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Espectro do Corpo Negro

Maria Luiza Morais Pires Ferreira

2022
Introdução

Radiação térmica é a radiação emitida por um corpo devido a sua temperatura. Os


corpos absorvem a radiação do meio e a emite, e basicamente existe três situações onde:
 O corpo está inicialmente mais quente que o meio: nesta situação o corpo irá se
resfriar, visto que sua taxa de emissão de energia é superior a taxa de absorção
de energia.
 O corpo está inicialmente mais frio que o meio: nesta situação o corpo irá se
aquecer, pois a taxa de absorção de energia é maior que sua taxa de emissão.
 O corpo está em equilíbrio térmico com o meio: o corpo apresenta a taxa de
emissão igual a taxa de absorção de energia.
A matéria no estado sólido emite um espectro contínuo de radiação, e esses são
praticamente independentes; porém não totalmente; do tipo de material que forma a matéria em
questão, e eles estão intimamente relacionados com a temperatura em que a matéria se encontra. Em
temperaturas usuais os corpos são vistos por nós por meio da luz que refletem e não pela luz que
emitem, assim se nenhuma luz incidir sobre os corpos não os veremos, contudo em temperaturas
elevadas os copos tem luminosidade própria, e poderíamos então enxerga-los em um ambiente
totalmente escuro, contudo, a maior parte da radiação emitida por estes corpos, não será vista por
nós, porque estarão na região do infravermelho (não enxergamos) do espectro eletromagnético.
Estes corpos emissores de luminosidade são muitos quentes e devemos considerar que há uma
determinada contribuição do tipo de material que forma estes corpos, sendo que o que os caracteriza
é, possuírem espectro térmico universal e, por isto, são denominados de corpos negros, ou seja
corpos que absorvem toda radiação térmica incidentes sobre eles.
Importante lembrarmos a definição de reflexão, visto que, a energia refletida por um
corpo é dada pela razão entre a radiação refletida por este corpo pela radiação incidente sobre
ele, e a esta razão dá-se o nome de coeficiente de reflexão que é uma grandeza adimensional e
expressa valores no intervalo de zero a um, onde o valor zero é atribuído a um corpo que não reflete
a radiação recebida (corpos de cor preta) e valor máximo de um é atribuído corpos que refletem a
radiação recebida perfeitamente (corpos de cor branca).
Não podemos confundir a radiação refletida por um corpo com a radiação emitida por
este corpo. A radiação emitida por um corpo é definida como sendo a radiação absorvida por este
corpo que interagem em nível atômico com ele, e em um momento subsequente, este mesmo corpo,
irá emitir a radiação em uma frequência característica, portanto com um comprimento de onda
característico, ou discreto, deferentemente da frequência correspondente a radiação absorvida por
este corpo. Neste processo gera um balanço energético entre a energia absorvida e a energia
emitida, bem como da distribuição da frequência em que a energia será emitida. E é justamente este
balanço energético entre a energia absorvida e a energia emitida e a distribuição da frequência ν que
deu origem aos trabalhos de Kirchoff, Botzmann, Stefann, Wien, Michelson, Weber e Planck.
Podemos estimar a temperatura de um corpo quente observando sua cor, ou a
composição de frequência da radiação térmica emitida por este corpo. Teremos um espectro
contínuo da radiação emitida por este corpo, porém enxergamos apenas a cor correspondente a
emissão mais intensa na região do espetro visível, a qual corresponde a uma frequência ν.
A distribuição espectral da radiação de um corpo negro é dada pela grandeza
denominada radiância espectral RT(ν). A radiância é definida de forma que RT(ν) seja igual à
energia emitida por unidade de tempo, em radiação de frequência compreendida no intervalo de ν a
ν + dν, por unidade de área, de uma superfície a temperatura absoluta T, portanto expressamos:
RT (ν)dν,
E podemos observar que a radiância espectral tem uma dependência em relação a
temperatura e também em relação a frequência ν, vamos utilizar a figura 1 para analisarmos estas
dependências:

Figura 1: Radiância espectral de


um corpo negro em função da
frequência, da radiação mostrada
para temperatura de 1000K,
1500K e 2000K. Fonte: Livro
texto Física Quântica(1).

