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Conteúdo

Radiação Térmica – Teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7


Radiação Térmica – Parte Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . 33
Radiação Térmica – Aula 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
Radiação Térmica – Aula 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45
Radiação Térmica – Aula 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Carga Massa – Teoria . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
Carga Massa – Parte Experimental . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
Carga Massa – Aulas 4 e 5 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Constate de Planck – Aula 6 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

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Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Autores:

Wania Wolff
Professora Adjunta do IF da UFRJ.

Fabricio Toscano
Professor Associado da Fundação CECIERJ.

Radiação Térmica – Teoria

Metas:
1. Parte teórica:

(a) explicar as propriedades básicas da radiação térmica;


(b) desenvolver os conceitos básicos da teoria da radiação de um corpo
negro;
(c) examinar a emissividade de diferentes superfı́cies em função da tem-
peratura.

2. Parte experimental:
Fornecer os procedimentos experimentais para a investigação da:

(a) emissão, absorção e transmissão de radiação térmica em diferentes


matériais e tipos de superfı́cies;
(b) variação da intensidade da radiação com a distância (”lei do inverso
do quadrado”);
(c) energia emitida por um corpo real em função de sua temperatura;
(d) lei de Stefan-Boltzmann.

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Radiação Térmica

Objetivos a serem alcançados.


Os objetivos que você deverá alcançar serão:

1. Parte teórica:

(a) explicar a origem e propriedades básicas da radiação térmica;


(b) explicar o que é um corpo negro e qual a sua relação com a radiação
térmica de um corpo real;
(c) descrever as caracterı́sticas de emissividade de diferentes superfı́cies
em função da temperatura.

2. Parte experimental:

(a) Deverá ser capaz de realizar as diferentes experiências propostas, ana-


lisando, através dos resultados das suas medidas e em função dos erros
experimentais estimados, a validade dos conceitos teóricos introduzi-
dos.

Parte teórica: Estudo da radiação térmica

Radiação térmica
Conceito
Um corpo devido a sua temperatura emite energia na forma de radiação ele-
tromagnética, chamada radiação térmica. Em oposição à transferência de energia
na forma de calor, através dos processos de condução e convecção, a transferência
de energia devido à radiação térmica não necessita de um meio e pode ocorrer no
vácuo. A radiação térmica é um tipo de radiação eletromagnética (E-M) e como
os outros tipos de radiação E-M se propaga no vácuo à velocidade da luz, c. Lem-
bremos que as ondas E-M de comprimento de onda λ e frequência ν obedecem à
relação
c = λν (rd.1)

onde c = (299.792.456, 2 ± 1, 1) m/s ≈ 3 × 108 m/s (veja a Aula 2 de Fı́sica 4A).


A radiação faz a transferência da energia térmica, calor, pela emissão de
ondas eletromagnéticas que carregam a energia do objeto emissor. A sua emissão
ocorre a qualquer temperatura maior que o zero absoluto. A faixa de frequências
(ou equivalentemente de comprimentos de onda) da radiação térmica se estende

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basicamente na faixa dos Raios-X (ν ≈ 1017 − 1019 Hz ou λ ≈ 10−11 − 10−8 m)


até a faixa das microondas (ν ≈ 109 − 1011 Hz ou λ ≈ 10−3 − 10 m) (ver Figura
rd.1 ).

Figura rd.1: Faixa do Espectro de radiação electromagnética desde as Microondas até os Raios-X.
A radiação térmica está compreendida essencialmente dentro desta faixa.

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A distribuição de intensidade da radiação em função do comprimento de


onda é chamada distribuição espectral ou espectro de emissão e depende forte-
mente da temperatura. A radiação emitida está distribuida continuamente sobre
todos os comprimentos de onda para qualquer dada temperatura. A Figura rd.2
mostra a distribuição espectral para o chamado ”corpo negro” que, como veremos
mais à frente, está relacionado com o espectro de emissão dos corpos em geral.

(a) (b)

(c) (d)

Figura rd.2: Espectros de Emissão de um corpo negro a diferentes temperaturas. Os espectros


de emissão de qualquer corpo podem ser entendidos qualitativamente a partir dos espectros de
emissão de um corpo negro.

Percepção:

A temperaturas usuais, a maioria dos corpos não são visı́veis pela radiação
térmica que emitem, mas somente pela radiação que refletem. Se nenhuma luz in-
cidir sobre o corpo ele simplesmente não é perceptı́vel ao olho humano. A tempe-
raturas consideradas baixas, i.e. abaixo de 500◦ Celsius (e portanto a temperatura

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ambiente), quase toda a energia emitida por corpos está associada a comprimen-
tos de onda relativamente grandes, e correspondem a radiações infra-vermelhas
(0.75-1000 mm), com comprimentos de onda muito superiores aos da luz visı́vel
(0.38-0.78 µ m). Em particular, quase toda a radiação de um corpo humano e sua
vizinhança está na região do infra-vermelho do espectro eletromagnético.
À medida que a temperatura aumenta, mais radiação é emitida, e uma fração
maior da energia é irradiada em comprimentos de onda menores. Por exemplo, a
temperaturas de 800◦ Celsius, uma fração suficientente grande da energia emitida
já tem comprimentos de onda dentro do espectro visı́vel, e o corpo começa a
brilhar, adquirindo uma cor vermelho-quente, embora a maior parte da energia
emitida continue a pertencer à região dos infra-vermelhos (vide Figura (rd.2)).
Quando o objeto é aquecido mais e mais, a cor do objeto quente desloca-se do
vermelho ao amarelo-laranja.
À temperatura de 3000◦ Celsius a distribuição espectral se deslocou sufici-
entemente para comprimentos de onda cada vez menores e o corpo adquire uma
cor branco-azulada intensa. Portanto, a temperaturas muito altas os corpos adqui-
rem luminosidade própria. O que observamos é que com o aumento da tempera-
tura, ocorre uma modificação na cor do objeto, ou seja o comprimento de onda no
qual a radiação é mais intensa diminui (ou equivalentemente a frequência na qual
Radiação Solar:
a radiação é mais intensa, aumenta). Também, a intensidade máxima da radiação O espectro de emissão da
radiação solar é muito similar ao
emitida cresce como assim também a potência total emitida (energia por unidade
espectro de emissão de um corpo
de tempo). negro a uma temperatura de
5800K. Como consequência uma
fração grande da radiação solar é
visı́vel.
Resumo:

Os espectros de emissão de um corpo negro das figuras mostram que a bai-


xas temperaturas a maior parte da energia está fora do espectro visı́vel, porém à
medida que a temperatura aumenta, mais e mais energia é deslocada para com-
primentos de onda menores e na região do espectro visı́vel. A dependência da
distribuição espectral com a temperatura explica porque a cor dos objetos se al-
tera quando são aquecidos.

Propriedades Gerais de Radiação de uma Superfı́cie


Quando a radiação incide sobre a superfı́cie de um objeto, parte é absorvida,
parte é refletida e/ou transmitida. Por exemplo corpos escuros absorvem a maior
parte da radiação incidente enquanto corpos claros refletem a maior parte. Se um
corpo está em equilı́brio com o meio, e portanto está a uma temperatura constante,

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Radiação Térmica

ele deve emitir e absorver a mesma quantidade de radiação por unidade de tempo,
senão sua temperatura aumentaria ou diminuiria. Assim, no equilı́brio térmico, o
coeficiente de absorção (α ) de um corpo coincide com seu coeficiente de emissão
(ε ). Portanto, um corpo que é um bom absorvedor é também um bom emissor de
radiação E-M. Este é o enunciado qualitativo da ”Lei de Kirchhoff”. Os coefici-
entes de absorção (α ) , reflexão (r) e transmissão (t) dependem do comprimento
de onda λ da radiação incidente. Por exemplo, a neve apresenta as seguintes ca-
racterı́sticas em relação à emissividade e a absorção: ε (λ ) ∼ 0 para a luz visı́vel
mas ε (λ ) ∼ 1 para luz infravermelha , ou seja a neve emite pouca luz visı́vel, mas
muita luz infravermelha. Portanto neve também absorve pouca luz visı́vel, mas
muita luz infravermelha. No entanto, para qualquer comprimento de onda λ em
qualquer corpo teremos que

ε (λ ) = α (λ ) (Lei de Kirchhoff), (rd.2)

que é o enunciado quantitativo da ”Lei de Kirchhoff”. A igualdade da Eq.(rd.2)


em geral também é válida quando o corpo está fora do equilı́brio com sua vizinhança.
Os coeficientes de absorção (α ) , reflexão (r) e transmissão (t) representam
as frações relativas que são refletidas, absorvidas e transmitidas e são determina-
dos pelas propriedades da superfı́cie do objeto. Os coeficientes de absorção α e
emissão ε variam entre 0 e 1 para cada comprimento de onda. A lei de conservação
da energia determina a seguinte relação entre estes coeficientes:

α +r +t = 1 . (rd.3)

Quando t = 0 temos que o coeficiente de reflexão r = 1 − α portanto um corpo


que é um bom absorvedor (α grande ) não é um bom refletor (r pequeno), mas
observe que, como ε = α , ele será também um bom emissor de radiação.

Distribuição Espectral de um Corpo Real

A distribuição espectral da radiação de qualquer corpo é especificada pela


quantidade Rcr (λ , T ) chamada radiância ou emitância espectral, que é definida
como sendo a potência (i.e. a energia por unidade de tempo) emitida por unidade
de área no intervalo λ e λ + d λ de comprimentos de onda por uma superfı́cie
à temperatura absoluta T . No sistema de unidades SI, Rcr (λ , T ) é medida em
J/(m3 s). Muitas vezes a radiância espectral é definida por unidade de ângulo
sólido e nesse caso as unidades são J/(m3 s rad). A relação entre essa definição e

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a aqui apresentada é:


Z
Rcr (λ , T ) = R̄cr (λ , T ) dΩ = 2π R̄cr (λ , T ) , (rd.4)
semiesfera
onde R̄cr (λ , T ) é a potência emitida por unidade de área e ângulo sólido, a integração
é feita em todas as direções de emissão(i.e. no ângulo sólido subentendido por
uma hemisfera) e na última igualdade supõe-se que o corpo emite isotropicamente
em todas as direções .

Vale a pena lembrar que o elemento diferencial de ângulo sólido se define em termos dos
diferenciais de ângulo d θ e d φ como dΩ ≡ sin(θ )d θ d φ . Então para o ângulo sólido
subtendido por uma hemisfera temos que
Z Z 2π Z 2π
dΩ = sin(θ )d θ d φ = 2π .
hemisfera 0 0

A distribuição de intensidade Rr (λ , T ) da radiação térmica de um corpo é


uma função direta da temperatura. Porém, a forma especı́fica desta função, que
descreve como a energia está distribuı́da pelo espectro térmico em função de seu
comprimento de onda λ não depende somente da temperatura, mas da estrutura
detalhada do corpo, dos átomos que o constituem e em especial está relacionado
às caracterı́sticas da superfı́cie do objeto. A seguir apresentaremos a definição
de um corpo ideal chamado corpo negro, cujas caracterı́sticas são indispensáveis
para a compreensão do espectro de emissão de qualquer corpo real.

Corpo Negro
Definição:

No intuito de estudar as caracterı́sticas essênciais da radiação térmica, evitando-


se as complicações relacionadas com a composição especı́fica do material e as
caracterı́sticas da sua superfı́cie, é conveniente introduzirmos o corpo negro.
O corpo negro é definido como um corpo que absorve toda a energia E-M
incidente sobre ele, e portanto não reflete qualquer radiação eletromagnética. As-
sim, aplicando a equação (rd.3) a um corpo negro temos r = t = 0 e α (λ ) = 1 para
qualquer valor do comprimento de onda λ . Portanto o corpo negro é um absorve-
dor perfeito, e em virtude da ”Lei de Kirchhoff”, Eq.(rd.2), temos que o corpo ne-
gro também é um emissor perfeito de energia eletromagnética. A radiação térmica
absorvida ou emitida por um corpo negro é chamada radiação de corpo negro.

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A importância da radiação de corpo negro deriva dos resultados dos tra-


balhos de Gustav Kirchhoff no século XIX. Em 1859, baseado em argumentos
puramente termodinâmicos Kirchhoff mostrou que, a razão Rcr (λ , T )/α (λ ) (e
portanto a razão Rcr (λ , T )/ε (λ , T )) tem que ser a mesma para qualquer corpo:

Rcr (λ , T )/ε (λ , T ) = R(λ , T ) , (rd.5)

onde R(λ , T ) é uma função universal que não depende da natureza do corpo em
particular. Note que incluimos uma possı́vel dependência dos coeficientes de
absorção e emissão com a temperatura. Como para um corpo negro ε (λ , T ) = 1,
conclui-se que R(λ , T ) deve ser a radiância espectral de um corpo negro. Assim,
todos os corpos negros a uma mesma temperatura emitem o mesmo espectro de
radiação térmica.
Em linhas gerais o argumento de Kirchhoff está baseado no que atualmente
se conhece como ”balanço detalhado” entre a potência emitida e absorvida pela
superfı́cie de um corpo no equilı́brio termodinâmico entre ele e o seu meio. As-
sim, se o corpo e sua vizinhança estão em equilı́brio térmico, eles estão a uma
temperatura T constante. Como a temperatura é constante o fluxo de energia en-
tre o corpo e seu meio está ”balanceado” i.e.

Potência emitida ≡ Rcr (λ , T ) = α (λ , T )Ri (λ , T ) ≡ Potência absorvida , (rd.6)

onde Ri (λ , T ) é a potência incidente por unidade de superfı́cie e α (λ , T ) é a fração


absorvida.

Observe que, por exemplo, a radiação térmica de um filamento incandescente de


uma lâmpada que emite dentro de um quarto não corresponde à situação que es-
tamos aqui tratando já que o filamento nao está em equilı́brio com seu meio (que
está a temperatura ambiente) pois se encontra a uma temperatura muito superior.
Neste caso, existe um fluxo lı́quido de energia do filamento para o meio (ver dis-
cusão entorno da Eq.(rd.9)).

Como Ri (λ , T ) não depende da natureza do corpo em questão, a razão


Rcr (λ , T )/α (λ , T ) é uma função universal que coincide com a radiância de corpo
negro como escrevemos na Eq.(rd.5). O ”balanço” escrito na Eq.(rd.6) é ”deta-
lhado” no sentido que é válido para qualquer valor de comprimento de onda λ
considerado.

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Implementação:

O corpo negro é uma idealização já que nenhum corpo real possui coe-
ficiente de absorção α = 1, no entanto ele pode ser aproximado pelo seguinte
sistema. Considere uma cavidade cujas paredes são mantidas uniformemente a
uma temperatura constante. Para um observador externo um pequeno orifı́cio em
tal cavidade se comporta como um corpo negro. Qualquer radiação que incide
no orifı́cio vinda do exterior entra na cavidade e é absorvida quando é espalhada
por múltiplas reflexões no seu interior. Assim somente uma pequena fração é re-
emitida sem mudar o equilı́brio térmico no interior da cavidade. Como a cavidade
está em equilı́brio térmico a pequena fração que consegue escapar pelo orifı́cio
é do mesmo tipo que a radiação no seu interior. Portanto podemos dizer que o
orifı́cio da cavidade tem α = 1 (toda a radiação incidente no orifı́cio pelo lado
de fora entra na cavidade) e portanto ε = α = 1 (toda a radiação incidente no
orifı́cio pelo lado de dentro sai da cavidade). Assim, o orifı́cio emite a radiação de
um corpo negro, e a radiação no interior da cavidade é também a radiação de um
corpo negro. Kirchhoff provou que o fluxo da radiação na cavidade é isotrópico,
i.e. o mesmo em todas as direções . A radiação também é homogênea (ou seja a
intensidade é igual em cada ponto no interior da cavidade) e é idêntica em todas
as cavidades a uma mesma temperatura.

Lei de Stefan-Boltzmann:

Em 1879 J. Stefan verificou empiricamente que a energia emitida por uni-


dade de tempo (potência total, P) por unidade de área A, a uma dada temperatura
absoluta T de um corpo negro é proporcional à quarta potência da temperatura
absoluta e é dada por:

P(t)
≡ R(T ) = σ T 4 (Lei de Stefan-Boltzmann) (rd.7)
A

onde as unidades da radiância total R(T ) no SI são J/m2 s e σ = 5.67012 ×


10−8W /m2 K 4 é chamada de constante de Stefan. Em 1884 L.Boltzmann dedu-
ziu a mesma relação a partir da termodinâmica, e esta expressão ficou conhecida
como Lei de Stefan-Boltzmann. Para objetos quentes mas não ideais esta lei se
expressa da seguinte forma:

Rcr (T ) = εσ T 4 (rd.8)

onde ε ≡ ε (T ) < 1 é a emissividade do corpo real.

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Radiação Térmica

Se um objeto à temperatura T está emitindo energia ao seu meio mais frio


que se encontra a uma temperatuta Tm < T , a taxa de perda lı́quida de radiação,
de acordo com a Eq.(rd.8), assume a forma:

cr − Rcr = ε σ (T − Tm ) ,
RLcr = Remit abs 4 4
(rd.9)

cr ≡ ε σ T é a radiância emitida pelo corpo à temperatura T e Rcr ≡


onde Remit 4 abs

ε σ Tm4 a radiância absorvida pelo corpo (e que foi emitida pelo meio a tempera-
tura Tm ). Esta é, por exemplo, a situação já antes mencionada de um filamento
incandescente de uma lâmpada que emite a uma temperatura T num meio a uma
temperatura Tm . Assim ε é o coeficiente de emissão ou emissividade do filamento,
e se assume que este coeficiente se aplica tanto à emissão para o meio quanto à
absorção da radiação do meio, ou seja que o coeficiente de absorção do filamento
é igual ao de emissão. O modo conceitual de analisar esta questão é observar que
o objeto quente disposto em um meio deve por fim alcançar o equilı́brio térmico
com o meio. O objeto irá inicialmente emitir mais energia ao meio que absor-
ver do meio, porém isto irá determinar que a temperatura do meio aumente e a
temperatura do objeto diminua. Mas quando ambos alcançarem a mesma tem-
peratura, podemos concluir que, em média, a quantidade de energia absorvida é
exatamente a mesma que é emitida. Assim, a expressão para a energia lı́quida
irradiada ao meio será nula quando T = Tm , o que está de acordo com expressão
dada na Eq.(rd.9). Voltaremos a esta discussão na seção referente ao medidor de
radiação térmica chamado ”Pilha Termoelétrica de Moll”.

Distribuição Espectral de um Corpo Negro


A distribuição espectral da radiação de um corpo negro é especificada pela
radiância ou emitância espectral R(λ , T ), que já introduzimos anteriormente na
Eq.(rd.5). Muitas vezes é usada a radiância R(ν , T ) que corresponde à potência
irradiada por um corpo negro por unidade de área no intervalo de frequências ν
e ν + d ν . Note que as unidades de R(ν , T ) no sistema SI são J/(m2Hz), que
diferem das unidades de R(λ , T ). A relação entre as duas radiâncias é:


c
R(ν , T ) = R(λ = c/ν , T ) = 2 R(λ = c/ν , T ) (rd.10)
dν ν
onde usamos a relação c = λ ν da Eq. (rd.1). A emitância total R(T ), que aparece
na Lei de Stefan-Boltzmann [Eq.(rd.7)], é simplesmente a integral da emitância
espectral R(λ , T ) sob todos os comprimentos de onda possı́veis.
Z +∞
R(T ) = R(λ , T ) d λ = σ T 4 . (rd.11)
0

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Dados Históricos: Medição de R(λ , T )

Em 1899, O. Lummer e E. Pringsheim mediram a distribuição R(λ , T ) de


um corpo negro. O seguinte procedimento experimental é aplicado para determi-
nar a forma desta distribuição. Incide-se um feixe de radiação térmica proveniente
de um pequeno orifı́cio de uma cavidade em uma rede de difração e projeta-se a
distribuição em uma tela, onde os comprimentos de onda são discriminados, sepa-
rados pelo fenômeno óptico da difração. Um detetor é deslocado para cima e para
baixo ao longo da tela a fim de medir a potência R(λ , T )d λ emitida em cada faixa
de comprimento de onda λ e λ + d λ . Os valores de R(λ , T ) são então plotados
em função de λ para diversas temperaturas T como na Figura (rd.3).

(a) (b)

(c)

Figura rd.3: Espectros de emissão de um corpo negro a diferentes temperaturas. Em linha preta
está ressaltado o comportamento do pico da distribuição dado pela ”Lei de Deslocamento de Wien”
da Eq.(rd.12). A linha pontilhada representa o comportamento λ −4 para comprimentos de onda
grandes (ver discussão em torno da Eq.(rd.31)).

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Radiação Térmica

A partir do gráfico, verifica-se que para comprimentos de onda λ grandes,


R(λ , T ) é proporcional a λ −4 , mas para comprimentos de onda menores diminue
abaixo da curva λ −4 , apresentando um pico em um certo comprimento de onda
λmax . Então, decai rapidamente a zero a medida que λ decresce a zero. Observa-se
que os espectros da radiação térmica deslocam-se para regiões de comprimentos
de onda mais baixos à medida que a temperatura aumenta. Para cada tempera-
tura existe um comprimento de onda λmax (T ) para o qual R(λ , T ) tem um valor
máximo. O valor λmax (T ) é inversamente proporcional à temperatura na qual se
encontra a cavidade. Este resultado é conhecido como a ”Lei do Deslocamento de
Wien”:
λmax T = b (Lei do deslocamento de Wein), (rd.12)
onde b = 2, 898 × 10−3 m K.

Relação entre R(λ , T ) e a Densidade de Energia no Interior da Cavidade.

Para obtermos a radiação do corpo negro ou radiação da cavidade, primei-


ramente observemos que a potência por unidade de área A emitida pelo orifı́cio na
cavidade, i.e. R(λ , T ), é proporcional à densidade de energia presente no interior
da cavidade ρ (λ , T ) de acordo com a seguinte relação:
c
R(λ , T ) = ρ (λ , T ) , (rd.13)
4
onde ρ (λ , T ) é definida como sendo a energia por unidade de volume da radiação
no intervalo de comprimento de onda λ e λ + d λ a uma temperatura T.
Vejamos qual é a origem do coeficiente de proporcionalidade c/4 na Eq.(rd.13).
Na abertura da cavidade, a energia ∆EdΩ/2π emitida numa fração de ângulo
sólido dΩ/2π , numa direção formando um ângulo θ com a normal, que atravessa
um elemento de área ∆A num intervalo de tempo ∆t, corresponde à energia contida
no paralelepı́pedo (de volume c ∆t cos(θ ) ∆A) da Figura (rd.4),
ρ (λ , T ) dΩ
∆EdΩ/2π = c ∆t cos(θ ) ∆A , (rd.14)
2 2π
onde a densidade de energia da cavidade é dividida por 2 pois somente a metade
da potência atravessa a área ∆A na direção para fora da cavidade,

∆E dΩ
Z
R(λ , T ) = =
∆t ∆A 2π
1 2π
Z π /2
c
Z
= ρ (λ , T ) dφ d θ cos(θ ) sin(θ ) =
2 2π 0 0
c
= ρ (λ , T ) . (rd.15)
4

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Radiação Térmica
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Figura rd.4: A energia saindo da cavidade numa fração de ângulo sólido dΩ/2π , que atravessa
uma área ∆A, no intervalo de tempo ∆t, indo na direção determinada pelo ângulo θ . Note que a
energia emitida é uniforme em todas as direções .

Distribuição Espectral de Planck: perspectiva moderna

Para calcularmos a distribuição espectral ou radiância espectral do corpo


negro, R(λ , T ), segundo a Eq.(rd.13) precisamos calcular a densidade de energia
ρ (λ , T ) dentro da cavidade à temperatura absoluta T . O primeiro a calcular cor-
retamente ρ (λ , T ) foi o fı́sico alemão Max K. E. L. Planck por volta do ano 1900,
e o resultado é:
8π hc/λ
ρ (λ , T ) = 4 hc/kλ T , (rd.16)
λ e −1
ou em função da frequência da radiação E-M na cavidade,
Os valores k = (1.3806505 ±
d λ 8πν 2 hν 0.0000024) × 10−23 J/K e

ρ (ν , T ) = ρ (λ , T ) = 3 hν /kT , (rd.17) h = (6,62606896 ±
dν c e −1 0.00000033) × 10−34 J seg das
constantes de Boltzmann e
onde k = (1.3806505 ± 0.0000024) × 10−23 J/K é a constante de Boltzmann e Planck respectivamente, são os
recomendados pelo CODATA
h = (6, 62606896 ± 0.00000033) × 10−34 J seg é a chamada constante de Planck (”Committee on Data for Science
(unidades no SI). and Technology”) na sua
publicaç ão de 2006
Embora estas fórmulas estejam corretas, os argumentos fı́sicos dados por (http://physics.nist.gov/cuu/
Constants/index.html). Elas são o
Planck para deduzi-las não descrevem corretamente a situação fı́sica. A seguir,
resultado das medidas
vamos descrever os ingredientes que entram no cálculo de ρ (ν , T ) desde uma experimentais mais precisas
feitas até o ano de 2006 junto
perspectiva atual da compreensão dos fenômenos fı́sicos envolvidos, e mais à
com suas incertezas
frente daremos uma perspectiva histórica da dedução desta fórmula que deu inı́cio experiementais.

à teoria que mais tarde veio se chamar Mecânica Quântica.

19 CEDERJ
Radiação Térmica

Em primeiro lugar é necessário observar que a radiação E-M dentro da ca-


vidade consiste de um gás de fótons em equilı́brio térmico à temperatura T . Na
teoria quântica do campo eletromagnético qualquer radiação E-M de frequência
ν = c/λ é constituı́da de partı́culas chamadas fótons cada uma com energia

E f = hν . (rd.18)

Contrariamente a outras partı́culas elementares, como prótons ou elétrons, os


fótons não possuem massa em repouso e sempre se movimentam no vácuo à ve-
locidade da luz c. Além de energia, cada fóton carrega um momento linear dado
pelo vetor em três dimensões,

~p f ≡ (px , py , pz ) ≡ (h/2π )~k f , (rd.19)

( onde o módulo do chamado vetor de onda ~k f é k f ≡ |~k f | = 2π /λ ), e uma


polarização (ou momento angular intrı́nseco -chamado de spin-) que pode assu-
mir somente dois valores diferentes. Cabe lembrar que uma onda eletromagnética
clássica sempre pode ser decomposta como uma combinação linear de duas pola-
rizações ortogonais, por exemplo duas polarizações lineares ortogonais ou duas
polarizações elı́pticas ortogonais. O equivalente quântico deste fato é que qual-
quer fóton sempre pode ser decomposto como uma combinação linear de dois
estados de polarização ortogonais.
Como toda partı́cula quântica os fótons apresentam caracterı́sticas de partı́culas
e caracterı́sticas ondulatorias. Como você já viu na disciplina Mecânica Quântica
isto é chamado ”dualidade onda-partı́cula”. Suas caracterı́sticas ondulatórias com-
prendem todos os fenômenos ondulatórios descritos pelas equações de Maxwell
do campo eletromagnético clássico, como por exemplo difração e interferência, e
refração na passagem entre dois meios diferentes. Cada fóton dentro da cavidade
pode ocupar um ”modo” de oscilação do campo eletromagnético onde cada modo
está especificado dando o valor do vetor ~p f e o estado de polarização do fóton.
Note que, de acordo com a Eq.(rd.19), para um fóton a relação entre o módulo
do seu momento linear e sua energia é p f ≡ |~p f | = E f /c, portanto uma vez es-
pecificado o modo no qual o fóton se encontra sabemos a energia que ele tem.
Dentro da cavidade que representa um corpo negro existe um contı́nuo de modos
cuja densidade, i.e. o número de modos de oscilação do campo eletromagnético
com frequência entre ν e ν + d ν por unidade de volume e para os dois valores de
polarização possı́veis é:
8πν 2
N j (ν ) = 3 , (rd.20)
c
onde j é o nome que damos ao conjunto de modos de uma dada frequência ν .
Esta densidade coincide com a densidade de ondas estacionárias do campo eletro-

CEDERJ 20
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

magnético clássico dentro da cavidade (cálculo que mostraremos mais à frente) e


constitui o primeiro ingrediente no cálculo da densidade de energia da Eq.(rd.17).
Na linguagem da mecânica quântica para determinar o ”estado” do fóton
é necessário especificar o ”modo” ao qual ele pertence. Como os fótons são
partı́culas não interagentes, pois não existe uma força de interação entre os fótons,
nos momentos que ele não interage com a matéria ele permanece num mesmo
modo. Note que mudar de modo significa que o momento linear ~p f do fóton
muda, e como você já sabe o momento linear só muda na presença de uma força.
É possı́vel ter vários fótons num mesmo modo de oscilação do campo eletro-
magnético, ou seja vários fótons podem estar num mesmo estado quântico ( a am-
plitude da onda eletromagnética associada a cada modo é proporcional ao número
de fótons no modo). Como você deve se lembrar da disciplina Mecânica Es-
tatı́stica esta é uma das caraterı́stica das partı́culas chamadas ”bósons” cujas pro-
priedades estatı́sticas no equilı́brio termodinâmico seguem a chamada ”Estatı́stica
de Bose-Einstein” .

Cabe lembrar que as partı́culas quânticas (i.e. âtomos, moléculas ou partı́culas elemen-
tares como prótons, elétrons, fótons, etc.) são divididas em dois tipos: as partı́culas
”bosônicas” e as partı́culas ”fermiônicas”, estas últimas ao contrário dos ”bôsons” têm
como uma de suas caracterı́sticas a de não poder compartir o mesmo estado quântico.
Um exemplo de partı́culas fermiônicas são os elétrons e os prótons. No equilibrio ter-
modinâmico as partı́culas bosônicas seguem a chamada “Estatı́stica de Bose-Einstein”
enquanto que as partı́culas fermiônicas seguem a chamada “Estatı́stica de Fermi-Dirac”.

Assim, os fótons são bósons com a particularidade adicional que são bósons
não-interagentes entre si. Quando os fótons interagem com a matéria (átomos,
elétrons, etc.), eles só podem transferir toda sua energia E f = hν . Desta forma,
quando sua energia é absorvida pela matéria ele desaparece do modo no qual se
encontrava. Da mesma forma, a matéria só emite energia na forma de ”quanta”,
E f = hν , que são os fótons emitidos em algum modo particular (voltaremos a
este assunto mais na frente). Assim podemos pensar que, como resultado da
interação com a matéria, os modos do campo eletromagnético dentro da cavi-
dade são populados e despopulados continuamente. Os processos fı́sicos envolvi-
dos na produção destes fótons são os mais variados, eles envolvem processos de
transições atómicas dos elétrons, transições vibracionais e rotacionais dos átomos
e/ou moléculas. Todos estes processos correspondem a transições entre nı́veis
discretos de energia. Repare que só pode existir emissão de fótons nas transições
entre nı́veis discretos de energia se a partı́cula quântica possui algum momento

21 CEDERJ
Radiação Térmica

electromagnético (por exemplo: carga e/ou momentos de multipolos elétricos ou


magnéticos.)
Como você já deve ter calculado em Mecânica Estatı́stica, no equilı́brio
termodinâmico à temperatura absoluta T , o número médio de fótons num dado
modo j num gás de fótons é igual a,
1
hn j i = , (rd.21)
ehν /kT −1
portanto a energia média no modo j será,

hE j i = E f hn j i = . (rd.22)
ehν /kT −1
Estes são resultados da aplicação da ”Estatı́stica de Bose-Einstein” às partı́culas
bosônicas chamadas fótons. Assim chegamos ao segundo e último ingrediente
que entra no cálculo da densidade de energia dentro da cavidade já que esta é o
produto da densidade de modos dentro da cavidade vezes a energia média em cada
modo, i.e. ρ (ν , T ) = N j (ν )hE j i. Finalmente, juntando os resultados da Eq.(rd.17)
e a Eq.(rd.13) chegamos à radiância espectral de um corpo negro,
2π hν 3 1
R(ν , T ) = , (rd.23)
c2 ehν /kT − 1
ou equivalentemente usando Eq.(rd.10)
2π hc2 1
R(λ , T ) = , (rd.24)
λ e
5 hc/k λ T −1

Densidade de ”modos” dentro da cavidade.

A densidade de modos dentro de uma cavidade que representa um corpo


negro corresponde à densidade de ondas eletromagnéticas estacionárias clássicas
dentro da cavidade. Isto se deve ao fato de que a função amplitude do campo
eletromagnético quantizado (que descreve os ”fótons”) verifica a mesma equação
de onda que se deriva das equações de Maxwell para o campo eletromagnético
clássico. Para lembrar a derivação da equação de onda da luz a partir das equações
de Maxwell, releia os módulos de Fı́sica 4. Para calcular a densidade de ondas
estacionárias, em geral, se supõe uma cavidade com paredes perfeitamente con-
dutoras de maneira que as ondas eletromegnéticas devem satisfazer a condição
de contorno que impõe o fato de que a componente tangencial do campo elétrico
deve ser nula nas paredes da cavidade. Para uma cavidade cúbica de dimensões
L × L × L, a condição de contorno é satisfeita se o número de onda é,
~k f = π (nx , ny , nz ) , (rd.25)
L

CEDERJ 22
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

onde nx , ny e nz são números inteiros quaisquer. Para cada vetor de números intei-
ros ~n ≡ (nx , ny, nz ) diferentes, temos 2 modos associados que correspondem aos
dois valores de polarização possı́veis para a luz. Estes modos podem ser represen-
tados como pontos num gráfico tridimensional (ver Figura (rd.5)). Lembrando
que |~k f | = 2π /λ = 2πν /c, o módulo do vetor ~n é

2Lν
2
L2

|~n| 2
≡ n2x + n2y + n2z = 2 |~k f |2 = , (rd.26)
π c

que corresponde à equação de uma esfera de raio 2Lν /c. Como o vetor ~n e −~n
representam essencialmente o mesmo modo (pois trata-se de ondas estacionárias
então os dois sentidos de propagação são considerados), para calcularmos a densi-
dade de modos basta restringir a análise ao primeiro octante da esfera cujo volume
é: Ves f = (1/8)(4π /3)(2Lν /c)3. Assim, para λ << L o número de modos por
unidade de volume será igual a,

(1/8)(4π /3)(2Lν /c)3 8π ν 3


NT j ≡ 2 = (rd.27)
V 3 c3
onde V = L3 é o volume da cavidade cúbica considerada e incluimos o fator 2 que
leva em conta o estado de polarização. Então, o número de modos de oscilação do
campo eletromagnético com frequência entre ν e ν + d ν por unidade de volume,
para os dois valores de polarização possı́veis será:

∂ (NT j ) 8πν 2
N j (ν ) = = 3 . (rd.28)
∂ν c
Este resultado também é válido para uma cavidade que não seja cúbica sempre
que seu comprimento linear tı́pico L verifique que λ << L. Assim, chegamos ao
resultado na Eq.(rd.20).

Limite de frequências baixas: Distribuição de Rayleigh-Jeans.

No limite de frequências baixas, ou seja para comprimentos de onda gran-


des, quando se verifica a relação energética hν << kT , podemos aproximar a
função exponencial na Eq.(rd.17),

hν hν hν
   2  3
hν /kT 1 1
e = 1+ + + +... . (rd.29)
kT 2! kT 3! kT

Ficando com a primeira ordem em (hν /kT ) temos para a densidade de energia
dentro da cavidade,
8πν 2
ρ (ν , T ) ≈ 3 kT , (rd.30)
c

23 CEDERJ
Radiação Térmica

Figura rd.5: Cada ponto no gráfico corresponde a dois modos diferentes do campo eletro-
magnético (correspondentes aos dois valores possı́veis de polarização da luz) dentro de uma cavi-
dade cúbica de lado L.

ou equivalentemente,

ρ (λ , T ) ≈
kT . (rd.31)
λ4
Este resultado coincide com o cálculo da densidade de energia dentro da cavidade
realizado por Lord Rayleigh e J. Jeans usando argumentos da fı́sica estatı́stica
clássica. Com efeito, eles sugeriram que as ondas eletromagnéticas estacionárias
dentro da cavidade eram o resultado da constante emissão e absorção de radiação
pelos âtomos das paredes da cavidade que atuariam como pequenos dipolos osci-
lantes, i.e. pequenos osciladores harmônicos de frequência ν = c/λ . Lembre que,
no electromagnetismo clássico, cargas aceleradas, como é o caso de cargas em
movimento harmônico, emitem radiação eletromagnética. Neste sentido, segundo
Rayleigh e Jeans, os âtomos nas paredes da cavidade se comportariam como pe-
quenas antenas. Como a energia E de cada um destes osciladores clássicos pode
ter qualquer valor entre 0 e +∞, segundo a Mecânica Estatı́stica Clássica o va-
lor médio da energia de cada oscilador corresponde a uma média dos valores E
ponderada pelo fator de Boltzmann exp(−β E), i.e.
R∞
dE E e−β E ∞
Z 
0 d −β E 1
hEi = R ∞ = − log dE e = = kT , (rd.32)
0 dE e
−β E dβ 0 β

onde definimos β ≡ 1/kT . Portanto, esta deveria ser a energia carregada por cada
onda estacionária de frequência ν dentro da cavidade. Desta forma, juntando este

CEDERJ 24
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

resultado à densidade de ondas estacionárias de frequência ν , dada na Eq.(rd.20),


Rayleigh e Jeans concluiram que a densidade de energia dentro da cavidade seria
o resultado da Eq.(rd.30). No entanto, como acabamos de ver, a teoria quântica
diz que a distribuição de Rayleigh-Jeans só é válida no limite hν << kT como é
mostrado na Figura rd.3, o que está de acordo com a evidência experimental.

