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Introdução à Economia

Brasília - DF.
Autores
Aleksandra Sliwowska Bartsch

Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e
Editoração
Sumário
Organização do Caderno de Estudos e Pesquisa...................................................................................................... 4

Introdução.............................................................................................................................................................................. 6

Aula 1
Conceito de Economia................................................................................................................................................. 7

Aula 2
Sistemas Econômicos................................................................................................................................................. 16

Aula 3
Microeconomia............................................................................................................................................................. 27

Aula 4
Macroeconomia............................................................................................................................................................ 36

Aula 5
Economia Internacional............................................................................................................................................66

Aula 6
Economia do Setor Público...................................................................................................................................... 79

Referências...........................................................................................................................................................................94
Organização do Caderno de
Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos,
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com
questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável.
Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras
e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio.
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas
conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de


fortalecer o processo de aprendizagem do aluno.

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Organização do caderno de estudos e pesquisa

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Querendo ou sem querer, a Economia dita os nossos passos. Precisamos de dinheiro para
viver. Precisamos também saber administrar esse dinheiro, a fim de que possamos ter nossas
necessidades atendidas. Outra necessidade é fazer com que parte do que ganhamos sobre no final
do mês. Poupar é uma arte, assim como multiplicar o que ganhamos. A Economia é uma ciência
da vida. Engloba tanto os indivíduos quanto os países e está em permanente transformação.
Nossas necessidades mudam, catástrofes acontecem, previsões se alteram. Estar atento ao mundo
em permanente transformação é uma necessidade para que, como profissionais, possamos
conduzir nossa empresa pelo caminho tão almejado da lucratividade. Mas a Economia não é
movida apenas pelo lucro. Tem como metas o alto nível de emprego, nível de preços estável,
eficiência, distribuição equitativa de renda, crescimento e desenvolvimento. Esse último envolve
não só a questão econômica, como, também, questões ligadas ao bem-estar das nações como
segurança, educação, infraestrutura. No final desta disciplina, você estará apto a entender como
as medidas adotadas pelo governo podem afetar-lhe diretamente, bem como espera-se que se
sinta motivado a contribuir com seu conhecimento para o desenvolvimento sustentado do Brasil
do presente e das futuras gerações.

Objetivos

»» Entender o conceito de Economia.

»» Compreender as diferenças entre a postura econômica de países e indivíduos.

»» Conhecer a evolução histórica dos sistemas econômicos.

»» Avaliar os impactos de políticas econômicas, oriundas da macroeconomia e da


microeconomia nas empresas e nas decisões individuais.

»» Compreender a importância da economia internacional e do papel do estado para o


bom funcionamento de empresas e da sociedade.

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CONCEITO DE ECONOMIA
AULA
1
Introdução

Nesta primeira aula você será apresentado ao estudo da Economia, que é uma ciência relativamente
jovem, que teve seu marco em 1776. Será abordado o conceito da disciplina, bem como algumas
definições da Economia. Você também conhecerá as metas almejadas pelos economistas, a
saber: alto nível de emprego, nível de preços estável, eficiência, distribuição equitativa de renda
e crescimento/desenvolvimento. Também será abordada a divisão do estudo dessa ciência, que
busca equalizar desejos ilimitados com recursos escassos, visando sempre ao bem-estar da
população e à riqueza das nações.

Objetivos
»» A Economia é uma ciência humana, a qual tem no homem a sua principal variável, que
muda constantemente.

»» A Teoria Econômica divide-se em Macroeconomia e Microeconomia, que possuem


uma série de subdivisões, procurando atender, cada uma com políticas específicas, às
necessidades de indivíduos, empresas e nações.

»» A Economia é a ciência da escassez, que obriga aos agentes considerarem ininterruptamente


as questões do que será produzido e de que maneira, bem como quem será o demandante.

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AULA 1 • CONCEITO DE ECONOMIA

Figura 1. Desejos ilimitados, recursos escassos...

Fonte: <http://outraspalavras.net/posts/cronicas-do-consumismo-a-entrada-de-dezembro/>.

Você já parou para pensar que somos eternamente insatisfeitos? Sim, é verdade! Se você trabalha,
lembre-se de quando ganhou seu primeiro salário. Com certeza, você se sentiu o máximo, com o
poder em suas mãos. Comprou várias coisinhas, mas... com o fim da euforia inicial, certamente
aqueles itens tão festejados foram, aos poucos, perdendo a importância, e você começou a
sonhar com outros produtos. Algum problema? Nenhum para você, mas para a economia, sim,
pois enquanto nossos desejos são ilimitados, os recursos são absolutamente escassos.

É exatamente esse o grande problema que a economia procura resolver e que não é tarefa fácil.
Isso porque se pararmos para pensar, necessidades básicas podem ser resumidas em dois pares
de sapato, duas mudas de roupa, um prato de arroz e feijão e uma casa que não precisa ser nossa,
precisamos apenas ter dinheiro para pagar o aluguel. Assim, nada mais é necessário, o restante
é desejo. E, para o desejo, o céu é o limite.

E os recursos? Esses englobam terra, capital e trabalho. São finitos e, além de nos ajudarem a
realizar nossos desejos, precisam buscar atingir cinco metas básicas da Economia que são:

Alto nível de emprego

Um dos primeiros sinais de que algo está errado é o aumento do desemprego. Maior desemprego
significa menos gente recebendo salários e um consumo menor. Por outro lado, quando se atinge
essa meta, mais pessoas passam a ter uma renda e a comprar mais. Quando o setor produtivo
vende mais, torna-se interessante investir, comprar mais máquinas, mais matérias-primas
para produzir mais. Claro que alguém precisa operar essas máquinas, trabalhar para que mais
produtos sejam colocados no mercado. Então, mais trabalhadores serão necessários, ou seja,
trabalho gera renda, que gera trabalho, que leva ao crescimento.

Nível de preços estável

Preços estáveis contribuem para o equilíbrio da economia que é fundamental para um crescimento
sustentado. Você se imagina fazendo um crediário para os próximos 12 meses se a cada dia

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CONCEITO DE ECONOMIA • AULA 1

ou a cada semana o preço aumenta? Isso é inflação, que pode ser definida como o aumento
sistemático de preços. E, acredite, até 1994 essa era exatamente a situação em que os brasileiros
se encontravam, com preços subindo duas, três vezes ao dia! Impossível planejar qualquer coisa
em longo prazo.

Figura 2.

Fonte: <http://odia.ig.com.br/noticia/economia/2015-03-08/com-alta-da-inflacao-e-necessario-planejar-orcamento-e-
quitar-as-dividas.html>.

Pois é, como vemos na figura, o ano de 2015 começou com os brasileiros tendo de apertar
os cintos, inflação, desemprego. Cenário pessimista, na contramão do que é positivo para a
economia. Quando os preços sobem, a incerteza aumenta também. E a incerteza é inimiga do
investimento, do crescimento. Do ponto de vista pessoal, é bom lembrar que, em momentos
assim, é fundamental planejar a partir do conhecimento de todos os gastos. Além disso,
sintonizar o orçamento doméstico com a atividade econômica, cortando despesas, fugindo dos
gastos desnecessários, não comprometendo a renda com parcelamentos longos e procurando
aposentar o máximo possível o cartão de crédito, pois o que os olhos não veem, o coração não
sente, mas o banco sempre lembra e manda a fatura! Outro ponto é procurar economizar ao
máximo, seja substituindo alimentos mais caros por produtos similares, com preços mais em
conta, e na hora da tentação da compra se perguntar: “eu preciso?”. Agora, se você já estiver

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AULA 1 • CONCEITO DE ECONOMIA

inadimplente, a regra é partir para a renegociação. Os credores sempre preferem receber parcelas
menores que nada. Então, não se esconda, encare-os e proponha valores que você possa pagar!

Eficiência

Aqui estão em jogo dois conceitos: eficiência técnica e eficiência alocativa. A eficiência técnica
busca produzir mais, utilizando menos recursos. Então, quanto menos terra, capital e trabalho
você precisar para produzir um produto, mais eficiente tecnicamente você será. Mas, também é
necessário fazer as escolhas certas, possuir eficiência alocativa. Por exemplo, a sociedade brasileira
encontra-se cada vez mais em processo de envelhecimento, logo, reorientar os produtos, as
cidades, os serviços para essa faixa da população é um exemplo de busca pela eficiência alocativa.
Acertar nas escolhas é um pouco mais complicado. Depende de pesquisa, de investimentos,
de mão de obra qualificada, para sempre procurar produzir bens de valor agregado mais alto e
lucrar mais com isso.

Distribuição equitativa de renda

Veja! Não é distribuição igualitária de renda. Não é todo mundo ganhando a mesma coisa.
Um assistente administrativo não deve ganhar a mesma coisa que um presidente de uma empresa,
mas, de acordo com essa meta, a renda precisa permitir com que aqueles que a recebem tenham
uma vida digna, com acesso a moradia, alimentação e educação de qualidade. Infelizmente,
essa situação não tem sido realidade no Brasil. Segundo a Receita Federal, de 2012 para 2013,
os brasileiros com renda mensal superior a 160 salários mínimos e que corresponde a 0,3% dos
declarantes de IR – concentrou, em 2013, 14% da renda total e 21,7% da riqueza, totalizando
rendimentos de R$ 298 bilhões e patrimônio de R$ 1,2 trilhão. Se adicionarmos a esse grupo
aqueles com renda mensal acima de 80 salários mínimos, chega-se a 208.158 brasileiros (0,8%
dos contribuintes), que respondem, sozinhos, por 30% da riqueza total declarada à Receita.

Crescimento/desenvolvimento

Uma das medidas de crescimento de uma economia é o aumento do PIB, que é o somatório das
riquezas produzidas pelo País. Mas, é fundamental que essa riqueza seja redistribuída entre seus
habitantes, bem como que seja convertida em saúde, educação, segurança, mobilidade urbana.
Quando isso ocorre, diz-se que o país se desenvolveu. Em 2015, entretanto, o Brasil perdeu uma
posição no ranking que mede o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) dos países e ficou
em 75º lugar em 2014, segundo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre 188
países, sendo superado pelo Sri Lanka.

A busca pelo atingimento dessas metas não é tarefa fácil, envolve, como foi dito no início desta
aula, a utilização de recursos que são finitos e cuja dinâmica ajuda a definir a Economia segundo
Paul A. Samuelson, por exemplo, que diz

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CONCEITO DE ECONOMIA • AULA 1

A Economia é a ciência que se preocupa com o estudo das leis econômicas


indicadoras do caminho que deve ser seguido para que seja mantida em nível
elevado a produtividade, melhorado o padrão de vida das populações e empregados
corretamente os recursos escassos.

E segundo Rossetti:

Não houvesse escassez nem necessidade de repartir os bens entre os homens,


não existiriam tampouco sistemas econômicos nem Economia. A Economia
é, fundamentalmente, o estudo da escassez e dos problemas dela decorrentes.

Figura 3.

Fonte: <http://apartamento38.com/dieta-da-maca/>.

Pode-se, ainda, dizer, tranquilamente, que quando nas Sagradas Escrituras Deus, ao expulsar
Adão do paraíso, disse que ele viveria do suor do seu rosto, estava definido o início da Economia,
pois para não morrer de fome, o homem teve de aprender a usar os recursos a seu favor: produzir,
coletar, caçar, gerar trabalho, enfim, transformar os bens da natureza para a sua utilidade,
transformar os recursos disponíveis em riqueza.

E, para equalizar metas, desejos e escassez, a economia formula três questões fundamentais:
o que e quanto, como e para quem produzir, o que não é tarefa das mais fáceis, uma vez que
diferentes variáveis têm impactado as decisões de empresas e da sociedade em geral.

Evolução histórica da Economia

A ciência econômica tem início formalmente em 1776, quando Adam Smith publica, na Inglaterra,
A Riqueza das Nações, neste livro o autor defende a ideia da economia de mercado e o governo
apenas para prover educação e segurança pública para os cidadãos.

A Economia já existia há muito tempo. Aristóteles (384-322 a.C.), foi considerado o primeiro
analista econômico, embora na sua época a Economia fosse considerada como a ciência da
administração da comunidade doméstica.

A palavra economia vem do grego (oikonomia, de oikos = casa, nomos = lei). Tratava-se, pois,
de um ramo do conhecimento destinado a abranger apenas o campo da atividade econômica,

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AULA 1 • CONCEITO DE ECONOMIA

em suas mais simples funções de produção e distribuição. Como a teria definido Aristóteles, a
Economia era “a ciência do abastecimento, que trata da arte da aquisição”.

Da Antiguidade à Renascença, as questões econômicas assumiram gradualmente maior


importância, com o aparecimento de formas de organização mais complexas que as do primitivo
regime de comunidades domésticas. Nesse período, foram abundantemente discutidos os
sistemas da posse territorial, a servidão, a arrecadação tributária, a organização das corporações
de possessores, dos artífices e das fraternidades, a exploração pré-capitalista das fazendas e,
ainda, as questões relacionadas à concessão de mercados, ao comércio inter-regional, às guildas
e à cunhagem e emprego de moedas.

Todavia, as dimensões da Economia só se alargariam no período pós-renascentista, quando o


desenvolvimento dos novos Estados-nações da França, Alemanha, Inglaterra, Espanha e Portugal
e, particularmente, a descoberta da América impuseram a necessidade de a Análise Econômica
se desligar das questões puramente éticas, às quais se mantivera ligada como que por um
cordão umbilical e pelas quais se deixara eclipsar durante longos séculos. Nesse novo período,
os escritores mercantilistas desenvolveriam diversos estudos sobre a administração dos bens e
rendas do Estado, ampliando-se, então, de forma extraordinária, o campo de ação da Economia.

Esse grande salto, porém, não seria definitivo, pois só no século XVIII é que a Economia iria
desenvolver-se e ingressar em sua fase científica. Naquele século, considerado como a Idade
da Razão ou a Época do Iluminismo, os pensadores econômicos procurariam reformular os
princípios fundamentais da Economia. Duas importantes obras foram publicadas, em 1758 e
1776: Tableau Économique, de François Quesnay, e An lnquiry into the Nature and Causes of
the Wedth of Nations, de Adam Smith. A partir das obras desses dois autores – fundadores de
duas importantes escolas econômicas na França e na Inglaterra –, os pensadores econômicos
iriam dedicar-se à descoberta e análise dos princípios, das teorias e das leis que pudessem ser
estabelecidas em cada um dos três grandes compartimentos da atividade econômica: formação,
distribuição e consumo das riquezas.

As definições clássicas da Economia fundamentavam-se, assim, nos três compartimentos básicos


da atividade econômica. Da formação ao consumo das riquezas, passando pela sua distribuição,
toda a atividade econômica haveria de ser cuidadosamente classificada, investigada e submetida
a um coerente e completo conjunto de princípios, teorias e leis. Essa nova concepção indicaria
que as Ciências Econômicas se haviam definitivamente libertado dos padrões pós-renascentistas,
não se subjugando apenas ao atendimento dos objetivos políticos do Estado. A partir das
aberturas liberais desenvolvidas no século XVIII, cuidaria a Economia de penetrar em cada um
dos aspectos da atividade econômica livre, investigando os fatores envolvidos no processo de
formação das riquezas, examinando os aspectos relacionados à sua distribuição e chegando,
afinal, a considerar a etapa última do consumo.

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CONCEITO DE ECONOMIA • AULA 1

No século XIX, à concepção clássica da economia somou-se a abordagem socialista, de inspiração


marxista. O binômio produção-distribuição (entendendo-se distribuição no sentido de processo
repartitivo ou, mais simplesmente, como repartição) foi a base a partir da qual a perspectiva
socialista construiu sua concepção sobre a matéria de que se ocupa a economia.

Na transição dos séculos XIX-XX, uma nova linha conceitual seria proposta por Alfred Marshall,
ilustre professor de Economia em Cambridge, responsável pela chamada síntese neoclássica.
Em seu Principies of Economics, editado em 1890, Marshall centrou sua atenção na constatação de
que o processo econômico visa atender às aspirações humanas e à satisfação de suas necessidades
materiais. Deslocou, assim, para conceitos mais abrangentes, como os de riqueza e bem-estar
social, as questões cruciais da economia. Os pontos fundamentais dessa abordagem estabelecem
que a economia é o estudo dos homens tal como vivem, agem e pensam nos assuntos ordinários
da vida. Mas diz respeito, principalmente, aos motivos que afetam, de modo intenso e constante,
a condução do homem no trato com as questões que interferem em sua riqueza e nas condições
materiais do seu bem-estar.

O despertar dos povos subdesenvolvidos – vale dizer, pela conscientização dos contrastes entre
a opulência e a miséria, fez com que a Economia passasse a ser considerada, na mais simples
das suas definições, como a ciência da escassez.

Definições de Economia

Outras definições podem ser apresentadas:

Richard H. Leftwich
A Economia é o estudo da organização social através da qual os homens satisfazem
suas necessidades de bens e serviços escassos. Assim, embora nem sempre seja
fácil a demarcação das fronteiras que separam a Economia de outras disciplinas
ou campos do conhecimento social, há atualmente concordância geral em relação
ao seu conteúdo principal. Ao se ocupar das condições gerais do bem-estar, o
estudo da Economia inclui a organização social que implica distribuição de
recursos escassos entre necessidades humanas alternativas e uso desses recursos
com a finalidade de satisfazê-las a nível ótimo.

Raymond Barre
A Economia é a ciência voltada para a administração dos escassos recursos das
sociedades humanas: ela estuda as formas assumidas pelo comportamento
humano na disposição onerosa do mundo exterior em decorrência da tensão
existente entre os desejos ilimitados e os meios limitados aos agentes da atividade
econômica.

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AULA 1 • CONCEITO DE ECONOMIA

Divisão do Estudo Econômico

A análise econômica, para fins metodológicos e didáticos, é normalmente dividida em quatro


áreas de estudo:

»» Microeconomia ou Teoria da Formação de Preços.

»» Macroeconomia.

»» Economia Internacional.

»» Desenvolvimento e Crescimento Econômico.

A Teoria Econômica

A Teoria Econômica pode ser dividida em duas partes: microeconomia e macroeconomia. A


primeira estuda o comportamento dos consumidores e das empresas em seus mercados, as
razões que levam os consumidores a comprar mais, ou menos, de determinado produto e a
pagar mais, ou menos, por ele. Estuda também os motivos que levam uma empresa a produzir
maior ou menor quantidade de uma mercadoria e de que forma seus preços são determinados.
Consideram os mercados nos quais as empresas e consumidoras atuam.

Já a macroeconomia é o estudo do comportamento agregado de uma economia, ou seja, das


principais tendências (a partir de processos microeconômicos) da economia no que concerne
principalmente à produção, à geração de renda, ao uso de recursos, ao comportamento dos
preços, e ao comércio exterior. Os objetivos da macroeconomia são principalmente: o crescimento
da produção e consumo, o pleno emprego, a estabilidade de preços, o controle inflacionário e
uma balança comercial favorável. Um conceito fundamental à macroeconomia é o de sistema
econômico, ou seja, uma organização que envolva recursos produtivos.

O objetivo central da teoria econômica é a solução dos problemas econômicos fundamentais.


Da escassez dos recursos ou dos fatores de produção, associa-se às necessidades ilimitadas do
homem, originando problemas econômicos fundamentais:

»» O quê e quanto produzir: dada a escassez de recursos de produção, a sociedade terá de


escolher quais produtos serão produzidos e em que quantidades.

»» Como produzir: a sociedade terá de escolher ainda quais recursos de produção serão
utilizados para a produção de bens e serviços, dado o nível tecnológico existente.

»» Para quem produzir: a sociedade terá também que decidir como seus membros
participarão da distribuição dos resultados de sua produção (demanda, oferta,
determinação de salários, das rendas das terras, dos juros etc.).

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CONCEITO DE ECONOMIA • AULA 1

A Economia busca, com o auxílio, tanto da Macroeconomia quanto da Microeconomia, resolver


essas questões relacionadas à escassez. Uma parte dos Economistas defendem que esses problemas
devem ser solucionados com o auxílio do Estado, outros que apenas o Estado é capaz de solucionar
os males da humanidade. Há ainda outro grupo que defende que o Estado deve se dedicar apenas
a questões como Segurança Pública e Educação Básica, deixado a responsabilidade de fazer a
sociedade desenvolver-se a cargo do livre mercado.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» A Economia trata da questão da escassez e dos problemas dela decorrentes, formulando questões como: O quê? Para quem
produzir? Como produzir?

»» São metas da Economia: alto nível de emprego, nível de preços estável, eficiência, distribuição equitativa de renda e
crescimento/desenvolvimento.

»» A ciência econômica tem início formalmente em 1776, quando Adam Smith publica, na Inglaterra, A Riqueza das Nações,
nesse livro o autor defende a ideia da economia de mercado e o governo apenas para prover educação e segurança pública
para os cidadãos.

»» A análise econômica, para fins metodológicos e didáticos, é normalmente dividida em quatro áreas de estudo:
Microeconomia ou Teoria da Formação de Preços, Macroeconomia, Economia Internacional e Desenvolvimento e
Crescimento Econômico.

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SISTEMAS ECONÔMICOS
AULA
2
Introdução

Nesta nossa segunda aula abordaremos os sistemas econômicos. Sejam eles capitalistas, com
a maximização dos lucros, propriedade privada e concorrência; sejam eles socialistas com a
planificação estatal como ponto fundamental, todos os sistemas possuem estoque de recursos,
unidades de produção e instituições que operam fluxos reais e monetários. Além disso, contam
com agentes de mercado, ou seja, ofertantes e demandantes, os quais podem operar na forma
de concorrência perfeita ou imperfeita. Mas, com terra chegando cada vez mais cedo no cheque
especial, cada vez mais a lógica capitalista precisa de adaptações visando à sustentabilidade
desta e das futuras gerações. Boa leitura!

Objetivos

»» Identificar os estoques de recursos produtivos ou fatores de produção.

»» Compreender a dinâmica das unidades de produção, o conjunto de instituições políticas


e suas respectivas circulações de fatores e de moeda.

»» Compreender a diferença entre a gestão tradicional e a gestão ecocêntrica e sua


necessidade de adoção face à saturação do modelo econômico vigente.

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SISTEMAS ECONÔMICOS • AULA 2

Elementos básicos dos Sistemas Econômicos

A busca pela melhor solução dos problemas centrais da Economia ocorre em sistemas econômicos,
os quais podem ser definidos como a forma política, social e econômica pela qual está organizada
uma sociedade. É composto por pessoas, instituições e envolve a produção, distribuição e
consumo de bens e serviços em uma economia.

Os elementos básicos de um sistema econômico são:

1. Estoques de recursos produtivos ou fatores de produção: recursos humanos (trabalho


e capacidade empresarial), capital, terra, reservas naturais e a tecnologia.

2. Complexo de unidades de produção: constituído pelas empresas.

3. Conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais: que são à base da


organização da sociedade.

