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R E C U R S O S PA RA T R A N S F O R M A R V I D A S

Q UANDO A S

PE S SOAS
SÃO GRANDES

V encendo a P ressão do G rupo , a

C o D E P E N D Ê N C I A e 0 T E M O R Ao H o M E M

E d w a r d T. W e l c h
QUANDO AS PESSOAS SÃO GRANDES
E DEUS É PEQUENO

© 1997 por Edward T. Welch


Publicado originalmente em inglês com o título
WHEN PEOPLE ARE BIG AND GOD IS SMALL
pela Presbyterian and Reformed Publishing Company.

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em sistema de processa­
mento de dados ou transmitida em qualquer forma ou por qualquer meio - eletrônico,
mecânico, fotocópia, gravação ou qualquer outro - exceto para citações resumidas
com o propósito de rever ou comentar, sem prévia autorização dos Editores.

Todas as citações bíblicas, exceto as indicadas por outro modo, são extraídas da Bíblia
Sagrada, traduzida por João Ferreira de Almeida, versão Revista e Atualizada no Brasil,
2* edição, São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1993. Utilizada com permissão. Todos
os direitos reservados. As palavras em itálico indicam uma ênfase maior.

Título original: When People A re B ig and G od Is Sm all


Tradução: Débora Galvão
Revisão: Fábio Amarante
Supervisão de produção: Edimilson Lima dos Santos
Editoração/Capa: Edvaldo Matos

Primeira edição em português: 2008


Segunda impressão: 2011

Dados Bibliográficos:
Welch, Edward T.,1953 -
Quando as pessoas são grandes e Deus é pequeno: vencendo a pressão
do grupo, a codependência, e o temor do homem/Edward T. Welch.
p. cm. - (Recursos para transformar vidas)
Inclui referências bibliográficas.
l.Relacionamentos interpessoais - Aspectos religiosos - Cristianismo.
2.Intimidação. 3. Medo - Aspectos religiosos - Cristianismo. 4. Auto-estima
- Aspectos Religiosos - Cristianismo. 5. Autoconfiança - Aspectos religiosos -
Cristianismo. I. Título II. Série.

ISBN 978-85-7414-019-3

Publicado no Brasil com a devida autorização


e com todos os direitos reservados pela:
EDITORA BATISTA REGULAR DO BRASIL
Rua Kansas, 770 - Brooklin - CEP 04558-002 - São Paulo - SP
Telefone: (011) 5561-3239 - Site: www.editorabatistaregular.com.br
Recursos para Transformar Vidas
Uma série publicada em cooperação com
The Christian Counseling and Educational Foundation
(Fundação Cristã de Aconselhamento e Educação,
Glenside, Pensilvânia).
Para minhas filhas:
Linásay e Lisa
Conteúdo

Agradecimentos............................................................................... 6
1. Reservatórios de Amor Furados.......................................... 7

Parte Um: Como e Por que Nós Tememos os Outros.........20

2. "As Pessoas Irão Me Ver".................................................... 21


3. "As Pessoas Irão Me Rejeitar"........................................... 37
4. "As Pessoas Irão Me Machucar Fisicamente"................ 51
5. "O Mundo Quer que Eu Tenha Medo das Pessoas"... 74

Parte Dois: Superando o Temor dos Outros...........................96

6. Conheça o Temor do Senhor.............................................. 97


7. Cresça no Temor do Senhor............................................. 116
8. Examine Biblicamente as Necessidades que
Você S e n te ............................................................................ 139
9. Conheça as Suas Necessidades Reais..............................159
10. Deleite-se em Deus que nos Satisfaz............................... 175
11. Ame os Seus Inimigos e o Seu Próximo.........................188
12. Ame Seus Irmãos e Irm ãs..................................................202
13. "A Conclusão do Assunto: Tema a Deus e Guarde os
Seus Mandamentos"........................................................... 227
Agradecimentos
Este livro é o resultado do trabalho de uma equipe. Sou
particularmente grato aos funcionários e aos membros da
Christian Counseling and Educational Foundation (CCEF)
(Fundação Cristã de Aconselhamento e Educação) na Filadélfia.
Eu não poderia ter escrito este livro sem seu sacrifício, orações
e estimulo espiritual. John Bettler, diretor, e Paul Tripp, deão
acadêmico, foram de grande ajuda dedicando-nos do seu
tempo de folga, mas toda a comunidade CCEF contribuiu.
David Powlison e Susan Lutz cederam generosamente seu
tempo e habilidades para revisar cuidadosamente os primeiros
rascunhos do livro. Seus comentários foram inestimáveis.
Diversos amigos revisaram todo ou partes do livro,
particularmente BethNoble e Julie Vickers. Elas, juntamente com
outros amigos, foram fundamentais para o desenvolvimento
do meu modo de pensar bíblico.
Minha esposa, Sheri, tem sido a catalisadora das mudanças
em minha vida. Sem seu amor e paciência eu nunca teria
enxergado muitas dessas verdades bíblicas. Também, enquanto
eu trabalhava no manuscrito, ela estava sempre disposta a
parar o que estava fazendo para ler ou pensar sobre uma
parte comigo. Ela fazia observações que esclareciam tanto a
gramática quanto o pensamento bíblico. E ela sabia quando
me levar à praia.
1
Reservatórios de Amor Furados

"Durante muito tempo, eu não tive nenhuma auto-


estima.", começou Lucas. "A única vez que eu me senti bem foi
quando tive um tênis de R$150,00 e um moletom de R$90,00.
Se eu não os tivesse, não queria ir para a escola."
Quem poderia pensar que por trás da sua imagem
fria e obstinada, estava um ego que poderia ser esmagado
simplesmente por um sapato barato ou por um moletom
comum? Pena que alguns de seus inimigos não sabiam disso.
Eles poderiam ter evitado muitos ferimentos, cortesia dos socos
de Lucas. Eles teriam percebido que Lucas era um Sansão dos
dias de hoje: sua força estava nos seus sapatos. Roube seus
sapatos e você terá vencido o homem.
Com certeza, seus sapatos não eram exatamente o proble­
ma. O problema era a reputação de Lucas. Era o que os outros
pensavam sobre os seus sapatos - e, conseqüentemente, sobre
ele. Chame como quiser - reputação, pressão do grupo, agradar
pessoas, codependência, - a vida de Lucas era controlada por
outras pessoas. Nesse ponto, ele não era diferente da maioria.
O meu despertar pessoal para este problema ocorreu
quando eu estava terminando o Ensino Médio. Sempre
fui tímido e inibido, controlado pelo que os meus colegas
pensavam (ou poderiam ter pensado), porém nunca pensei
seriamente sobre o assunto até o dia da cerimônia para a
entrega de prêmios da escola.
Eu era candidato a um prêmio, e estava apavorado com a
idéia de consegui-lo!
O auditório estava lotado com mais de dois mil alunos
do Ensino Médio. Do fundo, onde eu gostava de sentar, até a
tribuna, parecia haver uns dois ou três quilômetros. A única
coisa que eu conseguia pensar era o que os meus colegas de
classe estariam pensando de mim enquanto eu caminhava até
a frente. Eu estava andando de modo engraçado? Cairia ao
subir as escadas? Alguém - eu pedia a Deus que não fosse a
garota de quem eu gostava - pensaria que eu era um idiota? E
os que também foram indicados ou que achavam que mereciam
o prêmio? O que pensariam de mim se eu ganhasse em lugar
deles? O que eu diria em um breve discurso de agradecimento?
Então eu orei: Deus, por favor, não permita que eu ganhe
este prêmio!
Depois que alguns prêmios menores foram anunciados,
o vice-diretor subiu à tribuna para apresentar o vencedor. Ele
começou com uma curta e engraçada descrição do perfil do
ganhador. Não parecia exatamente comigo, mas era genérico
o suficiente para se encaixar com o meu perfil. Eu estava
começando a suar, mas sentei-me imobilizado pelo medo de
que alguém pudesse pensar que eu estava ficando interessado.
Finalmente veio o anúncio: "E o vencedor do prêmio deste ano
é... Ricardo Fernandes!".
Ricardo Fernandes! Eu não podia acreditar! De todos.
Ninguém nem mesmo imaginava que ele fosse candidato!
Você pode imaginar a minha reação. Alívio? De jeito
nenhum. Eu me senti um fracasso total. Agora o que as pessoas
pensariam de mim? Elas sabiam que eu era candidato ao
prêmio, e uma outra pessoa foi escolhida. Que perdedor eu era.
Imediatamente a minha mente começou a procurar jus­
tificativas. Se tivesse trabalhado durante o ano todo, eu teria
vencido. Com certeza eu tinha o potencial, simplesmente não
queria ganhar. Acordei tarde demais; quando eu estiver na
faculdade, vou mostrar a eles. Senti vergonha de voltar para
a classe.
Lamentável, não?
Mais tarde naquele dia os acontecimentos se repetiram
em minha mente. Que confusão!, pensei. Eu vivo como um
garoto assustado. Sou totalmente controlado pelo que as
outras pessoas pensam ou talvez pudessem pensar. Mas havia
mais. Eu não sabia pra onde ir. Eu não tinha recursos bíblicos
suficientes para encontrar alguma solução para o que eu havia
descoberto sobre mim mesmo. Até onde eu sabia, não havia
saída. Esta era a minha vida. Insegurança, ser controlado pela
opinião dos outros, ou seja lá que nome tenha, poderia ser
somente controlado, não curado. Talvez um sucesso futuro
ajudasse. Ou (e eu achava que isso era muito inteligente) eu
poderia enfeitar uma das justificativas que haviam passado
pela minha mente mais cedo naquele dia. Eu poderia fazer
melhor, mas nunca ser totalmente dedicado a uma tarefa em
particular. Então quando não era bem sucedido e a minha
auto-estima estava em baixa, iria racionalizar que eu poderia
ter sido o melhor se tivesse me esforçado mais. Pelo menos eu
poderia pensar que estava bem, pelo que aquilo valia.
Eu não tinha respostas, mas os acontecimentos do dia
com certeza trouxeram essas questões à minha mente. Era, no
mínimo, um despertar.
Na faculdade eu tentei combater essa fera com um quase-
sucesso nos estudos e no atletismo, e usei a estratégia do que
Eu-poderia-ter-feito-melhor-se-tivesse-realmente-tentado, mas
essa coisa estava sempre presente. Eu era crente, mas isso não
me ajudava a desistir de uma briga. Eu ainda sentia. Cada
rejeição, cada fracasso, cada pessoa pela qual eu desejava ser
notado e que não me notava fazia com que eu me lembrasse
que ainda era o garoto sentado no fundo do auditório no
ensino médio.
Aprovado em Cristo
Algumas mudanças ocorreram durante o tempo do meu
seminário. Elas vieram durante meu primeiro ano quando
tive a oportunidade de dirigir um estudo bíblico sobre o livro
de Romanos. Eu já havia pensado sobre o tema de Romanos
da justificação pela fé, mas dessa vez parecia extremamente
relevante porque eu fiz uma ligação entre a minha dependência
da opinião das outras pessoas e a justificação pela fé. O meu
raciocínio, com certeza não originalmente meu, era que
eu não tinha que medir os padrões da opinião dos outros
porque a opinião de Deus sobre mim estava enraizada na obra
consumada de Jesus. Em outras palavras, mesmo sendo eu um
pecador, Deus me amou e me justificou diante Dele, portanto,
o que importava o que as outras pessoas pensavam?!
Essa parecia ser a liberdade que eu precisava. Eu me sentia
como se tivesse sido convertido de novo. Não precisava me
preocupar com a opinião dos outros. Simplesmente deveria
estar atento à opinião de Deus sobre mim. Eu era um filho
amado. Um santo. Aprovado em Cristo. Que ótimo!
Durante alguns anos estive ainda muito preocupado com
a opinião dos outros, mas logo me lembrava de que eu não
tinha que me avaliar pelo que eles poderiam estar pensando.
Quem se importa com o que eles pensam? Eu tentava me
convencer. E se eles não acharem que sou ótimo? Eu já possuía
valor pelo que Jesus fez. Eu imaginava que Jesus achava que eu
era dez, que deveria ser suficiente.
Eu pensava que o meu tratamento estava funcionando.
Havia apenas alguns momentos em que tinha minhas dúvidas.
As vezes pensava: estou me baseando realmente em Cristo, ou no
reconhecimento do meu sucesso e na opinião favorável dos outros?
No final das contas, era muito importante a opinião das outras
pessoas. Talvez eu me sentisse bem a meu próprio respeito
porque elas assim se sentiam a acerca de mim. Ou talvez eu me
sentisse bem comigo mesmo pois tinha ido bem nos estudos
e tirado boas notas, comparado às outras pessoas. Talvez eu
tivesse orgulho das minhas aspirações ministeriais, comparadas
às outras pessoas e aos seus objetivos aparentemente menos
espirituais. Talvez eu descobrisse uma identidade em ser
"simpático", ou pelo menos mais simpático do que a maioria
das pessoas que eu conhecia. Mas não são simpáticos todos os
que gostam de agradar pessoas? Em resumo, talvez eu ainda
fosse controlado pela opinião dos outros, mas desde que me
sentisse bem, não estava muito motivado para investigar mais.
Com certeza não falaria com ninguém mais sobre isso - eu
ficaria muito envergonhado.
E então eu me casei.
Um Grande Despertar
O casamento tem sido um privilégio e uma bênção pra
mim. Tem sido também o contexto para uma surpreendente
descoberta. Eu descobri que ser aprovado em Cristo não me
era suficiente. No início do meu casamento, eu sabia que Jesus
me amava, mas eu também queria que a minha esposa fosse
totalmente, eternamente apaixonada por mim. Eu precisava ser
amado por ela. Eu conseguia finalmente lidar com um pouco
de rejeição de outras pessoas, mas me sentia paralisado se não
tivesse dela o amor que eu precisava. Eu necessitava de um
amor incondicional. Se ela não pensasse que eu era um ótimo
marido, eu ficaria arrasado (e, como você pode imaginar, com
um pouco de raiva).
Isso levou a um segundo despertar. De repente percebi que
eu havia me transformado em um reservatório ambulante de
amor, uma pessoa que estava vazia por dentro e procurando
alguém para me completar. Minha noiva era, de fato, talentosa
na capacidade de amar, mas ninguém poderia ser capaz de me
completar. Creio que eu era um reservatório de amor furado.
Experimentei as velhas respostas bíblicas que haviam
funcionado antes do meu casamento, mas foram inúteis. Elas
não duraram o bastante. Na verdade, elas se tornaram quase
irrelevantes. Elas me lembravam das vezes quando, depois
de ter sido gentilmente dispensado por uma garota, meus
pais tentavam me animar dizendo: "Nós amamos você, não
importa o que aconteça". Eu sempre gostei de sua tentativa,
mas, como todos os pais e filhos sabem, isso não ajudava. Com
certeza, era muito bom, meus pais me amavam, mas eu queria
que alguém mais me amasse também.
Desde aqueles dias eu tenho conversado com centenas de
pessoas que acabam nesse mesmo lugar: elas têm plena certeza
de que Deus as ama, mas também querem ou precisam do amor
de outras pessoas - ou pelo menos precisam de algo de outras
pessoas. Como conseqüência, estão escravizadas, controladas
por outros e sentindo-se vazias. Elas são controladas por
qualquer um ou qualquer coisa que acreditem que possa lhes
dar o que acham que precisam.
E verdade: o que ou quem você precisa irá controlar a
sua vida.

Encarando o ‘T e m o r do Homem”
Muitas das pessoas com quem tenho conversado também
tiveram um despertar quando viram o poder controlador
de outras pessoas. Eles despertaram para uma epidemia da
alma chamada, na linguagem bíblica "o temor do homem".
Embora fossem adoradores declarados do verdadeiro Deus,
no fundo temiam outras pessoas. Não quer dizer que eles
ficavam apavorados ou com medo dos outros (embora às
vezes estivessem). "Temer" no sentido bíblico é uma palavra
muito mais ampla. Inclui ter medo de alguém, mas amplia-se
a respeitar muito alguém, ser controlada ou dominada pelas
pessoas, adorar outras pessoas, colocar sua confiança nas
pessoas ou precisar de pessoas.

Mais uma observação: Assim como "temer" no sentido


bíblico é definido de maneira mais ampla, assim também
a palavra "homem". No sentido usado nas Escrituras, essa
palavra inclui homens, mulheres e crianças. Quando eu uso
a expressão bíblica "temor do homem" neste livro, não estou
limitando o meu foco para o gênero masculino. Eu estou
declarando, como a Bíblia faz, que cada pessoa em nossas
vidas têm o potencial para nos controlar.
Porém, pense nisso: o temor do homem pode ser resumido
da seguinte maneira: Nós colocamos as pessoas no lugar de
Deus. No lugar de um temor do Senhor ordenado biblicamente,
tememos os outros.
É claro que o "temor do homem" recebe outros nomes.
Quando somos adolescentes, chama-se "pressão do grupo".
Quando ficamos mais velhos, chama-se "agradar as pessoas".
Recentemente, tem sido chamado de "codependência". Com
esses rótulos em mente, podemos reconhecer o temor do
homem em qualquer lugar.

Você já lutou com a pressão do grupo? "Pressão do


grupo" é simplesmente um eufemismo para o temor
do homem. Se você passou por isso quando mais
jovem, acredite-me, ela ainda existe.
Ela pode estar escondida e ser revelada de formas
mais adultas, ou pode estar camuflada por um
currículo impressionante (a imagem do seu sucesso).

>► Você está super atarefado? Acha difícil dizer não


mesmo quando a prudência indica que é isso que
deve ser dito? Você é um "contentador de pessoas",
um outro eufemismo para o temor do homem.

í * " Você "precisa" de alguma coisa de seu cônjuge?


"Precisa" que seu cônjuge ouça você? Respeite
você? Pense bem neste ponto. Com certeza Deus se
alegra quando há uma boa comunicação e respeito
mútuo entre os cônjuges. Mas para muitas pessoas,
o desejo por essas coisas tem raízes em algo fora do
plano de Deus para os portadores da sua imagem. A
menos que você compreenda os parâmetros bíblicos
do compromisso conjugal, seu cônjuge irá tornar-se
alguém a quem você teme. Seu cônjuge o controlará.
Seu cônjuge discretamente irá tomar o lugar de Deus
em sua vida.

A auto-estima é um problema crítico pra você? Essa,


pelo menos no nosso país, é uma das expressões
mais comuns do temor do homem. Se a auto-estima
é um tema que se repete na sua vida, há uma grande
possibilidade de que a sua vida gire em torno do
que os outros pensam. Você acata ou teme a opinião
deles. Você precisa que eles sustentem o seu senso
de bem-estar e identidade. Você tem necessidade de
que eles o supram.

í * - Você alguma vez já sentiu como se pudesse ser


apresentado como um impostor? Muitos executivos
e pessoas aparentem ente bem -sucedidas já. O
sentimento de ser exposto é uma expressão do temor
do homem. Significa que a opinião das outras pessoas
- principalmente a possível opinião de que você é um
fracasso - são capazes de controlar você.

Você sempre pensa duas vezes antes de tomar uma


decisão por causa do que as outras pessoas poderiam
pensar? Você tem medo de cometer erros que farão
com que pareça mal aos olhos dos outros?

Você se sente vazio ou sem sentido? Você já sentiu


"fome de amor"? Aqui novamente, se você precisa dos
outros para completá-lo, você é controlado por eles.

;>*- Você fica envergonhado facilmente? Se sua resposta


é sim, as pessoas e a opinião que elas têm de você
provavelmente definam você. Ou, para usar uma
linguagem bíblica, você valoriza a opinião dos outros
a ponto de ser controlado por eles.

Você m ente sem pre, p rin cip alm en te aquelas


m entirinhas brancas? E aquelas omissões onde
você não está tecnicamente mentindo com os seus
lábios? A mentira e outras formas nebulosas de
viver geralmente são maneiras de fazer com que
pareçamos melhores diante das outras pessoas. Elas
também servem para cobrir a nossa vergonha diante
dos outros.

Você tem inveja dos outros? Você é controlado por


eles e por suas posses.

As outras pessoas geralmente deixam você irado


ou depressivo? Elas estão deixando você louco?
Caso positivo, provavelmente elas sejam o centro
controlador de sua vida.
)► Você evita as pessoas? Se sim, mesmo que diga que
não precisa delas, você ainda é controlado. Não é um
eremita dominado pelo medo do homem?

A maioria das dietas, mesmo quando aparentemente


sob o nom e de "sa ú d e ", tem a finalid ad e de
impressionar os outros? O desejo pelo "elogio do
homem" é uma das maneiras pelas quais honramos
as pessoas mais do que a Deus.

3»*" Nenhuma destas definições se encaixa a você?


Quando se compara aos outros, você acha que está
bem? Talvez a forma mais perigosa do temor do
homem é o temor do homem "bem-sucedido". Essas
pessoas acham que conseguiram. Elas têm mais do
que os outros. Sentem-se bem consigo mesmas. Mas
suas vidas ainda são definidas por outras pessoas
muito mais do que por Deus.

Um Problema Universal

Não pense que este é simplesmente um problema para os


tipos tímidos, quietos. A pessoa furiosa ou a que tenta intimidar
também não é controlada por outros? Qualquer forma de tentar
diminuir os outros para parecer melhor do que eles, conta. E
os executivos que trabalham para ser mais produtivos do que
um companheiro para seguir em frente? As manobras sem fim
dos egos para conseguir vantagem em uma sala de reuniões de
uma empresa são uma versão agressiva do temor do homem.
E você acha que o atleta famoso, super confiante, está acima
dessa busca pela aprovação dos admiradores e comentaristas
esportivos? Declarar agressivamente que você não precisa de
ninguém é uma prova maior do temor do homem do que os
tímidos exemplos que vimos até aqui. O temor do homem
apresenta-se nessas embalagens e em muitas outras.
E agora, isso inclui você? Se não, pense em apenas uma
palavra: evangelismo. Você tem sido tímido para compartilhar
a sua fé em Cristo porque os outros poderiam pensar que você
é um tolo?
Peguei você.
O temor do homem faz de tal maneira parte da nossa
estrutura humana que devemos checar os batimentos cardíacos
de alguém que o negue.
Nos Estados Unidos nós estamos na parte final de uma
revolução que incluiu um grande número de livros sobre
codependência. Durante anos todo livro que tivesse a palavra
"codependência" no título era uma garantia de ser um
campeão de vendas. Melody Beattie, por exemplo, ganhou
milhões com Codependent No More (Codependente Nunca
Mais). Com certeza ela tratou de um assunto importante para
muitas pessoas, uma vez que a codependência era basicamente
o temor do homem com uma roupagem nova. Melody Beattie
falava sobre o problema em termos de ser controlado por
outras pessoas ou delas ser dependente, e a sua receita era
amar mais a si mesmo.
A Busca Por Uma Resposta Bíblica
Essa abordagem pareceu um pouco superficial para o
mundo evangélico, por isso muitos cristãos reagiram dizendo
que um tratamento melhor para a codependência é saber que
Deus o ama, mais do que você pensa. Deus pode supri-lo com
amor de modo que você não tenha que ser suprido por outras
pessoas.
Isso com certeza é melhor do que a exortação para que
você se ame mais, mas - isso pode parecer controverso -
mesmo esta resposta está incompleta. O amor de Deus pode
ser uma resposta profunda para qualquer luta humana, mas
às vezes podemos usá-lo de modo a torná-lo uma versão
amenizada da verdade profundamente rica. Por exemplo:
às vezes, por causa das nossas falhas mais do que a Bíblia,
essa resposta deixa de atender à ordem de considerar "os
outros superiores a si mesmo" (Filipenses 2:3), ou ignora o
arrependimento pessoal. Às vezes ela ainda permite que nós
e nossas necessidades sejamos o centro do mundo, e Deus
torna-se o nosso mensageiro vidente com a tarefa de aumentar
a nossa auto-estima.
Precisamos ir mais além no estudo das Escrituras para
que possamos compreender verdadeiramente a experiência
quase universal do temor do homem. O propósito deste livro
é dar o próximo passo. Ao longo do caminho iremos conhecer
pessoas como Abraão e Pedro, que atravessaram a brecha do
temor do homem e carregaram outros com eles. Veremos como
sutilmente esse medo vem à tona em nossas vidas. Veremos
que os escritores da codependência estavam certos - essa é
uma epidemia nacional. Depois vamos descobrir a saída de
Deus.
Aqui estão alguns dos temas que iremos explorar.
Para compreender realmente as raízes do temor
do homem, devemos começar a fazer as perguntas
certas. Por exemplo: em vez de "Como posso me
sentir melhor comigo mesmo e não ser controlado
pelo que as pessoas pensam?", uma pergunta melhor
seria: "Por que eu sou tão preocupado com a minha
auto-estima?" ou "Por que eu preciso que alguém -
mesmo Jesus - pense que eu sou o máximo?" Esses
são assuntos que iremos estudar de muitos ângulos
neste livro, mas incluído na resposta está o fato de
que precisamos de um modo de pensar menos em nós
mesmos. Falaremos sobre por que - e como.
O tratamento mais radical para o temor do homem
é o temor do Senhor. Deus deve ser maior do que as
pessoas pra você. Este antídoto demora anos para
fazer efeito; na verdade, irá tomar toda a nossa vida.
Mas a minha esperança é que o processo possa ser
acelerado e estimulado através do que iremos estudar
neste livro.
>► Com respeito às outras pessoas, o nosso problema
é que nós precisamos delas (pra nós mesmos) mais
do que as amamos (para a glória de Deus). A tarefa
que Deus nos dá é precisar menos delas e amá-las
mais. Em vez de procurarmos maneiras de manipular
os outros, iremos perguntar a Deus qual é o nosso
dever em relação a eles. Esta perspectiva não vem
naturalmente em qualquer um de nós, e muitos de
nós precisamos olhar para esta verdade de diversos
ângulos antes de conseguirmos enxergá-la. Mas a
convicção deste livro é que esta verdade é um outro
paradoxo da Bíblia - o caminho do serviço é a estrada
para a liberdade.
p a rte um Como e Por Que Nós
Tememos os Outros

A Parte Um deste livro irá explorar a perspectiva da Bíblia


sobre o temor do homem para ajudá-lo a fazer três coisas:

Passo 1: Reconhecer que o temor do homem é o tema


principal na Bíblia e em sua própria vida.

Passo 2: Identificar onde o seu temor do homem foi


intensificado por pessoas em seu passado.

S*1' Passo 3: Identificar onde o seu temor do homem tem


sido intensificado pelas pressuposições do mundo.
"Aí Pessoaí Irão Me Ver"

"Quem teme ao homem arma ciladas, mas o que confia no Senhor


está seguro." - Provérbios 29:25

Se precisar de pessoas, ou temê-las é um problema


universal como parece, então, devemos esperar que a Bíblia
esteja repleta de ricas descrições e profundos ensinamentos
sobre o assunto. E é exatamente isso que nós descobrimos.
Uma das questões predominantes da Bíblia é: A quem você
irá temer (precisar, ser controlado por)? Você irá temer a
Deus ou as pessoas? A Bíblia apresenta três razões básicas
pelas quais tememos as pessoas, e veremos cada uma delas,
separadamente.

1. Tememos as pessoas porque elas podem nos expor e


humilhar.

2. Tememos as pessoas porque elas podem nos rejeitar,


ridicularizar ou desprezar.

3. Tememos as pessoas porque elas podem nos agredir,


oprimir ou ameaçar.

Estas três razões têm uma coisa em comum: elas vêem as


pessoas como "maiores" (isto é: mais poderosas e importantes)
do que Deus, e, além do medo que cria em nós, damos aos
outros o poder e o direito de nos dizerem o que sentir, pensar
e fazer.
PASSO 1 Reconhecer que o temor do homem é o tema
principal na Bíblia e na sua própria vida.

O Tem or Que Vem da Vergonha

Uma das razões pelas quais tememos as outras pessoas


é que elas podem nos expor ou humilhar. Isso ficou evidente
desde o princípio. Imediatamente após o pecado de Adão e
Eva, "abriram-se, então, os olhos de ambos; e percebendo que
estavam nus,..." (Gênesis 3:7). Essa foi a estréia do temor dos
outros. A consciência da vergonha. Ficar exposto, vulnerável,
e com uma necessidade desesperada de uma vestimenta e de
proteção. Sob o olhar fixo do santo Deus e de outras pessoas.
Deus poderia ver a nossa desgraça, e as outras pessoas se
tornariam uma ameaça porque elas também poderiam vê-la.
Suas opiniões poderiam agora dominar as nossas vidas. A
história das Escrituras rapidamente iria tornar-se a que as
pessoas buscariam freneticamente se esconder e proteger dos
olhares atentos de Deus e das outras pessoas.

Vergonha do Pecado

Era evidente desde o início com o olhar dos outros. Depois


disso vem o olhar ainda mais penetrante de Deus. Ambos
incomodavam tanto que Adão e Eva se esconderam, e nós
estamos nos escondendo até hoje. Com certeza, Adão e Eva
sabiam que estavam nus antes do pecado, e temos todas as
razões para acreditar que, em seu estado de inocência, eles
pareciam admirar a aparência física um do outro. Mas este
olhar era diferente. Ele podia ver uma nudez mais profunda,
ou, no mínimo de um ser observado sentindo-se mais exposto.
Os olhos da outra pessoa tornaram-se luzes penetrantes,
enxergando corpo e alma, enxergando a feiúra do pecado. O
sentimento de ser exposto, outrora completamente inexistente,
era agora a única coisa que sentiam. Eles eram vistos pelo
outro, e o que era visto agora, era vergonhoso. A alma que antes
era admirável em sua inocência e beleza, era agora grotesca.
Eles experimentaram vestimentas, mas mesmo a pele dos
animais era incapaz de aliviar a sua profunda humilhação. O
que antes era bênção - conhecer e ser conhecido era agora uma
maldição. O que antes era um encontro afetuoso dos olhos,
agora tornou-se indelicado e intruso.
No momento do pecado de Adão, a vergonha - que é: "O
que eles vão pensar de mim?" e "O que Deus vai pensar de
mim?" - tornou-se um alicerce da experiência humana.
Do Gênesis em diante, a nudez, ou a vergonha de ser
exposto aos outros, tornou-se uma das grandes maldições
na cultura hebraica. Era uma profunda maldição porque
simbolizava a nudez mais profunda, espiritual e a vergonha
que precisava ser coberta. Simbolizava que fora da cobertura
de Deus, nós continuamos nus diante Dele. Noé amaldiçoou
Cam porque ele viu a nudez de seu pai, talvez rindo deste ou
ridicularizando-o. Quando Jó estava no meio de seu grande
sofrimento, falou sobre o seu terror e clamou: "Nu sai do
ventre de minha mãe, e nu voltarei" (Jó 1:21). Ele não estava
simplesmente conformado com a idéia da morte; em vez disso,
ele sentiu intensamente que a sua vergonha estava exposta e ele
estava debaixo de maldição. O profeta Amós usava a mesma
imagem quando profetizou o julgamento horrendo que viria
sobre Israel, dizendo: "... E o mais corajoso entre os valentes
fugirá nu naquele dia..." (Amós 2:14-16).

Vergonha de Ser Enganado ou


Ser Vítima do Pecado de Outro

Durante toda a história espiritual humana, surgiu uma


segunda forma de hum ilhação. A hum ilhação original
era simplesmente a conseqüência do nosso pecado. Era a
conseqüência de estar impuro e nu diante do Deus santo, e
era geralmente experimentado em nosso relacionamento com
os outros. Mas encoberto na nossa vergonha do pecado logo
apareceu uma outra forma de humilhação que intensificou
ainda mais a primeira. Era o resultado de ser vítima do pecado
de outro, ser enganado ou ofendido pelos outros.

Esta segunda forma de humilhação pode ser "contraída"


pelo contato com algo impuro. Por exemplo, quando Diná
foi violentada por Siquém, ela foi "maculada", desonrada
(Gênesis 34:5). Isso não significa que Diná foi responsável pelo
que aconteceu com ela. A questão é que mesmo não tendo
pecado, existe um sentido no qual a sua pureza foi arruinada.

Se um homem cometeu um adultério com a esposa de


um outro homem, o cônjuge inocente seria humilhado ou
desonrado, literalmente seria "descoberta a sua nudez" pelo
pecado do outro (ex: Levítico 20:11,17,19.20,21). Crianças
insubordinadas trazem vergonha e desonra aos seus pais
(Provérbios 19:26). Até mesmo o templo foi corrompido por
causa dos homens impuros que entraram nele (Salmo 79).

Algo semelhante acontecia quando um israelita tocava o


cadáver de um animal considerado imundo. Aqueles que o
tocavam, mesmo que por acaso, tinham que lavar suas roupas
e eram considerados impuros até à tarde (Levítico 11:24).

Portanto, existem duas maneiras pelas quais podemos


nos tornar despidos, nus. A primeira é uma nudez imposta
por nós mesmos devida à nossa natureza pecaminosa e nosso
pecado pessoal. A segunda é a nudez imposta por outros
que experimentamos por causa do pecado de outras pessoas.
Infelizmente, este tipo de vergonha causada por outros causa
em nós a mesma vergonha que sentimos do nosso próprio
pecado, mesmo que a causa seja muito diferente. As vítimas
sentem constrangimento, humilhação e desonra por causa dos
pecados dos outros contra eles. Eles sentem-se impuros, nus
e sem acesso à proteção. Eles sentem-se como se estivessem
debaixo do olhar totalmente revelador dos outros, e sentem
medo das pessoas. Mas, teologicamente, há uma grande
diferença entre os dois.

A vergonha pelo pecado é algo que trazemos em nós;


a vergonha causada por outros é algo feito a nós.

Todos passam pela exp eriên cia da vergonha


pelo pecado, mas nem todos têm essa vergonha
intensificada pela vergonha causada por outros.

A humilhação de ser molestado sexualmente é o exemplo


mais conhecido da humilhação causada por outros. As
mulheres que têm sido violentadas sexualmente podem sentir-
se dominadas pelo que elas entendem como o olhar de Deus
e dos outros.

"Eu sinto como se tivesse uma luz de néon na minha testa


dizendo: 'Eu fui estuprada por meu tio"', disse uma mulher.
Ela podia ser a porta-voz de milhares de outras mulheres.

"Eu tenho medo de abrir a minha boca diante de outras


pessoas", disse uma outra vítima. "Se eu abrir a minha boca
sairá uma lama preta".

Essas expressões de um coração ferido são claramente


conseqüências da vergonha causada por outros, mas devemos
nos lembrar que esse tipo de experiência não exclui a vergonha
do próprio pecado, que é uma condição universal. A vergonha
de ser vítima do pecado de alguém geralmente intensifica a
vergonha do próprio pecado, já existente. Eu conheci poucas
pessoas que lutavam com a vergonha de ser vítima apenas. Em
vez disso, essas vítimas precisam de orientação bíblica sobre
como lidar com os seus próprios pecados, bem como com a sua
experiência de ser vítima do pecado de outro. As vezes elas têm
pecados que devem confessar; às vezes devem aprender a crer
na promessa do perdão dos pecados. De qualquer modo, seria
cruel omitir a sua vergonha pelo próprio pecado porque diante
de Deus, todos nós lidamos com ela, e em algum nível nossas
consciências a conhecem. Portanto, na seguinte discussão sobre
a humilhação, eu irei misturar as duas categorias de vergonha
pelo próprio pecado e a vergonha pelo pecado causado por
outros. Eu irei separá-las mais tarde, mas por agora, analise
os exemplos seguintes da vergonha pelo próprio pecado, que,
em alguns casos, é intensificada pela vitimização.

A Vergonha no Mundo de Hoje

Onde encontramos a vergonha na cultura secularizada de


hoje? Olhe para as nossas estantes de livros. A vergonha está
tão presente na literatura moderna que fica à beira do modismo
e está talvez no perigo de - sem trocadilhos - superexposição.
The Mask ofShame (A Máscara da Vergonha) de Leon Wurmser;
Shame and Pride (Vergonha e Orgulho) de Donald Nathanson,
e No Place to Hide (Sem Lugar para Se Esconder) de Michael
Nichols são exemplos de discussões mais técnicas sobre a
vergonha.

Você pode não ter ouvido sobre esses livros, mas é


provável que esteja mais acostumado com uma forma menos
técnica de vergonha - a auto-estima.

A vergonha e o seu sentimento de desonra diante de Deus


e dos outros, tornam-se públicos em nossos dias como a baixa
auto-estima, com seus sentimentos de indignidade. A vergonha
e a baixa auto-estima, ambas, estão arraigadas no pecado de
Adão. Ambas são governadas pelas opiniões de outros, e
ambas envolvem "não se sentir bem consigo mesmo". A única
diferença é que a nossa palavra "vergonha" ainda conserva
a idéia de que estamos envergonhados diante de Deus assim
como estamos diante das outras pessoas, enquanto que a auto-
estima é vista como um problema estritamente entre nós e as
outras pessoas, ou um problema apenas interno nosso. A baixa
auto-estima é uma versão popular da humilhação ou nudez
bíblica. E uma vergonha (humilhação) secularizada.

Q uando você percebe que a "v erg o n h a " é quase


intercambiável com a "baixa auto-estima", fica difícil encontrar
um livro que não discuta esse assunto. Do livro Revolutionfrom
Within: A Book o f Self-Esteem (A Revolução do Intimo: Um Livro
de Auto-Estima) de Glória Steinem, até qualquer currículo do
ensino fundamental nos Estados Unidos , a América parece
ter concluído que a baixa auto-estima é a raiz de todos os
problemas. Quando eu participei da minha primeira reunião
de APM (Associação de Pais e Mestres), fui informado de que
o principal objetivo da escola fundamental da minha filha era
encorajar a auto-estima - e os pais aplaudiram a idéia. Todos
acreditavam que o maior problema da infância estava sendo
enfrentado.

Eu não aplaudi. Em lugar disso, minha esposa e eu


tivemos que decidir se manteríamos nossa filha naquela
escola. O ensino sobre a auto-estima e a sua ênfase no "eu"
não parece fazer piorar o problema? Essa era com certeza a
minha experiência. Quando eu tentei elevar a minha própria
auto-estima, consegui apenas um doloroso constrangimento
e um individualismo ainda maior. Mesmo de um ponto de
vista secular, o ensino da auto-estima parece suspeito. Não
estamos fazendo um desserviço às crianças regando-as com
uma aprovação não merecida? O amor próprio que as escolas
estão buscando conceder vem somente quando uma pessoa
desenvolve uma capacidade crescente para cumprir tarefas
difíceis, arriscar o fracasso e vencer obstáculos. Você não pode
simplesmente conferir auto-estima sobre uma outra pessoa.
Declarar que outras pessoas podem controlar a nossa visão é
o que cria a baixa auto-estima em primeiro lugar!

Mas mesmo com todos os meios malucos com os quais os


livros populares tentam inchar a nossa auto-estima, há uma
mensagem bíblica em todos eles. O interesse maciço na auto-
estima e na auto-valorização existe porque ele está tentando
nos ajudar com um problema real. O problema é que nós
realmente não somos aprovados. Não há nenhuma razão para
nos sentirmos bem conosco mesmo. Nós realmente somos
imperfeitos. As frágeis estacas de auto-estima ensinadas no
final irão desmoronar quando as pessoas entenderem que o
seu problema é muito mais profundo. O problema é, em parte,
a nossa nudez diante de Deus.

Existem outros meios pelos quais a vergonha pode ainda


chegar até a superfície.

Mesmo com toda a pornografia e nudez que fazem


parte da cultura ocidental, permanece o tabu sobre a
nudez. Por quê? Porque ela é um símbolo da nossa
necessidade de uma cobertura espiritual profunda.
As roupas que usam os são um suporte quase
incontestável dessa doutrina bíblica.

Nós podemos estar cantando com todo o nosso


coração quando estamos sozinhos, dirigindo para
o trabalho, ouvindo rádio. Mas se alguém nos vê,
ficamos envergonhados. Não importa que a pessoa
que nos viu seja completamente desconhecida, que
nunca mais nos vejamos. Ele ou ela, entretanto nos
viu e rapidamente nos lembrou do medo profundo
de ser exposto.
>► N ós tem os leis não e scfita s, mas claram ente
compreendidas sobre por quanto tempo olhar para
alguém. Um rápido "contato visual" é educado,
mas não tirar os olhos é indelicado e pode provocar
constrangimento ou até mesmo hostilidade. As
m ulheres reclam am que os hom ens as tratam
como objetos encarando-as; elas sentem-se como se
estivessem despidas.

Até mesmo alucinações contam a história de estar "sob


o olhar atento". Por todo o mundo, uma alucinação
comum é de olhos fixos no alucinador - olhos que
seguem você, olhos penetrantes, olhos perigosos.
Você já observou com que freqüência a igreja
evangélica enfatiza a honestidade e a abertura? E
necessário um conter-se contínuo porque nós não
gostamos de nos abrir. Preferimos muros de auto-
proteção mesmo como crentes.

Esconder - e Espiar
Nos estados Unidos, uma metáfora comum que as pessoas
utilizam para descrever a si mesmas é uma variação sobre
cobrir a face com vergonha: somos pessoas atrás dos muros.
"Os muros têm 3 metros. Ninguém pode entrar, e eu não posso
sair". Essas proteções desesperadas isolam, mas também nos
protegem do olhar de outras pessoas. Na prática, esses muros
podem ser construídos com milhares de materiais diferentes:
dinheiro, fama, realizações no mundo dos esportes, empregos
e ocupações. Nada que o homem faça, porém, pode realmente
cobrir a vergonha.
Um aspecto curioso da maioria desses muros é o modo
que eles nos permitem ver as outras pessoas. Os muros tão
espessos aparentemente têm pequenas fendas ou janelas que
nos permitem ver o lado de fora. Nós queremos nos esconder,
mas também queremos espiar. A espionagem pode revelar a
vulnerabilidade dos outros de modo que podemos acreditar
que eles não são diferentes de nós (ou até mesmo não tão bons
quanto nós). A desonra quer companhia. Por outro lado, pode
revelar alguém que é forte e pode ser nosso herói. Como um
herói, podemos nos sentir menos isolados porque podemos
entrar em um relacionamento imaginário seguro.

A fantasia é um passatempo popular atrás desses muros.


Por exemplo: Paula levava o seu mundo com fantasia, mas você
nunca saberia disso. Ela era uma mulher crente, bem sucedida,
solteira: Tinha um ótimo emprego com muita responsabilidade
e plenamente confirmada por sua diretoria. Ela era ativa na
igreja e querida por todos. Mas à noite, ela vivia com seu
marido herói imaginário e seus filhos imaginários. Uma das
razões pelas quais ela desenvolveu o seu mundo imaginário
era porque ele lhe dava o que ela queria. Uma outra razão era
que ele lhe proporcionava relacionamentos sem o risco de
tornar-se conhecida.

A luta de Samuel seguiu um padrão semelhante. "Eu quero


ter minhas necessidades supridas, mas não quero me expor.
Não quero que ninguém me conheça de verdade." Então, para
criar um mundo que parecesse seguro, ele se deliciava com a
pornografia e a masturbação.

A fantasia tem feito parte do meu próprio mundo,


também, eu confesso. Um exemplo recente: Eu tenho uma boa
coordenação motora da cintura para cima, mas sou um desastre
com os pés. Muitos anos de natação, eu acho. Não sirvo para
jogar futebol. Penso que Deus fez isso para me humilhar.

Você sabe o que aconteceu a última vez que chegamos em


casa depois de um jogo de futebol? Minha mente começou a
vagar; eu comecei a fantasiar que era um grande jogador de
futebol. Minha fantasia era que eu entrei despreocupadamente
no campo de futebol, como um cara qualquer, e de repente eu
virei um Pelé. As pessoas ficaram maravilhadas, minha esposa
achava que eu era o máximo... Você pescou a idéia.

Era engraçado ou lamentável, dependendo do seu ponto


de vista. O meu problema é que essa fantasia relativamente
inofensiva está repleta do temor do homem, vergonha e
orgulho. É temor do homem porque eu fico obcecado com o
que as outras pessoas possam pensar do meu jeito desajeitado.
É vergonha, especialmente a versão mais secularizada, porque
não estou me sentindo muito bem comigo mesmo. Sinto-me
exposto diante das outras pessoas, acreditando que somente
um idiota de verdade seria tão incompetente no campo de
futebol. É orgulho porque eu quero ser visto como o máximo
- pelo menos em alguma coisa.

Esse é o paradoxo da auto-estima: baixa auto-estima


geralmente significa que eu tenho um conceito muito elevado
sobre mim mesmo. Estou muito envolvido pessoalmente. Sinto
que mereço mais do que eu tenho. A razão de me sentir mal
comigo mesmo é que eu almejo fazer algo mais. Eu desejo
apenas alguns minutos de glória. Eu sou um caipira que quer
ser rei. Quando você está nas garras da baixa auto-estima, é
doloroso, e com certeza não se parece com orgulho. Mas eu
creio que esse é o lado escuro, mais silencioso do orgulho - o
lado oculto do orgulho.

O nosso coração está com certeza ocupado enquanto nos


escondemos e espiamos.

Você já pensou sobre o porquê certos programas de TV ou


revistas são tão populares? Eles não nos oferecem uma rápida
oportunidade de espiar os outros por trás de nossos muros
de vergonha? Eles nos permitem ver a desgraça dos outros, e
isso alivia a nossa própria desgraça. Ou eles nos identificam
com os nossos heróis, e assim podemos nos sentir melhores a
nosso respeito por algum tempo.

E como se uma pessoa moderna estivesse espiando


José. Enquanto José está observando alguém pelo buraco da
fechadura, ele também está sendo observado por um outro
espião, que está sendo observado por outro, que está sendo
observado por um outro.

A M eia-Noite

No início dos anos de 1800, um filósofo dinamarquês


Soren Kierkegaard observou pessoas cujas vidas consistiam
em esconder e espiar. Além dos muros, elas usavam máscaras.

Você sabe que chega a meia-noite quando todos tiram as


suas máscaras? Você acredita que a vida irá sempre se deixar
enganar? Você acha que pode escapulir um pouco antes da
meia-noite pra evitar isso? Ou você não está apavorado com
isso? Eu tenho visto homens na vida real que têm enganado
outros por tanto tempo que, no fim, a sua verdadeira natureza
não pode mais se revelar; eu tenho visto homens que brincaram
de esconde-esconde por tanto tempo que no fim, em sua loucura,
de uma maneira detestável intrometeram-se nos pensamentos
secretos dos outros, os quais até então haviam orgulhosamente
escondido.1

Ele está certo. Todo dia é dia de Halloween (Dia das


Bruxas). Colocar nossas máscaras é uma parte normal do nosso
ritual matinal, exatamente como escovar nossos dentes e tomar
o café da manhã. O mascarado, porém, não é alegre. Debaixo

1. De "Either/Or" (Um ou Outro) em A Kierkegaard Anthology (Uma Antologia de


Kierkegaard), ed. Robert Bretall (Princeton, N.J.: Princetom University Press, 1946),
99.
das máscaras estão pessoas amedrontadas com a idéia de serem
desmascaradas. E, de fato, as máscaras e outras proteções um
dia serão removidas. Haverá uma revelação eterna. Mas não
são os olhos de outras pessoas que devemos temer. Afinal, os
outros não são diferentes de nós. Kierkegaard aponta para um
medo mais profundo: os olhos de Deus. Se o olhar do homem
provoca medo em nós, quanto mais o olhar de Deus. Se nos
sentimos expostos pelas pessoas, nos sentiremos devastados
diante de Deus.
O só pensar sobre essas coisas é muito torturante. Nosso
coração treme só de pensar, e fazemos tudo que podemos para
evitá-lo. Uma maneira de evitar os olhos de Deus é viver como
se o temor das outras pessoas fosse o nosso maior problema -
elas são grandes, não Deus. Esse, sem dúvida, não é o caso. O
temor das pessoas geralmente é uma versão mais consciente
do temor de Deus. Isto é: nós somos mais conscientes do nosso
temor dos outros do que do nosso temor de Deus. E certo que
o temor dos outros é um fenômeno real. Nós realmente temos
medo dos pensamentos, das opiniões e atos das outras pessoas.
Mas por baixo disso nós escondemos o melhor que podemos
o nosso irremediável temor de Deus. Por exemplo: observe a
versão bíblica do mascarado de Kierkegaard.
"Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém,
não choreis por mim; chorai antes por vós mesmas e por vossos
filhos. Porque dias virão em que se dirá: Bem-aventuradas as
estéreis, que não geraram nem amamentaram. Nesses dias dirão
aos montes: Caí sobre nós, e aos outeiros: Cobri-nos." (Lucas
23: 28-30)
Quando Cristo voltar, aqueles que estiverem nus irão
preferir ser cobertos pelas pedras dos montes de Jerusalém a
ser expostos diante do olhar santo de Deus.
A Resposta de Deus

Com certeza, Deus tem uma resposta para esse temor, e nós
iremos, logo mais, analisá-la em maiores detalhes. O evangelho
é a história de Deus cobrindo (protegendo) seus inimigos
despidos, trazendo-os para a festa de casamento, e depois
casando-os em vez de esmagá-los. O Rei Davi, sabendo sobre
essas futuras boas notícias disse: "Senhor, tu me sondas e me
conheces." (Salmo 139:1). O olhar de Deus - uma maldição
para os que estavam nus - era para ele uma bênção. É uma
proteção para os que tiveram a sua culpa expiada e os seus
pecados perdoados.

Mas ter medo de Deus pode ainda ser aparente, e com


uma boa razão. Para aqueles que têm sido cobertos com
a justiça de Jesus, esse temor pode não ser o medo de ser
destruído. Ao contrário, pode imitar o temor de Davi (Salmo
119:120) ou Isaías (Isaías 6) que, reconhecendo que eram
pecadores, tremiam diante do Altíssimo Deus. Pode ser um
temor associado ao pecado não confessado. Pode ser o temor
associado à falta de confiança nas promessas de Deus. Ou
pode ser temor de sentir-se "impuro" como conseqüência de
continuar cometendo pecados. Enquanto formos pecadores,
a vergonha será uma experiência comum. Todos nós sabemos
alguma coisa sobre viver atrás de muros e máscaras.

A resposta parece simples: Lembre-se que na morte,


ressurreição e ascensão de Jesus, através da fé Ele cobriu
você com mantos de justiça. Ele removeu a sua vergonha.
Este poderia ser o único ensino libertador que uma pessoa
amedrontada necessita. Porém, minha experiência pessoal e de
aconselhamento sugere que existem muitas ocasiões quando a
solução exige mais do lembrar que Jesus morreu por nós. Por
exemplo: Paula, Samuel e eu não precisamos de algo mais?
Com isso eu não estou dizendo que o evangelho de Jesus não
é suficiente. O que eu quero dizer é que existem ensinamentos
implícitos no evangelho que precisam de atenção. Por exemplo:
do que precisamos nos arrepender? Eu amo mais os outros
no nome de Jesus, ou estou mais interessado em proteger-me
deles? Como posso pensar menos - e menos freqüentemente
- sobre mim?

Há muito mais a ser dito sobre o tratamento da Bíblia


para a vergonha, mas vou resumir onde estamos agora.
A primeira perspectiva bíblica sobre o temor do homem é
que ele é resultado da nudez que vem do pecado. Por causa
do pecado ainda presente dentro de nós, experimentamos
constrangimento, vergonha, e o sentimento de estarmos
expostos e vulneráveis. Como conseqüência, tentamos nos
proteger e evitamos o olhar dos outros. O problema principal
parece ser o olhar das outras pessoas, mas na realidade o
problema está dentro de nós e entre nós e Deus. Não é a
"pressão do grupo". O problema principal não é o olhar dos
outros. Nós o classificamos sob o título de "o temor das outras
pessoas" somente porque essa experiência é mais evidente
quando estamos no meio delas. Por exemplo: Se o auditório da
escola de ensino médio estivesse vazio, ou se o vice-diretor me
dissesse pelo telefone que eu havia ganho um prêmio, eu não
teria ficado constrangido. A presença de outros nos faz sentir
expostos, desprotegidos. No entanto, embora sintamos como se
outras pessoas estejam nos expondo, na realidade carregamos
a vergonha conosco todo o tempo. Os outros simplesmente
fazem com que ela apareça.
As raízes da causa do temor do homem estão em nosso
relacionamento com Deus.
No final das contas, nós ficamos debaixo do seu olhar
santo e penetrante. Quando temos consciência de que violamos
a justiça de Deus, esse olhar nos condenará a menos que
confessemos os nossos pecados e declaremos pela fé que "...
temos sido santificados, mediante a oferta do corpo de Jesus
Cristo, uma vez por todas." (Hebreus 10:10).
Nós também podemos ser ímpios porque temos sido
corrompidos pelos pecados de outros. Nesses casos, não somos
diretamente culpados pelas nossas impurezas, mas ainda
estamos nus e precisamos de uma cobertura para o pecado
que somente Deus pode oferecer.