Limite de frequências altas: Distribuição de Wien.

No limite de frequências altas, ou seja para pequenos comprimentos de


onda, quando se verifica a relação energética hν >> kT , o fator 1 no denomina-
dor da Eq.(rd.17) pode ser ignorado frente ao valor muito grande da exponencial
ehν /kT , portanto,
8π hν 3 −hν /kT
ρ (ν , T ) ≈ e , (rd.33)
c3
ou equivalentemente
8π hc −hc/kλ T
ρ (λ , T ) = e , (rd.34)
λ5
resultado encontrado por W. Wien no final do século XIX usando argumentos
termodinâmicos da fı́sica clássica.

Fórmula de Planck num modelo simples devido a Einstein.

É interessante ver como um modelo simples de interação entre os fótons


e os átomos nas paredes da cavidade obriga à densidade de energia dentro da
cavidade a ter a forma funcional dada pela fórmula de Planck da Eq.(rd.17). Este
modelo, devido a Einstein, assume, ao igual que a teoria quântica moderna, que
a energia atômica está quantizada, ou seja que só pode assumir certos valores
discretos chamados nı́veis de energia atômicos. Lembre, por exemplo, os nı́veis
de energia do âtomo de hidrogênio que você viu na disciplina Mecânica Quântica.
Aqui, para cada átomo estaremos interessados somente em dois nı́veis de energia
em particular, E1 e E2 , onde a diferença de energia pode ser sempre escrita como
E2 − E1 = hν para alguma frequência ν [ver diagrama da Figura rd.6 ]. Um
átomo interage com a radiação eletromagnética através de três processos possı́veis
(como também supôs Einstein):

1. Absorção: quando um ”quantum”, hν , de energia da radiação (um fóton) é


absorvido levando o átomo do estado energético E1 para o estado de maior
energia E2 = E1 + hν .

25 CEDERJ
Radiação Térmica

2. Emissão espontânea: ocorre quando um átomo que está num nı́vel energético
”excitado ”, E2 , emite espontaneamente um ”quantum” de energia, hν ,
(um fóton) num perı́odo de tempo conhecido como vida média do nı́vel
energético E2 . No processo, o átomo passa a estar no nı́vel energético me-
nor E1 .

3. Emissão estimulada: o átomo no estado excitado E2 pode ser estimulado a


emitir um ”quantum” de energia, hν , (um fóton) quando este é atingido por
outro fóton de energia hν . O resultado final é dois fótons de energia hν na
cavidade e o átomo no nı́vel de energia menor E1 .

~ ~ ~
Absorçao Emissao Emissao
^
Espontanea Estimulada
E2

hν hν hν


E1

Figura rd.6: Processos de absorção e emissão entre nı́veis atômicos.

O número destes processos num intervalo de tempo infinitesimal, dt será:

1. Na absorção: o número de processos de absorção, dNa , será proporcional


ao número de átomos N1 no nı́vel E1 , e à densidade de energia ρ (ν , T ) na
cavidade (i.e. proporcional ao número de fótons de energia hν disponı́veis
na cavidade),
dNa = Ca N1 ρ (ν , T ) dt , (rd.35)
onde Ca ≡coeficiente de absorção (ou ”coeficiente de Einstein”), que é
uma medida da probabilidade de transição do nı́vel 1 ao nı́vel 2 devido à
absorção.

2. Na emissão espontânea: o número de processos de emissão espontânea, dNee ,


será somente proporcional ao número de átomos N2 no nı́vel E2 ,

dNee = Cee N2 dt (rd.36)

onde Cee ≡coeficiente de emissão espontânea (também chamado ”coefici-


ente de Einstein”) que é uma medida da probabilidade de transição do nı́vel
2 ao nı́vel 1 devido à emissão espontânea.

CEDERJ 26
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

3. Na emissão estimulada: o número de processos de emissão estimulada, dNi ,


será proporcional ao número de átomos N2 no nı́vel E2 , mas também à
densidade de energia ρ (ν , T ) na cavidade (i.e. proporcional ao número de
fótons de energia hν disponı́veis na cavidade),

dNi = Ci N2 ρ (ν , T ) dt , (rd.37)

onde Ci ≡coeficiente de emissão estimulada (outro ”coeficiente de Eins-


tein”) que é uma medida da probabilidade de transição do nı́vel 2 ao nı́vel 1
devido à emissão estimulada.

No equilı́brio térmico deveremos ter que o número de emissões deve-se


igualar ao número de absorções ,
Ca
dNa = dNee + dNi −→ N2 /N1 = , (rd.38)
Cee +Ci ρ (ν , T )
onde a razão N2 /N1 foi obtida substituindo na equação de equilı́brio os valores nas
Eqs.(rd.35), (rd.36) e (rd.37). Mas como estamos no equilı́brio termodinâmico, a
razão entre o número de átomos no nı́vel 2 e o número de átomos no nı́vel 1
deveria coincidir com o quociente entre os pesos estatı́sticos de Boltzmann,
N2 Ca e−β E2 Cee
= = −β E =⇒ ρ (ν , T ) = ,
N1 Cee +Ci ρ (ν , T ) e 1 Ca eβ (E2 −E1 ) −Ci
(rd.39)
onde E2 − E1 = hν . Note que a razão N2 /N1 = e − β E 2 /e−β E 1 reflete o fato que
o número de âtomos no nı́vel 2 é controlado pela temperatura. Assim a agitação
térmica produz transições ao nı́vel 2, ou seja que a fração N2 /N1 = e−β E2 /e−β E1
cresce com a temperatura, e no limite T → +∞ (β = 1/kT → 0) temos N2 /N1 → 1.
Para determinar os ”coeficientes de Einstein” devemos considerar que:
a) quando a temperatura T → +∞ (β = 1/kT → 0) a densidade de energia ρ (ν , T ) →
∞; que só acontece se:
Cee
Ca = Ci =⇒ ρ (ν , T ) = , (rd.40)
Ca (e hν − 1)
β

b) como para hν >> kT o resultado de Rayleigh e Jeans, na Eq.(rd.30), se com-


prova experimentalmente, então devemos ter que,
Cee Cee kT 8πν 2
ρ (ν , T ) = ≈ = 3 kT , (rd.41)
Ca (eβ hν − 1) Ca hν c
do qual obtemos o resultado,
8π hν 3
Cee = Ca , (rd.42)
c3

27 CEDERJ
Radiação Térmica

que é essencialmente o conteúdo da Lei de Kirchhoff [Eq.(rd.2)] onde a probabi-


lidade de emissão espontânea é proporcional à probabilidade de absorção. Final-
mente, substituindo este resultado na Eq.(rd.40) obtemos a fórmula de Planck da
Eq.(rd.17) para a densidade de energia dentro da cavidade.

Distribuição Espectral de Planck: perspectiva histórica

Vamos ver agora, em linhas gerais, o argumento que, por volta de 1900, M.
Planck deu para achar a fórmula da Eq.(rd.17) para a densidade de energia dentro
de uma cavidade que representa um corpo negro. Equivalentemente a Rayleigh e
Jeans ele também considerou que a radiação dentro da cavidade era emitida pe-
los átomos das paredes considerados como pequenos osciladores. A diferença é
que ele postulou que a energia de um desses osciladores de uma dada frequência
ν , não podia ter qualquer valor entre zero e infinito, como seria o caso previsto
pela mecânica clássica, mas somente poderia tomar valores discretos nE0 , onde
E0 seria um valor finito de energia, que chamou ”elemento de energia” (posteri-
ormente chamado ”quantum” de energia), o qual poderia depender da frequência,
i.e. E0 ≡ E0 (ν ). Desta forma, a energia média para um ”ensemble” (releia os
módulos da disciplina Fı́sica Estatı́stica e Matéria Condensada) desses oscilado-
res, ao invés de ser calculada com a Eq.(rd.32) deveria ser calculada como,

∑∞ −β nE0 ∞
" #
nE e d
log ∑ e β nE0 =
n=0 0 −
hEi = == −
∑∞n=0 e −β nE0 d β n=0
 
d 1 E0
= − log = E /kT , (rd.43)
dβ 1−e −β E 0 e 0 −1

onde usamos que β = 1/kT . Como toda a radiação eletromagnética de frequência


ν é emitida por osciladores dessa frequência, e portanto carregam a energia desses
osciladores, a densidade de energia na cavidade deveria ser igual à densidade de
ondas estacionárias com frequência entre ν e ν + d ν dentro da cavidade, vezes a
energia de cada oscilador, i.e,

8πν 2 E0 ( ν )
ρ (ν , T ) = . (rd.44)
c e 0 ν )/kT − 1
3 E (

Este resultado só poderia ser compatı́vel com os resultados conhecidos naquela
época se o valor do ”elemento de energia” fosse: E0 = hν , onde h seria uma
constante a ser determinada experimentalmente e que posteriormente foi batizada
”constante de Planck”. Repare que para os osciladores cujas energias verifiquem
que hν << kT , as somas na Eq.(rd.43) são uma boa aproximação das integrais

CEDERJ 28
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

na Eq.(rd.32), recuperando-se para estes osciladores o valor da energia média


clássica.
O resultado de M. Planck deu inı́cio ao que veio se chamar ”Mecânica
Quântica” e seu postulado corresponde ao resultado da quantização da energia em
sistemas com movimento ligado. No caso do movimento ligado dos átomos consi-
derado por Planck tratar-se-ia da quantização da energia de osciladores harmônicos.
No entanto, como vimos anteriormente, atualmente sabemos que é a própria ener-
gia do campo eletromagnético que está quantizada na forma dos ”quanta” de
energia carregados pelos ”fótons”, e são estes que, ao interagir com a matéria,
mudam o estado de movimento das cargas (nos átomos), e assim mudam o estado
energético destas em valores múltiplos destes ”quanta” de energia. E viceversa:
estados energéticos ”excitados” dos átomos ”relaxam” emitindo ”quanta” de ener-
gia na forma de fótons.

Emissividade de Diferentes Materiais e suas Superfı́cies


Nenhum corpo matérial a uma dada temperatura se comporta rigorosamente
como um corpo negro. Já vimos que para um corpo qualquer em equilı́brio
térmico à temperatura T, a potência emitida é, em geral, inferior àquela que seria
emitida por um corpo negro, i.e. Rcr (λ , T ) = ε (λ , T )R(λ , T ) onde a emissividade
espectral ε (λ , T ) ≤ 1 (igual a 1 para o corpo negro). A emissividade espectral
quase sempre é uma função do comprimento de onda e da temperatura e é uma
propriedade que deve ser determinada empiricamente para cada objeto (ver Fi-
gura (rd.7)). A emissividade também depende da natureza da superfı́cie do corpo
e é caracterizada, para um dado comprimento de onda, pela razão entre a taxa de
emissão da superfı́cie e a taxa de emissão de uma área igual de uma superfı́cie
emissora ideal (corpo negro) à mesma temperatura (ver Tabela 1.1).

Corpo Cinzento

Um corpo cuja emissividade ε é independente do comprimento de onda é


denominado corpo cinzento. A radiância espectral de um corpo cinzento é pro-
porcional à de um corpo negro a uma dada temperatura,

2π hc2
Rcz (λ , T ) = ε (T ) R(λ , T ) = ε (T )  hc  , (rd.45)
λ 5 e λ kT − 1

onde a fórmula de Planck é alterada pela presença da emissividade ε (T ) que pode


depender ainda da temperatura (ver Figura (rd.7)).

29 CEDERJ
Radiação Térmica

Figura rd.7: Comportamento da Emissividade do Tungstênio para algumas Temperaturas [base-


ado em Preston & Dietz, 1991].

A integração da radiância Rcz (λ , T ) na Eq.(rd.45) em todos os comprimen-


tos de onda, resulta de novo na lei de Stefan-Boltzmann agora multiplicada pela
emissividade, i.e.

Rcz (T ) = ε (T )σ T 4 . (rd.46)
Assim, em geral, a radiância de um corpo cinzento não varia com T 4 devido à
dependência adicional introduzida por ε (T ). Para garantir a verificação experi-
mental da Lei de Stefan-Boltzmann, a emissividade espectral ε (T ), deve variar
pouco com a temperatura. Isto acontece em muitos casos, pelo menos numa faixa
dada de temperaturas, onde podemos considerar ε (T ) constante. Deve-se mencio-
nar que, se a emissividade de um corpo apresentar uma dependência adicional no
comprimento de onda, a integração na Eq. (rd.45) conduz a uma expressão para
a radiância total que em geral é completamente diferente da obtida para o corpo
cinzento (Eq. (rd.46)).

Atividades
Atividade I

Aplique a lei de deslocamento de Wien para determinar numericamente o


comprimento de onda correspondente ao máximo de radiância espectral para os
seguintes objetos: a) corpo humano (36◦C), b) filamento de lâmpada incandes-

CEDERJ 30
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

materiais T (◦C) ε materiais T (◦C) ε


estados / superfı́cies estados / superfı́cies
alumı́nio 25 .02 zinco-galvanizado 40 .28
alumı́nio 100 .03 zinco-oxidado 260 .11
latão-não polido 20 .07 zinco-polido 260 .02
carbono-filamento 260 .95 asfalto 40 .93
cobre-oxidado 40 .87 tijolo-comum 25 .93
cobre-não polido 40 .22 cerm̂ica-alumina 90 .90
cobre-polido 40 .03 argila 20 .39
cobre-fundido 1200 .13 concreto - .63-.91
ouro-polido 40-260 .02 vidro 100 .76-.82
ferro-oxidado 100 .74 granito 25 .45
ferro-ferrugem 25 .70 gelo 0 .97
ferro-fundido 1700 .45 pinturas-coloridas 24 .9-.96
niquel-polido 40 .05 pinturas-alumı́nio - .27-.67
platina 40 .05 pinturas-branca 93 .94
prata-polida 40 .01 areia 20 .76
aço-polido 40 .07 xisto 20 .69
aço-oxidado 25 .80 fuligem-carvão 20 .95
tungstênio-filamento 40 .03 madeira 38 .91
tungstênio-filamento 540 .11
tungstênio-filamento 2800 .35

Tabela 1.1: Emissividade ε de alguns materiais em diferentes estados, tipos de superfı́cies e tem-
peraturas T em ◦C

cente (3000 K), c) superfı́cie do sol (6000 K). Discuta em que faixas do espectro
eletromagnético se encontram estes valores de comprimento de onda. Compare
seus resultados com os valores que podem ser obtidos através dos gráficos presen-
tes neste capı́tulo.

Atividade II

Usando a expressão da radiância espectral de um corpo negro da Eq.(rd.24)


verifique o resultado da Lei de Stefan-Boltzmann [Eq.(rd.11)] e veja que a cons-
tante de Stefan-Boltzmann é σ = 2π 5 k4 /15c2 h3 . Substitua o valor da constante
de Boltzmann, k = (1.3806505 ± 0.0000024) × 10−23J/K, a constante de Planck,
h = (6, 62606896 ± 0.00000033) × 10−34 J seg, encontrados experimentalmente,
e o valor da velocidade da luz c = 299.792.458 m/seg, na expressão teórica que
você achou para a constante de Stefan-Boltzmann e compare com o valor encon-

31 CEDERJ
Radiação Térmica

trado experimentalmente σ = (5.670400 ± 0.000040) × 10−8W /m2 K 4 . Que você


conclui? Ajuda: o valor da integral,
Z ∞
x3 π4
dx = .
0 ex − 1 15

Atividade III

Discuta a importância histórica da descoberta da lei de radiação térmica de


Plack na evolução da Fı́sica Moderna. Qual era a questão fundamental que se
procurava solucionar na época da descoberta da lei de Planck ?

Atividade IV

A lâmpada incandescente apresenta uma baixa eficiência luminosa porque


grande parte do fluxo de radiação emitido não corresponde à luz visı́vel. Tipi-
camente somente 10% da emissão de radiação térmica encontra-se na faixa do
visı́vel. Aproximando o comportamento da lâmpada ao comportamento de um
corpo negro, explique este efeito graficamente, esboçando a curva de distribuição
espectral de uma lâmpada incandescente tı́pica operando em 3000K. Indique no
gráfico a faixa de fluxo correspondente à faixa do visı́vel do espectro eletro-
magnético e a posição do pico de máximo da radiância espectral determinado
pela lei de deslocamento de Wien.

CEDERJ 32
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Radiação Térmica – Parte Experimental

Descrição dos Equipamentos usados


Os seguintes componentes essenciais são usados nas experiências propostas
a seguir:

1. Cubo de Leslie

2. Lâmpada de Stefan-Boltzmann

3. Sensor de radiação - termopilha de Moll

Cubo de Leslie
O cubo de radiação térmica possui quatro superfı́cies irradiadoras diferen-
tes que podem ser aquecidas desde a temperatura ambiente até aproximadamente
120◦ C (ver Figura (rd.8)). As quatro faces emissoras são: uma face preta, uma
face branca, uma face polida e uma face opaca de alumı́nio. O cubo é aquecido
por uma lâmpada de 100 Watts (basta ligar a chave em ON e girar o botão de ajuste
de potência no sentido horário). A temperatura do cubo é medida conectando-se
um ohmı́metro às entradas do ”Termistor”. O termistor está conectado num canto
do cubo. A partir do valor da resistência medida, a temperatura é obtida usando a
tabela fixada em uma das faces da base do cubo.

Figura rd.8: Cubo de Leslie usado nas Experiências.

33 CEDERJ
Radiação Térmica

Importante:

- Use um ohmı́metro digital para obter maior precisão nas medidas.


- Quando for necessário trocar a lâmpada, use uma lâmpada de 100 Watts.
Lâmpadas mais potentes podem danificar o cubo.

Lâmpada de Stefan-Boltzmann

A lâmpada de Stefan-Boltzmann (ver Figura (rd.9)) é uma fonte de radiação


térmica de alta temperatura. Ajustando a potência fornecida à lâmpada aos valo-
res de tensão máxima de 13V e corrente com um valor mı́nimo de 2A e máximo
de 3A, a temperatura do filamento atinge cerca de 3000◦ C. A temperatura do fila-
mento é determinada a partir da resistência do filamento obtida medindo-se, com
a maior precisão possı́vel, a tensão nos terminais da lâmpada e a corrente que a
percorre. A voltagem e a corrente aplicada à lâmpada é monitorada, usando-se um
voltı́metro e um amperı́metro, respectivamente. A resistência a uma dada tempe-
ratura é obtida aplicando-se a lei de Ohm. A temperatura do filamento é obtida a
partir da resistência do filamento.

Figura rd.9: Lâmpada de Stefan-Boltzmann usada nas Experiências.

CEDERJ 34
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Umas das aplicações da lâmpada é comprovar a dependência da radiância


do filamento com a quarta potência de sua temperatura. Temperaturas altas do
filamento simplificam a análise porque a quarta potência da temperatura ambiente
é muito pequena comparada com a quarta potência da temperatura do filamento
da lâmpada. Assim para a radiância lı́quida, teremos,

Lamp − RLamp = ε σ (T − T0 ) ≈ ε σ T ,
RLLamp = Remit abs 4 4 4
(rd.47)

onde RLLamp ≡ é a radiância lı́quida emitida pelo filamento da lâmpada, Remit


Lamp é a
abs
radiância emitida pelo filamento à temperatura T e RLamp é a radiância absorvida
do meio à temperatura T0 . O filamento da lâmpada é de tungstênio cuja tem-
peratura de fusão é de 3422◦C. Quando corretamente orientado, o filamento da
lâmpada corresponde, em boa aproximação, a uma fonte térmica pontual.

Sensor de Radiação

O sensor de radiação mede a intensidade relativa da radiação témica inci-


dente (ver Figura (rd.10)). O elemento sensor, uma termopilha em miniatura,
dá uma tensão proporcional à potência da radiação eletromagnética que entra
através de sua janela (na Experiência 3 corresponde à radiância do filamento de
tungstênio). A resposta espectral da termopilha é praticamente constante na região
do infravermelho, no intervalo de comprimento de onda 540 nm, e a voltagem pro-
duzida está no intervalo de 1 mV até 100 mV .

Figura rd.10: Sensor de Radiação usado nas Experiências.

O sensor pode ser segurado com a mão ou montado em um suporte para


um posicionamento mais acurado. Um obturador em forma de lâmina metálica

35 CEDERJ
Radiação Térmica

pode ser aberto e fechado através de um anel metálico. Durante os experimentos,


o obturador deve ser fechado quando nenhuma medida estiver sendo realizada.
Isto ajuda a reduzir desvios de temperatura na junção de referência da termopilha
(o que pode causar erros durante as medidas). Quando o obturador for aberto
ou fechado, é possı́vel que a posição do sensor mude um pouco. Portanto, em
experimentos nos quais a posição do sensor é crı́tica, tal como os experimentos
2 e 3, duas pequenas lâminas de espuma opaca e isolante estarão a disposição.
Coloque este protetor em frente do sensor quando nenhuma medida estiver em
andamento. Os dois pinos ou as duas hastes na face frontal da termopilha que se
estendem na frente do sensor protegem a termopilha e também proporcionam uma
referência para o posicionamento do sensor sempre à mesma distância da fonte de
radiação.

Especificações :

- Intervalo de temperatura: -65 a 85◦ C.


- Potência máxima incidente: 0, 1 Watt/cm2.
- Resposta espectral: constante de 0, 5 a 40 µ m.
- Sinal de saı́da: linear de 10−6 a 10−1 Watt/cm2.

Detetor de Radiação Térmica: A Pilha Termoelétrica de Moll

A Figura (rd.11) mostra um esquema de uma termopilha de Moll. Uma


fração da radiação térmica proveniente de um corpo emissor, à temperatura T , é
absorvida por um sensor enegrecido em forma de disco ( f = 10mm) no qual estão
ancoradas junções de pares termoelétricos, chamadas junções quentes. As outras
junções em contato térmico com o corpo da termopilha, chamadas junções frias,
estão à temperatura ambiente, T0 . A radiação térmica incidente na pilha aquece o
pequeno disco absorvente e as junções nela embutidas que atingem uma tempera-
tura de equilı́brio TD = T0 + ∆T . A temperatura do disco será tanto maior quanto
maior a potência incidente e portanto a tensão gerada na série de termopares é
também tanto maior quanto maior a potência incidente. Um sinal de voltagem é
dado por um voltı́metro introduzido no circuito proporcional à diferença de tem-
peratura entre as junções quentes e frias. Devido à diferença de temperatura das
duas junções gera-se uma força eletromotriz que induz uma corrente elétrica no
circuito pelo efeito denominado Seeback,

Vterm = S(TD − T0 ) = S∆T (rd.48)

CEDERJ 36
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

onde S é o coeficiente de Seeback dependente da temperatura TD . O que nos


interessa é entendermos o significado fı́sico da voltagem, Vterm , gerada pela ter-
mopilha, ou seja responder à pergunta: ”que mede a termopilha?”

Figura rd.11: Esquema da Pilha Termoelétrica de Moll.

A termopilha mede somente uma fração da radiância emitida pelo corpo.


Como a potência total emitida é P = ARc , onde A é a área radiante do corpo
(filamento) e Rc = εσ T 4 a sua radiância total, a potência emitida por unidade de
ângulo sólido é P/4π . Se dΩ for o ângulo sólido subentendido pela janela da
termopilha , a potência que alcança a termopilha Pterm é
dΩ dΩ
Pterm = P =A Rc = a εσ T 4 , (rd.49)
4π 4π
onde a = AdΩ/4π .
Na situação estacionária de equilı́brio térmico, o balanço energético do disco
será então descrito pela seguinte equação para as taxas de energia térmica (ver dis-
cussão ao redor da Eq.(rd.9)).:

−ΦeD + ΦaT + ΦaC = ΦC , (rd.50)

onde estamos considerando os fluxos emitidos negativos e os fluxos absorvidos


positivos:
ΦeD = aεD σ TD4 é o fluxo de radiação térmica emitido pelo disco D à tempe-
ratura TD .
ΦaC = aεD σ T 4 é o fluxo absorvido pelo disco que foi emitido pelo corpo C
à temperatura T .
ΦaT = aεD σ T04 é o fluxo absorvido pelo disco que foi emitido pelo corpo
da termopilha à temperatura T0 .
ΦC = K(TD − T0 ) = K∆T = (K/S)Vterm é a perda têrmica do disco por
condução para o corpo da termopilha, onde a K tem dimensão de W /K.

37 CEDERJ
Radiação Térmica

Aqui, estamos considerando que as superfı́cies emissoras se comportem


como superfı́cies de corpos cinzentos, e εD é o coeficiente de emissão (absorção)
do disco.
Substituindo os fluxos de energia na Eq.(rd.50) e admitindo que TD está um
pouco acima da temperatura ambiente T0 , i.e. TD = T0 + ∆T onde 0 < ∆T << T0 ,
finalmente temos que,

Vtermopilha = (S/K)aεDσ T 4 = cteT 4 . (rd.51)

A expressão acima, mostra que a voltagem gerada pela termopilha é realmente


proporcional à potência emitida pelo corpo C, e a sua temperatura, uma vez que
os fabricantes fornecem o valor da constante que permite a conversão entre essas
duas grandezas. Em nosso caso esta constante é S/K = 22 mV /mW e a área do
sensor é a ≈ 2mm × 2mm.

CEDERJ 38
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Radiação Térmica – Aula 1

Experimento 1:

Objetivo:

Estudar a emissão de radiação electromagnética por diferentes tipos de su-


perfı́cies a temperaturas diferentes.

Breve descrição da experiência:

Um cubo de radiação térmica, denominado cubo de Leslie, é utilizado para


verificar se a emissividade de um corpo, depende do estado de sua superfı́cie. O
cubo de Leslie utilizado nesta experiência é construı́do de alumı́nio tendo quatro
de suas faces tratadas da seguinte maneira: uma delas está enegrecida, outra, pin-
tada com tinta branca,uma terceira é rugosa e a última polida. O cubo possui uma
lâmpada e a temperatura é lida utilizando um termistor. Uma fração de radiação
térmica oriunda de uma das faces do cubo é detectada por uma termopilha. Para
evitar a influência da radiação ambiente (externas ao cubo) e coincidente na ter-
mopilha, recomenda-se colocá-la a uma distância, d, em frente à face do cubo a
ser estudada, de modo que o ângulo sólido subentendido pela termopilha cubra
apenas a face do cubo em questão.

Equipamento Necessário:

- Sensor de radiação (termopilha),


- Cubo de radiação térmica,
- Milivoltı́metro,
- Placa de vidro de janela,
- Placas de outros matériais,
- Ohmı́metro.
- Lâmpada de Stefan-Boltzmann

39 CEDERJ
Radiação Térmica

Diagrama Experimental:

Montagem Experimental:

Montar o cubo, o ohmı́metro, o sensor e o voltı́metro como representado na


Figura (rd.12).

Figura rd.12: Diagrama da Experiência de Emissão de Radiação por Diferentes Superfı́cies.

Procedimento Experimental e Tomada de Dados:

1. Ligue o cubo de radiação térmica e coloque o interruptor na posição ”HIGH”.


Preste atenção à escala do ohmı́metro. Espere entre 5 − 20 minutos até que
a leitura da temperatura estabilizar. Quando o valor lido baixar para apro-
ximadamente 40 kW, mude o interruptor que está na posição ”HIGH” para
5.0 (se o cubo for pré-aquecido, basta apenas colocar o interruptor em 5.0).

2. Quando o cubo atingir o equilı́brio térmico, a leitura no ohmı́metro vai flu-


tuar em torno de um valor relativamente fixo. Utilize o sensor de radiação
para medir a radiação emitida por cada uma das quatro superfı́cies do cubo.

3. Coloque o sensor de forma que as hastes na sua extremidade estejam em


contacto com a superfı́cie do cubo (isto assegura que a distância de leitura
seja a mesma para todas as superfı́cies).

4. Anote as suas medições na Tabela 1.2, anote também a resistência do ter-


mistor (valor indicado no ohmı́metro). Utilize a tabela na base do cubo para
determinar a temperatura correspondente.

CEDERJ 40
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Note que: se você quiser saber o valor da potência emitida por unidade de
área é necessário converter a leitura do sensor de radiação de mV para
mW /m2 . Para isso utiliza-se o fator de conversão fornecido pelo fabri-
cante que neste caso é S/K = 22 mV /mW (ver Eq. (rd.51)). Assim, para
a potência por unidade de área teremos: Vtermopilha /(S/K)a onde a ≡ área
do sensor.

5. Aumente o valor da potência, primeiro para 6.5, depois para 8.0, e final-
mente para a posição ”HIGH”do comutador. Para cada novo valor, espere
que o cubo atinja o equilı́brio térmico, repita as medições do item 2 e anote
os valores na Tabela 1.2.
Atenção: Certifique-se que a temperatura está estável quando tomar a leitura
do sensor e do ohmı́metro. É necessário às vezes, esperar pelo menos 5
minutos entre as alterações de temperatura. A experiência toma um certo
tempo.

6. Use o sensor de radiação para examinar as intensidades relativas de radiação


emitidas por vários objetos no laboratório. Anote as suas observações . Por
exemplo, você pode detectar a presença de seus colegas apontando o sensor
na direção deles. Assim, aponte o sensor em diferentes direções ao seu
redor e registre quais objetos afetam o sensor. Esse exercı́cio é interessante
porque ganha-se experiência sobre os vários fatores que podem afetar as
suas medidas durante a experiência desta aula.

41 CEDERJ
Radiação Térmica

Potência 5.0 6.5 8.0 Alto


(high)

Resistência do termistor

Temperatura (◦C)

Leitura no Sensor

Superfı́cie

Negra

Branca

Alumı́nio polido

Alumı́nio rugoso

Tabela 1.2: Tabela da experiência 1

Análise dos Dados:

1. Na Tabela 1.2 os resultados das medidas das diferentes superfı́cies do cubo


de radiação estão dispostos por ordem de quantidade de radiação emitida.
A ordem é independente da temperatura?

2. Objetos diferentes, com aproximadamente a mesma temperatura emitem


quantidades diferentes de radiação?

3. Bons absorvedores de radiação são também bons emissores. Suas medidas


são consistentes com esta afirmação?

4. Verifique se as suas medidas estão de acordo com a Tabela 1.1 de emissi-


vidade de diversos matériais e diferentes superfı́cies? Comente seus dados
experimentais em função dos valores contidos na Tabela 1.2.

5. Faça um gráfico da potência irradiada em função da temperatura para as


diferentes superfı́cies. Qual a informação que se pode obter desses gráficos.

CEDERJ 42
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Figura rd.13: Montagem Experimental da Experiência de Emissão de Radiação por Diferentes


Superfı́cies

Experimento 2:

Objetivo:

Estudar a absorção e transmissão da radiação térmica.

Procedimento Experimental e Tomada de dados:

1. Coloque o sensor a aproximadamente 5 cm da superfı́cie preta do cubo de


radiação e anote o valor indicado no voltı́metro. Coloque a placa de vidro
entre o sensor e o cubo. Registre os valores medidos numa tabela.

2. Coloque o sensor a aproximadamente 5 cm da lâmpada de Stefan-Boltzmann


e registre o valor indicado no multı́metro. Coloque novamente a placa de
vidro entre o sensor e a lâmpada. Anote os valores medidos na tabela.

3. Descubra no laboratório matériais que bloqueiam a radiação térmica e ma-


teriais que não bloqueiam a radiação térmica (por exemplo, as suas rou-
pas bloqueiam efectivamente a radiação térmica emitida pelo seu corpo?).
Anote as suas observações e os valores medidos.

43 CEDERJ
Radiação Térmica

Análise dos Dados:

1. O vidro bloqueia efectivamente a radiação térmica?

2. Compare as suas medidas com e sem a placa de vidro. O vidro é um melhor


transmissor de radiação a temperaturas altas ou baixas e por que?

3. O que sugerem os seus resultados em relação ao fenômeno da perda de calor


através das janelas?

4. A partir de suas observações , qual a relação entre as suas medidas e o


chamado ”efeito estufa”. O que sugerem os seus resultados a respeito do
”efeito estufa”? Descreva de forma sucinta o ”efeito estufa”.

CEDERJ 44
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Radiação Térmica – Aula 2

Experimento 1:
Objetivo:

Estudar a variação da intensidade com a distância (verificar a ”Lei do In-


verso do Quadrado”).

Fundamentação teórica:

Se uma fonte de radiação pode ser considerada como pontual, a intensidade


a uma distância X da fonte é inversamente proporcional a X 2 . Esta propriedade
é uma consequência direta da lei de conservação da energia. Se a potência de
emissão da fonte pontual é P, a intensidade média I1 através de uma superfı́cie
esférica de raio r1 (área 4π r12 ) é dada por:
P
I1 = (rd.52)
4π r12
A intensidade I(r) a qualquer distância r da fonte pontual é, portanto, inversa-
mente proporcional à r2 . A intensidade média I2 através de uma superfı́cie esférica
de diferente raio r2 é dada por uma expressão idêntica. Se não há absorção de ener-
gia na região entre as duas superfı́cies, a potência deve ser a mesma em ambas, ou
seja que:
I1 r2
4π r12 I1 = 4π r22 I2 ⇐⇒ = 22 . (rd.53)
I2 r1
A expressão do inverso do quadrado aplica-se, a fluxos de energia em que a fonte
pode ser considerada pontual.

Equipamento Necessário:

- Sensor de radiação (termopilha);


- Lâmpada de Stefan-Boltzmann;
- Milivoltı́metro;
- Fonte de tensão (12 V DC; 3 A);
- Régua de madeira.

45 CEDERJ
Radiação Térmica

Procedimento Experimental e Tomada de Dados

1. Monte o equipamento, o milivoltı́metro, a lâmpada e a fonte de alimentação,


tal como indicado na Figura (rd.14).

Figura rd.14: Diagrama experimental da experiência para verificar a Lei do Inverso do


Quadrado.

2. Fixe uma régua graduada à bancada.

3. Coloque a lâmpada de Stefan-Boltzmann numa das extremidades da régua.


O zero da escala da régua deve estar alinhado com o centro do filamento da
lâmpada.

4. Ajuste a altura do sensor de radiação de tal forma que fique no mesmo nı́vel
do filamento da lâmpada de Stefan-Boltzmann (ver Figura (rd.14)).

5. Alinhe a lâmpada e o sensor de tal forma que, ao deslizar o sensor ao longo


da régua, o eixo da lâmpada esteja o mais alinhado possı́vel com o eixo do
sensor.

6. Conecte o multı́metro (mV ) ao sensor e a fonte de tensão à lâmpada.

7. Com a lâmpada desligada, deslize o sensor ao longo da régua. Anote a


leitura do milivoltı́metro I0 , a intervalos de 10 cm.

8. Anote os valores obtidos na Tabela 1.3. Desta forma estaremos fazendo uma
leitura da radiação de fundo através de uma leitura da tensão da termopilha
quando o filamento não está incandescente. Essa leitura dá a contribuição
da radiação que pode estar sendo emitida por fontes distantes.

CEDERJ 46
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

9. Calcule o valor médio hI0i destes valores para determinar o nı́vel de radiação
térmica ambiente. Este valor médio tem que ser subtraı́do dos valores me-
didos com a lâmpada ligada, para se determinar a contribuição proveniente
apenas da lâmpada.

X (cm) nı́vel de radiação


ambiente I0 (mV )

10

20

30

40

50

60

70

80

90

hI0 i (mV ) =

Tabela 1.3: Primeira Tabela da experiência 2

10. Aplique uma tensão de ∼ 10 V à lâmpada.

IMPORTANTE: NÃO DEIXAR QUE A DIFERENÇA DE POTENCIAL


NA LÂMPADA EXCEDA OS 13 V, POIS ELA PODE QUEIMAR.

