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Quando peço que me escute, por Jacques Salomé

Publicado em 31/03/2012por Andrea Silveira

Aos que defendem os direitos autorais peço mil desculpas,


mas não dá para não reproduzir aqui um texto belíssimo do Jacques Salomé. Psicólogo e
sociólogo francês, considerado o “escritor da ternura”, ele descreve com sabedoria o pedido da
nossa alma. Fiz uma tentativa de traduzir o texto para o português, mas não tenho certeza de
que consegui chegar a um consenso linguístico perfeito. De qualquer forma, é emocionante.
Apreciem…
Quando peço que me escute e você começa a me dar conselhos, sinto que não sou escutado.
Quando peço que me escute e você me faz perguntas sobre o que eu deveria ou não sentir, me
sinto agredido.
Quando peço que me escute e você apreende o que eu digo para tentar resolver o que você
acredita ser meu problema, por mais estranho que possa parecer, me sinto ainda mais perdido.
Quando peço que me escute, peço para que você esteja lá, presente nesse instante tão frágil em
que procuro a mim mesmo, numa palavra errada, às vezes, inquietante, injusta ou caótica.
Preciso dos seus ouvidos, da sua tolerância, da sua paciência para me dizer o que é difícil ou o que
é mais tranqüilo.
Sim, simplesmente me escutar… sem acusação, sem desqualificação da minha palavra.
Escuta, escuta-me.
Tudo o que peço é que você me escute.
O mais próximo de mim.
Simplesmente acolha o que tento te dizer, o que tento dizer a mim mesmo.
Através da sua escuta, tento exprimir minha diferença, procuro, sobretudo, escutar a mim mesmo.
Assim, tenho acesso a uma palavra própria: aquela de que, durante muito tempo, fui
desapossado.

Quando me sinto escutado, posso... Construir pontes, passarelas entre minha história e minhas
histórias. Religar acontecimentos, situações, encontros, emoções para que tudo isso venha a
tornar-se a trama de minhas interrogações. Para tecer, assim a escuta de minha vida.

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