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DA SÉRIE BEST-SELLER S O B R E F A M ÍL IA

Com o s e r m a rid o de uma só m u lh er


Fidelidade
Outros títulos da série:

Futuros Homens
Criando meninos para enfrentar gigantes

Reformando o Casamento
A vida conjugal conforme o Evangelho

O marido federal
A liderança bíblica no lar

O fruto de suas mãos


O respeito e a mulher cristã

Sua filha em casamento


Cortejo bíblico no mundo moderno

Minha vida pela sua


Caminhando pelo lar cristão

Firmes nas promessas


Um manual para a educação bíblica de filhos
Fidelidade
Como ser marido de uma só mulher

DOUGLAS WILSON

CLIRE
© CLIRE 2015. Authorized translation of the American-English
edition © 1999,2012 Canon Press.
Todos os direitos reservados.

Originalmente publicado em inglês sob o título:


Fidelity: How to Be a One-Woman Man.
Primeira edição em português, 2017.

Publicado sob permissão de Canon Press,


PO. Box 8729, Moscow, ID 83843.

Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida


por quaisquer meios sem permissão por escrito dos editores, salvo
em breves citações, com indicação de fonte.

Tiragem: 1.000 exemplares

ISBN: 978-85-62828-33-1

Editor: Waldemir Magalhães


Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Revisão: Eva Luiza Santana
Iraldo Luna, Waldemir Magalhães
Capa: Rachel Rosales
Design do miolo: Laura Storm
Diagramação: Marcos Jundurian

Salvo outra indicação, todas as citações bíblicas foram


extraídas da versão Almeida Revista e Atualizada, 2.a edição.

Centro de Literatura Reformada


Rua São João, 473, 50020-150, Recife-PE
Contato: +55 81 3223-3642
www.loja.clire.org
Este livro é dedicado a todos os meus netos homens —
Knox, Judah, Rory, Seamus, Titus, e aos que vierem depois.
SUMÁRIO

Introdução................................................................. 9
Capítulo 1: Um rude instrumento..........................13
Capítulo 2: Cobiça e pornografia............................21
Capítulo 3: Fornicação..............................................41

Capítulo 4: Adultério................................................53
Capítulo 5: Divórcio..................................................71

Capítulo 6: Prostituição............................................81
Capítulo 7: Estupro................................................... 85

Capítulo 8: Poligamia................................................93
Capítulo 9: Sodomia..................................................103
Capítulo 10: M asturbação........................................113
Capítulo 11: C elibato................................................119

Capítulo 12: Sexo após a ressurreição?....................133

Capítulo 13: Soluções sexuais..................................141


Capítulo 14: De sua carne e de seus o sso s ..............165
Apêndice A: Perguntas e respostas..........................169

Apêndice B: Glória sexual........................................189


índice de Referências Bíblicas..................................193
w

INTRODUÇÃO
m

ão que isso seja uma descoberta ou novidade, mas vi­


vemos em um tempo no qual a fidelidade sexual está
sob ataque. Embora a imoralidade sexual não seja algo novo
no mundo, certos aspectos de nossa situação atual são rela­
tivamente novos. A novidade de nossas circunstâncias é que,
impulsionada pelas forças do relativismo, nossa cultura está
atacando por todos os lados, pela primeira vez em milênios,
o próprio conceito de fidelidade sexual.
Desde o princípio, o crente tem a responsabilidade de
se levantar contra as várias tentações à frouxidão dos pa­
drões sexuais. Por causa do sucesso do evangelho, as nações
influenciadas por ele chegaram, no decurso de séculos, a
reconhecer a “retidão” essencial da moralidade sexual cristã.
Isso não significa que tal moralidade fosse consistentemente
praticada, senão que o padrão bíblico se tornou uma norma
cultural. A palavra não estava na tábua dos corações huma­
nos, mas ao menos tinha sido inscrita em tábuas de pedra.
N essa situação, os crentes têm buscado viver o padrão
de Deus de maneira integral, tal como ele nos ensinou em
sua Palavra. Mas estamos rapidamente voltando ao status
quo ante ; estamos rapidamente correndo de volta ao paga­
nismo. N ossa situação é agora muito próxima daquela em
que se encontravam os coríntios do século I, que tinham
de lidar com o bordel santificado, dedicado a Vênus, e não
com a imoralidade da Londres vitoriana. As prostitutas de
Corinto realizavam bons negócios entre os cristãos nomi­
nais cuja hipocrisia era conhecida. Mas já não somos bons o
suficiente para sermos considerados hipócritas.
A castidade foi uma novidade introduzida nas nações
gentias como resultado da pregação do evangelho. Outras
virtudes tinham sido reconhecidas pelos pagãos, e a fé cristã
forneceu a graça e a força para viver de acordo com esses
padrões que tinham sido sempre reconhecidos e admirados.
Mas a castidade bíblica era uma ofensa cultural e demorou
até que se acostumassem com ela. Porque o evangelho trans­
forma tanto as culturas quanto as vidas, o poder do evan­
gelho trouxe para nossos povos o que podemos chamar de
civilidade sexual.
Mas, por conta da apostasia doutrinária geral por parte
das igrejas evangélicas no último século e meio, vemos que a
nossa influência como sal e luz já não é mais o que era. Um
século atrás, um homem imoral evitaria, envergonhado, en­
contrar um cristão. Hoje, o promíscuo nos olha nos olhos.
Precisamos voltar à nossa compreensão anterior da Palavra
de Deus e reedificar nosso entendimento da moralidade se­
xual. Mas em muitas ocasiões o mundo está tendo muito
mais influência sobre a igreja do que vice-versa.
Este livro não é o lugar para desenvolver questões dou­
trinárias — o que tem sido competentemente feito por ou­
tras pessoas, em outros lugares. Mas, partindo de tal base
doutrinária, a estrutura da moralidade sexual cristã deve ser
restaurada e reformada.
N as epístolas pastorais, o apóstolo Paulo estabelece
a exigência de que todo presbítero cristão seja “marido de
uma só mulher” — homem de uma só mulher. Esse padrão
é exigido de todos os líderes cristãos para que possam exi­
bir a definição do casamento cristão a todos os seguidores
de Cristo. O s discípulos, por sua vez, devem imitar aquilo
que veem. A Bíblia exige que os presbíteros da igreja sejam
devotados a uma só mulher, e também exige, dentre outras
coisas, que o povo de Deus observe tudo isso com atenção,
e os imite: “ Lembrai-vos dos vossos guias, os quais vos pre­
garam a palavra de Deus; e, considerando atentamente o fim
da sua vida, imitai a fé que tiveram” (H b 13.7).
Então, o que significa ser devotado a uma só mulher?
Estamos cercados por um mundo especializado na arte de
incitar a luxúria e encorajar as pessoas dizendo: se você não
pode estar com a pessoa a quem você ama, ame a pessoa
com quem você está. Em tais circunstâncias, o que devemos
fazer?
O primeiro capítulo irá fornecer uma breve defesa do
linguajar direto adotado ao longo deste livro. O mundo não
hesita em nos tentar com mensagens nada enigmáticas. In­
felizmente, muitas das respostas cristãs não são tão claras e
inteligíveis. O s capítulos seguintes irão considerar por par­
tes os diversos atrativos que desviam os homens cristãos
de suas responsabilidades sexuais. E, sem descer a grandes
profundidades, iremos considerar, em seqüência, a luxúria
e pornografia, fornicação, adultério, divórcio, prostituição,
estupro, poligamia, sodomia, masturbação, e celibato. Após
isto, veremos o que a Bíblia ensina sobre sexo e sexualidade
na ressurreição, e então concluiremos com uma descrição
do que a Escritura ensina sobre contentamento sexual no
casamento. Porque a tentação sexual em cada situação terá,
em sua raiz, uma natureza sexual, isso significa que os vários
capítulos irão de algum modo se repetir em alguns pontos.
Mas, em se tratando deste assunto, não me desgosta, e é
segurança para o leitor, que eu escreva as mesmas coisas (Fp
3.1). _
Ao mesmo tempo, ao escrever sobre estas coisas, tem
sido necessário (em alguns assuntos) emitir minha opinião.
Estou consciente de que há espaço para discordância so ­
bre aquilo que argumento em determinados lugares, mas
eu me aventurei em algumas áreas de forma independente.
Isso porque muitas vezes o conselho pastoral sobre certos
assuntos delicados tem sido desenvolvido pelos pastores de
forma isolada — não estamos falando uns com os outros
sobre essas coisas; e quando falamos sobre elas, estamos
simplesmente reciclando, para consumo cristão, a obra de
terapeutas sexuais incrédulos. Temos de fazer melhor do que
isso. Daí a necessidade da discussão exegética sobre práticas
como masturbação e sexo oral ser, no mínimo, iniciada.
Tendo considerado as tentações específicas que aten­
dem ao tema de cada capítulo, iremos concluir com o antí­
doto a todos os males sexuais, que é a piedosa honra do leito
matrimonial: “ Digno de honra entre todos seja o matrimô­
nio, bem como o leito sem mácula; porque Deus julgará os
impuros e adúlteros” (H b 13.4). E vamos entender que, bi-
blicamente, a solução espiritual para a tentação sexual pode
ser bastante básica e terrenal.
C A PÍT U LO I

w
UM RUDE INSTRUMENTO

E ste livro foi escrito para homens e seus filhos. Sugiro


que as esposas o leiam somente quando seu marido lhes
der para ler, e não o contrário. A introdução mencionou a
questão do “ linguajar direto” — e isso significa, em parte,
a rejeição de eufemismos. Parte do que é dito aqui pode ser
ofensivo para algumas mulheres cristãs, mas o objetivo cer­
tamente não é ofender. O objetivo é fornecer ajuda bíblica e
específica para homens cristãos.
Ao mesmo tempo, embora queira falar claramente o
bastante para que o que é dito realmente sirva de ajuda, tam­
bém desejo evitar qualquer aparente violação da ordem dada
por Paulo:

Mas a impudicícia e toda sorte de impurezas ou co­


biça nem sequer se nomeiem entre vós, como con­
vém a santos; nem conversação torpe, nem palavras
vãs ou chocarrices, coisas essas inconvenientes; an­
tes, pelo contrário, ações de graças. Sabei, pois, isto:
nenhum incontinente, ou impuro, ou avarento, que
é idólatra, tem herança no reino de Cristo e de Deus
(Ef 5.3-5).

Claramente, Paulo não está afirmando que tais pecado


não devam ser mencionados ou descritos — ele mesmo os
menciona aqui. Ele está dizendo que tais coisas não deve­
riam ser nomeadas em nossa presença de qualquer modo que
as tolere ou aprove. Vivemos em um mundo que não hesi­
ta em ensinar sobre comportamento sexual. Muitas igrejas
evangélicas geralmente imitam o ensino do mundo pondo
nele um pouco de maquiagem, e as igrejas mais conservado­
ras temem ensinar, de qualquer maneira possível, sobre este
assunto. O resultado é que tais coisas são feitas entre nós,
mas, em uma falsa aplicação das palavras de Paulo, nós ainda
não as nomeamos. Rimos de piadas sujas nos programas de
televisão que assistimos, mas ai do pobre idiota que tentar
contar a mesma piada na igreja na manhã seguinte. O pecado
dele não é a piada, com a qual metade da igreja se divertiu na
privacidade de seu lar, mas a inconsciente exposição de de­
sonestidade. E esse “pecado” nunca é tolerado, nem mesmo
em tempos de decadência espiritual.
Paulo está nos dizendo que não devemos tolerar a de­
sobediência, e não devemos falar como se a estivéssemos
tolerando. Se, em nosso ataque à imoralidade, nós mencio­
narmos nosso alvo, isso de forma alguma terá sido uma vio­
lação à exigência feita por Paulo.
Assim, ao tratar a questão de forma aberta, não esta­
mos ultrapassando os limites bíblicos. A Bíblia não nos dá
uma lista de “palavras m ás”. Quando pecamos verbalmente
(no que é geralmente e imprecisamente chamado de “ falso
testemunho”), as palavras podem ser agrupadas em quatro
categorias gerais — falso juramento ou testemunho, mal­
dição, vulgaridade, e obscenidade. Porque queremos que a
vida seja simples, queremos que Deus nos dê uma lista das
palavras que ele proíbe, para agirmos de acordo. Mas vemos
na Escritura que dentro de cada uma dessas quatro catego­
rias há tanto usos lícitos quanto ilícitos. Quando tomamos
o nome do Senhor em vão, estamos jurando de forma peca­
minosa (Ex 20.7). Quando fazemos votos lícitos, estamos
jurando em seu nome (D t 6.13). Quando amaldiçoamos
maldosamente, estamos denegrindo a imagem de Deus no
homem (Tg 3.9). Quando expressamos a mesma opinião que
o apóstolo Paulo sobre os falsos mestres, essa maldição glo-
rifica a Deus (Gl 1.8). Quando evitamos gracejos vulgares e
obscenos (obscenidade que frequentemente tem a ver com
funções corporais), não estamos fazendo mais do que Paulo
nos instrui a fazer (Ef 5.4). Quando Isaías rejeita a autojusti-
ça dos pecadores como nada melhor do que um pano mens­
truai usado (“trapo de imundícia”), ele está sendo vulgar de
uma maneira santíssima — no interesse da verdade pura (Is
64.6). Algumas vezes algo é vulgar num período e não em
outro — “Assim faça Deus aos inimigos de Davi, e assim lhes
acrescente: que não deixarei até amanhã de tudo quanto tem,
ou quem urine à parede” (ISm 25.22, [edição em português
de 1850]). E em muitos casos, não aprendemos do exemplo
da Escritura nessas áreas porque nossas traduções foram hi-
gienizadas, e, por vezes, mais do que apenas um pouco.
O tema deste livro é sexo, e por isso quero discutir a
respeito do obsceno. A palavra “obsceno” vem do grego e
literalmente significa “ fora do palco”. Aquelas coisas que
não se devem fazer de modo algum e aquelas que não devem
ser feitas em público são todas elas obscenas quando feitas
em público. Algumas coisas não devem ser feitas de forma
alguma, e por isso são obscenas. Outras podem ser feitas,
mas não à vista do grande público. Assim, quando se faz
necessário tratar dessas coisas de forma pública, sempre se
deve ter grande cuidado e cautela, e explicar antecipadamen­
te, em todos os sentidos apropriados, o que se vai dizer. E
mesmo então, isso somente deve ser feito à medida que for
necessário. Tudo o que sai de nossa boca e processadores de
texto deve ser útil para edificação (Ef 4.29).
Em certos contextos, a Escritura nos diz que é certa­
mente possível tratar de forma piedosa sobre aquilo que é
obsceno. Certas coisas que são “obscenas” são perfeitamente
lícitas. A vida amorosa de um casal casado é certamente algo
que acontece “ fora de cena”. Mas fora de cena não significa
“em segredo”. E fato notório que um casal casado mantém
relações sexuais. Quando a Escritura trata de tais coisas ela
o faz com propriedade e lança sobre isto um véu. Mas o véu
não é completamente opaco. Por exemplo, podemos aprender
muito sobre a licitude da euforia sexual por meio do Cânti­
co dos Cânticos de Salomão. Dentro do contexto do amor
matrimonial, as Escrituras referem-se positivamente a todos
os tipos de atividade sexual, algo que nós vamos discutir
mais tarde.
De forma negativa, Ezequiel prega contra o adultério
espiritual dos israelitas usando um imaginário sexual bas­
tante gráfico. Ele usa obscenidades para revelar a real obs­
cenidade de fazer tais coisas em desafio à lei de Deus. Uma
analogia moderna é a prática de ativistas pró-vida, usando
fotos de crianças desmembradas em suas divulgações. O b s­
ceno? Sim, mas o objetivo é expor a real obscenidade, que é
a prática de desmembrar crianças.
Ezequiel estava mais preocupado com a obscenidade
que estava expondo do que com a obscenidade de que se es­
tava utilizando: “Veio a mim a palavra do S e n h o r , dizendo:
Filho do homem, faze conhecer a Jerusalém as suas ahomi-
nações; e dize: Assim diz o S e n h o r Deus a Jerusalém ” (Ez
16.1-3). Ezequiel não era uma criancinha malcriada e rebel­
de, gargalhando enquanto espalhava palavrões. Ele estava
cheio de ira pela obscenidade que estava sendo cometida e
ele não foi assim tão delicado a ponto de recusar nomear
aquilo que estava atacando. Fineias certamente observou um
homem e uma mulher se relacionando sexualmente, mas ele
não estava observando como um voyeur. Seu interesse era
ético; ele estava sendo objetivo. Ezequiel estava fazendo a
mesma coisa:

A cada canto do caminho, edificaste o teu altar,


e profanaste a tua formosura, e abriste as pernas
a todo que passava, e multiplicaste as tuas prosti­
tuições. Também te prostituíste com os filhos do
Egito, teus vizinhos de grandes membros, e multi­
plicaste a tua prostituição, para me provocares à ira.
Por isso, estendi a mão contra ti e diminuí a tua por­
ção; e te entreguei à vontade das que te aborrecem,
as filhas dos filisteus, as quais se envergonhavam do
teu caminho depravado (Ez 16.25-27).

Mas Ezequiel não está satisfeito com isso. Alguns ca­


pítulos adiante ele explica o problema de forma ainda mais
ilustrativa. Ele está sendo obsceno, mas não pecaminoso:

Assim, tendo ela posto a descoberto as suas devas­


sidões e sua nudez, a minha alma se alienou dela,
como já se dera com respeito à sua irmã. Ela, toda­
via, multiplicou as suas impudicícias, lembrando-
se dos dias da sua mocidade, em que se prostituíra
na terra do Egito. Inflamou-se pelos seus amantes,
cujos membros eram como o de jumento e cujo flu­
xo é como o fluxo de cavalos. Assim, trouxeste à
memória a luxúria da tua mocidade, quando os do
Egito apalpavam os teus seios, os peitos da tua mo­
cidade (Ez 23.18-21).

Dizendo em bom português, os israelitas estão sendo


condenados porque desejavam aqueles que são dotados com
um pênis como de jumento, que ejaculam como cavalos, e
que apertaram os mamilos de Israel nos dias de sua juven­
tude. Ora, você também pode dizer... tudo isso é realmente
necessário? Posso imaginar alguns leitores dizendo: “Você
não é o profeta Ezequiel, meu caro”.
Meu foco é simplesmente mostrar que existe uma obs­
cenidade bíblica. Certos assuntos não estão automaticamen­
te fora dos limites. Obviamente, não estamos protegidos
pela inspiração divina, tal como estavam os apóstolos e
profetas, e por isso saímos dos padrões bíblicos de várias
formas — e especialmente em áreas como essa, onde temos
tão pouca prática e tão poucos exemplos piedosos. Entre­
tanto, devemos nos tornar mais Puritanos e menos V ito­
rianos — isto é, mais éticos e abertos, e menos santarrões
e hipócritas. Lembro-me de uma vez na Marinha dizer a
alguns marinheiros que eles não podiam enxergar um pal­
mo além do próprio pênis — meu objetivo era ético, mas
realmente nada sutil. A Bíblia descreve tais homens como
embrutecidos. Eles não compreendem muita coisa, e aquilo
que entendem, usam para se autodestruir: “Quanto a tudo
o que não entendem, difamam; e, quanto a tudo o que com­
preendem por instinto natural, como brutos sem razão, até
nessas coisas se corrompem” (Jd 10). “ Se os cachorros se
friccionam, por que não eu?” Linguagem médica ou cientí­
fica não é adequada para uma repreensão profética.
A razão por que devemos aprender a pensar desse modo
é que, por causa de nossas tradições pietistas, retiramos de
circulação certas passagens bíblicas que são “ indelicadas”.
Com o conseqüência, praticamente negamos que Deus tenha
dito o que disse quando afirmou que “toda a Escritura é ins­
pirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para
a correção, para a educação na justiça” (2Tm 3.16). Assim,
não devemos nos surpreender quando nos encontrarmos
mal equipados nesta área específica. Este livro destina-se
a ser lido de tal modo que os homens possam vir a saber
qual a exata natureza das tentações que enfrentam, a fim
de que conheçam exatamente o que podem fazer para resis­
tir a tais tentações. Muitas vezes os cristãos criam imagens
a partir de palavras genéricas que normalmente tratam do
problema (i.e., todos sabem que estamos falando de sexo,
mas ninguém irá levantar a mão e perguntar sobre isto ou
aquilo). Assim, o ensino específico é ainda evitado. E quan­
do os cristãos chegam ao específico, ao invés de nos contar
o que a Bíblia ensina, provavelmente irão nos dizer o que os
terapeutas sexuais do mundo querem que saibamos sobre
como prolongar o orgasmo. Precisamos saber o que a Bíblia
especificamente ensina e aplicar isto de modo específico às
nossas próprias situações.
Por exemplo, Jesus nos diz que cobiçar uma mulher é
o mesmo que cometer adultério com ela. Mas o que signi­
fica essa cobiça? D o que exatamente estamos falando? A
resposta é que a cobiça está no homem que se vê ou imagina
estando com uma mulher em alguma situação sexual e que,
consequentemente, tem uma reação fisiológica, geralmente
manifestada por uma ereção. Ele está excitado e fisiologica-
mente interessado numa relação sexual de algum tipo. Essa
relação pode ser com sua esposa (enquanto imagina outra
mulher), ou com uma mulher que não a sua esposa, ou con­
sigo mesmo por meio da masturbação. Ou esse desejo pode
não conduzir a qualquer clímax sexual, mas à frustração pelo
desejo sexual não satisfeito. A cobiça não acontece quan­
do um homem meramente nota que uma mulher é bonita.
Acontece quando ele começa a despi-la mentalmente para
fins sexuais.
A Confissão de Fé de Westminster, tratando da questão
do divórcio, observa que homens pecadores são capazes de
“procurar argumentos” para se esquivar do ensino da Escri­
tura sobre a questão. O mesmo ocorre com todas as outras
práticas sexuais. Quando a cobiça não é claramente identi­
ficada no ponto inicial de excitação, os homens são capazes
de traçar limites em todos os tipos de prática antibíblica
depois de já estarem nas garras da luxúria. Por exemplo, um
homem pode brincar com uma mulher sexualmente em sua
mente e ainda pensar que não a cobiçou porque não chegou
a um clímax sexual. Ou pode pensar que conquanto alivie a
tensão sexual com a própria esposa, não importa em quem
ou no que esteve interessado. “ N ão importa onde fiquei
com fome”, diz ele, “contanto que eu coma em casa”. Isso é
agarrar-se a tecnicidades. E esse tipo de apego a minúcias e
sutilezas não para aí. Tenho conhecimento de situações em
que um casal de namorados achava que não era culpado de
fornicação porque buscava gratificação por via oral e, tecni­
camente, não mantinha relações sexuais. Ah, claro! Por um
minuto, enquanto ouvia, o pastor ficou sem entender.
Da mesma forma, demarcar o surgimento de um ób­
vio interesse sexual ou excitação proporciona alívio para os
homens com consciência sobrecarregada que se consideram
culpados de cobiça quando tudo o que fizeram foi perceber
que uma mulher era atrativa. Mas essa e todas as distinções
desse tipo — distinções que precisam ser feitas — não po­
dem ser explicadas a menos que falemos de forma direta.
CA P ÍT U LO 2

w
COBICA E PORNOGRAFIA
M

Pois esta é a vontade de Deus: a vossa santificação,


que vos abstenhais da prostituição; que cada um de
vós saiba possuir o próprio corpo em santificação e
honra, não com o desejo de lascívia, como os gen­
tios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria,
ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque
o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos
avisamos e testificamos claramente, é o vingador,
porquanto Deus não nos chamou para a impureza,
e sim para a santificação. Dessarte, quem rejeita es­
tas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que
também vos dá o seu Espírito Santo (lTs 4.3-8).

O propósito desse capítulo é falar a homens e garotos


cristãos sobre alguns dos problemas práticos resul­
tantes da disseminação da pornografia em nossa cultura.
Essa disseminação reflete um problema subjacente à cobi­
ça, que, consequentemente, precisa ser tratado primeiro.
O que a Bíblia chama de cobiça tem uma abrangência con­
siderável, e a pornografia é simplesmente uma das tenta­
tivas do mercado moderno de produzir algo que satisfaça
a essa cobiça. O problema não está fora de nós nos filmes
de conteúdo restrito, ou nas revistas de nudez, ou na por­
nografia disponível na internet, ou na vizinha exibida. O
problema está dentro — mesmo dentro dos crentes. Isso
é simplesmente outro modo de dizer que o problema com
a pornografia não é a pornografia.
A lguns homens cristãos professos usam vários tipos
de pornografia e defendem tal uso. O utros se opõem à
pornografia, mas acabam usando-a, lam entando-se por
isso depois. O utros se opõem a ela, não a usam, mas re­
almente gostariam de poder fazê-lo. A “virtude” deles é
realmente mais uma questão de covardia do que qualquer
outra coisa. “ Vai que alguém na igreja descobre!” Assim ,
devemos ver im ediatam ente que o problem a da cobiça
e os problem as resultantes não são realmente assim tão
simples. Um a das mais im portantes lições que devemos
aprender é que embora as ocasiões para pecar sejam ex­
ternas e “estejam a í”, o problema real é com nossa cobiça
interior.
Devem os repensar o relacionamento entre ser m as­
culino e ser seduzido. John M ilton usa uma frase mar­
cante em Paraíso Perdido , referindo-se àqueles que foram
seduzidos pelas “ filhas dos hom ens”. Q uando Adão con­
templa a sedução na qual tais homens, descendentes seus,
incorrem , ele tenta culpar as mulheres envolvidas: “A
desgraça do homem continua a mesma, na mulher com e­
ça”. O arcanjo replica em contrário: “ Com eça no homem
quando se efem ina”.
Sedução e efeminação. M uitos homens gostam de
lisonjear-se, pensando que a facilidade com que podem
ser seduzidos é de algum m odo um traço de m asculini­
dade. N a realidade, é justam ente o contrário. N o cerne
da m asculinidade está a posse da autoridade e a tomada
de iniciativa; o homem foi criado por Deus para ser cabe­
ça, um líder disposto a sacrificar-se. Mas parte de nossa
palavra sedução vem da palavra latina duco , que significa
“eu conduzo”. Esse significado original está presente em
nosso uso desse termo. Q uando um homem é seduzido,
ele está sendo conduzido; quando uma mulher seduz, ela
está conduzindo ou liderando. Então, quando um homem
é seduzido (seja por uma mulher de carne e osso ou por
uma imagem impalpável) ele está renunciando e abdican­
do ao papel que lhe foi designado. Em bora ainda possa
desempenhar o papel m asculino na relação sexual, não é
mais m asculino em termos de relacionamento. Ele per­
manece homem biologicam ente, mas não está mais sendo
m asculino de m odo pactuai.
A Bíblia usa frases fortes para ilustrar esse ponto.
A mãe do Rei Lemuel alerta sem rodeios a respeito dessa
questão: “ N ão dês às mulheres a tua força, nem os teus ca­
minhos, às que destroem os reis” (Pv 31.3). Um rei poderia
pensar muito sobre si mesmo já que tinha acesso físico a
tantas mulheres. Isto, na realidade, ao invés de exibir a
força de um rei, seria desperdiçá-la. Dentro do casam en­
to, o com portam ento sexual bíblico fortalece o homem
em sua m asculinidade. A prom iscuidade e a pornografia
a esgotam .
O fim de qualquer homem que se entrega à mulher
imoral é o de um frouxo sem pulso. Ao invés de crescer
em m aturidade, ele descobre no final de sua vida que re­
almente fez papel de tolo. D escobre que desperdiçou sua
honra, anos de vida, dinheiro, trabalho, e saúde. Q uase
nada sobra:

Afasta o teu caminho da mulher adúltera e não te


aproximes da porta da sua casa; para que não dês
a outrem a tua honra, nem os teus anos, a cruéis;
para que dos teus bens não se fartem os estranhos,
e o fruto do teu trabalho não entre em casa alheia;
e gemas no fim de tua vida, quando se consumirem
a tua carne e o teu corpo, e digas: Como aborreci
o ensino! E desprezou o meu coração a disciplina!
E não escutei a voz dos que me ensinavam, nem a
meus mestres inclinei os ouvidos! Quase que me
achei em todo mal que sucedeu no meio da assem-
bleia e da congregação (Pv 5.8-14).

Mas quando um homem vive sob a bênção de Deus,


ele aprende a exercer domínio. Ele começa esse domínio
cultural em seu lar, com sua família. Se ele se afasta de sua
esposa, e Deus decide açoitá-lo, o Senhor pode fazer isto por
meio de uma mulher pervertida: “Cova profunda é a boca da
mulher estranha; aquele contra quem o S e n h o r se irar cairá
nela” (Pv 22.14). Um homem que foi seduzido é a antítese
do homem buscando cumprir seu chamado à masculinidade
dada por Deus. Ao invés de aprender o significado de liderar
debaixo da autoridade de Deus, ele desce ao nível de um
animal embrutecido:

Porque da janela da minha casa, por minhas grades,


olhando eu, vi entre os simples, descobri entre os
jovens um que era carecente de juízo, que ia e vinha
pela rua junto à esquina da mulher estranha e seguia
o caminho da sua casa, à tarde do dia, no crepúsculo,
na escuridão da noite, nas trevas. Eis que a mulher
lhe sai ao encontro, com vestes de prostituta e astuta
de coração. E apaixonada e inquieta, cujos pés não
param em casa; ora está nas ruas, ora, nas praças, es­
preitando por todos os cantos. Aproximou-se dele,
e o beijou, e de cara impudente lhe diz: Sacrifícios
pacíficos tinha eu de oferecer; paguei hoje os meus
votos. Por isso, saí ao teu encontro, a buscar-te, e
te achei. Já cobri de colchas a minha cama, de linho
fino do Egito, de várias cores; já perfumei o meu
leito com mirra, aloés e cinamomo. Vem, embria-
guemo-nos com as delícias do amor, até pela manhã;
gozemos amores. Porque o meu marido não está em
casa, saiu de viagem para longe. Levou consigo um
saquitel de dinheiro; só por volta da lua cheia ele
tornará para casa. Seduziu-o com as suas muitas
palavras, com as lisonjas dos seus lábios o arrastou.
E ele num instante a segue, como o boi que vai ao
matadouro; como o cervo que corre para a rede, até
que a flecha lhe atravesse o coração; como a ave que
se apressa para o laço, sem saber que isto lhe custará
a vida (Pv 7.6-23).

Ele é descrito como um homem símplice, como al­


guém a quem falta juízo. A iniciativa no encontro sexual
é da mulher, e ela o seduz para que contrarie a lei de Deus.
Ele a segue como um boi que vai ao matadouro. Ele pode se
sentir muito homem ali, mas na verdade uma mulher o pôs
na coleira. Chesterton certa vez comentou que “o sexo livre
é inimigo direto da liberdade. E o mais flagrante suborno
que pode ser oferecido pela escravidão”. Um homem liberto
por Cristo não se dispõe voluntariamente a tal escravidão;
ele reconhece que as “ liberdades” prometidas pela imorali­
dade podem ser desfrutadas em uma sela de prisão de dois
metros quadrados. Embora um homem em meio à imorali­
dade possa se sentir como se ela estivesse “ dando vazão ao
homem que há nele”, a frase de John Milton ainda volta para
assombrá-lo — homem que se efemina.
Agora, para entender nossa atração pela pornografia,
temos de entender a nós mesmos à luz daquilo que a Bíblia
ensina sobre nós e nossos desejos.
Primeiro, o padrão bíblico de moralidade sexual não
é difícil de compreender. O Senhor Jesus deixou claro que
o homem casado deve ser absolutamente fiel, mental e fi­
sicamente; e que o homem solteiro deve ser absolutamen­
te casto, mental e fisicamente. As palavras dele sobre esse
assunto são bem conhecidas: “Ouvistes que foi dito: N ão
adulterarás. Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para
uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou
com ela” (Mt 5.27-28).
C om o mencionado anteriormente, o problema que
temos ao lidar com esse padrão não está fora de nós, na
pornografia; o problema está em nossa concupiscência. A
Bíblia não diz nada sobre a Penthouse, mas fala sobre nossa
luxúria, sem a qual o sujeito do setor financeiro da Penthouse
teria dificuldade de fechar a folha de pagamento. Quando
Paulo nos diz para mortificar nossos membros que estão na
terra, ele segue para trazer uma definição. Esses membros,
ainda presentes no crente, incluem um desejo sexual errado:
“Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena: prostituição,
impureza, paixão lasciva, desejo maligno e a avareza, que é
idolatria” (Cl 3.5).
O desejo que nós, como cristãos, devemos combater
não é apenas uma opção simples, moralmente neutra, do
desejo biológico por sexo. Somos criaturas caídas, e mes­
mo como cristãos nossa redenção ainda não está completa.
Ainda temos de lidar com o fato de que iremos confrontar
desejos, vindos do nosso interior, que são atraentes a nós em
razão do fato de que são proibidos por Deus. Paulo não nos
diz para restringir nosso desejo sexual porque, caso não o fa­
çamos, eles poderiam ser usados de uma forma errada. Esses
nossos membros sobre a terra não são moralmente neutros;
eles devem ser mortificados — postos à morte. Paulo aqui
usa o imperativo aoristo grego que indica uma ação comple­
ta. Devemos matar essas coisas, e nos livrar do cadáver. Mas
mesmo quando isso é feito, não significa que todos os nossos
problemas com a cobiça terão desaparecido. Paulo também
nos diz que o dever de mortificação da cobiça permanece
contínuo: “ Porque, se viverdes segundo a carne, caminhais
para a morte; mas, se, pelo Espírito, mortificardes os feitos
do corpo, certamente, vivereis” (Rm 8.13).
Essa exigência é feita usando o tempo verbal presente;
ela permanece um dever para todos que possuem um corpo
não glorificado. O s cristãos são capazes de dar vazão ao
pecado e temporariamente permitir que o pecado faça neles
e com eles aquilo que não deveria fazer. Se o pecado tem
domínio permanente em um homem, então esse homem não
foi regenerado. Com o João nos ensina, um homem nascido
de Deus não vive na prática do pecado dessa forma (ljo 3.9).
Antes da regeneração, o homem é dominado pelos de­
sejos da carne. Podemos chamar a esse domínio da carne de
“velho homem”. Quando esse velho homem é crucificado
com Cristo, não é mais um agente ativo (Rm 6.1-6). Mas,
apesar de o domínio do pecado estar morto e enterrado, isso
não significa que as corrupções da carne se foram. O s cris­
tãos às vezes se encontram praticando corrupções com seu
corpo terrenal — por isso Paulo diz para esmurrar este cor­
po e mortificar tais práticas; destiná-lo à morte e deixá-lo
para trás.
Mas ele também ensina que devemos defender nosso
andar com Deus diariamente dos inimigos internos: “N ão
reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de manei­
ra que obedeçais às suas paixões” (Rm 6.12). O s cristãos,
cujo velho homem morreu com Cristo, são exortados a não
deixar que o pecado reine. Com o seria possível para um ver­
dadeiro cristão deixar reinar o pecado em seu corpo mortal?
Quando Paulo nos diz que não devemos obedecer ao pecado
em suas paixões, a língua grega exige que o pronome se re­
fira à frase “corpo m ortal”. O pecado reina em um cristão
quando tal cristão faz aquilo que o seu corpo mortal lhe diz
para fazer. “ Ei, você pode dar uma olhadinha!” A resistência
deve continuar enquanto o corpo tiver desejos contrários à
lei de Deus, ou seja, até a morte. Devemos nos resguardar
contra tais coisas constantemente.
Essa cobiça não assola os membros de outra pessoa.
Com o cristãos, devemos nos abster de nossos próprios de­
sejos. Antes de sermos convertidos, andávamos em nossa
ignorância de acordo com nossas antigas paixões. Pedro diz:
“ Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e
esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na
revelação de Jesus Cristo. Com o filhos da obediência, não
vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa
ignorância ; pelo contrário, segundo é santo aquele que vos
chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o
vosso procedimento” (lPe 1.13-15). Pedro está dizendo aos
cristãos que evitem conformar-se a um padrão de cobiça.
Isso era o que eles costumavam fazer, mas agora não devem
mais agir assim. Ora, lembre-se de que essa proibição é dada
a cristãos. São os cristãos que devem se abster de fazer algo
que eles, obviamente, são capazes de fazer. O Novo Testa­
mento está repleto de tais alertas aos cristãos.
Uns poucos versos depois, Pedro diz aos cristãos que
se abstenham dessas paixões: “Amados, exorto-vos, como
peregrinos e forasteiros que sois, a vos absterdes das paixões
carnais , que fazem guerra contra a alma” (lPe 2.11). Essas
paixões (nossas paixões) estão em guerra com a alma (nossa
alma). N ão é fogo que incendeia a cabeça alheia. Se fosse o
caso, obedecer a esse mandamento seria mamão com açúcar!
A Escritura faz esse tipo de alerta aos cristãos repetidas
vezes. Quando um crente encontra-se seduzido pelo mundo
ou pelas coisas que há nele, está pecando. Esses desejos são
o problema central. Se alguém dá vazão a tais desejos, aman­
do-os, o amor do Pai não está nele. Mas se alguém alega que
não sente tais desejos de maneira alguma, então ou ele é um
bloco de madeira ou um mentiroso descarado (ljo 1.8-10):

Não ameis o mundo nem as coisas que há no mun­


do. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não
está nele; porque tudo que há no mundo, a concu-
piscência da carne, a concupiscência dos olhos e a
soberba da vida, não procede do Pai, mas procede
do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua
concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade
de Deus permanece eternamente (ljo 2.15-17).

Uma das soluções apresentadas a nós na Escritura é a


prática de pensar sobre tais desejos em seu contexto apro­
priado. Em Colossenses, Paulo nos diz para direcionar nossa
mente às coisas do alto — isso possibilitará que mortifi-
quemos nossos membros terrenos. Podemos mortificar a
fornicação porque já morremos e nossa vida está escondida
com Cristo em Deus. N esta passagem, João nos relembra
que o mundo passa, com todas as suas paixões. Devemos
meditar nisto. A cobiça é algo evanescente, temporal. Cem
anos atrás, milhares de homens eram tão lascivos quanto os
homens de nosso tempo. Naquela época, isso já acontecia,
a cobiça parecia poderosa e avassaladora. Mas, onde está tal
luxúria agora ? Aliás, onde estão eles agora? A peculiar clare­
za de mente e a resultante mudança de atitude que sobrevêm
após a cobiça ser satisfeita não produzem alívio, apenas irri­
tação. Dificilmente pode-se lidar com a reação que se segue
à realização do desejo:

Ele não quis dar ouvidos ao que ela lhe dizia; antes,
sendo mais forte do que ela, forçou-a e se deitou
com ela. Depois, Amnom sentiu por ela grande
aversão, e maior era a aversão que sentiu por ela que
o amor que ele lhe votara. Disse-lhe Amnom: Le­
vanta-te, vai-te embora (2Sm 13.14-15).

Homens cristãos devem buscar outro tipo de clareza e


aprender a ver suas paixões e desejos à luz das coisas eternas.
Meditar sobre a posição que temos em Cristo é uma medida
preventiva e considerar a natureza fugaz da imoralidade se­
xual é outra. Ainda outra é lembrar-se do fato de que Deus
julga:
Digno de honra entre todos seja o matrimônio, bem
como o leito sem mácula; porque Deus julgará os
impuros e adúlteros. Seja a vossa vida sem avareza.
Contentai-vos com as coisas que tendes; porque ele
tem dito: De maneira alguma te deixarei, nunca ja­
mais te abandonarei (Hb 13.4-5).

