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UNIVERSIDADE FUMEC
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
Belo Horizonte
2010
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UNIVERSIDADE FUMEC
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS
Belo Horizonte
2010
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Alana Andrade
Professora Examinadora
XXX
Professor Examinador
AGRADECIMENTOS
RESUMO
A indisciplina tem sido um grande desafio para a educação, no contexto social vigente.
Suas manifestações às vezes são tão exageradas que os professores se vêem diante de um
dilema: o aluno “terror dos professores” é indisciplinado, sem limites, ou é hiperativo e/ou
portador de déficit de atenção? Este trabalho de conclusão de curso vem justamente abordar
este assunto, uma vez que esta problemática tornou-se muito mais comum no ambiente
escolar do que se possa imaginar. O professor, diante da indisciplina exacerbada do aluno,
muitas vezes numa atitude de desespero, convoca a família para procurar ajuda especializada,
na esperança de que suas suspeitas sejam reais. Por estas constatações, abordar os efeitos
destes “diagnósticos” dos professores, bem como definir, analisar e identificar as
características da indisciplina e sua semelhança com transtornos hiperativos são as
preocupações principais deste trabalho de pesquisa que, além da investigação teórica acerca
do assunto, também contou com a investigação de campo, através de um questionário o pré-
conceito existente acerca da indisciplina, intitulando-a como hiperatividade, e por fim, no
último capítulo, apresentar os resultados dos questionários aplicados aos professores, cuja
intenção é a de mostrar o pensar e agir dos educadores das escolas que abriram as portas para
este estudo.
Palavras-chave: Professor – Indisciplina – Hiperatividade.
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ABSTRACT
The indiscipline one has been great challenge for the education, without effective
social context. Its manifestations to the exaggerated times are very that the professors if eyes
ahead of a quandary: the pupil “terror of the professors” indisciplinated is, without limits, or is
carrying hiperactive and/or of deficit of attention? This work of conclusion of course exactly
comes to approach this subject, a time that this problematic one became much more common
not pertaining to school environment of what if it can imaginary. The professor, ahead of the
very indiscipline of the pupil, many times in an attitude of desperation, convokes a family to
look to paragraph specialized aid, in the hope of that the their suspicion are reals..
Constatations for these, effect to approach of these “disgnostic professors” of, definition of as
well, to analyze and to identify as and characteristics of the indiscipline with its similarity
upheavals are hiperactives as main concerns of this work of research, that beyond the
theoretical inquiry concerning the subject, also counted on an inquiry of field, one through an
applied questionnaire professors about the first-conception on the indiscipline, call it like
hiperactividade, and finally, in the last chapter, to present resulted of the questionnaires the
professors applied to, whose it is an intention to show the “to think” and “to act” of the
educators of the schools they had opened that as doors n this study.
Word-key: Teacher - Indiscipline - Hiperactividade.
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LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
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ARTICULAÇÃO TEÓRICA
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 11
I – INDISCIPLINA: o quadro real....................................................................................... 13
II – O PRÉ-CONCEITO: motivo da confusão..................................................................... 18
METODOLOGIA
Métodos e Recursos.............................................................................................................. 24
RESULTADOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................... 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 38
ARTICULAÇÃO TEÓRICA
INTRODUÇÃO
Diante da tarefa do professor de não apenas ensinar, mas mediar a formação do aluno,
no tocante à constituição dos valores do indivíduo e de seu caráter, é que se observa que
alguns equívocos ocorrem dentro e fora da sala de sala, no que se refere à observação das
características pessoais e do processo de aprendizagem de cada aluno.
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convívio familiar, onde o estabelecimento de limites precisa ser bem assimilado. No entanto,
no ambiente escolar, o quadro real tem sido de crianças com um nível de indisciplina e falta
de limites muito exacerbados. No trabalho dentro de sala de aula, percebe-se o quanto os pais
foram inseguros ou omissos em estabelecer disciplina e respeito, pois o indivíduo que vem
para a escola, ainda criança, desafia e provoca negativamente todo o ambiente, conforme
alguns relatos de professores.
