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PUC-SP
SÃO PAULO
2013
2
Euzébio Jorge Silveira de Sousa
SÃO PAULO
2013
1
Banca Examinadora
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RESUMO
3
ABSTRACT
4
Lista de Tabelas
5
Lista de Gráficos
6
Lista de quadro
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10
1. DESEMPREGO TECNOLÓGICO E AS DIFERENTES VISÕES TEÓRICAS .... 15
1.1. Ricardo ......................................................................................................... 15
1.2. Marx.............................................................................................................. 20
1.3. Schumpeter .................................................................................................. 30
1.4. Neo-schumpeterianos................................................................................... 34
1.5. Teoria da Regulação .................................................................................... 38
2. O DESEMPREGO E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS .................................. 41
2.1. A maquinaria e a Primeira Revolução Industrial ........................................... 41
2.2. O Emprego no Período da Primeira Revolução Industrial ............................ 43
Ã-BRETANHA - 1813 - 1850 ..................................................................................... 45
2.3. O emprego na primeira fase da revolução industrial .................................... 47
2.4. A luta do homem contra as máquinas e o movimento Luddita ..................... 50
2.5. Tratamento dado ao desemprego no século XIX ......................................... 53
2.6. A crise de mudança da Primeira Revolução Industrial e a transição para
outro padrão de acumulação. .................................................................................... 56
2.7. Inovações organizacionais. .......................................................................... 57
2.8. Segunda Revolução Industrial e seus diferentes impactos no nível de
emprego .................................................................................................................... 60
2.8.1. Primeira fase da segunda revolução industrial (1898 – 1945) ...................... 61
2.8.2. Segunda fase - pós-guerra a meados de 1970 ............................................ 65
3. A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, DESEMPREGO TECNOLÓGICO E
SUPERAÇÃO DO FORDISMO ................................................................................. 70
3.1. Inovações tecnológicas e organizacionais poupadora de trabalho e a
produtividade ............................................................................................................. 73
3.2. O desemprego e a formação no pós-fordismo ............................................. 81
3.3. O desemprego e a tecnologia no pós-fordismo ............................................ 83
3.4. A flexibilização do trabalho e os sindicatos .................................................. 86
4. O DESEMPREGO TECNOLÓGICO NO BRASIL E O IMPACTO DA
PRODUTIVIDADE ..................................................................................................... 92
4.1. Abertura comercial da década de 90: Emprego, produção e produtividade . 92
4.2. O Brasil na nova economia........................................................................... 94
4.3. Variação do nível de emprego, produtividade e abertura comercial ............. 98
4.4. Ocupação versus elevação da produção na abertura comercial ................ 100
4.5. Emprego e produtividade na década de 90, período de abertura Comercial.
1074.6.Análise empírica de 2001 a 2002 do Modelo de Geração de
Emprego. ................................................................................................................. 113
4.7. Análise setorial de 1994 a 2006 com modelo dinâmico e retornos não
constantes no modelo de geração de emprego. ..................................................... 121
4.8. Elevação de emprego com aumento da demanda por ganhos de
produtividade: Ajuste do tipo Crescimento. ............................................................. 131
4.9. Emprego, crescimento, produtividade e política pública ............................. 133
CONCLUSÃO.......................................................................................................... 136
Bibliografia............................................................................................................... 143
INTRODUÇÃO
10
Outra importante contribuição de Marx para entendimento da relação entre
tecnologia e emprego foi a constatação de que a dinâmica de acumulação não se
guia apenas por variáveis econômicas. Os regulacionistas assimilam este
entendimento e incluem os elementos institucionais como variável determinante na
lógica de acumulação, se sobrepondo muitas vezes aos fatores tecnológicos. Os
elementos institucionais também são analisados pelo pensamento neo-
schumperiano, que resgata o pensamento de Schumpeter para explicar a dinâmica
econômica, a partir dos longos ciclos tecnológicos, o que ele chama de paradigma
tecno-econômico. Ainda que Schumpeter não tenha dado grande atenção ao
impacto da tecnologia nos níveis de emprego, seu entendimento do progresso
tecnológico, como um processo de destruição criativa, fortaleceu a teoria da
compensação1.
1
A teoria da compensação afirma que para cada importante mudança tecnológica que destrói
postos de trabalho, verifica-se o surgimento de outros postos, dado a criação de outras cadeias
produtivas, produtos e mercados.
11
O declínio do fordismo, o surgimento de novas tecnologias e o desarranjo
institucional verificado na década de 1970 reacende diversos debates sobre a
relação entre tecnologia e emprego. A capacidade que as novas tecnologias têm de
economizar trabalho e elevar a eficiência apontou para a possibilidade de uma
relação direta entre progresso tecnológico e o fim do pleno emprego. Inovações
organizacionais foram maximizadas pela capacidade de processamento de dados e
controles de processos em resultados provenientes das tecnologias da informação e
comunicação (TIC). Associado a isso foi verificado grande desregulamentação do
trabalho e intensificação da terceirização. A globalização financeira, a estrutura de
marcado desregulamentada e altamente concentrada, com grande concorrência
global, proporcionou um ambiente internacional com um arranjo institucional
bastante distinto do fordista.
12
automatizavam as parcelas mais complexas do trabalho, restando ao homem a
tarefa de força motriz.
13
setores exercem maiores impactos na geração de empregos, crescimento e
produtividade dado seu conteúdo tecnológico.
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1. DESEMPREGO TECNOLÓGICO E AS DIFERENTES VISÕES
TEÓRICAS
1.1. Ricardo
Ricardo aponta duas saídas para tal dilema: elevar a produtividade, ou recorrer
ao comércio exterior por meio das vantagens comparativas, que poderiam garantir
maiores ganhos produzindo bens mais compatíveis com sua estrutura produtivas e
recursos naturais.
15
sobre a influência do baixo preço do trigo sobre os lucros do capital, mostrando a
inconveniência de restrições à importação” (COUTO, FREITAS e COUTO, 2009, p.
7) que com os avanços da produtividade, provenientes da maquinaria, o salário real
do trabalhador se elevaria, assim sendo benéfico para a classe trabalhadora o
avanço tecnológico.
16
Mas os argumentos de Barton ainda não foram suficientes para convencer
Ricardo sobre os malefícios da maquinaria para trabalhadores e o autor publica a
segunda edição de seu mais importante trabalho, sem o aceitar o desemprego
tecnológico.
17
McCulloch, que só ficara sabendo das mudanças de posições de Ricardo em
1921 com a publicação da terceira edição do livro de Ricardo, demonstra-se
desapontado por Ricardo não citar o seu artigo, que concordava com as idéias de
Barton. McCulloch chega a dizer que se as posições de Ricardo estavam corretas, a
lei contra os Ludditas na Inglaterra era uma vergonha ao código Inglês. Ricardo,
respondeu a McCullonch em uma carta de 18 de junho de 1821, que o desemprego
tecnológico é tão demonstrável quanto “qualquer das correspondentes à geometria”.
Ricardo diz que acreditava que a maquinaria tornava a terra mais produtiva,
trazendo benefícios para o proprietário da terra e para os trabalhadores, uma vez
que no momento que o trabalhador fosse substituído por uma máquina, este seria
empregado em outro setor da economia, onde seria mais útil para a sociedade. O
autor defendia, ainda, que o capital circulante que deixava de ser empregado nos
salários dos trabalhadores não deixava de existir, era apenas redirecionado. Assim,
se a elevação da produtividade e dos lucros empurrasse para a elevação dos
investimentos, o desemprego não surgiria.
Para explicar sua mudança de opinião, o autor utiliza o exemplo dos rendimentos
líquidos de um país e sugere que uma nação pode elevar sua produção (seus
rendimentos líquidos) sem elevar o nível de salários, podendo ainda elevar a
população excedente. E, com isso, elevar o desemprego e piorar a condição de vida
dos trabalhadores. Elencando mais um elemento, apresenta que a redução do
número de trabalhadores também diminui a demanda por bens de consumo dos
trabalhadores, podendo causar ainda mais desemprego. Ricardo utiliza o exemplo
da produção agrícola dos Estados Unidos, que apresentava elevado nível de capital
18
circulante, dado os baixos níveis de salários. O contrário se verificava na Inglaterra,
onde os elevados salários eram estimulados cada vez mais pela inserção da nova
maquinaria poupadora de força de trabalho.
Hicks sugere que faltou um modelo aritmético para uma melhor compreensão da
visão de Ricardo sobre a maquinaria e o que ocorreria no longo prazo se o
trabalhador fosse substituído pela máquina. Ao propor um modelo, Hicks inclui as
variáveis: estoque inicial de máquinas, produção, nível de emprego e desgaste da
máquina. Hicks utiliza o modelo aritmético para fazer as seguintes conclusões sobre
19
a elaboração de Ricardo: uma inovação tecnológica teria o papel de poupar força de
trabalho, elevaria o lucro do empresário, permitindo que o dono da fábrica elevasse
sua poupança e por conseqüência os investimentos. No primeiro momento se
verificaria uma elevação do desemprego, mas depois, com a expansão da produção,
o nível de emprego se elevaria a um patamar superior ao verificado antes da nova
tecnologia.
Com seu modelo, Hicks apresenta que o desemprego apontado por Ricardo,
proveniente da elevação das tecnologias, teria um efeito transitório. O capital gerado
pela nova tecnologia trataria de eliminar o desemprego e levar a economia a
patamares superiores em termos de nível de produção e de emprego.
1.2. Marx
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da maquinaria. Em 1832, por pressão dos trabalhadores, a jornada de trabalho foi
limitada em 12 horas diárias. Em 1847, já foi reduzida para 10 horas nas fábricas de
linho, seda, lã e algodão, como estímulo à implementação da maquinaria.
