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Como a inclusão da sociologia no ensino médio tem sido avaliada pelos especialistas?
1) Alguns apontam os riscos de ser ensinada como ideologia e não como ciência;
2) Outros defendem que ela deve ter um papel de conscientização e de transformação da
sociedade.
3) Uma terceira perspectiva defende que ela tenha o papel de alfabetização científica,
isto é, de fornecer teorias e métodos para que os estudantes criem consciência de si
mesmos e do mundo em que vivem.
A escolha de uma destas perspectivas deve ser pautada, para além de convicções pessoais,
pela responsabilidade do professor de formar cidadãos autônomos.
O autor traz para a discussão a busca de um meio termo entre a indesejável neutralidade
científica e o ingênuo engajamento político dissociado da teoria.
Cabe lembrar que “estas disciplinas já fizeram parte do currículo, Filosofia desde a chegada
de Tomé de Souza e os jesuítas no Brasil, Sociologia desde fins do século XIX até 1942,
quase desaparecendo do currículo do colegial com a reforma Capanema, retornando
depois a partir dos anos 1980 com a redemocratização do país”. Ou seja, elas estão
sujeitas ao ambiente político e ao contexto histórico mais amplo. Nesse sentido, muitas
das críticas contrárias a reinserção da sociologia e da filosofia no ensino médio revelam
preconceito e senso comum contra as humanidades por parte de colunistas muito bem
pagos da grande imprensa e de uma intelectualidade que teve FHC como seu grande
estadista.
Amaury, que participou da elaboração da OCEM, responde. “Entendo que isso seja algo
que extrapola a responsabilidade do professor, uma vez que este fazer “opções teóricas
que realmente confrontam a realidade, no sentido de uma possível transformação em
qualquer uma das esferas da sociedade” é retirar dos alunos a condição de uma formação
emancipatória e autônoma; além disso, estaríamos fazendo o mesmo com o professor, ao
definirmos de um ponto de vista oficial – com toda a força legitimadora que isso possa ter
– o que ele deveria ensinar, escolhendo por ele tais “opções teóricas que realmente
confrontam a realidade”. Ou seja, posiciona-se em defesa da autonomia dos alunos e da
capacidade de fazerem escolhas por si mesmos diante dos recursos teóricos oferecidos
pelos professores.
Desse ponto de vista, a “expressão formar o cidadão crítico assumiu um caráter retórico –
no sentido de vazio –, apenas cumprindo um papel do que se poderia dizer politicamente
correto ou de bom tom pedagógico-progressista, bastante encontradiço e obrigatório para
quem escreve tais documentos no após-ditadura militar, mas sem maiores
consequências.”. Ou seja, não cabe aos professores darem aula de cidadania, mas ensinar
as teorias e métodos sociológicos.
Dessa perspectiva, não cabe nem neutralidade axiológica nem a militância do professor. O
ensino de sociologia deve se pautar por uma “visão científica ou de seu potencial cognitivo
– conceitos, teorias – que permitiria aos alunos a compreensão dos fundamentos da vida
social, das relações sociais, entendendo-a como uma disciplina teórica”. A pesquisa serve
como um recurso de ensino da disciplina.
Para Durkheim, os professores devem ser postos “em presença dos problemas que se
colocam e das razões pelas quais se colocam, [postos] nas mãos todos os elementos de
informações que possam ajudá-los a resolver estes problemas, que possam guiar suas
reflexões pela via de um ensino livre...”.
Assim, o autor defende a terceira posição que, em suas palavras, é “uma concepção menos
engajada e mais formativa, de tratamento dos princípios epistemológicos e procedimentos
científicos das Ciências Sociais, ou da discussão sobre elaboração de modelos teóricos, ou
mesmo sobre a construção conceitual nestas ciências – a que chamamos alfabetização
científica –, é condenada a partir de um posicionamento pseudocrítico a certa perspectiva
de neutralidade e objetividade que essa concepção encerraria”.