Esta falta de limites, presente de forma muito acentuada nos contextos das famílias,
desencadeia em um grande problema para Educação: a indisciplina. Assim, afirma Outeiral
(1994, p. 94): “a indisciplina é o sinônimo de falta de obediência às normas e falta de respeito
à moral e à ética, acarretando problemas de identificação, de dificuldade de diálogo e de
desvio de conduta”. É no trabalho em sala de aula que se observam cenas de indisciplina e de
questionamento às regras da escola, os quais causam grande impacto no grupo. Neste ponto, a
instituição escolar enfrenta enormes dificuldades quanto ao estabelecimento de normas, pois o
aluno indisciplinado, geralmente, nega-se ao diálogo respeitoso e à integração moral junto à
escola, que é o espaço onde se recria e se ensina a vida em sociedade.
Sabe-se, também, que o papel da família na educação e na aprendizagem formal dos
filhos é primariamente fundamental, pois a criança leva para a escola valores já estabelecidos
por sua família e pela comunidade à qual ela pertença. Outeiral (1994, p. 94) ilustra esta
afirmativa quando discorre que “a relação do aluno com a escola é afetada pela significação
que os pais dão a esta”. A partir de então, acreditamos que nem sempre o aluno indisciplinado
age conforme aquilo que é pregado pela família. Às vezes, a criança, dentro do contexto
familiar, é ignorada ou pouco valorizada e, na tentativa de se fazer presente, procura chamar a
atenção para si de alguma forma. Se, no ambiente familiar, a criança está acostumada a
chamar a atenção para se fazer presente, também na escola ela poderá agir da mesma forma,
buscando conquistar seu espaço no grupo, chamando para si a atenção de quem a rodeia, e
este “chamar a atenção”, em alguns momentos, associa-se a ir contra as regras estabelecidas
para a boa ordem e a boa conduta.
Piaget (1996, p.56) discorre sobre o fato de que “a indisciplina é tema e problema
recorrentes nas escolas e para a qual há muito se buscam soluções”. Poder-se-ia acrescentar a
este pensamento que, também há muito, muitas famílias não vêm fazendo o seu dever de casa:
ensinar limites aos filhos, educá-los com carinho e atenção e os entregar à escola prontos para
serem ensinados, não sendo necessário, ainda, serem educados. Neste sentido, acredita-se que
a escola deveria estar encarregada de ensinar e não exercer o papel de educar, que é
primariamente da família.
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Os alunos estão cada vez mais independentes, e, muitas vezes, mais “indisciplinados”
ou sem limites. Assim, esta indisciplina e falta de limites torna-se um problema para
professores e pais, impedindo o andamento esperado do processo ensino-aprendizagem.
Infelizmente, a autonomia dada aos alunos como agentes da própria aprendizagem, para
alguns, é confundida com liberdade total, criando comportamentos bastante afastados das
regras e normas sociais de convivência. Em situações adversas, os professores passam a
rotular o aluno como indisciplinado, gerando preconceitos e outros desgastes graves no
processo educativo. Nesse sentido, quando nem mesmo punições criteriosas ou não (privações
impróprias, com atuações repetitivas, estereotipadas, reproduções de técnicas executadas sem
16
A abordagem feita por este autor demonstra que a indisciplina pode ser considerada
também como um pedido de socorro do aluno para o professor. Assim, o envolvimento do
professor com sua prática e com os alunos é de extrema relevância para a readequação do
aluno com dificuldades comportamentais. Ao invés de adoecer o aluno, chamando-o
“hiperativo”, é mais humano (embora muito mais difícil) trata-lo como um sujeito que requer
atenção e compreensão diante de suas necessidades. talvez nem seja o professor que vai
ajudá-lo, mas, ao dar atenção, poderá compreender, de forma bem mais respeitosa sua
situação, pensando em possibilidades de outros profissionais poderem também colaborar com
esse aluno.
Nesse sentido, fica clara a importância de, primeiro os responsáveis e depois os
professores, reconhecerem que podem e precisam assumir seus papéis na formação de seus
filhos e alunos, e saber que não é uma tarefa fácil. O respeito às diferenças é que formará a
autonomia e o resgate da segurança para um bom desenvolvimento enquanto ser social. O
professor precisa se colocar como mediador em sala de aula e em todo o ambiente escolar e é
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ele quem deverá dar o primeiro passo como suporte diante da necessidade de tornar seu aluno
um ser autônomo e com adequada conduta moral internalizada.
