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FEUP Universidade do Porto

Faculdade de Engenharia
Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores

F. MACIEL BARBOSA

SOBRETENSÕES DE MANOBRA

ABRIL 2007
Sobretensões de Manobra

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Sobretensões de Manobra

SOBRETENSÕES DE MANOBRA

ÍNDICE

1.INTRODUÇÃO .............................................................................................................................................................. 5
2.ENERGIA ARMAZENADA NUM CIRCUITO ELÉCTRICO .......................................................................... 7
3.FENÓMENOS TRANSITÓRIOS EM CIRCUITOS ELEMENTARES EM CORRENTE CONTÍNUA ........................ 9
4. FENÓMENOS TRANSITÓRIOS EM CIRCUITOS ELEMENTARES EM CORRENTE ALTERNADA ................. 12
5. TENSÃO DE RESTABELECIMEMTO RESULTANTE DA ELIMINAÇÃO DE UM CURTO-CIRCUITO ........... 15
6. TENSÃO TRANSITÓRIA DE RESTABELECIMENTO DE FREQUÊNCIA DUPLA .................................. 25
7. DEFEITO QUILOMÉTRICO ........................................................................................................................................ 30
8. CORTE DE UMA PEQUENA CORRENTE INDUTIVA ........................................................................................... 41
9. TENSÃO DE RESTABELECIMENTO NOS POLOS DE UM DISJUNTOR TRIPOLAR (Factor do 1º polo) ................ 46
10. DEFEITO CONSECUTIVO .................................................................................................................................. 49
11. CORTE DE UMA CORRENTE CAPACITIVA ............................................................................................. 52
12. OS DISJUNTORES E AS SOBRETENSÕES DE MANOBRA................................................................................ 61
13. BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................................... 65
14- PROBLEMAS.............................................................................................................................................................. 67

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Sobretensões de Manobra

ÍNDICE FIGURAS

Figura 1 - Circuito constituído por um conjunto de baterias em série com uma resistência e um condensador................. 10
Figura 2 - Evolução da tensão nos terminais do condensador ao longo do tempo.............................................................. 11
Figura 3 - Ligação do circuito indutivo ............................................................................................................................ 12
Figura 4 - Representação gráfica da equação 4.7................................................................................................................ 15
Figura 5 - Circuito equivalente para a análise da tensão de restabelecimento, quando o disjuntor elimina o
defeito. ............................................................................................................................................................................... 16
Figura 6 – Tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor representado na figura 5 após a eliminação da
corrente de defeito ............................................................................................................................................................. 20
Figura 7 - Tensão de restabelecimento após a interrupção de uma corrente assimétrica.............................................. 22
Figura 8 - Efeito da tensão do arco na tensão de restabelecimento ................................................................................. 23
Figura 9 - Evolução no tempo da tensão de restabelecimento aquando da eliminação de um curto-circuito ................ 23
Figura 10 - Circuito para a análise da tensão transitória de restabelecimento de frequência dupla .................................... 26
Figura 11 - Tensão transitória de restabelecimento de frequência dupla ............................................................................ 27
Figura 12 - Tensão transitória de restabelecimento, de frequência dupla, estabelecida entre os contactos do disjuntor .... 28
Figura 13 - Exemplo de um circuito com frequência dupla .................................................................................................. 28

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Sobretensões de Manobra

SOBRETENSÕES DE MANOBRA

1.INTRODUÇÃO

À generalizada utilização da energia eléctrica traduzida nas leis exponenciais da evolução


dos consumos têm vindo a associar-se crescentes exigências quanto à qualidade de serviço. Para
que uma rede seja capaz de assegurar, de uma forma eficiente, um contínuo fornecimento, com
uma adequada qualidade das suas características, nomeadamente constância de frequência,
pureza de tensão e praticamente sem harmónicos, há necessidade de realizar um conjunto de
estudos a nível de concepção e de projecto e mais tarde durante a exploração, para que tais
objectivos de qualidade sejam atingidos, com o mínimo de investimentos.

Os estudos a realizar a nível de projecto e de exploração deverão envolver não só o estudo


do sistema em regime estável, mas também, aquando da ocorrência de fenómenos transitórios.
Embora, felizmente, uma rede eléctrica funcione na maioria do tempo em regime estável,
surgirão todavia fenómenos transitórios, que embora de curta duração, terão que ser
minuciosamente estudados. O conhecimento de tais fenómenos, normalmente de baixa
probabilidade de ocorrência é muito importante pelas solicitações que impõem à rede, devido às
elevadas correntes ou tensões que podem surgir. O não correcto dimensionamento da rede face a
tais fenómenos, pode originar danificação nos componentes da rede, com todos os
inconvenientes que tais situações sempre acarretam para os consumidores. De entre os fenómenos
transitórios que podem surgir numa rede, pela sua importância, salientam-se as situações de
curto-circuito que originam correntes de defeito de valor muito elevado e as sobretensões que
originam valores elevados para a tensão da rede.

As sobretensões que surgem numa rede, podem, de uma forma simplista, dividir-se em
sobretensões de origem externa e de origem interna.

As sobretensões de origem externa têm a sua origem em condições atmosféricas


(descargas eléctricas) ou em sistemas externos ao sistema (contacto entre redes a tensão
diferente, por exemplo).

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Sobretensões de Manobra

As sobretensões de origem interna têm a sua origem no próprio sistema e resultam de


um modo geral de acções de manobra (abertura ou fecho de circuitos). Nestas notas apenas irá
ser abordado de uma forma muito sucinta o problema das sobretensões de manobra.

Os aumentos dos níveis de tensão que têm vindo a ser utilizados nas redes de transporte e
interligação fizeram com que as sobretensões de manobra assumissem uma grande importância.
De facto, para tensões superiores a 400 kV, são as sobretensões de manobra, que podendo atingir
valores de 3 a 4 p.u., condicionam os níveis de isolamento, ao contrário do que sucedia para
tensões inferiores, onde eram as sobretensões de origem externa que condicionavam os níveis
de isolamento.

Por outro lado, dado que as sobretensões de manobra ocorrem aquando do fecho ou
abertura dos circuitos, a frequência com que podem ocorrer é grande.

Assim para a concepção e projecto de uma rede é necessário saber quais as condições
em que sobretensões de valor elevado podem surgir e ter meios de cálculo que permitam analisar
a sua evolução.

O estudo dos fenómenos transitórios pode ser feito através de ensaios de campo na própria
rede, ou mediante a utilização de modelos analógicos ou de computadores digitais.

A realização de ensaios de campo, embora extremamente importante para se conhecer o


comportamento da rede, é de difícil realização prática pelas repercussões que tem nas condições
de exploração da rede. Apenas na fase final de montagem da rede, antes de a rede ser colocada
em serviço é que a rede está disponível para a realização de ensaios. Por outro lado, na fase de
projecto a rede não existe, pelo que terão que ser utilizado outros métodos para o estudo dos
fenómenos transitórios. A realização dos ensaios de campo, que deverão ser realizados sempre que
as condições de exploração o permitam, são extraordinariamente importantes, para validar os
métodos e os dados utilizados nas simulações digitais.

Devido às limitações dos ensaios de campo, o uso dos computadores digitais para a
análise dos fenómenos transitórios é de primordial importância. Quanto aos modelos analógicos,
que tiveram o seu apogeu na década de 50/60, com o desenvolvimento dos computadores
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Sobretensões de Manobra

digitais, a sua importância tem declinado, embora continuem ainda a ser utilizados.

Quando ocorre uma manobra numa rede os seus componentes ficam sujeitos a tensões e
correntes com uma grande amplitude de frequências, podendo variar entre 5 kHz e mais de
100 kHz. A o longo de uma tão grande gama de frequências os componentes da rede não têm
características constantes, o que obriga a sua modelização em função da frequência. Por outro
lado, os modelos utilizados deverão ser capazes de representar tanto componentes de
características concentradas (geradores, transformadores,...) como de características distribuídas
(cabos, linhas aéreas,...). Igualmente deverão ser capazes de modelizar as não linearidades
resultantes dos pára-raios, saturação dos circuitos magnéticos, arcos eléctricos, etc. Os
componentes não são de fácil modelização pelo que há sempre necessidade de recorrer a formas
aproximadas de representação. Terá assim sempre que haver um compromisso entre a precisão
do método, a velocidade de cálculo e os meios disponíveis.

2.ENERGIA ARMAZENADA NUM CIRCUITO ELÉCTRICO

Um sistema eléctrico pode ser considerado como constituído por resistências, indutâncias
e capacidades.

As resistências, que estão sempre presentes nos componentes de um sistema, são


elementos dissipadores de energia, sendo a energia instantânea dissipada na resistência R dada
por:
W = Ri 2 W

em que i é o valor instantâneo da intensidade da corrente.

Atendendo a que a resistência está sempre presente num componente de um sistema os


fenómenos transitórios serão sempre amortecidos.

Os elementos indutivos e capacitivos são caracterizados pela capacidade de armazenar


energia respectivamente no campo eléctrico e no campo magnético, teoricamente sem perdas.

A energia magnética, armazenada no elemento indutivo L, é dada por:

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Sobretensões de Manobra

W = 1 Li 2
2

A energia eléctrica armazenada no elemento capacitivo C é dada por:

W = 1 Cv 2
2
em que v é o valor instantâneo da tensão, nos terminais do condensador C.

Num circuito de corrente contínua a energia armazenada no campo eléctrico e no campo


magnético será constante.

Num circuito de corrente alternada, atendendo à variação da tensão no tempo e,


consequentemente da corrente, haverá uma transferência cíclica entre as energias eléctricas e
magnéticas.

Quando há uma alteração nas condições do sistema, por exemplo abertura ou fecho de um
circuito, haverá uma alteração na distribuição da energia. Notar que esta redistribuição de energia
não pode ser instantânea por duas razões:

• Para haver uma alteração na energia magnética é necessária uma alteração no valor da
corrente, a qual não ocorre instantaneamente. De facto, o aparecimento (ou a alteração) de
uma corrente numa indutância é contrariado pelo aparecimento de uma f.e.m. de grandeza
L d i/d t. Assim, uma variação instantânea da corrente necessitaria de uma tensão
instantânea que a originasse, o que não é exequível.

A energia magnética armazenada não pode assim variar instantaneamente.

• Uma variação instantânea da energia eléctrica armazenada necessita de uma variação da


tensão. A tensão nos terminais de um condensador é dada por:

V =Q
C
em que Q é a quantidade de electricidade armazenada. A variação da tensão nos terminais
do condensador é dada por:
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Sobretensões de Manobra

dQ
dv
dt
=1
C dt
= i
C ( 2.1)

ou

V=1
C∫
idt ( 2.2 )

Para uma variação instantânea da tensão teríamos que ter uma corrente infinita o que não é
exequível. Assim, a tensão nos terminais de um condensador não pode variar instantaneamente,
nem a energia armazenada no campo eléctrico.

A redistribuição da energia, após a ocorrência de uma perturbação num sistema, demora um


tempo finito, redistribuição que é feita tendo em atenção o princípio da conservação de energia.

Acabamos assim de analisar três aspectos que são da maior importância em estudos de
fenómenos transitórios:
• A corrente através de uma bobine não pode variar instantaneamente;
• A tensão nos terminais de um condensador não pode variar instantaneamente;
• O princípio da conservação de energia tem que ser verificado em cada instante.

3.FENÓMENOS TRANSITÓRIOS EM CIRCUITOS ELEMENTARES EM CORRENTE


CONTÍNUA

O estudo dos fenómenos transitórios num circuito elementar em corrente continua pode ser
feito através das leis de Kirchoff.

Consideremos o circuito extremamente simples representado na figura 3.1, constituído por


um conjunto de baterias em série com uma resistência e um condensador.

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Sobretensões de Manobra

R I

V C V1

Figura 1 - Circuito constituído por um conjunto de baterias em série com uma resistência e um condensador

Quando se fecha o circuito por intermédio do interruptor, o condensador é carregado


através da resistência R. Por aplicação da 1ª lei de Kirchoff a corrente que circula no circuito é
dada por

V =iR+ 1
C∫
i dt ( 3.1)

Atendendo a (2.1)

dv
I =C
dt

pelo que (3.1) se pode escrever como

dv1
V = RC + V1 ( 3.2 )
dt

em que V1 é a tensão nos terminais do condensador.