Para Pensar Um Pouco Mais


1. Se você ainda tem dificuldade vendo o temor de outras
pessoas, pense sobre como a sua vida particular é diferente da
sua vida pública. Existem pecados que você pode confessar
facilmente a Deus, mas seria muito difícil compartilhar
com uma outra pessoa? Existem coisas sobre você que você
simplesmente não deseja que as pessoas saibam? Essas
perguntas podem revelar algumas das raízes do temor do
homem dirigidas pela vergonha, em sua vida.
2. Considere algumas das estratégias que você usa para
se proteger e lembre-se de que a maioria das pessoas usa
múltiplas camadas.
3. Você alguma vez já ouviu a ilustração de sermão sobre
os cinco homens que receberam um trote dizendo: "Eles sabem
o que você fez. Saia imediatamente da cidade!"? A noite,
quatro deles haviam deixado a cidade. A razão pela qual
deixaram-se controlar pela pessoa que passou o trote foi que
suas consciências os condenavam. Sua consciência o condena?
Caso positivo, confesse seu pecado diante de Deus e peça a
Ele poder para mudar. Uma consciência limpa é uma grande
bênção e um meio de começar a erradicar o temor das outras
pessoas.
1
"As Pessoas Irão lie Rejeitar"

Intimamente relacionado ao medo de sermos expostos


pelas pessoas (medo da vergonha) esta talvez é a razão mais
comum pela qual somos controlados por elas: poderemos ser
rejeitados, ridicularizados ou desprezados (medo da rejeição).
Elas não nos convidam para a festa. Somos ignorados. Elas
não gostam de nós e não se alegram conosco. Elas negam
a aceitação, o amor, ou a significância que esperamos delas.
Como conseqüência, nos sentimos desprezíveis.

Deve encorajá-lo um pouco saber que, embora o medo


da rejeição pareça muito moderno, tem sido um problema
para muitas pessoas ilustres por toda a história. Por exemplo:
Moisés advertiu os líderes e juizes de Israel exatamente sobre
esse problema (Deuteronômio 1:17). Moisés sabia que o povo
respeitava a opinião dos outros, demonstrava favoritismo ou
honrava uma pessoa mais do que a outra, temendo a rejeição
daqueles que eram considerados mais importantes. Esse
tipo de tendência humana teria sido um problema muito
importante para os juizes de Israel. Por exemplo: se um israelita
tivesse que julgar um caso envolvendo um importante ferreiro,
poderia haver certa pressão para fazer um julgamento leve
ou ainda desistir da penalidade. Caso contrário, o ferreiro
poderia rejeitar o trabalho para o juiz na próxima vez que este
precisasse consertar o seu arado. Você percebe o problema?
Os juizes podiam ser controlados por um réu se o réu tivesse
algo que os juizes desejavam. Nessas situações as pessoas se
tornariam grandes e a justiça de Deus se tornaria pequena.
Fico imaginando quantos de nós tememos (respeitamos
ou reverenciamos) aqueles que têm mais dinheiro, mais poder,
mais educação, mais carisma. Como conselheiro eu tenho
testemunhado, em meu próprio ministério e no de outros, uma
abordagem mais dócil e mais hesitante quando aconselhamos
um contribuinte em potencial do que quando aconselhamos
pobres gratuitamente.
O Rei Saul é um exemplo bíblico específico de alguém que
experimentou o medo da rejeição. Em I Samuel 15, Saul recebeu
a ordem de destruir completamente os amalequitas. Deus
deu então aos exércitos de Israel graça para derrotarem esses
povos, mas "Saul e o povo pouparam a Agague, e o melhor
das ovelhas e dos bois, e os animais gordos e os cordeiros
e o melhor que havia..." (I Samuel 15:9). Quando o profeta
Samuel confrontou Saul com a sua grande desobediência, Saul
confessou o seu pecado, mas o justificou. "... porque temi o
povo, e dei ouvidos à sua voz." (I Samuel 15:24).
Há dois possíveis pontos de vista sobre a justificativa de
Saul. Ele realmente pode ter se sentido pressionado pelos
generais para levar para casa alguns dos espólios da guerra,
e nesse caso a sua defesa é injustificável à luz das incessantes
advertências de Deus sobre não temer as pessoas. Ou Saul
raciocinou que o temor dos outros era tão comum que Samuel
aceitaria a sua desculpa porque era simplesmente uma reação
humana. Afinal, se faz parte da nossa estrutura, como podemos
ser considerados responsáveis por isso? Embora cada uma
das alternativas represente motivos reais de Saul, o temor dos
outros teve resultados catastróficos: a razão pela qual Saul
perdeu o seu trono.
Os fariseus do Novo Testamento compartilharam do
medo da rejeição do Rei Saul. Eles almejavam a aceitação e
aprovação do povo, e temiam não consegui-las. Muitos fariseus
orgulhavam-se de não crer em Jesus, e até mesmo acusavam
aqueles que criam, de viver debaixo de uma ilusão (João 8:45-
50). Porém havia alguns líderes que não conseguiam ignorar o
ensino e os milagres inquestionáveis de Jesus, e secretamente
criam nEle. Em outras palavras, eles acreditavam que Jesus
havia sido enviado por Deus; Ele era o Messias por quem
tinham esperado e orado. Com essa convicção, você pensaria
que esses líderes se tornariam discípulos imediatamente e
procurariam convencer o povo a crer. Mas isso não aconteceu.
Sua fé definhou rapidamente. Por quê? Eles temiam confessar
a sua fé por causa das possíveis reações dos da sinagoga:
"porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de
Deus." (João 12:43). Eles sentiam que precisavam do louvor das
pessoas. Eles temiam a rejeição mais do que temiam ao Senhor.
Tudo isso parece muito familiar. As vezes nós preferiríamos
morrer por Jesus a viver para Ele. Se alguém tivesse o poder
de nos matar por nossa confissão de fé, imagino que a maioria
dos crentes diria: "Sim, eu sou um crente em Jesus Cristo",
mesmo que isso significasse a morte. A ameaça de tortura
poderia fazer as pessoas pensarem duas vezes, mas eu acho
que a maioria dos crentes confessaria Cristo. Mas, se tomar
uma decisão por Jesus significa que poderemos passar anos
sendo malquistos, ignorados, pobres, ou criticados, então
muitos crentes temporariamente colocam sua fé na prateleira.
"A morte não é iminente, então, por que ter pressa para tomar
uma decisão tão precipitada?" "Haverá tempo mais tarde pra
acertar as coisas com Deus."
Em outras palavras, mate-me, mas não faça com que
deixem de gostar de mim, de me admirar ou respeitar.
Parece muito cruel? Lembre-se desta única palavra:
evangelismo. Tenho certeza de que muitos adolescentes
prefeririam morrer a serem vistos por seus amigos andando
com o seu grupo de jovens da igreja, ou apresentando uma peça
evangélica nas ruas. As viagens missionárias mais procuradas
não são as que nos levam para longe da nossa vizinhança?

A Rússia é fácil; o nosso próprio bairro é um desafio


constante. Alguém tem constantemente tido a ousadia e a
clareza de Jesus em testificar sobre o evangelho? Nunca.
Alguém tem constantemente evitado o temor do homem no
evangelismo? Com certeza não. Há uma "loucura" inerente
na mensagem da cruz. A proclamação clara do evangelho faz
com que não pareçamos bons. Não nos faz queridos.

“A Pressão do G rupo” e a Glória de Deus

O pecado que habita no coração humano (o temor do


homem) exerce um poder impressionante. A glória dos outros
- aquele pouco de brisa que dura por um instante - pode ser
mais glorioso pra nós do que a glória de Deus. O próprio
Jesus disse aos líderes judaicos: "Como podeis crer, vós os
que aceitais glória uns dos outros, e contudo não procurais
a glória que vem do Deus único?" (João 5:44).

Hoje nós seriamos bonzinhos e chamaríamos os fariseus


de contentadores de pessoas. Diríamos que eles "lutaram
contra a pressão do grupo". Uma vez que todos nós somos
contaminados por ela uma hora ou outra, somos quase
solidários em relação a esse comportamento. Mas esta talvez
seja a forma mais triste do temor do homem. Os adolescentes
constantemente tomam decisões insensatas por causa dela.
Os adultos, também, olham para as pessoas em busca de suas
sugestões. Esperamos pelos outros para tomar iniciativas de
amor. Perdemos muito tempo imaginando o que os outros
podem ter pensado sobre a nossa roupa ou o comentário
que fizeram na reunião do grupo. Nós vemos oportunidades
de testificar sobre Cristo, mas as evitamos. Estamos mais
preocupados com parecermos idiotas (um temor de pessoas) do que
não viver pecaminosamente (temor do Senhor).

Jesus entrou em total contraste com essa preocupação


farisaica. Ele não demonstrava favoritismo; pelo contrário,
ele alcançava tanto homens quanto mulheres, ricos e pobres,
e todas as raças e idades. O Seu ensinamento não era feito com
uma pesquisa prévia sobre o que era popular; ao contrário,
ele falava a verdade que muitas vezes não era bem-vinda mas
podia penetrar o coração. "Eu não aceito a glória dos homens"
Ele dizia. Até os seus inimigos conseguiam perceber isso.

"... Mestre, sabemos que és verdadeiro e que ensinas o caminho


de Deus, de acordo com a verdade, sem te importares com
quem quer que seja, porque não olhas a aparência dos homens."
(Mateus 22:16)

Com certeza, esses comentários foram uma forma de


bajulação usada para pegar Jesus em uma armadilha, contudo,
eram verdadeiros. Era parte do ensino com autoridade de
Jesus, e era uma das características que distinguiam o seu
ministério do de todos os outros líderes judeus.

Era também característica do ministério do apóstolo Paulo.


Ele exortava suas igrejas a serem seus imitadores como ele era
de Cristo (I Coríntios 4:16; I Tessalonicenses 1:6). Com isso,
ele estava incentivando seus discípulos a imitar sua vida e
doutrina, uma imitação que com certeza incluía buscar a glória
de Deus e não dos homens (I Tessalonicenses 2:4). Paulo não
procurava agradar aos homens. Ele amava as pessoas, e por
isso ele não mudava a sua mensagem de acordo com o que
os outros poderiam pensar. Somente os que amam as pessoas
são capazes de confrontar. Somente os que amam as pessoas
não são controlados pelos outros. Paulo até mesmo disse aos
gálatas que se estivesse tentando agradar aos homens, não
seria um servo de Deus (Gálatas 1:10). Isso mostra como ele
considerava sério o temor do homem.
Não que isso aconteça naturalmente. Paulo tinha os
mesmos instintos carnais que nós, e ele sabia disso. Como
conseqüência, ele implorava às igrejas que orassem por ele.

... e [orem] também por mim, para que me seja áada, no abrir
da minha boca, a palavra, para com intrepidez fazer conhecido o
mistério do evangelho... para que em Cristo eu seja ousado para
falar, conforme cumpre fazê-lo (Efésios 6:19-20).

A Batalha de Pedro com o Tem or do Homem

Agora um exemplo mais trágico do temor às outras


pessoas.

Pedro tornou-se conhecido pelo seu estilo impetuoso.


De todos os discípulos, ele parecia ser o mais valente. Ele
provavelmente seria a última pessoa que esperaríamos lutar
com o temor do homem. Mas essa doença está no coração dos
valentes e dos tímidos.

Como poderia ele ter negado ao Senhor? Ele tinha


presenciado os milagres. Havia recebido o Espírito que lhe
revelara que Jesus era o Messias, a Rocha. Ele testemunhou a
transfiguração! Ele amava a Jesus. A negação era inconcebível.
M as ele tam bém era como nós - um sujeito pecador,
espiritualmente incapaz fora da atuação constante do Espírito
Santo. Ele também podia engrandecer as pessoas de maneira
que parecessem maiores do que o próprio Jesus.
Em uma noite fria Pedro estava fora da casa do sumo
sacerdote enquanto Jesus estava sendo interrogado dentro
da casa. Ele estava perto de uma fogueira com um grupo de
oficiais e servos. "Eu não sei sobre o que você está falando",
respondeu, quando disseram que o tinham visto com Jesus.
Para Pedro negar de tal maneira, deveríamos imaginar
que o seu confrontador fosse um centurião, um fariseu ou
alguém que poderia executá-lo ali mesmo. Sua vida devia
estar em grande perigo. Mas não, era uma moça. Não uma
mulher de grande influência, mas uma empregada. Sim, ela
era uma serva do sumo sacerdote, mas o sumo sacerdote
estava ocupado interrogando Jesus. Com certeza ele não tinha
tempo para Pedro. Um outro discípulo, provavelmente João,
também estava na casa durante o interrogatório de Jesus. Se
eles quisessem prender um discípulo, o que estava dentro da
casa seria uma escolha mais óbvia.
Seria agradável pensar que a vida de Pedro estava em
perigo, mas não seria verdade. Ele precisou de muito pouca
provocação para negar a Cristo.
Uma segunda vez ele foi questionado, talvez pela mesma
empregada, e deu uma resposta semelhante. Mas não foi uma
resposta tímida, sem ser olho-no-olho.

Foi uma negação convicta, acentuada por um juramento.


Com certeza Pedro conhecia a seriedade de um juramento. Ele
conhecia os ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte: "Seja
porém a tua palavra Sim, sim; não, não." Mas o pecado tomou
a verdade irrelevante naquele momento. O temor do homem
sempre faz parte de uma tríade que inclui incredulidade e
desobediência.

A terceira negação foi ainda pior: "Ele começou a praguejar


e a jurar: Não conheço esse homem!" Em outras palavras: "Que
Deus amaldiçoe a mim e à minha família se eu não estiver
falando a verdade." O temor do homem é, na verdade, uma
perigosa cilada.
Ele não poderia ter escolhido um momento pior para
essa atitude. Naquele momento, Jesus podia ver Pedro, muito
provavelmente enquanto estava sendo levado da casa do sumo
sacerdote para o Sinédrio. Jesus "fixou os olhos em Pedro".
Para Pedro, foi como se ele fosse o primeiro Adão. Ele
sentiu o olhar do santo e não poderia ter se sentido mais
despido. Não havia lugar algum para se esconder. Quanto
a Jesus, nós somente podemos imaginar o que Ele estava
pensando.
O que nós sabemos é que quando Jesus apareceu aos
Seus discípulos, Ele teve grande alegria em demonstrar o Seu
grandioso perdão a Pedro. "Mas ide, dizei a seus discípulos,
e a Pedro...", o anjo anunciou após a ressurreição. Depois,
talvez em uma outra noite fria ao redor de uma fogueira,
Jesus reverteu as três negações de Pedro com três apelos para
que alimentasse o rebanho, e finalizou dizendo: "Segue-Me"
(João 21:15-19).
Tendo experimentado a desgraça do temor do homem,
tendo sentido o olhar do Deus santo, e tendo conhecido um
amor tão rico, e perdoador, Pedro, sem dúvida, aprendeu a
sua lição. Ou melhor, eu tenho certeza que ele achava que
sim. Apesar da sua fé sólida e dos dons recebidos do Espírito,
este homem extraordinário foi humilhado uma vez mais por
causa do seu temor das outras pessoas. Desta vez, a ocasião
para agradar pessoas era uma refeição com um grupo de
cristãos. Pedro tinha plena consciência de que os gentios
estavam incluídos no evangelho. Depois da sua visão em Atos
10, ele passou um tempo com os gentios como Cornélio. Mais
tarde ele aparentemente criou o hábito de reunir-se e tomar
refeições com os gentios. Porém, quando os judeus cristãos
que consideravam a circuncisão como parte do evangelho
vieram até Pedro, ele se afastou dos irmãos e irmãs gentios.
Ele os tratou de acordo com o costume judaico e não conforme
o mandamento do Senhor.
Por que ele fez isso? Ele temeu o grupo da circuncisão.
Quais foram as conseqüências? Outros judeus, inclusive
Barnabé, foram levados para o mesmo erro. Esse tipo de
"hipocrisia" era tão sério que Paulo opôs-se a Pedro face a
face (Gálatas 2:13).
Pedro finalmente aprendeu? Esta talvez seja a última
história pessoal que ouvimos sobre Pedro, porque Lucas,
que escreveu o livro de Atos, seguiu o ministério posterior
de Paulo mais do que o de Pedro. Porém, as duas cartas
de Pedro foram escritas, muito provavelmente após este
acontecimento, e I Pedro, em especial sugere uma ligação entre
esses acontecimentos da vida de Pedro e a maneira como ele
ensinava a igreja primitiva.
Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que
é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça,
bem-aventurados sois. Não vos amedronteis, portanto, com as
suas ameaças, nem'fiqueis alarmados; antes, santificai a Cristo,
como Senhor em vossos corações (I Pedro 3:13-15a).
"Não temam as pessoas; temam ao Senhor", disse Pedro.
Ele sabia que o temor do homem podia ser uma cilada.
Pessoas - O Nosso ídolo Por Opção
O que o medo da vergonha e o medo da rejeição têm em
comum? Para usar uma figura bíblica, os dois indicam que
as pessoas são o nosso ídolo favorito. Nós engrandecemos a
elas e ao seu poder acima de Deus. Nós as adoramos como
se tivessem o olhar revelador de Deus (medo da vergonha)
ou a capacidade de Deus de nos "suprir" com estima, amor,
admiração, aceitação, respeito e outros desejos psicológicos
(medo da rejeição).
Quando pensamos em ídolos, costumamos pensar primeiro
sobre Baal e outras criações materiais, feitas pelo homem. Em
seguida poderíamos pensar no dinheiro. Raramente pensamos
em nosso cônjuge, nossos filhos, ou um amigo da escola. Mas
as pessoas são os nossos ídolos por opção. Elas precedem a
Baal, e ao dinheiro. Como todo ídolo, as pessoas são coisas
criadas, não o Criador (Romanos 1:25), e não merecem a
nossa adoração. Elas são adoradas porque nós as vemos como
se tivessem poder para nos dar alguma coisa. Nós pensamos que
elas podem nos abençoar.

Quando você pára pra pensar, a idolatria é a estratégia


mais antiga do coração humano. Os objetos de adoração podem
mudar com o tempo, mas o coração continua o mesmo. O que
fazemos agora não é diferente do que os israelitas fizeram
com o bezerro de ouro. Quando os israelitas saíram do Egito,
sentiram-se vulneráveis e carentes (e foram de coração duro e
rebeldes). Mesmo tendo testemunhado o poder de Deus, eles
sentiram medo. Sentiram-se desamparados. O remédio foi
escolher um ídolo acima do Deus verdadeiro. Fazendo assim
eles estavam tanto se opondo quanto evitando a Deus.

Eles opuseram-se a Deus confiando em si mesmos e em


seus próprios deuses mais do que no Deus verdadeiro. Afinal,
eles não poderiam de maneira alguma garantir que Deus iria
abençoar as mulheres com fertilidade. E os outros deuses que
pareciam ter poder para dar colheitas abundantes? Só para o
caso de Deus não ser suficiente, eles começaram a seguir outros
deuses. Eles pensavam que os ídolos iriam dar a eles tudo o
que desejavam ou achavam que precisavam. Eles queriam um
deus que pudessem controlar e manipular. Eles não queriam
nada acima de si mesmos, inclusive Deus. Deus, pensavam,
não conseguiria manter a paz com os seus desejos, e por isso
procuraram bênção e satisfação em alguma coisa que sentiam
que poderiam controlar. Eles queriam fazer da sua maneira, e
não da maneira de Deus. Esse é o auge da rebelião.
Ao seguir outros deuses, os israelitas também queriam
evitar Deus. Isso era mais conveniente do que confiar nEle. O
povo de Israel nunca antes tinha visto uma manifestação de
santidade como viram no Sinai. Essa santidade fez com que se
sentissem vulneráveis e expostos. Eles tomaram consciência
de sua própria vergonha. Seus corações rebeldes buscaram
um deus que fosse manso para lidar com esse terror santo. E
com certeza o bezerro de ouro era esse deus.
E assim é hoje. Em nossa incredulidade, nós nos opomos
a Deus e O evitamos. Qual é a conseqüência desta idolatria às
pessoas? Como em toda a idolatria, o ídolo que escolhemos
para adorar logo torna-se o nosso dono. O objeto do nosso
temor nos domina. Embora insignificante por si só, o ídolo
torna-se enorme e nos governa. Ele nos diz como pensar, o que
sentir, e como agir. Ele nos diz o que vestir, nos diz para rir de
uma piada suja, e para morrermos de medo de falar alguma
coisa diante de um grupo. Toda a estratégia produz um efeito
contrário. Nós nunca esperamos que usar pessoas para suprir
os nossos desejos nos faça escravos delas.
Sara era uma atleta famosa em três esportes de uma das
melhores faculdades do país. Não somente isso, ela era capitã
dos três times do segundo ano, e acabara de ser escolhida a co-
vencedora do prêmio de melhor atleta feminina da faculdade.
Com tanta habilidade e reconhecimento você poderia pensar
que ela estava se sentindo muito bem consigo mesma, mas
ela já estava preocupada com o ano seguinte. As expectativas
dos outros tornavam-se cada vez maiores. Como poderia subir
ainda mais alto? "Ela disse que queria ser a melhor namorada,
a melhor atleta, a melhor aluna", contou uma grande amiga.
Ela queria abandonar um dos seus esportes para aliviar o
estresse avassalador em sua vida, mas temia desapontar suas
companheiras de equipe. Dizer "não" para uma amiga estava
fora de cogitação. "Ela queria agradar a todos e não conseguiu
parar", observou alguém. Ela só conseguiu pensar em um jeito
de parar. Sara pegou um rifle calibre 22 e atirou em seu peito.
As pessoas tinham feito de Sara um ídolo. Ela precisava
da aprovação delas. Ela precisava de sua am izade, e
sentiu-se completamente sufocada pelas possíveis opiniões
depreciativas. A triste realidade era que Sara era uma escrava
do seu ídolo, e a tragédia acompanha esse tipo de escravidão.
Sara não encontrou nenhum outro caminho para a liberdade.

Para Pensar Um Pouco Mais

O propósito destes três primeiros capítulos é revelar o


temor do homem em todos nós. A realidade por trás desse
temor é muito mais profunda do que a nossa idéia atual de
temor. No sentido bíblico, o que tememos demonstra a quem
devotamos a nossa lealdade. Demonstra onde colocamos a
nossa fé. Demonstra quem é grande em nossas vidas.

1. Em suas próprias palavras, o que é o temor do homem?

2. Se o temor dos outros é tão predominante em nossas


vidas como a Bíblia sugere, faça uma lista de como ele se
manifesta em sua vida. Talvez você queira começar com
ilustrações clássicas de quando você era mais jovem, mas não
deixe de atualizá-la para incluir a semana passada.

3. Aqui estão algumas perguntas que poderiam revelar o


temor do homem.

J#»- Que pensamentos ou ações você prefere manter


em segredo? (Não se refere ao vestir-se). Cobiças,
ressentim entos, certos h ábito s... Esse tipo de
atividades muito provavelmente aponte para o temor
dos outros.
Você percebeu as vezes que se protegeu com
mentiras, justificativas, acusações, fuga ou mudança
de assunto? Se sua resposta for positiva, você deseja
parecer melhor diante das pessoas.
Você demonstra favoritismo? Você respeita mais o
rico do que o pobre?

O inteligente acima do menos inteligente? Essa seja talvez


a expressão menos notada do temor dos outros. Demonstra
que você respeita uma pessoa mais do que uma outra.

4. Quais figuras que descrevem você?

5. Codependent No More (Codependente Nunca Mais)


ofereceu soluções desumanas para o temor do homem, mas
fez um bom trabalho descrevendo-o. Aqui estão algumas de
suas descrições. Tente reinterpretá-las e ver as pessoas-ídolos
que se escondem atrás delas. Os codependentes podem:

pensar e sentir-se responsáveis por outras pessoas.

>► sentir-se obrigados a ajudar as pessoas a resolverem


os problemas delas.

sentir-se cansados de dar sempre aos outros sem


nunca receber nada em troca.

acusar, acusar, acusar.

sentir-se não valorizados.

ter medo de rejeição.

>► sentir-se envergonhados de ser quem eles são.

ficar preocupados se as pessoas gostam deles ou não.


concentrar toda sua energia em outras pessoas e
problemas.
>► ameaçar, subornar, implorar.

>► tentar dizer o que acham que irá agradar, desafiar ou


conseguir o que precisam.
>► manipular.

deixar que as outras pessoas os machuquem e nunca


dizer nada.
>► sentir-se furiosos.
sentir-se como mártires.

>► ser extremamente responsáveis ou irresponsáveis.


4
"As Pessoas Irão Me
Machucar Fisicamente"

Janete foi uma vítima de violência sexual e física. Dos sete


aos doze anos, ela foi violentada por seu pai. Ele só parou
porque ficou velho e lento e Janete conseguia escapar dele.
Mas a violência não parou. Durante os seus primeiros anos de
adolescência, seu irmão mais velho a socava até ela se curvar de
tanta dor. Mesmo com os olhos roxos e as costelas quebradas
não podia ser levada ao hospital porque seu irmão ameaçava
matá-la se contasse pra alguém.

Agora ela tem trinta e cinco anos. Está casada há oito anos
com um marido que lhe dá todo o apoio, e tem dois filhos: um
menino de seis anos e uma menina de três. Recentemente, ela
confrontou seu pai e seu irmão, e os dois homens admitiram
suas agressões. Mas o apoio do marido e a confissão dos
culpados não protegeram Janete de inúmeros problemas
diferentes.

Por exemplo: quando Janete fala sobre qualquer dos


molestadores, suas atitudes oscilam descontroladamente.
Algumas vezes ela deseja um relacionamento mais profundo
com eles, mas o seu sentimento não é tanto de uma amizade
adulta com eles, e sim de uma criança dependente. Ela deseja
o amor e a afeição de seu pai e seu irmão que nunca teve
quando jovem. Outras vezes fica muito furiosa com eles pelo
que fizeram e deseja que estivessem mortos. Ainda outras
vezes fica apavorada quando pensa sobre o que aconteceu e
tenta afastar-se de todos porque sente como se todas as pessoas
que conhece fossem uma ameaça à sua vida.
Com certeza, todas essas reações são compreensíveis em
uma mulher que tem sido tragicamente atormentada, mas
também revelam que os molestadores de Janete continuam a
ter uma influência controladora sobre a sua vida. Janete vive
como se Deus fosse pequeno em comparação àqueles homens
maus.
Nós já vimos que o temor de outras pessoas sai de nós.
Não importa onde vivamos ou com quem vivamos - o temor
do homem é uma característica comum do nosso próprio
coração corrompido. Mas, com certeza, as influências podem
nos deixar mais propensos a essas tendências pecaminosas.
Elas certamente fizeram isso com Janete.
A vulnerabilidade de Janete ao temor de outras pessoas
pode ser comparada à vulnerabilidade à sensualidade em
uma pessoa que é apresentada à pornografia muito cedo. A
sensualidade é encontrada em todos nós, mas tal pessoa pode
ter que estar constantemente em guarda contra o desejo sexual.
Para algumas pessoas o desejo sexual pode ser uma tentação
variável; às vezes a batalha é violenta; algumas vezes outras
batalhas parecem mais urgentes. Mas para alguém apresentado
à pornografia, a batalha pode ser constante. Esse tipo de
pessoa pode ter que recrutar apoio constante em oração e estar
preparado para batalhar diariamente. De modo semelhante,
aqueles que têm sido ameaçados, atacados ou humilhados por
outros, tendem a ser mais vulneráveis ao temor do homem, e
têm que estar particularmente vigilantes.
PASSO 2 Identificar onde o seu temor do homem foi
intensificado por pessoas no seu passado.
O Poder das Palavras
A violência física e sexual são exemplos claros de como
pessoas destrutivas em nosso passado podem nos tornar
mais propensos a temer outras pessoas. Mas as Escrituras
não fala somente de atos destrutivos. Ela diz que as palavras
também são poderosas. Como, eu imagino, um discurso
impiedoso pode abalar as crianças? Eu sei que as crianças se
recuperam muito facilmente, e não estou sugerindo que uma
palavra irá marcar uma criança para o resto da vida, mas a
Bíblia mostra que palavras precipitadas penetram como uma
espada (Provérbios 12:18). A Bíblia nunca minimiza o efeito
de palavras pecaminosas. Ela as apresenta como agitadores
que deixam feridas que podem chegar ao mais profundo do
nosso ser. Elas permanecem em total contraste com as palavras
de compaixão e cura que o Senhor oferece para essas vítimas.
Tenho visto crianças que têm sido oprimidas pelas
palavras de outros. Eu tenho observado como algumas delas
pouco a pouco tornam-se mais reservadas e retraídas. Parecem
assustadas, sempre na defensiva e hipervigilantes, como se
estivessem em uma batalha. O pecado de outras pessoas tem
feito com que sejam propensas a uma versão ampliada do
temor do homem? Em alguns casos, sim.
Geralm ente é preciso mais do que uma ocorrência
para acender as chamas do temor do homem. E possível
que uma crítica totalmente fora de hora possa fazê-lo, ou
talvez uma fofoca sobre você ouvida por acaso; mas se a sua
história deixou você mais vulnerável ao temor dos outros,
provavelmente você foi influenciado pela torrente sólida de
palavras desencorajadoras. Em outras palavras, dia a dia você
ouviu algo crítico, degradante ou maldosa.
Talvez as palavras m aldosas não tenham sido tão
freqüentes. Eu conheço um pai que perde a calma talvez uma
vez por mês. Quando acontece, todo mundo fica sabendo, e
todos à sua volta são atacados. Depois de meia hora fora de si,
ele volta e pede desculpas aos que ele ofendeu. Ele age como
um bêbado, mas sem o álcool.
O que você acha desse homem? Seria bom ver seus acessos
abaixo de zero, mas ele pede desculpas. As coisas poderiam
ser muito piores. Eu tenho testemunhado mudanças no seu
único filho.
Ele está cada vez mais tímido. Tem medo de tentar qualquer
coisa na qual possa falhar. Antes ele era muito simpático com
os adultos, mas agora só fala quando alguém fala com ele. O
problema é que o pai, que tem tentado sinceramente manter
sua ira sob controle, na verdade não conversa com seu filho
entre os seus acessos de raiva. Ele grita, pede desculpas e volta
para o trabalho - e só. Portanto, mesmo acontecendo menos
de uma vez por mês, as palavras cruéis são as únicas palavras
que o filho ouve. As palavras cortantes, impensadas, estão
influenciando o filho para temer as outras pessoas.
Antes de fornecer algumas respostas específicas àqueles
que têm sido oprimidos por outros, vamos considerar alguns
exemplos nas Escrituras sobre como as pessoas responderam
às ameaças e ataques.
Um Herói Medroso
Logo após Deus ter prometido a Abraão dele fazer uma
grande nação, este foi por conta própria para o Egito por causa
da fome.
Quando se aproximava do Egito, quase ao entrar, disse a Sarai,
sua mulher: Ora, bem sei que és mulher de formosa aparência;
os egípcios, quando te virem, vão dizer: É a mulher dele, e me
matarão, deixando-te com vida. Dize, pois, que és minha irmã,
para que me considerem por amor de ti e, por tua causa, me
conservem a vida (Gênesis 12:11-13).
Isso é, com certeza, o temor do homem. É um pouco
diferente do temor de ser exposto. O medo de Abraão era de
ser ameaçado fisicamente. Ele não tinha medo de que alguém
pudesse envergonhá-lo, mas sim medo que alguém pudesse
matá-lo. Ele sentiu-se vulnerável e sem proteção. Em vez de
confiar em Deus, ele confiou em seu próprio esquema de auto-
proteção. Para Abraão, os egípcios eram grandes e Deus era
pequeno. Os Salmos freqüentemente mencionam pessoas com
medo de seus inimigos.
Por exemplo: quando Davi foi capturado pelos filisteus em
Gate, ele falou sobre a forte perseguição dos seus agressores
e do seu temor. Sempre que dormia, ele não tinha certeza se
iria acordar ou não. Sua reação, porém, foi muito diferente
da de Abraão. Davi estava com medo, mas não temia mais
as pessoas do que a Deus. Ele disse: "Em me vindo o temor,
hei de confiar em ti. Em Deus, cuja palavra eu exalto, neste
Deus ponho a minha confiança e nada temerei. Que me
poderá fazer um mortal?" (Salmo 56:3-4). Deus era a rocha
e a fortaleza de Davi. Já Abraão, que havia acabado de saber
das promessas de Deus pra ele, viu os egípcios como maiores
do que o seu Deus, e mentiu como um meio de lidar com o
seu medo. Embora não seja um exemplo de como lidar com o
temor dos outros, Abraão pelo menos nos mostra que isso é
comum mesmo entre pessoas de fé.
Mas por que Abraão não aprendeu com esta experiência?
Alguns capítulos depois, em Gênesis 20, ele usa exatamente
a mesma manobra. Apenas uma das vítimas era diferente.
Ele não só colocou novamente sua esposa em uma situação
onde ela poderia ser maculada, mas também pecou contra
Abimeleque, rei de Gerar. Abimeleque não era tão poderoso
quanto o Faraó, mas era um homem de reputação e rei daquela
região.
Isso aparentemente era o suficiente para Abraão, e por isso
ele pediu que sua esposa retomasse a farsa. Somente a enérgica
intervenção de Deus guardou Abimeleque do adultério e
Abrão de uma humilhação completa.
Com este passado diversificado, esta mistura de fé e
medo, Abraão não parecia ser um bom candidato para talvez
a prova mais difícil a que uma pessoa poderia ser submetida.
Ele poderia priorizar o seu temor de Deus a ponto de obedecer
mesmo se isso significasse sacrificar o seu único filho? Uma
coisa é ter a sua vida ameaçada, mas, algo muito mais sério é
ter a vida do seu filho ameaçada.
E essa foi a prova que Abraão enfrentou. Mas ele nunca
hesitou. Quando recebeu a ordem de sacrificar seu filho,
Abraão levantou cedo de manhã para obedecer ao Senhor! Que
pai teria feito uma coisa dessas? A maioria de nós no mínimo
tiraria algumas horas para saírem juntos para uma caminhada
silenciosa ou para uma última partida de futebol.
Mas Abraão se recuperou do seu temor do homem de
um modo espetacular quando foi provado por Deus. Quando
Abraão demonstrou sua disposição em confiar em Deus
mesmo significando a morte de seu filho, o Anjo do Senhor
disse: "... pois agora sei que temes a Deus..." (Gênesis 22:12).
O Tem or Vence e Toda Um a Geração Perde
O exemplo de Abraão de uma fé corajosa não erradicou
o temor do homem de seus descendentes. A história de Israel
literalmente passou por um período dramático por causa do
temor dos hebreus de que os cananeus pudessem feri-los
fisicamente. O povo que estava nos limites da entrada da Terra
Prometida passou a vagar no deserto. Em Números 13, um
grupo de espiões recebeu a ordem de observar a terra. Em seus
relatórios indicaram que, de fato, era a Terra Prometida, e "dela
verdadeiramente mana leite e mel" (Números 13:27). Mas eles
estavam mais temerosos com os habitantes da terra do que
com o seu Deus, apesar de terem acabado de testemunhar que
o seu Deus era o maior de todos os deuses em Seu confronto
com o Faraó.
O povo, porém, que habita nessa terra é poderoso, e as cidades
mui grandes efortificadas;... Não poderemos subir contra aquele
povo, porque é mais forte do que nós... e éramos aos nossos
próprios olhos como gafanhotos, e assim também o éramos aos
seus olhos. (Números 13:28,31,33)

O apelo de Moisés para que não temessem foi ignorado


(Números 14:9). E a sentença por essa incredulidade foi clara.
Deus disse:
... Até quando me provocará este povo, e até quando não crerão
em mim, a despeito de todos os sinais que fiz no meio deles ? Com
pestilência o ferirei, e o deserdarei; e farei de ti [Moisés] povo
maior e mais forte do que este.” (Números 14:11-12)

O nosso Deus zeloso exige que somente Ele seja adorado


e exaltado. Temer a Faraó mais do que ao verdadeiro Deus
era idolatria. Mas por causa da bondosa intervenção de
Moisés a favor do povo, Deus misericordiosamente reduziu
o seu castigo. No lugar da destruição total de Israel, Deus
proibiu uma geração de entrar na Terra Prometida. Eles
morreriam como nômades no deserto, mas seus filhos veriam
o cumprimento da promessa de Deus. Isso, de fato, foi graça
maravilhosa.
Quando a sentença de Deus foi cumprida e aquela
geração se foi, Moisés fez um apelo final ao povo. Foi em
um momento crucial, pouco antes de sua própria morte. Ele
estava transferindo o poder para Josué, portanto, a ocasião
era muito solene. O povo sem dúvida estava extremamente
atento às palavras de Moisés. Sua exortação amorosa, pastoral
é o livro de Deuteronômio. Nele Moisés chamou o povo
para uma dedicação absoluta a Deus, e os advertiu contra a
desobediência da aliança. Ele lembrou o povo principalmente
para evitar o erro passado de temer as pessoas mais do que
Deus. Ele não havia dito sempre: "... Não temas, e não te
assustes" (Deuteronômio 1:21) e "... Não vos espanteis, nem
os temais" (1:29)? Mas durante a viagem pelo deserto o povo
não ouviu, e o resultado foi uma derrota catastrófica. O que
eles temiam na verdade os engoliu.
Então Moisés continuou com as suas advertências:
Não tenhas medo dele [Ogue, rei de Baasã] (3:2)

Não os temais [todos os reinos na terra] (3:22)

Não te esqueças do dia em que estiveste perante o Senhor teu


Deus em Horebe, quando o SENHOR me disse: Reúne este povo,
... afim de que aprendam a temer-me... (4:10)

Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e


guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos...
(5:29; também 6:2,13)

Se disseres no teu coração: Estas nações são mais numerosas do


que eu; como poderei desapossá-las? Delas não tenhas temor,
... (7:17-18)

Seguiram -se inúm eras ad v ertên cias e exortações


semelhantes, todas repetindo o mesmo tema: vocês são
propensos a temer as pessoas que parecem ser uma ameaça
a vocês; em lugar disso temam a Deus e a Deus somente. No
final do livro da aliança, Moisés ordena ao povo: "Sede fortes
e corajosos: não temais, nem vos atemorizeis diante deles,
porque o SENHOR vosso Deus é quem vai convosco; não
vos deixará nem vos desamparará." Ele repete novamente
esta afirmação:"... não temas, nem te atemorizes". (31:8). Com
este incentivo final, o sermão foi concluído.

Dois Líderes Cheios de Fé


O livro de Josué começa do mesmo modo. Leia Josué 1:1-9
e observe as exortações. Três vezes durante o conselho inicial
de Deus para Josué, Ele diz: "Sê forte e corajoso". "Não to
mandei eu", Ele pergunta. "Sê forte e corajoso; não temas,
nem te espantes, porque o SENHOR teu Deus é contigo, por
onde quer que andares." (v.9).

Sempre bom aluno, Josué repetiu mais tarde esses


mandamentos dados por Deus quando enfrentou cinco reis
cativos. Ele disse a Israel:"... Não temais, nem vos atemorizeis;
sede fortes e corajosos... (10:25). Sua confiança era ligada à
obediência - como sempre deve ser - e ele pessoalmente matou
os cinco reis com sua espada. Com esse tipo de liderança, Josué
deixou o maior dos legados: "Serviu, pois, Israel ao SENHOR
todos os dias de Josué..." (Josué 24:31).
Davi é um outro exemplo claro de um homem que temia
a Deus, e não aos homens. Os salmos de Davi muitas vezes
giram em torno de uma questão: A quem temerei, a Deus ou as
pessoas? Sua resposta, porque conhecia o Deus vivo, raramente
apresentava dúvidas. "O SENHOR reina para sempre" (Salmo
146:10). Os homens mortais morrem e os seus planos morrem
com eles (Salmo 146:4). Deus era o seu escudo (Salmos 3:3; 5:12;
7:10); seu refúgio (Salmos 5:11; 9:9); sua força (Salmo 118:14); e
sua rocha, fortaleza e libertador (Salmo 18:2). Quando estava
com medo, lembrava-se que as pessoas poderiam ter grande
poder quando comparadas a ele, mas nenhum poder quando
comparadas ao seu Deus.
Por dois anos eu trabalhei em um hospital de veteranos
de guerra. Durante aquele tempo, ouvi as histórias de muitos
deles e vi as conseqüências da guerra. Os homens acordavam
de pesadelos causados por acontecimentos que ocorreram
quarenta anos antes. Alguns usavam drogas para acalmar
seus medos e atenuar as imagens de suas mentes. Outros
se isolavam como forma de protegerem-se. Alguns deles
pareciam estar em constante alerta, como se nunca tivessem
saído da batalha. Alguns usavam sua ira pronta a explodir a
qualquer sinal, como modo de manter os outros afastados.
Se você tivesse ouvido suas histórias sobre os combates,
provavelmente acharia que o medo da ameaça era natural.

Eu diria que era quase natural. O rei Davi foi muitas


vezes ameaçado pelos inimigos, e quando ameaçado ele
também sentia muito medo. Mas não era exatamente o temor
do homem, e não provocava o temor do homem. O temor do
homem é um exagero pecaminoso de uma experiência normal.

Deixe-me explicar: Nós devemos temer quando ameaçados


fisicamente. Com certeza não é pecado sua adrenalina subir
quando alguém está atirando em você. Mas o temor do homem
é temor fora do controle. Pode começar com um temor muito
natural associado com estar vulnerável e ameaçado. Às vezes,
porém, esse alarme não está regulado pela fé. Ele torna-se
um temor que, quando ativado, controla sua vida. Nessas
condições, buscamos a salvação nos outros.

Temer em si mesmo não é errado. Como criaturas vivendo


em um mundo pecador devemos temer às vezes. O problema
é quando o temer esquece-se de Deus. Essa foi a experiência
de Janete e a de muitos veteranos que conheci.

Os salmos de Davi, portanto, não são ilustrações do temor


do homem. Seu temor estava dentro dos parâmetros de uma
vida com Deus. Em seu temor ele voltava-se constantemente
para o seu Rei. Ele é uma ilustração de que experiências ruins
não têm que provocar o temor pecaminoso das pessoas. Mas
observe o que Davi fazia. Ele estava constantemente trazendo
à lembrança que estava em uma encruzilhada entre a fé em
Deus e o temor das pessoas. Ele estava sempre alerta à sua
vulnerabilidade para temer as pessoas. Do mesmo modo, se
você tem estado em situações que o ameaçam fisicamente, seria
melhor estar alerta. É uma ladeira escorregadia entre o temor
normal e o temor idólatra do homem. Para permanecer no
caminho, medite nos Salmos com fé, e siga o exemplo de Davi.
O SENHOR é a minha luz e a minha salvação; de quem terei
medo? O SENHOR é a fortaleza da minha vida; a quem
temerei? Quando malfeitores me sobrevêm para me destruir,
meus opressores e inimigos, eles é que tropeçam e caem. Ainda
que um exército se acampe contra mim, não se atemorizará o
meu coração, e se estourar contra mim a guerra, ainda assim
terei confiança. Uma cousa peço ao SENHOR, e a buscarei: que
eu possa morar na casa do SENHOR todos os dias da minha
vida, para contemplar a beleza do SENHOR, e meditar no seu
templo. (Salmo 27:1-4)
Se você consegue ler este salmo e dizer que ele expressa
o desejo do seu coração, então o seu temor não é um temor
pecaminoso do homem.
Janete: O Estudo de Um Caso
A ameaça física mais conhecida na cultura contemporânea
é a violência sexual ou física contra as mulheres. Com certeza
as mulheres e os homens têm sido maltratados física e
sexualmente, mas as mulheres tendem a ser mais vulneráveis
e mais freqüentemente atingidas.
Sem dúvida, a violência sexual em mulheres deixa-as mais
vulneráveis ao temor das pessoas. Sua experiência literalmente
grita que as pessoas são mais poderosas do que Deus. Afinal,
se Deus é amoroso, por que não pára o opressor?

Pense sobre a lógica do livro When Bad Things Happen to


Good People (Quando Coisas Ruins Acontecem Com Pessoas
Boas). Ele insiste que a tragédia nos força a tomar uma decisão:
Nós cremos que Deus é poderoso ou amoroso? O autor não
acredita que os dois sejam possíveis.
[O autor do livro de Jó] está preparado para desistir de sua
crença... de que Deus é todo-poderoso. Coisas ruins acontecem
com pessoas boas, mas esse não é o desejo de Deus. Deus
quer que as pessoas recebam o que merecem na vida, mas
não consegue providenciar para que isso aconteça. Forçado a
escolher entre um Deus bom que seja totalmente poderoso, ou
um Deus poderoso que não seja totalmente bom, o autor do
Livro de Jó escolhe crer na bondade de Deus.1

Ou Deus não é amoroso, ou não é poderoso, diz o Rabino


Kushner. De qualquer modo, a glória verdadeira de Deus é
rapidamente manchada por esse tipo de pensamentos. Ele
torna-se menor em nossas mentes. Nós não O tememos mais
como deveríamos. Tememos somente as pessoas que parecem
mais poderosas do que nós.

Se alguém tinha razão de temer as pessoas que pareciam


mais poderosas, esse alguém era Janete. As repetidas violações
sexuais causadas por seu pai e a violência de seu irmão
foram acontecimentos decisivos em sua vida. Mas ela tem se
esforçado muito para se livrar dos sofrimentos de seu passado.
Nos últimos meses Janete tem lido inúmeros livros cristãos e
seculares conhecidos sobre a auto-estima e o amor próprio.
Todos eles pareceram descrevê-la perfeitamente. Na verdade,

1. Harold S. Kushner: When Bad Things Happen to Good People (Quando Coisas Ruins
Acontecem com Pessoas Boas) (Nova York: Schocken, 1981), 43
ela tem se sentido mais bem compreendida por esses livros do
que por seu próprio marido. Ela também confessa que esses
livros a ajudaram a compreender a si mesma melhor do que a
própria Bíblia tem feito. Agora, sempre que tem um problema
em sua vida, ela o reconhece como "sentindo-me mal comigo
mesma": "O que eu preciso mesmo é gostar de mim. Eu tenho
me odiado por tantos anos que até parece uma doença."
Esse foco em si mesmo é compreensível. Janete sente-se
muito envergonhada, e a auto-aversão pode ser uma expressão
da vergonha. Mas, sem uma auto-avaliação orientada
biblicamente, as coisas irão somente piorar. Sua conduta atual
está afastando-a das pessoas e fazendo com que seja impossível
o seu crescimento no temor do Senhor.
Por exemplo: Janete tem relutado para vir à igreja nos
últimos dois meses. Seu filho de seis anos é muito ativo e
exigente, e às vezes cria problemas na Escola Dominical. A
professora tem sido criativa em encontrar meios de trabalhar
com ele e ele está melhor agora que ela designou um adulto
para estar com ele todo o tempo, mas a professora achou que
seria melhor se Janete soubesse o que estava acontecendo. Após
ter mencionado alguns de seus comportamentos à Janete, esta
respondeu educadamente, mas por dentro estava humilhada
e furiosa. Ela estava humilhada pelo fato de seu filho ser
criticado, e tomou os comentários da professora como um
ataque pessoal ao seu modo de criar seu filho. "Agora todos
acham que eu sou uma péssima mãe", concluiu.
Durante toda a busca de Janete por uma auto-estima mais
elevada, seu temor do homem está crescendo. Ela evita a
professora da Escola Dominical de seu filho, e tem começado
a pensar (sem nenhuma prova) que todas as outras mulheres
na igreja estão criticando-a pelas costas. Outras pessoas - pelo
menos nas suas idéias - estão controlando-a cada vez mais.
Neste ponto, a principal razão que a faz vir à igreja, afinal,
é para ver o pastor auxiliar. Recentemente ela confessou estar
apaixonada por ele. Ele foi atencioso pastoralmente quando
Janete teve alguns problemas médicos recentes, e agora Janete
não consegue parar de pensar nele. Ela continua pensando
em manter um romance com ele. Ela cria fantasias sobre o
casamento. As vezes ela ameniza a fantasia pensando em
casar-se com o pastor após a morte de seu marido em um
acidente de carro.
Ela confessou esses pensamentos ao seu marido, e ele
reagiu bem. Ele estava machucado, mas tentou ajudá-la o
máximo possível. Ele tentou amá-la ainda mais. Ele lutou,
contudo, quando ficou claro que não havia nada que pudesse
fazer para acabar com as suas fantasias. Aos poucos ele
começou a ver que mesmo que pudesse demonstrar graça e
amor por sua esposa, não conseguiria mudar o coração dela.
Janete estabeleceu um ídolo pessoal em sua vida e agora era
controlada por ele.
A Trilha do Tem or do Homem
O que vai acontecer nos relacionamentos de Janete com os
seus molestadores, a professora da Escola Dominical, e com o
pastor auxiliar? Por que ela é controlada por eles de diversas
maneiras? Não é uma conseqüência do temor da vergonha,
temor da rejeição e temor da ameaça?
Vejamos mais detalhadamente a sua situação. A vergonha
é muito profunda em Janete. Ela sente-se despida e desonrada.
Ela pensa que um relacionamento com seu pai e irmão poderia
ajudar, portanto, anseia por isso. Ela lê literatura sobre auto-
estima e esta descreve a falta de valor, a face secular da
vergonha, e sente como se essa literatura a descrevesse. Ela
recebe uma informação negativa sobre seu filho e sente-se
mais exposta como indigna. Todos os dias ela sente como se
seus muros de auto-proteção estivessem sendo derrubados.
Ela se sente cada vez mais vulnerável para ser machucada
pelos outros. A vergonha é tão mais intensa que ela pensa
sobre machucar-se fisicamente como um meio de distrai-la
momentaneamente e encontrar alívio.
Você se lembra que o temor da vergonha pode ser uma
conseqüência de nosso próprio pecado, do pecado daqueles
que nos fazem mal, ou ambos? A vergonha de Janete é um
resultado de ambos, e as suas reações à sua vergonha revelam
um entrelaçamento confuso de suas fontes em sua vida. Janete
necessita da clareza curadora de uma perspectiva bíblica, mas
até agora ela a tem enganado.
Um problema realmente sério na vida de Janete é a
vergonha dos pecados como conseqüência de sua fantasia
sexual com o pastor auxiliar e a maneira como isso tem
machucado o seu marido. Ela confessou esse e outros pecados
provavelmente centenas de vezes, mas ainda sente-se imunda.
Existem razões pelas quais o seu senso de impureza
persiste. Primeiro, há uma parte da Janete que deseja continuar
a fantasia do relacionamento. Os benefícios que essa fantasia
lhe traz são maiores do que as desvantagens para ela. Por um
motivo: ela deseja seguir os seus próprios anseios; ela gosta
mais do que odeia esse pecado. Ele tem se tornado um meio
confortável de competir com a conseqüência dos pecados de
outros, ambos reais e distintos. Uma segunda razão, mais sutil,
pela qual Janete não se sente perdoada de seu pecado é que
ela confunde a vergonha de seu pecado com a vergonha de ter
sido vítima do pecado de outros. Janete na verdade acredita
que é responsável pelos pecados de seu pai e de seu irmão, e
isso tem formado igualmente essa parte de sua vida.
Como você poderia ajudar a Janete? A resposta bíblica
para a vergonha do pecado da própria Janete é ensiná-la
sobre o arrependimento e uma aversão ao pecado. Janete
não é responsável pelos pecados de outras pessoas, mas é
responsável por seus próprios pecados. A maneira de eliminar
a vergonha associada ao pecado é admitir o pecado, confiar
que Deus perdoa o pecado e engajar-se na batalha contra ele.
A vergonha de Janete por ser vítima do pecado de outros
é mais difícil de ser resolvida. Embora a vergonha de seu
próprio pecado seja o problema espiritual mais profundo entre
os dois, em muitas maneiras ele é mais fácil de se apagar. Esse
tipo de vergonha pode ser coberto através de uma confissão
do pecado, arrependimento, e fé na obra consumada de Jesus,
como já temos visto. A vergonha de ser vítima pode ser mais
resistente. A confissão do pecado não consegue aliviá-lo
porque a vítima não é a parte culpada. Mas isso não impede
as pessoas de tentarem. "Se eu conseguisse ao menos confessar
melhor o meu pecado, poderia me sentir limpo", dizem elas.
Em um esforço para sentirem-se limpas ou protegidas,
algumas vítimas têm recorrido à autopunição como se uma
penitência pudesse limpar e cobrir miraculosamente. Elas
tentam resolver as coisas com Deus cortando seus corpos,
ficando desesperadam ente deprim idas, destruindo seu
casamento para que consigam o que acham que merecem,
ou praticando algumas formas peculiares de auto-aversão.
Com certeza, a penitência nunca cobre ou limpa, mas em
sua ignorância ou incredulidade, muitas vítimas sentem-
se privadas de outras opções e recorrem cada vez mais à
penitência.
E mais ou menos isso o que está acontecendo com Janete.
Como conseqüência de ter sido vítima do pecado de seu pai e
de seu irmão, ela se sente como se tivesse passado toda a sua
vida despida. Ela sempre se sente impura e desonrada. Não
importa o que faça, ainda se sente suja. Sua única explicação é
que ela deve ter provocado o pecado de seu pai e de seu irmão
contra ela. Deve ter sido sua culpa. Ela deve tê-los seduzido
de alguma forma. Sua fantasia de sedução com o pastor é,
em parte, Janete dizendo: "Isso é o que eu sou; uma pessoa
sedutora que destrói vidas." Ela também pensa que é uma
pessoa tão má que não merece nenhuma bênção, como um
bom marido. Ela merece divorciar-se dele; então ele poderia
casar-se com alguém que seria uma esposa melhor. Ela não está
em condições de ter um romance de verdade, mas, talvez, só
a fantasia dê ao seu marido a saída que ele precisa.
Pensamento maluco, não é mesmo? E um pensamento
sem fundamento bíblico que tem sido intensificado pelo
seu passado. Mais especificamente, é um modo de pensar
pecaminoso porque a sua interpretação de seu passado está
tomando prioridade sobre a interpretação de Deus. Mas é
também um pensamento que pode ser mudado com uma
estrutura bíblica clara.
Uma Estrutura Bíblica para Superar
a Vergonha e a Ameaça
A estrutura bíblica começa com trazer uma clareza divina
à experiência da vergonha. A vergonha é algo que fazemos pra
nós mesmos e é feito pra nós. Agora é o momento de Janete
distinguir entre as duas formas. Talvez Janete pudesse ler
exemplos de pessoas que foram envergonhadas por serem
vítimas do pecado de outros na Bíblia: histórias como a de
Diná (Gênesis 34:5), exemplos das leis levíticas (ex: Levítico
11:24), e a profanação do templo por causa da presença de
homens impuros (Salmo 79). O exemplo mais claro é o próprio
Jesus. Ele foi condenado à morte da maneira mais humilhante
possível - despido e em uma cruz. Ele sentiu vergonha, mas
Ele era inocente. Sofreu a vergonha dos outros que foi colocada
sobre Ele. Este é o Único em quem Janete deve fixar seus olhos
(Hebreus 12:2). Depois, em vez de focar em suas tentativas de
obras de justiça para recompensar a Deus por um pecado que
não é dela, pode concentrar a sua atenção fora de si mesma,
sobre quem é Deus e o que Ele diz.
Qual a resposta de Deus para as vítim as que têm
confiado nEle? Primeiro: Ele compreende a sua vergonha.
Essa compreensão não é um conhecim ento intelectual,
desinteressado. Deus realmente se angustia com a vitimização
de Seus filhos, e está fazendo algo a respeito. Nós podemos não
ver as rodas do céu girando, e Janete pode não vê-las girando
com referência a sua vitimização específica em sua vida, mas
sabemos pela fé que Deus não abandona os que têm sido
vítimas (cf. Salmo 22).

