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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

A JUSTIÇA PENAL E OS PRAZOS DE PRISÃO PREVENTIVA


Edmane de Graciosa Raimundo Adriano
Estudante de Direito UCM-FADIR// Contacto: Edmaneadriano@gmil.com
Resumo
No presente tema o que esta em causa, é que trata-se na verdade de uma alteração de dois dispositivos que
existiam na lei original que é a alínea c) e d) do art. 256 da lei 25/2019 de 26 de Dezembro, introduzida pela lei
18/2020 de 23 de Dezembro. O processo penal são várias fazes, deve existir antes auto de noticia o que nos
conduz a primeira fase que é a fase da instrução do processo, podendo nesta fase o MP, acusar ou arquivar o
processo, somente depois dai teremos a fase da audiência preliminar, podendo aqui também ter um despacho de
pronúncia (é a aceitação dos crimes acusados pelo MP irrecorrível art. 356 do CPP) ou também despacho de não
pronuncia (em que o tribunal pelas evidencias colhidas pelo MP não as considera procedente, podendo o
ofendido na pessoa do seu assistente recorrer). Somente depois desta fase da audiência preliminar vamos para
fase do julgamento. É através do princípio da presunção de inocência que se diz, até que a culpa seja formada,
até que não haja trânsito em julgado da sentença o arguido é inocente. Sem sombras de dúvida que podemos ter
um despacho de pronúncia e um despacho de não pronuncia, depois teremos o julgamento e depois a sentença
condenatória em 1ª instância. Sobre esta sentença proferida em primeira instância cabe recurso, enquanto recurso
estiver em curso por consequência do principio da presunção de inocência não podemos considerar que o
arguido é culpado, há esta disponibilidade de se recorrer a estas medidas para que o arguido não fuja ou não
perturbe o processo que através e destruição de provas quer através de perturbação de testemunhas e que ele não
continue com a pratica criminosa, há necessidade de colocar algumas medidas de coacção.
Palavras – Chave: Inconstitucionalidade. Prisão preventiva. Justiça social.

Abstract
In the present issue, what is at stake is that it is in fact an alteration of two provisions that existed in the original
law, which are paragraphs c) and d) of article 256 of law 25/2019 of 26 December, introduced by law 18/2020 of
23 December. The criminal process has several phases, first there must be a report which leads us to the first
phase, which is the pre-trial phase. At this stage the Public Prosecutor's Office can either indict or close the case,
and only then will we have the preliminary hearing phase, where we can also have an indictment (this is the
acceptance of the crimes charged by the Public Prosecutor's Office, unappealable art. 356 of the CPP) or also an
indictment (where the court, based on evidence gathered by the Public Prosecutor's Office, does not consider the
charges to have merit.) Only after this phase of the preliminary hearing do we go to the trial phase. It is through
the principle of the presumption of innocence that it is said that until guilt is established, until the sentence is
final and unappealable, the defendant is innocent. Without a shadow of a doubt we can have an indictment and
an indictment, then we have the trial and then the conviction in the first instance. On this sentence in the first
instance there is an appeal, while the appeal is in course as a consequence of the principle of presumption of
innocence we cannot consider that the defendant is guilty, there is this willingness to resort to these measures so
that the defendant does not flee or does not disturb the process through destruction of evidence or through
disturbance of witnesses and that he does not continue with the criminal practice, there is a need to put some
measures of coercion.
Key-words: Unconstitutionality. Pretrial. detention. Social justice.

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Introdução
O presente artigo inspirou-se na realidade moçambicana, no seu quadro
jurídico-penal, tomando por base o novo código de processo penal em vigor, que não
estabelece os prazos de duração máxima da prisão preventiva, nas situações em que não tenha
havido condenação em primeira instância, e sem que tenha havido condenação com transito
em julgado. E ainda é possível verificar nos termos do no 2 do artigo 256, que não se verifica a
nível do CPP, e nem no CP, o significado do que sejam os crimes descritos neste número que
igualmente alargam os prazos de duração máxima de prisão preventiva. Diante desta nova
realidade que nos é apresentada sendo que a CRM, no seu no 1 do art. 64 prescreve que os
prazos de duração da prisão preventiva são definidos por lei, e esta lei não fixa estes prazos,
“ como deve ser”, desta forma suscitando as seguintes questões de partida:
 Por quanto tempo o arguido fica em prisão preventiva depois do despacho de
pronúncia?
 Quanto tempo o arguido em prisão preventiva ira aguardar até ao julgamento?
São estas questões que no âmbito da nossa pesquisa merecerão a nossa especial
atenção com vista a procurar possíveis soluções para o efeito.
O presente artigo tem como objectivo geral: analisar a inconstitucionalidade
decorrente do novo Código de Processo Penal no âmbito dos prazos de duração da prisão
preventiva: um olhar para o artigo 256 do Código de Processo Penal face ao princípio da
justiça social.
E, tem como objectivos específicos, conhecer o conceito de prisão preventiva,
os requisitos para que haja a prisão preventiva, descrever as situações que o nosso legislador
admite a prisão preventiva, trazer os problemas levantados a nível do art. 256 do CPP, discutir
a questão da imprevisibilidade dos conceitos dos crimes altamente organizados e de
criminalidade violenta face as garantias do arguido.
Quanto a metodologia em relação ao método de pesquisa utilizar-se-á o método
documental, cujos fundamentos assentam na discussão do posicionamento do legislador e
modos práticos do aplicador da Lei em relação a matéria em análise.
A legislação e a doutrina permitirão também, tomar conhecimento sobre a
realidade objectiva em matéria de prisão preventiva. Sendo também uma pesquisa de índole
qualitativa, os seus métodos são múltiplos, interactivos humanísticos que se move entre
dedução e indução. Porém, o assento tónico baseou-se no uso do método indutivo, tendo sido
analisados os aspectos particulares sobre a prisão preventiva. Em relação aos instrumentos de

