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AGRUPAMENTO DE ESCOLAS DE PORTELA E MOSCAVIDE

Ano letivo de 2013/2014 - fevereiro 2015


Avaliação de Português – 11º ano
Prof. Paula Ângelo

GRUPO I
A

Lê atentamente o excerto que se segue de Frei Luís De Sousa e responde às


questões formuladas.

MARIA (Entrando com umas flores na mão, encontra-se com Telmo, e o faz tornar para cena.) -
Bonito! Eu há mais de meia hora no eirado passeando - e sentada a olhar para o rio e a ver as faluas e os ber-
gantins1 que andam para baixo e para cima - e já aborrecida de esperar. . . e o Senhor Telmo aqui posto a
conversar com a minha mãe, sem se importar de mim! Que é do romance que me prometeste? Não é o da
batalha, não é o que diz: "Postos estão, frente a frente, os dois valorosos campos": é o outro, é o da ilha
encoberta onde está el-rei D. Sebastião, que não morreu e que há de vir um dia de névoa muito cerrada 1... Que
ele não morreu; não é assim, minha mãe?

MADALENA - Minha querida filha, tu dizes coisas! Pois não tens ouvido a teu tio Frei Jorge e a teu tio Lopo
de Sousa contar tantas vezes como aquilo foi? O povo, coitado, imagina essas quimeras 2 para se consolar na
desgraça.

MARIA - Voz do povo, voz de Deus, minha senhora mãe: eles que andam tão crentes nisto, alguma coisa há
de ser. Mas ora o que me dá que pensar é ver que, tirando aqui o meu bom velho Telmo (Chega-se toda para
ele, acarinhando-o.), ninguém nesta casa gosta de ouvir falar em que escapasse o nosso bravo rei, o nosso
santo rei D. Sebastião. Meu pai, que é tão bom português, que não pode sofrer estes castelhanos, e que até às
vezes dizem que é de mais o que ele faz e o que ele fala, em ouvindo duvidar da morte do meu querido rei D.
Sebastião... ninguém tal há de dizer, mas põe -se logo outro, muda de semblante, fica pensativo e carrancudo:
parece que o vinha afrontar, se voltasse, o pobre do rei. Ó minha mãe, pois ele não é por D. Filipe; não é, não?

MADALENA - Minha querida Maria, que tu hás de estar sempre a imaginar nessas coisas, que são tão pouco
para a tua idade! Isso é o que nos aflige, a teu pai e a mim: queria-te ver mais alegre, folgar3 mais, e com
coisas menos. . .

MARIA - Então, minha mãe, então! Veem, veem?... também minha mãe não gosta. Oh! essa ainda é pior, que
se aflige, chora. . . ela aí está a chorar. . . (Vai-se abraçar com a mãe, que chora.) Minha querida mãe, ora pois
então! Vai-te embora, Telmo, vai-te: não quero mais falar, nem ouvir falar de tal batalha, nem de tais histórias,
nem de coisa nenhuma dessas. Minha querida mãe!

TELMO - E é assim: não se fala mais nisso. E eu vou-me embora. (À parte, indo-se depois de lhe tomar as
mãos.) Que febre que ela tem hoje, meu Deus! queimam-lhe as mãos. . . e aquelas rosetas 4 nas faces. . . Se o
perceberá a pobre da mãe!

Frei Luís de Sousa, Almeida Garrett

1 Densa 2. Sonhos 3. Distrair 4. vermelhidão nas faces

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1. Localiza o excerto na estrutura interna e externa da obra, destacando a sua importância
para o desenvolvimento da ação. ( 20 pts)

2. Tendo em conta este excerto, aponta três traços caracterizadores de Maria que estejam
em sintonia com os ideais românticos. Fundamenta a tua resposta com citações textuais
pertinentes (20 pts)

3. Explicita as funções das didascálias neste excerto. ( 20 pts)

4. Comenta a expressividade da linguagem e da pontuação nesta passagem da obra . ( 20 pts)

B
Lê o texto que se segue.