Os sistemas econômicos possuem dois tipos de circulação. A primeira, que envolve a circulação
dos fatores de produção em troca de bens e serviços (fluxo real). Já a segunda traz a circulação
de fatores de produção e bens e serviços em troca de moeda (fluxo monetário). O Fluxo Real
descreve o processo produtivo no sistema econômico, em que as famílias fornecem recursos
produtivos às empresas, que, por sua vez, transformam em bens e serviços, que serão consumidos
pelas famílias. Já o Fluxo Monetário descreve o processo de geração de renda, pois as famílias
são remuneradas ao fornecerem recursos produtivos às empresas. Com a renda obtida, pagam
pelos bens e serviços consumidos.

Para entender o funcionamento do sistema econômico, vamos supor uma economia de mercado
que não tenha interferência do governo e não tenha transações com exterior (economia fechada).

Os agentes econômicos são as famílias e as empresas. As famílias são proprietárias de fatores de


produção e os fornecem às empresas, por meio do mercado dos fatores de produção. As empresas,
pela combinação dos fatores de produção, produzem bens e serviços e os fornecem às famílias
por meio do mercado de bens e serviços.

Figura 5. Fluxo Real da Economia.

Mercado de Bens e serviços

Demanda Oferta

Famílias Empresas

Oferta Demanda

Mercado de fatores de produção

Fonte: <unipvirtual.com.br>.

17
AULA 2 • SISTEMAS ECONÔMICOS

No entanto, o fluxo real da economia só se torna possível com a presença da moeda, que é utilizada
para remunerar os fatores de produção e para o pagamento dos bens e serviços.

Desse modo, paralelamente ao fluxo real temos um fluxo monetário da economia.

Figura 6. Fluxo Monetário da Economia.

Pagamento dos bens e serviços

Famílias Empresas

Remuneração dos fatores de produção

Fonte: <unipvirtual.com.br>.

Evolução Histórica
Figura 7.

Fonte: <https://www.timetoast.com/timelines/sistemas-economicos-de-produccion-7825e96e-49a6-48ac-b488-
11222e460f1a>.

Os sistemas econômicos evoluíram junto com a história da humanidade. Começaram a partir dos
sistemas primitivos, a Tradição e a Autoridade, onde havia um caráter hereditário das ocupações e
inexistia um sistema monetário. Posteriormente, tradição e autoridade se fundiram e resultaram
no Feudalismo, que se dividiu em duas fases.

A primeira, caracterizada pelo localismo e autossuficiência e pelo poder da Igreja Católica.


Posteriormente, a partir do século XV, o Feudalismo começou uma segunda fase, na qual os limites
dos Feudos foram ultrapassados, sendo formados os Estado Nacionais, os quais precisavam
enriquecer seus cofres. Começou, então, a busca pela acumulação de riqueza, a qual poderia
acontecer perto ou longe, em terras distantes. Aliás, nesse momento, pode-se dizer que Portugal
inaugura a globalização.

18
SISTEMAS ECONÔMICOS • AULA 2

Figura 8.

Fonte: <http://educador.brasilescola.uol.com.br/estrategias-ensino/compreendendo-mudanca-sociedade-feudal.htm>.

O fim do Feudalismo foi marcado, também, por reformas religiosas, técnicas e científicas.
Houve a valorização do progresso técnico e os Estados Nacionais se sedimentaram. Teve início
um novo sistema, o Mercantilismo e, com ele, o engrandecimento do poder central, o Estado,
o qual comandava todas as áreas, tanto da colônia quanto da metrópole. Seu poder era tão
grande que gerou uma aversão ao controle. Em função disso, em 1776 houve uma mudança de
pensamento. De um lado, na Inglaterra, Adam Smith lançou seu livro A Riqueza das Nações, e,
com ele, o Capitalismo e a ciência econômica, e de outro, os Estados Unidos, proclamaram a
sua independência.

O Capitalismo pregava o lucro e a concorrência a qualquer preço e à custa da exploração dos


trabalhadores, pois ainda não existiam regras que protegessem os trabalhadores. Por conta disso,
Karl Marx, lançou O Capital, em 1867, dando início ao Socialismo. Este, por sua vez, defendia
a planificação global, bem como que os fatores de produção deveriam pertencer à sociedade.

Figura 9.

Fonte: <https://www.youtube.com/watch?v=54YDa4JwoYY>.

19
AULA 2 • SISTEMAS ECONÔMICOS

Capitalismo e Socialismo são os dois sistemas econômicos predominantes e podem ser


caracterizados:

»» Sistema capitalista, ou economia de mercado, é aquele regido pelas forças de mercado,


predominando a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção. É um
sistema caracterizado por crises frequentes que geram inflação, desemprego, falências.
Além disso, também há tendência para a formação de cartéis e monopólios. Para amenizar
os efeitos dessas crises, é crescente a intervenção do Estado na economia.

»» Sistema socialista ou economia centralizada, ou, ainda, economia planificada, é aquele


em que as questões econômicas fundamentais são resolvidas por um órgão central de
planejamento, predominando a propriedade pública dos fatores de produção. O sistema
socialista tem suas doutrinas e movimentos políticos voltados para os interesses dos
trabalhadores, priorizando eliminar as diferenças entre as classes sociais e planificar a
economia.

Sistemas econômicos e sustentabilidade

O Contrato Social, de Rousseau, publicado em 1762, preconizava a soberania da sociedade em


detrimento dos valores individuais. Pode-se dizer que essa visão do coletivo tem se mostrado
cada vez mais necessária nos dias atuais, pois, com o crescimento acelerado das economias, a
demanda da humanidade por recursos naturais em um ano tem excedido, cada vez mais cedo,
a capacidade da Terra de regenerar tais recursos no mesmo período. O Dia da Sobrecarga da
Terra, como é chamado o momento em que a Terra começa a operar no vermelho, ocorreu,
em 2015, no dia 13 de agosto. Muito mais cedo do que em 1970, quando a Terra atingiu sua
capacidade máxima no dia 23 de dezembro. Desde então, a data vem sendo antecipada de
maneira preocupante (3 de novembro em 1980; 4 outubro em 2000; 3 de setembro em 2005
e 28 de agosto em 2010). Se nada for feito, em 2030, a data acontecerá em junho, segundo
previsões dos cientistas.

O fato é que nos tornamos herdeiros de um impasse civilizatório: como desfrutar da vida e, ao
mesmo tempo, viver dentro dos limites do planeta? As tecnologias, as máquinas, os computadores,
o conhecimento científico, são úteis no processo de descoberta de alternativas, mas não são
capazes de “cuidar” do planeta, da natureza e dos seres humanos.

Satisfazer as necessidades das gerações atuais, sem comprometer a capacidade das futuras
gerações de satisfazerem as suas próprias necessidades. Esse é o conceito da sustentabilidade.
A grande questão é que o universo da sustentabilidade engloba questões econômicas, políticas,
sociais e culturais, além de um ambiente equilibrado que seja capaz de vencer a desigualdade
social, trazendo melhores condições de vida para a geração presente e seus descendentes, com
valores pautados na ética e no respeito ao próximo.

20
SISTEMAS ECONÔMICOS • AULA 2

O conceito de sustentabilidade comporta sete aspectos ou dimensões principais, a saber:

»» Sustentabilidade social: melhoria da qualidade de vida da população, equidade na


distribuição de renda e de diminuição das diferenças sociais, com participação e
organização popular;

»» Sustentabilidade econômica: públicos e privados, regularização do fluxo desses


investimentos, compatibilidade entre padrões de produção e consumo, equilíbrio de
balanço de pagamento, acesso à ciência e tecnologia;

»» Sustentabilidade ecológica: o uso dos recursos naturais deve minimizar danos aos
sistemas de sustentação da vida: redução dos resíduos tóxicos e da poluição, reciclagem
de materiais e energia, conservação, tecnologias limpas e de maior eficiência e regras
para uma adequada proteção ambiental;

»» Sustentabilidade cultural; respeito aos diferentes valores entre os povos e incentivo a


processos de mudança que acolham as especificidades locais;

»» Sustentabilidade espacial: equilíbrio entre o rural e o urbano, equilíbrio de migrações,


desconcentração das metrópoles, adoção de práticas agrícolas mais inteligentes e não
agressivas à saúde e ao ambiente, manejo sustentado das florestas e industrialização
descentralizada;

»» Sustentabilidade política: no caso do Brasil, a evolução da democracia representativa para


sistemas descentralizados e participativos, construção de espaços públicos comunitários,
maior autonomia dos governos locais e descentralização da gestão de recursos;

»» Sustentabilidade ambiental: conservação geográfica, equilíbrio de ecossistemas,


erradicação da pobreza e da exclusão, respeito aos direitos humanos e integração social.
Abarca todas as dimensões anteriores por meio de processos complexos.

Sachs, Ignacy. Caminhos para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Garamond, 2000.

Outra visão aborda que a sustentabilidade não pode ser reduzida apenas a uma dimensão social
ou ambiental e, sim, é resultado de uma visão integrada de várias dimensões. A partir dessa visão,
ganha destaque a chamada gestão ecocêntrica, que olha na direção de um novo modelo focando
nas relações humanas entre si e com o ambiente, independentemente dos limites temporais ou
espaciais, diferentemente da visão tradicional que objetiva a maximização dos lucros. O quadro
a seguir mostra as diferenças entre os dois modelos de gestão:

Quadro 1. Gestão tradicional x gestão econcêntrica

Variáveis Gestão tradicional Gestão ecocêntrica


objetivos Crescimento econômico e lucros Sustentabilidade e qualidade de vida.
Riqueza dos acionistas Bem-estar dos interessados

21
AULA 2 • SISTEMAS ECONÔMICOS

Variáveis Gestão tradicional Gestão ecocêntrica


Valores Antropocêntrico Ecocêntrico
Conhecimento racional e “pronto Compreensão das reais necessidades
para uso” dos indivíduos e da sociedade

Produtos Voltados para atender aos desejos Desenhados para o ambiente


dos consumidores
Embalagens não agressivas ao
Desperdício nas embalagens ambiente

Sistemas de Intensivos em energia e recursos Baixo uso de energia e recursos


produção
Eficiência técnica Eficiência ambiental

Organização Estrutura hierárquica Estrutura não hierárquica


Processo decisório autoritário Processo decisório participativo
Autoridade centralizada Autoridade descentralizada

Ambiente Dominação sobre a natureza Harmonia com a natureza


Ambiente gerenciado como recurso Recursos entendidos como finitos
Poluição é externalidade Eliminação/gestão da poluição

Funções de Marketing age para aumento do Marketing age para a educação do


Negócios consumo ato de consumo
Finanças atuam para a maximização Finanças atuam para o crescimento
dos lucros sustentável de longo prazo
Contabilidade dedica-se aos custos Contabilidade focaliza os custos
convencionais ambientais
Gestão de Recursos Humanos Gestão de Recursos Humanos
voltada para o aumento da dedica-se a tornar o trabalho
produtividade no trabalho significativo e o ambiente seguro e
saudável para o trabalho

Fonte: ASHLEY, Patrícia. Ética e Responsabilidade Social nos Negócios, 2002.

No contexto atual, se, por um lado, a inovação é considerada um processo irreversível pelo grau
de conhecimento técnico-científico alcançado pela humanidade, por outro, o apreço desmedido
pelo consumo de “novidades”, um comportamento típico do homem contemporâneo, está se
transformando em uma doença cada vez mais comum entre os indivíduos de nosso tempo – a
oneomania (ou compulsão pelo consumo).

Em um cenário de crescimento econômico e ascensão de mais da metade dos


cidadãos brasileiros à classe média, o Brasil se depara com a oportunidade
histórica de delinear um novo padrão de desenvolvimento. Os padrões de
consumo observados nos países de primeira industrialização mostraram-se
predatórios e insustentáveis, avançando sobre os recursos naturais em seu
território e fora dele. O estímulo ao consumo excessivo e a pouca preocupação
em ofertar tecnologias e produtos menos nocivos ao meio ambiente agravaram
problemas globais, como as mudanças climáticas, a poluição dos oceanos e a
geração de lixo. (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2014)

22
SISTEMAS ECONÔMICOS • AULA 2

A Agenda 21 e os Objetivos de Desenvolvimento do


Milênio (ODM)

A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio
de Janeiro em junho de 1992 (a Rio 92) foi o grande marco para o desenvolvimento sustentável
e na qual foi concebida a Agenda 21, um plano de ação mundial para orientar a transformação
desenvolvimentista, identificando, em 40 capítulos, 115 áreas de ação prioritária.

Dentre alguns dos focos discriminados na Agenda 21, pode-se destacar: cooperação internacional,
combate à pobreza, mudança dos padrões de consumo, habitação adequada, integração entre meio
ambiente e desenvolvimento na tomada de decisões, proteção da atmosfera, abordagem integrada
do planejamento e do gerenciamento dos recursos terrestres, combate ao desflorestamento, manejo
de ecossistemas frágeis, luta contra a desertificação e a seca, promoção do desenvolvimento
rural e agrícola sustentável, conservação da diversidade biológica, manejo ambientalmente
saudável dos resíduos sólidos e questões relacionadas com os esgotos, fortalecimento do papel
das organizações não governamentais, fortalecimento do papel dos agricultores, transferência
de tecnologia ambientalmente saudável, cooperação e fortalecimento institucional, a ciência
para o desenvolvimento sustentável, promoção do ensino, da conscientização e do treinamento.

Em 2015, a ONU obteve em Paris um novo compromisso intitulado Objetivos de Desenvolvimento


Sustentável (ODS) com um total de 17 objetivos e 169 metas sobre questões de desenvolvimento
sustentável:

»» ODS1. Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;

»» ODS2. Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar, melhorar a nutrição, e


promover a agricultura sustentável;

»» ODS3. Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as
idades;

»» ODS4. Garantir educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades


de aprendizado ao longo da vida para todos;

»» ODS5. Alcançar igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;

»» ODS6. Garantir disponibilidade e manejo sustentável da água e saneamento para todos;

»» ODS7. Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e moderna para todos;

»» ODS8. Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego


pleno e produtivo, e trabalho decente para todos;

»» ODS9. Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e


sustentável, e fomentar a inovação;

23
AULA 2 • SISTEMAS ECONÔMICOS

»» ODS10. Reduzir a desigualdade entre os países e dentro deles;

»» ODS11. Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes


e sustentáveis;

»» ODS12. Assegurar padrões de consumo e produção sustentáveis;

»» ODS13. Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos;*
*Reconhecendo que a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima
(CQNUMC) é o principal fórum internacional e intergovernamental para negociar a
resposta global à mudança do clima.

»» ODS14. Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos
para o desenvolvimento sustentável;

»» ODS15. Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres,


gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, bem como deter e
reverter a degradação do solo e a perda de biodiversidade;

»» ODS16. Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável,


proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis
e inclusivas em todos os níveis;

»» ODS17. Fortalecer os mecanismos de implementação e revitalizar a parceria global para


o desenvolvimento sustentável.

(Publicado originalmente no EcoD, via PNUD com informações do UN News Centre).


Fonte: www.akatu.org.br.

No contexto atual, as esferas da vida social e individual se organizam em função da lógica do


consumo. Se a primeira e a segunda fase da modernidade produziram o consumidor moderno,
a última consolida o domínio ilimitado do consumo como lógica social, nada parece escapar ao
seu domínio. Mas será que na era do consumo emocional a motivação consumista é totalmente
hegemônica, capaz de tudo absorver e reciclar segundo sua própria racionalidade? Será que
dispomos de atores e domínios sociais capazes de escapar à esfera exclusiva do lucro e do
consumo pelo consumo?

Encontrar respostas para essas questões se faz urgente, o futuro da sociedade contemporânea
depende cada vez mais da capacidade de fazer a ética da responsabilidade triunfar sobre os
comportamentos irresponsáveis, mas, para isso, é preciso a consciência de que tais comportamentos
não irão desaparecer sozinhos, por terem sido inscritos na lógica social de nosso tempo.

Será preciso conceber um processo de alfabetização ecológica, disposição para rever hábitos de
consumo e, acima de tudo, comprometimento para desenvolver uma ética de cuidado com o
planeta no qual vivemos e única garantia de nossa permanência no mundo.

24
SISTEMAS ECONÔMICOS • AULA 2

É urgente sobrevivermos ao ridículo do mundo contemporâneo. E para sobreviver a ele, devemos


desprezá-lo de alguma forma (...). A verdadeira sabedoria passa, em algum momento, pelo
desprezo do mundo a sua volta. Em mil anos seremos esquecidos. Nossa época não ocupará
mais do que um parágrafo nos livros de História no futuro. Passarão da bomba atômica (...)
para as grandes trevas do final do século XXI, causadas por nossas manias com saúde, luxo,
alimentação, sexualidade, liberdade e narcisismo. A Idade Média perderá seu título de era das
trevas e nós receberemos essa maldição. Lembrar-se-ão de nós como mimados, ressentidos e
covardes. (...) Ouvirão falar vagamente de nossas redes sociais e de nossa crença em seu potencial
revolucionário (...). Levarão mais a sério os gregos, os romanos e hebreus, porque verão neles
povos que buscavam o conhecimento, e não suas próprias imagens no rosto do universo.
Uma agenda para o contemporâneo é um ato de coragem. Sua missão é nos fazer ver quem
somos numa época afogada em narcisismo. (PONDÉ, 2014, p. 17-20)

Nesse ponto torna-se importante pontuar algumas informações essenciais sobre o consumo
consciente. A humanidade já consome 30% mais de recursos naturais do que a capacidade de
renovação da terra, segundo informações publicadas na página do Ministério do Meio Ambiente,
se o padrão atual de consumo e produção for mantido, em menos de 50 anos precisaremos de
dois planetas para atender às necessidades de água, energia e alimentos.

Esse é um dado crítico, principalmente se observamos que até mesmo no caso dos países mais
desenvolvidos, como os EUA (cuja cultura influencia o modo de ser, pensar e sentir de muitos
brasileiros), a banalização do consumo, resultante do encorajamento para que as pessoas
consumam mais do que necessitam, tem sido questionada em função dos diversos efeitos
negativos que vão desde a obesidade infantil até o estresse familiar, quando o responsável pelo
sustento da família é obrigado a negar aos apelos consumistas de um dos membros, gerando
frustração que, não raro, deixa um rastro de brigas, conflitos e desentendimentos que minam a
solidariedade e os afetos dos envolvidos na disputa.

“Fala-se muito em sonho de consumo. Estamos imersos numa cultura consumista, com a promessa
de que, quanto mais compras eu fizer e mais coisas eu tiver, mais feliz serei” (TRIGUEIRO, 2012,
p. 27). Em termos globais, o consumo não consciente consiste no consumo acima da capacidade
de renovação dos recursos naturais, na compra por impulso e desprovida da reflexão sobre o ato
da compra, do uso ou descarte de produtos ou serviços.

Segundo Trigueiro (2012), não se trata simplesmente de dizer para as pessoas que parem de
comprar, pois é sabido que o consumo faz parte da vida (consumir água, energia, alimentos,
roupa, lazer e cultura), mas de promover uma reflexão sobre as consequências do consumo.
Repensar o que realmente é importante e priorizar as coisas importantes. Em outras palavras,
o discurso do consumo consciente tem por objetivo promover a reflexão e conscientização,
sobre os impactos que o consumo terá sobre a sociedade, o meio ambiente e sobre o próprio
consumidor.

25
AULA 2 • SISTEMAS ECONÔMICOS

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Nesta aula, foram apresentadas as principais características de Sistemas Econômicos, que passaram pelo Feudalismo,
Mercantilismo, Socialismo e Capitalismo. Esses sistemas, independentemente de questões sociopolíticas possuem
conjuntos de instituições e agentes que operam trocando entre si terra, capital e trabalho e moeda.

»» Os elementos básicos de um sistema econômico são: estoques de recursos produtivos ou fatores de produção, complexo
de unidades de produção e conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais.

»» Os sistemas econômicos possuem dois tipos de circulação. A primeira, que envolve a circulação dos fatores de produção
em troca de bens e serviços (fluxo real). Já a segunda, traz a circulação de fatores de produção e bens e serviços em troca de
moeda (fluxo monetário).

»» A chamada gestão ecocêntrica, que olha na direção de um novo modelo focando nas relações humanas entre si e com
o ambiente, independentemente dos limites temporais ou espaciais, diferentemente da visão tradicional que objetiva a
maximização dos lucros.

26
SISTEMAS ECONÔMICOS • AULA 2

MICROECONOMIA
AULA
3
Introdução

A Teoria Econômica divide-se em dois eixos fundamentais: a Microeconomia e a Macroeconomia.


Nesta terceira aula, serão apresentados os conceitos relativos à análise microeconômica, que
traz a visão empresarial e do consumidor dentro dos mercados. Serão também abordados os
conceitos de mercado e de concorrência, tanto perfeita quanto imperfeita. Cabe ressaltar que o
mercado prescinde de uma localização específica. Ele existe quando compradores e vendedores
interagem para comprar e vender um produto específico. Boa leitura!

Objetivos

»» Compreender como funciona o sistema de mercado.

»» Determinar o que é oferta.

»» Determinar o que é demanda.

»» Explicar como a oferta e a demanda determinam o preço.

»» Compreender a diferença entre concorrência perfeita e imperfeita.

27
AULA 3 • MICROECONOMIA

O que é Microeconomia?

A Microeconomia é definida como um problema de alocação de recursos escassos em relação


a uma série possível de fins. As famílias são consideradas fornecedores de trabalho e capital,
e demandantes de bens de consumo. As firmas são consideradas demandantes de trabalho e
fatores de produção e fornecedoras de produtos.

Os consumidores maximizam a utilidade a partir de um orçamento determinado. As firmas


maximizam lucro a partir de custos e receitas possíveis.

A Microeconomia procura analisar o mercado e outros tipos de mecanismos que estabelecem


preços relativos entre os produtos e serviços, alocando de modos alternativos os recursos dos
quais dispõem determinados indivíduos organizados numa sociedade. Divide-se em:

»» Teoria do consumidor: estuda as preferências do consumidor, analisando o seu


comportamento, as suas escolhas, as restrições quanto a valores e à demanda de mercado.
A partir dessa teoria se determina a curva de demanda.

»» Teoria da firma: estuda a estrutura econômica de organizações cujo objetivo é maximizar


lucros. Organizações que, para isso, compram fatores de produção e vendem o produto
desses fatores de produção para os consumidores. Estuda estruturas de mercado tanto
competitivas quanto monopolísticas. A partir dessa teoria se determina a curva de oferta.

»» Teoria da produção: estuda o processo de transformação de fatores adquiridos pela


empresa em produtos finais para a venda no mercado. Estuda as relações entre as
variações dos fatores de produção e suas consequências no produto final. Determina
as curvas de custo, que são utilizadas pelas firmas para determinar o volume ótimo de
oferta.

Pressupostos básicos da análise microeconômica


»» Hipótese coeteris paribus (tudo o mais permanece constante): o foco de estudo é
dirigido apenas àquele mercado, analisando o papel que a oferta e a demanda nele
exercem, supondo que outras variáveis interfiram muito pouco, ou que não interfiram
de maneira absoluta.

»» Papel dos preços relativos: são mais relevantes os preços relativos, isto é, os preços dos
bens em relação aos demais, do que os preços absolutos (isolados) das mercadorias.

