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A pesquisa educacional entre conhecimentos, políticas e práticas: especificidades e

desafios de uma área de saber*

Bernard Charlot
Universidade Paris 8, França e Organização da Nações Unidas para a Educação, a Ciência
e a Cultura (UNESCO)-Brasil

RESUMO
Bárbara de Souza Aquino - PPGE/UFSC

Na INTRODUÇÃO, o autor coloca que ao se colocar como um especialista em


Ciências da Educação, há ou uma incompreensão ou uma compreensão reduzida à
“formação de professores”. Argumenta que há uma indefinição do que significa "Pesquisa
em Educação”, se haveria uma disciplina “Educação” (em Educação) ou se seria pesquisa
advinda de diversos campos disciplinares das ciências sociais e humanas como a
sociologia, psicologia e a didática, por exemplo, sobre ou acerca de temas relacionados à
educação. Educação seria então uma área de saber ou uma área de práticas e políticas que
outras disciplinas produzem conhecimento sobre? Esse questionamento é o eixo principal
do texto/conferência.
O autor propõe abordar essa questão por meio de “três frentes sucessivas”:
1) Como pesquisadores da França e do Brasil respondem essa questão?
2) Quais são os tipos e quais as características dos discursos produzidos sobre a
educação?
3) Qual poderia ser a singularidade da Educação enquanto uma disciplina?

Sobre o ponto de vista dos professores universitários e pesquisadores, Charlot


coloca que há três posições possíveis:
1) departamentos e faculdades de educação apenas como espaços onde colaboram
especialidades de diferentes áreas, nesse contexto não existe uma disciplina específica, ou
seja, não tem uma epistemologia própria;
2) a ideia de uma cultura comum, ou seja, onde o interesse fundamental por práticas
e políticas educacionais criaria entre esses especialistas de diferentes áreas, um lugar
comum, este que produziria especificidades.

Essa cultura comum cria, para o autor, uma primeira definição da disciplina de
Educação ou Ciências da educação, que seria um campo do saber fundamentalmente
mestiço, de saberes, métodos, conhecimento, oriundos de diferentes campos disciplinares e
por outro lado de saberes, práticas, fins éticos e políticos comuns.
3) a busca por uma definição além, de uma disciplina com uma especificidade forte -
Charlot, se coloca nesse grupo que ainda não tem uma resposta para como isso pode ser
feito, mas levanta que um ponto de partida seria um inventário dos tipos de discursos
existentes sobre educação.

Sobre os discursos, o autor coloca que é possível identificar pelo menos sete tipos:
1) entre os que negam o interesse ou a legitimidade do discurso científico específicos sobre
a educação: a) o discurso espontâneo - senso comum; b) o discurso “prático” - pseudo
oposição entre teoria e prática, pois no momento em que se fala sobre uma prática, se
produz um discurso que não é neutro; c) discurso “antipedagogos” - a pedagogia afasta do
verdadeiro saber que deveria vir do esforço.
2) o discurso pedagógico - pedagogia é uma axiologia prática
3) discursos políticos sobre a educação: a) militante - ignora as diferentes escalas dos
fenômenos - explicações macros se sobrepõe às realidades - discursos políticos genéricos;
b) discursos das instituições internacionais - qualidade da educação - proeminência da
avaliação -

O autor questiona que existem muitos discursos saturados e já prontos, que apenas
se repetem, o que impede que a pesquisa de fato aconteça. Argumenta também sobre os
objetos sócio midiáticos, que estes não seriam por si só objetos de pesquisa.
Por fim, coloca como questão: É possível construir uma disciplina com
especificidade e conceitos próprios? Coloca como especificidade da educação, o fato de
ela ser um triplo processo de humanização, socialização e entrada em uma cultura e
singularização-subjetivação e que acontece em um processo de tripla-articulação, entre
educando, educador e instituição escola (submetida a políticas e regras, com condições
específicas)
Esse triplo processo e tripla articulação engendram tensões e modos de
funcionamento heterogêneos, o que deve ter uma atenção fundamental de uma disciplina
específica de educação e também é necessário distinguir os distintos níveis de realidade,
não sobrepondo um ao outro, o macro ao micro.
Para que isso aconteça, o autor argumenta que é necessário “solucionar os pontos
de partida e memória”

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