Analisando a figura 1 podemos verificar que a linha vertical corresponde a frequência ν,


onde a radiância é máxima para cada curva, e que a radiância máxima aumenta linearmente com a
elevação da temperatura, e que a área abaixo de cada curva (potência total emitida por metro
quadrado) se eleva muito rapidamente com o aumento da temperatura. A área abaixo da curva de
1000K mostra que:
 há pouquíssima potência irradiada em um intervalo de frequência fixa d ν,
quando este intervalo representar frequências muito pequenas comparadas
a frequência de 1014Hz;
 Que a potência é nula para frequência ν igual a zero;
 Que a potência irradiada no intervalo dν, cresce rapidamente à medida
que a frequência ν cresce a partir de frequências muito pequenas;
 A potência irradiada é máxima para frequência de 1014Hz;
 A potência irradiada cai lentamente à medida que a frequência aumenta, e se
torna zero para frequências infinitamente grandes.
Integrando sobre todas as frequências ν, obtemos a energia total emitida por unidade de
tempo, por unidade de área do corpo negro à uma temperatura T, que é expressa pela equação:

RT = ∫ RT ( ν) d ν
0

O aumento da radiância espectral com a elevação da temperatura foi anunciado pela


primeira vez por Stefan em 1879 empiricamente, e ficou conhecida como Lei de Stefan:
RT = K.T4, onde K é a constante de Stefan-Boltzmann
O resultado de que o espectro se desloca para maiores frequências, à medida que a
temperatura aumenta, é denominado de lei de deslocamento de Wien: e também foi obtida por ele
de forma empírica.

νmáx α T
onde νmáx é a frequência em que a radiância tem seu valor máximo para uma dada
temperatura.
Estes resultados estão em acordo com os dados experimentais, como por exemplo,
quando colocamos um atiçador de ferro no fogo, e é possível observar que o atiçador no início
quando está em temperatura relativamente baixa, ele irradia calor, e esta irradiação não é visível, e a
medida que a temperatura aumenta a quantidade de radiação térmica que o atiçador emite cresce
rapidamente e torna-se possível observar efeitos visíveis como o surgimento de uma cor vermelha
apagada, passando para uma cor vermelho brilhante, e a temperaturas mais elevadas uma cor
branco-azulada intensa e, à medida que a temperatura aumenta, o atiçador emitirá radiação térmica
crescente até atingir um valor máximo de radiação térmica que terá a frequência máxima para uma
data temperatura correspondente.
As propriedades da radiação térmica e dos corpos negros são estudadas
experimentalmente, por meio de cavidades que contém um orifício como ilustrado na figura 2:

Figura 2: Uma cavidade em um corpo, ligada ao exterior


por um pequeno orifício. A radiação incidente sobre o
orifício e completamente absorvida após sucessivas
reflexões sobre a superfície interna da cavidade. O orifício
absorve como um corpo negro. No processo inverso, no
qual a radiação que deixa o orifício é constituída a partir de
emissões da superfície, interna. O orifício emite como se
fosse um corpo negro. Fonte:

A radiação térmica provinda do meio exterior incide sobre o orifício penetra pela
cavidade e sofre repetidas reflexões entre as paredes da cavidade, onde é absorvida pelas paredes da
cavidade neste processo se consideramos que a área do orifício (abertura) é muito pequena
comparada com a área da superfície interna da cavidade, e por isto, somente uma quantidade
desprezível da radiação incidente será refletida para o exterior, através do orifício, para fora da
cavidade, e assim, teremos que praticamente toda a radiação incidente é absorvida pelas paredes da
cavidade, e desta forma, o orifício apresentará as propriedades da superfície de um corpo negro.
A teoria clássica da radiação de cavidade chegou a resultados teóricos incompatíveis
com os resultados obtidos experimentalmente, a figura 3 sintetiza o resultado teoria clássico.

Figura 3: Previsão de Rayleigh-Jeans


(linha azul) em comparação com os
resultados experimentais (linha
vermelha) para a densidade de energia
de uma cavidade de corpo negro,
mostrando a discrepância chamada de
catástrofe do ultravioleta. Fonte:
Planck consegui formular uma teoria que reproduz os dados experimentais obtidos
fazendo ajustes nos dados obtidos por Stefan- Botzmann e Wein, simplesmente considerando a
energia como uma função discreta e não contínua, o que matematicamente é fazer uma soma
simples das energias, considerando-se que as mesmas assumem valores discretos (valores inteiros) e
não uma integração (procedimento realizado por Boltzmann para a função de distribuição das
energias). Os procedimentos realizados por Planck e Botzamann estão amplamente detalhados na
referência que embasa este relatório. Em 1916 Coblentz publica um artigo científico demonstrando
a que a teoria de Planck está de acordo com os dados experimentais, o que sintetizamos a figura 4.

