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RECURSOS

CONCEITO

Segundo o professor Nestor Távora, recurso é o meio voluntário


destinado a impugnação das decisões, afigurando-se como remédio de
combate a determinado provimento, dentro de uma mesma relação jurídica.
Recurso assim seria algo naturalmente voluntário, não tendo então natureza
recursal o que tivesse que necessariamente ser reexaminado pelo tribunal. O
Recurso também não seria uma ação autônoma como acontece com a revisão
criminal, o mandado de segurança, o habeas corpus e a impugnação.

O recurso, diante de tudo isso, teria como finalidade precípua a


integração, a invalidação, o esclarecimento ou a reforma de determinada
decisão impugnada.

FUNDAMENTOS

A idéia de recurso está fundamentada na necessidade de uma melhor


prestação jurisdicional do Estado à sociedade, visto que, mesmo o Estado, por
ser feito por pessoas, é passível de falhas, então a melhor maneira de diminuir
essas falhas e conseqüentemente a injustiça é permitir que quanto a um
mesmo assunto, seja dada mais de uma opinião, quando necessário, e que
essa outra opinião, de certa forma, esteja muita mais consolidada e próxima do
ideal de justiça. Seria uma forma também de suprir uma necessidade
psicologia do vencido que não se conforma com a decisão única contraria aos
seus interesses. O recurso seria algo inerente a própria organização do
judiciário e do duplo grau de jurisdição.

Contudo, vale lembrar que esse duplo grau de jurisdição, nem sempre é
obrigatório e nem sempre vai existir, como nos processos originários do
Supremo tribunal Federal, o importante mesmo na prestação jurisdicional é a
busca pela justiça sempre assegurando o contraditório e a ampla defesa, que
são os melhores meios para que o direito seja mais bem aplicado ao caso
concreto.

PRINCÍPIOS

Princípios são normas gerais que norteiam o operador do direito no


momento de aplicar a legislação ao caso concreto, assim como em toda área, o
direito Processual Penal, no momento de utilizar os Recursos, deve se norteara
por tais princípios, o primeiro deles é o da voluntariedade, segundo este o
recurso é um ato processual decorrente da manifestação de vontade daquele
que queira ver reformada ou anulada uma decisão, principio este expresso no
art. 574 do CPP (código de Processo Penal).

O Principio da taxatividade afirma que um recurso só pode ser manejado


se o ordenamento jurídico o prever expressamente, o que torna o rol de
recursos numerus clausus, assim, não se pode falar em recurso inominado ou
recurso improvisado, o recurso só vai existir se houver previsão legal.

O princípio da unirrecorribilidade diz que, em regra, para cada decisão


judicial existe um recurso próprio, um único recurso, sendo dever da parte
escolher o recurso adequado para que exista o reexame. Apenas
excepcionalmente uma mesma decisão pode comportar mais de um recurso,
como no caso da decisão judicial que ofenda a CF (Constituição Federal) e a
legislação infraconstitucional, da qual caberá simultaneamente recurso especial
ao STJ e recurso extraordinário ao STF.

Já o princípio da fungibilidade, também chamado de teoria do recurso


indiferente ou teoria do tanto vale, afirma que não havendo erro grosseiro ou
má fé na interposição de um recurso, e sendo atendido o prazo limite do
recurso que seria cabível, a parte não será prejudicada pela interposição de um
recurso por outro, mandando o Juiz que o recurso tenha o procedimento
daquele que seria cabível para a hipótese.

Outro princípio é o da vedação a reformatio in pejus, este transmite a


idéia de que a parte que recorreu não pode ter sua situação em uma nova
decisão piorada, claro, desde que a outra parte não recorra. No mesmo
raciocínio, se a acusação quem tenha recorrido, não poderá o tribunal
reconhecer nulidade que favoreceria ao réu sem ter sido suscitada, salvo nas
hipóteses em que haja recurso de ofício. Principio esse, que não é aplicado aos
jurados do tribunal do Júri, pois o veredicto desses é soberano, assim,
dependendo do novo veredicto, o juiz do tribunal terá que prolatar uma decisão
melhor ou pior ao réu.

