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Brasil

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Música “Love The Way You Lie” de Rihanna e


Eminem ganha um novo tom durante a
pandemia
Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos cria um canal para receber denúncias, e a subnotificação de
casos de violência doméstica é um fator preocupante durante a quarentena.

Por Lorena Castanheiro Atualizado em 24 nov 2020, 09h00 - Publicado em . . 2020, . h .

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Milhares de mulheres estão em suas casas nesta quarentena. Milhares de mulheres


recebem amor e reciprocidade de seus lares, enquanto outras milhares são
espancadas nesse mesmo lugar.
Com o convívio diário, muitos casais estão sentindo a pressão da crise relacionada
a Covid-19, cresce também o número de transtornos psicológicos causados ou
acentuados pelo stress. Atualmente, o brasileiro tem passado mais tempo ao lado
da família, situação diferente da habitual, onde as horas eram limitadas pela rotina
de trabalho fora de casa.

Fato que tem por consequência, em casos mais severos, a violência doméstica.
Esse tipo de violência contra a mulher nunca foi um mistério no Brasil, mas agora,
com a quarentena obrigatória, os casos crescem e surgem novos fatores discutíveis:
um deles, é o stress.
Você com certeza já ouviu muito essa palavra ao longo da vida. Mas sabe como ela
está relacionada a distintos problemas?

Consultamos uma psicóloga para saber mais sobre o assunto, de acordo com a
especialista Ana Paula C, “É algo que já é intrínseco de todo ser humano. O stress
está dentro da nossa conjunção genética por um instinto de sobrevivência em
sociedade”.

Mas então o que aconteceu para que sentíssemos isso de forma exacerbada? Ela
também explica, “Tudo o que entrar de novo e causar uma sensação persecutória e
de morte, pode ser transformado em uma doença. Devido às instabilidades da
pandemia, algumas pessoas estão com dificuldades de lidar com o stress de forma
equilibrada”.

E de fato, os picos mais altos de stress podem causar desequilíbrios na saúde


mental de um indivíduo. Será que isso já basta para que um companheiro, antes tão
doce e compreensivo, perca facilmente o controle e parta para uma agressão?

Cerca de 70% do comportamento humano sofre influências do ambiente externo;


mas não é um fator determinante. Como pode ser observado em famílias
desestruturadas, pessoas equilibradas e com senso de moralidade. Isso ocorre
devido a características do caráter, Ana acrescenta, “A sociedade é um reflexo dos
pensamentos, e também o que cada um de nós recolhe do que está por fora,
infelizmente, a grande maioria não consegue passar essa peneira para acabar não
introjetando dentro de si todas as coisas ruins que ele acaba absorvendo do meio
externo, como as injustiças, como as desigualdades”.

O monstro dentro de casa

Mas o stress por si só não leva alguém a cometer tais atos. O que o leva a isso,
está a nível de personalidade, ou seja, ter momentos de descontrole é comum, mas
nunca buscar meios que compensem o comportamento negativo é inerente de
alguém que já possuía uma maldade interna.
O descontrole extremo é fruto de uma personalidade vitimista e sádica.

Cuidamos para que a saúde mental seja preservada em tempos de crise, mas ela
não deve ser usada como desculpa para ocorrências graves. Ainda segundo a
psicóloga, “o stress que está sendo gerado por todas as faltas e o instinto de
sobrevivência aí está tentando se sobressair de qualquer jeito, mas não chegaria ao
ponto dele agredir ela se já não tivesse essa personalidade para isso”.
Você sabe identificar quando sentimos stress e como ele pode nos alterar
realmente?
Stress em excesso causa problemas psicossomáticos, ou seja, manifestações no
corpo. A pandemia de covid-19 gerou um pânico generalizado nas pessoas,
estamos lidando com algo desconhecido e estamos diante de um momento em que
é preciso uma internalização, precisamos entrar em contato com nós mesmos.

Lidar com a realidade pode ser assustador e causar negação, podemos reagir
desencadeando doenças no corpo. Alguns tipos de câncer, dores no estômago e
depressão são exemplos comuns.

Pronto, já entendemos que o stress sozinho não é a causa de um crime. Ter


conhecimento disso é importante para que mulheres tomem a decisão de buscar
ajuda.
Todo ato de violência é consciente, e o convívio diário tem proporcionado algo
inédito a todos nós: autoconhecimento concreto, brusco e impactante. Estamos
próximos o suficiente para começar a enxergar os defeitos, e 24 horas podem
transformar um romance em filme de terror.