»» Princípio da racionalidade: os empresários tentam sempre maximizar lucros


condicionados pelos custos de produção, os consumidores procuram maximizar sua
satisfação no consumo de bens e serviços (limitados por sua renda e pelos preços das
mercadorias).

28
MICROECONOMIA • AULA 3

Para as empresas, a análise microeconômica pode subsidiar as seguintes decisões:

»» Políticas de preços da empresa.

»» Previsão de demanda e faturamento.

»» Previsão de custos de produção.

»» Decisões ótimas de produção (melhor combinação dos custos de produção).

»» Avaliação e elaboração de projetos de investimentos (análise custo/benefício).

»» Política de propaganda e publicidade.

»» Localização da empresa.

Em relação à política econômica, pode contribuir na análise e tomada de decisões das seguintes
questões:

»» Efeitos de impostos sobre mercados específicos.

»» Política de subsídios.

»» Fixação de preços mínimos na agricultura.

»» Controle de preços

»» Política salarial.

»» Políticas de tarifas públicas. (água, luz etc.).

Os estudos microeconômicos visam atingir o equilíbrio geral que leva em conta as inter-relações
entre todos os mercados, procurando analisar se o comportamento, independente de cada
agente econômico, conduz todos a uma posição de equilíbrio global, embora todos sejam, na
realidade, interdependentes.

Os agentes de mercado: oferta e demanda

A Microeconomia parte dos agentes de mercado, ou seja, dos ofertantes e demandantes.

»» Demanda: quantidade de bem ou serviço procurada pelo consumidor, a certo preço,


em determinado período de tempo. A demanda é inversamente proporcional ao preço,
ou seja, quanto maior este for, menor será o desejo de consumo.

»» Oferta: quantidade de bem ou serviço oferecida pelo produtor/vendedor, a certo preço,


em determinado período de tempo. A oferta é diretamente proporcional ao preço, ou
seja, quanto maior este for, maior será o desejo de vender.

29
AULA 3 • MICROECONOMIA

Demanda de Mercado

Conforme foi descrito anteriormente, a demanda ou procura pode ser definida como a quantidade
de determinado bem ou serviço que os consumidores desejam adquirir em determinado período
de tempo.

A procura depende de variáveis que influenciam a escolha do consumidor. São elas: renda, gostos,
preços dos bens ou serviços afins, expectativas de consumidores e número de compradores.

Há uma relação inversamente proporcional entre a quantidade procurada e o preço do bem. É


a chamada Lei Geral da Demanda. Essa relação pode ser observada a partir dos conceitos de
escala de procura, curva de procura ou função demanda.

A relação preço/quantidade procurada pode ser representada por uma escala de procura,
conforme apresentada a seguir:
Tabela 1.

Preço ($) Quantidade Demandada


1,00 12.000

3,00 8.000

6,00 4.000

8,00 3.000

10,00 2.000

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

A curva da demanda é negativamente inclinada devido ao efeito conjunto de dois fatores: o efeito
substituição e o efeito renda. Se o preço de um bem aumenta, a queda da quantidade demandada
será provocada por esses dois efeitos somados:

»» Efeito substituição: se um bem possui um substituto, ou seja, outro bem similar que
satisfaça a mesma necessidade, quando seu preço aumenta, o consumidor passa adquirir
o bem substituto, reduzindo, assim, sua demanda. Exemplo: Fósforo.

Figura 10. Demanda.


DEMANDA
12

10

6
Preço

0
2000 3000 4000 8000 12000
Quantidade

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

30
MICROECONOMIA • AULA 3

»» Efeito renda: quando aumenta o preço de um bem, o consumidor perde o poder


aquisitivo, e a demanda por esse produto diminui.

A procura de uma mercadoria não é influenciada apenas por seu preço. Existem outras variáveis
que também afetam a procura. Quando há um aumento da renda, o consumidor tende a
substituir suas compras por outros produtos de maior valor agregado. Por exemplo, diminuirá
o consumo de carne de segunda, e aumentará o consumo da carne de primeira. Influencia
também a demanda se o consumidor possui uma renda permanente, como aposentadorias
ou, também, quando há variações nas taxas de juros. Quando essas caem, o dinheiro fica mais
barato e logo há um acesso maior ao crédito. Há, também, a questão dos bens relacionados.
Esses podem ser substitutos ou complementares. No caso dos substitutos, temos, por exemplo,
as frutas. Quando o preço da maçã sobe, tendemos a comprar outras frutas que estejam mais
baratas. Bens complementares são aqueles em que um depende do outro. Por exemplo, se o
preço do cartucho de determinado tipo de impressora aumentar, a tendência será diminuir a
aquisição desse tipo de equipamento.

Oferta de Mercado

A oferta consiste nas várias quantidades que os produtores desejam oferecer ao mercado em
determinado período de tempo. Da mesma maneira que a demanda, a oferta depende de vários
fatores; dentre eles, de seu próprio preço, dos demais preços, dos preços dos fatores de produção,
das preferências do empresário e da tecnologia.

Diferentemente da função demanda, a função de oferta mostra uma correlação direta entre a
quantidade ofertada e nível de preços. É a chamada Lei Geral da Oferta.

Podemos expressar uma escala de oferta de um bem X, ou seja, dada uma série de preços, quais
seriam as quantidades ofertadas a cada preço:

Tabela 2.

Preço ($) Quantidade Ofertada

1,00 2.000
3,00 3.000
6,00 4.000
8,00 8.000
10,00 12.000

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

31
AULA 3 • MICROECONOMIA

Figura 11. Oferta.


OFERTA
12

10

Preço
6

0
1000 3000 4000 11000 13000
Quantidade

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

Equilíbrio de Mercado

A interação das curvas de demanda e de oferta determina o preço e a quantidade de equilíbrio


de um bem ou serviço em dado mercado. Veja o quadro a seguir representativo da oferta e da
demanda do bem X:
Tabela 3.

Quantidade
Preço Situação de Mercado
Procurada Ofertada
1,00 12 1 Excesso de procura (escassez de oferta)

3,00 8 3 Excesso de procura (escassez de oferta)

6,00 4 4 Equilíbrio entre oferta e procura

8,00 3 11 Excesso de oferta (escassez de procura)

10,00 2 13 Excesso de oferta (escassez de procura)

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

Figura 12. Equilíbrio.


EQUILÍBRIO
12

10

8
Preço

0
1000 3000 4000 11000 13000
Quantidade

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

Como se observa na tabela, existe equilíbrio entre oferta e demanda do bem X, quando o preço
é igual a 6,00 unidades monetárias.

32
MICROECONOMIA • AULA 3

Estruturas de mercado

Foram estudadas anteriormente quais variáveis afetam a demanda e a oferta de bens e serviços,
e como são determinados os preços, supondo sem interferências, o mercado automaticamente
encontra seu equilíbrio. Implicitamente, estava sendo suposta uma estrutura específica de
mercado, qual seja, a de concorrência perfeita.

As várias formas ou estruturas de mercados dependem fundamentalmente de três características:

»» número de empresas que compõem esse mercado;

»» tipo do produto (se as firmas fabricam produtos idênticos ou diferenciados);

»» se existem ou não barreiras ao acesso de novas empresas nesse mercado.

Concorrência pura ou perfeita


Figura 13.

Fonte: <http://empreendedorx.com.br/brasil-e-empreendedorismo/analisar-redes-sociais-da-concorrencia.>.

É um tipo de mercado em que há grande número de vendedores (empresas), de tal sorte uma
empresa, isoladamente, por ser insignificante, não afeta os níveis de oferta do mercado e,
consequentemente, o preço de equilíbrio.

Nesse tipo de mercado ainda existem as seguintes características: não existe diferenciação entre
os produtos ofertados pelas empresas concorrentes, não existem barreiras para o ingresso de
empresas no mercado e todas as informações sobre lucros e preços são conhecidas por todos
os participantes do mercado.

Concorrência Imperfeita
Figura 14.

Fonte: <http://www.doctorfit.com.br/noticias/capitulo-2-santa-concorrencia>.

33
AULA 3 • MICROECONOMIA

Ocorre quando um dos agentes (ofertante ou demandante) tem o poder de determinar o preço
de um bem. Nesse caso, diz-se que esse agente possui o poder de mercado. Existem quatro tipos
diferentes de concorrência imperfeita. Do lado da oferta há o monopólio e o oligopólio. Do lado
da demanda o monopsônio e o oligopsônio.

Monopólio

O mercado monopolista caracteriza-se por apresentar condições opostas às da concorrência


perfeita. Nele existe, de um lado, uma única empresa, dominando inteiramente a oferta e, de
outro, todos os consumidores. Não há, portanto, concorrência, nem produto substituto ou
concorrente. Nesse caso, ou os consumidores se submetem às condições impostas pelo vendedor,
ou simplesmente deixaram de consumir o produto.

Para a existência de monopólios, deve haver barreiras que praticamente impeçam a entrada
de novas firmas no mercado. Essas barreiras podem advir das seguintes condições: monopólio
puro, elevado volume de capital, patente e controle de matérias-primas básicas, existem, ainda,
os monopólios institucionais ou estatais em setores considerados estratégicos ou de segurança
nacional (petróleo, energia, comunicação).

Oligopólio

É um tipo de estrutura normalmente caracterizada por um pequeno número de empresas que


dominam a oferta de mercado. Pode caracterizar-se como um mercado em que há um pequeno
número de empresas, como a indústria automobilística, ou, então, onde há um grande número
de empresas, mas poucas dominam o mercado, como a indústria de bebidas.

O setor produtivo no Brasil é altamente oligopolizado, sendo possível encontrar inúmeros exemplos:
montadoras de veículos, setor de cosméticos, indústria de papel, indústria farmacêutica etc.

Nos oligopólios, tanto as quantidades ofertadas quanto os preços são fixados entre as empresas
por meio de cartéis. O cartel é uma organização formal ou informal de produtores dentro de um
setor que determina a política de preços para todas as empresas que a ele pertencem.

Monopsônio

Trata-se de uma forma de mercado na qual há somente um comprador para muitos vendedores
dos serviços dos insumos. É o caso da empresa que se instala em determinada cidade do interior
e, por ser a única, torna-se demandante exclusiva da mão de obra local e das cidades próximas,
tendo para si a totalidade da oferta de mão de obra.

Oligopsônio

É um mercado em que existem poucos compradores que dominam o mercado para muitos
vendedores. Exemplo: indústria de laticínios. Em cada cidade existem dois ou três laticínios que

34
MICROECONOMIA • AULA 3

adquirem a maior parte do leite dos inúmeros produtores rurais locais. A indústria automobilística,
além de oligopolista no mercado de bens e serviços, também é oligopsonista na compra de
autopeças.

Quadro 2. Principais Características das Estruturas Básicas de Mercado.

Característica Concorrência perfeita Monopólio Oligopólio


1. Quanto ao número de Muito grande Só há uma empresa Pequeno
empresas

2. Quanto ao produto Homogêneo. Não há Não há substitutos Pode ser homogêneo ou


diferenças próximos diferenciado

3. Quanto ao controle das Não há possibilidade de As empresas têm grande Embora dificultado pela
empresas sobre os preços manobras pelas empresas poder para manter preços interdependência entre as
relativamente elevados empresas, estas tendem a
formar cartéis

4. Quanto à concorrência Não é possível A empresa geralmente É intensa, sobretudo


extrapreço recorre a campanhas quando há diferenciação
Nem seria eficaz
institucionais do produto

5. Quanto às condições de Não há barreiras Barreiras de acesso de Barreiras de acesso de


ingresso no mercado novas empresas novas empresas

Fonte: Elaboração da própria autora, 2016.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Nesta aula, foram apresentadas as principais questões referentes aos mercados, seus agentes e sistemas de operação.
Foi demonstrado que em um mercado livre, ou seja, sem interferência dos governos, os consumidores decidem o que
será produzido. Quando há alguma mudança nas preferências dos consumidores, os produtores precisam alocar os
recursos para oferecer aquilo que os consumidores desejam e podem comprar. Essa situação é oposta aos mercados em
concorrência imperfeita em que um dos agentes determina o comportamento de uma imensa maioria, a qual tem de se
adaptar às diretrizes estabelecidas por esses agentes dominantes.

»» A Microeconomia procura analisar o mercado e outros tipos de mecanismos que estabelecem preços relativos entre os
produtos e serviços, alocando de modos alternativos os recursos dos quais dispõem determinados indivíduos organizados
numa sociedade.

»» Existem dois tipos de concorrência. O primeiro é a concorrência perfeita, em que nenhum dos agentes tem o chamado
poder de mercado ou poder de determinar o preço. Já na concorrência imperfeita, um grupo pequeno, de ofertantes ou
demandantes, determina o valor a ser pago, constituindo uma relação desigual.

35
MACROECONOMIA
AULA
4
Introdução

Nesta aula será estudada a Macroeconomia, que considera, para a formulação das políticas
econômicas o comportamento da economia em seu conjunto. A unidade de referência é o todo e
não suas partes individualizadas.Também serão estudados alguns indicadores macroeconômicos
que permitem avaliar o desempenho totalizado da economia, os quais auxiliam os governos para
encontrar as causas e os mecanismos corretivos das grandes flutuações conjunturais, os altos e
baixos da economia como um todo. Boas leituras!

Objetivos

»» O que é oferta agregada.

»» O que é demanda agregada.

»» As diferenças entre Renda Nacional, Produto Interno Bruto e Produto Nacional Bruto.

»» As ações utilizadas para a implementação das políticas econômicas.

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MACROECONOMIA • AULA 4

O que é Macroeconomia?

A macroeconomia preocupa-se com o conjunto de decisões de todos os agentes econômicos,


que se refletirá em maior ou menor produção e nível de emprego. Inflação, taxa de juros, taxa de
câmbio, nível de emprego global, crescimento econômico são objetos da análise macroeconômica.
Estuda, também, as decisões tomadas pelo formulador de política econômica do País.

Estuda a realidade econômica de forma global. Ela se preocupa com a relação entre os agentes
econômicos e o funcionamento da economia em seu conjunto. Procura obter uma visão
simplificada da economia, utilizando um número reduzido de variáveis, como: produto agregado;
demanda agregada; consumo; emprego; investimento; nível geral de preços; equilíbrio geral;
crescimento econômico etc.

A Análise Macroeconômica foi particularmente desenvolvida após a publicação, em 1936, da


principal obra de J. M. Keynes (1883-1946), The general theory of employment, interest and
money1. Essa obra é de enorme significado histórico, pode ser considerada, de um lado, fruto dos
difíceis anos da Grande Depressão, e de outro, da incapacidade revelada pela Microeconomia
clássica e neoclássica para solucionar os problemas macroeconômicos do desemprego em massa.

A Macroeconomia está voltada, fundamentalmente, para:

»» O comportamento da economia em seu conjunto, agregadamente considerado. A unidade


de referência é o todo e não suas partes individualizadas.

»» O desempenho totalizado da economia. As causas e os mecanismos corretivos das


grandes flutuações conjunturais. Os altos e baixos da economia como um todo etc.

Assim sendo, a Macroeconomia ocupa-se, basicamente, de garantir a manutenção do pleno


emprego dos recursos disponíveis dos sistemas econômicos, eliminando todos os possíveis focos
de subemprego ou de desemprego generalizado; ocupa-se, ainda, das condições necessárias
ao desenvolvimento econômico, bem como de seu significado, custos e benefícios; finalmente,
ocupa-se, também, das questões relacionadas à inflação, procurando determinar as causas e os
efeitos das elevações gerais dos níveis de preços como um todo.

Oferta Agregada

Consiste na quantidade total de bens e serviços que as empresas de um país estão dispostas a
produzir e a vender num dado período. É dependente do nível de preços, da capacidade produtiva
e dos custos a suportar pela economia.

A Oferta Agregada representa o que as empresas, no seu conjunto, estão dispostas a produzir e a
vender para cada nível geral de preços, assumindo como constantes todas as restantes variáveis
1 Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda.

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AULA 4 • MACROECONOMIA

determinantes da oferta agregada, tais com as tecnologias disponíveis e as quantidades e preços


dos fatores produtivos. Conjugada com a procura agregada, a oferta agregada permite encontrar
o equilíbrio macroeconômico.

Demanda Agregada

A Demanda Agregada corresponde à totalidade da despesa desejada pelo conjunto dos agentes
econômicos (famílias, empresas, Estado e exterior) para um determinado nível de preços,
mantendo-se constantes outros fatores, tais como a política orçamentária, a oferta de moeda, a
disponibilidade de capital, entre outras, e tem quatro componentes:

»» Consumo: consiste nas despesas de consumo das famílias, o qual é determinado, além
dos preços, pelo rendimento disponível, pelas tendências demográficas e pela riqueza
acumulada;

»» Investimento: corresponde às despesas realizadas pelas empresas em equipamentos


e instalações, as quais são determinadas em grande medida pelo custo dos fatores
produtivos, pela evolução da economia e pelas expectativas dos empresários;

»» Gastos do Governo (ou despesa pública): referem-se às despesas realizadas pelo Estado
com a aquisição de bens e serviços, sendo determinada diretamente por este, constituindo,
por isso, um importante instrumento de política econômica;

»» Exportações líquidas: correspondem às exportações subtraídas das importações; no


caso das importações, estas são determinadas pelos mesmos fatores que determinam
o consumo, o investimento e os gastos do Estado e, ainda, pela relação entre os preços
internos e os preços externos e pela taxa de câmbio do país; quanto às importações,
estas são determinadas pelo rendimento dos outros países e também pela relação entre
os preços internos e externos e pelas taxas de câmbio.

Política econômica

A esta altura na nossa trajetória, você deve estar se perguntando como, então, o governo faz
tudo funcionar, como ele atua na prática, como ele faz uma imensa engrenagem como o nosso
Brasil de magnitude continental funcionar. Essas ações governamentais, planejadas no sentido
de garantir estabilidade, eficiência, crescimento e desenvolvimento recebem o nome de política
econômica, que é executada pelo próprio governo e pelo Banco Central. 

A política econômica é determinada por um conjunto de medidas governamentais, que atuam


sobre a Economia do País. Consiste na determinação dos setores ou polos econômicos, que
prioritariamente devem ser impulsionados e desenvolvidos, mediante apoio técnico, financeiro
ou fiscal. Como não é possível atuar de forma efetiva em todos os campos da Economia, o
governo deve priorizar determinados setores que mais necessitam da ação do Estado e canalizar

38
MACROECONOMIA • AULA 4

recursos orçamentários para apoiar uma ação, que deve ser minuciosamente estudada para que
os recursos sejam aplicados de forma eficiente e eficaz.

Vamos recordar que as principais metas das políticas econômicas são:

»» Alto nível de emprego;

»» Estabilidade de preços;

»» Eficiência;

»» Distribuição de renda socialmente justa;

»» Crescimento econômico.

Para que essas metas sejam atingidas, o governo adota alguns instrumentos de políticas
econômicas, as quais têm como última função a de estabilizar/controlar os grandes agregados
macroeconômicos. A política econômica envolve a atuação do governo sobre a capacidade
produtiva (oferta agregada) e despesas planejadas (demanda agregada), com o objetivo de permitir
que a economia opere em pleno emprego, com baixa taxa de inflação e uma distribuição justa
de renda. Dentro dessa função do setor público, os principais agregados econômicos são: taxa
de juros, crescimento econômico, nível de preços, taxa de desemprego e taxa de câmbio.

Assim, para que esses objetivos do setor público sejam alcançados de forma eficaz, o governo
utiliza-se de um conjunto de políticas e instrumentos econômicos destacados a seguir.

Política monetária

A política monetária tem como objetivo controlar a oferta de moeda na economia. Determinar
a quantidade de moeda (dinheiro) na economia é função do Conselho Monetário Nacional
(CMN), com participação do Banco Central do Brasil (Bacen). Ao determinar a quantidade de
dinheiro, tem-se a formação da taxa de juros, ou seja, a taxa de juro pode ser simplificadamente
interpretada como o preço do dinheiro.

O que é moeda?

Deparamo-nos todos os dias com questões que envolvem moedas. Para iniciarmos o nosso
estudo sobre moeda, vamos voltar um pouco na história por meio do Texto apresentado no livro
Moeda, de onde veio para onde foi (GALBRAITH, 1997, p. 5).

Selecionamos alguns autores renomados para entendermos o conceito de moeda:

Moeda é a representação concreta do dinheiro. Consiste numa terceira mercadoria, convencional


e representativa do valor de troca dos bens e mercadorias, destinando-se a decompor a troca em
compra e venda. (GASTALDI, 2000, p. 227).

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AULA 4 • MACROECONOMIA

De acordo com o Dicionário de Economia, a moeda é um signo de valor. A mais antiga representação
do dinheiro, muitas vezes empregada como sinônimo. (SANDRONI, 1999)

Uma moeda corrente, ou dinheiro, pode ser qualquer coisa em que as pessoas confiam e que
utilizam como meio de realizar comércio ou trocas. (SPARROWE, 2003, p. 61)

De acordo com Sparrowe (2003) as primeiras moedas padronizadas podem ter sido pequenos
pedaços de eletro, um liga natural de ouro ou prata utilizada na Lídia, atual Turquia, em 600
a.C. O rei da Lídia garantia a uniformidade dos pedaços por meio da autorização da impressão
de um desenho de cada um. Como vimos no texto anterior, ao longo da história, muitos outros
meios foram utilizados.

Para entender melhor o que é moeda, você conhecerá os tipos de moedas existentes, de acordo
com Sandroni (1999).

»» Moeda-chave. moeda utilizada como padrão para o cálculo de paridade entre duas
moedas. Em lugar de se calcular diretamente a cotação de uma moeda em relação a
outra, faz-se a conversão das duas em uma terceira, a moeda-chave.

Ex.: Nas transações comerciais internacionais costuma-se utilizar o dólar como moeda-
chave.

»» Moeda conversível. moeda que, de acordo com os termos de sua emissão e durante
a vigência do padrão-ouro ou do padrão-cambio ouro, podia ser convertida, numa
determinada cotação fixa, em ouro monetário ou em moedas fortes.

Ex.: O dólar e a libra.

»» Moeda de boa lei (Bona Monetas). esta expressão admite dois sentidos: 1) quando o
toque e o peso de uma moeda corresponde àquele que a lei lhe determina; 2) quando
tem credibilidade no mercado.

Ex.: a expressão pagamento em bona monetas significa pagamento realizado com


moeda de boa lei.

»» Moeda corrente: constitui no dinheiro legalmente autorizado a circular no País como


meio de pagamento, em geral emitido (células de papel-moeda) ou cunhado (moedas
metálicas) pelo próprio governo. Ex.: Nosso Real em papel e em moeda.

»» Moeda escritural: é a ordem de pagamento que se originou da generalização do uso


do papel moeda.

Ex.: a abertura de uma conta corrente por meio de determinado depósito em dinheiro
permite a qualquer pessoa movimentar esse fundo depositado no banco, utilizando,
por exemplo, o cheque.

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MACROECONOMIA • AULA 4

»» Moeda estrangeira: moeda de outro país, que pode ou não ser cotada em relação à
moeda corrente na tabela de câmbio que regula as transações internacionais.