11. Para quais distâncias você faria as suas medidas? É melhor escolher valores
de posição a intervalos regulares e constantes? A quais distâncias você
espera que a leitura do sensor irá variar mais rapidamente?

12. Ajuste a distância entre o sensor e a lâmpada para cada um dos valores
da coluna X da Tabela 1.4 e anote o respectivo valor Imedido lido no mili-
voltı́metro nesta tabela.

47 CEDERJ
Radiação Térmica

X Imedido I = Imedido − hI0 i 1/X (cm−1 ) 1/X 2


(cm) (mV ) (mV ) (cm−2 )
2.5
3.0
3.5
4.0
4.5
5.0
6.0
7.0
8.0
9.0
10.0
12.0
14.0
16.0
18.0
20.0
25.0
30.0
35.0
40.0
45.0
50.0
60.0
70.0
80.0
90.0
100.0

Tabela 1.4: Segunda Tabela da experiência 2

Importante:

Faça as leituras rapidamente. Entre as leituras, mova o sensor para longe da


lâmpada, ou coloque o escudo reflector de calor entre a lâmpada e o sensor, de tal
forma que a temperatura do sensor se mantenha relativamente constante.

CEDERJ 48
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Tratamento e Análise de Dados

1. Para cada valor de X , calcule 1/X e 1/X 2. Registre os resultados na Tabela


1.4.

2. Subtraia o nı́vel médio de radiação ambiental hI0 i de cada uma das medições
de intensidade Imedido e registre o resultado, I, na Tabela 1.4. Dessa forma
tenta-se retirar contribuições não referentes à lâmpada.

3. Faça o gráfico da intensidade de radiação I em função da distância à fonte


X.

4. Se o gráfico do item 3 não for linear, faça o gráfico da intensidade de


radiação em função de 1/X e outro em função de 1/X 2 (chamados Gráficos
1 e 2).

5. Sobre os Gráficos 1 e 2 encontre geometricamente qual a melhor reta que


descreve seus dados. Qual dos dois gráficos mostra uma relação mais li-
near? A linearidade se estende sobre toda a faixa de medidas?

6. A lei do inverso do quadrado estabelece que a energia radiante, por unidade


de área, emitida por uma fonte pontual de radiação decresce com o quadrado
da distância entre a fonte e o ponto de detecção. Os seus dados suportam
esta afirmação? Para qual faixa se aplica a Lei de Inverso do Quadrado?

7. A lâmpada de Stefan-Boltzmann é verdadeiramente uma fonte pontual de


radiação? Em caso negativo como é que isso afeta os seus resultados? Como
você pode detectar esse efeito nos seus dados?

49 CEDERJ
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Radiação Térmica – Aula 3

Experimento 1:
Objetivo:

O objetivo deste experimento é verificar a dependência da radiância total de


um corpo negro com a quarta potência da temperatura (a ”Lei de Stefan Boltz-
mann” na Eq.(rd.7)).

Fundamentação teórica:

Como já vimos um corpo negro perfeito é uma idealização. Nesta ex-
periência, o corpo emissor de radiação é um filamento incandescente de tungstênio,
que é considerado um corpo cinzento, onde o coeficiente de emissividade de-
pende da temperatura do corpo mas não do comprimento de onda da luz emitida.
A dependência da radiância total de um corpo negro pode ser extraida a partir da
Eq.(rd.46), uma vez conhecida a dependência do coeficiente de emissividade ε (T )
com a temperatura T .
A lei da radiância de Stefan-Boltzmann é comprovada medindo-se a radiância
total do filamento R f (T ) para diferentes temperaturas e medindo ou conhecendo-
se o coeficiente de emissividade ε (T ) para as mesmas temperaturas. A partir de
um gráfico de R f (T )/ε (T ) versus T a dependência prevista da radiância total com
a quarta potência da temperatura deve ser observada.
A principio dois esquemas experimentais são necessários: um para medir a
dependência com a temperatura de R f (T ) e outro para medir a dependência com a
temperatura de ε (T ). Nesta experiência iremos medir somente R f (T ) em função
da temperatura e utilizar os valores tabelados (medidos) de ε (T ) para o tungstênio,
disponı́veis na literatura.

Montagem:

O diagrama da montagem experimental para a verificação da lei de Stefan-


Boltzmann está ilustrada na Figura (rd.15). Os dois componentes centrais da
montagem são uma lâmpada, cujo filamento é de tungstênio e uma termopilha
de Moll, que é o instrumento que mede a potência óptica recebida através da sua
janela.
Para verificar a dependência com a temperatura são feitas medidas da potência

51 CEDERJ
Radiação Térmica

por unidade de área emitida pelo filamento quente a várias temperaturas. A fonte
de tensão é variável e fornece valores de tensão crescentes à lâmpada. O filamento
é aquecido com a passagem de corrente elétrica. Assim, à medida que aumenta-
se a tensão aplicada à lâmpada, cresce a temperatura do filamento. É essencial
nesta experiência determinar a temperatura do filamento para cada diferença de
potêncial aplicada. Vamos considerar que a maior parte da radiação emitida pela
lâmpada vem de seu filamento.

Figura rd.15: Esquema Experimental para a Verificação Experimental da Lei de Radiação de


Stefan-Boltzmann.

Determinação da temperatura do filamento:

A temperatura absoluta T = Tc + 273 do filamento é obtida pelas medidas


de resistência R(Tc ) do filamento, onde Tc é a temperatura em graus Celsius. É
um fato conhecido que a resistência de um condutor varia com a temperatura.
Admitindo-se uma dependência de segunda ordem com a temperatura para a re-
sistência de um filamento de tungstênio calcula-se a temperatura do filamento a
partir dos dados medidos da resistência. Os valores da resistência r a uma certa
temperatura T são obtidos a partir das medidas da tensão V aplicada à lâmpada
e da corrente i que flui através do filamento, aplicando-se simplesmente a lei de
Ohm: r = V /i.
A expressão que efetivamente descreve bem a relação entre r e (T − T0 ) é
um polinômio de segundo grau:

r(T ) = rT0 (1 + α (T − T0 ) + β (T − T0 )2 ) , (rd.54)

O fabricante da lâmpada fornece um gráfico que contém os valores de r(T )/r300K


em função da temperatura absoluta T e estes dados estão apresentados no gráfico

CEDERJ 52
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

abaixo. Note-se que neste caso T0 = 300◦ K e que portanto r300◦ K é a resistência
à 300◦ Kelvin , ou seja, à 27◦ Celsius e que a razão r(T )/r300◦ K é igual a 1.
(Atenção: neste gráfico temos a temperatura absoluta na abcissa, T e não T −300).

Figura rd.16: Gráfico de r(T )/r300◦ K versus T para o filamento da lâmpada.

A próxima figura mostra a regressão quadrática obtida dos pontos da figura


anterior. Neste gráfico temos a temperatura τ = T − 300◦ K na abcissa. Como τ
representa a diferença de temperatura relativamente à tempertaura ambiente T0 =
(273 + 27)◦ Celsius, vale a mesma relação em graus Celsius ou em Kelvin e assim
a expressão final fica

r(τ ) = r300◦ K (cte + α (τ ) + β (τ )2 ) , (rd.55)


53 CEDERJ

onde resultam os seguintes valores: cte= 0.97782, aproximadamente igual a 1,


Radiação Térmica

como esperado, α = 4.71 10−3 C−1 e β = 3.52823 10−7 C−2 , valores que cor-
respondem razoavelmente aos valores tabelados para o tungstênio (o valor de α
está apresentado na Tabela 1.5. Na prática, a construção da lâmpada influencia
um pouco o valor destes coeficientes, e portanto uma lâmpada de outro fabricante
pode ter valores ligeiramente diferentes de α e β .
Tendo-se r(τ ) podemos inverter a relação acima e obter a temperatura ab-
soluta em função da resistência, lembrando que T = τ + 300◦ K, se conhecermos
r300◦ K .
s 
1  r(τ )
T = 300 + α2 + 4 β ( − 1) − α  , (rd.56)
2β r300◦ K

Na Tabela 1.5 estão relacionados os valores do coeficiente de temperatura


da resistividade α para alguns metais e ligas.

Metal/Liga α (◦C)−1
Cu .0038
W .0045
Ni .006
Fe .005
Pt .003
Latão (.7Cu+.3Zn) .0002
Constantin (.6Cu+.4Ni) .00001
Fe-Ni (.75Fe+.25Ni) 00009

Tabela 1.5: Coeficiente de temperatura da resistividade α de metais e ligas

Da Tabela 1.5 verifica-se que os metais têm um valor de α maior que os das
ligas, o que significa que a sua resistência varia muito mais com a temperatura.
Devido a esta caracterı́stica os metais são usados para fazer termômetros com base
na variação da resistência, enquanto que as ligas são indicadas em aplicações onde
a resistência deve variar o menos possı́vel com a temperatura.

Equipamento Necessário:

- Sensor de radiação (termopilha);

CEDERJ 54
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

- Lâmpada de Stefan-Boltzmann;
- Fonte;
- Ohmı́metro;
- Voltı́metro (0 − 12 V );
- Amperı́metro (0 − 3 A);
- Milivoltı́metro;
- Termômetro.

Figura rd.17: Montagem Experimental.

Procedimento Experimental e Tomada de Dados:

1. Antes de ligar a lâmpada, meça a resistência do filamento da lâmpada rre f ,


que se encontra a uma temperatura ambiente Tre f , com um ohmı́metro dire-
tamente

2. Meça com o termômetro o valor da temperatura ambiente Tre f .

3. Conecte o equipamento da maneira mostrada no diagrama experimental


contido na Figura (rd.15) e ilustrado na Figura (rd.17). O voltı́metro deve
ser conectado diretamente nos terminais da lâmpada e o amperı́mentro deve
ser conectado em série.
Muito importante: faça todas as conecções com a lâmpada desligada. Da
mesma forma, deslige a lâmpada antes de alterar ou remover as coneções .

4. O sensor de temperatura deve estar à mesma altura do filamento, a uma


distância de aproximadamente 6 cm da lâmpada. Desta forma o sensor não
está muito perto da lâmpada e a parte da termopilha que deve permanecer

55 CEDERJ
Radiação Térmica

fria, não é aquecida. O eixo do filamento deve estar perpendicular ao eixo


da termopilha e o ângulo de observação do sensor deve conter somente o
filamento. Não se deve ter nenhum outro objeto próximo ao sensor.

5. Ligue a fonte de tensão da lâmpada. Ajuste a voltagem, V , aumentando a


voltagem de alimentação do filamento em intervalos de 1 V (AC), desde 1
até 12 V .

6. Anote a voltagem V pelo filamento, a respectiva corrente de aquecimento


i através do filamento e a correspondente tensão Vtermopilha produzida pela
termopilha (leitura do milivoltı́metro conectado ao sensor de radiação). Deixe
passar 20 − 30 seg antes de anotar a medida, uma vez que você aumenta a
voltagem assim, você deixa estabilizar todo o sistema de medida.

7. Monte a Tabela 1.6 com os parâmetros V , i, Vtermopilha . Inclua nesta tabela


a potência fornecida à lâmpada Plâmpada = V × i.

Importante:

- Faça as leituras com o sensor de radiação aguardando sempre alguns mi-


nutos entre cada medida para que a termopilha alcance o equilı́brio. Entre cada
medida, coloque as duas placas de isopor entre a lâmpada e o sensor, com um
lado metalizado voltado para a lâmpada e o outro para o sensor. Isso faz com que
a temperatura do sensor permaneça relativamente constante. Deve-se tomar cui-
dado para que nenhuma radiação de fundo prejudique as medidas. Deve-se tomar
atenção para que as condições de medição não se alterem. Em particular deve-se
manter as condições de iluminação ambiente inalteradas.
- A VOLTAGEM DA LÂMPADA NUNCA DEVE EXCEDER O VALOR
DE 13 V . VOLTAGENS MAIS ALTAS QUEIMARÃO O FILAMENTO.

CEDERJ 56
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

V (Volts) i (Amp) Vtermopilha P = V × i


(mV) (Volts × Amp)

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

11.0

12.0

Tabela 1.6: Primeira Tabela da experiência 3

Tratamento e Análise dos Dados:


Determinação da resistência do filamento r300◦ K à temperatura de T = 300◦ K:
Um dos parâmetros necessários para a determinação da temperatura do fila-
mento é o valor da resistência a T = 300◦ K ou T = 27◦C. Determine, a partir de
sua medida da temperatura ambiente Tre f , o valor de τ = T − 300◦ K e substitua
na Eq.(rd.55) este valor e o da resistência do filamento da lâmpada desligada à
temperatura ambiente rre f para obter o valor da resistência r300◦ K à T = 300◦ K.
Determinação da temperatura do filamento:
A temperatura absoluta T do filamento de tungstênio pode ser calculada
através das medidas de resistência r do filamento contidas na Tabela 1.7. O pro-
cedimento para obter o valor de T está descrito abaixo:

1. Calcule para cada valor de V e i a respectiva resistência r(τ ).

57 CEDERJ
Radiação Térmica

r(τ )
2. Calcule o valor da fração r300◦ K .

3. Substitua os valores determinados nos 2 itens anteriores na Eq.(rd.56) e


determine finalmente o valor da temperatura T do filamento.

Verificação da lei de Stefan-Bolztmann:

Mantendo-se constante a distância do filamento à termopilha, o fluxo de


energia que atinge a termopilha é proporcional à potência emitida do filamento,
que por sua vez é proporcional a Vtermopilha
Análise 1 - Método Corpo Negro
O tratamento mais simples consiste em primeiramente considerar o fila-
mento como sendo um corpo negro e em desprezar a natureza deste corpo emissor.
Também vamos considerar que a termopilha está medindo só a radiação que vem
do filamento de tungstênio, ou seja, desprezamos toda radiação proveniente do
meio, como por exemplo a do vidro da lâmpada, do próprio corpo da termopilha e
do ambiente em geral. Portanto a voltagem criada na termopilha será proporcional
à radiação incidindo sobre ela,

Vtermopilha = cte T 4 . (rd.57)

Deste modo podemos esperar uma relação linear, de coeficiente angular ”4”,
quando representada a função Vtermopilha em escala di-logarı́tmica,

logVtermopilha = log(cte) + 4 log T (rd.58)

ou seja, a inclinação da reta de um gráfico logVtermopilha versus log T deve ter


coeficiente angular 4. Portanto, na prática, a inclinação encontrada através da
regressão linear é a determinação experimental do expoente da lei de Stefan-
Boltzmann.

1. Monte a Tabela 1.7 contendo os seguintes parâmetros do filamento : 1)


resistência r, 2) temperatura absoluta T , 3) quarta potência da temperatura
do filamento, T 4 , 4) Vtermopilha (mV), 5) emissividade do tungstênio ε , 6)
Vtermopilha /ε .

2. Faça com os dados obtidos para a potência emitida pelo filamento, o gráfico
de logVtermopilha em função de log T e obtenha a inclinação da reta.

3. Compare o coeficiente angular da reta com o valor esperado pela Eq.(rd.58).


O valor obtido é menor ou maior a ”4”?, Em função do seu resultado poderia
CEDERJ 58 afirmar que o filamento da lâmpada é um corpo negro?
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

Vtermopilha
V (V) r (Ohm) T (K) T 4 (K 4 ) Vtermopilha ε ε
(mV) (mV)

1.0

2.0

3.0

4.0

5.0

6.0

7.0

8.0

9.0

10.0

11.0

12.0

Tabela 1.7: Segunda Tabela da experiência 3

Análise 2 - Método Corpo Cinza

Um tratamento mais adequado dos dados experimentais consiste em consi-


derar o filamento de tungstênio como um corpo cinza. Portanto deve-se utilizar
a equação Eq. (rd.46) que leva em consideração a dependência da emissividade
do filamento de tunsgstênio com a temperatura. Relembrando, a potência medida
pela termopilha é

Vtermopilha = cte(T )σ T 4 (rd.59)

A partir do gráfico da emissividade do tungstênio em função da temperatura


absoluta [Figura (rd.18)] verifica-se que aumenta com a temperatura. Na faixa
de temperaturas do filamento entre 600-2100K, a curva é razoavelmente descrita
por uma reta:
ε = −0.02725 + 1.43347 × 10−4 T, (rd.60)

59 CEDERJ
Radiação Térmica

Figura rd.18: Emissividade do tungstênio em função da temperatura absoluta.

CEDERJ 60
Radiação Térmica
Laboratório Avançado

No método anterior um gráfico log(Vtermopilha ).vs. log(T ) foi feito e espera-


se obter um valor acima de 4. Este resultado está de acordo com a seguinte análise:
desprezando o termo constante na Eq.(rd.60) (que só contribui com 10% do va-
lor final, na faixa de temperaturas usadas) a emissividade resulta proporcional à
temperatura, i.e. ε ∼ T . Assim, a voltagem gerada pela termopilha será,

Vtermopilha = cte T 5 . (rd.61)

onde ”cte” é uma constante que engloba todos os fatores constantes da expressão.
Deste modo podemos esperar uma relação linear, exatamente de coeficiente ”5”,
quando representada a função Vtermopilha em escala di-logarı́tmica. Compare com
seu resultado.
Para extrair diretamente a componente referente ao corpo negro pode-se
dividir os valores medidos de Vtermopilha pelos valores da emissividade ε (T ) para
cada temperatura do filamento. Desta forma resulta novamente a dependência da
radiância esperada na quarta potência da temperatura absoluta T prevista pela Lei
de Stefan-Boltzmann:
Vtermopilha
log = 4 logT + constante . (rd.62)
ε
1. Calcule a emissividade ε para as temperaturas do filamento a partir de uma
das curvas acima mencionadas.

2. Acrescente estes valores à Tabela 1.7 e calcule as respectivas frações de


Vtermopilha /ε .

3. Faça um gráfico di-logarı́tmico de Vtermopilha /ε versus temperatura do fila-


mento T e obtenha o coeficiente angular.

4. Qual é a relação entre a fração Vtermopilha /ε e T ? Esta relação é válida em


todo o intervalo de medidas?

5. Quais as outras fontes de radiação que podem ter influenciado e comprome-


tido as suas medidas? Qual o efeito que estas fontes de radiação produzem
nos dados obtidos?

6. Qual a influência do vidro da lâmpada nas medidas? Qual a expressão da


radiação que vem da lâmpada, se está a uma dada temperatura Tvidro ? Note
que a temperatura do vidro é maior que a temperatura do filamento e me-
nor que a temperatura ambiente. A temperatura do vidro pode ser medida
colocando-se um termopar na superfı́cie da lâmpada. Que condições devem
ser satisfeitas para que se possa desprezar o efeito do vidro?

61 CEDERJ
Radiação Térmica

7. A inclinação da reta do gráfico logVtermopilha /ε versus T encontrado através


da regressão linear é a determinação experimental do expoente da Lei de
Stefan-Boltzmann.

Análise 3 - Método Potência Lâmpada

1. Faça um gráfico de Vtermopilha em função da potência Plâmpada = V i for-


necida à lâmpada (V ≡tensão no filamento).

2. Verifique se a potência Plâmpada fornecida à lâmpada reflete o fluxo rece-


bido pela termopilha.

3. Qual o resultado esperado? Deve-se obter uma reta linear? Discuta o seu
resultado, em especial os valores obtidos para os coeficientes linear e angu-
lar.

4. A termopilha opera melhor entre os comprimentos de onda de 0.5 µ m à


40 µ m. O máximo da emissão de um corpo negro varia de acordo com
a lei de deslocamento de Wien. Para quais temperaturas irá o máximo de
comprimento de onda corresponder aos limites do sensor?

Questionário:

1. Os resultados obtidos nesta prática são conclusivos para a verificação da lei


de Stefan-Boltzmann? Apresente a sua conclusão baseando-se nos gráficos
e nos valores dos coeficientes angulares obtidos a partir dos mesmos.

CEDERJ 62
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Carga Massa – Teoria

Metas das Aulas 4 e 5


1. Parte teórica:

(a) Rever a descrição teórica da interação de partı́culas carregadas com


um campo elétrico e magnético.
(b) Derivar a razão e/m, onde −e é a carga do elétron e m sua massa, como
função dos parâmetros a serem determinados experimentalmente na
experiência a ser realizada.

2. Parte experimental:

(a) Obter experimentalmente a razão carga-massa do elétron, e/m, utili-


zando um aparelho muito semelhante àquele usado por J. J.Thomson
na primeira medida experimental desta razão.

Objetivos a serem alcançados


Os objetivos que você deverá alcançar são:

1. Parte teórica:

(a) Deverá poder explicar os conceitos teóricos básicos da interção de


partı́culas carregadas com um campo elétrico e magnético.
(b) Deverá poder rederivar analiticamente a razão e/m, onde −e é a carga
do elétron e m sua massa, como função dos parâmetros a serem deter-
minados na experiência a ser realizada.

2. Parte experimental:

(a) Deverá ser capaz de montar e usar os equipamentos necessários para


realizar a experiência de determinação da razão carga-massa do elétron
e/m.

63 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

(b) Deverá obter experimentalmente um valor da razão carga-massa do


elétron, e/m. Também deverá ser capaz de avaliar os erros experimen-
tais que influenciaram sua medida.

(c) Deverá analizar, em função dos erros experimentais estimados, se sua


medida da razão carga-massa do elétron, e/m, está em concordância
com o valor experimental mais preciso obtido até o momento.

Parte teórica: Determinação da razão carga-massa,


e/m, do elétron.

Razão carga-massa

De acordo com a eletrodinâmica clássica (ou seja o conjunto formado pelas


leis de Newton, as equações de Maxwell e a força de Lorentz) o movimento de
uma partı́cula carregada na presença de campos elétricos e magnéticos fica deter-
minado pela razão entre sua carga q e sua massa m. Podemos ver este resultado
escrevendo a segunda lei de Newton na presença de campos elétricos e magnéticos
(i.e. usando a expressão para a força de Lorentz ~FL ≡ q(~E +~v × ~B)),

d 2~r q

d~
r

m~a = q(~E +~v × ~B) −→ 2 = ~E + × ~B , (cm.1)
dt m dt

onde ~E e ~B são os campos elétricos e magnéticos resultantes respectivamente e~r é


o vetor posição da partı́cula. O movimento da partı́cula está completamente deter-
minado pela Eq.(cm.1) da qual fica evidente que qualquer partı́cula com a mesma
razão carga-massa terá o mesmo movimento na presença dos campos resultantes
~E e ~B.

CEDERJ 64
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Repare que na Mecânica Quântica (MQ) as partı́culas não tem associada uma trajetória
determinada (o conceito de trajetória não forma parte do arcabouço da teoria quântica).
No entanto as partı́culas em MQ muitas vezes podem ser descritas por pacote de ondas
mais o menos localizados espacialmente que seguem trajetórias determinadas. Diferente-
mente da fı́sica clássica, na MQ o movimento de particulas carregas (ou seja a trajetória
seguida por um pacote de onda), na presença dos campos elétricos e magnéticos ~E e ~B
resultantes, não está completamente determinado pela razão q/m . Para determinar o
movimento é precisso conhecer também o momento magnético intrı́nseco da partı́cula,
chamado de “spin”. Lembre por exemplo o famoso experimento de Stern-Gerlach. Nesse
experimento todas as partı́culas são de “spin 1/2” e têm a mesma razão q/m, no entanto
os pacotes de onda das partı́culas que tem “spin h̄/2 ” seguem uma trajetória e os paco-
tes de onda das partı́culas que tem “spin −h̄/2 ” seguem uma trajetória diferente. Nesse
caso além da força de Lorentz é precisso levar em conta a força resultante da interação do
momento magnético intrı́nseco da partı́cula com o campo megnético B.

O conceito de razão carga-massa é importante para caracterizar as partı́culas


carregadas e é usado num conjunto de campos da fı́sica moderna (Ex. microscopia
eletrônica, litografia, no estudo dos raios catódicos, nos aceleradores de partı́culas,
na fı́sica nuclear, na espectroscopia “auger”, em cosmologia e na chamada espec-
trometria de massa). Em particular, a espectrometria de massa (também chamada
de espectroscopia de massa) é uma técnica de medida da razão carga-massa de
ı́ons. Essencialmente ela consiste em separar os ı́ons de acordo com o valor da
razão carga-massa dos mesmos e é útil para identificar os componentes de uma
amostra. A seguir veremos uma breve resenha histórica da determinação da razão
carga-massa e/m que permitiu caracterizar a partı́cula elementar que chamamos
elétron (cuja massa é m e cuja carga negativa é q = −e).

Breve resenha histórica

A experiência de Thomson

O experimento que resultou em informações diretas sobre a natureza do


elétron foi realizado em 1897 pelo fı́sico Joshep John Thomson, medindo a razão
entre sua carga e sua massa . Esta experiência confirmou pela primeira vez a
existência do elétron como partı́cula elementar de carga negativa q = −e e massa

65 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.1: Esquema do aparato experimental usado por J.J. Thompson para determinar a razão
e/m.

m.
O aparato experimental utilizado por Thomson está esquematizado na Fi-
gura (cm.1). Um tubo a uma pressão de 10−3 mmHg possui na parte dianteira
dois eletrodos, um cátodo e um par de ânodos com orifı́cios, aos quais aplica-
se uma diferença de potencial. O cátodo é aquecido e emite elétrons por efeito
termiônico. O par de ânodos acelera e colima os elétrons que saem dos orifı́cios,
direcionando o feixe eletrônico a uma tela fluorescente S, onde um resplendor es-
verdeado na parede do tubo de vidro é observado. O feixe viaja em linha reta
desde o orifı́cio do ânodo à parede traseira do tubo.
Na parte central do tubo, no meio do caminho, o feixe atravessa uma região
onde existem duas placas paralelas carregadas positiva e negativamente. O campo
elétrico ~E gerado entre as duas placas é relativamente uniforme e atuando sobre o
feixe de elétrons faz com que ele se desloque na direção da placa carregada positi-
vamente. Juntamente com as placas, existe um conjunto de espiras que criam um
campo magnético ~B. Tal campo ~B é orientado de modo a produzir uma deflexão
no feixe de elétrons contraria à deflexão produzida pelo campo elétrico . Assim, o
efeito dos dois campos pode ser ajustado de tal modo que a força elétrica atuando
sobre o feixe é igual e de sentido contrário à força magnética, i.e.

eE = evB , (cm.2)

e o feixe passa pelas placas sem sofrer deflexão. Desta forma, a velocidade dos
elétrons do feixe será:
v = E/B . (cm.3)

A energia cinética que o elétron adquire ao ser acelerado pelo ânodo é igual
ao trabalho, eV , da força elétrica de aceleração , onde V é a diferença de potencial
aplicada entre o ânodo e o filamento (cátodo),
1 2
mv = eV (cm.4)
2

CEDERJ 66
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Combinando as duas equações acima, obtemos:

e E2
= 2 , (cm.5)
m 2B V

Portanto, uma vez conhecidos os valores de E, B e V é possı́vel determinar a razão


carga-massa do elétron.
Thomson primeiramente comprovou que o feixe que atingia a tela fluores-
cente S (chamado de raio catódico) era igualmente desviado tanto por um campo
elétrico como por um campo magnético transversais à sua trajetória. Assim dedu-
ziu, pelo sentido do desvio da trajetória que as partı́culas que constituiam o feixe
tinham todas a mesma carga, e estudando o próprio desvio concluiu que tinham
uma mesma massa. Ele verificou portanto que a razão e/m independe do mate-
rial do qual o cátodo é constituı́do (platina, alumı́nio ou ferro) ou do tipo de gás
residual que existe dentro do tubo, (vapor de água, dióxido de carbono ou ar) mos-
trando assim que a razão e/m era universal. Pelos trabalhos sobre a determinação
da razão carga-massa do elétron J.J. Thompson foi agraciado com o prêmio Nobel
de Fı́sica em 1906.

As experiências de raios catódicos

Os raios catódicos foram descobertos por Julius Pluecker em 1858 e inves-


tigados por William Crookes em 1879, que descobriu que se desviavam em um
campo magnético. Por algum tempo a natureza dos raios catódicos foi um motivo
de controvérsia. Em 1892 Heinrich Hertz fez uma série de experimentos apli-
cando um campo elétrico a fim de estudar o efeito desses sobre os raios catódicos.
Thomson aprimorou o experimento com um vácuo melhor e estudando em detalhe
a interação dos campos elétrico e magnético separada e simultaneamente.

A experiência de Lenard

Um outro método para a medida da razão e/m do elétron é o empregado


por P. Lenard, em 1902 (vide Figura (cm.2). Neste caso, um feixe de elétrons
é acelerado por um potencial V e sofre a ação apenas de um campo magnético
B. O movimento resultante do feixe é um movimento circular de raio r. Este
pode ser calculado pois a força magnética é igual à força centrı́peta. Mas como
a energia cinética adquirida é igual ao trabalho realizado pelo campo temos que:
e/m = 2V /r2 B2 . Esta relação será vista em detalhe em uma seção posterior.

67 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.2: Esquema do aparato experimental usado por P. Lenard para determinar a razão e/m.

A experiência de Millikan

Embora muito importante, a experiência de Thompson era incompleta para


caracterizar o elétron já que somente a razão carga-massa era determinada em vez
da carga e a massa separadamente. A primeira tentativa de determinar a carga
do elétron foi feita por Towsend, um estudante de Thomson em 1897 com go-
tas de vapor de ǵua. O problema maior do método utilizado era a baixa pre-
cisão alcançada com a montagem experimental. Somente em 1909 Millikan em
vez de vapor de água, utilizou gotas ionizadas de diversos óleos e de mercúrio
que eram confinadas entre duas placas metálicas paralelas onde era aplicado um
campo elétrico. Medindo a velocidade limite de subida vs , e descida, vd , das gotas
era possı́vel determinar a carga acumulada numa das gotas através da expressão:

3πη a d
q= (vs + vd ) , (cm.6)
V
uma vez determinados “a” o raio da gota, “η ” o coeficiente de viscosidade do
ar, “V ” o potencial entre as placas paralelas e “d” a distância entre elas. A carga
resulta positiva pois no processo de borrifação das gotas, estas, por atrito perdem
elétrons. Comparando a carga obtida para várias gotas Millikan verificou que
sempre eram um múltiplo inteiro do valor 1, 602 × 10−19 C. Considerando esse
valor como a carga do elétron, e o valor da relação e/m, o valor para a massa do
elétron deveria ser 9, 11 ×10−28 g, indicando que esta é uma partı́cula subatômica.

CEDERJ 68
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Figura cm.3: a) Montagem da experiência de Millikan e b) diagrama de forças sobre a gota de


óleo descendo, onde ~P é a força peso, ~ FR é a força de resistência do ar (proporcional à velocidade
de descida~v), ~FE = q~
E é a força elétrica (q ≡carga total da gota) e Fem é a força de empuxo devido
ao volume de ar ocupado pela gota .

A seguir se encontra representado na Figura cm.3 a), de maneira muito


simplificada, o equipamento desenvolvido por Millikan para a medida da carga do
elétron. Gotı́culas de óleo são borrifadas sobre a placa superior do equipamento.
Algumas delas caem, dentro da câmara inferior, através de um pequeno orifı́cio.
Quando isso acontece, aplica-se uma tensão entre as placas metálicas. Na Figura
cm.3 b) estão esquematizadas as forças sobre uma gotı́cula para o caso de ela
estar descendo. Inicialmente a presença da força elétrica acelera a gota de maneira
que a velocidade de queda aumenta. Como resultado a força da resistência do ar
também aumenta e a gota atinge uma velocidade limite vd no momento em que a
força resultante se anula.

A experiência de eletrólise

Os experimentos de eletrólise também permitem determinar uma razão carga/massa,


resultando para um ı́on de hidrogênio o valor de Q/M = 9.57104C/gr. Uma das
perguntas feita na época foi se as cargas dentro do tubo de raios catódicos esta-
vam associadas ao mesmo tipo de partı́cula que carregam carga na experiência
de eletrólise. No entanto, supondo que no tubo de raios catódicos fossem ı́ons
atómicos, a magnitude da relação entre carga e massa na experiência de Thom-
son resulta num valor cerca de 1840 vezes maior que o valor determinado por
eletrólise para o átomo de hidrogênio, que é o mais leve entre os elementos

69 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.4: Canhão de elétrons

quı́micos. Existem portanto duas opções: ou as partı́culas dos raios catódicos


são muito mais leves que o hidrogênio ou têm carga quase 2000 maior que a de
um ı́on de hidrogênio. Foi assim que Thomson propôs que tanto as partı́culas
que constituem os raios catódicos quanto os ı́ons de hidrogênio possuem cargas
de igual valor absoluto mas que as partı́culas nos raios catódicos são muito mais
leves que os átomos de hidrogênio. Desta suposição deriva o primeiro modelo
moderno para o átomo proposto por Thompson, que ficou conhecido como “o
modelo do pudim de ameixas” (em inglês :“plum pudin model”). Neste modelo
os elétrons (as “ameixas” da analogia) ficavam distribuidas num “pudim” de carga
positiva que compensava as cargas dos elétrons já que os âtomos são neutros.

Nossa experiência para a determinação da razão carga-massa


do elétron

Descrição breve da experiência

O método utilizado na experiência para a medição da relação carga-massa


do elétron, a ser realizada por você, é simples e muito similar à realizada por P. Le-
nard. Os principais passos que compõem a experiência, assim como os principais
equipamentos envolvidos, estão descritos a seguir:

1. Aceleração dos elétrons no canhão de elétrons: um filamento de Tungstênio


é aquecido pela passagem de corrente elétrica liberando elétrons com pouca
energia cinética via efeito termiônico . A diferença de potencial V aplicada
entre duas placas paralelas, o cátodo e o ânodo, gera um campo elétrico
entre as placas. Os elétrons liberados pelo filamento são acelerados por este
campo elétrico na direção que vai do cátodo até o ânodo (ver Figura cm.4).
Ao chegarem ao ânodo eles adquirem uma energia cinética igual à carga

CEDERJ 70
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Figura cm.5: Bulbo de vidro com o canhão de elt́rons.

do elétron multiplicada pela diferença de potencial. Assim, a velocidade


final v dos elétrons do feixe será tanto maior, quanto maior a diferença de
potencial V entre as duas placas. Uma grade é mantida positiva com respeito
ao cátodo e negativa com relação ao ânodo, permitindo a focalização do
feixe de elétrons que assim atravessam um pequeno orifı́cio no ânodo.

2. Elétrons dentro do bulbo de vidro: o canhão de elétrons, descrito acima, está


inserido em um bulbo de vidro cheio de gás hélio (ver Figura cm.5).
Os elétrons ejetados através do pequeno orifı́cio no ânodo, colidem com as
moléculas do gás hélio (He). A energia das colisões promove os elétrons
dentro dos átomos de hélio a estados energéticos excitados, que após decai-
rem para o estado fundamental por emissão espontânea, emitem radiação
eletromagnética na região do espectro visı́vel (cor esverdeada), traçando o
caminho do feixe de elétrons e permitindo assim a visualização da sua tra-
jetória. Na ausência de outros campos elétricos e magnéticos, os elétrons
do feixe continuam em linha reta ao sairem do canhão.

3. Campo magnético uniforme gerado pelas bobinas de Helmholtz: ao sairem


do canhão, os elétrons penetram em uma região onde um campo magnético
uniforme é aplicado perpendicularmente à direção de movimento do feixe
de elétrons. Tal campo é criado ao passar uma corrente elétrica através de
um par de bobinas chamadas Helmholtz. O nome identifica uma configuração
de bobinas coaxiais, de raios iguais, com igual número de espiras e separa-
das por uma distância igual ao valor do seu raio (ver Figura cm.6). A força
de Lorentz devida ao campo magnético quase-uniforme entre as bobinas
deflete os elétrons ejetados pelo canhão de elétrons fazendo com que sigam

71 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.6: Em a) a configuração chamada de “bobinas de Helmholtz”, e em b) as linhas


de campo magnético produzidas pelas bobinas de Helmholtz.

uma trajetória circular de raio r.

4. Determinação da razão e/m: o raio r do cı́rculo formado pelo feixe de elétrons


é determinado pela velocidade v de ejecção dos elétrons no canhão (a qual
é controlada pela diferença de voltagem V entre o cátodo e o ânodo) e a
magnitude B do campo magnético nas bobinas de Helmholtz (o qual é con-
trolado pela corrente elétrica I circulando nas bobinas). Assim para cada
par de valores (V, I) teremos um raio r que pode ser medido. A razão carga-
massa e/m pode ser determinada a partir dos valores de V , I e r como é
mostrado na Eq.(cm.13).

