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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.816.482 - SP (2019/0144247-0)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO
EM SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680
EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL. EX-EMPREGADOS


APOSENTADOS. PERMANÊNCIA NO PLANO DE SAÚDE COLETIVO. ART.
31 DA LEI N. 9.656/1988. DEFINIÇÃO ACERCA DAS CONDIÇÕES
ASSISTENCIAIS E DE CUSTEIO.
1. Delimitação da controvérsia
Definir quais condições assistenciais e de custeio do plano de saúde devem
ser mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei n.
9.656/1998.
2. Teses definidas para os fins do art. 1.036 do CPC/2015
a) "Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço,
de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção
da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei n.
9.656/1998, devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins de
cálculo da manutenção proporcional ou indeterminada do trabalhador
aposentado no plano coletivo empresarial."
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b) "O art. 31 da lei n. 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam
inseridos em plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições
de cobertura assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo
o universo de beneficiários, a igualdade de modelo de pagamento e de
valor de contribuição, admitindo-se a diferenciação por faixa etária se for
contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio integral, cujo valor
pode ser obtido com a soma de sua cota-parte com a parcela que, quanto
aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo empregador."
c) "O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da
Lei n. 9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano
privado de assistência à saúde vigente na época da aposentadoria,
podendo haver a substituição da operadora e a alteração do modelo de
prestação de serviços, da forma de custeio e os respectivos valores, desde
que mantida paridade com o modelo dos trabalhadores ativos e facultada a
portabilidade de carências."
3. Julgamento do caso concreto
a) Inaplicabilidade do art. 30 da Lei n. 9.656/1998, tendo em vista que o
prazo de 10 (dez) anos disciplinado no art. 31 do mesmo diploma
encontra-se comprovado, decorrendo da somatória de todos os períodos de
contribuição envolvendo várias operadoras de planos de saúde contratadas
sucessivamente pelo ex-empregador.
b) Ofensa ao art. 31 da Lei n. 9.656/1998 não caracterizada, tendo em vista
que os empregados ativos e os ex-empregados inativos, conforme decidido
pelo Tribunal de origem, devem encontrar-se vinculados a um único plano
de saúde, sem distinções.
c) Acolher as razões recursais com o propósito de modificar o contexto
fático-probatório inserido no acórdão recorrido encontra óbice na Súmula n.
7 do STJ.
4. Recurso especial a que se nega provimento.
ACÓRDÃO

Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Villas Bôas


Cueva acompanhando o Sr. Ministro Relator e propondo revisão das teses repetitivas, a
Segunda Seção, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do Sr. Ministro Relator.
Para os fins repetitivos, foram fixadas as seguintes teses:
"a) Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço,
de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção da contagem
do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei nº 9.656/1998, devendo haver a
soma dos períodos contributivos para fins de cálculo da manutenção proporcional ou
indeterminada do trabalhador aposentado no plano coletivo empresarial.
b) O art. 31 da Lei nº 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam
inseridos em plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições de cobertura
assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo o universo de beneficiários,

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a igualdade de modelo de pagamento e de valor de contribuição, admitindo-se a
diferenciação por faixa etária se for contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio
integral, cujo valor pode ser obtido com a soma de sua cota-parte com a parcela que,
quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo empregador.
c) O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei
nº 9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de
assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo haver a substituição da
operadora e a alteração do modelo de prestação de serviços, da forma de custeio e dos
respectivos valores, desde que mantida a paridade com o modelo dos trabalhadores
ativos e facultada a portabilidade de carências."
Vencida, em parte, apenas em relação à parte final da tese, "e facultada a
portabilidade de carências", a Sra. Ministra Nancy Andrighi. Os Srs. Ministros Ricardo
Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Nancy Andrighi, Luis Felipe
Salomão, Raul Araújo e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Moura Ribeiro.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.
Consignados pedidos de preferência pelo amicus curiae UNIMED DO
BRASIL CONFEDERAÇÃO NACIONAL DAS COOPERATIVAS MÉDICAS, representado
pelo Dr. JOSÉ CLÁUDIO RIBEIRO OLIVEIRA, e pelo amicus curiae FEDERAÇÃO
NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, representado pela Dra. ALICE BERNARDO
VORONOFF DE MEDEIROS.
Brasília-DF, 09 de dezembro de 2020 (Data do Julgamento)

Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA


Relator

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ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
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ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
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PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO
EM SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
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RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA (Relator):


Trata-se de recurso especial interposto por Fundação Sabesp de Seguridade Social –
SABESPREV, com fundamento no art. 105, III, "a", da CF, contra acórdãos do TJSP assim
ementados:
APELAÇÃO – PLANO DE SAÚDE – Pretensão do ex-funcionário de ser mantido,
juntamente com sua dependente, no plano de saúde nos termos do art. 31, da L
9.656/98, sob as mesmas condições vigentes ao tempo em que estava na ativa,
inclusive em relação ao valor da mensalidade – Alegação de majoração abusiva do
valor com o oferecimento de plano exclusivo para inativos – Preliminar – Não
caracterizada hipótese prevista pelo § 1º, do art. 489, do CPC – Sentença
devidamente fundamentada – Cumpridas as exigências do art. 31, da L 9.656/98 –
Ex-funcionário demitido sem justa causa, quando já aposentado, que contribuiu
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para o plano por mais de dez anos – Inadmissibilidade da diferenciação de custos
entre ativos e inativos – RN 279/11 da ANS, por possuir caráter restritivo, não se
sobrepõe à L 9.656/98 – Condenação da ré à manutenção do autor e sua
dependente no plano fornecido aos funcionários da ativa, desde que assuma a
parcela patronal – Direito à continuidade como beneficiário que não implica o de
pagar o mesmo custo antes existente, mas sim o de pagar os custos atuais, com
a assunção da parcela paga pela ex-empregadora, a ser apurada em liquidação –
Sentença de procedência mantida, mas com observação no tocante ao valor da
mensalidade – DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO. (e-STJ fl. 566.)

EMBARGOS DECLARATÓRIOS – Pretensão de pré-questionamento e efeito


modificativo – Alegação de contradição e omissão – Erro material consistente na
menção ao CDC, embora se trate de plano de autogestão – Acolhimento para
suprimir do v. Acórdão a incidência da legislação consumerista como um dos
fundamentos, evitando-se, assim, ofensa à súmula do C. STJ – Ausência de vício
no tocante às demais alegações – EMBARGOS DECLARATÓRIOS ACOLHIDOS,
SEM EFEITOS MODIFICATIVOS. (e-STJ fl. 716.)

Narra a recorrente que "cuidam os autos de Ação de Obrigação de Fazer,


ajuizada pelo Recorrido com o objetivo de ser mantido no plano de assistência médica
destinado aos empregados ativos da SABESP, o Plano Pleno, no qual permaneceu como
beneficiário pelo período de 01 ano, em razão da cessão dos empregados da SANED
(Companhia de Saneamento de Diadema – sua ex-empregadora) para a SABESP" (e-STJ
fl. 587). Acrescenta que "aduziu o Recorrido que possui direito de manter vínculo ao
mesmo plano de saúde que usufruiu no último ano da vigência de seu contrato de
trabalho com a SANED, com fundamento no artigo 31, da Lei 9.656/98, tentando fazer crer
que contribuiu para esse plano por 20 anos" (e-STJ fl. 587).
Acerca das decisões proferidas na instância ordinária e da afronta à
legislação federal, a recorrente alega que:
O MM. Juízo de primeiro grau proferiu sentença de procedência da ação (fls.
371/378) para condenar a SABESPREV a manter o Recorrido e sua dependente
no mesmo plano de saúde que utilizaram no último ano da vigência do contrato de
trabalho do titular, por tempo indeterminado, mediante o pagamento integral
existente na época da rescisão do contrato de trabalho (2015).
Interposta apelação pela SABESPREV, o E. Tribunal de Justiça a quo deu parcial
provimento ao recurso, para manter o Recorrido no mesmo plano de saúde dos
empregados ativos, porém, mediante o pagamento do valor integral atualizado da
mensalidade.
Em sua fundamentação, o E. Tribunal de Justiça de São Paulo afirmou que (i) não
deve ser aplicado o artigo 30, § 1º, da Lei 9.656/98, pois deve ser computado o
período que o Recorrido contribuiu com outros planos de saúde, e não apenas no
Plano Pleno, e (ii) ao interpretar o artigo 31 da mesma lei, afirmou que o Recorrido
deve ser mantido no Plano Pleno e não em plano exclusivo para ex-empregados,
pois seria "inviável a segregação das apólices dos funcionários ativos e dos
inativos" (fls. 577).
Nesse contexto, restou negada vigência ao artigo 30, § 1º da Lei 9.656/98, pois o
próprio acórdão reconhece que o Recorrido não permaneceu como beneficiário do

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Plano Pleno pelo prazo mínimo de 10 anos, de modo que não há como determinar
a manutenção de sua condição de beneficiário por tempo indeterminado; bem
como foi violado o artigo 4º, inciso XI, da Lei 9.961/2000, ao não se reconhecer a
competência da Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS, e a eficácia das
normas editadas por esse órgão federal, notadamente, a Resolução CONSU
21/1999 e a Resolução ANS 279. Consequentemente, malferiu-se o artigo 31 da
Lei 9.656/98 ao determinar que o Recorrido fosse mantido no mesmo plano de
assistência à saúde dos ativos. (e-STJ fls. 588/589.)

Resumiu, então, as duas questões jurídicas a serem decididas neste


recurso especial assim: "(i) se o direito do Recorrido à manutenção da condição de
beneficiário em plano de saúde se dá por tempo determinado (aplicação do artigo 30 da
Lei 9.656/98) ou por tempo indeterminado (aplicação do artigo 31 da Lei 9.656/98)", e "(ii)
se o Recorrido tem direito a ser mantido no mesmo plano de saúde usufruído no último
ano da vigência do contrato de trabalho, que é exclusivo para empregados ativos, OU se é
lícita sua manutenção em plano exclusivo para ex-empregados, com as mesmas
condições de cobertura assistencial do plano dos ativos, em cumprimento aos artigos 30 e
31 da Lei 9.656/98" (e-STJ fl. 591).
No que se refere ao primeiro tema, pertinente ao período de tempo em que
o autor e seus dependentes poderão permanecer no plano de saúde, sustenta violação
dos arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998 e argumenta que "o v. acórdão recorrido não
considerou o tempo de contribuição para o produto Plano Pleno, na aplicação dos
mencionados dispositivos, nem o fato do Recorrido ser ex-empregado da SANED e não da
SABESP, realizando interpretação completamente equivocada da Lei Federal" (e-STJ fl.
593). No caso concreto, afirma que:
A contribuição do Recorrido para com os planos de saúde oferecidos pela
SABESPREV, exclusivo para os empregados da SABESP, se restringiu ao
período entre 2014 e 2015, quando os empregados da SANED foram cedidos para
a SABESP, sem transferir o vínculo empregatício.
De 1995 a 2014 o Recorrido laborou exclusivamente para a SANED e contribuiu
para planos de saúde oferecidos pela Unimed e Amil, em decorrência desse
vínculo empregatício. Portanto, caso o Recorrido pretenda requerer a manutenção
da condição de beneficiário por tempo indeterminado, deve acionar essas
operadores, que possuíam relação direta com sua ex-empregadora, a SANED.
Portanto, é incontroverso que o Recorrido contribuiu para o plano de saúde operado
pela SABESPREV e patrocinado pela SABESP por apenas 01 ano, de modo a
manutenção em plano de saúde pretendida dever estar limitada ao período
estabelecido no artigo 30, § 1º, da Lei 9.656/98. (e-STJ fls. 594/595.)

Quanto à abrangência das condições de cobertura do plano de saúde,


matéria vinculada à afronta ao art. 31 da Lei n. 9.656/1998, assevera que "o v. acórdão
não se atentou ao fato de existir um plano destinado exclusivamente aos inativos que é
totalmente idêntico ao dos ativos (Plano 279), não havendo embasamento legal algum
para alegar que a Resolução da ANS desfavorece aos ditames previstos em Lei, sendo

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que não há disparidade alguma entre esses planos" (e-STJ fl. 599). Ademais, "por inexistir
vedação legal, a Agência Reguladora complementou o alcance dos artigos 30 e 31 com a
edição da Resolução CONSU nº 21/99, por meio da qual regulamentou estes artigos,
EXIGINDO que, caso inativos e ativos fossem mantidos no mesmo plano, houvesse acordo
formal entre a empregadora e os empregados ativos ou seus representantes legalmente
constituídos (art. 1º, § 1º)" (e-STJ fl. 599). Ainda a respeito da regulação pela ANS, anota:
De forma taxativa consta na mencionada norma que "no caso de manutenção de
planos separados para ativos e inativos, e ambos os planos forem contratados
com operadoras, é obrigatório que a empresa empregadora firme contratos
coletivos empresariais para os ativos e inativos, em nome dos empregados e
ex-empregados, respectivamente, para ambos os planos, com uma única
operadora, devendo, também o plano de inativos, abrigar o universo de
aposentados." (art. 2º, § 2º).
Se não bastasse, a Resolução seguinte da ANS que tratou do tema (Resolução
279 da ANS, que também regulamentou os artigos 30 e 31 da Lei nº 9.656/1998,
revogando a CONSU 21/99) permitiu que a empregadora criasse planos separados
para empregados e ex-empregados (artigo 13, inciso II). (e-STJ fl. 599.)

Aponta contrariedade ao art. 4º, XI, da Lei n. 9.961/2000, o qual, segundo a


recorrente, confere competência "à Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS a
fixação de critérios, responsabilidades, obrigações e normas de procedimento para
garantia dos direitos assegurados nos artigos 30 e 31 da Lei 9.656, de 1998" (e-STJ fl.
604). Explica que, "embora os referidos dispositivos legais sejam autoaplicáveis, as
normas editadas pela Agência Reguladora têm por finalidade estabelecer a forma pela
qual aquele direito, garantido por lei, será exercido" (e-STJ fl. 604). Diversamente "do que
restou decidido, [...], a Lei nº 9.656/98 em nenhum momento vedou a criação de novos
planos de assistência à saúde para os ativos e inativos, mas apenas determinou que
fosse assegurado aos ex-empregados o direito à condição de beneficiário em plano que
mantivesse a mesma cobertura assistencial dos ativos" (e-STJ fl. 604).
Ao final, a recorrente pede:
Diante de todo o exposto, em razão da evidente violação aos artigos 30 e 31 da Lei
9.656/98 e 4º, inciso XI, da Lei 9.961/2000, requer a Recorrente a reforma do V.
Acórdão, para julgar a ação improcedente, com a revogação da ordem que
determinou manutenção do Recorrido e sua dependente no plano de assistência
médica exclusivo dos ativos ("Plano Pleno"), vez que há outros planos destinados
aos inativos, com a mesma cobertura assistencial, como exige a lei, e em
conformidade com a interpretação dada pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar que tem competência legal para essa atuação técnica, usurpada e
desrespeitada pelo Judiciário.
Além disso, requer a reforma do v. Acórdão para afastar a aplicação do artigo 31
da Lei 9656/98 e a determinação para que o Recorrido seja mantido em plano de
saúde por tempo indeterminado, reconhecendo a aplicação do artigo 30, § 1º, da
Lei 9.656/98 e a necessidade de delimitar o período de sua manutenção como
beneficiário em plano de saúde. (e-STJ fl. 605.)

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O recorrido, Adalberto Florêncio de Freitas, apresentou contrarrazões


(e-STJ fls. 723/737), e o recurso especial foi admitido na origem (e-STJ fls. 750/751).
O em. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, Presidente da Comissão
Gestora de Precedentes – Portaria STJ n. 299/2017, constatou que "o presente recurso
especial, oriundo do Tribunal de Justiça de São Paulo, veicula controvérsia jurídica
multitudinária ainda não submetida ao rito dos recurso repetitivos, a qual pode ser assim
delimitada: Definição sobre quais condições assistenciais e de custeio do plano
de saúde devem ser mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da
Lei n. 9.656/1998" (e-STJ fl. 756). Identificou, ainda, o trâmite de, pelo menos, 247
(duzentos e quarenta e sete) recursos cuidando do referido tema e existência de cerca de
200 (duzentas) decisões proferidas no âmbito da TERCEIRA e da QUARTA TURMAS.
Qualificou, então, o presente "recurso como representativo da controvérsia, impondo a ele
a adoção do rito estabelecido pelos arts. 256 ao 256-D do Regimento Interno do STJ"
(e-STJ fls. 756/758).
O Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS, ilustrado Subprocurador-Geral da
República, ofereceu parecer "no sentido de que se dê trâmite à presente súplica especial
para o fim específico de submetê-la ao rito dos recursos representativo de controvérsia"
(e-STJ fl. 768).
O recorrido manifestou-se pelo indeferimento do recurso especial (e-STJ fls.
770/791), e a recorrente concordou com a afetação como repetitivo (e-STJ fls. 855/856).
O em. Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, então, confirmou o
processamento deste feito sob o rito dos recursos repetitivos, sendo oportuno reproduzir
as seguintes passagens do respectivo despacho:
Em análise superficial do processo, plenamente passível de revisão pelo
relator destes autos, entendo preenchidos os requisitos formais previstos no art.
256 do Regimento Interno do STJ, de acordo com o Ministério Público Federal.
Com relação à questão de direito objeto da presente indicação de recurso
representativo da controvérsia, destaco a relevância da matéria veiculada neste
processo, que busca a definição do STJ sobre a correta interpretação de
dispositivo da lei dos planos e seguros privados de assistência à saúde (Lei n.
9.656/1998) no ponto relacionado a quais condições assistenciais e de custeio do
plano de saúde devem ser mantidas a beneficiários inativos.
Assim, a despeito de o tema já ter sido por diversas vezes objeto de julgamento
perante esta Corte, é possível identificar a recorrente interposição de recursos
especiais e/ou agravos em recursos especiais no STJ.
Cito, a título meramente ilustrativo, os seguintes julgados: AgInt no REsp n.
1.760.393/SP, relator Ministro Marco Aurélio Bellizze, Terceira Turma, DJe
13/3/2019; REsp n. 1.713.619/SP, relatora Ministra Nancy Andrighi, Terceira
Turma, DJe 12/11/2018; AgInt no AREsp n. 1.427.846/SP, relator Ministro Luis
Felipe Salomão, Quarta Turma, DJe 15/5/2019; AgInt no REsp n. 1.757.935/SP,
relator Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, DJe 7/2/2019.
Nesse sentido, a submissão deste processo como representativo da controvérsia
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ao Plenário Virtual do STJ, com a proposta de reafirmação do entendimento
firmado nesta Corte, conferirá maior racionalidade nos julgamentos e, em
consequência, estabilidade, coerência e integridade à jurisprudência conforme
idealizado pelos arts. 926 e 927 do Código de Processo Civil.
Essa providência, inclusive, evitará decisões divergentes nos tribunais ordinários e
o envio desnecessário de recursos especiais e/ou agravos em recursos especiais
a esta Corte Superior, tendo em vista que os presidentes e vice-presidentes dos
tribunais de origem, responsáveis pelo juízo de admissibilidade, poderão negar
seguimento a recursos especiais que tratem da mesma questão, ensejando o
cabimento do agravo interno para o próprio tribunal, e não mais do agravo em
recurso especial, conforme estabelecido no § 2º do art. 1.030 do CPC.
Por outro lado, destaco que a definição da matéria sob o rito dos recursos
repetitivos, precedente qualificado de estrita observância pelos juízes e tribunais
nos termos do art. 121-A do RISTJ e do art. 927 do CPC, orientará as instâncias
ordinárias, cuja eficácia refletirá em numerosos processos em tramitação,
balizando as atividades futuras da sociedade, das partes processuais, dos
advogados e dos magistrados. Além disso, possibilita o desestímulo à interposição
de incidentes processuais, bem como a desistência de recursos eventualmente
interpostos, tendo em vista ser fato notório que a ausência de critérios objetivos
para a identificação de qual é a posição dos tribunais com relação a determinado
tema incita a litigiosidade processual.
Ante o exposto, com fundamento nos arts. 46-A e 256-D do RISTJ, c/c o inciso I
do art. 2º da Portaria STJ/GP n. 299 de 19 de julho de 2017, distribua-se este
recurso por prevenção ao Recurso Especial n. 1.818.487/SP (2019/0159691-0).
(e-STJ fls. 861/862.)

Processo redistribuído a minha relatoria em 5/9/2019 (e-STJ fl. 867).


Em 29/10/2019, a SEGUNDA SEÇÃO, por maioria, afetou o processo ao rito
dos recursos repetitivos e, por unanimidade, "determinou a suspensão, em âmbito
nacional, do andamento de todos os processos pendentes, individuais ou coletivos, que
versem sobre a questão afetada (art. 1.037, II, do CPC/2015), mantida, no entanto a
possibilidade de concessão de medidas urgentes pelas instâncias ordinárias", assim
delimitada a controvérsia: "Definir quais condições assistenciais e de custeio de plano de
saúde devem ser mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei n.
9.656/1998" (e-STJ fls. 870/893). Determinou, entre outras providências, fosse "dada
ciência, facultando-lhes manifestação, no prazo de 15 (quinze) dias (art. 1.038, I, do
CPC/2015, c/c art. 3º, I, da Resolução STJ n. 08/2008), às seguintes entidades: (i)
Defensoria Pública da União – DPU, (ii) Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS,
(iii) Federação Nacional de Saúde Suplementar – FENASAÚDE, (iv) Instituto de Estudos
de Saúde Suplementar – IESS, (v) Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – IDC e
(vi) Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor – BRASILCON" (e-STJ fl. 880).
A Federação Nacional de Saúde Suplementar – FANASAÚDE apresentou
petição para sustentar sua qualidade de amicus curiae e requerer os direitos de
despachar memoriais e de sustentar oralmente (e-STJ fls. 900/941). Na manifestação de

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Superior Tribunal de Justiça
fls. 1.063/1.1.108 (e-STJ), apresentou o seguinte resumo conclusivo:
(i) o art. 31 da LPS prevê um mecanismo atípico de perpetuação do vínculo jurídico
decorrente do contrato de trabalho, mesmo em momento posterior à sua extinção.
(ii) É condição para o exercício desse direito a assunção pelo aposentado do
pagamento integral do plano de saúde.
(iii) Dadas as complexidades do mercado de saúde suplementar e as diferentes
modalidades de custeio dos planos de saúde nele comercializados (pré e
pós-pagamento; enquadramento por faixa etária e preço único), a definição do que
seja "pagamento integral" não é obvia nem automática. Ao contrário, tal como
explicado, nem sempre é possível se chegar a esse valor pela soma aritmética da
parcela do empregador com a contribuição com a qual arcava o empregado. Até
porque, sendo a modalidade de custeio a de pós-pagamento, sequer se poderá
falar em parcela fixa subsidiada pela estipulante.
(iv) Coube à ANS, no exercício de suas competências legais e se valendo de sua
expertise técnica, regulamentar a previsão do art. 31 da LPS (e, na mesma toada,
do art. 30 da Lei) para viabilizar a implementação do custeio integral do plano pelo
inativo, sem perder de vista o equilíbrio sistêmico setorial.
(v) Consoante a RN 279, a solução encontrada pela Agência foi instituir um regime
jurídico lastreado no enquadramento em faixas etárias dirigido àqueles que
voluntariamente optarem pela manutenção como beneficiários, nas mesmas
condições assistenciais.
(vi) A formação de preços escalonada não é ilegal. Na verdade, trata-se de
metodologia já chancelada por este e. STJ, aferida com base em cálculo atuarial
voltado a equalizar os elevados custos da população idosa com o custo mais baixo
do grupo segurado mais jovem, não se revelando, per se, abusivo.
(vii) Conforme o § 2º do art. 15 do RN, os preços por faixa etária são
disponibilizados com antecedência aos empregados ativos, para que tomem
conhecimento das condições futuras de manutenção assistencial, garantindo-lhes
elevado grau de previsibilidade.
(viii) Ao se sujeitar ao pagamento integral, é esperado que o preço pago pelo
inativo seja mais elevado do que aquele pago até então, diante do término da
subvenção ofertada pelo ex-empregador. A esse respeito, vale lembrar que este e.
STJ já sedimentou o entendimento de que não há direito adquirido a regime de
custeio dos planos de saúde.
(ix) Por fim, tal como explicitado acima, a passagem do empregado para a
inatividade importa no reenquadramento (legítimo) do regime de seu custeio, nos
termos da Lei nº 9.656/98 e da RN 279. Não se trata, portanto, de mero "reajuste",
o que poderia induzir, equivocadamente, à conclusão da prática de abusividade
nesses casos. (e-STJ fls. 1.085/1.086.)

