Você está na página 1de 7

Português 10.

º ano

A cópia ilegal viola os direitos dos autores.


Os prejudicados somos todos nós.
Oo
Índice
Parte I – Conteúdos programáticos 1. Contextualização histórico-literária /
Espaços medievais, protagonistas
– 10.º ano e circunstâncias 52

CPEN-P10 © Porto Editora


Preparação ao longo do ano 2. Representações de afetos e emoções 56
1. Conselhos úteis 6 3. Linguagem, estilo e estrutura 57
1.1. Métodos e estratégias de trabalho 4. Cantigas de amigo 59
e de estudo 6
5. Cantigas de amor 67
1.2. Testes de avaliação 8
6. Cantigas de escárnio e maldizer 71
1.3. Recursos de apoio ao estudo 8
1.4. Estrutura do Exame Final Nacional 9 Síntese de conteúdos 75

Exercícios resolvidos 76
2. Conteúdos programáticos 10

2. Fernão Lopes, Crónica


Capítulo I – Leitura de D. João I 79
Apresentação geral 15
Apresentação geral 80
Conteúdos essenciais 16
Conteúdos essenciais 81
1. Relato de viagem 16
1. Contexto histórico 81
2. Exposição sobre um tema 19
2. Afirmação da consciência coletiva 83
3. Apreciação crítica 22
3. Atores individuais e coletivos 84
4. Cartoon 25
4. Capítulos 11, 115 e 148 da 1.ª Parte 85
Síntese de conteúdos 26
Síntese de conteúdos 95
Exercícios resolvidos 27
Exercícios resolvidos 96

Capítulo II – Escrita
3. Gil Vicente 98
Apresentação geral 35
Apresentação geral 99
Conteúdos essenciais 36
Conteúdos essenciais 100
1. Síntese 36
1. Contextualização histórico-literária 100
2. Exposição sobre um tema 41
2. Características do texto dramático 104
3. Apreciação crítica 44

Síntese de conteúdos 46
Farsa de Inês Pereira 107
1. Natureza e estrutura da obra: a farsa 107
Exercícios resolvidos 47
2. Caracterização das personagens /
Relações entre as personagens 110
Capítulo III – Educação Literária 3. A representação do quotidiano 121
1. Poesia trovadoresca 50 4. A dimensão satírica 122

Apresentação geral 51 5. Linguagem e estilo 128

Conteúdos essenciais 52 Síntese de conteúdos 130

2
ISBN 978-972-0-00249-5
Auto da Feira 131 Capítulo IV – Gramática
1. Natureza e estrutura da obra: o auto 131
Apresentação geral 228
2. Caracterização das personagens /
Relações entre as personagens 135 Conteúdos essenciais 229

3. A representação do quotidiano 149 1. O português: génese, variação e mudança 229


Exercícios resolvidos 233
4. A dimensão religiosa 150
5. A representação alegórica 151 2. Morfologia 234

6. Linguagem e estilo 152 Exercícios resolvidos 236

Síntese de conteúdos 155 3. Classes de palavras 237


Exercícios resolvidos 241
Exercícios resolvidos 156
4. Sintaxe 242
Exercícios resolvidos 247
4. Luís de Camões, Rimas 160
5. Lexicologia 248
Apresentação geral 161
Exercícios resolvidos 249
Conteúdos essenciais 162
6. Semântica 250
1. Contextualização histórico-literária 162
Exercícios resolvidos 251
2. Linguagem, estilo e estrutura 166
3. Temáticas estruturantes do lirismo 7. Discurso, pragmática e linguística textual 252
camoniano 172 Exercícios resolvidos 254

Síntese de conteúdos 187 Recursos expressivos 255

Exercícios resolvidos 189

Parte II – Exames-tipo 10.º ano


5. Luís de Camões, Os Lusíadas 191
Apresentação geral 258
Apresentação geral 192
Exames-tipo
Conteúdos essenciais 193 Exame-tipo 1 259
1. Contextualização histórico-literária 193 Exame-tipo 2 264
2. Visão global 194 Sugestões de resolução 270
3. Reflexões do Poeta 217
CPEN-P10 © Porto Editora

4. Linguagem e estilo 220

Síntese de conteúdos 224

Exercícios resolvidos 225

3
Capítulo III · Educação Literária

Com esta distinção em mente, passemos à análise de algumas cantigas de cariz satírico.

CPEN-P10 © Porto Editora


Ai dona fea, fostes-vos queixar
Ai dona fea, fostes-vos queixar Dona fea, nunca vos eu loei
que vos nunca louv'en’[o] meu cantar; em meu trobar, pero muito trobei;
mais ora quero fazer um cantar 15 mais ora já um bom cantar farei
em que vos loarei todavia; em que vos loarei todavia;
5 e vedes como vos quero loar: e direi-vos como vos loarei:
dona fea, velha e sandia! dona fea, velha e sandia!