Fundamentação teórica

1. Velocidade de ejecção dos elétrons no canhão: um elétron com massa m e


carga elétrica −e que é acelerado por uma diferença de potencial igual a V
entre duas placas paralelas, adquire uma energia cinética igual ao trabalho
realizado pela força elétrica ~F = −e~E (onde ~E é o campo elétrico gerado
entre as placas):
1
Z
−e~E · d~s = eV = me v2 . (cm.7)
2
Portanto, a magnitude da velocidade ~v do feixe eletrônico ao ser ejetado do
ânodo será, r
2eV
v= . (cm.8)
me

CEDERJ 72
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Figura cm.7: Direção dos vetores ~


F, ~B, e ~v na força de Lorentz da Eq.(cm.9).

2. Ação do campo magnético uniforme gerado pelas bobinas de Helmholtz: se


sobre uma carga −e atua somente um campo magnético ~B a força de Lorentz
será,
~F = −e~v × ~B , (cm.9)
cuja magnitude é |F|~ = evB sin(θ ) (v = |~v| e B = |~B| e θ é o ângulo entre
os vetores ~v e ~B). A direção relativa dos vetores da força de Lorentz na Eq.
(cm.9) estão graficados na Figura cm.7.
Se ~B for uniforme e se a velocidade inicial do movimento do elétron for
perpendicular ás linhas de força do campo magnético, o movimento sub-
sequente será em um circulo de raio r. Como a única força que atua no
elétron é a força de Lorentz devida ao campo magnético, a magnitude da
força centrı́peta do movimento circular deve ser igual à magnitude da força
dada na Eq.(cm.9) (θ = π /2):

m v2
= evB . (cm.10)
r

3. Determinação da razão e/M: substituindo a Equação (cm.8) na relação (cm.10)


obtém-se a relação carga-massa do elétron em função do potencial de aceleração
V , da intensidade do campo magnético B e do raio r do cı́rculo formado pelo
feixe de elétrons:
e v 2V
= = 2 2 . (cm.11)
m Br r B
Desta forma, vemos que, para determinar e/m, basta conhecer a veloci-
dade do elétron, o campo produzido pelas bobinas de Helmholtz e o raio
do movimento circular do elétron. No entanto, a medida que é diretamente

73 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

accessı́vel na experiência é a corrente elétrica I nas bobinas e não o campo


magnético B. Podemos relacionar a corrente elétrica I que flui nas duas bo-
binas de Helmholtz com o campo magnético uniforme B lembrando que no
ponto médio sobre o eixo comum das bobinas temos a expressão:

B = cte1 I , (cm.12)

onde cte1 ≡ (4/5)3/2 µ0 N/R, N é o número de espiras em cada bobina


(igual), µ0 = 4π × 10−7V seg/m A é a permeabilidade magnética do vácuo e
R é o raio médio comum das bobinas. Assim inserindo a Equação cm.12 na
relação cm.11 obtemos o fórmula final para o valor de e/m

e V
= cte2 2 2 , (cm.13)
m r I

onde cte2 = 2/cte21, e os valores V , I e r são medidos em unidades do sis-


tema internacional: Volts, Amperes e metros, respectivamente.

Efeito termiônico

É chamado efeito termiônico o processo de emissão de cargas por uma su-


perfı́cie como resultado do aumento da temperatura. As cargas podem ser elétrons
o ı́ons. O exemplo tı́pico de efeito termiônico consiste na emissão de elétrons pela
superfı́cie de um metal quando aquecido. Num metal existem elétrons livres, i.e.
que não estão ligados a átomos individuais do material. Quando aplicada uma
diferença de potencial entre duas partes do metal estes elétrons livres se movi-
mentam dentro do metal baixo à ação do campo elétrico gerado, formando o que
é chamada corrente elétrica. Em ausência de uma diferença de potencial estes
elétrons livres experimentam um movimento desordenado dentro do metal. Ao
atigir a superfı́cie do metal são mantidos presos pelo potencial criado pelos átomos
da superfı́cie. A energia mı́nima necessária para um elétron deixar a superfı́cie é
chamada função trabalho W cujo valor é caracterı́stico do material. Quando o
metal é aquecido, alguns elétrons livres adquirem energia cinética suficiente para
vencer esse potencial atrativo e escapam. Uma vez fora do corpo metálico, os
elétrons ficam formando uma nuvem perto da superfı́cie devido à atração coulom-
biana com o metal que, ao perder elétrons, fica carregado positivamente. Esta
nuvem eletrônica pode ser acelerada formando uma corrente termiônica uma vez
aplicada uma diferença de potencial entre a superfı́cie metálica e a superfı́cie de
um outro corpo. O efeito termiônico é comum nos filamentos incandescentes de
lâmpadas.

CEDERJ 74
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

O efeito foi reportado por alguns autores anteriormente à redescoberta do


efeito por Thomas Edison em 1880 enquanto tentava descobrir a razão para a
ruptura dos filamentos das lâmpadas incandescentes. Edison construiu um bulbo
com a superfı́cie interior coberta com uma folha de metal. Ele conectou a folha
de metal e o filamento da lâmpada a um galvanômetro (um tipo de instrumento
usado para medir corrente elétrica). Quando na folha foi dada uma carga mais
negativa do que a do filamento, nenhuma corrente fluiu entre a folha e o filamento,
mas quando na folha foi dada uma carga mais positiva do que a do filamento, os
elétrons emitidos do filamento quente foram atraı́dos à folha metálica, fazendo
com que uma corrente fluisse. Este fluxo de corrente num único sentido, que
cresce com o aumento da diferença de potencial aplicada, foi chamado “efeito
Edison”, nome que muitas vezes é usado para designar o próprio efeito termiônico.
Embora Edison patenteasse este efeito em 1883, não viu nenhum uso para ele. Foi
o fı́sico John Ambrose Fleming que descobriu que o “efeito Edison” poderia ser
usado para detectar ondas de rádio. Assim, Fleming desenvolveu o primeiro diodo
conhecido como tubo de vácuo. O tubo de elétrons ou ainda válvula termiônica
consiste de dois elementos: um filamento (cátodo) e uma lâmina metálica (ânodo)
dentro de um tubo de vidro à vácuo. Um diodo é um tipo de dispositivo que
conduz corrente elétrica somente num único sentido. O diodo termiônico também
pode ser usado para converter uma diferença de calor em potência elétrica onde
nenhuma parte móvil é usada no processo.
O fı́sico Owen Willans Richardson trabalhou com emissão termiônica e
recebeu o prêmio Nobel em 1928 em função de seu trabalho e da lei que leva
seu nome que relaciona a densidade de corrente J da emissão termiônica com a
função trabalho W e a temperatura T do metal. A formulação moderna desta lei
tem o aporte de Saul Dushman (1923) e está contida na equação conhecida como
“equação de Richardson-Dushman”:
J = A T 2 exp(−W /kT ) , (cm.14)
onde a temperatura T é medida em Kelvins e a constante de Richardson é A =
4π mk2 e/h3 ≅ 1.20173 × 106 A/m2 K 2 (“m” e “e” são a massa e a carga do elétron
respectivamente, k é a constante de Boltzmann e h a constante de Planck).
Bobinas de Helmholtz

A bobina de Helmholtz foi introduzida por H. F. von Helmholtz (1821-1894)


e consiste de duas bobinas circulares, planas, cada uma contendo N espiras nas
quais flui uma corrente I no mesmo sentido, como está esquematizado na Figura
cm.6 b). A configuração possui simetria cilı́ndrica (simetria de revolução ao redor

75 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.8: O campo magnético da Eq. (cm.17) onde chamamos cte1 ≡ (4/5)3/2 µ0 N/R.

de um eixo que passa pelo centro das duas bobinas) e portanto é conveniente
descrever as grandezas fı́sicas do problema usando variáveis cilı́ndricas (ρ , φ , z)
onde o eixo z coincide com o eixo de simetria e cuja origem está no centro das duas
bobinas. Devido à simetria, o campo magnético deve ser da forma ~B = (Bρ , Bφ =
0, Bz ) onde Bρ ≡ Bρ (ρ , z) e Bz ≡ Bz (ρ , z).
Na região entre as bobinas −R/2 < z < r/2 as componentes do campo
magnéticos são:

µ0 NI 144 z4 432 z2 ρ 2 54 ρ 4
 3/2  
4
Bz (ρ , z) = 1− + − + . . . , (cm.15)
5 R 125 R4 125 R4 125 R4

µ0 NI 4z − 3ρ 2 + . . .
 3/2  2 
4
Bρ (ρ , z) = 72|z|ρ . (cm.16)
5 R 125R4
A demostração destas expansões pode ser encontrada no artigo “Bobina de Helmholtz”
de Renê Robert na Revista Brasileira de Ensino de Fı́sica (vol.25, no.1, São Paulo,
2003) accesı́vel via internet no página oficial da revista. Analizando as linhas de
campo da Figura cm.6 b) podemos considerar que para raios ρ menores ou da
ordem de R/2 temos que Bρ ≅ 0. Também nessa região e para −R/2 < z < R/2
podemos aproximar a componente na direção do eixo de simetria por:

µ0 NI
 3/2
144 z4
 
4
Bz (ρ , z) ≅ 1− , (cm.17)
5 R 125 R4

cuja magnitude esta graficada na Figura cm.9. Repare que esta expressão é exata
no eixo de simetria (ou seja para ρ = 0). A partir do gráfico da Figura cm.8, fica

CEDERJ 76
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

claro que, na região central entre as duas bobinas, o campo magnético é aproxi-
madamente constante:
µ0 NI
 3/2
~B ≅ 4 ẑ , (cm.18)
5 R
onde ẑ é um vetor unitário na direção z.

Atividades

Atividade I

Calcule, a partir da Lei de Biot-Savart, o campo magnético no eixo de sime-


tria das bobinas de Helmholtz. Seu resultado deve coincidir com o resultado da
Eq.(cm.17).
Dicas:

1. Calcule o campo magnético no eixo de simetria de uma espira, localizada


na posição z = −R/2, pela qual circula uma corrente I usando a Lei de
Biot-Savart:
µ I~r × d~l
Z Z
~B = d ~B = − 0
, (cm.19)
4π r3
onde I é a corrente fluindo na espira, d~l é o vetor cuja magnitude é igual
ao elemento diferencial da espira e cuja direção é igual à direção conven-
cional da corrente, ~r é o vetor desde o elemento de corrente até o ponto de
observação do campo B, µ0 é a permeabilidade magnética do vácuo, e a in-
tegral de linha é efeita ao longo da espira (ver Figura cm.9). Note que pelo
princı́pio de superposição se temos N espiras na posição z = −R/2 então o
campo total será ~BT = N ~B onde ~B é o campo de uma espira.

2. Use o princı́pio de superposição para incluir o campo produzido por N es-


piras na posição z = R/2.

77 CEDERJ
~ e~r na Lei de Biot-Savart da Eq.(cm.19).
Figura cm.9: Posição relativa dos vetores, d ~B, dI
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Carga Massa – Parte Experimental

Descrição breve dos equipamentos usados.

Os seguintes componentes são essenciais para a realização da experiência


de determinação da razão e/m:

1. Aparato base para medida da razão e/m. Este equipamento é mostrado na


Figura (cm.10) e consta de um 1) tubo de feixes de elétrons, 2) de um par de
bobinas de Helmholtz, 3) um painel de controle das tensões e correntes ne-
cessárias para sua operação, e 4) de uma escala espelhada; todos integrados
em uma única peça.

2. Fonte de tensão de alta voltagem (”SF-9585A - High voltage power sup-


ply”) com voltı́metro e amperı́metro integrados. A fonte é necessária para
acelerar os elétrons (100 − 300 V (DC - voltagem contı́nua)), e para aquecer
o filamento do canhão (6 V (DC - voltagem contı́nua) ou (AC - voltagem
alternada)).

3. Fonte de tensão de baixa voltagen (”SF-9584A - Low voltage power sup-


ply”) com voltı́metro e amperı́metro integrados. A fonte é necessária para
gerar a corrente nas bobinas de Helmholtz (6 − 9 V (DC) e 3 A).

4. Cobertura de pano (capuz). A coberta pode ser colocada sob o aparelho


base permitindo que a experiência seja realizada em uma sala iluminada.

5. Cabos de conexão.

Aparato base:

1. Tubo de feixes de elétrons colimados:


O tubo e/m é um bulbo de vidro esférico selado que contem gás hélio a
uma pressão de 10−2 mmHg (10−2 Torr) e contém um canhão de elétrons
e placas de deflexão. O canhão de elétrons é um componente que produz
um feixe de elétrons com energia cinética bem definida. O mesmo principio
é usado em televisores e monitores que usam tecnologia de tubos de raios
catódicos, por exemplo osciloscópios (releia a aula sobre osciloscópio de
Fı́sica 3 para lembrar o princı́pio de funcionamento do canhão de elétrons).

79 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.10: Aparato base usado para determinar a razão e/m. Cada componente assinalado na
foto está discriminado no texto.

Também é usado em outros instrumentos como, por exemplo, microscópios


eletrônicos e aceleradores de partı́culas. Uma qualidade singular da ampola
é que seu suporte gira, e permite que o feixe de elétrons seja orientado em
qualquer ângulo de zero a 90 graus com relação ao campo magnético da
bobina de Helmholtz.

2. Bobinas de Helmholtz:
No arranjo chamado de Helmholtz, as duas bobinas são idênticas e estão
posicionadas paralelamente de forma que a distância entre seus planos é
igual ao seu raio comum, ou seja, o raio das bobinas é igual à separação
entre elas. As bobinas têm raios e separação de 15 cm. Cada bobina tem
130 voltas. As correntes elétricas que atravessam as duas bobinas são exata-
mente as mesmas, já que elas são conectadas em série. O campo magnético
B produzido pelas bobinas é proporcional à corrente I que passa através de-
las, cuja magnitude é B (Tesla) = (7, 80 × 10−4) I (Ampères). A geometria
produz um campo altamente uniforme perto do centro das bobinas, que é
perpendicular ao plano das bobinas. A corrente que atravessa as bobinas
é fornecida pela fonte de baixa voltagen (”SF-9584A - Low voltage power
supply”).

CEDERJ 80
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

3. Controles no painel do aparato base:


O painel de controle do aparato para medida de e/m é bem simples. To-
das as conexões são rotuladas (vide Figura (cm.10)). As conexões e suas
respectivas funções estão abaixo sucintamente descritas.
a) Conectores para fonte de tensão de baixa voltagem (”SF-9584A - Low
voltage power supply”). A corrente na bobina é fornecida através destes
conectores e monitorada pelo amperı́metro integrado à fonte.
b) Potenciômetro de controle da corrente na bobina.
c) Potenciômetro de ajuste da focalização do feixe de elétrons.
d) Chave seletora do tipo de experiência, razão e/m ou deflexão do feixe.
e) Conectores não usados na experiência.
f) Conectores para a fonte de tensão de alta voltagem (”SF-9585 - High
voltage power supply”). A diferença de potencial aplicada às placas de-
fletoras na faixa de 0 − 50V , deflecciona o feixe de elétrons (que com as
bobinas desligadas está na posição horizontal) para cima e para baixo. Esta
diferença de potencial é monitorada por um voltı́metro integrado à fonte.
g) Conectores para fonte de tensão de alta voltagem (”SF-9585 - High
voltage power supply”). A diferença de potencial aplicada aos eletrodos
(cátodo e ânodo), na faixa de 100−300V , acelera os elétrons. Esta diferença
de potencial é monitorada por um voltı́metro integrado à fonte.
h) Conectores para fonte de tensão de alta voltagem (”SF-9585 - High vol-
tage power supply”). A diferença de potencial de 6V gera uma corrente
no filamento do canhão de elétrons aquecendo-o. Quando aquecido, o fila-
mento libera elétrons por efeito termiônico.

4. Escala espelhada:
Uma escala espelhada está acoplada na parte posterior das bobinas de Helmholtz.
Ela é iluminada por luzes que se acendem automaticamente quando o aque-
cedor do canhão de elétrons é ligado. Alinhando o feixe de elétrons com
sua imagem na escala, pode-se medir o raio do feixe com maior precisão
reduzindo o erro de paralaxe na leitura.

81 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.11: As duas fontes de tensão usadas na experiência. Acima a fonte de tensão de
alta voltagem (”SF-9585A - High voltage power supply”) e embaixo, a fonte de tensão de baixa
voltagen (”SF-9584A - Low voltage power supply”). Na fonte de alta tensão, o pontenciômetro
a) regula a tensão que alimenta o filamento no canhão de elétrons, o potenciometro b) regula a
tensão de aceleração dos elétrons; o potenciômetro c) regula a tensão entre as placas defletoras
dos elétrons e d) indica uma chave seletora (quando colocada na posição 50V os visores mostram
a tensão e a corrente relacionados com o potenciômetro c) e quando colocada na posição 500V os
visores mostram a tensão e a corrente relacionados com o potenciômetro b).

Fontes de tensão:
Duas fontes de tensão e corrente estão disponı́veis e são utilizadas na ex-
periência. Uma delas (High voltage power supply) controla os parâmetros do
feixe de elétrons, os eletrodos e o filamento, e a outra (Low voltage power sup-
ply) controla o campo nas bobinas de Helmholtz. As duas fontes têm voltı́metros e
amperı́metros integrados. Verifique atentamente o esquema de conexões e procure
entender a montagem em detalhe.

CEDERJ 82
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Carga Massa – Aulas 4 e 5

As aulas 4 e 5 consistem de uma experiêcia principal (Experiência I) e duas


experiências complementares (Experiência adicional I e Experiência adicional II),
as quais deverão ser realizadas em duas presenças no laboratório de Fı́sica. Como
a Experiência I e a Experiência adicional I requerem a mesma montagem expe-
rimental é recomendável realizá-las juntas. A única experiência que envolve o
registro de dados experimentais é a Experiência I. Para otimizar o tempo em labo-
ratório é recomendável que a análise de dados seja realizada em casa.

Experiência I

Objetivo: Determinar experimentalmente a razão carga-massa, e/m, do elétron.

Procedimento experimental:
O arranjo experimental e as conexões elétricas encontram-se esquemati-
zados na Figura (cm.12). Este arranjo oferece a possibilidade de controle e de
monitoração de duas variáveis:
1) o potencial V entre os eletrodos do canhão de elétrons que define assim a
velocidade dos elétrons.
2) a corrente elétrica I na bobina de Helmholtz que define o campo magnético
no interior da ampola.

Figura cm.12: O arranjo experimental.

83 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Para cada par de valores (V, I) existe uma trajetória circular correspondente
dos elétrons, cujo raio r pode ser medido. A medição do raio é feita usando
a escala espelhada que está fixada atrás da bobina posterior. O alinhamento do
feixe de elétrons com sua imagem na escala espelhada permite medir o raio da
trajetória do feixe com pouco erro de paralaxe.

1. Com as fontes desligadas, faça as conexões elétricas necessárias seguindo o


seguinte roteiro:

(a) Conecte a fonte de alta voltagen (”SF-9585A - High voltage power


supply”) ao painel de controle do aparato base nas entradas do fila-
mento do bulbo, como indicado na Figura (cm.13) fornecendo cor-
rente ao filamento do canhão de elétrons.

Figura cm.13: Conexão entre a fonte de alta voltagen (”SF-9585A - High voltage power
supply”) e o filamento do canhão de elétrons.

CEDERJ 84
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

(b) Conecte a fonte de alta voltagen (”SF-9585A - High voltage power


supply”) ao painel de controle do aparato base nas entradas das placas
de aceleração (eletrodos), como indicado na Figura (cm.14). Assim,
você estará aplicando tensão aos eletrodos de aceleração dos elétrons.

Figura cm.14: Conexão entre a fonte de alta voltagen (”SF-9585A - High voltage power
supply”) e os eletrodos de aceleração do canhão de elétrons.

(c) Posicione a pequena chave de seleção na fonte de tensão de alta vol-


tagem (item d) na Figura (cm.11)), na posição de leitura de voltagem
de 500V permitindo a leitura da tensão de aceleração no visor.
(d) Conecte a fonte de baixa voltagen (”SF-9584A - Low voltage power
supply”) ao painel de controle do aparato base na entrada da bobina
de Helmholtz, como indicado na Figura (cm.15), fornecendo assim
corrente à bobina de Helmholtz.

Figura cm.15: Conexão entre a fonte de baixa voltagen (”SF-9584A - Low voltage power
supply”) e a bobina de Helmholtz. 85 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Ao final, certifique-se novamente se as conexões estão de acordo com as


mostradas na Figura (cm.16).

Figura cm.16: Conjunto de todas as conexões.

2. Antes de aplicar qualquer tensão ao filamento, verifique se os potenciômetros


na fonte de tensão de alta voltagen (”SF-9585A - High voltage power sup-
ply”), que regulam as saı́das 0 . . . − 50V e 0 . . . + 500V , estão ajustados no
mı́nimo. Isso evita a presença de qualquer tensão de aceleração entre o
cátodo e o ânodo quando o filamento for acionado.

3. Se o experimento estiver sendo realizado em um quarto iluminado coloque


a cobertura de pano, o capuz sobre o aparelho.

4. Coloque o potenciômetro do painel de controle para ajuste de corrente nas


bobinas de Helmholtz para a posição OFF, i.e. na posição de desligado (item
b) na Figura (cm.10)).

5. Coloque a chave seletora (item d) da Figura (cm.10)) para cima, ou seja na


posição que indica a opção de medida e/m (”e/m MEASURE”).

6. Ligue as duas fontes de tensão.

7. Repare que a tensão que alimenta o filamento é regulada pelo potenciômetro


a) da Figura (cm.11) na fonte de alta voltagem. Então, primeiramente ajuste
esta tensão para 5V (AC), que corresponde a uma corrente de aproxima-
damente 0.45 A, e depois aumente a tensão para 6V (AC). Verifique se o
cátodo acendeu.

CEDERJ 86
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

A voltagem de aquecimento do canhão de elétrons nunca deve ultrapassar


6V . Voltagens mais altas queimarão o filamento e destruirão o tubo.

Figura cm.17: Fontes de tensão com os valores de tensão e correntes iniciais. Acima a
fonte de tensão de alta voltagem (”SF-9585A - High voltage power supply”) e embaixo
a fonte de tensão de baixa voltagen (”SF-9584A - Low voltage power supply”). O po-
tenciômetro a), na fonte de baixa tensão, regula a tensão de alimentação das bobinas de
Helmholtz, enquanto que o potenciômetro b) ajusta a corrente nas bobinas.

8. Repare que a tensão de aceleração dos elétrons é regulada com o potenciômetro


b) da Figura (cm.11) na fonte de alta voltagem. Permita o aquecimento
prévio do filamento aguardando um perı́odo de, pelo menos, um minuto an-
tes de acionar este potenciômetro. Agora, aumente o potencial de aceleração
dos elétrons até um valor próximo de 150V . Quando o cátodo aquecer será
possı́vel ver o rastro dos elétrons emergindo do canhão de elétrons.

O feixe de elétrons é observado como consequência da luz verde visı́vel emitida


pelos âtomos de He do gás dentro do tubo. Os elétrons do feixe colidem com os
âtomos no gás, e como resultado destas colisões os elétrons que compõem o âtomo
de He são promovidos para estados energéticos excitados do âtomo. Quando estes
elétrons decaem por emissão espontânea emitem luz na faixa do visı́vel.

87 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

9. Por enquanto, a trajetória descrita pelo feixe é uma reta horizontal. Para ob-
ter um feixe estreito e mais bem definido utilize o potenciômetro de controle
de focalização no painel de controle do aparato base c) na Figura (cm.10),
ajustando as tensões de focalização de forma a otimizar a qualidade visual
do feixe e reduzir a largura do mesmo.

Espere de 2 a 3 minutos até que a a intensidade do filamento alcance seu


valor máximo, fato que ocorre quando o aquecimento do filamento se com-
pletou.

10. Para gerar uma trajetória circular do feixe de elétrons precisamos introduzir
uma corrente elétrica nas bobinas de Helmholtz. Para isso, ajuste na fonte
de tensão de baixa voltagem a tensão de alimentação das bobinas para 9, 1V
através do potenciômetro a) e coloque na posição vertical o potenciômetro
b) de ajuste de corrente (ambos os potenciômetros estão indicados na Fi-
gura (cm.17 )). Gire lentamente o potenciômetro de controle da corrente
na bobina ( potenciômetro b) na Figura (cm.10)) no painel de controle do
aparato base, e monitore a corrente elétrica nas bobinas com o amperı́metro
integrado à fonte de baixa voltagem.

Tome cuidado para que a corrente elétrica nas bobinas não exceda o valor
2.5 A.

11. Observe atentamente como a trajetória do feixe eletrônico dentro do tubo é


modificada pela atuação do campo magnético. Aumente a corrente que ali-
menta as bobinas girando lentamente o potenciômetro b) da Figura (cm.10)
de ajuste de controle de corrente no painel de controle. Não mexa nos po-
tenciômetros a) e b) da fonte de baixa voltagem. Observe que a leitura do
amperı́metro na fonte de baixa tensão é alterada à medida que você altera a
corrente como descrito acima. A trajetória dos elétrons deve se curvar. Au-
mentando a corrente na bobina, você irá visualizar uma trajetória circular
dos elétrons.

CEDERJ 88
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Caso a trajetória dos elétrons não esteja contida num plano paralelo às bobi-
nas alinhe o feixe com as bobinas de Helmholtz girando cuidadosamente o
soquete do tubo e/m (vide Figura (cm.10)). Não faça essa manipulação to-
cando o bulbo de vidro com os dedos. Nessa condição de alinhamento, a tra-
jetória descrita pelo feixe deverá ser circular, formando uma circunferência
fechada quando a intensidade do campo magnético for suficientemente alta.

12. Leia e registre a corrente I nas bobinas de Helmholtz utilizando o am-


perı́metro na fonte de tensão de baixa voltagem. Também, registre a vol-
tagem V de aceleração dos elétrons no voltı́metro da fonte de tensão de alta
voltagem. Anote estes valores numa tabela.

13. Observe que o feixe apresenta uma certa largura. Minimize essa largura
com o potenciômetro de controle de focalização c) do feixe indicado na
Figura (cm.10).

14. Cuidadosamente meça o raio do feixe de elétrons da seguinte maneira: olhe


através do tubo, e, para evitar erro de paralaxe na leitura, mova sua cabeça
até alinhar o feixe de elétrons do lado direito com a sua imagem na escala
espelhada no fundo do bulbo de vidro (ver Figura (cm.18)). Aqui estamos
supondo que a origem da régua está centrada no centro de todas as tra-
jetórias circulares. O erro cometido na leitura do raio é a maior fonte de
imprecisão no resultado da medida de e/m. Assim é fundamental estimá-lo
com cuidado. Anote o valor do raio e também o valor estimado de seu erro.
Procure ser o mais realista possı́vel na estimativa do erro.

Cuidados especiais a serem tomados durante a experiência:

1. Procure compreender as conexões elétricas no sistema e verificá-las siste-


maticamente de forma a prevenir a ocorrência de qualquer erro de monta-
gem, conferindo sempre com os esquemas e diagramas apresentados neste
roteiro.

2. Mantenha os potenciômetros na fonte de tensão de alta voltagen (”SF-9585A


- High voltage power supply”), que regulam as saı́das 0 . . . − 50V e 0 . . . +
500V sempre no mı́nimo exceto quando as medidas estão sendo coletadas.
Este procedimento prolonga consideravelmente a vida útil do tubo.

89 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Figura cm.18: Trajétoria circular dos elétrons no feixe dentro do bulbo de vidro. Ao fundo é
possı́vel observar a escala espelhada.

3. Espere um perı́odo de aquecimento do filamento de 1 a 2 minutos antes de


acionar o potenciômetro 0 · · · + 500V na fonte de alta voltagem (potencio-
metro b) na Figura (cm.11)) .

4. Nunca ultrapasse a voltagem do filamento do canhão de elétrons do valor


de 6 V . Voltagens mais altas queimarão o filamento e destruirão o tubo para
determinar e/m.

5. Não permita jamais que a corrente através das bobinas de Helmholtz ultra-
passe o valor máximo de 2.5 A.

Tomada de dados. Métodos de determinação da razão e/m.

Método ”raio fixo” (raio r da trajetória fixo):

1. Fixe o valor para o raio do feixe de elétrons em r = 5 cm estimando a im-


precisão de sua leitura.

2. Varie a tensão V de aceleração entre 100 e 300V , em passos de 20V , através


do potenciômetro b) indicado na Figura (cm.11). Posteriormente, ajuste
através do potenciômetro b) no aparato base (Figura (cm.10)) a corrente I

CEDERJ 90
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

na bobina necessária para manter o feixe sobre a trajetória de raio r = 5 cm,


e meça o valor desta corrente com o amperı́metro integrado à fonte de baixa
voltagem. Registre em torno de 6 − 8 valores (V, I) diferentes.

3. Monte a Tabela 1.8 com os valores de V , I.

r = 5cm±
VA (Volts) I (Amperes) B (Tesla) B2 r2 /2

Tabela 1.8

4. Repita o procedimeto para outros valores de r, por exemplo r = 3 cm ; 4 cm e


4, 5 cm. Anote os valores da tensão de aceleração V e da corrente da bobina
I para cada raio de curvatura separadamente nas Tabelas 1.9, 1.10 e 1.11.
Para cada raio de curvatura diferente, registre em torno de 6 − 8 valores de
(V, I) (na medida do possı́vel ) observando sempre os limites de voltagem e
correntes estabelecidos no roteiro.

Não se esqueça de anotar as incertezas na leitura dos parâmetros e inclui-las nas


tabelas. Use propagação de erros quando seja necessário.

Método ”corrente fixa” (corrente fixa I na bobina):

1. Mantenha o valor da corrente na bobina constante fixa em 1, 6 A.

91 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

r = 3cm±
VA (Volts) I (Amperes) B (Tesla) B2 r2 /2

Tabela 1.9

2. Meça os raios de curvatura para 10 valores diferentes do potencial, V , de


aceleração entre 150 e 300V .

3. Monte a Tabela 1.12 com os valores de V e r.

Experiência adicional I
Objetivo:

Estudar as possı́veis trajetórias de um elétron num campo magnético uni-


forme geradas, mudando o ângulo entre o vetor velocidade inicial do elétron e o
vetor campo magnético.

é altamente recomendável que faça esta experiência antes de desmontar o arranjo


experimental para a determinação da razão carga massa do elétron.

Breve descrição da experiência: manipulação do soquete do bulbo de vidro

O soquete do tubo e/m foi feito de tal maneira que o tubo pode ser girado e
assim orientado a qualquer ângulo, entre 0-90◦ , em relação ao campo magnético

CEDERJ 92
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

r = 4cm±
VA (Volts) I (Amperes) B (Tesla) B2 r2 /2

Tabela 1.10

produzido pelas bobinas de Helmholtz. Desta forma, mantendo o arranjo para


a medida de e/m, é possı́vel girar o tubo e estudar como a deflexão do feixe
é afetada. Portanto esta é uma experiência descritiva que não envolve nehuma
tomada de dados.

Procedimento experimental:

1. Releia o procedimento da medida de e/m em caso de dúvidas ou caso você


tenha que montar os equipamentos novamente.

2. Gire o bulbo de vidro em 90◦ até que o feixe de elétrons fique na posição
horizontal. O feixe de elétrons não é mais defletido, embora exista corrente
na bobina. Por que?

Se os elétrons sairem perpendicularmente ao campo, suas trajetórias serão circula-


res, mas se a velocidade inicial fizer um ângulo com o campo, suas trajetórias serão
helicoidais, como pode ser verificado girando a ampola um pouco.

3. Faça os passos indicados nos ı́tens 1. e 2. invertendo agora a direção do


campo magnético. Para realizar isto você deverá inverter a polaridade dos

93 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

r = 4, 5cm±
VA (Volts) I (Amperes) B (Tesla) B2 r2 /2

Tabela 1.11

conectores de tensão da corrente da bobina na fonte de tensão de baixa


voltagem. O procedimento correto para fazer isto consiste em colocar o po-
tenciômetro a) da Figura (cm.17) e o potenciômetro b) da Figura (cm.10) no
mı́nimo, depois inverter a polaridade e finalmente regular o potenciômetro
a) da Figura (cm.17) para 9, 1 V . O que você espera que aconteça com
a direção de deflexão do feixe de elétrons quando for aplicada uma cor-
rente na bobina? Para introduzir corrente na bobina, gire lentamente o po-
tenciômetro b) da Figura (cm.10) e verifique se sua previsão está correta.

Experiência adicional II

Objetivo:

1. Verificar experimentalmente a deflexão de elétrons no campo elétrico ge-


rado entre duas placas condutoras (placas defletoras).

2. Verificar experimentalmente a deflexão de elétrons no campo magnético


gerado por um imã permanente.

Breve descrição da experiência:

CEDERJ 94
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

I = 1.6A
VA (Volts) r (cm) e/m (e/m)exp/(e/m)lit

Tabela 1.12

Pode-se usar as placas de deflexão contidos no próprio tubo e/m para ve-
rificar como o feixe de elétrons é desviado somente por um campo elétrico. As
placas defletoras consistem de um par de placas condutoras paralelas nas quais é
aplicada uma diferença de potencial fixa (DC). Como consequência, é gerado um
campo elétrico, ~E, aproximadamente uniforme entre as placas como em um capa-
citor de placas paralelas onde o campo é perpendicular as placas (ver os módulos
de Fı́sica 3). O campo elétrico entre as placas é somente aproximadamente uni-
forme pois os efeitos de borda não são desprezı́veis (observe que a distância entre
as placas não é muito menor que as suas dimensões). Os elétrons sofrem uma
deflexão devido à força Coulombiana ~Fe = e~E.
Também, pode-se usar um imã permanente para mostrar o efeito de um
campo magnético sobre o feixe de elétrons ao invés de usar as bobinas de Helmholtz.
Releia o material de Fı́sica 3 para lembrar como é o campo magnético de um imã
permanente e sua ação sobre cargas em movimento (Força de Lorentz).
Estas duas experiências foram realizadas por Thomson separadamente. A
seguir apresentaremos a montagem experimental para a realização destas duas
experiências qualitativas que não envolve a tomada de dados experimentais.

95 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Procedimento experimental:

As duas fontes de tensão, tanto a de baixa quanto a de alta voltagem devem


estar desligadas antes de efetuar qualquer alteração nas conexões. Em caso de
dúvidas, leia novamente o procedimento na Secção tomando todos os cuidados
necessários.

1. Coloque primeiramente a chave seletora (item d)da Figura (cm.10)) para


cima (posição que indica a opção “medida e/m”).

2. Faça as conexões indicadas na Figura (cm.19) entre a fonte de tensão de alta


voltagem e o painel de controle do aparato base (a fonte de tensão de baixa
voltagem permanecerá desligada o tempo todo). Observe que o conector
rotulado “UPPER” deve estar conectado à saida de 0V e o conector rotulado
“LOWER” deve estar conectado à saida de −50V .

3. Ligue a fonte de tensão de alta voltagem.

4. Aplique a tensão de 6V ao aquecedor do filamento (usando o potenciômetro


a) da Figura (cm.11)). Observe se ele ascende.

5. Certifique-se de que a pequena chave de seleção (item d) na Figura (cm.11))


na fonte de tensão de alta voltagem está na posição de leitura de voltagem
de 500V .

6. Aplique uma tensão de 300V (DC) aos eletrodos do canhão de elétrons (po-
tencial de aceleração V ), através do potenciômetro b) da Figura (cm.11) na
fonte de alta voltagem. Espere alguns minutos para o cátodo se aquecer.
Quando o feixe de elétrons reaparecer, estará na posição horizontal nova-
mente.

7. Coloque a chave seletora (item d)da Figura (cm.10)) para baixo, posição
que indica a opção de deflexão elétrica (”ELETRICAL DEFLECT”).

Atuação somente de um campo elétrico

1. Lentamente aumente a voltagem das placas de deflexão de 0V até aproxi-


madamente 50V (DC) através do potenciômetro de controle das placas de-
fletoras (potenciometro c) na Figura (cm.11)).
Note a deflexão do feixe de elétrons na direção de uma das placas defletoras
que deverá portanto estar carregada positivamente.

CEDERJ 96
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Figura cm.19: Esquema de conexões para a “Experiência adicional II”. Placas de deflexão: co-
nexão a) com 1). Eletrodos de aceleração : conexão b) com 2). Aquecedor do filamento do
canhão: conexão c) com 3). Note a conexão em comum na entrada de 0V .

