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ESCRITA AUTORAL

FILME ESCOLHIDO: Sociedade dos Poetas Mortos

ACADÊMICA: Hellen Jordan Martins Freitas

O filme “Sociedade dos Poetas Mortos” do diretor Peter Weir lançado em


1989 traz assuntos muito atuais e problemáticas pertinentes que ainda devem ser
discutidas, debatidas e faladas. O filme traz como crítica o ensino tradicional
conteudista e tecnicista ainda muito presente na nossa sociedade atual, e tem como
narrativa principal estimular o pensamento próprio, e isso é notável através do
professor de inglês, Keating, que usa de um meio nada ortodoxo para distribuir
conhecimento e incitar a aprendizagem de seus alunos. Uma de suas primeiras falas
para a turma é a seguinte: “Agora classe, aprenderão a pensar sozinhos de novo.
Aprenderão a saborear palavras e a linguagem. Não importam o que digam, palavras
e ideias podem mudar o mundo.”

A relação do professor Keating com seus alunos elucida bem o artigo


“Currículo, Desejo e Experiência” onde é debatido a possibilidade de romper com o
que já está posto, buscando se movimentar, desenvolver e construir modos
particulares onde o desejo, o pensamento, a criatividade produzem e ensinam
também. É bem nítido que o professor de inglês é o mediador do ensino-aprendizagem
e um grande incitador da busca pelo conhecimento, busca essa que coloca os alunos
no lugar de pensadores, que não aceitam cegamente todo e qualquer tipo de
conhecimento, ele estimula uma busca pelo conhecimento crítico e analito,
credibilizando o desejo que movimenta a aprendizagem. Metaforicamente, isso pode
ser visto em uma cena do filme na qual ele pede aos seus alunos que caminhem e diz
“Encontrem o próprio jeito de andar.” E também na cena da primeira aula onde ele
pede que os alunos rasguem as páginas dos livros, incentivando que não aceitem
toda e qualquer forma de conhecimento de maneira alienada por alguém que em tese
é detentor do saber, e sim que o aluno deve questionar, desenvolver o pensamento
crítico e somente depois tirar uma conclusão das informações que estão sendo
recebidas.
O professor de inglês se mostra um incentivador e acreditador de desejos e
sonhos, independentes de quais sejam eles. Na cena final, onde os alunos após serem
obrigados a retornar ao ensino metódico e tecnicista depois da demissão do professor
Keating, que foi intitulado como culpado da morte de um de seus alunos que ao se ver
impossibilidade de viver seu grande desejo e sonho oprimido pelo pai acaba
cometendo suicídio, é notória que a relação entre professor e aluno, entre ensino e
aprendizagem, construiu além de tudo potência e desejo em todos os sentidos,
colocando os alunos em constante movimentação aos invés de aprisiona-los.
Ainda sobre o suicídio do aluno Neil, o artigo “Currículo, Desejo e
Experiencia” da autora Marlucy Alves Paraiso conversa com esse “assassinato” não
só da vida, mas também de desejos e sonhos, como cita Deleuze (2001) “Não há
morte, há assassinatos”, quando o assunto é desejo. Neil tem seu sonho interpretado
pelo pai que sonha com um filho médico, e que é bem comum atualmente os pais
colocar nos filhos esse discurso de profissões renomadas, excluindo além de tudo
potências, possibilidades, existências.

Podemos pensar ainda, como discutido no artigo “Estudo sobre a sociedade


disciplinar no pensamento de Foucault e a sociedade de controle no pensamento de
Deleuze-Guattari: um olhar sobre o papel da instituição educacional e o controle da
infância.” da Vivian de Jesus, que esse assassinato de desejos vem postulado por
uma sociedade que vem estabelecendo uma subjetividade aprisionada
majoritariamente pela disciplina, que assegura que os sujeitos aprisionados
experienciem esse aprisionamento fora da instituição escola também, ceifando não só
o desejo motivador da aprendizagem, mas o desejo da vida, da existência.
Em sua maioria, ensinos tradicionais baseado em disciplina, honra,
excelência e tradição como retratado no filme, prioriza o agrupamento e a rigidez do
currículo e do ensino de maneira geral, e como traz o artigo da autora Marlucy (2009),
não é o planejamento que causa o mal estar e a inflexibilidade, e sim o aprisionamento
e a ideia binária de certo e errado, de sabe ou não sabe, traz aprisionamento a
manipulação das subjetividades. “Não é o planejamento que atrapalha o desejo no
currículo. Há que planejar aulas, e muito bem planejadas. O que não se pode, é deixar-
se aprisionar pelo planejado.” (Marlucy Alves Paraíso, 2009)
Outra cena marcante do filme é quando o professor diz que educa para que
pensem por si mesmos e que “lemos e escrevemos poesias porque somos humanos”,
que me remete o caso da Caroline, citada no artigo da autora Marlucy (2009), que
aprendeu a ler motivada por poesias e a partir destas buscas novas experiências se
movimentando dentro das possibilidades de sua potência. Ainda, conversa com
colocar o ensino- aprendizagem em um lugar subjetivo e transformador de dentro para
fora, que eu acredito ser a forma mais bonita (e correta), sair dos métodos tradicionais
no qual os alunos são vistos como tábuas rasas incapazes de pensar e partir para a
concepção de um aluno agente do próprio conhecimento e capaz de trocas
fundamentais para que ocorra os agenciamentos e a desterritorialização, para que os
alunos se sintam motivados, desejantes, conectados com a aprendizagem.

“Não é possível formular um método para trazer o desejo e suas linhas de


fuga para um currículo. Não é possível porque o desejo não depende da vontade;
depende mais da conexão com algo que nos convém.” (Marlucy Alves Paraíso, 2009)
Pensando a psicologia, trago uma parte do filme onde o professor Keating
em uma aula cita Henry Thoreau “Fui à floresta porque queria viver deliberadamente,
queria viver profundamente e sugar toda a essência da vida. Deixar apodrecer tudo o
que não é vida e não, quando eu morrer, descobrir que não vivi.” Estimular o
pensamento, as experiências, os desejos, é fundamental na prática psi, e somente
considerando as particularidades e subjetividades dos sujeitos estarem entregando
excelência na nossa profissão.
REFERÊNCIAS

DEAD Poets Society. Direção de Peter Weir. Estados Unidos: 1989. (2h 20m)
PARAÍSO, Marlucy. Currículo, desejo e experiência. Revista Educação &
Realidade, agosto, 2009.
SILVA, Vivian de Jesus. Estudo sobre a sociedade disciplinar no
pensamento de Foucault e a sociedade de controle no pensamento de Deleuze-
Guattari: um olhar sobre o papel da instituição educacional e o controle da
infância. in: JUNIOR, Hélio Rebello (org). Foucault, Deleuze, Guattari: Corpos,
Instituições, Subjetividades. São Paulo: Annablume, Fapesp, 2011.

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