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Abstract
Objective: to report an experience of welcoming workers in a psychology school
service and to present the results obtained through actions undertaken for the
individual and collective confrontation of mobbing at work. Methods: report of
intervention experienced in a psychology service. The intervention took place
in two moments: 1) initial case individual therapeutic welcoming, 2) group
welcoming. The individual care was provided in eight meetings. The group,
consisting of seven workers, in nine care meetings. The analysis was carried
out with the reading of medical records and diaries, as well as by meetings
for discussion and convergence of the emerged contents. Results: two analysis
devices were systematized: individual mobbing and group mobbing. The first
one pointed out the worker’s re-elaborations due to the phenomenon. The second
promoted the group strengthening while it shared and constructed collectively
its means of confrontation. Conclusion: the authors reaffirm the importance
of welcoming the mobbed workers and/or their witnesses as a starting point
to deal with mobbing It must be followed by collective spaces to re-signify the
psychosocial effects of mobbing on the workers and their work.
Keywords: mobbing at work; welcoming and confrontation practices; collective
strengthening.
Recebido: 11/03/2018
Revisado: 21/07/2018
Aprovado: 25/07/2018
Para melhor compreensão das atitudes de assédio discriminação, preconceito e humilhação; 4) praticar
descritas pelos participantes, são apresentadas, no violência verbal ou física, agredir fisicamente, gritar,
Quadro 2, as categorias de atitudes hostis definidas invadir a privacidade, danificar bens materiais, asse-
por Hirigoyen7 e os relatos dos trabalhadores a elas diar ou agredir sexualmente. O modelo do quadro foi
correspondentes. Hirigoyen7 identificou e sistemati- retirado do estudo de Tolfo et al.4
zou quatro categorias de atitudes hostis para carac- O grupo, como um todo estava em sofrimento
terizar o assédio moral no trabalho: 1) deterioração e envolto em um processo de não submissão, pois
proposital das condições de trabalho do assediado, submeter-se significava ocultar a dor, o sofrimento
que diz respeito às atitudes que dificultam, impedem em si e os problemas de saúde. O grupo buscou for-
e retiram o trabalho da vítima, induzindo-a ao erro talecimento para que o sofrimento decorrente das
ou prejudicando sua atividade de trabalho; 2) iso- violências morais pudesse se constituir em gritos
lamento e recusa de comunicação, afastamento da de advertência para busca de um trabalho digno e
vítima com intuito de isolá-la e impedir sua comu- decente22, de modo que todos pudessem exercer a
nicação com os demais colegas; 3) atentado contra a (in)tolerância às práticas de abuso de poder exerci-
dignidade, que são os atos de calúnia e difamação, das pelo assediador.
Destacamos que as práticas de assédio moral só do trabalho no mundo contemporâneo. Por isso, tra-
acontecem quando o assediador pensa ter o apoio ou balhar com o assediador ou puni-lo não parece ser
a permissão, mesmo que implícita, para praticar o uma solução duradoura (embora necessária), já que
assédio. A complacência da organização e a prática são as configurações do trabalho atual que devem ser
dessa violência é validada pela falta de punição dos reconsideradas e transformadas.
assediadores1. Neste caso, o processo de judicializa-
ção, não indiciado em primeira instância, foi o cami-
nho encontrado pelo grupo frente à situação. Considerações finais
Na atividade em grupo, foi feita uma escolha
sobre a ótica de análise do fenômeno, de modo a pri- Este estudo foi além da iniciativa no campo da psi-
vilegiar a discussão sobre o trabalho e não somente cologia ao lançar mão de uma atuação que ampliou o
sobre as consequências do assédio em si. Foi consi- espaço de acolhimento individual para o trabalho em
derado que as problemáticas pertinentes ao trabalho grupo e ao utilizar métodos e técnicas de interven-
estão inter-relacionadas ao seu modo da organiza- ção focados na análise do assédio pelo trabalho não
ção10 e a intervenção sobre elas precisa dar conta apenas enfatizando a sintomatologia provocada pelo
dessa relação. Evitou-se uma postura negligencia- evento. Isso permitiu colocar em cena o trabalhador
dora frente aos aspectos relativos ao trabalho. Para vítima do assédio de forma que pudesse ser acolhido
Vieira et al.10: e, ao mesmo tempo, protagonizar e fomentar espaços
de debates e embates nesta arena política e ideológica
Ao adotar como ponto de partida o trabalho concre- que enfrenta no mundo do trabalho.
to, tentamos expor os perigos de se cair em vieses
comuns nas discussões em torno do problema do Como limite, pode-se destacar a dificuldade,
assédio moral, sendo os mais recorrentes a psicolo- enquanto equipe de um serviço escola, de atuar nas
gização, a judicialização e a sociologização, quando políticas institucionais da organização onde os even-
apenas um fator é privilegiado em detrimento de ou- tos ocorreram, pois a demanda de atuação ficou res-
tros que também fazem parte desse complexo proble- trita aos trabalhadores. Sabe-se que, onde o assédio
ma. (p. 266)
estiver instalado nos aparatos institucionais, é preciso
ir além do acolhimento no âmbito individual e grupal
O grupo, em muitos momentos, apontava a inten-
e adotar práticas que não legitimem qualquer tipo de
cionalidade do agressor/coordenador nos atos de vio-
violência ou conduta antiética no espaço laboral, o
lência, caracterizando-o como uma pessoa sádica.
que envolve uma mudança em todo corpo de gestão.
No entanto, foi alertado que, mesmo considerando
a probabilidade de que existam pessoas perversas, Em decorrência das configurações atuais do
nesse cenário, não se pode esquecer de que essas mundo do trabalho e de suas contradições sociais,
ações, como exploram alguns autores7,11,14, aconte- o assédio moral no trabalho se apresenta como parte
cem quase sempre em um espaço de trabalho no qual integrante do modelo econômico e dos processos
o próprio “assediador” foi “nutrido” pelos modos produtivos vigentes, visto que estes legitimam as
atuais de configuração da organização e das relações violências nas relações de poder10. Nesse sentido,
Contribuições de autoria
Lima, KSL contribuiu substancialmente no projeto, delineamento, levantamento de dados, análise e inter-
pretação. Marinho, MID participou da elaboração do manuscritoe na sua revisão crítica. Machado, LSSX,
Queiros, JLF e Jucá, RMN participaram da elaboração do manuscrito e de sua revisão crítica. Todos participa-
ram da aprovação final da versão publicada e assumem igual responsabilidade por seu conteúdo.
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