Resolvendo a equação (3.2), por separação de variáveis, temos que

dv1 dt
=
V − V RC
−t
ln (V − V1 ) = + C te ( 3.3)
RC
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Sobretensões de Manobra

ou
V1 = V − Ae− t RC

em que A é uma constante que deve ser determinada a partir das condições iniciais do circuito.
Caso o condensador esteja carregado com a tensão V1(0) no instante t = 0, em que o interruptor é
fechado, temos que
V1 = V − V − V1 ( 0 )  e− t RC ( 3.4 )

A evolução da tensão nos terminais do condensador está representada graficamente na fig. 2

V1

V1(0)

Figura 2 - Evolução da tensão nos terminais do condensador ao longo do tempo

Analisando a figura 2 vê-se que a tensão nos terminais do condensador não atinge
instantaneamente a tensão existente nos terminais da bateria, mas tende para esse valor através de
um transitório que, neste caso, é uma exponencial, função das características R e C do circuito. Por
análise da solução da equação (3.2), dada pela equação (3.4), vê-se facilmente que a evolução da
tensão nos terminais do condensador se pode considerar constituída por duas componentes. A
primeira parte representa a tensão nos terminais do condensador passado o período transitório. O
segundo termo é responsável pelo período transitório que determina a evolução da tensão do
sistema entre o valor inicial da tensão V1(0) e o valor final da tensão. A forma do transitório
dependerá das características do circuito.

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Sobretensões de Manobra

4. FENÓMENOS TRANSITÓRIOS EM CIRCUITOS ELEMENTARES EM CORRENTE


ALTERNADA

Consideremos o circuito indutivo representado na figura 3, constituído por um gerador de


corrente alternada de f.e.m. e, sinusoidal, em série com uma resistência R e uma bobine com
coeficiente de auto-indução L. A lei de Ohm, aplicada a este circuito, conduz a

e = R I + L di dt = Em sen (ωt + θ ) ( 4.1)

A inclusão do ângulo arbitrário θ na equação anterior foi feita com o intuito de podermos
variar à nossa vontade a origem dos tempos.

Sem resolvermos a equação podemos afirmar que a corrente atingirá um valor estacionário

de V/Z e que haverá um esfasamento indutivo entre a corrente e a tensão de φ em que

( )
12
cos φ = R Z = R R 2 + ω 2 L2

V ~

Figura 3 - Ligação do circuito indutivo

Por raciocínios análogos a outros feitos anteriormente, podemos afirmar que a corrente não
atingirá o seu valor estacionário instantaneamente e que haverá uma componente exponencial
responsável pelo período transitório da corrente.

A equação (4.1) pode ser escrita como:

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Sobretensões de Manobra

R I + L dI dt = Em [ sen ωt cos θ + cos ωt sen θ ]

Por uma transformação de Laplace

Ri ( s) + L si ( s ) − LI (0) = Em ω cos θ (s 2


)
+ ω 2 + s sen θ (s 2
)
+ ω 2 

Notar que θ é constante porque é o esfasamento da tensão no momento em que o circuito


foi fechado. Neste circuito I(0)=0 pelo que

i ( s ) = Em L ( s + R L ) ω cos θ s 2 + ω 2 + s sen θ( ) (s 2


)
+ ω 2  ( 4.2 )

Para regressarmos ao domínio do tempo interessa-nos dar à equação (4.2) uma forma que
facilite a determinação dos originais. Assim, a equação (4.2) pode ser escrita como

i( s) = A (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 ) ) + Bs ( ( s + δ ) ( s 2
+ ω2 )) ( 4.3)
em que

A = Vm ω cos θ L , B = Vm sen θ L e δ =R L

A primeira fracção da equação (4.3) pode ser escrita como

1 (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 )) = 1 ( s 2
) (
+ ω 2 1 ( s + δ ) − s s 2 + ω 2 + δ s 2 + ω 2 ) ( )

A transformada inversa será:


£

−1
1 (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 ) ) = 1 (δ 2
)
+ ω 2 e −δ t − cos ωt + δ sen ωt ω 

A transformada do outro termo da equação (4.3) pode ser calculada da mesma forma ou
então, atendendo a que:
£

£
t

F '( )=s F ( ) − F (0)

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Sobretensões de Manobra

Teremos:
£
−1
s (( s + δ ) ( s 2
+ ω2 )) = 1 ( s 2
)(
+ ω 2 −δ eδ t + ω sen ωt + δ cos ωt + 1 − 1 + 0 ) ( 4.5)

A transformada inversa da equação 4.3, usando os resultados obtidos pelas equações (4.4)
e (4.5), será então

I ( t ) = Em ( L (δ 2
+ ω2 ) ){ω cosθ e −δ t
− cos ωt + δ sen ωt ω  + sen θ δ cos ωt + ω sen ωt − δ e−δ t  = }
Em ( L (δ 2
+ ω2 ) ){[ω cosθ − δ senθ ] e −δ t
− [ω cos θ − δ sen θ ] cos ωt + (δ cos θ + ω sen θ ) sen ωt } ( 4.6 )

Atendendo a que
tg γ = ω L R = ω δ

( )
12
sen γ = ω δ 2 + ω 2

(δ )
12
cos γ = δ 2
+ ω2

A equação (4.6) tomará a forma

( L (δ ) ){−sen (θ − γ ) e }
12
I ( t ) = Em 2
+ ω2 −δ t
+ sen (ωt + θ − γ )

(R ) {sen (ωt + θ − γ ) − sen (θ − γ ) e }


12
= Em 2
+ ω 2 L2 −δ t
( 4.7 )

A equação (4.7) tem a forma que tinha sido prevista antes de se realizar o estudo analítico.
O primeiro termo é o valor da corrente em regime permanente. O seu valor máximo é na realidade

e tem um esfasamento em relação à tensão de −γ . O segundo termo é o transitório. Como


Em Z

− Rt L
era de esperar inclui o termo e e no instante inicial é igual e de sinal contrário ao termo
estacionário, garantindo assim que a corrente parte de zero. A equação (4.7) está representada
graficamente na figura 4.

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Sobretensões de Manobra

t
(θ − ϕ )
−Vm
sen (θ − ϕ )
(R + ω 2 L2 )
1
2 2

Figura 4 - Representação gráfica da equação 4.7

No caso especial em que θ = γ no momento de fecho do interruptor, o termo transitório


será zero e a corrente será simétrica. Por outro lado, no caso de θ - γ = ± Π/2 no instante em que se
actuar o interruptor, o termo transitório terá uma amplitude máxima e no primeiro pico, a corrente
resultante do termo permanente e do termo transitório, terá um valor aproximadamente igual ao
dobro da componente sinusoidal em regime permanente. Este facto é muito importante para o
dimensionamento dos disjuntores. Pode suceder, por exemplo, que um disjuntor, seja chamado a
estabelecer uma corrente de curto circuito de valor máximo próximo do dobro do valor da corrente
do curto-circuito em regime permanente, no caso de reengate em que o defeito persiste, porque o
ângulo θ é arbitrário.

Num circuito trifásico, os ângulos θ nas três fases estão esfasados de 120º, pelo que é muito
provável que se os três pólos fecharem em sincronismo nas três fases, numa das fases θ - γ = ± Π/2
ou muito próximo deste valor. Assim, os disjuntores, têm que ser concebidos de modo que possam
suportar electricamente, mecanicamente e termicamente as condições mais desfavoráveis.

5. TENSÃO DE RESTABELECIMEMTO RESULTANTE DA ELIMINAÇÃO DE UM


CURTO-CIRCUITO

Para analisarmos a tensão transitória de restabelecimento resultante da eliminação de um


curto-circuito, consideremos o circuito representado na figura 5.
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Sobretensões de Manobra

Entende-se por tensão transitória de restabelecimento (T.T.R.) a tensão que surge nos
terminais do disjuntor após a extinção de arco. Este regime transitório de tensão resulta das
oscilações de tensão que ocorrem em cada terminal do disjuntor após a manobra deste.
L
×P

V = Vm cos ω t C

Figura 5 - Circuito equivalente para a análise da tensão de restabelecimento, quando o disjuntor elimina o
defeito.

Suponhamos que, devido ao aparecimento de um curto-circuito no ponto P, próximo


do disjuntor, a carga que estava a ser alimentada é isolada por actuação do disjuntor.
Como se sabe, em alta tensão, as correntes de curto-circuito são fortemente indutivas.

Seja L o coeficiente de auto-indução do circuito até ao ponto do defeito e C a


capacidade do circuito adjacente ao disjuntor. Esta capacidade existe sempre e inclui as
capacidades transversais distribuídas das linhas e dos transformadores adjacentes, assim como a
capacidade à terra do disjuntor, resultante de um dos terminais estar à terra devido ao
aparecimento do defeito. As perdas nas resistências e outras formas de perdas não serão
consideradas de momento.

Quando surge um defeito, o circuito é percorrido por uma corrente de curto-circuito, de


valor bastante elevado, que em circuitos de alta tensão se situa normalmente entre 10 e
40 kA(15).

Devido à actuação do disjuntor, isto é, à separação dos seus contactos, forma-se um arco
através do qual a corrente continuará a circular. A interrupção da corrente de curto-circuito
dependerá então do controlo e finalmente da extinção do arco. O método usado para controlar e
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Sobretensões de Manobra

extinguir o arco depende do tipo de disjuntor em causa. Como a corrente em circuitos de


corrente alternada passa em cada período duas vezes por zero, é num destes instantes que a
corrente é na realidade extinta. A p ó s a extinção do arco no disjuntor estamos em presença de
um circuito LC, indo verificar-se a carga e descarga de C através de L. A p ó s a extinção do
arco a tensão nos terminais do disjuntor será a tensão nos terminais de C, que constituirão
portanto a T.T.R. resultante da eliminação de um curto circuito.

No circuito representado na figura 5 a corrente é suposta simétrica e será puramente


reactiva uma vez que é apenas limitada pelo coeficiente de auto-indução do circuito. Isto significa
que no instante de corrente zero, a tensão do circuito estará no seu valor máximo, mas a tensão
entre os contactos do disjuntor, e portanto através do condensador C, será a tensão do arco. A
importância da tensão do arco varia com o nível da tensão do circuito e com o tipo de disjuntor.
Assim, num circuito de alta tensão, a tensão de arco, será uma pequena percentagem da tensão
do circuito, especialmente com os modernos disjuntores de S F6. Num circuito de baixa tensão já
porém essa percentagem poderá ser significativa. Numa primeira aproximação suponhamos que a
tensão do arco é desprezável.

Inicializando a contagem do tempo quando a corrente se anula, como estamos em


presença de um circuito puramente indutivo, a tensão estará no máximo no momento em que a
corrente se anula, pelo que pode ser expressa como V = Vm cos ωt

A equação do circuito será então

L dI dt + Vc = Vm cos ωt ( 5.1)

Como há duas incógnitas, I e Vc, necessitamos de duas equações. A segunda equação


será então

I = C dVc dt ( 5.2 )

uma vez que, depois de a corrente ter sido eliminada através do disjuntor, o único circuito possível
para a corrente é através do condensador.

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Sobretensões de Manobra

Substituindo a equação 5.2 em 5.1 temos

d 2Vc dt 2 + Vc LC = Vm LC cos ωt ( 5.3)


A resolução desta equação vai-nos permitir determinar a T.T.R. nos terminais do
disjuntor.

Antes de resolver esta equação, podemos analisar o fenómeno físico e ver qual o tipo de
solução que teremos. Quando o disjuntor tiver eliminado o arco, a tensão aos seus terminais será
a tensão da fonte de alimentação. No momento da interrupção (t = 0), a tensão será a tensão do
arco, que nós admitimos ser nula. Porém, como a tensão só pode variar de uma maneira continua,
um transitório surgirá enquanto C está a ser carregado através da bobine com coeficiente de
auto-indução L.

Estamos, assim, em presença de um circuito LC que oscilará à frequência natural do


circuito.

Consideremos 1 LC = ω02 . A transformada de Laplace da equação 5.3 será

s 2 vc ( s ) − svc ( 0 ) − Vc' ( 0 ) + ω02 vc ( s ) = ω02Vm s ( s 2 + ω 2 )


ou
vc ( s) = ω02Vm s (( s 2
)
+ ω 2 )( s 2 + ω02 ) + vc (0) s ( s 2 + ω02 ) + Vc' (0) ( s 2 + ω02 ) ( 5.4 )

No caso de desprezarmos a resistência do arco, o segundo termo, no membro do lado


direito, é zero. O terceiro termo também será zero porque da equação (5.2)

Vc' (0) = I (0) C = 0

Assim, apenas restará o primeiro termo e teremos então

s (( s 2
)
+ ω 2 )( s 2 + ω02 ) = 1 (ω02 − ω 2 )  s ( s 2 + ω 2 ) − s ( s 2 + ω02 ) 

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Sobretensões de Manobra

pelo que

vc ( s ) = Vm ω02 (ω02 − ω 2 )  s ( s 2 + ω 2 ) − s ( s 2 + ω02 ) 

Vc (t ) = ω02 (ω02 − ω 2 ) Vm ( cos ωt − cos ω0t ) ( 5.5)

A equação 5.5 dá então a tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor depois de


a corrente ter sido eliminada. É a forma clássica da tensão transitória de restabelecimento. De
uma maneira geral ω o » ω , pelo que:

ω02 (ω02 − ω 2 ) = 1

Assim, de uma forma aproximada,

Vc (t ) = Vm ( cos ωt − cos ω0t ) ( 5.6 )

ou, como estamos interessados em saber o que se passa nos primeiros instantes após a abertura do
disjuntor (t da ordem de alguns µs) teremos ωt ≅ 0 pelo que, a equação 5.6 pode ser escrita
como:

Vc (t ) = Vm (1 − cos ωot ) ( 5.7 )

Esta equação mostra que para:

t = π ( LC ) s
12

isto é, depois de um ciclo à frequência natural, a tensão entre os contactos do disjuntor atingirá
2Vm, no caso de não haver amortecimento.

