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Faculdade de Engenharia
Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores
F. MACIEL BARBOSA
SOBRETENSÕES DE MANOBRA
ABRIL 2007
Sobretensões de Manobra
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Sobretensões de Manobra
SOBRETENSÕES DE MANOBRA
ÍNDICE
1.INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 5
2.ENERGIA ARMAZENADA NUM CIRCUITO ELÉCTRICO .......................................................................... 7
3.FENÓMENOS TRANSITÓRIOS EM CIRCUITOS ELEMENTARES EM CORRENTE CONTÍNUA ........................ 9
4. FENÓMENOS TRANSITÓRIOS EM CIRCUITOS ELEMENTARES EM CORRENTE ALTERNADA ................. 12
5. TENSÃO DE RESTABELECIMEMTO RESULTANTE DA ELIMINAÇÃO DE UM CURTO-CIRCUITO ........... 15
6. TENSÃO TRANSITÓRIA DE RESTABELECIMENTO DE FREQUÊNCIA DUPLA .................................. 25
7. DEFEITO QUILOMÉTRICO ........................................................................................................................................ 30
8. CORTE DE UMA PEQUENA CORRENTE INDUTIVA ........................................................................................... 41
9. TENSÃO DE RESTABELECIMENTO NOS POLOS DE UM DISJUNTOR TRIPOLAR (Factor do 1º polo) ................ 46
10. DEFEITO CONSECUTIVO .................................................................................................................................. 49
11. CORTE DE UMA CORRENTE CAPACITIVA ............................................................................................. 52
12. OS DISJUNTORES E AS SOBRETENSÕES DE MANOBRA................................................................................ 61
13. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................................... 65
14- PROBLEMAS.............................................................................................................................................................. 67
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Sobretensões de Manobra
ÍNDICE FIGURAS
Figura 1 - Circuito constituído por um conjunto de baterias em série com uma resistência e um condensador................. 10
Figura 2 - Evolução da tensão nos terminais do condensador ao longo do tempo.............................................................. 11
Figura 3 - Ligação do circuito indutivo ............................................................................................................................ 12
Figura 4 - Representação gráfica da equação 4.7................................................................................................................ 15
Figura 5 - Circuito equivalente para a análise da tensão de restabelecimento, quando o disjuntor elimina o
defeito. ............................................................................................................................................................................... 16
Figura 6 – Tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor representado na figura 5 após a eliminação da
corrente de defeito ............................................................................................................................................................. 20
Figura 7 - Tensão de restabelecimento após a interrupção de uma corrente assimétrica.............................................. 22
Figura 8 - Efeito da tensão do arco na tensão de restabelecimento ................................................................................. 23
Figura 9 - Evolução no tempo da tensão de restabelecimento aquando da eliminação de um curto-circuito ................ 23
Figura 10 - Circuito para a análise da tensão transitória de restabelecimento de frequência dupla .................................... 26
Figura 11 - Tensão transitória de restabelecimento de frequência dupla ............................................................................ 27
Figura 12 - Tensão transitória de restabelecimento, de frequência dupla, estabelecida entre os contactos do disjuntor .... 28
Figura 13 - Exemplo de um circuito com frequência dupla .................................................................................................. 28
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Sobretensões de Manobra
SOBRETENSÕES DE MANOBRA
1.INTRODUÇÃO
As sobretensões que surgem numa rede, podem, de uma forma simplista, dividir-se em
sobretensões de origem externa e de origem interna.
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Sobretensões de Manobra
Os aumentos dos níveis de tensão que têm vindo a ser utilizados nas redes de transporte e
interligação fizeram com que as sobretensões de manobra assumissem uma grande importância.
De facto, para tensões superiores a 400 kV, são as sobretensões de manobra, que podendo atingir
valores de 3 a 4 p.u., condicionam os níveis de isolamento, ao contrário do que sucedia para
tensões inferiores, onde eram as sobretensões de origem externa que condicionavam os níveis
de isolamento.
Por outro lado, dado que as sobretensões de manobra ocorrem aquando do fecho ou
abertura dos circuitos, a frequência com que podem ocorrer é grande.
Assim para a concepção e projecto de uma rede é necessário saber quais as condições
em que sobretensões de valor elevado podem surgir e ter meios de cálculo que permitam analisar
a sua evolução.
O estudo dos fenómenos transitórios pode ser feito através de ensaios de campo na própria
rede, ou mediante a utilização de modelos analógicos ou de computadores digitais.
Devido às limitações dos ensaios de campo, o uso dos computadores digitais para a
análise dos fenómenos transitórios é de primordial importância. Quanto aos modelos analógicos,
que tiveram o seu apogeu na década de 50/60, com o desenvolvimento dos computadores
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Sobretensões de Manobra
digitais, a sua importância tem declinado, embora continuem ainda a ser utilizados.
Quando ocorre uma manobra numa rede os seus componentes ficam sujeitos a tensões e
correntes com uma grande amplitude de frequências, podendo variar entre 5 kHz e mais de
100 kHz. A o longo de uma tão grande gama de frequências os componentes da rede não têm
características constantes, o que obriga a sua modelização em função da frequência. Por outro
lado, os modelos utilizados deverão ser capazes de representar tanto componentes de
características concentradas (geradores, transformadores,...) como de características distribuídas
(cabos, linhas aéreas,...). Igualmente deverão ser capazes de modelizar as não linearidades
resultantes dos pára-raios, saturação dos circuitos magnéticos, arcos eléctricos, etc. Os
componentes não são de fácil modelização pelo que há sempre necessidade de recorrer a formas
aproximadas de representação. Terá assim sempre que haver um compromisso entre a precisão
do método, a velocidade de cálculo e os meios disponíveis.
Um sistema eléctrico pode ser considerado como constituído por resistências, indutâncias
e capacidades.
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Sobretensões de Manobra
W = 1 Li 2
2
W = 1 Cv 2
2
em que v é o valor instantâneo da tensão, nos terminais do condensador C.