Deus estende a Sua compaixão e o Seu poderoso braço


resgatador para eliminar a vergonha. Jesus experimentou
a vergonha e tomou a nossa vergonha sobre Si, portanto, a
vergonha não mais nos limita. Na verdade, pela graça através
da fé, ela não faz mais parte de nós. Então, em um ato que
parece inconcebível, Deus dá um passo adiante: Ele casa-Se e
exalta aqueles que um dia foram envergonhados.

Não temas, -porque não serás envergonhada; não te envergonhes,


porque não sofrerás humilhação; pois te esquecerás da vergonha
da tua mocidade e não mais te lembrarás do opróbrio da tua
viuvez. Porque o teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos
Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele
é chamado o Deus de toda a terra. (Isaías 54:4-5)

Palavras de esperança e de deleite para Janete? Prova­


velmente não de imediato. A idéia de estar casada com o
Supremo poderia ser mais apavoradora do que formidável
pra ela. E provável que se ela tem qualquer temor evidente do
Senhor, é um pavor que busca mais evitar a Deus do que uma
reverência sadia. Será difícil pra ela acreditar na amplitude
da graça de Deus. Ela estará olhando constantemente pra
si mesma e seu senso de indignidade e imundície, e tentará
esconder-se do Santo.

Mas ela deve acreditar. Ela deve acreditar nas palavras de


Cristo mais do que em qualquer outra coisa. Ela deve seguir
o princípio: Para cada vez que olhar pra mim mesma, devo
olhar dez vezes para Jesus. Ela deve meditar nessas ternas
promessas dos lábios de Deus. Se ela pensar que está fora do
alcance da graça, deverá ser corrigida.

Este pensamento está baseado em uma hipótese não bíblica


que as nossas ações podem tanto nos separar de Deus como
levar-nos em direção a Ele. Isso é a negação da própria graça.
Sugere que há alguns atos de justiça que ela deve realizar para
encontrar Deus no meio do caminho. Isto, porém, não tem
nada a ver com o evangelho de Jesus. O Evangelho somente
está disponível para as pessoas que sabem que são impuras.

O temor de Janete de ser exposta (vergonha) está ao lado


do seu temor de ser atacada (ameaça). Crescendo em um
lar onde ocorriam investidas sexuais imprevisíveis, Janete
estava sempre olhando por cima de seus ombros. Ela sempre
sentiu como se "vai acontecer alguma catástrofe comigo - eu
sinto como se ela estivesse sempre ali na esquina". Ela se
sentia pequena, e como se vivesse no meio de pessoas muito
poderosas. Sua profissão de fé era clara, mas o processo diário
de confiar na mão onipotente e amorosa de Deus estava
ausente. Quando as pessoas são grandes, Deus será pequeno.

Alguém poderia pensar que um estudo amplo do poder


soberano de Deus ajudaria Janete a lidar com este aspecto
particular de seu temor das pessoas. Porém, as imagens de um
Deus entronizado não falarão profundamente a este temor de
agressão. Janete deve saber que o soberano Deus é bom. Talvez
ela acredite que Deus reina sobre todas as coisas, mas que o
Seu amor por ela é pequeno. Ela tem sucumbido às sugestões
de Satanás de que Deus não é real para o Seu povo. Somente
uma meditação constante sobre a cruz de Cristo é suficiente
para aliviar esse temor. Então ela saberá que não há ninguém
capaz de impedir os bons propósitos de Deus na sua vida.
Com outras pessoas tão grandes em sua vida, Janete muito
provavelmente se sentiria muito sensível à rejeição, e, de fato,
era. Se houvesse uma taça de amor quebrada buscando ser
preenchida com aceitação, era ela. Ela sentia como se precisasse
de afirmação e elogios constantes de seu marido. Ela precisava
que seu pai e seu irmão lhe dessem o relacionamento que
nunca tivera com eles. Ela precisava ser compreendida, e ela
ressentia-se de ser melhor compreendida pelos livros do que
pelas mulheres da igreja. Ela precisava ser vista como uma
boa mãe. E ela precisava relacionar-se com outros homens.
Mas essas coisas nunca a satisfizeram. Ela sempre estava
buscando mais.
Por favor, entenda que qualquer pessoa que tenha passado
pelas mesmas experiências que Janete, sentiria um certo senso
de vazio. A perda de um bom relacionamento com membros
da família é dolorosa, e o desejo de ter um bom relacionamento
é forte. Não é esse desejo que constitui o temor das pessoas.
É quando os desejos são elevados para exigir que haja ídolos
evidentes em nossa vida. É quando os desejos tornam-se
exigências que ficamos mais preocupados com os nossos
desejos do que com a glória de Deus.
Em Janete, de fato, o desejo tem se transformado em
exigência que parece necessidade. Ela não acredita que possa
confiar a sua vida a Deus, e, portanto tem procurado segurança
e proteção em outras pessoas. A saída para ela é confessar
que tem estado ocupada precisando de outras pessoas para
os seus próprios propósitos desleais. Em vez disso, ela pode
buscar amar os outros por causa do amor e segurança que
desfruta em Cristo, em um desejo de glorificá-Lo. Então, em
vez de definir-se exclusivamente como carente, ela poderia
praticar uma das formas que mais se distinguem dadas por
Deus: somos servos do Supremo Deus, chamados para amar
mais do que para necessitar.
Parece que eu estou sendo muito duro com a Janete?
Espero que não. Em toda a história do Velho Testamento Deus
condena a injustiça e a opressão; ela está repleta de compaixão
pelas vítimas. Metade dos Salmos meditam sobre esse tema.
Por isso todo o aconselhamento dado a Janete deve ser cheio
de compaixão por ela e ódio pelas injustiças que sofreu. De
outro modo, não é aconselhamento bíblico.
Parece que eu estou desculpando o pecado de Janete?
Espero que não. Uma história tão triste não significa que
ignoremos o pecado na vida de Janete. Fazer com que pareça
que o problema de ter sido vítima do pecado de outros seja
mais profundo do que o problema do seu pecado, e a verdade
é que não há nada mais profundo do que a nossa própria
propensão ao pecado. Também, ignorar o pecado de Janete
seria favorecer a sua vitimização. Impediria que ela conhecesse
a verdadeira libertação da culpa, a alegria do perdão, e a
grandeza do amor de Deus.
O problema com muitos livros cristãos sobre a vitimização
é que eles nunca nos tiram realmente de nós mesmos e nos
permitem colocar nossa esperança somente em Cristo. Em vez
disso, eles parecem nos deixar presos ao sofrimento. Já a visão
cristã da vitimização é centrada constantemente em Deus, e
este tem sido o objetivo do aconselhamento para Janete. A
orientação bíblica começa com ouvir sobre a grande compaixão
de Deus. Depois vem o examinar do nosso próprio coração
para que possamos crescer em obediência a Cristo, e termina
em confiar que o nosso Deus é o Deus Todo-Poderoso que é
justo e amoroso.
Pode uma história de vitimização intensificar a nossa
inclinação para temer as pessoas? Não há nenhuma dúvida
que ela possa deixar algumas pessoas mais suscetíveis. Mas
esse tipo de história não pode nos forçar a temer o homem,
nem pode evitar que deixemos o temor para trás.

A Escolha Diante de Nós

Jeremias 17 é o clássico texto bíblico sobre o temor do


homem. Ele reduz as decisões da vida em duas opções:
Confiaremos no homem ou no Senhor?
... Maldito o homem que confia no homem, faz da carne mortal
o seu braço, e aparta o seu coração do SENHOR! Porque será
como o arbusto solitário no deserto, e não verá quando vier o
bem; antes morrerá nos lugares secos do deserto, na terra salgada
e inabitável. Bendito o homem que confia no SENHOR, e cuja
esperança é o SENHOR. Porque ele é como a árvore plantada
junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não
receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano
de sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto. (Jeremias
17:5-8)
O Velho Testamento mostra que estamos no cruzamento
entre o temor dos outros e o temor de Deus. A estrada que
leva ao temor do homem pode ser expressa em termos de
favoritismo, querer que os outros pensem bem de você, temer
ser desmascarado por eles, ou ser completamente dominado
pelo aparente poder físico deles. Quando esses temores não
são combatidos com o temor do Senhor, as conseqüências
podem ser devastadoras. Mas dando a Deus o Seu lugar certo
em nossas vidas, antigos laços podem ser quebrados.

Para Pensar Um Pouco Mais

Pense sobre refletir em uma outra parte da Bíblia. Quando


Jesus estava enviando os seus discípulos para chamarem
outros para o reino, Ele os lembrou que encontrariam muitos
problemas. As pessoas os rejeitariam, eles seriam levados aos
tribunais da cidade para serem açoitados publicamente, e
seu ministério dividiria opiniões, irritando assim ainda mais
pessoas. Em outras palavras, os discípulos seriam tentados
a temer as pessoas. Como conseqüência, Jesus os enviou
dizendo: "Não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no
inferno tanto a alma como o corpo." (Mateus 10:28)

A exortação de Jesus falava especificamente sobre o temor


das ameaças físicas, semelhante às que Abraão enfrentou. Mas
ele está piorando o cenário - sendo mortos - e dizendo que até
a ameaça de morte não deveria provocar o temor das outras
pessoas nos discípulos. Se uma ameaça tão grave poderia ser
contestada com o temor do Senhor, então, as ameaças como
a de rejeição não seriam golpes mortais. Não se esqueça, os
discípulos eram exatamente iguais a nós. Eles queriam que
as pessoas gostassem deles. Portanto, os amigos e as outras
pessoas em Israel poderiam ser tão perigosas quanto os
inimigos que queriam matar.

Pense sobre a exortação de Jesus: "Não temais os que


matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele
que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo"
(Mateus 10:28).Você pode sentir a sua força libertadora? Há
algo sobre o poder de Deus, para não mencionar a idéia do
inferno, que reduz a dolorosa introspecção associada ao temor
dos outros.
5
"0 Mundo Quer Que Eu
Tenha Medo dai Peísoaf

O individualismo, a principio, somente enfraquece as virtudes da


vida pública; mas, com o passar do tempo, ataca e destrói todos
os outros, e é finalmente absorvido em um egoísmo evidente. O
egoísmo é um vício tão antigo quanto o mundo...o individualismo
é de origem democrática.

-A lexis De Tocqueville

Nós não precisamos ser convencidos ou manipulados


para colocarmos nossa esperança nas pessoas mais do que em
Deus. Como os acessos de raiva de uma criança, esse não é
um comportamento que precisa ser observado ou aprendido.
O temor do homem é algo que fazemos naturalmente. Desde
a Queda, é um instinto humano. Mas, infelizmente, o nosso
coração tem um companheiro no crime. O mundo e as suas
suposições parcialmente bíblicas agravam a nossa tendência
de temer ou reverenciar outros.

PASSO 3 Identificar onde o seu temor do homem tem sido


intensificado pelas suposições do mundo.

Isso pode não ser surpresa. A Bíblia adverte que existe um


padrão silencioso, quase bíblico para o mundo que exige que
nos conformemos a ele. O Senhor constantemente alertava a
Israel que o mundo ao seu redor, com as suas práticas idólatras,
era uma ameaça perigosa.
A igreja primitiva, também, foi influenciada pelo mundo.
A cultura judaica continuava vinculando a mensagem do
evangelho às obras de justiça e ao legalismo (Colossenses 2).
Com certeza, a nossa época não é diferente de qualquer outra
na história do povo de Deus. O mundo tenta também o nosso
coração para vivermos pela aprovação dos outros.
Como o mundo - a "associação da nossa carne"1 -
incentiva o temor do homem? Examine alguns exemplos.
Uma observação comum sobre o nosso mundo é que vivemos
em uma cultura onde somos sempre as vítimas. A culpa
sempre é do outro. Você é o responsável pelas minhas ações.
Nós culpamos os outros até mesmo pela nossa cultura de
vitimização: os advogados a criaram. Eles nos fizeram vítimas
dentro da cultura de vitimização.
Observe as implicações desse tipo de substituição de
culpa. Nós estamos dizendo que outras pessoas controlam
o nosso comportamento. Isso não é o temor do homem? Se
somos vítimas habituais, estamos substituindo o centro de
controle de nós mesmos para os outros. Estamos dizendo
que as outras pessoas nos fazem agir desta forma. Com
certeza há uma vitimização real neste mundo, mas quase todo
mundo reconhece que temos favorecido também um gênero
inteiramente novo - e suspeito - o produzir vítimas.
A ênfase na auto-estima também contribui para o temor
do homem. Por exemplo: apesar de que a maioria dos livros
de auto-estima revelam que é algo que você pode desenvolver
sozinho, quase todos eles também dizem que uma das melhores

1. Richard Lovelace, Renewal as a Way ófLife (Renovação como um Caminho de Vida)


(Downers Growe, 111.: InterVarsity Press, 1985), 86.
maneiras de elevar a sua auto-estima é alcançar algum sucesso
(que é comparado então ao que os outros fazem) ou cercar-se
de pessoas que o aprovem (o que deixa você dependente da
opinião delas). Se você tiver dinheiro, a sua auto-estima pode
ser elevada por um terapeuta notável e compreensivo.
Existem hipóteses ocultas, não bíblicas em nossa cultura
que formam o nosso pensamento e ditam os questionamentos
que fazemos. As vezes chamamos de o mundo, como em "o
mundo, a carne, e o diabo". Essas hipóteses influenciam até
as nossas interpretações da Bíblia. Por exemplo: uma vez que
a nossa cultura tem nos ensinado a pensar mais individual do
que coletivamente, temos a tendência de pensar mais sobre
mim do que em nós. A nossa interpretação do "nem deis
lugar ao diabo" (Efésios 4:27), é uma ilustração clássica. Esta
passagem é aplicada constantemente para o indivíduo. Quer
dizer, se você está irado de maneira pecaminosa, Satanás terá
algum tipo de controle em sua vida. Embora isso possa ser
verdadeiro, a passagem está falando no contexto da igreja.
Efésios trata da unidade na igreja. O "lugar" refere-se à
influencia divisora de Satanás no corpo de Cristo mais do
que Satanás possuindo um indivíduo. O tratamento é buscar
ardentemente a unidade na igreja.
Não importa o quanto pensemos ser bíblicos, é impossível
evitar ser influenciado por essas hipóteses. As proposições
mundanas estão no ar que respiramos.
Você alguma vez já esteve em uma grande cidade poluída?
Lembro-me da primeira vez que viajei para Los Angeles. Ela
estava literalmente envolvida em uma bolha de poluição.
Mas depois que eu cheguei a Los Angeles, a poluição parecia
desaparecer. Eu poderia olhar para o céu e ele parecia
perfeitamente azul. Enquanto não havia nenhum fundo, como
montanhas, o ar parecia limpo como cristal. Essa é a natureza
das pressuposições mundanas. Quando você está cercado por
elas, você não as enxerga.

O nosso objetivo neste capítulo é gastar um tempo e


observar a poluição que nos cerca. Precisamos ver que em
nossa batalha contra sermos controlados por outras pessoas,
combatemos não somente o nosso coração, mas as tendências
da nossa cultura.

Algumas Proposições Modernas

Mudanças culturais significantes começaram no final dos


anos de 1700 e início dos anos de 1800. Antes disso, as pessoas
acreditavam que havia uma estrutura divina, predeterminada
para o mundo. Tudo e todos tinham o seu lugar. Se você nas­
cesse em certa classe, família ou profissão, sua vida já estava
delineada. "Eu sou inglês, sou membro da paróquia de S.
Ana, sou fazendeiro, e o segundo filho de Carlos." Essa era
a sua identidade. Não havia necessidade alguma de decisões
religiosas e vocacionais; elas já haviam sido tomadas por você.
Havia poucas crises de identidade quando todos sabiam quem
e o que eles "deveriam" ser. Conseqüentemente, os problemas
com a auto-estima quase não apareciam. (Não quer dizer que
a cultura não tinha outros problemas; simplesmente aquelas
questões sobre identidade e individualidade eram represen­
tadas de uma maneira diferente).

O avanço da classe média, porém, mudou muito essa


idéia. Os papéis na vida não eram mais gravados numa
pedra. Novas idéias radicais sobre a vida e a identidade de
alguém - e as possibilidades que não haviam sido exploradas
anteriormente - surgiram depois que a classe média flexionou
seus músculos na Revolução Francesa (1789). Este evento foi
um marco político de algo muito mais profundo que estava
ocorrendo. Com a confusão das distinções entre o pai e o filho,
o camponês e o nobre, e sem um claro pensamento bíblico
formando a nova estrutura social, surgiu uma nova visão
mundial dando muito mais valor ao crescimento individual,
a identidade pessoal, e às infinitas possibilidades da pessoa
sem estar ligada à submissão à autoridade divina.

Foi o nascimento da cultura ocidental como a conhecemos


hoje, e tem sido chamada corretamente de o nascimento do
culto do "eu".

Proposições Sobre Deus


Deus era até então parte dessa cultura. Na verdade, a
maioria das pessoas, antes e agora, diria que Deus existe e
que a alma é imortal. Parece muito bom - um pouco básico,
talvez, sem nenhuma declaração explícita sobre Jesus, mas
parece essencialmente cristã.
Mas dê um pulo até o presente por um momento. Como
você reagiria a uma pesquisa atual de opinião pública
indicando que a grande maioria dos brasileiros acredita em
Deus, em uma vida após a morte, e até mesmo na existência
de anjos? Você está encorajado a pensar que o Brasil é um
país cristão? Ou você está meio desconfiado, querendo fazer
mais algumas perguntas? Você pode provavelmente imaginar
a minha reação. Nós vivemos em uma época em que há um
renascimento de falar sobre Deus e linguagem espiritual,
mas as conversas raramente chegam ao "antes de tudo vos
entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos
nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e
ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. E apareceu
a Cefas, e depois, aos doze." (I Coríntios 15:3-5).

Os dois últimos séculos introduziram a linguagem de


Deus que parece boa, mas está separada do conteúdo bíblico.
Por exemplo: o filósofo francês Rousseau falava sobre Deus,
mas ele encontrou o seu deus na natureza. O seu deus era
todo paz e bondade, e ele levava as pessoas a um sentimento
de adoração. Rousseau mudou o foco da revelação objetiva (a
Bíblia) para a experiência subjetiva (sentimentos, emoções),
das outras pessoas para a vida íntima, e de amar a Deus e ao
próximo para amar a si mesmo.
Você pode ver nessa idéia o esboço da cultura moderna -
e nós mesmos? A autoridade dos sentimentos e a linguagem
de espiritualidade sem o conteúdo - essas são as conjeturas
de nossa cultura.
Com certeza, essas conjeturas não podem continuar por
muito tempo antes das reais implicações sobre Deus virem à
tona. A revolução secreta tem se empenhado em exaltar a nós
mesmos e apresentar Deus como menos santo e soberano. Um
discurso de Ralph Waldo Emerson deixou isso tudo muito
claro.
Divina como a vida de Jesus é, que afronta representá-la como
igual ao Universo! Entender um bom homem por acaso que
aconteceu existir em algum lugar, em algum momento e dizer
ao recém-nascido: "Veja os seus exemplos...entre na armadura
daquele passado individual, assuma os seus modos, fale o seu
discurso", - essa é a loucura da cristandade... Eu volto as costas
para esses usurpadores. A alma sem pre acredita em si m esm a .2

O interesse supremo tem se tornado o eu. Não Deus, nem


você, mas eu.
Você pode ver as ligações entre o antes e o agora? A nossa
cultura tem adotado um "Deus como nós O entendemos", que
é conhecido como um caminho de uma jornada interna. "A
Dependência de Deus é... confiar no seu próprio entendimento

2. Ralph Waldo Emerson, The Journals anã Miscellaneous Notebooks (Jornais e Diversos
Blocos de Anotações), VII: 1838-4:2, ed. A.W. Plumstead and H.Hayford (Cambridge,
Mass.: Harvard Univerity Press, 1969), 254
do que um Deus amoroso é e faz por v o cê."3 Existem
incontáveis caminhos para a oração e a meditação. Nenhum
é o caminho certo... O certo é a experiência real de Deus... O
crescimento espiritual vem através da compreensão profunda
do meu ser.4

Esses são os frutos de uma cultura pluralista, do você-faz-


as-suas-coisas-e-eu-faço-as-minhas. "Eu tenho a minha versão
sobre Deus, e você tem a sua".O único ato imoral nesse tipo
de cultura é dizer que a sua versão sobre Deus é superior à de
qualquer outra pessoa.

Como essas proposições têm sido cada vez mais aceitas,


tem havido um aumento sem precedentes da depressão e uma
elevação espantosa no número de pessoas que confessam ira
contra Deus. Há um clamor popular das pessoas que estão
exigindo de Deus tanto as respostas quanto "direitos". Então,
talvez no auge da auto-exaltação, alguns líderes religiosos e
conselheiros na realidade incentivam essas pessoas iradas a
"perdoar a Deus"

Você consegue p erceber com o essas p rop osições


influenciam o temor do homem? Qualquer coisa que diminua
o temor de Deus irá intensificar o temor do homem.
Proposições Sobre Nós Mesmos
Se a nossa cultura está mal orientada em seu entendimento
sobre Deus, então estará mal orientada em seu entendimento
sobre as pessoas criadas à Sua imagem. E isso, de fato, é o que
estamos testemunhando nas pressuposições sobre a natureza
humana que agora são feitas habitualmente. Vejamos algumas

3. Lyne Bundesen, GodDependency (Dependência de Deus) - (New York: Crossway,


1989), 59.
4. John BradShaw, Bradshaw On: The Family (De Bradshaw: A Família) - (Deerfield
Beach, Fia.: Health Communications, 1988), 234, 236.
delas.
Nós somos moralmente bons. O ar que respiramos diz que o
mal não existe dentro de nós - existe fora. A força por trás disso
começou com a crença do século dezenove de que poderíamos
encontrar inocência humana e beleza moral inata naqueles que
não foram corrompidos pela civilização, como as crianças. A
criança, de acordo com Schlegel, era "o espelho transparente
no qual olhamos na direção do amor divino"5.
Parece familiar? Você já ouviu falar da "criança que existe
dentro de você"? Diz-se que é a essência inocente que existe
dentro de todos nós. Com essa essência espiritual, as pessoas
poderiam procurar em si mesmas a divindade e a revelação.
Samuel Coleridge, em Biographia Literaria (Biografia Literária)
(1817), escreveu: "Nós começamos com o EUME CONHEÇO,
para terminar com o absoluto EU SOU. Nós viemos do EU, para
perder e achar todo o eu em DEUS." Não há mais necessidade
alguma de olhar para fora do eu - nem para Deus nem para
as outras pessoas - para saber o que é verdade. A verdade
encontra-se dentro da pessoa.
Que moderno! Essas pressuposições podem ser encontradas
nas salas de aconselhamento onde os crentes estão indiferentes
sobre o perdão do pecado, mas entusiasmados sobre as suas
necessidades pessoais. Ou elas podem ser encontradas na
maioria dos programas de entrevistas (talkshows) onde a
auto-revelação é altamente favorecida e exaltada.
Avalie os comentários de Nathaniel Branden sobre Honoring
the Self (Exaltando o Eu), um livro elogiado no best seller de
Melody Beattie: Codependency No More (Codependência Nunca
Mais).

5. An Anthology o f M odem Philosophy (Uma Antologia da Filosofia Moderna), comp.


D. S. Robinson (Nova York: Thomas C io w e11, 1932), 508.
Exaltar o eu é estar apaixonado pela nossa própria vida,
apaixonado pelas nossas possibilidades de crescimento e
de experimentar a alegria, apaixonado pelo processo de
descoberta e exploração das nossas potencialidades humanas
distintas. Assim, podemos começar a ver que exaltar o eu é
praticar o egoísmo no sentido mais elevado, nobre, e menos
compreendido do mundo. E isso, devo deduzir, exige uma
enorme independência, coragem e integridade.6

Essas palavras não foram escritas antes dos anos de 1800.


Ou, se fossem, teriam sido condenadas como palavras de
um herege. Hoje, são as palavras das pessoas na rua. É uma
pressuposição cultural fundamental: nós somos pessoas boas
que devem amar a nós mesmas para sermos saudáveis.
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus 19:19) é
considerado a prova textual bíblica (para aqueles que precisam
de uma). Quando interpretado através dos pontos de vista
culturais, esse versículo significa que devemos nos amar para
amar as outras pessoas. Mas na realidade a passagem nem
mesmo sugere essa interpretação. Jesus falou essas palavras
para um homem rico que evidentemente amava muitíssimo
a si mesmo e às suas posses. Há apenas um mandamento
na passagem, e esse é "amarás o teu próximo". Ninguém,
incluindo os autores da Bíblia, poderia ter sonhado que essa
passagem ensinava o amor próprio. Ela precisou de algumas
alterações culturais para reinterpretá-la e fazer com que
olhemos para o nosso interior.
A Bíblia declara que nós nos preocupamos o suficiente
conosco mesmo.
Nós cuidamos de nossa aparência. Ficamos deprimidos

6. Natharàel Branden, Honoring the Self: Personal Integrity anã the Heroic Potentials
ofH um an Nature (Honrando o Eu: Integridade Pessoal e o Heróico Potencial da
Natureza Humana) (Boston: Houghton Mifflin, 1983), 4.
quando as coisas não acontecem do nosso jeito. Nós podemos
ficar preocupados com o que alguém pensa a nosso respeito.
Mas as proposições culturais têm nos cegado. Não vemos mais
a poluição em que vivemos. Por isso pastores de muitas igrejas
que crescem cada vez mais pregam quase que semanalmente
sobre a auto-estima saudável, como se fosse ensinada em
cada página da Escritura. Muitos crentes nunca enxergam
que o amor próprio resulta de uma cultura que valoriza o
indivíduo acima da comunidade e depois lê aquele principio
básico nas páginas da Bíblia. A Bíblia, porém, corretamente
compreendida, faz uma pergunta: "Por que você se preocupa
tanto com você mesmo?" Além disso, ela indica que a cura
proposta pela nossa cultura - o aumento do amor próprio - é
na realidade a doença. Se falharmos em reconhecer a realidade
e a profundidade do nosso problema do pecado, Deus irá
tornar-se menos importante, e as pessoas, mais importantes.

As emoções são o caminho para a verdade. Se eu sou uma


pessoa boa que de vez em quando faz coisas ruins, então,
segue-se que o que eu sinto também é geralmente bom. "O
sentimento é tudo", disse Fausto. Os sentimentos têm se
tornado os murmúrios indistintos da alma: ser moralmente
correto é fazer tudo o que o seu coração o inspirar a fazer.
Enquanto estivermos seguindo nossos impulsos íntimos,
declara essa proposição, não podemos fazer nada errado.

"Deus me disse para casar com o João", disse Maria. Ela


parecia extasiada, e o pastor esperava compartilhar de sua
felicidade.
"Por favor, conte-me um pouco sobre ele."
"Bem, ele ainda não é crente. Na verdade, ele recusa até
mesmo vir à igreja, mas eu sei que ele virá algum dia."
"Maria, como você sabe que deve se casar com ele? Como
Deus lhe falou isso?"
"Pastor, eu sinto. Eu sei que está certo."

A conversa se encerrou aqui. Maria apelou apenas para a


autoridade máxima - seus sentimentos. Em dois anos, ela irá
apelar para essa autoridade novamente.
"Pastor, eu não acredito que Deus quer que eu continue
com um relacionamento infeliz e eu tenho estado infeliz
com o João durante este último ano. Ele não vai a nenhuma
igreja comigo, ele está se deixando consumir com o trabalho
e esportes, e nós quase nunca estamos juntos sexualmente.
Eu sinto que não o amo mais. Então, eu decidi me divorciar."

Mesmo nos cultos de adoração, o objetivo para muitos


é que as pessoas sintam alguma coisa. Schleiermacher,
um teólogo alemão dos anos de 1800, fez dessa a essência
da religião. A teologia pra ele não era nada mais do que
a expressão de sentimentos religiosos. "A religião é um
sentimento de absoluta dependência"7, disse ele. Embora
Schleiermacher fosse radical em seus pontos de vista, não são
eles reconhecidos hoje? Você já observou os curandeiros da
fé? Você já ouviu pregadores que esperam criar uma resposta
estética, harmoniosa para o sermão? A ênfase da igreja na
emoção pode ser mais dependente das tradições culturais do
que das Escrituras.
O nosso foco não são apenas as emoções alegres. Uma vez
que as emoções em geral parecem ser a nossa maior fonte da
verdade, tendemos também a nos interessar muito pelo nosso
sofrimento. O pensamento cristão ortodoxo tem falado sempre
sobre o sofrimento, mas no contexto da santificação, não do

7. On Religion: Speeches to Its Cultured Despisers (Na Religião: Discursos aos Despreza-
dores Intelectuais) (New York: Harper & Row, 1965), 106.
auto-aperfeiçoamento. O objetivo é a glória de Cristo. Isso é
muito diferente de dizer que as emoções são ferramentas que
nos permitem estar totalmente cientes das nossas necessidades.
Também é contrário à idéia de que a repressão das emoções
é um dos principais pecados da nossa cultura, e somente o
aumento da aceitação dos sentimentos irá promover o nosso
bem-estar.

Com certeza, os Salmos nos encorajam a falar honestamente


com Deus em nosso sofrimento, mas hoje nos dizem para
"aceitar o sofrimento legítimo" e "ficar de luto". Esse tipo de
interesse no sofrimento pessoal tende a nos levar mais para
dentro de nós mesmos do que para fora para uma compreensão
bíblica de Deus, a Sua tristeza, e nas coisas celestiais mais do
que nas terrenas.

"M antenha contato com os seus sentim entos", é um


slogan dos anos 1800. E demorou pouco tempo para tornar-
se popular.

Essa exaltação dos sentimentos tem transformado o nosso


modo de pensar. Por exemplo: acabei de ouvir um sermão que
oferecia um propósito novo, romantizado, para a oração. "O
propósito da oração, é uma percepção da presença de Deus",
começou o pregador. Eu juntei algumas aplicações úteis
do sermão, mas a sua afirmação principal estava errada. A
percepção da presença de Deus não é o propósito da oração. O
pregador atraia viciados que desejavam um impulso emocional
fora da adoração, dos sermões e oração.

Houve uma vez em minha própria vida quando eu iria


"praticar a presença de Deus"; depois, quando eu sentisse a
Sua presença, eu iria orar. Tudo foi bem até o dia em que eu
não senti a Sua presença. Esperei durante horas, chorei muito,
mas nunca senti a presença. Eu tentava orar, mas sentia que
tanto eu quanto as minhas orações estávamos em uma sala
hermeticamente fechada. A presença finalmente veio no dia
seguinte quando eu pedia conselho a um bom amigo. Seu
comentário foi simplesmente este: "Por que você simplesmente
não ora por fé?" Ele me ensinou uma das lições mais
importantes da oração: que a oração dependia de Deus e de
Suas promessas, não das minhas próprias emoções esquisitas.

Continue olhando ao redor. Você pode encontrar a


exaltação dos sentimentos em todo lugar. Por exemplo: você
pode encontrá-la na maneira como temos modificado a nossa
idéia de vergonha. Vergonha era vista originalmente como o
resultado de um problema entre nós e Deus. Agora ela está
reduzida a qualquer coisa que nos impeça de nos sentirmos
bem sobre a nossa pessoa.

Ouça esta pergunta muito comum em estudos bíblicos:


"O que você sente sobre esta passagem?" É possível que os
nossos sentimentos sejam muitas vezes mais importantes pra
nós do que a fé? Quase sempre, se nossa fé estiver frágil, não
vemos isso como um problema sério. Somente quando nossos
sentimentos são angustiantes, decidimos pedir a outros que
nos ajudem e orem por nós.
Por toda a história da igreja, as emoções sempre foram
vistas com desconfiança porque podiam vacilar muito
freneticamente. Agora elas são exaltadas. Muitas vezes são os
padrões pelos quais fazemos nossos julgamentos.
Quando os sentimentos tornam-se mais importantes do
que a fé, as pessoas irão tornar-se mais importantes, e Deus,
menos importante.
Todas as pessoas são espirituais. E contra este pano de
fundo que encontramos uma outra proposição cultural sobre
a necessidade de mais espiritualidade. A espiritualidade,
porém, tem sido reduzida a um sentimento do infinito, um
êxtase diante das maravilhas do eu ou da natureza, ou uma
experiência do inefável. A espiritualidade moderna não tem
nenhum inferno, nenhuma doutrina, nenhuma substância.
Trata-se de sentimentos.
O coreógrafo Todd Williams diz que, em seu último
trabalho, falou sobre "tomar-se um com o infinito. Entendendo
que a sua alma é um reflexo perfeito de Deus ou da percepção
cósmica, você é capaz de unir a sua alma a essa percepção."8
Há mais de cento e cinqüenta anos, o filósofo dinamarquês
Kierkegaard (1813-55) observou a mesma coisa. Ele notou que
muitas pessoas iam à igreja, mas "o fato de tomar-se e ser um
cristão agora é uma trivialidade."
O que significa que todos esses milhares chamam-se Cristãos
como era de se esperar? Esses muitos, muitos homens de
quem a maior parte, tanto quanto podemos julgar, vive em
categorias quase estranhas ao cristianismo! Qualquer um pode
se convencer disso por uma simples observação. Pessoas que
talvez nunca entrem em uma igreja, nunca pensam sobre Deus,
nunca mencionam Seu nome exceto em juramentos! Pessoas que
nunca se deram conta de que poderiam ter alguma obrigação
para com Deus.... No fundo deve haver uma tremenda confusão,
uma terrível ilusão, lá seguramente não pode haver nenhuma
dúvida."9

Kierkegaard parece um profeta da nossa era. As pessoas


estão voltando para a igreja, mas, às vezes, não parece como
se o reino estivesse avançando substancialmente.
Os Alcoólicos Anônimos (AA) são um outro exemplo.

8. Los Angeles Times, 29/julho, 1995, F2.


9. Soren Kierkegaard, The Point ofV iew for My Work as an Author: A Report to History
(Um Ponto de Vista para Meu Trabalho como Autor: Um Relatório para a História)
(New York: Harper & Row, 1962), 74
Quando o fundador do AA, Bill Wilson, esteve em um
hospital, recuperando-se de mais uma bebedeira, ele viu
uma luz brilhante, que interpretou como uma experiência
religiosa. Mais tarde ele disse que essa experiência religiosa
era fundamental para a sua sobriedade. Mas a experiência
religiosa estava totalmente desvinculada de um Deus pessoal.
Em vez disso, "espiritual" significava simplesmente inefável,
um sentimento de totalidade e admiração.
Hoje você pode ser espiritual, ao que parece, se acreditar
em seu coração
"Eu aproveito o que quero da Bíblia e da igreja e
deixo o resto."
"As reuniões [do AA] são para encontrar força
espiritual."
í**- "Eu ainda tenho problemas com a idéia de um Deus
cristão lá em cima. ...Eu penso em Deus como o
Universo com a sua própria percepção do bem."
A espiritualidade é ultrapassada em seu estilo. Em uma
época em que a tecnologia está explodindo, nós ainda sabemos
que existe mistério. As pessoas querem conservar um senso
de maravilhosas surpresas em suas vidas. Para deixar mais
bíblico, o conhecimento de Deus não pode ser negado; pode
apenas ser torcido.

Quando Deus e a espiritualidade são reduzidos aos nossos


padrões ou sentimentos, Deus nunca será para nós o grandioso
Santo de Israel. Com Deus reduzido aos nossos olhos, crescerá
em nós um temor das pessoas.
Psicologia: A Zeladora das Proposições Culturais
A psicologia americana tem se tomado a zeladora oficial
dessas proposições modernas. Ela tem alimentado a idéia da
pessoa como sendo boa, a ênfase nas emoções, e a importância
da espiritualidade. Ela tem desenvolvido também um tema
relacionado: a pessoa psicologicamente carente.
Note a influência de Freud nessa idéia. Embora não tenha
usado especificamente a palavra "carência", ele tem sido citado
como o pai da "carência da expressão sexual" e "a carência por
pais liberais". Ele falava sobre "instintos" (carências) clamando
por expressão, e alegava que se esses instintos não fossem
satisfeitos, a conseqüência seria a neurose adulta.
Quem na verdade popularizou o conceito das carências
psicológicas foi Abraham Maslow. A sua teoria de auto-
realização sugeria que nós temos, ao nascer, uma hierarquia
de carências. De acordo com Maslow, as necessidades mais
básicas são as necessidades biológicas e de segurança. Quando
essas necessidades são supridas, podemos passar a satisfazer as
necessidades psicológicas: a necessidade de pertencer e amar,
a necessidade de ser estimado pelos outros, e a necessidade
da auto-estima.
O que deixa as pessoas neuróticas? Minha resposta... era, em
poucas palavras, que a neurose parecia em sua essência, e em
sua origem, ser uma doença por desnutrição: que havia nascido
privado de certas satisfações que eu chamei de necessidades
no mesmo sentido de que a água e os aminoácidos e o cálcio
são necessidades, isto é que a sua ausência provoca doenças.
A maioria das neuroses envolvia ... desejos insatisfeitos por
segurança, posses e identificação, por relacionamentos íntimos
de amor e por respeito e prestigio.10

Freud e Maslow, cada um deles pensa sobre as neces­


sidades, as carências (impulsos) de maneira diferente, mas
eles concordam em três pontos básicos: as necessidades

10. Abraham Maslow, Toward a Psychology ofBeing (Em Direção a uma Psicologia de
Vida) (New York: Van Nostrand, 1968).
psicológicas existem, elas formam uma parte essencial do ser
humano, e necessidades não supridas resultarão em algum
tipo de patologia pessoal.
A esses essenciais pode ser acrescentada mais uma
característica de teorias de carência ou déficit psicológicos:
eles são claramente americanos. As teorias sobre carência
podem prosperar apenas em um contexto onde a ênfase é no
indivíduo mais do que no coletivo e onde a proposição é um
meio de vida. Se você perguntar para a maioria dos asiáticos
ou africanos sobre as suas necessidades psicológicas, eles não
vão nem entender a pergunta!
Esse aumento das necessidades psicológicas foi inevitável.
Se você exaltar o individual e fizer das emoções o caminho
para a verdade, então, qualquer coisa que você sentir
mais fortemente será considerada boa e necessária para o
crescimento. Qualquer coisa que sentir mais fortemente será
vista como necessidades dadas por Deus. É por isso que o
pecado imperdoável na cultura de hoje é "negar" ou suprimir
as suas emoções. As emoções apontam para as necessidades,
e negar as suas necessidades é negar algo dado por Deus e à
semelhança de Deus.
Você pode ouvir como a nossa cultura incentiva o
temor do homem? "Necessidades" (carências) ou "direitos"
conduzem irresistivelmente ao temor do homem. Nós vimos
que qualquer coisa que você pensar que precisa, você irá temer.
Se você "necessita" amar (sentir-se bem a seu respeito), você
logo será controlado pela pessoa que lhe demonstrar amor.
Você também está dizendo que sem o amor daquela pessoa
estará espiritualmente em desvantagem, incapaz de dar amor
aos outros. Com este tipo de lógica espiritualmente aleijada
produzindo maus frutos por toda parte, não é de se admirar
que mesmo os psicólogos estejam clamando por uma reforma
em nossas proposições fundamentais da cultura.
Os psicólogos, porém, têm dado a sua contribuição
para isto. Embora tenham percebido perfeitamente que as
pessoas com baixa auto-estima esperam muito dos outros
e temem as pessoas, a sua terapia não os liberta. Observe o
que eles oferecem: aceitação terapêutica, amor incondicional,
e afirmação constante. Em outras palavras: "Não acredite
no que as outras pessoas têm dito sobre você, e não acredite
nem mesmo em suas auto-avaliações negativas; em vez disso,
acredite no que você diz."
Esse tipo de terapia reabilita o temor do homem mais
do que o elimina. Ele só se sente um pouco melhor porque
o cliente está colocando a sua esperança em alguém que está
confirmando mais do que acusando.
A Influência da Psicologia Cristã
Entretanto, a igreja cristã tem ouvido tudo o que o mundo
tem dito. Muitos pastores e líderes de igrejas têm detectado as
proposições não bíblicas e têm tentado demonstrá-las. Porém,
a reação mais popular tem sido assimilar as idéias do mundo
com mínimas modificações. Por exemplo: um dos livros mais
vendidos no mercado de livros evangélicos transformou
esta proposição sobre "carências" fundamental para a sua
compreensão da pessoa. Sua visão da pessoa é semelhante a
um copo - um recipiente vazio, passivo esperando para ser
cheio. Os autores dizem:
[Há] uma necessidade dada por Deus de ser amado que nasce
em todo bebê humano. E uma necessidade legítima que deve
ser suprida do berço à sepultura. Se as crianças não receberem
amor - se essa necessidade primordial de amor não for suprida
- elas carregarão as cicatrizes por toda a vida.11

11. Robert Hemfelt, Frank Minirth, e Paul Méier, Love Is a Choice (Amor é uma Escolha)
(Nashville: Nelson, 1989), 34.
Se a nossa taça de carências estiver repleta com o amor
dos outros, ficamos felizes. Se estiver vazia ou pela metade,
seremos contaminados com os sentimentos ruins.
Pense cuidadosam ente nesta citação. Ela expressa
uma proposição sustentada por muitos outros escritores
evangélicos; é a nossa teologia não averiguada. E ela parece
correta. Eu já confessei que tenho me sentido carente e vazio
quando não sou amado como gostaria de ser - ou como eu
"preciso" ser. Mas só porque eu sinto uma "necessidade" de
ser amado não significa que esse desejo seja realmente uma
"necessidade dada por Deus", uma "necessidade legítima"
ou uma "necessidade primordial". Talvez o que eu estou
chamando de "necessidade" seja na verdade desapontamento
ou mágoa, ou talvez, sejam exigência e ambição minhas.
Com certeza existem algumas necessidades dadas por
Deus, mas será necessário um pouco mais de investigação
bíblica para resolvê-las. (Nós faremos isso no capítulo 9). Neste
momento podemos dizer simplesmente que uma discussão
sobre necessidades é mais complexa do que parece a princípio.
É possível que nossa discussão atual sobre necessidades
pudesse ser construída mais pelas teorias psicológicas
mundanas do que pelas Escrituras.
Se for assim, deveríamos ter mais cuidado ao dizer:
"Jesus supre todas as nossas necessidades". A princípio, isso
tem uma base bíblica convincente. Cristo é um amigo; Deus
é um Pai amoroso; os crentes realmente experimentam um
sentimento de importância e confiança no conhecimento do
amor de Deus. Isso faz de Cristo a resposta para os nossos
problemas. Agora, se o nosso uso do termo "necessidades" é
indefinido, e a abrangência do seu significado se estende por
todo o caminho dos desejos egoístas, então haverá algumas
situações onde deveríamos dizer que Jesus não pretende suprir
as nossas necessidades, mas que Ele pretende transformar as
nossas necessidades.12
A Revolução Resultante
Tem acontecido mais uma coisa nesta breve história das
necessidades psicológicas. Atualmente, este ponto de vista
popular e amplamente adotado sobre a pessoa, está sendo
questionado seriamente nos círculos mundanos. As pessoas
estão começando a ver que um interesse com a miséria e o vazio
é "doentio", tanto para indivíduos como para a sociedade.
Por exemplo: alguém na imprensa comum criticou as teorias
de carências como a justificativa teórica para o egoísmo
desenfreado e a vitimização crônica da nossa cultura. Eles
vêem as implicações: Se os seres humanos são realmente
semelhantes a uma taça, então, somos recipientes passivos
mais do que intérpretes ativos e atores responsáveis em nosso
mundo.A culpa nunca é nossa, porque toda a patologia é
uma conseqüência dos déficits forjados nos relacionamentos
passados. No mínimo, sugerem alguns na mídia, isto cria o
caos no sistema de justiça. "Não vai demorar muito, na proporção
em que vamos, antes que uma sentença obrigatória para um crime
de violência seja um abraço e um bom choro." 13
A imprensa acadêmica também está desafiando a idéia
de que a pessoa moderna deve ser definida como uma taça
vazia. Em um importante artigo no American Psycologist (O
Psicólogo Americano), Philip Cushman argumentou "que o
vazio é um produto perigoso da cultura que deseja ser cheio, tanto
física como materialmente".u Os culpados, de acordo com o

12. Ver Welch, "Who Are We? Needs, Longings, and the Image of God in Man/' (Quem
Somos Nós? Necessidades, Desejos e a Imagem de Deus no Homem) The Journal
ofBiblical Counséling (O Jornal de Aconselhamento Bíblico), 13 (1994): 25-38.
13. The Economist (O Administrador), 26/fevereiro/1994,15.
14. Philip Cushman, "Why the Self Is Empty," ("Por que o Eu Está Vazio") American
Psychologist (maio/1990), 599
psicólogo Cushman, são a profissão de psicólogo e a indústria
da publicidade. Ambos tentam criar um senso de necessidade
para vender produtos. Além disso, a venda psicológica de
necessidades tem levado a uma geração de indivíduos vazios,
frágeis e deprimidos.
O historiador e filósofo Christopher Lasch repete essas
inquietações.
O clima contemporâneo é terapêutico, não religioso. As pessoas
hoje anseiam não pela salvação pessoal, sem falar da restauração
de uma era dourada mais antiga, mas por um sentimento, uma
ilusão momentânea, de bem-estar pessoal, saúde e segurança
mental.15

Nós vivemos em uma época fascinante. Partes da igreja


têm sido influenciadas pelas proposições mundanas, e essas
proposições têm intensificado o nosso problema com o temor
do homem. O mundo em si, porém, está desafiando essas
mesmas proposições.
Ele quer ver o fim da taça de amor quebrada, e quer
reconsiderar a sua doutrina de miséria, mas não tem nenhuma
alternativa satisfatória.
Em outras palavras, é um tempo ideal para desenvolvermos
um ensino bíblico claro, significante, sobre quem somos e como
podemos evitar ser controlados pelas coisas que sentimos que
precisamos.

15. Christopher Lasch, The Culture cfNarcissism (A Cultura do Narcisismo) (New


York: Norton, 1978), 7.
Para Pensar Um Pouco Mais
Este capítulo revê resumidamente a história de algumas
de nossas proposições culturais atuais. Ele sugere que essas
proposições têm infectado a igreja: o eu como mais importante
do que a comunidade, o eu como bom, a exaltação dos
sentimentos e necessidades, e a espiritualidade que é separada
da morte e ressurreição de Jesus e um estilo de vida de fé e
obediência. Reserve algum tempo para considerar como essas
proposições podem ter sutilmente influenciado a sua própria
vida.
1. Onde você encontra as proposições do mundo (na
literatura, filmes, conversas)? Pense sobre dar uma passada
pela seção de auto-ajuda ou psicologia da sua livraria local.
2. Onde você vê essas proposições em você? Lembre-
se, essas proposições podem não estar de acordo com a sua
teologia oficial, mas podem ser reveladas na maneira que você
vive.
3. Pergunte aos missionários de sua igreja sobre o que eles
vêem na igreja brasileira, não somente na estrangeira.
p a r te d o is Superando o Temor
dos Outros

A Parte Dois irá explorar as idéias bíblicas que irão ajudá-lo


a tomar os seguintes passos para livrar-se do temor do homem:

3***" Passo 4: Compreender e crescer no temor do Senhor. A


pessoa que teme a Deus não irá temer a mais ninguém.

>■ Passo 5: Examine onde os seus desejos têm sido


muito grandes. Quando tememos as pessoas, elas
são grandes, os nossos desejos são ainda maiores, e
Deus é pequeno.