Julgar o outro é mais fácil do que corrigir a si mesmo, a esse passo o outro começa
a incomodar. Muitas mulheres se tornam alvos quando são vistas como o “inimigo”
dentro de casa.

A subnotificação dos casos de violência doméstica na quarentena demonstra


números alarmantes, mas porque isso ocorre?
A sociedade vem sendo construída com valores machistas a séculos, e “a mulher
como vítima” é vergonhoso, algo que as mulheres são ensinadas a não expor.

O papel feminino é distorcido aos poucos

A nossa matéria conversou com uma vítima de abuso psicológico para ver sob a
sua perspectiva, para preservar sua identidade decidimos usar um nome e idade
fantasia.
Ivone, uma mulher de 45 anos do interior de São Paulo é casada a muitos anos.

Porque é tão natural que pessoas que brigam constantemente permaneçam sob o
mesmo teto? Traçando um paralelo com a canção POP que fez sucesso no ano de
2010, infelizmente, a simbologia na letra ainda é algo presente nos dias atuais.
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“Só vai ficar aí e me ver queimar? está


tudo bem, por eu amo o jeito que dói”
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Perguntamos a Ivone como suas emoções contribuíram para que ela formasse uma
imagem positiva do seu parceiro:

“Nós fazíamos companhia um para o outro, ainda que não tivéssemos nada em
comum. Eu aprendi a gostar de novas coisas, acho que imaginei que sentiria falta
de uma figura masculina em casa, por isso deixei de lado um pouco quem eu era,
para começar a fazer parte do ‘nós’ ”.

Entender que o que é um relacionamento tóxico é um processo lento, e nem sempre


as coisas são óbvias para a vítima, pois ela acredita fortemente que precisa daquilo.

Laços são vínculos complicados e rompê-los, às vezes, envolve muitos fatores. É


comum que vítimas desse tipo de violência se sintam um lixo quando as coisas vão
mal, mas também é provável que isso ocorra por acreditarem que elas são o
problema da relação.
Durante a quarentena os laços tendem a se estreitar, seja por puro instinto de
sobrevivência diante de uma doença que poderia levar à morte, ou seja por
dependência financeira.

Repórter: Como se sente em relação aos laços que criou com aquela pessoa?
“Hoje estou conformada que em determinado momento do nosso relacionamento as
coisas não foram como eu imaginei no início. Pensei também como a vida seria
mais leve sem ele, mas agora… chegamos em um consenso, e eu aprendi a criar
muralhas em minha mente e a filtrar apenas as coisas boas. Ninguém é perfeito,
sabe? Ainda não descobri algo que me faça mudar de ideia”.

De todos os feminicídios do qual se teve notícia neste ano de 2020, grande maioria
passou por um estágio de conformismo.
As mulheres são infelizes, mas estão confortáveis onde estão. Pelo medo de serem
julgadas, pelo medo de enfrentar o desconhecido, pelo medo de não terem apoio
para criarem os seus filhos e até pior, não terem um apoio da justiça brasileira.
A justiça tem faltado nesse aspecto, onde as leis não são fortes e o agressor muitas
vezes escapa ileso. As vozes das mulheres são mais ouvidas depois que estão
mortas. Consequentemente, um número maior de denúncias favoreceria a
visibilidade da população feminina.

Para a psicóloga, “[..] entra o medo de se mostrar, mostrar o que está acontecendo,
então para ela normalmente a sociedade vai ver o contexto não só como vítima,
mas como provocadora do sentimento masculino de que ele tem que proteger a
honra. Infelizmente isso é aceito pela sociedade. A mulher que consegue perder o
medo, a vergonha e a culpa, ela consegue fazer essa denúncia”.

Eles não merecem mulheres tão maravilhosas, e elas não precisam acreditar em
mentiras.

Não mais.

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“Estamos correndo de volta, aqui vamos nós outra vez.


É tão insano, porque quando está bom, está ótimo.
Eu sou o super homem e ela é Lois Lane.
Mas quando está ruim, está horrível.
Sinto tanta vergonha que enlouqueço
Quem é esse cara? eu nem sei o nome dele.

Eu desci o braço nela ”


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