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recolha de dados serão definidos como instrumentos de recolha de dados, o levantamento


bibliográfico e a entrevista, instrumentos que nos permitirão uma análise profunda das
questões a volta do problema. Em relação as técnica de apresentação e análise de dados para
apresentação e análise de dados foi aplicado o principal critério que é a categorização. A
categorização deve ser entendida como um processo de redução de dados. A definição de
categorias no presente estudo, foi resultado de um esforço de síntese de aspectos
marcadamente importantes para o estudo
Sendo que optar-se-á uma pesquisa múltipla (segundo a finalidade, abordagem,
objectivos e procedimentos técnicos), ter-se-á como base de discussão dos resultados a análise
do conteúdo, que consistira na leitura e interpretação dos conteúdos abordados na fase da
apresentação e análise dos dados.
1. A JUSTIÇA PENAL E OS PRAZOS DE PRISÃO PREVENTIVA
1.1 Aspectos preliminares e contextualização
Antes de iniciar a nossa abordagem em torno do tema, julgamos ser
imprescindível, conhecer os significados das expresses contantes no tema com vista a tornar a
nossa pesquisa mais perceptível e contextualizada.
Justiça – é a capacidade de dar a cada um o que é devido de acordo com as
diferenças.1
Prisão – impedir que alguém fique livre, acto ou efeito de prender.2
Preventiva – do termo prevenir, antecipar, acautelar. Dispor com antecipação,
chegar antes evitar ou impedir que suceda ou se execute ou se prever um resultado futuro.3
2.Meios de Coacção
Medidas de coacção são medidas que podem ser aplicadas ao arguido desde o
início do processo. Tais medidas contendem com os direitos, liberdades e garantias do
arguido, pelo que só podem ser aplicadas nos casos previstos na lei. São medidas de coacção a
prisão preventiva e a liberdade provisória (mediante caução e por termo de identidade e
residência). Estas medidas podem ser revogadas, alteradas ou extintas, podendo ser
impugnadas pelo interessado.4
Assim ao se falar deste tema, nota-se que a prossecução do processo penal, sem
entraves, em especial aquele colocados pelo arguido, bem como a garantia de execução da
1
CUNHA, Celso, Dicionário Integral da Língua Portuguesa, Texto Editores, p. 451.
2
CUNHA, Celso, Dicionário Integral da Língua Portuguesa, Texto Editores, p. 587,
3
CAETANO, Gonçalves, Dicionário da Língua Portuguesa, Atlas editora, SA., p. 432.
4
SILVA, Germano Marques da, Curso De Processo Penal, 4ª Edição, Revista e Actualizada, Verbo, Lisboa,
2008, p. 321.

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decisão final, enquanto finalidade que se pretende alcançar no processo penal pode exigir a
tomada de medidas, gravosas para a esfera jurídica do arguido e eventualmente para terceiros
(quando atinam coisas), para acautelar que tais finalidades, de ordem processual, venham
efectividade a ser atingidas. Tais medidas constituem as medidas de coacção, as quais têm
finalidade processual porque ditados por fins de ordem processual anteriormente referidas.5
Elas têm ocorrido pela necessidade que o Estado e a sociedade vão sentindo,
designadamente, em evitar a repetição de actos ilícitos cometidos pelo agente, bem como
garantir a presença do mesmo durante a tramitação do respectivo processo e que haja a
possibilidade de cumprir a pena que lhe seja aplicada, quando for caso disso.
3.Prisão Preventiva
3. 1 Antecedentes Históricos
Como ponto de partida, pretende-se dar conta, ainda que de modo sucinto,
breve nota da origem e desenvolvimento do instituto de habeas corpus para, depois dedicar
parte substancial ao conceito tal como hoje é entendido e, mais do que isso, positivado na
Constituição e no Código de Processo Penal.6
Apesar de algumas divergências que poderão ser encontradas aqui e ali, no que
tange à origem deste instituto de relevo para a protecção dos direitos do cidadão é notório um
ponto de intercepção no sentido de afirmar que as suas origens remontam ao direito romano,
quer no sistema romano germânico (civil ou continental) quer mesmo no Roman Duch Law,
com forte ascendência no direito anglo-saxónico.7
Argumenta-se por um lado, que o habeas corpus deriva do instituto
romano Interdicto de Libero Homine Exhibendo, que se aproxima muito do habeas corpus de
tal sorte que alguns autores consideram-no como o natural antecedente do writ inglês. Em
sede do direito romano, somente o homem livre, sujeito de direitos e liberdades podia
impugnar a privação da sua liberdade através do aludido instituto, isto é “pleitear a restituição
da sua liberdade”. O interdictum de libero homines exhibendo visava fundamentalmente
restituir o direito de liberdade (ius libertatis) a qualquer homem livre privado arbitrariamente
de tal direito por acção de terceiros ou impedido de usar a faculdade decorrente do ius

5
CUNA, Ribeiro José, Lições de Direito Processual Penal, Escolar Editora, Maputo, Pág. 366.
6
SILVA, Germano Marques da, Curso De Processo Penal, 4ª Edição, Revista e Actualizada, Verbo, Lisboa,
2008. p. 221.
7
SILVA, Germano Marques da, Medidas de Coacção, Lusiada Editora, Porto. 1999. p. 232.