Acerca disso, Piaget (1996, p. 34), diz que “a formação do juízo moral na criança é um
processo em que a criança internaliza um conjunto de regras ao qual deve respeito,
desenvolvendo sua moralidade e seu senso de coletividade, de convivência, de costumes”. Há
que se levar em conta a trajetória de um aluno dito indisciplinado ou conhecido na escola
como “hiperativo”. Quando se pensa em um aluno, especialmente aquele que foge aos
padrões, é preciso lembrar que ele tem uma história de vida única e tem também um histórico
escolar que pode possibilitar compreender seu desenvolvimento enquanto aprendiz. Deve-se
tomar cuidado para que a indisciplina ou a hiperatividade não se tornem preconceitos
causando problemas para o aluno, para a escola e por conseqüência para a família.
Essa discussão visa polemizar os papéis da família, da escola e professor diante da
presença de alunos que não se enquadram no perfil de comportamento socialmente adequado.
Família, escola e professores precisam estar prontos e juntos para se capacitarem na árdua
tarefa de educar os alunos com comportamentos indisciplinados e alunos com hiperatividade.
Para isso é preciso, antes de tudo saber as sutis diferenças e semelhanças entre um e outro,
para depois saber lidar e criar formas de educar cada aluno em sua individualidade, evitando
sempre ações preconceituosas ou rotuladoras, mas, ao contrário, agindo com respeito e ética
na formação de seres sociais adaptados ao convívio humano.
Observando-se uma criança agitada na sala de aula da Educação Infantil, não deve ser
nada fácil saber se ela é ou não portadora de hiperatividade ou apenas apresenta dificuldade
em controlar seus comportamentos. Isto porque a criança, neste nível de desenvolvimento e
nesta fase de escolarização, apresenta conduta marcada pela inquietude, pela curiosidade, pelo
desejo de exploração e conhecimento, e, às vezes, pela falta de atenção diante de tantos
estímulos perceptíveis no mundo.
Então, algumas crianças passam a serem vistas como indisciplinadas, a princípio, e
esta indisciplina pode chegar a ser tão perturbadora que o professor que lida com ela vê-se
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aterrorizado e, muitas vezes, não consegue transpor as barreiras criadas por esses
comportamentos indisciplinados podendo afetar as relações professor-aluno e aluno-aluno.
Uma vez desafiado, o professor que lê e ouve falar sobre assuntos que envolvem
indisciplina, hiperatividade e déficit de atenção, temas comuns no ambiente escolar, e diante
de um aluno que o desafia e apresenta as “características” desses transtornos, apóia-se nesses
conceitos para relatar aos pais e aos colegas de trabalho que o aluno, diante de seu grave
quadro de indisciplina, pode ser um portador de hiperatividade. Contudo,
Com freqüência abandona sua cadeira em sala de aula ou em outras situações nas
quais se espera que permaneça sentado;
Frequentemente corre ou escala em demasia, em situações nas quais isso é
inapropriado (a pessoa deixa nos outros uma sensação de constante inquietação);
Com freqüência tem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em
atividades de lazer;
Está frequentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a “todo vapor”;
Frequentemente fala em demasia. (KOCH & ROSA, 2009, p.21)
Realmente é um desafio reconhecer se uma criança com idade entre 4 e 6 anos, por
exemplo, com comportamento mais agitado, apresenta ou não um quadro de hiperatividade.
No entanto, é necessário muita cautela para que “diagnósticos” prévios da percepção dos
professores não sejam determinantes no “adoecimento” de um aluno, uma vez que uma
criança indisciplinada também se remexe na cadeira, não permanece sentada, corre muito, não
se prende por muito tempo em alguma atividade ou brincadeira. Ora, se está saudável, uma
criança fala muito, é curiosa, inquieta, pois é assim que descobrem o mundo. Pensando nisso,
é importante que o professor observe o nível de freqüência dessas ocorrências e os motivos
porque são praticadas pela criança, comunique-se frequentemente com a família, oferecendo
apoio, sem criar alarde ou confusões exageradas, apenas com o objetivo de colaborar com o
desenvolvimento da criança.
