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A Dialética Materialista Histórica Na Pesquisa em Educação
A Dialética Materialista Histórica Na Pesquisa em Educação
PESQUISA EM EDUCAÇÃO1
Resumo
Introdução
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Texto produzido para ser entregue como avaliação final da disciplina EDC557 – Abordagens e Técnicas
de Pesquisa em Educação, coordenada pela professora Dr.ª Dora Leal Rosa e pelo professor Dr.º Robert
Evan Verhine.
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Licenciado em Educação Física pela UEFS; Professor da rede pública de ensino do Estado da Bahia;
Estudante do Curso de Mestrado em Educação do Programa de Pós-Graduação em Educação da
FACED/UFBA. E-mail: lilolordelo@yahoo.com.br.
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empiricismo ao positivismo, idealismo, materialismo vulgar e estruturalismo
(FRIGOTTO, 1999).
Essa literatura especializada ressalta inclusive como se deu historicamente o
processo de inserção e consolidação da dialética enquanto uma tendência teórico-
metodológica na pesquisa educacional brasileira. Onde, as abordagens dialéticas
presentes na pesquisa educacional, surgem como uma das alternativas críticas em
relação às abordagens empírico-analíticas (empirista, positivista, sistêmica,
funcionalista), que dominavam a produção científica da área (GAMBOA, 1999).
No entanto, como sinaliza o título desse trabalho, não temos o interesse em
estudar todas as abordagens dialéticas, mais, sobretudo, a dialética materialista histórica
ou a nova dialética. Pois é a essa nova perspectiva da dialética que se deve a vinculação
entre a dialética e à pesquisa. Contudo, para se explicitar na dialética fundada no
materialismo histórico, a base filosófica da dialética percorre um imenso caminho do
próprio pensamento filosófico, que vai de Heráclito a Hegel e de Hegel para todo o
pensamento marxista que historicamente explicita uma nova dialética, a dialética
marxista (SANFELICE, 2005).
Neste sentido, Bottomore (2001) apresenta a seguinte síntese acerca da dialética
na tradição do pensamento marxista:
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Enquanto uma postura, ou concepção de mundo; enquanto um método que
permite a apreensão radical (que vai à raiz) da realidade e, enquanto práxis, isto
é, unidade de teoria e prática na busca da transformação e de novas sínteses no
plano do conhecimento e no plano da realidade histórica (FRIGOTTO, 1999,
p.73).
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Essa dimensão da dialética materialista histórica, enquanto uma postura só pode
ser percebida, segundo Frigotto (1999) quando partimos da “análise da história do
pensamento humano”, pois esta revela que para responder a grande questão,
fundamental em toda a filosofia moderna, a saber, “a... relação do pensamento com o
ser, do espírito com a natureza... a questão de saber qual é o elemento primordial, se o
espírito ou a natureza...” (LENIN, 2003, p. 16), ou seja, de como se deu o
desenvolvimento do mundo, encontramos duas concepções opostas construídas pelo
homem: uma metafísica e a outra materialista histórica.
Segundo Frigotto (1999), a concepção metafísica, “parte de uma compreensão
organicista e fisicalista da realidade social, das idéias e do pensamento”. Enquanto que a
outra perspectiva, a materialista histórica, “funda-se na concepção de que o pensamento
humano, as idéias são o ‘reflexo’, no plano da organização nervosa superior, das
realidades e das leis que se passam no mundo exterior”.
Para Gamboa (1999) essas concepções da realidade, expressas nas pesquisas
educacionais - apresentadas explícita ou implicitamente pelos pesquisadores em suas
pesquisas - definem duas grandes tendências: 1) aquela que privilegia uma visão
dinâmica e conflitiva da realidade a partir das categorias materialistas de conflito e de
movimento (a perspectiva materialista histórica); e 2) aquela que prefere uma visão
fixista, funcional, pré-definida e predeterminada da realidade (a concepção metafísica
da realidade).