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libertatis. Apresentado o pedido, o Pretor não curava do dolo malo do captor ou detentor mas
tão-somente a condição de liberdade de qualquer homem.8
Pode-se, com segurança concluir e, à semelhança do instituto inglês que a
figura do interdictum de libero homine exhibendo consistia na apresentação do homem livre
retido perante o magistrado de modo a que a sua presença corporal pudesse ser constatada
pelo magistrado e pelo público (exhibere, deixar fora de segredo), o que ensejava a
oportunidade de o detido defender-se publicamente e perante o magistrado. No mesmo
diapasão, alinha Dugard, John quando se posiciona sobre a origem do habeas corpus.
Ainda no que se refere ao pre-constitucionalíssimo português há quem atribui a origem
do habeas corpus às cartas de seguro, vigentes desde a segunda metade do século XIII até
1830. Entende-se por carta de seguro, o decreto em que o juiz competente concede, ao réu
pronunciado para captura, a faculdade de comparecer em juízo, e, sob certas cláusulas,
regressar solto do crime de que é acusado.9
A conclusão que se impõe é a de que o direito à dignidade da pessoa humana,
associado ao da liberdade deve estar sempre presente na determinação da medida de coacção,
maxime da privação da liberdade, observando-se os princípios da necessidade,
proporcionalidade e adequação como também e, sobretudo, na decisão sobre a providência
de habeas corpus. É igualmente referência padrão na interpretação e aplicação de direitos
fundamentais que são de imediata aplicação. 10
Assume-se, desta forma, esta providência como remedium juris para atalhar,
com rapidez e eficácia uma situação de privação da liberdade actual e efectiva, decorrente de
abuso de poder ou de autoridade. Tal acto pode ter por fonte a acção do magistrado (Judicial e
do Ministério Público) de agentes de autoridade (órgãos auxiliares do MP.) como também da
própria lei.
2.3 O Regime jurídico-constitucional da prisão preventiva
A Constituição consagra o habeas corpus como direito fundamental, com a
característica de direito-garantia da liberdade pessoal do cidadão e, por maioria de razão,
estabelece um prazo de 8 (oito) dias para o seu conhecimento, a contar da data da entrada do
pedido no tribunal competente.

8
CUNA, Ribeiro José, Lições de Direito Processual Penal, Escolar Editora, Maputo, 2014, p. 242.
9
SILVA, Germano Marques da, Curso De Processo Penal, 4ª Edição, Revista e Actualizada, Verbo, Lisboa,
2008. p. 324,
10
SILVA, Germano Marques da, Medidas de Coacção, Lusiada Editora, Porto. 1999. 243.

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Em qualquer fase do processo penal podem ter lugar medidas restritivas da


liberdade do arguido.11
A Constituição da República inclui entre os direitos dos cidadãos, o direito à
liberdade (art. 59º). Estabelece a CRM que “...ninguém pode ser preso e submetido a
julgamento senão nos termos da lei” (art. art. 59º, nº 1).12
Não ignorou, porém, o legislador constituinte a necessidade comunitária de pôr
limites a tal princípio, sem os quais se frustrariam os objectivos do processo criminal, pois se
permitiria que, frequentemente, os criminosos se subtraíssem à acção da justiça. A liberdade
que a Constituição consagra é uma liberdade comunitária, inerente à vida do Homem em
sociedade, daí que se lhe tenham de pôr limites quando são postos em causa certos valores
fundamentais da comunidade.
A prisão preventiva (tal como os restantes meios de coacção) está submetida a
um estrito princípio da necessidade, aferida em função dos fins que a mesmo visa acautelar, e
daí que só seja admitida quando a liberdade provisória for insuficiente, quando os meios
substitutivos não detentivos se revelarem inaptos para assegurar os referidos fins.
3.Conceito de Prisão Preventiva
A prisão preventiva consiste na privação da liberdade física do cidadão antes
da sua condenação por uma sentença do tribunal que seja insusceptível de recurso ordinário,
ou seja por sentença que tenha transitado em julgado.13
A prisão preventiva enquanto instituto corresponde ao estado de privação de
liberdade. Com efeito, a prisão preventiva, justificada por razões de ordem processual, pode
colher tanto os culpados como agravar inocentes, de modo que não está isento de acusação de
injustiça. Por este facto, para além de se restringir aos casos de absoluta necessidade, porque
admissível só nos casos previstos na lei, a ordem jurídica esforça-se por substitui-lo por meios
menos onerosos que igualmente assegurem a manutenção do& arguidos à disposição do
tribunal, por via do mecanismo da liberdade provisória.14
3.1 Fins da Prisão preventiva
Assim a prisão preventiva pode destinar-se a:

11
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro, Código do Processo Penal in
Boletim da República.
12
REPUBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República, (2018), in Boletim da republica I serie 11 de
Junho.
13
SILVA, Germano Marques da, Medidas de coacção, Lusiada Editora, Porto, Pag. 13.
14
FERREIRA, Manuel Cavaleiro, Ob. Cit. pág. 385