Além dessas observações, há que se voltar a atenção para outros comportamentos,
como as respostas precipitadas, a dificuldade de aguardar a vez, a interrupção e o
intrometimento em assuntos de outros. Essas características, segundo Koch & Rosa (2009),
são também características de indisciplina. Por esta razão, há que se ter cautela em
diagnosticar qualquer sintoma apresentado pelas crianças, - se são questões fisiológicas, ou
seja, uma doença com sintomas comportamentais, ou se é a não aprendizagem básica das
regras de convívio. Assim, conforme alerta Benczik (2002):
Certa dose de teimosia é normal em toda criança e faz parte do processo evolutivo
infantil. Porém, quando teimar, enfrentar e desafiar tornam-se hábito persistente e
exacerbado no cotidiano da criança, acompanhado de atitudes agressivas, isso sugere
um distúrbio-sinal de que alguma coisa não está funcionando bem na sua relação
com os pais, com ela mesma e com o mundo, e as causas devem ser buscadas.
(BENCZIK, 2002, p. 39)
Pelo exposto, não existe uma resposta pronta, uma solução rápida, uma receita mágica
que se ajuste a todos os casos e a todas as crianças, uma vez que a indisciplina é apenas um
sintoma que esconde (ou mostra) um problema. O professor primeiro tem que descobrir o seu
significado, aquilo que a criança manifesta através do sintoma, para depois sair em busca da
abertura de um canal de comunicação que lhe permita lidar e apoiar a criança. Pode parecer
simplista, mas acredita-se que se a educação estivesse um pouco mais humanizada os
problemas decorrentes de discriminação e rótulos dentro das salas de aula seriam bem menos
expressivos. Então, é fundamental que a humanização na educação aconteça, é muito
importante conhecer a criança, sua realidade sócio-familiar, percebê-la como um ser único e
ouvi-la, com um olhar e uma escuta afetiva.
METODOLOGIA
Métodos e Recursos
Para unir as reflexões teóricas à realidade prática, pensando nas relações professor-
aluno, escola-aluno, escola-família, história da vida escolar, no âmbito da diferenciação entre
indisciplina e hiperatividade, este estudo contou com a participação de seis professores que
trabalham com crianças na Educação Infantil, nas redes estadual, municipal e particular de
ensino, no município de Patos de Minas – MG. Esses professores responderam a um
questionário (com perguntas fechadas e abertas) elaborado para este fim e cujas respostas
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RESULTADOS
A REALIDADE DOS FATOS: apresentação de resultados dos questionários aplicados a
professores da Educação Infantil
Dos professores abordados, 50,1% cursaram Pedagogia, não tendo realizado pós-
graduação; 33,3% têm pós-graduação em Educação Especial e 16,6% têm pós-graduação em
Língua Portuguesa. Neste quesito, os entrevistados demonstraram, no mínimo, serem
professores com formação profissional mínima ou já com direcionamento para determinada
área de interesse. Cury (2008, p. 24), ilustra que “bons professores possuem metodologia,
professores fascinantes possuem sensibilidade. (...) Bons professores são didáticos,
professores fascinantes vão além. Possuem sensibilidade para falar ao coração de seus
alunos”. Certamente, um professor experiente terá menos problemas com alunos
indisciplinados, pois terão mais recursos para atuarem com os alunos, assim, o professor
fascinante abolirá a supremacia da didática em prol da construção de um espaço para alunos
mais participativos e mais sábios.
A realidade vivenciada pelos professores nas escolas públicas e privadas é desafiadora,
conforme se vê nos noticiários com frequência; contudo, os alunos que apresentam problemas
nas escolas, são, antes, seres em processo de formação que vivenciam problemas estruturais
na família e na sociedade da qual fazem parte, ou melhor, dela são excluídos, de uma ou
várias formas. E é por isso que os professores precisam ser “fascinantes”, pois, além da falta
de valorização profissional, sem remuneração digna e capacitação continuada, precisam ser
fortes e amáveis o suficiente para tratar e educar seus alunos que clamam por atenção, já que
muitas vezes não a recebem da família e muito menos da sociedade. O professor fascinante é
de acordo com Cury (2008, p. 24) aquele “que acolhe a diferença, a revolta, a agressividade e
ensina e educação, o respeito e a dignidade”.
