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LIGEIRA CONSIDERAÇAO SOBRE A CONJUNTURA BRASILEIRA

A implementação do neoliberalismo no Brasil, o novo nível de


desenvolvimento capitalista em nosso país ocorrido com a reestruturação produtiva a partir
da década de 90, trouxeram entre suas varias conseqüências uma profunda transformação
nas relações sociais de produção, no perfil da classe trabalhadora, e, o que assistia-se antes
mesmo da primeira posse do presidente Lula, acentuou-se já nos primeiros momentos do
governo do PT, a saber, a crise na esquerda, causada pela falência do “Projeto
Democrático e Popular” que caducou, não por conta de derrotas políticas, mas pelo
próprio desenvolvimento do capitalismo no Brasil ao patamar de Capital monopolista,
articulado ao Capital internacional. Os anseios progressistas e social-democratas, por uma
melhor divisão da renda nacional, diminuição da desigualdade social, maior acesso a saúde,
moradia e educação de qualidade para a população, desenvolvimento econômico,
aprofundamento da democracia e cidadania, não poderão se aprofundar para alem do nível
já alcançado e , pelo contrario, são ameaçados com o advento de qualquer das crises
cíclicas de acumulação e super produção como a atual, os direitos conquistados sofrem
ataques, dada a necessidade imperiosa de o Estado agir visando favorecer a acumulação e
reprodução do Capital em um novo patamar, agora com salários muito inferiores ao nível
pré-crise, o que implica a retirada de direitos, trazendo em seu bojo a possibilidade de
transferência de renda a burguesia monopolista via “ações de estimulo econômico”
patrocinadas com dinheiro publico, reafirmando a ordem do Capital, ampliando o abismo
social entre proprietários e trabalhadores.

O nível do desenvolvimento capitalista no Brasil inviabilizou qualquer


projeto reformista da sociedade, pondo em xeque o bloco histórico formado em meados dos
anos 80 que contou com vários setores da sociedade civil, da esquerda católica, setores
médios e da intelectualidade que dirigiram movimentos de massa como o MST no campo, a
CUT entre o operariado, encontrando no PT sua expressão partidária. Mais que as disputas
internas, ideológicas e políticas, o anacronismo do projeto Democrático Popular que
cimentava o citado bloco histórico, explica o definhamento da hegemonia do partido do
trabalhadores (PT), dado o desajuste entre as aspirações dos setores mais avançados do

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proletariado e o pragmatismo da lógica do compromisso e da conciliação entre classes
antagônicas e inconciliáveis, tendo a governabilidade como fim.

A falta de um projeto nacional, dada a falência do projeto democrático


popular, e, a crise do neoliberalismo, abrindo espaço para a discussão sobre o Estado e o
questionamento da ordem burguesa, devem nortear a discussão pela esquerda da realidade
brasileira quando se visa o futuro a médio e longo prazo. Qual é pois o projeto nacional
em voga? Para alem do projeto burguês, qual o projeto do proletariado?

O surgimento, na década de 90 e no primeiro decênio do séc. XXI, de


“novos” partidos e organizações políticas que se apresentam como vanguarda do
proletariado, ou que se propõem a dirigir nossa classe, evidenciam o momento político que
a esquerda vive, um momento em que o velho já morreu e o novo ainda não nasceu, pois
fazendo oposição ao PT, não são essas forças capazes de supera as contradições que se
colocam, não mostram tais forças, serem capazes de realizar as tarefas que elas mesmas se
propõem, por conta de sua concepção teórica-organizativa e mesmo ideológica. Esse
momento portanto, é um momento de profunda desorientação para militantes e para as
massas, momento em que caracterizada a impossibilidade de disputa interna no PT, as
varias forças (ditas “de esquerda”) disputam uma hipotética hegemonia, gerando um quadro
de profunda fragmentação política que se reflete no movimento sindical e de massas, na
medida em que se disputa a direção da classe trabalhadora. Só falta para essas pretensas
direções, justamente, a classe organizada para ser dirigida.

A REVOLUÇAO COMO HORIZONTE

Para os que não perderam de vista a centralidade do trabalho como criador


do valor e da própria existência material da sociedade, para os que consideram a
contradição Capital/trabalho como a contradição central da qual derivam as demais, para
esses que fazem uma leitura materialista e dialética da história, o atual estágio de
desenvolvimento das forças produtivas mundiais, o grau de intercambio comercial e
cultural, o papel do Capital financeiro, bem como, o mercado mundial e a produção
capitalista que engloba as mais afastadas ilhas e rincões do planeta evidenciam que as

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condições materiais para a superação do capitalismo já estão dadas, o que pressupõe que a
derrocada dessa forma histórica e a construção de uma nova só podem advir da ação
revolucionaria do proletariado organizado, organizado de forma conseqüente, por um
partido revolucionário da vanguarda dessa classe. Salta aos olhos, mesmo dos mais
indoutos, a interdependência dos povos, a lógica implacável do Capital, a supremacia do
capital financeiro e o aumento mundial do desemprego, do desmatamento, da miséria e do
ônus de quem trabalha em contraste com o gozo pródigo dos detentores do capital.