Sendo assim, a visão de mundo metafísica, “orienta os métodos de investigação
de forma linear, a - histórica, lógica e harmônica”. Apresentando-se sob o pressuposto
de que os fenômenos sociais se regem por leis ‘do tipo natural’ e, dessa forma, passíveis
de observação neutra e objetiva. Logo, defende como necessária à objetividade das
pesquisas, que se fundamentam nesse pressuposto, a separação entre fatos e valores,
ideologia e ciência e entre o sujeito e objeto a ser investigado. Esse pressuposto
consolida-se “na pesquisa por uma metodologia que reduz o objeto de estudo a
unidades, individualidades, fatores ou variáveis isoladas, autônomos e mensuráveis”
(FRIGOTTO, 1999, p. 74 -75).
Já a concepção materialista histórica, por entender que a realidade objetiva
existe independentemente das idéias e do pensamento humano, e que essa mesma
realidade tem suas leis específicas. Entende que a dialética, situa-se, “no plano da
realidade, no plano histórico, sob a forma de uma trama de relações contraditórias,
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conflitantes, de leis de construção, desenvolvimento e transformação dos fatos”
(FRIGOTTO, 1999, p. 75).
Neste sentido, tanto Frigotto (1999), como Gamboa (1999) defendem que, esse
conhecimento sobre as diferentes visões de mundo é fundamental para os pesquisadores
que querem se dedicar a investigar os problemas da realidade educacional, sobretudo,
pelo fato de ser a concepção de mundo quem orienta o método de investigação de uma
determinada proposta de trabalho. É baseado neste entendimento que Frigotto (1999)
afirma que “a postura antecede o método”. Sobre essa afirmação Gamboa acrescenta:
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Hegel que Marx toma e desenvolve o método dialético de investigação da realidade,
agora tomado não mais sob as bases do pensamento idealista (Hegel), mas, sob os
alicerces da concepção materialista da história. Sendo assim, Lênin (2003) destaca que,
na concepção de Marx:
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Segundo Frigotto (1994), esse détour implica necessariamente ter como ponto de partida os fatos
empíricos que nos são dados pela realidade. Implica, em segundo lugar, superar as impressões primeiras,
as representações fenomênicas desses fatos empíricos e ascender ao seu âmago, às suas leis fundamentais.
O ponto de chegada será não mais as representações primeiras do empírico, ponto de partida, mas o
concreto pensado. Essa trajetória demanda do homem, enquanto ser cognoscente, um esforço e um
trabalho de apropriação, organização e exposição dos fatos.
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pensamento dialético distingue entre representação e conceito da coisa, com
isso não pretendendo apenas distinguir duas formas e dois graus do
conhecimento da realidade, mais especialmente e sobre tudo duas qualidades
da práxis humana. (KOSIK, 2002, p.13).
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Mas, para que essa reflexão teórica sobre a realidade assuma nas pesquisas em
educação a postura de uma reflexão em função da ação de transformar essa realidade -
no caso, a realidade educacional -, a intenção de transformar o real tem que estar
presente nas pesquisas desde o momento de investigação do fenômeno educativo, por
ocasião das decisões metodológicas que se processam no transcurso de toda a pesquisa
(KUENZER, 1999).
Desta forma, apresentadas as diferentes dimensões que compõe a dialética
materialista histórica em sua totalidade, ou seja, enquanto uma tríade: concepção de
mundo, método de análise e práxis. Debruçaremos-nos agora sobre o polêmico debate
entre as técnicas quantitativas e qualitativas da pesquisa científica, com o escopo de
superar o senso comum de que o método dialético trabalha apenas com análises
qualitativas.
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É importante ressaltar que nesse estudo Gamboa, não restringe sua análise epistemológica apenas ao
nível técnico das pesquisas, abordando também outros níveis de articulação lógica, como os níveis:
teórico e epistemológico.
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2) As pesquisas fenomenológico-hermenêuticas utilizam técnicas não-
quantitativas como entrevistas, depoimentos, vivências, narrações, técnicas
bibliográficas, histórias de vida e análise de discurso;
3) As pesquisas crítico-dialéticas, além das técnicas utilizadas pelas pesquisas
fenomenológico-hermenêuticas, utilizam a “pesquisa-ação” e a “pesquisa-
participante”.
