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Luto no Judaísmo

Por Maurice Lamm

O Judaísmo, com sua longa história de lidar com a alma


do homem, seu conhecimento profundo das realizações e
fraquezas, suas grandezas e seus pontos fracos,
sabiamente estabeleceu períodos graduais de luto.
Durante este tempo, o enlutado pode expressar sua dor e
alívio, com calculada regularidade, o aumento das
tensões causadas pela perda.
A religião judaica fornece uma abordagem estruturada ao
luto, dividido em cinco estágios.

Os primeiros três dias


Nos primeiros três dias de luto, é uma mitsvá chorar.
Durante este tempo, a pessoa deve refletir sobre o
que pode melhorar no seu comportamento.
As pessoas não podem saudar ou serem saudadas
por um enlutado. Se por engano o cumprimentam, ele
deve responder: "Não posso responder ao
cumprimento, pois estou de luto."
As "proibições de trabalho" durante estes dias
aplicam-se mesmo se os enlutados forem passíveis
de sofrer perda financeira. 

O primeiro estágio – aninut


Este é o período entre a morte e o enterro, quando o
desespero é mais intenso. Nessa hora, não apenas as
amenidades sociais, como até exigências religiosas
importantes são canceladas, em reconhecimento à mente
perturbada do enlutado.

O segundo estágio – lamentação


Este período consiste nos primeiros três dias após o
funeral, dias devotados ao pranto e lamentação. Durante
este período, o enlutado nem sequer responde aos
cumprimentos, e permanece em casa (exceto sob certas
circunstâncias especiais). É um tempo em que até visitar
o enlutado de certa forma é desencorajado, pois é cedo
demais para consolar os enlutados quando a ferida está
tão recente. Durante este tempo, o enlutado fica dentro
de casa, expressando sua dor ao usar uma roupa
rasgada, sentando-se num banco baixo, usando chinelos,
abstendo-se de barbear e arrumar-se, e recitando o
Cadish (prece dos enlutados).

O terceiro estágio – shivá


Este estágio abrange os sete dias após o enterro e inclui
o período de três dias de lamentação. Durante este
tempo, o enlutado sai do estágio de profunda dor para um
novo estado de mente no qual ele é preparado para falar
sobre sua perda e aceitar consolo dos amigos e parentes.
O mundo agora se amplia para o enlutado. Ele continua
as observâncias delineadas no segundo estágio acima,
mas ele pode interagir com conhecidos que vão à sua
casa para expressar simpatia em seu desgosto.
Uma obrigação sagrada cai sobre todo judeu – não
importa seu relacionamento com o falecido ou com os
enlutados – confortar os sobreviventes – mãe, pai,
cônjuge, filho, filha (casados ou solteiros), irmão, irmã (ou
meio-irmão e meia-irmã) do falecido.
No Judaísmo, mostrar compaixão fazendo uma visita de
condolências é uma mitsvá, considerada por alguns de
nossos maiores eruditos como sendo biblicamente
ordenada. É dever de uma pessoa imitar D'us: assim
como D'us consola os enlutados, o homem deve fazer o
mesmo.
O objetivo fundamental da visita durante a shivá é aliviar
o enlutado do fardo intolerável da intensa solidão. Em
nenhuma outra ocasião um ser humano precisa mais de
companheirismo.
O frio interior que se instala com a morte do parente
começa agora a degelar. O isolamento e retiro do mundo
e das pessoas agora relaxa um pouco, e a normalidade
começa a voltar.

O quarto estágio – sheloshim


Este período consiste de trinta dias (contando os sete de
shivá) após o funeral. O enlutado é encorajado a sair de
casa após a shivá e aos poucos retomar seu contato com
a sociedade, sempre reconhecendo que ainda não
passou tempo suficiente para assumir relações sociais
completas.
Barbear-se e cortar o cabelo geralmente é proibido para
os enlutados, bem como cortar as unhas e lavar o corpo
todo por deleite (em oposição a lavar-se em prol do
asseio, que é requerido).

