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Q UANDO A S
PE S SOAS
SÃO GRANDES
C o D E P E N D Ê N C I A e 0 T E M O R Ao H o M E M
E d w a r d T. W e l c h
QUANDO AS PESSOAS SÃO GRANDES
E DEUS É PEQUENO
Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em sistema de processa
mento de dados ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico,
mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro - exceto para citações resumidas
com o propósito de rever ou comentar, sem prévia autorização dos Editores.
Todas as citações bíblicas, exceto as indicadas por outro modo, são extraídas da Bíblia
Sagrada, traduzida por João Ferreira de Almeida, versão Revista e Atualizada no Brasil,
2* edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Utilizada com permissão. Todos
os direitos reservados. As palavras em itálico indicam uma ênfase maior.
Dados Bibliográficos:
Welch, Edward T.,1953 -
Quando as pessoas são grandes e Deus é pequeno: vencendo a pressão
do grupo, a codependência, e o temor do homem/Edward T. Welch.
p. cm. - (Recursos para transformar vidas)
Inclui referências bibliográficas.
l.Relacionamentos interpessoais - Aspectos religiosos - Cristianismo.
2.Intimidação. 3. Medo - Aspectos religiosos - Cristianismo. 4. Auto-estima
- Aspectos Religiosos - Cristianismo. 5. Autoconfiança - Aspectos religiosos -
Cristianismo. I. Título II. Série.
ISBN 978-85-7414-019-3
Agradecimentos............................................................................... 6
1. Reservatórios de Amor Furados.......................................... 7
Encarando o ‘T e m o r do Homem”
Muitas das pessoas com quem tenho conversado também
tiveram um despertar quando viram o poder controlador
de outras pessoas. Eles despertaram para uma epidemia da
alma chamada, na linguagem bíblica "o temor do homem".
Embora fossem adoradores declarados do verdadeiro Deus,
no fundo temiam outras pessoas. Não quer dizer que eles
ficavam apavorados ou com medo dos outros (embora às
vezes estivessem). "Temer" no sentido bíblico é uma palavra
muito mais ampla. Inclui ter medo de alguém, mas amplia-se
a respeitar muito alguém, ser controlada ou dominada pelas
pessoas, adorar outras pessoas, colocar sua confiança nas
pessoas ou precisar de pessoas.
Um Problema Universal
Vergonha do Pecado
Esconder - e Espiar
Nos estados Unidos, uma metáfora comum que as pessoas
utilizam para descrever a si mesmas é uma variação sobre
cobrir a face com vergonha: somos pessoas atrás dos muros.
"Os muros têm 3 metros. Ninguém pode entrar, e eu não posso
sair". Essas proteções desesperadas isolam, mas também nos
protegem do olhar de outras pessoas. Na prática, esses muros
podem ser construídos com milhares de materiais diferentes:
dinheiro, fama, realizações no mundo dos esportes, empregos
e ocupações. Nada que o homem faça, porém, pode realmente
cobrir a vergonha.
Um aspecto curioso da maioria desses muros é o modo
que eles nos permitem ver as outras pessoas. Os muros tão
espessos aparentemente têm pequenas fendas ou janelas que
nos permitem ver o lado de fora. Nós queremos nos esconder,
mas também queremos espiar. A espionagem pode revelar a
vulnerabilidade dos outros de modo que podemos acreditar
que eles não são diferentes de nós (ou até mesmo não tão bons
quanto nós). A desonra quer companhia. Por outro lado, pode
revelar alguém que é forte e pode ser nosso herói. Como um
herói, podemos nos sentir menos isolados porque podemos
entrar em um relacionamento imaginário seguro.
A M eia-Noite
Com certeza, Deus tem uma resposta para esse temor, e nós
iremos, logo mais, analisá-la em maiores detalhes. O evangelho
é a história de Deus cobrindo (protegendo) seus inimigos
despidos, trazendo-os para a festa de casamento, e depois
casando-os em vez de esmagá-los. O Rei Davi, sabendo sobre
essas futuras boas notícias disse: "Senhor, tu me sondas e me
conheces." (Salmo 139:1). O olhar de Deus - uma maldição
para os que estavam nus - era para ele uma bênção. É uma
proteção para os que tiveram a sua culpa expiada e os seus
pecados perdoados.
... e [orem] também por mim, para que me seja áada, no abrir
da minha boca, a palavra, para com intrepidez fazer conhecido o
mistério do evangelho... para que em Cristo eu seja ousado para
falar, conforme cumpre fazê-lo (Efésios 6:19-20).
Agora ela tem trinta e cinco anos. Está casada há oito anos
com um marido que lhe dá todo o apoio, e tem dois filhos: um
menino de seis anos e uma menina de três. Recentemente, ela
confrontou seu pai e seu irmão, e os dois homens admitiram
suas agressões. Mas o apoio do marido e a confissão dos
culpados não protegeram Janete de inúmeros problemas
diferentes.
1. Harold S. Kushner: When Bad Things Happen to Good People (Quando Coisas Ruins
Acontecem com Pessoas Boas) (Nova York: Schocken, 1981), 43
ela tem se sentido mais bem compreendida por esses livros do
que por seu próprio marido. Ela também confessa que esses
livros a ajudaram a compreender a si mesma melhor do que a
própria Bíblia tem feito. Agora, sempre que tem um problema
em sua vida, ela o reconhece como "sentindo-me mal comigo
mesma": "O que eu preciso mesmo é gostar de mim. Eu tenho
me odiado por tantos anos que até parece uma doença."
Esse foco em si mesmo é compreensível. Janete sente-se
muito envergonhada, e a auto-aversão pode ser uma expressão
da vergonha. Mas, sem uma auto-avaliação orientada
biblicamente, as coisas irão somente piorar. Sua conduta atual
está afastando-a das pessoas e fazendo com que seja impossível
o seu crescimento no temor do Senhor.
Por exemplo: Janete tem relutado para vir à igreja nos
últimos dois meses. Seu filho de seis anos é muito ativo e
exigente, e às vezes cria problemas na Escola Dominical. A
professora tem sido criativa em encontrar meios de trabalhar
com ele e ele está melhor agora que ela designou um adulto
para estar com ele todo o tempo, mas a professora achou que
seria melhor se Janete soubesse o que estava acontecendo. Após
ter mencionado alguns de seus comportamentos à Janete, esta
respondeu educadamente, mas por dentro estava humilhada
e furiosa. Ela estava humilhada pelo fato de seu filho ser
criticado, e tomou os comentários da professora como um
ataque pessoal ao seu modo de criar seu filho. "Agora todos
acham que eu sou uma péssima mãe", concluiu.
Durante toda a busca de Janete por uma auto-estima mais
elevada, seu temor do homem está crescendo. Ela evita a
professora da Escola Dominical de seu filho, e tem começado
a pensar (sem nenhuma prova) que todas as outras mulheres
na igreja estão criticando-a pelas costas. Outras pessoas - pelo
menos nas suas idéias - estão controlando-a cada vez mais.
Neste ponto, a principal razão que a faz vir à igreja, afinal,
é para ver o pastor auxiliar. Recentemente ela confessou estar
apaixonada por ele. Ele foi atencioso pastoralmente quando
Janete teve alguns problemas médicos recentes, e agora Janete
não consegue parar de pensar nele. Ela continua pensando
em manter um romance com ele. Ela cria fantasias sobre o
casamento. As vezes ela ameniza a fantasia pensando em
casar-se com o pastor após a morte de seu marido em um
acidente de carro.
Ela confessou esses pensamentos ao seu marido, e ele
reagiu bem. Ele estava machucado, mas tentou ajudá-la o
máximo possível. Ele tentou amá-la ainda mais. Ele lutou,
contudo, quando ficou claro que não havia nada que pudesse
fazer para acabar com as suas fantasias. Aos poucos ele
começou a ver que mesmo que pudesse demonstrar graça e
amor por sua esposa, não conseguiria mudar o coração dela.
Janete estabeleceu um ídolo pessoal em sua vida e agora era
controlada por ele.
A Trilha do Tem or do Homem
O que vai acontecer nos relacionamentos de Janete com os
seus molestadores, a professora da Escola Dominical, e com o
pastor auxiliar? Por que ela é controlada por eles de diversas
maneiras? Não é uma conseqüência do temor da vergonha,
temor da rejeição e temor da ameaça?
Vejamos mais detalhadamente a sua situação. A vergonha
é muito profunda em Janete. Ela sente-se despida e desonrada.
Ela pensa que um relacionamento com seu pai e irmão poderia
ajudar, portanto, anseia por isso. Ela lê literatura sobre auto-
estima e esta descreve a falta de valor, a face secular da
vergonha, e sente como se essa literatura a descrevesse. Ela
recebe uma informação negativa sobre seu filho e sente-se
mais exposta como indigna. Todos os dias ela sente como se
seus muros de auto-proteção estivessem sendo derrubados.