Vemos que a chave para manter o leito matrimonial sem


mácula é o contentamento. Porque Deus exercerá juízo, o
homem é ordenado a estar contente com aquilo que tem. Os
seios da sua esposa não são como os da Miss Brasil? Deus o
julgará. Ela não consegue ter orgasmos múltiplos como na­
queles vídeos picantes? Deus o julgará — e ele não irá julgar
simplesmente a imoralidade sexual. Irá julgar os homens por
acreditarem nas mentiras sobre impossibilidades sexuais:
Bebe a água da tua própria cisterna e das corren­
tes do teu poço. Derramar-se-iam por fora as tuas
fontes, e, pelas praças, os ribeiros de águas? Sejam
para ti somente e não para os estranhos contigo.
Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a
mulher da tua mocidade, corça de amores e gazela
graciosa. Saciem-te os seus seios em todo o tempo;
e embriaga-te sempre com as suas carícias. Por que,
filho meu, andarias cego pela estranha e abraçarias
o peito de outra? Porque os caminhos do homem
estão perante os olhos do S e n h o r , e ele considera
todas as suas veredas (Pv 5.15-21).
Um homem deve contentar-se com os seios da esposa
— não com os de alguma campeã de busto pornô. Homens
cristãos devem estar plenamente satisfeitos em casa. Deixe
que os seios dela lhe satisfaçam, diz Salomão. Ficar excita­
do por ver outra mulher e então satisfazer esse desejo com
sua própria esposa é desobediência. Ele deve estar contente
porque Deus está vigiando seus olhos, sua mente, seus geni-
tais, seu coração. O Senhor pondera todos os caminhos do
homem — à banca de revista, à locadora de filmes, próximo
a uma mulher sexualmente provocativa, etc. Quando ele está
sozinho em casa, Deus vigia seu polegar sobre o controle re­
moto. Esses são motivos de sobra para estar satisfeito com o
conteúdo debaixo da blusa da sua esposa. E aqueles homens
que estão solteiros e que não têm uma companheira em casa
devem aprender também, para que quando chegue o tempo
estejam contentes com isso.
Falando sobre acreditar em mentiras, Pedro nos diz
que uma das armas no arsenal dos falsos mestres é a zona de
conforto que a sua doutrina cria para a luxúria: “ Proferin­
do palavras jactanciosas de vaidade, engodam com paixões
carnais, por suas libertinagens, aqueles que estavam pres­
tes a fugir dos que andam no erro” (2Pe 2.18). Essa per-
missividade à luxúria é característica do erro doutrinário:
“ Especialmente aqueles que, seguindo a carne, andam em
imundas paixões e menosprezam qualquer governo. Atrevi­
dos, arrogantes, não temem difamar autoridades superiores”
(2Pe 2.10).
Muitos cristãos sabem o que é viver dessa maneira. Eles
costumavam agir desse modo antes da conversão. Paulo re­
lembra os Efésios: “entre os quais também todos nós anda­
mos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo
a vontade da carne e dos pensamentos” (Ef 2.3). Ele firme­
mente os relembra de que esses hábitos anteriores devem
ser abandonados: “quanto ao trato passado, vos despojeis do
velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências
do engano” (Ef 4.22). Perceba aqui que tais desejos não são
apenas errados, são mentiras enganadoras. O prazer infi­
nito prometido nunca chega, e a dor e o sofrimento que se
seguem nunca são mencionados.
Muitos crentes têm seguido o curso de um mundo que
corre movido à luxúria: “ Pois nós também, outrora, éra­
mos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda
sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja,
odiosos e odiando-nos uns aos outros” (Tt 3.3). Que razão
teríamos para mexer novamente nesse ninho de cobras?
Coisa alguma se pode obter dele, exceto o tipo de sofri­
mento específico previsto para o idiota sexual: “A justiça
dos justos os livra, mas o desejo dos infiéis os aprisiona.”
(Pv 11.6, N V I).
Aqui está o problema: a cobiça exige de uma coisa finita
(o prazer sexual) aquilo que somente o Infinito pode dar:
“O inferno e o abismo nunca se fartam, e os olhos do ho­
mem nunca se satisfazem” (Pv 27.20). Quando os homens
estão presos em prolongada luxúria logo ficam descontentes
com o prazer sexual comum e começam a buscar por outras
coisas que possam expandir seu horizonte sexual. Essa é a
fonte de todas as perversões e fetiches. O mundo inteiro se
torna um parceiro sexual; e, como um cão vira-lata se roçan­
do na perna do carteiro, eles começam a se esfregar em tudo
que aparece pela frente:
Deus entregou tais homens à imundícia, pelas
concupiscências de seu próprio coração, para de­
sonrarem o seu corpo entre si; Por causa disso, os
entregou Deus a paixões infames; porque até as mu­
lheres mudaram o modo natural de suas relações
íntimas por outro, contrário à natureza; semelhan­
temente, os homens também, deixando o contato
natural da mulher, se inflamaram mutuamente em
sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com
homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida pu­
nição do seu erro (Rm 1.24, 26-27).

Quando Deus decide julgar um povo, ele deixa que si­


gam seu próprio caminho. Ardente e transbordante luxúria
não é exemplo de que os homens estão escapando de Deus
(como eles gostam de dizer de si mesmos); é exemplo da ira
de Deus encurralando tais homens. O uso natural da mu­
lher é abandonado, e começa a busca por aquilo que não é
natural. Mas aqueles cristãos que reagem com desalento aos
horrores da estéril sodomia devem entender que essa terrível
desobediência vem de nossa tolerância à nossa desobediência
sexual.
Devemos entender que a rebelde subcultura da sodo­
mia não foi gerada em razão da posição da lua; foi causada
pela desobediência heterossexual disseminada, que em al­
gum ponto, naturalmente e inexoravelmente, transbordou.
Por isso: “Andemos dignamente, como em pleno dia, não
em orgias e bebedices, não em impudicícias e dissoluções,
não em contendas e ciúmes; mas revesti-vos do Senhor Jesus
Cristo e nada disponhais para a carne no tocante às suas
concupiscências” (Rm 13.13-14).
Quando abandonamos o pecado sexual, estamos tam­
bém abandonando uma variedade de outras complicações:
“De onde procedem guerras e contendas que há entre vós?
De onde, senão dos prazeres que militam na vossa carne?
Cobiçais e nada tendes; matais, e invejais, e nada podeis ob­
ter; viveis a lutar e a fazer guerras. Nada tendes, porque não
pedis” (Tg 4.1-2). Esse tipo de desejo por prazer, a luxúria, é
algo suicida. Aqueles que cultuam o prazer sexual recebem,
em longo prazo, a destruição daquilo que cultuam. A Sabe­
doria nos diz em Provérbios que todo aquele que ela odeia
morrerá (Pv 8.36). Aqueles que odeiam a sabedoria na área
sexual amam a morte na área sexual. Pedro nos ensina que
Cristo oferece uma via de escape a estas corrupções de nos­
sas paixões, e de nossa indulgência para com elas. Mas até à
ressurreição, não estaremos livres da presença delas:

Graça e paz vos sejam multiplicadas, no pleno co­


nhecimento de Deus e de Jesus, nosso Senhor. Visto
como, pelo seu divino poder, nos têm sido doadas
todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo
conhecimento completo daquele que nos chamou
para a sua própria glória e virtude, pelas quais nos
têm sido doadas as suas preciosas e mui grandes
promessas, para que por elas vos torneis copartici-
pantes da natureza divina, livrando-vos da corrup­
ção das paixões que há no mundo, por isso mesmo,
vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com
a vossa fé a virtude; com a virtude, o conhecimento;
com o conhecimento, o domínio próprio; com o do­
mínio próprio, a perseverança; com a perseverança,
a piedade; com a piedade, a fraternidade; com a fra­
ternidade, o amor. Porque estas coisas, existindo em
vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais
nem inativos, nem infrutuosos no pleno conheci­
mento de nosso Senhor Jesus Cristo (2Pe 1.2-8).

Esse escape da corrupção é legítimo, mas ainda não é


completo. Quando recebermos nosso corpo ressurreto, não
iremos mais padecer com as concupiscências da carne. Mas
até lá, é de se esperar sua presença conosco diariamente;
e devemos esperar, por meio da graça de Cristo, genuína
vitória na tarefa de subjugar tais paixões. Porque não have­
rá tentação no céu, este mundo é uma oportunidade para
crescer, lutar e combater o pecado de tal modo a demons­
trar nossa devoção a Cristo. Aprender a lutar contra nossas
concupiscências fornece uma maravilhosa oportunidade de
demonstrar tal devoção. Assim, a Bíblia ensina as duas coi­
sas: uma contínua batalha contra nossas concupiscências, e
a possibilidade genuína de subjugá-las.
Em adição ao que já foi mencionado, quero esboçar
uma resposta bíblica para o problema da cobiça que se apli­
cará igualmente a homens solteiros e aos casados. Após isto,
incluirei uma discussão pertinente à situação específica de
cada um deles.
N osso primeiro dever é aprender o que é o evangelho.
A graça de Deus é manifesta no mundo por meio do evan­
gelho: “A graça de Deus se manifestou salvadora a todos os
homens, educando-nos para que, renegadas a impiedade e
as paixões mundanas , vivamos, no presente século, sensata,
justa e piedosamente” (Tt 2.11-12). A N V I traduz isto como
“ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mun­
danas”. Isso significa que devemos nos dedicar a aprender
aquilo que a Bíblia ensina sobre a graça de Deus em Cristo.
Aprender o que é o evangelho e crescer na graça do evange­
lho significa muito mais do que assentir, no momento certo,
com uma apresentação truncada e moderna do que se pensa
ser o evangelho. O evangelho é muito mais do que “receber
a Jesus em seu coração”. Levando-se em conta a versão do
evangelho proclamada em grande parte pelo evangelicalismo
moderno, não é de se estranhar que não tenhamos aprendido
a renegar quase nada.
Relacionado a isso, tal como a luz do sol tem a ver com
o nascer do sol, temos de aprender o que a Bíblia ensina
sobre santificação, particularmente sobre a relação entre o
Espírito de Deus dentro de nós e as concupiscências em nós
reminiscentes. Essa relação é de guerra: “Digo, porém: andai
no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne.
Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a
carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que,
porventura, seja do vosso querer” (G1 5.16-17). Por que al­
gumas vezes nos frustramos em nosso desejo por santidade
pessoal? A resposta é essa guerra entre a carne e o Espírito.
Ao aprender isto, passamos a compreender que Cristo
redimiu nosso corpo e que, portanto, o possui. Ele mesmo
se uniu a nós pactualmente, e porque a união sexual com
uma prostituta envolve outro tipo de união, aquele que peca
sexualmente está pecando contra o templo do Espírito San­
to. Esse princípio não se limita a relação com prostitutas.
Todo pecado sexual está aí incluído. Mas, contrário à opi­
nião popular, o versículo sobre pecar contra esse templo se
aplica somente ao pecado sexual. Todos os outros pecados
que um homem comete são fora de seu corpo, mas este úni­
co é contra o seu próprio corpo. Além do mais, quando um
homem peca sexualmente, ele está vandalizando a proprie­
dade de outro. N osso corpo não é nossa propriedade; fomos
comprados por um preço:

Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas con­


vêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu não me
deixarei dominar por nenhuma delas. Os alimentos
são para o estômago, e o estômago, para os alimen­
tos; mas Deus destruirá tanto estes como aquele.
Porém o corpo não é para a impureza, mas, para o
Senhor, e o Senhor, para o corpo. Deus ressuscitou o
Senhor e também nos ressuscitará a nós pelo seu po­
der. Não sabeis que os vossos corpos são membros
de Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de
Cristo e os faria membros de meretriz? Absoluta­
mente, não. Ou não sabeis que o homem que se une
à prostituta forma um só corpo com ela? Porque,
como se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele
que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fugi da
impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa
cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a
imoralidade peca contra o próprio corpo. Acaso, não
sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito
Santo, que está em vós, o qual tendes da parte de
Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus
no vosso corpo (ICo 6.12-20).

Em terceiro lugar, devemos aprender o valor da disci­


plina e sofrimento. Alguém que é preguiçoso e autoindul-
gente em outras áreas irá achar mais fácil ser preguiçoso e
autoindulgente na área sexual:

Tendo Cristo sofrido na carne, armai-vos também


vós do mesmo pensamento; pois aquele que sofreu na
carne deixou o pecado, para que, no tempo que vos
resta na carne, já não vivais de acordo com as paixões
dos homens, mas segundo a vontade de Deus. Por­
que basta o tempo decorrido para terdes executado
a vontade dos gentios, tendo andado em dissoluções,
concupiscências, borracheiras, orgias, bebedices e
em detestáveis idolatrias (lPe 4.1-3).
Pedro diz aqui claramente que o sofrimento no corpo
é uma arma eficaz contra as paixões da carne. Com isso ele
não está ensinando o ascetismo — Paulo nos diz que o ri­
gor ascético não tem valor algum contra a sensualidade (Cl
2.23). Antes, Pedro está se referindo ao sofrimento por cau­
sa de Cristo, e penso que podemos também incluir a prática
da disciplina corporal por causa de Cristo (IC o 9.27; lTm
4.8). O autocontrole que se aprende numa área transfere-se
para outra. Um homem que tem domínio próprio em uma
área específica terá mais sucesso aplicando esse domínio em
outra área do que aquele que não possui autocontrole em
área alguma. A autoindulgência em uma área dificilmente
não transborda para outra.
O quarto dever é aprender dos maus exemplos registra­
dos para nós na Escritura:
Estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim
de que não cobicemos as coisas más, como eles cobi­
çaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns
deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se
para comer e beber e levantou-se para divertir-se. E
não pratiquemos imoralidade, como alguns deles o
fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil (ICo
10.6 - 8).

Mais de um homem israelita passou a adorar o bezerro


de ouro porque ali havia boas chances de conseguir sexo.
Esse tipo de concessão fazia com que a “teologia do bezerro
de ouro” tivesse pouca relevância. Deus abateu vinte e três
mil deles por causa desse episódio. Devemos estar familia­
rizados com o tratamento que Deus destinou a tais homens,
bem como à destruição que trouxe sobre Sodoma e Gomor-
ra, seu juízo no Dilúvio, e assim por diante. Essas coisas
foram escritas para nós como exemplo, e, ao que parece,
Deus as considera exemplos eficazes. Precisamos conhecê­
-los e meditar sobre eles.
A quinta coisa que devemos fazer é correr — fugir das
ocasiões de pecado. Quando a esposa de Potifar agarrou José
para fazer sexo com ele, José fugiu. Ela disse: “ Deita-te co­
migo” (Gn 39.7). Ele disse: “Tchau!” (Gn 39.12). Paulo tam­
bém diz a Timóteo para fugir: “ Foge, outrossim, das paixões
da mocidade. Segue a justiça, a fé, o amor e a paz com os
que, de coração puro, invocam o Senhor” (2Tm 2.22). N a
passagem já citada aqui, ele diz aos coríntios para fugir da
imoralidade sexual (IC o 6.18). Relacionado a isso está a prá­
tica de correr em direção à justiça, fé, amor e paz. Você não
pode lutar sem armas. Se você quer, sentando-se na poltrona
com o controle remoto na mão, combater a tentação de as­
sistir algumas mulheres com seios à mostra na tevê a cabo,
certamente acabará desapontado. Fugi\
A ajuda específica oferecida na Escritura aos homens
casados, a da satisfação no relacionamento sexual, não está
disponível para os solteiros. Consequentemente, o conselho
oferecido aqui pode parecer simplista, mas creio se tratar
de uma abordagem bíblica. Se um homem solteiro possui o
dom do celibato (IC o 7.7), então a questão muda, e ele pro­
vavelmente não está lendo este livro. Se não tem esse dom,
mas está mantendo sua pureza sexual com sucesso, então ele
provavelmente está fazendo aquilo que descrevi nos pontos
anteriores, e deve continuar a fazê-lo. Ao mesmo tempo, ele
sabe que, em longo prazo, precisa de uma mulher, e deve
buscar para si, junto ao Senhor, a bênção do casamento. A
melhor coisa que ele pode fazer é se preparar para o casamen­
to aprendendo a ser um cristão piedoso em sua situação atual
e trabalhando duro para ter como prover à sua futura esposa.
Um homem que não possui o dom do celibato e que
está lutando para manter sua pureza deve se casar o quanto
antes. Paulo vai direto ao ponto. Seu ensino se aplicava a
uma situação peculiar no século I, mas o princípio perma­
nece constante. E melhor casar do que arder: “Caso, porém,
não se dominem, que se casem; porque é melhor casar do
que viver abrasado” (IC o 7.9).
O jovem que se encontra nessa situação deve buscar
fazer com toda diligência aquilo que é necessário a um jovem
fazer em preparação para o casamento. Ele deve trabalhar
duro para que seja capaz de prover financeiramente para sua
esposa e filhos, e deve se casar na primeira oportunidade.
Mas, se por algum motivo o casamento não é viável, e a imo­
ralidade está disponível, então deve buscar vigilância bíblica
— de seus pais ou dos presbíteros de sua igreja. Em último
caso, deve buscar vigilância de amigos.
Mas o que dizer sobre seu comportamento sexual nesse
meio tempo, antes do casamento? Provavelmente a ques­
tão mais prática enfrentada por jovens homens solteiros é a
da masturbação, sobre a qual irei tratar em grande detalhe
em capítulo posterior. E suficiente dizer no momento que
a masturbação não deve ser considerada “cura” para a con­
cupiscência da mesma forma que o é um bom casamento.
Mas casar-se não é uma solução automática para o
problema da luxúria. Em um mundo caído, Deus preten­
de que um relacionamento sexual saudável dentro do casa­
mento forneça proteção contra a tentação. Mas o processo
de aprendizado de como isso é feito requer ponderação e
estudo. Há uma maneira correta e uma maneira errada de
tomar a esposa sexualmente. A maneira errada não oferece
qualquer alívio aos ataques da luxúria:

Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação, que


vos abstenhais da prostituição; que cada um de vós
saiba possuir o próprio corpo em santificação e
honra, não com o desejo de lascívia, como os gen­
tios que não conhecem a Deus; e que, nesta matéria,
ninguém ofenda nem defraude a seu irmão; porque
o Senhor, contra todas estas coisas, como antes vos
avisamos e testificamos claramente, é o vingador,
porquanto Deus não nos chamou para a impureza,
e sim para a santificação. Dessarte, quem rejeita es­
tas coisas não rejeita o homem, e sim a Deus, que
também vos dá o seu Espírito Santo (lTs 4.3-8).
Um homem que pensa que casamento significa tão so ­
mente sexo livre, e que agora ele pode satisfazer-se sempre
que quiser, não aprendeu o que Deus quer que ele aprenda.
Em todos os sentidos, um homem cristão deve tratar sua
esposa como uma dama. Mas o homem inconsciente não
está fazendo amor com a esposa; está se masturbando com
ela. Um escritor descreveu de forma memorável o fato de
que alguns homens fazem amor com uma mulher de modo
semelhante a um orangotango tocando violino. Esse tipo de
idiota sexual rapidamente fica frustrado com a “ frigidez” da
esposa e passa a buscar outras fêmeas que lhe pareçam mais
agradáveis. Ele logo as encontra na pornografia: mulheres
que estão dispostas, por um preço, a fingir que não são mu­
lheres. Essas mulheres lhe dão o que ele quer, quando ele
quer, como ele quer, e ele nunca tem de lidar com os incô­
modos problemas causados por ninguém mais. Quando um
homem se aproxima da esposa com as “paixões concupis-
centes” dos gentios, logo descobre que o leito matrimonial
não é suficiente para ele. Ele deve ir à busca de algo mais, ou
suplementar o que já tem com a pornografia, ou tentar im­
portar algum outro tipo de bizarrice em sua vida amorosa.
C A P IT U LO 3

FORNICACÃO

N este capítulo, estou usando a palavra fornicação em seu


sentido comum e não como tradução estrita do grego
porneias , que significa impureza sexual. Em nosso idioma,
fornicação é a atividade sexual fora da aliança de casamen­
to, enquanto adultério é a atividade sexual contrária a uma
aliança de casamento estabelecida. Meu propósito aqui é
simplesmente tratar do comportamento sexual de um ho­
mem com uma mulher quando não há um relacionamento
de aliança. O uso bíblico do termo fornicação é mais amplo
do que o uso que faço aqui, mas, ao mesmo tempo, esse uso
vernáculo do termo certamente está incluído nas proibições
bíblicas. Algumas das outras coisas incluídas na proibição
bíblica de porneias são tratadas nos demais capítulos.
Quando um homem cai em pecado sexual, ele geral­
mente afunda mais e mais, e quando faz isso, as racionali­
zações para o seu comportamento não demoram a aparecer.
Quando se trata de um homem cristão, as racionalizações são
usadas por ele antes do encontro sexual; tudo se torna claro
para ele assim que se aproxima, e então leva alguns dias para
o nevoeiro sexual começar a ser reconstruído. Quando isso
acontece, as racionalizações recomeçam. O melhor modo de
prevenir autojustificativas e racionalizações é conhecer, em
detalhe, o ensino da Palavra de Deus sobre o assunto.
Geralmente, com o termo fornicação, trato de qual­
quer comportamento envolvendo duas pessoas — um ho­
mem e uma mulher não casados — e do comportamento
que geralmente resulta em um orgasmo para o homem. Em
qualquer de tais situações, o homem está fornicando caso
tenha ou não uma relação sexual com uma mulher (embora,
obviamente, tal relação também seja fornicação). Especifica­
mente, estou abordando as carícias pesadas com a namorada
ou noiva (ou qualquer outra pessoa) até chegar ao clímax,
freqüentar casas de massagem a fim de conseguir um “tra­
balho manual”, desfrutar de uma dança sensual e se mastur­
bar depois, fazer ou obter sexo oral, coito interrompido, e
a relação sexual completa. Tenho certeza de que não estou
incluindo aqui todas as coisas possíveis, por isso o leitor as
considere agora inclusas. Quando somos confrontados com
nosso pecado, todos nós tendemos a adotar uma linguagem
técnica, dizendo que a possibilidade de pecado irá depen­
der daquilo que estamos chamando de pecado. Inventamos
regras arbitrárias para nós mesmos a fim de permitir algu­
mas atividades e excluir outras. Mas, para nossos propósitos
aqui, fornicação é qualquer tipo de “travessura” de solteiro, e
qualquer pessoa razoável sabe do que se trata, sem qualquer
brecha para justificativas.
A todas essas coisas, o apóstolo Paulo diz:

Não sabeis que os injustos não herdarão o reino


de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem
idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem
sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bê­
bados, nem maldizentes, nem roubadores herda­
rão o reino de Deus (IC o 6.9-10).

Fornicadores não entrarão no céu. N ão herdarão


o reino de Deus. Eles são bem advertidos de que devem
abandonar tal prática. A Bíblia coloca diante de nós a clara
possibilidade de libertar-nos da tentação sexual, incluindo
a tentação à fornicação. Paulo prossegue e diz que tal liber­
tação havia chegado aos coríntios: “Tais fostes alguns de
vós; mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas fostes
justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito
do nosso D eus” (v. 11). Essa passagem geralmente é aplicada
a homossexuais, buscando mostrar a eles que realmente há
um caminho de saída da perversão — o apóstolo não diz
que alguns dos coríntios haviam sido homossexuais, e que
agora já não eram?
Isso é bem verdade, e é uma boa aplicação, mas algu­
mas vezes esquecemos outro ponto óbvio de encorajamento.
Quer a tentação homossexual seja ou não genética, a tenta­
ção heterossexual muito provavelmente o é. Um homem que
não possui o dom do celibato, mas de quem é moralmente
exigido que pratique o celibato por um dado período, está
numa situação difícil. Quando há mulheres disponíveis e
dispostas, esse é um pecado difícil de evitar, especialmente
se o homem em questão esteve acostumado à fornicação e se
encontra tentando romper um hábito estabelecido. Paulo diz
aqui que, entre os coríntios, certo número deles havia sido li­
berto da fornicação. Pela graça de Deus, tal coisa é possível.
E os coríntios sabiam algo sobre como vencer o peca­
do nessa área. Algumas vezes achamos que a decadência de
nosso tempo de algum modo faz com que evitar a fornicação
seja algo extraordinariamente difícil. Mas nossos problemas
são nada quando comparados aos enfrentados por um jovem
cristão coríntio. A cidade de Corinto era notória por sua
imoralidade, e por todo o Império Romano o verbo “corin-
tianizar” significava “corrom per”. Ali ficava o Templo de
Afrodite, dedicado a Vênus ou Afrodite, a deusa do amor
sexual. Esse templo era composto por mil sacerdotisas, isto
é, prostitutas sagradas. (Aliás, esse número foi reduzido, o
que lança luz sobre o ensino posterior de Paulo aos coríntios
a respeito de as mulheres cobrirem a cabeça).
Fornicação não era somente algo fácil em Corinto,
aquela era um cidade na qual a fornicação era considerada
um dever sagrado. Copular com uma prostituta designada
era considerado um ato de culto. Imagine a pressão e ten­
tação sobre um jovem que abandonou esse tipo de vida. E
Paulo diz: “Tais fostes alguns de vós”.
As demandas do corpo não são a fonte de nosso conhe­
cimento ético. Paulo diz que tudo é lícito a ele, mas isso não
significa que tudo seja útil. Quando diz “tudo” ele obvia­
mente não está incluindo aquilo que é expressamente proibi­
do por Deus — está falando daquilo que é permitido pela lei
de Deus, mas que por alguma razão não é encorajado. “To­
das as coisas me são lícitas, mas nem todas convêm. Todas
as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por
nenhuma delas” (v. 12). Por exemplo, ele diz que o estômago
e a comida foram feitos um para o outro, mas isso não foi
pensado para ser um estado permanente de coisas. Vem o
dia em que o estômago e a comida serão destruídos (v. 13).
A comida foi feita para o corpo, mas um dia ambos se­
rão destruídos. Por contraste, a fornicação não foi feita para
o corpo. O corpo não foi feito para a fornicação. Contrarian­
do uma das mentiras mais comuns a esse respeito, a atividade
sexual com uma mulher fora de uma aliança não é “natural”:
“O corpo não é para a impureza, mas, para o Senhor, e o Se­
nhor, para o corpo” (v. 13). O fato de que parece natural para
nós simplesmente demonstra quão caído é o ser humano. Um
bom almoço serve o corpo, com o que Paulo está especifi­
camente de acordo, e por isso parece-nos que uma boa noite
de sexo teria o mesmo efeito. Muitos incrédulos pensam que
a relação sexual é apenas outra ação física — como coçar a
orelha, ou beber água quando se está com sede. Mas, Deus,
o Criador, o único que sabe tudo, diz que a fornicação não é
natural. Ela de forma alguma é comparável ao ato de comer.
Com ida e estômago são companheiros legítimos, ainda que
temporários. N a ressurreição, não teremos a mesma relação
que agora temos com os alimentos. Deus nos ressuscitará em
um novo estado de coisas (v. 14). Enquanto isso, devemos ter
uma abordagem cuidadosa e disciplinada para com a comida.
Mas a fornicação é uma categoria completamente diferente:
não é nem mesmo uma bênção temporária para o corpo.
Deus projetou o corpo humano para si mesmo. Em
sua graça, ele nos trouxe a uma união pactuai com Cristo.
Somos um com Cristo por meio da fé, que fornece a base
para o próximo argumento de Paulo contra a fornicação.
Alguns na igreja de Corinto ainda freqüentavam os bordeis
sem ver qualquer incongruência nisso. Apesar de alguns na
igreja terem sido libertos, devemos perceber que outros não
haviam sido. O pecado sexual com prostitutas era comum o
bastante naquela igreja para garantir que o apóstolo tivesse
de ensinar sobre o assunto: “ Parar de dormir com prostitu­
tas” foi uma unidade de estudo para os novos membros da
classe. Porque nosso corpo foi feito para estar unido a C ris­
to, e porque através do evangelho, tem sido unido a Cristo,
isso significa que unir o corpo a prostitutas resulta em grave
e real profanação:

Não sabeis que os vossos corpos são membros de


Cristo? E eu, porventura, tomaria os membros de
Cristo e os faria membros de meretriz? Absoluta­
mente, não. Ou não sabeis que o homem que se une à
prostituta forma um só corpo com ela? Porque, como
se diz, serão os dois uma só carne. Mas aquele que se
une ao Senhor é um espírito com ele (v. 15-17).

Em outras palavras, porque o homem crente está unido


a Cristo, é um com ele, se procede de forma a se tornar tam ­
bém um com uma prostituta, ele está envolvendo Cristo em
seu pecado. A atividade sexual sempre resulta em uma união
em uma só carne. A passagem citada por Paulo é de Gênesis
e foi originalmente dita sobre o casamento, e em outra parte
é citada por ele aplicando-se ao casamento (Ef 5.31). Mas
a união em uma só carne ocorre com ou sem um contrato
de casamento. N ão há qualquer incongruência entre a santa
união pactuai com Cristo por um lado e, por outro, o sexo
santo dentro dos limites do santo matrimônio. H á uma in­
congruência fundamental, sim, entre ser santo em Cristo e
desfrutar de relações íntimas com uma prostituta.
Mas Paulo segue com seu argumento. O pecado sexual
não é o pior dos pecados, mas, em alguns aspectos, podemos
considerá-lo o mais complicado deles. Toda sujeira deve ser
lavada de nossas mãos, mas a graxa é mais difícil de arran­
car. O pecado sexual enlaça como nenhum outro: “Fugi da
impureza. Qualquer outro pecado que uma pessoa cometer
é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade peca
contra o próprio corpo” (v. 18).
N os versos que se seguem, Paulo menciona que somos
templo do Espírito Santo. Essa frase, retirada do contexto,
tem sido usada para pedir aos cristãos que evitem açúcar
refinado, um estilo de vida sedentário, e, claro, grandes cha­
rutos fedorentos. Mas Paulo diz especificamente que aqui
está falando somente a respeito do pecado sexual. O s outros
pecados são fora do corpo, mas a fornicação não. Isso inclui
até mesmo arrancar um dedo fora com um machado. Pode
ser um péssimo negócio, uma má ideia, mas não é a profana­
ção do santuário. Esta ocorre através da fornicação.
Por isso Paulo diz que devemos fugir da fornicação.
N ão se trata de uma reação apavorada; antes, devemos en­
tender a natureza da tentação, a natureza do perigo, e con­
sequentemente fugir dela como loucos. Perceba novamente
que a fornicação não é “natural” ou “saudável”. Um homem
que dorme com uma mulher que não é sua esposa não está
simplesmente pecando contra Deus, está também pecan­
do contra seu próprio corpo. Imoralidade é um ultraje ao
corpo. Aquele que vive desse modo continuará acumulando
sobre si todas as conseqüências naturais de um comporta­
mento não natural. Com o é que um homem pode fazer sexo
com a própria esposa milhares de vezes no decurso de qua­
renta anos e não correr o risco de contrair qualquer doença
sexualmente transmissível, enquanto outro pode sair três
noites e se encontrar infestado de pragas sexualmente trans­
missíveis? Diga-nos, de novo, qual comportamento é mais
natural? “Acaso, não sabeis que o vosso corpo é santuário
do Espírito Santo, que está em vós, o qual tendes da parte
de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes com­
prados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso
corpo” (v. 19-20).
Pedro nos diz que somos pedras que vivem, edificadas
no Templo de Deus. Uma vez que somos reino de sacerdo­
tes, uma vez que fomos reunidos em uma santa assembleia,
é um ato de profanação até mesmo ligar uma prostituta indi­
retamente a tais coisas santas. Ela não tem parte nisto.
Mas o argumento não se resume somente a alegação
de incongruência. Paulo diz que os cristãos de Corinto en­
traram em união com Cristo ao serem comprados por ele.
Foram comprados por um preço; já não pertencem a si mes­
mos. Lembre-se, o contraste é entre uma união santa com
Cristo e uma união impura com uma prostituta. A prostituta
é comprada, e é por isso que um homem se sente no direito
de ter relações sexuais com ela. Mas Paulo diz aqui que hou­
ve uma compra anterior. Um cristão não pode comprar uma
prostituta para si porque não possui direito de propriedade
sobre coisa alguma. Se comprar uma mulher, somente pode
fazer isto de forma indireta, com o dinheiro de alguém. E
de quem será tal dinheiro? E claro que a resposta é que se
trata do dinheiro de Cristo. E se ele a conhecer, para usar o
eufemismo do Antigo Testamento, então que corpo estará
desempenhando o ato sexual? Obviamente a resposta é que
Cristo comprou tal corpo com seu próprio sangue, e por
isso ele legitimamente pertence a Cristo. Logo, um cristão
imoral comete fornicação com um bem roubado ou do qual
se apropriou indevidamente.
Um homem deve reconhecer que pertence a Cristo, de
corpo e alma. O dever que decorre disto é a necessidade de
glorificar a Deus com corpo e alma. O relacionamento se­
xual no casamento glorifica a Deus (H b 13.4). De fato, ape­
nas uns poucos versos depois, Paulo mostra que um modo
importante de fugir da fornicação é correr para os braços da
esposa (ICo 7.2). Mas nenhum ato de fornicação e impureza
glorifica a Deus — e nem poderia.
Temer ao Senhor é odiar o mal — e odiar o mal do
mesmo modo que o Senhor odeia. Algumas vezes fazemos
rankings de pecados, elencando-os segundo nossa própria
hierarquia, pensando que em razão de sermos tolerantes e
entendermos alguns pecados ou outros, então Deus deve
pensar do mesmo modo indulgente. Mas esse não é o caso
e certamente não é o caso com a fornicação. Deus pôs esse
pecado em péssima companhia:

Por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o


próprio Deus os entregou a uma disposição mental
reprovável, para praticarem coisas inconvenientes,
cheios de toda injustiça, malícia , avareza e malda­
de; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo
e malignidade (Rm 1.28-29).

A fornicação é companheira de muitos outros pecados.


Ainda que um jovem deseje ter sua fornicação contida e iso­
lada, mantendo completa respeitabilidade em outras áreas,
seu desejo não será cumprido. Isso não é possível; pecados
são como uvas, eles vêm em cachos:
Se sois guiados pelo Espírito, não estais sob a lei.
Ora, as obras da carne são conhecidas e são: pros­
tituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçarias,
inimizades, porfias, ciúmes, iras, discórdias, dis-
sensões, facções, invejas, bebedices, glutonarias e
coisas semelhantes a estas, a respeito das quais eu
vos declaro, como já, outrora, vos preveni, que não
herdarão o reino de Deus os que tais coisas praticam
(G1 5.18-21).

H á um modo de vida que inclui a fornicação — e todo


o resto de seus companheiros. E outro modo de vida, a do
Espírito, que segue por uma estrada inteiramente diferente.
Um caminho conduz ao reino de Deus, e o outro não.
O s escritores do Novo Testamento puseram os pecados
juntos em diversas “ listas”, não porque tinham uma estranha
paixão pela categorização, mas porque os pecados andam
juntos. Sempre que um estado de espírito rebelde a Deus é
tolerado, a tendência é haver resistência por todos os lados:
Temo, pois, que, indo ter convosco, não vos encon­
tre na forma em que vos quero, e que também vós
me acheis diferente do que esperáveis, e que haja en­
tre vós contendas, invejas, iras, porfias, detrações,
intrigas, orgulho e tumultos. Receio que, indo outra
vez, o meu Deus me humilhe no meio de vós, e eu
venha a chorar por muitos que, outrora, pecaram
e não se arrependeram da impureza, prostituição e
lascívia que cometeram. (2Co 12.20-21).

H á certos leitos nos quais um homem se deita e não


encontra paz. N a década de 1960, época de infantilismo se­
xual, nos era dito constantemente para fazer amor, ao invés
de guerra. O pressuposto era que manter relações sexuais
era uma atividade pacífica, independentemente de quem es­
tivesse por baixo. Mas Tiago nos diz onde nascem as guerras
e os desejos de guerra:
De onde procedem guerras e contendas que há en­
tre vós? De onde, senão dos prazeres que militam
na vossa carne? Cobiçais e nada tendes; matais, e
invejais, e nada podeis obter; viveis a lutar e a fazer
guerras. Nada tendes, porque não pedis; pedis e não
recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vos­
sos prazeres. Infiéis, não compreendeis que a amiza­
de do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que
quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de
Deus. Ou supondes que em vão afirma a Escritura:
E com ciúme que por nós anseia o Espírito, que ele
fez habitar em nós? Antes, ele dá maior graça; pelo
que diz: Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos
humildes. Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti
ao diabo, e ele fugirá de vós (Tg 4.7).

As revoluções sexuais necessariamente acabam em san­


gue. E, para considerar a verdade dessa afirmação, precisa­
ríamos olhar longe para todos os problemas causados por
Helena de Troia. Tiago nos diz que os homens contendem
e guerreiam por causa da concupiscência. Contra quem fa­
zem guerra é algo que varia, mas o resultado é o mesmo.
A permissividade sexual dos Estados Unidos, para tomar
um exemplo próximo, resultou até agora em mais de 40 mi­
lhões de abortos. Considerando a partir de outro ângulo,
isso significa mais de 40 milhões de orgasmos, mais de 40
milhões de homens temporariamente satisfeitos, mais de 40
milhões de bons momentos a dois que terminaram mal para
o subproduto resultante. Em resumo, milhões de homens
consideraram que a vida alheia é um preço razoável a se pa­
gar pelo prazer da ejaculação. Quando a luxúria é inflamada
e estimulada, como em nossa nação, não se pode evitar que
o conflito chegue ao sangue. E essa luta em nosso meio é
conseqüência direta de havermos perdido a luta contra nos­
sos membros.
Tiago nos diz que nosso espírito se inclina aos desejos
da carne, mas Deus concede mais graça àqueles que a ele
se submetem. N osso espírito se inclina à amizade com o
mundo, o que significa inimizade com Deus. Uma mulher
sedutora, uma blusa decotada, jeans colado, e um olhar pro­
vocante são todos convites a mostrar desprezo por Deus.
E quando mostramos desprezo por Deus, logo desco­
brimos que ele não é a deidade frágil que muitos acham que
é. N ão é como se Deus não soubesse reagir quando despre­
zado. O Deus da Bíblia, como um escritor adequadamente
expressou, não é um ranúnculo. Quando nos levantamos
contra ele em inimizade, ele responde em juízo:

Estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim


de que não cobicemos as coisas más, como eles cobi­
çaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns
deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se
para comer e beber e levantou-se para divertir-se.
E não pratiquemos imoralidade, como alguns deles o
fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil (ICo
10. 6 - 8).
As histórias da Bíblia nos foram dadas para que possa­
mos tomá-las como alerta. O Deus da Bíblia julga o pecado
da fornicação tanto dentro da história como no final da his­
tória. Dentro da história, ele visita o homem com doenças
sexuais, conflitos, culpa, desordem, ausência de paz e de sa­
tisfação, família desestruturada, e morte. N a culminação da
história, ele fechará as portas da vida eterna à cara daqueles
que não se arrependem de suas fornicações.
Em suma, Deus não pensa que a fornicação é uma ques­
tão de instinto.
C A PÍT U LO 4

ADULTÉRIO

v
medida que aplica a lei de Deus, Jesus segue o mesmo
padrão que encontramos ao longo de toda a Escritura.
Obediência à lei nunca é uma questão de mera conformidade
externa; é uma questão de lealdade do coração. Dizendo de
outro modo, o indivíduo exteriormente religioso e respei­
tável tende a pensar sobre pecados. O s piedosos são cons­
trangidos pelo ensino de Cristo a pensar sobre o pecado — a
condição de pecaminosidade, a fonte de todos os pecados.
Antes de tratarmos do adultério como um pecado co­
metido em um determinado momento, devemos conside­
rá-lo como uma incipiente inclinação do coração. Jesus nos
ensina que todo adultério começa no coração:

Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém,


vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com
intenção impura, no coração, já adulterou com ela.
Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e
lança-o de ti; pois te convém que se perca um dos
teus membros, e não seja todo o teu corpo lançado
no inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar,
corta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca
um dos teus membros, e não vá todo o teu corpo
para o inferno (Mt 5.30).

O problema está no coração rebelde. Jesus aplica a lei de


Deus de um modo que não agrada as pessoas que se conside­
ram “ decentes”. Sua aplicação da lei torna todos os homens
adúlteros, e seu ensino sobre o assunto é claro. Vemos esse
princípio quando Cristo ensinou sobre dinheiro. Ele disse
que os homens amam se justificar perante outros homens,
mas Deus conhece o coração (Lc 16.15). Que pensamento
chocante! Deus conhece o coração. E o que ele vê ali? Entre
outras coisas, uma boa quantidade de adultério (Mt 15.19; cf.
Mc 7.21). A fonte dos pecados é o pecado. A fonte do pecado
é o coração humano.
Isso deveria nos causar horror. Cristo não diz simples­
mente nesta passagem que o adultério real é uma questão
do coração. Ele diz que esse adultério interno é de imensa
relevância para o pecador. E quão relevante é?
O pecador deveria preferir se automutilar a enfrentar o
juízo de Deus pelo pecado. Se arrancando olhos e mãos ele
pudesse remover o pecado, então o pecado é sério o bastante
para que exatamente isto fosse feito. Porque o contexto des­
sa passagem trata do ensino sobre adultério por um lado e,
em seguida, do divórcio, Cristo está claramente dizendo que
a autocastração é preferível a encarar a ira de Deus em razão
de questões de luxúria. Mas é evidente que o problema é que
a automutilação não irá funcionar para restringir o pecado.
Nem tampouco funcionará o ascetismo (Cl 2.23).
Com o um membro nos faz tropeçar? O que nos leva
a pecar? O que produz o pecado em nós? O que devemos,
portanto, lançar fora? A resposta é que o membro que nos
faz tropeçar é o coração humano. A doutrina é que um ho­
mem deve ter um novo coração ou morrerá.
A solução é a regeneração. Devemos ter sempre a dou­
trina da regeneração em nossa mente. Uma tremenda quan­
tidade de equívocos tem resultado da confusão sobre esse
ponto. N ão nascemos de novo porque nos arrependemos
e cremos. Antes, nos arrependemos e cremos porque Deus
nos deu o novo nascimento. Se o nosso velho coração fosse
capaz de arrependimento e fé, então o homem não precisa­
ria de um novo coração. Simplesmente bastaria continuar a
melhorar o antigo.
O que Deus prometeu através do profeta?

Dar-vos-ei coração novo e porei dentro de vós es­


pírito novo; tirarei de vós o coração de pedra e vos
darei coração de carne. Porei dentro de vós o meu
Espírito e farei que andeis nos meus estatutos, guar­
deis os meus juízos e os observeis (Ez 36.26-27).