O Princípio da conversão afirma que a parte não será prejudicada pelo


endereçamento errado do recurso. Nesse caso, cabe ao tribunal incompetente
remeter os autos ao órgão competente para apreciá-lo.

Enquanto isso, o principio da complementariedade dos recursos


possibilita a integração da decisão já recorrida quando houver renovação do
prazo recursal para apresentar de novo o recurso, adequado sempre as
modificações operadas na nova decisão, observando que só poderá ser
impugnada novamente a matéria sobre a qual se estendeu a alteração do
julgado.

PRESSUPOSTOS

De acordo com Nestor Távora, para que se recorra de uma sentença é


necessário que se tenha legitimidade e interesse. Contudo pressupostos que
são inerentes a todos os recursos, segundo ele, é a previsão legal, a forma
prescrita em lei e a tempestividade.

A previsão legal está ligada a idéia de taxatatividade, ou seja, recursos


são aqueles que estão expressos em lei processual penal, o que não impede
que se valha de sucedâneos recursais, como as ações autônomas de
impugnação de mandado de segurança, de habeas corpus, quando da decisão
não couber nenhum recurso.

A forma prescrita em lei significa atender as formalidades que a lei


determina, assim devem ser interpostos exclusivamente por petição, seguida
de razoes. Já a tempestividade é o pressuposto que procura saber se o recurso
foi impetrado no prazo correto, com a interposição do recurso ocorre a
preclusão consumativa, que significa que já se utilizou do ato que se tinha
direito não mais podendo repeti-lo. Vale frisar que a súmula 216 do STJ afirma
que a tempestividade de um recurso é aferida pelo registro no protocolo da
secretaria e não pela data da entrega na agência dos correios.

Já para Guilherme de Sousa Nucci, os pressupostos se dividem em


objetivo e subjetivos. Os objetivos seriam o cabimento, se há previsão legal, a
adequação, o recurso certo para impugnar aquela decisão, a tempestividade,
que é o respeito ao prazo. Já os pressupostos subjetivos seriam o interesse da
parte, seja demonstrada a pertinência da interposição do recurso, e a
legitimidade, o recurso tem que ser oferecido por que está na relação
processual ou por quem a lei expressamente autorize.

JUIZO DE ADMISSIBILIDADE

O juízo de admissibilidade precede ao exame do mérito do recurso, a


competência para julgar o recurso não se trata de condição de admissibilidade
recursal, é mais um requisito de validade da decisão. Esse juízo de
admissibilidade é exercido dependendo do recurso adequado ao caso, juízo
que será feito tanto pelo órgão a quo, como pelo órgão jurisdicional ad quem,
que provavelmente é o órgão competente para julgar o recurso, a
admissibilidade ou a inadmissibilidade do recurso pelo juiz não vincula o
tribunal, cada um faz o seu juízo.
EFEITOS

Os efeitos do recurso vão depender de qual será utilizado, ele pode ter
efeito devolutivo, suspensivo, regressivo (ou interativo, reiterativo ou diferido) e
extensivo, um recurso pode ter apenas um dois ou todos eles. Os efeitos serão
a ele atribuídos pelo juízo de admissibilidade dependendo do caso legal. O
efeito devolutivo é o que entrega a matéria recorrida para ser apreciada pelo
órgão com grau de jurisdição superior. Já o efeito suspensivo tem o condão de
paralisar a eficácia da decisão judicial recorrida, o processo continua
tramitando, o que fica sem efeito, até nova decisão é o julgamento proferido do
qual se recorreu.

O efeito regressivo é verificado nos recurso em que é dada a


possibilidade ao mesmo órgão que proferiu a decisão de se retratar,
modoficando-a. efeito comum no recurso de sentido estrito. Já o efeito
extensivo se da quando existe concurso de agentes, em que apenas um dos
réus interpõe recurso, mas a decisão desse recurso aproveita a todos por o
recurso não ter tido um caráter pessoal, efeito esse que pode ser aplicado
também às ações autônomas de impugnação.

