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EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO REDIBITÓRIA - DECADÊNCIA - MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA

- VÍCIO OCULTO - ART. 445 DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 - PRAZO DECADENCIAL - 30 DIAS DA
CIÊNCIA DO VÍCIO - DECADÊNCIA CONFIGURADA. A decadência constitui matéria de ordem
pública e, por tal razão, pode ser suscitada e apreciada a qualquer tempo e grau de jurisdição.
Ultrapassado o prazo de 30 dias para reclamar vício de bem móvel, nos termos do art. 445 do
Código Civil de 2002, decai o direito da parte de pleitear a reparação pelos danos materiais.
(TJMG - Apelação Cível 1.0027.06.097360-2/003, Relator(a): Des.(a) Arnaldo Maciel , 18ª
CÂMARA CÍVEL, julgamento em 03/12/2019, publicação da súmula em 06/12/2019)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER. AQUISIÇÃO DE


PISO. DIFERENÇAS DE TONALIDADE. ALEGAÇÃO DE VÍCIO OCULTO. RECONHECIMENTO DA
DECADÊNCIA. MANUTENÇÃO. ART. 26, CDC. DECURSO DO PRAZO. Segundo dispõe o art. 26,
CDC, o direito de reclamar pelos vícios aparentes ou de fácil constatação caduca em noventa
dias, tratando-se de fornecimento de serviço e de produtos duráveis, iniciando-se a contagem
do prazo decadencial a partir da entrega efetiva do produto ou do término da execução dos
serviços. Ademais, dispõe o §3º que, em se tratando de vício oculto, o prazo decadencial inicia-
se no momento em que ficar evidenciado o defeito. Considerando as datas da aquisição dos
produtos e da reclamação, e não demonstrado, cabalmente, que o defeito - consistente na
diferença de tonalidades - ficou evidenciado em momento diverso, impõe-se o
reconhecimento da decadência. (TJMG - Apelação Cível 1.0625.14.005671-8/001, Relator(a):
Des.(a) Amauri Pinto Ferreira , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 01/08/2019, publicação da
súmula em 09/08/2019)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA. DESABAMENTO. PAREDE DE IMÓVEL


ADQUIRIDO JUNTO À CONSTRUTORA RÉ. RESPONSABILIDADE. APLICAÇÃO DO CDC. INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA. INVERSÃO OPE LEGIS. VEROSSIMILHANÇA OU HIPOSSUFICIÊNCIA
EXISTENTES. INVERSÃO AUTORIZADA. PRESUNÇÃO DE HIGIDEZ DA CONSTRUÇÃO.
VERIFICAÇÃO DA RUÍNA. VÍCIOS OCULTOS. DANOS MATERIAIS. CONFIGURADO. LUCROS
CESSANTES. CONFIGURADO. DEVER DE INDENIZAR. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO.
FIXAÇÃO DO QUANTUM INDENIZATÓRIO. RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
CIRCUNSTANCIAS DO CASO EM CONCRETO. Para fins de aplicação do CDC a uma relação
jurídica, necessariamente, devem estar presentes as figuradas do consumidor final e
fornecedor. A inversão do ônus probatório não se opera automaticamente às relações de
consumo, se não for ope legis. A indenização por danos materiais visa à recomposição
patrimonial, devendo respeitar os limites dos danos efetivamente causados pelo ato lesivo.
Caracteriza dano de cunho moral o desabamento da construção do imóvel adquirido junto à
construtora. A fixação do quantum a ser solvido a tal título deve ser feita com lastro nas
circunstancias do caso em concreto e em observância aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. (TJMG - Apelação Cível 1.0024.12.148057-8/002, Relator(a): Des.(a)
Amauri Pinto Ferreira , 17ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 27/06/2019, publicação da súmula
em 09/07/2019)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. APARELHO CELULAR. VÍCIO OCULTO


CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO. RESTITUIÇÃO DO VALOR PAGO. INDENIZAÇÃO
POR DANO MORAL. NÃO CONFIGURAÇÃO. Demonstrado nos autos a ocorrência de vício
oculto, não impugnado pela parte ré, cabível a pretensão do desfazimento do negócio nos
termos do art. 18, § 1º, II do CDC, que determina a restituição do preço pago pelo consumidor.
O descumprimento de uma relação contratual, sem qualquer lesão a psique do autor em
decorrência dos fatos, por si só, não enseja reparação por dano moral. Sentença reformada em
parte.