Observando dados de meados do século XIX, Marx verificou que mesmo com a
queda de postos de trabalho, a expansão da maquinaria tinha elevado muito a
produtividade das fábricas inglesas, levando o autor a crer que não existia forma
mais eficiente de aumentar a produtividade. Porém, Marx também descreve as
conseqüências promovidas pela maquinaria no capitalismo:
Marx faz uma descrição bastante rica dos dissabores promovidos pela
maquinaria no século XIX. Por mais inadequada que possa ser a luta dos
trabalhadores contra os meios de produção, fetichizando a máquina e a tecnologia,
dado o martírio a que o trabalhador é submetido com os ciclos de inovações
tecnológicas, é compreensível sua revolta com algo que este supõe materializar sua
condição de peça substituível. O autor afirma não acreditar na transitividade dos
21
malefícios causados ao trabalhador. “O meio de trabalho mata o trabalhador”
(COUTO, FREITA, COUTO, 2009)
22
produtividade abaixo da média e outras acima da média. Quando nos referimos a
capitalistas do mesmo setor da economia, fica evidente que este busca ter uma
produtividade acima da média de seu setor. Isso pode lhe render um aumento de
mais-valia extra, segundo Marx. Esta mais-valia se dá porque a produtividade acima
da média torna as horas de trabalho de seus trabalhadores uma fonte mais rica de
valor, desta vez não só de valor de troca. Este processo não é diferente para o
capitalista com produtividade abaixo da média, o trabalho deste é uma fonte menos
rica de produção de valor.
23
elevando o trabalho morto e reduzindo o trabalho vivo, capaz de transferir e gerar
valor.
Segundo Marx,
A elevação da produtividade não cria condições para o capital ampliar sua forma
homogênea de valorização. Tendo assim que buscar a centralização de capital para
tentar reduzir a tendência decrescente de taxa de lucro, que expressa um caso
específico do fenômeno descrito no trecho acima no Grundrisse de Marx.
24
trabalho empregado para além do que valor de seu salário é apropriado pelo
capitalista como mais-valia.
O capitalista ampliará seu capital quão mais rápido puder realizar a rotação do
mesmo. Esta transformação de capital em mercadoria e mercadoria em mais
dinheiro eleva a velocidade de acordo com a capacidade de aumentar a composição
orgânica do capital, ou seja, elevação do trabalho morto frente ao trabalho vivo.
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ganho de mais-valia extraordinária, enquanto esta inovação não for generalizada em
determinado segmento da economia.
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na produção, isso para garantir que sua produção transcenda a eficiência média da
produção de tais mercadorias. Buscando a mais-valia extraordinária, os capitalistas
adquirem muitas vezes a mais-valia relativa, porém, tal mecanismo, segundo Marx,
preda a capacidade do capitalista elevar as taxas de mais-valia, causando inclusive
uma tendência de declínio das taxas de lucro.
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precisa imprimir outro avanço tecnológico, utilizando-se do que Schumpeter
chamaria de monopólio temporário. O capitalista passaria mais um período
apropriando-se da mais-valia extraordinária, com elevação da composição orgânica
do capital, elevando assim o trabalho passado, cristalizado em meios de produção, e
reduzindo a força de trabalho criadora de valor.
Kalecki (1977) lembra que o pleno emprego poderia retirar o caráter disciplinar
das demissões, podendo causar uma elevação no nível de confiança dos
trabalhadores, que estariam mais suscetíveis a questionar poder patronal. O autor
defende ainda que é provável que os lucros em um quadro de pleno emprego sejam
maiores, ainda que o os salários crescessem em um ambiente de elevado poder de
barganha do trabalhador. Mas Kalecki apresenta que os aumentos dos salários
estavam mais propensos a elevar preços do que a reduzir os lucros.
O ambiente de pleno emprego descrito por Kalecki sugere ainda que a elevação
do poder de barganha dos trabalhadores os colocaria em processos crescentes de
elevação da radicalidade nas greves, podendo colocar em xeque o próprio sistema.
28
Para o autor, certo nível de desemprego é inerente do sistema e a tecnologia
produzida por este sistema tende a obedecer tal lógica.
29
suas bases. Couto, Freitas e Couto (2009) apresentam uma síntese bastante
relevante para Marx:
1.3. Schumpeter
30
rearranjo institucional. As crises se verificam quando tal paradigma é incapaz de
atribuir o dinamismo que a economia capitalista necessita, com as taxas de lucro
almejadas pelos proprietários dos meios de produção. A busca de um equilíbrio e a
acomodação da expansão anterior tendem a constituir uma das faces das crises
capitalistas. Schumpeter (1997) apresenta abaixo o caráter cíclico da acumulação
capitalista, afirmando que:
31
QUADRO 1.1 - Ondas longas ou ciclos econômicos com (com base em
Schumpeter)
CICLOS A B C D
32
primas, padrões de acumulação. Este tipo de inovação ainda promove o que
Schumpeter chama de destruição criativa, elemento fundamental na construção do
entendimento do autor sobre o desenvolvimento capitalista e as possibilidades de
criação de desemprego no processo de inovação tecnológica.
33
tecnológico é criado por ciclos e superado em ciclos, seria incongruente não
considerar o desemprego tecnológico como cíclico. Na medida em que as
inovações criam tecnologias poupadoras de força de trabalho, estas geram outros
postos de trabalho em outra indústria ou ramo da economia.
1.4. Neo-schumpeterianos
34
tecnológicas, mas acrescentam outros elementos à visão de Schumpeter. Utilizam-
se de elementos da teoria pós-keynesiana como as expectativas, partindo do
pressuposto que a incerteza tem um papel fundamental no ímpeto do empresário
inovador realizar investimentos em novas tecnologias. Os neo-schumpeterianos
estabelecem um bom diálogo com a teoria regulacionista, uma vez que acreditam
que as mudanças institucionais são elementos fundamentais tanto no processo de
desenvolvimento econômico, como no desenvolvimento de novas tecnologias.
35
Uma mudança tecnológica pode, por exemplo, exercer ao menos duas
tendências no nível de emprego da economia. Se por um lado uma importante
inovação tecnológica eleva o nível de investimento, e portanto tende a elevar o nível
de emprego, por outro lado, como se verifica na maior parte dos casos, as inovações
tecnológicas tendem a ser poupadoras de mão de obra. Para identificar se tal
padrão tende a gerar desemprego tecnológico ou não, vai depender de fatores
institucionais, organizacionais e etc.
Uma importante constatação feita por Freeman et alii (1982, p. 75-80) é que um
mesmo padrão tecnológico tende gerar diferentes efeitos no nível de ocupação, em
cada estágio do ciclo. Esta constatação remete mais uma vez à natureza cíclica do
desemprego, presente nos apontamentos de Schumpeter. No início da
implementação de um determinado padrão tecnológico, a elevação dos lucros tende
a gerar mais investimentos e com isso se eleva o nível de empregos e salários.
Neste período, há possibilidades de investimentos conduzirem a economia ao
crescimento econômico. Com o avançar do ciclo, o paradigma se estabiliza e
verifica-se a existência de uma tendência à elevação da concorrência
intercapitalista, que reduz os lucros para lucros normais, diminuindo a incidência de
lucros extraordinários. Neste processo, as inovações tendem a ser mais na esfera
organizacional e não de produtos, são poupadoras de força de trabalho e contribuem
com a geração de desemprego em tal fase do ciclo de acumulação. As inovações
organizacionais estão voltadas, no geral, para racionalizar o processo produtivo, no
intuito de poupar força de trabalho.
36
produção, ao invés de investimentos em expansão e investimento em reposição de
capital fixo.
37
das configurações futuras; 8) os impactos da tecnologia sobre o nível de
emprego dependem não só do tipo das inovações tecnológicas, mas da
fase do ciclo em que a economia se encontra; 9) no mundo real existem
diversas inflexibilidades técnicas e institucionais que impedem que a
economia caminhe inequivocamente para um equilíbrio de pleno-emprego;
e 10) em razão disso, as políticas públicas cumprem papel fundamental na
geração de emprego. (TOYOSHIMA, 1997, p. 34)
38
determinadas instituições variam de acordo com o momento histórico e suas
instituições. A melhor configuração de regulação das relações salariais não são as
mesmas no começo do século XX e no início do século XXI. A cultura do povo, a
legislação, as tecnologias e o padrão de acumulação capitalista são bem distintos de
um período para o outro e requerem diferentes formas de regulação para gerarem
os benefícios sociais possíveis. Para os neomarxistas, o futuro não está
predeterminado, o progresso ocorre em um ambiente de múltiplas possibilidades, o
desenvolvimento surgirá como fruto do conflito dialético de diversas variáveis
(PAMPLONA, 2001).
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importância que cada escola atribui à tecnologia e aos fatores institucionais. De
acordo com a escola regulacionista, a variação de emprego está mais relacionada a
rearranjos institucionais que tecnológicos. Uma grande modificação tecnológica
tende a causar impactos transitórios no nível de emprego, mas à medida que ocorre
uma rearticulação entre as instituições, os impactos tendem a ser mitigados pelas
modificações nas legislações, na ação dos trabalhadores e nas demandas sociais.
40
2. O DESEMPREGO E AS MUDANÇAS TECNOLÓGICAS
Em “O Capital”, quando Marx (2003) cita John Stuart Mill no capítulo sobre a
maquinaria, ele o faz com o intuito de expor a obviedade concluída por Mill. Para
Marx, o processo de avanços das forças produtivas não pode ser outro, que não,
baratear a mercadoria, reduzindo o tempo de trabalho pago ao trabalhador e,
consequentemente, ampliando o trabalho não pago.