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a) Impedir a fuga do arguido, garantindo assim a sua presença nos actos


processuais que a exijam e a garantir a exequibilidade da decisão;15
b) Evitar perturbações para a instrução do processo, garantindo a segurança das
provas, que poderia ser posta em causa por manobras do arguido;
c) Evitar que o arguido cometa novos crimes ou perturbe a ordem e
tranquilidade públicas.
A prisão preventiva verifica-se como garantia da presença do arguido nos actos
processuais em que se exige a sua presença e também para possibilitar a execução das penas
que por ventura lhe venham a ser aplicadas.16
3.2 Quem pode ordenar a prisão preventiva
Quando a prisão se efectuar em flagrante delito não se terão de considerar,
obviamente, as entidades competentes para ordenar, pois aqui são competentes os agentes da
autoridade ou qualquer pessoa, sendo certo que a prisão constitui um dever para as
autoridades e uma simples faculdade para os particulares (art. 299º do CPP).17
Mas se for fora do flagrante delito carece de autorização oficiosa por parte do
tribunal, nos termos do art. art. 246 do CPP.18
4.Duração e Termo da Prisão Preventiva
4.1Duração e termo da prisão preventiva sem culpa formada
A prisão preventiva sem culpa formada, enquanto um mal, justificado por
determinados fins de ordem processual, mas sempre um mal, está sujeito a certos limites, os
quais são mais rigorosos antes da culpa formada, pelo facto da prisão preventiva sem culpa
formada basear-se em meros indícios ou prova indiciária.19
Surge, assim, como um dos limites, o aspecto da duração da prisão preventiva
sem culpa formada, em termos de a lei fixar um máximo dessa duração ou prazos da prisão
preventiva. Outro limite da prisão preventiva sem culpa formada, é o termo desta, que “..pode
resultar do decurso de prazos legais, dentro dos quais, ou se verifica a formação da culpa e a

15
NOVAIS, Jorge Reis, A Dignidade da Pessoa Humana, Dignidade e Direitos Fundamentais, Vol. I., Edições
Almedina, Coimbra, 2016. p. 239.
16
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro, Código do Processo Penal in
Boletim da República.
17
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, 18/2020 de 23 de Dezembro., Código do Processo Penal in Boletim da
República.
18
NOVAIS, Jorge Reis, A Dignidade da Pessoa Humana, Dignidade e Direitos Fundamentais, Vol. I., Edições
Almedina, Coimbra, 2016. p. 243.
19
NOVAIS, Jorge Reis, A Dignidade da Pessoa Humana, Dignidade e Direitos Fundamentais, Vol. I., Edições
Almedina, Coimbra, 2016. p. 456.

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prisão preventiva manter-se-á então já baseada na culpa formada, ou não sobreveio a


pronúncia e a prisão preventiva caduca por força da lei, automaticamente”.20
4.2. Início da Prisão Preventiva
A captura, acto de privação da liberdade, seja em flagrante delito ou fora de
flagrante delito, é que marca o início da prisão preventiva, o estado de privação de liberdade a
que conduz a captura, não sendo de considerar o acto da sua validação judicial, que é
posterior à captura, como sendo o início da prisão preventiva.21
4.3. Duração da prisão preventiva
A duração da prisão preventiva sem culpa formada é fixada pela lei, que os
prevê em dois níveis de tramitação do processo, que se reconduzem às duas primeiras fases do
processo comum: a instrução, e a acusação e defesa.22 Assim, a prisão preventiva extinguir-
se-á quando tiverem decorrido:
a) 4 Meses desde o seu início, sem que tenha sido deduzida acusação;
b) 4 Meses depois da notificação da acusação, sem que, havendo lugar à
audiência preliminar, tenha sido proferido despacho de pronúncia.
Os prazos referidos no número acima são elevados, respectivamente, até 6 e 10
meses, em caso de terrorismo, criminalidade violenta ou altamente organizada, ou quando se
proceder por crime punível com pena de prisão de máximo superior a 8 anos. 3. Os prazos
referidos no número 1 do presente artigo são elevados, respectivamente, para 12 e 16 meses
quando o procedimento for pelas infracções descritas no número 2 do presente artigo e se
revelar de excepcional complexidade, relativamente à qualidade dos ofendidos ou pelo
carácter altamente organizado do crime. A excepcional complexidade a que se refere o
presente artigo apenas pode ser declarada durante a 1.ª instância, por despacho fundamentado,
oficiosamente ou a requerimento do Ministério Público, ouvidos o arguido e o assistente. No
caso de o arguido ter sido condenado à pena de prisão, estando o processo em recurso, a
prisão preventiva extinguir-se-á se ela tiver a duração da pena fixada em primeira instância.

4.3.1 Prisão Preventiva após culpa formada


4.3.1.1 Juízo de probabilidade e maior consistência dos motivos da prisão preventiva
Sabido que a formação da culpa efectua-se mediante despacho de pronúncia, e
sendo este um acto jurisdicional única e exclusivamente da competência do juiz ou autoridade

20
Ibidem
21
Ibidem.
22
CUNA, Ribeiro, Ob. Cit. Pág. 412.

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judicial, resulta daí que a prisão preventiva após a formação da culpa só pode ser imposta por
autoridade judicial, resulta daí que a prisão preventiva após a formação da culpa só pode ser
imposta por autoridade judicial, em atenção ao acórdão n.° 04/CC/2013, de 17 de Setembro,
do Conselho Constitucional, o juiz é única autoridade competente para ordenar a prisão
preventiva fora de flagrante delito em qualquer fase do processo.23
Em termos de haver probabilidade de o arguido vir a ser condenado ou
probabilidade de prova dos factos objecto do processo, a imposição da prisão preventiva
subsequente à culpa formada tem como pressuposto que os respectivos pressupostos materiais
fixados pela lei e razões justificativas foram objecto de uma apreciação ponderada, face a
elementos de prova entretanto recolhidos durante a instrução. Aliás, tal ponderação pressupõe
a pronúncia do arguido, para obviar a situações de levar determinado arguido a julgamento
sem se vislumbrar qualquer possibilidade de sua condenação.24
4.3.2 Termo da prisão preventiva sem culpa formada
O Termo, isto é, o fim da prisão preventiva sem culpa formada verifica-se com
a formação da culpa, deixando em tal situação a prisão preventiva de ser sem culpa formada,
para passar a sê-lo com culpa formada e, consequentemente, o seu regime de duração e termo
ter de ser o aplicável à prisão preventiva após a formação da culpa.25
Enfim, a prisão preventiva sem culpa formada pode conhecer seu termo, com o
decurso dos respectivos prazos legais, de que resulta necessariamente o seu termo, visto
resultar, não puder nenhum arguido continuar preso sem culpa formada além dos prazos
marcados ou fixados na lei, sendo, porém, sujeitos a determinadas obrigações.
5. Apresentação, análise e discussão dos resultados
5.1 O Contexto do Problema de duração máxima dos prazos referentes a
prisão preventiva
O que esta em causa, é que trata-se na verdade de uma alteração de dois
dispositivos que existiam na lei original que é a alínea c) e d) do art. 256 da lei 25/2019 de 26
de Dezembro26, introduzida pela lei 18/2020 de 23 de Dezembro.27