Quem fará isto? Deus é o único que pode fazê-lo, e foi


isto o que prometeu fazer por seu povo.
Jesus chama seus seguidores à genuína submissão à lei
de Deus. Se não pudermos, então devemos clamar por um
novo coração. Se somos crentes afastados de nosso compro­
misso, então devemos confessar nosso pecado a Deus. Ele
é fiel e justo para perdoar. N osso novo coração nos permite
buscar em Deus toda a nossa justiça. Verdadeira pureza so ­
mente nele se encontra.
Devemos nos lembrar de que o pecado gera confusão.
D isto segue-se que o pecado sexual produz confusão sexu­
al. Assim, embora vivamos em uma sociedade obcecada por
sexo, isso não significa que tenhamos compreensão a respei­
to do sexo ou da moralidade sexual. A “abertura” alardeada
por toda parte em verdade obscurece a compreensão do as­
sunto. Em tal situação, a lei de Deus ilumina; desobediência
resulta não apenas na imoralidade sexual, mas também na
imaturidade, ignorância e imbecilidade sexuais.
A exigência bíblica com respeito ao casamento é muito
clara: “ N ão adulterarás” (Ex 20.14). Um marido que deseja
que seu lar seja edificado sobre uma base bíblica deve ser
muito claro a respeito da natureza e exigências deste man­
damento. Mas um homem que está apenas preocupado com
o conteúdo do mandamento e não tem familiaridade com o
restante do ensino bíblico sobre o assunto está condenando
a si mesmo a uma existência desesperada — equilibrando-
se entre dois mundos. Ele sabe (ele pensa) que é seu dever
evitar o adultério. Mas não conhece a abrangência das pas­
sagens que dão a ele a graça necessária para lidar com suas
motivações. Isso significa que ele tem — e isso não é nada
bom — uma compreensão do rigor do padrão de Deus sem
compreender a força da bondade e graça de Deus.
Obediência à lei sexual estabelecida por Deus é muito
importante, e por isso precisamos entender os motivos para
a pureza que Deus estabelece em sua Palavra. Jó descreve
o adultério como “um crime hediondo, delito à punição
de juizes” (Jó 31.11). Ao tempo em que aceitamos esse jul­
gamento, podemos ser gratos pelo fato de que a Escritura
coloca diante de nós muitos incentivos piedosos para nos
mantermos sexualmente puros. A Bíblia não nos diz para
nos afastarmos das mulheres sexualmente desejáveis e então
nos deixa para que compreendamos por nós mesmos o modo
como cumprir essa missão impossível.
O primeiro motivo bíblico é o temor a Deus: “Cova
profunda é a boca da mulher estranha; aquele contra quem
o S e n h o r se irar cairá nela (Pv 22.14). Tendemos a pensar
sobre o adultério como afastamento de Deus, quando é na
verdade ser capturado por ele para que mostre seu aborre­
cimento pelo pecado ao julgar aquele que o cometeu. Adul­
tério não é um tipo de pecado para o qual haverá punição
posterior; o adultério é em si mesmo punição.
José recorreu ao princípio do temor a Deus enquanto
resistia à sedução da esposa de Potifar: “Com o, pois, come­
teria eu tamanha maldade e pecaria contra D eus?” (Gn 39.9).
Deus testemunha cada desobediência sexual: “Chegar-me-ei
a vós outros para juízo; serei testemunha veloz contra (...)
os adúlteros” (Ml 3.5; cf. Jr 29.23). Deus julga o pecado se­
xual, e aqueles que temem a Deus sabem disso. Um homem
pensa que está seguro porque se escondeu com uma mulher
no quarto, embaixo da escrivaninha. Mas o Deus santo está
presente no quarto onde o adultério está sendo cometido.
Ele vê e sabe de todas as coisas.
Uma segunda motivação é o simples desejo de salva­
ção: “ Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino
de Deus ? N ão vos enganeis: nem impuros, nem idólatras,
nem adúlteros, nem efeminados, nem sodom itas” (IC o 6.9).
Em Hebreus 13.4, lemos abertamente que Deus julgará os
impuros e adúlteros.
A Bíblia é muito clara a esse respeito: “os seus convi­
dados estão nas profundezas do inferno” (Pv 9.18). Um ho­
mem não pode simultaneamente desejar a salvação de Deus,
e desejar permanecer no pecado do qual Deus o salvou. H o ­
mens que creem em Deus devem saber o quanto Deus odeia
o pecado. N o Israel do Antigo Testamento, esta era uma
ofensa que recebia a pena capital — não era um mero pe-
cadinho sexual: “ Se um homem adulterar com a mulher do
seu próximo, será morto o adúltero e a adúltera” (Lv 20.10).
Certamente um adúltero é digno de morte; um homem que
trai sua esposa trairá qualquer um e qualquer princípio. O
adultério é traição contra a família, e Deus odeia isto. Além
do mais, a pena capital merecida pelo pecado era somente o
início da sentença: “A sua casa é caminho para a sepultura e
desce para as câmaras da morte” (Pv 7.27).
Uma terceira motivação é o amor de uma boa esposa.
O marido piedoso é ordenado a se regozijar sexualmente em
sua esposa (Pv 5.18). O leito matrimonial é digno de honra
(H b 13.4); o poder de uma relação sexual bíblica (i.e., boa)
é tremendo. Mas o leito conjugal não pode ser considerado
digno de honra a menos que nós o honremos. E se o honra­
mos não podemos nos desviar para as coisas que poderiam
desonrá-lo: “As muitas águas não poderiam apagar o amor,
nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens
da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado” (Ct 8.7).
Devemos ter desprezo por aquelas coisas que nos são ofe­
recidas em lugar do amor que nos espera em casa. Uma das
grandes provisões que Deus criou para guardar um homem
em casa é a satisfação que experimenta na cama. Um homem
sábio que ama os pêssegos de casa não quer buscar frutos em
qualquer outra árvore.
Devemos também ser motivados pelo temor da escra­
vidão e estupidez moral: “Com erão, mas não se fartarão;
entregar-se-ão à sensualidade, mas não se multiplicarão,
porque ao S e n h o r deixaram de adorar. A sensualidade, o
vinho e o mosto tiram o entendimento” (Os 4.10-11).
Quando um homem cai em adultério, está caindo em
uma prisão. Se vê e reconhece isto, poderá temer tal situa­
ção. D o contrário, sua ausência de temor não é nada mais
que um sinal de sua tolice.
Ao evitar o adultério, o homem piedoso está também
preocupado em preservar sua dignidade humana. A Escritu­
ra repetidamente compara os homens presos a esse pecado
a animais embrutecidos (Jr 5.8). O homem não é como um
animal por partilhar com ele de uma natureza sexual; ele se
faz animal quando se deixa guiar por tal natureza. O sexo
não é algo bestial, mas sexo irracional é sempre bestial:

Esses, todavia, como brutos irracionais , natural­


mente feitos para presa e destruição, falando mal
daquilo em que são ignorantes, na sua destruição
também hão de ser destruídos, recebendo injustiça
por salário da injustiça que praticam. Consideran­
do como prazer a sua luxúria carnal em pleno dia,
quais nódoas e deformidades, eles se regalam nas
suas próprias mistificações, enquanto banqueteiam
junto convosco (2Pe 2.12-13).

Judas diz algo muito similar: “ E stes, porém, quanto


a tudo o que não entendem, difam am ; e, quanto a tudo
o que compreendem por instinto natural, como brutos
sem razão , até nessas coisas se corrom pem ” (Jd 10). Um
cão irracional não sofre por ter tido m últiplos parceiros
sexuais. Mas um homem que se degrada a este nível sofre.
N ão é um ato de desprezo chamar a uma besta irracional
de besta irracional, mas um homem que carrega a imagem
de D eus e ainda trata o sexo como um mero fenômeno
biológico é corrom pido e cego.
Aqui está outra motivação bíblica à pureza: reputa­
ção. A Bíblia não m enospreza a preocupação com a repu­
tação: “ O que adultera com uma mulher está fora de si;
só mesmo quem quer arruinar-se é que pratica tal coisa.
Achará açoites e infâm ia, e o seu opróbrio nunca se apa­
g ará” (Pv 6.32-33).
“ O que as pessoas vão dizer?” é uma pergunta per­
feitamente plausível, e uma questão que muitos homens
devem formular. Com o M oisés lembrou ao povo de Israel
em outro contexto, esteja certo de que o seu pecado irá
encontrá-lo (N m 32.23). O bviam ente, essa m otivação
considerada isoladam ente é inadequada e por si mesma
pode ser inteiramente consistente com a hipocrisia des­
lavada. M as, ao mesmo tempo, a Bíblia ensina isto como
uma motivação verdadeira e efetiva, quando posta entre
outras. N ão há nenhum mérito na vergonha em si, mas ao
menos ela reflete uma preocupação com a honra.
C om o considerado anteriorm ente, um homem deve
também se preocupar com as possíveis conseqüências fi­
nanceiras: “ Por uma prostituta o m áximo que se paga é
um pedaço de pão, mas a adúltera anda à caça de vida pre­
ciosa” (Pv 6.26; cf. 5.10). E devemos nos lembrar do filho
pródigo, na parábola de C risto, disputando com ida com
porcos por desperdiçar sua herança com prostituas (Lc
15.30). A imoralidade custa caro. Isto é resultado de uma
combinação de fatores, mas uma consideração óbvia é que
um homem enlaçado pela luxúria tem uma baixa resistên­
cia a ofertas. Q uando o desejo lhe pega pela garganta, ele
não tem mais condições de fazer cálculos racionais.
São diversos os m otivos para se evitar o adultério.
Tom ados por razões carnais, muitos homens querem to ­
lerar o velho padrão duplo pelo qual se espera que os ho­
mens semeiem algum as sementes selvagens por aí, e que
as mulheres sejam sexualmente castas. Obviam ente, esse
padrão duplo não é ensinado pela Bíblia — D eus sempre
exigiu a mesma obediência sexual do homem e da mulher.
Q uando o adultério é com etido, a lei de Deus exige que
am bos, homem e mulher, sejam executados.
Entretanto, o padrão duplo tem existido desde há
muito tempo. Gênesis 38 relata um terrível emaranhado
sexual. Judá arranjou um casamento entre seu filho Er e
uma mulher chamada Tamar. Er era ímpio e por isso Deus
o matou. O outro filho de Judá era O nã, a quem Tamar
foi dada para que suscitasse descendência a seu irmão fa­
lecido. Ele consentiu em manter relações sexuais, mas
derramava seu esperma no chão para que seu irmão não
tivesse descendência. Deus se desagradou dessa perver­
sidade e também matou a Onã. Judá tinha um filho mais
novo, o qual havia prom etido a Tamar, mas os anos se
passaram e Tamar viu que a prom essa não fora cumprida.
N esse meio tempo, a esposa de Judá morre, e Tamar se
disfarça de prostitua para incitar seu sogro a dorm ir com
ela. Ele o faz sem saber de sua identidade, e ela engravida.
Q uando se descobre que ela está grávida, Judá determina
que ela seja queimada com o filho “ de sua prostituição”.
Ela então aparece com as provas que Judá havia lhe dado
para deitar-se com ela, e o julgam ento é revogado. Judá,
ao contrário de muitos praticantes do padrão duplo, foi
honesto o suficiente para resolver o problema: “ Reconhe­
ceu-os Judá e disse: M ais justa é ela do que eu, porquanto
não a dei a Selá, meu filho. E nunca mais a possuiu (Gn
38.26).
Um padrão duplo pode ser m antido por um curto
período, e os homens podem assum ir uma postura in­
transigente quando se trata do com portam ento de uma
mulher. M uitos homens querem por perto mulheres volú­
veis e disponíveis — conquanto não sejam suas irmãs ou
filhas. Mas a Escritura nos diz que o julgam ento sexual
recairá sobre toda a cultura por causa da imoralidade de
tais homens, e isso deve também prover uma motivação
para a pureza m asculina. Com o tempo, os homens que
financiam a vida de p rostitutas verão a esposa e filhas
engrossando as estatísticas de prostituição:
Sacrificam sobre o cimo dos montes e queimam in­
censo sobre os outeiros, debaixo do carvalho, dos
choupos e dos terebintos, porque é boa a sua som­
bra; por isso, vossas filhas se prostituem, e as vossas
noras adulteram. Não castigarei vossas filhas, que
se prostituem, nem vossas noras, quando adulteram,
porque os homens mesmos se retiram com as mere-
trizes e com as prostitutas cultuais sacrificam, pois
o povo que não tem entendimento corre para a sua
perdição (Os 4.13-14).

As manchetes dos nossos jornais deveriam nos lembrar


de nosso último motivo para uma vida pura, que é uma pre­
ocupação prudente com a boa saúde: “ E gemas no fim de
tua vida, quando se consumirem a tua carne e o teu corpo, e
digas: Com o aborreci o ensino! E desprezou o meu coração
a disciplina! (Pv 5.11-12).
Doenças sexualmente transmissíveis são o modo de
Deus castigar homens pecadores. Portanto, contrair algum
tipo de bicheira não é uma questão de azar; o universo é
governado por um Senhor pessoal que aflige os imorais com
as conseqüências de seus próprios atos. Um homem com
gonorreia está sendo visitado por um anjo de Deus, e esse
sujeito faria bem em prestar atenção.
Mas ter os motivos para evitar o adultério não é sufi­
ciente. Devemos também nos servir dos meios designados na
Bíblia. A primeira coisa que um homem deve fazer é cuidar
de sua doutrina'. “ Pelo temor do S e n h o r o s homens evitam
o m al” (Pv 16.6). “Tenho visto (...) os teus adultérios” (Jr
13.27). Deus está presente com cada homem em tudo que
este faz; ninguém pode escapar da onisciência de Deus.
Contemplar essa verdade é um maravilhoso antídoto à con-
cupiscência. N ão é fácil andar por aí batendo ombros com a
presença de Deus.
Um homem cristão deve também cuidar de seu cora­
ção, e nunca começar a pensar que o adultério está somente
“ lá fora”, no mundo, e que de alguma forma o tem contami­
nado: “ Porque do coração procedem (...) adultérios, pros­
tituição” (Mt 15.19). Pedro conclama os cristãos a que se
abstenham das paixões carnais que guerreiam contra a alma
(2Pe 2.11). Paulo diz aos cristãos que façam morrer seus
membros sobre a terra, e listados entre tais membros estão
a prostituição, impureza, e paixão lasciva (Cl 3.5).
O foco central deste livro é pressionar os homens ao
dever que têm de amar a esposa. Essa é também uma grande
proteção sexual — e não apenas no sentido de proporcio­
nar uma motivação piedosa, como discutimos anteriormen­
te. Paulo ensina que em razão da imoralidade sexual, cada
homem deve ter sua própria esposa, e cada mulher o seu
próprio marido: “Por causa da impureza, cada um tenha a
sua própria esposa, e cada uma, o seu próprio marido. O
marido conceda à esposa o que lhe é devido, e também, se­
melhantemente, a esposa, ao seu marido (IC o 7.2-3). Uma
das provisões de Deus contra a tentação sexual é uma boa
dose de sexo com a mulher certa. A expressão que Paulo usa
aqui é cheia de bondade. Um maravilhoso momento na cama
não é nada senão uma troca de benevolência. Isso também
poderia levar a uma interessante conversa matrimonial, do
tipo: “Ei, amor, que tal um pouco de justa benevolência?”
Um marido que deseja obedecer a esse mandamento
deve cuidar de seus olhos: “Tendo os olhos cheios de adul­
tério...” (2Pe 2.14). Com o disse Jó: “Fiz aliança com meus
olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó 31.1).
Quando um homem está vigiando seus olhos, está guardan­
do mais do que apenas seus pensamentos. Uma mulher atra­
tiva geralmente sabe quando um homem está observando-a,
e consequentemente, se ela quiser, terá a oportunidade de
começar a agir de tal maneira a fisgá-lo. Quando um homem
observa uma mulher com intenções sexuais, isso é normal­
mente mais óbvio do que ele normalmente pensa que é e,
consequentemente, ele está mais vulnerável sexualmente do
que pensa estar.
Um homem casado pode proteger-se lembrando daqui­
lo que seus pais lhe ensinaram:

Dá-me, filho meu, o teu coração, e os teus olhos se


agradem dos meus caminhos. Pois cova profunda é
a prostituta, poço estreito, a alheia. Ela, como salte­
ador, se põe a espreitar e multiplica entre os homens
os infiéis (Pv 23.26-28).

E, obviamente, um homem se protege da imoralidade


por meio de um autocontrole integral:

Como, vendo isto, te perdoaria? Teus filhos me dei­


xam a mim e juram pelos que não são deuses; depois
de eu os ter fartado, adulteraram e em casa de me-
retrizes se ajuntaram em bandos; como garanhões
bem fartos, correm de um lado para outro, cada um
rinchando à mulher do seu companheiro (Jr 5.7-8;
cf. Ez 16.49).

O fato de estarem recheados de comida contribuiu para


o desejo adúltero. O estômago estava saciado, agora era hora
de deitar. Por contraste, Paulo nos ensina o valor da auto-
disciplina em todas as coisas: “Mas esmurro o meu corpo
e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros,
não venha eu mesmo a ser desqualificado” (IC o 9.27). Isso
é especialmente importante na resistência à tentação sexual.
A disciplina em uma área se transfere para outra, e a falta
de disciplina em uma área frequentemente transborda para
outras. Um homem deve ser autodisciplinado em seu tra­
balho, emoções, recreações, e apetites. Caso não seja, terá
problemas em ficar na cama certa.
Depois de entender esses motivos bíblicos, e aplicar a si
mesmo os meios bíblicos de evitar o adultério, um homem
deve ainda conduzir-se com sabedoria. Isso porque o adul­
tério propriamente dito é um pecado bastante óbvio, mas
as agitações iniciais nem sempre são tão perceptíveis. Para
agravar o problema, os equívocos no julgamento que confi­
guram se um homem padece de tentações sérias são teorica­
mente invisíveis a todos, exceto ao sábio: “Mas o alimento
sólido é para os adultos, para aqueles que, pela prática, têm
as suas faculdades exercitadas para discernir não somente o
bem, mas também o m al” (H b 5.14). N ossos sentidos não
precisam ser muito exercitados para entender que estacionar
numa casa de massagem não é uma boa ideia. Mas preci­
samos de discernimento para saber como evitar amizades
problemáticas, que podem nos parecer completamente ino­
centes. Muitas armadilhas aguardam pelo incauto. Homens
casados e felizes não acordam e decidem: “ Hoje vou cometer
adultério”. Particularmente com os cristãos, a consumação
da infidelidade geralmente vem só depois de uma série de
concessões leves e autoenganos discretos. A maioria dos ho­
mens crentes realmente caiu em adultério, não escorregou.
Isso significa que os homens devem se proteger con­
tra este pecado quando não sentem que precisam de prote­
ção contra ele. Isso porque a preparação somente é possível
quando ainda não é necessária. Um homem enlaçado pela
tentação do adultério está mentindo aos outros, e funda­
mentalmente para si mesmo. Por isso ele deve identificar os
sintomas muito antes de desejar mentir para si mesmo sobre
a necessidade de proteção. N ão é de surpreender a frequên­
cia com que a Bíblia liga o adultério à mentira. Isso significa
que um homem vulnerável à tentação deve estudar a verdade
muito antes do momento da crise. N o momento da crise, ele
não estará interessado na verdade. E possível resistir a uma
“amizade” inocente justamente porque ela ainda é (relativa­
mente) inocente. Após o elemento sexual ser manifesto, o
homem não quer mais sair. Se ele for sábio, sairá enquanto
ainda deseja:

Eis que vós confiais em palavras falsas, que para


nada vos aproveitam. Que é isso? Furtais e matais,
cometeis adultério e jurais falsamente, queimais in­
censo a Baal e andais após outros deuses que não
conheceis, e depois vindes, e vos pondes diante de
mim nesta casa que se chama pelo meu nome, e di-
zeis: Estamos salvos; sim, só para continuardes a
praticar estas abominações! Será esta casa que se
chama pelo meu nome um covil de salteadores aos
vossos olhos? Eis que eu, eu mesmo, vi isto, diz o
S e n h o r (Jr 7.8-11).

Homens adúlteros são homens confusos; a confusão


procede das mentiras, e avança com outras mentiras mais.
O resultado final é que acabam tão cegos que se encontram
dispostos a transportar seus adultérios para o Templo de
Deus e dizer que estão salvos (pela graça, sem dúvida) para
“praticar estas abominações”. Esse ponto é constantemente
repetido na Escritura:

Nos profetas de Jerusalém, vejo coisa horrenda;


cometem adultérios, andam com falsidade e for­
talecem as mãos dos malfeitores, para que não se
convertam cada um da sua maldade; todos eles se
tornaram para mim como Sodoma, e os moradores
de Jerusalém, como Gomorra (Jr 23.14).

Uma das coisas mais impressionantes sobre nossa im o­


ralidade moderna é a identificação que se tem buscado criar
entre a frouxidão sexual por um lado e a “abertura e hones­
tidade” por outro. Este é um aspecto central da mentira, o
desejo de apartar-se da mentira pela via do adultério. De
acordo com esse sofisma, aqueles que são infiéis são hipó­
critas reprimidos, levando uma vida de mentiras. O libertino
sexual é franco, resolvido, aberto, e tudo o mais. Mas o con­
trário é verdade. Adúlteros mentem e homens fiéis dizem a
verdade. Contudo, como muitos homens são bastante sin­
ceros quando dizem essas mentiras, sabemos que eles devem
ter sido os primeiros a acreditar nelas. O primeiro enganado
nestes casos é geralmente o que enganou a si mesmo: “ Por­
quanto fizeram loucuras em Israel, cometeram adultérios
com as mulheres de seus companheiros e anunciaram fa l­
samente em meu nome palavras que não lhes mandei dizer;
eu o sei e sou testemunha disso, diz o S e n h o r ” (Jr 29.23).
Ora, esse autoengano têm se tornado comum entre
cristãos evangélicos: “ Dizes que não se deve cometer adul­
tério e o cometes?” (Rm 2.22). N o fim das contas, o mundo
inteiro pode ver os resultados do escândalo. Mais um pas­
tor, conselheiro, ou televangelista é pego em flagrante. Mas
com o que o engano se parecia no início? N o fim, “as obras
da carne são conhecidas”, e tais obras incluem prostituição,
impureza, e lascívia (G1 5.19). Mas com o que isso se parecia
em sua forma embrionária?
Dois aspectos devem ser aqui mencionados. O primei­
ro é negativo. A maioria das tentações sexuais de um homem
começa com uma tentação que não é sexual. Quando o autor
de Hebreus nos diz para honrar o leito matrimonial (H b
13.4), no verso imediatamente seguinte ele nos diz para es­
tarmos contentes com o que temos. Um homem descontente
pode se aborrecer com qualquer coisa. Ele pode estar infeliz
com o modo como sua esposa cozinha, com a forma como
disciplina as crianças, ou com o peso dela. Ou seu descon­
tentamento pode não ter relação direta com a esposa — pode
ser insatisfação com o chefe, ou com o contracheque. Em
todo caso, um homem descontente é sempre sexualmente
vulnerável. Outra mulher pode representar uma via de es­
cape para ele, ou pode simplesmente ser uma “recompensa”
que ele se dá pelas dificuldades que tem encarado em toda
parte. O descontentamento é o laço, e o sexo é geralmente
a isca. A morte é a armadilha.
Outra área na qual os homens devem guardar-se contra
o adultério é quanto à já mencionada amizade aparentemen­
te inocente. Um homem deve resolver perante Deus que não
terá nenhuma amizade individual (ou relação de trabalho
próxima) com mulheres que não sejam sua mãe, avó, irmã,
ou esposa. Ora, o que se quer dizer com “am igos” ? Temos
sido ensinados ad nauseam por meio da propaganda femi­
nista que homens e mulheres são unidades simplesmente
intercambiáveis, e que devemos todos nos esforçar para agir
como se as coisas fossem assim. A grande ideia é que um ho­
mem pode ser capaz de trabalhar com uma mulher e tratá-la
como a qualquer outro sujeito do trabalho. Se ele e outros
homens do trabalho podem sair para almoçar juntos, por
que não manter o mesmo padrão com uma colega mulher?
A resposta, e eu detesto explicar o óbvio, é que debaixo das
roupas, o corpo deles é diferente, e ela representa uma pos­
sibilidade de diversão que nenhum dos caras do trabalho
poderia oferecer. Em outras palavras, numa situação há uma
carga sexual e na outra não. O homem que acredita em toda
a propaganda atual sobre esse assunto está preparando-se
para uma perigosa queda.
Quem não deseja cair de um despenhadeiro tem de de­
cidir nunca andar na ponta dos pés sobre suas margens. Isso
significa que um homem deve sempre manter uma distância
social apropriada entre si e qualquer mulher. Isso não signi­
fica desencorajar amizades entre casais, ou a amizade de um
casal com uma mulher solteira. Antes, significa desencorajar
a amizade íntima entre um homem e uma mulher quando
não estão ligados em aliança.
Ora, esse padrão pode ser descartado como sendo um
legalismo de algum tipo, por isso uma palavra sobre a na­
tureza de tais normas é necessária. Essa é uma questão de
discernimento, e não uma questão expressa da lei de Deus. E
óbvio que a Bíblia nunca diz que um homem não pode ficar
a sós com uma mulher — pense em nosso Senhor com a mu­
lher samaritana — e, por isso, o caso deve ser apresentado
como matéria de discrição e sabedoria. Se o homem ferido
na parábola do Bom Samaritano fosse uma mulher, é pouco
provável que o samaritano a evitaria por temor de escândalo.
Apenas para ilustrar o princípio, vamos começar pela con­
cessão de toda exceção razoável possível. Mesmo assim, a sa­
bedoria exige que um homem mantenha, como uma questão
de política pessoal, uma razoável distância social de qualquer
mulher que possa ser concebida como uma distração ou ten­
tação sexuais. Isso irá incluir encontros de negócios a sós,
passeios, visitas em casa quando o marido dela não está, e
assim por diante. Aqueles que aconselham ou pastoreiam
devem cuidar para que ministrem em um escritório público,
com pessoas por perto, e uma janela na porta.
Bem, é possível que alguém alegue que esse tipo de
procedimento é desnecessário porque seus motivos são pu­
ros. A primeira resposta é que ele não tem como saber disso
em qualquer sentido absoluto. O apóstolo Paulo disse que
sua consciência estava limpa, mas que isso não definia coisa
alguma em um sentido final: “ Porque de nada me argúi a
consciência; contudo, nem por isso me dou por justifica­
do, pois quem me julga é o Senhor” (lC o 4.4). Um homem
muitas vezes não conhece seu próprio coração e motivos até
que um homem sábio os põe a descoberto: “Com o águas
profundas, são os propósitos do coração do homem, mas o
homem de inteligência sabe descobri-los” (Pv 20.5). Muitos
homens precisam reconhecer que há muito mais “sexo” em
suas conversas “ inocentes” do que seriam capazes de ad­
mitir. Qualquer passo que dermos a mais nas conversas em
direção à amizade aumentará o perigo.
Uma segunda resposta é que, a menos que tenha atingi­
do a perfeição, tal homem certamente passa por momentos
nos quais seus motivos não são puros: “N ão há homem justo
sobre a terra que faça o bem e que não peque” (Ec 7.20). As
circunstâncias, em algum ponto no relacionamento, alguns
meses depois, podem ser bem diferentes. A princípio, ele
não foi tentado no menor grau. Mas depois, quando porven­
tura não estiver andando com o Senhor do mesmo modo que
antes, sua determinação já não é a de antes, e sua situação já
não é mais a mesma: “ Porque todos tropeçamos em muitas
coisas” (Tg 3.2). Um homem seria de fato tolo se dissesse
ser hostil a qualquer tentação dessa natureza. Muitos fatores
podem estar envolvidos. A relação sexual com sua esposa
pode ter se deteriorado, ou sua amiga começou a usar coisas
que não deveria, ou uma amizade próxima desenvolveu algo
que ele não desfruta com sua esposa, e assim por diante. Um
homem que pensa estar em pé deve tomar cuidado para que
não caia (IC o 10.12). Ele precisa ser brutalmente honesto
consigo mesmo. Será que ele nunca olhou para ela do outro
lado da sala, ou espiou os seus seios? Se já fez isso, então
como pode negar o elemento sexual nesse relacionamento?
Uma terceira contestação a esse padrão é o sujeito po­
der talvez honestamente dizer que sua amiga não é de modo
algum sexualmente atrativa para ele. “Veja bem, se ela fosse
a última mulher na terra...” Mas aqui ele esqueceu-se de ser
um cavalheiro. Será que ele não representa tentação para ela?
E essa pergunta não pode ser respondida por ele a menos que
tenha chegado mais perto dela do que deveria. Ele está em
um beco sem saída. Em suma, um homem não tem nenhuma
boa razão para cultivar uma amizade íntima e pessoal com
uma mulher que não seja sua esposa ou parente próxima.
Supostas situações “profissionais” não alteram o prin­
cípio. Por exemplo, suponha que um homem é conselheiro
ou pastor e uma mulher apareça buscando orientação e con­
selho bíblico. Ele nunca deve esquecer de que seu conselho
é o que um marido piedoso deveria dar a essa mulher, no
contexto de uma aliança com relacionamento sexual. E uma
via de mão dupla, e um homem que não é marido e provê
supervisão e direção deve trabalhar para preservar a distân­
cia. Eis por que Paulo acrescenta um comentário notável a
Timóteo em sua exortação: “N ão repreendas ao homem ido­
so; antes, exorta-o como a pai; aos moços, como a irmãos;
às mulheres idosas, como a mães; às moças, como a irmãs,
com toda a pureza” (lTm 5.1-2).
Tenho dito muitas vezes que um relacionamento com­
pletamente íntimo entre um homem e uma mulher é como
um carpete enrolado. Alguém que deseja ter um relaciona­
mento próximo e íntimo com uma mulher sem que haja sexo
é como alguém que só quer enrolar uma face do carpete, dei­
xando a outra do jeito que era. N ão vai dar certo. Em muitas
situações vocacionais (medicina, aconselhamento, etc), um
homem aproxima-se de uma mulher mais do que poderia ser
seguro, e vê-se tentado.
Finalmente, evitar o adultério é uma expressão de amor
— amor bíblico:
A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o
amor com que vos ameis uns aos outros; pois quem
ama o próximo tem cumprido a lei. Pois isto: Não
adulterarás, não matarás, não furtarás, não cobiça-
rás, e, se há qualquer outro mandamento, tudo nesta
palavra se resume: Amarás o teu próximo como a
ti mesmo. O amor não pratica o mal contra o pró­
ximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor
(Rm 13.8-10).

Quando um homem cumpre a lei do amor — para com


sua esposa por meio da terna aliança de afeição sexual, e
para com seu próximo e a esposa do próximo por meio da
ausência de afeição sexual — então verdadeiramente faz o
bem para sua família e não traz danos ao próximo. N isto
respeita e honra a afeição sexual deles. Mas um homem que
tolera suas concupiscências em nome do amor é inimigo de­
clarado de cada ato de verdadeira benevolência que alguma
vez desfrutou na cama.
CA PÍT U LO 5

DIVÚRCIO

O divórcio não é uma questão legal com conseqüências


sexuais. N a maioria dos casos, é uma questão sexual
com conseqüências legais e pactuais. E no contexto maior,
é uma questão sexual que resulta em algo que Deus odeia
(Ml 2.16).
N ão é coincidência que, no Sermão do Monte, Cristo
ensine sobre divórcio na passagem imediatamente seguinte
à sua instrução sobre a cobiça. E, embora C risto ensine na
seção sobre cobiça que devemos cuidar em remover qualquer
membro que nos faça tropeçar, ele ensina na porção sobre
divórcio que há um membro que não deve ser removido. D i­
zendo de outra forma, um homem deve estar mais disposto
a se mutilar sexualmente do que está disposto a se afastar da
própria esposa:

Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém,


vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com
intenção impura, no coração, já adulterou com ela.
Se o teu olho direito te faz tropeçar, arranca-o e lan­
ça-o de ti; pois te convém que se perca um dos teus
membros, e não seja todo o teu corpo lançado no
inferno. E, se a tua mão direita te faz tropeçar, cor­
ta-a e lança-a de ti; pois te convém que se perca um
dos teus membros, e não vá todo o teu corpo para
o inferno. Também foi dito: Aquele que repudiar
sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos
digo: qualquer que repudiar sua mulher, exceto em
caso de relações sexuais ilícitas, a expõe a tornar-se
adúltera; e aquele que casar com a repudiada comete
adultério (Mt 5.30-32).
A maior parte das discussões sobre divórcio torna-se
muito rapidamente discussão sobre o que é “permitido”. Em
outras palavras, o divórcio é considerado legítimo se pre­
encher toda uma série de pré-requisitos numa lista. E nas
palavras da Confissão de Fé de Westminster mencionadas
anteriormente, os homens são capazes de “procurar argu­
mentos” a fim de ter certeza de que a coisa toda é legal. Isso
pode acontecer tanto em relação ao âmbito civil como ao
bíblico. Em outras palavras, frequentemente lidamos com
o divórcio como sendo um fenômeno totalmente objetivo.
Se aconteceu “ dessa forma”, então não é adultério casar no­
vamente. Se aconteceu “ dessa outra form a”, então é adul­
tério casar de novo. Mas nosso Senhor nos ensina aqui que
o divórcio é um fenômeno sexual, e ele o relaciona direta­
mente às motivações humanas. Então, embora consideremos
primeiro o conjunto do ensino bíblico sobre a natureza do
divórcio, não devemos esquecer o aspecto motivacional, que
retornará no fim do nosso capítulo.
Antes de compararmos essa seção com o ensino de
Cristo sobre o divórcio em Mateus 19, vemos que primeiro
precisamos captar o pano de fundo do ensino da lei confor­
me foi dada por Moisés:

Se um homem tomar uma mulher e se casar com


ela, e se ela não for agradável aos seus olhos, por
ter ele achado coisa indecente nela, e se ele lhe la­
vrar um termo de divórcio, e lho der na mão, e a
despedir de casa; e se ela, saindo da sua casa, for e
se casar com outro homem; e se este a aborrecer, e
lhe lavrar termo de divórcio, e lho der na mão, e a
despedir da sua casa ou se este último homem, que
a tomou para si por mulher, vier a morrer, então, seu
primeiro marido, que a despediu, não poderá tornar
a desposá-la para que seja sua mulher, depois que foi
contaminada, pois é abominação perante o S e n h o r ;
assim, não farás pecar a terra que o S e n h o r , teu
Deus, te dá por herança (Dt 24.1-4).

Há três verdades básicas que devemos entender nessa


passagem. Primeiro, o divórcio foi limitado na lei a certas
causas específicas. Um homem não podia se divorciar de sua
esposa por razões triviais; tinha de ser por coisa “ indecente”.
E, obviamente, dado o ensino geral da lei mosaica, essa inde­
cência não poderia ser apenas afirm ada , deveria ser estabe­
lecida por no mínimo duas testemunhas. Em segundo lugar,
se um homem se divorciasse da esposa, ele também tinha de
dar a ela uma carta de divórcio. Assim , o processo de di­
vórcio era um ato judicial formal. Isso forçaria os homens a
pensarem sobre a solenidade e as ramificações legais daquilo
que estavam fazendo. Um homem não podia simplesmente
dizer à esposa para ir embora, e então, algumas semanas
depois, fingir que não tinha feito isso. E, em terceiro lugar,
um homem que mandasse a esposa embora não poderia tê-la
de volta na hipótese de ela ter se casado com outro homem
nesse ínterim. Em um sentido muito real, ele estava entran­
do num beco sem saída. Mandá-la embora significava que
ela poderia casar-se novamente, o que significava que a lei
proibia qualquer reconciliação depois desse ponto.
Ora, os fariseus, cegos pela cobiça, distorciam tudo isso.
Em suas palavras, Cristo ataca as distorções dos fariseus, e
não o ensino de Moisés. Isso fica claro a partir do encontro
que ocorre em Mateus 19:
Vieram a ele alguns fariseus e o experimentavam,
perguntando: E lícito ao marido repudiar a sua mu­
lher por qualquer motivo? Então, respondeu ele:
Não tendes lido que o Criador, desde o princípio,
os fez homem e mulher e que disse: Por esta causa
deixará o homem pai e mãe e se unirá a sua mulher,
tornando-se os dois uma só carne? De modo que já
não são mais dois, porém uma só carne. Portanto, o
que Deus ajuntou não o separe o homem. Replica­
ram-lhe: Por que mandou, então, Moisés dar carta
de divórcio e repudiar? Respondeu-lhes Jesus: Por
causa da dureza do vosso coração é que Moisés vos
permitiu repudiar vossa mulher; entretanto, não
foi assim desde o princípio. Eu, porém, vos digo:
quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de
relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete
adultério [e o que casar com a repudiada comete
adultério] (Mt 19.3-9).

O s fariseus estavam dizendo que Moisés ordenou o di­


vórcio, quando ele não fez tal coisa. Antes, ele o permitiu
e regulou. Além disso, a pergunta feita a Cristo foi se um
homem poderia mandar sua esposa embora por qualquer
motivo. Cristo responde que não. O senhor do casamento
não são os desejos do marido. Considere por um momento
o que a frase por qualquer motivo poderia incluir. Eles esta­
vam implicitamente dizendo que se um homem encontrasse
outra mulher com seios maiores e pernas mais longas, então
Deus iria aprovar quando tal homem se livrasse de sua espo­
sa problemática, aquela de seios pequenos e pernas curtas.
Em outras palavras, esses supostos “ herdeiros” de Moisés
estavam usando as palavras de Moisés para recriar a própria
situação — de divórcio fácil — que a lei de Moisés procurou
restringir. Quando homens advogam o divórcio fácil, “por
qualquer razão”, pode apostar que a cobiça por uma nova
parceira está no coração do debate.
Agora podemos considerar o ensino de Cristo. Primei­
ro, Cristo nos ensina que o casamento não é absoluto. O elo
que une um homem e uma mulher não é metafísico; é pactu­
ai. Isso é muito importante. Sob a lei de Deus, o casamento
pode ser legitimamente dissolvido. Mas essa dissolução tem
a ver com a infidelidade. A menos que um marido esteja
mandando a esposa embora em razão de fornicação, ele está
cometendo adultério se casar novamente, e está tentando-a
a cometer adultério, caso ela case de novo. Assim, as razões
para a dissolução não são encontradas nos caprichos dos ho­
mens. “ Ela queimou o feijão, e nesse mesmo dia eu conheci
uma mulher mais bonita”. Um homem não pode evitar ser
um adúltero aos olhos de Deus só porque toda a papelada do
divórcio está correta. Em outras palavras, os fariseus esta-
vam tentando basear o divórcio nas concupiscências daquele
que queria divorciar-se. Cristo baseia o divórcio na lei de
Deus.
A base que Cristo menciona aqui é da impureza sexual
geral — porneias. Obviamente, isso significa que um homem
pode se divorciar de sua esposa em razão da fornicação co­
metida por ela. Mas, mais importante ainda, Cristo proíbe
todo tipo de divórcio que permita ao homem satisfazer seus
desejos com outras mulheres. Em outras palavras, é impos­
sível santificar algo que é, essencialmente, impuro.
Jesus foi mestre em Israel — e, sabemos, os filhos de
Israel eram o povo pactuai de Deus. Eles detinham a lei de
Deus, e os casamentos eram normalmente entre membros
da aliança. Nesse contexto, Cristo ensina claramente que a
única base para a dissolução do casamento era a porneias por
parte do cônjuge ofensor. Aplicado à nossa situação, a única
base para o divórcio entre dois cristãos professos seria algum
tipo de infidelidade sexual por parte de um deles.
Isso nos leva ao ensino do apóstolo Paulo sobre a ques­
tão do divórcio. Jesus estava ensinando dentro dos limites
da nação pactuai de Israel. Mas, quando o evangelho alcança
as nações, o resultado dessa grande expansão foi um enorme
aumento no número de casamentospactualmente mistos. Até
então isso não era um problema, e esse novo contexto nos
traz uma expressão interessante quanto ao ensino de Paulo:
“não eu, mas o Senhor” e “eu, não o Senhor” (IC o 7.10-16;
27-28). Paulo e C risto não estão em contradição aqui, pois
estão lidando com situações diferentes. Mas em todas as
situações relativas ao divórcio, é importante lembrar-se do
ensino do Senhor e nos guardar contra desculpas legais para
a cobiça.
N essa nova circunstância, os coríntios aparentemen­
te haviam perguntado a Paulo se estavam de alguma forma
sendo espiritualmente contaminados por meio da relação
sexual com o cônjuge pagão. Dada a natureza da situação,
podemos supor que uns poucos cristãos em Corinto esta­
vam secretamente esperando que a resposta fosse sim. Mas
Paulo responde que fazer sexo com uma esposa pagã não
era problema. Se os crentes coríntios estavam preocupados
se isso poderia trazer mais crianças pagãs ao mundo, Paulo
responde que não. O s filhos de tal união devem ser consi­
derados santos (ICo 7.14).
Mas o pagão deve estar disposto a viver com o cristão
dentro dos limites biblicamente definidos para o casamen­
to. Paulo diz que, se o incrédulo está contente ou satisfeito
em permanecer com o crente, então o crente não deve se
divorciar. A palavra que ele usa é sunedokeo, que significa
estar satisfeito em estar junto com. Se o pagão está satisfeito
com o acordo, então o crente não deve se divorciar. Mas se
o incrédulo der no pé, então o crente não está preso em tais
circunstâncias e certamente é livre para casar novamente —
mas somente com um cristão.
Todavia, o mundo real é um lugar bagunçado, e o núme­
ro de variantes a esse respeito pode parecer quase intermi­
nável para um conselheiro pastoral. Suponha que um crente
abandone um cristão, sem qualquer indício de porneias em
vista. Aquele que abandonou o casamento deve ser exortado
pela igreja, e se não houver arrependimento, então deve re­
ceber a disciplina eclesiástica. Isso significa que aquele que
deserdou deve agora ser tratado como incrédulo, o que sig­
nifica que o divórcio é permitido. Mas lembre-se sempre de
que o ponto central não é determinar o que é “ legal”, mas,
antes, nos guardar contra aquilo que é concupiscente.
Em muitos casos, é necessário raciocinar biblicamente
a partir dos exemplos dados na Escritura. Isso porque nem
toda situação é abarcada, e temos de aprender a pensar como
cristãos quando chegamos a situações que não recebem aten­
ção específica na Bíblia. Mas raciocinar por analogia não é
adequar a lei para fazê-la encaixar-se à nossa situação. Por
exemplo, Jesus nunca abordou a questão do que fazer com
um homem cuja esposa se divorciou dele. Ele falou sobre
homens se divorciando da esposa, esposas divorciadas, mu­
lheres casadas após tal divórcio, e esposas que se divorcia­
ram e casaram novamente. Mas ele nunca disse coisa alguma
sobre um homem cuja esposa buscou divórcio. Ele é livre
para casar novamente? A fim de responder a questão, temos
de pensar por analogia. Se recusarmos a legitimidade do ra­
ciocínio por analogia, então temos de reconhecer que Jesus
nunca tratou dessa situação diretamente. Uma esposa que
buscou divorciar-se do marido, se porventura casar nova­
mente, é culpada de adultério (Mc 10.12). Mas a Bíblia nada
diz sobre a situação do marido, significando que é livre para
casar de novo. Assim, raciocinar por analogia e extensão em
tais situações é absolutamente necessário.
Obviamente ser casado com um incrédulo muitas vezes
significa que homem e mulher não partilham da mesma ética
sexual. Essa parece ser a situação em Esdras 9-10, quando
nos é dito que os homens israelitas casaram-se com mulheres
pagãs, culpadas de “abominações”. Tais abominações prova­
velmente eram de natureza sexual, e a resposta de Esdras é
interessante. Ele exige que os homens se divorciem de suas
esposas, e tudo nesta passagem indica que Esdras estava no
direito de fazer tal exigência. Uma das maneiras pelas quais
podemos notar que fomos tomados pela ética secularista que
nos cerca é que pensamos que Esdras teve uma reação des­
proporcional, não entendendo que os relacionamentos são
mais importantes do que a justiça. Mas isto, claro, é inteira­
mente falso, e há vezes em que um cristão estará em pecado
por se recusar a divorciar-se de seu cônjuge.
Este é apenas um breve esboço básico da instrução bí­
blica a respeito do divórcio, e somente deve ser usado para
nos orientar; todos os grandes problemas ainda não foram
tratados. Ou melhor, dizendo de outra forma, o grande pro­
blema não foi tratado.
A maior parte do ensino sobre divórcio deve ser di­
rigida para onde a maior parte dos problemas estão: logo
abaixo do cinto do marido: “Quem repudiar sua mulher e
casar com outra comete adultério; e aquele que casa com a
mulher repudiada pelo marido também comete adultério”
(Lc 16.18). Quando Jesus nos ensina que um olhar impuro
significa adultério, ele está dizendo que não podemos nos
refugiar no fato de que não chegamos a “ fazer” nada, que
tudo permaneceu internamente. Da mesma forma, ele diz
aqui que o divórcio não pode santificar nossa concupiscên-
cia. O fato de que nada foi “ feito” não justifica o adúltero
em seu coração, e o fato de o adultério ter sido “registrado”
no cartório municipal não justifica o adúltero por ter pago
todos os honorários advocatícios devidos. Por mais que isso
seja óbvio, são poucos os cristãos que veem o elemento se­
xual em jogo sempre que um homem repudia a esposa. As
desculpas e evasivas podem ser muitas, mas se o coração e a
mente fossem revelados, raramente estaria distante a agra­
dável perspectiva de alguém novo na cama.
E claro que isso não significa que um homem pode di­
zer que seu comportamento ao divorciar-se de sua esposa
deve, portanto, ser legítimo já que “não houve nenhuma
concupiscência envolvida”. Seria muito melhor tomar a C ris­
to e sua Palavra e pôr em dúvida se entende completamente
os motivos de seu próprio coração.
Um casamento conturbado pode ser algo bastante
complicado, e as distrações em potencial são abundantes. Os
problemas podem ser financeiros, domésticos, disciplinares,
e assim por diante. Mas, se o homem está buscando sair do
casamento, um pressuposto básico deve ser que ele não tem
em mente fazer sexo com outra pessoa. Isso não é negar a
realidade destes outros problemas ou o papel que desem­
penham na desintegração dos relacionamentos. E simples­
mente dizer que devemos nos lembrar do ensino do Senhor
sobre o divórcio, e de onde ele coloca tal ensino. Ele tratou
do divórcio enquanto discorria sobre a questão da luxúria.
O problema é óbvio quando um homem deixa sua es­
posa por outra mulher. Mas é apenas provável quando um
homem simplesmente deixa sua esposa, não tendo nenhuma
outra em vista. Ele está se colocando em posição de encon­
trar alguém, e será capaz de chamar a atenção para todas as
razões “técnicas” e “ legais” pelas quais não troca a esposa
por outra. A hipocrisia é um problema real; é perigosamen­
te fácil para um homem ser hipócrita desse modo. Ele sal­
ta para encontrar a “ base bíblica” enquanto interiormente
aprecia pensar em fazer sexo com outra pessoa. Talvez ele
mesmo até creia em suas próprias mentiras. Mas o Senhor
sabe tudo sobre o coração humano, e devemos lhe dar cré­
dito sobre o que ele diz a respeito deste ponto. O Senhor
ensina sobre o divórcio no contexto da concupiscência, e
devemos preservar esse contexto.
Assim, um homem decidido a tornar-se “ homem de
uma só mulher” deve cuidar em guardar seu coração nessa
área com toda diligência. Jesus nos ensina que o divórcio
frequentemente termina com uniões adúlteras. Mas temos
negligenciado a verdade correspondente de que ele frequen­
temente começa com intenções adúlteras. Tais intenções são
geralmente invisíveis a todos, exceto a Deus — e àqueles que
pedem para tê-las reveladas.
CA PÍT U LO 6