Como na prática há sempre resistência nos circuitos, é necessário incluir na equação (5.6)
um termo exponencial e −δ t cos δ = R 2 L que conduz ao desaparecimento da componente de alta
frequência ao fim de um período de tempo relativamente curto. Considerando o efeito do
amortecimento, a equação (5.6) tomará a forma:
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Sobretensões de Manobra

(
Vc (t ) = Vm cos ωt − e−δ t cos ω0t )

A figura 6 mostra graficamente a evolução da tensão de restabelecimento com o tempo

Tensão transitória de
restabelecimento Vc (t)
Tensão do
sistema

Corrente de
defeito

Figura 6 – Tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor representado na figura 5 após a eliminação da cor-
rente de defeito

Como já foi dito, haverá sempre que considerar as perdas que se verificam nos diversos
elementos do sistema. No estudo analítico estas perdas não foram consideradas. Porém, estas
perdas, que originam um amortecimento da tensão de restabelecimento foram consideradas na
representação gráfica da figura 11. Note na figura 6 que a tensão de restabelecimento atinge
quase o dobro da tensão do sistema quando as duas componentes da tensão se adicionam.

Até a corrente se anular a capacidade C da figura 5 está curto circuitada pelo defeito.
Porém, a partir da interrupção da corrente de defeito pelo disjuntor, a capacidade C deixa de estar
curto circuitada, a tensão passa a estar aplicada aos seus terminais, e o condensador será
carregado a esse potencial.

No caso da frequência ωo ter um valor bastante elevado, o que sucede no caso de L ou C,


ou ambos, terem um valor baixo, a tensão nos contactos do disjuntor crescerá muito rapidamente.
Se a taxa de crescimento da tensão transitória de restabelecimento for superior à taxa de
restabelecimento do dieléctrico existente entre os contactos do disjuntor, o disjuntor será incapaz
de suportar a tensão de restabelecimento e o arco forma-se novamente, isto é, houve

20
Sobretensões de Manobra

reacendimento do arco. Assim, o disjuntor permitirá a passagem da corrente de defeito, pelo


menos, durante o meio ciclo que se segue. O conhecimento da tensão transitória de
restabelecimento será assim uma característica extremamente importante para a selecção de um
disjuntor com as características de corte adequadas.

Para exemplificar, consideremos um circuito com um coeficiente de auto-indução de 1 mH


e uma capacidade de 400 pF. A frequência própria do circuito será

(
f 0 = 1 2π (10−3 × 4 × 10−10 )
12
) = 10 6
3.99 250 KHz

o que representa um período de 4µs. Num circuito de 15 kV, desprezando o amortecimento, a


tensão oscilará para o dobro do pico da tensão em meio período. O valor médio da taxa de
crescimento ou gradiente da tensão é assim de

2 ×15 × 2 ( )
3 × 2 = 12.2 kV / µ seg

O que é nitidamente superior à característica de regeneração do dieléctrico da maior parte


dos disjuntores. Um outro exemplo de crescimento rápido da tensão de restabelecimento será
analisado quando se estudar o defeito quilométrico.

No ponto 4 mostrou-se que, quando o disjuntor é fechado é muito provável que a corrente
resultante seja assimétrica. O grau de assimetria da corrente dependerá do valor instantâneo da
tensão, no instante em que o circuito é fechado. Uma corrente de defeito também pode ser
assimétrica, dependendo a sua assimetria do valor instantâneo da tensão, no momento em que
surge o defeito. O disjuntor interromperá a corrente quando o seu valor instantâneo for zero, e a
tensão de restabelecimento oscilará em torno do valor instantâneo da tensão de alimentação. A
tensão de restabelecimento após a interrupção de uma corrente assimétrica está representada na
figura 7.

21
Sobretensões de Manobra

Tensão do Tensão de
sistema restabelecimento

Corrente
assimétrica

Interrupção da
corrente

Figura 7 - Tensão de restabelecimento após a interrupção de uma corrente assimétrica

Na análise anterior, a tensão do arco foi suposta desprezável embora muitas vezes esta
simplificação não seja verdadeira. Consideremos então a equação (5.4). A transformada
inversa da tensão do arco será então
£

−1
( )
Vc (0) s s 2 + ω02 = Vc (0) cos ω0t

Vc(0) será a tensão do arco no instante de corrente zero (t = 0), uma vez que o
condensador terá essa tensão aplicada aos seus terminais enquanto o arco persistir. Este
facto, originará um novo termo, que tenderá a aumentar a tensão de restabelecimento, sendo
porém contrabalançado por a tensão do arco se opor à circulação da corrente e por isso alterar
o esfasamento da corrente, ficando assim mais em fase com a tensão de alimentação.

A existência do arco introduz uma componente resistiva no circuito pelo que o


esfasamento entre a tensão e a corrente de defeito será inferior a π/2.

Deste modo, quando o disjuntor interrompe a corrente a tensão não estará no seu valor
máximo. A tensão de restabelecimento, quando considerado o efeito da tensão do arco, está
representada esquematicamente na figura 8.
22
Sobretensões de Manobra

Tensão transitória de
restabelecimento

Corrente de
defeito

Tensão do arco

Figura 8 - Efeito da tensão do arco na tensão de restabelecimento

Para se analisar melhor a evolução da tensão de restabelecimento quando da


eliminação de um curto-circuito, consideremos a figura 9.

Figura 9 - Evolução no tempo da tensão de restabelecimento aquando da eliminação de um curto-circuito

À esquerda da figura 9 a sinusóide V representa a tensão nominal do circuito. O ponto


A representa o instante em que se deu o curto-circuito e em que a tensão normal do circuito
começa a decrescer devido ao aumento da queda de tensão, originada pela corrente de curto-
circuito. Em B, a protecção que dá a ordem de disparo ao disjuntor operou. Em C começa a
23
Sobretensões de Manobra

abertura dos contactos do disjuntor. Em D apaga-se o arco. A partir deste instante a tensão
começa a subir (Análise feita a partir da fig. 8) retomando depois o valor da tensão normal.
Notar que a tensão do arco vai subindo ao longo das várias alternâncias da corrente devido ao
afastamento progressivo dos contactos.

Estas variações de tensão são lentas, podendo desenvolverem-se ao longo de alguns


segundos nos alternadores de grande potência.

Os intervalos de tempo AB, BC e CD dependerão respectivamente da temporização da


protecção, do tempo de abertura do disjuntor e do tempo de duração do arco. O tempo de abertura
do disjuntor mais o tempo de duração do arco, é o tempo de corte.

Um disjuntor actualmente pode ter um tempo de abertura da ordem de 0.03 a 0.07 s e


uma duração do arco da ordem de 0.01 a 0.03 s (1 a 3 alternâncias em 50 Hz). Somando alguns
centésimos de segundo para a temporização da protecção (no caso de esta ser instantânea)
chega-se a um tempo total AD de 0.10 a 0.12 s. Notar que na figura 6 os tempos AB e BC estão
mais curtos do que os indicados para não alongar o desenho. Como é óbvio, no caso da
protecção ser temporizada o tempo AB será maior, dependendo da temporização, o que pode
tornar muito sensível a redução na tensão de restabelecimento. Quando se pretende prever a tensão
de restabelecimento sob as quais funcionará um disjuntor em dado ponto de uma rede, é
conveniente não contar com essas possíveis reduções resultantes da temporização do relé pois
pode sempre dar-se intempestivamente um disparo instantâneo.

Na realidade, não temos porém um circuito oscilante tão simples como o representado
na figura 5 e que estivemos a analisar. Os Sistemas Eléctricos são sistemas trifásicos,
compreendendo, nomeadamente, linhas, transformadores e alternadores que condicionam o
gradiente da tensão de restabelecimento, com as suas características transitórias.

Quanto aos defeitos podem ser monopolares à terra, com duas ou três fases com ou sem
terra. Por outro lado o neutro pode estar ligado directamente ou indirectamente à terra ou estar
isolado, o que condiciona o valor da tensão transitória de restabelecimento. Há necessidade
também de distinguir entre um curto-circuito nos terminais do disjuntor de um curto-circuito na
linha, porque neste caso, como será analisado no ponto seguinte, a tensão de restabelecimento
24
Sobretensões de Manobra

sobrepõe-se uma oscilação a uma frequência elevada do troço de linha curto-circuitada.

Os curto-circuitos trifásicos à terra, são os que trazem maior dificuldade de corte ao


disjuntor, porque impõem a maior tensão transitória de restabelecimento. Felizmente esta
situação de defeito é muito rara, como o mostram diversas estatísticas relativas a redes de alta
tensão. Assim, por exemplo, uma análise da rede de tensão de serviço de 240 e 400 kV, mostra
que somente 3% de todos os curto-circuitos são trifásicos. Os curto-circuitos entre duas fases,
englobando ou não a terra são cerca de 15%. Os curto-circuitos mais frequentes são os curto-
circuitos monofásicos (cerca de 80%), para os quais a tensão transitória de restabelecimento e a
corrente são menos severas (15).

A taxa de crescimento e o pico da tensão transitória de restabelecimento podem, em


princípio, ser reduzidas pela inclusão de resistências ou de capacidades montadas em paralelo
com os contactos do disjuntor. Estes meios auxiliares para limitar o impacto das sobretensões de
manobra são utilizados para correntes de curto-circuito elevadas ou muito elevadas, sendo o tipo
e a importância do amortecimento determinado pelo tipo e características do disjuntor. A s
capacidades em paralelo são usadas em disjuntores de hexafluoreto de enxofre e as resistências
para os disjuntores pneumáticos.

6. TENSÃO TRANSITÓRIA DE RESTABELECIMENTO DE FREQUÊNCIA


DUPLA

Muitas das vezes, quando da interrupção de um circuito, estabelecem-se nas redes duas
ou mais frequências próprias cuja acção simultânea deforma a curva da tensão.

Consideremos o circuito representado na figura 10. Suponhamos que um curto-circuito no


ponto P é eliminado por acção do disjuntor D. No caso muito frequente do curto-circuito se dar
num ponto bastante afastado do disjuntor, a jusante deste, haverá suficiente auto-indução e
capacidade transversal da linha respectivamente L2 e C2, para que se estabeleça um circuito
ressonante. Por outro lado, a montante do disjuntor, isto é, do lado da fonte de tensão, também
haverá normalmente auto-indução e capacidade, L1 e C1, que darão origem a um novo sistema
oscilante de frequência própria:

(
f1 = 1 2π ( L1 C1 )
12
)
25
Sobretensões de Manobra

L1

L2
V C1 C2

Figura 10 - Circuito para a análise da tensão transitória de restabelecimento de frequência dupla

A jusante do disjuntor a frequência própria será

(
f 2 = 1 2π ( L2 C2 )
12
)
Após a actuação do disjuntor D, e extinto o arco, os dois sistemas oscilam
independentemente um do outro. A tensão de restabelecimento será então a diferença das tensões,
de um e outro lado do disjuntor, as quais, como já vimos, têm frequências diferentes.

Vejamos, então, qual a evolução no tempo da tensão de restabelecimento.

Antes da abertura do disjuntor a tensão nominal da rede de 50 Hz, estará dividida de uma
forma proporcional aos coeficientes de auto-indução L1 e L2. Assim a tensão dos condensadores
será

L2 ( L1 + L2 ) V

Como L2>> L1, de outro modo a regulação da rede seria muito fraca, C1 e C2 são
carregados a uma tensão ligeiramente inferior ao valor da tensão instantânea do sistema. A seguir
à interrupção da corrente pelo disjuntor D, o condensador C2 descarregará através de L2 com a
frequência natural f2.

26
Sobretensões de Manobra

For outro lado Cl, agora com a tensão nominal do sistema nos seus terminais, oscilará em
torno desse valor com a frequência f1 até o amortecimento do sistema eliminar as oscilações.

A tensão transitória do lado da fonte de alimentação e do lado da carga estão


representadas esquematicamente na figura (11.a) e figura (11.b)

f1

L2
Vp
L1 + L2
VL f2
L2
Vp
L1 + L2

t t
I
I

(a)
(b)

a) a montante do disjuntor
b) a jusante do disjuntor

Figura 11 - Tensão transitória de restabelecimento de frequência dupla

A tensão transitória entre os contactos do disjuntor será a diferença entre as tensões


representadas na figura 11 a) e b) a qual está representada na figura 12.