Passo 6: Alegre-se pois Deus cobriu toda a sua


vergonha, protegeu-o do perigo, e o aceitou. Ele tem
preenchido você com o Seu amor.

y* Passo 7: Precise menos de outras pessoas, ame mais


as outras pessoas. Por obediência a Cristo, e como
uma resposta ao Seu amor por você, busque outros
em amor.
6
Conheça o Temor do Senhor

Haverá... estabilidade nos teus tempos, abundância de salvação,


sabedoria e conhecimento; o temor do Senhor será o teu tesouro.
- Isaías 33:6

TODAS as experiências de temor do homem têm pelo


menos uma característica em comum: as pessoas são grandes.
Elas cresceram em proporções enormes, como se fossem
ídolos, em nossa vida. Elas nos controlam. Uma vez que não
existe nenhum espaço em nosso coração para adorar a Deus
e as pessoas, sempre que as pessoas são grandes, Deus não é.
Portanto, a primeira tarefa para fugir da armadilha do temor
do homem é saber que Deus é tremendo e maravilhoso, não
as outras pessoas.
Tive uma compreensão repentina em um domingo
enquanto estava sentado na igreja. Era o mês da família. Cada
domingo do mês de fevereiro uma família diferente iria falar à
igreja sobre as suas devocionais domésticas. Todas as famílias
foram muito edificantes e, é claro, extremamente convincentes,
mas os Schmurrs fizeram-me uma revelação. Roger Schmurr
disse que uma das coisas que ele tentava fazer durante o culto
doméstico era falar sobre Deus.
Era isso. Essa foi a minha revelação.
Deixe-me explicar. Como conselheiro eu vivo em um
mundo "com o". Uma pessoa deprimida conversa comigo
porque deseja saber como livrar-se da depressão. Casais não
sentem mais romantismo em seu relacionamento. Eles querem
saber como ter aquela chama novamente. As vezes, confesso,
eu falo mais sobre "como" do que sobre Deus.
Eu tenho dois filhos que traziam pra casa muito material da
Escola Dominical. Normalmente eu lia essas lições no domingo
à tarde. Elas eram sempre muito úteis, repletas de princípios
bíblicos e suas aplicações. Uma grande quantidade de "comos".
Havia histórias edificantes de crianças que sentiram-se
rejeitadas por seus amigos e como Jesus podia ajudá-las a
amar aqueles malvados. Eu lembro uma sobre enganar que
era muito boa. Mas raramente falavam sobre Deus.
Não me leve a mal. Eu acho que a aplicação das Escrituras
para os detalhes da nossa vida é genial. Minha observação,
porém, é que esses princípios nem sempre estão embutidos no
temor do Senhor. A conseqüência é que o nosso objetivo pode
ser mais o auto-aperfeiçoamento do que a glória do Santo Deus.
Precisamos de mais sermões que nos levem a temer.

PASSO 4 Compreender e crescer no temor do Senhor. A


pessoa que teme a Deus não irá temer a mais
ninguém.

O Que é o Tem or do Senhor?

Por favor, não pense somente em medo quando pensar


no temor do Senhor. O temor do Senhor, como o temor das
pessoas, inclui um conjunto de atitudes. Por um lado, o temor
do Senhor significa realmente um medo, um pavor de Deus
(medo da ameaça). Somos pessoas impuras, e comparecemos
diante do todo-poderoso Deus que é moralmente puro. Nós
nos sentimos envergonhados, e com razão, diante dEle, e o
castigo seria totalmente justo. O pavor é nossa reação natural e
correta. Esse temor nos faz recuar diante de Deus, evitando-O
o máximo possível.
Ninguém está excluído desse temor, crentes ou incrédulos.
Para os crentes cujos olhos foram abertos para o grande amor
de Deus, esse temor está se desvanecendo. Para os incrédulos
esse temor está sempre presente. A razão pela qual você não
ouve as pessoas falando sobre ele é que tende a aparecer em
forma de uma "ansiedade descontrolada"; baixa auto-estima
e uma multidão de outras enfermidades modernas que têm
perdido a visão de suas raízes em Deus. Mas esse temor não
ficará camuflado para sempre. Vem chegando o dia quando
todos irão curvar-se diante de Deus em temor do Senhor.
Mas esta é apenas uma ponta do temor do Senhor. Na outra
ponta está um temor reservado exclusivamente para aqueles
que já depositaram a sua fé em Jesus Cristo. Esse temor do
Senhor significa submissão reverente que conduz à obediência, e é
intercambiável com "adoração", "dependência", "confiança"
e "esperança". Como o pavor, inclui um reconhecimento de
nosso pecado e da pureza moral de Deus, e inclui um reco­
nhecimento realista da justiça de Deus e de Sua ira contra o
pecado. Mas esse temor-adoração também conhece o grande
perdão, misericórdia e amor de Deus. Ele sabe que por causa
do plano eterno de Deus, Jesus humilhou-Se morrendo em
uma cruz para redimir os Seus inimigos da escravidão e da
morte. Ele sabe que, em nosso relacionamento com Deus, Ele
sempre diz: "Eu amo você" primeiro. Esse reconhecimento nos
aproxima de Deus mais do que nos induz a fugir. Faz com que
nos rendamos alegremente ao seu senhorio e sintamos prazer
em obedecer. Esse tipo de temor sadio é o máximo da nossa
resposta a Deus.
Saber a diferença entre esses dois tipos de temor esclarece
o porquê da Bíblia poder dizer: "No amor não existe medo"
(I João 4:18) enquanto ao mesmo tempo exige o temor do
Senhor. A Bíblia ensina que o povo de Deus não é mais guiado
pelo temor-mcdo, ou temor que tem a ver com castigo. Em vez
disso, somos abençoados com o temor-adoração, o respeito
reverente motivado mais pelo amor e pela honra que Lhe são
devidos.

Nós nos afastamos de Deus.............................. Nós buscamos, nos aproximamos


e nos rendemos a Deus

Nós conhecemos a justiça santa de D eus..................................Nós conhecemos a


justiça santa e o amor santo de Deus

Figura 1: O Temor do Senhor: Uma Série Contínua

Por que a Bíblia usa a mesma palavra para as duas reações?


O contexto bíblico sempre deixa claro a que tipo de temor
está se referindo, mas a questão é que os dois tipos de temor
têm algo muito importante em comum. Os dois são reações
ao fato de que o Santo de Israel reina sobre toda a terra. Esta
é a mensagem da Bíblia, e é a essência do temor do Senhor.
Para reconhecer a grandeza dessa mensagem, você deve
compreender o significado bíblico da palavra "santo". Santo
pode ser definido como "separado", "colocado de lado",
"diferente" ou "não contaminado". Com referência a Deus,
"santo" significa que Ele é diferente de nós. Nenhum de
Seus atributos pode ser compreendido comparando-os com
as Suas criaturas. Seu amor e justiça estão acima de nós; eles
são santos. Seu poder que é o do Todo-Poderoso, não pode
ser comparado ao de ninguém mais. O Seu caráter moral é
inigualável; somente Ele é reto.
A santidade não é um dos muitos atributos de Deus. É a
essência da Sua natureza e é vista em todas as Suas qualidades.
A Sua sabedoria é uma sabedoria santa. Sua beleza uma beleza
santa. Sua majestade, uma majestade santa. Sua santidade
"acrescenta glória, esplendor e harmonia a todas as Suas outras
perfeições." 1
A quem, pois, me comparareis para que eu lhe seja igual ?, diz
o Santo. (Isaías 40:25)
O teu caminho, ó Deus, é de santidade. Que deus é tão grande
como o nosso Deus? (Salmo 77:13)
...porque eu sou Deus e não homem, o Santo no meio de ti...
(Oséias 11:9)
Alguns têm chamado essa "diversidade", essa santidade
de Deus de Sua transcendência. Deus é exaltado acima de Seu
povo. Ele vive em um alto e santo lugar (Isaías 57:15). O seu
juízo e a sua misericórdia estão acima de nós, são em última
análise, incompreensíveis. Como conseqüência, nós não usa­
mos um rei ou rainha como modelo para o conhecimento de
Deus. Dizer que o Santo Deus reina impossibilita usar os reis
terrenos como modelos. O Deus Santo é único, maior e de um
tipo diferente dos reis terrenos. O Deus Santo é original: os
mais ilustres reis terrenos são somente um reflexo ofuscado.
Para tomar a santidade de Deus ainda mais impressionante,
o Deus transcendente aproximou-Se de nós. Uma coisa seria
saber que Deus era gloriosamente transcendente e inteiramente
separado da Sua criação. Nessa situação poderíamos nos
acostumar com a Sua falta de intervenção nas questões

1. John M'Clíntock e James Strong, “Holiness,” (“Santidade”), Cyclopedia o f Biblical,


Theological and Ecclesiastical Literature (Enciclopédia de Literatura Bíblica, Teológica
e Eclesiástica) - (Nova York: Harper, 1872), 4:298
humanas, e por objetivos práticos poderíamos nos tomar os
nossos próprios deuses. Mas o nosso Deus também é o Imanente
que tem Se revelado e tornado como nós. Ele disse: "... serei o
vosso Deus, e vós sereis o meu povo." (Levítico 26:12). Ele está
perto de nós. Ele nunca nos deixará ou abandonará (Hebreus
13:5). Ele está tão próximo que nos chama de "amigos" (João
15:14). Ele está tão próximo, as Escrituras fala sobre Cristo
em você (Colossenses 1:27). Por causa de Sua natureza, isso é
praticamente impossível de ser compreendido por nós. Mas,
pela graça de Deus, podemos crescer no conhecimento da sua
santidade, e esse conhecimento irá expulsar as pessoas-ídolos
de nossas vidas e ainda nos deixará menos propensos a nos
preocuparmos conosco mesmos.
O Que Se Opõe ao Tem or do Senhor?
O problema que enfrentam os em nossa busca para
conhecer e temer ao Senhor como Ele deve ser temido é que
temos três grandes adversários. O mundo, a nossa própria
carne, e o diabo conspiram para elevar outras pessoas (ou o
que podemos conseguir delas) acima de Deus.
A oposição na verdade encontra-se em nosso coração
(carne), e é influenciado pelo mundo e pelo Diabo. O nosso
coração tem milhares de estratégias para evitar o temor do
Senhor. Uma estratégia é que nós rebaixamos a obediência - a
expressão concreta do temor do Senhor - a uma preocupação
sobre aparências. Nós nos concentramos nas ações e passamos
por cima das atitudes. Fazendo assim, a nossa natureza
pecaminosa pode nos fazer sentir que tudo está certo. Nós
não matamos hoje. Não fomos adúlteros. Não roubamos nada
da loja. Portanto, tivemos um ótimo dia. Melhor ainda, nós
somos ótimos. E claro que, de vez em quando, fazemos coisas
ruins. Nós poderíamos ter gritado muito alto, ou pego alguma
revista pornográfica no aeroporto. Nesses casos poderíamos
pedir o perdão de Deus. Mas, no geral, a nossa tendência é
sermos razoavelmente bons. E se achamos que geralmente
somos bons, então, Deus geralmente é irrelevante.
Esse pensamento não é apregoado como uma boa teologia,
mas não é a teologia prática da maioria dos crentes? Eu sei que
pode ser até a minha. Eu sou um bom cara - um cara legal -
que de vez em quando faz coisas ruins. Essa idéia ignora a
intensidade do pecado no meu coração, e essencialmente, me
eleva de modo que eu seja uma imitação quase perfeita de
Deus, muito mais do que alguém completamente dependente
dEle. O temor do Senhor torna-se, então, impossível.
Para tornar cada vez ainda mais difícil de enxergar o
pecado, muitas vezes ele vem montado em muitas coisas boas.
Por exemplo: o trabalho é uma coisa boa, mas o pecado pode
tomá-lo e exaltá-lo a ponto de sermos controlados por ele.
Tornamos-nos trabalhadores compulsivos que dizemos que
estamos fazendo isso pelas crianças, mas na verdade estamos
fazendo por nós mesmos. E o planejamento financeiro? Não
é prudente construir um pé-de-meia para o futuro? Isso,
também, é uma coisa boa, mas pode crescer a uma proporção
predominante e nós abandonamos a generosidade. A maioria
dos pecados é um exagero pecaminoso de coisas que são boas.
Como conseqüência, podemos fornecer textos como prova
para justificar a nossa conduta muito tempo depois dela ter-se
tornado idólatra.
O mundo pega essas tendências e as racionaliza. O mundo
nos faz lembrar que, sejam quais forem os nossos pecados ou
"fraquezas", nós somos apenas humanos. Todos os outros estão
fazendo a mesma coisa. O certo e o errado são determinados
pelo voto popular. E quem vai dizer que Deus realmente se
importará com essas coisas? O mundo sugere que Deus é real,
mas, distante. Ele deu inicio a todas as coisas, mas agora está
sentado, deixando que as coisas aconteçam. O mundo diz que
nós vivemos em um universo deis tico onde pode ser que haja
um deus, mas "Deus ajuda a quem se ajuda".
O Diabo se coloca contra qualquer coisa que possa exaltar
o verdadeiro Deus. Sempre que tememos alguma coisa - um
deus, uma pessoa, ou qualquer coisa na criação subumana -
outro além de Deus, Satanás está se aquecendo na escuridão
que nós temos criado. Através de mentiras e outros enganos,
ele minimiza o nosso pecado, sugere que Deus está distante
e que não podemos confiar de fato na Palavra de Deus.
Na verdade, ele sugere que Deus está nos segurando, nos
afastando das coisas boas.
Com esses adversários, crescer no temor do Senhor não
será um processo fácil. Pelo contrário, será um caminho de
lutas. Devemos odiar o mal e as terríveis proposições do
mundo, devemos odiar a nossa própria natureza pecaminosa,
e devemos odiar a Satanás. Realizar essas tarefas exige os
recursos mais poderosos que temos: a Palavra, o Espírito e o
Corpo de Cristo.
Aprendendo o Te m o r do Senhor
Entretanto, os adversários não devem nos desencorajar.
O tem or do Senhor com certeza pode ser aprendido.
Deuteronômio 4:10 afirma: "...Reúne este povo, e os farei
ouvir as minhas palavras, a fim de que aprendam a temer-
me todos os dias que na terra viver". Do mesmo modo, o Rei
Davi exortou o povo a aprender o temor do Senhor.
Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que o
temem. Vinde, filhos, e escutai-me; eu vos ensinarei o temor do
SENHOR. (Salmo 34:9,11)
Como ele é aprendido? Lendo e meditando na Palavra, e
orando para que Deus nos ensine.
Também, quando se assentar no trono de seu reino, escreverá
para si um traslado desta lei num livro, do que está diante dos
levitas sacerdotes. E o terá consigo, e nele lerá todos os dias da
sua vida, para que aprenda a temer ao SENHOR seu Deus, a
fim de guardar todas as palavras desta lei, e estes estatutos, para
os cumprir (Deuteronômio 17:18-19).

Para que seus filhos, que não a souberam, ouçam e aprendam a


temer ao SENHOR vosso Deus... (Deuteronômio 31:13).
Isso não é fácil. A leitura constante da Bíblia pode ser
difícil. Os três adversários garantem que é uma batalha, e os
nossos mundos já estão muito ocupados. Mas se o temor do
Senhor é tão importante quanto a Bíblia diz, então, podemos
estar certos de que o próprio Deus nos dará o poder para
buscá-lo.
Pense sobre como você pode usar os recursos que Deus
lhe tem dado. Peça ao seu cônjuge, seus filhos, amigos, pastor
ou presbíteros que orem por você. Encontre-se com um irmão
ou uma irmã. Pergunte como eles têm testemunhado sobre o
Deus tremendo. Comece identificando onde o mundo tenta
refazer Deus para que Ele seja mais manejável. Peça a Deus
para ensinar você a ler a Sua Palavra como uma pessoa sábia
que "considera atentamente na lei perfeita, lei da liberdade"
(Tiago 1:25).

Agora pense um pouco sobre as passagens que ensinam o


temor do Senhor. Uma vez que a Bíblia toda ensina que o Santo
de Israel reina, a Bíblia toda é um livro didático sobre o temor
do Senhor, usando ou não essa expressão em particular. Mas
existem algumas passagens que parecem ser especialmente
fundamentais - ou negligenciadas. Vou me concentrar em
algumas dessas.
Observe principalmente os atos poderosos de Deus que
demonstram o Seu amor e a Sua justiça santos, sua bondade
e severidade (Romanos 11:22). O salmista nos lembra que
aqueles que temem ao Senhor dizem: "o seu amor dura para
sempre" (Salmo 118:4- NVI), mas eles também dizem: "Quem
poderá permanecer diante de ti quando estiveres irado?"
(Salmo 76:7-NVI). A Bíblia fala de um amor inimaginável ao
lado de uma ira santa. Deus é compassivo e gracioso, tardio
em irar-se e abundante em amor, mas Ele também não deixa o
culpado impune. Ele "visita a iniqüidade dos pais nos filhos
até a terceira e quarta geração" (Êxodo 34:6,7). Portanto, nós
não podemos dizer corretamente: "Meu Deus não é um Deus
de juízo e ira; meu Deus é um Deus de amor". Essa idéia deixa
quase impossível crescer no temor do Senhor. Ela sugere que
o pecado somente entristece a Deus e não propriamente O
ofende. Tanto a justiça quanto o amor são expressões da Sua
santidade, e nós devemos conhecer os dois para aprendermos
o temor do Senhor. Se olharmos somente para o amor de
Deus, não precisaremos dEle, e não haverá urgência alguma
na mensagem da cruz. Se focarmos estritamente na justiça de
Deus, iremos desejar evitá-Lo, e viveremos no temor-pavor,
sempre sentindo-nos culpados e esperando pelo castigo.

Aprendendo o Temor do Senhor o Criador

Considere a Bíblia como a escola de Deus sobre o temor do


Senhor. A aula começa imediatamente. Abre-se a Bíblia para
ensinar que o Santo reina.

Tema o SENHOR toda a terra, temam-no todos os habitantes do


mundo. Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou e tudo passou
a existir. (Salmo 33:8-9)
A criação é uma serva de Deus. Ele falou apenas uma
palavra e ela existiu para fazer a Sua vontade. O que vemos
ao nosso redor é obra de Deus que até mesmo Ele disse que
era bom. Se Deus disse que era bom, deve ter sido uma obra
de arte, mesmo na sua atual forma desfigurada.
Mais especificamente, eu posso refletir sobre o grandioso
marco tradicional, o Grand Canyon, uma parte realmente
extraordinária do deserto. Essa lembrança com certeza me
aponta para a grandeza de Deus. Mas devo tomar cuidado.
Deus é santo. Ele está acima de tudo o que possamos pensar
ou ver. O Grand Canyon aponta para alguém incom -
preensivelmente maior. (Salmo 93:3-4).
Eu prefiro ainda pensar mais no oceano do que no Grand
Canyon. Eu trabalhei como salva-vidas na praia durante
cinco anos no verão e nunca me cansei da sua extensão. Eu
fui acalmado por ele como um lembrete da graça restauradora
de Deus, e fui por ele deixado esgotado como um lembrete do
grande poder de Deus. O oceano de Deus me faz lembrar que
Ele é muito maior do que qualquer pessoa.

Olhe ao redor e observe a glória de Deus refletida na


criação. O azul do céu reflete as suas vestes reais. As nuvens
são lembretes da Sua presença (Êxodo 19:9), elas são o seu
carro quando examina a criação (Salmo 104:3). Os ventos são
seus mensageiros (Salmo 104:4). Eles vêm dos reservatórios de
Deus (Salmo 135:7). O sol aparece como um noivo, fazendo-me
lembrar que Jesus está voltando para a Sua Igreja (Salmo 19:5).
Os céus verdadeiramente celebram as Suas maravilhas (Salmo
89:5), eles proclamam a Sua glória (Salmo 19:1).

Todo animal que você vê bebendo ou alimentando-se na


grama está sendo sustentado pelo Altíssimo Deus (Salmo 104).
O fazendeiro não fez com que a safra crescesse. Os grãos vêm
do solo como um presente dado por Deus. A chuva é uma
expressão do Seu cuidado, o relâmpago do Seu poder.
Além disso, a criação pertence a Deus. "Nas suas mãos
estão as profundezas da terra, e as alturas dos montes lhe
pertencem." (Salmo 95:4). Nós estamos caminhando em uma
terra de propriedade particular.
Elizabeth Barrett Browning colocou desta forma:
A terra está repleta do céu,
E cada sarça ardente por causa de Deus;
Mas somente aquele que percebe tira as sandálias;
O restante senta-se à sua volta e apanha amoras.2
O salmista antecedeu Elizabeth Barrett Browning ao
tirar as sandálias. A grandiosidade da criação inspirou a sua
adoração e humildade.

Quando contemplo os teus céus, obras dos teus dedos, e a l u a e


as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres ?
E o filho do homem, que o visites? (Salmo 8:3-4)
Com toda a beleza criada ao nosso redor, que com certeza
excede em muito a nossa própria beleza, Deus escolheu pessoas
para serem a coroa da Sua criação.

Como o salmista, eu tenho duas respostas básicas a essa


verdade. Nenhuma delas na verdade eleva a minha auto-
estima. Primeira: eu estou simplesmente maravilhado. Estou
cheio de perguntas: Por que, ó Senhor, o Senhor sempre se
preocupou conosco? Por que, com toda essa beleza em Sua
criação, o Senhor fez as pessoas portadoras da Sua imagem?
Com certeza eu estou grato, mas é difícil de acreditar que Deus
nos colocaria acima da Sua criação.

Minha segunda resposta é que eu estou humilhado. O


Grand Canyon e os oceanos são ambos muito mais bonitos
do que eu. Isso, em vez de elevar a auto-estima, a destrói. Eu

2. Elizabeth Barrett Browning, “Aurora Leigh,” Livro VII


não estou vivendo de maneira bonita. Meu coração está quase
sempre comprometido com preocupações sobre a minha glória
muito mais do que com a de Deus. A dor dessa humilhação,
porém, é exatamente o que eu preciso. Ela me faz sentir muito
melhor do que qualquer crescimento temporária do meu ego.

Jacó e Moisés Aprendem o Temor do Senhor

Quando lemos Gênesis através das lentes do temor do


Senhor, cada acontecimento torna-se mais comovente. O
dilúvio é uma demonstração colossal da justiça de Deus; Noé
é uma evidência tremenda do Seu amor. A Torre de Babel
demonstra o grande poder e justiça de Deus; ele não deixará o
homem exaltar-se a si mesmo. Mas Babel também demonstra
o grande amor de Deus em limitar os efeitos do pecado de um
líder. Com as pessoas espalhadas por todo o mundo e vivendo
em diferentes clãs, há menos oportunidades de uma pessoa
oprimir a muitas. O chamado de Abraão é uma figura terrível
(isto é: lindo, tremendo) do amor que busca, que vai atrás. O
Deus transcendente aproxima-se do homem e o chama pra
ser o pai de muitos - o povo de Deus. Cada história desafia o
nosso entendimento limitado da justiça e do amor de Deus, e
cada uma pode nos levar a reverenciar o Senhor. Mas somente
a historia de Jacó revela Deus pelo nome de "Temor" (Gênesis
31:53).

A primeira vez que Jacó encontrou-se com Deus, ou o


Temor de Isaque, como ele O chamou, estava fugindo de seu
irmão Esaú. Tendo acabado de roubar de seu irmão o direito
de primogenitura, Jacó tinha motivos para temer o homem.
Esaú era maior, mais forte e talvez mais explosivo. Sem dúvida,
nesse momento da vida de Jacó, o homem era grande e Deus,
pequeno.

O sonho de Jacó (Gênesis 28:10-22) mudou tudo isso. A


palavra "santo" é usada por toda a Bíblia, mas é mais usada
como uma descrição do lugar de habitação de Deus. Esse era
o lugar onde Jacó se encontrava.
Em um sonho, a cortina do céu se abriu e o Senhor falou.
As palavras, de fato, foram ternas e consoladoras, mas também
foram santas. Por isso, Jacó teve medo; ele ficou contente por
acordar vivo. Ele exclamou: "Quão temível é este lugar", e fez
um voto: "então o Senhor será o meu Deus" (Gênesis 28:17,21).
Ele chamou aquele lugar de Betei, que quer dizer casa de Deus.

Provavelmente era este fato que estava na mente de Jacó


quando chamou Deus de "o Temor de Isaque". Não foi, porém,
o único encontro de Jacó com Deus. O contexto do próximo
encontro com Deus foi semelhante ao que incluía a ameaça
de Esaú, mas é diferente por que desta vez, Jacó não estava
fugindo de Esaú, e sim, indo ao seu encontro.

A questão estava clara: A quem você irá temer? Esaú ou


ao Deus verdadeiro? Para ajudar Jacó nesta decisão, Deus o
abençoou com uma visita ainda mais intima do que o sonho
em Betei. Deus na verdade apareceu a Jacó como um homem,
lutou com ele, e depois o abençoou.
Você pode imaginar? Uma coisa é Deus revelar-Se em um
sonho, outra completamente diferente é Deus literalmente
sujar-Se com o Seu povo. Mas é assim que Deus gosta de
revelar-Se a nós. Ele é o que está próximo, Ele é o Deus conosco.
Essa revelação do caráter de Deus seria muito para Jacó, por
isso Deus escolheu manter o Seu nome como um mistério.
Conosco, porém, o mistério foi revelado. Nós conhecemos o
lutador pelo nome que inspira a maior reverencia e admiração
- "para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho".
(Filipenses 2:10)
Você já consegue entender um sentido do poder exclusivo
do temor do Senhor? Um conhecimento crescente de Deus
substitui o temor das pessoas, e expulsa a nossa tendência de
não nos preocuparmos com os nossos pecados secretos. E as
boas notícias são que isso pode ser aprendido. Deus está muito
entusiasmado para nos abençoar com este conhecimento.
Você não tem que ser um patriarca de Israel. Você deve ser
simplesmente uma pessoa que ora (Efésios 1:16,17).
Você também pode aprender com outros que já aprenderam
o temor do Senhor.
Moisés, como Jacó, não era alguém que temia a Deus
naturalmente, mas com certeza ele aprendeu o temor do
Senhor. Sua primeira experiência em Betei ocorreu enquanto
ele também estava fugindo. Ele estava no deserto, escondendo-
se de Faraó quando Deus apareceu a ele em um fogo. Em
outras palavras, Deus trouxe o Seu lugar de habitação para
perto de Moisés e declarou santa aquela terra. Moisés recebeu
a ordem de tirar as sandálias, e escondeu seu rosto porque
estava com medo.
Mas Jacó e Moisés receberam bênçãos e promessas - um
conhecimento do amor de Deus é essencial para o temor
reverente - mas os dois homens tiveram medo da proximidade
do Altíssimo Deus. Para sair do contínuo medo para o temor e
adoração, eles vão de um extremo ao outro. O temor do Senhor
era caracterizado pelo pavor bem como pela adoração. Nisso
eles são bons exemplos. Na vida do cristão, o impulso vai do
medo relacionado ao julgamento à adoração motivada pelo
amor. Porém, esses exemplos bíblicos sugerem que tremer
também se encaixa ao crente. É bom que tenhamos momentos
em que não estejamos à vontade diante de Deus. Pode não ser
um medo de punição, mas pode ser um medo de desagradar
a Deus. Ou pode simplesmente ser o temor (reverência) que é
inevitável quando vemos Deus em Sua glória. Quando somos
sensíveis às exigências de Sua santidade, podemos ser guiados
por Moisés, por Jacó, e o salmista a dizer: "Arrepia-se-me a
carne com temor de ti"... (Salmo 119:120). Um dos nomes de
Deus é "Temor".
As Lições do Êxodo
Nós aprendemos o temor do Senhor conhecendo a Deus
o Criador. O universo com certeza é uma expressão do Seu
poder e amor. Nós também aprendemos o temor do Senhor
testemunhando Deus como redentor. No Velho Testamento,
isso é visto mais claramente na saída do povo do Egito.
A saída do Egito e a lei que foi dada no Sinai foram
algumas das primeiras classes da grande escala no temor do
Senhor. Durante esses acontecimentos, Deus demonstrou que
somente Ele era Deus. Nada poderia comparar-se a Ele. Em
poder e juízo, em amor e fidelidade, não há semelhante a Deus.
Depois que os israelitas saíram do Egito, foram guiados
finalmente ao monte de Deus. Estando perto da presença
de Deus, eles tinham a ordem de se purificarem e estarem
separados: eles não poderiam tocar o pé da montanha, eles
lavavam suas vestes e abstinham-se de relações sexuais quando
reuniam-se ao redor do monte. Eles tinham que preparar-se
para chegar perto do terreno santo.
O que eles testemunharam foi espantoso. Fogo desceu
sobre a montanha, havia fumaça em toda parte. Toda a
montanha tremeu, e o som de uma trombeta, anunciando a
vinda de Deus, ficava cada vez mais alto. Os sentidos do povo
devem ter chegado ao seu limite.
Uma vez experimentei algo quase tão alto e impressionante.
Eu estava viajando por aproximadamente vinte horas com
alguns amigos da faculdade indo ao sul da Flórida. Chegamos
por volta da uma e meia da manhã. Os hotéis pareciam muito
caros para uma noite tão curta, por isso decidimos encontrar
um lugar para armar uma barraca. Todos nós, exceto o
motorista, estávamos caindo de sono. Quando finalmente ele
parou, nós armamos a barraca, e dormimos o restante da noite.
O que nós não sabíamos é que na sua pressa para encontrar
uma área para acampar, o motorista ultrapassou uma placa
de "Não Ultrapasse".

A próxima coisa que eu me lembro é da terra tremendo


e o som de montanhas caindo. Na agitação, tudo o que eu
pude observar é que os meus quatro amigos estavam de boca
aberta, e as veias de seus pescoços pulando. Eles estavam
apavorados, mas o barulho externo era tão ensurdecedor que
eu não conseguia ouvir nada do que diziam. Depois de alguns
momentos imitando comediantes do cinema mudo, finalmente
caímos fora da barraca e descobrimos porque tínhamos um
acampamento grátis. Tínhamos acampado bem ao lado do final
de uma pista militar. O barulho que ouvimos era um enorme
avião de transporte militar que havia decolado a nove metros
de nossas cabeças.

Eu imagino que os israelitas não conseguiam ouvir os


gritos dos seus vizinhos nem tampouco as trombetas soando.
Mas eles estavam muito provavelmente ocupados demais com
a montanha para observar as bocas abertas e as veias pulando.

O resultado foram dez preceitos em duas tábuas de


pedra - a lei. Isso parece fora do comum? Com tanto toque
de trombetas o povo poderia ter esperado mais do que duas
tábuas de pedra. Pelo menos poderiam ter sido duas tábuas de
ouro. Porém, se eles estavam esperando algo mais grandioso,
deixaram passar completamente a natureza da lei.

A lei é maravilhosa na medida em que revela o caráter santo


de Deus. Os Dez Mandamentos e as suas muitas aplicações
ensinam sobre o Legislador. Elas revelam que os caminhos
de Deus são profundamente superiores aos caminhos das
nações ao redor. O que pode parecer detalhismo para nós
era na verdade uma linda revelação de Deus que protegia o
oprimido e o pobre, odiava a injustiça, amava a misericórdia,
oferecia perdão e purificação, e era moralmente puro. Na lei,
Deus estabeleceu um novo padrão para a santidade que o
mundo ainda não conhecia.
Nós também podemos dizer que a lei é um documento de
amor santo. Nela Deus diz: "Eu tenho demonstrado a vocês
que, apesar de vocês serem uma das nações mais fracas, eu
os resgatei e cuidei de vocês como meu filho amado. Tenho
revelado mais do meu amor eterno por vocês. Agora que
vocês viram o meu amor e sabem que são meus filhos, devem
aprender como me amar e viver como filhos divinos. Para
mostrar-lhes como fazer, eu lhes dou a lei. Ela ensinará a vocês
como ser como o Pai celestial."
Eu sou o SENHOR vosso Deus; portanto vós vos consagrareis
e sereis santos, porque eu sou santo; ... (Levítico 11:44)
Fala a toáa a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos
sereis, porque eu, o SENHOR vosso Deus, sou santo. (Levítico
19:2)
Portanto santificai-vos, e sede santos, pois eu sou o SENHOR
vosso Deus. (Levítico 20:7)
Ser-me-eis santos, porque eu, o SENHOR, sou santo, e separei-
vos dos povos para serdes meus. (Levítico 20:26).
Como as pessoas serão santas? Como amarão e glorificarão
o seu Deus? Em reverência elas irão submeter-se à autoridade
de Deus e obedecê-Lo. O temor do Senhor é assim. Isso é o
que a lei pode ensinar. Que presente mais espetacular poderia
haver? Não é de se admirar o que disse o salmista: "Arrepia-
se-me a carne com temor de ti; e temo os teus juízos." (Salmo
119:120).
Esta é a terceira classe no temor do Senhor. Neste ponto,
cuide de manter os seus olhos no Santo. Seja o assunto o Grand
Canyon ou os Dez Mandamentos, ambos inspiram admiração
porque são uma expressão do caráter santo de Deus.
1
Cresça no Temor do Senhor

O problema é claro: As pessoas são muito grandes em


nossas vidas, e Deus é muito pequeno. A resposta está bem
à nossa frente: Devemos aprender a saber que o nosso Deus
é mais amoroso e mais poderoso do que jamais imaginamos.

Mas esta tarefa não é fácil. Mesmo se trabalhássemos no


mais espetacular parque nacional, ou a sarça em nosso quintal
começasse a queimar sem se consumir, ou Jesus aparecesse e
lutasse alguns "rounds" conosco, nós não teríamos garantia
de um respeito permanente a Deus. Muitas vezes as nossas
experiências no topo da montanha são rapidamente engolidas
pelo clamor do mundo, e Deus uma vez mais é diminuído
em nossas mentes. O alvo é estabelecer um costume diário de
crescer no conhecimento de Deus.
O Tem or do Senhor: Sua Formosura
Para crescer no conhecimento do Santo Deus devemos
achar esse conhecimento belo e atraente. E aí que o livro
de Provérbios pode ajudar. O coração do livro é o temor
do Senhor: ele é o portão de entrada, o caminho e o fim da
sabedoria - "O temor do SENHOR é o principio da sabedoria,
e o conhecimento do Santo é prudência." (Provérbios 9:10).
Já que o temor do Senhor é o grande tesouro da vida,
Provérbios tenta nos convencer a experimentá-lo. Ele tenta
fazer o temor do Senhor o mais atraente possível. Aquele que
teme ao Senhor, "ficará satisfeito; e mal nenhum o visitará."
(19:23). O temor do Senhor prolonga os dias da vida (10:27). No
temor do Senhor tem o homem forte amparo, e isso é refúgio
para os seus filhos (14:26). Ele é uma fonte de vida (15:16);
traz honra (22:4) e pode ser louvado quando o vemos (31:30).
O que parece o temor do Senhor? Parece com amar o bem
e odiar o mal. "O temor do SENHOR consiste em aborrecer o
mal" (8:13). Parece com confiar (respeito) em Deus e obedecê-
Lo.
Você consegue perceber que o temor do Senhor é uma
bênção? Imagine apenas como seria odiar verdadeiramente
o pecado, primeiro o nosso próprio, e depois os pecados
dos outros (Mateus 7:3-5). O que aconteceria com as brigas
conjugais? Elas seriam quase impossíveis. Os cônjuges estariam
tão ocupados ouvindo e pedindo perdão pelos seus próprios
egoísmos. E as panelinhas no pátio da escola? Estariam
contando boas histórias sobre uma outra pessoa. E quando
alguém pecasse contra nós? Não mataríamos mais a pessoa
em nosso próprio coração. Em vez disso, poderíamos cobrir
o pecado em humildade e amor, ou poderíamos confrontar a
outra pessoa no mesmo espírito.
Enquanto ler as histórias que se seguem, tenha em mente
alguns exemplos de sua própria vida onde as pessoas têm
sido maiores do que Deus. E lembre-se que essas pessoas que
controlam você são gatinhos inofensivos quando comparadas
ao Leão de Judá.

O T e m o r do Senhor: As Questões de Deus

"Você tem observado o meu servo Jó?", o Senhor per­


guntou a Satanás. Jó é um exemplo quase perfeito de uma
pessoa que temia ao Senhor. Se você deseja saber se teme ou
não a Deus, observe a sua reação quando as coisas boas lhe
são tiradas. Como você reage à perda financeira, à morte de
um membro da família, a perda de um amor? Quantos de
nós, depois de experimentarmos um sofrimento tão intenso,
seriamos convencidos de que Deus é maior do que o nosso
sofrimento? Jó, com certeza. Depois de perder tudo, ele disse:
"...o SENHOR o deu, o SENHOR o tomou; bendito seja o
nome do SENHOR!" (Jó 1:21). Então, depois do seu próprio
corpo ser severamente afligido, ele disse:"... temos recebido o
bem de Deus, e não receberíamos também o mal?" (Jó 2:10).
Jó é o primeiro a falar especificamente sobre sabedoria e o te­
mor do Senhor quando disse: "Eis que o temor do SENHOR
é a sabedoria, e o apartar-se do mal é o entendimento. "(J ó
28:28). Mas mesmo com essas declarações, são as palavras de
Jó as mais instrutivas.
Fora a entrega da lei, o maior discurso de Deus na Bíblia
inteira está nos últimos quatro capítulos de Jó. É um discurso
planejado para fazer com que Jó crescesse ainda mais no
conhecimento da grandeza de Deus. Se você ler esses capítulos
todos os dias durante um mês, descobrirá que eles têm um
tratamento para quase tudo. Você teme as pessoas? Você
está sofrendo? Está ansioso? Deprimido? Lutando com a ira?
Coração duro? Ouça essas perguntas dos lábios de Deus.
"Acaso, âesde que começaram os teus dias, deste ordem à
madrugada...'' (38:12)

"Porventura te foram reveladas as portas da morte, ou viste


essas portas da região tenebrosa? Tens idéia nítida da largura
da terra?..." (38:17-18)

"ou ordenarás aos relâmpagos que saiam, e te digam: Eis-nos


aqui?" (38:35)

O compasso das perguntas de Deus é impiedoso. Elas


deixam você sem fala. Mas elas são entregues graciosamente
aos homens justos que apreciam o temor do Senhor acima de
tudo o mais. O efeito das palavras de Deus foi exatamente
o planejado: a resposta de Jó dem onstrou que havia
compreendido que Deus era santo - Deus estaya acima dele.
O conhecimento de Deus era "maravilhoso demais para m im "
Deus era diferente de Jó. Ele não era como um homem que
pudesse ser intimado. Como outra prova do crescimento de Jó
no temor do Senhor, ele humilhou-se diante do Todo Poderoso.
"Por isso me abomino, e me arrependo no pó e na cinza."
(Jó 42:6). Esse tipo de humildade e arrependimento é um sinal
seguro de que estamos aprendendo o temor do Senhor.

Você consegue lembrar ocasiões em sua vida quando


disse: "Deus é Deus - eu me submeto à Sua vontade?" Nessas
ocasiões as outras pessoas não têm o poder de nos manipular,
pressionar ou controlar.

O Tem or do Senhor: Face a Face

Enquanto a aula de Jó no temor do Senhor não era


especificamente direcionada para o temor das outras pessoas,
a orientação de Deus para o profeta Isaías era, com certeza.
Quando Isaías foi chamado por Deus, recebeu uma mensagem
que garantia que ele seria rejeitado e ameaçado fisicamente
por outros (Isaías 6:9-13). Haveria diariamente oportunidades
para que ele temesse mais ao homem do que a Deus. Como
conseqüência, era fundamental para ele ter o temor do Senhor
totalmente marcado em seu coração, porque quem teme a Deus
não teme mais nada.

Pense sobre isso. Deus diz a você para falar publicamente


contra uma p o lítica nacional de modo que você seja
considerado um traidor. Você é convidado para um banquete
e tem que pregar condenação e tristeza aos convidados. Você
será a pessoa menos popular em todo o Israel e Judá, e os reis
pedirão a sua cabeça. Nessas situações Deus dá ao Seu povo
graça especial. Para Isaías, essa graça veio como um tipo de
sermão de consagração. O impacto dessa consagração deu
forma para todo o livro, e é a razão pela qual Isaías prefere
chamar o seu Deus de o Santo de Israel.

"No ano da morte do rei Uzias" (Isaías 6:1), começa Isaías.


Com esta introdução, o profeta não está tentando dar-nos
uma marca histórica para os acontecimentos que se seguem;
ele está introduzindo o temor do Senhor.
O rei Uzias foi um rei admirável. Ensinado por Zacarias
no temor de Deus (II Crônicas 26:5), o Senhor lhe deu
vitória após vitória. Porém, ele não atendeu às instruções
da lei para estar especialmente atento durante os tempos de
prosperidade. Quando tornou-se poderoso, em seu orgulho
apoderou-se indevidamente de uma tarefa delegada somente
aos sacerdotes. O resultado foi que o Senhor imediatamente
o afligiu com lepra.
Isso nos faz lembrar de Moisés. Aqui estava um líder
realmente perfeito que tropeçou em um ponto apenas e foi
severamente disciplinado. Moisés foi proibido de entrar na
terra prometida, e Uzias sofreu com a lepra até o dia de sua
morte. Portanto, quando Uzias morreu, era tempo de luto
nacional, e também tempo de crescer no temor do Senhor. O
Senhor era um Deus santo que não toleraria o pecado no Seu
povo. Por isso Isaías estava tremendo até mesmo diante da
visão.

Isaías estava no templo, provavelmente pensando em


Uzias, quando Deus abriu os seus olhos para as realidades
celestiais.

... eu vi o SENHOR assentado sobre um alto e sublime trono, e


as abas de suas vestes enchiam o templo. Serafins estavam por
cima dele; cada um tinha seis asas: com duas cobria o rosto, com
duas cobria os seus pés e com duas voava. (Isaías 6:1-2)
Isaías viu o Senhor, sentado no trono, vestindo vestes
sacerdotais. A Sua presença santa dominava o templo. Era tão
dominante que os serafins tiveram que pairar acima do trono.
Não havia nenhum espaço ao redor dele.
Esses serafins são m encionados somente em Isaías
e em nenhum outro lugar na Bíblia. O fato de Isaías não
estar fam iliarizado com eles deixou a cena ainda mais
impressionante. Um anjo mais fácil de ser identificado,
conhecido, poderia ter deixado a cena um pouco mais fácil
para ele.
"Se eles podem estar diante de Deus, talvez eu também
possa." Mas Isaías estava completamente despreparado
para aquelas criaturas. Ele nunca havia nem mesmo ouvido
sobre elas. A coisa mais próxima daquelas criaturas eram os
querubins que ficavam em cima da arca da aliança, mas mesmo
esses eram vistos apenas no Santo dos Santos.
Os serafins pareciam ter apenas uma função - deixar
evidente a santidade de Deus. Eles eram tão majestosos que a
sua voz fez tremer as bases do limiar do templo. Mas mesmo
com uma posição tão elevada, os serafins ainda precisavam
ser cobertos do olhar santo de Deus.
Eles clamavam uns aos outros: "... Santo, santo, santo é o
SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória."
O três vezes santo aumenta a santidade de Deus. Cada "santo"
intensifica o anterior.
Minha filha me ensinou o poder dessa repetição. Uma
tarde eu estava em casa trabalhando em meu estudo. Quando
eu estou em casa, prefiro não ser interrompido. É uma
instrução não escrita e não falada, mas provavelmente eu
tenha me irritado quando interrompido no passado, portanto
minhas filhas geralmente me deixam sozinho. Mas nessa tarde
em particular, Lisa queria mesmo brincar comigo. Ela me
perguntou quando eu iria terminar, e depois ficou andando
ao meu redor, olhando por cima dos meus ombros, esperando
que eu terminasse logo. Foi uma grande tentação pra mim, por
isso eu tirei a tarde de folga e brinquei com ela. Isso significava
trabalhar à noite, mas valia a pena.
Antes de ir para cama ela deixou um bilhete na minha mão.

Querido Papai,
Eu amo muito você, muito, muito, muito, muito ... muito
mesmo..
Com amor,
Lisa
xxxxxxxxxxxxxxooooooooooooo

Ela encheu duas páginas repetindo "muito".


Ela não tinha o vocabulário para dizer "muitíssimo" ou
a habilidade poética para usar uma metáfora rica. Se tivesse,
a carta teria sido menos intensa. Em vez disso, cada "muito"
intensificou o "muito" anterior. Ela estava dizendo que era
impossível pra ela me amar mais do que amava.
Foi assim que eu aprendi a observar o "Santo, santo,
santo".
Isaías fez o que qualquer um faria. Ele gritou: "Ai de mim!".
Ele estava certo de que iria morrer. Ele era impuro, e estava na
presença do Santo de Israel que havia punido Uzias com lepra.
Mas o Senhor não fez isso com Isaías. Essa era uma
escola sobre o temor do Senhor, e o auge do ensino consiste
da combinação do poder e juízo com a bondade e o perdão
amoroso. Portanto, em um ato que aponta para Jesus tão
claramente como qualquer coisa na Bíblia, o Serafim tomou a
iniciativa em direção ao homem que era tão bom quanto morto.
O Serafim purificou Isaías tocando-o com uma brasa viva tirada
do altar onde os sacrifícios eram oferecidos a Deus. (I João 1:9)
Então Isaías fez o que qualquer um faria em uma situação
como essa. Ele esqueceu de si mesmo e ofereceu-se como um
servo ao Deus vivo. O seu temor do Senhor foi demonstrado
pela obediência reverente. Essa é uma das grandes bênçãos
do temor do Senhor. Nós pensamos menos em nós. Quando
um coração está sendo preenchido com a grandeza de Deus,
há menos espaço para a pergunta: "O que as pessoas estão
pensando sobre mim?"
Se você alguma vez já teve oportunidade de ver árvores
gigantes, nunca ficará assustado com o tamanho de um
arbusto. Ou se você passou por um furacão, uma chuva de
verão não é nada para temer. Se você tem estado na presença
do Deus todo poderoso, tudo que um dia controlou a sua vida
de repente tem menos poder.
Eu me recordo de estar em um pequeno grupo com um
homem que estava receoso de dizer qualquer coisa que pudesse
chatear alguém. Como conseqüência, ele era quieto e indeciso
com sua esposa, raramente disciplinava seus filhos, e o seu
patrão o deixava apavorado. Nós concluímos que o pai desse
homem era imprevisível com a sua própria ira, mas as nossas
descobertas em relação a esse relacionamento passado não
libertaram esse homem. Finalmente, após semanas tentando
ajudá-lo, o grupo concentrou-se em algo mais. Olhamos
para as três figuras de Deus no livro de Isaías. Após quatro
encontros, esse homem amedrontado pediu oração - ele iria
falar com seu patrão sobre algumas práticas no escritório que
cria serem injustas.
O conhecimento de Deus foi o primeiro passo em sua
libertação do temor das pessoas.
As figuras de Deus incluíam a cena do trono em Isaías 6,
mas há muito mais. Por todo o livro vemos figuras da justiça
santa de Deus e da Sua grande compaixão por Seu povo.
Quando chegamos em Isaías 40, esses dois temas seguem
juntos até unirem-se totalmente em Isaías 53.
"Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus."
Isaías 40 dá início a uma seção de profecias que culminam
na mensagem da cruz. O Senhor não disse: "Consolai". Ele
disse: "Consolai, consolai". Ele salientou o cuidado maternal
que Ele dá aos exilados. O maior conforto que Deus poderia
dar era estar presente com o Seu povo. A razão pela qual eles
estavam no exílio era porque deixaram a presença do Santo.
Agora o Santo estava voltando para requerer o Seu povo. Ele
estava se aproximando.
Entre as vozes que anunciaram a Sua vinda estava uma
que clamava: "... Toda a carne é erva, e toda a sua glória
como a flor da erva." (40:6). Embora essa voz parecesse muito
desalentadora, oferecia palavras de consolo. O consolo era que
o rei da Assíria - o opressor do povo de Deus - desapareceria
como as flores que murcham. Embora o povo tivesse ido para
o exílio por causa do seu próprio pecado, ele não duraria para
sempre, porque o rei da Assíria era simplesmente um homem
e não Deus. O seu poder não poderia contrariar as promessas
eternas de Deus para o Seu povo.
Deus estava vindo para resgatar o Seu povo das ameaças,
dos ataques, e do cativeiro. Com o mesmo braço poderoso que
salvou o povo muitas vezes, e o mesmo braço poderoso que
julgou a Israel, Ele agora iria carregar os cordeirinhos próximos
ao Seu coração.
Como pastor apascentará o seu rebanho; entre os seus braços
recolherá os cordeirinhos, e os levará no seio; as que amamentam,
ele guiará mansamente. (Isaías 40:11)
Quando estamos sendo oprimidos por outras pessoas -
sejam inimigos, patrões, ou cônjuges - esta é uma das santas
figuras que Deus nos dá. "A opressão não durará, mas, sim, a
minha compaixão", diz Deus. A compaixão de Deus é maior
do que as ameaças das outras pessoas. Isso, é claro, é difícil de
perceber às vezes. E preciso ter os olhos da fé para enxergar
os braços fortes de compaixão de Deus e antever a libertação
em tempos de angústia. Mas a bondade de Deus para conosco
está sempre próxima, e nós precisamos praticar enxergá-la.

Seguindo esta preciosa imagem do cuidado de Deus como


um pastor, pelo Seu povo, Deus então entra em uma série de
questionamentos como fez com Jó. Como isso se encaixa com
as imagens da Sua imensa compaixão? Todas elas nos levam ao
temor do Senhor. O Deus que está acima de todas as coisas, e o
Deus que se aproxima do Seu povo em misericórdia e perdão
deve ser temido.
Quem na concha de sua mão mediu as águas, e tomou a medida
dos céus a palmos? ... Todas as nações são perante ele como cousa
que não é nada, como um vácuo. (Isaías 40:12,17)
O refrão, repetido duas vezes nesta profecia, resume o
temor do Senhor.

Com quem comparareis a Deus? Ou que cousa semelhante


confrontareis com ele? (Isaías 40:18)
Embora essas palavras pareçam ser retiradas do texto de
Jó, existe uma diferença muito significativa entre os dois. Com
Jó, o Senhor estava falando em particular. Desta vez, o Senhor
estava falando com todo o mundo. Ele estava se dirigindo até
às ilhas distantes (Isaías 41:1). Deus nunca pretendeu ser o
Deus tribal de Israel apenas. A Sua glória é muito grande para
ser confinada a um grupo específico. A Sua glória é tanta que
exige a atenção de toda a humanidade (Isaías 40:5). Ele é, de
fato, um grande Deus.
A história dessa glória espalhada por todo o mundo chega
ao seu clímax em Isaías 52 e 53. Mas, à primeira vista, não é
o final pelo qual esperávamos. Pelo contrário, essa história
termina com um servo sem atrativos, sofredor. Isaías 52 começa
muito apropriadamente. As pessoas estão explodindo de
alegria, os cativos foram libertos, e as montanhas ao redor de
Jerusalém são formosas, e toda a terra testemunhará a salvação
do Senhor. Toda essa celebração é resultado do servo do Senhor
que restaurará as tribos de Israel.