ESPÉCIES

1- APELAÇÃO

A apelação é recurso manejável pela parte sucumbente, mesmo que


parcialmente, para que uma decisão seja reformada ou anulada pelo órgão de
segundo grau.
Pode ser interposta por petição ou termo nos autos, em regra, no prazo
de cinco dias, podendo ser acompanhada de razoes, estas podem ser
oferecidas em oito dias. Se o processo for de contravenção o prazo para
arrazoar será de três dias. Nos juizados especiais a apelação será apresentada
no prazo de dez dias e já com as razões.

Quando se fala em apelação por termo, se está falando daquela sem


rigor formal, para tal, basta que o recorrente revel o seu inconformismo com a
decisão, demonstrando o desejo do recurso, do qual não se exige capacidade
postulatória, diferente das razões que terão sempre a necessidade de tal
capacidade.

Ela é cabível das sentenças definitivas de condenação ou absolvição


proferida pelo juiz singular, das decisões definitivas, ou com força de
definitivas, proferidas por juiz singular quando não for comportável recurso em
sentido estrito, das decisões do Tribunal do Júri, quando: ocorrer nulidade
posterior à pronúncia; for à sentença do juiz-presidente contrária à lei expressa
ou à decisão dos jurados; houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da
pena ou da medida de segurança; for a decisão dos jurados manifestamente
contrária à prova dos autos, todos esses cabimentos estão no art. 593 do CPP.

Recebida pelo juiz de primeiro grau, será atribuído, em regra, efeito


suspensivo e devolutivo, encerrado os prazos para razoes, os autos serão
remetidos à instância superior, com ou sem razoes, no prazo de cinco dias,
salvo nas jurisdições onde for sede de tribunal, onde subirão em trinta dias.

A competência para julgar a apelação é do tribunal ao qual está


vinculado o juiz que prolatou a decisão em primeiro grau de jurisdição. Os
autos ao chegarem ao tribunal serão distribuídos a um relator. O MP terá cinco
dias para emitir parecer, podendo opinar pelo conhecimento, não
conhecimento, provimento ou não perdimento da apelação. No dia do
julgamento, o presidente do tribunal o anunciará, sendo apregoada as partes,
aquela que requerer terá a palavra por dez minutos. Na votação sendo o relator
vencido, outro será designado para lavrar o acórdão, geralmente o membro
que abriu a divergência.
2-RECURSO EM SENTIDO ESTRITO

O Recurso em sentido estrito segue o rol taxativo do art. 581 do CPP, só


sendo admitida ampliação com lei expressa para tal fim. O prazo para sua
interposição em regra é de cinco dias, será, contudo de vinte dias no caso do
parágrafo único do art. 586 do CPP. O prazo para arrazoar e contra-arrazoar é
de dois dias.

Seu cabimento está numerado no art. 587 do CPP, observando que o


cabimento desse recurso contra incidentes que são decididos no processo de
execução penal está revogado pela lei de execução penal em seu art. 197, Lei
nº 7.210/84.

Em seu processamento o recurso em sentido estrito é dirigido ao juiz de


primeiro grau, enquanto as razoes são endereçadas ao julgador ad quem, no
art. 583 do CPP existem os casos em que o recurso em sentido estrito deve
subir com os autos originais. Geralmente é atribuído a este recurso o efeito
devolutivo e regressivo, ou seja, o juiz pode retratar-se da decisão, retratação
que só pode acontecer uma vez. Da decisão retratada pode a parte recorrer e
desse novo recurso não cabe mais retratação.

Não cabe falar na figura do revisor em sede de recurso em sentido


estrito. Os autos serão distribuídos a um relator, seguindo de vistas ao MP,
pelo prazo de cinco dias. No dia do julgamento as partes também terão dez
minutos cada uma. Depois de julgados, os autos deverão ser devolvidos dentro
de cinco dias ao juiz a quo.

3-CARTA TESTEMUNHAVEL

A Carta testemunhável tem o condão de fazer chegar ao conhecimento


do tribunal matéria recursal cujo seguimento foi obstado ilegalmente. A carta
deve conter todos os elementos necessários para que o tribunal aprecie o
mérito do recurso não recebido pelo juiz a quo.