PROSTITUIÇÃO

P rostituição é prestar favores sexuais em troca de dinhei­


ro ou presentes. E obviamente um tipo de fornicação ou
(se qualquer das partes for casada) adultério. Consequente­
mente, muitas das coisas tratadas em outros capítulos tam­
bém se aplicarão aqui. Apesar do fato de este ser um capítulo
curto, todavia, vários fatores específicos da prostituição de­
vem ser aqui mencionados.
A prostituição certamente não é um pecado im­
perdoável. Raabe era prostituta, servindo aos homens de
uma cidade ímpia e, contudo, Deus a trouxe à fé: “ De igual
modo, não foi também justificada por obras a meretriz R a­
abe, quando acolheu os emissários e os fez partir por outro
caminho?” (Tg 2.25). Raabe foi trazida ao povo da aliança
de Deus, e teve o privilégio de ser uma antepassada de nos­
so Senhor Jesus. Outra mulher na linhagem do Messias foi
Tamar. Ela foi muito injustiçada por Judá, seu sogro, e se fez
passar por prostituta a fim de reivindicar a descendência que
lhe pertencia por direito:

Então, se dirigiu a ela no caminho e lhe disse: Vem,


deixa-me possuir-te; porque não sabia que era a sua
nora. Ela respondeu: Que me darás para coabitares
comigo? Ele respondeu: Enviar-te-ei um cabrito do
rebanho. Perguntou ela: Dar-me-ás penhor até que
o mandes? (Gn 38.16-17).
Quando sua gravidez foi descoberta, Judá resolveu
queimá-la, mas ela apresentou as garantias que havia dele
recebido, e ele foi forçado a reconhecer que ela era mais
justa. (A propósito, poderia ser defendido aqui que Tamar
não pecou de forma alguma. Mas esse é assunto para outro
momento).
A prostituição é claramente denunciada na Escritura,
mas, de forma igualmente clara, somos ensinados de que há
outros pecados que nos colocam longe do reino de Deus:
“ Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos
e meretrizes vos precedem no reino de Deus. Porque João
veio a vós outros no caminho da justiça, e não acreditastes
nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vós, p o ­
rém, mesmo vendo isto, não vos arrependestes, afinal, para
acreditardes nele” (Mt 21.31-32). As prostitutas tinham mais
chances de salvação do que os respeitados teólogos da época
de Cristo.
Mas tudo isso é para dizer que a prostituição é um pe­
cado do qual é mais fácil arrepender-se do que a pomposa
autojustiça. O que não significa que não seja um pecado al­
tamente destrutivo. Tenho dado aconselhamento a pessoas
presas a vários pecados, e aqueles que estão envolvidos em
pecado sexual ostensivo são geralmente mais consciente de
sua pecaminosidade. Aqueles que estão enroscados em au­
tojustiça doutrinária estão muitas vezes mais distantes do
reino de Deus, e leva anos de aconselhamento para se con­
vencerem de qu e podem ter um problema.
E minha intenção abordar duas questões peculiares
à prostituição aqui. A primeira é que a racionalização que
pode ocorrer quando homens recorrem à prostituição é mui­
to diferente da que ocorre quando dormem com a namorada
ou noiva. A razão é que, neste último caso (dizem eles), es­
tão profundamente comprometidos um com o outro. Estão
apaixonados, já não pensam, e como inúmeras canções de
rock têm expressado essa visão: como isso pode ser errado se
parece tão certo? O sexo é justificado porque aquela mulher
significa tudo para o homem. A fornicação é frequentemente
justificada por um apelo ao romantismo.
Mas o uso de prostitutas é muitas vezes racionalizado
na direção oposta. Em outras palavras, não chega a ser erra­
do porque nada significa. Ela estava trabalhando no bordel
naquela noite; ela ia fazer sexo com alguém; e não houve
nenhuma forma de envolvimento. A “relação” não teve im­
portância, e por isso ninguém deve se importar com isso. O
uso de uma prostitua é justificado pela via do reducionismo.
Mas o significado da união sexual é ditado por Deus, não
por nossas emoções. Quando Paulo diz aos homens cris­
tãos na igreja de Corinto para não mais freqüentarem as
prostitutas cultuais, ele não consulta os sentimentos deles.
A união sexual cria um elo de uma só carne (lC o 6.15-16),
quer o homem sinta ou não que alguma coisa aconteceu. Ele
diz: “N ão foi nada”. Deus diz algo mais. O homem pensa
que ela é só um pedaço de carne que ele usou para chegar
lá. Isso é verdade na estrutura emocional de sua mente, mas
porque ela não é apenas um pedaço de carne, mas foi criada à
imagem de Deus, essa atitude emocional, longe de justificar
este homem, o condena ainda mais.
O outro aspecto da prostituição deve ser óbvio. H o ­
mens que não têm autocontrole sexual, e que usam prosti­
tutas, vão acabar gastando um monte de dinheiro. Com o o
filho pródigo da parábola contada por Cristo, eles perdem
seus bens em uma série de experiências sexuais: “O homem
que ama a sabedoria alegra a seu pai, mas o companheiro de
prostitutas desperdiça os bens” (Pv 29.3). Dizendo de ou­
tro modo, aquele que freqüenta prostitutas é um dissipador
sexual.
Todas as experiências sexuais têm conseqüências eco­
nômicas. Dentro dos limites do casamento, ambos, homem
e mulher, são abençoados. Quando um homem gasta os seus
bens com prostitutas, ele vai à bancarrota. Prostituição não é
aquilo que as paixões de um homem descrevem. O s homens
que não pensam sobre essas questões com cuidado podem
facilmente entrar pelo caminho errado aqui. As sensações
podem ser de fato muito agradáveis. Mas o fim, como a E s­
critura declara, é a morte.
C A P ÍT U LO 7

ESTUPRO

assunto desse capítulo pode parecer à primeira vista


uma estranha inclusão, mas uma consideração cuida­
dosa deve revelar que o ensino é necessário aqui tanto quan­
to em qualquer outra área sexual. Vivemos em um tempo
no qual nossa linguagem tem sido muito empobrecida por
razões políticas e ideológicas, e devemos sempre ter o cui­
dado de definir o pecado biblicamente. Feministas radicais
têm defendido que qualquer relação heterossexual se enqua­
dra como estupro e por isso é intolerável e opressiva. Se os
cristãos não estudam o que a Bíblia ensina, a tendência será
sermos afetados por essas pressuposições e definições an-
tibíblicas, e então as adotarmos. Esse processo de adoção é
invisível para os que a ele sucumbem, e em nossos dias ele já
está ocorrendo dentro da igreja.
Uma das primeiras coisas que devemos fazer ao buscar
entender isto é tomar uma posição contra o relativismo se­
xual daqueles que são mais estridentes a respeito do mal do
estupro. Se não temos os padrões da Bíblia, então o único
modo de fazer julgamentos sobre o comportamento sexual
de alguém é na base da preferência pessoal. Em outras pa­
lavras, se Deus não irá julgar o estuprador no Juízo Final,
então todos os longos discursos feministas no mundo não
devem fazer o estuprador se sentir mal sobre o que ele está
fazendo. H á um grande desejo em nossa cultura por “abso-
lutizar” o mal do estupro, mas, uma vez que o processo é
arbitrário, baseado em vento, não há razão para levar isto
a sério. Em um mundo sem absolutos que se baseiem no
caráter de Deus , o homem pode fazer o que quiser. E se
o que ele quer é uma mulher que não está ao seu alcance,
então o estupro se torna uma opção real. Assim, o único
modo de condenar qualquer estupro é voltar aos padrões da
lei de Deus. Mas, quando fizermos isso, descobriremos que
algumas situações que nossa sociedade chama de estupro não
devem ser incluídas.
O estupro violento é um dos juízos de Deus sobre um
povo: “ Porque eu ajuntarei todas as nações para a peleja
contra Jerusalém; e a cidade será tomada, e as casas serão
saqueadas, e as mulheres, forçadas ; metade da cidade sairá
para o cativeiro, mas o restante do povo não será expulso
da cidade” (Zc 14.2). Isso não justifica a ação dos perpetra­
dores; é simplesmente o reconhecimento de que quando a
desolação se abate sobre uma cidade, o desastre sexual para
as mulheres é parte desse processo. O que não significa que
a mulher que é estuprada deva assumir qualquer responsabi­
lidade pessoal pelo ocorrido; ela é inocente. Em sua grande
obra, .4 Cidade de Deus , Santo Agostinho acertou ao lamen­
tar pelas jovens cristãs que se suicidaram a fim de não serem
estupradas pelos invasores bárbaros. Aquilo não era neces­
sário, como ele argumentou. O estupro violento é juízo de
Deus sobre uma cultura, e as mulheres que fazem parte de
tal cultura estão incluídas neste juízo. Mas isso não significa
que elas, consideradas individualmente, “mereçam” ou que
“estavam pedindo” por isto.
Jó reconhece esse aspecto de juízo do estupro: “ Se o
meu coração se deixou seduzir por causa de mulher, se andei
à espreita à porta do meu próximo, então, moa minha mu­
lher para outro, e outros se encurvem sobre ela” Jó 31.9-10.
“M oer” é uma óbvia metáfora sexual. Jó está dizendo que
se ele se portou de maneira iníqua, então está disposto a
convidar o juízo de Deus sobre sua casa. Esse juízo poderia
incluir sua esposa “moer para outro”.
Vemos o mesmo julgamento agindo nas culturas em
desintegração: “Visto como se não executa logo a sentença
sobre a má obra, o coração dos filhos dos homens está intei­
ramente disposto a praticar o m al” (Ec 8.11). Aqui o estupro
não está sendo perpetrado por soldados estrangeiros, mas
é o resultado de cidadãos possuindo uns aos outros. Toda
cultura é uma reunião de pecadores, e por isso o estupro
é sempre uma possibilidade. Mas, quando a mão do juízo
de Deus pesa sobre um povo, as mulheres estão em muito
maior perigo de assalto sexual do que em outro período. E
interessante notar que nestes nossos tempos “ iluminados”,
há mais possibilidades de as mulheres sofrerem esse tipo de
abuso do que antes de toda a liberação acontecer.
Quando um homem mantém com uma mulher rela­
ções sexuais contrárias às leis do casamento, e ela não está
permitindo, um estupro está acontecendo. Quando isto é
feito criminosamente, violentamente, as várias penalidades
bíblicas variam de acordo com o estado marital da mulher:
Se algum homem no campo achar moça desposada,
e a forçar, e se deitar com ela, então, morrerá só
o homem que se deitou com ela; à moça não farás
nada; ela não tem culpa de morte, porque, como o
homem que se levanta contra o seu próximo e lhe
tira a vida, assim também é este caso. Pois a achou
no campo; a moça desposada gritou, e não houve
quem a livrasse. Se um homem achar moça virgem,
que não está desposada, e a pegar, e se deitar com
ela, e forem apanhados, então, o homem que se dei­
tou com ela dará ao pai da moça cinqüenta siclos
de prata; e, uma vez que a humilhou, lhe será por
mulher; não poderá mandá-la embora durante a sua
vida (Dt 22.25-29).

Uma mulher casada ou noiva é protegida por seu ma­


rido, mesmo se ele não estiver presente para protegê-la. Se
ela é casada, a penalidade pelo estupro é a sentença de morte
para o estuprador. Vemos nesta passagem o reconhecimento
de que o estupro é comparável ao assassinato. Uma mulher
pode ser violada, de modo contrário à sua vontade, da mes­
ma forma que um homem é assassinado de modo contrário
à sua vontade. N isto vemos que não há base para que tal
mulher seja punida ou condenada ao ostracismo.
Se a mulher não é casada ou noiva, a penalidade é di­
ferente. O estuprador é compelido a pagar o dote (que a
restaura à sua posição na sociedade), pode ser forçado a des-
posá-la, e não tem a opção de se divorciar dela. Ora, isso não
significa que a mulher era forçada a casar-se com o homem
que a estuprou. Vemos em outros momentos, nos casos de
sedução, que o pai poderia recusar dar a filha em casamento,
e devemos ver como a situação poderia ser a mesma aqui (Ex
22.16-17). Dificilmente alguém iria querer um estuprador
como genro. Assim, se o pai recusasse dar a filha em casa­
mento, o dote pela moça ainda teria de ser pago, de modo
que o estuprador fosse forçado a restaurar (tanto quanto
possível) as chances que ela teria de matrimônio.
O s críticos modernos, claro, apontam para essa discre­
pância de punição como um exemplo de como a Bíblia trata
as mulheres como objetos, uma mercadoria negociada pelos
homens em todas as sociedades patriarcais. N ada poderia
estar mais longe da realidade. Quando uma mulher casada
ou noiva é estuprada, não havia qualquer possibilidade de
restituição, de maneira que o peso completo da penalidade
recaía sobre o homem, e a penalidade era a morte. Quando
se trata de uma mulher livre, o estuprador é forçado a res­
taurar o status dela na sociedade, seja casando-se com ela,
ou provendo-a com um dote. Compare isso ao que aconte­
ce a um estuprador em nossa sociedade, e o que acontece à
mulher, e vemos a imediata discrepância. A lei bíblica estava
muito mais preocupada com a proteção sexual das mulheres
do que a nossa cultura, apesar de nossa apaixonada retórica
a esse respeito.
A situação com Diná, a filha de Jacó, era provavelmente
similar ao caso que mencionamos. O texto diz que “viu-a
Siquém, filho do heveu Hamor, que era príncipe daquela ter­
ra, e, tomando-a, a possuiu e assim a humilhou” (Gn 34.2).
Mas também é dito que o jovem a amou após o estupro, di­
ferente do que aconteceu entre Amnom e Tamar, “sua alma
se apegou a Diná, filha de Jacó, e amou a jovem, e falou-lhe
ao coração” (v. 3). O fato de que tanta delicadeza era neces­
sária indica que um estupro de fato ocorreu. Mas nos é dito
posteriormente que esse jovem homem “era o mais honrado
de toda a casa de seu pai” (v. 19). Ele havia estuprado Diná,
mas buscou casamento e estava disposto a pagar retroativa­
mente por qualquer dote ou presente (v. 12). Simeão e Levi
exigiram que todo o povo se circuncidasse, e quando assim
o fizeram, os irmãos os atacaram com a espada. Jacó ficou
grandemente desagradado com aquele procedimento. Eles
haviam tornado seu pai odioso perante os povos em volta, e
a pior coisa sobre isso era que haviam usado o sinal pactuai
da circuncisão como uma arma de guerra. A violência deles
foi a razão pela qual seu pai não os abençoou. As suas espa­
das eram instrumentos de crueldade (Gn 49.5).
N a lei civil dos Estados Unidos, há a categoria de es­
tupro estatutário, que é certamente um conceito bíblico. Se
alguém abaixo da idade adulta é forçosamente raptado (seja
com fins sexuais ou não), o crime é uma espécie de seqües­
tro, que, na Escritura, merece a pena de morte. Parte da
razão por que a sociedade deve ter homens sábios e piedosos
como juizes é que eles devem determinar em tais casos se
aquela que foi raptada é quase adulta. Mas, quando estamos
lidando com crianças que são abusadas por adultos (pede-
rastia, pornografia infantil, etc.), a penalidade para os que
são culpados do crime deve ser a morte.
A distância entre uma cultura bíblica e uma cultura
pagã é vista no tratamento das mulheres que são capturadas
em guerra. Embora o estupro seja muito comum na guerra,
Deus não o permitia aos exércitos que representavam sua
santidade:

Quando saíres à peleja contra os teus inimigos, e o


Senhor, teu Deus, os entregar nas tuas mãos, e tu
deles levares cativos, e vires entre eles uma mulher
formosa, e te afeiçoares a ela, e a quiseres tomar
por mulher, então, a levarás para casa, e ela rapará
a cabeça, e cortará as unhas, e despirá o vestido do
seu cativeiro, e ficará na tua casa, e chorará a seu
pai e a sua mãe durante um mês. Depois disto, a
tomarás; tu serás seu marido, e ela, tua mulher. E,
se não te agradares dela, deixá-la-ás ir à sua própria
vontade; porém, de nenhuma sorte, a venderás por
dinheiro, nem a tratarás mal, pois a tens humilhado
(Dt 21.13-14).

O tratamento bíblico exigido para uma mulher cativa


aqui é marcado pela humanidade demonstrada. Embora uma
feminista moderna possa considerar isto como uma forma
complexa de estupro, as proteções legais para as mulheres
— mesmo mulheres de culturas estrangeiras, incrédulas —
são consideráveis. Um homem israelita não podia tomar
uma mulher no calor sensual da batalha, não podia ter o
que queria “ali mesmo”; ele tinha de respeitar o dever dela
de enlutar-se pela família. Passado um mês, ele poderia des-
posá-la, tendo ela status de verdadeira esposa. Se ela fosse
usada sexualmente, ele não poderia vendê-la como escrava.
Se chegasse a ser esposa e eles se divorciassem, ela tinha
de ser mandada embora da mesma forma que uma esposa.
Quando a lei bíblica é lida e cuidadosamente considerada,
fica claro que um muro de proteção é construído em volta
das mulheres, e muitas restrições são postas aos homens.
Um aspecto final do estupro que deve ser brevemente
mencionado é talvez algo mais próximo de nós. Porque te­
mos esquecido os conceitos bíblicos de verdadeira autorida­
de e submissão, ou mais propriamente, temos nos rebelado
contra eles, criamos um clima no qual caricaturas de auto­
ridade e submissão penetram em nossa vida com violência.
Quando reclamamos do modo como o mundo é, per­
cebemos que o mundo encontra maneiras de se vingar de
nós. Em outras palavras, não importa o quanto se tente, o
ato sexual não pode ser desempenhado como uma prazero­
sa festa igualitária. O homem penetra, conquista, coloniza,
planta. A mulher recebe, se rende, aceita. Isso obviamente
ofende a todos os igualitaristas, e por isso nossa cultura tem-
se rebelado contra o conceito de autoridade e submissão no
casamento. Isso significa que temos buscado suprimir os
conceitos de autoridade e submissão enquanto relacionados
ao leito conjugal.
Mas não podemos fazer a gravidade desaparecer só por­
que não gostamos dela, e do mesmo modo percebemos que
nosso desprezo à autoridade e submissão retorna a nós de
maneira patológica. Isso é o que está por trás dos “ jogos de
submissão e humilhação” sexual, bem como as mui comuns
fantasias de estupro. O s homens se imaginam estuprando,
e as mulheres se encontram lendo, melancólicas, romances
nos quais alguém rapta a heroína que estava preste a entre­
gar-se. Aqueles que querem negar que precisam de água logo
se acharão desejando água poluída, a qual é água de alguma
forma.
Verdadeira autoridade e verdadeira submissão são, por­
tanto, uma necessidade erótica. Quando a autoridade é hon­
rada de acordo com a palavra de Deus, ela serve e protege
— e traz enorme prazer. Quando ela é negada, o resultado
não é “nenhuma autoridade”, mas uma autoridade que de­
vora.
CA P ÍT U LO 8

POLIGAMIA

omo o capítulo anterior, este aqui pode parecer à pri­


meira vista uma intrusão esquisita em um livro moder­
no sobre fidelidade sexual. A poligamia não é um problema
fora de controle na igreja moderna. Ainda.
Vivemos em um tempo de caos e relativismo sexuais. A
antiga ordem monogâmica era certamente uma ordem cris­
tã, e logo descobriremos que uma não pode ser preservada
sem a outra. Assim como essa ordem cristã está sob assalto
com relação às suas severas proibições quanto à fornicação,
adultério, e sodomia, não podemos esperar que os demais
elementos de nossa herança conjugal permaneçam.
Ativistas homossexuais agora estão conduzindo toda a
pressão dos tribunais contra a definição cristã de casamento;
os homossexuais querem poder casar, adotar filhos, e assim
por diante. Quando essa definição cristã de casamento cair
(como já aconteceu em alguns estados americanos, e parece
cambalear em outros), então também não teremos qualquer
base em nossa lei contra a prática da poligamia. Quem somos
nós para restringirmos as escolhas alheias? Quando aban­
donamos em nossa lei qualquer razão transcendente para a
definição do casamento, como a que tínhamos, o resultado
imediato será a necessária definição do casamento de acordo
com as práticas e desejos dos homens. E um desses desejos
será ir para a cama com um monte de mulheres, junto com
um registro no cartório que torne isso algo respeitável.
Entre muitos conservadores cristãos, o problema ime­
diato não será a tolerância da sodomia. O problema surgirá
quando uma igreja evangélica for abordada com um pedido
de membresia de um homem com três esposas. Suas três es­
posas serão perfeitamente legítimas de acordo com as novas
leis que partem das novas definições do casamento, e ele irá
então querer saber por que sua membresia está sendo recu­
sada. Abraão teve várias esposas. Seria ele, o pai de todos os
que creem, excluído da membresia também? Seria irônico,
ele afirma, se Abraão não pudesse ser membro da igreja, a
qual realmente nada mais é do que uma sociedade dos filhos
de Abraão.
Tristemente, nossas igrejas rejeitam a poligamia agora
não porque desenvolvemos uma defesa bíblica contra ela,
mas, antes, porque ainda desfrutamos dos vestígios da antiga
ordem. A poligamia ainda é contra a lei, e por isso nossas
igrejas não têm de lidar com ela. Mas a antiga ordem está
combalida, e a igreja precisa pensar no que fará quando a
definição civil de casamento se tornar radicalmente antibí-
blica. Alguns podem alegar que isso não é assim tão simples,
e de fato não é. Mas uma coisa é certa: as igrejas têm de
refletir melhor sobre essa questão antes disto se tornar um
problema na mão dos pastores. Nesse sentido, este capítulo
é simplesmente uma sugestão de ponto de partida.
Devemos começar por entender que a monogamia é
exigida pela norma criativa. N ão encontramos poligamia
no Jardim do Éden; a primeira menção a ela vem do ímpio
Lameque: “ Lameque tomou para si duas esposas: o nome de
uma era Ada, a outra se chamava Zilá” (Gn 4.19). Quando
Deus criou Adão, ele disse algo único na narrativa da cria­
ção. A todo o momento Deus estava proclamando que sua
obra de criação era “muito boa”. Mas, após fazer Adão, Deus
disse que “não era bom” que o homem estivesse só (Gn 2.18).
N esse caso específico, a expressão aponta para algo por fazer.
Tendo a criação de Adão completado a criação da humanida­
de, Deus iria pronunciar a bênção do “muito bom”, tal como
ele faz com tudo o mais. Porém, Adão sozinho era apenas
metade da humanidade: “Criou Deus, pois, o homem à sua
imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou” (Gn 1.27). A Bíblia é clara sobre o fato de que Deus
criou o homem , masculino e feminino.
Deus designou a Adão a tarefa de nomear todos os
animais, e Adão não encontrou entre os animais nenhuma
auxiliadora que pudesse ser considerada adequada para ele
(2.20):
Então, o S e n h o r Deus fez cair pesado sono sobre
o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas
costelas e fechou o lugar com carne. E a costela que
o S e n h o r Deus tomara ao homem, transformou-a
numa mulher e lha trouxe. E disse o homem: Esta,
afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha car­
ne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi to­
mada (Gn 2.21-23).
O primeiro ponto a notar é que quando Deus determi­
nou resolver o problema da solidão de Adão, ele não fez isto
por meio de um harém. Deus criou um homem e então uma
mulher. Ele não criou Adão e Eva, e logo depois Suzana,
Joaquina, e Beatriz.
O texto vê essa ordem criadora como normativa para
todos os tempos. Uma lição é tirada disto para todos os filhos
de Adão que tomam uma esposa. Adão, que não teve pai ou
mãe humanos, contudo, é o padrão para todos os homens
que deixam seu pai e mãe. Porque Adão tomou Eva, todos os
homens descendentes dele devem deixar seu pai e sua mãe.
Adão foi criado não apenas como um indivíduo, mas tam­
bém como um padrão para todos os homens: “ Por isso, dei­
xa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os
dois uma só carne. Ora, um e outro, o homem e sua mulher,
estavam nus e não se envergonhavam” (Gn 2.24-25). Esse
padrão é claro. A partir dele, pode-se concluir que Adão e
Eva foram criados, homem e mulher, mostrando o caminho
que Deus pretendia que vivêssemos. Esse padrão criador,
portanto, exclui tanto perversões sexuais tais como sodomia
e bestialidade, e curiosidades sexuais como a poligamia.
A homossexualidade é excluída porque Deus não criou
outro homem para Adão. A bestialidade é excluída por­
que não se encontrou para Adão nenhum auxílio entre os
animais. E, como discutimos em capítulo anterior, nosso
Senhor ensina que nesta passagem o divórcio também está
excluído: “ Então, respondeu ele: N ão tendes lido que o Cria­
dor, desde o princípio, os fez homem e mulher” (Mt 19.4).
Qualquer argumento partindo de Gênesis que exclua o
divórcio irá também, necessariamente, excluir a poligamia
sob o mesmo princípio. Jesus argumenta que Deus criou um
homem e uma mulher, o que significa que o homem não de­
veria deixar a sua mulher em razão de outra. Mas o princípio
que exclui ter várias mulheres em série também proíbe tê-las
em conjunto. A razão para isso é que Deus criou dois; casa­
mentos que envolvem mais do que dois não são consistentes
com o projeto de criação de Deus.
Também vemos esse padrão no projeto redentivo de
Deus. O Senhor Jesus Cristo é monogâmico. Ele é o noivo
e há uma só noiva: “Vi também a cidade santa, a nova Jeru­
salém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como
noiva adornada para o seu esposo” (Ap 21.2). Essa cidade
santa é a Igreja, a noiva de Cristo. Ora, a ideia mesma de
Cristo como poligâmico é algo ofensivo. Uma parte central
da vitória de Cristo foi o estabelecimento da unidade, uni­
dade entre céus e terra. H á um só Senhor, uma só fé, um só
batismo.
Agora, armados com este exemplo, os homens cristãos
são chamados a cultivar o mesmo tipo de amor pela própria
esposa:

Porque o marido é o cabeça da mulher, como tam­


bém Cristo é o cabeça da igreja, sendo este mesmo o
salvador do corpo. (...) Maridos, amai vossa mulher,
como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se
entregou por ela (Ef 5.23, 25).

Um homem não pode imitar a Cristo tendo mais de


uma mulher. O amor semelhante ao de Cristo é necessaria­
mente um amor monogâmico. Eis por que esse padrão para
o casamento cristão deve ser refletivo entre os presbíteros da
igreja. Paulo insiste que o “ bispo seja irrepreensível, esposo
de uma só mulher” (lTm 3.2). Ele diz a mesma coisa a Tito,
quando este se encontra estabelecendo as igrejas em Creta:
Por esta causa, te deixei em Creta, para que puses-
ses em ordem as coisas restantes, bem como, em
cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te
prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de
uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são
acusados de dissolução, nem são insubordinados.
Porque é indispensável que o bispo seja irrepreensí­
vel (Tt 1.5-7).

A Bíblia exclui terminantemente os polígamos da li­


derança da igreja. Isso significa que, ao longo do tempo,
com o evangelho criando raízes em determinada cultura, a
poligamia também seria excluída ali. Sociedades polígamas
geralmente encorajam a tomada de múltiplas esposas como
uma indicação de saúde ou status — o homem que provavel­
mente será líder em tal sociedade é alguém que tem mais de
uma esposa. Mas, à medida que a influência do evangelho
se estende sobre essa sociedade, tais homens são relegados
aos bancos de trás. Eles veem que aquilo que anteriormente
era tido como um sinal de sua capacidade de liderança é, na
verdade, sua mais patente desqualificação para a liderança.
Podemos concluir a partir do projeto de Deus para a
criação e redenção, e das instruções específicas do Novo
Testamento para os líderes cristãos, que a poligamia está cla­
ramente aquém dos padrões de Deus para o comportamento
conjugal. Dito de outra maneira, a fé cristã é necessariamen­
te monogâmica.
Mas, tendo dito isto, devemos cuidadosamente excluir
a poligamia do mesmo modo que a Escritura o faz. Se a p o ­
ligamia se tornasse legal, e um homem chegasse a ter mais de
uma esposa, e então viesse a Cristo, o divórcio não seria uma
opção para ele. O mesmo acontece com aquelas sociedades
nas quais a poligamia ainda é um aspecto cultural — esse
é um problema bem real para missionários. O polígamo e
todas as suas esposas, se elas professam a fé, devem ser re­
cebidos na membresia da igreja. Ele deve continuar a viver
com elas como esposas, o que inclui contínuo relacionamen­
to sexual com todas elas. Mas isso somente é algo seguro
a se fazer se a igreja tem clareza da absoluta necessidade de
demonstrar o exemplo monogâmico na liderança da igreja.
Se as esposas em questão são esposas de verdade, então
a igreja deve reconhecer esse fato. Ir além disto é legislar de
modo contrário à Escritura. As passagens que descrevem a
poligamia estão na Bíblia, e recusar-se a responder aos ar­
gumentos dos que desejam tal prática não trará bem algum:
“ Habitou Davi com Aquis em Gate, ele e os seus homens,
cada um com a sua família; Davi, com ambas as suas mu­
lheres, Ainoã, a jezreelita, e Abigail, a viúva de Nabal, o
carmelita (lSm 27.3). Pouco depois, é dito: “Tomou Davi
mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera
de Hebrom, e nasceram-lhe mais filhos e filhas (2Sm 5.13).
A poligamia não pode ser considerada pecado do
mesmo modo que o adultério. Ela está aquém do padrão
estabelecido na criação, mas é um pecado que pode ser cul­
turalmente tolerado até que o fermento do evangelho o faça
desaparecer naturalmente. Podemos ver o contraste entre o
adultério e a poligamia no embate entre Natã e Davi, quando
o profeta chegou para repreender o rei por adultério:
Então, disse Natã a Davi: Tu és o homem. Assim diz
o S e n h o r , Deus de Israel: Eu te ungi rei sobre Israel
e eu te livrei das mãos de Saul; dei-te a casa de teu
senhor e as mulheres de teu senhor em teus braços
e também te dei a casa de Israel e de Judá; e, se isto
fora pouco, eu teria acrescentado tais e tais coisas.
(2Sm 12.7-8)

Quando a igreja encara tudo que a Escritura ensina


sobre este assunto, ela de fato terá uma posição bem defi­
nida. Deus proíbe a poligamia nas ordenanças da criação e
redenção, mas a poligamia pode ser tolerada somente entre
aqueles que não estão aptos à liderança na igreja. Se os que
não estão qualificados para liderança na igreja puderem to­
mar posse indiscutível de passagens bíblicas que descrevem
e toleram a poligamia, então a igreja não estará em posição
de responder de modo responsável. A igreja nunca pode
responder responsavelmente com apenas uma porção da Bí­
blia. Simplificando, isso significa que a igreja deve negar a
liderança aos polígamos e relutantemente tolerar membros
adeptos da poligamia.
Ao mesmo tempo, além da base doutrinária discutida
anteriormente, o ensino da igreja deve absolutamente de­
sencorajar a prática da poligamia por qualquer um dentro
da igreja baseando-se na natureza antibíblica e louca de tal
prática. Em outras palavras, se um homem casado que já é
membro da igreja começa a pensar sobre tomar mais uma
esposa, e a igreja já declarou claramente o ensino da Bíblia
a respeito, então tal homem está pecando contra algo evi­
dente, e pode cair na disciplina da igreja. Um homem que
chega à igreja como polígamo deve ser recebido, mas com o
claro ensino de que não deve buscar mais nenhuma esposa
para si. Aquele que busca tornar-se polígamo depois de já ser
membro da igreja deve ser repreendido e censurado.
Já consideramos o caráter antibíblico da poligamia.
Mas o que podemos dizer a partir da Escritura sobre a falta
de sabedoria demonstrada em tal prática? Primeiro, a poli­
gamia cria uma situação na qual dificilmente se pode evitar
uma competição destrutiva entre as esposas: “ E coabitaram.
Mas Jacó am ava mais a Raquel do que a L ia ; e continuou
servindo a Labão por outros sete anos” (Gn 29.30). Essa
foi uma situação horrível que logo passou a envolver duas
esposas, duas servas, e uma grande corrida por bebês.
A probabilidade desse tipo de problema pode ser vista
no fato de que a lei bíblica teve de tratar disto por meio de
legislação específica:
Se um homem tiver duas mulheres, uma a quem ama
e outra a quem aborrece, e uma e outra lhe derem
filhos, e o primogênito for da aborrecida, no dia em
que fizer herdar a seus filhos aquilo que possuir,
não poderá dar a primogenitura ao filho da amada,
preferindo-o ao filho da aborrecida, que é o primo­
gênito. Mas ao filho da aborrecida reconhecerá por
primogênito, dando-lhe dobrada porção de tudo
quanto possuir, porquanto aquele é o primogênito
do seu vigor; o direito da primogenitura é dele (Dt
21.17).

Poligamia gera competição e inveja entre as esposas.


Eis por que a lei proíbe que um homem introduza esse tipo
de tensão no relacionamento entre irmãs: “N ão tome por
mulher a irmã da sua mulher, tornando-a rival, envolvendo­
-se sexualmente com ela, estando a sua mulher ainda viva”
(Lv 18.18, N V I). Perceba a linguagem; tomar a irmã da mu­
lher como segunda esposa iria torná-las rivais. Essa rivali­
dade poderia ser resultado do simples ciúme habitual, mas
também pode estar relacionada à tendência muito natural
de, em muitas situações práticas, favorecer uma esposa em
detrimento da outra. Já mencionamos a restrição quanto a
favorecer os filhos da esposa amada, mas a Bíblia também
trata de problemas do dia a dia: “Se a casar com seu filho,
tratá-la-á como se tratam as filhas. Se ele der ao filho outra
mulher, não diminuirá o mantimento da primeira, nem os
seus vestidos, nem os seus direitos conjugais” (Ex 21.9-10).
Sob a lei, um homem podia tomar uma segunda esposa, mas
a prática era delimitada de várias maneiras. Uma das limita­
ções era quanto a diminuir os direitos conjugais de sua pri­
meira esposa. Tais direitos conjugais incluíam sua comida,
roupas, e direitos sexuais. Por que uma lei desse tipo? C la­
ramente porque os homens pecadores iriam querer praticar
o “ divórcio e novo casamento” sob a capa da poligamia. Eles
poderiam abandonar a esposa embora a deixasse permanecer
em casa, e então tomar uma segunda esposa. Isso era termi-
nantemente proibido.
Em segundo lugar, se a poligamia fosse algo positivo,
então não haveria razão para a Bíblia restringi-la, como até
mesmo o Antigo Testamento o fez, para os reis e governan­
tes: “Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu
coração se não desvie; nem multiplicará muito para si prata
ou ouro” (Dt 17.17). Essa lei foi abertamente desobedecida
por Salomão, e o julgamento prometido recaiu sobre ele:
“Tinha setecentas mulheres, princesas e trezentas concubi­
nas; e suas mulheres lhe perverteram o coração (lR s 11.3).
A Bíblia não considera a poligamia uma prerrogativa da re­
aleza; o rei era a única pessoa em Israel que estava proibida
de multiplicar esposas, embora fosse provavelmente aquele
que mais poderia fazê-lo.
Ora, a proibição é quanto à multiplicação de esposas
(claramente o erro de Salomão). Pode-se argumentar que a
lei não proibiu expressamente que um rei como Davi tives­
se outras esposas, o que é provável, dado como N atã falou
a Davi após este haver pecado com Bateseba. O rei estava
proibido de multiplicar as esposas, contudo, N atã disse a
Davi que Deus concedeu ao rei outras esposas ao invés de
Bateseba (2Sm 12.8).
Mas isso nos leva a terceira e última consideração sobre
a inerente tolice prática da poligamia. Quando um homem
é polígamo, ele se coloca em uma posição na qual pode ser
pai de mais filhos do que um pai poderia ser. Mesmo um p o ­
lígamo “moderado” como Davi pôde ser pai de muito mais
filhos do que poderia. E isso é evidente no decurso da his­
tória de Davi com seus filhos. Um deles, Amnon, estuprou
uma de suas irmãs, Tamar; e outro de seus filhos, Absalão,
tomou vingança matando Amnon após Davi não ter feito
nada a respeito exceto ficar irado. O resultado final de tudo
isto foi uma guerra civil entre Davi e Absalão, uma guerra
que Davi não queria lutar e que relutantemente venceu.
Quando Davi pecou com Bateseba, Deus prometeu que
certas conseqüências adviriam: “Assim diz o S e n h o r : Eis
que da tua própria casa suscitarei o mal sobre ti, e tomarei
tuas mulheres à tua própria vista, e as darei a teu próximo, o
qual se deitará com elas, em plena luz deste sol” ( 2 S m 12.11).
Essa melancólica profecia foi cumprida pelo próprio filho
de Davi. Ele se deitou com as esposas de seu pai no pátio do
palácio, à vista de todo o Israel. E assim a descendência da
poligamia de Davi insultou tanto a ele como a suas esposas, e
mostrou como a poligamia não está cheia de vida e paz, mas
conduz somente à viciosa ambição e luxúria.
A poligamia, em todos os seus aspectos, é pactualmen-
te infrutífera.
SODOMIA

T
emos visto, no espaço de uma geração, uma notável
transição cultural, uma transição na qual a então co­
mum rejeição do comportamento homossexual tem sido ela
mesma rejeitada. Antes dessa transição, a homossexualidade
não apenas era desaprovada socialmente, mas era também,
em muitos lugares, contra a lei.
Com o cristãos, devemos estar dispostos a manter-nos
contra tudo que desafie o padrão da Escritura. Esse novo
desenvolvimento cultural é um exemplo de vivida tolerância
bíblica? Ou é uma defesa da apostasia sexual?
Ao examinar a direção que nossa cultura tem tomado
sobre esse assunto, um bom lugar para começar seria distin­
guindo pecados de crimes. Um pecado é alguma coisa que
deve ser rejeitada por razões morais; um crime é um com­
portamento particular ao qual se atribui uma penalidade ci­
vil. As duas categorias, obviamente, se sobrepõem, mas não
completamente. Algo pode ser pecaminoso, como a avareza,
e ainda não ser um comportamento criminoso. Enquanto
um pecado como o assassinato é tanto pecado quanto crime.
Portanto, nossa primeira consideração deve ser perguntar se
a Bíblia ensina que a homossexualidade é um pecado, e en­
tão, sendo assim, se deve ou não ser proibida pelas leis, isto
é, se deve ou não ser tratada como uma conduta criminosa.
Então, é o homossexualismo pecado? N osso primei­
ro apelo em questões sexuais deve sempre ser à ordem da
criação. Com o já vimos, quando o Senhor Jesus ensinou so ­
bre divórcio, ele recorreu à “ intenção original” de Deus na
criação. A lei subsequente sobre divórcio levava em conta a
dura realidade do pecado e rebelião, mas aqueles que que­
riam saber qual o propósito do casamento eram chamados
a olhar como as coisas foram no princípio. Deus criou um
homem, uma mulher, uma vez. Deus criou Adão, e após
Adão ter nomeado os animais ficou evidente que não havia
auxiliadora adequada para ele entre tais animais (Gn 2.18).
Deus então pôs Adão em profundo sono, e do corpo de
Adão formou Eva.
Com base na ordem da criação, podemos excluir uma
série de combinações sexuais: poligamia, bestialismo, poli­
gamia em série por meio do divórcio e, pertinente ao nosso
assunto aqui, a homossexualidade. Deus criou E va , e não
um outro homem para Adão.
Consequentemente, em razão desta ordem criadora,
não devemos nos surpreender que Deus terminantemente
proíba a homossexualidade ao longo de toda a Escritura.
Por exemplo, na Carta aos Romanos o apóstolo Paulo diz:

Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia,


pelas concupiscências de seu próprio coração, para
desonrarem o seu corpo entre si; pois eles mudaram
a verdade de Deus em mentira, adorando e servin­
do a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito
eternamente. Amém! Por causa disso, os entregou
Deus a paixões infames; porque até as mulheres
mudaram o modo natural de suas relações íntimas
por outro, contrário à natureza; semelhantemente,
os homens também, deixando o contato natural da
mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensu­
alidade, cometendo torpeza, homens com homens,
e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do
seu erro (Rm 1.26-27).

