Você está na página 1de 5

Centro Universitário Cesmac

Curso de Biomedicina
Anuska Angélica Batista de Souza

ESPOROTRICOSE

MACEIÓ/AL
2020
ESPOROTRICOSE

CONCEITO

Esporotricose é uma infecção micótica subaguda ou crônica dos tecidos cutâneos e


subcutâneos caracterizada por lesões nodulares que podem supurar ou ulcerar, causada pelo
fungo dimórfico Sporothrix schenckii. A causa mais comum de infecção é por traumas sofridos
na pele, por onde o fungo é inoculado ou muito raramente por inalação. A transmissão
secundária aos ossos, articulações e músculos não é frequente em pacientes com imunidade
preservada (BARROS et al., 2010).
A apresentação clínica da doença é muito variada, observa- -se desde nódulos isolados
a lesões múltiplas disseminadas. Mais raramente invadem mucosas, músculos, ossos e órgãos
internos. A esporotricose em sua forma subcutânea, que é a mais comum entre elas, não
altera o estado geral do paciente e a evolução é benigna, respondendo favoravelmente a
terapia. A evolução para óbito é rara (ESTEVES et al.,1990).
O Sporothrix schenckii, fungo dimórfico e sapróbio na natureza, cresce em solos e
vegetações (SIDRIM e ROCHA, 2004). A forma miceliana do fungo, na qual é produzida a forma
infectante, o conídio, está presente nos solos e plantas, principalmente naquelas em
decomposição (KONEMAN et al.,1997). Por esse motivo, trata-se de uma doença relacionada
com certas profissões como florista, jardineiro, fazendeiros, caçadores, veterinários. Após
inoculação, ocorre um período de incubação do fungo que dura de sete a trinta dias, podendo
chegar até seis meses (SIDRIM e ROCHA, 2004).
Os fungos dimórficos crescem de duas formas, a saber: a forma miceliana (25 a 30ºC),
encontrada no ambiente e infectante, e a forma de levedura (35 a 37ºC), que é invasiva,
produzindo infecções nos órgãos e tecidos. A identificação dessa classe de fungos deve ser
feita mediante a comprovação de seu dimorfismo a partir da mudança de temperatura de
incubação das colônias. Deve haver a conversão a forma leveduriforme quando incubadas a
35ºC (KONEMAN et al.,1997).
A infecção se dá pela inoculação do fungo na pele por algum tipo de trauma, como
arranhaduras, mordeduras, perfurações com vegetais, animais ou objetos contaminados
(ZAITZ et. al., 2010). Existem casos relatados de transmissão através de mordedura de ratos,
cães, gatos, cavalos. Os animais contraem a doença ou são apenas veiculadores do fungo
(ESTEVES et al.,1990).
A esporotricose, portanto, está relacionada a atividades ocupacionais como floristas,
horticultores, jardineiros, caçadores, donos de gatos, exploradores de madeiras, veterinários
(LOPES-BEZERRA et al., 2006). Como a transmissão por felinos tem sido relatada como a forma
mais comum, veterinários, técnicos e donos de gatos são considerados como novas categorias
218 | PÓS EM REVISTA de risco para adquirir a micose (BARROS et al., 2001).
O local de inoculação do fungo mais frequente são os membros superiores (75,5%),
seguido dos membros inferiores (10%), da cabeça (9%) e do 3,2% do tronco (ESTEVES et
al.,1990).

ASPECTOS CLÍNICOS

As manifestações clínicas da doença se resumem em esporotricose cutânea (localizada


e cutaneolinfática), esporotricose invasiva (disseminada, osteoarticular, pulmonar) e sistêmica.
As formas clínicas mais comumente encontradas são a cutaneolinfática e a cutânea localizada,
correspondendo a 90% do total dos casos (ZAITZ et. al., 2010). A forma cutaneolinfática se
inicia com um nódulo ou lesão ulcerada no local da inoculação do fungo na pele e segue o
trajeto linfático com nódulos que ulceram e fistulam, com o passar do tempo. Essa
característica clínica é o motivo de também ser chamada de Linfagite Ascendente Nodular
(LOPES-BEZERRA et al., 2006). Ou seja, a partir da lesão inicial, seguindo trajeto ascendente
nos membros, aparecem nódulos indolores, ao longo dos vasos linfáticos, que podem ulcerar
(ZAITZ et. al., 2010).
A forma cutânea localizada é caracterizada por uma lesão única, no local da inoculação
do fungo, que não acompanha o trajeto linfático. Essas lesões podem ter inúmeras
morfologias, como pápulas que pustulizam e ulceram, abscessos, placas achatadas, lesões
eritematosas (ZAITZ et. al., 2010). Nesse caso, diagnóstico diferencial deve ser realizado entre
as chamadas Síndromes Verrucosas, que são a Leishmaniose, cromomicose, tuberculose
verrucosa e psoríase (LOPES-BEZERRA et al., 2006; ZAITZ et. al., 2010).
A esporotricose invasiva pode acometer qualquer tecido ou órgão. Ocorre
principalmente em indivíduos imunocomprometidos, nos pulmões e ossos, em sua grande
maioria. Já a sistêmica, também associada a imunodepressão em pacientes HIV positivos,
acomete olhos e nariz (ZAITZ et. al., 2010). A forma cutânea disseminada é menos frequente.
Está associada a algum tipo de imunodepressão, como AIDS, alcoolismo, idade avançada,
Diabetes, uso prolongado de corticoides, e frequentemente associada a forma extra cutânea
ou sistêmica (SIDRIM e ROCHA, 2004).
O prognóstico da esporotricose é benigno conforme extensão e tempo de duração da
doença. As formas viscerais, que são mais raras, tem evolução grave e podem levar a óbito
(ESTEVES et al.,1990).