Ela deve ser interposta através de petição no prazo de 48 horas da


intimação do despacho denegatório do recurso o da ciência do seu não
processamento regular. Trata-se de recurso subsidiário, o seu cabimento
depende da não existência de outro recurso para o caso. Ela é processada
segundo o art. 643 do CPP, se dirigida contra o juiz de primeiro grau segue o
rito do recurso em sentido estrito. A Carta será distribuída a um relator,
seguindo o rito do recurso em sentido estrito.

4-CORREIÇÃO PARCIAL

A correição parcial é uma espécie de reclamação contra erro de


procedimento, mais parecida a uma medida administrativa. Pode ser interposta
diretamente ao órgão competente para jugá-la. É cabível quando não houver
previsão especifica de recurso para a situação. É processado segundo o
regimento interno dos tribunais

5-EMBARGUINHOS E EMBARGOS DE DECLARAÇÃO

Os embarguinhos e os embargos de declaração, são muito semelhantes,


devem ser dirigidos ao mesmo órgão que proferiu a decisão da qual se alega a
ambigüidade. É cabível contra ato judicial com conteúdo decisório. Ele é
julgado pelo próprio prolator da decisão em questão.

6-AGRAVO REGIMENTAL

O Agravo Regimental é utilizado contra decisão monocrática proferida


por membro do tribunal, quando ocasionar prejuízos a uma das partes. Deve
ser interposto por simples petição no prazo de cinco dias. Seu processamento
é geralmente tratado no regimento interno dos tribunais. Deve ser julgado pelo
órgão colegiado competente.

7-EMBARGOS INFRIGENTES
Os Embargos infringentes e de nulidade são recursos contra decisões
não unânimes de segunda instancia e desfavoráveis ao acusado. São
apreciados no âmbito do próprio tribunal. Devem ser interpostas por petição,
com razoes, no prazo de dez dias.

São cabíveis contra decisões em sede de apelação e de recurso em


sentido estrito, quando não houver unanimidade. Interposto, deverá o MP ou
querelante intimado para oferecer contra-razoes em dez dias.

8-RECURSO ESPECIAL E RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Recursos especiais e extraordinários estão previstos na CF, o primeiro


processado perante o STJ e o segundo pelo STF, serão impetrados no prazo
de quinze dias perante o presidente do tribunal recorrido. Interposto o recurso,
o presidente do tribunal aquo notificará o recorrido para apresentar contra-
razoes em quinze dias. Depois será dada vista ao MP que atue perante o
tribunal. Poderão ser julgados monocraticamente pelo relator ou submetido ao
órgão colegiado competente para apreciar a matéria.

9-AGRAVO DE INSTRUMENTO

O Agravo de instrumento é utilizado contra decisão denegatória de


recurso especial ou recurso extraordinário do tribunal de justiça ou tribunal
regional federal. Deve ser interposto por petição no prazo de cinco dias. O
agravo deve chegar ao STJ ou ao STF pronto para julgamento. O relator pode
julgar de plano.

10- EMBARGOS DE DIVERGENCIA

Embargos de divergência é cabível, no âmbito do STF e do STJ e


interposto pela parte interessada no prazo de quinze dias, contra decisão de
uma turma ou seção que diverge de outra, deverá ser julgado pelo pleno os
pela seção, dependendo do caso.
11- AGRAVO EM EXECUÇÃO

Agravo em execução é utilizado contra decisão do juiz de execução, ele


não possui efeito suspensivo. Deve ser interposto por petição ou por termo nos
autos no prazo de cinco dias. Será cabível contra toda e qualquer decisão pelo
juiz no processo de execução. Possui efeito devolutivo. Em segundo grau será
distribuído a um relator, seu rito de verá seguir o do recurso em sentido estrito.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

TÁVORA, Nestor, ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de


Direito Processual Penal. 3. Ed. Salvador. Podivm. 2009.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS
DEPARTAMENTOS DE CIÊNCIAS JURÍDICAS
DIREITO DIURNO – 8º PERÍODO
DIREITO PROCESSUAL PENAL II
PROFESSOR: JOSÉ WELIGTON ANDRADE

RECURSOS NO PROCESSO PENAL

Acácio Thenório Soares Irene – 07H11014

Teresina, novembro de 2010

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