Ex.: O poder de compra das moedas estrangeiras é expresso pela taxa cambial, fixa ou
livre, que tende a refletir a efetiva relação de troca existente entre as distintas moedas
de diferentes países.

»» Moeda forte: a que apresenta facilidade de circulação e conversibilidade nas transações


internacionais, por oferecer ampla garantia como meio de pagamento ou reserva de valor.

Ex.: Entre as moedas fortes mais utilizadas até a década de 1970 destacam-se o dólar
norte-americano, a libra esterlina e o marco alemão, que ainda mantêm relativa
paridade com o padrão câmbio ouro e servem de referência nas cotações cambiai
em todo o mundo.

»» Moeda fraca: aquela que circula com dificuldade no mercado internacional ou nem
mesmo é aceita como meio de pagamento em operações de comércio exterior.

Ex.: Nesse caso, incluem-se praticamente todas as moedas dos países subdesenvolvidos.

»» Moeda internacional: qualquer moeda aceita internacionalmente como forma de


pagamento. Até a Segunda Guerra Mundial, a libra, como moeda forte, era a mais aceita
internacionalmente, sendo substituída de forma gradual pelo dólar norte-americano.

Ex.: qualquer moeda forte (iene japonês, marco alemão etc.) pode ser utilizada em
pagamentos internacionais, devido a sua procura nas casas de câmbio e a sua relativa
estabilidade.

Além desses tipos de moedas, uma ferramenta muito utilizada nos dias atuais para as trocas
comerciais é o plástico, na forma de cartões de crédito e cartões para transações em caixas eletrônicos.
Segundo Sparrowe (2003), graças a uma complexa rede de comunicações computadorizada, ou
seja, a informatização, uma pessoa de Chicago de férias no Rio de Janeiro, no Brasil, pode acessar
suas contas bancárias e, em segundos, receber dinheiro em moeda local, utilizando a taxa de
conversão apropriada.

Quais são as funções básicas da moeda?

Para Gastaldi (2002), as funções básicas da moeda são três:

»» Unidade de conta: a moeda serve para comparar o valor de mercadorias diversas (os
diversos bens e serviços são expressos em quantidade de moeda, por meio dos preços).
Além disso, a moeda resolve o problema de se somar coisas distintas, embora os preços
de diferentes produtos e mercadorias guardem entre si relação. Um quilo de café
corresponde, por exemplo, a quatro quilos de gasolina.

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AULA 4 • MACROECONOMIA

»» Meio de troca: significa que a compra e venda de bens e serviços opera-se com a utilização
de moeda. São comprados por moeda e vendidos em troca de moeda, mesmo sem
necessidade de transferência física de meio circulante. Entende-se que a moeda serve
como meio de troca, aceitação, obrigatória num país ou região.

Ex.: o Real, no Brasil; a libra, na Inglaterra etc.

»» Reserva de valor: um indivíduo que recebe moeda por alguma transação que tenha
realizado, ou até mesmo, como prêmio, não precisa gastá-la imediatamente. Pode
guardá-la para uso posterior. Isso significa que ela serve como reserva de valor. Para
que se cumpra seu papel, é necessário que tenha valor estável, de forma que quem a
possua tenha ideia precisa do quanto pode obter em troca.

Verifica-se, pelo exposto, que os tipos e funções da moeda são de grande importância para a
atividade econômica. Sem elas não existiria a troca de bens e serviços. Como estamos tratando
de serviços, temos que atentar aos serviços públicos. De que forma está sendo utilizada a moeda
nos serviços públicos?

A lógica da política monetária consiste em controlar a oferta de moeda (liquidez) para determinar
a taxa de juros de referência do mercado. Nesse sentido, o Banco Central, seja qual for o país, eleva
a taxa de juros, enxugando (diminuindo) a oferta monetária, e a reduz, atuando de forma inversa.

Cabe destacar que em um sistema econômico, moeda representa os meios de pagamentos.


Esses, na sua forma mais líquida, podem ser representados pelo papel-moeda e pelos depósitos
à vista nos bancos comerciais. Tanto as cédulas/moedas metálicas quanto os valores existentes
em contas bancárias representam os meios de pagamento.

A política monetária, ao controlar os meios de pagamentos, está visando estabilizar o nível de


preços geral da economia. Os governos que necessitam diminuir a taxa de inflação reduzem a
oferta de monetária e aumentam a taxa de juros. Esse mecanismo controla os níveis de preços.
Mas, se a taxa de juros permanece elevada por um período longo, a economia pode deixar de ter
um crescimento econômico, redundando, assim, em baixos níveis de emprego.

Demanda de moeda – Tipos


»» Transação: necessidade que os agentes têm de possuírem moeda para efetuar suas
transações.

»» Precaução: procura de moeda por parte da sociedade para fazer frente a eventuais
compromissos não previstos.

»» Especulação, que se verifica quando o agente econômico fica esperando uma oportunidade
de aplicação interessante. Enquanto essa oportunidade não se verifica, o agente fica
“posicionado” em moeda.

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MACROECONOMIA • AULA 4

Variáveis que influenciam a demanda por moeda


»» Crescimento do país que aumenta a transação de bens e serviços, sendo necessária mais
moeda para a comercialização.

»» Taxas de juros, pois caso essas aumentem, mais moeda será investida em busca dos juros.

»» Inflação, pois, à medida que os preços aumentam, a necessidade de moeda para transação
também aumenta em termos nominais.

a. Política monetária restritiva: engloba um conjunto de medidas que tendem a reduzir


o crescimento da quantidade de dinheiro e a encarecer os empréstimos, pois com
menos dinheiro no mercado, a taxa de juros fica mais elevada. Vale lembrar que o juro
é conhecido como o “preço do dinheiro” e é mais alto quanto mais alta for a incerteza.

b. Política monetária expansiva: é formada por aquelas medidas que tendem a acelerar
o crescimento da quantidade de dinheiro e a baratear os empréstimos (baixar as taxas
de juros).

O Bacen pode alterar os meios de pagamento (oferta de moeda) utilizando-se de quatro


instrumentos:

Operação de mercado aberto (open market)

As operações de mercado aberto são caracterizadas pela compra e venda de títulos públicos
do Bacen no mercado. Esses títulos podem ser de emissão própria ou, em geral, do Tesouro.
Quando, por exemplo, o Banco Central vende título no mercado, recebe o pagamento em Reais
e está ofertando um ativo menos líquido (títulos) e retirando do mercado um ativo mais líquido
(moeda). Essa operação, realizada em grande escala, tem como finalidade diminuir a oferta
monetária e, consequentemente, aumentar a taxa de juros e, com isso, controlar o nível de preços.

Depósito compulsório

São depósitos sob a forma de reservas bancárias que cada banco comercial é obrigado legalmente
a manter junto ao Banco Central. É calculado como um percentual sobre os depósitos à vista
nos bancos

Comerciais. Quanto maiores os depósitos compulsórios, maior o nível de reservas obrigatórias dos
bancos junto ao Banco Central. Os recursos destinados aos empréstimos sofrem uma diminuição
e provocam, com isso, a criação de moeda bancária (valores depositados nos bancos). A taxa de
juros sofre um aumento, sendo o inverso também verdadeiro. Para diminuir a liquidez do sistema
financeiro, o Banco Central eleva a taxa de compulsório. Com menos recurso para emprestar dos
bancos comerciais, o crescimento da economia como um todo é afetado.

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AULA 4 • MACROECONOMIA

Redesconto bancário

A assistência financeira de liquidez ou redesconto é o mecanismo pelo qual o Bacen socorre


instituições financeiras com problemas de liquidez. O redesconto é o empréstimo que os bancos
comerciais recebem do Bacen para cobrir eventuais problemas de liquidez. A taxa cobrada
sobre esses empréstimos é chamada de taxa de redesconto. Um aumento da taxa de redesconto
indica que os bancos sofrerão maiores custos, caso tenham problema de liquidez. Nesse caso,
as instituições aumentarão suas reservas e diminuirão o crédito, aumentando o custo para se
obter meios de pagamento, ou seja, a taxa de juros.

Controle e seleção de crédito

Um instrumento não muito convencional, mas, às vezes, utilizado pelo Banco Central, refere-se
ao controle direto sobre o crédito. Este pode estar relacionado ao volume de crédito, ao prazo
e destinação do crédito. Esse instrumento pode gerar distorções no livre funcionamento do
mercado de crédito.

Desestimular a atividade de intermediação financeira. Assim, por exemplo, se o objetivo


é controle da inflação, a medida apropriada de política monetária seria diminuir o estoque
monetário da economia (por exemplo, aumento da taxa de reservas compulsórias, ou compra
de títulos no open market). Se a meta é o crescimento econômico, a medida adotada seria o
aumento do estoque monetário.

Política fiscal

O principal instrumento de política econômica do setor público refere-se à política fiscal.


Esta, por sua vez, consiste na elaboração e organização do orçamento do governo, o qual
demonstra as fontes de arrecadação e os gastos públicos a serem efetuados em determinado
período (exercício). A política fiscal visa atingir a atividade econômica e, assim, alcançar dois
objetivos inter-relacionados, a saber, estimular a produção, ou seja, o crescimento econômico
e combater, se for o caso, a elevada taxa de desemprego. O financiamento do déficit do setor
público também é um fator de preocupação da política fiscal.

A política fiscal pode ser dividida em duas grandes partes: a política tributária e a política de
gastos públicos. Quando o governo aumenta os gastos, diz-se que a política fiscal é expansionista;
caso contrário, tem-se uma política fiscal contracionista. A política fiscal será expansionista
ou contracionista, dependendo do que o governo está pretendendo atingir com a política
de gastos. No outro lado da política fiscal, o governo pode atuar sobre o sistema tributário
de forma a alterar as despesas do setor privado (entre bens, entre consumo e investimento
etc.), a incentivar determinados segmentos produtivos, e assim por diante. A conjugação de
despesas e receitas conduz ao conceito do déficit público. Os principais instrumentos da
política fiscal são:

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MACROECONOMIA • AULA 4

Imposto (receita)

Os impostos podem ser classificados em duas categorias:

»» Impostos diretos: incidem diretamente sobre a renda das unidades familiares e das
empresas. Ex.: Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF); Imposto de Renda Pessoa
Jurídica (IRPJ).

»» Impostos indiretos: são tributos que oneram as transações intermediárias e finais.


São incorporados ao processo produtivo e, portanto, incidem indiretamente sobre o
contribuinte (consumidor). Ex.: ICMS, ISS, Cofins, PIS.

Despesas do governo (gastos)

As despesas do governo podem ser divididas em:

»» Consumo: gastos com salário, administração pública, funcionalismo civil e militar.

»» Transferências: benefícios pagos pelos institutos de previdência social, sob a forma de


aposentadoria, salário-escola, FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).

»» Subsídios: são pagamentos feitos pelo governo a algumas empresas públicas ou privadas.

»» Investimentos: gastos com aquisição de novas máquinas, equipamentos, construção


de estradas, pontes, infraestrutura.

As políticas monetária e fiscal representam meios alternativos diferentes para as mesmas


finalidades. A política econômica deve ser executada por meio de uma combinação adequada
de instrumentos fiscais e monetários.

Pode-se dizer que a política fiscal apresenta maior eficácia quando o objetivo é uma melhoria
na distribuição de renda, tanto na taxação às rendas mais altas como pelo aumento dos gastos
do governo com destinação a setores menos favorecidos. A política monetária é mais difusa na
questão distributiva.

Uma vantagem frequentemente apontada da política monetária sobre a fiscal é que a primeira
pode ser implantada logo após a sua aprovação, dado que depende apenas de decisões diretas
das autoridades monetárias, enquanto a implementação de políticas fiscais depende de votação
do Congresso, o que aumenta a defasagem entre a tomada de decisão e a implementação das
medidas fiscais.

Além disso, por exemplo, se há mão de obra ociosa, uma redução de impostos, pode contribuir
mais rapidamente para a diminuição do desemprego. Também é possível controlar mais
rapidamente a inflação, pois quando há excesso de demanda na economia (demanda maior que
oferta), essa mesma demanda pode ser contraída com redução de gastos públicos e/ou aumento

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AULA 4 • MACROECONOMIA

da carga tributária, a qual contribuiria indiretamente para diminuir o consumo, via redução da
renda disponível.

Política cambial

Considerando que a política econômica é um tripé, o terceiro ponto é a política cambial,


importante instrumento, pois o mundo é um mercado global, e todos os países atuam de maneira
interdependente, embora muitas tentativas de união não tenham se mostrado eficientes.

A determinação da taxa de câmbio, que é a medida de conversão de uma moeda em outra moeda
(no caso brasileiro, a taxa de câmbio tem como referência o valor do dólar norte-americano) e
pode ocorrer de dois modos: institucionalmente, por meio de decisão de autoridades econômicas
com fixação periódica das taxas (taxas fixas de câmbio), ou pelo funcionamento do mercado,
em que as taxas flutuam automaticamente, em decorrência das pressões de oferta e demanda
por divisas estrangeiras (taxas flutuantes).

A oferta de divisas é realizada tanto pelos exportadores, que recebem moeda estrangeira
em contrapartida de suas vendas, como pela entrada de capitais financeiros internacionais.
Como as divisas não podem ser utilizadas internamente, precisam ser convertidas em moeda
nacional. Isso é feito pelo Banco Central da seguinte forma: recebe dos importadores do exterior
a quantia em divisas – dólar, por exemplo, retendo-as em seus cofres, e paga ao exportador
nacional em moeda nacional, em reais, a importância correspondente.

Uma taxa elevada de câmbio significa que o preço da divisa estrangeira está alto, ou que a moeda
nacional está desvalorizada. Assim, a expressão desvalorização cambial indica que houve
aumento da taxa de câmbio – maior número de reais por unidade de moeda estrangeira. Por sua
vez, valorização cambial significa moeda nacional mais forte, isto é, paga-se menos reais por
dólar, por exemplo, tem-se queda na taxa de câmbio.

As taxas de câmbio estão intimamente relacionadas com os preços dos produtos exportados e
importadas e, consequentemente, com o resultado da balança comercial do país. Se a taxa de
câmbio se encontrar em patamares elevados, estimulará as exportações, pois os exportadores
passaram a receber mais reais pela mesma quantidade de divisas derivadas da exportação; em
consequência, haverá maior oferta de divisas.

Por exemplo: Suponhamos uma taxa de câmbio de 0,90 real por dólar, e que o exportador
vendia 1.000 unidades de seu produto a 50 dólares cada. Seu faturamento era de 50.000 dólares
ou 45.000 reais. Se o câmbio for desvalorizado em 10%, a taxa de câmbio subirá para 0,99 real
por dólar e, vendendo as mesmas 1.000 unidades, receberá os mesmos 50.000 dólares, só que
valendo, agora, 49.500 reais. Isso estimulará o exportador a vender mais, aumentando a oferta
de divisas.

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MACROECONOMIA • AULA 4

Do lado das importações, a situação se inverte, pois se o preço dos produtos importados se eleva,
em moeda nacional, haverá desestímulo às importações e, consequentemente, uma queda na
demanda de divisas.

O governo pode atuar por meio da política cambial ou da política comercial. A política cambial
diz respeito a alterações na taxa de câmbio, enquanto a política comercial constitui-se de
mecanismos que interferem no fluxo de mercadorias e serviços.

As políticas cambiais mais frequentes são:

»» Regime de taxas fixas de câmbio;

»» Regime de taxas flutuantes ou flexíveis de câmbio;

»» Regime de Bandas cambiais:

Dentre as políticas comerciais externas, podemos destacar as seguintes:

»» Alterações das tarifas sobre importações;

»» Regulamentação do comércio exterior.

São as políticas que atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo da economia.

A política cambial refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. O governo, por meio
do Banco Central, pode fixar a taxa de câmbio.

O mercado de câmbio (divisas) é formado pelos diversos agentes econômicos que compram e
vendem moeda estrangeira conforme suas necessidades. Empresas que vendem mercadorias ou
ações no exterior estão aumentando a oferta de moeda estrangeira, em particular o dólar, pois
sua receita ocorre em moeda estrangeira. Empresas que compram bens ou ações no exterior
estão demandando moeda estrangeira, pois seus gastos ocorrem em dólares. Nesse sentido, o
preço da moeda estrangeira em relação à moeda nacional é determinado nesse mercado. Esse
preço é chamado de taxa de câmbio (R$/US$).

Se o câmbio estiver em R$ 2,50, significa que são necessários R$ 2,50 reais para comprar um
dólar. Se este subir para R$ 3,00 por dólar, ocorreu uma desvalorização da moeda local (real) em
relação à moeda estrangeira (dólar). O preço da moeda estrangeira elevou-se.

Assim, se o preço sobe devido a um aumento da demanda por dólar, dizemos que ocorreu uma
desvalorização do real frente ao dólar. Precisa-se de mais reais para comprar a mesma quantidade
de dólares.

Cabe explicar que as relações econômicas, comerciais e financeiras dos agentes de determinado
sistema econômico, como os agentes de outro sistema econômico (normalmente país), são
registradas na Balança de Pagamentos. Eventuais déficits no Balanço de Pagamentos são

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AULA 4 • MACROECONOMIA

decorrentes do fato de a entrada de divisas (dólares) ser inferior à saída de divisas. Esse fato é
resultado de dois desequilíbrios. O primeiro é que se importam bens e serviços menos do que
se consegue exportar, resultando em uma saída de divisas maior do que a entrada. O segundo
desequilíbrio é causado pelo lado financeiro, onde não se consegue atrair recursos (dólares) em
quantidade suficiente para pagar as contas em dólar.

Finalizando, lembre-se de que os objetivos das políticas econômicas são, muitas vezes, conflitantes.
Por exemplo, muitas vezes para controlar a inflação, aumenta-se a taxa de juros, o que retira moeda
de circulação. O problema é que, com juros mais elevados, muitos investidores podem preferir
aplicar o dinheiro num banco a iniciar um empreendimento que gere empregos. Entretanto, é
importante considerar que os objetivos são independentes, mas as políticas econômicas têm
como grande desafio manter todos os objetivos sob controle.

As diferentes políticas econômicas têm impactos diretos sobre preços, desemprego e inflação.

Preços

No nosso dia a dia deparamos a todo o momento com situações que envolvem preço. Qual o
preço desse carro? Qual preço desse sapato? Quanto custa o quilo de pão? E assim por diante.
Nós sabemos que existe um preço que pagamos em moeda (que estudamos no item anterior).
Mas como conceituar preço e como é definido o preço?

Em sentido amplo, o conceito expressa relação de troca de mercadorias, ou seja, de bens ou


serviços por outro. Em sentido mais usual e restrito, representa a proporção de dinheiro que se
dá em troca de determinada mercadoria ou serviço, constituído, portanto, a expressão monetária
do valor do bem ou serviço.

Você deve estar se perguntando: mas que decisões são essas que influenciam os preços?
São inúmeras dentro do sistema econômico com um todo. E, para facilitar o nosso aprendizado,
listamos a seguir, de acordo com Sandroni (2002, p. 487-488), algumas funções e decisões que
são necessárias para o controle de preços na economia.

No sistema econômico do livre comércio, os preços têm a função de aglutinar as decisões de


milhões de indivíduos de interesses, muitas vezes, competitivos, assegurando coerência à economia
como um todo. Considerando as variações dos preços, os agentes econômicos podem decidir
pelos bens ou serviços que suas empresas devem produzir sobre a quantidade desses bens etc.

O comportamento dos consumidores é também considerado nessas decisões: os empresários


sabem que esses pagam mais por bens que lhes tragam grande satisfação e menos por artigos
pouco satisfatórios.

Outro tipo de decisão influenciada pelos preços diz respeito à distribuição dos recursos ou
fatores entre os produtores. Se o preço de determinado produto é elevado, os empresários obtêm

48
MACROECONOMIA • AULA 4

bom lucro, podem remunerar melhor os fatores de produção que utilizam e atraem para seu
empreendimento fatores e recursos de outros setores.

Além disso, os preços podem funcionar como freio ou estímulo ao consumo.

E não podia faltar: a atuação dos órgãos governamentais sobre a fixação dos preços também é
indireta. Normalmente, contribuem para o aumento da oferta de determinado bem por meio de
importação, provocando a baixa do preço. Ou, então, restringem essa oferta mediante estocagem
ou exportação, favorecendo a alta dos preços. Mas durante as guerras e outros períodos de crise,
o Estado intervém diretamente: a distribuição dos bens escassos entre os consumidores deixa
de ser feita de acordo com as regras econômicas, obedecendo a outras determinações.

Inflação

Ouve-se a todo o momento falar sobre inflação, mas o que é inflação?

Vasconcellos (2006) define inflação como um aumento persistente e generalizado no índice de


preços, ou seja, os movimentos inflacionários são aumentos contínuos de preços e não podem
ser confundidos com altas esporádicas de preços, devido a flutuações sazonais, por exemplo.
Esses aumentos devem ser generalizados, com todos os bens participando da escala de preços
altos.

De acordo com Vasconcelos (2006), classicamente estuda-se a questão inflacionária distinguindo


a inflação provocada pelo excesso de demanda agregada (inflação de demanda) da inflação por
elevação de custos (inflação de custos) e da inflação devida aos mecanismos de indexação de
preços (inflação Inercial).

»» Inflação de demanda: refere-se ao excesso de demanda agregada em relação à produção


disponível de bens e serviços (oferta agregada) na economia. É causada pelo crescimento
dos meios de pagamento, que não é acompanhado pelo crescimento da produção.
Ocorre apenas quando a economia está próxima do pleno-emprego, ou seja, não se
pode aumentar substancialmente a oferta de bens e serviços em curto prazo.

»» Inflação de custos: liga-se a uma inflação tipicamente de oferta. Tem suas causas nas
condições de oferta de bens e serviços na economia. O nível da demanda permanece o
mesmo, mas os custos de certos fatores importantes aumentam, levando à retração da
oferta e provocando aumento dos preços de mercado.

»» Inflação inercial: é o nome que se dá ao processo automático de realimentação de


preços; é a aquela em que a inflação presente é uma função da inflação passada. Deve-
se à inércia inflacionária, que é a resistência que os preços de uma economia oferecem
às políticas de estabilização que atacam as causas primárias da inflação. Seu grande
vilão é a “indexação”, que é o reajuste do valor das parcelas de contratos pela inflação
do período passado.

49
AULA 4 • MACROECONOMIA

Quais são os índices que medem a inflação?

No Brasil, os principais índices que medem a inflação são:

»» IGP – Índice Geral de Preços (Fundação Getúlio Vargas).

»» IPC – Índice de Preços ao Consumidor (Fipe – Fundação Instituto de Pesquisas


Econômicas).

»» INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor (IBGE).

»» IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IBGE).

Desemprego

Períodos prolongados de prosperidade e de recessão refletem no mercado de trabalho de um país,


por isso é tão importante compreender o ciclo econômico. Se esses ciclos significassem apenas
um lucro pouco maior ou pouco menor para as empresas, os governos não se preocupariam
tanto em prever e controlar tais movimentos. Na verdade, é o custo humano (perda de emprego
e redução de renda) – ou seja, a incapacidade de preservar o padrão de vida das pessoas – que
torna essencial compreender os ciclos econômicos e os fatores que afetam o emprego.