2. Coloque o potenciômetro de controle das placas defletoras no mı́nimo. As-


sim, o feixe retornará à posição horizontal.

3. Inverta a polaridade do conectors da voltagem das placas de deflexão (0 −


50V ) na fonte de tensão de alta voltagem. Faça este procedimento com
cuidado.

4. Note a deflexão do feixe de elétrons na direção da placa carregada negati-


vamente.

5. Coloque o potenciômetro de controle das placas defletoras no mı́nimo, o


feixe retornará a posição horizontal.

Atuação somente de um campo magnético

1. Use um imã para desviar o feixe e verifique a atuação do mesmo sobre o


feixe.

Não deixe o feixe eletrônico ligado por longos perı́odos de tempo neste
modo de operação senão o feixe irá danificar as paredes do tubo de vidro.

97 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

Término das experiências

Após a tomada de dados, as duas fontes de tensão são desligadas seguindo


um procedimento padrão. O equipamento é mantido montado e nenhum cabo de
conexão é desconectado.

1. Desligue a corrente das bobinas de Helmholtz, colocando todos os po-


tenciômetros relacionados às bobinas no mı́nimo. O primeiro passo é co-
locar o potenciômetro no painel de controle de ajuste de corrente nas bo-
binas na posição de desligado (”OFF”). Assim, o feixe de elétrons re-
torna à posição horizontal. O segundo passo é colocar no mı́nimo os po-
tenciômetros, tanto de controle da tensão como da corrente, na fonte de
tensão de baixa voltagem. Finalmente, desligue a fonte de baixa voltagem.

2. Coloque o potenciômetro da tensão de aceleração dos elétrons no mı́nimo,


assim o feixe de elétrons desaparece. Coloque o potenciômetro da tensão
de aquecimento do filamento também no mı́nimo, assim o cátodo parará de
iluminar. Desligue finalmente a fonte de alta voltagem.

3. Os cabos de conexão devem ser retirados somente se tiver certeza de que


não precisa repetir nenhuma medida e a experiência está concluı́da.

Análise dos dados e cálculos relativos à Experiência I.

Método ”raio fixo” (raio r da trajetória fixo):

1. Coloque nas Tabelas 1.8, 1.9, 1.10 e 1.11 os valores de B e e B2 r2 /2 com


seu respectivos erros (use propagação de erros se for necessário usando a
fórmula geral na Seção ). O valor de B pode ser calculado a partir da
Equação (cm.12) uma vez calculado o valor da cte1 e estimado seu erro
(use os valores N = 130, µ0 = 4π × 10−7 V seg/m A e R = ... ± 0.5 cm).

2. Calcule o erro relativo de V e B2 r2 /2. Em função desse resultado e da


Eq.(cm.11) represente no eixo das abscissas a grandeza com maior erro re-
lativo. Para cada valor de r faça o gráfico e realize um ajuste linear dos
dados experimentais para determinar o valor de e/m que será inferido a par-
tir do coeficiente angular da reta (você pode usar o programa de regressão
linear disponı́vel no laboratório de Fı́sica do polo).

CEDERJ 98
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

r (cm) e/m

Tabela 1.13

3. A partir dos valores de e/m obtidos de cada gráfico, monte a Tabela 1.13.

4. Faça uma análise estatı́stica dos seus valores da razão e/m, calculando o
valor médio e o desvio padrão.

5. Compare o valor médio determinado com o valor de e/m = (1.758820150±


0.000000044) × 1011 C kg−1 recomendado pelo CODATA (”Committee on
Data for Science and Technology”) na sua publicação de 2006
(http://physics.nist.gov/cuu/Constants/index.html), obtido como resultado
das medidas experimentais mais precisas feitas até o ano de 2006 junto com
suas incertezas experimentais. Considere o desvio padrão, calculado no
item anterior, como a imprecisão do valor médio das suas medidas.

Método ”corrente fixa” (corrente fixa I na bobina):

1. A partir dos valores da Tabela 1.12 determine e/m a partir da fórmula na


Eq.(cm.13) onde você deverá calcular o valor cte2 (use os valores N = 130,
µ0 = 4π × 10−7 V seg/m A e R = ... ± 0.5 cm). Calcule a incerteza para cada
valor de e/m usando a fórmula geral de dispersão de erros da Seção .

2. Faça uma análise estatı́stica semelhante à realizada no ”método gráfico”


considerando todos os valores de e/m da Tabela 1.12.

3. Acrescente à Tabela 1.12 a coluna com o quociente entre cada valor expe-
rimental (e/m)exp, medido por você, e o valor (e/m)lit = 1.758820150 ×
1011 C kg−1 recomendado pelo CODATA (”Committee on Data for Science
and Technology”).

4. Faça um gráfico deste quociente em função da voltagem de aceleração V ,


i.e. (e/m)exp /(e/m)lit .vs.V .

99 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

5. A partir desse gráfico estabeleça a faixa de voltagem V de melhor operação


para a deteminação da razão e/m.

6. O gráfico (e/m)exp /(e/m)lit .vs.V , acima mencionado, deveria apresentar


um valor assimptôtico ao redor do valor 1, à medida que cresce o valor da
voltagem de aceleração V . Porque voltagens baixas prejudicam a determinação
da razão e/m? Inclua na sua análise fı́sica a presença do gás de helio no tubo
e a influência do orifı́cio no ânodo atravessado pelos elétrons.

7. Em virtude da análise feita no item anterior conclui-se que na determinação


da razão e/m, somente devem ser considerados os valores de V mais al-
tos possı́veis (levando em conta que para voltagens muito altas o feixe de
elétrons bate na parede do tubo).
Desta forma, escolha os valores da Tabela 1.12 que você considera razoáveis
e faça uma análise estatı́stica semelhante à realizada no ”método gráfico”.
Compare este resultado com o obtido no item 2.

8. Compare os valores da razão e/m obtidos pelos dois métodos: raio fixo e
corrente fixa. Por que o valor obtido pelo método do raio fixo é maior que
o obtido pelo método da corrente fixa?

9. Escolha o melhor valor para a razão e/m (comparado ao valor recomendado


pelo CODATA) e determine o valor da massa do elétron sabendo que o valor
da carga e = (1.602176487 ± 0.000000040) × 10−19 C e compare com o
valor m = (9.10938215 ± 0.00000045) × 10−31 kg (valores recomendados
pelo CODATA) .

Principais fontes de erro:

1. No método do raio fixo não é possı́vel incidir exatamente o feixe sobre a


mesma trajetória ao variar o potencial de aceleração e a corrente na bobina.
Portanto, o raio que deveria ser fixo apresenta uma certa variação que você
deverá estimar visualmente.

2. O feixe de elétrons apresenta uma certa largura que depende parcialmente


da focalização escolhida. Uma estimativa realista da incerteza da medida
do raio consiste em considerar esta como sendo a metade da espessura do
feixe de elétrons.

3. A maior fonte de erro na experiência está relacionada à velocidade dos


elétrons. Como a razão e/m é proporcional ao quociente v/r (ver Eq.

CEDERJ 100
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

(cm.11)) os valores experimentais são fortemente afetados por dois efeitos


que implicam em uma redução da energia dos eletrons.

(a) A não uniformidade dos campos de aceleração ao redor do orifı́cio no


ânodo provoca uma redução na velocidade v dos elétrons em relação
ao valor obtido através da Eq. (cm.11).
(b) Nas colisões dos elétrons com os âtomos de Hélio no bulbo, os elétrons
perdem energia e consequentemente a sua velocidade é reduzida.

Deve-se mencionar que a largura do feixe não está diretamente relacionada


à redução primária da velocidade dos elétrons. Ela está mais associada à
dispersão angular da velocidade dos elétrons do feixe.

Recomendações para minimizar os erros:

1. Para minizar o erro devido à redução da velocidade do elétron deve-se me-


dir o raio da trajetória dos elétrons considerando como referência a parte
exterior do feixe.

2. Para minimizar o efeito das colisões, a voltagem de aceleração utilizada nas


medidas deve ser a mais alta possı́vel levando em conta as limitações do
tamanho do bulbo de vidro. Observe que as trajetórias contidas dentro do
bulbo, mas muito próximas da borda, podem parecer distorcidas devido a
efeitos ópticos.

3. Considerando a discussão acima, os melhores resultados devem ser obtidos


para raios de curvatura em torno de 5 cm e para voltagens de aceleração
entre 230 − 300V . Esses valores estão de acordo com o verificado experi-
mentalmente?

Atividades
1. Explique como se dá o processo de emissão de elétrons no cátodo.

2. Como é possı́vel a visualização do feixe eletrônico dentro do bulbo de vi-


dro?

3. Qual a vantagem de serem usadas as duas bobinas no arranjo de Helmholtz?


Por que não usar uma bobina só? Explique com base em um desenho es-
quemático como deve ser a orientação das correntes elétricas em cada bo-
bina.

101 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

4. Discuta em detalhe o movimento geral de uma partı́cula carregada pene-


trando numa região onde existe um campo magnético uniforme.
Dicas:

(a) Considere um campo magnético ~B = Bẑ (B =cte) e as seguintes condições


iniciais para a partı́cula: velocidade ~v(t = 0) ≡ ~v0 = 0 x̂ + vy0 ŷ + vz0 ẑ
na origem de coordenadas (onde x̂, ŷ e ẑ são os versores unitários na
direção dos eixos de coordenadas). Repare que para t > 0 a velocidade
é ~v(t) = vx x̂ + vy ŷ + vz ẑ.
(b) Escreva as equações de Newton para a partı́cula. A partir delas você
deverá chegar as equações diferencias para a velocidade: v̈x + ω 2 vx =
0, vy = mv̇x /qB e v̇z = 0 (ω 2 ≡ q2 B2 /m2 , onde q é a carga e m a massa
da partı́cula) . Que tipo de movimento realiza a partı́cula no eixo z?
(c) Verifique que a função vx = A sin(ω t + φ ) é solução da equação dife-
rencial e encontre A e φ em função das condicões iniciais.
(d) Finalmente integre as soluções para as velocidades nos diferentes ei-
xos para encontrar a posição como função do tempo ou equação pa-
ramétrica da trajetória da partı́cula: ~r(t) = x(t) x̂ + y(t) ŷ + z(t) ẑ. Que
tipo de movimento descreve a partı́cula no plano x − y? Que tipo de
movimento tridimensional descreve a partı́cula?

5. A Equação (cm.7) é claramente não-relativı́stica (releia os módulos de Fı́sica


4 que abordam o tema da teoria da relatividade). É correto usar tal aproximação
nesta experiência de medida da relação e/m? (Utilize a Equação (cm.8) para
determinar um valor tı́pico para a velocidade dos elétrons nas experiências
realizadas e compare com a velocidade da luz c ≅ 300.000 Km/seg).

6. Descreva a experiência de Thomson e de Millikan e discuta sua importância


histórica.

Opcional:

1. Para evitar pequenos efeitos devidos ao campo magnético da Terra, é muitas


vezes recomendável posicionar as bobinas de Helmholtz num plano para-
lelo ao plano vertical que contém o campo terrestre (localizado com uma
bússola). Explique detalhadamente a justificativa para esse procedimento.
Faça uma estimativa da contribuição máxima do campo magnético terrestre
na sua experiência, comparando as magnitudes deste e do campo produzido
pelas bobinas de Helmholtz na posição do feixe eletrônico.

CEDERJ 102
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

Fórmulas básicas para realizar uma análise estatı́stica dos da-


dos.

A seguir apresentamos uma seria de fórmulas úteis no tratamento de dados


a ser realizado na Experiência I. Qualquer dúvida ou informações adicionais você
pode consultar o livro de José Henrique Vuolo: “Fundamentos da teoria de erros”,
Editora Edgar Blücher Ltda, São Paulo, SP, Brasil (1992).

1. Valor médio e melhor estimativa experimental do valor médio verdadeiro:


Dado um conjunto de valores , y1 , y2 . . . yN , de uma grandeza y, se define o
valor médio do conjunto como:

1 N
ȳ = ∑ yi
N i=1
N ≡ número de medidas da grandeza y . (cm.20)

O valor médio verdadeiro se define como,

1 N
ȳmv = lim
N→+∞
∑ yi .
N i=1
(cm.21)

Como o número de medidas experimentais é sempre finito, o valor médio


verdadeiro ȳmv nunca é accessı́vel. A melhor estimativa experimental do
valor médio verdadeiro é ȳmv ≃ ȳ.

2. Desvio padrão e melhor estimativa experimental do desvio padrão:


O desvio padrão de um conjunto de valores , y1 , y2 . . . yN , de uma grandeza
y, se define como, s
∑N
i=1 (yi − ȳmv )
2
σ= , (cm.22)
N
onde ȳmv está definido na Eq.(cm.21). Como o número de medidas expe-
rimentais sempre é finito o valor médio verdadeiro ȳmv nunca é accessı́vel
e portanto o desvio padrão também não. A melhor estimativa experimental
do desvio padrão está dada pela fórmula:
s
∑Ni=1 (yi − ȳ)
2
σ= , (cm.23)
N −1
onde ȳ é o valor médio dado na Eq.(cm.20) (note que o valor no denomina-
dor é N − 1 e não N) .

103 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

3. Desvio padrão do valor médio ȳ:


Vamos supor que realizamos M conjuntos de medidas da grandeza y onde
cada conjunto está composto de N medidas, i.e. y1 , y2 . . . yN . Para cada
conjunto de medidas pode ser calculado um valor médio ȳ j ( j = 1 . . . N). O
desvio padrão da média está dado teoricamente por,
s
∑Nj=1 (ȳ j − y¯j mv )2
σm = , (cm.24)
N
onde y¯j mv é o valor médio verdadeiro para cada conjunto de medidas. A
melhor estimativa experimental do desvio padrão da média é,
σ
σm = √ , (cm.25)
M
onde σ é o desvio padrão para só um conjunto de medidas calculado através
da fórmula na Eq.(cm.23).

4. Desvio padrão devido aos erros sistemáticos residuais:


Se define como: s
∑Nj=1 (y¯j mv − yv )2
σr = , (cm.26)
N
onde yv é o valor verdadeiro da grandeza y. Note que tanto y¯j mv como yv são
valores desconhecidos que não são accessı́veis. O desvio padrão σr é em
geral difı́cil de ser estimado. Ele está relacionado com erros sistemáticos as-
sociados com o aparelho de medida e o processo de medida e que não podem
ser eliminados. O valor de σr deve ser estimado uma vez que todas as me-
lhorias e correções viáveis foram feitas no aparelho de medida e no processo
de medida. Um exemplo de estimativa de σr é o seguinte: vamos supor que
a grandeza y fosse o raio da trajetória do elétron na Experiência I, assim
uma boa estimativa de σr para essa grandeza seria considerar σr =largura
tı́pica do feixe de elétrons.

5. Erro experimental ou erro padrão:


O erro experimental de uma grandeza y se define como,
q
∆y = σm2 + σr2 , (cm.27)

onde σm é o desvio padrão da média dado na Eq.(cm.25) e σr é o desvio


padrão devido aos erros sistemáticos residuais. Se realizamos somente uma

medida da grandeza y deveremos considerar σm = σr e portanto ∆y = 2σr .

CEDERJ 104
Razão Carga-Massa do Elétron
Laboratório Avançado

6. Fórmula de propagação de erros:


Vamos supor que temos uma grandeza w que é calculada como uma função
de outras grandezas x1 . . . xk i.e. w = w(x1 . . . xk ), e que os erros experi-
mentais ∆x1 . . . ∆xk são independentes. Nesse caso, o erro da grandeza w é
calculado através de:
s
∂w 2 ∂w 2
  
∆w = 2
(∆x1 ) + . . . + (∆xk )2 . (cm.28)
∂ x1 ∂ xk

Note que nos casos em que os erros ∆x1 . . . ∆xk não são independentes (ou
seja, que existem correlações entre eles) a fórmula de propagação de erros
muda (consulte o livro de J. H. Vuolo para ver os detalhes).

7. Erro relativo:
O erro relativo de uma grandeza y é definido como

∆y
∆yrelativo ≡ , (cm.29)
y

onde ∆y é o erro experimental desta grandeza.

8. Discrepância relativa:
Define-se como,

yexperimental − yesperado

D= × 100% , (cm.30)
yesperado

onde yexperimental é o valor experimental determinado por você (que será


igual ao valor médio das suas medidas) e yesperado é o valor com o qual
você quer comparar, que pode resultar de um cálculo teórico ou pode ser o
valor experimental encontrado por outros experimentadores.

9. Intervalo de confiança:
Vamos chamar intervalo de confiança na determinação experimental de uma
grandeza y ao intervalo:

Ic ≡ [yexperimental − ∆y, yexperimental + ∆y]; , (cm.31)

onde yexperimental é o valor experimental determinado e ∆y seu erro. é de


se esperar que o valor verdadeiro yv esteja contido nesse intervalo.

105 CEDERJ
Razão Carga-Massa do Elétron

10. Comparação entre yexperimental e yesperado :

Sejam os intervalos de confiaça I1c = [yexperimental − ∆y, yexperimental +


∆y] e I2c = [yesperado − (∆y)e , yesperado + (∆y)e ]. Somente nos casos em
que a intersecção de I1c com I2c é não nula podemos afirmar que o resul-
tado de sua medida experimental coincide com o valor esperado da gran-
deza fı́sica y. Note que se yesperado for calculado a partir de um resultado
teórico, o erro (∆y)e = 0 e o intervalo I2c se reduz a um ponto. Por outro
lado quando yesperado corresponde ao valor medido por outros experimen-
tadores (∆y)e 6= 0.

CEDERJ 106
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Autores:

Wania Wolff
Professora Adjunta do IF da UFRJ.

Fabricio Toscano
Professor Associado da Fundação CECIERJ.

Constate de Planck – Aula 6

Metas da Aula 6

1. Parte teórica:
Apresentar as caracterı́sticas e os fundamentos teóricos:

(a) da universalidade da constante de Planck


(b) do processo fotoelétrico e da eletroluminescência
(c) dos semicondutores
(d) de um diodo emissor de LUZ (LED)
(e) do princı́pio básico de funcionamento de um LED

2. Parte experimental:
Fornecer os procedimentos experimentais para

(a) Levantar a curva caracterı́stica corrente versus tensão para diversos


LEDs
(b) Obter experimentalmente a constante de Planck, utilizando diodos emis-
sores de luz

107 CEDERJ
Constante de Plank

Objetivos
Os objetivos que você deverá alcançar serão :

1. Parte teórica:

(a) Deverá poder explicar o processo de emissaão de elétrons por incidência


de fótons (“Efeito fotoelétrico”) e o processo inverso de emissão de
fótons por elétrons que sofrem uma perda de energia numa transição
eletrônica num semicondutor (“Eletroluminescência”).
(b) Deverá poder explicar o princı́pio básico de funcionamento de um di-
odo emissor de luz (LED) e analisar o comportamento de uma curva
caracterı́stica de um LED.

2. Parte experimental:

(a) Você deverá ser capaz de determinar experimentalmente a constante


de Planck a partir da experiência proposta e comparar o valor obtido
com o valor encontrado na literatura, analizando a concordância ou
nao em função dos erros experimentais da suas medidas.

Parte teórica:

Constante de Planck

Dados históricos

Em torno do ano de 1900 Max Planck desenvolveu o conceito da quantização


da energia para explicar a distribuição espectral da radiação de um corpo negro
(reveja a parte teórica das aulas sobre radiação térmica para rever este assunto)
. Desta forma, Planck assumiu que no processo pelo qual a radiação é emitida
ou absorvida pelas paredes da cavidade, esta é irradiada ou absorvida em pacotes
discretos, cada um contendo quantidades quantizadas de energia

ε = nh f (cp.32)

onde n é um número inteiro, f é a frequência da radiação e h é uma constante


universal. O tema foi abordado em detalhe nas aulas sobre radiação térmica e

CEDERJ 108
Constante de Plank
Laboratório Avançado

o artigo original de Planck pode ser lido em . M. Planck, Uber das Gesetz der
Energieverteilung im Normalspektrum, Ann. d. Physik, 4, 553,(1901). Planck
recebeu o prêmio Nobel de Fı́sica em 1918 pelo postulado de quantização da
energia e é considerado o precursor da teoria quântica.
Em forma geral podemos dizer que sempre que um sistema de partı́culas
tenha um movimento ligado (ou seja que devido à presença de forças externas
o movimento é confinado a uma certa região do espaço) a energia do sistema
estará quantizada podendo somente assumir certos valores discretos εi . Quando o
sistema muda seu estado de movimento (como consequência de uma perturbação
externa ou simplesmente no processo de relaxamento para um estado de mı́nima
energia) acontecem transições entre os estados de energia discreta. Se o sistema de
partı́culas possui algum tipo de momento de multipolo elétrico ou magnético (por
exemplo carga ou dipolo elétrico ou magnético, etc.) então para uma transição do
sistema entre um nı́vel de energia εi para um nı́vel de energia menor ε j (εi > ε j ) a
perda de energia εi − ε j poderá corresponder à emissão de um fóton de energia,

εi − ε j = h f . (cp.33)

Analogamente, uma transição do sistema entre um nı́vel de energia menor ε j para


um nı́vel de energia maior εi poderá corresponder à absorção de um fóton de
energia h f de acordo com a Eq. (cp.33). Assim, a quantidade discreta de energia
electromagnética irradiada ou absorvida pelo sistema, equivale a uma unidade
h f . A constante h se tornou conhecida como a constante de Planck. Ela tem
um significado muito mais abrangente do que relacionar simplesmente a energia
da radiação eletromagnética (luz) emitida ou absorvida e sua frequência, ela se
tornou uma constante fundamental da natureza cujo papel na Mecânica Quântica
é central.
Deve-se mencionar que Planck assumui que a quantização era uma pro-
priedade do processo de emissão ou absorção da radiação térmica mas que a
radiação dentro da cavidade de corpo negro por ele estudada continuava sendo
uma onda eletromagnética cujo energia estaria distribuida em forma contı́nua em
toda a sua frente de onda (lembre que a densidade de energia de uma onda elec-
~ r|
tromagnética é proporcional a |E(~ ~ r|2 , onde E(~r) e B(~r) são os campos
) 2 + |B(~
elétrico e magnético respectivamente que dependem da posição espacial ~r). Foi
Albert Einstein quem postulou que a própria radiação eletromagnética quando se
propaga através do espaço é constituida de corpúsculos (denominados por Eins-
tein de “Lichtquantum” ou “quantum de luz”) que carregam um “quantum” de
energia h f . O “quantum de luz” recebeu o nome de fóton somente em 1926 (Na-
ture 118, p. 874), cunhado pelo quı́mico Gilbert Newton Lewis. Einstein recebeu

109 CEDERJ
Constante de Plank

o prêmio Nobel de Fı́sica em 1921 pela sua explicação do efeito fotoelétrico.


Anteriormente Newton já havia apresentado um modelo corpuscular para
a luz, porém seu modelo é imcompatı́vel com os fenômenos de interferência e
difração , fenómenos estes caracterı́sticos da propagação de ondas. Para explicar
a difração e a interferência, Einstein considerou que os fótons não se movem como
partı́culas ”usuais”, mas que se propagam com intensidades médias dada pela
amplitude da onda eletromagnética associada. O caráter corpuscular se manifesta
apenas nos processos de interação da radiação eletromagnética com a matéria (na
emissão e na absorção ). Desta forma, a intensidade da luz numa certa região do
espaço está dada pelo número de fótons contidos nessa região .

Determinação experimental da constante de Planck

Uma forma de determinar experimentalmente a constante de Planck requer


a medida da energia de um fóton cuja frequência seja conhecida. Seguindo essa
ideia existem dois métodos para a determinação experimental de h: mede-se o
acréscimo de energia quando um material é atingido por um fóton ou mede-se a
perda de energia de um sistema para a produção de um fóton. Exemplo da medida
da constante de Planck com o primeiro método usa o chamado efeito fotoelétrico
e pelo segundo método a eletroluminescência. Robert Millikan fez a primeira
medida da constante de Planck usando o efeito fotoelétrico e recebeu o premio
Nobel em 1923 por seus trabalhos sobre o efeito fotoelétrico e pela medida da
carga do elétron.

Efeito fotoelétrico

Evidências experimentais

Em 1887 Heinrich Hertz observou que quando uma descarga elétrica entre
eletrodos é iluminada por luz ultravioleta a intensidade da faı́sca elétrica aumenta.
Aplicando uma diferença de potencial oscilante em um circuito com uma pequena
abertura ligado à terra, Hertz produziu centelhas a intervalos iguais de tempo (este
dispositivo caracteriza um dipolo oscilante). Como antena receptora, ele usou um
anel de metal aberto com uma das extremidades contendo uma fina ponta de cobre

CEDERJ 110
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.20: Diagrama da experiência de Hertz envolvendo o efeito fotoelétrico

e a outra uma esfera de latão. Uma pequena faı́sca na abertura do anel indicava
a detecção de uma onda eletromagnética incidente. Ao realizar esses experimen-
tos, Hertz verificou que a centelha secundária na abertura do anel (induzida pela
centelha primária) era mais intensa quando a abertura do anel era exposta a luz
ultravioleta de uma lâmpada. Isto implicava que mais elétrons eram liberados
dos eletrodos para saltar pelo espaçamento (”gap”em inglês) entre os eletrodos
(Figura cp.20). Esse resultado foi publicado no artigo ”On an Effect of Ultra-
violet Light upon the Electric Discharge”(Sobre um efeito de Luz Ultravioleta
na descarga elétrica). É interessante mencionar que a sua descoberta ao mesmo
tempo que demonstrava a existência das ondas eletromagnéticas levaria, a partir
da observação do efeito secundário, ao desenvolvimento da teoria corpuscular da
luz.
Em 1888 Wilhelm Hullwachs verificou que um disco de zinco carregado
negativamente perdia a sua carga lentamente enquanto que perdia rapidamente se
o disco fosse exposto a luz ultravioleta, porém a disco carregado positivamente
não apresentava efeitos de perda se exposto à luz. Em 1902, Philipp Eduard An-
ton von Lenard colega de Hertz, confirmou que o aumento de centelhamento ob-
servado por Hertz na realidade era o resultado da emissão de elétrons, que ele,
Lenard, chamou de fotoelétrons. Por volta de 1900 em uma série de experimentos
realizados independentemente por Lenard e por Merrit e Stewart, as proprieda-
des gerais deste fenômeno foram estabelecidas. Utilizando um instrumento se-
melhante ao visto na Figura cp.21 a) foi demonstrado serem emitidas partı́culas
do cátodo com razão e/m, i.e. os elétrons. Novos resultados sobre o efeito fo-
toelétrico foram apresentados por Millikan, em 1915 (Physical Review 6, p. 55).
Em suas experiências Millikan iluminou com luz visı́vel emitida por um lâmpada

111 CEDERJ
Constante de Plank

de mercúrio (Hg) vários metais alcalinos fotossensı́veis.

Descrição das experiências e seus resultados

Na Figura cp.21 a) está esquematizado um dispositivo experimental análogo


ao usado por Millikan nas experiências com efeito fotoelétrico. Incidindo-se luz
monocromática (ou seja luz de um determinado comprimento de onda ) sobre uma
superfı́cie metálica de uma placa de sódio C (cátodo), se verificou que ocorria a
emissão de elétrons pois se alguns desses elétrons atingiam a placa A (ânodo),
uma corrente elétrica era medida entre o ânodo e o cátodo. O fato de esta corrente
acontecer mesmo se nenhuma tensão V fosse aplicada entre o cátodo e o ânodo
mostra que os elétrons são ejetados com energia cinética não nula. Também, se
verificou que esta corrente, chamada de fotoelétrica, era proporcional à intensi-
dade da luz. Isso fica particularmente evidente mantendo-se uma diferença de
potencial (tensão V ) entre o ânodo e o cátodo na polarização direta (ou seja o
ânodo conetado ao lado positivo de uma bateria e o cátodo ao negativo). Repare
que na polarização direta os eletróns são acelerados pelo campo elétrico gerado
entre o ânodo e o cátodo. Na Figura cp.21 b) vemos as diferentes curvas de
corrente versus tensão aplicada onde cada curva corresponde a uma intensidade
da luz incidente na placa C diferente. Assim, vemos que para uma tensão fixa a
corrente será maior para intensidades da luz incidente maiores.
Diminuindo-se a tensão entre o ânodo e o cátodo, a partir de um certo va-
lor, a corrente começava a cair. Para polarização reversa (cátodo conetado ao
positivo da bateria e ânodo ao negativo) a corrente continuava a diminuir. O
campo elétrico na região entre as placas era tal que os elétrons eram desacele-
rados, perdendo energia cinética ao longo do percurso entre as placas. O número
de elétrons que atingiam a placa A diminuia à medida que o potencial V entre
as placas (polarização reversa, C(+) , A(−)) crescia, indicando que somente os
elétrons que tinham energia cinética iniciais maiores que em certo limiar podiam
atingir a placa A. Assim, foi constatada a existência de um potencial de frea-
mento V0 para o qual nenhum elétron atingia a placa A permanecendo a corrente
nula para valores de tensão reversa maiores que este valor. Era claro que , com
a tensão reversa aplicada, essa situação correspondia a freiar completamente os
elétrons com energia cinética máxima ejetados do cátodo C. Portanto, nesse caso
o trabalho da força elétrica aplicada num elétron na freagem deveria ser igual à

CEDERJ 112
Constante de Plank
Laboratório Avançado

energia cinêtica máxima deste:

εmax
c
= eV0 . (cp.34)

Todos os eletrodos eram mantidos em vácuo e cuidados especiais foram


tomadas com a qualidade da superfı́cie do cátodo (a oxidação ou contaminação da
superfı́cie influenciava o efeito).
Podemos resumir os resultados principais das experiências nos seguintes
pontos:

1. O potencial de freamento V0 (e portanto a energia cinêtica máxima dos fo-


toelétrons) não depende da intensidade da luz usada para iluminar o cátodo
C.

2. Realizando a experiência para luz monocromática de diversos comprimen-


tos de onda se verificou que o valor de V0 (e portanto a energia cinêtica
máxima dos fotoelétrons) era proporcional à frequência f da luz incidente
(ver Figura cp.23).

3. Existe um limiar de frequência fmin para a ocorrência do efeito, carac-


terı́stica de cada material usado como cátodo. Para frequências f < fmin
nenhuma fotocorrente é detectada não importando a tensão de aceleração
aplicada. Portanto nenhum elétron é ejetado da superfı́cie C para f < fmin .
Isto acontece independentemente da intensidade da luz incidindo em C.

4. Nenhum tempo de retardo mensurável acontece entre a chegada da luz no


cátodo C e a saida do elétron da superfı́cie.

Como veremos estes resultados estão em contradição com as previsões baseadas


na teoria ondulatória clássica da luz e sua compreensão só foi possı́vel com a
teoria apresentada por A. Einstein.
Em 1916 Millikan publicou o seu trabalho acurado sobre o efeito fotoelétrico
confirmando a solução apresentada por Einstein, reconhecendo: “Eu trabalhei 10
anos da minha vida testando a equação de Einstein de 1905 e contrário à todas as
minhas espectativas eu fui compelido em 1915 a assegurar sua verificação experi-
mental, a despeito de sua não razoabilidade desde que ela viola tudo que eu sabia
acerca da interferência da luz”. O artigo original de Millikan pode ser encontrado
em : “Einstein’s Photoelectric Equation and Contact Electromotive Force”, Phys.
Rev. 7, 355 (1916). Millikan também determinou o valor da constante de Planck
usando o efeito fotoelétrico e o artigo original é: “A Direct Photoelectric Deter-
mination of Plancks ”h””, Phys. Rev. 7,355 (1916). Note-se que o valor de h

113 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.21: a) Diagrama da experiência de Lenard e Millikan e em b) resumo de seus dados


experimentais.

CEDERJ 114
Constante de Plank
Laboratório Avançado

obtido por Millikan, por intermédio do efeito fotoelétrico, diferiu de apenas 0.5
porcento do valor teórico que Planck havia proposto, em 1900 (Verhandlungen
der Deustschen Physikalischen Gesellschaft 2, p. 237). O valor da constante de
Planck:

h = 6.62606896(33) × 10−34Js = 4.13566733(10) × 10−15eV s , (cp.35)

é o valor atualmente recomendado pelo CODATA (”Committee on Data for Sci-


ence and Technology”) na sua publicação de 2006 (http://physics.nist.gov/cuu/
Constants/index.html). Ela é o resultado das medidas experimentais mais precisas
feitas até o ano de 2006 junto com suas incertezas experimentais.

Previsôes do modelo clássico ondulatório da luz para o efeito


fotoelétrico

Classicamente um elétron, na placa metálica das experiências de efeito fo-


toelétrico, recebe energia através do campo elétrico oscilante da onda eletro-
magnética incidente. O elétron vibra mais fortemente e adquire uma maior energia
cinética à medida que a intensidade do feixe de luz aumenta. Isto é devido a que a
força ~F aplicada a um elétron por um campo elétrico ~E é diretamente proporcional
a ~E e a intensidade da onda electromagnética é proporcional a |~E|2 . Como a inten-
sidade (energia) da onda electromagnética está distribuı́da uniformemente sobre a
frente de onda, qualquer que seja a frequência da onda electromagnética o elétron
recebe a mesma energia por unidade de tempo desde que a intensidade não varie.
Portanto, espera-se que o efeito fotoelétrico ocorra para qualquer frequência da
luz, desde que a intensidade da luz seja intensa o suficiente para fornecer a ener-
gia necessária ao elétron para escapar da superfı́cie do material. Mas mesmo para
luz de baixa intensidade, a energia cedida pela onda poderia ser acumulada pelo
elétron em um certo intervalo de tempo. Quando ela atingisse um valor maior que
a energia de ligação do elétron ao metal este poderia escapar da superfı́cie. Neste
caso deveria existir um tempo mensurável de retardo entre a luz atingindo a su-
perfı́cie do metal e o elétron escapando do metal. O modelo ondulátorio clássico
prevê igualmente que à medida que a intensidade da luz aumenta, a energia da luz
também aumenta e isto deve acarretar na emissão de fotoelétrons mais energéticos.
Porém como já vimos as caracterı́sticas da emissão fotoelétrica não são
consistentes com estas previsões do modelo ondulatório clássico da luz. As ex-
periências do efeito fotoelétrico do começo do século X X , anteriormente descri-
tas, mostraram que contrariamente ao modelo clássico a energia cinética destes

115 CEDERJ
Constante de Plank

fotoelétrons era dependente do comprimento de onda (ou frequência) da luz in-


cidente, mas independente da intensidade desta luz, enquanto que o valor da cor-
rente fotoelétrica (ou seja o número de elétrons por unidade de tempo emitidos)
dependia sim da intensidade da luz incidente.

Modelo de Einstein

Equação da fotoemissão de Einstein

Em 1905 Einstein aplicou o princı́pio da quantização da energia de Planck


e explicou o efeito fotoelétrico em termos de um novo modelo quântico. Neste
modelo a luz é composta por partı́culas chamadas fótons que carregam um “quan-
tum” de energia ε f = h f . No efeito fotoelétrico um único fóton interage com
um elétron. O artigo original de Einstein pode ser encontrado em: “Uber einen
die Erzeugung und Verwandlung des Lichtes betreffenden heuristischen Gesichts-
punkt”, Ann. d. Physik, 17, 132 (1905).
A equação de Einstein para o efeito fotoelétrico é

ε f = h f = εmax
c
+W (cp.36)

onde ε f é o quantum de energia do fóton absorvida por cada fotoelétron, εmax c é


a energia cinética máxima alcançada por um fotoelétron emitido, e W é a energia
mı́nima necessária para remover um elétron da superfı́cie do material ( também
conhecida como função trabalho do material). Na Figura cp.22 mostramos um
exemplo do processo fotoelétrico: Quando o cátodo metálico de potássio é atigido
por um fóton de comprimento de onda λ = 700 nm ele entrega a um elétron do ma-
terial toda a energia que carrega, ε f = h f = hc/λ = 1.77 eV onde c é a velocidade
da luz. No entanto, essa energia não é suficiente para superar a energia de ligação
do eletrón ao metal dada pela função trabalho W = 2, 2 eV e portanto nenhum fo-
toelétron é emitido. Quando um otro fóton de comprimento de onda λ = 550 nm
colide com um eletrón do metal ele já possui energia suficiente (ε f = 2, 25 eV )
para liberar o eletrón que sai com uma energia cinética ε c = 0, 05 eV igual ao
valor da energia que sobrou no processo de absorção do fóton de acordo com o
balanço energético dado pela Eq.(cp.36). Desta forma, o resultado experimental
do crescimento da energia do fotoelétron emitido com a frequência do fóton inci-
dente é evidente da relação de Einstein Eq. (cp.36): Quanto maior a frequência
maior a energia do fóton absorvido e maior a energia cinética final do fotoelétron
emitido.