Em nosso país, as pessoas sérias (exclua-se aqui os burgueses


comprometidos por sua condição de classe) que considerem a realidade social, o grau de
desenvolvimento produtivo e histórico-político sob uma ótica cientifica, não podem deixar
de vislumbrar a revolução socialista como única alternativa de projeto para o proletariado
brasileiro e latino-americano. No Brasil, nenhuma viabilidade histórica há para leituras e
projetos etapistas, nacional-desenvolvimentistas, social-democratas, democrático-popular,
etc, que sirva para solucionar o crescente caos social sob o regime capitalista, que leve, com
efeito o trabalho a superar o capital.

O PCB

O partido comunista brasileiro acerta na sua leitura teórica. Tem clara


compreensão do desenvolvimento histórico, do capitalismo e da dinâmica da luta de
classes, o que o leva ao internacionalismo, a afirmar seu compromisso com a revolução,
concebendo a revolução brasileira como socialista, visando o comunismo. Como decorrente
dessa leitura, faz-se mister a construção de um bloco histórico que desemboque na
derrubada do capitalismo, que, formando uma frente anti-capitalista, agrupe os setores
progressistas da sociedade que se oponham ao regime do capital, que agrupe as forças de
esquerda em torno de um projeto histórico do proletariado para a nação, o socialismo. É
pois, a unificação da esquerda, de suas vanguardas, que poderá viabilizar
instrumentos efetivos de organização da classe operária e de toda a classe
trabalhadora, ao passo que, ao mesmo tempo, a luta concreta dos trabalhadores
concorre para acelerar o processo de formação da consciência de classe, sobre tudo
em tempos de crise, unifica seus inimigos no seio do Estado e força a unidade da sua

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luta sob pena de derrota, desnudando suas direções que são obrigadas a se revelarem
no processo. É papel dos agentes do materialismo dialético histórico, ou seja, dos
comunistas dirigir o proletariado em suas lutas, é papel de seu partido conquistar a
hegemonia na condução do processo de emancipação dos trabalhadores através de análises
acertadas, por ser um partido composto por revolucionários (e não oportunistas), por sua
coerência, pela sua tradição no seio operário, por ser reconhecido pelos trabalhadores como
sua expressão e de seus anseios, confundindo-se partido e classe. Entretanto, os últimos
acontecimentos no Sindicato dos Químicos Unificados, dos quais todos são sabedores,
mostram quão difícil é a construção da unidade no meio sindical e na esquerda brasileira.
Indica que estamos em uma conjuntura de disputa e que ninguém “quer por azeitona na
empada de ninguém”. Toda a chamada “esquerda” disputa entre si o controle de sindicatos,
espaços políticos e instrumentos. A forma de atuação do PCB no Sindicato dos Químicos
Unificados nesse momento de disputa por espaços, remonta uma antiga prática sindical
equivocada do nosso partido (nossa história não nos ensinou nada?) que a primeira vista
parece negar as resoluções que nos centralizam, além de serem contrárias a prática do
partido em outros estados e do PCB em Osasco. Fica claro para mim que o cupulismo, o
caciquismo e o aparelhismo que tanto prejudicaram o partido no passado devem ser
combatido, pois, enveredando por esse caminho, a reconstrução revolucionária do Partidão
como instrumento concreto de organização do proletariado e da revolução, se
impossibilitará, restando a insignificância política, derrotado por suas próprias
contradições.

Se considero quase nula a possibilidade de reverter a linha tomada pela


nossa direção sindical, dada a forma como vem sendo conduzida a discussão interna, devo
levar em conta que não há possibilidade do partido recuar dentro dos químicos unificados
com o aberto confronto que se instaurou entre as forças. Evidencia-se que a contestação
judicial da unificação será arma utilizada, e, ninguém ignora as consequências maléficas
que tal atitude poderá causar, caracterizando essa desastrada ação e postura política como
causadora de um retrocesso histórico para o operariado.

Ora, se julgo não poder interferir internamente para impedir ou reverter essa
linha, é coerente ao menos não colaborar ou pactuar de qualquer forma com ela. Por tudo
isso, e, estando desobrigado de qualquer função na executiva do partido em Osasco, não

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respondendo diretamente pela Secretaria de Cultura, conforme deliberado na penúltima
reunião que agrupou as diversas secretarias, sinto-me desimpedido para comunicar que
passo a considerar-me Simpatizante do partido, conforme previsto nas teses sobre
organização – segundo consta no item 8º (recrutamento), 100º ponto, letra a), páginas 15 e
16. Tese aprovada na conferência nacional de organização, realizada nos dias 20 e 23 de
março de 2008 em Santos – SP.

Andrew Mosse 13/07/09

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