Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADE

LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA

O problema do mal e a questão da liberdade na ética escolástica

Victorino Álvaro Ibraimo

Quelimane

Setembro de 2021
UNIVERSIDADE LICUNGO
FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADE

LICENCIATURA EM ENSINO DE FILOSOFIA

O problema do mal e a questão da liberdade na ética escolástica

Victorino Álvaro Ibraimo-1º Ano

Trabalho submetido a Faculdades de Letras e Humanidade da


Universidade Licungo de Quelimane, ao PhD. Alexandre
Oliveira para fins avaliativos enquadrado na cadeira Historia de
Filosofia Medieval.

O Docente: PhD. Alexandre Oliveira

Quelimane
Setembro de 2021
Índice

Introdução ................................................................................................................................... 4

O problema do mal e a questão da liberdade na ética escolástica .............................................. 5

O problema do mal ..................................................................................................................... 5

A questao da liberdade na ética escolástica .............................................................................. 11

Conclusão ................................................................................................................................. 13

Bibliografia ............................................................................................................................... 14
4

Introdução

O presente trabalho aborda acerca do problema do mal e a questão da liberdade na ética


escolástica.

A importância deste trabalho reside no resgate de valores imutáveis no aspecto ontológico que
influenciará indelevelmente a filosofia medieval na escolástica. Voltando à fonte da religião,
contextualiza a liberdade ética e substancial que Deus oferece por sua gratuidade: o amor, ele
é o fundamento da reconciliação e potencializa pelo processo de “Iluminação Divina” a
capacidade cognitiva do homem na busca pela verdade. Nesta obra, o tema da origem do mal
conduz a questionamentos que afirmam categoricamente que o mal não tem origem em Deus,
mas é consequência da contingência humana, como também de um mau uso da liberdade. O
dualismo entre o bem e o mal evocado por Agostinho no período tardo-pagão nos mostra a
profundidade do tema e a efervescência desses assuntos não somente no âmbito eclesiástico,
mas também entre os filósofos dessa época. Por exemplo, no gnosticismo e no movimento
maniqueísta.
5

O problema do mal e a questão da liberdade na ética escolástica

O problema do mal

Na filosofia da religião, o problema do mal é a questão de como conciliar a existência do


mal com o de uma divindade que é, tanto em termos absolutos ou relativos, onipotente,
onisciente e benevolente. Um "argumento do mal" tenta mostrar que a coexistência do mal e
tal divindade é improvável ou impossível se colocado em termos absolutos. As tentativas de
demonstrar o contrário tradicionalmente têm sido discutidas sob o título de teodiceia.
Ambrósio,(s/d).

Uma ampla gama de respostas foi dada para o problema do mal na teologia. Há também
muitas discussões de problemas mal e associados em outros campos filosóficos, tais como
ética secular, e disciplinas científicas, tais como ética evolucionista. Mas, como normalmente
entendido, o "problema do mal "é colocada em um contexto teológico. Ambrósio,(s/d).

A existência do mal parece ser contraditória com a existência de um Deus bondoso e


poderoso, mas alguns religiosos argumentam que, para o homem ser feliz, ele necessita
executar ações, atos de caridade e de heroísmo, que não seriam possíveis se não existisse o
mal. Entretanto, a maioria dos teístas responde que um deus perfeito pode ainda permitir um
certo mal, insistindo que a concessão de um bem maior, como o livre arbítrio, não pode ser
alcançada sem alguns males. Uma defesa contra o problema do mal é estabelecer que
os atributos divinos são logicamente consistentes com a existência do mal, mas que isso não
significa que o mal derive deles, ou que deles se possa retirar uma explicação quanto as razões
pelas quais o mal existe ou ocorre. Uma teodiceia, por outro lado é uma tentativa de fornecer
tais justificativas para a existência do mal. Ambrósio,(s/d).