Dependência da frequência da luz na fotoemissão

CEDERJ 116
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.22: Exemplo do efeito fotoelétrico quando três fótons de diferentes energias atingem
uma placa metálica de potássio cuja função trabalho é W = 2, 2 eV . As velocidades máximas, vmax ,
dos elétrons emitidos são calculadas usando a equação para o balanço energético na Eq.(cp.36).

Quando um fóton de energia ε f = h f é completamente absorvido por um


elétron em um metal, toda a energia do fóton é convertida em energia cinética ε c
do elétron. Porém, o elétron dentro de um metal está sujeito a uma energia poten-
cial de ligação . Para entender isto, basta pensar que se um elétron tentar escapar
da superfı́cie do material ele sentirá uma força de atração para dentro do material
igual à força feita pela carga imagem positiva que aparece no material que inici-
almente estava eletricamente neutro. Essa energia potencial de ligação mı́nima,
W , chamada de função trabalho da superfı́cie do metal, necessita ser vencida para
que a emissão possa ocorrer. Como veremos mais na frente esta energia de ligação
mı́nima corresponde a energia do topo da banda de condução do metal. Assim, da
energia absorvida é necessário uma quantidade mı́nima de energia W para ejetar
o elétron da superfı́cie. Se assumimos que todos os elétrons absorvem a mesma
quantidade de energia ε f , os elétrons que são os mais fracamente ligados ao metal,
são os fotoelétrons mais energéticos a serem ejetados, e escapam do metal com
uma energia cinética máxima (vide Figura cp.23).

εmax
c
= ε f −W = h f −W . (cp.37)

É claro que életrons com energia de ligação ao metal tal que W ′ > W também
serão ejetados com tal que,

ε c = h f −W ′ > 0 , (cp.38)

onde a energia cinética destes será ε c < εmax


c . Nas experiências de efeito fo-

toelétrico estes elétrons com menos energia cinética são freiados pela tensão apli-
cada entre o ânodo é o cátodo (ver Figura cp.21).
Lembre, que já falamos da função trabalho W de um metal nas aulas sobre
a razão carga-massa do elétron quando explicamos o efeito termiônico. Nesse

117 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.23: Dependência da energia cinética máxima εmax c do fotoelétron com a frequência
do fóton incidente f (dados originais de Millikan de 1916). Os dados experimentais (cı́rculos)
são muito bem descritos pela reta cuja expressão analı́tica corresponde à equação de fotoemissão
de Einstein na Eq.(cp.37). O coeficiente angular da reta fornece o valor da constante de Planck,
h = ∆ε /∆ f , e o valor da frequência de corte fmin = W /h o valor da função trabalho W do material.

caso, a energia mı́nima necessária W para a emissão de um elétron pelo material


era fornecida pelo aumento da temperatura, enquanto que no efeito fotoelétrico é
fornecida na colissão e posterior absorção de um fóton.
O aumento linear da energia cinética do elétron, descrito pela Eq. (cp.37),
mostra que a quantidade de energia absorvida por cada elétron do feixe de luz inci-
dente depende unicamente da frequência da luz. Como a energia cinêtica sempre
é positiva existirá o efeito fotoelétrico sempre que εmax
c = h f −W > 0. Portanto,

para frequências da luz incidente na placa metálica abaixo da frequência limiar


fmin = W /h (que na Figura cp.23 corresponde à 4.39 × 1014 Hz, o que equivale
à um fóton de energia ε f = 1.82eV ) o elétron absorve uma quantidade de energia
h f ≤ W , que não é suficiente para libertá-lo da superfı́cie. Para tais frequências
nenhum fotoelétron é emitido, e a fotocorrente é nula.

CEDERJ 118
Constante de Plank
Laboratório Avançado

O modelo de Einstein possibilita uma predição quantitativa: Se a frequência da luz in-


cidente f é variada e a energia cinética dos fotoelétrons εmax c é medida em função da
frequência, a inclinação da reta resulta no valor da constante de Planck h (note que a ener-
gia cinética máxima do fotoelétron emitido no eixo vertical do gráfico da Figura cp.23
corresponde, de acordo com a Eq.(cp.34), a medir o potencial de freamento V0 para va-
rios materiais). Repare que uma vez que a reta εmax c versus f é determinada, a partir dos
valores experimentais, também é possı́vel determinar o valor da frequência fmin = W /h
e portanto da função trabalho da superfı́cie do material usado no cátodo C do dispositivo
experimental da Figura cp.21.

Dependência da intensidade da luz na fotoemissão

A corrente de fotoelétrons é maior quando a intensidade do feixe de luz


monocromática incidente na placa de metal é maior. Isto é devido a que no mo-
delo quântico da luz a intensidade desta é diretamente proporcional ao número
de fótons n. Assim, na luz mais intensa mais número de fótons por unidade de
tempo atingem a superfı́cie, e se a frequência destes está acima do limiar, mais
elétrons serão ejetados do material. Portanto, matematicamente temos que a taxa
de emissão dos fotoelétrons no cátodo C, N̄˙ = d N̄/dt, é igual à taxa de absorção
, n̄˙ = d n̄/dt, dos fótons com energia maior que W . Esta proporcionalidade faz
com que, para tensões fixas entre o cátodo e o ânodo, a corrente de fotoelétrons
I = −Ṅe (−e a carga do elétron) aumente para intensidades maiores da luz inci-
dente já a taxa de elétrons que atingem o ânodo, Ṅ, aumenta à medida que aumenta
N̄˙ . No entanto, repare que Ṅ tende assimptoticamente ao valor N̄˙ somente para
valores grandes da tensão aplicada fazendo com que a fotocorrente sature como é
mostrado na Figura cp.21.

Em resumo, o modelo quântico proposto por Einstein prevê que a luz com frequência mais
alta produz fotoelétrons com maior energia, independentemente da intensidade, enquanto
que um aumento de intensidade produz um aumento no número de elétrons emitidos (ou
corrente fotoelétrica).

Dependência temporal na fotoemissão

119 CEDERJ
Constante de Plank

Os elétrons absorvem o quantum de energia de um único fóton de uma vez


quase que instantaneamente, e são emitidos imediatamente não hávendo tempo
de retardo apreciável entre o processo de absorção do fóton e emissão do elétron.
Tentativas foram feitas para determinar quanto tempo é necessário para os elétrons
absorverem energia suficiente para escapar da superfı́cie, mas nenhum tempo de
retardo mensurável foi verificado. Este resultado independe da intensidade e da
frequência da luz incidente (sempre que obviamente a frequência da luz incidente
esteja acima do limiar para poder causar a fotoemissão). Pode-se fazer uma es-
timativa grosseira do intervalo de tempo da absorção ocorrer, colocando-o igual
ao tempo necessário para um fóton, viajando a velocidade da luz c = 3 × 108 m/s,
atravessar um elétron. O tamanho do elétron não é uma quantidade determinada,
mas é razoável supor que é da ordem 10−14 m (escala subatômica), portanto o
tempo de absorção seria tabps ≈ 13 × 10−22 s.

Conservação de energia e momento linear na fotoemissão

No processo fotoelétrico toda a energia de um fóton é absorvida por um


único elétron. Vejamos que este fato só é possı́vel devido ao fato que o elétron
esta ligado ao material e não se trata de um elétron livre. Com efeito, a energia e
o momentum linear devem ser conservados no processo fotoelétrico. No entanto,
vejamos que se um elétron livre obsorvesse toda a energia de um fóton então
não seria possı́vel a conservação simultânea da energia e o momento linear no
processo de colisão fóton-elétron.
A magnitude do momento linear de uma partı́cula pode ser obtido com base
na equação relativı́stica que relaciona a energia ε e o módulo p ≡ |~p| do momento
linear ~p de uma partı́cula,
ε 2 = p2 c2 + m20 c4 , (cp.39)
onde m0 é a massa em repouso num sistema inercial, que não caso do eletron é
me = 9.109382 × 10−31 Kg. No caso do fóton que não possui massa em repouso
(já que ele só existe viajando a velocidade da luz), m0 = 0 e a Eq. (cp.39) se reduz
a ε f = pc. Em uma colisão entre um elétron livre em repouso e um fóton no qual
este é totalmente absorvido, podemos escrever a conservação da energia como

energia antes da colisão → h f + me c2 = ε c + me c2 ← energia depoisda colisão ,


(cp.40)
onde ε é a energia cinética do elétron depois da colisão . Para a conservação do
c

momento linear na direção da colisão temos,


s
ε + me c2 2
 c 
momento hf momento
→ = − (me c)2 ← (cp.41)
antes da colisão c c depois da colisão ,

CEDERJ 120
Constante de Plank
Laboratório Avançado

onde usamos, a partir da relação de Einstein na Eq.(cp.39), que o momento do


elétron depois da colisão é pe = ε 2 /c2 − m2e c2 com ε = ε c +me c2 . Combinando
p

as Eqs. (cp.40) e (cp.41) chegamos a:


q
ε = (ε c )2 + 2(ε c )me ⇒ ε c = 0 ,
c
(cp.42)

o que significaria também que h f = 0, que é um absurdo !


Assim acabamos de ver que um elétron livre não pode absorver toda a ener-
gia de um fóton e ao mesmo tempo conservar o momento linear. No entanto, na
Seção veremos que os elétrons num metal (o tipo de material tipicamente usado
nas experiências de efeito fotoelétrico), envolvidos na foto-emissão , são aqueles
que se encontram na banda de condução , que, numa aproximação razoavelmente
boa, podem ser considerados quase-livres. Veremos que os elétrons na banda de
condução não estão ligados a um único átomo mas sim estão ligados à rede cris-
talina de átomos que forma a estrutura do metal. Assim, para a conservação do
momento linear para um elétron na banda de condução dentro de um metal temos,

p~ f = ~pe + ~pr , (cp.43)

onde ~pr é momento linear que a rede cristalina ganha não colisão .

Dependência com a temperatura da energia dos fotoelétrons emitidos.

Os elétrons de condução em um metal não estão ligados aos átomos indi-


vidualmente da rede cristalina, mas estão livres para deslocar-se no metal. Eles
estão ligados ao metal como um todo por uma barreira de potencial na superfı́cie,
portanto dentro de um poço de potencial. Assim, para qualquer dimensão linear
do metal que consideremos, em forma esquematica podemos considerar que estes
elétrons de condução se encontram sujeitos a um potencial como o mostrado na
Figura cp.24 a). Em toda a largura, que corresponde à largura linear considerada,
o potencial é aproximadamente constante. Perto das superfı́cies nas extremidades
do metal ele cresce rapidamente até alcançar seu valor máximo na parte externa
do metal.
Como você deve se lembrar da disciplina Mecânica Quântica a situação que
estamos descrevendo corresponde ao problema de partı́cula (o elétron neste caso)
dentro de um potencial chamado de “caixa de paredes finitas” cujos estados de
energia εn estão discretizados n = 1, 2, 3 . . .. Os elétrons de condução por serem
fermions obedecem o princı́pio de exclusão de Pauli que obriga eles a estarem
em diferentes estados, preenchendo assim os estados de energia quantizadas em
forma crescente (veja uma explicação mais detalhada na Seção ). Desta forma,

121 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.24: Esquema da energia potencial e dos nı́veis de energia discretos, εn , de um elétron
de condução dentro de um metal. O poço de potencial esquematizado corresponde à chamada
caixa de paredes finitas.

cada elétron está a uma certa profundidade εn no poço de potencial: os elétrons


mais energéticos, e por isso menos ligados ao material, mais distantes do fundo
do poço e os menos energéticos e mais ligados ao material mais perto.
A profundidade do poço de potencial é εn +W ′ onde W ′ é a energia que deve
ser entregue ao elétron para atingir o topo do poço e escapar do metal. Os elétrons
menos ligados ao metal estão próximos da chamada energia de Fermi εF . A tem-
peratura zero, T = 0, temos que a energia de todos os nı́veis de energia ocupados
são tais que εn ≤ εF . Portanto, os elétrons com energia igual à energia de Fermi
que estão menos ligados ao metal são os que precisam de uma energia mı́nima
W (T = 0) < W ′ (T = 0), chamada de função trabalho do metal, para atingir o
topo do poço de potencial e escapar. Em resumo, se um fóton interage com um
elétron com energia εF ele escapa com energia cinética máxima. Se um elétron
mais interno é o que participou da interação , a energia de ejeção será menor. A
dependência com a temperatura da energia cinética máxima do elétron emitido
virá da dependência da função trabalho com a temperatura, i.e. W (T ).
Na época das experiências de Millikan já foi considerado que erão os elétrons
“livres” do metal (elétrons de condução ) os responsáveis pela interação fotoelétrica,
o que introduziu dificuldades na interpretação dos resultados experimentais. De
acordo com o modelo da mecânica estatı́stica clássica, esses elétrons deveriam ter
energias cinéticas distribuı́das de acordo com a distribuição de Maxwell. Assim,
usando o teorema da equipartição da energia por cada grau de liberdade teremos
uma contribuição de kT /2 à energia do elétron, portanto após a colisão a ener-

CEDERJ 122
Constante de Plank
Laboratório Avançado

gia total deste seria em média igual a h f + 3kT /2. Este resultado indicaria que a
energia média dos elétrons emitidos deveria depender fortemente da temperatura.
Millikan e Winchester estudaram cuidadosamente a dependência do potencial de
freamento com a temperatura, mas eles não observaram nenhum efeito de termo-
emissão.
Em 1928 Sommerfeld desenvolveu uma nova teoria para a condução elétrica
em metais, baseada na distribuição quântica de Fermi-Dirac. Em temperaturas fi-
nitas a probabilidade de um estado de energia εn estar ocupado por elétrons de
condução é uma função da temperatura dada pela distribuição de probabilidade
chamada de Fermi-Dirac (dada na Eq. (cp.49)). A sua nova formulação deter-
minou somente uma pequena alteração na distribuição dos elétrons com energia
próximas à energia de Fermi εF . Assim , para temperatura T = 0 a função de
Fermi corresponde a uma função escada onde a probabilidade de ocupação dos
nı́veis de energias εn > εF é nula (como mostrado na Figura cp.25 c)). À me-
dida que a temperatura cresce esta função se suaviza ao redor da energia de Fermi
indicando que estados com energia εn > εF poderão ser ocupados. Como resul-
tado para estes estados mais energéticos a energia mı́nima necessária para escapar
do metal (a função trabalho do metal) será menor que à temperatura nula, i.e.
W (T ) < W (T = 0). No entanto esta diminuição é da ordem da energia kT (k a
constante de Boltzmann) que para temperatura ambiente é kT ≈ 0.02 eV . Para
os valores tı́picos da função trabalho W (T = 0) ≈ 2 − 6 eV a correção devido à
temperatura é três ordens de grandeza menor. É por isso que seus efeitos na ener-
gia cinética dos fotoelétrons emitidos é muito pequena para serem medidos com
a técnica utilizada por Millikan.
Uma discussão mais detalhada sobre a teoria de bandas de condução e da
distribuição de Fermi-Dirac para elétrons de condução é abordado com mais de-
talhe na disciplina Fı́sica Estatı́stica e Meteria Condensada. Uma referência de
leitura é o capı́tulo 1 do livro “Experimental Physics, Modern Methods”, de R. A.
Dunlap (Editora “Oxford University Press” 1988).

123 CEDERJ
Constante de Plank

Podemos resumir as previsões da teoria clássica para o efeito fotoelétrico (previsões da


teoria ondulatória da luz):

1. Não existiria limite para a energia cinética máxima dos fotoelétrons emitidos

2. A energia cinética dos fotoelétrons dependeria da intensidade da luz incidente na


superfı́cie do material emissor.

3. Poderia existir um tempo de retardo entre a absorção de energia pelo elétron e sua
emissão .

4. O efeito deveria ocorrer independentemente da frequência da luz incidente na su-


perfı́cie do material que emite os elétrons.

No entanto, as evidências experimentais estão em desacordo com as previsões da teo-


ria clássica mas sim estão de acordo com as previsões da teoria quântica para o efeito
fotoelétrico:

1. Existe uma energia cinética máxima igual a εmax


c = eV que depende da frequência
0
f da luz incidente na superfı́cie do material emissor.

2. A energia cinética dos fotoelétrons emitidos independe da intensidade da luz inci-


dente na superfı́cie do material que emite os elétrons.

3. Não existe um tempo de retardo entre a absorção de energia pelo elétron e sua
emissão .

4. O efeito depende da frequência de radição incidente pois existe uma frequência de


corte fmin tal que para frequências da luz abaixo deste valor não ocorre o efeito
fotoelétrico. Esta frequência mı́nima é caracterı́stica do material emissor de fo-
toelétrons.

Breve introdução à teoria de bandas dos sólidos.

Em relação as suas propriedades elétricas os materias podem ser classifica-


dos, aproximadamente, em três categorias: i) condutores, ii) semicondutores e iii)
isolantes. A razão para esta classificação esta relacionada com o comportamento
dos elétrons dentro do material. Os elétrons que são parte constituentes de to-

CEDERJ 124
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.25: Diagramas de nı́veis de energia de partı́cula única para uma elétron livre dentro
de um material de comprimento “a” dada pela relação de dispersão parabôlica da Eq.(cp.46) e
o momento quantizado da Eq.(cp.47). Em a) temos, para temperatura T = 0, a população dos
estados de partı́cula única que em conjunto definem o estado fundamental do sistema. Em b)
temos a população dos estados de partı́cula única dos elétrons para uma temperatura T > 0. A
seta ↑ significa um elétron com “spin para cima” e a seta ↓ significa um elétron com “spin para
baixo”. Em c) esta graficada a probabilidade de ocupação dos nı́ves de “partı́cula unica” dada pela
distribuição de Fermi-Dirac da Eq.(cp.49) para diferentes temperaturas. Neste gráfico considera-
mos que o comprimento “a” do material é uma quantidade macroscópica assim a distância “π h̄/a”
entre dois momentos quantizados é muito pequena, então os nı́veis de energia de partı́cula única
forman quase um contı́nuo de estados.

125 CEDERJ
Constante de Plank

dos os átomos tem tanto caracterı́sticas corpusculares (comportando-se como uma


partı́cula) como caracterı́sticas ondulatórias (comportando-se como uma onda)
ambas as quais são descritas pela teoria fı́sica chamada de Mecânica Quântica. No
caso dos elétrons em átomos isolados, este duplo comportamento tem como con-
sequência a existência de nı́veis de energia discretos para o movimento eletrônico
ao redor dos nucleos atômicos (os nı́veis de energia do átomo de hidrogênio que
você viu na disciplina Mecânica Quântica são um exemplo).
A dualidade onda-partı́cula dos elétrons é também a responsável do com-
portamento singular destes dentro dos sólidos onde existe um número enorme de
átomos fortemente ligados uns aos outros. No entanto, do igualmente enorme
número de elétrons dentro de um sólido somente alguns deles são importantes
quando se trata das suas propriedades elétricas . No caso, os elétrons importan-
tes são os elétrons chamados de valência. Num átomo isolado, em geral, estes
elétrons correspondem aos elétrons na última camada de energia que contribuem
para definir o tipo de ligações quı́micas do átomo, mas nós sólidos seu compor-
tamento muda. Enquanto que os elétrons das camadas de energia mais internas
dos átomos permanecem ligados fortemente a cada átomo, os elétrons de valência
em sólidos têm um movimento que abranje mais de um átomo. Assim, podemos
dividir os elétrons num sólido em dois conjuntos: os elétrons de valencia que são
os únicos que contribuem para definir as caracterı́sticas elétricas de cada material
o os elétrons fortemente pressos aos ı́ons positivos que forman a estrutura interna
de todo sólido.
Para ter uma ideia do comportamento dos elétrons de valência em sólidos
vejamos um modelo muito simples chamado de “Modelo do elétron aproximada-
mente livre”. Embora seja um modelo muito simplificado ele permite entender a
teoria de bandas dos sólidos que definem as propriedades elétricas de um material.

Modelo do elétron aproximadamente livre

Embora o movimento dos elétrons num sólido é tridimensional vamos con-


siderar por simplicidade seu movimento numa dimensão ao longo de um material
de comprimento a. Nesta análise não vamos considerar a força de interação ele-
tromagnêtica entre os elétrons. Esta aproximação chama-se de aproximação de
elétron único e os estados associados a cada elétron individualmente chaman-se
de estados de partı́cula única. O estado do sistema de elt́rons é calculado a partir
dos estados de partı́cula única. Também, vamos considerar que seu movimento é

CEDERJ 126
Constante de Plank
Laboratório Avançado

não relativı́stico ( ou que corresponde a uma aproximação muito boa nós sólidos)
e portanto seu momento linear é p = me v onde me é a sua massa em repousso e v
a sua velocidade.
O movimento estacionário dos elétrons de valência estará descrito pela equa-
ção de Schröedinger independente do tempo (equação de onda):

h̄2 ∂ 2 ψ
−U (x)ψ = −εψ (cp.44)
2me ∂ x2

onde a função de onda ψ (x) descreve a probabilidade |ψ (x)|2 de achar o elétron


no intervalo de posições (x, x+dx) em qualquer tempo. Na Eq.(cp.44), h̄ = h/2π (
onde h é a constante de Planck), ε é a energia total do elétron e U (x) a sua energia
potencial. Numa primeira análise vamos desprezar a força de ligação entre os
elétrons de valência e os ı́ons carregados positivamente que forman a estrutura do
material, assim teremos que U (x) ≈ 0. Nesta approximação chamada de “elétron
livre”, este só possui energia cinética,

1
ε = p2 /2m = mv2 (relação de dispersão para um elétron livre). (cp.45)
2
A relação entre a energia total é o momento p é chamada de relação de dispersão
, e a Eq.(cp.45) mostra que para um elétron livre corresponde a uma relação pa-
rabôlica.
No entanto, a temperatura ambiente seu movimento em geral está confinado
ao comprimento a do material. Podemos entender isto facilmente se pensamos
que ao tentar escapar do material o elétron carregado negativamente será atraido
para dentro do material pela carga imagem positiva que deixa dentro deste (lembre
que o material inicialmente é eletricamente neutro). Se o elétron ganha energia
suficiente ele pode escapar da atração de sua própria carga imagem e pular para
fora do material. Quando isto acontece, e a energia ganha é devida ao aumento
de temperatura, trata-se da emissão de elétrons por o “Efeito termiônico” que
comentamos na parte teórica das aulas relativas à experiência de determinação da
razão carga-massa do elétron. Quando o ganho de energia, que permite a emissão
de um elétron pelo material, corresponde à absorção de um fóton de luz trata-
se do “Efeito fotoelétrico”. Vamos considerar primeiramente ausência de efeito
fotoelétrico e temperaturas onde não acontece emissão por efeito termiônico.
O efeito de confinamento do elétron dentro do material pode ser simulado
considerando que a energia potencial U (x) é infinita em x = 0 e x = a o que cor-
responde a impôr as condições na borda ψ (0) = ψ (a) = 0 (assim a probabilidade
|ψ (x)|2 de encontrar o elétron fora do material é nula). A solução da equação

127 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.26: Esquema do movimento dos elétrons na versão unidimensional do modelo do


elétron aproximadamente livre na presença do campo elétrico devido à tensão aplicada entre as
extremidades do metal em x = 0 e x = a. Em a) as interações com os ı́ons da rede cristalina foram
desprezadas. Em b) considerando as interações com os ı́ons da rede cristalina.

diferencial da Eq.(cp.44) com as condições de borda ψ (0) = ψ (a) = 0, corres-


ponde à solução do problema de uma partı́cula numa “caixa de paredes rı́gidas
(ou infinitas)” que existe somente para os valores quantizados da energia:

p2 n2 π 2 h̄2
εn = = (n enteiro ≥ 1 ) . (cp.46)
2m 2a2 m
A situação mais realista seria considerar um potencial correspondente a uma “caixa
de paredes finitas” mas os nı́veis de energia discretos deste potencial não diferem
muito dos dados na Eq.(cp.46). Da relação na Eq.(cp.46) vemos que o momento
do elétron dentro do material está quantizado pudendo tomar somente os valores
discretos de módulo:
nπ h̄
|p| = , (cp.47)
a
onde p = ±|p| correspondem as duas direções unidimensionais de propagação do
elétron. Assim cada elétron de valência poderá estar num estado quântico tal que
seu momento seja um dos valores na Eq.(cp.47). Estes são os estados de particula
única dos elétrons.
A temperatura T = 0 o estado fundamental (estado de menor energia) do
conjunto de elétrons pode ser estimado levando em conta o “principio de exclusão
de Pauli” que afirma que duas partı́culas fermiônicas idênticas não podem estar

CEDERJ 128
Constante de Plank
Laboratório Avançado

num mesmo estado quântico de partı́cula única. Portanto, cada estado de partı́cula
única correspondente a um valor quantizado de momento p = ±nπ h̄/a, pode ser
ocupado somente por dois elétrons: um com momento angular intrı́nseco h̄/2,
ou“spin para cima” (↑), e o outro com momento angular intrı́nseco −h̄/2, ou
“spin para baixo” (↓) (ver Figura cp.25).

“Fermions e bosons”: uma particula é chamada de fermiônica se seu momento


angular intrı́nseco (chamado de “spin”) só pode tomar valores semienteiros de
h̄. Uma partı́cula é chamada de bosônica se seu ”spin” só pode tomar valores
enteiros de h̄. Os elétrons são “fermions” cujo momento angular intrı́nseco pode
somente valer h̄/2 (“spin para cima”) ou −h̄/2 (“spin para baixo”). Os fótons
são partı́culas bosônicas cujo spin pode valor h̄ (“spin para cima”), −h̄ (“spin
para baixo”) ou ainda ser nulo.

“Partı́culas idênticas em mecânica quântica”: em mecânica quântica duas


partı́culas do mesmo tipo (por exemplo dois elétrons) cujos “números
quânticos” (que definem o estado em que cada uma delas se encontra) são
iguais são consideradas partı́culas idênticas. Isto significa que em mecânica
quântica duas situações fı́sicas que diferem somente no intercambio de papéis
de partı́culas idênticas são consideradas indistinguı́veis. Ou seja nenhuma ex-
periência pode diferenciar uma situação da outra. Isto é chamado de “Principio
de indistiguibilidade das partı́culas idênticas”. Em mecânica clássica sempre é
possivel desenhar uma experiência que permita distinguir uma situação fı́sica da
outra e portanto uma partı́cula da outra. O “Principio de indistiguibilidade das
partı́culas idênticas” da Mecânica Quântica tem profundas consequências, entre
elas o “principio de exclusão de Pauli” que afirma que duas partı́culas idênticas
fermiônicas não podem estar num mesmo estado quântico de partı́cula única.
Lembre que o “princı́pio de exclusão de Pauli” é fundamental como regra de
preenchimento dos nı́veis de energia discretos de um átomo qualquer.

Uma quantidade importante para caracterizar um sólido é a denominada


“energia de Fermi”. Esta corresponde, approximadamente, ao valor máximo de
energia que um elétron individual pode ter quando o sistema de elétrons se en-
contra no estado fundamental a temperatura T = 0. Seguindo a regra de preenchi-
mento dos nı́veis de energia de partı́cula única dada pelo “principio de exclusão
de Pauli” , num material contendo N = n0 a elétrons (n0 é a densidade de elétrons

129 CEDERJ
Constante de Plank

de valência no material, i.e. o número de elétrons por unidade de comprimento),


a temperatura T = 0, a energia de Fermi será,

n20 π 2 h̄2
εF = . (cp.48)
8m
Para obter esta energia basta reparar que é preciso um número an0 /2 de estados de
partı́cula única para serem preenchidos com dois elétrons cada. Assim, a energia
de Fermi se encontra substituindo n = ano /2 na Eq.(cp.46).
Quando a temperatura T > 0, a probabilidade de um estado de partı́cula
única estar ocupado está dado pela distribuição de probabilidades de Fermi-Dirac,
2
f (ε ) = , (cp.49)
e(εn −εF )/kB T −1
onde o fator 2 no numerador corresponde aos dois valores de “spin” permitidos
para um elétron, e kB ≡ (1.3806505 ± 0.0000024) × 10−23J/K é a constante de
Boltzmann. Como você deve se lembrar da disciplina Mecânica Estatı́stica este
resultado se segue pois no equilibrio termodinâmico as partı́culas fermiônicas
seguem a “Estatı́stica de Fermi-Dirac”. Na Figura cp.25 c) está graficada a
distribuição de Fermi para diferentes temperaturas, onde vemos que para T = 0
corresponde a uma função constante até a energia de Fermi, εF , e nula para valores
maiores. Para T > 0 a probabilidade de um estado acima da energia de Fermi estar
ocupado começa a crescer. Como o número de elétrons de valência no material é
fixo os estados de partı́cula única abaixo da energia de Fermi estarão parcialmente
ocupados (o número de elétrons por estado será menor do que 2).
O processo básico de condução num material pode ser entendido com o mo-
delo simples do elétron livre (U (x) ≈ 0) que apresentamos. Quando aos extremos
do material é conectada uma fonte de tensão , um campo eletrico é criado dentro
do material como consequência da diferença de potencial aplicada. Digamos que
o campo eletrico é tal que a força elétrica que sentem os elétrons é na direção
x > 0, e estamos olhando o sistema num tempo t > 0 após a fonte de tensão ter
sido ligada. Como consequência da força aplicada cada eletron no tempo t deve-
ria ter ganho uma energia ε ≈ e2 E 2t 2 /2m (onde E é o módulo do campo elétrico
aplicado) adquirindo momento linear que deveria mudar progressivamente para
valores mais positivos (para o caso da força elétrica FE = −eE > 0 que estamos
considerando, temos que o momento cresce como p(t) = p(0) − eEt). No entanto
esta mudança de momento do elétron somente ocorre se o valor quantizado ao
qual ele deveria “pular” estiver parcialmente preenchido (princı́pio de exclusão
de Fermi). Este processo esta esquematizado na Figura (cp.26) a) onde vemos
que, no decorrer do tempo, valores quantizados cada vez maiores do momento

CEDERJ 130
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.27: Em a) é mostrada a energia potencial da versão unidimensional do modelo do


elétron aproximadamente livre para um elétron de condução dentro de um metal, considerando a
interação destes com os ı́ons da rede cristalina (a posição de cada ı́on coincide com o fundo dos
poços de potencial). O parâmetro de rede a0 mede a distância entre os ı́ons da rede cristalina. Em
b) é mostrado o efeito do potencial periódico (do tipo mostrado em a)) na relação de dispersão
para o elétron quase-livre. Os estados quânticos permitidos para o elétron quase-livre têm energia
pertencendo a alguma das bandas de energia εN (p) (N = 1, 2, 3 . . .) mostradas em c) as quais estão
separadas por espaçamentos (“gaps” em inglês) de tamanho εg .

131 CEDERJ
Constante de Plank

do elétron seriam alcançados. No entanto, sabe-se que o valor da condutividade


σ = j/E (onde j = −en0 v = −en0 p/me é a densidade de corrente) num mate-
rial é um valor constante no tempo. O que realmente acontece é que a interção
entre cada elétron e os ı́ons no material não pode ser desprezada como supomos
inicialmente. Assim o processo é mais parecido com o ciclo esquematizado na
Figura cp.26 b) onde as colisões elásticas entre os elétrons permitem a mudança
de direção do momento p → −p e as colisões inelásticas (com os ı́ons em movi-
mento vibracional ao redor das suas posições de equilibrio) limita o crecimento
da energia no tempo. Assumindo um tempo médio entre colisões τ , o resultado
deste processo é que o sistema de elétrons adquire em conjunto um momento
linear médio pmed = −eE τ . Este é o resultado da chamada “Lei de Ohm” dos cir-
cuitos elétricos, aqui esboçada desde o ponto de vista da teoria mais consistente
para explicar as propriedades de condução de um material : a Mecânica Quântica.
A interação entre os elétrons e os ı́ons resulta também num efeito deter-
minante para definir as propriedades elétricas do sólido que não tem explicação
dentro da fı́sica clássica: a formação de bandas onde os estados de energia de
partı́cula única se agrupam deixando um intervalo de energias entre banda e banda
onde não há estados permitidos (chamado de “gap” em inglês).
O ingrediente fundamental para o aparecimento da estrutura de bandas é
a periodicidade do potencial de interação U (x), na equação de Schröedinger em
(cp.44), entre os elétrons e os ı́ons da rede cristalina. Consideremos assim um
potencial periódico como o mostrado na Figura cp.27 a) onde os fundos dos
poços de potencial correspondem às posições de equilibrio dos ı́ons na estrutura
cristalina do sólido. O parâmetro de rede a0 mede a distância entre os poços
de energia potencial (note que a0 é muito menor que o comprimento do sólido
a). Cada função de onda ψ (x), solução da equação de Schröedinger, terá um
comprimento de onda caracterı́stico,

λ = 2π h̄/p (comprimento de onda de De Broglie do elétron) (cp.50)

Quando este comprimento de onda é comparável à distância entre os ı́ons da rede

mλ /2 = a0 (m é um número enteiro), (cp.51)

a relação de dispersão dos elétrons se ve afetada devida ao fenômeno denominado


de reflexão de Bragg, que nada mais é que a difração dos elétrons no arranjo
cristalino periódico dos átomos no sólido. Isto acontece para valores do momento
linear do elétron,
π h̄m
pm = , (cp.52)
a0

CEDERJ 132
Constante de Plank
Laboratório Avançado

e a nova relação de dispersão é mostrada na Figura cp.27 b). Embora os valo-


res quantizados do momento (Eq.(cp.47)) estejam tão próximos uns dos outros
(a grande) de maneira que podem ser considerados quase um contı́nuo, a ener-
gia é uma função discontinua que forma aberturas (“gaps”) de largura εg onde
não existe nenhum estado permitido. As regiões de energias entre as aberturas
se denominam bandas. Como o potencial que sentem os elétrons é periódico é
possı́vel mostrar que o estado de uma dada energia com momento p, i.e. ε (p),
corresponde ao mesmo estado com momento p + pm (pm = π h̄m/a0 ) e portanto
teremos que ε (p) = ε (p + pm ). Levando em conta este fato podemos desenhar
a estrutura de bandas como na Figura cp.27 c), onde cada banda N = 1, 2, . . . é
especificada através de uma função εN (p).

Note que a derivada da relação de dispersão para um elétron livre é uma veloci-
dade, i.e. ∂ ε /∂ p = ∂ (mv2 /2)/∂ (mv) = v. Resulta que no caso geral a derivada
da relação de dispersão dá a velocidade de grupo da função de onda de partı́cula
única associada ao elétron. Na Figura cp.27 b) vemos que a esquerda e a di-
reita dos pontos onde o momento verifica a condição resonante p = nπ h̄/a0 a
velocidade de grupo é nula (derivada igual a zero). Nesse caso o função de onda
estacionaria total será combinação linear de duas funções de onda viajando em
sentidos opostos.

O número de estados de partı́cula única em cada banda é aproximadamente


igual ao número de elétrons na amostra de material n ≈ a/a0 . Portanto cada
banda contêm approximadamente um nı́vel de energia de partı́cula única para
cada elétron da amostra. Dado que cada nı́vel será ocupado no máximo por 2
elétrons (de “spins” diferentes) é claro que, a temperatura T = 0, o número de
valência dos átomos constituentes do material determina se a banda está comple-
tamente preenchida ou não . Por exemplo, para átomos monovalentes (número
de valência 1) a primeira banda estará parcialmente cheia e o resto vazias, en-
quanto que para átomos bivalentes (número de valência igual a 2) a primeira
banda estará completamente cheia enquanto que o resto vazias.

O modelo de bandas simples que acabamos de apresentar mostra que exis-


tem três fatores que determinarão as propriedades de condução de um sólido: i)
a temperatura T , ii) o tamanho do “gap” εg e iii) a posição relativa da energia de

133 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.28: Diagrama de bandas de energia para um material: a) condutor, b) isolante e c)


semicondutor.