Outra distinção também citada pelo autor entre máquina e ferramenta está no
elemento determinante da força motriz da máquina. Se esta é movida por força
humana, é classificado como ferramenta, se “por uma força natural, diversa a do
homem como força animal, força da água, a do vento e etc” (Marx, 2003, p. 428)
deve ser classificado como máquina. Tal definição é incoerente na visão do autor,
visto que se assim o fosse, aceitar-se-ia que a criação das máquinas precede aos
ofícios manuais, uma vez que a aplicação de força animal pelos homens é uma das
mais antigas invenções da humanidade.
Para uma distinção adequada entre máquina e ferramenta, Marx sugere uma
análise mais atenta ao funcionamento da máquina e de seu processo de
desenvolvimento. O autor define as três partes fundamentais na composição de uma
máquina, que são: o motor que produz a força motriz do mecanismo, através de
vapor, rodas d’água, força animal, vento, ou até mesmo força humana; a
41
transmissão, que é o mecanismo que converte o movimento gerado pelo motor para
um movimento adequado à máquina-ferramenta – este elemento é formado por
engrenagens, cordas, rodas dentadas, barras, cabos e outras formas de transmitir a
força do motor –; e por último o autor descreve a máquina-ferramenta, que é o
mecanismo que “se apodera do objeto do trabalho e o transforma de acordo com o
fim desejado” (Marx, 2003, p.429). Para Marx, as inovações nas máquinas-
ferramentas permitiram a revolução industrial do século XVIII, visto que a máquina-
ferramenta que é capaz de “transformar um ofício ou manufatura em exploração
mecanizada”.
Marx lembra que na Alemanha tentou-se colocar um fiandeiro para fiar com as
duas mãos e com os dois pés, mas não deu certo. Depois se tentou por meio de um
pedal que os fiandeiros fiassem com dois fusos. Mas, segundo Marx, “encontrar
fiandeiros que conseguisse realizar tal procedimento, era tão raro quanto homem de
duas cabeças” (MARX, 2003). Depois, a máquina de fiar de Jerry, logo no começo,
já fiava de 12 a 18 fusos. Assim, é demonstrado que a revolução industrial direciona-
se inicialmente à emancipação da máquina no que diz respeito à construção da
mercadoria, relegando ao homem o papel de força motriz.
2 Vale lembrar que a produção de mercadorias demanda uma produção uniformizada, com processos
semelhantes, com tempo de produção comparável, para assim permitir a criação de valores de troca.
42
revolução industrial e com o crescimento das máquinas, uma força motriz muito
superior a do homem é necessária para colocar em movimento máquinas de
tamanhos colossais. Impõe-se, assim, uma inversão, em que o homem assume o
papel de força motriz do processo de produção. Isso só foi possível porque houve
diversos avanços tecnológicos e foram descobertas novas matérias-primas, como o
aço.
43
conduzida pelo setor têxtil, indústria de máquina-ferramenta, metalurgia, introdução
da máquina a vapor e, de certa forma, a indústria química na Inglaterra no final do
século XVIII. Esta fase do capitalismo foi marcada por uma revolução nos
transportes também associada aos avanços na exploração do carvão mineral. Um
conjunto de outras inovações de menor relevância foi responsável para o salutar
ganho de produtividade, consolidando assim a transição da manufatura para a
produção fabril.
44
insuficiência de força de trabalho contribuiu para a elevação da maquinaria, porém, a
expansão das fábricas só foi possível pela elevação da oferta de trabalho no século
seguinte.
Teares Ano
2.400 1813
14.150 1820
55.500 1829
100.000 1833
250.000 1850
45
Os investimentos na indústria ocorreram em todos os setores que englobavam
tal fase de acumulação. A produção de “ferro-gusa, por exemplo, foi de 17.350
toneladas em 1740, 68.300 em I 788. 258.206 em 1806, 58!.367 em 1825, 1.248.781
em 1839 e 2.701.000 em 1852” (TOYOSHIMA, 1997, p 45). A Rede ferroviária saiu
cresceu quase cinco vezes de 1850 a 1870. A produção de sabão cresce 75% de
1820 a 1835 (LANDES, 1994). É possível identificar na tabela abaixo a taxa de
crescimento industrial no Reino Unido no século XIX.
ANOS %
1800/09-1810/19 22,9
1805/14 - 1815/24 29,5
1810/19- 1820/29 38,6
1815/24- 1825/34 45,2
1820/29- 1830/39 47,2
1825/34 - 1835/44 410
1830/39 - 1940149 37,4
1835/44 - 1845/54 38,7
1840/49- 1850/59 39,3
1845/54- 1855/64 33.2
1850/59 - 1860/69 27,8
FONTE: Deane e Cole (1962, p. 297).
46
2.3. O emprego na primeira fase da revolução industrial
47
expansão da indústria revolucionária, uma vez que a elevação da riqueza destas
expandiu demanda por todos os tipos de bens e serviços.
48
havido elevação da produtividade do trabalho, reduzindo os postos de trabalho, o
desemprego verificado no período em questão não assumiu um caráter permanente.
A economia européia que vira crises causadas por guerras ou pestes, passa a
conviver com crises e booms provenientes do caráter cíclico da acumulação
capitalista. O caráter cíclico do processo de acumulação foi analisado por diversos
autores, estabelecendo critérios distintos para a demarcação de um ciclo ou outro.
49
também foram experimentadas para arrefecer os malefícios gerados pelas crises.
Seria inevitável não remeter à maquinaria a responsabilidade pelo martírio vivido
pela classe trabalhadora, deslocada constantemente de sua posição na produção
para outro setor ou função relativamente desconhecida. Diversos movimentos se
rebelaram contra os avanços da maquinaria, elegendo esta como a algoz
destruidora de seu ganha-pão.
Para Cardoso e Guedes (1999, p. 28), a revolução industrial criou uma massa de
proletariados atraídos para as cidades por salários maiores do que os do setor
agrícola. Quadro que se reverteu com a elevação da oferta de mão de obra nas
cidades, aumentando o índice de desemprego e derrubando os salários para níveis
bastante baixos.
A análise que Marx faz sobre os avanços das forças produtivas por
consequência dos avanços tecnológicos antecede as preocupações dos
economistas clássicos com o desemprego tecnológico. Em “O Capital” o autor cita
Aristóteles, que sugeriu o seguinte:
50
valia extraordinária, a produção de mercadoria, o desejo (e necessidade) de
valorização do capital, promovem processos colossais de elevação de produtividade
e produção de riqueza concreta, real. Porém, diferente do que esperavam
Aristóteles, Ricardo (em uma parte de sua obra) ou mesmo Keynes, em seus
momentos de maior otimismo, o progresso tecnológico fundado nos marcos do atual
sistema promove a desocupação da força de trabalho.
51
reações agressivas dos operários contra as novas máquinas em vários
países da Europa (Inglaterra, Alemanha, França, Bélgica e Itália) nos anos
de 1718, 1724, 1726, 1728, 1740, 1765 e 1802. Três máquinas
impulsionaram as revoltas dos trabalhadores: a máquina de fiar automática
(1764), a máquina de fiar hidráulica (1769) e a máquina híbrida (1779).
Denis (1978) e Smiles (2004) relataram a destruição de várias fábricas na
Inglaterra, no ano de 1779, nos condados de Lancaster, Hargreaves,
Arkwright e Kay (COUTO, FREITAS E COUTO, 2009, p. 6)
52
2.5. Tratamento dado ao desemprego no século XIX
53
redução da jornada de trabalho. As pressões dos trabalhadores forçaram a
regulamentação da jornada de trabalho, com o intuito de reduzir sobretudo a jornada
de crianças e mulheres, que em algumas regiões trabalhavam mais de 13 horas por
dia. Durante a década de 1810 diversos atos Parlamentares reduziram a jornada
para 10 horas diárias, porém a não obrigatoriedade fez com que a regulamentação
não fosse cumprida. Em 1833 uma lei proíbe o trabalho para crianças menores de 9
anos na indústria têxtil, limita para 8 horas de trabalho para as crianças de 9 a 13
anos e no máximo 12 horas diárias para jovens de 13 a 18 anos. E 1844 uma lei
imita a jornada diária das mulheres em 12 horas e das crianças para 6,5 horas
diárias. Apenas 1847 e 1848 foram promulgadas leis fabris que transformavam a
jornada de trabalho da indústria têxtil, equivalendo-a às de outras categorias, ou
seja, reduzindo a jornada de trabalho de adolescentes de mulheres para 11 horas
diárias e depois para 10 horas.
Mesmo com o esforço para regulamentar a jornada de trabalho, ainda era latente
a inconsistência das regulamentações. As pressões por elevação da produtividade
fizeram a jornada de trabalho se elevar de 10 horas diárias durante o século XVIII
para 12 horas no século XIX, ainda que em algumas regiões tenha se verificado a
elevação para 13,5 horas de trabalho por dia no mesmo período. O processo de
acumulação ocorria a pleno vapor, a elevação dos lucros pressionava maiores
investimentos e ampliação da produção e da produtividade. Os trabalhadores, além
de sofrer com as flutuações do mercado de trabalho, com os deslocamentos de
função da nova aplicação da maquinaria, também sofriam com a elevação da mais-
valia absoluta. A expansão extraordinária da indústria do século XVIII e XIX requeria
mais força de trabalho para garantir a acumulação, mesmo ampliando a
produtividade do trabalho com aplicação da maquinaria na busca por mais-valia
extraordinária. A mais-valia absoluta também se elevava por meio da ampliação da
jornada de trabalho de crianças, mulheres, adolescentes e homens. A indústria
geradora de maior pressão por elevação na jornada de trabalho era aquela que
estava no epicentro da revolução industrial, a marca da modernidade no período em
questão.
