Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
“As luvas brancas são na Maçonaria não apenas um símbolo, mas também
objetos rituais. Sabe-se, de maneira certa, que um magnetismo real emana da
extremidade dos dedos, e as mãos enluvadas de branco só deixam filtrar um
magnetismo transformado e benéfico. Em uma assembléia de Maçons onde todos
estão com luvas brancas, cria-se um ambiente muito particular que até o menos
avisado sente muito nitidamente. Uma impressão de apaziguamento, de
serenidade, de quietude segue-se muito naturalmente. A modificação trazida por
este “signo exterior” é mais profunda do que se poderia crer. Ocorre o mesmo
com muitos de nossos símbolos, que se tornam eficientes quando passam do
plano “mítico” para o plano “ritual”... (J. Boucher : Simbólica Maçônica)
De nossa parte, agradecemos a Jules Boucher por ter ele deixado aos
Maçons este magnífico trabalho que é seu livro, e felicitamo-nos por ter
conseguido acrescentar à Cadeia milenar de nossa Ordem este “elo” de alto valor.
53
Quando de sua recepção nas Obediências fiéis à tradição maçônica secular
conscientes de suas responsabilidades iniciáticas, o Aprendiz recebe dois pares
de luvas brancas, um para ele próprio e que usará no decorrer dos trabalhos em
Loja, e o segundo destinado à mulher que ele mais estima...
“O Ritual, contínua Oswald Wirth, faz observar que nem sempre é a que
mais se ama, pois o amor, freqüentemente cego, pode se enganar a respeito do
valor moral desta que deve ser a inspiradora de todas as obras generosas e
grandes...” (O livro do Aprendiz, Oswald Wirth)
* * *
54
As luvas litúrgicas foram sempre luvas com dedos separados e não
mitenes. Cada dedo, correspondendo a uma simbólica planetária particular 1 , devia
conservar sua independência e, portanto, sua irradiação própria. A exemplo do
Manto Sagrado, freqüentemente exigia-se que a luva fosse tecida em uma só
peça, para mostrar que a diversidade de irradiações oferecida pelos dedos se
ajustava a uma dependência geral em vista da finalidade comum: a b enção e a
vida espiritual. Sua forma se modificou com o tempo, adaptando-se à moda laica.
Talvez o Maçom deva reler a Lenda de Hiram, na versão drusa relatada por
Gérard de Nerval em sua Viagem ao Oriente, muito particularmente os últimos
parágrafos das Noites De Ramazan:
“Assim se realizou a predição que a sombra de Enoque havia feito, no
império do Fogo, a seu filho Adoniram, nestes termos: “Tu estás destinado a nos
vingar, e este templo que tu elevas causará a perda de Salomão”.
* * *
1
O indicador: Júpiter — O médio: Saturno — O anular: Sol — O auricular: Mercúrio — O polegar:
Vênus — A percussão: a Lua.
2
Cf. R.Aigrain: “Liturgia”, Blond e Gay Editores, Paris 1947.
3
Balkis é o símbolo esotérico da misteriosa “Noiva” do Cântico dos Cânticos, ou seja, a Shekinah
divina.
55
Maçonicamente, a luva se reveste de aspectos mais sutis ainda que os da
liturgia religiosa cristã.
* * *
4
Todas estas locuções antigas figuram nos antigos dicionários franceses de Littré.
5
Ver “Adivinhação chinesa pelo I-King”, de Yüan-Kuang (Paris, 1950, Voga edit.)
56
Esta planta servia além disto, nos antigos herbários, depois de colhida e
posta em infusão segundo ritos precisos, para curar os males dos olhos, ampliar a
visão. Dai seu outro nome de aiglantine , pois a águia (“aigle” em francês) é o
único pássaro capaz de, por causa da sua dupla pálpebra, contemplar o Sol de
frente.
E existe ainda material de jogo para a cabala fonética, ou cabala solar, pois
as luvas em latim se chamam manicae (de manus: mãos, evidentemente), termo
sobre o qual se pode estabelecer um jogo de palavras com maniqueu, epíteto
aplicado aos Templários e aos Cátaros pelos seus adversários. E, de fato, se o
6
É por sua “luva” que se diz que “Nossa Senhora” de São Wandrille (a célebre abadia
beneditina) conduz o Iniciado para a Luz, pois que é dita: “... a neqotio perambulante in Tenebris
...“ ou seja: “Aquela que conduz os que caminham nas trevas...” O que significa que é pelo
conhecimento que o Iniciado assegura sua salvação póstuma. “Se tivéssemos de escolher entre a
Salvação e a Gnose, nos diz Clemente de Alexandria, nosso interesse seria escolher a Gnose...’.
O fato de tirar as luvas é, por outro lado, marca de honra, quando nos preparamos para encontrar
alguém a quem desejamos manifestar nosso respeito, como quando da apresentação a um
Soberano, ou quando os Maçons fazem a cadeia de união, invocando o Grande Arquiteto do
Universo.
Um dos aspectos mais profundos desse uso secular se encontra no ritual da caça (caça com
galgos e a cavalo). No momento em que o chefe da equipe deve “servir” (abater) a “caça nobre”,
(cabrito montês, cervo), com a adaga (ou seja, a ferro, como um gentil-homem), e isto em
presença dos “vassalos” (os membros da equipe) e dos valetes de armas (os cães da matilha) ,
as trompas soam o “halali, em terra”. (Deve-se descer do cavalo).
Neste momento todos tiram as luvas, é privilégio do primeiro picador confiscar as luvas daqueles que
esquecem que as honras prestadas ao animal que vai morrer, unem em um mesmo sacrifício, tão
misterioso quanto grandioso, o Homem, o Animal e a Floresta.
57
dualismo não existe no Absoluto, existe no Relativo. Daí o juramento pitagórico:
“Pelo Céu e pela Terra, pela Luz e pelas Trevas, pelo Dia e pela Noite, pelo Sol e
pela Lua, pelo Fogo e pela Água...” Ora, assim como os Maçons, os maniqueus
se diziam “ Filhos Da Luz”, e são dois pares de luvas que o Venerável entrega ao
novo Aprendiz 7...
7
“Eu sou Elohim, o único Senhor, criador da Luz e criador das Trevas...” Isaías 45:6-7. “Eu Faço
a Paz, e crio o Mal...” Isaías 45:7. Não são essas, na Bíblia, alusões maniqueístas?
58