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All content following this page was uploaded by Rodrigo Matos de Souza on 25 September 2017.
A vida não se configura apenas como leitura, mas também como consumo
de um universo táctil-sensorial, de escolhas e negligências que constituem toda
biblioteca, pois somos transformados por aquilo que lemos, mas também pelo que
não lemos.
“Como todo leitor sabe, uma página impressa cria seu próprio espaço de
leitura, sua própria paisagem física, na qual a textura do papel, a cor da tinta, a
visão do conjunto adquirem, às mãos do leitor, sentidos específicos que dão tom e
contexto às palavras” (MANGUEL, 2006, p.70). O leitor é aquele que atualiza a
obra, noção ligada à Estética da Recepção, que Manguel toma emprestada,
tornando-a menos sisuda, para reafirmar o caráter criativo da leitura, cuja síntese
pode ser encontrada, justamente, na constituição das bibliotecas por cada um dos
leitores. Ele também passeia pelos caminhos da chamada História Cultural,
elegendo aqui e acolá indivíduos e suas bibliotecas para serem alvos das
monografias que compõem o livro, e ao fazer isso constrói uma sociologia
3 | 5º Interculte – Impressão digital, outubro de 2010
histórica da leitura, sem a pretensão de ser reconhecido academicamente como
teórico.
Este elogio à relação do homem com os livros se faz de maneira não
proselitista, há o reconhecimento por parte do autor da nossa condição de minoria,
pois a leitura nunca foi prática cultural massificada, os não-leitores sempre foram
maioria e o ato de ler sempre foi tido como um passatempo frívolo, que não
contribui em nada para a sociedade (MANGUEL, 2004). Os leitores acabam por
formar uma espécie de resistência ou irmandade cujo gabinete se espalha por
todos os espaços de leitura presentes em nossa sociedade, ou mesmo um clube
secreto, como imaginava a personagem Tereza de a Insustentável Leveza do Ser
(KUNDERA, 1995), cujo sinal de reconhecimento e distinção era o carregar de um
livro embaixo do braço. É para esse grupo de Alberto escreve, claro que outros
podem encontrar ali portos seguros para ancorar suas leituras, mas ele está se
comunicando com os seus amigos, espalhados pelas bibliotecas em cinco
continentes.
Manguel constrói bem esta representação do leitor com a sua biblioteca,
incorporando-a como um espírito, reflexo do percurso de muitos outros leitores
que deixaram suas marcas em incunábulos vários; e revela o universo que se
estabelece na interseção homem-livro e no íntimo de todo leitor: a paixão pelos
livros.
Referências Bibliográficas
BORGES, Jorge Luis. Ficções. Tradução de Davi Arrigucci Jr. São Paulo: Companhia das Letras,
2007.
MANGUEL, Alberto. A Biblioteca à Noite. Tradução de Samuel Titan Junior. São Paulo: Companhia
das Letras, 2006.
MILLER, Henry. Devemos ler para oferecer à nossa alma a oportunidade da luxúria. In: A Paixão
pelos Livros. Tradução de Julio Silveira. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2004.
MINDLIN, José. Loucura Mansa. In: A Paixão pelos Livros. Tradução de Julio Silveira. Rio de
Janeiro: Casa da Palavra, 2004.
4 | 5º Interculte – Impressão digital, outubro de 2010
MONTAIGNE, Michel de. In: A Paixão pelos Livros. Tradução de Julio Silveira. Rio de Janeiro:
Casa da Palavra, 2004.