23
CUNA, Ribeiro. Ob. Cit. Pág. 415.
24
NOVAIS, Jorge Reis, A Dignidade da Pessoa Humana, Dignidade e Direitos Fundamentais, Vol. I., Edições
Almedina, Coimbra, 2016.
25
. Ibidem.
26
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro, Código do Processo Penal in
Boletim da República.
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REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, 18/2020 de 23 de Dezembro., altera o codigo de processo penal in
Boletim da República.

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O processo penal são várias fazes, deve existir antes auto de noticia o que nos
conduz a primeira fase que é a fase da instrução do processo (art. 307 e seguintes do CPP),
podendo nesta fase o MP, acusar ou arquivar o processo, somente depois dai teremos a fase da
audiência preliminar (art. 332 e seguintes do CCP), podendo aqui também ter um despacho
de pronúncia (é a aceitação dos crimes acusados pelo MP irrecorrível art. 356 do CPP) ou
também despacho de não pronuncia (em que o tribunal pelas evidencias colhidas pelo MP não
as considera procedente, podendo o ofendido na pessoa do seu assistente recorrer). Somente
depois desta fase da audiência preliminar vamos para fase do julgamento.(357 e seguintes do
CPP).
É através do princípio da presunção de inocência que se diz, até que a culpa
seja formada, até que não haja trânsito em julgado da sentença o arguido é inocente.
Sem sombras de dúvida que podemos ter um despacho de pronúncia e um
despacho de não pronuncia, depois teremos o julgamento e depois a sentença condenatória em
1ª instância.
Sobre esta sentença proferida em primeira instância cabe recurso, enquanto
recurso estiver em curso por consequência do principio da presunção de inocência não
podemos considerar que o arguido é culpado, há esta disponibilidade de se recorrer a estas
medidas para que o arguido não fuja ou não perturbe o processo que através e destruição de
provas quer através de perturbação de testemunhas e que ele não continue com a pratica
criminosa, há necessidade de colocar algumas medidas de coacção.
Todavia, é importante compreender que estas medidas devem ser sempre as
mais adequadas e proporcionais, o nosso entendimento é que o CPP, com sua revisão pontual
não fixa o limite da prisão preventiva, e permite que no âmbito das fazes só há uma previsão
dos limites da prisão preventiva até ao despacho de pronúncia. E, depois do despacho de
pronuncia.
Depois despacho de pronúncias não temos prazos a prisão preventiva, que só
ira ocorrer se o arguido depois de condenado em 1ª instância cumprir metade do limite
máximo da pena.
Por exemplo: temos uma sentença, no processo comum tem-se 20 dias para
poder recorrer e se ele recorre, não temos uma sentença em trânsito em julgado, logo não
podemos considerar que é culpado, esta redacção permite que o arguido cumpra até a metade
da pena que for decidida na 1ª instância. Se nos temos um crime de homicídio voluntario
simples, previsto pelo art. 159 do CP, a pena vária dos 16-20 anos, ou homicídio qualificado

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ou agravado as penas variam de 20-24 anos (art. 160)28, O individuo pode cumprir até 10 anos
de prisão, para o homicídio voluntario simples e 12 para o homicídio agravado, estadando em
prisão preventiva o que não é adequado.
Não podemos olhar para a prisão preventiva como uma pré – pena. Enquanto
não temos os prazos acreditamos que os magistrados vão ficar digamos de animo leve,
digamos que não terá aquela pressão para em tempo útil decidir, será que vamos ficar três
anos, dois anos esta redacção prevê as duas primeiras fazes e não outros.
Quanto tempo o arguido em prisão preventiva ira aguardar ate ao julgamento,
nesta nova redacção não temos resposta, eventualmente até a metade da pena, uma vez
acusado e houve audiência preliminar.
No no 2 do artigo 256 esta questão não se percebe, estamos a ver um
alargamento de 4 a 8 meses, não temos no CP, está previsão dos crimes altamente
organizados, e qual é a criminalidade violenta, e que qualidade de ofendidos e arguidos que se
pretende, sendo assim uma questão subjectiva quando começo a cumprir essa medida não sei
se este crime é ou não de criminalidade violenta ou altamente organizado.
Para concluir nota-se que fazendo uma análise dos códigos, nota-se que estes
prazos foram importados e não se coadunando com a nossa realidade, o individuo não pode
ver prejudicado as suas garantias constitucionais, (art. 64 da CRM).
Anterior redacção tinha alíneas c) 14 meses antes da condenação e d) 18 meses
depois de condenado tendo interposto recurso de dentro deste prazo não se ter uma solução a
prisão extingue. A liberdade é regra e a prisão é uma excepção.