A taxa de desemprego é a porcentagem da força de trabalho que está fora de atividade. Essa
taxa é calculada por meio da divisão do número de pessoas desempregadas pela total da força
de trabalho.

A proporção parece simples, mas envolve diversas questões sutis. Em primeiro lugar, a taxa de
desemprego não mede a porcentagem da população total que não estiver trabalhando, mas,
sim, da força de trabalho (população economicamente ativa) que se encontra fora de atividade.
Quem faz parte desse grupo? Obviamente, todas as pessoas que trabalham integram a força de
trabalho – mas apenas alguns dos que estão desempregados são considerados integrantes da
força de trabalho.

Mas esse sistema de medição da taxa de desemprego é preciso? O fato de não incluir os profissionais
que não procuram emprego de maneira efetiva não constitui urna falha. Muitas pessoas que
não estão em busca de um trabalho (donas de casa, idosos e estudantes, por exemplo) tornaram
a decisão de se dedicar às tarefas domésticas, de se aposentar ou de se ocupar apenas com os
estudos.

No entanto, há pessoas não incluídas na estatística que não trabalham nem procuram emprego,
mas aceitariam trabalhar se tivessem oportunidade. São profissionais desestimulados, que
procuraram trabalho no ano anterior, mas desistiram da busca por achar que ninguém lhes
oferecerá emprego. Essas pessoas não são contabilizadas na taxa oficial de desemprego, embora
tenham condições de trabalhar e possam ter passado muito tempo à procura de trabalho.

50
MACROECONOMIA • AULA 4

Os profissionais desestimulados constituem uma fonte de “desemprego oculto” assim como


os subempregados. Subemprego é a subutilização dos profissionais em tarefas que não
aproveitam plenamente seu potencial produtivo, incluindo empregos de meio- período no
caso de profissionais que prefeririam trabalhar em período integral. A consequência de existirem
profissionais desestimulados e subemprego é que a definição de taxa de desemprego não reflete
a realidade.

Os economistas classificam o desemprego em quatro grupos básicos:

»» Desemprego sazonal: decorre das oscilações regulares na necessidade de mão de obra


em alguns setores, em geral em intervalos mensais ou sazonais.

»» Desemprego friccional: resulta do movimento de curto prazo dos profissionais entre


um emprego e outro, ou na busca da primeira colocação.

»» Desemprego estrutural: produto de uma mudança tecnológica ou outras alterações


na estrutura da economia.

»» Desemprego cíclico: resulta das alterações dos ciclos de negócio.

Planos de estabilização no Brasil

Ao longo da história recente do Brasil os governos procuraram controlar a inflação de várias


maneiras. A seguir estão listados os planos econômicos e suas principais características.

Plano Cruzado

O Plano Cruzado, lançado em 1986, foi um conjunto de medidas econômico-institucionais


descrito pelo Decreto-Lei nº 2.283, cujas principais medidas foram:

»» substituição do cruzeiro pelo cruzado como nova moeda do sistema monetário brasileiro,
1 cruzado equivalendo a 1.000 cruzeiros;

»» conversão geral, por prazo indefinido, dos preços finais dos produtos, ao nível vigente
em 27 de fevereiro (exceto as tarifas industriais de energia elétrica);

»» conversão dos salários com base na média do seu poder de compra nos seis meses
anteriores, e mais um acréscimo de 8% para os salários em geral e de 16% para o;

»» aluguéis e hipotecas seriam convertidos seguindo-se a mesma fórmula aplicada aos


salários, mas sem o aumento de 8%;

»» introdução da escala móvel de salários (gatilho), a qual garantia um reajuste salarial


automático a cada vez que o aumento acumulado no nível de preços ao consumidor
atingisse 20%;

»» proibição da indexação em contratos com prazo inferior a um ano;

51
AULA 4 • MACROECONOMIA

»» conversão dos contratos previamente estabelecidos em cruzeiros para cruzados,


de acordo com uma tabela em que o cruzeiro era desvalorizado a uma taxa mensal
de 14% (taxa de inflação mensal esperada contida nos contratos) em face da nova
moeda;

»» O regime cambial foi congelado na paridade de 13,84 cruzados por dólar.

Nos primeiros meses, o plano teve aparente sucesso, com controle da inflação e crescimento
econômico.

O grande apoio da população deu origem aos “fiscais do Sarney”. O congelamento transformou-
se, assim, no elemento do Plano Cruzado de maior apelo popular, o que levaria o governo a
sustentá-lo ao máximo, a qualquer custo, sobretudo por se tratar de ano eleitoral.

Houve uma explosão de consumo, reprimido durante os anos anteriores, provocada pelo aumento
do poder de compra dos salários, além de uma grande “despoupança”.

Após as eleições estaduais, foi decretada outra ampla reforma econômica: o Cruzado.

Plano Bresser

No mês de junho de 1987, o novo ministro lançou o Plano de Estabilização Econômica, mais
conhecido como Plano Bresser, um pacote híbrido, com elementos ortodoxos e heterodoxos,
assemelhando-se ao Cruzado em alguns aspectos, mas procurando evitar os erros já
cometidos.

A meta principal do plano era controlar a inflação e evitar uma hiperinflação. Para tanto, o
governo tomou as seguintes medidas:

»» o gatilho foi extinto, reduziu-se os gastos do governo e as taxas de juros reais foram
mantidas elevadas;

»» preços e salários foram congelados por três meses;

»» política cambial de desvalorizações diárias para evitar desequilíbrios externos;

»» política fiscal e monetária rigorosas.

No início, o plano atingiu alguns de seus objetivos, baixando a inflação e o déficit público e
expandindo os saldos comerciais, o que possibilitou o fim da moratória da dívida externa.

Com o passar do tempo, outros problemas começaram a surgir: o plano perdeu credibilidade
junto à opinião pública, os desequilíbrios dos preços relativos e superávits comerciais causaram
pressões inflacionárias, os juros altos inibiram o investimento e a reforma tributária que fazia
parte do plano foi barrada por restrições de ordem política.

52
MACROECONOMIA • AULA 4

Maílson da Nóbrega – da política do feijão-com-arroz ao Plano Verão

Seu objetivo era cortar o déficit operacional de 8% para 4% e reter a inflação ao redor dos 15%
ao mês. Dentre as medidas tomadas destacam-se a suspensão temporária dos reajustes do
funcionalismo público e o adiantamento dos aumentos de preços administrados.

Tal política foi malsucedida e, em julho de 1988, a inflação já ultrapassava 24% e os preços
públicos foram reajustados. Emitia-se moeda para cobrir os superávits da balança comercial e
a nova constituição dificultava a pretendida redução dos gastos públicos.

Em novembro de 1988, celebrou-se entre governo, empresários e trabalhadores, o chamado pacto


social, que estabelecia limites para aumentos de preços e propunha uma revisão da metodologia
de reajustes salariais e um plano para equilibrar as contas públicas.

Plano Verão

O fracasso dessa nova tentativa levou o governo a decretar um novo plano econômico: o Plano
Verão. Em 15 de janeiro de 1989 foi anunciado o Plano Verão, outro plano misto. Foi introduzida
uma nova moeda (Cruzado Novo), equivalente a mil cruzados e o dólar foi cotado a NCz$1,00
após uma desvalorização da moeda nacional.

Principais medidas: taxas de juros elevadas, desindexação e a promessa de ajuste fiscal; os


preços foram congelados por tempo indeterminado e os salários foram convertidos pelo poder
de compra médio dos doze meses anteriores e reajustados em 26,1%, sendo extinto o indexador
dos salários;

Em setembro de 1989, o governo suspendeu o pagamento dos juros da dívida externa, em razão
da deterioração do saldo comercial.

Plano Real e seus desdobramentos

Seu objetivo primário era controlar a hiperinflação, um problema brasileiro crônico. Combinaram-se
condições políticas, históricas e econômicas para permitir que o Governo brasileiro lançasse,
ainda no final de 1993, as bases de um programa de longo prazo. Organizado em etapas, o plano
resultaria no fim de quase três décadas de inflação elevada e na substituição da antiga moeda
pelo Real, a partir de 1º de julho de 1994.

O plano foi composto por cinco principais frentes de ações:

»» Ajuste fiscal: combinando aumento de impostos e cortes nos gastos públicos, o governo
procurou reduzir o desequilíbrio entre a arrecadação e os gastos públicos.

»» Desindexação da economia: após anos de inflação recorrente, os agentes econômicos


passaram a indexar preços a índices de inflação, criando um círculo vicioso de aumento

53
AULA 4 • MACROECONOMIA

de preços. A principal ação para reverter esse quadro foi a adoção da Unidade Real
de Valor (URV), como forma de eliminar a memória inflacionária. A URV era definida
diariamente por meio de cálculo usando como base uma média diária de inflação por
meio de uma cesta de índices inflacionários.

»» Política monetária restritiva: o governo tomou diversas medidas para restringir a


atividade econômica interna, como aumento da taxa básica de juros e aumento dos
depósitos compulsórios.

»» Redução pontual das tarifas de importação: para evitar pressões inflacionárias


relacionadas ao excesso de demanda, as tarifas de importação de alguns produtos
foram baixadas.

»» Câmbio artificialmente valorizado: o real foi mantido supervalorizado para evitar


aumento de preços dos produtos importados e manter alta a oferta interna de produtos
(via redução das exportações e aumento das importações).

Num primeiro momento, o plano obteve resultados muito positivos, com controle da inflação
e aumento da taxa de investimentos na economia. A crise de hiperinflação foi de fato debelada,
embora uma persistente inflação residual tenha se mantido: a inflação acumulada no Brasil nos
11 primeiros anos do plano atingiu 165%, segundo pesquisa divulgada pela Fundação Instituto
de Pesquisas Econômicas (Fipe), pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPC).

No entanto, embora a desindexação da economia tenha obtido êxito, o ajuste fiscal (fundamental
para corrigir o desequilíbrio nas contas do governo e assegurar o controle da inflação no longo
prazo) foi bastante limitado.

Nos anos seguintes, o governo manteve o controle da inflação tendo como principal instrumento
de política econômica a “âncora cambial”, que funcionava por meio do sistema de bandas
cambiais, aliada a uma política de abertura econômica. A manutenção de tal política levou a um
crescente desequilíbrio fiscal, a ponto de se obter déficit primário em 1998.

Tal deterioração das contas do governo foi acompanhada por um grande crescimento da dívida
pública, alavancada pela alta taxa de juros básicos utilizados pelo governo como forma de atração
de capital estrangeiro.

Não há dúvidas quanto ao sucesso do Plano Real em relação ao controle da inflação. O País
deixou de vivenciar taxas de inflação de quatro dígitos ao ano para conviver com taxas de um
dígito ao ano. Segundo o IPC-Fipe, de uma inflação de 2.490,99% em 1993, chegou-se à deflação
em 1998, e à inflação de 8,64%, em 1999. Os benefícios da queda da inflação foram inúmeros.
O desaparecimento do imposto inflacionário, que incidia de forma mais vigorosa sobre os
mais pobres, possibilitou melhoria da renda das camadas menos favorecidas no momento da
estabilização. Além disso, a queda da inflação possibilitou aos agentes econômicos planejarem

54
MACROECONOMIA • AULA 4

suas contas com mais precisão e segurança, permitindo uma alocação mais racional da renda,
facilitando o planejamento de compras a prazo.

Por outro lado, ao conter a inflação, diversas mazelas da economia brasileira foram expostas.
Diversos instrumentos e soluções propostas estão alinhados com o chamado modelo econômico
neoliberal, que prega a desestatização da economia, a abertura comercial e financeira, a
flexibilização das regras no mercado de trabalho e a busca de austeridade fiscal. A reforma da
previdência, tributária, trabalhista e o controle dos gastos públicos, que, segundo esse modelo,
são a solução para elas, não foram implantadas ou, no caso da previdência, foram implantadas
apenas parcialmente. Por tais conterem medidas que, num primeiro momento, prejudicam
alguns setores da sociedade, ainda são objeto de discussão política.

O mecanismo da URV foi o grande responsável pela desindexação da economia e pelo fim da
memória inflacionária. Algumas medidas fiscais adotadas desde 1993, como o Fundo Social de
Emergência, deram fôlego fiscal para implantação do Plano Real. Do outro lado, a utilização de
elevadas taxas de juros foi causando a elevação da dívida interna, comprometendo a situação
fiscal nos anos seguintes. O câmbio valorizado e a abertura comercial foram os responsáveis pelo
controle da inflação após a implantação do plano, na medida em que colocaram os produtos
nacionais em concorrência direta com os produtos importados.

O pilar básico do plano foi a valorização artificial da taxa de câmbio, via utilização de elevadas
taxas reais de juros, que vinham sendo praticadas desde 1993. A partir desse momento, buscou-se
o incremento das reservas internacionais de forma a criar um amortecedor para futuras pressões
no câmbio. A forte entrada de recursos no País, notadamente de natureza especulativa, garantiu
o crescimento das reservas e possibilitou a adoção do câmbio valorizado. Entretanto, apesar de
exercer papel importante na queda da inflação, essa política foi responsável pela ocorrência de
diversos problemas na economia.

Além disso, promoveu-se uma forte abertura comercial, baseada na queda das barreiras tarifárias
e não tarifárias do País. Muitas dessas barreiras foram diminuídas a patamares previstos nos
acordos brasileiros para vários anos mais tarde. Em muitos outros casos, o País baixou suas
barreiras a produtos de certos países sem exigir reciprocidade. No caso dos produtos primários,
isso é notório até os dias de hoje, quando ainda sofremos com diversas medidas protecionistas,
disfarçadas de medidas antidumping ou de barreiras não tarifárias como normas sanitárias.
É claro que a abertura comercial é bem-vinda, à medida que proporciona aumento da concorrência
e, consequentemente, melhoria dos produtos e queda nos preços. O que se critica em relação
ao Plano Real é a velocidade e a magnitude do processo de abertura, além da aceitação passiva
do governo das medidas protecionistas de países desenvolvidos contra os produtos brasileiros.
Combinada com a valorização cambial, isso permitiu a entrada maciça de produtos importados
que, por sua vez, acabaram por conquistar fatia importante do mercado interno. Muitas indústrias
sofreram sérias dificuldades, o que ocasionou inúmeras falências e milhares de demissões.

55
AULA 4 • MACROECONOMIA

Os casos da indústria têxtil e de brinquedos são exemplos do impacto negativo da política


cambial e comercial.

Essa política levou à ampliação significativa do déficit externo brasileiro, fazendo com que o
governo utilizasse as maiores taxas de juros reais da história do Brasil, a fim de atrair capitais
para financiar esse déficit. Como já vinha acontecendo antes do plano, as taxas de juros foram
responsáveis pela atração de recursos externos que financiassem a expansão do déficit, além
de funcionar como poderoso instrumento de manutenção do câmbio valorizado. Há que se
lembrar de que a elevada taxa de juros tornou-se maior ainda nos momentos de crise que o País
experimentou nos últimos anos.

Durante a vigência do Plano Real, o País sofreu várias crises econômicas como a crise mexicana
(1994), asiática (1997), russa (1998), a desvalorização cambial de 1999 e a crise argentina (2001).
Há de se ressaltar que a economia brasileira sofreu essas crises não apenas pelo impacto externo na
economia, mas, principalmente, pela extrema vulnerabilidade nas contas externas e das finanças
públicas após a adoção do câmbio supervalorizado e do brutal aumento da dívida pública.

Com isso, em fins de 1998, dada a extrema vulnerabilidade das contas externas e a percepção
do mercado de que era impossível sustentar por mais tempo o câmbio sobrevalorizado, o
Brasil foi obrigado a pegar o maior empréstimo da história do Fundo Monetário Internacional
(FMI), no valor de US$ 40 bilhões. Esses recursos foram utilizados pelo governo para saldar as
dívidas dos investidores externos que estavam aplicados no Brasil, especialmente nos títulos da
dívida pública atrelados à taxa de juros Selic, que chegou ao auge de 45% ao ano nesse período.
Em janeiro de 1999 ocorreu a desvalorização do Real frente ao Dólar. O fato de o governo ter
tomado essa medida após as eleições presidenciais em que o presidente Fernando Henrique
Cardoso, do PSDB, derrotou o candidato Lula, do PT, no primeiro turno, é entendido por muitos
como manobra política.

Outro fator que ajudou a financiar o déficit externo foi a ampliação da entrada de investimentos
diretos estrangeiros no País após a adoção do Plano Real. É claro que os benefícios disso são
muitos, como a modernização do parque produtivo, a geração de empregos e renda e ampliação
da concorrência. Por outro lado, existem diversos problemas como a desnacionalização, o
crescimento da remessa de lucros e importações e o fato de que muitas dessas empresas
não contribuem para o crescimento das exportações. Ao contrário, por atuarem no setor de
serviços ou para não concorrerem consigo mesmas em outros países, trabalham somente no
mercado interno.

A utilização de juros elevados resultou em alguns problemas que até hoje o governo luta para
resolver. O primeiro foi a explosão da dívida interna desde a implantação do Plano Real e,
consequentemente, da despesa com juros. O segundo foi o fraco crescimento econômico
apresentado pela economia nos últimos anos e, em consequência disso, o substancial aumento
do desemprego.

56
MACROECONOMIA • AULA 4

Ciclos econômicos

Não importa a época, as oportunidades de trabalho não dependem apenas da habilidade e da


experiência das pessoas, mas, também, das condições gerais da economia.

Todas as economias atravessam ciclos de atividades. Períodos de expansão, quando a produção


e o emprego aumentam, intercalam-se com períodos de retração, nos quais esses dois fatores se
reduzem. Quando a economia está em crescimento, a demanda por produtos e serviços tende
a aumentar e, para produzir esses itens, as empresas contratam mais funcionários. A expansão
econômica também exerce impacto sobre a inflação. Conforme a demanda por produtos e serviços
aumenta, os preços tendem a se elevar. Durante os períodos de retração, com mais pessoas fora
do mercado de trabalho, a demanda por produtos e serviços tende a cair – reduzindo a pressão
pela elevação dos preços.

Os ciclos da economia afetam de maneira bastante regular tanto as elevações de preço quanto a
quantidade de empregos disponíveis, mas os efeitos sobre o padrão de vida das pessoas, a renda
e o poder de compra são mais difíceis de prever.

Por que alguns acontecimentos ocorrem em série? Qual a relação entre desemprego e inflação?
Por que os ciclos econômicos funcionam dessa maneira? Qual o efeito das atividades do governo
sobre o ciclo econômico e sobre o desemprego e a inflação? Quem é prejudicado com o aumento
do desemprego e da inflação? E quem se beneficia com essa situação? A Macroeconomia procura
responder a essas perguntas.

O movimento caracterizado pela elevação do PIB real seguida de uma queda é chamado de ciclo
econômico e costuma se repetir – mas não pode ser considerado regular. Historicamente, a
duração dos ciclos econômicos e a taxa de ascensão e queda do PIE real variam bastante.

O crescimento da economia em longo prazo depende do aumento dos recursos produtivos, como
a terra, o capital e a mão de obra, além dos avanços tecnológicos. As mudanças tecnológicas
aumentam a produtividade dos recursos, de modo que a produção aumenta ainda que a quantidade
de recursos permaneça a mesma. Nos últimos anos, é grande a preocupação com a taxa de
crescimento da produtividade americana e seus efeitos sobre o potencial de crescimento em
longo prazo da economia do País. Se uma economia cresce com o tempo, por que os economistas
se preocupam com os ciclos econômicos? Na verdade, eles tentam compreender as causas dos
fenômenos de modo que possam suavizar ou, mesmo, evitar a recessão e seus efeitos negativos
no padrão de vida das pessoas.

A análise dos ciclos econômicos envolvem três tipos de indicadores:

Indicadores principais

»» Semana média de trabalho.

57
AULA 4 • MACROECONOMIA

»» Solicitações de seguro-desemprego.

»» Pedidos novos para as fábricas.

»» Preços das ações.

»» Novos pedidos de equipamentos e instalações.

»» Novos alvarás para construção.

»» Tempo de entrega dos produtos.

»» Taxa de juros.

»» Oferta de dinheiro.

»» Expectativas do consumidor.

Indicadores simultâneos

»» Aumento da folha de pagamento.

»» Produção industrial.

»» Renda individual.

»» Produção e vendas.

Indicadores posteriores

»» Custo do trabalho por unidade produzida.

»» Proporção entre as vendas e as previsões.

»» Duração do tempo do desemprego.

»» Proporção entre o crédito ao consumidor e a renda pessoal.

Existem também outros indicadores que medem o desempenho e a eficiência da economia.


Mas, afinal o que são indicadores?

Pesquisando a literatura especializada, podemos destacar algumas definições sobre indicadores


econômicos que serão fundamentais para o entendimento do nosso estudo.

No Dicionário de Economia (1985, p. 204):

Indicadores econômicos: são dados estatísticos passíveis de mudança e oscilações,


capaz de dar uma ideia do estado de uma economia em determinado período
ou data. Também chamado de indicadores de conjuntura, em geral fornecem
dados sobre produção, comercialização e investimentos.

58
MACROECONOMIA • AULA 4

Já Romero (2002, p. 27), fazendo uma analogia com os dedos das mãos, os indicadores econômicos
(IEs) representam essencialmente dados e/ou informações sinalizadoras ou apostadoras do
comportamento (individual ou integrado) das diferentes variáveis e fenômenos componentes
de um sistema econômico de um país, região ou estado.

A última definição apresentada, ou seja, a analogia proposta com os dedos da mão por Romero
(2002) nos ilustra com brilhantismo o que representam os indicadores.

Mas para que servem os indicadores?

Os indicadores econômicos são fundamentais, tanto para propiciar compreensão da situação


presente e o delineamento das tendências de curto prazo na economia quanto para subsidiar o
processo de tomada de decisões estratégicas dos agentes públicos (governo) e privados (empresas
e consumidores).

De acordo com Romero (2002), os índices econômicos podem ser classificados em cinco
subconjuntos de variáveis macroeconômicas relevantes:

»» Nível de atividade.

»» Preços.

»» Setor externo.

»» Agregados monetários.

»» Setor público.

Vamos adiante! Você conhecerá os indicadores de cada variável macroeconômica que estudaremos
nesta aula.

Indicadores de níveis de atividades

Os indicadores do nível de atividade funcionam como um termômetro das condições gerais


dos elementos mais sensíveis às flutuações cíclicas do lado real da economia, sintetizados no
comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), da Produção Industrial e das Estatísticas de
Emprego e Desemprego (ROMERO, 2002).

Produto interno Bruto (PIB) é o valor monetário total dos bens e serviços finais produzidos
por uma economia em determinado período e cuja produção ocorre exclusivamente dentro
das fronteiras geográficas do País, não interessando a origem de propriedade dos fatores de
produção. (CURADO, 2008)

O PIB é calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), com base em
metodologia recomendada pela Organização das Nações Unidas (ONU), a partir de minucioso

59
AULA 4 • MACROECONOMIA

levantamento e sistematização de informações primárias e secundárias apuradas ou apropriadas


por aquela instituição.