Quando há uma alteração nas condições do sistema, por exemplo abertura ou fecho de um
circuito, haverá uma alteração na distribuição da energia. Notar que esta redistribuição de energia
não pode ser instantânea por duas razões:
• Para haver uma alteração na energia magnética é necessária uma alteração no valor da
corrente, a qual não ocorre instantaneamente. De facto, o aparecimento (ou a alteração) de
uma corrente numa indutância é contrariado pelo aparecimento de uma f.e.m. de grandeza
L d i/d t. Assim, uma variação instantânea da corrente necessitaria de uma tensão
instantânea que a originasse, o que não é exequível.
V =Q
C
em que Q é a quantidade de electricidade armazenada. A variação da tensão nos terminais
do condensador é dada por:
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Sobretensões de Manobra
dQ
dv
dt
=1
C dt
= i
C ( 2.1)
ou
V=1
C∫
idt ( 2.2 )
Para uma variação instantânea da tensão teríamos que ter uma corrente infinita o que não é
exequível. Assim, a tensão nos terminais de um condensador não pode variar instantaneamente,
nem a energia armazenada no campo eléctrico.
Acabamos assim de analisar três aspectos que são da maior importância em estudos de
fenómenos transitórios:
• A corrente através de uma bobine não pode variar instantaneamente;
• A tensão nos terminais de um condensador não pode variar instantaneamente;
• O princípio da conservação de energia tem que ser verificado em cada instante.
O estudo dos fenómenos transitórios num circuito elementar em corrente continua pode ser
feito através das leis de Kirchoff.
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Sobretensões de Manobra
R I
V C V1
Figura 1 - Circuito constituído por um conjunto de baterias em série com uma resistência e um condensador
V =iR+ 1
C∫
i dt ( 3.1)
Atendendo a (2.1)
dv
I =C
dt
dv1
V = RC + V1 ( 3.2 )
dt
dv1 dt
=
V − V RC
−t
ln (V − V1 ) = + C te ( 3.3)
RC
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Sobretensões de Manobra
ou
V1 = V − Ae− t RC
em que A é uma constante que deve ser determinada a partir das condições iniciais do circuito.
Caso o condensador esteja carregado com a tensão V1(0) no instante t = 0, em que o interruptor é
fechado, temos que
V1 = V − V − V1 ( 0 ) e− t RC ( 3.4 )
V1
V1(0)
Analisando a figura 2 vê-se que a tensão nos terminais do condensador não atinge
instantaneamente a tensão existente nos terminais da bateria, mas tende para esse valor através de
um transitório que, neste caso, é uma exponencial, função das características R e C do circuito. Por
análise da solução da equação (3.2), dada pela equação (3.4), vê-se facilmente que a evolução da
tensão nos terminais do condensador se pode considerar constituída por duas componentes. A
primeira parte representa a tensão nos terminais do condensador passado o período transitório. O
segundo termo é responsável pelo período transitório que determina a evolução da tensão do
sistema entre o valor inicial da tensão V1(0) e o valor final da tensão. A forma do transitório
dependerá das características do circuito.
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Sobretensões de Manobra
A inclusão do ângulo arbitrário θ na equação anterior foi feita com o intuito de podermos
variar à nossa vontade a origem dos tempos.
Sem resolvermos a equação podemos afirmar que a corrente atingirá um valor estacionário
( )
12
cos φ = R Z = R R 2 + ω 2 L2
V ~
Por raciocínios análogos a outros feitos anteriormente, podemos afirmar que a corrente não
atingirá o seu valor estacionário instantaneamente e que haverá uma componente exponencial
responsável pelo período transitório da corrente.
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Sobretensões de Manobra
Para regressarmos ao domínio do tempo interessa-nos dar à equação (4.2) uma forma que
facilite a determinação dos originais. Assim, a equação (4.2) pode ser escrita como
i( s) = A (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 ) ) + Bs ( ( s + δ ) ( s 2
+ ω2 )) ( 4.3)
em que
A = Vm ω cos θ L , B = Vm sen θ L e δ =R L
1 (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 )) = 1 ( s 2
) (
+ ω 2 1 ( s + δ ) − s s 2 + ω 2 + δ s 2 + ω 2 ) ( )
−1
1 (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 ) ) = 1 (δ 2
)
+ ω 2 e −δ t − cos ωt + δ sen ωt ω
A transformada do outro termo da equação (4.3) pode ser calculada da mesma forma ou
então, atendendo a que:
£
£
t
13
Sobretensões de Manobra
Teremos:
£
−1
s (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 )) = 1 ( s 2
)(
+ ω 2 −δ eδ t + ω sen ωt + δ cos ωt + 1 − 1 + 0 ) ( 4.5)
A transformada inversa da equação 4.3, usando os resultados obtidos pelas equações (4.4)
e (4.5), será então
I ( t ) = Em ( L (δ 2
+ ω2 ) ){ω cosθ e −δ t
− cos ωt + δ sen ωt ω + sen θ δ cos ωt + ω sen ωt − δ e−δ t = }
Em ( L (δ 2
+ ω2 ) ){[ω cosθ − δ senθ ] e −δ t
− [ω cos θ − δ sen θ ] cos ωt + (δ cos θ + ω sen θ ) sen ωt } ( 4.6 )
Atendendo a que
tg γ = ω L R = ω δ
( )
12
sen γ = ω δ 2 + ω 2
(δ )
12
cos γ = δ 2
+ ω2
( L (δ ) ){−sen (θ − γ ) e }
12
I ( t ) = Em 2
+ ω2 −δ t
+ sen (ωt + θ − γ )
A equação (4.7) tem a forma que tinha sido prevista antes de se realizar o estudo analítico.
O primeiro termo é o valor da corrente em regime permanente. O seu valor máximo é na realidade
− Rt L
era de esperar inclui o termo e e no instante inicial é igual e de sinal contrário ao termo
estacionário, garantindo assim que a corrente parte de zero. A equação (4.7) está representada
graficamente na figura 4.
