opera por simples declaração recetícia, à outra
parte).
Temos de distinguir o seguinte:
Não existe dúvida que se pode pedir condenação do réu a restituir tudo quanto
for apostado na diligência do contrato em consequência dos efeitos resolutórios da
resolução. Como questão anterior tem que se conhecer da existência ou presença de
causa de resolução e regularidade de exercício de tal direito – é sempre possível
conhecer dos efeitos da resolução. Pode-se pedir constituição do efeito constitutivo
(extinção do contrato) pelo processo? Sim, desde que autor demonstre interesse no
recurso a ação judicial (facto de réu negar causa em que autor pretende fundamentar
a resolução, por exemplo – aí pode haver interesse na propositura de ação judicial
para resolver contrato). Não havendo interesse em agir há absolvição do réu da
instância. É de admitir que ação persista quando réu demonstre interesse na discussão
da causa.
63
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
64
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
• Obrigatório: quando seja a alei a impor, para que parte possa agir
processualmente na defesa de dada posição jurídica, que ela seja representada
por alguém dotada de qualificações para exercício da atividade forense
• Voluntário: quando não sendo o mesmo imposto pela lei, seja da iniciativa de
uma das partes a atribuição a alguém de poderes de atuação processual
65
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
66
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
67
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
os efeitos da cessação existem. Ato que intenta cessação pode ser válido e eficaz
conquanto houvesse dever de não fazer cessar relação jurídica. Por via de regra,
mandato é sempre revogável ainda que haja convenção em contrário (1170º CC), sem
prejuízo do direito de indemnização que cumpra à contraparte no caso de revogação
intempestiva (1172º CC).
69
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
Ver ponto acima.
GESTÃO DE NEGÓCIO
Para efeitos processuais a diferença entre gestão de negócios e representação
sem poderes é que naquele caso (gestão) a falta de poderes do gestor é feita através
do advogado (49º/2 CPC). Também aqui deve ser fixado um prazo para que seja
ratificada a gestão (artigo 49º/3 CPC), sob pena de gestor ser condenado nas custas e
danos que tiver gerado (artigo 49º/2 CPC).
70
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Nos termos do artigo 40º/2 CPC MESMO quando seja necessária a constituição de
advogado, os advogados estagiários, solicitadores e partes podem fazer requerimentos
onde não se suscitem questões de direito.
Quando não tenha sido constituído mandatário (partes agem por si próprias em
juízo) a inquirição das testemunhas é feita pelo juiz.
71
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
2. Parte do réu: essa não constituição tem por efeito a ineficácia da defesa (artigo
41º CPC). Aplica-se regime da revelia (567º/1 CPC).
a. Caso se trate de cessação superveniente da relação de mandato valerá,
com adaptações, o mesmo regime
b. Não constituindo mandatário no prazo de 20 dias o processo segue os
seus termos (47º/1/b CPC)
Na hipótese de autor ou réu serem requerentes de procedimento ou incidente a
cessação da relação de mandato tem por efeito a extinção do referido enxerto da
instância (47º/3/c CPC).
72
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
A suspensão cessa logo que parte em causa tenha constituído outro advogado ou
cesse impossibilidade (276º/1/b CPC).
Demorando a parte respetiva na respetiva constituição pode a contraparte
requerer que seja fixado prazo para constituição de novo advogado sob pena de se
aplicar regime previsto para falta de constituição inicial de advogado (276º/3 e 41º
CPC).
NOTA: em ações civis, pessoa que seja advogado pode litigar em causa própria.
73
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Jurisdição vs competência:
• Jurisdição: dicção do Direito; o poder de, com força vinculante, dizer o que vale
como Direito de cada um. Trata-se de um poder que nas modernas
comunidades o Estado chama a si. Mesmo quando o Estado reconhece o poder
de outras entidades para exercer de forma vinculante funções jurisdicionais
não prescinde do poder de determinar as entidades a quem reconhece esse
poder. Atributo fundamental de qualquer poder soberano, uma das principais
pretensões de qualquer comunidade jurídica. Portanto, por jurisdição entende-
se este poder que o Estado chama a si de determinar em última palavra quais
as posições jurídicas de cada um
o Num sentido mais restrito, e deixando de parte o Tribunal
Constitucional (a quem cumpre a função de jurisdição em matéria
jurídico-constitucional – artigos 221º e seguintes CRP + 30º LOSJ) e o
Tribunal de Contas (ao qual cabe garantir a regularidade das despesas
públicas realizadas por aqueles que estão sujeitos à sua tutela – artigos
214º CRP + 29º/1/c e 149º LOSJ), verifica-se a existência de duas ordens
jurisdicionais (artigo 209º CRP): ordem dos tribunais judicias (STJ e
demais tribunais judiciais de 1ª e 2ª instância – artigos 211º CRP + 31º e
seguintes LOSJ) e ordem dos tribunais administrativos e fiscais (STA e
demais TAF – artigos 212º CRP + 29º/1/b LOSJ)
▪ Estas duas ordens articulam-se segundo um critério de
especialidade: ordem dos tribunais judiciais cumpre tratar de
todas as matérias que não cumpre a nenhuma outra (artigos
211º CRP + 64º CPC)
o Em sentido amplo designa o poder que é atribuído ao conjunto de todos
os tribunais de um Estado (sentido de jurisdição que se lança mão
quando se diz que resolução de caráter internacional pertence à
jurisdição do país x). Em sentido mais restrito designa já o poder que é
74
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
75
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Distinção a fazer:
PRINCÍPIOS GERAIS
Vale como regra fundamental da delimitação da competência dos tribunais o
princípio da kompetenz-kompetenz: a cada tribunal é conferido o poder de pelo menos
se pronunciar sobre a sua própria competência para conhecer do mérito da causa. É
um corolário do princípio que os tribunais são independentes e que lhes é reconhecida
a força de dizer o direito.
A competência é fixada no momento em que ação se propõe em função do modo
como autor delimita relação material controvertida (38º LOSJ).
A competência afigura-se como pressuposto processual, isto é, como uma
daquelas condições que têm de estar verificadas para tribunal conhecer do fundo ou
do mérito da causa. Falta de competência dá lugar a exceção dilatória (artigo 577º/a
CPC) que obsta a que tribunal conheça sobre fundo da causa (576º/2 CPC).
Consoante o tipo de incompetência em causa pode a sua falta dar lugar a
absolvição da instância (278º/1/a CPC – incompetência absoluta) ou remessa do
processo para tribunal competente (105º/3 CPC - incompetência relativa).
Caso se desrespeitem as regras de repartição de competência isso não é
fundamento de oposição à sentença nos termos do artigo 728º CPC, nem de recurso
de revisão (artigo 696º CPC) – pode ser interposto depois do trânsito em julgado da
decisão.
O facto de decisão ter sido pronunciada por tribunal incompetente
(sentença condenatória é título judicial) não é fundamento de oposição à
execução nem recurso de revisão.
76
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
REGRA GERAL: na ordem dos tribunais judiciais as ações dão entrada, por via de
regra, nos tribunais que se situam na base da hierarquia que são os tribunais de 1º de
instância, independentemente do seu valor.
Para efeitos deste critério de repartição de competência, o valor da ação não
colhe, não é relevante.
Artigos 629º e 644º e seguintes do CPC + 68º/2 CPC + 73º/a LOSJ → Em regra, a
impugnação faz-se por recurso dos tribunais de 1ª instância para relação.
A intervenção dos tribunais de 2ª instância não corresponde a novo julgamento:
cada recurso tem o seu objeto próprio definido a partir das conclusões do recurso,
conclusões essas através das quais o recorrente sinaliza quais os pontos da decisão
que pretende ver alterados (artigos 635º/2 a 4, 639º e 640º CPC). Fora do campo de
intervenção os tribunais ad quem só podem conhecer o que seja de matéria oficiosa.
Recorre-se da 1ª instância para 2ª não para se reanalisar tudo.
As decisões proferidas pela Relação por via de recurso podem ser reapreciadas
pelo STJ (artigo 69º CPC) mas dentro de quadro legal mais restrito: valor da ação é
diferente (admissibilidade do recurso – regra da dupla conforme) e poderes de
correção da decisão proferida (porque STJ não funciona como tribunal de 3ª instância,
desempenhado função específica que diz respeito a reapreciação do tema que não
envolvam formulação de juízos sobre a prova – artigos 634º CPC e 46º LOSJ).
Portanto, se a parte vencida ou parcialmente vencida não estiver satisfeita com
decisão de 1ª instância sobre matéria de facto (tribunal deu como provados dados
factos e parte entende que tribunal devia ter compreendido algo diferente), pode
recorrer disto para a Relação, mas não para STJ. Se tiver sido violada norma, então
quanto a isso STJ já pode conhecer (STJ conhece de direito, e não de facto).
77
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA: há hipóteses excecionais em que subida dos recursos ao STJ é feita sem
necessidade de recorrer ao tribunal intermédio (recurso per saltum): quando haja
acordo das partes nesse sentido e quando estejam preenchidos requisitos (regra da
alçada e sucumbência) – artigo 678º/1 e 2 CPC. Este recurso depende de despacho
favorável do relator. O caráter híbrido deste recurso manifesta-se no respetivo regime
jurídico na medida em que segue tramitação correspondente ao recurso de revista
mas os seus efeitos regem-se para o que está disposto para recurso de apelação
(672º/3 CPC).