Fermi εF . Vamos considerar por simplicidade materias de valência entre 0 e 4 de


maneira que as únicas bandas de interesse são a primeira, chamada de banda de
valência, e a segunda que é chamada de banda de condução . A posição da ener-
gia de Fermi e a relação entre o tamanho do “gap” e a energia kB T determinam
três tipos de materias diferentes:

1. se a energia de Fermi esta dentro da banda de condução trata-se de um


material condutor,

2. se a energia de Fermi está no meio do “gap” e o tamanho deste é muito


maior que a energia kB T trata-se de um material isolante,

3. se a energia de Fermi está no meio do “gap” e o tamanho deste é comparável


à energia kB T trata-se de um material semicondutor

Na Figura cp.28) esquematizamos as três situações :


No caso a) de materias condutores, tanto para T = 0 como par T > 0, a
banda de condução se encontra parcialmente cheia então ao aplicar um campo

CEDERJ 134
Constante de Plank
Laboratório Avançado

elétrico à amostra o comportamento dos elétrons é aproximadamente igual a situação


que discutimos para o caso de elétrons livres onde em média estes ganham um mo-
mento pmed = −eE τ (τ o tempo médio entre colisões ). A única diferença é que
a densidade de elétrons n0 a ser considerada somente deverá incluir os elétrons na
banda de condução .
No caso b) de um material isolante como a energia de Fermi se encontra
no meio do gap quer dizer que a T = 0 a banda de valência se encontrará cheia e
a de condução vazia. Esta situação permanece para T > 0 pois os elétrons perto
do “gap” que estão na banda de valência precisariam uma energia muito maior
que kB T para passar à banda de condução . Isto não acontece pois de acordo
com a distribuição de Fermi da Eq.(cp.49), a temperatura ambiente, os estados
que poderiam ser populados estão a uma distância da ordem de kB T da energia
de Fermi e não a uma energia muito maior que este valor. Desta forma, a banda
de condução permanecerá vazia e a de valência continuará cheia. Ou seja que,
mesmo com uma tensão aplicada aos extremos do material, para cada estado com
momento p na banda de valência haverá um estado com momento −p resultando
num movimento médio nulo dos elétrons (condução nula).
No caso c) de um material semicondutor também temos que a energia de
Fermi se encontra no meio do gap, ou seja que para T = 0 a banda de valência se
encontrará cheia e a de condução vazia. Só que agora, como o gap de energia é
muito pequeno, a temperatura ambiente pode existir um número de elétrons que
têm energia suficiente para pular para a banda de condução . Desta forma, para
temperaturas perto da temperatura ambiente um semicondutor se comporta apro-
ximadamente como um condutor mas com três diferenças: i) a densidade n0 de
elétrons na banda de condução é muito menor, ii) esta densidade n0 depende da
temperatura e iii) quando um elétron pula para a banda de condução ele deixa um
estado vacante chamado de “buraco” que se comporta como uma “partı́cula” de
carga positiva “e”. A existência destes “buracos” de carga positiva é de grande im-
portância dado que na presença de um campo elétrico contribuem para a condução
intercambiando estados de energia com os elétrons na banda de condução . As-
sim, a corrente em um semicondutor consiste portanto de ambas correntes: a de
“buracos” e a de elétrons. Os elétrons que foram promovidos para a banda de
condução movem-se através do material e adicionalmente outros elétrons podem
pular para os estados de partı́cula única vacantes deixadas pelos elétrons livres o
que corresponde a um movimento de vacâncias (“buracos”) na banda de valência.

135 CEDERJ
Constante de Plank

Semicondutores

Geração de pares “elétron-buraco”

O modelo do elétron aproximadamente livre unidimensional apresentado


anteriormente ajuda a entender a formação da estrutura de bandas num material
mas não podemos perder de vista que trata-se de uma simplificação . Para ter uma
visão mais realista do que acontece num material temos que considerar o movi-
mento tridimensional dos elétrons. Assim a estrutura de bandas estará dada por
funções εN (~p) cuja periodicidade muda para direções diferentes dentro do cristal
dependendo da periodicidade dos átomos em cada direção . Desta forma, a es-
trutura de bandas estará determinada pelo arranjo tridimensional dos átomos no
material (estrutura cristalina). No caso tridimensional, também existe um modelo
de elétrons aproximadamente livre que descreve aproximadamente a estrutura de
bandas em cada material de acordo com sua estrutura cristalina. No entanto, exis-
tem métodos mais acurados para calcular esta estrutura de bandas.
A aproximação do elétron aproximadamente livre se insere num tipo de
aproximação denominada de aproximação de quase-partı́cula. Nesta aproximação
a interação entre a rede de ı́ons da estrutura cristalina e os elétrons pertencentes a
alguma banda (a de condução principalmente), e mesmo a interação média entre
os elétrons, pode ser descrita considerando cada elétron como sendo livre dentro
do material mas possuindo uma massa efetiva m∗e diferente da massa em repouso
me do eletrón. Muitas vezes a massa efetiva é diferente para direções de movi-
mento diferentes dentro do cristal, e nesses casos ela é dada na forma de um ten-
sor. Assim, o problema de descrever o movimento de um elétron num material sob
a influência de uma força externa (por exemplo ao aplicar um campo elétrico ao
material) é equivalente ao problema de um “quase-elétron” que difere do elétron
efetivamente livre pelo valor de sua massa efetiva. Este tipo de aproximação é ra-
zoavelmente boa para descrever a condução de elétrons em metais monovalentes
e em semicondutores. Em metais a massa efetiva dos elétrons é maior que a massa
em repousso (por exemplo para o Na: m∗e = 1, 22 me ; e para o Li: m∗e = 2, 3 me )
enquanto que em semicondutores é bastante menor (por exemplo para o InSb:
m∗e = 0, 01 me ).
Vejamos com um pouco mais de detalhe o caso do movimento dos elétrons
em materiais semicondutores. Primeiramente, vejamos que acontece quando um
elétron da banda de valência passa à banda de conducção . Para que este processo
aconteça o elétron na banda de valência deve receber energia maior que o “gap”

CEDERJ 136
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.29: Geração de pares elétron-buraco quando elétrons da banda de valência ganham
energia suficiente para passar à banda de condução . Quando um campo elétrico externo é aplicado
ao material semicondutor (no diagrama trata-se de Silı́cio (Si)) aparece tanto uma corrente de
elétrons (carga negativa) como uma corrente de buracos (carga positiva).

137 CEDERJ
Constante de Plank

semicondutor. Esta energia pode ser recibida por exemplo através da agitação
têrmica da rede cristalina devido ao aumento de temperatura ou pela absorção de
um fóton ou pela simples colisão com um partı́cula externa ao material. O movi-
mento dos elétrons na banda de valência em geral cobre somente alguns poucos
átomos do material. Uma vez na banda de condução o elétron sai da esfera de
influência de um átomo (ou um conjunto pequeno de átomos) da estrutura crista-
lina para poder viajar quase que livremente pelo material. É claro que este pro-
cesso implica além da mudança de energia em uma mudança em momento, e
como os momentos que ganham diferentes elétrons são orientados aleatoriamente
nehuma corrente elétrica aparece. Somente aparece uma corrente elétrica quando
um campo elétrico é aplicado orientando os momentos na direção do campo.
Quando um elétron “pula” para a banda de condução e se afasta da região
em que estava, ele deixa um “buraco” na região que originalmente estava eletrica-
mente neutra. Um outro elétron na vizinhança tem uma probabilidade de ocupar
esse buraco, deixando por sua vez um buraco na região onde ele estava. Assim,
é possı́vel descrever este processo como o deslocamento de uma quase-partı́cula
de carga positiva chamada de buraco (“hole” em inglês). Estes buracos na banda
de valência em semicondutores podem ser também descritos, como no caso dos
elétrons, como partı́culas quase-livres com uma massa efetiva m∗b . Em ausência
de um campo elétrico externo estes buracos se movimentam aleatoriamente dentro
do material. Na presença de um campo elétrico externo eles contribuem à corrente
elétrica total (ver Figura cp.29). Assim, a banda de valência de um semicondutor
na verdade é uma banda de condução de buracos.
É importante ressaltar que tanto os elétrons da banda de condução , como os
buracos da banda de valência, se movimentam livremente pelo material e podem
se encontrar accidentalmente. Nesse caso o elétron preenche o buraco e a energia
sobrante se transfere à rede cristalina ou é emitida na forma de um fóton de luz.
Este processo é comumente denominado de recombinação elétron-buraco. A pro-
babilidade por unidade de tempo de um elétron e um buraco se encontrarem e se
recombinarem é proporcional ao produto ne nb , onde ne é o número de elétrons por
unidade de volume da banda de condução e nb é o número de buracos da banda
de valência do semicondutor. Por outro lado a probabilidade de produzir um par
elétron-buraco ao aumentar a temperatura é proporcional a e−εg /kB T onde εg é a
energia do “gap” semicondutor, T é a temperatura e kB a constante de Boltzmann.
No equilibrio térmico estas duas probabilidades devem ser proporcionais já que
a rapidez com que se produzem pares deve ser igual à rapidez com que eles se

CEDERJ 138
Constante de Plank
Laboratório Avançado

aniquilam. Portanto no equilibrio térmico temos,

ne nb = C(T )exp−εg /kB T , (cp.53)

onde a constante de proporcionalidade C(T ) varia pouco com a temperatura com-


parada à variação na função exponencial. Uma propriedade importante em se-
micondutores é que a relação da Eq.(cp.53) é válida mesmo em situções onde
ne 6= nb . Para mostrar este resultado é precisso considerar a dependência com a
temperatura de ne e nb individualmente.

Semicondutores “dopados”

Os semicondutores descritos até agora correspondem aos chamados intrı́nse-


cos, que são compostos por átomos do mesmo tipo. Exemplo destes são os semi-
condutores de silı́cio (Si) e germânio (Ge) de valência 4, de maneira que têm
duas bandas de valência e a terceira é a banda de condução separada por “gaps”
de energia 1, 12 eV para o Si e 0, 7 eV para o Ge. A caracterı́stica principal dos
semicondutores intrı́nsecos é que possuem uma condutividade muito pequena já
que o número de életrons promovidos à banda de condução por exitação têrmica
é muito pequeno. Também neste tipo de semicondutores o número de elétrons ne
na banda de condução (portadores de carga negativa) coincide com o numero nb
de buracos na banda de valência logo abaixo (portadores de carga positiva), i.e.
ne = nb .
Para aumentar o número de portadores de carga negativa (elétrons) num
semicondutor é preciso “dopar” este com impurezas de átomos com número de
valência maior que o número de valência dos átomos do semicondutor intrı́nseco
considerado. Estas impurezas chaman-se de “doadoras” e o semicondutor dopado,
que terá ne > nb , chama-se de semicondutor do tipo “n”. Por exemplo, o arsénico
(As) de valência 5 é uma impureza doadora usada no silı́cio e germânio. Nestes
casos um átomo de arsênico se instala na rede do germânio ou do silı́cio já que
possui mais o menos o mesmo tamanho. Ao instalar-se ele deve atuar como um
átomo de valência 4, ou seja usando quatro de seus elétrons de valência para for-
mar os enlaces cristalinos, sobrando-lhe um elétron. Este elétron, que está muito
fracamente ligado ao átomo de arsênico, a temperatura ambiente adquire energia
suficiente para pular para a banda de condução do material. Se ao gerar cristais de
germânio ou silı́cio a partir da fase fundida adicionamos quantidades muito peque-
nas de arsênico, os átomos doadores de arsênico se distribuirão por todo o cristal.
Assim, a temperatura ambiente o cristal terá uma certa densidade de portadores

139 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.30: Cristal de silı́cio dopado com uma (a) impureza de fósforo com um elétron a mais,
- doador de elétron (b) impureza de Boro com um elétron a menos, receptor de elétron.

negativos ne provenientes da criação de pares elétron-buraco. Esta densidade será


incrementada pela densidade de portadores negativos provenientes dos átomos
doadores. Como no equilibrio térmico o produto ne nb permanece constante (ver
Eq.(cp.53)) o número de portadores de carga positiva nb deve diminuir de maneira
que finalmente ne > nb . É claro que a descompensação ne > nb se refere aos por-
tadores livres (negativos e positivos) já que o material como um todo permanece
neutro. O excesso de carga negativa dos portadores livres é compensado pelas
cargas positivas nas impurezas doadoras.
Para aumentar o número de portadores de carga positiva (“buracos”) num
semicondutor é preciso “dopar” este com impurezas de átomos com número de
valência menor que o número de valência dos átomos do semicondutor intrı́nseco
considerado. Estas impurezas chaman-se de “aceitadoras” e o semicondutor do-
pado, que terá nb > ne , chama-se de semicondutor do tipo “p”. Por exemplo,
o boro (B) ou o aluminio (Al) de valência 3 são impurezas aceitadoras usadas
no germânio. Neste caso o átomo “aceitador” trata de atuar como um átomo de
valência 4 ao se instalar na rede do germânio. Para isso ele precissa tomar um
elétron de algum átomo vizinho. Isto gera uma vacância ou buraco que pode va-
gar livremente pelo material.
O grau de dopagem pode ser controlada o que significa que tanto a condu-
tividade num material semicondutor pode ser controlada como assim também a
razão entre os portadores de carga positiva e negativa. Os materias semicondu-
tores do tipo “p” e “n” são a base na construção dos dispositivos semicondutores
modernos.

CEDERJ 140
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Diodo emissor de Luz - LED

A emissão de elétrons pelo efeito fotoelétrico (um fóton induz a emissão de


um elétron) pertence à primeira classe de experiências que possibilita a medição
da constante de Planck. Na segunda classe de experiências (elétron induz a emissão
de um fóton) para a determinação de h pode se utilizar o processo de emissão de
um fóton devido a evolução de um elétron de um estado excitado para outro mais
estável de um sistema atômico ou de um sólido. As energias dos estados atômicos
não são diretamente ou facilmente mensuráveis. A fı́sica do estado sólido nos
permite realizar de forma simples o nosso propósito.
Na experiência proposta nestas aulas a constante de Planck será determi-
nada experimentalmente utilizando-se diodos emissores de luz. O diodo emissor
de luz ou LED, que é a sigla em inglês para Light Emitting Diode, é um tipo espe-
cial de semicondutor que emite radiação eletromagnética em frequências ópticas
(visı́veis) e infravermelhas quando é percorrido por uma corrente elétrica, no pro-
cesso conhecido por eletroluminescência. O LED consiste em uma junção (junção
p − n) entre dois materiais semicondutores fortemente dopados, do tipo p e do
tipo n. A emissão de luz por LEDs ocorre quando elétrons evoluem para estados
quânticos de diferentes energias ao passarem pela junção entre os materiais semi-
condutores de tipos n e p de que são feitos os diodos. A energia destes elétrons é
liberada na forma de calor ou fótons. O princı́pio de funcionamento de um LED
será descrito a seguir.

Dados históricos dos LEDs

O fenônemo de emissão de luz por excitação elétrica num sólido foi primei-
ramente observado em 1907 por H.J.Round usando um semicondutor de carbeto
de silı́cio (SiC). O.V.Lossev investigou este efeitos de eletroluminescência em
detalhe entre 1927 e 1942, e corretamente assumiu que estes efeitos representa-
vam o inverso do conhecido efeito fotoelétrico. K. Lehovec em 1951 apresentou
uma descrição mais precisa do fenônemo de emissão de fótons por recombinação
de elétrons-buracos em uma junção p − n. O efeito de luminescência produzido
por um campo elétrico em sulfeto de zinco foi descoberto independentemente em
1935 por G. Destriau, mas o mecanismo de excitação é diferente do apresentado
pelo semicondutor dopado SiC. Em 1951 H. Welker reconheceu que compos-
tos da terceira e quinta coluna da tabela periódica eram semicondutores e que

141 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.31: Espectro de emissão tı́pico de um LED de GaAs.

apresentavam caracterı́sticas peculiares quando comparadas com os semiconduto-


res clássicos de silı́cio e germânio. Estes compostos apresentam uma faixa larga
de bandas proibidas, e suas frequências de emissão de luz alcançam a região do
visı́vel. Alguns deles também demonstram uma eficiência de recombinação mais
alta para elétrons e buracos e mobilidade de carga mais alta que o Si e o Ge.
Somente no final dos anos 1960 desenvolveu-se técnicas para sua produção em
condições industriais. Após décadas de pesquisa em 1994 os LEDs de emissão
azul e azul-violeta foram produzidos. Agora com o LED azul disponı́vel, luz
branca pode ser produzida pela combinação de vermelho, verde e azul em um
único dispositivo. Atualmente estes semicondutores são comunentemente usados
como displays alfa-numéricos, como lasers semicondutores, em interfaces óticas,
em dispositivos de alta densidade de armazenagem de informação , como discos
óticos e DVD (Digital Versatile Disks) e na televisâo de alta definição , em monito-
res, escaneadores de imagem, impressoras coloridas, instrumentos de diagnóstico
médico e no monitoramento remoto.

Caracterı́sticas operacionais do LED

É possı́vel fabricar LEDs que emitem luz de diferentes cores, alterando a


composição quı́mica do material semicondutor. Os LEDs mais comuns são fei-
tos de ligas de gálio, arsénio, ı́ndio, fósforo e alumı́nio. Depedendo do cristal,
das impurezas de dopagem, e alterando a concentração dos compostos com que
o componente é fabricado é possı́vel fabricar LEDs que emitem várias cores na
gama do espectro ultra-violeta, na do visı́vel e na do infravermelho (ver Tabela
1.14). Deve se salientar que no silı́cio (Si) e no germânio (Ge), que são os ele-
mentos básicos dos diodos, a maior parte da energia é liberada na forma de calor,

CEDERJ 142
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Composição quı́mica cor comprimento


de onda (nm)
Aluminium gallium arsenide vermelho-profundo, infravermelho 660,890
Gallium phosphide verde, vermelho profundo 555-565,709
Aluminium gallium indium phosphide laranja, vermelho, amarelo 615,626-640,590
Gallium arsenide phosphide vermelho, amarelo, laranja 630,610,590
silicon carbite azul 480
Gallium nitride ultravioleta, azul, verde 370,430,525
Indium Gallium nitride azul-violeta, verde-turquesa 425-450,498-505

Tabela 1.14: Compostos quı́micos e cores de alguns diodos emissores de luz (LEDs).

sendo pouca a luz emitida. A luz emitida por um LED pode ser considerada pra-
ticamente monocromática. A Figura cp.31 mostra um espectro caracterı́stico de
um LED de GaAs.
O comprimento de onda da luz emitida por um LED é dependente da tensão
aplicada . Um LED que emite luz de cor vermelha profunda com 700nm de com-
primento de onda necessita de uma tensão de 1.77 V para operar, enquanto para
gerar um fóton na faixa do azul-violeta com 400nm é necessário aplicar 3.1 V e
luz infravermelha de 940nm tem um limiar de 1.3 V . Atualmente a potência de
emissão dos LEDs está na faixa de 10 mW até 150 mW e apresentam um tempo
de vida de 100000 horas.
Os LEDs comerciais são fornecidos com o material semicondutor encap-
sulado num material plástico e com dois terminais para serem conectados a um
circuito (Figura cp.32). Cabe ressaltar que a cor do encapsulado plástico não tem
relação nenhuma com a cor da luz emitida pelo LED. A maioria dos fabrican-
tes adota um código de identificação para a determinação externa dos terminais A
(junção lado p) e K (junção lado n) dos LEDs. O LED deve ser conectado correta-
mente considerando que o ânodo pode estar indicado pela letra A ou + e o cátodo
por K ou −. O cátodo tem o terminal mais curto. Você poderá ver a estrutura
interna do LED, se o invólucro for semi-transparente. Assim, o cátodo poderá ser
identificado como o terminal que contém o eletrodo interno maior que o eletrodo
do outro terminal (ânodo). Além de mais largo, às vezes o cátodo é mais baixo do
que o ânodo. O sı́mbolo do diodo num circuito está indicado também na Figura
cp.32.
Nunca conecte um LED diretamente a uma bateria ou fonte de tensão. O
diodo será destruido quase que imediatamente se uma corrente maior que um

143 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.32: Em a) o diagrama de um diodo emissor de luz (LED). Em b) diagramas equivalentes


do circuito correspondente a um LED conectado a uma bateria ou fonte de tensão . O circuito da
esquerda mostra a conecção da junção p − n semicondutora que forma o LED em serie com a
resistência de carga r e a resistência interna do diodo ri , i.e. R = r + ri .

limiar passar através do LED. Os LEDs devem ser conectados em série a um


resistor para limitar a corrente a um valor seguro de operação (Figura cp.33a). O
valor do resistor de carga r a ser incluido no circuito é obtido pela relação

r = (VS −Vd )/Imax (cp.54)

onde VS é a tensão na polarização direta fornecida (o positivo da bateria conec-


tado ao terminal A que indica o lado n da junção e o negativo ao terminal K que
indica o lado p da junção ) , Vd a voltagem de contato do LED e Imax a corrente
máxima que pode atravessar o LED. Na relação da Eq.(cp.54) desprezamos o va-
lor da resistência interna do diodo. Como veremos mais na frente o potencial Vd
é caracterı́stico para cada LED, assim para uma tensão aplicada fixa VS teremos
valores diferentes de correntes (I > Imax ou I < Imax ) atravessando o LED usando
valores de resistências diferentes. Se o valor adotado para a resistência é muito
maior que o estipulado na Eq.(cp.54), a corrente I << Imax , e a emissão de luz
será diminuida dificultando a experiência. Se o valor da resistência for muito me-
nor, teremos uma corrente excessiva atravessando o diodo (I >> Imax ) levando-o
a sua destruição por dissipação térmica. Os LEDs também não suportam tensões
na polarização reversa (o negativo da bateria conectado ao terminal A que indica
o lado n da junção e o positivo ao terminal K que indica o lado p da junção ) de
valor significativo, podendo-se danificar a sua junção com apenas 5V . Quando
alimentado com tensão alternada, o LED deve ser acompanhado de um diodo re-
tificador de proteção em antiparalelo ( polaridade invertida em relação ao LED),

CEDERJ 144
Constante de Plank
Laboratório Avançado

cor Imax (mA) V20mA (V ) Vr (V ) Intensidade θ (graus) λ pico ±


luminosa λ1/2 nm
(mcd)
vermelho 30 1.8-2.2 5 600 15 645 ± 24
amarelo 20 2.1-2.6 5 300 15 583 ± 19
verde 30 2.2-3.0 5 300 15 568 ± 16
azul 30 3.2-3.7 5 1500 15 470 ± 17

Tabela 1.15: Dados técnicos dos LEDs usados durante a experiência para a determinação da cons-
tante de Planck.

ou conectado em série com o diodo de proteção com a finalidade de conduzir so-


mente os semi-ciclos nos quais ele fica no corte, limitando desta forma a tensão
reversa a aproximadamente 0, 7V .
A Tabela 1.15 mostra os dados técnicos dos LEDS usados na experiência
(fornecido pelo fabricante), onde os parâmetros da tabela correspondem a:

1. Imax = corrente máxima de operação em uma temperatura ambiente de TA =


50◦C.

2. V20mA = voltagem de operação tı́pica e máxima em uma corrente direta de


I = 20mA.

3. Vr = voltagem reversa máxima de operação em Ir = 100mA

4. Intensidade luminosa = luminosidade do LED a uma dada corrente em I =


20mA e TA = 50 ◦C (medida em “mcd”= milicandelas)

5. Ângulo de visualização θ = abertura angular de emissão em uma corrente


direta de I = 20mA e temperatura ambiente de TA = 25 ◦C.

6. λ pico = Comprimento de onda de pico da luz emitida dominante e medido


pelo diagrama de cromaticidade com a largura a meia altura da intensidade
má xima λ1/2 a uma temperatura ambiente TA = 25 ◦C.

O fabricante fornece a tensão no diodo VD = V20mA que corresponde à faixa


de valores de tensão quando a corrente alcança o valor de 20 mA. No caso, por
exemplo, do LED vermelho usado na experiência estes valores variam entre 1, 8 V
(valor considerado tı́pico) até 2, 2 V (valor considerado máximo). O fabricante
sempre fornece valores abrangendo uma faixa, já que depende de cada LED o

145 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.33: Varias coneções possı́veis de LEDs: a) formando um circuito padrão , em b) co-
nectados em série e c) em paralelo.

valor exato V20mA em uma corrente segura de operação de ID = 20mA. A corrente


máxima de operação indicada é de Imax = 30mA, mas este valor está no limiar de
segurança de operação . Portanto para fins de determinar a resistência de carga ou
a tensão de operação máxima da fonte vamos considerar:
VS −V20mA
r= . (cp.55)
20mA

É possı́vel dispor vários LEDs em série (ver Figura cp.33 b)), porque neste
caso a mesma corrente passa por todos os LEDs. A fonte de tensão deve suprir
a voltagem necessária para a operação de cada um dos LEDs. Por outro lado, a
conexâo de vários LEDs em paralelo com um único resistor de carga não é seguro
(ver Figura cp.33 c)) pois para uma tensão aplicada fixa sobre os LEDS uma
corrente maior fluirá pelo LED de menor resistência intrı́nseca, assim esse LED
poderá queimar antes de os outros LED acenderem.
O LED é uma fonte de luz direcional, com o máximo de potência emitida
em uma direção perpendicular à superfı́cie de emissão. O padrão de emissão da
radiação ilustrado na Figura cp.34 mostra que a maior parte da energia é emitida
em uma abertura angular de 20◦ , porém certos tipo de LEDs incluem lentes para
espalhar a luz à ângulos θ maiores de visualização como especificado na Tabela
1.15.

Formação de uma junção p − n

Quando um semicondutor tipo p e um tipo n são colocados em contato,


formam uma junção p − n que se comporta em forma diferente que cada material
tipo p ou n separadamente. A principal caracterı́stica é que na região perto da
junção aparece uma diferença de potencial elétrico. A seguir veremos como isso

CEDERJ 146
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.34: Padrão de emissão angular da radiação de um LED.

acontece.
Primeiramente devemos observar que a concentração de portadores negati-
vos (elétrons) no material de tipo n é maior que a concentração destes portadores
no material tipo p. Quando os dois tipos de materiais são colocados em con-
tacto, os elétrons do material tipo n difundem na direção do material tipo p ja
que eles sentem uma força de difusão que é proporcional a menos o gradiente da
concentração de elétrons. À medida que os elétrons do material tipo n difundem
na direção do material tipo p a carga dos ı́ons doadores no material tipo n fica des-
compensada. Portanto existe uma região perto da junção no material tipo n que
fica carregada positivamente. Analogamente a concentração de portadores posi-
tivos (buracos) no material tipo p é maior que a concentração destes portadores
no material tipo n. Assim, devido ao gradiente de concentração de buracos, os
buracos do material tipo p difundem para o material tipo n. A carga dos ı́ons acei-
tadores fica descompensada portanto aparece uma carga negativa perto da junção
do lado do material tipo p (ver Figura cp.35 a)). Paralelamente devemos menci-
onar que o aparecimento de carga negativa do lado p da junção deve-se também
ao processo de recombinação dos elétrons que difundem ao lado p quando en-
contram um buraco. Este macanismo também deixa descompensada uma carga
negativa em algum dos ı́ons aceitadores no material tipo p. Um processo análogo
temos entre os buracos que difundem ao material tipo n que também podem se

147 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.35: Junção p − n no equilı́brio termodinâmico sem voltagem aplicada. Em a) é mos-


trada a concentração de elétrons e buracos cujos gradientes são responsáveis pelas forças de di-
fusão atuantes sobre eles. Também são mostradas as forças elétricas que permitem chegar ao
equilibrio. Em b) estão desenhados os gráficos para a carga elétrica total, o campo elétrico e a
diferença de potencial ao longo de todo o eixo x. A integral do campo elétrico ao longo da junção
é o chamado potencial de contato Vd . c) Bandas de energia numa junção p − n no equilı́brio
termodinâmico sem voltagem aplicada.

recombinar com os elétrons deste material. Isto deixa descompensada a carga


positiva dos ı́ons doadores do material tipo n. É importante lembrar que nos pro-
cessos de recombinação entre elétrons e buracos sempre existe um excedente de
energia que é entregue r̀ede cristalina e/ou corresponde à emissão de um fóton.
Mais na frente veremos sob que condições acontece um caso e/ou o outro (ver
seção ).
Este processo de difusão mutua chega ao equilibrio. Para entender isto de-
vemos olhar o processo em forma dinâmica. Assim, durante o processo de di-
fusão cria-se uma região perto da junção , chamada de região de depleção , com
carga positiva do lado do material tipo n e carga negativa do lado do material
tipo p. Como resultado um campo elétrico aparece como no caso de um capaci-
tor de placas paralelas. A força exercida por este campo sobre elétrons e bura-
cos contrabalança o processo de difusão . É importante mencionar que uma vez
alcançado o equilibrio a presença do campo elétrico na região de depleção barre
a maior parte dos portadores livres (elétrons e buracos) desta região (dali a ori-
gem do nome região de depleção ). No equilibrio a densidade de carga na região
de depleção é aproximadamente a desenhada na Figura cp.35 b), onde também
estão mostrados aproximadamente o módulo e direção do campo elétrico e o po-

CEDERJ 148
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.36: Bandas de energia na polarização reversa V < 0.

tencial elétrico nessa região . Na Figura cp.35 b) consideramos o caso onde o Você poderia se perguntar se a
junção p − n não funcionaria
material tipo n está menos dopado que o material tipo p (note que a concentração como uma bateria já que entre
nb na região neutra do material tipo p é maior que a concentração ne na região seus extremos também é criada
uma diferença de potencial Vd .
neutra do material tipo n). Por esta razão na região de depleção a região carregada Conectando fios nos extremos do
positivamente, extendida no material de tipo n, é maior que a região carregada ne- material n e o p, será que
começa a circular uma corrente?
gativamente, extendida no material de tipo n. Note também que a soma das cargas A resposta é negativa. A razão é
negativas e positivas na região de depleção é nula. A integral do campo elétrico que quando conectamos fios aos
extremos dos materias p e n
através da junção é chamada de potencial de contato Vd o potencial da junção ou novas junções são formadas nos
ainda barreira de potencial da junção . contactos entre o fio e o material
da junção p − n introduzindo
Quando a junção p − n é formada a estrutura de bandas se distorce. Na novas diferenças de potencial em
cada uma. É possı́vel mostrar
Figura cp.35 c) mostramos esta estrutura quando o equilibrio é alcançado. Po- que essas diferenças de potencial
demos entender porque os nı́veis de energia tanto na banda de valência como na se ajustam ao longo do circuito
de maneira que a corrente é nula.
banda de condução no lado p são maiores que no lado n, se pensarmos que um No entanto, sim acontecerá uma
elétron na banda de condução do lado n precisa de uma energia eVd (Vd é o po- corrente elétrica se duas destas
junções estiverem a temperaturas
tencial de contato) para passar ao lado p já que deve vencer a força repulsiva do diferentes. Este é o mecanismo
campo elétrico gerado na junção . Assim, dizemos que o elétron para passar ao por trás do funcionamento dos
termopares dentro de uma
lado p precissa vencer uma barreira de potencial eVd . Um argumento equivalente termopilha (por exemplo dentro
vale se pensarmos em passar um buraco do lado n para o lado p. da termopilha de Moll que vimos
nas aulas de radiação têrmica).
Na condição de equilı́brio da junção a energia de Fermi deve permanecer a
mesma através da junção . Isto deve-se ao fato que a energia do sistema a ambos
os lados da junção (energia de Fermi) deve ser mı́nima; se este valor mı́nimo não
fosse igual em ambos os lados da junção existiria um movimento de elétrons e
buracos de maneira a ocupar estados de energia do lado que tivesse uma energia de
Fermi menor e o sistema não se encontraria em equilibrio. O “gap” semicondutor
εg é o mesmo do lado p do que do lado n, e o deslocamento relativo das bandas
de energia é dado por eVd .

149 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.37: Bandas de energia de uma junção p − n conectada a uma bateria na polarização
direta. Em a) está indicada a altura da barreira de potencial eVd − eV que um elétron vindo do
lado n da junção deverá superar para passar ao lado p. Em b) está esquematizado o processo de
recombinação entre elétrons e buracos na junção . Em LEDs, a energia excedente nestes processos
de recombinação corresponde à energia dos fótons emitidos.

CEDERJ 150
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Rectificação de uma junção semicondutora

Queremos ver agora que acontece se conectamos os extremos de uma junção


p − n aos extremos de uma bateria. Veremos que se aplicamos uma voltagem V na
polarização direta (ou seja com o extremo positivo da bateria conectado ao lado p
e o negativo ao lado n, i.e. V > 0) circulará uma corrente maior que se aplicamos
a mesma voltagem porém na polarização reversa (ou seja com o extremo negativo
da bateria conectado ao lado p e o positivo ao lado n, V > 0). Embora ambas
correntes circulem em sentidos opostos dizemos que a corrente esta “retificada”
já que essencialmente sua magnitude é apreciável num único sentido.
Comecemos analizando a situação de equilibrio quando nenhum bateria é
conectada (gráficos da Figura cp.35). Do lado n há uma concentração grande de
portadores ne (portadores negativos) que difundem em todas direções . Quando
os portadores negativos chegam à junção a maioria são repelidos pela barreira de
potencial eVd e só uma fração e−eVd /kB T consegue atravessá-la pelo efeito chamado
de tunelamento quântico. Há também uma corrente de portadores negativos que
se aproxima da junção pelo outro. Esta corrente, IS , também é proporcional à
densidade de portadores negativos na região tipo p a qual é muito menor que a
do lado n. Estes portadores ao se aproximarem da junção desde o lado p sentem
uma diminuição de potencial que os impulsiona para o lado tipo n da junção . No
equilibrio as duas correntes em ambas direções são iguais,
IS ∝ ne (lado p) = ne (lado n)e−eVd /kB T . (cp.56)

Vamos supor que aplicamos a voltagem V na polarização direta (V > 0),


portanto a barreira de potencial do lado p diminui por um valor eVd − eV . As-
sim, a corrente de portadores negativos do lado n para o lado p terá seu fa-
tor exponencial corregido por essa diferença de potencial de maneira que a cor-
rente é I1 ∝ ne (lado n)e−e(Vd −V )/kB T ∝ IS eeV /kB T . Finalmente podemos escrever
I1 = IS eeV /kB T o que corresponde a um aumento exponencial da corrente prove-
niente do lado n. No entanto, a corrente de portadores negativos vindo do lado p
permanece constante desde que V não seja muito grande. Quando se aproximan
da barreira estes portadores ainda sentem uma diminuição de potencial e passam
para o lado n. A corrente total dos portadores negativos através da junção é igual
a diferença entre as correntes de ambos os lados,
I = IS (eeV /kB T − 1) . (cp.57)
Uma análise equivalente poderiamos ter feito para os portadores positivos que
circulam através da junção obtendo-se também a equação (cp.57. A corrente total

151 CEDERJ
Constante de Plank

I de buracos circula para a região tipo n e eventualmente se recombinam com


os elétrons que se encontram em maior concentração nesta região . Os elétrons
que recombinam com buracos deixam a banda de condução e outros elétrons são
fornecidos a esta banda pela bateria do circuito elétrico.
A relação entre corrente I e tensão aplicada V se denomina curva carac-
terı́stica da junção p − n. Uma junção p − n é denominada de diodo semicondutor,
que como qualquer outro tipo de diodo conduz a corrente essencialmente num
único sentido. Isto pode ser apreciado nas curvas caracterı́sticas tı́picas de um
diodo semicondutor nas Figuras cp.38 e cp.39. A Eq. (cp.57) descreve o com-
portamento a partir de V > Vr mostrado na Figura cp.38. Na polarização direta,
V > 0, na curva caraterı́stica observa-se um valor de tensão para o qual o diodo
começa a conduzir significativamente. Na região de voltagens onde isto acontece
nota-se um joelho na curva onde a corrente começa a crescer rapidamente. A
voltagem aplicada no joelho é proporcional à voltagem de contato Vd . Existe um
valor de corrente máxima do diodo a partir do qual este é destruı́do termicamente.
Um ponto de referência grosseira sobre o comportamento da curva caracterı́stica
corresponde a considerar a corrente logo acima do joelho da ordem de grandeza
0, 1 × Imax e correspondendo à voltagem Vd , i.e. I(Vd ) = Id ≈ 0, 1 Imax . Para vol-
tagens 0 < V < Vd a corrente é muito pequena. A curva I − V apresenta um
comportamento aproximadamente exponencial em função do aumento da tensão
aplicada V a partir da tensão de contato Vd ,

I ≈ IS eeV /kB T . (cp.58)

Para voltagens na polarização reversa V < 0 a corrente aumenta muito len-


tamente. No limite de tensões |V | grandes esta corrente corresponde à corrente
de saturação reversa IS e é extremamente pequena, variando entre 10−18 A até
10−9 A (vide Figura cp.39 b)). Na Figura cp.40 está ilustrado o comportamento
da curva caracterı́stica em função da corrente de saturação IS . Existe um valor
de voltagem Vr chamado voltagem de disrupção do diodo na polarização reversa
onde a corrente reversa aumenta também rapidamente para |V | > Vr , atingindo
valores na ordem de grandeza da corrente de condução I. Esta corrente é chamada
de corrente de avalanche. A voltagem de disrupção reversa Vr varia entre 5 −10 V .
Não deve-se operar o diodo nesta faixa de tensões negativas, porque senão pro-
cessos dissipativos levam também à destruição do diodo. Em resumo, podemos
dizer que para tensões positivas, V > 0, o diodo conduz e para tensões negativas,
V < 0, o diodo é considerado bloqueado pois a corrente, chamada de reversa, é
desprezı́vel.