Figura 4: A previsão de Planck para a


densidade de energia (linha sólida)
comparada com os resultados experimentais
(círculos) para a densidade de energia de um
corpo negro. Os dados foram divulgados por
Coblentz em 1916 e foram obtidos para uma
temperatura de 1.595°K. Os dados quando
analisados levaram um valor de 6,57x10 -34J.s
para a constante de Planck. Fonte:

Materiais e Métodos

Para analisar o espectro do corpo negro como instrumento utilizamos o simulador


online da plataforma Phet.colorado.edu. Nesta plataforma obtemos quatro simulações uma para
cada ponto marcado na linha de temperatura do corpo negro a saber: Terra, lâmpada, Sol, Sirius A.
As quatro simulações foram organizadas em figuras e cada uma delas foram analisadas.

Para a compreensão da teoria física envolvendo o fenômeno do corpo negro, utilizamos


como referência principal o livro texto intitulado Física Quântica, dos autores: Robert Eisberg e
Robert Resnick.
Resultados e Discussão

Para analisarmos o fenômeno físico intitulado corpo negro, simulamos na plataforma


online Phet.colorado.edu, quatro situações, conforme os parâmetros fornecidos pela plataforma.
Inicialmente simulamos a Terra como um corpo negro e obtivemos a simulação apresentada na
figura 5:

Figura 5: Resultado da
simulação obtida no
simulador Phet.colorado.edu,
quando o planeta Terra é visto
como um corpo negro. Fonte:
Simulador online
Phet.colorado.edu

A figura 6 ilustra a simulação. Os dados obtidos na simulação são os seguintes: λ =


9,66x103nm, RT(ν)= 3x10-5MW/m2/µm, Intensidade luminosa = 4,59x102 W/m2, T = 300K (corpo
negro = Terra). Aqui temos então um corpo negro com radiância mínima o que concorda com a
teoria, visto que temos um comprimento de onda muito elevado, consequentemente uma frequência
muito pequena.
Em seguida fizemos a simulação no ponto onde o corpo negro seria uma lâmpada,
conforme mostramos na figura 6:

Figura 6: Resultado da
simulação obtida no simulador
Phet.colorado.edu, quando uma
lâmpada é vista como um
corpo negro. Fonte: Simulador
online Phet.colorado.edu
Da simulação obtemos os dados: λ = 9,660x102nm, RT(ν)= 3,13MW/m2/µm, Intensidade
luminosa = 4,59x106 W/m2, T = 3000K (corpo negro = Lâmpada), pico da radiância espectral está
na região do infravermelho, e o que enxergamos é uma faixa estreita na região do visível.
A próxima simulação foi obtida colocando-se a temperatura na posição do Sol no
simulador. A figura 7 ilustra a simulação obtida.

Figura 7: Resultado da
simulação obtida no simulador
Phet.colorado.edu, quando o
Sol é visto como um corpo
negro. Fonte: Simulador online
Phet.colorado.edu

Da simulação obtemos os dados: λ = 5,00x102nm, RT(ν) = 84,46MW/m2/µm,


Intensidade luminosa = 6,42x107 W/m2, T = 5.800K (corpo negro = Sol), pico máximo da radiância
espectral está região do visível, e esta está totalmente contida dentro do espectro de radiação.
Por último colocamos a temperatura do corpo negro na região denominada no simulador
de Sirius A. A figura 8 ilustras a simulação obtida.

Figura 8: Resultado da
simulação obtida no simulador
Phet.colorado.edu, quando a
estrela Sirius A é visto como
um corpo negro. Fonte:
Simulador online
Phet.colorado.edu
Da simulação obtemos os dados: λ = 2,90x102nm, RT(ν).= 1.286,78MW/m2/µm,
Intensidade luminosa = 5,67x108 W/m2, T = 10.000K (corpo negro = Sirius A), pico máximo da
radiância espectral está região do ultravioleta e na região do visível abrangem mais intensamente a
região de comprimento de onda 380 à 340 (cor violeta) diminuindo significativamente para as
outras regiões da luz visível sendo que a menor parcela do visível incluída é entre 620 a 780nm (cor
vermelha) e decaindo ao longo do infravermelho.
O site apresenta alguns questionamentos sobre o efeito da variação da temperatura no
espectro do corpo negro. Vamos então apresentar nossa discussão para cada questionamento:
Primeiro questionamento: Descrever o que acontece com o espectro de corpo negro à
medida que aumenta ou diminui a temperatura. O que acontece com a forma da curva e o pico desta
curva?
Com o aumento da temperatura ocorre um deslocamento do pico de potência irradiada
máxima, da região do infravermelho para a região do ultravioleta. Através das simulações feitas
observamos este deslocamento do pico de potência irradiada máxima, o que resumimos na tabela 1.