Ela se sente cada vez mais vulnerável para ser machucada
pelos outros. A vergonha é tão mais intensa que ela pensa
sobre machucar-se fisicamente como um meio de distrai-la
momentaneamente e encontrar alívio.
Você se lembra que o temor da vergonha pode ser uma
conseqüência de nosso próprio pecado, do pecado daqueles
que nos fazem mal, ou ambos? A vergonha de Janete é um
resultado de ambos, e as suas reações à sua vergonha revelam
um entrelaçamento confuso de suas fontes em sua vida. Janete
necessita da clareza curadora de uma perspectiva bíblica, mas
até agora ela a tem enganado.
Um problema realmente sério na vida de Janete é a
vergonha dos pecados como conseqüência de sua fantasia
sexual com o pastor auxiliar e a maneira como isso tem
machucado o seu marido. Ela confessou esse e outros pecados
provavelmente centenas de vezes, mas ainda sente-se imunda.
Existem razões pelas quais o seu senso de impureza
persiste. Primeiro, há uma parte da Janete que deseja continuar
a fantasia do relacionamento. Os benefícios que essa fantasia
lhe traz são maiores do que as desvantagens para ela. Por um
motivo: ela deseja seguir os seus próprios anseios; ela gosta
mais do que odeia esse pecado. Ele tem se tornado um meio
confortável de competir com a conseqüência dos pecados de
outros, ambos reais e distintos. Uma segunda razão, mais sutil,
pela qual Janete não se sente perdoada de seu pecado é que
ela confunde a vergonha de seu pecado com a vergonha de ter
sido vítima do pecado de outros. Janete na verdade acredita
que é responsável pelos pecados de seu pai e de seu irmão, e
isso tem formado igualmente essa parte de sua vida.
Como você poderia ajudar a Janete? A resposta bíblica
para a vergonha do pecado da própria Janete é ensiná-la
sobre o arrependimento e uma aversão ao pecado. Janete
não é responsável pelos pecados de outras pessoas, mas é
responsável por seus próprios pecados. A maneira de eliminar
a vergonha associada ao pecado é admitir o pecado, confiar
que Deus perdoa o pecado e engajar-se na batalha contra ele.
A vergonha de Janete por ser vítima do pecado de outros
é mais difícil de ser resolvida. Embora a vergonha de seu
próprio pecado seja o problema espiritual mais profundo entre
os dois, em muitas maneiras ele é mais fácil de se apagar. Esse
tipo de vergonha pode ser coberto através de uma confissão
do pecado, arrependimento, e fé na obra consumada de Jesus,
como já temos visto. A vergonha de ser vítima pode ser mais
resistente. A confissão do pecado não consegue aliviá-lo
porque a vítima não é a parte culpada. Mas isso não impede
as pessoas de tentarem. "Se eu conseguisse ao menos confessar
melhor o meu pecado, poderia me sentir limpo", dizem elas.
Em um esforço para sentirem-se limpas ou protegidas,
algumas vítimas têm recorrido à autopunição como se uma
penitência pudesse limpar e cobrir miraculosamente. Elas
tentam resolver as coisas com Deus cortando seus corpos,
ficando desesperadam ente deprim idas, destruindo seu
casamento para que consigam o que acham que merecem,
ou praticando algumas formas peculiares de auto-aversão.
Com certeza, a penitência nunca cobre ou limpa, mas em
sua ignorância ou incredulidade, muitas vítimas sentem-
se privadas de outras opções e recorrem cada vez mais à
penitência.
E mais ou menos isso o que está acontecendo com Janete.
Como conseqüência de ter sido vítima do pecado de seu pai e
de seu irmão, ela se sente como se tivesse passado toda a sua
vida despida. Ela sempre se sente impura e desonrada. Não
importa o que faça, ainda se sente suja. Sua única explicação é
que ela deve ter provocado o pecado de seu pai e de seu irmão
contra ela. Deve ter sido sua culpa. Ela deve tê-los seduzido
de alguma forma. Sua fantasia de sedução com o pastor é,
em parte, Janete dizendo: "Isso é o que eu sou; uma pessoa
sedutora que destrói vidas." Ela também pensa que é uma
pessoa tão má que não merece nenhuma bênção, como um
bom marido. Ela merece divorciar-se dele; então ele poderia
casar-se com alguém que seria uma esposa melhor. Ela não está
em condições de ter um romance de verdade, mas, talvez, só
a fantasia dê ao seu marido a saída que ele precisa.
Pensamento maluco, não é mesmo? E um pensamento
sem fundamento bíblico que tem sido intensificado pelo
seu passado. Mais especificamente, é um modo de pensar
pecaminoso porque a sua interpretação de seu passado está
tomando prioridade sobre a interpretação de Deus. Mas é
também um pensamento que pode ser mudado com uma
estrutura bíblica clara.
Uma Estrutura Bíblica para Superar
a Vergonha e a Ameaça
A estrutura bíblica começa com trazer uma clareza divina
à experiência da vergonha. A vergonha é algo que fazemos pra
nós mesmos e é feito pra nós. Agora é o momento de Janete
distinguir entre as duas formas. Talvez Janete pudesse ler
exemplos de pessoas que foram envergonhadas por serem
vítimas do pecado de outros na Bíblia: histórias como a de
Diná (Gênesis 34:5), exemplos das leis levíticas (ex: Levítico
11:24), e a profanação do templo por causa da presença de
homens impuros (Salmo 79). O exemplo mais claro é o próprio
Jesus. Ele foi condenado à morte da maneira mais humilhante
possível - despido e em uma cruz. Ele sentiu vergonha, mas
Ele era inocente. Sofreu a vergonha dos outros que foi colocada
sobre Ele. Este é o Único em quem Janete deve fixar seus olhos
(Hebreus 12:2). Depois, em vez de focar em suas tentativas de
obras de justiça para recompensar a Deus por um pecado que
não é dela, pode concentrar a sua atenção fora de si mesma,
sobre quem é Deus e o que Ele diz.
Qual a resposta de Deus para as vítim as que têm
confiado nEle? Primeiro: Ele compreende a sua vergonha.
Essa compreensão não é um conhecim ento intelectual,
desinteressado. Deus realmente se angustia com a vitimização
de Seus filhos, e está fazendo algo a respeito. Nós podemos não
ver as rodas do céu girando, e Janete pode não vê-las girando
com referência a sua vitimização específica em sua vida, mas
sabemos pela fé que Deus não abandona os que têm sido
vítimas (cf. Salmo 22).
-A lexis De Tocqueville
2. Ralph Waldo Emerson, The Journals anã Miscellaneous Notebooks (Jornais e Diversos
Blocos de Anotações), VII: 1838-4:2, ed. A.W. Plumstead and H.Hayford (Cambridge,
Mass.: Harvard Univerity Press, 1969), 254
do que um Deus amoroso é e faz por v o cê."3 Existem
incontáveis caminhos para a oração e a meditação. Nenhum
é o caminho certo... O certo é a experiência real de Deus... O
crescimento espiritual vem através da compreensão profunda
do meu ser.4
6. Natharàel Branden, Honoring the Self: Personal Integrity anã the Heroic Potentials
ofH um an Nature (Honrando o Eu: Integridade Pessoal e o Heróico Potencial da
Natureza Humana) (Boston: Houghton Mifflin, 1983), 4.
quando as coisas não acontecem do nosso jeito. Nós podemos
ficar preocupados com o que alguém pensa a nosso respeito.
Mas as proposições culturais têm nos cegado. Não vemos mais
a poluição em que vivemos. Por isso pastores de muitas igrejas
que crescem cada vez mais pregam quase que semanalmente
sobre a auto-estima saudável, como se fosse ensinada em
cada página da Escritura. Muitos crentes nunca enxergam
que o amor próprio resulta de uma cultura que valoriza o
indivíduo acima da comunidade e depois lê aquele principio
básico nas páginas da Bíblia. A Bíblia, porém, corretamente
compreendida, faz uma pergunta: "Por que você se preocupa
tanto com você mesmo?" Além disso, ela indica que a cura
proposta pela nossa cultura - o aumento do amor próprio - é
na realidade a doença. Se falharmos em reconhecer a realidade
e a profundidade do nosso problema do pecado, Deus irá
tornar-se menos importante, e as pessoas, mais importantes.
7. On Religion: Speeches to Its Cultured Despisers (Na Religião: Discursos aos Despreza-
dores Intelectuais) (New York: Harper & Row, 1965), 106.
auto-aperfeiçoamento. O objetivo é a glória de Cristo. Isso é
muito diferente de dizer que as emoções são ferramentas que
nos permitem estar totalmente cientes das nossas necessidades.
Também é contrário à idéia de que a repressão das emoções
é um dos principais pecados da nossa cultura, e somente o
aumento da aceitação dos sentimentos irá promover o nosso
bem-estar.