80
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
2) tribunais de comarca
Sendo causa não integrante de nenhum dos tribunais referidos a competência
será do tribunal de comarca que corresponde à unidade básica da organização
judiciária.
Dentro de cada comarca a competência em razão da matéria é desdobrada em
diferentes juízos (81º LOSJ) num feixe de relações de especialidade e residualidade.
Aos diferentes juízos de competência especializada previstos no artigo 81º/3 LOSJ,
quais sejam em matéria jurídico-privada o juízo central cível, o juízo local cível, o juízo
de família e menores, de trabalho, de comércio e de execução, acrescem a estes os
juízos de competência genérica que conhecem habitualmente de qualquer causa não
atribuída a outro tribunal.
A comarca está dívida em instância central e instâncias locais. A marca dominante
da instância central é a especialização: integram a instância central o juízo central cível,
de família e menores, trabalho, comércio e execução. Estes últimos são os tribunais de
competência puramente especializada. Mas resulta do artigo 130º/2 LOSJ que os
juízos de competência genérica da instância local podem também desdobrar-se em
secções, juízos cíveis e criminais. A única diferença entre juízo local cível e juízo de
competência genérica, também na instância local, é que o 2º conhece de matéria civil
e penal e o 1º só de matéria civil.
Portanto, dentro da própria instância local pode haver este desdobramento.
Na medida em que alguns juízos de competência especializada têm competência
para conhecer residualmente das causas que competiriam a outros juízos, caso não
existam, cabe distinguir entre juízos puramente especializada e juízos de competência
especializada para umas causas e residual para outras.
atenção que só há duas, pelo que se tem que aplicar regras da competência em razão
do território para ver territorialmente em qual dos municípios se situa o litígio (se se
situar em Mafra – porque réu tem domicílio aqui - o litígio vai para juízo central de
Sintra).
b) juízo de trabalho
São competentes para qualquer uma das causas constantes do artigo 126º LOSJ.
Elemento comum às diferentes causas: respeitam a relações individuais ou coletivas de
trabalho.
Muitas causas que são da competência deste juízo seguem uma forma processual
específica dada a aplicação do Código de Processo de Trabalho.
c) juízo de comércio
Artigos 81/1/i + 128º LOSJ
São competentes para qualquer uma das causas constantes do artigo 128º LOSJ. O
elemento comum às diferentes causas previstas é respeitarem a relações que
envolvam a insolvência ou orgânica de sociedades comerciais (não basta que uma ação
envolva sociedade comercial para que competência seja deste juízo).
82
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
d) juízo de execução
São competentes para qualquer uma das causas constantes do artigo 129º/1 LOSJ
(ação executiva que não seja da competência de qualquer outro juízo; há que conjugar
com nº2)
2.2) Juízos centrais e locais cíveis
Não sendo a causa do conhecimento de nenhum tribunal de competência
puramente especializada então essa competência será dos juízos centrais ou locais
cíveis, cuja competência se fixa não em razão da matéria, mas do valor e forma de
processo (41º LOSJ). Ou seja, a lei chama ‘juízo competência especializada cível’, mas
isto não é verdadeiramente um tribunal de competência especializada. Portanto, o que
legislador quis foi eliminar a categoria dos tribunais de competência específica.
Como são tribunais de competência residual é fator positivo de atribuição de
competência o facto de não haver outro juízo a que essas competências sejam
atribuídas.
a) juízos centrais cíveis
Artigo 81º/3/a e 117º LOSJ
NOTA: se não for da competência deste vai para locais cíveis ou de competência
genérica.
Nos termos do artigo 117º/1 LOSJ os juízos centrais cíveis têm competência para o
seguinte (alíneas):
83
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
competência para todas as demais causas cíveis (artigo 130º/2 LOSJ). Ou seja, são
tribunais de competência residual em matéria cível. A única diferença entre juízos
locais cíveis e de competência genérica é que estes últimos gozam também de
competência em matéria criminal.
c) juízos de competência genérica
84
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
2)* OBRIGAÇÕES CONTRATUAIS (artigo 71º/1 CPC): tendo a ação por objeto o
cumprimento de certa obrigação, a indemnização por não cumprimento ou o
cumprimento defeituoso ou a resolução do contrato por falta de cumprimento - valem
aqui 2 regras:
➢ Hipótese 1): a ação deve ser proposta no domicílio do réu (forum rei);
➢ Hipótese 2): se, contudo…
• O réu for pessoa coletiva OU autor e réu tenham domicílio na mesma área
metropolitana do Porto ou Lisboa (veja-se o anexo II Lei 75/2013 de 12/09), a
ação pode também ser proposta no lugar em que a obrigação deveria ser
cumprida.
86
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Isto pode ser convencionado, e o CC fixa qual a regra supletiva: via de regra,
corresponde ao domicílio do devedor (artigo 772º CC). MAS: em especial, os
artigos 773º, 774º, 875º, 1039º, 1195º, 1531º e 2270º → aqui, a obrigação deve
ser cumprida no domicílio do autor que litiga a ação incumprida. Trata-se aqui
de um foro concorrente facultativo (veja-se, por exemplo, a importância do
artigo 774º CC).
• Sendo a ação proposta contra pessoa singular E pessoa coletiva, cabe, em razão
da proteção reservada à pessoa singular, a aplicação da regra que deve a ação
ser intentada no foro do domicílio do réu (não se aplica a possibilidade de se
poder optar pelo foro de situação dos bens, não obstante haver um réu que é
pessoa coletiva).
87
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
A propósito do artigo 73º/1 CPC, há uma questão que tem ocupado os nossos
tribunais: sendo ação proposta num juízo de competência especializada, o qual não tem
competência para as ações de especialidade, será esse o tribunal competente para
conhecer da causa? A nossa jurisprudência tem entendido que estes tribunais de
competência especializada não são materialmente competentes para resolver o litígio
em causa, uma vez que essa forma de repartição da competência é autónoma (critério
em razão do território é autónomo do critério em função da matéria).
8)* NOTIFICAÇÕES JUDICIAIS AVULSAS (79º CPC e regime nos artigos 256º a 258º
CPC)
EXTENSÃO DA COMPETÊNCIA
O resultado da aplicação das regras que estabelecem com caráter geral a
competência dos tribunais é de ser afastado, sobretudo no que concerne competência
territorial em virtude da interferência de normas que deslocam ações para foros
diferentes daqueles que eram designados através dos critérios de que legislador partiu
(a escolha inicial do legislador, com base em critérios que têm por base a celeridade e
qualidade, tem de ser afastado tendo em conta interesses de eficácia de defesa do
réu).
Um dos aspetos fundamentos do processo é a possibilidade de réu submeter à
apreciação do tribunal todos os meios de defesa de que entenda prevalecer-se,
devendo afastar-se as conexões que são usadas para determinar a competência
territorial sempre que a sua aplicação estrita acabe por arrastar para outros tribunais a
90
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Incidentes
Não estamos no domínio estrito da defesa.
Artigo 91º/1 CPC alarga competência do tribunal onde deu entrada a ação para
conhecimento dos incidentes. Está aqui em causa a relação funcional que se
estabelece com ação principal, determinando a perda da autonomia processual da
questão.
NOTA: o legislador admite isto, mas coloca eficácia da decisão tomada a propósito
dos incidentes, uma vez transitada em julgado, no plano do caso julgado formal. A
incompetência do tribunal para se pronunciar sobre aquela questão deixa de relevar
enquanto pressuposto processual, mas os termos em que decisão projeta os seus
efeitos sofrem marca de limitação ao processo no qual réu suscitou questão. Porém,
qualquer uma das partes pode requerer, nos termos do 91º/2 CPC, que a questão
nascida como incidente receba tratamento processual reservado aos pedidos
autónomos. Se for esse o caso, a decisão de mérito que venha a ser proferida
produzirá efeitos do caso julgado material. Isso é possível nos termos do 91º/2 CPC se
tribunal onde ação for proposta tiver competência internacional em razão da
hierarquia e matéria.
91
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Diferente regime é o que vale para as questões prejudiciais. Estes são os casos em
que réu transporta para processo temas que entram na zona de jurisdição dos
tribunais criminais ou administrativos.
Artigo 92º/1 CPC não admite nesta hipótese que decisão a proferir venha a ter
efeito de caso julgado material. Não admite porque aqui já está em causa a
competência em razão da matéria (ou seja, a competência absoluta do tribunal).
O tribunal, caso entenda que essa é solução mais equilibrada face às
circunstâncias concretas, pode sobrestar na decisão até que tribunal competente se
pronuncie, MAS a suspensão enquanto se aguarda decisão do tribunal competente
está submetida a determinados limites que querem evitar mora excessiva (92º/2 CPC).
A suspensão cessa se ação penal ou administrativa não for exercida dentro de um mês
ou se respetivo processo estiver parado por negligência das partes durante o mesmo
prazo. Ainda nos termos deste artigo, se instância não tiver sido suspensa ou
suspensão ficar sem efeito dá-se competência a juiz da causa para decidir da questão
prejudicial, mas caso julgado terá apenas eficácia formal na questão do conhecimento
destes incidentes.