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Contudo, Gamboa, ressalta que a articulação desses elementos depende de cada
enfoque epistemológico, onde em cada enfoque as técnicas são utilizadas de formas
diferentes. Segundo o autor isso, explica por que os instrumentos de coleta, tratamento e
organização de dados e informações são, ou não, destacados de acordo com cada
perspectiva epistemológica.
Para exemplificar essa questão o autor demonstra como os enfoques empírico-
analíticos (positivistas) e os enfoques etnográficos e fenomenológicos destacam de
diferentes formas suas técnicas e os instrumentos de pesquisa. Pois, enquanto os
enfoques positivistas priorizam as técnicas quantitativas, negam a importância de outras
formas de coleta e tratamento de dados, que poderiam comprometer o rigor e a
objetividade do processo.
Os enfoques fenomenológicos e etnográficos limitam a importância dos dados
quantitativos, pelo seu “reducionismo matemático”, embora os aceitando apenas como
indicadores que precisam ser interpretados à luz dos elementos qualitativos e
intersubjetivos, sendo assim, esses enfoques destacam os instrumentos e as técnicas que
permitem a descrição densa de um fato, a recuperação do sentido, com base nas
manifestações do fenômeno e na recuperação dos contextos de interpretação.
Entretanto, Gamboa (2002) adverte que quando remetemos a discussão da falsa
dicotomia entre as técnicas da pesquisa em educação, para os enfoques epistemológicos,
podemos cair numa dicotomia epistemológica, ao reduzirmos as alternativas a um ou
outro enfoque epistemológico, e excluímos outras opções.
Nesse sentido, ao investigar os autores que abordam o debate sobre as técnicas
de pesquisa no contexto das concepções mais amplas de método e ciência, Gamboa,
identifica duas tendências entre esses autores:
1) Os que desqualificam a discussão sobre as tendências metodológicas por
defenderem a existência de um único método científico, os quais se aderem
os princípios da ciência empírico-analítica e do positivismo lógico que
dificilmente aceitam outras formas de elaborar conhecimento senão aquelas
que se ajustam aos critérios dos procedimentos experimentais e estatísticos e
ao raciocínio hipotético-dedutivo;
2) Os que aceitam a existência de dois métodos científicos, um apropriado para
as ciências exatas e naturais e outro para as ciências humanas e sociais, pois
questionam a unidade da ciência e a transferência automática dos métodos
das ciências naturais para as ciências humanas e defendem a necessária
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especificidade das ciências humanas e sociais no que se refere à presença da
subjetividade.
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Ao longo da sua história, a dialética materialista tem recuperado a contribuição
de outras tendências filosóficas e científicas. Desde sua elaboração, como
abordagem científica (Marx), a dialética constitui-se com base nas
contribuições do empirismo inglês e do idealismo alemão, apropriando-se de
algumas categorias geradas e desenvolvidas nessas grandes tendências
filosóficas e transformando-as numa nova concepção filosófica e científica
(GAMBOA, 2002, p.103).
É partindo dessa referência que se torna possível superar o senso comum de que
a dialética materialista histórica, e mais especificamente o materialismo histórico,
trabalha apenas com as técnicas de qualitativas de análise, pois como afirma Freitas, “na
definição de uma determinada forma de trabalho, tem precedência a teoria do
conhecimento empregada e não suas técnicas particulares de coleta de dados”
(FREITAS, 2003, p. 73).
Considerações finais
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Referências
LOWY, Michael. Método dialético e Teoria política. 2a ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1978. tradução de Reginaldo Di Piero. (coleção pensamento crítico; v.5).
KOSIK, Karel. Dialética do Concreto. 7a ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
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SANFELICE, José Luís. Dialética e Pesquisa em Educação. In: LOMBARDI, José
Claudinei e SAVIANI, Demerval (Orgs.). Marxismo e educação: debates
contemporâneos. – Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, 2005.
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