EPIDEMIOLOGIA

A esporotricose foi descrita pela primeira vez em 1898, por Benjamin Schenk nos
Estados Unidos (BARROS et al., 2010). É considerada a micose subcutânea mais comum na
América Latina. Tem sido relatada em diversos países, mas assumiu maiores proporções no
Brasil, onde foi observada desde 1907, por Lutz e Splendore, em sua maioria nos estados de
São Paulo e Rio Grande do Sul (BARROS et al., 2001).
A maior epidemia de esporotricose relacionada com transmissão zoonótica foi
descrita no Rio de Janeiro. Entre 1998 e 2004, a Fundação Oswaldo Cruz/FIOCRUZ diagnosticou
1.503 gatos, 64 cachorros e 759 humanos com a doença (LOPES-BEZERRA et al., 2006). De
1998 a 2001, nesse estado, foram descritos 178 casos da doença, passando essa a ser
considerada a maior epidemia por transmissão zoonótica no mundo (MUNIZ e PASSOS, 2009).
Em 2001 foi isolado S. schenckii das unhas dos gatos após uma epidemia da doença no Rio de
Janeiro (LACAZ et al., 2009).
O gato, principalmente os domésticos, tem papel importante na transmissão do agente
a outros animais e para o homem (MUNIZ e PASSOS, 2009).

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Para diagnóstico da Esporotricose os materiais biológicos examinados são o pus, a


escarificação, a biopsia e escarro ou líquor, em caso de formas mais graves -sistêmica ou
extracutânea. Os mais comuns são o pus e a escarificação, sendo o primeiro retirado da fístula
e o outro com estilete ou bisturi. No caso de lesões fechadas deve-se evitar a punção para
evitar uma possível fungemia (MINAMI, 2003).
O microorganismo em questão, em geral, está escassamente presente no material
biológico pus, aspirado ou exsudatos e biópsia, podendo levar a uma inconclusão do
diagnóstico apenas com exame direto. Montagens com KOH podem revelar leveduras
gemulantes globosas ou em forma de charuto, alongados e fusiformes. Raramente se
encontram pequenos elementos hifálicos (NEUFELD, 1999).
Pelo método de Gram, as células leveduriformes apresentam-se como formas
esféricas, ovais e alongadas, em forma de charuto, Gram positivas. S. schenckii provoca reação
inflamatória mista, purulenta e granulomatosa, acompanhada de fibrose (LACAZ et al., 1998).
Algumas células são envolvidas por bainha eosinofílica radiada que cobre toda sua
superfície, são os chamados corpos asteróides. A presença deles e das células em forma de
charuto fornecem um diagnóstico inicial da esporotricose (MENEZES e NEUFELD, 2006).
A amostra deve ser semeada em meios sólidos dentro de PÓS EM REVISTA l 219 tubos
de ensaio, com movimentos de estrias, para sua cultura (ANVISA, 2004). S. schenckii quando
cultivado a temperatura ambiente (25°C) desenvolve a forma miceliana, apresentando
colônias enrugadas e de coloração acastanhada a enegrecida, e a 37°C desenvolve forma
parasitária de levedura, com colônias que lembram bactérias: úmidas, cremosas e de
coloração amarelada (ZAITZ et. al., 2010). Pela microscopia, a primeira forma é caracterizada
por hifas septadas hialinas ramificadas, contendo conidióforos com extremidades com conídios
que se arranjam na forma de uma margarida. A forma leveduriforme é pleomórfica,
apresentando células fusiformes e ovais, lembrando um charuto (LOPES-BEZERRA et al., 2006).
Caso não seja possível a identificação apenas com a cultura, deve ser feito também o
Cultivo em Lâmina (MINAMI, 2003).
Apesar da presença do fungo nos tecidos ou exsudatos por exame direto já ser um
indicativo da esporotricose, o diagnóstico definitivo da mesma se dá após isolamento do S.
schenckii na cultura incubada a 25°C e sua conversão a forma leveduriforme a 37°C (BARROS et
al., 2001).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ESTEVES, J.A.; CABRITA, J.D.; NOBRE, G.N. Micologia Médica. 2ª ed. Lisboa: Fundação Caloute
Gulbenkian, 1990. 1058 p.

LACAZ, C.S.; PORTO, E.; HEINS-VACCARI, E.M.; MELO, N.T. Guia para Identificação de Fungos,
Actinomicetos e Algas. 1ª ed. São Paulo: Sarvier, 1998. 445 p.

LACAZ, C.S.; PORTO, E.; MARTINS, J.E.C.; HEINS-VACCARI, E.M.; MELO, N.T. Tratado de
Micologia Médica Lacaz. 9ª ed. São Paulo: Sarvier, 2009. 1104 p.

Você também pode gostar