54
A luta pela redução da jornada de trabalho se expandiu conforme os
trabalhadores foram adquirindo consciência de seu poder no processo produtivo e
social da época, mas também – em que pese a visão clássica da naturalidade do
desemprego –, foi constatado que a redução da jornada poderia contribuir na
elevação do nível de emprego, ainda que esta redução não ocorresse de forma
homogênea em todas as categorias e segmentos da sociedade do século XIX.
55
2.6. A crise de mudança da Primeira Revolução Industrial e a
transição para outro padrão de acumulação.
56
mercado com produtos. Com a produção se expandindo a taxas maiores que a
expansão da demanda, a queda nos preços foi avassaladora. Em 23 anos verificou-
se redução de preços de quase 50% na indústria têxtil, motor do padrão de
acumulação na primeira revolução.
57
no geral com crescimento do nível de emprego. Mas quando um padrão se
estabiliza, existe uma tendência à redução dos investimentos. Com o maior
conhecimento da tecnologia estabelecida e com a trajetória da tecnologia mais
definida, a concorrência se acirra e as empresas tendem a investir mais em
inovações organizacionais.
58
economia, investindo muito mais em formação e qualificação. Tal formação foi
responsável por preparar os alemães para implementarem diversas inovações
pontuais, mesmo em invenções que partiram de outros países, lhe rendendo
importantes ganhos de produtividade. O crescimento econômico vivido pela
Alemanha lhe rendeu elevada taxa de emprego, tendo que recorrer à força de
trabalho da Prússia Oriental e Pomerânia para garantir sua expansão econômica.
“Entre 1870 e 1890, as horas trabalhadas por pessoa, por ano, foi
reduzida: na França, de 2.945 horas para 2.770; na Alemanha, de 2.941
para 2.765; no Japão, de 2.945 para 2.770; na Holanda, de 2.964 para
2.789; e nos EUA, de 2.964 para 2.789 horas” (TOYOSHIMA, 1997)
59
2.8. Segunda Revolução Industrial e seus diferentes
impactos no nível de emprego
60
Acreditar em tal conexão automática é subestimar a relação dialética das variáveis
institucionais, investindo em um determinismo tecnológico de menor generalidade e
poder explicativo.
61
depressão do final do século XIX conheciam formas de elevar a produtividade e
como ganhar mercado e elevar os lucros. Se no declínio da primeira revolução
industrial a palavra de ordem já era elevar a produtividade do trabalho com
inovações organizacionais, reduzindo a quantidade de trabalho por mercadoria; a
administração científica associada à nova estrutura de mercado e ao novo padrão
tecnológico possibilitou extraordinários ganhos de produtividade. Tais ganhos
estavam assentados na elevação de eficiência do trabalho e na redução de postos
de trabalho, gerando grande desemprego tecnológico.
Se é possível identificar que até aquele momento havia forte relação entre
elevação da produção e geração de emprego, o novo paradigma tecnológico e seu
arranjo institucional produziu efeito contrário. A tendência de elevação da produção
com elevação do nível de emprego não perdurou, dado o crescimento da
produtividade promovida pelas inovações organizacionais como a administração
cientifica, a mudança de layout das fábricas e as novas matérias-primas. Estes
fatores, associados à nova estrutura de mercado – mais concentrado e com maior
concorrência – e ao declínio da demanda, não sustentaram o nível de emprego.
A produção industrial nos Estados Unidos foi a que mais registrou ganhos de
produtividade e, portanto, economia de força de trabalho. Um dos epicentros no
novo padrão de acumulação e lugar de origem da administração científica, os
Estados Unidos impulsionaram sua produção com máquinas mais eficientes,
inovações organizacionais – como a linha de montagem – e barateamento de seus
produtos para ganhar mercado. Isso foi conseguido economizando em energia e em
força de trabalho. Os Estados Unidos registraram índices muito positivos:
62
A elevação da produtividade do trabalho foi verificada em toda indústria moderna
do início do século XX. Mesmo a Inglaterra, que não acompanhou os Estados
Unidos e a Alemanha no novo paradigma tecno-econômico, registrou mais de 20%
de ganhos de produtividade de 1924 a 1934.
63
O Estado passa a modificar sua concepção quanto ao desemprego e avança na
ideia de que era necessário algum tipo de amparo ao desempregado e na ideia de
que o desemprego não era natural e que poderia ser controlado com políticas
públicas. O amparo ao desempregado se consolidou com a instituição do seguro
desemprego, em primeiro lugar na Inglaterra, em 1911, e depois se espalhando para
os outros países. O controle do desemprego surgiu de economistas com visão
distinta as dos clássicos com Irving Fisher, Vesley Clair Mitchell, Ralph Hawtrey e
John Maynard Keynes que acreditavam que a redução da taxa de juros em
momentos de crise e sua elevação em momentos de booms poderiam agir de forma
anticíclica, contendo grandes flutuações do nível de emprego.
64
o Estado e outras instituições a modificar sua compreensão sobre o desemprego. Os
sinais econômicos só levavam para o agravamento da crise com racionalização da
produção e economia de força de trabalho. Quanto maior era o salto de
produtividade registrado em tal paradigma tecno-econômico, maior era a penúria dos
que dependiam da venda de sua força de trabalho para subsistir. A impossibilidade
lógica de continuar tal ciclo vicioso de elevação da produtividade com redução dos
postos de trabalho levou a uma profunda mudança institucional. O Estado passa a
manter políticas permanentes de redução da flutuação do nível de desemprego nos
países de centro do capitalismo. Antes do fnal da Segunda Guerra mundial governos
como os da Inglaterra, Canadá, Estados Unidos e Austrália assumiram publicamente
que o combate ao desemprego era um compromisso de Estado, não só vicissitudes
do mercado. As idéias de Keynes mudavam o mundo.
65
organizacionais poupadoras de trabalho e geradoras de desemprego. No período
áureo do capitalismo, com o Estado compromissado em manter elevados níveis de
emprego e ganhos de produtividade, foi possível inclusão dos trabalhadores em
altos níveis de consumo.
Nos EUA o crescimento do emprego público foi maior entre 1960 e 1968 e,
no Japão, entre 1968 e 1973. Como conseqüência houve o aumento da
participação da administração pública no emprego total. Na Alemanha, por
exemplo, tal participação se elevou de 8,0% em 1960 para I 3,0% em
1974; na Suécia, de 12,8% em 1960 para 24,8% em 1974; e nos EUA, de
14,7% para 16,1% nesses mesmos anos. De forma geral, a parcela do
emprego público estava acima de 10% em diversos países desenvolvidos
em 1974, chegando a quase 20% no caso da Inglaterra. A exceção era o
Japão, onde essa taxa era de apenas 6,3% em 1974 (TOYOSHIMA, 1997,
p. 76)
66
contrabalançava os elevados ganhos de produtividade provenientes de inovações
organizacionais e tecnológicas poupadoras de força de trabalho.
67
TABELA 2.4 - Comparação entre evolução da produtividade e dos salários
horários reais na indústria de transformação
Taxa de variação média anual por período (em %) 1964/1973 e 1983-1992
Países Produtividade (*) (A) Salário horário real (B) A/B (**)
1964/1973 1983/199 1964/1973 1983/199 1964/1973 1983/199
EUA 3.6 2 2.8 1.3 2 0.3 2.8 2 8.2
Alemanha 4.0 2.4 4.8 2.7 0.8 0.9
França 5.5 2.6 4.8 1.4 1.1 1.9
Itália 5.1 2.6 6.2 1.1 0.8 2.4
Reino Unido 4.2 3.6 2.9 2.5 1.4 1.5
Fonte: Mattos (2001)
(*) taxa de salário horário nominal na indústria de transformação
(**) relação entre ganhos em produtividade e aumentos salariais reais por período considerado
68
produtividade e elevação da eficiência do trabalhador foi superado por meio de
fatores institucionais, impulsionados por tensões causadas pela exclusão social
proveniente do desemprego. . O que chama atenção no estudo a respeito do
desemprego tecnológico na segunda revolução industrial é que fica mais clara a
percepção de que não existe tecnologia que, a priori, gere desemprego estrutural. A
análise do processo histórico verificada nos itens anteriores permite concluir que: o
desemprego prolongado é gerado por uma tecnologia poupadora de força de
trabalho associada a um arranjo institucional conivente com altas taxas de
desemprego.
69
3. A TERCEIRA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, DESEMPREGO
TECNOLÓGICO E SUPERAÇÃO DO FORDISMO
3
Foi constituído um consenso quanto à mudança de paradigma tecnológico, porém tal consenso não
existe em relação à profundidade das mudanças tecnológicas e institucionais, assim, há diferentes
denominações para este período: “terceira revolução tecnológica”, “quinto Kondtratiev”, ou ainda “era
pós-coletiva”. Os neo-schumpeterianos chamam este processo de pós-fordismo e creem que tal
período se configura como uma terceira revolução industrial. Já os regulacionistas indagam se o
período vivido pelo capitalismo mundial se configura como uma superação do fordismo, ou se apenas
uma face deste, podendo assim ser chamado de “neo-fordismo”, ou “depois do fordismo”, ou mesmo
“pós-fordismo”(MATTOSO, 1993). É presente também o questionamento se o novo paradigma
tecnológico pode ser considerado um revolução industrial, uma vez que elementos centrais do padrão
tecno-econômico anterior se mantêm (TAVARES, 1992). Independente do nome, faz-se necessária
uma melhor compreensão deste novo momento do capitalismo e de quais serão as suas implicações
70
A crise do fordismo foi expressa pela elevação dos juros no mundo, por dívidas
públicas crescentes para manter o Estado de bem estar social, pela redução da
poupança e nível de crescimento das economias nacionais. Outra característica
presente é a redução da produtividade do trabalhador. Os países industrializados
passam a conviver com inflação e baixa taxa de crescimento.
