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Termos de Referência

Para a contratação de um Consultor para desenhar um Manual e oferecer


treinamentos em monitoria de Direitos Humanos e Abordagens baseadas em
Direitos Humanos para o Staff do CESC-IGUAL e Parceiros

1. Apresentação

O Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), iniciou em julho de


2021 a implementação do programa IGUAL (Direitos e Democracia), com apoio da Embaixada
do Reino dos Países Baixos (EKN). O programa IGUAL conta com 18 parceiros, sendo 10 de
nível nacional e 8 de nível provincial. O programa é implementado na região do vale do
Zambeze (Manica, Sofala, Tete e Zambézia) e Cabo Delgado e pretende:

(i) Fortalecer o acesso de defensores dos Direitos Humanos, minorias sexuais,


mulheres e jovens em zonas de conflito a mecanismos de defesa e protecção dos
direitos humanos
(ii) Aumentar a participação e representação dos cidadãos com enfoque nas prioridades
das mulheres, jovens, e pessoas LGBTQI nos espaços e processos de governação e
política.

O programa IGUAL visa permitir que todas as pessoas em Moçambique, em especial as


mulheres, os jovens, os grupos marginalizados e os defensores dos Direitos Humanos, gozem
de seus Direitos Humanos, incluindo a participação política, ter oportunidades e acesso aos
serviços públicos.

2. Contexto e Justificação
A história recente de Moçambique é marcada pela instabilidade sociopolítica e económica.
Depois do retorno daquilo que alguma literatura chamou de segunda guerra civil1, que opôs o
governo de Moçambique e as Forças da Renamo e da Junta Militar da Renamo na região do
vale do Zambeze (2012), a discussão em torno da situação dos Direitos Humanos dominou a
agenda pública. A crise económica provocada pela chamadas dívidas ocultas (2016), o inicio
dos ataques terroristas liderados pelo grupo jihadista, Al Sunnah wa Jama'ah ligado ao Estado
Islâmico2 (2017) e a declaração do Estado de Emergência, em função da propagação da Covid
19 (2020) aliado à incapacidade do Estado em prover bens e serviços à população privaram os
cidadãos do acesso aos direitos fundamentais e deterioraram ainda mais a situação dos Direitos
Humanos3.

De facto, durante os últimos anos as organizações da Sociedade civil que trabalham na Defesa
de Direitos Humanos documentaram episódios violentos perpetrados não só pelos grupos
armados, mas também pelas Instituições do Estado contra civis, na quase totalidade do
território nacional. Dentre esses episódios de violência, os eventos mais significativos incluem

1 Darch «Uma historia de sucesso que correu mal ? o conflito moçambicano e o processo de paz numa perspectiva histórica ».
Friedrich Ebert Stiftung, Maputo, 2018.
2 Saide Habibe et al., Radicalização Islâmica no Norte de Moçambique. O Caso de Mocímboa da Praia, Caderno do IESE,

17, (2019)
3 CESC, Análise da Economia Politica do Vale do Zambeze e Cabo Delgado. Maputo: CESC, 2022.

1
destruição de infraestruturas sociais e económicas4; a expropriação de terras, reassentamentos
problemáticos; espancamento de garimpeiros; fechamento de rádios comunitárias, raptos e
decapitação de pessoas; violações sexuais, assassinatos de figuras ligadas à sociedade civil,
opositores políticos, jornalistas, académicos. Estes episódios resultaram em deslocamentos
massivos internos de populações, para zonas ‘supostamente’ seguras.

Os constrangimentos acima mencionados, num país onde existem ainda fragilidades na


adopção da Carta Africana dos Direitos do Homem, têm tido repercussões graves em vários
direitos reconhecidos e garantidos aos indivíduos, como evidenciam vários indicadores de
medição da democracia e do espaço cívico5. Na verdade, a capacidade dos cidadãos em
participarem de forma activa em questões cívicas, uma vez “obrigados” a autocensurar-se e a
desvincularem-se da participação nos assuntos públicos reduziu de forma drástica. As
capacidades operativas das organizações da sociedade civil que trabalham na área da Defesa
dos Direitos Humanos se degradaram, devido a erosão do pessoal com capacidade para lidar
com monitoria de programas ligados a Direitos Humanos em situação de crise. Este desiderato
surge numa altura em que trabalhar em matéria de Direitos Humanos, requer em termos de
acompanhamento, não só um conhecimento sólido, mas também uma preparação e
competência técnica adequada de modo a responder os diferentes desafios ligados a violação
dos direitos Humanos nas comunidades.