27
Sobretensões de Manobra

f2
VP

f1

t
I

Figura 12 - Tensão transitória de restabelecimento, de frequência dupla, estabelecida entre os contactos do disjuntor

Há vários tipos de circuitos em que aparecem fenómenos transitórios com uma frequência
dupla. Um circuito bastante frequente, em que surgem fenómenos transitórios com uma frequência
dupla está representada na figura 13. O circuito é constituído por um disjuntor a eliminar um curto-
circuito no secundário de um transformador.

Neste caso L 1 representa o coeficiente de auto-indução até ao transformador, ω L 2 a


reactância de fugas do transformador e C1 e C2 são as capacidades nos dois lados do
transformador. Na realidade trata-se de um circuito com frequência dupla, na medida em que há duas
malhas LC.

L1 L2

I1 I2
V C1 C2

Figura 13 - Exemplo de um circuito com frequência dupla

28
Sobretensões de Manobra

Consideremos novamente o circuito representado na figura 13.

Façamos agora o estudo analítico da tensão transitória de restabelecimento de


frequência dupla. Admitamos que durante o período de interesse a variação na tensão de
alimentação do circuito é desprezável, podendo portanto a tensão ser representada por uma
tensão constante V. Atendendo a que a reactância de C1 a 50 Hz é muito maior do que as
correspondentes reactâncias de L 1 e L2 pode-se admitir que inicialmente a distribuição da
tensão é determinada pelos valores das indutâncias.

Estabelecido o curto-circuito, a tensão da rede, irá dividir-se em duas partes,


correspondendo às quedas de tensão em cada uma das reactâncias (fig. 11). Assim, as
tensões que vão provocar as oscilações em cada um dos circuitos em que o circuito 11 é
dividido após a extinção do arco, são uma fracção da tensão da rede, respectivamente com o
valor de

L2
VL1 = V
L1 + L2
L1
VL 2 = V
L1 + L2

Demonstra-se(3) que a tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor é dada


por

(
Vr (t ) = Vm cos ωt − ( L1 ( L1 + L2 ) ) cos ω1t − ( L2 ( L1 + L2 ) ) cos ω2t )

no caso de se desprezar o amortecimento do circuito.

No caso do amortecimento do circuito ser considerado a expressão anterior tomará


a forma

(
Vr (t ) = Vm cos ωt − ( L1 ( L1 + L2 ) ) e − t ζ 1 cos ω1t − ( L2 ( L1 + L2 ) ) e−t ζ 2 cos ω2t )

29
Sobretensões de Manobra

Em que

ζ 1 = L1 R1 e ζ 2 = L2 R2

são as constantes de tempo dos circuitos.

Conforme se vê pela análise das expressões anteriores e da figura 13 a tensão transitória


de restabelecimento através dos contactos do disjuntor, de frequência dupla, tem uma forma mais
complicada devido à frequência própria dos dois sistemas. O pico da tensão transitória de
restabelecimento, se o corte se der em corrente nula, não poderá porém exceder

Vr max = 2 (VLI + VL 2 ) = 2 Vm

tal como no caso de uma só oscilação, mas será geralmente inferior, por não serem simultâneas as
pontas das primeiras alternâncias.

7. DEFEITO QUILOMÉTRICO

Há alguns anos, um número de incidentes ocorreu com disjuntores, os quais indicaram que
um disjuntor tinha mais facilidade de interromper uma corrente de curto-circuito para um defeito
próximo dos seus terminais, do que a corrente de curto-circuito de um defeito análogo, mas
localizado na linha de transmissão a uma certa distância dos terminais do disjuntor. No segundo
caso, devia-se estar porém numa situação mais fácil para o disjuntor porque devido à existência da
impedância da linha a corrente tinha sido reduzida, e assim seria mais fácil de interromper. Como
isto não era o que estava a acontecer deveria existir alguma relação desconhecida entre o
comportamento do disjuntor e o valor da impedância da linha."Skeats et al"(8) estudaram o problema
e mostraram que defeitos deste tipo impunham condições de corte muito severas aos disjuntores.
Atendendo à maior severidade de corte que tais defeitos impõem nos disjuntores designa-se por
defeito quilométrico um curto-circuito que se produz num ponto afastado do disjuntor,
aproximadamente 1 quilómetro. Em tais casos as solicitações impostas aos disjuntores pela
corrente de curto-circuito são agravadas pela elevada taxa de crescimento da tensão transitória de
restabelecimento.

30
Sobretensões de Manobra

A grande diferença entre os dois tipos de defeito (defeito à saída do disjuntor e a uma
certa distância deste) é que a presença da impedância da linha não só limita o valor da corrente
como suporta alguma da tensão do sistema. A tensão do sistema divide-se então pelos dois
terminais do disjuntor em valores proporcionais aos da impedância da fonte de tensão e da
linha respectivamente.
A figura 14 mostra a divisão da tensão ao longo do circuito.

a)

Sistema
D

b)

Tensã o do
sistema
Disjuntor

Tensão do
disjuntor

Rectância do Reac tância da


sistema linha

a) Distribuição da tensão no sistema aquando do aparecimento do defeito


b) Esquema equivalente

Figura 14 - Defeito quilométrico

Quanto mais afastado do disjuntor se der o defeito, a impedância da linha não só limita
a corrente de defeito como maior será a fracção da tensão suportada pela linha. No momento
em que o disjuntor interrompe a corrente, a tensão estará próxima do seu máximo. No momento
em que o disjuntor interrompe o circuito, quando a corrente se anula, a linha terá uma
distribuição de tensão, que terá o seu máximo na extremidade do disjuntor e que de uma
forma aproximadamente linear tenderá para zero no ponto em que se deu o defeito. Como se
sabe, as sobretensões propagam-se ao longo das linhas e reflectem-se quando encontram o
circuito aberto ou um curto-circuito, isto é, quando encontram uma descontinuidade. No
circuito em análise, a onda de sobretensão triangular originada pela abertura do disjuntor
encontra numa das direcções o circuito interrompido pelo disjuntor aberto e na outra direcção a
onda da sobretensão também não pode prosseguir devido à existência do curto-circuito. Assim,
31
Sobretensões de Manobra

devido à existência destas descontinuidades surgirão ondas reflectidas as quais irão interferir
com as ondas iniciais.

A figura 15 a) mostra a distribuição da tensão inicial ao longo da linha.


a)

Circuito aberto

Distribuição inic ial

Curto c irc uito

(a)
b)

(b) R

Figura 15 - Distribuição da tensão ao longo de uma linha com um curto-circuito (a) Distribuição inicial (b)
Distribuição depois das ondas de sobretensão se terem começado a separar

Se L for a indutância da fonte de tensão, L1 a indutância da linha até ao ponto do defeito e


E o valor instantâneo da f.e.m. a alimentar o curto-circuito, teremos duas ondas de sobretensão,
cada uma com uma amplitude de

E L1 (( L + L ) × 2)
1

A onda de sobretensão que se dirige para montante do disjuntor encontrará imediatamente


o disjuntor aberto e reflectir-se-á com o mesmo sinal e a mesma amplitude. A onda análoga que
se desloca para a direita (linha) encontra o curto-circuito e reflecte-se com o sinal invertido. A
distribuição das tensões, alguns instantes depois, está representada na figura 15 a). Nesta figura a
onda de tensão correspondente à tensão inicial está tracejada.

A reflexão desta onda não está tracejada e está identificada pela letra R na figura 15b). As
32
Sobretensões de Manobra

ondas reflectidas por seu turno sofrerão nova reflexão quando atingirem as descontinuidades
opostas e assim o fenómeno prosseguirá, sujeito apenas ao efeito das perdas na linha. A partir da
figura 15 a) é possível representar a variação da tensão em qualquer ponto da linha, em função do
tempo, conhecida a velocidade de propagação da onda de tensão e a distância ao defeito.

A variação da tensão no contacto do disjuntor do lado da linha está representada na figura


17. É importante o conhecimento desta tensão na medida que é a tensão transitória que o
disjuntor terá que suportar nos seus terminais, quando interrompe a corrente de curto-circuito.

Pode-se ver que o contacto do disjuntor do lado da linha sofre uma variação relativamente
grande de tensão, + V para - V, num intervalo de tempo muito curto, 2T (V representa a tensão de
pico inicial da linha e T o tempo que a onda de tensão demora a percorrer a distância entre o
disjuntor e o defeito). É este valor elevado do gradiente da tensão transitória que dificulta o
funcionamento do disjuntor.

Vejamos qual o valor do gradiente da tensão do lado da linha. Das equações de


funcionamento das linhas sabemos que, para uma linha ideal sem perdas, com o comprimento l e
uma capacidade de C2,

δ i δ x = C2 l δ v δ t
δ v δ t = 1 C2 δ i δ x
1
δ v δ t = 1 C 2 (δ i δ t )(δ t δ x ) = C2 δ i δ t
c

em que, como se sabe do estudo das linhas, c é a velocidade de propagação teórica da onda
eléctrica que é igual à velocidade da luz e tem por valor

c = 1 ( l2 c2 )
12
= 300000 km / s (7.1)

em que 12 e c2 são o coeficiente de auto indução (em henrys) e a capacidade (em farads) da linha
por metro.

A equação 7.1 tomará então a forma


33
Sobretensões de Manobra

δ v δ t = ( l2 c2 ) c2 δ i δ t = ( l2 c2 ) δ i δ t = Z c δ i δ t ( 7.2 )
12 12

em que Z c = ( l2 c2 )
12
é a impedância característica da linha.

Para o caso de uma corrente sinusoidal

i = I m sen ωt
v = Z c I m sen ωt
δ v δ t = Z c I m ω cos ωt ( 7.3)

e a taxa inicial de crescimento da tensão será

( δ v δ t )t = 0 = Z c I m ω = Zc Iω 2 ( 7.4 )

Da equação 7.4, vê-se facilmente que o gradiente da tensão transitória de


restabelecimento é menos severo para um defeito num cabo do que para um defeito numa linha
aérea.

De facto a impedância característica depende do tipo de linha (linha aérea ou cabo


subterrâneo) e nos cabos aéreos depende da geometria dos condutores. Para uma linha aérea de
alta tensão Zc é da ordem de 400 Ω, quando existe um condutor por fase, de 320 Ω quando
existem dois condutores e de 270 Ω quando existem três ou quatro condutores por fase. Para
linhas aéreas de média tensão Zc é da ordem de 300 Ω e para cabos, devido à forte capacidade e
à baixa indutância, Zc é da ordem de 40 Ω.

Teremos então da expressão 7.4 que a taxa de crescimento inicial, para um sistema de
Alta Tensão a 50 Hz terá como valores típicos (I expresso em kA):

Linha aérea ...................................................................... 0.2 I kV µ s


Cabo subterrâneo ............................................................ 0.02 I kV µ s

34
Sobretensões de Manobra

O gradiente da tensão transitória de restabelecimento será assim aproximadamente dez


vezes maior para uma linha aérea de alta tensão do que para um cabo.

A expressão 7.4 mostra igualmente que a taxa de crescimento inicial é proporcional à


corrente de curto-circuito.

Assim, por exemplo, no caso de uma linha aérea de alta tensão para uma corrente de
curto-circuito de 60 kA teremos uma taxa de crescimento da tensão de restabelecimento de 12
kV/µs, que é um valor muito elevado.

Por outro lado, quanto menor for a distância 1 do disjuntor ao ponto em que se dá o
defeito, maior será a corrente I e portanto maior o gradiente da tensão. Convém assinalar, que se 1
for muito pequeno, a amplitude da T.T.R. também o será.

De facto, se a corrente de curto-circuito for i = 2 I sen ωt a tensão no contacto do


disjuntor do lado da linha terá como valor máximo

v = x1 2 I ( 7.5)

em que x é a reactância por unidade de comprimento.

Se E for a f.e.m. por fase da rede e x a reactância a montante do disjuntor teremos

E = I ( x + xd )

e a equação (7.5) tomará a forma

v = x d 2 E ( x + xd ) (7.6)

Assim, quanto menor for a distância 1, maior é a corrente de curto-circuito e maior a taxa de
crescimento inicial da tensão. Em contrapartida quanto menor for l menor será a amplitude da
tensão, como se vê da equação 7.4. A figura 16 mostra como varia a oscilação da tensão quando a
35
Sobretensões de Manobra

distância do defeito aumenta. Vê-se que existe uma distância crítica que no caso das redes de alta
tensão é próxima de 1 km (daí a designação de defeito quilométrico).

d crescente

Figura 16 - Variação da tensão com a distância.

O período da onda de tensão triangular é de T, correspondendo a duas vezes o percurso de


ida e volta. Uma ida simples corresponde a um tempo igual a 1/4 do período, daí a designação de
oscilação em quarto de comprimento de onda. A sua máxima variação é de:

2 E L1 ( L + L1 ) ( 7.7 )

36
Sobretensões de Manobra

(a)

(b)

Figura 17 - Variações da tensão ao longo da linha após a eliminação do defeito do disjuntor (representação sem
amortecimento). (a) nos terminais do disjuntor (b) a meia distância entre o disjuntor e o ponto do defeito.