Dona fea, se Deus mi pardom, João Garcia de Guilhade


pois havedes [a]tam gram coraçom (B 1486, V 1097)
que vos eu loe, em esta razom
10 vos quero já loar todavia; Glossário
e vedes qual será a loaçom: v. 5 – loar – louvar
v. 6 – sandia – louca, doida
dona fea, velha e sandia! v. 8 – pois havedes [a]tam gram coraçom
– tendes tanto desejo
Graça Videira Lopes, Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores v. 9 – em esta razom – por este motivo
e Jograis Galego-Portugueses, Lisboa, Editorial Estampa, 2002, p. 207 v. 14 – pero – ainda que, pois

Caracterização temática
• A composição apresentada enquadra-se nas chamadas cantigas de escárnio já que se critica, de
forma indireta (o nome nunca é referido), a atitude, o comportamento de uma dona (aludindo-se,
assim, à senhor das cantigas de amor) que quer ser louvada, apesar de não possuir atributos para tal,
pois é “fea, velha e sandia”.
• Por essa razão, esta cantiga é também considerada uma paródia do amor cortês, pois é uma imita-
ção de uma cantiga de amor com um propósito irónico e cómico.
• A ironia é, aliás, evidente ao longo da cantiga. Vejamos:
– a dona queixou-se de não ser louvada e manifestou um grande desejo em sê-lo; o poeta parece
aceder a esse desejo – “mais ora quero fazer um cantar / em que vos loarei todavia” (1.ª estrofe); “vos
quero já loar todavia; / e vedes qual será a loaçom” (2.ª estrofe); “mais ora já um bom cantar farei / em
que vos loarei todavia” (3.ª estrofe);
– no entanto, apesar de o sujeito poético louvar a dona, não o faz da maneira que esta pretenderia,
uma vez que o louvor repetido no refrão é: “dona fea, velha e sandia!”
• O refrão assinala, assim, o efeito cómico que se cria ao elogiar-se não uma dona bela, jovem e com
bom senso, como é habitualmente retratada nas cantigas de amor, mas antes uma mulher cuja ima-
gem é extramente negativa.

Marcas das cantigas de escárnio


• A crítica ao objeto de louvor – “dona fea, velha e sandia” –, evitando-se a identificação direta, aponta
para o escárnio e para a sátira.
• A linguagem rude (às vezes, grosseira) está identificada com a poesia satírica. Veja-se, a título de
exemplo, a tripla adjetivação do refrão: “fea, velha e sandia”.
72
1 · Poesia trovadoresca

Roi Queimado morreu com amor


Roi Queimado morreu com amor 15 E nom há já de sa morte pavor,
em seus cantares, par Santa Maria, senom sa morte mais la temeria,
por ũa dona que gram bem queria; mais sabe bem, per sa sabedoria,
e por se meter por mais trobador, que viverá, des quando morto for;
5 porque lh’ela nom quis[o] bem fazer, e faz-[s’] em seu cantar morte prender,
feze-s'el em seus cantares morrer; 20 des i ar vive: vedes que poder
mais ressurgiu depois ao tercer dia. que lhi Deus deu – mais quen’o cuidaria!

Esto fez el por ũa sa senhor E se mi Deus a mi desse poder


que quer gram bem; e mais vos en diria: qual hoj’el há, pois morrer, de viver,
10 porque cuida que faz i maestria, jamais [eu] morte nunca temeria.
en’os cantares que fez há sabor
Pero Garcia Burgalês
de morrer i e des i d'ar viver.
(B 1380, V 988)
Esto faz el, que x’o pode fazer,
mais outr’homem per rem nõn’o faria.

Graça Videira Lopes, Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores


e Jograis Galego-Portugueses, Lisboa, Editorial Estampa, 2002, p. 412

Glossário
v. 1 – Roi Queimado – poeta trovador que viveu nos reinados de D. Afonso III e de D. Dinis
v. 4 – por se meter por mais trobador – para se dar ares de grande trovador
v. 5 – nom quis[o] bem fazer – corresponder ao seu amor
v. 7 – mais – mas
v. 10 – faz i maestria – faz versos como mestre
v. 11 – há sabor – tem prazer
v. 12 – e des i d'ar viver – e desde então torna a viver
v. 14 – per rem – por coisa nenhuma; nõn’o – não o
v. 20 – des i ar vive – depois disso volta a viver
v. 21 – mais quen’o cuidaria – mais do que poderia supor
v. 23 – pois morrer, de viver – (o poder…) de, depois de morrer, viver

Caracterização temática
• Nesta cantiga é feita uma crítica direta e explícita a um poeta – Roi Queimado – que, nas suas compo-
sições e por causa do amor por uma dona, estava sempre a morrer, mas continuava a viver. Trata-se,
por isso, de uma cantiga de maldizer, que põe a ridículo o comportamento desse poeta.
• Critica-se, assim, de forma mordaz e irónica, a morte de amor tão convencional, tão frequente e artifi-
cial das cantigas de amor:
– Roi Queimado afirmou nas suas cantigas que estava tão apaixonado por uma dona que, por ela,
morreu de amor;
– fez tudo isto para provar que era um trovador com grandes qualidades (“e por se meter por mais
trobador”);
– o problema é que parece ter ressuscitado ao terceiro dia, pois ainda está vivo (“mais ressurgiu depois
ao tercer dia”).
• Para satirizar o poder que Roi Queimado parece ter, o de morrer e depois viver, o sujeito poético
CPEN-P10 © Porto Editora

recorre à ironia: “mais ressurgiu depois ao tercer dia” (alusão à ressurreição de Jesus Cristo); “Esto faz el,
que x’o pode fazer, / mais outr’homem per rem nõn’o faria”; “vedes que poder / que Ihi Deus deu – mais
quen’o cuidaria!”. Aliás, na última estrofe, remate da cantiga (finda), o próprio sujeito poético revela o
desejo de também ele possuir esse poder.
73
Capítulo III · Educação Literária