Richard Swinburne sustenta que não faz sentido assumir que existe esse bem maior, a não ser
que se saiba o que ele é, ou seja, até que tenhamos uma boa teodiceia.[8] Muitos filósofos
contemporâneos discordam. O Ceticismo teísta, que se baseia na posição de que seres
humanos nunca podem esperar entender o divino, é talvez a mais popular resposta ao
problema do mal entre os filósofos da religião contemporâneo

Segundo autores como Albert Camus O problema do mal é a tensão entre a suposta
existência de uma pessoa divina sumamente boa, omnisciente, omnipotente e criadora, por um
lado, e a existência de mal supostamente gratuito. ... Se existe uma divindade teísta, não há
males gratuitos.
6

Nesse sentido, segundo Aquino, o mal não tem perfeição nem ser. O mal só pode significar a
ausência do bem e do ser; pois o ser, enquanto ser, é um bem. Por essa razão,
o mal representa algo puramente negativa, ou melhor, ele não é nem essência nem realidade.

Para Leibiz, o problema do mal é a tensão entre a suposta existência de uma pessoa divina
sumamente boa, omnisciente, omnipotente e criadora, por um lado, e a existência de mal
supostamente gratuito. Aparentemente, há males gratuitos, como doenças terríveis, e parece
razoável pensar que uma pessoa divina sumamente boa não quer que esses males existam;
mas se ela é omnisciente, sabe que existem, e se é omnipotente, parece que conseguiria
eliminá-los, se o quisesse, ou conseguiria ter criado o Universo de maneira a que não
existissem. Parece, pois, que ou não existe uma divindade teísta, ou os males não são
gratuitos. Um mal é gratuito quando não serve qualquer finalidade suficientemente boa que o
compense.
A tensão entre a suposta existência de uma divindade teísta e o mal aparentemente gratuito dá
origem a duas reacções bastante diferentes:
• Modus tollens agnóstico: Se existe uma divindade teísta, não há males gratuitos.
Há males gratuitos. Logo, não existe uma divindade teísta.
• Modus ponens teísta: Se existe uma divindade teísta, não há males gratuitos.Existe
uma divindade teísta. Logo, não há males gratuitos.
Os dois raciocínios são válidos, e a primeira premissa é igual. Por isso, tudo depende da
plausibilidade da segunda premissa. Os agnósticos consideram que a existência da divindade
teísta é apenas uma hipótese entre outras, e que é muitíssimo mais evidente que há males
gratuitos. Por isso, concluem que não existe tal divindade. Talvez até exista alguma
divindade, mas não a teísta: ou não é omnisciente e por isso não sabe que o mal gratuito
existe, ou não é sumamente boa e por isso não quer eliminá-lo, ou não é omnipotente e por
isso não consegue acabar com ele.
Em contraste, os teístas consideram evidente que Deus existe, ou pelo menos que a sua
existência está muitíssimo bem comprovada, pelo que concluem que não há realmente males
gratuitos — ainda que assim o pareça superficialmente.
Na versão agnóstica do problema do mal considera-se que os males gratuitos são indícios,
provas ou razões adequadas para concluir que não existe uma divindade teísta. Diz-se por isso
que este é o problema probatório do mal: trata-se de invocar os males aparentemente gratuitos
7

