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5° ano

Leitura Oral
420 palavras

Tutty, o terror das calças brancas

[...] é bom pra cachorro ver alguém se aproximando com a calça


imaculadamente branca. Tudo acontece em duas etapas.
Na primeira, eu fico quietinho, deitadinho, cara de quem não está nem aí,
olhando o visitante, o incauto, a vítima (escolher aí como chamar meus parceiros
de palco; por mim, encaro com o maior respeito, como colegas sem os quais
minha performance não seria possível). Daí, quando ele chega mais perto, crente
que está abafando com sua calça branca, admirada pelo cachorrinho que vos fala,
lá vou eu como uma mola que se estica, rápido como um avião, surpreendente
como um pernilongo que não canta avisando da picada. E, antes que ele possa se
defender dou pelo menos meia dúzia de pulos certeiros (quando era mais jovem,
chegava a uma dúzia em trinta segundos), não sem antes me certificar de que
minhas patas estão bem molhadinhas ou, no mínimo, com um pouco de terra do
jardim.
Claro que nem sempre dá certo. Já levei joelhada, tapas, gritos, eoutros
golpes baixos. Existem, além dos mal humorados, os meu tipos prediletos,
aqueles que exigem técnicas e táticas especiais que descrevo a seguir:
O tipo que vira imediatamente de costas. Para esses, desenvolvi a minha curva
rápida em 90º, que consiste em correr como se fosse pular pela frente, desviar no
último instante e... carimbar a frente que ele virou para trás.
O tipo que me segura pela coleira antes que eu pule. Esse merece um
truque genial: eu não reajo. Fico quietinho, ele segurando minha coleira, e eu
abanando o rabinho com as patinhas dianteiras dobradas. Mal ele me solta,
pensando que não há por que impedir um cachorrinho tão amistoso, lá vou eu com
meu super pulo, um só, mas eficiente. Um só, porque não sou besta de deixar que
ele, agora bravo por ter sido tão otário, me segure de novo.
O tipo que conhece o cachorro do Pedrinho. Com esse, tenho de rebolar
para cumprir minha missão. Primeiro, porque ele não entra na casa, nem passa
perto de mim, sem antes pedir ao Pedrinho que me prenda. Aí só me resta apelar
e usar todos os meus dotes de ator pulatício internacional. Não reclamo, não lato,
mas não desgrudo meu olhar tristonho do gajo, até que ele mesmo, cheio de culpa
por ter mandado prender um cão cheio de amor pra dar, peça para me soltarem
um pouquinho. Em geral, na despedida. Pena que esse recurso não dê certo mais
de três vezes.

(TAVARES, 2005)
Interpretação de Texto

1- Quem é o narrador da história?

2- Ele é um narrador- observador ou narrador- personagem? Copie do texto algum


trecho que justifique sua resposta.

3- Tuffy conta que gosta de fazer algo que irrita profundamente as pessoas. O que
ele faz?

4- Por que Tuffy considera os seres humanos como seus "parceiros de palco"?

5- Tuffy diz que o recurso que ele usa como o seu terceiro tipo de ser humano,
que não dá certo mais do que três vezes. Por que isso acontece?

6- Tuffy refere-se como sendo um "ator pulatício internacional", o que é que ele
quis dizer como isso?

7- De acordo com o texto, quais as características de Tuffy?

8- O que Tuffy pensa dos seres humanos? Justifique sua resposta.

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