10. Abraham Maslow, Toward a Psychology ofBeing (Em Direção a uma Psicologia de
Vida) (New York: Van Nostrand, 1968).
psicológicas existem, elas formam uma parte essencial do ser
humano, e necessidades não supridas resultarão em algum
tipo de patologia pessoal.
A esses essenciais pode ser acrescentada mais uma
característica de teorias de carência ou déficit psicológicos:
eles são claramente americanos. As teorias sobre carência
podem prosperar apenas em um contexto onde a ênfase é no
indivíduo mais do que no coletivo e onde a proposição é um
meio de vida. Se você perguntar para a maioria dos asiáticos
ou africanos sobre as suas necessidades psicológicas, eles não
vão nem entender a pergunta!
Esse aumento das necessidades psicológicas foi inevitável.
Se você exaltar o individual e fizer das emoções o caminho
para a verdade, então, qualquer coisa que você sentir
mais fortemente será considerada boa e necessária para o
crescimento. Qualquer coisa que sentir mais fortemente será
vista como necessidades dadas por Deus. É por isso que o
pecado imperdoável na cultura de hoje é "negar" ou suprimir
as suas emoções. As emoções apontam para as necessidades,
e negar as suas necessidades é negar algo dado por Deus e à
semelhança de Deus.
Você pode ouvir como a nossa cultura incentiva o
temor do homem? "Necessidades" (carências) ou "direitos"
conduzem irresistivelmente ao temor do homem. Nós vimos
que qualquer coisa que você pensar que precisa, você irá temer.
Se você "necessita" amar (sentir-se bem a seu respeito), você
logo será controlado pela pessoa que lhe demonstrar amor.
Você também está dizendo que sem o amor daquela pessoa
estará espiritualmente em desvantagem, incapaz de dar amor
aos outros. Com este tipo de lógica espiritualmente aleijada
produzindo maus frutos por toda parte, não é de se admirar
que mesmo os psicólogos estejam clamando por uma reforma
em nossas proposições fundamentais da cultura.
Os psicólogos, porém, têm dado a sua contribuição
para isto. Embora tenham percebido perfeitamente que as
pessoas com baixa auto-estima esperam muito dos outros
e temem as pessoas, a sua terapia não os liberta. Observe o
que eles oferecem: aceitação terapêutica, amor incondicional,
e afirmação constante. Em outras palavras: "Não acredite
no que as outras pessoas têm dito sobre você, e não acredite
nem mesmo em suas auto-avaliações negativas; em vez disso,
acredite no que você diz."
Esse tipo de terapia reabilita o temor do homem mais
do que o elimina. Ele só se sente um pouco melhor porque
o cliente está colocando a sua esperança em alguém que está
confirmando mais do que acusando.
A Influência da Psicologia Cristã
Entretanto, a igreja cristã tem ouvido tudo o que o mundo
tem dito. Muitos pastores e líderes de igrejas têm detectado as
proposições não bíblicas e têm tentado demonstrá-las. Porém,
a reação mais popular tem sido assimilar as idéias do mundo
com mínimas modificações. Por exemplo: um dos livros mais
vendidos no mercado de livros evangélicos transformou
esta proposição sobre "carências" fundamental para a sua
compreensão da pessoa. Sua visão da pessoa é semelhante a
um copo - um recipiente vazio, passivo esperando para ser
cheio. Os autores dizem:
[Há] uma necessidade dada por Deus de ser amado que nasce
em todo bebê humano. E uma necessidade legítima que deve
ser suprida do berço à sepultura. Se as crianças não receberem
amor - se essa necessidade primordial de amor não for suprida
- elas carregarão as cicatrizes por toda a vida.11
11. Robert Hemfelt, Frank Minirth, e Paul Méier, Love Is a Choice (Amor é uma Escolha)
(Nashville: Nelson, 1989), 34.
Se a nossa taça de carências estiver repleta com o amor
dos outros, ficamos felizes. Se estiver vazia ou pela metade,
seremos contaminados com os sentimentos ruins.
Pense cuidadosam ente nesta citação. Ela expressa
uma proposição sustentada por muitos outros escritores
evangélicos; é a nossa teologia não averiguada. E ela parece
correta. Eu já confessei que tenho me sentido carente e vazio
quando não sou amado como gostaria de ser - ou como eu
"preciso" ser. Mas só porque eu sinto uma "necessidade" de
ser amado não significa que esse desejo seja realmente uma
"necessidade dada por Deus", uma "necessidade legítima"
ou uma "necessidade primordial". Talvez o que eu estou
chamando de "necessidade" seja na verdade desapontamento
ou mágoa, ou talvez, sejam exigência e ambição minhas.
Com certeza existem algumas necessidades dadas por
Deus, mas será necessário um pouco mais de investigação
bíblica para resolvê-las. (Nós faremos isso no capítulo 9). Neste
momento podemos dizer simplesmente que uma discussão
sobre necessidades é mais complexa do que parece a princípio.
É possível que nossa discussão atual sobre necessidades
pudesse ser construída mais pelas teorias psicológicas
mundanas do que pelas Escrituras.
Se for assim, deveríamos ter mais cuidado ao dizer:
"Jesus supre todas as nossas necessidades". A princípio, isso
tem uma base bíblica convincente. Cristo é um amigo; Deus
é um Pai amoroso; os crentes realmente experimentam um
sentimento de importância e confiança no conhecimento do
amor de Deus. Isso faz de Cristo a resposta para os nossos
problemas. Agora, se o nosso uso do termo "necessidades" é
indefinido, e a abrangência do seu significado se estende por
todo o caminho dos desejos egoístas, então haverá algumas
situações onde deveríamos dizer que Jesus não pretende suprir
as nossas necessidades, mas que Ele pretende transformar as
nossas necessidades.12
A Revolução Resultante
Tem acontecido mais uma coisa nesta breve história das
necessidades psicológicas. Atualmente, este ponto de vista
popular e amplamente adotado sobre a pessoa, está sendo
questionado seriamente nos círculos mundanos. As pessoas
estão começando a ver que um interesse com a miséria e o vazio
é "doentio", tanto para indivíduos como para a sociedade.
Por exemplo: alguém na imprensa comum criticou as teorias
de carências como a justificativa teórica para o egoísmo
desenfreado e a vitimização crônica da nossa cultura. Eles
vêem as implicações: Se os seres humanos são realmente
semelhantes a uma taça, então, somos recipientes passivos
mais do que intérpretes ativos e atores responsáveis em nosso
mundo.A culpa nunca é nossa, porque toda a patologia é
uma conseqüência dos déficits forjados nos relacionamentos
passados. No mínimo, sugerem alguns na mídia, isto cria o
caos no sistema de justiça. "Não vai demorar muito, na proporção
em que vamos, antes que uma sentença obrigatória para um crime
de violência seja um abraço e um bom choro." 13
A imprensa acadêmica também está desafiando a idéia
de que a pessoa moderna deve ser definida como uma taça
vazia. Em um importante artigo no American Psycologist (O
Psicólogo Americano), Philip Cushman argumentou "que o
vazio é um produto perigoso da cultura que deseja ser cheio, tanto
física como materialmente".u Os culpados, de acordo com o
12. Ver Welch, "Who Are We? Needs, Longings, and the Image of God in Man/' (Quem
Somos Nós? Necessidades, Desejos e a Imagem de Deus no Homem) The Journal
ofBiblical Counséling (O Jornal de Aconselhamento Bíblico), 13 (1994): 25-38.
13. The Economist (O Administrador), 26/fevereiro/1994,15.
14. Philip Cushman, "Why the Self Is Empty," ("Por que o Eu Está Vazio") American
Psychologist (maio/1990), 599
psicólogo Cushman, são a profissão de psicólogo e a indústria
da publicidade. Ambos tentam criar um senso de necessidade
para vender produtos. Além disso, a venda psicológica de
necessidades tem levado a uma geração de indivíduos vazios,
frágeis e deprimidos.
O historiador e filósofo Christopher Lasch repete essas
inquietações.
O clima contemporâneo é terapêutico, não religioso. As pessoas
hoje anseiam não pela salvação pessoal, sem falar da restauração
de uma era dourada mais antiga, mas por um sentimento, uma
ilusão momentânea, de bem-estar pessoal, saúde e segurança
mental.15
Querido Papai,
Eu amo muito você, muito, muito, muito, muito ... muito
mesmo..
Com amor,
Lisa
xxxxxxxxxxxxxxooooooooooooo
Quem nele (Jesus) crê não é julgado; o que não crê já está
julgado... (João 3:18)
Então o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos; para o fogo eterno, preparado
para o diabo e seus anjos. (Mateus 25:41)
Pense sobre Mateus 10:28: "Não temais os que matam
o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que
pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo".
João Calvino disse que esse texto faz arrepiar os cabelos.