A FENASAÚDE pede, ao final, a desafetação ou que a tese a ser aprovada:


i. estabeleça que os direitos assistenciais a que farão jus o aposentado e seus
dependente não implicam a manutenção do beneficiária inativo no mesmo plano
dos beneficiários ativos. Na realidade, deverão ser asseguradas as mesmas
condições assistenciais definidas expressamente pela RN 279, no inciso II de seu
artigo 2º; e, por fim,
ii. quanto aos encargos financeiros que deverão ser suportados pelo beneficiário
inativo, fixe-se a exegese segundo a qual o art. 31 da Lei nº 9.656/1998 não
impõe que os preços sejam iguais aos dos funcionários ativos (i.e. Não há
direito do inativo ao modelo de custeio praticado em relação aos ativos),
considerando-se válido o modelo previsto na RN 279, pautado na adoção da
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Superior Tribunal de Justiça
tabela de preços por faixa etária como referencial para o cálculo do
pagamento integral a ser suportado pelo beneficiário inativo, especialmente
à luz das diferentes modalidades de custeio existentes no setor. (e-STJ fls.
1.106/1.107.)

O Instituto Brasileiro de Política e Direito do Consumidor – BRASILCON


protocolizou petição requerendo sua admissão como amicus curiae, inclusive para fins de
sustentação oral, e "o acolhimento da tese fixando entendimento de que a manutenção
das condições assistenciais aos ex-empregados, nos termos dos arts. 30 e 31 da Lei nº
9.656/98, devem ser as mesmas previstas no contrato dos empregados ativos, em relação
à segmentação e cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em internação,
área geográfica de abrangência e fator moderador. Aos aposentados, o benefício deve
estender-se por prazo indeterminado àqueles que contribuíram por período superior a dez
anos ou proporcionalmente determinado aos anos de contribuição, aos períodos
inferiores. Quanto às condições de custeio, não deve haver distinção de reajuste, preço,
faixa etária e fator moderador existentes durante a vigência do contrato de trabalho
quando se tratar de manutenção de beneficiário no mesmo plano privado de assistência à
saúde em que se encontrava quando da aposentadoria" (e-STJ fls. 948/949).
O Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS, ilustrado Subprocurador-Geral da
República, "opina pelo conhecimento parcial do presente recurso especial e, nesta
extensão, pelo seu não provimento" (e-STJ fl. 991), estando o parecer assim ementado:
– Recurso especial submetido ao regime dos recursos repetitivos, nos termos do
art. 1.036, do CPC/2015, que aponta negativa de vigência ao arts. 30, § 1º, e 31,
ambos da Lei nº 9.656/1998, e 4º, inciso XI, da Lei nº 9.961/2000.
– Tese sugerida para os efeitos do art. 1.036, do CPC/2015: Deve ser
assegurado ao aposentado (inclusive aos dependentes deste) o direito de
permanência no plano de saúde coletivo empresarial, nas mesmas condições que
gozava por ocasião da vigência do contrato de trabalho (idêntica segmentação e
cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em internação, área
geográfica de abrangência e fator moderador), desde que assuma o pagamento
integral da contribuição mensal, a qual poderá variar conforme as alterações
promovidas no plano vigente para os benefíciários que continuam na ativa, sempre
em paridade com o que a ex-empregadora tiver que custear.
– Acerca do caso concreto, tem-se que a pretensão de desconstituição das
premissas fáticas devolvidas pelo Tribunal de origem, sob o viés de que o Recorrido
não teria implementado o período mínimo de 10 (dez) anos a que se refere o art.
31, da Lei nº 9.656/1998, condição sine qua non de permanência do ex-empregado
no plano de saúde coletivo empresarial oferecido aos empregados beneficiários que
continuam na ativa, demanda, necessariamente, o reexame de fatos e provas da
causa, procedimento inviável no âmbito do recurso especial, em razão da
incidência do veto da Súmula 7/STJ.
– No tocante à parte que desafia conhecimento, no mérito, observa-se que o v.
Acórdão recorrido afastou, em conformidade com a tese repetitiva ora sugerida, a
aplicação da Resolução nº 279/2011, da ANS, visto que, ainda que a referida
agência detenha competência para "estabelecer critérios, responsabilidades,
obrigações e normas de procedimento para garantia dos direitos assegurados nos
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Superior Tribunal de Justiça
arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656, e 1998" (art. 4º, inciso XI, da Lei nº 9.961/2000), tal
ato normativo, ao estabelecer condições diferenciadas entre funcionários ativos e
inativos, exorbitou do poder regulamentar.
– Parecer pelo conhecimento parcial do presente recurso especial e, nesta
extensão, pelo seu não provimento. (e-STJ fls. 976/977.)

A Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS requereu sua admissão


como amicus curiae e, no mérito, afirma que o empregador poderá "contratar novo plano
de saúde, o qual será exclusivo para aposentados e demitidos/exonerados sem justa
causa" (e-STJ fl. 998).
União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde – UNIDAS
igualmente postulou ingresso como amicus curiae (e-STJ fls. 1.009/1.030).
Deferi os pedidos de intervenção como amicus curiae formulados por
Federação Nacional de Saúde Suplementar – FENASAÚDE, Instituto Brasileiro de Política
e Direito do Consumidor – BRASILCON, Agência Nacional de Saúde Suplementar – ANS e
União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde – UNIDAS (e-STJ fls.
1.110/1.111).
A Fundação São Francisco Xavier, entidade que atua como operadora de
planos de saúde, requereu sua intervenção como amicus curiae, pedindo sejam
aprovadas as seguintes teses jurídicas:
I – a alocação de empregados ativos e aposentados em planos de saúde distintos
não ofende o direito conferido pelo art. 31 da Lei n. 9.656/1998, cabendo tal
decisão exclusivamente ao empregador, nos termos do art. 13 da resolução
normativa ao empregador, nos termos do art. 13 da resolução normativa n.
279/2011 da ANS, norma regulatória licitamente editada por agência reguladora
competente (supra, n. 5). Subsidiariamente, considerando-se a impossibilidade de
penalizar empregadores e/ou operadoras de planos de saúde quando a segregação
for decorrente unicamente do cumprimento da Lei n. 9.656/1998, pede-se que seja
permitida a separação ao menos nestes casos (supra, n. 6);
II – o direito à manutenção das "condições assistenciais", disposto no art. 31 da
Lei n. 9.656/1998, não garante ao aposentado direito adquirido ao modelo de
custeio vigente à época da sua aposentadoria, estando sujeito às alterações no
plano que lhe é oferecido, nos termos dos arts. 13, inc. II e 17 da resolução
normativa n. 279/2011 da ANS (supra, n. 7);
III – a obrigação de "pagamento integral" disposta no art. 31 da Lei n. 9.656/1998
impõe que o aposentado assuma junto à operadora todos os custos que gera para
o sistema, inclusive aqueles decorrentes de sua faixa-etária, sem direito a subsídio
ou patrocínio por parte do ex-empregador (supra, n. 8);
IV – na aplicação do disposto no art. 31 da Lei n. 9.656/1998 deve ser observada a
natureza de plano de saúde para a aferição da legalidade dos reajustes no valor
das contribuições dos beneficiários aposentados, sendo vedada a aplicação do
índice divulgado pela ANS aos planos coletivos, em especial àqueles na
modalidade de autogestão (supra, n. 9).
V – Subsidiariamente, deve-se permitir a aplicação das teses expostas nos itens
acima (I a IV) ao menos quando se tratar de plano de saúde operado na
modalidade de autogestão e sem fins lucrativos, com o direcionamento da
totalidade das contribuições à prestação de assistência médica aos beneficiários
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Superior Tribunal de Justiça
(supra, n. 10); (e-STJ fls. 1.159/1160.)

Admiti o ingresso da Fundação São Francisco Xavier como amicus curiae


(e-STJ fls. 1.225/1.226).
União Nacional das Instituições de Autogestão em Saúde – UNIDAS
protocolizou petição manifestando-se sobre o mérito, concluindo que "(i) é legal a
possibilidade do empregador optar em contratar plano distinto – exclusivo – para os
inativos em relação aos ativos, à luz das regras técnicas criadas pela ANS, esculpidas em
sua RN nº 279, de 2011, no uso de suas atribuições e competências legais; (ii) a
expressão 'mesmas condições assistenciais de cobertura' (art. 30 e 31 da Lei nº 9.656, de
1998) não diz respeito ao custeio do plano, como definição dada pela ANS; (iii) a
subsistência financeira dos planos operados por Autogestão, que não detém fins
lucrativos, implica diretamente em como é atualmente é tratada a questão, podendo gerar
um desequilíbrio desenfreado caso seja obrigatório manter o beneficiário inativo no
mesmo plano do ativo, nas mesmas condições de custeio" (e-STJ fl. 1.253).
A FENASAÚDE protocolizou petição juntando parecer técnico "que tem por
objeto, justamente, a explanação didática e objetiva de elementos conceituais e
econômicos indispensáveis à apreciação da presente controvérsia" (e-STJ fl. 1.272).
É o relatório.

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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.816.482 - SP (2019/0144247-0)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO
EM SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680
EMENTA

RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL. EX-EMPREGADOS


APOSENTADOS. PERMANÊNCIA NO PLANO DE SAÚDE COLETIVO. ART.
31 DA LEI N. 9.656/1988. DEFINIÇÃO ACERCA DAS CONDIÇÕES
ASSISTENCIAIS E DE CUSTEIO.
1. Delimitação da controvérsia
Definir quais condições assistenciais e de custeio do plano de saúde devem
ser mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei n.
9.656/1998.
2. Teses definidas para os fins do art. 1.036 do CPC/2015
a) "Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço,
de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção
da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei n.
9.656/1998, devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins de
cálculo da manutenção proporcional ou indeterminada do trabalhador
aposentado no plano coletivo empresarial."
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Superior Tribunal de Justiça
b) "O art. 31 da lei n. 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam
inseridos em plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições
de cobertura assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo
o universo de beneficiários, a igualdade de modelo de pagamento e de
valor de contribuição, admitindo-se a diferenciação por faixa etária se for
contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio integral, cujo valor
pode ser obtido com a soma de sua cota-parte com a parcela que, quanto
aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo empregador."
c) "O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da
Lei n. 9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano
privado de assistência à saúde vigente na época da aposentadoria,
podendo haver a substituição da operadora e a alteração do modelo de
prestação de serviços, da forma de custeio e os respectivos valores, desde
que mantida paridade com o modelo dos trabalhadores ativos e facultada a
portabilidade de carências."
3. Julgamento do caso concreto
a) Inaplicabilidade do art. 30 da Lei n. 9.656/1998, tendo em vista que o
prazo de 10 (dez) anos disciplinado no art. 31 do mesmo diploma
encontra-se comprovado, decorrendo da somatória de todos os períodos de
contribuição envolvendo várias operadoras de planos de saúde contratadas
sucessivamente pelo ex-empregador.
b) Ofensa ao art. 31 da Lei n. 9.656/1998 não caracterizada, tendo em vista
que os empregados ativos e os ex-empregados inativos, conforme decidido
pelo Tribunal de origem, devem encontrar-se vinculados a um único plano
de saúde, sem distinções.
c) Acolher as razões recursais com o propósito de modificar o contexto
fático-probatório inserido no acórdão recorrido encontra óbice na Súmula n.
7 do STJ.
4. Recurso especial a que se nega provimento.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.816.482 - SP (2019/0144247-0)

RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA


RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO
EM SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA (Relator): O ora


recorrido, Adalberto Florêncio de Freitas, aposentado, propôs ação declaratória c/c
obrigação de fazer contra a Fundação Sabesp de Seguridade Social – SABESPREV,
contra a Companhia de Saneamento de Diadema – SANED, em liquidação, e contra a Cia.
de Saneamento Básico do Estado de São Paulo – SABESP. Para tanto, narra os fatos e a
causa de pedir assim:
O Autor laborou na empresa SANED, pelo período de 21/02/1995 a 13/02/2015,
momento de sua demissão sem justa causa. Valendo-se que a empresa
SABESP, geriu o último ano de contrato da funcionária por essa empresa ter
ganhado a concessão do serviço no Município.
Quando empregado, o Autor era beneficiário do Convênio Médico empresarial,

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nesse último período o SABESPREV – plano pleno – o qual cobria assistência
para ele, e seu dependente, senhora INÁCIA PATRIOTA DE FREITAS sendo certo
que o valor da última contribuição por parte do Autor, enquanto ainda era
empregada foi no valor de R$ 63,81 (Sessenta e Três Reais e Oitenta e Um
Centavos) para todos os seus beneficiários, conforme recibo de pagamento
juntado.
O Autor, após sua demissão não recebeu o benefício de manter a si, e seus
dependentes no plano de saúde, e mesmo assim manifestou por escrito de sua
vontade de permanecer com o plano pelo período encartado por lei, nas mesmas
condições de uso quando empregada e no mesmo plano, pagando o valor por lei
permitido. (em anexo o pedido de manutenção).
Após a intervenção desse escritório, no departamento de Recursos Humanos das
Requeridas, pelo telegrama enviado que consta em anexo, os mesmos entraram
em contato com os funcionários que mandaram os mesmos assinar um termo de
ciência para opção aos planos de assistência à saúde da SABESPREV, mas com
data retroativa, ou seja, na data da demissão em 11/02/2015, ocorre que o Autor
ao ver o documento com data estranha à relação de sua dispensa realizou um
adendo no documento demonstrando que o mesmo fora assinado somente em
12/03/2015, documento esse em anexo, conferido e recebido por Eliane Gonçalves
Alves, empregada da empresa responsável pelo RH.
Tal benefício faz parte integrante do acordo de convenção coletiva, conforme
documento juntado em sua "cláusula 2.9".
Em total abuso do bom senso as Rés convocaram os ex. Funcionários para ofertar
a eles que se entendesse com a Ré SABESPREV, que possuía essa diversas
formas de reenquadramento no convênio médico, ofertando aos funcionários um
plano de adesão, aonde que além de pagar um valor mensal pela manutenção do
convênio, ainda estava sujeito ao pagamento das consultas médicas e exames,
por um percentual reduzido do valor particular.
Por questões obvias o Autor não aderiu tal prerrogativa, tendo em vista que seu
plano de saúde junto as Rés, quando funcionário era de cobertura total, pagando
apenas R$ 31,90 (Trinta e Um Reais e Noventa Centavos), por pessoa.
Destacamos que a empresa Saned está ofertando para o Autor não o retorno em
seu plano de saúde, pagando sua cota parte mais a do Autor, mas sim é venda de
novo convênio, como podemos verificar em anexo, qualquer pessoa, sendo
funcionário ou não das Rés, podem aderir ao plano ofertado.
Um ponto a ser informado que mesmo se o Autor entre nesse novo plano vendido,
terá as carências de uma nova contratação, mais um ponto que demonstra que as
Rés não estão aplicando a Lei 9565/98, o que só faz o Autor em apelo buscar seu
direito em juízo. (e-STJ fls. 2/3.)

Mais adiante, afirmou na inicial "que o valor pago pelo plano do autor era de
R$ 31,90 (Trinta e Um Reais e Noventa Centavos), sendo que a empresa paga 70% do
plano, estamos falando que o valor devido pelo Autor somando a parte da empresa que é
de R$ 74,40 (Setenta e Quatro Reais e Quarenta Centavos), deve o autor arcar com a
somatória de R$ 106,30 (Cento e Seis Reais e Trinta Centavos)" (e-STJ fl. 5). Com
fundamento nos arts. 9º, 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998, requereu:
c) Condenação da Ré na obrigação de manterem o convênio médico do Autor e de
seus dependentes, a fim de que o mesmo pague mensalmente a importância
correspondente à soma dos valores pagos por ele e pela empregadora à época em
que se encontrava ativo na empresa ou, alternativamente, que Vossa Excelência,
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realize revisão dos valores apresentados pelo Plano de Saúde, a fim de diminuir o
valor imposto ao Autor, considerando a onerosidade excessiva das tabelas
ofertadas;
d) Que os reajustes da mensalidade ocorram nos termos do artigo 9º da Lei
9656/98, como qualquer outra operadora de saúde; (e-STJ fl. 10.)

A inicial foi emendada para que constasse do polo passivo apenas a


SABESPREV (cf. e-STJ fls. 171/172).
A emenda à petição inicial foi recebida, deferindo-se, também, a tutela
antecipada "para determinar que a ré restabeleça os serviços médicos e hospitalares
prestados ao autor e seus dependentes, ou seja, ao grupo familiar inscrito quando da
vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral" (e-STJ fls.
178/179).
O pedido foi julgado procedente "para condenar a ré a manter o autor e sua
dependente, Sr.ª Inácia Patriota de Freitas, ambos qualificados nos autos, sem
interrupção, no mesmo plano de saúde gozado na vigência de seu contrato de trabalho,
com observância das exatas condições em que vigia à época, mediante o pagamento,
pelo autor, do valor assumido quando da relação trabalhista, acrescido da cota patronal.
Registre-se, ainda, que deverá a ré, de imediato, providenciar o necessário ao
pagamento, pelo autor, dos valores ora mencionados, inclusive, para dispensar a
manutenção dos depósitos judiciais" (e-STJ fl. 377). A tutela antecipada concedida foi
tornada definitiva, constando da sentença, ainda, que:
O documento de fls. 125, demonstra que o autor e sua dependente, sra. Inácia
Patriota de Freitas, figuravam como beneficiários do contrato de saúde firmado pela
ré, pelo "plano padrão", dotado de cobertura nacional, na modalidade "acomodação
enfermaria", pelo período de 21/04/2014 a 28/02/2015.
Outrossim, consta às fls. 16/21, a ocorrência da rescisão do contrato de trabalho
do autor, sem justa causa, datada de 05/03/2015.
Tais informações são suficientes ao reconhecimento do direito subjetivo do autor à
garantia disposta no referido dispositivo leal, ou seja, artigo 30, da Lei 9.656/1998.
Menciona a ré, que o cumprimento ao referido dispositivo legal, foi efetivado através
do oferecimento ao autor da migração aos "planos executivo, padrão e plano 279".
Porém, o artigo 30, da Lei 9.656/1998 estabelece, de forma clara, a necessidade
de garantia das "mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava
quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento
integral".
Observa-se que referido dispositivo legal não exige período de carência, portanto, a
afirmação da ré, no sentido de que o autor permaneceu por, aproximadamente, um
ano, como beneficiário, em nada repercute no desfecho da presente ação.
Da interpretação literal do preceito legal, emerge a obrigação da ré, quanto à
manutenção da mesma categoria contratual, anteriormente usufruída pelo autor, ou
seja, o "plano padrão", dotado de cobertura nacional, na modalidade "acomodação
enfermaria", mediante pagamento, pelo autor, dos mesmos valores vigentes na
data da rescisão do seu contrato de trabalho, ou seja, em 05/03/2015, assumindo
o autor a parte ideal que lhe era destinada e também aquela assumida pela
empregadora, sem qualquer acréscimo, em decorrência da rescisão do contrato de
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Superior Tribunal de Justiça
trabalho.
Nesse sentido, confira-se:
[...]
A tese de defesa da ré, no sentido do procedimento adotado estar autorizado pela
Resolução 279 da Agência Nacional de Saúde não comporta acolhida. Isso porque
eventual norma de caráter administrativo, não tem o condão de prevalecer em
relação ao dispositivo legal acima mencionado e de restringir direito garantido ao
consumidor. Destaque-se, importante precedente da jurisprudência: (e-STJ fls.
374/376.)