A partir da segunda pergunta do questionário pretendeu-se conhecer o tempo de
atuação como educador ou professor a fim de interpretar essa informação. Ilustra-se esse item
na Tabela 2:
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Cury (2008), diz que “no passado o conhecimento dobrava em dois ou três séculos. Na
contemporaneidade, o conhecimento dobra a cada cinco anos”. Nesta amostra de educadores
com, no mínimo 12 anos de prática, quanto conhecimento se desfruta através destes
educadores, quando 50,1% deles têm 15 anos de atuação como professor, 16,6% tem 27 anos,
outros 16,6% com 18 anos e 16,6%, com 12 anos de atuação na arte de ensinar. Acredita-se
que a experiência profissional, apesar do desgaste, promove transformações no ambiente
escolar e na formação dos alunos. Assim, os professores, a cada ano de trabalho, a cada
dificuldade vivenciada com alunos, podem usar e ensinar seus conhecimentos buscando a
qualidade de vida dos alunos e introduzindo idéias e ideais de conquistas futuras para suas
vidas.
Para conhecer um pouco mais sobre os agentes educativos abordados na pesquisa, a
terceira pergunta do questionário indaga sobre a modalidade de ensino na qual cada professor
atua.
destes comportamentos dos filhos dentro de casa, e se aqueles seriam repetição de atitudes
comuns e não banidas em casa.
Observando a recorrente aproximação de sentidos entre indisciplina e hiperatividade
no ambiente escolar e entre as famílias, a quinta questão tentou investigar como o professor
diferencia a indisciplina e a hiperatividade quanto a alguns de seus alunos no ambiente
escolar. O resultado é o que se vê na Tabela 5:
TOTAL 14 100,0
Fonte: Questionário aplicado a professores na localidade de Patos de Minas – MG, setembro/2.009.
Gentile (2000) defende, em seu artigo para a Revista Nova Escola, que “os professores
devem ter conhecimento do conflito indisciplina X hiperatividade e aprender a discriminar
entre os dois tipos de problema” (p.30). Sendo assim, o que se verificou entre os professores
investigados é que definem parâmetros de diferenciação muito vagos e relativos, e talvez, por
esta razão, tenha sido comum que se utilizem de “diagnósticos” não especializados acerca da
hiperatividade como forma de justificar algumas posturas e se eximir de maiores
responsabilidades. Assim, constatou-se que 42,85% dos professores entrevistados dizem
diferenciar o aluno indisciplinado do hiperativo justamente pelo fato de que o aluno
indisciplinado consegue terminar tarefas, já o hiperativo não consegue; o aluno hiperativo tem
muita dificuldade na escrita e no desenho, o indisciplinado nem sempre; isto para 35,73% dos
entrevistados. Além disso, 14,28% dos professores mencionaram que, na verdade, somente
fazem a diferenciação quando conversam com os pais ou responsáveis sobre as dificuldades
apresentadas pelo aluno e finalmente, 7,14% alegam que o aluno hiperativo dificilmente se
socializa, enquanto o indisciplinado sempre consegue construir amizades.
29
A partir dessa diferenciação foi proposto aos professores que apontassem recursos
utilizados para a promoção do processo ensino-aprendizagem junto aos alunos com as queixas
comportamentais apresentadas a partir das perguntas 4 e 5, de forma que se pôde construir a
Tabela 6 para verificação dos dados levantados:
Tabela 7: Como a família pode estar presente dentro do ambiente escolar, para que ocorra a
extinção ou minimização da indisciplina e para a promoção de uma aprendizagem
significativa e prazerosa
Presença da família no ambiente escolar Respostas %
30
TOTAL 06 100,0
Fonte: Questionário aplicado a professores na localidade de Patos de Minas – MG, setembro/2.009.
TOTAL 13 100,0
Fonte: Questionário aplicado a professores na localidade de Patos de Minas – MG, setembro/2.009.
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Esta questão pareceu ser um tanto complicada, uma vez que as respostas apuradas,
com exceção de uma, apontam apenas expectativas quanto à confirmação de diagnóstico.
Entende-se, então, que, ao encaminhar um aluno para avaliação especializada a fim de
confirmação ou negação de diagnóstico, os professores, em geral, têm a expectativa de que o
seu “diagnóstico prévio” seja confirmado pelo especialista. Assim, 38,46% apontam como
expectativa a melhoria no comportamento escolar; 30,76% esperam maior apoio familiar nas
atividades do aluno; 23,09% esperam propiciar a aprendizagem mais significativa ao aluno
utilizando atividades específicas. Ocorrendo negação da suspeita pedagógica do diagnóstico,
7,69% acreditam que, se buscarem novas técnicas pedagógicas, conseguirão atingir o aluno
para buscar a aprendizagem e a melhoria no comportamento em sala de aula.