Com os voadores tenho também uma palavra, e não é pequena a queixa. Dizei-me, voadores,
não vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? O mar fê-lo Deus para vós, e
o ar para elas. Contentai-vos com o mar e com nadar, e não queirais voar, pois sois peixes. Se
acaso vos não conheceis, olhai para as vossas espinhas e para as vossas escamas, e
conhecereis que não sois aves, senão peixes, e ainda entre os peixes não dos melhores. Dir-
me-eis, voador, que vos deu Deus maiores barbatanas que aos outros de vosso tamanho. Pois
porque tivestes maiores barbatanas, por isso haveis de fazer das barbatanas asas?! Mas ainda
mal, porque tantas vezes vos desengana o vosso castigo. Quisestes ser melhor que os outros
peixes, e por isso sois mais mofino que todos. Aos outros peixes, do alto mata-os o anzol ou a
fisga, a vós sem fisga nem anzol, mata-vos a vossa presunção e o vosso capricho. Vai o navio
navegando e o marinheiro dormindo, e o voador toca na vela ou na corda, e cai palpitando. Aos
outros peixes mata-os a fome e engana-os a isca; ao voador mata-o a vaidade de voar, e a sua
isca é o vento. Quanto melhor lhe fora mergulhar por baixo da quilha e viver, que voar por cima
das entenas e cair morto!

Padre António Vieira, Sermão de Santo


António aos Peixes

5. Caracteriza o tipo humano que o peixe voador simboliza, tendo por base o texto
transcrito. (20 pts)

GRUPO - II

1. Lê o texto que se segue com atenção e assinala as alíneas corretas para cada item (35
pts):

1 Se existe um mito fundamental da nacionalidade portuguesa, esse mito é o do


Sebastianismo. Independentemente da classe social e do nível da educação, quase toda a
gente vive à espera de alguém que “venha endireitar isto”. [...]
O “legítimo” Desejado, fundador inconsciente do mito, foi D. Sebastião.
5 Paradoxalmente, tratou - se talvez do pior rei da História portuguesa, se é que tais coisas
podem ser medidas com fiabilidade. Vejamos como pôde isto acontecer.
Sentado no trono aos 14 anos de idade, em 1568, o neto de D. João III (o pai morrera

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com 16, de diabetes juvenil) pensava em tudo menos em governar o País. Sem fazer
grande caso do que os conselheiros lhe diziam, misógino e desprezando totalmente a
descendência [...] sonhava com caçadas e guerras contra os “infiéis”. Um dia embarcou
10
em Paço de Arcos para Tânger sem dar palavra a ninguém e ali quis convencer a guarnição
daquela praça - forte ocupada pelos portugueses a reconquistar Larache e Arzila,
abandonadas pelo avô. Conseguiu regressar com vida mas ia naufragando numa
tempestade que o atirou para a Madeira. Sempre a sonhar com um império cristão no
Norte de África, o jovem monarca resolveu em 1578 intervir numa disputa entre dois
15 senhores da guerra marroquinos, aliando-se a um deles. Arrastou para a aventura toda a
nobreza portuguesa, à frente de um exército de 25 mil homens. Partiram como se fossem
para uma festa, e a maioria perdeu a vida em Alcácer Quibir, numa batalha absurda ─ sem
objetivo, sem tática, sem liderança. [...]
Feitos prisioneiros, muitos nobres foram regressando à medida que iam sendo pagos
20 os resgates exigidos pelos marroquinos. Quem não se lembra do “Romeiro”, da peça de
Almeida Garrett, que não era outro senão D. João de Portugal, um nobre desaparecido em
Alcácer Quibir? Chegavam também muitos cadáveres de nobres. Como o corpo do rei não
fosse encontrado, nasceu a crença no seu regresso com vida, mais tarde ou mais cedo. O
desejo popular de que isso sucedesse devia -se ao facto de D. Sebastião não ter
25 descendentes, o que significava que a coroa deveria passar para Felipe II de Espanha,
filho de Isabel de Portugal e neto de D. Manuel I. Isso veio efetivamente a acontecer, tendo
Portugal estado ligado à Espanha entre 1580 e 1640.
Durante esses 60 anos, os patriotas não pararam de sonhar com o regresso do
Desejado, também chamado Encoberto e Adormecido. O seu aparecimento deveria
verificar -se numa manhã de nevoeiro, à proa de um navio, para resgatar Portugal e fundar
um novo império. Mas, durante os primeiros tempos de “dominação filipina” (como
costuma dizer-se) esta aspiração popular não era compartilhada pela maioria da nobreza,
que esteve aliada aos reis espanhóis, só vindo a mudar de opinião muito mais tarde, já na
década de 1630. Um grupo de fidalgos lideraria então a Restauração, um movimento
largamente apoiado pelo povo.
Luís Martins, «D. Sebastião regressará...», in Visão , n.º 910
1.1. Com a utilização do advérbio “ Paradoxalmente” (l.4) , o jornalista
a) explora a fundação do mito sebastianista.
b) salienta a incompetência governativa de D. Sebastião.
c) chama a atenção para as facetas antagónicas de D. Sebastião.
d) enaltece as virtudes espirituais Desejado.

