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1. Discorrer sobre as principais características da pedagogia para ensino do violão no

Brasil no Século 20 através da obra de Isaias Sávio e Henrique Pinto.

Isaias Sávio e Henrique Pinto foram os maiores pedagogos do violão do século


vinte no Brasil, isso pode ser constatado por meio de suas produções e pelo nível
técnico/artístico de seus alunos. Sávio teve publicadas, entre composições originais,
transcrições, métodos didáticos e revisões, mais de 300 obras. Henrique Pinto, mesmo
não tendo uma produção tão extensa, foi também bastante significativo para o ensino
do violão em seu período.

Neste texto, levantaremos questões referentes à pedagogia do ensino do violão desses


dois musicistas e, a partir delas, proporemos discussões acerca das novas
possibilidades didáticas para a contemporaneidade.

Isaías Sávio nasceu no ano de 1900 em Montevidéu, Uruguai, e teve nesse


país grande parte de sua formação musical. Estudou com o célebre professor Conrado
Koch e, aos 18 anos, conheceu o violonista considerado o melhor de sua época,
Miguel Llobet, com quem teve aulas esporádicas até 1929.

Depois de algum tempo vivendo em Buenos Aires e no Rio de Janeiro, em 1941


radicou-se em São Paulo, fundando a Associação Cultural Violonística Brasileira. Em
1947 fundou, no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, o curso de violão,
oficializando o ensino do instrumento no estado de São Paulo, de modo pioneiro no
Brasil.

A pedagogia de Sávio é marcada pela forte presença do mundo violonístico de


sua época. Nela, a principal influência era a da escola de Tárrega, levada adiante por
seus alunos mais brilhantes, Miguel Llobet e Emílio Pujol. O sentido didático da
escola de Tárrega consistia em resolver com antecedência os possíveis problemas
técnicos que poderiam surgir no decorrer da execução musical. Tárrega analisava e
sintetizava, de maneira progressiva, todos os problemas que poderiam eventualmente
acontecer na música aplicada diretamente ao instrumento (OPHEE, 1999). Todas as
combinações de escalas, arpejos, ligados e efeitos instrumentais eram previstas e
tratadas de modo que os dedos adquirissem, com o trabalho metódico, a maior
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autonomia, força e segurança possíveis. As diretrizes dessa escola foram mantidas por
Sávio em seus métodos de estudo, e também o foram na obra de Emílio Pujol, que por
ter sido aluno de Tárrega, foi mais fiel aos preceitos de seu mestre. Tais diretrizes
podem ser vistas de maneira mais clara na “Escola Moderna do Violão”, método no
qual Sávio delimita toda a forma de trabalhar a técnica do mecanismo. Nesse método
todo o trabalho técnico é visto como um tour de force que o aluno deve vencer para,
posteriormente, produzir música.

O trabalho de Isaías Sávio foi importantíssimo na delimitação do violão como


instrumento “sério” de concerto, legitimação que ele buscou durante toda a vida. Seus
alunos mais talentosos levaram o nome do violão brasileiro para o exterior e, os que
aqui ficaram foram responsáveis pela concretização do sonho do mestre, transformar
o violão em um instrumento que, durante a segunda metade do século XX, entraria
pela porta da frente na academia. Os alunos mais famosos de Sávio foram Carlos
Barbosa Lima, Henrique Pinto e Antônio Rebello.

Seguindo na mesma direção de Sávio, mas com inquietudes particulares,


Henrique Pinto nos trouxe novos questionamentos no que se refere à técnica e à
música. Tais inquietudes surgiram a partir de sua formação com grandes músicos
como Guido Santórsola, Mário Ficarelli e um dos maiores pedagogos do violão do
século XX, o uruguaio Abel Carlevaro (MÚSICOS DO BRASIL: Uma enciclopédia
musical, s.d.)1.

O trabalho pedagógico de Henrique Pinto é direcionado pela fusão de duas maneiras


de pensar o instrumento, uma originária da escola de Tárrega, por meio de Isaías
Sávio, e a outra da escola carlevariana. Henrique soube aproveitar da “old school” o
que lhe era mais importante e, tendo acesso aos resultados obtidos por pesquisas
realizadas por Calevaro, nos trouxe o que existia de mais novo na América Latina.

Henrique Pinto não formulou seu método de violão seguindo os padrões estabelecidos
por Sávio, pois os trabalhos de Henrique eram mais sintéticos e flexíveis,
proporcionando que o professor de instrumento buscasse, muitas vezes, o auxílio de
outros métodos, em um pensamento de complementaridade. O pragmatismo fazia
parte de sua metodologia de ensino; em seus livros Iniciação ao Violão e Ciranda das

1
MÚSICOS DO BRASIL. Henrique Pinto. Disponível em:
http://www.musicosdobrasil.com.br/henrique-pinto. Acesso em 5 de fev. 2011.
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Cordas percebe-se que, desde o início dos estudos de violão, o importante é tirar
música do instrumento. O tratamento técnico, tão importante na “old school”, não
deixa de o ser no contexto da pedagogia de Henrique Pinto, mas é transformado; o
tratamento é mais racional e flexível, e a partir dele o professor e o aluno buscarão
novas situações de aprendizagem, com o intuito de trabalhar técnica e produção
musical de modo conjunto.

Sávio e Henrique Pinto nos deixaram um legado invejável, mas ao meu ver, o
mais importante, é que fazer música ao violão hoje é um processo estudado e
discutido em nível acadêmico graças, em grande parte, a esses dois pedagogos do
violão.

Por outro lado, é preciso reconhecer que a preocupação com aspectos ligados à
saúde e à performance do violonista, como relaxamento e tensão, ansiedade e
capacidade de concentração em peças de fôlego, que era apenas sutilmente sugerida
nas metodologias de Sávio e Pinto, hoje tornaram-se foco da atenção de professores e
pesquisadores da área musical, que se voltam para um ideal de educação musical
integral. Cada vez mais, percebe-se a necessidade de buscar a interdisciplinaridade no
ensino da música, explorando as relações entre disciplinas teóricas e técnicas e a
ampliação do processo de aprendizagem do aluno, integrando aspectos da saúde,
performance, atuação, técnica, improvisação e liberdade criativa.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FIREMAN, Milson. A escolha de repertório na aula de violão uma proposta


cognitiva. Porto Alegre: Revista em Pauta, v.18, nº 30, 2007.

MEC-MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA. Diretrizes curriculares


nacionais dos cursos de graduação: Parecer CNE/CES 146/2002. Disponível em:
HTTP://portal.mec.gov.br/sesu/arquivos/pdf/14602DCEACTHSEMDTD.pdf. Acesso
em 21 jun. 2005.

OPHEE, Matanya. Una breve historia de los métodos de guitarra. Disponível em:

http://www.musicaclasicaymusicos.com/revista-claves-musicales-93.html Acesso em
2 de jan. 2011.

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