Jonathan Edwards foi um pregador que tentou imitar
Jesus. Como conseqüência, ele pregou um grande número
de sermões sobre o inferno. O seu sermão mais famoso sobre
o inferno deixou as pessoas tremendo até um reavivamento
chamado de O Grande Despertamento. Jonathan Edwards
o havia proferido prim eiram ente para a sua igreja de
Northampton, Massachusetts, mas não temos nenhum registro
de resposta. Foi em uma igreja em Enfield, Connecticut, em 8 de
julho de 1741, onde conhecemos o impacto do "Pecadores nas
Mãos de Um Deus Irado". Esse sermão não era, com certeza,
o mais assustador dos seus sermões; "A Justiça de Deus na
Condenação dos Pecadores" e o sermão de Edwards sobre
Romanos 2:4 foram mais austeros. Mas Deus usou "Pecadores
nas Mãos de Um Deus Irado" para estimular o temor do
Senhor. Esses textos selecionados ilustram o porquê:
Não há nada que mantenha pecadores, em momento algum,
fora do inferno, a não ser a mera graça de Deus... A ira de Deus
é como grandes águas que por enquanto estão represadas; ela
cresce mais e mais, sobe mais e mais alto, até que uma passagem
é dada; e quanto mais a corrente é interrompida, mais rápido e
poderoso é o seu curso, quando por fim é liberada.
O Deus que segura você acima do abismo do inferno,
muito como alguém que segura uma aranha, ou algum inseto
repugnante sobre o fogo... Sua ira contra você queima como
fogo... Ele tem olhos puros demais para suportar ter você em
Sua visão... Você O tem ofendido infinitamente mais que um
obstinado rebelde a seu príncipe...
O pecador! Considere o temível perigo em que você se
encontra: é uma grande fornalha de ira, um enorme abismo
sem fundo, cheio do fogo da ira... Você está pendurado por
uma fina linha, com as chamas da ira divina rompendo por ela,
e prontas a cada instante a chamuscá-la, e queimá-la fazendo-a
em pedaços.1
2. Um livro para auxílio: Robert A. Peterson, Hell on Trial: The Case for Etemal
Punishment (O Inferno em Julgamento: O Caso da Punição Eterna) - (Phillipsburg,
N.J.: Presbyterian and Reformed, 1995).
Ó Senhor, o que é o homem para que Te preocupes com ele? Nós
respondemos à Tua misericórdia e amor, não com um temor escravo
e uma tristeza mundana, mas com uma reverencia que nos leva ao
arrependimento e a um prazer em confiar em Ti e obedecê-Lo.
Nós não sabemos por que Jesus levou apenas Pedro, Tiago
e João. Mas sabemos que Jesus estava lhes dando um presente
que ficaria em suas mentes durante todo o seu ministério. Os
discípulos eram lembrados de que Aquele que viveu com eles
era Deus encarnado. O presente foi um curso adiantado sobre
o temor do Senhor.
Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que
o temem. - Salmo 34:9
1. Tom Whiteman e Randy Petersen, Love Gone Wrong (Amor equivocado) - (Nashville:
Nelson, 1994), 90.
Como já foi citado no capítulo 5, livros do tipo Love Is A
Choice (O Amor é Uma Escolha) declaram que nós temos uma
"necessidade dada por Deus de ser amado que nasce em todo
bebê humano. É uma necessidade legítima que deve ser suprida
do berço à sepultura. Se as crianças não receberem amor - se
essa necessidade primordial de amor não for suprida - elas
carregarão as cicatrizes por toda a vida.2 Mas existem duas
perguntas que raramente são feitas sobre essa necessidade de
amor. Primeiro: já que todos nós concordamos que o amor é
um desejo humano universal, como justificamos a elevação do
desejo para uma necessidade dada por Deus? Há uma grande
diferença entre as duas palavras. Segundo, e talvez mais
importante: qual o propósito de ter essa necessidade suprida?
2. Robert Hemfelt, Frank Mirrirth, e Paul Méier, Love Is a Choice (Amor é uma Escolha)
- (Nashville: Nelson), 34.
popular, essas necessidades devem ser supridas para
que possamos alcançar o nosso potencial e ter felicidade,
estabilidade psicológica e auto-estima. Simplificando: as nossas
necessidades psicológicas devem ser supridas para que nos sintamos
bem conosco mesmos.
Necessidades Biológicas Necessárias para a Vida Física Alimento, água, roupas, abrigo
PECADO DEPENDENCIA
Preenchendo {ou fé)
minhas Preenchendo
necessidades minhas
com pessoas e necessidades
objetos com Cristo
6. A ambição não é a única razão para o vazio. Uma outra explicação surge do fato
de que estamos vivendo em um mundo pecaminoso onde pecam contra nós, e
estamos vivendo em um mundo debaixo de maldição. Por exemplo: se seu cônjuge
morrer, você se sentirá vazio. Você deve sentir-se sozinho. Algo lindo foi tirado
da vida. É um grande sentimento de perda. Esse vazio, porém, é o resultado da
maldição e da morte que se gravam em nossa psique, e não o resultado de sermos
criados com anseios psicológicos.
Para Pensar Um Pouco Mais
Este capítulo descobriu um elo que faltava na maneira
como muitas vezes lidamos com o sermos controlados pelas
pessoas: Nós esquecemos que devemos nos arrepender dos
nossos desejos egocêntricos. Sem arrependimento, os nossos
desejos continuam sendo o foco em vez de a glória de Deus.
Reserve um tempo e pense quantas das suas "necessidades
psicológicas" têm de fato sido desejos e exigências disfarçados.
9
Conheça ai Suai Necessidades Reais
1. Uma discussão bastante útil sobre este tema pode ser encontrada em The Pleasures
(Os Prazeres), de John Piper.
Pode parecer estranho no começo, mas como poderíamos
esperar que Deus se preocupasse com algo menor que o Seu
ser santo e perfeito? Para Deus, preocupar-se com algo mais
seria idolatria. Seria exaltar a criatura acima do Criador. O
objetivo de Deus é exaltar a Si mesmo e à Sua própria glória.
Ele pretende magnificar o Seu grande nome. "Porque dele e
por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a
glória eternamente. Amém" (Romanos 11:36).
Observe que uma diferença já tem surgido entre este ponto
de vista e a nova psicologia da necessidade. Nessa psicologia,
a razão natural para louvar a Deus é pelo que Ele tem feito
por mim. Isto está correto, mas não é o suficiente. Do ponto
de vista da Bíblia, Deus merece louvor simplesmente porque
Ele é Deus. O foco natural para os nossos pensamentos não
são os nossos próprios desejos, mas o infinitamente grande
"Deus da glória" (Atos 7:2), o Santo de Israel que reina. Vista e
entendida corretamente, esta glória é totalmente consumidora.
Os israelitas não cantavam porque seus anseios psicológicos
tinham sido satisfeitos; eles exaltavam a Deus simplesmente
porque Ele é exaltado (Êxodo 15:11): "Ó Senhor, quem é
como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado
em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas
maravilhas?" Ao recitar esse verso, as suas necessidades reais
estavam sendo satisfeitas.
Glória, honra, esplendor, beleza, brilho, majestade - todos
esses são termos intercambiáveis para a grandeza de Deus.
"Santidade" é a palavra que envolve todas elas.
Nós já falamos sobre como a santidade de Deus é manifesta
em Seu amor e justiça. Agora vamos dar um passo à frente.
O amor e a justiça de Deus são manifestos em muitas figuras
ou imagens concretas que podemos imitar. Por exemplo: o
Santo é o noivo amoroso que espera por uma noiva pura. Ele
é o dono da festa que convida a todos para a festa, mas espera
que os convidados vistam as roupas que receberam. Ele é um
redentor amoroso que redime Sião com justiça (Isaías 1:27). Ele
é o juiz sobre toda a terra, mas o Seu próprio Filho tornou-Se
o advogado e representante do Seu povo inglório. Ele é o pai,
mãe, o filho submisso, servo sofredor, amigo, pastor, médico,
aquele que dá sentido à vida, criador e oleiro. Ele é a rocha e a
fortaleza. De fato, imagens ou figuras de Deus estão em toda
parte da Bíblia, e cada figura é uma expressão de Sua santidade.
Esses "instantâneos" concretos que Deus nos dá de
Si mesmo não são somente a maneira de Deus Se adaptar
à linguagem hum ana. Deus não está usando o nosso
entendimento de servos para sugerir que Ele é como um
servo. Não, Deus é o servo, o marido, o pai, o irmão e o amigo.
Qualquer coisa no mundo criado semelhante a essas descrições
de Deus é simplesmente a glória de Deus espalhada pela
criação e entre as criaturas. Sempre que você vê essas imagens,
embora distorcidas em outras pessoas, elas são um reflexo
tênue do original. Eu sou um pai porque Deus é um pai. Eu
sou um trabalhador porque Deus é o trabalhador original.
