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Eu… não saberia...

explicar como eu sou de verdade… Mas posso tentar mostrar, através dos
meus olhos:
Pensamentos estranhos e confusos nunca prejudicaram o seu desempenho, aparentemente.
Você é uma pessoa comum por fora. Mas por dentro… O que torna essa pessoa disfuncional?
Para alguém como você, é quando os pensamentos ruminantes se transformam em rituais.
Talvez estivesse apenas cansado ou estressado, uma boa justificativa para a ideia repentina
que veio à mente. Não era racional, nem tinha motivos para ser.
Mas…
Sua mente é invadida por pensamentos repetitivos, mas não transborda.
“Droga! ME DEIXE EM PAZ!”, você diz consigo mesmo, e depois suspira, lutando contra os
impulsos de mover o corpo.
Você se contém, porque está cansado de se concentrar nos detalhes; está cansado de ouvir
uma voz o tempo todo na própria cabeça e ser incapaz de parar. E discutir com ela é
angustiante, porque você sempre soube que algo simples poderia se tornar um inferno:
fragmentos de algo que alguém disse. Cenas de algo que viu. Dúvidas e inseguranças. Ou
simplesmente, a realidade observável e tudo ao redor.

É uma situação hipotética: agora você precisa pegar o celular em cima da mesa. Ele vibra
forte, e continuará vibrando até que toque na tela e desligue o alarme.
Seus olhos então se fixam em todo o panorama da mesa, e sua mente começa a trabalhar.
Forte e repetitiva. Alheia a você, como uma voz que pode ser ouvida bem alto.
Você se aproxima, e suas ações nesse momento começam a ser narradas em sua mente. Tudo
acontece de forma simultânea.
Tocar na cadeira, arrastá-la, sentar, encontrar uma posição cómoda, cruzar as pernas,
arrastar a cadeira outra vez, pegar o celular. Tocar na cadeira, arrastá-la, sentar, encontrar
uma posição cómoda, cruzar as pernas, arrastar a cadeira outra vez, pegar o celular. Tocar
na cadeira, arrastá-la, sentar, encontrar uma posição cómoda, cruzar as pernas, arrastar a
cadeira outra vez, pegar o celular. Tocar na cadeira, arrastá-la, sentar, encontrar uma
posição cómoda, cruzar as pernas, arrastar a cadeira outra vez, pegar o celular.
Apenas para quando você termina a ação, até que comece novamente, com outra coisa.
Ou apenas para quando você está obcecado demais com qualquer outra coisa mais específica,
a ponto de não conseguir pensar em nada e sua mente fica quieta, ela não narra coisas, ela não
repete milhares de vezes uma frase que alguém falou e nem sussurra pra você como você
deve pisar na calçada.
E ao seu redor, ao longo da sua vida, ninguém desconfia que a sua mente está nublada e que
você se sente distante das demais pessoas. Você sorri e conversa. Interage com todos.
Isso é horrível? Não é não, depois que se acostuma.
Mas você felizmente não é essa pessoa. Você é apenas alguém que me observa falar sobre, e
que tenta entender como funciona minha mente.
Quer saber algo importante sobre mim? Eu sempre tive uma vida corrida e saudável, mas eu
sempre tive também "vozes" que são pensamentos intrusivos e palpáveis demais para ignorar.
Eles me diziam o tempo todo coisas absurdas, como por exemplo, que algo iria acontecer
comigo ou com aqueles que eu amo; acreditar que eu era uma má pessoa, me dando medos
constantes de dizer não; que eu deveria criar listas mentais ou algo terrível poderia acontecer;
e outras coisas mais…
Quando começou isso? Durante a adolescência, a idade não lembro ao certo. 12 ou 13. Mas o
fato é que sempre convivi com isso, e nunca gostei de dizer para as pessoas. É um fato meu.

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