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Recur So
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º ano
Exercícios resolvidos 76
2. Conteúdos programáticos 10
Capítulo II – Escrita
3. Gil Vicente 98
Apresentação geral 35
Apresentação geral 99
Conteúdos essenciais 36
Conteúdos essenciais 100
1. Síntese 36
1. Contextualização histórico-literária 100
2. Exposição sobre um tema 41
2. Características do texto dramático 104
3. Apreciação crítica 44
Síntese de conteúdos 46
Farsa de Inês Pereira 107
1. Natureza e estrutura da obra: a farsa 107
Exercícios resolvidos 47
2. Caracterização das personagens /
Relações entre as personagens 110
Capítulo III – Educação Literária 3. A representação do quotidiano 121
1. Poesia trovadoresca 50 4. A dimensão satírica 122
2
ISBN 978-972-0-00249-5
Auto da Feira 131 Capítulo IV – Gramática
1. Natureza e estrutura da obra: o auto 131
Apresentação geral 228
2. Caracterização das personagens /
Relações entre as personagens 135 Conteúdos essenciais 229
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Capítulo III · Educação Literária
Com esta distinção em mente, passemos à análise de algumas cantigas de cariz satírico.
Caracterização temática
• A composição apresentada enquadra-se nas chamadas cantigas de escárnio já que se critica, de
forma indireta (o nome nunca é referido), a atitude, o comportamento de uma dona (aludindo-se,
assim, à senhor das cantigas de amor) que quer ser louvada, apesar de não possuir atributos para tal,
pois é “fea, velha e sandia”.
• Por essa razão, esta cantiga é também considerada uma paródia do amor cortês, pois é uma imita-
ção de uma cantiga de amor com um propósito irónico e cómico.
• A ironia é, aliás, evidente ao longo da cantiga. Vejamos:
– a dona queixou-se de não ser louvada e manifestou um grande desejo em sê-lo; o poeta parece
aceder a esse desejo – “mais ora quero fazer um cantar / em que vos loarei todavia” (1.ª estrofe); “vos
quero já loar todavia; / e vedes qual será a loaçom” (2.ª estrofe); “mais ora já um bom cantar farei / em
que vos loarei todavia” (3.ª estrofe);
– no entanto, apesar de o sujeito poético louvar a dona, não o faz da maneira que esta pretenderia,
uma vez que o louvor repetido no refrão é: “dona fea, velha e sandia!”
• O refrão assinala, assim, o efeito cómico que se cria ao elogiar-se não uma dona bela, jovem e com
bom senso, como é habitualmente retratada nas cantigas de amor, mas antes uma mulher cuja ima-
gem é extramente negativa.
Glossário
v. 1 – Roi Queimado – poeta trovador que viveu nos reinados de D. Afonso III e de D. Dinis
v. 4 – por se meter por mais trobador – para se dar ares de grande trovador
v. 5 – nom quis[o] bem fazer – corresponder ao seu amor
v. 7 – mais – mas
v. 10 – faz i maestria – faz versos como mestre
v. 11 – há sabor – tem prazer
v. 12 – e des i d'ar viver – e desde então torna a viver
v. 14 – per rem – por coisa nenhuma; nõn’o – não o
v. 20 – des i ar vive – depois disso volta a viver
v. 21 – mais quen’o cuidaria – mais do que poderia supor
v. 23 – pois morrer, de viver – (o poder…) de, depois de morrer, viver
Caracterização temática
• Nesta cantiga é feita uma crítica direta e explícita a um poeta – Roi Queimado – que, nas suas compo-
sições e por causa do amor por uma dona, estava sempre a morrer, mas continuava a viver. Trata-se,
por isso, de uma cantiga de maldizer, que põe a ridículo o comportamento desse poeta.
• Critica-se, assim, de forma mordaz e irónica, a morte de amor tão convencional, tão frequente e artifi-
cial das cantigas de amor:
– Roi Queimado afirmou nas suas cantigas que estava tão apaixonado por uma dona que, por ela,
morreu de amor;
– fez tudo isto para provar que era um trovador com grandes qualidades (“e por se meter por mais
trobador”);
– o problema é que parece ter ressuscitado ao terceiro dia, pois ainda está vivo (“mais ressurgiu depois
ao tercer dia”).
• Para satirizar o poder que Roi Queimado parece ter, o de morrer e depois viver, o sujeito poético
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recorre à ironia: “mais ressurgiu depois ao tercer dia” (alusão à ressurreição de Jesus Cristo); “Esto faz el,
que x’o pode fazer, / mais outr’homem per rem nõn’o faria”; “vedes que poder / que Ihi Deus deu – mais
quen’o cuidaria!”. Aliás, na última estrofe, remate da cantiga (finda), o próprio sujeito poético revela o
desejo de também ele possuir esse poder.
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Capítulo III · Educação Literária
• Por fim, podemos ainda considerar que os dotes poéticos de Roi Queimado são igualmente alvo de
Martim Soares
(B 1366, V 974)
Glossário
v. 1 – jograr – jogral
v. 2 – infançom – designação dada aos membros da nobreza que tinham menos poder e recursos
v. 3 – por dom – como pagamento
v. 5 – fui – foi
v. 8 – partir – repartir
v. 11 – jograrom – designação depreciativa de jogral
Caracterização temática
• Cantiga de maldizer, na qual o sujeito poético critica de forma direta o jogral Lopo e o seu cantar, que
é tão sem jeito que, na opinião do sujeito poético, mereceria mais que “três couces na garganta”.
• Ao mesmo tempo, também se faz aqui uma sátira, através do recurso à ironia, ao infanção miserável:
“Escasso foi o infançom / em seus couces partir em dom”.
74 • Uso de termos populares para criar um efeito cómico, por exemplo, “couces”.
Síntese de conteúdos
Síntese de conteúdos
Género Sujeito Representação Espaços, Linguagem,
poético de afetos e protagonistas e estilo
emoções circunstâncias e estrutura
Cantigas • Voz masculina • Paródia do amor cortês • Ambiente palaciano • Sátira, cómico
de escárnio (trovador) que faz (louvor da dona; morte e da corte • Recursos
e maldizer uma crítica indireta por amor) expressivos:
(cantiga de escárnio) • Crítica de costumes ex.: ironia
ou direta (cantiga de (falta de dotes poéticos
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maldizer) de um trovador,
a miséria de elementos
da nobreza, etc.)
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