O TJSP deu parcial provimento à apelação da SABESPREV, destacando


que: "se, de um lado, não é permitido à operadora a discriminação de plano para ativos e
inativos, devendo o ex-funcionário ser mantido na mesma apólice vigente para os
funcionários ativos, apenas com incremento na mensalidade correspondente ao valor
subsidiado pela empregadora, de outro, não se reconhece ao ex-funcionário o direito
adquirido à manutenção dos mesmos valores antes pagos, devendo, ao revés,
acompanhar os custos relacionados à apólice única atualmente fornecida, não sendo
razoável, sob pena de se impor a ruína do plano, o congelamento de prêmios em relação
a ex-funcionários" (e-STJ fl. 574 – grifei). Na parte provida, assim, impôs ao autor "o
pagamento do valor integral e atual da mensalidade dos ativos, que deve perfazer a
cota que pagava como empregado, somada à parte paga pela empregadora, a ser
apurada em sede de liquidação de sentença" (e-STJ fl. 574). Acerca dos temas
apresentados na apelação, assim se pronunciou o Tribunal de origem:
Observe-se que, ao revés do que alega a operadora houve o efetivo preenchimento
dos requisitos legais para manutenção do contrato por tempo indeterminado, não
se tratando de hipótese de manutenção nos termos do artigo 30, da Lei nº
9.656/98.
Isso porque o autor logrou êxito em demonstrar que foi demitido sem justa causa
em 12/02/2015 (fls. 547/548), após permanecer vinculado aos planos de saúde
disponibilizados pela ex-empregadora por mais de dez anos, visto que admitido no
primeiro plano, disponibilizado à época ela operadora Interclínicas, em 26/06/1995,
conforme constou da ficha de adesão trazida aos autos (fls. 526). No referido
documento, outrossim, consta que era realizado desconto em salário base do valor
correspondente a tabela de subsídio.
Ademais, há declaração da própria ex-empregadora informando que o autor fora
conveniado dos seguintes planos de saúde mantidos pela SANED: i) Unimed do
ABC – Cooperativa de Trabalho Médico, de 02/04/2007 a 21/12/2012; ii) Amil
Assistência Médica Internacional S/A, de 22/12/2012 a 21/01/2014; e, iii)
Fundação Sabesp de Seguridade Social – SABESPREV, de 21/04/2014 a
28/02/2015 (fls. 125).
O fato de ter a ex-empregadora optado, ao longo do período em que compreendido
o contrato de trabalho, pela sucessão de operadoras de plano de saúde para a
concessão do benefício assistencial a seus funcionários não afasta o direito do
autor de contabilização do período total em que esteve vinculado à empresa e aos
planos de saúde por ela disponibilizados.
Houve comprovação, outrossim, de que, embora tenha o desligamento da
empresa, em si, ocorrido em fevereiro de 2015 mediante demissão sem justa
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causa, nesta ocasião já se encontrava o autor aposentado, visto que vigente a
aposentadoria a partir de 13/01/2009 (fls. 546).
[...]
Tanto é que o próprio autor juntou aos autos termo de ciência em que a operadora
facultou a sua inclusão em planos destinados exclusivamente a inativos (fls. 38),
oferta refutada em virtude de sua intenção de permanecer vinculado ao plano sob
as mesmas condições de cobertura e preço de quando ainda estava na ativa.
O cerne da controvérsia reside, pois, na forma de custeio e nos valores a serem
pagos, uma vez que o autor alega que teria havido majoração abusiva no valor das
mensalidades após o desligamento da empresa.
É certo que se mostra ilegal a adoção de critérios diversos de reajuste para ativos
e inativos, pelos motivos a seguir expostos, por isso, como entendeu o MM. Juízo
sentenciante, deverá ser a ré condenada à manutenção do autor e sua
dependente, por prazo indeterminado, na apólice coletiva de plano de saúde, nas
mesmas condições que usufruem os funcionários da ativa, mediante o pagamento
integral, pelo autor, da contribuição devida.
Ora, a despeito do quanto disposto pela Resolução Normativa nº 279 da ANS e
nada obstante, de fato, não exista direito adquirido à manutenção da forma de
custeio, é inviável a segregação das apólices dos funcionários ativos e dos
inativos, embora não haja impedimento para que a forma de custeio do plano,
como um todo, sobre alteração.
Não se confundem as situações de reestruturação do plano, com alteração da
forma de custeio para a utilização da faixa etária para todos os beneficiários (ativos
ou inativos), com aquela em que o reajuste por faixa etária é imposto tão somente
para a apólice disponibilizada aos inativos. Isso porque esta conduta
discricionatória não se coaduna com a necessidade de equiparação dos planos
entre ativos e inativos, que devem se diferenciar tão somente pela responsabilidade
pelo custeio dos valores, uma vez que os primeiros o dividem com a empregadora,
enquanto que os inativos assumem o pagamento integral.
[...]
Interpretação diversa seria contrária aos ditames do Estatuto do Idos, do Código de
Defesa do Consumidor e da Lei nº 9.656/95. Isso porque a Resoluçao nº 279/2011
da ANS, que autorizaria condições diferenciadas entre ativos e inativos, é norma
de natureza secundária que, por seu conteúdo restritivo, não se sobrepõe aos
referidos diplomas legais, consoante já decidido no julgamento do agravo de
instrumento nº 2071479-68.2013.8.26.0000:
[...]
Assim, à toda evidência, não cabe ao plano de saúde fazer discriminação da forma
de custeio e de valores a serem cobrados de ativos e inativos, cabendo ao
funcionário inativo a obrigação de custear o valor completo da mensalidade, já que
sem o subsídio da parcela patronal.
[...]
Destarte, deve ser mantida a r. sentença, para condenar a ré à manutenção do
autor e da dependente no mesmo plano de saúde gozado durante a vigência do
contrato de trabalho, por tempo indeterminado, nas mesmas condições que
usufruem os funcionários da ativa, mas mediante o pagamento integral e atual,
pelo autor, da contribuição devida, a ser apurada em fase de liquidação. (e-STJ fls.
570/574.)

Nos Recursos Especiais n. 1.680.318/SP e 1.708.104/SP, processados sob


o rito dos arts. 1.036 e 1.037 do CPC/2015, da relatoria do em. Ministro RICARDO VILLAS

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BÔAS CUEVA, esta SEGUNDA SEÇÃO aprovou a seguinte tese: "Nos planos de saúde
coletivos custeados exclusivamente pelo empregador não há direito de permanência do
ex-empregado aposentado ou demitido sem justa causa como beneficiário, salvo
disposição contrária expressa prevista em contrato ou em acordo/convenção coletiva
tampouco se enquadrando como salário indireto."
No presente caso, diversamente do que ocorreu nos mencionados recursos
repetitivos, o ex-empregado, atualmente aposentado, também custeava o plano de saúde,
cabendo definir, conforme precisamente destacado pelo em. Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO, Presidente da Comissão Gestora de Precedentes, "quais condições
assistenciais e de custeio do plano de saúde devem ser mantidas a beneficiários inativos,
nos termos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998". Essas condições dizem respeito, no meu
entendimento, (i) ao tempo de permanência no plano, se por prazo determinado ou
indeterminado, (ii) aos direitos assistenciais a que terá direito ao ex-empregado e seus
dependentes, (iii) aos encargos financeiros que serão suportados pelo ex-empregado.
Tais pontos devem ser enfrentados a seguir, antes de decidir o caso
concreto, cabendo destacar que a norma legislativa que disciplina – em relação ao
empregado que se aposenta – a permanência no plano de saúde do ex-empregado é o
art. 31 da Lei n. 9.656/1998, combinado com o art. 1º, inciso I e § 1º, e com os §§ 2º a 6º
do art. 30 do mesmo diploma, que estabelecem:
Art. 1º. Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas jurídicas de direito
privado que operam planos de assistência à saúde, sem prejuízo do cumprimento
da legislação específica que rege a sua atividade, adotando-se, para fins de
aplicação das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições:
I – Plano Privado de Assistência à Saúde: prestação continuada de serviços ou
cobertura de custos assistenciais a preço pré ou pós estabelecido, por prazo
indeterminado, com a finalidade de garantir, sem limite financeiro, a assistência à
saúde, pela faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços de
saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede credenciada, contratada
ou referenciada, visando a assistência médica, hospitalar e odontológica, a ser
paga integral ou parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante
reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem do consumidor;
[...]
§ 1º Está subordinada às normas e à fiscalização da Agência Nacional de Saúde
Suplementar – ANS qualquer modalidade de produto, serviço e contrato que
apresente, além da garantia de cobertura financeira de riscos de assistência
médica, hospitalar e odontológica, outras características que o diferencie de
atividade exclusividade financeira, tais como:
a) custeio de despesa;
b) oferecimento de rede credenciada ou referenciada;
c) reembolso de despesas;
d) mecanismos de regulação;
e) qualquer restrição contratual, técnica ou operacional para a cobertura de
procedimentos solicitados por prestador escolhido pelo consumidor; e
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f) vinculação de cobertura financeira à aplicação de conceitos ou critérios
médico-assistenciais.
[...]
Art. 30. Ao consumidor que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o §
1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, no caso de
rescisão ou exoneração do contrato de trabalho sem justa causa, é assegurado o
direito de manter sua condição de beneficiário, nas mesmas condições de
cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho,
desde que assuma o seu pagamento integral.
[...]
§ 2º A manutenção de que trata este artigo é extensiva, obrigatoriamente, a todo o
grupo familiar inscrito quando da vigência do contrato de trabalho.
§ 3º Em caso de morte do titular, o direito de permanência é assegurado aos
dependentes cobertos pelo plano ou seguro privado coletivo de assistência à
saúde, nos termos do disposto neste artigo.
§ 4º O direito assegurado neste artigo não exclui vantagens obtidas pelos
empregados decorrentes de negociações coletivas de trabalho.
§ 5º A condição prevista no caput deste artigo deixará de existir quando da
admissão do consumidor titular em novo emprego.
§ 6º Nos planos coletivos custeados integralmente pela empresa, não é
considerada contribuição a co-participação do consumidor, única e
exclusivamente, em procedimentos, como fator de moderação, na utilização dos
serviços de assistência médica ou hospitalar.
Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que tratam o inciso I
e o § 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, pelo
prazo mínimo de dez anos, é assegurado o direito de manutenção como
beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que
gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o
seu pagamento integral.
§ 1º Ao aposentado que contribuir para planos coletivos de assistência à
saúde por período inferior ao estabelecido no caput é assegurado o direito
de manutenção como beneficiário, à razão de um ano para cada ano de
contribuição, desde que assuma o pagamento integral do mesmo.
§ 2º Para gozo do direito assegurado neste artigo, observar-se-ão as
mesmas condições estabelecidas nos §§ 2º, 3º, 4º, 5º e 6º do art. 30.

Anoto que o presente recurso não trata de mera exoneração ou rescisão do


contrato de trabalho sem justa causa, descabendo interpretar o caput do art. 30 da Lei n.
9.656/1998.

I. TEMPO DE MANUTENÇÃO DO EX-EMPREGADO APOSENTADO COMO


BENEFICIÁRIO NO PLANO DE SAÚDE – PRAZO DETERMINADO OU INDETERMINADO
– CONTAGEM DO PRAZO DECENAL
Conforme dispõe o § 1º do art. 31 da Lei n. 9.656/1998, quando o
ex-empregado, aposentado, tiver contribuído por menos de 10 (dez) anos para o plano de
saúde oferecido pelo ex-empregador, poderá permanecer como beneficiário durante prazo

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 22 de 8
Superior Tribunal de Justiça
determinado, calculado proporcionalmente "à razão de um ano para cada ano de
contribuição".
Aplica-se o caput do mencionado art. 31, por sua vez, quando realizadas
contribuições por período igual ou superior a 10 (dez) anos, não havendo delimitação do
prazo de permanência. Com isso, o ex-empregado continuará vinculado ao plano por
prazo indeterminado.
Destaco que o dispositivo faz menção ao período de contribuição a
produtos de assistência médica, hospitalar e odontológica oferecidos pelo ex-empregador
genericamente, em plano privado de assistência à saúde inespecífico. Tal contribuição
não diz respeito a uma operadora determinada nem a uma precisa modalidade de
prestação de serviço e de custeio, que podem ser substituídas sempre que necessário à
existência e à viabilidade do plano assistencial mantido no âmbito do respectivo
ex-empregador.
Com isso, mudanças de operadora do plano de saúde, de modelo de
prestação de serviço, de forma de custeio e de valores de contribuição não interferem
como marcos interruptivos na contagem do prazo de 10 (dez) anos, necessário à
aquisição pelo ex-empregado aposentado do direito de permanecer no plano por tempo
indeterminado. Não for assim, impossível será ao empregado alcançar o decênio legal.
Sabidamente, no decorrer de uma década são necessários ajustes para a manutenção do
equilíbrio de um plano assistencial à saúde, sobretudo diante das vicissitudes do cenário
econômico.
A propósito, a Resolução Normativa n. 279, de 24/11/2011, da Agência
Nacional de Saúde Suplementar – ANS, adota essa mesma orientação no que se refere à
mudança de operadora pelo empregador, assim dispondo no art. 23, caput:
Art. 23. No caso de oferecimento de plano privado de assistência à saúde pelo
empregador mediante a contratação sucessiva de mais de uma operadora, serão
considerados, para fins de aplicação dos direitos previstos no art. 30 e 31 da Lei nº
9.656, de 1998, os períodos de contribuição do ex-empregado demitido ou
exonerado sem justa causa ou aposentado decorrentes da contratação do
empregador com as várias operadoras.

Essa matéria, embora não tenha sido objeto de tese aprovada pela
SEGUNDA SEÇÃO nos julgamentos do REsp n. 1.680.318/SP e do REsp n. 1.708.104/SP,
processados como repetitivos, foi assim enfrentada no voto do eminente Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, proferido nos respectivos embargos de declaração,
rejeitados:
Com efeito, a matéria afetada como repetitiva apenas abrangeu os casos em que
os planos de saúde coletivos eram custeados exclusivamente pelo empregador, de
modo que as hipóteses em que o empregado contribuiu em algum momento
durante a vigência do contrato de trabalho não foram abordadas, exceto a situação
retratada na Súmula Normativa nº 8/ANS.
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 23 de 8
Superior Tribunal de Justiça
De qualquer maneira, os aludidos casos estão regulamentados nos arts. 6º, § 2º,
23 e 24 da RN ANS nº 279/2011, a seguir transcritos:
"Art. 6º Para fins dos direitos previstos nos artigos 30 e 31 da Lei nº
9.656, de 1998, e observado o disposto no inciso I do artigo 2º desta
Resolução, também considera-se contribuição o pagamento de valor fixo,
conforme periodicidade contratada, assumido pelo empregado que foi
incluído em outro plano privado de assistência à saúde oferecido pelo
empregador em substituição ao originalmente disponibilizado sem a sua
participação financeira.
§ 1º Os direitos previstos nos artigos 30 e 31 da Lei nº 9.656, de 1998,
não se aplicam na hipótese de planos privados de assistência à saúde
com característica de preço pós-estabelecido na modalidade de custo
operacional, uma vez que a participação do empregado se dá apenas no
pagamento de co-participação ou franquia em procedimentos, como fator
de moderação, na utilização dos serviços de assistência médica ou
odontológica.
§ 2º Ainda que o pagamento de contribuição não esteja ocorrendo
no momento da demissão, exoneração sem justa causa ou
aposentadoria, é assegurado ao empregado os direitos previstos nos
artigos 30 e 31 da Lei nº 9.656, de 1998, na proporção do período ou
da soma dos períodos de sua efetiva contribuição para o plano
privado de assistência à saúde." (grifou-se)

"Art. 23 No caso de oferecimento de plano privado de assistência à saúde


pelo empregador mediante a contratação sucessiva de mais de uma
operadora, serão considerados, para fins de aplicação dos direitos
previstos no art. 30 e 31 da Lei nº 9.656, de 1998, os períodos de
contribuição do ex-empregado demitido ou exonerado sem justa causa ou
aposentado decorrentes da contratação do empregador com as várias
operadoras.
Parágrafo único. O disposto no caput somente se aplica aos contratos da
cadeia de sucessão contratual que tenham sido celebrados após 1º de
janeiro de 1999 ou tenham sido adaptados à Lei nº 9.656, de 1998."
(grifou-se)

"Art. 24. Os ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa


ou aposentados e seus dependentes, beneficiários do plano privado de
assistência à saúde anterior, deverão ser incluídos em plano privado de
assistência à saúde da mesma operadora contratada para disponibilizar
plano de saúde aos empregados ativos, observado o disposto no artigo 14
desta Resolução."

Assim, os períodos de contribuição do trabalhador ao plano de saúde sempre


devem ser considerados para fins de aplicação dos arts. 30 e 31 da Lei nº
9.656/1998, mesmo que na época da demissão sem justa causa ou da
aposentadoria o regime de custeio seja diverso.
Dessa forma, verifica-se que não há nenhuma omissão ou contradição na tese
repetitiva aprovada pela Segunda Seção, já que se limitou ao tema estritamente
afetado. (Acórdãos publicados no DJe 29/10/2018.)

Nesse contexto, é oportuno que a questão tratada neste item seja objeto de

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 24 de 8
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tese jurídica a ser votada por esta SEÇÃO.
A tese que proponho, nessa parte, com as sugestões apresentadas pelo
eminente Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, é a seguinte: Eventuais mudanças
de operadora, de modelo de prestação de serviço, de forma de custeio e de
valores de contribuição não implicam interrupção da contagem do prazo de 10
(dez) anos previsto no art. 31 da Lei n. 9.656/1998, devendo haver a soma dos
períodos contributivos para fins de cálculo da manutenção proporcional ou
indeterminada do trabalhador aposentado no plano coletivo empresarial.

II. DIREITOS ASSISTENCIAIS A QUE TEM DIREITO O EX-EMPREGADO


APOSENTADO E ENCARGOS FINANCEIROS (CUSTEIO) QUE DEVERÁ SUPORTAR
Em um modelo de plano de assistência à saúde no qual os beneficiários,
independentes entre si e de origens diversas, não estão vinculados a um mesmo
empregador, o custeio do sistema de proteção tem como fonte o pagamento das
mensalidades efetuado pelos próprios segurados.
Nos casos em que a contratação é feita pelo empregador em favor de seus
empregados, o art. 31 da Lei n. 9.656/1998 estipula um sistema fechado no qual os
beneficiários inativos terão "assegurado o direito de manutenção como beneficiário, nas
mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do
contrato de trabalho, desde que assuma(m) o seu pagamento integral".
Essa simetria só é efetiva quando a forma, o modelo e o valor de custeio
forem os mesmos naquele universo de beneficiários – ativos e inativos –, observadas as
distinções próprias do plano, em especial as faixas etárias.
Do contrário, no caso de o inativo ser compelido a efetuar o pagamento de
mensalidades em muito superiores àquelas exigidas dos trabalhadores em atividade, não
se estará diante da mesma cobertura. Inevitavelmente, o segurado será forçado a
procurar alternativa (no mercado), a despeito da previsão legal que lhe garante a
manutenção do vínculo.
Em tal circunstância, vale dizer, a disposição do art. 31 da lei de regência e
todo o período anterior de contribuição – no mínimo, 10 (dez) anos, que se presume seja
também importante para preservar o equilíbrio atuarial do plano, cujos cálculos para sua
manutenção são de responsabilidade da operadora – tornar-se-iam ineficazes,
desprezando a teleologia que motivou a edição da norma.
De fato, a proteção oferecida pelos planos de saúde é sustentada por meio
do mutualismo que resulta das contribuições efetuadas pelos ativos – quase sempre mais
jovens, demandando menos recursos do sistema – e também pelos inativos, que após o

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transcurso do prazo mínimo de um decênio, passam a ter o direito de gozar do benefício
legal e permanecer no plano como se ativo fosse.
E é exatamente por força desse mutualismo que não há comprometimento
da viabilidade econômico-financeira do plano. Isso porque o equilíbrio é alcançado, nos
termos da formatação legal, por meio do saldo positivo (superávit) que resulta do
pagamento feito pelos trabalhadores da ativa, a despeito da menor utilização dos serviços
do plano. Em contrapartida, os inativos demandam mais os serviços de saúde, todavia
desembolsando um pagamento proporcionalmente inferior, com possível déficit.
Sob esse enfoque, destaco a possibilidade de adoção, para todos, de
tabela de contribuição por faixa etária. Em tal forma de custeio, ativo e inativo com a
mesma idade recolherão mensalmente igual valor de contribuição, sendo devido pelo
aposentado, também, custear a importância subsidiada pelo ex-empregador aos
empregados ainda na atividade. Eventuais abusividades em cláusulas de reajustes de
mensalidades por mudança de faixa etária poderão ser questionadas judicialmente nos
termos do que foi decidido por esta SEGUNDA SEÇÃO no julgamento do REsp n.
1.568.244/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, DJe 19/12/2016, sob o rito
do art. 1.036 e seguintes do CPC/2015.
Existe, ainda, a possibilidade de o empregador, por ausência de vedação
legal, subsidiar os inativos, conforme prevê o parágrafo único do art. 20 da RN n.
279/2011 – ANS, com o seguinte teor:
Art. 20. O plano privado de assistência à saúde exclusivo para ex-empregados
demitidos ou exonerados sem justa causa e aposentados será financiado
integralmente pelos beneficiários.
Parágrafo único. É permitido ao empregador subsidiar o plano de que trata o caput
ou promover a participação dos empregados ativos no seu financiamento, devendo
o valor correspondente ser explicitado aos beneficiários.

Há de se reputar como ilegais, dessarte, as disposições contidas nos arts.


13, II, 17, 18 e 19 da RN n. 279/2011, que, contrariando a norma do art. 31 da Lei n.
9.656/1998, autorizam a constituição de um plano de saúde específico para os inativos,
com valores superiores àqueles desembolsados pelos empregados da ativa. Confiram-se:
Art. 13. Para manutenção do ex-empregado demitido ou exonerado sem justa
causa ou aposentado como beneficiário de plano privado de assistência à saúde,
os empregadores poderão:
[...]
II – contratar um plano privado de assistência à saúde exclusivo para seus
ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa ou aposentados, na
forma do artigo 17, separado do plano dos empregados ativos.

Art. 17. O plano privado de assistência à saúde exclusivo para ex-empregados


demitidos ou exonerados sem justa causa e aposentados deverá ser oferecido pelo
empregador mediante a celebração de contrato coletivo empresarial com a mesma
operadora, exceto na hipótese do artigo 14 desta Resolução, escolhida para
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prestar assistência médica ou odontológica aos seus empregados ativos.
Parágrafo único. O plano de que trata o caput deverá abrigar os ex-empregados
demitidos ou exonerados sem justa causa e os aposentados.

Art. 18. O plano privado de assistência à saúde de que trata o artigo anterior
deverá ser oferecido e mantido na mesma segmentação e cobertura, rede
assistencial, padrão de acomodação em internação, área geográfica de
abrangência e fator moderador, se houver, do plano privado de assistência à saúde
contratado para os empregados ativos.
Parágrafo único. É facultada ao empregador a contratação de um outro plano
privado de assistência à saúde na mesma segmentação com rede assistencial,
padrão de acomodação e área geográfica de abrangência diferenciadas daquelas
mencionadas no caput como opção mais acessível a ser oferecida juntamente com
o plano privado de assistência à saúde de que trata o caput para escolha do
ex-empregado demitido ou exonerado sem juta causa ou aposentado.

Art. 19. A manutenção da condição de beneficiário em plano privado de assistência


à saúde exclusivo para ex-empregados demitidos ou exonerados sem justa causa
ou aposentados poderá ocorrer com condições de reajuste, preço, faixa etária
diferenciadas daquelas verificadas no plano privado de assistência à saúde
contratado para os empregados ativos.
§ 1º É vedada a contratação de plano privado de assistência à saúde de que trata
o caput com formação de preço pós-estabelecida.
§ 2º A participação financeira dos ex-empregados que forem incluídos em plano
privado de assistência à saúde exclusivo para demitidos ou exonerados em justa
causa ou aposentados deverá adotar o sistema de pré-pagamento com
contraprestação pecuniária diferenciada por faixa etária.

Enfim, a correta aplicação do art. 31 da Lei n. 9.656/1998 pressupõe que


ativos e inativos sejam inseridos em um modelo único de plano de saúde, com as mesmas
condições assistenciais, no que se inclui paridade na forma e nos valores de custeio,
ressaltando-se apenas que ao inativo caberá recolher a parcela própria acrescida
daquela que for devida pelo ex-empregador em favor dos ativos. A propósito, cito os
seguintes precedentes da TERCEIRA TURMA que vedam expressamente a separação de
planos para ativos e inativos:
AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. 1.
MANUTENÇÃO DE EMPREGADO APOSENTADO. MESMAS CONDIÇÕES DE
COBERTURA ASSISTENCIAL. ART. 31 DA LEI 9.656/1998. VALORES
DIFERENCIADOS PARA EMPREGADOS ATIVOS E INATIVOS.
IMPOSSIBILIDADE. 2. ENTENDIMENTO RECENTE FIRMADO NO ÂMBITO DA
TERCEIRA TURMA DO STJ. 3. AGRAVO INTERNO IMPROVIDO.
1. Recentemente, a Terceira Turma do STJ passou a compreender que o comando
normativo dos arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998 determina que o pagamento
integral deve corresponder ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto
vigente seu contrato de trabalho, somado à parte antes subsidiada pela
ex-empregadora, pelos preços praticados aos funcionários em atividade e
eventuais reajustes legais para manutenção do equilíbrio do contrato de plano de
saúde, cativo e de longa duração (ut REsp 1.713.619/SP, Rel. Ministra Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julgado em 16/10/2018, DJe 12/11/2018; REsp
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Superior Tribunal de Justiça
1.716.027/SP, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
11/12/2018, DJe 13/12/2018).
2. Compreendeu-se, em tais oportunidades, que o art. 19 da Resolução Normativa
n. 279/2011 da ANS, ao autorizar a manutenção do ex-empregado no plano de
saúde de sua antiga empregadora “com condições de reajuste, preço, faixa etária
diferenciadas daquelas verificadas no plano privado de assistência à saúde
contratado para os empregados ativos", desbordou por completo da Lei 9.656/1998
e, por consectário, de sua função regulamentar, ao restringir direito assegurado na
aludida lei.
3. Agravo interno de BRADESCO SAÚDE S.A. improvido. (AgInt no REsp n.
1.813.718/SP, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, DJe 20/3/2020.)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


PREQUESTIONAMENTO. AUSÊNCIA. CONSONÂNCIA ENTRE O ACÓRDÃO
RECORRIDO E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 568/STJ.
[...]
4. O art. 31 da Lei 9.656/1998, regulamentado pela Resolução Normativa 279/2011
da ANS, não alude a possibilidade de um contrato de plano de saúde destinado
aos empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos. E não faz
distinção entre "preço" para empregados ativos e empregados inativos. O
"pagamento integral" da redação do art. 31 da Lei 9.656/98 deve corresponder ao
valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de trabalho,
e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos preços praticados aos
funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais. Precedentes.
5. Ante o entendimento dominante dos tema nas Turmas de Direito Privado,
aplica-se, no particular, a Súmula 568/STJ.
6. Agravo interno no recurso especial não provido. (AgInt no REsp n. 1.757.199/SP,
Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe 23/10/2019.)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL. PLANOS DE SAÚDE. EMPREGADO APOSENTADO.
MESMAS CONDIÇÕES DE COBERTURA ASSISTENCIAL. ART. 31 DA LEI
9.656/98. VALORES DIFERENCIADOS PARA EMPREGADOS ATIVOS E
INATIVOS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES.
AGRAVO INTERNO DESPROVIDO. (Ag Int no REsp n. 1.755.308/SP, Rel.
Ministro PAULO DE TARSO SANSEVERINO, DJe 3/10/2019.)

PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. CONSONÂNCIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO E A
JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 568/STJ.
[...]
2. O art. 31 da Lei 9.656/1998, regulamentado pela Resolução Normativa 279/2011
da ANS, não alude a possibilidade de um contrato de plano de saúde destinado
aos empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos. E não faz
distinção entre "preço" para empregados ativos e empregados inativos. O
"pagamento integral" da redação do art. 31 da Lei 9.656/98 deve corresponder ao
valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de trabalho,
e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos preços praticados aos
funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais. Precedentes. Ante o
entendimento dominante dos tema nas Turmas de Direito Privado, aplica-se, no
particular, a Súmula 568/STJ.
3. Agravo interno no agravo em recurso especial não provido. (AgInt no AREsp n.
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Superior Tribunal de Justiça
1.435.061/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe 26/9/2019.)

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE
FAZER. MANUTENÇÃO NO PLANO DE SAÚDE PELO MESMO VALOR
COBRADO À ÉPOCA DA VIGÊNCIA DO CONTRATO DE TRABALHO,
ACRESCIDO DA PARTE SUBSIDIADA, NOS TERMOS DO ART. 31 DA LEI Nº
9.656/98. VALOR DA MENSALIDADE FIXADO COM BASE NO CONTRATO
CELEBRADO PARA OS FUNCIONÁRIOS ATIVOS COM GARANTIA DA MESMA
COBERTURA ASSISTENCIAL, PREÇO E REAJUSTES APLICADOS AOS
ATIVOS. PRECEDENTES, SÚMULA Nº 568 DO STJ. DECISÃO MANTIDA.
MULTA DO ART. 1.021, § 4º, DO NCPC. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO,
COM IMPOSIÇÃO DE MULTA.
[...]
2. O "pagamento integral" da redação do art. 31 da Lei nº 9.656/98 deve
corresponder ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu
contrato de trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos
preços praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.
3. O art. 31 da Lei nº 9.656/98, regulamentado pela Resolução Normativa nº
279/2011 da ANS, não alude à possibilidade de um contrato de plano de saúde
destinado aos empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos,
tampouco a diferenciação nos preços pagos.
[...]
6. Agravo interno não provido, com imposição de multa. (AgInt no REsp n.
1.600.189/SP, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, DJe 12/6/2019.)

AGRAVO INTERNO NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NO AGRAVO EM


RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE. 1. MANUTENÇÃO DE EMPREGADO
APOSENTADO. MESMAS CONDIÇÕES DE COBERTURA ASSISTENCIAL. ART.
31 DA LEI 9.656/98. VALORES DIFERENCIADOS PARA EMPREGADOS ATIVOS
E INATIVOS. IMPOSSIBILIDADE. 2. ÔNUS SUCUMBENCIAIS. OBSERVÂNCIA
DO PRINCÍPIO DA CAUSALIDADE. 3. AGRAVO DESPROVIDO.
1. Consoante a jurisprudência desta Corte, "o art. 31 da Lei 9.656/98,
regulamentado pela Resolução Normativa 279/2011 da ANS, não alude a
possibilidade de um contrato de plano de saúde destinado aos empregados ativos
e outro destinado aos empregados inativos. E, quanto ao ponto da insurgência
recursal, não faz distinção entre "preço" para empregados ativos e empregados
inativos" (REsp n. 1.716.027/SP, Rel. Ministra Nancy Nadrighi, Terceira Turma,
julgado em 11/12/2018, DJe 13/12/2018).
1.1. Portanto, o pagamento integral, a que alude o art. 31 da Lei 9.656/98,
corresponderá ao valor da contribuição do ex-empregado e da parte paga por sua
ex-empregadora enquanto vigente seu contrato de trabalho, conforme os preços
praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.
2. De acordo com o princípio da causalidade, a parte que se opor ao pedido da
exordial deverá arcar com os ônus sucumbenciais.
3. Agravo interno desprovido. (AgInt nos EDcl no AREsp n. 1.246.394/SP, Rel.
Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, DJe 15/6/2019.)

DIREITO PRIVADO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


VIOLAÇÃO DE DISPOSITIVO CONSTITUCIONAL DESCABIMENTO. EMBARGOS
DE DECLARAÇÃO. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO OU OBSCURIDADE. NÃO
INDICAÇÃO. SÚMULA 284/STF. PLANOS DE SAÚDE. MANUTENÇÃO DE
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Superior Tribunal de Justiça
EMPREGADO APOSENTADO. MESMAS CONDIÇÕES DE COBERTURA
ASSISTENCIAL. ART. 31 DA LEI 9656/98. RESOLUÇÃO NORMATIVA 279/2011
DA ANS. VALORES DIFERENCIADOS PARA EMPREGADOS ATIVOS E
INATIVOS. IMPOSSIBILIDADE. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS RECURSAIS.
MAJORAÇÃO.
[...]
6. O art. 31 da Lei 9.656/1998, regulamentado pela Resolução Normativa 279/2011
da ANS, não alude a possibilidade de um contrato de plano de saúde destinado
aos empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos. E, quanto ao
ponto da insurgência recursal, não faz distinção entre "preço" para empregados
ativos e empregados inativos.
7. O "pagamento integral" da redação do art. 31 da Lei 9.656/98 deve corresponder
ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de
trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos preços
praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.
Precedentes.
[...]
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
NÃO PROVIDO. (REsp n. 1.716.027/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe
13/12/2018.)

DIREITO PRIVADO. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER.


PLANOS DE SAÚDE. MANUTENÇÃO DE EMPREGADO APOSENTADO.
MESMAS CONDIÇÕES DE COBERTURA ASSISTENCIAL. ART. 31 DA LEI
9656/98. RESOLUÇÃO NORMATIVA 279/2011 DA ANS. VALORES
DIFERENCIADOS PARA EMPREGADOS ATIVOS E INATIVOS.
IMPOSSIBILIDADE.
1. Ação ajuizada em 15/01/16. Recurso especial interposto em 02/05/2017 e autos
conclusos ao gabinete em 15/12/17. Julgamento: CPC/15.
2. O propósito recursal é definir o alcance da determinação legal “mesmas
condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência do contrato
de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral”, expressa no art. 31 da
Lei 9.656/98, para o aposentado ou o demitido sem justa causa mantido no plano
de saúde fornecido por seu ex-empregador.
3. Da análise da redação dos arts. 30 e 31 da Lei dos Planos de Saúde, infere-se o
interesse do legislador em proteger a saúde do ex-empregado, demitido sem justa
causa ou aposentado, com sua manutenção como beneficiário do plano privado de
assistência à saúde usufruído em decorrência da relação de emprego nas
“mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da vigência
do contrato de trabalho”.
4. O art. 31 da Lei 9.656/98, regulamentado pela Resolução Normativa 279/2011
da ANS, não alude a possibilidade de um contrato de plano de saúde destinado
aos empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos. E, quanto ao
ponto da insurgência recursal, não faz distinção entre “preço” para empregados
ativos e empregados inativos.
5. O “pagamento integral” da redação do art. 31 da Lei 9.656/98 deve corresponder
ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente seu contrato de
trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora, pelos preços
praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes legais.
Precedentes.
6. Recurso especial conhecido e não provido, com majoração de honorários
recursais. (REsp n. 1.713.619/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe
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Superior Tribunal de Justiça
12/11/2018.)

No âmbito da QUARTA TURMA, no mesmo sentido, menciono os seguintes


precedentes:
RECURSO ESPECIAL. AÇÃO VOLTADA À MANUTENÇÃO DE EMPREGADO
APOSENTADO EM PLANO DE SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL. MESMAS
CONDIÇÕES DE COBERTURA ASSISTENCIAL. VALORES DIFERENCIADOS
PARA EMPREGADOS ATIVOS E INATIVOS. IMPOSSIBILIDADE.
1. Na hipótese do artigo 31 da Lei n. 9.656/98, mantidas as condições de
cobertura assistencial da ativa, não há que se falar em direito adquirido do
aposentado ao regime de custeio do plano de saúde coletivo empresarial vigente à
época do contrato de trabalho, revelando-se lícita sua migração para novo plano se
necessário o redesenho do sistema para evitar o seu colapso (exceção da ruína),
afastadas a onerosidade excessiva ao consumidor e a discriminação ao idoso
(REsp 1.479.420/SP, Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma,
julgado em 01.09.2015, DJe 11.09.2015).
2. Tal exegese não significa, contudo, que os empregadores possam contratar
plano de assistência à saúde exclusivo para seus ex-empregados com condições
de reajuste, preço e faixa etária diferenciadas do plano de saúde dos empregados
da ativa, malgrado assim preceituem os artigos 13, inciso II, 17, 18 e 19 da
Resolução ANS 279/2011, que, claramente, contrariam o princípio da hierarquia
das leis, ao restringirem direito garantido pela norma jurídica que regulamentam (no
caso, o artigo 31 da Lei 9.656/98, cuja teleologia reclama o respeito ao mutualismo
entre as contribuições de ativos e de inativos).
3. Nesse quadro, a correta aplicação do citado dispositivo legal impõe a inserção
de ativos e inativos em um modelo único de plano de saúde, com as mesmas
condições assistenciais, observada a paridade na forma e nos valores de custeio,
cabendo ao ex-empregado arcar com o pagamento integral, isto é, a parcela
própria acrescida da parte subsidiada pela ex-empregadora em favor dos
funcionários em atividade.
4. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp n. 1.573.911/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, DJe 3/11/2020 – grifei.)

DIREITO CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE


SAÚDE COLETIVO. DEMANDA PELA PERMANÊNCIA DE APOSENTADO EM
PLANO DE SAÚDE COLETIVO. ARTS. 30 E 31 DA LEI 9.656/1998.
JURISPRUDÊNCIA SEDIMENTADA. SÚMULA 83/STJ. ART. 31, CAPUT, DA LEI
9.656/1998. VALOR CONSIDERADO COMO PAGAMENTO INTEGRAL.
PRECEDENTES. CONDIÇÕES DA MIGRAÇÃO DO CONTRATO. ABUSIVIDADE.
REEXAME. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULAS 5 E 7/STJ. DECISÃO MONOCRÁTICA
INALTERADA. RECURSO QUE DEIXA DE IMPUGNAR ESPECIFICAMENTE OS
FUNDAMENTOS DA DECISÃO ORA AGRAVADA. INCIDÊNCIA DOS ARTS. 932,
III, E 1.021, § 1º, DO CPC/2015 E DA SÚMULA 182 DO STJ. RECURSO NÃO
PROVIDO.
1. A decisão ora recorrida está em consonância com a jurisprudência desta Corte
Superior ao concluir que o "pagamento integral", a que se refere o caput do art. 31
da Lei 9.656/1998, deve corresponder ao valor da contribuição do ex-empregado,
enquanto vigente seu contrato de trabalho, acrescido da parte antes subsidiada por
sua empresa ex-empregadora, mantendo-se a paridade com o preço praticado no
contrato destinado aos empregados ativos, o qual poderá variar conforme as
alterações promovidas no plano paradigma, e sempre em paridade com o que a
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Superior Tribunal de Justiça
ex-empregadora tiver que custear, devendo-se evitar a onerosidade excessiva ao
usuário/beneficiário e a discriminação injustificada aos ocupantes das faixas
etárias de maior idade. Precedentes
[...]
4. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp n. 1.822.847/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, DJe 19/11/2019.)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – AÇÃO DECLARATÓRIA C/C


PEDIDO CONDENATÓRIO – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA RECURSAL DA AUTORA.
[...]
2. Entende esta Corte, no que toca ao art. 31 da Lei 9.656/98, que, mantidas as
condições de cobertura assistencial da ativa, não há que se falar em direito
adquirido do ex-funcionário, aposentado ou demitido sem justa causa, ao regime
de custeio do plano de saúde coletivo empresarial vigente à época do contrato de
trabalho. É lícita a sua migração para novo plano, na modalidade pré-pagamento
por faixa etária e, se necessário, o redesenho do sistema para evitar o seu colapso
(exceção da ruína), afastadas a onerosidade excessiva ao consumidor e a
discriminação ao idoso.
3. A impugnação pertinente à suposta inexistência de paridade de condições dos
planos de saúde oferecidos a funcionários da ativa e inativos demandaria
revolvimento de matéria fático-probatória. Incidência das Súmula 5 e 7/STJ.
4. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp n. 1.757.935/SP, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 19/2/2019 – grifei.)

Destaco que a QUARTA TURMA, no julgamento do AgInt no AREsp n.


1.573.911/SP, após amplo debate em sessão e apresentação de voto vista da minha
lavra, concluiu pela impossibilidade de incluir os aposentados em plano de saúde diverso
dos empregados da ativa.
No julgamento do AgInt no REsp n. 1.822.847/SP, por sua vez, indeferiu a
tese defendida pela então agravante no sentido de ser legal a "divisão de categorias de
beneficiários do plano de saúde entre ativos e inativos".
Quanto ao precedente vinculado ao AgInt no REsp n. 1.757.935/SP, a
QUARTA TURMA expressamente vedou a "discriminação ao idoso" e manteve incólume o
acórdão recorrido, do TJSP, segundo o qual "os valores das prestações mensais a serem
pagas pelo beneficiário inativo dever ser calculadas com base no contrato coletivo vigente
para funcionários ativos à época de cada vencimento. Assim, será mantida a paridade
entre os valores pagos pelos funcionários em atividade e aqueles suportados pelo
beneficiário inativo, que arcará com aqueles somados à parcela subsidiada pela
empregadora" (cf. e-STJ fl. 310 dos respectivos autos). Em tal acórdão recorrido foi
esclarecido também que "a autora aderiu à opção de permanecer no plano de saúde em
14.10.2015 [...] mas em 01.12.2015 [...] passou a viger nova forma de cálculo do prêmio
pago pelos beneficiários, que incluiu, consoante tabela [...], os funcionários ativos e

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Superior Tribunal de Justiça
inativos" (cf. e-STJ fl. 310 dos respectivos autos).
Revela-se oportuno, ainda, indicar precedente da QUARTA TURMA que,
embora não afirme expressamente ser vedado inserir os inativos em plano de saúde
diverso dos ativos, deixou claro que não se poderia distinguir os valores de contribuição.
Eis a ementa do respectivo acórdão:
RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. APOSENTADORIA DO
BENEFICIÁRIO. MANUTENÇÃO DAS MESMAS CONDIÇÕES DE ASSISTÊNCIA
MÉDICA E VALORES DE CONTRIBUIÇÃO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 31 DA
LEI 9.656/98. RECURSO PROVIDO.
[...]
2. A melhor interpretação a ser dada ao caput do art. 31 da Lei 9.656/98, ainda que
com a nova redação dada pela Medida Provisória 1.801/99, é no sentido de que
deve ser assegurada ao aposentado a manutenção no plano de saúde coletivo,
com as mesmas condições de assistência médica e de valores de contribuição,
desde que assuma o pagamento integral desta, a qual poderá variar conforme as
alterações promovidas no plano paradigma, sempre em paridade com o que a
ex-empregadora tiver que custear.
3. Recurso especial provido. (REsp n. 531.370/SP, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO,
DJe 6/9/2012.)

Vale destacar aqui parte dos escorreitos fundamentos lançados pelo


eminente Relator, Ministro RAUL ARAÚJO, assim:
A redação original do mencionado dispositivo legal dispunha assegurar ao
ex-empregado aposentado "o direito de manutenção como beneficiário, nas
mesmas condições de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho,
desde que assuma o pagamento integral do mesmo". Com a alteração de redação
promovida pela MP n. 1.801/99, a regra legal passou a dizer: "o direito de
manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de cobertura
assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que
assuma o pagamento integral do mesmo" (grifou-se).
Discute-se, então, se a expressão "mesmas condições de cobertura assistencial"
englobaria, além dos benefícios de assistência à saúde, também o preço da
mensalidade do seguro a ser assumido pelo aposentado, ou seja, se o interessado
teria assegurado o direito de pagar o mesmo valor per capita de contribuição que
sua ex-empregadora paga à ora recorrida pelos empregados em atividade, no grupo
segurado.
A respeito do tema, salutar interpretação foi dada pelo ilustre Desembargador
Manoel Ricardo Rebello Pinho, que formulou o voto vencido no colendo Tribunal de
origem, in litteris:
"Ora, se o art. 31, caput, da Lei n.º 9.656/98, assegura o direito à
manutenção da cobertura assistencial 'nas mesmas condições', em que
gozava o aposentado quando da vigência do contrato de trabalho, 'desde
que assuma o pagamento integral do mesmo', impõe-se o
reconhecimento de que: (a) os termos 'as mesmas condições da
cobertura assistencial' se referem às obrigações devidas pelos
interessados, quando da vigência do contrato de trabalho, ou seja, os
mesmos serviços de assistência médica e os mesmos valores de
contribuição e (b) enquanto os termos 'desde que (o aposentado) assuma
o pagamento integral do mesmo' limitam a alteração do pagamento,

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Superior Tribunal de Justiça
apenas e tão-somente, quanto ao aspecto subjetivo, ou seja, a obrigação
de pagamento da contribuição passa a ser do beneficiário em
substituição da ex-empregadora.
É de se ver que o legislador, pela referida norma, assegurou o direito à
manutenção da cobertura assistencial 'nas mesmas condições' - ou seja,
sem alteração das prestações devidas pelas partes, no que se refere à
natureza e a valores - e, quanto ao pagamento, determinou apenas e
tão-somente a atribuir ao aposentado a obrigação pelo pagamento da
contribuição, sem, contudo, nada dispor sobre a alteração de valores de
contribuição.
(...)
É de ver que a interpretação da ré, no sentido de que os termos 'nas
mesmas condições de cobertura assistencial' limitam o benefício do
referido art. 31 à manutenção apenas e tão-somente dos serviços de
assistência médica do contrato coletivo, sem não abranger a preservação
dos mesmos valores pagos, afronta os princípios de interpretação supra
apontados, porquanto, friso, (a) quanto ao direito de manutenção das
mesmas condições de cobertura assistencial existentes na vigência do
contrato de trabalho o legislador regulou o todo e não apenas a parte
relativa a prestação de serviços, e (b) quanto ao pagamento, o legislador
não estabeleceu qualquer distinção a respeito de valores a serem pagos,
somente atribuiu ao aposentado a obrigação de pagar a mensalidade em
substituição da ex-empregadora." (fls. 152/153)

Com essas considerações, tem-se que a melhor interpretação a ser dada ao caput
do art. 31 da Lei 9.656/98, ainda que com a nova redação dada pela Medida
Provisória 1.801/99, é no sentido de que deve ser assegurada ao aposentado a
manutenção no plano de saúde coletivo, com as mesmas condições de
assistência médica e de valores de contribuição, desde que assuma o pagamento
integral desta.
Entender em sentido diverso ensejaria o esvaziamento da norma, na medida em
que retiraria do aposentado o benefício nela ínsito de ser mantido no plano de
saúde coletivo, pois bastaria à operadora do plano de saúde ou seguradora
promover forte majoração na prestação do seguro para forçar o segurado a se
retirar do grupo. Dessa maneira, o aposentado acabaria migrando para outra
operadora que lhe oferecesse plano individual mais favorável e com menor custo.
A regra dos arts. 30 e 31 da mencionada Lei teve como objetivo corrigir grave
injustiça praticada contra o consumidor contribuinte de plano privado coletivo de
saúde, o qual, após anos de contribuição, via-se compelido a contratar novo plano,
quando, muitas vezes, já se encontrava idoso, tendo que se submeter, inclusive, a
novos prazos de carência e a preços muito elevados. Por isso, essa norma
assegura ao beneficiário, em caso de aposentadoria, sua permanência no mesmo
plano coletivo de que era parte anteriormente, apenas tendo que pagar
integralmente o preço devido à operadora do plano de saúde.
Essa é a exegese que mais se adequa à parte final do dispositivo legal que
determina seja assumido pelo aposentado o pagamento integral da contribuição,
sem mencionar nenhuma alteração no preço. Determinou-se apenas que o
montante anteriormente custeado pelo ex-empregador (parcial ou integral) seja
arcado, em sua totalidade, pelo próprio aposentado-beneficiário.

Conforme decidido nos referidos precedentes, da TERCEIRA e da QUARTA

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Superior Tribunal de Justiça
TURMAS, sobretudo diante da impossibilidade de instituir valores de contribuição diversos,
não se admite a constituição de um plano de saúde para os ativos e outro para os inativos
que se enquadrem na hipótese prevista pelo art. 31 da Lei n. 9.656/1998. O
ex-empregado aposentado, portanto, tem direito de permanecer nas mesmas condições
de cobertura assistencial gozadas pelos ativos, incluindo nessa paridade os modelos e os
valores de contribuição, competindo-lhe o recolhimento correspondente à parcela
custeada pelo empregador no caso dos ativos.
A tese que proponho, nessa parte, com as sugestões apresentadas pelo
eminente Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, é a seguinte: O art. 31 da lei n.
9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em plano de saúde
coletivo único, contendo as mesmas condições de cobertura assistencial e de
prestação de serviço, o que inclui, para todo o universo de beneficiários, a
igualdade de modelo de pagamento e de valor de contribuição, admitindo-se a
diferenciação por faixa etária se for contratada para todos, cabendo ao inativo o
custeio integral, cujo valor pode ser obtido com a soma de sua cota-parte com a
parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo
empregador.

III. AUSÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO AOS MESMOS MODELOS


ASSISTENCIAL E DE CUSTEIO QUANDO EM VIGOR O CONTRATO DE TRABALHO DO
EX-EMPREGADO APOSENTADO – DIREITO DO INATIVO À PARIDADE COM O ATIVO
NA ATUALIDADE
Conquanto seja garantida a paridade entre ativos e inativos, conforme
asseverado acima, não se pode falar em direito adquirido dos ex-empregados à
manutenção do plano coletivo de assistência à saúde – e suas condições contratuais – em
vigor no momento da aposentadoria.
Isso porque a possibilidade de alteração da operadora, do modelo de
prestação de serviços, da forma de custeio e dos valores que devem ser recolhidos pelos
beneficiários ao longo do tempo é um mecanismo essencial para manter a viabilidade do
plano, sobretudo diante das incertezas econômicas e do mercado, das condições
financeiras do empregador e de possível aumento substancial da sinistralidade.
Vale lembrar que, sem a possibilidade de modificação e adaptação
periódica, e diante de eventual inviabilidade financeira do plano, a operadora poderá
exercer seu direito de rescindir unilateralmente o contrato, conforme orienta a
jurisprudência deste Tribunal Superior, ressalvados os planos com menos de 30 (trinta)
usuários e os direitos de beneficiários enquanto submetidos a tratamentos de doenças

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 35 de 8
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graves, de urgência e de emergência, além de outras exceções que venham a ser
reconhecidas. Sobre o tema, cito, por exemplo:
AGRAVO INTERNO. PLANO DE SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL. 30 OU
MAIS USUÁRIOS. RESILIÇÃO UNILATERAL. POSSIBILIDADE. ART. 13, § 2º, DA
LEI N. 9.656/1998. NÃO INCIDÊNCIA. APLICAÇÃO DOS ÍNDICES DE REAJUSTE
ESTABELECIDOS PELA ANS PARA PLANOS INDIVIDUAIS E FAMILIARES, A
PLANO DE SAÚDE COLETIVO, INDEPENDENTEMENTE DA QUANTIDADE DE
USUÁRIOS. INVIABILIDADE. DIFERENÇAS NA PRECIFICAÇÃO.
ENTENDIMENTO PACIFICADO NAS DUAS TURMAS DE DIREITO PRIVADO.
1. Com relação às duas espécies de contratação coletiva - empresarial ou por
adesão -, a Resolução Normativa n. 195, de 14.7.2009, da Diretoria Colegiada da
Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS, com base na atribuição que lhe
foi conferida pelo art. 4º, II e X, da Lei n. 9.961/2000, regulamentou as
características dessas espécies de contratos privados de assistência à saúde
vigentes no país. Consoante o art. 17 dessa Resolução, os contratos de planos
privados de assistência à saúde coletivos por adesão ou empresariais somente
poderão ser rescindidos imotivadamente (resilição) após a vigência do período de
doze meses e mediante prévia notificação da outra parte com antecedência
mínima de sessenta dias (REsp 1346495/RS, Rel. Ministro LUIS FELIPE
SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 11/06/2019, DJe 02/08/2019).
2. Por ocasião do recente julgamento do REsp 1.776.047/SP, a Quarta Turma, na
mesma linha do entendimento pacificado no âmbito da Terceira Turma, pacificou
que a regulamentação dos planos coletivos empresariais (Lei n° 9.656/98, art. 16,
VII) distingue aqueles com menos de trinta usuários, impondo sejam agrupados
com a finalidade de diluição do risco de operação e apuração do cálculo do
percentual de reajuste a ser aplicado em cada um deles (Resoluçoes 195/2009 e
309/2012 da ANS)" (REsp 1776047/SP, Rel. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI,
QUARTA TURMA, julgado em 23/04/2019, DJe 25/04/2019).
3. Nesses tipos de contrato - com menos de 30 usuários -, em vista da
vulnerabilidade da empresa estipulante, dotada de escasso poder de barganha, não
se admite a simples resilição unilateral pela operadora de plano de saúde, havendo
necessidade de motivação idônea. Contudo, os contratos coletivos de plano de
saúde com menos de 30 (trinta) beneficiários não podem ser transmudados em
plano familiar, que não possui a figura do estipulante e cuja contratação é
individual. A precificação entre eles é diversa, não podendo ser desnaturarada a
contratação (REsp 1553013/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA,
TERCEIRA TURMA, julgado em 13/03/2018, DJe 20/03/2018).
4. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp n. 1.428.427/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 26/11/2019.)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE


FAZER CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PLANO DE
SAÚDE. CONTRATO COLETIVO EMPRESARIAL. RESCISÃO IMOTIVADA.
IMPOSSIBILIDADE. MENOS DE TRINTA BENEFICIÁRIOS. SÚMULA Nº 568/STJ.
[...]
2. É inválida a rescisão unilateral imotivada pela operadora do plano de saúde no
caso de contrato coletivo empresarial que possua menos de 30 (trinta)
beneficiários em virtude da vulnerabilidade da empresa estipulante. Incidência da
Súmula nº 568/STJ.
3. Agravo interno não provido. (AgInt no REsp n. 1.771.253/SP, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 21/11/2019.)

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PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. OMISSÃO, CONTRADIÇÃO, OBSCURIDADE. AUSÊNCIA.
FUNDAMENTAÇÃO. DEFICIENTE. SÚMULA 284/STF. FUNDAMENTO DO
ACÓRDÃO NÃO IMPUGNADO. SÚMULA 283/STF. REEXAME DE FATOS E
PROVAS. INADMISSIBILIDADE. HARMONIA ENTRE O ACÓRDÃO RECORRIDO
E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. SÚMULA 568/STJ.
[...]
6. As operadoras de plano de saúde coletivo podem rescindir unilateralmente os
contratos desde que haja expressa previsão contratual nesse sentido, o vínculo
tenha vigência mínima de doze meses e tenha havido prévia notificação da
rescisão com antecedência mínima de 60 (sessenta) dias. Precedentes. Ante o
entendimento dominante do tema nas Turmas de Direito Privado, aplica-se, no
particular, a Súmula 568/STJ.
7. Agravo interno no agravo em recuso especial não provido. (AgInt no AREsp n.
1.450.785/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, DJe
19/6/2019.)

CIVIL. CONTRATOS. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO


ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE COLETIVO. RESCISÃO UNILATERAL.
MANUTENÇÃO DO CONVÊNIO. BENEFICIÁRIO EM ESTADO GRAVE DE
SAÚDE. SÚMULA N. 83/STJ. DECISÃO MANTIDA.
1. "O plano de saúde coletivo pode ser rescindido ou suspenso imotivadamente
(independentemente da existência de fraude ou inadimplência), após a vigência do
período de doze meses e mediante prévia notificação do usuário com
antecedência mínima de sessenta dias (artigo 17 da Resolução Normativa ANS
195/2009). Nada obstante, no caso de usuário em estado de saúde grave,
independentemente do regime de contratação do plano de saúde (coletivo ou
individual), deve-se aguardar a conclusão do tratamento médico garantidor da
sobrevivência e/ou incolumidade física para se pôr fim à avença" (AgInt no AREsp
1.433.637/SP, Relator Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 16/5/2019, DJe 23/5/2019).
2. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no AREsp n. 1.290361/SP, da
minha relatoria, QUARTA TURMA, DJe 22/11/2019.)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER. PLANO DE SAÚDE. CONCLUSÃO ACERCA DO
PAGAMENTO INTEGRAL DA MENSALIDADE PELA AUTORA. SÚMULA 7 DO
STJ. FUNDAMENTOS NÃO ATACADOS. SÚMULA 283 DO STF. PLANO DE
SAÚDE QUE NÃO PODE SER RESCINDIDO DURANTE O TRATAMENTO
MÉDICO GARANTIDOR DA SOBREVIVÊNCIA. SÚMULA 83 DO STJ. RECURSO
NÃO PROVIDO.
[...]
2. A recorrente não impugna o argumento de que o plano de saúde não pode ser
cancelado no momento, pois a Autora está em tratamento emergencial, em razão
de doença grave - câncer. Assim, a subsistência de fundamento inatacado apto a
manter a conclusão do aresto impugnado impõe o não-conhecimento da pretensão
recursal, a teor do entendimento disposto na Súmula nº 283/STF: "É inadmissível
o recurso extraordinário quando a decisão recorrida assenta em mais de um
fundamento suficiente e o recurso não abrange todos eles."
3. Não obstante o plano de saúde coletivo possa ser rescindido unilateralmente,
mediante prévia notificação do usuário, esta Corte reconhece ser abusiva a
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Superior Tribunal de Justiça
rescisão do contrato durante o tratamento médico garantidor da sobrevivência.
Nesse sentido: AgInt no AREsp 1.085.841/RS, Rel. Ministra MARIA ISABEL
GALLOTTI, QUARTA TURMA, julgado em 20/03/2018, DJe de 04/04/2018; AgInt no
AREsp 1.072.700/RS, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA
TURMA, julgado em 27/06/2017, DJe de 1º/08/2017; AgRg no AREsp 624.420/RJ,
Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em
24/03/2015, DJe de 07/04/2015). Incidência da Súmula 83 do STJ.
4. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp n. 1.553.320/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 12/11/2019.)

CIVIL. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL.


RECURSO MANEJADO SOB A ÉGIDE DO NCPC. CONTRATO DE PLANO DE
SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL. RESILIÇÃO UNILATERAL. REALIZAÇÃO
DURANTE O PERÍODO DE TRATAMENTO MÉDICO GARANTIDOR DA
SOBREVIVÊNCIA OU A MANUTENÇÃO DA INCOLUMIDADE FÍSICA DO
BENEFICIÁRIO. ABUSIVIDADE. PRECEDENTES. DECISÃO MANTIDA. MULTA
DO ART. 1.021, § 4º, DO NCPC. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO, COM
IMPOSIÇÃO DE MULTA.
[...]
2. A jurisprudência desta Corte considera abusiva a rescisão contratual de plano
de saúde, por parte da operadora, independentemente do regime de contratação
(individual ou coletivo), durante o período e m que a parte segurada esteja
submetida a tratamento médico de emergência ou de urgência garantidor da sua
sobrevivência e/ou incolumidade física, em observância ao que estabelece o art.
35-C da Lei n. 9.656/1998.
[...]
5. Agravo interno não provido, com imposição de multa. (AgInt no REsp n.
1.791.755/RS, Rel. Ministro MOURA RIBEIRO, DJe 3/10/2019.)

Com isso, alteradas as regras e o próprio plano destinado aos ativos,


sobretudo com o propósito de mantê-lo em pleno funcionamento, tais mudanças se
estenderão igualmente aos inativos, o que faz permanecer sempre atual a paridade
estabelecida em lei, sob todos os enfoques – serviços e valores das contribuições.
Acerca do tema, confiram-se os seguintes julgados desta Corte Superior:
AGRAVO INTERNO NO AGRAVO INTERNO NO PEDIDO DE RECONSIDERAÇÃO
NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE EMPRESARIAL COLETIVO.
AUTOR DEMITIDO SEM JUSTA CAUSA. SISTEMA DE CÁLCULO PARA A
APURAÇÃO DO PRÊMIO. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. INEXISTÊNCIA DE DIREITO
ADQUIRIDO A MODELO DE PLANO DE SAÚDE. ONEROSIDADE EXCESSIVA.
DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL. SÚMULA 7 DO STJ.
[...]
2. Esta Corte Superior entende que não há direito adquirido a modelo de plano de
saúde ou de custeio, podendo o estipulante e a operadora redesenharem o
sistema para evitar o seu colapso (exceção da ruína), contanto que não haja
onerosidade excessiva ao consumidor ou discriminação de idoso.
3. Não obstante, no caso concreto, a Corte de origem asseverou que a alteração
do plano de saúde trouxe onerosidade excessiva para o consumidor, visto que
houve a majoração de mensalidades a valores exorbitantes. Incidência dos
enunciados previstos nas Súmulas 5 e 7 do STJ.
[...]
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 38 de 8
Superior Tribunal de Justiça
5. Agravo interno não provido. (AgInt no AgInt no RCD no REsp n. 1.664.358/SP,
Rel. Ministro LUIZ FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 3/12/2019.)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE


SAÚDE. 1. MANUTENÇÃO NO PLANO DE SAÚDE. ART. 31 DA LEI N.
9.656/1998. APOSENTADO. POSSIBILIDADE. MESMAS CONDIÇÕES E
COBERTURAS VIGENTES DURANTE O CONTRATO DE TRABALHO. 2.
REAJUSTE DAS MENSALIDADES. POSSIBILIDADE. ABUSIVIDADE NÃO
CONFIGURADA. ALTERAÇÃO. SÚMULAS 5 E 7 DO STJ. 3. MULTA DO ART.
1.021, § 4º, DO CPC/2015. NÃO INCIDÊNCIA, NA ESPÉCIE. 4. AGRAVO
DESPROVIDO.
1. Ao aposentado deve ser assegurada a manutenção no plano de saúde coletivo
empresarial, com as mesmas condições e qualidade de assistência médica.
Entretanto, não há falar em direito adquirido do aposentado ao regime de custeio
do plano vigente à época do contrato de trabalho.
[...]
4. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp n. 1.453.373/SP, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, DJe 6/8/2019.)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. PLANO DE


SAÚDE. MANUTENÇÃO DE APOSENTADO E DEPENDENTES. NOVO REGIME
DE CUSTEIO. POSSIBILIDADE. RECURSO NÃO PROVIDO.
1. Na hipótese do artigo 31 da Lei 9.656/98, mantidas as condições de cobertura
assistencial da ativa, não há que se falar em direito adquirido do aposentado ao
regime de custeio do plano de saúde coletivo empresarial vigente à época do
contrato de trabalho, revelando-se lícita sua migração para novo plano, na
modalidade pré-pagamento por faixa etária, se necessário o redesenho do sistema
para evitar o seu colapso (exceção da ruína), afastadas a onerosidade excessiva
ao consumidor e a discriminação ao idoso (REsp 1.479.420/SP, Rel. Ministro
Ricardo Villas Bôas Cueva, Terceira Turma, julgado em 01.09.2015, DJe
11.09.2015).
2. O acolhimento das impugnações pertinentes à suposta inexistência de paridade
de condições dos planos de saúde oferecidos a funcionários da ativa e inativos,
bem como a respeito da ocorrência de onerosidade excessiva e discriminação do
idoso, demandaria revolvimento de matéria fático-probatória. Incidência das Súmula
5 e 7/STJ.
3. Agravo interno não provido. (AgInt no AREsp n. 1.427.846/SP, Rel. Ministro LUIS
FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, DJe 15/5/2019.)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL – AÇÃO DECLARATÓRIA C/C


PEDIDO CONDENATÓRIO – DECISÃO MONOCRÁTICA QUE NEGOU
PROVIMENTO AO RECLAMO.
INSURGÊNCIA RECURSAL DA AUTORA.
[...]
2. Entende esta Corte, no que toca ao art. 31 da Lei 9.656/98, que, mantidas as
condições de cobertura assistencial da ativa, não há que se falar em direito
adquirido do ex-funcionário, aposentado ou demitido sem justa causa, ao regime
de custeio do plano de saúde coletivo empresarial vigente à época do contrato de
trabalho. É lícita a sua migração para novo plano, na modalidade pré-pagamento
por faixa etária e, se necessário, o redesenho do sistema para evitar o seu colapso
(exceção da ruína), afastadas a onerosidade excessiva ao consumidor e a
discriminação ao idoso.
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 39 de 8
Superior Tribunal de Justiça
3. A impugnação pertinente à suposta inexistência de paridade de condições dos
planos de saúde oferecidos a funcionários da ativa e inativos demandaria
revolvimento de matéria fático-probatória. Incidência das Súmula 5 e 7/STJ.
4. Agravo interno desprovido. (AgInt no REsp n. 1.757.935/SP, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 19/2/2019.)

AGRAVO INTERNO NO RECURSO ESPECIAL. PLANO DE SAÚDE.


EX-FUNCIONÁRIOS E APOSENTADOS. MANUTENÇÃO DO BENEFICIÁRIO NO
PLANO. ALTERAÇÃO DO MODELO DE CONTRIBUIÇÕES. POSSIBILIDADE.
285-A, DO CPC/73. CERCEAMENTO DE DEFESA. INOCORRÊNCIA. TESE DO
RECURSO ESPECIAL QUE DEMANDA REEXAME DE CONTEXTO FÁTICO E
PROBATÓRIO DOS AUTOS. SÚMULA N° 7/STJ. NÃO PROVIMENTO.
1. "Ao aposentado deve ser assegurada a manutenção no plano de saúde coletivo
empresarial, com as mesmas condições e qualidade de assistência médica.
Entretanto, não há falar em direito adquirido do aposentado ao regime de custeio
do plano vigente à época do contrato de trabalho" (REsp 1558456/SP, Rel.
Ministro Marco Buzzi, Quarta Turma, julgado em 15/9/2016, DJe 22/9/2016).
2. A tese defendida no recurso especial demanda reexame do contexto fático e
probatório dos autos, vedado pela Súmula n° 7/STJ.
3. Agravo interno a que se nega provimento. (AgInt no REsp n. 1.600.188/SP, Rel.
Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, QUARTA TURMA, DJe 23/3/2018.)

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO (ART. 544 DO CPC/73) - AÇÃO DE


OBRIGAÇÃO DE FAZER - PLANO DE SAÚDE EMPRESARIAL - DECISÃO
MONOCRÁTICA QUE CONHECEU DO AGRAVO E, DE PLANO, DEU
PROVIMENTO AO APELO NOBRE DA OPERADORA DE PLANO DE SAÚDE
PARA JULGAR IMPROCEDENTE O PEDIDO VEICULADO NA INICIAL.
IRRESIGNAÇÃO DA PARTE AUTORA.
1. É garantido ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao aposentado que
contribuiu para o plano de saúde em decorrência do vínculo empregatício o direito
de manutenção do benefício, nas mesmas condições de cobertura assistencial
de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o
pagamento integral das contribuições (arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998),
observadas, porém, eventuais alterações no regime de custeio aplicadas no plano
paradigma, usufruído pelos empregados ativos.
2. Não compete ao Superior Tribunal de Justiça o exame de preceitos
constitucionais, ainda que para fins de prequestionamento, sob pena de usurpar a
competência do Supremo Tribunal Federal. Precedentes.
3. Agravo interno desprovido. (AgInt no AREsp n. 756.130/SP, Rel. Ministro
MARCO BUZZI, QUARTA TURMA, DJe 23/2/2018.)

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE COLETIVO EMPRESARIAL.


TRABALHADOR APOSENTADO. MIGRAÇÃO PARA PLANO NOVO. EXTINÇÃO
DO CONTRATO ANTERIOR. LEGALIDADE. REDESENHO DO MODELO DE
CONTRIBUIÇÕES PÓS-PAGAMENTO E PRÉ-PAGAMENTO. AUMENTO DA
BASE DE USUÁRIOS. UNIFICAÇÃO DE EMPREGADOS ATIVOS E INATIVOS.
DILUIÇÃO DOS CUSTOS E DOS RISCOS. COBERTURA ASSISTENCIAL
PRESERVADA. RAZOABILIDADE DAS ADAPTAÇÕES. EXCEÇÃO DA RUÍNA.
1. Discute-se se o aposentado e o empregado demitido sem justa causa, migrados
para novo plano de saúde coletivo empresarial na modalidade pré-pagamento por
faixa etária, mas sendo-lhes asseguradas as mesmas condições de cobertura
assistencial da época em que estava em vigor o contrato de trabalho, têm direito
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 40 de 8
Superior Tribunal de Justiça
de serem mantidos em plano de saúde coletivo extinto, possuidor de sistema de
contribuições pós-pagamento, desde que arquem tanto com os custos que
suportavam na atividade quanto com os que eram suportados pela empresa.
2. É garantido ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao aposentado que
contribuiu para o plano de saúde em decorrência do vínculo empregatício o direito
de manutenção como beneficiário nas mesmas condições de cobertura
assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que
assuma o seu pagamento integral (arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/1998). Os valores
de contribuição, todavia, poderão variar conforme as alterações promovidas no
plano paradigma, sempre em paridade com os que a ex-empregadora tiver que
custear. Precedente.
3. Por "mesmas condições de cobertura assistencial" entende-se mesma
segmentação e cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em
internação, área geográfica de abrangência e fator moderador, se houver, do plano
privado de assistência à saúde contratado para os empregados ativos (art. 2º, II, da
RN nº 279/2011 da ANS).
4. Mantidos a qualidade e o conteúdo de cobertura assistencial do plano de saúde,
não há direito adquirido a modelo de custeio, podendo o estipulante e a operadora
redesenharem o sistema para evitar o seu colapso (exceção da ruína), desde que
não haja onerosidade excessiva ao consumidor ou a discriminação ao idoso.
5. Nos contratos cativos de longa duração, também chamados de relacionais,
baseados na confiança, o rigorismo e a perenidade do vínculo existente entre as
partes pode sofrer, excepcionalmente, algumas flexibilizações, a fim de evitar a
ruína do sistema e da empresa, devendo ser respeitados, em qualquer caso, a
boa-fé, que é bilateral, e os deveres de lealdade, de solidariedade (interna e
externa) e de cooperação recíprocos.
6. Não há ilegalidade na migração de inativo de plano de saúde se a recomposição
da base de usuários (trabalhadores ativos, aposentados e demitidos sem justa
causa) em um modelo único, na modalidade pré-pagamento por faixas etárias, foi
medida necessária para se evitar a inexequibilidade do modelo antigo, ante os
prejuízos crescentes, solucionando o problema do desequilíbrio contratual,
observadas as mesmas condições de cobertura assistencial. Vedação da
onerosidade excessiva tanto para o consumidor quanto para o fornecedor (art. 51,
§ 2º, do CDC). Função social do contrato e solidariedade intergeracional, trazendo
o dever de todos para a viabilização do próprio contrato de assistência médica.
7. Não há como preservar indefinidamente a sistemática contratual original se
verificada a exceção da ruína, sobretudo se comprovadas a ausência de má-fé, a
razoabilidade das adaptações e a inexistência de vantagem exagerada de uma das
partes em detrimento da outra, sendo premente a alteração do modelo de custeio
do plano de saúde para manter o equilíbrio econômico-contratual e a sua
continuidade, garantidas as mesmas condições de cobertura assistencial, nos
termos dos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/1998.
8. Recurso especial provido. (REsp n. 1.479.420/SP, Rel. Ministro RICARDO
VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, DJe 11/9/2015 – grifei.)

Ainda no contexto de quais condições assistenciais e de custeio de plano de


saúde devem ser mantidas a beneficiários inativos, destaco a faculdade de portabilidade
de carências, disciplinado no art. 8º, III e IV, e § 1º, da RN/ANS nº 438/2018, que se remete
aos arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998.
A tese que proponho, nessa parte, com as sugestões apresentadas pelo
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 41 de 8
Superior Tribunal de Justiça
eminente Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, é a seguinte: O ex-empregado
aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998, não tem
direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de assistência à saúde
vigente na época da aposentadoria, podendo haver a substituição da operadora
e a alteração do modelo de prestação de serviços, da forma de custeio e os
respectivos valores, desde que mantida paridade com o modelo dos
trabalhadores ativos e facultada a portabilidade de carências.

Concluo asseverando que a conjugação das teses referidas nos itens II e III
acima, decorrentes de uma interpretação sistemática dos dispositivos da Lei n.
9.656/1998, permite que o aposentado seja incluído no mesmo plano dos ativos e que
tenha direitos e obrigações como se estivesse na atividade, sendo esse, a meu ver, o
objetivo da lei, considerada a necessidade de viabilizar o plano de saúde coletivo
empresarial.