1.2. O antecedente do pronome pessoal que ocorre em “ Sem fazer caso do que os
conselheiros lhe diziam”. (l.8-9) é
a) “D. Sebastião” ( l.4)
b) “o neto de D. João III “ ( l. 7 )
c) “pai” (l.7).
d) “conselheiros” (l.8).

1.3. A enumeração “ sem objectivo, sem tática, sem liderança” (l.16) destaca
a) a insensatez da participação portuguesa na batalha.
b) as dificuldades em encontrar um líder para a missão portuguesa.
c) a falta de experiência dos soldados.
d) a escassez de recursos materiais das tropas lusas.

1.4. O constituinte “numa manhã de nevoeiro (l. 25) desempenha a função sintática de
a) predicativo do sujeito.
b) complemento direto.

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c) modificador apositivo do nome.
d) complemento oblíquo

1.5. No contexto em que ocorrem, as expressões “ D. Sebastião “ (l.4), “o neto de D. João


III” (l.7) e “o jovem monarca” ( l.13) contribuem para a coesão
a) temporal.
b) lexical.
c) interfrásica.
d) frásica.

1.6. Na passagem “o que significava que a coroa deveria passar para Felipe II de
Espanha” (l.23) está presente a modalidade
a) epistémica.
b) apreciativa.
c) deôntica.
d) expressiva.

1.7 . A frase “Quem não se lembra do “Romeiro”, da peça de Almeida Garrett, que não era
outro senão D. João de Portugal, um nobre desaparecido em Alcácer Quibir?” (l.18-19 )
configura um ato ilocutório :
a) diretivo .
b) compromissivo.
c) assertivo.
d) expressivo.

2. Classifica as orações sublinhadas nas frases: ( 5 pts)


a) Se existe um mito fundamental da nacionalidade portuguesa, esse mito é o do
Sebastianismo. (l.1)
b) […] muitos nobres foram regressando à medida que iam sendo pagos os resgates
exigidos pelos marroquinos (l. 17-18 ).

3. Indica a função sintática dos segmentos destacados: ( 5 pts)


a) Isso veio efetivamente a acontecer. (l.23)
b) Um grupo de fidalgos lideraria então a Restauração, um movimento largamente
apoiado pelo povo. (l.29)

4 . Identifica a classe e a subclasse das palavras sublinhadas na frase : ( 5 pts)

“O desejo popular de que isso sucedesse devia -se ao facto de D. Sebastião não ter
descendentes, o que (1) significava que (2) a coroa deveria passar para Felipe II de Espanha
[…] (l.21-22) “

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