CEDERJ 152
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.38: Curva caracterı́stica de um diodo semicondutor. Na polarização direta a corrente


de difusão começa a crescer rapidamente para valores de tensão V ≈ Vd . No caso de ser um LED
(diodo emissor de luz) a intensidade da luz emitida começa a ser significativa para valores de
voltagens, V , maiores ou da ordem de Vd . Na polarização reversa, Vr é a tensão de disrupção do
diodo.

Figura cp.39: Curva caracterı́stica I − V para um diodo semicondutor. Em a) temos uma visão
global e em b) um detalhe da região entorno de voltagem nula.

153 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.40: Dependência da curva caracterı́stica de um diodo semicondutor com a corrente de


saturação IS .

Emissão de fótons

Vamos ver agora quando acontece a emissão de fótons se for aplicada uma
tensão na polarização direta. Quando os elétrons passam da região n para a
região p, eles são uma pequena minoria cercada por buracos. Desta forma existe
uma grande probabilidade de ocorrer uma imediata recombinação . Energetica-
mente isto corresponde a um decaimento espontâneo do elétron do estado excitado
(banda de condução ) para o estado fundamental ( banda de valência). A probabi-
lidade de emissão de um fóton por recombinação depende da estrutura de banda
dos semicondutores que compoem o diodo. Os diodos que emitem luz tem uma
estrutura de bandas, em ambos os lados da junção , como a mostrada na Figura
cp.41 a), chamada de “gap” direto (por exemplo os diodos de GaAs). Neste caso
o máximo da banda de valência, populada pelos buracos, e o mı́nimo da banda
de condução , populada pelos elétrons, ocorrem no mesmo valor de momento. O
processo de recombinação de um elétron fazendo uma transição do mı́nimo da
banda de condução para o máximo da banda de valência com a emissão de um
fóton deve conservar energia e momento. Como o momento inicial do elétron
é essencialmente igual ao seu momento final, o fóton essencialmente é emitido
com momento igual ao momento do buraco. Em contraste, os diodos que não

CEDERJ 154
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.41: A estrutura de bandas em a) se denomina de “gap” direto, enquanto que a estrutura
em b) de “gap” indireto.

emitem luz tem uma estrutura como a mostrada na Figura cp.41 b), chamada de
“gap” indireto (por exemplo os diodos de Si). Neste caso, os extremos das bandas
têm momentos diferentes, portanto um outro processo é necessário para fornecer
o momento adicional de forma a conservá-lo. Este outro processo corresponde
à transmissão de momento para a rede cristalina que em geral é descrito através
de uma quase-partı́cula chamada fónon. A necessidade deste processo adicional
resulta numa forte redução da probabilidade de emissão de fótons. A energia
excedente da recombinação é assim convertida em vibrações da rede (agitação
têrmica).
Para os diodos emissores de luz (i.e. com estrutura “gap” direto) o processo
de emissão ocorre desde que se mantenha a diferença de potencial, fornecendo
energia ao diodo. Todos os elétrons que migraram para a banda de condução da
região p e que não fizeram uma transição para a banda de valência dessa região
, retornam para a banda de condução da região n através do circuito usado para
aplicar a diferença de potencial.
A probabilidade de emissao começa a ser mais importante quando o poten-
cial fornecido V é aproximadamente igual ao potencial de contato Vd . Em geral
podemos escrever,
eVd = εg + ∆εF (cp.59)

onde ∆εF é pequeno comparado com a largura εg do ”gap”, e pode ser despre-
zado em primeira aproximação (usualmente ∆εF é da ordem de uns poucos meV
enquanto εg é da ordem de eV ). Desta forma, em uma muito boa aproximação
teremos que,
eVd ≈ εg . (cp.60)

155 CEDERJ
Constante de Plank

Note que o valor Vd na curva caracterı́stica do diodo I − V corresponde à região


onde a corrente começa a crescer rapidamente. A energia do fóton emitido será
hc
h f pico = = εg (cp.61)
λ pico
onde h é a constante de Planck, f pico é a frequência de pico da radiação emitida
(ver Figura cp.31 ) e εg é a energia do gap semicondutor. Assim, a frequência
máxima do fóton emitido é definida portanto pela largura da banda proibida do
semicondutor εg . A relação entre a energia do fóton emitido e a voltagem de
contato Vd é
hc
eVd ≈ h f pico = (cp.62)
λ pico
f pico e λ são a frequência e o comprimento de onda dos fótons emitidos, c é a
velocidade da luz, e é a carga do elétron e h a constante de Planck. Deve se men-
cionar no entanto, que há pequenas perdas de energia, devidas ao efeito de Joule
e processos que ocorrem no interior da junção , que têm um valor praticamente
constante para LEDs de um mesmo tipo quando atravessados por uma mesma
corrente elétrica. Portanto ao termo da esquerda deveria-se acrescentar um fator
que corresponde a estas perdas. É assim possı́vel a determinação da constante de
Planck h a partir das medidas de Vd e de f pico ou λ pico .

A curva caracterı́stica de um diodo emissor de luz

Como já vimos, ao aplicarmos a um diodo uma voltagem externa V com o


sinal + conectado ao ânodo (região p) e o sinal − ao cátodo (região n) induzimos
um campo elétrico externo oposto ao local gerado na junção . Desta forma po-
larizamos o diodo no sentido direto fazendo-o conduzir de modo que a corrente
elétrica convencional I positiva flui do lado p para o n e aumenta com a tensão
aplicada na junção . Desta forma o fluxo de elétrons do lado n para o p aumenta.
Por outro lado ao aplicarmos a um diodo uma voltagem externa V com o
sinal − conectado ao ânodo (região p) e o sinal + ao cátodo (região n) induzi-
mos um campo elétrico externo no mesmo sentido ao gerado na junção . Desta
forma polarizamos o diodo no sentido reverso mantendo mesmo assim uma cor-
rente elétrica, porém agora negativa, que flui do lado n para o p. Esta corrente
corresponde a uma pequena quantidade de elétrons que flui do lado p para o lado
n, resultado da geração térmica de pares elétron-buraco nos semicondutores do
diodo. Estas caracterı́sticas valem para todos os diodos, incluindo os diodos emis-
sores de luz.

CEDERJ 156
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Para descrever a curva caracterı́stica de um diodo foi desenvolvido um mo-


delo teórico e a seguinte relação para descrever a curva I −V foi proposta:
 
eV
I = IS (T ) exp −1 (cp.63)
η kB T
onde IS é a corrente de saturação reversa, e é a carga do elétron, kB é a constante
de Boltzmann e T é a temperatura absoluta (em Kelvin), η é um fator de não
idealidade, que é tipicamente igual a 1, mas aproxima-se à 2 para diodos com
altas densidades de carga, e V é tensão aplicada ao diodo. Definindo-se uma
voltagem-temperatura VT igual à
kB T
VT = (cp.64)
e
que na temperatura ambiente é igual ao valor

1.38 10−23 Js 296K


VT = = 25.5mV (cp.65)
1.60 10−19
resulta uma simples expressão para a corrente em função da voltagem aplicada V ,
voltagem-temperatura VT e o fator de não idealidade η
 
V
I = IS exp −1 (cp.66)
ηVT

Nas condições de tensões (a) negativa (polarização reversa), (b) nula e (c) posi-
tiva, para V > 50mV (polarização direta) podemos aproximadamente escrever as
seguintes expressões:
 
eV
I = IS (T ) exp − 1 ≈ IS [0 − 1] ≈ −IS (a) (cp.67)
η kB T
 
eV
I = IS (T ) exp − 1 ≈ IS [1 − 1] ≈ 0 (b) (cp.68)
η kB T
 
eV eV
I = IS (T ) exp − 1 ≈ IS (T ) exp (c) (cp.69)
η kB T η kB T
Estas expressões aproximadas são válidas somente para correntes não muitos altas
I < Imax , onde Imax é a corrente máxima que suporta o diodo e para tensões reveras
até Vr . O processo de disrupção do diodo não é modelado pela equação do diodo.
Podemos escrever a expressão para a curva caracterı́stica na condição ope-
racional de um LED (polarização direta e emissão de luz com certa intensidade)
como
V
I = IS exp (cp.70)
ηVT

157 CEDERJ
Constante de Plank

onde η varia entre 1 até 2. Deve-se também mencionar que a corrente IS (T )


depende exponencialmente da temperatura e da largura do gap de energia εg ≈
Vd /e (Vd é o potencial de contato) resultando:

IS (T ) ∝ exp(−Vd /VT ) . (cp.71)

Determinação da largura do “gap” εg a partir da curva I −V


do LED.

Existem basicamente três formas de estimar a largura do “gap” εg , ou equi-


valentemente o potencial de contato Vd ≈ εg /e a partir da curva caracterı́stica de
um LED na região de polarização direta.

Método visual:

A emissão de luz do LED começa a ser significativa a partir de V ∼ Vd , para


esse valor a corrente I apresentará um valor detectável pelo aparelho de medida.
Portanto o valor de Vd corresponderá aproximadamente a valores de corrente es-
sencialmente não nulos em relação à sensibilidade do amperı́metro usado.

Método da reta tangente:

Proposto por P. O’Connor e L. R. O’ Connor (Phys. Teach. 12, 423-425,


(1974)) estabelece que o valor do potencial Vd corresponde aproximadamente ao
valor da intersecção de uma reta tangente ao gráfico I −V com o eixo das absciças.
A reta tangente é trçada na região de rápido crescimento da corrente I. Variante
deste método consiste em representar os dados experimentais na forma ln(I) −V .
Nesta representação a região de validade da expressão Eq.(cp.70) apresentará um
comportamento linear. A reta tangente aos dados experimentais I −V , neste caso,
é traçada nesta região linear, e a intersecção desta reta com o eixo das absciças
determina um outro valor de Vd .

Método IS dependente de Vd :

Este método aplica a Eq. (cp.71) na Eq.(cp.70) de maneira que,

I(V ) = A e−Vd /ηVT e−V /ηVT − 1 .


 
(cp.72)

CEDERJ 158
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Tomando o logaritmo em ambos os membros desta equação se obtém a relação


linear ln(I) = m V + b, sendo b = ln(A) −Vd /ηVT e m = 1/ηVT . Fazendo uma re-
gressão linear sobre os dados experimentais podemos obter os valores de b e m. A
partir do coeficiente angular obtem-se o valor de η , e apartir do coeficiente linear
calcula-se a quantidade −b/m = Vd − ln(A)ηVT . Desta última relação é possı́vel
determinar o valor de Vd sempre que seja válida a aproximação ln(A)ηVT ≈ 0.
Para a determinação da constante de Planck, h, usaremos somente o Método
visual e o Método da reta tangente pois a experiência indica que estes fornecem
uma melhor concordância com o valor da constante de Planck h aceito na litera-
tura.

Atividades

1. Descreva suscintamente o efeito fotoelétrico e enumere as discrepâncias en-


tre as previsões da teoria clássica e os resultados experimentais.

2. Descreva resumidamente a teoria quântica para o efeito fotoelétrico e como


ela explica os resultados experimentais.

3. Qual a diferença entre um material condutor, um material semicondutor e


um material isolante.

4. Quais são as caracterı́sticas de um material semicondutor do tipo n e do tipo


p.

5. Descreva de maneira sucinta o que é e como opera uma junção p − n.

6. O que é um LED? Como funciona um LED? De que são feitos os LED’s?

7. Compare a produção de luz em uma lâmpada incandescente e a luz emi-


tida por um LED, discutindo aspectos como: princı́pio de funcionamento,
caracterı́sticas da radiação emitida, etc.

8. Discuta com argumentos fı́sicos, sem utilizar qualquer expressão matemática


a relação entre a cor do LED e a tensão em que o LED começa conduzir cor-
rente.

9. Descreva em poucas palavras a diferença entre o efeito fotoelétrico e a ele-


troluminescência.

159 CEDERJ
Constante de Plank

Parte Experimental

Descrição dos equipamentos usados

Os equipamentos usados na experiência de determinação da constante de


Planck são os seguintes:

1. Placa com circuito base contendo: quatro diodos emissores de luz (LED’s
das cores de luz azul, verde, amarelo e vermelho), quatro resistores de
carga, um potenciômetro de ajuste da tensão, conectores para a fonte o am-
perı́metro e o voltı́metro, e uma chave liga-desliga da placa. Este equipa-
mento é mostrado na Figura cp.42.

2. Uma fonte de tensão contı́nua (a tensão máxima requerida será de 7V ).

3. Dois multı́metros, um operando como voltı́metro e outro operando como


amperı́metro.

4. Cabos de conexão.

Descrição do circuito

O circuito básico para a determinação da constante de Planck está esquema-


tizado na Figura cp.43 (compare este diagrama com a Figura (cp.42) notando as
indicações das conexões ). O circuito é somente alimentado pela fonte de tensão
quando a chave-liga a) é selecionada (ver Figura (cp.42)). A corrente I através do
LED e a diferença de potencial nos terminais dos LEDs são medidas quando uma
voltagem externa fornecida por uma fonte de tensão contı́nua é variada através
de um potenciômetro. O potenciômetro tem 3 terminais e permite variar a tensão
entre o terminal central e uma das extreminadas desde 0 até o valor máximo for-
necido pela fonte de tensão.

Use a fonte de tensão DC disponı́vel no polo (que é usada nas disciplinas Fı́sica
3A e 3B). A fonte deve fornecer uma tensão fixa cujo valor máximo não deve
ultrapassar os 5V . Valores de tensão na entrada maiores poderão queimar os
LEDs.

CEDERJ 160
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Figura cp.42: Aparato base usado para determinar a constante de Planck (na foto de cima a parte
da frente e na foto de baixo a parte de trás). Os componentes assinalados são : a) chave liga-
desliga do circuito na placa, b) potenciômetro de ajuste da tensão na entrada do circuito, c) chaves
seletoras de cada LED e d) chave de desvio da corrente para medidas com o amperı́metro. Para
medir a tensão sobre cada LED conecte uma das pernas do voltı́metro no conector 1) e a outra
alternativamente nos conectores: 2) (LED azul), 3) (LED verde), 4) (LED amarelo) e 5) (LED
vermelho). Para medir a corrente no circuito ligue o amperı́metro nos conectores 1) e 7). Quando
o amperı́metro for conectado, a chave d) deve sempre estar ligada de maneira que a corrente circule
entre os conectores 1) e 7).

161 CEDERJ
Constante de Plank

Figura cp.43: Diagrama do circuito para a determinação das curvas caracterı́sticas I.vs.V para os
diferentes diodos emissores de luz (LEDs).

Resistores de carga, conectados em serie com cada LED, limita a corrente


máxima que atravessa cada LED por proteção . Os LEDs estão associados em
paralelo e cada um é ativado separadamente por uma chave de seleção liga-desliga.
Os conectores 6) e 7) do diagrama na Figura (cp.43), que também estão indicados
na Figura (cp.42), permitem introduzir o amperı́metro em série ao circuito. Os
conectores 1) e 2) ou 3) ou 4) ou 5) do diagrama na Figura (cp.43), (ver também
na Figura (cp.42)), permitem associar em paralelo o voltı́metro aos terminais de
cada LED.

Aula 6: Determinação da constante de Planck

Objetivo:

Estimar o valor da constante de Planck h usando diferentes diodos emissores


de luz (LEDs).

Breve descrição da experiência:

As curvas caracterı́sticas de corrente versus tensão I −V para diodos emis-


sores de luz (LED’s) de diferentes cores (comprimentos de onda λ diferentes)
serão medidas. Analizando estas curvas o valor do potencial de contato Vd dos
LEDs será extraı́do. Finalmente, usando o valor conhecido do comprimento de
onda da radiação emitida o valor da constante de Planck será determinado a partir
da relação na Eq.(cp.62).

CEDERJ 162
Constante de Plank
Laboratório Avançado

Procedimento experimental e tomada de dados

Levantamento da curva I −V para os LED’s

O circuito para levantamento das curvas I-V encontra-se indicada na Figura


cp.43 e a foto do equipamento na Figura (cp.42). Leia atentamente a Seção antes
de realizar a experiência que deverá ser realizada seguindo o seguinte roteiro:

1. Primeiramente observe o circuito (na parte traseira da placa), verificando,


antes de introduzir a fonte e os multı́metros, como estão conectados entre si
cada componente, comparando com o diagrama da Figura (cp.43) .

2. Certifique-se que todas as chaves seletoras estão na posição desligada.

3. Conecte a fonte de tensão (que deverá estar desligada) e o amperı́metro à


placa.

4. Certifique-se que os cabos da fonte entrem nos conectores da placa de mesma


polaridade pois estamos interessados somente na medida da corrente direta
sobre os diodos.

5. Selecione o diodo a ser estudado com as chaves seletoras.

6. Conecte o voltı́metro de forma a medir somente a voltagem aplicada ao ter-


minal do diodo selecionado. Preste atenção aos conectores para o voltı́metro
na placa de maneira que a medida da tensão não inclua o resistor de carga.

7. Meça, com o multı́metro disponı́vel, o valor da resistência de carga, r, em


série com o LED utilizado. Compare com os valores fornecidos pelo fabri-
cante contido na Tabela 1.16.

8. Lembrando a fórmula r = (VS −V20mA )/20mA (ver parte teórica, onde uma
corrente segura de operação é de 20mA, correspondendo a uma voltagem
de operação segura de V20mA , ambos valores fornecidos pelo fabricante e
tabelados na Tabela 1.15), determine a voltagem VS máxima da fonte de
tensão . Note que o valor de operação não deverá ser superior ao valor de
5V que o fabricante do kit especifica.

9. Ligue a fonte de tensão e ajuste a voltagem de saı́da da fonte ao valor VS


obtido no item anterior (NUNCA MAIOR DO QUE 5V ). Durante a ex-
periência NÃO ultrapasse a corrente Imax fixada pelo fabricante.

163 CEDERJ
Constante de Plank

LED azul LED verde LED amarelo LED vermelho


λ (nm) 470 568 583 645
λ1/2 (nm) ± 17 ± 16 ± 19 ± 24
r (Ohm) 82 147 149 184

Tabela 1.16: Informações técnicas dos LEDs fornecidas pelo fabricante essencias para
determinação da constante de Planck: λ é o comprimento de onda da luz emitida e λ1/2 é
a largura a meia altura de intensidade máxima e considerada como a variação do compri-
mento de onda (incerteza) ∆λ (nm)

10. Regule o potenciômetro na posição mı́nima .

11. Efetue as medidas de corrente I que atravessa o LED em função da tensão


V aplicada nos seus terminais, variando a tensão da fonte através do po-
tenciômetro. Faça uma primeira varredura completa desde corrente nula até
o valor máximo (em torno de 10 − 30mA), a fim de levantar a curva ca-
racterı́stica do LED. É importante tomar dados de (I,V ) perto e acima do
potencial Vd . Aumente a tensão em intervalos de approximadamente 0, 1V
ou 0, 2V .

12. Monte a tabela relacionada a este LED identificada pelo seu comprimento
de onda e cor contendo os pares (I,V ) (Tabelas 1.17 ou 1.18).

CEDERJ 164
Constante de Plank
Laboratório Avançado

LED vermelho - λ = LED verde - λ =


V (V) I (mA) ln I V (V) I (mA) ln I

Tabela 1.17: LED vermelho-verde

Note que na análise dos dados o gráfico de I −V para o LED será montado.
É possı́vel que medidas adicionais sejam necessárias para o levantamento do
perfil detalhado da curva caracterı́stica do LED (especialmente na região em
torno da tensão de contato e na região de correntes mais altas). Portanto não
desfaça a montagem experimental antes de ter certeza que você obteve uma
curva caracterı́stica bem definida para a análise de dados. Também observe
atentamente os fundos de escala dos multı́metros utilizados, não permitindo
que os valores máximos sejam ultrapassados e procurando sempre trabalhar
com o valor de fundo de escala mais próximo dos valores medidos, de forma
a otimizar a precisão das medidas efetuadas. Lembre que se você ultrapassar
o fundo de escala de um amperı́metro e possı́vel que o fusı́vel protector
queime.

165 CEDERJ
Constante de Plank

LED amarelo - λ = LED azul - λ =


V (V) I (mA) ln I V (V) I (mA) ln I

Tabela 1.18: LED amarelo=azul

13. Método visual de determinação da tensão Vd :

Analizando a sua primeira varredura determine a faixa de tensão onde o


LED começa a conduzir corrente elétrica. Nessa faixa selecione a escala de
leitura de corrente mais sensı́vel do amperı́metro, (menor fundo de escala),
e aumente vagarosamente a tensão aplicada até que o LED comece a emi-
tir luz. Nesse momento uma pequena corrente já poderá ser observada no
amperı́metro. Registre essa tensão, que denominamos então de Vd (visual)
na Tabela 1.19. A incerteza neste método é por apreciação visual também.
Esta observação indica que os dois fenômenos, emissão de luz e condução
estão relacionados como prevê o princı́pio de funcionamento de um LED.
Verificamos deste modo que quando uma corrente de difusão significativa
é gerada, esta conduz a uma intensidade de luz também significativa e per-
ceptı́vel para nós.

CEDERJ 166
Constante de Plank
Laboratório Avançado

A determinação visual da tensão Vd porém não é muito precisa. Ela depende


da sensibilidade do olho humano tanto a diferentes comprimentos de onda como
também à sensibilidade frente a pequenas intensidades. Adicionalmente é crı́tico
medir pequenas correntes na presença de ruı́do elétrico.

14. Repita o procedimento acima a partir do item 7 para os outros LED’s dis-
ponı́veis. Realize as medidas de I −V para levantar as curvas caracterı́sticas
destes diodos, sempre levando em consideração os limites de segurança da
corrente e da tensão para cada LED. Coloque seus dados nas Tabelas 1.17
ou 1.18 e 1.19 acrescentando as incertezas instrumentais dos multı́metros.
Anote os fundos de escala empregados nas medidas.

Cuidados especiais a serem tomados durante a experiência.

1. Procure compreender as conexões elétricas no sistema e verificá-las sis-


tematicamente como forma de prevenir a ocorrência de qualquer erro de
montagem, conferindo sempre com os esquemas e diagramas apresentados
neste roteiro.

2. Observe com atenção os fundos de escala dos multı́metros empregados, to-


mando o cuidado de jamais ultrapassar os valores máximos estabelecidos.
Por exemplo, se você quiser medir uma corrente de I = 100 mA na escala
de 10 mA poderá queimar o fusı́vel interno comprometendo a realização da
experiência.

3. Tome também bastante cuidado em não permitir que uma corrente acima
do limite estabelecido atravesse qualquer um dos LED’s, visto que eles são
facilmente danificados por excesso de corrente. É com essa finalidade que
são empregados os resistores de carga em todas as montagens envolvendo
os LED’s. Jamais deve-se conectar os LED’s a uma fonte de tensão sem a
presença dos resistores de proteção .

Análise dos dados:

Determinação da tensão de contato Vd por métodos gráficos

167 CEDERJ
Constante de Plank

Para obter a tensão de contato dos LEDs a partir de uma análise das curvas
caracterı́sticas I −V siga o seguinte roteiro:

1. Traçe em gráficos as curvas caracterı́sticas I-V para todos os LED’s. Você


poderá usar qualquer programa de computador disponı́vel para construir os
gráficos ou usar uma folha de papel milimetrado.

2. Indique no gráfico de cada LED o valor da tensão Vd (visual) obtido no la-


boratório pelo método visual (Tabela 1.19).

3. A faixa de valores de tensão onde se encontra o valor Vd assim como um


valor médio deste pode ser obtido pelos seguintes métodos gráficos:

Método da reta tangente à curva de dados I −V


Determina-se uma reta tangente à forte subida da curva I −V , i.e. a porção
da curva I − V logo acima do ”joelho”. Por extrapolação , esta reta in-
tercepta o eixo das abcissas (horizontal) onde a corrente é nula (I = 0).
Considera-se a voltagem no ponto de intercepcção como sendo o valor apro-
ximado de Vd . Efetue a extrapolação por varias retas tangentes a diferentes
escolhas de pontos a partir do ”joelho” e ao longo do final da curva I −V .
Determine a seguir o valor médio e a incerteza de Vd . Registre este valor
como Vd (I −V ) na Tabela 1.19.

É interessante verificar como é sensı́vel e crı́tico a sua determinação do valor Vd .


O valor de Vd é dependente tanto da faixa como do número de pontos usados em
sua extrapolação .

4. Lembre que a curva caracterı́stica de um LED pode ser aproximada pela ex-
pressão exponencial da Eq.(cp.70). Porém, esse regime exponencial ocorre
somente em uma faixa de tensões. Tanto no limite de tensões baixas onde
temos a contribuição da corrente térmica, como no limite de tensões altas o
diodo entra em um regime resistivo diferente daquele em que a expressão
(cp.70) é válida. Vamos apresentar a seguir dois métodos para determinar a
faixa de pontos experimentais que seguem a expressão exponencial.

Método da reta à curva de dados “ln I −V ”


Acrescente as suas Tabelas 1.17 e 1.18 o valor do logarı́tmo da corrente
i.e. ln I. Faça os gráficos das curvas lnI − V . Para isto você pode utilizar

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Constante de Plank
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qualquer programa disponı́vel que faça gráficos (por exemplo o programa


de ajuste linear disponı́vel no laboratório do polo). Observe que no gráfico
ln I −V os pontos que seguem uma lei exponencial se dispoem ao longo de
uma reta. Determine esta faixa de linearidade de seus dados. Utilize estes
dados para o procedimento de extrapolação de Vd descrito no item 3) deste
roteiro (”Método da reta tangente à curva I −V ”). Determine o valor de Vd a
partir do cálculo do valor médio para as diversas extrapolações . Faça uma
estimativa da incerteza deste valor adotando o mesmo procedimento des-
crito porém, repare que agora a sua variação na escolha da faixa de pontos
está bem mais restrita. Assim, deve resultar numa incerteza menor que a an-
teriormente determinada. Registre esta tensão como Vd (lnI −V ) na Tabela
1.19.

Método da derivada à curva de dados “I −V ”


Um outro método é tomar a derivada das curvas I −V . Para fazer isto é ne-
cessário aproximar os pontos experimentais por uma curva contı́nua. Esta
curva contı́nua corresponde ao gráfico de uma função matemática que em
algumas regiões corresponderá a uma função exponencial e em outras não .
A função derivada permite a escolha dos dados (I −V ) onde a aproximação
exponencial é razoável pois na região onde estes dados apresentam um com-
portamento exponencial, a derivada será uma função exponencial (a deri-
vada de uma função exponencial também é uma função exponencial), en-
quanto que nas outras regiões a função derivada será bem diferente. Assim,
fazendo a curva da função derivada podemos identificar claramente a faixa
de valores V onde os dados são descritos por um comportamento exponen-
cial. Esta faixa de tensões será a usada no procedimento de extrapolação
descrito no item 3) deste roteiro ( “Método da reta tangente à curva de da-
dos I −V ”). Registre a tensão resultante da extrapolação como Vd (deI −V )
na Tabela 1.19.
Este método se torna muito difı́cil sem o auxı́lio de um programa que de-
termina a derivada de curvas. Caso este não esteja disponı́vel, não será
possı́vel realizar esta análise.

Determinação dos parâmetros caracterı́sticos dos LEDs

A partir dos dados experimentais que são descritos aproximadamente pela


expressão exponencial da Eq.(cp.69) é possı́vel extrair os parâmetros caracterı́sticos

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Constante de Plank

dos LEDS i.e. a corrente de saturação reversa IS e o parâmetro η . Das curvas


ln I − V os pontos que seguem uma lei exponencial podem ser interpolados por
uma reta,
e
ln I = ln IS + V , (cp.73)
η kb T
onde o coeficiente linear e angular são respectivamente:
e
b = ln IS , m = . (cp.74)
η kb T
Uma vez estimados estes coeficientes obtemos,
e
IS = eb , η = . (cp.75)
mkb T
Realize a interpolção linear dos dados usando o programa de ajuste linear dis-
ponı́vel no laboratório do pólo e obtenha os valores de b e m e suas respectivas
incertezas. Meça a temperatura ambiente ou considere igual a T = 293 K caso não
tenha um termômetro disponı́vel. Determine os valores da corrente de saturação
I − S e η para todos os LEDS e registre estes valores na Tabela 1.19. A ordem de
grandeza da corrente de saturação reversa IS está compatı́vel com o esperado ? O
valor do parâmetro η está dentro dos limites esperados?

Determinação da constante de Planck

Nas secções anteriores apresentamos o que é necessário para determinar a


constante de Planck: i) estabelecer o valor da tensão de contato Vd e ii) conhecer
a frequência f da luz emitida por cada um dos LEDs. O modelo teórico de um
diodo emissor de luz prevê uma dependência linear entre Vd e a frequência da
luz emitida (Eq.(cp.62)). Vamos aplicar dois métodos de análise de dados; um
estatı́stico e um gráfico com o objetivo tanto de evidenciar as restrições do modelo
como de estende-lo, contornando sua limitação . Siga os procedimentos descritos
abaixo.

Método Estatı́stico

1. Calcule a freqüência da luz emitida por cada um dos LEDs com as respecti-
vas incertezas e inclua estes valores na Tabela 1.19. Considere os compri-
mentos de onda λ ± ∆λ de cada diodo fornecido pelo fabricante e contidos
nas respectivas Tabelas 1.17 e 1.18.

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2. Considere a Eq. (cp.62) e calcule a partir dos valores de Vd da Tabela 1.20


diretamente o valor da constante de Planck h para cada LED acrescentando
a incerteza. Inclua estes valores na Tabela 1.20

3. Calcule a partir dos diversos valores de h para cada método, o valor médio
e o seu desvio padrão.

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Constante de Plank

LED Vd (V )
cor f pico IS η visual I −V lnI −V deI −
V

Tabela 1.19: Preencha com os dados do LED: cor da luz, freqüência de pico f da radiação emitida,
corrente de saturação IS , fator de idealidade η e tensão de contato Vd obtida pelos diveros métodos
de análise dos dados experimentais.

LED h (Js)
cor visual I −V lnI −V deI −
V

Tabela 1.20: Preencha com os valores da constante de Planck h obtida pelos diversos métodos de
análise dos dados experimentais obtidos a partir de LEDs de diversas cores.

É importante lembrar aqui que a Eq.(cp.62), que relaciona a constante de Planck h ao


potencial de constato Vd , provém de considerar a altura da barreira de potencial eVd apro-
ximadamente igual à largura do “gap” semicondutor εg . No entanto, uma relação mais
acurada consiste em considerar a Eq.(cp.59), que junto com a Eq.(cp.61) deriva na relação

eVd = h f pico + ∆εF . (cp.76)

Fazendo um gráfico dos valores extrapolados de Vd versus f pico , a inclinação da reta es-
tará diretamente relacionada à constante de Planck, independentemente do fator aditivo
∆εF . Equivalentemente, um erro sistemático ∆Vd na determinação de Vd resultará numa
constante aditiva e∆Vd no lado esquerdo da Eq.(cp.76) que não afetará a determinação da
constante de Planck.

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método h(Js) desvio por-


centual
visual
I-V
lnI-V
deI-V

Tabela 1.21: valores da constante de Planck h obtida pelos diversos métodos de análise

Método Gráfico

1. Utilize as tensões Vd introduzidos na Tabela 1.19 e faça o gráfico de Vd em


função f pico para cada um dos métodos de determinação da faixa da tensão
de contato e ajuste uma reta aos pontos experimentais.

2. Observe que as retas não tem coeficientes lineares necessariamente nulos,


ou seja não passam pela origem de coordenadas. Neste caso a relação válida
é a seguinte:
h
Vd = f pico + b = a f pico + b (cp.77)
e
onde a inclinação da reta, o coeficiente angular a, está diretamente associado
ao valor da constante de Planck pela relação

h = a×e b = constante (cp.78)

onde h é a constante de Planck, e = 1.602176487(40) 10−19 C (carga do


elétron) e c = 299792458 m/s é a velocidade de propagação da luz igual
(referência: CODATA Internationally recommended values of the funda-
mental physical constants -
http://physics.nist.gov/cuu/Constants/index.html).

3. Extraia pelo ajuste linear aos pontos experimentais de cada um dos gráficos
o valor da constante de Planck incluindo a sua incerteza, usando um dos
programas de ajuste disponı́veis no polo. Neste caso, a incerteza de h é
obtida por propagação do erro no ajuste das retas. Registre os valores de h
obtidos pelo método gráfico usando as tensões de contato contidas em cada
coluna da Tabela 1.19 e registre estes valores na Tabela 1.21.

4. Calcule os desvios porcentuais nos valores experimentais em relação ao


valor aceito na literatura. Discuta as discrepâncias entre os diversos valores

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experimentais de h obtidos pelos diferentes métodos de análise com o valor


de h da literatura.

5. Discuta as discrepâncias entre os diversos valores experimentais de h obti-


dos pelos diferentes métodos de análise com o valor de h da literatura.

Determinação do comprimento de onda λ e do valor de barreira de energia εgap

1. Utilize a reta de ajuste aos dados experimentais (Vd , f pico ) que voce con-
sidera mais precisa e determine o valor “efetivo” da freqüência f pico da
radiação emitida por um dos LED’s.

2. Utilize o valor de f pico obtido para o LED escolhido e determine o valor da


energia do “gap” semicondutor εg (em eV ) associado a este LED.

Incertezas

Comente as principais fontes de erro envolvidas e discuta algumas alterna-


tivas que poderiam aprimorar a experiência.

Incertezas no comprimento de onda da luz emitida

Para a determinação da constante de Planck utilizamos os valores do com-


primento de onda da luz emitida por cada um dos LEDs que foram fornecidos pelo
fabricante assim como também os valores das suas incertezas. No entanto o pro-
cedimento experiemental correto consiste em determinar o espectro de emissão
correspondente a cada um dos LEDs, de modo a se certificar que tanto o valor
da frequência de pico como a largura espectral coincidem com os valores indica-
dos pelo fabricante. Para este propósito os LEDs mais indicados são aqueles de
encapsulamento transparente, que permitem uma melhor análise espectral.

Incertezas provenientes da dependência do potencial de contato Vd com a temperatura


Outra fonte de erro provém do fato que o potencial de contato é uma função
da temperatura. Um estudo da dependência de Vd com a temperatura indica que o
potencial de contato tem o comportamento:

∆Vd
∆T = −5.7 × 10−4 K (cp.79)
Vd (T = 0)

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onde −5.7 ×10−4 é o valor medido para um certo LED, ∆T e ∆Vd são as variações
na temperatura e no potencial de contato respectivamente, relativos aos seus valo-
res em T = 0K. Adicionalmente Vd (T = 0) é o potencial em T = 0. Este aumento
pode explicar o erro sistemático observado nas medidas em temperatura ambiente.
Teste esta afirmativa usando a equação acima para estimar o valor de Vd (T = 0).

Atividades

1. Mencione algumas aplicações práticas dos LED’s.

2. Faça um gráfico qualitativo da curva caracterı́stica de um LED. Indique as


grandezas relevantes presentes nesta curva.

3. Quais são as expressões aproximadas da corrente de um LED no regime de


polarização reversa, nula e direta.

4. Calcule a tensão sobre um LED com as seguintes especifizações : a) IS =


0.1 f A ( f A ≡fempto-Ampere), I = 300 µ A (µ A ≡micro-Ampere), b) IS =
10 f A, I = 300 µ A. Assuma a temperatura de operação T = 300 K e η = 1.3

5. O método experimental é suficientemente acurado para se determinar a


constante de Planck?

6. Apresente um método para medir o comprimento de onda da luz emitida


por um LED. (Sugestão: Espectroscopia por difração da luz). Inclua na
proposta uma discussão teórica e uma experimental, propondo o aparato,
procedimento e análise experimental.

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