Aqui, o desejo por gratificação sexual com alguém do


mesmo sexo é descrito como desonrado e paixão infame. O
lesbianismo é descrito como contrário à natureza. Esse com­
portamento é descrito como autodestrutivo porque aqueles
que ardem em luxúria deste modo recebem em si mesmos a
penalidade natural.
As conseqüências eternas também sobrevirão:

Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino


de Deus? Não vos enganeis: nem impuros, nem idó­
latras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomi-
tas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem
maldizentes, nem roubadores herdarão o reino de
Deus. Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavas-
tes, mas fostes santificados, mas fostes justificados
em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do
nosso Deus (ICo 6.9-11).

Essa passagem é importante por uma série de razões.


Primeira, quando consideramos como a homossexualidade
é listada aqui, lidamos com a acusação comum de “ homofo-
bia”. Paulo rejeita a homossexualidade firmemente, mas não
a trata de modo diferente de qualquer outro pecado, sejam
heterossexuais ou de natureza não sexual. A hom ossexu­
alidade é condenada em uma lista que inclui o adultério e
fornicação, além da avareza e embriaguez.
Além disso, a condenação do comportam ento ho­
mossexual é de fato muito clara. A palavra traduzida como
“efeminado” é malakos e se refere ao homem que desempe­
nha o papel feminino na relação sexual homossexual. Esse
parceiro é o sujeito passivo, i.e., um catamito. O sodomita,
arsenokoites, é aquele que se deita com um homem como se
este fosse mulher. Vivendo distante do arrependimento e
fé, o catamito recebe, e o sodomita concede, não um bizar­
ro período na cama, mas, antes, condenação. Porém, Paulo
admite que tal procedimento pode ser perdoado e limpo. Ele
diz aos coríntios que “tais fostes alguns de vós”.
O Antigo Testamento é tão claro quanto o Novo a res­
peito deste assunto, e sua linguagem é aberta:
Não haverá prostituta sagrada entre as filhas de Is­
rael, nem prostituto sagrado entre os filhos de Is­
rael. Não trarás à casa de Iavé teu Deus o salário de
uma prostituta, nem o pagamento de um “cão” por
algum voto, porque ambos são abomináveis a Iavé
teu Deus (Dt 23.18-19, BJ).

Isto é não apenas uma rejeição da sodomia, mas uma


rejeição que demonstra desprezo. O preço de um sodomita
é descrito como o preço de um cão. Essa é a razão provável
para o apóstolo João excluir os “cães” da Nova Jerusalém,
que deve ser entendida como a Igreja de Cristo: “ Fora ficam
os cães, os feiticeiros, os impuros, os assassinos, os idólatras
e todo aquele que ama e pratica a mentira” (Ap 22.15).
Essa passagem também deixa claro que nosso profundo
desejo de separar a homossexualidade do culto ao Deus da
Bíblia é resultado de termos aprendido o que a Bíblia ensina.
N ão é algo que captamos da lei natural. N essa passagem de
Deuteronômio, vemos que os israelitas tinham de ser ins­
truídos sobre o fato de que o salário de uma prostituta não
deveria ser aceito como oferta ao Senhor. D o mesmo modo,
um homem que ganhara dinheiro por meio da prostituição
sodomita também estava proibido de apresentar qualquer
desses rendimentos ao Senhor.
Quando Israel se desviou do ensino da lei de Deus,
essa importante separação entre o culto e a sodomia se per­
deu. Falando das reformas de Josias, o escritor bíblico diz
o seguinte: “Também derrubou as casas dos sodomitas que
estavam na casa do S e n h o r , em que as mulheres teciam ca­
sinhas para o ídolo do bosque” (2Rs 23.7, A C F).
Podemos prontamente ver que a Bíblia define a homos­
sexualidade como um pecado, mas reconhece que é um pe­
cado que alguns podem querer trazer para o culto a Deus.
Uma concessão desse tipo é absolutamente proibida. Aque­
les que vivem desse modo, como Paulo nos lembrou, não
herdarão o reino dos céus.
Mas devemos ter cuidado. Antes de passar adiante,
precisamos fazer um pequeno desvio para considerar como
uma compreensão bíblica do pecado em geral é necessária
quando trabalhamos o modo como abordamos esse pecado
específico. Uma pressuposição comum entre muitos é que
a capacidade limita a obrigação ética. Tendemos a definir o
pecado quanto a se ele pode ou não ser evitado. Se alguma
coisa é inevitável, então presumimos que nenhuma culpabi­
lidade moral pode ser atribuída.
Essa premissa que muitos — dentro e fora da igreja —
compartilham é a razão por que os pesquisadores estão tão
interessados em encontrar um “gene” homossexual. Ela tam­
bém explica por que a mídia reproduz qualquer progresso
em tais pesquisas com tão grande alarido de gozo e alegria.
Se fosse possível demonstrar que alguém nasce homossexual,
então certamente não poderíamos condená-lo por isso.
Em contraste, o entendimento bíblico é que o pecado
deve ser definido de acordo com os padrões da Palavra de
Deus. Devemos sustentar isto por duas razões. Primeira, a
Bíblia define o pecado deste modo, sem qualquer referência
à capacidade humana. Por exemplo, o apóstolo João define
pecado como transgressão (ljo 3.4). O pecado é definido por
aquilo que a lei de Deus diz que devemos fazer ou não fazer
e não por aquilo que achamos que somos capazes de fazer.
Em segundo lugar, a Bíblia reconhece livremente que
homens pecadores não têm a capacidade de fazer aquilo que
é certo. Antes de sermos alcançados pela graça de Deus,
éramos escravos do pecado (Rm 6.17). Um escravo é alguém
que está sob servidão. Por isso o pecado não é definido pela
inabilidade humana, mas, antes, pela lei de Deus. Portanto,
a busca pelo gene homossexual deve ser considerada irrele­
vante. Já sabemos que pecados heterossexuais têm um fun­
damento genético, mas isso não os desculpa. Isso porque
o pecado não é definido pela natureza do homem, mas por
aquilo que é contrário à natureza e caráter de Deus.
Entender isso é muito importante para um homem cris­
tão que luta com a tentação homossexual. O primeiro passo
para libertar-se é entender quão inflexível é a lei de Deus
sobre este ponto. N ão há liberdade para reinterpretação, ou
flexibilização dos padrões. Captar o ensino da Palavra so ­
bre a natureza da servidão ao pecado é também importante
a fim de prevenir o desejo por fazer “pequenos ajustes” de
conduta. Paulo diz aos coríntios que “tais fostes alguns de
vós”, claramente mostrando que um homem pode ser um
ex-homossexual. Perdão e libertação estão disponíveis por
meio do Evangelho para todos os tipos de homens, incluin­
do todos os tipos de homossexuais.
Tendo dito isto, ainda temos de reconhecer que há di­
ferentes tipos de homossexuais, e que a Escritura oferece
diferentes soluções para homens em diferentes condições.
Quando homossexuais vêm a Cristo, eles devem saber que
a tentação homossexual ainda permanece após a conversão.
Então, homossexuais em várias condições são chamados por
Cristo para aprender a pureza sexual, em suas circunstâncias
específicas.
Primeiro, ao trabalhar com homossexuais, rapidamente
se torna evidente que alguns deles foram efeminados, ou de
alguma maneira atraídos por homens, bem no começo da
vida. Até onde se lembram, eles eram “ diferentes”. Se isto
é resultado de sua constituição física, ou formação, ou dos
dois fatos, não importa. O fato que permanece é, como eles
dizem, que não podiam se imaginar atraídos sexualmente
por uma mulher. H á duas questões aqui. Uma é a falta de
interesse em mulheres, e a outra é o interesse proibido por
homens. Com respeito à primeira questão, falando biblica-
mente, a Escritura não exige que um homem tenha interesse
sexual por mulheres. Essa é a norma, mas nenhuma lei está
sendo quebrada quando tal interesse não existe.
Assim, sob tais circunstâncias, deve-se resistir, como
a qualquer outra tentação, ao interesse sexual por homens.
Deus exige pureza sexual, em pensamento e ações, e um ho­
mem com tais tentações é como um homem com tentações
heterossexuais sem possibilidade imediata de casamento. A
lascívia é sempre proibida. Sendo verdade que tal homem
não pode estar interessado sexualmente em uma mulher,
então ele precisa chegar a compreender que a vontade de
Deus para ele é o celibato. O único parceiro sexual lícito
para ele seria uma mulher, e se isso não é possível, então ele
é chamado a não ter nenhum parceiro sexual. Essa é uma
situação difícil de aceitar para muitos modernistas porque
passamos a acreditar que o acesso a orgasmos múltiplos, de
algum modo, é um direito divinamente conferido. Sendo
verdade que ele foi “ feito” assim, de modo que não pode se
casar com uma mulher, então é também verdade que ele é
chamado pela lei de Deus ao celibato. Essa é uma estrada
difícil, mas ao menos tem a vantagem de ser clara e fácil de
entender.
Porém, há um outro tipo de homossexual. Trata-se do
homem que tem sido homossexual na prática, e aprendeu
todos os tipos de maus hábitos sexuais, mas sua hom osse­
xualidade não chegou às últimas conseqüências. Essa condi­
ção pode sobrevir de diversas maneiras. Ele pode ter ficado
confuso em uma aula sobre sexo durante a adolescência (um
momento de confusão para a maioria dos garotos), pode ter
sido seduzido por alguém, pode ter aderido à prática por
pura curiosidade sexual, e assim por diante.
Mas o problema central aqui é o da preguiça sexual.
Uma mulher não responde sexualmente do mesmo modo
que o homem. Outro homem, por sua vez, responde exa­
tamente do mesmo modo. Homem e mulher são completa­
mente diferentes na área sexual, embora complementares.
Aprender como eles podem complementar um ao outro exi­
ge uma grande quantidade de amor, tempo, cuidado, dinhei­
ro, compromisso, trabalho, disciplina, sem mencionar muita
prática debaixo dos cobertores. N a cama, homem e mulher
são duas notas musicais diferentes, e é tarefa deles chegar
à harmonia juntos. O homem é totalmente o contrário da
mulher; a mulher é totalmente o contrário do homem. En­
tretanto, o objetivo é que as notas se misturem.
Mas cantar em harmonia é mais difícil do que cantar
em uníssono. Um homem preguiçoso quer um parceiro que
seja simplesmente como ele. Quando se trata de encontros
sexuais, isso só é possível com mulheres que, em troca de
dinheiro, estão dispostas a fingir que não são mulheres —
prostitutas ou as mulheres na pornografia. Mas há outro
tipo de parceiro sexual que não têm de fingir; ele age exa­
tamente do mesmo modo porque também é homem. Um
homem quer gratificação instantânea; tal como o outro. Um
homem quer conseguir agora; tal como o outro. Homens em
tal condição muito provavelmente se considerariam bisse-
xuais; eles não estão buscando por um verdadeiro parceiro
sexual, mas apenas alguém que esteja disposto a ajudá-los a
chegar lá rapidamente. N ão importa se tal pessoa será ho­
mem ou mulher.
Quando um homem se dirige às práticas homossexuais
em razão de tais fatores, seu problema é a falta de domínio
próprio, e aquilo que ele realmente precisa aprender é a disci­
plina sexual bíblica. Posto que o problema reside na falta de
disciplina e orientação bíblicas para seus interesses sexuais,
é muito mais provável que ele aprenda tal disciplina antes
mesmo do que o primeiro tipo de homossexual que discuti­
mos. A medida que a graça de Deus cria raízes em sua vida,
um casamento fiel com uma mulher se torna uma opção real.
Até aqui vimos que a Bíblia ensina que a homossexua­
lidade é um pecado, e que aqueles que vivem em tal pecado
estão excluídos do reino de Deus. Mas muitos são tentados
a pôr de lado o ensino da Bíblia sobre esse ponto porque
também já ouviram que a Bíblia exige a pena de morte para a
homossexualidade, e certamente tal coisa não pode ser acei­
tável para nós aqui no mundo moderno.
N o Antigo Testamento, vemos como Deus exigiu a
supressão das várias formas de sodomia do reino civil. O
problema foi causado pela sodomia fora de controle entre
os canaanitas, povo que habitava a terra antes dos israelitas:
Porque também os de Judá edificaram altos, está­
tuas, colunas e postes-ídolos no alto de todos os
elevados outeiros e debaixo de todas as árvores ver­
des. Havia também na terra prostitutos-cultuais;
fizeram segundo todas as coisas abomináveis das
nações que o S e n h o r expulsara de diante dos filhos
de Israel (lRs 14.23-24).
O s sodomitas na terra estavam levando adiante uma
longa tradição sexual praticada antes deles pelos canaanitas.
Deus não somente proibiu a atividade, mas também
designou uma penalidade para ela: “Com homem não te
deitarás, como se fosse mulher; é abominação” (Lv 18.22).
A isto se segue, poucos capítulos depois, a exigência de que
o tal seja executado: “ Se também um homem se deitar com
outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coi­
sa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles”
(Lv 20.13). N o mínimo, isso deve nos mostrar quão sério é
este pecado.
Ao mesmo tempo, alguns têm tomado como uma exi­
gência bíblica m andatária que todas as formas de homosse­
xualidade recebam a pena de morte. Mas, se levarmos toda
a Escritura em conta, esse não pode ser o significado da lei.
Séculos mais tarde, encontramos isto: “Asa fez o que era
reto perante o S e n h o r , como Davi, seu pai. Porque tirou
da terra os prostitutos-cultuais e removeu todos os ídolos
que seus pais fizeram” (lR s 15.11-12). Asa é descrito aqui
como fazendo o que era reto e, contudo, baniu os sodomitas,
não os executou. Pouco tempo depois, Josafá fez o mesmo:
“Também exterminou da terra os restantes dos prostitutos-
cultuais que ficaram nos dias de Asa, seu pai” (lR s 22.47).
Josafá foi um rei piedoso, e seu tratamento para os sodomi­
tas foi o exílio, não a pena capital.
Mas como isto pode ser reconciliado com a lei de Leví-
tico 20? Duas possibilidades devem ser consideradas. A pri­
meira é que a lei está fixando a penalidade máxima permitida,
não a penalidade mínima. Em outras palavras, a Bíblia exige a
supressão da depravação homossexual, e entre as ferramentas
inclusas para tal restrição está a possibilidade de pena de morte,
mas também a permissão para o banimento. A morte não é
necessariamente uma punição injusta, mas punições legais mais
leves também são, certamente, aprovadas pela Escritura. Essa
é, penso eu, a interpretação preferível.
Mas a segunda possibilidade é que uma forma específica
de comportamento homossexual está sendo tratada pela lei le-
vítica, isto é, a relação sexual anal. Quando um homem se deita
com outro homem como sefosse mulher, então ele e seu parceiro
seguramente serão mortos. Outras formas de perversão sexual
entre homens não incorrem em pena capital. Das duas opções
penso que esta é, de longe, a menos provável.
O s cristãos modernos se encontram crescentemente
rodeados por uma cultura sodomita. Isso tem acontecido,
em parte, porque não temos estudado o que a Bíblia ensina,
ou, tendo estudado, não estamos dispostos a aceitar. Quer
estejamos considerando o problema da sodomia num nível
pessoal, ou no nível civil, não chegaremos à sabedoria nas
questões sexuais a menos que entendamos que Deus odeia
todas as práticas homossexuais, e que o temer ao Senhor é
odiar aquilo que ele odeia. Compaixão para com o sodomita,
e a disposição de apresentar o evangelho a ele, não é incon­
sistente com o verdadeiro ódio pela perversão. O s exem­
plos da Escritura não nos foram dados por acaso: “como
Sodoma, e Gomorra, e as cidades circunvizinhas, que, ha­
vendo-se entregado à prostituição como aqueles, seguindo
após outra carne, são postas para exemplo do fogo eterno,
sofrendo punição” (Jd 1.7; 2Pe 2.6).
Indomadas, as chamas do desejo sexual conduzem a
outro tipo de fogo.
MASTURBACÃO s

evemos responder às questões que cercam a masturba-


ção do mesmo modo que buscamos responder a todas
as questões: “O que a Bíblia diz a respeito?” Surpreenden­
temente, a Bíblia nada diz sobre este assunto diretamente,
e por conta disso nosso capítulo precisa ser comparativa­
mente curto. Esse silêncio bíblico não pode ser explicado
pela atribuição de um acanhamento pudico aos escritores
bíblicos. Eles não tinham vergonha de condenar todos os
tipos de práticas sexuais — sexo com netos (Lv 18.10), com
a madrasta (lC o 5.1), com animais (Lv 18.23), e assim por
diante. N ão, o silêncio da Bíblia sobre esse assunto não é
um silêncio de constrangimento. Se Deus desejasse proibir a
prática pura e simplesmente, teria sido bastante fácil fazê-lo.
O silêncio da Bíblia a esse respeito é singular.
Assim, a partir da Escritura, não podemos dizer di­
retamente que a masturbação é em si mesma pecado. Para
proibir essa prática de maneira absoluta necessitaríamos de
algum tipo de argumento bíblico em favor da proibição de­
finitiva. Então, ou a Bíblia proíbe tal prática diretamente,
ou teríamos de demonstrar que ela é pecaminosa partindo
de premissas bíblicas até chegar às conseqüências boas e ne­
cessárias. Já vimos que o primeiro caso não é possível, mas,
com respeito ao último, podemos dizer que estamos quase lá
e que, no mínimo, temos direcionamento bíblico suficiente
para desencorajar tal prática.
Isto porque somos capazes de falar um pouco sobre as
coisas que geralmente conduzem à masturbação e que co-
mumente a tornam necessária. Consequentemente, a sabe­
doria bíblica exige que a masturbação seja desencorajada,
muito embora não possam os afirmar que um homem está
necessariamente pecando ao praticá-la. Se um homem tem
o cuidado de evitar a concupiscência proibida por C risto
e seus apóstolos, muitas das (se não todas as) ocasiões nas
quais a masturbação parece ser necessária serão removidas.
O princípio aqui é que “todas as coisas me são lícitas, mas
nem todas convêm. Todas as coisas me são lícitas, mas eu
não me deixarei dominar por nenhuma delas” (IC o 6.12).
Que a masturbação tem a capacidade de escravizar é algo
que ninguém discute, e por isso, mesmo que um homem
tenha decidido que ela é legítima em alguns casos, a recusa
em permanecer debaixo de sua autoridade ainda deve ser
encorajada. E isso se relaciona a outro ponto que deve ser
ressaltado aqui sobre aquilo que é “permitido, mas não ne­
cessário”. Só porque algo é permitido não significa que seja
sábio praticá-lo. N ão é proibido bater na própria cabeça com
um martelo.
Mestres que eu respeito diferem sobre esse tema da
masturbação. Alguns sustentam que em casos excepcionais
um homem pode aliviar-se sem que isto envolva desejo sexu­
al ilegítimo. Outros alegam que a concupiscência pecamino­
sa é condição sine qua non para a masturbação. Mas, mesmo
assumindo, para os propósitos de nossa discussão, que um
homem seja capaz de aliviar-se fisicamente sem fazer uso de
lascívia ilegítima como combustível, ao mesmo tempo, se
ele for sábio, ele será muito econômico ao recorrer à m as­
turbação. Eu gostaria de encorajá-lo a aprender a abster-se
dela por completo. Já mencionamos a graça de aprender a
autodisciplina nesta área.
Uma razão para abandonar essa prática é que esse ho­
mem solteiro que têm-se masturbado habitualmente duran­
te anos antes de se casar realmente não está se preparando
para um relacionamento sexual com uma mulher. A mastur-
bação é uma péssima preparação para o ato sexual genuíno.
Além disso, ela é boa preparação para a incompetência sexu­
al quanto a saber como satisfazer uma mulher.
N esse sentido, a masturbação pode até mesmo ser
considerada uma forma peculiar de “ homossexualidade”. Se
cada experiência sexual que um homem vem mantendo nos
últimos dez anos tem sido sem uma mulher, então sua única
experiência de sexo é com um homem (no caso, ele mesmo).
Mas, quando ele se casa, sua esposa não está nem perto de
ser tão responsiva a cada um de seus caprichos como ele mes­
mo costuma ser. “Então, o que há de errado com ela?”, ele
pode se perguntar surpreso. Dizendo de outro modo, a mas­
turbação habitual ou freqüente é uma preparação bem ruim
para o casamento. Felizmente, se um homem evita aquilo
que é diretamente condenado como pecado pela Bíblia (i.e.,
a luxúria), então ele não deverá ter tal problema. Se ele ain­
da se masturba ocasionalmente, não deve insistir nisto, mas
deve, ao mesmo tempo, se esforçar para evitar repetir no fu­
turo e vigiar o seu padrão de vida. N esta área, o autoengano
é fato terrivelmente comum, e a genuína responsabilidade é
algo terrivelmente difícil.
Um jovem que toma este conselho e estabelece um pa­
drão de autodisciplina sexual para si mesmo deve manter
certos princípios em mente. Primeiramente, auxílios físicos
são auxílios, não são soluções finais. Dom ínio próprio é
parte do fruto do Espírito, e nossa santificação sexual não
ocorre de modo diferente dos outros aspectos de nossa san­
tificação. O domínio próprio na área sexual é uma obra da
graça de Deus (Ef 2.10). Em segundo lugar, o que a Bíblia
ensina sobre sexo e luxúria deve ser estudado e memorizado.
Quando a tentação sobrevêm, as porções que se aplicam à
situação devem estar imediatamente disponíveis. Foi assim
que Jesus resistiu à tentação, e devemos seguir seu exem­
plo. Durante a tentação no deserto, ele citou a Escritura e a
aplicou a si mesmo. Muitas passagens citadas ao longo deste
livro devem ser destinadas à memorização com o propó­
sito de aplicá-las enquanto esperamos na fila do caixa do
supermercado: “Tenho certeza de que estes seios não são
da minha conta. Hebreus 13.4”. Terceiro, um homem não
deve nunca, em tempo algum , olhar para imagens que possam
servir como combustível à luxúria. Em outras palavras, só
porque a masturbação não ocorre imediatamente não signi­
fica que as imagens não representem, posteriormente, um
fator maior de contribuição. Por exemplo, um homem pode
assistir a um filme com muitas cenas de nudez e ainda não se
masturbar naquela noite. Ele pensa que está tudo bem. Mas
aquelas imagens agora são, no entanto, parte de seu depósito
de luxúria, e ele pode facilmente esquecer-se de como elas
foram parar ali. Levado pelo autoengano, um homem pode
gastar muito tempo abastecendo seu armazém de imagens
e ainda acreditar que o que ele está fazendo não o afeta.
N isso ele está se enganando completamente e bem próxi­
mo de se tornar um abobalhado. Por último, ele deve saber
quando está mais vulnerável e tomar precauções para limitar
sua permanência em tais situações. Se tiver problemas no
banho, deve tomar banhos mais curtos. Se tiver problemas
quando acorda, deve tomar algumas medidas ao acordar, e
assim por diante.
O mesmo se dá com os homens casados que estão tem­
porariamente “solteiros”. O s mesmos princípios básicos se
aplicam a eles, embora com umas poucas diferenças. Se um
homem está longe da esposa por um período prolongado,
deve tomar especial cuidado com a luxúria e todas as oca­
siões de cobiça. Embora possa pensar que a masturbação
pode ajudá-lo a manter as distrações sexuais na baia, é muito
mais provável que a masturbação sirva como gasolina sobre
o fogo sexual e não como a água esperada. Além do mais, um
homem casado pode desenvolver os mesmos tipos de maus
hábitos sexuais que um homem solteiro. Esse é particular­
mente o caso se o marido está de algum modo insatisfeito
com seu relacionamento sexual. Ele pode encontrar-se pra­
ticando a masturbação sem que haja qualquer razão externa
para tanto. Ele não está em uma viagem de negócios, mas sua
esposa não respondeu aos seus avanços. Ao invés de fazer
o que deve fazer, como é sexualmente preguiçoso, vai ao
banheiro cuidar de si mesmo.
Mas durante períodos de separação forçada, há algu­
mas diferenças para os homens casados. Primeiro, ele está
acostumado ao relacionamento sexual contínuo e por isso a
necessidade de alívio físico pode algumas vezes parecer ser
bem mais do que uma necessidade premente. Ele pode ter
um caso de dor nos testículos e estar menos interessado em
mulheres do que em dar uma volta. Além disso, ao contrário
do homem solteiro, ele tem certo número de “memórias”
ilegais disponível. Mesmo assim, os mesmos princípios men­
cionados anteriormente ainda se aplicam. Devemos sempre
lembrar de que, nesta área inteira, é notável a facilidade com
que caímos em autoengano. Por exemplo, um sujeito egoísta
pode sem hesitação convencer-se de que está apenas cuidan­
do de si mesmo para que possa ser um marido melhor mais
adiante. Pague o preço, meu rapaz! Um homem casado deve
reconhecer que tem um problema sério com isto se se encon­
tra tentado à masturbação quando não está longe de casa. E
todos os homens, casados ou solteiros, devem reconhecer
que o sexo solitário não é o padrão bíblico normativo. Re­
cordando que o amor entre um homem e uma mulher é uma
figura de Cristo e a igreja, devemos notar que, muito além
das questões morais e de autodisciplina envolvidas, mastur­
bação é péssima teologia.
Em conclusão, é digno de nota que, no Israel do Antigo
Testamento, a atividade sexual tornava um homem cerimo-
nialmente impuro. Em um grau muito limitado, o ato da
relação sexual resultava em uma condição pública:

Também o homem, quando se der com ele emissão


do sêmen, banhará todo o seu corpo em água e será
imundo até à tarde. Toda veste e toda pele em que
houver sêmen se lavarão em água e serão imundas
até à tarde. Se um homem coabitar com mulher e
tiver emissão do sêmen, ambos se banharão em água
e serão imundos até à tarde (Lv 15.16-18).

Sob a nova aliança, não temos tal restrição — pelo que


todos nós agradecemos. Mas vale notar que um jovem isra­
elita que tinha um problema com masturbação realmente
não teria a opção de manter esse fato em sigilo. Se houvesse
uma emissão de sêmen, ele estava cerimonialmente impuro
e isso tinha ramificações públicas. E se ele não tivesse espo­
sa, provavelmente aquele fato renderia umas boas risadas às
tendas vizinhas.
C A P ÍT U LO I I

Çp
CELIBATO

C onquanto possa nos parecer improvável agora, devemos


estar preparados para um ressurgimento da populari­
dade do celibato, e pelas mesmas razões pelas quais ele se
disseminou nos primeiros séculos da Igreja. Qualquer cul­
tura que chegue a uma condição sexualmente patológica está
simplesmente clamando por uma contrarreação. Esse era o
decadente estado de coisas no decadente Império Romano,
e essa é nossa condição agora. Mas, quando um povo tem
visto de tudo e feito mais do que tudo, talvez duas vezes, não
devemos nos surpreender quando um tédio sexual generali­
zado se instala. Visto por esse ângulo, o celibato é uma for­
ma de sexualidade, não uma negação dela, e por isso merece
algumas considerações em um livro como este.
Essa forma de celibato é uma reação e não é o celibato
louvado pelos escritores bíblicos; de modo que uma das pri­
meiras coisas que devemos fazer é distinguir entre esses dois
tipos. Isso porque nossa atual sabedoria modernista exige
que pensemos que o orgasmo é um direito civil básico, e
por sua vez isso exige que defendamos que todas as formas
de celibato sejam tomadas juntas como algo tremendamente
patético.
Mas isso é injusto com o relato bíblico. A primeira coi­
sa que devemos reconhecer é que o celibato (do tipo certo)
é louvado na Escritura. Devemos ter cuidado para não aliar
nossa antipatia protestante histórica pelos excessos do asce­
tismo monástico com nossas concessões modernas ao evan­
gelho sexual em voga, e como resultado concluir que a Bíblia
não poderia, sob quaisquer circunstâncias, louvar uma vida
de celibato. A maioria dos evangélicos modernos sabe que o
apóstolo Paulo foi agraciado com o celibato, mas isso é visto
como algo pessoal (coisa de Paulo) e certamente não plane­
jada para ser uma subcultura dentro da fé. E por isso que
nos apressamos a categorizar as pessoas como “solteiras”, e
tranquilamente assumimos que estão sexualmente isoladas,
não tendo preocupações com questões sexuais.
Agora, há um ascetismo que é inútil para restringir os
desejos da carne. Paulo nos diz:

Se morrestes com Cristo para os rudimentos do


mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos
sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não pro­
ves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os pre­
ceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas
coisas, com o uso, se destroem. Tais coisas, com
efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de
si mesmo, e de falsa humildade, e de rigor ascético;
todavia, não têm valor algum contra a sensualidade
(Cl 2.20-23).

Em outras palavras, há um modo de negligenciar o cor­


po, de tratá-lo com rigor, que não afeta a carne — antes, é
em si carnal. O s homens sentem certo orgulho perverso em
mortificar a si mesmos desse modo. Por causa desse alerta,
nós rapidamente rejeitamos qualquer forma de disciplina
corporal que seja espiritual em sua natureza. Mas o fato de
que o ascetismo pode ser desvirtuado não significa que toda
forma de disciplina ascética é sem valor. N osso Senhor je-
juou por quarenta dias e quarenta noites. E seu precursor
viveu de forma um tanto austera, não comendo ou bebendo
do mesmo modo que o Senhor Jesus: “As vestes de João
eram feitas de pelos de camelo; ele trazia um cinto de couro
e se alimentava de gafanhotos e mel silvestre” (Mc 1.6). Esse
não era o estilo de vida da classe média suburbana. João Ba­
tista não era casado; ele viveu no deserto como um monge
do Antigo Testamento.
Vemos algo similar com uma mulher que foi uma das
primeiras a saudar o Senhor a respeito de sua chegada ao
mundo:
Havia uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel,
da tribo de Aser, avançada em dias, que vivera com
seu marido sete anos desde que se casara e que era
viúva de oitenta e quatro anos. Esta não deixava o
templo, mas adorava noite e dia em jejuns e orações
(Lc 2.36-37).

Essa mulher havia estado casada por sete anos, mas,


após a morte de seu esposo, ela se dedicou ao culto a Deus
no templo. De modo algum essa decisão é criticada ou ridi­
cularizada no relato bíblico.
Alguns podem alegar que esses são simplesmente exem­
plos históricos, e que não devemos tentar construir doutrina
a partir de narrativas. Tudo bem então:

Disseram-lhe os discípulos: Se essa é a condição do


homem relativamente à sua mulher, não convém ca­
sar. Jesus, porém, lhes respondeu: Nem todos são
aptos para receber este conceito, mas apenas aqueles
a quem é dado. Porque há eunucos de nascença; há
outros a quem os homens fizeram tais; e há outros
que a si mesmos se fizeram eunucos, por causa do
reino dos céus. Quem é apto para o admitir admita
(Mt 19.10-12).

Jesus tinha acabado de dizer a eles algumas palavras du­


ras sobre a natureza da disciplina cristã dentro do casamen­
to. O s discípulos reagiram com espanto: se essa é a condição
do casamento cristão, então talvez seja melhor não casar.
Jesus concorda — aparentemente. Alguns são eunucos por
nascimento. Alguns se fizeram eunucos por várias razões
humanas. Por exemplo, o grande pensador medieval Pedro
Abelardo foi castrado em razão de sua fornicação com H elo­
ísa. Muitos outros, os castrati, se tornavam desse modo para
que pudessem se dedicar à música, impedindo a mudança de
voz. Mas Jesus chega a uma terceira categoria: aqueles que
renegam as relações sexuais em razão do reino do céu. O ca­
minho do reino para o casamento é difícil. E não estar casa­
do também. Aqueles que estão aptos para admitir admitam.
Está claro que o celibato no reino não é o conto de
fadas que alguns querem fazer parecer. Aqueles que são
chamados, os que podem lidar com isso, devem fazer essa
opção. Aqueles que não são chamados, não devem fazê-lo.
Mas o caminho da disciplina para os celibatários não é fácil,
é simplesmente diferente. Aos casados, Paulo diz:

Não vos priveis um ao outro, salvo talvez por mútuo


consentimento, por algum tempo, para vos dedicar-
des à oração e, novamente, vos ajuntardes, para que
Satanás não vos tente por causa da incontinência. E
isto vos digo como concessão e não por mandamen­
to. Quero que todos os homens sejam tais como
também eu sou; no entanto, cada um tem de Deus
o seu próprio dom; um, na verdade, de um modo;
outro, de outro (ICo 7.5-7).

Paulo dá perm issão aos casais para que se abstenham


de relações sexuais por um curto período. Também ve­
mos esse tipo de celibato tem porário no Antigo T esta­
mento. Antes de D eus se revelar ao povo no monte Sinai,
ele lhes ordenou: “não vos chegueis a m ulher” (Ex 19.15).
Mas Paulo diz aos coríntios que seja breve este “ jejum ”
sexual, de outro modo serão tentados a algum tipo de for­
nicação. O apóstolo enfatiza que está dando perm issão
para tais jejuns; não os está exigindo. Ele sabe que nem
todos os homens são como ele, que podia lidar bem com
a abstinência. Ao m esmo tempo, ele foi tão abençoado
com seu dom que deseja que todos os homens possam
experim entá-lo. Entretanto, Paulo sabe que não é justo
questionar as decisões que D eus tom a em sua providên­
cia. N ão é o caso de ele ter sido agraciado e os homens
que precisam de sexo não terem sido. Um homem precisa
satisfazer sua esposa na cama, enquanto outro não. A um
são dados os prazeres e deveres de amar uma esposa, e a
outro é dada a liberdade dos cuidados e as distrações de
cuidar de uma esposa. Seria bom se os homens de nosso
tempo que são “sexualmente ativos” (que frase terrível!)
pudessem m ostrar a mesma sabedoria que Paulo aqui. Ele
desfruta de seu dom, mas não tenta im pô-lo a outros.
Aqueles de nós que são casados devem, de igual modo,
desfrutar deste dom reconhecendo que na Bíblia há pes­
soas que se dedicaram sexualmente a Deus e que isso não
é uma aberração. Novam ente, isso é algo diferente de um
incrédulo que opta pelo “celibato” porque está entediado
de sexo. Também é diferente do indivíduo que é celiba­
tário por necessidade — não se casou, mas não por causa
de sua dedicação a C risto, senão porque a sua falta de d o ­
mínio próprio na vida o tornou um sujeitinho com o qual
nenhuma mulher que se preze gostaria de estar casada.
Isso nos conduz a outra categoria de celibato na Bí­
blia, o ofício de viúva. Em nosso contexto, uma viúva é
uma mulher que perdeu o marido. N a linguagem da igreja
primitiva, esse uso também era corrente, mas havia outro
modo de empregar este termo. Uma viúva, nesse segundo
sentido, era uma mulher que estava registrada como viúva
e que era cuidada pela igreja. D esse modo — sim ilar ao
m encionado anteriorm ente, desem penhado por Ana —
viúva era um tipo de ofício:
Honra as viúvas verdadeiramente viúvas. Mas, se
alguma viúva tem filhos ou netos, que estes apren­
dam primeiro a exercer piedade para com a própria
casa e a recompensar a seus progenitores; pois isto
é aceitável diante de Deus. Aquela, porém, que é
verdadeiramente viúva e não tem amparo espera em
Deus e persevera em súplicas e orações, noite e dia;
entretanto, a que se entrega aos prazeres, mesmo
viva, está morta. Prescreve, pois, estas coisas, para
que sejam irrepreensíveis. Ora, se alguém não tem
cuidado dos seus e especialmente dos da própria
casa, tem negado a fé e é pior do que o descrente.
Não seja inscrita senão viúva que conte ao menos
sessenta anos de idade, tenha sido esposa de um só
marido, seja recomendada pelo testemunho de boas
obras, tenha criado filhos, exercitado hospitalidade,
lavado os pés aos santos, socorrido a atribulados,
se viveu na prática zelosa de toda boa obra. Mas re­
jeita viúvas mais novas, porque, quando se tornam
levianas contra Cristo, querem casar-se, tornando-
se condenáveis por anularem o seu primeiro com­
promisso. Além do mais, aprendem também a viver
ociosas, andando de casa em casa; e não somente
ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando
o que não devem. Quero, portanto, que as viúvas
mais novas se casem, criem filhos, sejam boas do­
nas de casa e não deem ao adversário ocasião favo­
rável de maledicência. Pois, com efeito, já algumas
se desviaram, seguindo a Satanás. Se alguma crente
tem viúvas em sua família, socorra-as, e não fique
sobrecarregada a igreja, para que esta possa socorrer
as que são verdadeiramente viúvas (lTm 5.3-16).