• Por fim, podemos ainda considerar que os dotes poéticos de Roi Queimado são igualmente alvo de

CPEN-P10 © Porto Editora


crítica, já que se diz dele “por se meter por mais trobador” e “porque cuida que faz i maestria”.
• Esta cantiga demonstra o artificialismo dos trovadores e das convenções poéticas do amor cortês.

Marcas das cantigas de maldizer


• Voz masculina que manifesta a sua posição crítica perante o comportamento ridículo de um poeta
específico (Roi Queimado) e perante uma convenção – a morte por amor.
• Efeito cómico, obtido através das antíteses – “morrer” / “viver” (v. 12), “morrer” / “viver” (v. 23) e da ironia.

Foi um dia Lopo jograr


Foi um dia Lopo jograr
a cas d’um infançom cantar;
e mandou-lh’ele por dom dar
três couces na garganta;
5 e fui-lh’escass’, a meu cuidar,
segundo com’el canta.

Escasso foi o infançom


em seus couces partir em dom,
ca nom deu a Lop[o], entom,
10 mais de três na garganta;
e mais merece o jograrom,
segundo com’el canta.

Martim Soares
(B 1366, V 974)

Graça Videira Lopes, Cantigas de Escárnio e Maldizer dos Trovadores


e Jograis Galego-Portugueses, Lisboa, Editorial Estampa, 2002, p. 317 Representação de jogral e flautista, século XI.

Glossário
v. 1 – jograr – jogral
v. 2 – infançom – designação dada aos membros da nobreza que tinham menos poder e recursos
v. 3 – por dom – como pagamento
v. 5 – fui – foi
v. 8 – partir – repartir
v. 11 – jograrom – designação depreciativa de jogral

Caracterização temática
• Cantiga de maldizer, na qual o sujeito poético critica de forma direta o jogral Lopo e o seu cantar, que
é tão sem jeito que, na opinião do sujeito poético, mereceria mais que “três couces na garganta”.
• Ao mesmo tempo, também se faz aqui uma sátira, através do recurso à ironia, ao infanção miserável:
“Escasso foi o infançom / em seus couces partir em dom”.

Marcas das cantigas de maldizer


• Voz masculina que ridiculariza uma figura concreta – o jogral Lopo e o seu cantar.

74 • Uso de termos populares para criar um efeito cómico, por exemplo, “couces”.
Síntese de conteúdos

Síntese de conteúdos
Género Sujeito Representação Espaços, Linguagem,
poético de afetos e protagonistas e estilo
emoções circunstâncias e estrutura

Cantigas • Voz feminina • Variedade do • Ambiente doméstico • Paralelismo


de amigo (donzela, menina) sentimento amoroso: e familiar, marcada- • Refrão
amor, saudade, tristeza, mente feminino
• Recursos
mágoa, ansiedade, (donzela ou menina
expressivos:
alegria e as amigas, ou a mãe
ex.: personificação,
• Confidência amorosa e a filha)
comparação,
à Natureza, às amigas, • Ambiente coletivo apóstrofe
à mãe (romaria, santuário)
• Relação com a • Ambiente rural e
Natureza: confidente natural (campo,
(personificação), rio, mar)
em harmonia com o
estado de espírito
da donzela

Cantigas • Voz masculina • Coita de amor – paixão • Ambiente aristocrático • Cantiga de


de amor (trovador) que se infeliz, sofrimento por (nobres, rei, senhores) mestria (sem
dirige à sua amada amor, que pode levar • Palácio refrão) ou com
(sua senhor) à morte por amor recurso a refrão
• Corte
• Elogio cortês – louvor • Recursos
• Ambiente marcado
da senhor, modelo expressivos:
por um código e por
de beleza e virtude ex.: adjetivação,
convenções (amor
hipérbole,
cortês, a mesura,
comparação
a cortesia)

Cantigas • Voz masculina • Paródia do amor cortês • Ambiente palaciano • Sátira, cómico
de escárnio (trovador) que faz (louvor da dona; morte e da corte • Recursos
e maldizer uma crítica indireta por amor) expressivos:
(cantiga de escárnio) • Crítica de costumes ex.: ironia
ou direta (cantiga de (falta de dotes poéticos
CPEN-P10 © Porto Editora

maldizer) de um trovador,
a miséria de elementos
da nobreza, etc.)

75

Você também pode gostar