para tentar provar (talvez indutivamente) que não existe, ou é improvável que exista, uma
divindade teísta.
A versão agnóstica do problema do mal só surgiu mais recentemente; durante muito tempo,
porque os filósofos eram teístas e não duvidavam seriamente da existência de Deus, era o
problema lógico do mal que os preocupava. Este problema é a dificuldade de explicar como a
existência da divindade teísta é logicamente compatível com a existência de males
aparentemente gratuitos.
Quando duas ou mais proposições são logicamente incompatíveis, pelo menos uma delas é
falsa. Ora, as seguintes cinco proposições parecem incompatíveis:
1. Existe uma pessoa divina que é omnisciente.
2. Essa pessoa é omnipotente.
3. E é também sumamente boa.
4. Além disso, criou o Universo.
5. Existem males gratuitos.
Os pensadores religiosos não-teístas rejeitam uma ou mais das proposições 1, 2, 3 ou 4. Os
teístas, ao invés, mantêm essas proposições e rejeitam a 5: defendem que não há afinal males
gratuitos, ainda que assim o pareça.
E é precisamente assim que Leibniz encara o problema do mal.
Leibniz introduziu o termo “teodiceia” a partir das raízes gregas teo, “Deus”, e dikê, “justiça”.
Uma teodiceia é uma tentativa de mostrar que a justiça divina é compatível com o mal. Ora,
Leibniz considera que da concepção teísta de Deus se conclui correctamente que esta é uma
divindade absolutamente perfeita: é maximamente grandioso, como Anselmo também
pensava. Mas Leibniz tem plena consciência de que nem sempre há uma grandiosidade
máxima, ou absoluta, tal como não existe um número par que seja o maior de todos. Contudo,
ele pensa que a divindade teísta tem nesse grau máximo todas as características que não é
contraditório considerar que têm um máximo.
A ideia de Leibniz é que não há um número par que seja o maior de todos porque a
consideração dessa hipótese rapidamente conduz a uma contradição. Imagine-se que n é por
definição esse tal número par maior de todos. Mas n + 2 é outro número par, certamente, e
ainda maior que n. Logo, n é e não é o maior de todos. Chegámos a uma contradição, e isso
significa que a hipótese inicial era falsa — não existe o número par maior de todos.
Contudo, Leibniz pensa que noutros casos, como no conhecimento, não se chega a esta
contradição. Ele pensa que a hipótese de um conhecimento maior que o qual nenhum outro
pode ser pensado não conduz a uma contradição — e por isso existe esse conhecimento
8

máximo. E essa é precisamente uma das características da divindade teísta — é omnisciente,


em absoluto, no sentido de ter o conhecimento mais perfeito ou completo de todos. Eis as
palavras do próprio Leibniz:
A noção de Deus mais comummente aceite e a mais significativa que temos expressa-se
muitíssimo bem nestes termos: que Deus é um ser absolutamente perfeito; mas as
consequências disto não foram suficientemente bem pensadas. Para ir um pouco mais longe é
de notar que há várias perfeições completamente diferentes na natureza, que Deus as tem
todas em conjunto, e que cada uma lhe pertence no mais alto grau. É também necessário
entender o que é uma perfeição. Eis um indicador fidedigno: uma forma ou natureza que não
possa ser tomada no seu mais elevado grau não é uma perfeição — por exemplo, a natureza
do número ou da figura. Pois o maior de todos os números (ou melhor, o número total de
todos os números), tal como a maior das figuras, implica uma contradição, ao passo que o
maior conhecimento, e omnipotência, não envolvem qualquer impossibilidade. Logo, o poder
e o conhecimento são perfeições, e na medida em que pertencem a Deus, são ilimitadas.
(Leibniz, Discurso de Metafísica).
Assim, Leibniz considera que a divindade teísta tem no máximo grau todas as características
que é logicamente possível ter nesse grau. Não tem no máximo grau a característica de ter a
maior dimensão, porque é contraditório pensar que uma entidade seja a maior de todas as
possíveis — há sempre outra entidade possível ainda maior. Porém, Deus tem o poder, o
conhecimento e a bondade no maior grau porque, pensa Leibniz, não é contraditório imaginar
tal coisa. Abbagnano, (2007).
Precisamente porque Deus é perfeito, pensa Leibniz, o Universo que criou é o melhor de
todos os possíveis. É isso que significa a sua conhecida expressão “O melhor de todos os
mundos possíveis”. Leibniz pensa que o Universo que Deus criou é o melhor que poderia ser
criado precisamente porque Deus é perfeito: é omnipotente, e por isso pôde criar o melhor
Universo; é omnisciente, e por isso sabia como criá-lo; e é sumamente bom, e por isso queria
criar o melhor Universo. E, portanto, criou-o.
Como explicar, porém, a existência de males aparentemente gratuitos?
Leibniz considera que os males que nos parecem gratuitos não o são de facto. São
características indissociáveis de bens que Deus promove. Do mesmo modo que Deus não
pode fazer o maior número par — porque isso é logicamente impossível — também não pode
criar um universo maximamente perfeito sem criar ao mesmo tempo coisas que, aos nossos
olhos, nos parecem males gratuitos, apesar de não o serem de facto. Leibniz usa duas
analogias para explicar o que tem em mente.
9