Produção Industrial: este indicador revela a variação mensal da produção física da indústria
brasileira, obtida a partir da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física (PIM-PF), realizada
pelo IBGE desde o início dos anos de 1970. Serve como indicador preliminar da evolução do PIB
industrial. (ROMERO, 2002)

Desemprego: o desemprego constitui a maior preocupação da maioria das economias capitalistas


desde o final do século XX, devido à modernização tecnológica, à automação, à abertura pouco
criteriosa dos mercados e à proliferação de distorções conjunturais. A taxa de desemprego é
definida pela relação entre o número de pessoas desempregadas e a população economicamente
ativa (PEA). (ROMERO, 2002)

A palavra desemprego é assustadora para maioria das pessoas. Quando há desemprego, algo
não vai bem. Os indicadores servem de parâmetros para analisar a economia.

Figura 15.

Fonte: <http://www.istoe.com.br/reportagens/14228_QUAL+O+SEU+INDICE+DE+FELICIDADE>.

60
MACROECONOMIA • AULA 4

Indicadores de preços

De acordo com Romero (2002), os índices de preços mais importantes do País são aqueles
produzidos pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), pelo IBGE e pela Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas da Universidade de São Paulo (Fipe-USP).

Índice Geral de Preços: disponibilidade Interna (IGP-DI): é obtido a partir de uma média do
Índice de Preços no Atacado (IPA), Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e Índice Nacional de
Custo da Construção (INCC), com ponderações 6 (seis), 3 (três) e 1 (um) respectivamente.

Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M): apresenta praticamente as mesmas características


e limitações do IGPDI. A diferença principal corresponde à periodicidade da coleta dos preços,
cobrindo o intervalo entre os dias 21 do mês anterior e 20 do mês corrente. Atualmente,
é utilizado especialmente nos contratos de reajustes de tarifas de telefonia e de energia
elétrica.

Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA): este índice reflete as variações dos preços dos bens
e serviços consumidos por famílias com renda mensal urbana entre um e 40 salários mínimos,
independentemente da fonte.

Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC): este índice capta a evolução de uma cesta de
produtos consumidos por famílias com rendimento entre um e oito salários mínimos, provenientes
exclusivamente do trabalho assalariado urbano.

Setor Externo

Exportações: valor das vendas e outras remessas de bens e serviços de propriedade para o
exterior, realizadas por agentes econômicos residentes do País, a preços de embarque, excluindo
o pagamento de fretes, seguros, impostos e taxas.

Importações: valor das compras e outros ingressos de mercadorias e serviços procedentes do


exterior no País.

Saldo da balança comercial: exportação menos importação.

Saldo em transações correntes: consolidação da balança comercial e de serviços e das transferências


unilaterais. Os serviços compreendem transportes, seguros, viagens internacionais, assistência
técnica, lucros e dividendos e juros da dívida externa. As transferências unilaterais correspondem
às doações, remessas de imigrantes etc.

Dívida externa: valor total de débitos do País, contratados com residentes no exterior e garantidos
pelo governo, decorrentes de empréstimos e financiamentos, com prazo de vencimento superior
a um ano.

61
AULA 4 • MACROECONOMIA

Agregados Monetários

Juros Over/Selic: taxa de juros média (em %) praticada pelo Banco Central para a rolagem dos
títulos da dívida pública por um dia. Apesar de terem sido concebidos para propiciar a gestão da
liquidez do sistema econômico, os papéis do governo sempre representaram ativos de primeira
linha, indicando o piso da rentabilidade do mercado financeiro, devido à sua pronta liquidez e
à plena garantia de recompra.

Poupança: rendimento calculado para a remuneração mensal dos depósitos em caderneta de


poupança, a partir da Taxa Referencial de Juros (TR), acrescida de 0,5%. A TR é obtida a partir
da combinação da remuneração média mensal, livre de impostos, dos depósitos a prazo fixo
captados pelos bancos comerciais e de investimentos e agências operadoras com títulos públicos.

Setor Público

Dívida líquida: somatório do endividamento dos governos federal (inclusive Banco Central),
estadual e municipal e por suas empresas junto ao sistema financeiro (público e privado), ao
setor privado não financeiro e ao resto do mundo, descontados os valores correspondentes aos
créditos do governo. Ao contrário do ocorrido em outros países, no Brasil o conceito inclui a base
monetária, por contemplar os ativos e passivos financeiros do Banco Central.

Necessidades de financiamento: déficit ou superávit resultante da variação líquida da dívida


pública, deduzidos os empréstimos concedidos ao setor privado. O conceito nominal incorpora
a totalidade das receitas e despesas, o operacional exclui as correções monetária e cambial da
dívida pública e o primário desconta a correção monetária e as receitas e despesas financeiras
(juros nominais).

Outro índice bem conhecido, e que vimos sempre passar nos noticiários, é o índice de
desenvolvimento humano (IDH). É um dos principais índices capazes de determinar com
precisão os estágios de desenvolvimento humano e de condições de vida é o IDH. Trata-se de
um indicador do nível de atendimento, em dada sociedade, das necessidades humanas básicas.
(ROMERO, 2002).

Figura 16.

Fonte: <http://obviousmag.org/amarse/2015/-estamos-incessantemente-procurando-essa.html>.

62
MACROECONOMIA • AULA 4

Um novo indicador: Felicidade Interna Bruta

“A Felicidade Interna Bruta é mais importante do que o Produto Interno Bruto”. Com estas
palavras, o rei do Butão, então com 17 anos, estabeleceu as bases para a criação de um conceito
que passou a ser adotado pelas Nações Unidas e que vem ganhando força no Brasil, Canadá,
Butão, Tailândia, Japão, Reino Unido, EUA e França.

O FIB é baseado na premissa de que o objetivo principal der uma sociedade não deveria ser
somente o crescimento econômico, mas a integração do desenvolvimento material com o
psicológico, o cultural e o espiritual sempre em harmonia com a terra.

Figura 17.

Fonte: <http://www.istoe.com.br/reportagens/14228_QUAL+O+SEU+INDICE+DE+FELICIDADE>.

63
AULA 4 • MACROECONOMIA

Figura 18.

Fonte: <http://www.istoe.com.br/reportagens/14228_QUAL+O+SEU+INDICE+DE+FELICIDADE>.

E então? Você é feliz?

Para finalizar esta nossa aula, vale lembrar que a felicidade e o desenvolvimento sempre serão
resultado de um trabalho conjunto. Um estado é composto por pessoas, que usufruem de seus
benefícios, mas que também constroem ou destroem a partir de seus votos, a partir de ações
que, mesmo parecendo pequenas, podem fazer toda a diferença. Portanto, reflita também: além

64
MACROECONOMIA • AULA 4

de ser feliz, você está contribuindo para a felicidade daqueles que o cercam? É o somatório de
pequenas ações, de pequenos gestos que faz uma nação grande, faz uma nação ser feliz, ou você
já se esqueceu dos japoneses na Copa do Mundo com seus sacos azuis recolhendo seu lixo?
Enquanto isso, o “amanhã” pode ser melhor, se trabalharmos para isso.

Figura 19. Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, após o viradão de 36 horas da sua inauguração.

Fonte: <http://www.brasilpost.com.br/2015/12/21/lixo-museu-do-amanha_n_8853082.html>.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» A Macroeconomia preocupa-se com o conjunto de decisões de todos os agentes econômicos, que se refletirá em maior
ou menor produção e nível de emprego. Inflação, taxa de juros, taxa de câmbio, nível de emprego global, crescimento
econômico são objetos da análise macroeconômica. Estuda, também, as decisões tomadas pelo formulador de política
econômica do país.

»» A Oferta Agregada representa o que as empresas, no seu conjunto, estão dispostas a produzir e a vender para cada nível
geral de preços, assumindo como constantes todas as restantes variáveis determinantes da oferta agregada, tais como as
tecnologias disponíveis e as quantidades e preços dos fatores produtivos.

»» A Demanda Agregada corresponde à totalidade da despesa desejada pelo conjunto dos agentes econômicos (famílias,
empresas, Estado e exterior) para determinado nível de preços mantendo-se constantes outros fatores tais como a política
orçamentária, a oferta de moeda, a disponibilidade de capital. A Macroeconomia fornece o embasamento necessário para
as políticas econômicas que são compostas pela política monetária, fiscal e cambial.

65
ECONOMIA INTERNACIONAL
AULA
5
Introdução

Ao abordar a Economia Internacional, esta aula apresenta a justificativa das relações internacionais,
bem como são contabilizadas as transações externas. Serão apresentados os conceitos de
vantagem comparativa e o papel do câmbio para o bom funcionamento das economias. Boa
leitura e bons estudos!

Objetivos

»» Compreender como são escolhidos os produtos que um país exporta.

»» Explicar para que servem as vantagens comparativas.

»» Compreender quais sistemas de taxas de câmbio existem hoje.

»» Compreender como são contabilizadas as transações com o exterior no Brasil.

O mundo é um mercado global, e todos os países atuam de maneira interdependente. Entender


o comércio internacional e o funcionamento das finanças é essencial para a compreensão da
economia moderna.

Ao se estudar os fatores determinantes do comércio internacional, assim como os mecanismos


e os motivos para a restrição da atividade comercial, além das taxas de câmbio, passamos a
entender melhor as inter-relações entre as nações se compreendermos o mundo em que vivemos.

66
ECONOMIA INTERNACIONAL • AULA 5

Vantagens comparativas

O que leva muitos países a comercializarem entre si? Esta é uma questão básica a ser respondida.
Os economistas clássicos fornecem a explicação teórica básica para o comércio internacional
pelo chamado Princípio das Vantagens Comparativas.

O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deva se especializar na produção
daquela mercadoria em que é relativamente mais eficiente (ou que tenha um custo relativamente
menor). Esta será, portanto, a mercadoria exportada; por outro lado, esse país deverá importar
aqueles bens cuja produção implicar um custo relativamente maior.

Essa teoria parte, então, do princípio de que os países que comercializam entre si aumentam
o nível de bem-estar social. Por bem-estar entende-se a quantidade de produtos colocados à
disposição dos habitantes desses países. Assim, um aumento no nível de bem-estar significa
uma maior quantidade de mercadorias à disposição dos consumidores.

A essência da Teoria das Vantagens Comparativas está relacionada com a produtividade dos
fatores de produção que cada país possui; as suas condições de clima; a disponibilidade de
recursos naturais etc. Do ponto de vista econômico, a produtividade é o mais importante, pois
maior produtividade resulta em custos de produção menores.

É preciso observar que o exemplo hipotético para explicar a Teoria das Vantagens Comparativas é
extremamente simples, não correspondendo à realidade. Um país não se especializa totalmente
na produção de um único bem e nem produz e consome apenas dois bens, mas uma infinidade
deles. O exemplo, apesar de simples busca transmitir a essência dessa teoria, que se aplica
ao conjunto de todos os países que participam do comércio internacional e aos bens por eles
produzidos, quando desejam aumentar o bem-estar de sua população num curto prazo.

Assim sendo, sabemos que os países se especializam e comercializam de acordo com suas
vantagens comparativas, mas o que lhes confere essa condição? A seguir estão listadas algumas
fontes de vantagens comparativas:

Diferenças de produtividade

A vantagem comparativa baseia-se na diferença da quantidade de horas necessárias para a


produção de cada item. A variação na produtividade da mão de obra pode explicar diversos
padrões comerciais observados internacionalmente.

Abundância

Os produtos diferem no que se refere aos recursos (ou fatores de produção) necessários para
sua fabricação. Já os países se diferenciam em relação à abundância dos distintos fatores de

67
AULA 5 • ECONOMIA INTERNACIONAL

produção: terra. Mão de obra e capital. Como se conclui, os países têm vantagens na produção
dos itens que usam maiores quantidades do fator de produção mais abundante. Alguns, com
grandes áreas cultiváveis. Contam com uma vantagem comparativa na produção agrícola.

Habilidades

Essa abordagem enfatiza a diferença entre os países no que se refere à disponibilidade de mão
de obra qualificada.

Ciclo de vida dos produtos

Essa teoria explica como a vantagem comparativa de um produto específico pode mudar de um
país para outro com o passar do tempo. Isso ocorre porque os artigos passam por um ciclo de
vida. Para começar, é preciso investir em desenvolvimento e em testes para definir o conceito
e o design do produto. Por esse motivo, o início da produção é feito por empresas inovadoras.
Com o tempo, porém, o produto bem-sucedido tende a se tornar comum: muitos passam a
fabricá-lo. Assim, o artigo começa a ser produzido por empresas que investiram pouco ou nada
em pesquisa e desenvolvimento, e que apenas copiaram, com sucesso, produtos já inventados
e desenvolvidos. A teoria do ciclo de vida do produto está relacionada à vantagem comparativa
internacional na qual um produto novo é produzido e exportado, em primeiro lugar, pelo país
que o criou.

Ao ser exportado e tornar-se conhecido, empresas estrangeiras passam a copiar sua tecnologia e
a produzir versões concorrentes. À medida que o produto amadurece, a vantagem comparativa
da nação de origem diminui, pois outros países com custos de produção inferiores podem usar
a mesma tecnologia, já disseminada. A trajetória da produção da TV em cores é um exemplo.

O aparelho foi inventado nos Estados Unidos e, por isso, no início, empresas americanas produziam
e exportavam receptores coloridos. Com o tempo, conforme a tecnologia da TV em cores tornou-se
conhecida, Japão e Taiwan passaram a dominar sua produção. As empresas desses países tinham
uma vantagem comparativa em relação aos Estados Unidos na produção de televisões em cores.
Depois que a nova tecnologia se dissemina, países com custos de produção inferiores – por causa
dos salários mais baixos pagos aos trabalhadores – podem concorrer de maneira eficiente com
os países que desenvolveram a novidade, mas nos quais os salários são mais altos.

Preferências

Fatores associados à demanda possam explicar parte dos padrões observados no comércio
internacional. Raramente os artigos gerados por produtores diferentes são idênticos, e talvez os
consumidores prefiram itens produzidos por determinada empresa. As companhias nacionais,
em regra, produzem artigos para satisfazer o mercado doméstico, mas, como a preferência dos
consumidores muda, alguns deles podem preferir itens produzidos por empresas estrangeiras.

68
ECONOMIA INTERNACIONAL • AULA 5

O comércio internacional permite que os consumidores ampliem suas oportunidades de consumo.


Os consumidores que vivem em países com níveis de desenvolvimento similares podem ter
padrões de consumo parecidos, enquanto os padrões de consumo de países com níveis de
desenvolvimento distintos são diferentes. Por isso, as empresas dos países industrializados tendem
a encontrar um mercado bem maior para seus produtos em outros países industrializados que
naqueles em desenvolvimento.

Determinação da Taxa de Câmbio

A determinação da taxa de câmbio pode ocorrer de dois modos: institucionalmente, por decisão
de autoridades econômicas com fixação periódica das taxas (taxas fixas de câmbio), ou pelo
funcionamento do mercado, em que as taxas flutuam automaticamente, em decorrência das
pressões de oferta e demanda por divisas estrangeiras (taxas flutuantes).

A oferta de divisas é realizada tanto pelos exportadores, que recebem moeda estrangeira em
contrapartida de suas vendas, como pela entrada de capitais financeiros internacionais. Como
as divisas não podem ser utilizadas internamente, precisam ser convertidas em moeda nacional.
Isso é feito pelo Banco Central da seguinte forma: recebe dos importadores do exterior a quantia
em divisas – dólar, por exemplo, retendo-as em seus cofres, e paga, ao exportador nacional em
moeda nacional, em reais, a importância correspondente.

Uma taxa elevada de câmbio significa que o preço da divisa estrangeira está alto, ou que a moeda
nacional está desvalorizada. Assim, a expressão desvalorização cambial indica que houve um
aumento da taxa de câmbio – maior número de reais por unidade de moeda estrangeira. Por sua
vez, valorização cambial significa moeda nacional mais forte, isto é, paga-se menos reais por
dólar, por exemplo, tem-se uma queda na taxa de câmbio.

As taxas de câmbio estão intimamente relacionadas com os preços dos produtos exportados e
importadas e, consequentemente, com o resultado da balança comercial do país. Se a taxa de
câmbio se encontrar em patamares elevados, estimulará as exportações, pois os exportadores
passaram a receber mais reais pela mesma quantidade de divisas derivadas da exportação; em
consequência, haverá maior oferta de divisas.

Por exemplo: Suponhamos uma taxa de câmbio de 0,90 real por dólar, e que o exportador vendia
1.000 unidades de seu produto a 50 dólares cada. Seu faturamento era de 50.000 dólares ou 45.000
reais. Se o câmbio for desvalorizado em 10%%, a taxa de câmbio subirá para 0,99 real por dólar
e, vendendo as mesmas 1.000 unidades, receberá os mesmos 50.000 dólares, só que valendo,
agora, 49.500 reais. Isso estimulará o exportador a vender mais, aumentando a oferta de divisas.

Do lado das importações, a situação se inverte, pois se o preço dos produtos importados se
elevam, em moeda nacional, haverá desestímulo às importações e, consequentemente, queda
na demanda de divisas.

69
AULA 5 • ECONOMIA INTERNACIONAL

Balanço de pagamentos

As transações com o exterior precisam ser contabilizadas. Para isso, existe o Balanço de Pagamentos,
que é o registro estatístico – contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os
residentes do país com os residentes dos demais países.

Desse modo, estão registradas no balanço de pagamentos, por exemplo, todas as exportações e
importações do período considerado: os fretes, os seguros, os empréstimos obtidos no exterior
etc., ou seja, todas as transações com mercadorias, serviços e capitais físicos e financeiros entre
o país e o resto do mundo.

O balanço de pagamentos apresenta as seguintes subdivisões:

»» Balança comercial: essa conta compreende basicamente o comércio de mercadorias.


Se as exportações FOB excedem as importações FOB, temos um superávit no balanço
de comércio; caso contrário, temos um déficit.

»» Balanço de serviços: registram-se todos os serviços pagos/ recebidos pelo Brasil, tais
como fretes, seguros, lucros, juros, royalties e assistência técnica, viagens internacionais.

»» Transferências unilaterais: também conhecidas como conta donativos, registram as


doações interpaíses. Esses donativos podem ser tanto em divisas como em mercadorias.

»» Balanço de transações correntes: o somatório dos balanços comercial, de serviços e de


transferências unilaterais, resulta no saldo em conta corrente ou balanço de transações
correntes. Se o saldo do balanço de transações correntes for negativo, temos uma
poupança externa positiva, pois indica que o país aumentou seu endividamento externo,
em termos financeiros, mas absorveu bens e serviços em termos reais no exterior.

»» Movimento de capitais ou balanço de capitais: na conta de capital aparecem as transações


que produzem variações no ativo e no passivo externos do país e que, portanto, modificam
sua posição devedora ou credora perante o resto do mundo.

A conta de capital subdivide-se em duas:

»» Movimento autônomo de capital, na forma de investimentos diretos de empresas


multinacionais, de empréstimos e financiamentos para projetos de desenvolvimento do
país e de capitais financeiros de curto prazo, aplicados no mercado financeiro nacional.

»» Movimentos induzidos de capital, para financiar o saldo do balanço de pagamentos.


Inclui as contas Atrasadas Comerciais (quando o país não paga suas obrigações na
data do vencimento) e Empréstimos de Regulamentação do FMI (quando o país tem
problemas de liquidez internacional).

Cabe uma observação sobre a rubrica Erros e Omissões. É a diferença entre o saldo do balanço
de pagamentos e o financiamento do resultado que surge quando se tenta compatibilizar

70
ECONOMIA INTERNACIONAL • AULA 5

transações físicas e financeiras. A regra internacional é admitir para Erros e Omissões um valor
de, no máximo, 5% da soma das exportações com as importações.

Estrutura do balanço de pagamentos

Balança Comercial (Mercadorias)


»» Importações (débito);

»» Exportações (crédito).

Balanço de Serviço

»» Viagens (turismo);

»» Transportes (fretes).

»» Seguros.

»» Rendas de Capitais (juros, lucros, dividendos e lucros reinvestidos pelas multinacionais).

»» Serviços diversos (royalties, assistência técnica).

»» Serviços governamentais (embaixadas).

Transferências Unilaterais (Donativos em Divisas ou Mercadorias).

Balanço de Transações Correntes ou Saldo em Conta Corrente.

(Resultado Líquido de A + B + C)

Movimento de Capitais Autônomos (Transações Monetárias)

»» Investimentos diretos líquidos (novas firmas estrangeiras).

»» Reinvestimentos (multinacionais já instaladas no país).

»» Empréstimos e financiamentos (Banco Mundial, BID, bancos privados e oficiais


estrangeiros).

»» Amortizações.

»» Capitais de curto prazo.

Saldo do Balanço de Pagamentos (Resultado Líquido de D + E)

Políticas externas

O governo pode atuar por meio da política cambial ou da política comercial. A política cambial
diz respeito a alterações na taxa de câmbio, enquanto a política comercial constitui-se de
mecanismos que interferem no fluxo de mercadorias e serviços.

71
AULA 5 • ECONOMIA INTERNACIONAL

As políticas cambiais mais frequentes são:

»» Regime de taxas fixas de câmbio;

»» Regime de taxas flutuantes ou flexíveis de câmbio;

»» Regime de bandas cambiais;

Dentre as políticas comerciais externas, podemos destacar as seguintes:

»» Alterações das tarifas sobre importações;

»» Regulamentação do comércio exterior.

São as políticas que atuam sobre as variáveis relacionadas ao setor externo da economia.

A política cambial refere-se à atuação do governo sobre a taxa de câmbio. O governo, por meio
do Banco Central, pode fixar a taxa de câmbio.

O mercado de câmbio (divisas) é formado pelos diversos agentes econômicos que compram e
vendem moeda estrangeira conforme suas necessidades. Empresas que vendem mercadorias
ou ações no exterior estão aumentando a oferta de moeda estrangeira; em particular, o dólar,
pois sua receita ocorre em moeda estrangeira. Empresas que compram bens ou ações no exterior
estão demandando moeda estrangeira, pois seus gastos ocorrem em dólares. Nesse sentido,
o preço da moeda estrangeira em relação à moeda nacional é determinado nesse mercado.
Esse preço é chamado de taxa de câmbio (R$/US$).

Se o câmbio estiver em R$ 2,50 significa que são necessários R$ 2,50 reais para comprar um dólar.
Se este subir para R$ 3,00 por dólar, ocorreu uma desvalorização da moeda local (real) em relação
à moeda estrangeira (dólar). O preço da moeda estrangeira elevou-se.

Assim, se o preço sobe devido a um aumento da demanda por dólar, dizemos que ocorreu uma
desvalorização do real frente ao dólar. Precisa-se de mais reais para comprar a mesma quantidade
de dólares.