Tabela 1 – Resumos como os dados obtidos nas quatro simulações realizadas no simulador
Phet.colorado.edu.
Temperatura Região do pico Curva de Gauss
Simulação dada pelo máximo do espectro Área sob a curva = Potência
simulador do corpo negro irradiada
Baixíssima potência irradiada
Primeira - Terra 300K Infravermelho
RT(ν) = 3x10-5MW/m2/µm
Baixa potência irradiada
Segunda - Lâmpada 3000K Infravermelho
RT(ν) = 3,13MW/m2/µm
Média potência irradiada
Terceira - Sol 5.800K Visível
RT(ν) = 84,46MW/m2/µm
Alta potência irradiada
Quarta - Sirius A 10.000K Ultravioleta
RT(ν) = 1.286,78MW/m2/µm

Segundo questionamento: Descrever o espectro de corpo negro de uma lâmpada. Por


que as lâmpadas ficam quentes? Elas parecem eficientes?

Na figura 6 apresentamos os dados obtidos na simulação feita no simulador online para


uma lâmpada. Podemos observar que o pico de máxima potência dada para lâmpadas com
temperatura de 3000K está na região do infravermelho e a classificamos como baixa potência
irradiada quando comparamos com a potência irradiada do sol e da estrela Sirius A. Lâmpadas com
esta características são fabricadas com filamento de tungstênio, visto que ele apresenta ponto de
uma temperatura de fusão de 3.695K e quando recebe energia elétrica ocorre a conversão de energia
elétrica em calor, devido ao efeito joule, e comporta-se então como um corpo negro, e temos que a
energia emitida terá comprimentos de ondas na região do infravermelho, os quais não podemos
enxergar e comprimentos de onda na região do visível e são exatamente, esta energia
correspondente aos comprimentos de onda da região visível que ilumina o meio onde a lâmpada se
encontra. As lâmpadas ficam quentes por que a energia que não é emitida na forma de luminosa e
convertida em calor. Sua eficiência está limitada a temperatura de fusão que o filamento suporta,
para maior eficiência a temperatura de fusão do filamento deve ser superior, visto que quanto maior
a temperatura maior a potência irradiada.

Terceiro questionamento: Imagine que você veja dois objetos quentes e brilhantes - um
está brilhando em laranja e o outro está brilhando em azul. Qual deles é mais quente? O azul,
apresenta maior comprimento de onda, consequentemente menor frequência comparado ao
comprimento e frequência da cor laranja. Assim a cor azul é o mais quente.

Quarto questionamento: Encontrar a relação entre a temperatura e o comprimento de


onda no pico da curva. Após analisar as simulações feitas e a teoria do espectro do corpo negro
podemos relacionar a temperatura e o comprimento de onda no pico da curva do espectro do corpo
negro. A tabela 2 apresenta um resumo comparativo destas grandezas:

Tabela 2 – Resumos como os dados obtidos nas quatro simulações realizadas no simulador
Phet.colorado.edu.
Temperatura Comprimento de onda do Frequência para cada
Simulação dada pelo pico máximo do espectro do comprimento de onda.
simulador corpo negro
Primeira - Terra 300K λ = 9,66x103nm f = 3,11x1013Hz
Segunda - Lâmpada 3000K λ = 9,660x102nm f = 3,11x1014Hz
Terceira - Sol 5.800K λ = 5,00x102nm f = 6,0x1014 Hz
Quarta - Sirius A 10.000K λ = 2,90x102nm f = 1,03x1015Hz

Analisando os dados da tabela 2, podemos concluir que à medida que a temperatura


aumenta o comprimento de onda diminui. Assim sendo, o espectro do corpo negro apresentará altas
temperaturas para pequenos comprimentos de onda e o contrário é verdadeiro. Aproveitando nossa
analise ainda podemos comparar este resultado utilizando não o comprimento de onda, mas sim a
frequência no pico máximo do espectro do corpo negro, e verificamos que neste ponto do espectro,
onde a potência irradiada é máxima a frequência associada e este pico é alta.

Conclusão
Concluímos que a utilização de um simulador nos auxilia a compreender e explicar o
fenômeno do espectro do corpo negro de uma forma clara e conclusiva. Que este fenômeno foi
amplamente estudado pelos renomados físicos e matemáticos do passado e, contribuiu amplamente
para o avanço da física, pois a partir dele a física quântica deu seus primeiros passos seguindo
reformulando o conhecimento das leis naturais, vindo a contribuir significativamente para o avanço
tecnológico que hoje experimentamos.

Referências Bibliográficas

1- Resnick R, Eisberg R. Física Quântica, Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas.


Editora Campus. 1ª ed. 1979, pp. 19–42. Rio de Janeiro.

2 - Site https://phet.colorado.edu/sims/html/blackbody-spectrum/latest/blackbody-spectrum_en.html

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