A SANTIDADE
DE DEUS
Você é Um Sacerdote
Você já sabe que é um Moisés moderno, que vive na
presença do Senhor. Como conseqüência, sua face brilha
com a presença de Jesus. Este é um outro modo de dizer que
você é um sacerdote de Deus. O povo de Deus é "raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus" (I Pedro 2:9). Este é um modelo ou imagem dado por
Deus. E também um modelo que nós testemunhamos em Jesus,
que é o Grande Sumo Sacerdote. Jesus é o Sumo Sacerdote; nós
também somos sacerdotes quando O imitamos.
Uma vez que isso é o que você é, você deve saber algo sobre
sua história. Os sacerdotes foram chamados por Deus para
representá-Lo de uma maneira exclusiva enquanto serviam
diante do tabernáculo de Deus, a Sua presença. O problema foi
que, como Adão e Eva, os sacerdotes estavam espiritualmente
nus e envergonhados diante de Deus. Eles precisavam da
proteção de Deus para ministrar na Sua presença. Portanto,
Deus lhes fez vestimentas que eram simplesmente vestes reais.
Essas vestes davam a quem as trajava "dignidade e honra"
(Êxodo 28:2 - NVI).
2. Muitos têm sugerido que o fato das crianças necessitarem de estímulos tais como
abraços e outras expressões de amor para que elas se desenvolvam ou mesmo
vivam, significa que nós temos profundos anseios psicológicos. Penso que não. É
como comparar maçãs com laranjas. E incorreto falar sobre cobiça e desejos por
relacionamento na infância. Poderia mais precisamente afirmar que precisamos das
pessoas para viver. Somos criaturas diariamente dependentes de outras pessoas.
Isto, entretanto, é diferente de colocar nossa fé e confiança nisso.
A Sua glória é infinitamente grande para ser claramente
refletida em apenas uma criatura. A imagem de Deus está
incorporada naquilo que todos nós compartilhamos dela. Em
um sentido muito prático, a ordem de Deus para reproduzir
como um meio de glorificá-Lo é simplesmente impossível para
um indivíduo sozinho. Portanto, Deus criou homem e mulher
como portadores da Sua imagem.
"... Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no
céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e
não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal"(Mateus
6:9-13).
O primeiro pedido da Oração do Senhor é que o nome
de Deus seja santificado, ou considerado como santo. Essa
é a nossa maior necessidade; esta é a maior necessidade
do mundo. A oração não fala nada sobre necessidades
psicológicas. Não fala nada sobre felicidade pessoal na terra!
Fala sim sobre as nossas necessidades, mas as necessidades são
biológicas e espirituais, e mesmo essas não são prioridades.
A maior necessidade de toda a humanidade é que Deus seja
reconhecido e adorado como o Santo de Israel.
Não muito tempo antes da morte de Jesus, Ele orou ao
Pai. Para Jesus, a oração era um acontecimento diário, mas
esta oração foi única. Primeiro, ela está registrada. Das muitas
vezes que Jesus orou durante a noite, esta é uma das poucas
orações que temos o privilégio de escutar. Em segundo lugar,
por ter sido pouco antes da crucificação, deve ter sido uma das
orações mais desesperadas feitas por Jesus. Como tal, ela nos
dá uma idéia do que realmente era importante pra Ele. Nós
descobrimos o que realmente Ele precisava.
Ela segue o modelo da oração em Mateus 6.
"... Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho
te glorifique a ti; ...Não peço que os tires do mundo; e sim, que
os guardes [aqueles que crerão em Jesus] do mal... Santifica-os
na verdade... (João 17:1,15,17).
Há duas súplicas principais: (1) que Deus seja glorificado,
e (2) que o povo de Deus cresça em obediência. Essas eram as
duas necessidades básicas de Jesus. E são as nossas também.
Uma das orações mais conhecidas nas Epístolas é a oração
de Paulo em Efésios 3:
"Por esta razão me ponho de joelhos diante do Pai, de quem
toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,
para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que
sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no
homem interior; e assim habite Cristo nos vossos corações,
pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, afim de
poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o
comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados
de toda a plenitude de Deus." (Efésios 3:14-19)
Ah! Essa é a volta da taça do amor? Paulo está orando
para que as nossas taças de amor sejam cheias? Talvez
devêssemos pular esta oração! Mas, então, de novo, pode ser
que estejamos lendo necessidades psicológicas na oração em
vez de compreender o que Paulo está orando na verdade.
Existem duas coisas que devemos lembrar sobre esta
passagem. Primeiro: Paulo está usando a metáfora de uma taça,
mas não é a taça das necessidades psicológicas. É uma taça
de necessidades espirituais. Embora a taça das necessidades
psicológicas esteja sendo quebrada, uma de nossas formas
remanescentes é uma taça. Essa taça não é, porém, uma taça
que diz: "Jesus, faça-me feliz", ou "Jesus, faça me sentir melhor
comigo mesmo". E uma taça que diz simplesmente: "Eu preciso
de Jesus". "Eu sou um mendigo espiritual que não consegue
orar, obedecer, ou mesmo ter vida física longe do amor de
Cristo". "Eu estou morto separado de Cristo, e preciso de Sua
graça a cada instante." Para essas necessidades, Jesus derrama
o Seu amor em tal proporção que é impossível que uma única
pessoa possa contê-lo.
Isso nos leva ao nosso segundo ponto, que é o que essa
linda oração de Efésios significa para nós. O "vos" sobre quem
Paulo está orando fala claramente sobre "vocês", no plural -
"todos vocês". Ele está falando ao corpo de Cristo em Efeso. O
conhecimento sobre o que ele ora está contido em "com todos
os santos", e o resultado desse conhecimento é que "todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus" (Efésios 4:13). Nós espelhamos mais nitidamente a
Cristo quando existe unidade entre o povo de Deus (Efésios
2:19-22). Essa unidade é alcançada não quando somos taças
psicológicas, mas quando somos servos de Deus.
Com certeza, isso admite que os indivíduos devam
conhecer o amor de Cristo.
Mas os mesmos indivíduos devem entender que, sozinhos,
não constituem o corpo de Cristo. É preciso toda a igreja para
fornecer uma vaga imitação da glória de Deus. Essa tem sido
a mensagem por toda as Escrituras.
De acordo com Efésios, o que realmente nós precisamos?
Precisamos ser um corpo unido, impressionado com a glória
de Deus, comprometido com a unidade da igreja, inundado
pelo Seu amor, e confiantes enquanto caminhamos juntos em
obediência a Ele, mesmo em nosso sofrimento. Precisamos
depender menos das outras pessoas e amá-las mais.
1. João Calvino, Institutes o f the Christian Religion (Institutos da Religião Cristã), trad. J.
Allen (Filadélfia: Conselho Presbiteriano de Educação Cristã, 1936), 1.1.1.
Não diga: "Como Deus pôde me perdoar por isso?" (seja o
que for isso).
Não pense que o perdão de Deus é um perdão a
contragosto e com esse pensamento negue um pouco do amor
glorioso de Deus. E não pense que as promessas de Deus são
somente para as outras pessoas. Se for assim que você está
pensando, você deve entender que os seus próprios pecados,
não importando o tamanho deles, não são maiores do que o
prazer de Deus em perdoar.
Esse é um momento em que você deve ser controlado pela
verdade de Deus mais do que por seus próprios sentimentos.
A Palavra de Deus, não os sentimentos, é o nosso padrão.
Ser dirigido pelos nossos sentimentos instáveis de bem-estar
pode parecer espiritual, mas é errado. Ele exalta a nossa
interpretação acima da de Deus. É por isso que é tão importante
voltar-se imediatamente para Deus após qualquer introspecção
guiada pela Bíblia. Quando ouvimos a Deus, Ele fala palavras
que satisfazem uma alma vazia.
Você se lembra dos três aspectos do temor do homem?
1. Nós tememos as pessoas porque elas podem nos expor
e humilhar.
2. Nós tememos as pessoas porque elas podem nos
rejeitar, ridicularizar e desprezar.
3. Nós tememos as pessoas porque elas podem nos
perseguir, atacar ou ameaçar.
Deus não esqueceu os envergonhados, rejeitados ou
ameaçados. Nós já discutimos como Ele nos abençoa e liberta
dizendo: "Temam a mim e a mim somente" Isso é exatamente
o que nós precisamos. Isso nos dá o privilégio de sermos
controlados pelo nosso amável e justo Salvador e não mais
pelas outras pessoas.
Nós também descobrimos que o nosso coração pecaminoso
intensifica toda a vergonha, ameaça e rejeição, e, de novo, o
nosso Deus providencia o tratamento. "Confesse que você tem
se comprometido mais com os seus próprios desejos do que
com os de Deus". Isso nos dá o privilégio de temer a Deus por
causa do Seu amor imenso e perdoador.
Neste ponto poderíamos pensar que Deus tem feito mais
do que o suficiente, e, de fato, Ele tem. Mas o amor de Deus
não conhece fronteiras: a Sua glória é eterna. Ele sabe que nós
ainda experimentamos a vergonha, o medo, e a rejeição nesta
vida. Essas coisas não nos dominam mais, mas, com certeza
machucam.