N ão desejo ser mal interpretado aqui, mas estamos fa­


lando de um tipo de freira. O uso dessa palavra nesse con­
texto inquieta os católico-romanos em razão das exigências
que Paulo põe sobre tal dedicação sexual a Cristo. A palavra
inquieta os protestantes simplesmente porque é usada. Mas
considere o que Paulo está realmente exigindo aqui.
Primeiro, não há nenhuma corrida para recrutar mu­
lheres para esse ofício. Se houver um jeito de elas serem cui­
dadas pela própria família, então é isso o que deve ser feito.
Pelo comentário do apóstolo, uma “viúva verdadeiramente
viúva” é muito mais como Ana, devota a Deus, e à oração e
súplica, noite e dia. Uma viúva que se entrega ao prazer está
morta enquanto vive. Paulo então volta a enfatizar que a
família deve cuidar dessa mulher, e que não fazer isto é uma
negação prática da fé.
O apóstolo então passa a falar sobre as qualificações
que toda mulher deve ter antes de poder ser inscrita como
viúva. Mas, antes de tratar disto, devemos ver que estamos
de fato falando sobre dedicação sexual a Cristo. Paulo diz
aqui, enfatizando a rejeição à inscrição de viúvas jovens, que
em certo momento elas desejariam casar, o que ele interpre­
ta cruamente como tornarem-se “ levianas contra C risto”.
Em outras palavras, está claro que ser registrada como viúva
envolvia um voto de celibato que uma jovem viúva prova­
velmente iria quebrar. Além disso, esse voto de celibato, se
quebrado, poderia trazer juízo à viúva, e foi interpretado
como sendo equivalente a rejeição da fé. Esse não é um pro­
blema trazido por um segundo casamento, porque casar de
novo é exatamente o que Paulo ordena como solução para
tais viúvas jovens. Elas devem se casar, diz ele, e cuidar de
sua própria casa. O problema é resultado de um segundo
casamento após ter sido inscrita como viúva. Se a inscrição
como viúva fosse nada mais do que um suporte financeiro
às mulheres necessitadas na congregação, então não haveria
problema com uma mulher que perdeu o marido há dez anos
passar a ser cuidada pela igreja por três anos, e então casar
novamente. Mas Paulo vê isso como apostasia, e não há ou­
tro modo de compreender sua resposta sem ver que a mulher
estava unida a Cristo de algum modo peculiar, tendo feito
um voto de celibato, tendo feito um voto de não casar. Se ela
não o tivesse feito, não poderia haver problema com seu ca­
samento. Mas agora há um problema em casar de novo e, por
isso, ela deve ser compelida de alguma forma a não fazê-lo.
Mas o problema é ainda maior para o entendimento
católico-romano do papel de uma freira. O que Paulo exige
aqui antes que uma mulher possa ser autorizada a fazer este
voto? Ela deve ter no mínimo seis anos de viuvez. Deve ter
sido esposa de um só marido, vigorosa em boas obras, mãe
piedosa, e hospitaleira. Em outras palavras, para não usar
eufemismos, uma mulher não poderia ser uma freira antes
de ter tido uns quarenta anos de experiência conjugal, co­
zinhando, trocando fraldas, recepcionando visitas, e tudo
o mais.
Ainda outra forma de celibato pode ser encontrada na
Escritura, embora neste caso a questão não seja assim tão
clara. Talvez o melhor modo de introduzir o assunto seja
mencionando a tradução de lCoríntios 7.35-38 oferecida
pela New English Bible :

Não digo isto para mantê-los em rédea curta. Estou


pensando simplesmente no próprio bem de vocês, na­
quilo que é conveniente, e na liberdade de esperar no
Senhor sem impedimentos. Mas se um homem tem
uma parceira no celibato e sente que não está agindo
adequadamente para com ela, isto é, se seus instintos
são demasiado fortes, e alguma coisa deva ser feita,
ele pode agir como deseja; não há nada de errado nis­
to; que se casem. Mas se um homem está firmado em
seu propósito, não estando sob influência de qualquer
vontade, e tendo completo domínio de sua própria
mente para preservar sua parceira em sua virgindade,
bem fará. Assim, aquele que se casa com sua parceira
faz bem, o que não se casa faz melhor.
Surgiu em algum ponto na igreja primitiva uma prática
em relação ao celibato, e os tradutores da New English Bible
pensam que os comentários de Paulo nesta passagem são
uma referência a tal prática. Homens e mulheres passam a
viver juntos em um “casamento” celibatário, sendo as mu­
lheres envolvidas chamadas de subintroductae. O nome gre­
go delas era suneiskatoi, e essa prática era uma considerável
fonte de aborrecimento para o primeiro bispo de Constan-
tinopla, João Crisóstom o.
Falando da grande experiência de “sublimação”, como
ele a chama, Charles Williams simplesmente assume esse
entendimento da passagem, e diz:
Em alguns casos essa experiência falhou. Mas não
sabemos nada — felizmente — dos casos nas quais
não falhou, e que tais casos existiram é algo ób­
vio a partir da clara aceitação da ideia por parte do
apóstolo Paulo. Pelo tempo de Cipriano, bispo de
Cartago, no século III, as autoridades eclesiásticas
estavam mais duvidosas. As mulheres — subintro-
ductae, como eram chamadas — aparentemente
dormiam com seus companheiros sem que houves­
se relações sexuais; Cipriano não necessariamente
desconfia deles, mas desencoraja a prática. E o Sí-
nodo de Elvira (305) e o Concilio de Niceia (325)
a proíbem completamente. A experiência geral tem
sido abandonar tal prática em razão de “escândalo”.1

Williams tem toda a razão sobre a atitude dos Pais


da igreja para com essa prática e sobre o fato de que isto
era realmente uma prática. Naturalmente, essa excentrici­
dade na igreja primitiva poderia ser arquivada, juntamente
com muitas outras esquisitices temporárias, não fosse pela
possibilidade de que a prática começasse na era apostólica
e ganhasse o apoio (embora relutante) do apóstolo Paulo.
Então, é importante saber o que essa passagem realmente
diz e como ela deve ser interpretada. Mas, se Paulo estava
falando de tal prática, é algo a se questionar:
Se alguém julga que trata sem decoro a sua filha,
estando já a passar-lhe a flor da idade, e as circuns­
tâncias o exigem, faça o que quiser. Não peca; que
se casem. Todavia, o que está firme em seu coração,
não tendo necessidade, mas domínio sobre o seu
próprio arbítrio, e isto bem firmado no seu ânimo,
para conservar virgem a sua filha, bem fará. E, as­
sim, quem casa a sua filha virgem faz bem; quem
não a casa faz melhor (ICo 7.36-38).

1 Williams, D e s c e n t o f the D o v e (G ra n d R apids: Eerd m ans, 1939), p.


12-13.
A interpretação mais comum dessa passagem é que ela
fala de um pai e sua filha, e sobre se ele deve dá-la em ca­
samento ou não. Isso é confirmado pelo verbo usado no
versículo 38, que significa dar em casamento (cf. Mt 22.30;
24.38; Lc 17.27). O problema com isto é a linguagem usada
anteriormente, que parece um tanto incomum para referir-
se a um pai e sua filha (tratar sem decoro, fazer o que quiser,
e assim por diante). O outro possível problema diz respeito
ao conselho dado. Se esse é um relacionamento entre pai e
filha, então Paulo aparenta estar recomendando fortemen­
te aos pais que não deem suas filhas em casamento. Se in­
terpretado desse modo, devemos ser cuidadosos em notar
que o conselho é regido pelas circunstâncias peculiares da
época, às quais Paulo se refere anteriormente, “por causa da
angustiosa situação presente” (v. 26). Visto desse modo, o
apóstolo não está ensinando à igreja sobre um estado sexual
permanente. Está simplesmente dizendo que se um homem
pode evitar estar casado durante um tempo de ferrenha per­
seguição, essa é a coisa sábia a se fazer. Mas é melhor, diz ele,
estar casado durante a perseguição do que ser sexualmente
imoral durante esse período. O casamento não é um pecado
nem mesmo quando poderia ser mais prudente evitá-lo.
Considerando tudo isso, não está claro se Paulo está
falando sobre parcerias celibatárias. Tais coisas certamente
são consistentes com o clima da cultura e da igreja de vários
séculos atrás, mas ter um experimento sexual tão ousado em
voga sob a supervisão apostólica é algo difícil de acreditar.
Porém, se Paulo está falando sobre a prática de parcerias
celibatárias, é digno de nota que ele está muito preocupado
com a possibilidade de escândalo, e ensina que pôr um fim a
tal experimento celibatário através do casamento não seria
pecado. Assim, enquanto a igreja apostólica incluía o celi­
bato em contextos muito limitados, seria errado vê-lo como
uma norma durante o século I. N ão era algo inédito, e havia
espaço para ele na igreja, mas também não era o padrão para
o membro comum da igreja. Mesmo quando a perseguição
se generalizou, Paulo mantém o claro entendimento bíblico
de que não é bom que o homem esteja só.
C om essa consideração do celibato bíblico perante
nós, precisamos brevemente concluir tratando das formas
antibíblicas de celibato. Embora eu possa estar exagerando
nas tintas aqui, quero considerar dois motivos ímpios pelos
quais um homem pode permanecer solteiro — embora difi­
cilmente pareça justo dignificar estas razões com a honrada
palavra celibato. Em nossa cultura, entre aqueles que perma­
necem desligados de mulher, creio que essas duas razões não
são de todo incomuns.
Lembre-se, não estamos considerando o celibato em si,
mas o celibato por razões ímpias. O celibato em si pode ser
um chamado piedoso: “ O que realmente eu quero é que es-
tejais livres de preocupações. Quem não é casado cuida das
coisas do Senhor, de como agradar ao Senhor” (IC o 7.32).
A primeira causa deste tipo de celibato ímpio é a pre­
guiça. Uma coisa é um homem não estar casado para poder
devotar-se à obra do reino. Mas, se ele tem um trabalho fá­
cil, um bom apartamento, fins-de-semana livres, nenhuma
preocupação, e assim por diante, esse é um estado de coisas
do qual alguns homens se agradariam bastante. E claro que
muitos homens lutam com a solidão e a tentação sexual, mas
outros realmente passam a gostar da falta de compromissos.
Mas a razão por que gostam disto é que isso provê um mon­
tão de tempo livre para assistir a jogos de futebol e filmes.
Deus nos chamou para trabalhar diligentemente perante ele
em tudo o que fazemos, e muitos homens aprendem como
fazer isto por meio das responsabilidades que o casamento
e a paternidade trazem consigo. O utro caminho honrado
para um homem solteiro é doar-se de todo o coração à obra
que Deus designou para ele. Mas desviar-se para um estilo
de vida que atribui valor máximo à recreação e ao entrete­
nimento, com o trabalho sendo visto apenas como um mal
necessário que torna possível conseguir dinheiro suficiente
para comprar ingressos para shows, é um trágico desperdício
de uma vida humana. A preguiça é uma tentação muito co­
mum para o sexo masculino, e é algo que ameaça a verdadei­
ra masculinidade. Muitos sujeitos se fizeram menos homens
por meio da preguiça do que por muitos outros pecados.
A segunda causa de celibato indesejável poderia ser
mais bem descrita como ressentimento e orgulho ferido. H o ­
mens não lidam muito bem com rejeição, e se um homem
esteve em um relacionamento infeliz, levou um chute de
uma mulher, ou foi traído por ela, ele pode achar muito fá­
cil fugir de qualquer tipo de interação significativa entre os
sexos. Seu ciclo de ressentimento se aprofunda, e depois de
um tempo, ele pode encontrar-se incapaz de se aproximar
de uma mulher.
Alguns homens nessa posição realmente são celibatá­
rios; isto é, eles não têm qualquer relacionamento com mu­
lher alguma. Eles fogem porque estão feridos. Outros, com
uma atitude similar, podem ser sexualmente promíscuos (e,
portanto, não celibatários), mas são emocionalmente celi­
batários. São hostis às mulheres e simplesmente as usam.
Porque a vaidade sexual deles foi ferida por uma mulher,
presumem que têm perm issão para destruir e ferir outras
mulheres. Para os que assim se inclinam, o sexo é uma arma
e tanto. Mas, no fim, isto destruirá a todos os envolvidos.
Aqueles homens que estão solteiros, mas não em razão
de pecados pessoais, nem por escolha própria, devem apren­
der a seguir a Cristo em meio a essa situação difícil. Eles não
foram agraciados com o dom permanente do celibato, mas
com o temporário. Deus não põe seus filhos em situações
nas quais é impossível ser fiel. Isso significa que se um ho­
mem tem vinte anos de idade, e não vai se casar pelos próxi­
mos quatro anos, a graça está disponível a ele para que viva
este celibato temporário. O fato de que deve buscar a Deus
constantemente por essa graça mostra que ele não foi agra­
ciado com o mesmo dom de Paulo, estando resolvido sobre
a questão, contudo, a graça de Deus lhe está disponível.
Portanto, a Bíblia ensina que alguns homens podem ser
chamados ao celibato, eunucos por causa do reino, mas eles
devem ter certeza de que estão inteiramente resolvidos em
sua própria mente. O utros, pela providência de Deus, são
temporariamente celibatários, e mesmo que não tenham o
dom “permanente”, a graça está disponível a eles para que te­
nham uma vida de celibato puro até o tempo em que Deus os
chame ao casamento. O s demais devem levar a sério a ideia
de encontrar uma esposa cristã piedosa com quem dormir.
SEXO APÔS A RESSURREIÇÃO?

C omo alguns homens começaram a ler este capítulo sim­


plesmente por causa do título, quero poupá-los do tra­
balho respondendo à questão imediatamente: N ão!
Ao mesmo tempo, a questão permanece importante.
H á uma tendência natural entre alguns cristãos de dar a res­
posta correta sobre este ponto, mas com todas as razões
erradas. Mais do que uns poucos cristãos através da histó­
ria da igreja têm tido dificuldades com o fator sexual aquiy
e essa é a base para pensarem sobre as relações sexuais no
céu como uma impossibilidade teológica. Mas essa é uma
herança racionalista dos gregos, não é em absoluto o ensino
da Escritura.
Isso significa que, ao responder à questão na negativa,
temos de fazê-lo de um modo que faça justiça à bondade
fundamental da ordem da criação, à materialidade do corpo
ressurreto, e ao significado da metáfora provida pelas rela­
ções sexuais.
As discussões sobre essa questão nos levam natural­
mente à discussão que Cristo teve com os saduceus. Eles
questionaram acerca de uma mulher com sete maridos, e, se
a sexualidade conjugal é uma característica da vida na ressur­
reição, então, a questão dos saduceus ainda se mantém. De
quem é ela esposa? Longe de exaltar o casamento, qualquer
um que sustente que haverá casamento e sexo (como nós o
entendemos) na ressurreição estará na realidade defenden­
do a poliandria (múltiplos maridos) ou poligamia eternas.
Porém, a ressureição não nos envolve em tais emaranhados.
Mas também não exige que marido e esposa, amigos
íntimos aqui, se afastem a ponto de serem meros conheci­
dos. Quando estiverem ali, dez mil anos depois, brilhantes
como o sol, ele não irá correr para ela entre uma eternidade
e outra e dizer: “Olha só, você por aqui”. N osso contrato
de casamento não é uma instituição celestial, nem o nosso
contrato de divórcio.
Ao longo da semana da criação, Deus repetiu sua afir­
mação de que a ordem criada era boa. Após criar um homem
solitário, ele disse que aquilo não era bom. Então criou Eva
do lado de Adão, e a criação do homem estava completa —
homem e mulher os criou. O mundo e tudo que nele se con­
tém, incluindo a sexualidade, é bendito por Deus.
A ressurreição por vir não é uma vaporização em éter
espiritual. N ão somos helenistas, e não sustentamos a imor­
talidade de uma alma incorpórea. Somos cristãos e cremos
na ressurreição do corpo. E nessa ressurreição os homens se­
rão ressurretos como homens, e as mulheres como mulheres.
Quando o apóstolo Paulo trata dessa questão (e ele o
faz, de fato, em vários lugares), ele argumenta que a união
sexual aqui é uma sombra turva de uma união última. Esse é
um grande mistério, diz ele, mas refere-se a Cristo e à igreja.
O homem que se une a uma mulher torna-se com ela uma
só carne. Mas aquele que se une ao Senhor Jesus torna-se
um com ele em espírito (IC o 6.17). N o primeiro caso, há
uma metáfora de uma realidade celestial além da nossa com­
preensão. Mas temos de tomar cuidado nesse caso, porque
aprendemos a entender a palavra espírito aqui como necessa­
riamente etérea. A união espiritual não significa uma união
fantasmagórica.
O Senhor Jesus não se tornou um ser castrado ou an-
drógeno após a ressurreição. Ele permanece homem, mas o
que isso realmente significa transcende o nosso entendimen­
to. Ele é o homem último, o glorioso noivo. Ele comprou
uma noiva para si, e a união entre o último Adão e a última
Eva é uma união eterna.
Mas, para alguns, isso ainda é desapontador — não por­
que não seja glorioso, mas — porque ainda não respondemos
à questão que todo casal feliz ainda tem. “Qual vai ser meu
relacionamento com minha esposa ou marido? Eu sei que,
como parte da Noiva, estaremos todos unidos a Cristo, mas
e quanto à minha união com esta mulher ou este homem?” A
resposta é que ainda não se manifestou o que haveremos de
ser, mas nossa incredulidade é revelada em nosso medo de
que, seja o que for, isto envolva um significativo rebaixamen­
to de nossa condição. Imaginamos que as únicas opções são
as mesmas que temos aqui, ou uma esdrúxula ou maliciosa
erradicação de cada aspecto do que temos aqui. E isso revela
que não entendemos a direção fundamental da ressurreição.
Erramos porque não conhecemos as Escrituras, ou o poder,
bondade, e a benevolência de Deus.
Quando aprendemos que não estaremos casados em
nosso sentido terreno, imaginamos que estaremos solteiros
em um sentido terreno — e o céu é visto como uma grande,
imensa universidade ou centro profissional com pessoas da
igreja dentro. Mas, na ressurreição, seremos criaturas meta-
sexuais. Com o quer que sejam nossos relacionamentos, eles
serão melhores do que os que agora temos, muito diferentes
daqueles que agora temos, e terão uma continuidade básica
com aquilo que agora temos. Porém, quando imaginamos
“ diferente”, queremos imaginar algo etéreo, volátil, “espi­
ritual”. Em contraste, a vida na ressurreição será mais real,
mais substantiva, mais material.
Podemos extrair uma ilustração disto através dos ali­
mentos. Paulo usa a comida para ilustrar um ponto sobre
o sexo. A comida é para o estôm ago, e o estôm ago para
a comida, diz Paulo, mas Deus destruirá tanto um como
o outro (lC o 6.13). E a essa menção da destruição muitos
gnósticos gritam: “Olha só! Peguei você! Viu? Está dizendo
destruirá ”. Mas o termo aponta para aquilo que Deus sempre
faz quando destrói. Ele novamente chama à vida, e essa é a
questão aqui. O corpo ressurreto sempre tem um elemen­
to de continuidade com aquele que morre. Mas ele é tam­
bém elevado qualitativamente a um grau de maior glória. A
descontinuidade é também grande. Aquilo que não possui
honra torna-se honrável. Aquilo que é corruptível torna-se
incorruptível. Aquilo que é desprezível torna-se glorioso.
Então, haverá comida no céu? Sim, é claro — estaremos
sentados na ceia das bodas do Cordeiro — e o banquete será
indescritível. E então teremos ocasião para festejar. Haverá
comida no céu? Claro que não.
Em The Great Divorce , C . S. Lewis nos dá uma maravi­
lhosa figura da santificação sexual definitiva na ressurreição.
Um dos espíritos visitando o céu naquela estória tem um
lagarto vermelho sobre seus ombros, representando a lu-
xúria. Após alguma conversa, um anjo recebe permissão do
espírito para matar o lagarto. Quando ele o faz, o espírito se
torna uma das pessoas sólidas do céu, e o lagarto, mutilado
e partido no chão, torna à vida como um glorioso cavalo. O
homem, agora redimido, monta o cavalo e ambos cavalgam
pelas montanhas, acima e adiante. A lição é clara: “Nada,
nem mesmo o que é melhor e mais nobre, pode continuar
como então é. Nada, nem mesmo o que é mais baixo e ani­
malesco, poderá ser levantado novamente se submeter-se à
m orte”.2
O grande perigo em negar que haverá na ressurreição
aquilo que conhecemos por sexo é que invariavelmente in­
terpretamos isto como um rebaixamento de condição. Mas
isso é incredulidade, e algo que nos move inteiramente na
direção errada. Ao mesmo tempo, se as relações conjugais
continuam de alguma maneira no céu, e se elas incluem se­
xualidade em alguma medida, então uma série de coisas está
implícita. A questão dos saduceus nos confronta diretamen­

2 C. S. Lewis, The Great Divorce (New York: HarperCollins, 2001), p.


114.
te — e isso significa que ou o sexo ou o casamento terão de
ser completamente transformados.
A solução gnóstica é sempre desmaterializar a ressur­
reição, tornando-a etérea. Isso nos livra da armadilha dos
saduceus, mas tem um alto custo. Perdemos a materialidade
da ordem criada, a qual a Escritura exige que vejamos como
estabelecida eternamente. Jesus vasculhou a frigideira após
sua ressurreição, e comeu um pouco de mel com peixe frito
(Lc 24.41-43), e Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e eter­
namente (H b 13.8). Fantasmas não comem mel, e isto lança
luz sobre o comentário de Paulo de que tanto o alimento
como o estômago serão destruídos (IC o 6.13). Destruídos,
sim, mas como e em que sentido? Tendemos a tomar essa
destruição como uma aniquilação, ao invés da destruição
pela morte e gloriosa ressurreição seguinte.
Cristo passou através das paredes da casa onde estavam
os discípulos, e ainda foi capaz de comer estando ali. Isso é
um problema para nós porque nunca nos ocorreu de ele ter
passado pela parede em razão de a parede ser etérea, e não
porque o corpo ressurreto de Cristo fosse imaterial. E então
nos perguntamos como um fantasma pode comer peixe —
mas o problema real é como aquele peixe espiritual poderia
satisfazer um homem de verdade.
N a tentativa de decifrar isto, podemos ir por três di­
reções básicas partindo de nosso atual corpo material. A
primeira é para baixo , e essa alternativa gnóstica já foi com­
pletamente rejeitada. E já vai tarde! O que quer que aconte­
ça na ressurreição, não seremos castrados ou vaporizados.
A segunda direção é a transformação para cim a , onde as
diferenças entre céu e terra devem ser vistas em termos de
novidades éticas. Em outras palavras, o casamento não é
aquilo que significa casamento aqui (embora o sexo ainda
permaneça). Consequentemente, poligamia não é poligamia,
fornicação não é fornicação, virgindade não é virgindade.
Ou seja, as condições materiais da vida (embora gloriosas
e incorruptíveis) permanecem em grande parte como são
aqui, mas o significado delas é alterado. O s saduceus estavam
fazendo a pergunta errada. N essa perspectiva, eles estavam
tentando encaixar parafusos quadrados da não ressurreição
em porcas redondas da ressurreição. Eu consideraria esta
opção como falta de imaginação.
A última alternativa, aquela que desejo defender, é para
cima — ainda mais acima e ainda mais adiante. Essa aborda­
gem notadamente não responde ou explica como exatamen­
te será a ressurreição, e isso pode ser frustrante para aqueles
que desejam uma visão prévia de como seria. Mas resolve os
problemas pela fé. Deus não nos levantará da morte como
homens e mulheres para nos anular. As Escrituras nos con­
vidam a pensar mais além das nossas atuais condições e li­
mitações materiais:

Ora, se somos filhos, somos também herdeiros,


herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se
com ele sofremos, também com ele seremos glo-
rificados. Porque para mim tenho por certo que
os sofrimentos do tempo presente não podem ser
comparados com a glória a ser revelada em nós. A
ardente expectativa da criação aguarda a revelação
dos filhos de Deus (Rm 8.17-19).

E João diz:
Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não
se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que,
quando ele se manifestar, seremos semelhantes a
ele, porque haveremos de vê- lo como ele é. E a si
mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperan­
ça, assim como ele é puro (ljo 3.2-3).
N esse sentido, nós não transcendemos a materialidade
ou a sexualidade, mas a nossa própria sexualidade material
transcenderá, e nisto nos tornaremos mais como ela mesma,
e não menos. O céu é gloriosa maturidade, não um infantil
regresso. E porque não podemos imaginar isso corretamente
(sendo infantis agora), o Espírito nos ajuda em nossa fra­
queza.
Isso significa que na ressurreição haverá sempre um
céu sobre a nossa cabeça. Haverá sempre espaço para outro
glorioso convite para ir mais além e mais adiante. Mas, se o
ideal do paraíso é aquele de uma versão perfeita de nossa vida
aqui, exceto pela morte que não mais existirá, essa vida eter­
na me parece um corredor estreito que nunca termina, com
muros de dois metros e meio de altura. O problema com
nossos desejos, incluindo nossos desejos sexuais, não é que
eles são muito poderosos, mas que são insípidos e fracos.
Antes de podermos conhecer verdadeiro desejo, devemos
crescer. Até lá, apenas podemos imaginar e orar. Novamente
Lewis: “A luxúria é pobre, fraca, medíocre, e insignificante
coisa quando comparada com a riqueza e a energia que sur­
girão quando a luxúria tiver sido extinta”.3
SOLUÇÕES SEXUAIS

A ntes de tratar da questão das soluções sexuais, deve­


mos com eçar abandonando uma atitude comum que
atravessa o caminho da verdadeira satisfação sexual, e que
é o problema da m urmuração sexual.
Um bom casam ento é caracterizado pela capacidade
de falar sobre qualquer coisa. Isso não significa que seja
fácil falar sobre tudo, mas, antes, que qualquer assunto
pode ser tratado de maneira proveitosa. Um a área na qual
falar pode ser algo bem difícil é a área sexual — par­
ticularm ente discutir as tentações sexuais que, de fora,
afetam o relacionamento. C om o a discussão sexual entre
marido e mulher pode ser difícil por uma série de razões,
há muitas coisas que um marido deve se lembrar à medida
que assum e responsabilidade por lançar-se em negócio
tão arriscado. N o centro de tudo está seu dever para com
o contentam ento cristão.
Prim eiro, um m arido deve ter claro em sua mente
que ele está falando sobre suas tentações, e não dando
vazão a elas. Em resum o, a conversa deve ser honesta, e
não uma form a de descontentam ento dissim ulado. Ele
deve realmente entender quais são e quais não são suas
tentações. Sua esposa deve ser capaz de ajudá-lo a resistir
àquilo que representa tentação a pecar. M as, se ele não
acredita que algo é pecado, porém fala a ela com o se esti­
vesse lutando contra aquilo, ele está realmente tentando
manipulá-la ou enganá-la, ao invés de conversar. N ão são
poucos os que já “confessaram ” certas coisas à esposa
quando estavam, na verdade, tentando atingi-las com o
assunto.
O utra questão é que a honra e louvor sempre edi-
ficam cada aspecto de um relacionam ento, incluindo o
sexo, enquanto resm ungar é algo prejudicial e destruti­
vo. M uitos homens são m urmuradores sexuais crônicos,
e a Escritura proíbe a m urmuração (Fp 2.14), e exige o
contentam ento (Fp 4.11). Além disso, a Bíblia diz que
os homens devem honrar a esposa (lP e 3.7), e isso in­
clui expressar honra a ela por sua atratividade sexual. O
contentam ento piedoso está intimamente relacionado ao
leito m atrimonial sem mácula (H b 13.4-5). D izendo de
outro m odo, m uitos homens pensam que são tentados
pela luxúria quando são realmente tentados mais por um
espírito crítico e descontente.
Em muitos casos, eles nem sonhariam em reclamar
de sua vida alim entar da maneira com o se queixam da
vida sexual. Mas reclamar sempre atrapalha. Um homem
que reclama da com ida o tempo todo dificilm ente quer
ver melhorias na cozinha. O mesmo se dá na cama — um
homem que reclama do sexo o tem po todo dificilm en­
te quer ver uma melhora naquela cozinha. Isso continua
sendo verdade mesmo se todas as suas lam úrias perm ane­
cerem inauditas. Reclam ações são com unicadas de incon­
táveis maneiras.
As reclamações podem ser divididas em três catego­
rias. A primeira é a de que a esposa não é como as outras.
Podem os chamar isto de a queixa adúltera. Um homem
deve estar satisfeito com os seios de sua esposa (Pv 5.19),
e isso exclui a prática comum que muitos homens têm de
abrir o apetite em qualquer lugar e jantar em casa. Um
homem qualquer que tenha uma dieta regular de filmes e
program as de televisão aos quais não deveria assistir está
fazendo crescer continuamente o descontentam ento com
a aparência de sua esposa.
Ele pode responder que ficaria feliz com os seios de
sua esposa, mas que ela não deixa que ele se aproxim e
deles; o que nos leva ao nosso segundo tipo de murmu-
ração — não pelo m odo que ela aparenta ser, mas pelo
modo que ela responde a ele. Porque ela é quem controla
a forma como ela mesma se comporta, os homens algumas
vezes pensam que têm o direito de reclamar quando não
gostam de alguma coisa. O que tais homens não entendem
é que a resposta sexual da mulher é algo que floresce, como
uma exuberante planta verde no jardim, em correlação direta
ao modo como ela é nutrida e regada. Muitos homens recla­
mam de que suas esposas são acanhadas demais para serem
responsivas e para serem quentes como a Sulamita, mas eles
são acanhados demais para elogiar a própria esposa como
aquele esposo fazia na antiguidade. Então podemos chamar
esta de a reclamação do tolo.
A terceira reclamação ocorre quando uma esposa está
pecando ativamente contra o marido, seja por infidelidade,
flagrante falta de submissão, recusa em manter relações com
ele, e assim por diante. Se uma mulher está pecando desse
modo, o marido não tem o direito de minimizar o problema.
Se ele não pode lidar com a situação, então tem a responsa­
bilidade de buscar ajuda externa. Se ele recusa buscar ajuda,
mas ainda assim reclama, essa é a reclamação de um covarde.
Se um homem sabe que seu desejo de falar com sua es­
posa não procede de descontentamento, então uma conversa
sobre essas coisas pode ser bastante útil. Ele deve ter em
mente que o marido é responsável por ajudar a esposa a não
dar uma resposta negativa à medida que o esposo tenta tratar
do assunto. Muitas mulheres caem em uma armadilha: elas
se ofendem quando o marido tenta esconder o que está acon­
tecendo, mas então se ofendem de um modo diferente caso
o marido lhes conte qualquer detalhe de suas tentações. Em
resumo, elas punem a honestidade e a desonestidade. Q uan­
do a esposa age desse modo, põe tudo a perder, e por isso o
marido frequentemente acaba tornando-se esperto e deso­
nesto; quando o que precisa é tornar-se sábio e honesto. N ão
há nada de errado em dizer que uma mulher não deve reagir
dessa forma, mas o marido é o responsável por ajudá-la a
lidar com isso. Ela lhe foi dada como ajudadora, e uma das
coisas em que ele precisa de ajuda é com a fidelidade sexual
(IC o 7.2). E o casamento é uma ajuda com isto de variadas
maneiras, não simplesmente suprindo necessidades sexuais.
Uma conversa sadia é também uma parte importante.
Mas, para fornecer ajuda real, a base de toda discussão
entre marido e mulher cristãos deve ser o contentamento.
Um homem e uma mulher contentes podem se esforçar
para glorificar a Deus ainda mais naquilo que aprendem se­
xualmente. Porém, se o esforço é construído com base no
descontentamento, então tudo que eles aprendem a fazer só
serve para exacerbar esse descontentamento.
Dito isto, podemos prosseguir para aquilo que a Escri­
tura ensina positivamente a respeito do sexo conjugal. De
forma alguma, o leito matrimonial bíblico exclui uma alta
carga de erotismo. Mas, depois do período de lua de mel,
o erotismo bíblico exige disciplina e esforço. Um homem
indisciplinado não quer se preocupar com tais labores; quer
simplesmente seguir sua testosterona, aonde quer que ela o
conduza. Se há sexo excitante, ele está ali. Se não há, então
pergunta: “Com o assim ?” Para ele, um bom momento de
sexo é supostamente algo garantido em seus direitos cons­
titucionais.
A necessidade de disciplina sexual pode ser vista de
muitas formas interessantes. Uma passagem curiosa de lC o-
ríntios nos ensina muito mais do que o simples fato de que
marido e esposa devem manter um relacionamento sexual.
A palavra realmente intrigante nesta passagem é autoridade:
Quanto ao que me escrevestes, é bom que o homem
não toque em mulher; mas, por causa da impureza,
cada um tenha a sua própria esposa, e cada uma,
o seu próprio marido. O marido conceda à esposa
o que lhe é devido, e também, semelhantemente, a
esposa, ao seu marido. A mulher não tem poder so­
bre o seu próprio corpo, e sim o marido; e também,
semelhantemente, o marido não tem poder sobre o
seu próprio corpo, e sim a mulher. Não vos priveis
um ao outro, salvo talvez por mútuo consentimen­
to, por algum tempo, para vos dedicardes à oração
e, novamente, vos ajuntardes, para que Satanás não
vos tente por causa da incontinência (ICo 7.1-5).

Paulo está dizendo que marido e mulher devem ter


relações sexuais regulares a fim de se protegerem da im o­
ralidade. Porém, aqui há muito mais do que regularidade
em jogo. Por que é que muitos homens que têm relações
contínuas com a esposa não experimentam nem um pouco
da proteção desejada por Deus para eles? A resposta está
aí na palavra autoridade. O marido tem autoridade sobre o
corpo da esposa e, curiosamente, Paulo ensina que a esposa
tem autoridade sobre o corpo do marido. Com o cabeça da
família, o marido é responsável por tudo que acontece no lar,
e pelo estado de tudo, incluindo o estado da vida sexual do
casal. Ele é responsável por sua autoridade sobre ela, mas é
também responsável pela autoridade dela sobre ele.
O ra, o que ele deve ensinar a ela? N a discussão que
segue, não estou dizendo que tudo que é descrito é de algum
modo biblicamente exigido. Se nem o marido nem a esposa
estão interessados naquilo que a Bíblia permite aqui, então
podemos presumir que ambos estão sexualmente contentes,
e que esse marido provavelmente não está lendo este livro.
Sem problemas. Mas, se ele está pensando “como seria ma­
ravilhoso se ela simplesmente...”, mas em seguida meneia a
cabeça porque ela nunca iria chegar a fazer aquilo, então ele
precisa aprender que tais coisas são de sua responsabilidade.
E dele a responsabilidade de seguir por uma de duas dire­
ções: ou entender que seu desejo está sendo mal direcionado
e por isso precisa ser detido, ou ensinar sua esposa a como
ela pode satisfazê-lo.
A fidelidade do marido à esposa irá prover a segurança
de que ela precisa para ser ensinada por ele. Ele se vinculou
a essa fidelidade por meio de um voto quando se casou. Ele
precisa também, tanto quanto necessário, fazer uma aliança
com seus olhos, para que não vagueiem: “ Fiz aliança com
meus olhos; como, pois, os fixaria eu numa donzela?” (Jó
31.1). A fidelidade do marido à esposa é a base necessária
para que ele seja capaz de ensiná-la.
Mencionei em outra parte que os cristãos não devem
importar bizarrices para o leito matrimonial com o objetivo
de aumentar a potência da relação sexual. Até aí tudo bem,
mas, quem define o que é bizarro? Por qual padrão ? Com o
cristãos, devemos definir, de acordo com os padrões encon­
trados na Escritura, aquilo que fazemos e aquilo que evita­
mos fazer. De acordo com a Escritura, quais são os limites
de extensão do leito conjugal. A medida que discutimos os
exemplos de piedoso erotismo encontrados na Bíblia, deve­
mos encontrar material mais do que suficiente para ofender
tanto o pudico quanto o decadente.
Em Cantares, encontramos muito mais do que o senso
do tato. O olfato e o paladar estão envolvidos no ato am oro­
so: “ Beija-me com os beijos de tua boca; porque melhor é o
teu amor do que o vinho” (1.2). Unguentos perfumados são
utilizados para intensificar a experiência (1.13). A aparência
da cama e a do quarto importam bastante: “O nosso leito
é de viçosas folhas, as traves da nossa casa são de cedro, e
os seus caibros, de cipreste” (Ct 1.16b-17). Beijos apaixo­
nados — profundos — são claramente descritos. Leite e
mel estão sob a língua dela; e ele sabe disso porque a pro­
vou (4.11). O poema é bucólico, frequentemente entrando
em campinas ou jardins idílicos. O casal pode fantasiar que
está em qualquer outro lugar; fazendo amor ao ar livre, por
exemplo (7.11-12). O s amantes estão muito mais interessa­
dos no corpo um do outro — em cada parte. Por exemplo,
ele está delineando seus pés, coxas, umbigo, cintura, seios,
boca (4.5; 7.1-3). Ela é descrita como um jardim (4.12), e
seus órgãos sexuais são descritos como um jardim fechado
dentro de um jardim. Ela quer que o vento sopre sobre seu
jardim para que seu amado venha até o jardim e desfrute de
seus frutos (4.16). Inversamente, ela também se deleita em
provar do fruto dele (2.3). Obviamente, essas preliminares
orais não dizem respeito a beijar um ao outro com os lábios
em formato de biquinho, mas a tanto o homem como a mu­
lher provarem um do outro.
A relação intensa, apaixonada, é vista claramente como
algo lícito, incluindo até mesmo preliminares orais. Mas
mesmo aqui um casal bíblico precisa guardar-se contra as
demandas mundanas da busca pelo prazer sexual autôno­
mo. A união sexual oral não substitui o projeto de Deus —
o mundo busca esse tipo de coisa na esperança de alguma
emoção extra. O casal também não deve conduzir-se em tais
práticas de modo degradante ou humilhante. N o Cântico
de Salomão, as descrições de tais atividades aparecem clara­
mente no contexto de preliminares intensas que conduzem
ao intercurso sexual normal.
Também há limites para a fantasia. Fantasiar é clara­
mente uma parte de qualquer relação amorosa poética, e por
isso é lícito fantasiar. Mas não é lícito criar fantasias sobre
estar com mais alguém, ou com sua esposa modificada pela
“cirurgia plástica da mente”, de modo que tenha se tornado
outra pessoa. Marido e mulher também não devem fanta­
siar um sobre o outro de modo contrário à lei de Deus —
por exemplo, imaginando-se em relações sexuais antes ou
fora do casamento. Se Deus não quer que você faça isso, ele
não quer que você obtenha prazer pensando sobre isso. E
se a imaginação é uma forma de atividade lícita, seria mui­
to melhor para o casal disciplinar-se usando a fantasia para
aprender a fazer o que eles gostam de se imaginar fazendo.
Ao mesmo tempo, fantasiar sobre alguma coisa como uma
simples mudança de cenário é algo que pode ser claramente
visto no Cântico dos Cânticos.
O ato de amor desse casal bíblico claramente não está
ocorrendo na escuridão de seis ou sete cobertores. Eles são
muito francos um com o outro e desfrutam de um grande
deleite sexual em sua comunhão. Esse deleite se concentra
em algo específico e não é simplesmente uma aprovação ge­
ral do sexo, “qualquer que seja”. As descrições dadas são
poéticas, não pornográficas, e, contudo, ao mesmo tempo,
são inequívocas, especialmente no original. N ossos tradu­
tores é que, algumas vezes, tomam a rota mais confortável,
embora menos exata.
Mais do que uma passagem aponta para um duplo sig­
nificado. Por exemplo, considere o lugar por onde o amado
buscou entrar, mas ela inicialmente estava indisposta: “O
meu amado pôs a sua mão pela fresta da porta, e as minhas
entranhas estremeceram por amor dele” (Ct 5.4, A C F). Mas
isso também pode ser traduzido por: “ Meu amado enfiou a
mão pela brecha; minha vagina se inflamou, eu me exaltei
e a abri”. Em 7.2, o umbigo da mulher é possivelmente sua
vulva. E quando a mulher está falando do seu amado, ela se
deleita nele de modo similar: “As suas mãos, cilindros de
ouro, embutidos de jacintos; o seu ventre, como alvo mar­
fim, coberto de safiras” (Ct 5.14). Seu “ventre” aqui prova­
velmente se refere ao falo, considerado por ela como uma
peça de marfim. Em resumo, eles estão realmente ligados
— o significado literal do verso 5.1 é estar bêbado de amor.
Dentro dos limites do leito conjugal, marido e mulher são
chamados para enlouquecer um ao outro.
Tais relacionamento simplesmente não “acontecem”.
Disciplina e trabalho sobre todos os aspectos do relaciona­
mento são absolutamente necessários — focar apenas (ou
primeiramente) no sexo não irá levar a lugar algum. Aqueles
que estão interessados em buscar as questões amplas envol­
vendo o tratamento correto da esposa devem obter cópias
dos livros Reformando o Casamento e O Marido Federal e
então, após lê-los, voltar a este livro. Se não sabem como
viver em consideração com a esposa pelo decurso da vida,
então a informação apresentada aqui será somente causa de
mais exasperação. Mas, num contexto da afeição e estima
mútuas, o sexo é algo realmente bom.
Quando assim o é, torna-se uma grande proteção para
o homem. E muito claro que um homem que desfruta com
sua esposa desse tipo de imenso prazer terá grande dificul­
dade de se desviar para outras fontes. Um homem que está
jantando um suculento filé de carne dificilmente abando­
naria a mesa para ir comer alguns biscoitos recheados que
escondeu no armário. Mas um homem que está pela segunda
vez tendo de jantar cream-cracker poderia pensar em fazer
exatamente isso.
Mas, antes que algum marido diga: “Maravilha!” e cor­
ra para mostrar a esposa este livro com todas as faltas dela
em destaque, ele precisa lembrar de que ele é responsável
por instruí-la e liderá-la gentilmente. Ele não pode a ame­
drontar ou forçar a fazer o que ele quer. Lembre-se do já
citado exemplo do orangotango tocando violino. Mas, se
ele não está protegido da tentação sexual por meio de seu
relacionamento sexual, então fim de papo. Ele deve amá-la e
instruí-la. Seu ensino deve abarcar todas as áreas da vida —
a instrução a respeito da área sexual não pode vir sozinha.
Ele deve aprender da Bíblia (não da pornografia, e não de
terapeutas sexuais incrédulos), e então ensinar sua esposa
a partir dessa mesma Bíblia. Agora, isso não é dizer que a
pornografia entende tudo errado — mulheres de verdade
realmente têm dois seios, tal como na Playboy — ou que os
terapeutas sexuais entendam tudo errado. E simplesmente
mostrar que nossa suprema autoridade em tudo o que fa­
zemos deve ser a Escritura. Com isso em mente, estamos
verdadeiramente salvaguardados, e temos um padrão com o
qual podemos mensurar tudo que venhamos a aprender em
qualquer outro lugar.
Toda a atmosfera dessa casa não só é uma proteção para
a esposa, permitindo que ela cresça e floresça sexualmente;
é também uma proteção para o marido. Quando ele está
liderando-a da maneira como deve fazer, ela irá responder
e respeitá-lo. Esse respeito é uma tremenda proteção sexu­
al. Um homem que é desrespeitado em seu próprio lar está
vulnerável à aproximação de outra mulher que lhe dará um
falso respeito — as palavras lisonjeiras da sedutora. Mas,
novamente, se ele não é respeitado, então ele é que deve ver
que a situação deve ser posta em ordem em sua própria casa.
Se ele não o faz, está vulnerável àquela que lhe dará falso
respeito. Para atrair um homem, uma mulher pervertida irá
usar seus olhos ligeiros e sua língua lisonjeira. Ela não está
sendo sincera, mas, quem diria, a coisa funciona:

Porque o mandamento é lâmpada, e a instrução,


luz; e as repreensões da disciplina são o caminho da
vida; para te guardarem da vil mulher e das lison-
jas da mulher alheia. Não cobices no teu coração a
sua formosura, nem te deixes prender com as suas
olhadelas. Por uma prostituta o máximo que se paga
é um pedaço de pão, mas a adúltera anda à caça de
vida preciosa. Tomará alguém fogo no seio, sem que
as suas vestes se incendeiem? Ou andará alguém so­
bre brasas, sem que se queimem os seus pés? Assim
será com o que se chegar à mulher do seu próximo;
não ficará sem castigo todo aquele que a tocar (Pv
6.23-29).