Eis que o meu Servo procederá com prudência; será exaltado e


elevado. (Isaías 52:13)
Mas repentinam ente transform a-se em algo quase
macabro.
Como pasmaram muitos à vista dele, pois o seu aspecto estava
mui desfigurado, mais do que o de outro qualquer, e a sua
aparência mais do que a dos outros filhos dos homens, assim
causará admiração às nações, e os reis fecharão as suas bocas
por causa dele... (Isaías 52:14-15)
A glória será constatada através do sofrimento e da morte.
Não o nosso próprio sofrimento e morte, porque o texto aponta
claramente para um servo que nos representará. A exaltação
virá através de Deus "esmagando" o servo. E tudo isso será
feito por nós.
...levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores
intercedeu. (Isaías 53:12)
Este é o auge da santidade de Deus no Velho Testamento.
Se o seu queixo não treme ao ler isto, leia novamente. Leia e
tema.
Esse temor atrai você a Deus; não o repele ou faz com
que sinta vergonha. Ele faz você desejar vir a Ele e conhecê-
Lo. Quando o temor do Senhor amadurece em você, Cristo
toma-Se irresistível.
Você se encontra na ponta do "escondendo de Deus" da
série? Ou você ainda nem está na série afinal? Se for esse o caso,
Jesus diz: "Vinde... vinde... vinde" (Isaías 55:1). Ele convida
você a se aproximar. Ele convida você a conhecê-Lo como o
Maravilhoso que Ele é. Se esse convite não mexer com você,
lembre-se que ele não diz "Vinde" apenas uma vez; Ele o repete
para você. Ele não poderia ter demonstrado o Seu convite de
maneira mais amável.
O Tem or do Senhor: A Ira de Deus
Jesus, o servo de quem Isaías falou, foi moído por nós;
portanto, se crermos e desistirmos de nossos pecados, não
seremos moídos.
Nós fomos resgatados do perigo mortal e do sofrimento
sem fim. Mas enquanto nos afastamos do dia em que fomos
resgatados, nos lembramos do que fomos salvos? Nós nos
lembramos que deveríamos ter sido moídos pela ira de Deus?
Percebemos que, do nosso ponto de vista, a cruz é a maior
injustiça que jamais haverá? O Perfeito foi moído no lugar dos
pecadores? E nos lembramos de que haverá um juízo divino
quando a ira de Deus será revelada (Romanos 2:5)? O inferno
nos ensina sobre o temor do Senhor.
Hoje, a maioria dos brasileiros acredita em Deus, no
céu e nos anjos, mas cada vez menos acreditam que exista
um inferno. O inferno não é popular nem mesmo entre os
estudiosos conservadores da Bíblia. Eu imagino, porém, que
o inferno não seja tão pouco popular nesses dias. Talvez seja
muito popular.
Deixe-m e explicar. Nós conhecemos a Deus, temos
uma consciência que nos fala o que é certo e o que é errado.
Sabemos que não estamos à altura da glória de Deus, e
sabemos que merecemos a Sua ira. Mas a idéia do inferno é
muito horrível para ser encarada. Lembre-se: nós preferimos
pensar sobre baixa auto-imagem do que na nudez diante de
Deus. Somos peritos em evitar a santidade de Deus. Do mesmo
modo, existem forças espirituais poderosas que nos levam a
minimizar o horror do inferno.
Jesus, aquele que nos livra do inferno, também é aquele
que mais fala sobre ele. Ele é o pregador do "espanto", o divino
ameaçador. Aqui estão alguns exemplos de Suas palavras:
... e quem lhe chamar: Tolo, estará sujeito ao inferno de fogo.
(Mateus 5:22)
Toda árvore que não produz fruto é cortada e lançada ao fogo.
(Mateus 7:19)
E, se a tua mão te faz tropeçar, corta-a; pois é melhor entrares
maneta na vida do que, tendo as duas mãos, ires para o inferno,
para o fogo inextinguível [onde não lhes morre o verme nem o
fogo se apaga], (Mateus 9:43-44)

Quem nele (Jesus) crê não é julgado; o que não crê já está
julgado... (João 3:18)
Então o Rei dirá também aos que estiverem à sua esquerda:
Apartai-vos de mim, malditos; para o fogo eterno, preparado
para o diabo e seus anjos. (Mateus 25:41)
Pense sobre Mateus 10:28: "Não temais os que matam
o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que
pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo".
João Calvino disse que esse texto faz arrepiar os cabelos.
Jonathan Edwards foi um pregador que tentou imitar
Jesus. Como conseqüência, ele pregou um grande número
de sermões sobre o inferno. O seu sermão mais famoso sobre
o inferno deixou as pessoas tremendo até um reavivamento
chamado de O Grande Despertamento. Jonathan Edwards
o havia proferido prim eiram ente para a sua igreja de
Northampton, Massachusetts, mas não temos nenhum registro
de resposta. Foi em uma igreja em Enfield, Connecticut, em 8 de
julho de 1741, onde conhecemos o impacto do "Pecadores nas
Mãos de Um Deus Irado". Esse sermão não era, com certeza,
o mais assustador dos seus sermões; "A Justiça de Deus na
Condenação dos Pecadores" e o sermão de Edwards sobre
Romanos 2:4 foram mais austeros. Mas Deus usou "Pecadores
nas Mãos de Um Deus Irado" para estimular o temor do
Senhor. Esses textos selecionados ilustram o porquê:
Não há nada que mantenha pecadores, em momento algum,
fora do inferno, a não ser a mera graça de Deus... A ira de Deus
é como grandes águas que por enquanto estão represadas; ela
cresce mais e mais, sobe mais e mais alto, até que uma passagem
é dada; e quanto mais a corrente é interrompida, mais rápido e
poderoso é o seu curso, quando por fim é liberada.
O Deus que segura você acima do abismo do inferno,
muito como alguém que segura uma aranha, ou algum inseto
repugnante sobre o fogo... Sua ira contra você queima como
fogo... Ele tem olhos puros demais para suportar ter você em
Sua visão... Você O tem ofendido infinitamente mais que um
obstinado rebelde a seu príncipe...
O pecador! Considere o temível perigo em que você se
encontra: é uma grande fornalha de ira, um enorme abismo
sem fundo, cheio do fogo da ira... Você está pendurado por
uma fina linha, com as chamas da ira divina rompendo por ela,
e prontas a cada instante a chamuscá-la, e queimá-la fazendo-a
em pedaços.1

1. The Works of Jonathan Edwards (Trabalhos de Jonathan Edwards) - (Nova York:


Leavit e Allen, 1855), 4:13-21.
Seus ouvintes tiveram uma reação biblicamente correta.
Eles literalmente gritaram tão alto que ficou difícil para
Edwards continuar. Eles estavam realmente caindo dos seus
bancos nos corredores porque estavam maravilhados com a
santidade de Deus. Pode não ter sido um temor do Senhor
maduro, mas foi um bom começo.

Aqui está a verdade sobre o inferno. Quando uma pessoa


morre longe da fé em Jesus, não há nenhuma libertação possível
do inferno eterno (Mateus 25:46). Não há nenhum alívio para o
tormento (Romanos 2:4), e pior de tudo, é a ira santa de Deus
que é derramada sobre ela (João 3:36). Esse conhecimento
levou o apóstolo Paulo a dizer: "E assim, conhecendo o temor
do Senhor, persuadimos aos homens..." (II Coríntios 5:11)2

Isso é o que nós merecemos; esta é a ira e o "moer" que


Jesus sofreu por nós. Deveríamos tremer ao pensar nisso.
Deveríamos tremer porque nós poderíamos ter sido moídos
por causa do nosso pecado. Deveríamos tremer porque
vivemos na presença de um amor divino que é totalmente
surpreendente. E, contra o pano de fundo do inferno, nós
deveríamos tremer só em pensar no céu.

Como seria possível? Nós que estávamos nus diante de


Deus, que merecíamos a ira eterna, somos pela fé abençoados
pelo Pai. É algo para livrar uma pessoa da prisão, mas é algo
mais para inundar a mesma pessoa com todas as riquezas
imagináveis. Mas isso é o que Deus tem feito. Nós recebemos
uma herança: "... o reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo". (Mateus 25:34). Como pode ser isso?

2. Um livro para auxílio: Robert A. Peterson, Hell on Trial: The Case for Etemal
Punishment (O Inferno em Julgamento: O Caso da Punição Eterna) - (Phillipsburg,
N.J.: Presbyterian and Reformed, 1995).
Ó Senhor, o que é o homem para que Te preocupes com ele? Nós
respondemos à Tua misericórdia e amor, não com um temor escravo
e uma tristeza mundana, mas com uma reverencia que nos leva ao
arrependimento e a um prazer em confiar em Ti e obedecê-Lo.

O Tem or do Senhor: Admiração

Existem muitos outros temas e passagens bíblicas que


nos direcionam ao temor do Senhor. O Evangelho de Marcos,
porém, é o livro da admiração. Ele diz constantemente que
as pessoas que testemunhavam o ministério de Jesus ficavam
admiradas. Essa admiração nem sempre conduzia à uma
submissão reverente, mas foi a maneira de Marcos nos ensinar
que Jesus é o Santo, Deus encarnado.

O tem a básico de M arcos é que Jesus deixava as


pessoas admiradas tanto pelo Seu ensino quanto pelos Seus
feitos miraculosos. Ele começa esse tema imediatamente:
"M aravilhavam -se da sua doutrina" (M arcos 1:22). O
evangelho de Marcos continua a mostrar Jesus demonstrando
autoridade sobre espíritos imundos (1:27). Então, quando Jesus
disse ao paralítico que os seus pecados estavam perdoados e
que poderia andar, todos se admiraram e louvaram a Deus
(2:12).

A próxima história de admiração levou os discípulos de


volta ao relato da criação e da palavra criativa de Deus. As
multidões já seguiam Jesus até o ponto onde um barco era um
dos poucos lugares onde Ele poderia descansar. "...Passemos
para a outra margem..." (Marcos 4:33), disse Jesus aos Seus
discípulos. Depois que haviam remado para longe da margem,
veio uma forte tempestade, ameaçando virar o barco. As ondas
já estavam quebrando por todos os lados e o barco estava se
enchendo de água. Parece sobre humano pensar como Jesus
poderia dormir durante um acontecimento desses, mas não foi
o que causou a admiração. Quando os discípulos conseguiram
finalmente acordá-Lo, Jesus falou à Sua criação: "Acalma-te,
emudece" (Marcos 4:39). E a água tornou-se plana como um
espelho.

Antes disso, os discípulos tinham visto e ouvido muitas


coisas. Eles tinham testemunhado as curas miraculosas, e
ouvido os ensinamentos que, tanto quanto os Seus milagres,
deixavam as multidões maravilhadas. Mas esta é a primeira
vez que Marcos fala sobre as reações dos discípulos.

Como você reagiria se estivesse perto do Deus Criador e


O ouvisse falar com a Sua criação? Não se esqueça: até mesmo
as palavras do Serafim fizeram tremer o templo.

"Eles estavam possuídos de grande temor", diz Marcos


sobre os discípulos. Eles não sentiram alívio ou felicidade por
estarem vivos e não perderem nem ao menos o barco. Eles
estavam possuídos de grande temor.

Que reação maravilhosa. Era ideal para pessoas que


estavam sendo ensinadas sobre o temor do Senhor.

Esse foi apenas o começo. Marcos quer que saibamos que


todo o ministério de Jesus foi pontuado com admiração. As
pessoas ficaram admiradas quando Ele expeliu os espíritos
imundos mandando-os para os porcos (5:20). Quando a
filha de Jairo foi ressuscitada dos mortos, seus pais ficaram
completamente admirados (5:42). Quando Jesus ensinava na
sinagoga, muitos que ouviram ficaram maravilhados (6:2).
Quando os fariseus tentaram pegá-Lo em uma armadilha
e Jesus transformou a ocasião em uma demonstração de
sabedoria, as testemunhas ficaram admiradas (12:17). Quando
Ele andou sobre as águas os discípulos ficaram atônitos (6:51).
Quando Ele curou um homem surdo-mudo, as pessoas ficaram
fascinadas e maravilhadas (7:37). As multidões ficaram até
mesmo "fascinadas e tomadas de surpresa" simplesmente
ao ver Jesus (9:15). Mas entre esses acontecimentos, não há
nenhuma evidência clara de que aquela admiração tornou-
se rapidamente em fé, exceto com uma mulher em especial
(5:25-34).
Há uma grande quantidade de mistérios neste último
acontecimento. Como Jesus sabia que "dele saíra poder?"
(5:30), e como poderia a mulher pensar que somente tocando
em Jesus poderia ser curada? As curas de Jesus geralmente
eram acompanhadas por uma palavra ou uma ação especifica.
O que a fez pensar que um toque escondido iria curá-la?
"...Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada" (Marcos
5:28), pensava. Foi sua fé que a escolheu. Jesus era tocado por
milhares de pessoas, mas, nesse momento, havia somente uma
pessoa escolhida como tendo fé. Ela havia gasto tudo o que
possuía com tratamentos médicos e sua hemorragia somente
piorava. Mas quando ouviu que Jesus estava chegando, ela
acreditou que Ele poderia curá-la. Essa, na verdade, é uma
grande fé. Após dezenas de tratamentos essa mulher tinha,
certamente, perdido a esperança. Com certeza, ela poderia
tentar o próximo tratamento que aparecesse, mas poderia não
confiar nada nele. Ela havia aprendido até agora que nada iria
ajudá-la. Mas quando ela ouviu que Jesus estava chegando,
pensou: "Se eu apenas lhe tocar as vestes, ficarei curada."
Não "eu poderia ser curada". Essa mulher estava confiante
porque conhecia Jesus.
Essa mulher sem nome é uma professora do temor do
Senhor. Ela primeiro ouviu a Jesus e viu o que Ele fez. Sem
dúvida ela estava admirada pelo que tinha visto e ouvido. Mas
a sua admiração levou-a a confiar que Jesus era o Messias, o
Filho de Deus.
E você? Quando você lê sobre esses acontecimentos, fica
admirado, ou são apenas uma outra lição da Escola Dominical?
Permita que essa mulher o deixe ver o Filho de Deus de um
jeito novo, maior do que antes. Depois deixe-a ensinar mais
alguma coisa: "Não fique lá apenas de boca aberta. Creia!" A
admiração é boa, mas a admiração deve levar-nos à fé, e fé
deve levar-nos à ação.

O Tem or do Senhor: “Não Tem as”


Continuando no livro da admiração, Marcos conta uma
outra história onde as pessoas ficaram admiradas. Mas era o
tipo de admiração onde as testemunhas não conseguiam fazer
nada além de ficar paradas com a boca aberta. O acontecimento
foi a Transfiguração, quando Jesus deu um rápido vislumbre
de Seu esplendor divino. Pedro ficou parado com a boca aberta.
Mas Jesus sabia que as sementes da fé na vida de Pedro em
breve produziriam muitos frutos, por isso deixou que Pedro
ficasse simplesmente maravilhado.

A Transfiguração não é inédita na Bíblia. Por exemplo:


os pais de Sansão testemunharam algo semelhante (Juizes
13). Eles, porém, tiveram a reação normal: "Certamente
morreremos, porque vimos a Deus." A reação de Pedro foi
singular.

Nós não sabemos por que Jesus levou apenas Pedro, Tiago
e João. Mas sabemos que Jesus estava lhes dando um presente
que ficaria em suas mentes durante todo o seu ministério. Os
discípulos eram lembrados de que Aquele que viveu com eles
era Deus encarnado. O presente foi um curso adiantado sobre
o temor do Senhor.

... o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-


se brancas como a luz ... como nenhum lavandeiro na terra as
poderia alvejar. Apareceu-lhes Elias com Moisés e estavam
falando com Jesus ... e falavam da sua partida, que ele estava
para cumprir em JerusalémXMateus 17:1-3; Marcos 9:1-4;
Lucas 9:28-31).

E óbvio que os discípulos ficaram com medo. Eles foram


despertados do sono por esta extraordinária manifestação de
glória. Mas a resposta de Pedro foi com certeza única em toda
as Escrituras. Por que ele sugeriu que fizessem três tendas -
uma para Jesus, uma para Moisés e uma para Elias? Eu tenho
certeza de que ele tinha as suas razões, mas não vale a pena
tentar entender, porque o livro de Marcos nos dá a verdadeira
razão. Em um dos comentários editoriais mais engraçados na
Bíblia, Marcos explica a bobeira de Pedro: "Pois não sabia o
que dizer, por estarem eles aterrados," (Marcos 9:6). A maioria
das pessoas cala-se quando fica admirada. Pedro tinha que
dizer alguma coisa. Deus, delicadamente, interrompeu.

Falava ele ainda, quando uma nuvem luminosa os envolveu; e eis,


vindo da nuvem, uma voz que dizia: Este é o meu Filho amado; a
Ele ouvi. Ouvindo-a os discípulos, caíram de bruços, tomados de
grande medo. Aproximando-se deles, tocou-lhes Jesus, dizendo:
Erguei-vos, e não temais! Então eles, levantando os olhos, a
ninguém mais viram senão só a Jesus. (Mateus 17:5-8; Marcos
9:7-8; Lucas 9:34-35)

Jesus, o grande pastor, cujo amor santo é tão impressionante


quanto o Seu poder disse: "Não temais". As palavras eram
familiares. Os discípulos já as conheciam através de Moisés e
Josué, mas nunca foram tão significativas. De novo, Jesus nos
convida a nos aproximarmos Dele e conhecê-Lo.

O Tem or do Senhor e o Evangelho


Tudo isso estava conduzindo à morte e ressurreição
de Jesus. É bom ficar admirado com tudo na Bíblia, mas
é aqui onde o amor santo e a justiça santa são um. Como
conseqüência, o nosso temor (reverência, fé) deveriam sempre
terminar no evangelho.

Amor santo - Ele era como uma ovelha indo para o


matadouro, no nosso lugar. "Cristo morreu por nós, sendo
nós ainda pecadores" (Romanos 5:8).

Justiça santa - a penalidade do pecado é a separação


da presença de Deus. "Deus meu, Deus meu, por que me
desamparaste?" (Mateus 27:46).

A Sua morte deveria provocar um temor santo em nós.


Não há nenhum outro ato que encerre de tal modo o amor
santo e a justiça santa.

Esse tipo de morte levou à admiração, mas você pode se


surpreender com quem ficou admirado. Marcos menciona
muitas mulheres que observavam, mas não cita a reação delas.
Ele não menciona nenhum dos discípulos. A única reação
pessoal à morte de Jesus mencionada no livro de Marcos, foi a
do centurião romano. Nós não sabemos o que ele testemunhou
do ministério de Jesus. Ele pode ter testemunhado somente
a Sua morte. Mas o que ele diz é realmente extraordinário.
Parece a admiração que se expande até a fé.

O centurião que estava em frente dele, vendo que assim expirara,


disse: Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus. (Marcos
15:39).

Jesus tinha feito e dito coisas que deixaram as multidões


admiradas. Depois de algum tempo, as multidões ficavam
admiradas apenas por vê-Lo. Mas o comentário mais espantoso
neste livro de admiração é talvez esse do centurião, e tudo que
ele parecia estar fazendo era estar testemunhando a morte de
três inimigos de Roma.

Eu li sobre as mortes de muitos homens e mulheres


famosos. Algumas pessoas foram furiosas para a morte seja
tirando sua própria vida ou agitando o pulso contra Deus.
Outras foram cercadas por amigos e alunos, e testemunhas
comentaram como morreram tranqüilas e em paz. Mas eu
nunca li um registro de alguém ficando maravilhado com a
morte de uma pessoa.
Jesus não fez nenhum sermão na cruz, e aparentemente
não fez nenhum milagre. Ele apenas morreu, e o centurião
soube sem nenhuma dúvida que Jesus era o Filho de Deus.
Marcos então testifica o fato de que Jesus venceu a morte.
O seu relato sucinto faz parecer quase inacreditável como se ele
estivesse dizendo: "Com certeza, tendo ouvido Jesus testificar
sobre Si mesmo e confirmando o Seu testemunho com palavras
e feitos, nós sabíamos que aquela morte nunca poderia detê-Lo.
Afinal, Jesus é o Santo que está acima da morte, não abaixo
dela." Mas Marcos não pôde deixar de registrar mais uma
reação de admiração. E provável que a sua epístola termine
com essas palavras.

E, saindo elas, fugiram do sepulcro, porque estavam possuídas


de temor e de assombro; e, de medo, nada disseram a ninguém
(Marcos 16:8).
O seu temor (sentir medo) e espanto logo se tornariam em
temor (obediência reverente ou adoração) e confiança.
Todos esses exemplos bíblicos apontam para as mesmas
conclusões: O Deus triuno Se agrada em nos demonstrar a Sua
majestade e santidade, e nós nunca deveríamos nos satisfazer
com o nosso conhecimento atual sobre Ele. Por isso almeje
o temor do Senhor. Esse desejo com certeza será satisfeito
quando orarmos:
Senhor, ensina a Tua igreja a temê-Lo. A Sua graça não é sempre
admirável aos nossos olhos. Nós somos tardios em odiar o pecado.
Estamos mais preocupados com o que alguém pensa sobre a
nossa aparência do que sobre a obediência reverente diante de Ti.
Nós queremos nos deleitar em temor. Queremos entesourá-lo e
passá-lo à próxima geração. Amém.
Para Pensar um Pouco Mais
A chave para aprender o temor do Senhor é permanecer
nas Escrituras. Quando você estiver na Bíblia, ore para que
Deus o ensine que Ele é o Santo.
1. Reveja os salmos sobre a criação: Salmos: 8;19;29;65;104.
2. Medite sobre os salmos de entronização: ex: Salmos
95-97; 99.
3. Memorize o Salmo 139. Ele afirma que a providência
de Deus é tão ampla que chega até aos detalhes da nossa vida.
4. Procure em um hinário cânticos que expressem a
majestade e a santidade de Deus.
5. Leia o livro de Habacuque. Ele é semelhante ao de Jó
em que Deus dirige-Se diretamente a um homem que tinha
dúvidas sobre o que Deus estava fazendo. Todas as questões
são resolvidas quando Habacuque aprende o temor do Senhor.
6. Leia The Holiness ofGod (A Santidade de Deus), de R.C.
Sproul (Wheaton,Ill.: Tyndale House, 1985).
7. Reveja as passagens do Novo Testamento sobre o
inferno. Junto com as mencionadas neste capítulo, você
pode refletir sobre II Tessalonicenses 1:5-10; II Pedro 2:6; e
Apocalipse 14:9-11. Fale com outras pessoas de sua igreja
sobre a sua meditação. Abençoe-as com o que Deus está lhe
ensinando, e ouça o que Deus tem ensinado a elas também.
8. Comece um grupo de oração "temor do Senhor" ou
"conhecendo o Senhor".
9. Reserve um tempo para confessar o seu temor das
pessoas e a falta de temor do Senhor.
8
Examine Biblicamente as
Necessidades Que Você Sente

Temei o SENHOR, vós os seus santos, pois nada falta aos que
o temem. - Salmo 34:9

Quando você aplica seu tempo na sala do trono de Deus,


as coisas ficam na perspectiva certa. A opinião dos outros
são menos importantes, e mesmo a nossa opinião sobre nós
mesmos parece menos importante. Talvez isso seja tudo o que
precisamos. Paradas diárias na presença do Senhor curam o
temor do homem. Mas se você ainda sente como se as suas
necessidades ainda não tivessem sido supridas? E se a auto-
estima continua sendo uma preocupação que paralisa você? O
temor do Senhor é o centro do tratamento do temor das pessoas,
mas não é o único. A libertação do temor do homem tem três
componentes: nós devemos ter um conhecimento biblicamente
esclarecido sobre Deus, sobre as outras pessoas e sobre nós
mesmos. Neste capítulo, olharemos mais atentamente ao que
Deus diz sobre nós e as nossas necessidades.

PASSO 5 Examinar onde os seus desejos têm sido muito


grandes. Quando tememos as pessoas, elas são
grandes, os nossos desejos são ainda maiores, e
Deus é pequeno.

A questão é esta: Qual é a nossa formação básica, ou


identidade, dada por Deus? A noção predominante é que
somos criados como necessitados psicologicamente. Você pode
encontrar isso nas livrarias seculares e evangélicas. Você pode
ouvir em salas de aconselhamento. E faz parte de conversas
normais tanto na igreja quanto no mundo.
"Se pelo menos o meu marido me incentivasse mais."

"Se pelo menos minha esposa me respeitasse."

"Se ao menos meus filhos me obedecessem."

5;-5' "Se ao menos ele [ela] demonstrasse algum interesse


por mim."

"S e ao m en os m eus p a is me d essem m ais


independência."

Você consegue ouvir isso? A taça do amor existe. "Encha-


me co m __________ , e então eu serei feliz." Nós tendemos a
nos enxergar como pessoas que precisam de alguma coisa de
alguém se estivermos mudando.
A Visão Comum das Pessoas
Juntando tudo, a visão comum de uma pessoa parece
algo assim:

1. A nossa formação básica é aquela de um receptáculo


- uma taça - que contém necessidades psíquicas.
2. Nós temos uma longa lista de necessidades psíquicas,
mas essas necessidades tendem a agrupar-se ao redor das
necessidades básicas de amor e significação.
3. Quando essas necessidades não são supridas, estamos
em um déficit, e então nos sentimos vazios.

4. Devemos ter cuidado sobre quem preenche essas


necessidades. Podemos olhar para as pessoas ou para Deus.
O Que São Necessidades?
Quando olhamos para estas quatro idéias, um lugar
natural para começarmos a decifrar a nossa visão de nós
mesmos é com o nosso entendimento das nossas próprias
necessidades. O que você diria que você realmente precisa?
As suas respostas levarão ao centro da sua visão sobre você.

A resposta é fácil pra mim. Eu preciso que minha esposa


me ame. Eu preciso ter a sensação de que colaboro no meu
trabalho. Eu preciso que meus filhos me obedeçam, princi­
palmente quando temos pessoas de fora em nossa casa. Eu
preciso de dinheiro, é claro. Eu acho que é isso - por enquanto.

Como você responderia à pergunta? Uma maneira seria


fazer uma outra pergunta: "O que você quer dizer com
'precisa'?" A palavra com certeza pode ter diferentes nuanças
de significado. Se estivesse perdido no deserto e morrendo de
sede, você responderia "água". Se o seu pastor fizesse uma
pergunta durante um sermão, e principalmente se ele dissesse:
"O que você realmente precisa?", então provavelmente você
diria: "Jesus". Se, porém, alguém lhe fizesse a pergunta
enquanto tomam uma xícara de café, a resposta seria o palpite
de qualquer um: respeito, amor, compreensão, alguém que
ouça, auto-estima, filhos obedientes, segurança, controle,
estímulo - a lista é limitada somente pela imaginação e pelos
desejos humanos.

Bem-vindo à palavra "precisar", um dos termos mais


confusos na língua portuguesa. Todo mundo usa, mas ela
expressa idéias que não têm relação alguma umas com as
outras. Por exemplo: "Eu preciso de férias" é uma maneira
civilizada de dizer que eu estou ficando cansado do desgaste
diário do trabalho. "Eu preciso do respeito da minha esposa"
revela uma convicção de que eu terei uma deficiência
psicológica se minha esposa não consertar essa necessidade
psíquica observada. "Eu preciso de água" é uma maneira de
expressar uma necessidade biológica real, qu e, quando negada,
na verdade conduzirá a uma saúde deficiente ou à morte. "Eu
preciso de sexo" normalmente expressa um coração sensual,
mas o coração engana a si mesmo pensando que está pedindo
somente por uma necessidade biológica.
Alguns significados são quase neutros: uma esposa
diz ao seu marido: "Nós precisamos de um litro de leite e
alguns pãezinhos." Outros significados são carregados de
complicações: o marido retruca: "Eu preciso que você desça
a minha mala". Entre todos esses usos da palavra "precisar",
existem três grupos diferentes de significado: necessidades
biológicas, necessidades espirituais e necessidades psicológicas.
Necessidades Biológicas. As necessidades biológicas são
muito diretas. Nós precisamos de alimento, de água, e de
abrigo; caso contrário, morremos. Esse é um uso comum da
palavra "precisar" nas Escrituras. Jesus nos exorta a não nos
preocuparmos com o que iremos comer, ou beber, ou vestir,
porque "vosso Pai celeste sabe que necessitais de todas elas".
(Mateus 6:32).
Esta categoria tem se tomado confusa apenas recentemente.
Por exemplo: "Eu preciso de uma cerveja", tem migrado
para essa categoria por décadas. O álcool não é mais aquele
que satisfaz um desejo que resulta de experiência, prática e
desejo; antes, o "precisar" é visto como uma pressão biológica
quase irresistível. Ou pense sobre o conhecido "Eu preciso
de sexo". Quando isso é empurrado da categoria de desejo e
sensualidade para a biológica, a proposição é de que o sexo
é uma necessidade biológica, quase idêntica ao alimento e à
água. O raciocínio é que uma vez que ele é uma necessidade
biológica, o autocontrole sexual não é natural, e a única
opção é praticar o sexo "seguro". A abstinência, portanto, é
ultrapassada e biologicamente insustentável.
Necessidades espirituais. Um segundo uso da palavra
"precisar" é a necessidade espiritual. Separados de Jesus, nós
somos pessoas desesperadas, necessitadas. Estamos mortos em
nossos pecados, somos inimigos de Deus, estamos condenados
diante dEle, somos escravos de Satanás e de nossos próprios
desejos, e somos desesperadamente incapazes de remediar a
nossa situação ou de agradar a Deus. Essas são claramente as
nossas necessidades mais profundas.
Mas o nosso Deus triuno não nos deixa só. Jesus tem se
tomado aquele que supre as nossas necessidades. Em Jesus, Ele
nos faz vivos, nos reconcilia consigo mesmo e nos chama de
amigos, Ele nos absolve legalmente, e nos redime da escravidão
do pecado e de Satanás. De acordo com a Bíblia, Jesus supre
todas as nossas necessidades de vida e piedade (II Pedro 1:3).
Necessidades Psicológicas. Agora fica complicado. As
fronteiras para a terceira categoria são mais difíceis de se
descobrir. São as chamadas necessidades psicológicas. A
lista das necessidades psicológicas pode ser longa, mas elas
normalmente têm a ver com o que desejamos em nossos
relacionamentos: valorização, aceitação, respeito, admiração,
amor, sentimento de pertencer, propósito, e assim por diante.
Algumas pessoas resumem essa extensa lista em uma única:
a necessidade de amor.
Em nosso país, uma necessidade de amor normalmente
é declarada como tão básica para a natureza humana quanto
as necessidades biológicas e as espirituais. Pode ser tão forte
quanto as nossas necessidades biológicas de comer e dormir.1

1. Tom Whiteman e Randy Petersen, Love Gone Wrong (Amor equivocado) - (Nashville:
Nelson, 1994), 90.
Como já foi citado no capítulo 5, livros do tipo Love Is A
Choice (O Amor é Uma Escolha) declaram que nós temos uma
"necessidade dada por Deus de ser amado que nasce em todo
bebê humano. É uma necessidade legítima que deve ser suprida
do berço à sepultura. Se as crianças não receberem amor - se
essa necessidade primordial de amor não for suprida - elas
carregarão as cicatrizes por toda a vida.2 Mas existem duas
perguntas que raramente são feitas sobre essa necessidade de
amor. Primeiro: já que todos nós concordamos que o amor é
um desejo humano universal, como justificamos a elevação do
desejo para uma necessidade dada por Deus? Há uma grande
diferença entre as duas palavras. Segundo, e talvez mais
importante: qual o propósito de ter essa necessidade suprida?

A resposta para a primeira pergunta geralmente é: "Deus


nos criou à Sua imagem e disse que não é bom estarmos
sós. Portanto, nós precisamos de pessoas." Isso faz sentido
biblicamente. Existe um caminho no qual precisamos de
pessoas. Mas isso leva à segunda pergunta: Para que, de
acordo com a categoria das necessidades psicológicas,
precisamos das pessoas? De acordo com a categoria das
necessidades espirituais, precisamos delas para nos exortar
sobre as inclinações para o pecado, para nos apontar para o
amor de Jesus, para ajudar a carregar os nossos fardos, e para
muitas outras coisas. E sobre a categoria das necessidades
psicológicas?

Embora essa pergunta raramente seja feita, a resposta


costuma estar evidente nos muitos livros que admitem as
necessidades psicológicas. De acordo com o pensamento

2. Robert Hemfelt, Frank Mirrirth, e Paul Méier, Love Is a Choice (Amor é uma Escolha)
- (Nashville: Nelson), 34.
popular, essas necessidades devem ser supridas para
que possamos alcançar o nosso potencial e ter felicidade,
estabilidade psicológica e auto-estima. Simplificando: as nossas
necessidades psicológicas devem ser supridas para que nos sintamos
bem conosco mesmos.

Necessidades Biológicas Necessárias para a Vida Física Alimento, água, roupas, abrigo

Necessidades Espirituais Necessárias para a vida Perdão dos pecados, adoção,


espiritual, fé, obediência... santificação, glorificação

Necessidades Psicológicas Necessárias para Am or, valorização, segurança


felicidade e aceitação... e auto-estima...

Figura 1. Usos Comuns da Palavra Necessidade

Sabemos que somos criados para viver em relacionamento


com outras pessoas, e nesses relacionamentos devemos
amar, encorajar e consolar uns aos outros, mas é propósito
desses relacionamentos elevarem a nossa auto-estima? A
primeira vista a Bíblia pode apoiar a idéia de que temos uma
necessidade de demonstrar amor aos outros, mas é mais difícil
encontrar um versículo que diga que temos uma necessidade
dada por Deus de receber amor para que possamos nos sentir
melhor. Onde a Bíblia fala sobre essas necessidades?

Necessidades: Uma Experiência na Busca


de Uma Prova Textual

Quando definidas apenas parcialmente, as necessidades


psicológicas parecem completamente normais, mas agora, com
o seu objetivo revelado, essas necessidades parecem um pouco
egocêntricas, e será difícil encontrar apoio para elas na Bíblia.
Pessoas sérias, porém, têm encontrado essas necessidades
na Bíblia. Elas sugerem que as necessidades dadas por Deus
podem ser encontradas em qualquer uma das duas categorias
bíblicas manifestas: a pessoa como corpo-alma-e-espírito e
a pessoa como criada-à-imagem-de-Deus. Talvez você não
estivesse esperando uma excursão teológica pelo caminho para
tratar com o temor das pessoas, mas as nossas vidas continuam
fora da nossa teologia - o nosso entendimento sobre Deus e
sobre nós mesmos. Portanto, é fundamental que examinemos
essas proposições.
A pessoa como três substâncias. A visão tripartida da
pessoa - significando que somos corpo, alma e espírito - foi a
primeira categoria bíblica solicitada para carregar o peso das
necessidades psicológicas. A idéia comum é que o corpo físico
tem necessidades físicas, a alma tem necessidades psicológicas
e o espírito, necessidades espirituais. Conseqüentemente, a
pessoa com necessidades físicas procura um médico, a pessoa
com necessidades psicológicas procura um psicólogo ou
conselheiro e a pessoa com necessidades espirituais, um pastor.
Esta fórmula básica, porém, tão simples e bíblica como
parece, tem algumas implicações involuntárias. Ela tem dado
basicamente a permissão à psicologia secular para formar um
terço da pessoa. A "alma" torna-se uma categoria em branco
para ser preenchida com teorias psicológicas arriscadas.
Como a medicina tem contribuído com muitos detalhes
para a categoria do corpo, então a psicologia secular pode
agora contribuir para (ou implantar totalmente) o nosso
entendimento da alma. E de qualquer maneira, a necessidade
de uma análise bíblica minuciosa do que dizemos sobre ela
parece passar desapercebido por nós; parece que já fizemos
isso antes chamando a categoria de "alma". Porém, devemos
perguntar primeiro se ao menos temos uma almà que é
claramente distinta do espírito.
A visão tripartida da pessoa existe porque existem
diferentes nuanças de significado para espírito e alma. Como
a maioria das palavras, essas duas têm limites indistintos.
Elas não são palavras técnicas como "elétron", mas são
mais parecidas com a palavra "necessidade", derivando muito
de seu significado do contexto em que aparecem. A questão,
porém, é se essas nuanças de significado são suficientes para
sugerir que espírito e alma sejam duas substâncias criadas
distintas. Ou, o espírito e a alma (como "coração", "mente",
"consciência") são pontos de vista levemente diferentes de um
único homem interior, imaterial (II Coríntios 4:16)?

Um grande número de passagens bíblicas sugere que o


homem é melhor compreendido como duas substâncias - física
e espiritual - que estão juntos apesar de poderem ser separados
pela morte. Deste ponto de vista, os termos "espírito" e "alma"
enfatizam diferentes aspectos da mesma substancia. Eles
são essencialmente permutáveis, mas oferecem diferentes
perspectivas sobre a pessoa fora da matéria. Por exemplo:
Mateus 10:28 sugere que o homem é duas substancias: corpo
material e a alma imaterial: "Não temais os que matam o corpo
[substância material] e não podem matar a alma [substância
imaterial]." I Coríntios 7:34 também sugere que somos duas
substâncias - material e imaterial - mas elas são mencionadas
como corpo e espírito e não como corpo e alma. Tiago 2:26
concorda com essa dualidade e refere-se a ela usando "corpo"
e "espírito": "... o corpo sem espírito é morto...".

As duas passagens citadas com mais freqüência para a


visão das três partes ou a visão tricotomista do homem são (I
Tessalonicenses 5:23 e Hebreus 4:12) afirma: "Porque a palavra
de Deus é viva e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir
alma e espírito, juntas e medulas, e apta para discernir os
pensamentos e propósitos do coração." Alguns acham que
isso refere-se à separação das partes do homem. Isso é: a
Palavra de Deus pode separar a alma do espírito; portanto,
elas são duas substâncias que fazem parte do homem como um
todo. Porém, se a intenção da passagem é falar tecnicamente
sobre as partes do homem, então há no mínimo quatro
substâncias que formam o todo: a alma, o espírito, o corpo
(juntas e medulas), e o coração (com o coração dividido em
pensamentos e propósitos). E mais provável que a passagem
sugira que a Palavra de Deus penetra o aspecto indivisível do
homem. Ela chega até o mais profundo do ser. Ela chega dentro
da substancia do homem, não entre, como se estivesse nos
fatiando em pedaços precisos. O fato de o homem interior ser
citado como alma, espírito e coração é uma maneira poética de
enfatizar que todo o ser está envolvido. Por exemplo, Marcos
12:30 mostra que devemos amar "o Senhor teu Deus de todo
o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento
e de toda a tua força." O acúmulo de termos é usado para
expressar inteireza. É uma maneira poética de enfatizar que
amar a Deus é uma reação da pessoa como um todo.
O máximo que a Bíblia pode dizer sobre a distinção entre
alma e espírito é que "alm a" enfatiza o homem em uma
existência enfraquecida, terrena e "espírito" realça o fato de
que a nossa vida procede de Deus. Nenhum termo sugere
que fomos criados com uma categoria distinta chamada de
necessidades psicológicas. Ao contrário, eles estão sobrepondo
palavras que se referem ao homem interior, o aspecto imaterial
da humanidade, ou a pessoa que vive diante do Santo Deus.
Portanto não podemos encontrar aqui necessidades
psicológicas.
A imagem áe Deus no homem. A outra categoria que é usada
como base bíblica para as necessidades psicológicas é a imagem
de Deus no homem.
Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o
criou; homem e mulher os criou. (Gênesis 1:27)
Esta é a doutrina central para o entendimento do homem.
E tão importante que todo estudioso da Bíblia deveria ter
uma definição fiel do que significa e a diferença que faz ser
criado à imagem de Deus. As necessidades psicológicas são
encontradas aqui? Se não, então não são necessidades dadas
por Deus.

PECADO DEPENDENCIA
Preenchendo {ou fé)
minhas Preenchendo
necessidades minhas
com pessoas e necessidades
objetos com Cristo

Minha essência básica é que possuo


uma necessidade de relacionamento,
dada por Deus

Figura 2. Modelo de Necessidades Psicológicas

A maioria dos crentes iria sugerir que a imagem de Deus


no homem tem algo a ver com o que é semelhante entre Deus e
o homem. De acordo com a teoria da necessidade psicológica,
o que é semelhante é que ambos, Deus e o homem, têm um
profundo desejo por relacionamento (ou amor). Esse desejo é
definido como uma experiência subjetiva que é mais profunda
do que a emoção. E uma paixão por relacionamento. Para
Deus, isso significa que Ele existe em um relacionamento
alegre consigo mesmo - Pai, Filho, Espírito Santo. Significa
também que Deus anseia pela restauração do relacionamento
com Seus filhos.3
Portanto, de acordo com esta teoria, a essência de ser
portador da imagem é que "todos nós ansiamos pelo que Deus
planejou para o nosso contentamento: relacionamentos livres
de tensão cheios com uma aceitação profunda, amorosa e com
oportunidades de fazer diferença para uma outra pessoa.4
"Cada um de nós deseja ardentemente alguém que nos veja
exatamente como somos, com nossos defeitos e tudo mais, e
ainda nos aceite".5Sem esse desejo suprido, somos taças vazias.
Como lidar com os meus desejos? Torna-se, então, a
dúvida fundamental da existência humana. De acordo com
a teoria, nós respondemos esta pergunta em uma de duas
maneiras. Ou agimos independentemente de Deus e buscamos
preencher-nos com outros objetos ou pessoas, ou olhamos para
Cristo e suprimos as nossas necessidades de relacionamento
nEle (figura 2).
Quando este modelo é avaliado pela nossa experiência,
parece encaixar-se perfeitamente. Como qualquer outro
modelo influente, este modelo tende a "funcionar". Parece
evidente por si mesmo. Mas é evidente por causa da poluição
cultural ou por causa do ensino claro das Escrituras?
Observe uma das implicações sobre Deus. Não há dúvida
alguma que Deus ama o Seu povo, mas o ponto de vista dos
"anseios" de Deus provoca algumas questões incomodas.

3. Larry Crabb, Understanding People (Compreendendo as Pessoas) -Grand Rapids: Zonder-


van, 1976), 94.
4. Larry Crabb, Inside Out (Virado pelo Avesso) - (Colorado Springs: Nav Press, 1991),
53-54.
5. Larry Crabb, Understanding People (Compreendendo as Pessoas), 112.
"Ansiar" não parece com "querer desesperadamente" ou
"precisar"? Isso não sugere que Deus é incompleto sem
relacionamento conosco? Não sugere que o próprio Deus tem
uma deficiência que deve ser suprida por nós? A verdade é
que Deus nos ama por causa do Seu próprio prazer soberano
e por amor à Sua própria glória. A Sua glória é ainda maior
quando entendemos que Ele não precisava nos amar.
Observe também o que uma teoria baseada na necessidade
sugere sobre nós. Ela diz que devemos ter um problema
de desejos que é no mínimo tão profundo quanto o nosso
problema do pecado. Na prática isso quer dizer que se um
pastor trata a fofoca de uma pessoa como pecado, o fofoqueiro
pode dizer que o conselho é superficial. "O pastor não
entendeu o xis da questão. O meu problema é que eu preciso
de relacionamento. Eu sou solitária." Pode ser verdade que
a fofoqueira queira desesperadamente um relacionamento,
mas também é verdade que a explicação mais profunda, mais
secreta para a sua tagarelice é o seu próprio pecado. Sua fofoca
é uma expressão de um coração que grita: "Eu quero." E um
compromisso com o "eu" e contra Deus. A causa do pecado
é... pecado. Afirmar que a solidão é a raiz real do problema é
minimizar a natureza do pecado contra-Deus e incentivar a
transferência de culpa.

Se pensarm os que o pecado é de alguma m aneira


superficial, então, não compreendemos a verdadeira natureza
do pecado.
Quando as necessidades psicológicas, e não o pecado,
são vistas como o nosso problema principal, não só a nossa
autocompreensão está afetada, mas o próprio evangelho
está alterado. Uma teoria sobre necessidades sugere que
o evangelho é, mais fortemente, planejado para suprir as
necessidades psicológicas. Em outras palavras, o evangelho
está apontado para o problema da nossa auto-estima. Ele está
apontado para a nossa tendência de dar ênfase às nossas falhas.
Ele foi planejado para ser uma declaração do amor de Deus
dizendo que "Deus não faz porcaria."

Parece bom pra nós, mas não é o evangelho. As boas


novas de Jesus não foram planejadas para nos fazer sentir bem
conosco mesmos. Em vez disso, as boas novas nos humilham.
Em Isaías 6, por exemplo, a presença de Deus primeiramente
destruiu a visão que Isaías tinha de si mesmo, depois o
purificou e o libertou de si mesmo e de seus próprios desejos
pecaminosos. Após a sua purificação e libertação simbólicas,
Isaías estava livre para ser menos preocupado consigo mesmo
e mais preocupado com o plano de Deus.

Jesus não morreu para elevar a nossa auto-estima. Antes,


Jesus morreu para trazer glória ao Pai, redimindo o povo da
maldição do pecado. Claro, a cruz tem muitos benefícios, um
deles é que nós não estamos mais expulsos da presença de
Deus e temos intimidade com o Santo. Mas a cruz trata com
o nosso problema do pecado, a nossa necessidade espiritual.

Os relacionamentos humanos, também, são afetados por


esta teologia das necessidades. Por exemplo: o casamento
torna-se um encontro de necessidades mútuas. A primeira
vista, isso parece se encaixar à experiência do casamento, e
também parece estar de acordo com a visão de amor da Bíblia.
As pessoas recebem a ordem para amar porque (deste ponto de
vista) nós precisamos de amor. E possível, porém, que sejamos
chamados para amar não porque as outras pessoas estão vazias
e precisam de amor (para se sentirem melhor), mas porque
através do amor imitamos a Cristo e trazemos glória a Deus.

Observe o que acontece quando um marido precisa de


amor, na forma de respeito, de sua esposa. Seu pensamento
é que Deus o fez com essa necessidade, e sua esposa é
obrigada a supri-la - o próprio Deus deu a ordem a ela. Como
conseqüência, ele acredita que merece respeito, e que tem
direito de ficar zangado quando sua esposa não supre essa
necessidade.

Quando temos um desejo por respeito e não o recebemos,


ficamos magoados. Se temos uma necessidade por respeito,
ficamos desolados ou furiosos.

As ordens de Deus para amar, ouvir, carregar os fardos, ou


lavar os pés não implicam que temos necessidades psicológicas
para essas coisas. Talvez possamos dizer que precisamos
oferecê-las, mas a Bíblia não sugere que devemos tê-las para
nos fazer sentir melhor. Em vez disso, a Bíblia questiona o
propósito todo das necessidades psicológicas. Ela fala sobre
negar o eu em vez de sentir-se melhor. Fala sobre orgulho, não
uma necessidade de uma auto-estima mais elevada. Também,
é um raciocínio errado criar uma conexão entre as ordens de
Deus e a nossa "necessidade" de receber o que é ordenado. Se
aplicar o raciocínio ao mandamento "considerando cada um os
outros superiores a si mesmo" (Filipenses 2:3), você chegará
à conclusão que está claramente errado. Você concluiria que
uma vez que os outros receberam essa ordem, você tem uma
necessidade dada por Deus de ser mais importante do que as
outras pessoas!

De Onde Vêm as N ecessidades Psicológicas?

Como, então, devemos entender biblicam ente essas


necessidades que sentimos? Onde podemos encontrá-las na
Bíblia? Não há nenhuma evidência clara de que elas sejam uma
parte distinta da nossa natureza dada por Deus, mas elas são
reais. Se a Bíblia não falasse sobre o assunto, seria silenciosa
sobre uma experiência humana importante, quase universal.
Em vez de olhar para este conceito no tempo da criação,
quando fomos criados à imagem de Deus, talvez devêssemos
olhar para após o pecado de Adão. Após a queda no pecado,
as pessoas continuavam sendo portadoras da imagem, mas
a desobediência de Adão trouxe mudanças fundamentais à
nossa capacidade de refletir a imagem de Deus. A direção do
coração humano tornou-se orientada não para Deus, mas para
o ego. No jardim, o homem começou a repetir um mantra que
irá continuar até a volta de Jesus. Adão disse: "Eu quero". "Eu
quero glória pra mim mais do que dar toda glória a Deus."
"Eu amo os meus próprios desejos mais do que amo a Deus."
Isso veio a ser conhecido como cobiça, ambição ou idolatria.
E possível que o "Eu quero" de Adão seja a primeira
expressão das necessidades psicológicas? E possível que os
anseios psicológicos venham quando recusamos amar a Deus
e receber o Seu amor? Não foi culpa de Adão que o impulso
da vida humana começou a movimentar-se para dentro em
direção aos desejos do ego, e não para fora, em direção ao
desejo de conhecer e fazer a vontade de Deus?
Isso não é dizer que ter prazer em ser amado foi o pecado
original. Claro que não. Uma vez que fomos planejados pelo
Amoroso, deveríamos nos deleitar em amar e ser amados. Seria
desumano se ofendêssemos profundamente quando rejeitados
ou fossemos vitimas do pecado de outros. O problema não é
que desejamos o amor, o problema é o quanto o desejamos ou
para que o desejamos. Nós o desejamos tanto que ele ofusca o
nosso desejo de sermos imitadores de Deus? Nós o desejamos
para o nosso próprio prazer ou para a glória de Deus?
O anseio tem muito em comum com a cobiça. Eles
começam bem (um desejo de ser amado) e terminam nos
escravizando. Elevar o nosso desejo por amor, impacto (união),
e outros prazeres até o ponto onde eles tomam-se necessidades
ou anseios é exaltar de uma maneira pecaminosa o desejo de
modo que ele venha a tornar-se um delírio do desejo. E gritar:
"Eu quero" "Eu tenho que ter!" "Os meus desejos são as pedras
fundamentais do meu mundo!"
Pense sobre as vezes em que você se sentiu controlado
por outras pessoas - vezes em que elas "fizeram você ficar"
zangado ou deprimido. Agora veja pelo aspecto da escravidão.
Como você completaria a frase: "Eu preciso____________ "
ou "Eu anseio p o r__________ "? A frase ficaria mais correta
assim: "Eu quero"__________ [amor, segurança, valorização,
poder] e não estou conseguindo!" "Eu exijo___________ !" Eu
insisto e m __________ !" ou "Eu não consigo trabalhar/viver/
obedecer sem __________ !"
Isso explica porque Cristo às vezes não é suficiente pra nós.
Se eu ficar diante dEle como um copo esperando ser cheio com
satisfação psicológica, nunca me sentirei completo. Por quê?
Primeiro, porque as minhas ambições não têm limites; pela sua
própria natureza, não podem ser satisfeitas. Em segundo lugar,
porque Jesus não pretende satisfazer os meus desejos egoístas.
Pelo contrário, Ele pretende quebrar a taça das necessidades
psicológicas (ambições), não enchê-la.
Um filme evangélico contava a história de um adolescente
sendo convencido a aceitar a Cristo com a promessa de notas
melhores após a conversão. Confie em Cristo, tire notas
melhores - parece ótimo! Acrescente apenas outros poucos
benefícios como dinheiro, uma namorada atraente, e o carro
da família, e todos os adolescentes se converterão. Mas isso
não é justamente apelar para as ambições em vez de oferecer a
libertação e o perdão por elas? O evangelismo israelita nunca
sugeriu que os vizinhos idólatras começassem a adorar o Deus
verdadeiro porque Jeová daria uma colheita melhor do que
os seus ídolos.
Em vez disso, as pessoas eram, e são, chamadas para
desistir de seus ídolos porque a idolatria é contra Deus.
Olhar para Cristo para suprir as nossas necessidades
psicológicas é cristianizar as nossas ambições. Nós estamos
pedindo a Deus que nos dê aquilo que desejamos, para que
possamos nos sentir melhor, ou para que tenhamos mais
felicidade, não santidade em nossas vidas.
Isso nos faz lembrar que uma das formas que temos é a
de pecadores. Pecador não é mais a nossa forma principal
ou a nossa identidade, mas é uma identidade que ainda
conservamos. Um dia seremos a noiva completamente bela,
mas até esse dia continuamos sendo pecadores que pecam.
Esse residente "Eu quero" é mais do que algo que fazemos
de vez em quando. É formado no tecido da nossa vida de tal
modo que faz parte de quem nós somos. Por exemplo: você é
puro quando dorme? Eu vou ser ainda mais específico. Você
é puro quando está dormindo e não sonhando? A resposta
bíblica com certeza é não. E como se me perguntassem: "Você
ainda é o 'Ed' quando está dormindo?" "Pecador" é uma
descrição no presente do indicativo de todos, inclusive os
que já confiaram em Cristo. E claro, aqueles que já chamaram
Jesus de "Senhor" estão justificados, significando que não são
mais culpados. Também, eles receberam o Espírito, que os
faz escravos de Cristo e não do pecado. Mas todos nós ainda
somos pecadores. A perfeição está reservada para a eternidade.
Como pecadores que pecam, nós estamos em débito com
um Deus santo. Nós devemos a Ele uma submissão, glória,
louvor e honra perfeitos, mas não temos pago nada porque
estamos completamente na miséria. Portanto, uma das nossas
maiores necessidades é o perdão. "Perdoa-nos as nossas
dívidas", oramos, e Deus, em Cristo, perdoa as nossas dívidas
(Mateus 6:12).
Agora nós estamos realmente em débito com Deus, mas
não é um débito que nos deixa envergonhados. Nós estávamos
em débito com Ele por causa do nosso pecado, e éramos
pessoas em desgraça. Agora, nós estamos em débito com Ele
por causa do Seu perdão, e somos cheios de gratidão. Mas
mesmo isso não é a extensão completa do nosso débito atual.
O nosso Pai Celestial também nos fez filhos e herdeiros.
Ele tem nos dado uma nova família e uma nova identidade.
Além disso, essa é somente a garantia do depósito que Ele tem
preparado para nós. Ele nos assentou em lugares celestiais - na
sala do trono de Deus - e nos deu o privilégio de permanecer
com Ele para sempre.
Ele cancelou a nossa dívida, mas não nos deixou mendigos
sem dívidas. Ele também nos fez ricos. Essa é uma dívida que
pode nos alegrar.
Agora eu compreendo o que me prende ao temor do
homem, embora conheça bem o evangelho. Eu não precisava
apenas crescer no temor do Senhor; eu precisava também
me arrepender. As minhas necessidades, os meus desejos ou
ambições eram grandes. Eram tão grandes que eu olhava para
todos para satisfazê-los, para Deus e para as outras pessoas.
Eu tinha medo dos outros porque as pessoas eram grandes, os
meus desejos eram ainda maiores, e Deus era pequeno.
A razão principal pela qual há uma epidemia desse
sentimento de vazio é que nós temos criado e multiplicado as
nossas necessidades, não DEUS.6

6. A ambição não é a única razão para o vazio. Uma outra explicação surge do fato
de que estamos vivendo em um mundo pecaminoso onde pecam contra nós, e
estamos vivendo em um mundo debaixo de maldição. Por exemplo: se seu cônjuge
morrer, você se sentirá vazio. Você deve sentir-se sozinho. Algo lindo foi tirado
da vida. É um grande sentimento de perda. Esse vazio, porém, é o resultado da
maldição e da morte que se gravam em nossa psique, e não o resultado de sermos
criados com anseios psicológicos.
Para Pensar Um Pouco Mais
Este capítulo descobriu um elo que faltava na maneira
como muitas vezes lidamos com o sermos controlados pelas
pessoas: Nós esquecemos que devemos nos arrepender dos
nossos desejos egocêntricos. Sem arrependimento, os nossos
desejos continuam sendo o foco em vez de a glória de Deus.
Reserve um tempo e pense quantas das suas "necessidades
psicológicas" têm de fato sido desejos e exigências disfarçados.
9
Conheça ai Suai Necessidades Reais

Agora, vamos voltar à questão: Quem somos nós?