É então que Deus nos desarma com ainda mais bênçãos.
1. Ao envergonhado e humilhado, Ele cobre e glorifica.
2. Ao rejeitado, Ele aceita e glorifica.
3. Ao ameaçado, Ele protege e glorifica.
Mas Deus tinha uma escolha, e Ele escolheu nos amar com
um amor apaixonado, fiel. A razão pela qual eu de vez em
quando duvido é que penso que Deus é como nós - ou como
eu. Se Gômer fosse minha esposa, meu instinto seria deixá-
la ir e dizer: "Já vai tarde." Eu iria querer superar as minhas
perdas e evitar a humilhação de ir atrás de alguém que me
ignorasse. Mas a passagem diz que Deus não é como eu. Deus
é Deus, e não um homem. "Se somos infiéis, ele permanece
fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo." (II
Timóteo 2:13). Além do mais, não é uma fidelidade impassível.
E vulnerável e apaixonada. E uma fidelidade tão intensa que
Deus a descreve como revirando o Seu estomago.
Com isso você pode entender como é equivocado julgar a
Deus do ponto de vista do que nós faríamos em uma situação.
O temporal e o pecaminoso nunca é o padrão para o santo.
Se julgarmos por nossa própria experiência, iremos admitir
que Deus por fim ficará farto de nós e nos deixará despidos
no mercado escravo. Mas Deus nos diz: "porque eu sou Deus
e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira."
O que conteve a Sua ira, considerando principalmente
que Deus é Amor santo e Justiça santa? A razão pela qual Ele
não veio em ira é que a sua justiça santa estava antecipando o
tempo quando Jesus se tornaria escravo por nós. Ele tomaria
a vergonha e a rejeição que por direito eram nossas. Em seu
lugar, Ele iria nos perdoar e justificar completamente. Ainda
mais, Ele nos glorificaria (Romanos 8:30). Ele nos exaltaria.
Deus olha para a Sua criação da perspectiva da consumação.
Desse ponto de vista Ele vê o que a Sua Gômer será. Ela
será uma noiva radiante, honrada e glorificada. Ela será
apresentada diante da presença gloriosa de Deus sem culpa,
e será recebida por Ele com grande alegria (Judas 24). Se Deus
está amorosamente à busca de uma esposa adúltera (para
trazê-la de volta), você pode ter certeza de que haverá uma
grande comemoração, riso e alegria quando a Sua esposa for
glorificada e estiver em Sua presença para sempre.
A cena será sem elhante a algum as das m elhores
cerimônias de casamento que você já viu, mas uma vez que
este é um casamento santo, será diferente daqueles que você
tem visto. Uma diferença será o ponto central do evento. Nos
casamentos ocidentais tradicionais, a noiva é a homenageada.
Todos no casamento falam sobre como ela está linda. Todos
os olhos estão o tempo todo sobre ela. Na cerimônia divina,
eterna, porém, o nosso olhar estará fixo em um outro. A noiva,
de fato, será exaltada, honrada e glorificada, mas a sua beleza
exaltará ainda mais o Deus triuno. Foi Ele quem a buscou,
cortejou, comprou e transformou. Qualquer beleza na noiva
é um reflexo da beleza maior do noivo.
Você já está satisfeito? Isso é o que Deus dá àqueles que
conhecem a Cristo através da fé:
j#**' Os envergonhados são cobertos e glorificados. Eles
não têm mais que se esconder do olhar das outras
pessoas ou de Deus. Eles são vistos da perspectiva
da eternidade. Para eles, Jesus diz: "Vinde, vinde".
1. M. Scott Peck, The Roaâ Less Traveleâ (Nova York: Simon & Schuster, 1978), 98
PASSO 7 Precise menos de outras pessoas, ame mais as
outras pessoas. Por obediência a Cristo, e como
uma resposta ao Seu amor por você, busque
outros em amor.
Inimigos
Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos
perversos, porque o maligno não terá bom futuro, e a lâmpada
dos perversos se apagará. (24:19-20).
...não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis por causa
das suas injúrias. Porque a traça os roerá como a um vestido, e
o bicho os comerá como à lã... (Isaías 51:7-8).
Você pode não ter vindo de uma família sólida. Seu lar
pode ter sido um lugar onde você era sempre criticado e estava
sempre imaginando o que os outros poderiam estar pensando.
Se for esse o caso, não deixe a sua experiência de família
atrapalhar o seu entendimento do que Deus diz sobre ela.
Você deve acreditar que os que fazem parte do corpo de Cristo
são a sua família. Aprenda que somos um povo muito mais
do que pessoas individuais. Essa lição não é necessariamente
mais fácil para as pessoas que vieram de boas famílias. Isso
porque a lição é aprendida pela fé, não simplesmente por uma
experiência anterior.
... porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis;
não se ponha o sol sobre a vossa ira. (Efésios 4:25-26).
Você percebe a urgência nessas instruções? Somente uma
igreja unida em amor pode demonstrar verdadeiramente a
glória de Deus tanto para as forças espirituais como para o
mundo, e somente uma igreja unida pode permanecer firme
contra os esforços de Satanás para dividi-la. A Bíblia não se
engana: se você tem contribuído para a falta de unidade, trate
disso agora mesmo. Os reavivamentos deveriam começar na
Ceia do Senhor.
Uma implicação dessa união é que ela garante que a
vida de um crente será repleta com uma alegria maior - mas
também com um sofrimento maior. Será cheia de grande
alegria porque Cristo ressuscitou, nós recebem os uma
comunidade e o Espírito nos une, nós nos alegramos com
outros irmãos e irmãs que se alegram. Mas a vida de um
crente é cheia de grande sofrimento porque sofremos quando
outras partes do corpo sofrem. Devemos sofrer da mesma
maneira que sofremos quando um membro de nossa família
está sofrendo, quando alguém de nossa família maior sofre.
Também, quando somos magoados por pessoas no corpo,
magoaria mais porque elas são a nossa família. Essa ferida,
porém, não teria efeito paralisante. Em vez disso, pela graça
de Deus nós iremos crescer na fé através dela e estaremos
prontos para responder à pergunta: Qual é o meu dever para
com este irmão ou irmã?
O nosso dever, sem dúvida, é o amor. Uma vantagem para
nós que vem da divisão dos Coríntios é que Paulo não poderia
terminar a sua exortação sobre a unidade com "Ame a Deus
e faça o que quiser" ou mesmo "Amem-se uns aos outros".
Em vez disso, ele deveria ser muito específico sobre o que era
o amor. Ele precisava definir amor. Como conseqüência, nós
fomos abençoados com I Coríntios 13.
A Oração de Jesus pela Nossa União
Se o amor e a união de I Coríntios 13 parecem impossíveis,
fique frio. Embora o mundo, a carne e o Diabo sejam grandes
adversários, Jesus orou por nós. Fazendo isso, Ele nos faz
lembrar do que nós precisamos, Ele nos dá um modelo de
oração, e nos dá confiança de que uma vez que o amor e a
união são a vontade de Deus, Ele nos dará essas coisas.
A oração de Jesus em João 17 já nos ajudou a entender um
pouco sobre o que precisamos. Precisamos glorificar a Deus, e
precisamos crescer em santificação e obediência ao Pai. O outro
tema que faz parte da oração de Jesus é a unidade.
... Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles
sejam um, assim como nós. (João 17:11)
... mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por
intermédio da sua palavra; afim de que todos sejam um... (João
17:20-21)
Ele disse a uma das filhas que iria parar de pagar o seguro
do carro por três meses. Disse à filha que estava na faculdade
que só poderia pagar uma porcentagem dos custos do seu
estudo no próximo ano. Isso dava à família nove meses para
encontrarem juntos um meio de sustento como emprego ou
empréstimos. Após consultar o médico de sua esposa, ele
disse a ela que não iria mais levá-la às consultas. O médico
ficou impressionado com a sua decisão. O pastor também
disse à sua família que estava pedindo um ano de licença das
suas obrigações para com o seminário. Isso começaria após o
próximo semestre de aulas.
Singularidade Na Unidade
Há uma mudança peculiar que acontece quando você
começa a pensar menos em você e a buscar a unidade no corpo
de Cristo. Em vez dos membros da igreja tornarem-se iguais,
eles tornam-se mais singulares. Unidade não é igualdade.
Se você tivesse me pedido para descrever André, eu teria
dito: "chato". Ele era um amigo, e fazia parte da minha igreja
local, mas não havia absolutamente nada de notável sobre ele.
Quando me pediu um conselho, eu não posso dizer que
fiquei ansioso por isso. Eu cheguei a pensar em dizer não, mas
alguns anos antes eu havia me comprometido em estar mais
disponível às pessoas da minha igreja local, por isso concordei
relutante.