Informativo n. 506 do STJ, “o fornecedor responde por vício oculto de


produto durável decorrente da própria fabricação e não do desgaste natural
gerado pela fruição ordinária, desde que haja reclamação dentro do prazo
decadencial de noventa dias após evidenciado o defeito, ainda que o vício se
manifeste somente após o término do prazo de garantia contratual, devendo
ser observado como limite temporal para o surgimento do defeito o critério
de vida útil do bem. O fornecedor não é, ad aeternum, responsável pelos
produtos colocados em circulação, mas sua responsabilidade não se limita,
pura e simplesmente, ao prazo contratual de garantia, o qual é estipulado
unilateralmente por ele próprio” (STJ – REsp 984.106/SC – Rel. Min. Luis
Felipe Salomão – j. 04.10.2012).
Não se pode esquecer, ademais, que, no vício do produto, há solidariedade
entre todos os envolvidos com o fornecimento, caso do fabricante, do
produtor e do comerciante.
Estabelece o art. 18, caput, do CDC que “Os fornecedores de produtos de
consumo duráveis ou não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou inadequados ao
consumo a que se destinam ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade, com as indicações constantes do
recipiente, da embalagem, rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas
as variações decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas” (com destaques do autor).
“Consumidor. Vício do produto. Faculdade do fornecedor de sanar o vício no
prazo de 30 dias. Impossibilidade no caso concreto do uso imediato pelo
consumidor das alternativas postas à disposição pelo art. 18, § 1º, do CDC.
Ausência de prova mínima quanto ao fato de ter sido oportunizado o
conserto. Sentença mantida. Carência de ação. Recurso improvido” (TJRS –
Recurso Cível 71002384907, Rio Pardo – Segunda Turma Recursal Cível – Rel.
Des. Vivian Cristina Angonese Spengler – j. 14.07.2010 – DJERS 22.07.2010).
As opções judiciais a que tem direito o consumidor nos casos de vícios do
produto constam dos arts. 18 e 19 da Lei 8.078/1990. Como reconheceu
recente julgado do Superior Tribunal de Justiça, trata-se de efetivas opções
do consumidor, que tem o direito de escolher a melhor alternativa para
reparar o vício no produto, de acordo com os seus interesses (STJ – REsp
1.634.851/RJ – Terceira Turma – Rel. Min. Nancy Andrighi – j. 24.12.2017).
Os prazos para reclamar o vício do produto – seja ele de qualidade ou de
quantidade – são decadenciais, nos termos do art. 26 do CDC, eis que as
ações correspondentes são constitutivas negativas. Desse modo, escoados os
prazos, ocorrerá a extinção da ação proposta, com resolução do mérito, nos
termos do art. 487, II, do CPC/2015.
Prazo decadencial de trinta dias, tratando-se de fornecimento de produtos
não duráveis, que são aqueles que desaparecem facilmente com o consumo
(bens consumíveis faticamente, nos termos do art. 86, primeira parte, do
CC/2002). Exemplos: gêneros alimentícios.
Prazo decadencial de noventa dias, tratando-se de fornecimento produtos
duráveis, que são aqueles que não desaparecem facilmente com o consumo
(bens inconsumíveis faticamente, nos termos do art. 86, primeira parte, do
CC/2002). Exemplos: automóveis, imóveis, aparelhos celulares e
eletrodomésticos.
“Entende-se por produto durável aquele que, como o próprio nome
consigna, não se extingue pelo uso, levando certo tempo para se desgastar,
que variará conforme a qualidade da mercadoria, os cuidados que lhe são
emprestados pelo usuário, o grau de utilização e o meio ambiente no qual
inserido. Portanto, natural que um terno, um eletrodoméstico, um
automóvel ou até mesmo um livro, à evidência exemplos de produtos
duráveis, se desgastem com o tempo, já que a finitude é, de certo modo,
inerente a todo bem. Por outro lado, os produtos não duráveis, tais como