Temos refletido sobre como algumas das necessidades que
sentimos não fazem parte da imagem de Deus em nós, mas
não discutimos o que é a imagem de Deus em nós. Quais as
alternativas bíblicas para pessoas como taças vazias?
Uma vez que a imagem de Deus no homem tem a ver
com a nossa semelhança ou similaridade com Deus (Gênesis
3:5), o ponto de partida deveria ser: "Q uem é D eus?"
Qualquer doutrina da imagem de Deus deve mover-se
facilmente e freqüentemente entre o conhecimento de Deus e
o conhecimento de nós mesmos. Somente após conquistarmos
uma compreensão correta de Deus poderemos começar a
perguntar: "Quem é o homem?"
Quem É Deus e Quais São as
Suas “Necessidades”?
Deus e o Seu reino são, falando simplesmente, sobre Deus
- o Deus triuno, o Santo de Israel. Quais são as necessidades
do Deus triuno? Ele não tem necessidade alguma. Ele é
plenamente realizado. O Pai ama o Filho. O Filho é fascinado
pelo Pai e deseja nada mais do que a vontade do Pai. O maior
prazer de Deus é Ele mesmo.1

1. Uma discussão bastante útil sobre este tema pode ser encontrada em The Pleasures
(Os Prazeres), de John Piper.
Pode parecer estranho no começo, mas como poderíamos
esperar que Deus se preocupasse com algo menor que o Seu
ser santo e perfeito? Para Deus, preocupar-se com algo mais
seria idolatria. Seria exaltar a criatura acima do Criador. O
objetivo de Deus é exaltar a Si mesmo e à Sua própria glória.
Ele pretende magnificar o Seu grande nome. "Porque dele e
por meio dele e para ele são todas as cousas. A ele, pois, a
glória eternamente. Amém" (Romanos 11:36).
Observe que uma diferença já tem surgido entre este ponto
de vista e a nova psicologia da necessidade. Nessa psicologia,
a razão natural para louvar a Deus é pelo que Ele tem feito
por mim. Isto está correto, mas não é o suficiente. Do ponto
de vista da Bíblia, Deus merece louvor simplesmente porque
Ele é Deus. O foco natural para os nossos pensamentos não
são os nossos próprios desejos, mas o infinitamente grande
"Deus da glória" (Atos 7:2), o Santo de Israel que reina. Vista e
entendida corretamente, esta glória é totalmente consumidora.
Os israelitas não cantavam porque seus anseios psicológicos
tinham sido satisfeitos; eles exaltavam a Deus simplesmente
porque Ele é exaltado (Êxodo 15:11): "Ó Senhor, quem é
como tu entre os deuses? Quem é como tu, glorificado
em santidade, terrível em feitos gloriosos, que operas
maravilhas?" Ao recitar esse verso, as suas necessidades reais
estavam sendo satisfeitas.
Glória, honra, esplendor, beleza, brilho, majestade - todos
esses são termos intercambiáveis para a grandeza de Deus.
"Santidade" é a palavra que envolve todas elas.
Nós já falamos sobre como a santidade de Deus é manifesta
em Seu amor e justiça. Agora vamos dar um passo à frente.
O amor e a justiça de Deus são manifestos em muitas figuras
ou imagens concretas que podemos imitar. Por exemplo: o
Santo é o noivo amoroso que espera por uma noiva pura. Ele
é o dono da festa que convida a todos para a festa, mas espera
que os convidados vistam as roupas que receberam. Ele é um
redentor amoroso que redime Sião com justiça (Isaías 1:27). Ele
é o juiz sobre toda a terra, mas o Seu próprio Filho tornou-Se
o advogado e representante do Seu povo inglório. Ele é o pai,
mãe, o filho submisso, servo sofredor, amigo, pastor, médico,
aquele que dá sentido à vida, criador e oleiro. Ele é a rocha e a
fortaleza. De fato, imagens ou figuras de Deus estão em toda
parte da Bíblia, e cada figura é uma expressão de Sua santidade.
Esses "instantâneos" concretos que Deus nos dá de
Si mesmo não são somente a maneira de Deus Se adaptar
à linguagem hum ana. Deus não está usando o nosso
entendimento de servos para sugerir que Ele é como um
servo. Não, Deus é o servo, o marido, o pai, o irmão e o amigo.
Qualquer coisa no mundo criado semelhante a essas descrições
de Deus é simplesmente a glória de Deus espalhada pela
criação e entre as criaturas. Sempre que você vê essas imagens,
embora distorcidas em outras pessoas, elas são um reflexo
tênue do original. Eu sou um pai porque Deus é um pai. Eu
sou um trabalhador porque Deus é o trabalhador original.

A SANTIDADE
DE DEUS

revelado por Deus como juiz, pai, mãe,


filho, amigo, irmão, servo, marido,
mestre, oleiro, pastor...

Figura 1. Nosso Deus: O Santo


Todas essas figuras fundem-se em uma única quando você
testemunha a glória ou a santidade em Jesus Cristo, a imagem
exata da glória de Deus (Hebreus 1:3).
"E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça
e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito
do Pai." (João 1:14). Ele é chamado "o Santo de Deus" (Marcos
1:24; João 6:69). Sua paixão, como era de se esperar, foi a glória
do Pai. Por exemplo: antes da Sua crucificação a Sua oração foi:
"Pai, glorifica o teu nome" (João 12:28). Em Sua oração pouco
antes de Sua prisão, Jesus orou ao Seu "Pai santo" (João 17:11)
e "Pai justo" (João 17:25), que o Pai glorificasse Jesus para que
Jesus por sua vez pudesse glorificar ao Pai. O maior desejo do
coração de Jesus era a glória do seu Pai santo, e esse desejo foi
manifesto no amor e justiça de Jesus. Esse é o Único em quem
você deve fitar os olhos quando buscar ser um portador da
imagem do altíssimo Deus.
Quem Somos Nós?
Munido com um entendimento de Deus, a questão "Quem
é o homem?" toma-se razoavelmente simples. Como as pessoas
são semelhantes ao Deus Criador? O objeto da maior afeição
de Deus é Ele mesmo: o Pai, Filho, e Espírito. Ele deseja que a
Sua gloriosa santidade encha a terra. Portanto, a nossa oração
deveria ser: "Santificado seja o Teu nome". As pessoas são
muito semelhantes a Deus quando Ele é o objeto de sua afeição.
As pessoas deveriam deleitar-se em Deus, assim como Ele o
faz. Nós devemos fazer o Seu nome famoso ou santificado por
todo o mundo; devemos declarar a vinda do Seu reino glorioso.
Como diz o Catecismo de Westminster: "O fim principal do
homem é glorificar a Deus e desfrutá-Lo [ou deleitar-se nEle]
para sempre." (Q.l). (Figura 2).
Em vez da imagem de Deus nos seres humanos tomar a
forma de uma taça de amor ou um vale de desejos vitais, a
HOMEM E MULHER
C H A M A D O S PARA
SEREM S A N TO S

Imitando Deus sendo juiz, pai, mãe,


filho, amigo, irmão, servo, marido...

Figura 2. A Pessoa (e a Igreja): Refletindo a Glória de Deus

imagem mais correta é aquela de Moisés literalmente refletindo


a glória de Deus (Êxodo 34:29-32), como a lua refletindo a luz
do sol. Moisés estava radiante porque foi convidado para estar
na presença do Senhor e tanto testemunhou a glória-santidade
de Deus como foi protegido dela.
Por mais maravilhoso que pareça, Deus nos fez, portadores
renovados da Sua imagem, ainda mais gloriosos do que
Moisés. O povo de Deus ainda deve ter a Sua presença para
ser portador da Sua imagem, mas a Sua presença não está
mais limitada a teofanias ou dependente do funcionamento
do tabernáculo. Hoje, o povo de Deus vem à Sua presença
pela fé. Pela fé, temos a glória do Espírito habitando em nós.
Como conseqüência, no lugar da glória que se desvanece
com o tempo, podemos crescer para sermos ainda mais
resplandecentes. "E todos nós com o rosto desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos
transformados de glória em glória, na sua própria imagem,
como pelo Senhor, o Espírito." (II Coríntios 3:18).
Isso significa que a essência da visualização de Deus
é alegrar-se na presença de Deus, amá-Lo acima de todas
as coisas, e viver para a Sua glória, não a nossa própria. A
questão mais básica da existência humana torna-se "Como
posso glorificar a Deus?" - não "Como Deus irá suprir os
meus anseios psicológicos?" Essas diferenças criam muitas
lutas diferentes em nosso coração: um lado puxando-nos
constantemente para fora, na direção de Deus, o outro
puxando-nos primeiro para dentro, na nossa própria direção.
Além disso, em vez da imagem de Deus estar em um lugar
dentro de você - uma parte falsa que é passiva e facilmente
danificada - A imagem que glorifica a Deus é encontrada no
modo em que vivemos. Este sugere que o nosso coração está
sempre ativo, seja trazendo glória para Deus ou para o ego.
Nesse sentido, a imagem de Deus no homem é um verbo. Não
é só o que nós somos; é o que fazemos. A fé, o meio pelo qual
vemos a Deus, é manifesta na maneira como vivemos, como
são os seus muitos sinônimos, como imitando a Deus (Efésios
5:1); representando a Deus (II Coríntios 5:20); espelhando ou
refletindo a glória de Deus (Êxodo 34:29-35); amando a Deus,
e vivendo de acordo com a Sua vontade.
Em última análise, a tremenda responsabilidade e o
glorioso privilégio de ser portador da Sua imagem é manifesta
em simples atos de obediência que têm implicações eternas.
Refletir Deus é amá-Lo e amar ao seu próximo. O amor santo
e a justiça de Deus são manifestos em atos concretos, e assim
também devem ser os nossos. Onde quer que você encontre
fé e confiança, encontrará também pessoas refletindo Deus:
> ’ - Reunindo-se com o povo de Deus, para a glória de
Deus.

Orando pelos outros e pelo mundo, par a glória de


Deus.

3#^ Ouvindo um cônjuge em vez de ficar na defensiva,


para a glória de Deus.

' 3 “ :w Indo para o trabalho, para a glória de Deus.

Tendo prazer no relacionamento conjugal, para a


glória de Deus.

Nos cuidados com os filhos, para a glória de Deus.

Este entendimento da santidade de Deus e o nosso intento


como portadores da imagem de Deus produzem um grande
número de alternativas para a taça de amor. Elas aparecem
em cada página da Bíblia. Você pode encontrá-las na maneira
como Deus fala sobre nós, Seu Filho, e até mesmo sobre Si
mesmo. Com certeza, isso não quer dizer que devemos ser
onipotentes como Deus o é; há algumas qualidades de Deus
que não são compartilhadas pelas Suas criaturas. Mas existem
muitos outros meios pelos quais Deus Se revela que são
modelos a serem seguidos por nós. Vejamos alguns exemplos.

Você é Um Sacerdote
Você já sabe que é um Moisés moderno, que vive na
presença do Senhor. Como conseqüência, sua face brilha
com a presença de Jesus. Este é um outro modo de dizer que
você é um sacerdote de Deus. O povo de Deus é "raça eleita,
sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva
de Deus" (I Pedro 2:9). Este é um modelo ou imagem dado por
Deus. E também um modelo que nós testemunhamos em Jesus,
que é o Grande Sumo Sacerdote. Jesus é o Sumo Sacerdote; nós
também somos sacerdotes quando O imitamos.

Uma vez que isso é o que você é, você deve saber algo sobre
sua história. Os sacerdotes foram chamados por Deus para
representá-Lo de uma maneira exclusiva enquanto serviam
diante do tabernáculo de Deus, a Sua presença. O problema foi
que, como Adão e Eva, os sacerdotes estavam espiritualmente
nus e envergonhados diante de Deus. Eles precisavam da
proteção de Deus para ministrar na Sua presença. Portanto,
Deus lhes fez vestimentas que eram simplesmente vestes reais.
Essas vestes davam a quem as trajava "dignidade e honra"
(Êxodo 28:2 - NVI).

As v estes sa cerd o ta is tinham m u itos acessó rio s


maravilhosos. Por exemplo: o colete sacerdotal era uma bela
peça do vestuário que trazia o nome das doze tribos. Isso nos
faz lembrar que não estamos sozinhos diante do Senhor, mas
estamos unidos com outros crentes. O peitoral era também um
trabalho artesanal usado para tomar decisões de acordo com
a vontade de Deus (Urim e Tumim). Isso nos faz lembrar que
todas as nossas decisões são feitas consultando a Palavra de
Deus. O toque final, e talvez mais importante, porque o turbante
cobria a cabeça. Um turbante em si não é tão importante, a
menos que nos faça lembrar da nossa necessidade da cobertura
(proteção) completa de Deus. Mas o selo gravado no turbante
resume toda a vestimenta, bem como as nossas vidas. Ele dizia:
"Consagrado ao Senhor" (Êxodo 28:36). O sacerdote pertencia
a Deus, representava a Deus, deveria ser santo como Deus é
santo, e vivia para glorificar a Deus.
Através de Cristo, essas vestes estão agora disponíveis a
todos. Elas são dadas liberalmente, mas devem ser usadas. Elas
são essenciais para dar glória a Deus. Se você olhar atentamente
pra elas, verá que essas vestimentas sacerdotais representam as
belas vestes nupciais que o povo de Deus usará na consumação.
Você É Um Cristão
Os sacerdotes modernos também são chamados de
"Crentes". Essa talvez seja a forma ou identidade mais definida
do crente. E uma outra maneira de dizer que somos a família
de Deus. Pode não parecer tão impressionante em uma época
em que os nossos nomes não têm tanto significado, Mas nos
tempos bíblicos, o nome geralmente definia a pessoa.
"Cristão" com certeza nos define. Nós levamos o nome de
Cristo. Somo a sua noiva. Agora a nossa tarefa é fazer famoso
esse nome. Nós somos os arautos e embaixadores em nome de
Cristo que rogamos aos outros que se reconciliem com Deus (II
Coríntios 5:20). Somos pessoas que receberam um novo nome
pela adoção. Além disso, a adoção, não importa o quanto isso
nos faça sentir bem, não foi planejada primeiramente para esse
propósito. No Novo Testamento, as adoções traziam glória à
pessoa que adotava, não ao que era adotado. A adoção glorifica
a Deus.
Outras Figuras do Povo de Deus
Quais outras definições que Deus tem nos dado? Pense o
mais completamente possível, e não esqueça das figuras mais
comuns da Bíblia. Qualquer imagem que Deus mostra de Si
mesmo é um possível modelo para nós. Por exemplo: como
a santidade de Deus é revelada em Seu amor e disciplina
paternais, a nossa imitação pode ser também manifesta na
paternidade. Como a Sua santidade é demonstrada sendo
um trabalhador, assim também deve ser a nossa. Deus tem
nos servido, e assim devemos imitá-Lo e servir aos outros.
Portanto, um pai cristão que reserva um tempo para jogar
futebol com seus filhos está refletindo a imagem de Deus que
passa tempo com o Seu povo. Um filho que arruma a mesa ou
lava a louça do jantar como obediência a Cristo está refletindo
a imagem do Deus que serve e assim glorificando a Ele. Ou um
trabalhador que faz o serviço secular com o desejo de servir a
Cristo está refletindo a imagem do Filho que tem trabalhado
em nosso favor.
Aqui estão apenas algumas maneiras nas quais podemos
imitar o nosso Deus:
>>r Como filhos (I João 3:1).

Como servos (Romanos 6:22).


jt*» Como amigos (João 15:14).

5»»- Como cooperadores (III João 8).

>> Como noivas (Apocalipse 21:3).

>>■- Como guerreiros (Efésios 6:10-18).


'i,*-' Como pedras vivas (I Pedro 2:5).

>»»- Como evangelistas, profetas, pastores e mestres


(Efésios 4:11).

Como maridos (Isaías 54:5).

Todas essas identidades são meios de glorificarmos a Deus.


De Que Realmente Nós Precisamos?
Então, além do perdão dos pecados, nós temos alguma
outra necessidade? Precisamos ou não de relacionamentos?
A resposta depende de o que você entende por precisar. Se
estivermos falando sobre necessidades psicológicas, a resposta
é não, nós não precisamos de relacionamentos - com Deus ou
com pessoas - para satisfazer os nossos anseios de valorização
e amor.2 Seria como dizer que eu preciso de Deus para
satisfazer a minha necessidade de me sentir bem e importante.
As necessidades que servem ao meu ego não precisam ser
supridas; devem ser condenadas à morte.
Mas e sobre o fato de que a Bíblia nos manda amar
uns aos outros? Não significa que necessitamos de amor?
Não necessariamente. Para ser mais correto, significa que
precisamos amar mais do que temos uma deficiência que deve
ser suprida com amor (e significação, valorização e assim por
diante). Tenha em mente que fomos criados à imagem de Deus.
Isso significa que temos recebido dons que nos capacitam a
representá-Lo e imitá-Lo. Uma vez que fomos criados em
amor e agora somos sustentados pelo amor paciente de Deus,
glorificamos a Deus imitando o Seu amor permanente. Nós
amamos não porque as pessoas têm deficiências psicológicas;
amamos porque Deus nos amou primeiro.
A imagem de Deus em nós não é sobre necessidades
psicológicas; é sobre a abundância dos dons que Deus tem
dado ao Seu povo.
Há, porém, um sentido verdadeiro no qual precisamos das
outras pessoas. O fato de Deus ter criado Adão e Eva indica
que a imagem de Deus no homem não poderia estar completa
em qualquer pessoa que não fosse divina. Refletir a imagem de
Deus não poderia ser feito isoladamente; é feito em parceria.

2. Muitos têm sugerido que o fato das crianças necessitarem de estímulos tais como
abraços e outras expressões de amor para que elas se desenvolvam ou mesmo
vivam, significa que nós temos profundos anseios psicológicos. Penso que não. É
como comparar maçãs com laranjas. E incorreto falar sobre cobiça e desejos por
relacionamento na infância. Poderia mais precisamente afirmar que precisamos das
pessoas para viver. Somos criaturas diariamente dependentes de outras pessoas.
Isto, entretanto, é diferente de colocar nossa fé e confiança nisso.
A Sua glória é infinitamente grande para ser claramente
refletida em apenas uma criatura. A imagem de Deus está
incorporada naquilo que todos nós compartilhamos dela. Em
um sentido muito prático, a ordem de Deus para reproduzir
como um meio de glorificá-Lo é simplesmente impossível para
um indivíduo sozinho. Portanto, Deus criou homem e mulher
como portadores da Sua imagem.

As ordens para reproduzir e subjugar a terra são


precursoras da Grande Comissão do Novo Testamento,
a ordem para pregar Cristo às nações. De novo, isso não
pode ser feito por uma pessoa sozinha. Nós precisamos uns
dos outros. Para o trabalho missionário, nós precisamos
de agricultores, m otoristas de cam inhão, engenheiros,
empreiteiros, comerciantes, missionários, mães, pais, pastores,
professores de Escola Dominical, e zeladores. A diversidade
de dons é essencial se a igreja quiser funcionar conforme
planejada por Deus (I Corintios 12:12-27). Os portadores da
imagem de Deus não são Cavaleiros Solitários.

Portanto, a Bíblia deixa claro que nós somos pessoas


carentes.

1. Nós fomos criados com necessidades biológicas.


Precisamos de alimento e proteção contra as condições
rigorosas do tempo. Precisamos de Deus e, em segundo lugar,
de outras pessoas para satisfazer essas necessidades.

2. Nós somos pecadores que têm necessidades espirituais.


Fora da obra redentora e sustentadora de Cristo, estamos
mortos espiritualmente. Precisamos de Jesus. Precisamos
aprender dEle e sermos repreendidos em amor quando nos
afastamos dEle. Além disso, como será explicado no próximo
capítulo, precisamos conhecer o Seu imenso amor.

3. Somos criaturas criadas como pessoas com dons e


habilidades limitados. Todos os dons de Deus não estão
contidos um uma única pessoa. Portanto, precisamos dos
outros para realizar os propósitos de Deus e refletir mais
corretamente a Sua glória ilimitada.

Se existe alguma dúvida sobre as nossas reais necessidades,


podemos examinar algumas das orações da Bíblia. As orações
são, afinal, os gritos do coração carente. E no desespero das
orações registradas na Bíblia que podemos ver o que realmente
precisamos. E também nessas orações que podemos descobrir
que Deus sente prazer em dar aos necessitados.

É assim então, que você deve orar:

"... Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome;
venha o teu reino, faça-se a tua vontade, assim na terra como no
céu; o pão nosso de cada dia dá-nos hoje; e perdoa-nos as nossas
dívidas, assim como nós temos perdoado aos nossos devedores; e
não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal"(Mateus
6:9-13).
O primeiro pedido da Oração do Senhor é que o nome
de Deus seja santificado, ou considerado como santo. Essa
é a nossa maior necessidade; esta é a maior necessidade
do mundo. A oração não fala nada sobre necessidades
psicológicas. Não fala nada sobre felicidade pessoal na terra!
Fala sim sobre as nossas necessidades, mas as necessidades são
biológicas e espirituais, e mesmo essas não são prioridades.
A maior necessidade de toda a humanidade é que Deus seja
reconhecido e adorado como o Santo de Israel.
Não muito tempo antes da morte de Jesus, Ele orou ao
Pai. Para Jesus, a oração era um acontecimento diário, mas
esta oração foi única. Primeiro, ela está registrada. Das muitas
vezes que Jesus orou durante a noite, esta é uma das poucas
orações que temos o privilégio de escutar. Em segundo lugar,
por ter sido pouco antes da crucificação, deve ter sido uma das
orações mais desesperadas feitas por Jesus. Como tal, ela nos
dá uma idéia do que realmente era importante pra Ele. Nós
descobrimos o que realmente Ele precisava.
Ela segue o modelo da oração em Mateus 6.
"... Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho
te glorifique a ti; ...Não peço que os tires do mundo; e sim, que
os guardes [aqueles que crerão em Jesus] do mal... Santifica-os
na verdade... (João 17:1,15,17).
Há duas súplicas principais: (1) que Deus seja glorificado,
e (2) que o povo de Deus cresça em obediência. Essas eram as
duas necessidades básicas de Jesus. E são as nossas também.
Uma das orações mais conhecidas nas Epístolas é a oração
de Paulo em Efésios 3:
"Por esta razão me ponho de joelhos diante do Pai, de quem
toma o nome toda família, tanto no céu como sobre a terra,
para que, segundo a riqueza da sua glória, vos conceda que
sejais fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no
homem interior; e assim habite Cristo nos vossos corações,
pela fé, estando vós arraigados e alicerçados em amor, afim de
poderdes compreender, com todos os santos, qual é a largura, e o
comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo, que excede todo entendimento, para que sejais tomados
de toda a plenitude de Deus." (Efésios 3:14-19)
Ah! Essa é a volta da taça do amor? Paulo está orando
para que as nossas taças de amor sejam cheias? Talvez
devêssemos pular esta oração! Mas, então, de novo, pode ser
que estejamos lendo necessidades psicológicas na oração em
vez de compreender o que Paulo está orando na verdade.
Existem duas coisas que devemos lembrar sobre esta
passagem. Primeiro: Paulo está usando a metáfora de uma taça,
mas não é a taça das necessidades psicológicas. É uma taça
de necessidades espirituais. Embora a taça das necessidades
psicológicas esteja sendo quebrada, uma de nossas formas
remanescentes é uma taça. Essa taça não é, porém, uma taça
que diz: "Jesus, faça-me feliz", ou "Jesus, faça me sentir melhor
comigo mesmo". E uma taça que diz simplesmente: "Eu preciso
de Jesus". "Eu sou um mendigo espiritual que não consegue
orar, obedecer, ou mesmo ter vida física longe do amor de
Cristo". "Eu estou morto separado de Cristo, e preciso de Sua
graça a cada instante." Para essas necessidades, Jesus derrama
o Seu amor em tal proporção que é impossível que uma única
pessoa possa contê-lo.
Isso nos leva ao nosso segundo ponto, que é o que essa
linda oração de Efésios significa para nós. O "vos" sobre quem
Paulo está orando fala claramente sobre "vocês", no plural -
"todos vocês". Ele está falando ao corpo de Cristo em Efeso. O
conhecimento sobre o que ele ora está contido em "com todos
os santos", e o resultado desse conhecimento é que "todos
cheguemos à unidade da fé e do pleno conhecimento do Filho
de Deus" (Efésios 4:13). Nós espelhamos mais nitidamente a
Cristo quando existe unidade entre o povo de Deus (Efésios
2:19-22). Essa unidade é alcançada não quando somos taças
psicológicas, mas quando somos servos de Deus.
Com certeza, isso admite que os indivíduos devam
conhecer o amor de Cristo.
Mas os mesmos indivíduos devem entender que, sozinhos,
não constituem o corpo de Cristo. É preciso toda a igreja para
fornecer uma vaga imitação da glória de Deus. Essa tem sido
a mensagem por toda as Escrituras.
De acordo com Efésios, o que realmente nós precisamos?
Precisamos ser um corpo unido, impressionado com a glória
de Deus, comprometido com a unidade da igreja, inundado
pelo Seu amor, e confiantes enquanto caminhamos juntos em
obediência a Ele, mesmo em nosso sofrimento. Precisamos
depender menos das outras pessoas e amá-las mais.

Tudo isso fecha o círculo. A questão era: Quem somos nós?


Mas a nossa resposta nos deixa olhando para Jesus. Não pode
ser de outro jeito. Um conhecimento exato de nós mesmos nos
leva a olhar para Jesus. Afinal, devemos nos encher com Cristo
e, como espelhos, refletir a Sua glória. Para sermos reflexos
verdadeiros da santidade de Deus, devemos olhar para Jesus,
a verdadeira imagem de Deus. Nós somos descendentes que
aspiramos ser como o nosso Pai. Por isso observamos o Pai em
ação. Imitamos a Sua santidade.

Para Pensar Um pouco Mais


Este capítulo esclarece a perspectiva bíblica sobre quem
nós somos. O seu foco tem sido a imagem de Deus em nós.
Você já tem uma definição resumida? Ser criados à imagem
de Deus significa que somos como Deus em todos os modos
que uma criatura pode ser como Ele, para louvor da glória de
sua graça (Efésios 1:6,12,14). Isso mostra que Deus nos deu
dons para servir em vez de necessidades de sermos servidos.
Qualquer outro ponto de vista não é bíblico e irá por fim levar-
nos em direção ao sofrimento em lugar da alegria.

1. Escreva trinta aplicações da súplica: "Santificado seja


o teu nome". Como você pode santificar o nome de Deus no
trabalho? No descanso? Com sua família? Na igreja?

2. Comece a ler algumas das orações da Bíblia através das


lentes de "Isso é o que eu preciso".

3. Avalie como esse conhecimento de Deus e o conhecimento


de si mesmo, podem encorajá-lo a dar pequenos passos de
obediência em seu trabalho e relacionamentos.
10
Deleite-te Em Deus Que Nos Satisfaz

"Nenhum homem pode examinar a si mesmo, mas deve


voltar-se imediatamente à contemplação de Deus em quem
vive e se move".1
Isso é verdade especialmente depois de ver que muitas
de nossas necessidades são mais corretamente chamadas de
cobiça, e os objetos dessas necessidades são chamados de ído­
los. Enquanto crescemos no autoconhecimento, queremos ter
esse conhecimento combinado com o nosso conhecimento de
Deus. Portanto, arrependendo-nos quando o arrependimento
for necessário, deveríamos ouvir novamente ao que Deus diz
sobre Si mesmo.
Quando ouvimos a Deus após um auto-exame difícil, Deus
revela-Se como Aquele que recebe de volta o arrependido
(II Pedro 3:9). Não um "eu bem que lhe disse". Nenhum
intervalo em uma sala de isolamento espiritual. Em vez disso,
Deus Se alegra que tenhamos voltado a Ele em um modo
mais sincero. Deus promete ao arrependido: "De todas as
transgressões que cometeu não haverá lembrança contra ele"
(Ezequiel 18:22).
Se você não acredita nisso, pare imediatamente a leitura.

1. João Calvino, Institutes o f the Christian Religion (Institutos da Religião Cristã), trad. J.
Allen (Filadélfia: Conselho Presbiteriano de Educação Cristã, 1936), 1.1.1.
Não diga: "Como Deus pôde me perdoar por isso?" (seja o
que for isso).
Não pense que o perdão de Deus é um perdão a
contragosto e com esse pensamento negue um pouco do amor
glorioso de Deus. E não pense que as promessas de Deus são
somente para as outras pessoas. Se for assim que você está
pensando, você deve entender que os seus próprios pecados,
não importando o tamanho deles, não são maiores do que o
prazer de Deus em perdoar.
Esse é um momento em que você deve ser controlado pela
verdade de Deus mais do que por seus próprios sentimentos.
A Palavra de Deus, não os sentimentos, é o nosso padrão.
Ser dirigido pelos nossos sentimentos instáveis de bem-estar
pode parecer espiritual, mas é errado. Ele exalta a nossa
interpretação acima da de Deus. É por isso que é tão importante
voltar-se imediatamente para Deus após qualquer introspecção
guiada pela Bíblia. Quando ouvimos a Deus, Ele fala palavras
que satisfazem uma alma vazia.
Você se lembra dos três aspectos do temor do homem?
1. Nós tememos as pessoas porque elas podem nos expor
e humilhar.
2. Nós tememos as pessoas porque elas podem nos
rejeitar, ridicularizar e desprezar.
3. Nós tememos as pessoas porque elas podem nos
perseguir, atacar ou ameaçar.
Deus não esqueceu os envergonhados, rejeitados ou
ameaçados. Nós já discutimos como Ele nos abençoa e liberta
dizendo: "Temam a mim e a mim somente" Isso é exatamente
o que nós precisamos. Isso nos dá o privilégio de sermos
controlados pelo nosso amável e justo Salvador e não mais
pelas outras pessoas.
Nós também descobrimos que o nosso coração pecaminoso
intensifica toda a vergonha, ameaça e rejeição, e, de novo, o
nosso Deus providencia o tratamento. "Confesse que você tem
se comprometido mais com os seus próprios desejos do que
com os de Deus". Isso nos dá o privilégio de temer a Deus por
causa do Seu amor imenso e perdoador.
Neste ponto poderíamos pensar que Deus tem feito mais
do que o suficiente, e, de fato, Ele tem. Mas o amor de Deus
não conhece fronteiras: a Sua glória é eterna. Ele sabe que nós
ainda experimentamos a vergonha, o medo, e a rejeição nesta
vida. Essas coisas não nos dominam mais, mas, com certeza
machucam.
É então que Deus nos desarma com ainda mais bênçãos.
1. Ao envergonhado e humilhado, Ele cobre e glorifica.
2. Ao rejeitado, Ele aceita e glorifica.
3. Ao ameaçado, Ele protege e glorifica.

PASSO 6 Alegre-se que Deus cobriu toda a sua vergonha,


protegeu-o do perigo, e o aceitou. Ele tem
preenchido você com o Seu amor.
Em outras palavras, Deus satisfaz você. Ele derrama o
Seu amor no nosso coração pelo Espírito Santo, que Ele nos
tem dado (Romanos 5:5). Deus realmente nos enche com a
Sua presença.
Por que não falamos sobre isso antes? Essas notícias não
são muito boas para ficarem em segredo? A razão pela qual
estamos examinando agora é que existe uma condição prévia
para essa bênção. Ela não está disponível pra nós quando
adotamos a forma de uma taça de necessidades psicológicas.
Quer dizer, se queremos ser supridos para nos sentirmos
felizes e melhores conosco mesmos, então nunca iremos ser
verdadeiramente inundados com o amor de Deus. A taça dos
nossos próprios desejos nunca será capaz de reter a enchente
do amor e da bênção de Deus. Pelo contrário, deixa o amor
redentor de Deus menos acessível a nós.
Quando essa taça de "Eu quero" é quebrada, recebemos
um grande número de formas ou identidades que Deus nos
dá: sacerdotes, embaixadores, filhos de Deus e cristãos. Uma
outra é que somos vasos vazios, humildes, necessitados.
Somos taças vazias. Essa taça, porém, representa a nossa
necessidade espiritual do perdão dos pecados, de cobertura
da nossa vergonha, de proteção contra os nossos opressores,
e da aceitação na família de Deus. E um vazio que diz: "Eu
preciso de Jesus". É um vazio que precisa do amor de Deus.
Portanto nós precisamos mesmo do amor de Jesus. Uma
vez que fomos criados pelo Deus Amoroso, nunca estaremos
bem sem conhecer profundamente esse amor. Sem esse amor
estamos mortos física e espiritualmente.
Isso significa que a ambição ou o desejo egoísta não
é a única explicação para o nosso desejo por amor. É
normalmente a razão mais conhecida, mas não está sozinha.
Às vezes o desejo por amor é o resíduo corrompido do nosso
conhecimento de Deus. Quando estamos perdidos em pecado,
sem claros pontos de referência espirituais, tiramos conclusões
erradas e distorcemos esse conhecimento. Pensamos que
é seguro e mais eficaz olharmos para outras pessoas para
diminuir o nosso vazio. Em alguns casos, quando o amor
é suave, poderíamos até mesmo sentir que o encontramos.
Infelizmente, esse sentimento nos engana. Ele reforça a nossa
idéia pecaminosa de que as pessoas poderiam ser a resposta
para a nossa necessidade, por isso buscamos com obsessão.
O amor que desejamos, porém, pode ser encontrado somente
no Deus vivo.
A História de Am or de Oséias
Uma das grandes revelações do amor de Deus por nós
encontra-se no livro de Oséias. O livro na verdade apresenta
duas histórias de amor que correm paralelas. A história
verdadeira é sobre Deus e Seu amor pelo Seu povo. A analogia
terrena é a história de Oséias e Gômer. Oséias e Gômer nos
apontam para o consolo e o amor diligente pelo envergonhado,
ameaçado e rejeitado.

A história de Oséias está repleta de muitas questões.


Por que Deus disse a Oséias para casar-se com Gômer, uma
mulher que provavelmente era uma prostituta e não planejava
parar depois de casada com ele. Deus não se importa com
o casamento? O casamento não deveria ser uma união com
compromisso?

Essas perguntas são exatamente o "x is" da história.


Nenhum de nós poderia imaginar casando-se com alguém
como Gômer. Não havia nada de atraente sobre ela do começo
ao fim. Mas era assim que Oséias conseguiria vislumbrar o
coração de Deus, porque Deus casou-Se com alguém como
Gômer.
Deus estava dizendo a Oséias, de fato: "Você e eu estamos
entregando completamente o nosso coração a alguém que
irá nos rejeitar totalmente. Nós entregaremos todo o nosso
coração, nossa energia, tempo e dinheiro para possuí-las.
Fazendo assim, você, Oséias, entenderá o meu amor fiel por
você e seu povo. Veja, Eu mesmo, sou o marido. A sua vida será
sobre o meu amor. A sua dor apontará para a minha própria
dor. E a sua fidelidade será uma réplica da minha".

Esta era a consagração de Oséias para o ministério.


Enquanto Isaías foi introduzido à sala do trono e testemunhou
a majestade e pureza do Santo, Oséias conheceu Gômer no
banco dos pecadores e testemunhou o amor insondável do
Santo. O amor deveria ser a mensagem de Oséias para Israel.

Quando pela primeira vez falou o SENHOR por intermédio de


Oséias, então lhe disse: Vai, toma uma mulher de prostituições,
e terás filhos de prostituição; porque a terra se prostituiu,
desviando-se do SENHOR. Foi-se, pois, e tomou a Gômer, filha
de Diblaim, e ela concebeu e lhe deu um filho. (Oséias 1:2-3).

A dor da rejeição e da traição começou rapidamente para


Oséias. Pelo menos quando nasceu o seu segundo filho, Gômer
era uma prostituta. O segundo filho de Gômer chamou-se Lo-
Ruama (NVI), que quer dizer Não Amada. Há possibilidade
dessa filha nem mesmo ser de Oséias. Com o terceiro filho,
não há duvidas. Seu nome, Lo-Ami, significa Não Meu Povo.
Nessa época, Gômer vinha e ia conforme lhe agradasse.
Quando lemos sobre esse assim chamado casamento,
nossas mentes dão um salto de Oséias e sua triste condição
para a santa paciência e a fidelidade incessante de Deus para
conosco. Estamos começando a pensar: como Deus poderia ter
pedido que eu fosse Sua noiva? Sem dúvida, a mente de Oséias,
também, estava pulando da sua própria situação para uma
compreensão mais profunda sobre o grande amor de Deus.
Mas os problemas de Oséias não haviam acabado. Depois
de envergonhar tanto a Oséias como a si mesma, Gômer livrou-
se do casamento e deixou Oséias. Iludida por suas paixões, ela
por alguma razão pensou que poderia conseguir algo melhor.
Ela disse: "... Irei atrás de meus amantes, que me dão o meu
pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu óleo e
as minhas bebidas." (Oséias 2:5).
Evidentemente, quando Gômer saiu, Oséias garantiu
que ela tivesse provisões. Ele sabia que os seus amantes não
cuidariam de nada por ela. Eles a deixariam morrer de fome,
se tivessem oportunidade. Por isso Oséias sustentava Gômer,
mesmo atribuindo ela as provisões aos seus amantes. Para
Gômer Oséias estava esquecido, mas tanto Oséias como Deus
disseram: "Ela, pois, não soube que eu é que lhe dei o grão,
e o vinho, e o óleo, e lhe multipliquei a prata e o ouro..."
(Oséias 2:8).
Mesmo com o sustento de Oséias, Gômer foi afinal
rejeitada por seus amantes. Nós podemos apenas imaginar o
quanto aqueles homens abusaram dela. Estupro, prostituição
forçada, e surras provavelmente foram o padrão para ela.
Ela foi tratada como lixo. Tudo o que sobrou pra ela foi a
escravidão.
Gômer agora se foi. Seus adultérios levaram-na quase à
morte. Ela era uma exilada, sem esperanças. Sua vergonha,
seu medo e rejeição não poderiam ter sido mais intensos. Ela
estava exposta no mercado de escravos, nua para que pudesse
ser examinada por compradores em potencial. Quem seria o
próximo a aumentar os abusos sobre ela?
"Disse-me o SENHOR [para Oséias]: Vai outra vez, ama uma
mulher, amada de seu amigo, e adúltera, como o SENHOR ama
os filhos de Israel." (Oséias 3:1)
A ordem nunca foi tão importante. Aparentemente,
ninguém estava impressionado com a mercadoria. Gômer
foi vendida pelo preço de um escravo comum. Após pagar o
preço, Oséias foi até Gômer e fez algo que deve ter deixado
o povo da cidade cochichando uns com os outros: ele cobriu
a nudez dela. Talvez Gômer nem reconhecesse mais Oséias,
mas isso não importava. Seguindo a ordem de Deus, Oséias
imediatamente a tratou como sua esposa. Ele reafirmou a sua
aliança de casamento com ela. Ele disse essencialmente: "Eu
sou seu e você é minha. Eu pertenço somente a você, e você
pertence a mim e a nenhum outro."
Fora o evangelho de Cristo, esta é a maior história de amor
já contada. Você já presenciou este tipo de amor? Eu tenho visto
relances dele. Ele existe por toda a igreja. Mas nada se compara
realmente à história de Oséias e a história divina por trás dela.
Esse é um amor santo. Gômer estava comprometida com os
seus próprios desejos. Ela olhava para qualquer lugar para
ser suprida. Oséias estava comprometido em ser um reflexo
do Marido Divino. Ele sabia que era impossível satisfazer
aos anseios de sua esposa, mas continuou procurando-a,
implorando para que abandonasse os seus próprios desejos
e encontrasse satisfação no amor conjugal. Finalmente, ele a
redimiu. Ele a trouxe de volta.
Como foi tudo isso para Oséias? Nós não sabemos na
verdade. Foi uma vida difícil, cheia de vergonha e tristeza,
mas Oséias não fez as suas considerações pessoais. O que ele
comunica é que simplesmente submeteu-se ao seu Senhor e
obedeceu.
Em que isso se parece com o nosso Espírito Santo? Em
contraste com Oséias, Deus tem nos dado uma idéia profunda
do Seu próprio coração. Podemos perceber em Oséias 11. Mas
antes de examinar o coração de Deus para com o Seu povo,
pense sobre como é inédito para qualquer um compartilhar
abertamente os seus mais profundos sentimentos no meio de
um amor não correspondido. Não é humilhante quando as
pessoas sabem que você é o perseguidor apaixonado que nem
mesmo é reconhecido pela pessoa amada? Você se sente um
tolo. Deus, porém, abre-Se a nós em uma das mais comoventes
passagens da Bíblia.
Na passagem seguinte, lembre-se que nós somos Efraim;
nós somos Israel.
Como te deixaria, ó Efraim? Como te entregaria, ó Israel? Como
te faria como a Admá? Como fazer-te um Zeboim? Meu coração
está comovido dentro em mim, as minhas compaixões à uma se
acendem. Não executarei o furor da minha ira; não tornarei para
destruir a Efraim, porque eu sou Deus e não homem, o Santo no
meio de ti; não voltarei em ira. (Oséias 11:8-9)

Deus começa fazendo uma pergunta: "Como te deixaria?"


Depois Ele dá uma resposta imediata: "Eu não posso! É
impossível. Vocês são meus." Deus diz que não tratará ao Seu
povo rebelde da mesma maneira que Ele permitiu que as duas
cidades irmãs de Sodoma fossem destruídas (Deuteronômio
29:23).

Agora observe a palavra "comovido". Essa é a palavra que


Deus usa para descrever o Seu próprio coração. "Meu coração
está comovido dentro em mim". Essa palavra raramente
é usada na Bíblia como uma descrição de uma experiência
emocional de alguém. Em vez disso, é muito usada para
descrever a ruína e a destruição de uma cidade. Como tal,
quando usada para descrever experiências emocionais, não
implica em algo que mexe com suas entranhas. Deus está
dizendo que suas entranhas estão agitadas por causa do Seu
povo. Não é tanto Deus falando sobre a dor da traição, mas
sim Deus revelando a Sua intensa compaixão por Seu povo.
Revela a profundidade de Seu desejo de trazer o Seu povo de
volta para Si.

Isso surpreende você? A mim também. Eu ainda às vezes


tenho a sensação de que Deus me deixa somente escorregar
na porta do Seu reino. Os bons já estão dentro. Eu fiz isso
porque Deus tinha que me deixar entrar. Eu professei a fé em
Jesus como Senhor ressurreto e Cristo, e, portanto, Deus não
tinha escolha.

Mas Deus tinha uma escolha, e Ele escolheu nos amar com
um amor apaixonado, fiel. A razão pela qual eu de vez em
quando duvido é que penso que Deus é como nós - ou como
eu. Se Gômer fosse minha esposa, meu instinto seria deixá-
la ir e dizer: "Já vai tarde." Eu iria querer superar as minhas
perdas e evitar a humilhação de ir atrás de alguém que me
ignorasse. Mas a passagem diz que Deus não é como eu. Deus
é Deus, e não um homem. "Se somos infiéis, ele permanece
fiel, pois de maneira nenhuma pode negar-se a si mesmo." (II
Timóteo 2:13). Além do mais, não é uma fidelidade impassível.
E vulnerável e apaixonada. E uma fidelidade tão intensa que
Deus a descreve como revirando o Seu estomago.
Com isso você pode entender como é equivocado julgar a
Deus do ponto de vista do que nós faríamos em uma situação.
O temporal e o pecaminoso nunca é o padrão para o santo.
Se julgarmos por nossa própria experiência, iremos admitir
que Deus por fim ficará farto de nós e nos deixará despidos
no mercado escravo. Mas Deus nos diz: "porque eu sou Deus
e não homem, o Santo no meio de ti; não voltarei em ira."
O que conteve a Sua ira, considerando principalmente
que Deus é Amor santo e Justiça santa? A razão pela qual Ele
não veio em ira é que a sua justiça santa estava antecipando o
tempo quando Jesus se tornaria escravo por nós. Ele tomaria
a vergonha e a rejeição que por direito eram nossas. Em seu
lugar, Ele iria nos perdoar e justificar completamente. Ainda
mais, Ele nos glorificaria (Romanos 8:30). Ele nos exaltaria.
Deus olha para a Sua criação da perspectiva da consumação.
Desse ponto de vista Ele vê o que a Sua Gômer será. Ela
será uma noiva radiante, honrada e glorificada. Ela será
apresentada diante da presença gloriosa de Deus sem culpa,
e será recebida por Ele com grande alegria (Judas 24). Se Deus
está amorosamente à busca de uma esposa adúltera (para
trazê-la de volta), você pode ter certeza de que haverá uma
grande comemoração, riso e alegria quando a Sua esposa for
glorificada e estiver em Sua presença para sempre.
A cena será sem elhante a algum as das m elhores
cerimônias de casamento que você já viu, mas uma vez que
este é um casamento santo, será diferente daqueles que você
tem visto. Uma diferença será o ponto central do evento. Nos
casamentos ocidentais tradicionais, a noiva é a homenageada.
Todos no casamento falam sobre como ela está linda. Todos
os olhos estão o tempo todo sobre ela. Na cerimônia divina,
eterna, porém, o nosso olhar estará fixo em um outro. A noiva,
de fato, será exaltada, honrada e glorificada, mas a sua beleza
exaltará ainda mais o Deus triuno. Foi Ele quem a buscou,
cortejou, comprou e transformou. Qualquer beleza na noiva
é um reflexo da beleza maior do noivo.
Você já está satisfeito? Isso é o que Deus dá àqueles que
conhecem a Cristo através da fé:
j#**' Os envergonhados são cobertos e glorificados. Eles
não têm mais que se esconder do olhar das outras
pessoas ou de Deus. Eles são vistos da perspectiva
da eternidade. Para eles, Jesus diz: "Vinde, vinde".

Os ameaçados são consolados e glorificados. Eles


são consolados porque sabem que o seu marido é o
Rei soberano sobre toda a terra. Haverá sofrimento?
Sim. Ele permitirá que o sofrimento purificador
chegue até a Sua noiva, mas será um sofrimento
que resultará em bem. O sofrimento ensinará a Sua
noiva a confiar somente nEle. Como conseqüência,
bênçãos irão exceder o sofrimento. A bênção de ser
mais parecido com Jesus é maior do que o sofrimento
do fogo purificador.

3*-»- Os rejeitados são aceitos e glorificados. Eles deveriam


ficar admirados pelo fato de Deus estar apaixonado
por eles. A sua aceitação não é forçada. Em vez disso,
é acompanhada de alegria e cânticos.
O nosso Deus não nos chama mais de escravos. Através
de Jesus, Ele nos chama de amigos, filhos e de Sua noiva.
Através do Seu Espírito, Ele nos dá o maior presente que jamais
poderíamos ter. Ele nos dá a Sua própria vida. Ele diz: "Eu
estou com vocês" (cf. João 14:27-28). "De maneira alguma te
deixarei, nunca jamais te abandonarei". Por isso podemos
dizer com confiança: "O Senhor é o meu auxílio, não temerei;
qúe me poderá fazer o homem?" (Hebreus 13:5-6).
Eu conheci um homem que decidiu no momento em que
sua esposa o deixou que nunca mais confiaria em ninguém
novamente. Ele nunca mais se deixaria conhecer. Ele nunca
mais se aproxim aria de alguém ou deixaria alguém se
aproximar dele. É claro, ele percebia que ainda estava sendo
controlado por sua esposa, mas pensava que essa postura no
mínimo seria menos dolorosa.
À luz de Oséias, esse tipo de estratégia não é mais uma
opção para o cristão. O amor de Deus é um amor precioso. O
amor de Deus nunca se afasta do caminho dos relacionamentos.
Em vez disso, ele planeja como ir ao encontro da outra pessoa.
Ele pensa criativamente em como surpreendê-los com amor.
O caminho do amor de Deus não é sem sofrimento. Na
verdade, aqueles que amam mais sofrem mais. Mas o caminho
do amor de Deus é um caminho que nos leva a transbordar.
A nossa taça não consegue conter o que Deus nos concede. É
apenas natural, então, que o consolo que recebemos de Cristo
transborde na vida de outras pessoas (II Coríntios 1:3-7). O
nosso objetivo é amar as pessoas mais do que precisar delas.
Nós estamos transbordando jarros, não taças quebradas.
Para Pensar Um Pouco Mais
Muitas pessoas perguntam: "Como eu posso conhecer de
verdade o amor de Deus? Eu quero conhecê-lo, mas ele parece
tão distante." A resposta é arrepender-se de buscar a Deus
porque você deseja sentir-se melhor. Depois pense sobre Jesus
através da história de Oséias. Peça a Deus que o ensine sobre
esse amor, para que você possa conhecê-lo e reparti-lo. Peça
a outras pessoas que orem por você enquanto você lê. Deus
promete que irá ensiná-lo.
11
Ame os tem Inimigos
e o Seu Próximo

Existe mais um passo. Até aqui, temos examinado o temor


do Senhor, e temos examinado o nosso próprio coração. Agora
devemos compreender o que Deus diz sobre as outras pessoas.
Quem são elas? "Para que servem as pessoas?" perguntou um
amigo meu. Que tipo de molde elas têm? Como temos definido
as outras pessoas, e como Deus as define?
Observe algumas das formas que geralmente damos aos
outros:
tj* . pessoas são bombas de gasolina que nos abastecem.

J"*" As pessoas são ingressos procurados para aprovação


e fama.

•®í— As pessoas são sacerdotes que têm o poder de nos


fazer sentir puros e aprovados.

38»- As pessoas são terroristas. Nunca sabemos quando


irão atacar novamente.

J*8*' As pessoas são ditadores cuja palavra é lei. Elas têm


o controle total.
Scott Peck, em seu best-seller The Roaá Less Traveled (O
Caminho Menos Percorrido), sugere que podemos moldar
outras pessoas em organismos hospedeiros. Não é uma figura
muito bonita: as pessoas são o intestino, nós somos o verme.
"Eu não quero viver. Eu não posso viver sem meu marido [esposa,
namorada, namorado], eu o [ou a] amo muito." E quando eu
respondo como faço geralmente: "Você está enganado; você não
ama o seu marido [esposa, namorada, namorado]". "O que você
quer dizer?", é a pergunta irritada. "Eu apenas disse a você que
não consigo viver sem ele [ou ela]." Eu tento explicar. "O que
você descreve é parasitismo, não amor."1

A Bíblia resume esses vários moldes deste jeito: As pessoas


são os nossos ídolos estimados. Nós as adoramos, esperando
que elas cuidem de nós, esperando que elas nos dêem o que
sentimos que precisamos. O que realmente precisamos são
moldes e identidades bíblicos para outras pessoas. Então, em
vez de precisar de pessoas para satisfazer os nossos desejos,
podemos amar as pessoas para a glória de Deus e cumprir o
propósito para o qual fomos criados.
Para mim este último passo é o mais difícil. Não é tão difícil
de compreender o que a Bíblia fala sobre as pessoas - todo
mundo sabe que o que se espera de nós é que os amemos - mas
é difícil aplicar esse conhecimento. Amar aos outros deixa a
vida menos confortável. Significa que eu deixo de lado a minha
própria agenda de uma manhã de sábado para poder ajudar
um vizinho. Significa que eu sinto mais quando alguém se
muda. Significa que as pessoas ficam na nossa casa quando
eu preferiria estar rodeado somente dos meus familiares mais
próximos.
Não é exatamente igual à Palavra de Deus? Justamente
quando pensamos que nos adaptamos a um estilo de vida
confortável de classe-média, tudo fica atrapalhado. Ela nos
diz para amarmos os outros do mesmo modo que temos sido
amados por Deus.