Na realidade, antes mesmo de contemplar a indisciplina de um aluno, os professores
precisam buscar esgotar todas as técnicas e recursos possíveis para a aprendizagem. Não se
questionam as enormes dificuldades de todos os tipos enfrentadas pelos professores dentro de
uma sala de aula, mas um diagnóstico não pode ser usado para produzir ou perpetuar atitudes
rotuladoras e preconceituosas com crianças que apresentam problemas de comportamento. O
alarde sobre o diagnóstico de uma doença no ambiente escolar causa prejuízos internalizados
pela criança por toda sua vida, com sentimentos negativos de inferioridade, insegurança,
impotência. O que se quer demonstrar é a necessidade de não banalização da doença, do uso
excessivo de remédios, é também propor o não uso de atitudes preconceituosas e
discriminatórias no ambiente escolar. Esse estudo quer mostrar que a melhor estratégia para
“curar” a indisciplina e a hiperatividade, é amor, afeto, atenção à criança. Os
acompanhamentos psicoterapêuticos mostram que, em terapia, uma criança, tanto hiperativa
quanto indisciplinada, responde satisfatoriamente a testes e atividades de raciocínio, atenção,
percepção, com comportamentos bastante ajustados quanto à compreensão e internalização de
regras e limites. Contudo, nota-se extrema carência afetiva, nota-se que a criança não está
acostumada a receber atenção, a ter alguém disponível para ouvi-la, para brincar. Essa é,
portanto, a estratégia, e é preciso recriar sua fórmula nos corações dos professores e dos
responsáveis pelas crianças.
O que se observou nas respostas dos professores quanto às conseqüências da
confirmação ou negação do suspeito diagnóstico, foi a abordagem do que é essencialmente
pedagógico, ou seja, mais uma vez, os professores não se aprofundaram na questão, não
mencionaram o papel da escola como formadora de pessoas, uma vez que a família tem
delegado essa função para a escola com muita freqüência. Esse distanciamento do aspecto
34
Quanto a esta questão, Cury (2008) auxilia a compreensão do que se vê na Tabela 11:
“não é o espaço físico e técnico da sala ou as estratégias de ensino que precisam ser
mudadas”, é claro que isso também pode colaborar, mas, “o que precisa ser primeiro
modificado é formação pedagógica e emocional dos professores para que estejam preparados
para lidar com todo tipo de diferenças, conseguindo os maiores benefícios possíveis para a
criança, tornando-a igual competente e segura diante de qualquer situação de sua vida”.
Alves (2005, p. 44) alega ainda que “os professores já são heróis diante de todas as
adversidades do contexto escolar e entrarão para a história de vida de crianças e suas famílias
e para a história da educação como personalidades totalmente realizadas”. Infelizmente,
alguns poucos profissionais tem essa disponibilidade em se envolverem pessoal e
emocionalmente com o processo educativo e de formação de seres auto-suficientes. Assim, o
que se observa nessa pesquisa teórico-prática, é que precisa haver uma capacitação continuada
de professores e educadores e um processo de educação das famílias para que as crianças
tenham instituições de apoio centradas e preparadas para acompanhada de forma sistemática e
competente o desenvolvimento de cada criança, seja qual for a sua dificuldade, respeitando as
individualidades e as diferenças.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho de conclusão de curso, espera-se contribuir para que os professores
reflitam sobre o desafio de construir o processo de ensino e aprendizagem com alunos
indisciplinados, hiperativos, desatentos, com dificuldades de aprendizagem, ou seja, ensinar a
e na diferença. Afinal, é através dos desafios que se aprende: é pelo novo, pelo desconhecido,
pelo instigador que se despertam os recursos para a criação de estratégias de superação de
adversidades. Um aluno hiperativo e um aluno indisciplinado, ambos devem ser tratados
como seres humanos, em processo de formação e, como em todo processo, é preciso lembrar
que há recuos, avanços, declives e aclives para a construção da individualidade.