IV. JULGAMENTO DO CASO CONCRETO


No recurso especial, a primeira questão jurídica invocada pela recorrente é
saber "se o direito do Recorrido à manutenção da condição de beneficiário em plano de
saúde se dá por tempo determinado (aplicação do artigo 30 da Lei 9.656/98) ou por
tempo indeterminado (aplicação do artigo 31 da Lei 9.656/98)" (e-STJ fl. 591).
No que se refere a esse tema, pertinente ao período de tempo em que o
autor e seus dependentes poderão permanecer no plano de saúde, a recorrente sustenta
a tese de violação dos arts. 30 e 31 da Lei n. 9.656/1998 e argumenta que "o v. acórdão
recorrido não considerou o tempo de contribuição para o produto Plano Pleno, na
aplicação dos mencionados dispositivos, nem o fato do Recorrido ser ex-empregado da
SANED e não da SABESP, realizando interpretação completamente equivocada da Lei
Federal" (e-STJ fl. 593). Afirma, também, que:
A contribuição do Recorrido para com os planos de saúde oferecidos pela
SABESPREV, exclusivo para os empregados da SABESP, se restringiu ao
período entre 2014 e 2015, quando os empregados da SANED foram cedidos para
a SABESP, sem transferir o vínculo empregatício.
De 1995 a 2014 o Recorrido laborou exclusivamente para a SANED e contribuiu
para planos de saúde oferecidos pela Unimed e Amil, em decorrência desse
vínculo empregatício. Portanto, caso o Recorrido pretenda requerer a manutenção
da condição de beneficiário por tempo indeterminado, deve acionar essas
operadores, que possuíam relação direta com sua ex-empregadora, a SANED.
Portanto, é incontroverso que o Recorrido contribuiu para o plano de saúde operado
pela SABESPREV e patrocinado pela SABESP por apenas 01 ano, de modo a
manutenção em plano de saúde pretendida dever estar limitada ao período
estabelecido no artigo 30, § 1º, da Lei 9.656/98. (e-STJ fls. 594/595.)

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Sem razão a recorrente.


No presente caso, consta da inicial que o autor – aposentado desde 2009
(cf. e-STJ fl. 571) – "laborou na empresa SANED, pelo período de 21/02/1995 a
13/02/2015, momento de sua demissão sem justa causa. Valendo-se que a empresa
SABESP, geriu o último ano de contrato da funcionária por essa empresa ter ganhado a
concessão do serviço no Município" (e-STJ fl. 2 – grifei). Observe-se que o autor deixa
claro que a SABESP apenas "geriu" o contrato de trabalho existente com a SANED, sem
afirmar que passou a ser empregado daquela.
Não está expresso na sentença que o contexto fático não seria esse.
O Tribunal de origem, por sua vez, deixou claro, mediante o exame de
provas, que o autor contribuiu por mais de 10 (dez) anos para os planos de saúde
contratados pela SANED, ex-empregadora do autor, incluindo aí a contratação da
SABESPREV, certamente no período de gestão pela SABESP, sendo oportuno reiterar as
seguintes passagens do acórdão que afastou a aplicação do art. 30 da Lei n. 9.656/1998:
Isso porque o autor logrou êxito em demonstrar que foi demitido sem justa causa
em 12/02/2015 (fls. 547/548), após permanecer vinculado aos planos de saúde
disponibilizados pela ex-empregadora por mais de dez anos, visto que admitido no
primeiro plano, disponibilizado à época ela operadora Interclínicas, em 26/06/1995,
conforme constou da ficha de adesão trazida aos autos (fls. 526). No referido
documento, outrossim, consta que era realizado desconto em salário base do valor
correspondente a tabela de subsídio.
Ademais, há declaração da própria ex-empregadora informando que o autor fora
conveniado dos seguintes planos de saúde mantidos pela SANED: i) Unimed do
ABC – Cooperativa de Trabalho Médico, de 02/04/2007 a 21/12/2012; ii) Amil
Assistência Médica Internacional S/A, de 22/12/2012 a 21/01/2014; e, iii)
Fundação Sabesp de Seguridade Social – SABESPREV, de 21/04/2014 a
28/02/2015 (fls. 125).
O fato de ter a ex-empregadora optado, ao longo do período em que compreendido
o contrato de trabalho, pela sucessão de operadoras de plano de saúde para a
concessão do benefício assistencial a seus funcionários não afasta o direito do
autor de contabilização do período total em que esteve vinculado à empresa e aos
planos de saúde por ela disponibilizados. (e-STJ fls. 570/571 – grifei.)

Para modificar o contexto fático descrito no acórdão recorrido e aplicar o


art. 30 da Lei n. 9.656/1998 em vez do art. 31 do mesmo diploma, seria necessário
reexaminar as provas contidas nos autos, o que encontra óbice na Súmula n. 7 do STJ.
Por outro lado, a possibilidade de somar todos os períodos de contribuição
envolvendo várias operadoras de planos de saúde contratadas sucessivamente está
respaldada na tese do item I deste voto, sendo irrelevante que o autor tenha contribuído
especificamente para a SABESPREV por apenas 1 (um) ano.
Quanto à abrangência das condições de cobertura do plano de saúde, o
Tribunal de origem decidiu corretamente na linha das teses acima adotadas ao manter o
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autor, aposentado, e sua esposa no mesmo plano de saúde, "mediante o pagamento do
valor integral e atual da mensalidade dos ativos, que deve perfazer a cota que
pagava como empregado, somada à parte paga pela empregadora, a ser apurada em
sede de liquidação de sentença" (e-STJ fl. 574). Igualmente bem andou a Corte local ao
explicitar assim: "se, de um lado, não é permitido à operadora a discriminação de plano
para ativos e inativos, devendo o ex-funcionário ser mantido na mesma apólice vigente
para os funcionários ativos, apenas com incremento na mensalidade correspondente ao
valor subsidiado pela empregadora, de outro, não se reconhece ao ex-funcionário o
direito adquirido à manutenção dos mesmos valores antes pagos, devendo, ao revés,
acompanhar os custos relacionados à apólice única atualmente fornecida, não sendo
razoável, sob pena de se impor a ruína do plano, o congelamento de prêmios em relação
a ex-funcionários" (e-STJ fl. 574 – grifei).
Tal orientação segue as teses dos itens II e III acima.

Ante o exposto, para fins do art. 1.036 do CPC/2015, voto no sentido de


aprovar as seguintes teses, com as sugestões apresentadas pelo eminente Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA:
a) "Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço,
de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção da contagem
do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei n. 9.656/1998, devendo haver a soma
dos períodos contributivos para fins de cálculo da manutenção proporcional ou
indeterminada do trabalhador aposentado no plano coletivo empresarial."
b) "O art. 31 da lei n. 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam
inseridos em plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições de cobertura
assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo o universo de beneficiários,
a igualdade de modelo de pagamento e de valor de contribuição, admitindo-se a
diferenciação por faixa etária se for contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio
integral, cujo valor pode ser obtido com a soma de sua cota-parte com a parcela que,
quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo empregador."
c) "O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da
Lei n. 9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de
assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo haver a substituição da
operadora e a alteração do modelo de prestação de serviços, da forma de custeio e os
respectivos valores, desde que mantida paridade com o modelo dos trabalhadores ativos
e facultada a portabilidade de carências."

No caso concreto, NEGO PROVIMENTO ao recurso especial.

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É como voto.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.816.482 - SP (2019/0144247-0)
RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA
RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO EM
SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680

VOTO-VISTA

O EXMO. SR. MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA:


Trata-se de recurso especial, submetido ao rito dos recursos repetitivos (art.
1.036 do Código de Processo Civil de 2015), interposto por FUNDAÇÃO SABESP DE
SEGURIDADE SOCIAL - SABESPREV, com fulcro no art. 105, inciso III, alínea "a", da
Constituição Federal, contra o acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo que deu
parcial provimento ao recurso de apelação da operadora de plano de saúde para, mantida a
sentença quanto à condenação da "(...) ré à manutenção do autor e da dependente no mesmo
plano de saúde gozado durante a vigência do contrato de trabalho, por tempo indeterminado,
nas mesmas condições que usufruem os funcionários da ativa" (fl. 574 e-STJ), determinar "(...) o
pagamento integral e atual, pelo autor, da contribuição devida, a ser apurada em fase de
liquidação" (fl. 574 e-STJ).
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O acórdão recebeu a seguinte ementa:

"APELAÇÃO - PLANO DE SAÚDE - Pretensão do ex-funcionário de ser mantido,


juntamente com sua dependente, no plano de saúde nos termos do art. 31. da L
9.656/98, sob as mesmas condições vigentes ao tempo em que estava na ativa,
inclusive em relação ao valor da mensalidade - Alegação de majoração abusiva do
valor com o oferecimento de plano exclusivo para inativos - Preliminar - Não
caracterizada hipótese prevista pelo § 1º, do art. 489, do CPC - Sentença
devidamente fundamentada - Cumpridas as exigências do art. 31, da L 9.656/98 -
Ex-funcionário demitido sem justa causa, quando já aposentado, que contribuiu
para o plano por mais de dez anos - Inadmissibilidade da diferenciação de custos
entre ativos e inativos - RN 279/11 da ANS, por possuir caráter restritivo, não se
sobrepõe à L 9.656/98 - Condenação da ré à manutenção do autor e sua
dependente no plano fornecido aos funcionários da ativa, desde que assuma a
parcela patronal - Direito à continuidade como beneficiário que não implica o de
pagar o mesmo custo antes existente, mas sim o de pagar os custos atuais, com a
assunção da parcela paga pela ex-empregadora, a ser apurada em liquidação -
Sentença de procedência mantida, mas com observação no tocante ao valor da
mensalidade - DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO" (fl. 566 e-STJ).

Os embargos de declaração opostos foram acolhidos, sem efeitos modificativos,


apenas para corrigir erro material, tendo sido retirado do acórdão o fundamento relativo ao
Código de Defesa do Consumidor, já que a recorrente é entidade de autogestão, em
conformidade com a Súmula nº 608/STJ (fls. 715/719 e-STJ).
No especial, a recorrente aponta contrariedade aos arts. 30 e 31 da Lei nº
9.656/1998 e 4º, XI, da Lei nº 9.961/2000.
Na sessão do dia 25/11/2020, o Relator, Ministro Antonio Carlos Ferreira, negou
provimento ao recurso especial e fixou teses repetitivas em voto assim sumariado:

"RECURSO ESPECIAL REPETITIVO. DIREITO CIVIL. EX-EMPREGADOS


APOSENTADOS. PERMANÊNCIA NO PLANO DE SAÚDE COLETIVO. ART. 31
DA LEI N. 9.656/1988. DEFINIÇÃO ACERCA DAS CONDIÇÕES ASSISTENCIAIS
E DE CUSTEIO.
1. Delimitação da controvérsia
Definir quais condições assistenciais e de custeio do plano de saúde devem ser
mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998.
2. Teses definidas para os fins do art. 1.036 do CPC/2015
a) 'Eventuais mudanças de operadora do plano de saúde, de modelo de
prestação de serviço, de forma de custeio e de valores de contribuição não
implicam interrupção da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31
da Lei n. 9.656/1998.'
b) 'O art. 31 da Lei n. 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em
um único plano de saúde, com as mesmas condições de cobertura assistencial, aí
incluída a paridade nos modelos de prestação de serviço, na forma de custeio e
nos valores de contribuição, cabendo ao inativo recolher, também, a parcela que,
quanto aos ativos, é custeada pelo empregador.'
c) 'O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei n.
9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter por prazo indeterminado no
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mesmo plano privado de assistência à saúde vigente na época da aposentadoria,
podendo-se substituir a operadora, o modelo de prestação de serviços, a forma
de custeio e os respectivos valores, atendida a paridade com os ativos.'
3. Julgamento do caso concreto
a) Inaplicabilidade do art. 30 da Lei n. 9.656/1998, tendo em vista que o prazo de
10 (dez) anos disciplinado no art. 31 do mesmo diploma encontra-se comprovado,
decorrendo da somatória de todos os períodos de contribuição envolvendo várias
operadoras de planos de saúde contratadas sucessivamente pelo
ex-empregador.
b) Ofensa ao art. 31 da Lei n. 9.656/1998 não caracterizada, tendo em vista que
os empregados ativos e os ex-empregados inativos, conforme decidido pelo
Tribunal de origem, devem encontrar-se vinculados a um único plano de saúde,
sem distinções.
c) Acolher as razões recursais com o propósito de modificar o contexto
fático-probatório inserido no acórdão recorrido encontra óbice na Súmula n. 7 do
STJ.
4. Recurso especial a que se nega provimento."

Após, pedi vista antecipada dos autos para melhor exame das teses
repetitivas formuladas, bem como para tecer algumas considerações acerca das
consequências práticas e jurídicas que poderão advir do precedente qualificado a ser
firmado, consoante dispõem os arts. 20 e 21 da Lei de Introdução às Normas do Direito
Brasileiro (LINDB).

Como cediço, é assegurado ao trabalhador demitido sem justa causa ou ao


aposentado que contribuiu financeiramente para o plano de saúde em decorrência do vínculo
empregatício o direito de manutenção como beneficiário nas mesmas condições de cobertura
assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o
seu pagamento integral.
A pretensão sob exame busca identificar a amplitude da expressão "direito de
manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de cobertura assistencial", contida no
art. 31 da Lei nº 9.656/1998, sobretudo se abrange também o regime de custeio para fins de
permanência do aposentado no plano de saúde coletivo empresarial.

A controvérsia foi assim apresentada quando da afetação do feito à Segunda


Seção: "Definir quais condições assistenciais e de custeio do plano de saúde devem ser
mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998" (fl. 871 e-STJ).

O Ministro Relator especificou as seguintes condições: (i) tempo de permanência


no plano (se por prazo determinado ou indeterminado); (ii) direitos assistenciais garantidos ao
ex-empregado e seus dependentes e (iii) encargos financeiros a serem suportados pelo
ex-empregado.

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Quanto ao primeiro tópico, relativo ao requisito temporal, propôs, em seu voto,
a seguinte tese: "Eventuais mudanças de operadora do plano de saúde, de modelo de
prestação de serviço, de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção
da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei n. 9.656/1998."

Esse entendimento reflete a orientação jurisprudencial desta Corte Superior,


conforme se extrai de trecho da ementa oriunda dos EDcl no REsp nº 1.680.318/SP e dos EDcl
no REsp nº 1.708.104/SP, apreciados pela Segunda Seção (Rel. Ministro Ricardo Villas Bôas
Cueva, DJe 29/10/2018):

"Nos termos dos arts. 6º, § 2º, 23 e 24 da RN ANS nº 279/2011 e da Súmula


Normativa nº 8 da ANS, os períodos de contribuição do trabalhador ao plano
de saúde sempre devem ser considerados para fins de aplicação dos arts. 30
e 31 da Lei nº 9.656/1998, mesmo que, na época da demissão sem justa causa
ou da aposentadoria, o regime de custeio seja diverso."

Na ocasião, os declaratórios haviam sido opostos para esclarecer o Tema


Repetitivo nº 989:
"Nos planos de saúde coletivos custeados exclusivamente pelo
empregador não há direito de permanência do ex-empregado aposentado ou
demitido sem justa causa como beneficiário, salvo disposição contrária expressa
prevista em contrato ou em acordo/convenção coletiva de trabalho, não
caracterizando contribuição o pagamento apenas de coparticipação, tampouco se
enquadrando como salário indireto."

Assim, para trazer maior segurança jurídica, é oportuna a inclusão no item


proposto do critério da proporcionalidade, assegurando a soma dos períodos de
efetiva contribuição também àqueles que não atingiram o prazo de 10 (dez) anos, mas
que poderão permanecer no plano coletivo por prazo determinado, nos termos do art.
31, § 1º, da Lei nº 9.656/1998:

"Art. 31. Ao aposentado que contribuir para produtos de que tratam o inciso I e o
§ 1º do art. 1º desta Lei, em decorrência de vínculo empregatício, pelo prazo
mínimo de dez anos, é assegurado o direito de manutenção como beneficiário,
nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da
vigência do contrato de trabalho, desde que assuma o seu pagamento integral.
§ 1º Ao aposentado que contribuir para planos coletivos de assistência à
saúde por período inferior ao estabelecido no caput é assegurado o direito de
manutenção como beneficiário, à razão de um ano para cada ano de
contribuição, desde que assuma o pagamento integral do mesmo." (grifou-se)

Dessa forma, propõe-se o seguinte ajuste:

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Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de
serviço, de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam
interrupção da contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei nº
9.656/1998, devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins
de cálculo da manutenção proporcional ou indeterminada do trabalhador
aposentado no plano coletivo empresarial.

No que tange ao segundo tópico, relacionado aos encargos financeiros e aos


direitos assistenciais garantidos ao ex-empregado e seus dependentes, o Ministro Relator
elaborou a seguinte tese:

"O art. 31 da Lei n. 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam


inseridos em um único plano de saúde, com as mesmas condições de cobertura
assistencial, aí incluída a paridade nos modelos de prestação de serviço, na
forma de custeio e nos valores de contribuição, cabendo ao inativo recolher,
também, a parcela que, quanto aos ativos, é custeada pelo empregador."

Nesse ponto, ressalvo meu posicionamento, na linha do voto-vista (vencido)


que proferi no REsp nº 1.713.619/SP (Rel. Ministro Nancy Andrighi, DJe 12/11/2018),
oportunidade em que entendi que a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) não
ultrapassou os limites de seu poder normativo quando dispôs acerca do tema na RN nº
279/2011, de modo a facultar ao ex-empregador manter um plano de saúde para ativos e outro
para inativos, desde que contenham as mesmas condições de cobertura assistencial (aspecto
qualitativo) - mesma segmentação e cobertura, rede assistencial, padrão de acomodação em
internação, área geográfica de abrangência e fator moderador, se houver -, não podendo haver
confusão, na conceituação, com o mesmo regime de custeio (aspecto quantitativo), até para
evitar o subsídio cruzado: não há obrigatoriedade de estipulante e empregados ativos
de subsidiar as despesas dos empregados aposentados (que, por disposição legal,
devem assumir o pagamento integral de seus custos).
Todavia, superada a divergência, no sentido de ser obrigatória a instituição de
plano de saúde coletivo uno para ativos e inativos, incluídas as condições de pagamento,
algumas reflexões devem ser feitas quanto às diversas modalidades de custeio:
pré-pagamento por faixas etárias, pré-pagamento por preço único, pós-pagamento por custo
operacional e pós-pagamento por rateio.
Na modalidade pré-pagamento, a mensalidade é paga antes da utilização dos
serviços médico-assistenciais, assumindo a operadora o risco operacional, o que faz com que
os preços sejam mais elevados do que os planos da modalidade pós-pagamento. No tipo
baseado em tabela por faixa etária, a precificação é graduada e dimensionada segundo os

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grupos etários adotados pela ANS. Já no tipo por preço único, a mensalidade suportada pelo
beneficiário é calculada a partir da média das idades da população (ativa) assistida, havendo
patrocínio do empregador quanto ao ônus financeiro excedente.

Na modalidade pós-pagamento, por sua vez, o valor do prêmio é variável, pois


dependerá do cálculo das despesas efetuadas pelo universo de usuários com a utilização dos
serviços em dado mês de referência, isto é, não há custo individualizado por pessoa. No tipo
custo operacional, a operadora repassa ao empregador o valor total das despesas
assistenciais; já na opção por rateio, a estipulante reparte o custeio das despesas com os
beneficiários do plano, que poderá ser um percentual fixo sobre a remuneração ou outras
formas de configuração.
Nesse contexto, cumpre delinear as consequências que advirão da
paridade da forma de custeio e dos valores de contribuição dos aposentados agora
inseridos em um plano unificado, e não mais em um plano misto ou exclusivo para
inativos.

No atinente à modalidade pré-pagamento por faixas etárias, não ocorrerão


maiores transtornos, visto que a tabela de preços do plano coletivo único incidirá conforme a
situação individualizada do beneficiário, podendo a soma "cota do empregado" e "cota do
empregador" ser feita sem complicações, o que resultará na assunção do pagamento integral
pelo aposentado, conforme disposição legal.

Entretanto, os planos das modalidades pré-pagamento por preço único e


pós-pagamento serão fortemente afetados, dada a dificuldade de se calcular individualmente o
valor integral a ser suportado pelo aposentado (não é uma simples soma aritmética da parcela
do empregador com a contribuição do empregado), e provavelmente serão reestruturados,
ainda que seja para incluir os empregados inativos no universo de beneficiários antes formado
somente por empregados ativos, o que produzirá subsídio cruzado e patrocínio.
Por pertinente, cumpre transcrever as seguintes ponderações feitas pela
Federação Nacional de Saúde Suplementar (FENASAÚDE):

"(...)
91. Sob essa ótica, eventual distorção do sentido da
integralidade previsto na lei trará efeitos prejudiciais não apenas aos
inativos, mas também aos empregados ativos. Isso ocorrerá, por exemplo,
caso a empregadora deixe de oferecer o benefício de saúde ou de
subsidiá-lo, ou se vier a aumentar a parcela de contribuição a cargo de seus
funcionários, 'empurrada' pelo incremento crescente dos custos. Aliás,
mesmo que a empresa passe a arcar com a totalidade dos custos de saúde
haverá prejuízo, pois a ausência do rateio afastará a possibilidade de
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manutenção do plano pelo empregado ao se aposentar.
92. Atenta aos possíveis efeitos sistêmicos que podem decorrer
da má interpretação e aplicação do art. 31 da LPS, a ANS destaca os dois
cenários acima mencionados em sua manifestação (e-STJ Fl.1067):

'Neste sentido, na existência de um forte subsídio


entre estes grupos, os beneficiários do grupo de menor risco
[os empregados ativos] tenderiam a se desinteressar em
permanecer no sistema, uma vez que o preço do plano seria
desproporcional à sua expectativa de utilização. Isso ensejaria a
revisão do preço médio calculado inicialmente, uma vez que o
risco médio aumentaria. Consequentemente, os novos preços
seriam elevados demais para um novo grupo de menor risco,
que também acabariam optando por sair do sistema.
Ao impor o subsídio entre os grupos, aliada à
tendência de envelhecimento populacional, poderia também
haver a indução contrária ao que se propõe. Os empregadores
deixariam de oferecer o benefício em questão, ou custeariam a
totalidade do plano de saúde, não se submetendo ao previsto
nos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656, de 1998.' (g.n)

(...)
108. Nesse sentido, determinar judicialmente que as operadoras
arquem com tais custos significaria comprometer a higidez e sustentabilidade de
todo o sistema de saúde suplementar – mesmo porque elas são estranhas à
relação jurídica mantida entre a estipulante e o beneficiário. De sua vez,
qualquer tentativa de impor às estipulantes este custo exponencial, passível
de comprometer a própria atividade empresarial, terá como consequência o
esvaziamento do direito que o art. 31 da LPS pretendeu assegurar aos
inativos. Isso porque, diante do risco de ter que seguir arcando com os
custos de plano de saúde para os inativos, são dois os cenários possíveis: (i)
as estipulantes deixarão de oferecer plano de saúde para seus funcionários,
sempre que não houver vinculação patronal nesse sentido; ou (ii) farão uso
de outros modelos de custeio que não caracterizem a contributividade, como
a coparticipação – hipótese em que os aposentados não poderão usufruir do
benefício previsto no art. 31 da LPS, dado que não será atendido o requisito
legal da contribuição.
109. Ou seja, em qualquer dos cenários, os maiores
prejudicados serão os empregados – ativos e inativos.
110. A lógica da RN 279, repita-se, é preservar o equilíbrio
econômico do setor enquanto promove o direito de acesso à saúde privada
da população beneficiária, dado não ser linear a aplicação do art. 31 da LPS
diante dos diferentes mecanismos de custeio disponíveis no setor. Para isso,
a solução encontrada foi determinar que o aposentado assuma esse
pagamento referenciado, sempre, pelas tabelas de faixa etária. Portanto,
caso este e. STJ pretenda superar o regramento editado pela ANS para os
casos não evidentes de subsunção da expressão 'pagamento integral'
contido na LPS, que o faça tendo em vista todas as nuances acima
esposadas. Aliás, a substituição do regulador por este e. Tribunal deverá sopesar
os múltiplos interesses em jogo, ponderando a saúde do sistema com a promoção
dos direitos dos beneficiários, mas também enfrentando objetivamente a forma de
se implementar o pagamento integral em cada regime de custeio à luz de suas
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particularidades. Isso tudo sob pena de que o sistema entre em colapso" (fls.
1.100/1.106 e-STJ).