1. M. Scott Peck, The Roaâ Less Traveleâ (Nova York: Simon & Schuster, 1978), 98
PASSO 7 Precise menos de outras pessoas, ame mais as
outras pessoas. Por obediência a Cristo, e como
uma resposta ao Seu amor por você, busque
outros em amor.

Inimigos

Um modelo que as outras pessoas têm não produz


exatamente amor e comunhão, mas é um modelo que elas
têm, entretanto. As pessoas podem ser inimigas. Elas podem
estar constantemente contra nós. Elas podem representar a
nossa destruição e estar comprometidas em nos envergonhar
e desagradar.
Como conselheiro eu tenho lembrado a muitos crentes que
uma pessoa é seu inimigo. Geralmente as pessoas não queriam
ouvir sobre isso, mas era verdade. Pior ainda, muitos desses
inimigos eram amigos ou familiares.
Com efeito, não é o inimigo que me afronta; se o fosse, eu o
suportaria; nem é o que me odeia quem se exalta contra mim:
-pois dele eu me esconderia; mas és tu, homem meu igual, meu
companheiro, e meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos
nos entretínhamos, e íamos com a multidão à casa de Deus.
(Salmo 55:12-13)
Esta passagem aponta mais claramente para o inimigo de
Jesus: Judas. Mas Judas tem muitos imitadores. Eu me lembro
daqueles que tinham maridos inimigos, esposas inimigas,
irmãos inimigos, pais inimigos, filhos inimigos, cooperadores
inimigos e igrejas inimigas. A lista é muito longa.

Deus Responde aos Nossos Inimigos


Um exemplo bíblico de um inimigo de verdade encontra-
se no livro de Ester. Se houve algum dia um Hitler bíblico,
esse era Hamã, ego-maníaco e com uma determinação insana
de extinguir todo o povo hebreu. (Ester 3-5). No início, a ira
invejosa de Hamã era dirigida ao judeu Mordecai. Logo, ele
generalizou esse ódio para todo o Israel.
Seguindo o exemplo de Daniel, Mordecai não iria curvar-
se diante de outras pessoas. Se fizesse isso estaria desonrando
o Deus verdadeiro. O problema era que Hamã, o segundo
após o Rei Assuero (em hebraico; Xerxes na língua persa) em
autoridade, estava cheio de si, mas queria estar ainda mais
satisfeito. Ele exigiu que Mordecai se curvasse diante dele,
como todos os demais faziam.

Quando a recusa de Mordecai foi informada a Hamã, ele


ficou enfurecido e imediatamente arquitetou um plano que
faria mais do que matar a Mordecai. "Porém teve em pouco
nos seus propósitos o atentar apenas contra Mordecai, ...
por isso procurou Hamã destruir todos os judeus, povo de
Mordecai, que havia em todo o reino de Assuero". (Ester 3:6)
Aqui está um verdadeiro inimigo. Até Ester disse isso.
Ester era o máximo da graça e da gentileza, por isso se Ester
dissesse alguma coisa inconveniente sobre uma pessoa, você
saberia que essa pessoa era traiçoeira. "... O adversário e
inimigo é este mau Hamã", disse ela ao rei (Ester 7:6).

A maioria de nós nunca teve um inimigo como Hamã.


Os inimigos que conhecemos são pessoas que podem ter nos
desprezado ou pecado contra nós uma ou duas vezes. Ter
alguém dedicado a acabar conosco é, de fato, raro. Mas existem
Hamãs em todo o mundo. O que fazemos com eles?
Em primeiro lugar, deveríamos saber que Deus ouve a
voz dos oprimidos. Ele tem compaixão por eles, e o opressor
provoca a Sua ira. Em segundo lugar, Deus abençoa as vítimas
com o conhecimento de que Ele é maior do que os nossos
inimigos.
Como ensina o livro de Provérbios, Deus nunca permitirá
que os inimigos vençam no final.
Estes se emboscam contra o seu próprio sangue, e as suas próprias
vidas espreitam. Tal é a sorte de todo ganancioso; e este espírito
de ganância tira a vida de quem o possui. (1:18-19; também
12:7; 16:25; 24:16).

... os anos dos perversos serão abreviados. (10:27).

Em vindo a soberba, sobrevêm a desonra... (11:2; também 13:21;


16:5, 18; 18:12)

M orrendo o homem perverso, morre a sua esperança, e a


expectação da iniqüidade se desvanece. (11:7; também 14:11)

A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras


perece. (19:9; também 21:28).

Não te aflijas por causa dos malfeitores, nem tenhas inveja dos
perversos, porque o maligno não terá bom futuro, e a lâmpada
dos perversos se apagará. (24:19-20).

Esses provérbios descrevem adequadamente a história de


Hamã. Logo após o rei ter concordado com o pedido de Hamã
de exterminar os judeus, Hamã foi humilhado por ser forçado
a honrar a Mordecai. Logo depois disso, as forcas que Hamã
havia mandado erguer para Mordecai foram usadas para o
próprio Hamã. Finalmente, todas a suas propriedades foram
dadas a Mordecai.
Deus diz que algumas pessoas são melhores definidas
como inimigas. Quando encontramos, a nossa resposta correta
é primeiro confiar em Deus mais do que temer o homem.
Nós confiamos que Deus, não o inimigo, é o Onipotente. Os
inimigos, afinal, não prevalecerão.
Não confieis em vrincives, nem nos filhos dos homens, em auem
não há salvação. Sai-lhes o espírito e eles tornam ao pó; nesse
mesmo dia perecem todos os seus desígnios. (Salmo 146:3-4)

...não temais o opróbrio dos homens, nem vos turbeis por causa
das suas injúrias. Porque a traça os roerá como a um vestido, e
o bicho os comerá como à lã... (Isaías 51:7-8).

Isso não significa que podemos pensar presunçosamente:


"Você vai ter o que merece". De jeito nenhum. A Escritura
deixa claro que nunca devemos nos alegrar quando o nosso
inimigo cair (Provérbios 24:17). Significa simplesmente que
os inimigos morrerão. Eles são carne que irá desaparecer.
Em outras palavras, são como nós! Mas isso não é tudo. O
ensinamento bíblico sobre os inimigos também indica que o
seu legado do mal irá terminar. O reino do céu irá dominá-lo.
Ele não permanecerá.

Porém, essa promessa poderia não significar exatamente


o que pensamos. Se a interpretarmos através das lentes dos
nossos desejos pessoais, significa que seremos defendidos
pessoalmente. Nós testemunharíamos na verdade a derrota do
nosso inimigo. Mas não é isso que quer dizer essa promessa.
Alguns inimigos têm sido conhecidos por durar por muitas
gerações. O significado é que os inimigos não impedirão o
crescimento do reino de Deus, a igreja. Por exemplo: A Assíria
não poderia frustrar o plano de Deus. Hoje a Assíria não existe,
mas a igreja de Deus tem se espalhado por todo o mundo (cf.
Salmo 126).

Essa promessa é animadora somente se pensarmos mais no


conjunto do que individualmente. Isaías não viveu para ver o
fim da Assíria, mas a profecia contra ela foi um grande consolo
pra ele. Ele sabia que não veria o fim do regime da Assíria,
mas podia alegrar-se porque o povo de Deus iria prosperar e
Deus seria exaltado.
O Consolo de Jesus nos Salmos
Quando confrontados com os inimigos, devemos ir
diretamente aos Salmos se não temos certeza de como sentir
ou o que dizer. Neles, recebemos exatamente o que precisamos.
O que os Salmos fazem é apoiar-se contra alguns de nossos
instintos naturais. Quando estamos inclinados a tomar os
problemas nas nossas próprias mãos, os Salmos nos ensinam
a confiar em Deus. Quando nos isolamos do sofrimento, eles
nos ensinam a confiar em Deus. Em vez de prometer que nunca
mais iremos nos aproximar de uma outra pessoa, aprendemos
a confiar em Deus. Em vez de destruir a esperança, os Salmos
nos ensinam a confiar em Deus e, como conseqüência, a ser
supridos com expectativas alegres da vinda do reino. Você
poderia dizer que os Salmos aumentam a nossa qualidade
de vida.
Os Salmos muitas vezes são tão precisos em unir os nossos
sofrimentos que pensamos que foram escritos exatamente
para nós. E isso é verdade - eles foram escritos pra nós, mas
também sevem para um outro propósito. Quando os salmistas
como o Rei Davi descreveram os seus sofrimentos nas mãos
de seus inimigos, eles pretendiam escrever algo mais do que
declarações autobiográficas que as futuras gerações poderiam
usar para solidarizar-se com eles. Os Salmos foram dignos
de inclusão na Bíblia porque Davi era um representante do
Rei Divino. Ele pediu por julgamento contra os seus inimigos
porque eles eram inimigos do verdadeiro Deus. A glória de
Deus era a missão de Davi, não a sua própria justificação.
Sendo mais específico, o rei Davi falou em favor do rei
maior, o Rei Jesus. Os inimigos dos quais ele falou são os de
Jesus; os sofrimentos dos quais ele falou são os sofrimentos
do Messias. Isso significa que deveríamos ler cada salmo no
mínimo duas vezes. A primeira vez podemos permitir que
ele fale conosco. A segunda o ouvimos como se fosse a voz
de Jesus.
Uma vez mais, isso irá nos encorajar no temor do Senhor.
Iremos descobrir que o sofrimento de Jesus foi maior do que o
nosso. Como disse corretamente P. J. Forsyth: "O que acontece
com as criaturas pecadoras de Deus, embora triste, é menos
terrível do que aconteceu com o Filho de Deus."
Isso não minimiza a dor da perseguição e das ameaças,
mas chama a nossa atenção para fora - fora de nós mesmos e
dos nossos inimigos. Significa que quando somos confrontados
por um inimigo, as nossas orações podem transcender a
nossa perturbação pessoal. Com certeza, devemos orar por
livramento, mas os Salmos nos desafiam a orar até mesmo
orações maiores. Mesmo do meio de ameaças como as de
Hamã, os Salmos nos ensinam a orar para que o nome de
Jesus seja exaltado. Nós iremos orar para que o reino de Deus
avance e vença todos os inimigos da luz, principalmente o
próprio Satanás.

Se o Teu Inimigo Tiver Fome, Dá-lhe de Comer

Uma razão importante para olharmos para Jesus quando


enfrentamos nossos inimigos é que deixa as próximas palavras
de Deus menos chocantes. Deus pode definir algumas pessoas
como inimigas, mas Ele diz que devemos tratá-las como
amigas. O nosso dever é considerar como servi-las de modo
que elas sejam direcionadas a Jesus e arrependam-se dos seus
pecados.
Agora você pode entender por que este último passo
de conhecer as outras pessoas (e agir de acordo com esse
conhecimento) é tão difícil. Como podemos até mesmo começar
esse processo impossível? De acordo com a Palavra de Deus,
começa com o conhecimento de que temos sido desobedientes.
Temos violado as proibições de Deus e falhado em amar como
deveríamos. Nós entendemos que éramos inimigos de Cristo?
Se realmente entendemos, então não temos outra escolha a
não ser tratar os inimigos como Deus nos tem tratado. A nossa
consciência se rebelaria se nos sentíssemos convencidos em
um julgamento hipócrita dos nossos inimigos.

E a frase: "... porque, fazendo isto, amontoarás brasas


vivas sobre a sua cabeça" (Romanos 12:20)? "Essa alusão
à vingança poderá deixar a tarefa de amar os inimigos um
pouco mais fácil. Mas tome cuidado. Não há nenhuma ordem
bíblica com nem mesmo uma sombra de idéia de vingança.
Eu conheço alguns homens e mulheres que parecem muito
piedosos em relação aos seus inimigos, mas os seus corações
não compreenderam a intenção das Escrituras. Eles pensavam:
"Tudo bem, eu tenho um jeito de voltar para o meu pai sem
ir para a cadeia. Eu vou ser tão amoroso com ele, que isso vai
deixá-lo maluco." Mas a intenção da passagem é uma intenção
santa.

O propósito de amontoar brasas vivas é levar o ofensor


ao arrependimento e à fé. Para muitas pessoas, isso está além
do alcance do seu amor. A idéia de mostrar misericórdia
temporária e terrena ao ofensor é uma coisa, mas a idéia de
que o ofensor poderia ser perdoado e aceito como um filho de
Deus às vezes é demais. Se for demais, devemos orar para que
não sejamos dominados pelo mal. Em vez disso, devemos orar
para que tenhamos o amor de Jesus pelo ofensor. Devemos
convidar outros para orar conosco e por nós também.

Ame os Seus inimigos

Alimentar os inimigos é uma aplicação do maior principio


do amar os seus inimigos. Deus diz que você deve tratar os
inimigos da mesma maneira que trata os amigos e a família.
Impossível? Com certeza. Mas não quando temos o temor do
Senhor. Quando sabemos que o poder de Deus é maior do
que o dos nossos inimigos, quando sabemos que Ele é justo, e
quando sabemos que Ele nos amou quando ainda éramos Seus
inimigos, então estamos livres para sermos simples servos que
imitam e obedecem ao Pai. Ele abençoa os justos e os injustos
com chuva e com alimento, e nós também deveríamos abençoar
(Mateus 5:45).
Para amar assim, precisamos de poder e de discernimento.
Precisamos de poder porque somos incapazes de amar como
Cristo nos amou. Precisamos de discernimento porque às
vezes é difícil saber que forma o amor deve tomar. Como
conseqüência, sempre que percebermos que temos inimigos
específicos, devemos buscar conselho da igreja para discernir
como dem onstrar esse amor. M uitas vezes, as pessoas
interpretam a ordem de amar os nossos inimigos como "dê-
lhes tudo o que eles querem de você". Existem ocasiões em
que essas expressões de amor são imprudentes.
Uma mulher divorciada de seu marido deveria dar a ele
o que ele deseja em um acordo de divórcio? Ela não deveria
tratar o seu marido como ela gostaria de ser tratada? O bom
senso diz: "Não, não dê nada a esse rato". Mas essa é - com
exceção do "rato" - uma maneira bíblica de se proceder?
Talvez. O amor, neste caso, significará perdoar seu inimigo, não
falar mal dele para os outros, e não atacá-lo com palavras para
conseguir se vingar pelo menos um pouco. Mas o amor não é
a única categoria que se aplica à esta situação. Há também a
justiça. Se o marido está ameaçando e pedindo coisas que são
simplesmente injustas, a mulher deve clamar por justiça e a
igreja deve clamar com ela.
Amor pelos inimigos é o máximo da obediência cristã a
Deus. Como demonstra o Sermão da Montanha, é fácil amar
as pessoas que o amam. Mas isso exige o eficiente trabalho do
Espírito de Deus para que você possa amar aqueles que lhe
causaram danos.

Há outra coisa que você precisa saber sobre amar seus


inimigos. À luz do livro de Oséias, isso não deveria ser uma
surpresa. Superficialmente, o amor pelos inimigos parece uma
autopunição ou loucura. Vai contra o conselho popular que
diz que você deve descartar as pessoas que prejudicam a sua
auto-estima. Mas se Deus diz, deve ser bom. Há sempre uma
bênção na obediência. A bênção pode não ser a reconciliação
ou o arrependimento por parte do inimigo. Em vez disso, pode
ser o privilégio de não ser controlado pelo inimigo. Ou poderia
ser simplesmente a alegria de tornar-se mais parecido com
Jesus. Seja lá qual for, sempre há uma bênção na obediência.
Próximos e Estrangeiros
Um segundo grupo de pessoas é formado por aquelas
que não fazem parte da igreja visível. No Velho Testamento
essas pessoas eram chamadas de forasteiras ou estrangeiras;
no Novo Testamento são chamadas de próximas.
Um Am or Baseado Na Afinidade
Israel tinha leis muito claras sobre a proteção dos
estrangeiros que viviam entre eles. Salomão, em uma oração
inspirada, pediu que Deus respondesse todas as orações dos
estrangeiros: "a fim de que todos os povos da terra conheçam
o teu nome, para te temerem..." (I Reis 8:43). Os forasteiros não
deveriam ser maltratados (Êxodo 22:21) ou privados de justiça
(Malaquias 3:5); em vez disso, deveriam receber terra (Ezequiel
47:22), e deveriam ser amados (Deuteronômio 10:19). O livro
de Rute fala sobre uma estrangeira - uma moabita - que foi
incluída na linhagem real de Davi e de Jesus.
Tudo isso era uma imitação do amor de Deus por Israel, os
quais tinham sido eles mesmos forasteiros (Êxodo 22:21; 23:9;
Levítico 19:34). Na verdade, eles foram sempre estrangeiros. "A
terra é minha; pois sois para mim estrangeiros e peregrinos"
(Levítico 25:23), diz o Senhor. Como forasteiros que foram
abençoados por Deus, eles deveriam tratar os outros povos
como Deus os havia tratado.
O Novo Testamento está repleto de mandamentos para
amar a Deus e ao próximo (Mateus 22:39: Tiago 2:8). A extensão
clássica desse mandamento é a história de Jesus sobre o Bom
Samaritano (Lucas 10:25-37).
Nessa história, Jesus amplia as fronteiras normais do
próximo até o ponto onde a história fala sobre dois inimigos:
um judeu e um samaritano. Depois, Jesus faz do samaritano
o herói da história, o qual os judeus consideravam como
moralmente inferior. Ele não poderia ter deixado esse assunto
mais marcante.
Isso é muito relevante para algumas das minhas discussões
em família, no passado. Minha esposa e eu temos duas filhas.
Quando eram mais jovens, elas eram As Barulhentas quando
estavam conosco, mas pareciam surdas e mudas com os
vizinhos ou pessoas que não conheciam bem.
Você pode imaginar a explicação que davam quando
falamos sobre isso. "Vergonha", elas disseram. "Falta de
educação", retrucamos.
Pode ser verdade que algumas crianças são naturalmente
mais tímidas no meio de outras pessoas, mas uma grande parte
da timidez é a versão infantil do temor das outras pessoas. Elas
estão sendo controladas pelos outros.
O melhor tratamento foi Sheri e eu discutirmos com nossas
filhas algumas aplicações da ordem de Jesus para amarmos o
nosso próximo. Quando falamos sobre como Jesus nos recebeu
com alegria, então pensamos sobre como "fazer aos outros
o que queremos que eles nos façam" (Mateus 7:12). Nós
brincamos com elas sobre a repentina aflição que desenvolviam
com pessoas desconhecidas, e encenamos algumas alternativas
com elas. Sugerim os que respostas m onossilábicas, ou
resmungos não poderiam ser usados.

O progresso foi lento. Nossas filhas são exatamente


como nós: aprendem através da repetição, prática e oração
incessantes. A santificação é como um caminhar desajeitado,
lento muito mais do que comparado com um interruptor
que acendemos ou apagamos uma lâmpada. Mas pela graça
de Deus nós crescemos. Minhas filhas agora raramente
comportam-se como zumbis quando conhecem uma pessoa
nova. Quando as preparamos e oramos por elas, elas mudam.

E claro, se elas quisessem virar o feitiço contra nós,


poderiam ter disto simplesmente: "Evangelismo". O temor
do homem não respeita pessoas. Poderia ser chamado de
codependência com adultos, pressão do grupo com os
adolescentes, e de timidez com as crianças, mas seja lá como
for chamado, todos revelam o mesmo coração idólatra. Para
evitar essa armadilha eu preciso que minhas filhas orem por
mim e exortem-me da mesma maneira que elas precisam que
Sheri e eu oremos por elas.

A prescrição para os evangelistas tím idos está em


ordem agora. Uma vez compreendendo a profundidade do
problema podemos começar buscando o temor do Senhor. É
muito mais fácil falar sobre Jesus quando Sua vida nos deixa
constantemente admirados. Então nos arrependemos do nosso
temor da rejeição das outras pessoas. Essa não é uma razão
considerável para a nossa timidez?

Nós adoramos a aceitação e o favor de todas as pessoas.


Quando sentimos um mínimo de rejeição, desmoronamos.
Finalmente, lembre-se do que Deus diz sobre as outras pessoas:
devemos precisar menos delas, e amá-las mais. Eu não preciso
que elas encham a minha taça de amor; em vez disso, eu estou
em dívida com elas. Eu tenho para com elas uma dívida de
amor que pode ser paga, em grande parte, apontando-as para
o amor de Jesus.
Para Pensar Um Pouco Mais
A ordem para amar os inimigos e o próximo é uma
implicação inevitável de conhecer a Deus e a nós mesmos.
Se fomos inimigos de Deus, e Deus aproximou-Se de nós e
reconciliou-nos com Ele, o que podemos fazer a não ser tratar
aos outros como temos sido tratados? Quando imitarmos a
Jesus dessa maneira, seremos sal e luz em nossa geração.
1. Escolha um inimigo e um próximo e comece a orar por
eles.
2. Procure oportunidades de surpreender alguém, fora
do corpo de Cristo, com amor.
11
Ame teuí Irmãos e Irmãs

TODO MUNDO é seu próximo, disse Jesus, e devemos


demonstrar graça e misericórdia a todos porque Deus tem sido
gracioso e misericordioso conosco. Mas os que pertencem ao
corpo de Cristo são a nossa família em um modo especial. São
aqueles com os quais iremos passar a eternidade, e precisamos
de sua companhia para representar a Cristo.

O apóstolo Paulo disse: "Por isso, enquanto tivermos


oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente
aos da família da fé." (Gálatas 6:10). Isso com certeza não
diminui o nosso cuidado com o próximo e com os inimigos;
antes, esse cuidado especial é uma conseqüência natural de
sermos família no sentido mais profundo da palavra.

Esse tipo de amor e unidade não vem sem luta. Os mesmos


adversários que se opõem ao temor do Senhor - o mundo, a
carne, e o Diabo - também se opõem à exortação para amarmos
e sermos unidos com os outros irmãos e irmãs. Seria prudente
manter um olho nesses inimigos enquanto conversamos sobre
a igreja como família.

Lembre-se: (1) a carne tem uma tendência pecaminosa


ao egoísmo. Ela é comprometida com a questão "O que eu
ganho com isso?" (2) Satanás é um mentiroso e alguém que
causa divisão. Observe que o ensino bíblico mais claro sobre
a luta espiritual (Efésios 6) encontra-se no livro que enfatiza a
unidade. A principal estratégia de Satanás é romper e dividir.
E (3) o mundo tenta institucionalizar essas tendências.
Deixe-me trazer esses oponentes ocultos mais a público.
"Eu quero esquecer as instituições", disse o evangelista.
"O evangelho não é sobre igrejas. E sobre uma decisão que
você faz diante de Jesus e de ninguém mais."
O que você acha desse enfoque? Ele está certo de que
uma pessoa deve "arrepender-se e ser batizada" (Atos 2:38).
E eu posso entender que algumas pessoas têm uma visão
distorcida da igreja, por isso o evangelista não queria que
aqueles preconceitos obscurecessem os assuntos espirituais.
Mas o chamado para confiar e obedecer não é um chamado
mais amplo do que "Jesus e eu"? As promessas de Deus são
para "vós... para vossos filhos, e para todos os que ainda
estão longe, isto é, para quantos o Senhor nosso Deus
chamar" (Atos 2:39). E a pessoa não está sendo chamada para
Cristo, que é o Cabeça de uma instituição? Quando as pessoas
eram convertidas no livro de Atos, era certo que elas fariam
parte de uma irmandade local. Não poderia ter sido de outra
maneira. Eles tinham sido introduzidos a uma comunidade
da ressurreição, uma comunidade do Espírito.
Recentem ente houve um estudo in teressan te que
contrastava a reação japonesa aos sofrimentos pessoais
com a reação americana. A questão era: Como as pessoas
se consolam durante essas dificuldades? Os japoneses
constantemente diziam: "Eu penso sobre a minha família.
Eu imagino que a minha família está comigo." A resposta
americana normalmente era: "Eu posso superar isto, só preciso
me esforçar." Ou havia uma conversa consigo mesmo que
pretendia elevar o ego carente: "Eu sou ótimo. Essa pessoa
não pode me derrubar, eu sou melhor que ela." Em outras
palavras, vivemos em uma cultura que enfatiza o individuo
acima do coletivo.
Os americanos geralmente usam variações da palavra:
"autoconfiança".
Essa palavra é um grande problema para os tradutores.
Por exemplo, na América Latina o sentido mais próximo que
podem chegar é uma palavra como a nossa "independência"
que é política e social, não pessoal. Em alguns paises da Ásia a
palavra não faz sentido algum, ou é um sinal de instabilidade
mental. A pessoa nunca deveria ser autoconfiante, de acordo
com a maioria das tradições asiáticas. A pessoa deveria ser
interdependente.
Uma vez eu ouvi uma variação cristã da música de Frank
Sinatra "I Diá It My Way” (Eu Fiz do Meu Jeito). Chamava-se
"I Diâ It His Way" (Eu fiz do Jeito Dele). Por favor, não pense
que estou me preocupando com detalhes insignificantes.
Eu quero simplesmente manter meus olhos abertos para
como sutilmente pensamos mais individualmente do que no
coletivo. Você percebe a minha preocupação com essa canção
renomeada? Com certeza "dele" é melhor do que "m eu",
mas "nós" não seria mais adequado do que "eu"? A música
conserva o seu sentimento isolado. É "Jesus e eu".
Você se lembra da mulher crente que disse que Deus
havia dito para ela se casar com alguém que não era crente?
Esse pode ter sido um exemplo extremo, mas quantas vezes
consultamos pastores, presbíteros, e outros na igreja quando
estamos pensando em casamento, uma mudança de emprego,
ou outras grandes decisões? Quantas vezes eu peço oração
do corpo quando estou escrevendo ou pregando? Há sempre
muita discussão e orientação sobre conhecer a vontade pessoal
de Deus para as nossas vidas, mas você já ouviu alguma vez
as pessoas conversando sobre a vontade de Deus para a igreja
ou mesmo para a sua família?
Você já notou que para muitas pessoas, a igreja como
família não existe? Muitas vezes ouvimos pessoas que falam
como se a igreja fosse sua inimiga. Às vezes essas pessoas
foram machucadas por pessoas na igreja e então decidem não
serem mais machucadas. Elas generalizam do caso especifico
para toda a igreja: Se uma pessoa me machuca, então, a igreja
me machuca. Outras vezes, agimos como se a igreja fosse um
inimigo por causa do nosso próprio sentimento de vergonha.
Em outras palavras, uma vez que podemos ver as coisas em
nossa vida que nos envergonham, devemos admitir que os
outros também as vejam. Geralmente, porém, tratamos a igreja
como um inimigo porque não aprendemos com a Bíblia. Nós
não sabemos o que Deus diz sobre o Seu corpo.

Isso tem tudo a ver com o temor do homem. Enquanto


pensarmos sobre nós como sozinhos e isolados, seremos
sempre inclinados a temer outras pessoas. O isolamento e
o temor do homem são companheiros íntimos. Mas quando
compreendemos de verdade que Deus nos chamou para
participar de uma família maior (isto é; a igreja), estamos
livres. A igreja começa a sentir um pouco mais como uma
família sentada conosco em nossa sala de estar. Melhor
ainda, nos sentimos como uma família sentada junto aos pés
de Jesus, sentada ao redor do trono. Com família, não há
constrangimento, nem embaraço, nem temor algum.

Você pode não ter vindo de uma família sólida. Seu lar
pode ter sido um lugar onde você era sempre criticado e estava
sempre imaginando o que os outros poderiam estar pensando.
Se for esse o caso, não deixe a sua experiência de família
atrapalhar o seu entendimento do que Deus diz sobre ela.
Você deve acreditar que os que fazem parte do corpo de Cristo
são a sua família. Aprenda que somos um povo muito mais
do que pessoas individuais. Essa lição não é necessariamente
mais fácil para as pessoas que vieram de boas famílias. Isso
porque a lição é aprendida pela fé, não simplesmente por uma
experiência anterior.

Observe os resultados se deixarmos de ver a importância da


comunidade bíblica. Se privatizarmos a Bíblia, transformando
o "nós" em "eu", teremos os seguintes dilemas:

Eu tenho que ir por todo o mundo e fazer discípulos


(Mateus 28:19).

Eu tenho que orar sem cessar. (I Tessalonicenses 5:17)

Eu tenho que reconhecer corretamente as viúvas


carentes. (I Timóteo 5:3)

Eu tenho que ensinar os homens mais idosos, os mais


jovens e as mulheres mais jovens. (Tito 2:1-8)

E de qualquer maneira, nas brechas do meu dia, eu tenho


que trabalhar e conseguir o dinheiro suficiente para o sustento
da minha família.

Felizmente, essas ordens são dadas para a igreja. É só como


grupo que somos capazes de evangelizar o mundo. É preciso
apoio financeiro, conselhos de missões, amigos e igrejas que
orem fielmente, e muitas outras pessoas no corpo para que um
missionário vá e faça discípulos. E para cumprir a ordem de
orar sem cessar, eu preciso da igreja porque preciso dormir de
vez em quando, e tenho que ir para o trabalho. Oração vinte e
quatro horas por dia só pode ser feita por toda a igreja.
A Imagem Coletiva de Deus
A base para o ensino de Deus sobre a unidade, amor e
família volta à imagem de Deus no homem. Refletir a imagem
de Deus significa imitar e representar Deus por amor à Sua
glória. Significa que devemos ser semelhantes a Deus em tudo
que as criaturas podem ser semelhantes ao Criador. Imitar,
mesmo que de longe, essa glória tão imensa exige um grande
grupo de pessoas, porque as criaturas são limitadas enquanto
a glória de Deus é ilimitada. O Capítulo 9 resumiu algumas
das facetas dessa glória, e assim retratou algumas formas pelas
quais podemos imitar a Deus, mas houve uma forma que foi
omitida.
Ouve, Israel, o SENHOR nosso Deus é o único Senhor.
(Deuteronômio 6:4).
Se h o u v esse um a d iv ersid a d e de d eu ses, seria
compreensível haver divisões e facções entre os religiosos.
"Eu sou de Zeus". "Eu sou de Mercúrio". Mas o nosso Deus
é único, e o Seu povo O imita e O glorifica quando são um.

Qual a identidade mais importante do israelita? "Eu sou


um israelita, o povo que pertence a Deus." Tente encontrar
"Deus e eu" nos cinco livros de Moisés. Você não encontrará.
A aliança de Deus foi com um povo. "Ouve, ó Israel" disse o
Senhor.
Percorrei a Sião, rodeai-a toda, contai-lhe as torres; notai bem
os seus baluartes, observai os seus palácios, para narraráes às
gerações vindouras que este é Deus, o nosso Deus para todo o
sempre: ele será nosso guia até à morte (Salmo 48:12-14). -
Os israelitas tinham festas coletivas: a Páscoa era celebrada
com famílias e havia um dia anual de expiação pelos pecados
do povo como um todo (Levítico 16). Os israelitas haviam
recebido a ordem de falar sobre Deus e a Sua lei aos seus
filhos e uns com os outros. (Deuteronômio 6). As promessas
eram promessas para um povo muito mais do que para um
indivíduo. Do mesmo modo, as maldições para a desobediência
individual foram muitas vezes maldições sobre todo o povo.
Quando Acã pecou tomando despojo de Jericó: "Pre­
varicaram os filhos de Israel" (Josué 7:1). O Senhor disse que
Israel havia pecado. A punição pela desobediência caiu sobre
todo o povo quando o exército foi derrotado pelos homens
de Ai. Para tratar com o pecado, todo o Israel deveria ser
consagrado diante do Senhor. Com certeza, a Bíblia deixa claro
que cada um é responsável por seu próprio pecado, mas há
um sentido no qual todo o corpo é corrompido com o pecado
de um dos seus membros.

Daniel tinha plena consciência de que mesmo no exílio,


estava ligado ao povo de Deus de uma forma impossível de
se separar. O que se dizia a respeito deles poderia ser dito a
seu respeito. Ele estava envergonhado pelo exílio, e sentia o
peso do pecado do povo.

"... Ah! Senhor! Deus grande e temível, que guardas a aliança


e a misericórdia para com os que te amam e guardam os
teus mandamentos; temos pecado e cometido iniqüidades,
procedemos perversamente efomos rebeldes, apartando-nos dos
teus mandamentos e dos teus juízos; e não demos ouvidos aos
teus servos, os profetas... O Senhor, a nós pertence o corar de
vergonha, aos nossos reis, aos nossos príncipes, e a nossos pais,
porque temos pecado contra ti. (Daniel 9:4-8).

Lembro-me de um trabalho na quarta série onde tínhamos


que escrever uma carta sem usar "eu". Eu ainda não tenho
certeza do propósito disso - às vezes eu acho que como éramos
uma classe difícil o professor usou esse trabalho para nos
mostrar o nosso próprio egoísmo - mas eu sei que todos nós
pensamos que fosse quase impossível.

O trabalho cristão equivalente seria orar, sem orar por


problemas pessoais específicos. Pra mim, esse tipo de oração
é tão difícil quanto escrever uma carta sem usar "eu". Quando
oro, geralmente tenho círculos concêntricos em mente. O
círculo interno é a minha família, o próximo meus parentes,
o próximo minha igreja, o outro missões, e assim por diante.
Muitas vezes, eu me canso antes de chegar ao segundo círculo.
Você já tentou orar "maior"? É um excelente remédio para
o temor do homem. Tente orar na ordem inversa do círculo
externo para o interno, orando detalhadamente pelo mundo
e pela igreja antes de chegar mais próximo, à sua família. Ore
orações da Bíblia. Ore os Salmos. Os Salmos são para meditação
pessoal, e coletiva, mas eles são melhores em grupo.
O Salmo 133 é um exemplo de um salmo explicitamente
coletivo. É uma figura das bênçãos que não podem ser contidas
- descendo, descendo, descendo. Essa figura é reservada para
uma das maiores bênçãos que Deus pode dar ao Seu povo - a
bênção da unidade.
Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos! E como
o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba
de Arão, e desce para a gola de suas vestes. E como o orvalho
do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali ordena o
SENHOR a sua bênção, e a vida para sempre.

A primeira figura é a da consagração de Arão como um


sacerdote. Foi um grande dia, um dia de celebração. Ele
confirmava a aliança de Deus com o Seu povo. Deus estava
dizendo através dessa consagração que Ele habitaria com
o Seu povo, e o povo teria acesso ao seu Deus, através dos
sacerdotes. Então, como testemunhamos a cerimônia, o óleo,
o qual somente tinha sido aplicado na cabeça, continuou
escorrendo até cobrir Arão. O óleo da consagração não podia
ser contido. Ele simplesmente continuou descendo, descendo.
De modo semelhante, Hermom era a maior montanha
na região, e Sião não passava de um monte. Se o orvalho de
Hermom caísse sobre Sião, seria uma inundação de bênçãos
frutíferas em uma região árida.
Este salmo é uma oração crucial para o povo de Deus.
Quando tememos as outras pessoas e/ou nos isolamos ou nos
protegemos delas, nos isolamos e protegemos de uma parte
importante do remédio de Deus - amor e união com o Seu
povo. Um salmo como o Salmo 133 nos faz lembrar de orar
pedindo o remédio de Deus. Faz-nos lembrar que uma das
grandes bênçãos na terra é estar unido com o povo de Deus
em vez de temê-lo ou ficar isolados dele.

União e Am or - Uma Prioridade Bíblica

Essas figuras do Velho Testamento muito provavelmente


estavam na mente do apóstolo Paulo quando ele escreveu às
igrejas. Por exemplo, em sua carta aos Efésios você quase pode
ouvi-lo dizendo: "Como é bom e agradável viverem unidos
os irmãos" (Salmo 133:1).

Mas Paulo tinha muito mais em mente do que a união


entre aqueles que eram hebreus de nascimento. Ele estava
falando sobre uma unidade que os próprios profetas raramente
imaginavam. Ele previa a igreja: judeus e gentios, inimigos
declarados, puros e impuros. Era nessa união que "pela igreja,
a multiforme sabedoria de Deus se tome conhecida agora dos
principados e potestades nos lugares celestiais" (Efésios 3:10).
Em outras palavras, a visão de Paulo da igreja é que ela seria a
maior manifestação de Deus tanto para o mundo quanto para
os seres celestiais. A igreja está sendo observada e estudada por
forças espirituais, e é através da igreja unida que as grandes
riquezas da sabedoria de Deus estão sendo anunciadas. Qual o
auge dessa sabedoria? Que Deus tem demonstrado a Sua glória
atraindo a Si um grupo heterogêneo e unindo-os em Cristo.

Para nos trazer à unidade, Deus deu presentes ao corpo. Os


presentes são outras pessoas. Através das pessoas - apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores, mestres e muitos outros - Deus
edifica a igreja "até que todos cheguemos à unidade da fé
e do pleno conhecimento do Filho de Deus" (Efésios 4:13).
Em outras palavras, para glorificar a Deus nós precisamos
de pessoas. Precisam os ser ensinados e pastoreados, e
precisamos ensinar e pastorear. Precisamos diariamente do
conselho de nossos irmãos e irmãs, e eles precisam do nosso
conselho. Precisamos de pessoas que nos façam perguntas
difíceis, embora algumas vezes iremos desejar que elas nos
deixem sozinhos. Até o apóstolo Paulo precisava dessas
coisas: "Porque muito desejo ver-vos ... para que, em vossa
companhia, reciprocamente nos confortemos, por intermédio
da fé mútua, vossa e minha". (Romanos 1:11-12).
Chuck Swindoll representa muitas pessoas na igreja que
sabem que não podem crescer na graça isoladas de outros
crentes. Ele entende que a segurança da autoproteção e a
carência de sensibilidade é realmente uma maldição da qual
Deus deseja nos livrar. Quando ele estava com os seus colegas
pastores, eles desafiaram-se mutuamente com estas sete
questões:
1. Você esteve com uma mulher em algum lugar nesta
última semana que pudesse ser visto como comprometedor?
2. Você foi desonesto em alguns dos seus negócios
financeiros?
3. Você esteve propositadam ente diante de algum
material pornográfico?
4. Você investiu o tempo devido ao estudo da Bíblia e à
oração?
5. Você deu prioridade de tempo para a sua família?
6. Você cumpriu as ordens do seu chamado?
7. Você acaba de mentir pra mim?
Eu acrescentaria pelo menos uma declaração à essas
perguntas. "Agora que eu lhe fiz estas perguntas, deixe-me
dizer como você tem sido uma bênção para mim. Deixe-me
dizer como você tem me direcionado para Cristo."
Como conselheiro, eu tenho falado com muitas pessoas
que desejam conhecer os seus dons espirituais. Elas chegam
esperando por algum tipo de teste que irá identificá-los
com precisão. A minha impressão é que esse ponto de vista
representa um colapso na igreja. Ele reflete uma igreja onde
estamos correndo em volta como indivíduos realizando-se
sozinhos, em vez de unidos como uma comunidade que
glorifica a Deus.
Por exemplo, pessoas procurando os seus dons pensam
que podem "descobrir" seus dons isoladas do corpo. Elas
esquecem que a orientação do povo de Deus é mais externa
do que interna. A questão deveria ser esta: Como eu posso
crescer em amor para o serviço do corpo de Cristo? Os dons
são o meio pelo qual nós amamos e servimos naturalmente.
Para parafrasear Agostinho, se você deseja conhecer os seus
dons que Deus lhe deu, saiba primeiro que o propósito dos
dons espirituais é trazer união à igreja. Depois "ame a Deus e
faça o que acha que deve fazer".
Mas há mais para a expansão dos dons no corpo. Um
dos maus frutos de uma igreja "eu " é que não falamos
com as pessoas quando elas nos abençoam. Se alguém deu
uma aula na Escola Dominical e nos ajudou a compreender
uma passagem da Bíblia, deveríamos contar à essa pessoa e
encorajar o seu dom. Se os líderes do louvor deixaram-nos
alegres por estarmos com o povo de Deus, em Sua presença,
agradeça a eles pelo modo como abençoaram a você e à igreja.
Ninguém deveria ter que perguntar quais são os seus dons;
nós deveríamos dizer às pessoas os seus dons enquanto elas
ministram em nossas vidas.
Você consegue sentir o direcionamento natural para
fora do "eu" do remédio de Deus para o temor do homem?
Embora ele inclua uma auto-reflexão biblicamente orientada,
o propósito dessa introspecção é o amor. A Palavra de Deus
nos impulsiona constantemente em direção ao amor a Deus e
ao amor pelas outras pessoas. Quando seguimos esse caminho,
descobrimos que não estamos mais dominados por um temor
dos outros que é uma idolatria.
Mas o caminho nem sempre é fácil. Na verdade, raramente
é fácil. Antes da volta de Jesus, devemos estar preparados para
alguns grandes choques - choques como os que o apóstolo
Paulo encontrou na igreja de Corinto.
Rogo-vos, irmãos, pelo nome áe nosso Senhor Jesus Cristo, que
faleis todos a mesma cousa, e que não haja entre vós divisões,
antes sejais inteiramente unidos na mesma disposição mental e
no mesmo parecer. (I Corintios 1:10).
Porquanto havendo entre vós ciúmes e contendas, não é assim
que sois carnais e andais segundo o homem? Quando, pois,
alguém diz: Eu sou de Paulo; e outro: Eu de Apoio;... (I Corintios
3:3-4)
O só existir entre vós demandas já é completa derrota para vós
outros... (I Corintios 6:7)
Essas divisões eram aparentes até mesmo durante a
celebração da Ceia do Senhor. Não chegava a ter briga de soco
antes da comunhão (pelo menos Paulo não relatou brigas de
socos). A preocupação declarada por Paulo era o caos resultante
de pessoas agindo como indivíduos isolados, egoístas, em vez
de como um corpo. O tema repetido do livro de Juizes encaixa-
se perfeitamente:"... cada qual fazia o que achava mais reto."
(Juizes 17:6). Com todo o respeito devido aos adolescentes, era
como um jantar, em família, com um bando de adolescentes
egoístas famintos. Por causa dessas divisões, o apóstolo Paulo
deu instruções específicas sobre a Ceia do Senhor. O apóstolo
nos disse que devemos nos examinar antes de participar da
mesa da comunhão (I Coríntios 11:28).

Sobre o que você pensa, quando dizem que você deve se


examinar antes de participar da Ceia do Senhor? Você deve
lembrar provavelmente de uma lista dos últimos pecados
secretos. Se você lembra, ótimo! Para algumas pessoas é
somente um momento tranqüilo em suas vidas, e um momento
excelente para a confissão de pecados e arrependimento.
Mas, por melhor que seja isso, a passagem está dizendo
algo mais. O que Paulo está nos exortando a examinar é o
nosso "reconhecimento do corpo do Senhor." Nós estamos
percebendo que a igreja é uma? Estamos cientes de que aqueles
com quem compartilhamos a Ceia são o corpo de Cristo? A
nossa família? Esse é nitidamente o contexto da passagem.

Isso significa que deveríamos nos lembrar que é através da


morte de Cristo que somos reconciliados com Deus e uns com
os outros. Ele nos fez um, e nós estamos desejosos por buscar
a união em amor. A Ceia do Senhor é um ótimo momento
para orar e planejar a unidade com nossos irmãos e irmãs.
É um momento para procurar novos meios de ser bondoso,
compassivo e perdoador.

A exortação do apóstolo também significa que devemos


nos arrepender dos pecados que têm dividido o povo de
Deus. Você tem feito fofoca ou difamado alguém? Você tem
evitado as pessoas? Você já se irou de maneira pecaminosa
contra alguém?

O próprio Jesus deu orientações específicas para buscar


essa unidade.
Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que
teu irmão tem alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a
tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então,
voltando, faze a tua oferta. (Mateus 5:23-24)

E, quando estiverdes orando, se tendes alguma cousa contra


alguém, perdoai, para que vosso Pai celestial vos perdoe as vossas
ofensas. (Marcos 11:25).

O apóstolo Paulo disse a mesma coisa em sua carta aos


Efésios.

... porque somos membros uns dos outros. Irai-vos e não pequeis;
não se ponha o sol sobre a vossa ira. (Efésios 4:25-26).
Você percebe a urgência nessas instruções? Somente uma
igreja unida em amor pode demonstrar verdadeiramente a
glória de Deus tanto para as forças espirituais como para o
mundo, e somente uma igreja unida pode permanecer firme
contra os esforços de Satanás para dividi-la. A Bíblia não se
engana: se você tem contribuído para a falta de unidade, trate
disso agora mesmo. Os reavivamentos deveriam começar na
Ceia do Senhor.
Uma implicação dessa união é que ela garante que a
vida de um crente será repleta com uma alegria maior - mas
também com um sofrimento maior. Será cheia de grande
alegria porque Cristo ressuscitou, nós recebem os uma
comunidade e o Espírito nos une, nós nos alegramos com
outros irmãos e irmãs que se alegram. Mas a vida de um
crente é cheia de grande sofrimento porque sofremos quando
outras partes do corpo sofrem. Devemos sofrer da mesma
maneira que sofremos quando um membro de nossa família
está sofrendo, quando alguém de nossa família maior sofre.
Também, quando somos magoados por pessoas no corpo,
magoaria mais porque elas são a nossa família. Essa ferida,
porém, não teria efeito paralisante. Em vez disso, pela graça
de Deus nós iremos crescer na fé através dela e estaremos
prontos para responder à pergunta: Qual é o meu dever para
com este irmão ou irmã?
O nosso dever, sem dúvida, é o amor. Uma vantagem para
nós que vem da divisão dos Coríntios é que Paulo não poderia
terminar a sua exortação sobre a unidade com "Ame a Deus
e faça o que quiser" ou mesmo "Amem-se uns aos outros".
Em vez disso, ele deveria ser muito específico sobre o que era
o amor. Ele precisava definir amor. Como conseqüência, nós
fomos abençoados com I Coríntios 13.
A Oração de Jesus pela Nossa União
Se o amor e a união de I Coríntios 13 parecem impossíveis,
fique frio. Embora o mundo, a carne e o Diabo sejam grandes
adversários, Jesus orou por nós. Fazendo isso, Ele nos faz
lembrar do que nós precisamos, Ele nos dá um modelo de
oração, e nos dá confiança de que uma vez que o amor e a
união são a vontade de Deus, Ele nos dará essas coisas.
A oração de Jesus em João 17 já nos ajudou a entender um
pouco sobre o que precisamos. Precisamos glorificar a Deus, e
precisamos crescer em santificação e obediência ao Pai. O outro
tema que faz parte da oração de Jesus é a unidade.
... Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles
sejam um, assim como nós. (João 17:11)

... mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por
intermédio da sua palavra; afim de que todos sejam um... (João
17:20-21)

... afim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo


conheça que tu me enviaste... (João 17:23)
Eu lhes fiz conhecer o teu nome e ainda o farei conhecer, afim
âe que o amor com que me amaste esteja neles e eu neles esteja.
(João 17:26).
Esse é um modo intenso de glorificar a Deus. Como
Jesus e o Pai são um, devemos ser um com os outros. Isso é
tanto maravilhoso quanto assustador. Por um lado, o alvo
da verdadeira comunhão bíblica é uma grande bênção. Nós
temos parte do remédio de Deus para o temor do homem, e
temos acesso a tudo o que o mundo está implorando. Mas
isso significa que devemos nos mover em amor em direção
aos outros. E aí que se torna assustador. As pessoas, afinal,
bagunçam a nossa vida. Tudo é muito m elhor quando
podemos conservar os nossos pequenos mundos seguros e nos
alegrarmos por sermos bonzinhos e darmos dinheiro. Agora,
conhecendo o ensinamento da Bíblia, é impossível manter essa
indiferença e esse egoísmo.
União e amor significam que:

Se»- Nós confessamos os nossos pecados uns aos outros,


(Tiago 5:16).

nós repartim os com irmãos e irmãs que estão


passando por necessidades. (Romanos 12:13; I João
3:17)

Nós somos sensíveis aos outros (Oséias).

>' Nós nos unimos com pessoas de posição inferior.


(Romanos 12:16).

Nós procuramos com criatividade meios de honrar


aos outros. (Romanos 12:10).

Nós discernimos quando confrontar o pecado e


quando encobri-lo (Mateus 18:15; Provérbios 17:9;
19:11).
Nós somos pacientes com todos (I Coríntios 13:4).
Nós estamos dispostos a nos sacrificar (João 15:12-13).
Nós praticamos a disciplina na igreja (Mateus 18:15-
19; I Coríntios 5:1-5).
O amor bíblico nunca fica satisfeito se não estiver crescendo
(I Pedro 1:22). Ele desenvolve estratégias, pede aos outros que
orem para que cresça, ele pensa grande - não grande em termos
de uma grande exibição, mas grande em termos de algo além
das expectativas humanas. O amor bíblico não é um amor
pomposo que chama a atenção para si, mas deve ter intenções
grandiosas. Nós queremos que ele seja testemunhado por toda
criatura viva. Nós queremos que todas as pessoas e todas as
autoridades e forças espirituais saibam que somos discípulos
do Deus vivo pelo nosso amor (João 13:35).
Vocês São o Tabernáculo de Deus
Tudo isso quer dizer que vocês ainda têm uma outra
identidade. Vocês são o tabernáculo de Deus, o Seu templo. No
Velho Testamento, o tabernáculo era a casa terrena de Deus, a
Sua presença real com o Seu povo. Esse é o mesmo tabernáculo
que deixava os exércitos inimigos assustados. Por exemplo,
logo após os filisteus terem capturado a arca, retiraram-na
rapidamente de sua terra: o seu ídolo Dagom caiu diante dela.
Esse é o tabernáculo que era tão santo que quando os homens
de Bete-Semes olharam para dentro dela, o Senhor os matou.
Os homens de Bete-Semes que sobreviveram disseram: "Quem
poderia estar perante o SENHOR, este Deus santo?" (I Samuel
6:20). Do mesmo modo, Uzá foi morto quando tentou segurar
a arca de Deus que estava caindo (II Samuel 6:6-7).
Agora passe para o Novo Testamento. "Não sabeis que
sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus habita em
vós?" (I Coríntios 3:16). O apóstolo Paulo está dizendo que nós
somos o tabemáculo de Deus. A igreja é o tabernáculo. Aqui
está um dos mistérios que existia no Velho Testamento e que
foi revelado no Novo. Nós, juntos, temos o Deus vivo dentro
de nós. Esse é o mistério que era glorioso e rico: "Cristo em
vós, a esperança da glória" (Colossenses 1:27). Isso é suficiente
para nos fazer temer.

Inimigos, Próximo, e o Corpo de Cristo:


Em Débito Com Eles
Quem são as outras pessoas? Elas se apresentam em três
formas diferentes: inimigos, próximo e família. Qual o nosso
dever para com eles? Amor. O amor pode tomar uma forma
diferente com cada grupo, mas o nosso dever é resumir tudo
como amor. Nós amamos os inimigos surpreendendo-os com
o nosso serviço a seu favor. Amamos o próximo tratando-o
como nossa família. E amamos o corpo de Cristo - nossos
irmãos e irmãs de verdade - de modo que o mundo e as forças
espirituais fiquem atordoados com a nossa unidade.
Para deixar ainda mais claro o nosso dever, nós estamos
em débito com os nossos inimigos, com o nosso próximo e
nossos amigos. Não importa o que eles fizeram, e não importa
o quanto temos dado a eles em contraste com o que temos
recebido deles, nós ainda estamos em débito com eles.
"A ninguém fiqueis devendo cousa alguma, exceto o amor com
que vos ameis uns aos outros; pois quem ama ao próximo tem
cumprido a lei... e se há qualquer outro mandamento, tudo nesta
palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo."
(Romanos 13:8-9).
Esse amor irá impedir que sejamos magoados? Fora de
questão. C.S.Lewis disse que se quisesse algo fácil e sem dor,
teria escolhido uma garrafa de vinho em vez de Jesus. Não há
dúvida de que o amor bíblico nos deixa mais vulneráveis. Mas
não será a vulnerabilidade devastadora que vem de pessoas
carentes psicologicamente. Os crentes precisam menos e amam
mais.
Essa dívida de amor evitará que sejamos manipulados por
aqueles que desejam nos usar para os seus maus propósitos?
Provavelmente não, pelo menos não por muito tempo.
Um pastor de meia idade foi gentilmente repreendido
pelo seu médico por estar trabalhando demais. O médico
disse que o pastor precisava de umas férias ou iria adoecer. O
pastor, é lógico, não dispunha, no momento, de tempo para
sair de férias. Ele estava muito ocupado cuidando de sua
congregação e das necessidades especiais de sua esposa e de
suas duas filhas.
Sua esposa havia sido contaminada por uma doença
misteriosa durante os últimos cinco anos até o ponto em que
não conseguia mais dirigir ou sair sozinha. Isso significava
que o pastor a levava pra todos os lugares. Só as compras e as
consultas médicas ocupavam mais de uma hora todos os dias.
O pastor também estava lecionando em dois cursos em
um seminário local porque precisava de dinheiro extra. Uma
de suas filhas comprou um carro recentemente, e ele estava
pagando o seguro. Sua outra filha estava na faculdade, e ele
estava pagando todas as mensalidades. Ninguém, porém,
trabalhava.
Com todas essas coisas acontecendo, como o pastor poderia
dar uma parada nas suas obrigações? A sua congregação e a
sua família precisavam dele.
Ou ele pensava que precisassem dele? O pastor entendia
o temor do Senhor, mas não tinha entendido a si mesmo. Ele
nunca havia pensado que o seu sacrifício estava servindo mais
a ele do que à sua família. Como conseqüência, ele estava cego
para os outros e melhores meios de amar.
Ele começou a ver que "bonzinho" não era o mesmo que
amor. "Bonzinho" estava sendo visto como o marido e pai
cuidadoso e sacrificial. "Bonzinho" estava sendo o oposto
de seu próprio pai, que foi desinteressado e distante. Mas
"bonzinho" estava matando a sua família porque ele podia
ser manipulado em tudo.