O programa IGUAL trabalha para estimular a articulação entre as organizações nacionais e


locais, em particular as de nível central/nacional e as que operam na região do Vale do Zambeze
e província de Cabo Delgado. Actualmente conta com 18 parceiros, sendo 6 na área de
Democracia e Governação e as restantes 12 na área de Direitos Humanos. 50% destas
organizações/colectividades são de nível local. A semelhança de outras organizações que
operam na área, os parceiros do CESC-IGUAL enfrentam também os mesmo desafios acima
descritos. Embora trabalham de forma ardua para responder aos desafios relativos as violações
de Direitos Humanos tem sentido muitas dificuldades em monitorar a implementação de
projectos locais ligados aos Direitos Humanos devido a fraca competência e compreensão de
abordagens relativas a monitoria e advocacia de Direitos Humanos.

Neste contexto, o Centro de Aprendizagem e Capacitação da Sociedade Civil (CESC), através


do seu programa IGUAL-Direitos e Democracia financiado pela Embaixada do Reino dos
Países Baixos, pretende contratar serviços de um consultor, para produzir um Manual de
Formação e fornecer uma capacitação abordagens baseadas em direitos Humanos (Monitoria
de Governação baseada em Direitos Humanos) para seu staff e parceiros de implementação em
Maputo, região do vale do Zambeze e Cabo Delgado.

3. Objectivos da Consultoria

Concebidos como uma resposta coerente e estruturada às fragilidades identificadas ao nível


dos intervenientes das organizações da sociedade civil, esta consultoria tem como objectivo
principal, reforçar e melhorar a eficácia e as capacidades do staff do programa IGUAL e seus

4 Human Right Watch, “Moçambique: Eventos de 2017”. In World Report 2018: Mozambique | Human Rights Watch
(hrw.org)
5 The Economist Intelligence Unit, Indice da Democracia, 2018; CIVICUS, “Mozambique: Killing of activist Dr. Matavel &

restrictions on civic space mar upcoming elections” (Carta Aberta ao governo de Moçambique), 2019;

2
parceiros na monitoria e implementação de programas com abordagens de Direitos Humanos
(monitoria de projectos e abordagens baseadas em Direitos Humanos) no terreno.

Este objectivo será alcançado através dos seguintes objectivos específicos

a) Desenvolver um manual de formação sobre abordagens de Direitos Humanos


(Monitoria de projectos de direitos Humanos e governação baseada em Direitos
Humanos) para o Staff do IGUAL e parceiros de implementação nas regiões de vale do
Zambeze e Cabo Delgado. Este manual deve conter definições chave sobre Direitos
Humanos; explicações sobre monitoria e abordagem baseadas em Direitos Humanos e
como introduzir estas abordagens dentro das organizações;
b) Oferecer um treinamento ao staff do IGUAL e parceiros sobre monitoria de Direitos
Humanos em regiões de conflito e sobre a metodologia de governação local baseada
em direitos

4. Metodologia

O treinamento será feito em Maputo, na região centro e em Cabo Delgado. A metodologia para
esta consultoria deverá ser proposta pelo consultor. Contudo deve privilegiar metodologias
apropriadas de interação, capazes de produzir resultados em poucas horas de contacto.

5. Produtos da Consultoria

a) Manual de abordagens de Direitos Humanos (Monitoria de programas relativos a


Direitos Humanos e metodologia de governação baseada em Direitos Humanos)
finalizado;
b) Staff do IGUAL e parceiros de Implementação de Maputo, provinciais da região do
vale do Zambeze e capacitados para monitorar a implementação de programas
ligados a Direitos Humanos em contextos de conflitos;
c) Staff do IGUAL e parceiros com conhecimento sobre monitoria e abordagens
baseada em Direitos Humanos;

6. Requisitos do Consultor

O/a consultor/a ou equipa de consultores deverão possuir os seguintes requisitos:


a) Ter formação superior em Direito/Ciências sociais e Humanas e/ou especialização
em áreas relacionadas com Direitos Humanos ;
b) Pelo menos 5 anos de experiência em treinamentos em monitoria de Direitos
Humanos e produção de Manuais sobre monitoria e governação baseada em
direitos Humanos em contextos de conflito/fechamento do espaço cívico;

3
7. Prazos de Conclusão
A duração da consultoria incluindo os treinamentos que serão feitos na zona sul, centro
e norte é de 21 dias úteis. O calendário dos treinamentos deverá ser feito o mais tardar
até o fim do 1° trimestre de 2023. O calendário dos treinamentos será programado
depois de apresentado e aprovado o Manual de formação.

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