5.2 O código de processo penal a as suas revisões


A prisão traduz-se na consequência simultaneamente mais paradigmática e
mais extremosa em decorrência de lesões a bens jurídicos protegidos pelo Direito Penal. É,
indesmentivelmente, a manifestação mais sonante do poder punitivo do Estado, na sua função
de guardião dos valores axiológicos que nos são aprovisionados pela consciência moral
colectiva, cerceando-se um dos mais nucleares direitos de que são titulares os cidadãos – o
direito a liberdade - universalmente concebido como um direito umbilicalmente vinculado à
dignidade da vida humana.
É precisamente devido a natureza superlativa do direito a liberdade que pede
meças ao direito à vida e à saúde entre nós constitucionalmente consagrado no n.º 1 do artigo
28
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de Moçambique in
Boletim da República.

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59 da Constituição da República (CRM)29, que a respectiva restrição deve obedecer a critérios


rigorosíssimos de apreciação, visto que, dessa restrição, se coarcta tão sacrossanta dádiva,
atribuída a todos os seres pensantes como elemento inerente à sua inalienável condição de ser
humano.
O Direito Penal, na prossecução das suas finalidades, tem conhecido, ao longo
dos tempos, uma evolução que se direcciona no sentido de amolecer as características mais
sancionadoras que sempre lhe foram intrínsecas. Se tradicionalmente, apontavam-se-lhe as
finalidades “preventiva especial”, “preventiva geral” e “retributiva”, hoje é escancaradamente
visível em vários ordenamentos do universo que as citadas finalidades se vêem enfraquecidas
após lhes terem sido impostas a companhia de outras três finalidades/funções representativas
do Direito Penal moderno: a “justiça restaurativa”, a “função reparadora” e ainda a “função
ressocializadora da pena”.
O que se disse acima, consubstancia-se no conteúdo plasmado no artigo 58 do
actual Código Penal (CP)30, aprovado sob os auspícios da Lei n.º 35/201431, nos termos do
qual «a aplicação de qualquer medida ou pena criminal visa garantir a protecção dos bens
jurídicos, a reparação dos danos causados com a infracção praticada, a reinserção do agente
na sociedade e prevenir a reincidência», conteúdo que também foi transplantado para o artigo
59 do novo CP, aprovado sob a égide da Lei n.º 24/2019, que cura ainda de fazer menção que
aquelas finalidades são perseguidas sem prejuízo da finalidade repressiva da pena. Claro se
torna, que estas últimas particularidades se enquadram numa visão de humanização, quer do
Direito em si e quer também do tratamento dos arguidos/presos, e constituem afloramento da
Doutrina do “Direito Penal Mínimo” que, essencialmente, nos ensina que a prisão de um
individuo, exprimida como medida mais gravosa que lhe pode ser imposta por uma pena (ou
medida de coacção), só pode ser levada a cabo se outras medidas mais conservadoras não se
mostrarem adequadas a consecução dos objectivos das penas.
Moçambique, à luz do CP ainda vigente diploma que caminha aceleradamente
para o respectivo sepulcro e lá jazerá para dar lugar ao novo CP já carreava os princípios do
Direito Penal Mínimo, concretamente, no artigo 57 do actual CP ao estipular que «a privação
da liberdade apenas ocorre ou se mantém quando, através da aplicação doutras medidas ou
penas não privativas da liberdade, não for possível prevenir a prática futura de crimes pelo

29
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República, (2004) in Boletim da República I série nº115
de 12 de Junho.
30
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de Moçambique in
Boletim da República.
31
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 35/204, de 24 de 31 de Dezembro, Código Penal de Moçambique
in Boletim da República.

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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

infractor ou pelos restantes membros da comunidade em geral ou garantir a protecção dos


bens jurídicos», princípios que foram herdados pelo artigo 67 do novo CP, que prepara a sua
estreia no panorama jurídico nacional, que vai mais longe do que o seu “diploma antecessor”
ao estabelecer, no referido artigo 67, sob epígrafe «prevalência das penas e medidas não
privativas de liberdade» o seguinte: «na função individualizadora de fixação da pena,
privilegiam-se as medidas substitutivas à pena de prisão, com realce no seu carácter de
ressocialização, colocando-se, sempre que possível, nos termos da lei, o agente em liberdade
monitorado pelo Estado e pela comunidade».
Atrelados ao princípio atrás mencionados, foram, no CP ainda vigente,
introduzidas as figuras das penas alternativas à pena de prisão e medidas alternativas à pena
de prisão, institutos que, repete-se, densificam o princípio segundo o qual, só se podem
aplicar penas privativas da liberdade se outras medidas ou penas de carácter mais sensual não
se mostrarem legalmente convenientes para garantir o estabelecido no encimado artigo 57 do
actual CP.32
Toda esta lucubração efectuada supra, incidente sobre o direito penal
substantivo (que qualifica os crimes e estabelece as respectivas penas), serve de mediação
destinada a uma melhor compreensão do que pretendemos esgrimir, no que concerne aos
[novos] requisitos da prisão preventiva, enxertados no novo CPP. Assim, flui, com toda a
naturalidade, que, da homogeneização dos citados princípios do direito penal substantivo
(CP), o direito penal processual (CPP) também se deve harmonizar com a fisionomia daquele,
pois este, que adjectiva àquele, fixando a ritologia processual e procedimental que deve ser
obedecida na prossecução das finalidades daquele – e não é por coincidência que os novos CP
e CPP entrarão em vigor em data idêntica deve tratar de concretizar, no percurso do processo-
crime, os princípios respaldados naquele.
Compulsando-se o regime instituído no novo CPP respeitante à disciplina das
medidas de coacção, a prisão preventiva (artigo 243) continua sendo a medida mais gravosa,
todavia, ao lado dela, e com feições similares a ela, surpreende-se, no artigo 242, outra
medida de coacção, entre nós inovatória: a “obrigação de permanência na habitação”, também
denominada, na Doutrina, de “prisão domiciliária”. Apesar de o novo CPP também prever
outras medidas de coacção como o “termo de liberdade e residência”, “caução”, “obrigação de

32
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de
Moçambique in Boletim da República.

