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MAÇONAS, CONSTRUTORAS DE CATEDRAIS

- Tradução e adaptação por Tiago Robledo M.˙. M.˙.

Fora perseguida por governos e religiões e frequentemente acusada de conspirações. Devido ao seu caráter
discreto e iniciático, seu método simbólico e seus rituais, a Maçonaria continua sendo uma das sociedades
secretas (ou discreta) menos conhecida, percebida (até hoje) com uma aura de mistério e até desconfiança.

No entanto, a Royal Art Order é uma das mais antigas organizações fraternas do mundo. Ela tem suas origens
nas guildas1 de cantaria2, dos construtores, e construtoras, de catedrais, a expressão máxima do esplendor da
cultura medieval, e das pessoas que as construíram, os mestres de obras chamados em francês de “Maçons”. O
maçom (operativo) era quem (na terra) colocava a primeira e a última pedra da catedral, o executor do começo
e do fim, seu trabalho era análogo ao de Deus no céu.

Eles eram trabalhadores livres ou francos, daí o termo franco-maçom ou (em inglês) freemason. Se
agrupavam em guildas e se reuniam em Lojas ou Oficinas, onde a profissão era ensinada e uma ampla
variedade de tópicos era discutida, e não somente questões operativas relacionadas à construção, mas também
problemas sociais e especulativos. As pesquisas concordam que seguiam um modelo democrático, onde se
praticava Igualdade, Fraternidade e Liberdade.

Um dos temas mais conflituosos e ainda desconhecidos da história da Maçonaria é, sem dúvida, a existência,
o trabalho e o contexto em que as Lojas com mulheres e desenvolveram. A dificuldade reside não apenas em
sua antiguidade e no contexto nacional e internacional em que se desenvolveram, mas também, por sua
presença ter sido silenciada pela misoginia na história, como de praxe...

Nos ofícios operativos, as mulheres não eram excluídas devido a seu gênero e até, como foi o caso das
fiandeiras, as irmandades poderiam ser compostas exclusivamente por mulheres.

Não se sabe exatamente como eram as relações de gênero nas irmandades de construtores, mas parece
evidente que quando os maçons operativos permitiam o ingresso de mulheres ao Ofício, seu julgo sobre elas
pendia mais para a excelência que para a misoginia, pois caso contrário, eles não teriam essa permissão para
compartilhar os mistérios da Arte Real.

O nome da primeira mulher a entrar em uma Loja também é desconhecido. A Mestra de Obras mais antiga
documentada, é Grunnilda, maçona, que aparece nos registros da cidade (de Norwich 3) em 1256, coincidindo
com a construção da nave central de sua catedral gótica. Grunnilda era membro da guilda, ou corporação de
construtores de Norwich.

Também é sabido, a partir de manuscritos de diferentes guildas ou grêmios, nas Old Charges da Maçonaria,
que as confrarias de maçons (mestres construtores) eram compostas de “Irmãos e Irmãs”.

No Livro de Ofícios de Paris, as mulheres que trabalhavam na construção de catedrais representavam 30% do
contingente. Além disso, existem dados que sustentam que havia mulheres que se destacaram como
carpinteiras, vidraceiras, ferreiras de cobre e bronze etc.

Mas o caso mais extraordinário, é o de Sabine de Pierrefonds (Sabine von Steinbach), mencionada por um
historiador do século XVII que a apresentou como mestra de obras e escultura. A Sabine é creditada as
estátuas no pórtico da catedral de Estrasburgo e duas figuras femininas da catedral de Notre Dame de Paris.

1
As Guildas, Corporações de ofício ou Mesteirais eram associações que surgiram na Idade Média, a partir do século XII, para
regulamentar as profissões e o processo produtivo artesanal nas cidades.
2
Cantaria é o ofício ou arte de talhar blocos de rocha bruta de forma a constituir sólidos geométricos, normalmente paralelepípedos, de
variável complexidade, para utilização na construção de edifícios ou de muros. O profissional desse ofício chama-se canteiro.
3
Norwich é uma cidade da Ânglia Oriental, no leste da Inglaterra.
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Há uma teoria, inclusive, na qual a construção da catedral de Estrasburgo, em 1275, seria considerada o
evento fundador da Maçonaria.

Infelizmente, a autoria dessas figuras não pode ser averiguada e nem confirmada a existência dessa artista que
se tornou um símbolo de mulheres que trabalharam anonimamente como artesãs na Idade Média.

Infelizmente, a partir do século XIII, a misoginia ganha peso novamente na Europa e a presença de mulheres
em guildas e irmandades começa a ser proibida; o Humanismo, influência do pensamento tomístico 4 e das
ideias aristotélicas, acabou por afastá-las dos centros de trabalhos organizados, do público, o que acarretou no
perecimento artístico e cultural da maioria delas.

Apesar disso, sabe-se que algumas mulheres viúvas 5 puderam integrar a algumas guildas, ocupando até o
cargo de Dama, equivalente feminino do Mestre. É o caso da viúva Margaret Wild, que em 1663 figurou
como membro da Companhia dos Maçons de Londres.

A partir do século XVII, as Lojas abriram suas portas para membros qualificados da sociedade, não
relacionados à arte da construção 6, enquanto as fecharam para as mulheres. Assim, a Maçonaria estava
perdendo seu caráter profissional e adotando um caráter mais intelectual e espiritual, entrando em outra fase
de sua história: a Maçonaria especulativa.

Apesar da exclusão de mulheres das Lojas, a primeira mulher maçom (especulativa) foi Elisabeth Saint
Ledger, por volta de 1720, qual foi retratada vestida maçônicamente e foi muito ativa em sua Loja até sua
morte.

A proibição taxativa (as mulheres) viria das mãos da Grande Loja de Londres quando ela ordenou a redação
de constituições para regular o funcionamento da maçonaria. Nas Constituições Anderson ou Constituições
dos Maçons de 1723, no início do Iluminismo, as mulheres são plenamente banidas da Maçonaria: “As
pessoas admitidas como membros de uma Loja devem ser homens bons e leais, nascidos livres, além disso, ter
idade e maturidade de espírito e prudência, nem servos, nem mulheres nem homens imorais ou escandalosos,
senão aqueles de excelente reputação”.

De maneira simbólica, é declarado nas Constituições que a catedral não será mais um templo de pedra a ser
construído, mas que o edifício que será erguido, será a catedral do Universo, isto é, a própria Humanidade.

No entanto, na França do Iluminismo, às portas da Revolução, as mulheres resistiam a serem excluídas desta
sociedade e da construção de um novo mundo, porque como diriam Marie Deraismes, fundadora e venerável-
mestra da primeira Loja Maçônica mista no século XIX: “Não pode construir o Templo da Humanidade com
metade da Humanidade”.

- Coletivo de Mulheres pela Igualdade na Cultura

Fonte: https://www.laopiniondemurcia.es/opinion/2020/02/06/masonas-constructoras-
catedrales/1088876.html

4
O tomismo é a filosofia escolástica de São Tomás de Aquino.
5
Ver a menção as antigas atas da Loja de Edinburgo feita por Gould.
6
OU seja, os primeiros Maçons Aceitos.
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