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Sobretensões de Manobra
t
(θ − ϕ )
−Vm
sen (θ − ϕ )
(R + ω 2 L2 )
1
2 2
Num circuito trifásico, os ângulos θ nas três fases estão esfasados de 120º, pelo que é muito
provável que se os três pólos fecharem em sincronismo nas três fases, numa das fases θ - γ = ± Π/2
ou muito próximo deste valor. Assim, os disjuntores, têm que ser concebidos de modo que possam
suportar electricamente, mecanicamente e termicamente as condições mais desfavoráveis.
Entende-se por tensão transitória de restabelecimento (T.T.R.) a tensão que surge nos
terminais do disjuntor após a extinção de arco. Este regime transitório de tensão resulta das
oscilações de tensão que ocorrem em cada terminal do disjuntor após a manobra deste.
L
×P
V = Vm cos ω t C
Figura 5 - Circuito equivalente para a análise da tensão de restabelecimento, quando o disjuntor elimina o
defeito.
Devido à actuação do disjuntor, isto é, à separação dos seus contactos, forma-se um arco
através do qual a corrente continuará a circular. A interrupção da corrente de curto-circuito
dependerá então do controlo e finalmente da extinção do arco. O método usado para controlar e
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Sobretensões de Manobra
L dI dt + Vc = Vm cos ωt ( 5.1)
I = C dVc dt ( 5.2 )
uma vez que, depois de a corrente ter sido eliminada através do disjuntor, o único circuito possível
para a corrente é através do condensador.
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Sobretensões de Manobra
Antes de resolver esta equação, podemos analisar o fenómeno físico e ver qual o tipo de
solução que teremos. Quando o disjuntor tiver eliminado o arco, a tensão aos seus terminais será
a tensão da fonte de alimentação. No momento da interrupção (t = 0), a tensão será a tensão do
arco, que nós admitimos ser nula. Porém, como a tensão só pode variar de uma maneira continua,
um transitório surgirá enquanto C está a ser carregado através da bobine com coeficiente de
auto-indução L.
s (( s 2
)
+ ω 2 )( s 2 + ω02 ) = 1 (ω02 − ω 2 ) s ( s 2 + ω 2 ) − s ( s 2 + ω02 )
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Sobretensões de Manobra
pelo que
ω02 (ω02 − ω 2 ) = 1
ou, como estamos interessados em saber o que se passa nos primeiros instantes após a abertura do
disjuntor (t da ordem de alguns µs) teremos ωt ≅ 0 pelo que, a equação 5.6 pode ser escrita
como:
t = π ( LC ) s
12
isto é, depois de um ciclo à frequência natural, a tensão entre os contactos do disjuntor atingirá
2Vm, no caso de não haver amortecimento.
Como na prática há sempre resistência nos circuitos, é necessário incluir na equação (5.6)
um termo exponencial e −δ t cos δ = R 2 L que conduz ao desaparecimento da componente de alta
frequência ao fim de um período de tempo relativamente curto. Considerando o efeito do
amortecimento, a equação (5.6) tomará a forma:
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Sobretensões de Manobra
(
Vc (t ) = Vm cos ωt − e−δ t cos ω0t )
Tensão transitória de
restabelecimento Vc (t)
Tensão do
sistema
Corrente de
defeito
Figura 6 – Tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor representado na figura 5 após a eliminação da cor-
rente de defeito
Como já foi dito, haverá sempre que considerar as perdas que se verificam nos diversos
elementos do sistema. No estudo analítico estas perdas não foram consideradas. Porém, estas
perdas, que originam um amortecimento da tensão de restabelecimento foram consideradas na
representação gráfica da figura 11. Note na figura 6 que a tensão de restabelecimento atinge
quase o dobro da tensão do sistema quando as duas componentes da tensão se adicionam.
Até a corrente se anular a capacidade C da figura 5 está curto circuitada pelo defeito.
Porém, a partir da interrupção da corrente de defeito pelo disjuntor, a capacidade C deixa de estar
curto circuitada, a tensão passa a estar aplicada aos seus terminais, e o condensador será
carregado a esse potencial.
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Sobretensões de Manobra
(
f 0 = 1 2π (10−3 × 4 × 10−10 )
12
) = 10 6
3.99 250 KHz
2 ×15 × 2 ( )
3 × 2 = 12.2 kV / µ seg
No ponto 4 mostrou-se que, quando o disjuntor é fechado é muito provável que a corrente
resultante seja assimétrica. O grau de assimetria da corrente dependerá do valor instantâneo da
tensão, no instante em que o circuito é fechado. Uma corrente de defeito também pode ser
assimétrica, dependendo a sua assimetria do valor instantâneo da tensão, no momento em que
surge o defeito. O disjuntor interromperá a corrente quando o seu valor instantâneo for zero, e a
tensão de restabelecimento oscilará em torno do valor instantâneo da tensão de alimentação. A
tensão de restabelecimento após a interrupção de uma corrente assimétrica está representada na
figura 7.
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Sobretensões de Manobra
Tensão do Tensão de
sistema restabelecimento
Corrente
assimétrica
Interrupção da
corrente
Na análise anterior, a tensão do arco foi suposta desprezável embora muitas vezes esta
simplificação não seja verdadeira. Consideremos então a equação (5.4). A transformada
inversa da tensão do arco será então
£
−1
( )
Vc (0) s s 2 + ω02 = Vc (0) cos ω0t
Vc(0) será a tensão do arco no instante de corrente zero (t = 0), uma vez que o
condensador terá essa tensão aplicada aos seus terminais enquanto o arco persistir. Este
facto, originará um novo termo, que tenderá a aumentar a tensão de restabelecimento, sendo
porém contrabalançado por a tensão do arco se opor à circulação da corrente e por isso alterar
o esfasamento da corrente, ficando assim mais em fase com a tensão de alimentação.
Deste modo, quando o disjuntor interrompe a corrente a tensão não estará no seu valor
máximo. A tensão de restabelecimento, quando considerado o efeito da tensão do arco, está
representada esquematicamente na figura 8.