Seu problema era comum: "Eu não me sinto bem comigo
mesmo. Eu quero me gostar mais." Oh, não!, pensei, até o
problema dele é chato!
Quando nos encontramos pela prim eira vez, André
esperava as perguntas normais em um aconselhamento sobre
seus pais e seu sofrimento. E talvez eu devesse ter feito todas
aquelas perguntas, mas não senti isso no meu coração. Em vez
disso, eu sugeri que estudássemos juntos um livro da Bíblia.
Eu nem lembro o que estudamos, mas lembro que
foi divertido. Nós dois gostamos. Eu lembro de orar por
diferentes pessoas da igreja bem como oramos juntos para que
pudéssemos aplicar o que estávamos aprendendo da Bíblia.
Isso significava que oramos muito, porque toda semana eu
iria aprender algo com André e ele comigo. Uma semana em
especial eu lembro que ele estava se sentindo culpado por
sua falta de amor por seus irmãos, e pediu oração porque ia
pedir-lhes perdão. Eu comecei a esperar ansiosamente pelos
nossos encontros.
Então um dia, repentinamente, eu compreendi. Esse cara é
interessante, pensei. Ele não é chato! Com certeza, algumas das
mudanças poderiam ter ocorrido em mim, mas eu sabia que era
mais do que isso. André e as suas questões tinham mudado.
No começo ele havia perguntado: "Como eu posso me sentir
melhor comigo mesmo?". Agora ele estava perguntando:
"Como eu posso amar as pessoas da igreja e do mundo?"
Quanto mais ele aplicava o ensinamento bíblico sobre o amor
e a unidade, mais evidente se tornava a sua singularidade. De
repente, eu vi dons nele que nunca tinha visto antes.
Quando estávamos diminuindo os nossos encontros
semanais formais, eu disse algo que chocou até mesmo a mim.
Eu disse: "André, você é lindo". Quando as palavras saíram
da minha boca tenho certeza de que eu estava mais surpreso
do que André. O comentário exigiu uma pequena explicação.
"Eu espero que você não me entenda mal, mas quando
olho para trás no nosso relacionamento, houve um tempo em
que eu diria que você era chato - no melhor sentido da palavra,
é claro." André riu.
"Mas algo aconteceu com você. Eu tenho visto Cristo em
você nesses últimos quatro meses como nunca tinha visto
antes. Eu tenho visto em suas orações por mim e nas estratégias
que você tem para amar os outros. Você costumava perguntar:
'Como posso me sentir melhor?' Agora a sua pergunta é:
'Como eu posso amar a Cristo e amar ao meu próximo?' "
Ele balançou a cabeça. Ele tinha visto a obra de Deus em
sua vida também.
Para Pensar Um Pouco Mais
Este capítulo revê uma parte essencial do tratamento para
o temor do homem: devemos amar mais as pessoas e precisar
menos delas (para satisfazer os nossos anseios psicológicos).
Da mesma maneira que o amor por Deus expulsa o terror
de Deus, o amor pelas pessoas expulsa o nosso medo de que
elas possam nos envergonhar, nos machucar fisicamente ou
nos rejeitar.
A família, a comunidade, e a unidade são palavras chaves.
Mas tome cuidado. Os crentes não são os únicos a usá-las. Você
tem observado que muitas pessoas estão ficando cansadas do
individualismo e do egocentrismo?
A geração do egoísmo, do valor próprio, da auto-estima,
do "que é que eu ganho com isso", do "eu", introspecção
descontrolada e análise pessoal - estam os finalm ente
prontos para uma mudança. O individualismo acabou. De
uma perspectiva estritamente prática, descobrimos que o
individualismo não funciona. Como um antídoto, a nova
palavra da moda é comunhão.
O problema é que a menos que haja uma mudança radical
na maneira como vemos a Deus, nós mesmos, e aos outros, a
comunhão se tornará apenas uma outra estratégia para que
nos sintamos melhor conosco mesmos. Ela aliviará a nossa
solidão, e nos sentiremos mais "ligados", mas se buscarmos
a comunhão para a nossa própria satisfação em vez de para a
glória de Deus, o movimento de comunhão será simplesmente
uma moda passageira. Vamos nos incentivar uns aos outros
para estabelecermos a comunhão da nossa igreja no amor de
Deus.
1. Como a sua igreja pode incentivar a comunhão? Como
você pode incentivar a comunhão?
2. Reveja a oração "nós" de Daniel, e estude a oração
coletiva de Neemias (Neemias 1:4-11). Permita que elas
construam um tempo de oração coletiva.
3. Como você pode honrar outras pessoas no corpo de
Cristo (Romanos 12:10)?
4. Lembre-se das pessoas que levaram você na direção de
Cristo recentemente. Escreva uma carta para uma delas, e faça
questão de conversar com as outras.
1 *
"A Conclusão do Assunto: Tema a Deus
e Guarde os Seus Mandamentos"
Um pastor do século dezoito estava lamentando uma
epidemia de temor do homem em sua igreja. Todos, disse ele,
preocupavam-se mais com a opinião dos outros do que com a
de Deus. Antes de fazer qualquer coisa, a primeira pergunta
que faziam as pessoas da sua congregação era: "O que eles
irão pensar?" O pastor decidiu pregar uma série de sermões
sobre o problema, e deu esta resposta: "Tema a Deus e conheça
o seu dever."
A sua resp osta na verdade eram duas resp ostas
relacionadas. O temor de Deus é a base principal. Sem isso, o
temor do homem irá florescer. O pregador, porém observou
que havia na igreja algumas pessoas tementes a Deus que
tinham sido derrubados pelo temor do homem porque não
sabiam qual era o seu dever. Isto é: eles não conseguiam
discernir que forma deveria tomar a sua obediência a Deus.
Eles não sabiam como aplicar o temor do Senhor. Como
conseqüência, o pastor dedicou-se sabiamente aos sermões
sobre vários mandamentos, especialmente o de amarmos uns
aos outros.
O pastor chegou a uma fórmula muito bíblica:
De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda
os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.
(Eclesiastes 12:13)
Eu creio que este pastor Puritano logo teve em sua igreja
pessoas como algumas que eu conheci.
Um Adolescente
Tim era um jogador de futebol do ensino médio bem
conhecido -capitão auxiliar do time - que estava jogando os
últimos jogos do ano. Ele também estava crescendo no temor
do Senhor.
O que ele deveria fazer quando o técnico de futebol
anunciou um treino especial no fim de semana que interferia
com uma viagem planejada com a sua família? Ele não sabia
exatamente, mas sabia as perguntas certas: "O que Deus quer
que eu faça? Qual é o meu dever?" Depois do aviso do técnico,
ele foi até o técnico e o informou de seu conflito.
Para o técnico, a decisão era clara. "Qual o problema? O
time precisa de você, e você estará no treino. Somente um bebê
iria com a mamãe e o papai! E se você não estiver aqui, vai
ficar no banco no próximo jogo."
Para um aluno do segundo grau, isso com certeza aumenta
o temor do homem, mas Tim ficou firme. Ele falou com seus
pais sobre o assunto, e juntos procuraram conselho de um
dos pastores da igreja. Depois de ouvir alguns dos pontos de
vista bíblicos, o adolescente decidiu que iria com sua família
na viagem planejada.
Ele estava muito ciente das reações que enfrentaria do
técnico, e, com certeza, ele as enfrentou. O técnico não podia
acreditar. Ele discursou, esbravejou, tentando fazer Tim mudar
de idéia, mas ele não mudou. Ele tentou colocar o time contra
Tim, esperando que a pressão dos colegas pudesse reverter a
sua decisão, mas Tim delicadamente explicou a sua decisão
ao time que, em sua maioria, entendeu.
Ele estava convencido da melhor solução bíblica. Por
que precisaria pensar mais? Para este adolescente, não havia
nenhuma decisão: "Eu devo temer a Deus ou aos homens?"
A resposta era clara: "Temo a Deus e conheço distintamente
o meu dever."
Isso daria uma história interessante se eu pudesse
acrescentar que aquele técnico arrependeu-se de sua decisão
de deixar Tim na reserva, os colegas foram convertidos, Tim
ganhou uma bolsa de futebol, e está sendo produzido um
filme sobre a sua vida. Mas até onde eu sei, essas coisas não
aconteceram. Ele foi para a reserva, e foi por causa disso. Mas
para mim, é uma história fascinante e corajosa que chamou
a atenção dos seres e forças espirituais. Tim foi colocado em
uma encruzilhada, confrontado com a decisão de quem iria
temer, e nunca hesitou. O impacto sobre as forças espirituais,
amigos e a sua igreja serão muito maiores do que ter alguns
pontos a mais no seu registro de futebol.
Um Monge: M artinho Lutero
Martinho Lutero teve momentos de hesitação, mas sempre
escolheu temer a Deus mais do que ao homem. Nascido na
Alemanha em 1483, Martinho Lutero foi um homem de caráter
e influente reformador da igreja. Mas para todas as suas
realizações, é o seu temor do Senhor que o tem destacado.