Alguns dos motivos apresentados para o fim padrão de acumulação fordista são:
i) Internacionalização produtiva e financeira do capitalismo. Para se manter a lógica
keynesiana de investimentos públicos e aquecer a dinâmica econômica, é
necessário que os investimentos públicos gerem elevação da receita do governo, a
posteriori com retornos tributários. Entretanto, no momento em que ocorre a
internacionalização do comércio mundial, o governo perde capacidade de tributar
para retomar o ciclo virtuoso de desenvolvimento. ii) O acirramento da concorrência
mundial, uma consequência da internacionalização produtiva e financeira, contribuiu
para a crise do fordismo. iii) Resistência do trabalhador em exercer funções de
caráter rotinizado, extenuante, altamente hierarquizado e com longas horas de
trabalho repetitivo (PAMPLONA, 2001).
71
inflacionária nos Estados Unidos era latente dado o volume de moeda emitida para
manter o Estado de bem estar social. O mundo se modificava e o consenso
keynesiano não era capaz de manter o crescimento das economias centrais, com
baixo desemprego e elevadas taxas de crescimento e produtividade.
72
qualidade com baixo custo se apresenta como contraposição à mera busca de
redução de custos em produção de escala. Coutinho (1992, p. 71) ao analisar a
terceira revolução industrial e tecnológica sugere que o novo paradigma aponta
para:
73
marcada pela elevação da capacidade de estimar demanda, uma vez que este
método de gestão visa o estoque Zero. O Just-in-time busca uma redução o capital
de giro, pois o capital parado no estoque pode ser mais bem aplicado no mercado
financeiro.
74
tecnologias que permitiram a flexibilização de controle de processos, buscando
elevar os controles sobre resultados. A busca por reduzir estoque, estimar demanda,
reduzir processos e elevar a disputa entre trabalhadores se justificam pela meta de
elevar a produtividade e economizar trabalho para elevar os lucros.
75
verificar a elevação da produção, uma vez que esta só ocorre quando há expectativa
de demanda e com isso geração de empregos e consumo.
Anos
Emprego Total Emprego Público Produto Produtividade Horária Tempo de Trabalho Desemprego
EUA
1960-1973 1,94 3,92 4,31 2,63 -0,30 4,94
1974-1983 1,67 1,46 2,06 0,61 -0,23 7,48
1984-1999 1,74 1,49 2,94 0,93 0,26 6,07
União Européia
1960-1973 0,29 3,52 5,08 5,65 -0,83 2,43
1974-1983 -0,03 2,32 2,05 3,11 -1,00 5,70
1984-1999 (3) 0,54 0,71 2,38 2,07 -0,02 10,82
76
considerando mudanças no padrão de acumulação com destaque para variáveis
como emprego e crescimento.
77
Os vultosos investimentos em tecnologias da informação verificados, não só nos
Estados Unidos como em todos os países do centro do capitalismo, não
estabeleceram relação positiva com o crescimento da produtividade segundo
diversos estudos econométricos e estatísticos, implementados por diferentes
pesquisadores e em áreas de pesquisa diversas. Pesquisadores como Stephen
Roach (economista chefe do banco Morgan Stanley), Martin Baily (economista do
Brookings Institute), Paul Attewell (sociólogo na New York University), Thomas
Landauer (cientista cognitivo na Universidade do Colorado), Paul Strassmann
(consultor e ex-diretor de informática do departamento de defesa Americano) e
importantes instituições como a Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE) e Organização Internacional do Trabalho (OIT)
analisaram a contradição entre tecnologias mais avançadas e a não elevação da
produtividade e confirmaram a existência do paradoxo da produtividade. O primeiro
a sugerir tal contradição foi o renomado economista Robert Solow em 1987, ao
verificar que a difusão dos computadores não se revertia em elevação das
estatísticas de produtividade (WAINER, 2002) e, desta forma, o paradoxo da
produtividade também ficou conhecido como o paradoxo de Solow.
78
produtividade e emprego, pois se a redução do nível de produtividade fosse apenas
de ordem metodológica, não se verificaria redução do nível de emprego, dado que o
setor de serviços tende ser mais intensivo em trabalho que a indústria (PETIT, 1995;
MATTOSO, 2000; WAINER, 2002).
79
mudança do nível de especialização, concorrência internacional, redistribuição dos
mercados e etc. O novo regime de demanda pode ser considerado um regime de
transição entre regime que privilegiava o setor produtivo da economia para o pós-
fordismo, que atua sob dominância financeira. Tal regime – de predominância do
capital financeiro – tende a absorver capital na economia mundial, que antes era
direcionado ao setor produtivo da economia.
80
tecnológicas, também expressou baixas taxas de crescimento e baixos níveis de
emprego. Os baixos níveis de produtividade não se reverteram em elevados níveis
de emprego, refutando uma relação automática entre desemprego tecnológico e
elevação de produtividade. Ainda que a elevação de produtividade assuma
dimensões distintas em períodos diferentes do ciclo econômico, apenas a tecnologia
e os determinantes econômicos são insuficientes para estabelecer o nível de
emprego nos ciclos de acumulação capitalista. Em suma, é necessário observar
elementos institucionais para compreender como o atual regime de acumulação age
em relação à produtividade, crescimento e principalmente sobre o nível de emprego.
81
poder dinamizador e de oportunidades de investimentos. Boa parte dos produtos de
exportação destes países podem ser considerados commodities, com baixo valor
unitário e baixa complexidade, gerando menos empregos indiretos e com menor
efeito na renda4. Harvey (1994), alerta que o fato do capitalismo transcender para
outro paradigma tecno-econômico não o impede de conviver com contradições,
assimetrias e anacronismos característicos de modelos anteriores ao vigente5. No
caso tratado por Pochmann (2005), os países produtores de mercadorias com baixo
conteúdo tecnológico envolvem força de trabalho com baixa formação, maior
flexibilidade e desregulamentação do trabalho. O trabalho -tendo como ferramenta
estas tecnologias - assumem uma feição mais taylorizada e concentram mais na
distribuição e montagem de produtos.
O capitalismo avança na história construindo situações anacrônicas, onde são conjugados padrões
5
82
possibilidades apresentadas por elas, tendem não só a estar no centro da dinâmica,
como a constituir capacidade para conduzir parcela do progresso.
83
tenha que recontratar trabalhadores, corre o risco de não encontrar mão-de-obra
disponível com as devidas qualificações para assumir os postos de trabalho; e pode
não haver tempo hábil para qualificar um profissional em processos muito
específicos. Assim, há maior estabilidade do nível de emprego em indústrias como a
mecânica, de material elétrico e de comunicações, por exemplo (NASSIF, SANTOS
E PEREIRA, 2008).
84
e em grande parte das vezes financiado pela própria empresa. Este trabalhador já
possui considerável familiaridade com as tecnologias contemporâneas, lhe
permitindo concatenar e articular novas ferramentas de trabalho para render ainda
maior produtividade, justificando sua presença no posto ocupado. O trabalhador
qualificado, típico no pós-fordismo, possui as qualificações para operar as máquinas-
ferramentas do mundo atual, máquinas mais versáteis e flexíveis, altamente
produtivas mesmo em pequenas quantidades. Com tais qualificações, este
trabalhador está mais preparado para as novas mudanças tecnológicas. Sendo
obrigado a concatenar diversas informações, este pode perceber as tendências de
modificações tecnológicas e buscar novas qualificações para não ser descartado.
85
são sustentáveis no longo prazo, nem parecem consonantes com um mundo
moderno do ponto de vista tecnológico e social (VIVARELLI, 1995).
A ocupação por conta própria pode ser apenas formal. Uma única empresa
grande necessita muitas vezes dos serviços em tempo completo de uma
86
equipe profissional, seja de contabilidade, de vigilância, de fornecimento de
refeições, de seleção de executivos, de pesquisa de mercado, etc. Outrora,
a empresa empregava a equipe. Hoje, ela prefere que a equipe se
constitua em pequena firma independente e lhe preste os serviços. Para a
empresa cliente a vantagem está na flexibilidade do novo relacionamento e
também no menor custo do trabalho, pois ela deixa de pagar o tempo
morto, quando a equipe não tem o que fazer, e as horas extras, quando a
urgência da tarefa impõe trabalho além da jornada normal. Os profissionais
que passam a trabalhar “por conta própria” ganham a possibilidade
(teórica) de atender a outros clientes, mas correm o risco de que “o” cliente
se volte para outro fornecedor. Em suma: o ex-empregador ganha graus
novos de liberdade, os ex-empregados perdem a segurança que tinham
(SINGER, 1996, p.9).
87
piora nas condições de trabalho. Em meio à tendência crescente de desemprego
verificada no novo paradigma tecno-econômico, foram resgatadas opiniões
superadas desde o início do século XX, como a ideia de que o desemprego é natural
e causado pela inflexibilidade do mercado de trabalho e dos níveis de salários. As
contradições observadas no desenvolvimento fordista foram reputadas à
incapacidade dos trabalhadores elevarem a produtividade e reduzirem a
competitividade das empresas no novo padrão tecnológico. “Em nome da
competitividade internacional o capital busca reestruturar-se movendo-se contra o
trabalho organizado” (MATTOSO, 1993, p. 112). Verifica-se substancial refluxo do
movimento sindical, com a desestruturação da classe trabalhadora típica do padrão
fordista. Dados demonstram que desde a década de 1980 a sindicalização vem
decrescendo nos Estados Unidos, na França, na Itália e na Inglaterra. Os Estados
Unidos, a França e o Japão tinham registrado tal declínio desde a década de 1970.
