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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE

MESTRADO EM LINGUÍSTICA
DISCURSOS NA MÍDIA: DO ÓDIO AO AFETO – VISÃO
SEMIOLINGUÍSTICA
Aluno: Beatriz Bezerra Carvalho Maia.
Texto: CHARAUDEAU, Patrick. Uma análise semiolinguística do texto e do discurso.
In: PAULIUKONIS, M. A. L. e GAVAZZI, S. (Orgs.) Da língua ao discurso :
reflexões para o ensino. Rio de Janeiro: Lucerna, 2005, p. 11-27.

O artigo aborda questões de ordem teórica e metodológica, dividindo-se em três


pontos principais: justificativa do posicionamento da teoria semiolinguística da análise
do discurso, descrição dos princípios desta e a descrição da metodologia adotada por
ela.
Primeiramente, o autor discute o caráter multi-dimencional da linguagem e situa
a semiolinguística como uma análise do discurso que tem por interesse o estudo da
construção de sentido que se faz através da relação forma-sentido na matéria das línguas
naturais sob “a responsabilidade de um sujeito intencional, com um projeto de
influência social, em um determinado quadro de ação.” Em seguida, é apresentado o
duplo processo de semiotização do mundo, composto pelos processos de transformação
– em que os seres são transformados em identidades nominais, descritivas ou narrativas
– e de transação – que o corre obedecendo aos princípios de alteridade, pertinência e
regulação. No processo de transformação, as identidades nominais são os materiais,
reais, ideais ou imaginários que foram qualificados ao serem conceitualizado e
nomeados. As identidades descritivas se referem as ações que estes seres sofrem ou
performam e as identidades narrativas se referem as relações de causalidade entre as
ações performadas por estes seres e suas qualidades.
O processo de transação permite que o “mundo significado” seja objeto de troca
entre os sujeitos, dessa forma, a relação entre estes processos não é simétrica, havendo
certa subordinação do processo de transformação ao processo de transação. Para que
ocorra a troca é necessário que os parceiros (Eu-Comunicante e Tu-Interpretante)
compartilhem um universo de referências e motivações comuns, mas definam-se pelas
diferenças, desempenhando diferentes papeis no ato de linguagem. Isto caracteriza o
princípio da Alteridade. É necessário também que o sujeito comunicante tenha o
reconhecimento do outro, sendo legitimado para efetuar a troca. Assim, estes sujeitos
formam um contrato de comunicação. O segundo princípio a ser observado, o princípio
da pertinência, requer que o ato de linguagem, então, seja apropriado a seu contexto e a
sua finalidade. Assim, ao produzir um ato de linguagem, o sujeito comunicante busca
afetar seu parceiro - isto é o princípio da influência - e seu parceiro sabe que é alvo de
uma influência. Para que haja a troca, os parceiros devem se ater as regras do contrato
comunicacional, isto é, ao princípio de regulação. Para isto, os parceiros adotam
estratégias que se traduzem no processo de transformação. Com isso, observamos que o
ato de linguagem possui dois níveis, o situacional – que dá conta dos dados espaço
externo e constrói as restrições do ato de linguagem – e o nível comunicacional – onde
estão as maneiras de falar e escrever determinadas pelos dados situacionais - .
Quanto a metodologia, a análise do discurso é caracterizada como empírico-
dedutiva. Tem por objetivo “destacar as características dos comportamentos
linguageiros em função das condições psicossociais que os restringem segundo os tipos
de situações de troca”. Ou seja, busca estudar as condições que propiciam os
comportamentos linguageiros e quais comportamentos são propiciados por quais
condições, denominadas contratos de comunicação, propondo construir uma tipologia
destes contratos. Considera-se que existem contratos mais ou menos gerais que
englobam outros e podem comportar variantes. Ao contrastar textos, aqui entendidos
como manifestação verbal e não verbal, atrela-se a construção do corpus a um critério
de abertura e fechamento que pode ser interno – estabelecido em torno de dados do
contrato – ou externo – enfocando variáveis do espaço, tempo ou confrontando
contratos diferentes.
Diferencia-se então análise de texto de análise de discurso uma vez que a análise
de discurso se debruça sobre um corpus de textos reunidos em torno de um contrato
para que sejam estudadas suas constantes e sua variantes e não está interessado apenas
na discursivização em seu desenvolvimento linear. Portanto, é necessária a distinção
entre o texto, contexto(relação entre os textos em uma sequência) e situação(“condição
contratual de produção-interpretação”).
Quanto a instrumentação de análise, apresentam-se três espaços de estudo dos
atos de linguagem: o espaço de locução, de relação e de tematização-problematização.
Estes espaços são determinados pelas hipóteses metodológicas de que todo sujeito
linguageiro deve saber como ocupar o espaço de fala, legitimando e/ou justificando sua
fala, que todo sujeito deve posicionar-se em relação aos outros e que todo sujeito deve
situar-se quanto a enunciação de sua posição sobre o mundo, organizando e
problematizando sua enunciação de modo adequado.
O texto é concluído com indicações de trabalhos sobre instrumentos de análise
para textos monológicos(“contrato de troca postergada” entre os parceiro do ato de
linguagem), dialógicos( “contrato de troca imediata” entre os parceiro do ato de
linguagem) e não verbais.

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