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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

apresentação periódica”, “suspensão do exercício de funções, de profissão e de direitos”, e


“proibição de permanência, de ausência e de contactos”.33
Apesar de estabelecer, no seu artigo 245, que nenhuma medida de coacção à
excepção da relativa ao termo de identidade e residência (TIR), poder ser aplicada se em
concreto se não verificar:34
(i) fuga ou perigo de fuga;
(ii) perigo de perturbação do decurso da instrução ou da audiência preliminar
do processo e, nomeadamente, perigo para a aquisição, conservação ou veracidade da prova;
(iii) perigo, em razão da natureza e das circunstâncias do crime ou da
personalidade do arguido, de perturbação da ordem e da tranquilidade públicas ou de
continuação da actividade criminosa, de entre o rol das medidas de coacção elencadas,
destaca-se que a prisão preventiva e a obrigação de permanência na habitação (ou prisão
domiciliária), diferenciam-se largamente das demais, em virtude de ambas se caracterizarem
pela aplicabilidade da restrição da liberdade do arguido, que se vê, em ambas, compelido a
permanecer num espaço diminutamente delimitado, circunscrito e confinado, ou seja, em
autêntica situação reclusória (distinguindo-se, entre ambas, somente o local: estabelecimento
penitenciário ali, domicílio aqui).
Relativamente a medida de coacção “prisão domiciliária”, o n.º 1 do artigo 242
salienta que «se houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de prisão
superior a 2 anos, o juiz pode impor ao arguido a obrigação de se não ausentar, ou de se não
ausentar sem autorização, da habitação própria ou de outra em que de momento resida». O n.º
2 do sobredito artigo adverte que «para fiscalização do cumprimento da obrigação referida no
número 1 podem ser utilizados meios técnicos de controlo à distância, nos termos previstos na
lei. Por sua vez, no que concerne a medida de coacção “prisão preventiva”, a alínea a) do n.º 1
do artigo 243 assevera que «se considerar inadequadas ou insuficientes, no caso, as medidas
referidas nos artigos anteriores, o juiz pode impor ao arguido a prisão preventiva quando
houver fortes indícios de prática de crime doloso punível com pena de prisão superior a 2
anos.
Conforme se pode concluir com meridiana facilidade, quer a prisão preventiva
quer a domiciliária, para além dos requisitos delineados no artigo 245 35 (que faz menção

33
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de Moçambique in
Boletim da República.
34
Idem.
35
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de Moçambique in
Boletim da República.

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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

expressa que devem ser observados “em concreto”) que são comuns a todas medidas de
coacção à excepção ao TIR –, ambas possuem como requisito basilar e indeclinável para os
respectivos decretamentos, a existência de “fortes indícios de prática de crime doloso punível
com pena de prisão superior a 2 anos”. A pedra de toque determinativa da opção pela prisão
preventiva ao invés da prisão domiciliária, será no caso de o juiz considerar inadequada ou
insuficiente a prisão domiciliária. É, laconicamente, só isto que a lei processual diz.
5.3 Quando é que ela é inadequada ou insuficiente?
A lei não tratou de elucidar. Ora, um ponto de destrinça colocado nestes termos
tão perfunctórios, possui todas as condições para se transformar num perigoso foco gerador de
problemas a nível decisório, sob o ponto de vista processual, com repercussões nocivas ao
nível dos direitos, liberdades e garantias dos arguidos, isto para além de colocar o próprio juiz
numa autêntica camisa-de-onze-varas. Sendo que os requisitos gerais para o decretamento de
ambas as medidas são as mesmíssimas (fuga ou perigo de fuga, perigo de continuação da
actividade criminosa e perigo de perturbação da instrução), o requisito especial respaldado na
moldura penal aplicável aos crimes a ela sujeitas é similar (crimes superiores a 2 anos) e, por
fim, a modalidade de culpa envolvida é idêntica (só se aplicam a crimes dolosos), tememos,
honestamente, que o arguido saia profusamente prejudicado pelo simples facto do Tribunal
não possuir os meios técnicos de controlo à distância idóneos a garantir o controlo e
fiscalização do cumprimento, por parte do arguido, das obrigações que lhe são impostas na
prisão domiciliária (n.ºs 1 e 2 do artigo 242).36
Pois, colocadas as coisas como estão no novo CPP, que proíbe a aplicação de
qualquer medida de coacção, à excepção ao TIR, se “em concreto” não verificarem os
requisitos delineados no artigo 245, o juiz está a partir de agora - na verdade, sempre esteve,
mas, agora, está mais do que nunca – obrigado a fundamentar a real existência dos elementos
concretos que determinam a decisão de decretar a prisão preventiva. Não valerão nem
suposições, nem presunções e muito menos desconfianças inspiradas na subjectividade do
juiz. O despacho que determinar a prisão preventiva (ou a sua manutenção), não só deverá
fundamentar, como também deverá provar na verdadeira acepção da palavra que concorrem
situações insuficientes e/ou inadequadas para optar pela prisão domiciliária.
Não nos podemos olvidar que o nosso CP (quer o actual quer o vindouro) é
inspirado pelos postulados do Direito Penal Mínimo (no sentido de se dar primazia às
medidas punitivas mais modestas, antes de se lançar mãos às mais gravosas); e se partirmos

36
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de Moçambique in
Boletim da República.