Seu crescimento nesse temor é ilustrado por três diferentes
acontecimentos.
O primeiro foi em 2 de julho de 1505, quando Lutero
era um aluno de vinte e um anos da Universidade de Erfurt.
Até essa época, Lutero planejava completar os seus estudos
e depois, seguindo o desejo de seu pai, estudar Direito. Mas
quando voltava para casa para visitar seus pais, foi pego por
um forte temporal. Os relâmpagos estavam tão próximos que
Lutero temeu por sua vida e clamou: "Santa Ana, me ajude!
Eu vou me tornar um monge."
Embora o seu voto tenha sido feito aparentemente sem
pensar, Lutero levou-o a sério. Ele acreditava que o seu
voto fazia parte de um chamado do céu que não poderia
desobedecer. Portanto, contra os desejos de seu pai (a quem
Lutero sempre esperava agradar), em 17 de julho Lutero entrou
no Convento dos Agostinianos em Erfurt.
Nessa época o temor do Senhor não era maduro. Era quase
que exclusivamente o temor do Todo Temível Deus, e era um
misto de temores gerados por mitos, de pequenas criaturas
diabólicas que supostamente habitavam as florestas. Mas isso
demonstrava que Martinho Lutero tinha uma percepção do
Santo, e temia mais o Santo do que o descontentamento de
seu pai ou seu futuro desconforto no monastério.
Uma segunda crise ocorreu em 1507 depois de sua
ordenação para o sacerdócio. A ocasião era a primeira missa
em que ele seria o sacerdote oficial. A data havia sido marcada,
mas depois foi adiada porque o pai de Lutero não poderia
comparecer. Isso trouxe ao momento uma importância ainda
maior para Lutero.
A missa era (e é) considerada (pelo Catolicismo Romano)
[ver nota do revisor no final] como o restabelecimento do
Calvário onde o sacerdote transforma o pão e o vinho em
verdadeiros carne e sangue de Cristo. Em outras palavras, o
sacerdote estava o mais próximo possível da presença do Santo.
Havia muitas instruções para os sacerdotes, usadas como
precauções seguras, e a missa havia sido celebrada milhares
de vezes antes, mas essas garantias não confortavam Lutero.
Deus ainda era o Grande Temível. Ele era atrativo por um lado,
mas devia ser mais evitado do que abraçado. Portanto, Lutero
estava quase mudo quando começou a cerimônia.
Eu estava completamente assustado e apavorado. Eu pensava:
"Como irei me dirigir à tão grande Majestade, vendo que todos
os homens devem tremer na presença de um simples príncipe
terreno? Quem sou eu, para erguer os meus olhos para levantar
as minhas mãos à divina majestade? Os anjos estão ao Seu redor.
Com um aceno de Sua cabeça a terra estremece. E deveria eu,
um pobre pigmeu, dizer: 'Eu quero isto, eu peço por aquilo?'
Porque eu sou pó e cinzas e cheio de pecado e estou falando
com o Deus vivo, eterno e verdadeiro." 1
1. Roland Bainton, Here I Stand: A Life o f Martin Luther (Aqui Estou: Vida de Martin
Lutero) (Nova York: New American Library, 1950), 30.
os livros da Bíblia. Nessa tarefa ele dedicou-se com todo o
empenho e satisfação.
Em 1513-1515 ele ensinou sobre os Salmos, em 1515-1516
sobre Romanos, em 1516-1517, sobre Gálatas, e em 1517-1518
sobre Hebreus. O evangelho ia tornando-se cada vez mais
claro. Ele via Cristo como o Misericordioso nos Salmos. Depois,
quando estudou Romanos, tudo ficou claro. "Justificação
somente pela fé" tornou-se o resumo de Lutero sobre a obra
de Deus na salvação. Em Cristo, Lutero finalmente estava
conhecendo a Deus como o Justo e Misericordioso.
2. Idem, 50
Um grande temor do Senhor tinha sido cultivado pelo
estudo e meditação das Escrituras. Ele logo seria provado.
Lutero é mais conhecido por sua reação contra as
indulgências. Na sua época, a Igreja Católica Romana muitas
vezes arrecadava dinheiro vendendo o que era conhecido como
o favor divino. Se você desse dinheiro quando as indulgências
eram oferecidas, poderia livrar seus parentes ou você mesmo
do purgatório. Esse sistema violava de tal forma o principio
da justificação pela fé que Lutero sentiu-se compelido a reagir.
Ele o fez colocando as Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja
do Castelo de Wittenberg.
Essas teses, juntamente com inúmeras publicações que se
seguiram, colocaram Lutero em uma disputa tão grande com a
Igreja Católica Romana que ele vivia em constante perigo. Ou
os seus inimigos tentariam assassiná-lo ou a igreja iria queimá-
lo como um herege. Fossem quais fossem os meios, Lutero
estava certo de que a morte seria inevitável. Seus livros já
estavam sendo queimados publicamente em Roma. Mas essas
ameaças não impediram Lutero de escrever mais panfletos
apoiando o que entendia ser as palavras do próprio Deus.
Os julgam entos dessa igreja não deram a Lutero a
oportunidade de debater. Em vez disso, eles eram ataques a
Lutero, exigindo que ele se retratasse sobre os seus escritos e
se submetesse humildemente à igreja. Lutero até se retratou
em um ponto.
Eu estava errado, admito, quando disse que as indulgências
eram a "defraudação piedosa dos fiéis". Eu me retrato e digo:
"As indulgências são as mais ímpias fraudes e enganos dos mais
baixos pontífices, pelas quais eles iludem as almas e destroem
as posses dos fiéis."
Essa ironia multiplicou-se entre os seus amigos e inimigos.
A apelação final de Lutero por fim levou a uma reunião
diante de uma assembléia de prestígio em Worms. Após
muitas revogações de decisões como se Lutero poderia falar
ou não, em 16 de abril de 1521, Lutero chegou a Worms. O que
se esperava ser um debate foi simplesmente um julgamento
público. Lutero não teria a oportunidade de falar sobre as suas
conclusões. Depois de expor os livros de Lutero, o examinador
fez uma única pergunta: "Você defende tudo o que está escrito
aqui, ou importa-se de rejeitar uma parte?"
A resposta de Lutero foi curiosa, principalmente à luz de
seus escritos. Talvez ele estivesse intimidado pelo ajuntamento
dos homens mais poderosos jamais reunidos naquela região.
"Falar pouco ou falar muito será perigoso. Eu imploro que me
seja dado tempo para pensar sobre o assunto", respondeu em
uma voz quase inaudível.
Ele parecia estar vacilando entre o temor do homem e o
temor do Senhor, mas algo aconteceu às seis horas da manhã
seguinte. Lutero demonstrou a ousadia característica de seus
escritos. Essa ousadia não era autoconfiança, porque ele era
um homem que vivia humildemente diante de Deus, mas era
uma confiança na Palavra de Deus.
Em seus comentários, ele defendeu seus escritos e disse
aos homens que tinham poder para matá-lo: "Eu devo andar no
temor do Senhor". Ele finalizou seus comentários declarando:
"Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Eu não posso
e em nada me retratarei, porque ir contra a consciência não é
nem direito nem seguro. Deus me ajude. Aqui estou, eu não
posso agir de outro modo. Amém."
Lutero demonstrou que é possível temer ao Senhor ao
mesmo tempo em que você tem medo. Afinal, ele estava
perante um tribunal respeitável com grande poder político e
espiritual. Não é de se admirar que estivesse com medo! Mas,
no meio do seu temor, ele escolheu confiar e obedecer a Deus.
Esse é o temor do Senhor na forma mais distinta.
Um Conselheiro-Mestre
PESSOAS aprovação...
" E d W e lc h é u m b o m m é d ic o d a a lm a . E le d ia g n o s tic a c o r r e ta m e n te
a n o s s a c o n d iç ã o p e c a m in o s a , a p r e s e n ta o s fa ls o s re m é d io s d a
p s ic o lo g ia p o p u la r m o d e rn a , e id e n tific a c o r r e ta m e n te a v e r d a d e ira
p r e s c r iç ã o p a ra s u p rir as n o s s a s n e c e s s id a d e s . Q u a n d o as P esso a s
São G ran d es e D eu s é P equ en o é e sc la re ce d o r, p e rs u a siv o e
e n c o ra ja d o r. A lta m e n te r e c o m e n d a d o ". —JERRYBRIDGES
" E u n ã o c o n h e ç o n e n h u m o u tr o liv ro q u e tr a te tã o p le n a m e n te c o m
o te m o r do h o m e m e os se u s e fe ito s n o c iv o s . D ev e se r lid o p o r
c o n s e lh e ir o s q u e se p re o c u p a m e m a ju d a r o u tro s a fa z e r a lg o so b re
o a s s u n to ". —JAYE. ADAMS
ISBN 978-85-7414-019-3