88
competitividade e excessiva rigidez do mercado de trabalho, as horas de trabalho
foram formalmente e informalmente elevadas. Nas modalidades de trabalho
alternativas como home office e part-time e remuneração por desempenho, passa a
ser comum a jornada de trabalho ultrapassar 12 ou 13 horas diárias, aproximando-a
das jornadas praticadas no período da primeira revolução industrial.
89
A priori, todas as revoluções tecnológicas surgiram para economizar trabalho
humano, grande parte das inovações tecnológicas e organizacionais buscam
produzir mais produtos com menos força de trabalho. O argumento de que o
desemprego da fase atual do capitalismo é inerente ao novo padrão tecnológico e
que não há o que fazer não condiz com as experiências históricas do capitalismo.
No atual estágio de avanço das forças produtivas – devido, em especial, à enorme
eficiência das máquinas flexíveis –, é evidente que não se faz necessária a mesma
quantidades de horas de trabalho utilizada no fordismo para atender às
necessidades materiais da sociedade. Reduzir a jornada de trabalho seria um
importante instrumento – ainda que provavelmente insuficiente – para aumentar o
nível de emprego nos países, ao passo que poderia resultar também em melhoria da
qualidade de vida dos trabalhadores.
Harvey (1994) acredita que, com o fim do fordismo, o sistema precisou rearticular
suas bases para garantir o processo de acumulação. Ele argumenta que, se a
extração da mais valia absoluta se realiza pela elevação da taxa de exploração do
90
trabalhador, com o conjunto de inovações organizacionais verificados no pós-
fordismo e com a busca de regiões do mundo com o trabalho menos regulamentado,
o capitalismo tem garantido elevada taxas de mais-valia absoluta. Mas o autor
também chama a atenção para a capacidade do capitalismo contemporâneo se
apropriar de elevadas taxas de mais-valia relativa, uma vez que os elevados ganhos
de produtividade tem reduzido o custo de produção da cesta de consumo do
trabalhador – ainda que esta cesta tenha se expandido com a necessidade de
inclusão de mercadorias do mundo contemporâneo. As novas tecnologias ainda
permitem que os capitalistas mais inovadores absorvam a mais-valia extraordinária,
comum nos momentos de expansão do padrão tecnológico.
91
4. O DESEMPREGO TECNOLÓGICO NO BRASIL E O IMPACTO DA
PRODUTIVIDADE
92
estruture a economia imprimindo ganhos de produtividade e que se busque aquilo
que Porter (1990, p. 62) chamou de vantagens de ordem superior, que consiste
prioritariamente em capacitação tecnológica.
93
a investimentos dirigidos a setores dinâmicos da economia, capazes de gerar
inovações tecnológicas e propiciar à economia brasileira eficiência dinâmica.
Dosi (1988, p. 130) apresenta três tipos de ajustamentos para uma economia no
tocante a políticas de investimentos industriais. I) Ajustamento ricardiano, que se
baseia nos sinais de mercado; II) o ajustamento de crescimento, que se refere a
política de elevação da demanda efetiva, com políticas macroeconômicas
Keynesianas e III) ajustamento Schumpeteriano, que está ligado a políticas de
capacitação tecnológica para produzir bens com maior valor agregado.
Pochmann (2005) traz à tona dados sobre esse cenário: de 1950 a 1980, o Brasil
conviveu com taxas de expansão do produto na casa de 7%, mas a partir de 1980
94
passou a registrar taxas de crescimento na casa de 2,1%, pouco acima do
crescimento demográfico, mas abaixo da média mundial. O autor ressalta que o
Brasil sai da participação de 0,7% em 1950 da renda mundial para 3,5% em 1980.
Em 1999 o Brasil poderia representar 5,1% da renda mundial, segundo projeções,
mas retroagiu para 2,8 no final da década de 90. A renda per capita do Brasil em
1930 era de 24% da renda per capita dos países do centro do capitalismo, e em
1980 era de 36,1%. Seguindo a tendência, em 2000 seria de 42%, mas registrou
apenas 27% no ano de 1999, demonstrando assim um rompimento na tendência de
crescimento e dinamismo da economia brasileira.
95
nacional. No mesmo período ocorreu uma queda de 22% no número de empregos
na ITIC – isso correspondeu à perda de 174 mil empregos em 10 anos.
O autor demonstra que o setor da ITIC vinculado à indústria teve uma perda
significativa frente ao setor da ITIC vinculado a serviço. Dos postos de empregos
industriais perdidos entre 1989 e 1999 na ITIC, 85% foram na indústria de
comunicação e equipamentos, 15% foi indústria de informática e equipamentos. Dos
postos criados, 53% foram em serviço de comunicação e 47% em serviço de
informática.
96
ocupação de vendedor, 10% construção civil, 8% serviço de asseio de conservação
e 6% serviço de segurança.
97
setor – no Brasil, no mesmo período, tal indústria perdeu 0,6% de importância
relativa no PIB e reduziu 18,9% dos empregos.
98
Para ilustrar a substancial transformação ocorrida na estrutura da indústria
brasileira, Toyoshima (1997) apresenta dados de como a indústria brasileira sofria
com baixa competitividade em quase todo o setor industrial.
99
4.4. Ocupação versus elevação da produção na abertura
comercial
100
GRÁFICO 4.1 – Indústria de Transformação
101
GRÁFICO 4.3 – Indústria Mecânica
102
GRÁFICO 4.5 – Indústria de material de transporte
103
GRÁFICO 4.7 - Mobiliário
104
GRÁFICO 4.9 – Indústria Química
105
GRÁFICO 4.11 – Indústria Têxtil
106
No período analisado, pode ser claramente observado um processo de elevação
da produção, com a manutenção ou mesmo redução do nível de ocupação na
indústria. Pode ser observado que a elevação de produção por trabalhador cresce
de acordo com os diferentes níveis de produtividade e dinâmica de cada indústria. A
autora chama atenção para o fato de que os setores que registraram maior elevação
de produtividade foram os das indústrias com maior capacidade de desenvolver
eficiência dinâmica, ou seja, com maior capacidade promover inovações
tecnológicas.
107
para definir uma estratégia de ajuste na indústria, considerando os objetivos de
geração de emprego e crescimento do produto. Toyoshima (1997) traz à tona o
trabalho de Najberg & Vieira (1996), que busca relacionar 41 setores da economia
com seu potencial de geração de emprego e geração de crescimento da economia,
utilizando a metodologia da matriz insumo-produto. Na tabela baixo foi utilizado o
Modelo de Geração de Empregos do BNDES que estabelece as seguintes
definições sobre as variáveis analisadas:
108
TABELA 4.1 - GERAÇÃO DE EMPREGO E DE CRESCIMENTO E IMPORTAÇÃO
DOS SETORES DA ECONOMIA BRASILEIRA
Emprego (ordem)
Setors- Import.
Código Setores Efeito-
Direto Indireto Total chave (Ordem)
Renda
1 Vestuário 1 15 8 1 Sim 33
2 Agropecuária 2 14 9 2 Sim 34
3 Madeira e mobiliário 4 8 10 3 Sim 30
4 Calçados 5 9 30 4 Sim 12
5 Comércio 3 36 7 5 Não 36
6 Abate de animais 27 1 13 6 Sim 37
7 Indústria do café 28 2 12 7 Sim 40
8 Outros prod. aliment. 8 7 27 8 Sim 14
9 Ind. Laticínios 35 3 15 9 Sim 32
10 Benef. Prod. Vegetais 23 5 25 10 Sim 10
11 Óleos vegetais 40 4 19 11 Sim 16
12 Administração pública 6 35 3 12 Não 35
13 Açúcar 25 6 16 13 Sim 27
14 Serv.Prest. À família 7 17 26 14 Não 28
15 Min. Não-Metálicos 11 20 17 15 Sim 23
16 Elementos Químicos 41 34 41 16 Sim 13
17 Construção civil 9 23 33 17 Não 31
18 Têxtil 17 12 22 18 Sim 18
19 Extrativa mineral 10 27 18 19 Não 21
20 Outros metalúrgicos 13 21 20 20 Sim 22
21 Indústrias diversas 15 25 11 21 Não 26
22 Cel. Papel 21 11 21 22 Sim 15
23 Transportes 12 32 39 23 Não 5
24 Serv.Prest.à empresa 14 37 4 24 Sim 40
25 Peças e out. veículos 19 19 29 25 Sim 11
26 Siderurgia 38 13 34 26 Sim 9
27 Autom. Cam. E. onibus 32 16 31 27 Sim 16
28 Borracha 22 22 36 28 Sim 8
29 Artigos plásticos 16 33 28 29 Não 20
30 Máquinas e equipamentos 30 28 14 30 Sim 19
31 Fannac. E veterinária 29 18 35 31 Não 3
32 Material elétrico 31 24 24 32 Não 17
33 Comunicações 18 39 24 33 Não 25
34 Quúnicos diversos 20 29 24 34 Não 4
35 Petróleo e gás 39 31 24 35 Não 24
36 Inst. Financeiras 26 41 24 36 Não 39
37 Metal. Não-ferrosos 36 26 24 37 Sim 6
38 Aluguel de imóveis 37 40 24 38 Não 41
39 Equip. eletrônicos 34 30 24 39 Não 2
40 Serv.lnd. Util 33 38 24 40 Não 7
41 Refino de petróleo 41 34 24 41 Sim 1
FONTE: Najberg e Vieira (1996)
109
No trabalho as autoras demonstram que os nove setores que mais geram
crescimento estão ente os 12 que mais geram empregos. Também fica claro que os
setores tradicionais também necessitam de pouca importação para ampliar a
produção. Com o objetivo de demonstrar em que posição os setores se encontram
no que diz respeito à geração de emprego e crescimento econômico, as autoras
disponibilizam um gráfico que faz uma divisão dos setores em quatro quadrantes
que estabelecem os setores que estão acima e abaixo da média de geração de
emprego e crescimento.