Cabe ressaltar que não é vedado aos empregados em atividade e ao


empregador subvencionarem os aposentados, mas também não há obrigatoriedade,
devendo haver esclarecimentos aos demais atores envolvidos quanto a possíveis
aumentos das mensalidades (art. 20, parágrafo único, da RN nº 279/2011 da ANS), a fim
de evitar a seleção adversa.
Logo, sugere-se a seguinte redação de tese:

O art. 31 da Lei nº 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam


inseridos em plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas
condições de cobertura assistencial e de prestação de serviço, o que
inclui, para todo o universo de beneficiários, a igualdade de modelo de
pagamento e de valor de contribuição, admitindo-se a diferenciação por
faixa etária se for contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio
integral, cujo valor pode ser obtido com a soma de sua cota-parte com a
parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo
empregador.

No tocante ao último tópico, concernente a eventual direito adquirido do


usuário a modelo de custeio, o Ministro Relator assim definiu a tese:

"(...)
O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31
da Lei n. 9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter por prazo
indeterminado no mesmo plano privado de assistência à saúde vigente na época
da aposentadoria, podendo-se substituir a operadora, o modelo de prestação de
serviços, a forma de custeio e os respectivos valores, atendida a paridade com os
ativos."

De fato, tal entendimento está em harmonia com a jurisprudência deste Tribunal


Superior, a qual prega que,

"(...) mantidos a qualidade e o conteúdo de cobertura assistencial


do plano de saúde, não há direito adquirido a modelo de custeio, podendo o
estipulante e a operadora redesenharem o sistema para evitar o seu colapso
(exceção da ruína), desde que não haja onerosidade excessiva ao consumidor
ou a discriminação ao idoso" (REsp nº 1.479.420/SP, Rel. Ministro Ricardo Villas
Bôas Cueva, DJe 11/9/2015).

Impende ressaltar, ainda, que, nos casos de demissão, exoneração ou


aposentadoria, tendo ou não contribuído financeiramente para o plano de origem, ou quando
do término do período temporário de manutenção da condição de beneficiário no plano coletivo
garantida pelos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656/1998, poderá o beneficiário se utilizar do
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 53 de 8
Superior Tribunal de Justiça
instituto da portabilidade de carências: instrumento regulatório, destinado a incentivar tanto
a concorrência no setor de saúde suplementar quanto a maior mobilidade do usuário no
mercado, fomentando suas possibilidades de escolha, visto que o isenta da necessidade de
cumprimento de novo período de carência.

A propósito, vale transcrever o art. 8º, III e IV, e § 1º, da RN/ANS nº 438/2018:

"Art. 8º A portabilidade de carências poderá ser exercida em decorrência da


extinção do vínculo de beneficiário e deverá ser requerida no prazo de 60
(sessenta) dias a contar da data da ciência pelo beneficiário da extinção do
seu vínculo com a operadora, não se aplicando os requisitos de vínculo ativo, de
prazo de permanência, e de compatibilidade por faixa de preço previstos,
respectivamente, nos incisos I, III e V do caput do artigo 3º desta Resolução, nas
seguintes hipóteses:
(...)
III - pelo beneficiário titular e seus dependentes, em caso de demissão,
exoneração ou aposentadoria, tendo ou não contribuído financeiramente
para o plano de origem, ou quando do término do período de manutenção da
condição de beneficiário garantida pelos artigos 30 e 31 da Lei nº 9.656, de
1998;
IV - pelo beneficiário titular e seus dependentes, em caso de rescisão do
contrato coletivo por parte da operadora ou da pessoa jurídica contratante.
(...)
§ 1° Os beneficiários mencionados nos incisos do caput deste artigo que tiveram
seu vínculo extinto, deverão ser comunicados pela operadora do plano de
origem sobre o direito ao exercício da portabilidade, por qualquer meio que
assegure a ciência inequívoca do beneficiário, indicando o valor da
mensalidade do plano de origem, discriminado por beneficiário, e o início e o
fim do prazo disposto no caput." (grifou-se)

Com isso, sugere-se o seguinte aperfeiçoamento na tese:

O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31


da Lei nº 9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo
plano privado de assistência à saúde vigente na época da aposentadoria,
podendo haver a substituição da operadora e a alteração do modelo de
prestação de serviços, da forma de custeio e dos respectivos valores,
desde que mantida a paridade com o modelo dos trabalhadores ativos e
facultada a portabilidade de carências.

Por fim, cumpre esclarecer que toda a fundamentação do julgado também


se aplica às entidades de autogestão, já que operam planos coletivos empresariais, não
tendo sido utilizada na motivação a legislação consumerista (Súmula nº 608/STJ), mas apenas
normas da área da Saúde Suplementar.
Diante do exposto, são propostos os seguintes ajustes e teses jurídicas para os
efeitos dos arts. 1.038 e 1.039 do CPC/2015:

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 54 de 8
Superior Tribunal de Justiça

a) Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço, de


forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção da
contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei nº 9.656/1998,
devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins de cálculo da
manutenção proporcional ou indeterminada do trabalhador aposentado no plano
coletivo empresaria.
b) O art. 31 da Lei nº 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em
plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições de cobertura
assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo o universo de
beneficiários, a igualdade de modelo de pagamento e de valor de contribuição,
admitindo-se a diferenciação por faixa etária se for contratada para todos,
cabendo ao inativo o custeio integral, cujo valor pode ser obtido com a soma de
sua cota-parte com a parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente
suportada pelo empregador.
c) O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei nº
9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de
assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo haver a
substituição da operadora e a alteração do modelo de prestação de serviços, da
forma de custeio e dos respectivos valores, desde que mantida a paridade com o
modelo dos trabalhadores ativos e facultada a portabilidade de carências.

Ante o exposto, acompanho o Relator, Ministro Antonio Carlos Ferreira, para


negar provimento ao recurso especial, propondo ajustes nas teses repetitivas.
É o voto.

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 55 de 8
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.816.482 - SP (2019/0144247-0)
RELATOR : MINISTRO ANTONIO CARLOS FERREIRA
RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO EM
SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680

VOTO-VOGAL

O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI:

Cuida-se de recurso especial interposto por FUNDAÇÃO SABESP DE


SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV, fundamentado na alínea “a” do permissivo
constitucional, contra acórdão do TJ/SP.
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 56 de 8
Superior Tribunal de Justiça
Ação: declaratória c/c obrigação de fazer, ajuizada por ADALBERTO
FLORENCIO DE FREITAS, em face de FUNDAÇÃO SABESP DE SEGURIDADE
SOCIAL-SABESPREV, pretendendo a manutenção do plano de saúde após a
aposentadoria, nas mesmas condições de que gozava quando vigente o contrato
de trabalho, assumindo o seu custeio integral.
Sentença: o Juízo de primeiro grau julgou procedente o pedido.
Acórdão: o TJ/SP, à unanimidade, deu parcial provimento à apelação
interposta por SABESPREV, nos termos da seguinte ementa:

APELAÇÃO - PLANO DE SAÚDE - Pretensão do ex-funcionário de ser mantido,


juntamente com sua dependente, no plano de saúde nos termos do art. 31, da L
9.656/98, sob as mesmas condições vigentes ao tempo em que estava na ativa,
inclusive em relação ao valor da mensalidade - Alegação de majoração abusiva do
valor com o oferecimento de plano exclusivo para inativos - Preliminar – Não
caracterizada hipótese prevista pelo §1°, do art. 489, do CPC - Sentença
devidamente fundamentada - Cumpridas as exigências do art. 31, da L 9.656/98 -
Ex-funcionário demitido sem justa causa, quando já aposentado, que contribuiu
para o plano por mais de dez anos - Inadmissibilidade da diferenciação de custos
entre ativos e inativos - RN 279/11 da ANS, por possuir caráter restritivo, não se
sobrepõe à L. 9.656/98 - Condenação da ré à manutenção do autor e sua
dependente no plano fornecido aos funcionários da ativa, desde que assuma a
parcela patronal - Direito à continuidade como beneficiário que não implica o de
pagar o mesmo custo antes existente, mas sim o de pagar os custos atuais, com a
assunção da parcela paga pela ex-empregadora, a ser apurada em liquidação -
Sentença de procedência mantida, mas com observação no tocante ao valor da
mensalidade - DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

Embargos de declaração: opostos por SABESPREV, foram


acolhidos, sem efeitos modificativos, para reconhecer erro material consistente na
menção ao CDC, embora se trate de plano de autogestão, tendo sido suprimida a
incidência da legislação consumerista como um dos fundamentos do acórdão
embargado.
Recurso especial: aponta violação dos arts. 30, §1º, e 31 da Lei n°
9.656/98, bem como do art. 4º, XI, da Lei 9.961/2000.

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 57 de 8
Superior Tribunal de Justiça
Sustenta, em síntese, que é fato incontroverso que “Adalberto
Florêncio e sua dependente não contribuíram para o PLANO PLENO pelo prazo
mínimo de 10 anos exigidos pelo artigo 31 da Lei 9.656/98, pois permaneceram
como seus beneficiários apenas entre os anos de 2014 e 2015” (fl. 592, e-STJ),
razão pela qual “o presente caso seria de aplicação do artigo 30, §1°, da Lei
9.656/98, e não aplicação de seu artigo 31” (fl. 593, e-STJ).
Afirma que “a Lei 9.656/98 não prevê a soma das contribuições de
produtos diferentes, até porque são oferecidos por operadoras distintas,
decorrente do vínculo de trabalho com a SANED e não com a SABESP” e que “os
planos de saúde oferecidos pela SABESPREV são exclusivos para os empregados da
SABESP e seus próprios, não sendo possível, para fins de aplicação dos artigos 30 e
31 da Lei 9.656/98, considerar o período de contribuição da época em que o
Recorrido laborou exclusivamente para a SANED” (fl. 594, e-STJ).
Alega que “as mesmas condições de cobertura assistencial se referem
ao conteúdo da assistência à saúde prestada e não ao critério de composição do
valor integral”; que “a Lei 9.656/98 em nenhum dos seus artigos veda a criação de
planos distintos para empregados e ex-empregados”; que “o v. acórdão não se
atentou ao fato de existir um plano destinado exclusivamente aos inativos que é
totalmente idêntico ao dos ativos (Plano 279), não havendo embasamento legal
algum para alegar que a Resolução da ANS desfavorece aos ditames previstos em
Lei”; e que “a Resolução seguinte da ANS que tratou do tema (Resolução 279 da
ANS, que também regulamentou os artigos 30 e 31 da Lei n°9.656/1998,
revogando a CONSU 21/99) permitiu que a empregadora criasse planos separados
para empregados e ex-empregados (artigo 13, inciso II)” (fls. 596 e 598-599, e-STJ).
Assevera que “não aceitar a regulamentação apresentada pela ANS
significa direta afronta ao dispositivo de lei que define sua competência” (fl. 604,
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 58 de 8
Superior Tribunal de Justiça
e-STJ).
Juízo de admissibilidade: o especial foi admitido pelo TJ/SP.
Decisão: em 29/10/2019, a Segunda Seção, por maioria, afetou o
recurso especial para julgamento pelo rito dos recursos repetitivos, delimitando a
seguinte controvérsia: Definir quais condições assistenciais e de custeio do plano
de saúde devem ser mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei
n. 9.656/1998.
Voto do Relator: na sessão de 25/11/2020, o e. Relator, Ministro
Antônio Carlos Ferreira, propôs as seguintes teses: (I) “eventuais mudanças de
operadora do plano de saúde, de modelo de prestação de serviço, de forma de
custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção da contagem do
prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei n. 9.656/1998”; (II) “o art. 31 da
Lei n. 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em um único plano
de saúde, com as mesmas condições de cobertura assistencial, aí incluída a
paridade nos modelos de prestação de serviço, na forma de custeio e nos valores
de contribuição, cabendo ao inativo recolher, também, a parcela que, quanto aos
ativos, é custeada pelo empregador”; (III) “o ex-empregado aposentado,
preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998, não tem direito
adquirido de se manter por prazo indeterminado no mesmo plano privado de
assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo-se substituir a
operadora, o modelo de prestação de serviços, a forma de custeio e os respectivos
valores, atendida a paridade com os ativos”.
Com esses fundamentos, ao julgar a hipótese dos autos, Sua
Excelência negou provimento ao recurso especial.
Na sessão de 09/12/2020, o i. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva
apresentou voto-vista, acompanhando o e. Relator, mas sugerindo alterações na
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 59 de 8
Superior Tribunal de Justiça
redação das teses.

É O BREVE RELATO DOS FATOS.

A controvérsia, bem delimitada no voto do i. Relator, consiste em


definir quais condições assistenciais e de custeio do plano de saúde devem ser
mantidas a beneficiários inativos, nos termos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998,
especificamente: (i) o tempo de manutenção do ex-empregado aposentado como
beneficiário no plano de saúde – prazo determinado ou indeterminado – e a
contagem do prazo decenal; (ii) os direitos assistenciais a que tem direito o
ex-empregado aposentado e encargos financeiros (custeio) que deverá suportar; e
(iii) a ausência de direito adquirido aos mesmos modelos assistencial e de custeio
quando em vigor o contrato de trabalho do ex-empregado aposentado – direito do
inativo aÌ paridade com o ativo na atualidade.

DO TEMPO DE MANUTENÇÃO DO EX-EMPREGADO


APOSENTADO COMO BENEFICIÁRIO NO PLANO DE SAÚDE – PRAZO
DETERMINADO OU INDETERMINADO – E DA CONTAGEM DO PRAZO
DECENAL
No que tange ao tempo de manutenção do ex-empregado aposentado
como beneficiário no plano de saúde e da forma de contagem do prazo decenal,
acompanho integralmente os fundamentos do e. Relator, tendo em vista que eles
reafirmam a norma expressa no caput do art. 31 da Lei 9.656/1998 e nos arts. 6º, §
2º, e 23 da Resolução Normativa ANS 279/2011, bem como se alinham ao
entendimento explicitado no REsp 1.680.318/SP e no REsp 1.708.104/SP (Segunda
Seção, julgado em 22/08/2018, DJe de 24/08/2018), como bem ressaltado no

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Superior Tribunal de Justiça
voto.
E, assim como Sua Excelência, adiro à sugestão feita na sessão pelo e.
Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva para que a primeira tese seja redigida nestes
termos: “Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço,
de forma de custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção da
contagem do prazo de 10 (dez) anos previsto no art. 31 da Lei no 9.656/1998,
devendo haver a soma dos períodos contributivos para fins de cálculo da
manutenção proporcional ou indeterminada do trabalhador aposentado no plano
coletivo empresarial”.

DOS DIREITOS ASSISTENCIAIS A QUE TEM DIREITO O


EX-EMPREGADO APOSENTADO E ENCARGOS FINANCEIROS (CUSTEIO)
QUE DEVERÁ SUPORTAR
Ao analisar o disposto no art. 31 da Lei 9.656/1998, que trata do
direito de manutenção do ex-empregado aposentado e contributário do plano de
saúde, nas mesmas condições de cobertura assistencial de que gozava quando da
vigência do contrato de trabalho, o i. Relator, com maestria, afirmou que “essa
simetria só é efetiva quando a forma, o modelo e o valor de custeio forem os
mesmos naquele universo de beneficiários – ativos e inativos –, observadas as
distinções próprias do plano, em especial as faixas etárias, e que “hão de se
reputar como ilegais, dessarte, as disposições contidas nos arts. 13, II, 17, 18 e 19
da RN n. 279/2011, que, contrariando a norma do art. 31 da Lei n. 9.656/1998,
autorizam a constituição de um plano de saúde específico para os inativos, com
valores superiores aqueles desembolsados pelos empregados da ativa”.
No tocante ao poder regulamentar da ANS, e, portanto, à validade e à
interpretação da mencionada Resolução 279/2011, por ela editada, entendo

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 61 de 8
Superior Tribunal de Justiça
oportuno fazer alguns comentários, em reforço à fundamentação tecida por Sua
Excelência.
A Lei 9.961/2000, que instituiu a ANS como órgão de regulação,
normatização, controle e fiscalização das atividades que garantem a assistência
suplementar à saúde, prevê, dentre as suas atribuições, a de “estabelecer critérios,
responsabilidades, obrigações e normas de procedimento para garantia dos
direitos assegurados nos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656, de 1998” (art. 4º, XI).
No exercício desse poder normativo conferido às agências reguladoras
pelo legislador, pontua Maria Sylvia Zanella di Pietro:

As normas que podem baixar resumem-se ao seguinte:


(a) regular a própria atividade da agência por meio de normas de
efeito interno; (b) conceituar, interpretar, explicitar conceitos
jurídicos indeterminados contidos em lei, sem inovar na ordem
jurídica. Essa segunda função explica-se pela natureza técnica e especializada
das agências. A lei utiliza, muitas vezes, conceitos jurídicos indeterminados, cujo
sentido tem que ser definido por órgãos técnicos especializados. (...) Se, ao
exercer essa função, for além do previsto em lei, estará infringindo o princípio da
legalidade. (...) Não se pode entender que esses órgãos exerçam função
legislativa propriamente dita, com possibilidade de inovar na ordem
jurídica, pois isto contrariaria o princípio da separação de poderes e a
norma inserida entre os direitos fundamentais, no art. 5º, II, da
Constituição, segundo a qual ninguém é obrigado a fazer ou deixar de
fazer alguma coisa senão em virtude de lei (Direito Administrativo. 18ª ed.
São Paulo: Atlas, p. 417 – grifou-se)

Adverte Leila Cuéllar, na mesma ordem de ideias, que os atos


editados pelas agências reguladoras “não podem desrespeitar as normas e
princípios de direito que lhe são superiores” e, por isso, lhes é “vedado modificar,
suspender, derrogar ou revogar as normas e princípios constitucionais ou
contrariar a lei, entendida em sentido amplo” (As agências reguladoras e seu poder
normativo. São Paulo: Dialética, 2001. p. 124).
Nessa linha, o Plenário do STF reafirmou, no julgamento da ADI

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2.095/RS (Relator(a): Min. Cármen Lúcia, julgado em 11/10/2019, DJe de
26/11/2019), que “o poder normativo atribuído às agências reguladoras
deve ser exercitado em conformidade com a ordem constitucional e
legal de regência”, consoante se infere deste trecho do voto condutor do
acórdão:

Este Supremo Tribunal, na linha do acórdão de


indeferimento da cautelar na presente ação, tem proclamado que o
poder normativo atribuído às agências reguladoras deve ser exercitado
em conformidade com a ordem constitucional e legal de regência:

“O campo no qual o agente regulador atua com liberdade tem


suas margens definidas pelos conteúdos que podem ser
inequivocamente extraídos, senão da letra da lei, pelo menos do
propósito claro e manifesto do legislador. Para ser legítima, a
atuação normativa do agente regulador deve ser capaz de ser
justificada como a integração de uma evidente escolha legislativa.
Em outras palavras, a orientação seguida pelo Administrador deve
necessariamente traduzir uma escolha previamente realizada pelo
Legislador, que lhe confere autoridade, e não uma interpretação
possível, entre tantas outras, de conceitos jurídicos indeterminados.
Isso em absoluto significa reduzir a regulação setorial ao
preenchimento de lacunas e muito menos à execução mecânica da
lei.
Dotada de inquestionáveis relevância e responsabilidade, a
função regulatória só é dignificada pelo reconhecimento de que não
é inferior nem exterior à legislação. Exercida em um espaço que
se revela qualitativamente diferente daquele em que
exercida a competência legiferante, a competência
regulatória é, no entanto, conformada pela ordem
constitucional e legal vigente.
O poder normativo atribuído às agências reguladoras pelas
respectivas leis instituidoras consiste em instrumento para que dele
lance mão o agente regulador de um determinado setor econômico
ou social na implementação das diretrizes, finalidades, objetivos e
princípios expressos na Constituição e na legislação setorial. No
domínio da regulação setorial, a edição de ato normativo
geral e abstrato (poder normativo) destina-se à
especificação de direitos e obrigações dos particulares.
Não permite a Constituição, no entanto, lhes seja
emprestada força legislativa suficiente para criá-los ou
extingui-los. O poder normativo atribuído às agências
reguladoras vocaciona-se a 'traduzir, por critérios

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 63 de 8
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técnicos, os comandos previstos na Carta Magna e na
legislação infraconstitucional acerca do subsistema
regulado'.
2 A norma regulatória deve se compatibilizar com a
ordem legal, integrar a espécie normativa primária,
adaptando e especificando o seu conteúdo, e não
substituí-la ao inovar na criação de direitos e obrigações.
Seu domínio próprio é o do preenchimento dos
espaços normativos deixados em aberto pela legislação, e
não o da criação de novos espaços.
Hierarquicamente subordinado à lei, o poder
normativo atribuído às agências reguladoras não lhes
faculta inovar ab o v o na ordem jurídica, mormente para
“impor restrições à liberdade, igualdade e propriedade ou
determinar alteração do estado das pessoas'
3. Vale ressaltar, ainda, que, sendo uma das justificativas
centrais para a emergência da regulação setorial por agências
independentes o elevado grau de segurança jurídica exigido pela
complexidade das relações sociais no mundo contemporâneo,
admitir alto grau de discricionariedade do agente regulador
ou baixa vinculação da regulação aos limites impostos pela
lei contraria a sua própria finalidade institucional,
passando, as agências reguladoras, de agentes
estabilizadores a fatores de instabilidade jurídica” (ADI 4093,
Relatora a Ministra Rosa Weber, Dje. 29.4.2014).