No que diz respeito aos pedidos reconvencionais, o réu pode utilizar a contestação
para deduzir pedidos contra o autor, mediante condicionalismo previsto na lei (266º
CPC). Ao usar esta faculdade o réu alarga âmbito de questões submetidas à apreciação
do tribunal. Artigo 93º/1 CPC: alarga competência do tribunal da ação para questões
reconvencionais desde que tenha competência para elas em razão da nacionalidade,
matéria e hierarquia.
INCOMPETÊNCIA
Inobservadas as regras de repartição de competências entre tribunais judiciais o
concreto tribunal ou juízo em que ação foi proposta deve considerar-se incompetente
para conhecer da causa (exceção dilatória nos termos do 577º/a CPC). São dilatórias as
exceções seguintes:
INCOMPETÊNCIA ABSOLUTA
Causas:
Determinam a incompetência absoluta do tribunal a infração de regras de
competência em razão de matéria, hierarquia e competência internacional (artigo
96º/a CPC), assim como a violação de um pacto privativo de jurisdição ou preterição
de tribunal arbitral (artigo 96º/b CPC). Até 2013 estas duas últimas causas davam lugar
apenas a incompetência relativa. Agora dão origem a incompetência absoluta, mas há
desvio a regime geral: incompetência absoluta nestes casos não é de conhecimento
oficioso.
• Regime de admissão: vale como regra a incompetência pode ser arguida pelas
partes, mas também conhecida oficiosamente pelo tribunal (97º/1 e 578º CPC).
93
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
INCOMPETÊNCIA RELATIVA
O regime da incompetência relativa vale sobretudo para os casos de violação das
regras de competência fundadas no valor da causa, divisão judicial do território ou em
pacto de competência ou de aforamento (102º CPC)
Regime de arguição:
Vale como regra que a incompetência relativa pode ser arguida pelo réu, devendo
ser deduzida na contestação, oposição ou resposta ou, não havendo lugar a estas no
1º meio de defesa de que réu disponha (103º/1 CPC). O réu deve indicar logo as
provas pertinentes (103º/3 CPC). Autor pode responder logo no articulado
subsequente a que haja lugar OU em articulado próprio no prazo de dez dias (103º/2
CPC), e apresentar logo provas pertinentes (103º/3 CPC).
Quando réu invoca isto temos incidente que corre termos dentro da própria ação.
Este incidente visa resolver definitivamente a questão da competência. Havendo
vários réus e sendo exceção deduzida só por um podem os outros contestar (106º
CPC). Vale como exceção, em dados casos, a incompetência relativa ser de
conhecimento oficioso.
Nas causas elencadas no artigo 104º/1/a CPC no âmbito dos quais se contam as
ações relativas ao foro da situação dos bens (70º CPC), lugar de cumprimento da
obrigação quanto à respetiva propositura da ação no domicílio do reu (71º/1/1ª parte
CPC), e ações de responsabilidade civil (71º/2 CPC).
Nos termos do artigo 104º/1/b CPC: processos cuja decisão não seja precedida de
citação do requerido.
Nos termos do artigo 104º/1/c CPC: causas que devam decorrer na pendência de
outro processo.
Nos termos do artigo 104º/2 CPC: incompetência em razão do valor causa é
sempre de conhecimento oficioso.
Tempo de arguição:
Só pode ser conhecida até despacho saneador ou se este não tiver lugar até ao
primeiro despacho subsequente à fase dos articulados (104º/3 e 595º/1/a CPC).
95
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Efeitos:
A decisão que diz respeito à incompetência relativa resolve definitivamente a
questão da competência (105º/2 CPC). Da decisão há recurso suspensivo de
reclamação até à relação (105º/4 CPC). Transitada em julgado a decisão produz caso
julgado formal com força obrigatória dentro do processo (620º/1 CPC). Processo é
remetido para tribunal competente que não poderá reapreciar questão (105º/3 CPC).
SISTEMA AUTÓNOMO
Artigo 59º CPC: a competência internacional dos tribunais portugueses pode
resultar de algum dos fatores elencados nos artigos 62º e 63º CPC (fatores de
conexão), a que acrescem os pactos de jurisdição (artigo 94º CPC) - acordos das partes
sobre matéria de competência internacional.
No artigo 63º CPC estão previstas as chamadas competências exclusivas.
Se os tribunais portugueses forem chamados a conhecer da sua própria
competência, competência internacional, em que situação é de litígio plurilocalizado
(diferente nacionalidade das partes não é suficiente para atribuir caráter
96
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
• Alínea a): princípio da coincidência. Este critério da alínea a) acaba por atribuir
às normas de competência territorial do CPC o alcance de, ao mesmo tempo
que intervenham na repartição da competência entre os tribunais portugueses,
permitindo fixar a competência dentro de uma das 23 comarcas ou fixar o juízo
competente dentro dessa comarca, fixar a competência da globalidade dos
tribunais nacionais perante os tribunais estrangeiros. Isto com LIMITAÇÕES
(porque estas normas são pensadas em 1ª linha para resolver problemas de
repartição de jurisdição a nível interno): 80º/2 e 3 CPC este princípio não se
aplica; a verificação de um fator de competência territorial não desencadeia
ipso facto a competência internacional dos tribunais portugueses, que mantém
o poder de verificar se há outra ordem jurídica melhor colocada para resolver o
litígio e que não decline a sua jurisdição. Portanto, são meros indícios
reveladores da competência internacional.
• Alínea b): princípio da causalidade. A definição de causa de pedir para efeitos
da atribuição da competência internacional não corresponde à mesma
98
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
99
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
100
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
tem administração principal em Lisboa, e autor tem sede em Espanha. Qual a comarca
competente? Onde é que ação é intentada?
Quem tem competência internacional para dirimir litígio? Não há
competência exclusiva (artigo 24º do regulamento), aplicando por isso fator de
conexão do artigo 4º/1 (sede da ré é Lisboa, Portugal). Portanto, aplica-se
regulamento porque estamos dentro do seu âmbito de aplicação material e temos
fator de inclusão. MAS é o tribunal de Lisboa ou Porto? Quanto a isto o
regulamento já não se imiscui porque os tribunais do domicílio da ré, o Estado de
domicílio é o mesmo onde se situa sucursal, pelo que fatores de conexão do artigo
7º não deslocam litígio para outro E-M. Portanto, temos de aplicar as nossas
regras de competência interna.
Portanto, nesta hipótese constitui erro fundamentar a competência do
foro do Porto através do artigo 7º/5 do regulamento. A competência internacional
dos tribunais portugueses decorre do princípio geral do artigo 4º/1 regulamento,
ao passo que competência da comarca do Porto se baseia, aplicando regras de
competência interna (nomeadamente territorial) do CPC, no artigo 81º/2 CPC (se
réu for outra pessoa coletiva, ou sociedade comercial, é competente o tribunal da
sede ou da sucursal, consoante contra quem ação seja proposta).
EM SUMA: fator de integração é o artigo 4º/1 e não normas do artigo 7º/1, e estas
últimas só relevam quando deslocam o litígio para outro Estado.
Os pactos que não respeitem artigos 15º, 19º e 23º ou que infrinjam competência
do artigo 24º não produzem efeitos (25º/4 regulamento).
Não é requisito que qualquer uma das partes tenha domicílio no território de um
E-M (irrelevância do domicílio em E-M). Presentemente não se exige que pelo menos
uma das partes esteja domiciliada ou sediada em algum dos E-M (artigo 25º/1
regulamento). Remissão para esquema anterior sobre fatores de conexão.
Requisitos formais: artigo 25º/1/a a c regulamento
Artigo 26º/1 regulamento vale para casos em que incompetência resulta de facto
de autor infringir pacto atributivo de jurisdição.
104
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
7. MARCHA PROCESSUAL
MARCHA PROCESSUAL:
Vale o princípio de que o processo é público (163º/1 CPC), podendo ser requerido
o exame e a consulta dos autos e a obtenção de cópias e certidões (163º/2 CPC).
Artigos 163º a 171º CPC
Cabe em 1º lugar distinguir entre formas comuns e formas especiais (546º/1
CPC). A determinação da forma de processo é feita em função do pedido que o autor
deduz na petição inicial e é determinada pela lei vigente à data em que ação é
proposta (136º/2 CPC).
O processo comum tem um campo de aplicação residual: aplica-se à falta de
forma processual especialmente prevista para conhecimento de uma dada causa. Se
não for de aplicar uma forma especial então aplicar-se-á uma forma comum. No atual
processo civil o processo comum de declaração tem uma forma única (548º CPC) – não
era assim até 2013. As disposições do processo declarativo comum têm valor
subsidiário para os processos especiais: os processos especiais são regulados pelas
normas respetivas e subsidiariamente pelo processo comum quanto ao que aí não
estiver regulado (549º/1 CPC).
