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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MESTRADO EM LINGUÍSTICA
DISCURSOS NA MÍDIA: DO ÓDIO AO AFETO – VISÃO SEMIOLINGUÍSTICA
Aluno: Beatriz Bezerra Carvalho Maia.
Texto: PLATIN, C. As razões das emoções. In____As emoções no discurso. Org.
Emília Mende, Ida Lúcia Machado. SP: 2010. p.57 – 80

O texto tem por objetivo parte da ideia de que é possível “argumentar emoções”
de forma que seja possível construir um “dever experienciar” no discurso.
Primeiramente, mostra como exemplo proposições onde há “orientação explícita do
discurso em direção à expressão de um afeto”. Assim, um enunciado de emoção seria a
conclusão da intenção de um discurso. Destaca-se, ainda, que a linguística não se
interessa apenas pelo léxico das emoções, mas também, pelos verbos e,
consequentemente, os enunciados emocionais.
Partindo da léxico-gramática de Gross, tem-se que os enunciados argumentados
de emoção, correspondem a formalização P(sent, h) “na qual P é uma relação
predicativa que liga duas variáveis, um sentimento sent e um humano h” (Platin 2010,
p.60 apud Gross 1995, p.70). Estes enunciados argumentados surgem da necessidade de
legitimação de uma emoção. Para analisá-los é preciso determinar os atores do texto e
compreender que cada um deles pode estar e um diferente lugar psicológico potencial.
A estes lugares psicológicos são atribuídas as experiências. De maneira geral, os
lugares psicológicos potenciais são: os humanos e os animais, o interlocutor e o locutor
– referentes aos pronomes de primeira e segunda pessoa – e o narrador que, segundo a
regra de sinceridade emocional, tem as mesmas emoções vividas pelo sujeito falante
exceto em casos de mentira emocional.
Quanto aos termo que designam emoções/sentimentos, considera-se, quanto as
emoções diretas, os substantivos que aparecem nos contexto de “um sentimento de +
um substantivo de sentimento” e “ Alguém expericia, sente + art + substantivo de
sentimento”. Além disso, é possível apoiar-se nas listas de sentimentos e emoções
organizadas por psicólogos e linguistas. Quanto as emoções indiretas é possível a
reconstrução sobre base de índices linguísticos, por meio de termos de cores e verbos
que selecionam emoções, e sobre base de lugares comuns situacionais e atitudinais.
Destaca-se também a dificuldade de se estabelecer fronteira entre enunciados de
emoções e enunciados psicológicos.
Assim, o autor considera como argumento para a emoção os enunciados que não
contém um termo de emoção, mas estão orientados em direção a uma. É tido por
argumento todo enunciado que contém um ou mais traços argumentativos, sendo assim,
possível denominar estes traços como patemas. Nesse sentido, as figuras de emoções
também deixam de ser consideradas apenas ornamentais para se tornarem instrumentos
para suscitar emoções.
São apresentadas, a partir de Lausberg, três regras ou preceitos para suscitar
emoções:
 Regra sobre emoção encenada:
o Mostrar-se emocionado(R1). É um momento crucial na
construção do ethos, onde o locutor deve se colocar de forma
empática para com o seu público. Deve sentir para estimular.
Disto advém as figuras de exclamações, as interjeições e as
interrogações.
 Regra sobre a apresentação e a representação:
o Mostrar objetos emocionantes (R2), o punhal de um assassino, a
boneca de uma garotinha...
o Mostrar cenas emocionantes (R3), imagem de cenas ou objetos
emocionantes.
o Mostre a emoção (R4), está ligada a representação(dramatização).
A lágrima de uma mãe, a alegria dos vencedores...
 Regras sobre a mimese:
o Descreva coisas emocionais (R5), tornar emocionante ou
amplificar a emoção por meio da descrição em meios cognitivo-
linguísticos.
A partir de Ungerer são apresentados princípios de inferência emocional:
 Princípio de relevância
o Proximidade entre nós e eles
o Princípio de animação
o Princípio da classificação e enumeração
 Princípio da avaliação
 Princípio da intensidade da apresentação
 Princípio do conteúdo emocional
O texto também menciona as categorias linguísticas da emoção na pragmática
que visam índices linguísticos que correspondem a cada categoria. Em seguida, destaca
o componente cognitivo das emoções (proposto na psicologia por Scherer) que parece
interessar à análise do discurso, uma vez que para o desencadeamento das emoções
existem diversos processos cognitivos envolvidos. Assim, apresenta as duas
formulações do psicólogo para a composição do tratamento cognitivo das informações.
A proposta da pesquisa é trabalhar com os elementos linguísticos que correspondem a
estas operações cognitivas. Assim, o autor se autoriza a propor tópicas das emoções:
 O evento (T1): Parte dos dados emocionantes postos pela cultura. Os elementos
eufóricos e disfóricos pré-construídos e associa-se ao princípio da animação e a
regra da dramatização.
 As pessoas afetadas (T2): Relativo ao efeito que o evento causa em diferentes
pessoas. Está associada ao princípio da classificação.
 Os análogos (T3): Está ligada ao princípio da intensidade e utiliza analogias
para dramatizar o “como” do evento.
 O Tempo (T4): Remete à construção temporal e aspectual do evento.
 O lugar (T5) : Remete a topografia, ao princípio de proximidade.
 A quantidade (T6): Ligada ao princípio de enumeração. A quantas pessoas o
evento afeta.
 Causa/Agente(T7): Está na origem das emoções e imputa responsabilidade.
 Consequências (T8): Consequências para si, duração dos efeitos e
expectativas.
 Conformidade e incompatibilidade com as normas de y(t9): Ligação entre
emoções e valores.
 Possibilidade de controle do evento por y (T10): Possibilidade de influenciar o
evento.
 Qual a distância (T11): A distância entre o evento e as consequências para y.
 É agradável ou desagradável para y(T12): a avaliação global do evento.
O texto conclui a importância de atentar-se para dimensão emocional da
argumentação e risco para o estudo argumentativo que representa a falta de
instrumentos para abordagem deste tema representa para a manutenção de pontos cegos
da teoria argumentativa.

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