Considere-se qualquer quadrado com dois centímetros de lado. O quadrado é


matematicamente perfeito, no sentido em que cada lado é rigorosamente igual aos outros três,
assim como os seus ângulos; e a área do quadrado exprime-se também de uma maneira
matematicamente perfeita: 2 cm × 2 cm = 4 cm2. Porém, não há maneira de criar este
quadrado sem ao mesmo tempo criar a imperfeição da hipotenusa dos dois triângulos em que
o quadrado se divide. A linha diagonal que une os vértices opostos do quadrado é
incomensurável relativamente à dimensão dos lados do rectângulo. É isto que se sabe pelo
teorema de Pitágoras: o quadrado da diagonal é igual à soma do quadrado dos dois lados. Mas
isto significa que a diagonal não tem qualquer medida perfeita. O quadrado da diagonal tem
22 + 22 = 8 cm, o que significa que a diagonal em si é igual à raiz quadrada de oito:
2,82842712475… Ou seja, não há qualquer número perfeito que seja a medida da diagonal.
Assim, ao criar a figura perfeita do quadrado, Deus cria também o que parece uma
imperfeição gratuita. Mas não é gratuita; é uma condição da existência do próprio quadrado.
Eis as palavras de Leibniz:
Não é verdadeiro que se a ordem das coisas, ou a sabedoria divina, exigiu que Deus fizesse
quadrados perfeitos, então Deus, tendo resolvido fazê-lo, não poderia deixar de fazer linhas
incomensuráveis, apesar de terem a imperfeição de não poderem ser expressas de maneira
exacta? Pois um quadrado não pode deixar de ter uma diagonal, que é a distância dos seus
ângulos opostos. (Leibniz, “Diálogo sobre a Liberdade Humana e a Origem do Mal”, pp. 116–
117)
A segunda analogia de Leibniz é a ideia de que quando os seres humanos vêem apenas uma
parte insignificante da realidade, ficam com a ilusão de estar a ver males gratuitos; na
verdade, são componentes fundamentais de bens mais grandiosos que Deus criou. O mesmo
acontece se um ser humano estiver perante uma pintura maravilhosa, mas que mede tantos
quilómetros que os seres humanos só são capazes de ver as partes que têm sombras e outros
aspectos que não parecem belos — mas que fazem parte de uma totalidade de beleza
superlativa. Eis as suas palavras:
Acredito que Deus criou coisas em perfeição última, apesar de não nos parecer isso ao
considerar partes do Universo. É um pouco como o que acontece na música e na pintura, pois
as sombras e dissonâncias melhoram verdadeiramente as outras partes, e o autor sábio de tais
obras obtém destas imperfeições particulares um benefício tão grandioso para a perfeição total
do seu trabalho que é muito melhor dar-lhes espaço do que tentar passar sem elas. Assim,
temos de acreditar que Deus não teria permitido o pecado nem teria criado coisas que sabe
10