Sem prejuízo da tendencial unidade do processo comum continua a haver
diferenças consoante o valor do processo. Nas ações de valor não superior a metade
da alçada da relação (valor a ter em consideração é 15 000€) parece ser expectável
que sejam introduzidas alterações à marcha processual. Há, neste caso, limitações à
perícia colegial (468º/5 CPC). Por seu turno, nas ações de valor não superior à alçada
da primeira instância (valor a ter em conta são 5 000€) só se podem oferecer 5
testemunhas em lugar das regulares 10 (511º/1 in fine CPC), sendo, por outro lado, os
termos de alegações orais e de réplica aqui, respetivamente, de 30 e 15 minutos,
metade do tempo regularmente concedido (604º/5 in fine CPC).
Os processos especiais, pelo contrário, aplicam-se apenas àqueles casos para os
quais se encontrem especialmente previstos. Alguns têm natureza declarativa, outros
executiva e outros natureza mista. No CPC eles estão previstos nos artigos 878º e
seguintes CPC.
Além dos processos especiais especialmente previstos no CPC há também
formas especiais de processo previstas em legislação avulsa (por exemplo:
processo especial para cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de
contrato – DL 279/98 de 1 de setembro, aplica-se a obrigações de valor não
superior a 15 000€ e o procedimento a aplicar é o de injunção; processo de
insolvência e recuperação de empresas; processo de inventário; processos de
jurisdição voluntária).
105
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
106
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
107
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Podemos distinguir atos legítimos (podem ser praticados) dos prescritos (devem
ser praticados).
No que respeita oportunidade dos atos vale princípio geral da proscrição de atos
inúteis (130º CPC).
Quanto ao tempo para a prática de atos: 137º CPC. Quanto ao lugar dos atos: se
forem presenciais, 143º CPC (devem ser praticados por regra no tribunal); se forem
não presenciais, 144º CPC.
Forma dos atos: vale o princípio de que devem observar a forma que mais bem se
preste à prossecução dos fins que visam (131º/1 CPC). A forma dos atos é determinada
pela lei vigente ao tempo da prática (136º/1 CPC)
Os atos devem ser praticados em língua portuguesa (133º/1 CPC) e os não falantes
de língua portuguesa podem exprimir-se em língua estrangeira devendo nomear
interprete quando necessário (133º/2 e 3 CPC). Quanto à tradução de documentos,
134º CPC.
A forma dos atos pode corresponder a modelos pré-dados sendo, no entanto
apenas obrigatórios, salvo disposição especial, quando relativos a atos da secretaria
(131º/2 CPC).
Podem distinguir-se entre atos escritos, orais e materiais: escritos seguem forma
escrita, orais seguem forma verbal e materiais têm natureza física (caso de uma
diligência judicial, por exemplo). Quer os atos orais quer materiais podem ser
reduzidos a escrito. Quaisquer atos escritos, quer por si quer por redução a escrito,
devem observar as cautelas dos artigos 131º/3 e 4 CPC. Os atos escritos podem ser
tratados ou executados por via eletrónica (131º/5 CPC) e via de regra são tratados
eletronicamente (132º CPC). Os atos apresentados em juízo que devam ser praticados
por escrito também devem ser apresentados eletrónica (144º a 147º CPC).
Quanto aos atos orais, a audiência final é sempre gravada (155º/1 CPC). Tratando-
se de outros atos processuais presididos por juiz (na presença de juiz e com ele a
orientar trabalho) o conteúdo e realização são documentados em ata, na
responsabilidade de funcionário judicial (155º/7 e 8 CPC).
NULIDADE PROCESSUAL
A invalidade de ato processual tende a repercutir-se em atos subsequentes
porque processo é uma sequência. A invalidade pode decorrer de disposição expressa
da lei ou de aplicação de cláusula geral. Caso não decorra de prescrição da lei (artigos
186º a 194º CPC) a nulidade afere-se por dois requisitos (195º/1 CPC): 1) prática
indevida ou omissão indevida de certo ato processual; 2) a sua posição influencia sobre
exame ou decisão da causa.
Salvo nos casos previstos no artigo 197º CPC (prevê as situações em que as
nulidades são de conhecimento oficioso enquanto não sanadas) a nulidade só pode ser
invocada pelo interessado na observância da formalidade (nº1), não podendo ser
arguida pelo que lhe deu causa (nº2).
109
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Tempo da arguição da nulidade: dispõe o artigo 198º/2 CPC que a falta de citação
nos termos do artigo 187º CPC e a falta de vista ou exame ao MP como parte acessória
nos termos do artigo 194º CPC podem ser conhecidas em qualquer estado do processo
enquanto não devam considerar-se sanadas. Neste caso, a que se junta para este
efeito o da citação edital (artigo 191º/2/2ª parte CPC), o juiz conhece da nulidade logo
que dela se aperceba (200º/1 CPC). Por sua vez dispõe o artigo 198º/1 CPC o seguinte:
a nulidade pela ineptidão da petição inicial (186º CPC) e o erro na forma do processo
(193º/1 CPC) só podem ser invocados até à contestação ou na contestação sendo à
partida apreciadas no despacho saneador.
Nos outros casos a nulidade deve ser invocada na 1ª oportunidade. Isto é, ou até
que termine o ato que está a decorrer ou no prazo de 10 dias contados do momento
em que tome ou possa tomar conhecimento do ato (199º/1 e 149º/1 CPC).
Devem ser apreciadas logo que sejam reclamadas (200º/3 CPC). Se estão
presentes na realização de um ato que consideremos que existe nulidade processual
invocamos nulidade e juiz tem de se pronunciar automaticamente.
Caso ato seja anulado, anulam-se também todos os termos que dele dependem
(195º/2 CPC). O ato nulo não pode ser repetido caso haja esgotado prazo para a sua
prática (202º CPC).
Artigo 549º CPC: depoimento de parte contrária é preciso prestar juramento. A
omissão deste juramento gera nulidade que implicará, uma vez verificada a eficácia da
influência na regularidade da instrução e decisão da causa, a anulação do depoimento
e a anulação da decisão final se ela já tiver sido proferida. Mas não afetará esta
nulidade os atos, ainda que posteriores, relativamente a outros procedimentos
probatórios (audição de outras testemunhas, etc.).
CUSTAS PROCESSUAIS
Regulamento das custas: lei 42/2012, de 22/12.
A decisão sobre intentar ação também está dependente disto.
Artigo 145º CPC: comprovativo do pagamento da taxa de justiça tem que vir
anexado à petição.
para aferir da sua própria competência pelo simples facto de lhe ter sido dirigido o
pedido). É nesta fase que se designa juiz competente para julgar a causa, dentro do
tribunal, ficando ele investido no poder jurisdicional (que se esgota aquando da
prolação da sentença).
Artigo 147º CPC: os articulados são as peças em que as partes expõem
fundamentos da ação e da defesa e formulam argumentos correspondentes.
A designação “articulados” tem razão de ser: apenas no patrocínio judiciário
obrigatório ou quando a parte é representada por advogado a exposição tem de ser
feita por artigos, daí o nome articulado.
111
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
• Partes: relação jurídica processual trava-se entre partes e tribunal, pelo que
Autor deve indicar o tribunal e as partes mediante indicação dos seus nomes,
domicílios ou sede e sempre que possível os respetivos números de
identificação civil e fiscal, profissões e locais de trabalho (552º/1/a CPC). Não
sabendo do paradeiro do réu deve indica-lo ausente em parte incerta (236º
CPC). Deve indicar o domicílio profissional do mandatário judicial (552º/1/b
112
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
CPC), pelo que neste caso deve apresentar procuração forense. Através da
indicação do tribunal e das partes pode-se desde logo proceder ao controlo de
uma série de pressupostos processuais (personalidade judiciária, capacidade
judiciária, etc.).
• Pedido: na petição inicial o autor formula pedido. Este é a específica tutela que
autor solicita ao tribunal. Nos casos das ações declarativas esta tutela pode
traduzir-se na simples declaração da existência ou inexistência de certo direito
ou facto (10º/3/a CPC), condenação à prestação de certa coisa ou facto
(10º/3/b CPC) ou na produção de mudança na ordem jurídica (10º/3/c CPC).
Podem distinguir-se diferentes modalidades de pedido:
o Uno ou múltiplo: uno quando seja apenas solicitada uma providência
contra réu, sendo múltiplo quando hajam vários pedidos (quer
tratando-se de cumulação - 555º CPC - quer situações de
subsidiariedade)
▪ Exemplos dos pedidos em relação de subsidiariedade: impugnar
paulianamente negócio jurídico a título principal e pedir
declaração da sua nulidade a título subsidiário, ou vice-versa
(autor não sabe se vai proceder o pedido)
▪ Outro exemplo: pedir a título principal a declaração de nulidade
de contrato e restituição do prestado ao abrigo desse contrato
OU subsidiariamente a condenação do réu no cumprimento
desse mesmo contrato.
• Se autor pede declaração da nulidade do contrato e ao
mesmo tempo que réu seja condenado a realizar
prestação principal há incongruência. Mas como são
pedidos em relação de subsidiariedade não há problema
porque se tribunal declarar nulidade então réu não tem
de realizar prestação principal.
Pedido de condenação genérico:
1º lugar: obrigações genéricas
2º lugar: formulação de pedido genérico ou ilíquida (556º/1 CPC – objeto mediato
é universalidade de facto ou de direito, estabelecimento comercial)
Quando não seja possível determinar consequências do facto ilícito ou autor
pretende reclamar certa quantia depois de determinada quantia.