O quinto estágio – um ano de luto 


O quinto estágio dura um ano (contado a partir do dia do
enterro), durante o qual as coisas retornam ao normal, e
os negócios se tornam novamente rotina, porém os
sentimentos do enlutado ainda são afetados pela ruptura
no relacionamento com o ente querido.
A observância que mais afeta a vida diária do enlutado
durante o período de doze meses é a completa
abstenção de festividades, tanto públicas quanto
privadas. Participar dessas reuniões simplesmente não
coaduna com a depressão e tristeza pelas quais o
enlutado está passando. Seria absurdo a pessoa dançar
alegremente enquanto seu pai ou mãe foi enterrado há
pouco tempo.
Assim, os Sábios decretaram que, embora o completo
afastamento físico das atividades normais da sociedade
dure somente uma semana, abster-se de ocasiões
sociais festivas geralmente é observado por trinta dias
para outros parentes, e um ano no caso da morte do pai
ou mãe. A alegria, em termos da tradição do luto, está em
grande parte associada com eventos sociais e públicos, e
não com satisfação pessoal.
No encerramento deste último estágio, não se espera que
a pessoa continue seu luto, exceto por breves momentos
quando yizkor (prece especial recitada em memória aos
entes falecidos) ou yahrtzeit (aniversário de morte do ente
falecido) estão sendo cumpridos. Na verdade, a tradição
judaica adverte a pessoa por ficar de luto mais tempo que
este período prescrito.

Recitar o Cadish
O Cadish é recitado em todo serviço de prece, de manhã
e à noite, no Shabat e feriados, em dias de jejum e de
júbilo.
O período em que o enlutado recita o Cadish pelos pais
é, teoricamente, um ano inteiro. O falecido é considerado
como estando sob julgamento Divino naquele período.
Algumas comunidades, portanto, aderem ao costume de
recitar o Cadish por doze meses em todos os casos.
No entanto, como um ano inteiro é considerado como
sendo a duração do julgamento para os perversos, e
presumimos que nossos pais não se enquadram nessa
categoria, a prática em muitas comunidades é recitar o
Cadish somente durante onze meses.
O Cadish deve ser recitado somente na presença de um
quorum devidamente constituído, um minyan, que
consiste de dez homens acima da idade de bar mitsvá.
Se houver apenas nove adultos e um menor presente,
ainda não é considerado um quorum para um minyan.

Yizkor e Yahrtzeit
Yizkor é uma cerimônia relembrando todos os falecidos
durante um serviço comunal na sinagoga. Yahrtzeit é um
memorial pessoal de aniversário; pode ser observado por
qualquer parente ou amigo, mas basicamente é pelos
pais.
O serviço Yizkor foi instituído para que o judeu pudesse
prestar homenagem aos seus antepassados e relembrar
a vida boa e os objetivos tradicionais. Este serviço está
baseado num princípio vital da vida judaica, que motiva e
anima a recitação do Cadish.
É baseado na firme crença de que os vivos, por meios de
atos de piedade e bondade, podem redimir os mortos. O
filho pode levar honra ao pai. O "mérito dos filhos" pode
refletir o valor dos pais.
Este mérito é atingido, basicamente, ao viver num
elevado plano moral e ético, correspondendo às
exigências de D'us e sendo sensível às necessidades do
próximo. A expressão formal deste mérito é conseguida
por meio de preces e contribuições para caridade.
Yahrtzeit é um dia especial de observâncias para
relembrar o aniversário da morte dos pais. Embora a
palavra seja de origem alemã, o costume está anotado no
Talmud.
Esta comemoração religiosa é registrada não como um
decreto, mas como uma descrição de um sentimento
instintivo de tristeza, uma lembrança anual da tragédia,
que impele a pessoa a evitar a ingestão de carne e vinho
– símbolos de festividade e alegria, o próprio sal da vida.

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