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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

do inafastável princípio que o CPP adjectiva aquele diploma, lógico se torna que a medida de
coacção mais gravosa (prisão preventiva) só poderá ser manuseada se as medidas mais
conservadoras se mostrarem, numa apreciação sempre casuística, irrecomendáveis.
Por outras palavras, fica claro que a prisão domiciliária passa a ter preferência
comparativamente a prisão preventiva, sendo que, concorrendo, entre si, os requisitos para o
decretamento de ambas as medidas coactivas (que, conforme vimos, são mesmíssimos), a
prisão domiciliária traduzir-se-á na regra e a prisão preventiva consistirá na excepção
colocada na “retaguarda das medidas”, que somente será convocada se, fundamentadamente,
ilustrar-se que aquela se mostra insuficiente e inadequada para a realização dos seus fins.
Considerações finais
Depois de feito o presente artigo, sai a conclusão que, O processo penal são
várias fazes, deve existir antes auto de noticia o que nos conduz a primeira fase que é a fase
da instrução do processo, podendo nesta fase o MP, acusar ou arquivar o processo, somente
depois dai teremos a fase da audiência preliminar, podendo aqui também ter um despacho de
pronúncia (é a aceitação dos crimes acusados pelo MP irrecorrível art. 356 do CPP) ou
também despacho de não pronuncia (em que o tribunal pelas evidencias colhidas pelo MP não
as considera procedente, podendo o ofendido na pessoa do seu assistente recorrer). Somente
depois desta fase da audiência preliminar vamos para fase do julgamento. É através do
princípio da presunção de inocência que se diz, até que a culpa seja formada, até que não haja
trânsito em julgado da sentença o arguido é inocente. Sem sombras de dúvida que podemos
ter um despacho de pronúncia e um despacho de não pronuncia, depois teremos o julgamento
e depois a sentença condenatória em 1ª instância. Sobre esta sentença proferida em primeira
instância cabe recurso, enquanto recurso estiver em curso por consequência do principio da
presunção de inocência não podemos considerar que o arguido é culpado, há esta
disponibilidade de se recorrer a estas medidas para que o arguido não fuja ou não perturbe o
processo que através e destruição de provas quer através de perturbação de testemunhas e que
ele não continue com a pratica criminosa, há necessidade de colocar algumas medidas de
coacção.
Todavia, é importante compreender que estas medidas devem ser sempre as
mais adequadas e proporcionais, o nosso entendimento é que o CPP, com sua revisão pontual
não fixa o limite da prisão preventiva, e permite que no âmbito das fazes só há uma previsão
dos limites da prisão preventiva até ao despacho de pronúncia. E, depois do despacho de
pronúncia. O tema em referencia é de capital importância, pois tratando-se de um Estado de

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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

Direito há necessidade de serem garantidos os Direitos dos arguidos evitando assim que ele
cumpra ate a metade da pena, pois antes que a sentença transite em julgado presume-se que
este é inocente em função do principio da presunção de inocência o que no nosso
entendimento não poderá ser limitado o seu direito de locomoção por tempo indeterminado,
pois a nova redacção trazida nos presente um exemplo muito claro que não são garantidas ao
arguido as suas garantias constitucionais, e o respeito a dignidade da sua pessoa, e que por
sinal este em termos dos seus direitos é um cidadão ou seja é um individuo igual qualquer um
ate que se prove o contrario o que não deveria suceder é que os prazos de duração da prisão
preventiva deveriam ser fixados tal como se encontrava a na anterior redacção em linha de
mestrado o tema estaria ligado ao Direito Penal. Assim sendo tomando por base a exposição
acima referida é inegável relevância de discussão deste tema, pois constitui um retrocesso a
nível da legislação processual penal.

Referências bibliográficas
Doutrina:
CAETANO, Gonçalves, Dicionário da Língua Portuguesa, Atlas editora, SA, 2007.
CUNA, Ribeiro José, Lições de Direito Processual Penal, Escolar Editora, Maputo, 2014;
CUNHA, Celso, Dicionário Integral da Língua Portuguesa, Texto Editores, 2010.
FERREIRA, Manuel Cavaleiro de. Curso de Processo Penal, Lisboa;
SILVA, Germano Marques da, Curso De Processo Penal, 4ª Edição, Revista e Actualizada,
Verbo, Lisboa, 2008;
SILVA, Germano Marques da, Medidas de Coacção, Lusiada Editora, Porto. 1999.
NOVAIS, Jorge Reis, A Dignidade da Pessoa Humana, Dignidade e Direitos
Fundamentais, Vol. I., Edições Almedina, Coimbra, 2016.
Legislação:
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, Constituição da República, (2004) in Boletim da
República I série nº115 de 12 de Junho.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 24/2019, de 24 de Dezembro, Código Penal de
Moçambique in Boletim da República.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, lei nº 25/2019, de 26 de Dezembro, Código do Processo
Penal in Boletim da República.
REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, 18/2020 de 23 de Dezembro., altera o codigo de
processo penal in Boletim da República.

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AUTOR: EDMANE DE GRACIOSA RAIMUNDO ADRIANO, DIREITO - 2021

REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE, CONCELHO CONSTITUCIONAL, Acórdão n.º


04/CC/2013, de 17 de Setembro. Maputo, 2013.

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