Em qualquer destes casos temos de ter conversão do objeto no pedido de
liquidação (caso seja possível abrir incidente no decurso da ação).
Se ainda não pudermos abrir incidente tribunal condena no que vier a ser
liquidado (609º/2 CPC).
113
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA: pelas regras do ónus da prova o autor prova o seu direito, pelo que ação
deveria improceder. Mas aqui é diferente: estão provados os factos que constituem
direito, mas não o quantum que demonstra que obrigação existe, pelo que juiz ordena
pelo que vier a ser liquidado.
Pode ser formulado pedido genérico, por fim, quando quantitativo dependa de
prestação de contas ou de outro ato a praticar pelo réu.
• Causa de pedir: autor deve elencar factos que entende fundar qualquer regra
do direito que permita garantir a procedência do pedido. O pedido e a causa de
pedir devem ser considerados em correlação. O pedido é substanciado pela
causa de pedir, é delimitado por ela (exemplo do carro: pede-se indemnização
por aquele carro e não qualquer um). MAIS: selecionam-se aqueles factos para
pedir aqueles concretos efeitos. Caso a causa de pedido não seja
suficientemente determinada vale o regime referido anteriormente para não
determinação do pedido. O autor deve ainda indicar as razões de direito que
entende que lhe assistem, embora juiz não esteja sujeito às alegações de
direito das partes. O juiz tem de se pronunciar e se não o fizer a consequência é
nulidade (608º/2 e 615º/1/d CPC)
114
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
A petição inicial deve ainda indicar (552º/1 CPC): forma do processo, valor da
causa. O autor deve ainda apresentar um rol de testemunhas, apresentar os
documentos destinados à prova do facto que alegue (423º/1 CPC) e prova a realizar na
fase de instrução. Deve também apresentar o documento comprovativo do
pagamento da taxa de justiça.
Momento em que autor também pode requerer intervenção principal de outro
autor (só em caso em litisconsórcio necessário ou coligação necessária).
Destes elementos que acabámos de referir merece especial nota o valor da causa
que se fixa no momento em que ação for proposta. Fixada em função da utilidade
económica do pedido (296º/1 CPC)
Cabe conhecer os seguintes casos:
a) Exigindo-se quantia em dinheiro o valor da ação é o da quantia exigida (297º/1
CPC). Em caso de cumulação de pedido atende-se à soma dos valores (297º/2
CPC). Em caso de pedidos alternativos atende-se ao pedido de maior valor
(297º/3 CPC). Em caso de pedidos subsidiários atende-se ao pedido que for
formulado em 1º lugar (297º/3 CPC).
b) Se estiver em causa a existência, a validade, o cumprimento, a modificação ou a
resolução de um ato jurídico atende-se ao valor do seu objeto, tal como
determinado pelas partes (301º/1 CPC)
c) Se estiver em jogo o direito de propriedade ou a divisão de coisa comum
atende-se ao valor da coisa (302º/1 e 2 CPC)
d) Se estiver em jogo pessoas ou interesses materiais ou difusos o valor da ação é
o da alçada da relação mais um cêntimo (303º/1 CPC). O valor pode ser
impugnado pelo réu (305º/1 CPC) e definitivamente fixado em despacho
saneador (306º/1 CPC).
115
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Pode perguntar-se se, nos termos da lei, o tribunal pode convidar as partes a
precisar a petição inicial quando tenham sido deduzidos pedidos incompatíveis entre
si. Só será de admitir isso quando apesar da verificação da falha seja claramente
determinado o fim prosseguido pelo autor.
Prof. Lebre de Freitas: autor pede declaração de nulidade + impugnação
pauliana → Neste caso é claro o fim que autor pretende, que é atacar a venda,
e aí podia ser convidado a aperfeiçoar petição inicial.
Trata-se de nulidade de conhecimento oficioso (artigo 197º CPC).
Caso exista despacho liminar deverá haver indeferimento liminar. Caso ele não
exista o tribunal deve conhecer da ineptidão no despacho saneador (200º/2), devendo
anular todo o processo (187º CPC) e absolver o réu da instância (278º/1/b CPC)
Recusa da Petição Inicial
Na fase dos articulados não há, via de regra, qualquer contacto do juiz com o
processo, mas sim com secretaria. A secretaria pode e deve fazer controlo de natureza
externa à petição inicial, recusando-a quando faltem alguns elementos constantes do
artigo 558º CPC: regime da recusa da petição pela secretaria. Desta recusa pode haver
reclamação para juiz (559º/1 CPC). Se ainda não houver ainda distribuição deve ser
chamado o juiz de turno (89º LOSJ). Nesta matéria cabe recurso até à relação (559º/2
CPC).
Em todo o caso, o autor pode corrigir vício e propor ação no prazo de 10 dias.
Distribuição
Entregue a petição inicial segue-se distribuição (203º e seguintes CPC), ato pelo
qual se designa juiz que vai ser competente para dirimir a ação. Com recurso a meios
eletrónicos fixa-se o juízo e procura-se que distribuição seja feita aleatoriamente (204º
CPC).
Uma vez designado juízo e juiz competente constitui-se poder de julgar na esfera
de um concreto julgador.
Portaria nº 280/2013 de 26 de agosto regula esta matéria também.
Despacho liminar
Determinado o juiz competente o processo é, depois de distribuído, levado a juiz
competente nos casos em que haja lugar a despacho liminar. É um despacho
meramente eventual apenas para as hipóteses constantes do artigo 226º/4 CPC sendo
ele um despacho que precede a citação.
Este despacho à partida pode ter um de dois sentidos:
116
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Nos termos do artigo 590º/1 CPC pode ser proposta nova ação no prazo de 10
dias beneficiando dos efeitos da propositura da primeira ação. É sempre admitido
recurso até á relação (629º/3/c CPC).
A consequência do despacho de indeferimento é a extinção da instância.
A.2. CITAÇÃO
Artigo 219º/1 CPC: a citação é ao to através do qual e dá a conhecer ao réu de que
foi proposta contra si uma determinada ação. A citação é também utilizada para
chamar alguém a ser parte da ação.
Este ato visa assim, por um lado, dar conhecimento da propositura da ação contra
réu e por outro lado proporcionar o exercício do seu direito de defesa. Se este ato tiver
finalidade meramente notificativa chama-se notificação (219º/2 CPC) pelo que, no
fundo, a citação é modalidade particular de notificação.
A citação é forma de chamar alguém pela 1ª vez ao processo, como parte. Na
citação devem dar-se a conhecer os elementos essenciais à defesa do réu (227º CPC).
117
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
118
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
MODALIDADES DE CITAÇÃO
Grosso modo distinguem-se duas modalidades:
1. Pessoal ou quase pessoal: o que se procura é que haja algum tipo de contacto
pessoal com réu. Distingue-se citação pessoal em sentido próprio e citação
quase pessoal. A 1ª é aquela em que é o próprio réu a ser contactado pelo
profissional judiciário (contacto direto). Na 2ª a citação é feita a um terceiro
(réu não está em casa, por exemplo, mas está em casa a sua mulher, fazendo-
se a citação da sua mulher que tem de entregar citação ao réu sob pena de
responsabilidade civil). Verificando-se qualquer uma das causas constantes do
245º/1/a CPC acresce uma dilação de 5 dias ao prazo de defesa (esta regra vale
para citação por via postal e para citação por hora certa de pessoa singular, e já
não de pessoa coletiva) – prazo dilatório de acordo com definição do artigo
139º/2 CPC. Havendo prazo dilatório ou perentório os dois contam-se como
um só.
• Citação por via postal: tratando-se de pessoa singular a citação por via postal é
feita mediante carta registada com aviso de receção segundo modelo oficial
(portaria 953/2003 de 9/9, alterada pela portaria 275/2013 de 21/8). Carta esta
que é dirigida ao citando e endereçada à sua residência ou ao seu local de
trabalho (228º/1 CPC). Citação também pode ser feita na pessoa constituída do
mandatário do citando com poderes especiais para a receber desde que
conferidos por procuração passada há menos de 4 anos (225º/5 CPC).
Tratando-se de incapazes, pessoas coletivas, sociedades, patrimónios
autónomos e condomínios a citação é feita na pessoa dos seus legais
representantes e em caso de pluralidade basta que um seja citado (223º/1 e 2
CPC). Se for pessoa coletiva ou sociedade considera-se ainda notificado a
pessoa de qualquer empregado que se encontre na sede ou lugar onde
funcione administração (223º/3 CPC). A citação por via postal pode ser feita
pelo réu ou por qualquer outra pessoa em condições de a entregar ao citando
(228º/3 CPC). O distribuidor do serviço postal deve identificar citando ou 3º
que assina (228º/3 CPC). Se entregar a 3º deve também advertir que ele deve
entregar imediatamente ao réu (228º/4 CPC), sob pena de este 3º responder
em termos equiparados ao da litigância de má fé (228º/1 CPC). Neste caso, da
citação quase pessoal, é ainda enviada uma 2ª carta, mas esta sem aviso de
receção no prazo de 2 dias úteis ao citando (233º CPC). Não sendo possível
citar-se é deixado aviso ao citando e a carta permanece por 8 dias em
119
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
1) Nos termos do artigo 229º CPC, quando se trate de uma ação para
cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contrato reduzido a
escrito em que haja domicílio convencionado, domicílio este que para o que
aqui releva apenas pode ser verificado nos termos do 229º/2 CPC, e em que
valor da ação não exceda valor da alçada da relação, SALVO se atinente (esse
contrato) ao fornecimento continuado de bens e serviços (portaria 953/2003,
de 9/1). Nesta hipótese a citação deve ser feita no domicílio convencionado.