Muitas vezes, a indisciplina apresenta características que se assemelham a transtornos
como hiperatividade e déficit de atenção, embora, já se saiba, a incidência de TDAH seja de
5%, devendo ser diagnosticada a partir dos sete anos. No entanto, todo cuidado é pouco para
se evitar de rotular um aluno. O importante é ter em mente que comportamentos desajustados
podem ser, em geral, um pedido de ajuda, um grito por atenção. Antes de qualquer atitude
preconceituosa, é preciso buscar estratégias de envolvimento e de incentivo. Ao professor, é
imprescindível ensinar com emoção, valorizar a auto-estima, evitar a discriminação, promover
36
a solidariedade, buscar soluções para conflitos dentro e fora da sala de aula, trabalhar perdas e
frustrações e sabiamente interpretar conflitos e atitudes.
Nota-se que muito do processo educativo está delegado à responsabilidade dos
professores, afinal, as famílias, muitas vezes, estão inertes e alheias aos desafios da educação
de seus filhos. Também sob a responsabilidade dos professores, além de tudo o que se falou
neste estudo, está sendo colocada a necessidade de se educar a emoção, ensinar o amor, a
alegria de aprender, o fascínio de viver a vida.
Nas escolas onde se desenvolveu a pesquisa de campo, foi possível constatar que o
professor prepara um relatório, descreve todas as “peripécias da criança”, talvez na tentativa
de expressar sua aflição, e sugere à família que busque ajuda especializada, uma vez que, em
decorrência de tudo aquilo que está ali descrito, precisa de ajuda para esta criança. Nota-se
também, portanto, o desconforto, o desespero e o despreparo de muitos professores, sem lhes
culpar, ao contrário, na tentativa de fomentar a idéia de que é preciso haver preparo da
sociedade, através das políticas públicas, para aceitar e conviver com as diferenças,
colaborando para o progresso e qualidade de vida das pessoas. Nesse sentido, a escola assume
um papel fundamental, necessitando que seus profissionais estejam prontos para acompanhar
cada dificuldade de um aluno em prol de seu desenvolvimento.
Dentro de um universo de alunos, lidar com a indisciplina não é fácil, é um desafio
contínuo, mas, seguir um atalho e associá-la a transtornos ou doenças, conforme se discutiu
no corpo deste trabalho, gera uma situação mais complexa ainda, uma vez que o caminho a
seguir, mesmo que longo e tortuoso, é direcionar a prática pedagógica para a formação de
pessoas autenticamente preparadas para atuar no mundo de forma crítica e socializada. O
papel do professor é fundamental, não para diagnosticar uma doença, mas para atuar com os
alunos, em suas diversidades, observando sim seus comportamentos e direcionando
possibilidades de atenção a esses alunos, mas nunca rotulando ou enquadrando o aluno em um
perfil que possa comprometer seu desenvolvimento biopsicossocial.
Ora, medicar o aluno para que ele se torne mais tranqüilo, termine atividades, não
perturbe a aula, não incomode o colega, não bata, não belisque, não fale alto, não se intrometa
em assuntos que não lhe dizem respeito, lhe tira sua condição natural de ser criança. A
medicalização pode amenizar muitos comportamentos, contudo, não se sabe ainda quais os
efeitos desse uso ao longo da vida. Além disso, pode acontecer de, em alguns casos, como
tem se tornado corriqueiro o uso de termos associados a “hiperativo”; crianças serem
medicadas sem real necessidade, ao invés de serem tratadas pela técnica natural da atenção,
do apoio, da compreensão, já que a criança passa a ser como as outras, mas, seus sentimentos
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
GENTILE, P. Indisciplinado ou hiperativo. Nova Escola. São Paulo: Abril, p. 30, maio de
2.000.
39
APÊNDICE 1
( ) Ensino Médio
( ) Ensino Superior
1. Que recursos você, como educador(a), utiliza para promover o processo de ensino
aprendizagem com alunos indisciplinados, dentro e fora de sua sala de aula?
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
2. A família e a escola precisam, dentro do ambiente escolar, ser equipe, ambas com os
mesmos princípios e critérios. Para você educador(a), como a família pode estar
presente dentro do ambiente escolar, para que aconteça, de fato, a extinção ou
minimização da indisciplina e consequentemente a promoção de uma aprendizagem
mais significativa e prazerosa?
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