110
GRÁFICO 4.13 - CRESCIMENTO ECONÔMICO X GERAÇÃO DE
EMPREGO
111
As autoras fazem os seguintes esclarecimentos quanto ao gráfico:
112
desta população estão nos setores de alimentos bebidas e vestuários
(TOYOSCHIMA, 1997).
113
Assim, analisaremos os dados do trabalho de Najberg e Pereira (2004) para
observar se ocorreu um reposicionamento dos setores da indústria no período
imediatamente posterior ao processo de abertura comercial ocorrido na década de
1990. Com isso, pavimentaremos o caminho para uma análise do trabalho de Nassif,
Santos e Pereira (2008), que realiza um estudo de mais fôlego, com um horizonte de
tempo mais largo e conclusões teóricas mais substanciais.
114
TABELA 4.2 - Empregos Gerados por Aumento de Produção de R$ 10 milhões
(preços médios de 2003)
EMPREGO
SETOR EFEITO-
Diretos Rank Indiretos Rank Rank TOTAL Rank
RENDA
SERV. PREST. À FAMÍLIA 665 1 104 25 311 4 1080 1
ARTIGOS DO VESTUÁRIO 613 2 136 13 250 25 1000 2
AGROPECUÁRIA 393 4 131 15 303 7 828 3
COMÉRCIO 449 3 84 31 278 15 810 4
MADEIRA E MOBILIÁRIO 293 6 219 8 294 8 805 5
INDÚSTRIA DO CAFÉ 41 23 356 2 323 3 719 6
FABRICAÇÃO CALÇADOS 246 7 174 10 290 9 711 7
FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR 32 29 307 6 337 1 677 8
ABATE DE ANIMAIS 36 27 358 1 270 18 664 9
PREST. SERV. À EMPRESA 293 5 63 37 288 12 645 10
BENEF. PROD. VEGETAIS 58 20 327 4 259 23 643 11
FAB. ÓLEOS VEGETAIS 8 40 350 3 284 13 642 12
INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS 29 30 326 5 267 19 621 13
OUTROS PROD. ALIMENT. 82 16 238 7 252 24 572 14
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 165 10 98 27 290 10 553 15
TRANSPORTES 219 8 96 29 237 29 551 16
CONSTRUÇÃO CIVIL 176 9 83 33 271 16 530 17
INDÚSTRIAS DIVERSAS 124 11 126 16 250 26 501 18
ELEMENTOS QUIMICOS 14 37 188 9 289 11 491 19
CELULOSE, PAPEL E GRÁF. 59 19 155 11 271 17 485 20
EXTRAT. MINERAL 90 14 126 17 266 20 481 21
MINERAL Ñ METÁLICO 99 12 117 20 261 21 477 22
OUTROS METALÚRGICOS 98 13 109 22 244 27 451 23
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS 47 21 80 35 310 5 437 24
PETRÓLEO E GÁS 9 38 84 30 329 2 422 25
MÁQUINAS E EQUIP. 62 17 80 34 278 14 420 26
SIDERURGIA 8 39 135 14 259 22 402 27
PEÇAS E OUT. VEÍCULOS 37 26 117 21 234 30 387 28
IND. TÊXTIL 62 18 144 12 176 41 382 29
FARMAC. E VETERINÁRIA 38 24 117 19 222 33 377 30
MATERIAL ELÉTRICO 37 25 121 18 213 34 371 31
ARTIGOS PLÁSTICOS 88 15 68 36 206 38 362 32
IND. DA BORRACHA 23 32 108 23 229 31 360 33
QUÍMICOS DIVERSOS 26 31 99 26 213 35 339 34
EQUIP. ELETRÔNICOS 41 22 83 32 208 36 332 35
ALUGUEL DE IMÓVEIS 15 36 10 41 307 6 331 36
AUTOM./CAM/ONIBUS 16 35 108 24 203 39 326 37
METALURG. Ñ FERROSOS 18 34 97 28 202 40 316 38
COMUNICAÇÕES 33 28 45 39 227 32 305 39
S.I.U.P. 21 33 41 40 238 28 299 40
REFINO DO PETRÓLEO 2 41 62 38 208 37 271 41
FONTE: NAJBERG E PEREIRA, 2004,
DADOS DO Modelo de geração de Empregos – BNDES
115
GRÁFICO 4.14 - Gráfico de Empregos Gerados por Aumento de Produção de
R$ 10 milhões
(preços médios de 2003)
FABRICAÇÃO DE AÇÚCAR
INDÚSTRIA DO CAFÉ
INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
AGROPECUÁRIA
EFEITO-
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA RENDA
ELEMENTOS QUIMICOS
Indiretos
FAB. ÓLEOS VEGETAIS
COMÉRCIO
Diretos
CONSTRUÇÃO CIVIL
INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS
MINERAL Ñ METÁLICO
INDÚSTRIAS DIVERSAS
OUTROS METALÚRGICOS
TRANSPORTES
IND. DA BORRACHA
FARMAC. E VETERINÁRIA
MATERIAL ELÉTRICO
EQUIP. ELETRÔNICOS
AUTOM./CAM/ONIBUS
IND. TÊXTIL
116
Com base no modelo de geração de empregos do BNDES podemos visualizar
que o aumento de R$ 10 milhões nos diferentes setores da economia, provocavam
efeitos distintos nos tipos de empregos gerados entre os setores analisados. É
possível constatar, a partir da análise dos dados observados na tabela 4.2, que o
setor que mais gera empregos, na somatória das três categorias analisadas, é o
setor de serviços prestados à família, com geração de 1.080 postos, seguido por
artigos de vestuário, com geração total de 1.000 vagas de emprego. Em seguida,
com pouco mais de 800 postos, vem agropecuária, comércio e madeira e mobiliário.
Quando fazemos uma análise com base nas colunas de efeito-renda e geração
de empregos indiretos, verificamos uma maior dispersão na geração de empregos
entre setores dinâmicos e tradicionais. Isso ocorre porque, apesar dos setores
tradicionais serem mais intensivos em mão de obra, os setores mais dinâmicos tem
uma cadeia produtiva mais complexa, o que provoca um efeito de irradiação mais
longo na economia como um todo.
117
geração de emprego, uma vez que, se esta geração não estiver ligada com uma
elevação de produtividade, tal geração de emprego tende a não ser sustentável no
longo prazo em uma economia globalizada. Um estudo que vise contribuir na
elaboração de eficientes políticas de geração de emprego, deve considerar também
os recorrentes casos de empregos de baixa qualidade, baixa remuneração e
elevada informalidade que se apresentam em boa parte dos casos na indústria
tradicional.
Najberg e Pereira (2004) apresentam uma tabela dinâmica que mede o avanço
da produtividade no período analisado:
118
TABELA 4.3 - Tabela de evolução da Produção e do Emprego entre 2001
e 2002
Para uma melhor visualização do potencial dos diversos setores quanto a sua
capacidade de geração de crescimento e emprego, o trabalho de Najberg e Pereira
119
(2004) apresentou um gráfico de quatro quadrantes para analisar as variáveis. A
novidade que o gráfico abaixo trás é uma reta diagonal que estabelece o
desempenho dos setores quanto a sua produtividade:
120
período analisado, que é o de serviço prestado à família, contou com uma redução
de 2,7% na produtividade, seguido pelo de artigos de vestuário, com uma grande
redução de produtividade de 7,9%. O setor do comércio sofreu queda de 5,1% de
produtividade e o de Madeira e mobiliário redução de 4,4% de produtividade.
121
substanciais na estrutura industrial brasileira do período da abertura comercial a
meados da década de 2000. Tal análise ganha relevância dado a mudança de
discurso político quanto a relação entre Estado e mercado na transição dos
governos Fernando Henrique Cardoso para os governos Luiz Inácio da Silva. Se a
abertura comercial ocorreu principalmente durante os governos Fernando Collor e
Fernando Henrique Cardoso e estes foram marcados por um discurso de
liberalização comercial, redução do Estado na economia e privatização, nos
governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, o discurso foi – no caso do
governo Dilma é – pautado por um Estado indutor da economia, com política
industrial e programas sociais voltados para geração de emprego e renda.
122
pública (5º). A agropecuária fica com a segunda colocação (NASSIF,
SANTOS e PEREIRA, 2008, p. 162).
123
GRÁFICO 4.16 – Estimativa dos empregos gerados na economia brasileira em 2007,
em resposta a aumentos de produção de R$ 10 milhões (A preços médios do ano)
O estudo nos mostra que o novo modelo de geração de empregos com dados de
2007 e com uma metodologia mais sofisticada também
também apresenta os setores
tradicionais como maiores geradores de emprego totais e diretos. O primeiro
colocado em geração de emprego totais é um setor da indústria tradicional que,
segundo o modelo com 42 setores geraria 1.496 empregos, seguido pelo setor de
serviços prestados à família, com 1.261 empregos gerados e, logo após, vem o setor
de agropecuária, com geração de 1.054 empregos dado um acréscimo de 10
milhões na produção do respectivo setor.
setor. Vale ressaltar que os 13 piores colocados
em geração de emprego são setores da indústria de transformação, que são os
setores mais intensivos em tecnologia e possuidores de maior capacidade de
inovação.