Todas essas questões, e as questões relacionadas, exi­


gem uma grande quantidade de discussão cuidadosa entre
marido e esposa. E isso não é possível a menos que eles este­
jam em harmonia um com o outro, o que é realmente o fator
de proteção central dentro do casamento.
Obviamente algumas das questões sexuais que surgem
não podem ser respondidas diretamente com a Escritura.
Mas os princípios bíblicos devem ser aplicados sempre que
for possível incluí-los na discussão. Quando nada puder ser
dito biblicamente a respeito de uma prática, então devemos
buscar pensar em termos das categorias bíblicas. Devemos
pressupor que qualquer coisa que esteja dentro dessas linhas
gerais é lícita — embora nem por isso seja necessária. Se
aprendermos nossas lições, podemos chegar ao ponto em
que tenhamos tanta diversão quanto um patriarca bíblico:
“Tendo Isaque permanecido ali por muito tempo, Abime-
leque, rei dos filisteus, olhando da janela, viu que Isaque
acariciava a Rebeca, sua mulher” (Gn 26.8).
Somos uma raça caída, e por isso sabemos bem o que
significa ser autoritário. Já a liderança bíblica é algo que não
entendemos direito. Um equívoco muito comum é pensar
que liderar é ficar dando ordens. Falando do nosso tópico
específico, geralmente os homens confundem liderança se­
xual com autoritarismo sexual. O primeiro é algo exigido;
o segundo é proibido.
Muitos maridos cristãos têm erroneamente presumi­
do que, porque a Bíblia ensina que o homem é o cabeça do
lar, isso significa que a esposa não tem nenhuma autoridade
pactuai sobre ele. Com o veremos, essa é uma falsa pressupo­
sição, mas ainda assim bem difundida. Para dar um exemplo
comum nessa área, suponha que o marido seja derrotado,
de algum modo significativo, por um problema com por­
nografia. Ele sabe que seu comportamento é pecaminoso, e
confessa seu pecado (regularmente) a Deus. N a busca por
prestação de contas, ele pode até mesmo ter contado tudo
a um amigo cristão. Mas ele presume que essa informação
somente serviria para afligir sua esposa e que não está obri­
gado a contar a ela nada a respeito do assunto porque ela não
é cabeça do lar. Esse é somente um problema individual que
ele tem de resolver.
Mas, como vimos há pouco, a Escritura nos ensina mui­
to mais do que o simples fato de que marido e esposa devem
ter relações sexuais contínuas. Nesse importante aspecto, a
esposa cristã tem autoridade sobre seu marido:

Por causa da impureza, cada um tenha a sua própria


esposa, e cada uma, o seu próprio marido. O mari­
do conceda à esposa o que lhe é devido, e também,
semelhantemente, a esposa, ao seu marido. (...) A
mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, e
sim o marido; e também, semelhantemente, o ma­
rido não tem poder sobre o seu próprio corpo, e sim
a mulher (lC o 7.1, 4).

Paulo certamente está dizendo aquilo que a maioria das


pessoas capta dessa passagem: marido e mulher devem ter
relações sexuais regulares a fim de se protegerem contra as
tentações à imoralidade. Mas há muito mais do que regu­
laridade envolvida aqui. Por que muitos homens que têm
relações contínuas com a esposa não experimentam o tipo
de proteção tencionada por Deus? A resposta é encontrada
naquela palavra autoridade. Com o podemos esperar pela
bênção prometida nessa passagem se ignorarmos o ensino
da passagem?
O marido tem autoridade sobre o corpo da esposa, e
curiosamente, Paulo insiste que ela tem autoridade recíproca
sobre o corpo do marido. Com o cabeça do lar, ele é res­
ponsável por tudo em sua casa, incluindo a situação da vida
sexual do casal. E responsável pela sua autoridade sobre a
esposa, e, num sentido último, pela autoridade dela sobre
ele. Entretanto, ela tem genuína autoridade sobre o marido
nesta área. A extensão dessa autoridade mútua é definida
pela Escritura e não por qualquer racionalização dos desejos
do marido.
Isso significa que deve amá-la sexualmente, como ele
deseja, e que deve ensiná-la a exercer comparável autoridade
bíblica sobre ele sexualmente. Se esse relacionamento deve
refletir o padrão encontrado na Escritura, então ele deve
ensiná-la, e ensinar para que ela o ensine. Ele deve exercer
autoridade sobre ela, e esperar que ela exerça autoridade se­
xual sobre ele. Muitos homens são vulneráveis às tentações
de pecado sexual simplesmente porque a vida sexual deles
é tão maçante que pensam que precisam de algo extra para
apimentar o clima. O u, com sua própria autoridade, uma
autoridade que realmente não possuem, estão se “recompen­
sando” porque sentem que foram pobremente retribuídos.
De todo modo, entregar-se ao prazer sexual fora do lar, mes­
mo sentindo-se culpado, é mais fácil para muitos homens do
que assumir a responsabilidade de amar e ensinar a esposa.
Entre outras coisas, isso significa que um homem deve
prestar contas à esposa pelo seu comportamento sexual. Ela
tem autoridade sobre ele nisto. Paulo está dizendo muito
mais do que simplesmente afirmar que a mulher pode tomar
a iniciativa de iniciar a relação sexual com o marido. Ela cer­
tamente pode fazer isso, e pode fazer isso pela razão dada
por Paulo. A razão dada pelo apóstolo é que uma mulher
casada tem autoridade sobre o comportamento sexual de
seu esposo.
As ramificações disto são consideráveis. Se um homem
caiu na área sexual, ele não tem autoridade em si mesmo para
decidir se sua esposa deve tomar conhecimento do fato. O
comportamento sexual dele diz respeito a ela, e ela tem au­
toridade sobre tal comportamento. Ele não tem autoridade
de sonegar a ela aquilo que ela desejaria saber.
Maridos cristãos muitas vezes se espantam com o fato
de a esposa ter problemas com o ensino bíblico a respeito da
submissão. “A Bíblia é tão clara sobre o assunto! Qual o pro­
blema dela?” Mas um homem somente tem uma boa visão da
autoridade que possui sobre outros quando tem igualmente
uma boa visão da autoridade debaixo da qual se encontra.
Esse entendimento provê uma maravilhosa oportunidade:
Um homem pode ensinar sua esposa a ser submissa por meio
de seu próprio exemplo piedoso de submissão — aí então ele
vai poder mostrar a ela como a submissão é fácil!
Se ele recusa submeter-se a ela naquilo em que a Bíblia
diz que ela possui autoridade, então terá dificuldades em
manter sua dignidade quando insistir que ela submeta-se à
sua autoridade. Um princípio fundamental do com porta­
mento ético bíblico é que nossas ações são uma declaração
daquilo que esperamos que os outros nos façam. Isso signi­
fica que muitos maridos devem estar querendo uma esposa
insubmissa.
Agora, conhecer a teologia diretamente é uma coisa, e
aprender como traduzi-la em cada problema diário no lei­
to conjugal é outra. Com o, especificamente, um homem
deve assum ir a liderança? Iremos começar essa discussão
tratando daquelas coisas que os maridos cristãos precisam
aprender na área sexual, e então proceder para aquelas que
as esposas podem precisar aprender. Essa é a ordem a seguir
porque a menos que o marido esteja estudando sobre como
deve agir, há pouca probabilidade de que sua esposa seja ca­
paz de responder a ele tão bem quanto ele gostaria.
Antes de tratar desse assunto, gostaria de indicar ao
leitor que considerasse novamente ler o capítulo sobre a ne­
cessidade bíblica de falar francamente. Quero aqui falar o
que muitos maridos cristãos precisam ouvir, e estou conven­
cido de que essas coisas de nenhum outro modo podem ser
efetivamente comunicadas.
Para fazer sexo com uma mulher, um homem precisa
ser duro. Essa obviamente é uma verdade física, mas uma im­
portante metáfora também está relacionada a isto. Qualquer
palerma pode ter uma ereção, mas se ele é um homem que
abre mão de suas responsabilidades, então sua ereção não é
nada mais do que uma irritante hipocrisia sexual. Ele está
fingindo ser, em uma situação sexual específica, algo que ele
não é ao longo de sua vida. Para ser sexualmente responsiva,
uma esposa precisa respeitar, no nível mais básico, todos os
aspectos da masculinidade de seu marido. Ele deve ser um
homem, não apenas alguém do sexo masculino. Se ele está
excitado em seu leito, essa excitação não deve servir para
despertar ressentimentos na esposa: “ Por que ele não está
interessando em nada além disso?” Isto não significa que
essa linha de raciocínio seja algo que uma esposa ressenti­
da fosse capaz de articular por si mesma. Ela pode não ser
capaz de dizer exatamente qual é o problema. Mas isso não
significa que não há conexão entre as coisas. Em suma, se
um homem não está trabalhando pesado, sendo responsável,
diligente, corajoso, e protetor, então, não deve agir como tal
na hora do sexo. Se ele tem o miolo mole, não tem o direito
de agir de forma dura.
Para fazer sexo com uma mulher, um homem deve ser
paciente. Mas essa é a paciência de um artesão esperando
completar a sua obra; não é a paciência de um imbecil espe­
rando que um raio o atinja. Se marido e mulher já viveram
tempo suficiente na mesma casa, e não odeiam de verdade
um ao outro, então, periodicamente terão boas relações se­
xuais não planejadas. Mas, em um bom casamento, o sexo
disciplinado é necessário para que um possa desfrutar sexu­
almente do outro de modo consistente. Por sexo disciplina­
do não me refiro ao ato sexual mecanicamente executado,
desprovido de alegria. A disciplina exigida é a de um ho­
mem completo e exige que ele não aborde as coisas com a
praticidade de um engenheiro. E verdade que a engenharia
é uma disciplina, mas a poesia também o é. A paciência de
um homem deve estar evidente à esposa no modo como ele
se prepara para fazer amor com ela antes de começar os pre­
parativos “oficiais”. Isso inclui o modo como fala com ela
no café da manhã do dia anterior, como docemente se refere
a ela em sua conversa com outros, como regularmente age
como um líder consistente. Paulo nos diz que um homem
que ama a esposa a si mesmo se ama. Em lugar algum essa
verdade é mais óbvia do que no aspecto sexual. Um homem
que trata sua esposa com cuidadosa paciência irá desfrutar
de enormes dividendos sexuais.
Para fazer sexo com uma mulher, um homem deve ser
razoável. Quando o Faraó decidiu mostrar seu desprezo
para com os israelitas, ele ordenou-lhes que fizessem tijolos
sem palhas. Do mesmo modo, muitos homens não têm qual­
quer compreensão das demandas que as pessoas enfrentam
ao longo do dia. Uma esposa cristã tem de trabalhar duro,
com disciplina, no decurso do dia. Ela amamenta um bebê,
supervisiona as tarefas dos filhos mais velhos, leva e pega as
crianças na escola, e cuida da casa enquanto faz tudo isso.
E isso o que Deus requer dela (Tt 2.4-5). Então, após uma
longa fila de tarefas cansativas e extenuantes, e ali, prepa­
rando-se para dormir às 10h30 da noite, ela é surpreendida
pelo marido com dois grandes olhos a lhe pedir sexo. E, se o
sexo não for o que ele esperava, ele a culpa. Ela não responde
à sua necessidade urgente, ao que parece. O problema real
é que ele não está provendo-a com os recursos de que ela
precisa para ser responsiva. Ele deve ser sensato, e se deseja
certas coisas, deve planejar o meio de obtê-las. Ele deve ser
razoável.
Para fazer sexo com uma mulher, um homem deve ser
terno. Pedro diz aos homens que vivam em consideração
com a esposa, considerando-a como vaso mais frágil. Isso
certamente tem aplicações que vão além do leito conjugal,
mas que devem ser aplicadas a ele. Uma abordagem simplis­
ta da diferença sexual entre homens e mulheres diria que o
homem é rude e a mulher é terna, ele é duro e ela é flexível,
e assim por diante. Mas isto é só metade da figura. Com o
mencionei anteriormente, um homem deve ser duro, mas
deve ser flexível ao mesmo tempo. A mulher deve ser flexível
e responsiva, mas força e paixão não devem estar distantes
dessa resposta. Isso significa que um homem deve abordar
sua esposa com equilíbrio. Dentro do contexto de sua mas­
culinidade, deve usar de ternura.
Para fazer sexo com uma mulher, um homem deve ser
civilizado. Essa é uma área que requer cuidadosa reflexão.
Mencionei diversas vezes anteriormente que um homem
deve aprender suas lições sexuais da Escritura, e não de sua
iniciação pornográfica. Quando homens têm um problema
com pornografia, ou um histórico de relações com mulheres
ímpias, é muito fácil para eles trazer essa experiência para
dentro do casamento como um tipo de padrão implícito.
Ele se lembra de uma prostituta que faria qualquer coisa que
ele pedisse por mais quinze tostões, e não entende por que
aquelas “solicitações” são tão desdenhadas pela esposa. Ele
aprendeu algumas coisas rudes na pornografia e não com­
preende por que a esposa derrama água fria em suas suges­
tões para que tentem isso ou aquilo.
Paulo exige em Tessalonicenses que os homens cristãos
amem a esposa de modo distinto do “ desejo de lascívia” dos
incrédulos. H á uma similaridade: o sexo é obviamente se­
xual nas duas circunstâncias. Mas, ao mesmo tempo, Paulo
exige que seja mantida uma distinção no leito conjugal entre
a sexualidade piedosa e a sexualidade ímpia. Dizendo de ou­
tra forma, o casamento não santifica automaticamente qual­
quer coisa que possa ocorrer no leito conjugal. O s limites
de extensão são estabelecidos na Escritura, e não pelo con­
sentimento das partes envolvidas. Sexo anal é errado caso os
participantes sejam ou não casados, e caso estejam ou não de
acordo com essa prática. N a mesma categoria se enquadra
o sexo oral no qual a esposa engole o sêmen do marido. A
vagina da esposa não é o ânus nem a boca.
E claro que os homens que foram treinados por profis­
sionais da imoralidade podem ter problemas com esse tipo
de argumentação. Eles podem alegar que a Bíblia não proíbe
explicitamente tais coisas, e podem apontar passagens ci­
tadas em outra parte deste livro que indiquem a licitude de
certo tipo de sexo oral. Então, como podemos fazer uma
afirmação geral que exclua tais práticas? Há dois argumen­
tos contra esse tipo de coisa.
Primeiro, a discussão está ocorrendo sob a égide do
sexo civilizado. Homens e mulheres não são bestas selva­
gens, e não devem descer a esse nível de cegueira sexual.
A paixão piedosa não degrada, mas há um tipo de paixão
bestial que é degradante. Aqueles que desejam defender prá­
ticas desse tipo são completamente incapazes de demonstrar
como obedeceriam à instrução de Paulo de fazer separação
entre aquilo que fazem e aquilo que os incrédulos fariam no
ardor dos desejos lascivos. Se não podem traçar uma linha
divisória aqui, onde poderiam traçá-la? O ato sexual cristão
deve ser diferente do sexo ímpio. Aqueles que desejam trazer
tais práticas para o leito conjugal precisam explicar o que
pensam que essa diferença pode ser. Dado o tipo de con­
cupiscência que dirige esse tipo de desejo, eles não podem
aceitar esta explicação.
Em segundo lugar, a Bíblia nos ensina que certas lições
sexuais são um aspecto da revelação natural. Em sua discus­
são da homossexualidade, Paulo menciona que certos ho­
mens, “ deixando o uso natural da mulher” (Rm 1.27, A C F),
desviaram-se rumo à perversão. Tratamos da perversão em
um capítulo anterior; aqui devemos notar que Paulo men­
ciona de passagem que a mulher tem um “uso natural ”. Que
uso é este? Claramente, a resposta é aquilo que poderia ser
descrito como o intercurso sexual normal. Logo, apartar-se
desse uso natural é buscar um uso antinatural. As indicações
de preliminares orais encontradas no Cântico de Salomão
de modo algum são apresentadas como um substituto ao
intercurso normal, antes são uma preparação para ele.
Embora sua compreensão dos hábitos reprodutivos da
doninha fosse algo deficiente, o escritor da antiga Epístola
de Barnabé ainda tem algo a contribuir para nossa discussão:
“Ele odiou também a doninha, e com justeza [vide Lv 11.29].
N ão serás, está dizendo, como tais pessoas. Ouvimos de
tais homens, que cometem ato de depravação com a boca.
Nem vos associeis a tais mulheres impuras que cometem tal
iniqüidade com a boca” (Cap. 10). O raciocínio é simples.
A natureza mesma nos ensina o que é um órgão sexual e o
que não é. A boca de uma mulher não é fundamentalmente
diferente da boca de um homem, e esse não é o órgão para
receber o sêmen. Preliminares apaixonadas podem ser, e
frequentemente devem ser, muito intensas. Mas isso deve
terminar com o homem dentro da mulher, naturalmente.
A medida que cresce na graça e trata a esposa do modo
como um homem cristão deve fazê-lo, o marido irá reco­
nhecer que as mulheres têm suas próprias lições a aprender.
Elas também precisam crescer na graça. N ão é o caso de a
perspectiva feminina sobre as questões domésticas ser auto­
maticamente a correta. Ou como se a perspectiva da mulher
sobre o ato sexual fosse o padrão a seguir. Homem e mulher
devem aprender a disciplina sexual, e uma grande quantida­
de de prazer estará à espera deles quando assim o fizerem. Se
um homem tem assumido suas responsabilidades como de­
veria, e tem aprendido aquilo que precisa aprender, então ele
deve resolver conduzir sua esposa nas áreas em que ela talvez
necessite de aprendizado e crescimento. Após muitos anos
de casamento com um relacionamento sexual medíocre, um
homem deve começar a assumir responsabilidades. O rela­
cionamento está do jeito que está por causa do que ele fez
ou deixou de fazer. A segunda coisa deve ser aprender para
si. Ele não pode ensinar aquilo que não sabe. Em terceiro
lugar, ele deve sentar com ela e contar o que tem em mente,
confessar seus pecados e fuga das responsabilidades, contar
a ela suas tentações, e assim por diante. Ele pode querer dar
esse livro para que ela leia, e pedir para conversarem a res­
peito depois disso. Ele deve, claro, ser paciente, porque não
irá consertar em uma noite o padrão de hábitos de dez anos.
A medida que aprende a assumir responsabilidade, estas são
as seguintes áreas nas quais pode ter de conduzir a esposa.
A fim de satisfazer um homem, uma mulher deve estar
mental e emocionalmente preparada para relações sexuais
freqüentes. Lógico que o marido não deve emboscá-la se­
xualmente o tempo inteiro, mas ele geralmente tomará a
iniciativa. Muitas mulheres não entendem de fato a natu­
reza dos desejos sexuais do homem e quão fácil poderia ser
para ela debelar a maioria dos incêndios. Elas devem tentar
imaginar a situação em termos de um homem tentando com­
preender o que é dar à luz. O foco aqui é obviamente não
uma comparação do sofrimento envolvido. As duas coisas
não são (presumo eu) comparáveis, exceto em um aspecto:
elas representam experiências específicas de cada sexo. Uma
das melhores expressões que ouvi sobre a intensidade desse
desejo foi em uma canção popular, alguns anos atrás, so ­
bre alguns homens no mar em um cruzeiro de teste: “ Vocês
querem sexo? Podem abraçar as velas, e lamber o convés”.
Quando os homens estão sendo guiados por esse tipo de
desejo, e não há nenhum meio lícito de satisfazê-lo, a situ­
ação é simplesmente difícil. Mas, quando um homem está
casado e não pode satisfazê-lo, a dificuldade é agravada com
confusão sexual. Uma mulher que aprendeu isso sabe como
estar preparada para ser responsiva e, ocasionalmente, tomar
iniciativa. Ela precisa estar disponível para o marido, e deve
saber disso.
A fim de satisfazer um homem, uma mulher deve ter
cuidado para não pegar atalhos. Uma das armadilhas mais
fáceis aqui é a de rebaixar o nível sexual. H á certos meios de
se conseguir excitação rápida na cama, mas eles são comple­
tamente destrutivos no longo prazo. Em outras palavras, se
“excitação” está sendo trazida ao leito matrimonial por meio
da pornografia, dildos, vibradores, algemas, chicotes, trajes
de prostituta, creme de chantili, máscaras e outras formas
de bizarrice, então o que está em vista é a extinção da ver­
dadeira satisfação sexual.
O primeiro e mais óbvio problema com esse tipo de
tolice é a lei da diminuição de retorno. Quando esse padrão
de excitação barata se esgotar, a bizarrice desaparecerá ra­
pidamente, e alguma nova e estranha excentricidade tem de
ser praticada com o fim de obter o mesmo efeito. E assim
a vida vai se tornando crescentemente bizarra naquele pa­
cato lar suburbano numa rua qualquer, no qual um ansiado
e luxurioso príncipe cavalga escada acima para salvar a sua
senhora, a donzela excitada do sótão. Alguém aí precisa de
sábio cuidado pastoral. Um marido e mulher que sabem o
que fazer quando estão nus se encontram em situação muito
melhor do que um casal que precisa de um armário cheio de
apetrechos.
O segundo problema aqui é menos óbvio, mas tão sério
quanto. Quando uma mulher busca atenção sexual de seu
marido tornando-se baixa e pervertida, ela está ensinando
a ele mais do que o fato de que ela pode garantir bons mo­
mentos juntos. H á conotações desses bons momentos que
ela provavelmente não entende. Uma mulher que seduz o
marido a tratá-la como uma prostituta na cama não deve se
surpreender quando ele levar a lição para fora de casa. Os
homens têm dormido com prostitutas há milênios, e eles
sabem o que pensar a respeito delas — o que não é nada
considerável.
Um problema relacionado, e relativamente comum com
algumas jovens mulheres cristãs (que são solteiras e muito
ingênuas), é o de presumir que os homens são aqueles que
têm um problema com as várias tentações sexuais, mas que
elas, sendo mulheres e tudo, de algum modo são à prova de
balas. Elas podem folhear todos os tipos de material im­
punemente, ou pelo menos é essa a teoria. Está chegando a
hora do chá de lingerie de uma delas, e lá se vão a rir daquilo
que não deveriam. “O que há de errado?” O erro é que os
homens não são fiéis a prostitutas. Então, por que uma mu­
lher cristã desejaria se parecer com uma prostituta? Por que
razão no mundo ela desejaria parecer o tipo de mulher que
é fácil de usar e mais fácil ainda de jogar fora?
E fácil fazer com que os homens cobicem as mulheres
que eles não respeitam. E é fácil fazer com que os homens
respeitem as mulheres que eles não desejam. A parte difícil, a
parte que exige disciplina sexual, é aprender a respeitar uma
mulher como uma genuína dama, alguém com qualidades
distintas, e ainda, após trinta anos, desejar estar ao lado dela
mais do que da primeira vez. Isso é difícil de fazer, e não
pode ser obtido se a mulher está vestida como um palhaço
sexual.
Mas há um problema oposto. A fim de satisfazer um
homem, uma mulher deve estudá-lo. N esse aspecto, há nu­
merosas mulheres cristãs que chegam ao casamento muito
ingênuas, e embora depois disso passem a dormir com aque­
le homem por muitos anos, essa condição de ingenuidade re­
almente não muda. Essa mulher ainda não estudou o marido
e os desejos dele.
Esse é um problema que parece estar num campo muito
distinto em relação ao problema anterior, mas na base é real­
mente o mesmo. O problema é o da preguiça mental. Com o
problema anterior, as mulheres podem simplesmente supor
que aquilo que o sex shop vende é o que seu marido iria gos­
tar. Mas ele é um homem cristão, e embora uma prostituta
pudesse lhe dar alguns momentos de diversão, esse não é o
tipo de mulher com a qual ele quer viver.
Por outro lado, uma mulher prática, do tipo que inter­
rompe o sussurro amoroso do marido com uma pergunta
sobre ele ter colocado ou não o lixo lá fora, não está inte­
ressada nos desejos ou perguntas do marido. Uma esposa
cristã precisa aprender a ser pragmática sobre tais coisas.
Precisa pensar sobre os pensamentos do marido e aprender
a falar com ele sobre tais pensamentos sem ficar ofendida.
O mundo lá fora tem certo conhecimento sexual coletivo,
boa parte do qual é corrupto e uma boa quantidade dele
se interpõe em nossa vida. H á grandes chances de que um
marido comum tenha captado um pouco de informação ao
longo dos anos, boa parte da qual percebe que não pode dis­
cutir com uma esposa respeitável e excessivamente pudica.
Se ela é realmente pudica e respeitável, deve mesmo se sentir
ofendida pelo simples fato de ele ter conhecimento de certas
coisas — “Onde foi que você leu sobre isso}” — e então ele
se cala e se distrai pensando em qualquer outra coisa. Para
dar um exemplo primoroso, cito o caso de fornicação estatal
do ex-presidente americano com sua assessora oral. Após um
ano nas manchetes, quantos casais cristãos sequer conversa­
ram a respeito? O objetivo não é (obviamente) o de imitar;
mas o de ter o tipo de comunicação na qual o marido não é
deixado sozinho com seus pensamentos.
O objetivo deste livro não tem sido falar sobre sexo
indiscriminadamente. A Bíblia trata de sexo, e por isso nós
também devemos tratar. Porque nós, enquanto cristãos, não
temos ido à Bíblia em busca de respostas, nos encontramos
em meio a uma cultura pagã que não hesita em suas tentati­
vas de nos seduzir, enquanto nós, por alguma razão, temos
decidido entre nós mesmos nunca falar sobre o que estão
fazendo conosco. Isso, como as conseqüências mostram, é
uma receita de desastre.
Muitos homens têm-se consolado em sua culpa sexual
dizendo: “Minha esposa não compreende minhas tentações.
Se ela apenas soubesse...” Esse tipo de autocomiseração é
pobre substituto para um casamento piedoso e deve ser res­
pondido de dois modos. Primeiro, se ela não compreende,
a razão é que não foi ensinada pelo marido. A responsabili­
dade pela “ ignorância” dela não é dela. Em segundo lugar, o
marido que diz isso ignora, para sua própria conveniência,
o fato de que não compreende as tentações que ela expe­
rimenta sempre que ele utiliza algum tipo de pornografia.
Uma esposa é, e deve ser, ameaçadora por essa razão. A lgu­
mas vezes um homem quer dizer: “N ão entendo... qual foi o
problema?”. Isso se aplica também a qualquer outro de seus
obstáculos sexuais. Em outras palavras, ele não compreende
o que aquilo faz à esposa. Ele é o responsável por aprender. A
culpa é uma chateação. Confesse o pecado, e aprenda a aban­
doná-lo. Considere e estude aquilo que a Bíblia ensina sobre
esse assunto. Estude-o junto com sua esposa. E seja livre.
Se um marido é o tipo de homem que a Escritura o
chama para ser, se ele lidera sua esposa em seu chamado
vocacional como esposa e mãe, se eles falam sobre as várias
tentações como bons amigos, se estão igualmente compro­
metidos com a autoridade da Escritura sobre seu lar — in­
cluindo a cama — a vida sexual deles será grandemente
abençoada. A medida que crescem juntos em intimidade,
a bondade de Deus será evidente no deleite de um com o
outro. Eles serão tão abençoados que chegarão ao ponto em
que a única frustração sexual que experimentarão será não
poder contar a ninguém sobre os bons momentos que estão
tendo — o que será um bom problema de se ter.
DE SUA CARNE E DE SEUS OSSOS

C onvocado pela Escritura a amar a esposa de um modo


específico, o marido a ama à medida que entende o
amor de Cristo por sua noiva, a igreja. Eles devem fazer isto
por causa das palavras de Gênesis que, em certo nível, se
aplicam a Cristo e à igreja. E cada casamento, por sua vez,
fala de Cristo e a igreja. Esse é um profundo mistério, diz
Paulo, mas aí está:

Assim também os maridos devem amar a sua mu­


lher como ao próprio corpo. Quem ama a esposa a
si mesmo se ama. Porque ninguém jamais odiou a
própria carne; antes, a alimenta e dela cuida, como
também Cristo o faz com a igreja; porque somos
membros do seu corpo. Eis por que deixará o ho­
mem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher,
e se tornarão os dois uma só carne. Grande é este
mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja (Ef
5.28-32).

Suas palavras criam uma teia de sentidos que se espalha,


e é impossível para nós captar tudo que está aqui. E difícil
dizer se Paulo mesmo o captou — ele é um dos que confessa
ser isto um grande mistério, muito embora tenha escrito sob
a inspiração do Espírito Santo.
Considere como isto pode ser dito em forma de pa­
ráfrase. O s homens devem amar a esposa como amam seu
próprio corpo físico. O homem que ama sua esposa está
realmente amando a si mesmo de uma outra forma ou ma­
nifestação, e isso redunda para ele em bênção. Ninguém ja­
mais tratou mal seu próprio corpo físico — pelo contrário,
o alimenta, e o mantém aquecido. E justamente assim que
o Senhor trata a igreja. Ele faz isto porque nós somos o seu
corpo, de sua carne e de seus ossos, como diz o Gênesis
a respeito do primeiro homem e da primeira mulher. Um
homem deve deixar seu pai e mãe, e unir-se à sua mulher se­
xualmente, e como resultado disto os dois são uma só carne.
Ela é osso dos seus ossos, e carne de sua carne e, portanto, é
apropriado que o homem se case com uma mulher. Porque
Eva era osso dos ossos de Adão e carne da carne de Adão,
era adequado que estivessem juntos como uma só carne em
união sexual. Além disso, tem sido adequado (desde então)
a qualquer homem que deixa seu pai e sua mãe unir-se à sua
esposa, e tornar-se uma só carne com ela.
Cristo tornou-se osso dos nossos ossos e carne da nos­
sa carne na encarnação. Com o resultado disto, é adequado
para ele unir-se à sua noiva, a igreja. Por causa da encarnação
no passado, podemos aspirar à consumação de todas as coi­
sas no futuro. Porque partilhamos uma carne com Cristo,
podemos nos tornar uma só carne com ele.
Isso é o que os maridos cristãos devem imitar. “M ari­
dos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja
e a si mesmo se entregou por ela” (Ef 5.25). Com o Paiilo
diz em outra parte e contexto, quem é suficiente para estas
coisas? A resposta é obviamente que ninguém é suficiente
para todas elas; contudo, o mandamento permanece. Com o
homens casados, nos é exigido notar dois aspectos de nós
mesmos: “eu em mim mesmo” e “eu em outro”. Fazemos
isto não separando essas duas partes, antes pelo contrário.
Em meio ao individualismo moderno, vemos duas pes­
soas, e isso é tudo. A Bíblia nos obriga a ver uma unidade
fundamental aqui. O s teólogos falam de totus Christus para
se referir a “Cristo inteiro”, um Cristo que inclui sua noiva,
a igreja. N ós somos o corpo de Cristo, nos diz a Bíblia repe­
tidamente. De modo análogo, uma mulher é o corpo de seu
marido. O s dois juntos são um , o homem inteiro.
Que diferença isso faz? Paulo conclui essa seção dizen­
do que cada homem, em particular, deve amar sua esposa
como a si mesmo (v. 33). Em certo sentido, isso nada mais
é do que uma aplicação do segundo grande mandamento.
E exigido de nós que amemos nosso próximo como a nós
mesmos, e Jesus contou uma parábola que tornou abundan­
temente claro que nosso próximo deve ser definido como
qualquer pessoa no mundo. Mas, em outro sentido, este en­
sino de Efésios 5 transcende esse mandamento geral. Ele me
diz para amar meu próximo como se ele fosse eu mesmo. Ele
me diz para amar a minha esposa porque ela é eu mesmo.
Meu próximo é uma só carne comigo no sentido de que nós
somos ambos descendentes de Adão. A esposa é uma só car­
ne com o marido no sentido de que os dois, descendentes de
Adão, uniram-se sexualmente. Eles completaram o círculo.
O segundo “uma só carne” é tornado possível pelo pri­
meiro. O padrão de Deus para a morte e ressurreição é visto
no modo como ele estabeleceu o casamento. Adão foi posto
em profundo sono, uma clara figura da morte, e sua esposa
foi tomada de seu lado. Porque Deus tornou o um em dois,
Adão a chamou de Ishshah, osso dos seus ossos, e carne de
sua carne. Porque Deus tornou o um em dois, foi possível
para os dois tornarem-se um.
Dizendo de outro modo, Deus partiu Adão, e as duas
peças foram um homem e uma mulher. Essas duas peças
foram formadas de modo a permitir que estejam juntas no­
vamente, e o trajeto de volta significa que o homem estava
muito mais completo. Um solitário torna-se dois a fim de
que os dois possam tornar-se apenas um, unificados.
Alguém pode entender isto a fundo? Acho que não.
Entretanto, os maridos devem meditar sobre isso e tratar
a esposa muito melhor do que agora a tratam: “Já entrei no
meu jardim, minha irmã, noiva minha; colhi a minha mirra
com a especiaria, comi o meu favo com o mel, bebi o meu
vinho com o leite. Comei e bebei, amigos; bebei fartamente,
ó am ados” (Ct 5.1).
PERGUNTAS E RESPOSTAS

Sou pastor e tenho um problema com pornografia. Devo dei­


xar o ministério f
Isso depende da magnitude do problema. Se você tem
um problema permanente e compulsivo com a pornografia,
você deveria ter deixado o ministério ontem. A Bíblia esta­
belece altos padrões em suas qualificações para o ministro
(lTm 1.5-9; lTm 3.1-7; lPe 5.2-4). Se você não se encontra
irrepreensível, se é culpado de algo vergonhoso, etc., deve
renunciar. O ministério não é o seu “trabalho”, e por isso o
problema não é realmente o que você vai fazer para sustentar
sua família. A questão é se você possui ou não as qualifica­
ções espirituais para tal ofício. Se você não as possui, en­
tão deve renunciar. Isso permanece verdade mesmo se você
quiser assumir que o problema foi resolvido ontem. Se você
exibiu um desprezo permanente pelo seu ofício por meio do
uso da pornografia, então você precisa renunciar.
Contudo, se você tem um problema com a pornografia
do tipo que simplesmente serve para relembrá-lo de suas
concupiscências e fraquezas, então você não deve abandonar
o ministério. Por exemplo, suponha que você assistiu a um
filme com cenas de nudez, e isso o perturbou sexualmente e
mexeu com sua consciência. Confesse o pecado, e aprenda a
lição. Esse tipo de coisa simplesmente lhe diz que você está
em batalha, e não o desqualifica — apenas assegure-se de
que você não está perdendo a batalha. Em todo caso, sua es­
posa deve conhecer suas tentações, e se o problema ameaçar
tornar-se algo que possa colocar em risco o seu ministério,
então você deve ter algum tipo de prestação de contas com
os seus presbíteros.

Pela resposta à questão anterior , ficou claro para mim que


devo renunciar ao ministério. Quanto deve durar o processo
de restauração até que eu possa reassumir como ministro? Ou
estou permanentemente desqualificado f
A resposta aqui é que o ministério realmente não é mais
para você. O s ministros modernos muitas vezes presumem
que o ministério é um trabalho no qual ingressam em ra­
zão de um título que conseguiram no seminário, e que se
qualquer desqualificação é conhecida de todos, devem con­
siderá-la como temporária. Mas um homem que renuncia ao
ministério em razão de desqualificação moral deve admitir
que renunciou por uma boa razão. Realmente, sob certas
circunstâncias, pode ser claro para outros na igreja que a
restauração ocorreu. Isto porque o critério bíblico envolvi­
do nisto é a exigência de Paulo de que um presbítero esteja
“acima de reprovação”. Isso não é algo fixo, estático, mas irá
variar de acordo com a gravidade do pecado, o perfil público
do ministro, e o tempo decorrido desde o arrependimento.
Dito isto, creio que a sabedoria impõe que a restauração ao
ofício não seja considerada antes de algumas décadas. Isso
significa que um homem que renunciou por estar moral­
mente desqualificado deve fazer outros planos e preparati­
vos vocacionais.
Ao mesmo tempo, é importante distinguir entre a re­
núncia e um retiro sabático. Suponha que um pastor reco­
nheça que está começando a ser derrotado, e peça a seus
presbíteros um descanso a fim de poder concentrar-se em
seu casamento. Em tal caso, ele será apto a reassumir o mi­
nistério quando o problema for tratado e o retiro sabático
terminar. Mas aqui se trata de impedir potenciais desqualifi-
cações, em oposição ao primeiro cenário, no qual a desqua-
lificação já vigora.

Suspeito que meu filho adolescente possa estar envolvido com


pecados sexuais privados — pornografia, masturbação, etc.
Como posso confrontá-lo/ajudá-lo sobre esse assunto cons­
trangedorf
Embora nem sempre seja este o caso, os filhos adoles­
centes geralmente estão mais dispostos a receber instrução
sexual do pai do que o pai está disposto a dar. Com frequ­
ência, o constrangimento em tais situações é resultado da
ignorância, e a ignorância é resultado de não falar sobre o
assunto. O ponto de partida deve ser o pai estudar a questão
inteira para que tenha algo de valor a oferecer a seu filho.
Tendo feito isso, ele deve simplesmente tomar a iniciativa e
dizer: “ Filho, vamos falar sobre pornografia”.

O que seria nudez demais para um filme?


O cristão não deve ter qualquer tolerância pela im o­
ralidade e nudez em seu entretenimento. Esse padrão pode
ser mantido recusando-se filmes que tenham tais coisas, ou
por meio de um uso hábil do controle remoto. Em ambos os
casos, é necessário evitar o voyeurismo eletrônico.

Sou pastor e, em um aconselhamento recente, um homem me


confessou, sob intensa convicção de pecado, que molestou a l­
guns de seus filhos adotivos. O que devo fazer f Por um lado,
ele quebrou a lei; mas, por outro, o aconselhamento é confi­
dencial.
N a verdade, o aconselhamento não é confidencial, ao
menos nesse sentido. O aconselhamento bíblico no con­
texto da igreja pode sempre (é de fato uma possibilidade)
conduzir à própria disciplina pública da igreja. Por isso, um
pastor nunca deve prometer sigilo absoluto. Ele deve sempre
(é claro) ser discreto, mas haverá o momento em que terá a
obrigação moral de informar aos presbíteros de sua igreja
ou, em circunstâncias drásticas, ao magistrado civil. Se um
homem molestou as crianças que tem em casa, então aquelas
crianças devem ser protegidas dele. Infelizmente, vivemos
em um tempo no qual os agentes sociais que resgatam as
crianças podem tratá-las de modo tão antibíblico quanto
esse pai adotivo. Isso só agrava o pecado de tal homem — ele
deixou essas crianças terrivelmente desprotegidas.
Mas há um sentido no qual há confidencialidade bíbli­
ca. A decisão de informar ao magistrado civil é uma deci­
são feita pela igreja, não pelo magistrado. Um pastor digno
irá opor-se a qualquer intimidação que vise extrair dele in­
formações. Mas, se a situação justificar, a intimidação será
desnecessária porque o pastor mesmo já terá apresentado as
informações.

Sou pastor e estou preocupado com questões de reputação.


Muitos pastores têm, aos olhos do público, desgraçado a si mes­
mos e a seu ofício por meio de várias formas de imoralidade se­
xual. Isso, por sua vez, dá credibilidade a falsas acusações que
são crescentemente comuns — e, em uma sociedade litigiosa,
isso não é motivo de riso. Como um pastor deve se proteger?
Alguns pastores comprometem seu ofício por meio do
pecado sexual, tornando-se alvo da acusação de hipocrisia.
Mas outros comprometem o ofício por meio da falta de sa­
bedoria, fazendo-se alvo de calúnias.
Eu recomendaria que um pastor que aconselha tenha
uma janela na porta do seu gabinete e somente aconselhe
mulheres quando houver outras pessoas em volta. Um pas­
tor não deve dar carona a uma adolescente depois de um
grupo de estudo para jovens. Ele deve cultivar a capacidade
de aconselhar mulheres sobre assuntos íntimos de modo
cordial, amigável, e distante. Ele deve cultivar um relaciona­
mento de cumplicidade com sua esposa, e essa proximidade
entre os dois deve ser algo publicamente conhecido.

Vivo próximo ao litoral e adoro ir à praia. Contudo, o estilo


dos biquínis de hoje em dia não deixa nada encoberto. Isso
significa que nunca devo ir à praia?
Essa pode ser a implicação. Se um homem não pode ir
à praia sem pecar, então ele deveria parar de ir à praia. Mas,
se tem autodisciplina para gastar muito tempo olhando para
as nuvens, ou olhando para o mar como um velho mari­
nheiro, então ele pode ir. Depende muito da situação, mas
o princípio deve ser claro. Se a situação é um mau negócio,
não entre nela.

Minha esposa deve fazer sexo comigo sempre que eu quiser ?


N ão seja estúpido.

Era uma pergunta séria.


Sim, ela deve fazer sexo sempre que você quiser. E você
deve se refrear sempre que ela não quiser. Você tem autori­
dade sobre o corpo dela, mas nunca esqueça de que ela tem
autoridade sobre o seu corpo.

Minha esposa acabou de ter bebê e, por isso, de acordo com o


médico, só podemos ter relações sexuais daqui a seis semanas.
O que devemos fazer ?
Duas sugestões. Paulo referiu-se à prática de jejum se­
xual voluntário (IC o 7.5), e tais circunstâncias podem ser
um tempo conveniente para aprender a como fazer isto. Ao
mesmo tempo, Paulo reconhece no mesmo versículo que
esse jejum não deve durar muito tempo porque a falta de do­
mínio próprio irá conduzir a várias tentações à imoralidade.
Quando esse é o caso (como geralmente o é) e o intercurso
sexual não é uma opção, o casal deve planejar uma sessão de
carícias criativas e/ou brincar até chegar ao clímax.
Tenho 16 anos. Sei que sexo antes do casamento é errado, mas
até onde posso ir? Sexo oral antes do casamento é errado ? C a ­
rícias íntimas? E beijo de língua?
Tudo que você mencionou somente é biblicamente legí­
timo quando feito no contexto de um relacionamento sexual
lícito, isto é, no casamento. Sendo bem claro, se você não
estiver indo cozinhar o bife, não aqueça o forno.
Mas a pergunta também revela que você está pensan­
do sobre o comportamento sexual de um jovem casal não
casado sem fazer qualquer referência aos pais da jovem. A
Bíblia ensina muito a esse respeito, e por isso eu gostaria de
indicar a você meu livro sobre cortejo bíblico intitulado Sua
filha em casamento.