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Sobretensões de Manobra
Tensão transitória de
restabelecimento
Corrente de
defeito
Tensão do arco
abertura dos contactos do disjuntor. Em D apaga-se o arco. A partir deste instante a tensão
começa a subir (Análise feita a partir da fig. 8) retomando depois o valor da tensão normal.
Notar que a tensão do arco vai subindo ao longo das várias alternâncias da corrente devido ao
afastamento progressivo dos contactos.
Na realidade, não temos porém um circuito oscilante tão simples como o representado
na figura 5 e que estivemos a analisar. Os Sistemas Eléctricos são sistemas trifásicos,
compreendendo, nomeadamente, linhas, transformadores e alternadores que condicionam o
gradiente da tensão de restabelecimento, com as suas características transitórias.
Quanto aos defeitos podem ser monopolares à terra, com duas ou três fases com ou sem
terra. Por outro lado o neutro pode estar ligado directamente ou indirectamente à terra ou estar
isolado, o que condiciona o valor da tensão transitória de restabelecimento. Há necessidade
também de distinguir entre um curto-circuito nos terminais do disjuntor de um curto-circuito na
linha, porque neste caso, como será analisado no ponto seguinte, a tensão de restabelecimento
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Sobretensões de Manobra
Muitas das vezes, quando da interrupção de um circuito, estabelecem-se nas redes duas
ou mais frequências próprias cuja acção simultânea deforma a curva da tensão.
(
f1 = 1 2π ( L1 C1 )
12
)
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Sobretensões de Manobra
L1
L2
V C1 C2
(
f 2 = 1 2π ( L2 C2 )
12
)
Após a actuação do disjuntor D, e extinto o arco, os dois sistemas oscilam
independentemente um do outro. A tensão de restabelecimento será então a diferença das tensões,
de um e outro lado do disjuntor, as quais, como já vimos, têm frequências diferentes.
Antes da abertura do disjuntor a tensão nominal da rede de 50 Hz, estará dividida de uma
forma proporcional aos coeficientes de auto-indução L1 e L2. Assim a tensão dos condensadores
será
L2 ( L1 + L2 ) V
Como L2>> L1, de outro modo a regulação da rede seria muito fraca, C1 e C2 são
carregados a uma tensão ligeiramente inferior ao valor da tensão instantânea do sistema. A seguir
à interrupção da corrente pelo disjuntor D, o condensador C2 descarregará através de L2 com a
frequência natural f2.
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Sobretensões de Manobra
For outro lado Cl, agora com a tensão nominal do sistema nos seus terminais, oscilará em
torno desse valor com a frequência f1 até o amortecimento do sistema eliminar as oscilações.
f1
L2
Vp
L1 + L2
VL f2
L2
Vp
L1 + L2
t t
I
I
(a)
(b)
a) a montante do disjuntor
b) a jusante do disjuntor
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Sobretensões de Manobra
f2
VP
f1
t
I
Figura 12 - Tensão transitória de restabelecimento, de frequência dupla, estabelecida entre os contactos do disjuntor
Há vários tipos de circuitos em que aparecem fenómenos transitórios com uma frequência
dupla. Um circuito bastante frequente, em que surgem fenómenos transitórios com uma frequência
dupla está representada na figura 13. O circuito é constituído por um disjuntor a eliminar um curto-
circuito no secundário de um transformador.
L1 L2
I1 I2
V C1 C2
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Sobretensões de Manobra
L2
VL1 = V
L1 + L2
L1
VL 2 = V
L1 + L2
(
Vr (t ) = Vm cos ωt − ( L1 ( L1 + L2 ) ) cos ω1t − ( L2 ( L1 + L2 ) ) cos ω2t )
(
Vr (t ) = Vm cos ωt − ( L1 ( L1 + L2 ) ) e − t ζ 1 cos ω1t − ( L2 ( L1 + L2 ) ) e−t ζ 2 cos ω2t )
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Sobretensões de Manobra
Em que
ζ 1 = L1 R1 e ζ 2 = L2 R2
Vr max = 2 (VLI + VL 2 ) = 2 Vm
tal como no caso de uma só oscilação, mas será geralmente inferior, por não serem simultâneas as
pontas das primeiras alternâncias.
7. DEFEITO QUILOMÉTRICO
Há alguns anos, um número de incidentes ocorreu com disjuntores, os quais indicaram que
um disjuntor tinha mais facilidade de interromper uma corrente de curto-circuito para um defeito
próximo dos seus terminais, do que a corrente de curto-circuito de um defeito análogo, mas
localizado na linha de transmissão a uma certa distância dos terminais do disjuntor. No segundo
caso, devia-se estar porém numa situação mais fácil para o disjuntor porque devido à existência da
impedância da linha a corrente tinha sido reduzida, e assim seria mais fácil de interromper. Como
isto não era o que estava a acontecer deveria existir alguma relação desconhecida entre o
comportamento do disjuntor e o valor da impedância da linha."Skeats et al"(8) estudaram o problema
e mostraram que defeitos deste tipo impunham condições de corte muito severas aos disjuntores.
Atendendo à maior severidade de corte que tais defeitos impõem nos disjuntores designa-se por
defeito quilométrico um curto-circuito que se produz num ponto afastado do disjuntor,
aproximadamente 1 quilómetro. Em tais casos as solicitações impostas aos disjuntores pela
corrente de curto-circuito são agravadas pela elevada taxa de crescimento da tensão transitória de
restabelecimento.
30
Sobretensões de Manobra
A grande diferença entre os dois tipos de defeito (defeito à saída do disjuntor e a uma
certa distância deste) é que a presença da impedância da linha não só limita o valor da corrente
como suporta alguma da tensão do sistema. A tensão do sistema divide-se então pelos dois
terminais do disjuntor em valores proporcionais aos da impedância da fonte de tensão e da
linha respectivamente.
