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Release

Se eu fosse Puta (PURA PUTA), é um monólogo baseado no livro de Amara


Moira e as vivências e memórias de Stefany Mendes, é um monólogo sobre
porquês, sobre decisões, sobre começos e fins. As histórias vão se
alternando entre a profissão de prostituta e o desejo de se expressar, tudo,
absolutamente tudo, no escurinho dos becos, sem o olhar do mundo. Ao
narrar seu relacionamento com os clientes, Ela grita sua condição, narra
sobre a rua ao mesmo tempo em que a vive, denuncia os abusos e as
violências que sofreu – e que são muitas.

Ela vai reavivando e moldando a memória para trazê-la ao agora, o tempo


presente, criando meios de proteção e existência. Esse processo cíclico
revela as novas possibilidades de construção da corpa memorialística, reflete
sobre os nós e sobre os laços. Trazendo reflexões e questionamentos, sobre
sexo, violência, amor e preconceito. Para além do esteriótipo da corpa
travesti, prostituta, “da rua”, as possibilidades de vida e vivência de uma
pessoa que descobre suas potências, na rua, na academia, nos palcos e nas
Artes.

O processo de narrar sua própria história é algo essencial no processo de


empoderamento da corpa transgênera e na destruição de ideias
conservadoras e preconceituosas. Quando se pensa na arte brasileira isso é
ainda mais necessário: historicamente, as travestis vêm
sendo representadas na ficção apenas como corpas mortas e/ou
assassinas perigosas, seres não identificáveis, como corpas estranhas
que rondam as ruas, que atiçam os olhares, como personagens dignas
do desprezo e do nojo. O monólogo traz perguntas que parecem ressoar
cochichadas ao pé do ouvido, como se não devessem ser perguntadas
ou fossem perguntas perigosas demais… “E se?”

É preciso historicizar a vida dessas mulheres, (re)pensar os espaços e as


hierarquias contidas nesses espaços. O destino “amargo” de Stefany é
justamente fazer o que ninguém deseja fazer, perguntar o que ninguém
quer perguntar. Ela tem a capacidade de criar modos de
existência, novas maneiras de entender e (re)afirmar o outro e nós
mesmos, operando como uma máquina de guerra na luta contra as
perspectivas absolutas, que engessam os corpos e as (trans)vivências.
A partir do contato com a obra de Amara Moira, Stefany Mendes sentiu de
sua corpa essas memórias se reavivando e a necessidade de falar sobre
isso, sobre sua trajetória do que havia se tornado: uma Puta Artista.

“as prostitutas vos precederão no Reino de Deus” (Mateus, 21:31)”

Roteiro Base - Storyline do Monólogo


Se eu fosse PURA (PURA PUTA)

● Prelúdio

Corpo sem juízo


(Um áudio narra a cena)
● Um corpo caído ao chão

● Em seguida aparece a protagonista caracterizada igual ao corpo caído


sentada em uma cadeira.

Cena 1

● " Licença "


A protagonista pedindo licença para começar a peça, contar uma
história com o discurso de que somos todos um e o silêncio dos corpos
Trans "corpo sem juízo". Por fora da ética e estética que permeiam a
sociedade, quando marginalizado tanto social quanto moralmente. O
corpo é lugar de guardar memória, então ela passa a ser confrontada
por seu corpo e memórias que emergem dele.

● "Mãe"
Sai o primeiro personagem de suas memórias, a "Mãe Rua" onde há
um diálogo sobre cuidados, escolhas, decepção, felicidade própria,
relação familiar, como assumiu a identidade e resignifica o preconceito.
Perpassa nessa primeira cena, um vislumbre de amor, o amor maternal
e como isso forma a personalidade da personagem.

Cena 2

● "Pai"
O segundo personagem sai de sua memória, o “Pai Abuso”, onde
representa a figura machista, grotesca, e se desenrola um assunto
traumas na infância da protagonista sobre sexualização infantil e
transtornos impostos e criados. Os abusos sofridos em busca de ser
amada e até mesmo para a permissão do amor e da aceitação.

Fala-se também nessa cena sobre um empoderamento através do


dinheiro, da segurança e começa a perceber uma nova forma de
abuso.

Cena 3

● "Operário
Sai da memória corporal o trabalhador braçal que tem o fetiche/sonho
de sexo com uma travesti, a cena fala sobre consumo, desejos e
realizações, força do trabalho, desejos momentâneos.

● "Cliente vip"
Nesta cena emerge da memória o “cliente vip”, a figura que representa
algum poder perante a sociedade e que também tem esse
fetiche/sonho de sexo com uma travesti, esta cena fala sobre política,
genocídio, pertencimento, estrutura e drogas.

Cena 4

● "Caminhos de Vento”
As memórias do passado cessam e a protagonista tem vislumbres do
futuro, seus sonhos e objetivos se mesclam com as memórias e um
cenário utópico de realidades é criado. Então ela narra as expectativas
de um futuro. “E se…”
E se ela fosse Amara Moira, escritora do livro onde baseamos a peça.
E se ela fosse Stefany Mendes, atriz e roteirista do monólogo.
E se ela fosse o corpo do prelúdio.
Mais que estáticas, números, corpos e vítimas, são personagens,
pessoas, agentes vivas de suas narrativas.

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