2) hipótese em que seja citada pessoa coletiva sujeita a inscrição
obrigatória no registo nacional de pessoas coletivas (246º/3 a 5 CPC), caso em
que a carta deve ser endereçada para a sede inscrita no registo (246º/2 CPC).
Quer num caso quer no outro, se o réu ou, no caso de pessoa coletiva um
funcionário seu, se recusar a assinar carta ou aviso de receção a citação tem-se
por realizada mediante certificação de tal ocorrência por distribuidor postal.
Confrontar 229º/3 com 246º/3 CPC. Caso falhe por outra razão que não esta
(recusa de assinatura) vale o disposto no 229º/4 e 5 CPC, este último também
aplicado às pessoas coletivas ex vi 246º/4 CPC.
Citação com hora certa: apurando o agente de execução que o citando reside
ou trabalha efetivamente no lugar indicado opera esta citação (232º CPC),
afixando dia e hora designado para comparência do citando. Para o efeito, nos
termos da lei, deve deixar nota junto da pessoa que melhor condições para dar
notícia do dia e hora ao citando (232º/1 CPC) ou afixar aviso na porta. No dia e
hora designados (232º/2 CPC) pode acontecer uma de três coisas: 1) citação da
pessoa do citando; 2) citação de pessoa capaz que esteja em melhor condições
para o citar; 3) não sendo possível obter a colaboração de ninguém deve o
agente de execução afixar a nota de citação na presença de duas testemunhas
(232º/4 CPC). Em qualquer um destes casos é enviada carta no prazo de 2 dias
úteis com os elementos fundamentais para defesa (233º CPC). Esta citação
considera-se pessoal (232º/6 CPC).
121
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
CITAÇÃO EDITAL
Visa a chamada ao processo de réu que esteja ausente em parte incerta. Procura
determinar-se o último paradeiro ou residência conhecia (236º/1 CPC), e não sendo
possível fazer-se citação aí faz-se citação edital feita mediante fixação de edital em
página de acesso público (240º/1 CPC, 1º e 24º da portaria 280/2013 de 26/8) e à
porta da última residência ou sede conhecida (240º/2 CPC).
A citação considera-se feita no dia da publicação do anúncio (242º/1 CPC),
contando-se a partir daí (242º/2 CPC) um prazo dilatório de 30 dias para apresentação
de contestação (245º/3 CPC).
A citação edital aplica-se também às hipóteses em que próprio réu seja
desconhecido. Pense-se no caso de herdeiro ou representante de pessoa
desconhecida.
Atendendo ao seu figurino, esta citação não oferece garantias sólidas de que o réu
tenha conhecimento efetivo da ação que contra si foi movida. Portanto, o legislador
cria uma série de expedientes que visam proteger a sua posição.
Tratando-se de ação movida contra ausente ou incapaz o MP é chamado à
respetiva defesa (21º/1 CPC). Por outro lado, a revelia do réu na apresentação de
qualquer defesa é neste caso considerada inoperante.
E quanto à nulidade de citação? Artigo 191º CPC. Isto verifica-se quando não seja
observada uma determinada formalidade prescrita na lei (191º/1 CPC, por exemplo
122
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
não se entregou ao réu duplicado da petição inicial), e desde que tal facto tenha
prejudicado defesa do citado (191º/4 CPC). A nulidade da citação não é, via de regra,
oficiosamente cognoscível (196º/2ª parte CPC), devendo ser arguida pelo réu (197º/1
CPC) no prazo da contestação (191º/2 CPC).
191º/2/2ª parte CPC: se, porém, a citação tiver sido citação edital ou não tendo
sido indicado prazo para a defesa há regime específico. Nesta hipótese a nulidade
pode ser arguida aquando da 1ª intervenção do citado no processo. Aplica-se 196º/1ª
parte CPC a esta hipóteses (aqui é de conhecimento oficioso).
Num e noutro caso, concluindo-se ora pela falta ora pela nulidade da citação, esta
deve ser repetida. No caso de o réu já ter ao seu dispor todos os elementos constantes
do artigo 227º CPC basta a notificação do despacho do juiz que atenda à falta ou
nulidade de citação. Basta isto para contar prazo para a defesa (192º CPC) - neste caso,
o réu já conhecia elementos integrantes da citação.
Em comum a estes dois regimes temos vários aspetos:
A.3. CONTESTAÇÃO
Uma vez citado para a ação os efeitos dessa mesma ação passam a ser oponíveis
ao réu. A partir daí ele fica sujeito aos efeitos de um possível caso julgado.
Da mesma forma que o tribunal não pode conhecer de causa sem que isso lhe seja
pedido, também não pode conhecer de causa sem que à contraparte seja dada
possibilidade de contradição (3º/1 CPC). Para garantir esta oportunidade de pronúncia
pelo réu, uma vez citado, é-lhe dado prazo para contestar ação.
Prazo de contestação é de 30 dias a contar da citação, começando a correr desde
o termo de qualquer dilação (artigo 245º CPC), a que possa ter havido lugar (569º/1
CPC).
No caso de haver vários réus todos beneficiam do prazo que termina em último
lugar (569º/2 CPC).
123
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Excecionalmente o prazo pode ser prorrogado por mais de 30 dias quando haja
motivo que impeça contestação (569º/5 CPC).
Desistindo o autor da instância relativamente a algum dos réus, os réus que não
contestaram são notificados da desistência e prazo conta-se a partir dai (569º/3 CPC).
Note-se artigo 287º CPC.
O artigo 569º/4 CPC estabelece possibilidade de prorrogação do prazo a favor do
MP.
Se é certo que este prazo para contestar dá oportunidade ao réu para se defender,
com citação gera-se efeito também de réu ter um ónus. Impende sobre réu ónus
porque caso ele não conteste consideram-se factos articulados por autor provados por
admissão (567º/1 CPC). Esta situação de ausência de contestação chama-se revelia.
Decorre disto que fase da contestação pode terminar de duas formas:
apresentação da contestação ou inércia do réu, não apresentando contestação.
Quando o réu não contesta entra em situação de REVELIA.
Modalidades de revelia e efeitos
➔ Quanto à atividade do réu, distingue-se entre revelia absoluta e revelia relativa
o Revelia é absoluta quando o réu não desencadeia qualquer atividade
processual (não dá sinal de vida no processo, nem sequer constituindo
mandatário)
o Revelia é relativa quando réu se limita a não contestar (há sinal de vida,
mas ele não contesta)
o Diferença entre estes dois regimes: no 1º caso, sendo revelia absoluta, e
apenas nesse, o tribunal vai verificar a regularidade da citação,
ordenando a sua repetição quando encontre irregularidade (566º CPC) –
isto porque a ausência de atividade processual por parte do réu gera a
suspeita de que a razão de ser dessa sua ausência se deva à falta ou
nulidade da citação
125
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Recusa da contestação pela secretaria: a lei não se refere a ela. Prof Lebres Freitas
diz que recusa deve acontecer quando seja inevitável, ou seja, quando não é
identificado o processo, quando é entregue contestação em tribunal diverso do do
processo, quando não esteja assinada, quando não esteja redigida em língua
portuguesa, etc.
MODALIDADES
127
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Se o réu se defende por exceção dilatória, o tribunal não julga mérito da causa,
pelo que aqui em primeiro lugar apresenta contestação de defesa por exceção
dilatória. Isto porque se esta parte proceder o juiz já nem entra no mérito.
A defesa por impugnação vem a seguir, e depois defesa por exceção perentória.
Classificação doutrinal:
• Exceções processuais
o Dilatórias
o Perentórias
• Exceções materiais
o Dilatórias
o Perentórias
Outra classificação:
1. CLASSIFICAÇÃO LEGAL
1.1. DEFESA POR IMPUGNAÇÃO
O autor na petição inicial deve indicar os factos que integram a causa de pedir e
também as razões porque, em seu entender, de tais factos se pode aplicar uma
qualquer norma que permita a procedência do pedido.
A defesa por impugnação traduz-se na contradição direta que réu deduz contra
esses elementos.
Pode distinguir-se entre impugnação DE FACTO e DE DIREITO. A primeira quando o
réu contradiz os factos articulados pelo autor (pode contradizer direta ou
indiretamente). A segunda quando o réu contradiz o efeito jurídico que o autor
pretende extrair dos factos (exemplo: o autor diz que o réu conduzia carro e por isso
128
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
responde for factos ilícitos; réu diz que sim conduzia carro – não impugna factos – mas
alega que nos termos da lei responde apenas pelo risco).