A figura 14 mostra a divisão da tensão ao longo do circuito.
a)
Sistema
D
b)
Tensã o do
sistema
Disjuntor
Tensão do
disjuntor
Quanto mais afastado do disjuntor se der o defeito, a impedância da linha não só limita
a corrente de defeito como maior será a fracção da tensão suportada pela linha. No momento
em que o disjuntor interrompe a corrente, a tensão estará próxima do seu máximo. No momento
em que o disjuntor interrompe o circuito, quando a corrente se anula, a linha terá uma
distribuição de tensão, que terá o seu máximo na extremidade do disjuntor e que de uma
forma aproximadamente linear tenderá para zero no ponto em que se deu o defeito. Como se
sabe, as sobretensões propagam-se ao longo das linhas e reflectem-se quando encontram o
circuito aberto ou um curto-circuito, isto é, quando encontram uma descontinuidade. No
circuito em análise, a onda de sobretensão triangular originada pela abertura do disjuntor
encontra numa das direcções o circuito interrompido pelo disjuntor aberto e na outra direcção a
onda da sobretensão também não pode prosseguir devido à existência do curto-circuito. Assim,
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Sobretensões de Manobra
devido à existência destas descontinuidades surgirão ondas reflectidas as quais irão interferir
com as ondas iniciais.
Circuito aberto
(a)
b)
(b) R
Figura 15 - Distribuição da tensão ao longo de uma linha com um curto-circuito (a) Distribuição inicial (b)
Distribuição depois das ondas de sobretensão se terem começado a separar
E L1 (( L + L ) × 2)
1
A reflexão desta onda não está tracejada e está identificada pela letra R na figura 15b). As
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Sobretensões de Manobra
ondas reflectidas por seu turno sofrerão nova reflexão quando atingirem as descontinuidades
opostas e assim o fenómeno prosseguirá, sujeito apenas ao efeito das perdas na linha. A partir da
figura 15 a) é possível representar a variação da tensão em qualquer ponto da linha, em função do
tempo, conhecida a velocidade de propagação da onda de tensão e a distância ao defeito.
Pode-se ver que o contacto do disjuntor do lado da linha sofre uma variação relativamente
grande de tensão, + V para - V, num intervalo de tempo muito curto, 2T (V representa a tensão de
pico inicial da linha e T o tempo que a onda de tensão demora a percorrer a distância entre o
disjuntor e o defeito). É este valor elevado do gradiente da tensão transitória que dificulta o
funcionamento do disjuntor.
δ i δ x = C2 l δ v δ t
δ v δ t = 1 C2 δ i δ x
1
δ v δ t = 1 C 2 (δ i δ t )(δ t δ x ) = C2 δ i δ t
c
em que, como se sabe do estudo das linhas, c é a velocidade de propagação teórica da onda
eléctrica que é igual à velocidade da luz e tem por valor
c = 1 ( l2 c2 )
12
= 300000 km / s (7.1)
em que 12 e c2 são o coeficiente de auto indução (em henrys) e a capacidade (em farads) da linha
por metro.
δ v δ t = ( l2 c2 ) c2 δ i δ t = ( l2 c2 ) δ i δ t = Z c δ i δ t ( 7.2 )
12 12
em que Z c = ( l2 c2 )
12
é a impedância característica da linha.
i = I m sen ωt
v = Z c I m sen ωt
δ v δ t = Z c I m ω cos ωt ( 7.3)
( δ v δ t )t = 0 = Z c I m ω = Zc Iω 2 ( 7.4 )
Teremos então da expressão 7.4 que a taxa de crescimento inicial, para um sistema de
Alta Tensão a 50 Hz terá como valores típicos (I expresso em kA):
34
Sobretensões de Manobra
Assim, por exemplo, no caso de uma linha aérea de alta tensão para uma corrente de
curto-circuito de 60 kA teremos uma taxa de crescimento da tensão de restabelecimento de 12
kV/µs, que é um valor muito elevado.
Por outro lado, quanto menor for a distância 1 do disjuntor ao ponto em que se dá o
defeito, maior será a corrente I e portanto maior o gradiente da tensão. Convém assinalar, que se 1
for muito pequeno, a amplitude da T.T.R. também o será.
v = x1 2 I ( 7.5)
E = I ( x + xd )
v = x d 2 E ( x + xd ) (7.6)
Assim, quanto menor for a distância 1, maior é a corrente de curto-circuito e maior a taxa de
crescimento inicial da tensão. Em contrapartida quanto menor for l menor será a amplitude da
tensão, como se vê da equação 7.4. A figura 16 mostra como varia a oscilação da tensão quando a
35
Sobretensões de Manobra
distância do defeito aumenta. Vê-se que existe uma distância crítica que no caso das redes de alta
tensão é próxima de 1 km (daí a designação de defeito quilométrico).
d crescente
2 E L1 ( L + L1 ) ( 7.7 )
36
Sobretensões de Manobra
(a)
(b)
Figura 17 - Variações da tensão ao longo da linha após a eliminação do defeito do disjuntor (representação sem
amortecimento). (a) nos terminais do disjuntor (b) a meia distância entre o disjuntor e o ponto do defeito.
Circuito aberto (r = 1)
1/T = f = c/4l
l l l l
Curto circuito (r = - 1)
r = coeficiente de reflexão
(
E L ( L + L1 ) 1 − cos t ( LC )( 12
)) ( 7.8)
A sobretensão que se verificará nos contactos do disjuntor será dada pela diferença de V1
e V2 (V1 - tensão no contacto do disjuntor do lado do sistema; V2 - tensão no contacto do
disjuntor do lado da linha).
regeneração do dieléctrico. Nas condições ideais de corte, o intervalo de corte (espaço entre os
contactos) ionizado deveria ser capaz de imediatamente após a interrupção, suportar a tensão
transitória de restabelecimento. Como tal não sucede na prática, quando o arco se apaga há no
disjuntor uma verdadeira corrida entre a tensão de restabelecimento e a tensão de escorvamento.