Circuito aberto (r = 1)

1/T = f = c/4l

l l l l

Curto circuito (r = - 1)

r = coeficiente de reflexão

Figura 18 - Determinação do período da onda de tensão triangular

Esta onda de tensão será então a variação da tensão de restabelecimento no contacto do


disjuntor do lado da linha. A variação da tensão no contacto do disjuntor do lado do sistema
será sinusoidal, mas a sua subida é lenta. A seu valor máximo será de

(
E L ( L + L1 ) 1 − cos t ( LC )( 12
)) ( 7.8)

e a frequência é a frequência da rede.


37
Sobretensões de Manobra

A sobretensão que se verificará nos contactos do disjuntor será dada pela diferença de V1
e V2 (V1 - tensão no contacto do disjuntor do lado do sistema; V2 - tensão no contacto do
disjuntor do lado da linha).

Na origem dos tempos, t = 0 (extinção do arco) há entre V1 e V2 a diferença Va (tensão do


arco). Devido à existência de amortecimento V2, tende para zero, sob a forma de uma oscilação
triangular amortecida. Destas duas curvas resulta a curva V1- V 2 em que o gradiente de subida é
praticamente igual ao de V2, dada a lenta variação de V1. Notar que a 1ª parte da curva Vl-V2 é
aproximadamente igual ao dobro da tensão existente no contacto do disjuntor, quando se extinguiu
o arco. O perigo do defeito quilométrico não está pois na amplitude Vo, que é relativamente
pequena, mas no gradiente do seu crescimento. A figura 19 mostra a tensão V1, a tensão V2 e a
tensão de restabelecimento nos contactos do disjuntor.

Por análise da figura 19 vê-se que após a interrupção da corrente de curto-circuito a


tensão no borne do disjuntor do lado da linha oscila em dente de serra. A taxa de crescimento
inicial desta oscilação é proporcional à impedância característica e à corrente de curto-circuito
(equação 7.4). A tensão no borne do disjuntor do lado da linha, no caso de um defeito
quilométrico, e de um defeito nos bornes do disjuntor são semelhantes.

Como se sabe a velocidade de subida da tensão transitória de restabelecimento


imediatamente após a extinção do arco num disjuntor tem uma importância considerável no
comportamento do disjuntor. O problema que os disjuntores têm em cortar uma corrente de
curto-circuito originado por um “defeito quilométrico” reside nos elevados valores que o
gradiente da tensão atinge, chegando a atingir valores da ordem dos 6 a 12 kV/µs. Assim se
justifica o interesse que há na análise do designado "defeito quilométrico", pelas severas
condições de corte que impõe aos disjuntores. O gradiente da tensão de restabelecimento atinge
os valores mais elevados quando o defeito se dá entre 500 m e 5 km com o perigo máximo à
volta de 1 km do disjuntor.

Antes de prosseguir, vejamos qual a influência que o gradiente da tensão de


restabelecimento tem no bom funcionamento do disjuntor.
Para que o arco não se reacenda é preciso que a tensão entre os contactos do disjuntor,
designada por tensão de restabelecimento Vr, seja inferior à tensão de escorvamento ou de
38
Sobretensões de Manobra

regeneração do dieléctrico. Nas condições ideais de corte, o intervalo de corte (espaço entre os
contactos) ionizado deveria ser capaz de imediatamente após a interrupção, suportar a tensão
transitória de restabelecimento. Como tal não sucede na prática, quando o arco se apaga há no
disjuntor uma verdadeira corrida entre a tensão de restabelecimento e a tensão de escorvamento.
Se a tensão de restabelecimento cresce mais rapidamente que a tensão de escorvamento o arco
reacende-se mais uma vez e dura pelo menos mais uma alternância. No caso do disjuntor
conseguir com suficiente rapidez afastar os contactos e regenerar o dieléctrico, a tensão de
escorvamento cresce mais depressa que a de restabelecimento e o arco não se reacende, ficando
a corrente definitivamente cortada.

Na figura 20 estão representados esquematicamente as duas curvas com a escala dos tempos
bastante ampliada para maior clareza.

L1 V1
E
V L1 + L

va

V2

Vr

V0

VI - Tensão no contacto do disjuntor do lado do sistema


V2 - Tensão no contacto do disjuntor do lado da linha
Va- Tensão do arco
Vr - Tensão transitória de restabelecimento entre os contactos do disjuntor

Figura 19 - Tensão transitória de restabelecimento nos contactos do disjuntor após a eliminação de um defeito
quilométrico.

39
Sobretensões de Manobra

Tensão de restabelecimento
i C
extinção da corrente
va

A va t
B

P
e

M
N

Tensão de escorvamento

Figura 20 - Comparação entre o andamento da curva de escorvamento de um disjuntor (curva B) e da tensão de


restabelecimento (M ou N)

O ponto A marca a extinção da corrente. A partir do ponto C a tensão transitória de


restabelecimento pode variar mais ou menos rapidamente.

Se a frequência própria da rede fo, for grande, isto é, a variação rápida, consideremos
a curva M que corresponde ao reacendimento do arco no ponto P. Se a variação for mais lenta,
(fo menor) consideremos a curva N que não encontra a curva B e portanto o arco extingue-se
definitivamente no instante A.

Os valores práticos de fo (frequência própria da rede) são da ordem de umas centenas


de Hz nas muito altas tensões e de alguns milhares de Hz nas médias tensões, pelo que
ωo>>ω como já atrás se anotou. A variação de fo com a tensão resulta de que as redes de muito
alta tensão têm maiores reactâncias e são, geralmente mais extensas, oferecendo portanto
valores mais altos das capacidades o que tudo conduz a menores valores de fo.

Por outro lado sabe-se também que a frequência fo decresce quando a potência de
curto-circuito sobe, o que é uma vantagem para o disjuntor. O facto resulta de que os
curto-circuitos mais violentos dão-se quando estão em serviço mais centrais e mais linhas o
que aumenta o valor da capacidade.

Consideremos agora a figura 21. A curva A representa a curva de regeneração do


dieléctrico. Se a distância d (distância do disjuntor ao ponto em que se dá o defeito) for
40
Sobretensões de Manobra

muito pequena, a tensão de restabelecimento não a alcança apesar da subida rápida, e


portanto, o disjuntor corta a corrente (curva 1).

V A

2
3

va t

Figura 21 – Comparação entre a curva de regeneração do dieléctrico e a tensão de restabelecimento do


disjuntor

Se a distância aumenta, o disjuntor pode não cortar a corrente (curva 2). Se a


distância aumentar ainda mais, o gradiente da subida diminui o suficiente para que o
disjuntor seja capaz de cortar a corrente de defeito novamente (curva 3).

O defeito quilométrico afecta mais fortemente o disjuntor de ar comprimido, devido


à forma da sua característica. Um dos caminhos para facilitar a acção do disjuntor consiste
em aumentar a tensão do arco Va (figura 19 e 21). Veremos posteriormente que colocar uma
resistência em paralelo com os contactos do disjuntor ajuda a vencer o defeito quilométrico
por reduzir consideravelmente o valor do pico e do gradiente da tensão.

8. CORTE DE UMA PEQUENA CORRENTE INDUTIVA

Vimos até ao momento, que quando um disjuntor interrompe um circuito monofásico, a


tensão de restabelecimento que surge nos contactos do disjuntor pode atingir duas vezes o pico da
tensão, em condições normais do circuito. Também vimos que a corrente que aparece num
circuito indutivo, quando o disjuntor fecha, pode atingir duas vezes o valor da corrente em
condições normais de funcionamento. Porém, como na devida altura foi dito, estes valores
teóricos nunca são atingidos, devido à presença do amortecimento que sempre se verifica nos
circuitos. Há porém outras razões pelas quais podem surgir tensões e/ou correntes transitórias.
41
Sobretensões de Manobra

Todas estas circunstâncias têm porém uma mesma origem em comum - envolvem sempre o
armazenamento de energia em elementos do circuito e a sua posterior libertação.

O corte de pequenas correntes fortemente indutivas, não superiores a algumas dezenas de


ampéres, pode dar lugar ao aparecimento de uma série de sobretensões. O aparecimento destas
sobretensões deve-se ao facto de a corrente ser abruptamente cortada, antes de atingir
naturalmente o zero. Podem assim surgir sobretensões elevadas devido à energia do campo
magnético associada à corrente que foi bruscamente cortada sendo esta energia transferida para
o campo eléctrico.
O corte de pequenas correntes indutivas levanta assim outro tipo de problemas. No caso
das correntes magnetizantes, são as sobretensões originadas pelo "arrancamento” da corrente,
(geralmente inferior a dezena de amperes) fenómeno designado na literatura anglo-saxónica como
"current chopping”. No caso do corte de circuitos indutivos, há a acrescentar o regime oscilante
de frequência elevada subsequente (reactância-capacidade distribuída). Em qualquer destes casos é
necessário garantir o corte sem sobretensões elevadas.

Estas sobretensões verificam-se por exemplo quando é interrompido o circuito de


alimentação de um transformador em vazio ou na manobra de "reactâncias-shunt" com
entreferros apreciáveis e na manobra de motores.

Consideremos o circuito da figura 22. Vejamos abreviadamente como o fenómeno das


sobretensões se passa e se explica no caso do corte de uma pequena corrente indutiva.

C R Lm

(a) (b)

a) Circuito de alimentação de um transformador em vazio


b) Circuito equivalente

Figura 22 - Corte de uma pequena corrente indutiva

42
Sobretensões de Manobra

Suponhamos que I0 é o valor instantâneo da corrente suprimida. A esta corrente está


associada uma energia magnética, a maior parte da qual está armazenada no núcleo do
transformador, dada por

Wm = 1 2 L I 02

em que L é a reactância de magnetização do transformador.

Embora a corrente em vazio do transformador seja pequena, normalmente da ordem de 1%


da corrente normal em carga, como o valor da reactância L é bastante elevado, a energia
magnética armazenada pode ter um valor considerável.

A corrente num circuito tão fortemente indutivo, como já foi referido não pode ser
interrompida instantaneamente, embora o circuito tenha sido interrompido pelo afastamento dos
contactos do disjuntor. Assim, a corrente irá carregar o condensador C, que é essencialmente
constituído pela capacidade dos enrolamentos do transformador, juntamente com qualquer
capacidade que possa existir na ligação entre o disjuntor e o transformador.

Quando a corrente é desviada para esta capacidade, a energia do campo magnético do


transformador é transferida para o campo eléctrico do condensador. Se esta capacidade C for
conhecida, é possível calcular o potencial a que C ficará carregado

1 2 CV 2 = 1 2 L I 02 (8.2 )
ou
V = I0 ( L C ) (8.3)
12
= I0 Zc

Vemos então que o pico da tensão no condensador C, e por isso através das espiras do
transformador é dado pelo produto do valor instantâneo da corrente no momento em que é
interrompida, pela impedância característica do transformador. Notar que o valor do pico da
tensão é independente da tensão do sistema.

Para se ter uma ideia dos valores elevados que esta sobretensão pode assumir,
consideremos um transformador de 1000 kVA, 15.0 kV com uma corrente em vazio de 1.5 A.
43
Sobretensões de Manobra

Calculemos a tensão de restabelecimento nos terminais do transformador quando o disjuntor actua.

Temos então que

L = V ( 3ω I ) = 15 × 103 ( 314 × 1.5 × 3) = 18.4 H

A capacidade das espiras do transformador dependerá do tipo dos enrolamentos do


transformador (estrela triângulo, etc.) e do tipo de isolamento (óleo,ar...). Admitamos que C = 5nF.

Então

( ( ))
12
Z0 = ( L C )
12
= 18.4 5 × 10−9 = 60641 Ω

No caso do disjuntor interromper a corrente aquando do seu valor máximo, a tensão


transitória de restabelecimento pode atingir um pico de

V = 1.5 × 2 × 60641 = 128.6 kV

Como se vê por este exemplo numérico, a sobretensão pode atingir um valor elevadíssimo,
para um circuito com uma tensão nominal de 15 kV.

Na prática a tensão não atingiria este valor porque as perdas de Foucault e as perdas de
histerese limitam a capacidade da energia transferida para a capacidade dos enrolamentos do
transformador.

A figura 23 representa esquematicamente a evolução da tensão de restabelecimento nos


contactos do disjuntor.

A corrente i é cortada pela primeira vez no instante T com o valor ia sucedendo-se uma
série de reacendimentos do arco e portanto de rápidos restabelecimentos da corrente, sempre no
mesmo sentido até perto do ponto nulo natural.