Especificamente no tocante à ANS, a e. Ministra Carmen Lúcia, em


decisão monocrática exarada nos autos da MC na ADPF 532/DF (DJE de
02/08/2018), por meio da qual suspendeu a eficácia da Resolução Normativa ANS
433/2018, manifestou, com propriedade, sua preocupação com “situações
desarrazoadas de incerteza provocadas pelo advento de normas editadas fora do
espaço legislativo próprio e com a garantia do devido processo legislativo que
permite a transparência dos debates, das razões e das finalidades buscadas pelas
normas, especialmente sobre direitos fundamentais”. Conquanto a decisão tenha
posteriormente perdido a eficácia, porque julgada prejudicada a ADPF 532/DF, em
virtude da perda do objeto pela revogação superveniente do ato estatal
impugnado, merecem destaque os seus fundamentos, por sua pertinência com a
questão ora em exame:
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 64 de 8
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10. A segurança jurídica exigida nas contratações é


também princípio determinante para respeito ao devido
processo legislativo. É ele que assegura ao cidadão o
conhecimento prévio do direito que se pretende
estabelecer, suas razões e finalidades de cada norma, a
participação da sociedade legitimador do ordenamento
jurídico.
Por isso, normas editadas pelos órgãos e entidades
administrativas não podem inovar a ordem jurídica,
ressalva feita à expressa autorização constitucional e não
com o objetivo de restringir direitos fundamentais.
A edição de norma administrativa que inaugura
situação de constrangimento a direito social fundamental,
como é o caso da saúde, não apenas pode vir a limitar esse
direito, mas também instala situação da segurança e da
confiança no direito e do direito, o que tem contribuído
para a instabilidade das relações sociais brasileiras e, mais
ainda, tem minado a confiança dos cidadãos nas
instituições públicas.
Daí porque a observância da Constituição é urgente por todos
nós, incluídos e principalmente, servidores do Poder Judiciário,
atuando como guarda permanente da Lei que dá fundamento a
todas as outras.
Permitir que órgãos e entidades administrativas
inovem a ordem jurídica é anuir em que o direito seja
instrumento insuficiente ou incapaz de dotar de segurança
as relações sociais, a boa fé que está na base dos contratos
firmados, a confiança que os negócios devem prover, tudo
em contrariedade à conquista constitucional do Estado de
Direito.
(...)
13. A saúde tida como direito fundamental da pessoa não
pode ser tida apenas como ausência de doença, como afirmei, por
exemplo, na ADPF n. 101, mas como estado de bem estar
ocasionado pelas condições gerais que lhe asseguram segurança e
confiança no seu entorno sóciopolítico e econômico. Esse direito é,
portanto, posto em questão quando se configuram situações
desarrazoadas de incerteza provocadas pelo advento de normas
editadas fora do espaço legislativo próprio e com a garantia do
devido processo legislativo que permite a transparência dos
debates, das razões e das finalidades buscadas pelas normas,
especialmente sobre direitos fundamentais.
A confiança em todo o sistema não pode ser diminuída ou
eliminada por normas cuja correção formal é passível de
questionamento judicial.
14. Causa estranheza que matéria relativa ao direito à
saúde, de tamanha relevância social, e que a Constituição
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Superior Tribunal de Justiça
afirma que, no ponto relativo a planos específicos,
somente poderá ser regulamentada nos termos da lei, e
sem que a ela, aparentemente, se atenha, deixe de ser
cuidada no espaço próprio de apreciação, discussão e
deliberação pelos representantes do povo legitimamente
eleitos para o Congresso Nacional, e seja cuidado em
espaço administrativo restrito, com parca discussão e
clareza, atingindo a sociedade e instabilizando relações e
aumentando o desassossego dos cidadãos.
Daí porque, nesse momento processual, é recomendável que
se assegure a estabilidade do atual sistema de saúde suplementar à
luz da Constituição brasileira.
15. O negócio jurídico consubstanciado nos contratos
de adesão propostos pelas operadoras de saúde deve
obrigatoriamente observar os ditames constitucionais da
máxima eficiência, da transparência, da legalidade e, ainda,
ao art. 170 da Constituição do Brasil, segundo o qual:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização


do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar
a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social,
observados os seguintes princípios...”. (grifou-se)

Não por outro motivo, aliás, Bruno Miragem, ao tratar do poder de


regulação da ANS, alerta para um superdimensionamento dessa competência
normativa secundária (regulamentar), a qual, segundo afirma, “tem dado causa à
edição de regulamentos de frágil conformidade com as disposições e/ou o
fundamento teleológico da Lei 9.656/98 e do Código de Defesa do
Consumidor” (Curso de Direito do Consumidor. 4ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2013. p. 410).
Sob essa ótica, a primeira conclusão que se pode extrair é a de que os
atos normativos exarados pela ANS, além de compatíveis com a Lei 9.656/1998 e a
Lei 9.961/2000, devem ter conformidade com a CF/1988, o CDC (com a ressalva
apenas para os contratos de autogestão, nos termos da súmula 608/STJ), o
Estatuto do Idoso, dentre outras leis, não lhe cabendo inovar a ordem jurídica.
Com relação à CF/1988, é inegável que os atos normativos devem

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Superior Tribunal de Justiça
afirmar a relevância pública atribuída aos serviços de saúde pelo texto
constitucional, dada a importância social da atividade exercida pelas operadoras de
planos de saúde ao contribuírem, ainda que em caráter suplementar, para a
concretização do direito à saúde garantido a todos pelo constituinte (arts. 196, 197
e 199 da CF/1988). Nessa toada, afirmou o e. Ministro Marco Aurélio, no voto
condutor da ADI 1.931/DF (Pleno, julgada em 07/02/2018, DJe de 08/06/2018)
que “a promoção da saúde, mesmo na esfera privada, não se vincula às premissas
do lucro” e que “a atuação no lucrativo mercado de planos de saúde não pode
ocorrer à revelia da importância desse serviço social, reconhecida no artigo 197 do
Texto Maior”, verbis:

Art. 197. São de relevância pública as ações e serviços de


saúde, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua
regulamentação, fiscalização e controle, devendo sua execução ser feita
diretamente ou através de terceiros e, também, por pessoa física ou jurídica
de direito privado.

No que tange ao CDC, com a ressalva já feita aos contratos de


autogestão (súmula 608/STJ), observa Aurisvaldo Melo Sampaio: “mesmo os
poderes normativo e regulamentar da ANS devem ser exercidos com observância
das normas insertas no CDC, inclusive os seus princípios, revelando-se ilegais,
ofensivos à ordem jurídica, sempre que desses limites discreparem, sujeitando-se
ao controle judicial em tais hipóteses” (O regime jurídico dos contratos de plano
de saúde e a proteção do sujeito mais fraco das relações de consumo. São Paulo:
RT, 2010. p. 267).
Acrescenta-se, ainda, a lição de Maria Stella Gregori:

A criação da ANS foi um marco importante para o mercado de


saúde suplementar, à medida que o Estado sinalizava, de um lado, que esta
atividade estava submetida aos princípios constitucionais da ordem econômica,
da livre iniciativa e competição, por considera-los instrumentos agregadores de

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Superior Tribunal de Justiça
eficiência a esse mercado; e, de outro, que tais atividades deveriam ser
desenvolvidas de acordo com decisões e regulamentações editadas por um
órgão estatal responsável por autorizar, regulamentar e fiscalizar o exercício
dessas atividades, de modo a permitir que a competição se desse de forma
saudável e em benefício da sociedade como um todo.
(...)
Como já se ressaltou, a ANS não pode ser vista como um
órgão de defesa do consumidor, nem integrante do Sistema Nacional
de Defesa do Consumidor-SNDC, o que não quer dizer que o
consumidor não seja beneficiário final de suas ações, pois é a partir
da busca pelo equilíbrio das relações e forças existentes no mercado
que se poderá trazer maiores benefícios ao cidadão-consumidor,
inclusive de forma coletiva e abrangente.
(...)
Na busca desse equilíbrio, a defesa do consumidor é perseguida,
mas com foco no mercado, diferentemente dos órgãos próprios, integrantes do
SNDC, que buscam essencialmente a satisfação do consumidor.
Insista-se, porém, que a diferença de foco entre os
órgãos eminentemente consumeristas e a ANS não lhe retira sua
função de instrumento, sem dúvida nenhuma, de proteção do
consumidor e, ainda, conta com a disponibilização de canais de acesso para
que o fornecedor faça suas consultas ou reclamações sobre o setor de saúde
suplementar. (Planos de saúde: a ótica da proteção do consumidor. 4ª ed. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. p. 48 e 80-81)

Quanto ao Estatuto do Idoso, a lei é enfática ao vedar a discriminação


do idoso nos planos de saúde pela cobrança de valores diferenciados em razão da
idade (art. 15, §3º, da Lei 10.741/2003), reforçando, assim, o comando extraído do
art. 14 da Lei 9.656/1998 segundo o qual, em razão da idade do consumidor,
ninguém pode ser impedido de participar de planos privados de assistência à
saúde.
Nota-se, portanto, a clara intenção do legislador em garantir a atenção
integral à saúde do idoso, que não pode ser ignorada, enfraquecida ou contrariada
pela ANS, sobretudo ante a inegável dificuldade, nessa fase da vida, de ingresso em
um novo plano individual ou familiar, especialmente em virtude da sua
onerosidade, e no momento em que a pessoa mais necessita do serviço.
Por sinal, Maury Ângelo Bottesini e Mauro Conti Machado, ao

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Superior Tribunal de Justiça
comentarem o art. 31 da Lei 9.656/1998, afirmam que a regra “tem como fundo o
veto de recusar a filiação em razão da idade” e concluem:

Quem tiver contribuído por 10 anos para um ou alguns


planos de saúde enquanto trabalhou já não pode mais ser
descartado – a expressão é grosseira mas é exata – pela operadora
do plano de saúde a que estiver vinculado. Não é essencial que seja um
único plano, de uma única operadora por 10 anos. Basta a prova de que houve
contribuição para planos sucessivos, tenha ou não havido contribuições, por 10
anos ou mais, para ter assegurado o direito de manter-se filiado, pagando
integralmente o custo do serviço ou do seguro, essa a condição indispensável
para a manutenção do direito. (Lei dos planos e seguros de saúde: comentada e
anotada artigo por artigo. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2003. p.
219-220)

Então, quando o legislador transfere para a ANS a função de


“estabelecer critérios, responsabilidades, obrigações e normas de procedimento
para garantia dos direitos assegurados nos arts. 30 e 31 da Lei nº 9.656, de 1998”
(art. 4º, XI, da Lei 9.961/2000), não cabe ao órgão regulador, a pretexto de fazê-lo,
restringir esses mesmos direitos ou, de qualquer forma, frustrar o seu pleno
exercício, fragilizando a rede de proteção criada em favor do idoso.
Nessa toada, a leitura do art. 31 da Lei 9.656/1998, que determina que
ao aposentado que contribuir para o plano de saúde, em decorrência do vínculo
empregatício, pelo prazo mínimo de dez anos, é assegurado o direito de
manutenção como beneficiário, nas mesmas condições de cobertura
assistencial de que gozava quando da vigência do contrato de trabalho,
desde que assuma o seu pagamento integral, não autoriza a ANS a criar uma
segunda opção que tende a abolir esse direito, como o fez nos arts. 13, II, 17, 18 e
19 da Resolução 279/2011, senão estabelecer os critérios, as responsabilidades, as
obrigações e as normas de procedimento para efetivá-lo, tal como previu o
legislador.

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Superior Tribunal de Justiça
Em verdade, conhecendo a realidade do alto custo dos planos de
saúde individuais e familiares, sabidamente inacessível para uma esmagadora
parcela da população brasileira, não há como negar que os arts. 13, II, 17, 18 e 19
da Resolução ANS 279/2011 acabam por chancelar o “descarte” do idoso –
mencionado por Maury Ângelo Bottesini e Mauro Conti Machado –, na medida em
que concedem ao ex-empregador o aval para oferecer ao aposentado um serviço
mais caro, justamente quando ele tem menor condição financeira para assumi-lo,
forçando-o, em muitas das vezes, a resilir o contrato. Isso sem falar que, por força
da solidariedade intergeracional, o aposentado contribuiu por anos, quando mais
novo, para suportar parte dos custos gerados pelos mais velhos, na legítima
expectativa de que, quando mais velho fosse, outros contribuíssem para suportar
os seus próprios custos com assistência à saúde, expectativa essa que se frustra,
injustamente, quando se vê impossibilitado de continuar pagando pelo serviço.
Tal cenário revela que os arts. 13, II, 17, 18 e 19 da Resolução ANS
279/2011 estabelecem alternativa que é financeiramente conveniente apenas
para o estipulante e para a operadora, considerando o maior grau de risco de
doenças e outros agravos à saúde do beneficiário de idade mais avançada.
Por todo o exposto, se infere que a ANS, ao facultar ao ex-empregador
a escolha pela contratação de um plano de saúde exclusivo para os ex-empregados
aposentados, com condições de reajuste, preço, faixa etária diferenciadas daquelas
verificadas no plano privado de assistência à saúde contratado para os empregados
ativos, extrapola os limites do seu poder normativo, desrespeita a finalidade
protetiva da norma que regulamenta e o pacto intergeracional em que se fundam
os planos privados de assistência à saúde, ofendendo, por conseguinte, o princípio
da legalidade.
Não por outra razão, no julgamento do REsp 1.713.619/SP (julgado em
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16/10/2018, DJe 12/11/2018), de minha relatoria, a Terceira Turma afirmou que
“o art. 31 da Lei 9.656/98, regulamentado pela Resolução Normativa 279/2011 da
ANS, não alude a possibilidade de um contrato de plano de saúde destinado aos
empregados ativos e outro destinado aos empregados inativos” e “não faz
distinção entre 'preço' para empregados ativos e empregados inativos”, tendo,
afinal, concluído que “o 'pagamento integral' da redação do art. 31 da Lei 9.656/98
deve corresponder ao valor da contribuição do ex-empregado, enquanto vigente
seu contrato de trabalho, e da parte antes subsidiada por sua ex-empregadora,
pelos preços praticados aos funcionários em atividade, acrescido dos reajustes
legais”.
Com esses acréscimos, adiro, assim como Sua Excelência, à sugestão
proposta na sessão pelo i. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, com o aditamento
feito, na mesma ocasião, pelo e. Relator, para que a segunda tese seja redigida
nestes termos: “O art. 31 da Lei nº 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam
inseridos em plano de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições de
cobertura assistencial e de prestação de serviço, o que inclui, para todo o universo
de beneficiários, a igualdade de modelo de pagamento e de valor de contribuição,
admitindo-se a diferenciação por faixa etária se for contratada para todos, cabendo
ao inativo o custeio integral, cujo valor pode ser obtido com a soma de sua
cota-parte com a parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada
pelo empregador”.

DA AUSÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO AOS MESMOS


MODELOS ASSISTENCIAL E DE CUSTEIO QUANDO EM VIGOR O
CONTRATO DE TRABALHO DO EX-EMPREGADO APOSENTADO – DIREITO
DO INATIVO A PARIDADE COM O ATIVO NA ATUALIDADE

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Quanto a essa questão, acompanho, sem acréscimos, os fundamentos
do e. Relator, porquanto consolidam o entendimento vigente em ambas as Turmas
de Direito Privado desta Corte sobre a paridade entre ativos e inativos, consoante
se verifica, inclusive, dos diversos julgados mencionados por Sua Excelência.
No que tange à tese, Sua Excelência aderiu, integralmente, à sugestão
trazida na sessão pelo e. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva, assim redigida: “O
ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei nº
9.656/1998, naÞo tem direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de
assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo haver a
substituição da operadora e a alteração do modelo de prestação de serviços, da
forma de custeio e dos respectivos valores, desde que mantida a paridade com o
modelo dos trabalhadores ativos e facultada a portabilidade de carências.
Quanto a essa redação, faço ressalva apenas com relação à referência
feita à portabilidade no enunciado da tese, por entender que, a despeito de se
tratar de relevante garantia nas situações em que há a extinção do vínculo de
beneficiário, como bem salientou o i. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva na
fundamentação do voto-vista, a delimitação da controvérsia restringe-se às
condições assistenciais e de custeio para a manutenção do aposentado no plano
de saúde, nos termos do art. 31 da Lei n. 9.656/1998.
Por isso, sugiro a seguinte redação para a terceira tese: “O
ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei no
9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de
assistência à saúde vigente na época da aposentadoria, podendo haver a
substituição da operadora e a alteração do modelo de prestação de serviços, da
forma de custeio e dos respectivos valores, desde que mantida a paridade com o
modelo dos trabalhadores ativos”.
Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 72 de 8
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DA HIPÓTESE DOS AUTOS


Consta do acórdão recorrido que: (i) “o autor logrou êxito em
demonstrar que foi demitido sem justa causa em 12/02/2015 (fls. 547/548), após
permanecer vinculado aos planos de saúde disponibilizados pela ex-empregadora
por mais de dez anos”; (ii) “o fato de ter a ex-empregadora optado, ao longo do
período em que compreendido o contrato de trabalho, pela sucessão de
operadoras de plano de saúde para a concessão do benefício assistencial a seus
funcionários não afasta o direito do autor de contabilização do período total em
que esteve vinculado à empresa e aos planos de saúde por ela disponibilizados”;
(iii) “houve comprovação, outrossim, de que, embora tenha o desligamento da
empresa, em si, ocorrido em fevereiro de 2015 mediante demissão sem justa
causa, nesta ocasião já se encontrava o autor aposentado, visto que vigente a
aposentadoria a partir de 13/01/2009 (fls. 546)” (fls. 570-571, e-STJ).
Assim, ao decidir que “não é permitido à operadora a discriminação
de plano para ativos e inativos, devendo o ex-funcionário ser mantido na mesma
apólice vigente para os funcionários ativos, apenas com incremento na
mensalidade correspondente ao valor subsidiado pela empregadora” e que “não se
reconhece ao ex-funcionário o direito adquirido à manutenção dos mesmos
valores antes pagos, devendo, ao revés, acompanhar os custos relacionados à
apólice única atualmente fornecida, não sendo razoável, sob pena de se impor a
ruína do plano, o congelamento de prêmios em relação a ex-funcionário” (fl. 574,
e-STJ), o TJ/SP alinhou-se às teses consolidadas neste julgamento, razão pela qual,
como observou o i. Relator, não merece qualquer reparo o acórdão recorrido.

Forte nessas razões, acompanho o voto do e. Relator, para aprovar as

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teses propostas, sugerindo apenas a alteração na redação da terceira tese, e, no
particular, para negar provimento ao recurso especial.

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 74 de 8
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2019/0144247-0 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.816.482 / SP

Número Origem: 10033549620158260161

PAUTA: 25/11/2020 JULGADO: 25/11/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. SADY D´ASSUMPÇÃO TORRES FILHO
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO EM
SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 75 de 8
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INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680

ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Planos de Saúde

SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentaram oralmente pelos Amicus Curiae, a seguir:
FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER, o Dr. OSWALDO DAGUANO JÚNIOR;
UNIMED, o Dr. José Cláudio Ribeiro Oliveira;
IDEC, o Dr. Walter José Faiad de Moura;
FEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, a Dra. ALICE BERNARDO
VORONOFF;
INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAÚDE SUPLEMENTAR, o Dr. GUILHERME VALDETARO
MATHIAS; e
AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR, a Dra. MARIA ROSA GUIMARAES
LOULA.

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator negando provimento ao recurso especial e fixando
teses repetitivas, pediu VISTA o Sr. Ministro Ricardo Villas Bôas Cueva.
Aguardam os Srs. Ministros Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze, Nancy Andrighi, Luis
Felipe Salomão, Raul Araújo e Paulo de Tarso Sanseverino.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Moura Ribeiro.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.

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CERTIDÃO DE JULGAMENTO
SEGUNDA SEÇÃO

Número Registro: 2019/0144247-0 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.816.482 / SP

Número Origem: 10033549620158260161

PAUTA: 25/11/2020 JULGADO: 09/12/2020

Relator
Exmo. Sr. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA
Presidente da Sessão
Exma. Sra. Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. MAURÍCIO VIEIRA BRACKS
Secretária
Bela. ANA ELISA DE ALMEIDA KIRJNER

AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FUNDACAO SABESP DE SEGURIDADE SOCIAL-SABESPREV
ADVOGADO : ANTONIO MARCIO BOTELHO - SP394172
RECORRIDO : ADALBERTO FLORENCIO DE FREITAS
ADVOGADOS : RICARDO ANTÔNIO RODRIGUES ANDRADE - SP183474
FERNANDA CRISTINE CAPATO - SP285404
INTERES. : FEDERACAO NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADOS : GUSTAVO BINENBOJM - DF058607
ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS - DF058608
INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE POLITICA E DIR. DO CONSUMIDOR -
"AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : SIMONE MARIA SILVA MAGALHÃES - DF024194
INTERES. : AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR - "AMICUS CURIAE"
PROCURADOR : DANIEL JUNQUEIRA DE SOUZA TOSTES
INTERES. : UNIDAS - UNIAO NACIONAL DAS INSTITUICOES DE AUTOGESTAO EM
SAUDE - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : JOSE LUIZ TORO DA SILVA - SP076996
VANIA DE ARAUJO LIMA TORO DA SILVA - SP181164
INTERES. : FUNDAÇÃO SÃO FRANCISCO XAVIER - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADOS : CANDIDO RANGEL DINAMARCO - SP091537
BRUNO VASCONCELOS CARRILHO LOPES - SP206587
OSWALDO DAGUANO JÚNIOR - SP296878
CAROLINE DAL POZ EZEQUIEL - SP329960
INTERES. : INSTITUTO DE ESTUDOS DE SAUDE SUPLEMENTAR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADA : CAROLINA CARDOSO FRANCISCO MOUTINHO - RJ116999
INTERES. : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO - "AMICUS CURIAE"
ADVOGADO : WLADIMIR CORRADI COELHO - DEFENSOR PÚBLICO FEDERAL

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 77 de 8
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INTERES. : INSTITUTO BRASILEIRO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - "AMICUS
CURIAE"
ADVOGADO : CHRISTIAN TARIK PRINTES E OUTRO(S) - SP316680

ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Planos de Saúde

SUSTENTAÇÃO ORAL
Consignados pedidos de preferência pelo amicus curiae UNIMED DO BRASIL CONFEDERAÇÃO
NACIONAL DAS COOPERATIVAS MÉDICAS, representado pelo Dr. JOSÉ CLÁUDIO
RIBEIRO OLIVEIRA, e pelo amicus curiae FEDERAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE
SUPLEMENTAR, representado pela Dra. ALICE BERNARDO VORONOFF DE MEDEIROS.

CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA SEÇÃO, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão
realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Villas Bôas Cueva
acompanhando o Sr. Ministro Relator e propondo revisão das teses repetitivas, a Segunda Seção,
por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro
Relator.
Para os fins repetitivos, foram fixadas as seguintes teses:
"a) Eventuais mudanças de operadora, de modelo de prestação de serviço, de forma de
custeio e de valores de contribuição não implicam interrupção da contagem do prazo de 10 (dez)
anos previsto no art. 31 da Lei nº 9.656/1998, devendo haver a soma dos períodos contributivos
para fins de cálculo da manutenção proporcional ou indeterminada do trabalhador aposentado no
plano coletivo empresarial.
b) O art. 31 da Lei nº 9.656/1998 impõe que ativos e inativos sejam inseridos em plano
de saúde coletivo único, contendo as mesmas condições de cobertura assistencial e de prestação
de serviço, o que inclui, para todo o universo de beneficiários, a igualdade de modelo de
pagamento e de valor de contribuição, admitindo-se a diferenciação por faixa etária se for
contratada para todos, cabendo ao inativo o custeio integral, cujo valor pode ser obtido com a
soma de sua cota-parte com a parcela que, quanto aos ativos, é proporcionalmente suportada pelo
empregador.
c) O ex-empregado aposentado, preenchidos os requisitos do art. 31 da Lei nº
9.656/1998, não tem direito adquirido de se manter no mesmo plano privado de assistência à saúde
vigente na época da aposentadoria, podendo haver a substituição da operadora e a alteração do
modelo de prestação de serviços, da forma de custeio e dos respectivos valores, desde que
mantida a paridade com o modelo dos trabalhadores ativos e facultada a portabilidade de
carências."
Vencida, em parte, apenas em relação à parte final da tese, "e facultada a portabilidade de
carências", a Sra. Ministra Nancy Andrighi.
Os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Buzzi, Marco Aurélio Bellizze,
Nancy Andrighi, Luis Felipe Salomão, Raul Araújo e Paulo de Tarso Sanseverino votaram com o
Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Moura Ribeiro.
Presidiu o julgamento a Sra. Ministra Maria Isabel Gallotti.

Documento: 1996523 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/02/2021 Página 78 de 8

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