que irão pecar, se não tivesse obtido delas um bem incomparavelmente maior que o mal que
daí resulta. (Leibniz, “Diálogo sobre a Liberdade Humana e a Origem do Mal”, pp. 115)
Em suma, Leibniz considera que não há afinal qualquer mal gratuito. Os muitos males que
parecem fazer parte do Universo são afinal constituintes de bens muitíssimo mais importantes.
Leibniz admite, pois, que existem males, mas nega que sejam gratuitos — e é por isso que são
compatíveis com a bondade, omnipotência e omnisciência de uma pessoa divina que criou o
Universo e tudo o que ele contém. Contudo, o conhecimento imperfeito dos seres humanos
não lhes permite ver a totalidade do Universo, e por isso não vêem os bens associados aos
males a que assistem; e é por isso que lhes parece erradamente que são gratuitos.
Terá Leibniz razão?
A primeira dificuldade da posição de Leibniz é que a sua resposta ao problema lógico do mal
limita-se a explicar genericamente, mas não em particular, como os males são compatíveis
com a divindade teísta. Considere-se um caso particular de sofrimento: uma criança de cinco
anos, com uma doença grave e incurável, morre, depois de dois anos de sofrimento intenso.
Não só sofreu ela, como sofreram os pais e familiares da criança, assim como os seus amigos;
além disso, foram gastos recursos imensos que poderiam ter sido usados para fazer coisas
criativas, como pintar quadros, praticar desportos ou escrever sonatas. Leibniz não nos diz em
pormenor qual é o bem maior do qual todo este sofrimento é uma componente fundamental.
Claro que podemos imaginar alguns desses bens: o estoicismo da própria criança, a abnegação
dos pais e familiares, o profissionalismo e empatia profunda de médicos e enfermeiros.
Contudo, é pura e simplesmente falso que, do nosso ponto de vista, estes bens superem o mal
daquele sofrimento — basta pensar que nenhum progenitor que não seja perverso provocaria
aquela doença no seu filho só porque daí resultam alguns bens.
Esta dificuldade, porém, tem uma resposta óbvia da parte de Leibniz. Claro que não sabemos
em pormenor quais são os bens maiores que fazem parte dos males que nos parecem gratuitos,
diria ele; não o sabemos porque somos limitados. Porém, dado que se prova facilmente que a
divindade teísta é logicamente incompatível com males gratuitos, levar a sério a existência
dessa divindade obriga a levar a sério a ideia de que não há realmente males gratuitos. Esta
ideia tem de ser levada a sério, por mais que isso nos pareça estranho e por mais que sejamos
incapazes de explicar em pormenor que bens são esses que são constituídos por males
aparentemente gratuitos. Tem de ser levada a sério porque não há outra maneira de tornar a
divindade teísta compatível com o mal. Abbagnano, (2007).
A primeira dificuldade recebe uma resposta óbvia, e perfeitamente razoável, mas acaba por
levantar uma dificuldade muitíssimo mais importante e aparentemente fatal.
11

Muito humildemente, Leibniz considera que somos demasiado limitados para saber em
pormenor quais são os bens que superam e tornam necessários os males evidentes. Porém, se
somos limitados para saber isso, também somos limitados para saber se Deus existe ou não. É
incoerente, ou pelo menos arbitrário, aceitar que não há a possibilidade de erro quando
consideramos que sabemos que Deus existe, mas que somos demasiado limitados para saber
quais são os bens que dão sentido aos males e os anulam. Ou somos demasiado limitados nos
dois casos, ou em nenhum, porque é tão difícil saber se Deus existe, como difícil é saber quais
são os bens que superam e anulam os males evidentes, caso Deus exista.
Em suma, a resposta de Leibniz ao problema do mal parece epistemicamente incoerente, ou
pelo menos arbitrária.
A resposta de Leibniz ao problema do mal está longe de ser satisfatória. Mostrar a
compatibilidade lógica entre a existência de males aparentemente gratuitos e a existência da
divindade teísta é um exercício frívolo porque com suficiente imaginação consegue-se
defender que quaisquer duas coisas aparentemente incompatíveis são afinal perfeitamente
compatíveis. Quem quiser continuar a insistir que a Terra está imóvel no centro do Universo,
consegue continuar a insistir que as observações e medições aparentemente incompatíveis
com essa hipótese são afinal perfeitamente compatíveis. É preciso ter a boa vontade de
considerar as duas hipóteses de maneira imparcial, para determinar então qual é a mais
razoável face ao que sabemos ou temos boas razões para pensar que sabemos. E foi isso
precisamente que Leibniz não fez. Abbagnano, (2007).
A questao da liberdade na ética escolástica