Por outro lado, e simultaneamente, a tensão entre os contactos do disjuntor sofre uma série
44
Sobretensões de Manobra

de oscilações, cuja amplitude é limitada pela linha A, que é a curva de regeneração do dieléctrico
no disjuntor ou curva de tensão de escorvamento. Ao extinguir-se a corrente no instante T, a
desionização provoca uma subida rápida da curva A. Quando a corrente cai a zero, isto é, quando
o arco se apaga, a tensão sobe até à linha A e dá-se o escorvamento do novo arco. Imediatamente a
seguir a tensão cai para a tensão de arco. Assim, teremos uma série muito rápida de oscilações da
tensão entre A e va.

Uma forma de atenuar o valor destas sobretensões é o emprego de uma resistência em


paralelo com os contactos do disjuntor. O valor desta resistência pode-se calcular determinando a
queda óhmica que nela provocará a passagem da corrente ia, que o disjuntor cortou bruscamente, e
que encontra assim nessa resistência uma via de circulação.
Ponto onde a corrente à frequência
industrial se anula

Corrente zero

Tempo

Tensão zero

Tempo

Tensão entre os
contactos do disjuntor
Tensão do
arco va

Figura 23 - Tensão de restabelecimento aquando do corte de uma pequena corrente indutiva

Consideremos uma rede com uma tensão nominal Vc. Seja α o factor de amplitude que se
pretende não exceder relativo à tensão simples. O pico máximo da tensão deverá ser então

V = α 2V 3

Se a corrente cortada bruscamente for de valor ia, o valor da queda óhmica na resistência
R será

R ia = α 2 V 3
donde

45
Sobretensões de Manobra

R = α 2V ( 3 ia )

Para α = 2, chega-se a um valor da ordem de 30 a 80 Ω por kV da tensão nominal da rede.


O circuito desta resistência terá que ser cortado posteriormente o que não é difícil.

Para atender à importância destas sobretensões os disjuntores são ensaiados ao corte de


pequenas correntes indutivas em condições especificadas nas normas de ensaio.

9. TENSÃO DE RESTABELECIMENTO NOS POLOS DE UM DISJUNTOR TRIPOLAR


(Factor do 1º polo)

Uma vez que as três correntes num circuito trifásico têm um esfasamento de 2π/3 radianos, os
contactos do disjuntor numa das fases interromperão a corrente na sua passagem natural por zero
enquanto os contactos das outras fases ainda estarão a ser percorridos por corrente.

No caso de estarmos em presença de uma rede com o neutro isolado, ou se o curto


circuito trifásico não foi à terra a tensão através dos contactos do disjuntor a abrir em primeiro
lugar, aumentará 50 % durante o intervalo de tempo em que as duas outras fases ainda são
atravessadas por corrente.

Suponhamos que as impedâncias de todas as fases, entre o gerador e o ponto de defeito


são iguais a Z (Fig.24), e que as forças electromotrizes são respectivamente Ea, Eb e Ec.

arco
I
Ec
Z

arco

Eb
Z

Ea V'

Figura 24 - Tensão de restabelecimento no 1º polo de um disjuntor tripolar a interromper a corrente

46
Sobretensões de Manobra

A tensão V', nos contactos do disjuntor da fase a, suposta a 1ª fase a interromper a


passagem da corrente será

V ' = Ea − ( Eb − I Z ) ( 9.1)
e
I = ( Eb − Ec ) 2 Z

pelo que

V ' = Ea − Eb + ( Eb ( 2 Z ) − Ec ( 2 Z ) ) Z
= Ea − ( Eb + Ec ) 2 ( 9.2 )

Mas, da figura 25,

( Eb + Ec ) 2 = − Ea 2

Pelo que

V ' = 1.5 Ea ( 9.3)

em que Ea = Vm / 2

47
Sobretensões de Manobra

V' =1,5 Ea

Ea

60o 60o

Ec Es

(Es + Ec)

Figura 25 - Diagrama de tensões para a 1ª fase a interromper a corrente, quando não há ligação à terra.

Como já foi referido a tensão de restabelecimento compõe-se de uma componente


transitória e de uma componente à frequência industrial.

Aquando do corte tripolar de um curto-circuito trifásico o pólo do disjuntor a abrir em


primeiro lugar fica sujeito à tensão de restabelecimento mais elevada.

Como mostra a figura 26 a tensão de restabelecimento à frequência industrial só aparece


até à abertura do 2º pólo a interromper.

O factor do primeiro pólo indica a relação entre a tensão transitória à frequência industrial e a
tensão na fase correspondente, após a interrupção da corrente.

Como mostra a equação 9.3, numa rede com o neutro isolado à terra, no caso de um curto-
circuito trifásico não envolvendo a terra nós obtemos para o factor de 1º pólo a abrir 1.5, situação
de defeito porém muito rara como se referiu no ponto 5. No caso de um curto-circuito trifásico
com ligação à terra o factor do 1º pólo é de (15).

1.5 ( 2 X 0 X 1 (1 + 2 X 0 X 1 ) )

48
Sobretensões de Manobra

de que resultam factores de 1º pólo compreendidos entre 0.8 e 1.3, dependendo da relação
Xo/Xl, que foi suposta compreendida entre 0.6 e 3 (X1 representa a impedância directa que foi
suposta igual à impedância inversa e X0 representa a impedância homopolar).
Xk R
u ph
S

R S,T

90 o

ir

is

ix

∆u sr

∆u ss

∆u st

Figura 26 - Tensão transitória de restabelecimento à frequência industrial aquando de um curto-circuito trifásico,


não envolvendo a terra, numa rede com o neutro ligado directamente à terra

10. DEFEITO CONSECUTIVO

O defeito consecutivo, também conhecido por defeito evolutivo, resulta de a corrente a


cortar se modificar durante o processo de interrupção.

Tal defeito pode aparecer, nomeadamente, nos seguintes casos:

• evolução de um defeito fase-terra para um defeito fase-fase perto do fim do período de


interrupção.

• devido a descargas atmosféricas múltiplas, quando o contornamento de um isolador dá


origem a uma corrente de curto-circuito que é eliminada pelo disjuntor, surge
imediatamente outro curto-circuito.

O corte das novas correntes de curto-circuito apresenta para o disjuntor dificuldades


consideráveis, dado que se estabelecem bruscamente quando os contactos estão afastados.

49
Sobretensões de Manobra

Um outro caso de defeito consecutivo surge nas redes com neutro à terra, quando a distância
de protecção dos explosores está regulada para valores muito baixos da tensão e surge na rede uma
sobretensão devido ao corte pelo disjuntor da corrente em vazio de um transformador.

Consideremos o esquema representado na figura 27. Trata-se de uma rede com neutro à terra em
que o transformador se encontra protegido contra sobretensões por um explosor regulado para um
valor demasiado baixo da tensão de escorvamento. É óbvio que os órgãos de protecção das redes
contra sobretensões (explosores ou pára-raios) devem estar regulados de forma a não actuarem sob
a acção das sobretensões normais provocadas pela manobra dos disjuntores. Admitamos porém que
o nível de protecção utilizado para o transformador é demasiado pequeno.

Como vimos, aquando do estudo do corte de pequenas correntes indutivas, a actuação do


disjuntor originará um ou mais picos de tensão entre os contactos. Esta sobretensão de manobra
pode ser suficiente para escorvar o explosor, o que provoca uma corrente de curto-circuito
quando o disjuntor está a terminar a operação de corte da corrente de magnetização do
transformador.

A figura 28 representa a corrente e as tensões em jogo no circuito da figura 27. No caso de não
haver escorvamento devido às sobretensões de manobra, as tensões estão representadas a traço
interrompido. No caso de se dar o escorvamento, quando a tensão nos terminais do transformador
atingir o valor V2, a capacidade do transformador descarrega-se sobre o explosor através de uma
oscilação de frequência elevada.

Quando a tensão nos terminais do disjuntor atinge o pico V6 dois casos se podem dar

• ou o disjuntor suporta este valor da tensão e a corrente fica cortada;


• ou não suporta (caso representado na figura), reacendendo-se o arco e iniciando-se a
corrente de curto-circuito que o disjuntor terá de cortar em seguida.

O que há de grave no reacendimento do arco no disjuntor, simultaneamente com o arco no


explosor, é que o arco no disjuntor forma-se com os contactos já abertos, ao contrário do que
acontece no caso normal, em que o arco começa quando os contactos se separam e o seu
50
Sobretensões de Manobra

crescimento cresce gradualmente.

Mostra a experiência que este arco, formado bruscamente em condições especiais, não afecta
os disjuntores de ar comprimido, mas pode causar avarias no disjuntor de pequeno volume de
óleo. Esta situação resulta do facto, de como se sabe, no disjuntor de pequeno volume de óleo o
poder de corte ser limitado pela resistência da câmara de corte à pressão desenvolvida pelo arco.

Figura 27 - Transformador protegido contra sobretensões por um explosor

a)

b)

c)

a) c o r r en te
b) tensão no s te r min ais do d isjun tor
c) tensão no s te r min ais do tr an sfor ma dor

Figura 28 - De fe ito con sec u tivo

51
Sobretensões de Manobra

11. CORTE DE UMA CORRENTE CAPACITIVA

Consideremos o circuito puramente capacitivo representado na figura 29 a) no qual a


corrente está em quadratura e avanço sobre a tensão.

Sep aração do s Extinção


con tacto s d o arco

a) b)

Figura 29 - Tensão transitória de restabelecimento num circuito capacitivo

Quando se abrem os contactos do disjuntor a corrente anula-se no instante em que a


tensão no condensador é máxima e é igual e oposta à tensão e no gerador. Assim, no instante de
extinção da corrente t = 3π/2
ec = − E
e
e = E cos ωt

pelo que ( e ' é a tensão entre os contactos do disjuntor)

e ' = e − ec
= E (1 − cos ωt )

i.e. em t = 0, e ' = 0

A tensão transitória de restabelecimento é uma função co-seno como está representado na


figura 29 b). No instante de corrente nula, a tensão entre os contactos do disjuntor é zero, mas
52
Sobretensões de Manobra

meio ciclo depois sobe para um máximo de 2E e se as características eléctricas do dieléctrico não
forem adequadas pode haver um reacendimento do arco.

Na prática, o corte de um circuito capacitivo ocorre, por exemplo, quando se pretende


separar da rede uma bateria de condensadores ou uma linha em vazio.

Atendendo ao uso hoje generalizado de baterias de condensadores como compensadores


estáticos de energia reactiva, assume grande importância o estudo dos fenómenos transitórios que
originam sobretensões durante o ligar e o desligar de baterias de condensadores. Para realizar tal
estudo, consideremos o circuito representado na fig. 30, em que L representa a indutância da
rede a montante do disjuntor, e C' a capacidade da subestação onde está ligada a bateria de
condensadores C2.

Ls

e'' C
e C'
e'

Figura 30 - Circuito para o estudo das sobretensões de manobra de baterias de condensadores

Notar que C'<< C e que a reactância indutiva também é muito menor que a reactância
capacitiva. Como se viu a corrente é interrompida quando a tensão é máxima o que origina que
meio ciclo depois a tensão transitória de restabelecimento é de 2E, o que pode originar o
reacendimento do arco. Se o reacendimento ocorrer precisamente quando a tensão atinge o seu
valor máximo, ponto P na fig.31, o circuito comporta-se como se o disjuntor se tivesse
subitamente fechado naquele instante.

O circuito LC oscilará à sua frequência própria f dada por

53
Sobretensões de Manobra

(
f = 2π ( LC ) )
1 2 −1
se C' C (11.1)

A oscilação está representada em S na figura 31 a). As tensões no circuito após o


reacendimento do arco estão representadas na figura 31 a) e são dadas por

e − e '' = L di dt (11.2 )

mas

e '' = E '+ 1 C ∫ idt (11.3)

em que E' é a tensão nos terminais do condensador C no momento do reacendimento do


arco. Admitindo que o reacendimento ocorre à tensão máxima, i.e. no ponto P da fig.31, a solução
das equações (11.2) e (11.3) dá-nos o valor da corrente transitória através dos contactos do
disjuntor após o reacendimento. Teremos, então

i = ( E − E ')( C L ) sen ωt (11.4 )


12

A grandeza E − E ' representa a tensão entre os contactos do disjuntor no instante em que


se dá o reacendimento.

O valor desta corrente transitória pode ser bastante elevada e danificar o disjuntor caso a
indutância L seja pequena. A frequência desta corrente transitória é igual à frequência própria da
rede, que é dada pela expressão (11.1), sendo da ordem das centenas de Hz(16). Num circuito real
as oscilações da corrente serão amortecidas, do mesmo modo que as oscilações de tensão, como a
fig.31 a) mostra.

54
Sobretensões de Manobra

e''
Ten s ão
p .u . e'

Tempo

e'

P
S

e''

(a)

Ten s ão ent re
o s co ntacto s
d o d is ju n to r
p .u .