Se a tensão de restabelecimento cresce mais rapidamente que a tensão de escorvamento o arco
reacende-se mais uma vez e dura pelo menos mais uma alternância. No caso do disjuntor
conseguir com suficiente rapidez afastar os contactos e regenerar o dieléctrico, a tensão de
escorvamento cresce mais depressa que a de restabelecimento e o arco não se reacende, ficando
a corrente definitivamente cortada.
Na figura 20 estão representados esquematicamente as duas curvas com a escala dos tempos
bastante ampliada para maior clareza.
L1 V1
E
V L1 + L
va
V2
Vr
V0
Figura 19 - Tensão transitória de restabelecimento nos contactos do disjuntor após a eliminação de um defeito
quilométrico.
39
Sobretensões de Manobra
Tensão de restabelecimento
i C
extinção da corrente
va
A va t
B
P
e
M
N
Tensão de escorvamento
Se a frequência própria da rede fo, for grande, isto é, a variação rápida, consideremos
a curva M que corresponde ao reacendimento do arco no ponto P. Se a variação for mais lenta,
(fo menor) consideremos a curva N que não encontra a curva B e portanto o arco extingue-se
definitivamente no instante A.
Por outro lado sabe-se também que a frequência fo decresce quando a potência de
curto-circuito sobe, o que é uma vantagem para o disjuntor. O facto resulta de que os
curto-circuitos mais violentos dão-se quando estão em serviço mais centrais e mais linhas o
que aumenta o valor da capacidade.
V A
2
3
va t
Todas estas circunstâncias têm porém uma mesma origem em comum - envolvem sempre o
armazenamento de energia em elementos do circuito e a sua posterior libertação.
C R Lm
(a) (b)
42
Sobretensões de Manobra
Wm = 1 2 L I 02
A corrente num circuito tão fortemente indutivo, como já foi referido não pode ser
interrompida instantaneamente, embora o circuito tenha sido interrompido pelo afastamento dos
contactos do disjuntor. Assim, a corrente irá carregar o condensador C, que é essencialmente
constituído pela capacidade dos enrolamentos do transformador, juntamente com qualquer
capacidade que possa existir na ligação entre o disjuntor e o transformador.
1 2 CV 2 = 1 2 L I 02 (8.2 )
ou
V = I0 ( L C ) (8.3)
12
= I0 Zc
Vemos então que o pico da tensão no condensador C, e por isso através das espiras do
transformador é dado pelo produto do valor instantâneo da corrente no momento em que é
interrompida, pela impedância característica do transformador. Notar que o valor do pico da
tensão é independente da tensão do sistema.
Para se ter uma ideia dos valores elevados que esta sobretensão pode assumir,
consideremos um transformador de 1000 kVA, 15.0 kV com uma corrente em vazio de 1.5 A.
43
Sobretensões de Manobra
Então
( ( ))
12
Z0 = ( L C )
12
= 18.4 5 × 10−9 = 60641 Ω
Como se vê por este exemplo numérico, a sobretensão pode atingir um valor elevadíssimo,
para um circuito com uma tensão nominal de 15 kV.
Na prática a tensão não atingiria este valor porque as perdas de Foucault e as perdas de
histerese limitam a capacidade da energia transferida para a capacidade dos enrolamentos do
transformador.
A corrente i é cortada pela primeira vez no instante T com o valor ia sucedendo-se uma
série de reacendimentos do arco e portanto de rápidos restabelecimentos da corrente, sempre no
mesmo sentido até perto do ponto nulo natural.
Por outro lado, e simultaneamente, a tensão entre os contactos do disjuntor sofre uma série
44
Sobretensões de Manobra
de oscilações, cuja amplitude é limitada pela linha A, que é a curva de regeneração do dieléctrico
no disjuntor ou curva de tensão de escorvamento. Ao extinguir-se a corrente no instante T, a
desionização provoca uma subida rápida da curva A. Quando a corrente cai a zero, isto é, quando
o arco se apaga, a tensão sobe até à linha A e dá-se o escorvamento do novo arco. Imediatamente a
seguir a tensão cai para a tensão de arco. Assim, teremos uma série muito rápida de oscilações da
tensão entre A e va.
Corrente zero
Tempo
Tensão zero
Tempo
Tensão entre os
contactos do disjuntor
Tensão do
arco va
Consideremos uma rede com uma tensão nominal Vc. Seja α o factor de amplitude que se
pretende não exceder relativo à tensão simples. O pico máximo da tensão deverá ser então
V = α 2V 3
Se a corrente cortada bruscamente for de valor ia, o valor da queda óhmica na resistência
R será
R ia = α 2 V 3
donde
45
Sobretensões de Manobra
R = α 2V ( 3 ia )
Uma vez que as três correntes num circuito trifásico têm um esfasamento de 2π/3 radianos, os
contactos do disjuntor numa das fases interromperão a corrente na sua passagem natural por zero
enquanto os contactos das outras fases ainda estarão a ser percorridos por corrente.
arco
I
Ec
Z
arco
Eb
Z
Ea V'
46
Sobretensões de Manobra
V ' = Ea − ( Eb − I Z ) ( 9.1)
e
I = ( Eb − Ec ) 2 Z
pelo que
V ' = Ea − Eb + ( Eb ( 2 Z ) − Ec ( 2 Z ) ) Z
= Ea − ( Eb + Ec ) 2 ( 9.2 )
( Eb + Ec ) 2 = − Ea 2
Pelo que
em que Ea = Vm / 2
47
Sobretensões de Manobra
V' =1,5 Ea
Ea
60o 60o
Ec Es
(Es + Ec)
Figura 25 - Diagrama de tensões para a 1ª fase a interromper a corrente, quando não há ligação à terra.
O factor do primeiro pólo indica a relação entre a tensão transitória à frequência industrial e a
tensão na fase correspondente, após a interrupção da corrente.
Como mostra a equação 9.3, numa rede com o neutro isolado à terra, no caso de um curto-
circuito trifásico não envolvendo a terra nós obtemos para o factor de 1º pólo a abrir 1.5, situação
de defeito porém muito rara como se referiu no ponto 5. No caso de um curto-circuito trifásico
com ligação à terra o factor do 1º pólo é de (15).