alimentos, os remédios e combustíveis, em regra in natura, findam com o
mero uso, extinguindo-se em um único ato de consumo. Assim, por
consequência, nos produtos não duráveis o desgaste é imediato. Diante
disso, o vestido de noiva deve ser classificado como um bem durável, pois
não se extingue pelo mero uso, sendo notório que, por seu valor
sentimental, há quem o guarde para a posteridade, muitas vezes com a
finalidade de vê-lo reutilizado em cerimônias de casamento por familiares
(filhas, netas e bisnetas) de uma mesma estirpe. Há pessoas, inclusive, que
mantêm o vestido de noiva como lembrança da escolha de vida e da emoção
vivenciada no momento do enlace amoroso, enquanto há aquelas que o
guardam para uma possível reforma, seja por meio de aproveitamento do
material (normalmente valioso), do tingimento da roupa (cujo tecido, em
regra, é de alta qualidade) ou, ainda, para extrair lucro econômico, por meio
de aluguel (negócio rentável e comum atualmente)” (STJ – REsp
1.161.941/DF – Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva – j. 05.11.2013, publicado
no seu Informativo n. 533).
no caso de vício oculto, o prazo inicia-se no momento em que ficar
evidenciado o problema (art. 26, § 3º, do CDC). Como ilustração da última
hipótese, cite-se o caso em que o
barulho do veículo somente pode ser percebido após uma determinada
velocidade atingida. Nessa linha, do STJ, “conforme premissa de fato fixada
pela corte de origem, o vício do produto era oculto. Nesse sentido, o dies a
quo do prazo decadencial de que trata o art. 26, § 3º, do Código de Defesa
do Consumidor é a data em ficar evidenciado o aludido vício, ainda que haja
uma garantia contratual, sem abandonar, contudo, o critério da vida útil do
bem durável, a fim de que o fornecedor não fique responsável por solucionar
o vício eternamente” (STJ – REsp 1.123.004/DF – Segunda Turma – Rel. Min.
Mauro Campbell Marques – j. 01.12.2011 – DJe 09.12.2011).
art. 26, § 2º, do CDC, tais prazos podem ser obstados: “Em que pese o Código
Civil realmente incluir entre as causas de interrupção da prescrição atos do
interessado, em momento algum esse diploma fixa o término do período de
‘interrupção’, como faz o CDC. Por outro lado, ao tratar da causa de
suspensão da prescrição, o Código Civil expressamente determina o período
durante o qual essa não correrá, utilizando as expressões como ‘na
constância do matrimônio’ (art. 197, I) e ‘durante o poder familiar’ (art. 197,
II). Ora, tais expressões têm significado idêntico àquelas utilizadas pela
legislação no art. 26 do CDC e levam-nos a concluir se tratar realmente de
suspensão e não de interrupção da decadência” - José Fernando Simão,
professor da Faculdade de Direito da USP.
são hipóteses em que ocorre tal obstação, nos termos da norma
consumerista vigente:
A reclamação comprovadamente formulada pelo consumidor ao fornecedor,
até a respectiva resposta, o que deve ocorrer de forma inequívoca. Deve ficar
claro que tal norma prevalece sobre o art. 18, § 1º, do CDC, ou seja, se o
fornecedor não responde quanto à solução do problema, o prazo
permanecerá obstado. Entender que o prazo volta a correr após os trinta
dias sem a resposta do fornecedor coloca em desprestígio todo o sistema
consagrado para a proteção do vulnerável negocial.
A instauração do inquérito civil pelo Ministério Público até o seu
encerramento. Nos termos do art. 8º da Lei da Ação Civil Pública (Lei
7.437/1985), o inquérito civil é um procedimento administrativo que visa a
investigar ou a dirimir situações de lesão a direitos coletivos, caso dos
direitos dos consumidores. Enuncia o comando legal citado que o Ministério
Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar,
de qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames
ou perícias.

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