M
Tempo

T
(b)

Figura 31 – Sobretensões de manobra associadas à interrupção de baterias de condensadores

A tensão nos terminais dos condensadores C' e C é dada por

t
e '' = E '+ 1 C ∫ ( E − E ')( C L ) sen ωt dt (11.5)
12
0

Se a tensão E', devida à carga armazenada na bateria de condensadores, for igual a E e o


reacendimento ocorrer à máxima tensão negativa, como a figura 31 representa, a equação (11.5)
pode ser escrita como

(
e '' = − E + 2 E ( LC )
12
) ∫ sen ωt dt
t

0
(11.6 )
= E (1 − cos ) ωt

O máximo valor da tensão transitória de restabelecimento nos terminais do condensador C

55
Sobretensões de Manobra

é por isso de 3E (cos ωt = -1 na eq. 11.6).

Supondo que as características do disjuntor são tais que a corrente de reacendimento só é


extinta após meio ciclo de oscilação à frequência própria da rede. O resultado de reacendimento
do arco e da sobretensão subsequente é o condensador C ficar carregado a uma tensão de 2 a 3
vezes a tensão simples do sistema.

A figura 31 b) mostra a tensão nos contactos do disjuntor. Meio ciclo após a corrente zero,
a diferença de potencial através dos contactos do disjuntor atinge aproximadamente duas vezes o
valor da tensão, devido à carga do condensador C.

Suponhamos que a rigidez dieléctrica entre os contactos do disjuntor é insuficiente para


suportar esta tensão e que se dá o reacendimento do arco. Imediatamente depois do
reacendimento se extinguir a tensão do barramento decresce novamente para a tensão nominal
através de uma oscilação a uma frequência elevada f, determinada pelos valores de L e C. Após o
transitório, a tensão através dos contactos do disjuntor cresce para o valor de pico T, quando a
tensão aos terminais do gerador muda de polaridade. Se surge um segundo reacendimento do
arco, aquando do novo pico da tensão do sistema, a tensão nos terminais do condensador pode
originar que uma tensão de 4 a 5 vezes a tensão nominal seja atingida. Os pequenos transitórios
representados em M na fig. 31 b são devidos à mudança brusca na tensão através da indutância L
quando a corrente capacitiva cessa com a primeira interrupção. Este transitório é frequentemente
desprezado, mas quando há valores elevados da impedância da fonte, a amplitude do transitório
pode precipitar o reacendimento do arco de que resultará um arco mais longo.

No circuito simplificado representado na figura 30, teoricamente não há limite para os


valores da tensão que podem ser atingidos pelos sucessivos reacendimentos do arco nas condições
mais desfavoráveis. Se, porém, os amortecimentos das tensões transitórias de frequência elevada
forem tidos em consideração, um valor máximo de sobretensão se verificará, independentemente do
número de reacendimentos.

O valor máximo da sobretensão que será atingida num circuito real, dependerá do
amortecimento das correntes transitórias de reacendimento e do valor das quedas de tensão do arco
entre os contactos do disjuntor. Para se ter um conhecimento das condições mais prováveis do
reacendimento do arco é necessário o conhecimento da taxa de regeneração do dieléctrico após a
56
Sobretensões de Manobra

interrupção natural da corrente. Embora a velocidade de regeneração do dieléctrico seja uma


característica do tipo de disjuntor e da forma como o arco é interrompido e desionizado, algumas
conclusões se podem tirar se fizermos algumas hipóteses simplificativas. A fig. 32 mostra a forma de
crescimento da tensão de restabelecimento entre os contactos do disjuntor juntamente com uma
família de curvas (i), (ii) e (iii) representando a regeneração do dieléctrico para um dado afastamento
dos contactos imediatamente após a primeira interrupção da corrente.

Tensão entre
os contactos
do disjuntor

Figura 32 - Tensão transitória de restabelecimento aquando da interrupção de um circuito de baterias de


condensadores.

Quando a corrente se anula a rigidez do dieléctrico tem um dado valor, dependente do


afastamento dos contactos e da desionização do meio. O valor inicial da taxa de recuperação do
dieléctrico pode inicialmente ser bastante elevado mas posteriormente tende para o valor da ruptura
do dieléctrico correspondente ao máximo afastamento dos contactos do disjuntor. Se a rigidez do
dieléctrico é baixa (caso da curva (i)) ou se o zero da corrente ocorre apenas uma fracção de ciclo
após o inicio do afastamento dos contactos, pode dar-se um reacendimento do arco num curto
intervalo de tempo, devido à oscilação da tensão a uma frequência elevada no inicio da tensão
transitória de restabelecimento (ponto M). Com uma maior separação de contactos, o reacendimento
do arco pode dar-se, por exemplo, após um quarto de período como no ponto P da curva (ii). Com
uma melhor rigidez dieléctrica ou uma maior separação de contactos, coma indicado pela curva (iii),
o corte dá-se sem qualquer reacendimento.

A análise efectuada das tensões de manobra de uma bateria de condensadores aplica-se


apenas a um banco trifásico de condensadores, no caso de o sistema e o banco de transformadores
57
Sobretensões de Manobra

terem o neutro ligado directamente à terra. Caso o banco de transformadores não esteja ligado à
terra, a tensão transitória de restabelecimento pode atingir valores de 3 p.u. e o restabelecimento do
arco pode inclusivamente fazer aumentar este valor. Pode mostrar-se que a razão entre a sequência
positiva C1 e homopolar Co da capacidade do circuito, influenciam a tensão transitória de
restabelecimento do primeiro pólo do disjuntor a abrir, como está ilustrado na fig. 33.
Tensão de
restabelecimento

Figura 33 - Variação da tensão de restabelecimento num circuito capacitivo

Quando a capacidade do sistema está ligada directamente à terra, a relação C1/Co é igual à
unidade. Esta relação é porém infinita quando toda a capacitância do sistema está isolada da terra,
situação esta que é irrealizável na prática.

Analisemos agora o corte de uma linha aérea ou cabo subterrâneo em vazio para o que
vamos considerar o circuito representado na fig. 34.

58
Sobretensões de Manobra

Ls

e''
e C'
e'

Figura 34 - Corte de uma linha aérea ou cabo subterrâneo em vazio

Como vimos a relação Co/Cl influência a tensão transitória de restabelecimento no 1º pólo


do disjuntor a abrir aquando da interrupção de um circuito capacitivo. Como na prática, linhas aéreas
e cabos sem bainhas metálicas têm normalmente C1/Co compreendido entre 0.6 e 2, da figura 33 vê-
se que a tensão transitória de restabelecimento está compreendida entre 2.2 e 2.4 vezes a tensão
máxima nominal do sistema. Cabos unipolares e cabos armados têm para C1/Co um valor unitário,
pelo que a tensão transitória de restabelecimento no 1º pólo a abrir será de duas vezes a tensão
máxima da rede.

A fig. 35 mostra a variação da tensão no barramento quando a sobretensão ocorre meio ciclo
após a passagem da corrente par zero. A maior diferença neste caso e no corte de uma bateria de
condensadores é a variação mais abrupta na corrente e na tensão, no início e no fim do
reacendimento, devido às características da propagação das ondas nas linhas de transmissão.

59
Sobretensões de Manobra

Figura 35 - Tensão transitória de restabelecimento aquando da interrupção de uma linha em vazio

A amplitude da corrente transitória é igual à diferença de potencial entre os contactos do


disjuntor aquando do aparecimento do reacendimento, a dividir pela impedância característica da
linha, adicionada com a impedância da fonte. O valor da amplitude da corrente transitória é de um
modo geral inferior ao valor que se encontra quando se interrompe uma bateria de condensadores,
devido à presença da impedância característica Zc da linha. Demonstra-se (8) que a amplitude desta
corrente é dada por

i = 2 E Z c 1 − exp ( − Z c t L ) 

A duração da corrente de reacendimento é uma função do comprimento da linha, devido ao


tempo necessário para a onda de sobretensão se propagar ao longo da linha, se reflectir na
extremidade final e regressar ao disjuntor, e do tempo necessário à corrente para se anular, o qual é
função da auto-indução L da fonte. A impedância da linha é responsável pela atenuação que sempre
se verifica da onda de sobretensão.

60
Sobretensões de Manobra

12. OS DISJUNTORES E AS SOBRETENSÕES DE MANOBRA

Os disjuntores são essenciais para o controlo de um Sistema Eléctrico na medida em que


permitem alterar o estado eléctrico de um circuito. Normalmente os disjuntores estão na posição de
aberto, isolando circuitos eléctricos, ou então estão na posição de fechados permitindo a circulação
das potências normais do circuito. Quando há alterações nos Sistemas Eléctricos, os disjuntores são
chamados a intervir podendo ter que interromper ou fechar circuitos em situação de curto-circuito.
Assim, os disjuntores podem estar grandes períodos de tempo na posição de fechados ou abertos,
mas deverão ter uma actuação praticamente instantânea quando forem chamados a actuar.

A maior dificuldade para um disjuntor, consiste na actuação em condições de curto-circuito,


devido às condições extremamente severas em que é chamado a actuar. Devido ao crescimento das
redes que se tem verificado nos ú1timos 50 anos e ao aumento das tensões das redes de transporte e
interligação, que passou dos 220 kV para 400 kV e 750 kV, as potências de curto circuito subiram
para valores, que em situações particularmente difíceis, podem atingir 50 x 103 MVA. Devido
essencialmente a problemas de estabilidade na rede o tempo total de interrupção das correntes de
curto-circuito tem também sido diminuído. Os primeiros disjuntores de grande volume de óleo
exigiam tempos de interrupção da ordem de 10 a 20 ciclos devido à duração dos arcos que eram
bastante longos. As modernas técnicas de controlo do arco reduziram o tempo de interrupção do arco
para 2 ciclos (0,04s).

Num futuro próximo com o crescimento do consumo de energia eléctrica, com as redes de
interligação a funcionar com tensões de 400 kV a 750 kV e com uma grande concentração de
produção nos barramentos de centrais nucleares, provavelmente da ordem de 30 x 103 MW, são de
esperar potências de curto-circuito da ordem de 100 a 200 GVA.

Embora existam em desenvolvimento técnicas para a limitação de potências de curto-


circuito, haverá necessidade do desenvolvimento das características de corte, de modo a que as
potências de curto-circuito crescentes possam ser interrompidas em tempos da ordem de 1 ciclo, por
razões de estabilidade do sistema.

O problema que se põe na construção de um disjuntor é o de permitir que na sua posição de


fechado seja percorrido pela sua corrente nominal, oferecendo portanto uma baixa impedância à
passagem da corrente e de rapidamente ser capaz de passar a uma posição de aberto, sendo capaz de
61
Sobretensões de Manobra

interromper correntes de curto-circuito e sobretensões de manobra de valor muito elevado, que


podem surgir em situações de defeito, como foi analisado nos pontos anteriores.

A interrupção de uma corrente em regime alternado é mais simples, porque a corrente se


anula naturalmente duas vezes por ciclo. Assim, a impedância do disjuntor pode, em teoria, variar de
zero a infinito sem criar sobretensões elevadas na rede, logo que essa variação na impedância se dê
nos momentos em que a corrente se anula naturalmente. No corte de uma corrente alternada a
impedância não pode ter uma variação superior a uma dada taxa para não surgirem tensões
transitórias de restabelecimento muito elevadas que ponham em perigo o nível de isolamento da
rede.

Quando se interrompe um circuito em corrente alternada surge sempre um arco. O arco


comporta-se como uma resistência variável e a arte e ciência na concepção de um disjuntor
consistem em controlar o arco de tal modo que a resistência varie com a corrente para que seja
interrompida de uma forma satisfatória.

Como em corrente alternada há dois instantes em que a corrente se anula naturalmente, o


objectivo do desenho dos disjuntores é minimizar a energia dissipada pelo arco. Ao mesmo tempo o
disjuntor deve aumentar a resistência do arco no momento em que a corrente se anula para dificultar
o seu reacendimento. A resistência do arco não deve contudo ser muito elevada para não permitir a
interrupção de pequenas correntes antes de estas se anularem de modo a não surgirem sobretensões
de manobra elevadas. Do exposto se conclui que nos disjuntores hoje utilizados o arco desempenha
uma função vital, sendo através do controlo do arco que se consegue de facto a interrupção da
corrente sem o aparecimento de sobretensões de manobra perigosas.

Os tipos construtivos de disjuntores hoje utilizados têm o seu nome de acordo com o
princípio utilizado para a extinção do arco. Os disjuntores que hoje se utilizam são:

• De pequeno volume de óleo


• De ar comprimido
• De hexafluoreto de enxofre
• De vácuo

As características dos disjuntores, a capacidade de corte de correntes de curto-circuito e o


62
Sobretensões de Manobra

comportamento do disjuntor para suportar as sobretensões de manobra varia de acordo com o


princípio utilizado para a extinção do arco.

A influência do disjuntor traduz-se fundamentalmente na velocidade de regeneração do


dieléctrico após a passagem da corrente por zero. A velocidade de fecho e abertura do disjuntor
têm também um papel importante.