1.5 ( 2 X 0 X 1 (1 + 2 X 0 X 1 ) )
48
Sobretensões de Manobra
de que resultam factores de 1º pólo compreendidos entre 0.8 e 1.3, dependendo da relação
Xo/Xl, que foi suposta compreendida entre 0.6 e 3 (X1 representa a impedância directa que foi
suposta igual à impedância inversa e X0 representa a impedância homopolar).
Xk R
u ph
S
R S,T
90 o
ir
is
ix
∆u sr
∆u ss
∆u st
49
Sobretensões de Manobra
Um outro caso de defeito consecutivo surge nas redes com neutro à terra, quando a distância
de protecção dos explosores está regulada para valores muito baixos da tensão e surge na rede uma
sobretensão devido ao corte pelo disjuntor da corrente em vazio de um transformador.
Consideremos o esquema representado na figura 27. Trata-se de uma rede com neutro à terra em
que o transformador se encontra protegido contra sobretensões por um explosor regulado para um
valor demasiado baixo da tensão de escorvamento. É óbvio que os órgãos de protecção das redes
contra sobretensões (explosores ou pára-raios) devem estar regulados de forma a não actuarem sob
a acção das sobretensões normais provocadas pela manobra dos disjuntores. Admitamos porém que
o nível de protecção utilizado para o transformador é demasiado pequeno.
A figura 28 representa a corrente e as tensões em jogo no circuito da figura 27. No caso de não
haver escorvamento devido às sobretensões de manobra, as tensões estão representadas a traço
interrompido. No caso de se dar o escorvamento, quando a tensão nos terminais do transformador
atingir o valor V2, a capacidade do transformador descarrega-se sobre o explosor através de uma
oscilação de frequência elevada.
Quando a tensão nos terminais do disjuntor atinge o pico V6 dois casos se podem dar
Mostra a experiência que este arco, formado bruscamente em condições especiais, não afecta
os disjuntores de ar comprimido, mas pode causar avarias no disjuntor de pequeno volume de
óleo. Esta situação resulta do facto, de como se sabe, no disjuntor de pequeno volume de óleo o
poder de corte ser limitado pela resistência da câmara de corte à pressão desenvolvida pelo arco.
a)
b)
c)
a) c o r r en te
b) tensão no s te r min ais do d isjun tor
c) tensão no s te r min ais do tr an sfor ma dor
51
Sobretensões de Manobra
a) b)
e ' = e − ec
= E (1 − cos ωt )
i.e. em t = 0, e ' = 0
meio ciclo depois sobe para um máximo de 2E e se as características eléctricas do dieléctrico não
forem adequadas pode haver um reacendimento do arco.
Ls
e'' C
e C'
e'
Notar que C'<< C e que a reactância indutiva também é muito menor que a reactância
capacitiva. Como se viu a corrente é interrompida quando a tensão é máxima o que origina que
meio ciclo depois a tensão transitória de restabelecimento é de 2E, o que pode originar o
reacendimento do arco. Se o reacendimento ocorrer precisamente quando a tensão atinge o seu
valor máximo, ponto P na fig.31, o circuito comporta-se como se o disjuntor se tivesse
subitamente fechado naquele instante.
53
Sobretensões de Manobra
(
f = 2π ( LC ) )
1 2 −1
se C' C (11.1)
e − e '' = L di dt (11.2 )
mas
O valor desta corrente transitória pode ser bastante elevada e danificar o disjuntor caso a
indutância L seja pequena. A frequência desta corrente transitória é igual à frequência própria da
rede, que é dada pela expressão (11.1), sendo da ordem das centenas de Hz(16). Num circuito real
as oscilações da corrente serão amortecidas, do mesmo modo que as oscilações de tensão, como a
fig.31 a) mostra.
54
Sobretensões de Manobra
e''
Ten s ão
p .u . e'
Tempo
e'
P
S
e''
(a)
Ten s ão ent re
o s co ntacto s
d o d is ju n to r
p .u .
M
Tempo
T
(b)
t
e '' = E '+ 1 C ∫ ( E − E ')( C L ) sen ωt dt (11.5)
12
0
(
e '' = − E + 2 E ( LC )
12
) ∫ sen ωt dt
t
0
(11.6 )
= E (1 − cos ) ωt
55
Sobretensões de Manobra
A figura 31 b) mostra a tensão nos contactos do disjuntor. Meio ciclo após a corrente zero,
a diferença de potencial através dos contactos do disjuntor atinge aproximadamente duas vezes o
valor da tensão, devido à carga do condensador C.
O valor máximo da sobretensão que será atingida num circuito real, dependerá do
amortecimento das correntes transitórias de reacendimento e do valor das quedas de tensão do arco
entre os contactos do disjuntor. Para se ter um conhecimento das condições mais prováveis do
reacendimento do arco é necessário o conhecimento da taxa de regeneração do dieléctrico após a
56
Sobretensões de Manobra
Tensão entre
os contactos
do disjuntor
terem o neutro ligado directamente à terra. Caso o banco de transformadores não esteja ligado à
terra, a tensão transitória de restabelecimento pode atingir valores de 3 p.u. e o restabelecimento do
arco pode inclusivamente fazer aumentar este valor. Pode mostrar-se que a razão entre a sequência
positiva C1 e homopolar Co da capacidade do circuito, influenciam a tensão transitória de
restabelecimento do primeiro pólo do disjuntor a abrir, como está ilustrado na fig. 33.
Tensão de
restabelecimento
Quando a capacidade do sistema está ligada directamente à terra, a relação C1/Co é igual à
unidade. Esta relação é porém infinita quando toda a capacitância do sistema está isolada da terra,
situação esta que é irrealizável na prática.
Analisemos agora o corte de uma linha aérea ou cabo subterrâneo em vazio para o que
vamos considerar o circuito representado na fig. 34.