• Factos que hajam de ser provados por documento escrito (574º/2 CPC)
o Paralelo ao artigo 568º/d CPC
• Factos que não admitam confissão (574º/2 CPC, remetendo-se para 454ºº CC)
• Quando réu seja incapaz, ausente ou incerto representado por MP ou
advogado oficioso (574º/4 CPC)
• Quando, embora facto não tenha sido impugnado, esse facto esteja em
contradição com defesa considerada no seu conjunto
A impugnação pode ser direta ou indireta. A impugnação é direta quando o réu
nega factos apresentados pelo autor como existentes (quanto autor ou réu reconvinte
e réu ou autor reconvinte a nega diretamente) e é indireta quando o réu embora
confessando ou admitindo uma parte dos factos alegados pelo Autor como causa de
pedir (factos que constituem a fattispecie da norma da qual o autor quer retirar efeito
jurídico da qual decorre procedência da ação) mas, por sua vez, afirma outros factos
cuja existência é incompatível com a realidade de outros factos também alegados pelo
autor no âmbito da mesma causa de pedir, que desta forma se desvirtua.
Exemplo (de impugnação indireta): autor vem dizer que mutuou dada quantia
ao réu e que ele está agora obrigado a restituir essa quantia. O que é que réu vem
dizer? Que sim, autor entregou dada quantia, MAS fê-lo com a intenção de a doar OU
como forma de pagamento do preço de uma compra que lhe tinha feito. Fica provado
por admissão a entrega, mas o autor terá que provar que fez essa entrega para depois
a quantia ser restituída, com ou sem juros. Os factos da fattispecie constitutiva do
direito, parcialmente e por via indireta, são negados por réu. Autor é que tem ónus de
provar isto (que entregou, MAS no sentido de contrato de mútuo) – réu não está a
invocar contra norma que impede, modifica ou constitui o efeito jurídico pretendido
por autor (como acontece na defesa por exceção perentória), estamos ainda no
âmbito dos factos constitutivos do direito do autor.
Também existe impugnação indireta quando réu alega factos instrumentais
probatórios incompatíveis com factos alegados como causa de pedir do autor.
Artigo 574º/2 CPC: há ainda impugnação indireta quando com os factos alegados
como causa de pedir do autor haja oposição face aos factos alegados pelo réu ou
129
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
negação pelo réu de um dos factos alegados pelo autor dos quais os outros dependem
(impugna diretamente apenas o facto condicionante e depois todos os outros estão
impugnados).
Exemplo (parte inicial): tendo o autor alegado que na data x o réu
entrou num determinado prédio rústico localizado em Amarante e destruiu
frutos que aí se encontravam por colher. O réu limita-se a dizer que nessa data
esteve sempre no Porto.
Outro exemplo (parte final): autor diz que réu conduzia veículo que
provocou acidente e a partir daí alega uma série de factos. O réu nega que
conduzia o veículo.
130
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Não sendo a instância regularizada, quer porque pressuposto processual não foi
suprido ou a sua falta é insuprível, deve o juiz consoante os casos absolver réu da
instância ou remeter processo para tribunal competente (576º/2 e 278º/1 CPC).
Excecionalmente, admite-se que o juiz possa proferir sentença de mérito mesmo
sendo o processo inadmissível quando o pressuposto processual em causa vise
proteger posição de uma das partes e nenhum motivo obste no momento em que se
aprecia a exceção a que profira decisão integralmente favorável a essa parte (278º/3
CPC).
132
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
2. CLASSIFICAÇÃO DOUTRINAL
A par desta classificação legal encontra-se a classificação doutrinal.
Distinguem-se agora exceções PROCESSUAIS e exceções MATERIAIS. As primeiras
respeitam a uma concreta relação processual enquanto que as segundas operam no
plano da relação material controvertida (têm por finalidade obstar à produção do
efeito jurídico próprio do direito exercido).
Estas exceções processuais correspondem às exceções dilatórias da classificação
legal, e as materiais às exceções perentórias da classificação legal.
133
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Um caso difícil é o caso de exceção por não cumprimento: artigo 428º/1 CC. O
nome indica ser defesa por exceção. A exceção por não cumprimento marca presença
nas relações sinalagmáticas (em que uma parte está adstrita a realização de prestação
em contrapartida por diferente prestação – correspetividade de prestações). Quando
assim é, este artigo diz que qualquer contraente tem faculdade de recusar a sua
prestação enquanto outro não efetuar o que lhe cabe.
Se numa ação para cumprimento de prestação o réu se defende com exceção por
não cumprimento do contrato o réu está a defender-se de que forma? Duas hipóteses
(classificação legal): defesa por exceção perentória impeditiva (pode recusar-se a
cumprir enquanto outra parte não exercer) OU defesa por impugnação.
De onde é que nasce a divergência doutrinal? De saber se prévio cumprimento da
prestação pelo próprio autor (parte que está a exigir prestação da outra parte) é ou
não um facto constitutivo do seu direito. Se entendermos que prévia realização da
prestação pela parte que vem exigir à outra o cumprimento é um facto constitutivo do
próprio direito, então temos defesa por impugnação; MAS se entendermos que não é
facto constitutivo então estamos a chamar facto que integra contra-norma e aí já
temos exceção perentória.
Portanto, tudo vai depender do modo como se configurem os direitos de cada
uma das partes nas relações sinalagmáticas.
Há quem entenda que no nosso Direito não é, ao contrário do que acontece
noutros países, pressuposto do direito de uma das partes haver realizado prestação a
que está adstrito. Argumento: tanto assim que é que se exigir direito e ele for satisfeito
a prestação ou comportamento realizados têm-se por causalmente justificados. Pode
usar-se também argumento literal: não é requisito do próprio direito, mas sim causa
de exceção (“pode recusar-se enquanto outra não cumprir”).
Contra-argumento: quem tem ónus da prova? Se se trata de facto constitutivo
quem tem ónus da prova é a parte a quem esse facto constitutivo aproveita, mas se é
facto modificativo/extintivo/impeditivo então ónus é do réu. Mas o ónus da prova não
tem de ser do autor? Não tem que ser autor a provar que já cumpriu?
Prof. Tavares Sousa entendia que era defesa por impugnação.
134
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Claro está que, se se entender que se trata de defesa por exceção, lançando mão
da classificação doutrinal, esta seria uma modalidade de defesa por exceção material
dilatória. Mediante manifestação do interesse do réu em pretender recusar
cumprimento da sua obrigação enquanto autor não fizer a sua contraprestação o que
falta apenas é o oferecimento da prestação (autor tem de a oferecer, e pode faze-lo a
qualquer momento). Aplica-se ou não o artigo 610º/1 CPC (diz respeito aos casos de
inexigibilidade)? O que temos aqui é recusa lícita de cumprimento enquanto não
houver oferecimento da contraprestação. Mas o critério relevante para este artigo é o
seguinte: o tribunal não deixa de conhecer da obrigação e de proferir decisão quando
nenhuma dúvida se coloque quanto à sua existência, havendo apenas obstáculo à sua
imediata condenação (ou seja, pode condenar para quando se remova o facto
dilatório). O facto dilatório aqui é o oferecimento da contraprestação. Portanto, para
quem entenda que isto é defesa por exceção a consequência da invocação desta
exceção é a condenação a satisfazer a prestação no momento próprio, ou seja,
obrigação do réu satisfazer obrigação logo que autor ofereça contraprestação a que
está adstrito. Assim, a consequência não é sempre absolvição total ou parcial do
pedido, mas pode ser condenação a satisfazer a prestação no momento próprio (nos
casos das exceções materiais dilatórias).
A.4. RECONVENÇÃO
No seu articulado pode o réu, em vez de se limitar a defender-se do autor, dirigir
contra este (autor) um contrapedido. A este pedido chama-se reconvenção. O mesmo
é dirigido pelo réu (réu reconvinte) contra o autor (autor reconvindo) – 266º/1 CPC.
135
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
essa razão a reconvenção deve ser deduzida separadamente (na contestação) – 583º
CPC – estando sujeita aos mesmos requisitos que se colocam à petição inicial.
A reconvenção só é admitida nos casos do 266º/2 CPC:
136
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
NOTA 2:
É preciso distinguir compensação que opera judicialmente ou extrajudicialmente:
se invocada extrajudicialmente (aí se réu se quiser fazer valer dessa matéria na ação
isso é feito por objeção – defesa por exceção em sentido impróprio, de conhecimento
oficioso, mas que tem de ser levada ao conhecimento do tribunal) depois o réu tem de
levar isso para os autos, mas fá-lo-á por defesa por exceção; se invocada judicialmente
tem de ser feita por reconvenção.
NOTA 3:
Ação especial para cumprimento de ações pecuniárias emergentes de contrato e
injunção (DL 269/98 de 1 de setembro): esta ação prevê apenas a existência de dois
articulados. É possível operar a compensação ou não? CPC diz que compensação opera
sempre por reconvenção. Há três posições:
1) Há quem entenda que não é possível compensar
2) Há quem entenda que é possível compensar, mas que nos articulados deve ser
feita por via de exceção
137
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
3) Prof. Teixeira de Sousa entende que se deve aplicar regime geral do CPC (deve
admitir-se, aqui, a reconvenção)
• O réu pretende obter, em seu benefício, o mesmo efeito jurídico que o autor
pretende obter
Nota para o artigo 266º/3 CPC.
