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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MESTRADO EM LINGUÍSTICA
DISCURSOS NA MÍDIA: DO ÓDIO AO AFETO – VISÃO
SEMIOLINGUÍSTICA
Aluno: Beatriz Bezerra Carvalho Maia.
Texto: CHARAUDEAU, Patrick. Os estereótipos, muito bem. Os imaginários, ainda
melhor. Traduzido por André Luiz Silva e Rafael Magalhães Angrisano. Entrepalavras,
Fortaleza, v. 7, p. 571-591, jan./jun. 2017

O texto aborda o conceito de estereótipos e saberes de forma a construir o


conceito de imaginários e como estes imaginários podem ser observados pela análise
do discurso.
Inicialmente, questiona-se a noção de comum ao estereótipo por esta ser frequentemente
associada a o julgamento do sujeito, na maioria das vezes, visto como negativo,
ocultando a possibilidade de que haja verdade na proposição considerada como
estereótipo. Ressalta-se que todo julgamento é uma relação entre o eu e o outro, tendo
então a noção do estereótipo reconhecimento na função de estabelecer um elo-social, a
partir do qual a aprendizagem ocorreria com “ajuda de ideias comuns repetitivas como
garantias das normas do julgamento social”(p.573), mas ao mesmo tempo, sendo
rejeitada por “deformar ou mascarar a realidade.”(p.573)
É apresentado, um contraponto entre real e realidade. Sendo a Realidade, o mundo
empírico, aquele que ainda não foi significado e o Real sendo o mundo “construído e
estruturado por atividade significante por meio da linguagem”(p.574), ligado à atividade
de racionalização e marcado pelo afeto e pelo emocional. Assim, “a realidade precisa
ser formatada para tornar-se real. O processo de formatação dessa realidade existe a
presença das representações sociais como “uma mecânica de engendramento dos
saberes e dos imaginários(...)”(p.576). Assim, Charaudeau parte das considerações da
antropologia de que rituais, mitos e lendas são discursos que “refletem a organização
das sociedades humanas”(p.577)para definir Imaginários sócios-discursivos.
Imaginário, então resultaria da simbolização do mundo, um processo de ordem afetivo-
racional, por meio da “intersubjetividade das relações humanas que se deposita na
memória coletiva.”(p.578) O imaginário pode ser social pois a atividade de
simbolização se dá dentro de um domínio de prática social, sendo de dimensão variável
devido a extensão do grupo, do jogo de comparação entre grupos e da memória coletiva
construída através da história. Para ser considerado Socio-discursivo a partir da hipótese
de que “o sintoma de um imaginário é a fala.” (p.579). Ele é construído, então, pela
sedimentação de discursos narrativos e argumentativos, propondo uma descrição e
explicação do mundo e do comportamento humano. Assim, se constrói a partir de tipos
de saber (de conhecimento que se divide em saber científico e saber de experiência, e
saberes de crença que se divide em saber de revelação e saber de opinião) que são
permeados por páthos, ethos ou logos, engendrando-se pelos discursos que circulam nos
grupos sociais, justificando ações e se depositando na memória coletiva. Nesse sentido,
a prática social desempenha um papel de filtro axiológico e um imaginário pode receber
valor positivo ou negativo a depender do domínio de prática no qual está inserido.
Em relação ao conteúdo dos imaginários, é necessário perceber que eles se
constroem do cruzamento de diversos universos de discurso que podem corresponder
aos domínios da prática social, das experiências culturais da vida ou aos domínios de
valor.
Assim, é considerado que o papel do analista do discurso consiste em ver como os
imaginários aparecem, em quais situações comunicativas eles se inscrevem e qual visão
de mundo testemunham.

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