58
Sobretensões de Manobra
Ls
e''
e C'
e'
A fig. 35 mostra a variação da tensão no barramento quando a sobretensão ocorre meio ciclo
após a passagem da corrente par zero. A maior diferença neste caso e no corte de uma bateria de
condensadores é a variação mais abrupta na corrente e na tensão, no início e no fim do
reacendimento, devido às características da propagação das ondas nas linhas de transmissão.
59
Sobretensões de Manobra
i = 2 E Z c 1 − exp ( − Z c t L )
60
Sobretensões de Manobra
Num futuro próximo com o crescimento do consumo de energia eléctrica, com as redes de
interligação a funcionar com tensões de 400 kV a 750 kV e com uma grande concentração de
produção nos barramentos de centrais nucleares, provavelmente da ordem de 30 x 103 MW, são de
esperar potências de curto-circuito da ordem de 100 a 200 GVA.
Os tipos construtivos de disjuntores hoje utilizados têm o seu nome de acordo com o
princípio utilizado para a extinção do arco. Os disjuntores que hoje se utilizam são:
Os disjuntores de ar comprimido são utilizados até às mais altas tensões e usam várias
câmaras de corte em série, com capacidades para assegurar uma conveniente divisão da tensão.
Dado que são sensíveis à taxa de crescimento da TTR os disjuntores de ar comprimido
necessitam de resistências em paralelo para os valores mais elevados do poder de corte.
O hexafluoreto de enxofre tem vantagem como meio isolante e de interrupção sobre o ar,
daí o seu interesse. É um gás electronegativo, portanto dificilmente ionizável, que apresenta uma
rigidez dieléctrica elevada, e uma baixa constante de tempo térmica, de onde resulta uma
diminuição muito rápida da condutibilidade do canal ionizado a seguir à passagem da corrente
por zero, o que é uma característica extremamente favorável do ponto de vista de interrupção do
arco. Atendendo às propriedades do hexafluoreto de enxofre estes disjuntores apresentam boas
características de corte, não sendo em geral necessário utilizar resistências em paralelo para a
redução da TTR.
de crescimento. O disjuntor de vácuo não terá assim qualquer dificuldade na manobra de abertura
de baterias de condensadores.
64
Sobretensões de Manobra
13. BIBLIOGRAFIA
65
Sobretensões de Manobra
66
Sobretensões de Manobra
14- PROBLEMAS
L = 6.4 mH C = 0.0495 µF
Calcule a tensão de restabelecimento que o disjuntor tem que suportar 5 ciclos após a
interrupção da corrente.
2 - Considere um sistema a 345 kV, 50 Hz com uma corrente de curto circuito simétrico
de 40 kA. A capacidade do barramento ao qual está ligado o disjuntor é de 0.025µF.
Calcule a impedância característica do barramento e a frequência da tensão de
restabelecimento no momento da abertura do disjuntor.
L = 2mH C = 500 µF
6 - Verificou-se um curto circuito trifásico simétrico numa rede de 132 kV. A potência
de curto circuito é de 2500 MVA e a capacidade em paralelo, C, do lado da fonte de
67
Sobretensões de Manobra
7 - Considere uma rede a 220 kV, 50 Hz. Um disjuntor colocado nesta rede é chamado a
interromper um curto circuito trifásico franco de 25 kA, ocorrido imediatamente a
jusante dos seus terminais. A capacidade vista dos terminais do disjuntor para
montante é de 35 pF. Determine:
a)A frequência da tensão transitória de restabelecimento (T.T.R.) e o seu valor
máximo.
b)O valor do gradiente médio da T.T.R. durante o primeiro meio ciclo, após a
extinção do arco.
c)Supondo a existência de perdas na rede, quantificáveis pela introdução dum
coeficiente de amortecimento δ = 950s-l, determine a atenuação relativa da
sobretensão máxima ao fim de 4 ciclos.
8 - Uma linha aérea trifásica, à tensão de 150 kV, 50 Hz cujas características eléctricas
são:
68
Sobretensões de Manobra
Considere desprezável o valor da tensão do arco, bem como o efeito amortecedor das
resistências presentes na rede. Considere para valor da capacidade vista para
montante dos terminais do disjuntor 52 pF.
9 - Considere uma linha aérea trifásica, 220 kV, 50 Hz, r=0.85Ω/km, 1= 2.25 mH/km e
C= 8.12x10-3 µF/km. A potência de curto-circuito no barramento ao qual a linha está
interligada é de 10 GVA.
A capacidade vista para montante dos terminais do disjuntor é de 35 p.F.
Admita que surge um curto-circuito trifásico simétrico na linha a 1200 m do seu
disjuntor de saída. Determine:
10 - Um disjuntor de 220 kV, ligado numa rede com neutro à terra, aquando de um curto-
circuito à terra, interrompeu uma corrente de curto-circuito simétrica. A TTR tinha
uma frequência própria de 15 kHz e o factor de potência do defeito era de 0.2.
Calcule a taxa de crescimento da TTR.
Sabendo que o valor da capacidade, vista dos terminais do disjuntor para montante, é
de 10 nF, determine:
13 - Um alternador trifásico 50 Hz, 11kV, com o neutro ligado à terra, está ligado a um
barramento através de um disjuntor. O alternador tem uma reactância de 5Ω por fase
e a capacidade à terra entre o alternador e o disjuntor é de 0.02µF por fase.
Desprezando a resistência do alternador, calcule:
a) a tensão máxima entre os contactos do disjuntor;
b) a frequência própria de oscilação do circuito;
c) o valor médio da taxa de crescimento do TTR até ao primeiro pico.
15 - Uma linha aérea trifásica de 400 kV, 50 Hz, tem as seguintes características
eléctricas: L=10 µH/m e C = 62.5 pF/m.
Sabendo que esta linha é alimentada a partir do barramento de uma subestação onde
o valor da potência de curto-circuito é de 10 GVA, calcule o gradiente de subida da
onda triangular e a tensão máxima após a ocorrência de um curto-circuito trifásico
simétrico nas seguintes situações:
a) a 800 m da subestação
b) a 1200 m da subestação.
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