Uma vez que a fase dos articulados tem como finalidade carrear para o processo
os elementos essenciais à modelação do objeto da causa isso implica que as partes
tenham, pelo menos, oportunidade de se pronunciar uma vez sobre todos os
elementos que relevem. O autor invoca factos constitutivos do seu direito, réu tem
direito de se pronunciar sobre eles na contestação; mas se depois réu se defende por
exceção (alargando objeto do processo) o autor não tem possibilidade nos articulados
normais de se defender disto (porque réplica só serve para agir contra reconvenção).
Assim, quando o réu se defende por exceção, o autor não tem possibilidade de replicar
sobre essa matéria (mas é matéria nova sobre o qual não se pronunciou ainda). Note-
se que acontece o mesmo se na réplica o autor deduzir exceções uma vez que, dado
que já não há tréplica, o réu também não se pode defender destes novos factos.
Portanto, ao pedido segue impugnação; à exceção segue-se possibilidade de
impugnar, também. Para solucionar isto atente-se ao disposto no artigo 3º/4 CPC: às
exceções deduzidas no último articulado a parte contrária pode responder na
audiência prévia ou no início da audiência final. Na prática o que acontece é que partes
forçam estes articulados, quando vão para audiência apresentam isto por escrito (juiz
enquanto gestor do processo hoje em dia tem poderes para admitir isto).
138
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Em todo o caso, o que a doutrina entende é que não há, hoje, o ónus de
impugnação da matéria alegada na contestação no que toca a ação principal OU de
impugnar a defesa por exceção invocada pelo autor na réplica. Há apenas a
possibilidade de a parte forçar momento de resposta.
REGIME
Apresentado o articulado ou oferecimento da prova relativamente ao facto
alegado o juiz profere ora despacho de admissão (caso em que ordena a notificação da
parte contrária para responder no prazo de 10 dias) ora a rejeição (pode ter por base
um de dois fundamentos: 1) apresentação fora do tempo por culpa da parte; 2) a sua
manifesta inviabilidade – 588º/4 CPC).
140
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Estas peças podem ser tratadas como articulados supervenientes (ainda que não o
sejam em sentido técnico).
142
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
de entender que juiz deve também convidar as partes a regularizar a instância ou ele
próprio ordenar a prática dos atos que a regularizem, consoante os casos.
Neste primeiro caso a decisão tem valor de caso julgado formal (uma vez que
transite em julgado) mas apenas em relação às questões concretamente apreciadas
(595º/3/1ª parte CPC). Porém, o juiz pode conhecer do mérito da causa no saneador
quando não haja necessidade de quaisquer elementos adicionais, sendo que aqui tem
valor de sentença (595º/3/2ª parte CPC) pondo termo ao litígio e produzindo caso
julgado material.
Por sua vez, nos termos do artigos 596º/1 e 597º CPC, uma vez proferido
despacho saneador, quando ação houver prosseguido o juiz profere então despacho
destinado a identificar objeto do litígio e a enunciar os temas do próprio.
144
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
ESTRUTURA DA SENTENÇA
Neste momento do iter processual o julgador já tem todos os elementos
necessários para julgar a causa e, por isso, vai proferir sentença. Por sentença designa-
se o ato pelo qual se decide causa principal (152º/2 CPC).
Na sentença decide-se do direito aplicado à causa.
É constituída por três partes:
1. Relatório (juiz identifica partes e objeto do litígio – artigo 607º/2 CPC →
caracterização fundamental do caso)
2. Fundamentação (factos que considera provados e interpreta normas jurídicas
que devem ser aplicadas – 607º/3/1ª parte CPC)
a. Através da fundamentação, nos termos do artigo 607º/4 CPC, deverá
ser possível apurar das razões que levaram o juiz a concluir pela
verificação ou não verificação de dados elementos da matéria de facto e
solução de direito que ofereceu à lide
b. Há dever de fundamentação (154º/1 CPC)
145
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
MATÉRIA DE FACTO
A decisão relativa a matéria de facto destina-se a dar como provadas ou não
provadas as alegações das partes relativamente a certos factos. Para isso o juiz deve
tomar em consideração o direito probatório. Distingue-se o direito probatório material
do direito probatório formal: o 1º é o que fixa o valor dos diferentes meios de prova
(341º e seguintes CC) e o 2º designa as regras processuais de definição e valoração da
prova (410º e seguintes CC).
Vale princípio do inquisitório (411º CPC) quanto aos factos que juiz possa
conhecer.
Para a valoração da prova, se não existir nenhuma norma de prova legal (à falta de
norma que fixe valor probatório) vale o princípio geral da livre apreciação da prova
(607º/5 CPC).
O que é que acontece nas hipóteses em que juiz, uma vez realizada toda a
atividade instrutória (a requerida pelas partes e a que resulta da iniciativa do juiz), fica
em dúvida insanável relativamente à verdade dos enunciados de facto enunciados
pelas partes? O juiz depois de realizada instrução fica em dúvida insanável (objetiva e
racional) quanto á verdade dos enunciados de facto. O que é faz?
Artigo 8º/1 CC: prevê que tribunal não se pode abster de julgar um litígio nem por
falta ou obscuridade da lei nem alegando dúvida insanável quanto aos factos em
litígio.
O juiz está em dúvida quanto à verdade dos factos. Não sabe se são verdadeiros
ou falsos.
Ora, esta dúvida resolve-se através da aplicação das regras de distribuição do ónus
da prova (regras de distribuição do risco da prova, mais concretamente da sua falta).
Da aplicação destas regras decorre que juiz vai decidir causa contra a parte sobre
quem impedia ónus da prova.
Exemplo: autor tinha ónus de provar facto x. Juiz fica em duvida insanável.
Portanto, vai decidir contra autor (como se facto não fosse verdadeiro).
Estas são regras de decisão quanto à dúvida de determinado facto.
146
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
Princípios gerais relativos ao ónus da prova estão nos artigos 342º a 346º CC. São
regras que fazem parte do chamado direito probatório material.
Qual o sentido de uma presunção? Ela inverte o ónus da prova, que passa assim a
recair sobre aquele a quem o facto prejudica (344º/1 CC).
Por exemplo: existindo presunção de culpa no caso de incumprimento obrigacional
(799º CC) muito embora a culpa seja pressuposto da obrigação de indemnização não
tem de ser dada a culpa como provada para que proceda o pedido do autor, porque há
presunção de culpa.
Isto tem que ver com teoria das normas de Rosenberg: norma-contranorma;
factos que integram norma que produzem efeito que autor quer – factos que integram
contranorma que impede, modifica ou extingue esse direito; ónus da prova do autor –
ónus da prova do réu; absolvição do réu do pedido – condenação do réu no pedido.
Uma vez fixados os factos relevantes para a resolução da lide, cabe agora aplicar o
direito relevante a esses factos. Importa recordar que o juiz não está adstrito às
alegações que as partes hajam feito em matéria de direito (artigo 5º/3 CPC).
147
Direito Processual Civil – 2º Semestre Ano Letivo 2017/2018
VÍCIOS DA SENTENÇA
A sentença como ato processual que é pode ela própria padecer de vícios
específicos.
Causas de nulidade da sentença: artigo 615º CPC.
Nº1:
1. Quando falta assinatura do juiz (alínea a)
a. Esta nulidade é suprível mediante posterior aposição desta assinatura
(nº2 e 3 deste artigo)
2. É também nula a sentença quando a mesma não especifique os fundamentos
de facto e de direito em que se sustenta a decisão (alínea b)
3. A oposição entre os fundamentos de facto e os fundamentos de direito OU a
ininteligibilidade da decisão (pedido é incongruente com causa de pedir, por
exemplo)
4. A omissão ou excesso de pronúncia (alínea d) ou pronúncia ultra per totum –
para além do que tiver sido pedido (alínea e)
As nulidades são arguidas perante tribunal que as proferiu sob a forma de
reclamação caso não se admita recurso ordinário (artigo 149º/1 CPC – prazo supletivo
de 10 dias), ou perante o tribunal de recurso no prazo do respetivo recurso (615º/4
CPC).
NOTA: reforma da sentença não é recurso, mas é forma de reação (quando não
haja lugar a recurso ordinário e haja erro grosseiro, quer na aplicação de direito quer
na matéria de facto)
EFEITOS DA SENTENÇA
Com a prolação da sentença esgota-se o poder jurisdicional do juiz que se havia
constituído com a petição inicial (613º/1 CPC), só podendo completar ou alterar a
sentença nos casos em que a lei o expressamente admitir.
Note-se que o juiz pode voltar a contactar com o processo caso a Relação ou o
Supremo, no âmbito do recurso, imponham que processo retome à 1ª instância para a
prática de certos atos probatório (662º/2 CPC).
Mesmo antes de transitada em julgado, a sentença pode já, via de regra, ser
utilizada como título executivo quando o recurso seja atribuído efeitos meramente
devolutivo (devolve a decisão a tribunal superior) – artigos 703º/1/a e 704º/1 CPC.
NOTA: ver artigo 647º/1 CPC em relação a apelação, e artigo 676º CPC para a
revista. Combinando isto com 704º/1 CPC vemos que sentença pode ser usada como
título executivo.
150