Cabe explicar que as relações econômicas, comerciais e financeiras dos agentes de determinado
sistema econômico, como os agentes de outro sistema econômico (normalmente país), são
registradas na Balança de Pagamentos. Eventuais déficits no Balanço de Pagamentos são
decorrentes do fato de a entrada de divisas (dólares) ser inferior à saída de divisas. Esse fato é
resultado de dois desequilíbrios. O primeiro é que se importam bens e serviços menos do que
se consegue exportar, resultando em uma saída de divisas maior do que a entrada. O segundo
desequilíbrio é causado pelo lado financeiro, em que não se consegue atrair recursos (dólares)
em quantidade suficiente para pagar as contas em dólar.

72
ECONOMIA INTERNACIONAL • AULA 5

Restrições ao comércio internacional

O comércio internacional raramente é pautado apenas pela vantagem comparativa e pelas forças
de oferta e demanda do mercado. Com frequência, os governos exercem pressões políticas que,
ao menos em parte, afetam as vantagens comparativas. As políticas governamentais voltadas a
influenciar os fluxos internacionais de comércio recebem o nome de política comercial.

Os governos restringem o comércio internacional a fim “de proteger os produtores nacionais da


concorrência internacional”. Em alguns casos, essa proteção pode representar uma vantagem,
mas, na maioria das vezes, prejudica os consumidores.

O comércio internacional com base na vantagem comparativa amplia a produção mundial e


permite que os consumidores tenham acesso a produtos de melhor qualidade a preços mais
baixos que se dispusessem apenas das ofertas do mercado nacional. Se esse comércio é limitado,
os consumidores precisam pagar mais por produtos de menor qualidade, e a produção mundial
se reduz. A proteção contra a concorrência internacional impõe custos para a economia nacional
e para os produtos estrangeiros. Quando a produção não se baseia na vantagem comparativa,
os recursos não são usados da maneira mais eficiente. Seja qual for o modo como o governo
altera o fluxo do comércio, é de se esperar que alguém se beneficie em detrimento de outros. Em
outras palavras, a proteção contra a concorrência internacional favorece os produtores internos
à custa dos consumidores nacionais. O argumento mais comum para a limitação da entrada de
produtos estrangeiros é o da criação de empregos no país.

Outro grupo de medidas envolve a busca pela igualdade nas oportunidades de negócios, ou seja,
o “comércio justo”. São utilizadas quando grupos com interesses especiais, às vezes, alegam
concorrer com produtores estrangeiros que contam com vantagens injustas em relação aos
produtores nacionais. O que é justo, porém, muitas vezes, depende de quem vê. As pessoas
que reivindicam igualdade nas oportunidades de negócio (“comércio justo”) sustentam que
os governos devem tomar medidas para compensar a vantagem das empresas estrangeiras.
Uma dessas alegações é que os produtores de outros países podem pagar salários mais baixos.

Algumas reivindicações por um “comércio justo” se apoiam na ideia da reciprocidade. Se um


país impõe restrições a outro, a resposta pode ser a criação de cotas e tarifas.

Um dos perigos de reivindicar “justiça” com base na reciprocidade está no fato de que o comércio
justo pode ser invocado em casos em que, na realidade, não existem restrições estrangeiras a
importações nacionais. Vamos imaginar, por exemplo, que o setor automobilístico americano
queira restringir a entrada de veículos importados para garantir um mercado maior à produção
nacional. Uma estratégia pode ser alegar que as exportações do setor caíram em decorrência da
discriminação aos veículos nacionais, quando, na verdade, a redução das exportações decorreu
de outros fatores. Atribuir o problema às restrições comerciais estrangeiras, no entanto, pode
significar apoio político para restringir a importação de veículos concorrentes.

73
AULA 5 • ECONOMIA INTERNACIONAL

As tarifas impostas sobre o comércio internacional representam uma fonte de receita para os
governos. Os países industrializados, nos quais os impostos sobre os rendimentos são facilmente
recolhidos, raramente impõem tarifas como fonte de receita para o governo. Muitos países em
desenvolvimento, porém, enfrentam dificuldade em tributar e recolher impostos sobre a renda,
enquanto a cobrança de tarifas sobre o comércio é bem mais fácil: basta instalar postos de
alfândega em todos os pontos de entrada e de saída do país. Graças a essa facilidade de controle,
tarifas sobre exportação e importação são comuns nos países em desenvolvimento, que alegam
se tratar de uma fonte de recursos de que não podem prescindir.

Outro argumento conhecido é que setores essenciais para a defesa nacional, como a construção
de navios, devem ser protegidos da concorrência estrangeira. Embora os Estados Unidos não
tenham vantagem comparativa na construção de navios, é preciso manter alguma produção
interna para garantir a produção e o abastecimento em caso de conflitos – numa guerra, por
exemplo, não é possível “importar” navios. Esse é um argumento válido se o setor em questão for
de fato essencial para a defesa do País. Em alguns setores, como o de extração de cobre e outros
minerais, pode fazer mais sentido importar em períodos de paz e armazenar o minério para
utilização em períodos de conflito, pois esses itens não exigem produção doméstica. É preciso
tomar cuidado para que o argumento da defesa nacional não seja usado na proteção de setores
não essenciais para os interesses do país.

Muitas vezes, os países tendem a proteger setores novos com o argumento de que é preciso
garantir seu desenvolvimento: esses setores precisam de tempo para se expandir e atingir a
eficiência necessária, garantindo custos inferiores ou iguais aos dos concorrentes estrangeiros.
Uma alternativa para proteger os setores novos e/ ou críticos com tarifas ou cotas são os subsídios.
Os subsídios permitem às empresas desses setores cobrar preços inferiores e concorrer com
produtores estrangeiros mais eficientes, ao mesmo tempo em que permitem aos consumidores
pagarem preços de padrão mundial em vez de preços mais elevados, associados a tarifas ou cotas
sobre produtos estrangeiros.

Proteger setores incipientes da concorrência internacional pode fazer sentido, mas apenas durante
a fase de desenvolvimento. Assim que chegarem a uma proporção suficiente, as medidas de
proteção devem ser eliminadas a fim de que esses setores possam concorrer com os produtores
estrangeiros. Infelizmente, esse tipo de proteção não costuma ser eliminado porque, quanto maior
e bem-sucedido se tornar o setor, maior seu poder político para manter hegemonia no mercado.
Na realidade, se um setor incipiente tem boas chances de se tornar competitivo e produzir de
maneira lucrativa, depois de estabelecido, o governo não deveria nem sequer oferecer proteção
contra perdas de curto prazo. Empresas novas em geral enfrentam prejuízos que tendem a ser
passageiros caso elas tenham condições de se estabelecer.

74
ECONOMIA INTERNACIONAL • AULA 5

Ferramentas da política comercial

A política comercial utiliza diversas ferramentas, como tarifas, cotas, subsídios e barreiras não
tarifárias (como regulamentações associadas à saúde e à segurança) para restringir a entrada de
produtos estrangeiros. Desde 1945, as barreiras comerciais foram reduzidas nos Estados Unidos.
Grande parte do progresso associado ao livre comércio pode ser atribuída ao General Agreement
on Tariffs and Trade, ou GATT, firmado em 1947. Em 1995, foi criada a Organização Mundial do
Comércio (OMC), a fim de incorporar os acordos associados ao GATT e atuar como organização
oficial e permanente de supervisão do comércio mundial. A OMC tem três objetivos: garantir
que o comércio mundial ocorra da maneira mais livre possível, negociar reduções graduais das
restrições comerciais e proporcionar um fórum imparcial para a solução de conflitos. No entanto,
ainda existem restrições ao comércio internacional, tais como:

Tarifas

É como um imposto sobre as importações de produtos ou serviços adquiridos de fornecedores


estrangeiros. É comum que os países determinem tarifas sobre determinadas importações;
alguns chegam mesmo a adotar esse tipo de imposto sobre algumas exportações como modo
de aumentar a arrecadação do governo. O Brasil, por exemplo, tributa a exportação de café. Nos
Estados Unidos, não são adotadas tarifas de exportação, proibidas pela Constituição do país.

Cotas

As cotas são limitações às quantidades ou ao valor dos produtos importados e exportados por
um país. As cotas de quantidade restringem a quantidade física de um artigo. Uma cota de valor
limita o valor monetário de um produto a ser comercializado. Em vez de restringir a quantidade
de açúcar autorizada a entrar no país, o governo americano poderia ter limitado o total de dólares
gastos com importação do produto. As cotas são usadas para proteger os produtores internos
da concorrência estrangeira. Ao restringir a quantidade de produtos importados, o resultado é
a elevação do preço e a possibilidade de os produtores internos venderem mais e a preços mais
elevados que em uma situação livre de cotas.

Outras barreiras

As tarifas e as cotas não são as únicas barreiras ao livre fluxo das mercadorias de um país para
outro. Existem mais três fontes adicionais de restrições ao livre comércio: subsídios, compras
do governo e exigências de saúde e de segurança.

Os subsídios são pagamentos que o governo faz aos exportadores. O recurso existe para
estimular as exportações, pois os exportadores conseguem cobrar preços menores. O total
de um subsídio é determinado pelo preço internacional de um produto em relação ao preço
nacional sem que haja comércio. Os consumidores internos se prejudicam com essa prática

75
AULA 5 • ECONOMIA INTERNACIONAL

porque os subsídios são financiados pelos impostos. Do mesmo modo como os subsídios
desviam recursos do mercado nacional para a produção dirigida à exportação, o aumento
da oferta de bens para o mercado externo pode ser associado à redução na oferta de artigos
nacionais, cujo preço tenderia a subir.

Os subsídios podem assumir outras formas além da transferência de dinheiro, como, por
exemplo, a isenção de impostos, a adoção de taxas de juros mais baixas para empréstimos,
seguros a preços reduzidos ou sistemas de pesquisa financiados pelo governo, entre outros.

As compras do governo ocorrem, pois, em alguns países, a legislação exige que o governo
compre de produtores locais. Nos Estados Unidos, uma lei nesse sentido foi aprovada em 1933,
e exige que os organismos do governo comprem produtos e serviços americanos sempre que
os preços internos tiverem uma diferença de até 12% em relação aos preços internacionais.
Esse tipo de política permite que as empresas nacionais cobrem do governo um preço mais
elevado que o cobrado dos consumidores – e os contribuintes bancam a diferença. Mas os
Estados Unidos não são o único país a adotar essa prática: muitas outras nações utilizam
políticas desse tipo para ampliar o mercado dos artigos nacionais.

No caso das regulamentações quanto à saúde e à segurança, os governos funcionam como


protetores da saúde e do bem-estar da população, exigindo que os produtos oferecidos aos
consumidores sejam seguros e sirvam ao uso a que se destinam. Os padrões de qualidade
impostos pelo governo para produtos vendidos no mercado nacional podem ter o efeito
(intencional ou não) de proteger os produtores domésticos da concorrência estrangeira. Essas
consequências devem ser consideradas na hora de avaliar o impacto pleno de tais padrões.

Os padrões adotados para os produtos podem não eliminar a concorrência internacional,


mas a adoção de sistemas diferentes dos normalmente utilizados constitui um elemento
de proteção às empresas nacionais.

A seguir, estão relacionadas as principais barreiras não tarifárias listadas pelo Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio:

1. Quotas. Ex.: limitação de importações pela fixação de quotas para produtos;

2. Aplicação do Acordo sobre Têxteis e Vestuário (ATV). Ex.: quotas do Acordo Multifibras;

3. Proibição total ou temporária. Ex.: proibição de importação de um produto que seja


permitido comercializar no mercado interno do país que efetuou a proibição;

4. Salvaguardas. Ex.: aplicação de quotas de importação ou elevação de tarifas por questões de


medidas de salvaguarda, exceto salvaguardas preferenciais previstas em acordos firmados;

5. Impostos e gravames adicionais. Ex.: adicionais de tarifas portuárias ou de marinha


mercante, taxa de estatística, etc.

76
ECONOMIA INTERNACIONAL • AULA 5

6. Impostos e gravames internos que discriminem entre o produto nacional e o importado.


Ex.: imposto do tipo do ICMS que onere o produto importado em nível superior ao
produto nacional;

7. Preços mínimos de importação/preços de referência. Ex.: estabelecimento prévio


de preços mínimos como referência para a cobrança das tarifas de importação, sem
considerar a valoração aduaneira do produto;

8. Investigação antidumping em curso;

9. Direitos antidumping aplicados, provisórios ou definitivos;

10. Investigação antidumping suspensa por acordos de preços;

11. Investigação de subsídios em curso;

12. Direitos compensatórios aplicados, provisórios ou definitivos;

13. Investigação de subsídios suspensa por acordo de preços;

14. Subsídios às exportações praticados por terceiros países;

15. Medidas financeiras. Ex.: criação de sobretaxa para as importações, empalme argentino;

16. Licenças de importação automáticas. Ex.: produtos sujeitos a licenciamento nas


importações, apenas para registro de estatísticas;

17. Licenças de importação não automáticas. Ex.: produtos sujeitos a anuência prévia de
algum órgão no país importador;

18. Controles sanitários e fitossanitários nas importações. Ex.: normas sanitárias e


fitossanitárias exigidas na importação de produtos de origem animal e vegetal;

19. Restrições impostas a determinadas empresas. Ex.: exigências específicas para


importações de produtos de determinadas empresas.

20. Organismo estatal importador único. Ex.: produtos cuja importação é efetuada pelo
Estado, em regime de monopólio;

21. Serviços nacionais obrigatórios. Ex.: direitos consulares;

22. Requisitos relativos às características dos produtos. Ex.: produtos sujeito à avaliação
de conformidade;

23. Requisitos relativos à embalagem. Ex.: exigências de materiais, tamanhos ou padrões


de peso para embalagens de produtos;

24. Requisitos relativos à rotulagem. Ex.: exigências especiais quanto a tipo, tamanho de
letras ou tradução nos rótulos de produtos;

77
AULA 5 • ECONOMIA INTERNACIONAL

25. Requisitos relativos a informações sobre o produto. Ex.: exigências de conteúdo


alimentar ou proteico de produtos ou de informações ao consumidor;

26. Requisitos relativos a inspeção, ensaios e quarentena. Ex.: produtos sujeitos à inspeção
física e análise nas alfândegas ou a procedimentos de quarentena;

27. Outros requisitos técnicos. Ex.: exigência de certificados relativos à fabricação do


produto mediante processos não poluidores do meio ambiente;

28. Inspeção prévia à importação. Ex.: inspeção pré-embarque;

29. Procedimentos aduaneiros especiais. Ex.: exigência de ingresso de importações somente


por determinados portos ou aeroportos;

30. Exigência de conteúdo nacional/regional. Ex.: discriminação de importações para


favorecer as que tenham matéria-prima originária do país importador;

31. Exigência de intercâmbio compensado. Ex.: condicionamento de importações à


exportação casada de determinados produtos;

32. Exigências especiais para compras governamentais. Ex.: tratamento favorecido aos
produtos nacionais em concorrências públicas;

33. Exigência de bandeira nacional. Ex.: exigência de uso de navios ou aviões de bandeira
nacional para o transporte das importações.

Sintetizando

Vimos até agora:

»» Ao se estudar os fatores determinantes do comércio internacional, assim como os mecanismos e os motivos para a
restrição da atividade comercial, além das taxas de câmbio, passamos a entender melhor as inter-relações entre as nações
se compreendermos o mundo em que vivemos.

»» O Princípio das Vantagens Comparativas sugere que cada país deva se especializar na produção daquela mercadoria
em que é relativamente mais eficiente (ou que tenha um custo relativamente menor). Essa será, portanto, a mercadoria
exportada, por outro lado, esse país deverá importar aqueles bens cuja produção implicar custo relativamente maior.

»» A determinação da taxa de câmbio pode ocorrer de dois modos: institucionalmente, por decisão de autoridades
econômicas com fixação periódica das taxas (taxas fixas de câmbio), ou pelo funcionamento do mercado, em que as taxas
flutuam automaticamente, em decorrência das pressões de oferta e demanda por divisas estrangeiras (taxas flutuantes).

»» As transações com o exterior precisam ser contabilizadas. Para isso existe o Balanço de Pagamentos, que é o registro
estatístico – contábil de todas as transações econômicas realizadas entre os residentes do país com os residentes dos
demais países.

78
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO
AULA
6
Introdução

Nesta nossa última aula, avançaremos pelo papel do estado, do setor público na construção de
uma economia sólida. Uma trajetória nem sempre tranquila, que passa por falhas de mercado
que precisam ser monitoradas e controladas. É aí que entra o governo, que possui habilidade
e responsabilidade, por meio de medidas que visem ao bem comum, de agir para corrigir
eventuais desvios. Vale lembrar que o setor público é fundamental; que empregos, infraestrutura
e desenvolvimento dependem de uma atuação consistente de um setor público que sempre
deverá buscar atender aos interesses dos cidadãos, equalizando seus desejos ilimitados e recursos
escassos, visando sempre ao bem comum! Boa leitura e bons estudos!

Objetivos

»» Definir o conceito de economia, compreendendo a relação entre escassez e consumo.

»» Estabelecer os caminhos para que as metas da economia sejam atendidas.

»» Compreender o papel do estado na economia, em situações de equilíbrio e de falhas


de mercado.

79
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

A globalização tem demandado mudança de visão, orientada, principalmente, pelas mudanças


tecnológicas e por uma diversidade cultural cada vez mais intensa e que gera diferentes expectativas
e demandas. Além disso, o surgimento de novas tecnologias, intensificadas após a década de
1970, fez do virtual e do digital um novo padrão econômico, a partir do qual a sociedade moderna
passou a investir na prestação de serviços e centrar-se em atividades simbólicas.

As atividades simbólicas passam pela ótica de uma responsabilidade socioambiental fundamental


para qualquer gestor, pois o ambiente atual não contempla mais o analfabetismo ambiental e
empresas e governos precisam devolver, na forma de produtos e práticas sustentáveis, a confiança
depositada por indivíduos quando da aquisição de bens e serviços. No que tange ao consumo,
haverá mais informações e um grau maior de consciência por parte dos consumidores que exigirão
produtos cujo ciclo de produção seja limpo, isto é, respeite o conceito de sustentabilidade e
conhecido em todas as etapas. Ganharão espaço alimentos de origem vegetal e animal e oriundos
da agricultura orgânica – ecológica, verde, natural. O diálogo com várias partes interessadas
terá de ser aprofundado. Valores como compromisso, cocriação, cooperação criativa diálogo,
envolvimento interno (engajamento dos colaboradores) e alinhamento ao negócio serão a mola
propulsora das empresas que desejem tornar suas marcas reconhecidas. Será a sedimentação de
uma atuação responsável, iniciada em meados do século XX, quando os direitos dos consumidores
começaram a ser reconhecidos e valorizados.

A tecnologia também contribuirá para um mundo sem fronteiras e descobertas similares às


registradas séculos atrás no Novo Continente. Ao se difundir o acesso à internet, muito mais
pessoas, nos quatro cantos do mundo, ficarão sabendo de realidades e problemas, tornando
mais fácil a compreensão das dificuldades e busca por soluções.

Mas esta trajetória não se concretizará sem um governo que possua a habilidade e a responsabilidade
de gerar empregos e realizar ações que normalmente não são interessantes para a iniciativa privada.

O Estado: setores e seu papel na Economia

No aparelho do Estado é possível distinguir quatro setores:

1. Núcleo estratégico: corresponde ao governo, em sentido lato. É o setor que define as leis e
as políticas públicas, e cobra o seu cumprimento. É, portanto, o setor em que as decisões
estratégicas são tomadas. Corresponde aos Poderes Legislativo e Judiciário, ao Ministério
Público e, no Poder Executivo, ao Presidente da República, aos ministros e aos seus auxiliares
e assessores diretos, responsáveis pelo planejamento e formulação das políticas públicas.

2. Atividades exclusivas: e o setor em que são prestados serviços que só o Estado pode
realizar. São serviços em que se exerce o poder extroverso do Estado – o poder de
regulamentar, fiscalizar, fomentar. Como exemplos temos: a cobrança e fiscalização dos

80
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

impostos, a polícia, a previdência social básica, o serviço de desemprego, a fiscalização


do cumprimento de normas sanitárias, o serviço de trânsito, a compra de serviços de
saúde pelo Estado, o controle do meio ambiente, o subsídio à educação básica, o serviço
de emissão de passaportes etc.

3. Serviços não exclusivos: corresponde ao setor em que o Estado atua simultaneamente


com outras organizações públicas não estatais e privadas. As instituições desse setor
não possuem o poder de Estado. Este, entretanto, está presente porque os serviços
envolvem direitos humanos fundamentais, como os da educação e da saúde, ou
porque possuem “economias externas” relevantes, à medida que produzem ganhos
que não podem ser apropriados por esses serviços por meio do mercado. As economias
produzidas imediatamente se espalham para o resto da sociedade, não podendo ser
transformadas em lucros. São exemplos desse setor: as universidades, os hospitais, os
centros de pesquisa e os museus.

4. Produção de bens e serviços para o mercado: corresponde à área de atuação das


empresas. É caracterizado pelas atividades econômicas voltadas para o lucro que ainda
permanecem no aparelho do Estado, como, por exemplo, as do setor de infraestrutura.
Estão no Estado seja por que faltou capital ao setor privado para realizar o investimento,
seja por que são atividades naturalmente monopolistas, nas quais o controle via mercado
não é possível, tornando-se necessária, no caso de privatização, a regulamentação rígida.

O setor privado, muitas vezes, é incapaz de conduzir projetos que levem ao desenvolvimento.
Por exemplo, grandes obras de infraestrutura, processo de industrialização (principalmente indústria
de base), serviços de utilidade pública e outros setores ou atividades de interesse social demandam
uma participação ativa do Estado. Além disso, a busca pela manutenção da soberania nacional torna o
Estado o principal agente quando o assunto é estratégia nacional, pois o Estado tem como finalidade
assegurar a vida humana em sociedade, garantindo a ordem interna. O artigo 3º da Constituição
da República Federativa do Brasil, que é um Estado Democrático de Direito, e tem como objetivos
primordiais a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, garantindo o desenvolvimento
nacional, define que o Estado deve erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais e regionais, promovendo o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade
e quaisquer outras formas de discriminação (art. 3º da Constituição Federal do Brasil).

Figura 20.

Fonte: <http://brasilescola.uol.com.br/geografia/tipos-industrializacao.htm>.

81
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

O processo de industrialização do Brasil foi uma iniciativa estatal, com alguns objetivos que seriam
praticamente impossíveis de serem atingidos pela iniciativa privada. Dentre os objetivos estavam
a substituição de importações, a diversificação das exportações, atingir padrões de excelência
na extração de petróleo, desenvolver fontes alternativas de energia e promover a transferência
de tecnologia avançada.

No âmbito da economia, o Estado tem o papel de regular e promover os meios para que as
necessidades coletivas sejam supridas, garantindo o bem comum. Essa intervenção na economia
passa pelas funções alocativa, distributiva e estabilizadora.

»» Função alocativa: envolve o fornecimento de bens e serviços não oferecidos


adequadamente pelo sistema de mercado. Esses bens, denominados bens públicos,
têm por principal característica a impossibilidade de excluir determinados indivíduos
de seu consumo como rodovias, segurança, educação e saúde, infraestrutura etc.