Fui convertido da homossexualidade e embora eu saiba que


o sexo homossexual é pecaminoso, contudo , essa é uma ten­
tação horrível. Como posso ser livre dessa tentação sempre
presente?
A Bíblia nunca nos promete completa liberdade de to­
das as tentações. Mas nos é dito que devemos orar para que
Deus não nos deixe cair em tentação (Mt 6.13). Orar desse
modo certamente irá ajudar você. Também nos é prometido
uma via de escape da tentação sempre que ela ocorrer (lC o
10.13). Estudar o modo de escapar significa estudar muitas
das passagens bíblicas sobre a concupiscência (em todas as
suas formas), as quais são citadas ao longo deste livro.
Uma parte essencial do aprender a resistir à tentação é
recorrer aos vários meios de graça que Deus estabeleceu para
todos os crentes, e não apenas aos crentes que lutam contra
as tentações homossexuais. Estes meios incluem a membre-
sia na igreja, prestação de contas aos presbíteros sobre seu
comportamento, ouvir a Palavra pregada, e aproximar-se
da Ceia do Senhor regularmente, e então, nesse contexto,
estudar e aplicar aquilo que a Bíblia ensina sobre homosse­
xualidade.
Alguns anos após casar ; fui diagnosticado com A ID S. Devo
tê-la contraído durante meus anos de promiscuidade antes da
minha conversão. Isso significa que devo me abster de relações
sexuais com minha esposa durante o resto da minha vida ? Mi­
nha esposa tem a obrigação de me satisfazer sexualmente, já
que o corpo dela não a pertence?
Primeiro, o princípio. O que temos aqui são obrigações
conflitantes. Ela tem a obrigação de satisfazê-lo sexualmen­
te, mas você tem a obrigação ainda maior de protegê-la e
nutri-la. Se você não pode ter relações com ela sem causar a
ela algum dano, então você não deve ter relações. Lamento
não ter simpatia por um homem que pensa que suas neces­
sidades sexuais são comparáveis a seu dever de proteger a
esposa. Esse princípio se aplica a todas as formas de doenças
sexualmente transmissíveis.
Tendo dito isto, umas poucas coisas devem ser ditas
sobre a A ID S. Se por A ID S você quer dizer que o vírus H IV
está presente em seu corpo, então eu indicaria a leitura do
livro Inventing the A ID S Virus, de Peter Duesberg.4 E bem
possível que sua situação não implique em abstenção total
de sexo — mas somente porque o vírus H IV é inofensivo.

Minha esposa e eu estamos considerando uma cirurgia para


aumentar os seios dela. Isso é lícito?
A questão tem de ser respondida de dois modos, con­
siderando dois motivos diferentes. Devemos ser cuidadosos
porque o princípio claramente é algo além de seios. Q ual­
quer tipo de cirurgia plástica é lícita? E quanto às peças do
aparelho ortodôntico de seu filho adolescente? E maquia­
gem?
Então, a resposta a isso depende. Se a sua esposa é uma
mulher normal, e a razão para estar considerando a cirurgia

4 Peter Duesberg, Inventing the AIDS Virus (Washington, D C : Regnery,


1996).
é que vocês estão fazendo comparações destrutivas entre os
seios dela e os de alguma celebridade, então o problema de
vocês é mente pequena, não seios pequenos. O problema
é descontentamento. Deus nos diz para estarmos contentes
com o que temos (H b 13.5), imediatamente seguindo a or­
dem para manter o leito matrimonial sem mácula. O descon­
tentamento sexual é destrutivo.
Mas outro princípio está envolvido. Deus nos deu a
autoridade de exercer domínio no mundo, e isso inclui a
cirurgia médica e reconstrutiva. Ninguém iria dizer que é
ilegítimo consertar um osso quebrado, ou uma cirurgia plás­
tica para reconstruir um rosto após um acidente de carro,
ou aumentar os seios de uma mulher se a situação o exige.
Por exemplo, uma mulher pode ser auxiliada por implantes
após uma cirurgia de câncer. Ou, se estiver extremamente
desprovida de seios, em razão de uma deformidade física,
e procurou a ajuda de um cirurgião, não vejo por que deve­
mos condená-la sem também condenar os braceletes de um
aparelho dentário.
Assim, se a sua decisão está sendo em tudo guiada pelo
descontentamento, então não a tome.

Uma colega de trabalho é muito persistente em aproximar-se


de mim. Confesso que a princípio eu provavelmente deixei
a nossa conversa muito livre. Contudo , chegou a um ponto
em que disse a ela que eu era fiel à minha esposa e não estava
interessado. Isso não a desencorajou, mas , antes, parece ter
inflamado seu desejo. Ela é bastante agressiva — como posso
lidar com isso ?
A primeira coisa a entender é que você tem uma mu­
lher de Potifar na jogada, o que significa que você tem de
se preparar para proteger a sua casa antes de dar um chute
nela. Vivemos em um tempo no qual falsas acusações, par­
ticularmente de natureza sexual, são recebidas com muita
prontidão. Isso significa que você primeiro deve contar a
sua esposa sobre a situação (o que você já deveria ter feito).
Em segundo lugar, você deve pesquisar a política formal
adotada por sua empresa sobre esse problema. Se tal política
não contradisser nenhum princípio bíblico, então você deve
segui-la à risca. Terceiro, o princípio bíblico do qual você
deve certificar-se é que todo fato seja confirmado pela boca
de duas ou três testemunhas. E, quarto, fale com a mulher
e a deixe saber que um relacionamento não é possível e que
você tem prestado contas à sua esposa de cada aspecto da
situação.

Minha esposa não é ativa em nossas relações conjugais. Ela


geralmente não me recusa, mas não parece participar ativa­
mente e de boa vontade. Estou genuinamente buscando aten­
der às necessidades sexuais dela, mas ela não parece querer
esse cuidado. Q ual o problema f Como posso guiá-la nessa
área?
Provavelmente o problema não é sexo, mas a sua lide­
rança em outras áreas. Para tratar disso, gostaria de enco­
rajar o estudo do tema geral do casamento, e não a questão
específica do leito conjugal. Um bom começo poderia ser os
livros Reformando o Casamento e O Marido Federal.
Mas, se vocês têm boas relações em tudo o mais, e o
único problema significativo é com as relações sexuais, en­
tão você deve ensiná-la e conduzi-la/ora do contexto sexual
imediato. N ão tente guiá-la e ensiná-la como se esse ensino
fossem as preliminares. Fale com ela de modo não sexual.
Pergunte o que ela pensa e, em seguida, façam alguns estu­
dos bíblicos juntos sobre o assunto.

Se uma esposa sabe que seu marido tem um problema contínuo


com pornografia, e se recusa a pedir ajuda, ela deve buscar os
presbíteros da igreja f
Sim, e por duas razões. A primeira é que mesmo cons­
ciente de que o marido é cabeça do lar, nenhum governo
humano é absoluto. O pacto de fidelidade que o marido
abraçou no casamento foi um pactuai público testemunha­
do pela igreja, e se ele está sendo infiel a esse pacto, en­
tão esse assunto diz respeito à igreja também. Q uando os
presbíteros tratam de um homem casado com problemas
com pornografia, eles não estão cometendo um excesso
de autoridade. Q uando o fazem porque a esposa de tal
homem os informou do problema, eles não estão apoiando
a rebelião da parte dela porque nisto ela não está sendo
rebelde.
Em segundo lugar, em questões sexuais, Paulo ensi­
na explicitamente que uma esposa tem autoridade sobre
o corpo do marido. Q uando se afasta da esposa rumo à
pornografia, ele lhe está desobedecendo. Ela tem todo
o direito de levar essa desobediência aos cuidados dos
presbíteros.

Tenho um problema de longa data com pornografia. Devo


confessara minha esposa?
Sim. Com o mencionei anteriormente, ela tem autorida­
de sobre você nessa área. Seu problema com a pornografia é
muito mais da conta dela do que da sua. Além disso, ela lhe
foi dada por Deus como proteção contra a imoralidade. E
essa proteção não existirá a menos que você esteja disposto
a falar com ela a respeito.

Q ual a melhor forma de se livrar da televisão e do aparelho


de D V D se os filmes são um problemaf
Um ponto central deste livro é que o problema não é
externo, mas interno. Assim, os filmes não são o problema.
Ao mesmo tempo, um dos meios importantes de mortifi-
car nossos desejos internos é fugir das ocasiões externas de
imoralidade. Assim, se você não pode resistir às tentações
criadas pela tecnologia em seu lar, você deve se livrar dessa
tecnologia. Apenas atente ao fato de que remover essas coi­
sas não é o mesmo que remover sua concupiscência. E uma
ajuda, não é a cura. O s homens tinham problemas com a
luxúria antes da invenção destes aparelhos.

De que forma um homem solteiro que mora sozinho pode evi­


tar a tentação de assistir pornografia?
Em adição a tudo que foi mencionado neste livro, ele
deve buscar situações de prestação de contas informais. Por
exemplo, pode ter um colega de quarto. N ão deve assinar
tevê a cabo, se isto for um problema. Deve estruturar sua
agenda de modo que não gaste muito tempo sozinho. Se
nada disto ajudar, deve buscar prestar contas a seus pais ou
aos presbíteros de sua igreja.

Minha esposa e eu gostamos de sexo do tipo excêntrico. E cla­


ro que existe uma linha divisória a partir da qual o exótico
torna-se pecado. Onde fica essa linha? Por exemplo, o que
dizer de sexo anal e jogos sexuais, como pintar o corpo com
chocolate.
A linha está cinco quilômetros distante da palavra ex­
cêntrico. Pense sobre essa palavra por um momento. Ela sig­
nifica distorcido. Uma dobra na mangueira do jardim não
é o que você quer quando está regando as plantas. O amor
conjugal bíblico é apaixonado, mas não distorcido. E inten­
so, mas não pervertido.
O prazer do sexo excêntrico é o de violar tabus (sendo
esse o seu alvo) e consequentemente demonstrar uma men­
talidade que é completamente estranha à Bíblia. N o fim da
estrada, tudo é distorcido, mesmo o que foi descrito sobre
pintar o corpo com chocolate como um “ jogo sexual”. Por
que não usa um pote de cola instantânea?
Com o indicado anteriormente, o Cântico dos Cânticos
de Salomão exalta o estar embriagado pelo amor. Essa é a
paixão bíblica e é completamente distinta de uma fascinação
infantil por fetiches e fantasias sexuais. A Bíblia ensina e
louva o ato conjugal entre gente grande.
Minha experiência com pornografia tem me deixado com um
monte de questões confusas. Por exemplo, que tipo de lingua­
gem marido e mulher podem usar na camaf Pode-se usar lin­
guagem obscena no leito conjugal?
Esteja sempre alerta contra as coisas que você apren­
deu na pornografia. Se o seu uso de certas palavras é sim ­
plesmente porque tais palavras são proibidas, e você e sua
esposa estão tentando ser “travessos”, então há claramen­
te um problema. Se um casal está usando tal linguagem
porque está fazendo algo que eles acham que é pecam i­
noso, então obviam ente estão pecando. N ão copie ou
imite servilmente o padrão dem onstrado na pornografia.
Pornografia é rebelião, e tais palavras são muitas vezes
usadas com o fim de expressar essa rebeldia. N unca é lí­
cito usar linguagem excêntrica a fim de despertar paixão.
M as, ao mesmo tempo, a Bíblia não contém uma lista
de “palavras ruins”. C om o mencionei anteriormente nes­
te livro, a palavra obsceno significa “ fora do palco”. Assim,
com respeito à questão das palavras “obscenas” consideradas
em si, devemos nos lembrar de que os casais estão “ fora do
palco”, e que estão ali de forma legítima. Então, se tais pa­
lavras são usadas simplesmente porque são descritivas e não
há nenhuma ligação com um rebelde desafio a tabus, então
não há problema. A legitimidade das palavras é sempre uma
questão de contexto e significado.

O que dizer sobre sexo durante o período de menstruação da


esposa f
A Bíblia proíbe isto (Lv 18.19), mas há algumas res­
trições ligadas à lei cerimonial a qual já foi cumprida (Lv
15.28). Embora alguns aleguem que todas essas restrições
menstruais são parte da lei cerimonial, gostaria de argumen­
tar que um casal deve se refrear do intercurso sexual durante
esse período por razões morais. A proibição em Levítico 18
é encontrada em meio a muitas outras restrições morais ao
incesto e adultério, e a considero uma restrição permanente.
A proibição em Levítico 15 simplesmente tem a ver com a
pureza cerimonial da mulher com respeito à sua preparação
para o culto no tabernáculo. Por isso não creio que um casal
hoje deve se abster do intercurso sexual por uma semana
após esse período da esposa.
Ao mesmo tempo, uma restrição ao intercurso durante
a menstruação não necessariamente significa uma proibição
de toda atividade sexual, mas o intercurso deve ser posto de
lado até o fim deste período.

H á problema em buscar tratamento médico para disfunção


sexual?
Enquanto envelhecem, os bebês do pós-guerra têm
dado poucas indicações de que estão fazendo isto de forma
saudável. Nutrindo-se de narcisismo, esperam tudo que que­
rem como se fosse um direito pessoal de nascimento. Tendo
crescido na maternidade da revolução sexual dos anos 1960,
e tendo levado tal revolução adiante por muitos anos nas
variações de classe média sobre o tema — e.g., casamento,
adultério, divórcio, casamento, adultério — não deve ser
surpreendente confirmar a realidade de que o peso do tempo
sobre os hábitos sexuais não tem sido bem recebido por eles.
O s pastores deparam-se com um número crescente de
situações de aconselhamento envolvendo disfunção sexual,
e os maridos e esposas cristãos estão tendo que descobrir o
que deveriam fazer se surgirem problemas em seu relaciona­
mento sexual. Alguns desses problemas podem ser resultado
do envelhecimento, alguns resultado do pecado, e alguns
uma combinação desses dois fatores.
Estou tratando de dois problemas aqui, e eles podem
servir como representativos de outros problemas relaciona­
dos. O foco não é “a solução específica”, mas antes os prin­
cípios bíblicos que devem guiar aqueles que estão envolvidos
em tais problemas. A questão principal de que quero tratar
é se é lícito ou não aos cristãos empregar ajuda da ciência
médica para resolver problemas sexuais que possam surgir.
A primeira coisa a relembrar é que uma pessoa levada
por qualquer luxúria tem baixa resistência a ofertas. E qual­
quer pessoa que tenha uma conta de e-mail há mais de dez
dias provavelmente já recebeu um spam tentando vender
produtos para coisas como aumento do tamanho dos seios
ou do pênis. Diga uma palavra, e alguém provavelmente
terá um produto para você. E por haver muitos que estão
agora perdendo sua estamina pelo pecado sexual, eles que­
rem então a ajuda dos químicos para prolongar seu pecado
por mais tempo. Muitos de tais produtos são, claramente,
falsos, mas as pessoas que são guiadas pela luxúria mantêm
tais produtos em alta. Se um homem como Hugh Hefner
está usando Viagra a fim de morrer do mesmo modo como
viveu — rebelde e infeliz — , então é claro que esse uso é
ilícito.
Mas suponha que um casal cristão não se enquadre nes­
sa categoria. Suponha que eles tenham aprendido a honrar
o leito matrimonial e venham fazendo isto por muitos anos
(H b 13.4). Embora afetados pela cultura circundante, eles
não cederam a ela. Eles não se juntam com o mesmo dese­
jo lascivo dos gentios (lTs 4.4-5), mas com a embriaguez
sexual piedosa do casal do Cântico dos Cânticos (Ct 5.1).
Porém, após anos juntos, começaram a experimentar avarias
nos equipamentos. Eles devem fazer algo a respeito?
A resposta é: depende. Se ambos são nonagenários, e
os dois estão contentes com a mão do Senhor sobre eles
no processo de envelhecimento (Ec 12.1-7), é claro que não
devem fazer nada. Embora os apóstolos da liberação sexual
possam exigir que todos mantenham relações sexuais até o
dia da morte, essa abordagem forçada não é bíblica. Vivemos
em um mundo caído, e todos estamos nos aproximando da
morte na qual, como disse Andrew Marvell, “ninguém es­
tará, penso eu, abraçado”. Com o diz o filósofo, precisamos
encarar isto.
Mas suponha que as circunstâncias sejam diferentes.
O casal está pela casa dos cinqüenta, e a tentação sexual do
mundo em volta permanece uma armadilha potencial. Paulo
nos diz que um dos propósitos do sexo no casamento é a
prevenção da imoralidade (lC o 7.2-6). Quando problemas
se desenvolvem em uma relação matrimonial na qual o casal
é relativamente jovem, há um dever bíblico de buscar a ajuda
que estiver disponível.
Quando as mulheres entram na menopausa, uma sig­
nificativa porcentagem delas desenvolve uma forma de va-
ginite que pode tornar o intercurso muito doloroso. O que
fazer? Isso pode conduzir a um conflito, obviamente, ou
fazer com que o homem se sinta rejeitado. Combinado com
as forças declinantes, pode levá-lo a ter problemas de ereção.
Em resumo, você pode ter um monte de confusão sexual real
e muitos sentimentos feridos.
Além disso, suponha que esse casal está em uma igreja
muito “conservadora” na qual tais coisas não são menciona­
das a ninguém sob quaisquer circunstâncias — nem ao pas­
tor, nem ao médico, nem a ninguém. Isso poderia ser muito
humilhante, muito constrangedor. Mas significa que o mari­
do (ou a esposa, de acordo com o caso) está mais disposto a
defraudar sua esposa do que a enfrentar o constrangimento
de buscar ajuda. E assim que o apóstolo Paulo descreve isto
— como fraude. E verdade que a fraude foi provocada pelas
circunstancias extenuantes. Se um homem não cumpre seu
dever de cortar a grama porque está com a perna quebrada,
tudo bem. Mas, se ele se recusa a tratar da perna, então em
certo ponto se torna responsável por sua inaptidão contínua,
mesmo se ter quebrado a perna não fosse sua intenção.
O que um casal nessa situação deve fazer? A primeira
coisa é que deve falar e confessar qualquer pecado ligado a
seus problemas — qualquer ressentimento, ira, egoísmo, e
assim por diante. Tendo feito isso, devem buscar ajuda pie­
dosa e competente. Se o problema é mais direção espiritual,
devem buscar ajuda de seu pastor. Sendo um problema fisio­
lógico, devem ir a um médico, e se puderem encontrar, que
seja um médico piedoso. Se não têm certeza sobre o trata­
mento que o doutor prescreveu, devem perguntar ao pastor
a respeito.
O resumo é que qualquer tratamento que restaure ou
eleve as funções naturais deve ser considerado como uma
bênção de Deus, como qualquer tipo de cura. Mas, se o tra­
tamento está sendo buscado como uma forma de “turbinar”
as funções naturais, então há boas chances de que a luxúria
tenha deixado o amor distante.

Pornografia deveria ser crime?


É um exemplo relevante que o padrão cristão de oposi­
ção política à pornografia agora esteja se voltando para uma
batalha cibernética. Todo cristão sabe que a pornografia é
ofensiva a Deus, e como bons cidadãos americanos, tão logo
decidimos que somos contra alguma coisa, automaticamente
presumimos que “ deveria haver uma lei”. Por causa disto,
frequentemente buscamos impor os padrões de Deus por
meios humanísticos e, em conseqüência, nos encontramos
tentando inutilmente matar o pecado com desinfetante.
Imagine um procurador de justiça vivendo no tempo de
Moisés. E suponhamos que alguns adeptos da pornografia
em sua versão mais explícita fossem trazidos até ele. Com o
ele os enquadraria, de acordo com a lei bíblica? Com uma
abordagem bíblica, a pornografia não poderia ser o crime,
mas antes a evidência do crime. Para ilustrar, suponha que
alguns jovens adolescentes fazem uma arruaça, quebrando
lojas e roubando objetos. Uma das primeiras coisas que rou­
bam é uma câmera filmadora, e são tolos o bastante para
registrar tudo o que fazem em seguida. Em tal situação, não
pensaríamos em acusá-los de fazer filmes de roubo — usa­
ríamos a filmagem para provar a culpa dos próprios ladrões.
Para seguir com a ilustração, imagine uma sociedade
na qual os cristãos insistem que devemos reprimir filmes
de assaltantes, mas resistem a qualquer tentativa de punir
os ladrões. A situação seria no mínimo estranha. Por que
resistir à punição daquilo sobre o que Deus requer punição
e insistir em punições que não são encontradas em lugar
algum da Escritura?
A lição deve ser aplicada à pornografia. N a lei bíblica,
diversos tipos de relacionamento sexual são proibidos, com
penalidades civis atreladas às proibições. Quando a porno­
grafia é produzida e distribuída, ela deve simplesmente ser
usada como evidência de adultério, sodomia, etc. Se a evi­
dência não demonstra algo que é reconhecidamente crime
segundo a Escritura, então o problema deve ser tratado pelos
governos da família ou igreja, sem o uso de penalidades ci­
vis, ou simplesmente deixado de lado. N ão temos a capacida­
de de legislar sabiamente naquilo que Deus tem sido silente.
O governo civil é ministro de Deus, diácono de Deus. Ele é
limitado em sua autoridade.
O s cristãos devem aprender a distinguir pecados de
crimes. Se Deus revela sua vontade sobre um assunto, a de­
sobediência a ela é pecado. Se Deus revela a penalidade civil
que deve ser aplicada, então aquilo é também crime. Mas,
sem sabedoria dele sobre a penalidade civil a ser aplicada, a
ordem civil deve deixar a aplicação da lei de Deus à igreja,
família, ou à providência de Deus. Tais distinções são vitais
para tratar dos problemas com a pornografia na internet de
maneira bíblica.

Um homem divorciado pode ser presbítero?


A Bíblia descreve claramente como um presbítero deve
ser. Entre outras coisas, ele deve ser “ irrepreensível”. Deve
ser “temperante” e “amigo do bem”. N ão deve ser um ho­
mem “avarento”, ou “contencioso”. Deve ter um bom teste­
munho entre aqueles que são de fora da igreja. As descrições
completas do presbítero bíblico são encontradas em lTim ó-
teo 3.1-7, Tito 1.5-9, e lPedro 5.1-4.
Essas passagens descrevem atributos pessoais e de ca­
ráter exigidos — não são uma lista mecânica. Paulo e Pedro
exigem de nós que encontremos o tipo certo de homem. Isso
é importante por muitas razões, mas entre as primeiras está
o fato de que os presbíteros são responsáveis por reabastecer
suas próprias fileiras, e para encontrar o tipo certo de ho­
mem, é necessário que os já presbíteros sejam o tipo certo de
homens. Em outras palavras, quando os presbíteros de uma
igreja estão determinando se um novo candidato é ou não
qualificado para o ofício, eles devem ser o tipo de homens
que são maduros no discernimento. Eles estão ali ponderan­
do sobre caráter, não contando pedras.
Para tomar um exemplo da lista de Paulo: um presbí­
tero deve ser “marido de uma só mulher”. Essas palavras
enigmáticas exigem um julgamento. Será que isso significa
“não polígam os” ? Será que excluem um homem que já foi
divorciado? Um homem que foi casado e divorciado cinco
vezes? Indo além, Paulo rejeita qualquer homem que tenha
possuído sexualmente mais de uma mulher em qualquer mo­
mento, com ou sem contrato matrimonial? E o que dizer de
um homem que tenha sido casado mais de uma vez porque
sua primeira esposa faleceu? O que Paulo diz é que um pres­
bítero deve ser “marido de uma só mulher”. E evidente que,
tendo de aplicar a Palavra absoluta de Deus em um mundo
variável, os presbíteros devem ser homens maduros em dis­
cernimento bíblico, porque eles são chamados a fazer tais
julgamentos. Pecar em tais julgamentos é fato grave.
Em tais casos, duas diferentes atitudes interferem nos
julgamentos maduros. A primeira é o desleixo encontrado
nas igrejas evangélicas liberais e modernas: começam por
condenar o “ legalismo” e “perfeccionismo”, e passam a con­
siderar as exigências bíblicas como nada mais do que meras
“sugestões”, depois como um “nobre ideal, contudo, ina­
tingível”, e então, o que não é de surpreender, as ignoram
completamente — as descartam como “ irrealistas”. Inúme­
ras igrejas têm abandonado a fidelidade a Cristo pelo libera­
lismo de miolo mole porque foram infiéis primeiro no modo
como selecionaram seus líderes.
A segunda atitude é frequentemente uma reação a essa
recusa moderna de tomar a Palavra de Deus seriamente. De
acordo com essa reação, a lista de atributos deixa de ser des­
critiva de um certo tipo de homem e passa a ser um duro
checklist. E como todo “checklist” de piedade, uma clara arbi­
trariedade começa a se imiscuir — não menos humanística,
embora se acredite ser “estrita” e “conservadora”. Inúmeras
igrejas têm abandonado a fidelidade a Cristo por essa dure­
za antibíblica porque foram infiéis primeiro no modo como
selecionaram seus líderes.
Assim, pensa-se que um homem que dorme com dez
mulheres antes de sua conversão, mas não foi idiota o bas­
tante para casar com nenhuma delas, pode ser apto ao pres-
biterato após sua conversão, enquanto um homem que se
casou com uma mulher e se divorciou dela antes de sua con­
versão está automaticamente desqualificado. Essa versão
do “marido de uma só mulher” pode ter possuído quantas
amantes desejou no passado, mas nenhuma esposa. Ironi­
camente, essa abordagem “estrita” pode chegar a aceitar
homens que têm uma gritante deficiência de caráter com
respeito às mulheres e excluir um homem que claramente
não tem esse problema. E como se os prestíteros insistissem
que um novo presbítero não fosse dado a muito vinho, mas
não houvesse problema com tonéis de cerveja.
Obviamente o assunto do casamento e divórcio se re­
lacionam de forma muito clara a essa qualificação de “ma­
rido de uma só mulher”. Um homem certamente pode estar
excluído das exigências bíblicas por ter se divorciado no
passado. Mas presbíteros sábios não irão excluí-lo a priori ;
eles irão rejeitar qualquer tentação de reduzir a avaliação
do caráter daquele homem a um simples processo de três
passos. O desejo de ter uma lista de verificação pode facil­
mente tornar-se algo absurdo. Um presbítero pode não ser
dado a muito vinho; mas suponha que costumasse ter proble­
mas com álcool trinta anos atrás. E agora? Suponha que ele
costumasse ter problemas com álcool há três semanas. Os
presbíteros devem ser conscienciosos à medida que aplicam
os padrões descritos por Deus.
A igreja não pode ter líderes que são “ irrepreensíveis”
por natureza. Por natureza, todos nós somos objetos da ira.
A irrepreensibilidade dos presbíteros é pela graça, e a tarefa
de considerar um novo presbítero consiste em determinar
se a obra da graça é real, duradoura, e profunda na vida dele.
E isso não se consegue por meio de uma adequação verbal
às exigências. (“ N o momento você tem planos de deixar a
sua esposa?”) Com respeito a essa exigência, os frutos do
casamento de um homem ao longo do tempo devem ser ava­
liados. Em outras palavras, ele é o tipo de homem que exibe
uma devoção exclusiva a uma única mulher, mostrando para
a congregação as características de um casamento bíblico?
Se sim, então ele é homem de uma só mulher. Se não, então
deve ser excluído do ofício. Se a questão não pode ser res­
pondida porque não há história suficiente a se analisar, então
a avaliação do candidato deve ser postergada.
Homens de caráter judicioso são raros, e a natureza de
tais exigências bíblicas demonstra quão importante é tê-los
na liderança da igreja: “O alimento sólido é para os adultos,
para aqueles que, pela prática, têm as suas faculdades exer­
citadas para discernir não somente o bem, mas também o
mal” (H b 5.14).
Quando os presbíteros estão examinando um candi­
dato, devem buscar saber se tal candidato preenche agora a
descrição bíblica para o presbiterato; e como não podemos
ver o coração, devem buscar saber se há um padrão visível da
graça de Deus em ação, por um longo e contínuo período.
Longe da graça de Deus, ninguém está qualificado.
GLÓRIA SEXUAL

A ntes de tratar de nosso assunto diretamente, devemos


começar com uma série de informações aparentemente
desconexas.
Ao longo do seu livro, o profeta Isaías descreve os dias
de glória messiânica de várias maneiras magnificentes. Em
certo lugar, ele diz: “Criará o S e n h o r , sobre todo o monte
de Sião e sobre todas as suas assembleias, uma nuvem de dia
e fumaça e resplendor de fogo chamejante de noite; porque
sobre toda a glória se estenderá um dossel e um pavilhão”
(Is 4.5). A N V I traduz o final do verso assim: “A glória tudo
cobrirá”. John Newton traduziu essa passagem de modo ma­
ravilhoso em seu hino Glorious Things ofThee Are Spoken :
“ Pairando sobre cada habitação / Veja nuvem e fogo que
estão / São do Senhor glória e cobertura / M ostrando que
ele próximo figura!”
Glória e cobertura. A glória da shekinah que acompa­
nhou Israel foi um lindo abrigo, uma magnífica fortaleza,
glória e cobertura. A partir dessa maravilhosa imagem, o
apóstolo Paulo faz uma profunda aplicação:

Porque, na verdade, o homem não deve cobrir a ca­


beça, por ser ele imagem e glória de Deus, mas a
mulher é glória do homem. Portanto, deve a mulher,
por causa dos anjos, trazer véu na cabeça, como si­
nal de autoridade (...) Ou não vos ensina a própria
natureza ser desonroso para o homem usar cabelo
comprido? E que, tratando-se da mulher, é para ela
uma glória? Pois o cabelo lhe foi dado em lugar de
mantilha (lC o 11.7, 10, 14-15).
Com o vimos, as palavras “glória” e “cobertura” [man­
tilha] de fato ficam muito bem juntas. E, dado o contexto
de Isaías, isso não pode ser coincidência.
Paulo ensina que uma mulher deve cobrir a cabeça com
cabelo comprido porque ela é a glória do seu marido. O ca­
belo dela é a glória dela, e por sua vez ela é a glória dele. A s­
sim, o cabelo dela, quando coberto, é a glória de seu marido.
Essa glória é manifesta a todos, na presença dos anjos. Além
disso, seu cabelo comprido é posto sobre sua cabeça, não
apenas para mostrar que ela está debaixo de autoridade, mas
também para mostrar que ela possui autoridade. Vários ca­
pítulos antes, Paulo lembra aos casados que a esposa exerce
autoridade sexual sobre seu marido (lC o 7.4). E a natureza
dessa submissão e autoridade é demonstrada ao mundo pelo
cabelo da esposa.
Mas essas coisas são muito esquisitas para nós, homens
sofisticados e modernos. Muitos cristãos hoje descartam
essa passagem como sendo “simplesmente algo cultural”. E
aqueles poucos cristãos que creem que essa passagem tem
validade hoje, pensam que Paulo está falando sobre mulhe­
res de semblante severo usando um véu cinza no topo da
cabeça. Ninguém pensa sobre essa passagem em termos de
um erotismo bíblico.
Primeiramente podemos descartar a ideia de que essa
passagem simplesmente reflete a moralidade do século I e
nada mais do que isso. Paulo diz que tais verdades são ensi­
nadas pela própria natureza, o que é algo bem diferente de ser
exigida pelos costumes greco-romanos. O apelo à natureza é
um apelo à ordem da criação, e não aos costumes de época.
Paulo claramente pretende que seu ensino seja normativo na
igreja através de todas as épocas. Ele nos ensina que esse é o
modo como as coisas são na própria natureza do mundo, e
devemos aprender a nos conformar a isto. E se o cabelo de
uma mulher é a glória dela, a questão que está diante de nós
certamente não deve ser quão curto esse cabelo deve ser a
fim de ser glorioso. H á uma boa resposta que se pode dar a
essa questão, mas por que estamos perguntando isto?
E claro que aqueles que “obedecem” a essa passagem
com todas as forças reacionárias estão da mesma forma per­
dendo o foco. Estam os falando sobre declarar glória e não
sobre ser carrancudo.
O relacionamento conjugal é uma relação sexual pri­
vada, mas publicamente reconhecida e honrada (H b 13.4).
Aquilo que constitui emblema público dessa relação deve
refletir acuradamente a natureza de tal relação, e esse é par­
ticularmente o caso com relação aos emblemas que nos são
dados na Escritura. Anéis são legais (e lícitos), mas Deus
designou outro modo de fazer essa declaração.
O cabelo da mulher é designado por Deus para fazer
uma declaração ao mundo. Quando usa o cabelo do modo
apropriado, ela demonstra sua submissão e autoridade, m os­
tra sua docilidade e poder. Uma mulher piedosa é doce, gen­
til, submissa, e “terrível como um exército com bandeiras”
(Ct 6.4, A C F). A glória dela mostra que ela é a cobertura
sexual de seu marido, uma formidável defesa e um muro de
proteção para ele.
Maridos, o que a sua esposa é para você? Se você tem
um casamento decente, você provavelmente pode responder
com frases de cartão de aniversário: “ Ela é minha melhor
amiga”; “Ela é uma mãe maravilhosa para meus filhos”. Mas,
se você tem um casamento bíblico, a resposta deve ser bem
diferente: “ Ela é minha glória”.
REFERÊNCIAS BÍBLICAS

G ê n e s is L e v ít ic o 27.3 — 98
1.27 — 95 1 0 — 158
2 S am uel
2.18 — 94, 104 1 1 .2 9 — 158
5.13 — 98
2.20 — 95 1 5 — 181
1 2 .7 .8 — 9 8 , 9 9
2.21,23 — 95 15.16—18 — 117, 118
12.8 — 101
2.24,25 — 95 1 5 . 2 8 — 180
12.11 — 102
4.19 — 94 1 8 .1 0 — 113
13.14, 15 — 29
26.8— 151 1 8.1 8 — 100
29.30 — 99 1 8 .1 9 — 180 I R eis
34.2 — 89 18.22 — 111 1 1 . 3 — 101
34.3 — 89 18.23 — 113 1 4 . 2 3 , 2 4 — 111
34.12 — 89 2 0 — 112 1 5 .11 -1 2— 111
34.19 — 89 20.10 — 57 2 2 . 4 7 — 111
38 — 60 20.13 — 111
2 R eis
38.16-17 — 81
N úm eros 2 3 . 7 — 106
38.26 — 60
32.23 — 59
39.7 — 37 E sd r a s
39.9 — 56 D e u t e r o n ô m io 9-10 — 77
39.12 — 37 17.17— 101
49.5 — 89 21.13, 14 — 90

31.1 — 62, 146
2 1 .1 7 — 100
Ê xo do 31.9, 10 — 86
2 2 .2 5 - 2 9 — 87
19.15— 122 31.11 — 56
23.18, 1 9 — 106
20.7— 14
24.1-4 — 73 P r o v é r b io s
20.14 — 55
21.9, 1 0 — 100 5.8-14 — 24
1S a m u e l
22.16, 17 — 88 5.10 — 59
25 .2 2 — 15
5.11, 12 — 61 5. 14— 148 M ateu s
5 . 1 5 - 2 1 — 30 6.4— 191 5.27.28 — 25
5.18 — 57 7.1-3 — 146 5.30 — 53
5 . 1 9 — 142 7.11, 12 — 146 5.30-32 — 72
6 .2 3 - 2 9 — 150 8.7 — 57 6.13 — 174
6 .2 6 — 59 15.19 — 54, 62
ISAÍAS
6 . 3 2 , 3 3 — 59 1 9 _ 7 2 , 73
4.5 — 189
7.6-23 — 25 19.3-9 — 74
6.13 — 14
7.27 — 57 19.4 — 96
64.6— 15
8 .3 6 — 33 19.10-12— 121
9.18 — 57 J e r e m ia s 21.31,32 — 82
11.6 — 31 5.7-8 — 63 22.30— 128
16.6 — 61 5.8 — 58 24.38 — 128
2 0.5 — 68 7.8-11— 65
M arcos
22.14 — 24, 56 13.27 — 61
1.6 — 120
2 3 .2 6 - 2 8 — 63 23.14 — 65
7.21 — 54
27.20 — 31 29.23 — 56, 66
10.12 — 77
29.3 — 83
31.3 — 23
E z e q u ie l
Lucas
16.1-3 — 16
2 . 3 6 , 3 7 — 121
E c l e s ia s t e s 16.25-27— 17
15.30 — 59
7.20 — 68 16.49 — 63
16.15 — 54
8.11 — 87 23.18-21 — 17
16.18 — 78
1 2 .1 - 7 — 182 36.26.27 — 55
17.27— 128
C antares O se ia s 24.41-43 — 137
1.2 — 146 4.10, 11 — 58
R om an os
1.13 — 146 4.13, 14 — 61
1.24, 26-27 — 32
1.16, 1 7 — 146
Z a c a r ia s 1 .2 6 . 2 7 — 104
2.3 — 147
14.2 — 86 1.27— 158
4.5 — 146
1.28.29 — 48
4.11 — 146
M a la q u ia s
2.22 — 66
4.12 — 146 2.16 — 71
6.1-6 — 27
4 . 1 6 — 147
3.5 — 56
6.12 — 27
5.1 — 168, 182
6 .1 7 — 107
5 . 4 — 148
8.13 — 26 10.13 — 174 4.4, 5 — 182
8.17-19— 138 11.7, 1 0 — 190
I T im ó t e o
13.8-10 — 70 11.14, 15 — 190
1. 5-9— 169
13.13, 14 — 32
2 C o r ín t io s 3 .1 - 7— 169, 185
ICO R ÍN TIO S 1 2 . 2 0 , 2 1 — 49 3.2 — 97
4.4 — 68 4.8 — 36
G á la ta s
5.1 — 113 5 . 1 ,2 — 69
1.8 — 15
6.9, 10-17 — 42, 57 5 . 3 - 1 6 — 123, 124
5.16, 17 — 34
6.9-11 — 105
5 .1 8 - 2 1 — 48 2TlMÓTEO
6.12 — 114
5.19 — 66 2 .2 2 — 37
6.12-20 — 36
3 . 1 6 — 18
6.13 — 135, 137 E f é s io s
6.15, 16 — 83 2.3 — 31 T it o
6 . 1 7 — 134 2 . 1 0 — 115 1.5-7 — 97
6.18 — 37 4.22 — 31 1 . 5 - 9 — 185
7.1, 4 — 151, 152 5.3-5 — 13 2.4, 5 — 156
7.1-5 — 145 5.4 — 15 2.11, 12 — 34
7.2 — 47, 144 5.23 — 97 3.3 — 31
7 .2 ,3 — 62 5.25 — 97, 166
H ebreus
7 . 2 - 6 — 183 5.28-32 — 165
5.14 — 64, 188
7 . 4 — 190 5 . 3 1 — 45
13.4 — 12, 47, 57,
7 .5 — 173 4.29 — 15
66, 116, 182, 191
7.5—
7 — 122
F il ip e n s e s 13.4, 5 — 29, 142
7.7 — 37
2 . 1 4 — 142 1 3 . 5 — 176
7.9 — 38
4.11 — 142 1 3 . 7 — 11
7.10-16 — 75
13.8 — 137
7.14 — 76
C o lo ss e n s e s
7.27-28 — 75 2 .2 0 - 2 3 — 120 T ia g o
7 . 3 2 — 129 2.23 — 3 6 , 5 4 2 .2 5 — 81
7.35-38 — 126 3.2 — 68
3.5 — 26, 62
7.36-38 — 127 3 . 9 — 14
3.1 — 11 1
9.27 — 3 6 , 6 3 4 . 1 , 2 — 33
10.6-8 — 37, 50 I T e s s a l o n ic e n s e s 4.7 — 49
10.12 — 69 4.3-8 — 2 1 , 3 9
1P e d r o 2.11 — 62 Ju d a s
1.13-15 — 27 2.12, 13 — 58 7 — 112
2 . 1 1 — 28 2.14 — 62 1 0 — 18, 58
3 .7 — 142 2.18 — 30
A p o c a l ip s e
4.1-3 — 36
I J oáo 21.2 — 96
5. 1-4— 185
1.8-10 — 28 2 2 . 1 5 — 106
5.2-4— 169
2.15-17 — 28
2 P edro 3.2,3 — 138
1.2-8 — 33 3.4 — 107
2 .6 — 112 3.9 — 26
2.10 — 31
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• Três Formas de Unidade, As — Igrejas Reformadas
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catecismo de Heidelberg — Thea B. Van Halsema
• Vida religiosa dos estudantes de teologia, A — B. B. Warfield
• Visão Puritana das Escrituras, A — Derek Thomas
Destinado a homens,

F i d e l i d a d e b a t e firme,
oferecendo auxílio bíblico específico e acurado para homens cristãos de
todas as idades e contextos. Usando uma linguagem clara, Wilson foca em
pecados específicos com soluções específicas, mostrando como a
negligência efeminada conduz à pornografia, como ser seduzido é falhar
em liderar, como a masturbação é uma péssima teologia, e como não estar
contente torna os homens infiéis. Wilson não só expõe nosso pecado, mas
também nos ensina uma visão robusta e bíblica da sexualidade, reforçando
uma masculinidade centrada na graça e que é autodisciplinada e forte, em
vez de permissiva e hipócrita.

Este livro foi escrito para homens e seus filhos. Sugiro que as esposas o
leiam somente quando seu marido lhes der para ler, e não o contrário.
Logo na introdução menciona-se a questão do “ linguajar direto” — e isso
significa, em parte, a rejeição de eufemismos. Parte do que é dito aqui
pode ser ofensivo para algumas mulheres cristãs, mas o objetivo
certamente não é ofender. O objetivo é fornecer ajuda bíblica e específica
para homens cristãos.

D O U G L A S W IL SO N é p a s to r da C h r i s t C h u r c h em M o s c o w ,
Id a h o , E s ta d o s U n i d o s , e e d ito r da rev ista C r e d e n d a / A g e n d a . Ele
é a u to r de R e fo r m a n d o o casamento e Futuros H o m e n s , da série
b est-seller so b re fam ília, am b os p u b lic a d o s pela e d ito ra C L I R E .
C a s a d o com N a n c y , tem três filh o s e um m o n tã o de n e to s.

CENTRO
DE LITERATURA
REFORMADA W W W .LO JA.CLIRE.O RG

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