Os disjuntores de grande volume de óleo, outrora utilizados, devido à grande quantidade


de óleo de que necessitam, têm um grande risco de incêndio e/ou explosão, pelo que estão
praticamente postos de parte. Os disjuntores de pequeno volume de óleo são hoje muito
utilizados, utilizando-se várias câmaras de corte em série para aumentar o seu poder de corte.

Os disjuntores de pequeno volume de óleo têm a vantagem de serem praticamente


insensíveis a taxa de crescimento da tensão transitória de restabelecimento. O defeito
quilométrico não causará assim qualquer problema de corte. Tem no entanto dificuldades no corte
de correntes de curto-circuito pouco elevadas, as quais estão associadas TTR mais severas, pois
a pressão de óleo e portanto a capacidade de corte é baixa.

Os disjuntores de ar comprimido são utilizados até às mais altas tensões e usam várias
câmaras de corte em série, com capacidades para assegurar uma conveniente divisão da tensão.
Dado que são sensíveis à taxa de crescimento da TTR os disjuntores de ar comprimido
necessitam de resistências em paralelo para os valores mais elevados do poder de corte.

O hexafluoreto de enxofre tem vantagem como meio isolante e de interrupção sobre o ar,
daí o seu interesse. É um gás electronegativo, portanto dificilmente ionizável, que apresenta uma
rigidez dieléctrica elevada, e uma baixa constante de tempo térmica, de onde resulta uma
diminuição muito rápida da condutibilidade do canal ionizado a seguir à passagem da corrente
por zero, o que é uma característica extremamente favorável do ponto de vista de interrupção do
arco. Atendendo às propriedades do hexafluoreto de enxofre estes disjuntores apresentam boas
características de corte, não sendo em geral necessário utilizar resistências em paralelo para a
redução da TTR.

Os disjuntores de vácuo são caracterizados por poderem suportar elevadas taxas de


crescimento da TTR, pelo que não necessitam em geral de meios auxiliares para a redução da taxa
63
Sobretensões de Manobra

de crescimento. O disjuntor de vácuo não terá assim qualquer dificuldade na manobra de abertura
de baterias de condensadores.

Ao contrário dos disjuntores de óleo ou de ar comprimido o disjuntor de vácuo não tem


qualquer dificuldade em interromper o defeito consecutivo.

64
Sobretensões de Manobra

13. BIBLIOGRAFIA

1 - Rudemberg, R, "Transient Performance of Electric Power Systems", the M.I.T. Press,


2ª edição, 1970
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edição,1991.
3 - Greenwood A, “Vacuum Switchgear”, The Institute of Electrical Engineers, London,
1994
4 - Guile A.E. e W.Paterson, "Electrical Power Systems", Pergamon Press, 2ª edição,
1977
5 - Weedy B,M, "Electric Power Systems", John Wiley and Sons, 3ª edição, 1979
6 -Ferreira Dias,J.N., "Aplicações da Electricidade, Material de Manobra", A.E.I.S.T.,
1965
7 - Domingos Moura, "Limites da Estabilidade Dinâmica dos Transportes Síncronos
Lineares com Linhas Simples", Lisboa, 1970
8 - Domingos Moura, "Técnicas de Alta Tensão", IST, Lisboa 1980
9 - C.H.Flurscheim, "Power Circuit Breaker", I.E.E.Monograph series n.17, Peter
Peregrinus Ltd., London, 2ª ed. 1977.
10. - Lou Van der Sluis, “Transients in Power Systems”, John Wiley & Sons, Ltd,
England, 2001.
11 - Jurgen Kopainsky e Frich R.,"La Coupure de Faibles Courant Inductifs et Capacitifs
dans les Réseaux à Haute Tension", Rev. Brown Bovery 4-79, pg. 255-261
12 - FRICH, "Surtensions Apparaissant lors de 1'Enclenchement de Lignes à Haute
Tension", Rev. Brown Bovery 4-79, pg. 262-270.
13 -D.Braun, A.Janz, P. Satyanarayana, "Problems with Switching Overvoltages solved
by the SF6 self-extinguishing circuit breaker", Rev. Brown Bovery 5-85, pg 216-
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Sobretensões de Manobra

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16 - G. Balzer, "Switching Phenomena in Medium Voltage Power Systems and their
Consideration in Project Planning", Rev. Brown Bovery 5-86.
17 - A. Braun, A.Fidinger, E.Ruoss, "La Coupure de Courants de Court-Circuit
Alternatifs dans les réseaux à Haute Tension", Rev. Brown Bovery , 4-79, pg 240-
254.
18- Pfhanoz, Lester, "Control of overvoltages on energizing Capacitor Banks”, IEEE
PAS Maio/Junho 1973.

66
Sobretensões de Manobra

14- PROBLEMAS

1 - Considere um cabo de 66 kV, ligado a um sistema, com os seguintes parâmetros

L = 6.4 mH C = 0.0495 µF

Calcule a tensão de restabelecimento que o disjuntor tem que suportar 5 ciclos após a
interrupção da corrente.

2 - Considere um sistema a 345 kV, 50 Hz com uma corrente de curto circuito simétrico
de 40 kA. A capacidade do barramento ao qual está ligado o disjuntor é de 0.025µF.
Calcule a impedância característica do barramento e a frequência da tensão de
restabelecimento no momento da abertura do disjuntor.

3 - Considere uma linha aérea com os seguintes parâmetros 1 = 1.25 mH/km e C =


0.01 µF/km

Tendo surgido um curto circuito trifásico simétrico a 0.935 km do disjuntor, calcule


a frequência da tensão de restabelecimento no terminal do disjuntor do lado da linha.
Compare o resultado que obteve com a frequência própria da linha.

4 - Um curto circuito simétrico de 26 kA estabeleceu-se numa rede trifásica de 30 kV. Se


a capacidade da rede for de 0.05µF, calcule o gradiente médio da tensão de
restabelecimento.

5 - Calcule o pico da tensão de restabelecimento quando uma corrente instantânea de


100 A é interrompida num circuito em que a capacidade e o coeficiente de auto
indução do circuito vistos do disjuntor são

L = 2mH C = 500 µF

6 - Verificou-se um curto circuito trifásico simétrico numa rede de 132 kV. A potência
de curto circuito é de 2500 MVA e a capacidade em paralelo, C, do lado da fonte de
67
Sobretensões de Manobra

tensão é de 0.03µF.A frequência do sistema é de 50 Hz. Calcule:

A tensão máxima entre os contactos do disjuntor, o gradiente e a frequência da


tensão de restabelecimento.

No caso do disjuntor interromper o circuito, quando ainda circula uma corrente de


50A, estime o valor máximo da sobretensão de restabelecimento, da primeira vez
que a corrente é interrompida.

7 - Considere uma rede a 220 kV, 50 Hz. Um disjuntor colocado nesta rede é chamado a
interromper um curto circuito trifásico franco de 25 kA, ocorrido imediatamente a
jusante dos seus terminais. A capacidade vista dos terminais do disjuntor para
montante é de 35 pF. Determine:
a)A frequência da tensão transitória de restabelecimento (T.T.R.) e o seu valor
máximo.
b)O valor do gradiente médio da T.T.R. durante o primeiro meio ciclo, após a
extinção do arco.
c)Supondo a existência de perdas na rede, quantificáveis pela introdução dum
coeficiente de amortecimento δ = 950s-l, determine a atenuação relativa da
sobretensão máxima ao fim de 4 ciclos.

Despreze o efeito da tensão de arco e o efeito amortecedor das resistências presentes na


rede, na resolução das alíneas a) e b).

8 - Uma linha aérea trifásica, à tensão de 150 kV, 50 Hz cujas características eléctricas
são:

r = 0.191Ω/km 1 = 2x10-3H/km C = 8x10-3 F/km

é alimentada a partir do barramento de uma subestação, onde o valor da potência de


curto-circuito simétrico é de 7500 MVA.
Supondo o aparecimento de um defeito na linha a 50 km da subestação, o qual dá
origem a um curto-circuito trifásico simétrico, determine:

68
Sobretensões de Manobra

a) as frequências da tensão transitória de restabelecimento que se estabelece entre os


contactos do disjuntor quando da sua abertura.
c) O valor máximo em p.u. da sobretensão que o disjuntor terá de suportar, bem como o
intervalo de tempo que medeia entre a extinção do arco e o aparecimento daquela
sobretensão.

Considere desprezável o valor da tensão do arco, bem como o efeito amortecedor das
resistências presentes na rede. Considere para valor da capacidade vista para
montante dos terminais do disjuntor 52 pF.

9 - Considere uma linha aérea trifásica, 220 kV, 50 Hz, r=0.85Ω/km, 1= 2.25 mH/km e
C= 8.12x10-3 µF/km. A potência de curto-circuito no barramento ao qual a linha está
interligada é de 10 GVA.
A capacidade vista para montante dos terminais do disjuntor é de 35 p.F.
Admita que surge um curto-circuito trifásico simétrico na linha a 1200 m do seu
disjuntor de saída. Determine:

a) a frequência e amplitude máxima da onda triangular correspondente à oscilação do


troço de linha compreendido entre o defeito e o disjuntor, após a abertura deste.
b) O gradiente máximo da tensão transitória de restabelecimento inicial
c) O valor máximo (em p.u.) da sobretensão que surge nos terminais do disjuntor e o
instante (contado a partir da extinção do arco) em que ela é atingida.

10 - Um disjuntor de 220 kV, ligado numa rede com neutro à terra, aquando de um curto-
circuito à terra, interrompeu uma corrente de curto-circuito simétrica. A TTR tinha
uma frequência própria de 15 kHz e o factor de potência do defeito era de 0.2.
Calcule a taxa de crescimento da TTR.

11 - Numa rede trifásica de 150 kV, 50 Hz, um disjuntor de ar comprimido é chamado a


interromper uma corrente de defeito de 25kA, resultante do aparecimento duma
situação de curto-circuito imediatamente a jusante dos seus terminais.
No instante de extinção do arco verifica-se a existência de um esfasamento de π/3
radianos entre a corrente e a tensão da rede, atingindo o pico da tensão de extinção
do arco o valor de 5 kV.
69
Sobretensões de Manobra

Sabendo que o valor da capacidade, vista dos terminais do disjuntor para montante, é
de 10 nF, determine:

a) A frequência da TTR nos terminais do disjuntor e o seu valor máximo em p.u..


b) O valor do gradiente médio da TTR durante o primeiro meio ciclo após a extinção
do arco.

12 - Considere uma linha aérea trifásica, 220 kV,50Hz, r=0.185Ω/km, 1=2.25mH/km,


C=8.12x10-9 F/km. A potência de curto-circuito no barramento ao qual a linha está
interligada é de 10 GVA. Admita que surge um curto-circuito trifásico simétrico na
linha a 1200 m do seu disjuntor de saída. Calcule a frequência e a amplitude máxima
da onda triangular correspondente à oscilação do troço de linha compreendido entre
o defeito e o disjuntor, após a abertura deste. Justifique todas as simplificações que
efectuar.

13 - Um alternador trifásico 50 Hz, 11kV, com o neutro ligado à terra, está ligado a um
barramento através de um disjuntor. O alternador tem uma reactância de 5Ω por fase
e a capacidade à terra entre o alternador e o disjuntor é de 0.02µF por fase.
Desprezando a resistência do alternador, calcule:
a) a tensão máxima entre os contactos do disjuntor;
b) a frequência própria de oscilação do circuito;
c) o valor médio da taxa de crescimento do TTR até ao primeiro pico.

14 - Um disjuntor de saída de linha numa subestação de 220/150 kV (lado de 220 kV) é


chamado a eliminar um defeito franco ocorrido imediatamente a jusante dos seus
terminais. O valor da capacidade visto para montante é de 9.2 pF e a potência de
curto-circuito simétrica é de 10 GVA. Suponha que as resistências presentes na rede
são aproximadamente quantificáveis pela introdução de uma resistência concentrada
de 35Ω e que no instante da extinção definitiva do arco se verifica um esfasamento
de 3Π/8 entre a corrente e a tensão da rede. Considerando um pico de extinção do
arco de 4500V, determine:

a) a frequência da TTR nos terminais do disjuntor e o seu valor máximo em p.u.


b) o valor do gradiente médio, durante o 1º meio ciclo após a extinção do arco;
70
Sobretensões de Manobra

c) a atenuação relativa da sobretensão máxima após 6 ciclos da TTR.

15 - Uma linha aérea trifásica de 400 kV, 50 Hz, tem as seguintes características
eléctricas: L=10 µH/m e C = 62.5 pF/m.
Sabendo que esta linha é alimentada a partir do barramento de uma subestação onde
o valor da potência de curto-circuito é de 10 GVA, calcule o gradiente de subida da
onda triangular e a tensão máxima após a ocorrência de um curto-circuito trifásico
simétrico nas seguintes situações:

a) a 800 m da subestação
b) a 1200 m da subestação.

A capacidade equivalente, vista para montante do disjuntor, é de 35 pF.

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