»» Função distributiva: envolve ferramentas de tributação e canais de transferências


financeiras, subsídios à família e subvenções a determinados setores da economia.
Um bom exemplo é a destinação de parte dos recursos provenientes de tributação ao
serviço público de saúde, serviço que é mais utilizado por indivíduos de menor renda.

»» Função estabilizadora: envolve o estado como agente econômico para alterar o


comportamento dos preços e emprego, por meio de diferentes políticas econômicas
com vistas a promover o emprego, o desenvolvimento e a estabilidade.

Além desses papéis, a atuação do estado se justifica em função de algumas variáveis, a saber:

»» Aumento da demanda por bens e serviços públicos como lazer, educação, medicina,
seja pelo aumento da renda, seja pelo contrário, quando as famílias em função de
diminuição nos rendimentos, substituem itens antes adquiridos na iniciativa privada
pelos oferecidos pela esfera pública.

»» Mudanças tecnológicas e populacionais que resultam num aumento pela demanda por
infraestrutura, como rodovias, que são realizações basicamente estatais e no caso da
população, o envelhecimento, por exemplo, demandará governos preocupados com as
cidades que precisam ser “amigas dos idosos”.

»» Mudanças na Previdência Social que precisará ser revista a despeito do envelhecimento da


população, e das condições positivas que os idosos apresentam hoje em termos de saúde.

Figura 21.

Fonte: <http://idososeaposentados.blogspot.com.br/>.

82
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

Essa adequação da previdência social se deve a um processo claro de envelhecimento que está
em curso no Brasil. Enquanto a expectativa de vida aumenta, a taxa de natalidade diminui. Em
2009, o número de nascimentos foi ultrapassado, pela primeira vez, pelo número de pessoas
que ultrapassaram os 60 anos.

Fonte: <http://projetorecicleideias.blogspot.com.br/2011_06_01_archive.html>.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, é fundamental


Saiba mais
que sejam postas em prática políticas públicas voltadas
para os idosos na área de saúde, bem como apoio para o EM 2015 O BRASIL POSSUI

combate ao isolamento e à solidão para pessoas acima 23 milhões de pessoas acima de 60 anos,

de 60 anos. O que corresponde a 12,5% da população.

EM 2050, O BRASIL TERÁ


Falhas de Mercado
64 milhões de pessoas acima de 60 anos,
As falhas de mercado justificam uma participação mais O que corresponderá a 30% da população.
ativa do estado no sentido de proteger os cidadãos
EM 2015, A POPULAÇÃO MUNDIAL CONTA COM
perante cenários de incerteza e especulação. Isso tem
900 milhões de idosos
alargado a atuação do Estado no âmbito econômico.
O que corresponde a 12,3% da população total.
Por exemplo, a existência de bens públicos, faz com
A EXPECTATIVA É DE QUE EM 2050
que o fato de uma pessoa adquirir determinado bem
o número total de idosos representa 21,5% da
público, não exclui outra de também adquirir.
população mundial.
http://zh.clicrbs.com.br/rs/vida-e-estilo/vida/
Outra falha é a existência de monopólios naturais, que noticia/2015/09/numero-de-idosos-quase-triplicara-no-
brasil-ate-2050-afirma-oms-4859566.html
é uma situação de mercado em que os investimentos
necessários são muito elevados, com prazos de retorno muito grandes. Fornecimento de água ou
gás seriam bons exemplos disso. A concorrência em tais setores causaria inconveniências para
os consumidores por causa da necessidade de duplicação de instalações como a escavação de
ruas para a instalação de dois ou mais encanamentos de água ou gás. O governo assume, então,
a produção e cria agências que impeçam a exploração dos consumidores.

Além disso, em tempos de conscientização cada vez maior da importância de uma atuação
ambientalmente sustentada, o governo precisa estar atento às externalidades, que podem ser
positivas ou negativas. Uma externalidade é um efeito social, econômico e ambiental causado
indiretamente pela produção ou venda de produtos ou serviços.

As externalidades podem ser positivas ou negativas. No caso de a externalidade ser negativa,


como se tem no caso da poluição que causa danos ao meio ambiente, o governo precisa elaborar
políticas no sentido de priorizar sempre as atividades que tragam resultados positivos e restringir
ao máximo qualquer atividade cujo impacto seja negativo para a sociedade e o ambiente.
São exemplos de externalidades negativas:

»» Poluição gerada por empresas, pois embora ninguém seja dono de rios ou do ar, a
população como um todo é afetada de maneira negativa. Um exemplo trágico de 2015 é

83
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

o rompimento da barragem em Mariana, que além das mortes, resultou na morte do Rio
Doce, cujas consequências negativas são ainda desconhecidas, bem como há dúvidas
se será possível recuperar, de alguma forma, as áreas degradadas.

»» Lixo descartado erradamente, gera aumento dos custos de limpeza por parte das
companhias de limpeza urbana, além de se tornar foco de vetores que disseminam
doenças e podem causar alagamentos pela obstrução de bueiros em dias de fortes chuvas

»» Gases lançados na atmosfera destroem a camada de ozônio, contribuindo para o


aquecimento global e derretimento de geleiras que aumentam o nível dos oceanos,
gerando uma preocupante legião de desabrigados ambientais.

No caso de ser positiva a ação de uma pessoa ou agente provoca um impacto benéfico para
a sociedade e, a exemplo da negativa, tudo isso ocorre sem pagamento por esse impacto ou
necessidade de compensação. Alguns exemplos de externalidades positivas:

»» Restauração de imóveis antigos, que permitem resgatar um passado histórico, beneficiando


os cidadãos a partir da preservação de sua memória.

»» Estudar também gera externalidades positivas, mesmo que o estudante opte por uma
faculdade particular. Isso porque, além dos ganhos individuais (a cada ano adicional de
estudo, o trabalhador adquire ganhos extras na remuneração), a sociedade como um
todo ganha, pois aumentos de escolaridade resultam em diminuição da desigualdade
de renda, resultando num valor social maior que o privado.

»» O estímulo ao uso de sacolas retornáveis é outro exemplo de externalidade positiva. O


meio ambiente agradece um menor número de sacolinhas plásticas que levam cerca
de 200 anos para decomporem e, segundo estimativas, são responsáveis pela morte de
100 mil pássaros e mamíferos por ano.

Vale lembrar que em países desenvolvidos, como Estados Unidos, Alemanha, o governo exerce
papel fundamental no sentido de fomentar o desenvolvimento a partir de políticas que visem ao
nacional, ao bem comum. É essa uma das funções primordiais de um governo. Pensar no país como
um bem comum, com incansável busca pela igualdade de oportunidades para seus cidadãos, que
resultem em alicerces positivos para um desenvolvimento para a geração atual e seus descendentes.

O que é um bem público?


Figura 22.

Fonte: <http://www.vidadeturista.com/artigos/reveillon-em-copacabana-2017.html>.

84
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

Defesa nacional, show de fogos de artifício, policiamento, internet sem fio e sem senha, praças,
rios. O que todos esses bens têm em comum? O fato de serem públicos, ou seja, não são nem
excludentes nem rivais e não podemos controlar quem os usa.

Claro que se desmembrarmos a denominação, “bem” é tudo o que traz satisfação ou utilidade,
dotada de valor econômico, que pode ser material ou imaterial e, principalmente, pode ser
apropriada e tornar-se patrimônio de quem o adquiriu. E voltando a nossa primeira aula,
normalmente, a busca por mais e mais bens, resultado de nossos desejos ilimitados, é o principal
problema da Economia, seja a que opera no ambiente privado, seja no setor público.

Bom, antes de prosseguirmos, por que não uma parada para refletir em tempos de crise sobre
o quão importante é utilizar ao invés de apenas comprar e possuir, o quão importante é poupar
para momentos mais difíceis. Por exemplo, no momento em que se muda o conceito do “ter”
para o “usar” estamos falando de economia compartilhada, que vem movimentando milhões
de dólares ao ano, com pessoas que trocam aulas de inglês por aulas de pintura, que emprestam
dinheiro a juros menores, que doam roupas que não usam mais e também pedalam pelos quatro
cantos mediante pagamentos de pequenas taxas, sem ser preciso adquirir uma nova bicicleta,
uma visão cada vez mais necessária se quisermos um futuro para nós e nossos filhos.

Mas e quando todos podem usar um bem que não foi produzido em função de um mercado
competitivo e não podem ser restritos, ou seja, não podem beneficiar somente um grupo
ou compradores que dispõe de recursos financeiros? Aqui estamos falando dos chamados
bens públicos.

Os bens públicos englobam educação, justiça, segurança, transporte, mas não apenas, pois todas
as coisas que pertencem às entidades estatais, autárquicas e também todos os bens particulares
que estejam relacionados à prestação de serviços públicos, mesmo que de posse de empresas
privadas, são considerados bens públicos.

Como vantagem tem-se que quando uma pessoa usa esse bem, isso não interfere na possibilidade
de outro indivíduo utilizar esse mesmo bem. Por outro lado, não se controla quem pode utilizar
ou utilizou esse bem, não sendo possível cobrar pela sua utilização.

Segundo o Código Civil, em seu art. 99, são bens públicos:

»» os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças;

»» os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento


da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas
autarquias;

»» os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público,


como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades.

85
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

Os bens públicos seguem três classificações. A primeira delas é quanto à titularidade. Neste caso,
podem ser federais, estaduais, distritais e municipais:

»» Federais: são aqueles pertencentes à União. Aqui estão incluídos a segurança nacional,
a proteção à economia do País, o interesse público nacional. Também entram nessa
denominação as terras devolutas necessárias à defesa das fronteiras, das fortificações
e construções militares, os lagos e rios, as ilhas oceânicas, fluviais, o mar territorial, os
terrenos de marinha, os recursos naturais da plataforma continental e da zona econômica
exclusiva, os recursos potenciais de energia hidráulica, os recursos minerais, vias federais
de comunicação, a preservação do meio ambiente, as cavidades naturais subterrâneas
e os sítios arqueológicos e pré-históricos, além das terras tradicionalmente ocupadas
pelos índios.

»» Estaduais e distritais: são os bens pertencentes, respectivamente, aos Estados-membros e


ao Distrito Federal. Englobam as águas superficiais ou subterrâneas, fluentes, emergentes
ou em depósito, às áreas, nas ilhas oceânicas e costeiras, que estiverem no seu domínio,
às ilhas fluviais e lacustres, bem como às terras devolutas não pertencentes à União.

»» Municipais: são os bens que pertencem aos municípios como as ruas, as praças, os
jardins públicos e os edifícios públicos.

Também a questão da destinação é outro critério de classificação dos bens públicos. Como foi
visto anteriormente, neste caso são considerados três níveis de classificação:

»» Bens de uso comum do povo: bens de uso geral, que podem ser utilizados livremente
por todos os indivíduos. Ex.: praças, praias, parques etc.

»» Bens de uso especial: são aqueles nos quais são prestados serviços públicos, tais como
hospitais públicos, escolas e aeroportos.

»» Bens dominicais: são bens públicos que não possuem destinação definida, como prédios
públicos desativados e não utilizados pelo Poder Público.

Finalmente, os bens públicos se classificam quanto à disponibilidade:

»» Bens indisponíveis por natureza: são bens que não podem ser alienados pelo Poder
Público, dada a sua natureza não patrimonial. Os bens de uso comum do povo se
encaixam, em geral, nessa categoria.

»» Bens patrimoniais indisponíveis: são bens que, embora patrimoniais, também não
podem ser alienados, pois neles se prestam serviços públicos. Ex.: hospitais públicos,
universidades (bens de uso especial).

»» Bens patrimoniais disponíveis: são os bens dominicais. Podem ser alienados, desde
que obedecidas as determinações legais.

86
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

Os bens públicos também caracterizados por outros fatores:

»» Não excludentes: uma vez que esse bem foi colocado à disposição de um consumidor,
não é possível restringir o seu consumo por outros.

»» Não rivais: o consumo desses bens por um indivíduo não diminui as possibilidades de
os outros consumirem, isto é, o consumo de determinado bem ou serviço não implica
alteração da quantidade disponível a outro consumidor. O mercado não consegue
estabelecer um preço para esses bens porque não existe a necessidade de alocar recursos
entre os consumidores. Sendo assim, o preço tende a zero.

»» Falta de Interesse de firmas ou indivíduos em produzi-los: como consequência dos


fatores anteriores, bens públicos são caracterizados pela falta de interesse de firmas ou
indivíduos em produzi-los. É necessário que sejam fundos coletados da sociedade por
meio de taxas, impostos, ou outras formas, para o financiamento da produção desses bens.

»» Inalienáveis: não podem ser vendidos. Exceção: bens dominicais e desafetados podem
ser alienados, observadas as exigências legais.

»» Impenhoráveis: não se sujeitam à penhora.

»» Imprescritíveis: não podem ser obtidos por um particular por meio de usucapião.

»» Não oneráveis: não podem servir de garantia a um credor, como nos casos de hipoteca,
penhor.

Teoria dos bens públicos

A teoria dos bens públicos iniciou-se entre os economistas europeus e começou a ser
discutida na década de 1950 pelos americanos. Relacionamos alguns economistas que
foram fundamentais para o desenvolvimento da teoria dos bens públicos.

Paul Anthony Samuelson foi um dos precursores da teoria dos bens públicos. Para o autor, a
característica principal dos bens coletivos/públicos, é que, uma vez produzido, o custo unitário
de um usuário adicional consumi-lo é nulo. Não importa se esse novo usuário tem de pagar
alguma contribuição, por exemplo, um tributo ou uma contribuição de melhoria para financiar
a produção do bem. O que vale é que um cidadão, ao usufruir o bem público, não causa qualquer
custo extra, seja em termos de um maior custo na produção do bem, seja com diminuição na
quantidade ou qualidade do consumo por parte do indivíduo, ou seja, ao contrário de um bem
privado, no consumo de um bem público não existe “rivalidade ou exclusão”. Isso quer dizer
que perante os bens públicos, todos têm o mesmo direito.

Olson Mancur surgiu posteriormente e começam a surgir discussões sobre a teoria da ação
coletiva, em seu livro A lógica de ação coletiva, 1971, em que a tese básica do livro é a de que:
mesmo que todos os indivíduos de um grupo sejam racionais e centrados em seus próprios

87
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

interesses, e que saiam ganhando se, como grupo, agirem para atingir seus objetivos comuns,
ainda assim eles não agirão voluntariamente para promover esses interesses comuns e grupais.
(OLSON, 1999, p. 14)

James M. Buchanan Jr. Os estudos do autor foram também baseados na teoria de bens públicos e
deram novos enfoques sobre o acesso aos bens públicos. Foi também considerado que enquanto
bens privados são perfeitamente fornecidos pelo mercado, o suprimento de bens públicos deve
se dar por meio de instituições políticas. Segundo Buchanan (1949) citado por Dias (2009), a
teoria e a prática das finanças públicas deveriam ser revisadas para relacionar a distribuição
individual do custo público à distribuição individual de benefícios, de modo que as pessoas
pudessem visualizar o que eles recebem em troca dos impostos que pagam.

Figura 23.

Fonte: <https://anarcocapitalismo.com.br/2016/08/03/impostos-moralidade-e-etica/>.

Essa adequação se faz necessária e urgente. Os brasileiros que ganham até três salários mínimos
mensais e que correspondem a 79% do total, pagam 53,79% dos impostos arrecadados, segundo
o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT). Além disso, as empresas brasileiras
gastam cerca de 2.600 horas para pagar os impostos, pior resultado entre 189 países. Só a título
de comparação, na penúltima colocada nesse ranking, a Bolívia, são necessárias 1.025 horas
para cumprir as obrigações tributárias. E procure não se assustar, mas, desde 1988 ,o Brasil já
criou 320.343 leis tributárias.

A carga de impostos em cada produto é muito pesada, conforme a lista a seguir:

»» Carne de boi: 23,99%;

»» Cerveja: 55,60%;

88
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

»» Tênis importado: 58,59%;

»» Conta de luz: 48,28%;

»» Gasolina: 56,09%;

»» Telefone celular: 33,08%;

»» Açúcar: 32%;

»» Cigarro: 80%;

»» Água mineral: 44%;

»» Biscoito 37%;

»» Frutas: 22%;

»» Shampoo: 44%;

»» Batata: 11%;

»» Café: 20%;

»» Feijão: 17%;

»» Sabão em pó: 41%.

Figura 24.

Fonte: <http://especiais.g1.globo.com/economia/2015/quanto-pagamos-de-impostos/>.

89
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

Ainda segundo o IBPT, o Brasil ocupa a última posição num total de 30 países pesquisados
quando se mede o retorno oferecido pelos serviços públicos para a população frente ao que esta
paga de impostos. O ranking leva em consideração o percentual de arrecadação de impostos
em relação ao PIB e o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU, que mede a qualidade de
vida e o bem-estar da população.

Tabela 4. Índice de retorno ao bem-estar da sociedade – 2013.

Posição País Carga tributária sobre o PIB Índice


1º Austrália 27,30% 162,91
2º Coreia do Sul 24,30% 162,79
3º Estados Unidos 26,40% 162,33
4º Suíça 27,10% 161,78
5º Irlanda 28,30% 158,87
6º Japão 29,5% 156,73
7º Canadá 30,60% 156,48
8º Nova Zelândia 32,10% 155,44
9º Israel 30,50% 155,41
10º Reino Unido 32,90% 152,99
11º Uruguai 26,30% 151,91
12º Eslováquia 29,60% 151,51
13º Espanha 32,60% 151,38
14º Islândia 35,50% 150,25
15º Alemanha 36,70% 150,23
16º Grécia 33,50% 148,98
17º República Tcheca 34,10% 148,97
18º Noruega 40,80% 148,32
19º Argentina 31,20% 147,80
20º Eslovênia 36,80% 146,97
21º Luxemburgo 39,30% 144,69
22º Suécia 42,80% 141,15
23º Áustria 42,50% 141,01
24º França 43% 140,69
25º Bélgica 43,20% 140,21
26º Itália 42,60% 140,13
27º Hungria 38,90% 139,80
28º Dinamarca 45,20% 139,52
29º Finlândia 44,00% 139,12
30º Brasil 35,04% 137,94

Fonte: <http://especiais.g1.globo.com/economia/2015/quanto-pagamos-de-impostos/>.

Teoria da Regulação: o papel do Estado na economia de mercado


Os anos 1990 foram marcados pela necessidade de conceber uma nova delimitação das funções
do Estado. Isso porque, a da Constituição Federal de 1988, que consagrou o Estado social, também
forçou o Estado a garantir serviços públicos a toda a população na qualidade e quantidade

90
ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

esperada e o Estado teve que buscar meios para concretizar o acesso a esses serviços. Optou-se,
então, por um estado regulador e para concretizar o acesso aos serviços para toda a população,
o estado passou de prestador de serviços para regulador, por meio de suas agências. Esses entes
com características peculiares, dotados de certo grau de autonomia e que detêm a competência
legítima para edição de normas regulatórias, representam o poder do Estado em fiscalizar os
particulares que estão prestando serviços públicos.

Assim sendo, em lugar de prestador de serviços, suas funções passaram a ser as de planejamento,
regulação e fiscalização.

Figura 25.

Fonte: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/economia/noticia/2012/12/agencias-reguladoras-recebem-apenas-um-terco-
do-orcamento-3983359.html>.

91
AULA 6 • ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

O Brasil conta, hoje em dia, com dez agências:

Figura 26.

Fonte: <http://blog.grancursosonline.com.br/artigo-da-semana-agencias-reguladoras/>.

Embora cada uma tenha a sua especificidade de atuação, as características principais são:

»» Controle de tarifas, de modo a assegurar o equilíbrio econômico e financeiro do contrato;

»» Universalização do serviço, estendendo-o a parcelas da população que não se beneficiavam


por força da escassez de recursos;

»» Fomento da competitividade, nas áreas nas quais não haja monopólio natural;

»» Fiscalização do cumprimento do contrato de concessão;

»» Arbitramento dos conflitos entre as diversas partes envolvidas: consumidores do serviço,


poder concedente, concessionários, a comunidade como um todo, os investidores
potenciais etc.;

»» Direção por órgãos colegiados, compostos de diretores com mandato estável, não
coincidentes e aprovados pelo Legislativo, mediante arguição;

»» Independência decisória, à medida que suas decisões não são passíveis de recursos
hierárquicos;

»» Capacidade de implementar políticas setoriais sem a interferência de pressões


conjunturais;

»» Atuação com isenção no exercício das funções regulatórias e de fiscalização em relação


aos interesses econômicos dos agentes privados e aos interesses conjunturais do
Executivo;

»» Atuação mediante seu instrumento básico, que é a tarifa regulada em contrato. Além
disso, transparência; ouvidoria com mandato, publicidade de todos os atos e atas de
decisão, representação dos usuários e empresas, justificativa por escrito para cada voto
e decisão dos dirigentes, audiências públicas, diretoria colegiada.

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ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO • AULA 6

Figura 27.

Fonte: <http://zh.clicrbs.com.br/rs/noticias/economia/noticia/2012/12/agencias-reguladoras-recebem-
apenas-um-terco-do-orcamento-3983359.html>.

Sintetizando

Vimos até agora:


»» A escassez é a grande questão da economia. Nossos desejos são ilimitados, mas os recursos (terra, capital e trabalho) são
absolutamente escassos;
»» Juntamente com a gestão da escassez, as economias buscam também atingir cinco grandes metas, a saber: alto nível de
empregos, nível de preços estável, eficiência, distribuição equitativa de renda e desenvolvimento;
»» O papel do estado na economia é fundamental, pois os governos possuem habilidade e responsabilidade de implementar
políticas para o crescimento sustentado do país, bem como possuem funções como alocativa, distributiva e estabilizadora.
»» Os mercados apresentam falhas: monopólios naturais e externalidades são exemplos disso. Nos monopólios naturais, os
investimentos necessários são muitos elevados, com prazos de retorno muito grandes. Já as externalidades são ações que
geram impactos para a sociedade como um todo, podendo ser positivas ou negativas.

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Referências
ABREU, Marcelo de Paiva (Org.). A ordem do progresso, cem anos de política econômica republicana 1889-1989.
Rio de Janeiro: Campus, 1990.

ARVATE, Paulo Roberto, Biderman Ciro. Economia do setor público no Brasil, 2. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

ASHLEY, Patrícia Almeida. Ética e responsabilidade social nos negócios. São Paulo: Saraiva, 2002.

GIAMBIAGI, Fabio et al.. Economia brasileira contemporânea. 2. ed. Rio de Janeiro: Campus, 2011.

GIAMBIAGI, Fabio; BARROS DE CASTRO, Lavínia; VILLELA, André; HERMANN, Jennifer. Economia: micro e macro.
5. ed. Rio de Janeiro: Elsevier – Campus, 2011.

GREMAUD, Amaury Patrick et al. Economia brasileira contemporânea. 4. ed. São Paulo: Atlas. 2002.

INSTITUTO AKATU. Estilos sustentáveis de vida. São Paulo: Instituto Akatu, 2013.

______. A sustentabilidade ainda é possível?, 2013.

______. Caderno Temático: ter mais... ou viver melhor? São Paulo: Instituto Akatu, 2011.

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