124
Como já foi tratado anteriormente, a análise dos setores sem considerar a
dinamicidade de setor com base na variação de produtividade é incapaz apontar
para uma política industrial eficiente. Vejamos os gráficos abaixo, que relacionam a
variação da produtividade entre os anos de 1994 e 2003:
125
GRÁFICO 4.17 – Produtividade do trabalho (valor adicionado/pessoal
ocupado na agropecuária, indústria e serviços em 1994 e 2003
(em R$ milhares constantes de 2003)
126
TABELA 4.5 – Produtividade do trabalho na Economia Brasileira em 2003
(em R$ milhares por trabalhador)
127
Como era de se esperar, os segmentos com maiores índices de produtividade
são os mais intensivos em tecnologia. Esta observação é relevante, pois se choca
com a constatação anterior sobre a geração de emprego e crescimento. Quando
verificamos o gráfico que confronta os dados de produtividade de 1994 com 2003,
verificamos que no setor industrial se concentra mais da metade da produtividade da
economia brasileira. Nos dados de 1994 a indústria representava 52% da
produtividade total da economia, em 2003 a importância da produtividade da
indústria cresceu para 56%. Tanto o setor de serviços quanto o de agropecuária
tiveram redução de produtividade entre 1994 e 2003.
128
GRÁFICO 4.18 – Dinâmica do Valor adicionado, emprego e produtividade
na Economia Brasileira (1994-2003)
129
uma indústria marcada pela inovação, em um ambiente de concorrência mundial,
entender as tendências da estrutura produtiva brasileira também é dar passos para
entender as estruturas produtivas do capitalismo contemporâneo.
O que podemos verificar no gráfico dinâmico é que o setor que conseguiu maior
produtividade com geração de empregos foi o de Extração de Petróleo e Gás
Natural, Carvão e Outros Combustíveis. Com taxa de produtividade, em 2003, de R$
736,8 mil por trabalhador, este setor esteve como o mais bem colocado em todas as
variáveis. Em seguida veio o setor de Comunicações, com R$ 163,6 mil por
trabalhador de produtividade em 2003. O setor de vestuário aparece em seguida,
nos quesitos produtividade e geração de emprego. O setor de Fabricação e
Manutenção de Máquinas e Tratores não se destacou tanto em geração de
crescimento, mas atingiu a mesmo marca que o setor de comunicações na geração
de emprego, estando ainda acima da produtividade média. Na lista dos setores que
mais geraram empregos com crescimento de produtividade vem administração
pública; papel e gráfica e aluguel de imóveis. Quando observamos os setores que
contribuíram mais com crescimento e com produtividade acima da média,
verificamos o setor da indústria do açúcar, que apresentou produtividade, em 2003,
na marca de R$ 88,6 mil por trabalhador; em seguida vem a indústria do café, com
R$ 56,9 mil por trabalhador; siderurgia, com R$ 278,6 mil por trabalhador em 2003;
Fabricação e Refino de Óleos Vegetais e de Gorduras para Alimentação, e ainda o
setor de químicos diversos.
130
unidade de produto em função do progresso tecnológico. O gráfico demonstra que
independente de estarmos verificando crescimento/produtividade ou
emprego/produtividade, os setores que aparecem melhor localizados são os mais
dinâmicos, que registram maiores saldos em progresso tecnológico. Assim se é
possível apontar para alguma tendência no que diz respeito a crescimento, geração
de emprego e variação de produtividade é que, ainda que os setores tradicionais se
posicionem como maiores geradores de emprego e crescimento em números
absolutos e em curto prazo, os setores mais dinâmicos, com maior conteúdo
tecnológico possuem uma taxa de crescimento, nas três variáveis, maior que os
setores tradicionais e com maior potencial à sustentabilidade.
131
produção, gerando também maior demanda por trabalho. Porém, quando esta
demanda se restringe a bens básicos, a limitação deste tipo de geração de emprego
encontra-se na quantidade de pessoas que estavam cerceadas do acesso a esta
categoria de bens.
Ocorre que o tipo de crescimento é limitado à medida que tal economia faça
movimentos no sentido de reduzir a concentração de renda, promovendo a inclusão
daqueles antes excluídos do mercado de consumo. Isso indica que economias que
já atenderam as necessidades básicas de sua população tenha pouca capacidade
de gerar postos de trabalho com esta estratégia.
132
gama de consumidores que não detem tal produto é maior e os que detem estão
dispostos adquirir outro bem com pouca modificação real. Este ponto é o que
permite que os ganhos de produtividade do trabalho, com redução de preço e
elevação da demanda, atinjam países que já enfrentaram o dilema da exclusão
social. Um exemplo seria o carro elétrico: ainda que grande parte de uma população
possua um carro com motor a combustão interna, a elevação da produtividade em
tal setor, com expressiva redução de custo, pode se somar a elementos
institucionais, como redução dos impactos ambientais, para provocar expressiva
mudança na frota de um país. A inversão da frota para carros elétricos poderia
utilizar a capacidade instalada, criar elevação da demanda, atender demandas
sócio-ambientais e gerar empregos.
133
qualidade. Em um processo de reformulação da indústria, seria conveniente priorizar
investimentos em setores que hoje possuem baixa produtividade, mas com elevada
necessidade de força de trabalho – para manter altos os níveis de emprego –,
concomitante a investimentos em setores estratégicos, que em geral são os mais
dinâmicos.
134
dinâmica tendem a difundir tecnologia em outros setores, levando a economia a
outros patamares de complexidade.
Importantes conclusões que podem ser tiradas dos estudos empíricos sobre a
análise da produtividade do trabalho e a geração de emprego é que investimentos
que deem sustentação de longo prazo ao crescimento econômico, com ganhos de
produtividade e geração de mais e melhores empregos, requerem ajustes do tipo
Schumpeteriano, onde nem sempre será respeitado o sinal de mercado de curto
prazo. A interferência do Estado, seja estimulando investimentos em setores
estratégicos, seja implementando políticas públicas para reduzir impacto das novas
tecnologias, é fator nodal para o desenvolvimento econômico e social do Brasil.
135
CONCLUSÃO
136
tecno-econômico, o desemprego se elevou, acentuando a insuficiência de demanda.
Os ganhos de produtividade provenientes da primeira revolução industrial, associado
à disputa intercapitalista, provocaram uma grande queda nos preços e, por
consequência, nos lucros. A elevação dos salários durante o período de maior
expansão da acumulação também contribui para achatar os lucros, desestimulando
os empresários a realizarem mais investimentos, uma vez que ainda carregavam o
endividamento do período anterior. Desta forma, na transição da primeira para a
segunda revolução industrial, constatou-se a incidência de desemprego tecnológico.
137
mesmo padrão tecnológico a elevados níveis de emprego, incluindo os
trabalhadores em alto consumo para manter demanda crescente, promovendo
período de altos lucros, salários e produtividade.
138
baixa intensidade tecnológica, os que estiverem à margem do progresso tecnológico
não compartilharão das benesses do pós-fordismo.
Não restam dúvidas de que o atual estágio das forças produtivas demandam
muito menos horas de trabalho para atender às necessidades materiais da
sociedade contemporânea. Estabelecer se os avanços tecnológicos e
organizacionais se reverterão em desemprego, em redução de jornada de trabalho,
em adiamento da entrada do jovem no mercado de trabalho ou na elevação das
horas não trabalhadas, convertidas em maior qualificação, depende não só de
139
variáveis econômicas, mas também institucionais. A sociedade terá que definir se
conviverá com o desemprego, em um regime de baixa demanda ou se conjugará as
tecnologias da nova economia com um novo tipo de pleno emprego.
Foi verificado em uma análise setorial da economia que os setores com maior
capacidade de geração de emprego e crescimento no curto prazo são tradicionais,
intensivos em força de trabalho e com menor utilização de tecnologia. Porém,
constatou-se, ao cruzar os dados de produtividade e nível de emprego, que os
setores tradicionais convivem com maior flutuação do nível de emprego e menor
140
produtividade. A flutuação é maior porque os setores tradicionais utilizam força de
trabalho com menor qualificação, possibilitando demissões e recontratações com
menores ônus à produção. Verificou-se também que setores tradicionais possuem
maior capacidade de geração de empregos diretos, dado o aumento de R$ 10
milhões de receita, porém isso não se verifica quando se observa a geração de
empregos indiretos ou efeito-renda. Nos setores mais dinâmicos e com maior
conteúdo tecnológico, verifica-se uma menor flutuação do nível de empregos, visto
que emprega força de trabalho mais qualificada. Estes setores são menos sensíveis
à geração de emprego direto, pela elevação dos mesmos R$ 10 milhões, porém
tendem a gerar mais empregos indiretos e por efeito-renda e também por possuírem
cadeias produtivas maiores e mais complexas.
141
investimentos em pesquisa e desenvolvimento e tais investimentos não só
estabelecerão as taxas de crescimento e de produtividade, como também o nível e
qualidade dos empregos que serão gerados. Se o novo padrão tecnológico não é
avesso ao pleno emprego, a busca por elevadas taxas de emprego por meio de
investimento em setores com elevado conteúdo tecnológico pode contribuir para a
reconstrução de um regime de demanda que estimule investimentos e amplie
vantagens competitivas dinâmicas na economia brasileira.
142
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