Aos poucos, o pastor começou a ver o egoísmo oculto


em suas ações. Ele reconheceu que o amor era muito mais do
que dizer: "Sim ". Ele pediu perdão para a sua esposa e filhas
e pediu que orassem por ele porque desejava crescer para
amá-las profundamente. Como você pode esperar, a família
ficou um pouco confusa com o que estava acontecendo, mas o
pastor havia pedido perdão para elas muitas vezes antes. Esse
episódio não era tão diferente.

Mas foi. Com o conselho de alguns amigos íntimos, sábios,


o pastor começou a pensar mais claramente em como amar a
sua família. Depois de algumas semanas ele sentou-se com
sua família e apresentou o seu plano.

Ele disse a uma das filhas que iria parar de pagar o seguro
do carro por três meses. Disse à filha que estava na faculdade
que só poderia pagar uma porcentagem dos custos do seu
estudo no próximo ano. Isso dava à família nove meses para
encontrarem juntos um meio de sustento como emprego ou
empréstimos. Após consultar o médico de sua esposa, ele
disse a ela que não iria mais levá-la às consultas. O médico
ficou impressionado com a sua decisão. O pastor também
disse à sua família que estava pedindo um ano de licença das
suas obrigações para com o seminário. Isso começaria após o
próximo semestre de aulas.

Então veio o teste de verdade. A sua família não achava


que ele estava sendo bonzinho! Elas estavam com raiva dele.
Elas disseram que ele não se importava. Dizendo essas coisas
elas estavam sem saber tentando-o com o seu ídolo favorito.
Ele ouviu o que a família disse e meditou sobre tudo com
oração e conselhos. Mas entendeu que as suas decisões eram
sensatas e que iria continuar com elas.
Após alguns meses difíceis, a família começou a crescer.
Suas filhas decidiram arrumar um emprego, e até acabaram
gostando de trabalhar. Sua esposa tornou-se menos tímida e
muitos dos seus sintomas melhoraram consideravelmente. O
pastor disse à igreja que havia errado assumindo tantas tarefas
na igreja porque isso limitava os dons dos outros. Ele confessou
isso à congregação, e a congregação respondeu dispondo-se a
exercer seus dons servindo uns aos outros.
Aqueles que gostam de agradar as pessoas confundem
"ser bonzinho" com amor. Agindo assim, ficam propensos a
serem manipulados pelos outros, e o que se segue, na certa,
é a destruição. Os que querem agradar as pessoas também
confundem "sim " com amor. Mas "sim " pode ser muito
imprudente. Pode não ser a melhor maneira de pagar a nossa
dívida de amor. Dizer "sim " para uma tarefa poderia nos
afastar de uma outra mais importante. Poderia significar
que iremos fazer algo que uma outra pessoa poderia ter feito
melhor. Poderia significar que iremos dando força aos pecados
que os outros cometem normalmente. Poderia significar que
interpretamos a igreja de maneira egocêntrica e não como um
corpo, pensando: "Se eu não fizer, ninguém fará".
Portanto, "sim ", "ser bonzinho" e "abnegação" não
são necessariamente o mesmo que amor. Eles podem ser
meios pelos quais estabelecemos nosso próprio significado e
identidade pessoais mais do que expressões criativas de amor
aos outros. Com esses cuidados sobre imitadores de amor em
mente, eu quero falar um pouco sobre a abnegação e a fadiga.
Para cada livro ou artigo que li sobre a nossa dívida de amor,
encontrei dez outros sobre a autopreservação. A destruição
parece ser um dos grandes medos. Na minha própria vida
eu descubro que às vezes o meu objetivo é me proteger do
"stress" mais do que amar os outros. Com certeza, todos nós
deveríamos ter algumas disciplinas físicas em nossa vida para
cuidar do nosso corpo, e devemos ter também em nossa vida
algumas prioridades prudentes, estruturadas biblicamente.
Mas podemos cair no penhasco da autopreservação tão
facilmente como no penhasco do ser bonzinho e de agradar
as pessoas.
Quando vivemos no temor do Senhor, há uma intensidade
em nossas vidas. Nós somos zelosos para obedecer, não somos
mais indiferentes aos outros, e desejamos que a igreja seja
radiante e honrada. Esses desejos podem significar algumas
noites até tarde e algumas tarefas que preferiríamos não fazer.
O amor com certeza não é o caminho mais fácil.

Singularidade Na Unidade
Há uma mudança peculiar que acontece quando você
começa a pensar menos em você e a buscar a unidade no corpo
de Cristo. Em vez dos membros da igreja tornarem-se iguais,
eles tornam-se mais singulares. Unidade não é igualdade.
Se você tivesse me pedido para descrever André, eu teria
dito: "chato". Ele era um amigo, e fazia parte da minha igreja
local, mas não havia absolutamente nada de notável sobre ele.
Quando me pediu um conselho, eu não posso dizer que
fiquei ansioso por isso. Eu cheguei a pensar em dizer não, mas
alguns anos antes eu havia me comprometido em estar mais
disponível às pessoas da minha igreja local, por isso concordei
relutante.
Seu problema era comum: "Eu não me sinto bem comigo
mesmo. Eu quero me gostar mais." Oh, não!, pensei, até o
problema dele é chato!
Quando nos encontramos pela prim eira vez, André
esperava as perguntas normais em um aconselhamento sobre
seus pais e seu sofrimento. E talvez eu devesse ter feito todas
aquelas perguntas, mas não senti isso no meu coração. Em vez
disso, eu sugeri que estudássemos juntos um livro da Bíblia.
Eu nem lembro o que estudamos, mas lembro que
foi divertido. Nós dois gostamos. Eu lembro de orar por
diferentes pessoas da igreja bem como oramos juntos para que
pudéssemos aplicar o que estávamos aprendendo da Bíblia.
Isso significava que oramos muito, porque toda semana eu
iria aprender algo com André e ele comigo. Uma semana em
especial eu lembro que ele estava se sentindo culpado por
sua falta de amor por seus irmãos, e pediu oração porque ia
pedir-lhes perdão. Eu comecei a esperar ansiosamente pelos
nossos encontros.
Então um dia, repentinamente, eu compreendi. Esse cara é
interessante, pensei. Ele não é chato! Com certeza, algumas das
mudanças poderiam ter ocorrido em mim, mas eu sabia que era
mais do que isso. André e as suas questões tinham mudado.
No começo ele havia perguntado: "Como eu posso me sentir
melhor comigo mesmo?". Agora ele estava perguntando:
"Como eu posso amar as pessoas da igreja e do mundo?"
Quanto mais ele aplicava o ensinamento bíblico sobre o amor
e a unidade, mais evidente se tornava a sua singularidade. De
repente, eu vi dons nele que nunca tinha visto antes.
Quando estávamos diminuindo os nossos encontros
semanais formais, eu disse algo que chocou até mesmo a mim.
Eu disse: "André, você é lindo". Quando as palavras saíram
da minha boca tenho certeza de que eu estava mais surpreso
do que André. O comentário exigiu uma pequena explicação.
"Eu espero que você não me entenda mal, mas quando
olho para trás no nosso relacionamento, houve um tempo em
que eu diria que você era chato - no melhor sentido da palavra,
é claro." André riu.
"Mas algo aconteceu com você. Eu tenho visto Cristo em
você nesses últimos quatro meses como nunca tinha visto
antes. Eu tenho visto em suas orações por mim e nas estratégias
que você tem para amar os outros. Você costumava perguntar:
'Como posso me sentir melhor?' Agora a sua pergunta é:
'Como eu posso amar a Cristo e amar ao meu próximo?' "
Ele balançou a cabeça. Ele tinha visto a obra de Deus em
sua vida também.
Para Pensar Um Pouco Mais
Este capítulo revê uma parte essencial do tratamento para
o temor do homem: devemos amar mais as pessoas e precisar
menos delas (para satisfazer os nossos anseios psicológicos).
Da mesma maneira que o amor por Deus expulsa o terror
de Deus, o amor pelas pessoas expulsa o nosso medo de que
elas possam nos envergonhar, nos machucar fisicamente ou
nos rejeitar.
A família, a comunidade, e a unidade são palavras chaves.
Mas tome cuidado. Os crentes não são os únicos a usá-las. Você
tem observado que muitas pessoas estão ficando cansadas do
individualismo e do egocentrismo?
A geração do egoísmo, do valor próprio, da auto-estima,
do "que é que eu ganho com isso", do "eu", introspecção
descontrolada e análise pessoal - estam os finalm ente
prontos para uma mudança. O individualismo acabou. De
uma perspectiva estritamente prática, descobrimos que o
individualismo não funciona. Como um antídoto, a nova
palavra da moda é comunhão.
O problema é que a menos que haja uma mudança radical
na maneira como vemos a Deus, nós mesmos, e aos outros, a
comunhão se tornará apenas uma outra estratégia para que
nos sintamos melhor conosco mesmos. Ela aliviará a nossa
solidão, e nos sentiremos mais "ligados", mas se buscarmos
a comunhão para a nossa própria satisfação em vez de para a
glória de Deus, o movimento de comunhão será simplesmente
uma moda passageira. Vamos nos incentivar uns aos outros
para estabelecermos a comunhão da nossa igreja no amor de
Deus.
1. Como a sua igreja pode incentivar a comunhão? Como
você pode incentivar a comunhão?
2. Reveja a oração "nós" de Daniel, e estude a oração
coletiva de Neemias (Neemias 1:4-11). Permita que elas
construam um tempo de oração coletiva.
3. Como você pode honrar outras pessoas no corpo de
Cristo (Romanos 12:10)?
4. Lembre-se das pessoas que levaram você na direção de
Cristo recentemente. Escreva uma carta para uma delas, e faça
questão de conversar com as outras.
1 *
"A Conclusão do Assunto: Tema a Deus
e Guarde os Seus Mandamentos"
Um pastor do século dezoito estava lamentando uma
epidemia de temor do homem em sua igreja. Todos, disse ele,
preocupavam-se mais com a opinião dos outros do que com a
de Deus. Antes de fazer qualquer coisa, a primeira pergunta
que faziam as pessoas da sua congregação era: "O que eles
irão pensar?" O pastor decidiu pregar uma série de sermões
sobre o problema, e deu esta resposta: "Tema a Deus e conheça
o seu dever."
A sua resp osta na verdade eram duas resp ostas
relacionadas. O temor de Deus é a base principal. Sem isso, o
temor do homem irá florescer. O pregador, porém observou
que havia na igreja algumas pessoas tementes a Deus que
tinham sido derrubados pelo temor do homem porque não
sabiam qual era o seu dever. Isto é: eles não conseguiam
discernir que forma deveria tomar a sua obediência a Deus.
Eles não sabiam como aplicar o temor do Senhor. Como
conseqüência, o pastor dedicou-se sabiamente aos sermões
sobre vários mandamentos, especialmente o de amarmos uns
aos outros.
O pastor chegou a uma fórmula muito bíblica:
De tudo o que se tem ouvido, a suma é: Teme a Deus e guarda
os seus mandamentos; porque isto é o dever de todo homem.
(Eclesiastes 12:13)
Eu creio que este pastor Puritano logo teve em sua igreja
pessoas como algumas que eu conheci.
Um Adolescente
Tim era um jogador de futebol do ensino médio bem
conhecido -capitão auxiliar do time - que estava jogando os
últimos jogos do ano. Ele também estava crescendo no temor
do Senhor.
O que ele deveria fazer quando o técnico de futebol
anunciou um treino especial no fim de semana que interferia
com uma viagem planejada com a sua família? Ele não sabia
exatamente, mas sabia as perguntas certas: "O que Deus quer
que eu faça? Qual é o meu dever?" Depois do aviso do técnico,
ele foi até o técnico e o informou de seu conflito.
Para o técnico, a decisão era clara. "Qual o problema? O
time precisa de você, e você estará no treino. Somente um bebê
iria com a mamãe e o papai! E se você não estiver aqui, vai
ficar no banco no próximo jogo."
Para um aluno do segundo grau, isso com certeza aumenta
o temor do homem, mas Tim ficou firme. Ele falou com seus
pais sobre o assunto, e juntos procuraram conselho de um
dos pastores da igreja. Depois de ouvir alguns dos pontos de
vista bíblicos, o adolescente decidiu que iria com sua família
na viagem planejada.
Ele estava muito ciente das reações que enfrentaria do
técnico, e, com certeza, ele as enfrentou. O técnico não podia
acreditar. Ele discursou, esbravejou, tentando fazer Tim mudar
de idéia, mas ele não mudou. Ele tentou colocar o time contra
Tim, esperando que a pressão dos colegas pudesse reverter a
sua decisão, mas Tim delicadamente explicou a sua decisão
ao time que, em sua maioria, entendeu.
Ele estava convencido da melhor solução bíblica. Por
que precisaria pensar mais? Para este adolescente, não havia
nenhuma decisão: "Eu devo temer a Deus ou aos homens?"
A resposta era clara: "Temo a Deus e conheço distintamente
o meu dever."
Isso daria uma história interessante se eu pudesse
acrescentar que aquele técnico arrependeu-se de sua decisão
de deixar Tim na reserva, os colegas foram convertidos, Tim
ganhou uma bolsa de futebol, e está sendo produzido um
filme sobre a sua vida. Mas até onde eu sei, essas coisas não
aconteceram. Ele foi para a reserva, e foi por causa disso. Mas
para mim, é uma história fascinante e corajosa que chamou
a atenção dos seres e forças espirituais. Tim foi colocado em
uma encruzilhada, confrontado com a decisão de quem iria
temer, e nunca hesitou. O impacto sobre as forças espirituais,
amigos e a sua igreja serão muito maiores do que ter alguns
pontos a mais no seu registro de futebol.
Um Monge: M artinho Lutero
Martinho Lutero teve momentos de hesitação, mas sempre
escolheu temer a Deus mais do que ao homem. Nascido na
Alemanha em 1483, Martinho Lutero foi um homem de caráter
e influente reformador da igreja. Mas para todas as suas
realizações, é o seu temor do Senhor que o tem destacado.
Seu crescimento nesse temor é ilustrado por três diferentes
acontecimentos.
O primeiro foi em 2 de julho de 1505, quando Lutero
era um aluno de vinte e um anos da Universidade de Erfurt.
Até essa época, Lutero planejava completar os seus estudos
e depois, seguindo o desejo de seu pai, estudar Direito. Mas
quando voltava para casa para visitar seus pais, foi pego por
um forte temporal. Os relâmpagos estavam tão próximos que
Lutero temeu por sua vida e clamou: "Santa Ana, me ajude!
Eu vou me tornar um monge."
Embora o seu voto tenha sido feito aparentemente sem
pensar, Lutero levou-o a sério. Ele acreditava que o seu
voto fazia parte de um chamado do céu que não poderia
desobedecer. Portanto, contra os desejos de seu pai (a quem
Lutero sempre esperava agradar), em 17 de julho Lutero entrou
no Convento dos Agostinianos em Erfurt.
Nessa época o temor do Senhor não era maduro. Era quase
que exclusivamente o temor do Todo Temível Deus, e era um
misto de temores gerados por mitos, de pequenas criaturas
diabólicas que supostamente habitavam as florestas. Mas isso
demonstrava que Martinho Lutero tinha uma percepção do
Santo, e temia mais o Santo do que o descontentamento de
seu pai ou seu futuro desconforto no monastério.
Uma segunda crise ocorreu em 1507 depois de sua
ordenação para o sacerdócio. A ocasião era a primeira missa
em que ele seria o sacerdote oficial. A data havia sido marcada,
mas depois foi adiada porque o pai de Lutero não poderia
comparecer. Isso trouxe ao momento uma importância ainda
maior para Lutero.
A missa era (e é) considerada (pelo Catolicismo Romano)
[ver nota do revisor no final] como o restabelecimento do
Calvário onde o sacerdote transforma o pão e o vinho em
verdadeiros carne e sangue de Cristo. Em outras palavras, o
sacerdote estava o mais próximo possível da presença do Santo.
Havia muitas instruções para os sacerdotes, usadas como
precauções seguras, e a missa havia sido celebrada milhares
de vezes antes, mas essas garantias não confortavam Lutero.
Deus ainda era o Grande Temível. Ele era atrativo por um lado,
mas devia ser mais evitado do que abraçado. Portanto, Lutero
estava quase mudo quando começou a cerimônia.
Eu estava completamente assustado e apavorado. Eu pensava:
"Como irei me dirigir à tão grande Majestade, vendo que todos
os homens devem tremer na presença de um simples príncipe
terreno? Quem sou eu, para erguer os meus olhos para levantar
as minhas mãos à divina majestade? Os anjos estão ao Seu redor.
Com um aceno de Sua cabeça a terra estremece. E deveria eu,
um pobre pigmeu, dizer: 'Eu quero isto, eu peço por aquilo?'
Porque eu sou pó e cinzas e cheio de pecado e estou falando
com o Deus vivo, eterno e verdadeiro." 1

Lutero, de alguma forma, conseguiu encerrar.


Há algum progresso aqui. Lutero está seguindo a grande
tradição de Isaías e outros que ficaram amedrontados diante
da presença de Deus. O Rei Davi, que com certeza conhecia
o amor de Deus, ficou tão reverente a Deus que disse não ter
coragem nem mesmo para orar (II Samuel 7:27). Mas para
Lutero, ainda não havia uma ligação clara entre a justiça de
Deus e o Seu amor.
Lutero tentou se esforçar muito para fazer a ponte no
espaço entre a justiça e o amor. Como a maioria das pessoas,
ele pensava que poderia merecer o amor de Deus. Portanto,
buscou a santidade pessoal com um zelo sem igual. Ele tentou
de tudo: jejuns de três dias, seis horas de confissões, noites
dormindo no frio, sem cobertores, e oração constante, tudo até
quase a morte. Mas não conseguiu a tranqüilidade.

Mas Deus estava trabalhando claramente na vida do


monge. Lutero era um grande estudioso que estudava as
linguagens bíblicas e as próprias Escrituras. Em 1509 ele
recebeu o diploma de bacharel em estudos bíblicos, e em 1512
recebeu o de doutor em teologia. Esses estudos o prepararam
para a sua designação como professor de Bíblia em Wittenberg,
onde sua responsabilidade era dar aulas de Exegese sobre

1. Roland Bainton, Here I Stand: A Life o f Martin Luther (Aqui Estou: Vida de Martin
Lutero) (Nova York: New American Library, 1950), 30.
os livros da Bíblia. Nessa tarefa ele dedicou-se com todo o
empenho e satisfação.
Em 1513-1515 ele ensinou sobre os Salmos, em 1515-1516
sobre Romanos, em 1516-1517, sobre Gálatas, e em 1517-1518
sobre Hebreus. O evangelho ia tornando-se cada vez mais
claro. Ele via Cristo como o Misericordioso nos Salmos. Depois,
quando estudou Romanos, tudo ficou claro. "Justificação
somente pela fé" tornou-se o resumo de Lutero sobre a obra
de Deus na salvação. Em Cristo, Lutero finalmente estava
conhecendo a Deus como o Justo e Misericordioso.

Eu desejava ardentemente compreender a Epístola de Paulo


aos Romanos e uma expressão ficou em minha mente: "a justiça
de Deus" porque eu entendia que a justiça de Deus tratava
apenas de punir merecidamente o injusto. Minha situação era
que, embora um monge irrepreensível, eu permanecia diante
de Deus como um pecador com a consciência perturbada, e não
tinha confiança nenhuma de que meus méritos iriam amenizá-
la. Portanto eu não amava um Deus justo e irado, mas, antes,
odiava e murmurava contra Ele. Mas eu me apeguei ao amado
Paulo e tive um desejo ardente de saber o que ele queria dizer.
Dia e noite eu meditava até que enxerguei uma ligação entre
a justiça de Deus e a declaração de que "o justo viverá por sua
fé". Então eu compreendi que a justiça de Deus é essa retidão
pela qual através da graça e pura misericórdia Deus nos justifica
pela fé. Por causa disso eu me senti como regenerado e entrando
pelas portas abertas no paraíso... Isso é olhar para Deus em fé,
que você deveria olhar para o Seu coração paternal, amável,
no qual não há nenhuma ira nem falta de amor. Aquele que vê
a Deus como irado não O vê corretamente, mas olha somente
através de uma cortina, como se uma nuvem escura tivesse sido
colocada à sua frente. 2

2. Idem, 50
Um grande temor do Senhor tinha sido cultivado pelo
estudo e meditação das Escrituras. Ele logo seria provado.
Lutero é mais conhecido por sua reação contra as
indulgências. Na sua época, a Igreja Católica Romana muitas
vezes arrecadava dinheiro vendendo o que era conhecido como
o favor divino. Se você desse dinheiro quando as indulgências
eram oferecidas, poderia livrar seus parentes ou você mesmo
do purgatório. Esse sistema violava de tal forma o principio
da justificação pela fé que Lutero sentiu-se compelido a reagir.
Ele o fez colocando as Noventa e Cinco Teses na porta da Igreja
do Castelo de Wittenberg.
Essas teses, juntamente com inúmeras publicações que se
seguiram, colocaram Lutero em uma disputa tão grande com a
Igreja Católica Romana que ele vivia em constante perigo. Ou
os seus inimigos tentariam assassiná-lo ou a igreja iria queimá-
lo como um herege. Fossem quais fossem os meios, Lutero
estava certo de que a morte seria inevitável. Seus livros já
estavam sendo queimados publicamente em Roma. Mas essas
ameaças não impediram Lutero de escrever mais panfletos
apoiando o que entendia ser as palavras do próprio Deus.
Os julgam entos dessa igreja não deram a Lutero a
oportunidade de debater. Em vez disso, eles eram ataques a
Lutero, exigindo que ele se retratasse sobre os seus escritos e
se submetesse humildemente à igreja. Lutero até se retratou
em um ponto.
Eu estava errado, admito, quando disse que as indulgências
eram a "defraudação piedosa dos fiéis". Eu me retrato e digo:
"As indulgências são as mais ímpias fraudes e enganos dos mais
baixos pontífices, pelas quais eles iludem as almas e destroem
as posses dos fiéis."
Essa ironia multiplicou-se entre os seus amigos e inimigos.
A apelação final de Lutero por fim levou a uma reunião
diante de uma assembléia de prestígio em Worms. Após
muitas revogações de decisões como se Lutero poderia falar
ou não, em 16 de abril de 1521, Lutero chegou a Worms. O que
se esperava ser um debate foi simplesmente um julgamento
público. Lutero não teria a oportunidade de falar sobre as suas
conclusões. Depois de expor os livros de Lutero, o examinador
fez uma única pergunta: "Você defende tudo o que está escrito
aqui, ou importa-se de rejeitar uma parte?"
A resposta de Lutero foi curiosa, principalmente à luz de
seus escritos. Talvez ele estivesse intimidado pelo ajuntamento
dos homens mais poderosos jamais reunidos naquela região.
"Falar pouco ou falar muito será perigoso. Eu imploro que me
seja dado tempo para pensar sobre o assunto", respondeu em
uma voz quase inaudível.
Ele parecia estar vacilando entre o temor do homem e o
temor do Senhor, mas algo aconteceu às seis horas da manhã
seguinte. Lutero demonstrou a ousadia característica de seus
escritos. Essa ousadia não era autoconfiança, porque ele era
um homem que vivia humildemente diante de Deus, mas era
uma confiança na Palavra de Deus.
Em seus comentários, ele defendeu seus escritos e disse
aos homens que tinham poder para matá-lo: "Eu devo andar no
temor do Senhor". Ele finalizou seus comentários declarando:
"Minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Eu não posso
e em nada me retratarei, porque ir contra a consciência não é
nem direito nem seguro. Deus me ajude. Aqui estou, eu não
posso agir de outro modo. Amém."
Lutero demonstrou que é possível temer ao Senhor ao
mesmo tempo em que você tem medo. Afinal, ele estava
perante um tribunal respeitável com grande poder político e
espiritual. Não é de se admirar que estivesse com medo! Mas,
no meio do seu temor, ele escolheu confiar e obedecer a Deus.
Esse é o temor do Senhor na forma mais distinta.

Um Profeta Hebreu e Seus Amigos


Os modelos de Lutero devem ter sido os homens do livro
de Daniel: Daniel, Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Fora o
próprio Jesus, não há melhores modelos do temor do Senhor.
Esses homens ficaram conhecidos durante o pior dos tempos
para os remanescentes de Israel. O reino do norte havia
acabado, e a Babilônia havia invadido Judá e estabelecido reis
que governavam como marionetes nas mãos dos babilônios.
No inicio da ocupação babilônica, eles tomaram os melhores
e mais brilhantes da família real de Judá para servir na corte
de Nabucodonosor, entre eles Daniel e seus amigos.
Não se sabe ao certo como Daniel aprendeu o temor do
Senhor. O Rei judeu que reinava durante a ocupação babilônica
era o perverso rei Jeoaquim, e antes dele reinou um outro rei
perverso. Porém, catorze anos antes do cativeiro babilônico,
Josias tinha sido rei, e provocara um reavivamento no reino.
E provável que Daniel e seus três amigos tenham sido criados
no espírito de Josias.
O perigo com o livro de Daniel é que a nossa familiaridade
com as histórias e a aparente tranqüilidade com que esses
homens escolheram o temor do Senhor faz com que o livro
pareça muito comum. Por exemplo: o livro começa com a
recusa de Daniel de comer a comida indicada pelo rei. Comer
essa comida traria profanação de acordo com a lei de Moisés,
e Daniel escolheu seguir essa lei. Para Daniel, a sua obrigação
estava clara.
Mas Daniel poderia facilmente ter sido sentenciado à
morte por essa recusa de comer a comida do rei. Ele era um
prisioneiro hebreu, e com certeza Nabucodonosor não toleraria
esse tipo de encrenqueiro. Dadas as circunstancias eu desconfio
que muitas pessoas teriam camuflado a lei, raciocinando que
algumas leis eram mais importantes que outras. Tenho certeza
de que os fariseus em poucos minutos teriam arranjado uma
interpretação da lei para apaziguar a consciência. Por que
criar problema sobre alimento impuro ou comida e vinho
que haviam sido sacrificados a um ídolo? Mas isso estava
totalmente claro para Daniel. "... então pediu ao chefe dos
eunucos que lhe permitisse não se contaminar" (Daniel 1:8).
Mas isso era apenas uma cortesia. Não importa o que
dissesse o oficial chefe, Daniel já havia determinado o seu
rumo de ação.
O temor do Senhor simplifica a vida.
É como se o livro de Daniel fosse a Calçada da Fama
do Temor do Senhor. Em seguida estavam os três hebreus -
Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Eles receberam a ordem
de adorar uma grande estatua de Nabucodonosor. As ordens
eram muito claras: Quando ouvir a música, prostre-se e adore a
imagem. Se não, você será lançado imediatamente na fornalha
acesa.
O texto bíblico menciona como os amigos de Nabuco­
donosor viram realmente os hebreus desprezando o decreto,
mas uma vez que os três hebreus eram homens de certa no­
toriedade, o seu desprezo ao decreto foi evidente. Eles foram
levados imediatamente diante de um rei indignado. Como
um gesto inédito de misericórdia, Nabucodonosor deu aos
homens a chance de retratarem-se e fazerem a sua vontade,
mas eles não precisaram nem mesmo da noite para pensar
sobre o assunto.
A sua resposta à oferta do rei foi absolutamente surpre­
endente.
"... Ó Nabucodonosor, quanto a isto não necessitamos de te
responder. Se o nosso Deus, a quem servimos, quer livrar-nos,
ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e das tuas mãos, ó rei.
Se não, fica sabendo, ó rei, que não serviremos a teus deuses, nem
adoraremos a imagem de ouro que levantaste." (Daniel 3:16-18)
O fato de terem sobrevivido à fornalha de fogo é, para
mim, simplesmente inacreditável. O Deus que como esse
podia levantar os homens é suficiente. Eles eram a prova do
Seu grande poder.
A terceira história importante sobre o temor do homem
envolvia Daniel novamente. Considerando-se que o orgulho
era a razão do decreto de Nabucodonosor que condenou os
três hebreus, o ciúme foi o motivo por trás do decreto real que
atingiu a Daniel.
Daniel era um desses homens notáveis que possuia um
grande talento dado por Deus, uma reputação irrepreensível,
e um incessante temor do Senhor. E uma rara combinação
que iria provocar inveja em muitas pessoas, por isso não foi
surpresa que os presidentes e supervisores de Daniel tivessem
inveja dele.

Mas como poderiam "pegar" Daniel? Todo mundo tem


o seu "calcanhar de Aquiles". Se você observar alguém por
um tempo suficiente, poderá descobrir algo que poderia
arruinar a sua reputação e mantê-lo fora do poder. Mas esses
homens sabiam que "a menos que encontrassem alguma coisa
relacionada à lei de Deus", nunca conseguiriam apanhá-lo.

Talvez tirando uma página dos anais do reino de


Nabucodonosor, os governadores sugeriram que o Rei Dario
emitisse um decreto irrevogável, executado por apenas um
mês, que proibiria orar a qualquer homem ou deus que
não fosse o rei. Dario ficou satisfeito com a sugestão, mas
completamente inconsciente das suas implicações.
Como antes, Daniel fez com que parecesse fácil. Ele
não parou um dia para pensar no assunto. Em vez disso,
simplesmente continuou com o seu hábito de orar de joelhos
três vezes ao dia com uma janela aberta de frente para
Jerusalém. Ele não estava tentando chamar a atenção sobre si
mesmo com essa oração em público. Antes, ficava de frente
para Jerusalém por causa do seu grande amor por seu povo e
as promessas de Deus para Jerusalém. Ele oferecia orações de
gratidão, e, sem dúvida, orações para que o Messias que iria
perdoar e libertar o seu povo viesse logo.
.Não há registro algum do que Daniel disse antes para
ser preso dentro da cova dos leões. Isso é muito ruim. Seus
comentários teriam produzido grandes peças teatrais. Mas
Daniel, que escreveu o livro, não era alguém, com certeza,
que deseja chamar a atenção sobre si. Tenho certeza de que ele
passou por grande agonia quando pensou sobre o que estava
para acontecer. Como seus amigos hebreus, ele sabia que
Deus poderia livrá-lo, mas também sabia que essa libertação
era pouco provável.

Daniel não estava interessado em chamar a atenção. Em


vez disso, ele queria que soubéssemos que Deus era maior
do que os reis, maior do que o fogo, e maior até mesmo do
que os leões famintos. Ele queria que o nome de Deus fosse
santificado em todo o mundo, e foi. Depois que Deus livrou
Daniel, Dario puniu os administradores invejosos juntamente
com suas famílias, e emitiu outro decreto:
Faço um decreto, pelo qual em todo o domínio do meu reino os
homens tremam e temam perante o Deus de Daniel, porque ele
é o Deus vivo e que permanece para sempre; o seu reino não será
destruído, e o seu domínio não terá fim. Ele livra e salva, efaz
sinais e maravilhas no céu e na terra; foi ele quem livrou Daniel
do poder dos leões. (Daniel 6:26-27)
Uma Dona de Casa: Lílian
Lílian não é um personagem bíblico. Ela é uma esposa e
mãe, de vinte e sete anos, de dois filhos, que disse que estava
completamente desesperada.

Tendo crescido com um pai bêbado e uma mãe que


ignorava seus pedidos de ajuda quando seu pai era desumano,
Lílian sentia-se desprezível e vazia. Ela foi até o seu pastor
porque sentia que seu marido não estava satisfazendo as suas
necessidades, e, como conseqüência, ela estava alternando
períodos de ira e depressão.
Sem dúvida, é triste ter uma história de crueldade e
negligência em sua família, e Lílian precisava compreender o
que Deus diz às pessoas que têm sido magoadas por outras.

Mas essa é somente parte da base bíblica necessária. Se o


sentimento de falta de valor e vazio de Lílian revelasse uma
visão de si mesma como uma taça de amor quebrada, então
ela também precisaria ser reinventada em um tipo diferente
de vaso.
Uma das razões pelas quais os crentes reagem positiva­
mente a uma necessidade psicológica é que ela leva o sofri­
mento das pessoas a sério. Porém, essa perspectiva pode na
verdade piorar o sofrimento. Ela forma a dor sugerindo que
não somente os pecados dos outros machucaram profun­
damente, mas também privaram você de algo - um direito,
algo que lhe era devido - que é necessário para a vida. Ser
machucado profundamente por outros é bastante difícil, mas
quando acreditamos que o pecado deles foi um golpe quase
mortal que prejudicou a essência do nosso ser, a dor é inten­
sificada. Por exemplo: se alguém nos rouba uma jóia preciosa
isso causa um grande transtorno, mas se essa jóia era o nosso
recurso financeiro para uma futura aposentadoria, então o
sentimento pela perda é muito maior. Portanto, uma tarefa no
aconselhamento é começar a separar a ferida real do sofrimento
que é aumentado pelos nossos próprios desejos e anseios. O
resultado será simples: uma tristeza santa.
O pastor começou ensinando a Lílian sobre a compaixão
de Deus para com os que têm sido vítimas do pecado de
outros. O seu objetivo era surpreender Lílian com o santo
amor de Deus por ela. Enquanto compartilhava com Lílian
a perspectiva de Deus sobre as vítimas, o pastor também
pedia que ela refletisse sobre três perguntas. A primeira era:
"O que eu preciso?". Após algum tempo de reflexão, Lílian
respondeu: "Eu preciso que meu marido me ouça e supra as
minhas necessidades emocionais."
O pastor respondeu com uma observação que tem sido feita
através da história. "Lílian, você já notou que nós tendemos
a ser controlados por aquilo que precisamos? Você pode
perceber isso no seu relacionamento com seu marido? Quanto
mais você precisa que seu marido a satisfaça emocionalmente,
mas você se sente controlada por ele."
A segunda pergunta foi feita em cima dessa observação. O
pastor pediu para que Lílian pensasse sobre a questão: "O que
ou quem controla você?" Ele pediu que ela prestasse atenção
aos acontecimentos ou pessoas que a deixavam deprimida
ou furiosa.
Ela voltou com uma lista. Incluiu seu marido, seus filhos,
mãe, pai e amigos da igreja. Ela anotou acontecimentos do
dia a dia que demonstravam que estava sendo controlada por
outras pessoas.
Então ele lhe fez uma terceira pergunta: "Onde você coloca
a sua confiança?"
Lílian imediatamente viu que as três perguntas eram
idênticas. O que ela precisava, a controlava; o que a controlava
era o objeto de sua confiança ou temor. Seu passado com
certeza tinha sido difícil e sofrido, e precisava ser tratado. Mas
o problema que tornava sua vida tão difícil agora não era o
seu passado, mas sim o objeto da sua adoração. O problema
estava dentro dela, não fora.
Lílian começou a identificar o seu problema como um
temor do homem e a falta de temor de Deus. Como muitos
crentes, as pessoas tinham se tornado o centro controlador da
vida de Lílian. Ela temia os outros. Ela colocava sua esperança
neles. Além disso, como em todos os casos de temor do homem,
o egoísmo era a força por trás dele. Ela confiava nos outros
porque acreditava que tinham poder para lhe dar o que queria.
Ela precisava das pessoas por causa do que ela queria. Em
outras palavras, as outras pessoas eram grandes porque os
seus desejos eram grandes.
Lílian começou a distinguir entre a vergonha de ter sido
vítima do pecado de outros e a vergonha do seu próprio
pecado. Dos dois, ela começou a perceber que a vergonha pelo
seu próprio pecado era ainda mais séria. Tão profunda quanto
era a sua dor, ela entendeu que o problema do seu pecado era
maior do que o problema da sua dor.
Com certeza, ela viu inúmeros pecados evidentes em
sua vida, mas estava mais preocupada pelo tema profundo
do temor do homem que vinha do seu próprio coração. Ela
estava adorando os outros para o seu próprio proveito. Esse,
ela descobriu, talvez fosse o padrão de pecado dominante em
sua vida.
Com isso em seu coração, ela sabia que a resposta não era
voltar-se para Cristo para suprir as suas necessidades. Isso
faria de Jesus o seu talismã ou ídolo pessoal. Em vez disso, sua
resposta foi fazer morrer os seus desejos egoístas e aprender
a temer somente a Deus. Como conseqüência, sua pergunta
começou a mudar. Não era mais: "Onde posso encontrar o
meu valor?", mas "Por que me preocupo tanto comigo?" Não
era: "Como Deus pode suprir as minhas necessidades?", mas
"Como posso ver Cristo de uma forma tão gloriosa que esqueça
as minhas necessidades?"
Ela descobriu em Jeremias 17:5-10 uma ajuda especial.
Ele mostrava que o temor do homem era a causa real do seu
sentimento de inutilidade. Era uma maldição que deixava
suas vítimas desamparadas ou vazias. A alternativa, confiar
em Deus, era uma benção que conduzia à vida e à plenitude.
Ela começou a orar a Oração do Senhor. Quando orava:
"Perdoa as minhas dívidas" ela pensava geralmente nas
vezes quando seu marido havia tomado o lugar de Deus.
Ela confessou que havia tentado o casamento como um meio
de satisfazer as suas necessidades. Ela confessou que o seu
marido tinha sido escolhido como aquele que iria suprir as
suas necessidades. Esses tempos de confissão tinham sido
como feridas de autopunição no passado, mas agora, com um
entendimento maior do amor santo de Deus, eram libertadores.
Ela também começou a orar pelo temor do Senhor. Ela
sabia que a confissão sozinha não iria fazer Deus maior do
que as pessoas em sua vida. Com confiança que Deus iria
conceder mais do temor do Senhor, ela começou a buscar na
Bíblia figuras impressionantes de Deus. Ela foi para Isaías 6,
Ezequiel 1, e o livro de Apocalipse. Ela começou a procurar
por honra ao seu redor durante o seu dia.
Enquanto desenvolvia um brilhante "álbum" de figuras
de Deus, Lílian aos poucos estava compreendendo o seu
formato verdadeiro. A taça quebrada de amor estava fora do
caminho, embora ainda aparecesse muitas vezes. Estava sendo
substituído pelas imagens dadas por Deus como amigo, sábio,
profeta, sacerdote, rei, e cônjuge. Ela até identificou figuras
como servo ou escravo de Cristo. Mas ela se viu especialmente
como crente.
Lílian estava aprendendo o temor do Senhor, e estava
compreendendo a natureza do seu próprio coração. Havia
apenas uma parte remanescente: qual era o seu dever em
relação aos outros? O seu pastor nunca falou especificamente
sobre isso porque Lílian já havia corrido à frente em direção a
amar aos outros. Ela não falava mais como se as outras pessoas
lhe devessem alguma coisa. Em vez disso, começou a pensar
sobre maneiras criativas de amar. A sua pergunta tornou-se
razoavelmente simples: "Qual o meu dever diante de Deus
que me amou?"
Para Lílian, seu dever significava muitas coisas. Sob o
nome amor, ela procurava a trave em seu olho antes de falar
com seu marido sobre as suas manchas. Depois ela falou com
ele sobre como suas ações a tinham machucado. A sua bondade
e preocupação evidente com o relacionamento fizeram com que
suas palavras fossem fáceis de serem ouvidas por ele. Juntos,
começaram a orar sobre como amar seus pais, e procuraram
o conselho de outros amigos da igreja.
Ela decidiu que iria se aproximar de seus pais não crentes
desta maneira:
>► Ela iria compartilhar o que estava aprendendo sobre
si mesma e o temor do Senhor (na medida em que
seus pais estivessem interessados em ouvir).
Ela iria pedir o seu perdão por pecados específicos que
havia cometido contra eles, e pediria que levantassem
os problemas que ela tivesse esquecido.
Ela conversaria em particular com seus pais sobre
como eles também haviam pecado, e acrescentaria
que ela já os havia perdoado. Ela também decidiu
perguntar a seus pais se eles queriam falar mais
especificamente sobre acontecimentos passados. Caso
quisessem, ela ficaria feliz em conversar com eles.

O pastor então a abençoou com a Palavra de Deus: "...


porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo
Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Romanos 5:5). Isso
pode parecer estranho depois de tudo o que dissemos sobre
rejeitar uma visão da pessoa baseada na necessidade, na taça
de amor. As Escrituras está dizendo que somos taças afinal?
Na verdade não. Embora a metáfora de uma taça esteja em
uma visão geral, é uma taça que é carente espiritualmente, não
psicologicamente. O contexto esclarece a natureza exata desse
amor: "Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores"
(Romanos 5:8). Quando reconhecemos que as pessoas vêm a
Deus na forma de pecadores desesperadamente necessitados
de graça, todos os conselheiros deveriam buscar inundar o
aconselhado com o amor de Cristo. Se você é o conselheiro,
essa deveria ser a sua maior alegria: derramar cada vez mais
o amor de Deus sobre aqueles que estão espiritualmente
sedentos. Isso, afinal, trará grande glória ao nome de Cristo.

Um Conselheiro-Mestre

Tendo sido instruído pela Palavra de Deus e rodeado por


exemplos tão impressionantes como os de Tim, Martinho
Lutero e Lílian, eu também estou aos poucos aprendendo a
temer a Deus mais do que ao homem.

Quando minha esposa me repreende com razão, eu


consigo ouvir e aprender - geralmente. Quando me sinto como
um fracasso miserável, em vez de ficar me lastimando de um
lado para o outro durante dias eu pergunto rapidamente:
"Qual é o meu dever?"
Deixe-me dar-lhe uma imagem do antes e do depois que
eu espero irá encorajá-lo.
Eu estava lecionando em uma classe da Fundação
Educacional e de Aconselhamento Cristão onde trabalho. O
curso teve seus altos e baixos, mas uma aula em particular foi
especialmente pra baixo. Até eu achei chata.
Você já esteve alguma vez em uma escola de ensino
fundamental quando toca o sinal de final da aula? Parece
alguma coisa como a corrida de touros na Espanha. Parece que
as crianças literalmente explodiram para fora do prédio, soltas
da prisão. E claro, esse comportamento desaparece conforme
as crianças vão crescendo.
Quando o sinal tocava no final da minha aula - acordando
alguns dos meus alunos impacientes - os alunos pareciam
estar de volta a uma escola de ensino fundamental. Eu
nunca tinha visto uma classe vazia em tão pouco tempo. Isso
provavelmente causou um deslocamento de ar, como o que
você sente quando passa um caminhão. Ninguém fez pergunta
alguma. Ninguém se despediu.
Eu fui pra casa, sentei-me à mesa de jantar, e comecei
imediatamente a olhar nos classificados, esperando encontrar
um emprego onde eu não precisasse ver ou conversar com
ninguém.
"C oitado de mim. Que fracasso terrível. Eu estou
humilhado. Eu nunca mais quero ver aqueles alunos de novo",
pensei.
E eu folheei o jornal, parecendo um garotinho que perdeu
seu cachorro (e esperando que minha esposa me perguntasse o
que estava acontecendo), minha esposa finalmente perguntou
por que eu parecia tão desanimado. Depois de ouvir a história
lamentável, ela me deu alguns conselhos preciosos.
"Pare com isso", disse ela. "Você tem responsabilidades
com os seus alunos."

Não era exatamente o conselho que eu queria ouvir. Eu


queria ser suprido com empatia e amor incondicional. "Ah,
querido, tenho certeza de que a aula foi ótima, e mesmo que
não tenha sido, eu ainda acho que você é ótimo..." Se ela tivesse
pedido, eu poderia ter preparado um roteiro da sua resposta.
Mas ela escolheu algo que foi mais diretamente ao coração.
"Pare com isso" era exatamente o que eu precisava. Era a
forma abreviada de: "Por que você está tão preocupado com
você próprio? Eu quero você se livre do seu egoísmo temendo
a Deus e conhecendo o seu dever."

A chamada de Sheri enviou-me para uma nova conduta.


Eu comecei a olhar mais seriamente para o egoísmo e o orgulho
que se escondiam por trás do meu "Coitado de mim" exterior.
Não foi agradável. Como sugeriu João Calvino, eu não era uma
taça de amor; eu era uma fábrica de ídolos. Eu queria adorar
alguma coisa ou alguém que me desse glória. Não muita glória,
é lógico. Apenas o suficiente para me fazer sentir bem comigo
mesmo. Se meus alunos-ídolos pudessem ter pelo menos feito
algumas perguntas boas depois da aula e não tivessem saído
correndo daquele jeito, teria sido suficiente - por ora.

A minha taça estava cheia com o "eu". Não estava vazia.

De mãos dadas com essas percepções dentro do meu


coração enganoso estava um profundo entendimento do
perdão de Deus. Na verdade, pode ter sido a primeira vez que
eu entendi que o perdão de Deus para mim era um perdão
santo, tão santo que deveria ser temido. Eu estava maravilhado
e abençoado pelo amor de Deus por mim como um pecador.
Armado com essa confiança em seu amor perdoador, eu podia
orar ainda mais ousadamente para que Deus continuasse a
examinar e a revelar o meu coração.

Os próximos seis meses não foram repletos de introspecção


penosa. Em vez disso, foram bons momentos de uma auto-
análise biblicamente orientada e auxiliada pelo conselho de
familiares e amigos. Não aconteceram grandes explosões
de descobertas, apenas um conhecimento gradual sobre os
problemas do coração.
Eu descobri que o orgulho era profundo. Por trás do
desanimo de pequenos fracassos estava o desejo de ser alguém.
Eu queria ser o grande mestre. Eu queria ser suprido com o
respeito dos meus alunos. Eu queria ter as aulas mais amadas.
"Eu quero..."
Descobri que aquelas pessoas eram grandes, os meus
desejos de glória própria eram ainda maiores, e Deus era
pequeno. Eu estava muito mais preocupado com o louvor dos
homens do que com o louvor de Deus. Eu era um adorador
de pessoas, esperando que elas me dessem a bênção que eu
desejava. Descobri que precisava da minha classe para os meus
propósitos mais do que por amá-los. O caminho para deixar
o temor do homem era o caminho da confissão do pecado e o
arrependimento. Não havia outras alternativas.
A prova veio aproxim adam ente três anos depois.
Estávamos no meio do semestre e eu estava dando uma aula.
Tudo estava bem, mas uma matéria foi como uma bomba.
Eu senti como se estivesse dando uma informação sem valor
algum.
Se eu pudesse ter dormido, eu teria. Em vez disso, eu
deixei uma classe educada mas sonolenta sair alguns minutos
mais cedo.
A volta pra casa f o i... diferente. Eu não estava pensando:
"O que os alunos estão pensando de mim?" Em vez disso, eu
comecei a refletir sobre o meu dever. Eu percebi que precisava
passar mais tempo preparando a próxima aula. Eu queria
chegar em casa para preparar a aula da próxima semana.
Percebi que Deus havia me chamado para lecionar aquele
semestre, e eu tinha certeza de que Ele tinha muito mais em
mente do que simplesmente me humilhar. Eu acreditava que
Ele queria que eu ensinasse e discipulasse os meus alunos.
Eu me comprometi a chegar preparado para a próxima aula,
empolgado com o que eu estava ensinando, e transformado
pessoalmente pelo que estava ensinando.
Foi uma semana e tanto. Foi uma semana de libertação das
armadilhas do temor do homem. Em vez de ficar preocupado
com a auto-insegurança e autocomiseração, eu pedi à minha
esposa e a outros amigos que orassem pela aula. É claro, eu orei
também. Provavelmente eu tenha orado mais aquela semana
do que eu havia feito durante meses. Mas não era a oração do
"faça dessa aula um sucesso" que eu costumava fazer. Era "Que
o Teu nome seja glorificado e que os alunos possam crescer no
conhecimento e na obediência a Ti."
Com certeza, eu tenho tropeçado de lá para cá, mas não
há nenhuma volta aos dias solitários do ensino médio. Agora
eu tenho a maravilhosa (temível) presença de Deus. Eu vivo
debaixo do Seu olhar. Você se lembra do olhar? O olhar que
revela a nudez e a impureza? Esse é um olhar diferente.

É o olhar da aceitação. Ele foi experimentado pelos


israelitas que tinham o sangue em suas portas. Quando o
sangue era visto, o anjo da morte passava direto.
E o olhar que vê a cobertura da culpa e da vergonha. O Pai,
que sempre cumpre a Sua palavra, diz que perdoa e purifica.
Quando Ele diz que irá glorificar o Seu nome através de nós,
com certeza Ele o fará.
É o olhar de proteção e poder. Ele vem do Rei que nos ama
e nos dá o reino (Lucas 12:32).
É o olhar do noivo que ama dar os melhores presentes para
a sua noiva, e o melhor de todos os presentes é a sua presença,
o Espírito Santo (Lucas 11:13).
Esse é o olhar que transforma. Ele expulsará o temor do
homem e será uma bênção para todo o povo de Deus. Como
sacerdotes de Deus, deveríamos orar pelo nosso cônjuge, pelos
nossos amigos, nossos filhos, e por toda a igreja.
O SENHOR te abençoe e te guarde; o SENHORfaça resplandecer
o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o SENHOR sobre
ti levante o seu rosto e te dê a paz. (Números 6:24-26)
O rgu lho, sensibilidade à flo r da pele, super-
proteção, evitar os outros, envergonhar-se
Q uando as
facd m ente, agradar pessoas, necessidade de

PESSOAS aprovação...

Você ficará surpreso ao descobrir com o o tem or


SÃO G RA N D E S dos outros o controla —e o que você pode fazer a
esse respeito.

“ .. . anim adoram ente bíh lico ... E ste livro está


transbordando de idéias ú teis, agradáveis e
práticas. E le m e faz lem brar cada vez m ais quão
sim ples, em bora profunda, é a sabedoria
encontrad a n a Palavra de D eu s ."

- JOHN P. MACARTHUR, JR.

" E d W e lc h é u m b o m m é d ic o d a a lm a . E le d ia g n o s tic a c o r r e ta m e n te
a n o s s a c o n d iç ã o p e c a m in o s a , a p r e s e n ta o s fa ls o s re m é d io s d a
p s ic o lo g ia p o p u la r m o d e rn a , e id e n tific a c o r r e ta m e n te a v e r d a d e ira
p r e s c r iç ã o p a ra s u p rir as n o s s a s n e c e s s id a d e s . Q u a n d o as P esso a s
São G ran d es e D eu s é P equ en o é e sc la re ce d o r, p e rs u a siv o e
e n c o ra ja d o r. A lta m e n te r e c o m e n d a d o ". —JERRYBRIDGES

" E s t e liv ro é a g ra d á v el e a n im a d o r, m a s é m u ito m a is . E d W e lch


c h e g a a o c o r a ç ã o de u m p r o b le m a q u e e s tá im o b iliz a n d o a ig r e ja de
J e s u s e m n o s s o s d ia s. E l e a p re s e n ta e re p u d ia as tr iv ia lid a d e s da
t e o lo g ia te r a p ê u t ic a , f a z e n d o -o , p o rém , com s a b e d o r ia e
c o m p a ix ã o ". —SUSANHUNT

" E u n ã o c o n h e ç o n e n h u m o u tr o liv ro q u e tr a te tã o p le n a m e n te c o m
o te m o r do h o m e m e os se u s e fe ito s n o c iv o s . D ev e se r lid o p o r
c o n s e lh e ir o s q u e se p re o c u p a m e m a ju d a r o u tro s a fa z e r a lg o so b re
o a s s u n to ". —JAYE. ADAMS

ISBN 978-85-7414-019-3

9 788 574 140193

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