A liberdade constitui tema que sempre transpassou o ser no decorrer da história, tese que
continua influenciando a construção da identidade do sujeito e a relação do homem com a
sociedade pós-moderna. O discurso de liberdade e a necessidade de conceituá-la suscitaram o
juízo de vários pensadores ao longo da história ocidental. Nesse sentido, falaremos do
conceito de liberdade circunscrito nos pensamentos aristotélico, hegeliano e sartreano. O
conceito polissêmico do termo liberdade exerce função ímpar enquanto instrumento de
construção da identidade ética, política e ontológica do homem antigo, medieval, moderno e
pós-moderno. Aristóteles, Hegel e Sartre foram grandes pensadores que analisaram a variável
liberdade para além de sua acepção etimológica, tanto no plano teórico quanto pragmático,
estendendo seu conceito para os domínios da ética, política e ontologia, campos que
fortemente influenciam a definição de homem na sua historicidade. Embora haja uma grande
amplitude temporal (antiguidade, modernidade e pós-modernidade) e espacial (perspectiva
12

grega, alemã e francesa), determinadas obras de Aristóteles e de Hegel e a principal obra de


Sartre possibilita uma analogia da evolução, não linear, do conceito de liberdade no espaço-
tempo, permitindo definir quais dessas dimensões (política, ontologia e ética) alcançaram
primazia e se destacaram nos grandes períodos históricos e considerando as grandes matrizes
geográficas que influenciaram a filosofia ocidental.

Em Aristóteles, o conceito de liberdade e o seu locus se encontram na interdependência entre


a ética e a política, saberes indissociáveis no pensamento antigo. É no exercício da razão, pelo
hábito, buscando a ética teleológica, que o homem, um ser racional e político por natureza,
encontra a maior virtude, o supremo bem, que a política pode proporciona: a felicidade,
residência fixa da liberdade. Abbagnano, (2007).

Para Hegel, a liberdade está na política, no Estado, sociedade política consubstanciada como
a síntese da dialética, visto que o Estado se configura como a melhor manifestação do Espírito
absoluto, entidade essencialmente ontológica. A própria concepção de ética, no pensamento
hegeliano, só encontra realização plena no Estado, materialização, por excelência, do Espírito
(Geist) e consciência da razão do seu em si. Ao defender a máxima heideggeriana da
precedência da existência sobre a essência, descartando uma essência em nome de uma
condição humana, Sartre aponta para uma liberdade que independe da política ou de qualquer
determinismo externo. Nesse consenso, a liberdade é uma questão de escolha do ser, questão
ética, mas que depende da ontológica, ou seja, da tomada de consciência de si pelo homem e
da assunção de sua condição humana. Abbagnano, (2007).
13

Conclusão

Terminado o trabalho, conclui que a liberdade constitui tema que sempre transpassou o ser no
decorrer da história, tese que continua influenciando a construção da identidade do sujeito e a
relação do homem com a sociedade pós-moderna. O discurso de liberdade e a necessidade de
conceituá-la suscitaram o juízo de vários pensadores ao longo da história ocidental.

Leibniz considera que os males que nos parecem gratuitos não o são de facto. São
características indissociáveis de bens que Deus promove. Do mesmo modo que Deus não
pode fazer o maior número par — porque isso é logicamente impossível — também não pode
criar um universo maximamente perfeito sem criar ao mesmo tempo coisas que, aos nossos
olhos, nos parecem males gratuitos, apesar de não o serem de facto. Leibniz usa duas
analogias para explicar o que tem em mente.
14

Bibliografia

Abbagnano, N. 2007. Dicionário de filosofia. 5. ed. São Paulo: Martins Fontes.


Agostinho, S. 1995. O livre-arbítrio. 3. ed. Trad. Nair de Assis Oliveira. São Paulo: Paulus.
Ambrósio, J. M. C.; SANTOS, M. C. O. Estado e liberdade em Hegel. In: SALGADO, J. C.

Você também pode gostar